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GUIA PRÁTICO DE

ULTRASSONOGRAFIA
VASCULAR
2 6 EDiÇÃO
GUIA PRÁTICO DE

ULTRASSONOGRAFIA
VASCULAR
2 A EDICÃO ~

Carlos Alberto Engelhorn


Especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular pela Sociedade Brasileira de Angiologia e
Cirurgia Vascular (SBACV) com Área de Atuação em Ecografia Vascular pela SBACV/CBRlAMB
Doutor em Cirurgia Vascular pela UNIFESP-EPM
Professor Titular de Angiologia da PUCPR

Domingos de Morais Filho


Especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular pela Sociedade Brasileira de Angiologia e
Cirurgia Vascular (SBACV) com Área de Atuação em EcogI-afia Vascular pela SBACV/CBRlAMB
Titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV)
Master of Science pela Universidade de Toronto
Doutor em Cirurgia Vascular pela UNIFESP-EPM
Professor-Assistente de Angiologiae Cirurgia Vascular na
Universidade Estadual de londrina (UEl), PR

Fanilda Souto Barros


Especialista em Angiologia pela Sociedade Brasileira de Angiologia e
Cirurgia Vascular (SBACV) com Área de Atuação em Ecografia Vascular pela SBACV/CBRlAMB
Titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular - SBACV
Diretora do ANGIOLAB-laboratório Vascular - Vítória, ES

Nostradamus Augusto Coelho


Especialista em Angiologia pela Sociedade Brasileira de Angiologia e
Cirurgia Vascular (SBACV) com Área de Atuação em Ecografia Vascular pela SBACV/CBRlAMB
Professor-Associado em Angiologia - UFRJ
(Revisor)

Di~~os
Di~~os
Guia Prático de UltrassoYlografia Vascular - 2a edição ISBN: 978-85-86703-91-1

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Nota
A Medicina é um campo em constante transformação. Certas precauções de segurança devem ser seguidas. À medida
que novas pesquisas e a experiência clínica ampliam o nosso conhecimento, é necessário mudar os procedimentos e
as terapias medicamentosas. Adverte-se aos leitores no sentido de averi guar as informações dos fabricantes sobre os
med;"'camentos para certificar-se acerca da dose recomendada, o método e duração da administração e as contra-
indicações. É responsabilidade do médico-assistente basear-se na experiência e no conhecimento do paciente para
determinar a dosagem e o melhor tratamento. Nem o(s) autor(es) nem a Editora assumem responsabilidade por qualquer
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ilustrações, autorizações e créditos correspondentes, é inteira e exclusivamente do(s) autor(es) da mesma.

A Editora

Impresso no Brasi l - Printed in Brazil


,
PREFACIO DA 2ª EDIÇAO
-

uatro anos se passaram desde a primeira edição do Guia Prático de Ultrassonografia Vascular . Técni-
Q cas novas surgiram, critérios diagnósticos foram revistos, até mesmo a língua portuguesa mudou.
Novas aplicações da ultrassonografia vascular surgiram nesse período. É tempo de revisar, atualizar,
inovar.
Da proposta inicial de 19 capítulos focados nos aspectos mais comuns e práticos da ecografia vas-
cular, evoluímos para uma nova edição mais abrangente , que atualiza as informações anteriores, detalha
assuntos específicos e, principalmente , apresenta novas aplicações desse método diagnóstico.
Optamos por iniciar com um capítulo inédito sobre níveis de evidência científica. Foram atualizados
os capítulos básicos sobre as artérias carótidas e vertebrais, iscerais e periféricas, assim como as veias
profundas e superficiais. Acrescentamos capítulos específicos sobre espessamento médio-intimai nas
carótidas, endarterectomia carotídea baseada na ultrassonografia vascular, artérias temporais , artérias
intracranianas, transplante pancreático, bolsa escrotal e disfunção erétil.
Procuramos trazer aos leitores o "estado da arte" tanto no diagnóstico como no acompanhamento
de procedimentos vasculares, tais como na correção endovascular do aneurisma da aorta abdominal ,
nos procedimentos cirúrgicos arteriais ecoguiados e no tratamento ecoguiado das varizes dos membros
inferiores com escleroterapia ou endo/aser.
Einstein certa vez disse : "Cem vezes ao dia eu lembro a mim mesmo que minha vida depende do
trabalho de outros homens , vivos ou mortos, e eu tenho que me esforçar para retribuir na mesma medida
que recebi , e ainda continuo recebendo". Talvez com este livro possamos de algum modo retribuir os
esforços dos pioneiros, professores e colaboradores.
Gostaríamos de agradecer a todos que colaboraram direta e indiretamente e esperamos que esta nova
edição esteja à altura das expectativas dos interessados pela ultrassonografia vascular, sejam iniciantes
ou profissionais experientes.

Carlos Alberto Engelhom


Domingos de Morais Filho
Fanilda Souto Barros
Nostradamus Augusto Coelho

v
,
PREFACIO DA I~ EDIÇAO
-

A publicação de um novo liVTo é sempre um motivo de expectativas e justas comemorações . Nessa


nova era da comunicação, em que a rapidez da transmissão dos conhecimentos está cada vez mais
presente, temos a necessidade de nos aprofundar nesses conhecimentos, e agora surge este magnífico
livro para nos orientar e ensinar. Os autores Fanilda Souto Barros, Nostradamus Augusto Coelho, Do-
mingos de Morais Filho e Carlos Alberto Engelham, que são autoridades máximas nessa área, sentiram
que havia a necessidade de atingir objetivos básicos e auxiliar o ensino da ultrassonografia e a formação
de novos especialistas, além de orientar de maneira prática aqueles que solicitam os exames e necessitam
de uma resposta rápida e eficiente.
Elaborar um tratado é sempre um grande desafio, pois ele tem de ser suficientemente profundo e
didático, podendo contribuir tanto para os colegas da especialidade como transmitir conhecimentos
atualizados e renovados, o que hoje se almeja devido a esse constante acréscimo e à velocidade nos no-
vos conhecimentos. Temos a necessidade de captar as novas informações e nos atualizar rapidamente,
e é isso a que este livro se propõe . O livro está distribuído em 19 capítulos que vão desde os princípios
básicos, e vai dissertando sobre as várias doenças que estão presentes freqüentemente no atendimento
médico. A escolha dos colaboradores foi de grande valia, pois os mesmos são referência nas respectivas
áreas. Por onde quer que se abra o livro e qualquer que seja o capítulo, o leitor encontrará principios bá-
sicos e sólidos para se localizar e orientar dentro dos avanços médicos e científicos da área. Ainda o leitor
observará nesta obra informações atualizadas sobre anatomia, fisiologia, fisiopatologia, quadro clínico e
metodologia diagnóstica, tudo apresentado de forma sintética, objetiva e crítica.
O livro está destinado ao sucesso e vai ajudar muito o leitor, e é uma felicidade ter no nosso meio
este exemplar que vem na direção de um método diagnóstico cada vez mais necessário.
Congratulações aos autores e colaboradores pela magnífica idéia .

Prof. Dr. Emil Burihan


Titular Emérito da SBACV
Titular Emérito do CBC

vii
Aos nossos familiares , pelo tempo roubado do seu convívio ,
pela compreensão e participação constante ,
nosso amor e dedicação desta obra .

.)
COLABORADORES

Alberto Lorençoni Sarquis Antonio Ribeiro de Oliveira Junior


Especialista em Cardiologia e Ecocardiografia pela Professor Adjumo de Clínica Médica da UFMG
Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) com Área de Doutor em Fisiologia pela UFMG
Atuação em Ecografia Vascular pela SBACY/CBR/AMB Pós-Doutorado na Queen Mary University - Londres
Diretor do ECOGRAF - Núcleo de Diagnóstico - Belo
Horizome, MG
Arno von Ristow
Alberto Vescovi Professor-Associado do Curso de Pós-Graduação em
Professor Instrutor do Curso de Pós-Graduação em Cirurgia Vascular da Pomifícia Universidade Católica do
Rio de janeiro (PUC-Rio), Diretor do Cemervasc-Rio-
Cirurgia Vascular da Pomifícia Universidade Católica do
Rio de janeiro, Rj
Rio de janeiro (PUC-Rio), Cirurgião Vascular do
Cemervasc-Rio - Rio de janeiro, Rj
Bernardo Massiere
Ana Claudia Luz Coelho Professor Instrutor do Curso de Pós-Graduação em
Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia Cirurgia Vascular da Pomifícia Universidade Católica do
e Diagnósticos por Imagem com Área de Atuação em Rio de janeiro (PUC-Rio), Diretor do Cemervasc-Rio-
Ecografia Vascular pela SBACV/CBR/AMB Rio de janeiro, Rj,
Ultrassonografista Vascular do Serviço de Ultrassonografia
da Clínica MeclAngio - Maceió, Al
Carlos Alberto Engelhorn
Ana Luiza Valiente Engelhorn Especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular pela
Especialista em Angiologia pela Sociedade Brasileira de Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular
Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV) com Área de (SBACV) com Área de Atuação em Ecografia Vascular pela
Atuação em Ecografia Vascular pela SBACV/CBR/AMB SBACV/CBR/AMB
Mestre em Clínica Médica pela UFPR Doutor em Cirurgia Vascular pela UNIFESP-EPM
Professora de Angiologia na PUCPR Professor Titular de Angiologia da PUCPR
Diretora Técnica do Angiolab - Laboratório Vascular Não
Invasivo - Curitiba, PR
Carmen Lucia Lascasas Porto
Professora Adjuma de Angiologia da Universidade do
Anil Hingorani Estado do Rio de janeiro
MD, Clinicai Assistam Professor of Surgery Especialista em Angiologia pela Sociedade Brasileira de
College of Medicine, SUNY Brooklin Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV) com Área de
Attending Vascular Surgeon Atuação em Ecografia Vascular pela SBACV/CBR/AMB
Maimonides Medicai Cemer Brooklyn - New York, USA Doutora em Medicina pela UERj

xi
Co laboradores
'7T'" -

Charles Esteves Pereira Fausto Miranda Jr.


Especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular pela Professor Titular de Cirurgia Vascular e Chefe do
Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular Laboratório de Fluxo da Disciplina de Cirurgia Vascular
(SBACV) com Área de Atuação em Ecografia Vascular e da UNIFESP-EPM
Cirurgia Endovascular pela SBACV/CBR/AMB EspeCialista em Angiologia e Cirurgia Vascular pela
Titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Sociedade Brasileira de Angiologia com Área de Atuação
Vascular (SBACV) em Ecografia Vascular pela SBACV/CBR/AMB

Cláudia Maria Vilas Freire


Gregory L. Moneta
Especialista em Cardiologia e Ecocardiografia pela
Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) com Área de Prof. MD and ChiefVascular Surgery, Oregon Health &
Atuação em Ecografia Vascular pela SBACV/CBR/AMB. Science University Portland - Oregon, USA
Doutora em Clínica Médica pela UFMG
Díretora do Laboratório de Ecografia Vascular do
Hamilton Almeida Rollo
Ecocenter - Belo Horizonte, MG.
Professor Adjunto Livre-Docente da Disciplina de Cirurgia
Vascular do Depto de Cirurgia e Ortopedia da Faculdade
Cleoni Pedron
de Medicina de Botucatu - UNESP
Cirurgião Vascular Associado ao ICARDIO-RS. Mestre em
Titular da SBACV com Área de Atuação em Ecografia
Radiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
Vascular pela SBACV/CBR/AMB

Domingos de Morais Filho


Especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular pela Lucigl Regueira Teixeira
Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular
Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia
(SBACV) com Área de Atuação em Ecografia Vascular pela
SBACV/CBR/AMB e Diagnósticos por Imagem com Área de Atuação em
Titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Ecografia Vascular pela SBACV/CBR/AMB
Vascular (SBACV) Ultrassonografista Vascular do Servíço de Ultrassonografia
Master of Science pela Universidade de Toronto da Clínica MedAngio - Maceió, AI
Doutor em Cirurgia Vascular pela UNIFESP-EPM
Professor-Assistente de Angiologia e Cirurgia Vascular na
Universidade Estadual de Londrina (UEL), PR Marcondes Figueiredo
Doutor em Angiologia e Cirurgia Vascular pela Escola
Enrico Ascher Paulista de Medicina
MD, Professor of Surgery Titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia
Mount Sinai School of Medicine Vascular (SBACV)
Director, Divísion ofVascular Surgery
Maimonides Medicai Center, Brooklyn - New York, USA
Mariângela Giannini
Erica L. Mitchell Mestre e Doutora em Medicina pela Faculdade de
MD, Assistant Professor of Surgery, Divísion of Vascular Medicina de Botucatu - UNESP Ultrassonogafista Vascular
Surgery, Oregon Health & Science University Portland - do T.C - Tomocentro de Botucatu Ltda
Oregon, USA Titular da SBACV com Área de Atuação em Ecografia
Vascular pela SBACV/CBR/AMB
Fanilda Souto Barros
Especialista em Angiologia pela Sociedade Brasileira de Monica Luiza de Alcantara
Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV) com Área de
Atuação em Ecografia Vascular pela SBACV/CBR/AMB Mestre em Cardiologia pela UFF
Titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de
Vascular - SBACV Cardilogia (SBC)
Diretora do ANGIOLAB-Laboratório Vascular - Vítória, ES Especialista em Ecocardiografia pela SBC

xii
Colaboradores

Natalie Marks Rodrigo Gomes de Oliveira


MD,RVT, Vascular Laboratory Technical Director Especialista em Cirurgia Vascular com Área de Atuação em
Maimonides Medicai Center Endovascular e Ecografia Vascular pela SBACV/CBRlAMB
Brooklyn - New York, USA
Salustiano Pereira de Araujo
Nicos Labropoulos
Mestre em cardiologia pela Universidade Federal de
PHD, DIC, RVT, Professsor de Cirurgia e Radiologia
Uberlândia eUFU)
do Depanamento de Cirurgia e diretor do Laboratório
Vascular da Stony Brook University Medicai Center - USA Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de
Cardiologia eSBC) com Área de Atuação em Ecografia
Nostradamus Augusto Coelho Vascular pela SBACV/CBRlAMB
Especialista em Angiologia pela Sociedade Brasileira de
Angiologia e Cirurgia Vascular eSBACV) com Área de Sandra Aparecida Ferreira Silveira
Atuação em Ecografia Vascular pela SBACV/CBRlAMB Mestre em Medicina Interna pela FCM-UNICAMP
Professor-Associado em Angiologia - UFRJ Doutora em Medicina Interna pela FCM-UNICAMP
Especialista em Cardiologia e Ecocardiografia pela
Orlando Carlos Glória Veloso Sociedade Brasileira de Cardiologia eSBC) com
Especialista em Cardiologia e Ecocardiografia pela Área de Atuação em Ecografia Vascular pela
Sociedade Brasileira de Cardiologia eSBC) com Área SBACV/CBR/AMB
de Atuação em Ecografia Vascular pela SBACV/CBRlAMB
Sandra Maria Pontes
Paulo Roberto Toledo de Miranda Especialista em Clínica Médica e Reumatologia
Especialista em Cardiologia e Ecocardiografia pela com Área de Atuação em Ecografia Vascular pela
Sociedade Brasileira de Cardiologia eSBC) com Área SBACV/CBR/AMB
de Atuação em Ecografia Vascular pela SBACV/CBRlAMB Diretora do Angiolab-Laboratório Vascular - Vítória, ES
Diretor do ECOGRAF - Núcleo de Diagnóstico - Belo
Horizonte, MG Sérgio X. Salles-Cunha
Regina EI Dib PhD, RVT, FSVU
Membro Honorario
Pós-doutorado pela Universidade McMaster, Canadá
Asociacion Colombiana de Angiologia y Cirugia Vascular
Certified Clinicai Research Associate e Clinical Irial Research
Society of Vascular Ultrasound - USA
Coordinator pela Universidade McMaster, Canadá
Consultor e Pesquisador na Área de Ecografia Vascular
Doutora e Mestre em Ciências com ênfase em Medicina
Baseada em Evidências pela UNIFESPIEPM
Timothy K. Lie
Ricardo Jayme Procópio MD, Associate Professor of Surgery, Division of Vascular
Membro do Serviço de Cirurgia Vascular e Endovascular Surgery, Oregon Health & Science University Portland -
do Hospital das Clínicas da UFMG Oregon, USA
Coordenador do Setor de Cirurgia Endovascular do
Hospital das Clínicas da UFMG Tulio Pinho Navarro
Especialista em Cirurgia Vascular pela SBACV com Área Professor Adjunto e Doutor do Departamento de Cirurgia
de Atuação em Radiologia Intervencionista e Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG
Endovascular pela SOBRlCE Coordenador do Serviço de Cirurgia Vascular e
Endovascular do Hospital das Clínicas da UFMG
Robert P. Scissons Coordenador do Serviço de Cirurgia Vascular do Hospital
Technical Director Universitário Risoleta Tolentino Neves
Jobst Vascular Center Coordenador do Serviço de Cirurgia Endovascular do
The Toledo Hospital- Toledo , OH, USA Hospital Luxemburgo

xiii
,
SUMARIO

Capítu lo 1 Capítulo 8
Níveis de Evidências Científicas na Prática Médica, 1 Ultrassonografia Vascular das Artérias Vertebrais, 99
Regina EI Dib Tulio Pinho Navarro
Ricardo Jayme Procópio
Capítulo 2
Princípios Básicos, 9 Capítu lo 9
Sérgio X. Salles-Cunha
Ultrassonografia Vascular Transcraniana, 107
Domingos de Morais Filho
Orlando Carlos Glória Veloso

Capítulo 3
Avaliação da Espessura Médio-IntimaI , 29 Capítulo 10
Cláudia Maria Vilas Freire Doença Arterial Obstrutiva nos Membros Superiores e
Antonio Ribeiro de Oliveira Junior Síndrome do Desfiladeiro Cervicotoracoaxilar, 123
Nicos Labropoulos Hamilton Almeida Rollo
Mariângela Giannini

Capítulo 4
Doença Carotídea Aterosclerótica, 43 Capítu lo 11
Gregory L Moneta Análise das Fístulas Arteriovenosas para Hemodiálise, 129
Charles Esteves Pereira
Capítulo 5
Endarterectomia Carotídea Baseada Somente na
Ultrassonografia Vascular com Doppler, 55 Capítulo 12
Sandra Maria Pontes Trombose Venosa dos Membros Superiores, 137
Fanilda Souto Barros Paulo Roberto Toledo de Miranda
Alberto Lorençoni Sarquis

Capítulo 6
Doença Carotídea Não Aterosclerótica, 69 Capítulo 13
Carmen Lucia Lascasas Porto
Avaliação do Segmento Aortoilíaco, 147
Monica Luiza de A1cantara
Robert P. Scissons

Capítulo 7
Ultrassonografia Vascular no Diagnóstico da Arterite Capítulo 14
Temporal , 93 Ultrassonografia Vascular na Correção do Aneurisma da
Ana Luiza Valiente Engelhorn Aorta Abdominal, 159
Carlos Alberto Engelhorn Fausto MirandaJr.

xv
Su mário

Capítulo 15 Cap ítu lo 25


Exame Ultrassonográfico Vascular das Artérias Seguimento dos Enxertos Infrainguinais, 271
Mesentéricas, 163 Domingos de Morais Filho
Gregory L. Moneta
Erica L. Mitchell
Timothy K. Lie Capítulo 26

Capítulo 16 Trombose Venosa Profunda Aguda dos Membros Inferiores


e Síndrome Pós-Trombótica , 283
Investigação da Compressão do Tronco Celíaco, 175
Hamilton Almeida Rol/o
Ana Luiza Valiente Engelhorn,
Carlos Alberto Engelhorn

Capítulo 17 Capítulo 27
Avaliação de Estenose da Artéria Renal, 181 Ultrassonografia Vascular na Avaliação das Varizes dos
Ana Luiza Valiente Engelhorn Membros Inferiores, 295
Carlos Alberto Engelhorn Carlos Alberto Engelhorn
Ana Luiza Valiente Engelhorn
Capítulo 18
Estudo dos Transplantes Renal e Pancreático, 197
Carlos Alberto Engelhorn Capítu lo 28
Ana Luiza Valiente Engelhorn
Procedimentos Cirúrgicos Ecoguiados, 313
Capítulo 19 Bernardo Massi ere
Arno von Ristow
Investigação da Síndrome do Quebra-Nozes, 213
Cleoni Pedron
Ana Luiza Valiente Engelhorn
Alberto Ve scovi
Carlos Alberto Engelhorn

Capítulo 20
Síndrome Compressiva da Veia Ilíaca Comum Esquerda Capítulo 29
pela Artéria Ilíaca Comum Direita, 219 Mapeamento Venoso e Arterial para Utilização como
Fanilda Souto Barros Substituto Vascular, 321
Nostradamus Augusto Coelho Sandra Aparecida Ferreira Silveira
Capítulo 21
Ultrassonografia Vascular na Investigação de Varizes
Pélvicas, 225 Capítulo 30
Fanilda Souto Barros Ultrassonografia Vascular na Escleroterapia com Espuma
em Varizes, 327
Capítulo 22
Marcondes Figueiredo
Doença Arterial Oclusiva Periférica Infrainguinal - Salustiano Pereira de Araujo
Rastreamento , Diagnóstico, Seguimento e
Tratamento , 231
Domingos de Morais Filho
Capitulo 31
Rodrigo Gomes de Oliveira
Ultrassonografia Vascular do Escroto, 335
Capítulo 23 Lucigl Regueira Teixeira
Doença Arterial Periférica Não Alerosclerótica, 251 Ana Claudia Luz Coelho
Nicos Labropoulos

Capítulo 24
Capítulo 32
Intervenções In frai nguinais , Carotídeas e de Fístulas
Arteriovenosas Dirigidas pela Ultrassonografia Disfunção Erétil, 347
Vascular, 259 Nostradamus Augusto Coelho
Natalie Marks
Anil Hingorani
Enrico Ascher índ ice Remissive l, 361

xvi
CAPíTULO 1
Níveis de Evidências
Regina EI Dib
Científicas na
Prática Médica

ara cada questão clínica na área da Saúde, existe um dade McMaster, sendo definido como o uso consciencio-
P determinado desenho de estudo mais apropriado
para responder a esta questão, seja no sentido de boa va-
so, explícito e judicioso da melhor evidência disponível
de pesquisa de cuidado médico na administração aos
lidade interna (metodologia do desenho e condução do pacientes.2.3
estudo) , seja na boa validade externa (aplicabilidade dos Frequentemente, o clínico da área da Saúde, quando
resultados do estudo na prática clínica). Se quisermos diante de uma situação inesperada em seu consultório,
saber sobre a evolução de uma determinada doença ou hospital ou clínica, reconhece o próprio limite de for-
o seu prognóstico, o desenho de estudo mais apropriado necer uma resposta de prontidãO ao seu paciente. Por
para responder a esta questão é um estudo coorte. Se exemplo, imagine um médico atendendo a um paciente
quisermos saber sobre a sensibilidade e especificidade de com aneurisma da aorta abdominal (AAA), sabendo-se
um teste diagnóstico, o tipo de estudo que possui uma que alguns aneurismas da aorta abdominal (AAAs) apre-
validade interna mais adequada é o estudo de acurácia. sentam-se como emergências e necessitam de cirurgia, e
Todavia, se a pergunta é sobre tratamento ou profilaxia, outros permanecem assintomáticos, e que o tratamento
procuramos por ensaios clínicos randomizados. deste último depende de vários fatores, incluindo o tama-
Este raciocínio, fundamentado em diferentes dese- nho do aneurisma. AAAs assintomáticos, com diãmetro
nhos de estudos, vem tomando parte do cotidiano de >5 ,5 em, são geralmente operados, enquanto pequenos
vários profissionais da área da Saúde. AAAs (<4 ,0 em em diâmetro) são monitorados com ul-
Até alguns anos atrás, a prática clínica era embasada trassonografia. 4 Este paciente pergunta ao profissional se
apenas em estudos fisiopatológicos, opiniões de espe- o reparo cirúrgico imediato é mais eficaz e seguro quan-
cialistas no assunto , livros-textos, pesquisa in vitro e em do comparado à rotina de vigilância da ultrassonografia
animais. Entretanto, a Medicina Baseada em Evidências na redução de mortalidade. O profissional não consegue
(MBE) mudou este cenário facilitando o ensino e a pes- uma reposta de prontidão e reconhece sua incapacidade
quisa científica. Por meio de rigorosos métodos científi- de fornecer uma informação precisa. Uma solução co-
cos, busca exaustiva pela literatura associada à experiência mum, neste caso, é recorrer a um especialista na área
do clínico, tomamos decisões baseadas em evidências em ou a um livro-texto consagrado na literatura. Esta atitu-
nossa prática clínica. de revela poucas habilidades e pouco conhecimento do
Este processo originou-se com a Medicina Baseada profissional para lançar mão das ferramentas oferecidas
em Evidências, sendo o "elo entre a boa ciência e a boa pela MBE 5.6
prática clínica".1 Deste modo, com pesquisas conduzidas Imagine, agora , o mesmo profissional com conheci-
com validade interna adequada, sem ocorrência de vieses mentos e entendimento do processo de MBE. O médico
(isto é, erro sistemático durante a condução, elaboração e volta para seu consultório, realiza uma estratégia de bus-
planejamento de uma pesquisa científica), reduzimos a in- ca sensível para recuperar artigos sobre pacientes com
certeza na prática clínica e aplicamos os resultados dessas AAA assintomárico (com diâmetro entre 4,0 e 5,5 em)
pesquisas em nossos pacientes com maior confiabilidade. submetidos ao reparo cirúrgico versus rotina de vigilância
O termo MBE foi utilizado pela primeira vez na lite- da ultrassonografia, acessa as principais bases de dados
ratura médica em 1992 , por pesquisadores da Universi- eletrônicas da área da Saúde, seleciona os títulos poten-

1
Níveis de Ev idências Científicas na Práti ca Méd ica

ciais e realiza uma avaliação crítica destes artigos. este das principais bases de dados na área da saúde, como
caso, se ele encontrar uma revisão sistemática (nível 1++ a rUBMED e EMBASE, para identificar estudos sobre o
de evidências, de acordo com o Scottish Intercollegiate tópico de inreresse.
Guide/ines Network - SIGN ,' e nível la , de acordo com o É este um dos objetivos da Medicina Baseada em Evi-
Oxford Centre for Evidence-based Medicine Leveis of Evi- dências: capacitar o profissional a desenvolver habilida-
dence - Oxford CEBMS) com orientações específicas para des para melhorar a qualidade de seu atendimento. Além
a prática clínica , confirmando ou não a eficácia da cirur- disso , a MBE tem como objetivos avaliar a literatura n(\
gia reparadora imediata na diminuição de mortalidade área da Saúde , reduzir a incerteza clínica, as probabili-
em pacientes com AAA assintomático, os resultados irão dades de erros, o autoritarismo no ensino , racionalizar
satisfazer o profissional e torná-lo apto a responder às custos e tornar a relação terapeuta ou médico/paciente
perguntas do paciente. Caso o profissional não encontre mais prazerosa 5
estudos considerados como de nível 1++' ou laS de evi- A boa formulação de uma questão clínica é o alicerce
dências , o mais sensato é lidar com as provas científicas de uma boa pesquisa. Para elaborarmos uma pergunta
disponíveis no momento, estando ciente de seu nível de adequada sobre alguma questão a ser resolvida, deve-
evidência e grau de recomendação. mos ter em mente quatro itens-chave : situação clínica
Existem várias classificações quanto ao nível e grau (a doença), intervenção, grupo/controle e desfecho clíni-
de evidências na literatura. Apresentaremos, neste capítu- co. Esses itens-chave formam a sigla PICO que em inglês
lo , o Scottish lnterco llegiate Cuide/ines Network - SIGN 7 significa patient , intervention , contrai group e outcome,
e o Oxford Centre for Evidence-based Medicil'ie Leveis of sendo conhecida entre os revisores e pesquisadores in-
Evidence - Oxford CEBM ,s duas ferramentas apropriadas ternacionalmenre.
e completas em relação aos níveis de evidências devido a Por exemplo , se quisermos saber qual é a frequência
suas considerações sobre o desenho e a qualidade meto- de dose do dinitrato de isossorbida efetiva para a pre-
dológica dos estudos (Apêndices 1 e 2) . Quanto ao grau venção do desenvolvimento da tolerância ao nitrato em
de evidências, utilizaremos um sistema simples, baseado pacientes com doença das coronárias por meio da eco-
no Oxford CEBM ,s e por nós modificado , que possibili- grafia vascular e teste de esforço,9já temos uma pergunta
ta qualquer profissional a avaliar a robustez dos artigos completa: situação clínica - doença das coronárias; in-
científicos relacionados com as intervenções terapêuticas tervenção de interesse - dinitrato de isossorbida a cada
(Apêndice 3). 6 horas; grupo/conrrole - dinitrato de isossorbida a cada
No exemplo citado , realizamos uma estratégia de 12 horas; e o desfecho primário de interesse seria nível
busca de todos os descritores referentes ao termo AAA de tolerância do nitrato medido pela técnica de ecografia
assintomático e os relacionamos com o termo cirurgia vascular e teste de esforço. Pronto. Já partimos do ponto-
e seus sinônimos - a partir da busca nas bases de dados chave para a realização de um projeto de pesquisa ade-
Descritores em Ciências da Saúde (DECS , www.decs.bvs. quado , minimizando as chances de erros nos resultados,
br) e Medicai Subject Headings (MeSH, www.pubmed . pois, com uma pergunta claramente feita , dificilmenre
com). Após este procedimento , "rodamos" a estratégia na iremos nos perder durante o processo de pesquisa.
base de dados The Coe/nane Library - biblioteca virtu- A Colaboração Cochrane enfatiza em sua metodologia
al que contém inúmeras revisões sistemáticas e ensaios elaborarmos a questão clínica da seguinte ordem: [inter-
clínicos randomizados (ECRs) na área da saúde, sendo venção] vs. [grupo/controle] para [Situação clínica] 10 Às
considerada a melhor fonte de evidências para a tomada vezes, em uma pergunta não há necessidade de inserir o
de decisões nos cuidados à saúde (encontra-se disponí- desfecho de interesse, porém em todo o projeto de pesqui-
vel gratuitamente no site www.centrocochranedobrasil. sa este item deverá estar claramente descrito.
org) . O intuito de rodar a estratégia de busca primeiro na Tomamos outro exemplo para elucidar este tópico.
Biblioteca Cochrane fornece ao profissional mapear rapi- Imagine que a técnica de dispositivos de compressão
damente os estudos existentes com alto nível de evidên- pneumática inrermitente (CPI) vem sendo explorada
cias (ECRs e revisões sistemáticas) e disponíveis naquele por meio de estudos para a comprovação desta aborda-
momento. Com os títulos idenrificados na Biblioteca Co- gem em pacientes com úlcera varicosa. I I Como ficaria
chrane, selecionamos os artigos em potencial para uma a pergunta clínica? Iniciamos pelos quatro itens-chave:
leitura minuciosa. Caso não existam evidências sobre o situação clínica - úlcera varicosa; intervenção de inte-
determinado assunto , o profissional poderá lançar mão resse - CPI; grupo/controle - nenhuma intervenção ou

2
Níveis de Ev idências Científicas na Prática Méd ica

procedimento sham de CPI; e desfecho de interesse - au- por parte do paciente de tomar o medicamento prescrito
mento da cicatrização das feridas. Seguindo a estrutura ou voltar ao consultório médico até falta de dinheiro para
da fonnulação de pergunta pela Colaboração Cochrane, a compra do mesmo. A utilização correta desses tennos
temos : O CPI é mais efetivo e seguro quando comparado auxilia no propósito do estudo, bem como na aplicaçáo
a nenhuma intervenção no aumento da cicatrização das exata dos resultados da pesquisa científica no cenário
feridas em pacientes com úlcera varicosa' mais apropriado ao paciente.
O objetivo e o título são uma derivação da pergun-
ta. Neste último caso , o objetivo ficaria assim: Avaliar ENSAIOS CLíNICOS RANDOMIZADOS
a eficácia e segurança dos dispositivos de compressão
E NíVEL DE EVIDÊNCIAS
pneumática intennitente quando comparado a nenhuma
intervenção no aumento da cicatrização das feridas em Para responder a questões sobre tratamento e preven-
pacientes diagnosticados com úlcera varicosa. E, por fim, ção , o melhor desenho de estudos são os ensaios clíni-
o título poderia ser: Dispositivos de compressão pneu- cos randomizados CECRs) , considerados uma ferramenta
mática intennitente versus nenhuma intervenção no tra- poderosa e revolucionária da pesquisa científica, pois:
tamento de úlcera varicosa. Ca) possuem pelo menos um grupo/controle ; Cb) são
ão é difícil desenvolver uma questão clínica, basta prospectivos; Cc) possuem processo de randomização
tennos os quatro itens-chave. É claro que , dependendo do (sorteio dos participantes para serem alocados em um
desenho de estudo, os itens-chave poderão variar, mas o dos grupos de tratamento, possibilitando a todos os in-
desfecho sempre estará presente. Em estudos coorte, temos divíduos a mesma chance de serem alocados tanto no
a situação clínica, o fator de risco e o desfecho de interes- grupo experimental como no grupo/controle e, desta for-
se. Por exemplo, variz associada à tromboflebite superficial ma , distribuindo de fonna homogênea as características
pode ser considerada um fator de risco para o desenvolvi- dos participantes como sexo , idade, estágio de doença,
mento de trombose venosa profunda) Neste caso, trombo- peculiaridades genéticas etc .); Cc) têm mascaramento
flebite superficial é a situação clínica; variz , o fator de risco; dos desfechos a serem avaliados (com intuito de evi-
e trombose venosa profunda, o desfecho de interesse. tar viés/tendenciosidade por parte do avaliador e do
paciente).12 É considerado um estudo cujos participantes
EFETIVIDADE, EFiCÁCIA, são alocados aleatoriamente para receber uma das várias
EFICI.Ê NCIA E SEGUR:'NÇ~ intervenções clínicas. Os ensaios clínicos randomizados
são experimentais, porque os investigadores podem in-
Quando abordamos tratamento e falamos em evidências, fluenciar no número e no tipo das intervenções , bem
estamos nos referindo à efetividade, eficiência, eficácia e como na rotina , duração e dose de uma intervenção .
segurança. Ao mencionannos efetividade , a referência é Além disso , os ensaios clínicos randomizados são consi-
ao tratamento que funciona em condições de mundo real. derados quantitativos , comparativos e controlados. 12
Eficácia, quando o tratamento funciona em condições de Neste desenho de estudo, existem, no mínimo , dois
mundo ideal. Eficiência, quando o tratamento é barato e grupos, um recebe a intervenção a ser testada (por exem-
acessível para que os consumidores possam dele usufruir. plo, compressão com monitorização pelo eco-Doppler em
E, por último, referimo-nos à segurança quando uma in- cores para tratar de falsos aneurismas) e o segundo grupo
tervenção possui características confiáveis que inviabili- será escolhido entre uma das 3 linhas de conduta: intervir
zam algum efeito indesejável para o paciente. (cirurgi.camente), nenhuma conduta ou placebo. Os dois
Quando o propósito é saber se medicamentos fun- grupos são seguidos de fonna que os participantes não se-
cionam em pacientes monitorados 24 horas na UIl, a jam perdidos até que os desfechos de interesse ocorram. O
palavra mais sensata aqui é "eficácia", pois o paciente re- primeiro ensaio clínico publicado ocorreu em 1948, e foi
ceberá toda a medicação e os procedimentos nos horários sobre o uso de estreptomicina para tuberculose.
preestabelecidos pela equipe médica. Por outro lado, se o Quando nos questionamos sobre efetividade de tra-
médico prescrever ao paciente uma medicação que deve tamentos e prevenção, a fonna geralmente adequada é
ser tomada de oito em oito horas, por exemplo, e pede ao a exclusão de estudos não experimentais, ou seja , des-
paciente que retorne ao consultório em duas semanas, o cartannos estudos observacionais, uma vez que seus
melhor termo aplicado para esta situação é "efetividade", resultados podem fornecer conclusões falso-positivas
pois as condições são reais, variando desde esquecimento sobre efetividade, eficácia e segurança. Devido à baixa

3
Níve is de Evidênc ias Cien tíficas na Prát ica Médi ca

ocorrência de vieses, os ensaios clínicos randomizados , das sobre aspectos acerca do diagnóstico clínico , o trata-
especialmente as revisões sistemáticas, possuem uma mento, a prevenção e o prognóstico:
metodologia adequada pélra nos instruir e, consequente-
mente, menor probabilidade de nos confundir em rela- • Formular uma questão clínica clara baseada nos qua-
ção às questões terapêuticas. Por esse motivo , as revisões tro itens-chave decorrentes de um problema gerado
sistemáticas tomaram-se o gold standard para julgarmos pelo paciente
quando um tratamento é mais benéfico ou maléfico, • Pesquisar na literatura por relevantes artigos clínicos.
quando comparado ao grupo/controle. • Avaliar criticamente a evidência em relação à sua vali-
Outrossim, o ECR é considerado nível 1++ de evidên- dade interna (metodologia) e aplicabilidade na práti-
cias, de acordo com o SIGN,7 e Ib, baseado no Oxford ca clínica (validade externa).
CEBM,8 mesmo quando há um risco de viés baixo, em • Implementar os achados úteis na prática clínica, con-
outras palavras, quando, por exemplo, houver perdas e siderando o nível e grau de evidências.
desistências <20% do total do tamanho amostrai em cada
grupo durante o seguimento do estudo. Neste último item , o médico pode tanto implemen-
Para elucidar a questão de nível e grau de evidências, tar diretamente as evidências em seus pacientes quanto
supomos querer saber sobre a efetividade da conversão do utilizá-Ias para gerar diretrizes clínicas (gu ideli nes).
sirolimo versus redução do inibidor de calcineurina em cân- Vale ressaltar que, para realizar uma avaliação crítica
cer de pr6stata em transplantados renais. Após a realização da literatura, o profissional deve ter acesso aos diferentes
da estratégia de busca, identificação de artigos em poten- métodos requeridos aos váríos desenhos de estudo exis-
cial e avaliação crítica dos mesmos, encontramos um ensaio tentes e que foram desenvolvidos por diversos autores no
clínico randomizado:13 Nível de evidência 1++ (de acordo Reino Unido e na América do Norte com intuito de capa-
com o SIGN7) e lb (baseado no Oxford CEBM8); grau de citar indivíduos sem pericia no assunto a avaliar artigos
evidência A. Nós classificamos o grau de recomendação clínicos. Tais estratégias podem ser utilizadas para avaliar
como A quando há evidências suficientemente fortes para artigos originais sobre diagnóstico , tratamento, prevenção
recomendar a intervenção (tratamento beneficiaI). e prognóstico , bem como revisões e metanálises. Os sites
Se, porventura , não encontrássemos ECR ou, então, www.sign.ac.uk e www.cebm.net apresentam diversos for-
nenhuma revisão sistemática, poderíamos basear nossa mulários de extração de dados e qualidade metodológica
prática clínica no próximo nível de evidências, como , por
para os diferentes desenhos de estudos.
exe mplo, estu dos coorte com boa qualidade metodoló-
gica (nível de evidência 2++ , de acordo com o SIGN/ e
nível 2b, baseado no Oxford CEBM8) . Importante ressal-
REFERÊNCIAS
tar que , com um grau de recomendação A ou C (evidên-
cias suficientemente fortes para indicar ou contraindicar L Castro M. A pergunta da pesquisa. In: Atallah AN, Castro M,
edi tores. Medicina baseada em evidências: fundamentos da
uma intervenção, respectivamente), devemos sempre
pesquisa clínica. São Paulo. Lemos editorial 1998; 22-8.
estar cientes do nível de evidência com que estamos li- 2. Browman GP Essence of Evidence-based medicine : a case
dando e que as recomendações poderão ser modificadas reporto ]ournal of Clinicai Oncology 1999; 17: 1999-1969.
conforme mais estudos no assunto estiverem disponíveis, 3. Sackett DL, Rosenberg WM , Gray]A, Haynes RB, Richardson
WS. Evidence based medicine: what il is and whal il isn't.
sejam estes publicados ou não. BM] 1996; 312(7023):71-2
O grau de recomendação é classificado como B 4. Ballard O] , Filardo G, Fowkes G, Powell]T. Surgery for
quando temos evidências, mas não definitivas , ou seja, small asymptomatic abdomi nal aortic aneurysms. Cochrane
Oatabase Syst Rev. 2008;(4): C0001835.
as evidências não são fortes o bastante para recomendar 5. Orummond]p, Silva E, Coutinho M. Medicina baseada em
ou refutar uma intervenção. Ou , então, quando não há evidências: novo paradigma assistencial e pedagógico. 2 ed.
nenhuma prova científica existente no momento sobre o São Paulo: Editora Alheneu, 2004.
determinado assunto. 6. Gomes MM . Medicina baseada em evidências, princípios e
práticas. 2 ed. São Paulo: Reichmann & Autores Editores, 2006.
Caso não possamos esperar pela finalização dos estu- 7. Scottish Intercollegiate Guidelines Network (S IGN) . Clinicai
dos, devemos seguir a hierarquia dos niveis de evidências guidelines: criteria for appraisal for national use . Edinburgh:
e trabalhar com aquelas disponíveis no momento .14 SIGN 50; 2004.
8. Centre for Evidence Based Medicine (CEBM). Leveis of
Em suma, existem quatro passos para o profissional evidence. Availab le in URL at http://www.cebm. net/index.
da área da Saúde praticar a MBE quando surgirem dúvi- aspx?o=1025

4
Níveis de Evidências Científicas na Prát ica Médica

9. Yu GL, Zhuang HP, Wang ZH, Liao]T. Evaluation of nitrate 12. ]adad A. Randomised controlled trials: a user 's guide. BM]
tolerance in patients with coronary heart disease by vascular 1998; 1:1 -3.
ultrasonography and treadmill exercise. Int] Cardiol 1999; 13. Watson Cj, Gimson AE, Alexander G], A1lison ME, Gibbs P,
69(2): 133-7. Smith ]C, et aI. A randomized controlled ttial of late conversion
10. Cochrane Reviewers' Handbook 4 .2.2. Centro fram calcineutin inhibitor (CNI)-based to siralimus-based
Cochrane do Brasil. Disponível em URL: http://www. immunosuppression in tiver transplant recipients with impaired
centrocochranedobrasil.org. renal function . Liver Transpl 2007; 13(12): 1694-702.
11. Nelson EA, Mani R, Vowden K. Intermittent pneumalic 14. Sackeu DL, Rosenberg WMC, Gray ]AM, et aI: Evidence-
compression for treating venous leg ulcers. Cochrane based medicine : What it is and what it isn't. BM] 1996;
Database Syst Rev 2008; (2):CD001899 . 312:71-2.

APÊNDICE 1
Níveis de evidência ( 7)

1 + + Metanálises de alta qualidade, revisão sistemática de RCT o u RCT co m baixo risco de viés.

1 + Metanálise bem conduzida, revisão sistemática de RCT o u RCT com baixo ri sco de viés.

1 Metanálise, revisão sistemática ou RCT ou RCT com alto risco de viés.

2 + + Revisão sistemática de a lta qualidade em estudos tipo caso-controle ou "coorte" com baixo ri sco de viés ou chance e uma
alta probabilidade de que a correspo ndência seja casual.

2 + Estudos tipo caso-controle ou "coorte" bem cond uzidos com baixo risco de viés ou cha nce e probabilidade moderada de que a
co rrespondência seja casual.

2 Estudos tipo caso-controle ou "coorte" com alto ri sco de viés ou chance e probab ilidade mode rada de que a co rrespondê ncia não
seja casual.

3 Estudos não analíticos tipo relato de caso ou séries de casos.

4 Op in ião de especialista.

5
APÊNDICE 2

Centro para med icina baseada em evi dências de Oxford (M aio 2001 )18>

Nível Terapia/Prevenção, Prognóstico Diagnóstico Diagnóstico diferenciall Análise econômica e decisão


Etiologia/Dano estudo de prevalência da
sintomatologia

la SR (com homogeneidade ') do SR (com homogeneidade') SR (com homogeneidade') do SR (com homogeneidade') de SR (com homogeneidade') do
RCT de estudos coo rte iniciais; nível 1 - estudos diagnósticos; estudos coorte prospect ivos nível 1 - estudos econôm icos
CORt va lidado em diversas COR t com estudos 1b de
popul ações centros clín icos diferentes

lb RCT individual (com pequeno Estudos coorte iniciais e Estudos coorte de va lidação" Estudo coorte prospectivo com Aná l ise baseada em custos
z
intervalo de confiança t) ind ivid uais com ~ 80% de com bonsttt pad rões de bom seguimento " " clínicos ou alternati vas;
<'
(1)
<f>
seguimento; COR t va lidado referência ou CORt testado revisão sistemática de
c...
em uma única popul ação em um centro clínico evidências, incl uindo análise (1)

de sens itiv idade de múltipl os m


<
pontos c...
(1»
:J
lc Tudo ou nada § Séri es de casos tipo tud o ou nada SpPin s <lnd SnNoutstt Absoluto Séries de casos tipo tudo ou nada Análi se absoluta do melhor va lor n
ou pior valor tt t t !l>
<f>

n
2a SR (com homogeneidade') de SR (com homogeneidade') ou SR (com homogeneidade') de SR (com homogeneidade') de SR (com homogeneidade') de (1)
a- estudos coo rte estudos retrospecti vos coo rte
ou grupos/controle não
estudos diagnósti cos nível > 2 estudos 2b e melhores estud os de nível econôm ico
>2 -
:J
- .,
n
tratados em RCT !l>
<f>

2b Estud o coo rte individual Estudos retrospectivos coo rte o u Estudos expl oratóri os" coo rte Estudos coorte retrospectivos ou Análi se baseada em custos -'
!l>
(incluindo RCT de baixa seguimento de com bons padrões de ttt seguimento deficiente clínicos ou alternativas; \l
qualidade; exemplo: pacientes-controle não referência; COR t após revisões limitadas de ~
seguimento <80%) tratados em um RCT; deri vação, ou amostras evidências ou estudos n
!l>
derivação de CORt o u repartidas § § § ou bases de si mpl es, incl uindo análi ses
~
amostras repartidas §§§ dados mu ltifatoriais (1),
c...
2c Pesquisa "Resultados" ; Estudos Pesquisa "Resultados' Auditoria ou Pesquisa n
Estudos ecológicos !l>
ecológicos sw dies " Resultados'

3a SR (com homogeneidade') de SR (com homogeneidade' ) de SR (com homogeneidade') de SR (com homogeneidade') de


estudos casos-contro le estudos 3b e melhores estudos 3b e melhores estudos 3b e melhores

3b Estudos casos-contro le Estudos não consecutivos ou Estudos não co nsecutivos coo rte Análise baseada em altern ativas
individuais sem padrões consistentes de ou populações muito limitadas ou custos lim itados,
referência apl icada estimativas de má qualidade
de dados, mas incl uindo
análise de sensitiv idade
incorporando variações
cli nicamente sensíveis
4 Séri es-casos (e estudos c oorte Sé ri es-casos (e estudos Estudos caso-con trole, padrões Séries-casos ou padrões d e Estudos sem anál ise de
de baixa qualidade e prognóstico s coorte de baixa referenciais independentes referência interca mbi áveis sen sitividade
caso-cont rol e §§) qualidade ***) de baixa qualidad e ou não
ind ependentes

5 Opinião de especialista sem Opinião de especiali sta sem Opinião de especia li sta sem Op inião de espec iali sta sem Opinião de especia li sta sem
contro le c ríti co o u baseada con tro le críti co ali baseada control e c rítico ou baseada controle c ríti co ou baseada controle c rítico ou baseada
em fisio logia, trabalhos em fisiologia, trabalhos em fisiologia, t raba lhos em f is iolog ia, trabalhos em fisiologia, trabalhos
experi m entais Oll " princípios exp erim entais ou " princípios ex perim entais ou " princípios ex perim entais o u " princípios expe rim enta is o u "p rincípios
básicos" básicos" bási cos" b ás icos" bás icos "
- - ------ - - - ---- -

Produzido por Bob Phillips, Chris Ball , Dave Sackett, Doug Badenoch, Sharon Straus, Brian H aynes, M artin Dawes since November 1998.

Notas

Usuários podem adicionar um sinal de menos "-" para marca r o nível em existe falta de prover um a resposta conclusiva devido a:
z
:;;::'
o um resultado único com um interva lo de con fi ança muito amplo (como, por exem plo, um ARR em um RCT não é estati sti camente significan te, mas onde o interva lo de con fi ança falha em excl uir benefício (1)
clinicam ente importante ou dano). <J>

o Ou a uma revisão sistemática com heterogene idade com prob lemas (estati sti ca mente signifi ca nte). a...
(1)
o Tal evidência é inconcl usiva e só pode gerar recomendações Grau D. m

. Por homoge neidade, entende-se uma revi são sistemática que é livre de va riações (heterogene idade) em direções e graus entre estudos individuais. Nem todas as revisões sistemáticas com
heterogenicidade estati sticamente signifi ca nte devem se r preocupantes, e nem toda heterogeneidade preocupante deve ser estati sti camente signifi ca nte. Como indicado acima, estudos mostrando
<
a...
(1»
:::l
n
hetero genicidade preocupante devem ser marcados com um "-" no fim de seu nível designado. til
<J>

t Regra de decisão clínica (estes são algoritmos ou sistemas de pontuação que levam a um a estim ativa prognóstica ou a uma catego ria diagnósti ca). n
-
(1)
'I
+ V eja nota #2 para orientação como entender, classifica r e usa r estudos com amplos intervalos de confiança. :::l

§ D efinido quando todos os pacientes fal eceram antes que o Raio X fosse disponível, mas agora algun s sobrevivem a ele; ou quando algun s pacientes faleceram antes que o Raio X fosse disponível,
......
n
m as nenhum ago ra falece. til
<J>

§§ Por um estudo coorte de baixa qualidade, entendemos que foi falho claramente em definir grupos comparáveis, eJou sem sucesso em medir expos ições e os mesmos resul tados (preferencialmen te :::l
til
cegos) em indivíduos ex postos e não ex postos, eJou fa lharam em identificar ou contro lar apropri adamente erros conhecidos, eJou fa lharam em rea l izar segu imento de lo nga duração e completo -o
nos pacientes.
~,
Por estudo caso-controle de ba ixa qualidade, entendemos aq uele que falhou em definir cla ramen te os grupos de comparação eJou falh ou em medir exposições e resu ltados nos mes mos n
til
(preferencialmente cegos), proposta objetiva nos casos e controles eJou falhou em ident ificar ou controlar erros conhecidos.
~
§§§ (1),
V alidação em amostra repartida é consegu ida reunindo-se toda a in form ação em um grupo único e arti fi cia lmente dividindo-o em amostras de "deri vação" e "va lidação" .
a...
tt Um "S pPin abso luto" é um achado di agnóst ico cuj a especificidade (~) é tão alta que um resultado posi ti vo (E) implica diagnóstico de certeza (~) . Um "SnOut absoluto " é um achado d iagnósti co n
til
cuja sensibilidade (~) é tão alta que um resultado negativo (!"l) é tão alto que um resul tado negati vo (!"l.) afasta (O u!) um diagnóstico.
:j::j: Bom, melhor, ruim e pi o r se referem às comparações entre tratamen tos em term os de seus riscos e benefícios clínicos.
ttt Pad rões de referência Bons são independentes do teste e apli cados "cegamente" ou objeti vamente em todos os pac ientes. Padrões de referênc ia Ruins são apli cados a esmo, m as ainda
independentes do teste. O uso de um padrão de referência não independen te (onde o "teste" é inclu ído na " referência" ou quan do "testar" afeta a " referência") im p li ca um estudo níve l 4.
tttt Tratamentos de melhor valor são claramente tanto bons quanto baratos ou melhores com o mesmo ou menor cus to. Tra tamentos de pior valor são tra tamentos tanto bons quanto mais caros o u

.. piores e mais ca ros.


Estudos de va lidação testam a qualidade de um teste diagnóstico específico, baseado em ev idências prévias. U m estudo exploratório co leta informações e filtra os dados (por exemplo: usando

... an áli se de regressão) para definir quais fatores são "significa ntes" .
Por estudo coorte de qualidade prognóstica " ruim ", en tendemos aq ueles nos quais a amostra apresenta viés em favor de pacienies que já apresen ta va m o resultado-alvo ou que medidas
de resultado foram conseguidas em <80% dos pac ientes do estudo ou resu ltados foram definidos "não cegamente", não respe itando os obj etivos, ou não havia correção para fatores que
confundiam.
**** Bom seguimento em um estudo de diagnósti co diferencial é > 80 % com tempo adeq uado para que diagnósticos altern ati vos apareçam (exem pl o: 1-6ll1eses para doenças agudas, 1-5 anos para
do enças crõni cas).
-- - ---
Níveis de Evidências Científicas na Prática Médica

APÊNDICE 3
Graus de recomendações ("guidelines") modificados de acordo com (Referência Oxford)8

Grau · Recomendação

A Baseado em estudos clínicos de boa qualidade e consistência diretamente relacionados, incluindo


pelo menos um estudo randomizado.

B Estudos inconclusivos ou inconsistentes de qualquer nível.

c Evidência baseada em estudos clínicos suficientemente conclusivos para refutar a intervenção.

RCT = randomized controlled trial (ensaio cl ínico randomi zado).


CDR = cl inicai dec ision rule (regra de decisão clíni ca).
SR = systemati c review (revisão sistemática).
SpPin = spec ific, pos itive, in (i.e., mnemonics that capture the properties of such tests) = alta especi ficidade, positivo, regras.
SnNouts = sensitive, negative, out (Le., mnemonics that capture the properties of such tests) = alta sensibilidade, negativo, fora das regras.
A RR = absolute risk reduction (redução de ri sco absoluto).

8
CAPíTULO 2
Sérgio X. Salles-Cunha
Princípios Básicos Domingos de Morais Filho

INTRODUÇÃO
o som é o resultado de ondas longitudinais de pressão
provocando compressão e rarefação sucessivas nos meios
de propagação. As ondas sonoras são a resposta do meio
a uma perturbação . As ondas propagam-se nos meios
elásticos, gases, líquidos ou sólidos, e são produzidas por
uma fonte vibratória. As ondas sonoras são definidas por
sua amplitude e sua frequência.1. 2 As ondas que com-
põem o som audível ao ouvido humano têm frequências
entre 20 e 20.000 Hz (2 0 KHz). Ondas sonoras com fre-
quência > 20 KHz são chamadas de ultrassom. 1· 2
A ultrassonografia aplicada ao diagnóstico das dotn-
ças vasculares , ou ecografia vascular, baseia-se em téc- ~ Figura 2.1. Exame dúplex em Modo B (parte superior) e
análise espectral (parte inferior). A linha pontilhada inclinada
nicas de imagem e medidas de velocidade do fluxo san-
indica a direção central do feixe de in sonação para detecção
guíneo. A combinação da imagem anatômica de Modo de velocidades; as duas barras paralelas determinam o
B com a detecção da forma da onda da velocidade san- volume de amostragem.
guínea, a análise espectral, foi popularizada com o nome
de dúpl ex Doppler ou Ldtrassol1ografia dúpl ex (dúplex de
duplo e Doppler porque se baseia no efeito descrito por
Johan Christian Andréas Doppler em 1842) 34 Esta téc- .•. . .• ~I ···_·~·· .
nica de exame revolucionou o diagn óstico não invasivo
"".
das doenças vasculares na década de 1980 (Fig. 21 ). --.~
Uma 2 ~ revolução aconteceu na década de 1990 e se ba-
... ~
seou na combinação das imagens da anatomia (Modo B) ,.
.. :-.-
'. ~
_ -- ...
com a da dinâmica de fluxo (Modo cor). 5.6 A imagem de :. .~ .,. ' ..-' , - .._-."-'... _-
, ,
fluxo em cores, ou ecografia vascular em cores, facilitou .)

a execução dos estudos e melhorou substancialmente a


apresentação da informação colhida (Fig. 2.2). ';, t. .~ '" li. ~ , .
Mais recentemente, a evolução das técnicas de exa-
me inclui tanto métodos de geração quanto de proces-
.,: ~'-..w \...J'-..,'\...J\....J "--
,
samento de imagens. Técnicas digitais e bandas largas ~ Figura 2.2. Exame tríplex ou ecografia vascular em cores
de frequ ência foram adaptadas à ecografia vascular. Já as com a 1) imagem anatômica em Modo B, 2) imagem de fluxo
técnicas de construção de imagens aumentam o campo sanguíneo em vermelho e 3) análise espectral mostrando
a forma de onda do efeito Doppler (parte inferior). A caixa
de amostragem visual , criando uma imagem expandida , losangular de aquisição de cor é mostrada na parte superior
que de certo modo copia a apresentação do exame angio- do exame.

9
Princípios Bás icos

gráfico. Depois de obtidas, as imagens são processadas gia de transmissão não é tão importante em aplicações
com melhor relação sinal-ruído, além de outros benefí- vasculares periféricas quanto durante a avaliação fetal ou
cios, como colorização da escala de cinza ou perspectivas da córnea ocular. Deve-se ter cuidado ao examinar vasos
tridimensionais. oculares ou perioculares.
Entre as técnicas disponíveis, os princípios bási- Energia é gasta durante a propagação de ondas me-
cos das seguintes técnicas ecográficas são apresentados cãnicas, com diminuição da amplitude do sinal. Como
neste capítulo: alternativas para imagem de brilho em a velocidade das ondas ecográficas é muito semelhante
Modo B, dúplex Doppler, fluxo em cores, imagem do nos vários tecidos moles , essa diminuição de sinal é con-
sinal de potência Doppler (Power Doppler™) , imagem siderada uma exponencial simples tanto no espaço como
de brilho sanguíneo (B flOW™) , imagem expandida, bem no tempo. Os ecos são amplificados para compensar essa
corno apresentações das perspectivas tridimensionais. O atenuação.
uso dos controles de comando para alterar ganho , per- A atenuação da onda ecográfica é dependente da fre-
sistência, escala de velocidades e prioridade de sinal é quência de repetição dos picos e vales da onda. Essa
descrito, e as influências dessas técnicas em aplicações frequência de insonação também controla a resolução
na ecografia arterial e venosa também são apresentadas. axial da imagem ecográfica. l ..1 Quanto maior a frequência,
Especificamente, os tópicos seguintes incluem os prin- menor a distância entre vales ou entre picos da onda eco-
cfpios fundamentais e as técnicas de imagens comuns, gráfica. Esse espaço, chamado de comprimento de onda,
tanto as imagens estáticas quanto dinâmicas. Processos detern1ina a resolução axial da imagem (Fig. 2.3) . A dire-
básicos de imagem harmônica, técnicas de ressonância ção axial baseia-se em um modelo de linhas para demons-
ou tomografias aplicadas a ultrassonografia e outras téc- trar a insonação do tecido. Na prática, o modelo inclui um
nicas recentemente desenvolvidas são descri tos. feixe de linhas retas. Tal feixe de onda tem um formato
tridimensional , com uma região de concentração seg·uida
de uma região de dispersão. Muitos feixes sz.o usados para
IMAGENS ESTÁTICAS criar uma imagem. Um transdutor linear cria linhas ou
Imagens ultrassonográficas estáticas dependem funda- feixes em paralelo, que penetram no tecido perpendicuiar-
mentalmente da construção de uma imagem de brilho mente à pele. Um transdutor setorial cria linhas ou feixes
em Modo B. O processamento de dados está cada vez que divergem , criando um setor angular, razão pela qual
mais rápido , permitindo a análise de bases de dados transdutores setoriais apresentam pior resolução lateral à
enormes em tempo real. A ecografia vascular se bene- medida que a imagem se aprofunda (Fig. 2.4).
ficiou desse avanço com o desenvolvimento de técnicas Os sinais das ondas de ultrassom refletidas pelos te-
complexas com redução de sinais de ruído e melhor re- cidos são detectados pelos transdutores piezelétricos t
conhecimento das estruturas anatômicas. Os princípios transformados novamente de mecânicos em elétricos.
fundamentais para construção da imagem em Modo B e Esses sinais elétricos na banda de radiofrequência são
algumas dessas técnicas avançadas de imagem são des- processados analógica ou digitalmente . A composição da
critos neste tópico. imagem depende da velocidade de ultrassom no tecido e,
consequentemente , do número de linhas ou feixes emiti-
dos por unidade de tempo. Essa densidade de linhas ou
Imagem de brilho em Modo B
A imagem clássica da ultrassonografia geral ou ecogra-
fia vascular depende de ecos e baseia-se nos princípios

lMl
de reflexão, refração e dispersão da energia de ondas do
ultrassom. Inicialmente, o equipamento ultrassonográfi-
co gera uma onda eletrônica e transdutores piezelétricos
transformam a onda elétrica em uma onda mecânica. Ao
Comprimento
I
1_ _ _ _
se transmitir energia ao corpo humano , a potência ou de onda
a intensidade da onda mecânica podem ser deletérias a
ce rtos órgãos. O ultrassom para diagnóstico é utilizado
~ Figura 2.3. Ondas de ultrassom em direção à direita,
nas frequências entre 1 MHz 0 06 Hz ou um milhão de emitidas pelo transdutor à esquerda e o comprimento de
ciclos por segundo) e 50 MHz . H O controle da ener- onda respectivo.

10
Princíp ios Básicos

reconstruídas . Um problema adicional ocorre quando os


A
refletores são muito pequenos, causando uma dispersão
da onda em todas as direções .
B

Ondas mecânicas
Quando uma pedra é atirada na água, a superfície desta
abaixa e depois volta a subir (Fig. 25A). As partículas
de água oscilam para baixo e para cima por algum tem-

//11 \\\\
po enquanto as amplitudes de tal oscilação diminuem
até a volta ao estado inicial de repouso. À medida que
as partículas atingidas pela pedra sobem e descem, tais
partículas puxam as partículas vizinhas para baixo e para
• Figura 2.4. Transd utor linear (A ) e setorial (8 ) com as cima. Uma onda de movimentos das partículas de água
lin has de di reção dos feixes de ultrassom. se transmite radialmente em todas as direções. Partículas
de água não atingidas pela pedra passam a oscilar para
feixes influencia a quantidade de processamento digital cima e para baixo, e passam a puxar as partículas vizinhas
necessária para criar a imagem. para cima e para baixo (Fig. 25B) , transmitindo o mo-
Uma imagem bidimensional é um quadro com certo vimen to por certa distância a uma certa velocidade, de-
número de linhas ou feixes transmitidos e sinais recebi- pendendo do tipo de água (de rio , mar, suja, limpa etc) .
dos em um intervalo de tempo. O transdutor eletromecã-
nico, piezelétrico , é tanto transmissor quanto receptor de
sinais. A transmissão é curta e a recepção é dependente
da profundidade da imagem a ser adquirida. Consequen-
temente, o sinal de transmissão é pulsá til no domínio do
tempo. A aparência de tempo real é definida pela per-
cepção do olho humano. A eletrônica moderna permite
o processamento rápido de uma quantid?de enorme de
dados , dando a impressão de tempo real. Quanto mais
antigo o instrumento, maior a probabilidade de que o
olho humano perceba a formação vagarosa das imagens
ou dos quadros individuais . A imagem é então processa-
da para ser apresentada no monitor.

Ecografia
A percepção primária de um eco é experimentada quan-
do se fala ou se grita em frente a um conglomerado de
montanhas. A voz é criada por um individuo, transmitida
pelo ar, refletida pelas montanhas e, após um tempo de
atraso, escutada pelo mesmo indivíduo ou grupo de pes-
soas adjacentes. Em princípio, seria possível reconstruir
uma imagem da superfície dessas montanhas refletoras
de som com base nos sinais sonoros, nos ecos recebidos.
Esse tipo de eco refletido, entretanto, só criaria a imagem
de uma superfície ou, em nosso caso , uma só parede vas-
cular. Na ecografia vascular, para se criar uma imagem
da outra parede do vaso, é necessário que uma parte do • Figura 2.5 . (A) Ondas em um lago após lançamento de
uma ped ra na água (seta) . (8 ) Movimento das pa rtícul as na
sinal prossiga adiante por refraçã? Assim , reflexões de água numa onda (boia vermel ha da linh a de pesca) onde V
várias interfaces podem ser recebidas e essas interfaces representa a velocidade da onda e A o comprimento de onda.

11
Princípi os Bás icos

Eventualmente as oscilações não se localizam mais no cular, só que do outro lado da perpendicular. Por exem-
local onde a pedra caiu, mas são vistas na periferia. Final- plo, se a perpendicular está a 90° com relação à parede do
mente, até a periferia volta ao estado de repouso inicial. vaso e a onda incidente incide na parede do vaso a 80°, a
Este é um exemplo de uma onda de propagação trans- onda será refletida a 100° com relação à parede do vaso.
versal: a onda se propaga na direção perpendicular ao Uma incidência perpendicular a 90° da parede do
movimento das partículas. vaso resulta em reflexão perpendicular a 900. Essa é a me-
Um navio passa e desloca as partículas de água, mo- lhor insonação para mostrar as paredes das artérias e veias.
vendo-as em direção horizontal. Essas partículas compri- O eco não atinge o transdutor se o ângulo de insonação for
mem as partículas vizinhas que as empurram de volta, muito grande, deteriorando a imagem das paredes do vaso.
criando uma oscilação local que se transmite às partículas Portanto, o sinal refletido é otimizado quando se coloca o
vizinhas e assim por diante em direção à periferia, partin- eixo longitudinal do vaso paralelo à face do transdutor.
do da origem da onda. Essa onda também se transmite por
uma certa distância , com uma velocidade característica do Refração
meio (água), enquanto as amplitudes de oscilação decres- Parte da energia que atinge a parede proximal do vaso
cem e finalmente a área toda volta à situação de repouso é transmitida para regiões mais profundas (Fig. 2.6A).
inicial. Essa é uma onda de propagação longitudinal: a A direção de propagação após a superfície de reflexão é
onda se propaga na direção dos movimentos das partícu- ligeiramente diferente da direção da onda incidente. A
las. É provável que as ondas ultrassonográficas nos tecidos mudança de ângulo é dependente das características de
sejam eminentemente longitudinais, embora não se possa cada tecido antes e depois da superfície refletora. Como a
excluir ondas em direções de propagação mais complexas. velocidade de propagação do ultrassom em vários tecidos
Tais ondas podem ser descritas como uma onda senoidal, é semelhante, essas mudanças de direção são mínimas e
que tem amplitude máxima, frequência em oscilações no não afetam extraordinariamente a imagem vascular. Mas-
domínio do tempo que se propagam a uma velocidade re- sas com líquidos em que a velocidade do ultrassom é
lacionada com as características do meio. A distância entre diferente , entretanto, causam distorções maiores.
os picos espaciais define o comprimento espacial da onda.
A velocidade de propagação é igual ao produto do compri- Dispersão
mento de onda e da frequência de oscilação temporal.
Reflexão e refração acontecem quando o comprimento
de onda é pequeno com relação à superfície especular.
Reflexão Caso a onda atinja uma partícula pequena, menor do que
Na reflexão especular, a direção da onda incidente tem um um comprimento de onda, a energia é dispersa em todas
ângulo com a perpendicular ao plano do espelho (Fig. 2.6). as direções (Fig. 2.6B), fenômeno que pode acontecer
A onda refletida faz o mesmo ângulo com essa perpendi- com partículas de tecido humano. O processo de disper-

t Feixe de ultrassom

Partículas

.. Figura 2.6. (A) Ondas ultrassonográficas, reflexão e refração. OI , onda incidente; ORL, onda refletida; e ORF, onda
refratada. (8) Ondas ultrassonográficas, d ispersão.

12
Prin cíp ios Básicos

são, em principio, causa ruído na imagem ecográfica e por terem amplitudes relativamente pequenas. Esse tipo
deve ser filtrado. Entretanto, tal sinal pode ser explorado de metodologia, chamada de análise de Fourier, 7-9 cria o
para otimizar a imagem de certos tecidos como o sangue conceito de bandas de freq uência. Uma frequência única
e de órgãos como o rim e o fígado (harmônicas) . raramente é obtida na prática. Atualmente, os métodos
de criação de imagem usam bandas mais largas de fre-
Ondas eletrônicas quência, ou seja, usam um intervalo de frequências .
O algoritmo computacional FFT, ou fast Fourier
As ondas eletrônicas são representadas da mesma forma
que as ondas mecânicas, com os elétrons constituindo as
transform, revolucionou a análise de ondas espectrais,
pois permite o cálculo das componentes senoidais com
partículas individuais.
extrema rapidez eletrônica.10

Transformação de Fourier
Uma onda de forma complexa pode ser representa- Transdução piezelétrica
da como uma somatória de ondas senoidais com fre- Certas substâncias transformam oscilações elétricas ou
quências distintas (Fig. 2.7). Em particular, uma onda eletrônicas em vibrações mecânicas e vice-versa. Tais
quadrada, por exemplo , pode ser representada como uma substâncias são usadas nos transdutores ultrassonográ-
somação de ondas senoidais: (a) com a mesma fre- ficos. Os transdutores lineares são constituídos por uma
quência fundamental, (b) com a frequência dupla da linha reta de elementos piezelétricos. O número de ele-
frequência fundamental, (c) com a frequência tripla mentos usados pode variar: por exemplo, ser 64, 128,
da frequência fundamental , e assim por diante, cada har- 256 ou mais. Aparentemente, um múltiplo de 2 facilita
mônica com amplitudes de sinal cada vez menores até o controle de sinais digitais. Um transdutor setorial tem
que as harmônicas de frequência mais altas praticamente um arranjo curvo dos elementos em um arco.
não influenciam mais a representação da onda original,
Transmissão
, - - - - - - - - Forma de onda resultante A transmissão do ultrassom é pulsátil , sendo que um
~ +-- - - - - - Frequência fundamental pulso dura aproximadamente 1% do ciclo . Portanto , a
....... maior parte do ciclo está ocupada em recepção . Em ter-
mos simples, o pulso transmitido é retangular, contendo
vários ciclos senoidais do sinal de [requência de imagem .
Assim, existem duas frequências no sinal ecográfico: a
de repetição dos pulsos de transmissão, pulse repetition
frequency ou PRF, e a frequência do sinal dentro de cada
pulso. Esse sinal pode ter uma faixa larga de frequências
para criar a imagem. Técnicas modernas usam transmis-
são por multifrequências, banda larga e até mesmo se-
quências de pulsos. As sequências de pulsos dos equi-
pamentos de ultrassom são projetadas para reconhecer
certos tipos de tecido com mais eficiência.
Como a velocidade do ultrassom é semelhante nos
tecidos mais comumente avaliados, de cerca de 1.500
m/s, a frequência de repetição do pulso é determinada
~ Figura 2.7. Transformação de Fourier. Uma onda
pela profundidade do tecido a ser examinado. Por exem-
complexa pode ser decomposta em uma somató ri a de ondas
senoidais, sendo uma onda senoidal fundamental com a
plo, a onda ultrassonográfica percorre 15 cm para cons-
mesma frequência da onda comp lexa e demai s harmôni cas truir a imagem de uma estrutura posicionada a 7,5 em
com frequências múltiplas da fundamental. Na figu ra, uma de profundidade, distância percorrida em 0,1 ms (milis-
frequência fundamental e harmôni cas de frequ ências 3, 5
segundos), o que define a frequência de repetiçãO como
e 7 vezes a freq uência fu ndamental estão demonstradas
em linh as cheias, e a somatória destas ondas fundamental
10 KHz, ou 10 mil pulsos por segundo. Quanto maior a
e harmônicas, a onda resultante, está il ustrada em linha profundidade do objeto a ser examinado, menor a fre-
pontilhada. quência de repetição dos pu lsos necessária no exame.

13
Pri ncípios Básicos

índice mecânico da imagem . Cada controle varia o ganho a um determi-


Quanto maior a energia transmitida, mais forte o eco nado intervalo de tempo entre transmissão e recepção ou
recebido, tanto das estruturas superficiais quanto das a uma determinada distância relacionada a tal intervalo
profundas . Um eco de amplitude muito alta, entretan- de tempo. O teclado do equipamento ecográfico é comu-
to, pode saturar a recepção e eliminar a diferenciação mente mencionado como controle de ganho no tempo
entre ecos. Por exemplo , todos os ecos> 100 passam a ou na profundidade.
ser representados como iguais a 100. Em contrapartida,
energias altas podem traumatizar o tecido. O nível de Frequência de insonação
energia ou de intensidade de energia por voiume de teci- Frequências mais altas são usadas para o processamen-
do depende da frequência da insonação. Atualmente, os to de sinais refletidos por estruturas mais próximas do
equipamentos indicam o índice mecânico de transmissâo transdutor para se obter melhor resolução , enquanto
para cada banda de frequência utilizada. Esse índice me- frequências mais baixas com menor atenuaçâo são ne-
cânico representa a energia transmitida para a formaçâo cessárias para imagens dos tecidos mais profundos. Os
de cada imagem. Ii transdutores modernos usam bandas largas de frequên-
cia, analisando as frequências altas para ecos superficiais
Atenuação e as frequências baixas para ecos mais profundos. 14
A frequência dos sinais de imagem varia entre 1 e
É a diminuição da intensidade do ultrassom com a dis-
50 MHz, ou milhões de ciclos por segundo. As frequên-
tância percorrida pelos feixes ultrassônicos nos tecidos 12
cias mais comuns são 2-5 MHz , 4-7 MHz e 10-12 MHz,
(Fig. 2.8). A atenuaçâo é maio r quanto maior a densida-
para exames abdominais , carótidas e vasos superficiais,
de de um tecido. A atenuação do sinal ultrassonográfico
respectivamente. Frequências mais altas (2 0, 30 MHz)
é exponencial em função da distância percorrida. Uma
e até mesmo de 50 MHz estão sendo usadas nos instru-
transformação logarítmica cria uma linha reta para re-
mentos de ultrassom intravascular.
presentar a atenuação. A atenuação relativa é medida em
unidades de Bell, ou decibel.
Feixe de insonação linear
O feixe é criado pela insonação de vários elementos pieze-
Controles de ganho
létricos. O feixe, na direção do eixo longitudinal, é dividido
A atenuação é compensada automaticamente pelo instru- em 3 regiões: o campo próximo , a região focal e o campo
mento com um ganho exponencial em função da distãn- distai (Fig. 2.9). O campo próximo tem forma conhecida
cia espacial. O comando de ganho aumenta ou diminui o e apropriada para se recriar a imagem através dos ecos. A
ganho geral de todos os pixels na imagem. 13 O controle melhor resolução é obtida na região focal. O campo distai
do ganho dos ecos recebidos pode ser feito globalmen- diverge e cria condições para a formação de ruído , dificul-
te (controle de ganho) ou regionalmente (chamado de tando o processamento da imagem ecográfica. 15
TCG, do inglês time gain control), para cada profundidade
Resolução axial
A resolução axial é definida como a habilidade de se-
Atenuação parar duas interfaces que estão na mesma direção que

Transdutor I: Transdutor I: Campo


próximo
Campo
distai

~
~V
MOO;IOC U Moo;loc t Transdutor

{::,
\.'-----.,,-------/
Distância focal

~ Figura 2.8. A onda refletida (+--) por um objeto tem


menor amplitude quando o objeto examinado está mais ~ Figura 2.9. Forma do feixe de ultrassom, distância focal ,
distante do transdutor (exem plo à direita). zona foca l e campos próximo e distaI.

14
Princípios Básicos

o feixe de ultrassom e é dependente do comprimento realidade, os feixes podem se superpor parcialmente no


de onda do sinal que está sendo analisado l, (Fig. 210). espaço insonado. Assim, o passo, ou deslocamento do fei-
Quanto mais alta a frequência, menor o comprimento xe entre uma linha de insonação e outra, determina a reso-
de onda e melhor a resolução axial. Matematicamente, luçãO lateral. Um transdutor linear, em princípio, pode ter
a velocidade do ultrassom no tecido é igual ao produ- a mesma resolução a qualquer profu.ndidade. A resolução
to do comprimento de onda vezes a frequência do sinal de um transdutor setorial com linhas de insonação diver-
ecográfico. Dividindo-se a velocidade ultrassonográfica gentes piora com a profundidade do local examinado.
de :::: 1.500.000 mmJs pela frequência de insonação, por
exemplo, 10 MHz ou 10 milhões de ciclos por segun- Resolução transversal
do , obtemos um comprimento de onda de 0,15 mm.
A resolução perpendicular ao plano da imagem é deter-
Portanto , a resolução axial de um transdutor operando
minada pela geometria do feixe l5 (Fig. 2.10) A resolução
a 10 MHz é de aproximadamente 0,15 mm, enquanto
da "espessura" da imagem é pouco conhecida ou publi-
para frequências de 5 MHz a resolução é de 0,3 mm.
cada pelos fabricantes . Na prática, é possível detectar va-
Maior frequência do transdutor implica comprimento
sos pequenos na mesma imagem, quando na realidade
menor de onda e melhor resolução axial. Comparati-
tais vasos estão em planos diferentes .
vamente, a resolução de uma angiografia é de 0,2 mm.
Resoluções de angiorressonância ou angio TC variam
dependendo da "espessura" das imagens obtidas e do Posição focal
processamento digital efetuado . Essas imagens têm me- Cada feixe, ou cada imagem, tem uma região focal. A ima-
lhorado extraordinariamente , mas o processamento de gem é mais nítida e tem melhor resolução nessa região
dados cria imagens adornadas ou enfeitadas para o olho focal. Recomenda-se que o arco indicado do foco fique
humano e a resolução da informação ainda é inferior à ligeiramente abaixo da região de interesse na imagem.
angiografia e ao ultrassom.
Número de focos
Resolução lateral
Transdutores modernos podem criar imagem com re-
É definida como a capacidade de separar duas interfaces giões focais múltiplas. l6 Entretanto , tal imagem é com-
na direção perpendicular ao eixo do ultrassom, no plano posta de várias imagens obtidas para cada região focal.
da imagem (Fig. 210). Em princípio , a largura do feixe O tempo de processamento dessas imagens múltiplas
determina a resolução lateral da imagem ecográfica. 14 Na aumenta, diminuindo a capacidade de obtenção de
imagens que se alteram rapidamente em tempo real.
Portanto , para o estudo dos movimentos da parede
arterial , recomenda-se que a imagem seja obtida com
uma só região focal.

Pós-processamento dos sinais de


radiofrequência
Os sinais recebidos pelos elementos piezelétricos são
analógicos e são transformados em sinais digitais e
pós-processados. l7.l 8 O processamento atual é predomi-
nantemente digital.
Em princípio, o olho humano distingue somente 16
níveis de escala de cinza , enquanto o equipamento eco-
gráfico tem 32, 64, 128,256 ou mais níveis de amplitude
de sinais e, consequentemente, a imagem pode ser pro-
cessada para melhor interpretação pelo olho humano. As
curvas de processamento incluem linhas retas e curvas
~ Figura 2. 10. Feixe de ultrassom mostrando a reso lução em forma de 5, que acentuam a separação dos sinais em
axial, latera l e transversal. certos níveis e diminuem ou aturam os sinais em outros

15
Pr incípios Bás icos

níveis. Um dos efeitos evidentes desse processamento é o


grau de contraste selecionado para cada imagem.

Persistência
A persistência da informação obtida em um quadro ou
tela (frame) pode ser estendida a várias telas subsequen-
teso Esta técnica pode ser usada como a) ajuste para o
sinal médio entre telas, diminuindo o ruído randõmico
da imagem; ou b) como somatório de informações de
cada tela para aumentar a sensibilidade a sinais baixos ou
aleatórios. O controle varia normalmente entre Oe 6, re-
presentando imagem em tempo real sem persistência ou
persistência máxima com utilização simultânea do maior
número de telas permissíveis.

Monitor
Uma imagem não pode ser melhorada entre o instrumen-
to e o monitor, mas o monitor pode degradar a imagem.
Quanto mais linhas horizontais e verticais o monitor ti-
ver, melhor a representação das imagens.

Composição da imagem
Processos modernos podem recriar uma imagem única com
informações obtidas durante a criação de várias imagens.
Por exemplo, a técnica sono CF~1 recria uma imagem me-
diante a composição de dados obtidos pela insonação da
região de interesse em inúmeras direções diferentes (Fig.
2.11). Sabemos que uma placa calcificada bloqueia energia ~ Figura 2.11. Esquem a representativo da técnica sono
ultrassonográfica, criando uma sombra acústica quando a
Te transferida da tomografia para a ul trassonografia (A)
comparada com a técn ica cláss ica de um transdutor linea r
insonação é perpendicular a tal placa. Na técnica de sono com feixes perpend iculares (8).
CF~I , ângulos de insonação não perpendiculares à placa
calcificada podem criar uma imagem dentro da sombra
acústica que é então minimizada ou eliminada. Comprimento
Comprimento
de onda
de onda
menor
DOPPLER

Sinal Doppler
Christian Doppler equacionou o aumento de frequência
observado , por exemplo, no apito de um trem se aproxi-
mando da estação, mostrada como coloração ultravioleta
das estrelas se aproximando da Terra e no som da sirene
do carro de bombeiros se aproximando de um especta-
dor. Pelo contrário, a equação Doppler também descreve I MOVimento:>
a diminuição de frequência do apito do trem sain do da
~ Figura 2.12. Representação gráfica do efe ito Doppl er. O
estação, na coloração infravermelha das estrelas de afas-
observador atrás do emisso r (ca rro de bom beiros) percebe o
tando da Terra e no som da sirene do carro de bombeiros som comprirn ento de onda maior que o observador à frente
se afastando do espectador (Fig. 2.12). do emissor.

16
Pri ncípio s Básicos

Um modo prático de se entender a equação Doppler


é ir à praia e entrar no mar. A pessoa parada na água sente Transdutor

uma frequência estável de ondas do mar. Ao correr con-


tra as ondas, o banhista sente um aumento da frequência (fd) = 2.ftVcos e
dos encontros com as ondas do mar. Ao fugir das ondas, c
o banhista experimenta uma diminuição da frequência fd - variação de frequência
de encontro com as ondas. Mas, se o banhista correr pa- c - velocidade do ultrassom no tecido
ft - frequência transmitida
ralelo à praia , a frequência aparente das ondas não se V - velocidade do sangue
altera. Somente o componente do movimento na direção e- ângulo de insonaçâo

das ondas altera a frequência percebida das ondas pelo


banhista . Então , se o banhista está correndo a um cer-
to ângulo, por exemplo, 60°, somente o componente do
movimento contra as ondas altera a frequência. O compo- ~ Figura 2.13. Equação Doppler correlacionando a
nente do movimento paralelo à praia, ou perpendicular à velocidade do sangue (V) com a frequência emitida pelo
direção das ondas, não altera a frequência percebida. Essa transd utor (ft) e o ângulo de insonação (8) com a variação da
frequência recebida (FD) pelo transdutor.
alteração de frequência tem relação direta com a veloci-
dade da corrida do banhista na direção das ondas. Um
problema prático para calcular a velocidade do banhista cias emitidas e recebidas , a velocidade do ultrassom e
é que o instrumento só calcula a velocidade na direção o ãngulo do movimento , a velocidade do sangue pode
das ondas. Para calcular a velocidade real do banhista, ou ser calcu lada. 19.20
das células sanguíneas no dúplex , alguém deve informar
ao computador qual a direção da corrida do banhista.
Ecografia dúplex
Portanto, além das duas linhas paralelas que indicam
o volume de amostragem, deve existir outra linha para Historicamente, a ecografia vascular estava sendo desen-
o examinador indicar a direção do movimento do san- volvida na Universidade de Washington quando uma
gue. Essa linha é comumente conhecida como o cursor imagem fantástica , para a época , da bifurcação carotídea
Doppler (Fig. 2.1). Quando realizamos um exame, co- foi obtida. Para frustração dos cientistas, a arteriografia
locamos o cursor Doppler paralelo à parede do vaso , demonstrou oclusão da carótida interna. Definiu-se en -
supondo que o fluxo também seja paralelo à parede do tão que seria necessário detectar o fluxo de cada vaso
vaso. No caso das carótidas, deve-se orientar preferen- com a técnica Doppler. A superposição de informação
cialmente a linha de insonação Doppler com a parede dupla , imagem e velocidade resultou no método que re-
do vaso em um ângulo próximo de 60° Sendo assim , a volucionou o laboratório vascular a partir da década de
medida de velocidade é feita corretamente, e o valor ob- 1980, chamada de ultrassonografia dúplex. 21-23
tido a 60° pode ser comparado com valores publicados, O feixe para detecção do sinal Doppler é superposto
também obtidos a 60°. sobre a imagem ecográfica. Tal feixe tem duas marcas,
Em resumo, a frequência Doppler é proporcional à paralelas entre si, formando um ãngulo com a linha re-
frequência emitida e à projeção da velocidade na direção presentativa do feixe Doppler (volume de amostra, Fig.
das ondas, dada pela expressão: velocidade multiplicada 2.1). Essas linhas determinam o volume de amostragem
pelo cosseno do ângulo. Um fator constante (2) entra na do sinal Doppler. Em aparência, deveria ser uma área na
equação devido à propagação de ida e volta do ultrassom imagem bidimensional, mas na realidade é um volume
no tecido e resulta na expressão: que inclui a espessura da imagem.

Fr - Fe = 2 Fe VcosO/c Frequência versus velocidade


No início, a Universidade de Washington defendeu o crité-
Onde Fr é a frequência recebida , Fe é a frequência emi- rio do uso da frequência para detecção de estenoses carotí-
tida, V é a velocidade do sangue, cos6 é o cosseno do deas. Uma frequência de 4 KHz indicaria uma esrenose >
ângulo entre a direção do movimento do sangue e a 50% em diâmetro . Para uma frequência emitida de 5 MHz
direção do feixe de ultrassom e c é a velocidade do ul- e um ângulo de 60°, tal critério corresponderia a uma ve-
trassom no tecido (Fig. 2.13). Conhecidas as frequên- locidade de 125 cm/s. O grande problema dessa filosofia

17
Pri ncíp ios Básicos

de frequências surgiu quando transdutores com outras fre- IMAGENS DINÂMICAS


quências foram projetados. Para cada frequência emitida,
teríamos uma frequência recebida, portanto vários crité- Movimento
rios. Sendo assim, o critério de velocidade venceu. O examinador move constantemente o transdutor para
criar uma imagem apropriada do tecido. Em princípio,
Volume de amostragem tais movimentos apresentam diferentes ângulos de inso-
Originalmente, o volume de amostragem recomendado nação , sendo que uma direção pode ser melhor do que a
era pequeno, perto de 1 mm. Tal volume de amostragem outra. Outro fator menos perceptível é que o olho humano
pode ser válido quando se usa turbulência como critério e o processador cerebral visual detectam movimento com
para detecção de placa que causa estenose mínima H -25 grande eficiência . Às vezes, é o movimento do local com
Atualmente, os autores consideram melhor usar a imagem doença, entrando e saindo da imagem, que influencia a vi-
para claSSificação de estenoses <50%. Sendo assim, um sualização e a percepçãl) do examinador. Esse movimento
protocolo com volume de amostragem pequeno perdeu pode ser real (movimento do transdutor) ou criado pela
o sentido , para detecção de estenoses <50%. Um proto- varredura de uma variação de cor na escala cinzenta. Como
colo com volume de amostragem grande detectaria mais a imagem tem mais níveis de sinal que os detectados pelo
facilmente as velocidades mais altas que podem não estar olho humano , uma varredura em cor de 16 níveis através
no local esperado pelo examinador, como por exemplo no dos 256 níveis da escala digital pode salientar níveis de do-
centro de uma artéria. Sugere-se que um volume de amos- ença não percebidos diretamente na imagem ecográfica.
tra grande sep utilizado inicialmente e reduzido de acordo
com o objetivo da medida de velocidade. Entretanto, um Colorização da imagem em Modo B
problema em potencial ainda não foi estudado cientifica- Colorização da imagem é um dos processos moder-
mente: será que o tamanho do volume de amostragem al- nos mais populares de apresentação da imagem (Fig.
tera a estimativa da velocidade de pico do vaso? Tal estudo 2.14). Tal téc nica explora a variabilidade dos recepto-
pode ter resultados diferentes para instrumentos diferen-
tes . Verifique no seu próprio instrumento.

Ângulo de insonação
Protocolos usando o pl1ncípio de que o ãngulo de inso-
nação deve ser igualou menor que 60° são inválidos para
comparação de velocidades. Na maioria dos instrumentos
já testados, as estimativas de velocidades são menores com
ângulos de insonação de 50° quando comparadas com esti-
mativas de velocidades obtidas a 600. Estimativas de veloci-
dades devem ser comparadas com critérios de velocidades
obtidos com o mesmo ângulo de insonação."629 Verifique se
as estimativas de velocidade se alteram dependendo do ân-
gulo de insonação no seu próprio instrumento.

Erros devidos a estimativas do


ângulo de insonação
Imagine que o examinador estima o erro de insonação
em 60 ou 70°, mas na realidade o ângulo de insonação é
de 58 ou 680. A estimativa da velocidade terá um erro de
aproximadamente 5% a 60° e de 10% a 70°, que cresce
para ângulo >70 0 e diminui para angulo <50 0 Em condi-
ções ideais , lal erro seria insignificante para ângulo zero.
Um critério historicamente estabelecido é o de evitar me- ~ Figura 2. 14. Imagem ecográfica em Modo B (A ) e
didas com ângulos de insonação >600. (B) da bifu rcação carotfdea.
co lorizada

18
Princípios Básicos

res de cor de cada indivíduo. Como cada olho humano


tem capacidade diferente para perceber cores, aplican-
do-se cores à imagem do Modo B, os contrastes e as
nuances da imagem podem ser detectados mais apro -
priadamente por indi víduos distintos , em uma ima-
gem com cor predominante cinza, laranja ou azulada.
Cada examinador deve investigar qual a colorização
que mais influencia sua própria percepção da imagem
a ser investigada.

Fluxo em cor bidirecional


A técnica de cor nada mais é que alocar um pixel de cor
à medida de velocidade média instantãnea em um ponto Figura 2.15. Exame ecográfico mostrando aumento de
e em um momento determinados. )·6.Jl1 O algoritmo para velocidades no Modo cor (*) com cores azuis (aiiasing) no
a formação de uma imagem de fluxo em cor baseia-se na local onde foi posicionado o volume de amostra. Na análi se
resposta a algumas perguntas elementares: espectral, o aliasing é demonstrado (seta) .

• Existe movimento? Detectado pela frequência do Dop- língua inglesa) de pelo menos duas vezes a da maior fre-
pler, pelo domínio de frequência ou por técnicas mais quência a ser gravada. 31· )2 Quando o PRF é < 2 vezes a fre-
rápidas no domínio do tempo . quência de pico da onda examinada, temos aliasing, que
Se a resposta é NÃO , então o pixel é representado de aparece no registro como frequências (ou velOCidades)
acordo com as regras para imagem de brilho em Modo B. de direção oposta às registradas (Fig. 2.16). Transdutores
Se a resposta é SIM, a próxima pergunta será: com frequência menor também possuem um PRF menor,
• O movimento é na direção do transdutor 7 tendendo a produzir aliasing mais frequentemente. O
Se a resposta é SIM, o pixel será representado pela aliasing acontece com todas as medidas de velocidade ,
cor supelior da barra de cor do instrumento . seja no Modo Doppler para análise espectral, ou no Modo
Se a resposta é NÃO , o pixel será representado pela cor. No Modo cor, o aliasing apresenta-se como a mu-
cor inferior da barra de cor do instrumento. dança de cor de um extremo da barra de cor diretamente
para o extremo oposto, por exemplo de vermelho para
Normalmente a barra de cor do instrumento tem
azul, sem passar pelas cores de velocidades intermediá-
duas cores básicas: azul e vermelho. A barra também
rias, com o preto representando os filtros de velocidades
apresenta um gradiente de cor: a cor mais central é escu-
baixas ruidosas (Fig. 2.17).
ra e fica mais clara na direção das extremidades da barra.
Velocidades mais altas são representadas por cores mais
claras.
A imagem em cores das velocidades de fluxo em uma
artéria , ao mostrar as áreas com alteração de [luxo , serve
de "guia" para o posicionamento do volume de amostra
e realização da análise espectral no local (Fig. 215), para
confirmação das alterações de velocidade.

Nyquist demonstrou que, para se gravar uma onda si nu-


soidal em forma digital , necessitamos de pelo menos uma
amostra para a fase positiva e uma para a fase negativa de
cada onda, ou seja, no mínimo duas amostras para cada
ciclo. Assim sendo, para uma definição aceitável da for-
Figura 2. 16. Aliasing em um exame ecográfico no Modo
ma de uma onda, temos de captá-la com uma frequência Doppler mostrando onde, no local exa minado (seta), o
de repetição de pulso (PRF, pulse repelition fl-equency na aumento de velocidades extrapolou a escala (s inal oval).

19
Princípios Básicos

Figura 2.17. Exemplo de aliasing e fluxo retrógrado em


um exame da carótida. Na porção cefálica do exame (à
esq uerda), podemos ver cor amare la ao lado da cor azu l sem
passar pelo preto (*). À direita, vemos cores verme lha e azul
separadas pelo preto, indicando fluxo reverso (#).

Em contrapartida, a PRF é inversamente proporcional


à profundidade do volume de amostra ; assim, estruturas
localizadas mais profundamente ou insonadas com bai-
xos PRF tendem a produzir aliasing mais frequentemente.
Como a medida da velocidade de fluxo depende do ângu-
lo de insonação (equação Doppler), ângulos de insonação
mais próximos de 90°, ou mais perpendiculares à direção Figura 2.18. Exemplo de turbulência no Modo cor. Em
do fluxo, tendem a produzir menos aliasing. Outra ma- (A), no Modo cor à esquerda do observador, imagem do ramo
neira de diminuir o aliasing é usando transdutores com interno da carótida (seta) em um paciente pós-tratamento
frequência maior ou abaixando a linha de base. com stent na transição da carótida comum e da carótida
interna. Turbulência confirmada pela aná li se espectral no
Quanto maior a velocidade a ser medida, maior o
Modo Doppler à direita do observador (*). Em (B), close-up
PRF a ser utilizado para se ter um número significativo da imagem em cores da figura anterior (A ), com a área de
ou mesmo necessário de amostras. turbulência (O) demonstrando o fluxo em várias di reções.

llld) !tIH I,

Aliasing é frequentemente interpretado incorretamente Fluxo em cores unidirecional


como turbulência. Se o aliasing desaparecer com o au- Power Doppler™
mento da escala de velocidade (aumento da PRF), então
Na presença de sangue se movimentando com baixa ve-
o fluxo é de velocidade alta, mas não é turbulento. Tur- locidade ou quando a reflexão do sinal pelas hemácias é
bulência é definida como a ocorrência de velocidades das baixa (estruturas profundas), observa-se dificuldade do
partículas de sangue em direções múltiplas. Mudanças equipamento para processar a informação, perdendo a
aleatórias de cor azul para vermelho, tanto cores escuras capacidade para detectar a direção do movimento (cor)
quanto claras, indicam movimento em direções múlti-
ou fluxo. Para contornar essa situação, foi desenvolvida
plas, portanto, turbulência (Fig. 2.18).
uma tecnologia mais sensíve l para detecção de movimen-
to , chamada de Power Doppler™, que mede a potência
'-,opru (relacionada à amplitude) do sinal recebido (Fig. 2.19),
Sopro resulta em uma oscilaçãO de tecido em baixa velo- sendo que nem a direção nem a velocidade do fluxo são
cidade. Um mosaico de cores azuis e vermelhas, escuras, determinadas com tal técnica. O Power Doppler também
indica a presença de uma osc ilação ao redor do zero, por- é chamado de Energy Doppler, amplitude Doppler ou an-
tanto sopro e nâo turbulência ou aliasing). giografia Doppler. 33-34

20
Princíp ios Básicos

Figura 2.20 . Extravasamento da cor (seta) em um exame


com ganho elevado e PRF ba ixo, causando borramento da
parede arte ri al.

de sangue são difíceis de serem detectados em tempo real.


Um aumento de persistência permite melhor percepção
desses sinais, pois estarão sendo mostrados na tela por um
Figura 2.19. Modo Power, exame da região cervica l (A) tempo mais longo e mais perceptível ao observador. Uma
mostrando a carótida comum (ACC) e a veia jugular interna recomendação para o uso de persistência alta seria no estu-
(Vjl). Notar que nesse modo não existe a diferenciação do de artérias periféricas distais a oclusões arteriais.
da direção do fluxo (A), embora a interface sangue-placa
aterosclerótica (*) esteja muito bem definida.
Prioridade de imagem em Modo B
versus em cor
Extravasamento de cor Este comando altera as probabilidades de um pixel ser
Dizemos que há "extravasamento de cor ou sangramento alinhado como tecido em Modo B ou como sangue em
de cor" (bleeding em inglêS) quando aparece cor também cor. Sinais de baixa intensidade e sinais limítrofes a pare-
fora das paredes do vaso. É um artefato que pode ocorrer des arteriais estão expostos a incerteza na sua classifica-
quando se usa tanto técnica de cor bidirecional (Modo ção. Este comando de prioridade altera os níveis relativos
cor) quanto unidirecional (Power Doppler™). Isso ocorre de seleção de imagem.
porque, em casos limiares na análise dos sinais de cada
pixel , o processamento dá prioridade ou ao movimento PROCESSAMENTO COMPLEXO DE
ou à escala de cinza. Quando a prioridade em cor é ex- IMAGENS Ul TRASSONOGRÁFICAS
cessiva ou a escala de cor é extremamente sensível (ga-
nho alto ou PRF baixo), a cor "extravasa" aparentemente Esta seção descreve , em mais detalhes, algumas técnicas
para fora das paredes do vaso (Fig. 2.20). de processamento moderno dos sinais ecográficos.
O extravasamento pode ser expandido com o uso de
persistência. Brilho sanguíneo - B floW™
Na imagem de brilho em Modo B, a forma de onda incluí-
Persistência em cor da no pulso transmitido pode ser de uma única frequên-
A imagem do movimento, ou fluxo em cor, também pode cia, uma faixa ou banda de frequências, ou mesmo uma
ser tratada com o comando de persistência. Quanto maior a sequência específica de pulsos. Uma dessas sequências
persistência, mais longo o tempo que o sinal em cor perma- de pulsos foi projetada especialmente para detecção das
nece na imagem. Controle de persistência em zero ajusta a hemácias do sangue 3S -36 I

imagem em cor o mais próximo do tempo real. Sinais ran- O movimento sanguíneo é detectado no Modo B e
dômicos ou sinais de pouca velocidade ou mínimo volume pode ser representado tanto na escala de cinza como em

21
Princípios Básicos

uma escala colorizada selecionada pelo examinador. Bri-


lh o sanguíneo ou B jlow tem a vantagem de não extrava-
sar para fora das paredes do vaso tanto quanto as técnicas
de flu xo em cores (Fig. 2.21)
Outra vantagem nem tanto aparente da imagem de
sangue em Modo B é a detecção de flux os tanto de velo-
cidade alta como de velocidade baixa sem alterações es-
pecíficas de comando. Alguns instrumentos têm softwa re
diferente para detectar tais extremos, e nem sempre as
instruções e os comandos desses instrumentos são efeti-
vas em minimizar tal deficiência.

Imagem expandida
A imagem expandida apresenta dados sequenciais de
imagens de brilho , Modo B ou de fluxo em cor. A vanta-
gem principal está na rep resentação, na transmissão da
infonnação de maneira mais semelhante à angiografia.
Em princípio, a informação já está contida nas imagens
individl.:.ais que faze m parte da imagem composta. 37·39
A imagem expandida , conce itualmente, apresenta-se
de maneira similar à imagem out ro ra obtida por lransdu-
tores com braço mecânico de posição. Modernamente, as
imagens sâo criadas por um novo processador de dados
capaz de produzir imagens ultrassonográficas contínuas
de áreas m ais exte nsas que os equipamentos convencio-
nais, sem a necessidade do braço mecânico de posição.
Como as imagens são criadas pelo mapeamento contí-
nuo , em tempo real, segmentos da região de interesse
são analisados e combinados com imagens estáticas pré-
vias guardadas na m emó tia do equipamento. Técnicas de .
reconhec imento e regist ro de imagens são empregadas
para recuperar a movimentação e a rotaçâo do transdutor
(Fig. 2.22) Com isso, elimina-se a necessidade do uso
de um sensor de posição e pennite-se a apresentação d e
uma única imagem, num limite máximo d e va rredura .

Imagem harmônica
Salientamos que a imagem ecográfica é forn1ada pela
análise de ecos recebidos pelo transd utor, ecos tais cau-
sad os por refl exão de estruturas anatômicas ou sinais de
movimento d o sangue ou mesmo do tecido. Também
ind icam os que a resolução da imagem é melhor para fre-
quências mais altas . Mas a atenuação de frequências mais
altas é maior, resultando em sinais mais fracos de menor Figura 2.21. Modo B flow mostrando diversos exames
amplitude. Processamentos especiais modernos permi- com a técnica. (A) Bifu rcação carotídea com medida de
tem análises dos sinais de segunda harmônica. A resolu- estenose. (B) Medida de estenose com placa na carótida
comum . (C) Stent na carótida interna, com estenose. (D)
ção de sinais na segunda hannônica, então, seria melhor
Anastomose proximal de enxerto axilofemoral. (Cortesia do
que a reso lução de sinai s da frequência fundamental, ou Prof. Dr. Hamilton Rollo, da Unesp de Botucatu, SP).

22
Princíp ios Básicos

tecido sendo excitado pela onda ultrassonográfica. Por


exemplo, um volume de tecido sendo atingido por uma
onda de 5 MHz vibra criando uma reflexão com ondas a
5 MHz e suas harmônicas de 10, 15 ,20 , 25 MHz.
Em resumo, sinais complexos de transmissão ou cria-
dos na reflexão seriam filtrados na faixa de frequência da
harmônica para melhorar a imagem tanto por aumento
de resolução como por diminuição de ruído ou artefatos
da frequência fundamenta1.
Na prática, a região focal da frequência harmônica é
limitada. A imagem harmônica é utilizada para imagens de
estruturas de certas profundidades e não necessariamente
estruturas superficiais. Tal profundidade mais adequada
depende do processamento de cada equipamento.
Técnicas de imagem harmônica são também utili-
zadas quando da utilização de contraste ultrassonográ-
fico . O contraste injetado na corrente sanguínea, por
exemplo , aumenta significativamente o eco refletido. A
filtragem com eliminação dos sinais da frequência funda-
mentaI elimina problemas de saturação e ruído dos sinais
sendo processados. Os filtros de passagem dos sinais da
frequência harmônica aumentam a resolução, diminuem
as distorçôes dos sinais saturados de alta amplitude e,
consequentemente, aumentam o contraste de sinais de
amplitudes maiores, mas ainda inferiores ao nível de sa-
turação dos receptores eletrônicos.
Figura 2.22. Imagem expandida. (A) Veia cefálica e Por exemplo, vamos assumir que os receptores acei-
hematoma adjacente. (B) Embolia de artéria poplítea com
co lateral. (Cortesia de Prof. Dr. Carlos Engelhon, Angiolab,
tem sinais de amplitude °- 100. Todos os sinais maiores
que 100 seriam saturados com valor igual a 100. Se um
Curitiba, PR).
sinal refletido por uma estrutura tivesse 50% de sinais da
frequência fundamental acima de 100, qualquer cont ras-
primeira harmônica. Outro fator favorável à utilização te ou diferença destes sinais seria perdido na imagem.
da imagem harmônica seria que artefatos afetam mais Mas a proporção de sinais saturados poderia cair para
a frequência fundamental que à segunda harmônica. A 5% dos sinais refletidos na frequência harmônica, crian-
eliminação dos sinais na frequência fundamental pode do e melhorando a diferenciação de tais ecos.
diminuir o ruído de certas imagens.
A literatura pode distinguir frequência fundamental
das harmônicas, e então o que estaliamos mencionando Imagem harmônica tecidual
como segunda harmônica seria realmente a primeira har- Esta técnica foi desenvolvida para reduzir artefatos, au-
mônica com frequência dupla da frequência fundamental. mentar o contraste das imagens e delinear fronteiras en-
O princípio básico seria transmitir um pulso de fo illl a tre tecidos. A imagem harmônica tecidual (lHT) é uma
complexa representado por uma frequência fundamental técnica de imagem em escala de cinza que usa informa-
e harmônicas proporcionais e receber o sinal filtrado com ção dos sinais de frequênc ia harmônica gerados por res-
passagem primeiramente dos sinais da frequência hannô- postas à propagação não linear da onda de ultrassom. -to
nica. Por exemplo, a transmissão seria de um pulso de 5 A propagação não linear do ultrassom ocorre porque a
MHz com harmônicas de amplitudes decrescentes alO, velocidade da propagação se altera com a variação da
15,20,25 MHz. A recepção seria de sinais a 10 MHz. densidade dos tecidos produzindo distorçôes das ondas
Outra alternativa para detecção de imagem hannôni- de ultrassom e criando harmônicas múltiplas da fre-
ca seria a detecção de sinais criados pelo movimento do quência fundamental.

23
Princíp ios Básicos

Em resumo, a evolução técnica pode ser resumida A imagem ecográfica clássica é função dos feixes per-
em três fases: 1) emissão e recepção de uma única fre- pendiculares à linha representando a superfície de um
quência fundamental ; 2) emissão e recepção de uma transdutor (Fig. 2.11) . Como exemplo fictício, outras
banda de frequências com análise de frequência em imagens seriam criadas com feixes alO, 20, 30, 40 graus
função da profundidade da imagem e 3) emissão de fre- de desvio de tal feixe perpendicular, ou na direção opos-
quências fundamentais ou primeira harmônica e recep- ta, a-10, - 20, - 30, -40 graus.
ção e processamento da segunda harmônica. Em prin- E como estas imagens, ou melhor, estes feixes oblí-
cípio, a segunda harmônica tem melhor resolução com quos seriam criados?
imagens aprimoradas para regiôes profundas e em pa- A imagem fundamental com feixes perpendiculares
cientes obesos 40-41 (Fig. 2.23). seria criada com excitação simultãnea de todos os ele-
mentos do transdutor. Assim , a frente da onda transmi-
Imagem composta espacial - Sono Te tida seria paralela à face do transdutor. Entretanto, se os
o título usado seria uma tradução da técnica sono Te elementos da esquerda fossem excitados antes dos ele-
inicialmente popularizada pela ATL. A técnica básica mentos da direita, em uma forma contínua, com atraso
produz uma imagem representando a média dos sinais da excitação entre cada elemento da esquerda para a di-
refletidos durante a formação de várias imagens diferen- reita, a frente de onda seria mais profunda na esquerda
tes da mesma região. A diferenciação entre uma imagem do que na direita. Dependendo do atraso entre elemen-
e outra seria a direção das linhas ou direção dos feixes tos, a inclinação da frente de onda seria maior ou me-
ultrassonográficos. nor. Quanto maior o atraso da excitação entre elementos,
maior a inclinação da frente de onda e maior o ãngulo
entre os feixes ultrassonográficos em relação aos feixes
perpendiculares à superfície do transdutor. Se descrever-
mos esta inclinação como de ãngulos positivos, a inclina-
ção dos feixes excitados sequencialmente da direita para
a esquerda seria de ãngulos negativos em relação aos fei-
xes perpendiculares.
Já descrevemos que esta técnica de imagem tem a
capacidade de obter informação além de uma placa arte-
rial calcificada que reflete totalmente a energia dos feixes
perpendiculares. Imagine uma placa horizontal criando
uma sombra sem ecos. Os feixes inclinados penetram
sob a placa e recebem ecos das estruturas mais profun-
das que a placa, na região de sombra da imagem de feixes
perpendiculares.
Outra vantagem seria a otimização de imagens de
paredes refletoras inclinadas, pois a probabilidade de
imagem por um feixe perpendicular a tal parede refle-
tora oblíqua aumenta. Outro ponto em consideração é
que os cálculos de médias eliminam ruídos aleatórios,
pois tais ruídos com sinais positivos e negativos têm
média zero.

Imagem Doppler de tecido


Esta técnica detecta os sinais de alta amplitude e baixa
velocidade causados por tecido em movimento. A apre-
~ Figura 2.23 . Imagem harmônica de tecido de um
sentação dos resultados pode ser feita em cor ou em
aneurisma abdominal de aorta (A ) em comparação com Modo M. Uma das aplicaçôes demonstrou detecção de
imagem convencional (8 ). trombo recente , hipoecoico em veia profunda.

24
Pri ncípi os Bás icos

Imagem ecoelastográfica Transdutor cristalino de onda pura


A elastografia é o campo de medidas da viscoelasticida- O transdutor de cristal é mais puro e uniforme , mais alinha-
de dos tecidos. Uma força de curta duração aplicada a do e menos randômico que o transdutor tradicional piezelé-
um tecido totalmente elástico causa movimento rever- trico de cerâmica (PZT representando chumbo , zirconato e
so na retirada da força igual ao movimento resu ltante ütanato). As perdas de energia são menores e a transferência
da aplicação de tal força. A viscosidade causa um atraso de uma forma de energia em outra é mais eficiente. Veja foto
na resposta do movimento. Em teoria, cada tecido tem comparativa no site da Philips ultrasound.
parâmetros diferenciáveis de elasticidade e viscosida-
de nas três dimensões. Imagem ecográfica sob com- Imagem com redução de ruído speckle
pressão-descompressão avalia e distingue tecidos de O ruído spechle dá uma aparência arenosa, salpicada à
módulos de viscoelasticidade difere ntes. Uma aplica- imagem. A supressão do salpico melhora a visibilidade e
ção eve ntualmente possível no laboratório vascular visualização da arquitetura tecidual. Uma aplicação prá-
seria a da avaliação de trombo recente, mais elástico,
tica beneficiada pela redução de tal ruído é a análise de
vers us trombo fibrótico, mais rígido .42 Esta análise
placa ateromatosa.
classificaria a resposta do trombo a medicamentos di-
ferentes.
Agentes de contraste
Agentes de contraste podem ser ingeridos para diagnósti-
Informações na internet
co do sistema vascular, mas também de tecido extra-vas-
Esta seção resume alguns conceitos atuais mencionados
cular. Os agentes de fluxo aumentam o brilho e a sensi-
pelos fabricantes na internet.
bilidade da imagem em cor e da forma de onda de velo-
cidade (Fig. 2.24). Uma substância agregante pode ser
Formação digital de fe ixes inserida no corpo. Os objetivos de tais "drogas" eventual-
ultrassonográficos de banda larga mente incluirão a) melhor detecção de várias doenças , b)
A eletrõnica digital minimiza problemas da eletrônica aplicação local de medicamentos e c) auxílio coadjuvante
analógica, tais como variações temporais (drift), tolerân- a tratamentos menos invasivos.
cia de componentes e calibração. Feixes de banda larga Agentes de contraste geram harmõnicas mais que
são adaptados a tecidos superficiais e profundos com tecido não contrastado com tais agentes. A imagem
bandas de frequências altas e baixas, e podem ser modi- harmônica salienta selerivamente tais regiôes com con-
ficados de acordo com o tecido sendo examinado , com traste. A análise da potência do sinal da frequência
transmissão de pulsos característicos e individuais. harmônica também permite aumento significativo da
se nsibilidade e minimiza artefatos de tecidos em movi-
Correção de aberrações de tecidos mento . Alta en ergia transmitida destrói as bolhas com
Esta técnica mencionada pela Philips corrige a imagem
do tecido adiposo superficial. A image m é reconstruída
para uma velocidade de 1.450 m/s em vez do usual 1.540
m/s. A identificação do tecido adiposo é automática, mas
tal técnica não é mencionada.

X-Res
X-Res são técnicas complexas desenvolvidas inicialmente
para imagens de ressonância magnética que foram adap-
tadas à imagem ultrassonográfica. Os objetivos dessas
técnicas são melhora de imagem de tecidos específicos
com melhora das bordas das estruturas e diminuição de
ruído, tais como imagem granulada semelhante a areia
.. Figura 2.24. Imagem com contraste demonstrando
salpicada (speckles), nebulosa (haze) e desorganizada endo leak em um aneurisma da aorta abdomina l tratado com
como roupa jogada ou amontoada (clutter). endoprótese.

25
Pr incf pios Básicos

contraste, podendo prejudicar a imagem harmônica ou


limpar a região Já estudada.

Imagem harmônica com inversão de


pulso e contraste
Esta técnica é usada quando se usa contraste ultrassono-
gráfico em um paciente. O contraste tem a tendência de
aumentar os ecos da frequência fundamental , saturando
a imagem.
A técnica de pulsos invertidos otimiza a imagem ,
minimizando tal problema . Nesta técnica , um par de ~ Figura 2.25. Imagem em 3D de uma estenose da carótida
pulsos invertidos é transmitido ao tecido. A frequência (seta) .
fundamental destes pulsos pennite penetração adequa-
da, mas resolução inadequada. A energia dos dois pulsos
é refl etida e as formas de onda são somadas no receptor.
A frequência fundamental é então eliminada. O sinal da
harmônica de frequência mais alta é amplificado , au-
mentando a reso lução.

Imagens tridimensionais
As imagens tridimensionais podem ser divididas em dois
tipos fundamentais: O) dados tridimensionais e (2) re-
presentações tridimensionais em um monitor bidimen-
sional. Os dados tridimensionais são annazenados, de-
pendendo de sua localização , em três eixos (x, y, z). A
representação no monitor bidimensional pode ser feita ~ Figura 2.26. Imagem tridimensional de um aneurisma
como planos (sagital , longitudinal ou transversal) ou abdominal aórtico obtida com transdutor tridimensional.
mesmo como uma perspectiva cúbica. As representa-
ções tridimensionais são apresentadas como perspectivas dutor tridimensional coleta dados em tempo real. As
visuais . Por exemplo, a superfície do órgão estudado é imagens de três planos perpendiculares entre si e da esti-
apresentada como uma imagem que pode ser girada para mativa do volume são apresentadas na tela (Fig. 2.26).
mostrar perspectivas de ãngulos diferentes. Tais imagens
podem ser giradas ou transladadas para o observador ter
visão de pontos de vista diferentes 43 (Fig. 2.25) COMPROMISSOS
O principal problema para imagens vasculares
A ecografia vascular apresenta várias condiçôes de confli-
tridimensionais está na calibração de tais imagens . A
to. Entre elas , ressaltamos as seguintes:
maioria dos programas disponíveis não possui calibra-
ção apropriada.
• As imagens das paredes dos vasos são otimizadas com
insonação perpendicular enquanto a imagem de fluxo
Imagem tridimensional vascular
em cor é otimizada com insonação paralela à parede
Técnicas tridimensionais não foram resumidas em deta- dos vasos . A solução prática foi a criação de uma caixa
lhe neste capítul o, pois ainda são pouco usadas no labo- de cor angulada em relação à parede dos vasos.
ratório vascular. As nossas experiências com medidas d e • Imagens transversas versus imagens longitudinais po-
volume e caracterização de placa são mencionadas nas dem criar informaçôes contraditórias ou complemen-
referências .4 4-4 6 tares. Uma imagem transversa raramente sobrestima
Uma técnica usada para medidas de volume de aneu- uma estenose e frequentemente ex plica erros d e arte-
rismas aórticos e para estudos de placas ateroscleróticas riografia , mas é uma imagem limitada na re presenta-
é a Voluson®, comprada pela General Electric. Um trans- ção da doença. A imagem longitudinal descreve uma

26
Pri ncípios Básicos

obstrução em sua extensão, mas pode sobre ou subes- 11. Toms DA. The mechanical index, ultrasound practices , and
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28
CAPíTULO 3
Avaliação da Cláudia Maria Vilas Freire
Antonio Ribeiro de Oliveira Junior
Espessura Nicos Labropoulos
Médio-Intimai

INTRODUÇÃO aproximadamente 0,02 mm. Assim, a medida de espes-


sura médio-intimai (EM!) pelo ultrassom é composta,
No Brasil, as doenças cardiovasculares (DCVs) são as na maior parte, pela túnica média. Na ausência de placa
principais causas de mortalidade e morbidade e são res- aterosclerótica, o ultrassom em Modo B mostra as pare-
ponsáveis por elevado custo do sistema de saúde. Sur- des das artérias com padrão regular, de dupla linha, que
preendentemente, apesar dos dados, a prevenção de se corre\aciona com as camadas anatômicas. A porção
doenças crôniCas, como as cardiovasculares, ainda está médio-intimai desse padrão é representada pela área do
aquém do impacto socioeconômico que elas provocam. l tecido, iniciando na borda do lúmen da artéria e termi-
A queda importante observada na mortalidade por DCV nando no limite entre a média e a adventícia. Essas interfa-
em países economicamente desenvolvidos reflete o im- ces são bem definidas graças às diferenças de impedância
pacto de poucas ações sobre fatores de risco modificáveis acústica entre os tecidos separados pela interface . Isto é,
tais como dieta, atividade física e tabagism0 2 a imagem é formada quando o feixe do ultrassom vem de
Em contraste com a facilidade de reconhecimento, um tecido menos denso - sangue - para um tecido mais
tratamento e prevenção de pacientes com doença arterial denso - camada íntima, como acontece na insonação da
coronariana (DAC) ou cerebrovascular (DCeV) manifes- parede posterior da carótida. Quando se trata da imagem
ta, existe acentuada dificuldade de reconhecimento de da parede anterior da carótida, o feixe de ultrassom passa
um grande grupo de indivíduos que não têm sintomas através de uma camada mais densa - adventícia - para
de doença aterosclerótica, mas que estão em risco de uma menos densa - média e íntima - e finalmente para
desenvolvê-Ia. Essa prevenção em indivíduos assinto- um tecido menos denso ainda - sangue. Por isso, a me-
máticos é tradicionalmente chamada de prevenção pri- dida da EMI na parede anterior é mais dependente dos
mária. Perder a oportunidade de intervenção nessa fase ajustes de ganho do aparelho de ultrassom, podendo não
significa perder a chance de evitar expressivo número de refletir a verdadeira EMI, isto é, a medida da espessura
primeiros eventos. da parede anterior da carótida pelo ultrassom é cerca de
A busca por métodos para identificar indivíduos ou gru- 20% abaixo da medida à histologia 4 .5 (Fig. 3.1) .
pos que podem ser assintomáticos, mas carreiam aumento O US é uma importante ferramenta para detecção e
do risco cardiovascular, é válida, principalmente quando monitoramento das mudanças da parede arterial despro-
esse grupo de risco é constituído de pessoas jovens.3 vidas de placas. Sugere-se que modificações precoces na
O estudo clássico de Pignoli foi o primeiro a descre- EMI da parede vascular podem, posteriormente , resultar
ver o padrão característico ao ultrassom (US) da parede em placa de ateroma. Entretanto, a EMI reflete não ape-
arterial normal e a interpretação anatômica das interfaces nas aterosclerose precoce, mas também reações intimais
ultrassonográficas. A parede arterial mostra linhas eco- não ateroscleróticas, tais como hiperplasia intimaI, hi-
gênicas paralelas separadas por um espaço relativamente pertrofia fibrocelular, e pode ser uma resposta adaptativa
hipoecogênico (padrão de linha dupla). 4 A espessura das a modificações do fluxo, tensão da parede ou diâmetro
paredes normalmente compreende uma única camada do lúmen 6 .7
de endotélio sobre uma fina camada de tecido conec- Vários fatores promoveram o uso do ultrassom em
tivo subendotelial. Essas camadas combinadas medem Modo B em estudos clínicos, explorando a associação de

29
Avaliação da Espessura M édio- Intimai

Figura 3.1. Im age ns da dupla linha idea l e de algun s artefato s de ganho ou mal alinhamento. (A) Imagem não alinhada
levenlPnte, se m ECG e com má defin ição da parede anterior. (B) Imagem bem alinhada, porém com linhas mal definidas.
(C) Imagem mal alinhada e com linhas mal definidas. (D) Imagem bem alinhada com reverberação da parede anterior. (E
e F) Imagens bem ali nhadas com Ii nhas parcialmente defi n ida s. (C ) Imagens adequadas da caró tida comum: reti Iínea, boa
defini ção de linhas da parede anterior e poste rior, ganhos ajustados. (H) Reverberação da parede anterior, má definição e llIau
alinh amento da carótida co mum (continua) .

30
Avaliação da Espessu ra Médio-Intimai

.. Figura 3.1. (con tinua ção) (I) Imagem adeq uada apenas na carótida interna e na bifurcação: retilínea, boa defini ção de linh as
da parede anterior e posterio r. ()) Imagem com muito ganho (1) e pouco ganho (2) .

fatores de risco com a espessura da camada médio-inti- bulbo, e as calcificações são encontradas em pacientes
mai e a formação da placa ateromatosa. O mais impor- mais velhos e com fatores de tisco (Fig. 3.2).
tante deles é a capacidade de mOSlrar a parede da artéria A natureza não invasiva do ultrassom estimulou
em vez do lümen, pois a alerosclerose .afeta primaria- acompanhamentos populacionais longitudinais , a custo
mente a parede do vaso e não necessariamente a redução relativamente baixo. Além disso , impôs novos questiona-
elo seu lúmen . Esse processo dinâmico é caracterizado mentos relacionados a definição de aterosclerose, a dife-
por remodelamento da parede arterial , que pode não ser renças potenciais em amostras clínicas, a relação precisa
reconhecido por muitos anos, mas pode subitamente se entre espessura da parede e o diâmetro do lúmen e uso
manifestar como um evento vascular agud o g da parede da artéria ca rót ida como marcador substitu-
Estudos populacionais referiram , há mais de duas to de DAC. O espessamento da parede da carótida não
décadas, a associaçâo da medida da EMl ao ultrassom é sinônimo de aterosclerose, especialmente na ausência
com falores de risco clássicos para DAC e DCeV, tais de placa. Ele representa uma doença vascular subclíni-
como idade, sexo, diabetes mellULls, hipercolesterolemia, ca, sendo considerado fator independente e marcador de
hipertensão e tabagismo . Ao mesmo tempo , também fo- risco de DCV 19.20
ram ap reciadas as associações do aumento da EM! com Assim, o espessamento m édio-intimai é considera-
os principais desfechos ca rdiovascu lares, como o infarto do um marcado r substituto de aterosderose ; sua força é
agudo do miocárdio (IAM) e o acidente vascular cerebral realçada pelo fato de que ele oferece informações fisio-
(AVC)q,!, (Quadro 3.1) patológicas num estágio precoce do processo da doença .
A EM! aumenta e a camada médio-intimai torna-se Além disso , segmentos de parede da carótida com peque-
mais irregular e brilhante com o aumento da idade e no aumento da EM! têm pouca correlação com a rigidez
diante de falores de risco para aterosclerose. Muitas ve- da ca rótida . A rigidez desse vaso aumenta em segmentos
zes, pacientes com muilOS fatores de risco têm artérias onde há placas Já formadas ou com marcante aumento
"mais ve lhas" do que as esperadas para sua idade crono- da EM!. O estudo simultâneo do comportamento elásti-
lógica. !8 Os valores mais altos de EM! estão na origem do co da parede arterial com a medida da EM! e existência

31
Ava liação da Espess ura Méd io-Intima i

Quadro 3.1 . Estudos populacionais que avaliaram a associação da EMI e ri sco ca rd iovascular em ind ivíduos sem doença
estabelecida e pontos de corte adotados

Estudo N Seguimento Desfecho avaliado Ponto de corte/RR


(anos) ajustado·

Maior tertil/M - 2,02


ARIC , 2.84 1 5,2 DAC, morte
F - 2, 53
Maior tertil/M - 2,24
ARIC 14.214 7,2 AVC
F - 2,32
CHS 4.476 6,2 IM, AVC Maior quintil/3, 61
Rotterdam 6.389 7-10 IM Maior quartil/1,95
MDCS 5. 163 7 IM Maior tertil/1,50
CAPS 5.056 4,2 DAC, morte Maior quartil/1,83
ARI C - Atherosclerosis risk in communities; CHS - Cardiovascu/ar hea/th study; MDCS - Ma/mo diet and cancer study; CAPS - Carotid atherosclerosis
progression study; IM - infarto do miocárdio; AVC - acidente vascula r cerebral ; DAC - doença arterial coronariana; M - masculino; F - feminino.
' Ajustado para idade, sexo e fa tores de risco tradicionais .

Figura 3.2. Modificações da EM I de acordo com o loca l med ido e com a presença de fato res de risco. (A) EMI é maio r na
bifurcação carotídea. (8) EM I aumen tada da parede posterior da carótida comum esquerda (1,2 mm) em paciente com 58 anos
de idade com múltip los fatores de risco. A superfície é irregular e a textura da parede é hete rogênea.

de placa pode aumentar a compreensão da progressão da de ser "tratada", pois seu valor como preditor de risco
aterosclerose e do remodelamento da parede arterial. 21 isoladamente ainda não é validado para avaliação de ris-
co individual.

INDICAÇÕES A maioria das sociedades de cardiologia faz a es-


tratificação do risco cardiovascular do indivíduo a par-
A imagem da parede arterial ao ultrassom evo luiu de tal tir de modelos de predição , como o escore de risco de
maneira que é possível medir a EMI como uma variável Framingham (ERF). O ERF utiliza dados d e avaliação
contínua da infância até a idade adulta. É recomendada clínica como pressão arterial, idade, sexo e tabagismo
em estudos epidemiológicos de acompanhamento popu- associados à dosagem de glicemia e ao colesterol total
lacional e na avaliação de intervenções em doenças car- e fracionado . O objetivo do uso d e exames de imagem
diovasculares, como uso de medicações 22 Entretanto, a não invasivos em aterosclerose é melhorar a identifica-
medida da EMl ainda não deve realizada com o objetivo ção de indivíduos de baixo e alto risco d e DeV e reduzir

32
Ava l iação d a Espess u ra M éd io- Intim ai

as classificações de risco intermediário, que chegam a


40% das estratificações de risco nos EUA Y Essa medi-
da só está indicada quando ajudar o médico-assistente a
definir estratégias de preve'1ção mais agressivas. Sabe-se
que a cada ano ocorre aumento de 0 ,02-0,03 mm na
espessura da parede da carótida e o aumento de 0,1 mm
na EMl eleva em 11 % o risco de IAM. Pacientes com os
seguintes quadros clínicos podem ser considerados para
medida da EMl e detecção de placas ateroscleróticas: a)
história familiar de primeiro grau de DCV prematura
(homens com menos de 55 anos e mulheres com menos
de 65 anos) ; b) indivíduos com menos de 60 anos de
Rottcrdam
AR IC
ACI
ACI
t
BIT'
_ BIF I Acê
ACC

CAPS ACI BIT' . 1 ACC


idade, com alteração importante de um fator de risco ; CHS ACI I ACC
c) mulheres abaixo de 60 anos com pelo menos dois MDCS lAce

fatores de risc0 2 -l ~ Figura 3.3. Esquema de medidas da EM I nos d ife rentes


Não se indica a medida da EMI quando o paciente estudos . ACC - caróti da comum; BI F - bifurcação ca rotídea;
já tem doença aterosclerótica vascular definida, pois nâo ACI - carótida interna. Fonte: Adaptado de Lorenzs et ai.
(2007)29.
alteraria o manejo clínico; nem para seguimento de pro-
gressão ou regressão da espessura da parede de maneira
individual. 5.25
biológica. Assim, opta-se por utilizar apenas as técnicas
Visto isso , é de fundamental importância a metodo-
sabidamente validadas por importantes estudos popula-
logia na avaliação da EMI , isto é, pequenas dife renças de
cionais e adotadas pelos principais consensos sobre esse
protocolo podem elevar ou reduzir a faixa de risco do
tema. No Quadro 3.2 estão as metodologias empregadas
paciente. Por isso , essa medida deve ser realizada apenas
em quatro estudos populacionais e, na Fig. 3.3, os locais
em laboratórios de pesquisa altamente qualificados. 2627
onde foi medida a EMI nesses estudos. 27 .28

TÉCNICA PARA MEDIDA DA EMI Aquisição da imagem (Quadro 3.3)


Atualmente, protocolos e padronizações diversos são 1. Transdulor linear com frequência > 7 MHz e alta reso-
usados por laboratórios de ecografia vascular, ficando lução em Modo B.
difícil estabelecer valores de normalidade ajustados para 2. A profundidade do campo deve ser entre 30-40 mm,
idade e sexo. Antes da adoção de qualquer técnica de frame rate ideal de 25 Hz (>15 Hz).
aquisição de imagens, é essencial que ela seja comprova- 3. Ajuste de ganho em que ocorra pouco artefato intra-
damente útil , reprodutível e tenha pequena variabilidade tuminal.

~ Quadro 3.2. M etodologias para medida da EM I uti li zadas nos grandes estud os popul acionais

Estudo/Ano Local M étodo

ARI C 1997, CC, Bif, CI, combi nados EM I média da parede posterior
2000
CHS 1999,2004 CC, CI, combinados EMI máxi ma da parede posterior + parede anteri or

Rotterdam 1997 CC EMI méd ia da parede posterior + parede anteri or


2002 CC, CI, combinados EMI máx ima parede posteri or + parede anteri or/posterior
2003 CC EM I média da parede posteri or + parede anteri or

M DCS 2005 CC di reita EMI média da parede posterior

CAPS 2006 CC, Bif, CI EM I méd ia da parede posteri or

ARIC - Arherosc/erosis risk in communities; CHS - Cardiovascu/ar hea/th study; MDCS - Ma/mo diet and cancer study; CAPS - Carorid atherosc/erosis
progression study; CC - ca rótida comum; Bif - bifurcação carotídea; CI - carótida interna.

33
Avaliação da Espessura Médio-Intimai

4. Usar imagem fundamental em Modo B, pois a harmô-


nica pode aumentar falsamente a EMl. O zoom não Bifurcaçao e origem ACI ACC
deve ser usado, pois, além de favorecer a perda de
marcadores anatômicos importantes para a medida,
ele não foi utilizado nos estudos de validação e em
muitos aparelhos comerciais ele não aumenta a reso-
lução da imagem. Além disso, deve-se usar uma zona
de foco única.
5. A imagem da carótida deve ser analisada no eixo lon-
gitudinal, onde o segmento é mais perpendicular ao
feixe de ultrassom , e deve-se tentar a visibilização de-
finida do padrão de dupla linha ultrassonográfica, ca-
~ figura 3.4. Representação esquemática das carótidas
racterística das paredes arteriais. A parede mais próxi-
com placas e medida da EMI de acordo com o Consenso de
ma da pele é chamada de parede anterior (near wall) Mannheim. ACC - artéria carótida comum; ACE - artéria
e a mais afastada recebe o nome de parede posterior carótida externa; ACI - artéria carótida interna; EM I -
([ar wall). Das imagens carotídeas obtidas nos acessos espessura médio-intimaI. 1. Espessura> 1,5 mm; 2. Invasão
anterior, posterior ou no esternocleidomastóideo, a do lúmen > 0,5 mm ; 3 e 4. > 50% da EMI adjacente.

imagem mais horizontal - retilínea - e com o padrão


de dupla linha melhor definido deve ser a selecionada
cleróticas. Entretanto, se houver placa aterosclerótica
para realizar a medida.
no local onde será realizada a medida, ela deve ser
6. Acoplar ECG na imagem, pois medidas, aquisição e
incluída. Devido à tortuosidade de alguns segmentos,
armazenamento deverão ser realizados em três a cin-
especialmente da carótida interna e da bifurcação ca-
co ciclos R-R (cine-loops).
rotídea, pode não ser possível a medição de 1 em de
7. Aquisição e armazenamento da imagem em Digital
extensão (Fig. 3.4).
Imaging and Communications in Medicine (DICOM)
A medida deve ser realizada na parede posterior,
para análises futuras ou por outros observadores.
pois é menos sujeita a modificações com ajustes de
8. Cada laboratólio vascular deve fazer um controle de
ganho e , portanto , é mais reprodutível. Se a imagem
qualidade periódico dos equipamentos e confiabili-
for adequada , pode-se medir também a espessura mé-
dade dos seus estudos. Além disso, deve-se avaliar os
dio-intimaI da parede anterior. Devido ao afilamento da
coefi ientes de variação e repetibilidade inter e intra-
parede arterial na sístole cardíaca , o momento do ciclo
observadores.
cardíaco é importante na medida da EMI, especialmen-
te em estudos se riados e de intervenções. Assim , o aco-
Onde e como medir a EMI plamento do ECG seria ideal para medida no final da
A EM! é medida no segmento distai da carótida co- diástole .}!
mum devido ao seu trajeto retilíneo e por poder ser As medidas do lado realizado e das paredes analisa-
acessada na maioria dos pacientes. Entretanto, o seg- das devem ser anotadas em separado. Não há consenso
mento proximal da carótida interna (l em distai da em relação à utilização de uma média dos valores obti-
zona de divisão do fluxo da carótida comum) e o distaI dos entre o lado direito ou esquerdo; contudo, os valores
da bifurcação carotídea (l em proximal da divisão do combinados podem ser aceitos.
fluxo da carótida comum ) também são estudados. A Utilizar protocolo de medidas de um dos estudos
carótida interna e a bifurcação carotídea são menos re- populacionais citados, em que há tabelas de medidas de
tilíneas, o que torna a medida mais trabalhosa e sujeita EM! de acordo com faixa etária, sexo e raça .
a significativas variações. São poucas as publicações
sobre a variação da EM! em relação aos lados direito e Medida manual e automática
esquerdo, mas parece que as medidas do lado esquer- A medida manual é a técnica mais utilizada na prática clí-
do são maiores. 3O nica. Ela é realizada a partir da marcação ponto a ponto
Todas as medidas devem ser realizadas, se possí- com cálipers elet rônicos , limitados a múltiplos de pixels ,
vel , num segmento de 1 em, livre de placas ateros- num segmento de cerca de 1 em do vaso. Anotam-se a

34
Aval i ação d a Espess ura Médio-I n tim ai

• Quadro 3.3. Protocolo sugerido para medida da espess ura Interpretação da medida da EMI para
médio-intimai
acessar risco cardiovascular
• Transduto r linear de alta defi nição de 7-12 MH z. Algumas definições fazem-se necessárias para classificar
• Imagem fu ndamental sem zoom e zona foca l úni ca. as lesões da parede arterial. De acordo com o consenso de
• Profundidade do ca mpo de 3-4 em.
• Localizar a bi fu rcação carotídea e coloca r a imagem o mais Mannheim, a placa aterosclerótica é uma estrutura focal
retilínea possível, marcando onde será rea li zada a medida. que protubera para dentro da luz do vaso em pelo menos
• Fazer imagens em todos os acessos - anterio r, posterior ou 0,5 mm ou mais de 50% da medida da EMI da parede
no esternocleidomastóideo - adqui rir 3 a 5 loops com ECG
acoplado e selecionar a imagem na qual o pad rão de dupl a adjacente ou uma medida da interface média-adventícia
linha fo r mais bem delimitado . até a interface lúmen-íntima maior ou igual a 1,5 mm.
• Fazer as medidas semiautomática ou automatica mente num
A Sociedade Americana de Ecocardiografia define placa
segmento de cerca de 1 em.
• Inclui r placas nas med idas, se presentes. como espessamento focal da parede pelo menos 50% aci-
• Armazena r as imagens digita lizadas em DICO M. ma da medida da EMI da parede adjacente ou uma lesão
• Escolher protoco lo de medidas validado por estudos focal cuja EMI é maior ou igual a 1,5 mm protruso para
populacionais.
dentro da luz do vas0 30 .3 1.33 (Fig. 3.5).
ECG = ecocardiograma.
Na presença de placa aterosclerótica formada , a
análise da EMI traz pouca informação adicional, pois
a doença está estabelecida. A EMI , como marcador de
medida máxima do segmento e a média de todas as me- doença subclínica, deve ser analisada em imagens bem
didas obtidas. Esse tipo de medição foi a adotada pela selecionadas, por laboratólios habituados a protocolos
maior parte dos estudos populacionais, exceto de Rotter- de pesquisa.
dam, que utilizou ambos os métodos. Habitualmente , a Os estudos populacionais já demonstraram anterior-
medida manual apresenta mais variabilidade intra e in- mente que a EMI varia com a faixa etária, com o sexo e a
terobservador, necessitando de minucioso treinamento e raça. 5.3-1-38 As medidas encontradas deverão ser compara-
demandando tempo muito mais longo para ser realizada das com tabelas populacionais e classificadas dentro de
do que a automática. um percentil para as faixas etárias , sexo e raça .
Medidas automáticas e semiautomáticas, por meio
de softwares específicos, têm a importante vantagem
de serem muito rápidas e apresentarem mais acurácia.
o que reportar no laudo ecográfico
A medida automática foi testada por diferentes fabri- A medida da EMI faz parte dú exame carotídeo para ava-
cantes, a maioria em programas desenvolvidos com liação de risco cardiovascular e deve ser colocada na des-
tracejo das superfícies de forma off-line em segmento crição do tipo do estudo. A medida deve ser descrita em
da carótida comum. HOJe , de maneira on-line (e m tem- percentis, para evitar que forneça uma precisão que não
po real), pode-se realizar a medida automatizada das tem individualmente .
EMIs de vários segmentos das carótidas em poucos Deve-se descrever a referência populacional que
segundos. A maior vantagem da medida automática usou para classificar em percentil e se usou a média
é a redução do tempo de medição associada a mais ou a máxima das medidas. Um valor de EMI igualou
reprodutibilidade em todos os segmentos usados para superior ao percentil 75 deve ser considerado elevado e
pesquisa em aterosclerose. Os dados de EMI máxima , indicati'/o de aumento do risco cardiovascular. Valores
média , desvio-padrão e número de pontos subpixela- entre os percentis 25 e 75 são considerados médios e
res (de mai s precisão) medidos num determinado seg- não elevam o risco cardiovascular previamente avaliado
mento são derivados automaticamente após se leção da (Quadro 3.4)
área a ser medida . Geralmente , mede-se num segmen- Geralmente utilizam-se as tabelas já publicadas de
to de 1 cm mais de uma centena de pontos subpixela- estudos americanos e europeus . Assim , não há um valor
res. A medida on -line permite a aquisição de quantas de normalidade único que faça um ponto de corte entre
imagens forem necessárias para a melhor obtenção da o normal e o anormal , e os resultados encontrados são
medida. 32 Os consensos recomendam programas de claSSificados em percentis. Deve-se escolher a tabela po-
detecção de bordas semiautomáticos ou automáticos pulacional mais adequada para o paciente, visto que não
validados e não sugerem a medida simples ponto a há tabelas de normalidade para a população brasileira;
ponto. entretanto, isso pode trazer dificuldade de interpretação

35
Avaliação da Espessura Médio-Intimai

11 IMT Po\f Avq 090 mm 2 l lCOOmm


IMT PO \ t Max I 43 mm 1 IMT PO\t Av g 052 mm
IMT PO\t Mm 032 mn1 IMT Po .. t Max 060 mm
IMT Po .. t SO 033 mm IMT Po ..t MIM 044 mm
IMT PO\t Ph 255 IMT po .. t SO 004 mm
IMT PO\t Ph 291

J IMT PO\t Avg 0.48 mm


IMT Po .. t Max 060 mm
IMT Po ..t Mm O 28 mm
IMT PO 'it SO 009 mm
IMT PO\t Ph 42
2 IMT Po st Avg 057 mm
IMT Po .. , Max O 82 m m
INlT po .. t Mln 032 mm
IMT Post SO 0.15 mm
IMT Po .. t Ph 234

Figura 3.5. Fotos de medidas manuais e automáticas da espessura médio-intimaI. (A) Medida automática. (8) Medida
manual. (e) Imagem visualmente adequada, mas sem definição para medida automática.

em alguns pacientes . Por exe mplo , um homem branco uma tabela para a nossa população, que é miscigenada .
de 35 anos com EMl média da parede posterior da caró- Ampla pesquisa populacional brasileira está em anda-
tida comum esquerda de 0 ,54 mm encontra-se abaixo do mento (Projeto Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto
percentil 25, segundo a tabela gerada pelo estudo ame- - ELSA)'O e irá descrever a EMI de uma grande amostra
ricano CAPS Entretanto , esse mesmo indi víduo estaria da população brasileira e, consequentemente, no futu-
entre o percentil 50 e 75 se classificado de acordo com ro próximo, estarão disponibilizadas tabelas apropriadas
a tabela do estudo europeu AXA. 39 Daí a necessidade de para avaliação de nossa população (ANEXO A)

36
Avaliação da Espess ura Médio-Intim ai

Quadro 3.4. O que reportar no laudo hypercoleste rolemic men. Atherosclerosis 1990; 85:
151-159.
• Ide ntificação co mpl eta do pac ie nte: 11. Howard G, Burke G, Szklo M. et a/. Active and passive
- Nome smoking are associated with increased carotid wall thickness:
- Idade the Atherosclerosis Risk in Communities (A RIC) Study Arch
- Sexo Intern Med 1994; 154: 1277-1282.
• Co loca r o tipo de indicação do exa me: pa ra ava liação de 12. Heiss G, 5harrett AR, Barnes R. Carotid atherosclerosis
ri sco ca rd iovascu lar.
measured by B-mode ullrasound in populations: associations
• Descrever se paradamente para cada lado e cada segmento
with cardiovascular risk factors in the ARlC study. Am J
de ca rótida, ava liado o va lor médio e máxi mo de medidas
se mi ou automát icas. Epidemiol1991; 134:250-256.
• Classifica r em pe rce ntil e descreve r a tabela popul ac iona l 13. Salonen J, Seppanen K, Rauramaa R. et a/. Risk factor for
uti li zada para a classificação (AR IC, AXA etc.) (ANEXO A) carotid atherosclerosis in the Kuopio ischaemic heart disease
• Descreve r presença de placas ateroscleróticas associadas risk factor study Ann Med 1989; 21:22-229.
e classificá -I as e m re lação ao grau de este nose e à parede 14. Kuller L, Borhani N, Furberg C. et aI. Prevalence of
acomet ida. subclinical atherosclerosis and cardiovascular disease and
• Interpretação dos dados e m re lação ao risco ca rdiovascular associalion with risk factors in the Cardiovascular Health
(se, pela aná lise, o risco foi aumentado ou não modificado Study. AmJ Epidemiol1994 ; 139:1164-1179.
após a aná li se da EM I). 15. O'Leary OH, PolakJF, Kronmal RA. et a/. Distribution
and correlates of sonographically detected carotid
artery disease in the cardiovascular health study The
CHS Collaborative Research Group. 5troke Dec 1992;
23(12): 1752-60.
Com os dados de que dispomos hoj e, na conclusão 16. O'Leary OH, Anderson KM, Wolf PA. et ai. Cholesterol and
do laudo ecográfico devemos descrever a faixa do per- carotid atherosclerosis in older persons: the Framingham
centil de EMI em que se encontra o paciente em cada Study Ann Epidemiol1992; 2:147-153.
17. Salonen JI. &: Salonen R. Ultrasonographically assessed
lado da carótida e a tabela utilizada para esta classifica- carotid morphology and the risk of coronary heart disease.
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by ultrasonography in middle-aged normotensive high-risk patient for primary prevention, noninvasive teslS of

37
Ava l iação da Espessu ra Méd io-In ti mai

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~ Anexo 3.1. Tabel a de referênc ias de valores de EMI para crianças e ado lescen tes

(A ) (B )

----
0,55 0,55

0,50 97 0,50

Ê
0,45
- -- 90
75
~
E
0,45

.s .s 040 97

~
0,40 50 t) ,
90
.ó2 25 ~ 75
:2 - 10

===---
LlJ 0,35 50
LlJ 0,35

~
3
25
10
0,30 0,30 3

0,25 0,25

0,20 0,20
10 15 20 10 15 20
Idade (anos) Idade (anos)

Percentis da espessura médio-intimai (A) da carótida e


(B) da artéria temoral por distribuição etária em adolescentes
saudáveis (3 2, 102, 25 2, 50 2, 75 2, 902 e 97 2 percentis).

Valores normativos para a espessura médio-intimai e a


distensibilidade de grandes artérias em adolescentes sadios
Claudia Jourdan, Elke Wühl, Mieczyslaw Litwin, Katrin Fahr,
Juslyna Trelewlcz, Katarzyna Jobs, Jens·Peter Schenk, Ryszard Grenda,
0110 Mehls, Jochen Trbge r and Franz Schaefer

Journal of Hypertension 2005, 23: 1707-1715.

38
Av ali ação da Espess ura Médio-Intimai

~ Apêndice 3.1. Valores e percentis da espessura médio-intimai da artéria ca rótid a com um em grandes estudos de coorte
norte-americanos
A. Valores médios da espessura médio-intimai da parede posterior da artéria carótida comum do Atherosclerosis Risk in Communities Study

Direita

Homens brancos Mulheres brancas Homens negros Mulheres negras


Idade em
anos/percentil 45 55 65 45 55 65 45 55 65 45 55 65

25th 0,496 0 ,572 0,648 0,476 0,542 0,608 0.514 0,614 0,714 0 .518 0,578 0,638
50th 0,570 0.664 0,758 0,536 0,616 0 ,696 0,604 0,724 0,844 0,588 0,668 0,748
75th 0,654 0.774 0.894 0.610 0,710 0.810 0,700 0,850 1.000 0.664 0,764 0 ,864

Esquerda

Homens brancos Mulheres brancas Homens negros Mulheres negras


Idade em
anos/percenti l 45 55 65 45 55 65 45 55 65 45 55 65

25th 0.524 0 ,588 0,652 0,472 0,540 0.608 0.530 0.610 0,690 0.494 0,558 0.622
50th 0,598 0.684 0.770 0,538 0,622 0.706 0,614 0 ,714 0,814 0.566 0.646 0.726
75th 0.690 0.806 0.922 0.610 0.710 0.810 0,704 0.840 0.976 0.644 0.748 0.852

B. Valores máximos da espessura médio-intimai da parede posterior da artéria carótida comum do Bogalusa Heart Study

Direita

Homens brancos Mulheres brancas Homens negros Mulheres negras


Idade em
anos/percenti l 25 30 35 40 25 30 35 40 25 30 35 40 25 30 35 40

25th 0.611 0,636 0.662 0,687 0,562 0.586 0,611 0.635 0.637 0.675 0,712 0,750 0.616 0.650 0,685 0.719
50th 0,663 0.702 0,740 0,779 0,633 0,654 0 ,676 0 ,697 0 ,719 0,756 0 ,793 0,830 0,682 0,718 0.754 0.790
75th 0.768 0.807 0.845 0.884 0.717 0,735 0.754 0.772 0,839 0,884 0,929 0,974 750 0.793 0.837 0.880

Esquerda

Homens brancos Mulheres brancas Homens negros Mulheres ne9ras


Idade em
anos/percentil 25 30 35 40 25 30 35 40 25 30 35 40 25 30 35 40

P25 0,577 0,617 0,658 0,698 0,554 0,586 0,618 0.650 0,640 0.676 0,713 0,749 0.587 0.629 0.670 0,712
P50 0.655 0,707 0.760 0,812 0 ,621 0.657 0,693 0,729 0,736 0,774 0,812 0,850 0 ,646 0,691 0,736 0,781
P75 0.763 0.814 0.864 0.915 0.660 0.713 0.766 0.819 0,794 0,844 0.894 0,944 0.714 0,768 0,822 0.876

C. Valores máximos da espessura médio-intimai da parede posterior e anterior da artéria carótida comum do CHS Study
(Alice M. Arnold. PhD. comunicação pessoal . dezembro de 2006)

Homens Mulheres
Idade em
anos/percentil 65-69 70-74 75-79 80-84 85+ 65-69 70-74 75-79 80-84 85+

P25 0,94 0,95 1,00 1,03 1,05 0,87 0,89 0,92 0,96 0,99
P50 1,03 1,07 1.10 1,15 1,18 1,96 0,99 1,03 1,05 1,12
P75 1,16 1,21 1,25 1,30 1,32 1,07 1.10 1.16 1.19 1.28

D. Valores da espessura médio-intimai da artéria carótida comum do Multi-Eth nic Study 01 Atherosclerosis Risk in Communities Study
(Robin L. McClelland. PhD. comunicação pessoal , janeiro de 2007)

Médios, parede posterior direita

Homens brancos Mulheres brancas Homens negros Mulheres negras


Idade em
anos/percenti l 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84

P25 0,52 0,57 0,65 0 ,72 0,51 0,55 0,65 0,72 0,58 0,61 0,71 0,74 0,55 0.60 0,65 0 ,71
P50 0,62 0,68 0,77 0 ,83 0.58 0.65 0,75 0.83 0.67 0,74 0,85 0,85 0,64 0,71 0,76 0,83
P75 0,71 0,81 0,92 0 ,97 0.67 0,76 0.87 0,93 0,80 0,92 0,99 1,02 0.74 0,81 0,92 0.96

39
Ava li ação da Espess ura M édi o-Intim ai

Apêndice 3.1. Continuação


Homens chineses Mulheres chinesas Homens hispânicos Mu lheres hispânicas
Idade em
anos/percentil 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84

P25 0,54 0,56 0,62 0,66 0.55 0,54 0,59 0 ,67 0,53 0.60 0,65 0.71 0,51 0,57 0,65 0,63
P50 0,64 0 ,70 0,73 0,79 0,60 0,63 0,71 0,77 0,62 0,67 0,78 0,81 0,58 0,69 0,76 0,78
P75 0.73 0.83 0,92 0,98 0,70 0,77 0.84 0,96 0.73 0.82 0,90 0,92 0 .67 0,77 0,87 0,92

Médios. parede posterior esquerda

Homens chineses Mulheres chinesas Homens hispânicos Mulheres hispânicas


Idade em
anos/percentil 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84

P25 0,55 0,57 0,62 0,69 0,49 0,52 0,58 0,64 0,55 0,61 0,68 0.72 0,51 0,58 0,62 0,68
P50 0,63 0,70 0,72 0,84 0,58 0,63 0,71 0,76 0,64 0,72 0 ,80 0,86 0,58 0,68 0,72 0,77
P75 0,73 0,84 0,86 0,97 0,67 0,72 0,87 0,94 0,75 0,85 0,98 0,97 0.68 0.79 0,86 0 ,91

Homens brancos Mulheres brancas Homens negros Mulheres negras


Idade em
anos/percentil 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84

P25 0.54 0 ,57 0.67 0,71 0,50 0,55 0,63 0.70 0.56 0 .63 0,69 0,72 0,54 0,59 0,63 0,68
P50 0,63 0,69 0,81 0,85 0,58 0,64 0,73 0,80 0,69 0,75 0,82 0,85 6,63 0,67 0,76 0,78
P75 0,78 0 .82 0,95 1,00 0.67 0.75 0.85 0,94 0,81 0 ,92 0,99 1,02 0.73 0.80 0,90 0 ,91

Máximos. parede posterior direita

Homens brancos Mulheres brancas Homens negros Mulheres negras


Idade em
anos/percentil 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84

P25 0,61 0,66 0,73 0,83 0,59 0,66 0,77 0,82 0,66 0,72 0,79 0,83 0,63 0,72 0,72 0,79
P50 0,72 0,79 0,89 0,94 0,67 0,74 0,88 0,94 0,77 0,83 0,94 0,96 0,74 0,83 0,87 0,94
P75 0,870,941 ,051 ,11 0,79 0,88 1,00 1,07 0,89 1.05 1,11 1,13 0.87 0,94 1,05 1,10

Homens chineses Mulheres chinesas Homens hispânicos Mulheres hispânicas


Idade em
anos/percentil 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84

P25 0,66 0,63 0,66 0,72 0 ,62 0.61 0,66 0,72 0,61 0,67 0 ,72 0,78 0,61 0.67 0,72 0.72
P50 0,75 0.79 0,83 0.90 0.72 0,72 0,80 0,88 0.74 0.82 0.88 0.89 0.67 0,77 0,87 0,88
P75 0,86 0.94 1.05 1.07 0,83 0,82 0,94 1,05 0,87 0 .95 1.05 1,05 0.78 0,91 1,00 1.03
Máximos. parede posterior esquerda

Homens brancos Mulheres brancas Homens negros Mulheres negras


Idade em
anos/percentil 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84

P25 0,64 0,68 0,77 0,77 0,61 0,66 0,72 0,82 0,66 0,72 0,82 0,83 0,62 0,66 0,72 0,77
P50 0,73 0,79 0,90 0,97 0,67 0,77 0,84 0,94 0,79 0,86 0,93 0,95 0,72 0,78 0,84 0,89
P75 0,89 0,94 1,09 1,12 0,78 0,88 1,00 1,11 0,94 1,04 1,11 1,11 0.86 0,94 1,03 1,00
Homens chineses Mulheres chinesas Homens hispânicos Mulheres hispânicas
Idade em
anos/percentil 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84 45-54 55-64 65-74 75-84

P25 0,65 0,64 0,72 0,77 0,61 0,61 0,ô6 0,72 0,62 0,72 0,77 0,77 0,61 0,66 0,72 0,77
P50 0,75 0,79 0,81 0,94 0,72 0,73 0,82 0,83 0,72 0,83 0,94 0,94 0.66 0,77 0,83 0,88
P75 0,88 0,95 1.00 1.06 0 .80 0 .83 0,96 1,05 0,88 0 ,97 1,11 1,11 0.78 0,89 0,97 1,02
Todos os valores estão em milímetros (mm).

40
Ava l iação da Espessura Médio-Int imai

.. Apêndice 3.2. Valores e percentis da espessura médio-intimai da artéria carótida comum em grandes estudos de coorte
eu ropeus

A. Valores médios da espessura médio-intimai da parede posterior da artéria carótida comum do AXA Study
Artéria carótida comum direita

Homens Mulheres
Idade em
anos/percentil s30 31-40 41-50 >50 s30 31 -40 41-50 >50

P25 0,39 0,42 0,46 0,46 0,39 0,42 0,44 0,50


P50 0,43 0,46 0,50 0,52 0,40 0,45 0,48 0,54
P75 0,48 0,50 0,57 0,62 0,43 0,49 0.53 0,59

Artéria carótida comum esquerda

Homens Mulheres
Idade em
anos/percentil s30 31 -40 41 -50 >50 s30 31 -40 41-50 >50

P25 0,42 0,44 0,50 0,53 0,30 0,44 0,46 0,52


P50 0,44 0,47 0,55 0,61 0,44 0,47 0,51 0,59
P75 0,49 0,57 0,61 0,70 0,47 0,51 0 .57 0,64

B. Valores médios da espessura médio-intimai da parede posterior da artéria carótida comum do Carotid Atherosclerosis Progression Study
(Mathias W. Lorenz, MO, comunicação pessoal, dezembro de 2006)

Homens Mulheres
Idade em
anos/percentil 25 35 45 55 65 75 85 25 35 45 55 65 75 85

P25 0,515 0,585 0,634 0,68 0,745 0,814 0,83 0,524 0,575 0,619 0,665 0,718 0,771 0,807
P50 0,567 0,633 0,686 0,746 0,83 0,914 0,937 0,567 0,615 0,665 0,719 0,778 0,837 0,880
P75 0,633 0,682 0,756 0,837 0,921 1,028 1,208 0,612 0,66 0,713 0,776 0,852 0,921 0,935

C. Valores máximos' da espessura médio-intimai da parede posterior da artéria carótida comum do Edinburgh Artery Study
(F. Gerald R. Fowkes, MBChB, PhO, comunicação pessoal, novembro de 2006)

Homens Mulheres
Idade em
anos/percentil 60-64 65-69 70-74 75-79 >80 60-64 65-69 70-74 75-79 >80

P25 0,60 0,70 0,70 0,70 0,80 0.60 0,60 0.70 0,70 0,72
P50 0,80 0,80 0,80 0,90 1,00 0,70 0,80 0,80 0,90 0,90
P75 0,90 1,00 1,00 1,20 1,20 0,80 0,90 0,90 1,00 1,40

Todos os valores estão em milimetros (mm).


'Máximos para a artéria carótida comum direita e esquerda.

O. Valores médios da espessura médio-intimai da artéria carótida


comum do Malmo Oiet and Cancer Study (Maria Rosvall , MO, PhO ,
Bo Heblade, MO, PhO, e Goran Berglund, MO, PhO.
comunicação pessoal , dezembro de 2006)

Homens Mulheres
Idade em
anos/percentil 55 65 55 65

P25 0 ,66 0,73 0,64 0,73


P50 0,75 0,81 0,71 0,81
P75 0,86 0,94 0,78 0,88

Todos os valores estão em milimetros (mm).

41
CAPíTULO 4
Gregary L. Maneta
Doença Carotídea
Aterosclerótica

INTRODUÇÃO (7 ,5-12 MHz) fornecem imagens mais nítidas da região


da bifurcação, enquanto os transdutores de 5 MHz po-
Neste capítulo, vamos rever a técnica da ultrassonografia dem ser necessários ao exame da carótida interna (ACI)
vascular das carótidas, com ênfase no desempenho téc- distai, da origem da ACC e das artérias vertebrais. As
nico do exame, nos critérios utilizados para classificar sondas modernas trabalham com várias frequências e
as estenoses carotídeas e também no significado clínico permitem ao examinador alterar as frequências do trans-
deste exame para o tratamento da doença arterial carotí- dutor sem precisar mudar de sonda.
dea extracraniana. A frequencia do Doppler e da imagem pode ser igual
ou diferente. A frequência do Doppler pulsado deve ficar
entre 4,5-10 MHz , mas a maioria dos critérios espectrais
ASPECTOS TÉCN ICOS
da estenose carotídea foi realizada utilizando-se a fre-
o exame ultrassonográfico vascular (USV) completo quência Doppler de 5 MHz e, por essa razão, deve-se
do sistema carotídeo deve abranger imagens bilaterais utilizá-la durante essa parte do exame , caso seja possí-
em escala de cinza (Modo B) , análise espectral (Modo vel. Se utilizarmos uma frequência de análise espectral
Doppler) e Modo cor das carótidas, vertebrais e subclá- diferente para a quantificação das estenoses, a maioria
vias . São necessários 15-90 min para concluir o exame, dos critérios de interpretação publicados não poderá ser
dependendo da experiência técnica do examinador, da aplicada.
extensão da doença e da cooperação do paciente. A in- Todos os modelos de transdutores podem ser utili-
dicação para a realização do exame sempre que possível zados (setoriais, mecânicos, configuração linear ou con-
deve ser documentada. O exame bilateral está indicado figuração em fase). Os formatos de imagem com confi-
em todos os pacientes, porque as características de fluxo guração linear são particularmente úteis aos terços inter-
de uma carótida podem influenciar o fluxo sanguíneo da mediário e distaI da ACC e à região da bifurcação, onde
artéria contralateral. ! os vasos geralmente ficam paralelos à superfície da pele.
Embora o segmento mais proximal da carótida co- A angulação mecãnica do transdutor pode ser necessá-
mum (ACC) ou a artéria vertebral e o segmento distaI da ria para conseguir ãngulos de imagens perpendiculares
carótida interna (ACI) possam estar localizados um pouco à medida que os vasos afastam-se do transdutor. Um
mais profundamente, a bifurcação das carótidas está lo- transdutor com configuração curva, para imagem seto-
calizada a uma profundidade aproximada de 2-3 cm da rial , pode ser utilizado com sucesso nas regiões da ACI
pele. Por essa razão, a profundidade geralmente não é uma distaI e na região supraclavicular.
questão importante para a seleção da sonda a ser utilizada O paciente é colocado na posição supina com a ca-
no exame. Qualquer equipamento de USV que inclua ima- beça apoiada diretamente na mesa. A cabeça fica apoiada
gens de alta resolução em Modo B, Doppler pulsado e ana- por uma almofada de espuma em forma de rosca ou uma
lisador do espectro de frequência costuma ser adequado toalha enrolada sob o pescoço. Travesseiros não devem
para se realizar um exame completo do sistema carotídeo. ser utilizados, a menos que o paciente tenha dificuldade
As sondas têm transdutores com frequências entre de respirar ou não consiga ficar deitado em uma superfí-
5-12 MHz. Os transdutores com frequências mais altas cie plana em razão de problemas lombares . Os travessei-

43
Doen ça Carotídea Ateroscleróti ca

ros elevam excessivamente a cabeça. Isso oferece menos ser definido ou fica perpendicular à direção d o fluxo e
flexibilidade aos movimentos e encurta o comprimento os dados sobre velocidade são inúteis. As imagens trans-
do pescoço, condições que interferem no acesso à maio- versais do Modo colorido também podem ser enganado-
ria das janelas de exploração ideais. ras, porque o ângulo e a direção do flu xo com relação ao
O examinador deve ficar sentado à cabeceira do leito transdutor são desconhecidos. Por outro lado, a incidên-
com o equi pamento à esquerda e a uma distãncia sufi- cia longitudinal não é ideal para a demonstração das pla-
ciente , de forma que possa alcançar facilmente os con- cas, que geralmente são excêntricas. Nos pacientes com
troles utilizados mais comumente. O examinado r deve doença complexa, as determinações quantitativas da luz
ficar sentado num nível ligeiramente mais baixo que o arterial nas incidências longitudinais ou transversais são
do leito, com o cotovelo do braço explorador apoiado difíceis e não devem ser recomendadas como única for-
no leito para obter apoio e os últimos 2 dedos da mão ma de definir a redução exata do diâmetro interno.
ipsilateral apoiados suavemente no ombro do paciente. Com a orientação longitudinal, realizamos o exame
Essa posição reduz os estresses aplicados no dorso e no em Modo B, cor e a análise espectral. O exam inador deve
braço do examinador durante o exame. O queixo do pa- buscar cuidadosamente áreas de aumento da velocida-
ciente é ligeiramente hiperextendido e virado para o lado de ou distúrbio do flu xo, demonstradas pelo Modo cor.
contrário em um ângulo aproximado de 45° com a linha Usando o modo de análise espectral (Modo Doppler), o
média. A posição da cabeça pode ser alte rada à medida volume da amostra é movido ao longo de tod o o com-
que o exame é realizado, de forma a facilitar o acesso à primento dos vasos, principalmente na região da bifur-
melhor janela de imagem cação . As imagens em Modo B e do Modo colorido são
O exame inicia-se com cortes transversais seguido particularmente úteis para localizar uma área específica
dos longitudinais . O exame transversal dos vasos, que que p recise ser avaliada com mais detalhes pelo volu-
começa no segmento mais proximal da ACC, ajuda a me da amostra (Modo Doppler pulsado). O Modo B e o
definir a orientação no início do exame . Essa incidên- Modo colorido não detenninam confiavelmente a área
cia ajuda a conseguir a orientação adequada da sonda de velocidade ou turbu lência máxima. As imagens (prin-
com relação às artérias e facilita o entendimento da ana- cipalmente as co loridas) alertam o examinado r quanto
tomia do paciente . Isso é particularnlente importante à existência de uma placa na parede arterial, que pode
na região da bifurcação e no terço distaI da ACl, onde é impedir a penetração do feixe de ultrassom pulsado pelo
comum encontrar tortuosidades das arté rias. As incidên- vaso (Fig. 4.2). As alterações da tonalidade do padrão de
cias transversais geram as imagens mais completas das
placas excêntricas. Várias janelas de imagem podem ser
necessárias para obter as imagens transversais ideais (Fig.
4 .1) Contudo, os traçados de velocidade do USV nunca
devem ser avaliados com base em uma incidência trans-
versal. No plano transversal, o ângulo Doppler não pode

~ Figura 4.2. A placa calcificada na parede arteria l impede


a penetração do feixe de ultrassom pulsado e res ulta do
desaparecimento das cores. Em alguns casos, às vezes é
poss ível obter um sinal Doppler com a variação do ângulo
da sonda de exp loração . Também é possível conseguir
~ Figura 4.1. Imagem transversa l em escala de cinza (modo alguma informação quanto à existênc ia de estenose na região
B) demonstrando uma placa excêntrica na origem da ca rótida destituída de co r por meio da análise espectral proximal e
interna dire ita. distalmente à área destituída de cores.

44
Doença Carotídea Ateroscle rót ica

~ Figura 4.4. A imagem em escala de ci nza (modo B)


demonstra uma placa homogênea moderada no níve l da
bifurcação das ca rótidas.
Figura 4.3. O chamado "sopro co lorido" (seta) sugere a
existência de estenose significativa da artéria carót ida com um
esquerda desse paciente. A análise espectra l é necessá ria
para confirmar a existênc ia de estenose.

fluxo colorido ou o extravasamento da cor para fora da


parede vascular (condição conhecida como "sopro colo-
rido ") sugerem a existência de estenose (Fig. 4.3).
É comum observar que os médicos comentam as ca-
racterísticas do exame de USV e a topologia de superfície
de uma placa carotídea. Entretanto, existem controvér-
sias quanto ao detalhamento da composição da placa
e das características da sua superfície na prática clínica
rotineira. Análises retrospectivas sugerem que as placas Figura 4.5. A imagem em escala de cinza (modo B)
demonstra uma placa vol umosa com superfície irreg ular no
predominantemente ecolucentes ou que estão associa-
bulbo carotídeo.
das a ulceração podem mostrar maior tendência a causar
sintomas neurológicos do que as placas predominante-
mente ecodensas ou lisas. 2-5 Placas ecolucentes também de imagem ideal para o Modo B é de 90° com o traje-
podem estar associadas a complicações após a colocação to da artéria. O ângulo que produz o maior desvio de
de stents carotídeos. Entretanto, até hoje , essas observa- frequência Doppler usado na análise espectral é de 0°
ções são basicamente qualitativas. Os avanços recentes ou paralelo à direção do fluxo. É difícil conseguir ân-
da tecnologia de imagem podem oferecer imagens muito gulos Doppler paralelos ao fluxo na circulação vascular
detalhadas em escala de cinza (Figs. 4.4 e 4.5) Contudo, cerebral do pescoço e, por essa razão, os ângulos acei-
ainda não existem recomendações terapêuticas definidas táveis são de até 60° entre o eixo do vaso e o do feixe
que possam ser oferecidas com base nas características de ultrassom pulsad0 3 Ângulos >60° introduzem erros
da placa avaliadas pela ultrassonografia. significativos na medição dos desvios Doppler e não são
Os ângulos de insonação que melhor definem as aceitáveis. A maioria dos aparelhos de ultrassonografia
imagens em Modo B são diferentes dos usados para a tem elementos de imagem fixos com o ângulo do feixe
análise espectral. A mesma incidência utilizada para ge- do Doppler pulsado regulável. O examinador manipula
rar um sinal Doppler de boa amplitude pode não forne- a sonda para melhorar de forma independente o ângulo
cer imagens com a melhor resolução no Modo B. Um do Doppler pulsado ou o ângulo do Modo colorido num
ângu lo perpendicular entre o feixe de ultrassom e a su- local. Alguns aparelhos de ultrassonografia pemlitem
perfície refletiva melhora a reflexão , sendo que o ângulo que o examinador dirija eletronicamente a imagem sem

45
Doença Carotídea Ateroscle rótica

depender do feixe ultrassônico e, desse modo, possibili- durante toda a diástole. Os distúrbios no fluxo do bul-
tam a otimização simultãnea de ambas as modalidades. bo carotídeo podem estender-se até o terço médio da
O examinador deve envidar esforços para obter o ãngulo ACI e ser refletidos nos traçados obtidos desse nível.
ideal para a imagem e a análise espectral. Em ge ral , a aterosclerose desenvolve-se nos primeiros
Os traçados de análise espectral são obtidos da ca- 2 cm da bifurcação e raramente limila-se ao segmento
rótida comum (ACe) e da carótida interna (ACI), na distai da ACI. Por outro lado , existem algumas con-
Oligem da carótida externa CACE) e da artéria vertebral dições (p.ex., hiperplasia fibromuscular) 6 nas quais
proximal. A técnica ponto a ponto deve ser usada para os aumentos da velocidade estão localizados no terço
examinar a ACC e a ACI. Além disso , os traçados tam- distai da ACI, sem placas demonstráveis no terço pro-
bém são obtidos de qualquer área no eixo carótidas e ximal da artéria (Fig. 4.7).
vertebrais com suspeita d e estenose sugerida pelas ima- O fluxo unidirecional é observado ao longo do divi-
gens em escala de cinza ou Modo co lor,do. sor de flu xo da bifurcação carotídea nas carótidas nor-
O traçado normal da ACC tem curso ascendente rá- mais. Neste caso, há inversão transitória do fluxo no pico
pido. Setenta a 80% do fluxo da ACC dirigem-se à ACI da sístole nas proximidades do jato central e na parede
e, por essa razão, o fluxo sanguíneo desse primeiro seg- externa (Fig. 4.8). A velocidade do fluxo ao longo da pa-
mento tem baixa resistência e estende-se por toda a di-
ástole (Fig. 4.6). Durante a avaliação da ACC, o traçado
espectral deve ser obtido do segmento retilíneo mais pro-
ximal acessível à sonda explorad ora. Para o cálculo das
razões de velocidade sistólica entre a ACI e a ACC, o pico
de velocidade sistólica (PVS) da ACC deve ser medidas
a cerca de 2 em da bifurcação carotídea. A comparação
dos traçados das ACC do lado direito e esquerdo devem
demonstrar velocidades de pico sistólico e diastólico fi-
nal semelhantes.
Os traçados espectrais da ACI são registrados ro-
tineiramente nos segmentos proximal , intermediário e
distaI da artéria. O padrão de fluxo deve ser o de baixa
resisténcia com elevação rápida e persisténcLa do fluxo

Figura 4.7. Imagem do fluxo colorido da carótida interna


cervical distai de um paciente com displasia fibromuscular.
As áreas focais de aceleração da velocidade geralmente
são secu ndárias ao espessamento da parede arterial e à
tortuosidade localizada da artéria.

Figura 4.8. Imagem do fluxo colorido da bifurcação


Figura 4.6. Traçado da ACC normal (análise espectral) carotídea normal. A área de inversão do fluxo (azul) ao longo
mostrando o curso ascendente sistólico rápido e o fluxo da parede lateral do divisor de fluxo é um achado normal, não
persistente durante toda a diástole. sendo indicativo de presença de placa na bifurcação carotídea.

46
Doença Carotídea Aterosclerótica

rede extema pode diminuir até zero no final da diástole. importantes das carótidas. A exceção é na diferenciação
Padrões de fluxo normal combinados com a ausência de entre estenose muito severa e obstrução string signoNes-
placas visíveis na bifurcação carotídea são usados para ses casos, o Modo Power ou o Modo colorido pode detec-
indicar que o bulbo carotídeo é normal. tar fluxos muito rápidos na área da estenose ou distai à
estenose , que podem ter passado despercebidos ao Modo
Doppler pulsado
DETECÇÃO E AVALIAÇÃO DA
Em todos os casos, os achados da análise espectral e
ESTENOSE CAROTíDEA das imagens coloridas devem ser avaliados simultanea-
o diagnóstico da estenose carotídea pelo USV é direcio- mente. Se houver discordância entre o diagnóstico da le-
nado para três áreas: região pré-estenótica, a estenose são identificada pelo Modo cor e a medida pela análise es-
propriamente dita e a região pós-estenótica. Embora as pectral (i. e., o Modo cor indica uma estenose severa, mas
alterações mais importantes sejam observadas na esteno- as velocidades estão aumentadas apenas moderadamente),
se da carótida, também há alterações significativas nas o exame deve ser refeito para identificar a discrepãncia.
regiões pré-estenótica e pós-estenótica (Fig. 4.9 A-C).
Uma combinação de exame em Modo Doppler (aná- Carótida comum
lise espectral), Modo B, Modo cor e, em determinados Na maioria dos casos, a estenose ou a obstrução das ca-
casos, Modo Power é utilizada para detectar uma esteno- rótidas afeta o segmento proximal da ACl. Por essa razão,
se carotídea. Na maioria dos casos, considera-se a análise a ACC demonstra alterações do traçado da análise espec-
espectral fundamental para a quantificação das estenoses tral típicas da região pré-estenótica. Nos pacientes com
estenose muito severa ou obstrução da ACl, o fluxo distaI
ocorre através da carótida extema (de maior resistência).
Desse modo, o traçado da ACC adqui re características
de fluxo de alta resistência da ACE (Fig. 4.10) com fluxo
diastólico final chegando até zero ou quase ? Além disso,
a VPS e a velocidade de fluxo global podem ser signifi-
cativamente menores do que as normais em razão da re-
dução do fluxo carotídeo total neste lado. Quando essas
alterações são observadas na ACC, o examinador pode
prever com alto grau de confiança a existência de esteno-
se severa ou obstrução da ACl. Por essa razão, uma boa
prática é começar a interpretação do exame USV das ca-
rótidas pela comparação bi lateral dos traçados de anáhse
espectral das ACCs.

Figura 4.9. A - C. As áreas pré-estenótica e pós-estenótica


fornecem informações quanto à ex istência de estenose
, , , I' I I

significativa da carótida. Proximalmente a uma estenose ~ Figura 4.10. Quando a carótida interna está obstruída
ca rotídea severa (A), o fluxo pode estar reduzido, mas as o traçado da ACC adquire as características do fluxo de '
velocidades aumentam dentro da estenose (B) e continuam alta resistência da ACE, com fluxo zero ou prat ica mente
elevadas com fluxo turbulento distalmente à área estenótica (C) . inexistente no final da diástole.

47
Doença Carotídea Aterosclerótica

aumento nas velocidades do fluxo) e de mosaicos colo-


ridos (sugestivos de turbulência pós-estenótica) ajuda a
definir as áreas potenciais para exame usando o Modo
Doppler (análise espectral). A quantificação hemodi-
nâmica da gravidade da estenose da ACI é conseguida
principalmente pela análise espectral (Modo Doppler) e
pelas determinações das velocidades de pico sistólico e
diastólico final , ou pela comparação da VPS da ACI com
~ Figura 4.11. Traçado da artéria carótida com um (ACC)
distai a uma estenose severa (95 %) na origem da ACC velocidades correspondentes da ACC pouco antes da bi-
ipsilateral. Na presença de estenose sign ificativa na origem furcação carotídea (razão ACIIACC) .
da ACC ou no tronco braquiocefálico, o traçado da ACC O volume da amostra deve ser posicionado den-
ipsilateral pode ser atenuado com VPS baixa e elevação tro da área mais estenosada. Usando o Modo cor, fica
mais lenta até o pico da sístole, quando comparadas com o
evidente que a orientação do jato estenótico dentro da
traçado da ACC contra lateral.
estenose pode não acompanhar o eixo longitudinal da
artéria. Por essa razão, existe alguma controvérsia com
A ACC contralateral a uma estenose muito severa relação à técnica mais apropriada para a obtenção dos
ou obstrução da ACI pode apresentar aumentos com- traçados de velocidade das áreas com estenose . Nos
pensatórios na velocidade de fluxo . Essa alteração he- segmentos com estenose branda a moderada, recomen-
modinãmica compensatória pode ser significativa e as da-se a correção do ãngulo Doppler de 60° com eixo
velocidades de fluxo associadas à estenose podem estar longitudinal do vaso. Entretanto , nas áreas com este no-
falsamente elevadas no território carotídeo contralateral se mais severa, o ãngulo Doppler de 60° deve ser orien-
a uma obstrução da ACI. I tado pelo eixo longitudinal do jato de fluxo estenótico,
Na presença de uma estenose significativa na origem que é demonstrado pelas imagens do Modo colorido
da ACC ou no tronco braquiocefálico, o traçado de aná- (ou no Modo Power).
lise espectral da ACC ipsilateral pode estar amortecido. Para detectar alterações discretas da velocidade, as
Isso se reflete em um PVS baixo e na elevação mais lenta dimensões do volume da amostra devem ser mantidas
até o pico da sístole (tempo de aceleração aumentado) no menor tamanho possível (geralmente 1,5 mm). De-
quando comparados com o traçado da ACC contralate- pois de detectar uma estenose, o ecografista vascular
ral (Fig. 4.11 ). As alterações do fluxo da ACC detecta- movimenta suavemente o volume de amostra pequeno
das nos pacientes com estenoses proximais também são ao seu redor até encontrar o ponto com velocidade mais
importantes do ponto de vista diagnóstico, porque a re- alta. Usar um volume pequeno na amostra é importante
dução global da velocidade do fluxo pode reduzir artifi- porque as velocidades mais altas podem estar localizadas
cialmente as velocidades em uma estenose da ACI ipsi- em uma área pequena do jato que emerge da estenose.
lateral. Isso pode resultar na subestimação da severidade Um volume de amostra grande que inclua medidas em
da estenose da ACI . Nos casos de estenose significativa da muitos pontos dentro do vaso para formar o traçado es-
ACC proximal ou do tronco braquiocefálico, o traçado pectral pode gerar a falsa impressão de fluxo moderada-
da ACC ipsilateral pode mostrar turbulência pós-estenó- mente alterado e resultar potencialmente no diagnóstico
tica na base do pescoço. Esse padrão de fluxo alterado incorreto de doença moderada.
pode ser o único indício de estenose a montante. A VPS é o parâmetro principal utilizado para definir
a gravidade de uma estenose. À medida que a estenose
Carótida interna aumenta, a VPS aumenta e a velocidade diastólica final
O traçado espectral da ACI normal apresenta velocidade (VDF) não acompanha esse aumento. Contudo, à medi-
de fluxo elevado com características de uma circulação de da que a estenose progride, a VDF aumenta rapidamente.
baixa resistência. O curso ascendente sistólico é rápido, Por esse motivo, a elevação da VDF é um marcador con-
a VPS é <125 cmJs e o fluxo é mantido durante toda a fiável de estenose severa. 9 A razão ACI/ACC também é
diástole, caractelÍstico de baixa resistência distal. 8 Na um indicador importante da gravidade da estenose. 10 Por
é'.usência de placas, geralmente há uma janela espectral ser uma razão, essa medida compensa os fluxos anormal-
limpa sob o traçado sistólico do espectro de velocida- mente altos e baixos que poderiam aumentar ou dimi-
des. No Modo cor, a presença de aliasing (que indica nuir a VPS e a VDF

48
Doen ça Carotídea Ateros c lerótica

Diminuição das velocidades de fluxo pode ocolTer


na região distai à estenose da carótida, quando a lesão é
severa o suficiente e causa redução do volume de fluxo.
A anormalidade observada mais comumente nos segmen-
tos distais à estenose carotídea é o alargamento espectral
causado pelas alterações do padrão de fluxo ou pela tur-
bulência. Na melhor das hipóteses , o distúrbio do fluxo
pós-estenótico é um indicador qualitativo de estenose arte-
rial , mesmo assim, sua detecção é importante. Em termos ~ Figura 4.13. As compressões digitais rápidas nil artéria
diagnósticos, a alteração pós-estenótica mais importante temporal superficial ipsilateral podem causar oscilações no
na análise espectral é a presença de fluxo anterógrado e re- traçado da carótida externa. A presença dessas oscilações
trógrado concomitante com borramento da porção supe- indica que o traçado espectral realmente se origina da
carótida externa.
rior do espectro. Este distúrbio do fluxo indica a presença
de estenose severa. A presença de fluxo alterado distal-
mente a uma placa calcificada pode ser a única evidência é um ramo da ACE. As compressões rápidas da AIS
de uma estenose severa produzida por esta placa. ipsilateral enquanto se monitora o sinal da ACE , podem
produzir oscilações audíveis do sinal Doppler, exibidas
Carótida externa no traçado espectral se o vaso que estiver sendo explo-
rado no pescoço for a ACE (Fig. 4 .13). Quando o vaso
A carótida externa (ACE) tem diãmetro menor do que
explorado é a ACl , não devem ocorrer oscilações per-
a ACl no nível do bulbo carotídeo, mas os diãmetros
ceptíveis. Essa técnica pode ser usada para diferenciar
igualam-se distalmente. Essa artéria tem pouco signifi-
a ACl da ACE, mas nem sempre é confiável. Contudo,
cado clínico na maioria dos casos, mas pode funcionar
existem condições onde a técnica pode causar confusão.
como fonte importante de fluxo colateral para o cérebro
Isso inclui: (a) colateralização da ACE em presença de
nos casos de estenose muito severa ou obstrução da ACI.
lesão arterial crônica da ACl; (b) a ACI e também a ACE
Além disso, nesses casos, a ACE pode funcionar como
podem responder às compressões se a transmissão re-
conduto de êmbolos para o cérebro, condição conhecida
trógrada das oscilações for suficientemente fone ; (c) a
como síndrome do coto carotídeo. II
AIS pode não ser adequadamente comprimida. Por essa
O traçado da ACE tem curso ascendente de alta ace-
razão , a manobra de compressão da AIS pode ser útil em
leração , ond1 dicrótica proeminente no final da sístole
determinados casos, mas não deve servir como método
ou no início da diástole e velocidade praticamente igual a
principal para a diferenciação entre ACI e ACE.
zero no final da diástole (Fig. 4.12). Normalmente , a VPS
da ACE é maior do que a da ACl.
A compressão temporal superficial é uma técnica ba- CLASSIFICAÇÃO DA
seada no fato de que a artéria temporal superficial (AIS) ESTENOSE NA CARÓTIDA
Os critérios de quantificação das estenoses das carótidas
pela USV foram desenvolvidos por comparações entre
os traçados espectrais derivados da USV e a arteriografia
contrastada. As estenoses foram categorizadas em grupos
percentuais relativamente amplos. Sensibilidade e espe-
cificidade da análise espectral nos traçados fornecidos
pelo exame de USV na detecção das estenoses da ACI
>50% até 99% de diminuição do diãmetro ficam entre
90 e 95 %. Existem vários critérios espectrais para classi-
ficar as estenoses da ACI e alguns enfatizam as categorias
Figura 4.12. Traçado da artéria ca rótida externa (ACE)
(grupos percentuais) de estenose, enquanto outros estão
normal. Essa artéria tem curso ascendente agudo e uma
onda dicrótica proeminente no final da sístole ou no início baseados nos níveis limítrofes de estenose.
da diástole. A velocidade no final da diástole é zero o u Um dos esquemas de claSSificação mais amplamente
praticamente zero. aceitos para a quantificação das estenoses da ACI foi de-

49
D oença Ca rotfdea Ate rosc le rótica
eSJM"íWd ti

senvolvido na Universidade de Washington sob a direção sobre endarterectomia e foram elaborados por compa-
do Dr. Eugene Strandness. Esses critérios foram úteis ao ração do diâmetro da luz residual da ACI em seu ponto
estudo da história natural da aterosclerose carotídea e na mais estreito com uma estimativa do diâmetro do bulbo
prática clínica. De acordo com o sistema da universidade da ACI, contanto que não tivesse aterosclerose. Como o
citada, a análise do traçado de velocidade e os critérios bulbo tem diâmetro maior do que a ACI distai , ambos os
espectrais foram utilizados para classificar a estenose da métodos de determinação não chegaram às mesmas por-
ACI em normal, estenoses de 0- 15%, 16-49%,50- 89%, centagens de estenose angiográfica, para a mesma lesão.
80-99% e obstrução tota!. A validação prospectiva desses Os cálculos da estenose angiográfica, quando se utiliza a
critérios demonstrou concordância global de 82 % com a ACI distai como vaso de referência, resultam em porcen-
angiografia contrastada. A capacidade de detectar doença tagens de estenose calculada mais baixas que os cálculos
das carótidas com base nesses critérios (sensibilidade) é baseados no bulbo como área de referência. Esse é parti-
de 99 %, e a possibilidade de identificar artérias normais cularmente marcante nas lesões moderadas.
(especificidade) é de 84%8 Em uma revisão de 1.001 angiografias das carótidas in-
Os critérios para detecção das estenoses das artérias ternas, 34% das ACI foram classificadas como portadoras
carótidas têm sido reavaliados , de forma a manter sua de estenoses de 70-99%, tendo o bulbo carotídeo como
relevância na prática clínica moderna . Essa reavaliação vaso de referência. Em contraste, quando a ACI distai era
foi estimulada pelos estudos randomizados que avalia- usada como referência , apenas 16% das artérias foram clas-
ram a eficácia da endarterectomia carotídea (EAC) , que sificadas como portadoras de estenoses de 70-99%.18 Mais
passou a ser realizada nas últimas duas décadas (Quadro de 99% dos cálculos das estenoses baseadas na ACI distai
4.1 ). 12-16 Esses estudos demonstraram impacto marcan- eram menores do que os cálculos baseados no bulbo. Desse
te na validação das indicações para EAC em pacientes modo, os critérios ecográficos de estenose utilizando o bul-
com aterosclerose da bifurcação carotídea. Os autores bo como vaso de referência não são e não eram diretamente
demonstraram efeito benéfico significativo em termos aplicáveis aos resultados dos estudos clínicos.
de redução dos acidentes encefálicos (AVC isquêmico)
depois da EAC realizada nos pacientes com graus espe-
cíficos de estenose da ACI . Em particular, os pacientes
Critérios atuais para classificação da
com estenose sintomática da ACI > 70- 99 % foram extre- estenose da carótida interna
mamente beneficiados pela EAC, enquanto os pacientes Depois que os estudos randomizados sobre EAC foram
com estenoses sintomáticas entre 50-69% e aqueles com concluídos, outros critérios ecográficos foram desenvol-
estenoses assintomáticas entre 60-99% também foram vidos por meio de comparações das estenoses das ACI
beneficiados por essa intervenção, embora nem tanto por ultrassonografia vascular e angiografia, utilizando a
quanto o primeiro grupo. ACI distai como vaso de referência para calcular as es-
Nos estudos norte-americanos sobre EAC, as esteno- tenoses angiográficas. Muitos especialistas consideram
ses das ACI foram calculadas com base nos arteriogra- que esses critérios sejam úteis à seleção dos pacientes
mas, comparando-se o diâmetro da luz residual mínima que precisam de intervenção carotídea, porque são dire-
com o diâmetro da ACI cervical dista!. 17 Os critérios eco- tamente aplicáveis aos níveis limítrofes de estenose caro-
gráficos da Universidade de Washington para definição tídea desenvolvida com base nos estudos sobre EAC.
das categorias de estenose já existiam antes dos estudos Os primeiros estudos que avaliaram os critérios ecográ-
ficos relevantes aos estudos sobre EAC foram realizados na
~ Quadro 4.1 . Principais estudos rando m izados rea l izados
Oregon Health &: Science University (OHSU) 10.19 e segui-
para avaliar a eficácia da endarterectomia das ca rótidas dos de publicações de muitas instituições, dentre as quais a
maioria propunha critérios para a identificação dos níveis
Estenose Sintomática
- North American Symptomatic Carotid Endarterectomy Trial limítrofes clinicamente relevantes de estenose da AO. 20-25
(NASCET) Reconhecendo que os critérios ecográficos gerados
- European Carotid Su rgery Trial (ECST)
pelos diferentes centros diferiam quanto aos níveis li-
- VA Cooperative Study # 309
mítrofes de estenose angiográfica determinados pelos
Estenose Assintomática estudos sobre EAC, um grupo de autoridades de várias
Asymptomatic Carotid Atheroscleros is Study (ACAS)
Asymptomatic Carotid Su rgery Trial (ACST) especialidades médicas reuniu-se para rever a literatura
sobre ultrassonografia da carótida. Esse grupo chegou a

50
Doença Ca rotídea Ate rosclerótica

um consenso quanto aos componentes fundamentais da • Quadro 4.2 . Recomendações do paine l consensual para
ultrassonografia carotídea e elaborou critérios razoáveis classificação das estenoses da carótida interna
para a estratificação das estenoses da ACl 2 6 O comitê Normal: A VPS da ACI é < 125 cm/s e não há placa ou
recomendou que todos os exames carotídeos fossem rea- espessamento visível da íntima. As artérias normais
também devem ter razão ACIIACC < 2 e a VDF da ACI
lizados com imagem em escala de cinza , Modo colorido
deve ser < 40 em/s.
e análise espectral. Os traçados de velocidade da análise Estenose < 50% da ACI: quando a VPS da ACI é < 125 cm/s
espectral devem ser obtidos com ângulo de insonação e há placa ou espessamento visível. Essas artérias também
devem ter proporções da VPS na ACI e na ACC < 2 e a
o mais próximo possível de 60° (sem passar desse limi- VDF da ACI deve ser < 40 em/s.
te) e os volumes das amostras devem ser posicionados Estenose de 50-69% da ACI: quando a VPS da ACI varia de
dentro da área de estenose máxima . Os especialistas 125-230 cm/s e há placa visível. Essas artérias também
devem ter proporções da VPS na ACI e na ACC entre 2-4 e
recomendaram o uso consistente dos estratos diagnós- a VDF da ACI deve estar entre 40-1 00 em/s.
ticos relativamente amplos para estimar o grau d e este- Estenose > 70-99% da ACI: quando a VPS da ACI é > 230
nose da ACl . Além disso, esses especialistas concluíram cm/s e há placa visível com estreitamento da luz nas
imagens em escala de cinza e no Doppler colorido. Quanto
que a análise espectral é relativamente imprecisa para a mai s alta a VPS, maiores as chances de existi r doença
subclassificação das estenoses <50 % da ACl e recomen- severa. Essas estenoses também devem gerar proporções
daram que essas lesões fossem descritas por uma única ACI/ACC > 4 e a VDF da ACI deve ser> 100 em/s.
Obstrução praticamente total da ACI (string sign): Os
categoria «50%) e que não fossem utilizados subgrupos parâmetros de ve locidade não se aplicam. As lesões
com graus menores de estenose . "pré-obstrutivas" podem estar associadas a velocidades
O painel con sensual constatou que a VPS é fácil de altas, baixas ou indetectáveis. Por essa razão, o diagnóstico
da obstrução praticamente total baseia-se principalmente
obter. Contudo , alguns dados sugerem que a reproduti- na demonstração de estreitamento da luz vascula r no
bilidade da VPS, mesmo entre examinadores experientes, modo cor ou Power.
acarrete problemas suficientes e que a VPS não deva ser Obstrução total: Não há luz patente detectável nas imagens
em escala de ci nza (modo B) e nenhum flu xo na análise
usada como variáve l contínua na prática clínica do exa- espectral, modo cor ou Power.
me USV carotídeo. Ainda assim, o grau de estenose esti-
mado pela VPS da ACl e o grau de estreitamento da luz
da ACl detectado nas imagens em escala de cinza (Mod o
B) e no Modo cor devem ser correlacionados com a VPS Carótidas com stents
como parãmetros principais para a definição das esteno- Os critérios ultrassonográficos elaborados para as ACls
ses da ACI. Outros parâmetros, como a razão de VPS da provavelmente não se aplicam às carótidas com stents ,
ACVACC e a VDF da ACI , são secundários e devem ser principalmente na presença de lesões mais moderadas
utilizados como verificadores internos. Esses parâmetros dessas artérias (Fig. 4.14). Com raras exceções , nesses
são particularmente úteis quando a VPS da ACl pode não estudos, o número de pacientes que realmente tiveram
ser representa[iva da extensão da doença. Depois das dis- recidiva da estenose no stent foi pequeno . Nenhum des-
cussões, o painel consensual recomendou critérios que ses estudos correlacionou o grau de estenose ou o au-
estratificam as estenoses da ACl em categorias específi- mento das velocidades na ACl com sintomas clínicos ou
cas aplicáveis aos estudos sobre EAC (Quadro 4.2) . Esses os prognósticos. Esses estudos também não avaliaram o
critérios infelizmente não foram reavaliados por estudos efeito da carótida com stent sobre a artéria contralateral
retrospectivos ou prospectivos. sem stent. Hoje, para as lesões menores, parece que são

Estenose bilateral severa da carótida


interna
As velocidades de fluxo da análise espectral em uma ACI
contralateral a uma estenose severa ou obstrução da ou-
tra ACl podem sugerir graus mais avançados de estreita-
mento que se observa à angiografia. É provável que isso
se deva ao aumento de fluxo compensatório. O fato de
se superestimar a medida de estenose pelo exame USV é
• Figura 4.14. Imagem transversal (A) e longitudinal (B)
mais comum com as categorias de estenoses m enos seve- de uma ca rótida interna com stent. O stent metálico está
ras do que nas categorias mais severas 2 7 facilmente vi síve l ao longo das paredes da artéria.

51
Doe nça Ca rotídea Ate roscle rótica

necessárias VPS mais altas (Le. >125 crn/s) para definir 9. Roederer Go, Langlois YE , Jager KA , et aI. A simple spectral
parameter for aeeurate classification of severe earotid anery
estenoses >50% de uma ACI com stent 28
disease. Bmir 1989 ;3:174-8.
10. Moneta GL, EdwardsJM, Chitwood RW, et aI. Correlation of
onh American Symptomatic Carotid Endanerectomy Irial
Estenose da carótida comum e externa (NASCEI): Angiographic definition of 70% to 90% internaI
Os critérios utilizados para classificar a doença da ACI carotid anery stenosis with duplex scanning. J Vasc Surg
1993;17152-59.
não foram testados quanto à aplicação na ACC ou ACE.
11. Kumar SM, Wang]C, Barry MC, et aI. Carotid stump
Entretanto, como ocorre com a ACI, o grau relativo de syndrome: outcome from surgical management. Eur J Vasc
estenose pode ser determinado pela existência de placas Endovasc Surg 2001;21:214-9.
nas imagens em Modo B, pelas alterações das cores do 12. Nonh American Symptomatic Carotid Endanerectomy
Trial Collaborarors: NASCEI: BeneficiaI effeet of carotid
fluxo colo rido do exame ultrassonográfico vascular, pelo endarterectomy in patients with high-grade carotid stenosis.
alargamento espectral e pelos aumentos da VPS. Embora N Engl J Med 1991;325445-53.
não tenham sido avaliadas especificamente, as estenoses 13. European Carotid Surgery Trialists Collaborarive Group
(ECSI). MRC European Carotid surgery Iria!: interim results
>50% podem ser inferidas pela existência de elevação fo-
for symptomatic patients with severe (70-99%) or with
cai da VPS, seguida de turbulência pós-estenótica . Nor- (0-29%)carotid stenosis. Lancet 1996;3471591-93.
malmente, a ACC tem atributos da ACI e da ACE. A ACC 14. Mayberg MR, Wilson SE, Yatsu F, et a!: Carotid
adquire as características do vaso distai não ocluído (ACI endarterectomy and prevention of cerebral ischemis in
symptomatic carotid stenosis: Veterans Affairs Cooperative
ou ACE) quando uma delas está obstruída. Se houver Studies Program 309 Irialist Group. JAMA 266. :3289-
estenose seve ra ou obstrução da ACC proximal (ou do 3294,1991.
tronco braquiocefálico), o padrão do fluxo da ACC ip- 15. Executive committee for asymptomatic carotid artery
stenosisJAMA 1995;273:1 421-28 .
silateral é atenuado com VPS baixa, quando comparado
16. MRC Asymptomatic Carotid Surgery Irial (ACST)
com o lado oposto. Também pode ocorrer turbulência Collaborative Group. Prevention of disabling and fatal
pós-estenótica. Não existem critérios amplamente utili- strokes by sueeessful carotid endartereetomy in patients
zados para definir as reduções do diâmetro nas estenoses withoul recent neurologieal symptoms: randomized
controlled trial. Lancet 2004;363: 1491-1502 .
da ACC ou da ACE. Estenoses >50% são inferidas por 17. North Americam Symptomatic Carotid Endarterectomy
uma VPS >125 cm/s, com turbulência pós-estenótica. (NASCEI) Steering Committee: North American
symptomatie carotid endarterectomy tria!: Methods , patient
characteristics, and progresso Stroke 1991;22:711-20 .
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52
Doen ça Carotídea Aterosclerótica

reference to reports the north americam symptomatie earotid 27. Fujitani RM, Mills jL, Wang LM , Taylor SM . The
endarterectomy trial the European trial and the europwan effeet of unilateral internaI earotid arterial oeclusion
carotid surgery trial. J Vase Surg 1994;20:642-9. upon contralateral duplex study: Criteria for accurate
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Consensus Conferenee. Radiology 229:340-6,2003. 2008;30: 1189-96.

53
Endarterectomia Carotídea CAPíTULO 5
Sandra Maria Pontes
Baseada Somente na Fanilda Souto Barros

U Itrassonografia
Vascular com Doppler

INTRODUÇÃO e seguimento das estenoses localizadas nas carótidas


extracranianas. Existem diversos trabalhos com exames
A endarterectomia das artérias carótidas (EAC) é consi- duplos com a primeira e a segunda opinião para planeja-
derada benéfica para os pacientes sintomáticos com este- mento do tratamento carotideo, combinando a ecografia
nose igualou superior a 70% e quando a equipe cirúrgi- com a arteriografia clássica, ou mais recentemente com a
ca tem uma morbimortalidade inferior a 6%. 1.2 aneriografia por ressonãncia magnética lO - IS ou mesmo to-
A ultrassonografia vascular com Doppler (USV) mografia computadorizada. i - 14 Uma alternativa inusitada
apresenta sensibilidade e especificidade superior a 90% foi a elaboração de um protocolo de dois exames ecográ-
para o diagnóstico de estenose da carótida interna extra- ficos independentes: o primeiro como teste diagnóstico e
craniana superior ou igual a 70%, quando comparada o segundo como mapeamento pré-operatório.'
com a arteriografia, e, diferente desta, a ultrassonografia O mapeamento pré-operatório é complementar ao
vascular é um método diagnóstico não invasivo e isento exame diagnóstico inicial e é restrito aos candidatos à
de risc0 3 cirurgia, sendo específico ao que será tratado, e deve ser
Durante muito tempo a arteriografia foi considera- realizado próximo à data da cirurgia, visto que em cerca
da indispensável para a cirurgia. Essa conduta mudou de 1,6% dos casos pode ocorrer a oclusão do vaso no
após o advento da USV e atualmente alguns centros intervalo entre o diagnóstico e o mapeamento. 16 Esse
já adotam esse método como único exame de imagem segundo exame tem como objetivos: confirmar o grau de
pré-operatório. 4 5 estenose, avaliar a progressão da doença e fornecer dados
anatômicos (Fig. 5.1)
Nos pacientes com indicação de endarterectomia bi-
MAPEAMENTO PRÉ-OPERATÓRIO
lateral, um segundo exame da outra carótida ainda a ser
Esta seção enfatiza o valor do mapeamento ecográfico tratada é necessário após o primeiro procedimento, pois
carotídeo como exame essencial para o planejamento após a 1;1 EAC ocorre uma queda nas medidas de veloci-
cirúrgico aberto ou endovascular das carótidas extracra- dade sistodiastólica e com isso um novo grau de estenose
nianas. pode ser estimado. 17
A ultrassonografia vascular já tem uma posição esta- Do ponto de vista de custos, um algoritmo basea-
belecida na avaliação dos pacientes candidatos a cirurgia. do em dois estudos ecográficos, o primeiro para diag-
No Departamento de Cirurgia Vascular do Hospital San nóstico, e o segundo para mapeamento pré-operatório,
Raffaele, da Universidade Vita-Salute de Milão, quase traz uma economia estimada entre 70 e 90 % em relação
90% dos tratamentos cirúrgicos da bifurcação carotídea aos custos dos exames radiológicos ou de ressonância
são baseados nos estudos ecográficos ,6 enquanto outros magnética . O planejamento cirúrgico, tais como técni-
Serviços Vasculares de primeira linha já estão usando ca, tamanho e local da incisâo de uma endanerectomia ,
esse método como técnica de guia de procedimentos pode ser eficientemente embasado no mapeamento
endovasculares.7- 13 ecográfico. 5- 10
A USV já se integrou como componente fundamental O algoritmo descrito na Fig. 5.2 é seguido pela nossa
do diagnóstico, tratamento, mapeamento pré-operatório equipe. 5

55
Endarterectom ia Carotídea Baseada Somente na U Itrassonografia Vascu lar com Doppler

Figura 5. 1. Mapeamento pré-operatório da carótida interna. (A ) Medidas anatômicas da placa: início e término. (8 )
Graduação da estenose pela medida local de redução do lúmen. (C) Altura da bifurcação ca rotídea em relação ao ângulo da
mandíbula. (D ) Demonstração da utilização pelo cirurgião vascular do esquema fornecido pelo ecografista. Agradecimento à
equipe do Prof. Dr. João L. Sandri pelas fotos (e e D ) conced idas .

Indicações do mapeamento 1: '( tdhd du trdn::-cl.lt )i"

pré-operatório (segundo exame) IransdUlores lineares de alta frequência (7- 10 MHz). Em


O mapeamento ultrassonográfico da carótida é realizado casos de bifurcação alta , tortuosidades ou pescoço curto ,
para os pacientes que serão submetidos a endarterecto- pode ser adequado o uso de transdutores convexos com
mia . Os critérios utilizados para indicação cirúrgica fo- frequência de 4-7 MHz .
ram baseados nos resultados de grandes estudos, como
o NASCEI (North American Symptomatic Carotid En-
darterectomy Irial) e o ACAS (Asymptomatic Carotid 1)1' rn 7 clt; Z\!., li( r"lldq LI/na

Atherosclerosis Study). Ambos demonstraram benefícios Utiliza-se o setup de carótidas pré-programado no apare-
no tratamento cirúrgi co de pacientes, sintomáticos ou lho com alguns ajustes, de acordo com o vaso e o biotipo
não, com estenose carotídea superior a 60-70%, quando do paciente .
comparados ao tratamento clínico . 1. 18 A posição do cursor deve ser em direção ao fluxo
e/ou paralelo à parede do vaso com o ângulo de insona-
Protocolo de Exame ção próximo de 60°
H' ( /'

Paciente em decúbito dorsal com o pescoço estendido e 5t'CiUf nc /<1 do ('\011 H

o rosto voltado para o lado oposto ao examinado. • Confirmar qual a carótida indicada para a cimrgia.

56
Endarterectomia Carotídea Baseada Somente na Ultrassonografia Vascular com Doppl er

Indicação clínica _ _ _ _ _ _ _~~ 1· exame Estenose


<50-60% (examinador 1) <60- 70%

~
Confirma

Observação ou + - - - - - - - - - -'-- - - - Não confirma ou


discussão clinica padrão atípico

t
Não confi rma

,...--A-ng-i!-'g-r-afi-Ia-. . , -----~~ Confirma lesão importante ~


Figura 5.2. Algoritmo para EAC sem arteriografia. João Luiz Sandri . Endarterectom ia Carotídea Somente com Duplex. In
Julio Lewis Nectoux Filho: Ultrassonografia Vascul ar, Rio de Janeiro, Revi nter, 2000, p. 71-5.

• Promover a varredura em preto e branco utilizando rado e compatível com um método examinador e má-
cortes transversos desde a origem da carótida comum quina dependentes . Assim, cada laboratório deve eleger
até o segmento distai da carótida interna . os seus crité rios, correlacionando-os com a angiografia,
• Repetir essa avaliação com o mapeamento colorido e que ainda é o método diagnóstico considerado padrão
identificar o local da estenose através da imagem de ouro.
"mosaico", que representa a turbulência do fluxo com Graduamos a estenose baseados nos princípios de
aumento das velocidades. medidas de ve locidade pelo Doppler pulsado e na análi-
• Medir as velocidades (VPS e VDF) através da análise se anatômica pelo mapeamento colorido, Power Doppler
espect ral. e medidas locais, adaptando aos critérios descritos na li-
• Descrever as informações necessárias para a realização teratura e utilizando intervalos menores 00%) para clas-
da cirurgia somente com a USV sificar os diferentes graus de estenose .
As médias de estenoses carotídeas encontradas nos
Informações para a endarterectomia da pacientes encaminhados para o mapeamento pré-ope-
carótida sem angiografia ratório foram 70±1l % para o gênero feminino e
O mapeamento pré-operatório de 500 bifurcações caro- 72±12% para o gênero masculino (experiência pessoal
tídeas foi realizado por nossa equipe e analisado em rela- do grupo).
ção a cada item descrito a seguir, separadamente para o Obtivemos uma boa correlação com a arteriografia, a
gênero feminino (92) e masculino (308), sendo a idade avaliação peroperatória e os interobservadores .
média dos dois grupos semelhante: 72±9 anos (experiên- Veja a Tabela 5.1 que adequamos conforme as refe-
cia pessoal do grupo). rências citadas nesse parágrafo. As Figs. 5.3-5.7 ilustram
os graus de estenose.3.719.20
I - GrddLld\~lO da e"tpnmp
Este tema foi citado em outro capítulo e comentaremos II - Cardcterísticas da placa
aqui a nossa opinião e experiência. A placa aterosclerótica é classificada segundo sua eco-
Sabemos ser difícil identificar a melhor tabela de genicidade, estrutura e superfície. As placas hipoecoicas
critérios com medidas de velocidades e avaliação anatô- ou ecolucentes e as heterogêneas são as que mais se re-
mica para graduação da estenose carotídea. Isso é espe- lacionam com fenômenos embólicos, elevando o risco

57
Endarterectomia Carotídea Baseada So mente na Ultrassonografia Vascular com Doppler

Tabela 5.1. Graduação da estenose carotídea baseada na USV

Grau de estenose PVS cm/s Medida local % VDF cm/s Relação PVS
(local da estenose) (redução de diâmetro) ACI I ACC

Normal < 125 Nenhuma <40 <2

<50% < 125 <50 <40 <2

50-60% 125-230 50-60 > =80 2-4

60-70% >230 60-70 80 e 100 2-4

>70% >230 >70 >100 >4

Oclusão Ausência de fluxo

PHlllPS AO 0I/0III200t te:21:23 Tlao..l MI to


4WIIOFaB ANOIOJ...Aa VITORiA U41cwfA
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n.

B '" t '''n

Figura 5.4. Estenose entre 50-60% (próximo de 60%).


(A) Análise anatômica em corte longitudinal demonstrando
estenose entre 50-60%. (8 ) Anál ise espectral com PVS entre
125-230cm/s e VDF entre 40-100 cmls, compatível com
o grau de este nose próximo de 60% .

de complicações neurológicas durante a angioplastia e


o implante de stent 21 Este maior risco de eventos isquê-
micos neurológicos associados com placas hipoecoicas
Figura 5.3. Estenose estimada e ntre 50 e 60% (próximo independe do grau de estenose Y23
de 50%). (A) Análise anatômica em corte longitudinal Pacientes com placas mais ecolucentes e com maior
ilustrando uma estenose entre 50-60% (medida local)
grau de estenose da carótida interna são os de maior ris-
próximo de 50%. (8 ) Medida em corte transverso (relação
entre o lúmen resid ual e o diâmetro total do vaso) estimando co de complicações neurológicas durante o implante de
a estenose próximo de 50%. (C) Análise espectral stent. Nos pacientes com idade acima de 75 anos, asso-
(10 1-31 cm/s) classificando a estenose próximo de 50%. cia-se com maior risco cardiovascular 21

58
Endarte rectomia Carotídea Baseada Somente na Ultrasso nografia Vascular com Doppler

Figura 5 .6 . Estenose da arté ria ca ró tid a intern a (ACI)


superior a 70 %. (A) Mapea mento colorido em corte
longitudinal e transverso demonstrando redução do lúmen
arterial em mais de 70%. (B) Análise espectral pelo Doppl er
pulsado compatível com estenose su perior a 70% (PVSNDF:
606/333 em/s.

melhorar a seleção de pacientes assintomáLicos, com este -


Figu ra 5.5. Estenose entre 60-70% (próxi mo de 70%).
(A) Análise anatômi ca em co rte longitudinal demonstrando nose carotídea, para a intervenção carotídea profilática 24
estenose entre 60-70%. (B) Medida em corte transve rso As placas ateroscleróticas podem ser classificadas quanto a
(relação entre o lúmen res idual e o diâmetro total do vaso) sua ecogen icidade, est rutura e superfície (Quadro 5.l):
estim ado em 64-66% sugesti vo de estenose próximo de 70%.
(C) Análise espectral com PVS de 211 cm/s e VDF de 75 cm/s,
compatível com o grau de estenose próximo de 70%. 1. Ecogenicidade - É definida como a densidade do
material da placa comparada à densidade dos tecidos
adjacentes a ela , e pode ser:
A ulceração das placas carotídeas e a presença de Hipoecoica ou ecolucente: mais escura, com alto
trombos são mais prevalentes em pacientes sintomáticos. teor lipíd ico, seme lhante ao sangue e tromba.
Esses são fatores indiretos que poderiam indicar maior - Hiperecoica ou ecogênica: mais branca , sem
probabilidade da ocorrência de um evento neurológico. sombra acústica e comumente associada à presen-
Um marcador pré-operatório da vu lnerabilidade da placa, ça de material fibroso.
com boa sensibilidade, torna-se necessário no intuito de - Mista: densidades diferentes.

59
Endarterecto m ia Carotídea Baseada Somente na U Itrasso nografi a Vascu lar com Doppl er

~ Quadro 5.1. Classificação morfológica da placa

1. Ecogenicidade
- Hipoeco ica ou ecolucente
- Hiperecoica ou ecogênica
- Mi sta
- Calcificada - ecogên ica com sombra acústica
2. Estrutura
- Homogênea - ecolucente uniforme ou ecogêni ca
uniforme
- Heterogênea - com predomínio eco lucente ou
ecogênico
3. Superfície
- Regu lar
- Irregular
- Ulcerada

- Heterogênea: representada por uma mistura entre


elementos ecolucentes e ecogênicos.
3. Superfície:
Regular: inteiramente lisa e uniforme
Irregular: disforme, geralmente heterogênea . A
irregularidade pode representar rupturas cicatri-
zadas ou recentes, com alto risco de embolização.
- Ulcerada: escavada, representando uma perda
da cobertura superficial que favorece a agregação
plaquetária e a formação de trombos que podem
embolizar.

De acordo com a apresentação morfológica, a pla-


ca de ateroma também pode ser classificada em 5 tipos ,
conforme demonstrado no Quadro 5.2 e ilustrado na
Fig.5.8.

I11 - Extensão da placa - Início e térm ino


A delimitação da placa é importante para o planejamento
terapêutico e deve ser descrito o local onde começa e ter-
mina, utilizando como ponto de referência a bifurcação
Figura 5.7. Oclusão da carótida interna (ACI). (A ) Caróti da carotídea (F ig. 59).
interna em corte lon gitudinal identificando o material A maioria das placas tem menos que 3 em de exten-
ecogênico em seu interior. Carótida exte rna pérvia. (B) Corte
são . A comparação entre gêneros mostrou que mulheres
transverso sem fluxo ao Doppl er co lorido no interior da ACI.
(C) Imagem expandida em Modo B demonstrando o vaso apresentaram prevalência maior de placas menores que 2
(ACI) ocluído. Vaso compatível com oclusão (fundo cego).

Quadro 5.2. Classificação por tipo de placas


- Calcificada: ecogênica com sombra acústica, de- Tipo 1 - Ecolucente uniforme (homogênea).
vendo ser classificada separadamente. Quando Tipo 2 - Ecolucente predominantemente, com área
extensa e contínua, pode limitar a avaliação da se- ecogênica inferior a 50% da área total da placa
(heterogênea) .
veridade da estenose. Tipo 3 - Ecogênica predominantemente, com área ecogênica
2. Estrutura - Pode ser classificada em superior a 50% da área total da placa (heterogênea) .
- Homogênea: quando os elementos da placa são Tipo 4 - Ecogênica uniforme (homogênea) .
Tipo 5 - Calcificada.
de mesma ecogenicidade

60
Endarterecto mi a Carotídea Baseada Somente na Ultrassonografia Vascular com Doppler

Figura 5.8. Classificação por tipo de placa. (A) Tipo 1 - Ecolucente uniforme (homogênea). (B) Tipo 2 - Ecolucente
predominantemente, com área ecogênica inferior a 50% da área total da placa (heterogênea). (C) Tipo 3 - Ecogênica
predominantemente, com área ecogênica superior a 50% da área total da placa (heterogênea). (O) Tipo 4 - Ecogên ica
uniforme (homogênea). (E) Tipo 5 - Calcificada. Notar a presença da sombra acústica. (F) Ulcerada.

cm de extensão, enquanto os homens tiveram uma pre- planejamento do implante do stel1t , no endovas-
valência maior de placas de 3 em ou mais de extensão cu lar.
(experiência pessoal do grupo). A maioria das carótidas comuns de ambos os gêneros
tem um diâmetro entre 7 e 8,5 mm, c as carótidas inter-
(- I J I • c' < ( _.;)
nas entre 4 e 6 mm. Os diãmelros da carótida comum e
Tem como objet ivo avaliar a necessidade o u não da da carótida interna distai ao bulbo são significativamente
utilização do patch, no tratamento c irúrgico , ou o ma iores nos homens (experiência pessoa l do grupo).

61
Endarterectomia Carotídea Baseada Somente na Ultrassonografia Vascular com Doppler

v- Pre~ellld de tortuosicldcles
Caso seja identificada a presença de tortuosidades (re-
dundância, cail ou kinking), essas devem ser descritas
acrescentando a distância em relação ao ponto da este-
nose, pois podem interferir no planejamento cirúrgico.

VI - A,ltura da bifurc.cl\,lo
A altura da bifurcação é importante por estar relacionada
com o planejamento cirúrgico , definindo a altura da in-
cisão e indicando a necessidade de técnicas alternativas
ou a necessidade de tratamento endovascu lar em bifur-
cações altas e tem como ponto de referência o ângulo da
mandíbula ou o lóbulo da orelha.
A distância entre o lóbulo da orelha e a bifurca-
ção carotídea é significativamente maior nos homens
do que nas mulheres. Embora com prevalência bai-
xa, mais mulheres que homens apresentam bifurcação
alta dificultando uma possível cirurgia. A maioria das
bifurcações femininas se localiza entre 4 e 6 cm do ló-
bulo da orel~a) enquanto as masculinas se encontram
a distâncias >6 cm (experiência pessoal do grupo).

VII - E"'quema com a" nwdicla.., clndtÔl1licd~


A realizaçâo de um esquema com os dados anatõmicos au-
xilia na visualização do exame pelo cirurgião (Fig. 5.10).

Informações indispensáveis para a EAC


sem angiografia
As infomuções indispensáveis no laudo do mapeamento
para a endarte rectomia baseada somente na ultrassono-
grafia vascular estão resumidas no Quadro 5.3.

Limitações da USV no mapeamento


pré-operatório das carótidas
A necessidade de um outro método diagnóstico por ima-
gem para complementação da USV varia de 3,8-10%, e as
causas mais comuns são bifurcação alta, intensa calcificação
da placa, doença não aterosclerótica e exames realizados em
laboratórios não confiáveis 25 (Fig. 5.11 e Quadro 5.4)

SEGUIMENTO APÓS A
EN-DARTERECTOMIA
Figu ra 5.9. Delimitação do início e término da placa de
ateroma. (A ) Imagem panorãmica (Modo B) demonstrando
início e término da placa. (B) Mapeamento colorido para
o seguimento dos pacientes após a fAC das carótidas
melhor ilustração do mapeamento. (C) O término da placa tem como principal objetivo avalia r a presença de este-
(zoom) identificando a parede com e sem placa de ateroma. nose residual , reestenose precoce e tardia e o acompa-
Nesse local, mede-se o diâmetro da carótida interna distaI. nhamento da lesâo contralateral.

62
Endarterectomia Ca rotídea Baseada So mente na Ultrasso nografia Vascular com Doppler

IMedidas Anatômicas em em
Altura da bifurcação
em rela lo ao Iób .... o da orelha I
Diâmetro da ACC I
Diâmetro da ACI I
Extensão da Placa I

Figura 5.10. Mapeamento pré-operatório de EAC carotídea com as informações indi spensáve is ao cirurgi ão : grau de
estenose, extensão da placa em relação a bifurcação carotídea, altura da bifurcação, ca libre da carótida com um e interna.

Quadro 5. 3 . Info rm ações indi spensáveis para a EAC sem Os achados mais frequentes são descritos a seguir:
angiografia

I - Graduação da estenose - Normal: ausência da lesão residual e normalização


11 - Características da placa das medidas de velocidade sistodiastólica (Fig . 512).
11 1- Extensão da placa (início e término) Estenose fisiológica: ocorre devido a uma despro-
IV - Di âmetro da carótida comum e da carótida interna distai porção anatômica entre o local onde foi utilizado o
à estenose patch e a artéria nativa (Fig. 5.13).
V - Prese nça de tortuosidade Estenose residual : lesão encontrada até um mês após
VI - Altura da bifurcação em relação ao ângulo da mandíbula a EAC e representa restos de placas não retiradas du-
ou ao lóbulo da orelha rante a cirurgia. Outro achado considerado residual é
VII - Esquema com as medidas anatõmicas a presença do chamado "degrau", que acontece quan-
do não se retira toda a placa e essa mantém continui-
dade com a carótida comum . Esse dado é importante,
Quadro 5.4. Limitações da USV no mapeame nto pois predispõe a reestenose (Fig. 5.14)
pré-operatório das carótidas Reestenose : pode ser consequência de uma hiperpla-
- Bifurcação carotídea alta sia miointimal que se desenvolve nos primeiros dois
anos ou devido a progressão da doença. A hiperplasia
- Calcificação intensa da placa
miointimal é uma lesão homogênea, regular e concên -
- Dificuldade para identificar o término da placa devido a um
trica. Os critérios utilizados para graduação da reeste-
processo ateromatoso difuso e extenso
nose são os mesmos para lesão diagnosticada antes da
- Doença não aterosclerótica
cirurgia (Fig. 5.15).

63
Endarterectom ia Carotídea Basea da Somente na Ultrasson'Jgrafia Vascular co m Doppler

Figura 5.11 . Limitações da USV no mapeamento pré-operatório das ca rótid as. (A) Bifurcação alta, não sen do possíve l
a visibilização satisfató ri a da ACI. (B) Uti li zação do transdutor se tori al convexo para melhor ava li ação da ACI. (C) Pl aca
ca lcificada dificultando a análi se do gra u de estenose . (D) Difi culdade em iden tifi car o términ o da placa. Note co mo o processo
ateromatoso se es tend e além para o segme nto distai da ACI.

Figura 5.12. Achados norm ais da USV após endarterectomia da ca rótid a. (A) Au sência de ateromatose res idua l. As setas
indi cam os pontos de sutura com retirada total da placa . Não foi utili zado patch. (B) Análise espectral demon strand o padrão de
onda norm al na carótida intern a.

64
Endarterectomia Carotídea Baseada Somente na Ultrassonografia Vascular com Doppler

Figura 5. 13. Estenose fisiológica após EAC com uti lização Figura 5.14. Estenose residual após EAC. Degrau.
de patch. Mapeamento power demonstrando a desproporção Transição da carótida comum e carótida interna
entre o local do patch e a artéria nativa (bulbo e carótida evidenciando processo aterosclerótico residual (seta).
interna).

Figura 5.1 5. Reestenose da carótida interna após EAC (1 ano e 5 meses). (A) Carótida interna 1 ano e 5 meses após EAC
evidenciando reestenose superior a 70% pelo mapeamento co lorid o. (8) Medida de veloc idad es compatíveis com reestenose
> 70% (328/110 cm/s). (C) Carótida interna 10 anos após EAC evidenciando reestenose superior a 70% pelo mapeamento
co lorido. Note os pontos de sutura (seta). (D) Medida de velocidades compatíveis com reestenose > 70% (436; 187 cm/sl.

65
Endarterectomia Carotídea Baseada Somente na Ultrassonografia Vascular com Doppler

Oclusão ausência de flu xo n o interior do vaso. Pode dife rentes. O trombo é homogêneo, hipoecoico e com
ser precoce ou tardia (Fig 516) superfície regular ; a lesão residual ap resenta zonas d e
- Trombo: a presença de trombo na região e ndarterec- calcificação, supe rfície irregular e heterogen eidad e
tomizada é rara , mas pode ocorrer na primeira se mana (Fig. 517)
após a ci rurgia. Deve se r prontamente diferenciado d e - Pseudoaneurisma: condição rara , mas que pode ser
lesão residual , já que tem características e tratam ento encontrada na artéria endarterectomizada (Fig. 5.18).

Figura 5.17. Trombo na ca rótida interna 7 dias após EAC


Figura 5. 16. Oclusão da ca rótida inte rna 3 dias após EAC (A) Imagem compatível com trombo na região submetida
(A ) Trombose da ca rótida inte rna após EAC (B) Ausência de a endarterectomia. (B) Note a ca racterísti ca homogênea,
flu xo pe lo Doppler pulsado. (C) Perv iedade da carótida externa hipoecoica e regular do trombo (seta). (C) Recanalização
(a nálise espectral). 3 meses após anticoagulação sistêmica.

66
Endarterectomia Carotídea Basead a So m ente na U lt rasso nografia Vascular com D opp ler

Figura 5.18 . Pseudoa neuri sma 1 ano após EAC. Pac iente subm etid o a endarterectomi a da carótida intern a sem protoco lo de
v igil ância. (A ) Corte longitudinal da ca rótida intern a identifi ca ndo a dilatação com trombose mural (seta). (8 ) Corte transverso
com demonstração do pseudoaneuri sma. (e ) An áli se de flux o no rm al na carótida interna. (O ) Análi se de fluxo normal na
carótida externa.

)1' ..r. ,(.llu ,P P:,L11l (" ,to de reestenose é igual para ambas as artéri as. Assim , a es-
Os pa râmetros avaliad os para a recomendação dessa tenose contralateral superior a 50% Justifi ca o cont role
vigilância são: grau de reestenose no pri me iro exame anual com a USV con fo nne opini ão da maioria d os auto-
res relacionados nessa revisã0 2h2ú
pós-operatório , grau de estenose con tralate ral, utilização
Em resumo , podemos deduzir as seguintes reco men-
de patch e fa tores de risco associad os.
dações co mo protoco lo de vigilãncia pós EAC que serão
Alguns au tores defendem a realização d o exame no
enumerad as a segui r e descritas no Quad ro 5. 5.
pli meiro mês para ava liar o sucesso da cirurgia e a detec-
ção de reestenose p recoce. >lbl,
A utilização de patch evolui co m menor taxa de re- PROTOCOLO DE VIGILÂNCIA APÓS EAC
estenose d o que a técnica de sutura primária. Assim , o
1. Primeiro exame até um mês do pós-operatóri o.
cont ro le pode ser feito com intervalo de um ano nos pa-
2. Exames com intervalo de um ano para a EAC sem uti-
cientes onde não fo i utilizado patch e nos que utiliza ram
lização de palch e com estenose contralateral inferi or
um exame (se nonnal) dentro dos seis primeiros meses a 50%.
de pós-operatóli 0 2R
3. Exames com intervalos ele 6 a 12 meses para os pa -
A estenose contralateral oco rre mais frequentemen- cientes com estenose contralateral superi or a 50 %.
te do que a ipsilateral à endarterectomia nos primeiros 4 . Qu alquer ocasião em qu e o pacien te aprese nt e sin-
anos. O seguimento a longo prazo demonstra que a taxa to mas.

67
End arterec tomi a Carotíd ea Ba seada Somente na Ultrassonografi a Va sc ul ar com Doppler

~ Quadro 5.5. Protocolo d e vi g ilâ ncia a pós EAC 14. Blackshear WM , Connar RC. Carotid endarterectomy
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estenose residua l o u reestenose precoce Anderson CM, Cooding CAW, Rapp JH. Assessment of
- Exa mes com inte lva lo de 1ano pa ra a EAC sem ufili zação carotid artery stenosis b)' ultrasonograph)', conventional
de patch e com este nose co ntralate ra l infe ri o r a 50%. angiograph)', and magnetic resonance angiography:
- Exa mes com interva los de 6 a 12 meses pa ra os pac ientes
correlation with ex-vivo measurement of plaque stenosis. J
co m este nose contralate ra l supe ri o r a 50%.
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68
CAPíTULO 6
Carmen Lucia Lascasas Porto
Doença Carotídea
Monica Luiza de Alcantara
Não Aterosclerótica

INTRODUÇÃO desta forma interferir diretamente no curso desta doen-


ça, contribuindo com boas chances de melhorar sobre-
A patologia carotídea não aterosclerótica é sem dúvi.da maneira a qualidade de vi.da daquele indivi.duo.
menos frequente, mas não por isso menos importante. Os métodos não invasivos desempenham papel fun-
Na maior parte dos casos, ela apresenta alta morbimorta- damental para se fecha r o diagnóstico da maioria dessas
!idade se não tratada. afecções e algumas delas necessitam , além disso, de confir-
A etiologia é variada, mas pode se r subdivi.dida em mação através de testes genéticos eJou biopsias associadas.
inflamatória ou não. As patologias não inflamatórias po- O Quadro 6.1 sumariza os achados que nos norteiam
dem ter como causas etiológicas vári.as situações como: durante a realização dos exames de Doppler em cores das
fenõmenos bioquímicos ou biofísicos, alteração estrutu- carótidas.
ral da parede do vaso congênita ou adquirida, trauma
aberto ou fechado e iatrogenia. A etiologia inflamatória
ANGIODISPlASIA
pode ser desconhecida ou pode estar associada a desor-
dens autoimunes , doenças do tecido conjuntivo e infec- Angiodisplasia ou malformação envolve tema complexo
ção. Uma vez reconhecida, muitas vezes ainda na fase que pode afetar veias, artérias ou vasos linfáticos isola-
precoce e assintomática, temos o dever de reportá-la e damente ou em conjunto. Elas têm origem embrionária

~ Quadro 6.1. Co rrelação entre achados ecográfi cos e pato logias vasc ulares

Achados I Patologia Observações

M assa cerv ica l pul sáti l Aneurisma, pseudoaneu ri sma, kinking, Sínd ro me de M arfan e Ehrler-Dan los,
tumo r do co rpo carotídeo punções, trau ma, HAS etc.

Frêmito Pseudoaneurisma, fístu la arteri ovenosa, Punções, traumas fechados, aterosclerose,


estenoses angiodi splasias

Do r no trajeto da caróti da Arterite de Takayasu Pac ientes jovens «40 anos)

Do r no trajeto da temporal superfi cial Arterite temporal Pacientes idosos (> 50 anos)

Tra uma aberto Pseudoaneurisma, fístul a arteri ovenosa Evolução ráp ida

Trau ma fechado Di ssecção, aneurisma Evolução pode ser lenta

Rad ioterapi a (doses superi ores 50 Gy) Estenose actíni ca Carcinoma da nasofaringe ou da laringe

H ipopulsati I idade Arterite Ca rótidas: pacientes jovens


Temporal superficia l: pacientes idosos

Hiperpul satilidade Kinking, aneuri sma, pseudoaneuri sma HAS, trau ma, aneurismas ou outros
podem estar associados

69
Doença Ca rot ídea Não Ate rosc le rótica

e podem se desenvolver sem estímulo ou na presença Os sintomas provocados pela fístula vão depender
de situações-gatilho, como , por exemplo, adolescência, dos vasos envolvidos, tendo sido relatadas alterações
gravidez etc. As angiodisplasias são raras e, em algumas neurológicas secundárias a congestão venosa e ede-
situações, procedimentos ecoguiados são bastante úteis ma, sinais neurológicos focais, zumbidos, síndrome de
para injeção de substâncias esclerosantes ou inibidoras HornerS e sinais de alto débito cardíaco evoluindo ou
de seu crescimento, tais como os corticoides. não com insuficiência cardíaca dependendo do tempo de
Dentre as que podem ser detectadas no segmento ex- evolução e do perfil hemodinãmico da fístula 9
tracraniano estão as agenesias que são raríssimas, os aneu-
rismas que serão abordados em seu tópico próprio e as Achados à ecografia
fístulas arteliovenosas (FAV), que são mais prevalentes e Chama a atenção logo de início o aumento da vasculariza-
serão, por este motivo , as únicas angiodisplasias abordadas ção da região cervical com vasos que podem se encontrar
neste capítulo. As FAVs podem ser também adquiridas. dilatados e tortuosos, dependendo do tempo de evolução
da fístula. Ao Doppler em cores, observa-se intensa turbu-
Fístula arteriovenosa lência, além do fato de as veias apresentarem um padrão
COP':>lderCi(Óe<; geral" espectral de fluxo intenso e arterializado. Definir o ponto
da fístula , que pode ser única ou múltipla, dependendo
A resposta universal, quando há uma fístula entre vasos
da etiologia, nem sempre é fácil. A presença de um frê-
periféricos, parte do princípio hemodinâmico de que o
fluxo segue com elevado volume e velocidade o trajeto mito sistólico ou flash, que se traduz visualmente por um
do vaso de maior resistência, no caso da artéria para o de intenso mosaico de cores ultrapassando o limite do vaso
menor resistência, ou seja, a veia. Os vasos nos quais a e que se projeta sobre o tecido adjacente apenas durante
fístula se desenvolve vão se adaptando a este aumento de a sístole , pode nos ajudar a localizar o ponto da fístula.
fluxo , gerando com isso sinais como a presença de massa A partir deste momento, deve-se passar a rastrear com o
pulsátil , frêmito palpável , edema e aumento da vascula- Doppler pulsado para que se visualize o local com maior
rização local. A fístula aneriovenosa envolvendo um dos aumento das velocidades sistólica e diastólica. A definição
ramos da carótida com veias da região cervical não se dos vasos envolvidos é importante para que se possa pla-
compona de forn1a diferente. I Ela pode ser espontânea nejar adequadamente a conduta a seguir. Complicações
ou traumática. As fístulas espontâneas podem ser congê- como pseudoaneurisma associado são raras, mas podem
nitas ou adquiridas 2 No primeiro caso, sua manifestação aumentar ainda mais a complexidade do caso e do exame.
já pode ocorrer a partir da infãncia ou em situações de Uma boa história clínica, palpação e auscultação do pes-
alteração hemodinâmica, C0l110 durante a gestação (Fig. coço à procura de massa pulsátil e frêmito são de grande
6. lA-E) ou hipertensão artetial. As fístulas adquiridas se ajuda na suspeição do diagnóstico.
formam a partir de condições em que se observa fragili-
dade vascular, como no caso da displasia fibromuscular 3
ou da neurofibromatose tipo I," onde um pequeno insul- DI CAS
to como tosse ou hiperextensão cervical pode romper a
artéria e levar à formação da FAV Dentre as causas de fís- • A semiótica e o exame local são de extrema ajuda
tula traumática podem-se citar a iatrogênica por punção no diagnóstico da fístula.
venosa da jugular5 (Fig. 6.2A-D), a por cintrgia na região • Em pacientes muito taquicárdicos, deve-se afas-
cervical, trauma fechado e trauma aberto, que pode ser tar a presença de insuficiência cardíaca por alto
causado por lesão de arma de fog0 6 ou arma branca. débito. A compressão da FAV normaliza a fre-
Uma situação particular é a fístula entre a carótida in- quência cardíaca (sinal de Nicoladoni -Brabham)
terna distai e o seio cavernoso, que pode ser espontânea,
secundária ao trauma ou consequente a um aneurisma da
carótida distaI. Nesle caso, o diagnóstico é feito através da ANEURISMAS CAROTíDEOS
ressonância nuclear magnética, arteriografia ou pelo Dop- EXTRACRAN IANOS
pler transcraniano, uma vez que os achados se encontram
fora do campo de avaliação do Doppler em cores carotídeo Considerações gerais
no qual se podem observar sinais indiretos de aumento do Aneurisma é a dilatação localizada e permanente igual
volume de fluxo e diminuição do índice de resistência ? ou superior a 50% do diâmetro do segmento proximal

70
Doença Carotídea Não Aterosclerótica

\
/

Figura 6.1. Angiodisplasia (FAV congêni ta) com


desenvolvimento de fístula AV durante gestação. Quadro
iniciado durante a , . gestação, com desenvo lvimento de
tumoração ce rvi ca l com sopro e frêmito. Evoluiu com
impotência funcional (i mpossibilidade de girar o pescoço)
e zumbidos. (A) Torcicolo vicioso; (8) Redução dos espaços
intervertebrai s; (C) Comunicação fistulosa com a carótida
externa; (O) Fluxo fistulizado na veia vertebral;
(E) Repercussão até o segmento intracraniano.

adjacente da mesma artéria (Fig. 6 .3A-D) Se não houver Aneurismas carotídeos extrftcranianos (ACEx) são ra-
segmento proximal adjacente normal, consideramos o ros, correspondendo a aproximad~wnte 0,4-1 % de todos
diãmetro cios valores de referência arterial (Quadro 6.2). os aneurismas periféricos e a 4% de todos os aneurismas
Se a dilatação estiver presente ao nível do bulbo caro- periféricos em adultos. 11-1 4 Eles se apresentam como massa
LÍdeo , o valor de referência deve ser 1,S vez o valor do cervical ou parafartngea associada ou não a déficits neuro-
diãmetro da caróllda comum, 10 medido pelo Doppler em lógicos. H Eles podem ser classificados como verdadeiros
cores (DC) (Fig. 64A-D), pela angiorressonãncia mag- (Fig. 6.3A-D), se envolverem todas as camaclas arteriais,
nética (ARM) ou angiografia I I ou fal sos (pseudoaneurismas) cujas paredes são normal-

71
Do en ça Carotídea Não Aterosclerótica

Figura 6.2. FAV iatrogênica. Fístula carotídea-ju gul ar pós-pu nção. (A) Comunicação fi stulo sa em Modo B; (8 ) Comunicação
fistul osa ao Doppler em cores; (C) Análise espectral na FAV. (D ) Dem onstra ção do hematoma entre o loca l de punção na
ca rótida e na jugular .

Figu ra 6.3. Aneu ri sma ve rd adeiro do ramo interno. (A) Tortu osidade assoc iada, corte longitudin al. (8 ) Acometimento do
segmento méd io do RI, fotomo ntagem do ramo interno e ca rótid a com um . (C) Sinal Yin-Yang ca ra cterísti co ao Dopp ler em
cores, corte transverso. (D ) Medidas pelo corte transverso, medidas AP-LL.

72
D oença Ca rot ídea N ão A te roscleró ti ca

Figura 6.4 . D ilatação aneurismática pós-endarterectom ia com colocação de patch. (A) Imagem ao Power Doppler. (B) Modo
B evidenciando patch de Dacron. (C) Maior d iâmetro . (D) Di âmetro pré-bifurcação.

Quadro 6.2. D iâmetros normais da carótida doaneurismas se desenvolvem em regiões operadas, isto é,
na bifurcação
Artéria Carótida Bulbo Carótida interna
comum O tratamento clínico dos aneUlismas extracranianos
resulta numa taxa de mortalidade de cerca de 71 %, 12
Homens 0,63-0,84 0,99 0,55 ± 0,06
configurando, pois, assunto de extrema importãncia.
Mulheres 0,77 0,92 0,49 ± 0,07

Etiologia
mente fonnadas por cápsula fibrosa, secundália a hemato- A etiologia é importante para que a associemos à clínica.
mas , correspondendo estes últimos a 14% dos casos. 15 São elas:
A carótida comum é a porção mais afetada, princi-
palmente ao nível de sua bifurcação , seguida pela caróti- 1 fatores bioquímicos como aterosclerose (40-70%
da interna (porção proximal , média e distai) e por último dos casos) 1213 têm maior prevalência em idades entre
pela carótida externa. 12 50-70 anos. A razão homem/mulher é de 19:1; 15
A localização varia com a etiologia. Por exemplo, os 2. Displasia fibromuscular; 1214
aneurismas ateroscleróticos ocorrem geralmente na bifur- 3. fatores mecânicos como traumas e feridas pene-
cação e nas proximidades. Os que não afetam a bifurcação trantes; 12
são nonnalmente saculares, geralmente afetando hiperten- 4. Dissecção ou fonnaçâo de aneurisma (se a dissecção
sos graves. 12.14 Já as lesões causadas por trauma afetam mais for entre as camadas média e a adventícia - 30% dos
comumente o segmento distai da carótida interna. Os pseu- casos) ;

73
Doen ça Carotídea Não Aterosclerótica

5 . Infecção: sífi lis, tuberculose e outras infecções eram 11 . Vertigens l7


as causas mais comuns há 50 anos. Hoj e são raros, 12. Síncope 17
mas abscessos periamigdalianos causados pelos
agentes Staphylococcus aureus, seguido do Strepto- Diagnóstico diferencial
coccus pyogenes, Salmonella e Escherichia co/i 13 ainda O diagnóstico diferencial deve ser feito com tortuosida-
podem ser responsáveis;13 des na base carotídea, geralmente do lado direito, prin-
6. Aneurismas associados a defeitos hereditários da cipalmente :
matriz: i6 síndromes de Marfan e de Ehlers-Danlos
tipo IV; i6 1. Nas mulheres obesas, idosas e hipertensas.
7. Inflamatória: doenças inflamatórias como síndrome 2 . Na presença de abscessos periamigdalianos.
de Kawasaki ,13 arterite de células gigantes (arterite 3. Na presença de linfadenopatias.
de Takayasu) e doença de Behçet; i4 4. Na presença de massas cervicais indolores localizadas
8. Necrose cística da média;13 no pescoço ou na faringe posterior. i4
9. Arteriopatia idiopática da média ;i6
10. Amigdalectomia; H A realização de ultrassonografia, tomografia compu-
11 . Irradiação do pescoço; i5 tadorizada (TC), ressonância nuclear magnética (RNM) e
12 . Neurofibromatose Y angiografia cerebral é particularmente útil para se estabe-
lecer o diagnóstico e proceder à terapia cirúrgica.
Manifestações clínicas
Os sinais e sintomas dos ACEx variam de acordo com Achados à ecografia
sua localização, seu diâmetro e sua etiologia. Embora O corte transverso é a chave-mestra para este diagnóstico.
os aneurismas pequenos possam ser assintomáticos, a Fazemos uma varredura de todo o sistema carotídeo, desde
maioria é sintomática. a origem até o segmento mais distai possível , utilizando-se
o modo B, com transdutores lineares de alta frequência.
Sinais Acompanhamos a parede inteira da artéria para
1. Massa pulsátil no pescoço, abaixo do ângulo da man- ter certeza de que todas as camadas estejam ou nâo
díbula (30%). Em alguns casos, os aneurismas são envolvidas para classificá-lo em aneurisma verdadeiro
reconhecidos por um tumor pulsátil na fossa amigda- ou não .
liana ou na faringe. Identificamos a área de maior diâmetro , tornando-a
2. Sopros sistólicos. o mais circular possível.
3. Acidente vascular cerebral (AVC) . Fazemos as medidas dos diâmetros anteroposterio-
4 . Síndrome de Claude-Bérnard-Horner. 13 res e laterolaterais das áreas de maior diâmetro e da área
proximal normal adjacente. Informamos se há trombos e
Sintomas sua disposiçãO.
1. Dor (40%). Fazemos a medida da extensão do aneurisma pelo
2. Desconforto, pressão retro-orbitária ou cefaleia pul- corte longitudinal. Informar, se possível , distâncias de re-
sátil. i7 ferências anatômicas (p. ex.: distância da clavicula ou do
3. Hematêmese ou epistaxe causados pela ruptura do lóbulo da orelha em relação ao início/final do aneurisma).
aneurisma carotídeo. Raro em adultos e comum em Se os diâmetros da dilatação forem inferiores a 50%,
crianças (42 % dos casos). chamamos de ectasia .
4. Dispneia causada pela compressão das vias aéreas.
5. Rouquidão causada pela compressão dos nervos cra-
DICAS
nianos como o vago (IX-XII) .
6. Disfagia. • A anamnese auxilia bastante no diagnóstico de
7. Surdez qualquer das patologias carotícleas.
8. Paralisia oculossimpática; • Os diâmetros devem ser medidos através do corte
9. Ataques isquêmicos transitórios. i7 transverso, da adventícia à adventícia contralateral.
10. Amaurosis fugax. 17

74
Doença Ca rotídea Não Ate rosclerótica

ARTERITE DE TAKA YASU Em 1990, o American College of Rheumatology


(ACR) propõs uma classificação simples com a inclusão
Considerações gerais de seis critérios 1820 O diagnóstico requeria pelo menos
A arterite de Iakayasu (AI ) é doença rara, 18 de etiolo- três desses critérios:
gia desconhecida, 19.20 e acomete principalmente mu-
lheres (10: 1). Os sintomas normalmente ocorrem na 4ª 1. Início da doença antes dos 40 anos.
década de vida, geralmente com atraso no diagnóstico 2. Claudicação das extremidades.
de meses ou anos1 8 Sua incidência no Japão foi de 0,01 3. Diminuição do pulso das artérias braquiais.
caso/l00.000 crianças/an0 21 4. Diferença de pressão> 10 mmHg entre as artérias bra-
A AI é uma vasculite de grandes vasos na qual sin- quiais .
tomas inflamatórios não específicos são seguidos por in- 5. Sopro sobre as artérias subclávias ou a aorta.
flamação da aorta e seus maiores ramos. A inflamação 6. Anormalidades na arteriografia não causadas por ate-
desses vasos leva à estenose lu minai progressiva ou à for- rosclerose, fibrodisplasia ou causas similares.
mação de aneurisma, resultando em isquemia do mem-
bro ou do órgão afetado. 18 Sharma modificou , em 1995 , os critérios de lshi-
kawa, abolindo o critério obrigatório da idade e incluin-
Manifestações clínicas do a presença de pelo menos um mês de sinais e sinto-
As manifestações variam desde assintomática a alterações mas característicos. A presença de dois critérios menores
neurológicas catastróficas. 18 ou um maior e dois menores ou quatro menores seria
Dois estágios da doença têm sido sugeridos: 18 necessária para indicar alta probabilidade . Ela é, porém ,
menos utilizada 20 (Quadro 6.3).
1. Fase precoce (sistêmica ou pre-pulseless) - carac- Um dos grandes problemas encontrados para se fe-
terizada por inflamação granulomatosa ou difusa das char o diagnóstico na fase precoce da doença, utilizan-
camadas média e adventícia levando a espessamento e do-se a Classificação do ACR de 1990, é que cinco dos
inflamação perivascular ocasional (vasavasorite), 18.20.22 seis critérios normalmente ocorrem na fase mais tardia
o que determina espessamento mural das artérias en- da doença, isto é, quando o dano já está instalado, fa-
volvidas. Essas alterações patológicas são as principais zendo com que se perca uma oportunidade preciosa de
responsáveis por sintomas sistêmicos caracterizados preservação vascular.21 ·22
por fatores inflamatórios não específicos como febre, O Doppler em cores (DC) tem como grande vanta-
sudorese noturna, artralgia, mialgia, perda de peso, gem poder associar a clínica da fase precoce (pre -pulse-
cefaleia 20 e anemia leve . less), que pode durar de meses a anos, aos achados ini-
2. Fase tardia - as manifestações sistêmicas diminuem ciais causados pelas alterações histológicas. Estas resul-
significativamente. Esta fase é caracterizada por este- tam em espessamento de todas as camadas, com uma
noses arteriais, dilatações ou oclusões responsáveis por resolução de 0,1-0,2 mm , o que é 10 vezes superior à
sinais e sintomas isqu~micos. O sintoma vascular mais reso lução da ressonância nuclear magn éti ca (RN M) e o
frequente é representado por estenose (93%), oclusão que não é detectável pela arteriografia. IB.22.23
(57%), dilatação (16%) e aneurisma (7%). 18.20 O DC pode não só fazer o diagnóstico precoce,
mas também ser utilizado como ferramenta confiável
Diagnóstico e eficiente no acompanhamento da progressão da do-
Estudos histopatológicos mostram marcado afilamento ença e dos efeitos da terapia, independentemente da
da média, com destruição das fibras elásticas, e marcada fase da doença. 18-2o.24.25 Ele fornece informações sobre
proliferação intimai, com intensa produção de substância a anatomia e a hemodinâmica da vasculatura. Além
basaFo levando a aparência estenótica típica das artérias disso , este método não invasivo é mais disponível,
envolvidas. Dilatações arteriais ou aneurismas ocorrem em mais barato, não requer radiação ou contraste ioda-
virtude do suporte de tecido fibroso inadequado ou de fra- do . 18 Pipitone e colaboradores encontraram que acha-
queza focal da parede nesta fase . Os sintomas são aliviados dos anormais nas carótidas comuns foram notados em
pelo desenvolvimento de circulação colateral , entretanto, 83% das carótidas comuns pelo ECD e só em 39%
nem todos os pacientes seguem este padrã0 20 pela arteriografia.

75
Doença Carotídea Não Aterosclerótica

Quadro 6.3. Critérios modificados por Sharma vascularização ou ambos. 21.21.25 Então, longos segmen-
tos de espessamento concêntrico de média ecogenicida-
Critérios maiores
1. Lesão da subclávia esquerda no terço médio: estenose de , com boa definição das camadas parietais e do tecido
ou oclusão de 1 a 3 cm distai ao orifício da vertebral adjacente, acometendo principalmente os terços médio
esquerda.
e proximal das carótidas (com predomínio da esquerda
2. Lesão da subclávia direita no terço médio: estenose ou
oclusão de 1 a 3 cm distai ao orifício da vertebral direita . sobre a direita) e os terços médio e proximal das sub-
3. Sinais e sintomas característicos com mais de um mês de clávias (sendo a esquerda a mais acometida), sobretudo
duração: em mulheres jovens, devem nos fazer pensar em AT. 20
A. Claudicação do membro.
B. Ausência de pulso ou diferença de pressão As artérias vertebrais podem também estar comprome-
> 10 mmHg entre os dois rr.embros. tidas (Fig 66A-D). O exame é feito medindo-se, atra-
C. Isquem ia ao exercíc io. vés do corte sagital (longitudinal), as maiores espessu-
D. Dor no pescoço.
E. Febre. ras das paredes anterior e posterior (principalmente) ,
F. Amaurosis fugax. dos terços proximal, m édio e distai das carótidas, das
G. Síncope.
subclávias e do tronco braquiocefálico quando possí-
H. Dispneia.
I. Palpitações. vel. A medida da espessura parietal é feita do bordo
j. Vi são embaçada. interno do complexo médio-intimaI ao bordo externo
da adventícia, que fica bem definida (Fig. 6.5A e C).
Crit érios menores
1. VHS alto: W estergren > 20 mm/h. Uma imagem do corte transverso também é feita para
2. Carotidínia. mostrar o comprometimento concêntrico característico
3. Hipertensão das pressões braquiais ou poplíteas
(Fig. 6.5B e D). Prossegue-se com o procedimento nor-
> 140/90 mmHg ou > 160/90 mmHg, respectivamente.
4. Regu rgitação aórtica ou ectasia anuloaórtica mal do exame das carótidas.
determinada pela auscultação, arteriografia ou A monitorização da doença eleve ser por longo
ecoca rdiografia.
prazo .
5. Lesão da artéria pulmonar: oclusão lobar ou segmentar
da artéi'ia ou aneurisma do tronco pulmonar. O ECD tem um número de limitações. É opera-
6. Lesão do terço méd io da ca rótida comum esquerda: dor-dependente e não pode visualizar bem alguns seg-
estenose ou oclusão do terço médio (começando a 2 cm
mentos arteriais, como a subclávia proximal e a aorta to-
da sua origem).
7. Tronco braquiocefálico distai: estenose ou oclusão do rácica , em função das estruturas superpostas 18
terço distaI.
8. Lesão da aorta torácica descendente: estenose,
aneurisma ou irregularidade parietal. DICAS
9. Lesão da aorta abdominal: estreitamento, aneurisma ou
irregularid ade parietal.
Pensar em AI quando houver:
10. Lesão da artéria coro nária : documentada por
arteriografia em pacientes < 30 anos de idade e sem • Pulsatilidade carotídea diminuída, mobilidade
fatores de ri sco para aterosclerose. em "paralelepípedo".
Dois critérios maiores ou um critério maior e dois menores
• Espessamento parietal da carótida comum supe-
ou quatro critérios menores indicam alta probabilidade de rior a 1,2 mm, longo, com bordos predominan-
Arterite de Takayasu. temente lisos poupando o bulbo , sobretudo em
mulheres jovens.

Achados à ecografia ARTERITE TEMPORAL


Em pacientes normais , a parede da carótida mostra
duas linhas ecogênicas paralelas separadas por um rela- Considerações gerais
tivo espaço hipoecogênico, representando as interfaces Arterite temporal ou arterite de células gigantes (ACG) é
lúm en-íntima e média-adventícia , respectivamente. O a mais comum forma ele vasculite inflamatória sistêmica
espaço entre as duas é comumente chamado complexo em adultos 2627 A prevalência em pessoas acima de 50
médio-intimal 23 Em pacientes com vascu lit e dos gran- anos é de 200 a caela 100.000 pessoas nos EUA e é ainda
des vasos, um espessamento concêntrico difuso pelo maior no norte da Europa. É mais comum em mulheres
corte transverso ("sinal de macaroni") (Fig 6.5B e D) é (2/3 dos casos) . Trata-se de uma panarterite que agride
visto como reflexo do edema inflamatório, aumento da quase que exclusivamente idosos 2 6 .27

76
Doença Carotídea Não Aterosclerótica

Figura 6.5. Arterite de Takayasu. Paciente fem. , 23 anos, com astenia, mialgi a e perda de peso. (A) Notar espessa mento
difuso, poupando o ramo interno. (B) Corte tran sverso mostrando es pessa mento concêntrico: Sinal de macaroni (exame de
02/04/2 009). (e ) Redução do espessamento pós-corticoterapia pelo corte longitudinal. (D ) Redução do espessame nto
pós-corti co terapia pelo corte tran sve rso (exame de 25/06/2009 pós-co rti co terapia).

Figura 6.6 . Arterite de Takaya su (comprometimento da vertebral). Mesmo caso mostrando comp rometimento concê ntri co
e difuso também da artéria vertebral. (A) Vertebral desenvolvid a e espessada, visível ao Doppl er em cores. (B) Vertebral
desenvolvida e espessada, visíve l ao modo B. (C) Espessa mento co ncêntrico visível pelo co r1 e tran sverso. Sinal de macaroni.
(D ) Turbulência e aumento das ve locidades na artéria ve rtebral.

77
D oença Ca rotídea Não Aterosclerót ica

Manifestações clínicas O ECD é hoje a técnica de imagem de primeira linha


na detecção da vasculite de grandes vasos 27 Os trans-
Os sintomas gerais são episódios recentes de cefaleia,
dutores devem ter frequências de no mínimo 10 MHz ,
claudicação mandibular, desconforto à palpação da ar-
preferencialmente de 12-15 MHz , para pennitirem ima-
téria temporal e deficiência visual recente. Contudo, fa-
gens não invasivas da artéria temporal com um grau de
diga, perda de peso, febre baixa , polimialgia reumática ,
resolução espacial inatingível a qualquer técnica de ima-
artralgia e tenossinovite são observadas em mais da me-
gem disponível na atualidade. Sob essas condições e com
tade dos pacientes com ACG .2627
experiência suficiente do examinador, detecta-se regular-
A cegueira é a mais temida complicação, principal-
mente ACG confinnada com biopsia em pacientes com
mente por sua irreversibilidade, podendo e devendo ser
clínica típica, segundo metanálise recente que avaliou
prevenida por meio de um alto índice de suspeição e tra-
29 trabalhos 27 Além do diagnóstico, a contribuição do
tamento oportuno com corticoides Y
Doppler em cores consiste em avaliar grau de gravidade
e monitorização da arterite de células gigantes extracra-
Diagnóstico niana.

Os sinais laboratoriais de inflamação sistêmica VHS e


proteína C reativa elevados estão quase sempre presen-
Achados à ecografia
tes. Além disso , muitos pacientes apresentam anemia O sinal específico da arterite temporal é o sinal do "halo"
crônica e trombocitose reativa Y (Fig. 6.7F e G), que consiste no espessamento hipoeco-
No entanto , dada a falta de especificidade tanto gênico, segmentar e concêntrico da parede arterial (es-
clínica quanto laboratorial, a biopsia temporal, apesar pecificidade de 100% e sensibilidade de 63%). Quando
de não ser isenta de risco, é sempre incluída no algo- acima de 3 mm, sugere atividade de doença. Além do
ritmo para abordagem do diagnóstico da arterite de halo, estenoses e oclusôes (Fig. 6.7 A e B) das artérias
células gigantes . temporais, frequentemente detectadas na doença aguda
Para propósito de classificação, o American College (80%), foram reconhecidas por Schmidt e colaborado-
of Rheumatology sugeriu que o paciente com arterite res como sinais caracteristicos adicionais em pacientes
temporal deve ter pelo menos três destes cinco critérios com suspeita de ACG, porém menos sensíveis e menos
presentes: específicos 2 5 Os mesmos achados são encontrados nas
artérias extracranianas (artérias subclávias, axilares e bra-
1. Idade> 50 anos. quiais), bem como nas artérias cervicais. O espessamento
2. Novo início de cefaleia localizada. mural pode diminuir durante o tratamento e tornar-se
mais ecogênico . Entretanto, algum grau de espessamento
3. Desconforto na palpação da artéria ou pulsos dimi-
nuídos. e estenose usualmente persiste , mesmo que haja comple-
ta remissão (Fig. 6.7C e D). A maior vantagem do ECD
4. Velocidade de hemossedimentação > 50 mmlh.
em relação à arteriografia é sua habilidade em visualizar
5. Achados histológicos, com sensibilidade de 93,5 e es-
espessamento patológico da parede arterial, mesmo que
pecificidade de 91,2%.
não cause estreitamento do lúmen (Fig. 6.71).
Estudos posteriores perceberam que não se levou em
consideração a probabilidade pré-teste e viram que so-
DICAS
mente 29% dos pacientes têm essa probabilidade, com
VPP de 29. • O "sinal do halo': deve ser demonstrado em dois
Embora a biopsia seja o padrão-ouro, com especi- planos (longitudinal e transverso).
ficidade de 100% se positiva, há um grande número de • Todo o ·trajeto deve ser investigado, desde o tra-
falsos-negativos (44%) . Um dos prováveis motivos é o gus da orelha até a maior extensão possível de
fato de haver nesta patologia um envolvimento arterial ambos os seus segmentos: temporal e parieta!.
segmentar, muitas vezes unilateral, dificultando sobre- • O fluxo das artérias temporais deverá ser compa-
maneira a coleta de material para o exame histopatológi- rado (Fig. 6.7H e]).
28 ' .
co . E por ISSO que os exames complementares de ima- • Clínica sugestiva deve estar sempre associada.
gem, sobretudo o ECD, são necessários.

78
Doença Carotídea Não Aterosclerótica

Figura 6.7. Arterite temporal.


(A) Paciente com AT há 4 anos.
Nunca saiu completamente de
atividade inflamatória. Tortuosidade
da AT comum e oclusão do ramo
frontal direito. (B) Halo inflamatório
residual associado à fibrose, vista
pelo corte longitudinal. (C) Sinal do
halo sutil, devido à cronicidade do
caso. (D - )) Paciente feminina, de
64 anos, com queixa de cefaleia,
febre e dor mandibular à mastigação.
Notar espessamento médio-intimai
da origem até próximo à área da
bifurcação à esquerda. Em virtude
da tortuosidade na bifurcação, onde
o espessamento era maior, o corte
transverso não foi possível. Apesar
de também haver doença à direita, o
fluxo é assimétrico.

79
Doença Carotídea Não Aterosclerótica

DISPlASIA FIBROMUSCUlAR apenas para os casos que se complicam com dissecção


ou oclusão durante a intervenção, uma vez que os resul-
Considerações gerais tados a longo prazo nesta patologia especifica ainda não
Doença arterial de origem desconhecida, a displasia foram aferidos e até o presente momento tal prática não
fibromuscular afeta tipicamente artérias de grande e foi aprovada pela FDA. Lesões estenóticas e assinto má-
médio calibre. Ela se apresenta sob três formas: fibro- ticas podem ser tratadas com antiagregante plaquetário
plasia intimai, mediaI e periadventicial. A fibroplasia e/ou anticoagulação.
intimaI, presente em aproximadamente 15% dos casos,
caracteriza-se por lesão focal, concêntrica e segmentar, Achados à ecografia
conferindo um aspecto tubular na angiografia. A forma A fibrodisplasia acomete tipicamente a carótida interna
medi;:i\ é a mais prev<llente, contribuindo com 80% ou em seu segmento mais distai (C1-C2), limitando des-
mais dos casos. Nesta forma, a musculatura da camada ta forma seu diagnóstico ao ultrassom para os casos em
média sofre um processo de desorganização, fibrose e que o envolvimento se estende para os segmentos mais
microdissecções , criando pontos de estenoses seguidos proximais do ramo interno (Fig. 6.8D) Uma forma de
por dilatações e conferindo aspecto típico em cordão contornar esta limitação é por meio do uso de sondas
de contas visto tanto pela angiografia e angiotomografia setoriais, idealmente a sonda microconvexa, que possui
(Fig. 6.8E) como pelo ultrassom 2 9 Mais frequente nas frequência elevada e adequada para a obtenção de uma
mulheres na proporção de 3: 1, na faixa etária de 25-50 boa imagem . Outra opção é a utilização da sonda car-
anos, sua incidência na população geral é de aproxima- díaca , na qual , em detrimento de uma imagem com alta
damente O,6% nas angiografias ou 1,1 % nas necropsias. resolução, procura-se por pontos de estenose pela aná-
O ramo interno da carótida (Fig. 6.8C) é o segundo lise espectral. O Power Doppler é de grande auxílio na
sítio mais frequente depois das artérias renais . Segundo demonstração da lesão em forma de cordão de contas. A
Sato e colaboradores, 3o a displasia fibromuscular pode grande contribuição do ultrassom, contudo, é a avalia-
ser bilateral em 70-80% dos casos e 10% dos pacientes ção funcional através da detecção de pontos de estenose
também podem apresentar envolvimento das arté rias pelo Doppler. Outros métodos de imagem que fornecem
vertebrais (Fig. 6.8A, B e E). informações puramente anatõmicas são, por outro lado,
mais precisos na detecção de dissecções, aneurismas dis-
tais ou intracerebrais e fístulas arteriovenosas.
Manifestações clínicas
O achado mais prevalente no exame físico é um sopro/
frêmito na topografia da carótida envolvida (Fig. 68C). DICAS
Alguns pacientes com lesão renal associada podem tam-
• Em 113 dos pacientes com displasia fibromuscu-
bém apresentar quadro de hipertensão secundária 31 As
lar carotídea, o envolvimento renal pode coexis-
principais complicações da fibrodisplasia são: dissecção,
tir. Menos frequente é o envolvimento das arté-
formação de aneurisma, eventos cerebrais tromboembó-
rias digestivas, lombares e digestivas. 34
licos e raramente o desenvolvimento de fístula arterio-
• Ao contrário, no caso de envolvimento de algum
venosa. Essas complicações podem estar presentes nas
destes vasos, é mandatório estudar-se as carótidas.
três formas de fibrodisplasia. Muitos pacientes são as-
sintomáticos. A abordagem cirúrgica ou endovascular é
indicada apenas para aqueles com sintomas neurológicos
ou presença de complicações. A abordagem cirúrgica por DISSECÇÃO CAROTíDEA
meio de colocação de enxertos e ressecção do segmento
envolvido fica limitada aos casos com envolvimento pro- Considerações gerais
ximal. A dilatação interna progressiva, arteriotomia na Podemos observar basicamente três formas de dissecção
região bulbar e passagem de dilatadores progressivamen- envolvendo as carótidas. Tais formas distinguem-se pela
te maiores foram técnicas desenvolvidas e difundidas nos etiologia e localização anatõmica:
anos 70-80 32 Mais recentemente , o tratamento com an-
gioplastia percutãnea tem sido empregado com alto indi- 1. Dissecção proximal que se estende a parei r de proces-
ce de sucesso 33 A colocação de stel1t deve ser reservada so dissecante primário da aorea e, portanto, inicia-se

80
Doença Carotídea Não Aterosclerótica

Figura 6.8. Displasia fibromuscular. Paciente fem., 59 anos, com acometimento leve das carótidas vertebrais e renai s. (E)
AngioTC da paciente em questão, solicitada após exame de ECD (A- O), que confirmou os achados ecográficos.

na origem da carótida comum com flap bem visual i- os que ocorrem em acidentes automobilísticos. Esta forma
zado, evidenciando falsa luz , trombosada ou não. de dissecção origina-se na transição entre o componente
2. Dissecção primária aterosclerólica da carótida que ge- elástico e o muscular da carótida no momento em que esta
ralmente se origina na região da bifurcação e pode se penetra a porção pen·osa do osso temporal. Neste caso, não
estender para o ramo intemo. Nesta forma , também observamos a presença de flap, mas sim uma marcada re-
evidencia-se flap além do envolvimento ateroscleróti- dução ou mesmo oclusão do ramo interno por hematoma
co de grau variado do vaso. intramural secundário a sangramento dos vasa vasorum ou
3. Dissecção distai que pode ser secundária a trauma ou ser a ruptura intimaP' Quando o hematoma se forma mais
espontânea (Fig. 6.9 A-I), tendo neste caso como etio- próximo à adventícia do vaso, pode ocorrer dilatação aneu-
lOgia principal a fibrodisplasia. Devemos sempre pensar rismática junto à base do crânio e, portanto, não ser visível
na hipótese de dissecção primária distai em jovens com ao ultrassom. Em 47-85% dos casos, pode haver recana-
acidente vascular cerebral sem outra causa aparente. 35 !ização por reabsorção do hematoma e/ou uso de anticoa-
gulante, observando-se o restabelecimento do fluxo num
Não há critério morfológico ultrassonográfico capaz período de até seis meses após o quadro agudo. 18
de distinguir a dissecção espontânea da traumática, exceto
quando evidenciamos um vaso tipicamente fibrodisplásico.
Uma boa história clínica pode ajudar bastante na pesquisa Manifestações clínicas
da causa etiológica. No caso do trauma, este pode ser um Além do acidente vascular cerebral presente em aproxi-
trauma direto na região cervical, como o que ocorre em ati- madamente 2/3 dos casos, do ataque isquêmico transi-
vidades esponivas de comaro como lutas , futebol america- tório ou da amaurose fugaz presente em 1/4 elos casos,
no e outras tantas, 30 pode estar relacionado a manipulações outros sinais e sintomas podem ocorrer, como hemicra-
da região cervical como entubações e quiropraxia ou pode nia, dor no pescoço, dor na face, zumbido , síndrome de
ser secundário a processos de desaceleração súbita como Horner ou paralisia de algum nervo craniano. "

81
D oe n ça Ca ro tíd ea Não Ate rosc lerót ica

Figura 6.9 . D issecção d istai de ca rótida intern a


ocorrida em jovem após um a vis ita a parq ue de
montanh as ru ssas. Pac iente apresen tando hemi cran ia
e d iplopi a. (A) 1Q exame : ramo intern o esq uerd o
(RIE) 15 d ias após o evento. (B e C) 2" exa me:
ramo intern o direito e RIE respecti va mente 30 di as
após o evento co m nítida ass imetri a de ca li bre e
flu xo . (D- F). 3 ~ exame : 5 meses após o eve nto
com oc lu são do RIE. (G- I) . 2 anos após o eve nto -
recana li zação do RIE .

82
Doen ça Carotídea Não Ate rosclerót ica

Achados à ecografia das e adjacências ,-i3 ocorrendo, por isso, principalmente


Quando a dissecção é secundária à dissecção aortlca, em pacientes portadores de carcinomas da nasofaringe
ou da laringe. -i2
podemos evidenciar a presença de fiap qu~ se estende
a partir da origem da carótida comum, com fluxo apre- Altas doses de radioterapia (superiores a 50 Gy) no
sentando a mesma direção do fluxo na luz verdadeira. tratamento de tumores de cabeça e pescoço têm sido
A falsa luz pode estar parcial ou totalmente trombosa- apontadas como fator de risco para a aceleração da do-
da e eventualmente gerar uma estenose dinãmica sobre ença aterosclerótica carotídea .44 Entretanto, o grau de
a luz verdadeira. Um exame completo dos troncos su- acometimento nesses grandes vasos como a carótida é
pra-aórticos é mandatório nestes casos, devendo se ava- variável. ' Há incidência de 30% de estenose superior a
liar não somente a presença de dissecção nas subclávias 50% entre pacientes irradiados para tumores de cabe-
e nas vertebrais , como também a repercussão hemodinâ- ça e pescoço. -i5 Várias dessas estenoses envolvem exten-
mica dessa dissecção. No período entre o diagnóstico e a sos segmentos da carótida tanto abaixo como acima da
eventual abordagem cirúrgica, deve-se reavaliar a exten- bifurcação. Isso dificulta a abordagem cirúrgica e tem
são da dissecção, já que se trata de processo dinâmico e tornado as angioplastias com a colocação de stents mais
potencialmente evolutivo. frequentes, -i ! ainda que não haja dados de perviedade a
A dissecção primária aterosclerótica caracteliza-se longo prazo disponíveis. -i!
pela presença de fiap na região da bifurcação associada à Três tipos de dano à carótida, secundários à irradia-
doença da parede do vaso ou à placa aterosclerótica , que ção do pescoço, foram descritos:
pode sofrer instabilidade ou mesmo oclusão secundária.
O fiap, por si só , também é capaz de gerar estenose dinâ- 1. Ruptura da carótida, geralmente associada à dissecção
mica sobre o fluxo com marcado aumento regional das do pescoço. Na maioria dos casos, a ruptura ocorre
velocidades e amortecimento distai do fluxo. depois de complicação cirúrgica, como necrose pós-
A dissecção distai , por sua vez, caracteriza-se por operatória de retalhos cutâneos, fístulas ou infecção
redução do calibre e consequente assimetria dos ramos da ferida cirúrgica.
internos. O ramo envolvido apresenta fluxo de baixa ve- 2. Oclusão precoce ocorrendo meses após a radiote-
locidade e alta resistência , indicando processo obstrutivo rapia.
distaI. A obstrução provocada pelo hematoma pode evo- 3. Desenvolvimento tardio de aterosclerose nas artérias
luir para oclusão por compressão do lúmen verdadeiro. expostas à radiação (mais frequente). -i !
Também nestes casos o paciente deve ser acompanhado
evolutivamente, uma vez que pode haver recanalização Os efeitos ionizantes da radioterapia (fibrose actíni-
tardia do vaso 39 -i0 ca) danificam os vasos através de diferentes mecanismos
incluindo dano direto ao vaso e levando à hiperplasi~
intimai, necrose da média e fibrose. -i3 Além disso, efeitos
DICAS indiretos induzem à injúria primária através da destrui-
ção dos vasa vasorum. -i3
• As carótidas, ao contrário das artérias vertebrais,
são vasos simétricos. Por isso, toda assimetria
inequívoca deve ser pesquisada. Achados à ecografia
• A veia Jugular interna pode, às vezes, sobrepor-se Apesar dos achados histopatológicos poderem mostrar
ao plano de imagem da carótida comum gerando placas ateroscleróticas com cristais de colesterol, os acha-
um falso fiapo dos angiográficos e logicamente também os ecográficos
diferem das artérias não irradiadas. 4 ! As placas mais hi-
poecoicas e não calcificadas são mais frequentes-i6 (Fig.
FIBROSE ACTíNICA 6.10A e B).
As estenoses são usualmente longas e, em geral , em
Con siderações gerais locais acometiclos não tão clifusamente pela aterosclero-
Estenose da carótida extracraniana é uma complicação se , como a carótida comum. -i 1.-i6
bem conhecida da radioterapia de cabeça e pescoço.-il-i2 Maiores doses de radioterapia es tã o correlaciona-
Normalmente as lesões estão localizadas nas áreas irradia- das com maior aumento da espessura médio-intimai,

83
D oença Ca rotíd ea Não Ate rosclerótica

~ Figura 6.10. Fibrose actínica. Caso de fibrose actínica extensa acometendo t od~ a extensão da carótida comum. Não há,
em virtude disso, aumento das velocidades e sim fluxo amortecido, de ba ixa reslstencla. (A) Imagem mostrando espessamento
médio-intimai difuso. (B) Fluxo bastante amortecido.

mesmo em crianças submetidas à radioterapia sig-


nificativamente de forma maior do que o esperado DICAS
no ECD em relação às alterações normais relativas à
• Estenoses longas e irregulares da carótida comum
idade A7
que podem se estender para os ramos devem nos
O acompanhamento a longo prazo com ECDs
fazer desconfiar de fibrose actínica e perguntar se
sequenciais está indicado para pacientes que recebam
há história de radioterapia prévia.
altas doses de irradiação para tumores de cabeça e pes-
• Medir a espessura médio-intimai através do corte
coço, para detectar a doença carotídea radioterapia-in-
longitudinal nos terços proximal, médio e distai
duzida e para a prevenção de sequelas. -!2 Para diagnos-
da carótida comum e nos ramos, se esses estive-
ticar e intervir previamente um evento desfavorável, o
rem envolvidos.
tempo de dano ao vaso pós-radioterapia necessita ser
• Medir a partir de referências anatõmicas o início
determinado.
e término da lesão .
Em resumo, não há consenso quanto ao tempo de
• Medidas dos ratias nos segmentos afetados deve-
aparecimento da doença pós-radioterapia. Não há ain- rão ser feitas.
da correlação entre dose cumulativa de irradiação e grau • Observar atentamente toda a parede à procura de
de estenose identificada pela ultrassonografia -!3 Segundo rupturas. Pseudoaneurismas podem estar pre-
Scott e colaboradores, foram achados 100% de correla- sentes.
ção num rastreamento rápido com o Doppler em cores • A carótida pode apresentar calibres diminuídos
e usando o protocolo convencional, resultando em ne- (delgados) em virtude da fibrose.
nhum falso-positivo. -!} • Lembrar que a pulsatilidade da artéria estará di-
Todo paciente deve , previamente à radioterapia, minuída , mas o subcutãneo também apresentará
ser envolvido num rastreamento de rotina, mesmo alterações fibróticas , fazendo-nos excluir o diag-
aqueles que não possuem outros fatores de risco clas- nóstico de arterites.
sicamente associados à doen ça carotídea. Além disso ,
quaisquer sopros ou sintomas neurológicos não espe-
cíficos devem ser rapidamente investigados. Um la- TORTUOSIDADES DA CARÓTIDA
boratório vascular não invasivo de rastreamento para
essa população de alto risco pode ser custo-efetivo e Considerações gerais
benéfico em termos de modificação de fatores de risco As tortuosidades da carótida co nstituem tema ainda
e prevenção de AVE · 3 controverso, não havendo consenso quanto a sua nõ-

84
Doença Ca rotídea Não Ateroscle rót ica

mina, etiologia ou mesmo sua relação com sintomas, duração. 54.55 No caso da hipertensão, a explicação se dá
eventos neurológicos e conduta a seguir 48 A varie- ao nível celular, onde a hipertensão gera um estiramen-
dade de termos utili zados - alça, laço , alongamento to da musculatura lisa da parede do vaso, em especial
em "s" ou "C", cai! (esp iral) ou kinking (acotove lamen- naquela com disposição helicoidal responsável pela ma-
to) - pode gera-r confusão para o leitor. De todos es- nutenção do seu tônus longitudinal. A fragmentação dos
ses, o kinking tem sido o mais comumente utilizado e elastômeros pode ser responsável pelo alongamento do
traduz, em última análise, uma tortuosidade do ramo vaso e tem sido encontrada em pacientes com kinking 56
interno ou mesmo da carótida comum com angulação Do ponto de vista anatômico, a hipertensão de longa
inferior 90° A classificação mais utilizada é a de Metz data pode ainda promover o alongamento do arco aórti-
e co laboradores, introduzida nos anos 60, a qual divi- co e, assim, deslocar os vasos da base em direção cranial.
de o kinking em três tipos de acordo com o ângulo da Como a carótida apresenta dois pontos de fixação na re-
tortuosidade 49 (Figs. 6.11 e 6. 12A-I). Em uma popu- gião cervical: um na região da bifurcação e outro quando
lação adulta, a frequência de kinking da carótida varia da sua penetração no osso temporal , o ramo da carótida
en tre 3,4 e 62% de acordo com o critério utilizado e passa a se remodelar no espaço compreendido entre es-
o grupo estudado. 50 . 52 Em até 50% dos casos ele pode ses dois pontos. 57
ser bilateral.
Alguns autores definem o cail como alongamento em Manifestações clínicas
um segmento limitado, gerando uma tortuosidade de
Os sinais e sintomas decorrentes da presença de uma
configuração serpiginosa (Fig. 6.12). 52
tortuosidade da carótida são raros, com séries relatando
De gênese controversa, acredita-se que as tortuosi- prevalência de 4-16 %. 58 Em sua maioria , traduzem-se
dades da carótida possam ser congênitas ou adquiridas.
em ataques isquêmicos transitórios por baixo fluxo pro-
a teoria congênita, a tortuosidade está relacionada à
vocado por um aumento do grau de acotovelamento,
manutenção da anatomia embrionária em laço do ramo
durante alguma movimentação específica do pescoço, 59
interno, que se forma a partir da união do terceiro arco
ou pela embolização distai provocada pela ulceração
aórtico (carótida comum e porção inicial do ramo inter-
intimai no ponto de maior angulação. 60 A ocorrência
no) com a porção cranial da aorta dorsal (segmento distai
de acidente vascular encefálico é muito rara .59 A opção
do ramo interno), assim como também a uma desci-
pela correção cirúrgica de um kinking comprovadamen-
da incompleta do coração na fase de desenvolvimento
te sintomático deve ser muito criteriosa, uma vez que
do pescoço levando a uma retificação incompleta da
frequentemente sua abordagem é dificultada pela sua
carótida 53 .54 Fala a favor da teoria congênita e incidência
localização , não raro ao nível da l a e 2a vértebra cer-
de tortuosidades em até 15% de crianças necropsiadas.
vical, assim como pela íntima relação anatômica com
Dentre as tortuosidades adquiridas destacam-se
estruturas nobres do pescoço. 5
como potenciais causas: a displasia fibromuscular, a ate-
rosclerose, o envelhecimento e a hipertensão de longa
Achados à ecografia
Pacientes com kinking podem ser indicados para estudo
ultrassonográfico por apresentarem uma hiperpulsatili-
dade na região cervical ou por apresentarem sintomas
que sugiram insuficiência vascular cerebral. Na maioria
das vezes, contudo, ele é um achado de exame em pa-
ciente sem sinais ou sintomas.
É notória a dificuld"de em se alinhar o transdutor
com o trajeto da carótida. Ao se realizar a varredura trans-
versa , não raro nos deparamos com múltiplas secções da
carótida em um mesmo plano de imagem com fluxos em
TIPO 1 TIP0 2 TI P03 direçâo oposta. Essa dificuldade pode ser em pane mini-
000-60" 60"-30° <30"
mizada trocando-se a sonda linear por uma sonda setorial
.. Figura 6.11. Classificação de Metz para tortuosidades ou microconvexa que nos oferece maior mobilidade. Se
carotídeas. por um lado o alinhamento adequado da imagem é pre-

85
Doença Carotídea Não Aterosclerótica

Figura 6.12. Tortuosidades carotídeas. (A )


Kinking tipo I. (8) Doppler espectral mostrando
curva normal. (C) Kinking tipo 11. (D) Análise
espectral mostrando pouca repercussão
hemodinãmica. (E- I) - Kinkings tipo 111.
Figs. (H - I) mostrando alguma repercussão
hemodinãmica ao Doppler em cores.

86
Doença Ca rotídea Não Ate rosc le rótica

judicado, a tortuosidade do vaso nos pennite um melhor É um tumor orig!nado das células paraganglionares de-
ângulo de ataque do Ouxo pela análise espectral e, conse- rivadas das células da crista neural presentes na adventícia
quentemente, aumento da variação da frequência ultrassô- da carótida, da aorta e da medula adrena1. 62 -63 a carótida
nica 6 1 A tortuosidade gera também alargamento da curva ele se localiza na adventícia da face posteromedial ao nível de
espectral (turbulência), que propicia a fonnação de placas sua bifurcação, estando bem aderido a ela (Fig. 6.13 B--D).
que devem ser rastreadas com cuidado em tais situações. Apresenta-se como um tumor ricamente vasculariza-
Quando o hinhing e/ou a placa nele fonnada geram reper- do (fig. 613C), inicialmente irrigado pelos vasa vaSOrLtm
cussão hemodinâmica, devemos tomar cuidado para não da própria adventícia. À medida que ele cresce, passa a
superestimar o grau de obstmção, uma vez que o angulo ser irrigado por ramos da carótida externa, como a ar-
de ataque favorável, como já citado, aumenta a velocidade télia falíngea ascendente , por ramos cervicais e até pela
de Ouxo resultante . A presença de Ouxo amortecido dis- artéria vertebra[64 O conhecimento da fonte de inigação
tal mente à região de tortuosidade da carótida pode ajudar do tumor é importante para o planejamento da estratégia
na definição da repercussão hemodinâmica dos achados cirúrgica. Seu crescimento é lento e progressivo, da or-
descritos. Um estudo dinâmico com manobras de late- dem de 0,5 cm ao ano; ele ocorre em todas as direções ,
ralização do pescoço pode acentuar o grau de obstmção havendo, contudo, restrição inferior pela bainha da fáscia
provocado pelo hinhing e, dessa forma , reproduzir even- carotídea. À medida que ele cresce, distorce o ângulo da
tuais sintomas apresentados pelo paciente. Todo cuidado bifurcação carotídea , achado característico (Fig. 6.13G) .
deve ser tomado ao se definir a presença de repercussão O crescimento superior em direção à base de crânio pode
hemodinâmica secundá lia ao hinhing, uma vez que esta afetar os nervos cranianos. O crescimento mediaI e an-
afinnativa pode gerar um procedimento cirúrgico que não terior pode gerar compressão das vias respiratólias , dis-
necessariamente resultará em remissão dos sintomas. fagia, compressão do nervo vago, hipoglosso e da cadeia
simpática cervical.
Clinicamente caracteriza-se por uma massa cervical
DI CAS indolor, pulsátil, com mobilidade lateral e fixa no senti-
do superior. A indicação cirúrgica deve ser considerada
• Alças ou coils podem ter origem congênita, ao
quando esses tumores atingem 5 cm de diâmetro, uma
passo que angulações agudas ou hinhing podem
vez que a partir deste tamanho eles passam a apresentar
ter origem adquirida .
um elevado índice de morbidade pós-operatória 65
• Uma tortuosidade que não gera mudança na di-
reção do fluxo não deve ser chamada de kinking .
• Ao encontrar um hinhing, faça uma anamnese ri-
Achados à ecografia
gorosa quanto aos sintomas e não se esqueça de Apesar de a tomografia e a angiorressonância serem os
obter fluxos durante manobras de lateralização exames de eleição na avaliação pré-operatória desses
do pescoço. tumores, o Doppler em cores nos permite não somente
fazer o diagnóstico inicial, como também o acompanha-
mento longitudinal do tumor e sua relação com vasos
TUMOR DO CORPO CAROTíDEO e estmturas na região cervical. Ao modo B, observa-se
uma massa sólida, de baixa ecogenicidade e contornos
Considerações gerais bem definidos, localizada na bifurcação carotídea . Seus
Descrito inicialmente pelo suíço Von Haler em 1743 , o diâmetros longitudinal , anteroposterior e laterolale-
tumor do corpo carotídeo também pode ser chamado de ral devem ser obtidos e informados. Para tal , o ganho
paraganglioma, menos frequentemente de quemodecto- total da imagem deve ser aumentado. O Doppler em
ma ou tumor do glômus carotídeo , devendo esta última cores e o Power Doppler evidenciarão uma massa ri-
nômina ser evitada. Sua incidência é rara e ocorre sob camente vascularizada com fluxo de baixa resistência
duas formas : a esporádica e a familiar autossômica do- em seu interior pela análise espectral. Com frequên-
minante, descrita por Chase em 1933. Ele ocorre mais cia , conseguem-se identificar as artérias nutridoras que
frequentemente em adultos na faixa etária de 40- 50 devem ser relatadas no laud0 6Mi Alguma apresentam
anos, sendo incomum em crianças . Em 10% dos casos, eventualmente Ouxo de alta velocidade, o que não deve
são bilaterais e em apenas 5-10% se malignizam através ser confundido com estenose carotídea . O diagnóstico
de metástases a distância . diferencial deve ser feito com linfadenomegalia, cisto

87
Doença Carotídea Não Aterosclerótica

Figura 6.13. Tumor de corpo carotídeo. (A) Observar


a separação dos ramo s. (8 ) A nutrição do tumor é feita
pela carótida externa, (C) Fluxo de baixa resistência no
tumor, (O ) Medida dos diâmetros do tumor pelo modo
B, Exame de 2007, (A- O) Tumor medindo 1,6 x 2,2 Cm,
(E- C ) mostram o tumor em 2010 medindo 2,1 x 3,4 cm,
(C ) Tumor no corte transverso di storcendo o ângulo da
bifurcação, Há destaque dos ramos interno e externo,
sendo o último o nutridor dos ramos do tumor,

88
Doença Carotídea Não Ateroscleróti ca

branquial, carcinomas primários ou metastáticos, glãn- Entretanto , o trauma carotídeo é injúria relativamente pou-
dula salivar, abscesso, pseudoaneurisma trombosado e co frequente , oCOlTendo em menos de dois a cada 1.000
aneurisma verdadeiro Sua localização e característica pacientes traumatizados que requeiram internação hospita-
ao Doppler em cores tornam o seu diagnóstico, porém, lar. O primeiro caso reportado de trauma fechado da caró-
bastante provável. tida ocorreu em 1872. Desde então, a maiOlia da literatura
médica consiste principalmente em trauma penetrante do
pescoço como principal mecanismo de injúria o9 Mais de
DICAS 70% de todos os traumas de carótida por trauma fechado
ocorrem como resultado de colisões automobilísticas (Fig.
• Uma boa história clínica e exame físico rigoroso
6. 14A-D), 12% em eventos esportivos, 10% em lutas e
aumentam a probabilidade pré-teste para tumor
7% em quedas. Os achados clínicos mais comuns são: dor
de corpo carotídeo.
cervical, dor mandibular, cefaleia , sfndrome de Horner e
• Atenção para não confundir um fluxo de alta ve-
zumbido em mais de 96% dos casos. AVCs secundários a
locidade na topografia da bifurcação com este no-
dissecções ou tromboses também podem ocorrer.
se carotídea.
O ECD é um método diagnóstico de baixo custo ,
com baixa taxa de morbidade, e deveria se constituir
como procedimento de escolha para trauma cervical fe-
TRAUMA CAROTíDEO
chado em pacientes estáveis , com injútias nas zonas 11 e
Lesões carotídeas constituem-se num desafio dentro do lll , sem sinais de sangramento ativo.
trauma arterial, já que as mesmas têm o potencial de ex- O ECD tem como limitação o enfisema subcutãneo
sanguinar, obsmür as vias aéreas e causar dano cerebral. ou grandes hematomas. Ele é operador dependente e

Figura 6.14. Pseudoaneurisma trombosado pós-trauma cervical fechado. Aneurisma sacular pós-trauma (trombosadol.
Corte sagital (longitudinal), com o pseudoaneurisma quase imperceptível da carótida. É preciso alto grau de suspeição.
(A )
(B)Extensão do trombo pelo corte longitudinal. (C) Doppler em cores delimitando a luz. Não se faria o diagnóstico pela
angiografia, só pela TC ou RNM. (0 ) Trombo visto pelo corte tran sve rso.

89
Doença Carotíd ea Não Aterosclerótica

consome mais tempo do que o desejado em quadros aneurysms and extracranial vertebral aneriovenous fisrula.
No Shinkei Geka. 1985; 13: 875-80 .
agudos lO
5. Sharma VK, Pereira AW, Ong BK , Rathakrishnan R, Chan
Os achados passíveis de serem encontrados são pseu- Bp, Teoh HL.: Images in cardiovascular medicine. ExternaI
doaneurismas, dissecção, compressão extrínseca, fístu la carotid anery-imernal jugular vein fisrula : a complication of
arteriovenosa e oclusão por tromboembolismo. A maio- imernal jugular cannulation . Circulation. 2006; 113: 722-3,
6. Talwar S, Bhan, A Sharma R, Choudhary SK, Venugopal
ria desses assuntos já foi, contudo, abordada nos tópicos P : Carotid anery to jugular vein fistula repair using
anteríores. cardiopulmonary bypass. Asian Cardiovasc Thorac Ann,
2000; 8 : 366-8.
7, Chen YW,jeng,jS, Liu, HM, Hwang BS, Lin WH, Yip PK.:
Achados à ecografia Carotid and Transcranial Color-Coded Duplex Sonography
in Different Types of Carotid-Cavernous Fistula Stroke.
Velocidades assimétricas nas carótidas comuns e inter- 2000; 31: 701-706,
nas devem ser avaliadas em detalhes até que se deter- 8. Amirjamshidi A, Abbassioun K, Rahmat H.: Traumalic
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a 12 cmJs na carótida comum, estando ao menos 10 9. Kakkar S, Angelini P, Leachman R, Cooley DA. Successful
cmJs mais baixa do que o lado contralateral, aumenta c10sure of post-traumatic carotid-jugular aneriovenous fisrula
a suspeita de estenose distaI ou oclusão l i Padrões de complicated by congestive hean failure and cerebrovascular
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fluxo é medida. O segmento trombosado é gravado, mas 13. Golclstone j.: Aneurisma da anéria carótida extracraniana
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92
CAPíTULO 7
U Itrassonografia Vascu lar
Ana Luiza Valient e Engelhorn
no Diagnóstico da Arterite Carlos Alberto Engelhorn

Temporal

IN TROD UÇÃO vascular apresenta-se como uma opção diagnóstica não in-
vasiva na identificação dos pacientes com arterite temporal.
A arterite temporal é uma vasculite primária do subgrupo Transdutores de alta frequência e alta resolução permitem
das arterites de células gigantes, apresentando-se como avaliação confiável da artéria temporal , que se localiza a
uma doença sistêmica caracterizada por inflamação crô- aproximadamente 3-4 mm abaixo da superficie da pele.
nica, com formação de grãnulos de células gigantes, em
artérias de médio e grande calibre.
INDICAÇÕES DA
O diagnóstico precoce é de máxima importância
para diminuir o risco de complicações, como a perda ir-
Ul TRASSONOGRAFIA VASCULAR
reversível da visão, uma vez que 5-20% dos pacientes
desenvolvem neuropatia arterítica anterior do nervo óp- Suspeita clínica de arterite temporal:
tico, por oclusâo das artérias ciliares posteriores.' Pacientes >50 anos que apresentem febre de ori-
O diagnóstico da arterite temporal é basicamente clí- gem indeterminada.
nico , porém a biopsia da artéria temporal é geralmente Anemia de doença crônica (normocrômica nor-
recomendada para a confirmação diagnóstica. O Colégio mocítica).
Americano de Reumatologia recomenda pelo menos três Cefaleia de recente começo.
dos seguintes critérios para estabelecer o diagnóstico: Claudicação mandibular.
idade ~ 50 anos, cefaleia localizada e de início recente, Sensibilidade e/ou diminuição do pulso da arté-
sensibilidade ou redução do pulso na artéria temporal , ria temporal.
velocidade de hemossedimentação (VHS) ~50 mm na Aumento da VHS.
primeira hora e achados histopatológicos compatíveis 2 Determinar extensão da doença.
Sintomas como fadiga, febre, claudicação mandibular, Identificação e escolha do local para biopsia.
rigidez do pescoço e ombros também podem ser encontra- Determinar atividade da doença.
dos. A biopsia da artéria temporal tem sido historicamente Monitorar a evolução da doença.
realizada para o diagnóstico definitivo, pois o tratamento Acompanhamento pós-tratamento.
é a longo prazo e com potenciais efeitos colaterais. É um Polimialgia reumática.
procedimento de pequeno pone, porém, não são todos os
pacientes que aceitam sua realização e muitas vezes o resul-
tado é negativo , mesmo na vigência da doença, pois o mate- TÉCNICA DE AVALIAÇÃO
rial pode ser retirado de um segmento da artéria sem lesão,
Paciente em posição supina com rotação contralateral da
além da possibilidade de potenciais complicações, como
cabeça. A avaliação deve ser sempre realizada bilateral-
lesão do nervo facial , necrose de pele, ptose palpebral, is-
mente, de acordo com a técnica a seguir:
quemia cerebral por interrupção de circulação colateraP-S
Com a grande evolução na qualidade da imagem vascu- a) Transdutor linear de alta frequência (7-13 MHz) po-
lar, permitindo a avaliação de pequenos vasos superficiais sicionado na região temporal a ser estudada, medial-
com e sem o mapeamento colorido do fluxo, o ultrassom mente ao pavilhão auricular (Fig. 7.1 ).

93
Ult rassonografia Vascula r no Diagnóst ico da Arter ite Temporal

Figura 7.1. Posição do transdutor linear de alta frequência ~ Figura 7.3 . Exemp lo de artéria temporal proximal
na região temporal. tortuosa.

b) Corte ultrassonográfico transversal em Modo B, com do o processo zigomático em direção ao ãngulo do


profundidade (3-4 mm), ganho do Modo B adequado olho, avalia-se o ramo orbital; um pouco mais abaixo
e otimização da zona focal na área de interesse . e paralelo a este, está o ramo fascial. Mais acima, em
c) Estudo da artéria temporal superficial com mape- direção à região frontal , estuda-se o ramo frontal; e
amento em cores do Ouxo ou pelo Power Doppler, posteriormente, em direção à região temporoparietal,
inicialmente em cortes ultrassonográficos transversais estuda-se o ramo pariela!. Frequentemente a artéria
para iàentificação do vaso e posteriormente em cor- temporal apresenta-se tortuosa nos segmentos mais
te longitudinal para mapeamento da maior extensão proximais (Fig. 7.3).
possível da artéria. Ajusta-se o tamanho da caixa da e) Pelos cortes ultrassonográficos transversais e longitu-
cor, sempre de pequeno tamanho , centralizando a dinais, realizar a procura ativa do espessamento mu-
imagem do vaso que se está estudando. Adequar o ral hipoecoico , formando um halo anecoico (escuro,
ganho da cor,frame rate e PRF para o paciente avalia- ecoluscente) , causado pelo edema inflamatório da
do , a fim de evitar "borramento", pois extravasamen- doença . Este halo escuro é concêntrico, pois trata-se
tos causados por excesso no ganho de cor encobrem de uma panartelite, e todas as camadas da parede ar-
a parede da artéria que está envolvida pelo processo terial estão envolvidas pelo processo inOamatório. A
inOamatório (Fig. 7.2). identificação do halo hipoecoico pode ser facilitada
d) Varredura ascendente com o transdutor sobre a têm- pela utilização do mapeamento do fluxo pelo Power
pora, para avaliação dos principais ramos da artéria Doppler (Figs. 7.4,7.5).
temporal: ramo orbital, ramo fascial (artéria transver- O Mensurar o grau de espessamento da parede arterial
sa da face), ramo temporal e ramo parieta!. Seguin- (halo escuro) com o cali per do equipamento em cor-
tes ultrassonográficos transversais e longitudinais. A
primeira marcação do cursor deve estar posicionada
na interface formada entre o lecido subcutâneo e a
adventícia, e a segunda, na transição entre a zona es-
cura do halo e o fluxo do sangue. Essas medidas serão
utilizadas para o diagnóstico e acompanhamento da
atividade da doença.
g) Pelo corte ultrassonográfico longitudinal , identificar
áreas focais de estenose com redução acentuada do
Figura 7.2. Exemplo de mapeamento com Power
Doppler demonstrando o fluxo, em corte ultrassonográfico
lúmen arterial, causando aumento focal de velocida-
longitudinal, em grande extensão da artéria temporal de e turbilhonamento do fluxo ou de segmentos do
superficial. vaso sem fluxo , devido a obstruções segmentares. Na

94
Ultrassonografia Vascu lar no Di agnóst ico da Arteri te Tem po ral

Figura 7.4. Co rtes


ultrassonográficos transversais
e longitud inais de halo
hipoeco ico (+-) envolvendo a
parede arteria l.

to parietal também pode ser facilitada pela utilização


do mapeamento do fluxo pelo Power Doppler:

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
A aterosclerose é o principal diagnóstico diferencial da
aneJite temporal, uma vez que é altamente prevalente
nesta faixa etária. Como em outras artérias periféricas,
as placas de ateroma são irregulares, excêntricas, homo-
gêneas, ecogênicas ou predominantemente heterogêne-
as. As lesões ateroscleróticas da artéria temporal dificil-
mente são ecolucentes (com predomínio de colesterol)
e, diferentemente do processo inflamatório concêntrico
da panarterite , as placas são excêntricas e irregulares nos
cortes ultrassonográficos longitudinais e transversais .
Figura 7.5. Imagem longitudinal de artéria temporal com
A presença de halo anecoico periartelial apresenta
mensuração do espessamen to mural envolvendo a parede
arterial. Note a mensuração (1 mm) da espessura do halo grande variação de sensibilidade (40-95%) entre os di-
periarterial. versos autores no diagnóstico da arterite temporal , com
especificidade entre 68 e 93% 8-12 Recente revisão sistemá-
presença de estenoses pelo mapeamento em cores do tica de 13 estudos realizada por Schmidt et aI. identificou
fluxo, obter as velocidades sistólica e diastólica nas ar- sensibilidade entre 40-100% (média 86%) e especifici-
térias temporais , com ajuste do ganho e escala (PRF) dade de 68-100% (média 93%) para o edema da parede
do Doppler pulsado . do vaso na identificação da doença quando comparado
h) Pelos cortes ultrassonográficos transversais e longitu- a histologia , e 35- 100% (média 70%) de sensibilidade e
dinais , pesquisar lesões crõnicas na identificação de 78-100% (média 97%) de especificidade quando compa-
maior "brilho" na parede do vaso identificado, que rado ao diagnóstico clínico, baseado nos critérios do Colé-
corresponde a fibrose . A identificação do espessamen- gio Americano de Reumatologia . o entanto, a associação

95
Ultrassonografia Vascular no Diagnóstico da Arterite Temporal
- - - - - - - - -- - - - - - - -- - - - - - - - - - - -- - -.._ - - -

entre halo escuro e a presença de estenose e oclusão au-


menta a sensibilidade do método entre 91 - 100% (média
95%), comparado aos achados histológicos, e 83 - 100%
(média 88 %) comparado ao diagnóstico clínico. !3
Salvarani et a/. observaram um aumento da especifici-
dade no diagnóstico da arterite temporal de 79% para 93%
com halo hipoecoico de pelo menos 1 mm de espessura s
A maior relevãncia da ecografia vascular na identifi-
cação da arterite temporal é o elevado valor preditivo ne-
gativo (VPN) do método, ou seja, a capacidade de afastar
a presença da doença nos pacientes estudados. LaSar et
a/. em estudo prospectivo de 32 pacientes estudados com
ecografia vascular comparado à biopsia, encontraram VP
de 95,8 % para o critério de halo escuro perivascular, e
Figura 7.6. Exemplo de artéri a temporal superficial
100% associado a presença de estenose inflamatória. Este
normal.
alto valor preditivo negativo afasta a presença da doença e
identifica os pacientes sem indicação de biopsia w .11
O halo escuro parietal que corresponde ao processo
inflamatório arterial é identificado na fase aguda da do-
ença, desaparecendo, em média, 2 semanas após o uso
de corticosteroide (variando de 1-8 semanas) 6 A evolu-
ção do processo inflamatório pode ser acompanhada pela
redução do espessamento e maior ecogenicidade parietal ,
cOlTespondendo à fibrose dos estádios crônicos?

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
Critérios de imagem

Artéria normal: Calibre uniforme com fluxo ho-


Figura 7.7. Imagem transversal de artéria tempora l
mogêneo e laminar (Fig. 7.6).
superficial com halo escuro periarterial.
Inflamação periarterial: Halo escuro ou espessa-
mento mural envolvendo a parede artelial 6 (Fig.
7.7).
Fibrose: Espessamento parietal ecogênico í (Fig. 7.8)
Estenose hemo dinamicamente significativa: Re-
dução do calibre com aumento focal de velocida-
des e turbilhonamento do fluxo (a liasing) 6
Oclusão: Ausência de fluxo no mapeamento em co-
res e no Doppler pulsado. f

LIMITAÇÕES DA
UL TRASSONOGRAFIA VASCULAR NO
ESTUDO DA ARTERITE TEMPORAL
Figu ra 7.8. Cortes ultrassonográficos transversais
a) Artérias de pequeno calibre. e longitudinais da artéria temporal demonstrando
b) A qualidade do equipamento utilizado. espessamento parietal mais ecogênico.

96
Ultrassonog rafia Vasc ular no Di agnóst ico da Arterite Temporal

c) Experiência do examinador. 3. SCOtl KJ, Tse DT, Kronish Jw, Temporal artery biopsy
technique : a clinic-anatomical approach. Ophthalmic Surg
d) Irregularidades parietais causadas por aterosclerose.
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97
CAPíTULO 8
U Itrassonografia
Tulio Pinho N(I.varro
Ricardo Jayme Procópio
Vascu lar das Artérias
Vertebrais

INTROD~ÇÃO rosclerose, particularmente em sua origem. O segmento


V2 estende-se desde o processo transverso de C6 até a
Cerca de 20% dos eventos isquêmicos do cérebro envol- saída de C2. O segmento V3 vai desde C2 até a entrada
vem a sua circulação posterior, e destes cerca de um terço no canal espinhal. E o segmento V4 é intracraniano e
ocorre devido à doença obstrutiva das artérias vertebrais, termina na formação da artéria basilar3-5 (Fig. 8.1).
basilar e cerebrais posteriores. A porção proximal das arté-
rias vertebrais é a localização mais comum de doença ate-
rosclerótica obstrutiva da circulação posterior. I As causas
de isquemia de grande artéria da circulação posterior são:
aterosclerose (mais comum), embolias (advindas do cora- A origem anõmala mais comum da artéria vertebral es-
ção, da aorta ou mesmo das vertebrais) e dissecção. 2 querda é a saída direta do arco aórtico do lado esquerdo,
Outra causa de isquemia vertebrobasilar é a doença que ocorre em 5% dos casos. 4 .5 Uma rara variação é a sua
obstrutiva proximal da artéria subclávia. A maioria dos origem na artéria subclávia esquerda mais distai, ou mais
pacientes com doença proximal da artéria subclávia é as- raramente ainda na artéria carótida comum esquerda. A
smtomática ou pouco sintomática. A apresentação sinto- origem da artéria vertebral direita no arco aórtico ou na
mática mais frequente relaciona-se com o braço ou a mão. carótida comum direita é um achado ainda mais raro 3
Sintomas neurológicos são incomuns, a menos que sejam
acompanhados de doença carotídea. Tonteira é o sintoma
neurológico mais comum, com caráter de vertigens ou de INDICAÇÕES DE UlTRASSONOGRAFIA
rotação. São geralmente efêmeros e podem ser desenca- VASCULAR DE ARTÉRIA"s VERTEBRAIS
deados pela movimentação do membro. Entretanto, na
maioria dos pacientes, o exercício do membro superior Como parte da rotina na investigação da doença ce-
não provoca sinais ou sintomas neurológicos. Portanto, rebrovascular extracraniana.
lesões ateroscleróticas da artéria subclávia podem propor- Na doença avançada carotídea, na qual a artélia verte-
cionar isquemia no membro superior ou ataque isquêmico bral apresenta papel relevante na irrigação cerebral.
transitório, mas raramente causam infarto cerebral. Devi- Na investigação da isquemia da circulação posterior
do às vertebrais terem origem nestes vasos, estas lesões do cérebro (vertebrobasilar)
podem causar redução de fluxo nas artérias vertebrais. 2 Como coadjuvante na avaliação do fenõmeno de
"furto pela subclávia".
ANATOMIA
A artéria vertebral é dividida em 4 segmentos. Os seg- TÉCNICA DE AVALIAÇÃO
mentos de 1 a 3 representam a artéria vertebral extracra-
PARA DIAGNÓSTICO
niana. O primeiro segmento (VI) estende-se desde a sua
origem na artéria subclávia até a sua entrada no forame a) Posição: Paciente em decúbito dorsal horizontal, com
transverso de C6. Este é o local mais acometido por ate- a cabeça reta e o pescoço hiperestendido. Pode ser

99
Ultrasso nografia Va sc ul ar das Artéri as Vertebrai s

Figura 8.1. Segmentos da artéria


vertebral. E<;quema demonstrando os
segmentos da artéria vertebral. Fonte:
Uflacker R. Atlas of vascular anatomy.
Philadelphia, PA: Lippincot, Williams
and Wilkins, 1997:17-8.
Vl - estende-se desde sua origem na
artéria subclávia até sua entrada
no forame transverso de C6.
V2 - estende-se desde o processo
transverso de C6 até a saída
de C2. Figura 8.2.
V3 - va i desde C2 até a entrada no (A) V1. Origem da artéria vertebral na artéria subclávia demonstrada pela USV com
canal espinhal. Doppl er col orido.
V4 - é intracraniano e termina na (B) V2 . Artéria vertebral no terço médio do pescoço demon strada pela USV com
formação da artéria basilar. Doppl er em co res .
(e ) Montagem dos segmentos Vl e V2 da artéri a vertebral.

necessário rotação do pescoço para detenninar altera- estudo da origem (VI ) e segmento V2. Deste modo,
ções no fluxo da artéria. identifica-se positivamente o vas0 6
b) Transdutor linear com frequências de 5-10 MHz , que e) Procede-se à medida do diâmetro da artéria 3
são mais adequadas para melhor visibilidade entre os O Por meio da análise espectral, medem-se as velocidades,
processos transversos das vértebras (Buckenham & o padrão do fluxo (perviedade) e detennina-se a dire-
Wright, 2004), com ajustes da profundidade e do ga- çâo (cefálica ou caudal)6 É frequente que apenas o seg-
nho no Modo B. mento V2 seja avaliado no exame das artérias vertebrais
c) Corte ultrassonográfico transversal no segmento médio pela USv, que fornece a direção do fluxo e o fonnalo da
do pescoço para visibilizar a artéria carótida comum e onda espectral. Entretanto, é desejável que se visibilize
em seguida mudar para o corte longitudinal a partir de o segmento VI, particulannente sua origem, que é o lo-
uma abordagem lateral. Em seguida, o transdutor deve cal mais comum de doença obstrutiva, especialmente se
ser direcionado posterionnente, mantendo o corte lon- houver padrão tardus parvus distai na onda espectraJ.3
gitudinal , até se visibilizarem as sombras acústicas dos
processos transversos das vénebras, onde se identifica
PARÂMETROS ENCONTRADOS
o segmento V2 entre os processos transversos.
d) Utilização do mapeamento em cores do fluxo com A ultrassonografia vascular (USV) das artérias vertebrais
cortes ultrassonográficos em plano longitudinal para fornece evidências diretas e indiretas de circulação anor-

100
Ultrassonografia Vascu lar das Artérias Ve rtebra is

mal nas artérias vertebrais, inclusive de lesões proximais


ou distais. 3
A origem das artérias vertebrais pode ser visibiliza-
da em aproximadamente 65-85% dos pacientes, sendo a
origem direita mais fácil de visibilizar que a esquerda.;
Comparações iniciais da USV com a arteriografia ver-
tebral demonstraram que a USV pode avaliar a artéria
vertebral adequadamente em 93% dos casos, com boa
correlação na presença de artérias normais, estenóticas
ou ocluídas.1·8
O segmento V2 é visibilizado em cerca de 95% dos
pacientes, 14embora falha em identificar seu fluxo não in-
dique conclusivamente que a artéria está ocluída, uma vez
que hipoplasia pode mimetizar o quadro de oclusão.
Os segmentos V3 e V4 não são rotineiramente ava-
liados no laboratório vascular, embora possam ser avalia-
dos por técnicas transcranianas 3
A velocidade de pico sistólico no segmento V2 varia
de 20-60 Cm/S 9 . 11 Devido à assimetria nos diâmetros en-
tre as artérias vertebrais que ocorre em cerca de 73% dos
indivíduos normais ,12 pode haver diferença importante
nas velocidades de pico sistólico e diastólico de um mes-
mo indivíduo.
Velocidade sistólica <10 cm/s é anormap 2 e >100
cm/s é indicativa de estenose significativa. 11
o segmento VI, as velocidades de pico sistólico são
um pouco mais altas, com variação de 30-100 cm/s, com
média de 64 cm/s. 13
O diâmetro médio da artéria vertebral é de 3,5 mm,
com tendência de a vertebral esquerda ser maior que a
direita. 12
O fluxo é cefálico durante todo ciclo cardíaco e de Figura 8.3 . Padrão norma l da artéria vertebral avaliada
pela USV .
baixa resistência (Fig. 83) (A ) Fluxo com direção cefál ica demonstrado pelo Doppler em
cores.
(B ) Pad rão de onda normal da artéria vertebral. Fluxo com
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS baixa resistência demonstrado pe lo Doppler pulsado.
Caixa de cor invertida para melhor estudo do fluxo mais
Na estenose da artéria vertebral distaI.

1. A origem da artéria vertebral é o local mais comum


de estenoses, embora possam ocorrer em toda sua
extensão. Na oclusão da artéria vertebral
2. Critério de estenose significativa na origem (VI): velo- 1. Visibilidade da artéria vertebral sem fluxo no canal
cidade de pico sistólico >100 cm/s. a vertebral distai ósseo é sugestivo de oclusão, particularmente se a
à origem, pode-se evidenciar uma onda espectral de placa calcificada for identificada. No entanto, pode
padrão tardus parvus ll (Fig. 8.4). ser difícil diferenciar de hipoplasia, aplasia ou até de
3. Achado de sinais de fluxo fortes (hiperfluxo) na arté- dissecção (fig. 8.5).
ria vertebral foi associado a doença contralateral acen- 2. Obstruçã%clusão distai da artéria vertebral demons-
tuada, fluxo reverso na artéria vertebral contralateral tra fluxo de alta resistência e baixa velocidade, deven-
ou estenose grave das carótidas 6 do ser diferenciada de hipoplasia 1-1 (Fig. 8.6)

101
Ultra sso nografia Vascular das Artérias Vertebrais

Figura 8.5 . Oclusão da artéria vertebral demonstrada pela


ausência de fluxo ao Doppler em cores no segmento V2.
Notar a presença de fluxo na veia .

Figura 8.6. Fluxo de alta resistên cia na artéria vertebral


sugestivo de lesão distai intracrani ana.

da artéria subclávia ipsilateral 141617 ou do tronco bra-


quiocefálico (Fig. 8.7). Também associada à reversão
Figura 8.4. Estenose na origem da artéria vertebral.
(A) Estenose na ori gem da artéria vertebral (note turbul ência do fluxo na artéria mamária ipsilateral. Jj
do fluxo pelo Doppl er em co res indi cado pela seta). 2. Fluxo unidirecional com componente anterógrado va-
(B) Aumento das veloc idades sistó lica (3 43,8 cm/s) e riável, que pode apresentar ondas com dois picos sistó-
di astólica (73 cm/s) no ponto de estenose (3 4 3/7 cm/s).
licos, com o segundo componente sistólico mais acha-
(C) Fluxo amortecido no segmen to distai à estenose
(17,6/4,8 cm/s). tado (velocidade menor), arredondado e alargado 1 8
3. Fluxo bidirecional: Presença de componentes ante-
rógrado e retrógrado na mesma onda . Tem 100% de
Na artéria vertebral - na presença de sensibilidade para estenoses sign ificativas ou oclusão
doença obstrutiva proximal da artéria da artéria subclávia ou do tronco braquioce fálico H . 16
subclávia homolateral (furto pela (Fig. 88)
subclávia)
1. Reversão completa do fluxo (onda espectral negati- Na dissecção da artéria vertebral
va durante lodo o ciclo cardíaco). Apresenta 100% 1. O segmento V3 é o mais acometido pela dissecção. 18-2l1
de sensibilidade de estenose significat iva o u ocl usão Embora a análise es pectral d o flu xo ap resente anor-

102
Ultrasso no grafi a Va scular das Arté rias Vertebrais

Figura 8.8. Furto pe la artéria subcl ávi a. Flu xo bidirecional


co m presença de componente ante rógrado e retrógrado na
mesma onda.

malidades, é insuficiente para ser específica para dis-


secção.
2 . O ac had o típico é a m e mbrana co m d o is lum en s,
po d end o ta mbé m se r e nco ntrad os pse ud oa ne uris -
m as , he m a to m a int ra mural o u e lenose co m ocl u-
são d ista l. 21
3. O u tros ac had os incluem anormalidade no fl uxo , como
ba ixa ve locidad e d e pico sislóli co , onda espec tral de
alta resistência, ausência d e flu xo o u flu xo reve rso. 1K

No aneurisma da artéria vertebral


1. Aneuri sm as d a artéria ve rteb ral são ex lrem amente ra-
ros e d evid os principalmente a trauma n
2 . O li m ite su pe ri o r do diâmetro d a arté ria ve rtebral
é de 5- 5, 5 mm . Aci m a deste va lo r é considerado
aumentado .2l1o A regra ge ral dos aneurismas (>50 %
do segme n to seq uencial) é válida também neste terri-
tó ri o.
3. Oco rrem m ais frequ entemente no segm ento V2 .
Pseud oaneurism as secundários a dissecção são mais
comuns 2õ

Na aplasia ou hipoplasia
Figura 8.7. Síndrom e do "furto pe la subcl áv ia". 1. A ap lasia ou a hi pop lasia podem causar red ução signi-
(A ) Inve rsão do flu xo na artéri a vertebral demo nstrado pe lo ficativa do fluxo no sistema venebrobas ilar. O d iâme-
Doppl er e m co res .
tro médio da artéria é de 3,5 mm e, q uando menores
(B) Aná li se espectral confirmando a direção retrógrada do
flu xo na artéri a vertebral. q ue 3 mm , é sugestivo d e hi poplasia." ll'll A onda es-
(C) Oclusão no segmento proxim al da artéri a subclávi a pectra l pod e ser no rma l, bid irecio nal, de a lta ou baixa
confirm ando a co lateralização pela arté ri a vertebral. resistência (Fig. 8 9)

103
Ultrassonografia Vasc ular da s Artérias Vertebrais

Figura 8.10. Exemplo de dificuldade no estudo das


artérias vertebra is pela USV. Angu lação (kinking) do
segmento proximal da artéria vertebral demonstrado pelo
Doppl er em cores.

2. Apenas o segmento V2 é bem visibilizado (95% dos


casos). Os segmentos V3 e V4 não são rotineiramente
avaliados (exceto por técnicas transcranianas).
3. Ausência de fluxo na artéria vertebral não é sempre
conclusiva de oclusão. Pode ser relacionável a aplasia,
hipoplasia ou dissecção.
4. Alterações de fluxo sanguíneo têm boa sensibilidade,
Figura 8.9. Hi pop lasia da artéria vertebral.
(A ) Artéria vertebra l hipoplás ica com ca libre de 1,7 mm . porém pouca especificidade.
Comparar com a artéria vertebral contralateral de calibre 5. Baixa acurácia no diagnóstico da compressão extnn-
normal (3,5 mm). seca da artéria vertebral pelos processos transversos
(8 ) Fl uxo com padrão de alta resistência presente na artéria
durante a rotação do pescoço.
hipoplásica.
6. Tonuosidades do segmento proximal podem dificul-
tar o diagnóstico (Fig. 8.10).

Na insuficiência vertebrobasilar por


compressão extrínseca durante a
rotação do pescoço INFORMAÇÕES
O papel da ultrassonografia vascular não está totalmente
INDISPENSÁVEIS PARA O LAUDO
esclarecid0 26 Mesmo quando documentada a abo lição 1. Identificação positiva do vaso e quais segmentos fo-
do fluxo durante a rotação, as dificuldades técnicas em ram visibilizados.
manter a qualidade de imagem durante a rotação do pes- 2. Descrever a perviedade e a análise do padrão do fluxo
coço e os resultados falso-positivos (abolição do flu xo da onda espectral:
em pacientes sem doença) sugerem que esta técnica não a. Direção do fluxo .
é sensível nem específica 27 .28 b. Velocidade sistólica e diastólica .
c. Caraclensticas da onda: unidirec ional , um pico
LIMITAÇÕES DA USV NO sistólico ou dois, tardus parvus, alta ou baixa resis-
ESTUDO DAS ARTÉRIAS VERTEBRAIS tência .
3. Medida do diãmetro , discernindo de aneurisma e hi-
1. Até 35% de falha na visibilidade da origem da artéria poplasia.
vertebral na artéria subclávia. 4. Comparação com a artéria vertebral contralateral.

104
U ltrasso nog rafi a V asc ul ar das Arté ri as V erteb rais

CONCLUSÃO 13. Kuhl V, Tellenborn B, Eicke BM, Visbeck A, Meckes S. Color-


coeleel eluplex ultrasonography of the origin of lhe vertebral
A ultrassonografia vascular das artérias vertebrais é uma artery: normal values of flow velocities. j Neuroimag
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abordagem útil, sensível para a doença proximal da ar- 14. Nicolau C, Gi labert R, Cham orro A, Vazquez F, Bargallo
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secção, uma vez que essa é mais restrita ao segmento V3 ,
15. Ozbek SS, Parilelar M. Hemodynamic elisorclers in the
embora manifestações secundárias possam ser evidencia- internai thoracic artery: how often are they associateel with
das. A correlação entre a doença da artéria vertebral e subdavian steal via ipsilateral vertebral artery? J Ultrasound
o quadro clínico neurológico é menos definida que na MeclI998;17147-51.
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circulação carotídea. A vantagem deste exame é ser rá- alternating flow in vertebral arte ries with subclavian artery
pido, não invasivo, podendo indicar anormaliàades, ou stenoses. Stroke 1978;9:229-36.
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105
CAPíTULO 9
U Itrassonografia Orlando Carlos Glória Veloso

Vascular Transcraniana

INTRODUÇÃO de à imagem anecoica circular imediatamente sob o


transdutor).
A obtenção não invasiva e repetida de informações sobre - Aci.one o Doppler em cores para vi.sualização do sifão
a hemodinâmica nos vasos intracranianos é a mais valiosa carotídeo e da artéria oftálmica direita (Fig. 9.2).
utilidade do Doppler em cores transcraniano (DTC) em - Acione o Doppler pulsado: registrar curvas espectrais
várias doenças e situações que envolvem o cérebro.! das ondas de fluxo (com medidas de velocidade sis-
as atuais unidades neurointensivas, o DTC tem pa- tólica máxima, velocidade diastólica final, velocidade
pel bem definido e de inquestionável importância para média, índice de pulsatilidade e índice de resistência)
o diagnóstico e a monitorização de complicações graves, nas artérias citadas.
interferindo no prognóstico dos pacientes.
Em regime ambulatorial, o DTC é insubstituível na
2. Trdnstemporal direita: (Fig. 9.3 e 9.3A)
prevenção do acidente vascular encefálico em portadores
de doença falciforme. - Gire a cabeça do paciente para a esquerda .
O mapeamento em cores permitiu o acréscimo de - Posicione o transdutor perpendicularmente ao crânio
dados anatômicos seguros sobre os vasos, e a infusão de na região temporal , acima do arco zigomático (onde a
contraste com microbolhas, quando disponível, aumenta calota óssea apresenta menor espessura).
sobremaneira a qualidade das imagens. - Corte ultrassonográfico transversal.
- Acione o Doppler em cores para identificação das ar-
térias carótida interna distai, cerebral ante rior, cere-
TÉCNICA DE AVALIAÇÃO
bral média e cerebral posterior (Fig. 9.4A e 9 .4B).
PARA DIAGNÓSTIC02
- O DTC deve sempre ser precedido do Doppler em 3.Transorbital esquerda:
cores de carótidas e vertebrais extracranianas. - Repe tir sequência descrita para a janela transorbital
- Paciente em posição supina. direita.
- Transdutor setorial de baixa frequência (2 ou menos
MHz) com ajuste de profundidade e ganho em Modo 4. Transtelllporal esquerda: (Fig. 9.5)
B, posicionado sequencialmente nas cinco janelas ul- - Repetir sequência descrita para a janela transtemporal
trassônicas obrigatólias. direita, girando a cabeça do paciente para a direita.
- Reprodução, na tela do monitor do aparelho de ultrassom,
da posição do crânio do paciente de acordo com a janela
5. Transforaminal: (Fig. 9.6 e 9.6A)
utilizada (o que facilitará a identificação dos vasos).
- Posicione o paciente em decúbito lateral (direito ou
esquerdo) ou sentado .
Janelas ultrassônicas (sequência)
- Transclmor em cone transversal sobre o forame magno.
1. T 'n~orbltdl direitd: (Fig. 9.1 e 9.1A) - Acione o Doppler em cores: a imagem em "Y" cor-
- Repouse o transdutor sobre o globo ocular (no corte responde ao fluxo em vertebrais direita e esquerda e
ultrassonográfico transversal em Modo B, correspon- basilar (Fig. 9.7) .

107
Ultrassonografia Vascular Transcraniana

Figura 9.1.

o : ' ''' 1
JANELA 111. / .., --4 "

TRANSORBI1:
" L ", A,~ '
• J
'"
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40 •

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, FTALMICA - ~11 I ,~.

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, HII? IO(
P _• •R
l.o 'I,U

Figura 9.2.

Figura 9.3.

Figura 9.4 .

108
U lt rassonografia Vascular Transc raniana

Figura 9.5. Figura 9.7.

INDICAÇÕES DO DTC

OTe no vasoespasmo

- OTe no AVE isquêmico


OTe na doença ateromatosa

OTe na doença falcifonne

- OTe na hipertensão intracraniana

OTe em morte cerebral

- OTe em aneUlismas
Figura 9.6.
- DTC em migrânea e forame oval patente (FOP)
Movimente lateralmente o transdutor para identificação OTe na monitorização de êmbolos
das vertebrais direita e esquerda na tela do monitor.
Doppler pulsado: registre as curvas espectrais de flu- OTe em monitorização peroperatória
xo nas três artérias, com as medidas obrigatórias.

Identificação das artérias intracranianas


Artéria ! Profundidade Vm de fluxo Direção de fluxo em
relação ao transdutor
I
Sifão ca rotídeo 55-70 mm 40-50 cm/s Positiva ou negativa

Oftá lmica 40-60 mm 20 cm/s Positiva

Carótida intern a d ista i 55-70 mm 45 cm/s Positiva

Cerebral anterior 60-70 mm 60 cm/s Negativa

Cerebral méd ia 35-60 mm 70 cm/s Positiva

Cerebral posterio r 55-70 mm 40 cm/s Positiva (P1),


negativa (P2)

Vertebral 55-70 mm 40 cm/s Negativa

Bas il ar 70-120 mm 45 cm/s Negativa

109
Ultrassonografia Vascu lar Trallscraniana

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
DTC no vasoespasmo
Principal e mais grave complicação da hemorragia su-
baracnóidea (HSA) Pode ocorrer entre o quarto dia
(nunca antes) e o décimo quarto dia após o início da
HSA.

Quadro 9.1. Utilidade do DTC no vasoespasmo

- Diagnóstico e monitorização do vasoespasmo (HSA) .


- Critério diagnóstico: medida de velocidade média de fluxo. Figura 9.8 .

- Aumento superior a 25%/d ia e valores de Vm acima de


200 cm/s precedem o início de infarto em território de
cerebra l média (F igs. 9.8-9.11).
- Deve ser repetido diariamente até a normalização
comp leta da Vm de fluxo.

Quadro 9.2. Classificação do vasoespasm0 3

Grau % de redução luz Vrn de fluxo

LEVE < 25°/c. 100-120 cm/s

MODERADO 25-50 % 120-200 cm/s


Figura 9.9.
SEVERO >50% Acima de 200 cm/s

DTe no AVE isquêmico


Quadro 9.3. Utilidade do DTC no AVE isquêmico

- Confirmar o diagnóstico de oclusão de artéria


intracraniana.
- Monitorizar a reperfusão intraluminal durante terapia
trombolítica.
Obs.: DTC em cores permite a visualização segura da
recanalização do vaso.
- Diagnosticar complicações: Figura 9.10.
(a) Vasoespasmo
(b) Hipertensão intracraniana
(c) Morte cerebra l

A te rapia trombolítica no AVE isquêmic0 4 deve


ocorrer nas primeiras 3 horas após o início dos sinto-
mas . O DTC , além de ajudar na confirmação diagnós-
ti ca e na avaliação da extensão das artérias ocluídas , é
milizado na moniwrização da recanalização vascular
durante a infusão da medicação (o processo de trom-
bólise transcorre em cerca de 2 horas , na maioria dos
casos) . Figura 9.11 .

110
Ultrassonografia Vascular Transcraniana

Quadro 9.4. Escala TIBI de recanalização vascular


pós-trombólise (DTC) (Figs. 9.12A, B e 9.13)

Grau O - Ausência de fluxo


Grau I - Recanalização mínima
Grau 11 - Fluxo espicular (bluntec/)
Grau 111 - Fluxo amortecido
Grau IV - Padrão de estenose segmentar
Grau V - Fluxo normal

Figura 9.13.

Há vários estudos sobre a validade cla trombólise


em pacientes com até 6 horas de início do AVE isquê-
mico.

Fi gura 9.12.
DTC na doença ateromatosa

Quadro 9.5 . Grau de recanalização pós-trombólise Quadro 9.6. Critérios de estenose 6

A recanalização vascular pós-trombólise pode ser: - Turbilhonamento localizado do fluxo.


- Completa.
- Parcial (podendo reocluir nas 24 horas pós-recanalização). - Aumento de velocidades de fluxo.
- Não recanalização.
Obs.: A monitorização contínua com DTC permite - Amortecimento do fluxo a vazante.
agilização da conduta terapêutica nos casos de
recanalização parcial ou não recanalização, modificando o - Diferença mínima de 30 cm/s de Vm fluxo nos vasos
prognóstico dos pacientes. ' correspondentes.

111
U Itrassonografia Vascu la r Transcran iana

Quadro 9.7. Classificação de estenose intracraniana ateromatosa (Figs. 9.14-9.16)

Grau Redução da luz Resultado do DTC

LEVE Redu ção de 30% do diâmetro ou 50% da Normal


área

MODERADA 40-50% do diâmetro Dife rença de 30 cm/s de Vm de fluxo entre artérias


ou 60-70% da área correspondentes

IMPORTANTE > 80% do diâmetro Velocidade média de fluxo acima de 200 cm/s
ou > 70% da área

~ Quadro 9.8. Complicações cerebrais freq uentes na DF

- AVE isquêmico e/ou hemorrágico.


- Infartos "s ilenciosos. "
- Aneurismas .

~ Quadro 9.9. Utilidade do DTC na doença falciforme

- D iagnóstico de estenose intravascular com risco para AVE .


- Critério: medida de ve loc idade média de fluxo.
- Deve ser rea lizado em pacientes entre 2 e 16 anos de
idade.

~ Quadro 9.10. Estimativa de ri sco para AVE e conduta na


DF (Consenso Brasileiro 13/ 05/2 010)
Figura 9.14.
Vm de fluxo Risco de AVE Conduta

< 170 cm/s Risco baixo Repeti r DTC


(normal) anualmente

170-200 cm/s "Condiciona l" Repetir DTC de 3


em 3 meses
Se inalterado:
avaliar uso de
hidroxiureia

200-220 cm/s Elevado Repetir DTC em


15 dias
Se inalterado :
hemotransfusão
por 2 anos

>220 cm/s Elevado Hemotransfusão

Obs.: Nos pacientes em hemotra nsfusão, o DTC deve ser repetido a cada
se is meses (Fig. 9.23 A- H ).
Figura 9.15.

DTC na hipertensão intracraniana


~ Quadro 9.11 . Utilidade do DTC na hipertensão
intracraniana
DTC na doença falciforme (DF)!
Finalidade:
Nível de evidência do OTe IA
Monitorização qualitativa da pressão intracraniana.
Falcemização das hemácias provoca lesão parietal vas- Parâmetros de avaliação:
cular com estenoses intra luminais difusas em artérias - índice de pulsatilidade (IP = Vs - Vdf Nm )
- Velocidade média de fluxo sanguíneo
intracranianas (Figs. 917- 922).

112
Ultrassonografia Vascular Transcraniana
- - --- ------------------------ -- - -

Figura 9.16.
Figura 9 .19 .

Figura 9.17 .

Figura 9.20 .

Figura 9.18. Figura 9.21 .

113
Ultrassonografia Vascular Transcraniana

Figura 9.22 .

PADRÃO FALCÊMICO NORMAL


o .B.i.lli.lL
1i
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FLUXO TURBILHONAR \
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Vm DE FLUXO < 170 cri1/s PW


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~.~~~~~~ :jJ I'' ';. . ,.


. .. .~·. .
" ~IIWi':~1Itf [)
Figura 9.23 (A- O) (continua).

114
Ultrassonografia Vascular Tra nscra niana

Figura 9.23 (E- I) (cont inuação) .

Quadro 9.12. Valores norm ais de índi ces de pulsatilidade Autorregulação cerebrovascular
em artérias intracranianas
o concei to de autorregu lação cerebrovascular refere-se a
Artéria IP capacidade intrínseca do cérebro de manter o fluxo cere-
AC I 0,95-0,96 (0,02) bral constante durante alte rações na pressão de per[usão
ACA
cerebral
0,84-0,88 (0,02)
Nas diversas condições que resultam em injúria ce-
ACM 0,54-0,89 (0, 02)
rebral, ocorrem [requentemenLe perda da autorregula-

115
Ultrassonografia Vascular Transcraniana

ção e comprometimento do prognóstico dos pacientes.


Além disso, pode associar-se a perda da vasorreatividade
cerebrovascular (resposta das artérias cerebrais e do flu-
xo cerebrovascular a substâncias vasoativas específicas ,
sendo o CO 2 o mais poderoso modulador fisiológico da
resistência cerebrovascular).
O OTC avalia a aUlorregulação e a vasorreatividade
cerebrovascular através do IP e da Vm de fluxo. Os pa-
cientes com alteração dessas propriedades apresentam
respostas inadequadas a medicamentos indicados em
determinadas patologias, devendo ser evitados.
Na hipertensão intracraniana, ocorre perda da aUlOr- Figura 9.25.
regulação e da vasorreatividade cerebrovascular.

Quadro 9.13. Critérios para hipertensão intracraniana


severas (Fi gs. 9.24-9.26)

- Elevação do índice de pulsatilidade (redução da velocidade


d iastól ica).
- Progressivo aumento do índice de pulsatilidade e redução
Vm (vasoconstricção difusa).
- Padrão sequencial típico de curva espectral de fluxo com
inversão e posterior desaparecimento do componente
diastólico (evolução para morte cerebral ).

Figura 9.26.

DTC em morte cerebral (Figs. 9.27-9.30)


Teste de confirmação diagnóstica 9
Obrigatório o diagnóstico clínico prévio.
Critério: curva espectral com padrão d e fluxo alter-
nante ou ausência de fluxo em todos os vasos intra-
cranianos ("colapso vascular")
Sensibilidade e especificidade do OTe quase 100%.
Barbitúricos: suspender m edicamento 24 horas antes
do OTe.

100 PADRÃO EVOLUTIVO DE FLUXO EM MORTE CEREBRAL

Figura 9.24 . Decreased cpp


)

Quadro 9.14. Atenção


"Oh~ llll UH
Aumento do índice de pulsatilidade e redução de Vm
de fluxo não são achados específicos de hipertensão
intracraniana:
- A hiperventilação (queda da PCO) causa vasoconstricção
~Vlf", l r
Circulatory arrest
(aumento de IP). REPRODUZI DO "NEUROSONOLOGY' PÁG 195
Decreased cpp
- Uso de barbitúricos provoca vasoconstricção cerebral )
(aumento de IP).
Figura 9.27.

116
Ultrassonografia Vascula r T ranscraniana

Quadro 9.15. Erro diagnóstico de morte cerebral pelo DTC

Diagnóstico falso-positivo:
- Situação rara: HSA causada por hipertensão intracraniana
severa e com colapso ci rculatório transitório (reversão em
minutos.
- Casos com colapso circulatório mantido, mas com
atividade cerebral mínima preservada.
Diagnóstico falso-negativo:
- Raro: pressão diastólica muito baixa (uso de balão de
contrapulsação aórtica).
- DTC com fluxo preservado em região supratentorial em
paciente com morte clínica (lesões de fossa posterior).

OTe em aneurismas
o mapeamento em cores é indispensável para o diagnós-
tico de aneurismas.
Figura 9.28 . O uso de contraste com microbolhas aumenta a sen-
sibilidade do método . 10

Quadro 9.16. Diagnóstico de aneurisma pelo DTC


depende de

- localização: topo de bas ilar, comunicantes e cerebral


média são locais de mais fácil acesso.
- Tamanho: aneurismas inferiores a 7 mm dificilmente são
visualizados com segurança.
- Morfologia: os aneurismas multiloculados são melhor
visualizados.

Quadro 9.17. DTC em cores no diagnóstico de


aneurismas

Tamanho do Sensibilidade Especi ficidade


aneurisma do DTC do DTe

>12 mm 100% 100%

Figura 9.29. 7-12mm 41% 91 %

<7mm - -
Obs.: DTC com contraste (mi crobolhas) aumenta a sens ibilidade para
diagnóstico de aneurismas <7 mm (Figs. 9.31 e 9.32).

Figura 9. 30. Figura 9.3 1.

117
Ultrassonografia Vascular Transcraniana

Critério: lmagem linear esbranquiçada na curva es-


pectral de fluxo (Doppler pulsado) em número variá-
vel (dependendo da quantidade de êmbolos liberados
durante a manipulação da placa ateromatosa ou do
número de bolhas que atravessam o forame oval e al-
cançam a Circulação cerebral).

O número de êmbolos detectados pelo DTC tem re-


lação direta com a incidência de complicações cerebrais
pós-operatórias (Fig. 9.33).

Figura 9.32.

DTC na migrânea ("enxaqueca")


O papel real do DTC na migrânea ainda não está definiti-
vamente estabelecido na literatura internacional.

Quadro 9.18 . DTC no período intercrítico (fora da crise


de "enxaqueca")

Utilidade: apoio ao diagnóstico clínico.


Critérios: 11
- Diminuição do índice de pulsatilidade no vaso envolvido .
- Aumento da Vm de fluxo no vaso envolvido.

Figura 9.33.
Quadro 9.19. DTC durante crise álgica

- Pode diferenciar migrâneas com e sem aura Q uadro 9.22 . DTC e FOP
o COM AURA: redução do IP e aumento de Vm.
o SEM AURA: aumento do IP e redução de Vm. - Deve-se insonar as artérias cerebrais médias e a basilar.
- Utilidade no controle da resposta terapêutica - Infusão venosa periférica de solução salina agitada (20 ml).
medicamentosa (no rm alização do IP e Vm). - Orientar paciente para execução de manobra de Valsalva.
- Registro de curvas espectrais de fluxo (Doppl er pulsado):
• Ausência de "sinais de êmbolos": ausência de FOP.
o Registro de até 20 "s inais de êmbolos": FOP sem
Quadro 9.20. Migrânea e forame oval patente (FOP)
significado hemodinâmico.
o Registro superior a 20 "sinais de êmbo los": FOP com
o 50% dos casos de migrânea com aura e 30% sem aura
apresentam FOP. significado hemodinâmico.
o Utilidade do DTC:
- Triagem diagnóstica de FOP (injeção venosa de solução
salina agitada).
- Controle da resposta terapêutica (fechamento do FOP Para a pesquisa de FOp, deve-se insonar ambas as
com prótese). cerebrais médias (para avaliação da circulação cerebral
anterior) e a artéria basilar (Circulação cerebral posterior)
enquanto o paciente executa manobra de Valsalva duran-
DTC na monitorização de êmbolos te a infusão rápida de solução salina agitada.

Quadro 9.21. Indicações do DTC na pesquisa de êmbolos


DTC em monitorização peroperatória
Êmbolos sólidos:
A monitorização neurofisiológica durante cimrgias de
- Monitori zação peroperatória de endarterectomia, cirurgias
cardíacas. grande porte (cardíacas e neurológicas) e enelarterecto-
Êmbolos gasosos: mias tem por finalidad e identificar em tempo real anor-
- Pesquisa de forame oval patente (injeção venosa de
solução salina agitada) .
malidades que possam resultar em complicações pós-
operatórias , tais como:

118
Ultrassonografia Vascular Transcraniana

Déficits Tipo 1 (AVe - coma) 0 ,5-5,2% cios casos). Quadro 9.29. DTC na avaliação da perfusão cerebral

Déficits Tipo 11 (d isfunção cognitiva) (33-83 % cios


- A redução da velocidade média de fluxo em relação ao
casos). valor pré-intervenção (variação> 90%) é o parãmetro mais
importante.
Quadro 9 .23. Vantagens do DTC peroperatório
- A monitorização simultânea com EEG (altamente sensível
à hipóxia e isquemia) permite definição exata do nível de
- Oportunidade de identificação de anormalidades em tempo
redução da Vm de fluxo associada a alteração isquêmica
rea l. cerebral.
- Intervenção baseada na fisiopatologia.
- Observação imediata da resposta terapêutica.

Q uadro 9.30. Utilidade da monitorização peroperatória

Q uadro 9.2 ... . Mecanismos de lesão cerebral - Identificar anormalidades perfusionais em tempo real
(pprm iti ndo i ntervenção i ntraoperatória).
- Hipoperfusão
- Identificar o grupo de pacientes com complicações
- Embolização peroperatórias (permitindo intervenção precoce no
pós-operatório) .
- Resposta inflamatória sistêmica

LIMITAÇÕES DA UL TRASSONOGRAFIA
Q uadro 9.25 . DTC na monitorização peroperatória de
êmbolos VASCULAR NO ESTUDO
- Fonte principal: placa móvel em arco aórtico. Quadro 9.3 1. Limitações técnicas ao DTC

- Momentos de risco: clampeamento e desclampeamento da - Inexperiência do examinador.


aorta. - Espessura da calota craniana em adultos e idosos (janelas
ultrassonográficas inadequadas).
- Circulação extracorpórea (êmbo los gasosos).
- Variações anatômicas das artérias intracranianas (muito
frequentes) (Figs. 9.34-9.40).

Quadro 9.26. Variáveis ao DTC associadas a AVC


peroperatório VARIANTE ANATÓMICA

- Embolização durante a dissecção.


04t.
DUPLlCIDADE COMUNICANTE POSTERIOR

~~' !
- Embolização durante o fechamento da incisão cirúrgica.

- Diminuição> 90% na velocidade de fluxo na ACM durante


o clampeamento.
ACM:r,:
ACAE ACPE
- Aumento> 100% no índice de pulsatilidade à abertura do
clampeamento.
ACMD t- ,a.

DUPlICIDADE COI,IUNICANTE POSTERIOR

Quadro 9.27. DTC e risco de AVC por embolização em


Figura 9.3 ....
endarterectomias

- Os sinais de microembolização são detectados em até 70 %


dos casos durante a primeira hora pós-cirurgia.

- Taxa de 50 sinais de microembolização/hora ocorre em até


10% dos casos e é preditiva de isquemia focal ipsilateral.

Quadro 9.28. DTC e risco de hiperperfusão


pós-endarterectomia

- Aumento de 100% da velocidade de pico sistólico (VPS)


ou do índice de pulsatilidade (IP) na ACM, comparada aos
valores pré-intervenção .
Figura 9.35.

119
Ultrassonografia Vascular Transcraniana

Figura 9.36. Figura 9.40.

Quadro 9.32.

- Erros de inte rpretação:


• Confusão entre circ ulação co lateral e estenose
intraluminal.
• Desloca mento das artérias por efeito de massa.
• Confusão entre vasoespasmo e estenose segmentar.

INFORMAÇÕES
INDISPENSÁVEIS PARA O LAUDO
Figura 9.37.
Quadro 9.33. Estrutura básica de laudo de DTe

Devem-se descrever:
(1) a qualidad e téc ni ca do exame;
(2) janelas ultrassônicas utilizadas;
(3) vasos exa minados;
(4) recursos utilizados (Doppl e r pulsado , mapeam e nto de
fluxo em cores, contraste com m ic robolhas);
(5) valores de medidas obtidos citando os valores de
normal idade.

Conclusão do DTC
- Evitar diagnósticos e ti o lógicos (va lori zar os ac h ados
Figura 9.38. h emod inâmicos).
Na morte cerebral: diagnóstico concl u s ivo .
N a doença falcifonne: d efin ir sempre o g rau de risco
para AVE.

REFERÊNCIAS
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Doppler Examinalion PrincipIes and Applications of
Transcranial Doppler Sonograph)' Neurosonology 12: 113-
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120
Ultrasso nografia Vasc ul ar Transcran iana

3. Tegeler CH , Babikian VL, Gomez CR, et aI. The 7. Adams RJ et ai: Prevention of stroke by transfusion in
Transcranial Doppler Monitoring of Vasoespasm after children with sicle cell anemia and abnormal results on
Subrachnoid Hemorrhage. Neurosonology 15 :156-168, transcranial Doppler ultrasonografphy, Engl J Med
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121
Doença Arterial Obstru tiva CAPíTULO 10
Hamilton Almeida Rollo
nos Membros Superiores e Mariângela Giannini

Síndrome do Desfilade iro


Cervicotoracoaxi lar

INTRODUÇÃO Quadro 10.1. Indi cações da ultrassonografia vascular


(USV) nos membros superiores
A doença obstrutiva das artérias dos membros su- Insuficiência arterial aguda e crônica dos membros superiores
periores pode ocorrer de modo agudo ou crônico . Traumatismos vasculares
Na manifestação aguda, freq uentemente a oclusão Aneurismas e pseudoaneurismas
Síndrome do desfiladeiro cervicotoracoaxilar
deve-se a embolia de origem cardíaca, traumatismo
vascular por diversos agentes e/ou iatrogenia (proce -
dimentos diagnósticos ou intravasculares , principal- DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTlVA E
mente cardíacos) e, se não houver isquemia intensa ou
ECTASIANTE
sangramento grave, tornando o tratamento cirúrgico
de emergência, a ultrassonografia vascular (USV) pode Técnicas
propiciar informaçôes diagnósticas importantes, como Paciente em decúbito dorsal horizontal, com o membro
identificar compressões extrínsecas , pseudoaneuris- superior em repouso, na posição anterior e levemente
mas , fístulas arteriovenosas (FAV) , localizar o nível de abduzido, para o exame das artérias subclávia, axilar,
oclusão, alterações da parede arterial (colateralizações braquial , radial e ulnar (Fig. 10.1).
e espasmo arte rial). 1
As principais doenças que provocam as obstruções
Tr
crônicas são a aterosclerose (AOP) , a doença de Takaya-
su (que com maior frequência acomete os troncos su-
Os equipamentos mais recentes possuem transdutores
pra-aórticos) e mais raramente a tromboangeíte oblite-
com frequências de 6-10 MHz (pacientes magros) ou de
rante (TAO). É importante lembrar que a AOP e a TA0
4-7 MHz (pacientes obesos ou musculosos).
acometem mais as artérias dos membros inferiores 2
Também traumatismos repetitivos em artérias distais
do membro superior podem levar a oclusões , como a
síndrome do martelo hipotenar (SMH), em que podem
ocorrer lesões na artéria ulnar. 3.4 Alguns pacientes com
AOP podem apresentar estenoses e oclusões nas artérias
subclávias ou no tronco braquiocefálico, com surgimento
da síndrome do roubo da artéria subclávia. 5.6 Na síndro-
me do desfiladeiro, a USV permite avaliar a compressão
extrínseca da artéria subclávia ou axilar durante a reali-
zação das manobras para pesquisar os sítios de estreita-
mento na saída torácica, verificar as alterações a jusame
áO desfiladeiro (alterações da curva espectral Doppler)

e a presença de aneurismas derivados de compressão Figura 10.1. Mostra a posi ção do membro superi or direito
extrínseca 78 (Quadro 10.1). para a realização da ultrassonografia vascular (USV).

123
Doen ça Arterial Obstrutiva nos Membros Superiores e Síndrome do Desfiladeiro Cervicotoracoaxilar

Sequência do exame: Modo B, Modo B com harmônica, Indicações de investigação dos membros
em cores, Power Doppler e B flow, se disponível. A harmôni- superiores pela USV na doença arterial
ca ou 2a harmônica é uma imagem com subtração ou filtro , periférica (Quadro 10.2)
o u seja, é subtraída a frequ ência fundamental e há diminui-
ção dos artefatos de movimentação . A vantagem é uma ima- Quad ro 10.2. Objetivos
gem mais de finida , fi cando a parede do vaso mais nítida. • Verificar presença de estenoses, oclusões e dilatações
Posicionamento do transdutor transversal e longitudi- • Quantificar as estenoses
• Loca li zar oclusões e colaterali zação
nal ao maior eixo da artéria para inicialmente fazer cortes
• Identificar a perviedade das artérias distai s (reenchimento)
axiais , e posteriormente longitudinais, para avaliação em • Medir diâmetros das artérias e dilatações (definir
cores do Ouxo arterial e da curva Doppler (Fig. 1O.2A, B). aneu ri smas)
• Verificar a presença de aneurismas e pseudoaneurismas
Ajuste da profundidade, ganho do Modo B e harmôni-
• Identificar lesões provocadas por traumatismos agudos
ca de tecidos. No mapeamento em cores, fazer o aj uste da • Identificar lesões devido a traumatismos crônicos e
caixa e ga nho de co r, bem com o do frarne rate e PFR. Na repetitivos
obten ção da curva es pectral , utilizar sempre que possível
ângulo d e insonação d o feixe do Doppler pulsado d e 60°
o u o mais próximo possíve l de 60°, fazendo o ajuste d o
Critérios diagnósticos (Quadro 10.3)
ganho e da escala d e PRF do Dopple r pulsado d e acordo
para avaliação de estenoses
com as velocidades d o Ouxo arterial (Fig. 10.3).

Quad ro 10.3. Critérios diagn ósticos de estenoses


Normal
Parede das arté ri as sem irregularidades, fluxo em cores
preenchendo toda a luz da artéria e eve ntualmente com
as cores de tons mais escuros (velocidades baixas), na
periferia, e as de tons mais claros (velocidades um pouco
mais altas), no centro da artéria, indicando a presença
de fluxo laminar, e curva espectral Dopp ler trifásica ou
eventualmente bifásica (Figs. 10.4-10.6).

Nas artérias subclávia, axi lar e braquial , as ve locidades


médias dos picos sistó licos (VPS) são de 105, 80 e 57 cm/s,9
respectivamente.

Estenoses
Avaliação direta - comparar o VPS medido antes da estenose
com o VPS no loca l ou imediatamente após a estenose -
índice de velocidade (lR)2

Normal - IR = 1
Figura 10.2. Fotografias mostrando a posição do
transdutor para o co rte transversal (A) oU longitudinal (B) da Estenose < 50% - IR: < 2
artéria radial direita. Estenose = 50% - IR: = 2 (Fig. 10.7 A, B)

Avaliação indireta - Curva espectral Doppler obtida a jusante


da estenose: se for monofásica e de baixa ve locidade
(tardus parvus), indica repercussão hemodinâmica ou
estenose significativa.

Estenoses em série por lesões ateromatosas sequenciadas


- são raras nos membros superi ores, mas, se ocorrerem,
devem ser descritas, e seu efeito hemodinâmico pode ser
avaliado de maneira ind ireta .

Ocl usões
Avaliação direta - ausência de fluxo verificáve l no Modo cor,
Power Doppler, e curva espectra l, com presença ou não de
circulação colateral no nível da parada do fluxo
Figura 10.3. USV da artéria braquial direita, em indivíduo (Fig. 10.8).
normal, com aj ustes de cor, do Doppler pulsado e ângulo de
Avaliação ind ireta - curva es pectral monofásica e de baixa
insonação de 60 ° permitindo a obtenção de uma curva trifásica
velocidade a jusante da oclusão (Fig. 10.9A, B).
e a me nsuração das velocidades sistólicas e diastólicas.

12 4
Doença Arterial Obstrutiva nos Membros Supe riore s e Síndrome do Desfil~?_~_iro_~ervico~~a_coaxilar

Figura 10..1. Ultrassonografia da artéria braquial direita no


nível da sua bifurcação. Nota-se o fluxo normal codificado
em cores, de característica laminar, ou seja, cores de
tonalidades mais claras na porção central (velocidades
maiores) e cores de tonalidade mais escuras na periferia
(velocidades baixas).

Figura 10.7. (A) Nota-se na artéria braquial direita curva


espectral alargada, borrada e com VPS de 514 cm/s (estenose
> 50%). (B) USV da artéria subclávia esquerda que mostra
curva espectral bifásica, alargada, borrada e com VPS de 486
cm/s (estenose > 50%).

Figura 10.5. Ultrassonografia da artéria braquial direita


que mostra curva espectral normal (trifásica).

Figura 10.6. Ultrassonografia da artéria radial direita


em indivídu o normal. Notam-se aspecto normal da parede Figura I O.H . Oclusão da arterial braquial direita e do ramo
da artéria, VPS dentro dos limites de normalidade e curva colateral. A curva espectral a montante da oclusão é bifásica,
espectral bifási ca . alargada e com VPS rebaixada (36 cm/s).

125
Doença Arterial Obstrutiva nos Membros Superiores e Síndrome do Desfiladeiro Cervicotoracoaxilar

Limitações e artefatos
Limitações: pacientes engessados ou com fixação externa
e presença de hematomas.
Anefatos: podem ser provocados pela calcificação
nas anérias ou pela clavícula quando do exame da artéria
subclávía (Fig. 10.11).

Aneurismas

Podem ser de 2 tipos, fusiforn1es (os mais frequentes) e


saculares. São definidos como dilatações localizadas em
uma anéria com diãmetro >50% da artéria examinada.

Dilatação lateral da artéria derivada de uma ruptura com-


pleta da parede arterial, cuja luz se mantém em contato
com o hematoma resultante da rotura. São originados de
traumatismos recentes ou crônicos e repetitivos, como
na SMH (Fig. la. lIA, B).

Figura 10.9. (A) Artéria radial direita pós-oclusão da


braquial. Nota-se reenchimento da radial com VPS bem
rebaixada (10 cm/s) e curva espectral monofásica. (B)
Artéria axilar esquerda em paciente com estenose grave da
subclávia. Fluxo com curva monofásica e diminuição da VPS
(45 cm/s).

Figura 10.11. (A) USV da artéria ulnar direita (AUD)


no nível do punho em paciente com síndrome do martelo
Figura 10.10. Artefato produzido pela clavícula ao hipotenar (5MH). A VPS está rebaixada e a curva espectral
se examinar a artéria subclávia. Nota-se artéria subclávia é bifásica. (B) No mesmo paciente, no nível da região
duplicada. hipotenar, nota-se pseudoaneurisma trombosado.

126
Doença Arte rial Obst ruti va nos Mem bros Sup erio res e Sí nd ro me do Desfil ade iro Ce rvicoto racoaxila r

Situações especiais e controversas


Na avaliação das artérias dos membros superiores, quan-
do normai s, a curva espectral deveria ser trifásica,2 po-
rém , às vezes, pode se apresentar de aspecto bifásico em
artélias normais em determinadas condições.
A ultrassonografia pode ser utilizada como guia
para o tratamento percutâneo de pseudoaneurisma
das artérias dos m em bros superiores ,JO pela injeção de
trombina ou cola de fibrina. Esse tipo d e indicação pode
gerar controvérsia com os que preconizam o tratamento
cirúrgico dos pseudoaneurismas nas artérias de menor
calibre nos membros, para evitar o risco de emboliza-
ções distais. II
~ Figura 10.13. Foto mostrando a posição da paciente e dos
Na síndrome do martelo hipotenar, a arteriogra-
membros su periores durante a manobra costoclavicular.
fia seria melhor do que o USv, pois mostra com mais
detalhes as lesões provocadas pelo traumatismo repe-
titivo e as oclusões das artérias digitais , provocadas
por êmbo los liberados das lesões como pseudoaneu-
rismas.

SíNDROME DO DESFILADEIRO
CERVICOTORACOAXI LAR

Técnicas
Na pesquisa da síndrome do desfiladeiro, o paciente deve
estar na posição sentada, a qual permite a realização das
manobras de Adson, costocJavicular e de hiperabdução
(Figs . 10.12-10.14).

Figura 10.14. Foto mostrando a pos ição da paciente


durante a manobra de hiperabdução e o transdutor ava liando
a artéria axi lar no níve l da fossa coracoide.

Transclutores linearec; clt> banda larga ele


4-10 MHz.
Seu posicionamento deve permitir a realização de cortes
longitudinais para avaliação do fluxo em cores e a obten-
ção da curva espectral.

Objetivos
Durante as manobras, deve-se avaliar se há compressão
nas artérias subcJávia ou axilar e verificar o fluxo em co-
res e a curva espectral Doppler nas artérias distais ao lo-
cal de eventual compressão provocada pelas manobras
Figura 10.12. Foto mostrando a posição da pac iente realizadas (Fig. 10.15A, B), com o intuito de demonstrar
durante a manobra de Adson e o transd utor aval iando a alterações da curva espectral ou ausência de fluxo duran-
artéria axi lar. te as manobras (Quadro 104).

127
Doença Arterial Obstrutiva nos Membros Superio res e Sínd rome do D es filadeiro Cervicotoracoax il a r

INFORMAÇÕES INDISPENSÁVEIS
PARA O LAUDO

~ Qua d ro 10.5. Informações indispensáveis para o la udo

Re lata r:
• As este noses, o grau das mes mas e onde se loca li zam.
• As oclusões, os locais onde oco rrem e a colate ralização.
• Os aneu ri smas e pse udoaneurismas, as arté ri as onde se
localizam e informar os di âmetros (AP e LL); prese nça de
tromba mural ou não.
• Tipo de alte ração nas arté ri as: se com patíve l com ateros-
clerose, arte rite ou traumatismo.
• Se houver sinais de co mpressão extrín seca, o tipo de
manobra a ser exec utada é informa r o nível o u a arté ri a
acomet ida.

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extremities . Em: Rutherford (editor). Vascular Surgery.
Philadelphia WB Saunders; 2005 . p . 1044-1058.
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128
CAPíTULO 11
Anál ise das Charles Esteves Pereira

Fístu las Arteriovenosas para


Hemodiálise

INTRODUÇÃO
Terminolateral Terminoterminal
Os procedimentos para realização das fístulas arteriove-
nosas (FAV) e o tratamento de suas complicações repre-
sentam a maior causa de morbidade e custo para pacien-
tes em hemodiálise. 12
A avaliação pré e pós-operatória das fístulas através
da ultrassonografia vascular com Doppler (USV) é esta-
belecida como método de escolha, tendo contribuído sig-
nificativamente na melhora dos índices de perviedade,4 9
e será objeto de discussão neste capítulo.
As fístulas arteriovenosas autógenas têm maior per-
viedade e menor índice de infecção, sendo a principal
recomendação para acesso vascular definitivo. 48 A anas-
tomose arteriovenosa pode ser realizada de várias ma-
neiras (Fig 11 .1), sendo mais utilizada a terminolateral
veia-artéria. O local da anastomose varia em cada pa-
ciente, sendo recomendadas as mais distais para poupar Laterolateral
vasos proximais para novos acessos. São nomeadas de
acordo com a artéria e veia envolvidas (p. ex., radiocefá- ~ Figura 11 .1. Anastomoses arteriovenosas.

lica, braquiocefálica , ulnar-basílica etc.).


Na indisponibilidade de material autógeno , reco- das velocidades sistólica e diastólica, turbilhonamen-
menda-se implante de próteses, a mais utilizada sendo to e aumento do volume de fluxo. Em consequência,
o PIFE (politetrafluoroetileno). Neste caso, haverá uma haverá dilatação e alongamento do segmento arterial
anastomose com a artéria e outra com a veia. A prótese proximal e das veias.
pode ter trajeto retilíneo ou em alça no subcutãneo.
2. O aumento da velocidade, da pressão e do volume
de fluxo provoca dilatação e espessamento da parede
ALGUNS CONCEITOS DE da veia (maturação), o que geralmente demora cerca
HEMODINÂMICA de 30-60 dias . A veia passa a apresentar frêmito que
pode ser palpado por longa extensão da mesma.
Após realizar a anastomose arteriovenosa , alguns fenõ- 3. O leito arterial distai à anastomose perde pressão e
menos hemodinâmicos ocorrem: 3 fluxo , observando-se afilamento do vaso e amorteci-
mento das curvas de fluxo. frequentemente ocorre
1. O fluxo da artéria proximal à anastomose passa a es- a inversão do fluxo distai ("roubo ") . Caso a inversão
coar por um leito de baixa resistência (veia) provo- seja significativa, principalmente com leito distai
cando significativa queda da pressão, com aumento comprometido, este "roubo" poderá causar isquemia.

129
Ultrassonografia Vascular com Doppl er - Análise das Fístul as Arteriovenosas para Hemod iá lise

TÉCNICA DO EXAME o pico diastólico e o índice de resistência (radial


PRÉ-OPERATÓRIO ou ulnar). Comprimimos uma artéria e avaliamos
a outra solicitando ao paciente que abra a mão re-
o A avaliação pré-operatória completa do membro su- gistrando então a curva que deverá ter aumento de
perior deve envolver o estudo das veias centrais, das velocidade diastólica em mais de 100% e/ou índice
veias profundas e superficiais e do sistema arterial. de resistência <0,7 v
o Veias centrais da extremidade superior: transdutor
linear de 5-10 MHz, convexo de 3-5 MHz e setorial Suspeita de obstrução venosa central
de 5-8 MHz. O fluxo na jugular interna, subclávia
Históri a prévia de cateterismo venoso central.
proximal e inominada ge ralmente é pulsátil devido à
proximidade com o átrio direito. Na inspiração , ocor- Aumento de volu me do membro co m rede venosa su perfi cial
visível.
re o aumento do fluxo e este diminui na expiração.
A parede das veias é flácida e cola~a-se espontane- Imagem sugestiva de trombose antiga recanal izada ou não.
amente com a respiração. Sempre comparar com o Volume de fluxo na subclávia < 400 ml/min.
lado oposto. O transdutor setoria1 de maior frequên-
Perda da fasicidade, espontaneidade e pul satilidade - o fluxo
cia é extremamente útil para avaliar as veias no tórax fica contínuo.
através da fúrcula esternal.
índices de ve locidade pré e pós-estenótica > 2.
o Sistema venoso profundo: transdutor linear com fre-
quência de 5-10 MHz , ajustando ganho, foco, dinamic
range, PRF Paciente sentado ou deitado, sem garrote- Critérios para veias adequadas: 4•7
amento. Concentrar o exame sobre as veias subclávia, Veias su perficiais co m diãmetro ~ 3 mm sem evidência de
axilar e braquiais. Medir calibre da axilar (pode ser estenose significat iva.

local de futuro implante de prótese de PIFE) Veias Segmento adequado desde o punho até a fossa cubita l (fístula
braquiais poderão ser superficializadas e utilizadas do antebraço) ou da fossa cu bital à axila (fístul a de braço).

como acesso na indisponibilidade de outras veias su- Perviedade do sistema venoso profundo.
perficiais. Avaliar compressibilidade, calibres, aspecto
Au sência de estenose venosa centra l no membro ipsilateral.
da parede e luz, sinais de trombose recente ou antiga.
Com Doppler pulsátil, avaliar espontaneidade e fasi-
cidade das veias. Critérios para artérias adequadas: 4 •7

o Sistema venoso superficial: paciente sentado, garro- Ausência de estenose hemodinamica mente significat iva.
teamento proximal , não exercer pressão do transdu- Diâmetro ~ 2 mm no antebraço .
tor sobre as veias. Avaliar calibres , estado da parede ,
Artéria radial não dominante para fístula no punho.
compressibilidade e medir profundidade caso seja >5
mm (veias mais profundas dificultam punção e po-
dem precisar ser superficializadas). A demarcação do
trajeto venoso com caneta dermográhca facilita o tra-
LAUDO FINAL:
balho do cirurgião.
o Sistema arterial: avaliar todas as artérias, desde a o Exame venoso: informações completas sobre os
subclávia até a radial e a ulnar, analisando pervie- sistemas venosos profundo e superficial com ên-
dade, calibres, ateromatose e estenoses significati- fase nas anormalidades e nas possibilidades de
vas. Com Doppler pulsado, volume de amostragem realização do acesso.
pequeno e ângulo paralalelo em eixo do vaso entre o Exame arterial: informações completas sobre o
50° e 60°, registrar curvas de fluxo que normal- sistema arterial com ênfase na perviedade, no es-
mente são trifásicas. Em caso de intensa ateroma- tado da parede e nas estenoses e oclusões.
tose ou na suspeita de arco palmar incompleto, o Recomenda-se anexar desenho esquemático in-
podemos realizar o teste da hiperemia reativa com cluindo calibres e locais de perviedade, estenoses
manobra de Allen. Neste caso, solicitamos ao pa- e oclusões. A marcação da pele também é muito
ciente que feche a mão forçadamente e registramos útil ao cirurgião (Fig. ll.2A-C).
a curva de alta resistência de uma artéria medindo

130
Ul trassonografia Vascu lar com Dopple r - Análi se das Fístul as Arte riovenosas para Hemodi áli se

Representação esquemática das veias do MSD Representação esquemática das artérias do MSD

Artéria subclávia (mm)

D
' Artéria axilar (mm)
Artéria braquial (mm)
O
o
Artéria ulnar (mm)
Artéria radial (mm)

D D
D O
O O
• Normal Arco palmar ok? D
• Trombose recente
Trombose antiga - recanalização A B Figura 11 .2. (A- C) .
M apeamento pré-operatório.

TÉCNICA DO EXAME
DICAS :
PÓS-OPERATÓRIO
• Não visualização da veia cefálica no sulco delto-
Indicações mélis frequentes:
peitoral.
- Solução: realizar o exame em completa adu- Perda do frêm ito.
ção. Manobra de Valsalva pode auxiliar.
Aumento da pu lsatil idade.
• Dificuldade em mapear veias muito superficiais .
Solução: usar gel em grande quantidade sem D ificuldade de punção.
exercer pressão do transdutor sobre as veias. Sangramento au mentado .
Suaves "tapinhas" podem favorecer dilatação
Aumento da pressão venosa.
das mesmas.
• Variação anatômica nas artérias e veias, mesmo D iminuição do fluxo .
entre os membros do mesmo paciente.
Trombose do acesso.
Solução: conhecer detalhadamente a anatomia
normal e as variações nos membros superiores
que são muito frequentes. • Transdutor linear com frequência acima de 5-10
• Inadequada avaliação das veias profundas proxi- MHz, ajustando ganho , foco , dinamic range , PRF (ní-
mais. veis mais altos).
Solução : examinar paciente na posição de • Paciente sentado ou deitado. Sala pode estar refri-
Trendelenburg, usar frequências mais baixas gerada.
em pacientes obesos. A visualização inade- • O garroteamento pode ser necessário para avaliar o
quada deve constar no laudo . Transdutor real diâmetro das veias.
setorial de frequência mais elevada (transdu- • Iniciar exame pelo sistema arterial Cinflow) avaliando
tores de ecocardiografia infantil) para avaliar perviedade, ateromatose , presença de estenoses signi-
veias centrais . ficativas. A artéria doadora é mais calibrosa devido ao
• Na dúvida sobre a suficiência das artérias radial e alto fluxo. Associar os dados do Modo B com critérios
ulnar, realizar o teste de Allen avaliando o índice de velocidade para avaliar graus de estenose. O fluxo
de resistência e/ou aumento do pico diastólico. na artéria distai à anastomose pode estar amortecido
ou invertido.

131
Ultrassonografia Vascular com Doppler - Análise das Fístulas Arte riovenosas para Hemodiálise

• Avaliar a anastomose arteriovenosa com Modo B Critérios de estenose significativa (10.'30 ):


pesquisando perviedade, calibres, espessamentos
Estenoses acima de 50% são consideradas significativas.9
da parede (hiperplasia), áreas de estenose, aneu-
rismas, pseudoaneurismas, coleções perienxerto Análise da redução de diâmetros ao Modo B.
(infecção, hematoma). Com o Doppler em cores, Estenose nas anastomoses: pico sistól ico> 400 cm/s e índice
registrar as curvas de fluxo no segmento arterial de velocidade> 3.
justa-anastomose, na anastomose e no segmento Estenose na artéria doadora (inflow) e na veia eferente
de veia (enxerto) justa-anastomose. Basear-se em (outf!ow)
índi ce de velocidade> 2.
critérios de velocidade e imagem em Modo B para
estimar graus de estenose. *Sensibilidade 93%, especificidade 94%, VPP 82%, VPN
• Seguir a veia eferente (ou enxerto) em toda extensão 98%, acurácia 97%. "

no antebraço e braço. Medir calibres (estenoses, aneu-


rismas), avaliar estado da parede (espessamentos, vál- Critérios para estenose venosa central.
vulas residuais, trombos), pesquisar desvio de fluxo
Gradiente de velocidade pré e pós-estenótico > 2.
para colaterais. Com mapeamento do fluxo em cores,
Fluxo reverso na jugular interna indica estenose crítica ou
pesquisar áreas de estenoses. Em caso de enxerto, ha-
oclusão da veia braquiocefál ica
verá anastomoses arterial e venosa. Ao Doppler pulsa-
do, o fluxo normalmente é acelerado e turbilhonado Fluxo reverso na braquial ou axilar indica estenose críti ca ou
oclusão a montante.
com sístole e diástole elevadas. Registrar as curvas nos
segmentos pré-estenótico e estenótico. Basear-se em
critérios de velocidade e imagem em Modo B para es-
timar graus de estenose. LAUDO FINAL:
• O volume de fluxo pode ser medido na artéria doa-
• Informações completas sobre o sistema arterial,
dora 1-2 cm antes da anastomose ou no segmento
anastomoses, veia eferente (ou enxerto) e sistema
compreendido entre os locais de punção de entrada
venoso profundo.
e retorno (preferência do autor) . Referir no laudo o
• É interessante fornecer o volume estimado de
local onde foi medido o volume de fluxo.
fluxo na fístula. Embora nâo haja correlação en-
• Avaliar sistema venoso profundo: concentrar exa-
tre estenose e volume de fluxo, há correlação
me sobre as veias braquiais, axilar, subclávia. Em
entre baixo fluxo e risco de trombose. 15-17 Fístulas
Modo B, avaliar perviedade com compressibilida-
de veia com volume <400 mVmin e de PIFE com
de. Ao Doppler, fluxo normalmente pulSátil é tur-
volume <SOO ml por min têm maiores chances
bilhonado. Na suspeita de lesão, medir velocidades
de oclusão. 17
pré-estenóticas e na estenose. Basear-se em critérios
• Frequentemente utilizamos caneta dermográfica
de velocidade e imagem em Modo B para estimar
e marcamos na pele os locais das anormalidades
graus de estenose.
encontradas (Fig. 11.3).
• As velocidades são medidas com mínimo volume de
amostragem e ângulo entre 50-60°. Índices de velo-
cidade são obtidos dividindo-se o maior pico sistólico
PITFALLS E DICAS
obtido na estenose pelo pico sistólico obtido em seg-
mento 1-2 cm proximal à mesma. • Dificuldade de avaliar estenose na anastomose.
• Para cálculo do volume de fluxo, escolher a arté- - O AV na FAV é normalmente bastante acelerado e
ria doadora 1-2 cm antes da anastomose ou um turbilhonado. Além da imagem em Modo B e do
segmento mais reto da veia (enxerto), medir sua índice de velocidade >3, observar que na estenose
área em secção transversal e sua velocidade mé- significativa há reduçâo importante da velocidade
dia em corte longitudinal, ângulo de 60° e volu- em segmento 5-10 cm acima da anastomose.
me de amostragem englobando toda a largura do • Veia difusamente fina.
vaso. Multiplicar a área (cm 2 ) x velocidade média - Dica: pesquisar estenose na via arterial. Há casos
(cm/s) x 60 e obter o volume em cm 3 (ml)/minuto em que a veia não "matura" e mantém-se fina. A hi-
(Fig. 116). perplasia médio-intimai pode comprometer gran-

132
Ultrassonografia Vascular com D opp ler - Análise das Fístulas Arteriovenosas para H emodiáli se

Figura 11 .3. Mapeam ento da fístula com marcação


dermográfica.

des extensões do vaso. Neste caso, há redução di-


fusa nas velocidades de fluxo .
Figura 11.4. Trombos em aneurisma da veia cefál ica (A) e
• Como detetminar se há roubo de fluxo para colateral? na jugular interna (B).
Dica: se a velocidade de fluxo na colateral for
maior que o dobro da veia eferente ou se durante
compressão da colateral o fluxo na veia eferente
dobrar, considere roubo. I)

COMPLICAÇÕES
1. Trombose (Fig. 11.4): é a complicação mais temida
dos acessos vasculares. Quando precoce 0-3 meses),
decorre geralmente de erros técnicos, tais como torsão
e acotovelamento do vaso, esco lha errada da artéria
e/ou veia e presença de alterações anatõmicas (esteno-
se, fibrose) na veia ou artéria.
2. Estenose (Fig. 11 .5): é a causa mais frequente da
trombose a médio e longo prazos e deve-se princi- Figura 11 .5. Estenose severa na veia cefálica
palmente à hiperplasia médio-intimai (HMl). Embora justa-anastomóti ca . Observe afil amen to difuso da veia e jato
pós-estenóti co.
de mecanismo não totalmente elucidado, sabe-se que
pode ser causada pelo trauma cirúrgico, pelo aumento
da pressão (passa de 20 a 120 mmHg), pelo lurbilho- punções para hemodiálise. Caracteriza-se pela migra-
namento que leva ao aumento do wall sheer stress (força ção de células musculares lisas da méclia para íntima
de fricção) contra o endotélio, pela angulação entre ar- causando espessamento da parecle e afilamemo da luz ,
téria e veia na anastomose e pelo trauma das repetidas podendo se r um processo focal ou difuso. ) Nas fístulas

133
Ultrassonog rafia Vasc ul ar com Do ppl e r - Aná lise das Fístu las Arteri ovenosas para Hemodiá li se

autógenas , ocorre principalmente na anastomose ou na 5. Isquemia e síndrome do roubo (SR) :56 o sistema
veia de drenagem. Nas fístulas de PTFE, ocorre princi- de baixa pressão da fístu la provoca amortecimento
palmente na anastomose venosa, na veia de drenagem significativo ou reversão do fluxo no leito arterial dis-
ou em ambas IO.11 As estenoses podem ser tratadas com tai que, se não compensado por via co lateral, pode
reimplantes , colocação de remendos (patch), interposi- causar isquemia. Após anastomose terminolateral, é
ção de enxertos e angioplastia. frequente a inversão do fluxo na artéria distai , mas
3. Ane urisma: encontrado mais frequentemente na somente caracterizamos como "SR" se ocorrerem sin-
anastomose ou nos locais de frequente punção que tomas isquêmicos (Fig. 11.8).
destrói a arquitetura da parede. Podem ser inocentes 6. Insuficiência cardíaca: o fluxo da fístu la aumenta
ou ser locais de fom1ação de trombos que podem em- o débito cardíaco que, associado a aterosclerose , hi-
bolizar. pertrofia ventricular ou outros problemas cardíacos,
4 . Hematomas e p s eudoaneurisma ( Fig. 11.6) : as cali - pode descompensar o coração.
brosas agulhas de punção e as múltiplas punções fra- 7. Infecções: mais frequentes nos acessos não autógenos.
gilizam a parede da veia ou prótese (mais frequente). O paciente pode apresentar febre associada à presença
Com o uso associado de hepa rina durante a hemo- de fleimão no trajeto do enxerto. Ao ultrassom, obser-
diálise tais procedimentos favorecem a fom1ação de vam-se coleções líquidas com debris peJianastomóticas
hematomas e pseudoaneurismas (Fig. 11.7). ou em todo o trajeto da prótese (Fig. 11.9)

Figura 11 .6. Pa ra cá lcu lo do vo lu me de flu xo,


mu ltiplica-se a área (O, , 8 cm 2 ) x velocidade médi a (50,4 cms/)
x 60 e obtém-se vol ume de fluxo esti mado em 544 ml/min.

Figura 11 .8. (A) Inversão do flu xo na artéri a radia l distai


que está dilatada indicando ro ubo de fluxo da mão. A artéria
Figura 11.7. Pseudoaneurisma em fís tula com PTFE . rad ial ac ima da anastomose está ocl uída (B).

134
Ultrassonografi a Vascul ar com Doppl er - An álise das Fístul as Arteriovenosas para H emodiál ise

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135
CAPíTULO 12
Paulo Roberto Toledo de Miranda
Trombose Venosa dos Alberto Lorençoni Sarquis

Membros Superiores

INTRODUÇÃO melhor a resolução da imagem e menor a penetração


do ultrassom. Dependendo da "janela ultrassonográ-
A trombose venosa dos membros superiores (TVP MMSS) fica", poderemos utilizar transdutores (multifrequên-
ocorre em 10% de todas as tromboses, incidência subes- cia) lineares, setoriais e convexos.
timada frequentemente em pacientes assintomáticos, es- • Aparelho de ultrassom de alta resolução: os ajustes na
pecialmente em portadores de cateter em veia central. 12 imagem em Modo B (otimização do frame rate e PRF,
A incidência do comprometimento venoso segmen- foco, controle de ganhos, filtros, ângulo de insonação
tar isolado aumenta da região distai à proximal: 4....:11 % e uso de imagens harmônicas) e para a utilização do
para braquial, 5-25% para a axilar e 18-67% na sub- Doppler (pulsado, contínuo e mapeamento em cores)
clávia. Usualmente, a TVP MMSS envolve mais de um serão realizados no transcorrer do exame, de acordo
segmento J ·6 com as dificuldades que se apresentem na região a ser
A ultrassonografia vascular (USV) dos membros supe- examinada.
riores em pacientes sintomáticos apresenta sensibilidade
aproximada de 82% e especificidade de 100%, o que a cre-
dencia como método diagnóstico de escolha na abordagem TÉCNICA DO EXAME
inicial do paciente com suspeita de trombose venosa .4.7,8
Posição do paciente
De maneira prática e objetiva , descreveremos as indi-
cações (Quadro 12.1 ) e o protocolo para se fazer a avalia- Decúbito supino com rotação da cabeça para o lado con-
ção do sistema venoso dos MMSS através da USV 9. 12 tralateral ao membro examinado; o membro deve estar
afastado confortavelmente do tórax (abdução) em apro-
ximados 60°; eventualmente, poderemos utilizar a flexão
Quadro 12.1. USV venosa dos MMSS - indicações
do antebraço , facilitando a abordagem do examinador, e
• Suspeita de TVP em paciente com edema, dor, descoloração evitar posições forçadas de hiperextensão ou contração,
e sensibilidade alterada no membro.
• Portadores de cateter central oligossintomáticos para TVP,
pois podem comprometer a análise espectral do fluxo
particularmente nos que apresentam fatores de risco. (Fig.12.1).
• Suspeita de compressão extrínseca (ex.: síndrome do
desfi ladei rol .
• Como parte do estudo vascular no mapeamento venoso pré Sequência do exame
e pós-operatório para confecção de fístula arteriovenosa ou
Realizamos em quatro etapas descritas a seguir, do seg-
de bypass.
• Procedimento de acesso venoso central ecoguiado. mento proximal ao distaI ou vice-versa 9· 10

1. Abordagem supraclavicular
PROTOCOLO
Nosso protocolo se inicia pela "janela" supraclavicular
• Anamnese objetiva sobre os sintomas e esclarecimen- para o estudo da veia subclávia e sua união com a veia
to sobre o exame a ser realizado. jugular interna e, tanto quanto possível, faremos a ava-
• Escolha de transdutor com frequência adequada para liação do tronco braquiocefálico. A utilização do trans-
a melhor visibilização: quanto maior a frequência , dutor setorial às vezes é necessária , particularmente no

137
Trombose Venosa dos Membro s Sup e riores

exame do tronco braquiocdálico, em virtude da "janela


ul trassonográfica" reduzida en tre o eSlerno e a clavicu-
la, podendo ser utilizado o acesso pela rúrcula esternal
(Figs. 122-129)

Posicionando o transdutor na região inrraclavicular,


identificamos os vasos (subclávia e ax il ar) inicialmente
no eixo transverso (hgs. 12 .10 e 12. 11 ); a seguir, desliza-
se distalmente o transd utor, para avaliar a transição axi -
lar-braquiaL Com o mapeamento em cores e o Doppler
pu lsado, poderemos estudar o f1uxo. No rmalmente o
Ouxo em cores preenche todo o vaso e o Doppler pu lsado
registra as características do f1uxo rasicidade co m a res-
Figura 12 .1. piração basa l, resposta às manobras resp iratórias (inspi-
Posição do paci en te. ração e ex piração) e pulsatilidade (F igs. 12.12 e 12 13)

Figuras 12 .2 e 12.3 . Posicion amento do transdutor e correspondente imagem co m id entificação jugular interna Junto à
ca rótida comum (eixo transverso). Normalmente se observa variação no diãmetro da jugular aos movimentos respiratórios.

Hguras 12.4 e 12.5 . Após deslizar o transdutor sobre a jugular interna em direção à base cervical (e ixo curto), junto ao
músculo esternocleid omastóideo, e utili zando-se do mapea mento em co res do flu xo, loca li za-se a confluêr.cia das veias juguiar
interna e subcl áv ia, for mando o tron co braquiocefálico.

138
Trombose Venosa dos Membros Superiores

Figuras 12.6 e 12.7. Transdutor na região supraclavicular e respectiva imagem identificando a veia subclávia ao nível da
drenagem da jugular externa. Observar fluxo pulsátil (o ndas do pulso venoso) e fásico com a respiração basal aumentando
discretamente na inspiração e diminuindo à expiração.

Figuras 12.8 e 12 .9. Transdutor setoria l na "jane la " supraesternal (fúrcula), necessária na visibilização dos vasos proxim ais.
Im agem da união dos troncos braquiocefá li cos e do segmento inicial da veia cava superior, à direita do tronco braquiocefálico
arterial.

Figuras 12.10 e 12.11. Transdutor posicionado na região infraclavicular para identificar as veias subclávia e axilar em eixo
transverso e imagem correspondente ao Doppler colorido.

139
Trombose Venosa dos Membro s Superiores

Figuras 12.12 e 12.13. Veia subcláv ia com flu xo em cores (eixo longi tud inal) e com características normais ao Doppler
pu lsado (flu xo pulsátil e fásico à respiração basal).

A pulsatilidade é tão mais nítida quanto mais proximal


for o vaso. Ao contrário do que ocorre nos membros Habitualmente não se faz de rotina a avaliação das
inferiores , o fluxo aumenta com a inspiração e diminui veias no antebraço, exceto se ocorrer sintomatologia
à expiração . local ou sinais específicos sugerindo alteração. Quan-
do indicado, o estudo é feito deslizando o transdutor,
como o descrito anteriormente, ao longo do trajeto
Estando o membro abduzido e com leve rotação ex- anatõmico das veias superficiais e profundas (radiais,
terna (Fig. 12.1), colocamos o transdutor na região ulnares e tributárias) ; em face dos reduzidos diãme-
axilar, em cortes transverso (Fig. 12.14) e longitudi- tros, a pulsatilidade arterial serve como referência na
nal (Fig. 12.15), id entificando os vasos (veia e artéria) localização das veias (Figs . 12.22-12 .25).
axilares, sempre testando a compressibi lidade e obser-
vando o padrão de fluxo (Doppler pulsado e em cores) DIAGNÓSTICO DA
na veia axilar (Figs. 12.16 e 12 .17). A seguir, utilizan-
TROMBOSE VENOSA
do-se do eixo transverso e das compressões segmen-
tares sequenciais, deslizamos distai mente o transdutor Os critérios diagnósticos de TVP ou TVS são semelhantes
na face m ediai do braço , estudando as veias braquiais , aos utilizados para o diagnóstico de trombose nos mem-
basílica e cefálica (Figs. 12.18-12.21 ) em toda a ex- bros inferiores, sumarizados no Quadro 12.2 e ilustrados
tensão do braço. nas Figs. 12.26-12 .35 9 . 10

Figuras 12.14 e 12.15. Transdutor posicionado na região ax ilar em eixo transverso e longitudinal para identificar vasos
axilares. Observar flexão não forçada do antebraço .

140
Trombose Venosa dos Membros Superiores

Figuras 12.16 e 12.17. Imagens com fluxo em cores e Doppler pulsado da veia axilar, respectivamente.

Figuras 12.18 e 12.19. Imagens da confluência da veia basílica com a braquial, formando a axilar, e da veia cefál ica no
braço.

Figuras 12.20 e 12.21 . Posicionamentos do membro e do transdutor (eixo transverso) na face mediai do braço com a
respectiva imagem da artéria e das veias braquiais e basílica.

141
Tro mbose Ven osa dos M e mbro~ Superiore s

Fi!\uras 12.22 e 12.23. Pos icio namento do transdutol e respecti va imagem dos vas os ulnares .

Figuras 12.24 e 12.25. Pos icionamento do transdutor e res pec ti va imagem dos vasos radi ais.

Figuras 12.26 e 12.27. Ve ia cefá li ca trom bosada (não co mpress ível); ve ia braqui al com trombo ainda não totalm ente
ade rido à pa rede (cauda) - fa se aguda.

14 2
Trombose Venosa dos Membros Superiores

Figura, 12 .28 e 12.29 . Veia basí li ca trombo sada (observar pequenas veias braquiais Junto à artéria e co laterai s superficiai s);
trombo se na subclávia dista i COIll recanal ização ini cial (fluxo reverso).

Figura, 12.30 e 12.31. Mesmo pac iente (Fi gs. 12.29 P 12.28) com trom bo oc luindo parcialmente a ve ia subclávia e fluxo
reverso na su bcl ~lVia e axi lar.

Figuras 12.32 e 12.33. Fluxo contín uo na axi lar, si n2. 1 indireto de obstrução proximal; trombose co nfirmada.

143
Tro mbose Ve nosa d os M embros Supe rio res

Figuras 12.34 e 12.35. Trombo aderido a cateter na j ugular intern a projetando-se d istalmente; sequela de trombose em veia
subclávia recanalizada.

Quadro 12.2. Critérios diagnósticos de TV P dos MMSS


Nome: D.C. E.B 42 anos
pela USV

• Veia não compressível ou semicompressível em local onde


é possível testar a compressibi lidade. ..............
• Visibilização do trombo na luz da veia, ocl uindo pa rcial ou
totalmente a luz.
• Padrão de fluxo alterado (fl uxo contínuo e/ou pulsati lidade
ausente) - sina l indireto.

INFORMAÇÕES
! Basílica

INDISPENSÁVEIS PARA O LAUDO _ Trombo recente


ocl usão tota l
• Localização, extensão e ainda características do trom-
ba (ecogenicidade , aderência ou não à parede, oclu-
são parcial ou total da luz do vaso).
• Localização e extensão das sequelas (espessamento el
ou irregularidade parietal ou trabeculação).
• Aspectos do fluxo quanto a pulsatilidade, fasicidade à
respiração basal e manobras respiratórias e compres-
sivas distais; ocorrência ou não de fluxo reverso com
respectiva topografia .
• Se ocorreu ou não alguma limitação na avaliação de
algum segmento, especificando-o.
• Opcionalmente , pode-se acrescentar esquema ilustra-
tivo (Fig. 12.36). ~ Figura 12.36. Tro mbose venosa comprometendo as ve ias
bas íl ica, braqui al, ax il ar e subcláv ia.

LIMITAÇÕES DA USV NOS MMSS


trombose aguda , a veia mostra-se frequentemente dilata-
Além das limitações habituais impostas por edema, pro- da, com fluxo ausente e conteúdo predominante de bai-
blemas ortopédicos e outros, que impedem a penetração xa ecogenicidade. A não aderência do trombo à parede
do ultrassom e o posicionamento adequado do mem- do vaso é outro aspecto da fase aguda que deve sempre
bro, o grande desafio que se apresenta é a caracterização ser investigada. Geralmente não se dispõe de exames an-
da idade do trombo e o diagnóstico da retrombose. Na teriores para se comparar e, mesmo quando disponíveis,

144
Trombose Venosa dos Memb ros Superio res

não se observam o acompanhamento adequado da reso- 6. Bernardi E, Pesavento R, Prandoni P. Upper extremity
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145
CAPíTULO 13
Robert P Scissons
Avaliação do
Segmento Aortoi I íaco

INTRODUÇÃO nor de diabetes associada. O diagnóstico precoce desse


distúrbio é importante para diminuir a limitação funcio-
A ultrassonografia da aorta abdominal é sem dúvi.da o nal do membro e estimular os pacientes a modificarem
mais antigo, solicitado e importante exame vascular ab- seu estilo de vida , prevenindo as oclusões. Estas mudan-
dominal. A detecção precoce das dilatações e das este- ças são essenciais porque a doença arterial periférica está
noses deste segmento vem permitindo de forma decisiva associada a fatores de risco significativo: coeficiente de
a redução de mortes súbitas por aneurismas rotos, além mortalidade em 5 anos de quase 30%; frequência 15%
de facilitar a estruturação da conduta clínica/cirúrgica. O maior de acidente vascular cerebral (AVC) e incidência
baixo custo, a sua acurácia, a não invasividade e a simpli- mais alta de doença arterial coronariana (2,4 vezes maior
cidade do exame permitem sua repetição seriada, sendo nos homens e 1,4 maior nas mulheres)I-4
em geral eleito como o exame padrão para o diagnóstico
e acompanhamento dos aneurismas abdominais e como
primeira avaliação das lesões obstrutivas do segmento Indicações clínicas para a avaliação
aortoilíaco. aorloilíaca
A avaliação do segmento aortoilíaco pela ultrassono- Claudicação intermitente é o sintoma mais comum da
grafia vascular (USV) abrange o estudo da doença arte- doença aortoil[aca hemodinamicamente significativa.3
rial periférica do segmento aortoilíaco, dos aneurismas Em geral, os sintomas começam nos músculos das pan-
encontrados nesse segmento e das avaliações pré, per e turrilhas e são descritos com') dor, cãibras, fadiga ou
pós-operatória, nos casos de indicação cirúrgica. Este ca- sensação de compressão ao realizar esforços físicos. Su-
pítulo abrangerá as abordagens mais frequentes, que são bir ladeiras ou caminhar a passos acelerados intensifica
a da doença arterial periférica do segmento aortoilíaco o(s) sintoma(s). Em geral, a distância caminhada até que
e aneurismas. As demais avaliações serão discutidas em ocorra a claudicação é praticamente invariável na maio-
outros capítulos. ria dos casos. Os músculos do quadril e das nádegas ge-
ralmente são afetados quando há lesões aortoilíacas mais
DOENÇA ARTERIAL PERI FÉRICA DO graves e extensas. Entretanto , a localização da dor mus-
cula r não se correlaciona necessariamente com o nível da
SEGMENTO AORTOllíACO
obstrução arterial.
A doença arterial periférica do segmento aortoilíaco Pulsos femorais impalpáveis bilateralmente com
(DAOP-AI), em termos de frequência, é superada ape- disfunção erétil e claudicaçâo dos músculos das náde-
nas pela doença obstrutiva da artéria femoral superficial gas caraçterizam a síndrome de Leriche (Fig. 13 .1), que
(AFS). A doença arterial periférica afeta quase 25 % da ocorre quando há estenose hemodinamicamente sig-
população americana na faixa etária dos 70 anos. l-4 O nificante ou oclusão da aorta infrarrenal. A síndrome
tabagismo e a hipercolesterolemia são mais comuns nos do dedo azul também foi associada à doença obstrutiva
pacientes com DAOP-AI que nos individuos com doença aortoilíaca e é causada por fragmentos de uma placa
obstrutiva infrainguinal. Além disso, os pacientes com aterosclerótica que produz êmbolos que ocluam artérias
DAOP-AI tendem a ser mais jovens e têm incidência me- distais 4 (Fig. 13.2).

147
Aval iação d o Segme nto Ao rtoi lfaco

Quadro 13.1. Ind icações clínicas pa ra a avaliação


ao rto iIíaca

Dor isquêmica em repouso.

Claudicação intermitenre.

Sopro abdominal ou femoral.

Indícios de embolia arterioarterial (sínd rome do dedo azul) .


Monitoração da DAOP aortoilíaca previamente
diagnosticada.
Segmento da intervenção ci rúrgica ou endovascular
aortoi Iíaca.
Alterações fisiológicas ou resu ltados do ult rassom vascular
(USV) sugestivos de doença arterial aortoilíaca.

Protocolo de triagem aortoilíaca


Figura 13.1. Síndrome de Leriche. Imagem obti da por
O protocolo de triagem d escrito adiante é útil para o
angiorressonânc ia.
diagnóstico da doença obstrutiva aortoilíaca 5 Os dados
fisiológicos são utilizados para definir a existência ou a
inexistência de disfunção arterial no membro inferior, e
os traçados do Doppler ajudam a identificar ou descartar
lesões no sistema aortoilíac0 67

O paciente é colocado na posição supina e, antes das me-


didas das pressões do braço e do tornozelo , deve ficar
em repouso por 15- 20 mino O manguito de pressão do
tornozelo é aplicado 2-3 em proximal ao maléolo tibia\.
Com a utilização do aparelho de ondas contínuas CCW)
a artéria tibial posterior (IP) é localizada por trás do ma-
léolo mediai e o transdutor aí posicionado (Fig. 13.3). A

Figura 13.2. Embol ização distai por fragmen tação de


placa de ateroma.

Cerca de 55 % dos pacientes com claudicação inter-


mitente permanecem estáveis ou melhoram , e 25 % ne-
cessitam de intervenção cirúrgica ou endovascular. Os
20% restantes pioram e uma porcentagem pequena (4%)
desse subgrupo necessita de amputação. 3 A progressão
para disfunção hemodinâmica crítica ocorre em cerca
de 24% dos pacientes com DAOP depois de 5 anos, e
cerca de 30% deles morrem em 5 anos. Em geral, a mor-
te está associada a um eve nto coronariano isquêmico. A
intervenção cirúrgica ou endovascular precoce deve ser
considerada para os pacientes com isquemia critica dos
Figura 13 .3. Insonação da arté ria tibial posterior com o
membros (Quadro 13.1). Doppler con tínuo.

148
Ava li ação do Segmento Aortoilíaco

T' '. r~C)Il1('tp,.l I 1 ~ . t'. It

Teste de esforço, quando indicado. Em geral , esse teste


é utilizado para excluir outras formas de claudicação (p.
ex. , anormalidade da coluna vertebral ou articular que
cause sintomas referidos no membro inferior).
Duas milhas por hora (3,2 krn/h) a 12° de elevação
por 5 mino Nota: Os pacientes sempre devem ser ins-
truídos sobre como dar os passos e caminhar na esteira,
antes do teste propriamente dito. O exame deve ser inter-
rompido se surgir qualquer indício de disfunção cardíaca
ou pulmonar (p. ex., dor torácica ou dispneia)

, I
t ., A( I

O lIB normal em repouso é de 0 ,95 ou mais. Valores de


lIB >0 ,50 são compatíveis com claudicação e < 0 ,50 suge-
rem isquemia grave do membro inferior. lIB >1 ,40 signi-
fica calcificação das paredes arteriais e perda da compres-
Figura 13.4. Insonação da artéria pediosa com o Doppler sibilidade vascular. A incompressibilidade pode ser total
contín uo. ou parcial e causar elevações falsas do lIB (Quadro 13.2).
A curva de velocidade de fluxo medida na artéria
medida da pressão na artéria tibial anterior é feita com femoral comum é normalmente tri ou bifásica, com ace-
a colocação do manguito na mesma posição usada para leração alta (Figs. 13.5-13.8) Os traçados monofásicos
a medida da pressão na arté lia tibial posterior, com o com subida sistólica lenta (tempo de aceleração aumen-
transdutor colocado agora na artéria pediosa (Fig. 13.4). tado) e o alongamento das formas das ondas sugerem
O traçado da medida da velocidade na artéria femoral estenose ou obstrução hemo dinamicamente significati-
comum, utilizando o equipamento de ondas contínuas va (>50 % do diâmetro) proximal ao local de exploração
(CW), é obtido posicionando-se o transdutor na prega pela sonda Doppler.
inguinal. Critérios diagnósticos do teste de esforço: o bra-
ço com a pressão sistólica braquial pré-esforço mais alta
e o vaso do tornozelo (TP ou TA) no membro direito e
esquerdo com os maiores valores de pressão sistólica
Para cada membro, calcule o lIBrrp (índice tornoze-
pré-esforço são os pontos utilizados para realizar as me-
lo-braço na artéria tibial posterior) ou lIBrrA (índice
didas da pressão pós-esforço. A pressão sistólica braquial
tornozelo-braço na artéria tibial anterior). Cálculo do
pós-esforço é o denominador e a pressão do tornozelo (TP
lIB: pressão sistólica do tornozelo (TA ou TB/pressão
ou TA) é o numerador da razão ITB pós-esforço. A res-
sistólica braquial mais alta).
posta normal ao teste ergométrico em esteira consiste na
Análise do traçado Doppler da artéria femoral co-
mum bilateralmente .
A medida das pressões sistólicas do tornozelo e a uti- Quadro 13.2. Níveis de ITB para classificação da
lização do índice tornozelo-braço (ITB) possibilitam um disfun ção hemodinâmica do membro inferior
exame não invasivo objetivo e simples, em que os valores índice Classificação
de lIB <0,9 confirmam o diagnóstico de DAOP lembrar tornozelo-braço
sempre que, se as artérias do tornozelo estiverem calci-
0,95- 1,25 Normal (sem DAP significativa)
ficadas - o que observamos comumente nos pacientes
com diabetes ou doença renal-, as pressões derivadas do 0,75-0,94 DAOP leve
Doppler podem estar falsamente elevadas.5 0,50-0,74 DAOP moderada
Os pacientes com sinais e sintomas sugestivos de <50 DAOP grave
claudicação intermitente e valores normais de lIB devem
ser avaliados por um teste ergométrico em esteira.
>30 DAOP crítica

149
Avaliação do Segmento Aortoilíaco

ausência de reduções da pressão do tornozelo ou do ITB.


Os valores norn1ais de ITB pós-esforço indicam que os sin-
tomas provavelmente não tenham origem vascular 5

Informações necessárias ao laudo méd ico


• É recomendável descrever o ITB-TP e o ITB-TA bila-
teralmente e os traçados do Doppler de ondas contí -
nuas (CW ).
• Classificação do ITB (grau de disfunção hemodinâmi- ~ Figura 13.8. Curva monofásica de ace leração rápida.
ca) dos membros inferiores, bilateralmente.
• Caracterização do traçado da artéria femoral comum
como trifásico (Fig. 13.5), bifásico (Fig. 13.6) ou mo- monofásico, com alta aceleração, pode estar presente
nofásico (Fig. 13.7), bilateralmente. O traçado mo- na artéria femoral comum em pacientes com oclusões
nofásico , de baixa resistência e tempo de aceleração distais (Fig. 13.8).
aumentado, é considerado anormal e sugere obstru- • Se o teste de esforço foi realizado: ITB antes e depois
ção proximal. Contudo, em alguns casos, o traçado do teste, com classificações da disfunção hemodinâ-
mica do membro inferior pré-esforço e pós-esforço,
bilateralmente.

Limitações das determinações do índice


tornozelo-braço
As limitações encontradas durante a medida das pressões
do tornozelo e das determinações do ITB incluem:

• Traumatismo na perna
• Úlceras no tornozelo
• Bandagens volumosas ou aparelhos gessados que não
~ Figura 13.5. Pad rão de curva trifásica. possam ser removidos.
• As medidas da pressão estão contraindicadas aos pa-
cientes com trombose venosa profunda (TVP) aguda.

Nível de pressão arterial anormalmente alto pode ser


erroneamente mensurado se a largura do manguito é <50%
do diâmetro do membro onde a medida está sendo realiza-
da. Para assegurar a precisão das aferições, o manguito de
pressão deve ser 20% mais largo que o diâmetro do mem-
bro. A calcificação das paredes das artérias tibiais (calcinose
~ Figura 13.6. Padrão de curva bifásica. da média) gera medidas de pressão falsamente elevadas. 5

Exame USV do segmento aortoilíaco


Preparação do paciente
O exame USV abdominal deve ser realizado preferencial-
mente pela manhã, porque a quantidade de gases abdo-
minais é menor. Existem várias medicações para reduzir
05 gases abdominais , mas os resultados são variáveis e
os efeitos adversos podem incluir diarreia e vômitos. O
jejum de 12h durante a noite ajuda a reduzir os gases
~ Figura 13.7. Padrão de curva monofásica. intestinais. Além disso, o paciente deve parar de fumar,

150
Aval iação do Segmento Aortoi l íaco

mastigar chicletes ou ingerir bebidas gaseificadas para trajetos das artérias ilíacas comuns, externas e internas .
aj udar a diminuir a ingestão de ar e a formação de gases Os marcos anatômicos particularmente importantes in-
intestinais. Os diabéticos podem fazer um desjejum leve cluem a aorta abdominal distaI até a bifurcação ilíaca
(p.ex., torradas) e quaisquer fármacos podem ser ingeri- (Fig. 13 .14), a artéria ilíaca comum até a sua bifurcação
dos com um pequeno gole de água. em ilíaca interna e externa (Fig. 13.15) e a artéria ilíaca
O paciente geralmente é examinado na posição supi-
na, com a cabeça ligeiramente elevada e os braços apoia-
dos ao lado ou acima da cabeça e o transdutor em orien-
tação longitudinal ou transversal (Fig. 13.9). Se a posição
supina mostrar-se inadequada, as incidências oblíquas
com o transdutor angulado à esquerda (Fig. 13.10) ou à
direita da linha média geralmente são úteis (Fig. 13.10.
A artéria ilíaca externa e interna são examinadas mais
facilmente na posição de decúbito lateral (o lado exami-
nado fica voltado para cima, o lado oposto para baixo e a
mão levantada acima da cabeça), com o transdutor entre
a crista e o umbigo.

~ Figura 13.9. Paciente em pos ição supina. Transdutor em


Preparação do equipamento corte transverso.
Para assegurar a penetração do ultrassom a uma profun-
didade adequada, devem ser utilizados transdutores de
baixa frequência (2-4 MHz), com frequência de Doppler
entre 2,5-4 MHz. Em geral, as artérias são codificadas
pela cor vermelha, as veias pela cor azul e a orientação das
imagens no corte longitudinal com a cabeça à esquerda
e os pés à direita do monitor. Os ajustes do exame USV
do segmento aortoilíaco variam caso a caso e, em geral,
são defi nidos mais facilmente enquanto o paciente respira.
Vibração dos tecidos, movimentos excessivos das paredes,
baixo ganho de cor, filtro de cor da parede ou frequência
de repetição dos pulsos (FRP) podem causar aliasing de
cor e devem ser ajustados por alterações da potência dos
sinais. A(s) zona(s) focalCis) deve(m) ficar na altura da cai-
xa de cor do Modo cor. É válido tentar mudar a posição do ~ Figura 13.10. Insonação oblíqua esquerda.

paciente, utilizar outro transdutor ou variar os ajustes dos


equipamentos quando as imagens não permitem o exame
adequado ou há artefatos de cor ou imagem.

Protocolo básico do exame USV para DAOP no


segmento aortoi líaco
O exame de ultrassom vascular (USV) é a modalidade
diagnóstica definitiva para avaliação não invasiva da do-
ença aortoilíaca. Os objetivos principais do protocolo de
USV para DAOP-AI são: definir a localização e quantifi-
car as estenoses ou obstruções no segment0 6 .7

• Imagens em Modo B (Fig. 13.12) e com Doppler em co-


res (Fig. 13.13) da aorta (suprarrenal e infrarrenal) e dos ~ Figura 13.11. Insonação oblíqua direita.

151
Avaliação do Segmento A o rto il íaco

Figura 13.12. Aorta abdominal em Modo B, nível das rena is.

Figura 13.16. Bifu rcação da artéria femoral com um em


superficial e profunda.

externa até a remoral comum, com sua bifurcação em


artéria femoral superficial e profunda (Fig. 13.16)
Várias imagens em corte transversal e longitudinal são
utilizadas para identificar e definir a extensão de qual-
quer estenose ou obstrução e também para determinar
a gravidade da estenose .
• Descrever detalhadamente qualquer trombo , dissec-
Figura 13.13. Aorta abdominal em Modo cor, nível das ção, pseudoaneurisma ou anormalidade mural.
renais. • Quantificar qualquer estenose utilizando o Modo
Doppler PW com ângulo de insonação Doppler ~60° e
alinhamento do cursor paralelo às paredes vasculares.
Ângulos >60 0 não são recomendados em razão do erro
intrínseco associado à sua utilizaçâo.
• Os dados fisiológicos (pressões do tornozelo/traçados
e lTB) bilaterais devem ser incluídos como parte do
protocolo básico do exame de USV do segmento aor-
toilíaco a critério de cada laboratório vascular 5 . '

. . t ) .,
, , .
"
A interpretação precisa do exame USV do segmento aor-
Figura 13.14. Aorta distai, nrvel das ilíacas: cortes transverso
loilíaco depende da qualidade e da abrangência do exa-
e longitudinal.
me. Se houver dúvidas quanto à perviedade e à direção
do fluxo, o examinador deve avaliar um vaso contrala-
teral semelhante à mesma profundidade. O examinador
deve ajustar os parâmetros de medida (p. ex., PRF, filtro
de parede, ganho , linha de base) enquanto o paciente
respira , mas a correção do ângulo deve ser realizada de-
pois do congelamento da imagem de referência e do re-
gistro do traçado da análise espectral (Modo Doppler).
A escala de cinza (Modo B) e Modo co r é útil para de-
finir variações anatõmicas e localizar placas (Fig. 13 .17),
Figura 13.15. Bifu rcação da il íaca comum em externa e mas não tem sido útil para a quantificação da estenose
interna. arterial. A quantificação da estenose se baseia na veloci-

15 2
Avaliação do Segmento Aortoilíaco

o Anom1al: a VSP do vaso proximal (pré-estenose) é com-


parada com a do segmento com estenose máxima e uma
razão é calculada: Razão (VSP) = VSP na estenoseNSP
pré-estenose.
o Redução de diâmetro <50%: VSP no local de estenose
<180 cmJs; razão VSP <2.
o Nota: a estimativa exata das lesões sem significado he-
modinâmico geralmente não é confiável e está sujeita
a erros e variabilidade.
o Estenose >50 % (em diâmetro), aumento >100% na
Figura 13.17. Corte longitudinal da aorta demonstrando
VSP entre o vaso normal (pré-estenose) e o ponto de
múltiplas placas de ateroma.
estenose máxima; razão VSP > 2, sem evidência de tur-
bulência pós-estenótica,
dade sistólica de pico (VSP) e na velocidade diastólica fi-
o Estenose >75% (em diâmetro) (Fig, 13.20) aumento
nal (VDF), ou nas razões de velocidade que compararam
>400% entre o vaso normal (pré-estenose) (Fig. 13 21)
a VSP máxima no local da estenose com a observada em
e o ponto de estenose máxima (Fig , 1322); razão VSP
um segmento arterial normal localizado proximalmente
>4 e indícios de turbulência pós-estenótica,
Embora haja consenso quanto às características do tra-
o Oclusão: ausência de fluxo em uma artéria examinada,
çado e de velocidade que definem os vasos aortoilíacos
normais, os parâmetros de velocidade utilizados para de- com reduções acentuadas a VSP e fluxo monofásico
tectar doença aortoilíaca hemodinamicamente significa- nas artérias distais ao segmento ocluído.
tiva (redução >50% do diâmetro) variam e dependem do
instrumento usado e da população examinada. ';"

Normal: traçados de ondas monofásicas , de baixa re-


sistência e de alta aceleração (Fig. 13.18), sem inver-
são do fluxo diastólico, podem ocorrer nos segmen-
tos proximais às artérias renais, em razão de os rins
serem órgãos com regime de fluxo arterial com baixa
resistência. Os traçados de ondas espectrais trifásicos
ou bifásicos de alta resistência, com inversão do fluxo
diastólico, normalmente estão presentes na aorta distai
e nas artérias ilíacas e femorais comuns e refletem a re-
sistência elevada nos membros inferiores (Fig.13.19).
Figura 13.20. Estenose da artéria ilíaca ao Doppler em
cores.

Figura 13 .18. Curvas espectrais suprarrena is.

Figura 13. 19. Curvas espectrais infrarren ais. Figura 13.21. Curvas na artéria ilíaca pré-estenose.

153
Avaliação do Segmento Ao rto ilíaco

Limitações do exame USV no segmento


aortoilíaco
As limitações encontradas durante a realização do exame
USV no segmento aortoilíaco incluem:

• Obesidade
• Abdome volumoso e Jigido
• Excesso de gases intestinais
• Operação abdominal recente ou feridas abertas
• Feridas abdominais abertas, suturas, grampos ou cate-
teres de diálise peritoneal.

~ Figura 13.22. Curvas no segmento eslenÓlico da artéria Informações necessárias ao laudo médico
ilfaca. • Imagens das zonas estenóticas, com sua extensão e re-
lação com os pontos de referências citados no protoco-
• Dissecção aónica: laceração da camada interna da pa- lo acima.
rede aónica , que pel1nite que o sangue entre e forme • VSPNDF com caracterização dos traçados da aorta ,
um canal separado dentro da parede arterial. das artérias ilíacas e femorais comuns, bilateralmente.
• Aneurisma: aumenLO >50% do diãmetro , quando com- • Razão VSP de qualquer estenose hemodinamicamente
parad o com O vaso nOl1nal (proximal) (Fig. 1323). significativa ou obstrução.
• Pseudoaneurisma dilatação arterial em que a parede é • Localização e definição do diãmetro de qualquer aneu-
composta por trombo organizado (Fig. 13.24) risma, dissecção ou pseudoaneurisma .

ANEURISMA DA AORTA ABDOMINAL


Um requisito fundamental na avaliação do sistema vas-
cular aonoilíaco é a capacidade de detectar dilatações
anormais da aorta abdominal , condição conhecida como
aneurisma da aorta abdominal (AAA). Os aneurismas da
aorta abdominal comumente são assintomáticos e, nos
EUA, são responsáveis por quase 9.000 mortes anual-
mente . Entretanto, esses dados, em geral , subestimam o
coeficiente de mortalidade real atribuído ao AAA, porque
.. Figura 13.23. Aneurisma sacular da aorta abdominal. a maioria dos pacientes com aneurismas rompidos morre
antes de chegar ao hospital. Outros países relataram índi-
ces de prevalência de 4-9% entre homens e de 1% entre
mulheres.s·ll
Os aneurismas verdadei ros afetam todas as cama-
das da parede arterial. Os aneurismas fusiformes são
esféricos ou em forma de barril, geralmente angulados
e tortuosos, com envolvimento circunferencial da pa-
rede arterial. Os aneurismas saculares têm apenas uma
parte da parede aneurismática, que se evidencia por
uma protrusão em forma de bolsa e transição aguda en-
tre os segmentos anerial normal e anormal. A maioria
dos aneurismas da aorta abdominal (95%) está locali-
zada distai mente à origem das artérias renais (infrar-
.. Figura 13.24. Pseudoaneurisma da aorta abdominal. renais) .

154
Avaliação do Segmento Aortoilíaco

Indicações clínicas • As medições dos diâmetros da aorta, transversal e an-


Os diâmetros nonnais da aorta abdominal variam de teroposterior, são realizadas nos seguintes pontos:
1,5-2,4 em e sâo ligeiramente maiores nos homens do 1. Perto da origem da artéria mesentérica superior
que nas mulheres. Os aneurismas ilíacos isolados sâo ra- (AMS).
ros12 e cerca de 50% sâo bilaterais. Os fatores de risco sig- 2. Depois da origem das artérias renais.
nificativos para aneurisma da aorta abdominal incluem: 3. Antes da bifurcação aórtica e nas artérias ilíacas co-
sexo masculino (5 vezes mais comuns em homens que muns bilateralmente.
em mulheres) , história de tabagismo, idade >65 anos e 4. Em qualquer ponto em que houver dilatação.
antecedentes familiares de AAA. • Descrever a tortuosidade , o alongamento da aorta e a
O principal fator de risco para estimar a possibilidade extensão de placa aterosclerótica, se for importante.
de ruptura do AAA é o diâmetro da aorta 13 A expansâo rá- • Medições transversais no ponto de dilatação máxima
pida (>1 cm/ano) também está sendo utilizada para orientar de qualquer aneurisma; descrever se o aneurisma é sa-
as decisões de tratamento nos aneurismas com menos de cular (Fig. 13.23) ou fusifonne (Fig. 13.25) e definir a
5,5 em. Com base em alguns estudos, os índices de ruptura localização anatõmica (á direita ou á esquerda da linha
em 1 ano são os seguintes: 5% para o AAA com diâmetro média), incluindo uma imagem longitudinal represen-
entre 4,5-5 ,9 cm; 10% para as lesões com diâmetros entre tativa da área dilatada.
6-6,9 cm; e 33% para os AAA com diâmetro >7 em. Clas- • Registrar:
sicamente, a intervenção cirúrgica ou endovascular é reco- 1. O diâmetro aórtico e a distância entre a artéria renal
mendada quando o aneurisma da aorta abdominal atinge o e o colo do aneurisma (colo proximal).
diâmetro de 5-5,5 em e os aneurismas ilfacos sejam >3 cm 2. O diâmetro distai (colo distai) e a distância entre
em seu maior diãmetro (Quadro 13.3). o colo distai do aneurisma e a bifurcação aórtica.
Nota: O AAA frequentemente estende-se até a sua
bifurcação.
~ Quadro 13.3. Indicações clínicas do exame USV do
segmento ao rtoilíaco padronizado para AAA 3. Trombos laminados são comuns nos aneurismas
da aorta abdominal - quando possível, incluir me-
• Massa abdom inal pulsátil didas do diâmetro transversal no ponto de menor
diâmetro interno residual (Fig. 1326)
• Confirmar ou refutar a existência de AAA
• Medidas de análise espectral na aorta suprarrenal,
• Monitoração de um aneurisma da aorta abdominal já aorta infrarrenal e artérias ilíacas comuns, bilateral-
diagnosticado
mente; com ângulo de insonação Doppler <60 0 e
• Monitoração da intervenção cirúrgica ou endovascular em alinhamento do curso r em paralelo como as paredes
umAAA
vasculares .
• Monitoração de um aneurisma ilíaco ou do membro • Em razão da maior probabilidade de ocorre rem
inferior (geral mente da artéria poplítea) já diagnosticado
aneurismas periféricos nos pacientes com aneuris-
mas aórticos ou ilíacos diagnosticados, recomenda-
se que as artérias poplíteas sejam avaliadas bilateral-
Protocolo para aneurisma da aorta
abdominal (AAA)
O exame USV do segmento aortoilfaco é a modalidade
diagnóstica preferida para avaliar um AAA. A preparação
do paciente é a mesma recomendada para investigar do-
ença aortoilíaca pelo exame USV
O objetivo principal do exame do paciente com AAA
é obter as medidas da parede vascular.

• Imagens transversais e longitudinais em Modo B e


Doppler em cores da aorta, desde o tronco celíaco,
passando pela bifurcação aórtica até as artérias ilíacas
comuns bilateralmente. ~ Figura 13.25. Aneurisma fusiforme da aorta abdominal.

15 5
Avaliação do Segm en to Ao rtoil íaco

Figura 13.26. Medidas dos diâmetros máxi mos e da luz


residual.

Figura 13.28. An eurisma da arté ria iliaca.

nificativa são quantificadas com base nos critérios de


velocidade para diagnóstico da DAOP
o Um hematoma que se comunica ou se localiza nas pro-
ximidades do MA pode sugerir ruptura e deve ser co-
municado imediatamente ao médico que encaminhou
o paciente.
o O aneurisma com paredes externas espessadas e lâ-
minas com aspecto hipoecoico pode indicar AAA in-
Figura 13.27. Aneurisma da artéria pop lítea. flamatório . Em geral, esses pacientes queixam-se de
hipersensibilidade abdominal à palpação e durante o
exame por USV do segmento aortoilíaco.
mente quanto à existência de doença aneurismática
(Fig. 13.27) Se for detectado um aneurisma poplí-
teo em um membro, a probabilidade de que haja Protocolo de seguimento do aneurisma
outro aneurisma poplíleo no membro contralateral da aorta abdominal
é de 50%. Reavaliação parcial do protocolo básico para AAA com ob-
jetivo principal de detectar qualquer alteração do diâmetro
Critérios diagnósticos do aneurisma da da lesão previamente definida. Dependendo da fonte de
aorta abdominal referência, os intervalos da monitoração do AAA variam
com as dimensões ou as alterações no diâmetro da lesão.
O aneurisma da aorta abdominal (MA) é definido quan-
do a aorta infrarrenal mede mais de 3 em de diâmetro ou
o Diâmetro de 3-4 em; alteração <4 mm no diâmetro do
quando o diâmetro do suposto aneurisma é 50% maior
AAA - exame anual.
do que a do segmento aórtico adjacente.
o Diâmetro de 4-5 cm; alteração de 4-6 mm no diâme-
tro do AAA - exame a cada 6 meses.
o O diâmetro limite para se classificar uma dilatação ar-
o Diâmetro de 5- 5,5 cm - recomenda-se intervenção ci-
terial como um aneurisma ilíaco (Fig. 13.28) ou poplí-
rúrgica.
teo é >2 em ou diâmetro 50% maior que o segmento
arterial contínuo.
o Os traçados espectrais trifásicos são típicos da aorta ab- Informações necessárias ao laudo
dominal normal. O segmento aórtico suprarrenal tem médico
baixa resistência, com velocidade diastólica mais proe- o Medidas dos diâmetros transversais máximos da aorta
minente em razão da sua proximidade das artérias me- abdominal e das artérias ilíacas comuns.
sentéricas e renais. A aorta infrarrenal e as artérias ilíacas o Caracterização do traçado das ondas da aorta e das
têm resistência mais alta e seguem o padrão espectral artérias ilíacas - inclusive razão VSP e localização ana-
observado nos segmentos distais do sistema arterial. tômica de qualquer estenose hemodinamicamente sig-
o As suspeitas de aterosclerose hemodinamicamente sig- nificativa ou obstrução.

156
Avaliação do Segmento Aorto il íaco

o Se for detectado um aneurisma, descrever sua locali- à conseguida com a cirurgia eletiva, embora com o
zação e seu aspecto. Quando possível , incluir medidas efeito benéfico de reduzir o número de operações;
do diâmetro transversal no ponto com menor diâme- o índice de ruptura anual nesse grupo é de 1% ou
tro interno residual. menos.
o Se o aneurisma estiver sendo avaliado quanto à possi- o Contanto que não estejam aptos à intervenção cirúrgi-
bilidade de intervenção endovascular, fornecer também ca, o reparo cirúrgico imediato está justificado para os
diâmetros e comprimento do colo proximal e distaI. pacientes com AAA >5 ,5 cm. 16
o Quando possível, comparar as medidas atuais e pre- o O tratamento cirúrgico aberto dos AAA acarreta risco
gressas do AAA. significativo de mortalidade operatória, além de com-
o Notificar imediatamente ao médico que solicitou o plicações cardíacas, pulmonares e de outros tipos. Os
exame qualquer indício de ruptura ou dissecção. melhores prognósticos são conseguidos quando a ope-
ração é realizada em hospitais de grande porte , com
cirurgiões especializados.
Triagem para AAA
o Embora o tratamento endovascular do AAA pareça
A finalidade da triagem ultrassonográfica para AAA é o diag- reduzir a morbidade e a mortalidade a curto prazo
nóstico precoce da lesão. Nos homens idosos que fazem a (em comparação com o reparo cirúrgico aberto), as
triagem, o diagnóstico seguido de intervenção nos casos in- complicações a longo prazo podem causar morbidade
dicados pode reduzir a mortalidade específica do AAA em e mortalidade significativas. Além disso, os pacientes
cerca de 43%. Embora a triagem para AAA deva fornecer in- tratados por intervenções endovasculares também po-
formações precisas e confiáveis, isso não significa que possa dem necessitar de monitoração prolongada por tomo-
substituir um exame ultrassonográfico completo.14·20 grafia computadorizada.
O United States Department of Health and Human
Services publicou diretrizes para a triagem ultrassono- Com base nessa publicação, a U.S. Preventive
gráfica do AAA. Com base em vários programas de tria- Services Task Force (USPSTF) recomendou um exame
gem populacional e estudos randomizados, as conclu- de triagem ultrassonográfica de AAA para homens de
sões desse estudo são as seguintes: 65 anos que fumaram ou ainda fumam e para aqueles
de 75 anos que nunca fumaram. A USPSTF não reco-
o Embora a triagem não tenha sido associada a qualquer menda a triagem de AAA para as mulheres, tendo em
lisco significativo, não há efeito benéfico considerável vista o número reduzido de óbitos relacionados a essa
com a repetição da triagem dos indivíduos com diãme- doença. Entretanto, as mulheres idosas fumantes com
tros aónicos normais no primeiro exame. história de AAA que exigiu reparo cirúrgico podem ser
o Vários fatores, como condições físicas gerais, história beneficiadas pela triagem.
de AAA e comorbidades, são importantes para deter- A Society for Vascular Surgery e a Society for Vascu-
minar quem poderia ser beneficiado pela triagem. lar Medicine and Biology modificaram as recomendações
o A história de tabagismo foi o fator de risco mais signi- da USPSTF e sugeriram a triagem do AAA para todos os
ficativo para definir as populações sob risco mais alto homens com idade entre 60--85 anos, mulheres de 60-85
de desenvolver AAA . anos com fatores de risco cardiovascular e para homens
o Os pacientes com diagnóstico de AAA ~3 cm depois e mulheres de 50 anos ou mais com história familiar de
da triagem ficavam inicialmente mais apreensivos e AAA. Essas sociedades também enfatizam que não há ne-
classificavam suas condições de saúde e sua qualidade cessidade de realizar qualquer exame adicional quando
de vida em níveis mais baixos que os indivíduos com o diâmetro da aorta é <3 cm. A monitoração ultrassono-
resultado normal à triagem para AAA. gráfica anual foi recomendada para os AAA com diâmetro
o A monitoração periódica é uma medida razoável para entre 3-4 cm , a cada 6 meses para diâmetro entre 4-4,5
os pacientes com AAA de 3- 3,9 cm. cm e encaminhamento a um especialista em cirurgia vas-
o A mortalidade associada ao AAA não pareceu dimi- cular se o diâmetro do AAA for >4,5 cm .
nuir com o reparo cirúrgico imediato, quando com-
parada com a monitoração (reparo cirúrgico tardio) P utO( ()Io d< ",'
dos pacientes com AAA entre 4-5,4 cm. A monito- Para a triagem do AAA , recomendam-se o mesmo equi-
ração oferece redução da mortalidade comparável pamento e a mesma preparação indicados para o exame

157
Avaliação do Segmento Aortoilíaco

USV do segmento aortoilíaco abdominal padronizado. As 7. Ashton HA, Buxton Mj, Oay NE, et a!. The Multicentre
contraindicações à triagem para AAA incluem abdomes Aneurysm Screening Study (MASS) imo the effect of
abdominal aortic aneurysm screening on mortality in men: a
firmes e volumosos ou presença de quantidades signifi- randomized controlled trial.Lancet 2002, 360(9345): 1531-
cativas de gases intestinais. Embora não seja necessária 1539.
qualquer preparação intestinal específica para os exames 8. Fleming C,Whitlock E, MO , Beil T, et a!. Screeni ng for
Abdominal Aortic Aneurysm : A Best-Evidence Systematic
de triagem do AAA , a marcação pela manhã possibilita Review for the U.S. Prevemive Services Task Force . Ann
melhor visualização. Inten Med .2005;142:203-211.
9. Lederle FA johnson Gr Wilson SE, et a!. Rupture rate of large
abdominal aortic aneurysms in patiems refusing or unfit for
In formações necessá ri as ao laudo médi co elective repair. JAMA 2002,287(22): 2968-2972.
• Documentação impressa mínima: medidas transver- 10. Brunkwall j, Hauksson H, Bengtsoon H, et a!. Solitary
aneurysm of the iliac arterial system. An estimate of their
sais e anteroposteriores do maior diãmetro da aorta
frequency occurrence. j Vasc Surg 1989,10:381.
abdominal , a começar no diafragma e estendendo-se 11. Nevitt Mp, Ballard OJ, Hallett jW jr.Prognosís of abdominal
até o nível da aorta e da bifurcação das artérias ilíacas aortic aneurysms. A population based stud)'. N Engl J Med
comuns. O Doppler em cores é recomendado para de- 1989,3211009-1014.
12. Scissons RP. Physiological Testing Techiques and
monstrar o diãmetro interno e a perviedade da aorta. Interpretation. Unetixs Vascular Incorporated, Educational
• Relatório impresso fornecido ao paciente, com descri- Publishing, 2003, North Kingstown , Rhode Island. 86p.
ção dos resultados do exame de triagem para AAA. 13. Moneta GL, Strandness DE. Peripheral arterial duplex. j Clin
Ultrasou nd 1987 , 15: 645-651.
• Quando necessário Cp. ex., AAA de 5 cm ou com in-
14. Cossman O, Ellisonj, et aI: Comparison of contrast
dícios de dissecção) , o médico que solicitou o exame arteriography to arterial mappong with color-flow duplex
deve ser avisado quanto à necessidade de cuidados imaging in tehe lower extremities. j Vasc Surgery 1989, 10:
médicos imediatos. 522-529.
15. Brady AR, Thompson SG, Fowkes FG, et a!. UK Small
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158
CAPíTULO 14
Ultrassonografia Vascular na
Fausto Miranda]r
Correção do Aneurisma da
Aorta Abdominal

INTRODUÇÃO A ressonãncia magnética encontra inconveniente em


est rutura metálica , especialmente nas q ue utilizam o aço
o seguimento da correção do aneurisma da aorta abdo- inoxidável, com mobilização da mesma ou seu aqueci-
minal tanto cirúrgica quanto endovascular tem-se mos- mento. Tem sido descrito o risco do emprego do gadolí-
trado uma medida útil no diagn óstico de complicações ni o em pacientes renais crõnicos ó
próprias destes procedimentos. O método mais difun- O emprego da ultrassonografia no seguimento dos
dido até o momento é a tomografia computadorizada, aneurismas tanto no pré como no pós-procedimento
sendo o equipamento mais moderno capaz de fazer re- tem ganhado co rpo em nosso meio , considerando um
construção das imagens obtidas. número maior de especialistas familiali zados com a do-
Os materi ais empregados na reconstrução cirúrgica ença e sua evolução. A acu rácia do exame com ultrassom
têm duração longa, porém é de bom-senso o controle para detecção do vazamento e do diãmetro do aneurisma
após 5 anos da operação para diagnóstico possível de di- pode se r comprometida pela obesidade , presença de gás
latação arterial, antes ou após o implante ou a presença intestinal ou calcificação arterial.
de falso aneurisma anastomótico .1 A fin alidade do seguimento após correção en dovas-
A durabilidade dos materiais das endopróteses é des- cular visa detectar os segui ntes eventos: vazamento (e n-
conhecida, pois os estud os atuais referem seguimentos doleak), endotensão , crescim ento do aneurisma, migração
curtos, sendo próximo dos 10 an os em séries cumulati- do dispositivo, desconexão de ramos, estenose ou oclu-
vas. A presença de pressurização do aneUlisma e rotura são de ramos da aorta ou da endoprótese, aparecimento
após correção endovascular é estimada em 1-2% dos ca- de novo aneurisma prox imal ou distai ao implante. Na
sos. A atenção especial dada ao seguimento da correção correção cirúrgica , a USV visa detecta r complicações tais
endovascular do aneurisma prende-se à possibilidade de como estenose/obstrução de ramo, coleção pe riprotética,
oco rrerem crescimento e rotura sem evidência de vaza- pseudoaneurisma anastomótico e progressão da doença .
mento, migração do dispositivo, desconexão dos ramos Po r outro lado , a ultrassonografia vascular com Doppler
ou degeneração do material, sendo estes últimos acom- tem apresentado resultados superponíveis aos da tomo-
panhados pe lo vazam ento Cendoleak) 23 grafi a computadori zada com profissionais devidamente
Os diferentes fato res que levam às complicações treinados. 7.8
estão relacionados à anatomia do aneurisma , ao dispo-
sitivo empregado e à complexidade do procedimento.
INDICAÇÕES
Recomenda-se, portanto, que todos os pacientes sejam
acompanhados no pós-procediment0 2 ') Têm sido adotados como indicações para a realização de
A tomografia computadorizada é o método mais empre- USV no acompanhamento da correção do aneuri sma da
gado para seguimento das correções dos aneurismas da aor- aorta abdom inal os seguintes quesitos:
ta, porém conta com a desvantagem do contraste que pode
provocar nefrotoxicidade e piorar a função renal em pacien- • Pa ra todo paciente submetido à correção endovascu-
tes com insuficiência renal crõnica. Um aspecto que não é lar ou cirúrgica do aneurisma da aorta abdomi nal in -
levado em conta é a carga de radiação em cada exame. frarrenal.

159
Ultrassonografia Vascular na Correção do Aneurisma da Aorta Abdominal

• Para o tratamento cirúrgico, recomenda-se que o exa- • É feita a medida do diâmetro do colo do aneurisma,
me inicial seja realizado durante o primeiro mês do do seu maior diâmetro e do diâmetro dos ramos ilía-
pós-operatório e após cada dois anos. coso Um detalhe importante é que estas medidas de-
• Para o tratamento endovascular, recomenda-se que o vem ser feitas em corte transversal , perpendicular às
exame inicial sep realizado durante o primeiro mês , e duas paredes do vaso, evitando -se áreas de curvatura
a cada seis meses nos anos sequenciais. ou tortuosidade durante a sístole (Fig. 142).
• Na presença de alguma alteração no exame inicial de • Em corte transversal e/ou longitudinal, avalia-se a
controle, para os dois tipos de tratamento , a frequên- presença de vazamento (e ndoleak) (Fig. 14.3). Regis-
cia do exame poderá ser a cada três meses a critério tram-se a velocidade de fluxo ao longo do eixo aor-
do médico responsável. toilíaco, a presença e a espessura da neoíntima na luz
da endoprótese, que é melhor visibilizada em corte
TÉCNICA DE AVALIAÇÃO transversal e no corpo da mesma.

• Jejum de 6-8 horas antes do exame. Tomar 30 gotas


de d imeticona a cada 3 horas no dia anterior.
• Paciente em posição supina.
• Emprego de lransdutor se torial ou curvo de baixa fre-
quência (2- 5 MHz), com ajuste de ganho e profun-
didade.
• O transdutor é posicionado n o epigástrio em corte ul-
trassonográfico transversal para localização da aorta
abdominal, do tronco celíaco, da artéria mese ntética
superior, da veia renal esquerda e das artérias renais
(Fig . 14.1). Devem-se ajustar a ca ixa e o ganho da cor,
o frame rale e o PRF para o paciente avaliado.

Figura 14.2 (A) Realização das medidas do colo proximal


(i magem superior) e do maior diâmetro do aneurisma
Figura 14.1. Im agem superior em corte transversal e (imagem inferior). (B) Real ização das medidas do colo
imagem inferio r em corte longitudinal da aorta suprarrenal, proximal do aneurisma em corte tran sversal (imagem
notando-se o tronco celíaco e a mesentérica superior. esquerda) e da ilíaca comum (imagem direita).

160
Ultrassonografia Vascular na Correção do Aneurisma da Aorta Abdominal

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS

Para a correção endovascular


As medidas anotadas a cada exame durante o acompa-
nhamento do paciente são importantes para avaliar a
evolução pós-procedimento (Fig. 144)
O diãmetro do colo proximal do aneurisma, caso
mantenha-se estável, é um bom prognóstico, pois o seu
aumento prenuncia um vazamento (endoleak).
A redução do maior diâmetro do aneurisma demons-
tra que não há pressurização do mesmo , porém em um
aneurisma grande (>6 cm) a redução do diâmetro pode
acarretar remodelamento seu provocando dobra ou des-
conexão de ramo ilíaco.
O acompanhame11l0 do segmento arterial proximal
e distai da endoprótese pode prenunciar o aparecimento
de dilatação e novo aneurisma nessas regiões.

Figura 14.3 (A) Colo proximal do aneurisma


demonstrando ausência de vazamento . Presença de imagem Figura 14.4 (A) Medida inicial de control e após implante
hipodensa caracterizando vazamento de outra região. (B) de endoprótese aórtica infrarrenal para correção de
Presença de vazamento no ramo direito da endoprótese (seta) aneurisma da aorta . Maior diâmetro do aneurisma: 42 x 37
em corte transversal. (C) presença de vazamento pelo ramo mm. (B) Após 12 meses de evolução. Maior diâmetro do
direito de endoprótese (seta) em corte longitudinal. aneurisma: 32 x 34 mm.

161
Ultrassonog rafia Vascular na Co rreção do Aneu risma da Ao rta Abdom inal

~ Quadro 14.1. Classificação do tipo de vazamento Descrever a alteração da velocidade do fluxo ao lon-
(en do/eak)9 go do enxerto.

Tipo Origem do vazamento

I Local da fixação da endoprótese LIMITAÇÕES DO EXAME


A Fixação proximal (aorta infrarrenall
B Fixação distai (ilíaca) Apresentam limitações ao exame pacientes com doenças
C Pelo oclusor ilíaco respiratórias graves , obesidade mórbida , presença exces-
11 Por ramo aórtico
siva de gases intestinais , ostomias e cicatrizes abdomi-
A Simples (através de um ramo)
B Complexo (2 ou mais ramos) nais, bem como a inexperiência do examinador, além d e
111 Defeito da endoprótese equipamentos inadequados .
A Desconexão de ramo
B Rotura da endoprótese:
pequena « 2 mm ) ou grande (:2:2 mm ) INFORMAÇÕES
IV Porosidade do tecido « 30 dias)
Endoten são Aumento do diãmetro do aneurisma INDISPENSÁVEIS PARA O LAUDO
A Sem vazamento
B Vazamento selado Relação dos diâmetros do colo proximal e do mai.or diâ-
C Com o tipo I ou tipo 11 1 metro do aneurisma e dos ramos ilíacos .
D Com o tipo 11
Descrição do tipo de vazamento (e ndoleak) e sua lo-
calização.
Confirmação da presença ou não de neoíntima na
o exame das artérias renais corrobora na documenta-
luz da endoprótese e sua espessura.
ção que a endoprótese não apresentou migração proximal.
Descrição da presença de velocidade alterada ao lon-
A presença de vazamento (endoleak) d eve ser descrita
go da endoprótese.
segundo a classificação do Quadro 14.1 Y

Para a correção cirúrgica REFERÊNCIAS


As medidas anotadas a cada exam e durante o acompa- 1. Kalman PG , Rappaport DC, Merchant N, Clarke K,johnston
KW The value of late CT scanning in identification of
nhamento do paciente são importantes para avaliar a
vascular abnormalities after AAA repair. J Vasc Surg.
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Medir o diâmetro da aorta infrarrenal, do corpo e 2. White GH, Yu W, May J, Chaufour X, Stephen MS. Eneloleak
as a complication of endoluminal grafting of AAAs:
dos ramos do enxerto.
classification, incielence, diagnosis, anel management. j
Descrever a presença ou não de coleção perienxerto. Endovasc Surg. 1997;4152-168 .
Monitorar as áreas de anastomoses entre o e nxerto 3. Meier GH, Parker FM, Godziachvili V, et a!. Enelotension
after endovascular aneurysm repair: the Ancure experience. j
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integração da prótese nos tecidos vizinhos sem coleção peri- opinions expressed at an international conference. j Vasc
protética. Surg 2002;351029-35.

162
CAPíTULO 15
Exame U Itrassonográfico
Gregary L. Maneta
Vascu lar das Artérias Erica L. Mitchell
Timathy K. Lie
Mesentéricas

INTRODUÇÃO por distúrbios gastrintestinais. Os pacientes com isque-


mia mesentérica crônica geralmente são idosos e relatam
o exame ultrassonográfico vascular (USV) dos vasos história de doença aterosclerótica. Cerca de 75 % desses
mesentéricos é realizado para determinar a presença, a pacientes têm história de tabagismo e a razão entre os
localização, a extensão e a gravidade das estenoses ou sexos masculino e feminino é de 3 : l.
oclusões dos aneurismas ou de outras doenças das arté- A causa mais comum da isquemia intestinal crônica é
rias mesentéricas. Isso inclui a avaliação da artéria me- a aterosclerose da aorta e das artérias viscerais proximais,
sentérica superior (AMS), da artéria celíaca (AC) e da causando insuficiência vascular progressiva em conse-
artéria mesentérica inferior (AMI). Dentre esses vasos, a quência da esteno:,e ou da obstrução das origens das ar-
avaliação da AMS e da AC é mais importante A AMI ge- térias celíaca e mesentérica superior. Essa é a causa da is-
ralmente é diffcil de examinar e é comum observar que quemia mesentérica crônica em 95 % dos casos. } Causas
ela não é muito bem definida . incomuns de isquemia intestinal crônica são: displasia
fibromuscular, doença de Buerger, poliarterite nodosa,
INDICAÇÕES DO EXAME doença de Takayassu , síndrome de Cogan , doença de
USV ARTERIAL MESENTÉRICO Behçet , dissecção da artéria mesentérica, aneurisma aór-
lico e estados de hipercoagulabilidade 2 Na maioria dos
o USV das artérias mesentéricas é mais útil como exame casos, a isquemia mesentérica crônica sintomática ocorre
complementar ao diagnóstico da isquemia intestinal crô- quando há estenose grave ou obstrução das artérias celí-
nica . O USV mesentérico pode ser realizado para detec- aca e mesentérica superior. Entretanto , existem casos em
tar estenoses e obstruçôes da artéria celíaca e mesentérica que a doença isolada da artéria mesentérica superior é
superior, mas isoladamente não permite a confirmação suficiente para causar sintomas. Há controvérsias quanto
do diagnóstico clínico da isquemia intestinal crônica. à possibilidade de a estenose ou a obstrução isolada da
Esse diagnóstico é clínico e baseia-se na existência de si- artéria celíaca causar sintomas intestinais isquêmicos, o
nais e sintomas típicos com evidências objetivas de este- que será discutido com mais detalhes adiante .
nose significativa das artérias mesentéricas , tais como: A apresentação clínica clássica da isquemia intestinal
crônica é dor epigástrica ou periumbilical pós-prandial.
- Sopros abdominais . Quase todos os pacientes queixam-se de dor abdomi-
- Suspeita de aneurisma dos vasos viscerais. nal , que começa cerca de 30 min depois das refeições
- Suspeita de síndrome de compressão da artéria celíaca. e persiste por 1-2 h . Outros sinais e sintomas incluem
- Suspeita de insuficiência vascular intestinal. diarreia, náusea e vômitos. O paciente pode perceber a
relação entre a ingestão alimentar e a dor abdominal , o
ISQUEMIA INTESTINAL CRÔNICA que resulta em medo de comer e perda de peso . Mais de
-'\ . ..' 90% dos pacientes com isquemia intestinal apresentam
Isquemia intestinal crônica é um distúrbio raro respon- emagrecimento e mais de 70% têm doença ateroscleróti-
sável por menos de 1 em cada 100.000 internações hos- ca sistêmica evidenciada por sopros carotídeos, femorai s
pitalares nos EUA e menos de 2% das hospitalizações ou abdominais, claudicação, redução dos pulsos perifé-

163
Exame Ultrassonográfico Vascular das Artérias Mesentér icas

ricos, diminuição da razão entre as pressões sistólicas do


braço e do tornozelo, doença coronariana e anormalida-
des neurológicas compatíveis com um acidente vascular
cerebral (AVC) pregress0 3
A confirmação do diagnóstico de isquemia mesentéri-
ca crônica nas fases iniciais é um pouco difícil em vista da
inespecificidade dos sintomas e da escassez de achados ao
exame físico. Essa condição pode ser con fundida com úlce-
ra péptica, cólica biliar, doença inflamatória intestinal , pan-
creatite e cãnceres do trato gastrointestinal. Por essa razão ,
é comum transcorrer um periodo longo entre o início dos
sintomas e o diagnóstico da isquemia intestinal crônica.
Em geral, o diagnóstico é estabelecido depois da realização Figura 15.1. Exame em corte longitudinal no Modo cor da
de vários exames diagnósticos para excluir outras doenças aorta e emergência da artéria mesentérica superior.
mais comuns. Em quase todos os casos, uma investiga-
ção diagnóstica com radiografias simples, esofagoscopia,
colonoscopia, exames com deglutição de bário e TC não lhadamente. De início, os estudos procuraram estabele-
consegue demonstrar a causa da dor pós-prandial do pa- cer a exequibilidade do exame (Fig. 15.1) e, em seguida ,
ciente. Nenhum exame sanguíneo é diagnóstico e também os valores normais em repouso das velocidades sistólica
não existem estudos da absorção ou excreção intestinais de pico e diastólica final das artérias celíaca e mesen-
úteis à confirn1ação do diagnóstico de isquemia intestinal térica superior. Os pesquisadores também investigaram
crônica. Por essa razão, o grau de suspeita deve ser elevado. os aumentos pós-prandiais normais das velocidades sis-
A detecção de estenose avançada ou obstrução das arté- tólica de pico e diastólica final. O USV mesentérico foi
rias cel!aca e mesentérica superior pelo USV desempenha utilizado nos estudos fisiológicos da circulação intestinal
um papel importante no diagnóstico da isquemia intestinal e como instrumento de pesquisa para estudar a resposta
crônica. Hoje, a arteriografia dos vasos viscerais é o padrão da hiperemia intestinal pós-prandial.
de referência para a confirmação definitiva do diagnóstico
da doença obstrutiva mesentérica. Entretanto, existem ris- EXAME USV MESENTÉRICO:
cos inttínsecos associados à angiografia. Em vista desses A DÉCADA DE 1990
riscos e do seu custo, o USV com mediçôes da velocidade
derivado pelo Doppler foi avaliado como método de tria- Os estudos clínicos usando o USV mesentérico come-
gem. Com base na determinação do fluxo sistólico de pico, çaram na década de 1990: primeiramente com estudos
é possível prever a gravidade da estenose da artéria mesen- retrospectivos para avaliar a estenose das artérias celíaca
térica com precisão de 82-96%.4 e mesentérica superior e depois com estudos prospecti-
vos para testar os critérios ecográficos de estenose dessas
EXAME USV MESENTÉRICO: artérias. Outros estudos avaliaram a utilidade do exame
USV pós-prandial como método complementar para es-
A DÉCADA DE 1980
tabelecer potencialmente o diagnóstico de isquemia in-
A utilização do USV como exame complementar ao diag- testinal crônica e, possivelmente, definir grupos mais es-
nóstico da isquemia intestinal crônica foi sugerido pri- tritos de estenose mesentérica. O USV mostrou-se muito
mei ramente em meados da década de 1980. O Dr. Ni- útil no diagnóstico da síndrome de compressão da artéria
chols, da University of Washington, estudou 4 pacientes celíaca e pode se r usado para avaliar enxertos e stents nas
com isquemia intestinal e observou que as velocidades artérias celíaca e mesentérica superior.
sistólica de pico e diastólica final das artérias celíaca e
mesentérica supe lior estavam aumentadas. 5 Naquela TÉCN ICA DO EXAME USV
época, não havia critérios ecográficos específicos para o
MESENTÉRICO EM JEJUM
diagnóstico das estenoses graves das artérias celíacas ou
mesentéricas superiores. Depois desse relato inicial em O exame de USV mesentérico é realizado mais facilmen-
1985 , o USV mesentérico começou a ser avaliado de ta- te com o paciente em jejum nas primeiras horas do dia

164
Exa m e U Itrasso nog ráfico Vasc u lar das Artéri as M ese nté ri cas

de forma a diminuir a quantidade de gases intestinais. Os de pico da artéria mesentérica superior nos pacientes
exames devem ser realizados por um ultrassonografista em jejum tendem a ser maiores do que as velocidades
vascular experiente. O paciente é colocado na posição su- correspondentes na artéria celíaca. Além disso, as velo-
pina com a cabeceira do leito elevada a 30°. Os vasos vis- cidades diastólicas finais em jejum também tendem a
cerais devem ser examinados simultaneamente em Modo ser menores na artéria mesentélica superior do que na
B e ao Doppler espectral. Em geral, as frequências Dop- artéria celíaca. Comumente, há um componente de flu-
pler ficam na faixa de 2- 5 MHz. As imagens em escala de xo invertido no final da sístole na curva de velocidade
cinza (Modo B) geralmente são usadas para identificar e medida na artéria mesentérica superior, o que não ocorre
acompanhar os segmentos do vaso escolhido e observar nas medidas realizadas na artéria celíaca (Fig. 15.2). O
a presença ou a ausência de qualquer processo patológico fluxo diastólico mais amplo da artéria celíaca, quando
dentro da luz vascular. O exame USV define a gravidade comparado ao da artéria mesentérica superior, provavel-
da doença e deve incluir a avaliação da presença ou da au- mente reflete a baixa resistência dos órgãos distais das
sência de fluxo e, quando há fluxo, o examinador deve de- circulações hepática e esplênica quando comparada com
terminar a velocidade de pico sistólico (VPS), a velocidade a resistência da circu lação intestinal em jejum .
diastólica final (VDF) e a análise espectral do traçado. A Estudos realizados ao longo de toda a década de
análise espectral deve ser realizada em todos os segmentos 1980 e na primei ra metade da década seguinte procura-
vasculares visualizados. As medições devem ser realizadas ram estabelecer as velocidades sistólicas de pico normais
no segmento proximal, ao longo da área de alteração do das artérias celíaca e mesentérica superior. As velocida-
fluxo e no segmento distaI. Todas as informações sobre ve- des sistólicas de pico da artéria mesentérica superior an-
locidade derivadas da análise espectral devem ser obtidas giograficamente normal variam de 125-170 cm/s. 7- U
com ângulo de insonação Doppler entre 45- 70° Ângulo
de insonaçâo > 70° provoca aumento artificial significativo Critérios para diagnóstico da
nas velocidades mensuradas 6 estenose da artéria mesentérica no
exame USV em jejum
Análise espectral nas artérias O estabelecimento dos critérios exigidos para diagnós-
mesentéricas em jejum tico da estenose das artérias celíaca e mesentérica supe-
Os traçados da artéria celíaca e mesentérica superior em rior começou no fina l da década de 1980 . Esses estudos
jejum são diferentes. Em geral, as velocidades sistólicas começaram na Oregon Health & Science University de

cm/s cm/s

t I
,RF
I
-0.10

Figura 15.2. Aná li se espectral mostrando as fo rm as da onda de veloc idade de flu xo na artéri a mese ntérica superior (A)
e artéri a ce líaca (8) no paciente em jej um . As veloc idades de pico sistólico (VPS) tendem a ser mais elevadas na artéria
mesentéri ca superior com paradas às da artéri a ce líaca. As velocidades d iastól icas finais (VDF) tendem a ser mais elevadas na
artéri a celíaca se comparadas à artéri a mesentérica superi or. Existe geralmen te um fl uxo reverso (RF) no fim da diástole na onda
de veloci dade da artéri a mesentérica superior. A menor VDF e o fluxo reve rso no fi nal da diástole na onda de veloci dade de
flu xo durante o jeju m na artéria mesentéri ca superior refl etem sua ma ior res istência.

165
Exame Ultrassonográfico Vascular d as Artérias Mesentéricas

Ponland, Oregon. O primeiro estudo - uma revisão re-


trospectiva de 34 pacientes - comparou o exame USV
mesentérico com a arteriografia das artérias celíaca e me-
sentérica superior. Esse estudo sugeriu que as velocida-
des sistólicas de pico na artéria mesentérica -:::,275 crn/s
ou a inexistência de sinais de fluxo na artéria mesenté-
rica , e velocidades sistólicas de pico da artéria celíaca
-:::,200 crn/s ou a inexistência de sinais de fluxo no tronco
celíaco, fossem indicadores confiáve is de estenose angio-
gráfica -:::'70% das artérias mesentérica superior e celíaca ,
respectivamente. 13
Com base nesse estudo retrospectivo inicial, os
pesquisadores da Oregon Health &: Science Unive rsi-
ty planejaram um estudo duplo-cego prospectivo para
comparar o USV mesentérico com as arteriografias para
.. Figura 15.3. Di stribu ição da VPS e VDF na artéria
validar os seus critérios ecográficos propostos para es-
mesentérica superior com estenoses <70% diagnosticadas
tenose das artérias esplãncnicas Durante um período pela angiografia (círculos) versus estenoses >70%
de 18 meses, 100 pacientes consecutivos fizeram exame (triângulos).
USV arterial mesentérico e aortografia abdominal (com
projeção lateral) , independentemente da existência de
sintomas abdominais. A existência de isquemia me-
sentérica sintomática não era um requisito para inclu-
são dos pacientes no estudo. Os aortogramas foram ava-
liados para determinar a existência ou a ausência de es-
tenoses maiores ou iguais a 70 % da AC ou da AMS. As
velocidades sistólicas de pico afe ridas pelo USV da AC
e da AMS foram registradas sem conhecer os resultados
da angiografia. Nessa população de 100 pacientes, a
aortografia demonstrou satisfatoriamente todas as arté-
rias celíacas e 99% das artérias mesentéricas superiores.
Dentre esses pacientes, 83% das artérias celíacas e 92%
das artérias mesentéricas superiores foram visualizadas
no primeiro exame de USV 14
Estenoses da artéria celíaca de 70-100% foram de-
.. Figura 15.4. Di strib uição da VPS e VDF na artéria celíaca
tectadas em 24 pacientes e 76 apresentavam estenoses
com estenoses <70% diagnosticadas pela angiografia
<70%. Havia 14 pacientes com lesões de 70-100% e 85 (círcul os) versus estenoses > 70 % (triângulos).
com estenoses angiográficas <70 % nas artérias mesentéri-
cas supeliores. Com a comparação das ve locidades sistó-
lica de pico e diastólica final dos pacientes com estenoses celíacas, havia 24 lesões angiográficas graves (>70%). O
angiográficas <70% verSL1S pacientes com lesões angio- USV detectou 20 das 24 lesões, com índice de resulta-
gráficas> 70%, os autores observaram que as velocidades dos positivos verdadeiros de 83%. Houve 3 resultados
sistólica de pico e diastólica final globaiS eram maiores falsos-negativos (13%). Isso resultou em sensibilidade de
nos pacientes com estenoses > 70% das artérias celíacas e/ 87%, especificidade de 80% e valor preditivo positivo
ou mesentéricas superiores (Figs. 15.3 e 15.4). de 63 %, com valor preditivo negativo de 94% para as
Esse estudo prospectivo demonstrou claramente velocidades sistólicas de pico maiores ou iguais a 200
que o USV mesentérico era exequível na maioria dos crn/s como indicativas de eSlenoses angiográficas >70 %
pacientes e tinha precisão suficiente para ser aplicável da artéria ce líaca. A precisão global foi de 82 %.14 Quanto
na prática clínica como método de triagem para detec- às artérias mesentéricas superiores, havia 14 estenoses
tar estenoses -:::'70% da AC e da AMS. Quanto às artérias angiográficas graves e 12 delas foram detectadas pelo

166
Exa me U Itrasso nog ráfico Vascu lar das Artér ias Mesenté ricas

exame USV mesentérico, resultando no índice de resulta- 91 %. Quanto às artérias celíacas, a direção retrógrada do
dos verdadeiros-positivos de 86%. Houve um resultado fluxo da artéria hepática comum teve valor preditivo de
falso-negativo (7 %). Isso resultou em uma sensibilidade 100% para estenose grave ou obstmção da artéria celíaca .
de 92%, especificidade de 96% e valor preditivo positivo A velocidade diastólica final ::::55 crn/s ou a inexistência
de 80%, com valor preditivo negativo de 99%. A preci- de sinais de fluxo na artéria teve a maior precisão global
são global na detecção das estenoses angiográficas > 70 % (95%), com sensibilidade (93 %) e especificidade 000%)
da AMS foi de 96%1-1 altas . A VPS de 200 crn/s ou a ausência dos sinais de flu-
Também existem outros critérios ecográficos para xo também teve precisão (93 %), sensibilidade (93 %) e
detectar estenose das artérias celíaca e mesentérica supe- especificidade (94 %) excelentes. O gmpo de Dartmouth
rior. O Departamento de Cimrgia Vascular do Dartmouth também observou que as variações anatômicas da circu-
Hitchcock Medicai Center realizou um estudo para vali- lação mesentérica podiam ser definidas pelo exame USV
dar a precisão dos seus critérios ecográficos previamente Três das quatro anomalias arteriais anatômicas foram de-
estabelecidos para estenoses maiores ou iguais a 50 % da tectadas adequadamente. Isso incluía uma artéria hepá-
AMS ou da AC, quando comparados com a arteriografia. tica direita e uma artéria hepática comum originada da
Os critérios ecográficos estabelecidos retrospectivamen- AMS e um tronco celíaco e mesentérico comum 16
te em 1991 nesse laboratório identificaram velocidades
diastólicas finais:::: de 45 crn/s ou ausência de fluxo de-
tectável na artéria mesentérica superior como indicador TÉCNICA DO EXAME USV
altamente sensível (100%) e específico (92 %) de estenose MESENTÉRICO PÓS-PRANDIAL
hemodinamicamente significativa (>50%) ou obstmção
A resposta fisiológica dos fluxos sanguíneos das ar-
diagnosticada pela angiografia da AMS . No caso das arté-
térias mesentérica superior e celíaca à ingestão ali-
rias celíacas , não foram definidos limiares de velocidade
mentar é diferente. Normalmente, ocorrem aumentos
comparativamente precisos, mas os autores observaram
acentuados das velocidades sistólica de pico e dias-
que o fluxo retrógrado na artéria hepática comum era
tólica final na artéria mesentérica superior depois da
altamente indicativo de estenose grave ou obstmção da
artéria celíaca. 15 ingestão alimentar. Essa alteração acompanha-se do
Para validar a precisão dos seus critérios ecográficos desaparecimento do fluxo invertido ao final da sístole,
estabelecidos previamente para estenoses >50% da AMS que se observa frequentemente no traçado em jejum
ou AC , o grupo de pesquisadores de Dartmouth realizou (Fig. 15.5 A e B). A resposta hiperêmica começa cerca
243 exames USV mesentéricos em pacientes sob suspeita de 10 min depois da ingestão alimentar e atinge níveis
de isquemia mesentérica crônica. A confirmação angio- máximos cerca de 30 min depois. A hiperemia reflete
gráfica estava disponível para 43 pacientes. Os diâme- a redução da resistência arterial na circulação mesen-
tros da AC e da AMS foram medidos pela aortografia (em térica em resposta à ingestão alimentar. O mecanismo
projeção lateral) por observadores que desconheciam exato dessa hiperemia intestinal pós-prandial é des-
os resultados do exame USv, e os critérios ecográficos conhecido, mas provavelmente envolve uma resposta
diagnósticos originais foram testados quanto à precisão . neuroendócrina complexa.
A análise da curva das características operador-receptor Ao contrário da artéria mesentérica superior, a ar-
também foi realizada quanto aos dados de velocidade téria celíaca mostra pouca alteração em resposta à in-
para detectar os limiares mais precisos dentre esses no- gestão alimentar. Isso não é surpreendente, porque as
vos dados. Essa análise de validação também confirmou demandas metabólicas do fígado e do baço são invariá-
que os critérios de velocidade do exame USV eram preci- veis e provavelmente não são influenciadas pelo estado
sos para identificar doença obstmtiva mesentérica. pós-prandial.
O exame USV foi tecnicamente adequado em 98% A hiperemia intestinal pós-prandial é influenciada
das AMS e 96% das AC , enquanto a arteriografia foi pelo nutriente específico ingerido e determinada pela in-
adequada em 100% das AMS e 98% das AC. Quanto à gestão calórica. A estimulação osmótica ou apenas com
AMS , a VDF :::: a 45 crn/s também conferia sensibilidade água não provoca hiperemia intestinal. Em geral , quando
(90 %) e especificidade (91 %) para a detecção das esteno- a quantidade de calorias é invariável , a combinação dos
ses >50%. O valor preditivo positivo foi de 90%, o valor nutrientes causa o nível mais alto de hiperemia intestinal
preditivo negativo foi de 91 % e a precisão global foi de (Fig. 156)?

167
Exame Ultrassonográfico Vascular das Artérias Mesentéri cas

Figura 15.5. Ondas de velocidade de fiu xo (análi se espectral) em jejum (A) e pós-prandial (B) na artéria mesentéri ca
superior. Após al imen tação, a VPS e VDF aumentam e o fluxo reverso no fim da diástole desaparece.

de aterosclerose significativa da AMS (estenose angio-


gráfica de O a <30%) . Dez pacientes com aterosclero-
se tinham estenoses de 30-70% da artéria mesentérica
superio r e 9 pacientes com aterosclerose apresentavam
estenoses angiográficas de 70-99 % da artéria mesenté-
rica superior. O USV mesentérico em jejum foi defmi-
do como positivo para estenoses de 70-99% se a VPS
fosse ~ a 275 cm/s. Com base no controle angiográfico ,
os autores definiram a possibilidade de o USV mesen-
térico pós-prandial ou em jejum (e sua combinação)
prever estenoses graves (70- 99%) da AMS. Esse estudo
Figura 15.6. Aumento do volume de fluxo na artéria demonstrou que a VPS média da AMS em jejum não
mesentérica superior em resposta a uma refei ção de 300 diferia entre os controles e os pacientes com estenoses
calorias. Manitol como contro le para osmo laridad e e água
de 0-30% e de 30-70% da AMS 12
como contro le pora volume (A). O maior aumento no fluxo
da AMS ocorre u com uma refeição moderadamente As velocidades de pico sistólico da artéria mesen-
ca lórica (B). térica superior no estado pós-prandial aumentaram
significativamente em todos os grupos, mas também
não havia diferenças entre os controles e os pacientes
Alguns autores sugeriram que o exame USV pós-pran- com estenoses de 0-30% e de 30- 70% da AMS . A VPS
. dial de rotina possa ajudar a estratificar os pacientes média em jej um era signifi cativamente maior e o au-
com estenoses menores ou maiores que 70% da artéria mento pós-prandial da VPS era menor no subgrupo dos
mesenterica superior. Também foi sugerido que o USV pacientes com estenoses de 70- 99 % da AMS, quando
mesentérico pós-prandial possa estratificar com mais comparados com os controles e os pacientes com este-
precisão as estenoses e ampliar a possibilidade de o exa- noses de 0-30% e de 30-70% da AMS (Fig. 157) . O
me em jejum detectar estenoses graves. Essa questão USV mesentérico em jejum previu as estenoses de 70-
foi estudada na Oregon Health &: Sciences University 99 % da AMS com sensibilidade de 89%, especificidade
Os pesquisadores realizaram exames USV em jejum e de 97%, valor preditivo positivo de 80%, valo r prediti-
pós-prandiais em 25 contro les saudáveis e 80 pac ien- vo negativo de 99% e acurácia de 96%. Os va lores cor-
tes com doença vascular avaliados pela aortografia. Os respondentes ao USV pós-prandial foram de 67%, 94%,
autores procuraram determinar se () USV mesentérico 60%, 96% e 91 %. Os va lores relativos à combinação
pós-prandial poderia fornecer informações adicionais dos resultados normais e dos exames USV em jejum e
ao exame em jejum. pós-prandial foram ele 67%, 100%, 100%,96% e 96%,
Os pacientes com doença vascular foram divididos respectivamente. 12
em 3 grupos , com base nos resultados da aortografia Em resumo, esse estudo demonstrou aumentos
lateral. Sessenta e um pacientes não tinham evidência pós-prandiais menores elas VPS elas AMS cios pacien-

168
Exame Ultrassonográfico Vascular das Artérias Mesentéricas

ricas pós-prandial na prática clínica rotineira para detec-


tar estenose da AMS.

AVALIAÇÃO DOS ENXERTOS


ARTERIAIS MESENTÉRICOS
Com os critérios ecográficos bem estabelecidos para
detectar estenoses graves da AMS, os esforços investi-
gativos foram desviados recentemente para a utilização
do exame USV como instrumento de acompanhamento
dos pacientes submetidos à revascularização das arté-
Figura 15.7. Comparação da VPS em jejum e pós-prandial rias viscerais. Tradicionalmente , os enxertos arteriais
na artéria mesentérica superior em pacientes normai s mesentéricos (Fig. 15.8) têm sido acompanhados no
(controles), pacientes com aterosclerose e apresentando período pós-operatório através do exa me USV e hoje já
estenose na AMS de 0-30 %, 30-70% e > 70%. Não há
possuímos dados comparando os resultados dessa mo-
diferença estatisticamente significante nos dois grupos
(jejum e pós-prandial) nos pacientes com estenoses < 70%. dalidade de exame nos enxertos viscerais retrógrados e
Pacientes com estenoses > 70 % apresentaram VPS mais altas anterógrados.
em jejum com um aumento pós-prandial mais d iscreto. Os exames USV mesentéricos em jejum para segui-
mento pós-operatório foram revistos em 38 pacientes
submetidos a 43 operações de enxerto mesentérico. 17 No
tes com estenoses graves dessa artéria. As velocidades total, foram analisados 167 exames de USv, com média
pós-prandiais não diferenciaram os graus mais brandos de 4,5 exames por paciente e uma variação de 1-14 exa-
de estenose. Entretanto , as VPS em jejum e pós-prandial mes por paciente.
detectaram estenoses graves (>70%) e sua combinação Os autores compararam as configurações dos en-
aumentou apenas marginalmente a especificidade e o xertos anterógrados (supracelíacos) e retrógrados (aorta
valor preditivo positivo do USV em Jejum. Como a re- infrarrenal e artéria ilíaca). As velocidades médias estão
alização do exame pós-prandial não aumenta a acurácia descritas no Quadro 15.1. A VPS da artéria proximal
global do diagnóstico das estenoses graves da AMS , não (aorta supracelíaca) era maior do que a velocidade pro-
há razão para realizar o exame USV das artérias mesenté- xi mal com os enxertos retrógrados (aorta infrarrenal ou

Figura 15. 8. Angiografia TC e exame USV


no Modo cor em um paciente com enxerto da
artéria iIíaca para a artéria mesentérica superior.

169
Exa m e Ultrasso n ográfico Vascu lar das A rt érias Mesentéricas

~ Quadro 15.1. VPS em vários locais em enxertos mesentéricos. Todas as velocidades são em cm/seg C±.DP). * A V PS na
artéria doado ra era significativamente menor que as velocidades ret rógradas (ANOVA, p < 0.05) .17

Anastomose Centro do Anastomose Artéria


Origem Doadora
proximal enxerto distai receptora

Aorta supracelíaca 97 ± 70* 141 ± 84 147 ± 52 139 ± 57 158 ± 71

-c'." Aorta
99 + 42 182 + 77 152 + 71 162 + 73 189 + 170
'" infrarrenal
'o.
OI)

"aí
:li: Artéria ilíaca 172 + 77 212 + 71 154 + 35 169 + 50 164 + 56

artéri a ilíaca comum) (p <0 ,05). A elevaçào das veloci- Em resumo, com relação ao enxerto arterial mesen-
dades nas artérias ilíacas nativas explica essa diferença. térico, a monitoração pós-operatória pelo USV pode ser
As velocidades sistólicas médias no terço intermediário realizada para avaliar a perviedade desses enxertos . As
do enxerto eram de 147 ± 52 cm/s para os enxertos VPSs das artérias proximais são mais altas com os enxer-
supracelíacos, 152 ± 71 cm/s nos aórticos infrarrenais e tos retrógrados. Contudo, as velocidades na anastomose
154 ± 35 cm/s naqueles da i1íaca comum (p = 0,99) Os e no terço intermediário do enxerto não são significativa-
autores nào detectaram diferenças significativas de ve- mente afetadas pela orientação do enxerto. A VPS do en-
locidade entre as configurações dos enxertos bifurcados xerto permanece relativamente estável nos exames USV
ou de um único vaso (velocidade média no terço inter- de seguimento, significando que valores aumentados da
mediário do enxerto simples de 150 ± 42 cm/s vs. 155 ± VPS (em comparação com os valores basais em um mes-
56 cm/s para os enxertos bifurcados; p = NS) . Também mo paciente) indicam uma estenose numa anastomose
nào foram detectadas quaisquer diferenças quando a ou num enxerto.
anastomose distaI era na AMS ou na artéria celíaca ou
hepática (VPS média do terço intermediário da AMS de
149 ± 42 cm/s VS. 160 ± 78 cm/s para os enxertos de AVALIAÇÃO DAS ARTÉRIAS
artéria hepática ou celíaca; p = NS). Os enxertos de po- MESENTÉRICAS
liéster com diâmetros de 6 e 7 mm e os enxertos de veia SUPERIORES COM STENTS
safena autóloga (todos terminando na AMS) também
foram comparados . As velocidades médias estào des- Nos últimos anos, angioplastia com stents nas artérias me-
critas no Quadro 15.2. Há uma tendência significativa sentéricas tomou-se uma alternativa ao enxerto arterial
no sentido do aumento das velocidades nos enxertos de como tratamento da isquemia mesentérica (Fig. 15.9).
6 mm, quando comparados com os enxertos de 7 mm Os critérios ecográficos desenvolvidos para diagnóstico
Cp >0,05 ). Quando os enxertos foram acompanhados das estenoses nas artérias mesentéricas nativas podem
ao longo do tempo, não houve diferenças significativas não ser aplicáveis às AMS com stents. Como é necessá-
entre as medidas da VPS entre o primeiro e o último rio utilizar limites mais altos de velocidade para detectar
exame de seguimento. estenose das artérias carótidas internas e artérias renais

~ Quadro 15.2. V PS nos locais em enxertos mesentéricos, categorizados por diâmetro e materia l. Todas as ve locidades
expressas em cm/s (± SD). Sem d ife rença estati sti camen te signi fica nte (ANOVA, p = NS).17

Diâmetro enxertol Anastomose


Artéria doadora Centro do enxerto Anastomose distai Artéria receptora
Material proximal

6 mm Polyester 139 ± 70 214 ± 84 163 ± 52 172 ± 57 161 ± 55


7 mm Polyester 135 ± 42 169 ± 77 138 ± 71 166 ± 73 207 ± 140
Veia Safena Magna 132 ± 77 18 1 ± 71 160 ± 35 144 ± 50 124 ± 42

170
Exame Ultrassonográfico Vasc ular das A rtéria s Mese ntér icas

Nosso grupo procurou determinar se os critérios para


estenose >70% da AMS nativa poderiam ser extrapolados
para as AMSs com stents. Para tanto, os exames USV rea-
lizados antes e depois da colocação dos stents , as imagens
angiográficas e os gradientes de pressão aferidos angio-
graficamente foram comparados em 35 pacientes porta-
dores de isquemia mesentérica, que tinham sido consi-
derados de alto risco para intervenção cirúrgica aberta e,
consequentemente, foram tratados com stents nas AMS. 18
Os gradientes de pressão pré-operatórios foram calcula-
dos em 20 AMS estenóticas e pérvias e o valor médio era
de 57 ± 38 mmHg, com variação de 15-187 mmHg. Em
18 pacientes fez-se o exame USV da AMS antes da angio-
grafia e destes 17 apresentavam VPS da AMS ~ 275 cmls
(média : 450 ± 152 cmls, variação de 256-770 cmls). As
angiografias realizadas depois da colocação dos stents
demonstraram estencses <30 % da AMS em todos os 35
pacientes. Os gradientes de pressão depois da colocação
dos stents foram registrados em 22 destes pacientes e o
• Figura 15.9. Angiografia com con tra ste em paciente com valor médio foi de 11 ± 13 mmHg, com variação de 0-45
stent na AMS.
mmHg (p <0 ,01 , quando comparados com os gradientes
de pressão antes da colocação dos stents) (Fig. 15.10). A
com stents do que os usados para detectar estenoses das velocidade sistólica de pico média da AMS logo depois
artérias carótidas internas e renais nativas , pensamos que da colocação dos stents foi registrada em 13 pacientes e
uma situação semelhante também ocorre com a detecção era de 336 ± 45 cm/s, com variação de 279-416 cmls
de estenoses em stents na AMS. (p = 0,011 em comparação com as VPSs antes da coloca-

180

160
200

Õl 140
J:
E
S 120
Õl 150
o
(J
J:
:§ 100 E
(/)
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Q) 80 .ª
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Q) '"o.~
'6 60 Q)
ro
(5 C
Q)

40 ~ 50
<!)

20
--L
O o L---------~C=====i_
A Pre-Rx Post-Rx B Pre-Rx Post-Rx

• Figura 15.10. (A) Gradientes medidos na AMS pré e pós-colocaçào de stent. (8) Tabela mostrando gradien te pressóri co na
AMS pré e pós-colocaçào de stem. linhas grossas, ca ixas e barras de erro mostram mediana, intervalo interquartil e intervalo
respectivamente com p = 0,00004. 18

171
Exame U Itrassonográfico Vascu lar das Artérias Mesentéricas

800 800
700 700
600 600

Ul 500 500
!{!
Ê E
~ 400 ~ 400
Cf) Cf)
a.. a..
> 300 > 300
200 200

100 100

O O
Pre-Rx Post-Rx Pre-Rx Post-Rx
A B

Figura 15. 11 . (A) VPS na AMS pré e após colocação de s/ent. (B) Tabela mostrando V PS na AMS pré e após colocação
de s/ent. Linhas grossas, ca ixas e barras de erro mostram medi ana, intervalo interquarti l e intervalo respectivamente com
p=O,039 . 18

ção dos stents). Todos os 13 pacientes apresentavam VPS co celíaco. Contudo , em alguns indivíduos, o ligamento
2:275 cmls (Fig. 15.11 ). tem sua inserção baixa e, desse modo, cruza o segmento
Esses dados indicam que a colocação de stents nas proximal do tronco celíaco e causa compressão e sinto-
AMSs oferece bons resultados anatômicos e reduzem ex- mas de isquemia intestinal. Essa síndrome caracteriza-se
pressivamente os gradientes de pressão medidos angiogra- por emagrecimento, dor abdominal pós-prandial, náu-
ficamente . As VPSs no local de estenose (AMS) medidas sea, vômitos e sopro epigástrico.
pelo exame USV diminuem depois da colocação dos stents, Tradicionalmente, o diagnóstico da compressão cli-
mas , apesar dos resultados angiográficos satisfatórios, per- nicamente significativa do tronco celíaco é firmado pela
manecem acima dos critérios de velocidade que sugerem angiografia convencional ; contudo , também é possível
estenose grave das AMSs não tratadas. Os critérios ecográ- confirmar esse diagnóstico através do exame USV A
ficos desenvolvidos para detectar estenoses graves das AMS aortografia demonstra a compressão extrínseca da arté-
parecem predizer acuradamente as estenoses nas artérias ria celíaca, enquanto o exame USV mostra alterações da
nativas, mas superestimam estenoses em stents nas mesen- velocidade sistólica de pico e diastólica final da artéria
téricas. É necessário definir novos critérios ecográficos para celíaca. Com a inspiração, a velocidade do fluxo diminui
detectar estenoses graves das AMSs com stents e, hoje , estão na artéria celíaca, mas aumenta com a expiração 19 Este
sendo realizados estudos nesse sentido. tema será abordado mais especificamente em outro capí-
tulo deste livro.
COMPRESSÃO REVERSíVEL
DO TRONCO CElíACO SUMÁRIO E RECOMENDAÇÕES
O USV também pode ser utilizado no diagnóstico da O exame USV das artérias mesentéricas é exequível na
chamada síndrome de compressão reversível do tronco maioria dos pacientes. Aqueles com dor abdominal crô-
celíaco, um diagnóstico raro e controvertido. A síndrome nica devem ter incluído o exame USV das artérias me-
de compressão reversível do tronco celíaco ocorre quan- sentérica e celíaca nas etapas iniciais de sua investigação.
do o ligamento arqueado mediano do diafragma produz Se esse exame for positivo para estenose severa da arté-
compressão extrínseca do tronco celíaco. O ligamento ria mesentérica superior, então deverá ser considerada a
arqueado mediano é uma faixa fibrosa que une os pilares realização de angiografia nos estágios iniciais da investi-
diafragmáticos dos dois lados do hiato aórtico. Em geral, gação diagnóstica dos pacientes com dor abdominal crô-
esse ligamento passa proximalmente à origem do tron- nica, principalmente se a dor for pós-prandial.

172
Exame Ultrassonográfico Vascular das Artérias Mesentéricas

Figura 15.12. Variação


respiratória da VPS na artéria
celíaca em paciente com
compressão celíaca intermitente
pelo ligamento arqueado. (A )
onda de velocidade de fluxo na
artéria cel íaca com a inspiração.
(B) Não há compressão da
artéria celíaca na expiração.

Entretanto , se o exame USV for negativo, outros exa- artérias não se correlacionam precisamente com o qua-
mes como tomografia computadorizada e endoscopia e, dro clínico de isquemia mesentérica crônica. A isquemia
talvez, outros ainda deverão ser realizados antes de se mesentérica crônica ainda é um diagnóstico basicamente
considerar a angiografia. Essa abordagem é razoável, ten- clínico. O USV mesentérico deve sempre ser incluído na
do em vista o valor preditivo negativo muito alto do USV investigação diagnóstica dos pacientes sob suspeita de
mesentérico (99%) para excluir estenoses graves das ar- isquemia intestinal crônica para reforçar a indicação an-
térias mesentéricas superiores. Os exames pós-prandiais giográfica e o diagnóstico mais precoce
não aumentam a precisão diagnóstica do exame USV das
artérias mesentéricas. Hoje , acumulam-se dados sobre
a utilização do USV para avaliar também enxertos me- REFERÊNCIAS
sentéricos e artérias mesentéricas com stents. Esse exame
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também pode ser utilizado para identificar compressão VisceralIschemia. In Vascular Surgery, 5'h ecl ition.
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173
Exame Ultrassonográfico V asc ul ar das Artéria s M ese ntéri cas

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174
CAPíTULO 16
Investigação da Ana Luiza Valiente Engelham,
Carlos Alberto Engelham
Compressão do
Tronco Celíaco

INTRODUÇÃO Sopro epigástrico que diminui ou desaparece durante


a inspiração profunda, podendo aumentar na expira-
A síndrome compressiva do tronco celíaco é uma condi- ção máxima.
ção rara caracterizada por dor crônica pós-prandial inter- - Sopro no abdômen superior em pacientes assintomá-
mitente e perda de peso, na presença de sopro epigástJico ticos.
Apesar de incomum, a compressão no tronco celíaco é a - Dor abdominal intermitente pós-prandial (início 20
segunda causa de dor crônica abdominal depois da ateros- a 60 minutos após a refeição) que se modifica com a
clerose. 1 Os sinais e sintomas são resultados da compres- posição adotada pelo paciente e com os movimentos
são da artéria celíaca pelo ligamento arqueado mediano do respiratórios.
diafragma, devido à inserção baixa do diafragma, ou pela
presença de um plexo celíaco fibroso sobre o vaso. 2.3
Os sintomas são semelhantes aos da isquemia intes- TÉCNICA DE AVALIAÇÃO
tinal crônica pela aterosclerose, sendo mais frequente em PARA DIAGNÓSTICO
mulheres entre 40 e 60 anos, podendo também ocorrer em
crianças e adolescentes. 4-6 A dor é em geral epigástrica ou no . Preparo gastrointestinal: 6 a 8 horas de jejum prévias ao
mesogástrio, pós-prandial, que se modifica com a posição exame.
adotada pelo paciente e com os movimentos respiratórios, Paciente em posição supina:
sendo esta caracteristica o que mais chama a atenção para a
a. Transdutor setorial ou curvo de baixa frequência (2
presença desta síndrome compressiva. A história natural da
a 4 MHz), com ajuste da profundidade e ganho do
doença pode envolver perda de peso e severa desnutrição.
Modo B, posicionado na região epigástrica 3 a 4 cm
A compressão extrínseca do tronco celíaco causada
abaixo do processo xifoide (Fig. 16.1).
pelo ligamento arqueado do diafragma, primeiramente
b. Corte ultrassonográfico transversal em Modo B da aorta
descrita por Marable et aI., pode ser um achado ocasio-
abdominal proximal. O tronco celíaco é o primeiro ramo
nal durante o estudo vascular abdominaJ.7 Existem dúvi-
visceral da aorta abdominal, originando-se da parede
das consideráveis sobre a real existência desta síndrome.
anterior da aorta, imediatamente abaixo do ligamento
Compressão ou estenose assintomáticas do tronco celía-
arqueado do diafragma. Apresenta trajeto longitudinal
co são comuns, porém, difícil é explicar porque somente
discretamente tortuoso , sendo usual identificar dois de
alguns pacientes apresentam sintomas H
seus ramos, as artérias hepática e esplênica, lembrando a
forma esquemática de uma gaivota (Fig. 16.2).
INDICAÇÕES DA c. Estudo com mapeamento em cores do fluxo com cor-
UL TRASSONOGRAFIA VASCULAR tes ultrassonográficos em plano transverso e longitu-
dinal para estudo da origem e segmento proximal do
- Crianças e adolescente com dor abdominal aguda re- tronco celíaco, da artéria mesentérica superior e da
corrente. aorta abdominal proximal, com ajuste da caixa e ga-
- Jovem do sexo feminino pós-púbere (14-17 anos), de nho da cor. Deve-se evitar exercer acentuada pressão
constituição longelínea. 7 sobre o abdômen do paciente para não influenciar nas
- Mulheres entre 40 e 60 anos. medidas de velocidade e diâmetro (Fig. 16.3)

175
Ultrassonografia Vascular na Investigação da Compressão do Tronco Celíaco

d . Obtenção da velocidade sistólica na aorta abdominal


imediatamente proximal a emergência do tronco ce-
líaco (Fig. 16.4).
e. Obtenção das velocidades no tronco celíaco , locali-
zando-se a amostra de volume do Doppler pulsado
no segmento de maior estreitamento arterial. Deve-
se mensurar a velocidade de fluxo em três momentos
relacionados aos movimentos respiratórios: inspira-
ção máxima, expiração máxima e posição interme-
diária onde o diafragma encontra-se em repouso . O
filtro de parede e a escala (PRF) devem ser altos, para
evitar artefatos e representar a maior velocidade de
fluxo encontrada. O ajuste do ãngulo de insonação
Figura 16.1 . Posição do transdutor na região epigástrica.
do Doppler pulsado o mais próximo de 60° (~ 60°)
em relação ao vaso, paralelo à parede desle 7 (Fig.
16.5A e B).

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
1. Identificação da compressão pela visibilização direta da
alteração hemodinãmica (mosaico em cores) causada
pela compressão extrínseca do tronco celíaco pelo liga-
mento arqueado do diafragma (Figs 16.6 e 16.7).
2. Redução do calibre do vaso, com aumento focal de
velocidades e turbilhonamento do fluxo (aliasing),
observada ao repouso (Fig. 16.8)
3. Durante o repouso e a expiração máxima pico de ve-
locidade sistólica> 200 cm/s 8.9 e/ou pico da velocida-
Figura 16.2. Corte ultrassonográfico transversal com de diastólica final> 50 crn/s iO (Fig. 16.9).
mapeamento em cores do fluxo na aorta abdominal com o
tronco celíaco e as artérias esplênica e hepática (imagem da
gaivota).

Figura 16.3. Corte ultrassonográfico longitudinal


com mapeamento do fluxo pelo Power Doppler na aorta
abdominal (AO) com a origem do tronco celíaco (TC) e da Figura 16.4. Obtenção da velocidade sistól ica na aorta
artéria mesentérica superior (AMS). abdominal próximo a origem da artéria mesentérica superior.

176
Ultrassonografia Vascular na Investigação da Compressão do Tronco Celíaco

Figura 16.5. Exemplo


de posicionamento
do Doppler pulsado
no tronco cel íaco,
local izando-se a amostra
de volume na artéria ao
repouso (A) e durante
manobra de inspiração
profunda (B).

Figura 16.8. Mapeamento em cores do fluxo no tronco


celíaco com redução do calibre do vaso, aumento focal de
Figura 16.6. Identificação da compressão no tronco
velocidades e turbilhonamento do fluxo, ao repouso
celíaco pela visibilização direta da redução anatômica
causada pela compressão extrínseca do I igamento arqueado
do diafragma, ao repouso (~).

Figura 16.9. Mapeamento em cores do fluxo no tronco


Figu n . Identificação da compressão extrínseca celíaco com redução do calibre do vaso, aumento focal de
pela visibilização direta do vaso, no corte transversal, velocidades e turbilhonamento do fluxo, durante expiração
visua lizando-se o estreitamento do lúmen arterial ao repouso máxima. Observe as velocidades sistólica (423 cm/s) e
e a normalização do calibre durante a inspiração profunda. diastólica (145 cm/s) e o índice de resistência (0,66)

177
Ultrassonografia Vascular na Investigação da Compressão do Tronco Celíaco

Figura 16,11. Exemplo de variação anatômica no tronco


celíaco cujas artérias hepáti ca e esplênica apresentam origens
independentes. Note o turbilhonamento (f-) do fluxo na
Figura 16. 10. Mapeamento em cores do fluxo no tronco origem da artéria hepática.
ce líaco da Fig. 16.9, porém com normalização do calibre do
vaso e das velocidades, sem apresentar turbilhonamento do
fluxo, durante a inspiração profunda. Observe as velocidades
sistólica (145 cm/s) e diastólica (45 cm/s) e o índice de
resistência (0,69).

4. Variação de velocidade durante os movimentos respi-


ratórios , com normalização das velocidades durante a
inspiração profunda (Fig. 16.10)
5 Relação entre o pico de velocidade sistólica no tronco
celíaco na posição intermediária (entre a inspiração
e expiração) e o J.-ico de velocidade sistólica na aorta
abdominal imediatamente abaixo do diafragma> 2 7
6. Aumento das velocidades diastólicas durante a expi-
ração máxima quando comparada às velocidades ob-
tidas durante a inspiração, com redução signifi cativa Figura 16.12. Exemplo de variação anatômi ca no tronco
no índice de resistência (IR) indicando que compo- celíaco com origem independente da artéria hepáti ca e
origem única da artéria esplênica com a artéria mesentérica
nente diastólico é o mais afetado. II
superior.

LIMITAÇÕES DA Ul TRASSONOGRAFIA
c. Limitações de posicionamento da amostra de vo lume
VASCULAR NO ESTUDO
no tronco ce líaco durante a respiração normal (movi-
a. As variações anatõmicas da vascularização mesentéri - mentos abdominais).
ca, como a origem independente das artérias hepática d. Durante a inspiração profunda observa-se que os va-
e esp lênica (Fig 1611) e a origem única do tronco sos estudados (aorta e tronco celíaco) posicionam-se
celíaco e da arté ria mesentérica superio r (Fig 16.12). mais profundamente do que ao repouso, sendo neces-
b. Dificuldade de obter as ve locidades no tronco ce líaco sário corrigir a configuração do equipamento e obter
com ãngulo de insonação do Doppler pulsado pró- as velocidades em um Lempo máximo de apné ia su-
ximo a 60" devido a variabilidade de angulação da portado pelo paciente.
emergência do tronco celíaco em relação à aorta ab- e. Diagnóstico diferencial com eSlenose no tronco celíaco
dominal. causada pela progres~ão da alerosclerose aónica. Nestes

178
U ltrasso nog rafia Va sc ul ar na Inves ti gação da Compressão do Tron co Celíaco

casos não se observa variação importante das velocida- 2. Linder HH, Kemprud EA. Clinicoanatomic stlldy of the
des durante a inspiração forçada e expiração máxima. arcllate ligament of the diaphragm. Arch Surg 1971;
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179
CAPíTULO 17
Ana Luiza Valiente Engelham
Avaliação de Estenose Carlos Alberto Engelham
da Artéria Renal

INTRODUÇÃO aparecimento súbito de hipertensão antes dos 30 anos


ou após os 50 anos;
A estenose hemodinamicamente significativa na artéria re- - hipertensos sem história familiar de hipertensão ar-
nal com redução superior a 60% do lúmen arterial produz terial;
redução de pressão e fluxo capaz de desenvolver hiperten- - hipertensão arterial de longa data com piora abrupta
são arterial renovascular. I Considerada a causa mais fre- e inexplicável;
quente de hipertensão arterial sistêmica secundária1.2 - hipertensos com sopro abdominal epigástrico ou
A potencial melhora da perfusão renal e dos níveis lombar;
pressóricos com a restauração do fluxo normal na arté- - hipertensão arterial refratária ao tratamento medica-
ria renal torna possível reverter em muitos pacientes a mentoso;
isquemia nefropática. Com o diagnóstico e o tratamento - hipertensão associada a edema pulmonar recidivante;
precoces, pode-se evitar a evolução para perda da função
- hipertensos com sintomas de doença aterosclerótica
renal e consequente necessidade de hemodiálise, uma
cerebral, coronariana ou periférica;
vez que a hipertensão renovascular é responsável por
- hipertensão com perda progressiva da função renal
aproximadamente 15% dos pacientes acima de 50 anos
mal definida;
que irão desenvolver insuficiência renal terminaJ3.4
- história de dor no flanco ou hematúria;
As estenoses na artéria renal podem ser causadas por
- assimetria renal;
aterosclerose, arterite de Takayasu e displasia fibromus-
- retinopatia hipertensiva, avançada ou desproporcional-
cular. As lesões osteais e proximais na artéria renal decor-
mente grave em relação ao tempo estimado da doença;
rem da propagação da lesão aterosclerótica ou inflamató-
- laboratorial: hipercalemia, proteinúria, hiperreninis-
ria da aorta abdominaL enquanto as estenoses mais dis-
mo, aumento da creatinina sérica em pacientes trata-
tais e hilares são decorrentes das alterações estenosantes
dos com inibido r da ECA.
e dilatantes causadas pela displasia fibromuscular.
Nos últimos anos , a ultrassonografia vascular com
Doppler (USV) tem sido utilizada com sucesso na avalia- TÉCNICA DE AVALIAÇÃO INDIRETA
ção de pacientes com suspeita de estenose da artéria re-
PA RA I DENTIFICAÇÃO DAS
nal e na seleção dos casos com indicação de arteriografia
e revascularização renal. 5-8 ESTENOSES HEMODINAMICAMENTE
SIGNIFICATIVAS NA ARTÉRIA RENAL

I NDICAÇÕES DA Preparo gastrointestinal: 6-8 horas de jejum prévias ao


ULTRASSONOGRAFI A VASCULAR exame.
Paciente em decúbito lateral:
A hipertensão renovascular afeta 15-30% dos pacientes
com suspeita clínica da doença. A avaliação não invasiva a. Transdutor setorial ou curvo de baixa frequência
é fundamenteal para selecionar os pacientes para arterio- (2-4 MHz), com ajuste da profundidade e ganho do
grafia e revascularização .9 Modo B.

181
U Itrassonografia Vascu la r para Aval iação de Estenose da Artéria Renal

Figura 17.1. Posicionamento


do transdutor (A ) no corte

1 ultrassonográfico lombar para


avaliação indireta de artéria renal
na região hilar (8 ).

b. Estudo, com mapeamento em cores, do fluxo nos - índice de aceleração: <3,78 kHz/slMHz
segmentos distaI e hilar das artérias renais, em cor- - Tempo de aceleração: >100 rnls
tes ultrassonográficos nas respectivas regiões lom-
bares (flancos, subcostal ou paravertebral); com A especificidade do índice e tempo de aceleração na
ajuste da caixa e ganho da cor, jl'ame rate e PRF identificação das estenoses renais proximais é superior a
(Fig. 17.1A e B) 90%, contudo, devido a grande variação da sensibilidade
c) Obtenção das frequências sistólica e diastólica nas ar- (entre 32 % e 93%) e à presença relativamente frequente de
térias renais na topografia do hilo renal, para calcular resultados falsos-negativos (Fig. 17.3A-C), faz com que tais
o índice e o tempo de aceleração hilar, com ajuste do critérios indiretos nâo sejam os mais adequados para ras-
ganho e escala (PRF) do Doppler pulsado. Utilizando treamento primário das estenoses significativas das anérias
ampla amostra de volume do Doppler pulsado de apro- renais . AJém disso, alterações no parênquima renal respon-
ximadamente 10 mm e ângulo de insonaçâo de zero sáveis pelo aumento da resistência vascular intrarrenal e a
grau (Fig. 17.2A e B). distância entre a lesão estenosante e o hilo renal (Fig. 17.4
A-C) podem alterar (normalizar) os índices hilares. II - 13
Critérios diagnósticos indiretos
• Critérios hilares indiretos: JO TÉCNICA DE AVALIAÇÃO DIRETA
- Normal: (Fig. 172) DA ARTÉRIA RENAL PARA
- índice de aceleração >3,78 kHz/slMHz
DIAGNÓSTICO DEFINITIVO
- Tempo de aceleração: dOO m/s
• Possibilidade de estenose proximal significativa: Preparo: preparo gastrointestinal de 6- 8 horas de jejum
(Fig. 173) prévias ao exame.

Figura 17.2. Exemplo


de índice e tempo de
aceleração hilares: (A )
normal (tempo 50 m/s). (8)
Alterado (tempo 191 m/s).
Deve-se lembrar de que o
índice de aceleração é a
relação entre o valor obtido
e a frequência do transdutor
utilizado.

182
Ultrassonografia Vascular para Avaliação de Estenose da Artéria Renal

~ ,.,.. . ! . • " .." . '*':' _........."''''. .. ,', ...........,.. f . . ~. '-, ."""... ~

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I
Accelel'a tlon = 10:'>:'>. U cnVs:,> Accclc l'alion = 8 13 .8 em/s2
V1 =27.2 crn/s V2 =8 5 cm /s Vl =- 12 .1 em/s V 2 = -59 .3an/s
T =0.059 sec T = O.0 58 scc

Figura 17.3. (A) Exemplo de índice e tempo de ace leração


hilares normais (tempo 59 m/s), porém na presença de
estenose na origem da artéria renal direita. (B) Com aumen to Figura 17. 4. (A) Exemplo de índ ice e tempo de aceleração
de velocidades (velocidade sistólica 473 cm/s). (C) Redução hilares normais (tempo 58 m/s), porém (B) na presença de
anatômica sign ifi cativa no lúmen arterial pelo mapeamento estenose na origem da artéria renal direita. (C) Note a medida
com Power Doppler. da distância (44 mm) entre o local da estenose e o hilo renal.

183
Ultrassonografia Vascular para Avaliação de Estenose da A rtér ia Renal

Paciente em posição supina: c. No corte ultrassonográfico epigástrico transversal da


aorta abdominal, a origem e o segmento proximal das
a. Transdutor setorial ou curvo de baixa frequ ência artérias renais devem ser identificados em trajeto lon -
(2-4 MHz) , com ajuste da profundidade e ganho do gitudinal com mapeamento em cores do fluxo, com
Modo B. ajuste da caixa e ganho da cor,frame rate e PRF. Para a
b. Corte ultrassonográfico transversal em Modo B na re- avaliação de fluxo em cores, deve-se manter uma caixa
gião epigástrica para identificação da aorta abdominal, de cor pequena, com profundidade adequada para ma-
do tronco ceIíaco, da artéria mesentélica superior, da ximizar o número de quadros por minutos ([rame rate)
veia renal esquerda e das artérias renais (Fig. 17. SA e B). e a frequência de repetição de pulsos (PRF) adequada
Deve-se realizar, no Modo B, a varredura transversal da para a estrutura a ser analisada (média para as artérias
aorta abdominal com o objetivo de identificar possível renais normais, alta para as áreas de estenose e baixa
doença dilatante , o que poderia inGuenciar a veloci- para os vasos do parênquima renal) . O ganho e o filtro
dade sistólica na aorta abdominal. da cor devem ser ajustados para permitir o mapeamen-
to em cores, evitando o "extravasamento" do fluxo , mi-
nimizando os artefatos de movimento. Dependendo da
anatomia de cada paciente, é possível , em muitos deles,
avaliar toda a extensão das artérias renais (Fig. 17.6).

Figura 17.5 . (A ) Posi ção do transdutor no corte epigástrico


transversa l para estudo da origem das artérias renais. (8 ) Figura 17 .6 . Exemplo de corte epigástrico da aorta
Note a ao rta abdominal e a artéria mesentérica superior em abdominal. (A ) Imagem de toda a extensão da artéria renal
corte transversa l (em az ul ) e as artérias renais em trajeto direita . (8 ) Imagem de toda a extensão da artéria renal
long itudinal (em vermelho). esquerda, no mesmo corte epigástrico .

184
Ultrassonografia Va scula r pa ra Ava li ação de Estenose da Artéria Renal

d. Localização da amostra de volume do Doppler pulsa- b. Estudo com mapeamento em cores do fluxo dos seg-
do na origem e do segmento proximal das artérias re- mentos distai e hilar das artérias renais, em cortes
nais ou em qualquer segmento do vaso que apresente ultrassonográficos nas respectivas regiões lombares;
aumento focal de velocidades ou turbilhonamento do com ajuste da caixa e ganho da cor, fmm e raie e PRF
fluxo. Deve-se localizar a amostra de volume do Dop- (Fig. 17.12A e B)
pler pulsado no segmento de maior velocidade (alia- c. A técnica de exame direta preconiza o estudo de toda
sing) e estreitamento artelial para mensurar o pico de a extensão das artérias renais, realizado sempre que
velocidade sistólica. O filtro de parede e a escala de possível pelo corte ultrassonográfico subcostal no
velocidades (PRF) devem ser altos para evitar artefa-
tos e representar a maior velocidade de fluxo encon-
trada. O ajuste do ãngulo de insonação do Doppler
pulsado deve ser o mais próximo de 60° (~ 60°) em
relação ao vaso, paralelo à parede deste nas artérias
normais (Fig. 17 7) ou ao pto de fluxo nos locais de
estenoses significativas (Fig. 178)
e. Obtenção das velocidades sistólica e diastólica nas ar-
térias renais, com ajuste do ganho e escala (PRF) do
Doppler pulsado (Fig. 179)
f. Obtenção da velocidade sistólica na aorta abdominal ,
em corte longitudinal, no seu segmento proximal , no
nível da origem da artéria mesentérica superior, para
efetuação do cálculo do índice renal-aorta , isto é, a
relação entre as velocidades sistó licas das artérias re-
nais e da aorta abdominal (Fig. 17.10).

Paciente em decúbito lateral:


Figura 17.8. Posi cionamento do Doppler pulsado no
segmento proximal da artéria renal direita com aumento
a. Mensuração em Modo B do tamanho renal e cálcu- de velocidades e turbilhonamento do fluxo. Note o
lo do índice de resistência (IR) vascular intraparen- posicionamento do cursor do Doppler pulsado paralelo ao
quimatosa , nas artérias interlobares e interlobulares, jato do fluxo .
tanto no polo renal superior quanto no inferior (Fig.
17.11AeB).

Figura 17.7. Posicionamento do Dopple r pulsado na


origem da artéria renal esq uerda normal com o cursor Figura 17.9. Obtenção das velocidades (131/37 cm/s1 na
paralelo à parede arterial. origem da artéria renal direita.

185
Ultrassonografia Va sc ular para Avalia çã o de Estenose da Artéria Renal
--------

Figura 17 .10. Mensuração da velocidade na aorta


abdomina l (104 cm/s) em corte ultrassonográfico longitudinal
para efetuação do cá lcul o do índi ce renal-aorta. Observe o
pos icionamento do curso r do Doppler pul sado na altura da
emergênc ia da artéria mesentéri ca superior.

Figura 17.12. (A) Posição do tran sdutor no co rte


Figura 17.11. (A) Mensuração do tamanho renal em ultrassonográfico lombar ilustrando o mapeamento em co res
Modo B. (B) Exemp lo de obtenção das curvas de velocidade do flu xo de toda a extensão das artérias renais direita (B) e
no parênquima renal. esq uerda (C) .

186
Ultrassonografia Vascu lar para Av a li ação de Estenose da Artéria Rena l

Figura 17.14. Mapeamento em cores do fluxo normal


de toda a extensão da artéria renal esquerda. Note a
homogeneidade de ca libre e cores na artéria.

Figura 17.13. (A) Posição do transduto r na região


subcostal. (B) Mapeamento em cores do fluxo de toda a
extensão da artéria renal direi ta no corte ultrassonográfico
subcostal.

qual o transdutor é posicionado na região subcostal


próximo da junção costoestenal, com o auxílio ele ins-
piração profunda e utilizando o fígado e o baço, res-
pectivamente, como janelas acústicas para as artérias
renais direita e esquerda. este corte, é possível, em
um único plano, identificar a aorta e toda a extensão
elas artérias renais (Fig . 17.13).

Critérios para diagnóstico definitivo


• Critérios de imagem e mapeamento em cores do
fluxo:
- Artéria normal: calibre uniforme com fluxo ho-
mogêneo e lami nar (Fig 17.14)
Figura 17.15. (A) Exemplo de avaliação anatômica pelo
- Estenose moderada : discreta redução do calibre e Power Doppl er de estenose moderada, confirmada pela
aumento focal de velocidades (Fig. 17.15). arteriografia (B).

187
Ultrassonografia Vascular para Avaliação de Estenose da Artéria Renal

- Estenose hemodinamicamente significativa: redu- locidade sistólica superior a 180 ou 200 cmJs e o fndice
ção do calibre com aumento focal de velocidades e renal- aorta superior a 3,5, é um método confiável, com
turbilhonamento do fluxo (aliasing) (Fig. 17.16) acurácia geral superior a 90%, sendo o pico de velocida-
• Critérios hemodinãmicos: de sistólica o parâmetro com melhor acurácia na identifi-
- Artéria normal 14 (Fig 17.17 A e B) cação destas eSLenoses T.12 1')1 6
- Velocidade sistólica: <180 cmls Recentemente válios autores avaliaram a acurácia da
- Índice renal-aorta: d,5 USV na identifIcação da estenose hemoclinamicamente
• Estenose moderada: «60 %) 14 significativa (EHDS) na artéria renal em relação à arterio-
- Velocidade sistólica: >180 crnls grafia não em relação ao grau de estenose, mas pelo gra-
- Indice renal-aorta: d,5 diente de pressão transestenose. Kawarada et aI. avaliaram
• Estenose hemodinamicamente significativa: (>60%)
(Fig. 17.18 A e B)
- Velocidade sistólica: >180-200 crnls612-15
- Índice renal-aorta: >3,3-3,5 lU,
• Oclusão
- Velocidade da artéria renal: ausente (Fig. 1719)
- Velocidade sistólica do parênquima renal:
< 30 crn/s
- Tamanho renal: <9 cm

A estenose no segmento distai da artéria renal cau-


sada pela displasia fibromuscular (FDM) é caracterizada
por estenoses focais, acompanhadas ou não de dilatações
segmentares, apresentando um padrão ele fluxo heli coi -
dal ao mapeamento em cores do fluxo (Fig. 17.20A e B);
além disso, com equ ipamentos ele ultrassom com boa re-
sol ução de imagem é possível identifica r com faci lidade
as lesões em co lar de contas da FDM (Fig. 17.21)
A técnica di reta de identi ficação das eSlenoses signi-
ficativas nas artérias renais, considerando o pico de ve-

Figura 17.16. Estenose hemodinamicamente significativa Figura 17.17 . Exemplo de artéria renal e~querda normal.
na artéria renal direita no mapeamen to em cores do fluxo. (A) Velocidade sistó li ca (98 cm/s) na artéria rena l inferior
Note o mosa ico em cores no segmento proximal da artéria a 180 cm/s. (B) Velocidade na aorta abdominal (80 cm/s)
renal direita. configurando o índice renal-aorta (1,2) normal.

188
Ultrassonografia Vascular para Avaliação de Estenose da Artéria Renal
----

Figura 17.19. Exemplo de obstrução da artéria renal


esque rda. Note (setas) ausênc ia de co r na origem da artéria
renal no mapeamento em cores do flu xo.

figura '17 1 a. (A) Estenose hemodinamicamente


significativa na artéria renal direita eom aumento (343
em/s) da velocidade sistóli ca superior a 200 cm/s. Note a
duplieidade da artéria renal esquerda. (r ) Velocidade na
aorta abdominal (69 cm/s) ilu strando índice renal-aorta
(4,97) superior a 3,5.

a correlação entre a VPS e o IRA da USV e a medida do


gradiente de pressão em 75 artérias renais de 60 pacientes
com EHDS iden tificadas na arteriografia. A VPS superior
a 219 cmJs foi o parâmetro de melhor valor pred ili vo de
EHDS com gradiente pressório translesão de 20 mmHg, ·td' _'. ( ) Exemplo de estenose na artéria renal

com sensibilidade, especificidade, valor predilivo positi- direita por displasia fibromu sc ular. ( ) Confirmado pe la
angiorressonância. Note o padrão de flu xo heli co idal ao
vo, valor preditivo negativo e ac urácia geral de, respec ti va- mapeamento em cores do fluxo no segmento distai da artéria
mente , 89%, 89%, 83%, 93% e 89%. ' ~ renal.

189
Ultrassonografia Vascular para Avaliação de Estenose da Artéria Renal

Figura 17.21 . Imagem em Modo B de displasia


fibromuscular na artéria renal direita. Observe as imagens
segmentares em colar de contas.

Do mesmo modo , Staub et aI. correlacionaram a me-


dida arteriográfica do gradiente de pressão nas EHDS
com valores de VPS e IRA para EHDS supeliores a 50%
de estenose. Neste estudo, para um gradiente de pressão
de 24 mmHg , a VPS maior ou igual a 200 cmJs e o IRA
maior ou igual a 2 ,5 apresentaram sensibilidade e especi-
ficidade de , respectivamente , 92 % e 81 % e 92% e 79% na
identificação de estenose >50%l8 Independente da cor-
relação arteriográfica com o grau de estenose anatõmica
ou com a medida do gradiente pressórico transestenose,
a velocidade sistólica é o parâmetro que melhor identifi-
ca as estenoses hemo dinamicamente significativas.
Para aumentar a acurácia do método e evitar resulta-
dos falsos-positivos ou negativos, é importante que sejam
considerados todos os parãmetros diretos de avaliação:
turbilhonamento ao mapeamento em cores do fluxo, redu-
ção anatõmica ao mapeamento pelo Power Doppler tanto
no corte transversal , quanto no subcostal, além das velo-
cidades aumentadas e do IRA alterado (Fig. 17.22 A-D)
Ainda assim, caso haja necessidade, pode-se associar os
critérios indiretos hilares e o índice renal-renal.

SITUAÇÕES ESPECIAIS
Alterações hemodinâmicas e o índice
renal-aorta
Figura 17.22. Exemplo de avaliação direta de estenose
Deve-se ter cuidado na utilização e interpretação do da artéria renal esquerda com parâmetros hemodinâmicos
índice renal-aorta em crianças e adolescentes, assim e anatômicos: (A ) Aumento do pico de velocidade sistólica
(273 cm/s). (8) Redução anatômica no mapeamento em cores
como em pacientes portadores de doenças sistêmicas
do fluxo. (C) Redução anatômica no mapeamento do fluxo
que possam apresentar altas velocidades nas artérias re- pelo Power Doppler. (D ) Aumento de velocidade no corte
nai s, sem que hap estenose arterial. Nestas situações , ultrassonográfico na regiâo lombar.

190
Ultrassonografia Vas cu lar para Avaliação de Estenose da Artéria Renal

haverá aumento difuso das velocidades nas artérias re-


nais e , apesar de velocidades sistólicas aumentadas , o
índice renal-aorta deverá estar próximo da normalida-
de (fig, 17,23),
Por outro lado, em pacientes Jovens com displasia fibro-
muscular (DfM) ou arterite de Takayasu (fig, 1724A-B)
,além das alterações características do f1uxo ao mapeamen-
to em cores, as velocidades sistólicas estarão significativa-
mente aumentadas, assim como o IRA Vale lembrar que a
estenose na artéria renal causada pela arterite de Takayasu ,
diferentemente da DfM , apresentará aumento de velocida-
de na origem e no segmento proximal da artéria renal.
Dilatações (fig, 1725) ou estenose na aorta abdomi-
nal proximal podem apresentar velocidades diminuídas
na aorta abdominal e, neste caso , aconselha-se despre-
zar o índice renal-aorta e utilizar somente os critérios
anatõmicos (Power Doppler) e de velocidade sistólica nas
artérias renais, Picos de velocidades na aorta abdominal
inferiores a 50 cmls devem ser desconsiderados para o
cálculo do índice renal-aorta,

Outros critérios diagnósticos de


estenose renal
Chain et aI. apresentam um Critélio para identificar as este-
noses significativas nas artérias renais, baseado na relação
entre o pico de velocidade sistólica no segmento proximal

Figura 17 . 2~. (A) Exemp lo de estenose na artéria renal


direita por arterite de Takayasu , (B) Na artéria carótida
comum, note o espessamento parietal difuso característico do
processo inflamatório.

ou médio e o pico de velocidade sistólica no segmento dis-


tai da artéria renal (índice renal-renal) , Em estudo com-
parativo com a arteriografia em 34 pacientes na identifi-
cação de estenoses nas artérias renais supeliores a 50% de
redução do diâmetro arterial, os autores observaram , para
um valor de cone de 2,7 para este índice , sensibilidade,
especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo
negativo de , respectivamente , 97 %, 96%, 97 % e 96 %1-
De acordo com Zeller et ai, o pico de velocidade sis-
Figura 17.23. Exemplo de velocidade aumentada (321
cm/s) em artéria renal direita normal de crian ça . Note a tólica e o índice renal-aorta apresentam alta sensibilidade
ausência de aumento focal de velocidades no mapeamento para detectar estenoses hemodinamicamente signi ficativas
em cores do fluxo em toda a extensão da artéria renal. superiores a 60% de redução do diâmetro do lúmen, po-

191
Ultrassonografia Vascula r pa ra Aval iação d e Estenose da A rtér ia Rena l

revascularização e 28 evoluíram com piora da função


renal. Em contrapartida, dos 96 pacientes deste estudo
com IR inferior a 0,8 submetidos a revascularização , 90
apresentaram pelo menos 10% de melhora dos níveis
pressóricos. 18
Por outro lado , apesar de estudar um número peque-
no de pacientes, Garcia-Criado et a/. observaram melhora
nos níveis pressóricos pós-revascularização em 28% dos
pacientes estudados com índice de resistência superior a
0,8 e que , segundo os autores, o índice aumentado não
deveria ser um critério de exclusão para todos os pacien-
tes com indicação de revascularização. 19

Critérios diagnósticos: resistência


vascular renal
Figura 17.25. Exemplo de obtenção de velocidade na • Critérios de avaliação da resistência vascular intrar-
aorta abdominal na presença de aneurisma infrarrenal. renal:
- Índice de resistência (IR):20
rém baixa especificidade; por isso, propõem avaliar com- • Normal: IR < 0,7
parativamente o índice de resistência (IR) intrarrenal em - Crianças normais de até 5 anos de idade podem
ambos os rins. A diferença entre o IR no rim normal em apresentar IR entre 0,7 e l.
relação ao rim com suspeita de estenose da artéria renal - Aumento significativo da resistência: IR >0 ,8 18
superior a 0,05, segundo estes autores, apresenta alta es- (Fig. 1726).
pecificidade para estenoses superiores a 70% na artéria re-
nal. Os autores sugerem a utilização do pico de velocidade TÉCNICA DE AVALIAÇÃO DA
sistó lica (>200 cmls) e o índice renal-aorta (>3,5) para
ARTÉRIA RENAL PARA SEGUIMENTO
identificar a estenose na artéria renal e a diferença entre o
os índices de resistência nos parênquimas renais (>0,05) PÓS-TRATAMENTO ENDOVASCULAR
para determinar que a estenose é significativa e para indi- a) transdutor setorial ou curvo de baixa frequ ência
car a revascularizaçã0 20 Nos casos de estenoses bilaterais, (2-4 MHz) , com ajuste da profundidade e ganho do
os autores sugerem a utilização do tempo de aceleração Modo B;
>0 ,07 s como Crité lio para indicar a revascularização.
Além dos critélios diretos e indiretos anterionnente
apresentados neste capítulo, Li et a/. sugerem a associação
do pico de velocidade sistólica e do índice renal-aorta com
os índices entre a artéria renal e as artérias do parênquima
renal (lRS índice renal-segmentar ou IR!: renal-interlo-
bar). Segundo estes autores , esta associação supera as limi-
tações dos critérios diretos. IRS superior a 4 e IRI superior
a 5,5 apresentaram acurácia superior a 88% na dectecção
de estenoses superiores a 50% nas artérias renais 21

Aumen to da resistência vascular


intra rrenal
Radem1acher et a/. observaram que, de 35 pacientes com
estenose da artéria renal e índice de resistência intrarre-
nal maior que 0,8 submetid os a revascularização renal, Figura 17.26. Aumento do índice de resistênc ia (I R = 0,80)
34 não apresentaram melhora da pressão arte lial após vascular intrarrenal.

192
Ultrassonografia Vascular para Avaliação de Estenose da Artéria Renal

b) corte ultrassonográfico transversal em Modo B na re-


gião epigástrica para identificação da aorta abdominZlI,
do tronco celíaco, da artéria mesentérica superior, da
veia renal esquerda e das artérias renais, com ajuste da
profundidade e ganho de imagem;
c) corte ultrassonográfico em modo B para localização
da endoprótese nas artérias renais com posterior auxí-
lio do mapeamento em cores do fluxo e ajustes da cai-
xa e ganho da cor, frame rate e PRF Atenção especial
nos locais de transição entre a artéria nativa e a endo-
prótese, pela possibilidade de aumento de velocidade
devido a desproporção de calibre entre a endoprótese
e a artéria nativa;
d) localização da amostra de volume do Doppler pul-
sado na endoprótese, com ãngulo de incidência do
Doppler o mais próximo a 60°;
e) obtenção das velocidades sistólica e diastólica na
endoprótese e em qualquer segmento com altera-
ção do fluxo, com ajuste do ganho e escala (PRF)
do Doppler;
O obtenção da velocidade sistólica na aorta abdominal,
em corte longitudinal , no seu segmento proximal , em
nível da origem da artéria mesentérica superior, para
efetuação do cálculo do índice endoprótese-aorta ,
isto é, a relação entre as velocidades sistólicas na en-
doprótese e na aorta abdominal.
Figura 17.27. Exemplo de endoprótese normal na artéria
Critérios de avaliação das endopróteses renal direita. (A) Imagem em Modo B evidenciando a
ecogenicidade da endoprótese. (8 ) Mapeamento em cores do
• Normal fluxo .
- Imagens lineares hiperecogênicas paralelas na
parede arterial, com fluxo laminar, sem turbilho-
namento ou aumento focal de velocidades (Fig. TÉCNICA DE AVALIAÇÃO DA
17.27AeB) ARTÉRIA RENAL PARA SEGUIMENTO
• Possibilidade de estenose significativa:25025 PÓS-REVASCULARIZAÇÃO
- Mapeamento em cores: aumento focal de veloci- (PONTE) ARTERIAL
dades e turbilhonamento do fluxo (aliasing) (Fig.
17.28A) a) transdutor setorial ou curvo de baixa frequência
- Doppler pulsado: velocidade sistólica >180 crn/s (2 ,5-3 MHz), com ajuste da profundidade e ganho
(Fig. 17.28B) do Modo B.
- índice renal- aorta: >3,5 b) corte ultrassonográfico transversal em Modo B na re-
gião epigástrica para identificação da aorta abdominal,
Com a implantação da endoprótese na artéria renal , do tronco celíaco, da artéria mesentérica superior, da
pode ocorrer desproporção entre o calibre da mesma veia renal esquerda e das artérias renais, com ajuste da
e da artéria renal nativa (Fig. 17 .29) Nestas situações, profundidade e ganho de imagem;
pode ocorrer aumento de velocidade na transição entre c) localização pelo mapeamento em cores do fluxo, com
o segmento distai da prótese e a artéria adjacente. O ma- ajuste da caixa e ganho da cor, fram e rate e PRF da
peamento do fluxo com Power Doppler pode ser útil na derivação arterial, com identificação da anastomose
diferenciação entre estenose na endoprótese e despro- proximal na aorta abdominal e da anastomose distai
porção de calibre com a artéria nativa. na artéria renal distai (Fig. 17.30A-B);

193
Ultrassonografia Vascular para Avaliaç ão de Estenose da A rtéria Renal

Figura 17.30 . Exemplo de derivação aortorrenal direi ta.


(A) Mensuração das velocidades na área de anastomose
proximal. (B) M apeamento com Power Doppl er de toda a
extensão da derivação arterial.
Figura 17.28. (A) Exemplo de estenose significativa
na endoprótese na origem da artéria renal direita com o
turbilhonamento do fluxo. (B) Note o aurnento da velocidade d) localização da amost ra de volume do Doppler pulsado
sistó l ica > 200 cm/s . na derivação, com ângulo de incidência d o Doppler
p róximo a 60";
e) obtenção das velocidades sistólica e diastólica na de-
rivação, com aj uste do ganho e escala (PRF) do Dop-
pler. Atenção especial nas áreas de anaSlomose proxi-
mal e distaI.

Critérios de avalia ção da s deriva ções


arteriais
• Possibilidad e de esten ose significativa:*
- Mapeamento em co res: aumento foca l de veloci-
dades e turbilhonamento do flux o (aliasil1g) nas
áreas de anastomose
Doppler pulsado velocidade sistólica> 180 crn/s
- índice renal-aorta >3,5

• Não há descrição c padronização na literatura quanto aos critérios de


Figura 17.29 . Exemp lo de mapeamento com Power avaliação elas estenoses nas pontes arteriais: no entanto, por analogia
Doppler de desproporção entre o ca libre da endop rótese e o com as estenoses das artérias renais nativas , sugere-se utilizar os mes-
cal ibre da artéria renal distai nativa. mos critérios de ve locidade e indice renal-aorta .

194
Ultrassonografia Vas c ular para Avalia çã o de Esteno se da Artéri a Renal

LIMITAÇÕES DA
ULTRASSONOGRAFIA VASCULAR NO
ESTUDO DAS ARTÉRIAS RENAIS
As limitações técni cas da U SV, relatadas em até 15% dos
casos na literatura, podem estar relacion adas com :26

a. As variações anatõmicas d a vasculari zação renal, como


ramificação p recoce , artéria renal acessória e artérias
po lares; veia renal ret roaónica (Figs 17.3 1-17 33)
b. A prese nça de rim em fe rradura (Fig. 17 3 4) pode di-
fi cultar a identifi cação das artérias renais responsáve is
pela vasc ularização renal.
c. A d ificuldade da reali zação d o exame em pacientes Figura 17.32. Exemplo de dupli cidade da artéri a renal
po rtad o res d e arritmias cardiaras, insuficiência car- esquerda.

Figura 17.31. Exemplo de ramificação precoce da artéria


renal direita. Figura 17.33. Exe mpl o de ve ia renal retroaórti ca.

Figura 17.34. (A ) Exempl o de rim em ferradura localizado anteriorm ente à aorta abdominal. (S) Múltipl as artéri as mantendo
a vasculari za ndo de toda a exten são do rim.

195
U It rassonograf ia Va sc ular pará Aval iação de Esteno se da A rtéria Renal

diaca grave, doenças respiratórias graves, obesidade of renal scintigraphy, renal Doppler U5 anel MR angiography.
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196
CAPíT ULO 18
Carlos Alberto Engelham
Estudo dos Transplantes
Ana Luiza Valiente Engelharn
Renal e Pancreático

TRANS PLANTE RENAL A vantagem do uso do mapeamento do fluxo com


Pawer Doppler na avaliação vascular renal é a possibi-
Introdução lidade de estudo do baixo fluxo nos locais onde os si-
O transplante renal é considerado a melhor forma de tra- nais são fracos, seja pelo calibre, seja pela profundidade
tamento para a insuficiência renal crônica, a de menor dos vasos. Essa técnica apresenta um grande potencial na
custo e a que tem a perspectiva de oferecer superior qua- avaliação do fluxo arterial renal, pela maior sensibilidade
lidade de vida, reintegrando o paciente à sua vida social no estudo dos vasos intraparenquimatosos, principal-
e profissional. 1.2 mente dos pequenos vasos arqueados do córtex renal 6
Mesmo com o aprimorame!1to das provas imunoló-
gicas de seleção dos doadores, das técnicas cirúrgicas e Indicações da ultrassonografia vascular
do uso dos imunossupressores, a rejeição ainda é uma no estudo dos rins transplantados
das principais causas de insucesso imediato e tardio dos • Pós-operatório imediato:
transplantes renais, responsável pela sobrevida de ape- - suspeita de rejeição aguda
nas 35% dos rins transplantados por um período de dez - suspeita de estenose da artéria renal
anos 3 - suspeita de trombose arterial ou venosa
As manifestações clínicas e alterações laboratoriais - avaliação de coleções perienxerto
causadas pela rejeição variam de um paciente para outro • Pós-operatório tardio:
e de um episódio de rejeição para outro, e pode apre- - suspeita de rejeição aguda ou crõnica
sentar-se como uma pequena e assintomática redução da - suspeita de toxicidade à droga imunossupressora
função renal ou até a anúria com uremia e comprometi- - pacientes com perda progressiva da função renal
mento grave do enxerto. - suspeita de fístulas arteriovenosas intrarrenais
A ultrassonografia vascular com Doppler em cores pós-biopsia
permite a avaliação direta da circu lação do rim trans- - infecção
plantado com visibilização do fluxo em cores, possibi- - estenose ureteral
litando o cálculo imediato dos índices de resistividade
e pulsatilidade na artéria renal e nos seus ramos intra-
TÉCNICA DE AVALIAÇÃO
parenquimatosos, conferindo maior objetividade e con-
fiabilidade ao método. PÓS-TRANSPLANTE
O aumento da resistência vascular intraparenqui- Não há necessidade de preparo especial para a realização
matosa pode refletir várias das complicações que po- do exame, pois o enxerto renal é um órgão superficial
dem afetar o enxerto renal , entre elas rejeição, necrose localizado na fossa ilíaca (direita ou esquerda), de fácil
tubular e toxicidade a medicação, sendo que os índices acesso ao examinador.
de resistência não são específicos para cada uma des- Paciente em posição supina:
sas condições, tornando difícil a sua diferenciação. Por
isso, há a recomendação de avaliações seriadas do fluxo a. Exame da fossa ilíaca correspondente, com transdu-
renal. 4.5 tor setorial ou curvo de baixa frequência (2-4 MHz),

197
Ultrassonografia Vascu la r no Estudo dos Transplantes Renal e Pa ncreático

com ajuste da profundidade e ganho do Modo B, para terial terminolateral com a artéria ilíaca externa (Fig.
permitir maior penetração 00-12 em) do feixe de 18.3) ou terminoterminal com a artélia ilíaca interna ,
ultrassom (Fig. 181) assim como eventual estenose na anastomose venosa.
b. Os enxertos são exa minados pelo Modo B, com ajustes A frequência de repetição de pulsos (PRF) deve ser
de imagem que priorizem as eS lruluras mais profun- ajustada para a estrutura a ser analisada (média para
das com ganho adequado, /ow dynamic range e foco na as artélias renais normais , alta para as áreas de este-
região de interesse. Mensuração do tamanho do rim nose e baixa para os vasos do parênquima renal). A
transplantado e avaliação morfológica do parênquima intensidade e o filtro da cor também devem ser ajus-
renal (d iferenciação co rticomedular), assim como das tados para permitir o correto mapeamento do fluxo.
estruluras perienxe rto CFig. 182). d. O Doppler pulsado deve ser posicionado na área de
c. Avaliação da vascu larização renal com mapeamento interesse no centro elo vaso nas artérias renal e in-
em cores do fluxo das áreas de anastomose arterial e trarrenais. A amostra ele volume eleve ser ajustada
venosa e dos vasos intraparenquimatosos, com caixa para o tamanho elo vaso, geralmente inferior a 2 mm ,
ele cor pequena, profundidade aàequada para maxi- evitando a contaminação com info rmação ele outras
mi zar o número de quadros por minutos (frame rate ). estntturas vizinhas, plincipalmente em razão dos mo-
Deve-se lembrar das possibilidades de anastomose ar- vimentos respiratórios (Fig. 18.4)

Figura 18.1. Posição do transdutor na fossa ilíaca direita.

Figura 18.3. Posicionamento da amostra do Doppler


pu lsado nas artérias intraiTena is.

Figu ra 18.2. Imagem em Modo B para mensuração do rim


transplantado. Note a boa diferenciação entre as camadas
cortical e medular e a localização superficial (9,8 mm de Figura 18.4. Exemp lo de anastomose arteria l
profundidade) do enxerto na fossa ilíaca. terminolateral entre a arté ria rena l e a artéria ilíaca comum .

198
Ultrassonografia Vascular no Estudo dos Transplantes Renal e Pancreático

e. Localização da amostra de volume do Doppler pulsa-


do na origem e no segmento proximal da artéria renal
ou no segmento do vaso que apresente aumento fo-
cal de velocidades ou turbilhonamento do fluxo , com
ajuste do tamanho da amostra no centro do vaso e
do ãngulo de insonação do Doppler pulsado o mais
próximo de 60" (Fig. 185)
f. Obtenção das velocidades sistólica e diastólica na ar-
téria renal e/ou área de anastomose arterial , com ajus-
te do ganho e escala (PRF) do Doppler pulsado
g Obtenção da velocidade sistólica na artéria ilíaca co-
mum ipsilateral, em corte longitudinal , para efetuação
do cálculo do índice renal-ilíaca, isto é, a relação entre
as velocidades sistólicas da artéria renal e da artéria
ilíaca comum e para avaliação de possível estenose na
artéria ilíaca (Fig. 186)
h. Estudo da resistência vascular com Doppler pulsado
nas artérias segmentares, interlobares e arqueadas
pelo cálculo dos índices de resistência e pulsatilidade,
obtidos através da identi ficação das velocidades ou
frequências máxima (sistólica) e mínima (diastólica
final) (Fig. 187 A-C)
i. Avaliação da circulação venosa intrarrenal, da veia
renal e da área de anastomose venosa pelo mapea-
mel1lo em cores do fluxo com caixa de cor pequena,
profundidade adequada para maximizar o número
de quadros por minutos ([rame ral e) e PRF adequado
para fluxo venoso. Deve-se visibilizar a anastomose
terminolateral da veia renal com a veia iliaca e avaliar
O fluxo com Doppler pulsado (Fig. 188)

Figura 18.6. (A ) Exemplo de obtenção da velocidade


Figura 18.5 . Posicionamento do Doppler pulsado no na artéria ilíaca comum (91 cm/s) proximal à área de
segmento da arté ria renal com alteração do fluxo. Note o anastomose para cálculo do índice renal-ilíaca com a
cursor do Doppler pulsado paralelo ao jato de fluxo. velocidade da artéria renal (99 cm/s) co rrespondente (B).

199
Ultrassonografia Vascular no Estudo dos Transplantes Rena l e Pancreático

.. . , ... .
,
A

Figura 18.8. (A) Pos icionamento da amostra de vo lume


do Dopp ler pul sado e curvas de ve locidade na área de
anastomose venosa . (B) Mapeamento do fluxo venoso em
cores nas ve ias ilíaca, rena l e intrarrenais.

Critérios diagnósticos: imagem e


fluxo em cores
• RIM (MODO B):
- Normal : tamanho preservado, boa diferenciação
corticomedular, ausência de dilatação pielocalicial
ou coleções perienxerto.
• PARÊN QUIMA RE NAL:
- Vascularização normal: fluxo em todos os seg-
mentos das artérias e veias : segmentares, interlo-
bares e arqueadas (Fig. 18 9)
Isquemia focal: ausência de fluxo em cores em de-
Figura 13.7. Posicionamento da amostra de volume do terminada região do parênquima renal (Fig. 1810).
Doppler pulsado !las artérias intrarrenais. (A) Segmentar; (B) - Aumento d a resis tên cia : diminui ção difusa ou
interlobar; (C) arqueada. ausência de fluxo na região cortical (Fig. 18.11 )

200
Ult ra ssonografia Vascular no Estudo dos Transp lan tes Ren a l e Pancreático

Trombose arterial: ausência de fluxo em cores em


todo o parênquima renal (Fig. 1812)
Fístula arteriovenosa: turbilhonamento do flu xo
com intenso ruído perivascular nos vasos intra-
parenquimatosos (Fig. 18.13A-C).
• ARTÉRIA RENAl:
- Normal: calibre uniforme e fluxo homogêneo, la-
minar (Fig. 18.14).
- Estenose hemodinamicamente significativa: re-
dução do calibre com aumento focal de veloci-

Figura 18.11. Diminuição difusa da perfusão na camada


cortical do rim transplantado pelo Power Doppler.

tlgura 18 9. Perfusão normal no mapeamento do fluxo


em cores (-\ ) e ao Power Doppler (B) no parênquima do rim
transplantado.

Figur a 18.12. Obstrução arterial no rim transp lantado.


Figura 18.10. Mapeamento do fluxo pelo Power Doppler Note ausência de fluxo no parênquima ren al com fluxo nos
demonstrando área de isquemia focal no rim transpl antado. vasos ilíacos (corte transve rsal).

201
Ultrassonografia Vascu lar no Estudo dos Tran splantes Renal e Pan c reáti co

Figura 18.14. Exemp lo de artéria renal normal sem


alterações sign ificat ivas na área de anastomose. Obse rve a
velocidade sistól ica inferior a 200 cm/s.

dad es e turbilhon am ento do f1ux o (alias il1g) (Fig.


18.15)
- Oclusão ausê ncia de f1uxo na arté ria renal.

Critérios diagnósticos: parâmetros de


estenoses hemodinâmicas arterial e venosa
• ARTÉRIA RENAl:
- Velocidade sistólica: > 200-250 em/s. 70 (Fig.
1815)
O mesm o critério de velocidade deve se r utilizado
na aval iação pós-endoprótese na artéria renal do
rim transpla ntad o (Fig. 1816)

Figura 18.13. Exem plos de fístula arteriovenosa no


parênquim a renal. Note o padrão da curva espectral Figura 18. 15. Exemplo de estenose hemodinamicamente
característi co (A) e o intenso ruído perivascu lar (8) no significativa na artéria rena l do rim tran splantado. Observe
parênquim a rena l. Note a diminui ção da res istência vascu lar o turbilh onamento do flu xo (mosaico) e o aumento da
(IR ~ 0 ,57) na artéria segmen tar (C) causada pela fístu la. ve locid ade sistó li ca (489 cm/s) superior a 250 cm/s.

202
Ultrasso nografia Va sc ular no Estudo dos Transp lantes Renal e Pancreático

- Índice renal-ilíaca (IR!) : 1,8_5 1011 com curvas de ve locidade que denotem achata-
Pela falta de padronização na literatura referente mento do pico de velocidade sistólica.
ao uso do índice renal-ilíaca na avaliação das es- - Oclusão : veloc idade artéria renal ausente.
tenoses aneliais, devem-se considerar o pico de • VEIA RENAL: 1 )
velocidade sistólica e o tempo de acele ração como Estenose : turbilh onamen to do Ouxo e aume nto
clitérios para a identificação de este nose hemo- focal de ve locidades (fig. 18.17)
dinamicamente significa tiva na artéria renal do Obstrução :
tra nsplante , complementado pelo IRl. Ausência de Ouxo na topografia da veia renal.
- Tempo de aceleração no hilo renal: >100 mls W . 12 Cu rvas do Doppler pulsado n o parênquima renal
Deve-se pesquisar rotineiramente estenose na ar- com Ouxo diastólico reverso.
téria ilíaca doadora , proximal à anastomose com a
artélia renal , na presença de artéria renal n ormal Critérios diagnósticos: resistência
vascular renal
• Critérios de avaliação da resistência vascular
renal : 14· 19
Índice de resistividade (IR):
NOll11al IR < 0,7 (Fig. 1818A-C)
IR entre 0,7 e 0,8 - inespecífico.
Aumento da resistência vascular IR >0,8 (f ig.
1819A-C)
índice de pulsatilidade (IP):
Normal IP <1,2 (Fig. 1818A-C)
IP en tre 1,2 e 1,5 - inespecífico.
Aumento da resistência vascu lar IR > 1,5 (Fig.
1819A-C)

Figura 18.16. Exempl o de endoprótese na artéria de Figura 18.17. Estenose hemodinami ca mente
rim transplantado. (A ) Mapea mento do fluxo com Power signifi cati va na ve ia renal do rim transplantad o. Observe
Doppler. (B) Posicionamento do cursor do Doppl er pu lsado o turbilhonam ento do flu xo (mosa ico) e o aumento da
no interior da endoprótese. velocidade sistólica (2 09 cm/s).

203
Ultrassonografia Va scular no Estudo dos Transplantes Renal e Pancreático

Posicionamento da amostra de volume do


Posiciondmento da amostra de volume do Doppler pulsado nas artérias intrarrenai s de rim transplantado
Doppler pulsado nas artérias intrarrenais. Note os valores com aumento da resi stência vascu lar. Note os valores alterados
normai s do índice de re sistência e de pulsatilidade nas do índice de resistência ( > 0,80) e de pulsatilidade ( > 1,5) nas
artéria s segm entares ( ), interlobares (. ) e arqueadas ( ). artérias segmentares ( ), interlobares ( ) e arqueada s ( .. ).

204
Ultrassonografia Vascular no Estudo dos Transplantes Renal e Panc reáti co

Nos casos de rejeição vascular aguda, a presença de artéria renal. Tardiamente, alguns casos de rejeição crôni-
fluxo diastólico reverso nas artérias segmentares e interlo- ca, glomeruloesclerose e nefroesclerose diabética podem
bares indica um risco de perda do enxerto renal superior a apresentar também flLl)·.o diastólico revers0 2Ll
20 % nos três primeiros meses de transplante '" No entanto, Apesar de largamente uti Ii zados, os índices de resistên-
o fluxo diastólico reverso também pode ser detectado nos cia vascular isoladamente não são capazes de diferenciar as
casos de trombose da veia renal. O diagnóstico diferen- anormalidades de perfusão cortical. Os índices podem ser
ciai é baseado na detecçào de fluxo venoso nas artérias úteis no acompanhamento e monitoramento dos enxertos
intrarrenais, afastando a possibilidade de trombose da veia renais, associados às manifestações clínicas e alterações
renal (Fig. 18.20A e B). Além da rejeição vascular e da laboratoriais. Variações da resistência vascular podem ser
trombose da veia renal, !luxo diastólico reverso nos pri- detectadas ao longo do tempo e, para tanto , é fundamental
meiros dias de pós-operatório pode ser observado em ca- a obtenção precoce dos valores dos índices de resistência e
sos de necrose tubular aguda e tortuosidades (hinhings) na pulsatilidade no pós-operatório como valores referenciais
de monitoramento. Sciascia et aI. demonstraram sensibi-
lidade e especificidade de 100% e 97%, respectivamente ,
na identificação da rejeição aguda com uma variação supe-
rior a 0 ,15 nos valores do índice de resistência em relação
aos valores iniciais de referência 21
Outro critério que pode ser utilizado para melhorar a
acurácia na identificação das disfunções do enxerto renal
é a relação renal-cortical (RRC) do índice de resistência ,
ou seja, a variação (percentagem) dos valores do índi-
ce de resistência na artélia renal em relação às artérias
corticais (arqueadas) . Drudi et a!. demonstraram que a
RRC é capaz de diferenciar os enxertos normais dos com
disfunções agudas mesmo com dados clínicos e labora-
toriais confusos, e nos casos de disfunção crônica a RRC
foi detectada mais tardiameme, porém antes da elevação
dos níveis de creatinina. 22

AVALI AÇÃO DO FLUXO RENAL PELO


POWfR DOPPLER
A avaliação da perfusão renal com mapeamento do fluxo
pelo Power Doppler é realizada com transdutor linear de
5 MHz, iniciado com uma varredura transversal de um
polo a outro do rim, após ajuste do filtro de parede para
atenuar o ruído causado pelo movimento abdominal, da
profundidade e tamanho da caixa da cor.
Após o ajuste do tamanho da caixa da cor, fixo para
todos os pacientes em 3 em de profundidade e 2 em x 2,5
em de largura, deve-se escolher uma área de boa repre-
sentatividade, incluindo as regiões medular (cercada por
vasos segmentares e interlobares) e cortical (com vasos
arqueados), tomando-se o cuidado de incluir na amostra
aproximadamente 5 mm de tecido mole perirrenal su-
Figura 18.20. (A) Fluxo diastólico reverso na artéria
perficial entre o rim e a pele. Esse tecido marginal serve
segmentar do enxerto renal. (8) Fluxo venoso preservado no como "contraste", como uma região de control e para os
parênquima renal, afastando a possibilidade de trombose da sinais de artefato, permitindo , assim, melhor visibiliza-
veia renal. ção da perfusão cortical 21

205
Ultrassonografia Vascular no Estudo dos Tran splantes Renal e Pancreático

Critérios diagnósti cos: perfu são ren al • Escore III - perfusão lige iramente diminuída, redu-
pelo Power Doppler 2 3 ção não homogênea da pe r[usâo mostrando áreas sem
co r entre os vasos visíveis (Fig. 1823)
• Escore I - alta pe rfusão , perfusão de colo ração h omo-
• Escore IV - p erfusão c1aramenLe diminuída, acentu-
gênea na conical, com limites bem definidos dos vasos
ada redução da coloração dos vasos inte rloba res; m e-
em direção à cá psula e região medular (Fig. 18.2 1).
n os d e 50% da camada cortical é colo rida , observan-
• Escore 11 - boa perfusão; fluxo em direção à cápsula
do-se apenasflash de co r (flux o) (F lg. 18.24)
ap resema leve irregularidade da co r nas bordas, com
boa d e 6níção dos vasos do parênquíma ; a vasc ula ri-
zação te m d islribuiçào radiada (F ig. 1822)

Figura 18.23. Exemplo de esco re 111 com perfusão


Figura 18.21. Exemplo de escore I de alta perfusão, com ligeiramente dimin uída, não homogênea, com áreas sem cor
co loração homogênea na ca mada cortical e limites bem entre os vasos visíveis.
definidos dos vasos em direção à cápsul a e região medular.

Figura 18.22. Exemp lo de esco re II de boa pe rfusão, co m


flu xo em direção à cáps ula ap resentando leve irregularidade Figura 18.24. Exe mplo de escore IV de perfusão
da co r nas bord as, porém com boa definição dos vasos do claramen te diminuída. Note a acent uada redução da
pa rênquima. Note que a vascularização tem distribuição coloração dos vasos interlobares, com me nos de 50% da
radiada. camada cortica l co lorida.

206
U lt rassonografia Vascu lar no Estudo d os Transplantes Renal e Pancreático

c. à posição do lim transplantado na fossa i1íaca causan-


do tortuosidades na c:rtéria renal;
d. à dificuldade de diferenciação entre rejeição aguda e
necrose tubular aguda;
e. à habilidade e experiência do examinador;
f. à qualidade do equipamento utilizado.

Informações indispensáveis para o laudo


1. Tamanho renal e eventuais alterações morfológicas
(perda de diferenciação corticomedular, dilatação pie-
localicial, coleções perirrenais) .
2. Aspecto da vascularização do parênquima renal pelo
mapeamento do Ouxo em cores (preservada, dimi -
nuída difusamente, diminuição focal)
Figura 18.25. Exemp lo de escore V, com perfusão
limitada aos vasos interlobares e parte dos vasos arqueados.
3. Características do Ouxo nas áreas de anastomoses e na
artéria e veia renal.
4. Velocidades na artéria renal e na artéria ilíaca co-
• Escore V - perfusão pobre, limitada aos vasos inter- mum.
lobares e parte elos vasos arqueados; quase ausên- 5. índice renal-ilíaca
cia de Ouxo diaslólico mensurado pelo UVDC (Fig. 6. Índices de resistividade e pulsatilidade nas artérias in-
1825). traparenquimatosas.
• Escore VI - ausência de perfusão vi.sível.

Critérios diagnósticos simplificados:


TRANSPLANTE PANCREÁTICO
perfusão renal pelo Power Doppler 24 Introdução
• Grau I - alta perfusão, perfusão de coloração homo- Em pacientes com diabetes mellitus, o transplante de
gênea na conical, com limites bem definidos dos va- pâncreas é o método mais efetivo no controle dos níveis
sos em direção à cápsula e região medular. glicêmicos, tendo o potencial de estabilizar ou rever-
• Grau 11 - perfusão diminuída, redução focal da colo- ter as complicações associadas à doença , melhorando
ração dos vasos interlobares. a qualidade de vida dos mesmos. Quando o diabetes
• Grau III - perfusão claramente diminuída , com re- mellULls tipo I se sobrepõe à insuficiência renal termi-
dução difusa da coloração dos vasos interlobares ou nal, o transplante rim-pâncreas é a melhor forma de
ausência dos vasos interlobares. tratamento.
Nos últimos 15 anos, com o avanço nas técnicas
LIMITAÇÕES DA cirúrgicas e o m3nejo clínico pós-operatório, têm sido
UL TRASSONOGRAFIA VASCULAR NO observados melhor sobrevida dos enxertos e diminuição
da mortalidade dos pacientes transplantados. Dados do
ESTUDO DOS TRANSPLANTES RENAIS
International Pancreas Transplant Registry e United Net-
As limitações técnicas da ultrassonografia vascular com work for Orgam Sharing entre janeiro de 1996 e julho
Doppler podem estar relacionadas: 25 de 2000 mostram que 70-84% dos transplantes pancre-
áticos realizados nos EUA neste período mantêm-se em
a. às condições clínicas do paciente no pós-operatório funcionamento no primeiro an0 2627
imediato, assim como a dor na incisão cirúrgica, ede- Mesmo assim, as complicações pós-operatórias, como
ma e sangramentos; rejeição (7-9% no primeiro ano), falha técnica (7-8%),
b. a variações anatômicas da vascularização renal, como infecção, sangramento, coleção lrquida petipancreátlca,
ramificação precoce , artéria renal acessólia e artérias pancreatite, falência exócrina, isquemia do enxerto por
polares envolvi.das, ou à confecç30 das anastomoses trombose vascular (arterial ou venosa) ou estenose e he-
arteriais; morragia, são ainda comuns.

207
Ultrassonografia Vascular no Estudo dos Transplantes Renal e Pancreático

Embora o ultrassom vascular tenha um limitado pa- em um enxerto duodeno pancreático com anastomose
pel na identificação da rejeição aguda , com sensibilidade duodenovesical. Aproximadamente 6-10 cm do duode-
que varia de 13-82%, tem grande utilidade na identifica- no do doador é removido junto com o pâncreas, e suas
ção de complicações vasculares. Quando existe evi.dên- extremidades são invertidas e fechadas com uma linha de
cia clínica de disfunção do enxerto , o exame de imagem grampos. A reconstrução vascular é realizada em banca-
se faz necessário, sendo o ultrassom vascular o exame da, isto é, há um preparo dos vasos antes da implantação
de escolha na detecção das complicações pós-operató- do enxerto. H
rias, avaliado em conjunto com os critérios clínicos e Utilizando a bifurcação ilíaca do doador (artéria ilía-
bioquímicos. 28 -3o ca comum, interna e externa) em formato de um "Y", na
O conhecimento da técnica cirúrgica utilizada e qual um dos ramos do "Y" é a artéria ilíaca interna e o
o entendimento do amplo espectro das complicações outro a artéria ilíaca externa , faz-se a anastomose termi-
pós-operatórias são essenciais para a abordagem desses noterminal das artérias esplênica e mesentérica superior
pacientes. do enxerto com respectivos ramos da bifurcação ilíaca
previamente preparada.
O enxerto é então posicionado na fossa ilíaca direita
TÉCNICAS CIRÚRGICAS UTILIZADAS
do receptor, com a porção que corresponde à cabeça do
Desde os primeiros transplantes realizados em ] 966, pâncreas situada em direção à bexiga , e a cauda localiza-
houve um desenvolvimento importante nas técnicas da próximo à bifurcação illaca do receptor. A porção do
utilizadas. Atualmente, existem três possibilidades de "Y" que corresponde à artéria ilíaca comum é anastomo-
transplante : transplante simultâneo rim-pâncreas, en- sada terminolateralmente com a artéria ilíaca comum ou
xerto do pâncreas após o enxerto renal e transplante so- com a artéria ilíaca externa do receptor.
mente do pâncreas. Além disso, muitas técnicas têm sido A drenagem venosa para a circulação sistêm ica é feita
utilizadas para o manejo exócrino e a drenagem venosa ent re a anastomose terminolateral da veia porta do en-
do pâncreas. xerto e a veia ilíaca comum ou exterr..a do receptor, e
A técnica mais comumente usada (Fig. 1826) é a esta posicionada malS abaixo em relação à anastomose
utilizaçãO do pâncreas inteiro com parte do duodeno, fa- arterial.
zendo a drenagem exóclina para a bexiga, consistindo Em alguns casos pode haver variações não previs-
tas desta técnica de anastomose vascular, sendo impor-
tante , então, o conhecimento da descrição cirúrgica pelo
ultrassonografisra vascular.

Indicações da ultrassonografia vascular


• Complicações pós-operatórias:
- Estenoses nas áreas de anastomoses
- Trombose venosa
- Trombose arterial
- Sangramento

• Evidência clínica de disfunção:


- Febre, sensibilidade sobre o enxerto, dor abdomi-
nal, "ílios", disúria

• Alteração dos exames bioquímicos:


- Hiperglicemia inexplicável
- Hipoamilasemia
- Hipoamilasiúria, com queda de 50% dos níveis de
amilase urinária prévios
Figura 18.26. Esquema demonstrando o posicionamento - Hipolipasemia
do enxerto pancreático e as áreas de anastomose vascular. - Exame de urina com sedimento corado

208
Ult rassonografia Vascula r no Estudo dos Transplantes Renal e Pancreático

TÉCN ICA D E AVALIAÇÃO de tamanho não são específicas, e aumento do volume


pancreático pode acompanhar a pancreatite aguda , re-
o enxerto pancreático é localizado na região pélvica, jeição, infecçâo e trombose venosa 31.36
mais especificamente na fossa ilíaca direita , pois o enxer- e. Para identificar a cauda do pâncreas, pode-se reali zar
to renal estará na fossa ilíaca esquerda, no caso de estar- uma abordagem mais lateral, na linha axilar média ,
mos avaliando um receptor rim-pâncreas. A localizaçâo pois nesta região há poucos gases intestinais, permi-
intraperitoneal do enxerto faz com que muitas vezes a tindo uma visão clara da artéria e da veia esplênica,
sombra acústica causada por gases abdominais dificulte sendo este um recurso que pode ser utilizado para
a identificação precisa dos limites do pâncreas; por isso , guiar o procedimento da biopsia.
é recomendado jejum de 6 h previamente ao exame. f. Quando a visibilizaçâo direta do enxerto torna-se di-
Paciente na posição supina: fícil , pois o fígado não pode ser usado como janela
acústica, é possível iniciar á avaliação do enxerto com
a. Transdutor setorial ou curvo de baixa frequência o mapeamento colorido do flu xo, para identificar o
(2-4 MHz), com ajuste da profundidade e ganho do pedículo vascular e os vasos do parênquima (Fig.
Modo B, para permitir maior penetração dos feixes de 1827).
ultrassom , com ajuste da imagem e zona focal priori- g. Avaliação da vascularização pancreática com mape-
zando a região de interesse. A utilização de harmôni- amento do fluxo em co res das áreas de anastomo-
ca facilita a identificação da interface dos limites do se arterial e venosa e vasos intraparenquimatosos,
enxert0 31 com caixa de cor pequena , profundidade adequada
b. Varredura em Modo B na fossa ilíaca direita subindo para maximizar o número de quadros por minutos
em direção à cicatriz umbilical , posicionando o trans- Cfram e rate). Deve-se lembrar das possibilidades de
dutor mediai sobre ou lateralmente ao músculo reto anastomose arterial em forma de "Y", assim como de
abdominal. O pâncreas é uma estrutura homogênea , eventual estenose na anastomose venosa. Ajuste da
possuindo de moderada a baixa ecogenicidade, porém frequ ência de repetição de pulsos (PRF ), mais alta
mais ecogênica do que o tecido ao redor, representado para os vasos tronculares e baixa para os vasos do
pelo omento e a gordura peritoneal, dando a impressão parênquima. A intensidade e o filtro da cor também
de estar localizado mediai mente aos vasos ilíacos. As devem ser ajustados para permitir o correto mapea-
mudanças na ecogenicidade de maior específicidade mento do fluxo.
encontradas na rejeição aguda são: perda na definição i. O Doppler pulsado deve ser posicionado na área
dos limites do enxerto, alteração na textura ecogênica, de interesse no centro do vaso, nas artérias renal e
maior atenuação dos ecos, dilatação dos ductos pan- intrarrenais. A amostra de volume deve ser ajustada
creáticos e perda da homogenicidade acústica 32 para o tamanho do vaso, geralmente inferior a 2 mm,
c. Coleçôes líquidas peripancreáticas, facilmente visibi-
lizadas, mas não específicas, são identificadas em mais
de 50% dos pacientes pós-transplante como imagens
regulares ou irregulares, anecoicas, hipoecoicas ou
complexas com debris e filamentos. Tais coleções
podem ser hematomas, extravasamento de urina ou
sangramento pela área da anastomose vascular, além
de ascite , Iinfocele , seroma ou abscesso. No entanto,
somente a punção com análise do aspirado pode defi-
nir o real diagnóstic0 33J4
d. Realizar a medida transversal anteroposterior do enxer-
to na topografia que corresponde ao pedículo vascu-
lar. O diâmetro desta medida varia entre 1,5-2 cm no
pós-operatório imediato; comudo, o volume do enxer-
to pancreático na evolução é marcadamente maior do
que o volume-controle norrnallogo após o transplante , Figura 18.27. Exemp lo de mapeamento do fluxo em cores
assim como do pâncreas nativo do paciente. Variações na identificação do enxerto pancreático.

209
Ultrassonografia Vascular no Estudo dos Transplantes Renal e Pancreático

evitando a comaminação com informação de outras


estruturas vizinhas, principalmente em razão dos mo-
vimentos respiratórios
j. Localização da amostra de vo lume do Doppler pulsa-
elo na área ela anaSLOmose arterial principal a partir da
idenliflcação elos vasos ilíacos. Poslerior iclentiflcação
elo braço arterial correspondente à artéria celíaca e da
artéria mesentérica superior. Avaliação da anastomose
venosa e ela veia elo enxerto (veia porta), com ajuste
elo tamanho da amostra no centro do vaso e do ãngulo
ele insonação do Doppler pulsado o mais próximo de
60" (Figs. 18.28 e 18.29).
k. Oblenção das velocidades de pico sistólico e diastó-
lica final na área da anastomose arterial e velocidade
máxima na área da anastomose venosa , com ajuste
elo ganho e escala (PRF) do Doppler pulsado Fluxo
de baixa resistência vascular é encontrado nas arté-
rias do enxerto , tanto na artéria celíaca como na ar-
téria mesemérica superior no pós-operatório recen-
le, permanecendo com esta caraclerística por muitos
meses.
\. Estudo da resistência vascu lar com Doppler pulsado
nas artérias do parênquima obtido através da identi-
ficação das velocidades ou freqüências máxima (sis-
lólica) e mínima (diastólica final). Recomenda-se a
oblenção nos índices de resistência nas três partes elo
enxerto: cabeça, corpo e calda.

Figura 18.29 . (A) Avaliação com Doppler pulsado da área


de anastomose venosa e (8) de toda a extensão da veia porta
no enxerto pancreático.

Critérios diagnósticos: Modo B


• Normal: eSlrulura homogênea, com moderada a bai-
xa ecogenicidaele , mais ecogênica do que o tecido ao
redor.
• Reje ição aguda: perda da definição dos limiles do en-
xeno, atenuação dos ecos no parênquima, dilatação
dos ductos pancreáticos. l2
• Coleção líquida perienxerto: imagens anecoicas ,
hipoecoicas ou comp lexas com debris e filamentos.

Critérios diagnósticos: avaliação


vascular
Figura 18.28. Exemplo de avaliação com Doppler pulsado • Arterial normal: área da anastomose arterial e arté-
da área de anastomose arterial em enxerto pancreático. rias celíaca e mesentérica superior com nuxo de baixa

210
U Itrassonografia Vasc ula r no Est udo dos Trans pl an tes Renal e Panc reát ico

resistência, laminar, sem turbilhonamento ou estreita- LIMITAÇÕES DA UL TRASSONOGRAFIA


mento do lúmen arterial. VASCULAR NO ESTUDO DOS
• Venosa normal: anastomose venosa e veias porta e
TRANSPLANTES PANCREÁTICOS
esplênica com fluxo fásico com os movimentos respi-
ratórios no pós-operatório imediato e após 30 dias de As limitações técnicas da ultrassonografia vascular com
evolução . No período inferior a 30 dias podem-se ob- Doppler podem eSlar relacionadas:
se rvar baixas velocidades com pequena variação com
os movimentos respiratórios. a. às condições clínicas do paciente no pós-operatório
• Es tenose hemodinamicamente s ignificativa: redu- imediato , assim como a dor na incisão cirúrgica, ede-
ção do calibre co m aumento focal de velocidades e ma e sangramentos;
turbilhonamento do flu xo (a liasing) 37 b. a variações anatõmicas da vascularização pancreática;
• Trombose venosa do enxerto: ausência de fluxo na c. a meteorismo intestinal ;
veia porta e esplênica , diminuição da ecogenicidade do d . à habilidade e experiência do examinador;
enxerto e fluxo reverso nas artérias do parênquima. 38 e. à qualidade do equipamento utilizado.

Critérios diagnósticos: resistência INFORMAÇÕES


vascular INDISPENSÁVEIS PARA O LAUDO
• Resis tên cia vascular normal: índice de resistência
(IR) entre 0,66-0 ,70. 39 1. Tamanho do pâncreas e eventuais alterações morfo-
Obs.: lR <0,75 pode ser observado nos primeiros três lógicas Cecogenicidade do parênquima , dilatação dos
dias pós-transplante , nomlali zando após este período dUClOS pancreáticos, coleções perienxerto).
(Fig. 1830). 2. Características do fluxo nas áreas de anastomoses e

• Rejeição aguda: índices de resistência no parênqui- nas artérias e veias do enxerto .


ma superio r a 0,80. 39 3. índice de resistividade nas artérias intraparenquima-
Obs.: IR >0,80 não são encontrad os em outras disfun- losas.
ções pancreáticas.
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212
CAPíTULO 19
Ana Luiza Vali ente Engelhorn
Investigação da Síndrome do
Carlos Alberto Engelhorn

Quebra-Nozes

INTRO DUÇÃO estas veias do sistema coletor, poderá desencadear hema-


túria ocasional ou severa, sendo um importante indica-
A compressão da veia renal esquerda entre a aorta abdo- dor da doença s-lo Varizes dos membros inferiores podem
minal e a artéria mese'ntérica superior foi descrita pela também ser observadas nesta síndrome. Il.l 1
primeira vez por EI Sadr e Mina em 1950 1 Em 1972, A síndrome do quebra-nozes é uma condição pouco
de Schepper descreve de maneira clara este fenômeno comum, porém possivelmente subdiagnosticada, per-
após estudar com flebografia seletiva um menino de 16 manecendo ainda sem explicação porque a compressão
anos com hematúria significativa que apresentava com- sintomática sobre a veia renal esquerda ocorre somente
pressão da veia renal esquerda denominada síndrome do em poucos pacientes ou mesmo se outros sintomas tais
quebra-nozes 2 como dor lombar crônica, cistites, enureses ou até dis-
Este fenômeno ocorre pelo reduzido espaço (4-5 funçôes de órgãos pélvicos podem ou não estar relacio-
mm de largura) formado entre a parede anterior da aorta nadas a esta síndrome. lo
abdominal e a artéria mesentérica superior. A gordura A dilatação da veia renal esquerda é provavelmente
retroperitoneal e a terceira porção do duodeno são im- mais prevalente do que se imagina, sendo detectada em
portantes na manutenção de um ãngulo de abertura aor- 51-72 % nos exames de tomografia ou ultrassonografia,
tomesentérico suficiente para não ocorrer a compressão na maioria das vezes sem sintomas associados. 13-15
na veia renal esquerda. Um estreitamento neste ãngulo
aortomesentérico pode ocasionar a compressão na veia Indicações da ultrassonografi a vascular
renal esquerda. 3-5
• Dor pélvica crônica.
A compressão mesoaórtica sobre a veia renal , como
• Dismenorreia.
também é chamada esta síndrome, pode ocasionar
• Disúria.
hipertensão venosa crônica pela dificuldade do esco-
• Dispareunia.
amento venoso, bem como refluxo e aumento no di-
• Varizes pélvicas ou vulvares em mulheres.
ãmetro nas veias pélvicas (veias gonadais). No entan-
• Varicocele em homens.
to, Takebayashi et a!. demonstram que a síndrome do
• Proteinúria ortostática em crianças.
quebra-nozes pode ocorrer com ou sem dilatação da
• Hematúria sem causa identificável, com piora ao exer-
veia renal esquerda e fluxo normal pode ser detectado
cício.
em veias dilatadas 6 .7
Esta síndrome produz sintomas de congestão veno-
sa pélvica, tais como dor pélvica crônica, dismenorreia , TÉCNICA DE AVAlIAÇÃ016
disúria , dispareunia, varizes pélvicas ou vulvares em mu-
Preparo gastrointestinal: 6-8 horas de jejum prévias ao
lheres, varicocele em homens e proteinúria ortostática
exame. Paciente em posição supina:
em crianças 8 .9
Como resultado da hipertensão venosa na veia renal , a. Transdutor setorial ou curvo de baixa frequência
há o desenvolvimento de extensa varicosidade perirrenal (2-4 MHz), com ajuste da profundidade e ganho do
e pararrenal, que , ao romper a delgada parede que separa Modo B (Fig. 19.1).

213
Ultrassonografia Vascular na Investigação da Síndrome do Quebra-Nozes

Figura 19.1. Posição do transdutor na região epigástrica.

. Figura 19.3. Corte ultrassonográfico epigástrico com


b. Corte ultrassonográfico transversal em Modo B na re- mapeamento do fluxo em cores ilustrando o cruzamento
gião epigástrica para identificação da aorta abdominal, da veia renal esquerda entre a aorta abdominal e a artéria
mesentérica superior. Note o trajeto longitudinal da veia
do tronco celíaco , da artéria mesentérica superior, da renal esquerda com a aorta abdominal e a artéria mesentérica
veia renal esquerda e das artérias renais (Fig. 19.2) . superior em apresentação transversa, estando localizadas
c. Com o mapeamento do fluxo em cores na mesma inferior e superiormente a esta, respectivamente.
abordagem ultrassonográfica em plano transverso
da aorta abdominal, a veia renal esquerda é em geral
identificada em toda sua extensão longitudinal , com
trajeto superficial à parede anterior da aorta abdomi-
nal e tendo como limite superior a artéria mesentérica
su pe rior (Fig 193) A a.rtéria m esentérica superior
neste corte ultrassonográfico será identi.ficada na sua
apresentação transversal. Pode-se também avaliar o
cruzamento da veia renal esquerda entre a aorta ab-
dominal e a artéria mesentérica supelior com corte
ultrassonográfico longitudinal da aorta (Fig. 19.4)
Devem-se ajustar a caixa e o ganho da cor,jrame mte
e PRF para o paciente avaliado.

Figura 19.4. Corte ultrassonográfico longitudinal com


mapeamento do fluxo em cores ilustrando a posição da
veia renal esquerda entre a aorta abdominal e a artéria
mesentérica superior. Note o trajeto longitudinal da aorta
abdominal e da artéria mesentérica superior com a veia renal
em apresentação transversa.

d. Medida anatômica do diâmetro anteroposterior da


veia renal esquerda é realizada em dois pontos: a
primeira medida é no segmento de mai.or calibre da
veia , próximo à porção hilar antes do cruzamento. A
segunda medida é realizada no segmento de maior es-
treitamento venoso (ponto de cruzamento entre a ar-
téria mesentérica superior e a aOHa abdominal). Ano-
Figura 19.2. Corte ultrassonográfico epigástrico em Modo
B ilustrando a aorta abdominal (AO) e a artéria mesentérica tar as medidas obtidas e realizar o índice entre essas
superior (AMS) em corte transversal e a veia renal esquerda duas medidas, dividindo a primeira medida (maior)
(VRE) e as artérias renais (A RD, ARE) em corte longitudinal. pela segunda medida obtida (menor) (Fig. 19.5).

214
Ultras sonografi a V asc ular na Investiga ção da Síndrome do Quebra-Noz es

Figura 19.5. Co rte ultrassonográfico com mapeamento do Figura 19.7. Corte ultrassonográfico com mapeamento do
flu xo em co res ilu strando a medi da anatômi ca do di âmetro flu xo em cores demonstrando a obtençã o das velocidades
da ve ia renal esq uerd a no segmento de maior ca libre da vei a na veia renal esquerda antes do cruzamento com a artéri a
e o segmento de maior estreitamento venoso, para posterior mesentéri ca superior.
rea lização do índi ce entre o maior e o menor diâmetros.

e. Para a obtenção das ve locidades na veia renal esquer- r. Loca lização da amostra (entre 4 e 10 m m) de volume
da, deve-se localizar a amostra de volume do Doppl er do Doppler pulsado no segmen to de maior dilatação
pulsado no segmento de maior estreitamento venoso, venosa no trecho da veia renal antes do cruzamen to
usualmente no cruzamento com a artéria mesentérica com a an éria mesentérica su pe rior. Obtenção d o pi co
superior, utilizando amostra de volume do Doppler de ve locidade venosa máxima, mantend o o ajuste d o
pu lsado entre 2 e 4 m m . Deve-se aj ustar o ãngulo de ganh o e escala (PRF) do Doppl er pul sad o e ãngul o
insonação do Dopple r pulsado o mais p róximo de 60° próxi mo a 60° (Fig. 19 7).
(~600) em relação ao vaso, paralelo à parede deste, com g. Medir o índice de veloc idade, dividindo a velocidade
o menor filtro ele pa rcele possível (entre 50 e 12 5 Hz), na ve ia renal esquerda no loca l do cruzamento entre
dependendo do equi pamemo utilizad o (Fig. 19.6) a artéria mesentérica superior e a aorta abdominal e a
velocidade obtid:l no segmento hilar pré-cruzamento.
h . Realizar o rastreamento d e circulação colateral venosa
a partir da veia renal esquerda:
- perirrenal: dilatação das veias suprarrenal, lombar
e sistema ázigos
- veia gonadal esquerda , que se estende em direção
craniocaudal paralelamente ao ureter esquerdo em
direção à pelve, causando va ri zes pélvicas
- va ri zes vulvares e/ou glúteas
- va ricocele
- varizes no membro inferi or esquerd o originárias
d e ramos tributári os da junção sa feno femoral

Critérios diagn ósticos


• Visibili zação direta do estreitamento d o diâmetro do
Figura 19.6. Corte ultrassonográfi co com mapeamento do
flu xo em co res demon strando a obtenção das velocidades lúmen da veia renal esquerd a ao cruzar anteriormen-
na veia renal esquerda após o cru za mento com a artéria te a aorta abdominal proximal: diâmetro <2 mm 11.16
mesentéri ca superior. (Fig. 198)

215
Ultrassonog rafia Vascu lar na Invest igação d a Sí ndro m e do Qu ebra-N ozes

Figura 19.10. Exem pl o de aumen to de velocidades na


veia rena l esquerda.

Figura 19.8. Corte ultrassonográfi co com mapeamento do


fluxo em co res demonstrando a men suração do diâ metro da • Índi ce (relação) entre o diãmetro da veia renal esquer-
veia renal esquerd a no loca l de maior es treitam ento do vaso. da na porção hilar e o d iâmetro no local da compres-
são venosa >4 * . 1j 1R-20
• Presença de circulação colateral venosa a partir da veia
• Dilmaçiio da po rçiio hilar da veia renal esquerda antes renal esquerda , com dilatação das veias suprarrenal,
do cruzamento com a artéria mesentérica superior: lombar, sistema venoso ázigos e ve ia gonadal esquer-
diãmetro >lO m111 Il' l ; (Fig. 199) da Y (Fig. 19. 11 )
• Au mento focal de veloc idade e turbilhonamento do • Varizes pélvicas com di latação da veia gonadal es-
nuxo no local do cruzame nto mesoaórtico: velocida- querda >9 mm de diâmetro, com renuxo durante a
de máxima >110 cm/s 1c . 24 (Fig 1910) manobra de Valsa lva l9 (Fig. 19 .12).
• Índice (relação) entre a ve locidade obtida no local de • Varizes \rulvares 01.1 glúteas com calibre >5 mm de
compressão venosa e a ve locidad e na veia renal es- diâmetro e reOuxo durante a manobra de Valsalva 19
que rda próximo ao hilo >5 1" -1"

Figura 19.11. Exemp lo de circul ação co lateral venosa


a partir da ve ia rena l esquerd a detectada antes do loca l de
com pressão .
Figura 19.9. Corte ultrassonográfico em Modo B
demonstrando a mensuração do diâmetro da veia rena l ' Pode ser usado como ponto de cone para o índice entre os diâmetros
esquerda no loca l de maior dilatação do vaso, antes do hilar e na porção aon omesentérica da ve ia renal esquerda >5 , com
cru za mento com a artéria mesentéri ca superior. aumento na especifi cidade, porém co m men or sensibilidade .

216
Ultrassonografia Va scula r na Invest igação da Síndrome do Quebra-Nozes

Informações indispensáveis para o laudo


- Presença do estreitamento anatõmico da veia renal.
- Diãmetro pré-cruzamento.
- Diâmetro no local do cruzamento.
Relação entre os diâmetros pré-cruzamento e no local
do maior estreitamento.
Velocidades pré-cruzamento.
Velocidades no local do cruzamento.
Índice velocimétrico.
Descrição das veias varicosas e colaterais (gonadais,
glúteas, vulvares, varicocele).

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218
Síndrome Compressiva da CAPíTULO 20
Fanilda Souto Barros
Veia Ilíaca Comum Nostradamus Augusto Coelho

Esq uerda pela Artéria II íaca


Comum Direita

INTRODUÇÃO femoral. A flebografia transfemoral continua sendo pre-


ferida para a confirmação diagnóstica, embora alguns
A compressão da veia ilíaca comum esquerda (VICE) so- autores utilizem a US intravascular (USIV) 11 A angioto-
bre as estruturas posteriores pela artéria ilíaca comum mografia e a angiorressonância magnética também têm
direita (AICD) foi descrita pela primeira vez em 1851 por sido utilizadas mais recentemente. 12
Rudolph Virchow, 1sendo hoje conhecida por síndrome A indicação da investigaçâo ultrassonográfica da sín-
de May-Thurner 2.3 ou sfndrome de Cockett. -l A compres- drome de May-Thurner é demonstrada no Quadro 20.1.
sibilidade pulsátil sobre a veia leva , ao longo do tem-
po , a alteraçôes em seu interior que vai desde obstrução
leve na drenagem venosa até a oclusão do vaso, sendo Quadro 20.1. Indicações da USV para a investigação da
apontada como causa não infrequente de trombose ilía- comp ressão da V ICE pela A ICO

cofemoral 5 Essa obstrução ao fluxo gera um aumento da 1. Insuficiência venosa crônica com predomínio esquerdo
independente do grau de classificação CEAP.
pressão venosa com estase e desenvolvimento da insufi-
2. Dor, sensação de peso e edema do membro inferior
ciência venosa crônica em diferentes graus 6 esquerdo, principalmente em mulheres.
3. Varizes unilaterais (membro inferior esquerdo, pélvicas ou
genitais).
QUADRO CLíNICO 4. Trombose ou sequela de trombose no segmento
iliacofemoral esquerdo.
o quadro clínico depende do grau de compressibilidade
instalada, em geral sendo representado por sintomas de
dor e sensação de peso no membro inferior esquerdo,
PROTOCOLO DE ESTUDO PELA USV
principalmente durante a atividade física. Pode vir acom-
panhado de edema , aumento do diâmetro do membro e 1. O exame é realizado de preferência pela manhã após
varizes volumosas unilaterais .' A trombose venosa ilía- jejum de oito horas. O uso de antifisético é recomen-
cofemoral esquerda é uma das mais temidas formas de dável. os pacientes com constipação crônica, con-
apresentação dessa síndrome, podendo ser facilitada por siderar o uso de laxativo.
estase venosa prolongada. Edema persistente ou inter- 2. Posicionamento do paciente em decúbito dorsal.
mitente no membro inferior esquerdo em mulher, prin- 3. O ajuste do aparelho deve ser feito para o exame ab-
cipalmente entre os 20-40 anos, é altamente sugestivo dominal, adequando-se a profundidade e escala de
de síndrome compressiva da veia ilíaca comum esquerda velocidade para o estudo venoso.
pela artéria ilíaca comum direita 8 - IO 4. Os transdutores utilizados são convexos e de baixa
frequência (2-5 MHz).
DIAGNÓSTICO 5. Avaliaçâo inicial da perviedade da cava inferior e das
veias ilíacas bilateralmente.
Após a avaliação clínica, a complementaçãO diagnóstica 6. Cortes ultrassonográficos transversais no nível da bi-
é feita inicialmente pela ultrassonografia vascular (USV) , furcação aórtica, no local do cruzamento da AICD
constando de avaliação das veias cava inferior, ilíacas e com a VICE (Fig. 20.1A e B).

219
Síndrome Compressiva da Veia Ilíaca Comum Esquerda pela Artéria Ilíaca Comum Dire ita

Figura 20 .1. (A) Imagem em Modo em cores demonstrando a AICD em corte tran sverso e a VICE em corte longitudinal. (B)
Im agem em Modo Power Doppler demonstrando a AICD em corte tran sverso e a VICE em corte longitudin al.

7. Pelo Modo B, avalia-se a AICD em corte transverso e Quadro 20.2. Critérios utili zados pela USV para o
simu ltaneamente a VICE em cone ob líquo/longitu- diagnósti co de compressão da VICE pela AICD

dinal , para uma ava liação subj eti va do grau de com- 1. Imagem sugestiva de compressão venosa, na região do
pressibilidade. cruzam ento entre a veia ilíaca comum esquerda e a
artéria ilíaca comum direita pelo Modo B.
8. O mapeamento em cores possibilita a identificação
2. Aumento da VPS de 2-4 vezes no local da compressão
de turbulência do fluxo na região do cruzamento ar- em relação ao segmento dista!. ')
teria l e venoso (Fig. 20 2) 3. Volum e de flu xo na veia ilíaca direita >40 % que o
volume de fluxo na veia ilíaca esquerda '4(Fig. 20.3).
9 . Mede-se a velocidade de pico sistólico (VPS) n o 4. índi ce entre o pico de velocidade das ve ias femora l
ponto de sob reposição da AICD sobre a VICE, assim comum esquerda e direita inferior a 0,9 (Fig. 20.4).
co mo no segmento distaI ao cru zamento. i)
10. Quantifica o volume de flux o na veia ilíaca bilaleraL i4
11 . Mede-se a VPS na veia remoral co mum bilateral para O tratamento da síndrome venosa compressiva pode
o cálcu lo do índi ce de velocidade remora!. i ) se r clínico (orientação e esclarecimento), cirúrgico ou
12 . Os critérios utilizados pela USV são descritos no endovascular. É indicado para os pacientes sintomáticos
Quadro 202. co m repercussão importante na sua vida diária ou que

Figura 20.2 . (A) Identificação da turbul ência do fluxo (seta) no local da compressão venosa . (B) Confirmação pela flebografia.

220
Síndrome Compressiva da Veia Ilíaca Comum Esquerda pela Artéria Ilíaca Comum Direita

Figura 20.3. Medida de volume de fluxo nas veias ilíacas: sugestivo de compressão venosa extrínseca quando o volume
da veia ilíaca externa esquerda for <40% que o volume da veia ilíaca direita. (A ) Medida do volume de fluxo na veia ilíaca
externa direita (77,7 cm 3/m in). (B) Medida do volume de fluxo na veia ilíaca externa esquerda (39,6 cm 3/min).

Figura 20.4. Medida de velocidade de fluxo na veia femoral comum. É sugestivo de compressão venosa extrínseca quando
o índi ce de velocidade entre a veia femoral comum esquerda e direita for inferior a 0,9. (A ) Velocidade de fluxo na veia
femoral comum direita (18 cm/s). (8 ) Velocidade de fluxo na veia femoral comum direita (16 cm/s).

tenham sinais evidentes de insuficiência venosa crônica LIMITAÇÕ ES DA USV


avançada. Alguns auto res demonstram benefício no tra-
tamento da insuficiência venosa crônica com o implante As limitações da USV são devidas a presença de gases
de stent na veia ilíaca comum esque rda . 16 intestinais, alteração do fluxo consequente à fasicidade
A USV é o método considerado de escolha para o se- respi ratória , dores abdominais ou presença de telas ou
guimento após o tralamento endovascular e visa avaliar a intensa fibrose da parede abdominal. A interpretação
integridade, o posicionamento e a perviedade do stent no subjetiva da imagem de compressão no ponto de cruza-
interior do vaso (Fig. 20.5), assim como possíveis danos mento entre a artéria e a veia e a presença de trombose
no trajeto do acesso (Fig. 206) são fatores que limitam a avaliação (Quadro 203)

221
Síndrome Compressiva da V e ia lIíaca Comum Esquerda pe la Artéria Ilíaca Comum Direita

Figura 20.5 . Controle após angioplastia com implante


de stent na VICE. (A) Note o stent bem posicionado e
íntegro. (B) Avaliação pelo Doppler pul sado demonstrando
a fasicidade do flu xo . (C) Stent co locado nas veias ilíacas
comum e externa.

Figura 20.6. (A) Stent co locado para co rreção de May-Thurner. (B) Lesão pós-procedimento na veia femoral comum
esq uerd a (corte transverso).

222
Síndrome Compressiva da Veia lIíaca Comum Esquerda pela Artéria lIíaca Comum Direita

Quadro 20.3. Limitações d a USV para o diagnósti co da Iinksseitingen beckenve-nemtrombosen . Z Kreisl-Forsch


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223
CAPíTULO 21
U Itrassonografia
Fanilda Souto Barros
Vascular na Investigação de
Varizes Pélvicas

INTRODUÇÃO INDICAÇÕES
A dilatação e insuficiência de veias do território pélvico As principais indicações para a investigação das varizes
têm sido citadas como uma importante fonte de reflu- pélvicas estão listadas no Quadro 21,1,
xo não necessariamente relacionada com o sistema de
safenas, I Quadro 21.1. Indicações da USV pa ra investigação de
varizes pélvicas
Essas varizes podem ser restritas à região pélvica
propriamente dita ou proceder de tributárias da região 1. Síndrome de congestão pélvica
perineal, vulvar ou dos membros infeliores ,2 São sugeli- 2. Varizes de membros inferiores com distribuição atípica ou
sugestiva de origem na região pélvica
das clinicamente pelo exame físico e indiretamente pela 3, Recidiva de varizes
ultrassonografia vascular dos membros inferiores (USV
MMIl), ou visualizadas diretamente pela USV endovagi-
As varizes pélvicas podem se restringir ao território
nal, assim como pela flebografia 3 , .j
pélvico ou ultrapassar a barreira pélvica/perineal , "trans-
A sua manifestação clínica é representada pela sín-
ferindo o refluxo" para os membros inferiores, As prin-
drome de congestão pélvica , constituída por sintomas de
cipais formas de apresentação da colateralização dessas
peso no baixo-ventre e dispareunia , ou pela presença de
tributárias são demonstradas no Quadro 21.2 e ilustra-
varizes nos membros inferiores, cuja fonte de refluxo ori-
das nas Figuras 21,1-21.4, Esses dados são referentes à
gine de varizes do território pélvico , ), 6
O conhecimento das diferentes formas de drenagem
venosa pélvica é essencial para o entendimento da fisio-
patologia e o tratamento das varizes neste território, O
plexo venoso, localizado no ligamento largo do útero,
comunica-se com o plexo uterino , dando origem às veias
gonadais ou ovarianas que, geralmente, confluem direta-
mente para a veia cava inferior à direita e para a veia renal
à esquerda, São veias com certa frequência valvuladas que,
quando insuficientes, dão origem às varizes pélvicas,7
A USV é o exame considerado de escolha para o estu-
do da insuficiência venosa superficial dos membros infe-
riores, identificando os padrões de refluxo safênico e não
safênico, dentre eles o de origem pélvica, 1.8
A USV por via endovaginal é utilizada cada vez mais
na avaliação dos órgãos e da circulação da região pélvica,
porém a flebografia seletiva continua sendo considera-
da o exame padrão ouro para o diagnóstico das varizes
Figura 21 . 1. Transferência de refi LIXO para a região
pélvicas,4,) perijuncional.

225
Ultrassonografia Vascular na Investigação de Varizes Pélvicas

Figura 21.2. Tran sferên cia do refluxo


para a safe na magna. (A) Variz es na região
anexial pélvica identificadas uti Iizando-se
o tran sdutor endovaginal de 4-9 MHz.
(B) Reflu xo (Doppler pulsado) e em cores
na safena magna após confluência de
tributárias da pelve.

Figura 21.3 . Tributárias com origem


pélvica/perineal paralelas ao eixo da safena
magna. (A) Junção safenofemoral. (B) Safena
magna sem refluxo.

226
U Itrasso nografi a Vasc u la r na In vesti gação de Va rizes Pé lvicas

~ Figura 21.4. (A) Vari zes subfasciais na


face posteri or da coxa. (B) Confi rmação
flebográfica da origem pé lvica das vari zes.
Cortesia do Prof. Dr. José Mari a Gómez Perez
e sua equi pe. Uni versidade Fede ral do Espíri to
Sa nto (U FES).

experiência pessoal da autora e estão em fase de publica- das veias dos membros inferiores , da região abdominal e
ção , juntamente com outros pesquisadores. a da região anexial (pélvica) bilateral.

1. Estudo das veias da região abdominal


Quadro 21 .2. Formas de aprese ntação das va rizes nos
membros inferiores com origem pé lvica a. Exame realizado de preferência pela manhã após je-
jum de oito horas .
1. Transferência de refluxo através de trib utárias pa ra a região
próximo à ju nção safenofemoral (periju ncional) . b. A posição do paciente em decúbito dorsal.
2. Transferência de refluxo para o sistema de safenas, magna c. Os transdu tores utilizados são convexos e de baixa
ou parva. frequência (2- 5 MHz).
3. Tributárias na face med iai da coxa (paralelas ao eixo
safênico). d. Avalia-se a perviedad e das veias cava inferior e ilíacas ,
4. Tributárias na face posterior da coxa (isquiáticas). utilizan do os critérios de compressibilidade, identifi-
cação de possíveis trombos e avaliação do fluxo pelo
Doppler em cores.
e. Investiga a possibili dade de síndrome venosa com-
TÉCNICA DE AVALIAÇÃO
pressiva (Quebra-nozes e May-Thurner), cujos proto-
PARA DIAGNÓSTICO colos e critérios para o diagnóstico serão descritos nos
o diagnóstico das varizes pélvicas pode ser feito de duas capítulos específicos para esses temas.
formas. A primeira é representada por identificação das
varizes durante um exame solicitado para a avaliação 2. Estudo das veias da região anexial
ginecológica, e a segunda quando os sinais e sintomas pélvica (endovaginal)
referidos pela paciente levam a uma investigação dessa O exame da região pélvica propriamente dita tem como
afecção. O protocolo de investigação das varizes com ori- objetivo identificar a presença de veias dilatadas e insufi-
gem na região pélvica inclui o estudo ultrassonográfico cientes (varizes) na região anexial bilateral.

227
Ultrassonografia Vascular na In vestigação de Va ri zes Pélvicas

Não existe ainda consenso em relação ao ponto de cação das estruturas pélvicas em sentido longitudi-
cone para a correlação entre o calibre dos vasos anexiais nal. O corpo do útero normalmente é identificado
medido pelo USV endovaginal com a presença de reflu- anteriormente e o colo posteriormente. Os ovários
xo. Alguns autores usam, por diferentes métodos, diâme- estão localizados superiormente à artéria e veia ilí-
tros que variam de 5-8 mm, para considerar a presença aca interna.
de varizes pélvicas 9 - 11 c. Após identificação do útero em corte transverso na
Na experiência pessoal da equipe da autora, foi uti- região de projeção das trompas, direciona-se o trans-
lizado o diâmetro igualou superior a 7 mm, juntamente dutor para o lado esquerdo e direito para pesquisa
com a presença de fluxo bidirecional durante a manobra dos vasos dilatados na região anexial.
de Valsalva, para sugerir o diagnóstico de varizes pélvicas d. Identificados os vasos dilatados, avalia-se a presença
(Quadro 21.3). de refluxo utilizando a manobra de Valsalva.
A diferenciação da origem do refluxo, se do plexo e. Mede-se o calibre das veias dilatadas.
gonadal ou hipogástrico, é uma das dificuldades do ul-
trassom. 3. Ultrassonografia vascular dos
membros inferiores
Quadro 21.3. Critérios para o diagnóstico de varizes
pélvicas pelo USV endovaginal Existem verdadeiras intercomunições entre os plexos ve-
nosos da região pélvica, que estabelecem conexões com
- Tributárias dilatadas e tortuosas na região anexial pélvica com
ca libre igualou maior que 7 mm . os membros inferiores. Na maioria dos pacientes, o ma-
- Fluxo bidirecional (refluxo) nos vasos anexiais durante a peamento venoso dos membros inferiores é realizado
manobra de Valsalva (Fig. 21.5). primeiro, e é através dele que é possível avaliar se existe
a correlação entre esses dois territórios.
o protocolo do exame endovaginal para pesquisa de O protocolo do estudo venoso superficial dos mem-
varizes pélvicas é descrito a seguir: bras inferiores é tema de outro capítulo.
Embora não seja rara a presença de dilatação e insu-
a. Paciente em posição ginecológica ficiência de veias gonadais em pacientes assintomáticas, 12
b. Transdutor endocavitário de 4-9 MHz envolvido é sabido da correlação das valizes pélvicas com a dor
por material estéril (preservativo). O transdutor é pélvica crõnica e da recidiva de varizes dos membros in-
introduzido no canal vaginal com a "marca" do pm- feriores .2. 6.l1 ,13
be direcionada para baixo. Assim, temos a identifi- A recidiva de varizes nos membras inferiores ocorre
em até 52% em 5 anos, e a sua origem na região abdomi-
nal ou pélvica representa 17% dos casos 14 ,15
Segundo Labrapoulos e colaboradores, 1 a origem
do refluxo nâo safênico representa 10% das varizes de
membros inferiores, sendo que dessas 34% têm origem
na região pélvica.
Nós encontramos uma prevalência de 12% de vari-
zes compatível com origem pélvica, em 1.020 pacientes
encaminhadas ao laboratório vascular para o mapeamen-
to venoso superficial dos membras inferiores, sendo que
41,2 % eram pacientes que já tinham sido submetidas à
cirurgia de varizes com safenectomia ou crossectomia
com preservação da safena magna (recidiva).
A complexidade da variação anatõmica , associada à
rica rede de anastomose entre os plexos venosos do terri-
Figura 21.5. M edida do calibre e avaliação do refluxo das tório pélvico, coloca o tratamento endovascular com em-
varizes pélvicas (USV endovaginalJ. Calibre de 8 mm medido
bolização uma OpÇão terapêutica a ser considerada 6 .11.16-18
em corte transverso do vaso na região anexial pélvica. Notar
o fluxo em azu l à esquerda e o refluxo em vermelho à direita, Assim, alguns autores recomendam um algoritmo
representado pelo Doppler colorido durante a manobra de (Quadro 21. 4) para pesquisa e tratamento das varizes
Valsalva. pélvicas nas pacientes sintomáticas. 18.19

228
U ltrassonografia Vascular na In vestigação de Varizes Pélv icas

Quadro 21.4. Algoritmo para investigação e propedêuti ca médico e a utilização de máquinas com baixo poder de
das varizes pélvicas resolução (Quadro 21.5)

Paciente sintomático Quadro 2 1.5. Dificuldades do U5V nas varizes pélvicas

1. Endovaginal: Diferenciação da origem do reflu xo entre o


plexo hipogástrico e gonadal.
2. Obesidade e gases intestinais durante o estudo das veias
U5V MMII abdom inais.
3. Falta de treinamento médico.
4. Máquinas com baixo poder de resolução.

Varizes com provável


origem pélvica
Em resumo, a associação do exame endovaginal com
estudos dos vasos abdominais ao mapeamento venoso
dos membros inferiores complementa a propedêutica
para a investigação de varizes pélvicas .
As informações consideradas necessárias ao cirurgião
Tn endovascular vascular e que devam constar no laudo do exame estão
descritas no Quadro 21.6.

Quadro 2 1.6. Informações indi spensáveis ao laudo de


Além do seguimento clínico dos pacientes sub- U5Vs pélvicas
metidos ao tratamento endovascular, recomenda-se
- Informar a existência ou não das varizes pélvicas.
a ultrassonografia vascular endovaginal no primeiro ,
- Identificar a sua localização (direita, esquerda ou
terceiro e sexto mês , e anualmente , conforme ilustrado bilateral).
na Fig 21.6 1 9 - Informar o diâmetro dos vasos dilatados e a presença
ou não de fluxo bidirecional durante a manobra de
As principais limitações para o estudo ultrassono-
Valsalva .
gráfico para a investigação de varizes pélvicas são a pre- - Informar sobre a perviedade do sistema venoso profundo
sença de gases intestinais e obesidade (estudo das veias (veia cava inferior, segmento ilíaco e femoropoplíteo ).
- Descrever se ex istem sinais sugestivos de compressão
abdominais), a diferenciação entre a origem das varizes venosa extrínseca (May-Thurner ou Quebra-nozes)
no plexo gonadal ou hipogástrico, a falta de treinamento

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230
Doença Arterial Oclusiva CAPíTULO 22
Domingos de Morais Filho
Periférica Infrainguinal -
Rodrigo Gomes de Oliveira

Rastreamento, Diagnóstico,
Seguimento e Tratamento

INTRODUÇÃO Pacientes com fatores de risco para aterosclerose


• Controle pós-tratamento clínico, cirúrgico ou endo-
A doença arterial oclusiva periférica (DAOP) atinge 12% vascular.
da população com idade superior a 65 anos, l tem sua
incidência aumentada de 3-4 vezes nos diabéticos e fu-
mantes, sendo relativamente comum sua associação com TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO
a doença coronariana e cerebrovascular. 2 A ultrassono-
Existem quatro modalidades de exame USV que po-
grafia vascular usada para diagnóstico , tratamento e se-
dem ser utilizadas nos pacientes portadores de DAOP
guimento da DAOP é uma técnica bem estabelecida, com
de membros inferiores: os exames para rastreamento ,
resultados comparáveis a arteriografia 3 . 7 Através dela po-
diagnóstico , seguimento e tratamento da doença. O
demos localizar, quantificar, confirmar o diagnóstico clí-
preparo e a posição do paciente , o set-up do equipamen-
nico e propor estratégias de tratamento da DAOP infrain-
to, a escolha do transdutor e os cortes ultrassonográficos
guinal, examinando desde o influxo na artéria femoral
são os mesmos para as diferentes modalidades, alteran-
comum até as artérias distais (pediosas ou plantares)3.?
do-se os locais de exame na árvore arterial. Nos exames
Também é possível fazer o seguimento de pacientes pré e
para ras treamento e seguimento da DAOp, as artérias
pós-tratamento (fa rmacológico, endovascular ou cirúrgi-
são avaliadas de maneira segmentar através de análise es-
co) ou até mesmo usar o ultrassom vascular (USV) para
pectral segmentar (AES). No exame diagnóstico , toda a
acompanhar os tratamentos endovasculares. 8 . 13 O diag-
extensão das artérias do membro é avaliada (Figs. 22.1 e
nóstico precoce da DAOP é recomendado nos pacientes
22.2). No exame para tratamento as artérias proximais,
com história de claudicação intermitente devido à possi-
o segmento doente e as artérias distais são examinados,
bilidade de tratamento e queda na morbidade da doença
durante e imediatamente após o tratamento.
através da modificação dos fatores de risco (dislipidemia ,
diabetes e hipertensão arterial) 8
Preparo e posição do paciente
INDICAÇÕES Para o exame de USV nos membros inferiores, não é ne-
cessário qualquer preparo do paciente. O paciente deve
Indicações de exame ultrassonográfico vascular na DAOP: ser posicionado em decúbito dorsal com a perna semi-
fletida (Figs. 22.3.1-22 .3.4) para exame das artérias fe-
• Suspeita clínica de doença vascular morais comum, profunda e terço proximal e médio da
• Sopro ou frêmito no trajeto arterial artéria femoral superficial. Nesta posição também é pos-
• Trauma no trajeto arterial sível examinar as artérias tibiais e fibular (Figs. 22.3.5-
• Claudicação intermitente 22.3.14), bem como as artérias distais (pediosa e plan-
• Síndrome do dedo azul tar) (Figs. 22.3.15-223.18). A anéria femoral superfi-
• Isquemia arterial cial distai , poplítea e o tronco tíbio peroneal podem ser
• Síndromes dolorosas em membros melhor examinados em decúbito ventral com semiflexão
• Doença aterosclerótica em outras localizações das pernas (Figs. 22.3.5 e 22.3.6) .

231
Doença Arterial Oclusiva Periférica Infrainguinal - Rastreamen to, Diagnóstico, Seguimento e Tratamento

VM

L--~----~-----r~.---~~------~

A+B A-B
IP= - - - - - IR- - - - - -
VM A
B

C1 C2

L--~-L--~-7~~----------- L----L----r--,-----------

C3 C4

L----~----------------

Figura 22.1. (A) Usando a análise espectral segmenta r (AES), examina-se a bifurcação femoral distai ao ligamento inguinal
(*) em A, a artéria poplítea em B e as artérias tibiais (anterior e posterior) em C. Se as artérias tibiais estiverem ocluídas,
deve-se examinar também a artéria fibular. (B) Medidas numéricas de análise espectral segmentar. A = ve locidade de pico
sistóli ca (VPS), B = velocidade diastólica mínima. Cálculo do índice de pulsatilidade. (C) Forma da onda de velocidade de
fluxo (FOV) no modo de análise espectral (Doppler). (C.1 ) Onda trifásica, sendo L a linha de base, e (C2) Onda bifásica,
consideradas normais. (C3) Monofásica de alta aceleração, sendo este modelo considerado normal, em situações de
vasodilatação. (C.4) Onda unifásica indicativa de lesão proximal hemodinamicamente significante (estenose ou oclusão). A
aceleração da onda é representada pela inclinação do segmento inicial da porção sistólica da onda (de # até *). Quanto maior
a inclinação, menor será a aceleração.

232
Doença Arterial Oclusiva Pe rifé ri ca Infrainguinal - Rast rea m ento, Diagnó sti co, Seguimento e Tratamento

Figura 22.2 . Locais de exame para diagnóstico. Exam ina-se em continuidade, deslocando continuamente o transdutor (-'),
toda a árvore arteri al do membro desde a bifurcação femoral di sta i ao ligamento inguinal (* ) desde a área (A) até as artérias
tibiais (anteri o r e posterior) em (B). Se as artéri as tibiais estiverem ocl uídas, deve-se exami nar também a artéria fi bular.

3.3 3.4

3.6

Figura 22.3. Exame da artéria ilíaca externa distai, femoral comum, bifurcação femoral , femoral superficial (proximall e
femoral profunda em corte transverso (3.1 ) e longitudinal (3.2 ) com o tran sd utor linear. Exame da artéria femoral superficial em
corte transverso (3.3 ) e corte longitudinal (3.4) usando o transdutor setorial. Exame da artéria poplítea e tronco tibiofibular em
corte transversal (3.5) e longitud inal (3.6 ) (continua ).

233
Doença Arterial Oclusiva Periférica Infraingu in al - Ra streamento, Di agnóstico, Seguimento e Tratamento

Figura 22 .3. (Continuação) Exame da artéria tibial anterior proximal em corte transversal (3.7) e longitudinal (3.8). Exame da
artéria tibial posterior proximal em corte transversal (3.9) e longitudinal (3.10). Exame da artéria tibial posterior distai em corte
transversal (3.11 ) e longitudinal (3.12). Exame da artéria fibular em corte transversal (3.13) e longitudinal (3 .14) íco ntinua ).

234
Doen ça Arte ri a l Oclusiva Pe riféri ca In frainguinal - Ra strea mento, Diagn óstico, Seguimento e Tratamento

3.17 3.18

~ Figura 22.3 . (Co ntinuação ) Exame da artéria pediosa em co rte transversal (3.15) e longitudinal (3.16). Exame da artéria
plantar em corte transversal (3.17) e longitudinal (3.18).

Set-up do equipamento sível, para que o espectro captado se situe no centro


• Ganho em Modo B: aumentar o ganho até conse- da corrente sanguínea , onde o Ouxo é mais frequ ente-
guir uma imagem com contraste suficiente para di- mente laminar e coerente. I Com volumes de amostra
ferenciar estruturas superficiais e profundas na de maiores, locais com velocidades de Ouxo instantâneas
escala cinza (Fig. 224). diferentes podem ser medidos em um determinado
• Profundidade em Modo B: usar profundidade que mom ento, simulando alargamento espectral (Fig.
possibilite demonstrar a estrutura a ser examinada 22.8). Por outro lado , quando o sinal reOetido é de
preenchendo pelo menos a metade da tela do moni- pequena amplitude - encontra-se muito atenuado ou
tor (Fig. 22.5) . provém de vasos de pequeno calibre - , é necessário
• TGC: controles deslizantes do TGC com ganho maior aumentar o volume de amostra , sendo, neste caso,
(para a direita) quanto mais profunda (distante do impossível demonstrar a "janela" sistólica.
transdutor) a estrutura a ser examinada se situar. O • Ângulo de insonação: deve estar o mais próximo
ganho de TGC também deve permitir a melhor capa- possível de 60° (Fig. 22 .9).
cidade para diferenciar estruturas superficiais e pro- • Análise espectral , PRF: aumentar ou diminuir a fre-
fundas, assim como a parede anterior e posterior dos quência de repetição do pulso PRF até que a onela de
vasos (Fig. 22.6). velocidade de Ouxo ocupe todo o espaço da escala
• Inclinação do eixo do Doppler pulsátil~ em direção (Fig.22.10).
ao Ouxo arterial, sempre que possível (Fig. 22.7) • Filtros - análise espectral: devem ser mantidos em
• Tamanho do volume d e amostra: o volume de seu nível mais baixo possível , sob o risco de não se
amostra deve ser mantido no menor tamanho pos- demonstrar velocidades baixas de Ouxo (Fig. 22 .11).

235
Doença Arterial Oclusiva Periférica Infrainguinal - Rastre ~ m~=~_to, Diagnóstico, Seguimento e Tratamento

Figurcl .!.l. ).1. Exame com profundidade adequada


(no círculo mostrando 3,5 cm de profundidade) no mesmo
paciente da Fig. 22.5.1. Neste caso, as estruturas examinadas
I ~1I ,1 2L-t.1. Ganho utilizado para exame no Modo B da
(artéria femoral - A, veia femoral - V e veia safena
bifurcação femoral utilizando um ganho de 48% (O). Notar a
magna - *) preenchem mais da metade da tela do monitor.
pouca definição dos ecos dos olanos profundos (-).

ri~urd 22 1>.1 TGC (Toral gain control - Controle total


I iglll 1 2LL!. Mesmo paciente da figura anterio r, Modo
de ganho) com o mesmo ganho em todas as profundidades
B com ganho de 62 % (O). Notar a sensível melhora na
(O-con trol es deslizantes em paralelo) . Notar a pouca
definição dos ecos dos pianos profundos (-).
definição da luz do vaso (indicada pela seta).

Figura 22.6.2. Mesmo paciente da Fig. 22.6.1. TGC


(Total gain control- Controle total de ganho) com o ganho
11)' r I ) . Estruturas exami nadas (a rtéria femoral - A, aumentando em relação à profundidade, sendo maior à direita
veia femoral - V e veia safena magna - *) preench em menos (O-con troles deslizantes em diagonal) . Notar a melhor definição
da metade da tela do monitor. da luz do vaso (indicada pela seta) que na Fig. 22.6.1.

236
Doen ça Arteri al Oclu siva Pe rifé ri ca Infra in guil1 C\ 1 - Ras tr eame nto, Di ag nós ti co, Seg uim ento e T ratam ento

Figura 22.8.2. M esmo pac iente da Fi g. 22.8 .1 . Exame


em M odo Dopp ler co m volume de amostra (.-) de tamanho
Figura 22.7.1. Exame em M odo Doppl er, inclinação
ma ior, ocupa ndo toda a luz do vaso (0- 1 mm) e análi se
do eixo do Doppler pul sátil e sem co rreção do ângulo de
espectral com obliteração da janela sistó li ca (*J,
in sonaçâo como aparente em (O - ângul o de 0°) . M edida
da veloc idade de pi co sistóli co (VPS .-) inco rreta de
18,65 em/s .

Figura oU.'J.1. Â ngul o de in son;;ção (O) em 60°. O


Figura 22 .7.2. M esmo pac iente da Fi g. 22.7. 1. Exa me em mostrador de ori entação deve es tar paralelo às paredes
M odo Doppl er, co m inclin ação do eixo do Doppl er pul sátil arte ria is ('-), com leitura co rreta das ve loc idades da onda de
e correção do ângulo de in son ação co mo apa rente em ve loc id ade de flu xo (*) .
(O - ângul o de 60°). M edid a da veloc idade de pi co sistó li co
(VPS.-) co rreta de 72, 19 em/s .

Fi :'ura 22'<1.2. Ângul o de in so nação (O) em 40°. O'


Figura 22.8 .1. Exa me em M odo Doppl er com vo lum e mostra dor de orien tação não está paralelo às pa redes arteri ais
de amostra (.-) de pequeno tamanho (0- 1 mm) e análi se ('-), prod uzindo uma leitura in co rreta das ve locidades da
espectral com janela sistó li ca (*J, ond a de ve loc idade de flu xo (*) .

237
Doença Arterial Oclusiva Perifér ica Infrainguinal - Rastreamento , Diagnósti co, Seguimento e Tratamento

Figura 22.9.3 . Ângu lo de insonação (O) em 80°. O


mostrador de orientação não está paralelo às paredes arteriais
(<-), produzindo uma leitura incorreta das ve loc idades da
onda de velocidade de fluxo (*).

Figura 22.11. Em (A ) o filtro util izado é o médio ( na caixa


retangular - mid 2) impossibilitando demonstrar velocidades
de fluxo baixas na aná li se espectral (seta) . Em (B) Exame com
mesmo set-up do anterior, mudando apenas o filtro, para um
filtro bai xo (na caixa retangular - low 2) permitindo demonstrar
as velocidades de fluxo mais bai xas na análi se espectral (seta).

Figura 22.10.1. Neste exemp lo, a freq uência de re petição • Ganho - a n á lise esp ectra l: o ganho deve ser suficiente
do pulso (PRF) muito baixa (0-2,5 kHz) faz com que o
gráfico das medidas de aná lise espectra l ultrapasse os limites para mostrar curva de velocidade com a janela sistólica,
da área de amostragem e apareçam como velocidades muito quando presente, ou mostrar claramente os conto mos
baixas, const ituindo o que chamamos de aliasing ("). da curva de velocidade de Ouxo (Fig. 2212)
• Gan h o - cor: aumentar o ganho de cor até que os
pixels decorrentes da movimentação própria do trans-
dutor comecem a aparecer no monitor, geralmente na
porção mais distai ao transdutor (Fig. 2213).
• PRF - cor : aumenta r ou diminuir o PRF de cor até
que esta preencha totalmente o vaso, sem ultrapassar
os limites das paredes , demonstrando fluxo artelial e
venoso, quando presente (Fig. 22.14).

Escolha do transdutor
Trans duto res linea res d e a lta frequ ência (7- 12 MHz)
(Fig. 22.15) são usados para o exame das artérias mais
Figu ra 22.10.2. Mesmo paciente da Fig. 22. 10.1 , mas superfi ciais, como as artérias remoral comum e sua bi-
o aumento da frequência de repetição do pulso (PRF)
furcação, femoral superficial (terço proximal e médio),
aumentada (0-5 kHz ) faz com que o gráfico das medidas de
a nálise espectral se situe nos limites da área de amostragem pediosas , p lantares, a porção distai das artérias tibiais
corrigindo o aliasing (*). (ante rior e posterior) e as artérias fibulares.

238
Doença Art erial O c lu siva Periféri ca Infrainguina l - Rastreamento, Diagnóstico, Seguimento e Tratamento

Figura 22 .13.2. Mesmo pac iente da Fi g. 22 .1 3. 1, mas


com aumento no gan ho da cor (0- 48 %) demon stra ndo fluxo
arteria l (-), mas não o fluxo venoso (*).

Figura 22.12. Em (A) um exa me com o ga nho do Doppler


(análi se espectral) está co rreto. este caso o ganho (ga in na
fi gura) é de 78% pré e 25% pós, suficiente (no caso) para
demonstrar a curva de veloci dade co m um a janela sis tó lica (*)
e também para mostrar claramente os conto rnos da curva de
ve locidade de flu xo. Em (8 ) o gan ho do Doppl er (o u análi se
espectral) está muito eleva do. Neste exemp lo o ga nho (ga in na
fi gura) é de 85 % pré e 40 % pós. Usa ndo este ganho a janela
Figura 22. 13.3 . Mesmo pac iente da Figura 22 .1 3 .1, co m
sistóli ca que deveria estar presen te, desaparece. Ambos os
maior aum ento no ganho da cor (0-84 %) dem onstrando
exemplos foram rea lizados com o mesmo set-up mudando-se
fluxo arteria l (-) e venoso (") .
apenas o ga nh o do modo Dopp ler (análi se espectral).

Transdu to res se to riais d e frequ ência m édia (4-7


MH zl (F ig. 22 15) são indicados pa ra as an érias loca liza-
das em planos mais profundos, co mo as artérias femorais
su perfic iais no canal d os ad ulores, poplíleas e artérias
proximais nas pernas (libiais e fibul ar) ou em pacientes
de maior compleição.

Posicionamento do tran sdutor


A imagem é oriemada na te la considerando-se o pacie nte
exa minado em posição analô mica e em decú bito d orsa l
com os pés na direção do examinador (Fi g. 22. 16). No
co n e transversa l, o lado mediai da perna d ireita d o pa-
ciente está à dIreIta da tela e na pern a esquerd a elo b elo
Figura 22.13.1. N este exe mplo, o ganh o de cor muito
baixo (0- 14 %) não é sufic ien te pa ra demo nstrar nem esquerdo da le ia (Fig. 22 .16) No co rte longitudinal, o
mesmo o flu xo arteri al, que ap rese nta ve loc id ades de flu xo segmem o ma is prox imal fica se mp re à esque rda (Fig.
normalm ente mais elevadas (-). 2242 )

239
Doença Arterial Oc l usiva Per iférica Infra i ngu i nal - Rastreamento, D iagnós tico, Segu imen to e Tratamento

Figura 22.16. Corte transversal da reg ião inguinal d ireita


mostrando a orientação da imagem com a veia femoral
comum (med iai) do lado di reito da tela (VFe veia fe moral
comum, AFS: artéri a femora l superfic ial, AF P: artéri a femo ral
profu nda).

Cortes ultrassonográficos
Todos os exames são realizados na seguinte sequência:
Modo B, Modo cor e Modo Doppler (análise espectral).
O exame começa com cones transversais (para localiza-
ção anatômica das estruturas) , seguidos por cortes longi-
tudinais (cor e análise espectral).

Figura 22 .14. Influência do PRF no Modo cor. PRF do


Modo cor (A) de valor baixo (+--) de 1.500. Na barra de cor PROTOCOLO PARA RASTREAMENTO
também observa-se que o valor máxi mo da velocidade ({)
é de apenas 9 em/s . Na artéria existe aliasing da cor (*) Exame inicial que tem por meta confirmar a impressão
ca racterizado pela mudança de cores, passando do az ul- diagnóstica clínica e estadiar a doença com suas alterações
claro (ve locidade retrógrada mais alta) diretamen te para o hemodinâmicas, definindo padrões de doença nos vários
amarelo-claro (velocidade anterógrada mais alta) sem passar
pelo preto (velocidade zero). Em (B) (mesmo paciente de (A),
segmentos do membro inferior para seguimento e trata-
o PRF usado foi de mai s de 3.000 (+--) e a ba rra de cores (() mento da DAOP Para definir o padrão da DAOP em um
mostra velocidade máxima de 19 em/s. Não há aliasing, mas membro, é necessário demonstrar quais segmentos estão
') fluxo venoso não é demonstrável (*). doentes (aortoilíaco, femoropoplíteo ou popliteo-tibial),
se a doença ocorre em apenas um segmento ou se é asso-
ciada, qual é o segmento mais envolvido e estabelecer o
grau de envolvimento de cada segmento (Quadro 22 .1)
No exame para rastreamento da DAOP nos membros
inferiores, a árvore arterial é examinada de maneira seg-
mentar com medidas de análise espectral realizadas nas
artérias axiais: femoral comum, poplítea, tibial anterior,
tibial posterior e fibular (Fig. 22.1). Este modo de exa-
me é chamado de análise espectral segmentar (AES) (Fig,
c 22,1) 14 As medidas de AES realizadas são: a velocidade
B do pico sistólico (VPS) , o índice de pulsatilidade (IP) e o
A índice de resistência (IR) (Fig, 22,1 B), além do formato
da onda de velocidade de fluxo (FOV) (mono, bi ou tri-
fásico) (Fig, 22,IC), Sabemos que as medidas de análise
Figura 22 .15. Tipos de transdutores mais util izados: conve- espectral segmentar (AES) - velocidade de pico sistólica -
xo (A). linear (B) e setorial (( ). VPS , índice de pulsatilidade - Ip, índice de resistência - IR

240
Doença Arte ri a l O clusiva Periférica Infrainguinal - Rastreamento, Diagnóstico, Seguimento e Tratamento

e forma da onda de velocidade - FOV - realizadas em pela diminuição do débiw cardíaco (Fig. 22.17). Neste
um local são relacionadas com alterações hemodinâmicas caso, deve-se usar preferencialmente a percentagem de
porventura provocadas por lesões estenosantes ou oclusi- diminuição da VPS em relação às medidas obtidas no
vas presentes nos segmentos proximais.1-1 .18 Por exemplo, segmento imediatamente proximal (por exemplo, entre
as medidas tomadas na artéria femoral comum indicam o as medidas realizadas na artéria femoral comum e as feitas
estado hemodinâmico do segmento aortoilíaco como um na artéria poplitea), que normalmente apresentam dimi-
todo. Já as medidas tomadas na artéria poplítea refletem as nuição de até 20% em pacientes sem lesões hemodina-
alterações hemodinâmicas presentes no segmento aorto- micamente significantes, de 40-45 % em pacientes com
ilíaco e femoropoplíteo . Porém, se as medidas feitas na ar- estenoses hemodinamicamente significantes e maiores
téria femoral comum forem normais (indicando a ausência que 60% em pacientes portadores de oclusões. 1-1
de lesões hemodinamicamente significantes neste territó- • Pacientes com arritmias cardíacas também podem
rio), as alterações das medidas na artéria poplítea serão apresentar alterações na VPS, sendo necessário esco-
apenas resultado de lesões hemodinâmicas presentes no lher a curva mais representativa (Fig. 22.17).
segmento femoropoplíteo. O mesmo raciocínio vale para • Medidas de velocidade (VPS) realizadas em locais com
medidas realizadas nas artérias tibiais. O método serve, placas estenosantes podem ser anormalmente eleva-
portanto, para medida da somatória das alterações hemo- das , sendo que a tomada de valores para AES deve ser
dinâmicas presentes nas artérias axiais H (Quadro 22.2). realizada numa porção não doente (ou pouco doente)
de uma artéria, distai mente a placas (Fig. 22.17)
Sequência do exame
Iniciar o exame com cortes transversais (Modo B e em PROTOCOLO PARA
cor), para definição da anatomia regional, demonstrar a DIAGNÓSTICO DEFINITIVO
presença de placas e perviedade arterial local. Posterior-
mente , usar cortes longitudinais (cor e Doppler), para O exame pode ser usado em substituiçâo ou precedendo o
avaliar perviedade, localizar placas e pontos de estenose , exame angiográfico no planejamento do tratamento +6 Nes-
demonstrar dilatações e fazer medidas da análise espec- te caso, wdas as artérias do membro inferior devem ser exa-
tral (Modo Doppler) (Figs. 22.14 e 22.16). minadas de maneira mais abrangente possível, provendo o
Examinar os sítios das artérias do membro inferio r, cirurgiâo de um "mapa" que mostre a distribuição e severi-
na sequência: dade da DAOp' subsidiando suas decisões quanto ao trata-
mento mais indicado (clínico, cirúrgico ou endoluminal) . O
• Femoral comum e sua bifurcação (na região inguinal
exame deve definir a perviedade das artérias , a localização e
proximal).
extensão precisa das estenoses e oclusões e os diâmetros das
• Poplitea (na interlinha) (Fig. 22.3).
artérias no membro inferior (Quadro 22 .3).
• Femoral superficial (no terço médio da coxa), se as
medidas na artéria poplítea forem alteradas.
Posicionamento do transdutor
• Tibial anterior e posterior no tornozelo (Fig. 22.3).
Posicionamento dos transdutores para exame das artérias
Situações especiais (Fig. 22.3):

• A velocidade de pico sistólica (VPS) em pacientes porta- • Femoral comum e sua bifurcação
dores de insuficiência cardíaca (ICC) pode estar reduzida • Femoral superficial

Quadro 22.1 . Critérios diagnósticos para a aná lise espectral segmentar '4

Ausência de doença hemodinamicamente significante 13 FOV: Fluxo trifásico ou bifásico


Fe VPS > 80 cm/s, IP > 4, IR > 1
POP VPS >65 em/s, IP >4, IR > 1
Tibiais VPS > 60 em/s, IP > 4, IR > 0,8

Estenose hemodinamicamente significante proximal 13 FOV: Fluxo un ifás ieo


Fe VPS 75-50 em/seg, IP 3,5-2,5, IR < 0,8
POP VPS 50-35 em/seg, IP 3,5-2 , IR <0,8

Oclusão proximal 13 FOV: Fluxo unifásieo


Fe VPS < 50 em/s, IP < 2 , IR < 0,8
POP: VPS < 35 em/s, IP < 2, IR < 0,8

241
Doen ça Arterial Oclu siva Periférica Infrainguinal - Rastreamento, Diagnó sti co, Seguimento e Tratamento

Figura 22 .17. (17. 1) Alteração das medidas de análi se espectral em paciente com arritmi a cardíaca. Apesar de a forma da onda
de velocidade (FOV) ter se mantido trifás ica (O), a velocidade de pi co sistólico (VPS) diminuiu para aproximadamente a metade da
FOV da onda im ediatamente anterior (+-). Por outro lado, houve aumento significati vo na VPS da onda imediatamen te posterior
à arritmi a (*). (17.2) M edidas de velocidade (VPS) rea lizadas em loca is co m pi a as podem ser anorma lm ente elevadas, no caso
aumento para 84 cm/s (circulo), ape5a r de a FOV ser unifásica . Também existe aliasing no Modo cor (O). (17.3 ) A ve locidade de
pico sistólica (VPS) em pacientes portadores de insufi ciência cardíaca (lCO pode estar diminuída pe la queda do déhito cardíaco.
No caso, apesar de a VPS (O) ser de apenas 57,74 cm/s, a forma da onda de velocidade (FOV) (O) é trifás ica. (17.4) Medidas
realizadas na artéria femoral comum em paciente portador de dupla lesão da vá lvula aÓltica. Flu xo bifásico (O) com fclse sistólica
de amplituJe semelhante à fase diastóli ca, confirmadas pela medida da ve locidade de pico sistóli co de 252 cm/s e da velocid ade
diastóli ca fin al de 162 cm/s (circulo). (17.5 ) Med idas reJli zadas na artéria femoral superficial do llle~rllO 1)dl.ienIP portador
de dupla lesão da vá lvu la aórtica da Fig. 17.4 . Flu xo bifásico (O) com fase sistóli ca de amplitude semelhante à fase diastólica,
confirmadas pela medida da velocidade de pico istóli co de 424 cm/s e da ve locidade diastóli a fin al de 124 cm/s (circulo).
Elevação da PSV produ zida por estenose não hemodinam icamente signifi cante. Neste caso, produ zida por placa (*) calc ificada
(notar sombra acústica posterior) e ausência de co r (#) no vaso, no local da placa, devido à ca lcificação desta.

242
Doe nça Arterial Oclu siva Periférica Infrainguinal - Rastreamento, Diagnóstico, Seguimento e Tratamento

• Poplítea e tronco tibiofibular


• Tibial anterior (po rções média e distai)
• Tibial posterior
Fibular
• Pediosa
• Plantar

Sequência do exame
Iniciar o exame com cortes transversais (Modo B e cor),
para definição da anatomia local, demonstrar a presença de
placas, medindo os diãmetros e confirmando a perviedade
local (Fig. 22.13). Posteriormente, usar cortes longitudinais
(cor e Doppler), para avaliar perviedade, localizar placas e
fazer medidas da análise espectral (Modo Doppler).
Examinar (usando Modo cor e Doppler), em con-
tinuidade e em toda sua extensão, a artéria remoral co-
mum, femoral superficial, femoral profunda ( 113 proxi-
mal), poplítea, o tronco tibioperoneal, tibial anterior, ti-
bial posterior, fibular, pediosa e plantar (se necessário) .

Qu ad ro 22.2. Classificação das pl acas ateroscleróti cas

Placa homogênea: estrutura interna da placa co m textura


ecográfica co nstante em toda a pl aca (Fig. 22.18) .
Placa heterogênea: estrutura interna da placa co m textura
ecográfi ca variada (Fi g. 22 .18).
Placa ecoluscente: Placa pouco ecogênica, de difícil
visualização no Modo B, mas demonstrável no Modo cor
ou Power (Fig. 22 .18).
Placa calcificada: placa muito ecogênica refleti ndo o
ultrassom e produzindo "sombra acústica" (Fig. 22 .18).

Quadro 22.3. Critérios para defin ição das lesões

Estenose significativa: usar Modo cor (mosa ico) ou Power para


definir os locais de estenose. Aumento loca lizado de VPS
maior que 200 cmJs ou que 2,5 a VPS proximal, aliasing no
M odo co r e Doppler (anál ise espectral) e redução distai da
VPS, IP e IR co m ou sem alargamento espectral. Mudança
no tipo de fluxo (de tri ou bi espectra l, e para monofásico)
(Figs. 22. 19 e 22.20).
Oclusão: ausência de sinal de velocidade no local de
oclusão (Doppler, cor ou Power), alterações distais da VPS,
do IP e IR e no tipo de flu xo (de tri ou bi espectral, e para
monofásico) (Fig. 22.21).

PROTOCOLO PARA
SEGUIMENTO PÓS-TRATAMENTO
O exame é indicado para monitorar os resultados do Figura 22.18. (A) Pl aca homogênea loca lizada na artéria
tratamento clínico, cirúrgico ou endovascular da DAOP poplítea com textura ecográfica constante em toda a placa. (B) Placa
utilizando as alterações acarretadas na dinâmica do fluxo heterogênea mostrando estrutura interna com textura ecográfica
arterial através da AES. 14 .18 Também é usado para detectar variada (setas). (O Placa ecoluscente muito pouco ecogênica, de
difícil visuali zação no Modo B, mas demonstrável no Modo cor
alterações peculiares a cada tipo de tratamento, como hi-
ou Power (exemplo). (O) Placa ca lcificada bastante ecogênica
perplasia de íntima, válvulas venosas retidas (ve r capítu- refletindo o ultrassom e produzindo "sombra acústica" (*).

243
Doença Arterial Oclusiva Pe riférica Infrainguin al - Ra streamento , Diagnó stico, Seguimento e Tratamento

lo sobre seguimento de enxertos), e progressão da DAOP


proximal e distaI. O exame é muito útil para demonstrar
complicações dos enxertos tais como pseudoaneurismas,
infecção ou hematomas. 15·18
Os parãmetros de AES: velocidade de pico sistólico
(VPS) , índice de pulsatilidade (IP) e forma da onda de
velocidade de fluxo (FOV) são mensurados na artéria fe-
moral comum (FC), poplítea (AP), tibiais anterior (TA),
tibial posterior (TP) e fibu lar (AF). Os valores expressos
em porcentagens dos valores pré-tratamento encontram-
se explicitados no Quadro 22.4. Se os parâmetros estive-
Figura 22.19. Efeitos de uma estenose hemodinami camente
significante (O) na cor e aná lise espectral (<-) com presença
rem significativamente alterados em um ou mais segmen-
de aliasing, tanto no Modo cor, quanto na análise espectral. tos em comparação ao exame anterior (Quadro 225),
No Modo cor (O), o aliasing acontece quando a cor muda de deve-se definir a causa destas alterações hemodinâmicas
amarelo para azul-claro (portanto, nas duas extremidades da examinando em continuidade todo o segmento afetado,
barra de cor) sem passar pelo preto (velocidade zero). No Modo
usando para talos critérios para definição de estenoses
Doppler (análise espectral) (<-), as medidas de velocidades
extrapolam a escala (velocidades> 200 cm/s). significativas ou oclusões. Por exemplo, um paciente tra-
tado por angioplastia no segmento femoropoplíteo há
dois anos vinha apresentando exames com parâmetros
de AES mostrando ausência de alterações da hemodinã-
mica nos três locais de exame (femoral comum, poplítea
e tibiais). Os parâmetros e AES mostravam au mento de
70% na VPS, de 90% no IP e ondas trifásicas em todos os
locais de exame. o último exame, as medidas na artéria
femoral comum não apresentaram alterações significan-
tes das auferidas no último exame anterior. Porém, as
medidas realizadas ao nível da artéria pop lítea mostra-
ram mudanças significativas nos parâmetros de AES com
Figura 22.20. Mesmo paciente da Fig. 22. 19 com 80% de queda na VPS, 60 % de queda no IP com ondas
medidas de análise espectral distalmente ao local de
de velocidade de fluxo unifásicas, indicando alterações
estenose hemodinamicamente signifi ca nte, mostrando onda
monofásica ({l com diminuição na medida de VPS para hemodinâmicas significantes no segmento femoropoplí-
menos de 100 em/s. teo. este caso, é necessário realizar, então, o exame em

Figura 22.21 . Oclusão arteri al. (A) Medidas realizadas no local de oclusão mostrando ausência de flu xo na artéria poplítea
(que seria de cor verme lha) tanto na caixa de cor (*) como na análise espectral (#), apesar de o fluxo venoso (em az ul) ter sido
detectado na veia popl ítea (em co r azul, direção cranial e afastando-se do transd utor. PRF da cor baixo (O: 2 cm/s), portanto
com sensibilidade pa ra detectar baixas velocidades. (B), Fluxo med ido na artéria femoral comum em paciente portador de
oclusão aortoil íaca (med idas distais à ocl usão). Fluxo monofásico na análise espectral (*) com diminuição da velocidade de
pico sistólica (VPS - O de 33,3 cm/s) e índice de pulsatilidade e resistência (retangulo).

244
Doe nça Arteri al O clu siva Periféri ca Infrain guin al - Rastrea mento, D iagnósti co, Seguim ento e Trata mento

continuidade de todo o segmento femoropoplíteo para femoral comum (F C) indicam alterações no enxerto.
definir o tipo e local exato da lesão que está produzindo Nos enxertos infrainguinais, alterações nas medidas
as alterações hemodinãmicas. Exame do segmen to aor- ao nível da FC indicam progressão da doença aortoilí-
toilíaco não é necessário, visto que os padrões de AES aca porventura existente. Por outro lado , deterioração
não se alteraram nas medidas realizadas na artéria femo- dos padrões de AES apenas na artéria receptora do
ral comum. enxerto e não na FC (Quadro 22.5) indica a presença
de lesão hemodinamicamente significante no enxer-
Particularidades do exame to . Alterações apenas nos padrões de AES nas artérias
• Pós-tratamento clínico: medir os valores dos parâ- distais indicam progressão da doença distaI. Em todos
metros de AES nos locais padronizados (FC, Ap, TA, os casos, o exame em continuidade de todo o segmen-
Tp, AF) e, se estes mantiverem os mesmos níveis do to deve ser realizado para definir as lesões presentes,
pré-tratamento, isto é uma indicação segura de que mostrando seu local, sua extensâo e importância he-
a DAOP não progrediu (Quadro 22.4). Havendo de- modinâmica. Ver capítulo 25.
terioração dos parâmetros de AES (Quadro 22.5) , • Nas endarterectomias: medir os valores dos parâ-
pode-se afirmar que houve progressão da DAOP \7 Em metros de AES nos locais padronizados (FC, Ap, TA,
consequência , deve-se examinar o segmento afetado Tp, AF) e, se estes mantiverem os mesmos níveis das
em toda sua extensão e definir as lesões presentes, medidas de pós-tratamento imediato , isto é uma indi-
mostrando o local , a extensão e a importância hemo- cação segura de que o segmento tratado está pérvio e
dinâmica das estenoses e oclusões . livre de lesões residuais hemodinamicamente signifi-
• Pós-tratamento com enxertos: nos enxertos e pró- cativas. Se as medidas de AES tomadas no segmento
teses , medir os parâmetros de AES na FC , Ap, TA, Tp, distai ao da endarterectomia estão alteradas (Quadro
AF e, se estes se mantiverem nos níveis do pós-trata- 22 .5) , é uma indicação de lesão residual ou progres-
mento inicial (Quadro 22.4), é uma indicação segura são da doença no local de segmento. Neste caso, o
de que o enxerto está pérvio , sem lesões hemodina- exame em continuidade de todo o segmento deve ser
mica mente significantes em todo o eixo do enxerto realizado para definir as lesões presentes, mostrando
(artéria proximal , doadora, anastomose proximal, seu local , sua extensão e importância hemodinâmica
corpo do enxerto, anastomose distai , artéria receptora (Fig. 22 .22 ).
e distaI). Quando houver alteração significativa dos • Pós-tratamento endovascular: após angioplastia
parâmetros de AES (Quadro 225 ), pode-se afirmar (Fig. 2222 ) ou colocação de stents, o exame por AES
que houve progressão da DAOp, proximal ou distai, é usado e, se alterações dos parâmetros no pós-tra-
ou lesões significantes no enxerto I7 Nos enxertos aor- tamento forem demonstradas (Quadro 22.5), exame
toilíacos , alterações nas medidas ao níve l da artéria em continuidade de todo o segmento para definir as

Quadro 22.4 . Alterações d os parâmetros de análi se espectral segmentar no exa me de segui mento que indicam tratamen to
bem-sucedido. As percentagens são relac io nadas com os valores d o exame pré-tratamento '8

Segmento AI Segmento FP Segmento PT

VPS aumento> 60 % au mento> 80% aumento> 100%


IP au men to > 60% aumento > 40% au mento> 20%
FOV bi ou trifásica bi ou tri fásica bi ou trifásica

Quadro 22 .5. Al terações dos parâmetros de análi se espectral segmentar no exame de seguimento que ind icam fa lência do
tratamento (em relação ao exame anteri o r)'8

Segmento AI Segmento FP Segmento PT

V PS decrésc imo> 50% decréscimo> 60% decréscimo> 60%


IP decréscimo> 50% decréscimo> 60% decrésc imo> 60 %
FOV un ifásica un ifásica un ifásica

245
Doen ça Arterial Oclusiva Periférica Infrainguinal - Rastreamento, Diagnóstico, Seguimento e Tratamento

, Figura 22.22. Aumento da VPS na artéria poplítea após revascularização por enxerto femoropoplíteo. (A) Medidas pré tratamento,
com VPS (círculo) de 17,7 cm/s e fluxomonofásico (*) na artéria poplítea, confirmando a oclusão femoropoplítea. (8) Medidas
realizadas após a revascularização, no mesmo paciente (também na artéria poplítea),mostrando fluxo bifásico (*) e aumento da VPS
(círculo) para 69,67 cm/s ouquase 400%.

lesões presentes deve ser realizado , visando demons- PROTOCOLO PARA O


trar local , extensâo e importância hemodinâmica das EXAME PEROPERATÓRIO
lesões presentes
É uma modalidade recente de exame que está sendo usa-
Frequência de exames da para localizar lesões durante o tratamento endovascu-
lar e orientar o posicionamento de cateteres e stents, bem
O exame deve ser realizado logo antes da alta , a cada
como para realizar exame que demonstre a perviedade
três meses até se is meses após o tratamento e então se-
imediata 13 (Fig. 22.23).
mestralmente até doi s anos após a cirurgia, se os exa-
mes não apresentarem alterações. Em casos de este-
noses residuais ou hiperplasia da íntima, a frequência Sequência do exame
de repetição do exame antes de uma intervenção fica a Examinar a artéria usada como via de acesso, seguir o
critério do cirurgião assistente ou do ultrassonografista posicionamento do cateter e avaliar a localização e per-
vascular. viedade do stent , bem como das artérias proximais e dis-

Figura 22.23. Medidas de análise espectral nos stents. (A) medidas realizadas na porção proximal do stent da artéria poplítea
(vo lum e de amostra L) e fluxo trifásico (O) e VPS de 87,5 em/s. (8) Medidas realizadas no mesmo paciente, na porção distai do
stent (vo lume de amostra L) e fluxo trifásico (O) e VPS de 98 em/s .

246
Doença Arterial Oclusiva Pe rifé ri ca Infrainguinal - Ra stream e nto , Diagnóstico, Seguime nto e Tratamento

tais. O Slc nt deve ser exa minado em su a porção proximal , linfonodos, hematomas, pseud oaneurismas, tumores ou
terço médio e distai usando o Modo 8, cor e análise es- infecção. Os Iinfonodos (Fig. 22.24) têm aparência sui
pectral (F ig 2223) generi s na USv, apresentando medula e córtex, bem
co mo sua vascularização (no Modo cor). Os he mato-
mas são d emonstráveis como massa d e contornos pou-
LIMITAÇÕES DO EXAME NA DAOP
co d efinidos, de forma irregular e ecoge nicidade homo
As principais li m itações do exame vascular ultrassono-
gráfico n os membros inferiores são

• Locali zação anatõmica da arté ria femora l superficial no


canal dos adutores e do tronco tibioperonial no terço
proximal da perna , onde o sinal (Doppler ou cor) é
bastante atenuado pela musculatura (Fig 22.1)
• Placas aterosc!eróticas calcificadas que, ao refletirem
o ulLrassom, impedem o estudo do padrão de flu xo
local nos Modos cor e Doppl er(Fig. 2217 5)

SITUAÇÕES ESPECIAIS
Estenoses sequenciais
Na presença de esten oses seq uenciais, deve-se determi-
nar qual é a alteração hemodinâmica produzida por cada
uma , se existir a indicação pa ra tratamento endovascular.
Por outro lado, se o tratamento proposto for um en xerto,
pode-se avaliar o segmento como um todo, at ravés da
análise espectral segmentar (AES)

Placas calcificadas
A prese nça de placas calcificadas, devido à re flexão do
ultrasso m , pode imiabili za r o exame do fluxo loca l. Nes-
te caso, podemos exa minar na mesma artéria os segmen -
tos pro xi mal ou distai à placa, ou mudar a orientação
d o transdutor, tentando altera r o ângulo de incidência.
O uso de AES pode ajudar no diagnóstico segm entar da
DAOP

Tortuosidade
Artérias tortuosas causam aumento de ve loc idade de flu-
xo local, sendo necessá rio muito cuidado ao se analisar
o aumento na VPS para definiçâo de estenoses nesta si-
Figura 22.24. (24 .1) Hematom a: exame em Modo Power
tuaçao Sempre correlacionar aumento de velocidade em mostrando massa perivascutar ({) co m bordas pouco
uma estenose com a porção imediatam ente proximal a nítidas, forma oval e áreas de maior (*) e menor (#)
esta. Também podemos medir (em á rea ou diâmet ro) as densidade ecográfica devido à organização do hematoma.
estenoses e relacioná- las ao aumento focal de VPS. Não há extravasa mento (+-) de sangue da prótese. (24.2)
Massa na região inguinal de bordas nítidas, tamanho
pequeno e presença de vaso em seu interior (+-) . (24.3)
Massas satélite Pseudoaneuri sma (*) caracterizado pelo fluxo anterógrado
e retrógrado concomitante (cores azul e vermelha
Massas adjacentes às artérias o u aos enxertos são eviden-
concomitantes), o chamado sinal yin e yang, co lo (--) e fluxo
ciadas durante o exame de USV e podem co rresponder a (#) anterógrado e retrógrado na anál ise espectral.

247
Doença Arterial Oclusiva Perifér ica Infrainguinal - Rastreamento, Diagnóstico, Seguimento e Tratamento

examinadas, de preferência em uma tabela , com os


valores normais para o laboratório .
• Desenho esquemático com os achados do ultrassom
deve ser enviado com o laudo .

Níveis de evidência
Desde os anos 90 a sensibilidade e especificidade do
exame de ultrassom vascular (USV) por meta-análise
têm sido avaliadas em níveis de 95%, particularmente
quando o Modo cor é usado. 19.20 A USV foi considerada
Figura 22.25. Cisto de Baker, representado por massa pela ACC/AHN 1 como tendo nível de evidência A para
anecoica, de bordas bem definidas na região poplftea (*), o diagnóstico anatõmico e grau de estenose da DAOP
separado dos vasos poplfteos (A e V ). Como nível de evidência B, quando usada para selecionar
candidatos ao tratamento endovascular ou por enxertos,
ou heterogênea dependendo da sua organização, sem bem como para definir locais de anastomoses 21 A SVS
fluxo em seu interior (F ig. 22.24). Os pseudoaneuris- (Society for Vascular Surgery)21 recomenda que pacientes
mas apresentam fluxo retrógrado e anterógrado conco- com isquemia crítica e que tenham indicação clínica para
mitante em sua luz, bem como alterações na análise es- tratamento de revascularização sejam submetidos a algu-
pectral muito características , que fazem seu diagnóstico ma forma de diagnóstico por imagem (dúplex, ressonân-
ser muito fácil (Fig. 22.24). Na região poplítea, sempre cia magnética ou tomografia computadorizada). A TASC
fazer o diagnóstico diferencial com o cisto de Baker ou lI, em sua recomendaçâo G2 .2.2,23 define o ultrassom
cisto poplíteo, que é um acúmulo cístico de líquido ar- dúplex (Modo cor) como uma alternativa à angiografia.
ticular (líquido sinovial) que se forma nas bainhas do Segundo este consenso, "além de ser completamente
tendão localizado atrás do joelho. No exame de ultras- seguro e muito mais barato, em mãos experientes o ul-
som, o cisto de Baker (não roto) aparece como uma trassom dúplex proporciona a maior parte da informação
massa cística, avascular (Fig. 22.25) . anatõmica essencial mais alguma informação funcional
(gradientes de velocidade em estenoses). A árvore arterial
pode ser visualizada em quase toda sua extensão e a seve-
INFORMAÇÕES
ridade das lesões avaliadas com exatidão, bem como as
INDISPENSÁVEIS PARA O LAUDO velocidades de fluxo. As desvantagens incluem o tempo
Exames de rastreamento de exame e a variabilidade técnica dos examinadores. O
exame das artérias crurais também é difícil ". A Sociedade
• Descrever os achados hemodinãmicos, se existem al-
cardiovascular Canadense, em seu consenso, sugere que
terações sugerindo estenoses significativas ou oclusão
o exame de ultrassom dúplex seja usado para ajudar no
nos segmentos.
diagnóstico da localização de DAOP em pacientes por-
• Enumerar os valores dos parâmetros de análise espec-
tadores de claudicação intermitente e para planejar os
tral (VPS, tempo de aceleração, IP e FOV) nas artérias
tratamentos (recomendação nível III C) 24
examinadas , de preferência em uma tabela, com os
Na rede escocesa de recomendações (SIG ), o exame
valores normais para o laboratório.
de USV para diagnóstico de DAOP foi classificado como
nível de evidência 1· nos pacientes com homocisteína ele-
Exames para diagnóstico definitivo,
vada e nível 2+para pacientes em geral 25 Segundo essas
seguimento e peroperatório recomendações, o exame de USv, "quando realizado por
• Descrever o exame de maneira anatõmica e abrangente operador experimentado e em pacientes adequados, pro-
• Determinar perviedade, diãmetro , tipo de fluxo, locali- duz um mapa da doença significativa da aorta até os pés.
zação das oclusões, estenoses ou placas, com a medida O exame também tem capacidade de determinar lesões
de redução da luz (área) nos locais de estenoses. significantes diagnosticadas por outros métodos, sendo
• Enumerar os valores dos parâmetros de análise espec- um procedimento relativamente barato e bem tolerado
tral (VPS, tempo de aceleração , IP e FOV) nas artérias pelos pacientes. Há limitações na visualização das artérias

248
Doen ça Arteri al O clu siva Periféri ca In frainguinal - Rastreamento, Diagnósti co, Segu imento e Trata men to

ilíacas (devido a gás intestinal ou calcificações), sendo que poplileal and infrapoplileal bypasses. Mazzariol F, Ascher E,
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249
CAPíTULO 23
Nicos Labropoulos
Doença Arterial Periférica
Não Aterosclerótica

INTRODUÇÃO parado a um segmento normal adjacente 2 O local mais


comumente afetado é a aorta abdominal. Dentre as ar-
Dentre as doenças que afetam as artérias periféricas, a térias abdominais , a artéria ilíaca comum muitas vezes
aterosclerose é a mais frequente. I No entanto, há mui- é afetada , mas isso normalmente ocorre em associação
tas outras doenças que também afetam essas artérias, I as ao aneurisma da aorta. Nos membros, o aneurisma da
quais podem, em alguns casos, coexistir com a ateros- artéria poplítea apresenta a prevalência maior 2 No en-
clerose ou produzir isquemia per se , apesar da etiopato- tanto, qualquer artéria periférica pode desenvolver aneu-
genia diferente n A apresentação clínica pode variar ou risma, sendo rara a apresentação na artéria ilíaca externa.
ser similar à da doença aterosclerótica. O espectro das A presença de um aneurisma em uma artéria periférica
doenças não ateroscleróticas nas artérias periféricas in- aumenta a chance ele aneurisma em outra localizaçãO.
clui uma gama de doenças que passaremos a relatar con- Há, por exemplo, uma forte associação entre aneurismas
comitantemente com sua abordagem diagnóstica pe lo poplíteos e aneurismas da aorta abdominal23 (Fig. 23.1)
ultrassom vascular (Quadro 23.1) Essas associações são importantes porque têm impacto
no diagnóstico e na conduta ante a doença aneUlismáti-
.. Quadro 23.1. D oenças não aterosc leróti cas periféricas ca. Os aneurismas periféricos raramente se rompem, mas
A neu rismas são considerados perigosos em função de seu potencial
D issecção arterial emboligênico de trombos , podendo causar oclusão ar-
Trombose e eventos embó li cos terial aguda. 2 O diagnóstico é realizado facilmente por
Vascu lite
D isplas ia fi bromuscular meio do ultrassom , com o diãmetro medido transver-
Neu rofi bromatose
Tumores e ma lformações
Ap ri sionamento e com pressão
Doença cística da adventícia
Endofib rose da artéri a ilíaca

ANEURISMAS
• Aneurismas verdadeiros:
- Fusiformes
- Saculares
• Pseudoaneurismas.

O aneurisma consiste na dilatação, nOnllalmeme


localizada, de um vaso sanguíneo. A definição exata de
.. Figura 23.1. A artéri a po pl ítea encontra-se d ilatada (2, 54
aneu risma é discutível, mas em geral ele consiste em um cm de di âmetro), podendo-se notar o aneuri sma na fossa
aumento de 50% no diâmetro da artéria, quando com- po plítea (*) .

251
Doença Arte ri al Perifé rica N ão Ateroscle rót ica

Figura 23.3. Di ssecção da artéria femo ral comum


~ Figura 23.2. Pse udoaneurisma da artéria i líaca externa em uma placa aterosclerótica pós-cateterismo cardíaco.
com fístula arteriovenosa pós-cateterismo cardíaco . O Aliasing de cor e análise espect ral são devidas à estenose
mosaico (*) é devido à turbu lência do fluxo local. hemodi namicamente significante no loca l.

sa lmeme de uma adventícia à out ra 3 Tipicamente , são ser observado por meio da análise da forma da onda de
registradas as medidas dos diãmetros anteroposlerior e velocidade de Ouxo. Além de causar lesões que limitam o
laterolatera1. O formaLO do aneurisma, sua extensão e a Ouxo , as dissecções também podem induzir trombose 2.3
presença de trombos devem ser documentados. Dissecções pequenas normalmente são acompanhadas
Os falsos aneurismas ocorrem quando há uma perda por meio do ultrassom , enquanto as maiores, em par-
da continuidade da parede arterial, e o hematoma conse- ticular aquelas que causam sintomas, normalmente são
quente sofre processo de expansão. Como a comunicação tratadas cirurgicamente (Fig. 233)
entre o Júmen sacular e o arterial é direta, o Ouxo sanguí-
neo local apresenta um movimento de vaivém , turbilho-
TROMBOSE E EVENTOS EMBÓLlCOS
nar ao exame no ultrassom ' " É necessário medir o tama-
nh o do pseudoaneurisma, a largura e o comprimento do • Distúrbios de coagulação.
colo, além de identificar a artéria da qual ele se origina . • TraumaLismo.
É importante observar e a formação comprime as veias • Intervenções.
adjacentes, causando estenose e trombose. Fístula anerio- • Compressão.
venosa também pode estar presente (Fig. 23 .2) • Doença cardíaca, aneurismas, placas ateromaLOsas.

DISSECÇÃO ARTERIAL A maioria dos eventos trombólicos é emb6lica e


ocorre nas artérias periféricas. ) Os êmbolos vém do co-
• Espontânea . ração, dos aneurisma e das lesões ateroscleróticas 2 1 O
• Traumática. embolismo paradoxal a partir de uma trombose venosa
• Iatrogê nica . para uma artéria periférica pode oco rrer em pacientes
que têm um ShUI11 direito-esquerdo no coração. j A fibli-
A dissecção é mais comumente encontrada na aorta e lação atrial é a causa cardíaca mais comum, seguida do
na carótida interna 2 3 A dissecçâo da aorta pode envolver infarto do miocárdio. Os êmbolos nas artérias periféri cas
seus ramos em qualquer nível à medida que ela se esten- muitas vezes são localizados em bifurcações, onde o diâ-
de. Dissecções nas artérias periféricas sâo raras e normal- metro da artéria torna-se menor. J No membro inferior,
mente ocorrem após um traumatismo ou durante pro- os locais mais prevalentes são as artérias femoral comum
cedimentos endovasculares. Muitas vezes são localizadas e poplítea; e, no membro superior, as artérias braquial e
e apresentam-se como uma estenose focal , podendo ser u lnar z1 (Fig. 234)
ocasionalmente mais extensas , quando 2 canais de Ouxo Deficiências nos anticoagulantes naturais , mutações,
(lúmen verdadeiro e lúmen falso) podem ser detectados . ' insuficiência da fibrinólise, anticorpos ligados a fosfolipí-
Se o flap estiver se movimentando , um distúrbio poderá dios e anomalias das plaquetas são causas mais comuns

252
Doença Arterial Periféri ca Não Ate ros c lerótica

a conduta em cada caso. Se houver indicação para um


enxerto , as veias também podem se r mapeadas conco-
mitantemente. Em pacientes com trombose aguda e sem
doença ateroscl erótica significativa, o Ouxo distaI é mu ito
pequeno, já que não há muitas artérias colate rais. Em pa-
cientes com artérias colaterais devido à doe nça crônica,
o flu xo ainda pode estar em nlveis su ficie ntes. Calcifi-
cações de ce rtos segmentos ou placas e a presença de
material ecogênico podem ser distinguidos, mesmo em
segmentos arteriais trombosaclos. Próximo à oclusão, a
fo rma de onda é característica de um leito distaI bastante
resistente, com ausência da fase diaSlólica (Fig. 235). O
aumento na sístole é mais rápido, e a amplitude da fo rma
de onda é reduzida. Distalmente à ocl usão, todas as fases
Figura 23.4 . Trombose da artéri a femoral comum . da onda são afetadas . O Ouxo diastólico torna-se maio r
Nota-se fluxo retrógrado (azul ) devido ao refluxo distai d o que o normal, a aceleração sistólica é mais lenta e a
através da artéria femoral profunda. Inex istência de fluxo à
velocidade de pico é menor. Quando a isquemia é grave ,
análi se espectral (*) com sinais devidos ao mov imento da
parede arteri al. a forma de onda arterial é similar ao padrão d e Ouxo
venoso.

de trombose arterial. 3 A trombose também pode ocorrer


VASCULITE
em aneuri smas , placas ateroscleróticas , dissecções ar-
teriais, co mpressão extrínseca e após intervenções, tais Qualquer artéria, independ entemente de seu tamanho,
como en xertos , angioplastia e co locação de stent. pode ser afetada por uma vasculi le 2 O nome d a d oença
O ultrassom vascular permite revelar informações denota inOamação da parede arteri al, que pode levar à
úteis nessas cond ições. 3 A extensão da ocl usão , as artérias formação de estenose ou aneurisma. A d oença é classiti. -
envolvidas e muitas vezes a fo nte d os êmbolos podem ser cada com base no tamanho da artéria, como se pode ver
detectados. Além disso, as possíveis fontes embólicas são no Quadro 23. 2.
examinadas, isto é , placa vers us aneurisma. As artérias de Os d ife rentes tipos d e vasculite caracteri zam-se por
inOu xo e eOuxo devem ser avaliadas, e pod e-se planejar esten ose, trombose, aneurismas e aumento na espessura

-8 Scm/s
.., -33cmis
Figura 23 .5. Trombose da artéri a radi al distai após punção para monito ri zação contínua da pressão arteri al. (A) A velocidade
proximal ao local da oclu são encontra-se diminuída (*). (8) No local da oclusão (seta), notam-se múltiplos defeitos na íntima
produzidos pelas tentativas de pun ção.

253
D oença A rte ri al Perifé ri ca ão Aterosclerótica

.. Quadro 23.2. Classificação das vasculites, de acordo com


a sua loca lização

Art érias de grande calibre


Arterite de células gigantes
Arterite de Takayasu
Arterite temporal
Artérias de médio calibre
Pol iarterite nodosa
Doença de Kawasaki
Doença de Behçet
Artérias de pequeno calibre
Arterite do tecido conjuntivo
Crioglobulinemia
Púrpura de Henoch-Schonlein
Nora: um a vasc ulite também pode se r indu zid a por medicamentos .

da pared e arterial (Fig. 23.6). Essas alterações podem ser .. Figu ra 23 .7. Oclusão da artéria femora l superficial em
reconheci das através do ultrassom , conforme d escrito paciente portadora de isquemia arterial no membro inferior.
O diagnóstico definitivo foi de arterite de Takayasu , vasculite,
anteliormente. Os ac hados no exame de USV não são anticorpos para fosfol ipídios e mutação afetando o fator VI.
específicos de vasculi te, sendo o diagnóstico definiti vo A paciente apresentava espessamento da parede nas artéri as
baseado nos sinais e sintomas d o paciente e nos achados temporal , axilar, braquial e femo ral uperficia l (*) .
histológicos e bioquímicos do sangu e.
Na doença de Takayasu , o espessa mento das arté-
A d oença de Kawasaki é conhecid a pelo d esenvolvi -
rias afetadas é facilmente idemi fi ado pelo ultrasso m 3 A
mento de aneuri smas da artéria coronmiana em crianças
doença ocorre mais frequentemente na aorta e em suas
com <5 anos, mas, à medida que a criança cresce, outros
rami ficações principais, mas também pode afetar outras
aneuri smas podem se desenvolve r na aorta e nas artérias
artéri as; (Fig. 23 7)
viscerais e peri fé ricas 2
A fOllllação de halo inflamatório, estenose e trombose
A doença de Behçet é encontrada principalmente
é detectada em pacientes portadores de arterite temporal.
em pacientes provenientes da bacia mediterrãnea , com
O ultrassom é um bom métod o pa ra d iagnosticar a d oen-
idade entre 20 e 40 anos 2 Várias áreas são afetadas . A
ça e ta mbém pa ra monitorar o efeito d o tratamento.
ulceração oral recorrente é um achado importante para
Os achad os histológicos são similares na d oença de
o diagnósti co da d oe nça . Nas artérias perifélicas, pode-
Ta kayasu e n a arterite temporal, doenças denominadas
se observar trombose tanto em artérias quanto em veias,
arterite de células gigantes, mas as apresentações clínicas
send o que veias trombosadas são encontradas em até
são d iferentes '>
50% dos pacientes. Os aneurismas desenvolvem-se na
maioria das artérias e também em locais incomuns. Eles
têm fonuato pred ominantemente sacular, com um risco
aumentad o de ruptura, tromba e e recorrência. É possí-
vel obter achados similares em outros ti pos de vasculite,
mas isso, em geral , é raro.

DISPLASIA FIBROMUSCULAR

Trata-se de uma anonnalidade que causa uma série de


estenoses e dilatações e é visualizada nos exames de
USV como contas de um colar 3 A displasia fibromus-
cular nonnalmente afeta artérias de cali bre médio e não
tem componente inflamatório. A túnica média é afetada
Figura 23.6. Estenose na artéri a axilar em uma paciente
portadora de arterite de Takayasu. A presença de aliasing
em 90 % dos casos, seguida por fi brodisplasias intimais
de cor (seta) sugere estenose local hemodinamicamente em 10%, enquanto a adventícia raramente é envolvida 6
significante, a ser confirmada pela análise espectral. Na fibrodisplasia mediai , o colágeno é depositado entre

254
D oença A rt e rial Peri fé rica Não Ate roscle ró t ica

.. Quadro 23.3. Tipos de tum ores vascula res

Hemangioma
Ang iofibroma
Angiossarcoma
Hemangiopericitoma
Sarcoma de Kapos i
Paraganglioma
Carotídeo
Vaga i
Laríngeo
Leiomiossa rcoma

ultrassom. O diagnóstico é realizado pela apresentação


clínica do paciente e, em especial, pelos neurofibromas
~ Figura 23.8. Power Doppler de caróti da in tern a cutâneos.
apresentando displas ia fibrom uscula r.

TUMORES E
a túnica média e a adventícia. A doença é mais preva- MALFORMAÇÕES VASCULARES
lente nos segmentos médio e distai das artérias renais ,
seguidos pelas carótidas e vertebrais , e é rara nas artérias Tumores e malformações vasculares são raros 23 Eles en-
periféricas 6 Têm sido relatados casos que afetam outras volvem diferentes áreas do corpo e podem ser extensos
artérias viscerais e, muito raramente, veias. Nas artérias ou localizados . Há diferentes tipos de tumores, os quais
periféricas, a maior prevalência é observada nas arté- têm sido descritos na literatura como demonstrado no
rias ilíaca e poplítea, enquanto nas demais artérias dos Quadro 23.3.
membros inferiores e superiores há apenas alguns casos A maioria dos tumores é benigna, mas até tumores
relatados 26 O padrão das estenoses e dilatações também benignos causam problemas significativos relacionados
é reconhecido no exame de USV 3 (Fig. 238) Quando há com a funcionalidade , a estética e a qualidade de vida.
estenoses significativas, um mosaico colorido é visualiza- As malformações têm vários padrões de apresentação, e é
do durante o exame pelo Modo colorido, com velocidade quase sempre possível fazer o diagnóstico por ultrassom.
aumentada na área da dilatação, localizada no ponto de A extensão e o envolvimento ele diferentes tecidos são
saída da estenose. mais bem visualizados pela ressonância magnética 2 Tu-
mores hipervascularizados , tais como os que acometem o
corpo carotídeo, apresentam um padrão elevado de Ouxo
NEUROFIBROMATOSE e uma vascularidade rica em todo o tumor. 3 O sarcoma
A neurofibromatose (N F) é um distúrbio genético (her- da parede arterial pode crescer a partir da íntima em di-
dado de modo dominante autossômico) que afeta prin- reção ao lúmen do vaso ou a partir da túnica média e da
cipalmente o crescimento dos tecidos nervosos 7 O NF-l adventícia para fora . Pode ser difícil distinguir tumores
é o tipo mais comum , e o defeito genético fica localizado que crescem dentro da artéria de um trombo ou de uma
no cromossomo 17. O NF-2 é menos comum, e o defeito placa aterosclerótica.
genético fica no cromossomo 22. A neurofibromatose ca-
racteriza-se por neurofibromas e manchas café com leite. APRISIONAMENTO E
A aorta e as artérias viscerais são afetadas primariamente
COMPRESSÃO VASCULAR
por estenose . Aneurismas e doença oclusiva também são
observados. As anormalidades vasculares nas artérias pe- Há 2 sindromes de aprisionamento e compressão das ar-
riféricas são raras. Têm sido relatados casos que afetam térias periféricas bem conhecidas.
tanto as artérias do membro superior quanto as do mem- A l a é a síndrome do desfiladeiro cervicotoracoa-
bro inferior. Pacientes com neurofibromatose apresemam xilar, em que a artéria é comprimida por estruturas mus-
um risco 3-15 % maior de desenvolver doença maligna culoesqueléticas (Fig. 23 .9), podendo levar a estenose ou
(neurofibrossarcoma)7 As patologias vasculares na aorta oclusão arterial. 23 Uma estenose significativa pode, por
e nas artérias periféricas podem ser diagnosticadas pelo si só, produzir isquemia intermitente ou a formação de

255
Doença Arterial Periférica Não Aterosclerótica

Figura 23.9. Síndrome do desfiladeiro torácico. (A) Estenose significativa da veia subcláv ia com elevação do braço.
(B) Estenose significa nte da artéria subclávia com manobra costoclavicul ar.

um aneurisma pós-estenótico , que pode vir a propiciar cu lares. 12 A localização mais comum é na artéria poplí-
embolização por trombos das artérias a jusante. Esteno- tea, seguida das artérias ilíaca externa, femoral , radial,
se, trombose , aneurisma e êmbolos podem ser facilmente ulnar, braquial e axilar. Também há relatos de ocorrência
identificados por ultrassom. Além disso , o grau de este- em veias. 12 Há várias teorias sobre essa doença, dentre as
nose das artérias pode ser demonstrado mediante dife- quais a do desenvolvimento é a predominante. Durante
rentes manobras com o membro superior. o desenvolvimento, restos de células oriundos de tecido
A outra é a síndrome de aprisionam ento d a arté- mesenquimal e destinados às aniculaçôes são incorpora-
ria poplítea , que ocorre pela cabeça mediaI do músculo dos aos vasos sanguíneos adjacentes. A secreção dessas
gastrocnêmico, devido ao desvio mediaI da artéria po- células pode ser responsável pela formação de cistos na
plítea , à inserção anormal da cabeça do músculo, a uma parede arterial. Imagens desses cistos são facilmente ob-
cabeça acessória do músculo ou a bandas fibrosas anor- tidas por ultrassom (Fig. 23.10) O aumento da artéria
mais; e também pelo músculo poplíteo , podendo envol- causado pelo aneurisma e o líquido observado na parede
ver a artéria, a veia ou ambas ,s·ll Em alguns pacientes são pontos de referência no diagnóstico.
não há anormalidade anatômica aparente , mas a estenose
é vista durante manobras de estresse. Essa condição é de-
nominada aprisionamento funcional. O aprisionamento
da artéria poplítea muitas vezes é bilateral; portanto, o
membro contralateral também deve ser examinado . Es-
tenose , aneurisma e trombose são os achados principais
nessa síndrome. As manobras utilizadas para investigar
o aprisionamento da artéria poplítea são dorsoflexão
passiva do pé e flexão plantar aLÍva contra resistência. A
estenose pode ser vista em tempo real através do exame
de USV do oco poplíteo , ou indiretamente, observan-
do-se os fluxos distais. O aprisionamento da veia poplí-
tea é mais comum que o arterial, mas raramente torna-se
sintomático.

Figura 23.10 . Doença cfstica da adventícia na artéri a


DOENÇA CíSTlCA DA ADVENTíCIA poplítea . O cisto é eco lucen te por ser preenchido com
líquido, produzindo reforço posterior (*). Neste caso, havia
É mais frequente em homens jovens (M/F: 15/1) e aco-
também uma estenose local moderada. O paciente foi
mete grandes artérias localizadas perto dos espaços arti- encam inhado para aval iação de massa na fossa poplrtea.

256
Doença Arte rial Perifé ri ca Não Aterosclerót ica

ENDOFIBROSE DA ARTÉRIA ILíACA Medicine and Biology, 50ciety of lnterventional Radiology,


and the ACC/AHA Task Force on Practice Guidelines:
EM ATLETAS DE ALTO DESEMPENHO endorsed by the American Association of Cardiovascular
and Pulmonary Rehabilitation ; National Heart, Lung, and
É uma condição incomum que ocorre em atletas de alto Blood lnstitute; 50ciety for Vascular Nursing; TransAtlantic
desempenho que realizam provas de resistência. 13 Os Inter-50ciery Consensus; and Vascular Disease Foundation.
atletas não apresentam aterosclerose, e considera-se que Circulation 2006;l13 :e463-654.
2. Vascular 5urgery, 6a ed., Rutherford R (ed.), Elsevier
as causas da estenose ilíaca são a hipertrofia do músculo 5aunders, Philadelphia 2005 : vários capítulos.
psoas, o alongamento recorrente , as condições de alto 3. Vascular Diagnosis, la ed., Mansour MA, Labropoulos N
fluxo (débito cardíaco e hipertensão sistólica aumenta- (eds.), Elsevier, Philadelphia, 2005 : vários capítulos.
4. Kang 55, Labropoulos N, Mansour MA et aI. Expanded
dos durante o exercício) e as torções. Em estudos histo-
indications for ultrasound-guided thrombin injection of
lógicos, a artéria ilíaca apresenta um espessamento inti- pseudoaneurysms. J Vasc 5urg 2000;31 :289-98.
maI na área da estenose , com diferentes quantidades de 5. Tato F, Hoffmann U. ClinicaI presentation and vascular
colágeno e elastina. 13 Também pode haver envolvimento imaging in giant cell arteritis of the femoropopliteal and
tibioperoneal arteries. Analysis of four cases. J Vasc Surg
da túnica média e da adventícia . O diagnóstico pode ser 2006 May 5; [Epub ahead of printj.
difícil , porque, quando o paciente está em repouso, tudo 6. Slovut Dp, Olin JW Fibromuscular dysplasia. N Engl J Med
pode parecer normal. O ultrassom pode ser útil para 2004;350: 1862-1871 .
mostrar velocidades aumentadas na área de interesse. Ele 7. Stumg DA et aI. Neurofibromatosis. Conference statement.
Nationallnstitutes of Health Consensus Development
também pode demonstrar o tecido fibroso e a presença Conference . Arch Neurol 1988;45 :575-8.
de uma torção. A ressonância magnética e a angiogra- 8. Neglen P, Thrasher TL, Raju S. Venous omflow obstruction:
fia também são usadas para confirmar o diagnóstico e An underestimated contributor to chronic venous disease. J
Vasc 5urg 2003;38:879-85.
planejar o tratamento. Durante o tratamento, realiza-se
9. Levien LJ. Popliteal artery entrapment syndrome. 5emin Vasc
estresse com vasodilatadores, e uma queda de 10 mmHg Surg 2003;16:223-31.
na pressão na área da lesão é considerada um achado 10. Leon M, Volteas N, Labropoulos N et aI. Popliteal vein
diagnóstico. entrapment in the normal population . Eur J Vasc Surg
1992;6:623-7 .
11 . Raju S, Neglen P. Popliteal vein entrapment: a benign
REFERÊNCIAS venographic feature or a pathologic entity1 j Vasc Surg
2000;31:631-41.
1. ACC/AHA 2005 Practice Guidelines for the management 12. Levien Lj , Benn CA. Adventitial cystic disease : a unifying
of patients with peripheral arterial disease (lower extremity, hypothesis. j Vasc Surg 1998;28 :193-205.
renal, mesenteric , and abdominal aortic): a collaborative 13. 5chep G, Bender MH , van de Tempel G, f t a/. (2002 )
report from the American Association for Vascular 5urgery/ Detection and treatment of claudication due to functional
50ciety for Vascular 5urgery, 50ciety for Cardiovascular iliac obstruction in top endurance athletes: a prospective
Angiography and lnterventions, 50ciety for Vascular sludy Lancet 2002 :359:466-473.

257
I ntervenções Infrai ngu inais, CAPíTULO 24
Carotídeas e de Fístulas Natalie Marns
Anil Hingorani
Enrico Ascher
Arteriovenosas Dirigidas pela
Ultrassonografia Vascular

INTRODUÇÃO ANGIOPlASTIAS DAS ARTÉRIAS


Há mais de 13 anos nosso grupo l-2 tem utilizado a USV
INFRAINGUINAIS
(ultrassonografia vascular) pré-operatória dos membros
Avaliação Pré-Operatória
inferiores como a única modalidade diagnóstica para
tratamento das doenças arteriais, acumulando ampla e Em nossa instituição, a angioplastia com balão arterial é
valiosa experiência com essa técnica. Sendo assim , des- oferecida aos pacientes com base nos resultados apenas
cobrimos várias utilidades singulares da ultrassonografia do exame USV Em nosso laboratório vascular, a USV ar-
vascular, por ex.: exame objetivo da parede arterial; v1- terial pré-operatório inclui a avaliação do padrão e da
sualização das artérias independentemente de sua per- extensão da doença obstrutiva do segmento arterial fe-
v1edade; imagem em tempo real na presença de movi- moropoplíteo, assim como das artérias infrapoplíteas.
mentação no membro; ampliação considerável (em até O exame direto do segmento aortoilíaco é excluído pela
5 vezes) das imagens; medidas precisas e instantâneas; presença de fluxo trifásico na análise do traçado espec-
medida instantânea em tempo real de vários parâmetros tral da artéria femoral comum (AFC). Os pacientes com
hemodinãmicos, tais como: direção , velocidade e volume traçado trifásico na AFC não precisam ser avaliados por
do fluxo . Isso se traduziu no uso do USV para orientar outros exames. Um traçado bifásico ou monofásico na
vários tratamentos arteriais e venosos (a ultrassonografia AFC implica na realização da USV no segmento aortoi-
vascular intervencionista). líaco para afastar doença significante . Os pacientes com
As experiências preliminares com a ultrassonogra- estenoses suprainguinais ipsilaterais significativas são
fia transcutãnea para dirigir os procedimentos arteriais submetidos à angioplastia ilíaca com balão antes do tra-
infrainguinais descritas por Ahmadi 3 e Ramaswami 4 nos tamento das lesões infrainguinais. .
persuadiram a utilizar o USV para orientar a realização das A claSSificação TASC (Trans -Atlantic lnter-Society COI1-
intervenções endovasculares em nossa instituição. Essa sensus) pode ser utilizada para fazer a descrição morfo-
técnica nova tomou-se exequível, eficaz e segura. Ao lon- lógica das lesões femoropoplíteas. Os comprimentos das
go dos últimos 5 anos , conseguimos realizar angioplastia lesões estenóticas e obstrutivas são medidos levando-se
dirigidas pela USV dos segmentos arteriais femoropoplí- em consideração que a base da sonda de L7 -4 MHz tem
teos em 360 pacientes, nas artérias infrapoplíteas de 80 comprimento de 4 cm e acrescentando-se os comprimen-
pacientes e nos enxertos arteriais infrainguinais de outros tos das imagens insonadas, ou pela marcação do início e
47 pacientes .s-9 As angioplastias com balão e a implantação do final da lesão na pele utilizando a USV e depois com
de stents dirigidas pela USV que realizamos em 41 arté- sua medição por uma fita métrica. As obstruções arteriais
. carou
nas - ·das mtemas
· 1011
- é outra aplicação singular dessa proximais são definidas por obstrução total do vaso nos
abordagem. Além disso , realizamos intervenções bem-su- primeiros 5 mm de sua origem.
cedidas dirigidas pela USV para tratar 40 fístulas arte rio-
venosas I2- 13 dos membros inferiores, que não funcionavam Técnica
ou não amadureciam. Neste capítulo, descreveremos nos- A USV deve ser realizada por examinador experiente
sa experiência com esses procedimentos. com amplo domínio da técnica pré-operatória de arte-

259
Inte rvenções Infraingu ina is, Ca rotídeas e de Fístul as Arter iovenosas Di rig idas pe la Ul trassonog rafia Vascular

riografia por USV A orientação dos procedimentos de orientação da USV Nos casos de acesso pela AFC con-
angioplastia com balão requer que o examinador utili- tralateral, a radioscopia é usada para atravessar a bifur-
ze avental e luvas e que o teclado do equipamento seja cação aórtica. Depois da identificação do fio-guia pelo
coberto por uma película estéril. Rotineiramente, nossa USV da AFC proximal ipsilateral , o procedimento deve
equipe utiliza um equipamento HDl 5000 com recurso ter prosseguimento sob visão ecográfica, conforme des-
Sono CT (Philips Medicai Systems, Bothell, WA). Para crito acima.
estudar as artérias em diferentes loca lizações anatômicas Para angioplastia subintimal, nos casos de obstru-
e profundidades, utilizamos várias sondas inseridas em ções femorais ou poplíteas, o cateter direcional que sus-
um envoltório plástico estéril com gel de acoplamen- tenta o fio-guia é apoiado na parede arterial , cerca de 3-5
to. Em geral, as artérias da coxa e panturrilha 0-4 cm cm proximais à obstrução, de forma a iniciar a dissecção
de profundidade) são avaliadas por uma sonda linear subintimal. A formação de um wire loop é confirmada
de 4-7 MHz . As est ruturas arteriais mais superficiais pela USV A progressão do fio ao longo da obstrução é
(d cm de profundidade) do tornozelo e do pé podem acompanhada até o segmento arterial distai pérvio seja
ser examinadas por uma sonda linear compacta de 7-15 identificado pela presença de sinais de fluxo ao Modo
MHz ("taco de hóquei "). O acréscimo de um transdutor cor na luz arterial. As tentativas de reentrada devem ser
de 2-5 MHz curvo é necessário para demonstrar os seg- iniciadas nos primeiros 1-2 cm distalmente ao segmen-
mentos arteliais mais profundos, inclusive o terço distai to ocluído de forma a reduzir o comprimento da angio-
da artéria femoral s uperficial (AFS) e a artéria poplítea plastia. O segmento arterial com menos calcificação e
proximal (AP) acima do joelho. a camada médio-intimai mais distai deve ser escolhido
Em nossa instituição, todos os procedimentos dirigi- preferencialmente para a reentrada do fio -guia. Se o fio-
dos pela USV são realizados no centro cirúrgico com in- guia não conseguir entrar no lúmen verdadeiro depois
filtração de anestésico local no local da punção e sedação de várias tentativas, o cateter direcional deve ser avan-
suave. Uma das diferenças marcantes da técnica proposta çado e apontado para a luz, de forma a oferecer suporte
é a possibilidade d e realizar a maioria dos procedimentos adicional ao fio. Em geral, as tentativas de reentrada são
por uma punção ipsilateral. A abordagem ipsilateral para realizadas cautelosamente para evitar a extensão do pla-
as intervenções infrainguinais tem várias vantagens: O) no de dissecção até a artéria poplítea distai mente ao joe-
dispositivos endovasculares mais curtos e, consequente- lho. Nossa equipe sempre tenta preservar a artéria distai
mente fáceis de manipular; (2) evita as dificuldades e as para um possível enxerto femoropoplíteo, caso a angio-
complicações potenciais da doença aortoilíaca e as varia- plastia subintimal não seja bem-sucedida. Depois que o
ções neste segmento; (3) evita as complicações potenciais fio-guia entrar na luz arterial verdadeira, sua posição é
da punção contralateral na vililha. A USV ajuda na ava- confirmada pelas imagens do Modo cor nas incidências
liação de dissecções, lesão da parede posterior, sangra- longitudinal e transversal. Em seguida, o(s) segmentos(s)
mento e outros problemas associados potencialmente à alterado(s) são dilatados sob visão ecográfica (Fig. 24.1)
punção arterial não dirigida. O diâmetro e o comprimento do balão são escolhidos
Na maioria dos casos , o acesso pela AFC ipsilateral com base nas medições arteriais diretas realizadas pela
é possível. Em nossa experiência com 360 angioplastias USV A ampliação das imagens da USV (até 5 vezes) e um
femoropoplíteas, 328 (91 %) foram realizados pela AFC erro mínimo de medi ção (0,1 mm) asseguram medidas
ipsilateral, enquanto o cateterismo contralateral foi ne- exatas do diâmetro arterial e também da luz e da espes-
cessário nos 32 casos restantes (9%). O acesso pela AFC sura das paredes, evitando assim que sejam escolhidos
contralateral necessitou de radioscopia (apenas em 6 ca- balões e stents muito grandes ou pequenos.
sos e com 10-20 ml de contraste nos 26 casos restantes) Depois da remoção dos cateteres de angioplastia com
para o cateterism o da artéria ilíaca comum ipsilateral. As balão, o segmento tratado deve ser detalhadamente exa-
contraindicações à punção da AFC dirigida pela USV in- minado pela USv, de fonna a detectar possíveis áreas de
cluem bifurcações altas e/ou localização profundas (mais doença residual, trombos, dissecção ou retração da pla-
que 3 cm da pele). ca. A doença residual e as retrações da placa são identifi-
Depois do cateterismo bem-sucedido da AFC ip- cadas por falhas intraluminares obstruindo parcialmente
silateral, um fio-guia é introduzido na AFS proximal, o fluxo (Fig. 24.2 ). Os trombos obstrutivos parciais ou
atravessando o(s) segmento(s) alterado(s) e alcançando totais possuem aspecto intraluminar anecoico As dissec-
o tronco tibiofibular ou em uma das artérias tibiais sob ções podem ser definidas pelo fluxo bidirecional ou pela

260
Intervenções Infrainguinais , Carotídeas e de Fístulas Arteriovenosas Dirigidas pela Ultrassonografia Vascular

Fi gura 24.3. Imagem do Modo cor da dissecção da placa


Figura 24.1. Imagem em escala de cinza (Modo B) de depois do esvaziamento do balão posi cionando na artéria
um balão de 6 mm totalmente insuflado na artéria femoral femoral superficial (a espeSSUia da camada íntima/média
superficial. Observar a placa hiperecoi ca (ca lcificada) separada foi medida em 2 mm).
desviada pelo balão (seta) na artéria estirada.

Figura 24.4. Imagem em escala de cinza (Modo B) de


um stent de aço inoxidável autoexpansível instalado sob
visão ecográfica na artéria femoral superficial para tratar uma
Figura 24.2. Imagem do Modo cor da retratação da
dissecção da placa.
placa depois do esvaziamento do balão colocado na artéria
femoral superficial , gerando redução (medida) de 70,42%
do diâmetro. A seta branca assinala o Glidewire de 0,035 de
polegada dentro da luz arterial. Sucesso técnico e previ sores do
insucesso técnico da angioplastia
divisão do fluxo com veloc idades nitidamente diferen-
femoropoplítea por balão dirigido
tes, conforme se evidenciam nas imagens do Modo co- pela USV
lorido (Fig. 243) Todas as anormalidades suspeitas são Em nossa expe riência, o índice sucesso técnico total foi
avaliadas com cuidado por m edições diretas da redução de 95% (342 de 360 casos) e os índices obtidos nas dife-
do diãmetro nas imagens em Modo cor ou Modo Power, rentes classes do TASC foram os seguintes: 100% para as
assim como pela análise espectral. Usando a USV, as falhas lesões A e B, 96% (236 de 245) para as lesões C e 74 %
intraluminares com redução> 30% do diâmetro e índicE' (26 de 35 casos) para as lesões D (p <0,0001) Dentre os
de VPS >2 ao longo da estenose podem ser tratadas com 17 casos em que a angioplastia subintimal da AFS/AP fa-
a colocação de stents auto expansíveis sob OIientação da lhou , apenas 2 (12 %) foram concluídas com sucesso sob
USV (Fig. 244) Problemas técnicos significativos foram visão flu oroscópica. Nesses pacientes, a comparação de
tratados por vários stents (l - S por paciente) em 233 de vários fatores de risco, como idade, diabetes (DM) 02%),
342 casos (68%) Por fim, as artérias infrapoplíleas são insuficiência renal crõnica (IRe) (li %), DM e lRC (13%)
exp loradas pelo USV para confirmar a ausência de em- ou hemodiálise (38%) demonstrou que apenas o último
bolia ou trombose. fator era esta tisticame nte sign ificativo como preditor do

261
Intervenções Infrain gui nai s, Carotídeas e de Físt ul as Arteriovenosas Diri gi das pela Ultrasso nografia V ascula r

insucesso técnico das angioplastias subintimal dirigidas em 3 situações: (1) melhora do fluxo após a angioplas-
pelo USV (p<0,04). tia por balão do segmento femoropoplíteo; (2) pacien-
tes com isquemia crítica e várias comorbielades, que não
Complicações tromboembólicas estejam aptos à cirurgia ele enxerto; e (3) pacientes com
É reconfortante constatar que algumas das complica- veia autóloga inadequada para a confecção de enxerto.
ções associadas à angioplastia por balão, inclusive em- ossa experiência com angioplastias infrapoplíteas
bolia ou trombose , puderam ser seguramente detectadas inclui 80 artérias de 54 pacientes (15% ele todos os pro-
pela USV e tratadas eficazmente sob visão ecográfica. Os cedimentos de angioplastia infrainguinal por balão). To-
exames ecográficos dos segmentos tratados e das arté- das as angioplastias foram realizadas depois da conclusão
rias infrapoplíteas realizados ao final dos procedimentos dos procedimentos femoropoplíteos mais proximais, de
detectaram 10 casos (2,9%) de trombo ou embolia. A forma a melhorar a circulação distaI. Setenta pacientes
extremidade proximal do trombo estava localizada na (88%) apresentavam estenoses arteriais (48 troncos tibio-
artéria poplítea abaixo do joelho em 2 casos, no tronco fibulares , 10 artérias fibulares, 7 artérias tibiais posteriores
tibiofibular em 7 pacientes e na artéria fibular no caso e 5 artérias anteriores). Os 10 casos restantes (12%) apre-
restante. Seis desses pacientes foram tratados por trom- sentavam obstruções arteriais (4 troncos tibiofibulares, 5
bectomia de aspiração dingida pela USV e pela infusão artérias fibulares e 1 artéria tibial anterior). Balões finos
intra-arterial de um agente trombolftico , enquanto os 4 com diâmetro e comprimento apropriados (2-4 mm)
casos restantes regrediram apenas com trombólise . fo ram utilizaelos para as angioplastias infrapoplíteas. Os
segmentos arteriais alterados são dilatados pelo balão e o
procedimento começa com a lesão mais distaI.
Seguimento, perviedade e recuperação
O USV infrapoplíteo ao final do procedimento sempre
dos membros
deve ser realizado para detectar retrações da placa, dis-
O USV arterial é realizado rotineiramente antes da alta secções ou tromboembolia distaI. As retrações de placas
hospitalar e nas consultas de seguimento realizado em hemodinamicamente significativas (redução do diâmetro
nosso consultório um mês depois do procedimento e, >30 %, elevação da velocielaele sistólica ele pico para ~ 2,
em seguiela, a caela 3-4 meses . As estenoses recidivantes ou ambas) podem ser tratadas eficazmente com balões
severas são definidas por redução do diâmetro arterial cortantes. O sucesso técnico imediato foi confinnado em
~ 70% e pela elevação local da VPS >3. A ausência de
77 dos 80 das artérias infrapoplíteas tratadas, resultan-
cor ou de sinais no Modo Power na luz arterial confirma do no índice de sucesso total de 96%. A impossibilidade
a oclusão. de passar os fios-guias por lesões estenóticas fibulares e
A duração média do seguimento foi de 12 ± 8 ,3 me- uma obstrução da artéria fibular foi responsável pelos 3
ses (variação de 1-41 meses). Os índices de perviedade casos restantes de insucesso. Estenoses residuais depois
em 6 meses para as lesões das classes TASC A,B ,C e D da angioplastia foram detectadas em 10 (13 %) dentre 77
foram de 90, 74 , 71 e 64% respectivamente. Os índices artérias infrapoplíteas . Contudo , em nenhum desses ca-
de perviedade em 12 meses para as lesões das classes sos as estenoses eram hemod inamicamente significativas
TASC A, B, C e D foram de 90%, 59%, 52 % e 46%, res- com base nos critérios da USV Os índices de perviedade
pectivamente. Os índices de salvamento de membros em das artérias infrapoplíteas dilatadas por balão foram de
6 e 12 meses foram de 94% e 90%, respectivamente (2 78% e 66% em 6 e 12 meses, respec tivamente.
amputações).

Angioplastias infrapoplíteas . ANGIOPlASTIAS DOS ENXERTOS


concomitantes INFRAINGUINAIS DIRIGIDA PELA USV
As intervenções endovasculares nos vasos infrapoplí- A perviedade em longo prazo dos enxertos dos membros
te os não são amplamente aceitas como procedimento inferio res e os índices de salvamento dos membros de-
padronizado. 14- 16 A relutância em tratar os vasos tibiais pende significativamente do diagnóstico e do tratamento
origina-se principalmente dos índices baixos de pervie- precoce das estenoses recidivantes. 17 - 19 Os equipamentos
daele conseguidos por essa técnica e da incerteza quanto de ultrassom modernos oferecem informações diagnosti-
aos resultados em longo prazo. Em nossa opinião, as an- cas confiáveis porque determinam à localização exata e a
gioplastias infrapoplíteas por balão podem ser eficazes extensão das áreas de estenose do enxerto .

262
Inte rve nçõ es In frain gu ina is, Carot ídeas e d e Fístul as Art eri ovenosas Dir ig id as pe la Ult rassonog rafia V ascu lar

Alguns estudos demonstraram que o tratamento en- mento ambulatorial em nosso laboratório vascular. O
dovascular dos enxertos em falência consegue resultados protocolo de seguimento pela USV incluía a exploração
e índices de perviedade pós-procedimento semelhantes de toda a extensão do enxerto, das artérias inguinais pro-
aos da abordagem cirúrgica 2 0 -26 Embora a orientação por ximais e distais ao longo de pelo menos 3 cm proximais
radioscopia nesses tratamentos seja considerada a técni- e distais às áreas das anastomoses. Depois da obtenção
ca padrão, uma das limitações principais dos procedi- das imagens nos Modos cor e Power, os seguintes pontos
mentos de angioplastia por balão sob visão radioscópica eram avaliados pela análise espectral: artéria proximal;
é a falta de informações hemodinãmicas. anastomose proximal; conduto enxerto proximal, inter-
A USV oferece várias vantagens técnicas imprescin- mediário e distai ; anastomose distai; e artéria distaI. To-
díveis. As medições da profundidade e do diãmetro do das as áreas com aliasing de cor gerada pelas velocidades
enxerto e da artéria e a localização exata das lesões este- aumentadas também foram avaliadas para calcular as
nóticas com relação às áreas das anastomoses facilitam a razões de VPS (proximal - local), de forma a estimar a
escolha do melhor local de acesso para o procedimento. A severidade da estenose. A detecção de traçados bifásicos
visualização direta do local de acesso assegura a introdu- ou monofásicos na artéria proximal também justificava a
ção precisa da agulha de punção arterial e evita dissecções , exploração das artérias ipsilaterais mais proximais (até a
sangramentos na parede posterior e outras lesões arteriais. artéria ilíaca comum ipsilateral). Em todos os casos que
Essa técnica é particularmente favorável aos pacientes obe- estavam presentes, a USV dos enxertos detectou no míni-
sos e individuos já submetidos a operações na virilha, nos mo uma estenose severa ao longo do conduto do enxerto
quais a detecção dos pulsos torna-se mais difícil. ou nas artérias proximais e/ou distais . As estenoses eram
classificadas como severas quando a redução do diãme-
Pacientes tratados tro local era ~ 70% na imagem nos Modos colorido ou
Power e a elevação correspondente da VPS ao longo da
Em nossa instituição. foram realizadas 47 angioplastias com
lesão era ~ 3 (Fig. 24.5) Vinte e duas angioplastias com
balão dirigido por USV em 36 pacientes. Na maioria dos
balão (47%) foram realizadas em estenoses isoladas, en-
pacientes, a intervenção foi primária, enquanto os proce-
quanto nos 25 casos restantes (53%) tinham em média
dimentos secundários formam os seguintes: uma repeti -
2,9 estenoses (variação : 2- 5). As lesões estenóticas mais
ção do procedimento em 11 casos, duas em 3 pacientes,
significativas foram encontradas nas artérias proximais
três em 1 caso e quatro no caso restante. Dezenove pa-
de 8 pacientes, nos condutos de enxerto em 26 casos e
cientes (53%) tinham insuficiência renal (nível de creati-
nas artérias distais em 13 pacie11les. As VPS mais altas
nina sé rica ~ 1,5 mgldl). Dentre as 47 angioplastias por
das áreas estenóticas foram regist radas e comparadas,
balão nesse estudo, 36 (77 %) foram realizadas em en-
antes e depois do procedimento . Além disso , nossa equi-
xertos com veia safena e 11 (23 %) em enxertos de PTFE.
pe avaliou rotineiramente os Ouxos volumétricos (FV)
Dos 36 enxertos autólogos, 19 originavam-se na AFC e
terminavam na artéria poplítea (em 7 casos) ou infrain-
guinal (12 casos). Onze eram originadas na artéria femo-
ral superficial e terminavam na artéria poplítea (4 casos)
de infrainguinal (14 casos). Em 6 casos originavam-se
na artéria poplítea e terminavam na artéria poplítea (3
casos) ou infrapoplíteas (3 casos). Dentre os 11 enxertos
com PTFE , 1 era enxerto femorofemoral, 7 originadas
na AFC e artéria poplítea (4 casos) e infrainguinais (3
casos). Os 3 restantes eram originados e arté ria poplítea .
As operações de enxertos foram realizadas entre 3- 78
meses antes do procedimento de angioplastia (média 28
± 21meses)

Avaliação pré-operatória • Figura 24.5. A aná lise espectral obtida de um enxerto de


enxe rto venoso en tre a fe moral d istai e a artéria dorsal do pé
O diagnóstico de falência do enxerto baseava-se na USV demonstrou estenose crítica com elevação da razão da VPS
pós-operatório realizado durante as consultas de segui- em 9,8 (39 1 cm/s para 40,1 cm/sl.

263
Inte rvenções Infrainguinais, Carotídeas e de Físt ulas Arteriovenosas Diri gidas pela Ultrasso nografia Vascular

pré-operatórios do enxerto por 3 vezes em todos os ca-


sos e realizou suas médias. O FV é calculado automatica-
mente pelo software do aparelho com base na imagem do
Modo colorido e da análise espectral do segmento com
ângulo Doppler ajustado em 60° e volume da amostra
igualou maior do que a luz arterial.

Técnica
Iodos os procedimentos foram realizados pela mesma
técnica descrita antes com relação às angioplastias das
artérias infrainguinais dirigidas pela USV Em geral, o
acesso arterial ipsilateral foi possível em 34 casos (72 %)
e os 13 casos restantes necessitaram de punções das ar-
~ Figura 24 .6. Balão cortante totalmente insuflado (diâmetro
térias contralaterais. As artérias femorais (15 ipsilaterais;
de 4 mm e comprimento de 15 mm) e co locado ao longo
13 contralaterais) foram utilizadas como acesso em 28 da estenose ilustrada na Fi g. 24.5 . A seta branca assi nala a
casos. Os 19 procedimentos restantes de angioplastia lâmina do balão.
com balão foram realizados por punção direta do enxerto
(10 venosos e 9 PIFE). A USV foi a única modalidade de
imagem usada para demonstrar as lesões e manipular os (sugestiva de estenose residual ou retração >50%), balões
instrumentos endovascu lares durante os 34 procedimen- maiores eram insuflados repetidamente (se o diãmetro
tos, 72% realizados pelos acessos ipsilaterais. Em 5 dos da artéria ou do enxerto adjacente permitisse) ou balões
13 pacientes (38%) submetidos às punções da AFC con- cortames eram aplicados nos locais correspondentes.
tralateral e que apresentavam níveis altos de creatinina As determinações do FV do enxerto foram obtidas
( ~ 1,5 mgldl) não foi preciso utilizar contraste durante logo depois da conclusão do procedimento, conforme
o cateterismo das artérias ilíacas ipsilaterais, que foi con- descrito antes quanto às medições pré-operatórias. O va-
cluído apenas sob visão radioscópica. lor médio e desvio Padrão elo FV e também as variações
Em todos os casos, o fio-guia sustentado por um foram registradas e comparadas com os dados pré-opera-
cateter direcional de calibre apropriado foi avançado a tórios. Nesses pacientes, não foram realizadas arteriogra-
partir da artéria remaral ipsilateral , atravessou o conduto fias contrastadas intra-operatórias depois da angioplastia
do enxerto e foi levado até a artéria distai sob visão direta com balão dirigida pelo USV
da USV
As medições ecográficas do diâmetro da artéria ou
Sucesso técnico intraoperatório
do enxerto e da extensão da lesão permitiram a escolha
Em nossa experiência , o índice de sucesso técnico total
exata dos calibres e comprimentos dos balões. Os balões
cortantes (Fig. 24.6) utilizados em 25 casos (48%) possi- foi de 98% (46/47 casos). Houve um insucesso técni-
bilitaram o tratamento eficaz das lesões retráteis. co em um paciente com enxerto venoso entre as artérias
Em todos os casos, foram realizados exames de USV poplíteas e plantar, na qual a estenose da anastomose da
ao final do procedimento , ou seja, depois da remoção dos artéria plantar não pôde ser atravessada pelo fio- guia em
cateteres de angioplastia com balão. Os planos de explo- razão de sua grande tortuosidade. Dois casos de dissec-
ração sagital e transversal foram usados para identificar ção da artéria femoral superficial (AFS) proximal depois
estenoses residuais ou retrações. Um recurso singular da da angioplastia com balão foram tratados eficazmente
imagem ultrassonográfica em tempo real é a monitoração pela colocação de stents auto expansíveis dirigidos pelo
hemodinâmica da intervenção. O traçado espectral e as USV Em nenhum dos 47 pacientes colocamos stents den-
razões da VPS são essenciais para a avaliação do signi- tro dos condutos dos enxertos.
ficado hemodinâmico das d issecções ou das retrações.
O sucesso técnico era definido pela perviedade e pela Complicações pós-operatórias imediatas
ausência de reduções do diâmetro com razões da VPS O índice total de complicações locais foi de 4% (2 ca-
~ 2 ao longo do enxerto, assim como das artérias proxi- sos) . Um enxerto venoso desenvolveu um pseudo-aneu-
mais e distais. Se fosse registrada uma razão da VPS >2 risma no local da ruptura provocada pelo balâo cortante,

264
Intervenções Infrai ngu i nais, Carotídeas e de Fístulas Arteriovenosas Di rigidas pela U Itrassonografia Vascular

que foi tratado por angioplastia com remendo (patch). Já o USV da croça aónica é dificultado pela anato-
Um paciente tratado com anticoagulante apresentou um mia da parede torácica, e assim as imagens radioscopias
pseudo-aneurisma persistente da AFC no local da punção são necessárias para a manipulação dos fios e cateteres
e precisou submeter-se ao reparo cirúrgico aberto depois na aorta, bem como para o cateterismo dos ramos aórti-
de 2 tentativas mal sucedidas de injeção de trombina. coso Outra manobra que requer radioscopia é a inserção
dos dispositivos de proteção cerebral na carótida interna
Parâmetros hemodinâmicos (ACI) intracraniana.
determinados pelo USV A combinação dessas modalidades de imagem possi-
As VPS determinadas no segmento com estenose mais bilitou à nossa equipe realizar uma série de 41 procedi-
severa diminuíram em todos os pacientes: valor pré-ope- mentos de angioplastia carotídea dirigida pela USv, que
ratório de 408 ± 148 crn/s (variação de 191-807 crn/s) estão descritos nas seções seguintes.
para 97 ± 29 crn/s (variação de 53-152 crn/s) depois da
angioplastia. No entanto, em todos os casos, os FVS dos Pacientes tratados
enxertos aumentaram dos valores pré-operatórios de 66 Quarenta pacientes com estenoses severas (>70%) das
± 38 mlJmin (variação de 9-144 mlJmin) para a faixa carótidas internas (ACI) foram submetidos a 41 angio-
pós-operatória de 137 ± 72 mlJmin (variação de 52-900 plastias carotídeas com colocação de stents em nossa
mlJmin) (p <0,0001). instituição. Vinte e sete lesões (66%) eram primárias,
11(27%) eram estenoses recidivantes depois da endarte-
índices de perviedade e recuperação dos rectomia carotídea (EAC) e os três casos restantes (7%)
membros eram recidivas das estenoses depois das angioplastias
das artérias carótidas internas. Quinze pacientes (37%)
o seguimento médio estendeu-se por 29 ± 14meses (va- eram sintomáticos.
riação de 3-46meses). Os índices de perviedade primá-
Nesse grupo, 27 pacientes eram homens (68%) e
ria em 6-12 meses foram de 70-50%, respectivamente.
13 eram mulheres (32%), com média etária de 73 ± 10
Dentre os 10 pacientes cujos procedimentos foram reali-
anos (variação de 44-92 anos). Vinte e quatro pacien-
zados por acesso direto ao enxerto, três (30%) desenvol-
tes (59%) tinham níveis elevados de creatinina sérica
veram recidivas das estenoses nos locais das punções.
( ~ 1,5 mgldl) e outros 2 referiam-se a história de aler-
gia aos contrastes.
ANGIOPlASTlA CAROTíDEA
DIRIGIDA PELO USV (ACDU) Exame pré-operatório
A localização superficial das artérias carótidas cervicais e O mapeamento das carótidas pelo USV foi a única moda-
a ampliação de até 5 vezes oferecida pelos equipamentos lidade de exame utilizada. O protocolo do mapeamento
modernos utilizados na USV asseguram clareza e resolução incluía: (1) avaliação do grau de estenose da ACI nos
excepcionais às imagens ultrassonográficas. A USV das ar- planos sagital (Fig. 24.7) e transversal, utilizando ima-
térias carótidas tomou-se uma modalidade de exame pré- gens representativas do Modo colorido ou Power; (2)
operatório confiável para definir a severidade, a localiza- medições dos diâmetros da carótida comum (ACC) e da
ção e a extensão das estenoses das carótidas cervicais 2 7.28 ACI distais normais; (3) medições da extensão da placa;
Teoricamente , a combinação das imagens bem defi- (4) identificação de tortuosidade severa da ACI cervical
nidas da USV com a análise espectral em tempo real pode (angulação >90 0 graus) e (5) descrição das calcificações
oferecer informações mais precisas que a aneriografia, da ACC e da ACI.
durante as diversas etapas da angioplastia carotídea por
balão com stent (ACBS), inclusive: (1 ) seleção dos diâme- Técnica
tros e dos comprimentos exatos dos balões e dos stents; Todos os procedimentos foram realizados no centro ci-
(2) posicionamento exato dos balões e dos stents, inde- rúrgico com equipamento ATL HDI 5000 (Philips Medi-
pendentemente dos artefatos gerados pelos movimentos cai System Bothell, Washington) com recurso Sono CT(1)
respiratórios e do paciente; (3) confirmação da aposição A sonda linear de 4-7 MHz foi usada para examinar a
entre o stent e a parede arterial ; e (4) confirmação hemo- ACC e seus ramos. Em todos os casos, utilizamos um
dinâmica e em Modo B do sucesso do procedimento. sistema de radioscopia móvel com recursos de mapea-

265
Intervenções Infrainguinais, Carotídeas e de Fístulas Arteriovenosas Dirigidas pela Ultrasso nografia Va sc ul a r

Fi gura 24 .7. Image m do Modo cor da artéria carótida Figura 24.8. Stent novo (seta preta) instalado dentro
interna proximal com estenose críti ca (96%) proximal a um de um stent antigo (seta branca) ao longo de uma lesão
stent colocado previamente. (Reproduzida da revista Perspect estenótica recidivada na artéria carótida interna proximal e
Vasc Endovasc Ther, 2007;março, 19(1)41-7). na artéria carótida comum distaI. (Reproduzida da revi sta
Perspect Vasc Endovasc Ther, 2007; março, 19(1 )41-7).

mento. É absolutamente enleia I que o examinador res-


ponsável, durante esse procedimento tenha experiência A etapa seguinte era a dilatação dirigida pelo USV
ampla com a exploração das carótidas e conheça as di- da lesão da ACI com um balão monofilamentar de 3 ou
versas patologias desses vasos, assim como seus efeitos 4 em. Depois disso, um Wallstent 1l10nordamentar biliar
nos resultados da USV O examinado r não deve tentar ou (Boston Sc ienti fic Corp) era posicionado ao longo da es-
dar co ntinuidade ao procedimento de ACDU, a menos tenose e implantado sob visão ecográ fica (Fig 24.8) Um
que as imagens do segmelllo arterial comprometido e ela balão maior (5 ou 6 mm de diãmetro) era insu flado 12
bifurcação carotídea seja m inquestionavelmente excelen- ou 2 vezes para m elhorar a aposição contra as paredes e
tes. A doença da ACl com calcirlcação arterial seve ra ge- eliminar qualquer estenose residual. A USV reali zado ao
ranelo sombras a luz arterial por mais de 5 mm não deve fmal do proced imento conrlrmava O) a perviedade co m -
ser tratada pela ACDU. pleta dos segmentos nativo e com stent da ACC e ela AC l;
O C<Ilelerismo retrógrado da AFC foi realizado sob vi - (2) a aposição adequada do st.ent; e (3) a inexislencia de
são ecográ fi ca direta. A manipulação do fio-guia nas arté- dissecções, reta lhos, trombos ou outras anormalidades
lias ilíacas e nos segmelllos abdomirwl e torácico da aorta (Fig. 249) A arteriografia da ACl com volumes peque-
era realiz.ada sob visão radioscópica O cateter angiográ-
fico seletivo Bem (Boston Scientific Corp.) ou o cateter
ceTebral Vitek (Cook [nc, DloominglOl1, [nd. ) foi usado
nessa série de cateterismos seletivos da ACC ipsilateral.
Depois de demonstrar a posição do fio-guia na ACC pela
US\Z o fio era avançado até a ca rótida externa (ACE) por
meio de um cateter direcional A próxima etapa era subs-
tituir o fio Glidevvire por um fio Amplatz rigido (Boston
Scientific Corp, Miami, FIa) para penllitir a introdução
da bainha introdutória Shuttle SL de calibre 6F (Cook
[nc), que era posicionada na ACC cerca de 2-3 cm antes
da bifurcação das carótidas Todas as manobras desClitas
no pescoço foram concluídas apenas com as imagens do
USV O sistema de proteção anti-embólica FilLerwire era Figura 24.9. A imagem em escala ele cinza (Modo B) de
introduzido com cuidado na ACl cervical distai à esteno- 2 stents (o antigo na artéria carótida interna dista i e ü
recém-implantado na artéria carótida interna proximal e
se, também sob visão ecográflca . A introdução adicional
na artéria ca rótida comum distaI) demonstrou aposição
do filtro, sua colocação e sua liberação 4-6 cm distalmen- adequada dos stents. (Reproduzida da revista Perspect Vasc
te a estenose da ACl foram dirigidos pela radioscopia. Endovasc Ther, 2007; março, 19(1)41 -7)

266
Interven ções In fra in gu in ais, Ca rotídeas e de Fístulas Arte ri ovenosas Dirigidas pe la Ultrassonografia Vascular

nos de contraste foi realizada ao final do procedimento funcionalidade da FAV autóloga influenciam enormemen-
por questões médico-legais e para permitir a correlação te a qualidade de vida e a sobrevivência dos pacientes com
com os resultados, conforme a preferência do cirurgião. insuficiência renal crônica dependente de hemodiálise. Ao
longo da última década, as intervenções endovasculares
Resultados técnicos intraoperatórios tomaram-se a principal opção terapêutica e substituíram
A USV realizada ao final do procedimento confirmou o quase inteiramente o reparo cirúrgico das FAV que não
sucesso técnico em todos os casos. As arteriografias da funcionam bem ou não amadurecem 32 -34 Embora a ad-
croça aórtica foram necessárias para facilitar o catete- ministração de contrastes possa não ser deletéria aos pa-
rismo da ACC ipsilateral difícil em 7 casos (17%). As cientes em hemodiálise, os individuos com função renal
arteriografias da ACI foram realizadas ao final do proce- limítrofe e com FAV que não maturam impõem desafios
dimento em 26 casos (63%), com 10-15 ml de contraste terapêuticos 35 .36 Além disso, a alergia ao contraste toma
(Magnavist, Berlex Laboratories, Wayne, N] em 4 casos; ainda mais difícil a opção do tratamento endovascular de
Visipaque, Amersham Health, Princeton, N], em 22 ca- alguns desses pacientes.
sos) para validar os resultados do USV A aposição ade- Apesar do fluxo volumoso com circulação significa-
quada do stent e a dilatação da estenose foram possíveis tiva, o exame de USV em tempo real facilita o posiciona-
em todos os casos. As arteriografias cerebrais biplana- mento exato e a monitoração da posição do balão com
res realizadas depois do procedimento em 30 pacientes relação à estenose. A análise espectral em tempo real as-
(73%) por motivos médico-legais não detectaram quais- segura a confirmação das alterações hemodinãmicas nas
quer anormalidades. estenoses depois do esvaziamento do balão, da existência
de retração e da necessidade de colocar sten ts. Em nosso
Morbidade e mortalidade depois do estudo, as estenoses residuais atribuídas à retração elás-
procedimento tica foram detectadas em 6 dentre 11 pacientes (55%).
Essas lesões retráteis foram tratadas eficazmente com
Nenhum paciente foi a óbito no período imediato (30
balões cortantes em 4 casos, com balões convencionais
dias) depois do procedimento. Um paciente (2,4%) teve
maiores em 1 paciente e por stent autoexpansível implan-
um acidente vascular encefálico ipsilateral com recupe-
tando no caso restante.
ração clínica praticamente total em 4 meses (discreta fra-
queza residual da mão). Esse evento ocorreu durante a
segunda insuflação do balão contra stent. No entanto, a Pacientes tratados
arteriografia cerebral biplanar intra-operatória não havia Nossa equipe realizou 40 angioplastias de FAV autólo-
detectado quaisquer anormalidades nesse paciente. gas dirigidas por USV em 32 pacientes com insuficiência
renal crônica. Desses pacientes, 17 eram homens e 15
Seguimento eram mulheres , com média etária de 68,5 ± 10,3 anos
Todos os pacientes foram instruídos a realizar USV em (variação de 38-85 anos). As 40 fístulas incluíam 27
nossa clínica vascular a cada 6 meses depois do procedi- radiocefálicas, 12 braquiocefálicas e 1 braquiobasílica.
mento de ACBS. O seguimento médio depois da ACDU Desses pacientes, 17 acessos não funcionavam e 23 eram
foi de 2l ± 14 meses (variação de 6-46 meses) . Um pa- fístulas que não maturavam nos pacientes que ainda es-
ciente teve recidiva da estenose no nono mês, que se lo- tavam em diálise.
calizava na extremidade proximal do stent e foi tratada
novamente por ACDU . Avaliação pré-operatória
O diagnóstico de mau funcionamento ou parada da ma-
ANGIOPLASTIA DIRIGIDA PELO USV turação da FAV foi estabelecido com base no exame físico
DAS FíSTULAS ARTERIOVENOSAS (redução do frêmito, pulso presente), no insucesso da
DISFUNCIONAIS OU IMATURAS diálise prolcngada, depuração de creatinina abaixo da
ideal, sangramento prolongado depois da diálise) e nos
As fístulas arte rio venosas de acesso para hemodiálise resultados da USV Os padrões de fluxo caracteristicos,
(FAV) estão reconhecidamente predispostas ao desenvol- como velocidades muito altas (em geral, ~ 500 crn/s)
vimento de várias estenoses e, por fim, à falência funcional e turbulência significativa, que são intrínsecos as FAY,
durante seu periodo de utilização. 29 -31 A perviedade e a impõem desafios diagnósticos à monitoração pela USV

267
Intervenções In frainguinais, Ca rotídeas e de Fístulas Arteriovenosas Dirigidas pela Ultrassonografia Vascular

Embora os critérios ecográficos sugestivos de anorma-


lidades no acesso AV ainda não estejam estabelecidos,
os equipamentos modernos de alta resolução e a experi-
ência técnica crescente dos examinadores tornara a USV
um recurso diagnóstico confiável para detectar falência
ou falta de maturação das FAV Os critérios ecográficos
que definem disfunção da FAV incluem a existência de
estenoses severas (>70%), evidenciadas nas imagens do
Modo cor, confirmadas pela razão da VPS (velocidade
sistólica de pico) ~ 3 na artéria proximal, na anastomo-
se, ao longo do conduto de acesso (Fig. 24.10) ou na veia
de drenagem. Nossa equipe media rotineiramente o FV
de um segmento da fístula não estreitada, no mínimo a 3 Figura 24 .11 . Essa imagem do M odo co r intraoperatório
cm de distância da anastomose, utilizando o mesmo mé - demonstrou a estenose grave (72,3%) ilustrada na Fig. 24.10.
todo descrito para os enxertos infrainguinais. O exame
em Modo B de toda a fístula fornecia informações adicio-
nais quanto à existência de membranas intraluminares e fa tores, inclusive localização das estenoses com relação à
válvulas venosas "congeladas" como causa de estenoses anastomose, diâmetro da fístula, profundidade e tortuo-
(Fig. 2411) . As VPSs mais altas dos segmentos com es- sidade dos vasos e direção do fluxo. A localização super-
tenoses mais significativas foram registradas e compara- ficial e a visualização direta pela USV tornam o cateteris-
das com os valores aferidos depois do procedimento. O mo fácil e direto.
número médio de estenoses era de 1,9 ± 1,1 (variação de Os plimeiros 10 casos foram operados no centro
1-5 por acesso AV). cirúrgico e os 30 pacientes subsequentes foram opera-
dos ambulatorialmente. Depois de posicionar o paciente
Técnica confortavelmente na mesa cirúrgica, o membro superior
A Olientação dos procedimentos realizados nas FAV com ipsilateral e o pescoço eram preparados e protegidos por
base na USV tem várias vantagens inequívocas. A visuali- campos cirúrgicos. Em todos os casos, o equipamento
zação em tempo real das estenoses da FAVe a marcação Philips HID 5000 com recurso Sono CT® foi utilizado e
da pele permitem a identificação do local mais apropria- colocado no mesmo lado em que a intervenção seria rea-
do para a intervenção. Essa escolha é baseada em vários lizada, de forma a assegurar boa visibilidade do monitor
para o cirurgião e o operador do ultrassom; o teclado
era coberto por um envoltóli o plástico estéril. Em nossa
opi nião , é útil dispor de 2 sondas recobertas por plástico
estéril simultaneamente no campo operatório, em razão
das caracteristicas anatõmicas e hemodinâmicas intrín-
secas a FAV O transdutor CL 15-7 MHz era usado para
explorar as estruturas superficiais ( até 2 cm de profun-
didade) e a sonda L 7-4 MHz era utilizado para explorar
estruturas mais profundas ( mais que 2 cm da pele).
Nossa equipe conseguiu conclu ir todos os procedi-
mentos por acesso ipsilateral com anestesia local. Todas
as FAV foram examinadas sob visão ecográfica. Semp re
tentamos escolher um local de acesso proximal à este-
nose para u tilizar o fluxo sanguíneo volumoso da FAV
como aliada para a manipulação do fio-guia ao longo
Figura 24.10. A anál ise espectral i ntraoperatória (observar
dos vasos tortuosos. Infelizmente , isso foi possível ape-
a VPS mais alta de 344,9 cm/s e a razão da VPS de 3,79,
em comparação com a VPS pré-estenóti ca de 90.9 cm/s) nas em 3 pacientes (8%). Dois pacientes necessitaram
detectou estenose grave da junção das veias basíli ca e da colocação de 2 bai nhas de acesso com direções con-
cefá li ca no segmento proximal do braço . trárias de forma a tratar as estenoses venosas e arteriais.

268
Intervenções Infrainguinais, Carotídeas e de Físt ul as Arteriovenosas Dirigidas pela Ultrassonografia Vasc ular

Os 35 casos restantes foram acessados pela punção dis- Complicações e mortalidade


tai da fístula e as estenoses foram tratadas por aborda- Um paciente apresentou ruptura localizada da veia com
gem retrógrada. sangramento mínimo controlado com compressão ma-
A introdução do fio -guia e, depois, do cateter com nual por 30 minutos. Nenhum paciente foi a óbito nos
balão foi realizada sob visão ecográfica. As medições por primeiros 30 dias , mas um paciente com falência de múl-
USV do diãmetro interno do acesso AV adjacente à este- tiplos órgãos faleceu 4 meses depois da angioplastia do
nose faci litaram a escolha dos diãmetros dos balões. As acesso AV
imagens em Modo B do USV de alta resolução das pare-
des arteriais e venosas permitiram a escolha exata dos di-
ãmetros e dos comprimentos mais adequados dos balões
CONCLUSÃO
e dos stents. Em nossa opinião, a escolha apropriada dos Sem dúvida , as intervenções arteriais dirigidas pela USV
balões é extremamente importante para evitar extensão são particularmente úteis aos pacientes alérgicos aos
exagerada e a ruptura da FAVe das veias, assegurando a contrastes e aos portadores de insuficiência renal crôni-
dilatação adequada das áreas estenóticas. Nossa equipe ca. Na medida em que os ciru rgiões vasculares realizam
utilizou balões Ultrathin®, Symetry® ou Sterling® de vá- mais procedimentos endovasculares, ficam mais expos-
rios tamanhos (3-8 mm). tos deletérios da radiaçã0 3 8 Infelizmente, esses efeitos
Em todos os casos, foram realizados exames de USV são cumulativos e irreversíveis e podem produzir sin ais
ao final do procedimento (antes de remover a bainha). O e sintomas de início tardio. Nossa experiência com vá-
sucesso dos procedimentos foi confirmado pela ausência rias intervenções vasculares dirigidas e auxiliadas pela
de estenoses residuais nas imagens do Modo colorido ou USV leva-nos a acreditar que a técnica proposta seja exe-
Power e pelas medições do FVe das razões VPS . quível, segura e potencialmente muito úti l. No futuro,
esperamos que alguns desses procedimentos sejam , por
Sucesso técnico fim, realizados no laboratório vascular ou no consultório
Todos os procedimentos foram realizados apenas com médico.
visão ecográfica. Em um paciente com fístula AV bra-
quiobasílica pequena (3-4 mm de diâmetro) e profunda REFERÊNCIAS
(2 em da superfície da pele) foi necessário realizarmos
arteriografia contrastada ao final do procedimento, que 1. Ascher E, Hingorani A, Markevich N, Costa T, Kallakuri
5, Khanimoy Y. Lower eXlremily revasc ularizalion wilhout
confirmou os resultados do USV Nesses pacientes, não preoperative contrast aneriography: experience with duplex
houve complicações intra-operatórias ou pós-operató- ultrasouncl arterial mapping in 485 cases. Ann Vasc Surg.
rias. Oito lesões retráteis (20%) foram tratadas eficaz- 2002jan;l6(l) 108-14. Epub 2002jan 17.
2. Ascher E, Hingorani A, Markevich N, Yorkovich W, Schutzer
mente com balões cortantes 3 7 Outro paciente (2,5%)
R, Hou A, jacob T, Nahata S, Kallakuri S. Role of duplex
com fístula braquiocefálica e lesão retrátil na junção das arteriography as the sole preoperative imaging moclality prior
veias cefálica e axilar necessitou da colocação de um stent to lower extremity revascularization surgery in diabetic and
autoexpansível dirigida pelo USV renal patients. Ann Vasc Surg. 2004 jul;18(4): 433-9.
3. Ahmadi R, Ugurluoglu A, Schillinger M, Katzenschlager
R, Sabeti S, Minar E. Ouplex ultrasound-guided
Comparação dos parâmetros femoropopliteal angiop lasty; initial and 12-month results
from a case controlled study. j Endovasc Ther. 2002
hemodinâmicos determinados pela Oec ;9(6):8 73-81.
USV antes e depois do procedimento 4. Ramaswami G, AI-Kutoubi A, Nicolaides AN, Ohanjil S,
Vilkomerson D, Ferrara-Ryan M, Stansby G. Angioplasty of
As VPS pré-operatórias médias dos segmentos com es- lower limb arterial stenoses under ultrasound guidance: single-
tenoses mais significativas eram de 563 ± 100cmJs center experience. j Endovasc Surg. 1999 Feb;6(1) :52-8.
(variação de 370-760 cmJs) e diminuíram para 200 ± 5. Ascher E, Marks NA, Schutzer RW, Hingorani AP Duplex-
gu ided balloon angioplasty and stenting for femoropopliteal
74cmJs (variação de 62-354 cmJs) depois do procedi-
arterial occlusive disease: an alternative in patients with renal
mento (p < 0 ,0001) O FV pré-operatório m édio era insufficiency. j Vasc Surg. 2005 Dec;42(6):1l08-13.
de 411 ± 279 ml/min (va riação de 50 - 980 ml/min), 6. Ascher E, Marks A, Hingorani Ap, Schutzer RW, Mutyala
mas aumentou para 935 ± 360 ml/min (va riação de M. Ouplex-guicleel enelovascular treatment for occlusive anel
stenotic lesions of the femoral-popliteal arterial segment:
370-1.520 ml/min) depois da angiop lastia com balão a comparative stuely in the first 253 cases. j Vasc Surg.
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269
Intervenções In frai ngu i nais, Ca rotíd eas e de Fístu las Arterioveno sas Di rigidas pela U Itrasso nografia Vasc ul ar

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270
CAPíTULO 25
Domingos de Morais Filho
Seguimento dos
En x e rt o s I n f ra i n g u i n a i s

INTRODUÇÃO Enxertos sintéticos são utilizados para derivações


aortoilíaca, aortofemoral, iliacofemoral , axilofemoral e
Após o tratamento da isquemia crítica por revascu lariza- femoral cruzado. Os enxertos siméticos podem também
ção arterial (enxertos ou tratamento endovascular), man- ser utilizados para confecção do enxerto femoropoplíteo,
ter sua perviedade e prevenir sua oclusão é obviamente mas a perviedade não é boa quando comparada com en-
da maior importãncia . xertos com veias. I
O tipo de revascularização por enxertos varia ampla- Os enxertos podem ocluir devido a erro técnico em sua
mente , dependendo do local e da extensão da doença ar- confecção, hiperplasia da íntima , alterações nas paredes ve-
terial oclusiva a ser tratada. Próteses são utilizadas para en - nosas, válvulas venosas retidas, progressão da doença pro-
xertos suprainguinais por causa da incompatibilidade em ximal ou distal. 2J Falência precoce dos enxertos dentro do
diâmetro das veias superficiais usadas como substitutos primeiro mês é atribuída à falência técnica ou seleção ina-
arteriais. Já no território infrainguinal, as próteses podem propriada da técnica para determinado paciente. As falências
ser utilizadas como última opção quando não existe subs- que ocorrem depois de um mês até 12 meses são atribuídas à
tituto arrelial nativo viáve l (veias) Sempre que possível, hiperplasia rniointimal, alteração que pode ocorrer em qual-
veia nativa deve ser utilizada para enxertos infrainguinais , quer local onde o endotélio foi lesado. As estenoses podem
pois oferecem altas taxas de perviedacle. A safena magna ser curtas, longas e em qualquer local do enxerto. A falência
é a veia de primeira esco lha, embora as veias do braço e a tardia depois de 12 meses geralmente é devida à progressão
safena parva possam ser milizadas. I da doença de base, a aterosclerose. Todas essas situações po-
Basicamente, o enxerto venoso pode ser realizado dem produzir estenoses e posterior oclusão do enxerto. O
de duas maneiras, com ou sem valvul otomia. Na técnica exame de ultrassom vascular tem sido usado na tentativa de
sem va lvul otomia, a safena é removida completamente e diagnosticar os enxertos em risco, ames que ocluam.4-7 Para
invertida 1800. A vantagem desta técnica é que não é ne- tal , o objetivo do exame de seguimento dos enxertos deve
cessário realizar a va lvulotomia da veia. Na técnica com ser o de demonstrar se existem alterações hemodinãmicas
valvulotomia, dois modos são usados: a primeira técnica devidas a estenoses em progressão desde as artérias doado-
é conhecida como técnica in siLu, onde a safena magna é ras, em todo o trajeto do enxerto, nas artérias receptoras e
utilizada , permanecendo no seu leito nativo, e os seus ra- distais. 4 -? No caso de tratamento endovascular, a estratégia
mos são, então , ligados e as válvulas são rompidas através de seguimento inclui também o seguimento do paciente
de um valvulótomo. O afilamento natural da veia safena usando o ultrassom vascular para detectar progressão da do-
ao longo da perna acompanha a diminuiçâo do diâmetro ença arterial oclusiva periférica (DAOP) proximal ou distaI,
das anérias distais , promovendo, então , uma melhor pro- estenose residual ou reestenose no local de tratament0 8
porcionalidade entre os diâmetros do enxerto das artérias.
Uma outra va riante desta técnica é a rea li zação do enxerto TÉCNICA DE EXAME
da safena com a valvulowmia ex situo Nesta récnica , a sa-
fena é removida completamente do seu leito , a valvuloto- Protocolo clássico
mia é realizada no campo operatólio e não é feita inversão Devido às múltiplas maneiras de se confeccionar um en-
do sentido da veia. I xerto, antes de iniciar o exame, é da maior importãncia

271
Segu ime nto dos Enxertos Infra ingu ina is

que o examinador conheça o tipo, qual a artéria doadora, análise em Modo B em cortes transversais desde a ar-
qual a receptora e o trajeto do enxerto. Recomendamos téria doadora até a artéria receptora;
que o examinador peça ao cirurgião um desenho ou in- análise em Modo em cores para identificação de tur-
fo rmações detalhadas de como o enxerto fo i realizado. bulência em locais de estenoses;
Nos portadores de enxerto infrainguinal, posiciona-se análise espectral em corte longitudinal para medida da
o paciente em decúbito dorsal, com a perna em leve fle- con formação da onda, medidas de VPS, IP e IR na arté-
xão, examinando-se , desde a região inguinal, toda a ex- ria doadora a mais ou menos 5 cm proximal ao enxer-
tensão do enxerto (Fig. 25.1). Examina-se, usando um to , em 3- 5 locais do enxerto e na artéria receptora.
transdutor linear de alta frequência (quando possível), a
artéria femoral comum (Fig. 25 .2A), a anastomose proxi- Os procedimentos cirúrgicos podem causar dificul-
mal (Fig. 25.2B), o enxerto em contiguidade (Fig. 25.2C), dade à insonação devido a tecido cicatricial no local. Os
a anastomose distaI (Fig. 25.2D), a artéria receptora (Fig. critérios para definição de estenoses nos enxertos estão
25.2E) e a artéria distaI (Fig. 25.2F) . Se o enxerto estiver explicitados na Quadro 25.1. 46. 13
em planos mais profundos, pode ser necessário o uso de
transdutor de frequências médias (5-10 MHz) O exame Quadro 25 .1. Critérios diagnósticos para lesões em
é iniciado em corte transversal para definição da anato- enxertos arteriais 4
mia do enxerto , usando-se o corte longitudinal para me-
Redução do VPS distal/ VPS (cm/s)
didas de análise espectral. Algumas vezes é necessário
diâmetro (%) VPS proximal
que o paciente assuma a posição de decúbito ventral para
avaliação da face posterior da coxa, da fossa poplítea e da Mínima <20 <1,4 < 125

panturrilha para o exame da artéria poplítea e do tronco Moderada 20-50 1,5-2,4 < 180
tibioperoneal. Moderado 50-75 2,5-4 > 180
O protocolo de exame deve seguir uma sequência
Severo 50-99 >4 >300
lógica:

Figura 25 .1. Locais de exame de USV


nos enxertos infraingu inai s com veia.
(A) Artéria doadora. (B) Anastomose
proximal. (C) Corpo do enxerto . (D )
Anastomose di staI. (E) Artéria receptora.
(F) Artéria distaI.

B c o E F

Figura 25.2. Locais de exame de USV


nos enxertos infrainguinai s com prótese.
(A) Artéria doadora. (B) Anastomose
proxima l. (C) Corpo do enxerto. (D )
Anastomose di sta I. (E) Artéria receptora.
(F) Artéria di staI.

272
Seguimento dos Enxertos Infrainguinais

A
B c

Figura 25 .3. Locai s Locais de exame USV nos pacientes


portadores de angioplastias (A) proximal. (8) No local. (C) -
distai).

Nos enxertos com próteses , as artérias doadoras, a


anastomose proximal, o terço médio do enxerto, a anas-
tomose distai, a artéria receptora e as artérias distais de-
vem ser examinados do mesmo modo que os enxertos
com veias.
Nos portadores de tratamento endovascular infra-
inguinal, o protocolo inclui exame desde as artérias fe-
morais até as distais, sempre com medidas de análise es-
pectral. É importante realizar exame cuidadoso do local
de tratamento (angioplastia , stent) para medida da VPS e
medidas nos segmentos imediatamente proximais e dis-
tais (Fig. 25.3). Os critérios para estenoses pós-angio-
plastia estão na Quadro 25.2. Figura 25.4. Fistula arteriovenosa (FAV) em um enxerto
Aumentos focais (não patológicos) de velocidade com veia autóloga in situo (A) Exame no modo cor, mostrando
de pico sistólica (VPS) podem ocorrer nas anastomoses a FAV (~). No modo Doppl er, a análise espectral (AE) (*)
mostra fluxo de baixa resistência, indicativo de fístula distai
(proximais e distais) e em locais de acotovelamento. 14.15
ao ponto de mensuração. (8) Exame de enxerto in situ com
Por outro lado, cada enxeno comporta-se hemodina- FAV distai ao local de medida. Medida de AE no corpo do
micamente de uma maneira, sendo mais importante enxerto (in situ ) em A: com compressão da fístula e em B:
avaliar o comportamento de um enxerto ao longo do sem compressão da fístula. A diminuição de fluxo quando da
tempo. 14.15 compressão desta (A) sugere roubo.

Nos enxertos in situ também se deve demonstrar e marcar


possíveis fístulas arteriovenosas e a presença de "roubo" (Fig. Quadro 25.2. Critérios para estenoses pós-angioplastias 4
25.4) Através da ultrassonografia vascular também é possível
VPS >, 80 cm/s
definir o material usado para confecção de um enxerto, seja VPS proximalNPS distai> 2
veia autóloga , Dacron ou PIFE (Fig. 25 .5). Alterações da forma de onda de velocidade (FOV) em exames
Embora existam relatos na literatura propondo o uso seriados
de USV imediatamente após a confecção de enxertos como
devem-se examinar em contiguidade as anélias doado-
maneira de predizer sua perviedade, seu uso rolineiro ainda
ras , receptoras e distais (Fig. 252). O grande impacto do
não é complelamente aceito . 16
custo do exame no tratamento do paciente é óbvio. Cus-
to este medido em tempo para a equipe de ultrassono-
Protocolo do exame usando análise
grafistas vasculares causando sobrecarga no se rviço , bem
espectral segmentar (AES)
como impacto financeiro para o sistema L Em alguns ca-
O exame feito no modo clássico, contudo , tende a ser sos, é difícil visualizar um segmento onde o tratamento
muito demorado , devido ao fato de que, além de exa- endovascular foi realizado (como a artéria remoral super-
minar em contiguidade de toda a extensão do enxerto, ficial distaI) ou uma anastomose , especialmente as distais.

273
Seguimento dos Enxertos Infrainguinais

160
140
120
100
80
60
40
20
o
A AI FP PT

120
100
80
60
40 jovps I
!2IIP
20
o
-20
--40
PO Falência Correção
B

250

200

150

jovps
edIP
j

-50 ~===r=====;:=====7
PO Falência Correção
C
Figu ra 25 .5. M ateriai s usados para en xertos. (A) enxerto
Figura 25.6. Alterações das medidas de AES após revascu-
com ve ia autól oga, notar como a pared e (t) é li sa e contínua.
larização da DAOP. (A) Percentagens de aumento nas medi-
(8 ) enxerto com Dacron '" e sua aparência corrugada (t). (C) os
das de AES (VPS e IP) após revascularização nos segmentos
enxe rtos com PTFE apresentam parede com a ca racterísti ca
aortoilíaco (AI), femoropoplíteo (FP) e políteotibial (PT) .' 92S (8 )
linh a dupl a (-l.) .
Mudanças percentuais nos valores de VPS e IP nos pacientes
com DAOP no segmento aortoilíaco no pós-tratamento (PO),
quando ocorria falência no tratamento (Falência) e após corre-
Locais co m incisões, in fecção , hematoma ou gangrena
ção, quando realizada (correção).'9 (C) Mudanças percentuais
podem tam bém dificultar o posicionamento adequado nos valores de VPS e IP nos pacientes com DAOP no seg-
do transd utor. Numa tentativa de minimizar o tempo de mento femoropoplíteo no pós-tratamento (PO), quando ocor-
exame e de evitar os locais de difícil acesso ao transduto r, ria falên cia no tratamento (Falência) e após correção, quando
realizada (correção).'9
temos realizado o exame de seguimento dos elnertos com
a técnica de análise especlral segmentar (AES), '8Iq que li -
m ita o exame a artéria doadora, terço médio do enxerto , angioplastia) nos membros inferiores, 19 principalmen-
anéria receplOra e dislai (Fig. 25.2 , A, C e F) Essa tecni ca te devido ao fato de que as medidas sào temporalmente
(AES) é de grande acurácia se co mparada ao exame diag- comparativas e não absolutas. ' 4 . 1õ Como os parâmetros
nóstico angiográfico ' 8 e se revelou de valia no seguimento medidos nos enxertos apresentam grande variabilidade,
de paciemes co m revascularização arterial (enxertos ou as variações temporais dessas medidas parecem ser mais

274
Seguimento dos Enxertos Infrainguinais

importantes que medidas absolutas. 15 Nos pacientes tra-


tados por revascularização (enxerto ou angioplastia), os
parãmetros de AES apresentam alterações significativas e
consistentes nas artélias receptoras de enxertos ou distais
ao traramemo endovascular. Quando lesões hemodinâmi-
cas significantes (que potencialmente poderiam causar fa-
lência do tratamento) ocorreram no trajeto do enxerto ou
no local de traramento endovascular, ocorrem mudanças
também significativas nas artérias distais . Se esta falência
potencial do tratamento for corrigida , os parâmetros vol-
tam aos níveis do pós-tratamento. l9 As alterações ocorrem
nos parâmentos numéricos de AES (VPS e IP) e na forma
da onda de velocidade de fluxo (FOV) (Figs. 25.6 e 25.7)
A fonua de onda de velocidade de fluxo (FOV) medida em
locais proximais sem lesão hemodinamicamente signifi- Figura 25 .8. Pseudoaneurisma (#) com fluxo anterógrado
e reli'ógrado concomitante (#) em enxerto com veia autólo-
cante é unifásica de alta aceleração, bi ou trifásica, mudan-
ga (E), Medidas realizadas no colo (~) do pseudoaneurisma
do para unifásica de baixa aceleração quando lesões signi- mostram fluxo ca racterístico (*) anterógrado e retrógrado
ficantes estão presentes proximalmente (Fig. 25.7). É claro (to and {rol.

Figura 25.7. Forma da onda de velocidade de fluxo (FOV) no modo de análise espectral (Doppler). (A) onda trifásica, (B) onda
bifásica e (q monofás ica de alta aceleração, sendo este o modelo considerado normal, em situações de vasodilatação, (D) onda
unifásica (com diminuição da VPS) indicativa de lesão proximal hemodinamicamente significante (estenose ou oclusão).

275
Seguimento dos Enxerto s Infrainguinais

que alteração nos parâmetros de AES apenas sinaliza que a


revascularização do membro corre perigo (Fig. 256), sen-
do que o local específico da lesão deve ser definido pelo
exame ultrassonográfico do segmento revascularizado em
roda sua extensão.

Frequ ê nc ia de e xames
Habitualmente os pacientes são seguidos trimestral-
ment e no primeiro ano e semestra lmente a partir do
segundo ano.

LIMITAÇÕES
Figura 25 .9 . Exame em Modo B de um e nxerto usando Da-
cron (i) mostrando áreas de material aneco ico (*) sugestivo
Esta pode ser uma das causas de oclusão dos enxertos de infecção local.
infrainguinais . Embora o exame em contiguidade d este
segmento possa ser dificultado pela posição anatõmica
das artérias ilíacas, das placas ateroscleróticas calcifica-
das ou mesmo do gás intestinal, o exame de AES reali-
zado na a rté ria femo ral comum pode mostrar alterações
na VPS, no IR e na FOV indicando a presença de lesões
proximais hemodinamicamente significantes no segmen-
to aortoilíaco l~19 (ver Capítu lo 22).

Ana stomoses di sta is


Devido à localização anatõmica e disposição espacial da
anastomose di staI nos vasos tibais ou fibular, algumas
vezes é difícil examinar em continuidade todo o local, e
neste caso também a AES pode ajudar a definir a hemo- Figura 25 .10. Coleção com material ecogen lco sugerindo
dinâmica local. IH 1<) hematoma (*) organizado (mais que uma semana), englobando
Outras alterações podem ser encontradas no segui - enxerto de PTFE (i) medindo 4,06 x 3,14 em em diãmetros (O).
menro dos enxertos, tais como: dilatações aneurismáti-
cas, trombos residuais, degeneração da parede venosa,
pseudoan eurismas (F ig. 25.8), infecção do enxerto (F ig .
259) , hemaromas (Fig. 25.10), coleções (Fig. 25.11),
progressão da doença aterosclerótica proximal e distai ao
enxerto (Fig. 2512) e válvulas residuais (Figs. 25.13 e
2514), quando foi usada veia autóloga.

LAUDO
Mostrar registros em Modo em cores e análise espectral
das artérias doadoras , anasromose proximal , corpo do
enxerto, anasromose distai e artéria receptora distaI. In-
cluir registro do local de estenose com o aumento focal
de VPS. Fazer desenho esquemático do enxerto incluin-
Figura 25 .11 . Coleção (*) com material anecóico, adjacente
do as artérias doadora e receprora e indicando locais de
a enxerto (E) com paredes lisas, que depois de puncionada foi
possíveis estenoses e oclusões (Fig. 25.15). diagnosticada com linfa.

276
Seguimento dos Enxertos Infrainguinais

Figura 25 .12. (A) Exame da artéria femoral comum direita


(AFCD) N a análise espectral segmentar (AES) com onda trifásica
(Modo Doppler), velocidade de pico sistólico (VPS) de 100,43
cm/seg. (*) e índice de pulsatilidade de 7,8 (#), portanto sem le-
sões proximais hemodinami eamente significantes. (6 ) Exame da
artéria femoral comum direita (AFCD). Na análise espectral seg-
mentar (AES) onda unifásica (de baixa aceleração), VPS de 80,5
cm/seg. (*) e índice de pulsatilidade (#) de 1,64, indi cando lesão
hemodinamicamente significante proximal.

Figura 25.14. Exame em paciente portador de enxerto com


veia autóloga, modo cor apresentando válvula retida (A) e hiper-
plasia da intima (B). (6 ) Exame no mesmo paciente da Fig. A.
Válvula retida (t) produzindo estenose hemodinam icamente sig-
nificante, com turbulência local (*) no Modo cor e (#) no Modo
Doppler, aumento significativo de VPS (O) para mais de 200 em/s.
(O). (C) Mesmo paciente da Fig. A e B, mostrando o exame arté-
ria receptora com hiperplasia da intima (t) produzindo estenose
hemodinamicamente significante, com turbulência local (#), no
Modo Doppler e aumento significativo de VPS (O) para mais de
200 em/s (O). (D) Mesmo paciente da figura (A), (B) e (C), mos-
trando o exame artéria receptora a jusante da anastomose distaI.
Figura 25. 13. Enxerto femorotibial eom veia autóloga, pre- Devido às duas estenoses hemodinamieamente significantes (vál-
sença de válvula residual (t), sendo que a análise espectral (Modo vula retida e hiperplasia da intima) a forma das onde de veloci-
Doppler) mostrou não causar alterações hemodinamicamente dade de fluxo (FOV) é unifásica (#) com e queda significativa da
significantes com VPS de 134 cm/seg (*) e janela sistólica (#). VPS no Modo Doppler para 15,52 em/s. (O).

277
Seguimento dos Enxertos Infrainguinais

Exemplos de exames realizados em pacientes porta-


dores de enxertos com veia autóloga são apresentados nas
Figs. 25.17-25.23. Exemplos de exames em pacientes por-
tadores de stents estão mostrados nas Figs. 25.24-25.27.

NíVEIS DE EVIDÊNCIA
Existe controvérsia quanto ao custolbenefício do exame
de ultrassom vascular (USV) no seguimento dos trata-
mentos de revascularização arterial ,s-I/2o mas como o
exame de USV permite o diagnóstico objetivo e diferen-
cial não invasivo entre as várias causas de falência dos

Figura 25.15. Exemplo de desenho esquemático que deve


constar de um laudo do exame pós-operatório em paciente por-
Figura 25.17. Enxerto iliaca extema distal-tibial posterior
tador de enxerto femoro-poplíteo com veia autóloga (~). Indica-
com veia autóloga, ocluído a partir da anastomose proximal,
ções de estenose (A), por possível hiperplasia de intima na veia
confirmada pela ausência de fluxo (Modo cor) no local e ausência
na anastomose proximal , oclusão da artéria femoral superficial,
de sinal Doppler na análise espectral.
em seu terço médio e distai (B) e da artéria tibial anterior (C) em
seu terço proximal. Além das imagens da artéria doadora, anas-
tomose proximal e distai, corpo do enxerto e da artéria receptora
distai , imagens dos pontos A, B e C devem fazer parte do laudo.

Figura 25.16. Enxerto femoro-tibial (com veia autóloga), Figura 25.18. Enxerto popl íteo-fibu lar, terço médio. Fluxo
anastomose proximal, sem leões hemodinamicamente significan- trifásico e velocidade de pico sistólico de 79 cm/s, indicando per-
tes comprovado pela presença de janela sistólica (*) e velocidade viedade do enxerto, sem lesões hemodinamicamente significati-
de pico sistólico de 83,3 cm/seg. (O). vas proximalmente ao local da medida.
278
Seguimento dos Enxertos Infrainguinais

Figura 25 .19. Exame em Modo cor de enxerto arterial com


veia autóloga, mostrando a anastomose distaI. Enxerto (E), artéria
receptora proximal (*) e artéria receptora distai ao enxerto (#). Flu-
xo anterógrado (vermelho) no enxerto (E) e artéria receptora distai
(#) e retrógrado (azul) na artéria receptora proximal ao enxerto(*) Figura 25.22 . Exame pós-operatório de enxerto usando veia
autóloga (+--) em paciente portador de aneurisma (oc luído) da ar-
téria poplítea (*) .

Figura 25 .20. Enxerto femoropoplíteo (com veia autóloga),


anastomose distai com medidas de análise espectral (modo Dop-
pler) realizadas na transi ção entre o enxerto (E) e a artéria recep-
tora (,I.). Sem lesões hemodinamicamente significantes no local, Figura 25.23 . Exame de paci ente portador de stent na artéri a
confirmada pela VPS normal (O) e janela sistólica (*). femoral superficial distai com turbulên cia (*) no fluxo distai ao
término do stent.

Figura 25 .21. Enxerto femoral superficial-poplítea (com veia


autólogal, anastomose distaI. Na análise espectral (Modo Dop- figura 25 .24 . Mesmo paciente da figura 24 com vo lume de
pler, a direita da figura) fluxo monofásico, com VPS (O) de 327 amostra posicionado no local de termino do stent. Análise espec-
cm/s e alargamento espectral (#), demonstrando a importância he- tral mostra fluxo trifásico e uma velocidade de pico sistóli co (VPS)
modinâmica da lesão. No Modo cor (esquerda da figura) aliasing de 125 cm/seg (O) confirmando ausência de lesões hemodinami-
da cor (azul e amarelo) causada por hiperplasia da intima (*). camente significantes proximalmente ao loca l de medida.

279
Seguimento dos Enxertos Infrai n gu i n ais

Figura 25.25 . Neste exemplo, a análise espectral rea lizada na


porção distai de um stent (4) mostra fluxo unifásico, velocidade
de pico sistólico (*) de 19,89 cm/s e índice de pulsatilidade (#)
de 0,43, indicando que lesões hemodinamicamente significantes
estão presentes proximalmente ao local de medida.

Figura 25.27. Exame em corte transversa l no M odo B, mos-


trando um stent.

Agradecimento ao Dr. Fernando Thoazinho.

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280
Seguim ento dos En xe rtos In frain guin ais

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281
Trombose Venosa Profunda CAPíTULO 26
Hamilton Almeida Rollo
Aguda dos Membros
Inferiores e Síndrome
Pós-Trombótica

INTRODUÇÃO mitem se obter a imagem ultrassonográfica com maior


resolução (harmônica de tecidos) e identificação do fluxo
A trombose venosa profunda (TVP) é uma doença que através do Power Doppler ou B-flow. A utilizaçâo desses
acomete com certa frequência as veias profundas das recursos possibilita melhor visualização das veias de m e-
extremidades inferiores (MMII). É mais frequente nos nor calibre e do fluxo, facilitando o exame e tornando-o
MMII e, na sua fase aguda, a complicação mais temível mais rápido e acurado. 4
é a embolia pulmonar (TEP) devido a sua importante
morbimortalidade. Na fase crônica, costuma desenvolver
INDICAÇÕES DA USV NA TVP E NA SPT
uma das principais causas de insuficiência venosa crôni-
ca dos MMII, a síndrome pós-trombótica. 1 As indicações mais frequentes de avaliação pela ultras-
O diagnóstico com base nos sintomas e sinais da TVP sonografia vascular na trombose venosa profunda, na
não é confiável, havendo necessidade de exames com- sua fase inicial (aguda) e na evoluçãO para a síndrome
plementares para sua confirmação 1.2 A confirmação do pós-trombótica, seguem no Quadro 26 .1.
diagnóstico da TVP é importante para se evitar o trata-
mento desnecessário, que é feito com anticoagulantes ou • Quadro 26.1. Indicações de USV na TVP e na SPT
fibrinolíticos, os quais podem permitir o desenvolvimen-
• TVP Aguda:
to de complicações sérias. l - Suspeita clínica de TVP (TVP sintomática).
A ultrassonografia de imagem (US) é atualmente o - Suspeita clínica de TEP.
- Rastreamento de TVP em pacientes de risco (TVP
método de escolha para o diagnóstico da TVP tanto na assintomática).
fase aguda como na crônica da doença. Isso ocorre de- • SPT:
vido à US ter alta acurácia quando comparada à flebo- - Suspeita clínica de SPT (varizes secundárias,
hiperpigmentação, edema elc.).
grafia , que foi o método considerado padrão ouro para - Avaliação da recanal ização da TVP.
o diagnóstico da TVP. 3 Acresce-se a isso o fato de a US - Avaliação do refluxo venoso.
- Suspeita de retrombose .
ser um método não invasivo e sua execução ser bastante
confortável para os pacientes.
A US de imagem (Modo B) permite a avaliação da ima- PROTOCOLO DE EXAME PELA USV
gem bidimensional da veia e dos tecidos vizinhos, possibili-
tando caracterizar a normalidade ou as alterações nas mes- ão há necessidade de preparo especial ou jejum, pois
mas, além de identificar outras afecções que podem simular as veias dos membros inferiores geralmente são de fácil
os sintomas e sinais de TVP (diagnóstico diferencial). acesso , salvo quando se faz necessário estender o exame
Com a junção da US em Modo B com a técnica do para as veias abdominais.
Doppler pulsado, é possível uma avaliação simultânea da
imagem dos vasos e das características do fluxo através Técnica de Exame
da análise da curva espectral Doppler (USV). O fluxo A mesa de exame deve estar em proclive a 20-30°, para
também pode ser codificado em cores, e nos equipamen- que haja enchimento das veias e elas sejam melhor visi-
tos mais recentes houve avanços tecnológicos que per- bilizadas (Fig. 26.1).

283
Trombo se Ve nosa Profunda Aguda dos Membros In fe riores e Síndrome Pós-T rombótica

~ Figura 26.1. Posição da mesa de exa me em proclive


(20-30°) para estudo das veias dos membros inferio res em
posição supi na.

Pmi<,.do cio pc:1C iente


• Supina: para exame das veias ilíacas, femorais, tibiais
posteriores e anteriores, com o membro em rotação
~ Figura 26 .3. Pacie nte em decúb ito late ral direito para
externa e o joelho levemente fletido (fig. 26.2). exa me da fossa poplítea esq uerda e das veias fibu lares.
• Decúbito lateral ou ventral: para exame das veias
poplíteas, musculares e fibulares e com o joelho le-
vemente fletido. Para as veias fibulares, é melhor o • Nas Figs. 26.4-26.8 são demonstrados os locais do
decúbito lateral (fig. 26.3). exame USV no membro inferior e como são visua-
lizadas as veias e a sua relação com as artérias nos
Imagem ultra,:-sonográfica e dVdliação do fluxo indivíduos sem anormalidades anatômicas.
• Para se obter a imagem das veias, utiliza-se um trans- • Se houver dúvidas, as veias podem ser analisadas em
dutor linear de alta resolução e multifreq uencial (4- 7 cortes longitudinais ou pela avaliação do Doppler es-
ou 4-10 MHz) . Inicialmente , as veias são examinadas pectral, para verificação do padrão do fluxo venoso
pelo Moelo B com ajuste da imagem para profundida- (Fig.2 6.9).
de (na metade do quadro), foco na região de interesse • Após se obter a imagem das veias, verifica-se seu as-
e ganho adequado. pecto, denunciando a presença de trombo na sua luz
• As veias profundas devem ser avaliadas em cortes pela imagem direta e através de uma leve compressão
transversais , centímetro a centímetro. Tais procedi- da veia (teste de compressão) com O probe, verificando
mentos devem se r executados em todas as veias do se são co mpressíveis ou não , técnica que é o principal
membro inferior, inclusive as ilíacas, se necessário . critério diagnóstico de TVP3.4 (Figs. 2610-2613) .
• Para compl etar a avaliação ultrassonográfica da TVp'
a utili zação do Modo em cores pode identificar com
mais clareza trombos recentes, parciais ou oclusivos,
veias de menor calibre (veias da perna) , ve ias situadas
em locais onde fica prej udicado o teste da compressi-
bilidade , co mo nas veias ilíacas e veia femoral na coxa,
ao nível do canal dos adutores (Figs. 26.14- 26.18).
• Ao se usar o Modo e m cores, é importante fazer o
ajuste de profundidade, do filtro de cor, do ganho
(PRF) e da caixa de cor pequena para se ter imagem
m ais nítida .
• Nos pacientes obesos, pode-se fazer o mapeamento
com o Power Doppler nas veias profundas de menor
calibre ou nos locais com fluxo de baixa velocidade,
onde o sinal dos ecos é fraco . Esta técnica aumenta a
~ Figura 26.2. Paciente com suspeita de TVP em MIE e
co locado em posição supi na com membro em rotação sensibilidade diagnóstica da TVP ao nível da perna. 5
exte rna e o joelho fl etido para avaliação das veias il íaca, os equipamentos que têm o recurso do B-flow, sua
femo rais, tibiais posteriores e anteriores. utilização pode ajudar na vi.sualização de trombos re-

284
Trombose Venosa Profunda Aguda dos Membros Infe rio res e Síndrome Pós-Trombótica

••
VPOP

~ Figura 26.4 . (A) Probe ~ Figura 26.6. (A) Probe na


posicionado na região ing uinal fossa poplítea para exame

-e_
AFC
esquerda para estudo em APOP das veias poplítea (V POP)
cortes transversa is da veia e gastrocnêmias (V Gast)
V Gasl
VFC
femoral comum (VFC), junção
safenofemoral e veia femoral .,-
V Gasl em cortes transversais. (B)
Visão que se tem das veias
profunda (VFP). (B) Desenho vPoP . nesta região quando se faz o
SAF MAGNA APop .
AFS esquemático mostrando como B exame em sentido distaI. A

V FEM
•e AF P
são visibilizadas as veias
conforme o probe é movido em
POP: artéria poplítea.

sentido distaI.
AFC: artéria femora l comum,
e AFS AFS: artéria femoral superficial, centes ou parciais, visualização esta difícil no Modo B,
evFS VFS: veia femoral superficia l, pois o trombo recente tem a sua ecogenicidade próxi-
e VFP AFP: artéria femoral profunda,
ma do sangue , sendo menos denso e podendo não ser
B
• AFP V FEM: veia femoral e
SAF : safena. identificado pelo teste da compressã0 6 (Figs. 26 .19 e
26.20).
• Na TVP assintomática (situações de risco para TVP),
a USV não tinha boa acurácia para o diagnóstico da
TVP ' Entretanto, com os equipamentos de US mais
recentes , que possuem recursos como harmônica de
tecidos , Modo em cores , Power Doppler ou B-jlow,
que melhoram a aquisição de imagem e d etecção do
fluxo sanguíneo, tem-se conseguido um aumento da
acurácia para o diagnóstico da TVP assintomática 6 ·8
• Na SPT o exame deve ser realizado na posição supi-
na e com a mesa em proclive a 20 ou 30°, e as veias
do MMIl devem ser avaliadas do mesmo modo que na
TVP aguda. Nesta posição, verifica-se a nonnalidade ou
não das veias . Se forem encontradas alterações de TVP
pregressa, verificar se ela ainda é oclusiva , parcialmente

r;:::-l recanalizada ou totalmente recanalizada, e a presença


de circulação colateral (Figs. 26 .21 e 26.22). Também
~ Figura 26.5 . (A) Probe posi cionado na
se determina a extensão das alterações apresentadas.
• Em seguida, se não houver nenhum impeditivo (pa-
face mediai da coxa para avaliação em
• AFS ciente restrito a mobilizações), o exame deve ser feito
cortes transversai s da veia femo ral superficial
. VFS
(VFS). (B) Como a veia é vista nos terços em posição ortostática, para se avaliar a competência
B
médio e inferior da coxa. valvular ou a presença do refluxo venoso nas veias

285
T rombose Ve nosa Profunda Ag ud a d os Me m bros Infe r io res e Sín d rome Pós-Trombótica

~ Figura 26.8. (A) Probe posicionado na face posterior


da perna para aval iação em cortes transve rsais das veias
fibul ares (V FIB s). (8) Notam-se as veias e arté rias fib ul ares
(A RT FIB). Esta abord agem vis ualiza, com ma ior freq uência,
as ve ias fi bu lares.
B Tronco Tib Com

.~
Tronco Fib Com profundas . A posição ortostática é importante para
que haja ação da gravidade na corrente sanguínea , aju-

.-- .'-
Vasos Fib
Vasos Tib Post

Vasos Tib Post


dando a atingir o gradiente pressórico , que permitirá
que a função valvular ocorra . Se as válvulas estiverem
danificadas , aparecerá um refluxo venoso relevante ,
que pode ser inicialmente identificado pelo Modo em

Vasos Fi) .,• cores pela inversão do sentido do fluxo (Fig. 26.23)

Fibulaf\
A nbia

Figura 26.7. (A) Probe na face mediai da pern a para


e posteriormente quantificado pela análise da curva
espectral (Fig. 26.24). A avaliação é feita em cortes
longitudinais nas veias examinadas .
• O paciente, em pé, deve mamer o membro a ser exami-
exame em cortes transversais das veias tibiais posteriores
(Tib Post) e fibu lares (Fib). (8) Visão que se tem das veias nado relaxado e isso é conseguido suportando o peso
conforme o p robe se desloca em sen tido distaI. Tib Com : do corpo no membro contralateral e tendo os braços
tibial comum, Fib Com: fib ular com um. apoiados em um suporte. O membro a ser examinado

286
Trombose Venosa Profunda Aguda dos Membros Inferiores e Síndrome Pós-Trombótica

Figura 26.9. (A) Curva espectral obtida em veia femoral superficial normal (FEM. SUP. ). Nota-se padrão de fluxo fásico com
a respiração (velocidade aumenta na expiração e diminui na inspiração). (B) Corte longitudinal mostrando a artéria (ARTfTlB.
POST) e a veia tibial posterior (TIB/ POST). Vê-se trombo oclusivo na veia.

Figura 26.10. US em Modo B da artéria (Art. Fem.) e da veia femoral (V FEM) comum à direita em corte transversal. O
paciente tinha TVP contralateral e o teste de compressão foi normal: a veia de aspecto normal à esquerda da foto (seta) é
totalmente comprimida com leve compressão feita pelo transdutor à direita da foto (seta) .

Figura 26 .11 . Mesma técni ca ultrassonográfica realizada no M IE do paciente citado na Fig. 26.10. Nota-se que a veia
femoral (V FEM COMUM) não foi compressível, indicando a presença de trombo.

287
Trombose Venosa Profunda Aguda dos Membros Inferiores e Síndrome Pós-Trombótica

Figura 26.12. Corte ultrassonográfico transversal dos Figura 26.13 . Corte ultrassonográfico transversal dos
vasos poplíteos em indivíduo normal. Mostra teste de vasos poplíteos em paciente com TVP. Nota-se a veia
compre ss ibilidade normal em veia poplítea (setas). aumentada de volume e com ecogenicidade aumentada. Ao
teste da compressão, a veia não fecha devido à presença do
trombo. V.: veia e ART.: Artéria.

Figura 26.14. (A )
Corte transversal da veia
femoral em Modo B que
mostra imagem sugestiva
de trombose oclusiva na
veia femoral e crossa da
safena. (B) Mesmo corte
em Modo em cores que
identifica presença de fluxo
parcial nas veias femoral e
safena indicando trombose
parcial.

Figura 26.15. (A) Corte


transversal da veia femoral
em Modo em cores que
mostra imagem sugestiva
de trombose oclusiva na
veia femoral (aumento do
diâmetro e trombo visível).
(B) Veia não compressível.
O mapeamento em cores
revela ausência de fluxo na
veia femoral confirmando
a trombose oclusiva.

288
Trombose Venosa Profunda Aguda dos Membros Inferiores e Síndrome Pós-Trombótica

Figura 26.16. (A)


U Itrassonografia (US) em
cores ao nível da perna em
indivíduo norrnal (corte
transversal). Notam-se
as artérias e veias tibiais
posteriores e fibulares. Veias
com fluxo codificado em azul
e artérias em vermelho. (B )
Mesmo corte em paciente
com TVP. As veias fibulares
mostram trombos parciais
e recentes (fluxo em azul e
parcial nas veias).

Figura 26.17. (A) Corte transversal da US em


cores no nível da face posterior da perna.
Notam-se fluxo na artéria fibular (vermelho)
e ausência de fluxo nas veias fibulares que se
mostram com calibres aumentados. (B) O teste de
compressão revela veias não compressíveis.

Figura 26.18. (A ) Corte


transversal da US em cores
ao nível da transição dos
terços médio e distai da
coxa esquerda em indivíduo
normal. A veia femoral
superficial está codificada
em azul e com calibre
normal. (B) Mesmo corte
em paciente com TVP onde
se nota veia sem fluxo,
com ecogenicidade maior e
calibre aumentado.

289
Trombose Venosa Profunda Aguda dos Membros Inferiore s e Síndrome Pós-Trombótica

Figura 26.19 . (A)


Corte longitudinal em
Modo B ao nível da
junção safenofemoral
em paciente com
tromboflebite de
safena magna.
Presença de massa
ecogênica parecendo
invadir a luz da ve ia
femoral, sugerindo
trombose parcial
da mesma. (8)
Acrescentado Power
Doppler que mostra
flu xo parcial ao
redor do trombo e
identifica cauda do
mesmo maior do que
parecia no exame
com Modo B.

Figura 26.20.
(A) Corte transversal
da veia femoral
em paciente com
TVP uti I izando-se o
B-flow, o qual mostra
trombose parcial
(flu xo codificado em
branco). (8) B-flow
em corte longitudinal
mostrando trombo
parcial em veia
femoral comum.

Figura 26.21. (A)


US em cores do terço
superior da coxa
(corte longitudinal )
em pac iente com
síndrome
pós-trombótica (SPT).
Nota-se trombose
oclusiva da veia
femoral superficial.
(8) Corte transversal
em nível de poplítea
em paciente com
SPT. A veia poplítea
apresenta canais
de recanalização
e presen ça de
circulação co lateral.

290
Trombose Venosa Profunda Aguda dos Membros Inferiores e Síndrome Pós-Trombótica

Figura 26.22. (A) US


em Modo B do terço
médio da coxa esquerda
(corte longitudinal )
em paciente com SPT.
Observa-se a veia
femoral superficial (VFS)
com paredes ecogênicas
e ecos intraluminares
sugerindo TVP pregressa.
(B) No Modo em cores,
são identificados os
canais de recanalização
do trombo .

Figura 26.23. US em
Modo em cores do terço
médio da coxa direita
(corte longitudinal)
em paciente com
SPT. Em (A), o fluxo
anterógrado na veia
femoral superficial
(FEM/SUP. ) que foi
codificado em azul.
Em (B), nota-se fluxo
retrógrado (codificado
em vermelho) durante
a manobra de Valsalva
identificando possível
incompetência valvular.

Figura 26.24.
Quantificação do refluxo
pela curva espectral.
(A) Mostra ausência de
refluxo patológico à
manobra de compressão
distai (velocidade
< 30 cm/s e tempo de
refluxo inferior a 0,5 s).
(B) Vê-se refluxo
patológico, pois a
velocidade foi> 30 cm/s
e o tempo de refluxo
superior a 1 s.

291
Trombose Venosa Profunda Aguda dos Membros In feriores e 5índ ro m e Pós-Tro mbó ti ca

~ Figura 26.25. Pac ie nte com


5PT em MID e em posição
o rtostáti ca para exame de
ava liação da competênc ia
valvular. (A) Exame da femoral
e das tibiais anterio res e
posteriores. (B) Exame das
veias pop lítea e fibulares.

deve estar levem ente rod ad o para fora Oateralmente) e ~ Quadro 26.3. Critérios di agnósti cos na SPT
com o j oelho parcialmente d obrad o, o que evita uma
• Modo B
even tu a l compressão da veia p oplítea (Fig. 26. 25). - Compressão venosa reduz ida ou parcial
• Para se o b ter o flu xo ven oso anterógrado e o retró- - Dim inuição do calibre da veia
- Trombo heterogêneo e hiperecoico (Figs. 26.2 1A e
grado, a m elh or m an obra é a da compressão e d es- 26.22A)
compressão rá pida distai à ve ia a ser examinada, e • Modo em cores
esta m an ob ra p o d e ser realizad a m anualmente o u - Vários canais de fluxo (recana lização) - Figs. 26.21 B
e 26 .22B
co m dis p ositivos com pressões padroni zadas. N a p rá- - Fluxo bid irec ional (refluxo) - Figs. 26 .23 e 26.24B
tica, a compressão m anual toma o exam e mais fá cil - Presença de circulação colateral
e rá pi do , permitindo agiliza r os exam es n a rotina d o
labo rató ri 0 9lo Refluxo venoso
~ Quadro 26.4. Critérios diagnósticos para refluxo venoso
CRITÉRIOS DIAGN ÓSTICOS
- Tempo de refluxo- Normal <0,5 s"
Pato lógico ~ 1 s"
Os c rité rios d iagn ósticos pa ra a ava li ação com a USV n a
TVP aguda e na síndrome p ós-trombó tica estão nos Qua-
- Fluxo no pico de refluxo - °
Normal até 1 mlls 13
- Velocidade do pico de refluxo - Norma l até 30 cm/s9
dros 26.2 e 26.3, o bse rva ndo-se n o Q uadro 26.4 c rité-
rios d e qu antificação d e re flu xo ve n oso. 4
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Quadro 26.2. Critérios diagnósticos na TVP aguda O s diagnósticos dife renciais m a is en contrados n as trom-
b oses ve nosas estão relatados no Quadro 26.5 .4
• Critérios diretos - (Modo B)
- Ausência ou diminuição da compressão venosa (Figs.
26.11 e 26.13) ~ Quadro 26.5. Diagnóstico diferencial para trombose venosa
- Trombo visível (Figs. 26.11 , 26.13, 26.15, 26.16 e 26.18A)
- Aumento do diâmetro venoso (Figs. 26.15 e 26.18 B) - Cisto de Baker (compressão ou rutura) (Fig. 26.26A)
- Ausência de aumento do diâmetro venoso com Valsalva · - Câimbras musculares
- Imobilidade das válvulas · - Alte rações do joelho ou tornozelo
• Critérios indiretos - Curva Espectral (Fig. 26.9A) ou Modo - Ru ptura de músculo ou tendão
em cores - Tendinites
- Ausência ou dim inuição do flu xo venoso espontâneo - Celulite
- Pe rda da fasi cidade respiratória - Alterações linfáticas (Fig. 26.26 B)
- Trombofleb ite superficial
' Critéri os de menor sensibilidade diagnósti ca .

292
Trombose Venosa Profunda Aguda dos Membros Infe ri o res e Síndrom e Pós-Trombót ica

Figura 26.26. (A) US em co res de pac iente com suspei ta de TVP na fossa popl ítea esq uerd a (co rte transversal). N ota m-se
a ve ia poplítea de aspecto no rma l (az ul ) e a presença do c isto de Baker. (B) M esmo co rte na reg ião inguina l de pac iente com
suspei ta de TV P ili acofemo ral. A veia fe mo ral apresenta as pecto de norm alidad e e nota-se lin fo nod o aumentado de vo lume
(GAN G Ll O Ll NF.).

LIMITAÇÕES DA USV Quadro 26.6. Informações ind ispensáveis pa ra o laudo

• TVP
Na TVP - Ausência da TVP e possíve l diagnóstico diferencia l (por
ex .: cisto de Baker)
• Edema intenso e tenso no membro
- Presença de TVP ocl usiva o u parcial
• Úlceras extensas (parcialmente contornada com en- - Extensão da TVP: informa r as veias acometidas
vo lvimento do probe co m protetor plástico ou prese r- - Presença de trom bo flutuante, sua localização e
extensão
vativo)
- Vari ação anatômica (d upl icidade ele veias)
• Membro imobilizad o por gesso ou fixadores externos • SPT
• O besidade - TVP pregressa oclu siva ou recanali zada
- Au sência ou presença el e reflu xo
• Não colaboração do paci ente ou dor intensa
- Localização e extensão do refluxo
• Presença de hematomas grandes ou extensos - Q uant ificação do reflu xo
- Presença de circulação co lateral

Na SPT
• Dermatoesclerose extensa REFERÊNCIAS
• Úlcera de estase infectada ou extensa
• Dificuldade para o paciente fi car em pé l. Maffe i FHA , Rollo HA. Tro mbose Ve nosa Profunda dos
Memb ros Inferiores: Incidê ncia, Paloge nia, Patologia,
Fisiopatologia e Diagnóstico. In : Maffei FHA, lasrória L,
Yoshida WB , Rollo H.A, Giannini M, Moura R. Doenças
INFORMAÇÕES INDISPENSÁVEIS Vasculares Periféricas. 4" ed. São Paulo: Guanabara Koogan;
PARA O LAUDO 2008. p 1557-78.
2. Kahn , SR. The clinicai diagnosis of deep ve nous thro mbosis.
As informações mínimas necessá ri as para a composição Integrating incidence, risk factors, and symptoms anel signs.
do laudo na avaliação, pela USV, da trombose venosa dos Arch Inrern Med1 998 ;l 58 23 15-23
3. Cogo A, Lensing AWA, Wells P, Praneloni P et aI. on
membros inferio res e da síndrome pós-trombótica cons- invasive objetive reSlS for the diagnosis of c1 inically suspected
tam no Quadro 26 .6 . cleep-vein rh rom bosis. Haemostasis 1995;2527-39.

293
Tro mbose V enosa Profund a Aguda do s Membros Inferiores e Síndrom e Pós-Trombóti ca

4. Rollo HA. Diagnóstico Ultra-sonográfico na Trombose systematic ultrasonographic examination. Arch Intern Med.
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elderly post-acute care patients. A multicenter study viith Ltcla,2000:208-17.

294
CAPíTULO 27
Ultrassonografia Vascular na
Carlos Alberto Engelham
Ana Luiza Valiente Engelham
Avaliação das Varizes dos
Membros Inferiores

INTRODUÇÃO A ecografia vascular é o métoelb ele escolha para


detectar refluxo sanguíneo em veias specíficas, princi-
As veias dos membros inferiores apresentam paredes fi- palmente com a utilização elo mapeamento do fluxo em
nas, distensíveis e colabáveis, com válvulas que permitem cores, sendo possível identificar com R1recisão a distribui-
o direcionamento do fluxo sanguíneo do sistema venoso ção e a extensão do refluxo venoso.
superficial para as veias profundas e o retorno às veias
ilíacas e à veia cava inferior. O adequado direcionamento
do fluxo venoso depende da pressão arterial residual ar-
INDICAÇÕES DA
teriolar (vis a tergo), da integridade das cúspides valvares, UL TRASSONOGRAFIA VASCULAR
do "bombeamento" do sangue pela musculatura da pan-
• Avaliação anatômica e hemo dinâmica de pacientes
turrilha e dos movimentos respiratórios (vis a front). 1
com doença venosa crônica com diferentes classes
Todos esses mecanismos fisiológicos têm por finalidade clínicas (CEAP) .
direcionar o sangue venoso no sentido anterógrado, con- • Edema de MMIl sem sinais de DVC significativa.
tra a ação da gravidade. O funcionamento inadequado da • Diagnóstico diferencial entre varizes primárias, se-
bomba muscular da panturrilha por fraqueza dos músculos cundárias e congênitas.
ou por retração cicatricial de úlceras venosas recidivadas; a • Avaliação pré-operatória de varizes primárias dos
destruição das cúspides valvares decorrentes da recanaliza- membros inferiores.
ção de tromboses profundas ou superficiais; a hipoplasia e • Avaliação pré-operatória de varizes recidivadas.
a agenesia das válvulas, ou mesmo o afastamento das cús-
pides valvares causado por dilatação do vaso, podem ser
responsáveis pelo aparecimento do refluxo sanguíneo. l TÉCN ICA DE AVALIAÇÃO
Cronicamente, o refluxo sanguíneo é responsável pela PARA DIAGNÓSTICO
hipertensão venosa na microcirculação, ocasionando altera-
ções estruturais e funcionais, que serão manifestadas pelos
Avaliação do sistema venoso profundo
sinais e sintomas de doença venosa crônica (DVC). O objetivo é determinar a perviedaele do sistema venoso
A presença de DVC é facilmente identificada pela sin- profundo para a exclusão de trombose venosa recente ou
tomatologia apresentada pelo paciente e pela inspeção dos antiga, com o paciente em decúbito elorsal, pela técnica
MMIl. O exame físico pode fornecer informações sobre a descrita no capítulo anterior.
presença, a localização e a extensão da insuficiência valVlI- A pesquisa de refluxo nas veias profundas deve ser
lar. Contudo, a identificação precisa das fontes de refluxo realizada com o paciente em posição ortostática ao estu-
e eventuais obstruções no sistema venoso profundo é pos- dar as veias superficiais.
s[vel somente com a investigação por meios diagnósticos
complementares. Essas informaçàes complementares são Avaliação do sistema venoso superficial
importantes para o aprimoramento do diagnóstico, para o paciente é posicionado em ortostatismo,2 com apoio late-
o planejamento do tratamento, bem como para a melhor ral, de frente para o examinador, com o membro a ser estu-
compreensão da história natural da doença. dado em ligeira rotação lateral e discreta flexão do joelho.

295
Ultrassonografia Vascula r na Avaliação das Varizes dos Membros Inferiores

Figura 27.1. Posição do


paciente em ortostatismo
com rotação lateral da
extremidade com discreta
flexão do joelho. Transdutor
posicionado para mensurar
diâmetros em corte
transversal (A) e pesqu isar
refluxo em corte longitudinal
(B). Note o apoio lateral para
a paciente.

Nesta posição, com transdutores lineares de 7-13


MHz, o ultrassonografista vascular deverá identificar ana-
tomicamente as veias superficiais e perfurantes, medir o
diãmetro das safenas e pesquisar reOuxo (Fig. 27.1A e B)

\ ( _ ~.I d ~ 1 , . ..' l t ,. 't.

Para adequada identificação anatômica e mensuração


dos diâmetros, deve-se ajustar a imagem em Modo B
com profundidade e ganhos lOtai e parcial adequados
para a veia estudada, /ow dynamic range e zona focal bem
posicionada na área de interesse para permitir uma nítida
visibilização das veias e estruturas vizinhas (fáscias).
A safena magna (VSM) é avaliada em Modo B em toda
a sua extensão no compartimento safênico a partir da jun- Figura 27.2. Corte ultrassonográfico transversal da veia
ção safenofemoral USF), com a mensuração dos diâmetros safena magna em Modo B demonstrando o compartimento
safênico. Observe as linhas ecogênicas das fáscias superficial
em cortes ultrassonográficos transversais na ]SF, nos seg- e profunda e a veia safena no centro.
mentos proximal, médio e distaI de coxa , no joelho e nos
segmentos proximal , médio e distai de perna.
O compartimento safênico é o espaço subcutâneo Ao mensurar os diâmetros da VSM, deve-se estar
entre a fáscia muscular e a fáscia superficial ou fáscia atento para identificar duplicidades , suas tributárias
safênica, descrito por Bailly em 1993 como o "sinal do principais e as safenas acessórias, a fim de evitar erros de
olho", analogicamente a um "olho egípcio", cuja imagem mensuração.
anecoica circular central é a VSM formando a íris entre As veias safenas acessórias antelior e posterior po-
duas linhas arqueadas hiperecoicas, que são a fáscia su- dem com frequência ser confundidas com a VSM na ]SF
perficial (pálpebra superior) e a fáscia muscular (pálpe- e no segmento proximal de coxa. A veia safena acessória
bra inferior)l' (Fig. 27 .2) anterior localiza-se lateralmente à VSM e une-se à veia

296
Ultrassonografia Vascular na Aval iação das Varizes dos Membros Inferiores

safena magna geralmente 1 cm abaixo da jSF; no entan- compartimento safênico ascendendo posteriormente ao
to , a partir do terço proximal da coxa a veia safena aces- maléolo lateral , na linha média da panturrilha no entalhe
sória anterior apresenta trajeto superficial fora do com- formado pelos músculos gastrocnêmios (Fig. 27.46) , e
partimento safênic0 5 deve ser mensurada nos segmentos distai, médio e pro-
A veia safena acessória posterior localiza-se medial- ximal de perna e na junçâo safenopoplítea OSP).
mente e pode representar a continuação da veia de Gia- A jSP frequentemente localiza-se até 7 cm acima da
comini, comunicando-se com a VSM em geral distai à prega cutânea poplítea; contudo, pode ocorrer uma ex-
válvula pré-terminal. tensão cranial da veia safena parva para a região posterior
No segmento infrapatelar existem veias tributárias ca- da coxa, terminando em uma ou mais veias superficiais
librosas e paralelas à VSM, mais frequentemente o arco da região glútea ou em veia perfurante da coxa (Fig.
posterior ou veia de "Leonardo". Para evitar erros de men- 27.5), ou ainda comunicar-se com a safena magna, pela
suração, deve-se observar a VSM no triângulo formado no veia de Giacomini. 6
corte ultrassonográfico transversal pela tíbia, pelo músculo Durante o mapeamento das safenas magna e parva ,
gastrocnêmio mediai e pela fáscia superficial (Fig. 27.3) deve-se pesquisar a presença de veias perfurantes me-
Com o paciente posicionado de costas para o exami- diais, laterais e posteriores. As veias perfurantes são iden-
nador (Fig. 27.4A) , a safena parva (VSP) é identificada no tificadas no Modo 6 pelo seu trajeto de comunicação en-

Figura 27.3. Anatomi a ultrassonográfica da veia safena


magna (VSM). (A ) Junção safenofemoral. (6 ) Veia safena
acessória anterior (cor vermelha), localizada lateralmente à
VSM. (C) VSM no compartimento safênico na coxa. (O ) VSM
no compartimento safênico na perna (.-) e veia de Leonardo
paralela ('-').

29 7
Ultrdssonografia Vascular na Avaliação das Varizes dos Membros In feriores

Figura 27.4 .
(A )Paciente em
ortostatismo
posicionada de costas
para o examinador
com o objetivo de
estudar a veia safena
parva (VSP) e as veias
perfurantes laterai s e
posteriores. (B) Corte
ultrassonográfico
transversal
demonstrando a VSP
no compartimento
safênico.

Figura 27.5. Exemplo de extensão cranial da veia safena Figura 27.6. Exemplo de veia perfurante direta. Note a
parva. Observe a veia safena parva drenando para a veia comunicação com a veia safena magna.
poplítea.

tre as veias superficiais e profundas, e são consideradas o refluxo venoso deve ser pesquisado em tempo
diretas quando comunicam as veias profundas às safenas real, com cortes ultrassonográficos longitudinais (Fig.
magnas e parvas (Fig. 27.6). Já as veias perfurantes indi- 27 .1B), pelo mapeamento do f1uxo em cores, com
retas comunicam as veias profundas a veias superficiais, ajuste da caixa e ganho da cor, frame rate e PRF. Re-
ind epend entes das veias safenas. comenda-se manter uma caixa d e cor pequena e com
As veias perfurantes relatadas no mapeamento ve- profundidade adequada para maximizar o número de
noso devem se r mensuradas em Modo B, no ponto de quadros por minutos ([mme rate). A frequência de re-
perfuração ela fáscia muscular (Fig. 277), e localizadas petição de pulsos (PRF) deve estar adequada para cada
em relação à base do pé. segmento venoso avaliado , priorizando a detecção de
baixos f1uxos.
O ganho e o filtro da cor devem ser ajustados para
o refluxo venoso deve se r pesquisado nas veias femorais , permitir o mapeamento em cores, evitando o borramen-
poplítea e infrapatelares, nas safenas e nas veias perFu- to de cor na veia avaliada e nas áreas vizinhas devido ao
rantes. movimento de deslocamento do transdutor.

298
Ultrassonografia Vasc ular na Avaliação das Vari zes dos Membros Infe ri ores

Figura 27.7. Mensuração (4,5 mm) da veia perfurante no Figura 27.9. Exempl o de determinação do pico de
ponto de perfuração da fáscia muscular. velocidade sistóli ca (45 cm/s) na veia safena magna. Note o
posicionamento da amost ra de volume do Doppler pulsado
com ângulo de 60° paralelo à parede da veia.
A amostra de volume do Doppler pulsado deve ser
posicionada no centro da veia , com tamanho adequado
para permitir a obtenção das curvas espectrais e medir o Deve ser realizada a pesquisa de refluxo em toda a
tempo de duração do refluxo, com aj ustes no ganho, no extensão da VSM, em cortes ultrassonográficos longitu-
filtro e na escala do PRF (Fig. 278) Caso seja utilizado dinais, a partir da]SF, com o auxílio de manobras de des-
o critério de pico de velocidade de refluxo , deve-se usar compressão manual distaI. Para avaliação da ]SF, pode-se
o ângul o do Doppler pulsado em 60° paralelo à parede utilizar a manobra de Valsa lva.
da veia (Fig. 279). Especia l atenção à jSF em relação a eventuais varia-
ções anatõmicas na drenagem das veias tnbutárias e no
renuxo transfe rido para a VSM mesmo com competência
da válvula terminal (Fig. 2710)
A VSM é ava liada da jSF ao segmento perimaleolar
em cortes ultrassonográficos longitudinais , com auxílio
do mapeamento do fluxo em cores , para identificar as
fontes de transferência de refluxo para a VSM e os pon-
tos de escoamento do refluxo para as veias tributárias
ou perfurantes. As fontes e os pontos de escoam ento do
refluxo devem se r identificados e localizados em relação
à linha articular do joelho ou à base do pé Os segmen-
tos das veias com reflu xo detectado pelo mapeamento do
fluxo em cores devem ser avaliados pelo Doppler pulsa-
do e o tempo de duração do refluxo determinado.
A VSP deve ser estudada também em toda a extensão
do segmento perimaleo lar à jSP em cortes ultrassono-
gráficos longit udinais, com o auxílio do mapeamento do
fluxo em cores e das manobras de descompressão ma-
nual distaI. Deve-se anotar a altura da J SP em relação à
Figura 27.8. Exemplo de mensuração do tempo de refluxo prega poplitea ou do local de drenagem da VSP no caso
(2,9 s) na safena magna. Note o posicionamento da amostra de extensão cranial, assim como o posicionamento em
de volume do Doppler pulsado no centro da veia. relação à linha média da perna.

299
Ultrassonografia Vascula r na Avalia çã o da s Varize s dos M emb ro s Inferiores

Figu ra 27. 10. Exempl o de veia tributária da junção safenofemoral USF) ca usando refluxo a partir da vá lvula pré-terminal.
(A) Imagem em Modo B da jSF. (B) Ausência de reflu xo na jSF ao Doppler pul sado . (C) Refluxo na veia safena magna di sta i à
vá lvu la pré-terminal. (D) Refluxo na safena magna.

o ultrassonografista vascular deve observa r e anotar CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS


a localização das fontes de refluxo e dos p ontos d e dre-
nagem do refluxo das veias safenas, para identificar os Diâmetros da VSM
padrões de refluxo e confeccionar o mapeame nt o veno- • Diâmetro da VSM e probabilidade de refluxo 7
so superfi cia l. Normalmente utiliza-se o código de cores • JSF: > 7 mm = 71 % de acurácia e 73% de valor pre-
azu l e ve rmelho para exemplificar ausência e presença de ditivo positivo
refluxo, respectivamente (Fig. 27 .11) • Coxa: >4 mm = 75% de acurácia e 81 % d e valor
As veias perfurantes podem não apresentar refluxo preditivo positivo
(competentes), podem ser fonte de refluxo para as safe- • Perna: >4 mm = 74% de acurácia e 89% de valor
preditivo positivo
nas ou tributárias (i nsuficientes) ou ainda escoar refluxo
das safenas ou tributárias para as profundas (drenagem)
(Fig. 27 12)
Refluxo
Tanto as veias perfurantes direLa relacionadas aos
• Refluxo venoso : fluxo retrógrado cefa locaudal.
padrões de refluxo nas ve ias safenas quanto as indiretas
• Veias superficiais : tempo de duração de reflu-
(insufici entes ou de drenagem) devem se r localizadas e xo >0,5 S. H9 e pico de ve loc idade de refluxo >30
identifi cadas no mapea mento venoso (dese nho). em/s.

300
Ultrassonografia Vas cular na Av aliação das Variz es dos Membros Inferiores

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1

Figura 27.11. Exemplo de


mapa esq uemáti co demonstrando
os segmentos venosos normais
(az ul) e com refluxo (vermelho).

Figura 27.12. Exemplo de veia perfurante de drenagem.


(A) Veia safena magna proximal com refluxo. (8) Veia
perfurante de drenagem. (C) Veia safena distai mente à
veia perfurante sem refluxo .

301
U ltrasso nog rafia V asc ular na Av aliação das V ariz es do s Membros In fe r io res

• Veias profund as: tempo de duração de refluxo


2:1 S9
1. Refluxo perijuncional: caracterizado por refluxo na ]SF
• Veias perfuran tes: tempo de duração de refluxo escoado por tributárias da junção (safenas acessórias,
>0,35 s. Y.l\1 pudendas, circunflexas), com manutenção da compe-
tência valvular na safena magna troncular (Fig. 27.13)
Com a identificação das fontes de refluxo tais como 2. Refluxo proximal: caracterizado por refluxo na ]SF e
]SF, ]SP, veias tributárias ou veias pcrfurames e dos pon- na VSM troncular, sendo escoado por veia tributária su-
tos de drenagem de refluxo: veias tributárias e perfuran- perficial ou veia perfurante na coxa ou perna, com
tes, é possível determinar o padrão de refluxo nas safenas manutenção da competência valvular no restante da
magna e parva l l - 13 VSM (Fig. 27.14).

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Figura 27.13 . Exemplo de padrão de
refluxo perijuncional na veia safena magna
(VSM). (A) Refluxo na junção safenofemora l.
(8) Refluxo na veia safena acessóri a lateral.
(C) Ausência de refluxo na VSM distai à
válvula termina l. (D) VSM na coxa sem
refluxo . (E) VSM na perna sem refluxo.

302
Ultrassonografia Vascu la r na Ava liação das Varizes dos Membros Inferiores

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Figura 27.14. Exemplo de padrão de ....


refluxo proxima l na veia safena magna (VSM).
(A ) Refluxo na junção safenofemoral.
(B) Refluxo na VSM na coxa. (C) Reflu xo
na VSM no joelho. (O ) Veia tributária
escoando refluxo da VSM . (E) VSM na perna
sem refluxo.

3. Refluxo segmentar caracterizado por um único seg- 6. Refluxo distal: caracterizado por ausência de re-
mento da veia safena magna com refluxo, ao nível da fluxo na junção safenofemoral e na V5M proximal
coxa e/ou da perna, sem envolver a junção safenofe- e pela presença de refluxo na V5M mais distai até
moral, escoado por veia tributária ou perfurante (fig. a região perimaleolar, causado por tributária su-
2715) perficial ou veia perfurante na coxa ou perna (Fig
4. Refluxo multissegmentar com j5F competente: carac- 2718)
terizado por dois ou mais segmentos da veia safena 7. Refluxo difuso: caracterizado por refluxo em toda a
magna com refluxo na coxa e/ou perna, porém com a VSM troncular, descle a j5F até a região perimaleolar
J5F competente (Fig. 2716) (Fig.2719).
5. Refluxo multissegmemar com j5f insuficiente: carac-
telizaclo por dois ou mais segmentos da veia safena Paclr'õe~ de r\' lll \() 11 I \.;;p
magna com refluxo na coxa e/ou perna, com refluxo 1. Refluxo proximal: caracterizado por refluxo na j5P
na j5F (Fig. 2717) e na V5p, sendo escoado por veia tributária superfi-

303
Ultrassonografia Vascu lar na Ava li ação das Va rizes dos M embros Inferiores

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Figura 27.15 . Exemplo de padrão de refluxo segmentar na vei a safena magna (VSM). (A) Au sência de refluxo na junção
safenofemoral e (B) na VSM na coxa. (C) Veia perfurante com refluxo. (D ) Refluxo na VSM na perna pro ximal causado pela
perfurante insuficiente. (E) Veia tributária escoando refluxo da VSM. (F) VSM na perna distai sem reflu xo.

cial ou veia perfurante-comunicante na perna , com 4. Refluxo multissegmentar com j5P competente: carac-
manutenção da competê ncia valvu lar no restante terizado por dois ou mais segmentos da V5P com re-
da V5P fluxo na perna , sem refluxo na j5P
2. Refluxo dista!: ca racterizado por ausência de refluxo na 5. Refluxo multissegmentar com j5P insuficiente: ca-
j5P e na V5P proximal e pela presença de refluxo na racterizado por dois ou mais segmentos da V5P
VSP até a regiãO perimaleolar, causado por veia tributá- com refluxo ao nível na perna, além de refluxo na
ria superficial ou perfurante na V5P mais dista!. j5P
3. Refluxo segmentar: caraClerizado por um único segmen- 6. Refluxo difuso : caracterizado por refluxo em toda a
lO da V5P com refluxo na perna, sem envolver a j5P V5p, desde a j5P até a região perimaleolar.

304
U lt rasso nografia Va scular na Avalia ção das Variz es dos M embros Inferi o res

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Figura 27.16. Exemplo de pad rão de reflu xo multissegmentar na veia safena


magna (VSM), com junção safenofemoral competente. (A) ausência de reflu xo na
junção safenofemoral e (B) na VSM na coxa. (C) Veia tributári a causando reflu xo
na VSM na perna proximal. (D) Refl uxo na VSM na perna proximal. (E) Reflu xo
escoado por veia tributá ri a. (F) Ausência de reflu xo da VSM no segmento médi o da
perna. (G ) Refluxo na VSM no segmento di stai de perna.

SITUAÇÕES ESPECIAIS nando ao com pa rtimento safênico nos segmentos mais


distais. Para alguns autores 2 o fato de a VSM localizar-se
Veia safena magna e compartimento fo ra do com partimento safênico caracterizaria ausência
safênico da safena naquele segmento; no entanto, o mapeamento
Durante o mapeamento venoso, pode-se observar a su- de toda a extensão da veia demonstra ser a mesma veia
perficialização da safena magna com trajeto acima da em todo o trajeto, apenas com superficialização em de-
fáscia superficial e fora do compartimento safênico, retor- terminado segmento (Fig. 2720) .

305
Ultrassonografia Vascular na Avaliação das Varizes dos Membros Inferiores

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Figura 27.18. Exemplo de padrão de refluxo distai na veia safena magna (VSM). (A) Ausência de refluxo na junção
safenofemoral, (B) na VSM na coxa e no Joelho. (C) Veia tributária transferindo refluxo para VSM na perna. (D) Refluxo na VSM
na perna.

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Figura 27.19. Exemplo de padrão de refluxo difuso na veia safena magna.

307
índi ce Remissivo

- - transdução piezelétrica, 13 J - - indicações, 319


- - transformação de Fourier, 13 Jejum, ultrassonografia vascular das - - informações indispensáveis para o
- - transmissão, 13 artérias mesentéricas em, 164 laudo, 320
- processamento complexo de , 21 Junção safenopoplltea, 308 - - introdução, 319
- - agentes de contraste, 25 - - protocolo do exame, 319
- - brilho sanguíneo, Bflow, 21 L - - situações especiais e controversas , 321
- - com redução de ruído speckle, 25 Laser, tratamento endovascular da Massas satélites, 247
- - composta espacial, sono Te, 24 insuficiência venosa superficial dos Medicações injetáveis, 348
- - correção de aberrações de tecidos, 25 membros inferiores com, 314 Medida da espessura médio-intimai (v.
- - Doppler de tecido , 24 Laudo, informações indispensáveis Espessura médio-intimai, técnica de
- - ecoelastográfica , 25 para, 322 medida da)
- - expandida, 22 - artérias vertebrais, 104 Membros inferiores, 313
- - harmõnica, 23 - arterite temporal , 97 - doença arterial obliterativa dos,
- - - com inversão de pulso e - compressão do tronco celíaco, 179 procedimento$ cirúrgicos ecoguiados
contraste, 26 - correção do aneurisma da aorta na, 316
- - - tecidual, 23 abdominal , 162 - insuficiência venosa superficial
- - harmõnica, 22 - disfunção erétil, 359 dos, 314
- - informações na internet , 25 - ecográfico, e técnica para medida da - - procedimentos cirúrgicos ecoguiados
- - transdutor cristalino de onda pura, 25 espessura médio-intimai, 35 dos, 313
- - tridimensionais, 26 - enxertos infrainguinais, 276 - - tratamento endovascular da, 315
- - X-res, 25 - escleroterapia com espuma em - - - com injeção esclerosante de
Im plante de filtro de veia cava, 313 varizes, 330 espuma, 315
índice mecãnico, imagens - estenose da artéria renal , 196 - - - com laser, 314
ultrassonográficas estáticas e, 14 - seleção da artéria radial para utilização - trombose venosa profunda aguda
Infarto testicular, 340 como enxerto arotocoronário, 322 dos, e slndrome pós-traumática ,
Injeção esclerosante de espuma, 315 - seleção da veia para utilização como 283-294
Insonação, 14 enxerto, 320 - varizes dos, avaliação das 295-311
- ãngulo de, Doppler e, 18 - transplante(s), 211 - - critérios diagnósticos, 300
- - erros devidos a estimativas, 18 - - pancreático , 211 - - indicações, 295
- feixe de, linear, imagens - - renal, 211 - -laudo, 310
ultrassonográficas estáticas e, 14 - trombose venosa, 293 - - limitações, 310
- frequência de, image ns - - dos membros inferiores e slndrome - - situações especiais, 305
ultrassonográficas estáticas e, 14 pós-trombótica , 293 - - - fontes de refluxo não relacionadas as
Insuficiência(s) - - dos membros superiores, 144 veias safenas, 308
- venosa superficial dos membros - ultrassonografia vascular - - - junção safenopoplítea, 308
inferiores, 314 transcraniana, 120 - - - refluxo em veias perfurantes, 308
- - procedimentos cirúrgicos ecoguiados - varizes dos membros inferiores, 310 - - - varizes recidivadas, 308
dos, 313 Lesões extratesticulares relacionadas com - - - veia safena magna e compartimento
- - tratamento endovascular da, 314 trauma, 340 safênico, 305
- - - com injeção esclerosante de - - técnica para diagnóstico, 295
espu ma, 315 M Membros superiores, 123
- - - com laser, 3 14 Malformações vasculares, tumores e, 255 - doença arterial obstrutiva nos, 123
- vertebrobasilar por compressão Mapeamento venoso e arterial para - trombose venosa dos, 137-145
extrínseca durante rotação do utilização como substituto vascular, - - diagnóstico, 140
pescoço, 104 319-323 - - informações indispensáveis para o
Intervenções infrainguinais carotídeas e - seleção da artéria radial para utilização laudo, 144
de fístulas arteriovenosas dirigidas como enxerto aortocoroná rio, 321 - - limitações, 144
pela ultrassonografia vascular, 259 - - indicação, 321 - - protocolo, 137
- angioplastia(s), 267 - - informações indispensáveis para o - - técnica do exame , 137
- - carotídea, 265 laudo, 322 - ultrassonografia vascular dos, 228
- - das artérias infrainguinais, 259 - - introdução, 321 Migrãnea, Doppler em cores
- - das fístulas arteriovenosas - - protocolo de exame, 321 transcraniano na, 118
disfuncionais ou imaturas, 267 - - situações especiais e controversas, 323 Monitor, 16
- - dos enxertos infrainguinais, 262 - seleção da veia para utilização como Monitorização, Doppler em cores
Irrigação arterial , 333 enxerto, 319 transcraniano em, 118
Isquemia intestinal crõnica, 163 - - critérios, 320 - de êmbolos, 118

365
Ultrassonografia Vasc ul ar na Ava li ação das Vari zes dos Membros Infe riores

Figura 27.22. Exemplo de veia perfurante insuficiente.


Note o tempo de reflu xo superior a 0,35 s.

Figura 27.23. Avaliação pós-safenectomi a magna. (-\) Figur.l 2 i 2~. (A) Exempl o de coto residual da veia safena
ausênc ia de coto residual da vei a safena magna. (B) Presença magna (ca libre de 7,7 mm e 14 mm de extensão) com reflu xo
de ve ia tributária da junção safenofemoral. ao Doppler pul sado originando (B) veias tributári as.

veias safenas acessórias e outras fOOles de reOuxo. tais Outro as pec to relevante na ava liação ele varizes
co mo veias puclendas e perinea is e veias perfuranles de rec idi vadas na região antero medial da coxa é a presen-
coxa e perna. ça de veias safe nas acessó rias com rellu xo originando
Na presença de veias tributárias na região aOlero- ve ias tributárias na coxa e na pern a. Va le lembrar a
mediai de coxa e perna. deve-se ideOlifica r eve ntual coto ana tomia ultrassonográlica das veias safenas acessó-
residual da VSM e pesquisar reOuxo no mesmo pela ma- rias a11le ri or e posterior descritas anteriormente . cUJos
nobra de Valsalva. assim como determinar se u diãmetro trajetos diferem da VSM. e sua loca li zação superficial
e sua extensão, além de identificar veias uibUlárias (fi g. ao compartimento safên ico a partir do segmento pro-
27 .24A e B). Panicularmente na JSF é importante pes- ximal de coxa.
qu isar a prese nça de neovascularização ideOli ficada por Além di sso. a recidiva de varizes na região posterior
veias serpeOliginosas de pequeno calibre. de perna pode estar re lacionada à presença de coto resi-

309
índi ce Rem iss ivo

- periférica infrainguinal, 231-249 - - - em migrânea, 118 - protocolo de vigilância após a


- - indicações de ultrassonografia - - - em monitorização de êmbolos, 118 endarterectomia,67
vascular, 231 - - - em monitorização peroperatória, 118 - seguimento após a endarterectomia, 62
- - laudo, 248 - - - em morte cerebral, 116 Endofibrose da artéria iliaca em atletas de
- - limitações do exame, 247 - - - em vasoespasmo, 110 alto desempenho, 257
- - protocolo, 240 - - - indicações, 109 Ensaios randomizados e níveis de
- - - para diagnóstico definitivo, 241 - - ultrassonografia vascular do escroto evidências, 3
- - - para exame peroperatório, 246 com, 341 Enxaqueca, Doopler em cores
- - - para rastreamento, 240 - - - indicações, 342 transcraniano na, 118
- - - para seguimento pós-tratamento, 243 - - - nas varicoceles, 341 Enxerto(s),264
- - técnicas de avaliação, 231 - endarterectomia carotídea baseada - aortocoronário, seleção da artéria radial
- - - cortes ultrassonográficos, 240 somente na ultrassonografia vascular para utilização como, 321
- - - escolha do transdutor, 238 com, 55-68 - - indicação, 321
- - - posicionamento do transdutor, 239 - - mapeamento pré-operatório, 55 - - informações indispensáveis para o
- - - preparo e posição do paciente, 231 - - - indicações do, 56 laudo , 322
- - - set-up do equipamento, 235 - - - informações para a endarterectomia - - introdução, 321
- proximal da subclávia homolateral e sem angiografia, 57, 62 - - protocolo de exame, 321
critérios diagnósticos, 102 - - - limitações, 62 - - situações especiais e controversas, 323
Doença(s) carotídea(s), 69-92 - - - protocolo de exame, 56 - arteriais mesentéricos, avaliação dos, 169
- aterosclerótica, 43-53 - - protocolo de vigilância após a - infrainguinais, 264
- - aspectos técnicos, 43 endarterectomia,67 - - angioplastias dos, 262
- - classificação da estenose carotídea, 49 - - seguimento após a endarterectomia , 62 - - - avaliação pré-operatória, 263
- - - bilateral severa da carótida interna, 51 - frequência versus velocidade, 17 - - - complicações pós-operatórias
- - - carótidas com stents, 51 - na análise das fist ulas arteriovenosas imediatas, 264
- - - critérios atuais, 50 para hemodiálise , ultrassonografia - - - índices de perviedade e recuperação
- - - da carótida comum e externa, 52 vascular com, 129-135 dos membros, 265
- - detecção e avaliação da estenose - - complicações, 133 - - - pacientes tratados, 263
carotídea, 47 - - conceitos de hemodinâmica, 129 - - - parâmetros hemodinâmicos, 265
- - - carótida comum, 47 - - pitfalls e dicas, 132 - - - sucesso técnico intraoperatório, 264
- - - carótida externa , 49 - - técnica do exame pós-operatório, 131 - - - técnica, 264
- - - carótida interna, 48 - - técnica do exame pré-operatório, 130 - - seguimento dos, 271-281
- não aterosclerótica, 69-92 - sinal Doppler, 16 - - - frequência de exames, 276
- - ane urismas carot(deos - volume de amostragem, 18 - - - laudo, 276
extracranianos, 70 Drenagem venosa e linfática, 333 - - - limitações da ultrassonografia
- - angiodisplasia, 69 vascular, 276
- - arterite, 76 E - - - níveis de evidência, 278
- - - de Takayasu, 75 Ecografia, 11 - - - protocolo clássico de exames, 271
- - - temporal, 76 - achados a, 90 - - - protocolo usando análise espectral
- - displasia fibromuscular, 80 - - aneurismas carotídeos segmentar, 273
- - dissecção carotidea, 80 extracranianos, 74 - - - técnica de exame, 271
- - fibrose actínica, 83 - - arterite, 78 - seleção da veia para utilizaçâo como, 319
- - tortuosidades da carótida, 84 - - - de Takayasu , 75 - - critérios, 320
- - trauma carotídeo, 89 - - - temporal, 78 - - indicações, 319
- - tumor do corpo carotídeo, 87 - - displasia fibromuscular, 80 - - informações indispensáveis para o
Doppler, 16 - - dissecçâo carotidea, 83 laudo, 320
- ângulo de insonação, erros devidos a - - fibrose actínica, 83 - - introduçâo , 319
estimativas do, 18 - - tortuosidade carotídea, 85 - - protocolo do exame, 319
- de tecido, 24 - - trauma carotídeo, 90 - - situações especiais e controversas, 321
- ecografia dúplex, 17 - - tumor de corpo carotídeo, 87 Escleroterapia com espuma em varizes ,
- em cores, 342 - dúplex, 17 ultrassonografia vascular na, 325-331
- - transcraniano, 110 Êmbolos, monitorização de, Doppler em -laudo, 330
- - - em acidente vascular isquêmico, 110 cores transcraniano em, 118 - protocolo, 325
- - - em aneurismas, 117 Endarterectomia carotídea baseada - sequência do exame, 326
- - - em doença ateromatosa, 111 somente na ultrassonografia vascular Escroto, ultrassonografia vascular do,
- - - em doença falciforme, 112 com Doppler, 55-68 333-344
- - - em hipertensão intracraniana, 112 - mapeamento pré-operatório, 55 - achados ultrassonográficos, 340

363
Ultrassonografi a Vasc ular na Avaliação das Varizes do s Membros Infe ri o res

- extensão do refluxo nas veias safenas 7. Engelhom CA, Engelhom AL, Salles-Cunha SX, Picheth
padrão de refluxo nas veias safenas magna e parva F, Castro)r N, Dabul )r, et aI. Relationship between reOux
and greater saphenous vein diameter.) Vasc Technol 1997;
localização daJSP: distância em relação à prega po- 21 (3): 167-72.
plítea e posicionamento em relação à linha média 8. van Bemmelen S, Bedford G, Beach K, Strandness)r DE.
- localização das veias perfurantes insuficientes ou Quantitative segmental evaluation of venous valvular reOux
with duplex ultrasound scanning.) Vasc Surg 1989; 10(4):
de drenagem em relação à interlinha articular do 425-3l.
joelho ou à base do pé 9. Labropoulos N, Tiongson) , Pryor L, Tassiopoulos AK, Kang
fontes de refluxo não relacionado às veias safenas, SS, Ashraf Mansour M, et aI. Definition of venous reOux in
lower-extremity veins . ) Vasc Surg 2003 ; 38(4): 793-8.
principalmente veias pudendas e perineais, além
10. Min R) , Khilnani NM, Golia P. Duplex Ultrasound Evaluation
de veias perfurantes indiretas of Lower Extremity Venous lnsufficiency) Vasc Interv Radiol
segmentos das veias safenas hipoplásicos, atrési- 2003 ; 14:1233-1241.
cos ou retirados cirurgicamente 11. Engelhom CA, Engelhom AL, Cassou MF, Salles-Cunha SX.
Pattems of saphenous reOux in women with primary varicose
presença de coto residual nas ve ias safenas, com veins.) Vasc Surg. 2005; 41(4): 645-51.
respectivos diâmetros e presença ou não de refluxo 12. Engelhom CA, Engelhom AL, Cassou MF, Casagrande C,
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311
,
Indice Remissivo

A - - seguimento, 267 - -limitações do exame, 162


Acidente vascular isqu.::mico, Doppler em - - técnica, 265 - - técnica de avaliação, 160
cores transcraniano no, 110 - das artérias infrainguinais, 259 Apêndice testicular, torção do, e critérios
Adventícia, doença cística da, 256 - - avaliação pré-operatória, 259 de diagnósticos, 338
Agentes de contraste, 25 - - complicações Aplasia ou hipoplasia da artéria vertebral,
Análise espectral segmentar, 273 tromboembólicas, 262 critérios diagnósticos de, 103
Anastomoses distais, 276 - - infrapoplíteas concomitantes, 262 Aprisionamento e compressão
Anatomia peniana , 347 - - seguimento , perviedade e recuperação vascular, 255
Aneurisma(s), 251 dos membros, 262 Artéria(s)
- carotídeos ext racra nianos, 70 - - sucesso técnico e previsões do - dissecção das (v. Dissecção arterial)
- - achados a ecografia, 74 insucesso técnico da angioplastia - ilíaca, 257
- - considerações gerais, 70 femoropoplítea por balão, 261 - - comum direita , síndrome compressiva
- - diagnóstico diferencial, 74 - - técnica, 259 da veia iliaca comum esquerda
- das fístulas arteriovenosas disfuncionais
- - etiologia, 73 pela, 219-223
ou imaturas, 267
- - manifestações clínicas, 74 - - - diagnóstico , 219
- - avaliação pré-operatória, 267
- da aorta abdominal, 154 - - - laudo, 223
- - comparação dos parâmetros
- - procedimentos cirúrgicos ecoguiados - - - limitações da ultrassonografia
hemodinãmicos, 269
nos, 3 17 vascular, 221
- - complicações e mortalidade , 269
- - ultrassonografia vascular na correção - - - protocolo de estudo, 219
- - pacientes tratados, 267
do, 159-162 - - - quadro clínico, 219
- - sucesso técnico , 269
- - - critérios diagnósticos, 161 - - endofibrose da, em atletas de alto
- - técnica, 268
- - - indicações, 159 desempenho, 257
- dos enxertos infrainguinais , 262
- - - informações indispensáveis para o - infrainguinais, angioplastias das, 259
- - avaliação pré-operatória , 263
laudo, 162 - - avaliação pré-operatória, 259
- - complicações pós-operatórias
- - - limitações do exame, 162 - - complicações
imediatas, 264
- - - técnica de avaliação, 160 tromboembólicas, 262
- - índices de perviedade e recuperação
- da artéria vertebral, critérios dos membros, 265 - - infrapoplíteas concomitantes, 262
diagnósticos de, 103 - - pacientes tratados, 263 - - seguimento, perviedade e recuperação
- Doppler em cores transcraniano - - parãmetros hemodinâmicos, 265 dos membros, 262
no, 117 - - sucesso técnico - - sucesso técnico e previsões do
- verdadeiros, 126 intraoperatório, 264 insucesso técnico da angioplastia
Angiodisplasia, 69 - - técnica, 264 femoropoplítea por balão, 261
Angiografia, informações para a Aorta abdominal , aneurisma da, 154 - - técnica , 259
endarterectomia sem , 62 - procedimentos cirúrgicos ecoguiados - intracranianas, identificação
Angioplastia , 261 nos, 317 das, 109
- carotídea, 265 - ultrassonografia vascular na correção do, - mesentéricas, ultrassonografia vascular
- - exame pré-operatório, 265 159-162 das, 163-174
- - morbidade e mortalidade depois do - - critérios diagnósticos, 161 - - a década de 1980, 164
procedimento, 267 - - indicações, 159 - - a década de 1990, 164
- - pacientes tratados, 265 - - informações indispensáveis para o - - avaliação das artérias superiores com
- - resultados técnicos intraoperatórios, 267 laudo , 162 stents, 170

361
CAPíTULO 28
Bernardo Massiere
Proced i mentos
Amo von Ristow
Cleoni Pedron
Cirúrgicos Ecoguiados
Alberto Vescovi

INTRODUÇÃO Algumas indicações do tratamento


por PEG
o aumento da expectativa de vida, os avanços dos
• implante de filtro de veia cava
métodos de imagem, o desenvolvimento da anestesio-
• insuficiênca venosa superficial dos membros inferiores
logia e a evolução das técnicas endovasculares permi-
tiram oferecer opções terapêuticas com segurança a • pseudoaneurismas
• doença arterial obliterativa dos membros inferiores
uma parcela maior de pacientes portadores de pato-
• aneurisma de aorta abdominal
logias vasculares. Tal situação demanda a existência
de alternativas terapêuticas com menor morbidade e
maior precisão. IMPLANTE DE FilTRO DE VEIA CAVA
Nosso entusiasmo com os procedimentos ecoguia-
dos (PEG) é antigo: em 4 de julho de 1998, o autor sê- A realização do implante de filtro de veia cava no pa-
nior deste capítulo e a ecografista Carmen L.c. Porto ciente acamado tem a grande vantagem de não deman-
realizaram uma angioplastia da femoral superficial eco- dar a mobilização do enfermo ao centro cirúrgico ou à
guiada. Esse paciente manteve a artéria tratada pérvia até suíte de hemodinâmica. Pacientes extremamente graves,
seu falecimento , por doença cerebrovascular, em 2008 . A internados em unidades de terapia intensiva, podem
visibilização era bastante inadequada e inferior à imagem ser beneficiados por essa conduta. ] Para o implante do
de qualidade hoje disponível. filtro de veia cava, faz-se necessária a identificação da
Os procedimentos ecoguiados podem ser aplicados confluência das veias ilíacas e das veias renais. Após o
no tratamento de diversas patologias vasculares em pa- estabelecimento do local na cava inferior onde será re-
cientes portadores de condições desafiadoras, tais como alizado o implante, geralmente imediatamente distai às
insuficiência renal, alergia a iodo , insuficiência cardíaca veias renais, procede-se à punção da veia femoral pela
e coronariopatia. técnica de Seldinger, com introdução de fio-guia teflo-
A realização de PEG demanda que os envolvidos te- nado com ponta]. Nesse momento , a progressão cranial
nham experiência na realização das técnicas cirúrgicas e do mesmo pode ser acompanhada pelo eco. Em seguida,
na utilização da ultrassonografia vascular (USV), o que a bainha introdutora é introduzida até o sítio planejado,
pode ser obtido com a formação de equipes multidisci- procedendo-se à liberação do mesmo . A posição do filtro
plinares ou por profissionais capacitados em ambas as é confirmada pela USV (Figs. 28 .1 e 28.2)
áreas.
Deve-se realizar avaliação pré-operatória minuciosa INSUFICIÊNCIA VENOSA SUPERFICIAL
para permitir o planejamento do procedimento . Uma
DOS MEMBROS INFERIORES
vez planejado, o procedimento é executado passo a pas-
so, facilitado pelo conhecimento profundo da anatomia A USV é uma ferramenta poderosa no tratamento da
da região e da imagem obtida pelo método. Neste capí- insuficiência venosa superficial dos membros inferiores
tulo, serão discutidos alguns procedimentos cirúrgicos (IVSMI), por fornecer informações fisiológicas e fisio-
ecoguiados. patológicas relevantes no planejamento do tratamento ,

313
Ultrassonografia Vascular na Disfun ção Eréti l

INFORMAÇÕES INDISPENSÁVEIS 5. Nath RL, MenzoianjO, Kaplan KH, McMillianTN,


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ção erétil (ou não) ocasionada. 9. Mueller Se, Lue TF Evaluation of Vasculogen ic impotence.
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Se houve prolongamento excessivo da ereçâo (pria- 10. Shabsigh R, Fishman U, Scou FB: Evaluation of erectile
pismo), com correção espontânea ou terapêutica. impotence. Urology 198832 83-90.
11. Coral P et a\. Doenças de Dupuytren e de Ledde rhose
Associadas ao uso crônico de anticonvulsivantes. Arq . Neul"Q-
CONCLUSÕES Psiquiatr 199957:860-862.
12. Prando D. ew Sonographic Aspects of Peyronie Disease. J
As avaliações dos pacientes portadores de disfunção eré- Ultrasound Med 2009;28217-232.
til vão continuar a existir apesar dos avanços medica- 13. King BF Jr, et al: Duplex sonography in lhe evaluation of
impotence: current techniques. Semin [ntervent Radiol
mentosos . O paciente com distúrbios psicossomáticos 1990.7215-221.
vem aumentando, devido à vida cada vez mais opressiva 14. Rajfer J, et al: Correlation between penile angiography and
e aos já epidêmicos quadros depressivos, ficando sem- duplex scanni ng of cavemous aneries in impotent men. J
Urol 1990.143 1.128-132.
pre em questão se aquela falha acontecida na ereção veio
15. Rosen MP, et aI: Radiologic assessment of impotence:
de um momento complexo ou de uma doença orgânica, angiography, sonography, cavernosonography and
mesmo que a soluçâoestep em um comprimido. Cabe scintif!,raphy AJR 1991;757:953-960.
aos médicos que lidam com estes indivíduos ajudarem 16. Coelho A, Brum 0, Canongia PM. Pênis e bolsa escrota \.
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no que for possível para devo lver a sua autoestima e, se 17. Ghafoori M, Hoseini K, and Shakiba M. Comparison of one-
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359
Proced imentos Ci rúrgicos Ecog uiados

~ Figura 28.3. (A ) Visibilização da safena magna proximal (seta menor) com a fibra ótica em seu interior e a área infi ltrada
com soro ge lado no espaço perivenoso, entre as duas aponeuroses (seta maior). (8 ) Fotografia in traoperatória em que se verifica
o posicionamento do conj unto cateter/fib ra óti ca na safena prox imal.

cirurgicamente, exterioriza-se o conjunto nesse ponto e e sua utilização no tratamento de varizes de grandes va-
introduz-se a fibra ótica no lugar do guia. Caso a croça sos. A associação da escleroterapia com ao USV agregou
não tenha sido abordada, controla-se o posicionamento segurança e precisão ao métod0 910
da fibra pelo eco. A seguir, é realizada a infusão de soro fi- A ecoescleroterapia com microespuma apresenta vá-
siológico gelado no trajeto da safena magna e nos demais rias vantagens em relação à escleroterapia líquida: 1) a
trajetos varicosos a serem tratados (no lugar da solução microespuma permite o preenchimento de grandes espa-
anestésica previamente mencionada) para atuar como ços dentro das veias , a partir de volumes bem pequenos
isolante térmico. Mais uma vez a infiltração é realizada do líquido esclerosante misturado com ar; 2) a microes-
na loja safênica, entre as duas aponeuroses, facilmente puma promove o deslocamento do sangue no interior
identificadas pelo eco. A infiltração é acompanhada ao da veia varicosa durante a sua injeção, permitindo um
longo de toda a safena, geralmente por etapas, procuran- contato mais longo e intensivo com o endotélio do vaso;
do manter o efeito térmico negativo protetor (Fig. 28.3). 3) a injeção da microespuma promove um vasoespasmo
A USV permite não somente assegurar o posiciona- na veia; 4) a microespuma apresenta uma perfeita ecovi-
mento preciso da fibra dentro do tronco safeno, mas tam- sibilidade por ultrassonografia com Doppler em cores,
bém a infiltração correta no espaço interfascial. Embora o que torna o método bastante seguro; 5) a microbolha
haja relatos do uso de laser para tratamento da IVSMI apresenta uma estabilidade de no mínimo 30 minutos ,
sem emprego de eco intraoperatório, a nosso ver, seu uso garantindo, assim, uma elevada eficácia terapêutica 1 1. 12
é indispensável..J·6.s
Para preparação da espuma de polidocanol, uma
selinga de 3 ml contendo 1 ml de polidocanol a 3% é
TRATAMENTO EN DOV ASCU LAR DA conectada a uma seringa de 5 ml contendo 5 ml de ar,
INSUFICIÊNCIA VENOSA SUPERFICIAL por meio de uma torneira de infusão de 3 vias ; após 20
DOS MEMBROS INFERIORES COM movimentos na mistura do ar com o líquido, é obtida
a microespuma, ou espuma densa , como ela é também
INJEÇÃO ESCLEROSANTE DE ESPUMA
-- -- ~ designada. 10
A escleroterapia com a introdução de bolhas de ar no O paciente é colocado em posição de Trendelenburg
sistema venoso superficial, para retirar o sangue e me- e as veias-alvo, previamente mapeadas , são localizadas
lhorar a ação terapêutica do esclerosante no endotélio, por meio da USV Para realizar o tratamento na safena
foi descrita primeiro por Orbach 3 magna , um total de 5 ml de espuma é injetado, com
A constatação da capacidade de alguns esclerosantes compressão da junção safenofemoral por 15 minutos no
de produzir microespumas com potente ação terapêutica intuito de evitar a migração da espuma para o sistema
levou a um crescimento do interesse pela escleroterapia venoso profundo (Figs. 28.4 e 28.5)

315
Ultrasso n og rafi a V asc ular n a Di sfun ç ão Erét il

Quadro 32 .2. Critéri os di agnósti cos para a USV na di sfun ção erétil

VPS VDF Relação art.cavernosa pré-/pós-TEFI

Exame normal > 30-35 cm/s bil ateral Igual a zero, com o IR~l > 75% bil ateral
bil ateral
-
Exame sI características > 25 cm/s bil ateral Não relevante > 75% ou < 75%, porém com
evidentes de doença Tempo de aceleração análi se da qualidade da artéri a e
arterial alto do vo lume de flu xo bil ateral

Exame sI característi cas > 25 cm/s bilateral > 5 cm/s bilateral ou > 75% ou < 75% , porém com
evidentes de apenas doença Tempo de aceleração unilatera l, levando-se em análise da qualidade da artéria e
venoclusiva alto consideração o tanto de do vo lume de flu xo
aumento e a presença de
ereção plena

Exame c/ características < 25 cm/s unil arera l ou Não relevante, leva ndo-se em < 75% unil ateral ou bilateral
evidentes de doença bilateral con sideração os padrões
arterial monofásicos, de baixa
amplitude

~ Figura 32 . 19. Caso de pri api smo es pontâneo em pac iente


com 33 anos . Análi se em M odo B com o pêni s rebatido para
o ventre. O bserva m-se nas fi guras seq uenciadas os corpos
cavern osos densos, advi ndos de 5 d ias de ereção contínua.
Corte transverso (A), longitudinal esq uerd o (8) e longitudinal
d ireito (C).

357
Procedimentos Cirúrgicos Ecoguiados

Essa ferramenta auxilia o cirurgião tanto na obtenção


do acesso arterial, na realização de angioplastia ou no im-
plante de stents, assim como na avaliação do resultado do
tratamento, sem a necessidade do emprego de contraste
ou com a redução do volume utilizado 27 (Figs . 28.9 e
28.10)

Figura 28.6. Pseudoaneurisma femoral esquerdo.

~ Figura 28.9. Rea lização de punção anterógrada da artéri a


femoral com um e posicionamento de bainha guiada por
Doppler em cores.

Figura 28.7. Corte ultrassonográfico transverso


evidenciando pseudoaneurisma da artéria femoral comum
direita (AFCD).

Figura 28.10. Punção retrógrada da artéria popl ítea


esq uerda guiada pelo Dopp ler em co res.

ANEURISMA DE AORTA ABDOMI NAL


o tratamento do aneurisma da aorta abdominal assistido
~ Figura 28.8. Corte ultrassonográfico longitudinal por Doppler em cores é realizado associando-se o uso
evidenc iando trombose de pseudoaneurisma femoral após da f1uoroscopia em situações nas quais não é possível o
injeção de trombina. emprego do contraste iodado .

3 17
Ultrassonografia Vascular na Di sfun ção Erétil
------------ ------------------------

Figura 32.16. Mesmo paciente da Fig. 32.15 apresentando oclusão da artéri a pud er.da interna direita, com col aterais
(bulbarl suprindo as artérias dorsal e cavernosa ipsil ateral.

A va riação pouco significa ti va d o diãmetro das ar- Em LOdos os exames realizados, deve-se aguardar o es-
té rias cave rnosas su ge re in adeq uad a perfusão. Um au- vaziamento com pleLO do pênis, até a flacidez , não permi-
mento do di ãm etro da artéria cave rn osa pós-fármaco d e tindo que o paciente vá para casa no estado erétil , o que
75 % em relação ao seu estado em rep ouso f: um bom inicialmente pode ser satisfatório para ele , porém gerando
faLO r in dicativo pa ra supo r resposta satisfatóri a, 19.2l1 mas posterior angústia nos estados de priapismo. O esvaziamen-
para alte rações men ores deve -se leva r em conta a ve- to do pênis deve ser feito por punção direta do corpo caver-
locidade de flu xo arteri al, que men sura , co m a área, o noso, com escalpe 19 ou l i , caso a ereção plena u ltrapasse
fl LI XO ve rdadeiro . o tempo de duas horas. Em caso de se manter apenas uma
Ve locidade diastólica final (VD F) acima de 5 cmls tumescência por algum tempo a mais, o monitoramento ga-
pós-fármaco faz em su po r redução da resistência arterial rante o controle de um possível priapismo
p or fu ga venosa. A co rrelação com a cavern osografi a/me- As situações de priapism o iatrogênico ou espo ntâ-
tlia nestes casos demonstrou -se fidedigna na sua maio- neo, se não cO l1lroladas , podem levar a da nos irreversí -
ria 2 1 (Figs 32.17 e 321 8) ve is aos corpos cave rnosos (Figs. 32 .19 e 3220)
A síntese dos crité rios d iagnósticos apresenta-se no As informações indis pensáve is no laudo da USV com
Q uad ro 32.2. TE FI constam no Q uadro 32. 2

355
Procedim e ntos Cirúrg icos Ecog ui ados

vascular no tratamento das vasculopatias. Citamos aqui, 14. Kresowik TF, Khoury MD, Miller BV, Winniforcl MD,
em ordem alfabética, aqueles a quem nós, e nossos pa- Shamma AR,Sharp WJ, et aI. A prospective study of
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319
Ultrassonografia Vascular na Di sfunção Erétil

Figura 32. 12. Comunicação entre os co rpos cavernosos (A e D), entre a artéria bulbar e os corpos cavernosos (8) e entre as
artérias dorsal e cavernosa (C) .

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS

Achados pelo Doppler em cores no


exame pós-fármaco
Após a obtenção do estado erétil, ou após a dosagem
plena da droga vasoativa, fazemos a avaliação da velo-
cimetria das artériãs cavernosas e dorsais e medimos
o diâmetro das artérias cavernosas. Destes dados, reti-
ramos uma série de subsídios importantes: se o fluxo
das artérias dorsais e cavernosas estão equivalentes ,
bilateralmente, ou se há variância significativa (>10
cm/s), fazendo-nos supor sobre a existência de doença
arterial unilateral; se há anomalias anatomoestruturais
que não permitam a ereção plena (como em alguns
casos da doença de Peyronie); se há formações anõ-
malas (ausência ou hipogênese arterial); se há fístulas
traumáticas etc .
Na avaliação de próteses previamente instaladas, é
possível monitorar lesões nas estruturas destas ou no
Fi gura 32.13. Próteses penianas instaladas, vistas em corte
corpo cavernoso (Fig. 3213). longitudinal (A ) e transverso (8 ).

353
CAPíTULO 29
Mapeamento Venoso e
Sa ndra Aparecida Ferreira Silveira
Arterial para Uti I ização como
Substituto Vascular

SELEÇÃO DE VEIA PARA UTILIZAÇÃO ~ Quadro 29 .1. Indicações da USV pa ra seleção de


substituto vascul ar
COMO ENXERTO
Revasculari zação miocárdi ca
Introdução Revasculari zação periféri ca
Confecção de fístula arteriovenosa para acesso de
A safena autóloga começou a ser usada como substituto hemodiáli se*
arterial na obstrução femoropoplítea pela primeira vez por 'Esse tópico será discutido em out ro capítulo.
Kulin, l em 1949. Ela é considerada, pela maioria dos ci-
rurgiões vasculares, o melhor substituto vascular para ar-
térias de pequenos e médio calibres 2 Entretanto, 8,5-30%
dos pacientes 3 que necessitam de revascularização não
dispõem de safena aut6loga, uma vez que se submeteram
previamente a safenectomia ou suas safenas não são ade-
quadas devido aos seus diãmetros, extensão, presença de
trombose , inflamação, estenose e/ou dilatações.
Com o advento da ultrassonografia vascular com
Doppler, tem sido possível informar o estado anatômi-
co e funcional das safenas magna e parva, objetivando
fornecer para o cirurgião cardiovascular parâmetros que
possam ajudá-lo a dec idir se são adequadas como subs-
tituto vascular.;

Indicações
A revascularização miocárdica e periférica e a confecção
de fístula arteriovenosa são as principais indicações clí-
nicas (Quadro 29.1 ).

Protocolo de exame
Paciente em posição ortostática apoiando o peso do cor- ~ Figura 29 .1. Transd utor aplicado no trajeto da safena

po no membro contralateral e mantendo o membro ava- magna, que está marcado em preto na pele.

liado relaxado e levemente fletido para que se realize a


medida dos diâmetros internos da safena (Fig. 29.1) . • Utilização de transdutor linear de 5-12 MHz, depen-
dendo da região a ser estudada, podendo , para estu-
• Paciente em posição de Trendelenburg reverso para do de veias profundas, uti lizar transdutores convexos
a avaliação da perviedade do sistema profundo e da de 4 MHz , com ajuste da profundidade e ganho em
safena. Modo B.

321
Ultrassonografia Vascular na Disfunção Erétil

Figura 32.8. Corte longitudinal de placa calcificada na face ventral do corpo cavernoso direito no segmento da albugínea
(A ) e o seu respectivo corte transverso (B).

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-LARGURA DA PLAC A

Figura 32.9. Medidas da extensão (A) e largura da placa no corpo peniano (B).

Figura 32.10. Corte tran sverso do corpo


peniano demonstrando zona fibrótica na
face dorsal dos corpos cavernosos, ao
nível da albugínea, com placa calcificada à
direita, observando-se somb ra acústica.

351
Mapea me nto Ve noso e Arte ri a l pa ra Ut ili zação como Substit uto Vascular

artérias do antebraço,6 além de não ser capaz de forne-


cer informações sobre a qualidade da artéria . Diâmetro
inadequado , parede com calcificação e aterosclerose de
artéria radial estão presentes em 31 % dos pacientes l
O estudo estático e dinâmico da artéria radial com a
5mm
ultrassonografia vascular correlaciona-se com os achados
encontrados na pletismografia, na oximetria e no Doppler
4mm
contínuo, e oferece dados objetivos pré-operatórios que
podem evitar a rejeição da artéria ou a isquemia da mão B
3mm
O estudo pré-operatório da artéria radial pela ul-
trassonografia vascular, quando correlacionado com a
2mm
avaliação pelo cirurgião cardiovascular no ato cirúrgico ,
2 mm tem comprovado a eficácia do ultrassom na seleção desse
vaso para uso como substituto vascular. Os parâmetros
2mm
correlacionados são: diâmetro, perviedade e presença de
ateromatose nas artérias radial e ulnar (Quadro 29 .5)9

• Figura 29.6. Esquema das med idas obtidas na safena magna. • Quadro 29.5 . Critéri os (USV) na seleção da artéria radia l
para uti lização como enxerto
Pervi edade das artérias radial e ulnar.
Situações especiais e controversas Diâmetro > 2,5 mm da artéria radial.
Ausência de ateromatose significativa na artéria radial e ulnar.
Na ausência de veia adequada, em isquemia crítica com Avaliação ind ireta da integridade do arco palmar.
possibilidade de perda do membro , podemos, como
medida extrema , fazer a utilização de veias varicosas ou
anastomoses contínuas de veias de segmentos diferentes. Indicação
Na falta das safenas magnas e parvas, outras veias podem A principal indicação da avaliação da artéria radial para
ser utilizadas como reserva venosa autóloga, sendo as sa- utilização como enxerto é a doença coronária obstrutiva
fenas acessórias anteriores, as basílicas e as cefálicas can- com indicação cirúrgica .
didatas ao papel de substituição de segmentos arteriais
de menor extensão, sejam como únicas ou em anastomo-
Protocolo de exame
ses contínuas factíveis nos membros inferiores.
• Paciente em decúbito dorsal.
• Transdutor linear de 7-12 MHz, com ajuste da pro-
SELEÇÃO DA ARTÉRIA RADIAL fundidade e ganho em Modo B.
PARA UTILIZAÇÃO COMO • Avaliação anatômica da parede anerial (calcificação, ate-
ENXERTO AORTOCORONÁRIO romatose) e medida do diâmetro da artéria radial utili-
zando o corte ultrassonográfico transverso em pelo me-
Introdução nos 3 níveis, ou conforme necessário: punho, segmento
A utilização da anéria radial como enxeno aonocoronário médio do antebraço e próximo ao cotovelo (Fig. 29 .7).
tem-se mostrado, segundo alguns autores, superior ao uso da • Mapeamento em cores do fluxo para avaliação da
veia , devido à semelhança entre os calibres arteriais, à mesma perviedade e identificação das estenoses nas artérias
constituição da parede e ao maior tempo de patência 5 ulnar e radial (Fig. 29 .8).
O estudo da circulação colateral ulnar para suprir a • Estudo com Doppler pulsado: divide-se em duas fases.
mão é imprescindível antes da retirada da artéria radial A l a fase é estática e nela obtêm-se o padrão de fluxo e
para utilização em enxertos coronarianos. A manobra de as medidas dos picos de velocidade sistólica nas arté-
Allen começou a ser utilizada na prática cllnica em 1929, rias radial (Fig. 29.9) e ulnar (Fig. 29.10) na altura do
com o objetivo de avaliar essa circulação. Entretanto, punho. A 2a fase é dinâmica e compreende a aquisição
em alguns pacientes, a interpretação desse teste clínico do pico de velocidade sistólica na artéria ulnar após a
pode estar prejudicada pelas anomalias anatômicas das compressão manual da artéria radial (Fig. 29 .11 ).

323
Ultrassonografia Vascular na Disfunção Erétil

~ Quadro 32.1 . Mecani smos ca usadores da di sfunção e rétil

Tipo Forma

Psicogênicas Fato res predisponentes ou causados por situações desfavoráveis (por ex.: episódio de falha na ereção seguida
de constrangimento).

Endocrinológicas Hipogonadismo, hiperprolactemia, hipertireoidismo e hipotireoidismo, diabetes.

Cardiológicas IAM, hipertensão arterial , di sfunção card íaca.


Neurológicas Alterações dos impul sos de ereção descendentes da medula ou parassimpático sacra I na pelve. Alterações
centrais no controle da ereção.
Arteriais Aterosclerose, arterite, trauma, iatrogenia.
Venosas Alteração ve nosa primária, alterações venosas secundárias à cirurgia, anorma lidade da túnica albugínea, falha
na fun ção do músculo li so cavernoso.

latrogênicas Relacionada a substâncias injetáveis, cirurgias, radioterapia.

Outras Tabagismo, alcoolismo, consumo de drogas, doenças autoimunes, câncer, doença de Peyroni e.

~ Figura 32.4. (A
e B) Observam-se a
tortuosidade do corpo
peniano (A) e sua
curvatura e redução de
tamanho no estado erétil.

uma reentrada malsucedida causam no pênis ereto uma A utilização indiscriminada e muitas vezes pouco
fralura do corpo cavernoso, algumas vezes pouco per- ética d e produtos inj e táveis como terapêu tica para a dis-
ceptível, mas facilmente associável ao início da cu rvatura função erétil vem ocasionando micro ou macrotraumas
peniana (Fig. 32.5). A anamnese durante o exame facili ta repetitivos , pois os cuidados n em sempre bem geren-
a recordação desta associação. ciados na administração de forma contínua pelo pacien-
te alg umas vezes favorecem a lesão das trabéculas dos
corpos cavernosos. A orientação a ser seguida durante
a aplicação deve ser, tanto para o médico com o para o
paciente , de não fo rçar a penetração da droga em caso
de resistência, reposicionando a agulha até encontrar um
deságue fácil da substân cia (Fig. 326).

AVALIAÇÃO ULTRASSÔNICA
VASCULAR
Modo B
A avaliação ultrassônica pemana tomou-se possível com
~ Figura 32.5. Pacie nte com episódio de trauma do corpo
cavernoso durante o ato sex ua l. Observar a zona de retração o advento de transdutores de alta definição , tanto como
no segmento med ioproximal do pênis e a sua curvatura a inda na avaliação d e presumidas disfunções eré teis de ori-
suave para ci ma. gem vasculogênica com o em s ituações d e lesão do cor-

349
Mapea me nto Ve noso e Arte ri a l pa ra Uti lização como Subst ituto Vasc ul a r

Situações especiais e controversas com ecocolor Doppler no pré-operatório de cirurgia de


revascularização miocárdica . Rev Bras Cir Cardiovasc
• Presença de calcificação na artéria radial que impede 1999;l4( 4):303-7 .
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• O padrão de Ouxo na artéria radial pode ser de baixa with the radial artery: a clinicai and angiographic study. Ann
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Rei F, CaroneJr J , Moises S. Mapeamento da safena interna e confirmação por avaliação cirúrgica.

325
CAPíTULO 32
Nostradamus Augusto Coelho
Disfunção Erétil

INTRODUÇÃO função erétil, utilizando-se mais amiúde exames com-


plementares, como os laboratoriais, a ultrassonografia
A impotência sexual masculina pode ser definida como vascular (USV), a cavernosografia , as avaliações neuroló-
a incapacidade de um homem realizar o coito de for- gicas e, quando necessária, a arteriografia. Uma avaliação
ma plena, seja por dificuldades de ereção, ejaculação multidisciplinar é realizada com a participação de um
precoce, J.lterações anatômicas, fatores psíquicos ou so- psicoterapeuta, dando respaldo às condutas técnicas as-
ciais. Em 1993, após o consenso do Instituto Nacional sumidas, inclusive em pacientes de alto risco cardíaco. 5 ,6
de Saúde dos EUA, o termo "disfunção erétil" passou a Com a chegada no mercado do citrato de sildenafil,
substituir a expressão "impotência sexual" no que tange
acontece uma grande revolução na história da disfunção
à incapacidade de conseguir uma ereção adequada para
erétil, transformando pacientes que antes apresentavam
a cópula. I Fazem parte desta complexa trama distúrbios
dificuldades de ereção pelo não relaxamento da muscu-
psicogênicos, anatômicos, endocrinológicos, neurogêni-
latura lisa, o qual bloqueava o processo erétil, em no-
cos, farmacológicos ou vasculares, isoladamente ou asso-
vamente potentes, graças à inibição da fosfodiesterase -5
ciados. A prevalência de cada uma destas causas está vin-
(PDE-5) .7 Hoje já encontramos várias substâncias de ação
culada a um intrigante quadro de sinais e sintomas que
semelhante, reduzindo razoavelmente a procura ao labo-
o paciente apresenta, tanto psíquicos quanto somáticos,
ratório vascular, porém a necessidade de definir a origem
não devendo seus aspectos sindrômicos ser analisados
da sua disfunção, assim como as alterações anatomofi-
como fatores únicos e isolados .
siológicas, como a doença de Peyronie ou traumas, ainda
Kinseye cals., em 1948, admitiam a presença de dis-
faz os pacientes recorrerem à ultrassonografia vascular
função em 1% dos homens abaixo de 19 anos , 3% até 45
anos, 6,7 % entre 45 e 55 anos e 25% até a idade de 75 (USV) como alternativa para seu diagnóstico .
anos 2 A tendência inicial de classificar os problemas de
inadequação sexual em psíquicos ou próprios da idade ANATOMIA PENIANA
foi gradualmente modificada com a descoberta de fatores
orgânicos como possíveis causadores das alterações de Para fins didáticos, podemos definir o pênis em 3 estru-
ereção . No território vascular, Wooten 3 e Leriche 4 de- turas: a base, composta por raízes e bulbo; o corpo pe-
monstraram interferências das veias e artérias nos casos niano , dividido em 2 corpos cavernosos e o corpo espon-
de disfunção erétil (DE). Assim, o paciente passou a pro- joso, que são a continuação respectivamente das raízes e
curar, além do psicólogo , o endocrinologista, o neurolo- do bulbo; e a glande. Os corpos cavernosos apresentam
gista, o angiologista e o urologista, sendo algumas vezes múltiplas cavidades sinusoides, e o corpo esponjoso é
submetido a vários procedimentos pretensamente cura- transpassado pela uretra. O corpo peniano é envolvido
tivos , como o uso indiscriminado de drogas injetáveis, por uma fáscia chamada túnica albugínea e entre os cor-
colocação precoce de próteses ou correções de fuga ve- pos cavernosos existe um septo divisor fenestrado, per-
nosa, sem o respaldo de análises mais detalhadas quanto mitindo ampla anastomose entre os dois lados.
às condutas tomadas. A perfusão peniana é originada da artéria pudenda in-
Atualmente, observa-se uma tendência mais equili- terna , um ramo da artéria ilíaca interna. Em número de
brada quanto à análise de hipóteses de causas da dis- duas, cada artéria pudenda interna gera uma série de ra-

347
CAPíTULO 30
U Itrassonografia Vascular na
Marcondes Figuei redo
Escleroterapia com Espuma Salustiano Pereira de Araujo

em Varizes

INTRODUÇÃO utilizar pouco brilho no Modo B. Para o Doppler Pul-


sado, utiliza-se um filtro de 100 e no Doppler Colorido
A ultrassonografia vascular (USV) é o método ideal para utilizamos um ganho de aproximadamente 50-75.
avaliar o ref1uxo venoso nas extremidades inferiores. De
baixo custo, não invasiva, pode ser repetida facilmente e
Posição do paciente
é bem aceita pelo paciente .} O método realiza a visuali-
Para a punção da safena magna ou parva com calibres
zação direta, localização e classificação do ref1uxo venoso
menores, o paciente é colocado em posição supina para
com alta sensibilidade (95 %) e especificidade 000%). 2
obtermos uma dilatação da veia, o que facilita sua pun-
O crédito do ressurgimento do tratamento com espu-
ção, em seguida coloca-se o paciente em decúbito dorsal
ma em varizes tronculares é atribuído aJuan Cabrera, que
para proceder à injeção da espuma (Fig. 30.1).
combinou uma fina espuma (microespuma) com a USv,
Quando o paciente apresenta safenas com calibres
obtendo bons resultados, e partir disso o método teve cre-
maiores, este pem1anece em decúbito dorsal para pun-
dibilidade e vem numa crescente no mundo todo. )
ção da safena magna e ventral para safena parva. No
A ultrassonografia vascular atua em todas as fases
acompanhamento pré e pós-procedimento, o paciente é
do tratamento das varizes por espuma: no diagnóstico
mantido em posição supina.
prévio, mapeando o sistema venoso superficial e pro-
fundo; no auxílio à punção da veia , seja colateral, safena
magna ou parva ; visibilizando a espuma no interior da Posicionamento do transdutor
veia durante a injeção; no acompanhamento imediato O transdutor pode ser posicionado no momento da
e principalmente no acompanhamento tardio para ver punção de forma transversal ou longitudinal à veia
a efetividade e/ou necessidade de novos tratamentos. A (Fig.30.2).
indicação da USV como coadjuvante no tratamento das
varizes abrange pacientes portadores de varizes dentro
da claSSificação clínica CEAP (de C3 a C6). 4

PROTOCOLO

Escolha do transdutor
Utiliza-se um transdutor linear de 5-12 MHz tanto para
a avaliação di agnóstica quanto para o tratamento e acom-
panhamento.

Programação do equipamento
Geralmente a programação pode variar de acordo com
Oecografista vascular, porém existe uma preferência de ~ Figura 30.1. Presença de cateter no interior da veia.

327
Ultrassonografia Vascular do Escroto

Quadro 31.10 Quadro 31.11

• Diãmetro venoso> 3 mm • Ajustes inadequados de cor e PRF podem resultar em não


• Refluxo venoso com manobra de Valsalva detecção de fluxos de baixa velocidade
• População pediátrica: vasos muito pequenos com fluxo
veias < 3 mm não são palpáveis, e que 5% destas apre- muito lento

sentavam refluxo ll (Quadro 3110) • Hidroceles volumosas '2

A Fig. 31 18 mostra out ros achados no exame do es- • Síndrome torção/distorção

croto. • Torção parcial


• Grandes hematoceles: dificultam a visibilização testicular '2
LIMITAÇÕES DO MÉTODO • Edema escrota I acentuado dificultando a penetração do
feixe ultrassônico
Siluações que podem reduzir o fluxo testicular (Q uadro • Infarto testicular secundário a orquiepididimite
3111)

Figura 31.18. Outros achados. (A) Tromboflebite aguda das veia do plexo pampiniforme. (8) Espessamento parietal em veias
do plexo pampinifo rme secundário a processo inflamatório. (C) Hérnia escrotal: alça intestinal com gás adjacente ao testículo. (D)
Canal inguinal co m aumento de espessura de partes moles associados à dilatação de canalículos linfáticos.

345
Ultrêl 5so n og rafia Vascular na Esc leroterapié1 com Espuma em Varizes

Critérios de Ava liação de Yamaki

Cclusão tol3l Recanalização Recanalização Completa


par·cial sem refluxo parcial com r·efluxo recanalização
Figura 30.5. Esquema
Oermatol Surg 2004: 30 718-722 dos critérios de ava li ação
do tratamento feito com
espumil.

Figura 30.6. A cla sc ifiração ue Yamaki com os se us critérios ultrassonográficos.

329
Ultrassonografia Va scu lar do Escroto

UL TRASSONOGRAFIA COM DOPPLER ão alteram o diâmetro com manobra de Valsalva


EM CORES NAS VARICOCELES ou decúbito.
As varicoceles do lado direito são raras (menos de 2%
Trata-se da dilatação das veias do plexo pampinifonne , dos homens nonnais ou in férteis) ,Ii secundárias a obstrução
de ocorrência comum, incidindo em cerca de 8-22,9% ou compressão da veia cava inferior e/ou das espennáticas.
dos homens sem história conhecida de infertilidade e em Nesses casos, o fluxo venoso é espontâneo, contínuo, de ve-
torno de 37% dos inférteis, 10 podendo estar associadas a locidades maiores que nas varicoceles extratesticulares, que
aumento do volume e dor escrotal. não se alteram durante a manobra de Valsalva.
As varicoceles primárias lJ geralmente ocorrem por A ultrassonografia em Modo B mostra imagens ane-
incompetência valvular na veia espermática interna (tes- coicas tubulares e serpiginosas, paratesticulares, com di-
ticular) e/ou anonnalidades na veia renal esquerda 2 . 11 âmetros> 2,0 mm, estendendo-se para o canal inguinal
Aumentam de diâmetro com a manobra de Valsalva e em Raramente podem ser intratesticulares (menos de 2%
posição ortostática. da população com sintomas escrolais), geralmente à esquer-
São mais comuns do lado esquerdo, podendo ser bi- da, associadas a varicoceles extratesticulares homolaterais ,
laterais em cerca de 20% dos casos de infertilidade. também relacionadas com infertilidade, podendo ser res-
As varicoceles secundárias decorrem de aumento de ponsáveis por quadro de dor, edema e massa escrota!.
pressão nas veias espermáticas e/ou suas tributárias devi- Aparecem no Modo B como imagens tubulares, ane-
do à obstrução e/ou compressão venosa por massas ab- coicas e serpiginosas, com diâmetros> 3,0 mm, situadas
dominais , retroperitoniais ou pela Síndrome de quebra- em torno do mediastino testicular, e subcapsulares, po-
nozes (compressão da veia renal esquerda pela artéria dendo ser confundidas com cistos testiculares , ectasia da
mesentérica superior). rede testis, hematoma e orquite focal

Figura 31 .16. Alterações texturais secundárias a processo inflamatório. (A) e (8 ). Testículo : irregularidade do contorno, padrão
textural grosseiro com pontos ecogênicos. (C) Epidídimo heterogêneo associado a hidrocele. (D) Testículo heterogêneo, ectasia
da rede testis.

343
U ltrass on ografia V asc ul ar na Esc lerot erapi a c om Espuma em V arize s

Figura 30.9. Espessamento da pa rede e desorga ni zação da mes ma pós-tratamento tardi o com espuma na safena magna .

Figura 30.10. (A) Travas fibróticas no interi or da ve ia, pós-tro mbose venosa. (8) Trava fibróti ca no interi or da safena, pós-es-
cl eroterapi a com es puma.

Figura 30.11. (A) Safena magna com oc lu são total. (8) In co mpress ibilidade da veia pós-tratamento.

33 1
Ult rassonografia Vascula r do Escroto

Na ultrassonografia em Modo B, evidencia-se peque- Quadro 31.6. Critérios diagnósticos


na massa hipoecogênica ou complexa adjacente ao testí- US em Modo B:
culo ou epidídimo acometido . Epidídimo de espessura aumentada, textura heterogênea e
O Doppler com fluxo em cores mostra ausência de hipoecoica.
Aumento de espessura da parede escrotal.
fluxo no apêndice torcido e hipervascularização em tor- Hidrocele reacional, que pode ser homogênea ou com
no do mesmo septos e/ou debris (ecos flutuantes), sugestivo de líquido
O fluxo testicular está norma\. espesso.
Testículo acometido aumentado de volume, hipoecoico, de
textura heterogênea.
Doppler
PROCESSO INFLAMATÓRIO Hiperem ia vascular (aumento da captação de fluxo no
AGUDO ESCROTAL testículo e epid ídimo acometido).
índice de Resistência (IR) < 0,7 nas artérias do epidíd imo e
A epididimite bacteriana é a causa mais frequente de pro-
< 0,5 nas testiculares. 6
cesso inflamatório agudo escrotal no adulto .
O acometimento testicular é geralmente secundário A isquemia aguda decorre da compressão do pedícu-
ao processo inflamatório do epidídimo (orquiepididi- lo vascular do cordão espennático e do epidídimo , I com
mite), podendo ser isolado (orquite) em crianças, geral- trombose das veias intratesticulares , sendo evidenciada
mente associada a caxumba B redução ou ausência de vascularização ao Doppler com
Nos casos complicados com abscesso, a ultrassono- mapeam ento colorido , em comparação com o testículo
grafia com Doppler colorido evidencia coleção não homo- contralateraJ. 7
gênea , hipoecoica , de contornos irregulares, com reforço Suspeitar de isquemia com risco d e infarto quando
acústico posterior, podendo ser identificado halo hipoe- os índices de resistividade nas arté rias testiculares estive-
coico e debris 8 O testículo apresenta dimensões aumen- rem elevados s
tadas com áreas hipoecoicas. Ao mapeamento colorido , A orquite pode causar isquemia glo bal do testículo ,
observa-se aumento da captação de fluxo em torno da simulando torção. I
coleção ou das imagens hipoecogênicas testiculares , com A Fig. 31.15 e 31.16 d emonstram os achados ultras-
fluxo de baixa resistência ao Doppler (Quadro 31.6) . sonográficos no processo inflamatório escrota\.

Figura 31.15. Proces-


so inflamatório agudo
demonstrando aumento
difuso da vascularização
ao mapeamento colorido.
(. ) e (H) Aumento de ex-
pessura e redução da eco-
genic idade da cauda do
epidídimo. (C) e (D). Or-
quiepididimite, alteração
textural difusa e aumento
da espessura da parede da
bo lsa escrota!.

341
Ultrassonografi a V asc ular na Escl eroterapi a com Espum a em Va ri zes

Figura 30.14. (A) MZS, 74 anos, apresentando lesão ulcerada extensa pré-tratamento com microespuma. (8 ) Lesão em
acompanhamento tardi o quase cicatrizada.

REFERÊNCIAS 4. Figueiredo, M.; Tralamemo csclerosante das varizes. In :


Maffei, FHA; Lastória, S; Yoshida ,WB; Rollo,HA; Giannini,M;
L Labropoulos N, Leon LRJr. Duplex evaluation of venous Moura,R; Doenças Vascula res Periféricas, RJ: Guanabara
insufficie ncy. Semin Vasc Surg 2005; 18:5-9. Koogan 2008: 1760-1 768.
2. Depalma RG, Kowallek DJ, l3arcia TC, Cafferata HT. Target 5. Yamaki T, Nozak i M, Iwasa ka S. Co mparative study of
seleclion for surgical imcrvemion in seve re chronic ve nous duplex-guided foam sclerothcrapy and duplex-guided
insufficiency: comparasion if duplex scan and phlebography. liquid sclerolherapy for the trearmem of superficial venous
J Vasc Surg, 2000;32 :913-20 . insufficiency. Dermatol Surg. 2004;30(5) :718-22
3. Cab rera J, Redondo J, Becerra A et a!. Ultrasound-guidcd 6. Breu FX, Guggenbichler 5, Wollmann Jc. 2nd European
injeclion of polidocanolmicrofoam in the management of Consensus Meeting on Foam Sclerolherapy 2006, Tegernsee,
the leg ulcers. Arch DermaLOI 2004; 148:667 -73 . Germany. Vasa 2008;37(Suppl 71) :3-29.

333
Ultrassonografia Vascular do Escroto

~ Quadro 31.3. Etiologia da dor escrota I aguda

• Torção testicular
• Orquiepid id imite
• Torção de apêndice testicular ou epididimal
• Hérnia inguinoescrotal encarcerada
• Edema escrota I agudo idiopático
• Hidrocele aguda
• Púrpu ra de Henoch-Schoelein
• Trauma escrota I e hematocele

Dentre os exames de imagem para diferenciação


diagnóstica , a ultrassonografia com Doppler colorido é a
modalidade de escolha, com especificidade e sensibilida-

~ Figura 31.11 . Artéria centrípeta. Padrão de fluxo normal ao


de próximas a 100%l
Doppler espectral. A cintilografia tem sido utilizada nos casos em que a
ultrassonografia vascular não foi conclusiva.

TORÇÃO TESTICULAR
Causa mais comum de dor testicular em crianças 6
Os achados da ultrassonografia dependem do tempo
de isquemia e do grau de torção (Fig 3114)
Quanto mais rápidos forem o diagnóstico e o trata-
mento , maior a possibilidade de se manter a viabilidade
testicular (cerca de 80-100% nas primeiras 5 horas des-
de o início dos sintomas) 2 .4
Torção crônica pode resultar em atrofia testicular e
infertilidade 2 (Quadro 314)

~ Figura 31.12. Cordão espermático. Padrão de fluxo nor-


mal de alta resistência das artérias (testicular, cremastérica e ~ Quadro 31.4. Achados da torção no Modo B
deferenc ial).
Primeiras horas:
Alterações Testiculares: Aumento de volume, forma
arredondada, posição horizontalizada no escroto,
ecogenicidade normal ou diminuída.
Alterações Ext ratesticulares : aume nto de espessura da parede
escrotal; hidrocele reacional.

Entre 6 e 12 horas:
Alterações Testiculares: Além das alterações descritas,
torna-se mais hipoecoico e a textura mais heterogênea.
Alterações Extratesticulares: Epidídimo de espessura
aumentada, hipoecogênico e hete rogêneo, podendo não
ser caracterizado.
Massa ecogênica paratesticular, heterogênea, adjacente à
face posterossuperior e lateral do testículo (epidídimo
edemaciado e porção intraescrotal do cordão torcido).

Fase Crônica:
Testículos de dimensões reduzidas e difusamente hipoecoico
Redução da massa paratesticular
~ Figura 31 .13. Artéria supratesticular. Padrão de fluxo nor-
Redução da espessura da parede escrota I
mal, onda de alta resistência apiculada. Parâmetros normais: Redução da hidrocele
VPS = 7,5-27,5 cm /s e IR = 0,63-1 (W . Schaberie).

339
CAPíTULO 31
Lucigl Regueira Teixeira
U Itrassonografia
Ana Claudia Luz Coelho
Vascu lar do Esc roto

INTRODUÇÃO As artérias deferencial , epididimal e cremastérica ir-


rigam a cauda dos epidídimos, através de ramos resul-
A ultrassonografia de alta resolução, com transdutores de tantes de anastomoses ente si.
alta frequência, associada ao mapeamento com Doppler A drenagem venosa dos testículos e da porção ante-
colorido, é, hoj e, a modalidade diagnóstica por imagem rior dos epidídimos é feita pelas veias do plexo pampini-
de escolha na caracterização das patologias escrotais, forme, que se unem para formar a veia testicular.
principalmente na demonstração de padrões alterados A porção posterior dos epidídimos, o canal deferente
de perfusão testicular, nos casos em que as manifestações e os tecidos peritesticulares drenam para as veias defe-
clínicas similares dificultam o diagnóstico diferencial. rencial, cremastérica e funicular (Fig. 31.8).
Trata-se de exame não invasivo, simples, rápido , sem A drenagem linfática dos testículos e epidídimos é
qualquer necessidade de preparo, mas que requer conhe- feita para vasos maiores do cordão espermático , os quais
cimento e pericia do examinador. drenam em linfonodos lombares superiores.
A drenagem linfática do escroto é feita por nu-
ANATOMIA UlTRASSONOG RÁ FICA E merosos vasos , que drenam em linfonodos inguinais
VASCULAR DO ESCROTO superficiais. 1:+
Cada compartimento escrotal tem drenagem inde-
o escroto é dividido em dois compartimentos por um sep- pendente .
to, cada compartimento contendo um testículo, epidídimo
e a porção intraescrotal do cordão espe rmático l A parede
escrotal normal mede em torno de 2-5 mm de espessura, Indicações do ultrassom vascular do
na dependência do grau de contratura do dartos 2 escroto
As principais indicações da ultrassonografia do escroto
Cordão espermáti co estão relacionados no Quadro 31 .1.
Estende-se do canal inguinal até o escroto, e contém as
artérias testicular, deferencial e cremastérica, o plexo ve- ~ Quadro 31 .1. Ind icações do ultrassom vasc ular do escroto
noso pampiniforme, o canal deferente , vasos linfáticos e
• Dor escrota I aguda
nervos. 1.3.4
• Infert ilidade masculina (varicoce les)
As Figs. 31.1 a 31.7 mostram a anatomia sonográfica • Tra uma escrotal
normal do escroto, do cordão espermático e das estrutu- • Outras (hemangiomas, angiodisplasias, fístulas)

ras intraescrotais.

IRRIGAÇÃO ARTERIAL, TÉCNICA DE AVALIAÇÃO


DRENAGEM VENOSA E LINFÁTICA DO ESCROTO
A artéria testicular irriga os testículos , a cabeça e o corpo Trata-se de órgão superficial de fácil acesso, não havendo
dos epidídimos. necessidade de preparo prévio.

335
U Itrassonografi a Vas c ular do Escroto

Figura 31.4. Medi astino testicular. Faixa ecogênica


estendendo-se no sentido cranioca udal dentro do testículo.
No plano transverso, é visto como imagem ecogênica,
situada às três e nove horas. Figura 31. 7. Apêndice do epidídimo.
Observar artérias centrípetas ao mapeamento co lorido .

o paciente é posicionado em decúbilo dorsal, com


leve tração peniana para cima, objeti vando maior expo-
sição do escroto.
O estudo é realizado com transduLOr de alta resolu-
ção (frequência de 10-12 MHz), em cortes longitudinais
e transversais , com ajuste de ganho, e foco na região de
interesse, e sempre de forma comparativa (Quadro 312).

Quadro 31.2. Ajustes do equipamento para o estudo


vascular do escroto

• Frequência de repetição de pulso (PRF) baixa


• Ganho de cor adequado
• Filtro baixo
Figura 31.5. Apêndice testicular bem caracterizado na • Caixa de co r pequena
presença de hidroce le. • Doppler pulsado: cursor no centro do vaso com volume de
amostra adeq uado ao di âmetro do mesmo

No Modo B serão avaliados a parede escrotal e sua


espessura , o conteúdo escrotal e o co rdão espermátíco.
Os testículos serão avaliados em sua morfo logia, suas
dimensões , sua textura e ecogenicidade; e os epidídim os,
em sua espessura, textura e ecogen icidade.
A túnica albugínea não é visibilizada, como estrutura
distinta, na ausência de hidrocele.
A vascu larização do escroto e de seu cOnLeúdo será
avaliada com mapeamento colorido , Doppler pulsado e
Power Dopple r,5 com ajustes para fluxo lento de baixa
velocidade (Fig. 319)
Figura 31.6. Epidídimo normal. Estrutura alongada e O padrão norma l de flux o nas anérias LesLicLl-
c urva posterolateral ao testículo, medindo cerca de 6-7 cm
lar, capsular e intratest iculares é anterógraclo, de baixa
de extensão. Isoecoico ou levemente mais ecogênico que o
testículo, sua ecotextura podendo ser mais grosseira. resistência ,12 com ve locidade sistó lica entre 7 e 17 cmJs
Divide-se em cabeça, corpo e cauda . (média de 11 cm/s), e ínclice de resistência (IR) entre

337
Ultrassonografia Vas c ular do Escroto

Figura 31.4 . Mediastino testicular. Faixa ecogênica


estendendo-se no sentido craniocaudal dentro do testículo.
No plano transverso, é visto como imagem ecogênica,
situada às três e nove horas. Figura 31. 7. Apêndice do epidídimo.
Observar artérias centrípetas ao mapeamento colorido.

o paciente é posicionado em decú bi to dorsal, com


leve tração peniana para cima, objetivando maio r expo -
sição do escroto.
O estudo é realizado com transdutor de alta resolu-
ção (frequência de 10-12 MHz), em cortes longitudinais
e transversais, com ajuste de ganho, e foco na região de
interesse, e sempre de forma comparativa (Quadro 31.2).

Quadro 31.2 . Ajustes do equipamento para o estudo


vascular do escroto

• Frequência de repeti ção de pulso (PRF) baixa


• Ganho de cor adequado
• Fi Itro baixo
Figura 31.5. Apêndice testicular bem caracterizado na • Caixa de cor pequena
presença de hidrocele. • Doppler pulsado: cursor no centro do vaso com vo lum e de
amostra adequado ao diâmetro do mesmo

No Modo B serão avaliados a parede escrotal e sua


espessura, o conteúdo escrotal e o cordão espem1ático.
Os testículos serão avaliados em sua morfologia, suas
dimensões, sua textura e ecogenicidade; e os ep idídimos,
em sua espessura, textura e ecogenicidade.
A túnica albugínea não é visibilizada, como estrutura
distinta , na ausência de hidrocele
A vascularização do escroto e de seu conteúdo se rá
avaliada com mapeamento colorido, Doppler pulsado e
Power Doppler," com ajustes para fluxo lento de baixa
velocidade (Fig. 31.9)
Figura 31.6. Epidídimo normal. Estrutura alongada e O padrão normal de fluxo nas anérias testicu-
curva posterolateral ao testículo, medindo cerca de 6-7 cm
lar, capsular e intratesticulares é anterógrado, de baixa
de extensão. Isoecoico ou levemente mais ecogênico que o
testícu lo, sua ecotextura podendo ser mais grossei ra. resistência , [,2 com velocidade sistólica entre 7 e 17 cm/s
Div ide-se em cabeça, corpo e cauda. (média de 11 cmJs), e índice de resistência (IR) entre

33 7
CAPíTULO 31
U Itrassonografia Lucigl Regueira Teixeira
Ana Claudia Luz Coelho
Vascu lar do Escroto

INTRODUÇÃO As artérias deferencial , epididimal e cremastérica ir-


rigam a cauda dos epidídimos, através de ramos resul-
A ultrassonografia de alta resolução, com transdutores de tantes de anastomoses ente si.
alta frequência, associada ao mapeamento com Doppler A drenagem venosa dos testículos e da porção ante-
colorido, é, hoje, a modalidade diagnóstica por imagem rior dos epidídimos é feita pelas veias do plexo pampini-
de escolha na caracterização das patologias escrotais, forme, que se unem para formar a veia testicular.
principalmente na demonstração de padrões alterados A porção posterior dos epidídimos, o canal deferente
de perfusão testicular, nos casos em que as manifestações e os tecidos peritesticulares drenam para as veias defe-
clínicas similares dificultam o diagnóstico diferencial. rencial, cremastérica e funicular (Fig. 31.8).
Trata-se de exame não invasivo , simples, rápido , sem A drenagem linfática dos testículos e epidídimos é
qualquer necessidade de preparo, mas que requer conhe- feita para vasos maiores do cordão espermático, os quais
cimento e pericia do exam inador. drenam em linfonodos lombares superiores.
A drenagem linfática do escroto é feita por nu-
ANATOMIA UlTRASSONOGRÁFI CA E merosos vasos, que drenam em linfonodos inguinais
VASCULAR DO ESCROTO superficiais. I .;
Cada compartimento escrotal tem drenagem inde-
o escroto é dividido em dois compartimentos por um sep- pendente.
to, cada compartimento contendo um testículo, epidídimo
e a porção intraescrotal do cordão espermático. 1 A parede
escrotal normal mede em tomo de 2-5 mm de espessura, Indicações do ultrassom vascular do
na dependência do grau de contratura do dartos.2 escroto
As principais indicações da ultrassonografia do escroto
Cordão espermático estão relacionados no Quadro 31.1.
Estende-se do canal inguinal até o escroto, e contém as
artérias testicular, deferencial e cremastérica, o plexo ve- ~ Quadro 31 .1. Indicações do ultrassom vascular do escroto
noso pampiniforme, O canal deferente, vasos linfáticos e
nervos. 1.3.; • Dor escrotal aguda
• Infert ilidade masculina (varicoceles)
As Figs. 31.1 a 31.7 mostram a anatomia sonográfica • Trauma escrotal
normal do escroto, do cordão espermático e das estrutu- • Outras (hemangiomas, angiod isplasias, fístulas)
ras intraescrotais.

IRRIGAÇÃO ARTERIAL, TÉCNICA DE AVALIAÇÃO


DRENAGEM VENOSA E LINFÁT ICA DO ESCROTO
A artéria testicular irriga os testículos, a cabeça e o corpo Trata-se de órgão superficial de fácil acesso, não havendo
dos epidídimos . necessidade de preparo prévio .

335
U Itrassonografia Vas cu la r do Escroto

~ Quadro 31.3. Etiologia da do r escrota I aguda

• Torção testicular
• Orquiepidid im ite
• Torção de apêndice testicular ou epididimal
• Hérnia inguinoescrotal encarcerada
• Edema escrota I agudo idiopático
• Hidrocele aguda
• Púrpura de Henoch-Schoelein
• Trauma escrota I e hematocele

Dentre os exames de imagem para diferenciação


diagnóstica , a ultrassonografia com Doppler colorido é a
modalidade de escolha, com especificidade e sensibilida-
~ Figura 31.11. Artéria centrípeta. Padrão de fluxo normal ao
de próximas a 100%1
Doppler espectral. A cintilografia tem sido utilizada nos casos em que a
ultrassonografia vascular não foi conclusiva.

TORÇÃO TESTICULAR
Causa mais comum de dor testicular em crianças 6
Os achados da ultrassonografia dependem do tempo
de isquemia e do grau de torção (Fig 31.14).
Quanto mais rápidos forem o diagnóstico e o trata-
mento, maior a possibilidade de se manter a viabilidade
testicular (cerca de 80-100% nas primeiras 5 horas des-
de o início dos sintomas) 2.4
Torção crônica pode resultar em atrofia testicular e
infertilidade 2 (Quadro 31.4).

~ Figura 31.12. Cordão espermático. Padrão de fluxo nor-


mal de alta resistência das artérias (testicular, cremastérica e ~ Quadro 31.4. Achados da torção no Modo B
deferenciall.
Primeiras horas:
Alteraçôes Testiculares: Aumento de volume, forma
arredondada, posição horizontalizada no escroto,
ecogenicidade normal ou diminuída.
Alteraçôes Extratesticulares: aumento de espessura da parede
escrotal; hidrocele reacional.

Entre 6 e 12 horas:
Alterações Testiculares: Além das alterações descritas,
torna-se mais hipoecoico e a textura mais heterogênea.
Alterações Extratesticulares: Epidídimo de espessura
aumentada, hipoecogênico e heterogêneo, podendo não
ser caracterizado.
Massa ecogênica paratesti cular, heterogênea, adjacente à
face posterossuperior e lateral do testículo (epidídimo
edemaciado e porção intraescrotal do cordão torcido).

Fase Crônica:
Testículos de dimensões reduzidas e difusamente hipoecoico
Redução da massa paratesticular
~ Figura 31.13. Artéria supratesticular. Padrão de fluxo nor-
Redução da espessura da parede escrota I
mal, onda de alta resistência apiculada. Parâmetros normais: Redução da hidrocel e
VPS = 7,5-27,5 cm /s e IR = 0,63-1 (W. Schiiberie).

339
Ultrasson ografi a Vasc ular na Escl eroterapi a co m Espum a em Vari zes

Figura 30.14. (A ) MZ5, 74 a nos, a presenta ndo lesão ulce rad a exte nsa pré-tratamento com m ic roespu ma . (8 ) Lesão e m
acompa nh a me nto ta rdi o qu ase c icatri zad a.

REFERÊNCIAS 4. Figueiredo, M.; Tra tamento esclerosante das varizes. In :


Maffei, FHA ; Lastória , 5; Yosh ida ,W B; Rollo ,HA ; Gianni ni,M;
I . Labropoulos N, Leon LR J r. Duplex evaluation of ve nous Moura, R; Doenças Vascu lares Perifericas , RJ: Guanabara
insufflC iency. Semin Vasc Surg 200 5; 18 :5-9 . Koogan 2008 : 1760- 1768 .
2. De palma RG, Kowallek DJ , Barcia TC, Cafferata HT. Target 5. Yamaki T, Nozaki M, Iwasaka S. Co mparative study of
selccti on for surgical intervemion in seve re chron ic ve nous dup lex-guided foam sclerotherap y and du plex-guided
insufficiency: comparasion if dup lex scan and ph lebography. liquid sclerotherapy for the trea tment of superficial ve nous
J Vasc Surg, 2000;3 2:913-20. insufficiency. Dermatol Surg. 2004 ;30(5):7 18-22 .
3. Cab rera J , Red ondo J, Becerra A et aI. Ult rasound -guided 6. Bre u FX, Guggenbichler 5, Wollmann Jc. 2nd Europcan
injection of polidocanol microfoam in the manage ment of Consensus Meeting on Foam 5clerotherapy 2006, Tege rnsec,
the leg ulce rs. Arch De nnatol 2004; 148:667 -73 . Germany. Vasa 2008;37(Suppl 71):3-29.

333
U It rassonografia Vascula r do Esc roto

Na ultrassonografia em Modo B, evidencia-se peque- Quadro 31.6. Critérios diagnósticos


na massa hipoecogênica ou complexa adjacente ao testí- US em Modo B:
culo ou epidídimo acometido. Epidídimo de espessura aumentada, textura heterogênea e
O Doppler com fluxo em cores mostra ausência de hipoecoica.
Aumento de espessu ra da parede escrota I.
fluxo no apêndice torcido e hipervascularização em tor- Hidroce le reac iona l, que pode ser homogênea ou com
no do mesmo . septos e/ou debris (ecos flutuantes), sugestivo de líquido
espesso.
O fluxo testicular está norma!. Testículo acometido aumentado de volume, hipoecoico, de
textu ra heterogênea.
Doppler
PROCESSO INFLAMATÓRIO Hiperemia vascular (aumento da captação de fluxo no
AG U DO ESCROT AL testículo e epidídimo acometido).
índice de Resistência (IR) < 0,7 nas artérias do epidídimo e
< 0,5 nas testiculares·
A epididimite bacteriana é a causa mais frequente de pro-
cesso inflamatório agudo escrotal no adulto.
O acometimento testicular é geralmente secundário A isquemia aguda decorre da compressão do pedícu-
ao processo inflamatório do epidídimo (orquiepid idi- lo vascular do cordão espermático e do epidídimo, 1 com
mite), podendo ser isolado (orquite) em crianças, geral- trombose das veias intratesticulares, sendo evidenciada
mente associada a caxumba 8 redução ou ausência de vascularização ao Doppler com
os casos complicados com abscesso , a ultrassono- mapeamento colorido , em comparação com o testículo
grafia com Doppler colorido evidencia coleção não homo- contralateral. 7
gênea , hipoecoica , de contornos irregulares, com rerorço Suspeitar de isquemia com risco d e infarto quando
acústico posterior, podendo ser identificado halo hipoe- os índices de resistividade nas anélias testiculares estive-
coico e debris H O testículo apresenta dimensões aumen- rem elevados B
tadas com áreas hipoecoicas. Ao mapeamento colorido , A orquite pode causar isquemia global do testículo,
observa-se aumento da captação de fluxo em torno da simulando torção . l
coleção ou das imagens hipoecogênicas testiculares, com A Fig. 31.15 e 31.16 demonstram os achados ultras-
fluxo de baixa resistência ao Doppler (Quadro 31.6) sonográficos no processo inflamatório escrota!.

Figura 31.15 . Proces-


so inflamatório agudo
demonstrando aumento
difuso da vascularização
ao mapeamento colorido.
( ) e (B) Aumento de ex-
pessura e redução da eco-
genic idade da cauda do
epidídimo. (e) e (D). Or-
quiepididimite, alteração
textural difusa e aumento
da espessura da parede da
bolsa escrota I.

341
Ultrassonografia Va sc ul ar na Esc le rote rapia co m Espuma em Varize s

Figura 30.9. Espessamento da parede e deso rga ni zação da mesma pós-tratamento tardio com espuma na safena magna.

Figura 30.10. (A) Travas fibróticas no interior da ve ia, pós-trombose venosa. (B) Trava fibrótica no interior da safena, pós-es-
cleroterapia com esp uma.

Figura 30.11. (A) Safena magna com ocl usão total. (B) Inco mpress ibi Iidade da veia pós-tratamento.

331
Ultrassonog rafia Vascular do Escroto

UL TRASSONOGRAFIA COM DOPPLER Não alte ram o diãmetro com manobra de Valsalva
EM CORES NAS VARICOCELES ou decúbito.
As varicoceles do lado direito são raras (menos de 2%
Trata-se da dilatação das veias do plexo pampiniforme, dos homens nom1ais ou inférteis), ll secundárias a obstrução
de ocorrência comum, incidindo em cerca de 8-22,9% ou compressão da veia cava inferior elou das espermáticas.
dos homens sem história conhecida de infertilidade e em Nesses casos, o fluxo venoso é espontâneo, contínuo, de ve-
torno de 37% dos inférteis, IO podendo estar associadas a locidades maiores que nas varicoceles extratesticulares, que
aumento do volume e dor escrota!. não se alteram durante a manobra de Valsalva.
As varicoceles primárias J3 geralmente ocorrem por A ultrassonografia em Modo B mostra imagens ane-
incompetência valvular na veia espermática interna (tes- coicas tubulares e serpiginosas, paratesticulares, com di-
ticular) e/ou anormalidades na veia renal esquerda 2 . 11 âmetros> 2,0 mm , estendendo-se para o canal inguina!.
Aumentam de diãmetro com a manobra de Valsalva e em Raramente podem ser intratesticulares (menos de 2 %
posição ortostática. da populaçãO com sintomas escrotais), geralmente à esquer-
São mais comuns do lado esquerdo, podendo ser bi- da, associadas a varicoceles extra testiculares homolaterais,
laterais em cerca de 20% dos casos de infertilidade. também relacionadas com infertilidade, podendo ser res-
As varicoceles secundárias decorrem de aumento de ponsáveis por quadro de dor, edema e massa escrota!.
pressão nas veias espermáticas e/ou suas t1ibutárias devi- Aparecem no Modo B como imagens tubulares, ane-
do à obstrução e/ou compressão venosa por massas ab- coicas e serpiginosas, com diâmetros> 3,0 mm , situadas
dominais, retroperitoniais ou pela Síndrome de quebra- em torno do mediastino testicular, e subcapsulares, po-
nozes (compressão da veia renal esquerda pela artéria dendo ser confundidas com cistos testiculares, ectasia da
mesentérica superior). rede testis, hematoma e orquite focal.

Figura 31 .16. Alterações texturai s secundárias a processo inflamatório. (A ) e (8 ). Testícu lo: irregularidade do contorno, padrão
textural grosseiro com pontos ecogên icos. (C) Epidídimo heterogêneo associado a hidrocel e. (D ) Testículo heterogêneo, ectasia
da rede testi s.

343
Ultrél 5so n og rafi a Va sc ul ar !l ei Escleroterapiél com Espuma em Variz es

Critérios de Avaliação de Yamaki

Cclusão tota l ReCilnali zação Rec analização Completa


parcia l sem r'efluxo par'cial com refluxo recanalização
Figura 30.5. Esquema
Dermatol Surg 20 04;30718-722 dos critÉ'rios de ava li ação
do tratamento feito com
espu ma,

Figura 30.6. A cla 'i<; ifiração ue Y'lmaki com os seus critéri os ultrassonográfi cos.

329
Ultrassonografia Vascular do Escroto

Quadro 31.10 Quadro 31.11

• Diâmetro venoso> 3 mm • Ajustes inadequados de cor e PRF podem resultar em não


• Refluxo venoso com manobra de Valsalva detecção de fluxos de baixa velocidade
• População pediátrica: vasos muito pequenos com fluxo
veias < 3 mm não são palpáveis , e que 5% destas apre- muito lento

sentavam refluxo " (Quadro 31.10). • Hidroceles volumosas 'l

A Fig. 3 1.18 mostra outros achados no exame do es- • Síndrome torção/distorção


crolO. • Torção parcial
• Grandes hematoceles: dificultam a visibilização testicular'l
LIMITAÇÕES DO MÉTODO • Edema escrotal acentuado dificultando a penetração do
feixe ultrassônico
Siluações que podem reduzir o fluxo testicular (Quadro • Infarto testicular secundário a orquiepididimite
31.11 )

Figura 31.18. Outros achados. (A) Tromboflebite aguda das veias do plexo pampiniforme. (8) Espessamento parietal em veias
do plexo pampiniforme secundário a processo inflamatório. (C) H érnia escrotal: alça intestinal com gás adjacente ao testículo. (D)
Canal inguinal com aumento de espessura de partes moles associados à dilatação de canalículos linfáticos.

345
CAPíTULO 30
Ultrassonografia Vascular na
Marcondes Figueiredo
Escleroterapia com Espuma Salustiano Pereira de Araujo

em Varizes

INTRODUÇÃO utilizar pouco brilho no Modo B. Para o Doppler Pul-


sado, utiliza-se um filtro de 100 e no Doppler Colorido
A ultrassonografia vascular (USV) é o méwdo ideal para utilizamos um ganho de aproximadamente 50-75.
avaliar o refluxo venoso nas exnemidades inferiores. De
baixo cusw, não invasiva, pode ser repecida facilmeme e
Posição do paciente
é bem aceÍ[a pelo paciente. I O méwdo realiza a visuali-
Para a punção da safena magna ou parva com calibres
zação direta, localização e classificação do refluxo venoso
menores, o paciente é colocado em posição supina para
com alta sensibilidade (95%) e especificidade 000%). 2
obtermos uma dilatação da veia, o que facilita sua pun-
O crédiCo do ressurgimenw do tratamemo com espu-
ção, em seguida coloca-se o paciente em decúbiw dorsal
ma em varizes tronculares é atribuído aJuan Cabrera, que
para proceder à injeção da espuma (Fig. 30.1).
combinou uma fina espuma (microespuma) com a USY,
Quando o paciente apresenta safenas com calibres
obtendo bons resulcados, e panir disso o méwdo teve cre-
maiores , este pennanece em decúbiw dorsal para pun-
dibilidade e vem numa crescence no mundo wdo )
ção da safena magna e vemral para safena parva. No
A ultrassonografia vascular atua em wdas as fases
acompanhamento pré e pós-procedimemo , o pacieme é
do tracamenco das varizes por espuma: no diagnóstico
mancido em posição supina.
prévio, mapeando o sistema venoso superficial e pro-
fundo; no auxílio à punção da veia, seja colateral, safena
magna ou parva; visibilizando a espuma no imerior da Posicionamento do transdutor
veia durance a inj eção; no acompanhamenco imediaw O transdutor pode ser posicionado no momento da
e principalmence no acompanhamento tardio para ver punção de forma transversal ou longitudinal à veia
a efetividade elou necessidade de novos tratamentos. A (Fig. 30.2).
indicação da USV como coadjuvante no tratamento das
varizes abrange pacientes portadores de varizes dentro
da claSSificação clínica CEAP (de C3 a C6). 4

PROTOCOLO

Escolha do transdutor
Utiliza-se um transduwr linear de 5-12 MHz tamo para
a avaliação diagnóstica quanw para o tratamento e acom-
panhamento .

Programação do equipamento
Geralmente a programação pode variar de acordo com
o ecografista vascular, porém existe uma preferência de ~ Figura 30.1. Presença de cateter no interior da veia .

327
CAPíTULO 32
Nostradamus Augusto Coelho
Disfunção Erétil

INTRODUÇÃO função erétil, utilizando-se mais amiúde exames com-


plementares, como os laboratoriais, a ultrassonografia
A impotência sexual masculina pode ser definida como vascular (USV), a cavernosografia, as avaliações neuroló-
a incapacidade de um homem realizar o coito de for- gicas e, quando necessária, a arteriografia. Uma avaliação
ma plena, seja por dificuldades de ereção, ejaculação multidisciplinar é realizada com a participação de um
precoce, ::tlterações anatõmicas, fatores psíquicos ou so- psicoterapeuta, dando respaldo às condutas técnicas as-
ciais. Em 1993, após o consenso do Instituto acionaI sumidas, inclusive em pacientes de alto risco cardíac0 5 .6
de Saúde dos EUA, o termo "disfunção erétil" passou a Com a chegada no mercado do citrato de sildenafil,
substituir a expressão "impotência sexual" no que tange acontece uma grande revolução na história da disfunção
à incapacidade de conseguir uma ereção adequada para
erétil, transformando pacientes que antes apresentavam
a cópula. l Fazem parte desta complexa trama distúrbios
dificuldades de ereção pelo não relaxamento da muscu-
psicogênicos, anatõmicos, endocrinológicos, neurogêni-
latura lisa, o qual bloqueava o processo erétil, em no-
cos, farmacológicos ou vasculares, isoladamente ou asso-
vamente potentes, graças à inibição da fosfodiesterase- 5
ciados. A prevalência de cada uma destas causas está vin-
(PDE- 5). 7Hoje já encontramos várias substâncias de ação
culada a um intrigante quadro de sinais e sintomas que
semelhante, reduzindo razoavelmente a procura ao labo-
o paciente apresenta, tanto psíquicos quanto somáticos,
ratório vascular, porém a necessidade de definir a origem
não devendo seus aspectos sindrômicos ser analisados
da sua di.sfunção, assim como as alterações anatomofi-
como fatores únicos e isolados.
siológicas, como a doença de Peyronie ou traumas, ainda
Kinseye cals., em 1948, admitiam a presença de dis-
faz os pacientes recorrerem à ultrassonografia vascular
função em 1% dos homens abaixo de 19 anos, 3% até 45
(USV) como alternativa ~ara seu diagnóstico.
anos, 6,7% entre 45 e 55 anos e 25% até a idade de 75
anos. 2 A tendência inicial de classificar os problemas de
inadequação sexual em psíquicos ou próprios da idade ANATOMIA PENIANA
foi gradualmente modificada com a descoberta de fatores
orgânicos como possíveis causadores das alterações de Para fins didáticos, podemos definir o pênis em 3 estru-
ereção. No território vascular, Wooten 3 e Leriche 4 de- turas: a base, composta por raízes e bulbo; o corpo pe-
monstraram interferências das veias e artérias nos casos niano, dividido em 2 corpos cavernosos e o corpo espon-
de disfunção erétil (DE) . Assim, o paciente passou a pro- joso, que são a continuação respectivamente das raízes e
curar, além do psicólogo, o endocrinologista, o neurolo- do bulbo; e a glande. Os corpos cavernosos apresentam
gista, o angiologista e o urologista , sendo algumas vezes múltiplas cavidades sinusoides, e o corpo esponjoso é
submetido a vários procedimentos pretensamente cura- transpassado pela uretra. O corpo peniano é envolvido
tivos , como o uso indiscriminado de drogas injetáveis, por uma fáscia chamada túnica albugínea e entre os cor-
colocação precoce de próteses ou correções de fuga ve- pos cavernosos existe um septo divisor fenestrado , per-
nosa, sem o respaldo de análises mais detalhadas quanto mitindo ampla anastomose entre os dois lados.
às condutas tomadas. A perfusão peniana é originada da artéria pudenda in-
Atualmente, observa-se uma tendência mais equili- terna, um ramo da artéria ilíaca interna. Em número de
brada quanto à análise de hipóteses de causas da dis- duas , cada artéria pudenda interna gera uma série de ra-

347
M apea mento Venoso e Arte ri al para Utili zação como Substituto Vasc ul ar

Situações especiais e controversas com ecocolor Doppler no pré-operatório de cirurgia de


revascularização miocárdica. Rev Bras Cir Ca rdiovasc
• Presença de calcificação na artéria radial que impede 1999;14( 4):303-7
sua compressão durante a fase dinâmica do estudo. 5. Costa F, Costa I, Poffo R el aI. Myocardial revascularization
with the radial artery: a clinicai and angiographic study. Ann
• O padrão de fluxo na artéria radial pode ser de baixa
Thorac Surg 1996:62 :745-80.
resistência (monofásico), se a mão estiver quente ou 6. Ruengsakkuhach P, Buxton B F, Eizemberg M, Fharerm M.
após seu fechamento e abertura. Anatomic assessment of hand cicu lation in harvesting
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3ed, Medsi Editora Médica e Científica Ltda , 2002: 791. para utilização como enxerto aortocoronário: Avaliação pré-
4. Barros FS, Pontes SM, Lima ML, HenriqueJS, Roldi ML, operatória com ecocolorDopple r e fOLOpletismografia digital
Rei F, Carone Jr J, Moises S. MapeamenLO da safena interna e confirmação por avaliação cirúrgica.

325
Ultrassonografia Va sc ular na Di sfunção Erét il

Quadro 32.1 . Mecanismos causadores da disfunção eréti l

Tipo Forma

Psicogênicas Fatores predisponentes ou ca usados por situações desfavoráveis (por ex. : episódio de falha na ereção segu ida
de constrangim ento).

Endocrinológicas Hipogonadismo, hiperprolactemia, hipertireoidismo e hipotireoidismo, diabetes .

Cardi ológicas IAM, hipertensão arterial, di sfunção cardíaca.

Neurológicas Alte rações dos impulsos de ereção descendentes da medula ou parassimpático sacral na pelve. Alterações
centrais no controle da ereção.

Arteriais Aterosclerose, arterite, trauma, iatrogenia.

Venosas Alteração venosa primária, alterações venosas secundári as à cirurgia, anormalidade da túnica albugínea, falha
na função do músculo li so cavernoso.

latrogênicas Relacionada a substâncias injetáveis, cirurgias, radioterapia.

Outras Tabagismo, alcooli smo, cons umo de drogas, doenças autoimunes, câncer, doença de Peyronie.

.. Figura 32.4. (A
e B) Observam-se a
to rtuos idade do corpo
peniano (A ) e sua
curvatura e redução de
tamanho no estado eréti l.

uma reentrada malsucedida causam no pênis ereto uma A utilização indiscriminada e mui tas vezes pouco
fratura do corpo cavernoso, algumas vezes pouco per- ética de produtos injetáveis como terapêutica para a dis-
ceptível, mas facilmente associável ao início da curvatura função erétil vem ocasionando micro ou macrotraumas
peniana (Fig. 32.5) A anamnese durante o exame facilita repetitivos , pois os cuidados nem sempre bem geren-
a recordação desta associação. ciados na administração de forma contínua pelo pacien-
te algumas vezes favorecem a lesão das trabéculas dos
corpos cavernosos. A orientação a ser seguida durante
a aplicação deve ser, tanto para o médico como para o
paciente, de não forçar a penetração da droga em caso
de resistência, reposicionando a agulha até encontrar um
deságue fácil da substância (Fig. 32.6) .

AVALIAÇÃO ULTRASSÔNICA
VASCULAR
Modo B
A avaliação ultrassônica peniana tornou-se possível com
.. Figura 32 .5. Paciente com episódio de trauma do corpo
cavernoso durante o ato sexual. Observar a zona de retração o advento de transdutores de alta definição, tanto como
no segmento medioprox imal do pênis e a sua c urvat ura ainda na avaliação de presumidas disfunções eréteis de ori-
suave para c ima. gem vasculogênica como em situações de lesão do cor-

349
Mapeamento Veno so e Arterial para Utilização como Substituto Vascular

artérias do antebraço.,6 além de não ser capaz de forne-


cer informações sobre a qualidade da artéria. Diâmetro
inadequado, parede com calcificação e aterosclerose de
artéria radial estão presentes em 31 % dos pacientes. 7
O estudo estático e dinâmico da artéria radial com a
ultrassonografia vascular correlaciona-se com os achados
encontrados na pletismografia, na oximetria e no Doppler
4mm
contínuo, e oferece dados objetivos pré-operatórios que
podem evitar a rejeição da artéria ou a isquemia da mã0 8
3mm
O estudo pré-operatório da artéria radial pela ul-
trassonografia vascular, quando correlacionado com a
2mm
avaliação pelo cirurgião cardiovascular no ato cirúrgir:o,
2mm tem comprovado a eficácia do ultrassom na seleção desse
vaso para uso como substituto vascular. Os parâmetros
2mm
correlacionados são: diâmetro, perviedade e presença de
ateromatose nas artérias radial e ulnar (Quadro 29.5)9

~ Figura 29.6. Esquema das med idas obtidas na safena magna. ~ Quadro 29.5. Critérios (USV) na seleção da artéria radial
para util ização como enxerto

Perviedade das artérias radial e ulnar.


Situações especiais e controversas Diâmetro> 2,5 mm da artéria radial.
Ausência de ateromatose significativa na artéria radial e ulnar.
Na ausência de veia adequada, em isquemia critica com Ava li ação indireta da integridade do arco pa lmar.
possibilidade de perda do membro , podemos, como
medida extrema, fazer a utilização de veias varicosas ou
anastomoses contínuas de veias de segmentos diferentes. Indicação
Na falta das safenas magnas e parvas, outras veias podem A principal indicação da avaliação da artéria radial para
ser utilizadas como reserva venosa autóloga, sendo as sa- utilização como enxerto é a doença coronária obstrutiva
fenas acessórias anteriores , as basílicas e as cefálicas can- com indicação cirúrgica.
didatas ao papel de substituição de segmentos arteriais
de menor extensão, sejam como únicas ou em anastomo-
Protocolo de exame
ses contínuas factíveis nos membros inferiores.
• Paciente em decúbito dorsal.
• Transdutor linear de 7-12 MHz, com ajuste da pro-
SELEÇÃO DA ARTÉRIA RADIAL fundidade e ganho em Modo B.
PARA UTILIZAÇÃO COMO • Avaliação anatômica da parede arterial (calcificação, ate-
ENXERTO AORTOCORONÁRIO romatose) e medida do diâmetro da artéria radial utili-
zando o corte ultrassonográfico transverso em pelo me-
Introdução nos 3 níveis, ou conforme necessário: punho, segmento
A utilização da artéria radial como enxerto aortocoronário médio do antebraço e próximo ao cotovelo (Fig. 29.7).
tem-se mostrado , segundo alguns autores, superior ao uso da • Mapeamento em cores do fluxo para avaliação da
veia, devido à semelhança entre os calibres arteriais, à mesma perviedade e identificação das estenoses nas artérias
constituição da parede e ao maior tempo de patência. 5 ulnar e radial (Fig. 29 .8) .
O estudo da circulação colateral ulnar para suprir a • Estudo com Doppler pulsado: divide-se em duas fases .
mão é imprescindível antes da retirada da artéria radial A 1li fase é estática e nela obtêm-se o padrão de fluxo e
para utilização em enxertos coronarianos. A manobra de as medidas dos picos de velocidade sistólica nas arté-
Alkn começou a ser utilizada na prática c1lnica em 1929, rias radial (Fig. 29.9) e ulnar (Fig. 29.10) na altura do
com o objetivo de avaliar essa circulação . Entretanto, punho. A 2a fase é dinâmica e compreende a aquisição
em alguns pacientes, a interpretação desse teste clínico do pico de velocidade sistólica na artéria ulnar após a
pode estar prejudicada pelas anomalias anatômicas das compressão manual da artéria radial (Fig. 29 .11).

323
Ultrassonografia Vascular na Disfunção Erétil

Figura 32.8. Corte longitudinal de placa calcificada na face ventral do corpo cavernoso direito no segmento da albugínea
(A ) e o seu respectivo corte transverso (B).

Figura 32 .9. Medidas da extensão (A ) e largura da placa no corpo peniano (8 ).

Figura 32.10. Corte tran sverso do corpo


peniano demonstrando zona fibrótica na
face dorsal dos corpos cavernosos, ao
nível da albugínea, com placa ca lcificada à
direita, observando-se sombra acústica.

351
CAPíTULO 29
Mapeamento Venoso e
Sandra Aparecida Ferreira Silveira
Arterial para Uti I ização como
Substituto Vascular

SELEÇÃO DE VEIA PARA UTILIZAÇÃO ~ Quadro 29.1. Indicações da USV para seleção de
substituto vascul ar
COMO ENXERTO
Revascu lari zação miocárdi ca
Introdução Revascu lari zação periférica
Confecção de fístul a arteri ovenosa para acesso de
A safena autóloga começou a ser usada como substituto hemodiálise*
arterial na obstrução femoropoplítea pela primeira vez por 'Esse tóp ico será discutido em outro capítulo.
Kulin, l em 1949. Ela é considerada, pela maioria dos ci-
rurgiões vasculares, o melhor substituto vascular para ar-
térias de pequenos e médio calibres 2 Entretanto, 8,5-30%
dos pacientes 3 que necessitam de revascularização não
dispõem de safena autóloga, uma vez que se submeteram
previamente a safenectomia ou suas safenas não são ade-
quadas devido aos seus diâmetros , extensão, presença de
trombose, inflamação, estenose e/ou dilatações.
Com o advento da ultrassonografia vascular com
Doppler, tem sido possível informar o estado anatõmi-
co e funcional das safenas magna e parva, objetivando
fornecer para o cirurgião cardiovascular parãmetros que
possam ajudá-lo a decidir se são adequadas como subs-
tituto vascular. 4

Indicações
A revascularização miocárdica e periférica e a confecção
de fístula arteriovenosa são as principais indicações clí-
nicas (Quadro 29 .1).

Protocolo de exame
Paciente em posição ortostática apoiando o peso do cor- ~ Figura 29. 1. Transdu tor ap licado no trajeto da safena

po no membro contralateral e mantendo o membro ava- magna, que está marcado em p reto na pe le.

liado relaxado e levemente fletido para que se realize a


medida dos diâmetros internos da safena (Fig. 29.1). • Utilização de transdutor linear de 5-12 MHz , depen-
dendo da região a ser estudada, podendo, para estu-
• Paciente em posição de Trendelenburg reverso para do de veias profundas, utilizar transdutores convexos
a avaliação da perviedade do sistema profundo e da de 4 MHz, com ajuste da profundidade e ganho em
safena. Modo B.

321
Ult rassonog rafia Vascular na Disfun ção Erétil

Figura 32.12. Comunicação entre os corpos cavernosos (A e D ), entre a artéria bulbar e os corpos cavernosos (B) e entre as
artérias dorsal e cavernosa (C) .

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS

Achados pelo Doppler em cores no


exame pós-fármaco
Após a obtenção do estado erétil, ou após a dosagem
plena da droga vasoativa, fazemos a avaliação da velo-
cimetria das artériãs cavernosas e dorsais e medimos
o diâmetro das artérias cavernosas. Destes dados, reti-
ramos uma série de subsídios importantes : se o fluxo
das artérias dorsais e cavernosas estão equivalentes,
bilateralmente, ou se há variância significativa (>10
cm/s) , fazendo-nos supor sobre a existência de doença
arterial unilateral; se há anomalias anatomoestruturais
que não pe rmitam a ereção plena (como em alguns
casos da doença de Peyronie) ; se há formações anô-
malas (ausência ou hipogênese arterial); se há fístulas
traumáticas etc.
Na avaliação de próteses previamente instaladas , é
possível monitorar lesões nas estnlturas destas ou no Figura 32.13 . Próteses penianas instaladas, vistas em corte
corpo cavernoso (Fig. 32.13). longitudinal (A ) e transverso (B).

353
Procedim e ntos Ci rúrgicos Ecoguiados

vascular no tratamento das vasculopatias. Citamos aqui, 14. Kresowik Tf, Khoury MD , Miller BV, Winniford MD,
Shamma AR,Sharp W] , el a!. A prospeclive sludy of
em ordem alfabética, aq ueles a quem nós, e nossos pa-
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319
U ltrassonografia Vascular na Disfunção Erétil

Figura 32.16. Mesmo paciente da Fig. 32.15 apresentando oclusão da artéria pudenda interna direita, com colaterais
(bulbar) suprindo as artérias do rsal e cavernosa ipsi lateral.

A variação pouco SIgnificativa do di âmetro das ar- Em todos os exames realizados, deve-se aguardar o es-
té rias cavernosas sugere inadequada perfusão. Um au- vaziamento completo do pênis, até <1 f1acidez , não pem1i-
mento do diâmetro da artéria cavernosa pós-fármaco de tindo que o paciente vá para casa no estado erétil , o que
75 % em relação ao seu estado em repouso P. um bom inicialmente pode ser satisfatório para ele, porém gerando
fator indicativo para supor resposta satisfatória, 192'1 mas posterior angústia nos estados de pliapismo. O esvaziamen-
para alterações menores deve-se levar em conta a ve- to do pênis deve ser feito por punção direta do corpo caver-
locidade de f1uxo arterial , que mensura, com a área , o noso , com escalpe 19 ou 21 , caso a ereção plena ultrapasse
f1uxo verdadeiro. o tempo de duas horas . Em caso de se manter apenas uma
Velocidade diastólica final (VDF) acima de 5 cmls tumescência por algum tempo a mais , o monitoramento ga-
pós-fármaco fazem supor redução da resistência arterial rante o controle de um possível priapismo.
por fuga venosa. A correlação com a cavemosografialme- As situações de priapismo iatrogênico ou espontã-
tria nestes casos demonstrou-se fidedigna na sua maio - neo, se não controladas, podem levar a danos lITeversí-
ria 21 (Figs. 32 .17 e 3218) ve is aos corpos cavernosos (Figs. 32.19 e 3220)
A síntese dos critérios diagnósticos apresenta-se no As informações indispensáveis no laudo da USV com
Quadro 32.2. TEFI constam no Quadro 32.2.

355
Procedimentos Ci rú rgicos Ecoguiados

Essa ferramenta auxilia o cirurgião tanto na obtenção


do acesso arterial, na realização de angioplastia ou no im-
plante de stents, assim como na avaliação do resultado do
tratamento , sem a necessidade do emprego de contraste
ou com a redução do volume utilizad0 27 (Figs. 28.9 e
2810).

Figura 28.6. Pseudoaneurisma femora l esquerdo.

.. Figura 28.9. Realização de punção anteróg rada da artéria


femoral comum e posicionamento de bainha guiada por
Doppler em cores.

Figura 28.7. Corte u Itrassonográfico transverso


evidenciando pseudoaneurisma da artéria femoral comum
direita (AFCD).

Figura 28. 10. Punção retrógrada da a rtéria poplítea


esquerda guiada pelo Doppler em cores.

ANEURISMA DE AORTA ABDOMI NAL


o tratamento do aneurisma da aorta abdominal assistido
Figura 28.8. Corte ultrassonográfico longitudinal por Doppler e m cores é realizado associando-se o uso
ev idenciando trombose de pseudoaneurisma femo ral após da Ouoroscopia em situações nas quais não é possível o
inj eção de trombina. emprego do contraste iodado .

317
Ultrassonografia Vasc ul ar na Disfunção Erét il

Quadro 32.2. Critérios diagnósticos para a USV na disfunção erétil

VPS VDF Relação art.cavernosa pré-/pós-TEFI

Exame normal > 30- 35 cm/s bi lateral Igual a zero, com o IR~l > 75% bilateral
bi lateral

Exame sI características > 25 cm/s bi latera l Não relevante > 75% ou < 75%, porém com
evidentes de doença Tempo de ace leração análise da qualidade da artéri a e
arterial alto do vo lume de fluxo bi latera l

Exame sI características > 25 cm/s bilateral > 5 cm/s bilateral ou > 75% ou < 75%, porém com
evidentes de apenas doença Tempo de aceleração un ilatera l, levando-se em análise da qualidade da artéri a e
venoclusiva alto consideração o tanto de do volume de fluxo
aumento e a presença de
ereção plena

Exame c/ características < 25 cm/s unilareral ou Não relevante, levando-se em < 75% unil ateral ou bilateral
evidentes de doença bilatera l consideração os padrões
arterial monofásicos, de baixa
amp litude

Figura 32.19. Caso de priap ismo espontâneo em paciente


com 33 anos. Análise em Modo B com o pênis rebatido para
o ventre. Observam-se nas figuras sequenciadas os corpos
cavernosos densos, advindos de 5 dias de ereção contínua.
Corte transverso (A ), longitudinal esquerdo (8 ) e longitudinal
direito (C).

357
Proced imentos Cirúrg icos Ecogu iados

~ Figura 28.3. (A) Visibi lização da safena magna proximal (seta menor) com a fibra ótica em seu interior e a área infiltrada
com soro gelado no espaço perivenoso, entre as duas aponeuroses (seta maior). (8 ) Fotografia in traoperatória em que se verifica
o posicionamento do conjunto cateter/fibra ótica na safena proximal.

cirurgicamente, exterioriza-se o conjunto nesse ponto e e sua utilização no tratamento de varizes de grandes va-
introduz-se a fibra ótica no lugar do guia. Caso a croça sos . A associação da escleroterapia com ao USV agregou
não tenha sido abordada, controla-se o posicionamento segurança e precisão ao métod0 9 .1O
da fibra pelo eco. A seguir, é realizada a infusão de soro fi- A ecoescleroterapia com microespuma apresenta vá-
siológico gelado no trajeto da safena magna e nos demais rias vantagens em relação à escleroterapia líquida: 1) a
trajetos varicosos a serem tratados (no lugar da solução microespuma permite o preenchimento de grandes espa-
anestésica previamente mencionada) para atuar como ços dentro das veias , a partir de volumes bem pequenos
isolante térmico. Mais uma vez a infiltração é realizada do líquido esclerosante misturado com ar; 2) a microes-
na loja safênica, entre as duas aponeuroses , facilmente puma promove o deslocamento do sangue no interior
identificadas pelo eco. A infiltração é acompanhada ao da veia varicosa durante a sua injeção , permitindo um
longo de toda a safena, geralmente por etapas , procuran- contato mais longo e intensivo com o enclotélio do vaso;
do manter o efeito térmico negativo protetor (Fig. 28.3). 3) a injeção da microespuma promove um vasoespasmo
A USV permite não somente assegurar o posiciona- na veia; 4) a microespuma apresenta uma perfeita ecovi-
mento preciso da fibra dentro do tronco safeno, mas tam- sibilidade por ultrassonografia com Doppler em cores,
bém a infiltração correta no espaço interfascial. Embora o que torna o método bastante seguro; 5) a microbolha
haja relatos do uso de laser para tratamento da IVSMI apresenta uma estabilidade de no mínimo 30 minutos ,
sem emprego de eco intraoperatório, a nosso ver, seu uso garantindo , assim , uma elevada eficácia terapêutica ll.l 1
é indispensável. 46-8
Para preparação da espuma de polidocanol, uma
seringa de 3 ml contendo 1 ml de polidocanol a 3% é
TRATAMENTO ENDOVASCULAR DA conectada a uma seringa de 5 ml contendo 5 ml de ar,
INSUFICIÊNCIA VENOSA SUPERFICIAL por meio de uma torneira ele infusão de 3 vias; após 20
DOS MEMBROS INFERIORES COM movimentos na mistura do ar com o líquido , é obtida
a microespuma, ou espuma densa , como ela é também
INJEÇÃO ESCLEROSANTE DE ESPUMA
- . designada. 10
A escleroterapia com a introdução de bolhas de ar no O paciente é colocado em posição de Trendelenburg
sistema venoso superficial, para retirar o sangue e me- e as veias-alvo , previamente mapeadas , são localizadas
lhorar a ação terapêutica do esclerosante no endotélio, por meio da USV Para realizar o tratamento na safena
foi descrita primeiro por Orbach J magna, um total ele 5 ml de espuma é injetado, com
A constatação da capacidade de alguns esclerosantes compressão da junção safenofemoral por 15 minutos no
de produzir microespumas com potente ação terapêutica intuito de evitar a migração da espuma para o sistema
levou a um crescimento do interesse pela escleroterapia venoso profundo (Figs. 28.4 e 28.5).

315
Ultrassonografia Vasc ul ar na Di sfunção Erétil

INFORMAÇÕES INDISPENSÁVEIS 5. ath RL, MenzoianJO , Kaplan KH, McMillianTN,


Siroky MB , Krane Rj. The multididciplinary approach to
AO LAUDO vasculogenic impotence. Surgery 1981;189:124-135.
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anatõmicas, placas, fibroses, traumatismos, fístulas). assess erec tile dysfunction in high-risk cardiovascular
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Relato da dosagem medicamentosa inj etada e a rea- Rev 1995;75 :191-236.
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Urol Clin No rth Am 1988;J5 65 -70.
Se houve prolongamento excessivo da ereçâo (pria-
10. Shabsigh R, Fishman U, Scott FB: Evaluation of erectile
pismo), com correção espontânea ou terapêutica. impotence. Urology 198832: 83-90.
11. Coral P et aI. Doenças de Dupuytren e de Ledderhose
Associadas ao uso crônico de anticonvulsivames. Aloq . Nellro-
CONCLUSÕES Psiqlliatr 1999:57:860-862.
12. Prando D. New Sonographic Aspects or Peyronie Disease . J
As avaliações dos pacientes portadores de disfunção eré- Ultrasound Med 2009;28217 -232.
til vão continuar a ex istir apesar dos avanços medica- 13. King BF Jr, et aI: Duplex sonography in the evaluation of
impotence: currem techniques. Semin Intervent Radiol
mentosos. O paciente com distúrbios psicossomáticos 1990.7215-221.
vem aumentando, devido à vida cada vez mais opressiva 14. Rajfer J, et aI: Correlation between pende angiography and
e aos já epidêmicos quadros depressivos, ficando sem- duplex scanning of cavemous arteries in imporem men. J
Uro I1 990.143:1.128-132.
pre em questão se aquela falha acontecida na ereção veio
15. Rosen MP, et aI: Radiologic assess ment of impotence:
de um momento complexo ou de uma doença orgânica, angiography, sonography, cavernosonography and
mesmo que a solução esteja em um com primido . Cabe scintigraph)'. AJR 1991; 75 7:953-960.
aos médicos que lidam com estes indivíduos aj udarem 16. Coelho NA, Brum O, Canongia PM . Pênis e bolsa escrotal.
Rev Ang Or Vasco 1995; 4:2. 68-73
no que for possível para devolver a sua autoestima e, se 17. Ghafoori M, Hoseini K, and Shakiba M. Comparison of one-
possível, a sua potência. side and bilateral intracavernosal papaverine injection on a
Dopp ler sludy of lhe penis. Im J Impotencc Rcsearch 2009
21 ,382-386 .
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human male. Phdadelphia : Sa unders ; 1948. 20. Lue TF, et aI: Vasculogenic impotence evaluated by
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avec doubl e sympathectomie lombaire pour la thombose dysfllnction evalllation with color-coded dupl ex
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terminoaortiquc par arterite. Presse Med 1940;48:601-603. 9:135 -41.

359
CAPíTULO 28
Bernardo Massiere
Proced i mentos
Arno von Ristow
Cleoni Pedron
Cirúrgicos Ecoguiados
Alberto Vescovi

INTRODUÇÃO Algumas indicações do tratamento


por PEG
o aumento da expectativa de vida, os avanços dos
• implante de filtro de veia cava
métodos de imagem , o desenvolvimento da anestesio-
• insuficiênca venosa superficial dos membros inferiores
logia e a evolução das técnicas endovasculares permi-
• pseudoaneurismas
tiram oferecer opções terapêuticas com segurança a
• doença arterial obliterativa dos membros inferiores
uma parcela maior de pacientes portadores de pato-
• aneurisma de aorta abdominal
logias vasculares. Tal situação demanda a existência
de alternativas terapêuticas com menor morbidade e
maior precisão. IMPLANTE DE FI l TRO DE VEIA CAVA
Nosso entusiasmo com os procedimentos ecoguia-
dos (PEG) é antigo: em 4 de julho de 1998, o autor sê- A realização do implante de filtro de veia cava no pa-
nior deste capítulo e a ecografista Carmen l.c. Porto ciente acamado tem a grande vantagem de não deman-
realizaram uma angioplastia da femoral superficial eco- dar a mobilização do enfermo ao centro cirúrgico ou à
guiada. Esse paciente manteve a artéria tratada pérvia até suíte de hemodinâmica. Pacientes extremamente graves,
seu falecimento, por doença cerebrovascular, em 2008. A internados em unidades de terapia intensiva, podem
visibilização era bastante inadequada e inferior à imagem ser beneficiados por essa conduta. I Para o implante do
de qualidade hoje disponível. filtro de veia cava, faz-se necessária a identificação da
Os procedimentos ecoguiados podem ser aplicados confluência das veias ilíacas e das veias renais. Após o
no tratamento de diversas patologias vasculares em pa- estabelecimento do local na cava inferior onde será re-
cientes portadores de condições desafiadoras, tais como alizado o implante, geralmente imediatamente distai às
insuficiência renal, alergia a iodo, insuficiência cardíaca veias renais , procede-se à punção da veia femoral pela
e coronariopatia. técnica de Seldinger, com introdução de fio-guia teflo-
A realização de PEG demanda que os envolvidos te- nado com ponta J. Nesse momento, a progressão cranial
nham experiência na realização das técnicas cirúrgicas e do mesmo pode ser acompanhada pelo eco. Em seguida,
na utilização da ultrassonografia vascular (USV), o que a bainha introdutora é introduzida até o sítio p lanejado,
pode ser obtido com a formação de equipes multidisci- procedendo-se à liberação do mesmo. A posição do filtro
plinares ou por profissionais capacitados em ambas as é confirmada pela USV (Figs. 28.1 e 28.2).
áreas.
Deve-se realizar avaliação pré-operatória minuciosa INSUFICIÊNCIA VENOSA SUPERFICIAL
para permitir o planejamento do procedimento. Uma
DOS MEMBROS INFERIORES
vez planejado, o procedimento é executado passo a pas-
so, facilitado pelo conhecimento profundo da anawmia A USV é uma ferramenta poderosa no tratamento da
da região e da imagem obtida pelo método. Neste capí- insuficiência venosa superficial dos membros inferiores
tulo, serão discutidos alguns procedimentos cirúrgicos (IVSMI), por fornecer informações fisiológicas e fisio-
ecoguiados. patológicas relevantes no planejamento do tratamento,

31 3
,
Indice Remissivo

A - - seguimento, 267 - - limitações do exame, 162


Acidente vascular isquêmico, Doppler em - - técnica, 265 - - técnica de avaliação, 160
cores transcraniano no, 110 - das artérias infrainguinais, 259 Apêndice testicular, torção do, e critérios
Adventícia , doença cística da, 256 - - avaliação pré-operatória, 259 de diagnósticos, 338
Agentes de contraste , 25 - - complicações Aplasia ou hipoplasia da artéria vertebral ,
Análise espectral segmentar, 273 tromboembólicas, 262 critérios diagnósticos de , 103
Anastomoses distais, 276 - - infrapoplíteas concomitantes, 262 Aprisionamento e compressão
Anatomia peniana, 347 - - seguimento, perviedade e recuperação vascular, 255
Aneurisma(s), 251 dos membros, 262 Artéria(s)
- carotídeos extracranianos, 70 - - sucesso técnico e previsões do - dissecção das (v. Dissecção arterial)
- - achados a ecografia, 74 insucesso técnico da angioplastia - ilíaca, 257
- - considerações gerais, 70 femoropoplítea por balão, 261 - - comum direita, síndrome compressiva
- - diagnóstico diferencial, 74 - - técnica, 259 da veia illaca comum esquerda
- das fístulas arteriovenosas disfuncionais
- - etiologia, 73 pela, 219-223
ou imaturas, 267
- - manifestações clínicas, 74 - - - diagnóstico, 219
- - avaliação pré-operatória, 267
- da aorta abdominal, 154 - - - laudo , 223
- - comparação dos parâmetros
- - procedimentos cirúrgicos ecoguiados - - - limitações da ultrassonografia
hemodinâmicos, 269
nos, 317 vasc ular, 221
- - complicações e mortalidade, 269
- - ultrassonografia vascular na correção - - - protocolo de estudo, 219
- - pacientes tratados, 267
do, 159-1 62 - - - quadro clínico, 219
- - sucesso técnico, 269
- - - critérios diagnósticos, 161 - - endofibrose da, em atletas de alto
- - técnica, 268
- - - indicações, 159 desempenho, 257
- dos enxertos infrainguinais, 262
- - - informações indispensáveis para o - infrainguinais, angioplastias das, 259
- - avaliação pré-operatória , 263
laudo, 162 - - avaliação pré-operatória, 259
- - complicações pós-operatórias
- - - limitações do exame, 162 imediatas, 264 - - complicações
- - - técnica de avaliação, 160 tromboembólicas, 262
- - índices de perviedade e recuperação
- da artéria vertebral , critérios dos membros, 265 - - infrapoplíteas concomitantes, 262
diagnósticos de, 103 - - pacientes tratados, 263 - - seguimento, perviedade e recuperação
- Doppler em cores transcraniano - - parâmetros hemodinâmicos, 265 dos membros, 262
no, 117 - - sucesso técnico - - sucesso técnico e previsões do
- verdadeiros, 126 intraoperatório, 264 insucesso técnico da angioplastia
Angiodisplasia, 69 - - técnica, 264 femoropoplítea por balão, 261
Angiografia, informações para a Aorta abdominal, aneurisma da, 154 - - técnica, 259
endarterectomia sem, 62 - procedimentos cirúrgicos ecoguiados - intracranianas, identificação
Angioplastia, 261 nos, 317 das, 109
- carotídea, 265 - ultrassonografia vascular na correção do, - mesentéricas, ultrassonografia vascular
- - exame pré-operatório, 265 159-162 das, 163-174
- - morbidade e mortalidade depois do - - critérios diagnósticos, 161 - - a década de 1980, 164
procedimento, 267 - - indicações, 159 - - a década de 1990, 164
- - pacientes tratados, 265 - - informações indispensáveis para o - - avaliação das artérias superiores com
- - resultados técnicos intraoperatórios, 267 laudo, 162 stents, 170

361
Ultrassonog rafia Vascular na Avaliação das Varizes dos Me mbros In feriores

- extensão do refluxo nas veias safenas 7. Engelhom CA, Engelhom AL, Salles-Cunha SX, Picheth
F, Castro)r N, Dabul]r, et aI. Relationship between reflux
padrão de refluxo nas veias safenas magna e parva
and greater saphenous vein diameter.) Vasc Technol 1997;
localização daJSP: distãncia em relação à prega po- 21(3):167-72.
plítea e posicionamento em relação à linha média 8. van Bemmelen S, Bedford G, Beach K, Strandnessjr DE .
localização das veias perfurantes insuficientes ou Quantitative segmental evaluation of venous valvular reflux
\vith duplex ultrasound scanning. ) Vasc Surg 1989 ; 10(4):
de drenagem em relação à interlinha articular do 425-31.
joelho ou à base do pé 9. labropoulos N, Tiongson) , Pryor L, Tassiopoulos AK, Kang
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lower-extremity veins . J Vasc Surg 2003 ; 38(4): 793-8.
principalmente veias pudendas e perineais, além
10. Min R), Khilnani NM, Golia P. Duplex Ultrasound Evaluation
de veias perfurantes indiretas of Lower Extremity Venous Insufficiency. ) Vasc lnterv Radiol
segmentos das veias safenas hipoplásicos, atrési- 2003; 14:1233-1241.
cos ou retirados cirurgicamente 11. Engelhom CA, Engelhom AL, Cassou MF, Salles-Cunha SX.
Pattems of saphenous reflux in women with primary varicose
presença de coto residual nas veias safenas, com veins.) Vasc Surg. 2005; 41(4): 645-51.
respectivos diâmetros e presença ou não de refluxo 12. Engelhom CA, Engelhom AL, Cassou MF, Casagrande C,
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insuficiência das veias safenas baseada no eco-Doppler
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311
índi ce Remi ss ivo

- periférica infrainguinal, 231-249 - - - em migrãnea , 118 - protocolo de vigilãncia após a


- - indicações de ultrassonografia - - - em monitorização de êmbolos, 118 endarterectomia,67
vascular, 231 - - - em monitorização peroperatória, 118 - seguimento após a endarterectomia, 62
- - laudo , 248 - - - em morte cerebral, 116 Endofibrose da artéria ilíaca em atletas de
- - limitações do exame, 247 - - - em vasoespasmo, 110 alto desempenho, 257
- - protocolo, 240 - - - indicações, 109 Ensaios randomizados e níveis de
- - - para diagnóstico definitivo, 241 - - ultrassonografia vascular do escroto evidências, 3
- - - para exame peroperatório, 246 com, 341 Enxaqueca, Doopler em cores
- - - para rastreamento, 240 - - - indicações, 342 transcraniano na, 118
- - - para seguimento pós-tratamento, 243 - - - nas varicoceles, 341 Enxerto(s) , 264
- - técnicas de avaliação, 231 - endarterectomia carotídea baseada - aortocoronário, seleção da artéria radial
- - - cortes ultrassonográficos, 240 somente na ultrassonografia vascular para utilização como, 321
- - - escolha do transdutor, 238 com, 55-68 - - indicação, 321
- - - posicionamento do transdutor, 239 - - mapeamento pré-operatório, 55 - - informações indispensáveis para o
- - - preparo e posição do paciente, 231 - - - indicações do, 56 laudo, 322
- - - ser-ap do equipamento, 235 - - - informações para a endarterectomia - - introdução, 321
- proximal da subclávia homolateral e sem angiografia, 57, 62 - - protocolo de exame, 321
critérios diagnósticos, 102 - - - limitações, 62 - - situações especiais e controversas, 323
Doença(s) carotídea(s), 69-92 - - - protocolo de exame, 56 - arteriais mesentéricos, avaliação dos, 169
- aterosclerótica, 43-53 - - protocolo de vigilãncia após a - infrainguinais, 264
- - aspectos técnicos, 43 endarterectomia, 67 - - angioplastias dos, 262
- - classificação da estenose carotldea, 49 - - seguimento após a endarterectomia, 62 - - - avaliação pré-operatória, 263
- - - bilateral severa da carótida interna , 51 - frequência vasas velocidade , 17 - - - complicações pós-operatórias
- - - carótidas com srenrs, 51 - na análise das fístulas arteriovenosas imediatas, 264
- - - critérios atuais, 50 para hemodiálise, ultrassonografia - - - índices de perviedade e recuperação
- - - da carótida comum e externa , 52 vascular com, 129-135 dos membros, 265
- - detecção e avaliação da estenose - - complicações, 133 - - - pacientes tratados, 263
carotídea, 47 - - conceitos de hemodinãmica, 129 - - - parãmetros hemodinãmicos, 265
- - - carótida comum , 47 - - pirfalls e dicas , 132 - - - sucesso técnico intraoperatório, 264
- - - carótida externa , 49 - - técnica do exame pós-operatório, 131 - - - técnica, 264
- - - carótida interna , 48 - - técnica do exame pré-operatório, 130 - - seguimento dos, 271-281
- não aterosclerótica, 69-92 - sinal Doppler, 16 - - - frequência de exames, 276
- - aneu rismas carolídeos - volume de amostragem, 18 - - - laudo, 276
extracranianos, 70 Drenagem venosa e linfática, 333 - - - limitações da ultrassonografia
- - angiodisplasia, 69 vascular, 276
- - arterite, 76 E - - - níveis de evidência, 278
- - - de Takayasu, 75 Ecografia, 11 - - - protocolo clássico de exames, 271
- - - temporal, 76 - achados a, 90 - - - protocolo usando análise espectral
- - displasia fibromuscular, 80 - - aneurismas carotídeos segmentar, 273
- - dissecção carotídea, 80 extracranianos,74 - - -técnica de exame, 271
- - fibrose actínica , 83 - - arterite, 78 - seleção da veia para utilização como , 319
- - tortuosidades da carótida, 84 - - - de Takayasu , 75 - - critérios, 320
- - trauma carotídeo, 89 - - - temporal , 78 - - inclicações, 319
- - tumor do corpo carotídeo, 87 - - displasia fibromuscular, 80 - - informações indispe nSáveis para o
Doppler, 16 - - dissecção carotídea, 83 laudo, 320
- ângulo de insonação, erros devidos a - - fibrose actínica, 83 - - introdução , 319
estimativas do, 18 - - tortuosidade carotídea, 85 - - protocolo do exame, 319
- de tecido, 24 - - trauma carotídeo , 90 - - situações especiais e controversas, 321
- ecografi a dúplex, 17 - - tumor de corpo carotídeo, 87 Escleroterapia com espuma em varizes,
- em co res, 342 - dúplex, 17 ultrassonografia vascular na, 325-331
- - transcraniano, 110 Êmbolos, monitorização de, Doppler em - laudo, 330
- - - em acidente vascular isquêmico, 110 co res transcraniano em , 118 - protocolo, 325
- - - em aneurismas, 117 Endarterectomia carotídea baseada - sequência do exame, 326
- - - em doença ateromatosa, 111 somente na ultrassonografia vascular Escroto, ultrassonografia vascular do,
- - - em doença falciforme, 112 com Doppler, 55-68 333-344
- - - em hipertensão intracraniana, 112 - mapeamento pré-operatório, 55 - achados ultrassonográficos, 340

363
Ultrassonografia Vasc ular na Avaliação das Va riz es dos Membros Infe riores

Figura 27.22. Exemplo de veia perfurante insuficiente .


Note o tempo de reflu xo superior a 0,35 s.

Figura 27 .23. Avaliação pós-safenectomia magna. (A) Figura 27.2 " . (A) Exemplo de coto res idual da ve ia safena
ausênci a de coto residual da ve ia safena magna . (B) Presença magna (calibre de 7,7 mm e 14 mm de extensão) com reflu xo
de ve ia tributária da junção safenofemoral. ao Doppl er pul sado origin ando (B) veias tributári as.

veias sa fen as acessó ri as e o utras fontes d e reOuxo, tais O ut ro as pec to releva nte na ava li 2ção el e varizes
co m o ve ias pud end as e pe rinea is e ve ias perfurantes d e rec ieli vadas na região ant eromeel ia l ela coxa é a p rese n -
co xa e perna . ça d e ve ias sa fen as acessó rias com re flu xo origin and o
Na presença d e veias tributárias na região antero- ve ias tr ibutá ri as n a coxa e n a perna . Va le lemb ra r a
m ediaI d e coxa e perna, d eve-se identifica r eventual coto an a to mi a ultrasso n ográ fi ca d as ve ias sa fenas ace ssó -
residual d a VS M e p esquisar re Ouxo n o mesmo pela m a- rias ante ri or e p os teri o r desc ritas ant er io rme n te, cuj os
n ob ra d e Valsalva, assim como d eterminar seu diâmetro trajetos dife rem d a VSM , e s u a loca lização su pe r ficia l
e sua extensão, além d e identificar ve ias tributá rias (fi g. ao compartim ento safê ni co a pa rtir do segme n to pro-
27 .24A e B). Particularmente na j SF é impo rtante pes- x ima l d e coxa .
quisar a presença d e n eovascularização identificada por Além disso , a recidiva d e varizes na região poste rior
veias se rpentiginosas d e pequeno calibre. d e perna pode esta r relaci on ad a à presen ça de coto resi-

309
índi ce Rem iss ivo

- - transdução piezelétrica, 13 J - - indicações, 319


- - transformação de Fourier, 13 Jejum, ultrassonografia vascular das - - informações indispensáveis para o
- - transmissão, 13 artérias mesentéricas em, 164 laudo, 320
- processamento complexo de, 21 Junção safenopoplítea, 308 - - introdução, 319
- - agentes de contraste, 25 - - prolOcolo do exame, 319
- - brilho sanguíneo, Bjlow, 21 L - - situações especiais e controversas, 321
- - com redução de ruído speckle , 25 Laser, tratamento endovascular da Massas satélites, 247
- - composta espacial, sono Te, 24 insuficiência venosa superficial dos Medicações injetáveis, 348
- - correção de aberrações de tecidos, 25 membros inferiores com, 314 Medida da espessura médio-intimaI (v.
- - Doppler de tecido , 24 Laudo, informações indispensáveis Espessura médio-intimaI , técnica de
- - ecoelaslOgráfica, 25 para, 322 medida da)
- - expandida, 22 - artérias vertebrais, 104 Membros inferiores, 313
- - harmõnica, 23 - arterite temporal, 97 - doença arterial obliterativa dos,
- - - com inversão de pulso e - compressão do tronco celiaco, 179 procedimenlOs cirúrgicos ecoguiados
contraste, 26 - correção do aneurisma da aorta na,316
- - - tecidual, 23 abdominal, 162 - insuficiência venosa superficial
- - harmõnica, 22 - disfunção erétil, 359 dos,314
- - informações na internet , 25 - ecográfico, e técnica para medida da - - procedimentos cirúrgicos ecoguiados
- - transdutor cristalino de onda pura, 25 espessura médio-intimai, 35 dos, 313
- - tridimensionais, 26 - enxertos infrainguinais, 276 - - tratamenlO endovascular da, 315
- - X-res, 25 - escleroterapia com espuma em - - - com injeçãO esclerosante de
Implante de filtro de veia cava, 313 varizes, 330 espuma, 315
Índice mecânico, imagens - estenose da artéria renal, 196 - - - com laser, 314
ultrassonográficas estáticas e, 14 - seleção da artéria radial para utilização - trombose venosa profunda aguda
Infarto testicular, 340 como enxerto arolOcoronário, 322 dos, e síndrome pós-traumática,
Injeção esclerosante de espuma, 315 - seleção da veia para utilização como 283-294
Insonação, 14 enxerto, 320 - varizes dos, avaliação das 295-311
- ãngulo de, Doppler e, 18 - transplante(s) , 211 - - critérios diagnósticos, 300
- - erros devidos a estimativas, 18 - - pancreático, 211 - - indicações, 295
- feixe de, linear, imagens - - renal, 211 - - laudo, 310
ultrassonográficas estáticas e, 14 - trombose venosa , 293 - - limitações, 310
- frequência de, imagens - - dos membros inferiores e síndrome - - situações especiais, 305
ultrassonográficas estáticas e, 14 pós-trombótica , 293 - - - fontes de renuxo nao relacionadas as
Insuficiência(s) - - dos membros superiores, 144 veias safenas, 308
- venosa superficial dos membros - ultrassonografia vascular - - - junção safenopoplítea , 308
inferiores, 314 transcraniana, 120 - - - renuxo em veias perfurantes, 308
- - procedimentos cirúrgicos ecoguiados - varizes dos membros inferiores, 310 - - - varizes recidivadas, 308
dos,313 Lesões extratesticulares relacionadas com - - - veia safena magna e compartimenlO
- - tratamento endovascular da, 314 trauma, 340 safênico, 305
- - - com injeção esclerosante de - - técnica para diagnóstico, 295
espuma , 315 M Membros superiores, 123
- - - com laser , 314 Malformações vasculares, tumores e, 255 - doença arterial obstrutiva nos, 123
- vertebrobasilar por compressão MapeamenlO venoso e arterial para - trombose venosa dos, 137-145
extrínseca durante rotação do utilização como substituto vascular, - - diagnóstico, 140
pescoço, 104 319-323 - - informações indispensáveis para o
Intervenções infrainguinais carotídeas e - seleção da artéria radial para utilização laudo, 144
de flstulas arteriovenosas dirigidas como enxerto aortocoronário, 321 - - limitações, 144
pela ultrassonografia vascular, 259 - - indicação, 321 - - prolOcolo, 137
- angioplastia(s), 267 - - informações indispensáveis para o - - técnica do exame, 137
- - carotídea , 265 laudo, 322 - ultrassonografia vascular dos, 228
- - das artérias infrainguinais, 259 - - introdução, 321 Migrãnea, Doppler em cores
- - das fístulas arteriovenosas - - prolOcolo de exame, 321 transcraniano na, 118
disfuncionais ou imaturas, 267 - - situações especiais e controversas, 323 Monitor, 16
- - dos enxertos infrainguinais, 262 - seleção da veia para utilização como MonilOrização, Doppler em cores
IrrigaçãO arterial, 333 enxerto,319 transcraniano em, 118
Isquemia intestinal crônica, 163 - - critérios, 320 - de êmbolos, 118

365
Ultrassonografia Vascular na Avaliação das Varizes dos Membro s Inferiores

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Figura 27. 18. Exempl o de padrão de reflu xo distai na veia safena magna (VSM). (A) Ausência de refluxo na junção
safe nofemora l, (B) na VSM na coxa e no joelho. (C) Veia tributária tran sferindo refluxo para VSM na perna. (D) Refluxo na VSM
na perna.

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Figura 27.19. Exemplo de padrão de refluxo difuso na veia safena magna.

307
índi ce Remi ss ivo

- - - informações indispensáveis para o - intervenções infrainguinais carotídeas - - - veia safena magna e compartimento
laudo, 144 e de fístulas arteriovenosas dirigidas safênico, 305
- - - limitações da ullrassonografia , 144 pela, 259 - - técnica para diagnóstico, 295
- - - protocolo, 13 7 - membros superiores, 228 - escleroterapia com espuma
- - - técnica do exame, 137 - síndrome(s) em, 325-331
Tronco celíaco, compressáo do, 172 - - compressiva da veia ilíaca comum - - laudo, 330
- investigação da, 175-179 esquerda pela artéria ilíaca comum - - protocolo, 325
- - critérios diagnósticos , 176 direita, 219 - - sequência do exame, 326
- - indicações da ultrassonografia - - do quebra-nozes, 213 - pélvicas, investigação de, 225-230
vascular, 175 - - pós-trombótica , 283 - - indicações, 225
- - informações indispensáveis para o - transcraniana, 107-121 - - técnica de avaliação para
laudo, 179 - - critérios diagnósticos, 110 diagnóstico, 227
- - limitações da ultrassonografia - - indicações do Doppler em cores Vasculite, 253
vascular, 178 transcraniano, 109 Vasoespasmo, Doppler em cores
- - técnica de avaliação para - - informações indispensáveis para o transcraniano no, 110
diagnóstico, 175 laudo, 120 Veia(s)
- reversível, 172 - - limitações da, no eSludo, 119 - cava, filtro de, implante de, 313
Tumor(es),255 - - técnica de avaliação para - estudos das, 227
- do corpo carotídeo, 87 diagnóstico, 107 - - da região abdominal, 227
- e malformações vasculares, 255 - trombose venosa profunda, 283 - - da região anexial pélvica, 227
- varizes dos membros inferiores, - ilíaca comum esquerda , síndrome
U 295-311 compressiva da, pela artéria ilíaca
Ultrassom , transmissão do, 13 - varizes pélvicas, 225-230 comum direita, 219-223
Ultrassonografia vascular - - laudo, 223
- aneurisma da aorta abdominal, 159-162 - - limitações da ultrassonografia
- artérias, 195 V vascular, 221
- - mesentéricas, 163-174 Varicoceles, 341 - - protocolo de estudo pela
- - renais, 195 - critérios diagnósticos de, 342 ultrassonografia vascular, 219
- - vertebrais, 99-105 - ultrassonografia com Doppler em cores - - quadro clínico, 219
- arterite temporal , 93-97 nas, 341 - safena(s), 308
- com Doppler (V.L Doppler) Varizes, 225-230, 295-311, 325-331 - - fontes de reOuxo não relacionadas
- - análise das fístulas arteriovenosas para - dos membros inferiores, avaliação das as, 308
hemodiálise, 129-135 295-311 - - magna e compartimento
- compressão do tronco celíaco, 175 - - critérios diagnósticos, 300 safênico, 305
- doença arterial obstrutiva - - indicações, 295 - seleção de, para utilização como
infrainguinal,231 - - laudo, 310 enxerto, 319
- escleroterapia com espuma em - - limitações da , no estudo , 310 - - critérios para seleção da, 320
varizes, 325-331 - - situações especiais, 305 - - indicações, 319
- escroto, 333-344 - - - fontes de reOuxo não relaCionadas as - - informações indispensáveis para o
- estenose da artéria renal, 181 veias safenas, 308 laudo, 320
- estudo dos transplantes, 197 - - - junção safenopoplítea, 308 - - introdução, 319
- - pancreático, 207 - - - reOuxo em veias perfurantes, 308 - - protocolo do exame, 319
- - renal, 197 - - - varizes recidivadas, 308 - - situações especiais e controversas, 321

367
U ltrasso nog rafi a Va sc ular na Avali ação das Variz es do s M embros In fe riores

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Figura 27.16. Exemplo de padrão de reflu xo multi ssegmentar na veia safena


magna (VSM), com junção safenofemoral competente. (A ) ausência de reflu xo na
junção safenofemora l e (B) na VSM na coxa. (C) Veia tributári a causando reflu xo
na VSM na perna prox imal. (D ) Refluxo na VSM na perna proximal. (E) Reflu xo
escoado por veia tributári a. (F) Ausência de reflu xo da VSM no segmento médio da
perna . (G ) Refluxo na VSM no segmento d istai de perna.

SITUAÇÕES ESPECIAIS nando ao compartimento safênico nos segmentos mais


d istais. Para alguns autores 2 o fato de a VSM localizar-se
Veia safena magna e compa rtimento fora do compartimento safênico caracterizaria ausência
safênico da safena naquele segmento; no entanto, o mapeamento
Durante o mapeamento venoso, pode-se observar a su- de toda a extensão da veia demonstra ser a mesma veia
perficialização da safena magna com trajeto acima da em todo o trajeto, apenas com superficialização em de-
[áscia supe rfi cial e fora do compartimento safênico, retor- terminado segmento (Fig. 27.20) .

305
índi ce Remissivo

- - - informações indispensáveis para o - intervenções infrainguinais carotídeas - - - veia safena magna e compartimento
laudo, 144 e de fístulas arteriovenosas dirigidas safênico, 305
- - - limitações da ultrassonografia, 144 pela, 259 - - técnica para diagnóstico , 295
- - - protocolo , 137 - membros superiores, 228 - escleroterapia com espuma
- - - técnica do exame, 13 7 - síndrome(s) em, 325-331
Tronco celíaco, compressão do, 172 - - compressiva da veia ilíaca comum - - laudo, 330
- investigação da, 175-179 esquerda pela artéria ilíaca comum - - protocolo, 325
- - critérios diagnósticos, 176 direita, 219 - - sequência do exame, 326
- - indicações da ultrassonografia - - do quebra-nozes, 213 - pélvicas, investigação de, 225-230
vascular, 175 - - pós-trombótica, 283 - - indicações, 225
- - informações indispensáveis para o - transcraniana, 107-121 - - técnica de avaliação para
laudo, 179 - - critérios diagnósticos , 110 diagnóstico, 227
- - limitações da ultrassonografia - - indicações do Doppler em cores Vasculite, 253
vascular, 178 transcraniano , 109 Vasoespasmo, Doppler em cores
- - técnica de avaliação para - - informações indispensáveis para o transcraniano no, 110
diagnóstico, 175 laudo, 120 Veia(s)
- reversível, 172 - - limitações da, no estudo, 119 - cava, filtro de, implante de, 313
Tumor(es), 255 - - técnica de avaliação para - estudos das, 227
- do corpo carolídeo, 87 diagnóstico, 107 - - da região abdominal, 227
- e malformações vasculares, 255 - trombose venosa profunda, 283 - - da região anexial pélvica, 227
- varizes dos membros inferiores, - ilíaca comum esquerda, síndrome
U 295-311 compressiva da, pela artéria ilíaca
Ultrassom, transmissão do, 13 - varizes pélvicas, 225-230 comum direita, 219-223
Ullrassonografia vascular - - laudo, 223
- aneurisma da aorta abdominal, 159-162 - - limitações da ultrassonografia
- artérias, 195 V vascular, 221
- - mesentéricas, 163-174 Varicoceles, 341 - - protocolo de estudo pela
- - renais, 195 - critérios diagnósticos de, 342 ultrassonografia vascular, 219
- - vertebrais, 99-105 - ultrassonografia com Doppler em cores - - quadro clínico, 219
- arterite temporal, 93-97 nas, 341 - safena(s), 308
- com Doppler (V.L Doppler) Varizes, 225-230, 295-311, 325-331 - - fontes de refluxo não relacionadas
- - análise das fístulas arteriovenosas para - dos membros inferiores, avaliação das as, 308
hemodiálise, 129-135 295-311 - - magna e compartimento
- compressão do tronco celíaco, 175 - - critérios diagnósticos, 300 safênico, 305
- doença arterial obstrutiva - - indicações, 295 - seleção de, para utilização como
infrainguinal,231 - - laudo, 310 enxerto, 319
- escleroterapia com espuma em - - limitações da, no estudo, 310 - - critérios para seleção da, 320
varizes, 325-331 - - situações especiais, 305 - - indicações, 319
- escroto, 333-344 - - - fontes de refluxo não relacionadas as - - informações indispensáveis para o
- estenose da artéria renal, 181 veias safenas, 308 laudo, 320
- estudo dos transplantes, 197 - - - junção safenopoplítea, 308 - - introdução, 319
- - pancreático, 207 - - - refluxo em veias perfurantes, 308 - - protocolo do exame, 319
- - renal, 197 - - - varizes recidivadas, 308 - - situações especiais e controversas, 321

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