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Carlos Roberto Schwartsmann

TRATAMENTO
NÃO CIRÚRGICO
DAS FRATURAS
“Recuperando o prestígio”
Carlos Roberto Schwartsmann

TRATAMENTO
NÃO CIRÚRGICO
DAS FRATURAS
“Recuperando o prestígio”

Porto Alegre
2022
Copyright © 2022, Carlos Roberto Schwartsmann

ORGANIZAÇÃO
Carlos Roberto Schwartsmann

PREPARAÇÃO, PROJETO GRÁFICO,


CAPA E DIAGRAMAÇÃO
Guilherme Bourscheidt

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S399t Schwartsmann, Carlos Roberto.


Tratamento não-cirúrgico das fraturas : “recuperando o prestígio” / Carlos
Roberto Schwartsmann. – Porto Alegre : Evangraf, 2022.
368 p. : il.

Inclui bibliografia e glossário.


ISBN 978-65-5699-195-5

1. Fraturas - Tratamento não-cirúrgico. 2. Ortopedia.


3. Traumatologia. I. Título.

CDU 616-089.23:616-001.5

(Bibliotecária responsável: Sabrina Leal Araujo – CRB 8/10213)


COLABORADORES

Alexandre David Graduação em Medicina na UFRGS. Especialização em Ortopedia e


Traumatologia no HCUSP. Membro SBOt. Ex fellow do Istituto Rizzolli
de Bologna e Royal Orthopaedic Hospital de Birmingham; Presidente
da Associação Brasileira de Oncologia Ortopédica; Professor Assistente
de Ortopedia da UFCSPA; Coordenador do Serviço de Oncologia
Ortopédica da Santa Casa de Porto Alegre.

Almiro Gerson Britto Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Ciência da


Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Residência Médica Ortopedia-
Traumatologia PUC-RS. Membro da Sociedade Brasileira de
Ortopedia e Traumatologia. Fellow Observer Sports Medicine
Cleveland Clinic Foundation Cleveland-Ohio-USA. Shoulder
international visitor Reading Shoulder Unit Reading-UK7.
Membro Fundador/Assistente do Grupo do Ombro da Santa Casa
de Porto Alegre. Ortopedista civil do Exército Brasileiro na área
de Ombro. Traumatologista da Prefeitura de Porto Alegre.

Ary da Silva Ungaretti Neto Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Ciência
da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Membro titular da SBOT.
Membro da Sociedade Brasileira do Quadril. Professor Assistente
do Serviço de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de
Misericórdia de Porto Alegre. Coordenador do Serviço de
Ortopedia e Traumatologia do Hospital Cristo Redentor.

Carlos Castillo Graduado em Medicina pela UFRGS. Preceptor do Serviço de resi-


dência médica de ortopedia e do Serviço de Ombro e Cotovelo do
HSVP/IOT, Passo Fundo, RS. Membro titular da SBOT e da SBCOC.
VI

Carlos Francisco Coelho Koch Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Ciência
da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Membro da Sociedade
Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; Membro da Associação
Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé. Membro da
Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé.
Membro do Serviço de Cirurgia do Pé/Tornozelo da Santa Casa
de Porto Alegre.

Carlos Roberto Schwartsmann Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Ciência da


Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Mestre e Doutor; Especialização
em Ortopedia e Traumatologia no Hospital das Clínicas da
Universidade de São Paulo/SP; Especialização em Medicina do
Trabalho na Faculdade de Medicina de Jundiaí/SP; Mestrado em
Ortopedia e Traumatologia pela Universidade de São Paulo/SP;
Doutorado em Ortopedia e Traumatologia pela Universidade
de São Paulo/SP; Professor Titular da Cadeira de Ortopedia e
Traumatologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de
Porto Alegre/RS; Chefe do Serviço de Ortopedia e Traumatologia
do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto
Alegre/RS; Membro Titular da Academia Rio Grandense de
Medicina; Cidadão Emérito da Cidade de Porto Alegre, Professor
Honorário da Universidade Central do Equador; Irmão da
Irmandade da Santa Casa de Porto Alegre.

Eduardo Ávila Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Ciência da


Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Membro da Sociedade Brasileira
de Ortopedia e Traumatologia; Membro da Associação Brasileira
de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé. Membro do Serviço de
Cirurgia do Pé/Tornozelo da Santa Casa de Porto Alegre

Eduardo Pedrini Cruz Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Ciência


da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Mestre e Doutor. Membro
da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; Membro
da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e
Pé. Membro da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do
Tornozelo e Pé. Membro do Serviço de Cirurgia do Pé/Tornozelo
da Santa Casa de Porto Alegre.
VII

Fabio Yoshihiro Matsumoto Graduado na Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André/


SP. Residência Médica na Disciplina das Doenças do Aparelho
Locomotor da Faculdade de Medicina ABC. Especialização em
Cirurgia de Ombro e Cotovelo na Disciplina das Doenças do
Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina ABC. Membro da
Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Membro da
Sociedade Brasileira de Cirurgia de Ombro e Cotovelo. Preceptor
do Serviço de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de Porto
Alegre. Membro do Grupo de Cirurgia de Ombro e Cotovelo da
Santa Casa de Porto Alegre. Membro da Diretoria da Sociedade
de Ortopedia – RS. Membro do Comitê de Ensino e Treinamento
da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Ombro e Cotovelo.

Felipe Fontes Graduação em Medicina pela Universidade de Uberaba. Assistente


do Serviço de Cirurgia do Ombro e Cotovelo do Hospital São
Vicente de Paulo/IOT, Passo Fundo, RS. Membro titular da SBOT.

Felipe Loss Graduado em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica do


Rio Grande do Sul (PUCRS); Médico Ortopedista e Traumatologista,
Cirurgião da Coluna Vertebral; Residência médica em Ortopedia
e Traumatologia pela Santa Casa de Misericórdia de Porto
Alegre; Residência médica em Cirurgia da Coluna Vertebral pela
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Título de espe-
cialista em Ortopedia e Traumatologia pela Sociedade Brasileira
de Ortopedia e Traumatologia (SBOT); Especialista em Cirurgia
da Coluna Vertebral pela Sociedade Brasileira de Coluna (SBC);
Pós-Graduado em Cirurgia Endoscópica da Coluna Vertebral pela
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP-RP);
Médico Assistente do Serviço de Residência Médica em Ortopedia
e Traumatologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre,
onde atua como preceptor da especialidade de Coluna Vertebral.

Fernando Carlos Mothes Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Ciência


da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Coordenador do Grupo de
Cirurgia de Ombro da Santa Casa de Porto Alegre. Membro da
Sociedade Brasileira de Cirurgia de Ombro e Cotovelo. Membro
da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.
VIII

Francisco Arturo Cejas Rodriguez Graduação em Medicina pela Universidad Naciona de Cordoba,
Argentina. Membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e
Traumatologia; Membro da Associação Brasileira de Medicina e
Cirurgia do Tornozelo e Pé. Membro do Serviço de Cirurgia do
Pé/Tornozelo da Santa Casa de Porto Alegre.

Ivan Fadanelli Simionato Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Ciência


da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Residência Médica na
Especialidade de Ortopedia e Traumatologia pela UFCSPA.
Especialista em Cirurgia de Ombro e Cotovelo pelo Grupo de
Cirurgia do Ombro e Cotovelo da Irmandade Santa Casa de
Misericórdia de Porto Alegre. Membro Titular da Sociedade
Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) Membro Titular
da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo (SBCOC)
Preceptor Assistente do Serviço de Residência de Ortopedia e
Traumatologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Médico Assistente do Grupo de Cirurgia do Ombro da Santa Casa
de Porto Alegre.

Ivo Schmiedt Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Ciência da


Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Professor Assistente do Serviço
de Ortopedia e Traumatologia do Complexo Hospitalar Santa
Casa de Porto Alegre, RS. Membro da Sociedade Brasileira de
Ortopedia e Traumatologia_SBOT. Mestre em Ortopedia.

João Artur Bonadiman Graduação em Medina. Médico Ortopedista e Traumatologista


(RQE 35347), Membro Titular da Sociedade Brasileira de
Ortopedia e Traumatologia (TEOT 16518). Fellowship em Cirurgia
do Ombro e Cotovelo - Hospital São Vicente de Paulo/IOT - Passo
Fundo- RS- Brasil. Médico-Residente (R5) do Serviço de Cirurgia
do Ombro e Cotovelo do HSVP/IOT, Passo Fundo, RS.

João Pedro Farina Brunelli Graduação em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul. Cirurgião da Mão e Microcirurgião da
Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Membro Titular
da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Membro
Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão.
IX

Leandro de Freitas Spinelli Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Mestre e Doutor. Chefe e Preceptor do Grupo do Quadril
do Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Complexo Hospitalar
Santa Casa de Porto Alegre, RS.

Leandro Marcantonio Camargo Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Ciência


da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Membro da Sociedade
Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; Membro da Associação
Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé. Membro da
Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé.
Membro do Serviço de Cirurgia do Pé/Tornozelo da Santa Casa
de Porto Alegre.

Marco Tonding Ferreira Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Ciência da


Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Membro da SBOT e SBCOC,
Preceptor da Residência de Ortopedia e Traumatologia UFCSPA/
Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.

Osvandré Luiz Canfield Lech Graduado em Medicina pela Universidade de Passo Fundo (UPF).
Chefe do Serviço de Cirurgia do Ombro e Cotovelo do HSVP/IOT,
Passo Fundo, RS. Presidente do International Board of Shoulder
and Elbow Surgery (IBSES). Vice-Presidente da Academia Passo-
Fundense de Medicina.

Paulo Arlei Lompa Graduação em Medicina na UFRGS. Chefe do Serviço de Cirurgia


do Pé e Tornozelo da Santa Casa de Porto Alegre. Membro da
Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; Membro da
Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé.
Membro do Serviço de Cirurgia do Pé/Tornozelo da Santa Casa
de Porto Alegre.

Paulo Piluski Graduado em Medicina. Preceptor do Serviço de residência


médica de ortopedia e do Serviço de Ombro e Cotovelo do HSVP/
IOT, Passo Fundo, RS. Membro da CET da Sociedade Brasileira
de Ortopedia e Traumatologia. Membro da CET da Sociedade
Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo.
X

Ricardo Kaempf de Oliveira Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Pelotas


(UFP). Cirurgião da Mão e Microcirurgião da Santa Casa de
Misericórdia de Porto Alegre. Membro Titular da Sociedade
Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Membro Titular da
Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão.

Silvia Guaresi Médica graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do


Sul (UFRGS)

Tomás Araújo Prado Pereira Graduação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul. Membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e
Traumatologia; Membro da Associação Brasileira de Medicina e
Cirurgia do Tornozelo e Pé. Membro da Associação Brasileira de
Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé. Membro do Serviço de
Cirurgia do Pé/Tornozelo da Santa Casa de Porto Alegre.

William Osamu Toda Kisaki Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS). Residente de Ortopedia do Hospital Universitário
Cajuru – Curitiba

Yorito Kisaki Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Ciência


da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Chefe e Preceptor do grupo
de Coluna da Santa Casa de Porto Alegre. Traumatologista
do Hospital Pronto Socorro de Porto Alegre. Doutorado pela
Universidade de Hokkaido/ Japão.
PREFÁCIO

O
tratamento conservador continua sendo gigantes como John Charnley (Inglaterra, The
o método mundial de eleição para a Closed Treatment of Common Fractures) em 1950
grande maioria das fraturas – sejam e Augusto Sarmiento (EUA, Functional Fracture
elas de ossos longos ou curtos – notadamente Bracing) em 1981 – apenas para citar dois – dedi-
as não-articulares, não-deslocadas, em pacientes caram seu tempo e genialidade para escrever
com imaturidade esquelética ou em pacientes livros semelhantes.
portadores de comorbidades e contraindicação Com este livro, Schwartsmann propõem
anestésica. uma reflexão ética e madura sobre a eficácia do
A rápida modificação das técnicas cirúr- tratamento conservador das fraturas em plena
gicas não deve desmerecer os princípios básicos época de sofisticada tecnologia dos implantes
da traumatologia que nos trouxeram até aqui. cirúrgicos cercada por maciço apelo promo-
“PRIMUM NON NOCERE” (Primeiro não faça cional.
nenhum mal) permanece sendo um sólido prin- O “novo normal”, trazido à tona na atual
cípio da arte de curar em traumatologia presente pandemia causada pelo novo coronavírus,
em cada página deste livro. 2019-nCov, demonstra ser necessário nos
O prof. dr. Carlos Roberto Schwartsmann desprendermos de dogmas (desaprender) e
publica este surpreendente livro, resgatando a propormos soluções mais simples e econômicas
impressionante coletânea pessoal de casos tra- (reaprender) também no milenar tema do trata-
tados conservadoramente ao longo dos muitos mento das fraturas.
anos de cátedra orientando gerações de residentes
e acadêmicos na Santa Casa de Misericórdia
de Porto Alegre e na Universidade Federal de Osvandré Lech
Ciências da Saúde de Porto Alegre, instituições Presidente, International Board of Shoulder
and Elbow Surgeons (2016-2022)
onde o aprendizado da traumatologia ocorre de
Presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e
forma atualizada, ética e resolutiva. Traumatologia (2011)
Ele não está sozinho na defesa do tratamento
conservador das fraturas. Nomes igualmente
XII
AGRADECIMENTOS

O
autor expressa sua gratidão e reconheci- A Maria Bernardete Pressoto
mento pela ajuda inestimável recebida na Coordenadora de pesquisa clínica
elaboração e confecção do presente livro. Técnica em radiologia
Secretária do Serviço de Ortopedia do Complexo
A SelvaR Camargo Hospitalar Santa Casa por 32 anos.
In Memoriam. Homenagem póstuma Pelo arquivo, coletânea e reprodução das imagens.
Enfermeiro, mestre experiente e profundo
conhecedor da arte de confeccionar um aparelho A Guilherme Bourscheidt
gessado. Pela formatação e diagramação do presente livro
XIV
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 1

2. ANOTAÇÕES SOBRE O TRATAMENTO CONSERVADOR


DAS FRATURAS AO LONGO DOS SÉCULOS 5

3. TRIBUTO AOS MESTRES DO TRATAMENTO CONSERVADOR 21

4. POR QUE ESTAMOS OPERANDO TANTO! 27


5. PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TRATAMENTO CONSERVADOR 31

6. A DIVINA PLÁSTICA ÓSSEA 47

PARTE I: TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO


DAS FRATURAS DA COLUNA
7. FRATURAS DE COLUNA 59

8. FRATURAS CERVICAIS 67

9. FRATURAS DA COLUNA TORACOLOMBAR 83

PARTE II: TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS


NOS MEMBROS SUPERIORES
10. FRATURAS DA CLAVÍCULA 97

11. FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL 111

12. FRATURAS DA DIÁFISE DO ÚMERO 149

13. FRATURAS DA CABEÇA DO RÁDIO 161


XVI

14. FRATURAS DO RÁDIO DISTAL 167

15. FRATURAS NA MÃO 203

PARTE III: TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA


PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
16. FRATURAS DA PELVE 233

17. FRATURAS DO COLO DO FÊMUR 239

18. FRATURAS DA PATELA 245

19. FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA 249

20. FRATURAS DO TORNOZELO 283

21. FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ 315


PARTE IV: TRATAMENTO DAS
LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES
22. LUXAÇÕES DO OMBRO 341

23. LUXAÇÕES DO COTOVELO 349

24. LUXAÇÕES DO QUADRIL 355

GLOSSÁRIO 367
Capítulo

1 INTRODUÇÃO
Carlos Roberto Schwartsmann

É
possível que alguns traumatologistas Ao toque é possível saber se a fratura está
possuam maior habilidade de mani- reduzida ou não! Entretanto para adquirir este
pulação que outros, mas certamente dom é preciso errar e acertar muitas vezes.
esta capacidade é desenvolvida pelo treina- Um dos enganos mais lamentáveis da trau-
mento e pela repetição. A maior dificuldade matologia atual é quando o traumatologista nem
para realizar uma redução fechada decorre da tenta a redução pois o “tratamento desta fratura
falta de clareza do que é necessário ser feito. é cirúrgico”. É exatamente sob este prisma que
Charnley descreveu este ato como “o olho do se perde o melhor momento para uma redução
cérebro” e quando o traumatologista solicita perfeita. Se o fragmento ósseo foi deslocado de
um raio-X (Rx) para “ver se está reduzido” é sua posição anatômica por uma força externa
provável que está pintura mental ainda não haverá uma nova força que contrariamente exer-
está desenvolvida e ele não sabe perfeitamente cida, recolocará o osso na sua posição original.
o que e como fazer. Hoje não existem mais livros que abordam
Outro aspecto importante é que o trata- o tratamento conservador das fraturas e os
mento conservador está intrinsecamente ligado livros textos descrevem este tipo de tratamento
ao secular gesso (Plaster-of-Paris). Portanto o em espaços muito reduzidos e muitas vezes
aprendizado com a técnica de uso dos aparelhos induzem ao leitor que este tipo de tratamento
gessados só pode ser completo quando há disci- está em desuso. Os capítulos sobre o tratamento
plina, interesse e repetição na sua execução. O cirúrgico são desproporcionalmente maiores e
uso do gesso coloca o traumatologista do lado bem ilustrados. Técnicas cirúrgicas novas são
do artista e do escultor. expostas e descritas como soluções modernas e
Os Ortopedistas mais antigos foram obri- mágicas. Entretanto, na prática diária, menos de
gados a desenvolver a senso de observação, 10% das fraturas são de indicação indiscutivel-
pois não dispunham do Rx ou do intensificador mente cirúrgica e na imensa grande maioria das
de imagem. A sensibilidade está diretamente vezes o tratamento conservador é indicado.
conectada ao cérebro e pode ser desenvolvida O tratamento cirúrgico transforma uma
pela repetida experiência. fratura fechada em exposta. Até o momento
2

da fratura o único agente agressor foi externo, anos apresentavam mobilidade, função e quali-
quando nós iniciamos com o bisturi nós agre- dade de vida igual após 12 meses.
gamos um novo agente traumatizante. Em 2015 Song, utilizando uma metanálise
A distorção do aprendizado atualmente é comparou o tratamento conservador com o
tão grande que Augusto Sarmiento publicou em tratamento cirúrgico de fraturas distais do rádio.
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

editorial do Clinic Orthop em 2003 que ao chamar Concluiu não haver diferenças na avaliação
atenção de um residente “completamente” desin- funcional do punho após longo seguimento.
teressado pela apresentação de “como conso- Ainda em 2015, o estudo PROFHER
lidam as fraturas”, teve que ouvir como resposta (Proximal Fracture of the Humerus Evaluation by
“Doctor Sarmiento, I do not really care to know how Randomization) analisou os tratamentos cirúr-
fractures heal! I simply want know how to fix them”! gicos e não cirúrgicos nas fraturas deslocadas
Nos dias de hoje, os traumatologistas, diante proximais do úmero. Concluiu que apesar do
de uma fratura contemplam e perguntam: aumento significativo de indicações cirúrgicas
“qual o tipo de fixação que vamos realizar?!” para este tipo de fratura, a avaliação pelo Oxford
Esquecemos que, talvez, a melhor dúvida a ser Shouder Score (OSS) não mostrou diferenças
respondida seria: “qual é o melhor tratamento funcionais em 12 e 24 meses. Entretanto o
para este caso?” Certamente o grupo AO influen- número de complicações médicas foi significati-
ciou de maneira ímpar o pêndulo da balança: vamente superior nos casos operados.
operar versus não operar. Em 2019, Launonen analisando 88 pacientes
Müller, Algöwer e Willenegger padroni- com fraturas em 2 partes proximais do úmero
zaram técnicas cirúrgicas e materiais de oste- concluiu que as os resultados funcionais foram
ossíntese sem as quais seriam impossíveis de iguais. Nos casos operados 3 pacientes necessi-
devolver a mobilidade e a função. Como por taram de um segundo ato cirúrgico. Estes traba-
exemplo nos polifraturados e nas fraturas arti- lhos fortalecem o reequilibrar da balança.
culares deslocadas. Este livro tem ainda como finalidade
Os objetivos principais se baseavam na devolver o prestígio entre os traumatologistas
rígida fixação interna, com restauração da ana- do tratamento não cirúrgico. Os embasamentos
tomia, preservação do suprimento sanguíneo e teóricos e descritivos dos capítulos são sucintos
mobilização precoce do membro, das articula- e, ao contrário da maioria dos livros textos,
ções e do paciente. Os bons resultados obtidos são apresentados casos com longo tempo de
nas fraturas graves, indiscutivelmente cirúr- evolução!
gicas, induziu os traumatologistas a operarem As classificações das diversas fraturas,
fraturas que não eram necessariamente cirúr- algumas vezes citadas são propositadamente
gicas. Entretanto recentemente inúmeros traba- omitidas pois a grande maioria é confusa e irre-
lhos vêm questionando o melhor resultado do produtível nas avaliações intra e interobserva-
tratamento cirúrgico. dores.
Em 2010 Grabicki comparou fraturas distais São apresentadas detalhes e dicas do trata-
do rádio operadas e tratadas conservadora- mento conservador. São apresentadas técnicas de
mente. Concluiu que as não operadas resul- confecções dos aparelhos gessados mais usados.
tavam em melhor grau de mobilidade e função. São mostrados bons e maus resultados do
Bartl em 2014 também concluiu que nas tratamento não cirúrgico. São mostradas as
fraturas do rádio distal em pacientes acima de 65 grandes complicações do tratamento cruento bem
3

como e utilização inadequada das osteossíntese minante e se impõe. Não cabe aqui descrever

CAPÍTULO 1
de casos que poderiam não ter sido operados. sobre tratamento conservador! Entretanto são
O termo “macaco com gilete” é utilizado desenvolvidos capítulos especiais nas luxações
para mostrar casos mal operados e com resul- das grandes articulações, pois são frequentes
tados desastrosos. Certamente estes casos e se envolvem em cenários cercados de gestos,

INTRODUÇÃO
teriam tido uma evolução melhor se não trações e manobras.
tivessem sido operados. Portanto é muito peri- O livro é recheado de imagens radiográficas
goso ser submetido a um tratamento cirúrgico e clínicas. Muitas vezes é necessário considerar
com traumatologista que não sabe reconhecer que a qualidade das radiografias poderiam ser
as indicações e tampouco domina os princípios melhores, mas muitas das mesmas foram obtidas
básicos que norteiam a osteossíntese. O risco há mais de 30 anos.
de promover algo perigoso é igual ao de um Provavelmente o tratamento conservador
“macaco com gilete”. recuperará muito do prestígio perdido desde o
Outro aspecto que deve ser considerado, é final do século passado.
que obviamente, só são desenvolvidos os capí- Até o início da cirurgia o único agente agressor
tulos das fraturas que podem ser tratadas conser- foi o trauma! Até que ponto uma nova agressão é
vadoramente. Por exemplo nas fraturas diafisá- justificável?! Na dúvida entre o tratamento cirúr-
rias do fêmur, nas fraturas articulares do joelho gico e o não cirúrgico é melhor preferir o segundo
e do cotovelo, o tratamento cirúrgico é predo- pois se evita uma segunda agressão.

Bibliografia Imprescindível para


o aprendizado de tratamento
conservador
1. APLEY, A.G. A System of orthopaedics and frac- 8. DE PALMA, A.F. The management of fractures and
tures. 3rd ed. London: Butterworth, 1968. dislocations. Philadelphia, 1963.
2. BARTL, C; et al. The Treatment of Displaced 9. GRABICKI, M; GRZEGORZEWSKI, A.
Intra-articular Distal Radius Fractures in Evaluation of distal radus fracture treatment:
Elderly Patients. Dtsch Arztebl int, v. 111, n. 46, non-operative with percutaneous pinning.
p.779-787, 14 nov. 2014. Chir Narzadow Ruchu Ortop. Polônia, v. 75, n. 4,
3. BLOUT, W.P. Fractures in children. Baltimore: p. 205-210, jul./ago. 2010.
Wiliams and Wilkins, 1954. 10. LAUNONEN, A.P; et al. Operative versus
4. BÖHLER, L. The treatment of fractures. Vienna: non-operative treatment for 2 part proximal
Maidrich, 1939. humerus fracture: A multicenter randomized
5. CHARNLEY, J. The closed treatment of common controlled trial. Plos Med, v. 16, n. 7, 18 jul. 2019.
fractures. 4th ed. Edinburgh: Livingstone, 1967. 11. MCRAE, R. Pocket book of orthopaedics and frac-
6. COMPERE, E.L; Banks S.W; COMPERE L.C. tures. Edinburgh: Churchill Livingstone, 1999.
Pictorial handbook of fracture treatment. Year 12. MÜLLER, M.E; ALLGÖWER, M;
Book. Chicago: Medical Publisher. Inc., 1958. WILLENEGGER, H. Technique of internal fixa-
7. CRENSHAW, A.H. Campbell’s operative ortho- tion of fractures. New York: Springer-Verlag
paedics: the С V, ST Louis, Missouri: Mosby, Berlin Heidelberg. 1965.
Company, 1980.
4

13. NICOLL, E.A. Fractures of The Tibial Shaft. A


survey of 705 cases. J Bone Joint Surg Br, v. 46,
p. 373–387, ago. 1964.
14. RANGAN, A; et al. Surgical vs Nonsurgical
Treatment of Adults With Displaced Fractures
of The Proximal Humerus: The PROFHER
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

randomized clinical trial. JAMA, v. 313, n. 10,


p. 1037-1047, 10 mar. 2015.
15. ROCKWOOD JR, C.A; GREEN, D.P. Fractures
in adults. 2ª ed. JP Lippincott, 1984.
16. SARMIENTO, A; LATTA, L.L. Closed functional
treatment of fractures. Berlim: Springer-Verlag,
1981.
17. SCHWARTSMANN, C.R; LECH, O; TELÖKEN,
M.A. Fraturas princípios e prática. Porto Alegre:
Artmed Editora, 2003.
18. SONG, J; YU, A; LI, Z.H. Comparison of
Conservative and Operative Treatment for
Distal Radius Fracture. A meta-analysis if
randomized controlled trials. Int J Clin Exp
Med, v. 8, n. 10, p. 17023-17035, 17 out. 2015.
19. WATSON-JONES, R. Fractures and joint injuries.
Edinburgh: Churchill Livingstone, 1976.
Capítulo ANOTAÇÕES SOBRE O

2
TRATAMENTO CONSERVADOR
DAS FRATURAS AO LONGO
DOS SÉCULOS
Oswandre Canfield Lech, Felipe Fontes

“Para conhecer uma ciência é


preciso conhecer a sua história”
Augusto Comte

A traumatologia no despertar
dos tempos e sua influência atual
EGITO ANTIGO
O Egito antigo é um ponto comum do início da
descrição de diversas especialidades na medi-
cina e com a traumatologia não é diferente. Esta
história se mistura com a da humanidade, onde
se encontram relatos de importantes civiliza-
ções que utilizavam técnicas ortopédicas consa-
gradas até os dias de hoje. Um dos primeiros
registros ocorre em torno de 2.000 a.C., onde
se identifica uma muleta na tumba de Hirkouf
(figura 2.1).
Homero em 800 a.C. descreve na Odisséia:
“No Egito, os homens são mais habilidosos em
medicina do que em qualquer espécie humana”.
Hipócrates, Herófilo, Erasistratus e mais tarde
Galeno estudaram os achados do templo de
Amenhotep, e reconheceram a contribuição da
medicina egípcia para a medicina grega.
Corpos mumificados, restos esqueléticos
e pinturas de parede ajudam a identificar
algumas práticas ortopédicas no Egito antigo.
Existem exemplos de fraturas dos ossos longos
tratadas com talas confeccionadas com pedaços Figura 2.1 – Ancient Egyptian stele of Ruma: Porteiro da 19a
dinastia usando muleta devido a pé equino e perna encurtada.
de casca ou madeira acolchoada com linho (Fonte: hekint.org/2018/01/02/polio-conundrums/)
6

que consolidaram em perfeito alinhamento Provavelmente o documento médico mais


(figura 2.2). antigo já escrito é o Papiro cirúrgico de Edwin
Smith (figura 2.4). O papiro é uma cópia de um
original que data do século 30 a.C., época da
construção das pirâmides. Nesse papiro estão
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

relatados quarenta e oito casos. As descri-


ções dos pacientes e seus tratamentos foram
detalhadas sistematicamente, começando
com feridas do couro cabeludo, fraturas da
coluna cervical resultando em tetraplegia,
fraturas da clavícula e extremidades. O autor
do papiro, conhecido como Imhotep, instrui o
médico assistente a ouvir a queixa do paciente
(história clínica) e depois examiná-lo com os
olhos (inspeção) e com as mãos (exame físico).
Essa abordagem formal, estruturada e lógica
se mantém como a base propedêutica atual.
Após encontrar o diagnóstico, ele classifica
Figura 2.2 – Ossos fraturados e consolidados em perfeito ali-
as doenças em diferentes níveis de complexi-
nhamento, encontrados em tumbas egípcias. dade: a) doença que posso tratar; b) doença
que posso aliviar; c) doença que não posso
A redução de uma luxação de ombro é tratar. Dois exemplos do icônico papiro de
retratada no afresco da tumba de Ipuy, o famoso Edwin Smith:
escultor de Ramsés II, cerca de 1.000 anos a.C.;
observa-se uma pessoa apoiando e tracionando Quadriplegia traumática: “Se você examinar
o ombro de um trabalhador caído, semelhante um homem com luxação de uma vértebra do
ao método desenvolvido por Kocher, séculos pescoço, deverá encontrá-lo inconsciente dos
mais tarde (figura 2.3). dois braços e das duas pernas, enquanto o falo

Figura 2.3 – Tumba de Ypui,


o escultor de Ramsés II. (Fonte:
SICOT e-Newsletter No. 64 – Jan
2014 – History of orthopaedics)
7

é erguido e a urina cai sem que ele perceba. O esticar os dois ombros para afastar a clavícula

CAPÍTULO 2
deslocamento de uma vértebra do pescoço é até ela voltar para o seu lugar”.
uma doença pela qual nada pode ser feito”.
Pesquisas arqueológicas encontraram mú-
Fratura de clavícula: “Se você tratar um homem mias que portavam talas feitas de bambu e

DAS FRATURAS AO LONGO DOS SÉCULOS


ANOTAÇÕES SOBRE O TRATAMENTO CONSERVADOR
com fratura na clavícula deve encontrar o osso tecidos para a imobilização de fraturas. Registros
encurtado e desalinhado, e essa é uma doença da época identificam que a medicina já era prati-
que tratarei. Coloque-o deitado de costas com cada com instrumentais cirúrgicos específicos
algo dobrado entre as omoplatas; você deve (figura 2.5).

Figura 2.4 – Papiro de Edwin Smith é


considerado o texto médico mais antigo
já encontrado e data de aproximadamen-
te 3.000 AC. (Fonte: aventurasnahistoria.
uol.com.br/noticias/reportagem/tratado-
-medico-do-antigo-egito-revela-conheci-
mentos-de-3600-anos-atras)

Figura 2.5 – Templo de Kom


Ombo: Instrumentos cirúrgicos
representados no templo de Kom
Ombo. (Fonte: upload.wikime-
dia.org/wikipedia)
8

A INFLUÊNCIA HIPOCRÁTICA velo, além de correção de pé torto congênito,


Centenas de anos mais tarde, em torno de 430 infecções após fraturas, dentre outros temas.
a 330 a.C na Grécia antiga, Hipócrates, conside- O Corpus Hippocraticum serviu quer como
rado o “Pai da Medicina” para o mundo ocidental, modelo de atuação e conduta médicas, quer
descreveu vários métodos de tratamento de como exemplo dos erros que deviam ser corri-
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

fraturas, luxações e feridas. O texto é conhecido gidos pelas descobertas e novas concepções, e foi
como Corpus Hippocraticum (figura 2.6). o ponto inicial para que a arte de curar fosse vista
Os textos sobre fraturas e articulações da sob o ponto de vista científico. Estudiosos como
Escola de Hipócrates contêm excelentes discus- Homero, Herofilo, Hegetor e os anatomistas de
sões sobre os aspectos clínicos e tratamentos. Alexandria podem ser considerados como os
A conhecida “manobra de Hipócrates” para primeiros a usar aquela abordagem científica e
redução de luxação do ombro, onde o executor documentar o seu desenvolvimento em detalhes
traciona longitudinalmente o braço enquanto (figura2.7).
faz um contra apoio com o seu pé na axila do
paciente, é utilizada até os dias de hoje.
O tratado de Hipócrates possui seções que
descrevem redução para luxação das articula-
ções acromioclavicular, joelho, quadril e coto-

Figura 2.7 – Herófilo dissecou corpos humanos, descrevendo


esquemas de distribuição, formato e tamanho de órgãos, sendo
pioneiro nos estudos da Anatomia. (Fonte: www.timetoast.com/
timelines/la-anatomia)

GREGOS E ROMANOS
O grego Galeno (129-199 d.C.), de Pérgamo,
era cirurgião de gladiadores antes de se mudar
para Roma, já que os romanos haviam conquis-
tado a Grécia. Lá, conseguiu detalhar a anatomia
humana de ossos, músculos, nervos e suas fina-
lidades, além de descrever sobre a regeneração
Figura 2.6 - Edição veneziana de 1575 do Corpus Hippocraticum. dos ossos e deformidades. Além disso, contri-
(Fonte: academiafmb.com.br/2021/08/22/causalidade-da-filo-
sofia-a-medicina-parte-2) buiu significativamente para o entendimento
9

das contraturas musculares e conexões nervosas tecido e uma solução composta de farinha, ovos,

CAPÍTULO 2
nos músculos, sendo por isso considerado o sangue de cavalo, entre outras, na tentativa
pai da medicina do esporte. “O princípio do de dar rigidez aos enfaixamentos. A atadura
movimento vem do cérebro e viaja através dos gessada (Plaster of Paris) como conhecemos hoje
nervos”, dizia ele. somente começaria a surgir no início dos anos

DAS FRATURAS AO LONGO DOS SÉCULOS


ANOTAÇÕES SOBRE O TRATAMENTO CONSERVADOR
É atribuído a Galeno a origem de termos 1800.
como kyphosis, lordosis e scoliosis para as defor- Paul de Aegina (625-690 d.C.) trabalhou em
midades descritas no texto de Hipócrates. Data Alexandria e foi o escritor do O epítome de medi-
da época de Galeno, no apogeu do império camento, onde descreve fraturas e luxações no
Romano, o uso do “gesso”, com o uso de moldes sexto livro. Esta e outras obras desapareceram
grosseiros feitos com tábuas enfaixadas com durante a destruição da biblioteca de Alexandria

Figura 2.8 – Anatomical figure; c. 1400: Ilustração de Galeno para o estudo da regenera-
ção óssea e condução nervosa. (Fonte: wellcomecollection.org/works)
10

pelos árabes. Após a queda do império romano, RENASCIMENTO E O DESPERTAR DO


os árabes ganham destaque no campo da trauma- PENSAMENTO CIENTÍFICO
tologia. Feito com água e sulfato de cálcio desi- No século XII, a Europa despertou de um
dratado, o famoso “Plaster of Paris”, precursor período cultural obscuro, voltando a construir
das atuais imobilizações gessadas, foi descrito universidades e hospitais. Guy de Chauliac
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

alguns anos após o incêndio da biblioteca de (1300-1368), professor da Universidade de


Alexandria pelo persa Abu Mansur Muwaffak Montpelier, escreveu o livro La grande chirurgie
na imobilização de fraturas e outros traumas sobre o uso de pesos e roldanas no tratamento
ósseos dos membros. das fraturas do fêmur.

Figura 2.9 – La Grande Chirurgie Gui de Chauliac: Chauliac tratando ferimentos na perna do Papa Clemente VI com bandagens em
1348. (Fonte: www.wikiwand.com/fr/Guy_de_Chauliac)

Durante os séculos XV e XVI, houve uma e seu Quaderni dan’Anatomie (figura 2.10) ficou
completa revisão no estudo da anatomia, perdido por 200 anos, sendo hoje um patrimônio
através de dissecções meticulosas do corpo da humanidade.
humano. Leonardo da Vinci (1452-1519) era Grandes anatomistas contribuíram ao
um jovem estudante e mais tarde instrutor de avanço da ciência, entre eles Vesalius, Falopius,
anatomia, que fez muitas observações originais Servetus e Eustachio. O trabalho de Vesalius, De
sobre origem, inserções e funções dos músculos. Humani Corporis Fabrica (figura 2.11), publicado
Ele trabalhou assiduamente por muitos anos em 1543, é um marco na história da Medicina;
com o seu professor, Marc Antonio della Torre os volumes contêm informações sobre ossos,
11

ligamentos e músculos, em perfeitas descrições exigem melhoria do status quo. As guerras foram

CAPÍTULO 2
anatômicas que destronam os 3.000 anos de o gatilho para o desenvolvimento tecnológico na
supremacia das teorias humorais de Hipócrates traumatologia, além de avançar com tratamentos
que foram reescritas por Galeno. conservadores como reduções, imobilizações,
trações e cuidados com ferimentos. Os exem-

DAS FRATURAS AO LONGO DOS SÉCULOS


ANOTAÇÕES SOBRE O TRATAMENTO CONSERVADOR
AS GUERRAS E OS RÁPIDOS AVANÇOS plos podem ser obtidos em todas as guerras já
DA TRAUMATOLOGIA descritas na literatura. Os novos tratamentos
Se as guerras deixam um rastro de des- ajudavam soldados a voltarem aos campos de
truição física, econômica e emocional, elas batalha mais rapidamente e depois eram incor-
também determinam rápidos avanços em todas porados ao tratamento da população civil.
as áreas da atividade humana. Sabe-se que todos Após a guerra civil americana (1861 – 1865)
os processos humanos se tornam mais rápidos a ortopedia e traumatologia passou a ser vista
durante as guerras, as revoluções (revolução como especialidade na América do Norte. A
francesa, movimento hippie) e as pandemias necessidade acabou, mais uma vez, estimulando
(peste negra, gripe espanhola e o atual novo o desenvolvimento de novas técnicas: o trans-
Coronavírus). Por incrível que pareça, a trau- porte de feridos por ambulâncias (carroças de
matologia evoluiu “de guerra em guerra”, já tração animal), o uso do clorofórmio como anes-
que a quantidade impressionante de feridos tésico (o primórdio da anestesia geral inalatória),
graves que necessitam instantâneo tratamento, a amputação imediata de membros para evitar

Figura 2.10 – Quaderni dan’Anatomie, de Leonardo da Vinci des-


creve o homem vitruviano. (Retirado de: www.researchgate.net) Figura 2.11 – De Humani Corporis Fabrica (1543), do belga
Andreas Vesalius. (Retirado de: pt.wikipedia.org/wiki)
12

infecção e gangrena e diminuindo a mortalidade, deriva de Orthos = “reto, direito” e paedia, paidós
a reconstrução facial, dentre outros. = “crianças”, ficou conhecido como o “Pai da
Na primeira metade do século XX ocorreram Ortopedia” tanto pelo desenho da árvore sendo
as grandes guerras mundiais, e com elas a trauma- alinhada quanto pelo termo criado. O livro ensi-
tologia teve outro grande desenvolvimento. Na nava os próprios familiares a tratar suas crianças
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

primeira guerra mundial o uso da tala de Thomas, através de medidas simples.


o controle das hemorragias, a rápida ajuda pela 1779 – Percival Pott desenvolveu a habili-
evacuação com ambulâncias agora motorizadas dade de escrever textos médicos enquanto se
e outros avanços reduziram as mortes, o número recuperava de fratura na tíbia. Por sua decisão,
de amputações e o longo tempo de recuperação os textos eram vendidos por preço mínimo, ao
dos traumas de maneira significativa. contrário do praticado na época; com edições

Figura 2.12 – Utilização de tipoias para imobilização dos sol-


dados do front canadense na primeira guerra mundial. (Retirado
de: www.preparaenem.com/historia/tregua-natal-na-primeira-
-guerra)

Na segunda guerra mundial, além da expe-


riência da primeira, os médicos já contavam com
a penicilina introduzida pelo inglês Alexander
Flemming em 1928, que reduziu drasticamente a
mortalidade por infecções. Foi também o marco
para aprimoramento de técnicas cirúrgicas,
como a haste intramedular do alemão Küntcher,
os primeiros modelos de próteses e o desenvol-
vimento das órteses.

LINHA DO TEMPO DE ALGUNS ÍCONES


DA TRAUMATOLOGIA
1741 – Nicolas Andry de Boisregard (1658-
1742), médico francês, publicou em 1741 o
Figura 2.13 – A “Árvore de Andry”, o Consagrado símbolo
livro A ortopedia ou a arte de prevenir e corrigir da Ortopedia criado por Nicolas Andry de Boisregard em 1741.
em crianças, deformidades do Corpo. Orthopédie (Retirado de: fr.wikipedia.org/wiki/Orthopédie)
13

limitadas, os livros e manuscritos do século traduzir do alemão Fritze o clássico Compêndio das

CAPÍTULO 2
XVlll eram muito caros, quase inacessíveis. Ele enfermidades venéreas. É de Monteggia a primeira
escreveu sobre trauma craniano (Pott`s Puffy descrição da poliomielite.
Tumor), sobre fraturas e luxações (Pott`s fracture, 1819 – Guillaume Dupuytren – Associe
a fratura-luxação do tornozelo). A sua descrição inúmeras descrições feitas há duzentos anos – a

DAS FRATURAS AO LONGO DOS SÉCULOS


ANOTAÇÕES SOBRE O TRATAMENTO CONSERVADOR
mais notável – o Mal de Pott – foi o reconheci- férula (1805), a formação de calo ósseo (1808), a
mento da paraplegia por fratura da coluna de exostose subungueal do hallux (1817), a fratura
etiologia tuberculosa na monografia de curioso do perônio distal com lesão dos ligamentos
e extenso título: Remarks on that kind of palsy of the tíbiofibular e deltoideo (1819), a luxação congê-
lower limbs, which is frequently found to accompany nita de quadril (1826), a contratura da fáscia
a curvature of the spine and is supposed to be caused palmar (1833, embora relatos apontam que a
by it, together with its method of cure. Foi também descrição original havia sido feita por Henry
o primeiro a descrever a relação de câncer com Cline em 1808 e Astley Cooper em 1822) – com
a atividade de limpador de chaminés. Pott é o as qualidades de versátil palestrante, compe-
personagem mais importante da cirurgia inglesa tente escritor, exímio anatomista, patologista e
antes de James Hunter, pai da patologia cirúr- cirurgião, e notável político. A reunião destas
gica, e de Joseph Lister, o introdutor da antis- qualidades – todas superlativas – leva ao ícone
sepsia. Recebeu muitas honrarias médicas na Guillaume Dupuytren. Nascido em 1777 em
Inglaterra, Escócia e Irlanda. Faleceu em 1788 de meio à pobreza, acompanhou todas as trans-
pneumonia contraída durante visita domiciliar formações sociais durante a revolução fran-
a um paciente em pleno inverno. Suas últimas cesa (1789-1799) e chegou até a nobreza, com
palavras foram “My lamp is almost extinguished; I o título de barão concedido por Luiz XVlll, o
hope it has burnt for the benefit of others.” rei de França e Navarra, na fase pós-Napoleão
1783 – Claude Pouteau, cirurgião da Hotel- Bonaparte.
Dieu de Lyon, França, com interesse variado em A sua personalidade era fria, rude e ambi-
reumatismo, câncer e antissepsia (escreveu quase ciosa e a relação interpessoal era difícil pela aura
um século antes de Semmelweiss que a infecção de onipotência, mantendo desavenças contínuas
hospitalar se dava pelo contato das mãos e não com todos ao seu redor, incluindo seus pacientes,
pelo ar) descreve a fratura distal do punho que os tratava de forma monossilábica. Preferia
com deslocamento dorsal. Em 1813, o irlandês ser reconhecido pelas qualidades científicas do
Abraham Colles, discípulo de Astley Cooper, que pela empatia. Assim, obteve denominações
que o auxiliou nas dissecções e monografia sobre como: “o melhor dos cirurgiões e o pior dos
hérnia no Guy`s Hospital em Londres, descreve homens”, “o Napoleão da cirurgia”, “o brigador
a mesma lesão. Desde então, convencionou-se do Hôtel Dieu”.
chamá-la de lesão de “Pouteau-Colles.” Dupuytren iniciava a sua jornada às 4h da
1796 – O italiano Giovanni Batista Monteggia, manhã e trabalhava obsessivamente até a noite;
jovem professor de anatomia e cirurgia em Pádua, daí, relaxava lendo Corneille, Montesquieu e
publica em latim o clássico Observações anatomo- Diderot. Aos 23 anos já era reconhecido como um
-cirúrgicas em oito volumes, onde descreve a grande anatomista. Aos 27, foi admitido como
fratura do terço proximal da ulna com luxação cirurgião no Hôtel Dieu, o melhor hospital da
anterior da cabeça do rádio. Infectado por sífilis França, localizado às margens do rio Sena, junto
durante dissecção cirúrgica, ele se dedica a à igreja de Notre Dame e perto da Sorbonne. Aos
14

36, assumiu o cargo de cirurgião-chefe, onde 1852 – A atadura gessada foi um dos grandes
atenderia dez mil pacientes por ano e celebraria avanços da traumatologia, pois permitia mobili-
seu perfeccionismo e intransigência com a clás- dade ao paciente, ao invés do repouso absoluto
sica expressão “se errei, errei menos que meus em férulas de madeira ou metálicas deitado num
colegas.” leito hospitalar ou em casa. Confeccionada com
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

Fundou a Société Médicale d`Émulation e ataduras de pano e gesso calcinado obtidas da


a Sociedade Anatômica da França, foi membro mineração de calcário, é conhecida como “plaster
da Academia Real de Medicina e teve seus of Paris” e a data exata do início de utilização
escritos traduzidos para o inglês em Londres, se perde no tempo; existe relato do seu uso no
Edimburgo e Nova Iorque, algo incomum numa Oriente Médio ainda no século Vlll d.C.. Quatro
época em que estas duas línguas disputavam a cirurgiões militares foram os responsáveis pela
supremacia mundial na medicina. Faleceu aos 58 popularização do método no ocidente: o francês
anos, em 07 de fevereiro de 1835, murmurando Dominique Jean Larrey, do exército de Napoleão
com ternura o nome da filha… Um contraponto (circa de 1800-1820), o belga Louis Seutin (circa
da maneira como se relacionou com as pessoas de 1830-1840), o holandês Antonius Mathysen
ao longo da vida. (1852) e o russo Nicolai Pirogov durante a guerra
1835 – Alfred-Armand-Louis-Marie Velpeau da Criméia (1853-1856).
(1795 – 1867). Professor de cirurgia da Universidade 1857 – Fratura do fêmur é tratada por tração
Parisiense. Cirurgião habilidoso e anatomista, percutânea por Buck. Em 1875 é introduzida a
escreveu mais de 340 títulos em cirurgia, embrio- férula de Thomas. Em 1880, a tração de Bryant e
logia, anatomia e obstetrícia. O seu modelo de em 1924 o modelo de Hamilton Russell.
bandagem, usada inicialmente para flebite de 1870 – Emil Theodor Kocher (1841-1917),
membros inferiores e posteriormente adaptada suíço e vencedor do Prêmio Nobel de Fisiologia
para imobilizar fraturas proximais do úmero, ou Medicina de 1909 por seu trabalho na fisio-
continua sendo utilizada até os dias de hoje. logia, patologia e cirurgia de tireoide. Realizou

Figura 2.14 – Alfred-Armand-Louis-Marie Velpeau (1795 – 1867) e a adaptação tropical da sua bandagem
original, o “Velpeau de verão” (Retirado de: pt.wikipedia.org)
15

mais de 5.000 tireoidectomias na sua vida profis- no conceito de John Hunter, de repouso abso-

CAPÍTULO 2
sional. Juntamente com Lister e Hallsted, Kocher luto como parte da cura. Filho de “arrumador
introduziu a técnica asséptica nas operações de ossos”, nunca participou de vida acadêmica;
cirúrgicas, reduzindo as taxas de mortalidade a sua imagem é facilmente reconhecida pelo uso
de 14% em 1884 para 0,18% em 1898. Foi o intro- de boné caído para encobrir o olho esquerdo,

DAS FRATURAS AO LONGO DOS SÉCULOS


ANOTAÇÕES SOBRE O TRATAMENTO CONSERVADOR
dutor da Manobra que leva o seu nome para que perdeu ao ser atingindo por pedra ainda na
redução incruenta do ombro com movimentos infância, e pelo cigarro fumegando no canto da
de elevação e rotação externa. boca. Deu grande ênfase no tratamento conser-
1875 – O inglês Hugh Owen Thomas (1834- vador das fraturas, desenvolvendo modelos
1891), cirurgião galês considerado o Pai da próprios de talas. A famosa tala de Thomas
Ortopedia Inglesa e membro do Royal College foi amplamente utilizada no final da Segunda
of Surgeons, descreve sua experiência com a Guerra Mundial. Descreveu também uma
fabricação de órteses bem acolchoadas no livro espécie de “chave de torcer”, a Thomas Wrench,
Diseases of the hip, knee, and ankle joints, baseados para alinhar pés tortos congênitos.

Figura 2.15 – Hugh Owen Thomas (1834-1891) e a tala de Thomas. (Retirado de: www.cureus.com/
articles/40173-ten-inventions-that-shaped-modern-orthopedics e www.orthopedicsri.com)
16

1895 – Wilhelm Roentgen, um metódico introduziu o uso de fios metálicos finos inseridos
professor de física teórica da Universidade proximal e distalmente ao foco de fratura, daí
de Wurzburg, na Bavária, Alemanha, obtém fixados a um aparato de distração, com o objetivo
a primeira radiografia após exposição de seis de manter a fratura reduzida até a consolidação.
minutos aos raios “X” emitidos pelo tubo de Em 1911, o suíço de Berna Fritz Steinmann amplia
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

Crookes na mão da sua esposa Bertha. A sua o conceito, produzindo fios mais grossos para
primeira manifestação foi: “que tipo de raio ou transfixar o calcâneo, tubérculo tibial ou região
onda está produzindo o que estou vendo? Estou supracondílea do fêmur para melhor tração do
cometendo algum erro ou estou ficando louco?” membro inferior fraturado.
Seis anos mais tarde, ele é o primeiro cientista 1929 – Vittorio Putti (1880-1940) é o principal
a receber um Prêmio Nobel de Física, deixando articulador junto com Fred Albee (EUA), Patrick
o dinheiro do prêmio para a Universidade Haglund (Suécia), Hans Spitzy (Áustria), Robert
onde trabalhava. Mesmo não sendo médico, Jones e Harry Platt (Inglaterra), Riccardo Galeazzi
é reconhecido como o “Pai da Radiologia”, (Itália), Louis Ombrédanne (França), dentre
área de extrema importância para a ortopedia outros, para a fundação da Société Internationale
e traumatologia. A anestesia (1846), a cirurgia de Chirurgie Orthopédique et de Traumatologie
asséptica (1865) e a radiologia (1895), carinho- (SICOT) no Hotel Crillon, em Paris, a primeira
samente chamados de “The Three Amigos” pelo instituição ortopédica internacional. Robert
historiador Mercer Rang, são responsáveis pelo
rápido desenvolvimento da cirurgia e, logo a
seguir, das especialidades cirúrgicas.
1902 – Sir Robert Jones (1857-1933) foi cirur-
gião geral e ortopedista Galês. Com grande impor-
tância para o desenvolvimento da ortopedia no
mundo como uma especialidade distinta da
cirurgia no início do século XX. Ele estabeleceu o
Hospital Ortopédico Shropshire, hoje conhecido
como Hospital Ortopédico Robert Jones e Agnes
Hunt. Dedicou a sua vida a operar crianças com
deformidades congênitas nos membros infe-
riores. Jones operava por dez horas seguidas uma
lista de mais de 20 crianças todos os sábados. Foi
orientador de Sir Reginald Watson-Jones (sem
relação de parentesco) em Liverpool. Em 1902
descreveu a fratura da base do quinto metatarso,
desde então conhecida como fratura de Jones.
Também desenvolveu o curativo compressivo e
acolchoado para joelho usado em contusões ou
pós-operatórios, o curativo de Jones.
1909 – Com o advento da radiologia, a redu-
ção das fraturas passou a ter maior importância. Figura 2.16 – Sir Robert Jones (1857-1933). (Retirado de:
Então, Martin Kirschner, alemão de Heidelberg, en.wikipedia.org/wiki)
17

Jones foi o primeiro presidente, de uma lista de trante inaugural da SBOT em 1935. Ele utilizou

CAPÍTULO 2
notáveis que inclui Platt, Ombrédanne, Friberg, o seu conhecimento para desenvolver diversos
Merle d`Aubigné, Maurice Müller. tratamentos para anquiloses, luxação congê-
O italiano Putti em agosto de 1903 demons- nita do quadril, deformidades pós-traumáticas,
trava interesse em anatomia patológica e cirurgia, encurtamento de membros, paralisias e tumores

DAS FRATURAS AO LONGO DOS SÉCULOS


ANOTAÇÕES SOBRE O TRATAMENTO CONSERVADOR
enquanto realizava estudos no laboratório do ósseos. Uma de suas mais notáveis contribuições
Instituto Rizzoli, quando aceitou uma proposta utilizada até os dias de hoje é o colete de Putti,
do então diretor, professor Alessandro Codivilla, utilizado para tratamento de fraturas estáveis das
para ser seu assistente. Desde então seu interesse vértebras toraco-lombares.
pela Ortopedia e Traumatologia cresceu e ganhou 1929 – Lorenz Böhler (1885 – 1973) é consi-
destaque ainda maior após um período de visitas derado um dos criadores da moderna cirurgia
em clínicas na Alemanha, Áustria e Hungria. A do trauma. Em 1925 ele influenciou para a cons-
seguir, Putti foi nomeado vice-diretor do insti- trução de um hospital de emergência de alta
tuto de Rizzoli em 1909, tornou-se professor de eficiência (especializado, padronizado, huma-
ortopedia em 1910, assumiu a direção do insti- nizado, todas as informações disponíveis para
tuto em 1915, e foi nomeado professor titular da tratamento e estatística, pacientes divididos
Universidade de Bolonha em 1919, uma meteó- por tipo de lesão, mobilidade passiva e ativa
rica ascensão institucional. A ortopedia brasileira imediata) em Viena, mais tarde denominado
é grata a Vittorio Putti por ter sido ele o pales- Lorenz-Böhler-Unfallkrankenhaus.

Figura 2.17 – Vittorio Putti (1880-1940) e o icônico Colete de Putti. (Retirado de: www.bibliote-
casalaborsa.it)
18

Em 1929 publica com verba pessoal o clássico até seu falecimento. Hoje o editor é o prof. Fares
Tratamento de fraturas, graças ao apoio do vendedor Haddad. O edifício-sede do BJJ localizado no
de livros Wilhelm Maudrich, que mais tarde número 22 da Buckingham Street é denominado
inicia a editora médica Verlag Maudrich, depois de “Sir Reginald Watson-Jones”.
Springer-Verlag, hoje Springer. O best-seller do 1943 – O catalão Josep Trueta i Raspall
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

trauma da época se tornaria também um dos mais publica o clássico The principles and practice of
traduzidos. Os seus princípios de tratamento: a) war surgery – with special reference to the biological
salve a vida; b) salve a parte do corpo (membro method of treatment of wounds and fractures, onde
superior ou inferior); c) salve a sua função. Para descreve o método aplicado durante o primeiro
isto é necessário: a) diagnóstico precoce; b) trata- ataque aéreo sobre civis no mundo durante a
mento indolor; c) imobilizar a parte lesada; d) Guerra Civil Espanhola. O método lhe deu noto-
mobilidade ativa de todas as demais partes sem riedade mundial e consistia em 5 etapas: cirurgia
causar dor na parte lesada. Böhler publicou mais imediata, limpeza ampla, excisão de tecidos
de 400 artigos científicos e foi membro honorário desvitalizados, drenagem e imobilização gessada.
de 33 associações mundiais. Ainda hoje, a simples Com o passar dos dias, o odor característico se
medida da radiografia lateral do calcâneo ajuda instalava, o que era saudado com a expressão
a calcular o ângulo de desvio e decidir sobre o “Not all cheese that smells bad is bad.” O “Método
tratamento conservador ou cirúrgico de Trueta” auxiliou na diminuição do índice de
1939 – John Dunlop, de Pasadena, Califórnia, gangrena em todo o mundo, que era de 18% na
EUA, descreve o tratamento conservador em Primeira Grande Guerra passando para apenas
tração para as fraturas supra-condíleas do úmero 0,16% na Guerra do Vietnam, salvando milhões
na criança. de vidas. Foi dos primeiros a entender a impor-
1940 – Aos 33 anos, Sir Reginald Watson- tância do suprimento sanguíneo na cura da osteo-
Jones, chefe da Liverpool Royal Infirmary, mielite, na consolidação óssea, na osteogênese, no
publica a primeira edição da “Bíblia”, como era crescimento de cartilagem, na função epifisiária,
chamado o seu livro entre os ingleses. Fractures na osteoartrite, dentre outros. Trueta relacionou
and joint injuries teve 15 edições(!) e foi tradu- em laboratório a “crush syndrome” (esmagamento
zido para diversos idiomas. Reconhecido pelo de um membro) com a nefropatia renal pós-trau-
conservadorismo, é sua a expressão de “imobi- mática, uma situação letal na época.
lizar uma articulação acima e outra abaixo da Trueta e outros intelectuais de Barcelona
fratura”. Generoso, polido, jamais repreendeu se exilaram na Inglaterra, onde denunciaram
um assistente em público. Estabeleceu exem- o regime de Franco. É dele o clássico The spirit
plar círculo de lealdade nos serviços por onde of Catalonia. Girdlestone reconheceu sua genia-
passou – Liverpool, Londres, Oswestry. Em lidade durante uma apresentação na França e
1945 recebeu o título de “Sir” pelos serviços trouxe Trueta para o seu serviço, onde parti-
prestados à Royal Air Force com a impressio- cipou do grupo de pesquisa que desenvolveu
nante porcentagem de 77% dos pilotos tratados a penicilina depois da descoberta por Fleming,
retornando ao mesmo nível de atividade, 18% e também alcançou o cargo de Professor de
em funções modificadas e apenas 5% inválidos. Ortopedia e Diretor do Nuffield Orthopaedic
Estabeleceu a edição inglesa do Journal of Bone Centre. Não é comum um estrangeiro chegar
and Joint Surgery (JBJS, hoje com o nome de Bone ao estrelato em Oxford. Herbert John Seddon,
and Joint Journal, BJJ) em 1948 e se manteve editor assim o define no obituário publicado no JBJS-Br:
19

“a godsend; after a short-lived display of character- a necessidade estudar aspectos da ciência básica,

CAPÍTULO 2
istic British skepticism, we converted to the ‘closed- como biomecânica das fraturas, fisiopatologia da
plaster’ regimen”. Recebeu duas indicações para consolidação, fixação rígida de fraturas, dentre
o Nobel de Fisiologia ou Medicina e no Brasil foi outros; b) associação com a desenvolvida meta-
agraciado com a Ordem do Cruzeiro do Sul. lurgia suíça; c) documentação de todos os casos

DAS FRATURAS AO LONGO DOS SÉCULOS


ANOTAÇÕES SOBRE O TRATAMENTO CONSERVADOR
1950 – O inglês John Charnley lança um clínicos para auxiliar na curva de aprendizado.
despretensioso livro intitulado The closed treat- O Manual AO, do original Technik der operativen
ment of common fractures, que viria a ser um frakturenbebanddlung é publicado em 1961. A
best-seller, com diversas edições e ainda hoje Fundação AO foi fundada em 1984, o AO Center
presente nas bibliotecas dos serviços de orto- de Davos em 1992, o AO Spine em 2003, e avanços
pedia. Charnley, no entanto, é melhor conhe- em biotecnologia, computação e programas de
cido como o pai da moderna artroplastia do ensino de alcance global desde então. Maurice
quadril por desenvolver o conceito de “low Muler foi nomeado o “Ortopedista do Século”
friction” no seu laboratório de biomecânica em em 2002 durante evento da SICOT em San Diego,
Wrightington, fundado às custas do seu próprio EUA. Ele foi um grande pensador e cunhou
esforço. Com a empresa Tackray, de Leeds, ele muitas frases de impacto, dentre elas: “uma
desenhou instrumentos, desenvolveu o polie- classificação é útil somente se ela considerar a
tileno de alto peso molecular, essencial para gravidade da lesão óssea e servir como base para
o sucesso da artroplastia. Contribuiu para o o tratamento e para a avaliação dos resultados”.
melhorar a antissepsia em cirurgia com o desen- Também foi um grande empreendedor, desen-
volvimento do fluxo laminar. volvendo uma prótese de quadril baseada nos
1958 – Até os anos 50 essencialmente todas as conceitos de Charnley, patenteando os avanços
fraturas eram ainda tratadas conservadoramente, acadêmicos, associando-se a diversas compa-
mesmo com os avanços conseguidos durante a nhias, especialmente com a americana Synthes.
Segunda Guerra. Havia falta de padronização Estabelece diversas fundações e é reconhecido
dos esparsos materiais de implante cirúrgico e o pelo altruísmo ao construir o Zentrum Paul
risco de infecção era muito alto. Em 1957 Maurice Klee, um dos grandes museus da Suiça. Segundo
Edmond Muller obtém o título de ortopedista vários historiadores, os três maiores avanços da
e se interessa pelo livro do belga Robert Danis ortopedia no século XX foram a fixação interna de
intitulado Théorie et pratique de L`Ostéosynthèse fraturas, a artroplastia e a artroscopia.
e vai visitá-lo. Estimulado com o que viu e 1981 – Augusto Sarmiento Rosillo, nascido
aprendeu, funda a mundialmente conhecida na Colômbia, lança o livro Functional fracture
Arbeitsgemeinschaft für Osteosynthesefragen bracing, onde estabelece princípios para o trata-
(Associação para o Estudo da Fixação Interna) ou mento conservador de fraturas dos ossos longos
simplesmente AO. Muller e muitos outros ícones – especialmente úmero, ulna e tíbia – com a
que se associaram a ele (Robert Schneider, Martin resina plástica moldada (Thermoplast) em subs-
Allgower, Hans Villenegger, depois Jakob, Gantz, tituição ao gesso tradicional. Sarmiento foi chefe
Webber) desenvolvem novos materiais para a do departamento de Ortopedia da Universidade
fixação interna de fraturas, modificando para de Miami e do Serviço de Reabilitação Ortopédica
sempre a maneira de tratar estas patologias. O do Jackson Memorial Hospital, um dos pioneiros
sucesso se deveu à conjugação de vários fatores: da artroplastia de quadril nos EUA, e chegou à
a) grande intelectualidade do grupo que entendeu presidência da AAOS em 1991.
20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

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Capítulo

3
TRIBUTO AOS MESTRES DO
TRATAMENTO CONSERVADOR
Carlos Roberto Schwartsmann

LORENZ BÖHLER
Em 1914visitou os EUA e conheceu Lambotte
(Belga) e Charles Mayo. Ficou impressionado
com a organização da Clínica Mayo. Convocado
pelo exército, durante a 1ª guerra organizou um
hospital militar em Bonzen. Padronizou regis-
tros e informações que eram também gravadas
no gesso do paciente.
Em1925 tornou-se chefe do Hospital da
AUVA que era destinado aos acidentes de
trabalho. Em 1929, encorajado pela Associação
Médica de Viena publicou o seu mais impor-
tante livro Tratamento das fraturas [Die technik der
knochenbruch-behandlung].
Organizado e metódico, Böhler transformou
seu livro inicial de 176 páginas para 2500 em 1957.
Em 1936 se tornou professor da Universidade
de Viena, enquanto seu livro era traduzido em
Böhler era austríaco. Nasceu em Wolfurt em 8 idiomas, inclusive o Chinês. Foi o introdutor
1885 e faleceu em Viena em 1973 (88 anos). do aforisma: “Primeiro salvar a vida, depois o
Em 1896 ficou encantado ao ver na revista membro e depois a função”.
Das Interessante Blatt um raio-X de uma mão Durante a 2ª guerra mundial trabalhou
feito por Röntgen. Curioso, início a dissecção de com a Wehrmacht no Rudolfspital especializado
pequenos pássaros e esquilos. em fraturas. Após a guerra foi um dos poucos
Iniciou seu estudo em medicina na médicos que continuaram com sucesso na
Universidade de Viena em 1905 e se formou em carreira e voltou a se tornar novamente chefe da
1911. AUVA (Unfalkrankenhaus).
22

Publicou mais de 400 artigos científicos e foi Böhler pode ser considerado um dos
membro Honorário de 33 associações mundiais. primeiros organizadores e criadores da moderna
Recebeu inúmeros prêmios e medalhas. cirurgia traumatológica.
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

Figura 3.1 – Os quatro volu-


mes do clássico Tratamento das
Fraturas.

SIR WATSON-JONES
nizou no hospital o primeiro “Instructional Course
on Fractures” e se tornou muito reconhecido.
Em 1940 publicou Fractures and joint injuries
onde preconizava a imobilização articular acima
e outra distal a fratura. Defendia que a presença
do hematoma entre os bordos fraturados levara
sempre a consolidação se hover imobilização. O
livro foi traduzido em muitas línguas e foi reconhe-
cido mundialmente como “The Orthopaedic Bible”.
Devido seus reconhecidos serviços a força
aérea britânica recebeu o título de “SIR” em 1945.

Reginald Watson-Jones nasceu em Brighton em


1902, faleceu em Londres devido a leucemia
em 1972.
Escolheu ortopedia provavelmente depois
de ser submetido a ressecção de hemangioma na
perna quando criança.
Graduou-se em 1926 no Medical School of
Liverpool University. Reconhecido como um
estudante brilhante foi indicado para trabalhar
na Liverpool Royal Infirmary. Em 1936 orga- Figura 3.2 – Capa da 7º edição do livro.
23

Foi o primeiro editor do British Journal of tuate and multiply their gifts to humanity are truly

CAPÍTULO 3
Bone and Joint Surgery publicado em 1948. Cargo imortal”.
que ocupou até sua morte. Em 1959 publicou Medicine and surgery for
Como médico e professor era dinâmico, the attorney.
entusiasta e contagiava os residentes que não Foi cirurgião de Reis e Rainhas. Foi membro

TRIBUTO AOS MESTRES DO TRATAMENTO CONSERVADOR


se queixavam dos rounds inacabáveis que se do Royal College of Surgeons e Presidente da
estendiam até a noite. Nos seus históricos biblio- Royal Society of Medicine e British Orthopaedic
gráficos muitos citam o humanismo, o perfeccio- Association. O seu obituário do JBJS diz:
nismo e o seu romantismo. “Writings had not only the essential virtues of clarity,
Agradecendo aos mestres Sir Robert Jones simplicity, precision and Brevity, but displayed a
escreveu: “They whose work cannot die, whose splendia of his own, Always Recognizable, exciting,
influence lives after them, whose disciples perpe- stimulating and persuasive”.

SIR JOHN CHARNLEY


Retornou para Manchester em 1947 e se
dedicou ao trauma e artrodeses por compressão.
Em 1950 publicou The closed treatment of common
fractures e foi o primeiro a se referir que a mani-
pulação no tratamento conservador é uma arte.

Charnley nasceu em Bury em 1911 e faleceu aos


70 anos em Manchester em 1982.
Ingressou na faculdade de medicina no
Victoria University of Manchester e se formou
em 1935. Fez residência em ortopedia na Royal
Infirmary. Em 1940 ingressou na Royal army.
Participou da evacuação de Dunquerque Figura 3.3 – Capa do livro.
e foi enviado para servir no cairo. Em 1942 foi
promovido a Major. Após o final da 2ª guerra Poucos anos depois, em 1953, publicou
trabalhou no Robert Jones and Agnes Hunt Compression arthrodesis e descreveu com muita
Hospital em Oswestry. clareza como o osso esponjoso se comporta
24

sobre compressão. Seus estudos oferecem base


na formação dos conceitos da AO.
Poucos indivíduos na história foram capazes
de alterar seus rumos em direções comple-
tamente opostas. Isto ocorreu com Charnley
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

que mudou seus estudos das artrodeses para a


artroplastia: da abolição do movimento para sua
restauração integral.
Em 1958, com o final da tuberculose, obteve
consentimento para administrar o Whrightinton
Hospital em Lancashire. Construiu um labora-
tório de biomecânica e auxiliado por engenheiros
introduziu o conceito de “Low friction arthroplasty”.
Em 1962 publicou o livro texto com o mesmo
nome e introduziu a artroplastia total do quadril
que devido ao seu alto índice de sucesso é consi-
derado uma das melhores cirúrgicas da história
da medicina. Figura 3.4 – Capa da 1ª edição do livro.

AUGUSTO SARMIENTO
Em 1963, adepto do tratamento funcional
das fraturas desenvolveu um aparelho gessado
para as fraturas da tíbia que permitia mobilizar
o joelho precocemente. A confecção do gesso foi
baseada nos princípios da prótese PTB (patelar
tendon bearing) para amputados abaixo do joelho.
Em 1981 publicou Closed Functional Treatment
of Fractures que confrontava a ideia da rígida
imobilização. Desenvolveu artefatos plásticos de
imobilização principalmente reconhecido para
as fraturas do úmero (Braceleiras) e fraturas dos
ossos da perna (Perneiras).
Durante sua carreira se tornou diretor do
Departamento de Ortopedia e Reabilitação da
Augusto Sarmiento Rosillo nasceu em Faculdade de Medicina da Universidade de
1927 em Bucaramanga, no departamento de Miami, do Jackson Memorial e do Hospital Geral
Santander na Colombia. de Los Angeles.
Formou-se em medicina em 1952 em Bogotá Foi um dos pioneiros da artroplastia total
na Universidade Nacional. Após mudou-se para do quadril nos EUA e único Latino-Americano a
os EUA onde realizou residência no Jackson se tornar Presidente da Academia Americana de
Memorial Hospital. Ortopedia (AAOS).
25

Possui centenas de artigos publicados e vários anos se dedica a conferências sobre a medicina

CAPÍTULO 3
livros, entre eles: Functional fracture bracing (1995), e conflitos éticos e de moralidade que o médico
Bare bones: a surgeon’s tale (2003), The nonsurgical enfrenta diariamente.
treatment of fractures in contemporary orthopedics “Os médicos têm pacientes e a indústria tem
(2010), Hip surgery: an odyssey, (2011), Orthopedics clientes. A ética médica é incompatível com a da

TRIBUTO AOS MESTRES DO TRATAMENTO CONSERVADOR


seeking (2012), Candid reflections (2014) e A life worth indústria médica”.
living: hippocrates and his forgotten oath (2016). Este pensamento sobre ética, expõe bem,
Suas contribuições no campo da ortopedia lhe como o distanciamento médico é necessário para
renderam reconhecimento nacional e internacional que o médico tenha uma relação equilibrada com
bem como inúmeros prêmios. Ainda ativo aos 93 a indústria farmacêutica e ortopédica.

Figura 3.5

Figura 3.6 – Professor doutor


Augusto Sarmiento e Carlos Roberto
Schwartsmann. Homenagem do autor
ao grande Mestre e entusiasta do tra-
tamento conservador das fraturas.
26

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TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

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The story of Sir Robert Jones and Sir Reginald hip. London: Springer-Verlag, 1990.
Watson-Jones. Iowa Orthop J, v. 24, p. 133-137,
2004.
Capítulo

4
POR QUE ESTAMOS
OPERANDO TANTO!
Carlos Roberto Schwartsmann

E
xistem diversas explicações para justificar qualidade da redução e o tipo de imobilização
a tendência atual do tratamento cirúrgico proposta.
das fraturas: Obviamente uma redução apenas acei-
tável tem mais chance de ser perdida que uma
1) Irredutibilidade: redução perfeita. Também o traço da fratura e a
Existe o falso conceito da irredutibilidade da cominuição tem papel relevante.
fratura, logicamente existem casos mais fáceis e A imobilização deve neutralizar as forças
casos mais difíceis para se obter uma redução musculares que compõem o cenário da fratura.
perfeita, boa ou aceitável. A experiência de como Obviamente também é sabido que o gesso
obter a redução somente se sedimenta após repe- circular bem moldado pode executar o papel
tição de dezenas de casos. É igual a experiência neutralizador com maior eficácia. Entretanto
que se adquire dirigindo um carro, um trator ou a sua inestensibilidade pode produzir
um avião. Sempre existirão forças aplicadas as compressão circulatória secundária ao edema.
extremidades fraturadas, opostas aquelas que Por isso muitos preferem a tala gessada mesmo
produziram o deslocamento, que levarão ao admitindo a sua menor capacidade de imobili-
afrontamento no foco de fratura e, portanto, a zação.
redução propriamente dita. Isto só não ocorrerá A imobilização tem como princípio básico a
se haver alguma interposição de partes moles, neutralização dos movimentos das articulações
tendões, fáscias, músculos, etc. satélites da fratura. Isto genericamente deve ser
A manipulação e a redução são gestos artís- obedecido.
ticos! Como a arte ela pode ser desenvolvida A perda redução é o argumento mais citado
pela prática constante e repetida, mas é mais por aqueles que querem operar: “esta fratura
fácil para quem possui o dom. é de tratamento cirúrgico”. Isto é verdade em
algumas fraturas submetidas a grande tração
2) Falso Conceito Da Perda Da Redução: muscular (diáfise do fêmur, diáfise dos ossos
Obviamente a perda da redução está intrin- do antebraço) ou aquelas que comprometem a
secamente ligada a instabilidade da fratura a superfície articular. Obviamente nas articula-
28

ções que suportam carga a redução nas superfí- e comercialização dos novos implantes para
cies deve ser a mais perfeita possível. obterem lucro.
Cursos são administrados em centros espe-
3) Evolução Da Imagem Radiográfica cializados de treinamento e foram criados em
Historicamente os traumatologistas toma- diversos lugares do mundo. Sempre aparecerão
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

vam decisões baseadas apenas em seletivas novos materiais e novos modelos de implantes
imagens radiográficas. que defenderão a constante modernização da trau-
Geralmente em anteroposterior (AP) e matologia. É preciso lembrar que até o presente
perfil (P). Em algumas outras situações, inci- momento não encontramos nada que acelere o
dências especiais são rotinas (por ex. na fratura processo da consolidação de uma fratura.
do acetábulo: AP-P-Alar e Obturatriz. A tomo-
grafia axial computadorizada amplificou as 6) A Influência Da Midia
diástases e os pequenos fragmentos na comi- Os meios de comunicação promovem o
nuição. As imagens se tornaram mais assus- tratamento cirúrgico porque ele é mais frequente-
tadoras e criaram dúvidas sobre a capacidade mente utilizado em atletas de grande rendimento.
dos fragmentos obterem a consolidação. Graças Isto é normal porque na medicina espor-
a tomografia existe um novo aforisma entre os tiva só teremos pleno sucesso com a perfeita
traumatologistas: “Se queres ter argumento para recuperação óssea, muscular no menor tempo
a indicação cirúrgica: peça uma TC”. possível.
Esta distorção influencia tanto na decisão
4) Tendência Cirúrgica do médico como na aceitação do paciente. A
Apesar de não acelerar a consolidação, mídia induz ao tratamento cirúrgico.
existe o reconhecimento de que a fixação cirúr-
gica libera precocemente as articulações satélites 7) Evolução Da Anestesia
e isso nos dá a sensação de que a consolidação Desde a descoberta do éter como anestésico,
foi mais rápida. Entretanto o uso pleno da articu- por Long e Morton em 1844 nunca a anestesia foi
lação só pode ser realizado quando a mesma for tão evoluída e dominada.
obtida. O sucesso da osteosíntese foi tão grande Hoje, praticamente o risco anestésico desa-
que nos iludimos que só com ela podemos ter o pareceu e isto proporcionou cirurgias seguras e
melhor resultado. Isto é verdadeiro em alguns de muito pouca dor no pós-operatório.
tipos de fratura por exemplo: na fratura proximal O paciente perdeu o medo da anestesia e assim
do fêmur, fratura diáfise femoral, nas fraturas do indiretamente estimulou o tratamento cirúrgico.
joelho, nas fraturas que envolvem o cotovelo, etc.
8) Nova Filosofia De Vida
5) Formação Cirúrgica Filosoficamente, hoje é preciso viver com
O prestigio da osteossíntese levou a uma a maior intensidade possível. Nenhum minuto
desigual transferência de conhecimento na pode ser perdido! Mobilidade é vida! A cirurgia
formação do residente: as técnicas cirúrgicas imobiliza muito menos que o tratamento conser-
ocupam a maioria das páginas dos livros textos. vador. Permite cuidados higiênicos com maior
As novas técnicas cirúrgicas são apresentadas frequência. O tratamento cirúrgico é mais limpo e
nos congressos como mágicas e tem o apoio não tem os maus odores do tratamento com gesso.
maciço da indústria que necessitam do uso Isto só não é verdadeiro se ocorrer infecção!
29

9) O Tratamento Cirúrgico É Mais Fácil E PORQUE DEVEMOS OPERAR MENOS:

CAPÍTULO 4
Menos Trabalhoso. DESVANTAGENS DO TRATAMENTO CI-
O procedimento de fixação das fraturas não RÚRGICO
é difícil. É necessário treinamento, entendimento 1) Cicatriz
e repetição. O difícil é abordar o foco da fratura Mesmo com incisões pequenas sempre existirá

POR QUE ESTAMOS OPERANDO TANTO!


com o menor grau de lesão tecidual possível. uma cicatriz. As vezes ela pode ser disforme,
A lesão tecidual, a necrose tecidual é melhor o grande ou antiestética. Sem dúvida as mulheres
caldo de cultura para o nosso maior inimigo: a se importam muito mais. Algumas vezes o
infecção. material de implante pode ser visto embaixo da
Quando operamos transformamos uma cicatriz (placa na fratura da clavícula ou tíbia). A
fratura fechada em fratura exposta. ocorrência de necrose da pele pode evoluir em
Geralmente o tratamento não cirúrgico é exposição da síntese e infecção.
mais trabalhoso e mais artístico. A manipulação
e a redução de uma fratura são gestos artísticos. 2) Lesão Nervosa Sensitiva E Motora
A fixação com placa e parafusos fica melhor com A lesão sensitiva é mais comum. É desagra-
os marceneiros. dável, mas na maioria das vezes há recuperação
Geralmente é necessário rever o paciente da sensibilidade.
semanalmente para acompanhar o processo de A lesão motora (neuropraxia, axonotemese e
consolidação e repetir o estudo radiológico com neurotemese) é mais rara e muitas vezes perma-
frequência. nente. Na neurotemese só haverá recuperação
Às vezes é necessário reavaliar a conduta ou com nova intervenção cirúrgica com enxerto
até mesmo trocar de conduta se a direção não for nervoso.
aquela do caminho desejado. O defict motor e de difícil compreensão
Certamente o paciente com o tratamento pelo paciente principalmente se for iatrogênico
conservador encontrará seu médico muito mais (fratura do úmero e N. Radial – fratura do acetá-
vezes que o tratamento cirúrgico. O vínculo bulo e N. Ciático)
médico-paciente será mais forte.
3) Risco Anestésico:
10) O Tratamento Cirúrgico É Mais Lucrativo Obviamente para se realizar um procedimento
As tabelas médicas premiam e estimulam cirúrgico, o paciente deve estar anestesiado.
mais os médicos para realizarem tratamentos Apesar dos fantásticos avanços da anestesia,
cirúrgicos. Os médicos são melhores remu- o risco sempre existe uma vez que são influen-
nerados. Sob este prisma também ficam mais ciados por:
felizes, os anestesistas, os auxiliares e o hospital, Fatores previsíveis: idade, presença de
pois na maioria das vezes o paciente fica inter- doenças sistêmicas, doenças respiratórias, cardí-
nado. Em alguns procedimentos as tabelas acas, uso de anticoagulantes, etc.
pagam 4 ou 5 vezes mais pelo tratamento cirúr- Fatores imprevisíveis: são aqueles inerentes
gico. ao paciente como alergia medicamentosa,
As fábricas de material ortopédico, a indús- choque anafilático, etc.
tria e seus representantes querem vender o seu Fatores inerentes ao ato cirúrgico: duração
material de implante. Esta cascata de interes- da cirurgia, choque hipovolêmico, embolia
sados inexiste no tratamento não cirúrgico. pulmonar, etc.
30

4) Infecção Existem também uma gama enorme de


É a complicação mais temida depois da fatores que envolvem o ato cirúrgico e influen-
morte. A patogênese das infecções no sitio cirúr- ciam nos índices de infecções: politraumati-
gico na traumatologia é complexa e está relacio- zados, internação prolongada, local e tipo de
nada a fatores de risco intrínsecos do paciente, fratura, incisão e lesão de partes moles, agressi-
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

fatores que envolvem ao ato cirúrgico e a pato- vidade do cirurgião, técnica empregada, escolha
genia do agente agressor. e tipo do implante, condições hospitalares e do
As condições clínicas do paciente são funda- teatro cirúrgico.
mentais e devem ser bem avaliadas: presença Ainda devemos considerar a virulência do
de anemia, presença de diabete, uso de fumo, agente microbiano, o grau de contaminação e a
abuso de álcool, presença de doenças sistêmicas resistência do germe ao antibiótico profilático.
e principalmente imuno supressoras.

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5. Rockwood Jr, C.A; Green DP:
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1984.
6. Schwartsmann, CR; Lech, O;
Telöken, M.A. Fraturas princípios e
prática. Porto Alegre: Artmed Editora, 2003.
Capítulo

5
PRINCÍPIOS BÁSICOS DO
TRATAMENTO CONSERVADOR
Carlos Roberto Schwartsmann

T
odas as fraturas podem ser tratadas Os princípios básicos do tratamento conser-
conservadoramente isto é, sem cirurgia, vador são:
todas eram assim até o advento da anes- 1. Redução
tesia. Evidentemente os resultados nem sempre 2. Manutenção da redução
foram uniformemente satisfatórios. As fraturas 3. Consolidação
instáveis dos ossos longos necessitavam de 4. Recuperação funcional
grandes períodos de tração e imobilização. O
processo de consolidação não é alterado no trata- REDUÇÃO:
mento conservador mas as articulações satélites É a manipulação dos fragmentos fraturados
poderiam perder mobilidade com maior ou com o objetivo de aproximá-los o mais anatomi-
menor grau. camente possível. Devido a hemorragia e o edema
Associada a atrofia muscular, a recuperação secundário, quanto mais precoce for a redução
funcional se torna mais lenta e trabalhosa. Watson- mais fácil ela será. Certamente a eficácia da redução
Jones afirmou que sempre que houver hema- depende da experiência e da repetição.
toma entre as extremidades ósseas e a imobili- As fraturas não deslocadas não precisam
zação for adequada a consolidação será obtida de redução e as com poucos graus de desvio
em menor ou maior tempo. Ainda, escreveu que também não. Não é aceitável desvio rota-
a perda da mobilidade das articulações satélites cional.
somente ocorrerá se a imobilização for maior
que duas vezes o tempo necessário para a conso-
QUANDO SE DEVE REDUZIR UMA FRA-
lidação óssea. TURA?
Se a tíbia consolida normalmente de quatro
a seis meses, só haverá rigidez se a imobili- A redução deve ser feita o quanto antes, isto é
zação for superior a um ano. Evidentemente dizer melhor nas primeiras 24horas. Os trauma-
quanto mais rápido for a consolidação da tologistas antigos possuíam um velho aforisma
fratura da tíbia, mais veloz será a recuperação “quando ocorre de dia, antes do sol se por e a
funcional. noite, antes do amanhecer”.
32

O objetivo do tratamento de uma fratura é As partes moles não rompidas são a chave da
obter a consolidação com alinhamento e restau- redução quando elas são levadas a sua posição
ração da função normal. Entretanto a perfeita anatômica, os fragmentos ósseos retornam
colocação dos fragmentos não é essencial para também a sua posição anatômica.
o resultado funcional. Pequenas deformidades A manobra de redução deve ser realizada
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

angulares podem ser bem toleradas mas, os com gestos gentis. Uma força contraria aquela
desvios rotacionais, não. que produziu o “deslocamento” da fratura deve
Algumas fraturas não necessitam de ser aplicada.
redução: por exemplo costelas, escapula, diáfise Existem dezenas de técnicas ou manobras
do perônio, etc. descritas para reduzir uma fratura deslocada,
Nas fraturas com desvio é necessário compre- uma luxação ou uma fratura-luxação.
ender a importância das partes moles. Quando o Os princípios das técnicas mais utilizadas são:
deslocamento ocorre, há lesão das partes moles sempre haverá uma força contraria a que ocasionou
de um lado, mas o outro lado permanece integro. o deslocamento que haverá de reduzir a fratura

A) TRAÇÃO E CONTRATRAÇÃO:

A B

Figura 5.1 (A, B, C) – Tração e contratração. Para


reduzir a fratura supracondiliana do úmero.

Figura 5.2 – Redução de fratura


distal dos ossos da perna.
33

CAPÍTULO 5
PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TRATAMENTO CONSERVADOR
Figura 5.4 – Imagem esquemática em madeira mostrando
Figura 5.3 – Redução de fratura da diáfise do úmero. como se obtém a redução. Inicialmente é necessário vencer a
contração muscular representada pelo elástico.

B) TRAÇÃO E DESLIZAMENTO

Geralmente são indicados nas fraturas luxações, nas epifisiólises e nas luxações. Existe possibilidade
que após a tração as superfícies separadas deslizem para sua posição anatômica por uma força apli-
cada contrariamente a que produziu o deslocamento.

Figura 5.5 – Desenho esquemático de tração e deslizamento.


34
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

Figura 5.6 – Fratura distal do rádio com desvio dorsal. Desenho esquemático e imagem radiográfica no perfil.

Figura 5.7 – Manobra de redução por tração e deslizamento. Desenho esquemática e imagem radiográfica pós redução.
35

CAPÍTULO 5
PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TRATAMENTO CONSERVADOR
Figura 5.8 – Fratura distal do rádio com desvio dorsal. Desenho esquemático mostrando que uma força aplicada dor-
salmente, aplicada pelo polegar ao rádio distal, pode levar a redução.

A B

C D

Figura 5.9 (A, B, C, D) – Desenho esquemático da manobra de redução da luxação do polegar. Inicialmente
é necessário tração e após deslizamento para se obter a redução.

Figura 5.10 – Desenho es-


quemático e com imagem ra-
diográfica correspondente de
fratura-luxação do tornozelo.
36
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

Figura 5.11 – A redução é obtida com tração e aplicação de força látero-medial para reduzir a luxação. Observar na imagem radio-
gráfica a redução anatômica com gesso bem moldado.

Figura 5.12 – Manobra de redução de fratura-luxação do tornozelo. É necessário inicialmente tração longitudinal (1) e após mano-
bra de varização do tornozelo com força látero-medial (2).

C) REDUÇÃO PELA MANOBRA DA RODA DENTADA

Se realiza uma hiperdeformidade na tentativa de promover uma roda dentada conforme desenho
esquemático.

Figura 5.13 – Desenho


esquemático da roda den-
teada.
37

A B

CAPÍTULO 5
PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TRATAMENTO CONSERVADOR
C D

Figura 5.14 (A, B, C, D) – Desenho esquemático em madeira. A) Fratura deslocada. B) Obtenção de hiper-deformi-
dade. C) obtenção de fulcro para redução D) deformidade reduzida.

Figura 5.15 – Manobra da roda dentada para reduzir fratura do rádio distal.

Figura 5.16 (A, B, C) – Manobra da roda denteada para redução de fratura do terço médio da falange proximal. A) Fratura
da falange proximal transversa com acentuado desvio dorsal. B) Manobra de redução com roda denteada C) Imobilização com
três pontos.
38

MANUTENÇÃO DA REDUÇÃO ósseos na posição anatômica desejada. Nas


fraturas instáveis a ação da musculatura tende a
Nas fraturas estáveis, após obtida a redução, a deslocar os fragmentos, por isso forças adjuvantes
musculatura estabiliza e mantém os fragmentos deverão ser acrescentadas neste cenário.
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

Figura 5.17 – Montagem em blocos de madeira: as fraturas transversas são mantidas na posição anatômica por
ação da musculatura satélite.

FORÇA EM UM PONTO:

Algumas vezes uma única força aplicada no foco de fratura pode manter a redução.

Figura 5.18 – Na fratura da tíbia com desvio em antecurvato, uma força


aplicada anteriormente pode manter a redução da fratura dos ossos da perna.
39

FORÇA EM DOIS PONTOS:

CAPÍTULO 5
Muitas vezes são necessárias duas forças opostas para manter a redução.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TRATAMENTO CONSERVADOR


Figura 5.19 – Fratura dos ossos da perna com desvio em valgo. A manutenção da redução é realizada por duas forças
opostas conforme o desenho.

FORÇAS EM TRÊS PONTOS:

Muitas vezes a manutenção da fratura só pode ser obtida em forças aplicadas em três pontos. O exemplo
clássico é a fratura em galho verde, onde o gesso deve ser moldado conforme o desenho. As partes
moles do lado côncavo necessitam permanecer em tensão máxima para não ocorrer a perda da redução.

Figura 5.20 – Força aplicada em


três pontos. É o paradoxo do gesso
curvo para manter os ossos retos.
40

Na fratura de Colles também é mantida possível, pois a epífise radial é travada pelo
a redução através do gesso aplicado em três cúbito. Este é o segredo para impedir o encurta-
pontos. O desvio cubital deve ser o máximo mento do rádio.

A B C
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

Figura 5.21 (A, B, C) – A) Fratura de Colles com desvio radial. B) Redução anatômica da fratura de Colles. Observar o gesso bem
moldado no lado cubital e forçando o desvio cubital. C) Resultado final.

Forças de três pontos aplicadas na fratura de Colles.

Figura 5.22 – Fratura de Colles:


observar o gesso bem moldado
com forças aplicadas em três pon-
tos sobre o foco de fratura. Nas
fraturas cominutivas pode ocorrer
pequeno encurtamento do rádio,
mas geralmente sem nenhuma per-
da funcional.
41

VÁRIOS PONTOS COMPRESSIVOS

CAPÍTULO 5
A técnica de achatamento do gesso proporciona múltiplos pontos compressivos. Se o gesso for circular
nas fraturas dos ossos do antebraço, as forças tendem a aproximar o rádio do cúbito. Se o gesso for
achatado, os ossos do antebraço tendem a se deslocar para as zonas de menor pressão e com isso
tendem abrir a membrana interóssea mantendo a distância entre eles.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TRATAMENTO CONSERVADOR


Figura 5.23 (A, B) – Nas fraturas dos
A B ossos do antebraço, o achatamento do
gesso proporciona múltiplos pontos com-
pressivos, conforme o desenho esquemá-
tico. A) Forças distribuídas com uniformi-
dade diminuem a tensão na membrana
interóssea, aproximam o rádio do cúbito
e a perda da prono-supinação. B) Forças
multicomprenssivas, achatando o antebra-
ço permitem a abertura e a manutenção
do espaço entre o rádio e o cúbito.

Figura 5.24 – Na fratura da diáfise do


úmero, as forças compressivas devem
ser distribuídas com uniformidade con-
tra o úmero, para diminuir o espaço mor-
to e manter a redução.

TÉCNICA DAS CUNHAS GESSADAS

São de grande valor as cunhas gessadas para corrigir deformidades angulares, sem a necessidade de
trocar todo o aparelho gessado. Elas podem ser de adição ou subtração. Na adição, geralmente se
coloca bloco de madeira para manter a abertura da cunha. Na subtração, se retira a cunha do gesso.
(junção das três linhas).

Figura 5.25 – Desenho es-


quemático de cunha de adi-
ção, em fratura do terço mé-
dio para distal da tíbia com
desvio anterior.
42

A B
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

C D

Figura 5.26 (A, B, C, D) – A) Demarcação da altura da cunha gessada. O local correto de colocação da cunha, pode ser obtido
com alguma marcação metálica no gesso (ex.: clip ou agulha) no controle radiológico. B) Abertura da cunha. C) Interposição de bloco
de madeira. D) Resultado final com a inclusão do bloco de madeira no aparelho gessado.

A B C

Figura 5.27 (A, B, C) – A) Imagem radiográfica em AP de fratura dos ossos da perna com desvio lateral. B) Radiografia
em perfil mostrando desvio posterior. C) Fratura imobilizada com gesso inquino podálico com inaceitável desvio.
43

D E F G

CAPÍTULO 5
PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TRATAMENTO CONSERVADOR
Figura 5.27 ( D, E, F, G) – D) Imagem radiográfica pós inserção de cunha de adição. E) Radiografia de controle pós 60 dias. F) Imagem
radiográfica em AP mostrando consolidação com exuberante calo ósseo, com discreto desvio em varo. G) Imagem radiográfica em perfil
da fratura consolidada com perfeito alinhamento.

A B C

Figura 5.28 (A, B, C) – A) Fratura dos ossos do antebraço em criança com 11 anos com desvio cubital. Desenho esquemático de
cunha de subtração. B) Imagem radiográfica pós retirada de cunha. C) Consolidação anatômica dos ossos do antebraço.
44

KLM, 68, feminina.


A B
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

Figura 5.29 (A, B) – Fratura de Colles com acentuado desvio. A) Imagem radiográfica em perfil de fratura de Colles cominutiva,
intra-articular com importante desvio dorsal. B) Imagem radiográfica em anteroposterior de fratura de Colles cominutiva intra-articu-
lar com importante desvio radial.

Figura 5.30 – Imagem


radiográfica pós redução
com inaceitável desvio
radial.
45

A C

CAPÍTULO 5
PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TRATAMENTO CONSERVADOR
B

Figura 5.31 (A, B, C) – A e B) Imagem clínica de cunha


gessada de adição forçando o desvio cubital. C) Imagem radio-
gráfica pós aplicação da cunha gessada.

A B

Figura 5.32 (A, B) – A) Imagem radiográfica em AP pós consolidação com discreto desvio radial. B) Imagem radiográfica em perfil
pós consolidação sem desvio.

Figura 5.33 – Imagem clínica


da paciente após um ano, sem
queixas clínicas. Pequena limita-
ção da flexão volar.
46

MENSAGEM FINAL entalhar, moldar, esculpir, pintar e engessar


ficarão mais próximos da perfeição se houver
A confecção de um aparelho gessado é o ato
constante repetição!
mais artístico da traumatologia. Os atos de
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

A B

C D

Figura 5.34 (A, B, C, D) – Imagens de traumatologistas confeccionando aparelhos gessados.

Referências Bibliográficas
1. BÖHLER, L. The treatment of fractures. Vienna: 6. ROCKWOOD JR, C.A; GREEN D.P. Fractures
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5. MCRAE, R. Pocket book of orthopaedics and frac- ries. Edinburgh: Churchill Livingstone, 1976.
tures. Edinburgh: Churchill Livingstone, 1999.
Capítulo

6 A DIVINA PLÁSTICA ÓSSEA


Carlos Roberto Schwartsmann

N
uma fratura ocorre lesão de vasos Inúmeros fatores influenciam no remodela-
sanguíneos, destruição de matriz e mento ósseo pós fratura e certamente, a idade
morte de células ósseas, e para que do paciente é o mais importante.
se inicie o processo de reparação, o coágulo O periósteo das crianças e dos adultos
sanguíneo e os restos celulares e matriciais devem jovens é forte, espesso, possui grande irrigação
ser inicialmente removidos pelos macrófagos. sanguínea e é muito rico em osteoblastos. Nos
O periósteo e o endósteo (formados por tecido velhos o periósteo é menos irrigado, parcial-
conjuntivo) próximos à fratura respondem com mente fibroso e tem pouco poder de formar osso
intensa proliferação, formando um tecido rico e remodelar.
em células osteoprogenitoras que constituem Wolff em 1892 foi o primeiro a descrever a
um anel em torno da fratura e penetram entre resposta fisiológica reacional que ocorre no osso
as extremidades ósseas rompidas. Neste anel quando é submetido a esforços mecânicos. O osso
conjuntivo surge tecido ósseo primário (imaturo), é mais resistente e se fortalece com forças compres-
tanto por ossificação endocondral de pequenos sivas. Ele gosta de suportar carga. A massa óssea,
pedaços de cartilagem que ai se formam, quanto sua forma anatômica e estrutural responde a
por ossificação intramembranosa. Podem, pois, orientação e a magnitude que as forças dinâmicas
ser encontradas no local de reparação, ao mesmo impõem sobre o osso. Wolff foi o primeiro a corre-
tempo, áreas de ossificação intramembranosa e lacionar a biologia com a biomecânica.
áreas de ossificação endocondral. Esse processo Somente um século depois, em 1987, Frost
evolui até a formação do calo ósseo, constituído explicou e criou a “Mechanostat Theory”: a home-
por tecido ósseo imaturo que une provisoriamente ostasia óssea depende da variação das diversas
as extremidades do osso fraturado. solicitações mecânicas exercida sobre os mesmos
As trações e pressões exercidas sobre o osso no dia a dia. Células mesenquimais, osteoblastos
durante a reparação da fratura, e após o retorno e principalmente osteócitos possuem capaci-
do paciente às suas atividades diárias, causam dades mecanossensitivas e regem o processo
remodelação do calo ósseo e sua completa subs- de consolidação e remodelação segundo os estí-
tituição por tecido ósseo secundário (lamelar). mulos biomecânicos do meio ambiente.
48

A massa e a remodelação óssea são reguladas perdida no tempo, por isso é fortemente influen-
e mantidas durante toda a vida, pela constante ciada pela idade. Quanto mais jovem é o paciente,
formação e reabsorção óssea promovida pela maior é sua capacidade de formar osso e remo-
sintonia dos osteoblastos e osteoclastos. Esta delar. E por isso que os exemplos abaixo ocorrem
capacidade de transdução mecânica tecidual é principalmente nos pacientes com menos idade.
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

FRATURA DA CLAVÍCULA
RAT, 15, feminino.
A B

C D

Figura 6.1 (A, B, C, D) – Fratura da clavícula com desvio. A) Fratura da clavícula direita com desvio e cavalgamento. B) Tentativa
de redução, mas ainda com acentuado desvio. C) Fratura consolidada com notória reabsorção das bordas do fragmento proximal. D)
Fratura após 1 ano. Processo de plástica óssea devolvendo a silhueta anatômica da clavícula.

FRATURA DO ÚMERO PROXIMAL

A B

Figura 6.2 (A, B) –


A) Fratura do úmero pro-
ximal em menino de 10
anos, importante desvio
em varo. B) Consolidação
com remodelação óssea e
correção da deformidade.
49

CRIS, 11, masculino.

CAPÍTULO 6
A

A DIVINA PLÁSTICA ÓSSEA


Figura 6.3 (A) – Fratura do úmero proximal. Fratura do terço proximal do úmero, com cavalgamento desvio em varo e anterioriza-
ção da diáfise umeral sobre a cabeça do úmero.

B C

Figura 6.3 (B) – Imagem clínica do gesso pendente institu-


ído.

Figura 6.3 (C) – Tratamento com gesso pendente. Melhor


posicionamento dos fragmentos, mas ainda com acentuado
desvio.

Figura 6.3 (D) – Consolidação alcançada apesar do acen-


tuado desvio. Remodelação do terço proximal do úmero.
Recuperação funcional completa.
50

FRATURA-LUXAÇÃO DO COTOVELO
OS, 7, masculino:
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

Figura 6.4 – Fratura-luxação do cotovelo esquerdo com inclusão da epitróclea


intra-articular.

A B

Figura 6.5 (A, B) – A) após manobra de redução observar a diástase da epitróclea. B) imagem radiográfica pós manipulação na
troca do gesso, em uma semana.
51

A B

CAPÍTULO 6
A DIVINA PLÁSTICA ÓSSEA
C D

Figura 6.6 (A, B, C, D) – A, B e C) Imagem clínica do paciente 17 anos após. Mobilidade total, completa e indolor. D) Imagem
radiográfica em AP do cotovelo mostrando a perfeita consolidação da epitróclea no seu sitio anatômico original.

FRATURA DOS OSSOS DO ANTEBRAÇO


ASC, 13, masculino.
A B C

Figura 6.7 (A, B, C) – A) Fratura dos ossos do antebraço com acentuado desvio dorsal e cubital. B) Radiografia após redução e
gesso. Desvio lateral do rádio com diminuição do espaço interósseo. C) Radiografia após consolidação obtida depois de 18 meses.
Abertura normal do espaço interósseo.
52

CAR, 5, masculino.
A B C
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

Figura 6.8 (A, B, C) – A) Fratura de ambos os ossos do antebraço no terço médio para distal. Cavalgamento com desvio radial e
dorsal. B) Imagem radiográfica da redução obtida e imobilização gessada. C) Fraturas consolidadas com remodelação óssea e desapa-
recimento dos traços de fratura após dois anos.

FRATURA DO RÁDIO COM DESVIO


WG, 8, masculino.
A B

Figura 6.9 (A) – Fratura do terço distal do rádio. Perda de con- Figura 6.9 (B) – Fratura consolidada com remodelação pro-
tato quase total entre as superfícies fraturadas. Acentuada perda ximal do rádio.
do espaço intraósseo. Aparelho gessado muito bem moldado.
53

CAPÍTULO 6
A DIVINA PLÁSTICA ÓSSEA
Figura 6.9 (C) – Fratura do rádio
consolidada após importante remode-
lação. Ressurgimento do espaço inte-
rósseo normal, recuperação funcional
completa.

FRATURA DO FÊMUR COM DESVIO COM 31 ANOS DE EVOLUÇÃO


ELM, 9, masculino.
A B

Figura 6.10 (A, B) – A) Fratura exposta do terço médio para distal do fêmur com cavalgamento e desvio em varo. Total perda de
contato entre os extremos fraturados. B) Consolidação em ponte devido interposição de partes moles cinco meses após a fratura.
54

C
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

Figura 6.10 (C) – Imagem radiográfica em AP e perfil quatro Figura 6.11 – Imagens radiográfica após 31 anos de evolução.
anos após. Observar o intenso processo de remodelação óssea.

Figura 6.12 – Sequência de


imagens clínicas do paciente
com 31 anos de evolução.
Não há deficit funcional, não
há discrepância. Ferimento
cicatricial pela exposição ós-
sea mantido 31 anos após.
55

FRATURA DO FÊMUR TRATADO CIRURGICAMENTE COM INFECÇÃO

CAPÍTULO 6
MB, 10, masculino.

A DIVINA PLÁSTICA ÓSSEA


Figura 6.13 – Paciente operado devido fratura do
terço médio para distal do fêmur direito com pla-
ca e parafusos. Evolução desastrosa com infecção,
soltura da síntese e desvio em varo.

Figura 6.14 – Após retirada da síntese, fistulectomia mais limpe- Figura 6.15 – Imagem radiográfica da consolidação obtida
za cirúrgica e imobilização com gesso pelvipodálico. Grande desvio com desvio posterior e varo. Exuberante calo ósseo.
em varo e cavalgamento ósseo.
56
TRATAMENTO NÃO CIRURGICO DAS FRATURAS

Figura 6.16 – Remodelamento ósseo do fêmur após quatro anos Figura 6.17 – Imagem clínica do paciente após cinco anos.
e oito meses. Recuperação completa da função do quadril e joelho. A cicatriz
da pele é a única marca da agressão cirúrgica prévia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Parte TRATAMENTO NÃO

I CIRÚRGICO DAS
FRATURAS DA COLUNA
Capítulo

7 FRATURAS DE COLUNA
Yorito Kisaki, Felipe Loss, William Osamu Toda Kisaki, Silvia Guaresi.

CONCEITOS PRIMORDIAIS medula e as raízes nervosas causando, além


da dor, alterações de sensibilidade e motrici-
• As estruturas junto à coluna óssea (medula,
dade.
raízes nervosas, cauda equina) são elementos
As vértebras são classificadas de acordo com
mais suscetíveis ao trauma do que a própria
sua localização: 7 vértebras cervicais, 12 vértebras
coluna;
torácicas, 5 lombares, 5 sacrais e 5 coccígenas. Os
• Mesmo que não haja complicações na corpos vertebrais tornam-se maiores de maneira
ocasião do trauma, necessitamos avaliar gradual, conforme a coluna vertebral desce até
clinicamente a possibilidade destas compli- o sacro, pois mais peso corporal é sustentado
cações ocorrerem em um período posterior; sobre as vértebras terminais, porém depois do
• Devemos avaliar detalhadamente pacientes sacro, tornam-se menores e fundem-se umas às
que apresentem lesão parcial raquimedular outras em direção ao cóccix (apêndice coccígeo).
para evitar o agravamento; As vértebras torácicas articulam-se lateralmente
• Caso apresente lesão completa, deve-se com as costelas e as vértebras sacrais articulam-
avaliar a possibilidade de auxiliar na recu- -se lateralmente com os ossos ilíacos. Os discos
peração o mais breve possível e evitar as intervertebrais intercalam-se com as vértebras,
complicações secundárias. porém, abaixo de L5, os discos deixam de estar
presentes. Os discos permitem maior mobili-
CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS dade entre as vértebras, o que apesar de ser um
A coluna vertebral estende-se do crânio até movimento sutil, o conjunto desses pequenos
o ápice do cóccix e é formada pelo conjunto de movimentos de várias vértebras geram os movi-
33 vértebras intercaladas pelos discos interver- mento de flexão, extensão, inclinações laterais e
tebrais. Suas funções incluem dar proteção a rotação da coluna.
medula espinhal, dar saída às raízes nervosas, Apesar de a vértebra ter sua peculiaridade
sustentar o peso do corpo superior, determina de acordo com a região em que se localiza, a
a postura e auxilia no equilíbrio e locomoção. estrutura base consiste em corpo vertebral,
A presença de fratura podem comprimir a arco vertebral e 7 processos. O corpo vertebral
60

localiza-se anteriormente, composto por osso movimentos, e os ligamentos Interespinhosos


cortical na superfície e osso esponjoso inter- (I), que unem os processos espinhosos, e os liga-
PARTE I

namente. É a parte da vértebra que sustenta o mentos Supraespinhosos (S) ajudam na estabili-
peso do corpo. O arco neural (lâminas) tem um dade da coluna. Entre os arcos neural e o corpo,
formato de uma ferradura. Lateralmente possui visualizamos, bilateralmente, os pedículos e as
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA

saliências que são os processos transversos, e articulações facetárias. O conjunto do arco verte-
posteriormente, situa-se o processo espinhoso. bral e do corpo forma o canal vertebral por onde
Nele se inserem os músculos para realizarem os passa a medula espinhal

A B C

Figura 7.1 (A, B, C) – A) Principais componentes da vértebra: (1) corpo vertebral; (2) arco com suas lâminas; (3) facetas arti-
culares; (4) processo transverso; (5) processo Espinhoso; (6) pedículo. B) Visualização de todos os componentes juntos: (7) medula
espinhal; (8) raiz nervosa. C) Visão lateral da vértebra.

A medula espinhal ou a cauda equina está Podemos falar em instabilidade quando


localizada dentro do espaço formado pela parte ocorre fratura das facetas e ou complexo pedí-
posterior do corpo e discos, e, lateralmente, pelos culo-lâmina ou puramente ligamentar que
pedículos e, posteriormente, pelo ligamento determine uma luxação parcial (subluxação)
amarelo e lâminas, sendo que a raiz nervosa se ou completa. Nesse caso, podem ocorrer lesões
exterioriza no forame intervertebral de cada nível. nervosas mais graves.

A B

Figura 7.2 (A, B) – A) Visão


lateral da coluna: (A) ligamento
amarelo; (C) cápsula articular
facetária; (S) ligamento supraes-
pinhoso; (I) ligamento infraespi-
nhoso; (T) ligamento transverso.
B) Visão lateral após fratura com
ruptura dos ligamentos e deslo-
camento vertebral.
61

AVALIAÇÃO INICIAL - American Spinal Injury Association é apenas uma

CAPÍTULO 7
O paciente deve ser manejado conforme das ferramentas que pode ser útil na determi-
as condutas do ATLS, que envolvem garantir o nação do nível e severidade da lesão de coluna.
“ABC”, (A) vias aéreas, (B) breathing ou respiração Essa escala leva em conta o grau de força nos
e (C) circulação com avaliação da pressão arterial, níveis motores correspondentes e os dermá-

FRATURAS DE COLUNA
perfusão e frequência cardíaca. A lesão da medula tomos de sensibilidade correspondentes.
espinhal depende da garantia de uma perfusão
adequada com pressão arterial média de 80 a 85
mmHg, e dessa forma, a prevenção da hipoxemia
e da hipotensão são essenciais. O uso da metil-
prednisolona, que antes já foi considerado trata-
mento padrão nas lesões de medula espinhal,
hoje é só mais uma opção de tratamento que se
utilizada, deve ser iniciada dentro das primeiras
8 horas após o trauma. Atente para as contrain-
dicações ao uso do corticoide, como gestantes,
diabetes mal controlado, lesões menores (limi-
tadas a uma raiz nervosa ou só à cauda equina),
menores de 13 anos de idade, paciente já em uso
de corticoide ou lesões por arma de fogo.
O exame físico inicial consiste em garantir
o ABC. O exame físico secundário consiste na
inspeção do paciente, como hematomas. A
avaliação dos movimentos da coluna a procura
de pontos dolorosos, limitações, aumento dos
espaços interespinhosos podem ser realizados
no caso de o exame de radiografia não apre-
Figura 7.3 – Dermátomos correspondentes às raízes ner-
sentar nenhuma anormalidades. Atentar para vosas. Figura colorida a partir da classificação ASIA. Observe
possibilidade de fratura cervical em casos de que não há correspondência de dermátomo para primeira
vértebra cervical (C1).
lesão no couro cabeludo da região occipital, lace-
rações na região cervical, torcicolo ou limitação
GRADUAÇÃO DE FORÇA NA AVALIAÇÃO DE MOTRICIDADE
nos movimentos da coluna cervical. O uso de
0 Nenhuma contração muscular
colar cervical rígido deve ser instalado e só deve
Movimento visível no músculo mas nenhum
ser retirado quando o paciente tiver os seguintes 1
movimento na articulação
critérios: Estiver alerta e consciente, lesões
Apenas capacidade de fazer força horizontalmente
avaliadas por radiografia e tomografia compu- 2
mas não contra gravidade e não contra resistência
tadorizada (TC), ausência de dor em coluna
Capacidade de fazer força contra gravidade mas não
3
posterior e exame neurológico intacto. O exame contra resistência
neurológico consiste em um exame minucioso Diminuição da força, mas mesmo assim, capaz de
4
da motricidade, da sensibilidade e dos reflexos. fazer força contra gravidade e contra resistência

A escala de lesão neurológica da Associação 5 Força normal

Americana de Lesão de Medula Espinhal (ASIA Tabela 7.1 – Graduação de força, que varia de 0 a 5.
62

Local Achados A
Achados Motores
de Sensitivos Reflexo
PARTE I

esperados
lesão esperados
C2 Movimentos da Occipital
musculatura da Cartilagem
C3 Face, Tireoide
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA

Respirar Pescoço
C4
Espontaneamente posterior
Deltoide,
Encolher os
região
C5 ombros, rotação Reflexo Bicipital
infraclavi-
externa de MMSS
cular
Flexão do coto- Polegar Reflexo Bicipital
C6 velo, Extensão do (1º quiro- e Reflexo
punho dáctilo) Braquiorradial
Extensão do co- 2,3,4º B
C7 tovelo, Flexão do quirodác-
punho tilos
5º qui- Reflexo tricipital
rodáctilo
C8 Flexão dos dedos e região
ulnar da
mão
T1-
T12

T4 Mamilo

T10 Músculos abdomi- Umbigo


nais e intercostais
Região
onde
L1 Pulso
Femoral é
C
palpável

L1-L2
Flexão do Quadril Coxa
L2-L3
Anterior
L3 Adução do Quadril
Abdução do
L4 Joelho
Quadril
Reflexo Patelar
Lateral da
L5 Dorsiflexão do pé
Perna
Lateral do
S1

Reflexo Aquileu
Flexão plantar Região
S1-S2
do pé perianal

Contração do Reflexo
S2-S4
Esfíncter anal Bulbocavernoso

Tabela 7. 2 – Raízes nervosas, motricidade, sensibilidade e re-


flexos correspondentes. Figura 7.4 (A, B, C) – A e B) colar rígido. C) colar semiflexível.
63

CONFECÇÃO DE COLAR CERVICAL

CAPÍTULO 7
FRATURAS DE COLUNA
1ª - Desenhar um bumerangue em um 2ª - Nas medidas 33 cm por 9 cm 3ª - Malha 12 cm 3 a 4 rolos de algodão
papelão 20 cm o papelão e tesoura

4ª - Envolver o papelão com o algodão 5ª - Cortar a malha com sobra de 10 cm 6ª - Com a malha, vestir o papelão com
laminado nas bordas o algodão

7ª - Dar um nó nas duas extremidades 8ª - Se for mulher, é melhor prender os 9ª - Imagem final com o colar colocado
cabelos para não atrapalhar na colocação
do colar

Figura 7.5 – Etapas ilustrativas de confecção de colar cervical (1-9).

É importante entender o conceito de um quadro de Choque Medular, não podemos


“Choque Medular”, para poder avaliar a gravi- garantir a gravidade de uma lesão da medula
dade de uma lesão da medula espinhal. O espinhal durante esse período. Só poderá ser
Choque medular é um fenômeno que dura apro- avaliado adequadamente após o término desse
ximadamente 24 horas e consiste no período em período, que ocorre quando o primeiro reflexo
que todos os reflexos medulares abaixo da lesão abaixo da lesão retorna, que normalmente é o
estão abolidos. Se o paciente apresenta-se com reflexo sacral denominado “bulbocavernoso”.
64

É um reflexo que envolve raízes sacrais (S2 a estímulo com a retração do cateter de Foley).
S4) e consiste na contração do esfíncter anal Se após o retorno deste reflexo, mantiver uma
PARTE I

em resposta a um estímulo manual da glande perda total motora e sensitiva abaixo da lesão,
peniana ou do clitóris (uma alternativa é o há uma lesão completa da medula espinhal.
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA

A B
Figura 7.6 (A, B) – Reflexo bulbocavernoso. A) Aplica-se um estímulo manual no pênis ou no clitóris e B) há uma contração reflexa
do esfíncter anal.

Os primeiros exames a serem obtidos são ser indicada somente nos casos de deficit neuro-
radiografias cervicais (AP, Perfil e transoral), lógicos incompletos ou duvidosos, na necessi-
torácicas (AP) e pélvicas (AP). Porém, a tomo- dade de avaliar severidade da lesão ligamentar
grafia é superior à imagem radiográfica e por e da medula espinhal, antes da realização da
vezes, dispensa algumas radiografias, como as redução externa cervical e antes da redução
cervicais. A Ressonância Magnética (RNM) deve cirúrgica cervical, torácica ou lombar.

ReferênciaS BibliográfiaS
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65

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66
PARTE I TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA
Capítulo

8 FRATURAS CERVICAIS
Yorito Kisaki, Felipe Loss, William Osamu Toda Kisaki, Silvia Guaresi.

A
s fraturas cervicais podem ser dívidas FRATURAS CERVICAIS ALTA
em altas (acima de C2) e em baixas
As fraturas cervicais altas são as lesões que
(C3-C7), pois as vértebras, a classificação
incluem o osso occipital, a vértebra atlas (C1) e
e o tratamento diferem entre si. Com relação a
áxis (C2). É importante atentar que essas vérte-
anatomia das vértebras cervicais, é importante
bras diferem das demais vértebras cervicais
salientar que os processos transverso de todas as
visto que o Atlas (C1) é composto por 2 arcos
vértebras cervicais possuem um forâmen na qual
(anterior e posterior) e não possui corpo verte-
as artérias vertebrais passam dentro dela.
bral, enquanto que o áxis (C2) possui o processo
As fraturas cervicais podem ser decorrentes
odontoide que articula anteriormente com o
de diferentes mecanismo, como lesão em flexão,
próprio atlas e posteriormente com o ligamento
lesão em flexo-rotação, lesão em extensão e lesão
transverso do atlas. As lesões cervicais altas não
em compressão.
costumam estar associadas a lesões neurológicas
pois o espaço para o canal cervical é relativa-
mente grande (consideravelmente maior) em
C1 e C2. As lesões cervicais altas contempladas
neste capítulo serão as seguintes:
• Lesões relacionadas a articulação entre o
osso occipital do crânio e o atlas:
→ Fratura do côndilo occipital
→ Luxação atlanto-occipital
• Lesões do atlas (C1)
→ Fraturas do atlas
• Lesões do áxis (C2)
→ Fraturas do processo odontoide
Figura 8.1 – Mecanismo de lesões em coluna cervical: → Fratura do enforcado ou de
A) lesão em flexão; B) lesão em flexo-rotação; C) lesão em
extensão; D) lesão em compressão. “hangman”
68

A Arco anterior (C1) B C


Odontoide Odontoide
PARTE I

Ligamento Odontoide (C2)


transverso
Artéria
Vertebral
C1
C1
C1
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA

C2
C2
C2 Arco posterior
(C1)

Ant Post
Medula
Espinhal

Figura 8.2 (A, B, C) – Estruturas anatômicas de (C1) e áxis (C2): A) Observamos o processo odontoide de C2 articulando com C1 e
com o ligamento transverso. A medula espinhal passa posteriormente ao odontoide e ao ligamento transverso. As artérias vertebrais
passam no forâmen dos processos transversais; B) Processo odontoide em um vista lateral; C) Processo odontoide em um corte coronal.

Fratura do Côndilo Occipital Luxação atlanto-occipital


A lesão decorre de um trauma direto à Ocorre quando há uma força violenta sobre
cabeça, com fraturas que podem vir associadas a cabeça, com ruptura de vários ligamentos entre
à lesões concomitantes de C1, lesão ligamentar o occipito, atlas (C1) e o áxis (C2). Geralmente
e hematoma intracraniana. O diagnóstico é acomete pacientes pediátricos, devido ao
feito com tomografia computadorizada. O aumento da proporção cefálica nessa população.
tratamento conservador envolve a estabili- O diagnóstico é realizado com radiografia cervical
zação com halo-colete. O tratamento conser- lateral, complementado com TC ou RNM (resso-
vador não pode ser realizado quando houver nância nuclear magnética). É uma lesão muito
fraturas do côndilo associadas à luxação instável, sendo geralmente fatal. O tratamento
atlanto-occipital. Neste caso é necessário pode ser cirúrgico, sendo realizado a artrodese
tratamento cirúrgico com artrodese occipito- occipitocervical posterior com instrumentação
cervical posterior. rígida. Não se deve fazer tração cervical externa.

B Fratura do Atlas (C1)


Geralmente decorre de uma carga axial ou
em compressão que sobrecarrega o atlas (C1). Na
maior parte dessas fraturas, as partes ósseas do
atlas acabam se afastando lateralmente, conhecido
A como separação das massas laterais. Esta fratura
também está associado à lesão do ligamento trans-
verso do atlas, levando a uma instabilidade da arti-
culação entre o processo odontoide (C2) e o atlas.
O diagnóstico pode ser orientado a partir de uma
radiografia transoral (com abertura oral), que pode
Figura 8.3 (A, B) – A) Fratura occipital visto em corte coronal
evidenciar a separação das massas ósseas laterais
indicado pela seta vermelha; B) Fratura Occipital visto em corte (C1), em relação ao processo articular de C1 com
sagital com estruturas de C1 e C2 abaixo da lesão.
C2 maior que 7 mm – método de SPENCER.
69

Outra forma de diagnóstico é a partir da radio- e 5 mm em crianças), indicando possível lesão do

CAPÍTULO 8
grafia cervical lateral, onde podemos observar um ligamento transverso e sugerindo uma possível
aumento da distância entre o processo odontoide e fratura de atlas. A complementação pode ser reali-
o arco anterior de C1 (maior que 3 mm em adultos zada com uma TC.

A B

FRATURAS CERVICAIS
Figura 8.4 (A, B) – Desenho esquemático em corte sagital: A) Representação de uma radiografia sem lesão, com alinhamento
(em vermelho) entre as bordas laterais de C1 e C2. B) Representação de fratura de atlas com separação das massas ósseas laterais.
Se a soma das separações (a+b) for maior que 7 mm, há grande risco de ter ruptura do ligamento transverso.

Figura 8.5 – Ruptura do ligamento transverso. O processo Figura 8.6 (A) – Imagem radiográfica transoral: separação
odontoide pode afastar do arco anterior do atlas, numa distância das massas laterais em relação ao processo odontoide.
(a) maior que 3 mm em adultos ou 5 mm em crianças.

B C

Figura 8.6 (B, C) – TC em corte axial: fraturas de C1 (setas verdes) em relação ao odontoide (seta azul).
70

O tratamento varia de SOMI (Sternal cirurgia com realização artrodese de C1-C2 nos
Occipital Mandibular Immobilizer) a halo-colete, casos de maior instabilidade.
PARTE I

dependendo da instabilidade. A outra opção é a


TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA

Figura 8.7 – Halo-colete: fixação externa rígida da coluna Figura 8.8 – SOMI (Brace - Sternal Occipital Mandibular
cervical. Immobilizer).

Fratura do odontoide • Tipo II: geralmente na base do odontoide.


A fratura do odontoide do atlas (C2) ocorre Alto índice de pseudoartrose (especialmente em
em extremos de idade e decorrem de um movi- pacientes acima de 50 anos, tabagistas, doenças
mento brusco de flexão ou hiperextensão. O reumáticas e com fraturas mais deslocadas), por
tratamento depende do tipo de fratura, conforme isso se o tratamento conservador for optado,
a classificação por Anderson e D’Alonzo: devemos acompanhar periodicamente com
• Tipo I: Fratura estável da ponta do odon- radiografias laterais para mensurar se houver
toide; por estar acima do ligamento transverso, o aumento da distância entre o arco anterior de C1 e
tratamento é conservador com uso de colar cervical. o odontoide. O tratamento pode ser conservador

Figura 8.9 – Classificação


para fratura do odontoide
segundo Anderson e D’Alonso.
71

com halo-colete ou colar cervical rígido por 12 • Tipo III: fratura que tem traço aden-

CAPÍTULO 8
semanas se a fratura não estiver muito deslocada. trando o corpo vertebral. Tem boa chance de
Porém, se durante o acompanhamento houver consolidação com tratamento conservador com
indícios de pseudoartrose, deve-se realizar trata- redução externa e colocação de halo-colete, pois
mento cirúrgico com fixação do odontoide via a fratura ocorre na região de maior quantidade

FRATURAS CERVICAIS
anterior ou artrodese C1-C2 via posterior. de osso esponjoso.

A B
Figura 8.10 (A, B) – Fratura do odontoide tipo III, com linha de fratura acometendo base de C2. Paciente feminino de 80 anos
por queda da própria altura, apresentando fratura visto em TC em corte sagital (A) e em TC em corte axial (B).

A B

Figura 8.11 (A, B) – A) Imagem radiográfica de paciente feminina, 32 anos, apresentando fratura de C2 tipo II sem
deslocamento. B) Imobilização com órtese plástica.
72

Fratura do Enforcado ou de Hangman compressão e redução com extensão, seguida de


A fratura do enforcado é a fratura do áxis (C2) colocação de halo-colete. Não realizar tração neste
PARTE I

na região entre a faceta articular superior e infe- padrão de fratura.


rior, que divide a vértebra em porção anterior e • Tipo III: Quando há deslocamento e
posterior. Em virtude de que a porção anterior da angulação severa com deslocamento facetário.
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA

vértebra desloca anteriormente e a porção posterior Geralmente entre C2 e C3. Necessita cirurgia pela
também desloca para trás, outro nome dado a essa dificuldade de redução fechada.
fratura é a “Espondilolistese traumática do áxis”. O
antigo nome “enforcado”, se refere ao fato de que A
essa fratura era um achado comum em prisioneiros
que eram enforcados. O provável mecanismo da
lesão é a hiperextensão em um acidente automobi-
lístico. O tratamento varia conforme a classificação
de Effendi, modificadas por Levine e Edwards.

Figura 8.12 – Classificação de Effendi, modificadas por Levine


e Edwards (atentar que na II-A é necessário fazer uma angulação
no disco C2-3 esse é o motivo da lesão ligamentar/discal – faz
uma inclinação anterior do corpo e odontoide).

Tipo I: Quando há um deslocamento



mínimo (menor que 3 mm). Tratado com colete
cervical rígido ou halo-colete por 12 semanas
• Tipo II: Quando há tanto deslocamento
significativo (> 3 mm) mas angulação (<10º). O
tratamento consiste em tração craniana para reduzir
deslocamento e colocação de halo-colete por 12
Figura 8.13 (A, B) – A) Imagem radiográfica cervical de perfil
semanas. com fratura de C2 com anterolistese do segmento anterior e
• Tipo IIa: Flexão-distração, mínimo ou retrolistese do segmento posterior. B) Imagem clínica do paciente
com tração cervical utilizando halo craniano. Todo paciente que
nenhum deslocamento com grande angulação não esteja alerta ou cooperativo com lesão cervical precisa de
(>10º), sugerindo lesão discal. Realizar pequena RNM antes de realizarmos a tração cervical.
73

C D

CAPÍTULO 8
FRATURAS CERVICAIS
Figura 8.13 (C, D) – C) Imagem clínica do paciente com halo-colete. D) Imagem radiográfica de perfil após tratamento de halo-
colete, evidenciando consolidação.

A B

Figura 8.14 (A, B) – Paciente feminino de 35 anos com fratura de C2 tipo enforcado, mesmo método de tratamento do
paciente anterior. Evolução para consolidação.
74

Subluxação Atlanto-Axial
PARTE I

A B
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA

Figura 8.15 (A, B, C) – Paciente feminino de 19


anos apresentando subluxação entre C1 e C2, onde
se verifica um espaço grande entre o arco anterior
de C1 em relação ao odontoide (B e C). Tratado com
tração cervical.

A B

Figura 8.16 (A, B, C) – Paciente feminina de 14 anos, evidenciando torcicolo ao exame clínico, na qual os
exames mostram subluxação C1-C2 (atlanto-axial): as distâncias das massas laterais de C2 em relação ao odontoide são
diferentes (B). Tratado com tração cervical.
75

Lesão por arma de fogo: As fraturas da o canal vertebral ou o forâmen intervertebral,

CAPÍTULO 8
coluna por arma de fogo que não comprimirem não requerem remoção do projetil.

A B C

FRATURAS CERVICAIS
Figura 8.17 (A, B, C) – Paciente masculino, 27 anos, mostrando o projetil alojado no corpo vertebral de C2, sem comprometer
o canal medular.

FRATURA E LUXAÇÃO DE COLUNA didática em Lesões que acometem coluna ante-


CERVICAL BAIXA: rior, coluna lateral e coluna posterior. As 2 classifi-
cações mais modernas são da AO e SLIC (Subaxial
São fraturas que acometem o esqueleto subaxial Cervical Spine Injury). Para o tratamento de todas
(C3 a C7) e seguem padrões mais homogêneos as lesões cervicais baixas, a conduta é orientada
de classificação. Modernamente, classificamos a partir da soma dos escores da classificação de
associando morfologia, lesão disco-ligamentar, SLIC. Uma soma de escores abaixo de 3 indica
luxação e lesões neurológicas associadas. tratamento conservador, enquanto um escore
Podemos separar as lesões cervicais de forma acima de 5 indica conduta cirúrgica.

Figura 8.18 – Divisão didática em 3 colunas:


Coluna Anterior – corpo vertebral, ligamentos
longitudinais anterior (1) e posterior (2); Coluna
Lateral – pedículo facetas articulares, massas
laterais; Coluna Posterior – lâminas, ligamento
amarelo (3) e complexo ligamentar posterior (4).
O complexo ligamentar posterior é composto do
ligamento supraespinhoso e infraespinhoso.
76

Classificação da Lesão da coluna cervical Baixa (SLIC: Subaxial Fratura por compressão
Cervical Injury Classification) Decorre de uma força axial com ou sem
PARTE I

FRATURA SEGUNDO MORFOLOGIA Escore hiperflexão. Ocorre um acunhamento do corpo


Sem lesão 0
da vértebra. O tratamento geralmente é conser-
Compressão 1
1 vador com colar cervical tipo Philadelphia ou
Explosão 2
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA

colete cervicotorácico.
Distração 3
Rotação/Translação 4
COMPLEXO DISCO-LIGAMENTAR
A B
Sem lesão 0
2
Indeterminado 1
Ruptura 2
FUNÇÃO NEUROLÓGICA
Intacto 0
Lesão de raiz 1
3
Lesão medular completa 2
Lesão medular incompleta 4
Compressão com déficit progressivo 5
TOTAL*

*ESCORE TOTAL
Figura 8.20 (A, B) – A) Fratura por compressão da quarta
<3 Indicado tratamento conservador
vértebra cervical. B) Imobilização com colar plástico tipo
=4 Tratamento conservador ou cirúrgico são indicados Philadelphia de apoio occipital, mentoniano e torácico.
>5 Indicado tratamento cirúrgico
Fratura explosão ou BURST
Tabela 8.1 – Classificação e escore da lesão da couna cervical
baixa. Resulta também de uma carga axial, com
deslocamento de fragmento do corpo para
dentro do canal, podendo ocorrer lesão neuro-
LESÕES CERVICAIS ANTERIORES
lógica e frequentemente acontecendo nos
A parte anterior das vértebras cervicais inclui o corpo segmentos C6 e C7. Os fragmentos podem
vertebral e as estruturas ligamentares adjacentes vir a deslocar em direção da medula espinhal,
(ligamento longitudinal anterior e posterior). Essa levando à compressão da mesma. Comumente
região pode ter fraturas por compressão, fraturas se reduz instalando uma tração cervical com
explosão ou fraturas do tipo flexão com carga axial. tratamento cirúrgico complementar.
A B

Figura 8.21 (A, B) – Fratura explosão de corpo de vértebra


cervical de C7 com fragmento deslocando em direção à medula
Figura 8.19 – Desenho esquemático de corte axial de vértebra cervical. espinhal.
77

LESÕES CERVICAIS POSTERIORES trauma direto, principalmente na cervical mais

CAPÍTULO 8
baixa, onde processos espinhosos são maiores. Em
Fraturas simples de processos espinhosos ou
casos mais graves, a complementação de imagem
lâminas podem ser tratados com simples colar
com RNM e cirurgia a posteriori está indicada.
tipo Philadelphia. São frequentes em casos de

FRATURAS CERVICAIS
A B

Figura 8.22 – Paciente feminino, 49 anos, sentiu estalo, Figura 8.23 ( A, B, C) – A e B) Imagem radiográfica mostrando
após erguer peso na academia de ginástica. Evidencia-se fratura do processo espinhoso e na junção da lâmina com faceta articular,
fratura do processo espinhoso de C7. tratado conservadoramente com colar cervical tipo Philadelphia. C) -
Imagem de tomografia axial computadorizada comprovando as fraturas.

A B C

Figura 8.24 (A, B, C) –


A e B) Paciente masculino,
28 anos, mostrando lesão
ligamentar posterior C7/T1,
evidenciado pelo aumento
de espaço entre os processos
espinhosos. C) Imagem da
ressonância magnética da
coluna cervical.
78

Fratura Cervical Lateral a existência ou não de uma hérnia traumática. Se


Fratura ou luxação de faceta articular unilate- houver instabilidade, pode necessitar uma tração
PARTE I

rais são determinadas por forças de flexo-distração para reduzir e colocar halo-colete. A tração pode
combinados com rotação, que tende a “rotar” variar de 2,5 kg a 70% do peso corporal. Caso não
a vértebra, criando instabilidade no segmento. houver redução, necessitará redução cirúrgica,
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA

Sugere-se fazer ressonância magnética para avaliar fixando 2 segmentos articulares.

A B

Figura 8.25 (A, B) – Paciente masculino, 29


anos, evidenciando subluxação C4-C5 devido a
luxação facetária esquerda. A) Corte Axial em
TC evidenciando lado subluxado (seta laranja)
comparado à articulação facetária normal (seta
azul). B) imagem radiográfica em perfil com
deslocamento com < 25% de C4, caracterizando
luxação unilateral da faceta.

CASOS CLÍNICOS COM FRATURA CERVICAL


CSM, 33, masculino.
A B

Figura 8.26 (A, B,)


– Trauma pós mergulho
em águas rasas. Fratura
explosiva de C7. A)
Radiografia em perfil. B)
Imagem radiográfica em
anteroposterior.
79

C D

CAPÍTULO 8
FRATURAS CERVICAIS
E
Figura 8.26 (C, D, E) – C)
Imagem tomográfica da fratura.
Tratamento instituído com minerva
gessado. D) Imagem de tomografia
axial computadorizada mostrando
grande fragmento ósseo no canal
medular. Paciente somente referia
disestesia no território do nervo
cubital. E) Fratura consolidada com
anquilose C6 e C7. Nenhum deficit
neurológico. Imagem radiográfica
10 anos após a fratura.

DJS, 78, masculino.


A B C

D
Figura 8.27 (A, B, C, D) – Trauma
cervical em acidente automobilístico.
A e B) Fratura da segunda vértebra
cervical. Imagem de tomografia axial
computadorizada mostrando fratura
cominutiva da segunda vértebra cervical.
Discopatia avançada entre C4-C5, C5-C6,
C6-C7. C) Imagem de tomografia axial
computadorizada mostrando fratura
cominutiva que se estende até o pedículo
direito da segunda vértebra cervical. D)
Tratamento com halo-colete por 60 dias.
Evolução plenamente satisfatória.
80

E
PARTE I
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA

Figura 8.27 (E) – Imagem radiográfica dinâmica de fratura consolidada. Recuperação funcional completa.

ReferênciaS BibliogrÁfiCaS
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81

of diagnosis and principles of management.

CAPÍTULO 8
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13. VETTER, S. Verletzungen der Halswirbelsäule
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FRATURAS CERVICAIS
14. YANG, Z; YUAN, Z.Z; MA, J.X; MA, X.L.
Conservative versus surgical treatment for
type II odontoid fractures in the elderly:
Grading the evidence through a meta-
-analysis. Orthop Traumatol Surg Res, v. 101,
n. 7, p. 839-844, 2015.
15. YOKOTA, K; et al. Progression of local
kyphosis after conservative treatment for
compressive cervical spine fracture with
spinal cord injury. J Orthop Surg Res, v. 14, n.
1, p. 98, 2019.
82
PARTE I TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA
Capítulo

9
FRATURAS DA COLUNA
TORACOLOMBAR
Yorito Kisaki, Felipe Loss, William Osamu Toda Kisaki, Silvia Guaresi.

A
definição das 3 colunas (anterior, das classificações das fraturas da coluna tora-
médio e posterior) proposto por Denis, colombar. Dessa forma, para a coluna toraco-
na qual o comprometimento da coluna lombar, podemos dividir a coluna em anterior,
média determinava a instabilidade, foi o início médio e posterior.

Coluna anterior Coluna media

Figura 9.1 – Divisão da coluna toracolom-


bar em 3 colunas: Anterior – Metade anterior
do corpo vertebral e do disco e ligamento lon-
gitudinal anterior; Média – Metade posterior
do corpo vertebral e do disco e ligamento lon-
gitudinal posterior ; Posterior – Pedículo, fa-
cetas articulares, lâminas, ligamento amarelo,
Coluna posterior ligamento infraespinhal e supraespinhal.
84

A descrição das fraturas toracolombares compressão, fratura tipo explosão estável,


descritas neste capítulo seguem a divisão em 6 fratura tipo explosão instável, fratura de chance,
PARTE I

tipos de fraturas descritas por McAfee: fratura fratura flexo-distração, fratura em translação.
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA

B. Fratura tipo Explosão C. Fratura tipo Explosão


A. Fratura Compressão
Estável Instável

D. Fratura de Chance E. Fratura Flexo-Distração F. Fratura em Translação

Figura 9.2 (A, B, C, D, F) – Classificação de McAfee.

As fraturas toracolombares devem ser outro segmento associada. Devemos estar atento
avaliadas com radiografias em AP e em perfil a acunhamento de corpos vertebrais, bem como
e se constatado fratura, uma TC deve ser indi- aumento do espaço do processo espinhoso, que
cada, pois em 5 a 20% há uma outra fratura em sugerem fraturas vertebrais.

Figura 9.3 – Imagem axial tomográfica de fratu-


ra do processo transverso. As fraturas isoladas dos
processos transversos são sempre de tratamento
conservador.
85

FRATURA TORACOLOMBAR

CAPÍTULO 9
POR COMPRESSÃO

Pacientes com osteoporose ou em uso crônico


de corticoide também podem apresentar esse
tipo de fratura, mesmo com traumas de baixo

FRATURAS DA COLUNA TORACOLOMBAR


impacto. Porém é fundamental descartar malig-
nidades associadas (como mieloma múltiplo
e metástases) e outras doenças metabólicas
ósseas (como osteomalácia). A maioria das
fraturas por compressão são tratadas conser-
vadoramente, preferencialmente com colete de
polipropileno fechados do tipo OTLS (Órtese
Fratura Compressão
Tóraco-lombo-sacro) ou colete aberto de Jewett
Figura 9.4 – desenho esquemático de fratura toracolombar
para pacientes intolerantes ao uso de coletes
por compressão.
fechados. Coletes lombo sacro para fraturas de
São fraturas, via de regra, estáveis que tem L3, L4 ou L5. As fraturas acima de L2 até o nível
acunhamento pequeno, menor que 50% de de T6-T7, merecem colete alto. Para as fraturas
altura do corpo vertebral. Atentar sempre para acima de T6, o colete necessita sustentação
sinais de lesão de complexo ligamentar poste- complementar ao nível dos ombros. Usamos
rior (perda de altura de corpo vertebral maior em nosso serviço o colete de Risser. A fratura
que 50% ou cifose no local de fratura maior que que acometer vértebra sacral associada (será
20-30°) e para sinais de malignidade ou infecção abordado adiante em “fratura sacral”), necessi-
associados (ausência de pedículo em radiografia tará de um colete OTLS com extensão a um dos
AP ou massa paravertebral visto em RNM). membros inferiores.

A B C
Figura 9.5 (A, B, C) – A) Colete OTLS; B) Colete de Jewett; C) Colete de Risser.
86

FRATURA TORACOLOMBAR TIPO


EXPLOSÃO INSTÁVEL
PARTE I

significativa no local de fratura. Pode vir asso-


ciado a fratura de calcâneo, ossos longos e trau-
matismo craniano fechado em decorrência dessa
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA

carga axial de grande intensidade. Em casos que


não haja comprometimento neurológico e com
menos de 30 graus de cifose no local da fratura,
o tratamento poderá ser conservador com colete
OTLS. Porém, se houver indícios sugestivos de
lesão do complexo ligamentar posterior (como
perda da altura do corpo de vértebra maior
Fratura tipo Explosão Instável
que 50% e/ou cifose maior que 30 graus em
Figura 9.6 – Desenho esquemático representativo da fratura.
relação ao nível da fratura), deficit neurológico
Resulta de uma carga axial compressiva progressivo, evidência de comprometimento de
que compromete as 3 colunas (anterior, média canal espinhal, subluxação da faceta articular
e posterior) com lesão do complexo ligamentar ou na impossibilidade de utilizar coletes como
posterior, como os ligamentos supra e infraespi- medida conservadora, devemos indicar cirurgia.
nhal. Dessa forma, pode haver um acunhamento A cirurgia não será abordada neste capítulo, em
do corpo vertebral e desenvolvimento de cifose virtude de focarmos no tratamento conservador.

A B

Figura 9.7 (A, B) –


Paciente feminina de 49
anos, com fratura explosão
de L2 devido a queda de al-
tura. A) Radiografia lombar
em perfil com perda de al-
tura do corpo vertebral. B)
Radiografia lombar em AP
com acunhamento lateral.
87

CAPÍTULO 9
FRATURAS DA COLUNA TORACOLOMBAR
Figura 9.7 (C) – Paciente feminina de 49
anos. C) Corte axial de TC com fratura explosão
e com fragmento posterior do corpo vertebral
(seta verde).

A B

C D

Figura 9.8 (A, B, C, D) – Paciente masculino de 34 anos, sofreu fratura explosão (Burst) em L2. A) Imagem
radiográfica mostrando diminuição da altura do corpo vertebral. B) tomografia computadorizada com reconstru-
ção. C) Tomografia axial de L2 com fragmento ocupando 50% do canal vertebral. D) Tomografia axial após um ano,
mostrando aumento do diâmetro do canal com tratamento conservador com colete.
88

FRATURA TORACOLOMBAR TIPO


EXPLOSÃO ESTÁVEL
PARTE I
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA

Fratura tipo Explosão Estável


Figura 9.9 – Desenho esquemático representativo.

São fraturas que envolvem a coluna anterior


e média. Aqui se observa um comprometimento
do canal vertebral menor que 50%. Podemos
observar um acunhamento do corpo vertebral
menor que 50% da altura da coluna anterior. As
lâminas e as facetas articulares estão intactas.
Consequentemente, é raro que se apresentem
com comprometimento neurológico. O trata-
mento indicado é o colete OTLS de polipropi-
leno, se possível em hiperextensão, por tês a Figura 9.10 – Imagem radiográfica da coluna lombar em
perfil, de paciente feminina de 51 anos, com acunhamento
quatro meses. de L2 devido a queda de altura.

A B C

Figura 9.11 (A, B, C) – Paciente masculino de 32 anos


apresentando fratura compressão da porção anterior do cor-
po de L1, sem invasão do canal vertebral de L1 por queda de
altura, tratado com colete.
89

CAPÍTULO 9
FRATURAS DA COLUNA TORACOLOMBAR
Figura 9.12 –
Imagem tomografia
da primeira vértebra
lombar, comprome-
tendo coluna ante-
rior e média.

Figura 9.13 – Tratamento com colete de polipropileno por 90 dias.


90

FRATURA TORACOLOMBAR DE
CHANCE OU LESÃO DO CINTO
PARTE I

do eixo de rotação do mecanismo da lesão se


encontra na porção anterior do corpo verte-
bral, com abertura da porção posterior da
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA

coluna, acometendo portanto, coluna anterior,


média e posterior. A ruptura inicia-se ao nível
do processo espinhoso ou entre os processos
espinhosos, passando pelo pedículo e indo em
direção ao corpo ou disco. Em muitos casos,
se verifica lesão abdominal associada. O trata-
mento conservador é possível em casos onde
Fratura de Chance há acometimento somente da parte óssea e sem
Figura 9.14 – Figura esquemática representativo da fratura. lesão neurológica, utilizando o colete toraco-
lombar em extensão. A cirurgia é indicada nos
Essa lesão decorre do trauma em flexão casos de deficit neurológicos ou com lesão liga-
provocada pelo cinto de segurança. O fulcro mentar maior.

A B C

Figura 9.15 (A, B, C) – Paciente feminina de 11 anos com lesão típica de cinto de segurança. A e B) TC corte sagital: fratura
visível com abertura posterior (em laranja) e visualização do aumento do espaço interespinhoso (em verde). C)Radiografia em
perfil já em tratamento com colete do tipo OTLS.
91

D E

CAPÍTULO 9
FRATURAS DA COLUNA TORACOLOMBAR
Figura 9.15 (D, E) – Seis meses
após, evidencia-se consolidação
completa.

LESÃO TORACOLOMBAR EM FLEXO-DIS- LESÃO TORACOLOMBAR EM TRANSLA-


TRAÇÃO ÇÃO (FRATURA-LUXAÇÃO)

Fratura Flexo-Distração Fratura em Translação


Figura 9.16 – Desenho esquemático representativo. Figura 9.17 – Desenho esquemático representativo.

O mecanismo costuma ser acidente A fratura-luxação ou fratura em translação


automobilístico na qual há uma flexão decorre de um trauma de alta energia,
acompanhada de distração. Além da abertura determinando lesão nas três colunas com
da coluna posterior, há um acunhamento deslocamento em um ou mais planos. A lesão
significativo do corpo vertebral. O eixo de neurológica está presente na maioria das vezes.
rotação da lesão encontra-se dentro do corpo Esse tipo de trauma, por ser instável, requer
vertebral ao contrário da lesão de Chance, em estabilização cirúrgica, independente do deficit
que o eixo de rotação se encontra anterior ao neurológico, limitando os efeitos deletérios
corpo vertebral. O tratamento é cirúrgico, com das deformidades ou de progressão de lesão
fusão posterior. neurológica.
92

A B C D
PARTE I
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS DA COLUNA

Figura 9.18 (A, B, C, D) – A) TC coronal com fratura em translação. B) TC sagital com mesma fratura. Paciente feminina de 33 anos
que sofreu fratura-luxação no nível T4/5 por acidente automobilístico. C) Imagem radiográfica AP pós-operatório. Paciente submetido a
cirurgia com redução aberta e fixação. D) Radiografia em perfil pós-operatório.

FRATURAS DA COLUNA SACRAL


A fratura das vértebras sacrais pode variar turas e da variabilidade fisiológica do ângulo do
desde traumas de baixo impacto (pacientes com próprio sacro (que pode variar de 0 a 90 graus).
osteoporose ou neoplásicas) até traumas de alto Os nervos sacrais inervam a região perineal,
impacto. Por distribuir a carga exercida na coluna logo no exame físico podemos testar essa região
para a pelve, lesões do anel pélvico podem vir para averiguar comprometimento neurológico
acompanhados desse tipo de fratura. O grande sacral. Podemos avaliar se há hipertonia patológica
desafio tange ao diagnóstico, visto que nem do esfíncter anal, testar contração voluntária do
sempre a fratura sacral é visível em radiografia esfíncter anal, presença da sensibilidade perianal
em virtude da sobreposição com outras estru- e reflexo bulbocavernoso. Toque retal também

Figura 9.19 –
Paciente de 33 anos,
feminina que sofre
fratura das asas do
sacro por queda de
altura, tratado con-
servadoramente.
93

deve ser realizado para avaliar lesão prostática cirurgia. Se optado pelo tratamento conservador,

CAPÍTULO 9
associada. Radiografia de bacia (AP, Inlet, Outlet e paciente deve usar colete OTLS com extensão para
perfil) devem ser solicitados. Se suspeitar de lesão, um dos membros inferiores e inicialmente deve
devemos complementar com TC. Os critérios manter-se em repouso e acamado, sem colocação
para definir tratamento conservador ou cirúrgico de carga sobre a coluna. Porém, se o paciente vier

FRATURAS DA COLUNA TORACOLOMBAR


é muito variado. No entanto, se houver deslo- a apresentar deficit neurológico ou dor de raiz
camento da fratura maior ou igual a 1 cm (sinal sacral, cirurgia de descompressão deve ser reali-
sugestivo de instabilidade), deve ser optado pela zado dentro de duas semanas.

MAUS RESULTADOS CIRÚRGICOS NO TRATAMENTO DAS FRATURAS NA COLUNA:

Imagens que sempre devem ser lembradas quando há dúvidas entre o tratamento conservador e o
cirúrgico.

Figura 9.20 – Frouxidão e migração de haste e parafusos Figura 9.21 – Infecção com exposição de parafusos e haste
em artrodese cervical. após infecção em artrodese da coluna lombar.

Figura 9.22– Parafuso


transpedicular intracanal
após desastrosa fixação
cirúrgica.
94

Referências BibliográficaS
PARTE I

1. AN, H.S; SINGH, K. Synopsis of spine surgery. 10. ROSEN, P; et al. Emergency medicine: concepts
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9. MURPHY, H; et al. Management of hangman’s
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Trauma, v. 31, p. 90-95, 2017. Suplemento 4.
Parte TRATAMENTO NÃO

II
CIRÚRGICO DAS
FRATURAS NOS
MEMBROS SUPERIORES
Capítulo

10 FRATURAS DA CLAVÍCULA
Carlos Roberto Schwartsmann, Fernando Carlos Mothes,
Fabio Matsumoto, Almiro Gerzson Britto

CONSIDERAÇÕES GERAIS
A clavícula é o primeiro osso a se ossificar na e até mesmo pleuropulmonares. Sendo neces-
vida intrauterina. Ela é subcutânea e conecta o sário verificar os pulsos periféricos, a função
membro superior ao tronco ajudando na esta- dos nervos do membro superior e a presença de
bilização do ombro mantendo-o afastado do enfisema subcutâneo e alterações respiratórias.
tórax. A forma da clavícula se assemelha a um A radiografia comprova a existência da fratura
“S” quando vista de cima, apresenta uma curva que na grande maioria das vezes apresenta o
côncava vertical na sua porção lateral e convexa mesmo desvio.
ventral na sua porção medial. O osso é mais
tubular no seu terço médio e mais achatado nas
extremidades. O local dessa transição geomé-
trica e o ponto mais frágil a carga axial e, por
isso, há maior incidência de fraturas.
A incidência varia de 2 a 10% de todas as
fraturas, mas alcança ocorrência de até 40%
nas fraturas do ombro e cintura escapular. A
causa mais comum é o trauma indireto com
queda sobre o braço estendido ou queda de
lado sobre o ombro. Muitos autores admitem
que o trauma direto possa ser o mecanismo
mais frequente (queda de moto, bicicleta etc.).
O diagnóstico da fratura da clavícula é fácil
após história e exame físico. Há muita dor e
Figura10.1 – Deslocamento habitual nas fraturas da clavícula.
impotência funcional. Observar ação muscular. O fragmento proximal se desloca cranial-
É importante lembrar que as fraturas com mente pela ação do músculo esternoclidomastoideo, o fragmento
distal se desloca para frente e para baixo pela ação da gravidade e
desvio podem provocar lesões neurovasculares a força dos músculos Peitoral Maior e Grande Dorsal.
98

TRATAMENTO: O traumatologista deve reduzir a fratura


De forma genérica o tratamento das fraturas com paciente sentado. Os ombros são posteriori-
PARTE II

da clavícula é incruenta. Neer em 1960 avaliando zados enquanto o joelho se contrapõe na coluna
2.235 pacientes relatou uma taxa de pseudoar- na região interescapular. Obtida a redução o
trose de 0,1%. Rowe em 1968 relatou incidência “oito” preferentemente gessado é confeccionado
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

de 0,8. Entretanto Hill e Zlowoski encontraram com as mãos do paciente, apoiadas nas suas
índices de 2% a 15% nas fraturas deslocadas ou próprias asas do ilíaco, os braços devem estar
cominutivas. abduzidos. O algodão nas axilas de ver generoso
Na literatura encontramos diversos tipos para não determinar compressão neurovascular.
de tratamento. As fraturas incompletas ou não Após a secagem do gesso o paciente deve
deslocadas podem ser tratadas com tipoia, enfai- ser orientado para manter os braços abertos e
xamento velpeau ou imobilizadores de lona. nas primeiras horas, permanecer em decúbito
Muitos autores consideram que os bons resul- dorsal. Eventualmente formigamento é indício
tados obtidos com os mais diferentes métodos de de compressão nervosa axilar. Os membros supe-
imobilização foram alcançados não pelo método riores devem ser mais abduzidos e se a queixa
empregado, mas sim pelo grande potencial de persistir, o gesso deve ser recortado ou descompri-
consolidação da clavícula. Entretanto as fraturas mido. O paciente deve ser reavaliado em 48 horas
com desvio devem ser reduzidas e imobilizadas e uma semana. Dependendo da evolução em duas
com oito gessado ou não. A anestesia, se for semanas pós fase aguda, que é mais doloroso e
necessária, pode ser local. A técnica está descrita desconfortável, o gesso pode ser trocado por novo
na figura 10.2. aparelho gessado ou aparelho em oito de lona que
possibilita aperto gradual. A imobilização deve
ser mantida por seis a oito semanas.
Cabe salientar que a consolidação clínica
antecede a radiografia. O foco da fratura se esta-
biliza clinicamente, mas o calo ósseo não é bem
visualizado. O mesmo só aparece com nitidez,
após 10 ou 12 semanas.

Figura 10.2 – Método de redução da fratura da clavícula. Os Figura 10.3 – Imagem radiográfica do desvio classico da fratu-
ombros são posteriorizados com apoio do joelho do traumatolo- ra da clavicula: o fragmento proximal se desloca cranialmente e
gista na região interescapular. o fragmento distal é deslocado para baixo.
99

CONFECÇÃO DO OITO GESSADO

CAPÍTULO 10
FRATURAS DA CLAVÍCULA
1ª - Paciente com as mãos na cintura me- 2ª - Cortar a malha na medida de duas 3ª - Dois rolos de algodão laminado de 20
dir com malha de 12 cm sobre o ombro partes cm medir em toda a extensão da malha
passando na axila

4ª - Dobrar o algodão ao meio 5ª - Conforme o ilustrado 6ª - Dois rolos de gesso 8 cm abrir em


toda a extensão

7ª - Pegar nas duas extremidades 8ª - Dobrando para o meio 9ª - Sem soltar as pontas levantar o gesso

10ª - Molhar tirando o excesso da água 11ª - Estender sobre o algodão 12ª - Preparar a malha para vestir

Figura 10.4.1 – Técnica de confecção do oito gessado (1-12).


100
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

13ª - O algodão e o gesso 14ª - Após vestir o gesso e o algodão 15ª - do meio da escápula sobre o ombro

16ª - Passando na axila 17ª - Contornar toda a imobilização até 18ª - Prender com fita o final da atadura e
terminar a mesma dobrar as bordas para dentro

19ª - Imagem clínica final de oito gessado 20ª - Imagem clínica final de oito gessado
(frente) (costas)

Figura 10.4.2 – Técnica de confecção do oito gessado (13-20).

Figura 10.5 – Aspecto final do oito gessado. Uma nova camada de gesso pode ser acrescentada em cima do oito.
101

CAPÍTULO 10
FRATURAS DA CLAVÍCULA
Figura 10.6 – Aparelho oito gessado muito mal confeccionado. Pouco acolchoamento e proteção axilar. Esse engano deve
ser evitado!

São indicações para tratamento cirúrgico ra irredutível, iminente perfuração da pele,


com osteossíntese: fraturas expostas, fraturas lesão associada neuro vascular, ombro flutu-
duplas da clavícula, fratura bilateral, fratu- ante.

CASOS CLÍNICOS
MIM 43, masculino.
A B

Figura 10.7 (A, B) – A) Fratura da clavícula com grande desvio. B) Fratura consolidada com exuberante calo ósseo.

CAR, 33, masculino.


A B

Figura 10.8 (A, B) – A) Fratura do terço médio da clavícula com desvio e cavalgamento. B) Fratura consolidada em pequeno
encurtamento sem repercussão clínico. Imobilização com oito gessado.
102

WDZ, 28, masculino.


PARTE II

A B
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 10.9 (A, B) – A) Fratura obliquá do terço médio da clavícula esquerda. B) Consolidação com exuberante calo ósseo pós
oito gessado por quatro semanas.

LAR, 41, feminino.


A B

Figura 10.10 (A, B) – A) Fratura da clavícula no terço médio com deslocamento. B) Fratura consolidada pós oito gessado.
Imagem radiográfica após quatro meses.

BIN, 32, masculino.


A B

Figura 10.11 (A, B) – A) Fratura com desvio do terço médio da clavícula direita. B) Fratura consolidada pós-tratamento com oito
gessado por quatro semanas.
103

LIS, 28, feminino.

CAPÍTULO 10
A B

FRATURAS DA CLAVÍCULA
Figura 10.12 (A, B) – A) Fratura do terço médio para distal da clavícula com importante cavalgamento. B) Fratura após redução
consolidada em boa posição. Imobilização com oito gessado.

ELF, 17, feminino.


A B

Figura 10.13 (A, B) – A) Fratura do terço médio da clavícula com desvio e diástase. B) Formação de importante calo ósseo entre
os fragmentos pós oito gessado. A capacidade osteoblástica do jovem é sempre aliada do tratamento conservador.

CIM, 28, masculino.


A B

Figura 10.14 (A, B) – A) Fratura do terço distal com deslocamento cranial e tecla de piano. B) Fratura consolidada com imobili-
zação tipo Watson-Jones.
104

DUD, 38, masculino.


PARTE II

A B
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 10.15 (A, B) – A) Fratura do terço distal da clavícula com migração cranial simulando luxação acrômio clavicular. B) Fratura
consolidada na posição anatômica. A maioria dos traumatologistas são inclinados ao tratamento cirúrgico desse tipo de fratura.

Figura 10.16 – Nas fraturas do terço distal a imobilização tipo Watson-Jones com esparadrapo mantém compressão do terço
proximal contra o fragmento clavicular distal. Ela deve ser trocada semanalmente.

RM, 22, feminino.


A B

Figura 10.17 (A, B) – A) Fratura deslocada do terço distal da clavícula. Sinal da tecla de piano. B) Fratura consolidada pós imobi-
lização tipo Watson-Jones por quatro semanas.
105

INADEQUADO TRATAMENTO CONSERVADOR PARA AS FRATURAS DA CLAVÍCULA

CAPÍTULO 10
FRATURAS DA CLAVÍCULA
Figura 10.18 – O tratamento com tipoia simples, tipóia-velpeau e velpeau de lona, é inadequado pois não
imobiliza o foco de fratura, não reduz o desvio e mantém o cavalgamento. A fratura da clavícula, muitas vezes,
consolida pois é um osso de boa índole apesar do “destrato” do traumatologista. Este é o exemplo do trata-
mento “errado” para fratura da clavícula.

LIRS, 53, masculino.

Figura 10.19 – Fratura cominutiva do terço médio da clavícula com desvio clássi- Figura 10.20 – Tratamento com velpeau
co. de verão (inadequado).

Figura 10.21 – Evolução após 90 dias: pseudoartrose da clavícula.


106

MAUS RESULTADOS DO TRATAMENTO CIRÚRGICO DA FRATURA DA CLAVÍCULA


PARTE II

Pseudoartrose
DEC, 33, masculino
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 10.22 – Fratura da clavícula


após queda de bicicleta. Desvio clássi-
co da fratura: fragmento proximal des-
locado para cima por ação do músculo
esternoclidomastoideo e fragmento
distal para baixo pela gravidade e pela
ação dos músculos Peitoral Maior e
Grande Dorsal.

Figura 10.23 – Opção pelo tratamento cirúrgico com placa e 6 parafusos.

Figura 10.24 – Perda da redução.


Frouxidão e soltura da placa e dos para-
fusos distais.
107

CAPÍTULO 10
FRATURAS DA CLAVÍCULA
Figura 10.25 – Evolução para
pseudoartrose. Necessidade de
reintervenção com nova osteossín-
tese e enxerto ósseo.

Infecção

CID, 38, masculino

Figura 10.26 – Fratura do terço médio da


clavícula com desvio clássico.

Figura 10.27 – Opção pelo tratamento cirúrgico: placa com Figura 10.28 – Evolução com fistula e infecção.
parafusos e compressão interfragmentária.
108
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 10.29 – Imagem radiográfica após


retirada do material de síntese. Cura da in-
fecção e evolução para pseudoartrose.

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109

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CAPÍTULO 10
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504-507, ago. 2005
Capítulo

11
FRATURAS DO ÚMERO
PROXIMAL
Osvandré Lech, João Artur Bonadiman, Paulo Piluski, Carlos Castillo

A
extremidade proximal do úmero é divi- por fragilidade, sendo menos frequente apenas
dida em 4 fragmentos: cabeça umeral, que as fraturas do rádio distal e do quadril em
tubérculo maior, tubérculo menor e indivíduos acima de 65 anos, ocorrendo com
diáfise. As fraturas podem acometer em todos os frequência três vezes maior no sexo feminino.
segmentos, isoladamente, conjuntamente, com A maioria das fraturas do úmero proximal
ou sem deslocamentos. – em torno de 80 a 85% – tem indicação de trata-
mento conservador, embora a frequência de
Tubérculo maior
tratamento cirúrgico vêm aumentando significati-
vamente devido ao desenvolvimento de material
de síntese mais adequado e da experiência adqui-
rida com a artroplastia. Além disso, por questões
comportamentais, muitos pacientes optam por
tratamento cirúrgico pela rapidez e conforto,
Tubérculo menor já que esta opção não exige períodos longos de
Diáfise imobilização. Muitos estudos comparativos entre
o tratamento conservador e o cirúrgico – seja oste-
Figura 11.1 – Desenho esquemático dos quatro fragmentos
potencialmente fraturáveis do terço proximal do úmero.
ossíntese ou artroplastia – para o mesmo tipo de
fratura do úmero proximal informa que os resul-
tados funcionais são semelhantes.
O RACIONAL DO TRATAMENTO CON-
As fraturas do úmero proximal possuem
SERVADOR
dois padrões: o primeiro e mais comum é
As fraturas do úmero proximal são frequentes e nos pacientes idosos e osteoporóticos, onde a
representam cerca de 5% de todas as fraturas do fratura geralmente resulta de um trauma de
corpo humano. A sua incidência aumenta signi- baixa energia, como queda da própria altura. A
ficativamente nos idosos devido à fragilidade maioria destes casos apresenta mínimo desvio
óssea pela osteoporose e sarcopenia. Trata-se do e pode ser tratado conservadoramente com
terceiro tipo mais comum de fratura não-vertebral bom prognóstico. O segundo padrão ocorre
112

em pacientes jovens e resulta de trauma de alta e visuais, etilistas e diabéticos também apresentam
energia (acidente de moto ou de automóvel, maior chance de fratura.
PARTE II

queda de escadas, etc.) e pode estar associado Em 1934, Ernest Codman descreveu no clás-
com lesões de partes moles e danos neurovas- sico livro The Shoulder o conceito das 4 partes da
culares extensos. Muitas destas fraturas podem fratura do úmero proximal, envolvendo a diáfise
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

ser tratadas de forma conservadora; porém, proximal, a cabeça umeral e as tuberosidades


quando estiverem desviadas, o tratamento maior e menor. Este conceito das quatro partes
cirúrgico se impõem. foi universalmente aceito pela classificação de
Charles Neer em 1970, que arbitrariamente
considerou que o fragmento estaria desviado
quando houvesse pelo menos 1 cm de desvio ou
angulação mínima de 45 graus.
Até os dias de hoje ainda é a classificação
mais aceita. Ela considera o desvio dos frag-
mentos. Para que um fragmento seja conside-
rado desviado, precisa haver um deslocamento
maior que 1 cm ou uma angulação maior que 45
graus em rotação ao fragmento não fraturado.
Portanto se isto não aconteceu, a fratura é consi-
derada como sendo um desvio mínimo ou sem
desvio. Entretanto se os desvios forem maiores
Figura 11.2 – Aspecto clássico da paciente uma se- as fraturas poderão ser classificadas em 2 partes,
mana após fratura proximal do úmero. Visível e impor- 3 partes ou 4 partes.
tante sufusão hemorrágica.
A fratura em 2 partes é aquela em que
Os principais fatores de risco associado às somente um dos fragmentos esta desviado em
fraturas do úmero proximal são a idade, sexo relação aos outros. A fratura com 3 partes é aquela
feminino, raça branca e baixa densidade mineral em que 2 fragmentos estão desviados em relação
óssea. Além disso, pacientes deficientes auditivos aos outros dois e a superfície articular da cabeça

Colo anatômico Tuberosidade maior


“em 2 partes” Tuberosidade maior “em 3 partes”
“em 2 partes”

Impactada

Fratura
“em 4 partes”

Tuberosidade menor Tuberosidade menor


Colo cirúrgico
“em 2 partes” “em 3 partes”
“em 2 partes”

Figura 11.3 – Classificação de Neer para as fraturas do úmero proximal, 1970.


113

umeral está congruente com a superfície articular ao tratamento com prótese reversa com segui-

CAPÍTULO 11
da glenoide. A fratura com 4 partes é aquela em mento de um ano, concluíram que a prótese
que os 4 fragmentos estão desviados entra si, e reversa propicia apenas mínimos benefícios a
a cabeça umeral está congruente com o glenoide. mais que o tratamento conservador em termos
A opção sobre o melhor tratamento para de função e mobilidade. Esse estudo corroborou

FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL


as fraturas do úmero proximal permanece a publicação de Tokish e colegas de 2017 onde
complexa e multifatorial e deve levar em conta obteve as mesmas conclusões ao realizar seme-
não somente o perfil da fratura, como desvio, lhante comparação (conservador versus reversa)
cominuição do(s) fragmento(s) e qualidade em um grupo de 39 pacientes com um ano de
óssea, mas também os fatores do paciente como seguimento. Os dois trabalhos mencionados
a idade, a dominância, a profissão, as comorbi- expõem os dilemas enfrentados na decisão entre
dades médicas e as lesões associadas. Outros o mais simples (imobilização em tipoia) e o mais
fatores, que não se devem diretamente ao caro (prótese reversa) dos tratamentos, já que
paciente, mas também devem ser considerados: invariavelmente o resultado funcional será seme-
experiência e julgamento do cirurgião, evidên- lhante entre os grupos.
cias da literatura e da chamada “Medicina Esse capítulo aborda o tratamento conser-
Baseada em Evidências” (MBA), disponibilidade vador das fraturas do úmero proximal, que
de material no local de atendimento e fatores possuam bom alinhamento dos fragmentos e
econômicos. Em outras palavras, um simples também aquelas sem alinhamento ideal. Na
algoritmo não satisfaz todas as variáveis envol- decisão sobre tratar o paciente com o método
vidas e a experiência profissional conta muito na conservador ou cirúrgico, deve-se avaliar o
escolha do método de tratamento. paciente como um todo, ter a definição clara
O estudo multicêntrico e randomizado de suas demandas prévias e expectativas com
PROFHER realizado na Inglaterra com patro- o tratamento, além de avaliar cuidadosamente
cínio do NIH (National Institute of Health) incluiu as comorbidades e conhecer os materiais de
250 pacientes com fraturas do úmero proximal; implante disponíveis.
o escore de Oxford foi utilizado para avaliar
o resultado após dois anos de seguimento e FRATURAS EM 1 PARTE
não observou diferença funcional significativa As fraturas em uma parte, são aquelas em
entre o grupo tratado cirurgicamente (39.07) que os fragmentos acometidos apresentam
e aquele que recebeu tratamento conservador menos de 1 cm de desvio ou uma angulação
(38.32). O estudo recebeu muitas críticas dentro inferior a 45 graus, e correspondem a apro-
e fora da Inglaterra, já que os grupos não eram ximadamente 80 a 85% de todas as fraturas
uniformes para a comparação, mas acendeu do úmero proximal, consideradas minima-
novamente a discussão que possui farta biblio- mente desviadas. Nestes casos, o tratamento
grafia ao longo das décadas – o tratamento será conservador tipo velpeau de verão e/
conservador das fraturas do úmero deve ser a ou com imobilização em tipoia por quatro a
primeira opção. seis semanas. O controle radiológico deve ser
Em 2019, Lopiz e colegas avaliaram 59 feito semanalmente para assegurar que o(s)
pacientes com fratura do úmero proximal em 3 e fragmento(s) não se deslocaram. Exercícios
4 partes em maiores de 80 anos, sendo 30 subme- isométricos, mobilização com pendulares e
tidos ao tratamento conservador e 29 submetidos escapulares deve-se iniciar assim que tolerado
114

pelo paciente, após uma avaliação radiográfica gico, colo anatômico, tuberosidade maior e tube-
de controle e análise clínica do movimento em rosidade menor.
PARTE II

bloco da fratura, que geralmente ocorre após Launonen e colegas realizaram em 2019
trinta dias. O reforço muscular deve iniciar um estudo multicêntrico randomizado de 88
após os sinais de consolidação radiográfica e a pacientes com mais de 60 anos, comparando o
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

amplitude de movimento deve alcançar 80 a 90 tratamento conservador versus cirúrgico para


% do lado contralateral. as fraturas desviadas do úmero proximal em 2
A mobilização precoce influencia positiva- partes (mais de 1 cm ou 45 graus de desvio). Após
mente nos desfechos funcionais e a diminuição dois anos de seguimento, não houve diferença
da dor. Um estudo randomizado elaborado por estatística entre os grupos, sugerindo que a opção
Young comparou pacientes com fraturas em uma pela cirurgia em todas as fraturas em 2 partes
parte, dividindo-os em dois grupos: o primeiro deslocadas em idosos pode não ser benéfica.
teve a reabilitação iniciada após três dias do trauma
e o segundo após três semanas de imobilização. Colo Cirúrgico
O grupo submetido a mobilização precoce teve Esse padrão representa aproximadamente
melhora na dor, abdução e flexão nos primeiros 20 a 30 % das fraturas do úmero proximal. O
três meses. A partir dos seis meses não houve dife- desvio medial da diáfise deve ser cuidado-
rença significativa entre os grupos. samente avaliado, já que o músculo peitoral
Mesmo nestas fraturas consideradas “sim- maior traciona medialmente o fragmento da
ples”, o tempo de evolução até a cura definitiva diáfise umeral, sendo este desvio considerado
pode se estender por oito a dez meses, muito além por Hertel como um dos fatores de pior prog-
do tempo de consolidação propriamente dito. Isto nóstico para a ocorrência de osteonecrose da
se deve ao fato de que uma fratura desenvolve cabeça umeral. Quanto maior o desvio medial
também graus variados de retração capsular, da diáfise, pior o prognóstico devido a lesão
distúrbios simpáticos (dor reflexa regional, conhe- dos vasos circunflexos que irrigam a cabeça
cida no passado por distrofia simpático-reflexa), umeral.
hipotrofia muscular, etc. Muitos pacientes com este padrão de
Nos casos das fraturas do úmero proximal fratura toleram bem o tratamento conservador.
em uma parte, a tipoia com imobilização em As opções de tratamento dependem da esta-
rotação neutra (aquela que possui um coxim de bilidade da fratura e da magnitude do desvio.
abdução do braço, mantendo-o em zero graus de A técnica de redução consiste na desimpac-
rotação) diminui as chances de desvio posterior tação da fratura mal alinhada e subsequente
da grande tuberosidade ou desvio medial e/ou re-impactação. Se o fragmento tiver um desvio
rotação interna da diáfise umeral nas fraturas medial completo, a redução da fratura deve ser
do colo cirúrgico. Em 1989, Kristiansen e colegas considerada para que seja obtido um resultado
concluíram que 94% de fraturas não desviadas, favorável. Após a redução, avalia-se a estabili-
tratadas de maneira conservadora, obtiveram dade pela fluoroscopia e o paciente é mantido
bons ou excelentes resultados. com velpeau ou velpeau de verão. A fisioterapia
inicia a partir da segunda ou terceira semana
FRATURAS EM 2 PARTES dependendo da dor. O estímulo à mobilidade
Existem quatro possíveis padrões de fratura precoce evita rigidez e obtém melhores ganhos
em duas partes do úmero proximal: colo cirúr- funcionais
115

RIC, 42, masculino.

CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.4 – Imagens radiográficas do ombro esquerdo de paciente com 42 anos evidenciando fratura em
2 partes do colo cirúrgico.

Figura 11.5 – Imagem tomográfica coronal. Figura 11.6 – Imagem radiográfica da fratura consolidada.
Consolidação após seis semanas.

O tratamento conservador deste padrão de ruim. Bom resultado foi igualmente obtido em
fratura obteve bons resultados em pacientes pacientes acima de 65 anos que apresentavam
ativos acima de 65 anos, com fratura impac- baixa demanda funcional, independente do tipo
tada em varo ou valgo e com qualidade óssea de fratura.
116

CS, 65, masculino.


PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 11.7 – Imagens radiográficas de paciente com fratura do úmero proximal direito impactada em varo.

Figura 11.8 – Controle em quatro semanas: aumento do des- Figura 11.9 – Controle em 12 semanas mostrando consolida-
vio em varo. ção da fratura com desvio em varo.
117

CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.10 – Resultado funcional final do paciente.

Colo Anatômico Mclaughlin sugeriu que um deslocamento de


A ocorrência dessa fratura de forma isolada 5 mm causaria impacto e disfunção do manguito
é uma variante extremamente rara. O manejo de rotador. O desvio posterior pode gerar um deficit
maneira fechada é muito difícil. A fratura sem em rotação externa, porém é mais bem tole-
desvio pode ser tratada conservadoramente. Nas rado que o desvio superior, que causa impacto
fraturas com desvio, talvez o melhor tratamento subacromial e bloqueio da elevação do membro
seja a redução e fixação percutânea ou reposição superior no plano da escapula.
protética. O tratamento conservador dessas fraturas
é preconizado nos casos com desvio menor
Grande Tuberosidade que 5 mm, em pacientes com baixa demanda e
As fraturas isoladas da Grande Tuberosidade naqueles sem condições de tratamento cirúrgico.
(GT) representam uma baixa parcela de todas A imobilização é feita com velpeau, velpeau de
as fraturas do úmero proximal. No caso das verão ou tipoia com rotação neutra mantida por
fraturas deslocadas, Chun relata uma incidência quatro semanas. Exercícios pendulares e ampli-
de 18%. Esse padrão de fratura, ao contrário dos tude passiva de movimentos abaixo de 90 graus,
outros subtipos, parece ocorrer em maior parte iniciam entre duas ou três semanas após controle
em pacientes mais jovens. radiográfico e progridem em todos os planos
As forças deformantes que agem na grande após quatro semanas; evita-se exercícios ativos
tuberosidade, desviam o fragmento em direção de abdução e rotação externa, que devem iniciar
superior e posterior de acordo com o tamanho somente após a 6ª semana. A fase de reforço
e localização do fragmento, além da tração do muscular e ganho final da mobilidade se inicia
supraespinhal, infraespinhal e redondo menor. com a evidência de consolidação radiográfica.
118

ZAS, 76, feminino.


PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 11.11 – Imagem radiográfica do ombro direito, evidenciado fratura da grande tuberosidade com desvio inferior a 5 mm.
Controle radiológico após 12 semanas evidenciando fratura consolidada.

Figura 11.12 – Resultado funcional após 12 semanas.

O desvio da GT deve ser rigorosamente A rigidez articular por bloqueio ósseo de


acompanhado por radiografias, principalmente consolidação viciosa ou a capsulite adesiva das
nos casos das fraturas que foram associadas fraturas minimamente desviadas são as compli-
a luxação da articulação glenoumeral. Heber- cações mais frequentes.
Davies e colegas evidenciaram que o desvio da
grande tuberosidade é 5 vezes mais frequente Pequena Tuberosidade
nos casos em que ocorreu luxação da articulação As fraturas da Pequena Tuberosidade (PT)
glenoumeral associada. são mais frequentes em associação com luxação
Um estudo retrospectivo realizado por Rath glenoumeral posterior ou com fraturas do colo
e colegas em 2013, avaliou 69 pacientes com cirúrgico. Fraturas isoladas em duas partes da
fraturas com desvio inferior a 3 mm tratadas pequena tuberosidade é uma ocorrência raríssima
conservadoramente. O seguimento de 31 meses com apenas cerca de 100 casos descritos na litera-
mostrou melhora média de 40 para 95 no escore tura. O mecanismo ocorre por abdução repentina
de Constant e nível de satisfação de 4,2 para 9,5 resistida e rotação externa ou extensão com rotação
(variável de 0 a10). externa com carga axial. No caso das fraturas que
119

ocorrem em associação com luxação glenoumeral úmero proximal e seu tratamento permanece

CAPÍTULO 11
posterior – da mesma forma como as fraturas da desafiador. O tratamento cirúrgico é preferido
grande tuberosidade após luxação anterior – a nos casos de fraturas desviadas, em pacientes
redução incruenta geralmente reduz o fragmento. jovens, com poucas comorbidades e alta
A fratura minimamente desviada e com demanda funcional. O tratamento conservador

FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL


fragmentos pequenos sem bloqueio da rotação pode ser uma opção nas fraturas com pouco
interna podem ser tratadas conservadoramente. desvio. Porem, é baseado principalmente no
Opta-se pela tipoia com ligeira rotação externa perfil do paciente, comorbidades, demandas
para um melhor posicionamento do fragmento. prévias ao trauma e expectativas com o trata-
mento proposto. Muitos autores defendem que
FRATURAS EM 3 OU 4 PARTES o tratamento conservador deste tipo de fratura
As fraturas em 3 e 4 partes representam apresenta resultados funcionais aceitáveis
aproximadamente 3% de todas as fraturas do quando bem indicados.

CRIS, 65, feminino.


A B

Figura 11.13 (A, B) – A) Fratura do


úmero proximal esquerdo em 3 partes
em uma paciente feminina de 65 anos.
B) Controle radiográfico após oito se-
manas.

Figura 11.14 – Resultado funcional após consolidação.


120

MAA, 73, feminino.


PARTE II

A B
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 11.15 (A, B) – A) Fratura do úmero proximal esquerdo em 3 partes, impactada em valgo, em paciente
cardiopata isquêmica de 73 anos. B) Controle radiográfico com oito semanas de evolução.

Figura 11.16 – Resultado clínico após dois meses.


121

O estudo randomizado denominado cícios pendulares iniciam-se após três a quatro

CAPÍTULO 11
PROFHER não demonstrou diferença funcional semanas da lesão, quando tolerados. Os exercí-
significativa entre o grupo de pacientes tratados cios de ganho de ADM ativo assistido começam
cirurgicamente e o grupo tratado de maneira após seis semanas e o reforço muscular após
conservadora, especialmente em pacientes acima três meses. A escolha da tipoia com coxim de

FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL


de 65 anos de idade. abdução é preferível pois pode melhorar o
Roberson, em publicação de 2017, eviden- alinhamento da fratura em decorrência da tração
ciou que a artroplastia apresenta mínimos bene- exercida pelo peitoral.
fícios em relação ao tratamento conservador nas O acompanhamento radiológico deve ser
fraturas em 3 ou 4 partes que tinham indicação rigoroso, visto as inúmeras complicações que a
cirúrgica, porém o próprio paciente optou por fratura da cabeça do úmero está sujeita. Sugere-se
tratamento conservador. o acompanhamento semanal no primeiro mês e
A imobilização inicial com velpeau e, quinzenal no segundo. O paciente é acompa-
sequencialmente, tipoia com coxim abdutor nhado em avaliações no terceiro e sexto meses e
deve ocorrer por quatro a seis semanas. Os exer- após um e dois anos do trauma.

GLAD, 77, feminino.


A

Figura 11.17 (A direita: A) – Imagem radiográ-


fica de fratura do úmero proximal direito em paciente
sexo feminino, 77 anos.

Figura 11.17 (Abaixo: B, C) – Fratura con-


solidada: imagem radiográfica apos seis semanas.
Medialização da diáfise devido a tração exercida pelo
tendão peitoral maior.

B C
122

D
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 11.17 (D) – Resultado clínico satisfatório. Lesão do manquito rotador do lado esquerdo.

ADEZ, 79, feminino.


A B

Figura 11.18 (A, B) – A) Fratura do úmero proximal esquerdo em paciente do sexo feminino, 79 anos. B) Evolução radio-
gráfica evidenciando consolidação da fratura.

C D

Figura 11.18 (C, D) – Resultado clínico satisfatório.


123

OPF, 82, feminino.

CAPÍTULO 11
A B C

FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL


Figura 11.19 (A, B, C) – Fratura em 4 partes desviadas em paciente feminina com 82 anos e diversas comorbidades – cardiopa-
tia, nefropatia e pós-cirúrgico de ressecação de tumor no intestino grosso.

D E

Figura 11.19 (D, E) – Aspecto radiológico


após 12 semanas de evolução.

F G H

Figura 11.19 (F, G, H) – Mobilidade funcional após quatro meses.


124

O tratamento conservador apresenta bons de pacientes poderá retornar ao mesmo nível de


índices de consolidação (98%) e taxas considera- atividades funcionais que tinham antes da lesão,
PARTE II

velmente baixas (13%) de complicações, sendo a mantendo suas expectativas intactas.


consolidação viciosa em varo a principal (16%).
A necrose avascular é uma complicação rara
CONCLUSÕES
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

(2%) reservada para as fraturas em 3 e 4 partes.


A restrição da mobilidade é uma complicação O tratamento das fraturas do úmero proximal
comum nas fraturas em 3 a 4 partes, com arco de permanece desafiador. Esse capítulo demonstra
movimento final médio de 113 graus de elevação e que há indicação baseada em evidências para o
43 graus de rotação externa. No entanto, esta mobi- tratamento conservador, mesmo em casos com
lidade limitada pouco afeta as atividades diárias grandes desvios. A experiência acumulada pelo
neste grupo de pacientes com baixa demanda. ortopedista é igualmente fator que influência na
A reabilitação fisioterápica exerce papel opção de tratamento.
muito importante no resultado final das fraturas É essencial avaliar o paciente como um todo e
proximais do úmero. Iniciando pelo ganho lento não apenas a fratura de forma isolada. Na maioria
e gradual da mobilidade em todos os eixos – dos casos, devido ao padrão epidemiológico da
elevação, abdução, rotações interna e externa fratura, os pacientes acometidos são idosos e
– e seguindo pelo competente reforço muscular em grande parte com baixa demanda funcional,
do ombro e da cintura escapular, além de ativi- além de múltiplas comorbidades as quais podem
dades de melhoria da propriocepção, este grupo contraindicar o tratamento cirúrgico.

CONFECÇÃO DE VELPEAU DE INVERNO

1ª - Vestir todo o corpo com malha 30 cm 2ª - Cortar na altura dos dois ombros 3ª - Medir com a malha, 12 cm a extensão
de todo o braço a ser imobilizado

4ª - Vestir a malha no braço 5ª - Dobrar três rolos de algodão de 20 cm 6ª - Formando um quadrado

Figura 11.20.1 – Confecção de Velpeau de Inverno (1-6).


125

CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
7ª - Cortar uns 20 cm de malha 15 cm 8ª - Unir as pontas formando um triângulo 9ª - Dobrar novamente em forma de tri-
ângulo

10ª - Vestir com a malha 11ª - O triângulo é colocado entre o corpo 12ª - Meio rolo de algodão 12 cm e 15 cm
e o cotovelo de malha de 12 cm

13ª - Com o algodão meio fofo vestir com 14ª - Colocar na axila 15ª - Com a 1ª atadura de crepom 20 cm,
a malha prender do ombro para o cotovelo

16ª - Dando a volta duas vezes 17ª - Ir para o punho 18ª - Abrindo o meio da atadura passan-
do a mão para fora completando com a 2ª

Figura 11.20.2 – Confecção de Velpeau de Inverno (7-18).


126
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

19ª - Atadura dando a volta no corpo 20ª - Voltando para o ombro cruzando 21ª - Na mão furando no meio da atadura

22ª - AAbrir a malha prendendo as bordas 23ª - Dobrar todas as bordas das malhas 24ª - Prendendo com fita crepe
com fita crepe sobre a imobilização

25ª - O paciente deve manter a mão livre 26ª - Pedir ao paciente para respirar com o 27ª - Com a 3ª atadura de crepom de 20
sobre a cabeça braço baixo para conferir a pressão do tórax cm, prender do ombro para o cotovelo

28ª - Com o algodão meio fofo vestir com 29ª - Dar a volta no tórax passando pela mão 30ª - Prender as bordas com fita crepe na
a malha até finalizar a atadura. Dando mais firmeza imobilização

Figura 11.20.3 – Confecção de Velpeau de Inverno (19-30).


127

CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
31ª - Vista anterior 32ª - Vista posterior
O velpeau pode ser recoberto ou não com atadura gessada

Figura 11.20.4 – Confecção de Velpeau de Inverno (31-32).

CONFECÇÃO DE VELPEAU DE VERÃO

1ª - Malha tubular de 12 cm, colocar por 2ª - Com a parte do rolo para o braço, fa- 3ª - Enfiar o braço na malha
trás da cervical passando 15 cm envol- zer um corte na altura do ombro
vendo o punho

4ª - Conforme a imagem (ilustração) 5ª - Dobrar a malha para formar a tipoia 6ª - Medir um algodão de 20 cm do om-
bro para o punho

7ª - Abrir todo o rolo na mesma extensão 8ª - Colocar dentro da malha que vem do 9ª - Na parte distal, cortar o centro da
e dobrar por 3 vezes ombro para o punho malha até próximo o punho

Figura 11.21.1 – Confecção de Velpeau de Verão (1-9).


128
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

10ª - Dar um nó para que o algodão não 11ª - Manter o braço em 90 graus e amar- 12ª - A parte da malha que está para a
saia para fora da malha rar sem comprimir o punho mão, puxar firme

13ª -Passando entre o corpo e o meio do 14ª - Cortar uns 20 cm de comprimento 15ª - Abrir a malha ao meio até próximo
braço para poder amarrar ao braço

16ª - Amarrar prendendo úmero ao 17ª - Vista lateral externa 18ª - Vista interna
corpo

19ª - Vista anterior. Para não prejudicar o fluxo sanguíneo é preferível


manter a mão dentro da malha. Alguns preferem liberá-la

Figura 11.21.2 – Confecção de Velpeau de Verão (10-19).


129

CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.22 – Paciente com 73
anos. Fratura do úmero proximal
em 3 partes. Velpeau de verão.

TIPOIA PARA APOIO TOTAL DO BRAÇO

1ª - O paciente segura a parte distal da 2ª - Furar no centro da atadura passando 3ª - Passando a parte do excedente por
atadura de 20 cm, envolvendo todo o a mão para fora dentro do furo
braço a ser protegido

4ª - Deixar a atadura bem esticada e dar 5ª - Vista anterior 6ª - Vista posterior


dois nós, mantendo o antebraço acima
do cotovelo

Figura 11.23 – Tipoia para apoio total do braço (1-6).


130

TIPOIA ACOLCHOADA TRANSVERSA


PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

1ª - Medir com a malha de 12 cm trans- 2ª - Dois rolos de algodão de 20 cm na 3ª - Envolver o algodão com a malha
versa a coluna sobre o ombro não lesado mesma extensão da malha, dobrar enro-
e o punho do ombro a ser protegido lando em 3 partes

4ª - Amarrar transversalmente com o 5ª - Vista anterior 6ª - Vista posterior


cotovelo em 90 graus

Figura 11.24 – Confecção da tipoia acolchoado transversa (1-6).

TIPOIA SIMPLES TRASVERTEBRAL

1ª - Atadura crepom de 20 cm colocar 2ª - Dois rolos de algodão de 20 cm na


transversa ao ombro a ser preservado, mesma extensão da malha, dobrar enro-
dando dois nós lando em 3 partes

3ª - Envolver o algodão com a malha

Figura 11.25 – Confecção da tipoia simples transvertebral (1-3).


131

Diferentes tipos de imobilizações utilizadas

CAPÍTULO 11
nas fraturas do úmero proximal

A B

FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL


Figura 11.26 (A, B) – Exemplos de velpeau gessado.

C D

E F

Figura 11.26 (C, D, E,


F) – Exemplos de Tipoia de
Lona com coxim de abdutor.
E) Aparelho tóraco braquial
removível. F) Tipoia de Lona.
132

CASOS CLÍNICOS
PARTE II

MAA, 69, feminino.


A B
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 11.27 (A, B) – A) Fratura proximal do úmero. Fratura em 3 partes do úmero proximal. Imagem radiográfica em AP. B)
Radiografia em perfil mostrando acentuado desvio. Imobilizado por duas semanas com velpeau gessado e após tipoia velpeau e
fisioterapia.

Figura 11.27 (C) – Imagem radiográfica da fratura consolidada após dois meses.
133

CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.27 (D) –
Imagem clínica da paciente
que evoluiu sem limitações.

LAS, 48, feminino.


A B

Figura 11.28 (A) – Fratura proximal do úmero em 3 partes Figura 11.28 (B) – B) Imagem radiográfica da fratura conso-
com pouco desvio. lidada após 90 dias.

MAC, 48, masculino.


A B C

Figura 11.29 (A, B, C) – A) Fratura do úmero proximal em 3 partes. Desvio lateral e posterior da grande tuberosidade. B) Fratura
imobilizada por quatro semanas com tipoia de lona e coxim abdutor. C) Imagem radiográfica da fratura consolidada.
134

SPG, 70, masculino.


PARTE II

A B C
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 11.30 (A, B, C) – A) Fratura-luxação do ombro a direita. Imagem radiográfica em AP. Cavidade glenoide vazia e cabeça
umeral infraglenoidea. B) Imagem radiográfica de perfil mostrando luxação anterior. C) Imagem radiográfica pós redução da luxação.
Observar fratura da cabeça umeral que permanece luxada inferiormente a cavidade glenoide.

D E

Figura 11.30 (D) – Imagem radiográfica pós consolidação. Figura 11.30 (E) – Imagem clínica do paciente após três
anos de evolução. Limitação discreta da abdução, mas com
avaliação clinicamente satisfatória pelo paciente.
135

NB, 70, feminino.

CAPÍTULO 11
A

FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL


Figura 11.31 (A) – Fratura em 4 partes do úmero proximal. Imagem radiográfica em AP.

B C

Figura 11.31 (B, C) – B) Imagem de tomo-


grafia axial computadorizada mostrando desloca-
mento da grande tuberosidade. C) Imagem radio-
gráfica da fratura consolidada. Paciente tratado
com velpeau gessado por duas semanas. Após
imobilizado com tipoia velpeau e fisioterapia por
mais quatro semanas.
136

D
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 11.31 (D) – Imagem clínica da paciente. Sem limitações funcionais.

MA, 73, feminino.


A

Figura 11.32 (A) – Fratura em 4 partes do úme-


ro proximal a esquerda.

Figura 11.32 (B) – Imagem


de tomografia axial computa-
dorizada do ombro mostrando
cominuição e deslocamento
posterior da grande tuberosi-
dade.
137

C D

CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.32 (C, D) – Imagem radiográfica da fratura consolidada após 120 dias.

Figura 11.32 (E) – Imagem clínica da paciente. Muito discreta limitação da abdução.

MALU, 65, feminino.


A

Figura 11.33 (A) – Queda


da escada. Imagem radiográ-
fica em AP. Fratura do úmero
proximal direita em 4 partes.
Imobilizada com velpeau de
verão.
138

B
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 11.33 (B) Imagem


radiográfica da fratura con-
solidada após 90 dias.

Figura 11.33 (C) – Durante período


de recuperação fisioterápica, sofreu nova
queda com fratura em 4 partes do úme-
ro esquerdo. Imagem clínica da paciente
duas semanas após imobilização com vel-
peau e tipoia velpeau. Hematoma mandi-
bular e cervical.

Figura 11.33 (D) – Imagem


radiográfica em AP da fratura do
úmero proximal em 4 partes.
139

CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
F

Figura 11.33 (Acima: E) –


Imagem radiográfica da fratura conso-
lidada. Grande tuberosidade ascendi-
da e posteriorizada.

Figura 11.33 (A esquerda: F)


– Imagem clínica da paciente após
fratura bilateral proximal do úmero
consolidadas. Muito discreto deficit
de abdução não comprometedor da
função. Paciente muito satisfeita.

SAM, 44, masculino.


A B C

Figura 11.34 (A, B, C) – A) Fratura do úmero proximal direito em 3 partes com pequeno desvio. Tratado com velpeau de verão por quatro
semanas. B) Fratura consolidada. Imagem radiográfica após três meses. C) Imagem radiográfica após seis meses. Recuperação funcional total.
140

SCE, 82, feminino.


PARTE II

A
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 11.35 (A) – Fratura cominutiva em 3 partes do úmero proximal com impacção em valgo.

Figura 11.35 (B) – Imagem radiográfica após três semanas. Imobilização com velpeau de inverno gessado por duas semanas e
após tipoia velpeau. Imagem radiográfica após três semanas.

Figura 11.35 (C) – Imagem radiográfica da fratura consolidada após 90 dias.


141

CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.35 (D) – Imagem clínica do paciente. Recuperação funcional total.

JSM, 64, feminino.


A

Figura 11.36 (A) – Imagem radiográfica de fratura em 3 partes do úmero proximal com discreto desvio.

Figura 11.36 (B) – Imagem radiográfica. Tratamento com velpeau de verão por quatro semanas. Fratura consolidada após 70 dias.
Recuperação funcional total.
142

A B
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 11.37 (A, B) – A) Fratura do colo do úmero em 3 partes. B) Fratura consolidada após quatro semanas em velpeau de lona.

MAUS RESULTADOS COM TRATAMENTO CIRÚRGICO


PBM, 69, masculino.
A

Figura 11.38 (A) – Fratura cominutiva proximal do úmero em 4 partes com cavalgamento e desvio em varo.
143

CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.38 (B) – magem da tomografia axial computadorizada da fratura.

Figura 11.38 (C) – Imagem


transoperatória mostrando boa
redução e fixação com fios ros-
queados.

Figura 11.38 (D) –


Perda da redução e mi-
gração dos fios rosquea-
dos. Provavelmente uma
imobilização externa por
duas a quatro semanas
teria contribuindo para
evitar o desastroso resul-
tado final.
144

IED, 73, feminino.


PARTE II

A
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 11.39 (A) – Imagem radiográfica da fratura em três partes proximal do úmero direito. Desvios toleráveis. Enorme poten-
cialidade de se obter um ótimo resultado com tratamento conservador.

Figura 11.39 (B) –


Tomografia axial com-
putadorizada com re-
construção.
145

CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.39 (C) – Redução anatômica e fixação com moderna placa bloqueada e parafusos.

Figura 11.39 (D) – Necrose asséptica e desa-


parecimento total da cabeça umeral. Indicada ar-
troplastia total do ombro. Muito provavelmente
o tratamento conservador não teria evoluído tão
desastrosamente.
146

LCP, 76, feminino.


PARTE II

A
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 11.40 (A) – Fratura proximal do úmero em duas partes, com intolerável desvio em valgo e migração da diáfise para o des-
filadeiro torácico. A avaliação dos pulsos periféricos e essencial para flagrar compressão ou lesão vascular.

Figura 11.40 (B) – Redução perfeita transoperatória. Radiografias obtidas pelo intensificador de imagens.
147

CAPÍTULO 11
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL
Figura 11.40 (C) – Perda total da re-
dução e migração dos fios. Provavelmente
uma imobilização mais rígida no pós-ope-
ratório teria evitado o desastre.

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Capítulo

12
FRATURAS DA DIÁFISE
DO ÚMERO
Carlos Roberto Schwartsmann, Almiro Gerzson de Britto, Ivan Fadanelli Simionato

S
egundo Charnley a “fratura da diáfise fraturas são causadas na maioria das vezes por
do úmero é a mais fácil de tratar conser- ação de forças diretas, mas forças indiretas, como
vadoramente de todos os ossos longos”. a queda com a mão espalmada também podem
O úmero é amigo: consolida com rapidez, pois acontecer. Se as forças forem flexoras a fratura
apresenta ótima cobertura muscular que nele será transversa, mas se houver torção o traço será
se originam e se inserem. Tolera deformidades helicoidal.
angulares que só se tornam visíveis quando o Os desvios dos fragmentos são determinados
cotovelo está em extensão máxima. Posição que decorrentes da ação das forças musculares. Neste
raras vezes é observado nas posturas ordinárias aspecto o nível da fratura é importante pois a
do corpo. Portanto os resultados funcionais e ação muscular sobre os fragmentos se faz através
estéticos são uniformemente bons. de suas inserções. Fraturas acima da inserção do
A epidemiologia da fratura foi bem descrita peitoral maior o fragmento proximal é abduzido e
por Tytherleigh-Strong que descreveu duas cur- rotado lateralmente. O fragmento distal é desviado
vas bimodais: na 3ª e 7ª década devido a exposição medialmente quando as fraturas ocorrem entre as
ao trauma nos jovens e a osteoporose nos idosos inserções do peitoral maior e o deltoide. Há adução
podemos dizer que a fratura diafisária do úmero do fragmento proximal. Nas fraturas distais a
ocorre em homens jovens e mulheres velhas. As inserção do deltoide o fragmento proximal abduz.

A B C

Figura 12.1(A, B, C) –
A) Desenho esquemático de
fratura do terço proximal do
úmero com desvio em valgo.
B e C) Manobra de redução
de fratura proximal do úme-
ro. É necessário vencer a con-
tratura do peitoral maior. O
fragmento distal sob tração é
forçado em adução.
150

As fraturas do úmero são de fácil diagnóstico A maioria das fraturas do úmero podem ser
clínico devido dor, impotência funcional e mobi- tratadas incruentamente, por diversos métodos.
PARTE II

lidade anormal. É importantíssimo diagnosticar As manobras de redução podem apresentar


a eventual paralisia do nervo radial: o paciente é alguma dificuldade nos pacientes obesos.
incapaz de sinalizar positivo o polegar. Algumas vezes a redução é necessária.
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

A B C

Figura 12.2 (A, B, C) –


A) Desenho esquemático da fra-
tura do terço proximal com des-
vio em varo. B e C) Manobra de
redução de fratura proximal do
úmero. Observar que o fragmen-
to proximal está em abdução por
tração do manguito rotador e
deltoide. A redução é realizada
com tração longitudinal e o frag-
mento distal é abduzido para se
obter a redução. A imobilização
deverá ser feita com aparelho de
abdução.

Figura 12.3 – Aparelho de abdução


plástico regulável, utilizado quando
há necessidade de manter o braço
abduzido para manter a redução.

Cerca de 90% das fraturas da diáfise do Nas fraturas espirais ou oblíquas curtas e
úmero tendem a consolidação sem intervenção muito usado o gesso axilo palmar pendente.
cirúrgica. Angulações anteroposterior de até 20 O peso do próprio gesso e das forças gravita-
graus, varo até 30 graus e encurtamento até 3 cm cionais promovem o alinhamento da fratura.
são aceitáveis, toleráveis e não comprometem a O inconveniente é que e necessário que o
função ou a aparência. paciente durma quase sentado nas primeiras
151

duas semanas. Este método é relativamente Após duas semanas o gesso pode ser substi-

CAPÍTULO 12
contraindicado nas fraturas transversas por tuído por um brace funcional de gesso ou de
promover distração e retardo de consolidação. plástico.

A B C

FRATURAS DA DIÁFISE DO ÚMERO


Figura 12.4 – Gesso pendente indicado Figura 12.5 (A, B, C) – A) Fratura oblíqua cominutiva de terço distal do úmero.
nas fraturas oblíquas longas ou helicoidais. B) Tratamento com gesso pendente. C) Consolidação com exuberante calo ósseo.
O peso do gesso traciona o braço e tende a
reduzir a fratura.

Outro método de imobilização foi preconi- O paciente é colocado sentado em um banco


zado por Charnley é a “Pinça de Confeiteiro”. e inclina o tronco para o lado do membro supe-
rior afastado.
Orientado para relaxar o máximo possível, a
mão oposta segura o punho do lado fraturado com
cotovelo fletido a 90 graus. Após alguns minutos,
por ação da gravidade, obtemos o alinhamento da
fratura. O traumatologista sentado ao lado traciona
suavemente o fragmento distal pelo epicôndilos.
Geralmente devido ao relaxamento obtido o paci-
ente tolera a manobra de engessamento. A tala
gessada em forma de “U” é medida da axila até
a ponta do acrômio. Enquanto o traumatologista
mantém a tração, a tala é colocada por assistente
com algodão e fixada com atadura de crepe. A
tala passa por cima da mão do traumatologista
que continua mantendo a tração. Quando o gesso
inicia o processo de secagem, endurecendo, é
realizado compressão látero-lateral com as palmas
das mãos opostas. Dependendo da instabilidade a
colação de enfaixamento toraco-braquial (Velpeau)
Figura 12.6 – Pinça de confeiteiro: sob tração longitudi-
nal. A tala gessada em “U” envolve o braço do ombro até a acessório pode ser considerada por prudência, ele
axila. Observar a compressão entre os epicôndilos. pode permanecer por duas semanas.
152

CONFECÇÃO DA PINÇA DE CONFEITEIRO


PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

1ª - Medir a malha de 15 cm da parte de 2ª - Paciente segurando o punho, medir o 3ª - Nesta medida abrir 2 rolos de algodão
dentro da axila passando sobre o ombro algodão de 15 cm da axila passando sobre e 2 rolos de gesso de 12 cm
e por dentro do punho o braço próximo ao pescoço

4ª - 1 rolo de algodão de 20 cm medir do 5ª - Após molhar o gesso e colocar sobre 6ª - Com leve inclinação do corpo do
pescoço até o punho, que é para a tipoia o algodão, vestir a malha paciente, coloque a parte do algodão em
contato com a pele

7ª - Prender no úmero a atadura bem 8ª - Colocar o algodão de 20 cm dobrado 9ª - Cortar no centro da malha fazendo 2
ajustada dentro da malha para a tipoia pontas para amarrar

10ª - Dar um nó nas pontas e amarrar na 11ª - Finalizando a pinça de confeiteiro.


outra parte com folga para o punho

Figura 12.7 – Tecnica de confecção da pinça de confeiteiro (1-11).


153

CBM, 35, masculino

CAPÍTULO 12
FRATURAS DA DIÁFISE DO ÚMERO
Figura 12.8 – Queda da moto. Imagem radiográfica de fratura em quatro partes do úmero proximal com fratura oblíqua se esten-
dendo para diáfise umeral.

Figura 12.9 – Imagem radiográfica mostrando redução obtida após confecção de pinça de confeiteiro.
154
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 12.10 – Imagem radiográfica mostrando a consolidação das fraturas após três meses. Recuperação clínica
e funcional perfeita do ombro e do cotovelo.

Nas fraturas diafisárias do úmero podemos gessado ou não, pode ser usado isoladamente
usar o método da “Braceleira”. Ela pode ser nas fraturas sem ou com pouco desvio. Após
de gesso ou plástico. Quando o paciente refere duas semanas e regressão do edema, podemos
muita dor, o enfaixamento toraco braquial, utilizar o método da braceleira.

A B C

Figura 12.11 (A, B, C) –


A) Confecção de braceleira de gesso. Observar o paciente
sentado com o braço pendente. Não deve ser realizado em
braços de obesos ou volumosos, pois a imobilização se tor-
na ineficaz. Ela deve ser bivalvada e apertada semanalmen-
te. B e C) A braceleira gessada permite mobilidade total do
ombro e do cotovelo.
155

Ela deve ser trocada semanalmente e aper-

CAPÍTULO 12
tada pois há uma tendência de ficar folgada pela
atrofia da musculatura e diminuição do edema.
A braceleira de plástico, método alternativo, é
composta de 2 partes. O braço é envolto pelo

FRATURAS DA DIÁFISE DO ÚMERO


aparelho e, é apertado pelas cintas de velcro.
Este tipo de tratamento exige entendimento
e colaboração do paciente. A órtese deve ser reti-
rada somente para higiene, e com todo cuidado
Figura 12.12 – Dois modelos diferentes de braceleiras plásti-
a cada 48 horas.
cas. Elas devem ser justas e confortáveis.
É necessário colaboração de familiares ou
amigos. O paciente não pode realizar testes de exercícios ativos iniciam-se quando o paciente
função quando não está imobilizado com o brace. sente estabilidade no foco da fratura e desaparece
O membro superior fica em tipoia e são progressivamente a dor. O alinhamento da fratura
permitidos movimentos pendulares do ombro e é realizado pela tipoia tipo “colarinho e punho”.
extensão passiva do cotovelo pela gravidade. Os A tipoia curta determina flexão no foco da fratura.

A B

Figura 12.13 (A, B) – Imagem mostran-


do a necessidade do uso correto da tipoia. A)
Tamanho correto da tipoia com o cotovelo 90°
e redução da fratura. B) Tipoia curta com conse-
quente desvio em varo da fratura.

Casos Clínicos
TD, 34, feminino.
A B

Figura 12.14 (A, B) – A)


Fratura transversa do terço mé-
dio do úmero direito. Discreto
desvio em varo com pequena
distração. B) Imobilização com
braceleira de gesso. Redução
aceitável.
156

C D
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 12.14 (C, D) – C) Troca da imobilização por braceleira plástica. Fratura em adiantado estágio de consolidação. Exuberante
calo ósseo. D) Fratura consolidada com bom alinhamento.

A B C

Figura 12.15 (A, B, C) – A) Fratura oblíqua curta, do terço proximal para médio, com grande desvio em valgo. B) Imagem radio-
gráfica após redução e braceleira gessada. C) Fratura consolidada com bom alinhamento.
157

A B C

CAPÍTULO 12
FRATURAS DA DIÁFISE DO ÚMERO
Figura 12.16 (A, B, C) – A) Fratura cominutiva do terço médio para distal do úmero direito. B) Fratura
imobilizada com braceleira plástica. C) Fratura consolidada com bom alinhamento.

A B C

Figura 12.17 (A, B, C) – A) Fratura transversa do terço médio do úmero com desvio em varo. B) Fratura
em avançado processo de consolidação após uso de braceleira gessado e plástico. C) Fratura consolidada com
perfeito alinhamento.
158

MAUS RESULTADOS DO TRATAMENTO CONSERVADOR


PARTE II

AAS, 68, masculino.

A
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura12.18 – Fratura cominutiva com asa de borboleta no terço Figura12.19 (A, B) – Imagem radiográ-
médio do úmero. Tratada com pinça de confeiteiro. O peso do apa- fica demonstrando evolução para pseudo-
relho gessado promoveu diástase. É preciso ter cuidado! artrose.

Figura 12.20 – Imagem clínica do paciente com pseudoartrose.


159

MDT, 38, feminino.

CAPÍTULO 12
FRATURAS DA DIÁFISE DO ÚMERO
Figura 12.21 – Cuidado nas fraturas transversas! Queda da escada: Fratura transversa do terço médio do úmero tratado com o
método de pinça de confeiteiro. O excessivo peso do gesso promoveu diástase e evoluiu para retardo de consolidação.

Figura 12.22 – Imagens radiográficas


pós osteossíntese. Devido perspectiva
de evolução para pseudoartrose optou-
-se pela osteossíntese com placa e para-
fusos em enxerto ósseo.
160

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PARTE II

1. BALFOUR, G.W; MOONEY, V; ASHBY, M.E. 9. RUTGERS, M; RING, D. Treatment of


Diaphyseal fractures of the humerus treated diaphyseal fractures of the humerus using a
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NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

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Philadelphia: WB Saunder, 1997. for the treatment of fractures of the humeral
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5. DENARD, JR. A. et al. Outcome of nono- 12. SARMIENTO, A; et al. Functional bracing of
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shaft fractures: a retrospective study of 213 Joint Surg Am, v. 59, n. 5, p. 596-601, jul. 1977.
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1999. 14. TYTHERLEIGH-STRONG, G; WALLS, N;
7. MOSCALCOFF, M.C.S; KECHELE, P.R; MCQUEEN, M. M. The epidemiology of
SCHWARTSMANN, C.R. Tratamento das humeral shaft fractures. The Journal of Bone and
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8. ROCKWOOD JR., C.A; GREEN, D.P.
Fractures in adults. 2ª ed JP Lippincott, 1984
Capítulo

13
FRATURAS DA CABEÇA
DO RÁDIO
Carlos Roberto Schwartsmann, Marco Tonding Ferreira

A
cabeça do rádio é fundamental na ou pequeno desvio menor que 2 mm e nas
prono-supinação, mas também é que comprometem menos que 50% da cabeça.
importante na estabilidade lateral Geralmente os fragmentos marginais oriundos
do cotovelo. O mecanismo mais frequente de da cabeça do rádio se acomodam e não inter-
fratura é por força axial com queda com a mão ferem na mobilidade articular. As fraturas que
espalmada e o antebraço pronado. A frequência acometem o colo, desviadas, instáveis e muito
varia de 1-2% de todo as fraturas. Um terço das cominutivas devem ser tratadas cirurgicamente.
fraturas do cotovelo acometem a cabeça do rádio. O tratamento conservador consiste em gesso
Ocorrem em adultos com maior frequência na 3ª circular áxilo palmar ou até o punho por duas
ou 4ª década da vida. É mais frequente no sexo semanas e após utilizar imobilizador removível
feminino com uma relação de 2 para 1. por mais duas a quatro semanas que será reti-
Do ponto de vista do diagnóstico clínico é rado durante a fisioterapia. A grande maioria
importante avaliar a prono-supinação e a flexão dos pacientes recupera toda função do cotovelo
do cotovelo se há bloqueio ou não. Após o embora a extensão completa possa demorar
diagnóstico radiológico ter sido realizado, um mais de seis meses.
bloqueio anestésico no foco da fratura, além de
Tipo I Tipo II
permitir a aspiração do hematoma, auxilia na
verificação de bloqueio nos graus de flexão, bem
como na prono-supinação.
As fraturas podem ser completas e incompletas,
com desvio ou não, cominutivas com comprome-
Tipo III Tipo IV
timento menor que 50% da cabeça (marginais) ou
com cominuição total da cabeça. As duas classifica-
ções existentes (Mason e Hotchkiss) falham por não
orientar o tratamento e o prognóstico.
O tratamento não cirúrgico deve ser reali-
Figura 13.1 – Classificação de Mason: o tipo I e II podem ser
zado nas fraturas incompletas, completas com tratados não cirurgicamente.
162

CASOS CLÍNICOS:
PARTE II

MBP, 42, feminino.

A B
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 13.2 (A, B)


– Imagens radiográfi-
cas: A) Fratura margi-
nal anterior da cabeça
do rádio. B) Imagem
radiográfica após con-
solidação.

A B

Figura 13.3 (A, B) – A e B)


Imagem clínica do paciente de-
mostrando completa recupera-
ção da flexo extensão do coto-
velo.

VMM, 50, feminino.


A B

Figura 13.4 (A, B, C) – A) Imagem radiográfica


em perfil mostrando fratura marginal comprometen-
do 50% da cabeça radial. Desvio anterior e degrau na
superfície articular. B e C) Fratura consolidada com pe-
queno degrau na superfície articular sem comprometi-
mento da função do cotovelo.
163

A B

CAPÍTULO 13
FRATURAS DA CABEÇA DO RÁDIO
C

Figura 13.5 (A, B, C) – A, B e C) Imagem clínica do


paciente após sessenta dias. Recuperação total da flexo ex-
tensão. Discreta limitação na supinação.

FRATURA BILATERAL DA CABEÇA DO RÁDIO

DEM, 42, masculino


A B

Figura 13.6 (A, B) – Fratura bilateral.


Lado direito A e B) Fratura articular da ca-
beça do rádio com degrau, comprometen-
do 50% da superfície articular da cabeça.
164

C D
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 13.7 (C, D) –


Fratura consolidada. recupe-
ração funcional total.

A B

C D

Figura 13.8 (A, B, C,


D) – Lado Esquerdo: A e B)
Fratura articular da cabeça
do rádio com pequeno de-
grau comprometendo 1/3
da superfície articular. C e D)
Fratura consolidada. recupe-
ração funcional total.
165

CAR, 40, masculino.

CAPÍTULO 13
A B

FRATURAS DA CABEÇA DO RÁDIO


Figura 13.9 (A, B) – Queda de bicicleta. Imagem radiográfica do cotovelo (AP e P) mostrando fratura da
cabeça do rádio com deslocamento mínimo e pequeno degrau na superfície articular.

A B

Figura 13.10 (A, B) – Imagem tomográficas do cotovelo mostrando com clareza o degrau articular perfeitamente tolerável.

A B

Figura 13.11 (A, B) – A e


B) Imagem radiografia da fra-
tura consolidada. Recuperação
funcional total.
166

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PARTE II

1. AKESSON, T; et. al. Primary nonoperative 8. MASON, M.L. Some observations on frac-
treatment of moderately displaced two-part tures of the head of the radius with a review
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NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

2. BLOUT, W.P. Fractures in children. Baltimore: 9. MCRAE, R. Pocket book of orthopaedics and
Wiliams and Wilkins, 1954. fractures. Edinburgh: Churchill Livingstone,
3. BÖHLER, L. The treatment of fractures. Vienna: 1999.
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5. DE PALMA, A.F. The management of fractures Verlag, 1981.
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n. 2, p. 111-131, abr. 2008. 13. WATSON-JONES, R. Fractures and joint inju-
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the radial head: internal fixation or excision. 1955, v. 2.
J Am Acad Orthop Surg, v. 5, p. 1–10, 1997.
Capítulo

14 FRATURAS DO RÁDIO DISTAL


Ricardo Kaempf de Oliveira, João Pedro Farina Brunelli, Carlos Roberto Schwartsmann

É
uma das fraturas mais frequentes O autor, ainda na era pré-radiológica,
nos adultos, principalmente entre as descreveu a fratura em mulheres acima de 40
mulheres acima dos 40 anos. A incidência anos que sofriam queda com a mão espalmada
em mulheres é de 37/10000, e 80% das fraturas e desenvolviam agudamente uma deformidade
dos ossos do antebraço envolvem o rádio distal. em dorso de garfo.
A fratura foi descrita inicialmente por Colles ainda descreveu que após a conso-
Pouteau em 1783, mas foi após a descrição clás- lidação, mesmo com deformidade, não há
sica do irlandês Abraham Colles que ela se tornou alteração, de modo significativo a função do
epônimo do seu nome: fratura de Colles (1814). punho.

Fratura de Coles

Figura 14.1 – Retrato de Abraham Colles e capa do artigo original. (font: https://hekint.org/2020/09/22/
abraham-colles-giant-among-surgeons/)
168
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 14.2 – Imagem clínica clássica de duas das fraturas de Colles. A deformidade do punho característica da fratura de Colles:
aspecto de dorso de garfo.

Existem dois grupos principais de pacientes O tipo de fratura e a gravidade dependem


que apresentam fratura de punho. O mais comum de alguns fatores. A quantidade de força apli-
é de mulheres que sofrem quedas e que trauma- cada, a posição da mão na hora do trauma, a
tizam o punho ao se proteger do impacto com o qualidade/densidade de osso e o movimento
solo. Esta fratura é frequente após a menopausa, na hora do acidente são alguns deles. Como na
visto que é nessa fase que, por fatores hormonais, maioria das vezes a fratura distal do rádio ocorre
desenvolve-se ou se agrava a osteoporose. Essa por queda ao solo, situação em que o paciente
diminuição da densidade e da resistência óssea tenta se proteger com a mão, o punho encontra
facilita a ocorrência de fraturas em quedas não em extensão e o antebraço pronado, causando a
graves. Outro grupo de pacientes que apresenta fratura com desvio e deformidade dorsais, lesão
fratura do rádio distal é o dos adultos jovens, típica descrita por Colles. Clinicamente a fratura
geralmente homens, que se envolvem em trauma distal do rádio dessa natureza faz com que o
de alta energia, principalmente em acidentes de punho fique angulado semelhante à forma de um
carro ou moto. Essas fraturas tendem a apresentar garfo. Já nos casos leves, o que se observa é apenas
múltiplos fragmentos, podendo ter exposição edema e dor no dorso do punho. O diagnóstico
óssea, e têm uma grande incidência de lesões da fratura do rádio se faz através de radiografias
associadas, como de ligamentos, cartilagem ou em incidências póstero-anterior (PA) e perfil,
outras fraturas. devendo-se sempre que possível acrescentar inci-
A grande maioria dos artigos que descrevem dências oblíquas. Com o uso de novos exames de
séries de pacientes tratados com fratura distal do imagem, como a tomografia computadorizada
rádio, acabam misturando diferentes padrões de e a ressonância magnética, e a compreensão da
fraturas, tornando difícil saber a real incidência biomecânica do punho, começou-se a entender
de fraturas intra e extra-articulares, fraturas melhor essas lesões, facilitando o tratamento.
deslocadas e não deslocadas e fraturas estáveis
e instáveis. Com isso, torna-se quase impossível Anatomia funcional:
saber qual porcentagem de fraturas do punho O punho consiste na complexa região que
que podem ser tratadas de forma conservadora. inclui as extremidades distais do rádio e da
Em uma série com 2.141 fraturas distais do ulna e os ossos do carpo, bem como a intrincada
rádio. Mc Queen (et. al.) identificaram que 48% estrutura ligamentar que conecta os ossos, como
das fraturas eram extra-articulares e 15% eram os ligamentos intrínsecos e extrínsecos do carpo
minimamente deslocadas. e o complexo da fibrocartilagem triangular.
169

Anatomicamente o punho começa na borda distal proximalmente menos definida e distal, anterior

CAPÍTULO 14
do músculo pronador quadrado e termina nas e dorsalmente bem definida –, através da qual o
articulações entre o os ossos do carpo e os ossos rádio se articula com a ulna (articulação rádio-
metacarpais, local a partir do qual começa a mão. -ulnar distal). Com seu equivalente proximal, ela
Conhecer detalhadamente essas estruturas e as permite o movimento de rotação do antebraço – a

FRATURAS DO RÁDIO DISTAL


interações biomecânicas do punho é fundamental pronossupinação.
para compreender quais lesões podem necessitar A superfície articular do rádio apresenta uma
de abordagem cirúrgica, e como e quando o trata- inclinação de 11 graus para volar, considerando
mento conservador pode ser empregado. como zero o plano transverso perpendicular ao
O rádio é a pedra fundamental do punho, eixo longo do osso, e uma inclinação ulnar de 23
responsável por oferecer as superfícies articulares graus, considerando o mesmo plano. Variância
côncavas que sustentam os ossos do carpo. É no ulnar representa a relação do comprimento da
rádio, ainda, que se originam os mais impor- ulna em relação ao rádio na sua interação distal,
tantes ligamentos que garantem a estabilidade do podendo ser neutra, negativa ou positiva. Ela
punho. Ele funciona como uma unidade móvel costuma girar em torno de um milímetro nega-
do antebraço durante a pronossupinação, sendo a tiva. Podemos tomar essa medida traçando
ulna o eixo estático sobre o qual ele gira. Além das duas linhas paralelas, uma tangenciando o osso
duas articulações radiocarpais – radiossemilunar subcondral da fossa do semilunar, no limite distal
e radioescafoide – o rádio oferece uma terceira da fossa sigmoide e outra tangenciando a super-
superfície articular côncava – a fossa sigmoide, fície articular mais distal da ulna.

A B

23°
12mm
1mm
11°

C D

Figura 14.3 (A, B, C, D) – A e B) Desenho esquemático de inclinações normais


das superfícies articulares do rádio distal. C e D) Imagens radiográficas.
170

A fratura de Colles clássica apresenta dois Algumas perguntas devem ser respondidas
desvios: dorsal e radial. Já a fratura de Barton é mentalmente na avaliação radiológica inicial: É
PARTE II

uma fratura da extremidade distal do rádio, que possível obter redução anatômica? A redução
apresenta traço intra-articular com subluxação pode ser mantida? Os desvios residuais são tole-
do carpo acompanhando o desvio do fragmento ráveis e compatíveis com uma boa função?
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

articular, que pode ser volar ou dorsal. Para avaliar a redução é preciso entender os
A fratura de Smith é a fratura da extremidade ângulos anatômicos e as inclinações do rádio distal:
distal do rádio com desvio volar do fragmento no plano coronal (AP) o rádio tem a inclinação de
distal (queda com o punho em flexão). É a fratura +/- 22 graus. No plano sagital (perfil) a indicação
de Colles reversa. Ainda temos a “fratura do volar da superfície articular do rádio é de 11 graus.
Chofer” que é uma fratura oblíqua da extremidade O rádio é normalmente 12 mm maior que o cúbito.
distal do rádio com traço articular que destaca a A manutenção do comprimento do rádio é um dos
apófise estiloide do rádio. Por fim a Fratura “Die maiores desafios do tratamento conservador.
Punch” é a fratura intra-articular impactada com A maioria das fraturas da extremidade
depressão dorsal da fossa semilunar do rádio. distal do rádio são simples e extra-articulares.
Existem dezenas de classificações na fratura As fraturas estáveis mesmo com grandes desvios
distal do rádio. Entretanto nenhuma delas é podem ser tratadas com redução incruenta e
totalmente aceita por não possuírem elementos imobilização gessada. Ainda interferem nesta
suficientes que orientem o tratamento bem como decisão a idade fisiológica do paciente bem como
o prognóstico destas fraturas (Frikman, AO, seu nível de atividade. Portanto as fraturas sem
Universal, Fernandez, etc). Nenhuma apresenta desvio e aquelas com desvio, mas redutíveis e
índices seguros de reprodutibilidade inter ou estáveis devem ser tratadas não cirurgicamente.
intra observador. São consideradas instáveis as fraturas des-
As fraturas podem ser simples ou cominu- viadas que mesmo após redução incruenta e
tivas, com desvio ou não, intra ou extra-articu- imobilização gessada não conservam a redução
lares. Na verdade, isto é o que o traumatologista obtida. Geralmente estas fraturas são resultantes
necessita entender. de trauma com grande energia cinética.

A B A B

Colles

Smith
Chofer Die Punch

C Figura 14.4 (Esquerda: A, B, C) – Desenho


esquemático da fratura de Colles (A) com desvio
dorsal e da fratura de Smith (B) com desvio ventral.
(C) Desenho esquemático da fratura de Barton vo-
lar e dorsal. Os desvios podem ser ventral e dorsal.

Figura 14.5 (Acima: A, B) – A) Desenho es-


Barton dorsal
Barton volar quemático da fratura de Chofer. B) Desenho es-
quemático da fratura de “Die Punch”.
171

Lafontaine em 1989 em estudo de 167 fraturas proximal ao tubérculo de Lister e com a agulha

CAPÍTULO 14
do rádio distal, descreveu fatores para perda da angulada de proximal para distal.
redução da fratura, são eles: encurtamento radial, Assim conseguimos atingir o foco da fratura
cominuição dorsal, desvio dorsal maior que 20 e evitar a cortical dorsal da metáfise distal
graus, acometimento articular, fratura associada impactada. Uma segunda injeção é recomen-

FRATURAS DO RÁDIO DISTAL


da ulna, e idade acima de 60 anos. dada para a ulna distal e região da articulação
Fraturas sem desvio ou pouco desvio não rádio ulnar distal, mesmo na ausência de fratura
necessitam redução. São parâmetros de redução ulnar, pois é esperada lesão de partes moles.
satisfatória: encurtamento radial menor que 3 Após a infiltração deve-se esperar de dez a 15
mm, degrau articular menor que 2 mm e perda minutos para se realizar o procedimento. Esse
parcial da inclinação volar. procedimento de infiltração da fratura apresenta
a desvantagem de não apresentar uma anestesia
Redução da Fraturas do Rádio Distal: completa e de não gerar relaxamento muscular.
Para as fraturas deslocadas, o tratamento No entanto, é seguro o suficiente para ser reali-
inicia com a redução (alinhamento e correção da zado em salas de emergência, sem a necessidade
deformidade nas fraturas deslocadas). A redução de centro cirúrgico com equipamentos de reani-
deve ser realizada o quanto antes para que não se mação e equipe anestésica. Teoricamente com
instale o edema, o que torna os tecidos inelásticos esse método há um potencial risco de conta-
e dificulta o procedimento. Define-se até 12 horas minação e infecção do hematoma e da fratura,
após o trauma como o tempo ideal para a redução. porém diversos trabalhos já mostraram que
Antes do procedimento se deve proporcionar uma isso raramente ocorre. Bloqueios de plexo são
adequada analgesia, que varia de técnica conforme indicados para pacientes já com fraturas suba-
a gravidade da fratura e a condição clínica e de gudas e com lesão de partes moles, e anestesia
partes moles do paciente. Para fraturas com deslo- geral é reservada para pacientes pediátricos. Os
camento dorsal (Fratura de Colles) sugere-se a métodos mais usados de redução são: tração e
aspiração do hematoma e infiltração de quatro a contratração, roda denteada e deslizamento.
oito mililitros de anestésico local (Lidocaína 2% A anestesia pode ser: local (bloqueio do hema-
sem vasoconstritor). Recentemente tem se usado toma), Bier (anestesia venosa regional), bloqueio
a bupivacaína (Marcaína), que é mais potente e do plexo braquial e anestesia geral. Até 12 horas
menos tóxica. O local de entrada da agulha é na de evolução a anestesia local bem conduzida é a
porção dorsal e central do rádio, imediatamente melhor e mais segura opção.

Figura 14.6 – Desenho esquemático da anestesia local. Figura 14.7 – Imagem da anestesia no foco da fratura. É neces-
sário aspirar parcial ou totalmente o hematoma. A ausência de san-
gue na seringa significa que o traumatologista não alcançou o foco
da fratura. Neste caso a anestesia pode ser ineficaz.
172
PARTE II

A
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

B
D
Figura 14.8 – Manobra de redução por desli- Figura 14.9 (A, B, C, D) – Manobra de redução da fratura de Colles pelo
zamento. Aplicação de forças compressivas em método da roda denteada.
3 pontos para manutenção da redução.

Durante o tratamento, o paciente deve ser que o membro superior deve ser mantido para
orientado a ficar atento para sinais de compressão cima por 48horas. É prudente rever o paciente
nervosa que podem ocorrer, principalmente em 24horas para avaliar a necessidade de fender
no seu início. Se houver queixa de dor intensa, o aparelho gessado. O edema e a reação infla-
formigamento e impossibilidade de movimentar matória secundária pode evoluir para um trans-
os dedos, o paciente deve retornar ao serviço torno compressivo e até para síndrome compar-
ortopédico com urgência. timental.
Após a redução, existem controvérsias Na fratura de Colles a imobilização deve ser
a respeito do melhor tipo de imobilização: com flexão palmar leve e desvio cubital máximo.
tala gessada ou gesso circular axilo palmar, o Se não houver fratura do cúbito esta posição
gesso oferece maior garantia na manutenção é fundamental para prevenir o encurtamento
da redução, mas o paciente deve ser advertido radial.

A B C

Figura 14.10 (A, B, C) – A) Fratura de Colles clássica com grande desvio. B) Redução mantida com tala gessada com discreta
flexão volar. C) Após a consolidação houve perda de inclinação volar do punho, que não interferiu no resultado funcional final.
173

CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.11 – Na tala gessada ou no gesso circular, a imobi- Figura 14.12 – Desenho esquemático mostrando o modela-
lização clássica é axilo palmar com flexão volar discreta e desvio mento do gesso do lado medial para manter o desvio cubital má-
cubital máximo. ximo e prevenir o encurtamento do rádio.

Pós redução o controle radiográfico confir- devem ser realizadas semanais para um acomap-
mará a boa ou aceitável redução. O ideal e novo nhamento da evolução do tratamento.
controle da radiografia nas primeiras 48 horas O gesso deve permitir flexo-extensão completa
para flagrar qualquer perda da redução enquanto da mão. O limite do gesso é na primeira prega
se avalia clinicamente o paciente. As radiografias palmar nas articulações metacarpo falangeanas.

Figura 14.13 – Imagem de dois pacientes com gesso axilo palmar. Em ambos os casos as imobilizações permitem flexo-
-extensão máxima dos dedos da mão. Observar o grande desvio cubital nas imagens inferiores.
174

O gesso alto deve permanecer por duas ou circulatório, mas devemos ter mais atenção na
três semanas, dependendo dos critérios de insta- eventual perda da redução. Radiografias mais
PARTE II

bilidade e da experiência do traumatologista. periódicas são necessárias bem como a troca


Após este período ele deve ser trocado por gesso da tala por gesso circular em uma semana. A
antebraquiopalmar em posição neutra, mas ainda grande desvantagem da tala gessada é que após
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

com bastante desvio cubital. Após seis ou oito a diminuição do edema, a imobilização se torna
semanas o gesso pode ser removido totalmente. frouxa e permite maior mobilidade dos frag-
Se ainda houver dor ou incerteza radiológica da mentos, com aumento da possibilidade da perda
consolidação, uma tala plástica removível pode da redução.
auxiliar na proteção neste período de fisioterapia. Nas fraturas de Smith e Barton Volar a
O uso de tala gessada pós redução, nos imobilização deve ser feita com dorsiflexão e
tranquiliza no aspecto de edema e transtorno desvio cubital (mão em bandeja de garçom).

B C

Figura 14.14 (A, B, C) – A) Imobilização correta na fratura de Smith ou Barton Volar: dorsiflexão e desvio cubital.
B) Fratura de Smith com desvio ventral. C) Redução e imobilização com dorsiflexão do punho.

Mesmo com a colocação da tala gessada, dedos utilizando o protocolo de exercícios popu-
é permitido e recomendado ao paciente movi- larizados por Dobyns (seis exercícios – “sixpack”).
mentar livremente os dedos da mão. Isso deve Além disso, o paciente deve, no mínimo três vezes
ser realizado especialmente com a mão para cima ao dia, mobilizar o cotovelo e o ombro fora da
para não edemaciar os dedos. O que não se acon- tipoia com movimentos de rotação e elevação.
selha é empregar força ou atividades com risco de Terapia de mão em clínica especializada é acon-
trauma. Também é aconselhado o uso de gelo para selhada para pacientes que desejam um retorno
diminuir o edema local. Durante o período de mais rápido às atividades e para aqueles que
imobilização é indicado que o paciente mobilize os tenham dificuldades de se reabilitarem sozinhos.
175

O potencial de consolidação da fratura 2 grandes inimigos: a infecção e a limitação resi-

CAPÍTULO 14
do terço distal do rádio é muito favorável. E a dual de mobilidade, pois esta região é muito rica
pseudartrose é raríssima. Colles já advertiu que em bainhas tendinosas, tendões e terminações
mesmo com deformidade o resultado funcional nervosas.
é bom. Se obedecermos aos critérios de redução Finalizando, o tratamento cirúrgico de uma

FRATURAS DO RÁDIO DISTAL


e de imobilização o resultado funcional serão fratura não articular do rádio distal só é justi-
melhores ainda. ficável quando, o traumatologista for pouco
A perda da redução, a cominuição e a insta- experiente e desconhecer as manobras de redu-
bilidade destas fraturas nos inclina para o trata- ção e as técnicas de imobilização que mantém a
mento cirúrgico. Este tipo de tratamento possui redução.

1 2 3 4 5 6
Figura 14.15 – Série de exercícios para mobilização dos dedos.

Figura 14.16 – Fratura de Colles bilateral. A esquerda consolidada com desvio radial. Sempre é necessário avisar ao paciente
que a apófise estiloide do cúbito pode ficar mais saliente! Mesmo com a deformidade o resultado funcional foi muito bom.
176

CASOS CLÍNICOS
PARTE II

ZAT, 66, feminino.


A B
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

C D E

Figura 14.17 (A, B, C, D, E) – A e B) Fratura da epífise distal do rádio com comprometimento articular e associada a fratura da
ulna. Redução com flexão volar e desvio cubital. Observar a manutenção do comprimento radial. C e D) Fratura consolidada após
imobilização com gesso por seis semanas. Aplicação de tala removível plástica por mais duas semanas. E) Imagem final após um ano
e meio. Manutenção do comprimento radial e desaparecimento dos traços de fratura do rádio e cúbito.

Figura 14.18 – Imagem clínica da paciente: sem limitações funcionais.


177

MI, 70, feminino.

CAPÍTULO 14
A B

FRATURAS DO RÁDIO DISTAL


C D

Figura 14.19 (A, B, C, D) - A e B) Fratura da epífise distal do rádio cominutiva com traço articular. Imobilização com tala gessada
com insuficiente desvio cubital e flexão volar. C) (AP) Imobilização da fratura com gesso circular bem moldado, notar o forçado desvio
cubital e melhora da redução. D) Perfil mostrando boa redução.

A B

Figura 14.20 (A, B) – Imagem


radiográfica final pós consolidação.
A) Bom alinhamento do rádio dis-
tal com discreto encurtamento. B)
Manutenção do desvio volar radial.
178
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 14.21 – Imagem dos punhos do paciente. Recuperação funcional completa.

MIT, 64, feminino.

Figura 14.22 – Fratura extra-articular do rádio distal com


clássico desvio dorsal.

A B

Figura 14.23 (A, B) –


Imagem radiográfica da redu-
ção com tala gessada áxilo pal-
mar. A) AP: redução anatômica
do rádio. B) Perfil: redução ana-
tômica com discreta flexão volar
da tala gessada.
179

A B

CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.24 (A, B) – A) AP: fratura consolida-
da sem encurtamento radial. B) Perfil: fratura con-
solidada com discreta perda da inclinação volar do
rádio.

Figura 14.25 – Imagem


clínica do paciente. Sem li-
mitações funcionais do dor-
siflexão e flexão volar.

CF, 35, feminino.

Figura 14.26 – Fratura-luxação com desvio volar do carpo.


180
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 14.27 – Pós redução e imobilização com aparelho gessado.

Figura 14.28 – Fratura consolidada em ótima posição.

Figura14.29 – Recuperação funcional total.


181

SAA, 36, feminino.

CAPÍTULO 14
A B

FRATURAS DO RÁDIO DISTAL


Figura 14.30 (A, B) – A) AP: fratura tipo “die punch”, observar comprometimento articular. B) Perfil: inversão da inclinação volar
do rádio.

A B

Figura 14.31 (A, B) – A) Fratura após consolidação, discreto encurtamento do rádio e manutenção da superfície articular. B)
Inclinação volar mantida.

Figura14.32 – Imagem do paciente. Recuperação total da mobilidade e da função.


182

IT, 72, feminino.


PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 14.33 – Fratura co-


minutiva, com traço articular
da epífise distal do rádio e
grande desvio dorsal, Fratura
do terço distal da ulna asso-
ciada.

Figura 14.34 – Redução


da fratura após anestesia
local e imobilização com
tala gessada axilo palmar.

Figura 14.35 – Fraturas conso-


lidadas. Discreto encurtamento
do rádio. Inversão da inclinação
radial no perfil.
183

CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.36 – Imagem clínica do paciente: sem deformidade. Flexão dorsal e volar mantidos. Prono-supinação normal.

MARS, 66, feminino


A B

Figura 14.37 (A, B) – A)


Fratura da epífise distal do
rádio com encurtamento e da
epífise estiloide da ulna. B)
Deslocamento dorsal da epí-
fise distal.

A B

Figura 14.38 (A, B) –


Redução anatômica com
anestesia local. Redução
mantida com tala áxilo
palmar.
184

A B
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 14.39 (A, B) – Imagem


radiográfica em AP e perfil pós con-
solidação da fratura. Não há signifi-
cativo encurtamento radial. Perda a
inclinação volar do rádio na incidên-
cia de perfil.

Figura 14.40 – Imagem clínica da paciente. Flexão dorsal mantida. Discreta diminuição da flexão volar. Paciente sem queixas.
Completa recuperação da função.

LYS, 68, feminino

Figura 14.41 – Imagem radiográfica de fratura cominutiva de epífise distal do rádio e grande desvio dorsal.
185

CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.42 – Imagens radio-
gráficas pós redução com anes-
tesia local. Imobilização com ges-
so circular áxilo palmar. Redução
boa. Observar gesso bem mol-
dado na face cubital para evitar
encurtamento radial.. O mesmo
também acontece na incidência
de perfil.

Figura 14.43 – Imagens radiográficas após


consolidação. Discreto encurtamento do rádio
e neutralização da inclinação volar no perfil.

Figura 14.44 – Imagem clíni-


ca do paciente com recupera-
ção funcional total.
186

EM, 74, feminino.


PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 14.45 – Fratura cominutiva da epífise distal do rádio Figura 14.46 – Imagem radiográfica pós redução com gesso cir-
com grande desvio radial e dorsal. Paciente pianista profissional. cular. Observar o desvio cubital forçado e bem moldado no gesso.

Figura 14.47 – Imagem radiográfica após consolidação. Devido cominuição e osteoporose houve encurtamento
radial, mas boa inclinação volar.

Figura 14.48 – Imagens clínicas da paciente. Muito boa recuperação funcional! Paciente voltou a tocar piano
normalmente.
187

MI, 58, feminino

CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.49 – Fratura da epífise distal do rádio cominutiva com traço articular e desvio dorsal.

Figura 14.50 – Imagens


radiográficas após consoli-
dação e tratamento conser-
vador com gesso.

Figura 14.51 – Imagens clínicas do paciente. Recuperação funcional total apesar de discreta limitação da flexão volar.
188

CS, 72, feminino.


PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 14.52 – Fratura da epífise


distal do rádio com grande desvio
radial e dorsal.

Figura 14.53 – Imagens radiográfi-


cas após redução com anestesia local.
Observar o desvio cubital e a molda-
gem no gesso no AP. Observar o des-
vio volar no aparelho gessado para
manutenção da inclinação volar.

Figura 14.54 – Imagens radiográ-


ficas após consolidação, há encur-
tamento do rádio. No perfil há incli-
nação dorsal da superfície articular
do rádio.
189

CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.55 – Imagens clínicas da paciente. Muito boa recuperação funcional apesar dos parâmetros radiológicos alterados.

RSF, 68, feminino

Figura 14.56 – Queda acidental na escada: Fratura de Colles com desvios clássicos: radial e dorsal.

Figura 14.57 (A) – Redução e imobilização com gesso axilo palmar com pouco desvio cubital. Bem moldado.
190

B
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 14.57 (B) –


Imagens radiográficas seis
anos após.

Figura 14.58 – Resultado funcional, muito satisfatório. Paciente sem queixas.

FRATURA BILATERAL DO RADIO DISTAL COM SEGUIMENTO DE 20 ANOS.

SIB, 25, masculino.

Figura 14.59 – Fratura de Barton


volar bilateral após acidente auto-
mobilístico. Lado esquerdo: fratura
cominutiva transarticular com deslo-
camento volar do carpo.
191

CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.60 – Lado direito, fra-
tura transarticular da epífise radial
com deslocamento volar do carpo.

Figura 14.61 – Lado es-


querdo. Redução com anes-
tesia local. Aparelho gessado
áxilo palmar com grande
desvio cubital e dorsiflexão
do punho (imobilização tipo
em bandeja de garçom).
Redução muito satisfatória.

Figura 14.62 – Lado direito.


Redução com anestesia local.
Como o encurtamento radial
não é grande, não é necessá-
rio desvio cubital acentuado.
As setas sinalizam a molda-
gem do gesso em dorsiflexão.
Redução satisfatória.
192
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 14.63 – Imagens radiográficas em


AP e P em um ano após a fratura do lado di-
reito. Bom alinhamento das superfícies arti-
culares.

Figura 14.64 – Imagens radiográficas


do lado esquerdo um ano após a fratura.

IMAGENS RADIOGRÁFICAS APÓS SEGUIMENTO DE 20 ANOS.

Figura 14.65 –
Imagens radiográficas
de ambos os punhos
após 20 anos de segui-
mento. Ausência ra-
diológica de sinais de
eventual artrose.
193

CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.66 – Imagem clínica do paciente um ano após as fraturas.

Figura 14.67 – Imagem clínica do paciente 20 anos após. Sem queixas clínicas e nenhum deficit funcional.

LZK, 68, feminino.

Figura 14.68 – Imagem


radiográfica de fratura de
Colles com clássico desvio
dorsal e radial.
194
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 14.69 – Imagem da redução


obtida.

Figura 14.70 – Imagem da fra-


tura imobilizada com gesso áxilo
palmar. Observar desvio cubital
e volar.

Figura 14.71 – Imagem radiográfica


da fratura consolidada. Perda parcial
do comprimento radial.
195

CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.72 – Imagem da paciente três meses pós fratura. Sem deficit funcional. Ligeira limitação da flexão volar.

MAU RESULTADO APÓS TRATAMENTO CONSERVADOR


MBB, 52, feminino.

Figura 14.73 – Fratura da epífise distal


o rádio sem comprometimento articular.
Desvio radial e dorsal.

Figura 14.74 – Paciente


imobilizado com tala ges-
sada muito mal confeccio-
nada. Encurtamento do rá-
dio. “Redução intolerável.”
Indicação de nova redução
ou fixação cirúrgica.
196
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 14.75 – Paciente imobilizado com gesso plástico extremamente mal confeccionado: seu desvio cubital e sem flexão volar. As
setas demonstram grande espaço entre o aparelho gessado e a pele do paciente. O gesso plástico não é indicado nas primeiras três
semanas pois não permite modelamento e moldagem. Nestas imagens radiográficas há grande encurtamento do rádio e no perfil,
inversão de inclinação volar da superfície radial.

Figura 14.77 – Imagem clínica da paciente. Mau resultado clíni-


Figura 14.76 – Mau resultado final. Grande encurtamento do co e radiológico. Grande deformidade do punho com acentuado
rádio com proeminência do cúbito. No perfil verifica-se grande desvio radial. A Traumatologista oferece ao médico oportunidade
inclinação dorsal da superfície articular radial. de trocar de rumo quando a evolução se mostra desfavorável. É
preciso reconhecer erros e enganos durante um tratamento para
que a rota seja corrigida.
197

CASOS DE DISCUTÍVEL INDICAÇÃO CIRÚRGICA

CAPÍTULO 14
V.M.N, 53, masculino.

FRATURAS DO RÁDIO DISTAL


Figura 14.78 – Fratura in-
tra-articular da epífise distal
do rádio com discreto des-
vio dorsal. Boa fratura para
o tratamento conservador.

Figura 14.79 – Paciente


tratado cirurgicamente com
placa bloqueada. “Discutível”
indicação cirúrgica.
198

MW, 45, feminino.


PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 14.80 – Fratura da


epífise distal do rádio com tra-
ço articular e discreto desvio
radial e dorsal. Tala gessada
muito mal confeccionada. Caso
bom para o tratamento conser-
vador.

Figura 14.81 – Paciente tratado ci-


rurgicamente com placa bloqueada.
Muito “discutível” indicação cruenta.

Figura 14.82 –Evolução com dis-


trofia simpático reflexa.
199

JG, 34, masculino.

CAPÍTULO 14
FRATURAS DO RÁDIO DISTAL
Figura 14.83 – Fratura epífise distal do rádio com traço articular e sem desvio significativo. Ideal para o tratamento
conservador.

Figura14.84 – Paciente tratado cirurgicamente com placa bloqueada. Discutível indicação cirúrgica.
200

TRÊS CASOS OPERADOS COM MAUS e pouco competentes: o tratamento cirúrgico


RESULTADOS proporcionou um resultado pior do que se não
PARTE II

O termo “Macaco com Gilete” é utilizado tivesse sido operado!


para identificar traumatologistas de má formação

JCC, 58, masculino.


NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 14.85 – Osteossíntese com placa


bloqueada: degrau articular, encurtamento
do rádio e grande desvio dorsal.

Figura 14.86 – Osteossíntese com placa


bloqueada e cinco parafusos intra-articula-
res.

MED, 65, feminino.

Figura 14.87 – Osteossíntese da epífise


distal do rádio com placa bloqueada e fios
de Kirschner: grande encurtamento do rá-
dio e desvio dorsal acentuado.
201

ReferênciaS BibliografiaS

CAPÍTULO 14
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FRATURAS DO RÁDIO DISTAL


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of a series of 167 case. Acta Orthop Belg, v. 55,
n.2, p. 203-216, 1989.
202
PARTE II TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
NOS MEMBROS SUPERIORES
Capítulo

15 FRATURAS NA MÃO
Ricardo Kaempf de Oliveira, João Pedro Farina Brunelli, Carlos Roberto Schwartsmann

E
m 1970 Swanson, fez a seguinte afirmação: e agilidade. Esse contínuo contato com o meio
“As fraturas na mão podem gerar defor- externo, porém, expõe as mãos a constante risco
midades quando não forem tratadas, de lesão. As lesões mais frequentes nas mãos
podem causar rigidez quando forem tratadas são cortes, esmagamentos, escoriações e quei-
demais, e podem gerar deformidade e rigidez maduras. Os acidentes podem ocorrer tanto no
quando forem maltratadas”. Após 50 anos esta trabalho quanto em casa.
frase está mais atual que nunca. As fraturas do punho e da mão são extre-
Apesar de muitos médicos que atendem mamente comuns na prática ortopédica, repre-
emergência ortopédica pensarem que as fraturas sentando muitas vezes a liderança no número de
nas mãos são lesões simples e banais, sabemos atendimentos em prontos-socorros.
que estas, quando manejadas, podem causar Ainda que diversos padrões de fratura
graves sequelas. É um equívoco pensar que a demandem tratamento cirúrgico, uma quan-
fratura na mão é uma lesão com pouca impor- tidade ainda maior de lesões pode ser tratada
tância. Sem o tratamento adequado tais lesões com métodos conservadores. Estima-se que
podem causar sérios problemas funcionais e mais de 90% das fraturas da mão podem ser
estéticos. Além disso, a fratura de um dedo afeta tratadas de forma conservadora. O objetivo
a função de toda a mão, causando incapacidade deste capítulo é descrever a anatomia, a biome-
quase completa. É simplista e incorreto pensar cânica e os padrões de fraturas que acometem
que quando se perde um dedo, temos mais esta região e detalhar os métodos de tratamento
quatro para substituí-lo. Os dedos e tendões não-cirúrgico, desde sua correta indicação às
funcionam em conjunto – a rigidez ou perda de técnicas empregadas.
um dedo afeta a mão como um todo. Os metacarpais e falanges da mão são ossos
A mão é uma das estruturas que mais nos bem superficiais na porção dorsal e cobertos por
relaciona com o meio exterior. É através das mãos tendões e músculos na parte volar. Os metacar-
que temos contato com tudo que está ao nosso pais são cobertos por músculos e ligados uns aos
redor. Por isso, ela é muito inervada e sensível, outros por fortes ligamentos, por isso – geral-
e executa funções primordiais que exigem força mente – não apresentam deslocamento grave
204

quando quebram. A maioria das fraturas de Tanto fraturas fechadas como fraturas
falanges ocorre por trauma direto sobre a mão. expostas podem estar associadas a lesões de
PARTE II

Já as fraturas de metacarpais ocorrem via de partes moles, como nervos, artérias e tendões.
regra por lesão indireta, por torção do dedo por Por isso o exame físico deve ser detalhado e em
um movimento brusco. um ambiente tranquilo. Nas fraturas expostas,
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Rigidez é complicação comum e funcional- pelo risco de maior contaminação, o exame deta-
mente debilitante e necessita atenção especial lhado deve ser feito no bloco cirúrgico, devendo
nessas fraturas. Mesmo método não-cirúrgicos, na emergência ser realizada uma limpeza gros-
como os aqui demonstrados, devem visar mobi- seira do ferimento e confeccionado um curativo
lidade precoce, ainda que controlada. compressivo para controlar o sangramento.
Em geral, o tratamento conservador deve ser O exame físico da mão traumatizada inclui a
usado em fraturas não deslocadas, pouco deslo- inspeção cuidadosa de todas as regiões afetadas
cadas ou impactadas da diáfise de ossos longos, em busca de escoriações e feridas que possam
na maioria das fraturas da falange distal e na traduzir fraturas abertas – comuns nessa região,
maioria das fraturas de metacarpal isolado. assim como detecção de deformidades ou posturas
São consideradas fraturas instáveis, e anômalas dos dedos. Todos os ossos e articulações
por isso, candidatas a tratamento cirúrgico as devem ser palpados em busca de pontos dolorosos,
fraturas com: as articulações devem ser mobilizadas passiva e
1. Desvio rotacional ativamente em busca de bloqueios ou movimentos
2. Fraturas não redutíveis com manobras anômalos que possam revelar lesões ligamentares
incruentas e tendinosas ainda não detectadas na inspeção
3. Fraturas articulares com desvio inicial (deformidades em pseudogarra, martelo,
4. Subcapitais das falanges botoeira, pescoço de cisne, “bocejos” articulares
5. Expostas anormais etc). As articulações devem ser subme-
6. Perda óssea significativa tidas, conforme tolerância à dor – acrescentando
7. Politrauma bloqueios anestésicos sempre que necessário – a
8. Fraturas múltiplas testes de estabilidade com stress radioulnar e
9. Lesão concomitante de tecidos moles pesquisa de hiperextensão.
(nervos, vasos, tendões e pele)

Excluindo essas situações, virtualmente


todas as fraturas de falanges e metacarpais
podem ser tratadas com métodos incruentos.

EXAME FÍSICO
Durante o exame físico da mão após um
trauma, o membro superior inteiro deve ser
inspecionado. Devemos remover a roupa, para
uma inspeção visual completa, e devem ser
retirados todos os adornos ou joias que possam
dificultar o exame ou causar compressão, como
relógios, anéis e pulseiras. Figura 15.1 – Imagem clínica de desvio angular impor-
tante de terceiro dedo da mão esquerda.
205

O desvio angular deve ser pesquisado com a estendidos), observa-se o paralelismo entre as

CAPÍTULO 15
mão aberta (dedos estendidos) e é em geral facil- unhas. Com as MF e IFP fletidas e as IFD esten-
mente percebido quando as bordas ulnar e radial didas, mantendo as falanges médias e distais
dos dedos perdem a característica linear e adotam sobre a palma, observa-se para onde se dire-
formas curvas ou em “V”. Deve-se lembrar que cionam os dedos. Eles devem apontar para o

FRATURAS NA MÃO
uma leve curvatura, em especial do dedo mínimo, tubérculo do escafoide. Pequenas rotações das
pode ser normal, procedendo-se sempre a inspeção unhas do indicador e dedo mínimo em direção
da mão contralateral comparativa. ao dedo médio são esperadas, e a inspeção da
O desvio rotacional pode ser pesquisado mão não traumatizada é mandatória compara-
de duas formas. Com a mão aberta (dedos tivamente.

A B

Normal e paralelo
alinhmento das unhas

Alinhamento das unhas


com mal rotação do 4º
dedo

Figura 15.2 – Desenho esquemático mostrando desvio rotacional do Figura 15.3 – A) Pesquisa do desvio rotacional dos de-
terceiro dedo da mão. O alinhamento das unhas também devem ser dos. Todos devem apontar para o tubérculo do escafoide.
observados. B) Desvio rotacional do 5º dedo da mão.

Figura 15.4 – Fratura do 2º metacarpiano com desvio volar e rotacional. Figura 15.5 – Imagem clínica do paciente mos-
trando o intolerável desvio rotacional do indica-
dor.
206

O diagnóstico das fraturas na mão é confir- metacarpais; a mais recente técnica descrita por
mado por radiografias que devem ser realizadas Don Lalonde, que postula que o anestésico deve
PARTE II

de rotina em três diferentes incidências (antero- ser injetado de maneira que forme um “bolo” do
posterior, perfil e oblíquo). A projeção de perfil fármaco na zona de interesse, que se difundirá
perfeito é especialmente importante nas lesões por toda a região. No tratamento conservador
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

dos dedos longos, devendo cada dedo lesado é desejável a anestesia de todo o dedo e não é
serem avaliado por radiografia de perfil sepa- necessário o efeito vasoconstritor da adrenalina,
radas. As incidências de frente e oblíquas muitas portanto esse “bolo” deve ser formado sobre a
vezes não mostram fraturas-avulsões volares e cabeça do metacarpal do dedo de interesse e com
dorsais nas falanges. anestésico sem vasoconstritor ou adrenalina.
Deve se lembrar, ainda, que o polegar recebe
TÉCNICAS ANESTÉSICAS contribuição de ramos sensitivos do nervo radial
Em se tratando de fraturas nas quais frequen- (ramo superficial do radial) para sensibilidade
temente será necessária manipulação – seja para do dorso, portanto deve-se associas anestesia
exame, seja para empregar manobras de redução dessa região em separado.
–, é importantíssimo que se conheçam técnicas Para fraturas dos metacarpais, pode-se
anestésicas locais e regionais. empregar bloqueios regionais a nível do punho.
Para fraturas das falanges, bloqueios digi- O nervo Mediano pode ser bloqueado entre
tais são suficientes, oferecendo excelente anes- os tendões do “Flexor Radial do Carpo” e do
tesia durante o atendimento e analgesia residual “Palmar Longo”. O nervo ulnar pode ser anes-
posterior. Pode ser empregado de duas formas: tesiado através de uma injeção transversa sobre
a clássica, instilando anestésicos locais (lidocaína o tendão do “Flexor Ulnar do Carpo”. O ramo
ou bupivacaína, por exemplo) em cada um dos superficial do nervo radial pode ser bloqueado
nervos digitais inervando o dedo de interesse através de uma injeção em “leque” cerca de 3 a 5
através de injeções de cada lado das cabeças cm distalmente ao estiloide radial.

M
U
U

A B

DCU
R

C D
Figura 15.6 (A, B, C, D) – A e B) Bloqueio do nervo me- Figura 15.7 – Bloqueio dos nervos interdigitais.
diano e ulnar. C) Bloqueio sensitivo do nervo ulnar e radial.
D) Bloqueio interdigital.
207

TIPOS DE IMOBILIZAÇÃO NA MÃO de consolidação, diminuindo a incidência de

CAPÍTULO 15
Em se tratando de fraturas das falanges, rigidez, ao mesmo tempo que permitem exce-
foram praticamente abandonadas as imobiliza- lente controle rotacional, utilizando os dedos
ções que bloqueiam o punho e as MF. Exceto normais como “fixadores externos”. Os dedos
para algumas modalidades de fraturas das devem, sempre que possível, ser imobilizados

FRATURAS NA MÃO
falanges proximais, pode-se lançar mão de talas em extensão das interfalângicas para evitar
metálicas (de Zimmer), poupando as MF, ou contraturas da placa volar e visto que – em caso
técnicas de esparadrapagem com solidarização de rigidez – o ganho de flexão é muito mais fácil
de dedos normais aos dedos fraturados (buddy que o de extensão através de fisioterapia/terapia
taping). Estas últimas permitem a manutenção de mão. As imobilizações específicas para cada
da flexoextensão dos dedos durante o processo fratura serão demonstradas em cada secção.

Figura 15.8 – Tala metálica imobilizando o 2º dedo (Tala de Figura 15.9 – Imobilização do 2º e 3º dedos da mão. (Buddy
Zimmer). Taping).

TÉCNICA DE TRATAMENTO COM “GESSO intrínsecos para auxiliar no alinhamento e esta-


FUNCIONAL” OU TALA DE BLOQUEIO DE bilização da fratura enquanto a articulação MF
EXTENSÃO: é mantida em flexão de 90 graus. Essa técnica é
Para as fraturas dos metacarpais ou algumas indicada para as fraturas da falange proximal e
fraturas das falanges proximais, a imobilização média, transversas e oblíquas curtas com angu-
que deve ser empregada é a “posição de segu- lação dorsal ou para as fraturas impactadas da
rança”, técnica que foi descrita inicialmente por base da falange proximal.
James. A imobilização e o movimento dos dedos
A técnica foi popularizada por Burkhalter e fazem com que as forças deformantes sejam neutra-
Reyes e utiliza as forças dos tendões flexores e lizadas. O mecanismo extensor funciona como um
208

tirante (banda de tensão) forçando a redução da zada a confecção do gesso (tala) a imobilização
cortical volar. A rotação é controlada através da com esparadrapo deve ser retirada.
PARTE II

mobilização dos quatro dedos em conjunto. O paciente deve ser reavaliado semanal-
A redução deve ser realizada após a anes- mente por três semanas para radiografias e
tesia do local da fratura. Combinando forças de reajuste da imobilização. Após 20 dias a tala
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

tração longitudinal, hiperextensao e, por último, gessada é substituída por um “buddy splint” por
flexão. Após a manobra, a rotação e o alinhamento mais duas semanas.
lateral devem ser checados e o dedo imobilizado Lembrar que para realizar essa técnica,
com um esparadrapo de forma temporária. Com deve-se ter a cooperação do paciente e é imprescin-
isso pode ser checado a redução com radiogra- dível que a MF fique em 90° e as interfalangeanas
fias e ser aplicado o tala gessada tipo Burkhalter, livres para movimentar. Uma das dificuldades
com o punho em 30 graus de flexão, MF em 90 de uso dessa técnica está em fazer radiografias
graus e interfalangeanas livres. Uma vez finali- adequadas com paciente usando o gesso.

Figura 15.10 – Posição de segurança “para tratamento das


fraturas dos metacarpais e falanges proximais”.
Figura 15.11 – Desenho esquemático mostrando a imo-
bilização correta na posição de segurança.

A B
Figura 15.12 (A, B) – A) Posição correta de imobilização. B) Posição de garrafa determina mais
rigidez.
209

CAPÍTULO 15
A B C D

FRATURAS NA MÃO
E

Figura 15.13 (A, B, C, D, E) – A e B) Desenho esquemático de-


monstrando redução de fratura da falange proximal do indicador. C,
D e E) Desenho esquemático mostrando a posição correta do gesso
circular na posição de segurança.

OS METACARPAIS podem ser chamadas de “fraturas do boxeador”


(Boxer’sFractures), mais especificamente quando
Fraturas da cabeça
acometem o “5° metacarpal”. Apresentam desvio
São lesões raras, com frequente acometimento
volar com angulação de ápice dorsal. A força
articular. São mais comuns no indicador, por
axial sobre o metacarpal, que apresenta uma leve
situar-se na borda da mão e por apresentar arti-
concavidade volar, leva a cominuição do colo
culação proximal (carpometacarpal) com pouca
volar, e a ação da musculatura intrínseca, que
mobilidade. Podem estar associadas a feridas
passa anteriormente ao foco de fratura, confere
abertas (como no caso do paciente haver desfe-
força deformante adicional em direção anterior.
rido um soco). Salvo nestes casos e em casos em
que há grave acometimento articular (<25%) ou
degrau articular significativo, pode ser tratadas
conservadoramente imobilizando-se a articulação
metacarpofalângica a 70 graus, essa posição esta-
biliza a articulação no plano radioulnar e tensiona
os ligamentos colaterais, evitando encurtamento
após o tratamento, causa comum de perda de arco
e movimento. Em 4 semanas, a maioria dos casos
já apresenta consolidação avançada e pode-se
proceder à reabilitação.
Figura 15.14 – Desenho ilustrativo mostrando a clássica fra-
Fraturas do Colo tura do boxeador. Fratura do colo do quinto metatarsiano sem
desvio.
Fraturas extremamente comuns, ocorrem em
geral com trauma axial sobre o eixo longitudinal Aceitam tratamento conservador na imensa
dos metacarpais, como ao desferir um soco numa maioria das vezes, e o grau de angulação aceitado
superfície rígida. Por esse motivo estas lesões é progressivo de radial para ulnar, sendo menos
210

tolerável no indicador e mais tolerável no dedo e tensionando os ligamentos colaterais. As inter-


mínimo. Fraturas com até 15 graus de angulação falangianas proximais também são fletidas a 90
PARTE II

nos dois dedos mais radiais podem ser tratadas graus, permitindo que força axial sobre cabeça
conservadoramente, no anular se aceita até cerca da falange proximal promova deslocamento
de 40° e no mínimo (Boxer) alguns estudos demons- dorsal do fragmento distal. A imobilização,
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

tram bons resultados com até 70° de angulação. A em todo caso, não deve ocorrer nessa posição,
ausência de “pseudogarra” (proeminência palmar sob risco de gerar rigidez das IFPs ou necrose
das cabeças metacarpais, com hiperextensão da de pele dorsal. Lança-se mão da imobilização
MF e flexão da IFP compensatórias) é um bom tipo “intrinsicplus” com aparelho gessado ou
indicador de possibilidade de tratamento conser- sintético por duas semanas, e após esse tempo
vador para os dedos mais ulnares. programa de reabilitação é instaurada, com
Estas fraturas devem ser reduzidas através exercícios de ganho de ADM e imobilização
da manobra de Jahss. Nesta, as articulações MF intermitente (órteses removíveis). Após quatro
devem ser fletidas a 90 graus – assim relaxando a seis semanas, os pacientes podem retomar as
a musculatura intrínseca (causadora do desvio) atividades previas sem restrições.

Figura 15.15 – Desenho


esquemático mostrando
a manobra de Jahss para
redução da fratura deslo-
cada do colo do 5º meta-
carpiano.

Casos Clínicos Clássicos De Fraturas Do Boxeador

ADL, 23, masculino.


A B

Figura 15.16 (A, B) – Trauma com a mão


fechada (soco) com impacto na porção distal
do quinto metacarpo. Fratura do colo do
metacarpo com deslocamento. Tratamento
conservador com redução e imobilização
com tala gessada em posição intrínseca por
quatro semanas. Posterior imobilização tipo
“buddy splint” dos 4/5 dedos por mais duas
semanas. Consolidação completa em seis
semanas com ótima recuperação funcional.
A e B) Imagem radiográfica de fratura do
quinto metacarpiano com desvio volar.
211

CAPÍTULO 15
A B

FRATURAS NA MÃO
C

Figura 15.17 (A, B, C) – redu-


ção e imobilização com tala gessa- Figura 15.18 – Imagem radiográfica da
da em posição intrínseca. Fratura consolidada.

Figura 15.19 – imagem clínica da recuperação funcional completa.


212

MAA, 16, feminino.


PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 15.20 – Imagem radiográfica da fratura do colo do 5º metacarpo. Trauma com a mão fechada (soco)
com impacto na porção distal do quinto metacarpo. Fratura do colo do metacarpo com leve deslocamento
Tratamento conservador com redução e imobilização com órtese em posição intrínseca por três semanas. E
posterior imobilização tipo “buddy splint” dos 4/5 dedos por mais duas semanas. Consolidação completa em
seis semanas com ótima recuperação funcional.

Figura 15.21 – redução e imobilização com órtese em posição intrínseca por três semanas.
213

CAPÍTULO 15
FRATURAS NA MÃO
Figura 15.22 – Imagem radio-
gráfica da fratura consolidada do
5º metacarpiano.

Figura 15.23 – Imagem clínica


da recuperação funcional com-
pleta.

Fraturas da diáfise paciente com este padrão fraturário deve ser


São subdivididas em transversas, oblíquas/ instruído a fletir simultaneamente os dedos e a
espirais e ecominutas. rotação deve ser aferida, se presente.
A fraturas transversas produzem deformi- As fraturas cominutas ocorrem geralmente
dade semelhante às das fraturas do colo, com num contexto de alta energia, devendo-se
desvio volar e ápice dorsal, acentuados pela ação atentar a lesões concomitantes de partes moles.
da musculatura intrínseca, e também permitem O resultado mecânico destas em geral é o encur-
tolerância crescente em relação ao grau de angu- tamento.
lação de radial para ulnar, variando de próximo As fraturas da diáfise dos metacarpais com
de 0 no indicador a cerca 30 graus no mínimo. encurtamento menor que 5 mm, sem desvio rota-
As fraturas oblíquas/espirais produzem cional, que respeitam o limite de angulação de
deformidade rotacional, que não é tolerada. O cada metacarpal e não apresentam pseudogarra
214

podem ser manejadas com tratamento conser- deve ser encorajada imediatamente, e a imobi-
vador, que consiste na aplicação de aparelho lização pode ser descontinuada assim que não
PARTE II

gessado ou órtese com flexão da MF a 70 graus houver mais dor no foco fraturário. Em quatro a
após delicada pressão sobre o ápice da deformi- seis semanas o paciente pode retomar atividades
dade no dorso da mão. A mobilidade dos dedos irrestritas.
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

NM, 41, feminino.


A B

Figura 15.24 (A, B) – Imagem


radiográfica de fratura oblíqua
longa do terceiro metacarpiano.
Sofreu acidente de carro com
trauma em torção do dedo da
mão. Fratura da diáfise do ter-
ceiro metacarpo tipo oblíqua
longa. Tratamento conservador
com imobilização com tala ges-
sada em posição intrínseca por
três semanas. Posterior imobili-
zação tipo “buddy splint” dos 3/4
dedos por mais duas semanas.
Consolidação completa em cinco
semanas com ótima recupera-
ção funcional

A B

Figura 15.25 (A, B) – imobilização com tala gessada em posição intrínseca por três semanas.
215

CAPÍTULO 15
A B

FRATURAS NA MÃO
Figura 15.26 (Acima: A, B) – Imagem radiográ-
fica da fratura consolidada.

Figura 15.27 (A esquerda) – Imobilização tipo


“buddy splint” por duas semanas.

A B C

Figura 15.28 (A, B, C) – Imagem clínica da recuperação funcional completa.


216

Fraturas da base metacarpal Fratura do 1º Metacarpiano


Esse grupo inclui as fraturas-avulsões da As fraturas da base articular do primeiro
PARTE II

base do 2° e 3° metacarpais, raras devido à metacarpal (Bennett e Rolando) são inerente-


pouca mobilidade da articulação carpometa- mente instáveis, mas se a redução for anatô-
carpais dos dedos mais radiais, e as fraturas- mica e a imobilização adequada elas podem ser
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

-luxações carpometacarpais dos dedos anular e tratadas de maneira conservadora.


mínimo.
As primeiras são inerentemente estáveis,
podendo quase invariavelmente ser tratadas
com imobilização em posição funcional por
quatro semanas. As últimas, apesar de gerarem
instabilidade, em especial no dedo mínimo
por ação do extensor ulnar do carpo, também
podem ser quase na sua totalidade ser tratadas
apenas com redução incruenta e imobilização.
Diversos autores demonstraram que, mesmo
em casos de subluxação carpometacarpal, o
TIPO I TIPO II
resultado funcional e sintomático costuma ser
satisfatório.

TIPO III

TIPO IV
Figura 15.30 – Green classificou as lesões mais frequentes
Figura 15.29 – Fratura da base do 5º metacarpiano, com traço do primeiro metacarpal em: Tipo I: Fratura de Bennett. Tipo II:
intra-articular. Geralmente o resultado funcional é muito satis- Fratura de Rolando. Tipo III: Fratura extra-articular (A = transver-
fatório. sa; B = oblíqua). Tipo IV: Fratura fisária.
217

Casos clínicos de fraturas do primeiro metacarpiano

CAPÍTULO 15
LGL, 40, masculino.

FRATURAS NA MÃO
Figura 15.31 – Queda de bicicleta. Imagem radiográfica de fratura da base do 1º metacarpiano sem
comprometimento articular.

Figura 15.32 – Imagem radiográfica da fratura consolidada. Recuperação funcional total.


218

AAT, 36, masculino.


PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 15.33 – Fratura proximal do primeiro metacarpiano com desvio. Figura 15.34 – Manutenção da redução com luva
gessada e inclusão do polegar com abdução máxi-
ma. Fratura do 1º Metacarpiano consolidada. Sem
deficit funcional.

Figura 15.35 – Recuperação completa do polegar.


219

CLT, 39, masculino.

CAPÍTULO 15
A B

FRATURAS NA MÃO
Figura 15.36 (A, B) – Trauma axial no polegar no esporte. Fratura extra-articular do primeiro metacarpiano. Tratado por quatro
semanas com imobilização em gesso tipo escafoide.

A B

Figura 15.37 (A, B) – Fratura consolidada após quatro semanas de gesso.


220

A B
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 15.38 (A, B) – recuperação funcional total.

AS FALANGES de lesão da matriz, tratamento cirúrgico e


reparo da mesma estão indicados, bem como
Falange distal no contexto de fraturas expostas, que requerem
São as fraturas mais comuns na mão, fazendo limpeza e desbridamento cirúrgico. Em todos os
parte do dia a dia do ortopedista nos prontos outros casos estas fraturas podem ser tratadas
atendimentos. São divididas em fraturas do tofo, conservadoramente com um período curto de
da diáfise e epifisárias. imobilização (cerca de duas semanas).
Fraturas do tofo são quase sempre origi- Pseudoartrose é frequente, mas união fibrosa
nadas por esmagamentos, e se relacionam com suficiente para alívio sintomático e função normal
lesões da unha e da matriz ungueal. Suspeita-se é a regra. Nos casos de lesão fechada com hema-

Figura 15.39 – Imobilização das falanges mé- Figura 15.40 – A imobilização pode ser complementada com
dias e distal com tala de Zimmer. atadura gessada.
221

toma subungueal muito sintomático, a unha pode Fraturas do colo são raras em adultos, e

CAPÍTULO 15
ser perfurada para alívio com uma agulha, clipe podem ser tratadas quase invariavelmente com
ou perfurador, e nestes casos antibioticoterapia redução incruenta e imobilização, mas impor-
está indicada (conversão para fratura exposta). tantes de serem lembradas em crianças, visto
Fraturas da diáfise podem ser transversas que o fragmento distal – sem inserção tendinosa

FRATURAS NA MÃO
ou longitudinais. Podem ser tratadas com imobi- – tende a rodar 90 graus, impedindo a consoli-
lização por dois a três semanas com sucesso dação. Estas fraturas remodelam muito pouco
na maioria dos casos. A exceção são fraturas com o crescimento.
transversas com desvio e interposição da matriz
ungueal, que são de tratamento cirúrgico. Falange Proximal
Dividem-se também em fraturas articulares
Falange média – que incluem fraturas condilares, cominutas e
Dividem-se em fraturas articulares – que da base volar, dorsal ou lateral – e extra-articu-
incluem fraturas condilares, cominutas e da base lares – que incluem as fraturas do colo, da diáfise
volar, dorsal ou lateral – e extra-articulares – e da base.
que incluem as fraturas do colo, da diáfise e da A maioria também pode ser manejada
base. Fraturas por avulsão da banda central do conservadoramente, excluindo-se desvio gros-
aparelho extensor com grande desvio, fraturas seiro, especialmente articular, fraturas articu-
pós avulsão do ligamento colateral com grande lares cominutas da base e avulsões com grande
desvio e fraturas do pilão (cominutas da base arti- desvio dos ligamentos colaterais.
cular) demandam tratamento cirúrgico. Todas as As fraturas da diáfise da falange proximal
outras, não apresentando grosseiro, podem ser tendem a ser oblíquas ou espirais.
tratadas com imobilização tipo “buddy tapping” ou Fraturas do colo são raras em adultos, e
tala metálica por três a quatro semanas. Diversos podem ser tratadas quase invariavelmente com
autores demonstraram mínima rigidez quando redução incruenta e imobilização, mas impor-
a imobilização não supera um mês. Fraturas da tantes de serem lembradas em crianças, visto
base dorsal com grande desvio tratadas conserva- que o fragmento distal – sem inserção tendinosa
doramente podem levar a deformidade em boto- – tende a rodar 90 graus, impedindo a consoli-
eira. Fraturas da diáfise da falange média tendem dação. Estas fraturas remodelam muito pouco
a ser transversas. com o crescimento.

Figura 15.41 – Mecanismo comum das


fraturas do tofo: esmagamento na porta do
carro, da garagem, do elevador, etc.
222

Casos Clínicos De Fraturas Da Falange Proximal


PARTE II

MSS, 56, feminino.


A B
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

C D

Figura 15.42 (A, B, C, D) – Sofreu trauma em abdução do quinto dedo da mão ao trancar em uma porta.
Fratura da base da falange proximal com deslocamento. Tratamento conservador com redução e imobilização com
tala gessada em posição intrínseca com três semanas. E posterior uso de “buddy splint” imobilizando os 4/5 dedos
por mais duas semanas. Consolidação completa em seis semanas e ótima recuperação funcional. A e B) Imagem
radiográfica da fratura da falange proximal do 5º dedo com grande deslocamento. C e D) Imagem radiográfica pós
redução.
223

A B

CAPÍTULO 15
FRATURAS NA MÃO
Figura 15.43 (A, B) – Imobilização
com tala gessada em posição intrín-
seca por três semanas.

A B

Figura 15.44 (A, B) – Imagem ra-


diográfica da fratura consolidada.

A B C

Figura 15.45 (A, B, C) – Recuperação funcional total.


224

RAD, 26, feminino.


PARTE II

A B

Figura 15.46 (A, B) – Imagem ra-


diográfica da fratura da base da falange
proximal do 4º dedo da mão com grande
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

deslocamento posterior. Gestante, so-


freu trauma na base do quarto dedo da
mão causado por tração no anel (alian-
ça). Fratura da base da falange proximal
com grave deslocamento em extensão
(seta vermelha). Tratamento conserva-
dor com redução e imobilização com tala
gessada em posição intrínseca por três
semanas. E posterior imobilização tipo
“buddy splint” dos 3/4 dedos por mais
duas semanas. Consolidação completa
em quatro semanas com ótima recupe-
ração funcional.

A B

Figura 15.47 (A, B) – Imagem


radiográfica mostrando a fratu-
ra consolidada.

A B

Figura 15.48 (A, B) – Imagem


radiográfica pós redução e imobili-
zação em posição intrínseca.
225

A B

CAPÍTULO 15
FRATURAS NA MÃO
Figura 15.49 (A, B) – Imagem
clínica mostrando recuperação
funcional total.

KJJ, 48, feminino.


A B C

Figura 15.50 (A, B, C) – Queda sobre o balcão. A) Imagem radiográfica de fratura oblíqua do terço médio da falange proximal do
5º dedo com desvio lateral. B e C) Imagem clínica da paciente. Após redução e imobilização do 4º dedo conjuntamente com o 5º dedo
foi suficiente para se obter a consolidação e bom resultado funcional.

Fraturas das Falanges do Polegar dedos e, portanto, permite manejo conservador


As características anatômicas e biomecânicas na imensa maioria dos casos.
do polegar conferem um caráter especial das As extra-articulares dividem-se em do tofo,
fraturas do primeiro metacarpal e das falanges transversas da diáfise e longitudinais da diáfise.
do polegar, o que demanda uma seção especí- As primeiras podem ser tratadas como as lesões
fica para este dedo. O polegar, por apresentar equivalentes nos dedos longos, conservadora-
grande mobilidade em diversos planos, tolera mente na maior parte dos casos, exceto quando
muito mais deformidades do que os outros há lesão da matriz ungueal associada. Deve-se
226

lembrar de evacuar hematoma subungueal e As fraturas articulares ocorrem por avulsão


implementar antibioticoterapia nos casos neces- (fragmento único, simples) ou trauma direto
PARTE II

sários. Cerca de três semanas são suficientes (cominuição).


para imobilização nes- ses casos. O “polegar em gatilho” é a fratura-avulsão
Fraturas transversas da falange distal ten- do extensor longo do polegar na base dorsal da
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

dem a instabilidade devido à ação do flexor lon- falange distal, e pode ser tratado com imobili-
go do polegar, mas podem ser tratadas conser- zação da IF por quatro a seis semanas, a menos
vadoramente na maioria dos casos, reservado que haja subluxação dorsal da falange.
a fixação para casos onde há incapacidade de Fratura da base volar da FD pode ser origi-
manter a redução com imobilização. nada no contexto de uma luxação dorsal ou
Fraturas espirais/oblíquas da cabeça da fa- por avulsão do FLP, e também pode ser tratada
lange proximal em que a redução não pode ser com imobilização por quatro a seis semanas na
mantida após imobilização devem ser fixadas, ausência de subluxação (foto avulsão FLP)
assim como fraturas transversas desviadas mais Fratura-avulsão do ligamento colateral
que 30 graus. Estas fraturas ocorrem antes da ulnar do polegar é um equivalente da lesão de
inserção da musculatura tenar, que flexiona o Stener e pode ser tratada conservadoramente,
fragmento proximal, e o tendão extensor longo a menos que o deslocamento seja maior que 2
do polegar, que estende o distal. Cerca de quatro mm ou que a articulação seja instável aos testes
semanas de imobilização são suficientes. de stress.

Casos Clínicos De Fratura Das Falanges Do Polegar

GFD, 16, masculino.


A B A B

Figura 15.51 (A, B) – Imagem radiográfica de fratura avul- Figura 15.52 (A, B) – Imobilização com tala de alumínio tipo
são da base da falange distal do polegar. Sofreu trauma axial na Zimmer.
ponta do quinto dedo da mão ao jogar basquete. Fratura avulsão
dorsal da base da falange distal. Lesão tipo dedo em martelo ós-
seo. Tratamento conservador com imobilização com tala de alu-
mínio (tipo Zimmer) dorsal com articulação IFD em extensão por
quatro semanas. Consolidação completa em oito semanas com
ótima recuperação funcional.
227

CAPÍTULO 15
A B A

FRATURAS NA MÃO
B

Figura 15.53 (Acima: A, B) – Imagem radiográfica da fra-


tura consolidada após oito semanas.

Figura 15.54 (A direita: A, B) – Imagem clínica mostran-


do a recuperação funcional total.

JS, 54, masculino.

Figura 15.55 – Trauma e queda jogando futebol. Imagem radiográfica da fratura intra-articular cominutiva da falange proximal do
polegar com subluxação volar. Redução incruenta e imobilização com luva gessada incluindo o polegar.

Figura 15.56 – Imagem


radiográfica após quatro se-
manas na retirada da imobi-
lização.
228
PARTE II
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 15.57 – Imagem radiográfica após seis meses. Paciente sem queixas e sem deficit funcional.

Luxação Interfalangeana do Polegar

NC, 72, feminino.

Figura 15.58 – Queda da escada. Luxação interfalangeana do Figura 15.59 – Redução anatômica e imobilização com tala
polegar com desvio dorsal e lateral. metálica por três semanas. A imobilização pode ser com gesso
ou tala plástica.

Conclusão gião esteja familiarizado com todos os tipos de


tratamentos.
As fraturas das falanges e dos metacarpais são
Rigidez é complicação comum, portanto
extremamente comuns, e todo traumatologista
mesmo os protocolos de tratamento devem
deve saber reconhecê-las e tratá-las adequada-
oferecer imobilização por curto espaço de tempo.
mente. Visto que a imensa maioria destas lesões
Raramente fraturas dessa região requerem
pode ser manejada com redução incruenta e
imobilização superior a quatro semanas, o que
imobilização, é de suma importância conhecer
costuma oferecer excelente recuperação de
os padrões que “não” aceitam essa modalidade
mobilidade pós-tratamento.
de tratamento. Assim é importante que o cirur-
229

Referências Bibliografias

CAPÍTULO 15
1. AGEE, J. Treatment principles for proximal 9. JUPITER, J; AXELROD, T.S; BELSKY, M.R.
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8. GREEN, D.P. Complications of phalangeal
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230
PARTE II TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
NOS MEMBROS SUPERIORES
TRATAMENTO NÃO
Parte CIRÚRGICO DAS

III FRATURAS DA PELVE


E DOS MEMBROS
INFERIORES
Capítulo

16 FRATURAS DA PELVE
Carlos Roberto Schwartsmann, Leandro de Freitas Spinelli

CONSIDERAÇÕES INICIAIS O alinhamento anatômico perfeito da fratura


não é essencial para a recuperação completa da
O anel pélvico é formado pelos ossos ilíaco,
fratura. E as muletas devem ser dispensadas
púbis, ísquio e o sacro. Os ossos são unidos
quando o paciente estiver livre da dor.
por ligamentos extremamente fortes, sendo o
Nas fraturas da asa do ilíaco (Duverney)
complexo ligamentar posterior o mais impor-
o paciente deve repousar em decúbito dorsal
tante do ponto de vista biomecânico. O peso
contralateral a fratura para evitar dor. A tosse
corpóreo se divide em duas forças: uma poste-
ou espirro podem determinar dor por contratura
rior que transmite o esforço para os membros
da musculatura abdominal. Quando a sintoma-
inferiores e outra que fecha o anel pélvico.
tologia diminuir o paciente pode iniciar o seu
As fraturas arrancamento e as fraturas que
treino de marcha.
não rompem o anel pélvico são consideradas está-
veis e são suscetíveis do tratamento conservador.
Já fraturas instáveis são aquelas que rompem o
anel. São decorrentes de traumas de maior energia
(queda de altura, acidentes de carro ou moto). Se
inadequadamente tratadas podem evoluir com
incapacidades crônicas, dor residual e conso-
lidação viciosa. Na maioria das vezes, nestas
fraturas é necessário o tratamento cirúrgico.
As fraturas da pelve que não rompem o
anel devem ser tratadas conservadoramente
com repouso no leito por 2 até 12 semanas. A
permissão do apoio é dada pela tolerabilidade
a dor. No início a marcha é protegida por anda-
dores ou muletas dependendo da sintomato- Figura 16.1 – Desenho esquemático da fratura de Duverney.
logia dolorosa.
234

CH, 38, masculino


PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 16.2 – Fratura de Duverney na asa do ilíaco direito pós Figura 16.3 – Fratura consolidada. Imagem radiográfica seis
queda de moto. Tratamento conservador com repouso no leito. meses após.

CAR, 28, masculino.

Figura 16.4 – Fratura da asa do ilíaco a esquerda pós acidente de moto. Tratamento conservador com repouso no leito por seis
semanas. Evolução para consolidação sem queixas clínicas.
235

Nas fraturas arrancamento das espinhas

CAPÍTULO 16
ilíacas antero superior e antero inferior, o
paciente deve permanecer deitado com o quadril
e joelho discretamente fletidos por alguns dias,
até que a dor desapareça.

FRATURAS DA PELVE
Nas avulsões da tuberosidade isquiática a
1
separação dos fragmentos pode ser grande. Em 2
todos arrancamentos a consolidação é a regra,
mas ocasionalmente nas diástases maiores pode
ocorrer somente união fibrosa. Geralmente a
evolução é assintomática. 3
A eventual excisão dos fragmentos está indi- Figura 16.5 (1, 2, 3) – 1) Arrancamento da espinha ilíaca
cada somente em pacientes muito sintomáticos antero superior: músculo sartório; 2) Arrancamento da espinha
ilíaca antero inferior: musculo reto femoral; 3) Arrancamento es-
após longo período de tratamento. pinha isquiática: músculos ísquio tibiais.

MDT, 17, masculino.


A B

Figura 16.6 (A, B) – A) Grande arrancamento com cominuição da espinha isquiática; B) Resultado um ano após com consolidação
fibrosa. Não há sintomatologia clínica.

RAR, 28, masculino.


A B

Figura 16.7 (A, B) – A) Grande fragmento arrancado da tuberosidade isquiática; B) Radiografia após um ano e dois meses. Apesar
da imagem radiográfica desfavorável a consolidação fibrosa determinou ausência de queixas clínicas.
236

As fraturas dos ramos ísquio e íleo púbico maior. Geralmente ocorre em pacientes mais
geralmente são ocasionadas por trauma de idosos e o tratamento é sintomático e conser-
PARTE III

compressão lateral como queda sobre o trocanter vador com repouso relativo no leito.

MAI, 52, masculino.


DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

A B

Figura 16.8 (A, B) – A) Fratura do ramo ísquio púbico a esquerda pós queda no banheiro. B) Fratura consolidada. Imagem radio-
gráfica oito meses após. Tratamento conservador com repouso no leito.

LIN, 39, feminino.


A B

Figura 16.9 (A, B, C) – A) Fratura dos ramos íleo e ísquio


púbicos bilateral. B) Imagem radiográfica quatro meses após,
com deformidade residual do anel pélvico. C) Imagem radiográ-
fica após dois anos. Fraturas consolidadas com exuberante calo
ósseo. Paciente normal clinicamente.
237

CR, 62, feminino.

CAPÍTULO 16
FRATURAS DA PELVE
Figura 16.10 – Fratura dos ramos ílio e ísquio púbicos bilate- Figura 16.11 – Imagem radiográfica das fraturas consolidadas
ral. Tratamento instituído: repouso no leito por seis semanas e quatro meses após.
após deambulação com carga progressiva limitada pela dor do
paciente.

SMGS, 51, feminino.


A B

Figura 16.12 (A, B, C) - A) Fratura dos ramos íleo e ísquio


púbicos com importante diástase de arrancamento do ísquio
pós queda de moto. Tratamento instituído: repouso no leito por
seis semanas. B) Consolidação com exuberante calo ósseo na
fratura íleo púbica a esquerda. Aumento da diastase do ísquio
arrancado. C) Imagem radiográfica da remodelação óssea após
dois anos. Reabsorção parcial da tuberosidade isquiática arran-
cada. Paciente normal clinicamente.
238

A disjunção isolada da sínfise púbica (livro Portanto é necessário avaliar corretamente


aberto), menor que 25 mm geralmente mantêm potencial lesão sacro ilíaca. A agressão cirúr-
PARTE III

intactas as fáscias ligamentares do assoalho gica com lesões pouco deslocadas frequente-
e os ligamentos sacro ilíacos anteriores. Com mente leva o paciente a mais queixas deste tipo
o complexo ligamentar posterior permanece de tratamento, principalmente quando houver
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

intacta, a sínfise púbica fica sujeita a forças necessidade de reintervenção por alguma
compressivas o que possibilita o fechamento da complicação.
mesma durante a marcha. A disjunção se torna
assintomática em seis à oito semanas.

Referências Bibliográficas
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6. SARMIENTO, A; LATTA, L.L. Closed func-
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Verlag, 1981.
Capítulo

17
FRATURAS DO COLO
DO FÊMUR
Carlos Roberto Schwartsmann, Leandro de Freitas Spinelli

A
experiência mostrou que a grande riamente ou definidamente até a fratura conso-
maioria das fraturas do fêmur são lidar.
melhores tratadas cirurgicamente com Este tratamento é prolongado e necessita
fixação interna. grande período de hospitalização. Por tanto as
O fêmur é recoberto por potentes massas fraturas do fêmur são cirúrgicas!
musculares (quadríceps e ísquio tibiais) que Somente as fraturas incompletas ou impac-
por contração produzem deslocamento e encur- tadas do colo do fêmur podem ser tratadas conser-
tamento. É sabido que a tração esquelética ou vadoramente. As fraturas podem ser impactadas
cutânea pode neutralizar estas forças tempora- em valgo ou varo.

Figura 17.1 – Fratura impactada em valgo. A contração da mus- Figura 17.2 – Fratura impactada em varo. A ação dos adutores
culatura satélite promove maior impacção no foco de fratura e do iliopsoas tendem a deslocar a fratura.
240

Nas fraturas impactadas em varo, a ação dos tratadas conservadoramente. Ao contrário nas
pelve trocanterianos associados com a ação do fraturas impactadas em valgo, onde a muscula-
PARTE III

iliopsoas, favorecem a desimpacção da fratura tura satélite atua como mantenedora da redução.
e perda da redução. Portanto não podem ser Assim a consolidação pode ser obtida.

MLL, 67, feminino.


DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 17.3 – Fratura impactada em valgo no colo do fêmur. Figura 17.4 – Fratura consolidada após cinco meses.
Tratamento com repouso no leito. Carga progressiva permitida
após 60 dias com muletas.

SUR, 65, feminino.


A B

C D

Figura 17.5 – A) Fratura


impactada em valgo do
colo femoral direito. B)
Fratura consolidada. C e
D) Imagem tomográfica da
consolidação após quatro
meses.
241

Crawford em 1965, estabeleceu critérios para Raaymakers em 1991, publicou estudo

CAPÍTULO 17
o tratamento conservador nas fraturas impactadas prospectivo de nada mais, nada menos que 170
em valgo: pouca dor, ausência de encurtamento, fraturas impactadas do colo do fêmur seguidas
ausência de rotação externa, ativa mobilidade do por um ano. Entre esses cassos acompanhados,
quadril, Rx demonstrando impacção, paciente foi observado que 143 consolidaram (86%) sem

FRATURAS DO COLO DO FÊMUR


cooperativo, compreensivo, bom suporte familiar. complicações.

GAS, 70, feminino.

Figura 17.6 – Fratura impactada do colo do fêmur esquerdo. Figura 17.7 – Fratura do colo do fêmur consolidada. Imagem
Tratamento conservador com repouso no leito por dois meses. radiográfica após quatro meses.
Apoio progressivo com duas muletas posteriormente.

MIH, 71, masculino.

Figura 17.8 – Fratura impactada em valgo do colo do Figura 17.9 – Imagem radiográfica da fratura consoli-
fêmur direito. dada.
242

IMOBILIZAÇÃO TIPO SEREIA


PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

1ª - Imagem clássica de paciente com 2ª - Abrir caixa de papelão com 3 partes 3ª - Na extensão da coxa terço proximal
fratura do colo do fêmur até terço médio da perna

4ª - Fixar com fitas as pontas formando 5ª - Envolver com algodão laminado 6ª - Vestir com malha tubular
um triângulo

7ª - Colocar frauda geriátrico antes da 8ª - Pedir ao auxiliar elevar as pernas uni- 9ª - Imagem final com o colar colocado
imobilização das ao triângulo, prendendo a parte distal
com atadura de crepe 20 cm

10ª - Com 3 ataduras de crepom de 20 cm 11ª - Imagem final da imobilização


mantendo as pernas firmes para o trans-
porte do paciente

Figura 17.10 – Imobilização Tipo sereia para transporte de fratura da pelve ou do fêmur na urgência (1-11).
243

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAPÍTULO 17
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FRATURAS DO COLO DO FÊMUR


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244
PARTE III TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
Capítulo

18 FRATURAS DA PATELA
Carlos Roberto Schwartsmann, Ivo Schmiedt

A
fratura da patela ocorre na faixa etária Um aparelho gessado inguinomaleolar
de 20 a 50 anos. Representam mais ou deve ser aplicado com o joelho em extensão
menos 1% de todas as fraturas, onde completa para relaxar o máximo o quadríceps.
o sexo masculino é duas vezes mais acometido Após duas semanas o gesso deve ser trocado
que o sexo feminino. por um levemente fletido. Inicialmente o
A patela é o maior sesamoide do corpo paciente pode deambular sem apoio com
humano. E está inserido no aparelho extensor auxílio de um par de muletas. Na ausência
do joelho (reto femoral, reto medial, vasto de dor, os exercícios isométricos devem ser
lateral, vasto intermédio). Funcionalmente se estimulados. Por prudência, a troca do gesso
articula somente com o fêmur e não com a tíbia. por aparelho removível de imobilização só
O contato da mesma no sulco troclear só realiza pode ser realizada após três a quatro semanas
em 30 a 40 de flexão. Na flexão máxima (maior em pacientes adequadamente selecionados.
que 135°) a patela se situa na região intercon- A imobilização é retirada para fisioterapia e
dilar do fêmur. higiene.
As fraturas da patela são decorrentes de A deambulação com o imobilizador e
2 mecanismos: trauma direto (queda sobre o apoio progressivo pode ser liberado após a
joelho ou forças indiretas por tração na unidade quatro semanas. O período de consolidação
miotendinea (impulso em salto ou ao tropeçar). normal ocorre de seis a oito semanas e imagem
As fraturas transversas representam 80% dos radiográfica da consolidação pode demorar
casos. Elas podem ser deslocadas ou não. até três a quatro meses. A progressiva liber-
O tratamento não cirúrgico é indicado nas dade dos movimentos flexores é baseada na
fraturas sem deslocamento ou naquelas com clínica, na presença ou não de dor. O paciente
desvios dos fragmentos menores que 2 ou 3 pode referir desconforto na flexão maior que
mm. Na presença de hemartrose importante, 90 graus, no subir escadas, em até seis meses
uma punção aspirativa deve ser realizada. E a da fratura.
comprovação radiológica do grau do desvio é As fraturas cominutivas, deslocadas e com
melhor avaliada na radiografia de perfil. diástase acima de 3 mm devem ser operadas.
246

CASOS CLÍNICOS
PARTE III

Gel, 48, feminino.


A B C
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 18.1 (A, B, C) – A) Fratura transversa do polo proximal da patela. Com diástase de 3 mm entre os fragmentos ósse-
os. B) Fratura consolidada após tratamento conservador com gesso inguinomaleolar. C) Fratura consolidada após oito meses.
Desaparecimento do traço de fratura. Recuperação funcional total.

MGL, 36, feminino.

A B

Figura 18.2 (A, B) – A)


Fratura com cominuição do ter-
ço médio da patela com diásta-
se. B) Ressonância magnética
em T2 mostrando pequeno de-
grau articular, edema ósseo im-
portante do polo distal e gran-
de derrame articular. Realizada
punção e imobilização gessada
inguinomaleolar em extensão.
247

MGL, 36, feminino.

CAPÍTULO 18
A B

FRATURAS DA PATELA
Figura 18.3 (A, B) – A) Imagem radiográfica em perfil mostrando fratura consolidada após seis meses. B) Imagem
radiográfica em perfil mostrando fratura consolidada após um ano e dois meses. Alongamento pequeno do tamanho da
patela. Recuperação funcional completa.

EP, 40, feminino.


A B C

Figura 18.4 (A, B, C) – A) Fratura transversa do terço médio da patela com diástase de 2 mm entre os fragmentos ósseos fratu-
rados. B) Tratamento com imobilização gessada por quatro semanas e após, tala removível. Fratura consolidada após quatro meses.
C) Resultado final após sete meses. Recuperação funcional completa.
248

Referências Bibliográficas
PARTE III

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DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

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9. WATSON-JONES, R. Fractures and joint inju-
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Capítulo

19
FRATURAS DOS OSSOS
DA PERNA
Carlos Roberto Schwartsmann, Alexandre David

D
e todos os ossos grandes do esqueleto, trofismo muscular e o arco normal de movimento
a tíbia é o menos protegido por partes do joelho e tornozelo. Para isto ser alcançado, a
moles. Toda superfície antero interna mais importante consideração é o critério de acei-
está coberta só por pele, por isso, é o osso que tável redução que levará a uma aceitável consoli-
mais frequentemente fratura com exposição. dação. É admissível como sucesso uma consoli-
Na maioria das vezes o agente agressor deter- dação até 10 graus de desvio anteroposterior, até
mina um trauma direto ou torsional, por isso às 5 graus de rotação e até 1 cm de encurtamento.
fraturas espirais e oblíquas são mais frequentes A maioria das fraturas dos ossos da perna
que as transversas. podem ser tratadas por redução fechada e aparelho
A fratura dos ossos da perna é cinco vezes gessado. As ideais para o tratamento conservador
mais frequente que a fratura do fêmur. A meta são as estáveis e fechadas. São aquelas sem desvio,
do tratamento é obter a consolidação, manter o pequeno desvio ou na fratura isolada da tíbia.

Figura 19.1 – Fraturas transversas dos ossos da


perna. Ideais para o tratamento conservador. Os
desvios devem ser reduzidos.
250
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 19.2 – Desenho esquemático mostrando de como a Figura 19.3 – Montagem com blocos de madeira e elástico
musculatura satélite pode favorecer a manutenção da fratura que comprovam a manutenção da redução após realização da
pós redução. mesma.

Figura 19.4 – Fraturas com diferentes traços oblíquos. São consideráveis instáveis pois a musculatura satélite tem tendência de
deslocar a fratura.
251

CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.5 – Desenho esquemático Figura 19.6 – Montagem com blocos de madeira e elásticos demonstrando a ação
mostrando que a musculatura atua no sen- maléfica da musculatura satélite na manutenção da redução. A força de cisalhamen-
tido de deslocar a fratura (cavalgamento). to desloca a fratura.

Figura 19.7 – Desenho es- Figura 19.8 – Desenho esque-


quemático mostrando que dois mático demonstrando que o ges-
pontos antagônicos de pressão so folgado ou sem modelamento
(representados por parafusos) não impede o escorregamento e
impedem o deslocamento. Por a perda da redução.
isso, o gesso, nestes pontos deve
ser bem moldado.

Figura 19.9 (A direita) – Fratura helicoidal da tíbia consolidada


após 30 anos. O alinhamento está mantido, a mobilidade articular pre-
servada, há encurtamento de 1,6 cm.
252
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 19.10 – As fraturas cominutivas, com asa de borboleta ou duplas não são indicações boas para o tratamento conservador
devido sua alta instabilidade.

A magnitude do desvio inicial tem grande


A B
importância, pois revela o grau de energia do
agente agressor. Fraturas muito cominutivas
com grandes desvios de lateralidade ou de
encurtamento significam trauma de alta energia
com importantes lesões de partes moles e grande
desperiostização.
Nestes casos a manutenção da redução com
gesso é difícil. A consolidação tende a ser retar-
dada ou viciosa. O traumatologista nestes casos
deve ter uma boa dose de autocritica para esco-
lher a melhor opção de tratamento: é necessário
avaliar suas aptidões cirúrgicas, sua estrutura
hospitalar e o material adequado de osteossín-
Figura 19.11 (A, B) – A) Montagem em blocos de madeira
tese. A opinião do paciente deve ser bem avaliada
e elásticos mostrando fratura cominutiva com cavalgamento e a
e auxiliar na decisão após conhecer com detalhes relação com musculatura satélite. B) A redução e a manutenção
os riscos e benefícios. da mesma só pode ser obtida com tração ou fixação interna ou
fixador externo.
253

medular anestésico. O uso da anestesia geral

CAPÍTULO 19
fica a critério do anestesista. A anestesia local
é contraindicado, pois comunica o foco da
fratura com o exterior e não oferece suficiente
relaxamento muscular.

FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA


Após a redução aplica-se o gesso inicial-
mente dos dedos do pé até o joelho. Num tempo
posterior o gesso é aplicado na coxa quando o
paciente é puxado mais para fora da mesa orto-
pédica. O joelho é mantido em flexão de 20 a 30
graus e o tornozelo em posição neutra (90 graus).

Figura 19.12 – Fratura do terço médio para distal da tíbia com


asa de borboleta. Apesar da instabilidade a consolidação foi obti- Figura 19.13 – Método de redução descrito por Bohler e
da com sucesso com o tratamento gessado conservador. Watson-Jones. O peso da perna é a força de tração.

Na urgência é inicialmente aconselhável


o uso de uma tala gessada inquino podálica.
A redução incruenta deve ser realizada na
primeira semana após a diminuição do edema e
do processo inflamatório secundário.
A manobra mais utilizada é a descrita
por Bohler (1936) e Watson-Jones (1955). A
redução é realizada com o paciente deitado
e as pernas suspensas no canto da mesa Figura 19.14 – Observar que o joelho do traumatologista mo-
cirúrgica. Preferentemente é usado bloqueio dula o equinismo do pé.
254
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 19.15 – Geralmente a manobra determina pequeno antecurvato que pode ser minimizado com a dorsiflexão do pé pelo
traumatologista.

Figura 19.16 – A moldagem e


compressão anterior conforme o
desenho impede o antecurvato.
255

Outro método de redução é utilização

CAPÍTULO 19
da mesa ortopédica ou free-hand. Em ambos
métodos é preciso ter cuidado para a redução
não permanecer com indesejável antecurvato
conforme o desenho.

FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA


O recurvato é produzido quando a redução
é realizada com o joelho em extensão. O auxiliar
deve ser orientado para fletir o joelho em apro-
ximadamente 45 graus para neutralizar a força
Figura 19.17 – Manobra de redução por tração e Contratração
dos gastrocnêmicos. longitudinal (free hand). O uso do intensificador de imagem
pode ser de grande valia.

Figura 19.18 – Nesta manobra frequentemente permanece um recurvato que deve ser corrigido.

Figura 19.19 – A cor-


reção do recurvato é ob-
tida distalizando o apoio
embaixo do joelho para
anteriorizar o fragmento
proximal da tíbia, conco-
mitantemente com tra-
ção no calcâneo.
256

Após é realizado controle radiológico por patelar (Patelar Tendon Bearing) descrito por
intensificador de imagem ou Rx. São checados Sarmiento.
PARTE III

os eixos dos fragmentos em dois planos (AP e O gesso PTB é aplicado em três fases. As
Perfil). Se o desvio é intolerável é preferível eminências ósseas devem ser protegidas por
nova redução com troca de gesso. Se o desvio malha tubular e uma camada de algodão. Na
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

é pequeno ele poderá ser corrigido na próxima primeira fase o gesso é feito até acima dos malé-
troca de gesso quando já existe calo fibroso. olos que devem ser bem moldados, bem como o
Persistindo o desvio, ele pode ser corrigido tendão de Aquiles. Na fase seguinte molda-se o
através de cunhas gessadas. gesso sobre a tuberosidade tibial e a cabeça da
O gesso inquino podálico permanece por fíbula. O gesso é moldado de forma triangular.
duas, quatro ou seis semanas dependendo Na última fase, o joelho é estendido e prolon-
da estabilidade e da gravidade da fratura. A gado até acima da patela e côndilos femorais. O
maioria das vezes, se a fratura não for muito gesso finalizado deve permitir flexão de 90 graus
alta é boa conduta trocar por um gesso PTB e extensão completa do joelho.

TALA INGUINO PODÁLICA

1ª - Malha tubular 12 cm, 4 ataduras de al- 2ª - Medir com sobra na parte distal 3 ata- 3ª - Após molhar tirando o excedente da
godão laminado de 15 cm colocar em toda duras de gesso de 12 cm água, colocar na parte anterior da perna
a extensão da perna bem ajustada prendendo na parte distal com a 1ª atadu-
ra de crepom de 12 cm

4ª - Prender a parte do tornozelo voltan- 5ª - E no joelho iniciar a 2ª atadura cre- 6ª - Distribuir até a parte proximal da coxa
do para o pé envolvendo o calcâneo indo pom de 15 cm voltando para o joelho
para a proximal da panturrilha

Figura 19.20.1 – Técnica de confecção de tala inguino podálica (1-6).


257

CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
7ª - Levar a atadura do joelho para o mé- 8ª - Voltando para a parte superior da pan- 9ª - Transando “em 8” sobre a coxa pren-
dio pé transando “em 8” sobre o tornozelo turrilha deixando o tornozelo em 90 graus der a atadura

10ª - Fazer o acabamento na parte distal 11ª - Do gesso e algodão dobrando a ma- 12ª - Usar a 3ª atadura de crepom de 20
do pé recortando o excedente lha deixando os dedos a mostra cm em “vai e vem” até o pé

13ª - Finalizando com a 4ª atadura de cre- 14ª - Imagem final. Visualização anterior 15ª - Imagem final. Visualização lateral.
pom de 15 cm distribuída até o final

Figura 19.20.2 – Técnica de confecção de tala inguino podálica (7-15).

Figura 19.21 – Gesso inquino po-


dálico. Gesso padrão para o início
do tratamento. O gesso é o cartão
de visita do traumatologista! É sua
obrigação (que pode ser delegada!)
a limpeza da coxa e dos dedos.
258
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 19.22 – Bota Gessada utilizada para o final do tratamento liberação do joelho.

Figura 19.23 – A confecção do aparelho gessado deve ser Figura 19.24 – No gesso tipo PTB (Patelar Tendon Bearing) é
sempre realizada com os dedos estendidos. Para o principiante necessário perfeita moldagem na patela e no tendão pré-patelar.
é comum agarrar o gesso e, isso determina desuniforme molda-
gem pela pressão das polpas digitais.

Figura 19.25 – Recorte no gesso do tipo PTB (Patellar Tendon Figura 19.26 – Detalhes do gesso PTB pós recorte do gesso.
Bearing).
259

CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.27 – Acabamento do gesso PTB com reforço no tor- Figura 19.28 – Imagem final do gesso PTB. Observar a molda-
nozelo e pé. gem na patela e tendão pré patelar.

As modernas botas sintéticas só podem ser esteja bem evoluído. A bota sintética não permite
utilizadas no final do tratamento conservador. uma perfeita moldagem, por isso, o tradicional
Para isso é necessário que o calo ósseo fibroso gesso é preferível.

CONFECÇÃO DE BOTA GESSADA SINTÉTICA

1ª - Malha sintética 10 cm, algodão sinté- 2ª - Um gesso sintético de 10 cm sem mo- 3ª - Distribuir para o tornozelo
tico 10 cm proteger com mais algodão as lhar começar 2 voltas nos dedos
proeminências

4ª - Pegando a panturrilha até a base 5ª - Cortar o excedente e colocar no en- 6ª - Dobrar a malha sobre o gesso deixan-
velope do uma borda de algodão

Figura 19.29.1 – Técnica de confecção de bota gessada sintética (1-6).


260
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

7ª - Fazer o recorte deixando os dedos li- 8ª - Dobrar a malha 9ª - Molhar a sobra do gesso e desenvol-
vres ver da base para os dedos

10ª - A segunda atadura de 7,5 cm molha- 11ª - Quando finalizar a aplicação do ges- 12ª - Deixando o aparelho gessado na po-
da para finalizar sempre no pé so, tem tempo suficiente para corrigir o sição de 90 graus
posicionamento

13ª - Imagem final da bota gessada

Figura 19.29.2 – Técnica de confecção de bota gessada sintética (7-13).

RETIRADA DO GESSO SINTÉTICO

1ª - Para retirar o gesso com segurança, 2ª - É necessário bivalvar o gesso. Cortar


colocar o polegar apoiado no gesso dando dos dois lados sempre.
toques com a lâmina, sempre mudando a
Figura 19.30 – Técnica de retirada
posição da mesma
do gesso sintético sintética (1-2).
261

TÉCNICAS DAS CUNHAS GESSADAS logista pode corrugir o alinhamento através do

CAPÍTULO 19
Na imperfeita redução de fratura dos ossos uso de cunhas gessadas de adição ou subtração,
da perna ou da perda da mesma, o traumato- obtendo a redução.

1) Técnica da Cunha de Subtração

FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA


1 2 3

Figura 19.31 (1-3) - Desenho esquemático


mostrando inaceitável valgismo. 1) Pós redução. 2) Figura 19.32 – Fratura dos ossos da perna com desvio em valgo. Aplicação
Técnica de cunha de subtração. 3) Redução obtida da técnica de cunha gessada de subtração. Resultado final obtido com bom
após ressecção da cunha gessada. alinhamento dos ossos da perna.

2) Técnica da Cunha Gessada de Adição

1 2 3 4

Figura 19.33 (Acima a esquerda: 1-4) –


1) desenho esquemático mostrando inaceitável
valgismo; 2) Corte transversal no aparelho gessa-
do; 3) abertura da cunha e colocação de bloco de
madeira. 4) redução obtida englobando o bloco de
madeira no aparelho gessado.

Figura 19.34 (Acima a direita) – Cunha de


adição. Colocação de taco de madeira para manter
a abertura no gesso e forçar alinhamento em varo.

Figura 19.35 (A esquerda: 1-3) – 1) Fratura


dos ossos da perna com importante desvio em val-
go. 2) Redução com manutenção de valgo residual.
3) Correção com cunha de adição e satisfatório ali-
1 2 3 nhamento.
262

FRATURAS DIAFISÁRIAS DOS OSSOS DA Obviamente as fraturas com desvios devem


PERNA ser submetidas a redução incruenta. Sempre é ne-
PARTE III

As fraturas dos ossos da perna, transversas cessário lembrar que o aparelho gessado deve ser
ou oblíquas curtas são as ideais para o trata- bem moldado e com pouco algodão. Geralmente
mento conservador. Nas fraturas sem desvios essas fraturas consolidam em três a quatro meses.
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

a carga pode ser imediata, isto é, após mais ou As fraturas com desvio devem ser bem acom-
menos duas semanas. É necessário controle panhadas para flagrar perda de redução o mais
radiológico semanal inicial e tolerabilidade do rápido possível. Se isto ocorrer o traumatologista
paciente. pode inclinar-se para o tratamento cirúrgico.

CAS, 42, masculino.

Figura 19.36 – Fratura transversa do terço médio para distal da tíbia, associada a fratura distal do perônio. Consolidação
obtida com discreta deformidade em varo. Observar o gesso bem moldado.
263

CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.37 – Fratura transversa do
terço médio da tíbia e proximal do perô-
nio com desvio em valgo. Fratura conso-
lidada sem deformidade angular e encur-
tamento desprezível.

BZ, 51, feminino.

Figura 19.38 – Fratura transversa


dos ossos da perna no terço médio
com desvio em valgo e antecurvato.
264
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 19.39 – Redução com aparelho gessado bem moldado e resultado final com consolidação sem desvios, (e) recuperação
funcional total do joelho e tornozelo após seis meses.

Figura 19.40 – Imagem clínica


da paciente. A hipotrofia da mus-
culatura satélite deve ser recupe-
rada com fisioterapia por aproxi-
madamente pelo mesmo período
da imobilização. (Watson-Jones)
265

FRATURA ISOLADA DA TÍBIA redução e manutenção com gesso inguino podá-

CAPÍTULO 19
Charnley foi o primeiro a chamar atenção lico por um período de tempo maior, pois há
que a fratura da tíbia com a fíbula integra merece tendência de angulação em varo dentro de um
uma atenção especial no tratamento conser- gesso curto abaixo do joelho. O gesso alto deve
vador. Apesar do trauma não ser de alta energia, ser moldado forçando o valgismo. No eventual

FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA


existe uma tendência a consolidação em varo e retardo de consolidação ou pseudoartrose, a
retardo da consolidação. osteotomia da fíbula, que se mantém integra,
Até 10 graus de varismo, a deformidade é uma ótima opção terapêutica para se obter a
é aceitável. Desvios maiores é aconselhável a compressão e consolidação.

JFP, 32, feminino.

Figura 19.41 – Fratura oblíqua do terço médio para distal da tíbia com fíbula integra.
266
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 19.42 – Tratamento conservador com aparelho gessado bem moldado. Fratura consolidada sem desvios.

Figura 19.43 – Fratura transversa do


terço médio da tíbia com perônio integro
e discreto desvio em valgo. Resultado final
com consolidação e sem desvios ou encur-
tamento.
267

NAP, 40, masculino.

CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.44 – Fratura isolada transversa da tíbia no terço médio para distal com perônio integro. Consolidação obtida com bom
alinhamento e sem encurtamento.

Figura 19.45 – Fratura isolada oblí-


qua da tíbia no terço médio para distal.
Consolidação obtida com discreta defor-
midade em varo residual. O máximo de
desvio tolerável é de 10 graus.
268

KER, 44, masculino.


PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 19.46 – Fratura oblíqua longa do terço médio para distal Figura 19.47 – Após aparelho gessado com forçado valgis-
da tíbia com perônio integro. Desvio em varo significativo. mo a fratura consolidou com bom alinhamento no AP e perfil.

FOR, 43, masculino.

Figura 19.48 – Acidente com


motocicleta. Fratura cominutiva
proximal da tíbia comprometen-
do a superfície articular. Bom ali-
nhamento.
269

CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.49 – Tomografia axial computadorizada mostrando detalhes da cominuição e comprometimento da superfície articular.

Figura 19.50 – Resultado final após


tratamento conservador com gesso in-
quino podálico por 90 dias. Fratura con-
solidada com discreto varo. Recuperação
funcional total.
270

FRATURAS PROXIMAIS DOS OSSOS DA as que não têm deslocamento podem ser
PERNA tratadas com aparelho gessado inquino podá-
PARTE III

As fraturas se dividem em dois grupos. As lico.


que comprometem a superfície articular e as Como são fraturas que consolidam rapida-
extra-articulares. mente a imobilização deve permanecer de seis a
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

As que comprometem a superfície arti- oito semanas. Após é necessário um brace que per-
cular e determinam degrau maior que 2 a 3 mm mite a flexo-extensão do joelho. O apoio com carga
devem ser tratadas cirurgicamente. Entretanto só deve ser permitido após três a quatro meses.

MAL, 52, masculino.


A B C

Figura 19.51 (A, B, C) –


A) Fratura do planalto tibial
com comprometimento ar-
ticular e pequeno desvio. B)
Resultado final com perfeita
consolidação e sem limita-
ções no joelho. O gesso deve
ser moldado em varo e com
compressão no platô lateral.
C) Imagem radiográfica três
anos após.

A B

Figura 19.52 (A, B) –


A) Fratura cominutiva dos
ossos da perna no terço
proximal sem desvio signi-
ficativo. B) Fratura consoli-
dada com bom alinhamen-
to e calo ósseo exuberante.
271

A B

CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.53 (A, B) – A) Fratura cominutiva do terço médio para proximal dos ossos da perna. B) Fratura consolidada com bom
alinhamento.

A B

Figura 19.54 (A, B) –


A) Fratura oblíqua proximal
dos ossos da perna sem
desvio. B) Fratura consoli-
dada com desvio em varo
de 10 graus.
272

FRATURAS DISTAIS DOS OSSOS DA A manutenção e a moldagem do aparelho


PERNA gessado e mais direto aos ossos. Isto determina
PARTE III

É sabido que, ao contrário das fraturas proxi- uma boa compressão sob os fragmentos ósseos
mais da tíbia, as fraturas distais têm uma dificul- fraturados e consequentemente deambulação
dade maior em consolidar devido a sua peculiar mais precoce com carga. As eventuais perdas
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

irrigação. Entretanto devido sua pobre proteção de redução são bem toleradas pelas cunhas
muscular elas são as mais fáceis de reduzir. gessadas.

Figura 19.55 – Imagem ra-


diográfica de fratura oblíqua do
terço distal da tíbia. Há discreto
desvio em varo.

Figura 19.56 – Imagens to-


mográficas da fratura.
273

CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.57 – Fratura con-
solidada com inexpressivo varo
a tíbia.

EF, 44, feminino.

Figura 19.58 – Fratura


oblíqua longa no terço
médio para distal da tíbia.
274
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 19.59 – Observar o bom alinhamento no gesso muito Figura 19.60 – Fratura consolidada sem desvio significativo.
bem moldado e com pouco algodão.

Figura 19.61 – Radiografia após quatro


anos da fratura. Importante remodelação
óssea.
275

CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.62 – Fratura oblíqua do terço distal da tíbia Figura 19.63 – Fratura consolidada com perfeito alinha-
sem comprometimento articular. Tratamento conserva- mento.
dor com bota gessada tipo PTB por 90 dias.

Figura 19.64 – Fratura transversa do terço distal da tíbia Fratura 19.65 – Fratura consolidada com exuberante calo
e fíbula com discreto desvio em varo. Tratamento com apa- ósseo e discreto varo.
relho gessado tipo PTB.
276
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 19.66 – Fratura oblíqua do terço distal dos ossos da perna com Figura 19.67 – Fratura consolidada com bom alinha-
acentuado desvio em valgo e recurvato. mento frontal e sagital.

A B A B

Figura 19.68 (A, B) – A) Fratura oblíqua comi- Figura 19.69 – Fratura Figura 19.70 (A, B) – A) Fratura do terço dis-
nutiva com asa de borboleta do terço distal da per- consolidada com bom tal dos ossos da perna com discreto valgismo. B)
na com valgismo. B) Redução com aparelho gessado alinhamento e discreto Fratura consolidada com discreto varismo.
bem moldado. recurvato.
277

FRATURAS ISOLADAS DO PERÔNIO pacidade funcional e o paciente pode continuar

CAPÍTULO 19
A diáfise do perônio raramente se fratura andando.
sem a tíbia ou tornozelo associadamente. Quando Não é necessário redução e o tratamento com
existe a fratura isolada geralmente é devido a imobilização gessada é sintomática através de
impacto direto sobre o osso. bola de bota gessada por quatro a seis semanas.

FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA


Raramente há grande desvio. Há dor e É sempre bom lembrar que deve ser investigada
edema no local da fratura, mas não existe inca- a fratura oculta da tíbia ou tornozelo.

A B

Figura19.71 (A, B) – A) Imagem radiográfica de fratura do terço proximal do perônio por projétil de arma de fogo: fratura exposta.
B) Imagem radiográfica da fratura consolidada após 60 dias.

Figura19.72 – Imagem
radiográfica de fratura
transversa proximal do
perônio. Fratura consoli-
dada após 60 dias.
278

A B
PARTE III

Figura 19.73 (A, B)


DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

– A) EP, 28, masculino.


Imagem radiográfica de
fratura oblíqua do terço
proximal do perônio por
trauma direto jogando
futebol. B) Imagem da fra-
tura consolidada com exu-
berante calo ósseo devido
a retirada da imobilização
em duas semanas.

INDICAÇÕES DE TRATAMENTO CI- associadas, síndrome comportamental, fratura


RÚRGICO NAS FRATURAS DOS OSSOS articular proximal ou distal com desvios, asso-
DA PERNA. ciação de outras fraturas no mesmo membro.
A maioria das fraturas fechadas da tíbia é São indicações recomendáveis: perda
suscetível e adequada ao tratamento conservador. óssea extensa, redução muito instável, fraturas
Entretanto alguns tipos de fraturas, o tratamento segmentares, encurtamento maior de 20 mm,
cirúrgico é recomendado. São indicações abso- politraumatizados, pacientes não deambula-
lutas: fratura exposta, lesões neuros vasculares dores, inaceitável perda da redução.

MAUS CASOS RESULTANTES DO TRATAMENTO CIRÚRGICO


Sem dúvida nenhuma a mais temida complicação devem estar sempre na mente do traumatologista
do tratamento cirúrgico das fraturas dos ossos na hora de tomar a decisão pelo tratamento cirúr-
da perna é a infecção. A tíbia é subcutânea e, gico. As próximas imagens de complicações não
portanto, pouco protegida, As seguintes imagens existem no tratamento conservador.

Figura 19.74 – Osteossíntese com pla-


ca e parafusos que evoluiu para infecção
e exposição do material de síntese.
279

KEF, 37, feminino.

CAPÍTULO 19
FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA
Figura 19.75 – Osteossíntese da tíbia com placa e parafusos. Evolução com infecção, necrose de pele e exposição do material de
síntese.

Figura 19.76 – Infecção.


Necrose de pele e exposi-
ção da placa em fratura
distal dos ossos da perna.
A solução desta complica-
ção está associada a inú-
meras cirurgias futuras.
280
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 19.77 – Osteossíntese com haste intramedular bloqueada da tíbia. Evolução com fistula e osteomielite.

Figura 19.78 – Osteossíntese


da tíbia com placa e parafusos
que evoluiu para infecção. Três
fistulas ativas coradas com azul
de metileno.
281

Referências Bibliográficas

CAPÍTULO 19
1. BODE, G, et al. Tibial shaft fractures – mana- 12. NWOSU, C. Tibial fractures following parti-
gement and treatment options. A review cipation in recreational football: Incidence
of the current literature. Acta Chir Orthop and outcome. Niger J Clin Pract, v. 22, n. 4, p.
Traumatol Cech, v. 79, n. 6, p. 499-505, 2012. 492-495, abr. 2019.

FRATURAS DOS OSSOS DA PERNA


2. BÖHLER, L. The treatment of fractures. Vienna: 13. RUSSELL, T.A. Fractures of the tibia and
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282
PARTE III TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
Capítulo

20 FRATURAS DO TORNOZELO
Carlos Roberto Schwartsmann, Alexandre David

A
articulação do tornozelo é constituída terior verdadeiro) e P (perfil). Na incidência AP
por 3 ossos: tíbia, fíbula e tálus. A esta- o valor de referência para a sobreposição tibiofi-
bilidade anatômica do tornozelo é prin- bular é de 10 mm e no AP verdadeiro, o espaço
cipalmente conferida pela sua arquitetura óssea, talo-maleolar medial deve ser inferior a 4 mm.
e a estabilidade secundária é proporcionada pela Na incidência de perfil identificamos com maior
ação restritiva dos ligamentos. O tornozelo apre- facilidade as fraturas oblíquas da fíbula assim
senta três superfícies articulares distintas: tibio- como as fraturas do maléolo posterior.
talar, fibulotalar e a sindesmose tibiofibular distal.
Embora considerada um gínglimo articular
a presença de recessos permite movimentos
rotatórios o que indica que estas articulações
não só permitem a flexo extensão, mas também
rotações do pé nos eixos axial e coronal.
Então, a estabilidade do tornozelo é confe- Angulo talo Crural
rida pelas relações intrínsecas da tíbia com a A Normal B 83° +/- 4°
fíbula e pelo forte complexo ligamentar existente
entre estes ossos e o tálus.
O complexo ligamentar lateral é formado
A B
pelo ligamento talo-fibular anterior, calcâneo B
4 mm
fibular e talo-fibular posterior. O medial é basi-
camente composto pelo ligamento deltoide que
Espaço tibio fibular
é constituído por 5 ligamentos. A < 10mm
C Espaço talo
A sindesmose tíbia fibular distal é composta maleolar
por 4 ligamentos. D Ant
A série trauma para o tornozelo inclui 3 Figura 20.1 (A, B, C, D) - Desenhos esquemáticos da rela-
incidências radiográficas: AP (anteroposterior), ção tibiofibular distal. A) Relação normal. B) Ângulo talo crural
(83º +/- 4º). C) Espaço talo-maleolar (4 mm). D) Espaço tibiofibu-
AP com rotação interna de 20 graus (anteropos- lar (mais que 10 mm).
284

CLASSIFICAÇÃO DAS FRATURAS A classificação de Weber (1966) é baseada


no nível de fratura da fíbula. O tipo “A” ocorre
PARTE III

A mais antiga classificação é a POTT, ela já foi


distal a sindesmose. O tipo “B” envolve o nível
declarada obsoleta, mas ainda é relevante na
da sindesmose. O tipo “C”, é suprasindesmose.
tomada de decisões, pois possui como maior
É chamada a classificação anatômica. É uma das
mérito a sua simplicidade. No grau 1 existe
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

classificações mais “ridículas” da traumatologia,


fratura unimaleolar (medial ou lateral). Já no 2, os
pois não avalia globalmente o tornozelo. Não
maléolos medial e lateral estão fraturados (deslo-
existe diferença entre a existência de fratura
cados ou não). Por fim no 3, os maléolos medial
maleolar medial, posterior se existe luxação ou
lateral e posterior são afetados com deslocamento
subluxação ou não.
(geralmente com luxação ou subluxação).

Figura 20.2 – Classificação de Weber. Todas as imagens mostram fraturas Weber tipo C, mas com gravidades distintas e incompa-
ráveis. Não se leva em consideração a luxação, a subluxação, as lesões ligamentares e de partes moles.

Em 1950, Lauge-Hansen lançou uma classi- diária ela é pouco utilizada pela interpretação
ficação que através do mecanismo de lesão tenta complexa que ela exige.
repetir os padrões de fraturas. Consequentemente, Em 1990, Müller do grupo AO, lançou uma
os tratamentos seriam melhor induzidos e o prog- classificação completa e complexa. Jamais terá rele-
nóstico mais bem avaliado. Ela é conhecida como vância clínica pois apresenta 27 diferentes opções,
a classificação “genética” porque utiliza o meca- três tipos: A, B e C. Cada um com 9 subtipos.
nismo de ação do trauma na gênese das fraturas Na prática necessitamos obter o princípio
para definir os diferentes tipos. básico do tratamento: redução e manutenção da
A terminologia de seu sistema de classi- redução até a consolidação. Charnley escreveu
ficação utiliza primeiramente a posição do pé que nestas fraturas-luxações “a redução não é
e secundariamente a direção da força etioló- difícil, o problema maior é manter os ossos no
gica. A classificação possui 4 tipos: supinação– seu devido lugar.” O aprendizado da manu-
adução, supinação–eversão, pronação–abdução, tenção da redução deve ser realizado com repe-
pronação-eversão. A supinação-eversão também tição e perseverança. A cura com posição anatô-
conhecida como supinação e rotação externa mica é premissa para uma reabilitação funcional
é responsável por 70% dos casos. Na prática completa e duradoura.
285

CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.3 – O desvio lateral deve ser reduzido com forças Figura 20.4 – Desenho esquemático mostrando que as partes
antagônicas. O aparelho gessado deve ser moldado da mesma moles intactas laterais impedem a hipercorreção e facilitam a
maneira. Neste caso, forçando o varismo. manobra de redução.

Figura 20.5 – Manobra para reduzir o desvio anteroposterior. Observar que a gravidade tende a luxar novamente o tornozelo
posteriormente.

A REDUÇÃO os maléolos. O crucial na redução é entender que


Charnley advoga que a fratura-luxação do o tálus, o maléolo medial, o maléolo posterior e
tornozelo consiste na verdade numa fratura em o maléolo lateral se movimentam como única
2 partes. A parte proximal é representada pela peça que está toda conectada pelo aparelho liga-
diáfise da tíbia e da fíbula e a distal pelo pé com mentar do tornozelo.

Figura 20.6 – Imagens de fraturas-lu-


xações do tornozelo. As mais frequen-
tes são de supinação-eversão.
286
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 20.7 – Charnley advoga a ideia que a


fratura-luxação é de somente duas partes. Esta é
uma ideia básica, mas muito simplista, pois o agen-
te pode produzir diferentes de fraturas.

Portanto a redução somente será obtida se O gesso que deve ser bem molhado e
o tálus permanecer embaixo da superfície arti- moldado com as eminências tenares, mantendo
cular da tíbia. O alinhamento maleolar é obtido forças opostas. Frequentemente o paciente acha
secundariamente. que o gesso está torto, mas o Rx ira confirmar a
Tracionando e segurando o calcanhar com boa posição da redução. Se isso não for verda-
a palma da mão, a dorsiflexão é realizada com deiro uma nova tentativa de redução deve ser
uma força que direciona para rotação interna. realizada!
Após a redução, enquanto o traumatologista Se o bom alinhamento dos fragmentos não
confecciona o gesso, um auxiliar segura o pé for obtido ou a fratura é muito instável a indi-
pela ponta dos dedos ou pela malha tubular. cação cirúrgica se impõe.

Figura 20.8 – Manobra de redução Figura 20.9 – Modelamento do aparelho gessa-


forçando para o varo e rotação interna. do conforme as setas.
287

CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.10 – Desenho esque-
mático e foto final do aparelho
gessado que mostra o pé aparen-
temente desalinhado da sua posi-
ção anatômica. A radiografia deve
confirmar a redução anatômica.

Erros comuns na redução das maléolo posterior, dorsifletir o tornozelo sem


fraturas-luxações do tornozelo: previa tração longitudinal. A ação do tríceps
Existem 3 erros comuns na redução: o sural fara com que o tálus subluxe posterior-
primeiro ocorre na presença de fratura do mente.

A B

Figura 20.11(A, B) – A) dorsiflexão sem tração longitudinal pode promover subluxação do maléolo posterior pela cabeça do tálus.
B) A dorsiflexão com tração longitudinal reduz a fratura do maléolo posterior e a luxação posterior.

O segundo erro frequente ocorre na tentativa partes moles e o efeito compressivo poderá se
de reduzir a sindesmose. É necessário aplicar perder. A moldagem do gesso deverá ser feita em
força compressivas entre os maléolos. Entretanto níveis diferentes conforme o desenho. A força de
se as forças forem aplicadas de maneira uniforme compressão lateral deve ser abaixo do maléolo e
elas poderão ser dissipadas pelo edema das a força de compressão medial acima do maléolo.
288

A
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 20.12 (A, B) – Desenho esquemático mostrando cor- Figura 20.13 – Gesso circular e as áreas de moldagem. As
retamente a distribuição das forças para prevenir a subluxação setas indicam as forças que devem ser aplicadas durante a
lateral. O gesso é moldado forçando o varismo. A) Forças apli- confecção do aparelho gessado para manter a redução.
cadas erroneamente. B) Forças aplicadas para manutenção do
varismo.

O terceiro erro mais comum é não man- comum (supinação – eversão) a principal força
ter o pé com rotação interna durante a redu- que determina a fratura-luxação e a de rotação
ção e a confecção do gesso. Na fratura mais externa.

A B
Figura 20.14 (A, B) – A) A rotação externa desloca o maléolo lateral posteriormente. B) A corre-
ção deve ser realizada com força direcionada para rotação interna.
289

FRATURA ISOLADA DO MALÉOLO sição do periósteo tibial medial pode impedir a

CAPÍTULO 20
MEDIAL frontalização dos fragmentos. Se isso acontecer
A fratura não deslocada ou com desloca- e manobras com valgismo, não conseguirem
mento parcial deve ser tratado com bota gessada retirar a interposição, o tratamento cirúrgico se
por quatro a seis semanas, o maléolo medial tem impõe. Sempre deve ser avaliada a sindesmose

FRATURAS DO TORNOZELO
grande potencial de consolidação. Entretanto tibiofibular distal e o complexo ligamentar
fraturas com grande deslocamento, a interpo- lateral.

MS, 34, masculino.

Figura 20.15 – Queda da motocicleta. Fratura do maléolo medial com diástase (AP – P).

Figura 20.16 – Fratura consolidada após oito semanas de imobilização.


290
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 20.17 – Imagem radiográfica magnificada do maléolo medial antes e após a consolidação.

Figura 20.18 – Desenho esquemático mos-


trando que a interposição do periósteo desgar-
rado medial pode impedir a redução e o pro-
cesso de consolidação. Quando isto ocorrer,
está indicado tratamento cirúrgico.

FRATURA ISOLADA DO MALÉOLO rompido. Se a mesma ocorreu infrasindes-


LATERAL moidal, a bota gessada forçando o varo deve
Se a fratura for isolada do maléolo lateral ser utilizado de 6 a 8 semanas. Se for suprasin-
com pouco ou sem deslocamento significativo, desmoidal e necessário entender que a lesão
significa que existe parcial ou total integridade deltoide foi maior e há comprometimento da
do complexo medial do tornozelo. sindesmose.
A lesão do ligamento deltoide deve ser O gesso deve ser bem moldado em varo e
testado pela radiografia com stress. Uma aber- comprimir a sindesmose. Se a radiografia confir-
tura medial de até 4 mm é normal. Esta fratura mar a redução anatômica e não estiver aberto
deve ser tratada com aparelho gessado por medialmente (o tálus perfeitamente alinhado
quatro a seis semanas. A ordem de marcha com sobre a superfície tibial e que não há abertura
apoio pode ser precoce em duas semanas. da sindesmose) um aparelho gessado por oito
Se a fratura do maléolo for deslocada signi- semanas será suficiente para a resolução de
fica que o ligamento deltoide foi parcialmente fratura.
291

OS, 43, masculino.

CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.19 – Fratura isolada do maléolo lateral. A distância talo-maleolar medial está aumentada e há subluxação lateral. Isto é
fratura-luxação!

Figura 20.20 – Fratura consolidada com gesso após oito semanas. Observar a perfeita redução articular e a distância talo-maleolar
medial normal.
292

HM, 28, masculino.


PARTE III

A B
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

C D

Figura 20.21 (A, B, C,


D) – Trauma jogando fu-
tebol. A, B e C) Sequência
de radiografias em AP e AP
verdadeiro. Fratura oblíqua
do maléolo lateral suprasin-
desmoidal. Não há compro-
metimento medial visível. D)
Fratura consolidada em seis
semanas.

IRG, 37, masculino.

Figura 20.22 – Queda da


escada com torção. Fratura
oblíqua do perônio suprasin-
desmoidal. Relações articula-
res preservadas.
293

CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.23 – Imagem ra-
diográfica da fratura consolida-
da após oito semanas de gesso.
Perfeita recuperação funcional.

PIN, 54, masculino.


A B

Figura 20.24 (A, B) – Trauma jogando futebol. A) Fratura de maléolo lateral transindesmoidal. Tratamento conservador com bota
gessada. B) Fratura consolidada no seu sitio anatômico normal. Recuperação funcional total.

CFA, 48, feminino.


A B C

Figura 20.25 (A, B, C) – Queda em buraco. A) Fratura-luxação do tornozelo. B) Redução anatômica e imobilização com gesso
forçando o varismo. Espaços articulares mantidos. C) Fratura consolidada com recuperação funcional completa.
294

RSA, 48, feminino.


PARTE III

A
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 20.26 (A) – Queda em buraco com torção. Fratura-luxação. Fratura maléolo lateral, articulação subluxada e lesão
ligamentar medial. É necessária redução e imobilização com gesso forçando o varismo.

Figura 2.26 (B) – Fratura consolidada. Não há subluxação medial. Normalização do espaço talo-maleolar.
295

CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.26 (C) –
Imagem radiográfica, após
seguimento de seis anos.
Recuperação funcional com-
pleta.

COS, 33, masculino

Figura 20.27 – Queda da moto. Fratura-luxação do tornozelo com desvio lateral e posterior.
296
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 20.28 – Redução in-


satisfatória no aparelho ges-
sado: tálus permanece su-
bluxado. Setas apontam o
excessivo espaço talo-maleolar.
Encruzilhada terapêutica: ten-
tar nova redução ou indicar o
tratamento cirúrgico. A presen-
te situação é “inadmissível.”

Figura 20.29 – Opção pelo tratamento cruento. Imagem pós-tratamento cirúrgico com placa lateral, parafuso interfragmen-
tario. Redução anatômica.
297

FRATURAS BIMALEOLARES E TRIMALEO- fatória ou não. Na vigência de uma boa redução

CAPÍTULO 20
LARES a troca de imobilização por gesso definitivo deve
Geralmente estas fraturas complexas são ocorrer entre uma ou duas semanas. Logicamente
fraturas-luxações e merecem redução imediata. após a troca do gesso. Novo exame de imagem se
Após a redução o paciente deverá ser imobilizado impõe para reavaliar a qualidade de redução.

FRATURAS DO TORNOZELO
com tala gessada inguino podálica para prevenção Se a redução inicial não foi satisfatória ou
do eventual edema e a síndrome compartimental. houve perda da redução o tratamento cirúrgico
A radiografia confirmará se a redução foi satis- deve ser indicado.

AMS, 55, feminino.


A B

C D

Figura 20.30 (A, B, C, D, E) – Queda da escada.A) Fratura trimaleolar do tornozelo. Redução aceitável no AP.
B) Radiografia em perfil mostrando fratura do maleolo posterior. C) Manutenção da redução no aparelho gessado.
D) Fratura consolidada. E1 e E2) Recuperação funcional total.
298

LAO, 35, feminino.


PARTE III

A B
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

C D

Figura 20.31 (A, B, C, D, E) - Vítima de atropelamento. A) Fratura trimaleolar do tornozelo com luxação posterior. B) Redução
anatômica com tala gessada no AP. C) Redução com pequeno degrau do maléolo posterior menor que 30% da superfície articular. D)
Imagem radiográfica de fratura consolidada com anatomia restaurada após 60 dias de imobilização gessada. E) Paciente sem dor e
recuperação funcional completa.
299

GRAI, 39, masculino.

CAPÍTULO 20
A B

FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.32 (A, B) – Queda da bicicleta. A) Fratura-luxação trimaleolar do tornozelo. Desvio lateral e posterior. B) Imagem radio-
gráfica do AP pós redução e imobilização com tala gessada.

A B

Figura 20.33 (A, B) - A) Fratura consolidada após 60 dias de aparelho gessado. Imagem radiográfica em AP. B) Fratura consolida-
da. Imagem radiográfica em perfil, maléolo posterior consolidado com pequeno degrau articular.

Figura 20.34 – Recuperação funcional total. Imagens clínicas obtidas após quatro anos.
300

MAV, 28, feminino.


PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 20.35 – Queda de altura na escada. Fratura-luxação trimaleolar do tornozelo. Luxação lateral e posterior.

Figura 20.36 – Redução perfeita na tala gessada. Espaço articular mantido Figura 20.37 – Fratura do maléolo posterior.
anatomicamente. Acometimento de 1/5 da superfície articular.
301

CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.38 – Manutenção da redução com aparelho Figura 20.39 – Resultado final com as fraturas consolidadas.
gessado perfeitamente moldado. Aparelho gessado con- Recuperação funcional completa.
feccionado com malha dupla e sem algodão!

FRATURA DO MALÉOLO POSTERIOR difícil manutenção. Algumas vezes há compro-


O maléolo posterior geralmente reduz metimento articular com degrau inaceitável de
automaticamente quando há redução do tálus. 3 ou 4 mm. Em ambos casos a osteossíntese é a
Entretanto se a superfície fraturada for maior melhor opção de tratamento.
que 30% pode haver instabilidade posterior de

MAUS RESULTADOS
TCM, 21, feminino.
A B

Figura 20.40 (A, B) – A) Fratura maleolar lateral oblíqua transisdemoidal sem desvio e sem comprometimento do pilar medial.
Superfícies articulares reduzidas anatomicamente. Indicação absoluta de tratamento conservador pois não há desvios! B) Fratura não
perceptível nem mesmo nas imagens radiográficas oblíquas.
302

C
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 20.40 (C) –


Opção infeliz! Conduta
desnecessária! Fratura
operada com compres-
são interfragmentária e
placa com 5 parafusos.
Continua com redução
anatômica.

Figura 20.41 – Lamentavelmente


paciente teve evolução clínica com
infecção profunda e necessidade de
retirada do material de síntese para
cura da infecção.

Figura 20.42 – Imagem


radiográfica após nova rein-
tervenção cirúrgica para re-
tirada da placa e parafusos.
Felizmente houve recupe-
ração funcional total após
duas cirurgias.
303

SCC, 57, feminino.

CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.43 – Queda da escada. Fratura bimaleolar do tornozelo com luxação lateral.

Figura 20.44 – Redução anatômica obtida após anestesia e tala gessada. Redução perfeita.

Figura 20.45 – A redução anatômica foi perdida na confecção do aparelho gessado. Há excesso de algodão e apesar da moldagem
em varo permitiu novamente a perda da redução com subluxação. Aparelho gessado muito mal confeccionado!
304
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 20.46 – Intervenção cirúrgica: instituído tratamento cirúrgico com 2 parafusos maleolares mediais, 2 parafusos transisde-
moidais e placa lateral com parafusos. Tala gessada muito mal confeccionada! Evolução com infecção superficial na incisão lateral.

MFLM, 33, feminino.

Figura 20.47 – Queda em bu-


raco na rua. Fratura bimaleolar
do tornozelo com luxação late-
ral do tálus.
305

CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.48 – Tratamento
cirúrgico instituído com placa
lateral e parafuso transindes-
moidal. Inaceitável redução
cirúrgica. Tálus subluxado la-
teralmente. Seria melhor se
não tivesse sido operado!

Figura 20.49 – Imprensindivel necessidade de reintervenção cirúrgica para reduzir a subluxação: troca da placa lateral do perônio
e fixação da sindesmóide com três parafusos. Há restabelecimento das superfícies articulares.
306

RBV, 36, masculino.


PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 20.50 – Queda de motocicleta.


Fratura-luxação lateral do tornozelo com
ruptura e diástase da sindesmose pós que-
da de moto.

Figura 20.51 – Nestes


casos sempre há suspei-
ta da fratura-luxação de
Maisonneuve. A radiografia
de toda a perna comprovou
fratura oblíqua do terço mé-
dio do perônio. Ao contrário
de que muitos autores su-
gerem, ela pode ser tratada
de maneira conservadora.
Obviamente é necessário
haver redução anatômica
das superfícies articulares e
da sindesmose.

Figura 20.52 – Paciente tratado


cirurgicamente com que há de mais
moderno na traumatologia: Parafusos
canulados suprasindesmoidais, pla-
ca bloqueada no perônio e ancoras
para reparação do ligamento deltoi-
de. Lamentavelmente e tristemente o
cirurgião não respeitou os princípios
primordiais da traumatologia e deixou
a articulação subluxada.
307

CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.53 – Radiografia em AP focada
mostrando aumento do espaço talo-maleolar
medial e diástase da sindesmose tíbio pero-
neal. Situação insustentável!

Figura 20.54 – Paciente evo-


luiu com dor e dificuldade para
caminhar. Na imagem radiográ-
fica observamos aumento da
subluxação e fratura por fadiga
dos parafusos. Imperiosamente
haverá necessidade de “nova
cirurgia!”

Figura 20.55 – Resolução


final com nova reinterven-
ção cirúrgica! Alongamento
do perônio com enxerto ós-
seo da tíbia. Dois parafusos
suprasindesmoidais e o que
é mais importante: redução
anatômica das superfícies
articulares.
308

BS, 69, masculino.


PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 20.56 – Queda da mo-


tocicleta. Imagem radiográfica
de fratura-luxação trimaleolar
do tornozelo: luxação póstero
lateral.

Figura 20.57 – Imagem ra-


diográfica pós osteossíntese do
tornozelo. Perfeita redução e fi-
xação.

Figura 20.58 – Imagem


radiográfica do tornozelo
subluxado póstero medial-
mente. A ausência de imo-
bilização nos pós-operatório
e inadequada orientação
permitiu deambular precoce
e evolução para esta com-
plicação. Evolução final para
artrodese do tornozelo.
309

A MAIS TEMIDA DAS COMPLICAÇÕES: A INFECÇÃO

CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.59 – Pós-operatório imediato de osteossíntese do Figura 20.60 – Pós-operatório tardio de osteossíntese do tor-
tornozelo por fratura. Evolução com secreção e fistula pela ferida nozelo. Necrose de pele em exposição do foco de fratura.
operatória.

Figura 20.61 – Grande necrose de pele com exposição da pla- Figura 20.62 – Secreção e exposição do material de síntese.
ca, parafusos e osteomielite. Para resolução desta complicação Imagem que o traumatologista não gosta de ver.
serão necessárias várias cirurgias.
310

CONSIDERAÇÕES FINAIS tratamento cirúrgico são mais graves, infecção


superficial e profunda hipersensibilidade
PARTE III

Na literatura existem dezenas de artigos que (3-20%) e sensação subjetiva de dor no implante
defendem tanto o tratamento conservador quanto e cicatriz (10-40%). Soltura do material de síntese
o cirúrgico para diferentes tipos de fraturas do com perda da redução, reintervenção para reti-
tornozelo. A decisão acerca da melhor escolha rada da síntese (15-70%).
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

de tratamento depende da correta avaliação do Avaliando a pior complicação:


paciente e do seu quadro clínico e radiológico. O risco de osteomielite não existe no trata-
Os objetivos principais do tratamento destas mento conservador!!!
fraturas são: obter redução anatômica das super- Em 1985 Kristensen e Hansen publicaram
fícies articulares e manter a redução durante o resultados do tratamento conservador com 21 anos
tempo necessário para consolidação (seis a doze de seguimento em 94 casos de fraturas deslocadas.
semanas). Oitenta e nove pacientes não apresentaram
As fraturas bi ou trimaleolares após a redução nenhuma queixa, apenas 5 referiam dor quando
exigem perfeita confecção do aparelho gessado submetidos a grandes esforços. Nenhum apresen-
com moldagem e apoio criteriosamente aplica- tava nítidos sinais radiológicos de artrose.
dos. O tratamento necessita supervisão cuidadosa Bauer em 1985 revisou 143 casos com segui-
e frequente. Nas últimas décadas o grupo AO mento médio de 30 anos.
padronizou e mostrou excelentes resultados ob- Vinte fraturas eram do tipo Weber A, 103 do
tidos coma fixação interna nas fraturas instáveis. tipo B e 20 do tipo C.
Entretanto não existem trabalhos com longo segui- Após o período de seguimento de 3 décadas,
mento que comparam os dois tipos de tratamento. 118 não referiram qualquer queixa e 24 relataram
Provavelmente o tratamento cirúrgico é dor ocasional a grandes esforços, um apresentava
mais fácil, menos trabalhoso e de recuperação dor com sinais de artrose, mas ainda sem neces-
funcional mais rápida. Entretanto as sequelas do sitar de tratamento adicional.

FRATURAS DO TORNOZELO DO AUTOR


CRS, 30, masculino.

Figura 20.63 – Trauma jogando futebol. Imagem clínica pós fratura-luxação do tornozelo direito ocorrida em 1980 durante partida
de futebol. Observar importante sufusão hemorrágica medial e lateral do tornozelo.
311

CAPÍTULO 20
FRATURAS DO TORNOZELO
Figura 20.64 – Imagem radiográfica do tornozelo pós redução. Discreta abertura da sindesmose tíbio peroneira. Tratamento reali-
zado com bota gessada bem moldada por seis semanas.

CRS, 50, masculino.

Figura 20.65 – Trauma jogando futebol. Imagem clínica pós fratura-luxação de tornozelo esquerdo ocorrida em 2000 novamente
durante partida de futebol.

Figura 20.66 – Imagem radiográfica pós fratura do tornozelo esquerdo. Observar a integridade da articulação tíbio peroneira distal.
Tratamento realizado com bota gessada por seis semanas.
312
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 20.67 – Autor realizando artroplastia do Figura 20.68 – Imagem radiográfica do tornozelo direito após 40 anos da
total do joelho 72 horas após redução da fratura. fratura. Ausência de artrose na articulação do tornozelo.
Ato cirúrgico sendo realizado com o cirurgião senta-
do e o membro inferior fraturado sobre um banco.

Figura 20.69 – Imagem radio-


gráfica do tornozelo esquerdo após
20 anos de fratura. Ausência de ar-
trose na articulação do tornozelo.
Assintomático.
313

ReferÊncias Bibliográficas

CAPÍTULO 20
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314
PARTE III TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
Capítulo

21 FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ


Carlos Francisco Coelho Koch; Leandro Marcantonio Camargo; Eduardo Pedrini Cruz;
Tomás Araújo Prado Pereira; Francisco Arturo Cejas Rodriguez; Eduardo Ávila;
Paulo Arlei Lompa.

Fraturas de Calcâneo do edema, é recomendado o uso de uma “robofoot”


cano longo, permitindo a movimentação precoce
A fratura do calcâneo é a fratura mais comum
do tornozelo, mas sem permitir o apoio durante,
dos ossos do tarso e corresponde a 2% de
pelo menos, oito a doze semanas até haver
todas fraturas. Normalmente são resultantes de
sinais de consolidação da fratura. Uma série de
traumas de maior energia com carga axial sobre
estudos comparando os resultados entre o trata-
o mesmo. Na maioria dos casos é resultante de
mento conservador e o tratamento cirúrgico nas
queda de altura.
fraturas intra-articulares desviadas do calcâneo
São mais comuns nos pacientes jovens do
mostraram benefício importante dos resultados
sexo masculino. É uma fratura que costuma
em favor da realização de cirurgia nesses casos.
resultar bastante incapacidade para os pacientes.
Existem inúmeras classificações para fratura
do calcâneo, mas historicamente e anatomica-
mente são divididas entre fraturas extra-articu- 25° a 40°
lares e fraturas intra-articulares (Essex-Lopresti).

Tratamento:
O tratamento conservador é indicado para
pacientes com fraturas extra-articulares sem
desvio significativo ou para fraturas intra-articu-
lares sem desvio. Pacientes com muitas comor-
bidades, sem condições clínicas e pacientes com Figura 21.1 – Ângulo de Bohler: as fraturas que não diminuem
grande acometimento de partes moles, também significativamente o ângulo de Bohler, podem ser tratadas con-
servadoramente.
necessitam a realização de tratamento conser-
vador. Normalmente o tratamento conservador é Na próxima página, mostramos um caso no
realizado com o uso de uma bota gessada suropo- qual foi optado pela realização do tratamento
dálica. Após quatro semanas, e após a diminuição conservador de uma fratura intra-articular.
316
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 21.2 – Imagens radio-


gráficas de fratura do calcâneo
intra-articular com afundamen-
to da faceta posterior e varo do
retropé.

Figura 21.3 – Imagem radio-


gráfica mostrando a consolida-
ção da fratura nas incidências de
perfil e de Saltzman. Após quatro
meses.

Figura 21.4 – Imagem clínica


do paciente 22 meses após fra-
tura. Notem que o paciente teve
evolução favorável, score AOFAS
de 83 após 22 meses do trauma.

Na maioria das vezes o tratamento inicial é gesso circular bem moldado com compressão
realizado utilizando tala gessada suropodálica. latero-lateral sobre o calcâneo.
Após duas semanas o mesmo é trocado por

A B

Figura 21.5 (A, B) – A) Tratamento inicial com tala gessada suropodálica. B) Tratamento definitivo com bota gessada.
317

tala suropodálica

CAPÍTULO 21
FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ
1ª - Medir o algodão de 15 cm, 3 cm 2ª - Abrir os dois rolos de algodão de 15 3ª - Depois de abrir o rolo de gesso de 20
antes do joelho e 3 cm passando os cm na mesma extensão medida e o gesso cm dobrar ao meio
dedos do pé de 20 cm no mesmo comprimento

4ª - Fixar com fitas as pontas formando 5ª - Medir a malha de 15 cm passando 6ª -Pegar somente o gesso nas pontas le-
um triângulo mais ou menos 3 cm de cada lado vando para o meio

7ª - Pegar firme emergir na água compri- 8ª - Colocar sobre o algodão passando a 9ª -Vestir o algodão e o gesso com a malha
mir tirando o excesso da água mão para o gesso impactar

10ª - Em uma das pontas colocar a 11ª - Colocar com a malha para dentro na 12ª - Com o joelho fletido do paciente e o
malha para dentro panturrilha com o paciente segurando, pé apoiado no peito facilita o posiciona-
começar com a atadura de crepom no mento do tornozelo em 90 graus
meio do pé

Figura 21.6.1 – Descrição da confecção de uma tala suropodálica (1-12).


318
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

13ª - Com a atadura de crepe de 12 cm 14ª - Terminar o desenvolvimento da ata- 15ª - Dar duas voltas com a 2ª atadura de
prender o meio do pé indo para o torno- dura na parte proximal da perna 15 cm na parte proximal indo para a distal
zelo subindo para a panturrilha

16ª - No meio do pé voltar em “x” sobre 17ª -Duas voltas com a 3ª atadura e baixar 18ª -Abrir a malha no pé, cortar o algodão
o dorso da perna para a parte proximal, a perna sobre a maca e o gesso rente aos dedos
distribuir a atadura até terminar

19ª - Passar a atadura na borda da tala 20ª - Prender deixando o meio do pé bem 21ª - Desenrolar a atadura até finalizar
voltando para o tornozelo ajustado com a atadura

22ª - Colocar as bordas das extremidades 23ª - Aspecto final da tala gessada
para dentro da tala

Figura 21.6.2 – Descrição da confecção de uma tala suropodálica (13-23).


319

Fraturas dos Metatarsos por mecanismo de entorse, normalmente aco-

CAPÍTULO 21
metem o quinto metatarso, por enquanto que as
As fraturas dos metatarsos são relativamente fraturas por estresse, muito comuns em atletas,
comuns e muitas vezes menosprezadas. Apesar, são mais comuns no segundo metatarso, apesar
de não ser uma regra, a maioria dessas fraturas de poderem acometer qualquer outro metatarso.
podem ser tratadas conservadoramente desde Fraturas isoladas ou conjuntas do segundo, terceiro

FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ


que alguns princípios não sejam ignorados. e quarto metatarso normalmente são resultantes
de um trauma direto sobre o dorso do pé.
Anatomia:
Normalmente as fraturas dos metatarsos Fraturas da base dos metatarsos (excluindo
não tem grandes deslocamentos. Isso se deve o quinto metatarso)
principalmente aos fortes ligamentos que esses Sempre devem levantar a suspeita de uma
possuem entre si tanto na base dos mesmos lesão de Lisfranc, por isso radiografias com
como na sua parte mais distal. As fraturas estresse ou com apoio devem ser realizadas para
distais ao ligamento interósseo distal, ao nível excluir esse diagnóstico. Se isoladas, as fraturas
do colo dos metatarsos, possuem mais tendência da base do segundo, terceiro e quarto metatarso,
a serem deslocadas por esse motivo anatômico. raramente, necessitam tratamento diferente do
O desvio plantar e o desvio proximal dessas que o uso de um calçado de solado rígido. Se
últimas fraturas ocorrem devido as forças dos o paciente estiver muito sintomático, o uso de
flexores no fragmento distal. uma órtese tipo “robofoot” cano curto ou gesso
permitindo apoio conforme tolerância é bem
Mecanismo de lesão indicado. A seguir evolução de um paciente
As fraturas dos metatarsos podem ser resul- tratado conservadoramente com uma fratura da
tantes de forças diretas ou indiretas. As fraturas base do primeiro metatarso.

Figura 21.7 – imagens radiográficas de uma fratura da base do primeiro metatarso com leve desvio em AP e Perfil.
320

ou uma bota tipo “robofoot”. Desvios no plano


frontal normalmente são bem tolerados,
PARTE III

porém desvios no plano sagital devem ter


acompanhamento mais rigorosamente, assim
como as fraturas mais distais, pois as mesmas
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

têm mais propensão ao desvio plantar que as


mais proximais. O tratamento conservador é
indicado para fraturas com deslocamentos
menores que 3 a 4 mm ou angulação menor
que 10 graus. Outros métodos de tratamento
são descritos como a imobilização com fitas
adesivas em combinação com uso de solado
rígido de madeira ou outro solado rígido
durante três a quatro semanas. Outros autores
preferem o uso de uma órtese tipo “robofoot”
cano curto desde o início do tratamento, permi-
tindo apoio com o mesmo durante quatro a
seis semanas. A maioria dos autores sugere
Figura 21.8 – Imagem da bota Robofoot. o uso de tala gessada até haver diminuição
importante do edema (aproximadamente três
Fraturas diafisárias dos metatarsos a cinco dias) e após esse período, realização de
Normalmente decorrentes de um trauma gesso tradicional ou sintético bem moldado ao
direto, porém podem ser causadas por uma nível do pé sem envolver o tornozelo, permi-
entorse. Muitas vezes é uma fratura desperce- tindo apoio com o mesmo durante três a cinco
bida, principalmente nos pacientes politrau- semanas.
matizados que não conseguem expressar suas Já as fraturas da diáfise do hálux normal-
queixas. Quando o paciente está consciente, mente são mais instáveis devido a ação dos
entretanto, o diagnóstico é bastante óbvio músculos intrínsecos e extrínsecos, por isso
indicado pela dor, edema e equimose local. não tolera grandes deformidades. O tratamento
Deslocamentos grosseiros que estão ameaçando conservador é feito normalmente restringindo
a integridade da pele devem ser prontamente carga durante duas a quatro semanas com uma
reduzidos e a exclusão de síndrome comparti- imobilização e após esse tempo permitir apoio
mental é fundamental. conforme tolerância com a bota “robofoot” cano
curto por mais três semanas. As fraturas da
Tratamento: diáfise do quinto metatarso também possuem
Muitas técnicas de tratamento conser- particularidades. Devido a maior mobilidade
vador já foram descritas para o tratamento de do quinto raio, os ligamentos que se conectam
fraturas metatarsais sem desvio. As fraturas ao mesmo são mais frouxos, fazendo com que
fechadas sem desvio ou com mínimo desvio da haja uma maior instabilidade nas fraturas que
diáfise dos metatarsos, excluindo a do hálux, acometem a diáfise desse osso. As fraturas da
podem ser tratadas com uma bota gessada diáfise do quinto metatarso são tratadas com
com reforço plantar que permita deambular sucesso com o tratamento conservador.
321

CAPÍTULO 21
FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ
Figura 21.9 – Imagem radiográfica em AP e Oblíqua mostrando fratura diafisária do quinto metatarso.

A B C

Figura 21.10 (A, B, C) – A) Tratamento inicial com tala gessada suropodálica. B) Imagem radiográfica após seis semanas.
C) Imagem radiográfica da fratura consolidada após 12 semanas.
322

MBF, 44, feminino.


PARTE III

A B
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 21.11 (A, B) – A) Fratura oblíqua do 5º metatarsiano. B) Imagem radiográfica da fratura consolidada após dois meses.
Paciente permaneceu imobilizado com bota gessada por quatro semanas. Discreto encurtamento do metatarsiano. Recuperação
funcional total.

Figura 21.12 – Imagem radiográfica da fratura do colo do terceiro metatarsiano. A direita, imagem radiográfica seis semanas após
mostrando consolidação. Abaixo imagem clínica do paciente também com seis semanas, já conseguindo ficar apoiar-se nas pontas
dos pés sem dor.

Fraturas do colo dos metatarsos a redução, devido a maior instabilidade desse


Normalmente são múltiplas e desviadas. tipo de fratura é fundamental a aplicação de
Desvios plantares podem causar calosidades um gesso circular desde o tubérculo de Chaput,
dolorosas na planta do pé, que normalmente envolvendo bem a articulação metatarsofalân-
são bastante incapacitantes. Essas fraturas gica plantar, assim mantendo os dedos na sua
podem ser reduzidas sob anestesia com o posição anatômica.
auxílio do “Chinese finger traps” ou sobre mani- A seguir um exemplo onde foi conseguida
pulação direta com pressão plantar sobre a a manutenção da redução com a imobilização
cabeça do metatarso e tração do mesmo. Após gessada.
323

A B

CAPÍTULO 21
FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ
Figura 21.13 (A, B) – Paciente de 50 anos, masculino. A) Imagem radiográfica de fratura do colo do quarto e quinto metatarso.
B) Radiografias mostrando fraturas consolidadas, paciente sem sintomas.

A B C D

Figura 21.14 (A, B, C, D) – A e B) Imagem radiográfica da fratura do colo do 4º metatarso. C e D) Imagem radiográfica da fratura
consolidada após oito semanas.

Fraturas da base do quinto metatarso Fratura Avulsão


Do ponto de vista anatômico o complexo A fratura avulsão da tuberosidade: também
das articulações dessa área, também chamada de conhecida como fratura do tênis, normalmente
Lisfranc lateral é composto pela base do quinto é extra-articular, mas pode se estender até o
metatarso, pelo cuboide e pelo quarto metatarso, cuboide. Historicamente acreditava-se que
que são ligados por fortes ligamentos. A estabili- seria resultado de uma contração brusca do
dade desse complexo é constituída pela cápsula, fibular curto devido a uma inversão forçada
pela banda lateral da aponeurose plantar e pelo do retropé. Em um estudo em cadáveres,
fibular curto. A circulação extrínseca é fornecida entretanto, foi sugerido que a estrutura mais
pelas artérias dorsais e plantares metatarsais e provável na avulsão da tuberosidade do quinto
pela artéria marginal fibular plantar. metatarso seja a banda lateral da aponeurose
324

plantar. Na criança, a apófise pode ser confun- uso de órtese que impeça o movimento de supi-
dida com uma fratura não deslocada da tubero- nação durante seis semanas.
PARTE III

sidade, assim como o “os peroneum” e o “os vesa- As fraturas na junção metafisodiafisária são
lianum”. Nas meninas, o centro de ossificação conhecidas por ocorrem em uma região pouco
aparece entre 9 e 11 anos e nos meninos entre vascularizada, entre a base bem fixada do quinto
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

11 e 14 anos, e os mesmos desaparecem dois a metatarso e sua diáfise, que é bastante móvel.
três anos após. Também são tratadas com imobilização e
A maioria dos pacientes com fratura avulsão restrição de carga. No acompanhamento radio-
poderão ser tratados de forma conservadora gráfico de consolidação é importante notar a
com um solado rígido ou com o uso de uma robo- consolidação que ocorre de medial para lateral,
foot curta, podendo manter o apoio conforme que pode ocorrer entre semanas até meses após
tolerância. Maioria das fraturas estarão consoli- o diagnóstico. Torg notou melhores resultados
dadas em oito semanas, entretanto muitas vão no tratamento conservador das fraturas de Jones
criar uma união fibrosa assintomática. A maioria aguda com imobilização e restrição absoluta de
dos autores recomenda uso de tala gessada até carga, quando comparado com o tratamento
melhora do edema, seguida de bota gessada ou com imobilização mais a permissão de carga.

Figura 21.15 (A) – Imagem radiográfica em AP e


oblíqua mostrando fratura da base do quinto metatarso
esquerdo.

Figura 21.15 (B) – Fratura da base do quinto meta-


tarsiano consolidada após seis semanas. O calo ósseo do
ponto de vista radiológico só é exuberante meses após.
325

Caso Clínico

CAPÍTULO 21
MCF, 50, feminino.
A B

FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ


C

Figura 21.16 (A, B, C) – Queda com torção. A) Imagem radiográfica


de Fratura da base do quinto metatarsiano com diástase. B) Imagem ra-
diográfica da fratura consolidada após 12 semanas. Paciente imobilizado
com bota gessada por quatro semanas e após uso de órtese que impede
a supinação do tornozelo. C) Imagem clínica do paciente com recuperação
funcional total.

Figura 21.17 – Exemplo de órtese que impede a supina- Figura 21.18 – Sandália de Barouk – Uma opção de
ção do tornozelo. tratamento adjuvante no tratamento de algumas fratu-
ras do antepé.
326

Fraturas diafisárias metatarsais por estresse ser feito apenas clinicamente. Normalmente as
Como o próprio nome diz, essas fraturas fraturas por estresse do segundo e do terceiro
PARTE III

são resultantes de estresse repetitivo que leva metatarso ocorrem ou no terço central ou no colo
a fadiga do osso normal. Também conhecido da diáfise, diferente do que ocorre nas fraturas
como fratura da “marcha” devido sua alta por estresse do primeiro raio, que normalmente
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

prevalência em militares. O segundo metatarso acometem na base do metatarso.


é o mais comumente acometido seguido pelo O Tratamento também é realizado com
terceiro metatarso. Aumento de atividades de imobilização gessada. O uso de “robofoot” pode
impacto, repentinamente, é um fator de risco ser necessário naqueles pacientes com dor into-
também associado. No exame físico será notado lerável. O tempo de tratamento varia de quatro a
aumento de sensibilidade no local e edema, oito semanas. O ‘Malley fez o acompanhamento
sendo esse último notado duas a três semanas de 64 dançarinos profissionais com fratura
após o início da dor. Inicialmente a radiografia por estresse do segundo metatarso que foram
será normal, porém após um mês, sinais de tratados de forma sintomática. Os dançarinos
consolidação poderão ser evidentes. A resso- retornaram às suas atividades em uma média de
nância magnética ou a cintilografia podem ser 6,2 semanas. Desses, 14% ainda referiam alguma
usados para confirmar o diagnóstico entre esse dor durante a dança e 12% tiveram uma refra-
período de tempo, porém o diagnóstico pode tura em uma média de 4,3 anos.

A B

Figura 21.19 (Acima: A, B) –


A) A fratura de estresse muitas vezes
pode não aparecer nas imagens
radiográficas iniciais, mas a ressonância
magnética pode demonstrar
precocemente com muita clareza. B)
A cintilografia óssea também pode
auxiliar no diagnóstico duvidoso.

Figura 21.20 (A esquerda) –


Imagem radiográfica de fratura de
estresse do segundo metatarsiano
consolidada após oito semanas.
327

Fraturas das falanges desprendimento da marcha também é uma queixa

CAPÍTULO 21
comum. No exame físico haverá dor a palpação
São as fraturas mais comuns do antepé. O local e edema. Cuidados com a perfusão é importante
mais comum em todos os raios é a falange proximal nos casos de trauma com maior energia. Flexão e
e devido ao seu tamanho e importância na marcha extensão dos dedos vai reproduzir dor e crepita-
(principalmente na fase de desprendimento), as ções poderão ser sentidas.

FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ


fraturas do hálux são as mais importantes clini-
camente. As fraturas das falanges proximais dos Fraturas da falange do hálux
dedos menores são tracionadas pelos extensores Em fraturas simples sem desvio significativo,
dos dedos, pelos flexores, interósseos e lumbricais o hálux pode ser imobilizado junto ao segundo e
resultando em uma angulação plantar. terceiro dedo para agregar estabilidade e então
O mecanismo de fratura mais comum nas liberado para apoiar o membro com solado rígido,
falanges media e distal é devido a um trauma conforme tolerância a dor. Jahss notou que até
direto, como queda de um objeto pesado sobre mesmo fraturas deslocadas da falange proximal do
o pé. Trauma em abdução – fratura do “cami- hálux, quando tratadas agudamente, poderiam ser
nhador noturno” é bastante frequente nos dedos tratadas adequadamente após redução com anes-
menores e normalmente resulta em uma fratura tesia local, manipulação fechada e imobilização.
na falange proximal. Cobey recomenda o tratamento com imobilização
A história de dor aguda, que pode não ser tão com tala metálica rígida. A seguir mostramos a
significativa seguido de edema é o mais comum. sequência sugerida de colocação adequada de
Dificuldade para colocar sapatos e dor na fase de uma tala metálica rígida no hálux.

TALA METÁLICA PARA ARTELHOS

1ª - Medir a tala metálica do meio do 2ª - Prender com micropore as pontas, e 3ª - Tira fina de esparadrapo trançada na
antepé contornando o hálux com esparadrapo por baixo base do hálux

4ª - 1ª volta com esparadrapo em tiras. 5ª - 2ª complementação com várias tiras 6ª -No antepé, usar tiras mais largas
de esparadrapo

Figura 21.21.1 – Imobilização com tala metálica para as fraturas da falange do hálux (1-6).
328
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

7ª - Complementação da imobilização no 8ª - Recobrimento da imobilização com 9ª - Complementação da imobilização


antepé. atadura de crepe.

10ª - Imagem final da imobilização

Figura 21.21.2 – Imobilização com tala metálica para as fraturas da falange do hálux (7-10).

CASOS CLÍNICOS

A B

Figura 21.22 (A, B) – A) Fratura transversa do terço médio da falange proximal do hálux, com pouco desvio.
B) Imobilização com tala gessada após redução com anestesia local.
329

CAPÍTULO 21
FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ
Figura 21.23 – A esquerda radiografia mostrando fratura da base da falange distal do hálux. Ao centro, radiografia após dez sema-
nas de tratamento com “spica” e uso de calçado rígido e a direita, também com dez semanas, foto da paciente já conseguindo ficar
nas pontas dos pés, referindo estar sem dor.

Figura 21.24 – A esquerda imagem radiográfica mostrando fratura com pequeno desvio da falange distal do hálux. No centro,
radiografia com seis semanas de evolução mostrando consolidação da fratura. Imagem da direita mostramos a foto clínica da pacien-
te, na mesma data da radiografia central, conseguindo apoiar todo membro no antepé. Paciente foi tratada com o uso de “spica” e
sandália de Baruk.

Fraturas das falanges dos dedos menores adequado. O tratamento conservador inclui
As fraturas das falanges nos dedos menores imobilização da falange fraturada com “spica”
são menos importantes clinicamente que as imobilizando a fratura com os pododáctilos
faturas no hálux. Muitos autores concordam adjacentes mais a utilização de calçados rígido
que até mesmo fraturas, que após tentativas ou sandália de Barouk. A seguir, é mostrado o
de redução, mas mantiveram desvio moderado passo a passo da imobilização para fraturas da
podem ser tratados conservadoramente de modo falange dos dedos menores.
330

IMOBILIZAÇÃO COM ESPARADRAPO


PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

1ª - Cortar o esparadrapo 25 cm de 2ª - Manter sempre o pé apoiado com os 3ª - Não esquecer de separar os dedos
comprimento em toda sua largura e abrir dedos livres para a imobilização, passar com gaze ou algodão
em tiras finas tintura de benjoim no médio pé

4ª - Posicionar primeiro o 4º dedo 5ª - Em segundo o 5º dedo 6ª - E por último o 3º pododáctilo

7ª - Iniciar com a 1ª tira da parte externa 8ª - Trançando na base do 5º cortando no 9ª - Passar uma tira sobre a outra firme,
do médio pé, passando na base do 3º dorso do médio pé mas sem comprimir

10ª - Até a base das unhas 11ª - Cortando para que as mesmas fi- 12ª - Para observar a circulação
quem a mostra

Figura 21.25.1 – Imobilização com esparadrapo para as fraturas das falanges (1-12).
331

CAPÍTULO 21
FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ
13ª - Cortar interrompendo a tira 14ª - Complementando na outra ponta 15ª - Imagem final da imobilização

16ª - Cobertura com atadura de crepe

Figura 21.25.2 – Imobilização com esparadrapo para as fraturas das falanges (13-16).

Figura 21.26 – Imagem clínica de fratura da falange proximal


do segundo dedo. Importante proteger os espaços interdigitais Figura 21.27 – Aspecto final da imobilização com
satélites com algodão. esparadrapo.
332

CASOS CLÍNICOS
PARTE III

A C D
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 21.28 (C, D, E) – C)


Imobilização com esparadrapo após re-
dução com anestesia local. D) Imagem
radiográfica da fratura consolidada
Figura 21.28 (A, B) – A) Imagem clínica após seis semanas. E) Radiografia após
da fratura deslocada da falange proximal do 5º dois meses de trauma, mostrando bom
dedo. B) Imagem radiográfica correspondente. alinhamento e consolidação da fratura.

GRH, 48, feminino

Figura 21.29 – A esquerda, imagem da radiografia de uma paciente com fratura da falange proximal do
quarto pododáctilo. No centro, imagem clínica da paciente com acentuado desvio em valgo. A direita, imagem
radiográfica de controle após redução incruenta realizada no pronto atendimento com anestesia local.
333

KLL, 35, feminino

CAPÍTULO 21
A

FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ


B

Figura 21.30 (A, B) – A) Imagem radiográfica de fratura da falange proximal e distal do quinto pododác-
tilo. B) Imagens radiográficas, após tratamento conservador com spica e uso de solado rígido durante quatro
semanas, nota-se a consolidação das fraturas em uma posição satisfatória.
334

Caso Clínico Complexo


PARTE III

FMA, 66, masculino.


A
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 21.31 (A) – Paciente fumante e diabético. Imagem clínica de paciente que sofreu esmagamento do pé na porta do eleva-
dor. Sofrimento vascular importante do 4º dedo.

Figura 21.31 (B) – Imagens radiográficas do antepé em AP e oblíqua: fraturas cominutivas do terço distal do primeiro e segundo
metatarsiano e fraturas nas falanges proximais do 3º, 4º e 5º dedos.
335

CAPÍTULO 21
C D

FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ


Figura 21.31 (C, D) – C) Radiografia mostrando consolidação das fraturas após doze semanas. D) foto clínica do paciente na
ponta dos pés. Observar a ausência do 4º dedo devido a amputação.

Fratura do navicular tipo de imobilização varia de acordo com autor.


O osso navicular é considerado por muitos a Se o tamanho do fragmento é pequeno uma
“chave” do arco do pé, sendo a porção mais alta imobilização elástica pode ser aplicada, porém
do arco longitudinal do pé. Nele está inserido o se o tamanho for grande, ou se o paciente não
tendão tibial posterior e importantes ligamentos, for capaz de tolerar a imobilização elástica, uma
destacando-se o tibionavicular que é o mais forte bota com controle do movimento do tornozelo
entre eles e o ligamento mola, que se origina no (como um robofoot) ou até mesmo uma bota
sustentáculo do tálus e se insere na tuberosidade gessada suro podálica permitindo o apoio,
do navicular. pode ser considerada. O tempo de utilização da
As fraturas avulsões são as mais comuns imobilização vai depender da tolerância de carga
(47%): normalmente ocorrem por um mecanismo que o paciente vai ter e da existência ou não de
de baixa energia. O mecanismo mais comum é o uma lesão concomitante do mediopé ou dos
de flexão plantar forçada em um pé em inversão. ligamentos laterais do tornozelo. Tipicamente
Geralmente ocorre uma avulsão dorsal do navi- os pacientes são imobilizados durante aproxi-
cular (tipo “lábio” ou “chip”) causado pelo liga- madamente quatro semanas e então começam
mento talonavicular. apoio progressivo conforme tolerância. Cirurgia
Tratamento conservador é indicado quase normalmente não é necessária, ficando reser-
na totalidade dos casos e pode ser manejado vada apenas para pacientes com pseudoartrose
conservadoramente na maioria dos casos. O sintomática ou proeminência óssea dolorosa.
336
PARTE III
DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

Figura 21.32 – Imagem radiográfica a fratura da tuberosi-


dade do navicular. Observar o navicular acessório. Tratamento
conservador com bota gessada.

Figura 21.33 – Imagem radiográfica da fratura consolidada


após seis semanas de tratamento com robofoot cano longo.
Permissão de apoio com carga parcial progressiva.

Fraturas do cuboide de lesão por inversão do tornozelo, que podem


A fratura isolada do cuboide é rara. Isso se ser bem-vistas nas radiografias em AP e oblí-
deve principalmente a sua posição anatômica quas do pé (Imagem 21.33). Muitas vezes não
“protegida” apoiada sobre os metatarsos laterais. subdiagnosticadas como apenas um entorse
Existem dois tipos de fraturas predominantes de tornozelo. No exame físico o paciente vai
do osso cuboide que são: fraturas por avulsão (a ter dor local e graus de edema e equimose
mais comum) e fraturas por compressão. variados.
As fraturas por avulsão, são fraturas do O tratamento a vasta maioria dos pacientes
aspecto lateral do cuboide, com um mecanismo podem ser tratados conservadoramente, pois a
337

maioria dessas fraturas tem mínimo ou nenhum apoio conforme tolerância, enquanto outros

CAPÍTULO 21
desvio. Muitos autores recomendam o uso de recomendam o mesmo tratamento, porém mais
bota robofoot por três a quatro semanas com prolongado de seis a oito semanas.

A B

FRATURAS DOS OSSOS DO PÉ


Figura 21.34 (A) – As fraturas por avulsão do cuboide ocorrem Figura 21.34 (B) – Imagem radiográfica após seis semanas.
pela tração do ligamento calcaneocuboide e são as fraturas mais Paciente não referindo nenhuma queixa.
frequentes desse osso. Nessa radiografia, podemos notar uma
avulsão em uma paciente de 34 anos após uma entorse em inver-
são. O tratamento conservador foi o tratamento de escolha, como
ocorre na grande maioria das vezes.

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PARTE III

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DA PELVE E DOS MEMBROS INFERIORES
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS FRATURAS

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Parte TRATAMENTO DAS

IV
LUXAÇÕES
DAS GRANDES
ARTICULAÇÕES
Capítulo

22 LUXAÇÕES DO OMBRO
Carlos Roberto Schwartsmann

A
articulação gleno umeral é a de maior dinâmicos que estabilizam a articulação gleno
mobilidade no corpo humano. Para umeral são compostos principalmente pelos
obter toda amplitude de movimento, músculos do manquito rotador (subescapular,
obviamente perde sua estabilidade devido prin- supraespinhoso, intraespinhoso e redondo
cipalmente a pequena superfície de contato entre menor), a cabeça longa do bíceps e os demais
a cabeça do úmero e a rasa cavidade glenoide, músculos da cintura escapular.
que é cinco vezes menor que a cabeça umeral. Quanto a incidência, o ombro é a articulação
Mecanicamente existem os estabilizadores que mais frequentemente sofre luxação no corpo
estáticos e os dinâmicos. Entre os mecanismos humano. Dentre as luxações 90% são gleno
estáticos temos o formato da articulação, o umerais anteriores, 5% esterno claviculares e 5%
lábrum glenoideo que aumenta a profundidade gleno umerais posteriores.
da cavidade glenoide, ótima cobertura e vedação O diagnóstico é realizado pela história de
da cápsula articular, as estruturas capsuloliga- trauma agudo e a presença do sinal da dragona
mentares, principalmente os ligamentos gleno militar, que corresponde ao acrômio proemi-
umerais e fenômeno físico da pressão negativa nente no subcutâneo associado a perda do
intra-articular, que oferece adesão e coesão da contorno circunferencial do ombro. Também é
cabeça umeral contra a glenoide. Os mecanismos conhecido como “sinal do cabide”.

Figura 22.1 – Acidentes com


motocicletas, automoveis e a
prática desportiva são os agentes
que mais frequentemente deter-
minam a luxação do ombro.
342
PARTE IV
TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES

Figura 22.2 – Sinal do cabide: patognomônico de luxação do ombro. Imagem clínica


de 4 casos.

Na luxação posterior pode passar desa- meio do músculo deltoide posterior. É preciso
percebido pois o sinal não é tão exuberante. muita atenção, pois a clínica não é tão evidente e
Normalmente a cabeça do úmero se localiza no o paciente pode até realizar alguns movimentos.

Figura 22.3 (A) – Caso raro


de luxação ereta do ombro di-
reito. Observar a posição típico
do paciente com o membro su-
perior e abdução fixa.
343

CAPÍTULO 22
LUXAÇÕES DO OMBRO
Figura 22.3 (B) – Imagem radiográfica mostrando a cabeça do úmero abaixo da cavidade do glenoide.

Evidentemente, no exame físico é necessário O diagnóstico é confirmado por radiografias


um minucioso exame neuromuscular. O nervo da série trauma: anteroposterior verdadeiro,
axilar é o mais comumente acometido (neuro- lateral da escapula (avalia desvios anteriores ou
praxia). posteriores da cabeça umeral) e axilar.

Figura 22.4 – Dois casos de luxação anterior do ombro


direito. A cavidade glenoide está vazia e não há contato
com a cabeça umeral.

Na luxação do ombro, principalmente nas Lesão de Slap: são as lesões no lábio glenoidal
recidivantes são encontradas lesões anatômicas superior antero-posterior.
associadas, tais como:
Lesão de Bankart: é a desinserção da porção Ainda existem 10% de fraturas associa-
anterior da capsula e do lábrum junto a das a luxação bem como do manguito rota-
glenoide, com ou sem fragmentos ósseos. dor. Já quanto ao tratamento, toda luxação é
Lesão de Hill-Sachs: trata-se de fratura considerada uma emergência médica e, por-
(afundamento) do canto superior-lateral da tanto, deve ser tratada o mais precocemente
cabeça umeral. possível.
344
PARTE IV
TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES

Figura 22.5 – O princípio básico dos métodos de redução


se baseiam na tração e Contratração. Três figuras medievais
que traduzem a utilização do método.

Entre todas as manobras que o traumatolo- para a redução da luxação do ombro são: Kocher,
gista tem disponível, as mais comumente usadas tração-contratração, Stimpson e Hipócrates.

Figura 22.6 – Theodor Köcher descreveu as manobras


clássicas de redução, mas no Egito antigo já haviam dese-
nhos que representavam estes gestos. (Retirado: https://
www.researchgate.net)
345

CAPÍTULO 22
A B

LUXAÇÕES DO OMBRO
C D

Figura 22.7 (A, B, C, D) – Manobra de Köcher: A) Com o pa-


ciente relaxado a tração longitudinal é exercida ao longo do eixo do
úmero. B) Após 2 ou 3 minutos, mantendo-se a tração é realizado Figura 22.8 – Imagem clínica de redução da luxação do ombro
lentamente a rotação externa. Muitas vezes a redução ocorre nesta com a manobra de Köcher. Inicialmente é realizada tração longi-
etapa da manobra. C) O braço é aduzido contra o tórax. D) É reali- tudinal com vigor e paciência.
zada a rotação interna colocando-se a mão sobre o ombro oposto.

Figura 22.9 (Acima) – Manobra


de tração e contratração: com um
lençol enrolado no tórax do pacien-
te, o assistente realiza contratração
enquanto o traumatologista exerce
tração longitudinal com o cotovelo
fletido em 90°. Após alguns segun-
dos ou minutos, um estalido palpá-
vel ou até audível sinaliza que a re-
dução foi obtida.

Figura 22.10 (A esquerda) –


Imagem clínica de manobra de redu-
ção na luxação do ombro com a ma-
nobra da tração-contratração.
346
PARTE IV
TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES

Figura 22.11 – Manobra de


Stimson: O paciente é colocado em
decúbito ventral com a axila de en-
contro com o bordo da mesa orto-
pédica, protegido por um pequeno
rolo de tecido, um peso amarrado
ao punho fará a tração longitudinal
e promoverá a redução da luxação.

Figura 22.12 – Manobra de Hipócrates: É uma manobra deselegante, histórica, em desuso, pouco recomendada, mas altamente
eficaz. O traumatologista descalço, com o calcanhar na axila do paciente, empurra a cabeça do úmero lateralmente com tração longi-
tudinal vigorosa pelo antebraço e punho do paciente.

CUIDADOS PÓS REDUÇÃO: é com velpeau gessado. A utilização do gesso


Radiografia de controle devem ser realizados é a garantia de que a imobilização resistirá por
para confirmar a redução e afastar fraturas asso- duas semanas. Após podem trocar por tipoia de
ciadas. Devido ao entendimento que para haver velpeau de lona por mais duas semanas.
luxação, é necessário rompimento da capsula Imediatamente após a redução, a dor desa-
articular e ligamentos, necessitando imobilizar parece completamente e a utilização de tipoia
o ombro por três a quatro semanas. Portanto é simples, transmite uma segurança ao paciente
essencial, para obtenção de um resultado final de que tudo está resolvido! Terrível engano, a
com perfeita cicatrização e de partes moles, mobilização precoce não permite cicatrização
imobilizar o paciente por este período. Nas adequada e é o melhor caminho para luxação
primeiras duas semanas a melhor imobilização recidivante.
347

Referências Bibliográficas

CAPÍTULO 22
1. CETIK, O; USLU, M; OZSAR, B.K. The
relationship between Hill-Sachs lesion and
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348
PARTE IV TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES
Capítulo

23 LUXAÇÕES DO COTOVELO
Carlos Roberto Schwartsmann, Marco Tonding Ferreira

A
s estruturas ósseas ligamentares apre- com mais da metade dos casos, em geral são de
sentam a mesma importância na manu- tratamento cirúrgico.
tenção da estabilidade do cotovelo. A luxação do cotovelo ainda pode ser classi-
Os músculos que cruzam a articulação atuam ficada em relação a direção, podendo ser poste-
como estabilizadores dinâmicos e são somente rior, anterior ou divergente. A posterior é muito
três: ancôneo, tríceps e o braquial. A luxação do frequente e os ossos do antebraço podem estar
cotovelo é a 2ª mais frequente no adulto e pode medial ou lateralmente em relação ao úmero.
ocorrer em até 25% das fraturas do cotovelo. A anterior é rara e mais comum nos jovens. A
Ela é a classificada como simples quando divergente é extremamente rara e é decorrente
somente ocorrem lesões das partes moles, ou de trauma de alta energia com lesão do membro
quando determinam a existência de pequenos intraósseo, ligamento e capsula da articulação
fragmentos do epicôndilo ou do coronoide que rádio ulnar distal.
não comprometem a estabilidade articular. São Quanto a fisiopatologia da luxação, muitos
consideradas complexas quando ocorrem lesões autores concordam que mesma ocorre com
de partes moles e ósseas associadas, que afetam queda com a mão em extensão e a combinação
a estabilidade como as fraturas epifisárias distais de forças em valgo, supinação e compressão
do úmero e proximais do rádio e ulnar. Ocorrem axial transmitida ao cotovelo.

Supinação

Figura 23.1 – Mecanismo da luxa-


Compressão ção posterior do cotovelo. São neces-
Axial sárias forças de compressão axial, val-
Valgo gismo e supinação.
350
PARTE IV
TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES

Figura 23.2 – Imagem clínica da luxação posterior do cotovelo.

Figura 23.3 – Imagem radiográficas de dois casos de luxação posterior do


cotovelo.

A redução incruenta normalmente não apre- cotovelo em flexão de 30 graus. Uma vez obtida
senta maiores dificuldades e deve ser realizada à correção da translação lateral ou medial, que
de preferência com alguma forma de anestesia. pode ser avaliada pela posição do olecrano, a
A redução da luxação posterior é realizada pressão posterior sobre o mesmo com progres-
com o antebraço e contratração no braço com o siva flexão determina a redução da luxação.
351

A B

CAPÍTULO 23
LUXAÇÕES DO COTOVELO
Figura 23.4 (A, B) – Diferentes manobras para redução de luxação posterior do cotovelo.

Uma vez conseguida a redução, o coto- É necessário realizar a avaliação clínica da


velo é submetido a movimentação passiva com instabilidade.
objetivo de determinar qual é o arco de flexo- Após a redução, o cotovelo deve ser imobi-
-extensão que o cotovelo permanece estável. Se lizado por duas a três semanas com o antebraço
existir instabilidade até 5° da extensão completa, em pronação. É prudente realizar radiografias
deve-se avaliar se não há lesão óssea ou liga- de controle, e após retirada da imobilização se
mento importante. inicia a fisioterapia.

Figura 23.5 – Desenho esquemático mostran- Figura 23.6 – Manobra de luxação anterior do cotovelo. Desenho esquemático
do as forças que devem ser exercidas para redu- mostrando as forças que devem ser exercidas para redução da luxação anterior
ção da luxação posterior do cotovelo. do cotovelo: tração axial com o cotovelo em semiflexão e após ação de forças
posteriorizando, o olecrano e anteriorizando o terço distal do úmero.
352

Os resultados finais geralmente são muito O cotovelo é considerado instável quando:


satisfatórios. Os últimos graus de extensão 1. Luxa novamente com mobilização
PARTE IV

somente são obtidos após algumas semanas e o passiva;


paciente deve ser avisado. 2. Manutenção da redução somente com 50
graus ou mais de flexão;
TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES

Avaliação Clínica da Instabi- 3. Luxação recidivante apesar da mobili-


lidade zação gessada.
O cotovelo é considerado estável quando:
1. Arco de movimento passivo de a flexão Por tanto nas fraturas luxações completas
alcançar até 20 graus; do cotovelo, após correta identificação das
2. Extensão completa sem ocorrência de luxação; lesões devemos realizar a redução cirúrgica das
3. Redução congruente e anatômica à fraturas associadas ao reparo ligamentar.
radiografia.

A B

Figura 23.7 (Acima: A, B) – Desenho esquemá-


tico mostrando a avaliação clínica da instabilidade pós
luxação do cotovelo. A) Manobra de valgismo do co-
tovelo para avaliação do ligamento colateral medial.
B) Manobra de varismo do cotovelo para avaliação do
ligamento colateral lateral.

Figura 23.8 (A esquerda) – Imagem radiográfica


mostrando subluxação do cotovelo com força aplicada
em valgo. Abertura importante da superfície articula-
res demonstrando insuficiência do ligamento colateral
medial e instabilidade.
353

CASOS CLÍNICOS:

CAPÍTULO 23
EC, 61, feminino.

LUXAÇÕES DO COTOVELO
Figura 23.9 – Imagens radiográficas de luxação posterior do cotovelo após queda com a mão espalmada.

Figura 23.10 – Imagens radiográficas pós redução da luxação Figura 23.11 – Imagem radiográfica após 60 dias. Recuperação
posterior do cotovelo imobilizada com tala gessada em 90 graus. funcional total do cotovelo.

RIR, 42, masculino.

Figura 23.12 – Imagem radiográfica da luxação posterior do cotovelo em perfil e AP.


354
PARTE IV
TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES

Figura 23.13 – Imagem radiográfica pós redução da luxação. Imobilização com gesso áxilo palmar por três semanas.

Figura 23.14 – Imagem clínica do paciente com gesso circular mantendo o cotovelo em 90 graus. Neste caso o gesso não incluiu o
punho o que permite discretos movimentos de prono-supinação.

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Orthop Relat Res, n. 280, p. 186-197, jul. 1992.
Capítulo

24 LUXAÇÕES DO QUADRIL
Carlos Roberto Schwartsmann, Ary da Silva Ungaretti Neto

A
s luxações do quadril são causadas por Steward-Milford), elas se dividem em 2 grandes
trauma de alta energia. Na maioria grupos: Anterior e Posterior. Essa divisão reflete
das vezes decorrente de acidentes com o posicionamento da cabeça femoral em relação
motos ou carros em pacientes jovens. Geralmente ao acetábulo.
são politraumatizados havendo associação Na luxação posterior o membro inferior se
comum com fraturas do acetábulo, fêmur e encontra encurtado e com o quadril em posição
joelho. Como politraumatizados, requerem de flexão, rotação interna e adução (95% dos
avaliação multidisciplinar de acordo com o casos).
protocolo ATLS (Advanced Trauma Life Support). Já na luxação anterior o membro inferior
Apesar de existirem várias classificações também se encontra em flexão, abdução e rotação
descritas (como as de Thompson, Epstein e externa (5% dos casos).

Figura 24.1 – Luxação posterior do quadril com imagem radiográfica correspondente.


356
PARTE IV
TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES

Figura 24.2 – Duas imagens clínicas de pacientes com luxação posterior do quadril. Há encurtamento flexo, adução
e rotação interna do membro inferior.

A B

Figura 24.3 (A, B) – A) Paciente com luxação posterior do quadril. Ferimento na face anterior do joelho.
Posicionamento clássico da luxação. B) Membro inferior alinhado pós redução da luxação.
357

CBS, 38, masculino.

CAPÍTULO 24
A B

LUXAÇÕES DO QUADRIL
C

Figura 24.4 (A, B, C) – A) Imagem radiográfica da hemipelve direita com luxação posterior do quadril. B) Tomografia axial
computadorizada mostrando o acetábulo vazio e a cabeça femoral posteriorizada. C) Reconstrução em 3D da tomografia axial
computadorizada. A esquerda na visão obturatriz. A direita na visão alar.

A B

Figura 24.5 (A, B) – Imagem clássica da luxação anterior do quadril esquerdo. Há encurtamento, flexo, abdução e rotação externa.
358

A B
PARTE IV
TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES

Figura 24.6 (A, B) – A) Imagem radiográfica de luxação anterior do quadril esquerdo. B) Imagem radiográfica após redução.

A B

Figura 24.7 (A, B, C) – A e B) Imagem clínica raríssima


de um paciente com luxação bilateral do quadril. No lado
direito a luxação é anterior e no lado esquerdo a luxação é
posterior. C) Imagem radiográfica da bacia comprovando
as luxações.
359

O exame físico deve ser completo a procura mais saliente na luxação anterior devido a rotação

CAPÍTULO 24
de outras fraturas e alterações neurológicas no externa.
território do nervo ciático. As luxações devem ser tratadas de forma
O registro no prontuário da paresia, emergencial com o objetivo de garantir a anatô-
paralisia, deficit sensitivos ou eventualmente mica vascularização da cabeça femoral o mais

LUXAÇÕES DO QUADRIL
dúvidas da existência de lesão, evita conflitos rápido possível. Deve ser realizada nas 6 primeiras
médico-legais. Não raro a paralisia ciática é horas. É uma urgência! Deve ser reduzida no
identificada após redução ou tratamento cirúr- bloco cirúrgico com o paciente anestesiado e
gico, tornando difícil descartar a possibilidade relaxado. Acreditasse que não se deva realizar
de que a lesão tenha sido iatrogênica, caso não mais que 2 tentativas de redução a fim de evitar
exista boa documentação no ato de admissão maiores danos a cabeça femoral. Se a redução não
do paciente. é obtida de modo incruento a cirurgia aberta se
A radiografia comprova a existência da impõe. Isto não é frequente.
luxação. Na incidência anteroposterior (AP) Após a redução deve ser realizada radiogra-
podemos avaliar alguns parâmetros: se a luxação fias de controle. Algumas vezes pode haver inter-
for anterior, a cabeça femoral parece maior que posição de pequenos fragmentos ósseos na super-
a cabeça contralateral; na luxação posterior ela fície articular. Como em 95% das vezes a luxação é
será menor. posterior, a manobra mais utilizada é a de Bigelow.
Além disso na luxação anterior a cabeça Após anestesia, o paciente é colocado na mesa
femoral, pode apresentar uma localização medial cirúrgica ou no colchonete no chão em decúbito
ou inferior ao acetábulo. Geralmente na posterior dorsal. Se for na mesa cirúrgica o traumatologista
a cabeça se posiciona superiormente. Devido a deverá subir na mesma para realizar a manobra
rotação interna do membro, na luxação posterior e sempre ocorrera risco de queda. O melhor é no
o pequeno trocanter tende a desaparecer e fica chão!

A B

C D

Figura 24.8 (A, B, C, D) - Manobra de Bigelow. A) A tração longitudinal é exercida pelo traumatologista através do ante-
braço na fossa poplítea e o quadril semifletido. É fundamental a fixação da pelve que é realizada pelo assistente. B) A tração é
realizada com flexão do quadril até mais de 90 graus. O membro inferior ainda é mantido em rotação interna. C) Diminuindo
a flexão, mas mantendo a tração, o membro inferior é levado a abdução e rotação externa. Um ressalto pode ser sentido e
ouvido. D) Ainda em tração o membro inferior é colocado em extensão completa.
360

O assistente estabiliza a pelve apoiando as 90 graus são realizadas as rotações, a abdução e


mãos fortemente nos ossos do ilíaco e espinhas a adução. A redução deve permanecer mantida!
PARTE IV

ilíacas. O traumatologista realiza tração longitu- A seguir aplica-se uma força axial com quadril
dinal com o antebraço na fossa poplítea e o quadril em 90 graus na direção posterior e rotação
em 90 graus. A tração é mantida com o membro neutra.
TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES

em adução e rotação interna. Após sentir a desim- Se não ocorrer luxação, significa que o
pacção, se tenta levar a cabeça do fêmur para a quadril é estável. Se a luxação ocorrer nova-
cavidade acetabular por manobra suave princi- mente, significa que o quadril é instável e
palmente de abdução, rotação externa e extensão devemos reavaliar através de radiografias
do quadril. Muitas vezes é sentido um ressalto ou tomografias. Frequentemente a fratura
(“Clunk”). Significa que o quadril está reduzido. do rebordo posterior pode estar associada.
Após a redução o mesmo é testado em Provavelmente a fixação cirúrgica deverá ser
relação a instabilidade. Com o quadril fletido a realizada.

Figura 24.9 – Luxação posterior do quadril


esquerdo.

Figura 24.10 – Redução obtida através da


manobra de Bigelow.
361

A manobra de Allis é similar a anterior, nadas são executadas forçando mais a rotação

CAPÍTULO 24
mas a tração inicial longitudinal é realizada externa. Após é realizada a extensão do quadril.
com as mãos e com quadril fletido em 45 graus. Os testes de instabilidade também devem ser
Quando se alcança a 90 graus, rotações alter- executadas.

LUXAÇÕES DO QUADRIL
A B

C D

Figura 24.11 (A, B, C, D) – Manobra de Allis. A) Tração longitudinal com o quadril semifletido é realizada pelas mãos do
traumatologista na face posterior e proximal da perna. B) O quadril, sob tração, e fletido até 90 graus. C) Ainda sob tração são
realizados manobras de rotação externa e interna. D) Após redução o membro é colocado em extensão completa.

Outra manobra utilizada nas luxações


posteriores e a técnica gravitacional de Stimpson
(1883). O paciente é colocado na posição prona na
mesa cirúrgica ou maca com o membro luxado
pendente para fora da mesa, com o quadril e o
joelho fletido a 90 graus.
O assistente imobiliza a pelve contra a maca
e o cirurgião aplica uma força na face posterior
da panturrilham, com intuito de tracionar o
fêmur longitudinalmente.
Movimentos rotacionais suaves são imple-
mentados, principalmente de rotação externa
pois auxiliam na manobra durante a tração! Após
a redução a instabilidade, deve-se estar com o Figura 24.12 – Manobra de Stimpson. Paciente em decúbito
ventral com o quadril apoiado no rebordo da mesa. Além de imo-
paciente em decúbito dorsal. bilizar a pelve o assistente comprime o quadril em direção ao solo.
362

O Traumatologista auxilia a tração longi-


tudinal com o joelho fletido exercendo mais
PARTE IV

pressão posterior no terço proximal do flexo da


face posterior da perna. Manobras de rotação
interna e externa são realizadas com sutileza.
TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES

As luxações anteriores são teoricamente


mais fáceis de reduzir. Allis, Bigelow e Epstein
descreveram manobras similares. É necessário
grande relaxamento dos potentes músculos que
circundam o quadril.
Com o paciente em decúbito dorsal e um
assistente estabilizando a pelve, a tração longi-
tudinal é exercida através do joelho semi-fletido.
Figura 24.13 – Manobra de redução da luxação anterior.
Com o quadril flexionado o traumatologista
As manobras anteriores (Allis, Bigelow e Epstein) são se-
aduz lentamente o membro inferior forçando a melhentes. É necessário potente tração longitudinal pelo
rotação interna, após obtida a redução são reali- joelho fletido. O assistente, além de imobilizar a pelve re-
aliza Contratração lateral na raiz da coxa. Ao final, sempre
zadas radiografias de controle. com tração é realizado a rotação interna.

CASOS CLÍNICOS
TTF, 23, masculino.
A

Figura 24.14 (A esquerda) – Fratura-luxação posterior do


quadril esquerdo pós acidente com motocicleta. Observar im-
portante fragmento do rebordo posterior.

Figura 24.15 (Acima: A) – Após manobra de redução, que


mostrou instabilidade só na extrema flexão, foi decidido pelo
tratamento não cirúrgico. Paciente permaneceu em tração de
esparadrapo por uma semana para relaxamento e alívio da dor.
363

CAPÍTULO 24
B

LUXAÇÕES DO QUADRIL
Figura 24.15 (B) – Tomografia axial computadorizada da bacia mostrando fragmento não reduzido do rebordo
posterior, mas que não comprometia significativamente a superfície articular.

TTF, 27, masculino.


C D

Figura 24.15 (C, D) – Imagem radiográfica em AP e Perfil, quatro anos e dois meses após. Paciente completamente assintomático.
364

ATENÇÃO: Redução com interposição.


PARTE IV
TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES

Figura 24.16 – Após a redução o espaço articular deve estar simétrico com o contra lateral. O aumento do espa-
ço articular, como na imagem radiográfica do quadril esquerdo, indica provável interposição de fragmentos ósseo
cartilaginosos ou cartilaginosos. Observar pelas setas o grande aumento do espaço articular.

JAMC, 20, masculino.


A

Figura 24.17 (A) – Imagem radiográfica pós redução de luxação posterior do quadril esquerdo. Observar aumen-
to do espaço articular por fragmento ósseo intra articular.
365

CAPÍTULO 24
LUXAÇÕES DO QUADRIL
Figura 24.17 (B) – Imagem em detalhe onde se observa o aumento do espaço articular por interposição de fragmento ósseo.

Figura 24.17 (C) – Imagem de tomografia axial computadorizada mostrando com nitidez pequeno fragmento interposto na
superfície articular.
366

D E
PARTE IV
TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES

Figura 20.17 (Acima: D) – Visualização e retirada por ar-


troscopia do fragmento.

Figura 24.17 (A direita: E) – Imagem do fragmento ósseo


cartilaginosos retirado da interposição articular.

Referências Bibliográficas
1. ALONSO, J.E; et al. A review of the treat- 6. ROMMENS, P.M. Pelvic ring injuries: a chal-
ment of hip dislocations associated with lenge for the trauma surgeon. Belgica: Acta
acetabular fractures. Clin Orthop Relat Res, Chirurgica, 1996. p. 78-84
n. 377, p. 32-43, ago. 2000. 7. TILE, M; HELFET, D.L; KELLAM, J.F. Fractures
2. BÖHLER, L. The treatment of fractures. Vienna: of the pelvis and acetabulum. Philadeeelphia:
Maidrich, 1939. Lippincot Williams & Wilkins, 2003.
3. CHARNLEY, J. The closed treatment of common 8. WATSON-JONES, R. Fractures and joint inju-
fractures. 4th ed. Edinburgh: Livingstone, ries. 4th ed. Baltimore: Williams & Wilkins,
1967. 1955. v. 2.
4. DE PALMA, A.F. The management of fractures
and dislocations. Philadelphia, 1963.
5. LETOURNEL, E; JUBET, R. Fractures of the aceta-
bulum. 2º ed. New York: Springer-Verlang, 1993.
GLOSSÁRIO

RNM Ressonância Nuclear Magnética


ASIA American Spinal Injury Association
AP Anteroposterior
P Perfil
OD Obliquo Direito
OE Obliquo Esquerdo
OTLS Órtese Tóraco-lombo-sacro
TC Tomografia Computadorizada
MF Metacarpo Falangeana
IFD Inter Falangeana Distal
IFP Inter Falangeana Proximal
FD Falange Distal
FP Falange Proximal
PTB Patelar Tendon Bearing
SBOT Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia
SBCOC Sociedade Brasileira de Cirurgia da Coluna
SLIC Subaxial Cervical Injury Classification
SOMI Sternal Occipital Mandibular Immobilizer
UFCSPA Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre
O presente livro "TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO DAS
FRATURAS" oferece ao leitor um testemunho da eficacia
do tratamento conservador. São apresentados casos
completos, muito bem documentados e com longos
seguimentos. Na prá�ca diária menos de 10% das fratu-
ras são de indicação indiscu�velmente cirúrgicas. O livro
resgata, recupera o pres�gio e tenta reequilibrar a bal-
ança nas indicações terapêu�cas. Atualmente existe uma
fantás�ca distorção no aprendizado da traumatologia
que induz o jovem médico ao tratamento cirúrgico que é
cheio de riscos e armadilhas. Este �po de tratamento
pode nos conduzir a enfrentar o pior inimigo do médico:
a infecção. No caso de dúvida, se exitem 2 caminhos,
opte pelo tratamento conservador.

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