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Literatura (Prof.ª Esp.

ª Amanda Costa) • poesia - Nunca mais e poema dos poemas, Baladas


para El-Rei, Viagem, Vaga Música, Mar absoluto,
Cecília Meireles Retrato natural, Amor em Leonoreta, Doze noturnos
Biografia, obras e estilo literário da Holanda, Romanceiro da Inconfidência, Poemas
escritos na Índia, Solombra, Ou isto ou aquilo, etc.
Cecília Meireles é uma das grandes escritoras • prosa - Notícia da poesia brasileira; Problemas de
da literatura brasileira. Seus poemas encantam os literatura infantil; Escolha o seu sonho; Giroflê,
leitores de todas as idades. Nasceu no dia 7 de Giroflá; etc.
novembro de 1901, na cidade do Rio de Janeiro e seu
nome completo era Cecília Benevides de Carvalho
Meireles. A importância de CECILIA MEIRELES para a literatura
Sua infância foi marcada pela dor e solidão, pois Cecília Meirelles é, sem sombra de dúvida,
perdeu a mãe com apenas três anos de idade e o pai única. Dentro de uma fase em que o modernismo se
não chegou a conhecer (morreu antes de seu voltava para as lutas políticas, para uma produção que
nascimento). Foi criada pela avó Dona Jacinta. Por tinha como objetivo "educar" e conscientizar, ela
volta dos nove anos de idade, Cecília começou a apresentou um estilo de poesia diferente - com
escrever suas primeiras poesias. algumas características simbolistas, como o uso
Formou-se professora (cursou a Escola constante de sinestesias - que se voltava mais para o
Normal) e com apenas 18 anos de idade, no ano de interior do ser humano, tinha um clima mais sincero e
1919, publicou seu primeiro livro “Espectro” (vários intimista, naturalmente instrospectivo. Seus poemas
poemas de caráter simbolista). Embora fosse o auge têm um cuidado muito grande com a musicalidade e
do Modernismo, a jovem poetisa foi fortemente são envoltos em um universo muitas vezes de sonho,
influenciada pelo movimento literário simbolista. de fantasia, às vezes de solidão (como vocês podem
No ano de 1922, Cecília casou-se com o notar no poema "Canção", ).
pintor Fernando Correia Dias. Com ele, a escritora Por todas essas características, suas
teve três filhas. Sua formação como professora e produções costumam ser muito belas e, ao meu ver,
interesse pela educação levou-a a fundar a primeira extremamente agradáveis de se ler. E, embora muitos
biblioteca infantil do Rio de Janeiro no ano de 1934. possam criticá-la por não seguir a tendência
Escreveu várias obras na área de literatura infantil "educativa" de grande parte dos poetas de sua época,
como, por exemplo, “O cavalinho branco”, “Colar de não há como a acusá-la de alienada. O poema
Carolina”, “Sonhos de menina”, “O menino azul”,
"Mulher ao Espelho" deixa isto claro, quando, através
entre outros. Estes poemas infantis Colar de Carolina da introspecção, faz uma crítica às pressões sociais em
são marcados pela musicalidade (uma das principais relação à imagem colocada em cima dos indivíduos no
características de sua poesia). mundo capitalista e à falsidade.
O marido suicidou-se em 1936, após vários Cecília Meireles, portanto, foi a grande
anos de sofrimento por depressão. O novo casamento responsável por consagrar e também popularizar uma
de Cecília aconteceu somente em 1940, quando literatura intimista e introspectiva que, no futuro, iria
conheceu o engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da se tornar uma marca da literatura feminina,
Silveira. representada também por Clarice Lispector.
No ano de 1939, Cecília publicou o livro Ainda é interessante lembrar que os poemas
Viagem. A beleza das poesias trouxe-lhe um grande de Cecília são também muito marcados pela presença
reconhecimento dos leitores e também dos do tempo, ou melhor, pela passagem dele. Ela tem a
acadêmicos da área de literatura. Com este livro, clara visão de que tudo é transitório e de que o fim
ganhou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de está sempre no horizonte; característica que se
Letras. evidencia no poema "Retrato".
Cecília faleceu em sua cidade natal no dia 9 de Uma última coisa que acho legal comentar, é a
novembro de 1964. similaridade de estilos entre ela e Fernando Pessoa. O
Algumas obras:
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poeta português e sempre destaco a musicalidade em Uma palavra caída
suas poesias, além da beleza dos versos, exatamente das montanhas dos instantes
como acontece com Cecília. Inclusive, arrisco-me a desmancha todos os mares
dizer que Fernando Pessoa só não é o meu poeta e une as terras mais distantes.
favorito porque não leio a sua obra com a frequência
que deveria. A poesia brasileira, na segunda fase do
modernismo, vivia seus melhores momentos. Era uma
Características das obras de Cecília Meireles geração despreocupada com as questões imediatistas
da geração de 22. Percebe-se, do ponto de vista
Suas principais características são literário, uma maturidade, pois não há mais a
sensibilidade forte, intimisno, introspecção, viagem necessidade de escandalizar os meios acadêmico-
para dentro de si mesma e consciência da culturais - tônica da Geração de 22 -, mas de levar
transitoriedade das coisas (tempo = personagem adiante o projeto de liberdade de expressão. Nota-se
principal). Para ela as realidades não são para se a presença de versos livres e de sonetos voltados para
filosofar, são inexplicáveis, basta vivê-las. as questões universais do homem e para os
Sua obra reflete uma atmosfera de sonho, de problemas de uma sociedade capitalista. Verificam-se
fantasia e, ao mesmo tempo, de solidão e ainda reflexões sobre o fazer poético, além do
padecimento. Intimismo, lirismo, misticismo e misticismo e da religiosidade.
universalidade são as principais características da obra Nessa fase encontram-se poetas como: Carlos
de Cecília Meireles. Drummond de Andrade, com poesias sociais e de
Ela nunca esteve filiada a nenhum movimento combate e reflexões sobre o papel do homem no
literário, porém algumas publicações iniciais mundo; Jorge de Lima, com poesias metafóricas e
(“Espectros”, “Baladas para El-Rei”) revelam alguma metafísicas; Murilo Mendes, com poesias surrealistas;
ligação com o Simbolismo. Vinícius de Moraes, cuja poesia caminha cada vez
Sua poesia é intimista e reflexiva (com um mais para a percepção material da vida, do amor e da
tom filosófico), de profunda sensibilidade feminina. mulher, e Cecília Meireles, que envereda pela direção
Em suas obras ela aborda temas como vida, amor e da reflexão filosófica e existencial, sendo a autora
tempo. A musicalidade (uma das características do objeto deste estudo.
Simbolismo) também está presente em seus escritos. Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-
Cecília Meireles, através de suas próprias 1964) é a primeira grande escritora da literatura
experiências de vida, procurou questionar e brasileira e a principal voz feminina de nossa poesia
compreender o mundo em que vivia. moderna. Sua obra privilegia a riqueza do léxico,
Todas essas indagações, tristezas e numa linguagem que explora os símbolos e as
desencantos, marcaram sua poesia, enchendo sua imagens sugestivas, sobretudo os de forte apelo
obra de lirismo. sensorial, enveredando inclusive pela musicalidade.
A autora destacou a necessidade de escrever A rigor, Cecília Meireles nunca esteve filiada a
especificamente para crianças com vistas ao seu pleno nenhum movimento literário. Sua poesia, de modo
desenvolvimento. Escreveu artigos jornalísticos, geral, filia-se às tradições luso-brasileiras. Apesar
pronunciou conferências, escreveu poesias, livros, disso, suas publicações iniciais - Espectros (1919),
peças teatrais e cantigas de roda de maneira que sua Nunca mais... e poemas dos poemas (1923) e Baladas
produção literária, em especial, as direcionadas à para El-Rei (1925) - evidenciam certa inclinação para o
infância, é uma referência aos educadores que Simbolismo. Essa tendência é confirmada pela
trabalham a leitura em salas de aula da educação participação da autora na revista carioca Festa, órgão
infantil. literário de orientação espiritualista que defendia o
universalismo e a preservação de certos valores
VIAGEM: A METAPOESIA EM CECÍLIA MEIRELES tradicionais da poesia. Mário de Andrade enfatiza a
André Luiz Alves Caldas Amóra (UniverCidade) sua qualidade artística, mostrando-nos a grande
Tatiana Alves Soares Caldas (UNESA e UniverCidade) importância dessa poetisa em nossa literatura:
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Ela é desses artistas que tiram seu ouro onde Se desmorono ou se edifico,
o encontram, escolhendo por si, com rara se permaneço ou me desfaço,
independência. E seria este o maior traço de sua - não sei, não sei. Não sei se fico
personalidade, o ecletismo, se ainda não fosse maior ou passo.
o misterioso acerto, dom raro com que ela se Sei que canto. E a canção é tudo.
conserva sempre dentro da mais íntima e verdadeira Tem sangue eterno a asa ritmada.
poesia. (ANDRADE, 1955: 71) E um dia sei que estarei mudo:
Do ponto de vista formal, a escritora foi uma - mais nada.
das mais habilidosas, apresentando cuidadosa seleção (MEIRELES, 1982: 14)
vocabular. Cultivou uma poesia reflexiva, de fundo
filosófico, que abordou, dentre outros, temas como a Na primeira estrofe, a preocupação com a
transitoriedade da vida, a efemeridade do tempo, o fugacidade do tempo é evidenciada, como se observa
amor, o infinito, a natureza, a criação artística. Além nos dois primeiros versos, com a valorização do
disso, a freqüência com que os elementos como o instante, que surge como justificativa do cantar que
vento, a água, o mar, o ar, o tempo, o espaço, a lhe preenche a vida. Ao afirmar não ser alegre nem
solidão e a música aparecem em sua poesia dá a ela triste, mas poeta, o eu-lírico defende o
um caráter fluido e etéreo, que confirmam a distanciamento entre o sentir e o cantar, à
inclinação neo-simbolista. A atitude de semelhança do fingimento pessoano.
questionamento e a tentativa de compreender o A segunda estrofe reitera a efemeridade e a
mundo revelam uma postura intuitiva, realizada a inconstância do viver. O eu-lírico coloca-se como
partir das próprias experiências, como se percebe em irmão das coisas fugidias, e essa inconstância é
comentário feito pela poetisa: confirmada pela imagem do vento.
Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três Na estrofe seguinte, à imagem da inconstância
meses depois da morte de meu pai, e perdi minha segue-se a da dúvida, expressa pela repetição da
mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes conjunção alternativa, bem como da condicional. O ou
ocorridas na família acarretaram muitos e o se que denotam a indefinição que vitima o sujeito
contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me lírico são intensificados pelo não sei que se repete de
deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a forma exaustiva, marcando a interrogação do eu
Morte que docemente aprendi essas relações entre o diante da vida. Observe-se ainda que as inquietações
Efêmero e o Eterno. (GOLDSTEIN, 1982: 3) do eu-lírico sugerem uma reflexão sobre o papel da
Viagem, obra que consagra a autora, além da poesia e sobre a recepção da obra de arte pelo
interpretação de uma trajetória espiritual, apresenta público:
poemas que refletem sobre o fazer poético, em
indagações ainda encontradas em livros posteriores. Se desmorono ou se edifico,
Utilizando-se de jogos de palavras, metáforas, se permaneço ou me desfaço,
sinestesias, dentre outras figuras de linguagem, o eu- - não sei, não sei. Não sei se fico
lírico investiga o processo de criação literária. Tal ou passo.
questão é tematizada em várias poesias, como se (Ibidem: 14)
verifica no poema Motivo:
A última estrofe retoma a imagem do cantar,
Eu canto porque o instante existe aqui visto como um estado de plenitude. A arte teria o
e a minha vida está completa. poder de retratar o instante e, ao mesmo tempo, de
Não sou alegre nem sou triste: eternizá-lo. O eu-lírico associa diferentes aspectos da
sou poeta. criação literária, como a eternidade e a liberdade, nas
Irmão das coisas fugidias, imagens do sangue eterno e da asa ritmada:
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias Sei que canto. E a canção é tudo.
no vento. Tem sangue eterno a asa ritmada.
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E um dia sei que estarei mudo: intitula o poema. O poeta aparece aqui como um
- mais nada. andarilho, e sua busca fracassa justamente em virtude
(Ibidem: 14) da constante mudança das coisas:

Os dois últimos versos confirmam a Venho de longe e vou para longe:


importância do canto, na medida em que mostram mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho
um eu que tem na poesia sua razão de viver. A mudez e não vi nada, porque as ervas cresceram e as
a que o eu-lírico se refere opõe-se ao canto poético, e serpentes andaram.
o nada que fecha o poema contrasta com o tudo, Também procurei no céu a indicação de uma
relativo aocantar. Nota-se, portanto, que o fazer trajetória,
poético representa a totalidade, restando somente o mas houve sempre muitas nuvens.
vazio quando não houver mais arte. E suicidaram-se os operários de Babel.
Um dos aspectos relacionados à metapoesia (Ibidem: 17)
em Cecília diz respeito à imagem do eu-lírico
enquanto poeta. A preocupação quanto ao sentido do Nota-se que o eu-lírico buscou, no chão e no
ser poeta é evidenciada no poema Discurso: céu, os sinais de sua trajetória. A conjunção mas
demonstra uma frustração do ser poético, quando se
E aqui estou, cantando. depara com a falta de clareza - metaforizada pelas
Um poeta é sempre irmão do vento e da água: nuvens -, ou com serpentes e ervas que lhe cobriram
deixa seu ritmo por onde passa. o caminho, simbolizando a efemeridade das coisas.
Venho de longe e vou para longe: No último verso, é explicitada a angústia do não-
mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho entendimento, presente na imagem do suicídio dos
e não vi nada, porque as ervas cresceram e as operários de Babel.
serpentes andaram. O instante espaço-temporal é novamente
Também procurei no céu a indicação de uma explorado na estrofe seguinte. O eu-lírico enfatiza a
trajetória, insistência de seu cantar:
mas houve sempre muitas nuvens.
E suicidaram-se os operários de Babel. Pois aqui estou, cantando.
Pois aqui estou, cantando. Se eu nem sei onde estou,
Se eu nem sei onde estou, como posso esperar que algum ouvido me escute?
como posso esperar que algum ouvido me escute? Ah! se eu nem sei quem sou,
Ah! se eu nem sei quem sou, Como posso esperar que venha alguém gostar de
Como posso esperar que venha alguém gostar de mim?
mim? (Ibidem: 17)
(MEIRELES, Op. Cit.: 17)
Observa-se, nas duas últimas estrofes, um ser
Neste poema, a ideia do instante verificada poético sem rumo, em conflito pela incompreensão
em Motivo é retomada através de imagens que do sentido da vida, ou da própria arte. Além da busca
traduzem a transitoriedade, como vento e água, e ontológica, vê-se a temática da recepção da obra de
marcas textuais que denotam o instante espaço- arte pelo público, expressa pela preocupação com
temporal presente - E aqui estou -, como se observa algum ouvido que o escute ou com alguém que goste
nas duas primeiras estrofes. Percebe-se a constatação dele.
de um eu que se assume como poeta no verbo cantar A reflexão sobre a obra de arte e seu público é
e na referência à figura do escritor, também colocado encontrada também em Herança, poema que pensa a
como algo fugidio. figura do poeta, bem como sua permanência na
As duas estrofes seguintes relatam a busca posteridade:
incessante, por parte do eu-lírico, do sentido do
canto, expresso inclusive pelo termo discurso, que Eu vim de infinitos caminhos,
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e os meus sonhos choveram lúcido pranto
pelo chão. Romanceiro da inconfidência
Quando é que frutifica, nos caminhos infinitos, Romanceiro da inconfidência, livro de poemas
essa vida, que era tão viva, tão fecunda, publicado em 1953, é uma viagem poética no
contexto da conjuração mineira (1789), importante
porque vinha de um coração?
página da história brasileira. Essa obra é resultado de
E os que vierem depois, pelos caminhos infinitos, 10 anos de pesquisa de Cecília Meireles sobre o século
do pranto que caiu dos meus olhos passados, XVIII no Brasil. A ideia da construção do livro surgiu
que experiência, ou consolo, ou prêmio alcançarão? quando Meireles foi enviada, como jornalista, à
(MEIRELES, op.cit.: 111) cidade mineira de Ouro Preto para acompanhar as
festividades religiosas da Semana Santa.
A herança refere-se tanto à preocupação em Inspirada pela arquitetura e pela aura
histórica da cidade, Cecília Meireles decidiu compor
permanecer, por meio da obra, no futuro, quanto à
uma obra em forma de romanceiro, conjunto de
influência advinda dos estilos passados, sobretudo do poemas curtos de origem popular. Utilizando
Simbolismo, que marcou de forma inegável a principalmente a redondilha maior (verso de sete
produção ceciliana. Tal influência pode ser mais sílabas) e um esquema livre de rimas, as composições
claramente percebida na primeira estrofe, em que o combinam os registros:
eu-lírico mostra o lado cósmico de sua poesia, na
imagem dos infinitos caminhos. Há também uma  épico (narração dos fatos)
 dramático (presença de vozes de
reflexão sobre a linguagem - poesia - no lúcido pranto
personagens)
decorrente dos sonhos, quando o eu-lírico pensa o  lírico (reflexões da primeira pessoa)
processo de criação artística. Note-se que, apesar de
ter sua origem nos sonhos, o pranto é lúcido e se Cecília Meireles conseguiu, ao término dessa
espalha pelo chão, remetendo à transcendência obra, reconstituir cenas com liberdade poética, mas
simbolista acrescida de traços modernistas. A questão preservando informações históricas advindas de sua
pesquisa, e compor estilos literários produzidos na
do surgimento da obra será explorada na estrofe
época da inconfidência, como a composição
seguinte, na qual é reiterada a indagação referente ao
de versos que lembram as liras de Tomás Antônio
fazer poético, ao abordar a inspiração, aqui associada Gonzaga (1744-1810), poeta que é um de seus
ao sentimento - coração. personagens.
A última estrofe enfoca diretamente a O Romanceiro da inconfidência, estruturado
temática da influência da obra de arte sobre as em 85 romances, além de outros poemas, é
gerações futuras. Nesse momento, o eu-lírico trabalha composto por 95 textos. A obra divide-se em três
partes:
a herança a ser deixada por ele. Ao se referir a
experiência, consolo ou prêmio, o eu pensa os  a formação de Ouro Preto e os antecedentes
diferentes olhares lançados sobre a obra de arte: da inconfidência;
 os eventos diretamente relacionados ao
E os que vierem depois, pelos caminhos infinitos, movimento, incluindo retratos dos envolvidos
do pranto que caiu dos meus olhos passados, e de suas possíveis motivações;
que experiência, ou consolo, ou prêmio alcançarão?  as consequências da conjuração, com o
enforcamento de Tiradentes, o degredo para
(Ibidem: 111)
os demais acusados e a solidão das mulheres
dos exilados.
Enfim, a preocupação com o fazer poético nas
poesias aqui estudadas cultiva uma reflexão, uma No trecho a seguir, observa-se a apresentação
atitude de questionamento e a tentativa de do cenário em que começa a ser gestada a
compreender o mundo, através da efemeridade do inconfidência mineira:
tempo, da transitoriedade da vida. A poesia de Cecília Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
Meireles, em Viagem, caminha para a fusão da vida e
entre sigilo e espionagem,
poesia / natureza e poeta, com um caráter fluido e acontece a Inconfidência.
etéreo, que confirma a sua inclinação neo-simbolista. E diz o Vigário ao Poeta:
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“Escreva-me aquela letra Assinale a alternativa INCORRETA de acordo com o
do versinho de Vergílio...” poema:
E dá-lhe o papel e a pena. a) A expressão “mãos sem força”, que aparece no
E diz o Poeta ao Vigário, primeiro verso da segunda estrofe, indica um lado
com dramática prudência: fragilizado e impotente do “eu” poético diante de sua
“Tenha meus dedos cortados, postura existencial.
antes que tal verso escrevam...” b) As palavras mais sugerem do que escrevem,
LIBERDADE, AINDA QUE TARDE, resultando, daí, a força das impressões sensoriais.
ouve-se em redor da mesa. Imagens visuais e auditivas, em outros poemas,
E a bandeira já está viva, sucedem-se a todo momento.
e sobe, na noite imensa. c) O tema revela uma busca da percepção de si
E os seus tristes inventores mesmo. Antes de um simples retrato, o que se mostra
já são réus — pois se atreveram é um autorretrato, por meio do qual o “eu” poético
a falar em Liberdade olha-se no presente, comparando-se com aquilo que
(que ninguém sabe o que seja). foi no passado.
d) Não há no poema o registro de estados de ânimo
Exercícios vagos e quase incorpóreos, nem a noção de perda
1. (UFSCAR) amorosa, abandono e solidão.
Reinvenção
A vida só é possível 3. (ENEM – 2012)
reinventada. Ai, palavras, ai, palavras
Anda o sol pelas campinas que estranha potência a vossa!
e passeia a mão dourada Todo o sentido da vida
pelas águas, pelas folhas … principia a vossa porta:
Ah! tudo bolhas o mel do amor cristaliza
que vêm de fundas piscinas seu perfume em vossa rosa;
de ilusionismo … – mais nada. sois o sonho e sois a audácia,
Mas a vida, a vida , a vida calúnia, fúria, derrota…
a vida só é possível A liberdade das almas,
reinventada. […] ai! Com letras se elabora…
(Cecília Meireles) E dos venenos humanos
Podemos dizer que, nesse trecho de um poema de sois a mais fina retorta:
Cecília Meireles, encontramos traços de seu estilo frágil, frágil, como o vidro
a) sempre marcado pelo momento histórico. e mais que o aço poderosa!
b) ligado ao vanguardismo da geração de 22. Reis, impérios, povos, tempos,
c) inspirado em temas genuinamente brasileiros. pelo vosso impulso rodam…
d) vinculado à estética simbolista. MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova
e) de caráter épico, com inspiração camoniana. Aguilar, 1985 (fragmento).

2. (UFU) Leia o poema abaixo: O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro


Retrato da Inconfidência, de Cecília Meireles. Centralizada no
Eu não tinha este rosto de hoje, episódio histórico da Inconfidência Mineira, a obra, no
assim calmo, assim triste, assim magro, entanto, elabora uma reflexão mais ampla sobre a
nem estes olhos tão vazios, seguinte relação entre o homem e a linguagem:
nem o lábio tão amargo. a) A força e a resistência humanas superam os danos
Eu não tinha estas mãos sem força, provocados pelo poder corrosivo das palavras.
tão paradas e frias e mortas, b) As relações humanas, em suas múltiplas esferas,
eu não tinha este coração têm seu equilíbrio vinculado ao significado das
que nem se mostra. palavras.
Eu não dei por esta mudança, c) O significado dos nomes não expressa de forma
tão simples, tão certa e fácil: justa e completa a grandeza da luta do homem pela
– Em que espelho ficou perdida vida.
a minha face?” d) Renovando o significado das palavras, o tempo
(Cecília Meireles) permite às gerações perpetuar seus valores e suas
crenças.
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e) Como produto da criatividade humana, a linguagem Cecília Meireles, nesse trecho de uma composição
tem seu alcance limitado pelas intenções e gestos. inserida no “Romanceiro da Inconfidência, dirige-se às
palavras através de:
4.  (MACKENZIE) “Romanceiro da Inconfidência” é um a) processo anafórico/ catacrese/ versos isométricos.
longo poema que revê nossa época árcade. Seu autor b) processo metafórico/ antonomásia/ versos
é: heterométricos.
a) Mário de Andrade. c) processo anafórico/ metonímia/ versos isométricos.
b) Oswald de Andrade. d) processo metafórico/ alegoria/ versos
c) Carlos Drummond de Andrade. heterométricos.
d) Cecília Meireles. e) processo anafórico/ símbolo/ versos isométricos.
e) Vinícius de Moraes.
7.  (UFES) Das obras abaixo, a única não escrita por
5. (UFES) Cecília Meireles:
“Assovio a) Mar absoluto.
b) Retrato natural.
Ninguém abra a sua porta
c) Vaga música.
para ver que aconteceu: d) Lição de coisas.
saímos de braço dado, e) Poemas escritos na Índia.

a noite escura mais eu. 8. (UFES) Cecília Meireles escreveu os seguintes


versos:
Ela não sabe o meu rumo, a) “De tudo, ao meu amor serei atento
     Antes, e com tal zelo e sempre e tanto
eu não lhe pergunto o seu:      Que mesmo em face do maior encanto
não posso perder mais nada,      Dele se encante mais meu pensamento.”
b) “Não serei o poeta de um mundo caduco
se o que houve já se perdeu.
     Também não cantarei o mundo futuro
Vou pelo braço da noite,      Estou preso à vida
     E olho meus companheiros.”
levando tudo que é meu:
c) “Eu canto porque o instante existe
– a dor que os homens me deram,      E a minha vida está completa
e a canção que Deus me deu.”      Não sou alegre, nem sou triste
     Sou poeta.”
(Cecília Meireles – Viagem) d) “Eu sou redondo
     Redondo eu sei
     Eu sou uma redondilha
Cecília Meireles, no poema transcrito, vale-se dos      Das mulheres que eu beijei.”
seguintes recursos estilísticos: e) “Na rua Aurora eu nasci
a) humanização/ intimismo/ redondilha maior.      Na aurora da minha vida
b) sinestesia/ subjetivismo/ soneto.
c) anáfora/ fugacidade/ redondilha menor. 9. (FUVEST) Com o próprio título indica, no
d) metonímia/ transcendência/ ode. Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, os
e) metáfora/ desengano/ epigrama. romances têm como referência nuclear já frustrada
rebelião na Vila Rica do Século XVIII. No entanto,
6. (UFES) deve-se reconhecer que:
“Pareceis de tênue seda, a) A base histórica utilizada no poema converte-se no
sem peso de ação nem de hora… lirismo transcendente e amargo que caracteriza as
– e estais no bico das penas, outras obras da autora.
– e estais na tinta que as molha, b) As intenções ideológicas da autora e a estrutura
– e estais nas mãos dos juízes, narrativa do poema emprestam ao texto as virtudes
– e sois o ferro que arrocha, de uma elaborada prosa poética.
– e sois o barco para o exílio, c) A imaginação poética dá à autora a possibilidade de
– e sois Moçambique e Angola!” interferir no curso dos episódios essenciais da
(“Romance III ou das Palavras Aéreas”) rebelião, alterando-lhes o rumo.

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d) A matéria histórica tanto alimenta a expressão
poética no desenvolvimento dos fatos centrais quanto
motiva o lirismo reflexivo.

e) A preocupação com a fidedignidade histórica e com


o tom épico atenua o sentimento dramático da
vida, habitual na poesia da autora.

10.  (ITA 2003) Cecília Meireles, poeta da segunda fase


do Modernismo Brasileiro, faz parte da chamada
“Poesia de 30”. Sobre esta autora e seu estilo, é
CORRETO afirmar que ela
a) seguiu rigidamente o Modernismo Brasileiro,
produzindo uma poesia de consciência histórica.
b) não seguiu rigidamente o Modernismo Brasileiro,
produzindo uma obra de traços parnasianos.
c) seguiu rigidamente o Modernismo Brasileiro,
produzindo uma poesia panfletária e musical.
d) não seguiu rigidamente nenhuma corrente do
Modernismo Brasileiro, produzindo uma poesia lírica,
mística e musical.

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