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Brazilian Journal of Health Review 22531

ISSN: 2595-6825

Dor abdominal na criança: diferentes causas no contexto de urgência e


emergência

Abdominal pain in children: different causes in the context of urgency


and emergency
DOI:10.34119/bjhrv4n5-346

Recebimento dos originais: 05/09/2021


Aceitação para publicação: 18/10/2021

Luiz Felipe Neves Frazão


Acadêmico de medicina - Universidade de Rio Verde
Rodovia GO-438, KM 02 – Goianésia - Goiás
E-mail: felipfrazao@gmail.com

Josynette Aparecida Lino Bittencourt


Acadêmica do curso de Medicina - Universidade de Itaúna
Rodovia MG 431 - Km 45 – Itaúna - Minas Gerais
E-mail:josybittencourt@hotmail.com

Rafaela Morais de Carvalho


Acadêmica do curso de Medicina - Universidade de Itaúna
Rodovia MG 431 - Km 45 – Itaúna - Minas Gerais
E-mail:rafaelamoraisc@gmail.com

Stella Azevedo Braga


Acadêmica do curso de Medicina - Universidade de Itaúna
Rodovia MG 431 - Km 45 – Itaúna - Minas Gerais
E-mail: stellaabraga@hotmail.com

Nathalia Stark de Almeida Delgado


Acadêmica do curso de Medicina - Universidade de Itaúna
Rodovia MG 431 - Km 45 – Itaúna - Minas Gerais
E-mail: starknathalia@gmail.com

Isadora Franco Flores


Acadêmica do curso de Medicina - Universidade de Itaúna
Rodovia MG 431 - Km 45 – Itaúna - Minas Gerais
E-mail: isafflores@gmail.com

Hunder Marques de Oliveira


Acadêmico do curso de Medicina - Universidade de Itaúna
Rodovia MG 431 - Km 45 – Itaúna - Minas Gerais
E-mail: hundermarques@gmail.com

Diogo Pena Moreira


Graduado em Medicina Centro Universitário de Caratinga – UNEC
Rua Niterói –Nossa Senhora das Graças, Caratinga – MG
E-mail: diogomed02@hotmail.com

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.5, p. 22531-22542 sep./oct. 2021
Brazilian Journal of Health Review 22532
ISSN: 2595-6825

RESUMO
A dor abdominal é um problema recorrente na população pediátrica sendo motivação para
inúmeras consultas nas unidades de pronto atendimento, sobretudo por ser uma causa de
angústia não só para a criança, mas também para seus pais e responsáveis. O objetivo do
presente artigo é fazer uma revisão da literatura sobre as possíveis e principais etiologias
da dor abdominal em crianças, para que dentre seus diversos diagnósticos diferenciais,
seja possível reconhecê-las com maior facilidade e rapidez, com o propósito de realizar o
diagnóstico correto. Portanto, é necessário proceder com uma avaliação clínica
minuciosa, com anamnese e exame físico completos a fim de distinguir se esse sintoma
se deve a alguma desordem funcional ou orgânica. Sendo que quando forem encontrados
determinados sinais de alarme, é necessário relacionar essa dor, particularmente, a alguma
patologia orgânica, como apendicite aguda, intussuscepção, constipação intestinal e
trauma abdominal. Entretanto, quando esses sinais estiverem ausentes, é mais possível
que a causa dessa dor seja devido a dor abdominal funcional. Dessa forma, é imperativo
que se saiba reconhecer as principais etiologias dessa queixa para ter propriedade ao
fechar o diagnóstico dessas crianças.

Palavras-chave: Medicina de Emergência Pediátrica, Dor Abdominal, Apendicite,


Diagnóstico Diferencial.

ABSTRACT
Abdominal pain is a recurrent problem in the pediatric population and is the motivation
for numerous consultations in emergency care units, especially because it is a cause of
distress not only for the child, but also for their parents and guardians. The aim of this
article is to review the literature on the possible and main etiologies of abdominal pain in
children, so that among the various differential diagnoses, it is possible to recognize them
more easily and quickly in order to make the correct diagnosis. Therefore, it is necessary
to proceed with a thorough clinical evaluation, with complete anamnesis and physical
examination in order to distinguish whether this symptom is due to some functional or
organic disorder. When certain alarm signs are found, it is necessary to relate this pain,
particularly to some organic pathology, such as acute appendicitis, intussusception,
constipation, and abdominal trauma. However, when these signs are absent, it is more
possible that the cause of this pain is due to functional abdominal pain. Thus, it is
imperative that one knows how to recognize the main etiologies of this complaint in order
to have property when closing the diagnosis of these children.

Key-words: Pediatric Emergency Medicine, Abdominal Pain, Appendicitis, Diagnosis


Differential.

1 INTRODUÇÃO
No contexto da medicina atual e da antiguidade, uma das queixas mais recorrentes
em unidades de pronto atendimento na população pediátrica consiste na dor abdominal.
Essa se caracteriza como um desafio para os médicos e para todos os profissionais da
saúde envolvidos, seja em contexto de diagnóstico ou de manejo. Um desses desafios
consiste na distinção de pacientes com sintomas possivelmente fatais e que necessitam de
abordagem imediata de outros cuja abordagem possa ser mais conservadora. Embora a

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maioria das queixas seja decorrente de alterações benignas, é necessário um


reconhecimento de suas etiologias e diagnósticos diferenciais para melhor assistência ao
paciente (TOLEDO et al., 2020).
Em torno de 40% dos pacientes que procuram assistência médica com queixa de
dor abdominal não têm um diagnóstico etiológico definido (ALVES; SEBASTIÃO,
2017). Mesmo a dor abdominal sendo manifestação precoce de várias patologias. Devido
a isso, faz-se de suma necessidade, não só, conhecer os mais variados tipos de abdome
agudo com suas possíveis etiologias e evoluções, como também conhecer como a
epidemiologia se apresenta de maneira diferente na população pediátrica (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2021).
Dentre as possíveis patologias, identificadas em 5% a 10% dos casos, grande parte
apresenta-se no aparelho gastrintestinal ou geniturinário, podendo ter como causas
infecciosas, congênitas, funcionais e mecânicas. As causas de dor abdominal podem ser
divididas em cirúrgicas e não cirúrgicas. Em relação às patologias cujo tratamento é
cirúrgico há prevalência de condições como abdome agudo, intussuscepção , condições
extra abdominais dentre outros (INDIAN J PEDIART, 2017; KIM, 2013).
Na população pediátrica existe 5,7% de erro de medicação em cerca de 10.000
prescrições analisadas. Além disso , esse estudo demonstra que a população pediátrica
está três vezes mais sujeita a erros médicos em geral e também a complicações
decorrentes desse erro. Diante dessa informações em caso de condições cirúrgicas como
as descritas acima, a negligência quanto ao diagnóstico diferencial e etiologia de uma dor
abdominal , contribuem para a manutenção desse índices prejudiciais à população
pediátrica (INSTITUTO BRASILEIRO PARA SEGURANÇA DO PACIENTE, 2016).
Portanto, como forma de diminuir os índices de morbimortalidade da população
infantil faz-se necessário o reconhecimento de suas etiologias e diagnósticos diferenciais
da dor abdominal no pronto atendimento. Por isso, o objetivo do presente estudo consiste
em fazer uma revisão acerca das principais etiologias da dor abdominal em crianças no
pronto atendimento e como reconhecê-las para auxiliar em seu diagnóstico diferencial.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 DOR ABDOMINAL FUNCIONAL
A dor abdominal crônica é uma das principais queixas clínicas em crianças e
adolescentes. É definida pela ocorrência de três ou mais episódios de dor abdominal, de
intensidade suficiente para interromper as atividades habituais, durante um período de ao

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menos 3 meses (BRUSAFERRO, et al, 2018). Geralmente, não está associada a uma
causa orgânica, sendo classificada como dor abdominal funcional (DAF), a qual possui
uma prevalência mundial de 13,5% (ZEEVENHOOVEN et al., 2019).
De acordo com os critérios de ROMA IV, as desordens gastrointestinais
funcionais (DGIFs) incluem as seguintes doenças: dispepsia funcional, síndrome do
intestino irritável, enxaqueca abdominal e dor abdominal funcional sem outra
especificação (ZEEVENHOOVEN et al., 2019).
Os mecanismos fisiopatológicos da DAF ainda não foram totalmente esclarecidos,
mas envolvem uma interação complexa de fatores em diferentes aspectos do indivíduo,
entre eles a genética, fatores psicossociais e fisiológicos (ZEEVENHOOVEN et al.,
2019).
As DGIFs são definidas quando, após avaliação médica apropriada, os sintomas
não possam ser atribuídos a outra condição clínica. Logo, no processo de investigação é
essencial que seja feito o diagnóstico diferencial dos quadros de etiologia funcional
daqueles orgânicos, porém deve-se atentar ao fato de que ambos quadros podem coexistir
(BRUSAFERRO et al., 2018).
A avaliação deve ser iniciada com anamnese e exame físico detalhados, incluindo
a descrição do início da dor, duração, frequência, local, características, fatores
desencadeantes ou de alívio e sintomas associados (BRUSAFERRO et al., 2018). A dor
funcional geralmente é localizada na região periumbilical e não é associada a náuseas,
vômitos ou febre. O exame físico revela-se sem alterações (IYER; NALLASAMY, 2018).
Os exames complementares devem ser solicitados de acordo com o julgamento
clínico e hipótese diagnóstica. Exames laboratoriais básicos como hemograma e urinálise
podem ser realizados, ao passo que exames de imagem não são mandatórios. (ZEITER,
2017).
A dor abdominal funcional é real e promove ansiedade e preocupações na criança
afetada e em toda a família (BRUSAFERRO et al., 2018). O manejo desse distúrbio é
desafiador e os ensaios clínicos acerca dos tratamentos disponíveis são muitas vezes
inconclusivos (ZEEVENHOOVEN et al., 2019).
O plano terapêutico deve ser desenvolvido através de um processo individualizado
e direcionado aos aspectos particulares que envolvem o quadro de cada criança. O
tratamento pode incluir: abordagens dietéticas, terapia farmacológica, suporte
psicossocial e terapias suplementares (ZEITER, 2017).
2.2 APENDICITE AGUDA

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A apendicite aguda é a principal causa de abdome agudo inflamatório infantil,


sendo a indicação mais comum de cirurgia abdominal de emergência em pediatria. A
faixa etária mais prevalente é entre 4 e 14 anos. (TAVARES, 2012).
A apresentação clínica clássica engloba dor em região periumbilical no início do
quadro, migração da dor para o quadrante inferior direito (QID) do abdome dentro das
primeiras 24 horas de evolução, febre, vômitos e anorexia. Podem estar presentes sinais
de peritonite, como dor à descompressão na região do ponto de Mcburney (sinal de
Blumberg), dor no QID à flexão e rotação interna do quadril direito (sinal do obturador),
dor no QID à palpação do quadrante inferior esquerdo (QIE) (sinal de Rovsing) e dor no
QID à extensão do quadril direito (sinal do iliopsoas). A ausência desses sinais não
elimina a hipótese diagnóstica de apendicite, mas sua presença sugere o diagnóstico
(TAYLOR et. al., 2016).
O diagnóstico de apendicite é essencialmente clínico, devendo ser considerado em
toda criança com história de dor abdominal associada à dor à palpação em QID. O
diagnóstico precoce é fundamental para um desfecho favorável. Exames laboratoriais
como leucograma e proteína C reativa podem auxiliar no diagnóstico. Quando não se
observa a apresentação típica ou quando não se pode excluir o diagnóstico clinicamente,
devem ser solicitados, isoladamente ou em conjunto, a ultrassonografia (USG) e a
tomografia computadorizada (TC) (WESSON, 2016).
Todos os pacientes diagnosticados devem receber reposição volêmica e
antibioticoterapia. Na ausência de necrose ou perfuração, a apendicite é definida como
inicial, e tem como recomendação apendicectomia. A apendicite é complicada quando há
presença de necrose ou perfuração, na ausência de plastrão ou abscesso. Nesses casos, é
recomendado apendicectomia de urgência. Quando associada a plastrão ou abscesso e
quadro arrastado, a conduta depende da clínica do paciente. Se mau estado geral,
apendicectomia. Por outro lado, se em bom estado geral, com plastrão palpável bem
localizado em QID, sem sinais de peritonite, podem ser submetidas ao tratamento não
operatório. (BASTOS et. al., 2016).

2.3 INTUSSUSCEPÇÃO
A invaginação intestinal ou intussuscepção, caracterizada pela telescopagem de
uma porção do intestino dentro de um segmento adjacente, é uma condição idiopática em
90% dos casos e geralmente ocorre em menores de 2 anos de idade (REUST;
WILLIAMS, 2016). Constitui-se na principal causa de obstrução gastrointestinal e a

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segunda indicação mais comum de cirurgia abdominal de emergência em pediatria


(SMITH; FOX, 2016) .
A investigação é feita baseada no alto índice de suspeita clínica, uma vez que a a
clássica tríade de cólicas abdominais intercaladas com períodos de atividade normal,
vômitos, e fezes com muco e sangue são encontradas em menos de 50% dos casos
(REUST; WILLIAMS, 2016). O quadro pode ser indolor em até 40% dos pacientes com
menos de 4 meses de idade (SMITH; FOX, 2016).
A avaliação laboratorial é inespecífica. Sinais de obstrução intestinal como
ausência de gás na ampola retal podem ser encontrados na radiografia de abdome, porém
a mesma é normal em até 24% dos casos. A ultrassonografia abdominal pode revelar o
sinal do alvo/rosquinha e possui sensibilidade de 85% e especificidade de 97%, segundo
estudo que avaliou o diagnóstico de intussuscepção no setor de emergência de prontos
atendimentos. Tomografia computadorizada e ressonância magnética geralmente não são
necessários (SMITH; FOX, 2016).

2.4 CONSTIPAÇÃO INTESTINAL


A constipação intestinal é comum em crianças, com incidência de 3% das
consultas nos ambulatórios de pediatria geral e 25% das consultas em gastroenterologia
pediátrica. Estudos demonstram que não há predominância entre os sexos. (BENNINGA;
MUGIE; LORENZO, 2011).
O III Critério de Roma (2006) estabelece o diagnóstico de constipação quando há
≤2 evacuações por semana; história de postura retentiva ou retenção fecal voluntária
excessiva; ao menos um episódio de incontinência fecal por semana; presença de extensa
massa fecal no canal retal; história de movimentos intestinais dolorosos; história de fezes
calibrosas que podem obstruir o vaso sanitário. Os sintomas devem estar presentes pelo
menos uma vez por semana em um intervalo de dois meses. As diretrizes da ESPGHAN
(Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica) e
NASPGHAN (Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição
Pediátrica) recomendam que seja usado o critério de Roma III, exceto pela duração dos
sintomas em crianças mais velhas, pois o intervalo de dois pode contribuir para atraso no
tratamento. (NURKO et al., 2014).
O manejo terapêutico é constituído de quatro passos: orientação geral,
desimpactação, prevenção da reimpactação e recondicionamento do hábito intestinal.
Uma dieta balanceada é recomendada como parte do tratamento de manutenção.

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A desimpactação antes da terapia de manutenção reduz o risco de incontinência


fecal. Posteriormente, o foco deve ser a prevenção da recorrência, com o uso de
medicações de manutenção, como o polietilenoglicol (PEG), a lactulose, o hidróxido de
magnésio e o óleo mineral. O PEG é considerado medicação de primeira linha no
tratamento, pois aumenta o conteúdo de água das fezes e não é irritativo. O tratamento
adequado precoce da constipação é essencial para evitar complicações, como dor
abdominal recorrente, incontinência fecal, sangramento retal, enurese e infecção e ou
retenção urinária. (KUSMA et al.., 2016).

2.5 TRAUMA ABDOMINAL:


Outra causa comum de dor abdominal em crianças que deve ser pesquisada pelo
médico é o trauma. Na população pediátrica, o trauma é a principal causa de morbi-
mortalidade. O abdome é a terceira região anatômica mais afetada em traumas
envolvendo crianças. (LYNCH; KILGAR; SHIBLI, 2018).
Os acidentes que resultam em traumas abdominais com consequente sintoma
principal de dor costumam ocorrer principalmente em crianças em idade escolar e
adolescentes, visto que estas crianças estão mais expostas ao ambiente e mais
independentes cuidadores. ( IYER; NALLASAMY, 2018)
Durante a investigação, o paciente pode apresentar abdômen sensível à palpação,
escoriações, equimoses,hematomas, hematúria e hipotensão sistólica.. (NOGUEIRA et
al., 2021). Ao serem constatados estes sinais, a criança deve ser avaliada com mais
urgência, pois o quadro pode se deteriorar rapidamente. (LYNCH; KILGAR; SHIBLI,
2018)
Exames laboratoriais e de imagem como ultrassom FAST e tomografia
computadorizada para o diagnóstico definitivo de lesão de órgãos abdominais. são de
extrema importância, visto que muitas vezes o sintoma de dor pode ser inespecífico para
guiar o médico para o achado de qual órgão abdominal foi lesado. (MIKROGIANAKIS;
GRANT, 2018 )
No manejo da dor abdominal decorrente de trauma, a maioria das injúrias
teciduais e de órgãos podem ser tratadas sem intervenção cirúrgica.. O tratamento não
cirúrgico é possível se houver estabilidade hemodinâmica, sem necessidade de transfusão
de mais do que 40% do volume sanguíneo, taxa de hemoglobina estiver maior que 7g%
e o paciente não apresentar sinais de peritonite. (NOGUEIRA et al., 2021) A dor

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abdominal decorrente de trauma tem, portanto, seu manejo e sua resolução apenas após o
tratamento adequado da lesão causada pelo trauma. (LYNCH; KILGAR; SHIBLI, 2018).

2.6 CAUSAS EXTRA ABDOMINAIS


Apesar de incomuns, devemos investigar sempre na criança com queixa de dor
abdominal, causas extra abdominais que podem cursar com dor abdominal. Costumam
ocorrer principalmente em crianças com idade pré escolar até adolescente, geralmente
excluindo lactentes e recém nascidos. As principais patologias das quais suspeitamos são:
faringite estreptocócica, mononucleose, intoxicação por chumbo púrpura de Henoch
Schonlein e pneumonia de lobos inferiores. (REUST; WILLIAMS, 2016).
Durante a investigação de dor abdominal o médico deve sempre se atentar a sinais
que indiquem uma causa extra abdominal. Os mais clássicos são erupção purpúrica em
membros inferiores e nádegas, sugestivo de púrpura de Henoch-Schönlein, amígdalas
aumentadas e congestionadas que aventam possibilidade de faringoamigdalite e dor
epigástrica acompanhada de diminuição de ruídos respiratórios, respiração brônquica ou
crepitações que, se presentes, confirmam suspeita de pneumonia.O manejo da dor
abdominal por causas extra abdominais é relativamente simples e guiado a causa principal
que desencadeou o sintoma. Por exemplo, ao se tratar uma faringoamigdalite com
sintomas abdominais adjacentes, ao fim do tratamento é esperada uma resolução total da
dor abdominal. Na maioria das vezes é instituído de forma conservadora e ambulatorial.
(IYER; NALLASAMY, 2018).

2.7 GASTROENTERITE AGUDA:


A gastroenterite aguda (GEA) é uma das causas mais comuns de dor abdominal
em crianças, de todas as faixas etárias, e pode ser viral, bacteriana ou parasitária. Foi
demonstrado que quatro principais agentes (Rotavírus, Cryptosporidium,Escherichia coli
e Shigella) são responsáveis pela maior parte dos casos de diarreia infecciosa em crianças
em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento (BRUZZESE; GIANNATTASIO;
GUARINO, 2018).
O quadro clínico da GEA é caracterizado por uma dor abdominal difusa, de tipo
cólica, que pode estar associada a diarréia de início súbito, febre e vômitos. É importante
colher na anamnese informações como aparecimento e duração dos sintomas, relato dos
cuidadores de ingestão e perda de fluídos, história de contato prévio com outros
indivíduos com quadro clínico semelhante e hábitos urinários. Ao exame físico, é

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necessário avaliar o status de desidratação da criança através da observação do estado


geral, da aparência dos olhos e mucosas, sinais vitais e hipotensão (HARTMAN et al.,
2019).
Em relação ao manejo da GEA, o diagnóstico é essencialmente clínico. Testes
laboratoriais não são solicitados, na maioria dos casos, pois eles não afetam o manejo da
doença e devem ser solicitados em situações específicas. O principal tratamento no
manejo da GEA é a reidratação oral e a ondansetrona é o antiemético mais indicado para
controlar o vômito (FLOREZ; NIÑO-SERNA;BELTRÁN-ARROYAVE, 2020). O uso
de antibióticos não é usado rotineiramente, somente em casos de suspeita de patógenos
específicos e em quadros clínicos sugestivos de toxemia e infecção invasiva
(BRUZZESE; GIANNATTASIO; GUARINO, 2018).

2.8 INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO


As infecções do trato urinário (ITUs) são importantes causas de infecção
bacteriana em crianças e são responsáveis por queixas frequentes de dor abdominal no
pronto atendimento pediátrico. A prevalência varia de acordo com a idade e a incidência
é igual em meninos e meninas durante o primeiro ano de vida, depois se tornam mais
comuns em meninas (TULLUS e SHAIKH, 2020).
Anatomicamente, as ITUs podem envolver o trato urinário baixo (bexiga e uretra)
e/ou o trato urinário alto (rins e ureteres). A infecção e inflamação nos rins (pielonefrite)
e nos ureteres, normalmente levam a um quadro de dor abdominal de intensidade
importante com sensibilidade e dor lombar (sinal de Giordano positivo) associados a
sinais sistêmicos como febre, anorexia, vômitos e queda do estado geral. Já a dor
abdominal relacionada com a infecção da bexiga (cistite) e da uretra é normalmente de
localização baixa ou supra púbica e está associada a disúria, polaciúria e urgência
miccional. Em pacientes mais novos, a dor abdominal pode ser inespecífica, o que
dificulta a diferenciação entre infecção do trato superior ou inferior (KAUFMAN;
TEMPLE-SMITH; SANCI, 2019).
O diagnóstico de ITUs é baseado nos sintomas e confirmado pelo crescimento de
cultura bacteriana na urina. Achados laboratoriais como leucocitose e nitrito positivo
podem apoiar também o diagnóstico e exames de imagem não são solicitados na maioria
dos casos (TULLUS e SHAIKH, 2020). O tratamento das infecções do trato urinário
consiste no controle sintomático e na erradicação do agente infeccioso (OLIVEIRA et al.,
2021).

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas referências literárias estudadas, pode-se corroborar que existe uma
alta prevalência de dor abdominal em crianças consultadas no pronto atendimento. Posto
que, as etiologias para essa queixa são diversas, é necessário proceder com um exame
clínico adequado e direcionado para os principais sinais e sintomas apresentados pela
criança. Além disso, quando necessário, é possível utilizar de exames complementares
com o objetivo de favorecer a identificação de qual a condição específica admite-se maior
suspeita, diante dos possíveis diagnósticos diferenciais.

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