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Brazilian Journal of Development 52581

ISSN: 2525-8761

Leiomioma uterino – aspectos epidemiológicos, fisiopatológicos e


manejo terapêutico

Uterine Leiomyoma - epidemiological and pathophysiological aspects


and therapeutic management

DOI:10.34117/bjdv8n7-259

Recebimento dos originais: 23/05/2022


Aceitação para publicação: 30/06/2022

Rafael Boari de Souza


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Francis Henrique Nascimento


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Matheus Leara do Nascimento


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RESUMO
O Leiomioma Uterino (LU), também chamado de mioma, é um tumor benigno do
músculo liso, e que, frequentemente, se apresenta no miométrio de mulheres antes da
menopausa. Estima-se que mais de 70% das mulheres desenvolvam LU até os 50 anos de
idade. Sabe-se que esses tumores são responsivos ao estímulo do estrogênio e da
progesterona, portanto, fatores que levam ao aumento da exposição a esses hormônios,
além de mutações genéticas, representam importantes fatores de risco para o surgimento
de leiomiomas. Estudos identificaram específicas mutações genômicas associadas com
os miomas, como defeitos na transformação celular envolvendo a subunidade mediadora
de transcrição de RNA polimerase II. A principal queixa das pacientes com LU é o
sangramento menstrual intenso, no entanto, muitas pacientes se apresentam de forma
assintomática ou possuem sintomas pouco específicos, como dismenorreia, dispareunia,
sintomas urinários ou gastrointestinais. Ao exame físico, o achado mais prevalente é o
tamanho aumentado do útero, com irregularidade em sua forma. O diagnóstico do LU
envolve a coleta de uma história clínica completa em conjunto com exame físico, mas a
confirmação diagnóstica é feita por exames de imagem, como a ultrassonografia ou a
ressonância nuclear magnética. Dentre os diagnósticos diferenciais para leiomioma
uterino, pode-se citar: tumores ovarianos, pólipos endometriais, adenomiose,
leiomiossarcoma e útero gravídico. A terapêutica pode ser feita tanto de forma
conservadora, como também de forma cirúrgica. No entanto, o tratamento conservador
apresenta uma alta taxa de recidivas. A terapêutica cirúrgica, por sua vez, é mais eficaz e
possui uma menor probabilidade de recorrência, sendo a histerectomia um tratamento
definitivo. Todavia, é importante salientar que a retirada total do útero deve ser evitada

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em mulheres que possuam desejo de gestar ou de manter o útero. Dessa forma, o


tratamento deve ser sempre individualizado.

Palavras-chave: Leiomioma uterino, miomas uterinos, neoplasias uterinas, tratamento.

ABSTRACT
Uterine leiomyoma (UL), also called myoma, is a benign tumor of smooth muscle, and
often presents in the myometrium of women before menopause. It is estimated that more
than 70% of women develop UL by the age of 50. It is known that these tumors are
responsive to estrogen and progesterone stimulation, therefore, factors that lead to
increased exposure to these hormones, in addition to genetic mutations, represent
important risk factors for the emergence of leiomyomas. Studies have identified specific
genomic mutations associated with myomas, such as defects in cell transformation
involving the RNA polymerase II transcription mediator subunit. The main complaint of
patients with UL is heavy menstrual bleeding, however, many patients present
asymptomatically or have unspecific symptoms such as dysmenorrhea, dyspareunia,
urinary or gastrointestinal symptoms. On physical examination, the most prevalent
finding is the enlarged size of the uterus, with irregularity in its shape. The diagnosis of
UL involves taking a complete medical history in conjunction with physical examination,
but diagnostic confirmation is made by imaging tests, such as ultrasonography or
magnetic resonance imaging. Among the differential diagnoses for uterine leiomyoma
are ovarian tumors, endometrial polyps, adenomyosis, leiomyosarcoma, and gravid
uterus. The therapy can be done both conservatively and surgically. However,
conservative treatment has a high relapse rate. Surgical treatment, on the other hand, is
more effective and has a lower probability of recurrence, and hysterectomy is a definitive
treatment. However, it is important to emphasize that total removal of the uterus should
be avoided in women who have a desire to have a baby or to keep the uterus. Thus,
treatment should always be individualized.

Keywords: treatment, uterine fibroids, uterine leiomyoma, uterine Neoplasms.

1 INTRODUÇÃO
O Leiomioma Uterino (LU), também chamado de mioma, é um tumor benigno do
músculo liso, sensível ao estrogênio e progesterona e que, frequentemente, se apresenta
no miométrio de mulheres antes da menopausa. Trata-se de uma patologia muito
prevalente no mundo, estima-se que mais de 70% das mulheres desenvolvam LU até os
50 anos de idade. Atualmente existe um grande esforço visando a compreensão exata da
etiologia dos leiomiomas, no entanto, já se sabe que algumas mutações genéticas, o estilo
de vida e a idade podem funcionar como fatores de risco para a doença (ANINYE;
LAITNER, 2021; FLORENCE; FATEHI, 2021).
Muitas vezes, os sintomas de outras patologias do trato genital da mulher, como a
adenomiose ou a endometriose, podem se sobrepor aos do LU, fazendo com que haja
atraso no diagnóstico dos leiomiomas. Apesar de tratar-se de uma doença

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majoritariamente benigna e normalmente assintomática, os LUs afetam negativamente a


vida de milhões de mulheres, visto que, nos Estados Unidos, aproximadamente um quarto
das mulheres com esses tumores benignos apresentaram sintomas graves e precisaram de
tratamento. Ademais, o LU é uma doença bastante heterogênea, haja vista que a patologia
se apresenta com tamanho, número e localizações variadas, fato que pode dificultar o
tratamento da doença (ANINYE; LAITNER, 2021).

2 OBJETIVO
O objetivo deste artigo é reunir informações, mediante análise de estudos recentes,
acerca dos aspectos inerentes à leiomioma uterino, sobretudo os fatores fisiopatológicos
e manejo terapêutico.

3 METODOLOGIA
Realizou-se pesquisa de artigos científicos indexados nas bases de dados Latindex
e MEDLINE/PubMed entre os anos de 2017 e 2022. Os descritores utilizados, segundo o
“MeSH Terms”, foram: uterine leiomyoma, uterine fibroids, uterine neoplasms e
treatment. Foram encontrados 277 artigos, segundo os critérios de inclusão: artigos
publicados nos últimos 5 anos, textos completos, gratuitos e tipo de estudo. Papers pagos
e com data de publicação em período superior aos últimos 5 anos foram excluídos da
análise, selecionando-se 13 artigos pertinentes à discussão.

4 EPIDEMIOLOGIA
Os LUs são os tumores pélvicos mais comuns em mulheres. A incidência é difícil
de determinar, uma vez que existem poucos estudos longitudinais sobre o assunto.
Ademais, a prevalência exata é desconhecida, já que a maioria dos estudos foram
realizados principalmente em pacientes sintomáticos ou após histerectomia, não levando
em consideração pacientes assintomáticos, além de variar entre diferentes estudos e países
com base no tipo de investigação, método de diagnóstico e raça da população estudada
(GIULIANI; AS‐SANIE; MARSH, 2020).
Pesquisas recentes dos Estados Unidos mostraram que os leiomiomas são
detectados por ultrassom em mais de 80% das mulheres de ascendência africana e quase
70% das mulheres brancas com 50 anos. É possível perceber que as diferenças raciais
possuem uma interferência na prevalência e apresentação de leiomiomas. Os LUs são
maiores em número e maiores em tamanho em mulheres de ancestralidade africana,

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quando comparadas às mulheres brancas ou asiáticas. Importante salientar que a


prevalência de LU aumenta com a idade durante os anos reprodutivos. LUs não foram
descritos em meninas pré-púberes, mas ocasionalmente são observados em adolescentes.
A maioria das pacientes, com algumas exceções, apresentam diminuição dos leiomiomas
após a menopausa (GIULIANI; AS‐SANIE; MARSH, 2020).

5 FATORES DE RISCO
Apesar de não serem completamente compreendidos os mecanismos biológicos
que levam à formação de LUs, sabe-se que são responsivos à estímulo do estrogênio,
portanto, fatores que levam ao aumento da exposição uterina ao estrogênio, além de
fatores genéticos, representam importantes fatores de risco para o surgimento de
leiomiomas. Quanto aos fatores que levam à maior exposição ao estrogênio, destacam-se
a nuliparidade, menarca precoce, uso de contraceptivos combinados orais antes dos 16
anos e obesidade com aumento da síntese periférica de hormônios androgênicos. Sabe-se
também que tanto o diagnóstico quanto a incidência de sintomas são maiores em mulheres
de etnia negra, além de uma prevalência 2,5 vezes maior em mulheres com diagnóstico
concordante em parentes de primeiro grau, tendo sido identificados inúmeros genes
associados ao surgimento da doença (RAFNAR et al., 2018; MOHAMMADI et al., 2020;
FLORENCE; FATEHI, 2021).
Estudos mais recentes apontam ainda, por meio de experiências in vitro e in vivo,
que baixos níveis séricos de vitamina D também podem funcionar como fator de risco
para o desenvolvimento de leiomiomas. Isso se dá devido a múltiplos efeitos que a
vitamina exerce nos receptores de vitamina D das células miometriais, endometriais e
células tumorais monoclonais, que envolvem, inclusive, a supressão do Fator de
Crescimento Tumoral Beta (TFGB), tendo uma potencial influência no crescimento de
tais tumores. Todavia, estudos adicionais são necessários para melhor compreensão
desses efeitos (RAFNAR et al., 2018; MOHAMMADI et al., 2020; FLORENCE;
FATEHI, 2021).

6 FISIOPATOLOGIA
Os LUs são formados por células monoclonais, geneticamente alteradas, que
surgem no miométrio. Além disso, trata-se de um tumor benigno que sofre influência de
hormônios gonadais: estrogênio e progesterona (ULIN et al., 2019). Estudos
identificaram específicas mutações genômicas associadas com os leiomiomas, sendo que

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algumas dessas foram associadas com defeitos na transformação celular envolvendo a


subunidade mediadora de transcrição de RNA polimerase II, MED12 (FLORENCE;
FATEHI, 2021).
Um estudo de associação genômica ampla em mulheres japonesas, localizou
variantes em três locus que se associam ao LU, sendo essas em 22q13.1 (TRNC6B),
11p15.5 (BET1L) e 10q24.33 (OBFC1). Quando pesquisada a associação entre mutações
e a doença em mulheres europeias, os primeiros 2 locus citados anteriormente foram
confirmados, enquanto em relação às mulheres afro-americanas, a mutação foi do locus
em 22q13.1 (CYTH4) (RAFNAR et al., 2018).
Outrossim, os LUs possuem uma expressão aumentada dos receptores hormonais
de estrogênio e progesterona quando comparados ao tecido normal do miométrio. Dessa
forma, esteróides ovarianos, estradiol e progesterona podem promover o crescimento dos
leiomiomas, sendo que com o advento da menopausa, momento em que ocorre a queda
desses hormônios, há uma alta possibilidade de ocorrer a diminuição do tamanho desses
tumores benignos (FLORENCE; FATEHI, 2021).
Existe uma importante classificação do LU que leva em consideração a sua
posição anatômica. Dessa forma, os LUs podem ser classificados em três tipos:
submucoso, subseroso ou intramural, sendo essa a ordem crescente de prevalência
(ANINYE; LAITNER, 2021).
O leiomioma submucoso localiza-se predominantemente abaixo do endométrio e
quando se projeta para a cavidade endometrial, é responsável por sangramentos intensos
e cólicas menstruais dolorosas. Leiomiomas subserosos, por sua vez, posicionam-se
abaixo da membrana serosa, camada externa que reveste o útero, podendo ser
pedunculados ou extra-uterinos. Geralmente os LUs subserosos são assintomáticos, e sua
principal complicação pode ser a torção peduncular com necrose. Já os leiomiomas
intramurais, além de causar sintomas semelhantes aos subserosos, com sinais
compreensivos em órgãos como bexiga ou intestino, podem também interferir na
fertilidade ao inibir o transporte de espermatozoides (WOŹNIAK; WOŹNIAK, 2017;
ANINYE; LAITNER, 2021).

7 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
A principal queixa das pacientes com LU é o sangramento menstrual intenso. No
entanto, a clínica é bem heterogênea e a maioria das pacientes se apresentam de forma
assintomática ou por vezes com sintomas periódicos que progridem. O local de inserção,

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a quantidade e o dimensionamento do LU influenciam na sintomatologia referida (AL-


HENDY; MYERS; STEWART, 2017; FLORENCE; FATEHI, 2021). Ao exame físico,
o achado mais prevalente é o tamanho aumentado do útero, com irregularidade em sua
forma (FLORENCE; FATEHI, 2021).
Ademais, podemos encontrar outros sintomas como dismenorreia, dispareunia,
dor pélvica, sintomas urinários e gastrointestinais, além de complicações durante a
gestação, como aborto espontâneo e parto prematuro. A infertilidade se associa de forma
restrita e se relaciona com a localização do LU. O fato de se apresentar de forma mais
arrastada faz com que o LU possa repercutir em diversos âmbitos da paciente, seja ele
social, psicológico, profissional e sexual (AL-HENDY; MYERS; STEWART, 2017;
CIEBIERA et al., 2020).

8 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico do LU envolve a coleta de uma história clínica completa em
conjunto com exame físico, principalmente o exame pélvico (GIULIANI; AS‐SANIE;
MARSH, 2020; FLORENCE; FATEHI, 2021). A confirmação diagnóstica se dá por
exames de imagem. A ultrassonografia é o método de primeira linha, com uma
sensibilidade em torno de 90 a 99%. Além disso, o exame de imagem mencionado é mais
acessível quando comparado a outros métodos, porém ainda possui uma limitação na
avaliação da viabilidade e do suprimento sanguíneo do LU, informações que seriam
importantes para a previsibilidade de sucesso de alguns tratamentos cirúrgicos, como na
embolização da artéria uterina (GIULIANI; AS‐SANIE; MARSH, 2020).
A ressonância magnética pode ser útil quanto à determinação da extensão vascular
e degeneração dos LUs, pois consegue definir a relação do tumor benigno com serosas e
mucosas, além de permitir a identificação de patologias uterinas coexistentes
(FLORENCE; FATEHI, 2021).

9 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
O diagnóstico diferencial dos leiomiomas é de suma importância, pois o
diagnóstico equivocado, ou a não identificação de uma patologia maligna podem levar a
consequências consideráveis e irreversíveis à vida da mulher, devendo o profissional de
saúde manter um alto grau de suspeição durante a sua análise. Os principais diagnósticos
diferenciais são (WOŹNIAK; WOŹNIAK, 2017; FLORENCE; FATEHI, 2021):
● Tumores ovarianos;

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● Pólipos endometriais;
● Adenomiose;
● Leiomiossarcoma;
● Útero gravídico.
Os tumores ovarianos podem ser de difícil distinção durante a avaliação
ultrassonográfica de miomas subserosos e muitas vezes o diagnóstico adequado se dá
apenas durante ou após a cirurgia. Os pólipos endometriais, por sua vez, confundem-se
principalmente com massas benignas intrauterinas e miomas submucosos, havendo a
necessidade, algumas vezes, de exames mais aprofundados para diferenciação
diagnóstica. Já a adenomiose confunde-se especialmente com os LUs intramurais, porém,
algumas técnicas ultrassonográficas podem auxiliar nessa diferenciação (WOŹNIAK;
WOŹNIAK, 2017).
Por fim, é inegável que dentre os diagnósticos diferenciais listados acima, aquele
que resulta nas repercussões mais negativas e com piores prognósticos na vida da paciente
é o leiomiossarcoma, patologia de difícil diagnóstico pelos métodos de imagem
convencionais. Nessa situação, a ressonância magnética tem o seu lugar, entretanto,
mesmo esse exame não consegue estabelecer um diagnóstico definitivo, que se dá apenas
após a cirurgia. Ademais, eventualmente esses sarcomas podem estar associados a uma
elevação da LDH no soro (WOŹNIAK; WOŹNIAK, 2017; ULIN et al., 2019).

10 TRATAMENTO
O tratamento dos leiomiomas almeja a seguinte tríade: alívio sintomático das
queixas, reduzir as dimensões do mioma e, em caso de desejo reprodutivo, manter ou
melhorar sua fertilidade. Esse tratamento deve ser individualizado, considerando a idade
e os desejos da paciente, os efeitos adversos do procedimento proposto, os sinais e
sintomas que a paciente apresenta, a segurança e eficácia do método empregado e, em
caso de tratamento cirúrgico, a experiência individual do cirurgião (LEWIS et al., 2018;
SOHN et al., 2018; FLORENCE; FATEHI, 2021).

10.1 TRATAMENTO CLÍNICO


A intervenção clínica inicial dos LUs sintomáticos é, frequentemente, realizada
com uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), terapia hormonal, e ou modulação
do eixo hipotálamo-hipofisário. No entanto, o período de uso desses fármacos é restrito,
o que confere uma importante desvantagem para esse tipo de terapêutica, pois, como o

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tratamento possui um tempo breve, quando é realizada a pausa do uso desses fármacos,
os miomas, muitas vezes, retomam seu desenvolvimento e os sintomas voltam
(FLORENCE; FATEHI, 2021).
A supressão de progesterona de agente único ou os agonistas do hormônio
liberador de gonadotrofinas (GnRH) são contraceptivos orais combinados de escolha para
o tratamento hormonal. A produção de progesterona e estrogênio endógenos é inibida
pelos agonistas do GnRH, gerando uma redução do volume uterino em decorrência da
amenorreia ocasionada por esses fármacos, os quais têm uma ação parecida com os efeitos
da menopausa. A menorragia causada pelos LUs pode ser bem controlada através dessa
terapia hormonal, entretanto, nesses casos, não é observado melhoria da fertilidade e
dificilmente a área dos miomas é sensibilizada. Além disso, o tratamento em períodos
prolongados com hormônios exógenos gera aumento das complicações, logo, são usados
por curtos períodos (FLORENCE; FATEHI, 2021).
Os AINEs e o Ácido Tranexâmico (AT) compõem o grupo de fármacos não
hormonais para o tratamento do LU. O AT promove a estabilização do coágulo, haja vista
que esse medicamento impede a transformação do plasminogênio em plasmina,
proporcionando, portanto, a prevenção da degradação da fibrina e uma melhora na
menorragia. Embora o AT não possua muitos efeitos colaterais, o tromboembolismo é
um efeito severo que pode gerar várias complicações para as pacientes. A prescrição do
AT é, na maioria das vezes, realizada sem nenhuma outra medicação em conjunto, uma
vez que a terapia hormonal tem grandes chances de aumentar o risco de um evento
trombótico (LEWIS et al., 2018; FLORENCE; FATEHI, 2021).
No que se refere aos AINEs, são responsáveis pela redução das prostaglandinas
endometriais, devido a inibição da enzima cicloxigenase, promovendo a diminuição da
perda sanguínea durante o período de menstruação. Todavia, o AT e dispositivos
intrauterinos com liberação de levonorgestrel apresentam uma melhor eficácia quando
comparados aos AINEs, pois, apesar de possuírem ação na redução do fluxo menstrual,
os AINEs não demonstraram efeito na dissolução da matriz extracelular do leiomioma
(LEWIS et al., 2018; FLORENCE; FATEHI, 2021).

10.2 TRATAMENTO CIRÚRGICO


Além do manejo medicamentoso, existem modalidades de tratamento
minimamente invasivo e cirúrgico. Apesar de todos os avanços clínicos nas últimas

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décadas, a cirurgia persiste logrando os maiores êxitos no tratamento dos leiomiomas


(FLORENCE; FATEHI, 2021).
Dentre o rol de procedimentos cirúrgicos, destacam-se miomectomia,
histerectomia e ligadura de artérias uterinas. Já os procedimentos minimamente invasivos
envolvem, como principal forma de tratamento, a embolização de artérias uterinas (EAU)
(GIULIANI; AS‐SANIE; MARSH, 2020; WANG et al., 2020).
A miomectomia é uma cirurgia conservadora que envolve a ressecção exclusiva
dos miomas, preservando o útero. É indicada para pacientes sem prole definida que
apresentam desejo reprodutivo e para aquelas que desejam manter o útero, independente
de gestações prévias. O sucesso no procedimento viabiliza a fertilidade futura da mulher,
bem como trata os sintomas e reduz temporariamente o tamanho uterino. Abordagens
histeroscópica, laparoscópica, incluindo robótica assistida, e a laparotomia são opções
disponíveis. A escolha do método varia de acordo com número, localização e tamanho
dos miomas, bem como com a experiência do cirurgião (LETHABY; PUSCASIU;
VOLLENHOVEN, 2017; GIULIANI; AS‐SANIE; MARSH, 2020; FLORENCE;
FATEHI, 2021).
A ressecção via histeroscopia é escolha quando se trata de miomas submucosos e
pequenos, oferecendo vantagens como menor trauma, menor tempo de internação e
recuperação rápida. Já a abordagem laparoscópica é o procedimento padrão, quando
viável, para miomas subserosos e intramurais, miomas maiores que 3 cm e múltiplos
miomas. Em comparação à cirurgia aberta, apresenta as vantagens de estar associada a
menor morbidade, menor dor pós-operatória, menor perda de sangue e menor tempo de
internação, além de menor interferência sobre a função ovariana, o que resulta em maior
taxa de gestações bem sucedidas. Em contrapartida, a taxa de recorrência pode ser maior
(LETHABY; PUSCASIU; VOLLENHOVEN, 2017; GIULIANI; AS‐SANIE; MARSH,
2020; WANG et al., 2020).
O risco de complicações da miomectomia, de forma geral, é baixo. A complicação
mais comum é a perda sanguínea intraoperatória, a qual, a depender da gravidade, pode
requerer hemotransfusões de emergência ou conversão para histerectomia. Complicações
pós-operatórias envolvem febre, formação de hematoma pélvico e formação de
aderências. Apesar dos benefícios do procedimento, o risco de recidiva é elevado, e
muitas mulheres necessitarão de intervenções adicionais no futuro. Estima-se que cerca
de 27% apresentarão recorrência após ressecção de mioma único, e mais da metade em
casos de miomatose múltipla (AL-HENDY; MYERS; STEWART, 2017; LETHABY;

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PUSCASIU; VOLLENHOVEN, 2017; GIULIANI; AS‐SANIE; MARSH, 2020;


FLORENCE; FATEHI, 2021).
Apesar de todos os avanços em terapias que visem a preservação uterina, a
histerectomia persiste como único tratamento definitivo para miomas sintomáticos.
Estima-se que os leiomiomas uterinos respondam por cerca de um terço de todas as
histerectomias realizadas no mundo. Melhora sintomática e na qualidade de vida é
descrita pela maioria das mulheres submetidas ao método. Entretanto, deve ser evitada
em mulheres com desejo de gestar ou que desejam manter o útero (GIULIANI; AS‐
SANIE; MARSH, 2020; FLORENCE; FATEHI, 2021).
A escolha da técnica depende de fatores como achados de história e exame clínico,
e experiência do cirurgião. A histerectomia pode ser feita de forma vaginal, laparoscópica,
robótica assistida ou por cirurgia aberta. As abordagens vaginal e laparoscópica envolvem
recuperação mais rápida, menor perda sanguínea, menor tempo de internação, menos dor
pós-operatória e melhores resultados estéticos, portanto, devem ser consideradas como
primeira linha, sempre que viáveis. Complicações como aderências, prolapso pélvico e
fístulas são raras, porém, necessitam de reabordagem cirúrgica quando presentes
(GIULIANI; AS‐SANIE; MARSH, 2020; WANG et al., 2020; FLORENCE; FATEHI,
2021).
A EAU é uma alternativa terapêutica minimamente invasiva para mulheres com
operabilidade restrita ou que recusam a cirurgia. Também pode ser indicada em casos de
miomatose múltipla e miomas de grande tamanho. O procedimento consiste na introdução
de cateter pela artéria femoral direita até alcançar e embolizar ambas as artérias uterinas.
Como resultado, trata todo o útero, com potencial de prejuízo permanente às funções
uterina e ovariana. Assim, na vigência do desejo de gestar, infecções pélvicas em
atividade ou na suspeita de malignidade, este procedimento está formalmente
contraindicado (GIULIANI; AS‐SANIE; MARSH, 2020; WANG et al., 2020).
Comparada às cirurgias tradicionais, a EAU apresenta como vantagens uma
menor taxa de complicações, menor tempo operatório e de permanência hospitalar, e
recuperação mais rápida. Entretanto, pode estar associada a maior taxa de lesões
isquêmicas e um maior risco de recorrências, em comparação à miomectomia. De modo
peculiar, a síndrome pós-embolização é uma complicação causada pela liberação de
substâncias fibróides e isquêmicas na circulação, podendo cursar, a curto prazo, com febre
e intensa dor pós-procedimento, necessitando de suporte analgésico e hidratação. De

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forma subsequente, pode evoluir com amenorreia, dano ovariano e risco de reintervenção
ou histerectomia (GIULIANI; AS‐SANIE; MARSH, 2020; WANG et al., 2020).
A ligadura de artérias uterinas consiste em procedimento laparoscópico que
envolve a utilização de clipes hemostáticos para ligar ambas as artérias uterinas, seguido
de coagulação bipolar. Segue o mesmo princípio da EAU, no entanto, não apresenta o
risco da síndrome pós-embolização (WANG et al., 2020).

11 CONCLUSÃO
Dessa forma, é possível perceber que os LUs são tumores muito prevalentes na
prática clínica, sendo que a real porcentagem de mulheres acometidas pela doença é
subestimada em muitos locais do mundo, haja vista que a doença pode cursar de forma
assintomática em muitas pacientes. É muito importante que a hipótese diagnóstica de LU
seja considerada mediante as manifestações clínicas típicas da doença, e além de pensar
no mioma uterino, é fundamental que possíveis diagnósticos diferenciais também sejam
levados em consideração, pois, deve-se descartar patologias com manifestações clínicas
semelhantes para que, após o correto diagnóstico, o tratamento também seja estabelecido
da melhor forma. O manejo terapêutico do leiomioma uterino pode ser realizado tanto de
forma conservadora, como também de forma cirúrgica. No entanto, o tratamento
conservador, muitas vezes, é menos eficaz por apresentar uma alta taxa de recidivas. A
abordagem cirúrgica, por sua vez, tem uma menor taxa de recidivas nas miomectomias e
o tratamento é definitivo nos casos de histerectomia. Todavia, é importante salientar que
a retirada total do útero deve ser evitada em mulheres que possuam desejo de gestar ou
de manter o útero.

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