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25/09/2022 12:41 PM

1. Poesia trovadoresca
Contextualização histórico-literária → Cronologia
• 711 → Invasão muçulmana da Península Ibérica.
• 718 → Início da Reconquista: contacto entr as culturas cristâ e muçulmana.
• 1096 → Criação do Condado Portucalense, governado pelo conde D. Henrique.
• 1139 → Fundação de Portugal, com a aclamação de D. A fonso Henriques como rei.
• Finais do séc. XII → Composição das primeiras cantigas trovadorescas.
• 1221 → Nascimento de Afonso X, o Sábio, rei de Leão e Castela e autor das Cantigas
de Santa Maria, poemas de tema religioso em galego-português.
• 1249 → Conquista do Algarve, por D. Afonso III.
• 1279 → Subida ao trono de D. Dinis, trovador e impulsionador da cultura do reino.
• 1290 → Fundação da Universidade de Lisboa.
• 1296 → Adoção da língua portuguesa nos documentos oficiais da chancelaria real
durante o reinado de D. Dinis.
• Início do séc. XIV → Compilação do Cancioneiro da Ajuda, a mais antiga coletânea
de cantigas trovadorescas profanas.
• Segunda metade do séc. XVI → Últimas gerações de trovadores galego-portugueses.

O que é a lírica galego-portuguesa?


Por língua galego-portuguesa entendemos um grupo de 1680 textos de assunto profano,
transmitidos por três cancioneiros manuscritos, e 420 textos de tema religioso - as
chamadas Cantigas de Santa Maria -, todos eles escritos numa língua com características
bastante uniformes, o galego-português, num período que vai desde finais do séc. XII à
segunda metade do séc. XIV.

A língua poética une, de resto, poetas não apenas galegos ou portugueses, como poderia
parecer, mas castelhanos, leoneses ou mesmo extrapeninsulares, que, por «exotismo» ou
simpatia profissional, a escolheram para cantar o amor ou «dizer mal de alguém», isto é,
para comporem cantigas de amor, cantigas de amigo ou cantigas de escárnio e maldizer.

Qual é a sua origem?


Na Galiza, parece ter florescido, já muito antes da fundação da nacionalidade
portuguesa, uma poesia de inspiração tradicional, folclórica, cultivada sobretudo pelos
jograis. Esses cantares, como tantas vezes sucede na poesia popular mais antiga de todos
os povos, eram na sua maioria cantigas de mulher, e, naturalmente, de mulher moça e
enamorada. Os jograis galegos teriam tido assim o mérito de recolher, aproveitar, difundir
e, por fim, fixar para a forma escrita essa tradição oral primitiva.

A essa poesia jogralesca de fundo tradicional veio entretanto sobrepor-se uma influência
estrangeira, bem patente e documentada na poesia das coleções que chegaram até
nós: a influência do lirismo provençal.

Durante o séc.: XI, no Sul da França - ou propriamente em toda a região onde se falava a
langue d'oc (a que pertence ao provençal) e a que se dá por isso nome de Occitânia -,
florescera, nas cortes dos senhores feudais, uma poesia de amor extremamente
requintada quanto ao sentimento que exprimia e quanto à técnica que utilizava. Essa
poesia, de que eram agentes os trovadores, difundiu-se, a partir do séc. XII, por toda a
Europa e veio a influencias a poesia peninsular emerge.

Do encontro dessa corrente provençalizante com a tradição folclórica recolhida e


elaborada pelos jograis do Noroeste da Península, terá surgido a poesia galego-
portuguesa.

Em que língua foi expressa?


O galego-português era a língua falada na faixa ocidental da Península Ibérica até
meados do séc. XIV. Derivado do latim, surgiu progressivamente como uma língua
destinta anteriormente ao séc. IX, no Noroeste peninsular. Neste sentido, poderemos dizer
que, mais do que designar uma língua, a expressão galego-português designa
concretamente uma fase dessa evolução, cujo posterior desenvolvimento irá conduzir à
diferenciação entre o galego e o português atuais.

O período que medeia entre os sécs. X e XIV constitui, pois, a época por excelência do
galego-português. É, no entanto, a partir de finais do séc. XII que a língua falada se afirma
e desenvolve como língua literária por excelência, num processo que se estende até
cerca de 1350, e que, muito embora inclua também manifestações em prosa, alcança a
sua mais notável expressão na poesia, que num conjunto alargado de trovadores e jograis,
galegos e portugueses, mas também castelhanos e leoneses, nos legou.

Convém, pois, ter presente que, quando falamos de poesia medieval galego-portuguesa,
falamos menos em termos espaciais do que em termos linguísticos, ou seja, trata-se
essencialmente de uma poesia feita em galego-português por um conjunto de autores
ibéricos, num espaço geográfico alargado e que não coincide exatamente com a área
mais restrita onde a língua era efetivamente falada.

Como chegou até nós?


São três essas coleções: o Cancioneiro da Ajuda, assim chamado por se encontrar na
Biblioteca do Palácio da Ajuda, em Lisboa, manuscrito em pergaminho, com letra dos
finais do séc. XIII ou começos do XIV e formosas iluminuras que representaram figuras de
músicos, jograis e soldadeiras (bailarinas). O Cancioneiro da Ajuda reúne composições dos
autores mais antigos da poesia galego-portuguesa; essas composições pertencem
exclusivamente ao género cantiga de amor.

Os outros dois cancioneiros são o Cancioneiro da Vaticana, que pertence à Biblioteca do


Palácio Pontifício de Roma, ou Biblioteca Vaticana, e o Cancioneiro da Biblioteca
Nacional. Já não comportam notação musical e apresentam bastantes dificuldades na
leitura. Qualquer destes dois cancioneiros contém composições dos três géneros que
foram cultivados pelos poetas galego-portugueses: cantigas de amor, cantigas de amigo
e cantigas de escárnio e maldizer. O Cancioneiro da Biblioteca Nacional oferece uma
particularidade preciosa para os estudiosos do lirismo galego-português: traz apenso o
fragmento de uma «arte de trovar», onde se definem os géneros cultivados pelos
trovadores medievais e descrevem recursos estilísticos mobilizados neste tipo de poesia.

Quem foram os seus autores?


A arte trovadoresca está indiscutivelmente ligada às elites culturais e políticas e é um torno
das grandes cortes reais ou senhoriais que ela se desenvolve e encontra, ao mesmo
tempo, o seu público. Esta ligação processa-se, aliás, a um nível que dificilmente terá
paralelo na história cultural europeia: estamos, de facto, perante um momento em que os
grandes senhores não se limitam ao papel de protegerem ou incentivarem a arte, mas são
eles próprios os seus maiores, e por vezes mais brilhantes, produtores. Dois reis, Afonso X e D.
Dinis, contam-se os maiores poetas peninsulares, num notável conjunto que inclui uma
parte muito significativa das principais figuras da nobreza da época.

Ao lado deste conjunto de senhores, designados especificamente trovadores, e para


quem a arte de trovar era entendida, pelo menos ao nível dos grandes princípios, como
uma atividade desinteressada, encontramos um não menos notável conjunto de jograis,
criadores oriundos das classes populares, que não se limitam ao papel de músicos e
instrumentistas que seria socialmente o seu, mas que compõem igualmente trovas e para
quem a arte de trovar constituía uma atividade da qual esperavam retirar não apenas o
reconhecimento do seu talento, mas igualmente o respeito proveito.

Quais são as características da lírica trovadoresca?


Duas eram as espécies de poesia trovadoresca: a lírica-amorosa, expressa em duas
formas, a cantiga de amor e a cantiga de amigo; e a satírica, expressa na cantiga de
escárnio e maldizer. O poema recebia o nome de «cantiga» (ou ainda de «canção» ou de
«cantar») pelo facto do lirismo medieval se associar intimamente com a música: a poesia
era cantada, ou entoada, e instrumentada. Letra e pauta musical andavam juntas, de
modo a formar um corpo e indissolúvel. Daí se compreender que o texto sozinho, como o
temos hoje, apenas oferece uma incompleta e pálida imagem do que seriam as cantigas
quando cantadas ao som do instrumento, ou seja, apoiadas na pauta musical. Todavia,
dadas as circunstâncias sociais e culturais em que essa poesia circulava, perderam-se
numerosas cantigas como a maioria das pautas musicais.

Cantigas de amigo
• O sujeito é feminino (donzela)
• «Amigo» = amado
• Tema: amor
• Tem refrão

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