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ISSN: 2595-6825
RESUMO
Esse artigo teve como objetivo analisar, a partir de uma revisão narrativa de literatura, os fatores
associados à icterícia neonatal em recém-nascidos e seu tratamento. A icterícia no bebê
acontece quando há aumento da concentração de bilirrubina no sangue, resultando em pele e
mucosas amareladas, nos primeiros dias de seu nascimento. É uma doença que é identificada a
partir dos exames físicos e laboratoriais do recém-nascido, sendo que a mesma exige um
importante acompanhamento, principalmente se detectada logo nas primeiras vinte e quatro
horas de vida. Ao detectar tal condição, utiliza-se a escala de Kramer, que está dividida em
zonas, para observação ou início de algum tratamento. Entretanto, os portadores dessa doença
podem evoluir para um quadro mais grave denominado Kernicterus. Esse quadro precisa ter o
diagnóstico precoce e deve ser tratado de forma correta, inicialmente com a fototerapia e,
quando a mesma não consegue diminuir a toxicidade no bebê, é preciso utilizar a
exsanguineotransfusão. O tratamento deve ser específico e feito de acordo com a causa para
evitar complicações e orientado pelo pediatra durante o acompanhamento hospitalar.
ABSTRACT
This article aimed to analyze, based on a narrative literature review, the factors associated with
neonatal jaundice in newborns and its treatment. Jaundice in the baby happens when there is an
increase in the concentration of bilirubin in the blood, resulting in yellow skin and mucous
membranes, in the first days of its birth. It is a disease that is identified from the physical and
laboratory exams of the newborn, and it requires an important follow-up, especially if detected
in the first twenty-four hours of life. When detecting such a condition, the Kramer scale is used,
which is divided into zones, for observation or initiation of some treatment. However, patients
with this disease can progress to a more serious condition called Kernicterus. This condition
needs to have an early diagnosis and must be treated correctly, initially with phototherapy and,
when it fails to reduce the toxicity in the baby, exchange transfusion must be used. Treatment
should be specific and performed according to the cause to avoid complications and guided by
the pediatrician during hospital follow-up.
1 INTRODUÇÃO
A icterícia neonatal caracteriza-se por um valor de bilirrubina elevada, a
hiperbilirrubinemia, percebida no exame físico do neonato pela coloração amarelada da pele e
conjuntivas em consequência da deposição da bilirrubina. É uma doença considerada comum e
pode ser benigna quando há um aumento transitório dos níveis de bilirrubina não prejudiciais
aos neonatos. Entretanto, quando a Taxa de Bilirrubina (TB) vem a ser maior que 25 mg/dL,
aumenta-se o risco de desenvolver disfunções neurológicas consideráveis, dentre elas o
Kernicterus (WONG; BUTANI, 2022).
Kernicterus é uma complicação resultante da deposição dessa bilirrubina já elevada, nos
gânglios da base e do cerebelo, visto a característica lipossolúvel da bilirrubina, que em altos
níveis, pode atravessar a barreira hematoencefálica e depositar-se no tecido nervoso (USMAN
et al., 2018). Nessa perspectiva, o termo Kernicterus refere-se às sequelas permanentes e
crônicas da neurotoxicidade da bilirrubina (FALLAHI et al., 2020).
Recém-Nascidos (RN) são mais propensos a desenvolver icterícia significativa quando
há hiperbilirrubinemia presente nas primeiras 24 horas de vida. Fatores importantes como a
idade gestacional menor que 38 semanas; irmão antecedente que precisou de fototerapia;
aleitamento materno exclusivo, mas abaixo do ideal; há cefalohematoma ou hematomas
significativos de trauma de nascimento; possui doença hemolítica; ou ainda a mãe é de
ascendência do Sudeste Asiático, Mediterrâneo, do Oriente Médio ou Africana (WONG;
BUTANI, 2022).
Ressalta-se ainda, que bebês doentes e prematuros tendem a uma vulnerabilidade maior
ao dano neurológico dos valores elevados da TB, visto que possuem uma barreira
hematoencefálica mais permeável e sua albumina é caracterizada por afinidade e capacidade de
ligações diminuídas (ANDERSON; CALKINS, 2020).
As manifestações clínicas da hiperbilirrubinemia e do dano neurotóxico podem
caracterizar um distúrbio encefalopático transitório e mínimo, agudo ou permanente, e grave.
A encefalopatia crônica inclui sintomas de disfunção auditiva (perda auditiva neurossensorial),
disfunção visual (paralisia do olhar para cima e distonia facial), displasia do esmalte dentário e
disfunções extrapiramidais (distonia e coreoatetose), além de toxicidade da bilirrubina indireta
depositada em outros órgãos, que não o cérebro, a longo prazo (FALLAHI et al., 2020).
O diagnóstico e o tratamento tardios da hiperbilirrubinemia indireta patológica e
progressiva, acarreta uma condição dotada de déficits neurológicos, denominada encefalopatia
bilirrubínica (SCHARASHCHANDRA; SCHUBHAGI; KUMAR, 2019).
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A hiperbilirrubinemia qualifica-se pela cor amarelada na pele e nas mucosas. Este
aspecto amarelado é respectivo à quebra de sangue no organismo humano e a imaturidade
enzimática do fígado depois das primeiras vinte e quatro horas de vida do RN. Conceitua-se
como sendo a inaptidão do fígado em acionar uma quantidade de bilirrubina no plasma,
podendo assim essa coloração amarelada agravar-se do quarto ao quinto dia de vida, tendo essa
condição fisiológica afetando mais de 80% dos RN (CHAGAS, 2014).
O perfil clínico epidemiológico observado com maior relevância é visto em filhos de
mães que pertencem ao grupo de 18 a 35 anos de idade, em que 50% das mães tiveram mais
de 6 controles pré-natais e a outra metade menos de 6 controles, primíparas, em que os recém-
nascidos tinham 37 a 42 semanas de idade gestacional, do sexo masculino, no período de 2 a 7
dias que apresentaram icterícia patológica, apresentando incompatibilidade de grupo, com
sepse e submetido transfusão de troca (HUAMANI et al., 2018).
Nesse contexto, vê-se que a hiperbilirrubinemia neonatal em excesso pode levar o
indivíduo ao kernicterus, chamado também de encefalopatia bilirrubínica crônica, que
transparece sequelas permanentes, que comumente têm como final a paralisia cerebral. Logo
após ao período neonatal, a criança pode anunciar um atraso no desenvolvimento com
comprometimento da cognição e memória, deficiência auditiva, alterações oculares e dentárias
(SOUSA; SALES; LEAL, 2020).
A ampla variabilidade de valores encontrada em cada zona demonstra que não existe
boa concordância entre avaliação clínica da icterícia por médicos e/ou enfermeiros e valores de
BI sérica. A visualização da icterícia depende, além da experiência do profissional, da
pigmentação da pele do RN e da luminosidade, sendo subestimada em peles mais pigmentadas
e em ambientes muito claros, e prejudicada em locais com pouca luz (BRASIL, 2014).
A ação da fototerapia sobre a bilirrubina ocorre por dois mecanismos: 1) Foto-oxidação:
que transforma a bilirrubina em produtos de degradação incolores, não tóxicos e que são
excretados na urina. Este processo tem papel pouco importante na redução dos níveis
sanguíneos; 2) Fotoisomerização: que transforma a bilirrubina em isômeros mais polares,
hidrossolúveis, passíveis de serem excretados na bile sem a necessidade de glucuronização.
Dois tipos de isômeros são formados: um configuracional, com vida média bastante longa e
que, uma vez chegando à luz intestinal, reverte em grande parte à configuração anterior, perde
sua hidrossolubilidade, atravessa a mucosa intestinal e reentra na circulação; uma pequena
fração é excretada, sendo pouco importante na queda dos níveis de bilirrubinemia; outro,
estrutural, tem vida média bastante curta e, ao chegar ao intestino, é completamente eli- minado,
sendo o principal responsável pela redução dos níveis plasmáticos de bilirrubina17 (SÃO
PAULO, 2018).
A eficácia da fototerapia é influenciada por três características: o comprimento de onda
da energia emitida pois quanto maior é a energia luminosa na faixa de onda, maior e mais rápida
é a queda na concentração sérica da bilirrubina; a irradiância espectral, porém, esta, não depende
somente da potência da fonte óptica, mas também da distância entre a luz e o paciente; e a
superfície corpórea exposta à luz, uma vez que a fototerapia age na pele do recém-nascido, esta
superfície corpórea exposta à luz, torna-se determinante e importantíssima para a eficácia do
tratamento (ALMEIDA; NADER; DRAQUE, 2010).
Alguns cuidados são necessários durante o uso de fototerapia, como: verificar a
temperatura corporal frequentemente, para detectar hipotermia ou hipertermia, verificar o peso
diariamente, aumentar a oferta hídrica, pois a fototerapia pode provocar elevação da
temperatura, da frequência respiratória e do fluxo sanguíneo na pele, com maior perda
insensível de água. Também, proteger os olhos com cobertura radiopaca, não utilizar ou
suspender a fototerapia se os níveis de BD estiverem elevados ou se houver colestase, para
evitar o aparecimento da síndrome do bebê bronzeado. E cobrir a solução parenteral e o equipo
com papel alumínio ou usar extensores impermeáveis à luz, pois a exposição de soluções de
aminoácidos ou multivitamínicas ao comprimento de luz azul reduz suas quantidades.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise dos achados da literatura verificou-se que a icterícia é uma doença
causada pelo aumento da produção de bilirrubina, conhecida como hiperbilirrubinemia,
apresentando-se normalmente após 24 ou 36 horas de vida do recém-nascido. Os níveis séricos
irão variar de acordo com a região a ser atingida, conforme observado na escala Kramer. A
hiperbilirrubinemia pode ou não provocar danos ao recém-nascido e seu tratamento pode ser
feito via fototerapia e até por meio de exsanguíneotransfusão. Quando a taxa de bilirrubina
direta torna-se maior que 25 mg/dL, aumenta-se o risco de desenvolver o Kernicterus, uma
complicação que atinge a barreira hematoencefálica, causando danos irreversíveis no tecido
nervoso. O tratamento da icterícia deve ser feito independentemente da causa, pois é importante
que os níveis de bilirrubina estejam controlados desde o início dos sintomas, para assim,
prevenir uma possível lesão cerebral.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. F. B.; NADER, P. J. H.; DRAQUE, C. M. Icterícia neonatal. In: LOPEZ, F. A.;
CAMPOS JR, D. (Eds). Tratado de Pediatria. 2. ed. São Paulo: Manole, p. 1515–1526, 2010.
ANDERSON, N. B.; CALKINS, K. L. Neonatal indirect hyperbilirubinemia. NeoReviews, v.
21, n. 11, p. e749-e760, 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Icterícia. In: Atenção à saúde
do recém-nascido: guia para os profissionais de saúde; v.2 Intervenções comuns, icterícia e
infecções. Brasília, p. 59-77, 2014.
MITRA, S.; RENNIE, J. Neonatal jaundice: aetiology, diagnosis and treatment. British
Journal of Hospital Medicine.,v. 78, n. 12, dez. 2017.
SÃO PAULO. Secretaria de Estado de Saúde. Manual de Neonatologia. São Paulo; Secretaria
do Estado em saúde, 2018.
SOUSA, G. O.; SALES, B. N.; LEAL, E. S. Análise comparativa da mortalidade por icterícia
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and Development, v. 9, n. 8, p. e-930986423-e930986423, 2020.
USMAN, F. et al. Encefalopatia aguda por bilirrubina e sua progressão para kernicterus:
perspectivas atuais. Research and Reports in Neonatology, v. 8, p. 33, 2018.