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Os Maias – Eça de Queirós

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Capítulo XII – Jantar em Casa do Conde Gouvarinho
Beatriz Salgado, David Samões, Ema Coelho, Francisca Freitas e Mª Clara Vinagre – 11ºE

Introdução

Bom dia a todos, no domínio da disciplina de português hoje estamos aqui para apresentar
um capítulo da Crónica de Costumes de Os Maias, no episódio do Jantar em Casa do Conde
Gouvarinho iremos mencionar um resumo do capítulo e abordar a ligação do episódio com
a intriga amorosa da restante obra, as personagens, os aspetos da sociedade portuguesa
criticados, a linguagem e estilo da obra e, por fim, a nossa opinião sobre a relação da crítica
do episódio com a atualidade.

Localização no espaço e no tempo


Este episódio decorre entre 1875 e 1877, ao longo de quatro dias, desde domingo ao
almoço até quarta-feira à noite. A ação tem início em Ramalhete, na Casa dos Gouvarinho,
na Casa de Maria Eduarda, na Quinta de Craft nos Olivais, acabando no quarto de Carlos.

Resumo do episódio
O episódio do “Jantar em casa do conde Gouvarinho”, está presente no capítulo XII da obra
Os Maias e na crónica de costumes, que diz respeito ao subtítulo da obra (histórias da vida
romântica) e que consiste na demonstração da sociedade no seu dia a dia). O episodio
começa quando Ega, amigo de Carlos, regressa a Lisboa e instala-se no Ramalhete e
confidencia a Carlos que a Condessa de Gouvarinho, com quem este tinha um caso
amoroso, fala constantemente, dele e conta-lhe que o casal, a condessa e o conde
Gouvarinho, os convidou para jantar na segunda feira. Chegado o dia do jantar, enquanto
Carlos e Ega, se dirigiam a casa dos Gouvarinho, Ega aproveita para lhe perguntar sobre o
seu romance com Maria Eduarda, por quem estaria apaixonado, e diz a Carlos que soube do
romance através de Dâmaso, outro amigo de ambos. Carlos conta-lhe a verdade sobre o
romance, embora não se abrindo em relação aos seus sentimentos por ela. Entretanto,
durante o jantar são vários temas discutidos, mas o principal foi a instrução das mulheres,
criticada e julgada por Ega. Porém o destaque da conversa no jantar passou pela condessa
Gouvarinho que toca no assunto do romance de Carlos com Maria Eduarda, deixando
Carlos com a sensação de que já todos sabem do romance. A Condessa fica “amuada” com
Carlos, e este tentar despistar as suspeitas do seu romance passando uma manhã, forçada,
de amor com a própria. Na tarde seguinte, em visita a Maria Eduarda, Carlos declara-lhe o
seu amor, que é correspondido, e ambos se beijam pela primeira vez. Sendo este o
momento principal do episódio. Mediante o desejo de Maria Eduarda de viver num lugar
mais calmo, longe da coscuvilhice dos vizinhos, e com espaço livre para Rosa, filha de Maria
Eduarda com Mac Green, de quem diz ser viúva, brincar. Carlos compra a Quinta dos Olivais
a Craft, Afonso aprova o investimento, desconhecendo, contudo, o verdadeiro motivo do
mesmo. Carlos conta a Ega o seu romance com Maria Eduarda e a sua intenção de fugir
com ela, Ega pensa para ele próprio que esta mulher seria para sempre, o seu irreparável
destino. Sendo esta parte do episodio que se relaciona com a intriga principal.

Objetivo do jantar em casa dos Gouvarinhos


O jantar retratado neste episódio teve como objetivo juntar a nobreza e a alta burguesia,
bem como a camada dirigente do país, e, simultaneamente, desmascarar a sua ignorância.
Além disso, este jantar permite, através das conversas, observar a subvalorização dos
valores sociais, o atraso intelectual do país e a mediocridade mental de algumas figuras da
alta burguesia e da aristocracia.

Crónica de Costumes
Este episódio enquadra-se na crónica de costumes dado que no jantar são abordados
temas como a escravatura, paradoxos, qualidades que uma mulher deve ter e o conceito de
Proudhon relativamente ao amor, a ignorância e falta de competência de Sousa Neto e a
incompetência dos políticos.

Ligação do episódio à intriga amorosa


Falando agora sobre a relação do episódio com a intriga amorosa desta obra, a intriga
principal é a relação incestuosa entre Carlos da Maia e Maria Eduarda, que se desenvolve a
par com a crónica de costumes, de maneira a “integrar” ambos na sociedade portuguesa.

Sabemos que este capítulo faz parte da Crónica de Costumes na medida em que consegue
ter então uma ligação muito visível à intriga principal, que é a relação incestuosa entre
Carlos da Maia e Maria Eduarda.

Durante o jantar, Maria Eduarda é mencionada algumas vezes pelo nome de “brasileira”,
mas Carlos nega sempre que têm uma relação mais pessoal. No dia seguinte, Carlos da
Maia encontra-se com Maria Eduarda e declara o seu amor, correspondido por ela e eles os
dois dão o seu primeiro beijo e há então a consumação do incesto de forma inconsciente.
Este episódio é muito importante porque leva ao primeiro beijo de Carlos e de Maria e à
declaração de amor de Carlos para Maria.
Personagens
Neste jantar há a intervenção das personagens Carlos da Maia, Sousa Neto e a sua
mulher, João da Ega, Conde e Condessa de Gouvarinho, D. Maria da Cunha e baronesa de
Alvim. No elenco principal encontramos João da Ega, o Conde, a Condessa e Sousa Neto.

- João da Ega – representando um retrato irónico do próprio Eça; João da Ega é magro,
pescoço esganiçado, bigode arrebitado, nariz adunco; apresenta-se como naturalista e
realista na obra, mas na verdade, é classificado como uma personagem contraditória. Por
um lado, este mostra-se romântico e sentimental; por outro lado, crítico e sarcástico. João
da Ega é excêntrico, exagerado, ateu, leal aos seus amigos, diletante, amigo inseparável de
Carlos e um falhado corrompido pela sociedade.

- Conde Gouvarinho – um deputado com lapsos de memória, revela uma visível falta de
cultura, não compreende a ironia sarcástica de Ega, o Conde Gouvarinho tinha um bigode
encerado e uma pera curta. Ele é fútil, vaidoso, maçador e incompetente. O conde
representa, então, a incompetência do poder político.

- Sousa Neto - um cavalheiro alto, grave de barba rala, representante da instrução pública,
Sousa Neto, é um ignorante, defende a imitação do estrangeiro e não tem opinião próprio.
É uma personagem-tipo da burocracia, mostra ineficácia na Administração.

- Condessa de Gouvarinho - representante das mulheres adúlteras, Condessa de


Gouvarinho tem (olhos escuros e finos, cabelos crespos e ruivos, pele clara, fina e doce.
Amante de Carlos e é uma mulher sedutora, fútil, desprezadora do seu marido pelo seu
fraco poder económico. Ela é imoral, provocadora, sem escrúpulos, sensual e anda sempre
vestida de forma exuberante.

As personagens-tipo deste episódio são João da Ega, Conde e Condessa de Gouvarinho e


Sousa neto, visto que representam as qualidades/defeitos de uma classe social/profissão.

Críticas à sociedade portuguesa


Neste episódio de Os Maias podemos ver várias críticas à sociedade portuguesa. Sendo a
principal:
 O machismo, incluindo a educação das mulheres durante o jantar, podemos notar
momentos onde foram discutidos assuntos como o machismo, onde, por exemplo, o
Conde diz: “Decerto o lugar da mulher era junto ao berço, não na biblioteca”,
fazendo a referência a que o papel da mulher deverá ser apenas nas lides
domésticas e não em funções cultas ou posteriores. A educação das mulheres,
incluída nesta crítica de Eça, salienta-se no facto de ser conveniente que uma
senhora deva ser prendada, ainda que as suas capacidades não permitam que ela
saiba discutir com um homem de assuntos de caráter intelectual, confirmando-se
por Ega, provocador, que defende que “a mulher só devia ter duas prendas:
cozinhar bem e amar bem”.
 Outro tema censurado é a falta de cultura dos indivíduos detentores de cargos
inseridos na esfera social do poder, em que Sousa Neto, o “oficial superior de uma
grande repartição do Estado”, desconhece Proudhon um sociólogo e socialista
utópico.
 O deslumbramento pelo estrangeiro, é também desaprovado, quando novamente
Sousa Neto manifesta a sua curiosidade em relação aos países estrangeiros,
interrogando Carlos, demonstrando o aprisionamento cultural daquele confinado às
terras portuguesas.
Concluindo, ao longo da discussão dos vários temas, o carácter impiedoso e crítico e
hipócrita, a ignorância e a superficialidade nas personagens e suas opiniões foram aspetos
que se fizeram notar. São aspetos como este que sustentam a crítica que Eça faz à
sociedade portuguesa do século XIX ao longo de Os Maias, o qual a caracteriza como fútil,
superficial e ignorante. O facto de se prezar em demasia a importação de modas
estrangeiras também contribuiu para esta crítica, uma vez que impede o progresso e a
renovação das mentalidades. Assim, é constituída uma verdadeira caricatura da antiga
sociedade portuguesa que, apesar dos contextos diferentes, ainda está conservada.

A linguagem e estilo da obra


Falando agora então da linguagem e estilo da obra podemos reparar em várias
características de linguagem, de recursos expressivos e de adjetivos e advérbios, que Eça
usou para tornar a sua obra única.

I. Linguagem
 Uma das preocupações de Eça ao escrever Os Maias foi evitar as frases demasiado
expositivas, fastidiosas e pouco esclarecedoras dos românticos. Para tal, faz uso da
ordem direta da frase, para que a realidade possa ser apresentada sem alterações,
comprovando-se quando a Condessa fala com Carlos “- Esperei meia hora; mas
compreendi logo que estaria entretido com a brasileira...”
 Para evitar o uso constante dos verbos declarativos, Eça optou por utilizar o discurso
indireto livre, enriquecendo o texto a nível de vivacidade sem serem necessárias
repetições – “em silêncio, até a casa da Gouvarinho, Carlos foi ruminando a sua
cólera contra o Dâmaso. Aí estava pois rasgada por aquele imbecil a penumbra
suave e favorável em que se abrigara o seu amor!”

II. Recursos Estilísticos


Neste episodio precisamente, no que toca à linguagem e estila da obra, Eça de Queirós,
recorre ao uso de recursos expressivos, ao uso de vocábulos franceses e/ou ingleses e ao
uso do diminutivo.
No que toca aos recursos expressivos, os mais utilizados são:
 A dupla Adjetivação: “fértil e estúpida província”;
 Hipálage: “Um brasileiro trigueiro, com um ar espartilhado”
que pretende conferir a expressividade à prosa.

Relativamente aos vocábulos franceses e/ou ingleses, destacamos:


 “Está deliciosa esta galantine”;
 “Castro Gomes era um dandy, um fútil, um gommeux”;
que possuem o intuito de evidenciar o requinte e os cosmopolitismos.

Quanto ao uso de diminutivos, destacamos:


 “… o Sr. Manuelinho, rapazinho amável da vizinhança…”;
 “… o verdadeiro tipozinho do café de la Paix…”;
que possuem o intuito de projetar a subjetividade ou uma intenção sarcástica.

III. Adjetivos e advérbios


De forma a tornar a sua escrita mais expressiva, Eça vai se apoiar nos adjetivos e nos
advérbios para transmitir ao leitor uma sensação de visualização: “a condessa baixara os
olhos, parindo vagamente um bocadinho de pão…”
Outra característica literária presente nas obras de Eça é o uso da dupla e tripla
adjetivação: “O conde interveio, afável e risonho…”

Opinião sobre a atualidade da crítica


A crítica elaborada por Eça por de trás deste episódio, na nossa perspetiva, infelizmente,
ainda se encontra conservada na atualidade. Hoje em dia, apesar de cada vez menos ainda
encontramos homens que duvidam das capacidades femininas, homens que tal como Sousa
de Neto ainda acreditam que “o lugar das mulheres é na cozinha”. Já no tema condenado
da falta de cultura dos indivíduos detentores de cargos inseridos na esfera do poder, já não
é tão aplicável. Nos dias de hoje podemos sim observar exceções, mas a maioria dos nossos
altos representantes não possuem os níveis de ignorância depreciados e expostos no jantar,
mas houve sim, uma crescente adição monetária. Tal como os representantes
repreendidos, os nossos atuais representantes, e como ouvimos dizer pela sociedade,
“roubam-nos” todos os dias. Por último, o deslumbramento do estrangeiro,
presentemente, continua a intensificar-se. Mais e mais nós somos influenciados por fatores
internacionais, como as redes sociais e os seus influencers, e não só, as modas lançadas no
restante mundo são também seguidas por nós continuamente.
Sintetizando, as críticas elaboradas por Eça de Queirós numa obra do século XIX
continuam espelhadas na sociedade contemporânea.

Obrigada pela vossa atenção.

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