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INTRODUÇÃO
A lenda de Píramo e Tisbe tem, entre seus atributos, a relevância de ter inspirado
Ovídio a relatar o mito grego em forma de versos nos primeiros anos da era cristã.
Na idade média, no século XIV, fora composta uma novela de poucas páginas de
Giovanni Boccaccio com referências similares. O teor e forma da novela, escrita muitos
séculos depois, sugere que o escritor teve contato com a obra do poeta romano.
A execução prática deste trabalho será a comparação literária do poema Píramo e
Tisbe, composta por Ovídio, mito declamado em versos entre tantos outros na sua obra
Metamorfoses, com a novela de Giovanni Boccaccio, uma entre as inúmeras da obra
Decamerão.
Referidos os objetos de análise, o grupo seguirá métodos que será posteriormente
explicitado, no intuito de praticar da melhor forma possível a comparação literária.
Além das referidas obras estudadas, tomaremos como apoio, textos de outros
pesquisadores da área de literatura comparada e teoria da literatura, entre eles, Sandra
Nitrini e Ítalo Calvino.
A comparação literária pode ter como estímulo para determinar seu objeto de
estudo, evidências, que, através de referências, possam comprovar intertextualidade
entre obras sob o olhar científico do método comparativo.
A primeira razão para justificar essa análise é a oportunidade de ampliar a
possibilidade de leitura de um clássico, ou parte dele, como neste trabalho.
Ítalo Calvino já afirmara a relevância do livro clássico justamente por sua vanguarda
ao relatar assuntos nem sempre desonhecidos:
Considerado a realidade que, muitos não poderão, não quererão ou, simplesmente,
não verão nenhum fato positivo que justifique expender horas de leitura de uma obra
com mais de 600 páginas escrita em caixa pequena, propomos, como exercício prático,
a comparação de uma novela com 07 páginas, de Giovanni Boccaccio, com o poema
Píramo e Tisbe, de Ovídio, poema cujo um de seus grandes feitos, segundo alguns, fora
ter inspirado Willian Shakespeare compor Romeu e Julieta entre os anos de 1500 em
diante.
Comparar o poema de Ovídeo com Shakespeare, já seria por si só uma atividade
válida para um exercício comparatista. Seria uma forma de pôr os conhecimentos das
aulas em prática, porém, estar diante de uma obra anterior a do dramaturgo inglês, faz-
nos admirar ainda mais Ovídio e nos proporciona descobrir, que, uma obra pouco
consultada, tenha uma obra de referência relevante, ou seja, uma obra que já era
relevante, porém desconhecíamos.
Quando uma obra tem relevância, faz jus revisita-la e, com justiça, parabenizar o
autor pelo pioneirismo no tocante ao tema que aborda, no caso da novela de
Decamerão, o da sensibilidade feminina, social e o diálogo com versos de Ovídio sobre
o mito grego.
A escolha da obra
Objetivo
Os autores
Publius Ovidius Naso nasceu em Sulmona, na Itália, no ano 43 antes da era cristã,
de origem nobre, estudou com os melhores mestres que a educação romana pudera lhe
dar, foi funcionário público do império romano, mas, destacou-se efetivamente como
poeta, sua obra mais famosa são os 15 livros da série Metamorfoses.
Ovídio teve fama, riqueza e mulheres até seus cinquenta anos, após essa idade, fora
banido de Roma pelo imperador augusto, suspeita-se que o motivo seja o envolvimento
do poeta com a neta do imperador chamada Júlia.
Giovanni Boccaccio nasceu em Paris, filho de bem sucedido empresário italiano,
Boccaccio fora criado na Itália e foi estudar finanças em Nápoles, estudou direito
canônico, mas o pendor literário falaria mais alto.
Fez carreira literária bem sucedida, tanto como escritor quanto crítico e sua obra
Decamerão é considerada sua obra prima.
A origem de tudo
Da mesma forma que Ovídio atribui ao amor a solução e o modo de transpor uma
barreira entre um casal, na novela de Boccaccio, a solução, como no poema de Ovídio,
também fora criada muito tempo atrás e é mostrada pelo amor, como no poema, porém,
em Boccaccio, a solução fora uma escada que será utilizada para os apaixonados
realizarem suas vontades, o autor de Decamerão ilustra:
A forma oculta como ocorria os encontros do casal, pode ser visto como uma
barreira, uma barreira social, metáfora da parede do poema de Ovídio, que teve o amor
como responsável pela solução. Isto pode ser considrado como uma evidência de
diálogo e intertextualidade do poema de Ovídio com a novela.
Dos versos 71 à 95, a novela de Boccaccio continua a dialogar com o poema de
Ovídio, onde a barreira física fora metamorfoseada em barreira social, pois Guiscardo e
Guismunda tem encontros carnais, mas sempre em segredo.
Os encontros às ocultas substitui a parede do mito e a fuga se metamorfoseará nos
momentos de sexo desfrutado pelo casal. Os encontros carnais de Guismunda e
Guiscarlo é a metáfora da fuga do seu mundo, fuga de sua realidade, o segredo do
romance também é a metáfora da fuga de Tisbe, que fora disfarçada para encontrar
Píramo. Essa fuga, em Boccaccio será interrompida pelo acaso:
Em Ovídio, o acaso invejoso estará na figura da parede que é óbice para o beijo
dos amantes:
Na lenda de Píramo e Tisbe declamada por Ovídio, a figura da leoa engana Píramo,
enganado, este, comete suicído, e assim, o amor do casal torna-se uma tragédia. Em
Decamerão, na primeira novela da quarta jornada, o diálogo com o signo leoa estará
semanticamente representado pelo pai de Guismunda, pois Guiscarlo ao chegar depois
de Tancredi, que por acaso estava no quarto da filha sem que ninguém se desse por sua
presença, fez dessa noite, a noite em que há de perder dois amantes.
No poema, os versos estão dessa forma:
diz: Uma só noite há de perder dois amantes,
dos dois, ela uma longa vida merecia,
pois sou culpado. Eu te danei, desgraçada, 110
eu te chamei a vir de noite em ermo hórrido
e não cheguei primeiro. O meu corpo rasgai,
e devorai-me as vísceras com feros dentes,
(OVÍDIO, 2011, p.5)
Em Decamerão, essa estrofe estará aludida na cena em que Tancredi vai visitar a
filha em seu quarto e não a encontra, sentado em um banco oculto, o velho príncipe
adormece e só acorda no momento intenso de sexo entre a filha e seu amante, e neste
momento já estava selado o destino de Guiscarlo, a morte, segue o trecho:
Conclusão
Biografias: