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Brazilian Journal of Health Review 18695

ISSN: 2595-6825

Os fatores associados à Icterícia neonatal e seu tratamento: uma revisão


bibliográfica

Factors associated with neonatal Jaundice and its treatment: a literature


review
DOI:10.34119/bjhrv5n5-078

Recebimento dos originais: 16/08/2022


Aceitação para publicação: 14/09/2022

Érica de Toledo Nogueira


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Noelle Carolina Ferreira Campos


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RESUMO
Esse artigo teve como objetivo analisar, a partir de uma revisão narrativa de literatura, os fatores
associados à icterícia neonatal em recém-nascidos e seu tratamento. A icterícia no bebê
acontece quando há aumento da concentração de bilirrubina no sangue, resultando em pele e
mucosas amareladas, nos primeiros dias de seu nascimento. É uma doença que é identificada a
partir dos exames físicos e laboratoriais do recém-nascido, sendo que a mesma exige um
importante acompanhamento, principalmente se detectada logo nas primeiras vinte e quatro
horas de vida. Ao detectar tal condição, utiliza-se a escala de Kramer, que está dividida em
zonas, para observação ou início de algum tratamento. Entretanto, os portadores dessa doença
podem evoluir para um quadro mais grave denominado Kernicterus. Esse quadro precisa ter o
diagnóstico precoce e deve ser tratado de forma correta, inicialmente com a fototerapia e,
quando a mesma não consegue diminuir a toxicidade no bebê, é preciso utilizar a
exsanguineotransfusão. O tratamento deve ser específico e feito de acordo com a causa para
evitar complicações e orientado pelo pediatra durante o acompanhamento hospitalar.

Palavras-chave: Icterícia, kernicterus, hiperbilirrubinemia neonatal.

ABSTRACT
This article aimed to analyze, based on a narrative literature review, the factors associated with
neonatal jaundice in newborns and its treatment. Jaundice in the baby happens when there is an
increase in the concentration of bilirubin in the blood, resulting in yellow skin and mucous
membranes, in the first days of its birth. It is a disease that is identified from the physical and
laboratory exams of the newborn, and it requires an important follow-up, especially if detected
in the first twenty-four hours of life. When detecting such a condition, the Kramer scale is used,
which is divided into zones, for observation or initiation of some treatment. However, patients
with this disease can progress to a more serious condition called Kernicterus. This condition
needs to have an early diagnosis and must be treated correctly, initially with phototherapy and,
when it fails to reduce the toxicity in the baby, exchange transfusion must be used. Treatment
should be specific and performed according to the cause to avoid complications and guided by
the pediatrician during hospital follow-up.

Keywords: jaundice, kernicterus and neonatal hyperbilirubinemia.

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1 INTRODUÇÃO
A icterícia neonatal caracteriza-se por um valor de bilirrubina elevada, a
hiperbilirrubinemia, percebida no exame físico do neonato pela coloração amarelada da pele e
conjuntivas em consequência da deposição da bilirrubina. É uma doença considerada comum e
pode ser benigna quando há um aumento transitório dos níveis de bilirrubina não prejudiciais
aos neonatos. Entretanto, quando a Taxa de Bilirrubina (TB) vem a ser maior que 25 mg/dL,
aumenta-se o risco de desenvolver disfunções neurológicas consideráveis, dentre elas o
Kernicterus (WONG; BUTANI, 2022).
Kernicterus é uma complicação resultante da deposição dessa bilirrubina já elevada, nos
gânglios da base e do cerebelo, visto a característica lipossolúvel da bilirrubina, que em altos
níveis, pode atravessar a barreira hematoencefálica e depositar-se no tecido nervoso (USMAN
et al., 2018). Nessa perspectiva, o termo Kernicterus refere-se às sequelas permanentes e
crônicas da neurotoxicidade da bilirrubina (FALLAHI et al., 2020).
Recém-Nascidos (RN) são mais propensos a desenvolver icterícia significativa quando
há hiperbilirrubinemia presente nas primeiras 24 horas de vida. Fatores importantes como a
idade gestacional menor que 38 semanas; irmão antecedente que precisou de fototerapia;
aleitamento materno exclusivo, mas abaixo do ideal; há cefalohematoma ou hematomas
significativos de trauma de nascimento; possui doença hemolítica; ou ainda a mãe é de
ascendência do Sudeste Asiático, Mediterrâneo, do Oriente Médio ou Africana (WONG;
BUTANI, 2022).
Ressalta-se ainda, que bebês doentes e prematuros tendem a uma vulnerabilidade maior
ao dano neurológico dos valores elevados da TB, visto que possuem uma barreira
hematoencefálica mais permeável e sua albumina é caracterizada por afinidade e capacidade de
ligações diminuídas (ANDERSON; CALKINS, 2020).
As manifestações clínicas da hiperbilirrubinemia e do dano neurotóxico podem
caracterizar um distúrbio encefalopático transitório e mínimo, agudo ou permanente, e grave.
A encefalopatia crônica inclui sintomas de disfunção auditiva (perda auditiva neurossensorial),
disfunção visual (paralisia do olhar para cima e distonia facial), displasia do esmalte dentário e
disfunções extrapiramidais (distonia e coreoatetose), além de toxicidade da bilirrubina indireta
depositada em outros órgãos, que não o cérebro, a longo prazo (FALLAHI et al., 2020).
O diagnóstico e o tratamento tardios da hiperbilirrubinemia indireta patológica e
progressiva, acarreta uma condição dotada de déficits neurológicos, denominada encefalopatia
bilirrubínica (SCHARASHCHANDRA; SCHUBHAGI; KUMAR, 2019).

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A fototerapia e exsanguíneotransfusão são reafirmadas como estratégias eficazes para a


redução da hiperbilirrubinemia (VIEIRA et al., 2018). Sendo a modalidade terapêutica mais
utilizada no tratamento da icterícia neonatal, a fototerapia consiste na interação da luz com o
pigmento bilirrubínico presente no tecido subcutâneo do recém-nascido. A partir da irradiação,
a bilirrubina pode ser reduzida e transformada em molécula solúvel em água, para, então, sofrer
a excreção pelos sistemas biliar e urinário (AVILA; BOCCHI; NASCIMENTO, 2018).
Para assegurar a eficácia da fototerapia, devem ser avaliados fatores como a extensão
da superfície de exposição, a emissão de luz em focos adicionais e a aferição da irradiância na
pele em relação à proximidade dos focos aos bebês e em relação ao desgaste das luzes
fluorescentes (OLUSANYA; KAPLAN; HANSEN, 2018).
A exsanguíneotransfusão é uma intervenção reservada para lactentes que não
respondem adequadamente à fototerapia intensiva. No entanto, o melhor manejo pré-natal e a
qualificação dos sistemas de fototerapia disponíveis reduziram a necessidade de
exsanguíneotransfusão nos últimos anos (MITRA; RENNIE, 2017).

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A hiperbilirrubinemia qualifica-se pela cor amarelada na pele e nas mucosas. Este
aspecto amarelado é respectivo à quebra de sangue no organismo humano e a imaturidade
enzimática do fígado depois das primeiras vinte e quatro horas de vida do RN. Conceitua-se
como sendo a inaptidão do fígado em acionar uma quantidade de bilirrubina no plasma,
podendo assim essa coloração amarelada agravar-se do quarto ao quinto dia de vida, tendo essa
condição fisiológica afetando mais de 80% dos RN (CHAGAS, 2014).
O perfil clínico epidemiológico observado com maior relevância é visto em filhos de
mães que pertencem ao grupo de 18 a 35 anos de idade, em que 50% das mães tiveram mais
de 6 controles pré-natais e a outra metade menos de 6 controles, primíparas, em que os recém-
nascidos tinham 37 a 42 semanas de idade gestacional, do sexo masculino, no período de 2 a 7
dias que apresentaram icterícia patológica, apresentando incompatibilidade de grupo, com
sepse e submetido transfusão de troca (HUAMANI et al., 2018).
Nesse contexto, vê-se que a hiperbilirrubinemia neonatal em excesso pode levar o
indivíduo ao kernicterus, chamado também de encefalopatia bilirrubínica crônica, que
transparece sequelas permanentes, que comumente têm como final a paralisia cerebral. Logo
após ao período neonatal, a criança pode anunciar um atraso no desenvolvimento com
comprometimento da cognição e memória, deficiência auditiva, alterações oculares e dentárias
(SOUSA; SALES; LEAL, 2020).

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A fisiopatologia da encefalopatia bilirrubínica crônica envolve principalmente as vias


metabólicas responsáveis pela degradação da bilirrubina. O início desse processo é efetuado
pelos macrófagos do sistema reticuloendotelial, que retiram as hemácias senescentes da
corrente sanguínea e catabolizam a hemoglobina em globina, que é reutilizada na produção de
proteínas e em grupos heme. Estes últimos são oxidados, se transformando em biliverdina,
posteriormente reduzida em bilirrubina não conjugada ou indireta que, por não ser solúvel no
sangue, circula pelo organismo ligada a albumina (ANDERSON; CALKINS, 2020).
No fígado do neonato, a bilirrubina é dissociada da albumina e conjugada com o ácido
glicurônico pela enzima uridina difosfato glucuronosiltransferase, transformando-se em
bilirrubina conjugada ou direta. Esta é excretada nas vias biliares e armazenada na glândula
homônima, sendo liberada no intestino delgado e reduzida em urobilinogênio pelas bactérias
deste local. O urobilinogênio é oxidado em estercobilina e urobilina, excretados pelas fezes e
urina respectivamente. Parte da bilirrubina conjugada é dissociada do ácido glicurônico e
posteriormente reencaminhada pela circulação portal para os hepatócitos, compondo a
circulação entero-hepática, a fim de ser excretada na bile novamente (ANDERSON;
CALKINS, 2020).
No ambiente intrauterino a bilirrubina não conjugada do feto é passada via
transplacentária, para ser eliminada pelo sistema hepático e renal materno. Dessa forma, os
recém-nascidos são mais suscetíveis à hiperbilirrubinemia, pela imaturidade de seu sistema
hepatobiliar de excreção desses produtos, pela maior produção medular de hemácias, pelo
aumento da circulação entero-hepática nessa faixa etária e em virtude do fato de suas hemácias
possuírem tempo maior de vida útil (MITRA; RENNIE, 2017).
Nesse contexto, valores de bilirrubina total maiores do que 25 mg/dl fazem com que a
fração não conjugada extravase através da barreira hemato encefálica para o sistema nervoso
central, depositando-se em áreas específicas cerebrais incluindo o globo pálido, núcleos
talâmicos e subtalâmicos, substância negra, hipocampo e hipotálamo, acometendo também os
núcleos do nervo craniano vestibulococlear, garantindo uma coloração amarelada a estes locais.
O resultado disso é uma Disfunção Neurológica Induzida por Bilirrubina (DNIB), que se
manifesta como alterações nas vias corticais da visão, propriocepção, fala e linguagem, além
de distúrbios na audição (FALLAHI et al, 2020).
O excesso de bilirrubina indireta no sistema nervoso central a longo prazo desencadeará
lesão e necrose neuronal, resultando em sequelas neurológicas irreversíveis, quadro
denominado encefalopatia bilirrubínica crônica, que incluem paralisia cerebral coreoatetóide,
displasia do esmalte dos dentes, comprometimento neurossensorial e paralisia do olhar para

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cima. A maior permeabilidade da barreira hematoencefálica dos prematuros e menor afinidade


de ligação da albumina plasmática à bilirrubina sérica, fazem com que esse grupo de pacientes
possua risco ainda maior de desenvolver essa patologia (CHAGAS, 2014).
Almeida; Nader; Draque, 2010, ressalta que, para avaliar a etiologia, faz-se necessário
analisar o quadro clínico e realizar exames laboratoriais, tais como:
• Bilirrubina total e frações indireta e direta;
• Hemoglobina, hematócrito, morfologia de hemácias, reticulócitos e esferócitos;
• Tipagem sanguínea da mãe e RN - sistemas ABO e RH (antígeno D);
• Coombs direto no sangue de cordão ou do RN;
• Pesquisa de anticorpos anti-D (Coombs indireto) se mãe RH (D ou Du)
negativo;
• Pesquisa de anticorpos maternos para antígenos irregulares (anti-c, anti-e, anti-
E, anti-Kell, outros), se mãe multigesta/transfusão sanguínea anterior e RN com
Coombs direto positivo;
• Dosagem sanguínea quantitativa de glicose-6 fosfato desidrogenase;
• Dosagem sanguínea de hormônio tireoidiano e TSH (teste do pezinho).
No entanto, ainda que em 50% dos casos, o diagnóstico etiológico pode não ser bem
estabelecido, torna-se necessário para prever um possível diagnóstico de doenças hemolíticas
que aumentam a bilirrubina e podem, se não tratadas, colocar em risco a integridade do RN.
Portanto, sempre que se observar icterícia com aparecimento antes de 24h de vida ou história
pregressa que sugira tal diagnóstico, deve-se realizar determinação de grupo sanguíneo, fator
RH, Coombs direto, contagem de reticulócitos e esfregaço de sangue periférico. Doenças como
Síndrome de Gilbert e deficiência de G-6-PD necessitam de exames mais elaborados e que
ainda não constam da rotina da maioria dos serviços de neonatologia (SÃO PAULO, 2018).
Em Brasil (2014), a icterícia por hiperbilirrubinemia indireta apresenta progressão
cefalocaudal, de acordo com a escala Kramer:

Quadro 1 - Escala de Kramer.

Fonte: adaptado de Brasil (2014).

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A ampla variabilidade de valores encontrada em cada zona demonstra que não existe
boa concordância entre avaliação clínica da icterícia por médicos e/ou enfermeiros e valores de
BI sérica. A visualização da icterícia depende, além da experiência do profissional, da
pigmentação da pele do RN e da luminosidade, sendo subestimada em peles mais pigmentadas
e em ambientes muito claros, e prejudicada em locais com pouca luz (BRASIL, 2014).
A ação da fototerapia sobre a bilirrubina ocorre por dois mecanismos: 1) Foto-oxidação:
que transforma a bilirrubina em produtos de degradação incolores, não tóxicos e que são
excretados na urina. Este processo tem papel pouco importante na redução dos níveis
sanguíneos; 2) Fotoisomerização: que transforma a bilirrubina em isômeros mais polares,
hidrossolúveis, passíveis de serem excretados na bile sem a necessidade de glucuronização.
Dois tipos de isômeros são formados: um configuracional, com vida média bastante longa e
que, uma vez chegando à luz intestinal, reverte em grande parte à configuração anterior, perde
sua hidrossolubilidade, atravessa a mucosa intestinal e reentra na circulação; uma pequena
fração é excretada, sendo pouco importante na queda dos níveis de bilirrubinemia; outro,
estrutural, tem vida média bastante curta e, ao chegar ao intestino, é completamente eli- minado,
sendo o principal responsável pela redução dos níveis plasmáticos de bilirrubina17 (SÃO
PAULO, 2018).
A eficácia da fototerapia é influenciada por três características: o comprimento de onda
da energia emitida pois quanto maior é a energia luminosa na faixa de onda, maior e mais rápida
é a queda na concentração sérica da bilirrubina; a irradiância espectral, porém, esta, não depende
somente da potência da fonte óptica, mas também da distância entre a luz e o paciente; e a
superfície corpórea exposta à luz, uma vez que a fototerapia age na pele do recém-nascido, esta
superfície corpórea exposta à luz, torna-se determinante e importantíssima para a eficácia do
tratamento (ALMEIDA; NADER; DRAQUE, 2010).
Alguns cuidados são necessários durante o uso de fototerapia, como: verificar a
temperatura corporal frequentemente, para detectar hipotermia ou hipertermia, verificar o peso
diariamente, aumentar a oferta hídrica, pois a fototerapia pode provocar elevação da
temperatura, da frequência respiratória e do fluxo sanguíneo na pele, com maior perda
insensível de água. Também, proteger os olhos com cobertura radiopaca, não utilizar ou
suspender a fototerapia se os níveis de BD estiverem elevados ou se houver colestase, para
evitar o aparecimento da síndrome do bebê bronzeado. E cobrir a solução parenteral e o equipo
com papel alumínio ou usar extensores impermeáveis à luz, pois a exposição de soluções de
aminoácidos ou multivitamínicas ao comprimento de luz azul reduz suas quantidades.

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Adicionalmente, a solução de lipídeos é altamente susceptível à oxidação quando exposta à luz,


originando hidroperóxidos de triglicérides citotóxicos (SÃO PAULO, 2018).
Não há consenso quanto aos níveis séricos de BT para indicação de fototerapia e
exsanguineotransfusão em RN a termo e pré-termo. Com base em evidências limitadas, leva-se
em conta a avaliação periódica da BT, as idades gestacional e pós-natal, além dos fatores
agravantes da lesão bilirrubínica neuronal para indicar fototerapia e exsanguineotransfusão
(BRASIL, 2014).

Quadro 2 - Valores de BT consideráveis para RN com 35 ou mais semanas de gestação.

Fonte: adaptado de Brasil (2014).

Para os RN prematuros, a indicação de fototerapia depende dos níveis de BT e do peso


ao nascer, como é mostrado no Quadro 2. Em RN com peso ao nascer inferior a 1.000g, existem
dois tipos de conduta: início entre 12-24 horas de vida, independentemente do valor de BT; e
introdução da fototerapia com BT de 4 a 6 mg/dL, sendo a exsanguineotransfusão indicada
entre 13-15 mg/dL (BRASIL, 2014).

Quadro 3 - Valores de BT (mg/dL) para indicação de tratamento em RN:

Fonte: adaptado de Brasil (2014).

Atualmente, a maioria dos casos de hiperbilirrubinemia indireta é controlada por meio


de fototerapia, quando administrada de maneira adequada. A doença hemolítica grave por

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incompatibilidade RH tem sido a principal indicação de exsanguineotransfusão (ALMEIDA;


NADER; DRAQUE, 2010).
O tratamento da icterícia com exsanguineotransfusão se mostrou de grande importância.
Sua indicação ocorre em bebês que não responderam bem ao tratamento com fototerapia e em
casos de bebês que nasceram com anemia significativa, sendo a anemia hemolítica grave a
principal indicação (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2021).
A terapêutica envolve a coleta de sangue do bebê e por meio do seu mecanismo, atua
removendo hemácias com o excesso de bilirrubina circulante e anticorpos maternos e
substituindo por hemácias do doador livres de anticorpos maternos, diminuindo os riscos de
encefalopatia bilirrubinica (ANDERSON; CALKINS, 2020).
A exsanguíneotransfusão possui riscos e está associada à maior morbidade e
mortalidade por doenças cardiovasculares. Nesse contexto, é de suma necessidade o
acompanhamento do bebê durante todo o tratamento e acompanhar paramêtros hematológicos
e bioquímicos. Outros riscos associados a exsanguíneotransfusão envolvem infecção,
trombocitopenia, enterocolite necrosante, trombose da veia porta e sepse (ANDERSON;
CALKINS, 2020).
A transfusão de sangue com doadores com deficiência de G6PD deve ser evitada, pois
pode prolongar o tempo de tratamento e a necessidade de fototerapia do bebê e resultar em
necessidade de transfusão repetida de troca. O doador de sangue também deve fazer teste de
Aids (HIV) e hepatite (OLUSANYA; KAPLAN; HANSEN, 2018).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise dos achados da literatura verificou-se que a icterícia é uma doença
causada pelo aumento da produção de bilirrubina, conhecida como hiperbilirrubinemia,
apresentando-se normalmente após 24 ou 36 horas de vida do recém-nascido. Os níveis séricos
irão variar de acordo com a região a ser atingida, conforme observado na escala Kramer. A
hiperbilirrubinemia pode ou não provocar danos ao recém-nascido e seu tratamento pode ser
feito via fototerapia e até por meio de exsanguíneotransfusão. Quando a taxa de bilirrubina
direta torna-se maior que 25 mg/dL, aumenta-se o risco de desenvolver o Kernicterus, uma
complicação que atinge a barreira hematoencefálica, causando danos irreversíveis no tecido
nervoso. O tratamento da icterícia deve ser feito independentemente da causa, pois é importante
que os níveis de bilirrubina estejam controlados desde o início dos sintomas, para assim,
prevenir uma possível lesão cerebral.

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