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TRATAMENTO
NÃO CIRÚRGICO
DAS FRATURAS
“Recuperando o prestígio”
Carlos Roberto Schwartsmann
TRATAMENTO
NÃO CIRÚRGICO
DAS FRATURAS
“Recuperando o prestígio”
Porto Alegre
2022
Copyright © 2022, Carlos Roberto Schwartsmann
ORGANIZAÇÃO
Carlos Roberto Schwartsmann
CDU 616-089.23:616-001.5
Ary da Silva Ungaretti Neto Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Ciência
da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Membro titular da SBOT.
Membro da Sociedade Brasileira do Quadril. Professor Assistente
do Serviço de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de
Misericórdia de Porto Alegre. Coordenador do Serviço de
Ortopedia e Traumatologia do Hospital Cristo Redentor.
Carlos Francisco Coelho Koch Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Ciência
da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Membro da Sociedade
Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; Membro da Associação
Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé. Membro da
Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé.
Membro do Serviço de Cirurgia do Pé/Tornozelo da Santa Casa
de Porto Alegre.
Francisco Arturo Cejas Rodriguez Graduação em Medicina pela Universidad Naciona de Cordoba,
Argentina. Membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e
Traumatologia; Membro da Associação Brasileira de Medicina e
Cirurgia do Tornozelo e Pé. Membro do Serviço de Cirurgia do
Pé/Tornozelo da Santa Casa de Porto Alegre.
João Pedro Farina Brunelli Graduação em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul. Cirurgião da Mão e Microcirurgião da
Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Membro Titular
da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Membro
Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão.
IX
Leandro de Freitas Spinelli Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Mestre e Doutor. Chefe e Preceptor do Grupo do Quadril
do Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Complexo Hospitalar
Santa Casa de Porto Alegre, RS.
Osvandré Luiz Canfield Lech Graduado em Medicina pela Universidade de Passo Fundo (UPF).
Chefe do Serviço de Cirurgia do Ombro e Cotovelo do HSVP/IOT,
Passo Fundo, RS. Presidente do International Board of Shoulder
and Elbow Surgery (IBSES). Vice-Presidente da Academia Passo-
Fundense de Medicina.
Tomás Araújo Prado Pereira Graduação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul. Membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e
Traumatologia; Membro da Associação Brasileira de Medicina e
Cirurgia do Tornozelo e Pé. Membro da Associação Brasileira de
Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé. Membro do Serviço de
Cirurgia do Pé/Tornozelo da Santa Casa de Porto Alegre.
William Osamu Toda Kisaki Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS). Residente de Ortopedia do Hospital Universitário
Cajuru – Curitiba
O
tratamento conservador continua sendo gigantes como John Charnley (Inglaterra, The
o método mundial de eleição para a Closed Treatment of Common Fractures) em 1950
grande maioria das fraturas – sejam e Augusto Sarmiento (EUA, Functional Fracture
elas de ossos longos ou curtos – notadamente Bracing) em 1981 – apenas para citar dois – dedi-
as não-articulares, não-deslocadas, em pacientes caram seu tempo e genialidade para escrever
com imaturidade esquelética ou em pacientes livros semelhantes.
portadores de comorbidades e contraindicação Com este livro, Schwartsmann propõem
anestésica. uma reflexão ética e madura sobre a eficácia do
A rápida modificação das técnicas cirúr- tratamento conservador das fraturas em plena
gicas não deve desmerecer os princípios básicos época de sofisticada tecnologia dos implantes
da traumatologia que nos trouxeram até aqui. cirúrgicos cercada por maciço apelo promo-
“PRIMUM NON NOCERE” (Primeiro não faça cional.
nenhum mal) permanece sendo um sólido prin- O “novo normal”, trazido à tona na atual
cípio da arte de curar em traumatologia presente pandemia causada pelo novo coronavírus,
em cada página deste livro. 2019-nCov, demonstra ser necessário nos
O prof. dr. Carlos Roberto Schwartsmann desprendermos de dogmas (desaprender) e
publica este surpreendente livro, resgatando a propormos soluções mais simples e econômicas
impressionante coletânea pessoal de casos tra- (reaprender) também no milenar tema do trata-
tados conservadoramente ao longo dos muitos mento das fraturas.
anos de cátedra orientando gerações de residentes
e acadêmicos na Santa Casa de Misericórdia
de Porto Alegre e na Universidade Federal de Osvandré Lech
Ciências da Saúde de Porto Alegre, instituições Presidente, International Board of Shoulder
and Elbow Surgeons (2016-2022)
onde o aprendizado da traumatologia ocorre de
Presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e
forma atualizada, ética e resolutiva. Traumatologia (2011)
Ele não está sozinho na defesa do tratamento
conservador das fraturas. Nomes igualmente
XII
AGRADECIMENTOS
O
autor expressa sua gratidão e reconheci- A Maria Bernardete Pressoto
mento pela ajuda inestimável recebida na Coordenadora de pesquisa clínica
elaboração e confecção do presente livro. Técnica em radiologia
Secretária do Serviço de Ortopedia do Complexo
A SelvaR Camargo Hospitalar Santa Casa por 32 anos.
In Memoriam. Homenagem póstuma Pelo arquivo, coletânea e reprodução das imagens.
Enfermeiro, mestre experiente e profundo
conhecedor da arte de confeccionar um aparelho A Guilherme Bourscheidt
gessado. Pela formatação e diagramação do presente livro
XIV
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 1
8. FRATURAS CERVICAIS 67
GLOSSÁRIO 367
Capítulo
1 INTRODUÇÃO
Carlos Roberto Schwartsmann
É
possível que alguns traumatologistas Ao toque é possível saber se a fratura está
possuam maior habilidade de mani- reduzida ou não! Entretanto para adquirir este
pulação que outros, mas certamente dom é preciso errar e acertar muitas vezes.
esta capacidade é desenvolvida pelo treina- Um dos enganos mais lamentáveis da trau-
mento e pela repetição. A maior dificuldade matologia atual é quando o traumatologista nem
para realizar uma redução fechada decorre da tenta a redução pois o “tratamento desta fratura
falta de clareza do que é necessário ser feito. é cirúrgico”. É exatamente sob este prisma que
Charnley descreveu este ato como “o olho do se perde o melhor momento para uma redução
cérebro” e quando o traumatologista solicita perfeita. Se o fragmento ósseo foi deslocado de
um raio-X (Rx) para “ver se está reduzido” é sua posição anatômica por uma força externa
provável que está pintura mental ainda não haverá uma nova força que contrariamente exer-
está desenvolvida e ele não sabe perfeitamente cida, recolocará o osso na sua posição original.
o que e como fazer. Hoje não existem mais livros que abordam
Outro aspecto importante é que o trata- o tratamento conservador das fraturas e os
mento conservador está intrinsecamente ligado livros textos descrevem este tipo de tratamento
ao secular gesso (Plaster-of-Paris). Portanto o em espaços muito reduzidos e muitas vezes
aprendizado com a técnica de uso dos aparelhos induzem ao leitor que este tipo de tratamento
gessados só pode ser completo quando há disci- está em desuso. Os capítulos sobre o tratamento
plina, interesse e repetição na sua execução. O cirúrgico são desproporcionalmente maiores e
uso do gesso coloca o traumatologista do lado bem ilustrados. Técnicas cirúrgicas novas são
do artista e do escultor. expostas e descritas como soluções modernas e
Os Ortopedistas mais antigos foram obri- mágicas. Entretanto, na prática diária, menos de
gados a desenvolver a senso de observação, 10% das fraturas são de indicação indiscutivel-
pois não dispunham do Rx ou do intensificador mente cirúrgica e na imensa grande maioria das
de imagem. A sensibilidade está diretamente vezes o tratamento conservador é indicado.
conectada ao cérebro e pode ser desenvolvida O tratamento cirúrgico transforma uma
pela repetida experiência. fratura fechada em exposta. Até o momento
2
da fratura o único agente agressor foi externo, anos apresentavam mobilidade, função e quali-
quando nós iniciamos com o bisturi nós agre- dade de vida igual após 12 meses.
gamos um novo agente traumatizante. Em 2015 Song, utilizando uma metanálise
A distorção do aprendizado atualmente é comparou o tratamento conservador com o
tão grande que Augusto Sarmiento publicou em tratamento cirúrgico de fraturas distais do rádio.
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS
editorial do Clinic Orthop em 2003 que ao chamar Concluiu não haver diferenças na avaliação
atenção de um residente “completamente” desin- funcional do punho após longo seguimento.
teressado pela apresentação de “como conso- Ainda em 2015, o estudo PROFHER
lidam as fraturas”, teve que ouvir como resposta (Proximal Fracture of the Humerus Evaluation by
“Doctor Sarmiento, I do not really care to know how Randomization) analisou os tratamentos cirúr-
fractures heal! I simply want know how to fix them”! gicos e não cirúrgicos nas fraturas deslocadas
Nos dias de hoje, os traumatologistas, diante proximais do úmero. Concluiu que apesar do
de uma fratura contemplam e perguntam: aumento significativo de indicações cirúrgicas
“qual o tipo de fixação que vamos realizar?!” para este tipo de fratura, a avaliação pelo Oxford
Esquecemos que, talvez, a melhor dúvida a ser Shouder Score (OSS) não mostrou diferenças
respondida seria: “qual é o melhor tratamento funcionais em 12 e 24 meses. Entretanto o
para este caso?” Certamente o grupo AO influen- número de complicações médicas foi significati-
ciou de maneira ímpar o pêndulo da balança: vamente superior nos casos operados.
operar versus não operar. Em 2019, Launonen analisando 88 pacientes
Müller, Algöwer e Willenegger padroni- com fraturas em 2 partes proximais do úmero
zaram técnicas cirúrgicas e materiais de oste- concluiu que as os resultados funcionais foram
ossíntese sem as quais seriam impossíveis de iguais. Nos casos operados 3 pacientes necessi-
devolver a mobilidade e a função. Como por taram de um segundo ato cirúrgico. Estes traba-
exemplo nos polifraturados e nas fraturas arti- lhos fortalecem o reequilibrar da balança.
culares deslocadas. Este livro tem ainda como finalidade
Os objetivos principais se baseavam na devolver o prestígio entre os traumatologistas
rígida fixação interna, com restauração da ana- do tratamento não cirúrgico. Os embasamentos
tomia, preservação do suprimento sanguíneo e teóricos e descritivos dos capítulos são sucintos
mobilização precoce do membro, das articula- e, ao contrário da maioria dos livros textos,
ções e do paciente. Os bons resultados obtidos são apresentados casos com longo tempo de
nas fraturas graves, indiscutivelmente cirúr- evolução!
gicas, induziu os traumatologistas a operarem As classificações das diversas fraturas,
fraturas que não eram necessariamente cirúr- algumas vezes citadas são propositadamente
gicas. Entretanto recentemente inúmeros traba- omitidas pois a grande maioria é confusa e irre-
lhos vêm questionando o melhor resultado do produtível nas avaliações intra e interobserva-
tratamento cirúrgico. dores.
Em 2010 Grabicki comparou fraturas distais São apresentadas detalhes e dicas do trata-
do rádio operadas e tratadas conservadora- mento conservador. São apresentadas técnicas de
mente. Concluiu que as não operadas resul- confecções dos aparelhos gessados mais usados.
tavam em melhor grau de mobilidade e função. São mostrados bons e maus resultados do
Bartl em 2014 também concluiu que nas tratamento não cirúrgico. São mostradas as
fraturas do rádio distal em pacientes acima de 65 grandes complicações do tratamento cruento bem
3
como e utilização inadequada das osteossíntese minante e se impõe. Não cabe aqui descrever
CAPÍTULO 1
de casos que poderiam não ter sido operados. sobre tratamento conservador! Entretanto são
O termo “macaco com gilete” é utilizado desenvolvidos capítulos especiais nas luxações
para mostrar casos mal operados e com resul- das grandes articulações, pois são frequentes
tados desastrosos. Certamente estes casos e se envolvem em cenários cercados de gestos,
INTRODUÇÃO
teriam tido uma evolução melhor se não trações e manobras.
tivessem sido operados. Portanto é muito peri- O livro é recheado de imagens radiográficas
goso ser submetido a um tratamento cirúrgico e clínicas. Muitas vezes é necessário considerar
com traumatologista que não sabe reconhecer que a qualidade das radiografias poderiam ser
as indicações e tampouco domina os princípios melhores, mas muitas das mesmas foram obtidas
básicos que norteiam a osteossíntese. O risco há mais de 30 anos.
de promover algo perigoso é igual ao de um Provavelmente o tratamento conservador
“macaco com gilete”. recuperará muito do prestígio perdido desde o
Outro aspecto que deve ser considerado, é final do século passado.
que obviamente, só são desenvolvidos os capí- Até o início da cirurgia o único agente agressor
tulos das fraturas que podem ser tratadas conser- foi o trauma! Até que ponto uma nova agressão é
vadoramente. Por exemplo nas fraturas diafisá- justificável?! Na dúvida entre o tratamento cirúr-
rias do fêmur, nas fraturas articulares do joelho gico e o não cirúrgico é melhor preferir o segundo
e do cotovelo, o tratamento cirúrgico é predo- pois se evita uma segunda agressão.
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TRATAMENTO CONSERVADOR
DAS FRATURAS AO LONGO
DOS SÉCULOS
Oswandre Canfield Lech, Felipe Fontes
A traumatologia no despertar
dos tempos e sua influência atual
EGITO ANTIGO
O Egito antigo é um ponto comum do início da
descrição de diversas especialidades na medi-
cina e com a traumatologia não é diferente. Esta
história se mistura com a da humanidade, onde
se encontram relatos de importantes civiliza-
ções que utilizavam técnicas ortopédicas consa-
gradas até os dias de hoje. Um dos primeiros
registros ocorre em torno de 2.000 a.C., onde
se identifica uma muleta na tumba de Hirkouf
(figura 2.1).
Homero em 800 a.C. descreve na Odisséia:
“No Egito, os homens são mais habilidosos em
medicina do que em qualquer espécie humana”.
Hipócrates, Herófilo, Erasistratus e mais tarde
Galeno estudaram os achados do templo de
Amenhotep, e reconheceram a contribuição da
medicina egípcia para a medicina grega.
Corpos mumificados, restos esqueléticos
e pinturas de parede ajudam a identificar
algumas práticas ortopédicas no Egito antigo.
Existem exemplos de fraturas dos ossos longos
tratadas com talas confeccionadas com pedaços Figura 2.1 – Ancient Egyptian stele of Ruma: Porteiro da 19a
dinastia usando muleta devido a pé equino e perna encurtada.
de casca ou madeira acolchoada com linho (Fonte: hekint.org/2018/01/02/polio-conundrums/)
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é erguido e a urina cai sem que ele perceba. O esticar os dois ombros para afastar a clavícula
CAPÍTULO 2
deslocamento de uma vértebra do pescoço é até ela voltar para o seu lugar”.
uma doença pela qual nada pode ser feito”.
Pesquisas arqueológicas encontraram mú-
Fratura de clavícula: “Se você tratar um homem mias que portavam talas feitas de bambu e
fraturas, luxações e feridas. O texto é conhecido gidos pelas descobertas e novas concepções, e foi
como Corpus Hippocraticum (figura 2.6). o ponto inicial para que a arte de curar fosse vista
Os textos sobre fraturas e articulações da sob o ponto de vista científico. Estudiosos como
Escola de Hipócrates contêm excelentes discus- Homero, Herofilo, Hegetor e os anatomistas de
sões sobre os aspectos clínicos e tratamentos. Alexandria podem ser considerados como os
A conhecida “manobra de Hipócrates” para primeiros a usar aquela abordagem científica e
redução de luxação do ombro, onde o executor documentar o seu desenvolvimento em detalhes
traciona longitudinalmente o braço enquanto (figura2.7).
faz um contra apoio com o seu pé na axila do
paciente, é utilizada até os dias de hoje.
O tratado de Hipócrates possui seções que
descrevem redução para luxação das articula-
ções acromioclavicular, joelho, quadril e coto-
GREGOS E ROMANOS
O grego Galeno (129-199 d.C.), de Pérgamo,
era cirurgião de gladiadores antes de se mudar
para Roma, já que os romanos haviam conquis-
tado a Grécia. Lá, conseguiu detalhar a anatomia
humana de ossos, músculos, nervos e suas fina-
lidades, além de descrever sobre a regeneração
Figura 2.6 - Edição veneziana de 1575 do Corpus Hippocraticum. dos ossos e deformidades. Além disso, contri-
(Fonte: academiafmb.com.br/2021/08/22/causalidade-da-filo-
sofia-a-medicina-parte-2) buiu significativamente para o entendimento
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das contraturas musculares e conexões nervosas tecido e uma solução composta de farinha, ovos,
CAPÍTULO 2
nos músculos, sendo por isso considerado o sangue de cavalo, entre outras, na tentativa
pai da medicina do esporte. “O princípio do de dar rigidez aos enfaixamentos. A atadura
movimento vem do cérebro e viaja através dos gessada (Plaster of Paris) como conhecemos hoje
nervos”, dizia ele. somente começaria a surgir no início dos anos
Figura 2.8 – Anatomical figure; c. 1400: Ilustração de Galeno para o estudo da regenera-
ção óssea e condução nervosa. (Fonte: wellcomecollection.org/works)
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Figura 2.9 – La Grande Chirurgie Gui de Chauliac: Chauliac tratando ferimentos na perna do Papa Clemente VI com bandagens em
1348. (Fonte: www.wikiwand.com/fr/Guy_de_Chauliac)
Durante os séculos XV e XVI, houve uma e seu Quaderni dan’Anatomie (figura 2.10) ficou
completa revisão no estudo da anatomia, perdido por 200 anos, sendo hoje um patrimônio
através de dissecções meticulosas do corpo da humanidade.
humano. Leonardo da Vinci (1452-1519) era Grandes anatomistas contribuíram ao
um jovem estudante e mais tarde instrutor de avanço da ciência, entre eles Vesalius, Falopius,
anatomia, que fez muitas observações originais Servetus e Eustachio. O trabalho de Vesalius, De
sobre origem, inserções e funções dos músculos. Humani Corporis Fabrica (figura 2.11), publicado
Ele trabalhou assiduamente por muitos anos em 1543, é um marco na história da Medicina;
com o seu professor, Marc Antonio della Torre os volumes contêm informações sobre ossos,
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ligamentos e músculos, em perfeitas descrições exigem melhoria do status quo. As guerras foram
CAPÍTULO 2
anatômicas que destronam os 3.000 anos de o gatilho para o desenvolvimento tecnológico na
supremacia das teorias humorais de Hipócrates traumatologia, além de avançar com tratamentos
que foram reescritas por Galeno. conservadores como reduções, imobilizações,
trações e cuidados com ferimentos. Os exem-
infecção e gangrena e diminuindo a mortalidade, deriva de Orthos = “reto, direito” e paedia, paidós
a reconstrução facial, dentre outros. = “crianças”, ficou conhecido como o “Pai da
Na primeira metade do século XX ocorreram Ortopedia” tanto pelo desenho da árvore sendo
as grandes guerras mundiais, e com elas a trauma- alinhada quanto pelo termo criado. O livro ensi-
tologia teve outro grande desenvolvimento. Na nava os próprios familiares a tratar suas crianças
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS
limitadas, os livros e manuscritos do século traduzir do alemão Fritze o clássico Compêndio das
CAPÍTULO 2
XVlll eram muito caros, quase inacessíveis. Ele enfermidades venéreas. É de Monteggia a primeira
escreveu sobre trauma craniano (Pott`s Puffy descrição da poliomielite.
Tumor), sobre fraturas e luxações (Pott`s fracture, 1819 – Guillaume Dupuytren – Associe
a fratura-luxação do tornozelo). A sua descrição inúmeras descrições feitas há duzentos anos – a
36, assumiu o cargo de cirurgião-chefe, onde 1852 – A atadura gessada foi um dos grandes
atenderia dez mil pacientes por ano e celebraria avanços da traumatologia, pois permitia mobili-
seu perfeccionismo e intransigência com a clás- dade ao paciente, ao invés do repouso absoluto
sica expressão “se errei, errei menos que meus em férulas de madeira ou metálicas deitado num
colegas.” leito hospitalar ou em casa. Confeccionada com
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS
Figura 2.14 – Alfred-Armand-Louis-Marie Velpeau (1795 – 1867) e a adaptação tropical da sua bandagem
original, o “Velpeau de verão” (Retirado de: pt.wikipedia.org)
15
mais de 5.000 tireoidectomias na sua vida profis- no conceito de John Hunter, de repouso abso-
CAPÍTULO 2
sional. Juntamente com Lister e Hallsted, Kocher luto como parte da cura. Filho de “arrumador
introduziu a técnica asséptica nas operações de ossos”, nunca participou de vida acadêmica;
cirúrgicas, reduzindo as taxas de mortalidade a sua imagem é facilmente reconhecida pelo uso
de 14% em 1884 para 0,18% em 1898. Foi o intro- de boné caído para encobrir o olho esquerdo,
Figura 2.15 – Hugh Owen Thomas (1834-1891) e a tala de Thomas. (Retirado de: www.cureus.com/
articles/40173-ten-inventions-that-shaped-modern-orthopedics e www.orthopedicsri.com)
16
1895 – Wilhelm Roentgen, um metódico introduziu o uso de fios metálicos finos inseridos
professor de física teórica da Universidade proximal e distalmente ao foco de fratura, daí
de Wurzburg, na Bavária, Alemanha, obtém fixados a um aparato de distração, com o objetivo
a primeira radiografia após exposição de seis de manter a fratura reduzida até a consolidação.
minutos aos raios “X” emitidos pelo tubo de Em 1911, o suíço de Berna Fritz Steinmann amplia
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS
Crookes na mão da sua esposa Bertha. A sua o conceito, produzindo fios mais grossos para
primeira manifestação foi: “que tipo de raio ou transfixar o calcâneo, tubérculo tibial ou região
onda está produzindo o que estou vendo? Estou supracondílea do fêmur para melhor tração do
cometendo algum erro ou estou ficando louco?” membro inferior fraturado.
Seis anos mais tarde, ele é o primeiro cientista 1929 – Vittorio Putti (1880-1940) é o principal
a receber um Prêmio Nobel de Física, deixando articulador junto com Fred Albee (EUA), Patrick
o dinheiro do prêmio para a Universidade Haglund (Suécia), Hans Spitzy (Áustria), Robert
onde trabalhava. Mesmo não sendo médico, Jones e Harry Platt (Inglaterra), Riccardo Galeazzi
é reconhecido como o “Pai da Radiologia”, (Itália), Louis Ombrédanne (França), dentre
área de extrema importância para a ortopedia outros, para a fundação da Société Internationale
e traumatologia. A anestesia (1846), a cirurgia de Chirurgie Orthopédique et de Traumatologie
asséptica (1865) e a radiologia (1895), carinho- (SICOT) no Hotel Crillon, em Paris, a primeira
samente chamados de “The Three Amigos” pelo instituição ortopédica internacional. Robert
historiador Mercer Rang, são responsáveis pelo
rápido desenvolvimento da cirurgia e, logo a
seguir, das especialidades cirúrgicas.
1902 – Sir Robert Jones (1857-1933) foi cirur-
gião geral e ortopedista Galês. Com grande impor-
tância para o desenvolvimento da ortopedia no
mundo como uma especialidade distinta da
cirurgia no início do século XX. Ele estabeleceu o
Hospital Ortopédico Shropshire, hoje conhecido
como Hospital Ortopédico Robert Jones e Agnes
Hunt. Dedicou a sua vida a operar crianças com
deformidades congênitas nos membros infe-
riores. Jones operava por dez horas seguidas uma
lista de mais de 20 crianças todos os sábados. Foi
orientador de Sir Reginald Watson-Jones (sem
relação de parentesco) em Liverpool. Em 1902
descreveu a fratura da base do quinto metatarso,
desde então conhecida como fratura de Jones.
Também desenvolveu o curativo compressivo e
acolchoado para joelho usado em contusões ou
pós-operatórios, o curativo de Jones.
1909 – Com o advento da radiologia, a redu-
ção das fraturas passou a ter maior importância. Figura 2.16 – Sir Robert Jones (1857-1933). (Retirado de:
Então, Martin Kirschner, alemão de Heidelberg, en.wikipedia.org/wiki)
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Jones foi o primeiro presidente, de uma lista de trante inaugural da SBOT em 1935. Ele utilizou
CAPÍTULO 2
notáveis que inclui Platt, Ombrédanne, Friberg, o seu conhecimento para desenvolver diversos
Merle d`Aubigné, Maurice Müller. tratamentos para anquiloses, luxação congê-
O italiano Putti em agosto de 1903 demons- nita do quadril, deformidades pós-traumáticas,
trava interesse em anatomia patológica e cirurgia, encurtamento de membros, paralisias e tumores
Figura 2.17 – Vittorio Putti (1880-1940) e o icônico Colete de Putti. (Retirado de: www.bibliote-
casalaborsa.it)
18
Em 1929 publica com verba pessoal o clássico até seu falecimento. Hoje o editor é o prof. Fares
Tratamento de fraturas, graças ao apoio do vendedor Haddad. O edifício-sede do BJJ localizado no
de livros Wilhelm Maudrich, que mais tarde número 22 da Buckingham Street é denominado
inicia a editora médica Verlag Maudrich, depois de “Sir Reginald Watson-Jones”.
Springer-Verlag, hoje Springer. O best-seller do 1943 – O catalão Josep Trueta i Raspall
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS
trauma da época se tornaria também um dos mais publica o clássico The principles and practice of
traduzidos. Os seus princípios de tratamento: a) war surgery – with special reference to the biological
salve a vida; b) salve a parte do corpo (membro method of treatment of wounds and fractures, onde
superior ou inferior); c) salve a sua função. Para descreve o método aplicado durante o primeiro
isto é necessário: a) diagnóstico precoce; b) trata- ataque aéreo sobre civis no mundo durante a
mento indolor; c) imobilizar a parte lesada; d) Guerra Civil Espanhola. O método lhe deu noto-
mobilidade ativa de todas as demais partes sem riedade mundial e consistia em 5 etapas: cirurgia
causar dor na parte lesada. Böhler publicou mais imediata, limpeza ampla, excisão de tecidos
de 400 artigos científicos e foi membro honorário desvitalizados, drenagem e imobilização gessada.
de 33 associações mundiais. Ainda hoje, a simples Com o passar dos dias, o odor característico se
medida da radiografia lateral do calcâneo ajuda instalava, o que era saudado com a expressão
a calcular o ângulo de desvio e decidir sobre o “Not all cheese that smells bad is bad.” O “Método
tratamento conservador ou cirúrgico de Trueta” auxiliou na diminuição do índice de
1939 – John Dunlop, de Pasadena, Califórnia, gangrena em todo o mundo, que era de 18% na
EUA, descreve o tratamento conservador em Primeira Grande Guerra passando para apenas
tração para as fraturas supra-condíleas do úmero 0,16% na Guerra do Vietnam, salvando milhões
na criança. de vidas. Foi dos primeiros a entender a impor-
1940 – Aos 33 anos, Sir Reginald Watson- tância do suprimento sanguíneo na cura da osteo-
Jones, chefe da Liverpool Royal Infirmary, mielite, na consolidação óssea, na osteogênese, no
publica a primeira edição da “Bíblia”, como era crescimento de cartilagem, na função epifisiária,
chamado o seu livro entre os ingleses. Fractures na osteoartrite, dentre outros. Trueta relacionou
and joint injuries teve 15 edições(!) e foi tradu- em laboratório a “crush syndrome” (esmagamento
zido para diversos idiomas. Reconhecido pelo de um membro) com a nefropatia renal pós-trau-
conservadorismo, é sua a expressão de “imobi- mática, uma situação letal na época.
lizar uma articulação acima e outra abaixo da Trueta e outros intelectuais de Barcelona
fratura”. Generoso, polido, jamais repreendeu se exilaram na Inglaterra, onde denunciaram
um assistente em público. Estabeleceu exem- o regime de Franco. É dele o clássico The spirit
plar círculo de lealdade nos serviços por onde of Catalonia. Girdlestone reconheceu sua genia-
passou – Liverpool, Londres, Oswestry. Em lidade durante uma apresentação na França e
1945 recebeu o título de “Sir” pelos serviços trouxe Trueta para o seu serviço, onde parti-
prestados à Royal Air Force com a impressio- cipou do grupo de pesquisa que desenvolveu
nante porcentagem de 77% dos pilotos tratados a penicilina depois da descoberta por Fleming,
retornando ao mesmo nível de atividade, 18% e também alcançou o cargo de Professor de
em funções modificadas e apenas 5% inválidos. Ortopedia e Diretor do Nuffield Orthopaedic
Estabeleceu a edição inglesa do Journal of Bone Centre. Não é comum um estrangeiro chegar
and Joint Surgery (JBJS, hoje com o nome de Bone ao estrelato em Oxford. Herbert John Seddon,
and Joint Journal, BJJ) em 1948 e se manteve editor assim o define no obituário publicado no JBJS-Br:
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“a godsend; after a short-lived display of character- a necessidade estudar aspectos da ciência básica,
CAPÍTULO 2
istic British skepticism, we converted to the ‘closed- como biomecânica das fraturas, fisiopatologia da
plaster’ regimen”. Recebeu duas indicações para consolidação, fixação rígida de fraturas, dentre
o Nobel de Fisiologia ou Medicina e no Brasil foi outros; b) associação com a desenvolvida meta-
agraciado com a Ordem do Cruzeiro do Sul. lurgia suíça; c) documentação de todos os casos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BÖHLER, L. Diagnosis, pathology and treat- 12. KIRKUP, J. Foundation lecture. Fracture care
ment of fractures of the os calcis. J Bone Joint of friend and foe during World War I. ANZ J
Surg, 1931. Surg, v. 73, n. 6, p. 453-459, 2003.
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TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS
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Capítulo
3
TRIBUTO AOS MESTRES DO
TRATAMENTO CONSERVADOR
Carlos Roberto Schwartsmann
LORENZ BÖHLER
Em 1914visitou os EUA e conheceu Lambotte
(Belga) e Charles Mayo. Ficou impressionado
com a organização da Clínica Mayo. Convocado
pelo exército, durante a 1ª guerra organizou um
hospital militar em Bonzen. Padronizou regis-
tros e informações que eram também gravadas
no gesso do paciente.
Em1925 tornou-se chefe do Hospital da
AUVA que era destinado aos acidentes de
trabalho. Em 1929, encorajado pela Associação
Médica de Viena publicou o seu mais impor-
tante livro Tratamento das fraturas [Die technik der
knochenbruch-behandlung].
Organizado e metódico, Böhler transformou
seu livro inicial de 176 páginas para 2500 em 1957.
Em 1936 se tornou professor da Universidade
de Viena, enquanto seu livro era traduzido em
Böhler era austríaco. Nasceu em Wolfurt em 8 idiomas, inclusive o Chinês. Foi o introdutor
1885 e faleceu em Viena em 1973 (88 anos). do aforisma: “Primeiro salvar a vida, depois o
Em 1896 ficou encantado ao ver na revista membro e depois a função”.
Das Interessante Blatt um raio-X de uma mão Durante a 2ª guerra mundial trabalhou
feito por Röntgen. Curioso, início a dissecção de com a Wehrmacht no Rudolfspital especializado
pequenos pássaros e esquilos. em fraturas. Após a guerra foi um dos poucos
Iniciou seu estudo em medicina na médicos que continuaram com sucesso na
Universidade de Viena em 1905 e se formou em carreira e voltou a se tornar novamente chefe da
1911. AUVA (Unfalkrankenhaus).
22
Publicou mais de 400 artigos científicos e foi Böhler pode ser considerado um dos
membro Honorário de 33 associações mundiais. primeiros organizadores e criadores da moderna
Recebeu inúmeros prêmios e medalhas. cirurgia traumatológica.
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS
SIR WATSON-JONES
nizou no hospital o primeiro “Instructional Course
on Fractures” e se tornou muito reconhecido.
Em 1940 publicou Fractures and joint injuries
onde preconizava a imobilização articular acima
e outra distal a fratura. Defendia que a presença
do hematoma entre os bordos fraturados levara
sempre a consolidação se hover imobilização. O
livro foi traduzido em muitas línguas e foi reconhe-
cido mundialmente como “The Orthopaedic Bible”.
Devido seus reconhecidos serviços a força
aérea britânica recebeu o título de “SIR” em 1945.
Foi o primeiro editor do British Journal of tuate and multiply their gifts to humanity are truly
CAPÍTULO 3
Bone and Joint Surgery publicado em 1948. Cargo imortal”.
que ocupou até sua morte. Em 1959 publicou Medicine and surgery for
Como médico e professor era dinâmico, the attorney.
entusiasta e contagiava os residentes que não Foi cirurgião de Reis e Rainhas. Foi membro
AUGUSTO SARMIENTO
Em 1963, adepto do tratamento funcional
das fraturas desenvolveu um aparelho gessado
para as fraturas da tíbia que permitia mobilizar
o joelho precocemente. A confecção do gesso foi
baseada nos princípios da prótese PTB (patelar
tendon bearing) para amputados abaixo do joelho.
Em 1981 publicou Closed Functional Treatment
of Fractures que confrontava a ideia da rígida
imobilização. Desenvolveu artefatos plásticos de
imobilização principalmente reconhecido para
as fraturas do úmero (Braceleiras) e fraturas dos
ossos da perna (Perneiras).
Durante sua carreira se tornou diretor do
Departamento de Ortopedia e Reabilitação da
Augusto Sarmiento Rosillo nasceu em Faculdade de Medicina da Universidade de
1927 em Bucaramanga, no departamento de Miami, do Jackson Memorial e do Hospital Geral
Santander na Colombia. de Los Angeles.
Formou-se em medicina em 1952 em Bogotá Foi um dos pioneiros da artroplastia total
na Universidade Nacional. Após mudou-se para do quadril nos EUA e único Latino-Americano a
os EUA onde realizou residência no Jackson se tornar Presidente da Academia Americana de
Memorial Hospital. Ortopedia (AAOS).
25
Possui centenas de artigos publicados e vários anos se dedica a conferências sobre a medicina
CAPÍTULO 3
livros, entre eles: Functional fracture bracing (1995), e conflitos éticos e de moralidade que o médico
Bare bones: a surgeon’s tale (2003), The nonsurgical enfrenta diariamente.
treatment of fractures in contemporary orthopedics “Os médicos têm pacientes e a indústria tem
(2010), Hip surgery: an odyssey, (2011), Orthopedics clientes. A ética médica é incompatível com a da
Figura 3.5
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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beginning of time to 2000 ad. Book Guild Limited. London: Springer-Verlag, 2005.
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2. EFTEKHAR, N. S. In memory of Sir John Orthopedics Today, nov. 2014.
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS
4
POR QUE ESTAMOS
OPERANDO TANTO!
Carlos Roberto Schwartsmann
E
xistem diversas explicações para justificar qualidade da redução e o tipo de imobilização
a tendência atual do tratamento cirúrgico proposta.
das fraturas: Obviamente uma redução apenas acei-
tável tem mais chance de ser perdida que uma
1) Irredutibilidade: redução perfeita. Também o traço da fratura e a
Existe o falso conceito da irredutibilidade da cominuição tem papel relevante.
fratura, logicamente existem casos mais fáceis e A imobilização deve neutralizar as forças
casos mais difíceis para se obter uma redução musculares que compõem o cenário da fratura.
perfeita, boa ou aceitável. A experiência de como Obviamente também é sabido que o gesso
obter a redução somente se sedimenta após repe- circular bem moldado pode executar o papel
tição de dezenas de casos. É igual a experiência neutralizador com maior eficácia. Entretanto
que se adquire dirigindo um carro, um trator ou a sua inestensibilidade pode produzir
um avião. Sempre existirão forças aplicadas as compressão circulatória secundária ao edema.
extremidades fraturadas, opostas aquelas que Por isso muitos preferem a tala gessada mesmo
produziram o deslocamento, que levarão ao admitindo a sua menor capacidade de imobili-
afrontamento no foco de fratura e, portanto, a zação.
redução propriamente dita. Isto só não ocorrerá A imobilização tem como princípio básico a
se haver alguma interposição de partes moles, neutralização dos movimentos das articulações
tendões, fáscias, músculos, etc. satélites da fratura. Isto genericamente deve ser
A manipulação e a redução são gestos artís- obedecido.
ticos! Como a arte ela pode ser desenvolvida A perda redução é o argumento mais citado
pela prática constante e repetida, mas é mais por aqueles que querem operar: “esta fratura
fácil para quem possui o dom. é de tratamento cirúrgico”. Isto é verdade em
algumas fraturas submetidas a grande tração
2) Falso Conceito Da Perda Da Redução: muscular (diáfise do fêmur, diáfise dos ossos
Obviamente a perda da redução está intrin- do antebraço) ou aquelas que comprometem a
secamente ligada a instabilidade da fratura a superfície articular. Obviamente nas articula-
28
ções que suportam carga a redução nas superfí- e comercialização dos novos implantes para
cies deve ser a mais perfeita possível. obterem lucro.
Cursos são administrados em centros espe-
3) Evolução Da Imagem Radiográfica cializados de treinamento e foram criados em
Historicamente os traumatologistas toma- diversos lugares do mundo. Sempre aparecerão
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS
vam decisões baseadas apenas em seletivas novos materiais e novos modelos de implantes
imagens radiográficas. que defenderão a constante modernização da trau-
Geralmente em anteroposterior (AP) e matologia. É preciso lembrar que até o presente
perfil (P). Em algumas outras situações, inci- momento não encontramos nada que acelere o
dências especiais são rotinas (por ex. na fratura processo da consolidação de uma fratura.
do acetábulo: AP-P-Alar e Obturatriz. A tomo-
grafia axial computadorizada amplificou as 6) A Influência Da Midia
diástases e os pequenos fragmentos na comi- Os meios de comunicação promovem o
nuição. As imagens se tornaram mais assus- tratamento cirúrgico porque ele é mais frequente-
tadoras e criaram dúvidas sobre a capacidade mente utilizado em atletas de grande rendimento.
dos fragmentos obterem a consolidação. Graças Isto é normal porque na medicina espor-
a tomografia existe um novo aforisma entre os tiva só teremos pleno sucesso com a perfeita
traumatologistas: “Se queres ter argumento para recuperação óssea, muscular no menor tempo
a indicação cirúrgica: peça uma TC”. possível.
Esta distorção influencia tanto na decisão
4) Tendência Cirúrgica do médico como na aceitação do paciente. A
Apesar de não acelerar a consolidação, mídia induz ao tratamento cirúrgico.
existe o reconhecimento de que a fixação cirúr-
gica libera precocemente as articulações satélites 7) Evolução Da Anestesia
e isso nos dá a sensação de que a consolidação Desde a descoberta do éter como anestésico,
foi mais rápida. Entretanto o uso pleno da articu- por Long e Morton em 1844 nunca a anestesia foi
lação só pode ser realizado quando a mesma for tão evoluída e dominada.
obtida. O sucesso da osteosíntese foi tão grande Hoje, praticamente o risco anestésico desa-
que nos iludimos que só com ela podemos ter o pareceu e isto proporcionou cirurgias seguras e
melhor resultado. Isto é verdadeiro em alguns de muito pouca dor no pós-operatório.
tipos de fratura por exemplo: na fratura proximal O paciente perdeu o medo da anestesia e assim
do fêmur, fratura diáfise femoral, nas fraturas do indiretamente estimulou o tratamento cirúrgico.
joelho, nas fraturas que envolvem o cotovelo, etc.
8) Nova Filosofia De Vida
5) Formação Cirúrgica Filosoficamente, hoje é preciso viver com
O prestigio da osteossíntese levou a uma a maior intensidade possível. Nenhum minuto
desigual transferência de conhecimento na pode ser perdido! Mobilidade é vida! A cirurgia
formação do residente: as técnicas cirúrgicas imobiliza muito menos que o tratamento conser-
ocupam a maioria das páginas dos livros textos. vador. Permite cuidados higiênicos com maior
As novas técnicas cirúrgicas são apresentadas frequência. O tratamento cirúrgico é mais limpo e
nos congressos como mágicas e tem o apoio não tem os maus odores do tratamento com gesso.
maciço da indústria que necessitam do uso Isto só não é verdadeiro se ocorrer infecção!
29
CAPÍTULO 4
Menos Trabalhoso. DESVANTAGENS DO TRATAMENTO CI-
O procedimento de fixação das fraturas não RÚRGICO
é difícil. É necessário treinamento, entendimento 1) Cicatriz
e repetição. O difícil é abordar o foco da fratura Mesmo com incisões pequenas sempre existirá
fatores que envolvem ao ato cirúrgico e a pato- vidade do cirurgião, técnica empregada, escolha
genia do agente agressor. e tipo do implante, condições hospitalares e do
As condições clínicas do paciente são funda- teatro cirúrgico.
mentais e devem ser bem avaliadas: presença Ainda devemos considerar a virulência do
de anemia, presença de diabete, uso de fumo, agente microbiano, o grau de contaminação e a
abuso de álcool, presença de doenças sistêmicas resistência do germe ao antibiótico profilático.
e principalmente imuno supressoras.
ReferênciaS Bibliográficas
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Telöken, M.A. Fraturas princípios e
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Capítulo
5
PRINCÍPIOS BÁSICOS DO
TRATAMENTO CONSERVADOR
Carlos Roberto Schwartsmann
T
odas as fraturas podem ser tratadas Os princípios básicos do tratamento conser-
conservadoramente isto é, sem cirurgia, vador são:
todas eram assim até o advento da anes- 1. Redução
tesia. Evidentemente os resultados nem sempre 2. Manutenção da redução
foram uniformemente satisfatórios. As fraturas 3. Consolidação
instáveis dos ossos longos necessitavam de 4. Recuperação funcional
grandes períodos de tração e imobilização. O
processo de consolidação não é alterado no trata- REDUÇÃO:
mento conservador mas as articulações satélites É a manipulação dos fragmentos fraturados
poderiam perder mobilidade com maior ou com o objetivo de aproximá-los o mais anatomi-
menor grau. camente possível. Devido a hemorragia e o edema
Associada a atrofia muscular, a recuperação secundário, quanto mais precoce for a redução
funcional se torna mais lenta e trabalhosa. Watson- mais fácil ela será. Certamente a eficácia da redução
Jones afirmou que sempre que houver hema- depende da experiência e da repetição.
toma entre as extremidades ósseas e a imobili- As fraturas não deslocadas não precisam
zação for adequada a consolidação será obtida de redução e as com poucos graus de desvio
em menor ou maior tempo. Ainda, escreveu que também não. Não é aceitável desvio rota-
a perda da mobilidade das articulações satélites cional.
somente ocorrerá se a imobilização for maior
que duas vezes o tempo necessário para a conso-
QUANDO SE DEVE REDUZIR UMA FRA-
lidação óssea. TURA?
Se a tíbia consolida normalmente de quatro
a seis meses, só haverá rigidez se a imobili- A redução deve ser feita o quanto antes, isto é
zação for superior a um ano. Evidentemente dizer melhor nas primeiras 24horas. Os trauma-
quanto mais rápido for a consolidação da tologistas antigos possuíam um velho aforisma
fratura da tíbia, mais veloz será a recuperação “quando ocorre de dia, antes do sol se por e a
funcional. noite, antes do amanhecer”.
32
O objetivo do tratamento de uma fratura é As partes moles não rompidas são a chave da
obter a consolidação com alinhamento e restau- redução quando elas são levadas a sua posição
ração da função normal. Entretanto a perfeita anatômica, os fragmentos ósseos retornam
colocação dos fragmentos não é essencial para também a sua posição anatômica.
o resultado funcional. Pequenas deformidades A manobra de redução deve ser realizada
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS
angulares podem ser bem toleradas mas, os com gestos gentis. Uma força contraria aquela
desvios rotacionais, não. que produziu o “deslocamento” da fratura deve
Algumas fraturas não necessitam de ser aplicada.
redução: por exemplo costelas, escapula, diáfise Existem dezenas de técnicas ou manobras
do perônio, etc. descritas para reduzir uma fratura deslocada,
Nas fraturas com desvio é necessário compre- uma luxação ou uma fratura-luxação.
ender a importância das partes moles. Quando o Os princípios das técnicas mais utilizadas são:
deslocamento ocorre, há lesão das partes moles sempre haverá uma força contraria a que ocasionou
de um lado, mas o outro lado permanece integro. o deslocamento que haverá de reduzir a fratura
A) TRAÇÃO E CONTRATRAÇÃO:
A B
CAPÍTULO 5
PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TRATAMENTO CONSERVADOR
Figura 5.4 – Imagem esquemática em madeira mostrando
Figura 5.3 – Redução de fratura da diáfise do úmero. como se obtém a redução. Inicialmente é necessário vencer a
contração muscular representada pelo elástico.
B) TRAÇÃO E DESLIZAMENTO
Geralmente são indicados nas fraturas luxações, nas epifisiólises e nas luxações. Existe possibilidade
que após a tração as superfícies separadas deslizem para sua posição anatômica por uma força apli-
cada contrariamente a que produziu o deslocamento.
Figura 5.6 – Fratura distal do rádio com desvio dorsal. Desenho esquemático e imagem radiográfica no perfil.
Figura 5.7 – Manobra de redução por tração e deslizamento. Desenho esquemática e imagem radiográfica pós redução.
35
CAPÍTULO 5
PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TRATAMENTO CONSERVADOR
Figura 5.8 – Fratura distal do rádio com desvio dorsal. Desenho esquemático mostrando que uma força aplicada dor-
salmente, aplicada pelo polegar ao rádio distal, pode levar a redução.
A B
C D
Figura 5.9 (A, B, C, D) – Desenho esquemático da manobra de redução da luxação do polegar. Inicialmente
é necessário tração e após deslizamento para se obter a redução.
Figura 5.11 – A redução é obtida com tração e aplicação de força látero-medial para reduzir a luxação. Observar na imagem radio-
gráfica a redução anatômica com gesso bem moldado.
Figura 5.12 – Manobra de redução de fratura-luxação do tornozelo. É necessário inicialmente tração longitudinal (1) e após mano-
bra de varização do tornozelo com força látero-medial (2).
Se realiza uma hiperdeformidade na tentativa de promover uma roda dentada conforme desenho
esquemático.
A B
CAPÍTULO 5
PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TRATAMENTO CONSERVADOR
C D
Figura 5.14 (A, B, C, D) – Desenho esquemático em madeira. A) Fratura deslocada. B) Obtenção de hiper-deformi-
dade. C) obtenção de fulcro para redução D) deformidade reduzida.
Figura 5.15 – Manobra da roda dentada para reduzir fratura do rádio distal.
Figura 5.16 (A, B, C) – Manobra da roda denteada para redução de fratura do terço médio da falange proximal. A) Fratura
da falange proximal transversa com acentuado desvio dorsal. B) Manobra de redução com roda denteada C) Imobilização com
três pontos.
38
Figura 5.17 – Montagem em blocos de madeira: as fraturas transversas são mantidas na posição anatômica por
ação da musculatura satélite.
FORÇA EM UM PONTO:
Algumas vezes uma única força aplicada no foco de fratura pode manter a redução.
CAPÍTULO 5
Muitas vezes são necessárias duas forças opostas para manter a redução.
Muitas vezes a manutenção da fratura só pode ser obtida em forças aplicadas em três pontos. O exemplo
clássico é a fratura em galho verde, onde o gesso deve ser moldado conforme o desenho. As partes
moles do lado côncavo necessitam permanecer em tensão máxima para não ocorrer a perda da redução.
Na fratura de Colles também é mantida possível, pois a epífise radial é travada pelo
a redução através do gesso aplicado em três cúbito. Este é o segredo para impedir o encurta-
pontos. O desvio cubital deve ser o máximo mento do rádio.
A B C
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS
Figura 5.21 (A, B, C) – A) Fratura de Colles com desvio radial. B) Redução anatômica da fratura de Colles. Observar o gesso bem
moldado no lado cubital e forçando o desvio cubital. C) Resultado final.
CAPÍTULO 5
A técnica de achatamento do gesso proporciona múltiplos pontos compressivos. Se o gesso for circular
nas fraturas dos ossos do antebraço, as forças tendem a aproximar o rádio do cúbito. Se o gesso for
achatado, os ossos do antebraço tendem a se deslocar para as zonas de menor pressão e com isso
tendem abrir a membrana interóssea mantendo a distância entre eles.
São de grande valor as cunhas gessadas para corrigir deformidades angulares, sem a necessidade de
trocar todo o aparelho gessado. Elas podem ser de adição ou subtração. Na adição, geralmente se
coloca bloco de madeira para manter a abertura da cunha. Na subtração, se retira a cunha do gesso.
(junção das três linhas).
A B
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS
C D
Figura 5.26 (A, B, C, D) – A) Demarcação da altura da cunha gessada. O local correto de colocação da cunha, pode ser obtido
com alguma marcação metálica no gesso (ex.: clip ou agulha) no controle radiológico. B) Abertura da cunha. C) Interposição de bloco
de madeira. D) Resultado final com a inclusão do bloco de madeira no aparelho gessado.
A B C
Figura 5.27 (A, B, C) – A) Imagem radiográfica em AP de fratura dos ossos da perna com desvio lateral. B) Radiografia
em perfil mostrando desvio posterior. C) Fratura imobilizada com gesso inquino podálico com inaceitável desvio.
43
D E F G
CAPÍTULO 5
PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TRATAMENTO CONSERVADOR
Figura 5.27 ( D, E, F, G) – D) Imagem radiográfica pós inserção de cunha de adição. E) Radiografia de controle pós 60 dias. F) Imagem
radiográfica em AP mostrando consolidação com exuberante calo ósseo, com discreto desvio em varo. G) Imagem radiográfica em perfil
da fratura consolidada com perfeito alinhamento.
A B C
Figura 5.28 (A, B, C) – A) Fratura dos ossos do antebraço em criança com 11 anos com desvio cubital. Desenho esquemático de
cunha de subtração. B) Imagem radiográfica pós retirada de cunha. C) Consolidação anatômica dos ossos do antebraço.
44
Figura 5.29 (A, B) – Fratura de Colles com acentuado desvio. A) Imagem radiográfica em perfil de fratura de Colles cominutiva,
intra-articular com importante desvio dorsal. B) Imagem radiográfica em anteroposterior de fratura de Colles cominutiva intra-articu-
lar com importante desvio radial.
A C
CAPÍTULO 5
PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TRATAMENTO CONSERVADOR
B
A B
Figura 5.32 (A, B) – A) Imagem radiográfica em AP pós consolidação com discreto desvio radial. B) Imagem radiográfica em perfil
pós consolidação sem desvio.
A B
C D
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Capítulo
N
uma fratura ocorre lesão de vasos Inúmeros fatores influenciam no remodela-
sanguíneos, destruição de matriz e mento ósseo pós fratura e certamente, a idade
morte de células ósseas, e para que do paciente é o mais importante.
se inicie o processo de reparação, o coágulo O periósteo das crianças e dos adultos
sanguíneo e os restos celulares e matriciais devem jovens é forte, espesso, possui grande irrigação
ser inicialmente removidos pelos macrófagos. sanguínea e é muito rico em osteoblastos. Nos
O periósteo e o endósteo (formados por tecido velhos o periósteo é menos irrigado, parcial-
conjuntivo) próximos à fratura respondem com mente fibroso e tem pouco poder de formar osso
intensa proliferação, formando um tecido rico e remodelar.
em células osteoprogenitoras que constituem Wolff em 1892 foi o primeiro a descrever a
um anel em torno da fratura e penetram entre resposta fisiológica reacional que ocorre no osso
as extremidades ósseas rompidas. Neste anel quando é submetido a esforços mecânicos. O osso
conjuntivo surge tecido ósseo primário (imaturo), é mais resistente e se fortalece com forças compres-
tanto por ossificação endocondral de pequenos sivas. Ele gosta de suportar carga. A massa óssea,
pedaços de cartilagem que ai se formam, quanto sua forma anatômica e estrutural responde a
por ossificação intramembranosa. Podem, pois, orientação e a magnitude que as forças dinâmicas
ser encontradas no local de reparação, ao mesmo impõem sobre o osso. Wolff foi o primeiro a corre-
tempo, áreas de ossificação intramembranosa e lacionar a biologia com a biomecânica.
áreas de ossificação endocondral. Esse processo Somente um século depois, em 1987, Frost
evolui até a formação do calo ósseo, constituído explicou e criou a “Mechanostat Theory”: a home-
por tecido ósseo imaturo que une provisoriamente ostasia óssea depende da variação das diversas
as extremidades do osso fraturado. solicitações mecânicas exercida sobre os mesmos
As trações e pressões exercidas sobre o osso no dia a dia. Células mesenquimais, osteoblastos
durante a reparação da fratura, e após o retorno e principalmente osteócitos possuem capaci-
do paciente às suas atividades diárias, causam dades mecanossensitivas e regem o processo
remodelação do calo ósseo e sua completa subs- de consolidação e remodelação segundo os estí-
tituição por tecido ósseo secundário (lamelar). mulos biomecânicos do meio ambiente.
48
A massa e a remodelação óssea são reguladas perdida no tempo, por isso é fortemente influen-
e mantidas durante toda a vida, pela constante ciada pela idade. Quanto mais jovem é o paciente,
formação e reabsorção óssea promovida pela maior é sua capacidade de formar osso e remo-
sintonia dos osteoblastos e osteoclastos. Esta delar. E por isso que os exemplos abaixo ocorrem
capacidade de transdução mecânica tecidual é principalmente nos pacientes com menos idade.
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS
FRATURA DA CLAVÍCULA
RAT, 15, feminino.
A B
C D
Figura 6.1 (A, B, C, D) – Fratura da clavícula com desvio. A) Fratura da clavícula direita com desvio e cavalgamento. B) Tentativa
de redução, mas ainda com acentuado desvio. C) Fratura consolidada com notória reabsorção das bordas do fragmento proximal. D)
Fratura após 1 ano. Processo de plástica óssea devolvendo a silhueta anatômica da clavícula.
A B
CAPÍTULO 6
A
B C
FRATURA-LUXAÇÃO DO COTOVELO
OS, 7, masculino:
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS
A B
Figura 6.5 (A, B) – A) após manobra de redução observar a diástase da epitróclea. B) imagem radiográfica pós manipulação na
troca do gesso, em uma semana.
51
A B
CAPÍTULO 6
A DIVINA PLÁSTICA ÓSSEA
C D
Figura 6.6 (A, B, C, D) – A, B e C) Imagem clínica do paciente 17 anos após. Mobilidade total, completa e indolor. D) Imagem
radiográfica em AP do cotovelo mostrando a perfeita consolidação da epitróclea no seu sitio anatômico original.
Figura 6.7 (A, B, C) – A) Fratura dos ossos do antebraço com acentuado desvio dorsal e cubital. B) Radiografia após redução e
gesso. Desvio lateral do rádio com diminuição do espaço interósseo. C) Radiografia após consolidação obtida depois de 18 meses.
Abertura normal do espaço interósseo.
52
CAR, 5, masculino.
A B C
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS
Figura 6.8 (A, B, C) – A) Fratura de ambos os ossos do antebraço no terço médio para distal. Cavalgamento com desvio radial e
dorsal. B) Imagem radiográfica da redução obtida e imobilização gessada. C) Fraturas consolidadas com remodelação óssea e desapa-
recimento dos traços de fratura após dois anos.
Figura 6.9 (A) – Fratura do terço distal do rádio. Perda de con- Figura 6.9 (B) – Fratura consolidada com remodelação pro-
tato quase total entre as superfícies fraturadas. Acentuada perda ximal do rádio.
do espaço intraósseo. Aparelho gessado muito bem moldado.
53
CAPÍTULO 6
A DIVINA PLÁSTICA ÓSSEA
Figura 6.9 (C) – Fratura do rádio
consolidada após importante remode-
lação. Ressurgimento do espaço inte-
rósseo normal, recuperação funcional
completa.
Figura 6.10 (A, B) – A) Fratura exposta do terço médio para distal do fêmur com cavalgamento e desvio em varo. Total perda de
contato entre os extremos fraturados. B) Consolidação em ponte devido interposição de partes moles cinco meses após a fratura.
54
C
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS
Figura 6.10 (C) – Imagem radiográfica em AP e perfil quatro Figura 6.11 – Imagens radiográfica após 31 anos de evolução.
anos após. Observar o intenso processo de remodelação óssea.
CAPÍTULO 6
MB, 10, masculino.
Figura 6.14 – Após retirada da síntese, fistulectomia mais limpe- Figura 6.15 – Imagem radiográfica da consolidação obtida
za cirúrgica e imobilização com gesso pelvipodálico. Grande desvio com desvio posterior e varo. Exuberante calo ósseo.
em varo e cavalgamento ósseo.
56
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS
Figura 6.16 – Remodelamento ósseo do fêmur após quatro anos Figura 6.17 – Imagem clínica do paciente após cinco anos.
e oito meses. Recuperação completa da função do quadril e joelho. A cicatriz
da pele é a única marca da agressão cirúrgica prévia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1995.
Parte TRATAMENTO NÃO
I CIRÚRGICO DAS
FRATURAS DA COLUNA
Capítulo
7 FRATURAS DE COLUNA
Yorito Kisaki, Felipe Loss, William Osamu Toda Kisaki, Silvia Guaresi.
namente. É a parte da vértebra que sustenta o mentos Supraespinhosos (S) ajudam na estabili-
peso do corpo. O arco neural (lâminas) tem um dade da coluna. Entre os arcos neural e o corpo,
formato de uma ferradura. Lateralmente possui visualizamos, bilateralmente, os pedículos e as
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA
saliências que são os processos transversos, e articulações facetárias. O conjunto do arco verte-
posteriormente, situa-se o processo espinhoso. bral e do corpo forma o canal vertebral por onde
Nele se inserem os músculos para realizarem os passa a medula espinhal
A B C
Figura 7.1 (A, B, C) – A) Principais componentes da vértebra: (1) corpo vertebral; (2) arco com suas lâminas; (3) facetas arti-
culares; (4) processo transverso; (5) processo Espinhoso; (6) pedículo. B) Visualização de todos os componentes juntos: (7) medula
espinhal; (8) raiz nervosa. C) Visão lateral da vértebra.
A B
CAPÍTULO 7
O paciente deve ser manejado conforme das ferramentas que pode ser útil na determi-
as condutas do ATLS, que envolvem garantir o nação do nível e severidade da lesão de coluna.
“ABC”, (A) vias aéreas, (B) breathing ou respiração Essa escala leva em conta o grau de força nos
e (C) circulação com avaliação da pressão arterial, níveis motores correspondentes e os dermá-
FRATURAS DE COLUNA
perfusão e frequência cardíaca. A lesão da medula tomos de sensibilidade correspondentes.
espinhal depende da garantia de uma perfusão
adequada com pressão arterial média de 80 a 85
mmHg, e dessa forma, a prevenção da hipoxemia
e da hipotensão são essenciais. O uso da metil-
prednisolona, que antes já foi considerado trata-
mento padrão nas lesões de medula espinhal,
hoje é só mais uma opção de tratamento que se
utilizada, deve ser iniciada dentro das primeiras
8 horas após o trauma. Atente para as contrain-
dicações ao uso do corticoide, como gestantes,
diabetes mal controlado, lesões menores (limi-
tadas a uma raiz nervosa ou só à cauda equina),
menores de 13 anos de idade, paciente já em uso
de corticoide ou lesões por arma de fogo.
O exame físico inicial consiste em garantir
o ABC. O exame físico secundário consiste na
inspeção do paciente, como hematomas. A
avaliação dos movimentos da coluna a procura
de pontos dolorosos, limitações, aumento dos
espaços interespinhosos podem ser realizados
no caso de o exame de radiografia não apre-
Figura 7.3 – Dermátomos correspondentes às raízes ner-
sentar nenhuma anormalidades. Atentar para vosas. Figura colorida a partir da classificação ASIA. Observe
possibilidade de fratura cervical em casos de que não há correspondência de dermátomo para primeira
vértebra cervical (C1).
lesão no couro cabeludo da região occipital, lace-
rações na região cervical, torcicolo ou limitação
GRADUAÇÃO DE FORÇA NA AVALIAÇÃO DE MOTRICIDADE
nos movimentos da coluna cervical. O uso de
0 Nenhuma contração muscular
colar cervical rígido deve ser instalado e só deve
Movimento visível no músculo mas nenhum
ser retirado quando o paciente tiver os seguintes 1
movimento na articulação
critérios: Estiver alerta e consciente, lesões
Apenas capacidade de fazer força horizontalmente
avaliadas por radiografia e tomografia compu- 2
mas não contra gravidade e não contra resistência
tadorizada (TC), ausência de dor em coluna
Capacidade de fazer força contra gravidade mas não
3
posterior e exame neurológico intacto. O exame contra resistência
neurológico consiste em um exame minucioso Diminuição da força, mas mesmo assim, capaz de
4
da motricidade, da sensibilidade e dos reflexos. fazer força contra gravidade e contra resistência
Americana de Lesão de Medula Espinhal (ASIA Tabela 7.1 – Graduação de força, que varia de 0 a 5.
62
Local Achados A
Achados Motores
de Sensitivos Reflexo
PARTE I
esperados
lesão esperados
C2 Movimentos da Occipital
musculatura da Cartilagem
C3 Face, Tireoide
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA
Respirar Pescoço
C4
Espontaneamente posterior
Deltoide,
Encolher os
região
C5 ombros, rotação Reflexo Bicipital
infraclavi-
externa de MMSS
cular
Flexão do coto- Polegar Reflexo Bicipital
C6 velo, Extensão do (1º quiro- e Reflexo
punho dáctilo) Braquiorradial
Extensão do co- 2,3,4º B
C7 tovelo, Flexão do quirodác-
punho tilos
5º qui- Reflexo tricipital
rodáctilo
C8 Flexão dos dedos e região
ulnar da
mão
T1-
T12
T4 Mamilo
L1-L2
Flexão do Quadril Coxa
L2-L3
Anterior
L3 Adução do Quadril
Abdução do
L4 Joelho
Quadril
Reflexo Patelar
Lateral da
L5 Dorsiflexão do pé
Perna
Lateral do
S1
Pé
Reflexo Aquileu
Flexão plantar Região
S1-S2
do pé perianal
Contração do Reflexo
S2-S4
Esfíncter anal Bulbocavernoso
CAPÍTULO 7
FRATURAS DE COLUNA
1ª - Desenhar um bumerangue em um 2ª - Nas medidas 33 cm por 9 cm 3ª - Malha 12 cm 3 a 4 rolos de algodão
papelão 20 cm o papelão e tesoura
4ª - Envolver o papelão com o algodão 5ª - Cortar a malha com sobra de 10 cm 6ª - Com a malha, vestir o papelão com
laminado nas bordas o algodão
7ª - Dar um nó nas duas extremidades 8ª - Se for mulher, é melhor prender os 9ª - Imagem final com o colar colocado
cabelos para não atrapalhar na colocação
do colar
É um reflexo que envolve raízes sacrais (S2 a estímulo com a retração do cateter de Foley).
S4) e consiste na contração do esfíncter anal Se após o retorno deste reflexo, mantiver uma
PARTE I
em resposta a um estímulo manual da glande perda total motora e sensitiva abaixo da lesão,
peniana ou do clitóris (uma alternativa é o há uma lesão completa da medula espinhal.
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA
A B
Figura 7.6 (A, B) – Reflexo bulbocavernoso. A) Aplica-se um estímulo manual no pênis ou no clitóris e B) há uma contração reflexa
do esfíncter anal.
Os primeiros exames a serem obtidos são ser indicada somente nos casos de deficit neuro-
radiografias cervicais (AP, Perfil e transoral), lógicos incompletos ou duvidosos, na necessi-
torácicas (AP) e pélvicas (AP). Porém, a tomo- dade de avaliar severidade da lesão ligamentar
grafia é superior à imagem radiográfica e por e da medula espinhal, antes da realização da
vezes, dispensa algumas radiografias, como as redução externa cervical e antes da redução
cervicais. A Ressonância Magnética (RNM) deve cirúrgica cervical, torácica ou lombar.
ReferênciaS BibliográfiaS
1. ACRAE, R; ESSER, M. Practical fracture treat- 5. DEVLIN, V.J; SINGH, K. Spine secrets plus. 2nd
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65
CAPÍTULO 7
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FRATURAS DE COLUNA
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66
PARTE I TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA
Capítulo
8 FRATURAS CERVICAIS
Yorito Kisaki, Felipe Loss, William Osamu Toda Kisaki, Silvia Guaresi.
A
s fraturas cervicais podem ser dívidas FRATURAS CERVICAIS ALTA
em altas (acima de C2) e em baixas
As fraturas cervicais altas são as lesões que
(C3-C7), pois as vértebras, a classificação
incluem o osso occipital, a vértebra atlas (C1) e
e o tratamento diferem entre si. Com relação a
áxis (C2). É importante atentar que essas vérte-
anatomia das vértebras cervicais, é importante
bras diferem das demais vértebras cervicais
salientar que os processos transverso de todas as
visto que o Atlas (C1) é composto por 2 arcos
vértebras cervicais possuem um forâmen na qual
(anterior e posterior) e não possui corpo verte-
as artérias vertebrais passam dentro dela.
bral, enquanto que o áxis (C2) possui o processo
As fraturas cervicais podem ser decorrentes
odontoide que articula anteriormente com o
de diferentes mecanismo, como lesão em flexão,
próprio atlas e posteriormente com o ligamento
lesão em flexo-rotação, lesão em extensão e lesão
transverso do atlas. As lesões cervicais altas não
em compressão.
costumam estar associadas a lesões neurológicas
pois o espaço para o canal cervical é relativa-
mente grande (consideravelmente maior) em
C1 e C2. As lesões cervicais altas contempladas
neste capítulo serão as seguintes:
• Lesões relacionadas a articulação entre o
osso occipital do crânio e o atlas:
→ Fratura do côndilo occipital
→ Luxação atlanto-occipital
• Lesões do atlas (C1)
→ Fraturas do atlas
• Lesões do áxis (C2)
→ Fraturas do processo odontoide
Figura 8.1 – Mecanismo de lesões em coluna cervical: → Fratura do enforcado ou de
A) lesão em flexão; B) lesão em flexo-rotação; C) lesão em
extensão; D) lesão em compressão. “hangman”
68
C2
C2
C2 Arco posterior
(C1)
Ant Post
Medula
Espinhal
Figura 8.2 (A, B, C) – Estruturas anatômicas de (C1) e áxis (C2): A) Observamos o processo odontoide de C2 articulando com C1 e
com o ligamento transverso. A medula espinhal passa posteriormente ao odontoide e ao ligamento transverso. As artérias vertebrais
passam no forâmen dos processos transversais; B) Processo odontoide em um vista lateral; C) Processo odontoide em um corte coronal.
CAPÍTULO 8
grafia cervical lateral, onde podemos observar um ligamento transverso e sugerindo uma possível
aumento da distância entre o processo odontoide e fratura de atlas. A complementação pode ser reali-
o arco anterior de C1 (maior que 3 mm em adultos zada com uma TC.
A B
FRATURAS CERVICAIS
Figura 8.4 (A, B) – Desenho esquemático em corte sagital: A) Representação de uma radiografia sem lesão, com alinhamento
(em vermelho) entre as bordas laterais de C1 e C2. B) Representação de fratura de atlas com separação das massas ósseas laterais.
Se a soma das separações (a+b) for maior que 7 mm, há grande risco de ter ruptura do ligamento transverso.
Figura 8.5 – Ruptura do ligamento transverso. O processo Figura 8.6 (A) – Imagem radiográfica transoral: separação
odontoide pode afastar do arco anterior do atlas, numa distância das massas laterais em relação ao processo odontoide.
(a) maior que 3 mm em adultos ou 5 mm em crianças.
B C
Figura 8.6 (B, C) – TC em corte axial: fraturas de C1 (setas verdes) em relação ao odontoide (seta azul).
70
O tratamento varia de SOMI (Sternal cirurgia com realização artrodese de C1-C2 nos
Occipital Mandibular Immobilizer) a halo-colete, casos de maior instabilidade.
PARTE I
Figura 8.7 – Halo-colete: fixação externa rígida da coluna Figura 8.8 – SOMI (Brace - Sternal Occipital Mandibular
cervical. Immobilizer).
com halo-colete ou colar cervical rígido por 12 • Tipo III: fratura que tem traço aden-
CAPÍTULO 8
semanas se a fratura não estiver muito deslocada. trando o corpo vertebral. Tem boa chance de
Porém, se durante o acompanhamento houver consolidação com tratamento conservador com
indícios de pseudoartrose, deve-se realizar trata- redução externa e colocação de halo-colete, pois
mento cirúrgico com fixação do odontoide via a fratura ocorre na região de maior quantidade
FRATURAS CERVICAIS
anterior ou artrodese C1-C2 via posterior. de osso esponjoso.
A B
Figura 8.10 (A, B) – Fratura do odontoide tipo III, com linha de fratura acometendo base de C2. Paciente feminino de 80 anos
por queda da própria altura, apresentando fratura visto em TC em corte sagital (A) e em TC em corte axial (B).
A B
Figura 8.11 (A, B) – A) Imagem radiográfica de paciente feminina, 32 anos, apresentando fratura de C2 tipo II sem
deslocamento. B) Imobilização com órtese plástica.
72
vértebra desloca anteriormente e a porção posterior Geralmente entre C2 e C3. Necessita cirurgia pela
também desloca para trás, outro nome dado a essa dificuldade de redução fechada.
fratura é a “Espondilolistese traumática do áxis”. O
antigo nome “enforcado”, se refere ao fato de que A
essa fratura era um achado comum em prisioneiros
que eram enforcados. O provável mecanismo da
lesão é a hiperextensão em um acidente automobi-
lístico. O tratamento varia conforme a classificação
de Effendi, modificadas por Levine e Edwards.
C D
CAPÍTULO 8
FRATURAS CERVICAIS
Figura 8.13 (C, D) – C) Imagem clínica do paciente com halo-colete. D) Imagem radiográfica de perfil após tratamento de halo-
colete, evidenciando consolidação.
A B
Figura 8.14 (A, B) – Paciente feminino de 35 anos com fratura de C2 tipo enforcado, mesmo método de tratamento do
paciente anterior. Evolução para consolidação.
74
Subluxação Atlanto-Axial
PARTE I
A B
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA
A B
Figura 8.16 (A, B, C) – Paciente feminina de 14 anos, evidenciando torcicolo ao exame clínico, na qual os
exames mostram subluxação C1-C2 (atlanto-axial): as distâncias das massas laterais de C2 em relação ao odontoide são
diferentes (B). Tratado com tração cervical.
75
CAPÍTULO 8
coluna por arma de fogo que não comprimirem não requerem remoção do projetil.
A B C
FRATURAS CERVICAIS
Figura 8.17 (A, B, C) – Paciente masculino, 27 anos, mostrando o projetil alojado no corpo vertebral de C2, sem comprometer
o canal medular.
Classificação da Lesão da coluna cervical Baixa (SLIC: Subaxial Fratura por compressão
Cervical Injury Classification) Decorre de uma força axial com ou sem
PARTE I
colete cervicotorácico.
Distração 3
Rotação/Translação 4
COMPLEXO DISCO-LIGAMENTAR
A B
Sem lesão 0
2
Indeterminado 1
Ruptura 2
FUNÇÃO NEUROLÓGICA
Intacto 0
Lesão de raiz 1
3
Lesão medular completa 2
Lesão medular incompleta 4
Compressão com déficit progressivo 5
TOTAL*
*ESCORE TOTAL
Figura 8.20 (A, B) – A) Fratura por compressão da quarta
<3 Indicado tratamento conservador
vértebra cervical. B) Imobilização com colar plástico tipo
=4 Tratamento conservador ou cirúrgico são indicados Philadelphia de apoio occipital, mentoniano e torácico.
>5 Indicado tratamento cirúrgico
Fratura explosão ou BURST
Tabela 8.1 – Classificação e escore da lesão da couna cervical
baixa. Resulta também de uma carga axial, com
deslocamento de fragmento do corpo para
dentro do canal, podendo ocorrer lesão neuro-
LESÕES CERVICAIS ANTERIORES
lógica e frequentemente acontecendo nos
A parte anterior das vértebras cervicais inclui o corpo segmentos C6 e C7. Os fragmentos podem
vertebral e as estruturas ligamentares adjacentes vir a deslocar em direção da medula espinhal,
(ligamento longitudinal anterior e posterior). Essa levando à compressão da mesma. Comumente
região pode ter fraturas por compressão, fraturas se reduz instalando uma tração cervical com
explosão ou fraturas do tipo flexão com carga axial. tratamento cirúrgico complementar.
A B
CAPÍTULO 8
baixa, onde processos espinhosos são maiores. Em
Fraturas simples de processos espinhosos ou
casos mais graves, a complementação de imagem
lâminas podem ser tratados com simples colar
com RNM e cirurgia a posteriori está indicada.
tipo Philadelphia. São frequentes em casos de
FRATURAS CERVICAIS
A B
Figura 8.22 – Paciente feminino, 49 anos, sentiu estalo, Figura 8.23 ( A, B, C) – A e B) Imagem radiográfica mostrando
após erguer peso na academia de ginástica. Evidencia-se fratura do processo espinhoso e na junção da lâmina com faceta articular,
fratura do processo espinhoso de C7. tratado conservadoramente com colar cervical tipo Philadelphia. C) -
Imagem de tomografia axial computadorizada comprovando as fraturas.
A B C
rais são determinadas por forças de flexo-distração para reduzir e colocar halo-colete. A tração pode
combinados com rotação, que tende a “rotar” variar de 2,5 kg a 70% do peso corporal. Caso não
a vértebra, criando instabilidade no segmento. houver redução, necessitará redução cirúrgica,
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA
A B
C D
CAPÍTULO 8
FRATURAS CERVICAIS
E
Figura 8.26 (C, D, E) – C)
Imagem tomográfica da fratura.
Tratamento instituído com minerva
gessado. D) Imagem de tomografia
axial computadorizada mostrando
grande fragmento ósseo no canal
medular. Paciente somente referia
disestesia no território do nervo
cubital. E) Fratura consolidada com
anquilose C6 e C7. Nenhum deficit
neurológico. Imagem radiográfica
10 anos após a fratura.
D
Figura 8.27 (A, B, C, D) – Trauma
cervical em acidente automobilístico.
A e B) Fratura da segunda vértebra
cervical. Imagem de tomografia axial
computadorizada mostrando fratura
cominutiva da segunda vértebra cervical.
Discopatia avançada entre C4-C5, C5-C6,
C6-C7. C) Imagem de tomografia axial
computadorizada mostrando fratura
cominutiva que se estende até o pedículo
direito da segunda vértebra cervical. D)
Tratamento com halo-colete por 60 dias.
Evolução plenamente satisfatória.
80
E
PARTE I
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA
Figura 8.27 (E) – Imagem radiográfica dinâmica de fratura consolidada. Recuperação funcional completa.
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81
CAPÍTULO 8
appleton and lange. Stamford, 1997.
13. VETTER, S. Verletzungen der Halswirbelsäule
im Alter [Cervical spine injuries in the elderly
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FRATURAS CERVICAIS
14. YANG, Z; YUAN, Z.Z; MA, J.X; MA, X.L.
Conservative versus surgical treatment for
type II odontoid fractures in the elderly:
Grading the evidence through a meta-
-analysis. Orthop Traumatol Surg Res, v. 101,
n. 7, p. 839-844, 2015.
15. YOKOTA, K; et al. Progression of local
kyphosis after conservative treatment for
compressive cervical spine fracture with
spinal cord injury. J Orthop Surg Res, v. 14, n.
1, p. 98, 2019.
82
PARTE I TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA
Capítulo
9
FRATURAS DA COLUNA
TORACOLOMBAR
Yorito Kisaki, Felipe Loss, William Osamu Toda Kisaki, Silvia Guaresi.
A
definição das 3 colunas (anterior, das classificações das fraturas da coluna tora-
médio e posterior) proposto por Denis, colombar. Dessa forma, para a coluna toraco-
na qual o comprometimento da coluna lombar, podemos dividir a coluna em anterior,
média determinava a instabilidade, foi o início médio e posterior.
tipos de fraturas descritas por McAfee: fratura fratura flexo-distração, fratura em translação.
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA
As fraturas toracolombares devem ser outro segmento associada. Devemos estar atento
avaliadas com radiografias em AP e em perfil a acunhamento de corpos vertebrais, bem como
e se constatado fratura, uma TC deve ser indi- aumento do espaço do processo espinhoso, que
cada, pois em 5 a 20% há uma outra fratura em sugerem fraturas vertebrais.
FRATURA TORACOLOMBAR
CAPÍTULO 9
POR COMPRESSÃO
A B C
Figura 9.5 (A, B, C) – A) Colete OTLS; B) Colete de Jewett; C) Colete de Risser.
86
A B
CAPÍTULO 9
FRATURAS DA COLUNA TORACOLOMBAR
Figura 9.7 (C) – Paciente feminina de 49
anos. C) Corte axial de TC com fratura explosão
e com fragmento posterior do corpo vertebral
(seta verde).
A B
C D
Figura 9.8 (A, B, C, D) – Paciente masculino de 34 anos, sofreu fratura explosão (Burst) em L2. A) Imagem
radiográfica mostrando diminuição da altura do corpo vertebral. B) tomografia computadorizada com reconstru-
ção. C) Tomografia axial de L2 com fragmento ocupando 50% do canal vertebral. D) Tomografia axial após um ano,
mostrando aumento do diâmetro do canal com tratamento conservador com colete.
88
A B C
CAPÍTULO 9
FRATURAS DA COLUNA TORACOLOMBAR
Figura 9.12 –
Imagem tomografia
da primeira vértebra
lombar, comprome-
tendo coluna ante-
rior e média.
FRATURA TORACOLOMBAR DE
CHANCE OU LESÃO DO CINTO
PARTE I
A B C
Figura 9.15 (A, B, C) – Paciente feminina de 11 anos com lesão típica de cinto de segurança. A e B) TC corte sagital: fratura
visível com abertura posterior (em laranja) e visualização do aumento do espaço interespinhoso (em verde). C)Radiografia em
perfil já em tratamento com colete do tipo OTLS.
91
D E
CAPÍTULO 9
FRATURAS DA COLUNA TORACOLOMBAR
Figura 9.15 (D, E) – Seis meses
após, evidencia-se consolidação
completa.
A B C D
PARTE I
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA
Figura 9.18 (A, B, C, D) – A) TC coronal com fratura em translação. B) TC sagital com mesma fratura. Paciente feminina de 33 anos
que sofreu fratura-luxação no nível T4/5 por acidente automobilístico. C) Imagem radiográfica AP pós-operatório. Paciente submetido a
cirurgia com redução aberta e fixação. D) Radiografia em perfil pós-operatório.
Figura 9.19 –
Paciente de 33 anos,
feminina que sofre
fratura das asas do
sacro por queda de
altura, tratado con-
servadoramente.
93
deve ser realizado para avaliar lesão prostática cirurgia. Se optado pelo tratamento conservador,
CAPÍTULO 9
associada. Radiografia de bacia (AP, Inlet, Outlet e paciente deve usar colete OTLS com extensão para
perfil) devem ser solicitados. Se suspeitar de lesão, um dos membros inferiores e inicialmente deve
devemos complementar com TC. Os critérios manter-se em repouso e acamado, sem colocação
para definir tratamento conservador ou cirúrgico de carga sobre a coluna. Porém, se o paciente vier
Imagens que sempre devem ser lembradas quando há dúvidas entre o tratamento conservador e o
cirúrgico.
Figura 9.20 – Frouxidão e migração de haste e parafusos Figura 9.21 – Infecção com exposição de parafusos e haste
em artrodese cervical. após infecção em artrodese da coluna lombar.
Referências BibliográficaS
PARTE I
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Parte TRATAMENTO NÃO
II
CIRÚRGICO DAS
FRATURAS NOS
MEMBROS SUPERIORES
Capítulo
10 FRATURAS DA CLAVÍCULA
Carlos Roberto Schwartsmann, Fernando Carlos Mothes,
Fabio Matsumoto, Almiro Gerzson Britto
CONSIDERAÇÕES GERAIS
A clavícula é o primeiro osso a se ossificar na e até mesmo pleuropulmonares. Sendo neces-
vida intrauterina. Ela é subcutânea e conecta o sário verificar os pulsos periféricos, a função
membro superior ao tronco ajudando na esta- dos nervos do membro superior e a presença de
bilização do ombro mantendo-o afastado do enfisema subcutâneo e alterações respiratórias.
tórax. A forma da clavícula se assemelha a um A radiografia comprova a existência da fratura
“S” quando vista de cima, apresenta uma curva que na grande maioria das vezes apresenta o
côncava vertical na sua porção lateral e convexa mesmo desvio.
ventral na sua porção medial. O osso é mais
tubular no seu terço médio e mais achatado nas
extremidades. O local dessa transição geomé-
trica e o ponto mais frágil a carga axial e, por
isso, há maior incidência de fraturas.
A incidência varia de 2 a 10% de todas as
fraturas, mas alcança ocorrência de até 40%
nas fraturas do ombro e cintura escapular. A
causa mais comum é o trauma indireto com
queda sobre o braço estendido ou queda de
lado sobre o ombro. Muitos autores admitem
que o trauma direto possa ser o mecanismo
mais frequente (queda de moto, bicicleta etc.).
O diagnóstico da fratura da clavícula é fácil
após história e exame físico. Há muita dor e
Figura10.1 – Deslocamento habitual nas fraturas da clavícula.
impotência funcional. Observar ação muscular. O fragmento proximal se desloca cranial-
É importante lembrar que as fraturas com mente pela ação do músculo esternoclidomastoideo, o fragmento
distal se desloca para frente e para baixo pela ação da gravidade e
desvio podem provocar lesões neurovasculares a força dos músculos Peitoral Maior e Grande Dorsal.
98
da clavícula é incruenta. Neer em 1960 avaliando zados enquanto o joelho se contrapõe na coluna
2.235 pacientes relatou uma taxa de pseudoar- na região interescapular. Obtida a redução o
trose de 0,1%. Rowe em 1968 relatou incidência “oito” preferentemente gessado é confeccionado
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
de 0,8. Entretanto Hill e Zlowoski encontraram com as mãos do paciente, apoiadas nas suas
índices de 2% a 15% nas fraturas deslocadas ou próprias asas do ilíaco, os braços devem estar
cominutivas. abduzidos. O algodão nas axilas de ver generoso
Na literatura encontramos diversos tipos para não determinar compressão neurovascular.
de tratamento. As fraturas incompletas ou não Após a secagem do gesso o paciente deve
deslocadas podem ser tratadas com tipoia, enfai- ser orientado para manter os braços abertos e
xamento velpeau ou imobilizadores de lona. nas primeiras horas, permanecer em decúbito
Muitos autores consideram que os bons resul- dorsal. Eventualmente formigamento é indício
tados obtidos com os mais diferentes métodos de de compressão nervosa axilar. Os membros supe-
imobilização foram alcançados não pelo método riores devem ser mais abduzidos e se a queixa
empregado, mas sim pelo grande potencial de persistir, o gesso deve ser recortado ou descompri-
consolidação da clavícula. Entretanto as fraturas mido. O paciente deve ser reavaliado em 48 horas
com desvio devem ser reduzidas e imobilizadas e uma semana. Dependendo da evolução em duas
com oito gessado ou não. A anestesia, se for semanas pós fase aguda, que é mais doloroso e
necessária, pode ser local. A técnica está descrita desconfortável, o gesso pode ser trocado por novo
na figura 10.2. aparelho gessado ou aparelho em oito de lona que
possibilita aperto gradual. A imobilização deve
ser mantida por seis a oito semanas.
Cabe salientar que a consolidação clínica
antecede a radiografia. O foco da fratura se esta-
biliza clinicamente, mas o calo ósseo não é bem
visualizado. O mesmo só aparece com nitidez,
após 10 ou 12 semanas.
Figura 10.2 – Método de redução da fratura da clavícula. Os Figura 10.3 – Imagem radiográfica do desvio classico da fratu-
ombros são posteriorizados com apoio do joelho do traumatolo- ra da clavicula: o fragmento proximal se desloca cranialmente e
gista na região interescapular. o fragmento distal é deslocado para baixo.
99
CAPÍTULO 10
FRATURAS DA CLAVÍCULA
1ª - Paciente com as mãos na cintura me- 2ª - Cortar a malha na medida de duas 3ª - Dois rolos de algodão laminado de 20
dir com malha de 12 cm sobre o ombro partes cm medir em toda a extensão da malha
passando na axila
7ª - Pegar nas duas extremidades 8ª - Dobrando para o meio 9ª - Sem soltar as pontas levantar o gesso
10ª - Molhar tirando o excesso da água 11ª - Estender sobre o algodão 12ª - Preparar a malha para vestir
13ª - O algodão e o gesso 14ª - Após vestir o gesso e o algodão 15ª - do meio da escápula sobre o ombro
16ª - Passando na axila 17ª - Contornar toda a imobilização até 18ª - Prender com fita o final da atadura e
terminar a mesma dobrar as bordas para dentro
19ª - Imagem clínica final de oito gessado 20ª - Imagem clínica final de oito gessado
(frente) (costas)
Figura 10.5 – Aspecto final do oito gessado. Uma nova camada de gesso pode ser acrescentada em cima do oito.
101
CAPÍTULO 10
FRATURAS DA CLAVÍCULA
Figura 10.6 – Aparelho oito gessado muito mal confeccionado. Pouco acolchoamento e proteção axilar. Esse engano deve
ser evitado!
CASOS CLÍNICOS
MIM 43, masculino.
A B
Figura 10.7 (A, B) – A) Fratura da clavícula com grande desvio. B) Fratura consolidada com exuberante calo ósseo.
Figura 10.8 (A, B) – A) Fratura do terço médio da clavícula com desvio e cavalgamento. B) Fratura consolidada em pequeno
encurtamento sem repercussão clínico. Imobilização com oito gessado.
102
A B
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 10.9 (A, B) – A) Fratura obliquá do terço médio da clavícula esquerda. B) Consolidação com exuberante calo ósseo pós
oito gessado por quatro semanas.
Figura 10.10 (A, B) – A) Fratura da clavícula no terço médio com deslocamento. B) Fratura consolidada pós oito gessado.
Imagem radiográfica após quatro meses.
Figura 10.11 (A, B) – A) Fratura com desvio do terço médio da clavícula direita. B) Fratura consolidada pós-tratamento com oito
gessado por quatro semanas.
103
CAPÍTULO 10
A B
FRATURAS DA CLAVÍCULA
Figura 10.12 (A, B) – A) Fratura do terço médio para distal da clavícula com importante cavalgamento. B) Fratura após redução
consolidada em boa posição. Imobilização com oito gessado.
Figura 10.13 (A, B) – A) Fratura do terço médio da clavícula com desvio e diástase. B) Formação de importante calo ósseo entre
os fragmentos pós oito gessado. A capacidade osteoblástica do jovem é sempre aliada do tratamento conservador.
Figura 10.14 (A, B) – A) Fratura do terço distal com deslocamento cranial e tecla de piano. B) Fratura consolidada com imobili-
zação tipo Watson-Jones.
104
A B
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 10.15 (A, B) – A) Fratura do terço distal da clavícula com migração cranial simulando luxação acrômio clavicular. B) Fratura
consolidada na posição anatômica. A maioria dos traumatologistas são inclinados ao tratamento cirúrgico desse tipo de fratura.
Figura 10.16 – Nas fraturas do terço distal a imobilização tipo Watson-Jones com esparadrapo mantém compressão do terço
proximal contra o fragmento clavicular distal. Ela deve ser trocada semanalmente.
Figura 10.17 (A, B) – A) Fratura deslocada do terço distal da clavícula. Sinal da tecla de piano. B) Fratura consolidada pós imobi-
lização tipo Watson-Jones por quatro semanas.
105
CAPÍTULO 10
FRATURAS DA CLAVÍCULA
Figura 10.18 – O tratamento com tipoia simples, tipóia-velpeau e velpeau de lona, é inadequado pois não
imobiliza o foco de fratura, não reduz o desvio e mantém o cavalgamento. A fratura da clavícula, muitas vezes,
consolida pois é um osso de boa índole apesar do “destrato” do traumatologista. Este é o exemplo do trata-
mento “errado” para fratura da clavícula.
Figura 10.19 – Fratura cominutiva do terço médio da clavícula com desvio clássi- Figura 10.20 – Tratamento com velpeau
co. de verão (inadequado).
Pseudoartrose
DEC, 33, masculino
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
CAPÍTULO 10
FRATURAS DA CLAVÍCULA
Figura 10.25 – Evolução para
pseudoartrose. Necessidade de
reintervenção com nova osteossín-
tese e enxerto ósseo.
Infecção
Figura 10.27 – Opção pelo tratamento cirúrgico: placa com Figura 10.28 – Evolução com fistula e infecção.
parafusos e compressão interfragmentária.
108
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
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CAPÍTULO 10
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Capítulo
11
FRATURAS DO ÚMERO
PROXIMAL
Osvandré Lech, João Artur Bonadiman, Paulo Piluski, Carlos Castillo
A
extremidade proximal do úmero é divi- por fragilidade, sendo menos frequente apenas
dida em 4 fragmentos: cabeça umeral, que as fraturas do rádio distal e do quadril em
tubérculo maior, tubérculo menor e indivíduos acima de 65 anos, ocorrendo com
diáfise. As fraturas podem acometer em todos os frequência três vezes maior no sexo feminino.
segmentos, isoladamente, conjuntamente, com A maioria das fraturas do úmero proximal
ou sem deslocamentos. – em torno de 80 a 85% – tem indicação de trata-
mento conservador, embora a frequência de
Tubérculo maior
tratamento cirúrgico vêm aumentando significati-
vamente devido ao desenvolvimento de material
de síntese mais adequado e da experiência adqui-
rida com a artroplastia. Além disso, por questões
comportamentais, muitos pacientes optam por
tratamento cirúrgico pela rapidez e conforto,
Tubérculo menor já que esta opção não exige períodos longos de
Diáfise imobilização. Muitos estudos comparativos entre
o tratamento conservador e o cirúrgico – seja oste-
Figura 11.1 – Desenho esquemático dos quatro fragmentos
potencialmente fraturáveis do terço proximal do úmero.
ossíntese ou artroplastia – para o mesmo tipo de
fratura do úmero proximal informa que os resul-
tados funcionais são semelhantes.
O RACIONAL DO TRATAMENTO CON-
As fraturas do úmero proximal possuem
SERVADOR
dois padrões: o primeiro e mais comum é
As fraturas do úmero proximal são frequentes e nos pacientes idosos e osteoporóticos, onde a
representam cerca de 5% de todas as fraturas do fratura geralmente resulta de um trauma de
corpo humano. A sua incidência aumenta signi- baixa energia, como queda da própria altura. A
ficativamente nos idosos devido à fragilidade maioria destes casos apresenta mínimo desvio
óssea pela osteoporose e sarcopenia. Trata-se do e pode ser tratado conservadoramente com
terceiro tipo mais comum de fratura não-vertebral bom prognóstico. O segundo padrão ocorre
112
em pacientes jovens e resulta de trauma de alta e visuais, etilistas e diabéticos também apresentam
energia (acidente de moto ou de automóvel, maior chance de fratura.
PARTE II
queda de escadas, etc.) e pode estar associado Em 1934, Ernest Codman descreveu no clás-
com lesões de partes moles e danos neurovas- sico livro The Shoulder o conceito das 4 partes da
culares extensos. Muitas destas fraturas podem fratura do úmero proximal, envolvendo a diáfise
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Impactada
Fratura
“em 4 partes”
umeral está congruente com a superfície articular ao tratamento com prótese reversa com segui-
CAPÍTULO 11
da glenoide. A fratura com 4 partes é aquela em mento de um ano, concluíram que a prótese
que os 4 fragmentos estão desviados entra si, e reversa propicia apenas mínimos benefícios a
a cabeça umeral está congruente com o glenoide. mais que o tratamento conservador em termos
A opção sobre o melhor tratamento para de função e mobilidade. Esse estudo corroborou
pelo paciente, após uma avaliação radiográfica gico, colo anatômico, tuberosidade maior e tube-
de controle e análise clínica do movimento em rosidade menor.
PARTE II
bloco da fratura, que geralmente ocorre após Launonen e colegas realizaram em 2019
trinta dias. O reforço muscular deve iniciar um estudo multicêntrico randomizado de 88
após os sinais de consolidação radiográfica e a pacientes com mais de 60 anos, comparando o
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.4 – Imagens radiográficas do ombro esquerdo de paciente com 42 anos evidenciando fratura em
2 partes do colo cirúrgico.
Figura 11.5 – Imagem tomográfica coronal. Figura 11.6 – Imagem radiográfica da fratura consolidada.
Consolidação após seis semanas.
O tratamento conservador deste padrão de ruim. Bom resultado foi igualmente obtido em
fratura obteve bons resultados em pacientes pacientes acima de 65 anos que apresentavam
ativos acima de 65 anos, com fratura impac- baixa demanda funcional, independente do tipo
tada em varo ou valgo e com qualidade óssea de fratura.
116
Figura 11.7 – Imagens radiográficas de paciente com fratura do úmero proximal direito impactada em varo.
Figura 11.8 – Controle em quatro semanas: aumento do des- Figura 11.9 – Controle em 12 semanas mostrando consolida-
vio em varo. ção da fratura com desvio em varo.
117
CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.10 – Resultado funcional final do paciente.
Figura 11.11 – Imagem radiográfica do ombro direito, evidenciado fratura da grande tuberosidade com desvio inferior a 5 mm.
Controle radiológico após 12 semanas evidenciando fratura consolidada.
ocorrem em associação com luxação glenoumeral úmero proximal e seu tratamento permanece
CAPÍTULO 11
posterior – da mesma forma como as fraturas da desafiador. O tratamento cirúrgico é preferido
grande tuberosidade após luxação anterior – a nos casos de fraturas desviadas, em pacientes
redução incruenta geralmente reduz o fragmento. jovens, com poucas comorbidades e alta
A fratura minimamente desviada e com demanda funcional. O tratamento conservador
A B
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 11.15 (A, B) – A) Fratura do úmero proximal esquerdo em 3 partes, impactada em valgo, em paciente
cardiopata isquêmica de 73 anos. B) Controle radiográfico com oito semanas de evolução.
CAPÍTULO 11
PROFHER não demonstrou diferença funcional semanas da lesão, quando tolerados. Os exercí-
significativa entre o grupo de pacientes tratados cios de ganho de ADM ativo assistido começam
cirurgicamente e o grupo tratado de maneira após seis semanas e o reforço muscular após
conservadora, especialmente em pacientes acima três meses. A escolha da tipoia com coxim de
B C
122
D
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 11.17 (D) – Resultado clínico satisfatório. Lesão do manquito rotador do lado esquerdo.
Figura 11.18 (A, B) – A) Fratura do úmero proximal esquerdo em paciente do sexo feminino, 79 anos. B) Evolução radio-
gráfica evidenciando consolidação da fratura.
C D
CAPÍTULO 11
A B C
D E
F G H
1ª - Vestir todo o corpo com malha 30 cm 2ª - Cortar na altura dos dois ombros 3ª - Medir com a malha, 12 cm a extensão
de todo o braço a ser imobilizado
CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
7ª - Cortar uns 20 cm de malha 15 cm 8ª - Unir as pontas formando um triângulo 9ª - Dobrar novamente em forma de tri-
ângulo
10ª - Vestir com a malha 11ª - O triângulo é colocado entre o corpo 12ª - Meio rolo de algodão 12 cm e 15 cm
e o cotovelo de malha de 12 cm
13ª - Com o algodão meio fofo vestir com 14ª - Colocar na axila 15ª - Com a 1ª atadura de crepom 20 cm,
a malha prender do ombro para o cotovelo
16ª - Dando a volta duas vezes 17ª - Ir para o punho 18ª - Abrindo o meio da atadura passan-
do a mão para fora completando com a 2ª
19ª - Atadura dando a volta no corpo 20ª - Voltando para o ombro cruzando 21ª - Na mão furando no meio da atadura
22ª - AAbrir a malha prendendo as bordas 23ª - Dobrar todas as bordas das malhas 24ª - Prendendo com fita crepe
com fita crepe sobre a imobilização
25ª - O paciente deve manter a mão livre 26ª - Pedir ao paciente para respirar com o 27ª - Com a 3ª atadura de crepom de 20
sobre a cabeça braço baixo para conferir a pressão do tórax cm, prender do ombro para o cotovelo
28ª - Com o algodão meio fofo vestir com 29ª - Dar a volta no tórax passando pela mão 30ª - Prender as bordas com fita crepe na
a malha até finalizar a atadura. Dando mais firmeza imobilização
CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
31ª - Vista anterior 32ª - Vista posterior
O velpeau pode ser recoberto ou não com atadura gessada
1ª - Malha tubular de 12 cm, colocar por 2ª - Com a parte do rolo para o braço, fa- 3ª - Enfiar o braço na malha
trás da cervical passando 15 cm envol- zer um corte na altura do ombro
vendo o punho
4ª - Conforme a imagem (ilustração) 5ª - Dobrar a malha para formar a tipoia 6ª - Medir um algodão de 20 cm do om-
bro para o punho
7ª - Abrir todo o rolo na mesma extensão 8ª - Colocar dentro da malha que vem do 9ª - Na parte distal, cortar o centro da
e dobrar por 3 vezes ombro para o punho malha até próximo o punho
10ª - Dar um nó para que o algodão não 11ª - Manter o braço em 90 graus e amar- 12ª - A parte da malha que está para a
saia para fora da malha rar sem comprimir o punho mão, puxar firme
13ª -Passando entre o corpo e o meio do 14ª - Cortar uns 20 cm de comprimento 15ª - Abrir a malha ao meio até próximo
braço para poder amarrar ao braço
16ª - Amarrar prendendo úmero ao 17ª - Vista lateral externa 18ª - Vista interna
corpo
CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.22 – Paciente com 73
anos. Fratura do úmero proximal
em 3 partes. Velpeau de verão.
1ª - O paciente segura a parte distal da 2ª - Furar no centro da atadura passando 3ª - Passando a parte do excedente por
atadura de 20 cm, envolvendo todo o a mão para fora dentro do furo
braço a ser protegido
1ª - Medir com a malha de 12 cm trans- 2ª - Dois rolos de algodão de 20 cm na 3ª - Envolver o algodão com a malha
versa a coluna sobre o ombro não lesado mesma extensão da malha, dobrar enro-
e o punho do ombro a ser protegido lando em 3 partes
CAPÍTULO 11
nas fraturas do úmero proximal
A B
C D
E F
CASOS CLÍNICOS
PARTE II
Figura 11.27 (A, B) – A) Fratura proximal do úmero. Fratura em 3 partes do úmero proximal. Imagem radiográfica em AP. B)
Radiografia em perfil mostrando acentuado desvio. Imobilizado por duas semanas com velpeau gessado e após tipoia velpeau e
fisioterapia.
Figura 11.27 (C) – Imagem radiográfica da fratura consolidada após dois meses.
133
CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.27 (D) –
Imagem clínica da paciente
que evoluiu sem limitações.
Figura 11.28 (A) – Fratura proximal do úmero em 3 partes Figura 11.28 (B) – B) Imagem radiográfica da fratura conso-
com pouco desvio. lidada após 90 dias.
Figura 11.29 (A, B, C) – A) Fratura do úmero proximal em 3 partes. Desvio lateral e posterior da grande tuberosidade. B) Fratura
imobilizada por quatro semanas com tipoia de lona e coxim abdutor. C) Imagem radiográfica da fratura consolidada.
134
A B C
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 11.30 (A, B, C) – A) Fratura-luxação do ombro a direita. Imagem radiográfica em AP. Cavidade glenoide vazia e cabeça
umeral infraglenoidea. B) Imagem radiográfica de perfil mostrando luxação anterior. C) Imagem radiográfica pós redução da luxação.
Observar fratura da cabeça umeral que permanece luxada inferiormente a cavidade glenoide.
D E
Figura 11.30 (D) – Imagem radiográfica pós consolidação. Figura 11.30 (E) – Imagem clínica do paciente após três
anos de evolução. Limitação discreta da abdução, mas com
avaliação clinicamente satisfatória pelo paciente.
135
CAPÍTULO 11
A
B C
D
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
C D
CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.32 (C, D) – Imagem radiográfica da fratura consolidada após 120 dias.
Figura 11.32 (E) – Imagem clínica da paciente. Muito discreta limitação da abdução.
B
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
F
Figura 11.34 (A, B, C) – A) Fratura do úmero proximal direito em 3 partes com pequeno desvio. Tratado com velpeau de verão por quatro
semanas. B) Fratura consolidada. Imagem radiográfica após três meses. C) Imagem radiográfica após seis meses. Recuperação funcional total.
140
A
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 11.35 (A) – Fratura cominutiva em 3 partes do úmero proximal com impacção em valgo.
Figura 11.35 (B) – Imagem radiográfica após três semanas. Imobilização com velpeau de inverno gessado por duas semanas e
após tipoia velpeau. Imagem radiográfica após três semanas.
CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.35 (D) – Imagem clínica do paciente. Recuperação funcional total.
Figura 11.36 (A) – Imagem radiográfica de fratura em 3 partes do úmero proximal com discreto desvio.
Figura 11.36 (B) – Imagem radiográfica. Tratamento com velpeau de verão por quatro semanas. Fratura consolidada após 70 dias.
Recuperação funcional total.
142
A B
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 11.37 (A, B) – A) Fratura do colo do úmero em 3 partes. B) Fratura consolidada após quatro semanas em velpeau de lona.
Figura 11.38 (A) – Fratura cominutiva proximal do úmero em 4 partes com cavalgamento e desvio em varo.
143
CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.38 (B) – magem da tomografia axial computadorizada da fratura.
A
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 11.39 (A) – Imagem radiográfica da fratura em três partes proximal do úmero direito. Desvios toleráveis. Enorme poten-
cialidade de se obter um ótimo resultado com tratamento conservador.
CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.39 (C) – Redução anatômica e fixação com moderna placa bloqueada e parafusos.
A
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 11.40 (A) – Fratura proximal do úmero em duas partes, com intolerável desvio em valgo e migração da diáfise para o des-
filadeiro torácico. A avaliação dos pulsos periféricos e essencial para flagrar compressão ou lesão vascular.
Figura 11.40 (B) – Redução perfeita transoperatória. Radiografias obtidas pelo intensificador de imagens.
147
CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.40 (C) – Perda total da re-
dução e migração dos fios. Provavelmente
uma imobilização mais rígida no pós-ope-
ratório teria evitado o desastre.
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148
A controlled clinical study comparing two 21. ROCKWOOD E GREEN. Fraturas em adultos,
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PARTE II
Trauma Surg. v. 108, n. 6, p. 339-341, 1989. 22. SETHI, M.P; MACKEN, J.C. Management
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non-operative treatment for 2-part proximal Shoulder and Elbow Surgery, v. 17, p. 102-109,
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
12
FRATURAS DA DIÁFISE
DO ÚMERO
Carlos Roberto Schwartsmann, Almiro Gerzson de Britto, Ivan Fadanelli Simionato
S
egundo Charnley a “fratura da diáfise fraturas são causadas na maioria das vezes por
do úmero é a mais fácil de tratar conser- ação de forças diretas, mas forças indiretas, como
vadoramente de todos os ossos longos”. a queda com a mão espalmada também podem
O úmero é amigo: consolida com rapidez, pois acontecer. Se as forças forem flexoras a fratura
apresenta ótima cobertura muscular que nele será transversa, mas se houver torção o traço será
se originam e se inserem. Tolera deformidades helicoidal.
angulares que só se tornam visíveis quando o Os desvios dos fragmentos são determinados
cotovelo está em extensão máxima. Posição que decorrentes da ação das forças musculares. Neste
raras vezes é observado nas posturas ordinárias aspecto o nível da fratura é importante pois a
do corpo. Portanto os resultados funcionais e ação muscular sobre os fragmentos se faz através
estéticos são uniformemente bons. de suas inserções. Fraturas acima da inserção do
A epidemiologia da fratura foi bem descrita peitoral maior o fragmento proximal é abduzido e
por Tytherleigh-Strong que descreveu duas cur- rotado lateralmente. O fragmento distal é desviado
vas bimodais: na 3ª e 7ª década devido a exposição medialmente quando as fraturas ocorrem entre as
ao trauma nos jovens e a osteoporose nos idosos inserções do peitoral maior e o deltoide. Há adução
podemos dizer que a fratura diafisária do úmero do fragmento proximal. Nas fraturas distais a
ocorre em homens jovens e mulheres velhas. As inserção do deltoide o fragmento proximal abduz.
A B C
Figura 12.1(A, B, C) –
A) Desenho esquemático de
fratura do terço proximal do
úmero com desvio em valgo.
B e C) Manobra de redução
de fratura proximal do úme-
ro. É necessário vencer a con-
tratura do peitoral maior. O
fragmento distal sob tração é
forçado em adução.
150
As fraturas do úmero são de fácil diagnóstico A maioria das fraturas do úmero podem ser
clínico devido dor, impotência funcional e mobi- tratadas incruentamente, por diversos métodos.
PARTE II
A B C
Cerca de 90% das fraturas da diáfise do Nas fraturas espirais ou oblíquas curtas e
úmero tendem a consolidação sem intervenção muito usado o gesso axilo palmar pendente.
cirúrgica. Angulações anteroposterior de até 20 O peso do próprio gesso e das forças gravita-
graus, varo até 30 graus e encurtamento até 3 cm cionais promovem o alinhamento da fratura.
são aceitáveis, toleráveis e não comprometem a O inconveniente é que e necessário que o
função ou a aparência. paciente durma quase sentado nas primeiras
151
duas semanas. Este método é relativamente Após duas semanas o gesso pode ser substi-
CAPÍTULO 12
contraindicado nas fraturas transversas por tuído por um brace funcional de gesso ou de
promover distração e retardo de consolidação. plástico.
A B C
1ª - Medir a malha de 15 cm da parte de 2ª - Paciente segurando o punho, medir o 3ª - Nesta medida abrir 2 rolos de algodão
dentro da axila passando sobre o ombro algodão de 15 cm da axila passando sobre e 2 rolos de gesso de 12 cm
e por dentro do punho o braço próximo ao pescoço
4ª - 1 rolo de algodão de 20 cm medir do 5ª - Após molhar o gesso e colocar sobre 6ª - Com leve inclinação do corpo do
pescoço até o punho, que é para a tipoia o algodão, vestir a malha paciente, coloque a parte do algodão em
contato com a pele
7ª - Prender no úmero a atadura bem 8ª - Colocar o algodão de 20 cm dobrado 9ª - Cortar no centro da malha fazendo 2
ajustada dentro da malha para a tipoia pontas para amarrar
CAPÍTULO 12
FRATURAS DA DIÁFISE DO ÚMERO
Figura 12.8 – Queda da moto. Imagem radiográfica de fratura em quatro partes do úmero proximal com fratura oblíqua se esten-
dendo para diáfise umeral.
Figura 12.9 – Imagem radiográfica mostrando redução obtida após confecção de pinça de confeiteiro.
154
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 12.10 – Imagem radiográfica mostrando a consolidação das fraturas após três meses. Recuperação clínica
e funcional perfeita do ombro e do cotovelo.
Nas fraturas diafisárias do úmero podemos gessado ou não, pode ser usado isoladamente
usar o método da “Braceleira”. Ela pode ser nas fraturas sem ou com pouco desvio. Após
de gesso ou plástico. Quando o paciente refere duas semanas e regressão do edema, podemos
muita dor, o enfaixamento toraco braquial, utilizar o método da braceleira.
A B C
CAPÍTULO 12
tada pois há uma tendência de ficar folgada pela
atrofia da musculatura e diminuição do edema.
A braceleira de plástico, método alternativo, é
composta de 2 partes. O braço é envolto pelo
A B
Casos Clínicos
TD, 34, feminino.
A B
C D
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 12.14 (C, D) – C) Troca da imobilização por braceleira plástica. Fratura em adiantado estágio de consolidação. Exuberante
calo ósseo. D) Fratura consolidada com bom alinhamento.
A B C
Figura 12.15 (A, B, C) – A) Fratura oblíqua curta, do terço proximal para médio, com grande desvio em valgo. B) Imagem radio-
gráfica após redução e braceleira gessada. C) Fratura consolidada com bom alinhamento.
157
A B C
CAPÍTULO 12
FRATURAS DA DIÁFISE DO ÚMERO
Figura 12.16 (A, B, C) – A) Fratura cominutiva do terço médio para distal do úmero direito. B) Fratura
imobilizada com braceleira plástica. C) Fratura consolidada com bom alinhamento.
A B C
Figura 12.17 (A, B, C) – A) Fratura transversa do terço médio do úmero com desvio em varo. B) Fratura
em avançado processo de consolidação após uso de braceleira gessado e plástico. C) Fratura consolidada com
perfeito alinhamento.
158
A
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura12.18 – Fratura cominutiva com asa de borboleta no terço Figura12.19 (A, B) – Imagem radiográ-
médio do úmero. Tratada com pinça de confeiteiro. O peso do apa- fica demonstrando evolução para pseudo-
relho gessado promoveu diástase. É preciso ter cuidado! artrose.
CAPÍTULO 12
FRATURAS DA DIÁFISE DO ÚMERO
Figura 12.21 – Cuidado nas fraturas transversas! Queda da escada: Fratura transversa do terço médio do úmero tratado com o
método de pinça de confeiteiro. O excessivo peso do gesso promoveu diástase e evoluiu para retardo de consolidação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PARTE II
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Fractures in adults. 2ª ed JP Lippincott, 1984
Capítulo
13
FRATURAS DA CABEÇA
DO RÁDIO
Carlos Roberto Schwartsmann, Marco Tonding Ferreira
A
cabeça do rádio é fundamental na ou pequeno desvio menor que 2 mm e nas
prono-supinação, mas também é que comprometem menos que 50% da cabeça.
importante na estabilidade lateral Geralmente os fragmentos marginais oriundos
do cotovelo. O mecanismo mais frequente de da cabeça do rádio se acomodam e não inter-
fratura é por força axial com queda com a mão ferem na mobilidade articular. As fraturas que
espalmada e o antebraço pronado. A frequência acometem o colo, desviadas, instáveis e muito
varia de 1-2% de todo as fraturas. Um terço das cominutivas devem ser tratadas cirurgicamente.
fraturas do cotovelo acometem a cabeça do rádio. O tratamento conservador consiste em gesso
Ocorrem em adultos com maior frequência na 3ª circular áxilo palmar ou até o punho por duas
ou 4ª década da vida. É mais frequente no sexo semanas e após utilizar imobilizador removível
feminino com uma relação de 2 para 1. por mais duas a quatro semanas que será reti-
Do ponto de vista do diagnóstico clínico é rado durante a fisioterapia. A grande maioria
importante avaliar a prono-supinação e a flexão dos pacientes recupera toda função do cotovelo
do cotovelo se há bloqueio ou não. Após o embora a extensão completa possa demorar
diagnóstico radiológico ter sido realizado, um mais de seis meses.
bloqueio anestésico no foco da fratura, além de
Tipo I Tipo II
permitir a aspiração do hematoma, auxilia na
verificação de bloqueio nos graus de flexão, bem
como na prono-supinação.
As fraturas podem ser completas e incompletas,
com desvio ou não, cominutivas com comprome-
Tipo III Tipo IV
timento menor que 50% da cabeça (marginais) ou
com cominuição total da cabeça. As duas classifica-
ções existentes (Mason e Hotchkiss) falham por não
orientar o tratamento e o prognóstico.
O tratamento não cirúrgico deve ser reali-
Figura 13.1 – Classificação de Mason: o tipo I e II podem ser
zado nas fraturas incompletas, completas com tratados não cirurgicamente.
162
CASOS CLÍNICOS:
PARTE II
A B
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
A B
A B
CAPÍTULO 13
FRATURAS DA CABEÇA DO RÁDIO
C
C D
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
A B
C D
CAPÍTULO 13
A B
A B
Figura 13.10 (A, B) – Imagem tomográficas do cotovelo mostrando com clareza o degrau articular perfeitamente tolerável.
A B
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PARTE II
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TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
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Capítulo
É
uma das fraturas mais frequentes O autor, ainda na era pré-radiológica,
nos adultos, principalmente entre as descreveu a fratura em mulheres acima de 40
mulheres acima dos 40 anos. A incidência anos que sofriam queda com a mão espalmada
em mulheres é de 37/10000, e 80% das fraturas e desenvolviam agudamente uma deformidade
dos ossos do antebraço envolvem o rádio distal. em dorso de garfo.
A fratura foi descrita inicialmente por Colles ainda descreveu que após a conso-
Pouteau em 1783, mas foi após a descrição clás- lidação, mesmo com deformidade, não há
sica do irlandês Abraham Colles que ela se tornou alteração, de modo significativo a função do
epônimo do seu nome: fratura de Colles (1814). punho.
Fratura de Coles
Figura 14.1 – Retrato de Abraham Colles e capa do artigo original. (font: https://hekint.org/2020/09/22/
abraham-colles-giant-among-surgeons/)
168
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 14.2 – Imagem clínica clássica de duas das fraturas de Colles. A deformidade do punho característica da fratura de Colles:
aspecto de dorso de garfo.
Anatomicamente o punho começa na borda distal proximalmente menos definida e distal, anterior
CAPÍTULO 14
do músculo pronador quadrado e termina nas e dorsalmente bem definida –, através da qual o
articulações entre o os ossos do carpo e os ossos rádio se articula com a ulna (articulação rádio-
metacarpais, local a partir do qual começa a mão. -ulnar distal). Com seu equivalente proximal, ela
Conhecer detalhadamente essas estruturas e as permite o movimento de rotação do antebraço – a
A B
23°
12mm
1mm
11°
C D
A fratura de Colles clássica apresenta dois Algumas perguntas devem ser respondidas
desvios: dorsal e radial. Já a fratura de Barton é mentalmente na avaliação radiológica inicial: É
PARTE II
uma fratura da extremidade distal do rádio, que possível obter redução anatômica? A redução
apresenta traço intra-articular com subluxação pode ser mantida? Os desvios residuais são tole-
do carpo acompanhando o desvio do fragmento ráveis e compatíveis com uma boa função?
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
articular, que pode ser volar ou dorsal. Para avaliar a redução é preciso entender os
A fratura de Smith é a fratura da extremidade ângulos anatômicos e as inclinações do rádio distal:
distal do rádio com desvio volar do fragmento no plano coronal (AP) o rádio tem a inclinação de
distal (queda com o punho em flexão). É a fratura +/- 22 graus. No plano sagital (perfil) a indicação
de Colles reversa. Ainda temos a “fratura do volar da superfície articular do rádio é de 11 graus.
Chofer” que é uma fratura oblíqua da extremidade O rádio é normalmente 12 mm maior que o cúbito.
distal do rádio com traço articular que destaca a A manutenção do comprimento do rádio é um dos
apófise estiloide do rádio. Por fim a Fratura “Die maiores desafios do tratamento conservador.
Punch” é a fratura intra-articular impactada com A maioria das fraturas da extremidade
depressão dorsal da fossa semilunar do rádio. distal do rádio são simples e extra-articulares.
Existem dezenas de classificações na fratura As fraturas estáveis mesmo com grandes desvios
distal do rádio. Entretanto nenhuma delas é podem ser tratadas com redução incruenta e
totalmente aceita por não possuírem elementos imobilização gessada. Ainda interferem nesta
suficientes que orientem o tratamento bem como decisão a idade fisiológica do paciente bem como
o prognóstico destas fraturas (Frikman, AO, seu nível de atividade. Portanto as fraturas sem
Universal, Fernandez, etc). Nenhuma apresenta desvio e aquelas com desvio, mas redutíveis e
índices seguros de reprodutibilidade inter ou estáveis devem ser tratadas não cirurgicamente.
intra observador. São consideradas instáveis as fraturas des-
As fraturas podem ser simples ou cominu- viadas que mesmo após redução incruenta e
tivas, com desvio ou não, intra ou extra-articu- imobilização gessada não conservam a redução
lares. Na verdade, isto é o que o traumatologista obtida. Geralmente estas fraturas são resultantes
necessita entender. de trauma com grande energia cinética.
A B A B
Colles
Smith
Chofer Die Punch
Lafontaine em 1989 em estudo de 167 fraturas proximal ao tubérculo de Lister e com a agulha
CAPÍTULO 14
do rádio distal, descreveu fatores para perda da angulada de proximal para distal.
redução da fratura, são eles: encurtamento radial, Assim conseguimos atingir o foco da fratura
cominuição dorsal, desvio dorsal maior que 20 e evitar a cortical dorsal da metáfise distal
graus, acometimento articular, fratura associada impactada. Uma segunda injeção é recomen-
Figura 14.6 – Desenho esquemático da anestesia local. Figura 14.7 – Imagem da anestesia no foco da fratura. É neces-
sário aspirar parcial ou totalmente o hematoma. A ausência de san-
gue na seringa significa que o traumatologista não alcançou o foco
da fratura. Neste caso a anestesia pode ser ineficaz.
172
PARTE II
A
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
B
D
Figura 14.8 – Manobra de redução por desli- Figura 14.9 (A, B, C, D) – Manobra de redução da fratura de Colles pelo
zamento. Aplicação de forças compressivas em método da roda denteada.
3 pontos para manutenção da redução.
Durante o tratamento, o paciente deve ser que o membro superior deve ser mantido para
orientado a ficar atento para sinais de compressão cima por 48horas. É prudente rever o paciente
nervosa que podem ocorrer, principalmente em 24horas para avaliar a necessidade de fender
no seu início. Se houver queixa de dor intensa, o aparelho gessado. O edema e a reação infla-
formigamento e impossibilidade de movimentar matória secundária pode evoluir para um trans-
os dedos, o paciente deve retornar ao serviço torno compressivo e até para síndrome compar-
ortopédico com urgência. timental.
Após a redução, existem controvérsias Na fratura de Colles a imobilização deve ser
a respeito do melhor tipo de imobilização: com flexão palmar leve e desvio cubital máximo.
tala gessada ou gesso circular axilo palmar, o Se não houver fratura do cúbito esta posição
gesso oferece maior garantia na manutenção é fundamental para prevenir o encurtamento
da redução, mas o paciente deve ser advertido radial.
A B C
Figura 14.10 (A, B, C) – A) Fratura de Colles clássica com grande desvio. B) Redução mantida com tala gessada com discreta
flexão volar. C) Após a consolidação houve perda de inclinação volar do punho, que não interferiu no resultado funcional final.
173
CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.11 – Na tala gessada ou no gesso circular, a imobi- Figura 14.12 – Desenho esquemático mostrando o modela-
lização clássica é axilo palmar com flexão volar discreta e desvio mento do gesso do lado medial para manter o desvio cubital má-
cubital máximo. ximo e prevenir o encurtamento do rádio.
Pós redução o controle radiográfico confir- devem ser realizadas semanais para um acomap-
mará a boa ou aceitável redução. O ideal e novo nhamento da evolução do tratamento.
controle da radiografia nas primeiras 48 horas O gesso deve permitir flexo-extensão completa
para flagrar qualquer perda da redução enquanto da mão. O limite do gesso é na primeira prega
se avalia clinicamente o paciente. As radiografias palmar nas articulações metacarpo falangeanas.
Figura 14.13 – Imagem de dois pacientes com gesso axilo palmar. Em ambos os casos as imobilizações permitem flexo-
-extensão máxima dos dedos da mão. Observar o grande desvio cubital nas imagens inferiores.
174
O gesso alto deve permanecer por duas ou circulatório, mas devemos ter mais atenção na
três semanas, dependendo dos critérios de insta- eventual perda da redução. Radiografias mais
PARTE II
com bastante desvio cubital. Após seis ou oito a diminuição do edema, a imobilização se torna
semanas o gesso pode ser removido totalmente. frouxa e permite maior mobilidade dos frag-
Se ainda houver dor ou incerteza radiológica da mentos, com aumento da possibilidade da perda
consolidação, uma tala plástica removível pode da redução.
auxiliar na proteção neste período de fisioterapia. Nas fraturas de Smith e Barton Volar a
O uso de tala gessada pós redução, nos imobilização deve ser feita com dorsiflexão e
tranquiliza no aspecto de edema e transtorno desvio cubital (mão em bandeja de garçom).
B C
Figura 14.14 (A, B, C) – A) Imobilização correta na fratura de Smith ou Barton Volar: dorsiflexão e desvio cubital.
B) Fratura de Smith com desvio ventral. C) Redução e imobilização com dorsiflexão do punho.
Mesmo com a colocação da tala gessada, dedos utilizando o protocolo de exercícios popu-
é permitido e recomendado ao paciente movi- larizados por Dobyns (seis exercícios – “sixpack”).
mentar livremente os dedos da mão. Isso deve Além disso, o paciente deve, no mínimo três vezes
ser realizado especialmente com a mão para cima ao dia, mobilizar o cotovelo e o ombro fora da
para não edemaciar os dedos. O que não se acon- tipoia com movimentos de rotação e elevação.
selha é empregar força ou atividades com risco de Terapia de mão em clínica especializada é acon-
trauma. Também é aconselhado o uso de gelo para selhada para pacientes que desejam um retorno
diminuir o edema local. Durante o período de mais rápido às atividades e para aqueles que
imobilização é indicado que o paciente mobilize os tenham dificuldades de se reabilitarem sozinhos.
175
CAPÍTULO 14
do terço distal do rádio é muito favorável. E a dual de mobilidade, pois esta região é muito rica
pseudartrose é raríssima. Colles já advertiu que em bainhas tendinosas, tendões e terminações
mesmo com deformidade o resultado funcional nervosas.
é bom. Se obedecermos aos critérios de redução Finalizando, o tratamento cirúrgico de uma
1 2 3 4 5 6
Figura 14.15 – Série de exercícios para mobilização dos dedos.
Figura 14.16 – Fratura de Colles bilateral. A esquerda consolidada com desvio radial. Sempre é necessário avisar ao paciente
que a apófise estiloide do cúbito pode ficar mais saliente! Mesmo com a deformidade o resultado funcional foi muito bom.
176
CASOS CLÍNICOS
PARTE II
C D E
Figura 14.17 (A, B, C, D, E) – A e B) Fratura da epífise distal do rádio com comprometimento articular e associada a fratura da
ulna. Redução com flexão volar e desvio cubital. Observar a manutenção do comprimento radial. C e D) Fratura consolidada após
imobilização com gesso por seis semanas. Aplicação de tala removível plástica por mais duas semanas. E) Imagem final após um ano
e meio. Manutenção do comprimento radial e desaparecimento dos traços de fratura do rádio e cúbito.
CAPÍTULO 14
A B
Figura 14.19 (A, B, C, D) - A e B) Fratura da epífise distal do rádio cominutiva com traço articular. Imobilização com tala gessada
com insuficiente desvio cubital e flexão volar. C) (AP) Imobilização da fratura com gesso circular bem moldado, notar o forçado desvio
cubital e melhora da redução. D) Perfil mostrando boa redução.
A B
A B
A B
CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.24 (A, B) – A) AP: fratura consolida-
da sem encurtamento radial. B) Perfil: fratura con-
solidada com discreta perda da inclinação volar do
rádio.
CAPÍTULO 14
A B
A B
Figura 14.31 (A, B) – A) Fratura após consolidação, discreto encurtamento do rádio e manutenção da superfície articular. B)
Inclinação volar mantida.
CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.36 – Imagem clínica do paciente: sem deformidade. Flexão dorsal e volar mantidos. Prono-supinação normal.
A B
A B
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 14.40 – Imagem clínica da paciente. Flexão dorsal mantida. Discreta diminuição da flexão volar. Paciente sem queixas.
Completa recuperação da função.
Figura 14.41 – Imagem radiográfica de fratura cominutiva de epífise distal do rádio e grande desvio dorsal.
185
CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.42 – Imagens radio-
gráficas pós redução com anes-
tesia local. Imobilização com ges-
so circular áxilo palmar. Redução
boa. Observar gesso bem mol-
dado na face cubital para evitar
encurtamento radial.. O mesmo
também acontece na incidência
de perfil.
Figura 14.45 – Fratura cominutiva da epífise distal do rádio Figura 14.46 – Imagem radiográfica pós redução com gesso cir-
com grande desvio radial e dorsal. Paciente pianista profissional. cular. Observar o desvio cubital forçado e bem moldado no gesso.
Figura 14.47 – Imagem radiográfica após consolidação. Devido cominuição e osteoporose houve encurtamento
radial, mas boa inclinação volar.
Figura 14.48 – Imagens clínicas da paciente. Muito boa recuperação funcional! Paciente voltou a tocar piano
normalmente.
187
CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.49 – Fratura da epífise distal do rádio cominutiva com traço articular e desvio dorsal.
Figura 14.51 – Imagens clínicas do paciente. Recuperação funcional total apesar de discreta limitação da flexão volar.
188
CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.55 – Imagens clínicas da paciente. Muito boa recuperação funcional apesar dos parâmetros radiológicos alterados.
Figura 14.56 – Queda acidental na escada: Fratura de Colles com desvios clássicos: radial e dorsal.
Figura 14.57 (A) – Redução e imobilização com gesso axilo palmar com pouco desvio cubital. Bem moldado.
190
B
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.60 – Lado direito, fra-
tura transarticular da epífise radial
com deslocamento volar do carpo.
Figura 14.65 –
Imagens radiográficas
de ambos os punhos
após 20 anos de segui-
mento. Ausência ra-
diológica de sinais de
eventual artrose.
193
CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.66 – Imagem clínica do paciente um ano após as fraturas.
Figura 14.67 – Imagem clínica do paciente 20 anos após. Sem queixas clínicas e nenhum deficit funcional.
CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.72 – Imagem da paciente três meses pós fratura. Sem deficit funcional. Ligeira limitação da flexão volar.
Figura 14.75 – Paciente imobilizado com gesso plástico extremamente mal confeccionado: seu desvio cubital e sem flexão volar. As
setas demonstram grande espaço entre o aparelho gessado e a pele do paciente. O gesso plástico não é indicado nas primeiras três
semanas pois não permite modelamento e moldagem. Nestas imagens radiográficas há grande encurtamento do rádio e no perfil,
inversão de inclinação volar da superfície radial.
CAPÍTULO 14
V.M.N, 53, masculino.
CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.83 – Fratura epífise distal do rádio com traço articular e sem desvio significativo. Ideal para o tratamento
conservador.
Figura14.84 – Paciente tratado cirurgicamente com placa bloqueada. Discutível indicação cirúrgica.
200
ReferênciaS BibliografiaS
CAPÍTULO 14
1. AGEE, J.M. Distal radius fracture: multi- 11. MCQUEEN, M.M. Epidemiology of frac-
planar ligamentotaxis. Hand Clin, v. 9, p. tures of the radius and ulna. In: MCQUEEN,
577–586, 1993. M.M; JUPITER, J.B.(Editores). Radiusand
2. BÖHLER, J. GelenknaheFrakturen des ulna. Oxford: ButterworthHeinemann, 1999.
15 FRATURAS NA MÃO
Ricardo Kaempf de Oliveira, João Pedro Farina Brunelli, Carlos Roberto Schwartsmann
E
m 1970 Swanson, fez a seguinte afirmação: e agilidade. Esse contínuo contato com o meio
“As fraturas na mão podem gerar defor- externo, porém, expõe as mãos a constante risco
midades quando não forem tratadas, de lesão. As lesões mais frequentes nas mãos
podem causar rigidez quando forem tratadas são cortes, esmagamentos, escoriações e quei-
demais, e podem gerar deformidade e rigidez maduras. Os acidentes podem ocorrer tanto no
quando forem maltratadas”. Após 50 anos esta trabalho quanto em casa.
frase está mais atual que nunca. As fraturas do punho e da mão são extre-
Apesar de muitos médicos que atendem mamente comuns na prática ortopédica, repre-
emergência ortopédica pensarem que as fraturas sentando muitas vezes a liderança no número de
nas mãos são lesões simples e banais, sabemos atendimentos em prontos-socorros.
que estas, quando manejadas, podem causar Ainda que diversos padrões de fratura
graves sequelas. É um equívoco pensar que a demandem tratamento cirúrgico, uma quan-
fratura na mão é uma lesão com pouca impor- tidade ainda maior de lesões pode ser tratada
tância. Sem o tratamento adequado tais lesões com métodos conservadores. Estima-se que
podem causar sérios problemas funcionais e mais de 90% das fraturas da mão podem ser
estéticos. Além disso, a fratura de um dedo afeta tratadas de forma conservadora. O objetivo
a função de toda a mão, causando incapacidade deste capítulo é descrever a anatomia, a biome-
quase completa. É simplista e incorreto pensar cânica e os padrões de fraturas que acometem
que quando se perde um dedo, temos mais esta região e detalhar os métodos de tratamento
quatro para substituí-lo. Os dedos e tendões não-cirúrgico, desde sua correta indicação às
funcionam em conjunto – a rigidez ou perda de técnicas empregadas.
um dedo afeta a mão como um todo. Os metacarpais e falanges da mão são ossos
A mão é uma das estruturas que mais nos bem superficiais na porção dorsal e cobertos por
relaciona com o meio exterior. É através das mãos tendões e músculos na parte volar. Os metacar-
que temos contato com tudo que está ao nosso pais são cobertos por músculos e ligados uns aos
redor. Por isso, ela é muito inervada e sensível, outros por fortes ligamentos, por isso – geral-
e executa funções primordiais que exigem força mente – não apresentam deslocamento grave
204
quando quebram. A maioria das fraturas de Tanto fraturas fechadas como fraturas
falanges ocorre por trauma direto sobre a mão. expostas podem estar associadas a lesões de
PARTE II
Já as fraturas de metacarpais ocorrem via de partes moles, como nervos, artérias e tendões.
regra por lesão indireta, por torção do dedo por Por isso o exame físico deve ser detalhado e em
um movimento brusco. um ambiente tranquilo. Nas fraturas expostas,
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Rigidez é complicação comum e funcional- pelo risco de maior contaminação, o exame deta-
mente debilitante e necessita atenção especial lhado deve ser feito no bloco cirúrgico, devendo
nessas fraturas. Mesmo método não-cirúrgicos, na emergência ser realizada uma limpeza gros-
como os aqui demonstrados, devem visar mobi- seira do ferimento e confeccionado um curativo
lidade precoce, ainda que controlada. compressivo para controlar o sangramento.
Em geral, o tratamento conservador deve ser O exame físico da mão traumatizada inclui a
usado em fraturas não deslocadas, pouco deslo- inspeção cuidadosa de todas as regiões afetadas
cadas ou impactadas da diáfise de ossos longos, em busca de escoriações e feridas que possam
na maioria das fraturas da falange distal e na traduzir fraturas abertas – comuns nessa região,
maioria das fraturas de metacarpal isolado. assim como detecção de deformidades ou posturas
São consideradas fraturas instáveis, e anômalas dos dedos. Todos os ossos e articulações
por isso, candidatas a tratamento cirúrgico as devem ser palpados em busca de pontos dolorosos,
fraturas com: as articulações devem ser mobilizadas passiva e
1. Desvio rotacional ativamente em busca de bloqueios ou movimentos
2. Fraturas não redutíveis com manobras anômalos que possam revelar lesões ligamentares
incruentas e tendinosas ainda não detectadas na inspeção
3. Fraturas articulares com desvio inicial (deformidades em pseudogarra, martelo,
4. Subcapitais das falanges botoeira, pescoço de cisne, “bocejos” articulares
5. Expostas anormais etc). As articulações devem ser subme-
6. Perda óssea significativa tidas, conforme tolerância à dor – acrescentando
7. Politrauma bloqueios anestésicos sempre que necessário – a
8. Fraturas múltiplas testes de estabilidade com stress radioulnar e
9. Lesão concomitante de tecidos moles pesquisa de hiperextensão.
(nervos, vasos, tendões e pele)
EXAME FÍSICO
Durante o exame físico da mão após um
trauma, o membro superior inteiro deve ser
inspecionado. Devemos remover a roupa, para
uma inspeção visual completa, e devem ser
retirados todos os adornos ou joias que possam
dificultar o exame ou causar compressão, como
relógios, anéis e pulseiras. Figura 15.1 – Imagem clínica de desvio angular impor-
tante de terceiro dedo da mão esquerda.
205
O desvio angular deve ser pesquisado com a estendidos), observa-se o paralelismo entre as
CAPÍTULO 15
mão aberta (dedos estendidos) e é em geral facil- unhas. Com as MF e IFP fletidas e as IFD esten-
mente percebido quando as bordas ulnar e radial didas, mantendo as falanges médias e distais
dos dedos perdem a característica linear e adotam sobre a palma, observa-se para onde se dire-
formas curvas ou em “V”. Deve-se lembrar que cionam os dedos. Eles devem apontar para o
FRATURAS NA MÃO
uma leve curvatura, em especial do dedo mínimo, tubérculo do escafoide. Pequenas rotações das
pode ser normal, procedendo-se sempre a inspeção unhas do indicador e dedo mínimo em direção
da mão contralateral comparativa. ao dedo médio são esperadas, e a inspeção da
O desvio rotacional pode ser pesquisado mão não traumatizada é mandatória compara-
de duas formas. Com a mão aberta (dedos tivamente.
A B
Normal e paralelo
alinhmento das unhas
Figura 15.2 – Desenho esquemático mostrando desvio rotacional do Figura 15.3 – A) Pesquisa do desvio rotacional dos de-
terceiro dedo da mão. O alinhamento das unhas também devem ser dos. Todos devem apontar para o tubérculo do escafoide.
observados. B) Desvio rotacional do 5º dedo da mão.
Figura 15.4 – Fratura do 2º metacarpiano com desvio volar e rotacional. Figura 15.5 – Imagem clínica do paciente mos-
trando o intolerável desvio rotacional do indica-
dor.
206
O diagnóstico das fraturas na mão é confir- metacarpais; a mais recente técnica descrita por
mado por radiografias que devem ser realizadas Don Lalonde, que postula que o anestésico deve
PARTE II
de rotina em três diferentes incidências (antero- ser injetado de maneira que forme um “bolo” do
posterior, perfil e oblíquo). A projeção de perfil fármaco na zona de interesse, que se difundirá
perfeito é especialmente importante nas lesões por toda a região. No tratamento conservador
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
dos dedos longos, devendo cada dedo lesado é desejável a anestesia de todo o dedo e não é
serem avaliado por radiografia de perfil sepa- necessário o efeito vasoconstritor da adrenalina,
radas. As incidências de frente e oblíquas muitas portanto esse “bolo” deve ser formado sobre a
vezes não mostram fraturas-avulsões volares e cabeça do metacarpal do dedo de interesse e com
dorsais nas falanges. anestésico sem vasoconstritor ou adrenalina.
Deve se lembrar, ainda, que o polegar recebe
TÉCNICAS ANESTÉSICAS contribuição de ramos sensitivos do nervo radial
Em se tratando de fraturas nas quais frequen- (ramo superficial do radial) para sensibilidade
temente será necessária manipulação – seja para do dorso, portanto deve-se associas anestesia
exame, seja para empregar manobras de redução dessa região em separado.
–, é importantíssimo que se conheçam técnicas Para fraturas dos metacarpais, pode-se
anestésicas locais e regionais. empregar bloqueios regionais a nível do punho.
Para fraturas das falanges, bloqueios digi- O nervo Mediano pode ser bloqueado entre
tais são suficientes, oferecendo excelente anes- os tendões do “Flexor Radial do Carpo” e do
tesia durante o atendimento e analgesia residual “Palmar Longo”. O nervo ulnar pode ser anes-
posterior. Pode ser empregado de duas formas: tesiado através de uma injeção transversa sobre
a clássica, instilando anestésicos locais (lidocaína o tendão do “Flexor Ulnar do Carpo”. O ramo
ou bupivacaína, por exemplo) em cada um dos superficial do nervo radial pode ser bloqueado
nervos digitais inervando o dedo de interesse através de uma injeção em “leque” cerca de 3 a 5
através de injeções de cada lado das cabeças cm distalmente ao estiloide radial.
M
U
U
A B
DCU
R
C D
Figura 15.6 (A, B, C, D) – A e B) Bloqueio do nervo me- Figura 15.7 – Bloqueio dos nervos interdigitais.
diano e ulnar. C) Bloqueio sensitivo do nervo ulnar e radial.
D) Bloqueio interdigital.
207
CAPÍTULO 15
Em se tratando de fraturas das falanges, rigidez, ao mesmo tempo que permitem exce-
foram praticamente abandonadas as imobiliza- lente controle rotacional, utilizando os dedos
ções que bloqueiam o punho e as MF. Exceto normais como “fixadores externos”. Os dedos
para algumas modalidades de fraturas das devem, sempre que possível, ser imobilizados
FRATURAS NA MÃO
falanges proximais, pode-se lançar mão de talas em extensão das interfalângicas para evitar
metálicas (de Zimmer), poupando as MF, ou contraturas da placa volar e visto que – em caso
técnicas de esparadrapagem com solidarização de rigidez – o ganho de flexão é muito mais fácil
de dedos normais aos dedos fraturados (buddy que o de extensão através de fisioterapia/terapia
taping). Estas últimas permitem a manutenção de mão. As imobilizações específicas para cada
da flexoextensão dos dedos durante o processo fratura serão demonstradas em cada secção.
Figura 15.8 – Tala metálica imobilizando o 2º dedo (Tala de Figura 15.9 – Imobilização do 2º e 3º dedos da mão. (Buddy
Zimmer). Taping).
tirante (banda de tensão) forçando a redução da zada a confecção do gesso (tala) a imobilização
cortical volar. A rotação é controlada através da com esparadrapo deve ser retirada.
PARTE II
mobilização dos quatro dedos em conjunto. O paciente deve ser reavaliado semanal-
A redução deve ser realizada após a anes- mente por três semanas para radiografias e
tesia do local da fratura. Combinando forças de reajuste da imobilização. Após 20 dias a tala
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
tração longitudinal, hiperextensao e, por último, gessada é substituída por um “buddy splint” por
flexão. Após a manobra, a rotação e o alinhamento mais duas semanas.
lateral devem ser checados e o dedo imobilizado Lembrar que para realizar essa técnica,
com um esparadrapo de forma temporária. Com deve-se ter a cooperação do paciente e é imprescin-
isso pode ser checado a redução com radiogra- dível que a MF fique em 90° e as interfalangeanas
fias e ser aplicado o tala gessada tipo Burkhalter, livres para movimentar. Uma das dificuldades
com o punho em 30 graus de flexão, MF em 90 de uso dessa técnica está em fazer radiografias
graus e interfalangeanas livres. Uma vez finali- adequadas com paciente usando o gesso.
A B
Figura 15.12 (A, B) – A) Posição correta de imobilização. B) Posição de garrafa determina mais
rigidez.
209
CAPÍTULO 15
A B C D
FRATURAS NA MÃO
E
nos dois dedos mais radiais podem ser tratadas graus, permitindo que força axial sobre cabeça
conservadoramente, no anular se aceita até cerca da falange proximal promova deslocamento
de 40° e no mínimo (Boxer) alguns estudos demons- dorsal do fragmento distal. A imobilização,
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
tram bons resultados com até 70° de angulação. A em todo caso, não deve ocorrer nessa posição,
ausência de “pseudogarra” (proeminência palmar sob risco de gerar rigidez das IFPs ou necrose
das cabeças metacarpais, com hiperextensão da de pele dorsal. Lança-se mão da imobilização
MF e flexão da IFP compensatórias) é um bom tipo “intrinsicplus” com aparelho gessado ou
indicador de possibilidade de tratamento conser- sintético por duas semanas, e após esse tempo
vador para os dedos mais ulnares. programa de reabilitação é instaurada, com
Estas fraturas devem ser reduzidas através exercícios de ganho de ADM e imobilização
da manobra de Jahss. Nesta, as articulações MF intermitente (órteses removíveis). Após quatro
devem ser fletidas a 90 graus – assim relaxando a seis semanas, os pacientes podem retomar as
a musculatura intrínseca (causadora do desvio) atividades previas sem restrições.
CAPÍTULO 15
A B
FRATURAS NA MÃO
C
Figura 15.20 – Imagem radiográfica da fratura do colo do 5º metacarpo. Trauma com a mão fechada (soco)
com impacto na porção distal do quinto metacarpo. Fratura do colo do metacarpo com leve deslocamento
Tratamento conservador com redução e imobilização com órtese em posição intrínseca por três semanas. E
posterior imobilização tipo “buddy splint” dos 4/5 dedos por mais duas semanas. Consolidação completa em
seis semanas com ótima recuperação funcional.
Figura 15.21 – redução e imobilização com órtese em posição intrínseca por três semanas.
213
CAPÍTULO 15
FRATURAS NA MÃO
Figura 15.22 – Imagem radio-
gráfica da fratura consolidada do
5º metacarpiano.
podem ser manejadas com tratamento conser- deve ser encorajada imediatamente, e a imobi-
vador, que consiste na aplicação de aparelho lização pode ser descontinuada assim que não
PARTE II
gessado ou órtese com flexão da MF a 70 graus houver mais dor no foco fraturário. Em quatro a
após delicada pressão sobre o ápice da deformi- seis semanas o paciente pode retomar atividades
dade no dorso da mão. A mobilidade dos dedos irrestritas.
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
A B
Figura 15.25 (A, B) – imobilização com tala gessada em posição intrínseca por três semanas.
215
CAPÍTULO 15
A B
FRATURAS NA MÃO
Figura 15.26 (Acima: A, B) – Imagem radiográ-
fica da fratura consolidada.
A B C
TIPO III
TIPO IV
Figura 15.30 – Green classificou as lesões mais frequentes
Figura 15.29 – Fratura da base do 5º metacarpiano, com traço do primeiro metacarpal em: Tipo I: Fratura de Bennett. Tipo II:
intra-articular. Geralmente o resultado funcional é muito satis- Fratura de Rolando. Tipo III: Fratura extra-articular (A = transver-
fatório. sa; B = oblíqua). Tipo IV: Fratura fisária.
217
CAPÍTULO 15
LGL, 40, masculino.
FRATURAS NA MÃO
Figura 15.31 – Queda de bicicleta. Imagem radiográfica de fratura da base do 1º metacarpiano sem
comprometimento articular.
Figura 15.33 – Fratura proximal do primeiro metacarpiano com desvio. Figura 15.34 – Manutenção da redução com luva
gessada e inclusão do polegar com abdução máxi-
ma. Fratura do 1º Metacarpiano consolidada. Sem
deficit funcional.
CAPÍTULO 15
A B
FRATURAS NA MÃO
Figura 15.36 (A, B) – Trauma axial no polegar no esporte. Fratura extra-articular do primeiro metacarpiano. Tratado por quatro
semanas com imobilização em gesso tipo escafoide.
A B
A B
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 15.39 – Imobilização das falanges mé- Figura 15.40 – A imobilização pode ser complementada com
dias e distal com tala de Zimmer. atadura gessada.
221
toma subungueal muito sintomático, a unha pode Fraturas do colo são raras em adultos, e
CAPÍTULO 15
ser perfurada para alívio com uma agulha, clipe podem ser tratadas quase invariavelmente com
ou perfurador, e nestes casos antibioticoterapia redução incruenta e imobilização, mas impor-
está indicada (conversão para fratura exposta). tantes de serem lembradas em crianças, visto
Fraturas da diáfise podem ser transversas que o fragmento distal – sem inserção tendinosa
FRATURAS NA MÃO
ou longitudinais. Podem ser tratadas com imobi- – tende a rodar 90 graus, impedindo a consoli-
lização por dois a três semanas com sucesso dação. Estas fraturas remodelam muito pouco
na maioria dos casos. A exceção são fraturas com o crescimento.
transversas com desvio e interposição da matriz
ungueal, que são de tratamento cirúrgico. Falange Proximal
Dividem-se também em fraturas articulares
Falange média – que incluem fraturas condilares, cominutas e
Dividem-se em fraturas articulares – que da base volar, dorsal ou lateral – e extra-articu-
incluem fraturas condilares, cominutas e da base lares – que incluem as fraturas do colo, da diáfise
volar, dorsal ou lateral – e extra-articulares – e da base.
que incluem as fraturas do colo, da diáfise e da A maioria também pode ser manejada
base. Fraturas por avulsão da banda central do conservadoramente, excluindo-se desvio gros-
aparelho extensor com grande desvio, fraturas seiro, especialmente articular, fraturas articu-
pós avulsão do ligamento colateral com grande lares cominutas da base e avulsões com grande
desvio e fraturas do pilão (cominutas da base arti- desvio dos ligamentos colaterais.
cular) demandam tratamento cirúrgico. Todas as As fraturas da diáfise da falange proximal
outras, não apresentando grosseiro, podem ser tendem a ser oblíquas ou espirais.
tratadas com imobilização tipo “buddy tapping” ou Fraturas do colo são raras em adultos, e
tala metálica por três a quatro semanas. Diversos podem ser tratadas quase invariavelmente com
autores demonstraram mínima rigidez quando redução incruenta e imobilização, mas impor-
a imobilização não supera um mês. Fraturas da tantes de serem lembradas em crianças, visto
base dorsal com grande desvio tratadas conserva- que o fragmento distal – sem inserção tendinosa
doramente podem levar a deformidade em boto- – tende a rodar 90 graus, impedindo a consoli-
eira. Fraturas da diáfise da falange média tendem dação. Estas fraturas remodelam muito pouco
a ser transversas. com o crescimento.
C D
Figura 15.42 (A, B, C, D) – Sofreu trauma em abdução do quinto dedo da mão ao trancar em uma porta.
Fratura da base da falange proximal com deslocamento. Tratamento conservador com redução e imobilização com
tala gessada em posição intrínseca com três semanas. E posterior uso de “buddy splint” imobilizando os 4/5 dedos
por mais duas semanas. Consolidação completa em seis semanas e ótima recuperação funcional. A e B) Imagem
radiográfica da fratura da falange proximal do 5º dedo com grande deslocamento. C e D) Imagem radiográfica pós
redução.
223
A B
CAPÍTULO 15
FRATURAS NA MÃO
Figura 15.43 (A, B) – Imobilização
com tala gessada em posição intrín-
seca por três semanas.
A B
A B C
A B
A B
A B
A B
CAPÍTULO 15
FRATURAS NA MÃO
Figura 15.49 (A, B) – Imagem
clínica mostrando recuperação
funcional total.
Figura 15.50 (A, B, C) – Queda sobre o balcão. A) Imagem radiográfica de fratura oblíqua do terço médio da falange proximal do
5º dedo com desvio lateral. B e C) Imagem clínica da paciente. Após redução e imobilização do 4º dedo conjuntamente com o 5º dedo
foi suficiente para se obter a consolidação e bom resultado funcional.
dem a instabilidade devido à ação do flexor lon- falange distal, e pode ser tratado com imobili-
go do polegar, mas podem ser tratadas conser- zação da IF por quatro a seis semanas, a menos
vadoramente na maioria dos casos, reservado que haja subluxação dorsal da falange.
a fixação para casos onde há incapacidade de Fratura da base volar da FD pode ser origi-
manter a redução com imobilização. nada no contexto de uma luxação dorsal ou
Fraturas espirais/oblíquas da cabeça da fa- por avulsão do FLP, e também pode ser tratada
lange proximal em que a redução não pode ser com imobilização por quatro a seis semanas na
mantida após imobilização devem ser fixadas, ausência de subluxação (foto avulsão FLP)
assim como fraturas transversas desviadas mais Fratura-avulsão do ligamento colateral
que 30 graus. Estas fraturas ocorrem antes da ulnar do polegar é um equivalente da lesão de
inserção da musculatura tenar, que flexiona o Stener e pode ser tratada conservadoramente,
fragmento proximal, e o tendão extensor longo a menos que o deslocamento seja maior que 2
do polegar, que estende o distal. Cerca de quatro mm ou que a articulação seja instável aos testes
semanas de imobilização são suficientes. de stress.
Figura 15.51 (A, B) – Imagem radiográfica de fratura avul- Figura 15.52 (A, B) – Imobilização com tala de alumínio tipo
são da base da falange distal do polegar. Sofreu trauma axial na Zimmer.
ponta do quinto dedo da mão ao jogar basquete. Fratura avulsão
dorsal da base da falange distal. Lesão tipo dedo em martelo ós-
seo. Tratamento conservador com imobilização com tala de alu-
mínio (tipo Zimmer) dorsal com articulação IFD em extensão por
quatro semanas. Consolidação completa em oito semanas com
ótima recuperação funcional.
227
CAPÍTULO 15
A B A
FRATURAS NA MÃO
B
Figura 15.55 – Trauma e queda jogando futebol. Imagem radiográfica da fratura intra-articular cominutiva da falange proximal do
polegar com subluxação volar. Redução incruenta e imobilização com luva gessada incluindo o polegar.
Figura 15.57 – Imagem radiográfica após seis meses. Paciente sem queixas e sem deficit funcional.
Figura 15.58 – Queda da escada. Luxação interfalangeana do Figura 15.59 – Redução anatômica e imobilização com tala
polegar com desvio dorsal e lateral. metálica por três semanas. A imobilização pode ser com gesso
ou tala plástica.
Referências Bibliografias
CAPÍTULO 15
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FRATURAS NA MÃO
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8. GREEN, D.P. Complications of phalangeal
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230
PARTE II TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO
Parte CIRÚRGICO DAS
16 FRATURAS DA PELVE
Carlos Roberto Schwartsmann, Leandro de Freitas Spinelli
Figura 16.2 – Fratura de Duverney na asa do ilíaco direito pós Figura 16.3 – Fratura consolidada. Imagem radiográfica seis
queda de moto. Tratamento conservador com repouso no leito. meses após.
Figura 16.4 – Fratura da asa do ilíaco a esquerda pós acidente de moto. Tratamento conservador com repouso no leito por seis
semanas. Evolução para consolidação sem queixas clínicas.
235
CAPÍTULO 16
ilíacas antero superior e antero inferior, o
paciente deve permanecer deitado com o quadril
e joelho discretamente fletidos por alguns dias,
até que a dor desapareça.
FRATURAS DA PELVE
Nas avulsões da tuberosidade isquiática a
1
separação dos fragmentos pode ser grande. Em 2
todos arrancamentos a consolidação é a regra,
mas ocasionalmente nas diástases maiores pode
ocorrer somente união fibrosa. Geralmente a
evolução é assintomática. 3
A eventual excisão dos fragmentos está indi- Figura 16.5 (1, 2, 3) – 1) Arrancamento da espinha ilíaca
cada somente em pacientes muito sintomáticos antero superior: músculo sartório; 2) Arrancamento da espinha
ilíaca antero inferior: musculo reto femoral; 3) Arrancamento es-
após longo período de tratamento. pinha isquiática: músculos ísquio tibiais.
Figura 16.6 (A, B) – A) Grande arrancamento com cominuição da espinha isquiática; B) Resultado um ano após com consolidação
fibrosa. Não há sintomatologia clínica.
Figura 16.7 (A, B) – A) Grande fragmento arrancado da tuberosidade isquiática; B) Radiografia após um ano e dois meses. Apesar
da imagem radiográfica desfavorável a consolidação fibrosa determinou ausência de queixas clínicas.
236
As fraturas dos ramos ísquio e íleo púbico maior. Geralmente ocorre em pacientes mais
geralmente são ocasionadas por trauma de idosos e o tratamento é sintomático e conser-
PARTE III
compressão lateral como queda sobre o trocanter vador com repouso relativo no leito.
A B
Figura 16.8 (A, B) – A) Fratura do ramo ísquio púbico a esquerda pós queda no banheiro. B) Fratura consolidada. Imagem radio-
gráfica oito meses após. Tratamento conservador com repouso no leito.
CAPÍTULO 16
FRATURAS DA PELVE
Figura 16.10 – Fratura dos ramos ílio e ísquio púbicos bilate- Figura 16.11 – Imagem radiográfica das fraturas consolidadas
ral. Tratamento instituído: repouso no leito por seis semanas e quatro meses após.
após deambulação com carga progressiva limitada pela dor do
paciente.
intactas as fáscias ligamentares do assoalho gica com lesões pouco deslocadas frequente-
e os ligamentos sacro ilíacos anteriores. Com mente leva o paciente a mais queixas deste tipo
o complexo ligamentar posterior permanece de tratamento, principalmente quando houver
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
intacta, a sínfise púbica fica sujeita a forças necessidade de reintervenção por alguma
compressivas o que possibilita o fechamento da complicação.
mesma durante a marcha. A disjunção se torna
assintomática em seis à oito semanas.
Referências Bibliográficas
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5. ROMMENS, P.M. Fragility fractures of the ries. 4th ed. Baltimore: Williams & Wilkins,
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Traumatol Cech, v. 82, n. 2, p. 101-112, 2015.
6. SARMIENTO, A; LATTA, L.L. Closed func-
tional treatment of fractures. Berlim: Springer
Verlag, 1981.
Capítulo
17
FRATURAS DO COLO
DO FÊMUR
Carlos Roberto Schwartsmann, Leandro de Freitas Spinelli
A
experiência mostrou que a grande riamente ou definidamente até a fratura conso-
maioria das fraturas do fêmur são lidar.
melhores tratadas cirurgicamente com Este tratamento é prolongado e necessita
fixação interna. grande período de hospitalização. Por tanto as
O fêmur é recoberto por potentes massas fraturas do fêmur são cirúrgicas!
musculares (quadríceps e ísquio tibiais) que Somente as fraturas incompletas ou impac-
por contração produzem deslocamento e encur- tadas do colo do fêmur podem ser tratadas conser-
tamento. É sabido que a tração esquelética ou vadoramente. As fraturas podem ser impactadas
cutânea pode neutralizar estas forças tempora- em valgo ou varo.
Figura 17.1 – Fratura impactada em valgo. A contração da mus- Figura 17.2 – Fratura impactada em varo. A ação dos adutores
culatura satélite promove maior impacção no foco de fratura e do iliopsoas tendem a deslocar a fratura.
240
Nas fraturas impactadas em varo, a ação dos tratadas conservadoramente. Ao contrário nas
pelve trocanterianos associados com a ação do fraturas impactadas em valgo, onde a muscula-
PARTE III
iliopsoas, favorecem a desimpacção da fratura tura satélite atua como mantenedora da redução.
e perda da redução. Portanto não podem ser Assim a consolidação pode ser obtida.
Figura 17.3 – Fratura impactada em valgo no colo do fêmur. Figura 17.4 – Fratura consolidada após cinco meses.
Tratamento com repouso no leito. Carga progressiva permitida
após 60 dias com muletas.
C D
CAPÍTULO 17
o tratamento conservador nas fraturas impactadas prospectivo de nada mais, nada menos que 170
em valgo: pouca dor, ausência de encurtamento, fraturas impactadas do colo do fêmur seguidas
ausência de rotação externa, ativa mobilidade do por um ano. Entre esses cassos acompanhados,
quadril, Rx demonstrando impacção, paciente foi observado que 143 consolidaram (86%) sem
Figura 17.6 – Fratura impactada do colo do fêmur esquerdo. Figura 17.7 – Fratura do colo do fêmur consolidada. Imagem
Tratamento conservador com repouso no leito por dois meses. radiográfica após quatro meses.
Apoio progressivo com duas muletas posteriormente.
Figura 17.8 – Fratura impactada em valgo do colo do Figura 17.9 – Imagem radiográfica da fratura consoli-
fêmur direito. dada.
242
1ª - Imagem clássica de paciente com 2ª - Abrir caixa de papelão com 3 partes 3ª - Na extensão da coxa terço proximal
fratura do colo do fêmur até terço médio da perna
4ª - Fixar com fitas as pontas formando 5ª - Envolver com algodão laminado 6ª - Vestir com malha tubular
um triângulo
7ª - Colocar frauda geriátrico antes da 8ª - Pedir ao auxiliar elevar as pernas uni- 9ª - Imagem final com o colar colocado
imobilização das ao triângulo, prendendo a parte distal
com atadura de crepe 20 cm
Figura 17.10 – Imobilização Tipo sereia para transporte de fratura da pelve ou do fêmur na urgência (1-11).
243
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPÍTULO 17
1. CRAWFORD, H.B. Experience with the non- 6. RAAYMAKERS, E.L; MARTI, R.K. Non-ope-
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p. 830-831, jun. 1965. J Bone Joint Surg Br, v. 73, n. 6, p. 950-954, nov.
18 FRATURAS DA PATELA
Carlos Roberto Schwartsmann, Ivo Schmiedt
A
fratura da patela ocorre na faixa etária Um aparelho gessado inguinomaleolar
de 20 a 50 anos. Representam mais ou deve ser aplicado com o joelho em extensão
menos 1% de todas as fraturas, onde completa para relaxar o máximo o quadríceps.
o sexo masculino é duas vezes mais acometido Após duas semanas o gesso deve ser trocado
que o sexo feminino. por um levemente fletido. Inicialmente o
A patela é o maior sesamoide do corpo paciente pode deambular sem apoio com
humano. E está inserido no aparelho extensor auxílio de um par de muletas. Na ausência
do joelho (reto femoral, reto medial, vasto de dor, os exercícios isométricos devem ser
lateral, vasto intermédio). Funcionalmente se estimulados. Por prudência, a troca do gesso
articula somente com o fêmur e não com a tíbia. por aparelho removível de imobilização só
O contato da mesma no sulco troclear só realiza pode ser realizada após três a quatro semanas
em 30 a 40 de flexão. Na flexão máxima (maior em pacientes adequadamente selecionados.
que 135°) a patela se situa na região intercon- A imobilização é retirada para fisioterapia e
dilar do fêmur. higiene.
As fraturas da patela são decorrentes de A deambulação com o imobilizador e
2 mecanismos: trauma direto (queda sobre o apoio progressivo pode ser liberado após a
joelho ou forças indiretas por tração na unidade quatro semanas. O período de consolidação
miotendinea (impulso em salto ou ao tropeçar). normal ocorre de seis a oito semanas e imagem
As fraturas transversas representam 80% dos radiográfica da consolidação pode demorar
casos. Elas podem ser deslocadas ou não. até três a quatro meses. A progressiva liber-
O tratamento não cirúrgico é indicado nas dade dos movimentos flexores é baseada na
fraturas sem deslocamento ou naquelas com clínica, na presença ou não de dor. O paciente
desvios dos fragmentos menores que 2 ou 3 pode referir desconforto na flexão maior que
mm. Na presença de hemartrose importante, 90 graus, no subir escadas, em até seis meses
uma punção aspirativa deve ser realizada. E a da fratura.
comprovação radiológica do grau do desvio é As fraturas cominutivas, deslocadas e com
melhor avaliada na radiografia de perfil. diástase acima de 3 mm devem ser operadas.
246
CASOS CLÍNICOS
PARTE III
Figura 18.1 (A, B, C) – A) Fratura transversa do polo proximal da patela. Com diástase de 3 mm entre os fragmentos ósse-
os. B) Fratura consolidada após tratamento conservador com gesso inguinomaleolar. C) Fratura consolidada após oito meses.
Desaparecimento do traço de fratura. Recuperação funcional total.
A B
CAPÍTULO 18
A B
FRATURAS DA PATELA
Figura 18.3 (A, B) – A) Imagem radiográfica em perfil mostrando fratura consolidada após seis meses. B) Imagem
radiográfica em perfil mostrando fratura consolidada após um ano e dois meses. Alongamento pequeno do tamanho da
patela. Recuperação funcional completa.
Figura 18.4 (A, B, C) – A) Fratura transversa do terço médio da patela com diástase de 2 mm entre os fragmentos ósseos fratu-
rados. B) Tratamento com imobilização gessada por quatro semanas e após, tala removível. Fratura consolidada após quatro meses.
C) Resultado final após sete meses. Recuperação funcional completa.
248
Referências Bibliográficas
PARTE III
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Porto Alegre: Artmed Editora, 2003.
9. WATSON-JONES, R. Fractures and joint inju-
ries. Edinburg: Churchill Livingstone, 1976.
Capítulo
19
FRATURAS DOS OSSOS
DA PERNA
Carlos Roberto Schwartsmann, Alexandre David
D
e todos os ossos grandes do esqueleto, trofismo muscular e o arco normal de movimento
a tíbia é o menos protegido por partes do joelho e tornozelo. Para isto ser alcançado, a
moles. Toda superfície antero interna mais importante consideração é o critério de acei-
está coberta só por pele, por isso, é o osso que tável redução que levará a uma aceitável consoli-
mais frequentemente fratura com exposição. dação. É admissível como sucesso uma consoli-
Na maioria das vezes o agente agressor deter- dação até 10 graus de desvio anteroposterior, até
mina um trauma direto ou torsional, por isso às 5 graus de rotação e até 1 cm de encurtamento.
fraturas espirais e oblíquas são mais frequentes A maioria das fraturas dos ossos da perna
que as transversas. podem ser tratadas por redução fechada e aparelho
A fratura dos ossos da perna é cinco vezes gessado. As ideais para o tratamento conservador
mais frequente que a fratura do fêmur. A meta são as estáveis e fechadas. São aquelas sem desvio,
do tratamento é obter a consolidação, manter o pequeno desvio ou na fratura isolada da tíbia.
Figura 19.2 – Desenho esquemático mostrando de como a Figura 19.3 – Montagem com blocos de madeira e elástico
musculatura satélite pode favorecer a manutenção da fratura que comprovam a manutenção da redução após realização da
pós redução. mesma.
Figura 19.4 – Fraturas com diferentes traços oblíquos. São consideráveis instáveis pois a musculatura satélite tem tendência de
deslocar a fratura.
251
CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.5 – Desenho esquemático Figura 19.6 – Montagem com blocos de madeira e elásticos demonstrando a ação
mostrando que a musculatura atua no sen- maléfica da musculatura satélite na manutenção da redução. A força de cisalhamen-
tido de deslocar a fratura (cavalgamento). to desloca a fratura.
Figura 19.10 – As fraturas cominutivas, com asa de borboleta ou duplas não são indicações boas para o tratamento conservador
devido sua alta instabilidade.
CAPÍTULO 19
fica a critério do anestesista. A anestesia local
é contraindicado, pois comunica o foco da
fratura com o exterior e não oferece suficiente
relaxamento muscular.
Figura 19.15 – Geralmente a manobra determina pequeno antecurvato que pode ser minimizado com a dorsiflexão do pé pelo
traumatologista.
CAPÍTULO 19
da mesa ortopédica ou free-hand. Em ambos
métodos é preciso ter cuidado para a redução
não permanecer com indesejável antecurvato
conforme o desenho.
Figura 19.18 – Nesta manobra frequentemente permanece um recurvato que deve ser corrigido.
Após é realizado controle radiológico por patelar (Patelar Tendon Bearing) descrito por
intensificador de imagem ou Rx. São checados Sarmiento.
PARTE III
os eixos dos fragmentos em dois planos (AP e O gesso PTB é aplicado em três fases. As
Perfil). Se o desvio é intolerável é preferível eminências ósseas devem ser protegidas por
nova redução com troca de gesso. Se o desvio malha tubular e uma camada de algodão. Na
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
é pequeno ele poderá ser corrigido na próxima primeira fase o gesso é feito até acima dos malé-
troca de gesso quando já existe calo fibroso. olos que devem ser bem moldados, bem como o
Persistindo o desvio, ele pode ser corrigido tendão de Aquiles. Na fase seguinte molda-se o
através de cunhas gessadas. gesso sobre a tuberosidade tibial e a cabeça da
O gesso inquino podálico permanece por fíbula. O gesso é moldado de forma triangular.
duas, quatro ou seis semanas dependendo Na última fase, o joelho é estendido e prolon-
da estabilidade e da gravidade da fratura. A gado até acima da patela e côndilos femorais. O
maioria das vezes, se a fratura não for muito gesso finalizado deve permitir flexão de 90 graus
alta é boa conduta trocar por um gesso PTB e extensão completa do joelho.
1ª - Malha tubular 12 cm, 4 ataduras de al- 2ª - Medir com sobra na parte distal 3 ata- 3ª - Após molhar tirando o excedente da
godão laminado de 15 cm colocar em toda duras de gesso de 12 cm água, colocar na parte anterior da perna
a extensão da perna bem ajustada prendendo na parte distal com a 1ª atadu-
ra de crepom de 12 cm
4ª - Prender a parte do tornozelo voltan- 5ª - E no joelho iniciar a 2ª atadura cre- 6ª - Distribuir até a parte proximal da coxa
do para o pé envolvendo o calcâneo indo pom de 15 cm voltando para o joelho
para a proximal da panturrilha
CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
7ª - Levar a atadura do joelho para o mé- 8ª - Voltando para a parte superior da pan- 9ª - Transando “em 8” sobre a coxa pren-
dio pé transando “em 8” sobre o tornozelo turrilha deixando o tornozelo em 90 graus der a atadura
10ª - Fazer o acabamento na parte distal 11ª - Do gesso e algodão dobrando a ma- 12ª - Usar a 3ª atadura de crepom de 20
do pé recortando o excedente lha deixando os dedos a mostra cm em “vai e vem” até o pé
13ª - Finalizando com a 4ª atadura de cre- 14ª - Imagem final. Visualização anterior 15ª - Imagem final. Visualização lateral.
pom de 15 cm distribuída até o final
Figura 19.22 – Bota Gessada utilizada para o final do tratamento liberação do joelho.
Figura 19.23 – A confecção do aparelho gessado deve ser Figura 19.24 – No gesso tipo PTB (Patelar Tendon Bearing) é
sempre realizada com os dedos estendidos. Para o principiante necessário perfeita moldagem na patela e no tendão pré-patelar.
é comum agarrar o gesso e, isso determina desuniforme molda-
gem pela pressão das polpas digitais.
Figura 19.25 – Recorte no gesso do tipo PTB (Patellar Tendon Figura 19.26 – Detalhes do gesso PTB pós recorte do gesso.
Bearing).
259
CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.27 – Acabamento do gesso PTB com reforço no tor- Figura 19.28 – Imagem final do gesso PTB. Observar a molda-
nozelo e pé. gem na patela e tendão pré patelar.
As modernas botas sintéticas só podem ser esteja bem evoluído. A bota sintética não permite
utilizadas no final do tratamento conservador. uma perfeita moldagem, por isso, o tradicional
Para isso é necessário que o calo ósseo fibroso gesso é preferível.
1ª - Malha sintética 10 cm, algodão sinté- 2ª - Um gesso sintético de 10 cm sem mo- 3ª - Distribuir para o tornozelo
tico 10 cm proteger com mais algodão as lhar começar 2 voltas nos dedos
proeminências
4ª - Pegando a panturrilha até a base 5ª - Cortar o excedente e colocar no en- 6ª - Dobrar a malha sobre o gesso deixan-
velope do uma borda de algodão
7ª - Fazer o recorte deixando os dedos li- 8ª - Dobrar a malha 9ª - Molhar a sobra do gesso e desenvol-
vres ver da base para os dedos
10ª - A segunda atadura de 7,5 cm molha- 11ª - Quando finalizar a aplicação do ges- 12ª - Deixando o aparelho gessado na po-
da para finalizar sempre no pé so, tem tempo suficiente para corrigir o sição de 90 graus
posicionamento
CAPÍTULO 19
Na imperfeita redução de fratura dos ossos uso de cunhas gessadas de adição ou subtração,
da perna ou da perda da mesma, o traumato- obtendo a redução.
1 2 3 4
As fraturas dos ossos da perna, transversas cessário lembrar que o aparelho gessado deve ser
ou oblíquas curtas são as ideais para o trata- bem moldado e com pouco algodão. Geralmente
mento conservador. Nas fraturas sem desvios essas fraturas consolidam em três a quatro meses.
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
a carga pode ser imediata, isto é, após mais ou As fraturas com desvio devem ser bem acom-
menos duas semanas. É necessário controle panhadas para flagrar perda de redução o mais
radiológico semanal inicial e tolerabilidade do rápido possível. Se isto ocorrer o traumatologista
paciente. pode inclinar-se para o tratamento cirúrgico.
Figura 19.36 – Fratura transversa do terço médio para distal da tíbia, associada a fratura distal do perônio. Consolidação
obtida com discreta deformidade em varo. Observar o gesso bem moldado.
263
CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.37 – Fratura transversa do
terço médio da tíbia e proximal do perô-
nio com desvio em valgo. Fratura conso-
lidada sem deformidade angular e encur-
tamento desprezível.
Figura 19.39 – Redução com aparelho gessado bem moldado e resultado final com consolidação sem desvios, (e) recuperação
funcional total do joelho e tornozelo após seis meses.
CAPÍTULO 19
Charnley foi o primeiro a chamar atenção lico por um período de tempo maior, pois há
que a fratura da tíbia com a fíbula integra merece tendência de angulação em varo dentro de um
uma atenção especial no tratamento conser- gesso curto abaixo do joelho. O gesso alto deve
vador. Apesar do trauma não ser de alta energia, ser moldado forçando o valgismo. No eventual
Figura 19.41 – Fratura oblíqua do terço médio para distal da tíbia com fíbula integra.
266
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 19.42 – Tratamento conservador com aparelho gessado bem moldado. Fratura consolidada sem desvios.
CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.44 – Fratura isolada transversa da tíbia no terço médio para distal com perônio integro. Consolidação obtida com bom
alinhamento e sem encurtamento.
Figura 19.46 – Fratura oblíqua longa do terço médio para distal Figura 19.47 – Após aparelho gessado com forçado valgis-
da tíbia com perônio integro. Desvio em varo significativo. mo a fratura consolidou com bom alinhamento no AP e perfil.
CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.49 – Tomografia axial computadorizada mostrando detalhes da cominuição e comprometimento da superfície articular.
FRATURAS PROXIMAIS DOS OSSOS DA as que não têm deslocamento podem ser
PERNA tratadas com aparelho gessado inquino podá-
PARTE III
As que comprometem a superfície arti- oito semanas. Após é necessário um brace que per-
cular e determinam degrau maior que 2 a 3 mm mite a flexo-extensão do joelho. O apoio com carga
devem ser tratadas cirurgicamente. Entretanto só deve ser permitido após três a quatro meses.
A B
A B
CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.53 (A, B) – A) Fratura cominutiva do terço médio para proximal dos ossos da perna. B) Fratura consolidada com bom
alinhamento.
A B
É sabido que, ao contrário das fraturas proxi- uma boa compressão sob os fragmentos ósseos
mais da tíbia, as fraturas distais têm uma dificul- fraturados e consequentemente deambulação
dade maior em consolidar devido a sua peculiar mais precoce com carga. As eventuais perdas
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
irrigação. Entretanto devido sua pobre proteção de redução são bem toleradas pelas cunhas
muscular elas são as mais fáceis de reduzir. gessadas.
CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.57 – Fratura con-
solidada com inexpressivo varo
a tíbia.
Figura 19.59 – Observar o bom alinhamento no gesso muito Figura 19.60 – Fratura consolidada sem desvio significativo.
bem moldado e com pouco algodão.
CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.62 – Fratura oblíqua do terço distal da tíbia Figura 19.63 – Fratura consolidada com perfeito alinha-
sem comprometimento articular. Tratamento conserva- mento.
dor com bota gessada tipo PTB por 90 dias.
Figura 19.64 – Fratura transversa do terço distal da tíbia Fratura 19.65 – Fratura consolidada com exuberante calo
e fíbula com discreto desvio em varo. Tratamento com apa- ósseo e discreto varo.
relho gessado tipo PTB.
276
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 19.66 – Fratura oblíqua do terço distal dos ossos da perna com Figura 19.67 – Fratura consolidada com bom alinha-
acentuado desvio em valgo e recurvato. mento frontal e sagital.
A B A B
Figura 19.68 (A, B) – A) Fratura oblíqua comi- Figura 19.69 – Fratura Figura 19.70 (A, B) – A) Fratura do terço dis-
nutiva com asa de borboleta do terço distal da per- consolidada com bom tal dos ossos da perna com discreto valgismo. B)
na com valgismo. B) Redução com aparelho gessado alinhamento e discreto Fratura consolidada com discreto varismo.
bem moldado. recurvato.
277
CAPÍTULO 19
A diáfise do perônio raramente se fratura andando.
sem a tíbia ou tornozelo associadamente. Quando Não é necessário redução e o tratamento com
existe a fratura isolada geralmente é devido a imobilização gessada é sintomática através de
impacto direto sobre o osso. bola de bota gessada por quatro a seis semanas.
A B
Figura19.71 (A, B) – A) Imagem radiográfica de fratura do terço proximal do perônio por projétil de arma de fogo: fratura exposta.
B) Imagem radiográfica da fratura consolidada após 60 dias.
Figura19.72 – Imagem
radiográfica de fratura
transversa proximal do
perônio. Fratura consoli-
dada após 60 dias.
278
A B
PARTE III
CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.75 – Osteossíntese da tíbia com placa e parafusos. Evolução com infecção, necrose de pele e exposição do material de
síntese.
Figura 19.77 – Osteossíntese com haste intramedular bloqueada da tíbia. Evolução com fistula e osteomielite.
Referências Bibliográficas
CAPÍTULO 19
1. BODE, G, et al. Tibial shaft fractures – mana- 12. NWOSU, C. Tibial fractures following parti-
gement and treatment options. A review cipation in recreational football: Incidence
of the current literature. Acta Chir Orthop and outcome. Niger J Clin Pract, v. 22, n. 4, p.
Traumatol Cech, v. 79, n. 6, p. 499-505, 2012. 492-495, abr. 2019.
20 FRATURAS DO TORNOZELO
Carlos Roberto Schwartsmann, Alexandre David
A
articulação do tornozelo é constituída terior verdadeiro) e P (perfil). Na incidência AP
por 3 ossos: tíbia, fíbula e tálus. A esta- o valor de referência para a sobreposição tibiofi-
bilidade anatômica do tornozelo é prin- bular é de 10 mm e no AP verdadeiro, o espaço
cipalmente conferida pela sua arquitetura óssea, talo-maleolar medial deve ser inferior a 4 mm.
e a estabilidade secundária é proporcionada pela Na incidência de perfil identificamos com maior
ação restritiva dos ligamentos. O tornozelo apre- facilidade as fraturas oblíquas da fíbula assim
senta três superfícies articulares distintas: tibio- como as fraturas do maléolo posterior.
talar, fibulotalar e a sindesmose tibiofibular distal.
Embora considerada um gínglimo articular
a presença de recessos permite movimentos
rotatórios o que indica que estas articulações
não só permitem a flexo extensão, mas também
rotações do pé nos eixos axial e coronal.
Então, a estabilidade do tornozelo é confe- Angulo talo Crural
rida pelas relações intrínsecas da tíbia com a A Normal B 83° +/- 4°
fíbula e pelo forte complexo ligamentar existente
entre estes ossos e o tálus.
O complexo ligamentar lateral é formado
A B
pelo ligamento talo-fibular anterior, calcâneo B
4 mm
fibular e talo-fibular posterior. O medial é basi-
camente composto pelo ligamento deltoide que
Espaço tibio fibular
é constituído por 5 ligamentos. A < 10mm
C Espaço talo
A sindesmose tíbia fibular distal é composta maleolar
por 4 ligamentos. D Ant
A série trauma para o tornozelo inclui 3 Figura 20.1 (A, B, C, D) - Desenhos esquemáticos da rela-
incidências radiográficas: AP (anteroposterior), ção tibiofibular distal. A) Relação normal. B) Ângulo talo crural
(83º +/- 4º). C) Espaço talo-maleolar (4 mm). D) Espaço tibiofibu-
AP com rotação interna de 20 graus (anteropos- lar (mais que 10 mm).
284
Figura 20.2 – Classificação de Weber. Todas as imagens mostram fraturas Weber tipo C, mas com gravidades distintas e incompa-
ráveis. Não se leva em consideração a luxação, a subluxação, as lesões ligamentares e de partes moles.
Em 1950, Lauge-Hansen lançou uma classi- diária ela é pouco utilizada pela interpretação
ficação que através do mecanismo de lesão tenta complexa que ela exige.
repetir os padrões de fraturas. Consequentemente, Em 1990, Müller do grupo AO, lançou uma
os tratamentos seriam melhor induzidos e o prog- classificação completa e complexa. Jamais terá rele-
nóstico mais bem avaliado. Ela é conhecida como vância clínica pois apresenta 27 diferentes opções,
a classificação “genética” porque utiliza o meca- três tipos: A, B e C. Cada um com 9 subtipos.
nismo de ação do trauma na gênese das fraturas Na prática necessitamos obter o princípio
para definir os diferentes tipos. básico do tratamento: redução e manutenção da
A terminologia de seu sistema de classi- redução até a consolidação. Charnley escreveu
ficação utiliza primeiramente a posição do pé que nestas fraturas-luxações “a redução não é
e secundariamente a direção da força etioló- difícil, o problema maior é manter os ossos no
gica. A classificação possui 4 tipos: supinação– seu devido lugar.” O aprendizado da manu-
adução, supinação–eversão, pronação–abdução, tenção da redução deve ser realizado com repe-
pronação-eversão. A supinação-eversão também tição e perseverança. A cura com posição anatô-
conhecida como supinação e rotação externa mica é premissa para uma reabilitação funcional
é responsável por 70% dos casos. Na prática completa e duradoura.
285
CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.3 – O desvio lateral deve ser reduzido com forças Figura 20.4 – Desenho esquemático mostrando que as partes
antagônicas. O aparelho gessado deve ser moldado da mesma moles intactas laterais impedem a hipercorreção e facilitam a
maneira. Neste caso, forçando o varismo. manobra de redução.
Figura 20.5 – Manobra para reduzir o desvio anteroposterior. Observar que a gravidade tende a luxar novamente o tornozelo
posteriormente.
Portanto a redução somente será obtida se O gesso que deve ser bem molhado e
o tálus permanecer embaixo da superfície arti- moldado com as eminências tenares, mantendo
cular da tíbia. O alinhamento maleolar é obtido forças opostas. Frequentemente o paciente acha
secundariamente. que o gesso está torto, mas o Rx ira confirmar a
Tracionando e segurando o calcanhar com boa posição da redução. Se isso não for verda-
a palma da mão, a dorsiflexão é realizada com deiro uma nova tentativa de redução deve ser
uma força que direciona para rotação interna. realizada!
Após a redução, enquanto o traumatologista Se o bom alinhamento dos fragmentos não
confecciona o gesso, um auxiliar segura o pé for obtido ou a fratura é muito instável a indi-
pela ponta dos dedos ou pela malha tubular. cação cirúrgica se impõe.
CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.10 – Desenho esque-
mático e foto final do aparelho
gessado que mostra o pé aparen-
temente desalinhado da sua posi-
ção anatômica. A radiografia deve
confirmar a redução anatômica.
A B
Figura 20.11(A, B) – A) dorsiflexão sem tração longitudinal pode promover subluxação do maléolo posterior pela cabeça do tálus.
B) A dorsiflexão com tração longitudinal reduz a fratura do maléolo posterior e a luxação posterior.
O segundo erro frequente ocorre na tentativa partes moles e o efeito compressivo poderá se
de reduzir a sindesmose. É necessário aplicar perder. A moldagem do gesso deverá ser feita em
força compressivas entre os maléolos. Entretanto níveis diferentes conforme o desenho. A força de
se as forças forem aplicadas de maneira uniforme compressão lateral deve ser abaixo do maléolo e
elas poderão ser dissipadas pelo edema das a força de compressão medial acima do maléolo.
288
A
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 20.12 (A, B) – Desenho esquemático mostrando cor- Figura 20.13 – Gesso circular e as áreas de moldagem. As
retamente a distribuição das forças para prevenir a subluxação setas indicam as forças que devem ser aplicadas durante a
lateral. O gesso é moldado forçando o varismo. A) Forças apli- confecção do aparelho gessado para manter a redução.
cadas erroneamente. B) Forças aplicadas para manutenção do
varismo.
O terceiro erro mais comum é não man- comum (supinação – eversão) a principal força
ter o pé com rotação interna durante a redu- que determina a fratura-luxação e a de rotação
ção e a confecção do gesso. Na fratura mais externa.
A B
Figura 20.14 (A, B) – A) A rotação externa desloca o maléolo lateral posteriormente. B) A corre-
ção deve ser realizada com força direcionada para rotação interna.
289
CAPÍTULO 20
MEDIAL frontalização dos fragmentos. Se isso acontecer
A fratura não deslocada ou com desloca- e manobras com valgismo, não conseguirem
mento parcial deve ser tratado com bota gessada retirar a interposição, o tratamento cirúrgico se
por quatro a seis semanas, o maléolo medial tem impõe. Sempre deve ser avaliada a sindesmose
FRATURAS DO TORNOZELO
grande potencial de consolidação. Entretanto tibiofibular distal e o complexo ligamentar
fraturas com grande deslocamento, a interpo- lateral.
Figura 20.15 – Queda da motocicleta. Fratura do maléolo medial com diástase (AP – P).
Figura 20.17 – Imagem radiográfica magnificada do maléolo medial antes e após a consolidação.
CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.19 – Fratura isolada do maléolo lateral. A distância talo-maleolar medial está aumentada e há subluxação lateral. Isto é
fratura-luxação!
Figura 20.20 – Fratura consolidada com gesso após oito semanas. Observar a perfeita redução articular e a distância talo-maleolar
medial normal.
292
A B
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
C D
CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.23 – Imagem ra-
diográfica da fratura consolida-
da após oito semanas de gesso.
Perfeita recuperação funcional.
Figura 20.24 (A, B) – Trauma jogando futebol. A) Fratura de maléolo lateral transindesmoidal. Tratamento conservador com bota
gessada. B) Fratura consolidada no seu sitio anatômico normal. Recuperação funcional total.
Figura 20.25 (A, B, C) – Queda em buraco. A) Fratura-luxação do tornozelo. B) Redução anatômica e imobilização com gesso
forçando o varismo. Espaços articulares mantidos. C) Fratura consolidada com recuperação funcional completa.
294
A
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 20.26 (A) – Queda em buraco com torção. Fratura-luxação. Fratura maléolo lateral, articulação subluxada e lesão
ligamentar medial. É necessária redução e imobilização com gesso forçando o varismo.
Figura 2.26 (B) – Fratura consolidada. Não há subluxação medial. Normalização do espaço talo-maleolar.
295
CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.26 (C) –
Imagem radiográfica, após
seguimento de seis anos.
Recuperação funcional com-
pleta.
Figura 20.27 – Queda da moto. Fratura-luxação do tornozelo com desvio lateral e posterior.
296
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 20.29 – Opção pelo tratamento cruento. Imagem pós-tratamento cirúrgico com placa lateral, parafuso interfragmen-
tario. Redução anatômica.
297
CAPÍTULO 20
LARES a troca de imobilização por gesso definitivo deve
Geralmente estas fraturas complexas são ocorrer entre uma ou duas semanas. Logicamente
fraturas-luxações e merecem redução imediata. após a troca do gesso. Novo exame de imagem se
Após a redução o paciente deverá ser imobilizado impõe para reavaliar a qualidade de redução.
FRATURAS DO TORNOZELO
com tala gessada inguino podálica para prevenção Se a redução inicial não foi satisfatória ou
do eventual edema e a síndrome compartimental. houve perda da redução o tratamento cirúrgico
A radiografia confirmará se a redução foi satis- deve ser indicado.
C D
Figura 20.30 (A, B, C, D, E) – Queda da escada.A) Fratura trimaleolar do tornozelo. Redução aceitável no AP.
B) Radiografia em perfil mostrando fratura do maleolo posterior. C) Manutenção da redução no aparelho gessado.
D) Fratura consolidada. E1 e E2) Recuperação funcional total.
298
A B
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
C D
Figura 20.31 (A, B, C, D, E) - Vítima de atropelamento. A) Fratura trimaleolar do tornozelo com luxação posterior. B) Redução
anatômica com tala gessada no AP. C) Redução com pequeno degrau do maléolo posterior menor que 30% da superfície articular. D)
Imagem radiográfica de fratura consolidada com anatomia restaurada após 60 dias de imobilização gessada. E) Paciente sem dor e
recuperação funcional completa.
299
CAPÍTULO 20
A B
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.32 (A, B) – Queda da bicicleta. A) Fratura-luxação trimaleolar do tornozelo. Desvio lateral e posterior. B) Imagem radio-
gráfica do AP pós redução e imobilização com tala gessada.
A B
Figura 20.33 (A, B) - A) Fratura consolidada após 60 dias de aparelho gessado. Imagem radiográfica em AP. B) Fratura consolida-
da. Imagem radiográfica em perfil, maléolo posterior consolidado com pequeno degrau articular.
Figura 20.34 – Recuperação funcional total. Imagens clínicas obtidas após quatro anos.
300
Figura 20.35 – Queda de altura na escada. Fratura-luxação trimaleolar do tornozelo. Luxação lateral e posterior.
Figura 20.36 – Redução perfeita na tala gessada. Espaço articular mantido Figura 20.37 – Fratura do maléolo posterior.
anatomicamente. Acometimento de 1/5 da superfície articular.
301
CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.38 – Manutenção da redução com aparelho Figura 20.39 – Resultado final com as fraturas consolidadas.
gessado perfeitamente moldado. Aparelho gessado con- Recuperação funcional completa.
feccionado com malha dupla e sem algodão!
MAUS RESULTADOS
TCM, 21, feminino.
A B
Figura 20.40 (A, B) – A) Fratura maleolar lateral oblíqua transisdemoidal sem desvio e sem comprometimento do pilar medial.
Superfícies articulares reduzidas anatomicamente. Indicação absoluta de tratamento conservador pois não há desvios! B) Fratura não
perceptível nem mesmo nas imagens radiográficas oblíquas.
302
C
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.43 – Queda da escada. Fratura bimaleolar do tornozelo com luxação lateral.
Figura 20.44 – Redução anatômica obtida após anestesia e tala gessada. Redução perfeita.
Figura 20.45 – A redução anatômica foi perdida na confecção do aparelho gessado. Há excesso de algodão e apesar da moldagem
em varo permitiu novamente a perda da redução com subluxação. Aparelho gessado muito mal confeccionado!
304
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 20.46 – Intervenção cirúrgica: instituído tratamento cirúrgico com 2 parafusos maleolares mediais, 2 parafusos transisde-
moidais e placa lateral com parafusos. Tala gessada muito mal confeccionada! Evolução com infecção superficial na incisão lateral.
CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.48 – Tratamento
cirúrgico instituído com placa
lateral e parafuso transindes-
moidal. Inaceitável redução
cirúrgica. Tálus subluxado la-
teralmente. Seria melhor se
não tivesse sido operado!
Figura 20.49 – Imprensindivel necessidade de reintervenção cirúrgica para reduzir a subluxação: troca da placa lateral do perônio
e fixação da sindesmóide com três parafusos. Há restabelecimento das superfícies articulares.
306
CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.53 – Radiografia em AP focada
mostrando aumento do espaço talo-maleolar
medial e diástase da sindesmose tíbio pero-
neal. Situação insustentável!
CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.59 – Pós-operatório imediato de osteossíntese do Figura 20.60 – Pós-operatório tardio de osteossíntese do tor-
tornozelo por fratura. Evolução com secreção e fistula pela ferida nozelo. Necrose de pele em exposição do foco de fratura.
operatória.
Figura 20.61 – Grande necrose de pele com exposição da pla- Figura 20.62 – Secreção e exposição do material de síntese.
ca, parafusos e osteomielite. Para resolução desta complicação Imagem que o traumatologista não gosta de ver.
serão necessárias várias cirurgias.
310
Na literatura existem dezenas de artigos que (3-20%) e sensação subjetiva de dor no implante
defendem tanto o tratamento conservador quanto e cicatriz (10-40%). Soltura do material de síntese
o cirúrgico para diferentes tipos de fraturas do com perda da redução, reintervenção para reti-
tornozelo. A decisão acerca da melhor escolha rada da síntese (15-70%).
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 20.63 – Trauma jogando futebol. Imagem clínica pós fratura-luxação do tornozelo direito ocorrida em 1980 durante partida
de futebol. Observar importante sufusão hemorrágica medial e lateral do tornozelo.
311
CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.64 – Imagem radiográfica do tornozelo pós redução. Discreta abertura da sindesmose tíbio peroneira. Tratamento reali-
zado com bota gessada bem moldada por seis semanas.
Figura 20.65 – Trauma jogando futebol. Imagem clínica pós fratura-luxação de tornozelo esquerdo ocorrida em 2000 novamente
durante partida de futebol.
Figura 20.66 – Imagem radiográfica pós fratura do tornozelo esquerdo. Observar a integridade da articulação tíbio peroneira distal.
Tratamento realizado com bota gessada por seis semanas.
312
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 20.67 – Autor realizando artroplastia do Figura 20.68 – Imagem radiográfica do tornozelo direito após 40 anos da
total do joelho 72 horas após redução da fratura. fratura. Ausência de artrose na articulação do tornozelo.
Ato cirúrgico sendo realizado com o cirurgião senta-
do e o membro inferior fraturado sobre um banco.
ReferÊncias Bibliográficas
CAPÍTULO 20
1. ALI, M.S; et al. Ankle fractures in the elderly: 11. HUTCHINSON, R.H; BARRIE, J.L. The effects
nonoperative or operative treatment. J Orthop of shared decision making in the conservative
Trauma, v. 1, p. 275-281, 1996. management of stable ankle fractures. Injury,
2. BOURNE, R.B; RORABECK, C.H; MACNAB, v. 46, n. 6, p. 1116-1118. 2015.
FRATURAS DO TORNOZELO
J. Intra-articular fractures of the distal tibia: 12. JAVED, A.O; et al. Surgical versus conserva-
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314
PARTE III TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
Capítulo
Tratamento:
O tratamento conservador é indicado para
pacientes com fraturas extra-articulares sem
desvio significativo ou para fraturas intra-articu-
lares sem desvio. Pacientes com muitas comor-
bidades, sem condições clínicas e pacientes com Figura 21.1 – Ângulo de Bohler: as fraturas que não diminuem
grande acometimento de partes moles, também significativamente o ângulo de Bohler, podem ser tratadas con-
servadoramente.
necessitam a realização de tratamento conser-
vador. Normalmente o tratamento conservador é Na próxima página, mostramos um caso no
realizado com o uso de uma bota gessada suropo- qual foi optado pela realização do tratamento
dálica. Após quatro semanas, e após a diminuição conservador de uma fratura intra-articular.
316
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Na maioria das vezes o tratamento inicial é gesso circular bem moldado com compressão
realizado utilizando tala gessada suropodálica. latero-lateral sobre o calcâneo.
Após duas semanas o mesmo é trocado por
A B
Figura 21.5 (A, B) – A) Tratamento inicial com tala gessada suropodálica. B) Tratamento definitivo com bota gessada.
317
tala suropodálica
CAPÍTULO 21
FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ
1ª - Medir o algodão de 15 cm, 3 cm 2ª - Abrir os dois rolos de algodão de 15 3ª - Depois de abrir o rolo de gesso de 20
antes do joelho e 3 cm passando os cm na mesma extensão medida e o gesso cm dobrar ao meio
dedos do pé de 20 cm no mesmo comprimento
4ª - Fixar com fitas as pontas formando 5ª - Medir a malha de 15 cm passando 6ª -Pegar somente o gesso nas pontas le-
um triângulo mais ou menos 3 cm de cada lado vando para o meio
7ª - Pegar firme emergir na água compri- 8ª - Colocar sobre o algodão passando a 9ª -Vestir o algodão e o gesso com a malha
mir tirando o excesso da água mão para o gesso impactar
10ª - Em uma das pontas colocar a 11ª - Colocar com a malha para dentro na 12ª - Com o joelho fletido do paciente e o
malha para dentro panturrilha com o paciente segurando, pé apoiado no peito facilita o posiciona-
começar com a atadura de crepom no mento do tornozelo em 90 graus
meio do pé
13ª - Com a atadura de crepe de 12 cm 14ª - Terminar o desenvolvimento da ata- 15ª - Dar duas voltas com a 2ª atadura de
prender o meio do pé indo para o torno- dura na parte proximal da perna 15 cm na parte proximal indo para a distal
zelo subindo para a panturrilha
16ª - No meio do pé voltar em “x” sobre 17ª -Duas voltas com a 3ª atadura e baixar 18ª -Abrir a malha no pé, cortar o algodão
o dorso da perna para a parte proximal, a perna sobre a maca e o gesso rente aos dedos
distribuir a atadura até terminar
19ª - Passar a atadura na borda da tala 20ª - Prender deixando o meio do pé bem 21ª - Desenrolar a atadura até finalizar
voltando para o tornozelo ajustado com a atadura
22ª - Colocar as bordas das extremidades 23ª - Aspecto final da tala gessada
para dentro da tala
CAPÍTULO 21
metem o quinto metatarso, por enquanto que as
As fraturas dos metatarsos são relativamente fraturas por estresse, muito comuns em atletas,
comuns e muitas vezes menosprezadas. Apesar, são mais comuns no segundo metatarso, apesar
de não ser uma regra, a maioria dessas fraturas de poderem acometer qualquer outro metatarso.
podem ser tratadas conservadoramente desde Fraturas isoladas ou conjuntas do segundo, terceiro
Figura 21.7 – imagens radiográficas de uma fratura da base do primeiro metatarso com leve desvio em AP e Perfil.
320
CAPÍTULO 21
FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ
Figura 21.9 – Imagem radiográfica em AP e Oblíqua mostrando fratura diafisária do quinto metatarso.
A B C
Figura 21.10 (A, B, C) – A) Tratamento inicial com tala gessada suropodálica. B) Imagem radiográfica após seis semanas.
C) Imagem radiográfica da fratura consolidada após 12 semanas.
322
A B
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 21.11 (A, B) – A) Fratura oblíqua do 5º metatarsiano. B) Imagem radiográfica da fratura consolidada após dois meses.
Paciente permaneceu imobilizado com bota gessada por quatro semanas. Discreto encurtamento do metatarsiano. Recuperação
funcional total.
Figura 21.12 – Imagem radiográfica da fratura do colo do terceiro metatarsiano. A direita, imagem radiográfica seis semanas após
mostrando consolidação. Abaixo imagem clínica do paciente também com seis semanas, já conseguindo ficar apoiar-se nas pontas
dos pés sem dor.
A B
CAPÍTULO 21
FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ
Figura 21.13 (A, B) – Paciente de 50 anos, masculino. A) Imagem radiográfica de fratura do colo do quarto e quinto metatarso.
B) Radiografias mostrando fraturas consolidadas, paciente sem sintomas.
A B C D
Figura 21.14 (A, B, C, D) – A e B) Imagem radiográfica da fratura do colo do 4º metatarso. C e D) Imagem radiográfica da fratura
consolidada após oito semanas.
plantar. Na criança, a apófise pode ser confun- uso de órtese que impeça o movimento de supi-
dida com uma fratura não deslocada da tubero- nação durante seis semanas.
PARTE III
sidade, assim como o “os peroneum” e o “os vesa- As fraturas na junção metafisodiafisária são
lianum”. Nas meninas, o centro de ossificação conhecidas por ocorrem em uma região pouco
aparece entre 9 e 11 anos e nos meninos entre vascularizada, entre a base bem fixada do quinto
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
11 e 14 anos, e os mesmos desaparecem dois a metatarso e sua diáfise, que é bastante móvel.
três anos após. Também são tratadas com imobilização e
A maioria dos pacientes com fratura avulsão restrição de carga. No acompanhamento radio-
poderão ser tratados de forma conservadora gráfico de consolidação é importante notar a
com um solado rígido ou com o uso de uma robo- consolidação que ocorre de medial para lateral,
foot curta, podendo manter o apoio conforme que pode ocorrer entre semanas até meses após
tolerância. Maioria das fraturas estarão consoli- o diagnóstico. Torg notou melhores resultados
dadas em oito semanas, entretanto muitas vão no tratamento conservador das fraturas de Jones
criar uma união fibrosa assintomática. A maioria aguda com imobilização e restrição absoluta de
dos autores recomenda uso de tala gessada até carga, quando comparado com o tratamento
melhora do edema, seguida de bota gessada ou com imobilização mais a permissão de carga.
Caso Clínico
CAPÍTULO 21
MCF, 50, feminino.
A B
Figura 21.17 – Exemplo de órtese que impede a supina- Figura 21.18 – Sandália de Barouk – Uma opção de
ção do tornozelo. tratamento adjuvante no tratamento de algumas fratu-
ras do antepé.
326
Fraturas diafisárias metatarsais por estresse ser feito apenas clinicamente. Normalmente as
Como o próprio nome diz, essas fraturas fraturas por estresse do segundo e do terceiro
PARTE III
são resultantes de estresse repetitivo que leva metatarso ocorrem ou no terço central ou no colo
a fadiga do osso normal. Também conhecido da diáfise, diferente do que ocorre nas fraturas
como fratura da “marcha” devido sua alta por estresse do primeiro raio, que normalmente
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
A B
CAPÍTULO 21
comum. No exame físico haverá dor a palpação
São as fraturas mais comuns do antepé. O local e edema. Cuidados com a perfusão é importante
mais comum em todos os raios é a falange proximal nos casos de trauma com maior energia. Flexão e
e devido ao seu tamanho e importância na marcha extensão dos dedos vai reproduzir dor e crepita-
(principalmente na fase de desprendimento), as ções poderão ser sentidas.
1ª - Medir a tala metálica do meio do 2ª - Prender com micropore as pontas, e 3ª - Tira fina de esparadrapo trançada na
antepé contornando o hálux com esparadrapo por baixo base do hálux
4ª - 1ª volta com esparadrapo em tiras. 5ª - 2ª complementação com várias tiras 6ª -No antepé, usar tiras mais largas
de esparadrapo
Figura 21.21.1 – Imobilização com tala metálica para as fraturas da falange do hálux (1-6).
328
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 21.21.2 – Imobilização com tala metálica para as fraturas da falange do hálux (7-10).
CASOS CLÍNICOS
A B
Figura 21.22 (A, B) – A) Fratura transversa do terço médio da falange proximal do hálux, com pouco desvio.
B) Imobilização com tala gessada após redução com anestesia local.
329
CAPÍTULO 21
FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ
Figura 21.23 – A esquerda radiografia mostrando fratura da base da falange distal do hálux. Ao centro, radiografia após dez sema-
nas de tratamento com “spica” e uso de calçado rígido e a direita, também com dez semanas, foto da paciente já conseguindo ficar
nas pontas dos pés, referindo estar sem dor.
Figura 21.24 – A esquerda imagem radiográfica mostrando fratura com pequeno desvio da falange distal do hálux. No centro,
radiografia com seis semanas de evolução mostrando consolidação da fratura. Imagem da direita mostramos a foto clínica da pacien-
te, na mesma data da radiografia central, conseguindo apoiar todo membro no antepé. Paciente foi tratada com o uso de “spica” e
sandália de Baruk.
Fraturas das falanges dos dedos menores adequado. O tratamento conservador inclui
As fraturas das falanges nos dedos menores imobilização da falange fraturada com “spica”
são menos importantes clinicamente que as imobilizando a fratura com os pododáctilos
faturas no hálux. Muitos autores concordam adjacentes mais a utilização de calçados rígido
que até mesmo fraturas, que após tentativas ou sandália de Barouk. A seguir, é mostrado o
de redução, mas mantiveram desvio moderado passo a passo da imobilização para fraturas da
podem ser tratados conservadoramente de modo falange dos dedos menores.
330
1ª - Cortar o esparadrapo 25 cm de 2ª - Manter sempre o pé apoiado com os 3ª - Não esquecer de separar os dedos
comprimento em toda sua largura e abrir dedos livres para a imobilização, passar com gaze ou algodão
em tiras finas tintura de benjoim no médio pé
7ª - Iniciar com a 1ª tira da parte externa 8ª - Trançando na base do 5º cortando no 9ª - Passar uma tira sobre a outra firme,
do médio pé, passando na base do 3º dorso do médio pé mas sem comprimir
10ª - Até a base das unhas 11ª - Cortando para que as mesmas fi- 12ª - Para observar a circulação
quem a mostra
Figura 21.25.1 – Imobilização com esparadrapo para as fraturas das falanges (1-12).
331
CAPÍTULO 21
FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ
13ª - Cortar interrompendo a tira 14ª - Complementando na outra ponta 15ª - Imagem final da imobilização
Figura 21.25.2 – Imobilização com esparadrapo para as fraturas das falanges (13-16).
CASOS CLÍNICOS
PARTE III
A C D
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
Figura 21.29 – A esquerda, imagem da radiografia de uma paciente com fratura da falange proximal do
quarto pododáctilo. No centro, imagem clínica da paciente com acentuado desvio em valgo. A direita, imagem
radiográfica de controle após redução incruenta realizada no pronto atendimento com anestesia local.
333
CAPÍTULO 21
A
Figura 21.30 (A, B) – A) Imagem radiográfica de fratura da falange proximal e distal do quinto pododác-
tilo. B) Imagens radiográficas, após tratamento conservador com spica e uso de solado rígido durante quatro
semanas, nota-se a consolidação das fraturas em uma posição satisfatória.
334
Figura 21.31 (A) – Paciente fumante e diabético. Imagem clínica de paciente que sofreu esmagamento do pé na porta do eleva-
dor. Sofrimento vascular importante do 4º dedo.
Figura 21.31 (B) – Imagens radiográficas do antepé em AP e oblíqua: fraturas cominutivas do terço distal do primeiro e segundo
metatarsiano e fraturas nas falanges proximais do 3º, 4º e 5º dedos.
335
CAPÍTULO 21
C D
maioria dessas fraturas tem mínimo ou nenhum apoio conforme tolerância, enquanto outros
CAPÍTULO 21
desvio. Muitos autores recomendam o uso de recomendam o mesmo tratamento, porém mais
bota robofoot por três a quatro semanas com prolongado de seis a oito semanas.
A B
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338
IV
LUXAÇÕES
DAS GRANDES
ARTICULAÇÕES
Capítulo
22 LUXAÇÕES DO OMBRO
Carlos Roberto Schwartsmann
A
articulação gleno umeral é a de maior dinâmicos que estabilizam a articulação gleno
mobilidade no corpo humano. Para umeral são compostos principalmente pelos
obter toda amplitude de movimento, músculos do manquito rotador (subescapular,
obviamente perde sua estabilidade devido prin- supraespinhoso, intraespinhoso e redondo
cipalmente a pequena superfície de contato entre menor), a cabeça longa do bíceps e os demais
a cabeça do úmero e a rasa cavidade glenoide, músculos da cintura escapular.
que é cinco vezes menor que a cabeça umeral. Quanto a incidência, o ombro é a articulação
Mecanicamente existem os estabilizadores que mais frequentemente sofre luxação no corpo
estáticos e os dinâmicos. Entre os mecanismos humano. Dentre as luxações 90% são gleno
estáticos temos o formato da articulação, o umerais anteriores, 5% esterno claviculares e 5%
lábrum glenoideo que aumenta a profundidade gleno umerais posteriores.
da cavidade glenoide, ótima cobertura e vedação O diagnóstico é realizado pela história de
da cápsula articular, as estruturas capsuloliga- trauma agudo e a presença do sinal da dragona
mentares, principalmente os ligamentos gleno militar, que corresponde ao acrômio proemi-
umerais e fenômeno físico da pressão negativa nente no subcutâneo associado a perda do
intra-articular, que oferece adesão e coesão da contorno circunferencial do ombro. Também é
cabeça umeral contra a glenoide. Os mecanismos conhecido como “sinal do cabide”.
Na luxação posterior pode passar desa- meio do músculo deltoide posterior. É preciso
percebido pois o sinal não é tão exuberante. muita atenção, pois a clínica não é tão evidente e
Normalmente a cabeça do úmero se localiza no o paciente pode até realizar alguns movimentos.
CAPÍTULO 22
LUXAÇÕES DO OMBRO
Figura 22.3 (B) – Imagem radiográfica mostrando a cabeça do úmero abaixo da cavidade do glenoide.
Na luxação do ombro, principalmente nas Lesão de Slap: são as lesões no lábio glenoidal
recidivantes são encontradas lesões anatômicas superior antero-posterior.
associadas, tais como:
Lesão de Bankart: é a desinserção da porção Ainda existem 10% de fraturas associa-
anterior da capsula e do lábrum junto a das a luxação bem como do manguito rota-
glenoide, com ou sem fragmentos ósseos. dor. Já quanto ao tratamento, toda luxação é
Lesão de Hill-Sachs: trata-se de fratura considerada uma emergência médica e, por-
(afundamento) do canto superior-lateral da tanto, deve ser tratada o mais precocemente
cabeça umeral. possível.
344
PARTE IV
TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES
Entre todas as manobras que o traumatolo- para a redução da luxação do ombro são: Kocher,
gista tem disponível, as mais comumente usadas tração-contratração, Stimpson e Hipócrates.
CAPÍTULO 22
A B
LUXAÇÕES DO OMBRO
C D
Figura 22.12 – Manobra de Hipócrates: É uma manobra deselegante, histórica, em desuso, pouco recomendada, mas altamente
eficaz. O traumatologista descalço, com o calcanhar na axila do paciente, empurra a cabeça do úmero lateralmente com tração longi-
tudinal vigorosa pelo antebraço e punho do paciente.
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CAPÍTULO 22
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LUXAÇÕES DO OMBRO
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Porto Alegre. Artmed Editora, 2003.
348
PARTE IV TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES
Capítulo
23 LUXAÇÕES DO COTOVELO
Carlos Roberto Schwartsmann, Marco Tonding Ferreira
A
s estruturas ósseas ligamentares apre- com mais da metade dos casos, em geral são de
sentam a mesma importância na manu- tratamento cirúrgico.
tenção da estabilidade do cotovelo. A luxação do cotovelo ainda pode ser classi-
Os músculos que cruzam a articulação atuam ficada em relação a direção, podendo ser poste-
como estabilizadores dinâmicos e são somente rior, anterior ou divergente. A posterior é muito
três: ancôneo, tríceps e o braquial. A luxação do frequente e os ossos do antebraço podem estar
cotovelo é a 2ª mais frequente no adulto e pode medial ou lateralmente em relação ao úmero.
ocorrer em até 25% das fraturas do cotovelo. A anterior é rara e mais comum nos jovens. A
Ela é a classificada como simples quando divergente é extremamente rara e é decorrente
somente ocorrem lesões das partes moles, ou de trauma de alta energia com lesão do membro
quando determinam a existência de pequenos intraósseo, ligamento e capsula da articulação
fragmentos do epicôndilo ou do coronoide que rádio ulnar distal.
não comprometem a estabilidade articular. São Quanto a fisiopatologia da luxação, muitos
consideradas complexas quando ocorrem lesões autores concordam que mesma ocorre com
de partes moles e ósseas associadas, que afetam queda com a mão em extensão e a combinação
a estabilidade como as fraturas epifisárias distais de forças em valgo, supinação e compressão
do úmero e proximais do rádio e ulnar. Ocorrem axial transmitida ao cotovelo.
Supinação
A redução incruenta normalmente não apre- cotovelo em flexão de 30 graus. Uma vez obtida
senta maiores dificuldades e deve ser realizada à correção da translação lateral ou medial, que
de preferência com alguma forma de anestesia. pode ser avaliada pela posição do olecrano, a
A redução da luxação posterior é realizada pressão posterior sobre o mesmo com progres-
com o antebraço e contratração no braço com o siva flexão determina a redução da luxação.
351
A B
CAPÍTULO 23
LUXAÇÕES DO COTOVELO
Figura 23.4 (A, B) – Diferentes manobras para redução de luxação posterior do cotovelo.
Figura 23.5 – Desenho esquemático mostran- Figura 23.6 – Manobra de luxação anterior do cotovelo. Desenho esquemático
do as forças que devem ser exercidas para redu- mostrando as forças que devem ser exercidas para redução da luxação anterior
ção da luxação posterior do cotovelo. do cotovelo: tração axial com o cotovelo em semiflexão e após ação de forças
posteriorizando, o olecrano e anteriorizando o terço distal do úmero.
352
A B
CASOS CLÍNICOS:
CAPÍTULO 23
EC, 61, feminino.
LUXAÇÕES DO COTOVELO
Figura 23.9 – Imagens radiográficas de luxação posterior do cotovelo após queda com a mão espalmada.
Figura 23.10 – Imagens radiográficas pós redução da luxação Figura 23.11 – Imagem radiográfica após 60 dias. Recuperação
posterior do cotovelo imobilizada com tala gessada em 90 graus. funcional total do cotovelo.
Figura 23.13 – Imagem radiográfica pós redução da luxação. Imobilização com gesso áxilo palmar por três semanas.
Figura 23.14 – Imagem clínica do paciente com gesso circular mantendo o cotovelo em 90 graus. Neste caso o gesso não incluiu o
punho o que permite discretos movimentos de prono-supinação.
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Capítulo
24 LUXAÇÕES DO QUADRIL
Carlos Roberto Schwartsmann, Ary da Silva Ungaretti Neto
A
s luxações do quadril são causadas por Steward-Milford), elas se dividem em 2 grandes
trauma de alta energia. Na maioria grupos: Anterior e Posterior. Essa divisão reflete
das vezes decorrente de acidentes com o posicionamento da cabeça femoral em relação
motos ou carros em pacientes jovens. Geralmente ao acetábulo.
são politraumatizados havendo associação Na luxação posterior o membro inferior se
comum com fraturas do acetábulo, fêmur e encontra encurtado e com o quadril em posição
joelho. Como politraumatizados, requerem de flexão, rotação interna e adução (95% dos
avaliação multidisciplinar de acordo com o casos).
protocolo ATLS (Advanced Trauma Life Support). Já na luxação anterior o membro inferior
Apesar de existirem várias classificações também se encontra em flexão, abdução e rotação
descritas (como as de Thompson, Epstein e externa (5% dos casos).
Figura 24.2 – Duas imagens clínicas de pacientes com luxação posterior do quadril. Há encurtamento flexo, adução
e rotação interna do membro inferior.
A B
Figura 24.3 (A, B) – A) Paciente com luxação posterior do quadril. Ferimento na face anterior do joelho.
Posicionamento clássico da luxação. B) Membro inferior alinhado pós redução da luxação.
357
CAPÍTULO 24
A B
LUXAÇÕES DO QUADRIL
C
Figura 24.4 (A, B, C) – A) Imagem radiográfica da hemipelve direita com luxação posterior do quadril. B) Tomografia axial
computadorizada mostrando o acetábulo vazio e a cabeça femoral posteriorizada. C) Reconstrução em 3D da tomografia axial
computadorizada. A esquerda na visão obturatriz. A direita na visão alar.
A B
Figura 24.5 (A, B) – Imagem clássica da luxação anterior do quadril esquerdo. Há encurtamento, flexo, abdução e rotação externa.
358
A B
PARTE IV
TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES
Figura 24.6 (A, B) – A) Imagem radiográfica de luxação anterior do quadril esquerdo. B) Imagem radiográfica após redução.
A B
O exame físico deve ser completo a procura mais saliente na luxação anterior devido a rotação
CAPÍTULO 24
de outras fraturas e alterações neurológicas no externa.
território do nervo ciático. As luxações devem ser tratadas de forma
O registro no prontuário da paresia, emergencial com o objetivo de garantir a anatô-
paralisia, deficit sensitivos ou eventualmente mica vascularização da cabeça femoral o mais
LUXAÇÕES DO QUADRIL
dúvidas da existência de lesão, evita conflitos rápido possível. Deve ser realizada nas 6 primeiras
médico-legais. Não raro a paralisia ciática é horas. É uma urgência! Deve ser reduzida no
identificada após redução ou tratamento cirúr- bloco cirúrgico com o paciente anestesiado e
gico, tornando difícil descartar a possibilidade relaxado. Acreditasse que não se deva realizar
de que a lesão tenha sido iatrogênica, caso não mais que 2 tentativas de redução a fim de evitar
exista boa documentação no ato de admissão maiores danos a cabeça femoral. Se a redução não
do paciente. é obtida de modo incruento a cirurgia aberta se
A radiografia comprova a existência da impõe. Isto não é frequente.
luxação. Na incidência anteroposterior (AP) Após a redução deve ser realizada radiogra-
podemos avaliar alguns parâmetros: se a luxação fias de controle. Algumas vezes pode haver inter-
for anterior, a cabeça femoral parece maior que posição de pequenos fragmentos ósseos na super-
a cabeça contralateral; na luxação posterior ela fície articular. Como em 95% das vezes a luxação é
será menor. posterior, a manobra mais utilizada é a de Bigelow.
Além disso na luxação anterior a cabeça Após anestesia, o paciente é colocado na mesa
femoral, pode apresentar uma localização medial cirúrgica ou no colchonete no chão em decúbito
ou inferior ao acetábulo. Geralmente na posterior dorsal. Se for na mesa cirúrgica o traumatologista
a cabeça se posiciona superiormente. Devido a deverá subir na mesma para realizar a manobra
rotação interna do membro, na luxação posterior e sempre ocorrera risco de queda. O melhor é no
o pequeno trocanter tende a desaparecer e fica chão!
A B
C D
Figura 24.8 (A, B, C, D) - Manobra de Bigelow. A) A tração longitudinal é exercida pelo traumatologista através do ante-
braço na fossa poplítea e o quadril semifletido. É fundamental a fixação da pelve que é realizada pelo assistente. B) A tração é
realizada com flexão do quadril até mais de 90 graus. O membro inferior ainda é mantido em rotação interna. C) Diminuindo
a flexão, mas mantendo a tração, o membro inferior é levado a abdução e rotação externa. Um ressalto pode ser sentido e
ouvido. D) Ainda em tração o membro inferior é colocado em extensão completa.
360
ilíacas. O traumatologista realiza tração longitu- A seguir aplica-se uma força axial com quadril
dinal com o antebraço na fossa poplítea e o quadril em 90 graus na direção posterior e rotação
em 90 graus. A tração é mantida com o membro neutra.
TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES
em adução e rotação interna. Após sentir a desim- Se não ocorrer luxação, significa que o
pacção, se tenta levar a cabeça do fêmur para a quadril é estável. Se a luxação ocorrer nova-
cavidade acetabular por manobra suave princi- mente, significa que o quadril é instável e
palmente de abdução, rotação externa e extensão devemos reavaliar através de radiografias
do quadril. Muitas vezes é sentido um ressalto ou tomografias. Frequentemente a fratura
(“Clunk”). Significa que o quadril está reduzido. do rebordo posterior pode estar associada.
Após a redução o mesmo é testado em Provavelmente a fixação cirúrgica deverá ser
relação a instabilidade. Com o quadril fletido a realizada.
A manobra de Allis é similar a anterior, nadas são executadas forçando mais a rotação
CAPÍTULO 24
mas a tração inicial longitudinal é realizada externa. Após é realizada a extensão do quadril.
com as mãos e com quadril fletido em 45 graus. Os testes de instabilidade também devem ser
Quando se alcança a 90 graus, rotações alter- executadas.
LUXAÇÕES DO QUADRIL
A B
C D
Figura 24.11 (A, B, C, D) – Manobra de Allis. A) Tração longitudinal com o quadril semifletido é realizada pelas mãos do
traumatologista na face posterior e proximal da perna. B) O quadril, sob tração, e fletido até 90 graus. C) Ainda sob tração são
realizados manobras de rotação externa e interna. D) Após redução o membro é colocado em extensão completa.
CASOS CLÍNICOS
TTF, 23, masculino.
A
CAPÍTULO 24
B
LUXAÇÕES DO QUADRIL
Figura 24.15 (B) – Tomografia axial computadorizada da bacia mostrando fragmento não reduzido do rebordo
posterior, mas que não comprometia significativamente a superfície articular.
Figura 24.15 (C, D) – Imagem radiográfica em AP e Perfil, quatro anos e dois meses após. Paciente completamente assintomático.
364
Figura 24.16 – Após a redução o espaço articular deve estar simétrico com o contra lateral. O aumento do espa-
ço articular, como na imagem radiográfica do quadril esquerdo, indica provável interposição de fragmentos ósseo
cartilaginosos ou cartilaginosos. Observar pelas setas o grande aumento do espaço articular.
Figura 24.17 (A) – Imagem radiográfica pós redução de luxação posterior do quadril esquerdo. Observar aumen-
to do espaço articular por fragmento ósseo intra articular.
365
CAPÍTULO 24
LUXAÇÕES DO QUADRIL
Figura 24.17 (B) – Imagem em detalhe onde se observa o aumento do espaço articular por interposição de fragmento ósseo.
Figura 24.17 (C) – Imagem de tomografia axial computadorizada mostrando com nitidez pequeno fragmento interposto na
superfície articular.
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D E
PARTE IV
TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES
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GLOSSÁRIO