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In:
cantigas.fcsh.unl.pt [Base de dados online].
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“As cantigas trovadorescas galego-portuguesas são um dos patrimônios mais ricos da
Idade Média peninsular. Produzidas durante o período, de cerca de 150 anos, que vai,
genericamente, de finais do século XII a meados do século XIV, as cantigas medievais
situam-se, historicamente, nas alvores das nacionalidades ibéricas, sendo, em grande
parte contemporâneas da chamada Reconquista cristã”
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“O período que medeia entre os séculos X e XIV constitui, pois, a época por excelência
do Galego-Português. É, no entanto, a partir de finais do século XII que a língua falada
se afirma e desenvolve como língua literária por excelência, num processo que se estende
até cerca de 1350, e que, muito embora inclua também manifestações em prosa, alcança
a sua mais notável expressão na poesia que um conjunto alargado de trovadores e jograis,
galegos, Portugueses, mas também castelhanos e leoneses, nos legou”
“ Como é sabido, dois reis, Afonso X e o seu neto D. Dinis, contam-se entre os maiores
poetas peninsulares em língua galego-portuguesa, num notável conjunto de autores que
inclui uma parte significativa da nobreza da época, de simples cavaleiros a figuras
principais. Ao lado deste conjunto de senhores, designados especificamente trovadores, e
para quem a arte de trovar era entendida, pelo menos ao nível dos grandes princípios,
como uma atividade desinteressada, encontramos um não menos notável conjunto
de jograis, autores oriundos das classes populares, que não se limitam ao papel de músicos
e instrumentistas que seria socialmente o seu, mas que compõem igualmente cantigas, e
para quem a arte de trovar constituía uma atividade da qual esperavam retirar não apenas
o reconhecimento do seu talento mas igualmente o respetivo proveito.”
“os principais géneros da poesia galego-portuguesa profana são a cantiga de amor (canto
em voz masculina), a cantiga de amigo (canto em voz feminina) e a cantiga de escárnio e
maldizer (cantiga satírica, respetivamente com ou sem equívoco). Paralelamente a estes
três géneros principais, os trovadores e jograis cultivaram ainda, se bem que de forma
esporádica, alguns outros géneros, como a tenção (disputa dialogada), opranto (lamento
pela morte de alguém), o lai (composição de matéria de Bretanha) ou
a pastorela (narrativa de um encontro entre o trovador e uma pastora)”
“Num registo bem mais popular ou burguês, a cantiga de amigo é um género autóctone,
cujas origens parecem remontar a uma vasta e arcaica tradição da canção em voz
feminina, tradição que os trovadores e jograis galego-portugueses terão seguido, muito
embora adaptando-a ao universo cortês e palaciano que era o seu. Desta forma, a voz
feminina que os trovadores e jograis fazem cantar nestas composições remete para um
universo definido quase sempre pelo corpo erotizado da mulher, que não é agora
a senhor mas a jovem enamorada, que canta, por vezes num espaço aberto e natural, o
momento da iniciação erótica ao amor. Desta forma a velida (bela), a bem-talhada (de
corpo bem feito) exterioriza e materializa de formas várias, formas essas enquadradas
numa vivência quotidiana e popular, os sentimentos amorosos que a animam: de alegria
pela vinda próxima do seu amigo, de tristeza ou de saudade pela sua partida, de ira pelos
seus enganos”
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“As cantigas de amigo põem em cena um universo feminino alargado”
“As cantigas de escárnio e maldizer (...) [são] cantigas que os trovadores fazem quando
querem ‘dizer mal’ de alguém. (...) nas cantigas de maldizer a crítica seria direta e
ostensiva, nas cantigas de escárnio a crítica seria feita de modo mais subtil, ‘por palavras
cobertas que hajam dous entendimentos. (...) [as cantigas de escárnio e maldizer podem
ser classificadas] simplesmente como satírico”
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“ A redescoberta, no século XIX, da tradição lírica galego-portuguesa beseou-se, como
antes se disse, em cópias italianas do início do século XVI (Cancioneiros da Biblioteca
Nacional e da Biblioteca Apostólica Vaticana)”