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Gabarito da Análise Linguística (A2)

1. O conto que você acabou de ler, escrito por Ignácio de Loyola Brandão, pode ser classificado como um conto
fantástico. Veja, abaixo, um parágrafo que tenta caracterizar esse gênero literário.
Identifique no conto elementos que comprovem os trechos destacados nesta citação.
RESPOSTA:
uma história inicialmente semelhante ao quadro da vida real como é conhecida: a descrição do homem e do seu
trabalho cria um contexto inicial muito próximo daquilo que consideramos normalidade uma ruptura dos fatos
cotidianos por um evento aparentemente sobrenatural: embora a oração inicial já indique uma estranheza
relacionada à orelha do personagem, a ruptura acontece de fato quando essa orelha não para de crescer e chega à
cintura do homem.
explicação racional: acontece quando o personagem cogita a ideia de consultar um médico, mas logo a abandona -
depois, o problema passa a ser resolvido por açougueiros.

2. Os contos são textos narrativos curtos, caracterizados por alguns elementos, como: situação inicial, conflito
(apenas 1), clímax e desfecho. Embora "O homem cuja orelha cresceu" seja considerado um conto, ele não possui
um (1) desses elementos. Qual é esse elemento? Explique sua resposta.
RESPOSTA: O conto não possui desfecho. O clímax da história acontece quando chamam o poder público, que não
resolvem o caso, então uma possível solução é proposta por uma criança: matar o homem. Esse é o momento de
maior tensão da história que termina sem a solução do conflito. Afinal, vão matar o homem? Não sabemos.

3. Quando os hóspedes da pensão se depararam com essa orelha que não parava de crescer, eles chamaram
primeiro policiais e bombeiros e, depois, açougueiros. Você acha que essas pessoas seriam capazes de resolver o
conflito? Justifique sua resposta.
RESPOSTA: Não, esses profissionais conseguem lidar com as consequências/efeitos do problema - como cortar e
distribuir as orelhas -, mas não conseguem chegar à raiz desse problema. Nenhum desses profissionais conseguiria
descobrir por que a orelha começou a crescer e como fazê-la parar.

4. Quando os açougueiros começaram a cortar a orelha do homem, o prefeito ordenou que distribuíssem a carne
aos pobres. Então, apareceram "os favelados, as organizações de assistência social, irmandades religiosas, donos de
restaurantes, vendedores de churrasquinho na porta do estádio, donas-de-casa".
a. Por que essas foram as pessoas e/ou grupos sociais escolhidos para receber a carne de orelha?
RESPOSTA: Espera-se que os alunos percebam que os primeiros grupos são formados por pessoas vulneráveis que
estão mais sujeitas à fome e/ou que trabalham com pessoas em situação de pobreza e, por isso, deveriam aceitar
qualquer tipo de alimento. Já os outros grupos são formados por comerciantes (possivelmente desonestos)
acostumados a vender carne duvidosa e/ou que não veriam problema em lucrar com a situação absurda.

b. Embora a ideia pareça absurda, nos últimos anos já aconteceram diversos casos de distribuição de comida
duvidosa a alguns grupos sociais no nosso país. Você consegue se lembrar de algum desses casos? Qual é a
semelhança entre as histórias reais e o conto?
RESPOSTA: Essa resposta vai depender do repertório dos alunos. Caso eles não tenham nenhum repertório sobre o
tema, proponha uma pesquisa online. Trazemos, aqui, uma possibilidade de resposta - com certeza, há muitos
outros exemplos.
Em 2017, o político João Dória, na época prefeito da cidade de São Paulo, tentou inserir na merenda das escolas
municipais um composto granulado feito de alimentos perto do vencimento, que ficou conhecido como [continua]
"ração humana". Na época, ficou claro que a hipótese de usar esse composto como alimento só foi possível, porque
ele seria destinado a crianças de escola pública, em sua maioria provenientes de classes baixas, assim como
aconteceu no conto.

5. No título do conto, identificamos o uso do pronome relativo "cuja".


a. Qual é o sentido construído pelo uso desse pronome?
RESPOSTA: O pronome relativo "cuja" traz o sentido de posse - indica que o homem possui as orelhas, as orelhas
pertencem ao homem.

b. O título traz o substantivo "orelha" no singular, mas percebemos que foram as duas orelhas do homem que
cresceram. Reescreva o título colocando o substantivo "orelha" no plural. Haverá alterações em outros termos da
oração? Se sim, justifique-as.
RESPOSTA: O homem cujas orelhas cresceram
O pronome relativo foi para o plural, porque ele deve concordar em gênero e número com o objeto possuído. O
verbo também foi para o plural, porque deve concordar em número com o sujeito.

6. A conjunção " mas" é utilizada para construir a ideia de oposição e é repetida 3 vezes no 1º parágrafo. Explique a
importância dessa conjunção para a construção do conflito da história.
RESPOSTA: No 1º parágrafo do conto, a conjunção "mas" é utilizada em orações que mostram a impossibilidade de
resolver o problema, por exemplo, no trecho "Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse.
Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas", o homem pensou em resolver o problema cortando
suas orelhas, no entanto não conseguiu porque não achou uma tesoura. Essa ideia de algo impossível de ser
resolvido foi construída pelo uso do "mas".

7. Na história, há quase que exclusivamente verbos no pretérito. Por que isso acontece?

RESPOSTA: Porque a história conta um fato que ocorreu, ou seja, no passado, por isso o pretérito é tão
predominante na narrativa.

8. Ao longo da narrativa, Loyola emprega diferentes tempos do pretérito. Releia o primeiro parágrafo e observe os
verbos destacados (com grifos e negritos).
a. Todos os verbos estão no mesmo tempo e modo? Traga exemplos para ilustrar a sua resposta.
RESPOSTA: Todos os verbos destacados estão no modo indicativo, porém há dois tempos diferentes. Há verbos no
pretérito perfeito como “procurou” e “entrou”, também há verbos no pretérito imperfeito como “cresciam” e
“chegavam”.

b. Atentando-se apenas aos verbos em negrito, explique como grande parte desses verbos contribuem para a
elaboração da imagem que, nós leitores, construímos do homem e das orelhas.
RESPOSTA: No caso dos verbos que foram empregados para caracterizar o homem, o pretérito imperfeito mostra
ações rotineiras e habituais, ou seja, o dia a dia do homem. “Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos,
ganhava pouco, reforçava com extras…” os dois verbos trazem a ideia de que, no seu dia a dia, o homem não era
bem remunerado. E em “Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório.” o verbo
"conhecer" no pretérito imperfeito mostra que a solidão era parte do cotidiano do personagem, afinal ele “não
conhecia ninguém”.
Já os verbos no pretérito imperfeito ajudam a caracterizar as orelhas, como no trecho “as orelhas cresciam. (...)
Eram moles, como de cachorro. (...) As orelhas estavam na altura do ombro”. [continua]

O verbo “crescer” no pretérito imperfeito traz a ideia de que o crescimento ocorria continuamente ao longo do
tempo. Os verbos “ser” e “estar” constroem características que passam a ser permanentes (habituais).

c. Agora observe apenas os verbos grifados. Esse tempo é adequado à narrativa? Por quê?

RESPOSTA: Sim, o tempo é adequado. O pretérito perfeito é empregado em uma série de ações pontuais
executadas pelo homem.

d. Como o uso repetitivo desse tempo contribui para ilustrar qual a reação do personagem diante da situação?
RESPOSTA: A série de verbos no pretérito perfeito mostra ações pontuais e em sequência. Após perceber que as
orelhas cresciam, o homem faz uma série de ações para tentar lidar com as orelhas, primeiro passou a mão para
senti-las, depois tentou cortá-las e, por fim, em vista da tentativa frustrada, ele as esconde.

9. No desenrolar da narrativa, outro pretérito do indicativo é empregado. Releia o trecho a seguir:


a. Qual o tempo dos verbos destacados?
RESPOSTA: Pretérito mais que perfeito.

b. Por que esse emprego é relevante na construção da cronologia da narrativa?


RESPOSTA: Esse emprego é relevante, porque toda a narrativa acontece no passado, mas alguns eventos são mais
remotos que outros. No trecho, a orelha crescera e se enrolara em um passada anterior ao momento que o homem
acordou, só depois que ele acordou pode perceber o crescimento da orelha que ocorrera durante a noite.

10. Ao longo do texto há vários trechos descritivos. Releia os trechos a seguir:


a. Considerando que o texto é um conto fantástico, por que essas descrições são especialmente fundamentais na
construção da narrativa?
RESPOSTA: As descrições são fundamentais para que o leitor compreenda o evento em questão. O crescimento
contínuo de uma orelha não é algo do dia a dia, pelo contrário, é um evento fantástico e, portanto, excepcional, por
isso a descrição é fundamental para que o leitor tenha uma imagem/imaginário desse fato que só existe na
narrativa.

b. Identifique os adjetivos usados para caracterizar as orelhas neste trecho.


RESPOSTA: Há o emprego de adjetivos como “finas”, “compridas” e “enrugadas”

c. Você deve ter percebido que a caracterização das orelhas não é construída apenas por adjetivos, há o emprego
de outras estruturas. Identifique dois trechos com esse outro tipo de recurso.
RESPOSTA: Há o emprego de outros recursos, por exemplo:
a figura de linguagem comparação: “Eram moles, como de cachorro” e “ A orelha crescera e se enrolara como
cobra” e
uso de verbos que trazem a ideia de que as orelhas cresciam: “continuavam crescendo” e “cresciam”.

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