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Resumo para Vestibular: "Seminário dos Ratos" de Lygia Fagundes Telles

Seminário dos Ratos, escrito por Lygia Fagundes Telles e publicado em 1977, é uma obra da literatura
brasileira contemporânea que mergulha nas profundezas da mente humana para explorar questões
existenciais, sociais e psicológicas. Neste romance, a autora apresenta uma narrativa densa e intrigante
que convida o leitor a refletir sobre a complexidade da condição humana.

A trama se desenrola em um ambiente claustrofóbico: um seminário, onde estudantes de teologia se


preparam para a vida religiosa. O protagonista, Padre Bento, é um jovem seminarista atormentado por
dúvidas sobre sua vocação e pelo estranho desaparecimento de seu colega, Padre Dinis. A narrativa se
desdobra em dois planos temporais: o presente, no seminário, e o passado, revelando a trajetória de
Padre Dinis e seu envolvimento com uma mulher misteriosa, Mariana.

Ao longo da história, Lygia Fagundes Telles constrói uma atmosfera de suspense e tensão, explorando
temas como a fé, a culpa, a solidão e a busca pelo sentido da vida. A autora utiliza uma narrativa não
linear, alternando entre diferentes pontos de vista e períodos temporais, desafiando o leitor a montar o
quebra-cabeça da trama.

Além disso, Seminário dos Ratos oferece uma crítica sutil à instituição religiosa e à sociedade da época,
revelando as contradições e hipocrisias que permeiam o universo dos seminários e da Igreja Católica.

Lygia Fagundes Telles, conhecida por sua maestria na construção de personagens complexos e na
exploração das profundezas da psicologia humana, cria em Seminário dos Ratos uma obra que desafia o
leitor a refletir sobre a natureza da fé, o conflito interior e as escolhas que moldam o destino humano.

Em resumo, Seminário dos Ratos é um romance intrigante e profundo que aborda questões existenciais e
sociais por meio de uma narrativa envolvente e complexa. Lygia Fagundes Telles convida o leitor a
explorar os recantos mais sombrios da alma humana e a questionar as estruturas institucionais que
moldam nossas vidas. É uma obra que merece destaque na literatura brasileira e que oferece uma rica
oportunidade de reflexão para aqueles que se aventuram em suas páginas.

por favor, poderia aprofundar mais sobre o enredo do livro ?


ChatGPT
Certamente! Vamos aprofundar mais no enredo do livro "Seminário dos Ratos" de Lygia Fagundes Telles:

A história de "Seminário dos Ratos" gira em torno do protagonista, Padre Bento, um jovem seminarista
que está em uma jornada de autodescoberta espiritual e emocional enquanto frequenta um seminário.
Padre Bento é um personagem complexo que questiona sua fé e sua vocação religiosa, tornando-se o
ponto central de toda a narrativa.

A trama começa a se desenrolar quando Padre Bento começa a investigar o desaparecimento misterioso
de seu colega, Padre Dinis. Ao longo da narrativa, os leitores são levados a refletir sobre as razões por
trás desse desaparecimento e a natureza dos eventos que levaram a esse desfecho.

A autora utiliza uma estrutura narrativa não linear, alternando entre o presente no seminário e o
passado, revelando a história de Padre Dinis e seu envolvimento com uma mulher chamada Mariana.
Essa relação proibida e complexa entre Padre Dinis e Mariana é um elemento crucial na trama,
explorando temas de amor, paixão, culpa e desejo em um contexto religioso.

Lygia Fagundes Telles constrói uma atmosfera de suspense e mistério ao longo da narrativa, à medida
que Padre Bento desvenda os segredos que cercam o desaparecimento de Padre Dinis e confronta sua
própria crise de fé. O seminário, embora seja um lugar de estudo religioso, torna-se um cenário
opressivo e repleto de tensão psicológica, onde os personagens são forçados a lidar com suas próprias
contradições e conflitos interiores.

Além disso, o romance também oferece uma crítica sutil à instituição religiosa e à sociedade da época,
revelando as complexidades e hipocrisias que existem dentro dos seminários e da Igreja Católica. A
autora questiona a rigidez das estruturas religiosas e como essas estruturas podem afetar a vida e as
escolhas dos indivíduos.

Em resumo, "Seminário dos Ratos" é uma obra literária que mergulha nas profundezas da psicologia
humana, explorando temas como fé, culpa, paixão e identidade em um contexto religioso. Lygia
Fagundes Telles tece uma trama intrincada, desafiadora e cheia de camadas, que convida os leitores a
refletirem sobre as complexidades da condição humana e as implicações das escolhas que fazemos em
nossas vidas.

Resumo de "Melhores Poemas" de Cecília Meireles

"Melhores Poemas" de Cecília Meireles é uma coletânea cuidadosamente selecionada das


obras dessa renomada poetisa brasileira, conhecida por sua rica poesia lírica e por sua
contribuição significativa para a literatura brasileira do século XX. A coletânea, organizada
por Ferreira Gullar, oferece uma visão abrangente da diversidade de temas e estilos
presentes na obra de Cecília Meireles.

Cecília Meireles, que viveu de 1901 a 1964, foi uma das vozes mais influentes da poesia
brasileira. Sua obra é caracterizada por uma profunda introspecção, uma sensibilidade
ímpar e uma habilidade única de explorar a linguagem poética. Através de sua poesia, ela
abordou temas como a infância, a natureza, a espiritualidade, a solidão e a passagem do
tempo.

A coletânea "Melhores Poemas" inclui uma seleção representativa da poesia de Cecília


Meireles ao longo de sua carreira. Aqui estão alguns dos aspectos mais notáveis da obra da
autora:
1. Lirismo e Sensibilidade: A poesia de Cecília Meireles é permeada por um profundo
lirismo e uma sensibilidade aguda. Ela era mestra na expressão de emoções e
sentimentos, evocando a ternura e a melancolia em muitos de seus poemas.
2. Natureza e Simbolismo: A natureza desempenha um papel significativo em muitos
poemas de Cecília Meireles. Ela frequentemente utilizava elementos da natureza,
como árvores, flores e animais, como metáforas para explorar temas mais amplos da
vida e da existência.
3. Infância e Memória: Cecília Meireles tinha uma forte ligação com a infância e a
memória. Muitos de seus poemas evocam lembranças da infância e exploram a
complexidade das experiências infantis.
4. Misticismo e Espiritualidade: A espiritualidade é um tema recorrente na poesia de
Cecília Meireles. Ela frequentemente explorava questões relacionadas à busca por
significado na vida, à existência de Deus e à conexão entre o humano e o divino.
5. Engajamento Social: Embora sua poesia fosse frequentemente associada à
introspecção e à contemplação, Cecília Meireles também abordou questões sociais
em sua obra. Ela expressou preocupação com a desigualdade, a injustiça e a
condição humana em muitos de seus poemas.

"Melhores Poemas" de Cecília Meireles oferece aos leitores uma oportunidade única de
explorar a riqueza da poesia brasileira do século XX através das palavras dessa notável
autora. Suas reflexões sobre a vida, a natureza, a espiritualidade e a condição humana
continuam a ressoar com leitores de todas as idades, tornando-a uma das figuras mais
importantes da literatura brasileira. Esta coletânea é uma porta de entrada valiosa para o
universo poético de Cecília Meireles e uma celebração de sua contribuição duradoura para
a cultura literária do Brasil.

ALGUMA POESIA, DE CARLOS DRUMMOND DE


ANDRADE
Publicado em 1930, Alguma Poesia, primeira obra poética de Drummond, contém quarenta e nove
poemas, muitos deles, micro-poemas, reunindo produções do autor, entre 1925 e 1930 e tem sido
considerado como elo de ligação entre a primeira e a segunda gerações do nosso Modernismo,
representando a síntese mais perfeita entre elas.
Alguma Poesia foi escrito sob o ímpeto da modernidade de 1922, pratica o poema-piada, utiliza os
coloquialismos apregoados pela estética, cultiva a poesia do cotidiano, repudiando as tendências
parnasiano-simbolistas que dominaram a poesia até então. No entanto, o poema-piada de
Drummond é antes um desabafo de um tímido que procura afogar (disfarçar) no humor os
sentimentos que o amarguram. No prosaísmo esconde a procura de uma expressão poética
autêntica e autônoma e, ao se voltar para o cotidiano, transcende o tempo e o espaço em busca do
perene e universal.
Drummond seguiu em Alguma Poesia a mesma linha temática que permaneceu durante sua
trajetória poética, que pode ser identificada como se segue, a partir do que o próprio autor sugere
como condução temática de sua obra:
1. O indivíduo – “um eu todo retorcido”
Seção que investiga a formação do poeta e sua visão acerca do mundo. Sempre lúcido, discorre
com amargor, pessimismo, ironia e humor o que ele, atento observador, capta de si mesmo e das
coisas que o rodeiam. Alguns poemas sintetizam a visão do indivíduo, como o poema Poema de
sete faces em que vaticina seu destino. É o primeiro poema de Alguma Poesia do qual transcreve-se
a primeira estrofe: Quando nasci, um anjo torto / desses que vivem na sombra / disse: Vai, Carlos! ser
gauche na vida.

A palavra gauche (lê-se gôx), de origem francesa, corresponde a “esquerdo” em nosso idioma. Em
sentido figurado, o termo pode significar “acanhado”, ” inepto”. Qualifica o ser às avessas, o “torto”,
aquele que está à margem da realidade circundante e que com ela não consegue se comunicar.
2. A família – “a família que me dei”
Uma das constantes temáticas de Drummond, presente desde Alguma Poesia até seus versos
finais, é a família, sua vivência interiorana em Minas Gerais, a paisagem que marca sua memória.
Contrariando o lugar-comum, ao invés de se referir à família como algo que lhe foi atribuído por
Deus, o poeta coloca um “que me dei” a analisa suas relações pessoais, consciente de que se
assentam na perspectiva pessoal. De modo muito individual, retrata o escoar do tempo, como é
possível observar em Infância, Família, Sesta, alguns dos mais significativos poemas de Alguma
Poesia.
3. O conhecimento amoroso – “amar-amaro”
Com o jogo de palavras amar-amaro, título emprestado de um poema do livro Lição de Coisas, o
poeta acrescenta ao substantivo “amar” o adjetivo “amargo”, sentimento recorrente em alguns de
seus poemas e livros escritos posteriormente. Em Alguma Poesia o tema é tratado com boas doses
de humor, sátira ou pitadas de idealismo, como em Toada do amor, Sentimental, Quero me
casar, Quadrilha.
4. Paisagem e viagens
Um grupo de poesias faz anotações sobre viagens, retratando paisagens vistas e vividas, mas
também recuperando as influências recebidas da sempre subserviente postura brasileira ante as
supercivilizações, como em Lanterna mágica, Europa, França e Bahia.
5. O social e a evolução dos tempos
Drummond constrói poemas em que contempla a mudança dos tempos, o progresso chegando e
invadindo a antiga paisagem, como em A rua diferente ou Sobrevivente.

Resumo de "Sonetos de Camões" de Luís Vaz de Camões

Os "Sonetos" de Luís Vaz de Camões são uma coleção de poemas líricos que representam
uma parte significativa da obra do poeta português do século XVI. Essa coleção é
frequentemente considerada uma das maiores realizações da poesia lírica em língua
portuguesa e é composta por uma série de sonetos que exploram uma ampla gama de
temas, desde o amor até questões filosóficas e existenciais.

Aqui está um resumo abrangente dos "Sonetos de Camões":

Contexto Histórico e Literário:


Luís Vaz de Camões, nascido provavelmente em 1524 e falecido em 1580, é uma das figuras
mais proeminentes da literatura portuguesa e é conhecido internacionalmente por sua
epopeia "Os Lusíadas". Os "Sonetos" de Camões foram escritos durante o Renascimento
português, um período de intensa atividade cultural e literária. Eles também fazem parte do
movimento literário do Maneirismo, que se caracteriza por uma expressão artística
complexa e sofisticada.

Temas e Características dos Sonetos:

1. Amor: Muitos dos sonetos de Camões abordam o tema do amor, explorando as


complexidades das paixões humanas, a natureza efêmera do desejo e a intensidade
das emoções amorosas. Eles variam de sonetos românticos e idealizados a outros
que expressam desilusão e sofrimento amoroso.
2. Natureza e Paisagem: Camões frequentemente utiliza imagens da natureza e da
paisagem para simbolizar sentimentos e estados de espírito. Ele emprega uma
linguagem rica e metafórica para descrever elementos naturais, como o mar, as
estrelas e as flores.
3. Tempo e Efemeridade: A passagem do tempo e a efemeridade da vida são temas
recorrentes nos sonetos de Camões. Ele reflete sobre a brevidade da existência
humana e a inevitabilidade da morte.
4. Saudade: Um sentimento conhecido como "saudade" é uma característica marcante
na poesia portuguesa e também está presente nos sonetos de Camões. Esse termo
descreve uma profunda melancolia e saudade de algo ou alguém ausente.
5. Reflexão Filosófica: Alguns sonetos de Camões também se voltam para questões
filosóficas e existenciais, como o sentido da vida, a busca da verdade e a relação
entre o homem e o divino.

Estilo e Forma:

Os sonetos de Camões seguem a forma tradicional do soneto italiano, com 14 versos em


rima, divididos em dois quartetos e dois tercetos. A linguagem de Camões é conhecida por
sua musicalidade e profundidade, e ele usa uma métrica rigorosa e uma variedade de
recursos poéticos, como aliteração, metáforas e antíteses, para criar uma poesia lírica de
grande expressividade.

Legado e Influência:

Os "Sonetos de Camões" continuam a ser estudados e apreciados por sua riqueza poética e
universalidade temática. A obra de Camões influenciou inúmeros poetas e escritores ao
longo dos séculos, e seus sonetos são frequentemente citados como exemplos da mais alta
realização na língua portuguesa.
Em resumo, os "Sonetos de Camões" representam um dos pilares da literatura lírica em
língua portuguesa. Eles exploram uma ampla gama de temas humanos e existenciais com
profundidade e sensibilidade, e a habilidade poética de Camões eleva esses sonetos a um
patamar de grande importância na tradição literária mundial.

Resumo de "A Falência" de Júlia Lopes de Almeida

"A Falência" é um romance escrito por Júlia Lopes de Almeida, uma das autoras mais
importantes da literatura brasileira do século XIX e início do século XX. Publicado em 1901,
o livro é uma obra representativa do Realismo no Brasil e aborda questões sociais e
psicológicas, enquanto oferece um retrato da sociedade carioca da época.

A história central do romance gira em torno de duas famílias: os Amarantes e os Frazões. O


enredo é ambientado na cidade do Rio de Janeiro durante o período do Segundo Império,
uma época de transformações sociais e políticas no Brasil.

Personagens Principais:

1. Virgínia Amarante: Ela é a protagonista da história, uma jovem sensível e virtuosa


que se casa com o advogado Jorge Frazão. Virgínia representa a pureza e a
fragilidade feminina, enquanto enfrenta os desafios de uma sociedade patriarcal e
opressiva.
2. Jorge Frazão: Um advogado de modos refinados, casado com Virgínia. Jorge tem
ambições políticas e sociais, mas também é um homem complexo, marcado por suas
relações familiares complicadas.
3. D. Antônia Amarante: Mãe de Virgínia, D. Antônia é uma figura materna afetuosa e
preocupada com o bem-estar de sua filha. Ela é um contraponto ao conservadorismo
social da época.
4. D. Ana Frazão: Mãe de Jorge Frazão, D. Ana representa a figura autoritária e
dominadora. Sua influência exerce uma pressão constante sobre Jorge e sua vida
conjugal.

Enredo:

O enredo se desenrola com o casamento de Virgínia Amarante e Jorge Frazão. A princípio,


o casal parece estar feliz, mas logo surgem conflitos devido à personalidade controladora
de Jorge e à influência de sua mãe, D. Ana, sobre sua vida. Jorge é eleito deputado e, à
medida que sua carreira política avança, ele se distancia cada vez mais de Virgínia.

A trama se aprofunda quando Virgínia começa a questionar seu papel na sociedade e a


repressão imposta às mulheres da época. Ela luta para encontrar sua própria identidade e
voz em um ambiente dominado por valores tradicionais e machismo.
O título do romance, "A Falência", não se refere apenas à falência financeira, mas também à
falência dos valores morais e sociais da sociedade da época. A história é um estudo de
personagem que explora os conflitos psicológicos de Virgínia e a pressão social que a leva à
sua crise emocional.

Ao longo do romance, Júlia Lopes de Almeida critica as convenções sociais que restringem
a liberdade e a autonomia das mulheres, bem como a corrupção e a hipocrisia que
permeiam a política e a sociedade da época.

Conclusão:

"A Falência" é uma obra literária que destaca a escrita perspicaz e crítica de Júlia Lopes de
Almeida. O romance mergulha nas complexidades das relações humanas, especialmente as
relações de gênero e poder, enquanto fornece uma visão valiosa da sociedade brasileira no
final do século XIX. O livro continua a ser relevante como uma exploração da luta das
mulheres por autonomia e identidade, além de uma crítica social e psicológica da época em
que foi escrito.

A PAIXÃO SEGUNDO G.H., DE CLARICE LISPECTOR


Análise da obra
A Paixão segundo G. H., romance de 1964 de Clarice Lispector, é uma obra inquietante, angustiante
e, ao mesmo tempo, intrigante. Nesse romance, Clarice Lispector consegue transmitir ao leitor as
preocupações de ordem emocional da personagem G. H., uma mulher bem-sucedida
profissionalmente, mas que não conhece a sua própria identidade e, por isso, vai em busca do
conhecimento interior.
É através de um universo de questionamentos e reflexões que o leitor toma contato com a
atmosfera de instabilidade emocional em que G. H. se encontra, nela mergulhando conforme
apresenta a narradora no início da narrativa: “[…] estou procurando. Estou tentando entender”.
É em um pequeno quarto, estimulada pela visão de uma desprezível, nojenta e escatológica barata
que se desencadeia, em G.H., todo um processo interno de reflexão e de busca de identidade. Ela
experimenta, diante da barata viva, aquilo que considera a sua pior descoberta: “a de que o mundo
não é humano. E de que não somos humanos”.
A narrativa foge ao padrão convencional ao tratar dos problemas do ser consigo mesmo e com o
mundo, resultando daí o chamado romance introspectivo. Os pensamentos são transcritos
conforme eles surgem à cabeça da personagem – técnica que recebe o nome de fluxo de
consciência. Assim, a literatura introspectiva e intimista de Clarice Lispector fixa-se na crise do
próprio indivíduo. Tal forma de narrar é um convite para que o leitor se atire nessa atmosfera que
busca, acima de tudo, a compreensão do ser humano.
A inquietação, marca da personagem e da linguagem da obra, é percebida logo no início da
narrativa, no momento em que a narradora está começando a escrever. Ela bate várias vezes a
mesma tecla da máquina, o que, de certa forma, revela o estado inquietante de espírito. Esse
primeiro contato demonstra preocupação e incerteza diante daquilo que ela quer contar e cujo
sentido não se esgota exclusivamente nas palavras, mas depende do que não está sendo dito,
daquilo que está escrito nas entrelinhas, daquilo que é indizível.
Os romances e contos de Clarice Lispector percorrem essas quatro etapas:

1) a personagem é disposta numa determinada situação cotidiana;

2) prepara-se um evento que é pressentido discretamente;

3) ocorre o evento , que “ilumina” a vida;

4) ocorre o desfecho, onde se considera a situação da vida da personagem , após o evento.

A Paixão Segundo G. H. faz a prospecção “do mundo exterior, como quem macera a afetividade e
afia a atenção, para colher amostras, numa tentativa de absorver o mundo pelo “eu”. A partir desse
romance não há mais os recursos habituais do romance psicológico. Não há etapas de um drama,
cada personagem envolve todo o drama. Logo, não há começo definido, nem tempo, nem um
epílogo, há uma contínua densidade na experiência existencial e o reconhecimento de uma
verdade que despoja o “eu” das ilusões cotidianas e o entrega a um novo sentido da realidade”
(Bosi).
É um mergulho no interior do narrador-personagem, e não há propriamente história. G.H. busca,
em si mesma, pela introspecção radical, sua identidade e as razões de viver, sentir e amar A obra
nem começa, nem termina: ela continua.
…estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender Tentando dar a alguém o que vivi e não
sei a quem, mas não quem ficar como que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa
desorganização profunda. Não confio ‘lo que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo
fato de não a saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, e teria a
segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior A isso
prefiro chamar desorganização pois não quero não me confirmar no que vivi — na confirmação de
mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro.
G. H., em seu apartamento, no último andar de um prédio de 13 pavimentos, flagra-se de repente a
tomar o café da manhã automaticamente. Isso a assusta: emerge nela o desvario do quotidiano
alienado, robotizado. Resolve visitar o bas-fond de seu apartamento: o quarto da empregada, que
se demitira.
Havia seis meses que não entrava ali. Ao penetrá-lo, ela mergulha em seu próprio vazio interior.
Aflita, procura alguma coisa para fazer, mas não há nada. E eis que surge uma barata, saindo de
um armário. Nesse momento, deflagra-se na personagem a consciência da solidão (tanto dela,
quanto da barata). O nojo pelo inseto desafia-a assustadoramente: é preciso que ela se aproxime
da barata, toque na barata e até (será possível?) prove o sabor da barata. Para regressar ao seu
estado de um ser primitivo, selvagem — e por isso mais feliz — G. H. deve passar pela experiência
de experimentar o gosto do inseto. Através da “provação” (que é a sua náusea física e existencial),
G. H. estaria fazendo uma reviravolta em seu mundo condicionado e asséptico, alienado e
imune. Transcrevemos, a seguir, o momento dessa reviravolta, dessa epifania (momento
privilegiado de revelação, que ilumina a vida da personagem ou, no sentido
religioso, da presença de uma entidade sagrada, que transmite uma mensagem ou aponta um
caminho).
Crispei minhas unhas na parede: eu sentia agora o nojento na minha boca, e então comecei a cuspir a
cuspir furiosamente aquele gosto de coisa alguma, gosto de um nada que no entanto me parecia quase
adocicado como o de certas pétalas de flor gosto de mim mesma – eu cuspia a mim mesma, sem chegar
jamais ao ponto de sentir que enfim tivesse cuspido minha alma toda. “… porque não és nem frio nem
quente, porque és morno, eu te vomitarei da minha boca , era Apocalipse segundo São João, e a frase
que devia se referir a outras coisas das quais eu já não me lembrava mais, a frase me veio do fundo da
memória, servindo para o insípido do que eu comera – e eu cuspia.
O que era difícil, pois a coisa neutra é extremamente enérgica, eu cuspia e ela continuava eu.
Só parei na minha fúria quando compreendi com surpresa que estava desfazendo tudo o que
laboriosamente havia feito quando compreendi que estava me renegando. E que, ai de mim, –eu não
estava à altura senão de minha própria vida.
Parei espantada, e meus olhos se encheram de lágrimas que só ardiam e não corriam. Acho que eu não
me julgava sequer digna de que lágrimas corressem, faltava-me a primeira piedade por mim, a que
permite chorar, e nas pupilas eu retinha em ardor as lágrimas que me salgavam e que eu não merecia
que escorressem.
Mas, mesmo não escorrendo, as lágrimas de tal modo me serviam de companheiras e de tal modo me
banhavam de comiseração, que fui abaixando uma cabeça consolada, E, como quem volta de uma
viagem, voltei a me sentar quieta na cama.
Eu que pensara que a maior prova de transmutação de mim em mim mesma seria botar na boca a
massa branca de barata. E que assim me aproximaria do… divino? do que é real? O divino para mim é o
real.
……………………………………………………………………………………………………………………………..
Falta apenas o golpe da graça – que se chama paixão.
O que estou sentindo agora é uma alegria. Através da barata viva estou entendendo que também eu sou
o que é vivo. Ser vivo é um estágio muito alto, é alguma coisa que só agora alcancei. É um tal alto
equilíbrio instável que sei que não vou poder ficar sabendo desse equilíbrio por muito tempo a graça da
paixão é curta.
A paixão de G. H. pode ser, biblicamente, interpretada como sofrimento, aludindo à Paixão de
Cristo, narrada por Mateus, Marcos, Lucas e João.

É comum a aproximação da obra de Clarice à corrente filosófica existencialista, especialmente do


existencialismo literário-filosófico de Jean Paul Sanre (1905-1981).

A náusea, aqui tomada como forma emocional violenta da angústia, é o momento que antecede a
revelação, a epifania, e resulta sempre da dolorosa sensação da fragilidade da condição humana.

Enfim, quebrara-se realmente o meu invólucro, e sem limite eu era. Por não ser, eu era. Até o fim daquilo
que eu não era, eu era. O que não sou eu, eu sou. Tudo estará em mim, se eu não for; pois “eu” é apenas
um dos espasmos instantâneos do mundo. Minha vida não tem sentido apenas humano, é muito
maior – é tão maior que, em relação ao humano, não tem sentido. Da organização geral que era maior
que eu, eu só havia até então percebido os fragmentos. Mas agora, eu era muito menos que humana – e
só realizaria o meu destino especifïcamente humano se me entregasse, como estava me entregando, ao
que já não era eu, ao que já é inumano.
………………………………………………………………………………
O mundo independia de mim – esta era a confiança a que eu tinha chegado: o mundo independia de
mim, e não estou entendendo o que estou dizendo, nunca! nunca mais compreenderei o que eu disser.
Pois como poderia eu dizer sem que a palavra mentisse por mim? como poderei dizer senão
timidamente assim: a vida se me é. A vida se me é, e eu não entendo o que digo. E então adoro…
A Paixão Segundo G. H. é uma obra de profunda ressonância existencialista, e ao mesmo tempo
portadora de um permanente exercício de esvaziamento ontológico, portanto, se lida detidamente,
pode ser considerada uma obra de iluminação e de radical ajuizamento crítico sobre a condição
humana.
Resumo de "Suíte Tóquio" de Giovana Madalosso

"Suíte Tóquio" é um romance escrito pela autora brasileira Giovana Madalosso e publicado
em 2009. A obra oferece uma visão envolvente e cativante da cidade de Tóquio, no Japão,
enquanto explora as experiências e desafios de um grupo diversificado de personagens que
vivem na cidade. O livro é uma narrativa contemporânea que mescla elementos culturais
brasileiros e japoneses em um cenário exótico e vibrante.

Enredo:

O romance "Suíte Tóquio" apresenta uma trama multifacetada que se desdobra através das
perspectivas de diferentes personagens, cada um com sua própria história e bagagem
cultural. A história gira em torno de brasileiros que vivem em Tóquio, e a cidade é retratada
como um personagem central, com suas peculiaridades, contrastes e ritmos peculiares.

Os personagens incluem:

1. Daniel: Um jovem brasileiro que se muda para Tóquio em busca de novas


experiências e oportunidades. Ele trabalha como garçom e aspira a se tornar escritor.
2. Rafael: Um médico brasileiro que trabalha em Tóquio e vive um relacionamento
tumultuado com sua esposa japonesa.
3. Akira: Um japonês que se interessa pela cultura brasileira e acaba se envolvendo
com a comunidade brasileira em Tóquio.
4. Andréia: Uma brasileira que trabalha como hostess em uma boate japonesa,
enfrentando as complexidades da vida noturna de Tóquio.

Temas Principais:

"Suíte Tóquio" aborda uma série de temas complexos e universais:

1. Identidade e Pertencimento: Os personagens vivem em um contexto culturalmente


diversificado e muitas vezes lutam para encontrar seu lugar em uma sociedade
estrangeira.
2. Solidão e Desconexão: A cidade de Tóquio é retratada como uma metrópole
agitada e solitária, onde os personagens buscam conexões pessoais significativas em
meio à agitação urbana.
3. Cultura e Conflito: A convivência de culturas brasileiras e japonesas cria tensões e
mal-entendidos, levando os personagens a refletirem sobre as diferenças culturais e
suas próprias identidades.
4. Sonhos e Aspirações: Os personagens têm sonhos e ambições que muitas vezes são
desafiados pelas realidades da vida em Tóquio, levando a questionamentos sobre o
significado do sucesso e da felicidade.
Estilo e Narrativa:

Giovana Madalosso utiliza uma narrativa fluida e envolvente para contar a história,
alternando entre as perspectivas dos personagens ao longo do livro. Sua prosa é rica em
detalhes descritivos, criando uma atmosfera palpável da cidade de Tóquio.

Conclusão:

"Suíte Tóquio" de Giovana Madalosso é uma obra literária contemporânea que explora
questões de identidade, pertencimento e cultura em um cenário fascinante e cosmopolita.
A autora oferece uma visão perspicaz das experiências de brasileiros em Tóquio, ao mesmo
tempo em que mergulha nas complexidades das relações humanas e das aspirações
individuais. O livro é uma jornada cativante pelos corações e mentes de personagens que
buscam significado e conexão em uma cidade estrangeira e dinâmica.

Resumo de "Niketche: Uma História de Poligamia" de Paulina Chiziane

"Niketche: Uma História de Poligamia" é uma obra literária escrita pela renomada autora
moçambicana Paulina Chiziane. Publicado em 2002, este romance oferece uma visão
profunda e envolvente das questões de gênero, casamento e poligamia em Moçambique,
enquanto explora as complexidades das relações humanas e sociais.

Contexto Histórico e Cultural:

O romance se passa em Moçambique, um país africano com uma rica diversidade cultural e
étnica. Moçambique passou por um período de turbulência política e social, incluindo a luta
pela independência de Portugal e uma guerra civil que durou até 1992. "Niketche" se
desenvolve em um cenário pós-independência, quando o país enfrenta desafios
significativos de reconstrução e transformação social.

Enredo:

O enredo de "Niketche" gira em torno de Rami, uma mulher moçambicana que descobre
que seu marido, Tony, a deixou para se casar com outra mulher mais jovem. Rami,
devastada pela traição e desesperada para entender os motivos por trás disso, embarca em
uma jornada de autodescoberta e reflexão sobre o casamento, a poligamia e o papel das
mulheres na sociedade.

Ao longo da história, Rami entra em contato com outras mulheres que também foram
afetadas pela poligamia e pela infidelidade de seus maridos. Ela forma laços com essas
mulheres e ouve suas histórias, criando um espaço para a expressão de suas experiências e
emoções. Através desses encontros, o livro aborda questões de gênero, poder e opressão,
oferecendo uma crítica incisiva das normas sociais que perpetuam a poligamia e a
subjugação das mulheres.

Além disso, "Niketche" explora temas relacionados à identidade cultural, à busca por
independência e à reconciliação com o passado. Rami embarca em uma jornada espiritual e
pessoal para entender seu próprio valor como mulher e cidadã em uma sociedade que
muitas vezes marginaliza as vozes e experiências das mulheres.

Estilo e Narrativa:

Paulina Chiziane utiliza uma prosa envolvente e poética para contar a história de Rami e das
outras mulheres que ela encontra ao longo de sua jornada. O livro combina elementos do
realismo social com elementos mágicos e míticos da cultura moçambicana, criando uma
narrativa rica e multilayered.

Conclusão:

"Niketche: Uma História de Poligamia" é uma obra literária que mergulha nas
complexidades das relações humanas, do casamento e das questões de gênero em
Moçambique. Paulina Chiziane tece uma história envolvente que não apenas revela as lutas
das mulheres em uma sociedade patriarcal, mas também celebra sua resiliência e
capacidade de autodeterminação. O livro é uma poderosa exploração das vozes e
experiências das mulheres moçambicanas e uma crítica perspicaz das normas sociais que
moldam suas vidas.

MORTE E VIDA SEVERINA, DE JOÃO CABRAL DE


MELO NETO
Análise da obra
Morte e Vida Severina, o texto mais popular de João Cabral de Melo Neto, é um auto de natal do
folclore pernambucano e, também, da tradição ibérica. Foi escrito entre 1954-55.
Naquela ocasião, Maria Clara Machado, que dirigia o teatro Tablado, no Rio, pedira que João Cabral
escrevesse algo sobre retirantes. O poeta escreveu, então, um grupo de poemas dramáticos, para
“serem lidos em voz alta” e os dedicou a Rubem Braga e Fernando Sabino, “que tiveram a idéia
deste repertório”.

Morte Vida Severina tem como subtítulo Auto de Natal pernambucano e tem inspiração nos autos
pastoris medievais ibéricos, além de espelhar-se na cultura popular nordestina.
É por esse motivo que, no poema, João Cabral usa preferencialmente o verso heptassilábico, a
chamada “medida velha”, ou redondilho maior, verso sonoroso e facilmente obtido.

Morte e Vida Severina estruralmente está dividida em 18 partes; no entanto, outra divisão muito
nítida pode ser feita quanto à temática: da parte 1 a 9, compreende-se o périplo de Severino até o
Recife, seguindo sempre o rio Capibaribe, ou o “fio da vida” que ele se dispõe a seguir, mesmo
quando o rio lhe falta e dele só encontra a leve marca no chão crestado pelo sol. Da parte 10 a 18,
o retirante está no Recife ou em seus arredores e sofridamente sabe que para ele não há nenhuma
saída, a não ser aquela que presenciou no percurso: a morte.
Sua linha narrativa segue dois movimentos que aparecem no título: “morte” e “vida”. No primeiro,
temos o trajeto de Severino, personagem-protagonista, para Recife, em face da opressão
econômico-social, Severino tem a força coletiva de uma personagem típica: representa o retirante
nordestino. No segundo movimento, o da “vida”, o autor não coloca a euforia da ressurreição da
vida dos autos tradicionais, ao contrário, o otimismo que aí ocorre é de confiança no homem, em
sua capacidade de resolver os problemas sociais.

O auto de natal Morte e Vida Severina possui estrutura dramática: é uma peça de teatro. Severino,
personagem, se transforma em adjetivo, referindo-se à vida severina, à condição severina, à
miséria.
O retirante vem do sertão para o litoral, seguindo a trilha do rio Capibaribe. Quando atinge o
Recife, depois de encontrar muitas mortes pelo caminho, desengana-se com o sonho da cidade
grande e do mar.

Resolve então “saltar fora da ponte e da vida”, atirando-se no Capibaribe. Enquanto se prepara
para morrer e conversa com seu José, uma mulher anuncia que o filho deste “saltou para dentro da
vida” (nasceu).

Severino assiste ao auto de natal (encenação comemorativa do nascimento). Seu José, mestre
carpina, tenta demover Severino da resolução de “saltar fora da ponte e da vida”.

CHOVE SOBRE MINHA INFÂNCIA, DE MIGUEL


SANCHES NETO
Chove Sobre Minha Infância
, romance publicado
em 2000, e primeiro romance de Miguel Sanches Neto, foi escrito baseado nas
vivências reais do autor, mas não é uma autobiografia. É
um romance que se apropria de um discurso memorialístico, no qual o autor
é narrador a um só tempo. Nele, o Sanches Neto conta uma história
na sua própria voz e em seu próprio nome.
Mesmo quando se vale de suas próprias experiências,
o autor não busca a verdade factual, mas a psicológica.
Em uma linguagem simbólica, tem momentos de crônica,
poesia e conto, formando um singular romance em blocos que, além de cativar
pelo lirismo, é um vigoroso retrato de um pouquíssimo explorado
período de nossa História recente.
Inicialmente apresentando uma visão ingênua, revoltada
e otimista, o narrador vai amadurecendo ao contar sua história, passando
do órfão que não compreende bem o seu mundo a um adulto
que domina seus símbolos e suas dolorosas verdades. Miguel Sanches Neto
constrói uma saga dramática no sul do país, em que as antíteses
sociais são forçadas a conviver entre si. O personagem principal
deve receber a herança do mundo rural e do analfabetismo para encontrar-se
consigo e com sua história – uma necessidade muitas vezes camuflada em
um país envergonhado de si mesmo. O leitor vai encontrar neste romance
um Brasil que se olha, se mostra e que comove, identificando-se com a história
do menino perdido em meio a poderosas forças antagônicas.
Nessa obra Miguel Sanches Neto rastreia o seu passado vivido
no interior do Paraná, delimitando uma trajetória de angústias
e pesadelos, constrói uma saga dramática no sul do país,
em que as antíteses sociais são forçadas a conviver entre
si: a vida que queriam lhe impingir e o seu desejo real.
Chove sobre minha infância é uma narrativa
que vai se construindo pela memória do narrador, que avalia tudo aquilo
pelo qual passa por uma ótica pessoal, centrada em seus sofrimentos.
Estamos diante de um menino de extrema sensibilidade para o confronto com o
mundo e com a morte, que luta desesperadamente contra a orfandade, não
só a real mas principalmente contra a orfandade cultural – ele vem de
uma família de analfabetos, dedicada à agricultura, e se sente
destinado para o mundo dos livros. Esta ausência do pai, morto na primeira
infância, representa a própria ausência de uma herança
cultural. O menino triste vai crescendo como observador de uma força
negativa que o impede de ser ele mesmo. Esta força se concentrou na figura
do padrasto, que nega seu projeto. O padrasto, portanto, é pintado com
tintas fortes até o momento em que há, depois da consolidação
da vocação do menino, agora um adulto, uma revelação
que o concilia com o mundo do padrasto. O livro não é complacente
com o narrador, porque ele acaba tendo destruído o relato em que se vê
como vítima.
A família está muito presente neste livro. Ela
é ao mesmo tempo odiada e amada.
Inicialmente apresentando uma visão ingênua, revoltada
e otimista, o narrador vai amadurecendo ao contar sua história, passando
do órfão que não compreende bem o seu mundo a um adulto
que domina seus símbolos e suas dolorosas verdades.
O protagonista volta à sua infância, fazendo reviver
o mundo em que se formou. Embora use a primeira pessoa do singular, a rememoração
não se fixa propriamente na trajetória do personagem principal,
buscando antes, a partir dele, pintar o painel de um período.
Depois do primeiro capítulo, em que encontramos o protagonista
adulto na sua volta ao tempo, a história passa a ser narrada do ponto
de vista da criança, numa linguagem simples, lírica, em que o
personagem não tem uma noção precisa dos fatos. Esta limitação
perceptiva, própria da idade, vai sendo progressivamente superada pelo
menino, que passa por várias circunstâncias familiares e sociais,
para chegar à visão adulta.
O drama central do personagem é o desejo de continuação
de uma história familiar que se encontra gravada em seu nome (pois ele
é uma espécie de repetição do Miguel Sanches que
o precedeu) e a necessidade de mudança.
O romance acaba com o protagonista adulto, voltando à
sua cidade. Ele já não pertence àquele lugarejo, nem à
história dos seres que ficaram presos a ele. Mas não sabe o que
fazer com seu passado, com sua história. Faça o que fizer, será
sempre devedor, sentindo-se descender tanto da família da mãe
e do pai quanto da do padrasto, apesar de todos os conflitos.

SAGARANA, DE GUIMARÃES ROSA


Análise da obra
Publicado
pela primeira vez em 1946, Sagarana constitui uma obra-prima da produção
roseana, uma obra introdutória da mágica prosa literária
atingida pelo autor.
Sagarana promove uma total renovação do regionalismo brasileiro. Quando
o livro foi publicado, promoveu um outro tipo de aproveitamento da linguagem regional.
Guimarães Rosa trás uma complexidade maior para essa representação regional. Ele
vai mais além, unindo o idioma brasileiro com a matriz européia, o que pode ser
observado no próprio titulo da obra, Sagarana, que vem de “SAGA”, radical de origem
germânica, que significa “canto heróico”, e “RANA”, língua indígena, que significa
“à maneira de”.
São nove contos ou novelas, como costumam discutir os críticos, que descortinam o universo
da
linguagem regionalizante de Guimarães Rosa e recriam, na ficção, a vida de personagens
saídos interior de Minas Gerais. A grandeza dessas produções
narrativas não está apenas presa ao cenário, ou à linguagem,
mas à riqueza da experiência humana traduzida através de personagens
que parecem, em certos momentos, vencer suas fraquezas humanas para entrar para
a galeria dos mitos e heróis do sertão. Dentro desse
mundo regional, a paisagem integra-se ao homem, delirando
junto com ele (Sarapalha), servindo de itinerário sensorial à sua cegueira
(São Marcos), servindo de caminho e descaminhos (Duelo), mostrando
seus avisos e perigosos (O
Burrinho Pedrês) bem como instrumentalizando, através do trabalho, a possihilidade
de ascensão ao plano do divino (A hora e vez de Augusto Matraga). O
processo mimético (imitativo)
atinge a perfeição meticulosa, recriando detalhes insignificantes da natureza
sentido de capacitar a universalização, ou seja, de inventar uma outra natureza
além espaço natural e emprestar ao cenário das Gerais características universalizantes.
Não são esquecidos os valores espirituais do matuto mineiro, que
se igualam e traduzem os valores comuns aos homens de
qualquer espaço ou tempo, consagrando a travessia humana
pelo viver. As crendices deixam, assim, seu espaço restrito para tocarem a
intuição universal de uma fé que ultrapassa fronteiras,
colocando os sentimentos religiosos como de uma cadeia universal e metafísica,
igualando os homens através de sua força interior
circundando o pensamento roseano de que o destino inexorável nasce das atitudes
humanas e da força diária empregada na sua condução.
O
narrador dos contos de Sagarana muitas vezes caracteriza como folclóricas
as histórias que conta, inserindo nelas quadrinhas populares e dando-lhes um
tom épico e/ou de histórias de fada. Por exemplo, temos o “Era uma vez”
que inicia o conto O burrinho pedrês (Era um burrinho pedrês). Neste
conto, assim como em Conversa de bois e em A volta do marido pródigo,
os animais se transformam em heróis, questionando o saber dos homens com o seu
suposto não saber.
O título do livro, Sagarana, mostra-nos um processo de invenção de
palavras, o hibridismo, muito próprio de Guimarães Rosa. Saga é radical
de origem germânica e significa canto heróico, lenda; rana vem da
língua indígena e quer dizer à maneira de, ou espécie de.
As histórias e desenrolar dos fatos prendem-se a um sentido ou moral, à maneira
das fábulas. As epígrafes que encabeçam cada conto condensam sugestivamente a
narrativa e são tomadas da tradição mineira, dos provérbios e cantigas do
sertão.
1.
Contos onde ocorre o crescimento dos personagens: O Burrinho
Pedrês, Duelo, Corpo
Fechado e A Hora e Vez de Augusto Matraga.
2.
Contos onde ocorre a humanização dos animais: O Burrinho Pedrês e
Conversa de Bois.
3.
Contos de feitiçaria: Minha Gente, São Marcos e Corpo Fechado.
4.
Contos onde um instante parece valer por toda uma vida: O
Burrinho Pedrês e A Hora e Vez de Augusto Matraga.
5.
Contos onde costumes dos capiaus servem de temática: A Volta do Marido
Pródigo e Minha Gente.
6.
Contos onde está presente a idéia de travessia: O Burrinho
Pedrês, Duelo e A hora e vez de Augusto Matraga.
7.
Contos onde a natureza parece algo vivo (panteísmo): Sarapalha e São
Marcos.
Cabe ainda ressaltar que o primeiro conto,
O Burrinho Pedrês, e o último,
A Hora e Vez de Augusto Matraga,
fecham-se num círculo temático.

SEMINÁRIO DOS RATOS (LIVRO), DE LYGIA


FAGUNDES TELLES
Publicado em 1977, Seminário dos Ratos, de Lygia Fagundes Telles, prova por que sua autora é uma
das grandes damas da prosa brasileira (as outras são Clarice Lispector (obviamente) e Nélida
Piñon),
principalmente no conto.
Seus livros costumam enfocar a classe média paulista, flagrando sempre o seu cotidiano, o que dá
a seus
textos um tom entre detalhista e realista. No entanto, vai além das caracterizações desses dois
rótulos.
Seu tom minucioso faz com que sempre se mergulhe na mente de suas personagens, sondando-
lhes sonhos,
desejos, devaneios, medos, incertezas, angústias, mas de uma forma que não se aproxima do
quase
hermetismo de Clarice Lispector, por exemplo. Não é necessário um gigantesco esforço de
adaptação e
concentração para acompanhar o que está sendo narrado. Portanto, pode também se rotulado
como literatura
intimista.
Fica também a coincidência entre as duas damas na medida em que há a predominância pelas
personagens
mulheres (mesmo quando o protagonista é masculino, como em “Sauna”, pode-se perceber que tal
personagem
só existe para que se possa avaliar os efeitos de suas atitudes diante das mulheres) e as
dificuldades
do seu existir, o que faria críticos apressados classificarem uma e outra como literatura feminina.
Deve-se adiantar que essa rotulação seria por demais limitante, tal o alcance que suas obras têm
no
questionamento tanto existencial quanto social.
Mas não se deve perder de vista que os contos de Lygia Fagundes Telles são carregados de
simbologia, o
que seria esperado, graças à concisão que caracteriza essa forma narrativa. Porém, no caso de
Seminário dos Ratos, tal procedimento empurra o texto tanto para o fantástico quanto para o
mágico. Neste conto e em “As formigas” a autora rompe com a realidade e com a lógica racional.
Cabem aqui definições. Entende-se por fantástica a narrativa que apresenta elementos que fogem
à lógica
com que entendemos o mundo, provocando estranhamento tanto no leitor quanto nas
personagens. É o que
ocorre no primeiro conto, “As Formigas”. No entanto, quando esse estranhamento não se processa
entre as
personagens, que acabam instaurando uma nova lógica de mundo, passa-se então a ter o mágico,
também
chamado realismo mágico. É o que, de certa forma, ocorre no terceiro conto, “Tigrela”.
Estrutura e Enredos
É constituído por quatorze contos, alguns dos quais são publicados mais tarde em Mistérios. É uma
das obras mais importantes da escritora, com alguns novos e outros anteriormente publicados. O
conjunto
é harmonioso, continua o aprofundamento da vertente intimista e, em alguns deles, sobressaem-
se aspectos
de crítica social, como o conto título, de um fantástico alegórico de fecundo resultado.
Seminário dos ratos – Conto em terceira pessoa que apresenta uma alegoria
de nossas estruturas político-burocráticas. Trata-se de ratos, pequenos e temerosos
roedores, numa treva dura de músculos, guinchos e centenas de olhos luzindo
negríssimos, que invadem e destróem uma casa recém restaurada localizada longe
da cidade.

Resumo de "Histórias que os Jornais Não Contam" de Moacyr Scliar

"Histórias que os Jornais Não Contam" é uma coletânea de contos escrita pelo renomado
autor brasileiro Moacyr Scliar. Publicada em 1980, essa obra literária oferece uma série de
contos que exploram temas diversos, desde reflexões sobre a condição humana até
considerações sobre a cultura judaica e a vida no Brasil.

Contexto Literário:

Moacyr Scliar é conhecido por sua habilidade em criar narrativas curtas que mesclam
humor, ironia e sensibilidade. Ele é considerado um dos grandes contistas da literatura
brasileira e frequentemente abordou questões de identidade, cultura e história judaicas em
sua obra.

Principais Contos:

1. "O Exército de um Homem Só": Este conto narra a história de um homem que
acredita ser o único habitante de sua cidade. Ele vê seu papel como uma espécie de
"exército" para manter a cidade em funcionamento, apesar de estar sozinho. A
história explora temas de solidão e isolamento.
2. "Caiu do Céu": Neste conto, um objeto misterioso cai do céu em um bairro, gerando
especulações e teorias sobre sua origem. O autor usa esse evento como uma
metáfora para explorar como as pessoas reagem ao desconhecido.
3. "O Segredo do Decote": Este é um conto humorístico sobre uma mulher que, por
acaso, descobre o "segredo" por trás do decote de uma estátua em uma igreja. O
conto brinca com as noções de moralidade e revelação.
4. "O Jogo do Jogo": Scliar utiliza esse conto para explorar o jogo da vida e as
escolhas que fazemos. Um homem é convidado para um estranho jogo de xadrez em
que as peças são seres humanos. A história levanta questões sobre destino e livre
arbítrio.
5. "A Solidão do Milharal": Neste conto, o autor descreve a experiência de uma
mulher que vive em uma área rural isolada, cercada por milharais. A narrativa explora
sua solidão e as tentativas de conexão com os poucos habitantes locais.

Temas e Estilo:
Os contos de Moacyr Scliar frequentemente apresentam uma prosa acessível e envolvente,
combinando elementos de realismo com toques de humor e fantasia. Ele explora questões
universais, como identidade, solidão, amor e destino, enquanto mantém uma conexão com
sua herança judaica e com a vida no Brasil.

Conclusão:

"Histórias que os Jornais Não Contam" de Moacyr Scliar é uma coletânea de contos que
demonstra a versatilidade e o talento do autor para criar narrativas curtas cativantes e
significativas. Os contos exploram uma variedade de temas e situações humanas, e a prosa
acessível de Scliar torna a obra acessível a uma ampla gama de leitores. Este livro é um
exemplo da habilidade do autor em contar histórias que misturam humor, reflexão e
empatia, deixando uma marca duradoura na literatura brasileira contemporânea.

AUTO DA COMPADECIDA, DE ARIANO SUASSUNA


Análise da obra
Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, é uma peça clássica do teatro brasileiro, escrita em 1955
e publicada em 1957. Virou minissérie de televisão e ganhou uma versão para o cinema.
Abordando temas universais como a avareza humana e suas amargas conseqüências, por meio de
personagens populares, Suassuna, nesta obra, prepara o espectador para um desfecho
moralizante conforme os preceitos do cristianismo católico.

A visão cristã da vida presente no Auto traz uma concepção da religião como algo simples,
agradável, doce e não como uma coisa formal e solene, difícil e mesmo penosa. Essa intimidade
com Deus, e a idéia de simplicidade nas relações dele com os homens, essa compreensão da vida e
fé na misericórdia, parecem aspectos primordiais no sentido religioso da obra: a compreensão das
faltas humanas, atribuída à Nossa Senhora, que, como mulher, simples e do povo, explica-as e
pede para elas a compaixão divina.

A obra trata-se de uma farsa que é igualmente uma reflexão sobre as relações entre Deus e os
homens: um milagre de Nossa Senhora, como os medievais, apresentado sob a forma de uma
pantomima de circo. Até o seu catolicismo é popular, favorecendo os humildes contra os ricos,
menos por influência política do que por uma profunda simpatia cristã pelos fracos e
desprotegidos.

Assim, o que Suassuna passa é que o homem do sertão deve ser perdoado, de seus pecados, por
experimentar inúmeras dificuldades, tanto de ordem climática, quanto social. O sofrimento
passado em vida já é capaz, por si só, de absolver todos os pecados – conseqüências de seu
cotidiano exigente e de sua luta por sobreviver. O sertão é terra de ninguém, deserto ameaçador
donde emergem deuses e diabos, sob a égide do acaso, do caos e da fatalidade. Esses seres-
ameaçadores espreitam o homem por dentro e por fora. Em meio ao caos que os alimentam,
estabelecem continuamente a recriação da ordem, num processo infinito de auto-eco-organização.

O autor mostra um povo religioso, de pé no chão, acuado pela seca, atormentado pelo fantasma da
fome e em constante luta contra a miséria. Traça o perfil dos sertanejos nordestinos que estão
submetidos à opressão a que foram, e ainda hoje são, subjugados por famílias de poderosos
coronéis que possuem terras e almas por vastas áreas do Brasil.

Dentro desse contexto, João Grilo é a figura que representa os pobres oprimidos, é o homem do
povo, é o típico nordestino amarelo que tenta viver no sertão de forma imaginosa, utilizando a
única arma do pobre, a astúcia, para conseguir sobreviver.

Suassuna leva a julgamento almas, diante do tribunal, dirigido por Deus e o diabo, que são
pecadoras devido às condições sociais existenciais, que se apresentam mais fortes que os valores
morais. São acusados o bispo e o padre João, por se utilizarem da autoridade religiosa para
enriquecerem. No entanto, com a intercessão de Nossa Senhora, a sentença é atenuada e eles se
encaminham para o purgatório. O padeiro, por ser sovina, e sua mulher, por adultério, também
recebem a sentença final de ocuparem, juntamente com o padre, o bispo e o sacristão, os cinco
lugares vagos do purgatório. São acusados também o cangaceiro Severino e o cabra dele, por
tirarem a vida das pessoas sem autorização divina.

A oposição bem x mal, tipicamente da visão maniqueísta cristã, que conseqüentemente divide o
mundo em céu e inferno, é característica que consta na peça. O julgamento é moral, portanto
condenam-se os vícios e as vaidades e glorifica-se a modéstia e a humildade.

Se encontra também uma severa crítica aos maus costumes dos representantes da Igreja, que
abusam de seu poder, contribuindo para a corrupção da instituição, uma vez que favorecem os
ricos e têm hábitos que são condenados pela própria Igreja.

O título da obra remete à noção de que o homem é um ser passível de erro, mas é possível que
seja perdoado, por intermédio da “Compadecida”, Nossa Senhora, que, na Igreja Católica, é
considerada pelos fiéis a advogada capaz de interceder pelos pecadores junto a Jesus Cristo.

Dessa forma, em diversas passagens da obra, podem-se interpretar tanto o comportamento de


Manuel, como o da Compadecida, como mais humanizados e condescendentes com as falhas
humanas, retratados, às vezes, até com uma boa dose humor.

O autor permite-se o exercício de um diálogo simultaneamente complementar e antagônico entre


morte e vida. Por meio dele abre-se uma brecha, que introduz a dimensão da imortalidade
desvelada, por exemplo, na ressurreição do personagem João Grilo.

Em Auto da Compadecida, Ariano Suassuna consegue realizar uma magnífica síntese de duas
tradições: a dos autos da era medieval e a da literatura picaresca espanhola. Na era medieval, a
cultura era indissociável da religião, mesmo porque a Igreja controlava tudo com mão de ferro. A
Igreja cultivava os autos dramáticos de devoção aos santos para doutrinar e tolerava os autos
cômicos para divertir o povo. A tradição da literatura picaresca espanhola vem da cultura popular e
chega ao ápice no Dom Quixote, de Cervantes.
Segundo o autor, a peça nasceu da fusão de três folhetos de cordel: O enterro do cachorro, O cavalo
que defecava dinheiro e O castigo da soberba.
A obra apresenta os seguintes elementos que permitem a identificação de sua participação num
determinado estilo de época da evolução cultural brasileira:

1- O texto propõe-se como um auto. Dentro da tradição da cultura de língua portuguesa, o auto é
uma modalidade do teatro medieval, cujo assunto é basicamente religioso. Assim o entendeu Paula
Vicente, filha de Gil Vicente, quando publicou os textos de seu pai, no século XVI, ordenando-os
principalmente em termos de autos e farsas.
Essa proposta conduz a que a primeira intenção do texto está em moldá-lo dentro de um
enquadramento do teatro medieval português, ou mais precisamente dentro das perspectivas do
teatro de Gil de Vicente, que realizou o ideal do teatro medieval um século mais tarde, isso no
século XVI, portanto, em plano Quinhentismo (estilo de época).

2- O texto propõe-se como resultado de uma pesquisa sobre a tradição oral dor a romanceiros e
narrativas nordestinas, fixados ou não em termos de literatura de cordel. Propõe, portanto, um
enfoque regionalista ou, pelo menos, organiza um acervo regional com vistas a uma comunicação
estética mais trabalhada.
3- A síntese de um modelo medieval com um modelo regional resulta, na peça, como concebida
pelo Autor. Se verificar que as tendências mais importantes do Modernismo definem-se no esforço
por uma síntese nacional dos processos estáticos, pode-se concluir que o texto do Auto da
Compadecida se insere nas preocupações gerais desse estilo de época, deflagrado a partir de 1922,
com a Semana de Arte Moderna, em São Paulo. Um modelo característico dessa síntese se
encontra em Macunaíma, de Mário de Andrade, de 1927, e em Grande Sertão: Veredas, de
Guimarães Rosa (1956), entre outros.
O ESTILO DO AUTOR
Quando se faz a interpretação de uma peça teatral, o estilo do autor deve ser analisado dentro de
uma perspectiva totalmente diferente daquela que adota-se para a interpretação do romance, do
conto, da novela, do poemas – da Literatura, enfim. Isso acontece porque a concepção do texto
teatral baseia-se na finalidade do mesmo: a representação por atores. Já o texto literário é
concebido para ser lido e meditado pelo leitor, assumindo, portanto, outra feição.

Feita essa observação, observa-se que Ariano Suassuna procura definir a forma final de seu texto
através dos seguintes elementos:

1- O autor não propõe, nas indicações que servem de base para a representação, nenhuma atitude
de linguagem oral que seja regionalista.

2- O autor busca encontrar uma expressão uniforme para todas a personagens, na presunção de
que a diferença entre os atores estabeleça a diferença nos chamados registros da fala.

3- A composição da linguagem é a mais próxima possível da oralização, isto, é, o texto serve de


caminho para uma via oral de expressão.

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