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PARECER Nº 004/2023 – CÂMARA TÉCNICA DE ENFERMAGEM EM TERAPIA

NUTRICIONAL E NUTRIÇÃO CLÍNICA COREN-RJ

Terapias Injetáveis de Suplementação e


Nutraceuticos por Enfermeiros.

I. Da Consulta:

Atendendo à solicitação de titular emitida por e-mail à Coordenação Geral das


Câmaras Técnicas do Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro sobre competência
do Enfermeiro em relação às terapias injetáveis de suplementação e Nutraceuticos. “Qual o
posicionamento do nosso conselho? Já realizo essas terapias por via oral, pois sou pós graduada
em fisioterapia e fiz curso Ortomolecular. Na prática nos deparamos com alguns casos que
alcançaríamos muito mais rápido nossos objetivos de pudéssemos utilizar a via venosa. Posso?
O Conselho nos respalda?”

II. Fundamentação Legal e Análise:

A Fisioterapia é a terapêutica caracterizada pelo uso de plantas medicinais em suas


diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de
origem vegetal. Envolve a prescrição de fitoterápicos sendo alguns considerados como produtos
correlatos e outros como medicamentos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária –
ANVISA. (Portaria MS 971/2006)1

Segundo a RDC nº 48 de 2004, fitoterápico é o medicamento cujo princípio ativo é um


derivado de droga vegetal (extrato, tintura, óleo, cera, exsudato, suco e outros), obtido
empregando-se exclusivamente matérias primas ativas vegetais. Os medicamentos fitoterápicos
são regulamentados no Brasil como medicamentos convencionais e têm que apresentar critérios
similares de qualidade, segurança e eficácia para todos os medicamentos. Como qualquer
medicamento, o mau uso de fitoterápicos pode ocasionar problemas à saúde, como por
exemplo: alterações na pressão arterial, problemas no sistema nervoso central, fígado e rins,
que podem levar a internações hospitalares e até mesmo a morte, dependendo da forma de uso.1

As plantas medicinais e fitoterápicos vêm sendo cada vez mais utilizados no tratamento
de diversas doenças, porém, para sua correta utilização, torna-se necessário o processamento
da planta, inteira ou em partes, visando a sua adequação à via e forma de administração.

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A forma farmacêutica é o estado final de apresentação da planta e de seu princípio
ativo, que facilita sua utilização e promove o efeito terapêutico esperado. As principais formas
farmacêuticas são: pó, tintura, infusão, decocção, extratos, óleos essenciais, xaropes, elixir,
pomadas, pastas, cremes, géis, comprimidos supositórios.

Já a Terapia Ortomolecular baseia-se na conservação da saúde por meio de dietas,


exercícios físicos para neutralizar a ação de radicais livres em excesso, os quais seriam
responsáveis por deteriorar as células, causando problemas à saúde.2

Essa é baseada na ideia de que um mesmo elemento químico, que pode ser essencial
para o organismo em algumas situações, se torna tóxico caso esteja em quantidade inferior ou
superior ao que é benéfico para o funcionamento das células, trazendo prejuízos à saúde comum
todo. Assim, o profissional que atua nessa área, tenta descobrir esses desequilíbrios e, diante
disso, realiza a correção dos nutrientes em falta ou eliminação de metais tóxicos, em busca de
um completo bem-estar do paciente.2

Se mostra eficaz no tratamento e na prevenção de várias doenças, como depressão,


enxaqueca, diabetes, estresse, colesterol, hipertensão arterial, câncer, dentre outras. Contudo,
não exclui as medidas curativas tradicionais, sendo utilizada de forma complementar.

Recentemente, a Terapia Ortomolecular foi reconhecida como especialidade do


enfermeiro (Resolução COFEN nº 581/2018). Contudo, essa modalidade terapêutica ainda não
é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo encontrada em sua maioria em
consultórios particulares.

Ao falarmos sobre suplementos, conforme definido no Artigo 3º da RDC nº 243 de 26


de julho de 2018, “suplemento alimentar é um produto para ingestão oral, apresentado em
formas farmacêuticas, destinado a suplementar a alimentação de indivíduos saudáveis com
nutrientes, substâncias bioativas, enzimas ou probióticos, isolados ou combinados.”

Já o termo nutraceutico é utilizado para descrever substâncias que não são


tradicionalmente reconhecidas como nutrientes (por exemplo, vitaminas e minerais), mas que
têm efeitos fisiológicos positivos sobre o corpo humano. O termo foi originalmente usado por
Defelice em 1995, definido como “alimento ou partes de alimentos que fornecem benefícios
medicinais, incluindo prevenção e/ou tratamento da doença.”5 Tais produtos podem variar
desde nutrientes isolados, suplementos dietéticos e dietas, a alimentos geneticamente
modificados, alimentos funcionais, produtos herbais e alimentos processados tais como cereais,
sopas e bebidas. (DEFELICE, 1995)

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Considerando os termos descritos acima, percebemos uma semelhança com a definição
de suplemento alimentar, pois ambos se apresentam em uma forma farmacêutica. Contudo, a
diferença entre eles se dá em sua obtenção: os nutracêuticos são obtidos a partir do alimento e
o suplemento alimentar é uma mistura de substâncias isoladas que incorporam ao organismo os
micronutrientes que estão em deficiência. 6

Os nutracêuticos podem ser encontrados em lojas de produtos naturais e em farmácias


na forma de cápsulas, comprimidos, sachês, suplemento dietético ou ser formulado em
farmácias de manipulação, no entanto é importante que o seu consumo seja orientado pelo
médico ou nutricionista, isso porque como contém concentrações elevadas do composto
em comparação com o alimento fonte, pode ter consequências para a saúde.

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os


medicamentos “são substâncias ou preparações elaboradas em farmácias (medicamentos
manipulados) ou indústrias (medicamentos industriais), que devem seguir determinações legais
de segurança, eficácia e qualidade”. Isso quer dizer que os medicamentos são compostos por
substâncias que possuem eficácia comprovada cientificamente e que passaram por um rigoroso
controle técnico.7

Considerando a Resolução COFEN nº 197 de 1997 que estabelece e reconhece as


Terapias Alternativas (Acupuntura, Iridologia, Fitoterapia, Reflexologia, Quiropraxia,
Massoterapia, dentre outras) como especialidade e/ou qualificação do profissional de
Enfermagem.
Art. 1º- Estabelecer e reconhecer as Terapias Alternativas
como especialidade e/ou qualificação do profissional de
Enfermagem.
Art. 2º- Para receber a titulação prevista no artigo
anterior, o profissional de Enfermagem deverá ter
concluído e sido aprovado em curso reconhecido por
instituição de ensino ou entidade congênere, com uma
carga horária mínima de 360 horas.

Considerando a Resolução COFEN nº 389 DE 2011, que atualiza no âmbito do


sistema COFEN/Conselhos Regionais os procedimentos para registro de título de Pós
Graduação Lato- Strico Sensu concedido a enfermeiros e lista as especialidades, dentre eles a
de Enfermagem em Saúde Complementar e Enfermagem em Terapias Holísticas
Complementares.
Considerando o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, aprovado pela
Resolução COFEN nº 311, de 8 de fevereiro de 2007: Princípios Fundamentais (...) O

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profissional de enfermagem atua na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde,
com autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais.

Art. 1. (Direitos) Exercer a enfermagem com liberdade,


autonomia e ser tratado segundo os pressupostos e
princípios legais, éticos e dos direitos humanos.
Art. 2. (Direitos) Aprimorar seus conhecimentos
técnicos, científicos e culturais que dão sustentação a sua
prática profissional.
Art. 12. (Responsabilidades e Deveres) Assegurar à
pessoa, família e coletividade assistência de Enfermagem
livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou
imprudência.
Art. 13. (Responsabilidades e Deveres) Avaliar
criteriosamente sua competência técnica, cientifica, ética
e legal e somente aceitar encargos ou atribuições, quando
capaz de desempenho seguro para si e para outrem.
Art. 31. (Proibições) Prescrever medicamentos e praticar
ato cirúrgico, exceto nos previstos na legislação vigente
e em situação de emergência.
Art. 32. (Proibições) Executar prescrições de qualquer
natureza, que comprometam a segurança da pessoa.
Art. 33. (Proibições) Prestar serviços que por sua
natureza competem a outro profissional, exceto em caso
de emergência.
Art. 36. (Direito) Participar da prática multiprofissional e
interdisciplinar com responsabilidade, autonomia e
liberdade.

Considerando a proposta de Reformulação do Código de Ética dos Profissionais de


Enfermagem, consolidada na 1ª Conferência Nacional de Ética na Enfermagem – 1ª
CONEENF, ocorrida no período de 07 a 09 de junho de 2017, em Brasília – DF, realizada pelo
Conselho Federal de Enfermagem e Coordenada pela Comissão Nacional de Reformulação do
Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, instituída pela Portaria COFEN nº
1.351/2016;

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Considerando a necessidade de garantir uma assistência segura, tanto aos
usuários dos serviços quanto aos profissionais envolvidos, compatibilizando as
competências, atribuições e prerrogativas profissionais, às necessidades dos pacientes e à
legislação pertinente;

Considerando que a ampliação do escopo de práticas do Enfermeiro é


reconhecida pela Organização Mundial de Saúde como um meio de ampliar o acesso a
cuidados essenciais em saúde;

III. Conclusão:
Considerando o exposto, concluímos que o profissional Enfermeiro, desde que devidamente
habilitado poderá realizar a prescrição de suplementos alimentares e nutraceuticos. No entanto,
se o suplemento alimentar ou nutraceutico for considerado e/ou cadastrado pela ANVISA como
medicamentos, a prescrição pelo Enfermeiro só poderá ser realizada se previamente
estabelecida em programas de saúde pública (padronizados pelas Secretarias Municipais de
Saúde) e/ou em rotina aprovada pela instituição de saúde, mediante a existência de protocolo
institucional.

Este é o parecer, s.m.j.


Rio de janeiro, 24 de setembro de 2022.

Dra Karla Gomes


Coordenadora da Câmara Técnica de Enfermagem em Terapia Nutricional e
Nutricional Clínica - CTETNNC

IV. Referências:

1- PARECER COREN – BA Nº 030/2014 – Prescrição de Medicamentos Fitoterápicos


por Enfermeiro.
2- RESOLUÇÃO COFEN Nº 581/2018 – Atualiza, no âmbito do Sistema
Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem, os procedimentos para Registro de

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Títulos de Pós – Graduação Lato e Stricto Sensu concedido a Enfermeiros e aprova a
lista das especialidades.
3- RDC Nº 243, DE 26 DE JULHO DE 2018 – Dispõe sobre os requisitos sanitários dos
suplementos alimentares.
4- Importância de uma Regulamentação Específica com as definições e Classificações
dos Produtos Comercializados com Suplementos Alimentares, Alimentos Funcionais
e Nutraceuticos. Revista de Direito Sanitário., São Paulo v.19 n.3, p 54-67, nov.
2018/fev.2019.
5- BISSON, M.P. Nutracêutica clínica, estética, esportiva e prescrição de fitoterápicos /
Marcelo Polacow Bisson. – 1. Ed. – Barueri [SP] : Manole, 2020.
6- PARECER NORMATIVO Nº 001/2021/Conselho Federal de Enfermagem.
7- BRASIL. Agência Nacional de Vigilância. Momento Fitoterápico: Farmacopéia
Brasileira. Brasília, DF, 2016.
8- BRASIL. Ministério da Saúde. Práticas Integrativas e Complementares: Plantas
Medicinais e Fitoterapia na Atenção Básica. Ministério da Saúde, Secretária de
Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Brasília, DF, 2012.
9- Esquivel AS, Endriukaite L, Furlan MR. Fitoterapia Nutricional. In: Waitzberg DL.
Nutrição Oral, Enteral e Parental na Prática Clínica. 5.ed. Atheneu, 2017.

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