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Teocentrismo:
- a religião ocupava um papel preponderante na mentalidade medieval: sociedade
teocêntrica em que Deus é a explicação para tudo;
- igreja como palco da maioria dos acontecimentos sociais, comunitários, comerciais,
culturais: as igrejas medievais não se destinavam apenas a lugares de culto, servindo
também de espaços de reunião e até de recintos para atividades de entretenimento.
- as populações, que assistiam às missas, faziam jejuns e abstinências e participavam em
peregrinações e romarias.
- .
Principais acontecimentos…
- 476: tomada de Roma pelos bárbaros – fim do Império Romano do
Ocidente;
- 1143: Tratado de Zamora – Portugal torna-se independente de Castela e D.
Afonso Henriques seu primeiro rei;
- 1175: pacto de não agressão entre os irmãos Gomes Pais e Ramiro Reis é
considerado por muitos investigadores como o primeiro documento
redigido em língua portuguesa;
- 1179: Bula Manifestis Probatum, na qual o Papa Alexandre III ratifica a
independência de Portugal e reconhece D. Afonso Henriques como
legítimo rei;
- 1290: fundação da Universidade de Coimbra pelo rei D. Dinis (a primeira
em Portugal e uma das mais antigas da Europa);
- 1297: Tratado de Alcanizes, firmado por D. Dinis e Fernando IV de Leão e
Castela, que fixou as fronteiras entre Portugal e Castela;
… que marcaram a Idade Média…
- 1348-1350: Peste Negra (matou cerca de um terço da população europeia);
- 1383-1385: Crise de Sucessão - D. Fernando morre sem deixar filho varão, sendo que
a sua única filha era casada com o rei de Castela, o que punha em causa a nossa
independência;
- 1384: Cerco de Lisboa - durante quatro meses, os castelhanos cercaram a cidade,
levando a população a passar por muitas privações
- 1385: Batalha de Aljubarrota – os portugueses vencem os castelhanos e D. João I
(Mestre de Avis, casado com D. Filipa de Lencastre) é aclamado rei nas cortes de
Coimbra – início da “ínclita geração” (assim designada por Camões) que se destacou
pelo elevado grau de educação, conhecimento militar e relevância na vida pública
portuguesa;
- 1415: conquista de Ceuta;
- 1419: João Gonçalves Zarco chega à Madeira;
- 1434: Gil Eanes dobra o Cabo Bojador;
- 1453: Queda de Constantinopla, em Istambul – fim do império romano no Oriente.
Sociedade portuguesa
medieval
Estratificação social hierarquicamente bem
demarcada: clero (alto clero, baixo clero, clero
regular e clero secular), nobreza (ricos-homens,
filhos d’ algo, infanções, cavaleiros, escudeiros) e
povo (vilãos ricos e vilãos pobres, lavradores ou
cavaleiros lavradores ou cavaleiros-vilãos, os peões,
que eram os lavradores mais pobres que prestavam
serviço militar a pé, os mesteirais, homens de ofício
nas cidades, e semi-servos) – os escravos não eram
considerados uma classe social.
Portugal medieval
Consolidação da nacionalidade Sobreposição do poder eclesiástico ao poder
portuguesa: fundação, alargamento régio: conhecimento e saber circunscritos
e delimitação de Portugal – época ao Clero, gradual e lentamente estendidos
mais virada para assuntos bélicos à Nobreza de Toga (classe de letrados e
(Reconquista e Cruzadas). pessoas ligadas ao Direito).
A par da cultura monástica, floresceu, na Idade Média, uma cultura profana que evidenciava
o espírito cavaleiresco sem, no entanto, abandonar os valores religiosos. Essa cultura,
difundida em cantos ou em composições em verso de índole lírica ou satírica, passou a
expressar-se através da chamada poesia ou lírica trovadoresca, precisamente por ser
produzida e divulgada sobretudo por trovadores.
A reprodução de livros era feita, nesta fase, pelos copistas através do método de cópia
manuscrita em folhas de pergaminho, sendo um processo muito demorado e dispendioso,
pelo que a poesia se desenvolveu mais cedo do que a prosa, e a criação literária era
eminentemente oral, daí que o verso seja a medida mais frequente, pois representava uma
forma de ritmar a fala que facilitava a memorização.
Origens da lírica trovadoresca:
Nasceram, assim, umas cantigas de caráter culto, as cantigas de amor, a par de umas de caráter
popular e marcadas pelo sentimentalismo e pela saudade galaico-portuguesa, as cantigas de
amigo. A estas juntaram-se as que resultavam da veia satírica dos trovadores: as cantigas de
escárnio e de maldizer.
Exterior, sobretudo
de França – cantigas
de amor.
Poesia trovadoresca:
duas proveniências
Formada no espaço
do galego-português
– autóctone –
cantiga de amigo.
Origens da lírica trovadoresca:
Assim, a poesia medieval nasceu da literatura oral dos trovadores e jograis (também
designados segréis na Península Ibérica), que transmitiam as composições poéticas de
geração em geração através da tradição oral, sendo que só posteriormente foi reunida e
compilada nos Cancioneiros.
A poesia trovadoresca representa, em geral, a primeira grande manifestação da nossa
literatura, documentando a realidade cultural e literária de Portugal desde a fundação da
sua nacionalidade, em 1143.
Esta poesia espelha a realidade daquele tempo: valores como a honra, vassalagem,
vingança, cortesia, fidelidade, hierarquia; conflitos, fome, epidemias; regime senhorial;
estratificação social; escassa atividade cultural, centrada no clero, em alguns letrados e
poetas que animavam os espaços públicos.
Cancioneiros medievais
Estes poemas fixaram-se por escrito numa época posterior à sua criação, sendo recolhidos e reunidos em
Cancioneiros (valiosos documentos históricos, linguísticos e literários da Idade Média, pois expressam as
tradições, costumes, ideias, preocupações e quotidiano dessa época):
- Cancioneiro da Ajuda ou do Real Colégio dos Nobres (é o mais antigo, foi compilado na corte portuguesa
em finais do século XIII; só tem cantigas de amor e é anónimo);
- Cancioneiro da Vaticana (século XIV);
- Cancioneiro da Biblioteca Nacional (é o mais completo; século XVI);
- Pergaminho de Vindel;
- Pergaminho de Sharrer.
Os agentes da lírica
trovadoresca
Trovadores
Agreement
Jograis
Agreement
Os jograis e trovadores eram por vezes acompanhados de soldadeiras (mulheres a
soldo, que cantavam e dançavam).
Apesar de alguns autores permanecerem anónimos, os textos dos cancioneiros são atribuídos a
mais de uma centena de trovadores e jograis, não só galegos ou portugueses, mas também
castelhanos, leoneses e até extrapeninsulares, de várias classes sociais.
Os géneros da lírica trovadoresca
Lirismo peninsular
Cantigas de amigo
- Género literário de caráter tradicional popular, de origem galaico-portuguesa com forte influência
da poesia árabe (visto que os muçulmanos conquistaram muitos territórios após a queda do império
romano, no início da Idade Média);
- Trata-se de uma poesia sincera e afetiva, que retrata um ambiente rural e doméstico: campo,
lavadouro, fonte, romaria, praia, baile, rio, ...;
- Nestas cantigas o poeta assumia uma voz feminina, distanciando-se claramente o autor da
entidade que se expressa (sujeito poético), tratando-se o emissor de uma rapariga jovem e
solteira (donzela) que dedica os seus sentimentos ao namorado (amigo);
– plano de igualdade no relacionamento entre ambos: sentimento amoroso espontâneo e verdadeiro;
Cantigas de amigo
Classificação:
- bailadas ou bailias
- cantigas de romaria
- marinhas ou barcarolas
Aspetos formais:
O lirismo provençal surgiu nos finais do século XI, na região da Provença (sul de França – Langue d’
Oc, Côte d’ Azur) como resultado de uma literatura familiar e confidente, regida por direitos e leis
que formavam um código do amante perfeito baseado nos seguintes princípios: supremacia da
mulher, o amor à margem do casamento, o fingimento de amor. Este lirismo surgiu a partir da
filosofia cátara/albigense (heresia que surgiu no sul de França e que defendia a oposição entre o
amor e o casamento, dizendo que o amor era puro quando era fora do casamento) e difundiu-se para
a Península Ibérica, a partir do século XII, pois foi quando nasceu o primeiro Tribunal da Inquisição
(com o Rei de França e o Papa, com o objetivo de combater a heresia cátara), o qual perseguiu os
cátaros, que fugiram para outros locais, levando a sua lírica consigo. A lírica provençal teve duas
fases, uma primeira mais erótica e uma segunda mais sentimental, mais domesticada. A lírica
galego-portuguesa foi influenciada por esta segunda fase, em que os cátaros já estavam mais
contidos devido à perseguição de que eram alvo, daí o tom mais melancólico das nossas cantigas de
amor;
Cantigas de amor
Nos séculos XII e XIII, este lirismo difundiu-se na Península Ibérica, no ambiente cortesão (cantigas
de amor de caráter aristocrático): os nossos poetas começaram a imitar os cantares provençais,
adaptando-os às formas já existentes e expressas nas cantigas de amigo;
A nossa língua ficou então imbuída de numerosos provençalismos (ex.: sen – senso, cor – coração,
prez – valor/preço, gréu – grave/difícil, ...).
Nestas cantigas, o emissor é o homem (trovador), que se dirige a uma dona ou “senhor” (casada ou
comprometida) de classe social superior, em atitude de vassalagem – rutura com a ordem normal
das relações sociais na sociedade feudal (casamentos por conveniência, desvalorização dos impulsos
amorosos, mulher submissa), pois é o homem que serve a dama, inclinando-se perante os seus
caprichos e submetendo-se a ela.
Cantigas de amor
- O ideal de beleza feminina (modelo provençal): olhar sereno e luminoso, mansidão e dignidade
do gesto, riso subtil e discreto;
Regra geral, as cantigas de amor não têm refrão (cantigas de mestria) e recorriam a vários
artificialismos formais:
- o dobre: processo pelo qual se repetem palavras na mesma estrofe, em pontos que são fixos em
todas as estrofes, ou seja, exemplificando: se na 1ª estrofe se repete a mesma palavra em dois
pontos, nas estrofes seguintes deverá repetir- -se uma outra palavra na mesma posição;
- o mozdobre ou mordobre: processo semelhante ao dobre, mas com variação na flexão da
palavra (exemplo: amar/amei);
- finda: copla-remate, de um a três versos, que rimava normalmente com o refrão ou, nas
cantigas de mestria, com a segunda parte da última estrofe;
- atafinda: encadeamento (encavalgamento ou enjambement) estrófico que permite levar o
pensamento sem interrupção até ao final da cantiga.
Lirismo satírico
Cantigas de escárnio e maldizer
Origem: possivelmente estas cantigas surgiram do “sirventês” da Provença (sul de França), mas não
há certezas, pois na verdade a sátira popular é uma tradição carnavalesca, vem da tradição popular;
-
Estas cantigas fazem um retrato da sociedade da Idade Média, quer através da paródia ao amor
cortês, quer através da crónica de costumes, tendo como principal objetivo a crítica e moralização da
sociedade.
A distinção entre cantigas de escárnio e cantigas de maldizer será apenas escolástica (Arte de
Trobar), pois os jograis e trovadores não fariam essa diferenciação:
- cantigas de escárnio: o trovador ridiculariza de forma indireta e ambígua as ações de uma pessoa,
recorrendo ao equívoco (emprego de uma ou mais palavras com mais do que um sentido), aos
trocadilhos e à ironia;
Principais temas: falta de valores elementares; corrupção social; interesses materiais de alguns
membros do Clero; leviandades das soldadeiras (bailarinas, companheiras dos jograis, prostitutas
ou cozinheiras que recebiam os exércitos); paródia ao amor cortês e à expressão exagerada da coita
de amor, assim como ao ridículo da morte por amor; ataque às mulheres velhas que querem ver a
sua beleza cantada; a infidelidade conjugal; o mau trato dado aos animais; as mentiras; a falta de
arte e vida boémia dos trovadores e jograis; os acontecimentos escandalosos da época; …
Aspetos formais: