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Brazilian Journal of Health Review 4570

ISSN: 2595-6825

Abordagem terapêutica da obesidade crônica em pacientes pediátricos

Therapeutic Approach to Chronic Obesity in Pediatric Patients

DOI:10.34119/bjhrv4n2-044

Recebimento dos originais: 04/02/2021


Aceitação para publicação: 03/03/2021

Sersie Lessa Antunes Costa Almeida


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Fernanda Gabriela Soares Elias


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Flávia Mattke Santos Ferreira


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RESUMO
INTRODUÇÃO: A obesidade é uma doença multifatorial, associada a múltiplas
comorbidades, e representa um grande e crescente risco para a saúde a nível global. O
aumento gradual no número de pacientes pediátricos obesos no mundo tem adquirido
destaque no âmbito dos estudos e pesquisas que abordam as possibilidades de assistência
terapêutica. RESULTADOS E DISCUSSÃO: As principais terapias não-farmacológicas
da obesidade infantil incluem mudança do estilo de vida, suplementação de Ômega-3, uso
de prebióticos e dietas com restrição calórica, que a longo prazo apresentam baixa adesão
dos pacientes pediátricos. O uso de inulina enriquecida com oligofrutose promoveu
melhoria na composição corporal além de uma diminuição de Interleucina-6 e
triglicerídeos e uma alteração da microbiota. Já o uso isolado de ômega-3 apresentou
resposta satisfatória na hipertrigliceridemia sem alterações de IMC e perfis glicêmico e
lipídico. Na abordagem farmacológica, a Metformina é o tratamento padrão para crianças
pré-diabéticas e adolescentes obesos. Foi percebido em um ensaio clínico randomizado
que esse medicamento diminui o IMC, porém não aumenta a sensibilidade insulínica. Já
o Orlistate possui uma eficácia modesta, enquanto o uso da Liraglutida foi considerado
seguro na população pediátrica e positivo para a redução de IMC. Em uma metanálise
com significância estatística, metformina, sibutramina e orlistat demonstraram mudança
no IMC dos pacientes. A abordagem familiar demonstrou grande importância no
tratamento da obesidade infantil. O envolvimento assíduo dos pais contribui
positivamente para o sucesso da terapêutica. Em contrapartida, o fraco envolvimento
familiar foi considerado um entrave para o tratamento da obesidade. E intervenções
baseadas na família mostraram-se mais efetivas do que atuações educacionais
individualizadas e farmacológicas. CONCLUSÃO: Os resultados encontrados até então
demonstram que a literatura científica atual ainda carece de ensaios e estudos clínicos
adicionais acerca da aplicabilidade das abordagens terapêuticas na obesidade infantil.

Palavras-chave: obesity, therapy, childhood, pediatrics.

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ABSTRACT
INTRODUCTION Obesity is a multifactorial disease, associated with multiple
comorbidities, and represents a large and growing health risk globally. The gradual
increase in the number of obese pediatric patients worldwide has gained prominence in
the scope of studies and research that address the possibilities of therapeutic assistance.
RESULTS AND DISCUSSION: The main non-pharmacological therapies for childhood
obesity include lifestyle changes, Omega-3 supplementation, use of prebiotics and
calorie-restricted diets, which in the long term have low adherence among pediatric
patients. The use of inulin enriched with oligofructose promoted an improvement in body
composition in addition to a decrease in Interleukin-6 and triglycerides and a change in
the microbiota. Already the isolated use of omega-3 shows a satisfactory response in
hypertriglyceridemia without changes in BMI and glycemic and lipid profiles. In the
pharmacological approach, Metformin is the standard treatment for pre-diabetic children
and obese adolescents. It was noticed in a randomized clinical trial that this drug decreases
BMI, but does not increase insulin sensitivity. Orlistate has a modest efficacy, while the
use of Liraglutide was considered safe in the pediatric population and positive for
reducing BMI. In a meta-analysis with statistical significance, metformin, sibutramine
and orlistat showed a change in patients' BMI. The family approach has shown great
importance in the treatment of childhood obesity. The parents' assiduous involvement
contributes positively to the success of the therapy. In contrast, weak family involvement
was considered an obstacle to the treatment of obesity. And family-based interventions
proved to be more effective than individualized and pharmacological educational
activities. CONCLUSION The results found so far demonstrate that the current scientific
literature still lacks additional clinical trials and studies about the applicability of
therapeutic approaches in childhood obesity.

Keywords: obesity, therapy, childhood, pediatrics.

1 INTRODUÇÃO
A obesidade é uma síndrome grave e em ascensão. Definida pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) como excesso de massa gorda corporal e Índice de Massa
Corporal (IMC) acima de 30 Kg/m2, essa doença se desenvolve de forma ainda mais
complexa na população pediátrica. A obesidade infantil é definida segundo variáveis
como: idade, altura e sexo da criança ou do adolescente, uma vez que na pediatria, a faixa
etária e as características sexuais primárias e secundárias influenciam na composição
corporal. Por se tratar de uma doença multifatorial, pode ser causada por motivos
genéticos, metabólicos, psicológicos, socioeconômicos e bioquímicos, resultando em
uma dificuldade de escolha na estratégia de tratamento que quase nunca é única e
padronizada. Entender e analisar as opções mais atualizadas ao escolher uma abordagem
terapêutica adequada no tratamento da obesidade infantil é essencial para um prognóstico
positivo. (BAHIA L, et al., 2019).
Esta condição clínica é um problema de saúde de abrangência mundial e predispõe
o indivíduo obeso ao desenvolvimento de diversas patologias que envolvem

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complicações metabólicas, imunológicas, musculoesqueléticas, neuropsíquicas,


gastrointestinais e cardiovasculares; estes são alguns dos possíveis sistemas suscetíveis a
danos que decorrem do mecanismo pró-inflamatório da doença. Estes danos passaram a
ser identificados precocemente, com o aumento da prevalência da obesidade na faixa
etária pediátrica. Estima-se que, em 2022, o número de pacientes pediátricos obesos no
mundo ultrapasse aqueles com desnutrição grave e moderada.(KELISHADI R et al.,
2017; ARSLAN N, et al., 2010; ABARCA-GÓMEZ L et al., 2017).
A mudança no estilo de vida é comprovadamente eficaz no manejo da obesidade
infantil e é a primeira linha de tratamento recomendada para estes pacientes, por ser uma
abordagem segura com um impacto significativo na redução do Índice de Massa Corporal.
Entretanto, como esta medida tem impacto acentuado na rotina da criança/adolescente,
com a inclusão da prática de exercícios físicos, adoção de uma dieta balanceada, controle
do tempo de tela e da qualidade de sono, a adesão a longo prazo desses hábitos é baixa.
Ademais, ainda não existem evidências suficientes sobre os benefícios na composição
corporal, percentual de massa gorda e reversão das comorbidades à longo prazo causadas
pela obesidade, como a síndrome metabólica e resistência à insulina. (SEO Y G et al.,
2019; CHAO A M et al., 2018; RYDER JR et al., 2018; BASSOLS J et al., 2019;
KUMAR S e KELLY AS, 2017).
Com o objetivo de otimizar o tratamento da obesidade crônica para pacientes cuja
mudança no estilo de vida não é suficiente para causar efeitos significativos, algumas
estratégias medicamentosas aprovadas pela "Food and Drug Administration" (FDA) para
o manejo terapêutico em adultos começaram a ser consideradas para a população
pediátrica. Os resultados dessa prática têm se mostrado benéficos em determinadas
manifestações clínicas mais graves da obesidade, nas quais há risco de complicações e
síndrome metabólica, conforme observado por especialistas em medicina da obesidade
pediátrica. No entanto, esta conduta ainda não é padronizada, pois a quantidade de
estudos científicos acerca destes medicamentos e sua aplicabilidade à população infantil
ainda é escassa e carece de informações sobre efeitos adversos e possíveis complicações
secundárias à administração destes fármacos. (SRIVASTAVA, G et al., 2019).

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A farmacoterapia abordada nesta revisão inclui Metformina, Orlistate, Liraglutida,


Prebióticos e a administração de Ômega-3 para os pacientes que apresentaram
hipertrigliceridemia. Dentre os resultados discutidos estão os efeitos adversos e a
efetividade desses medicamentos na redução da massa gorda corporal (PASTOR-
VILLAESCUSA, B et al., 2017; DEL-RÍO-NAVARRO, B E. et al., 2019; NICOLUCCI,
A C. et al., 2017; DANNE, T et al., 2017; CHAO A M et al., 2018). .
Este estudo tem como objetivo principal a síntese de ensaios clínicos e revisões
sistemáticas que abordam a obesidade crônica na população pediátrica e as mais recentes
estratégias terapêuticas acerca desta patologia.

2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
2.1 ABORDAGEM NÃO-FARMACOLÓGICA
Segundo o comitê norte americano especialista em avaliação, prevenção e
tratamento de sobrepeso e obesidade na infância e na adolescência a abordagem deve ser
feita em quatro estágios:

Quadro 1- Abordagem por estágios para controle de peso em crianças e adolescentes


Pode ser implementado em um ambiente de consultório de atenção
Estágio 1 primária, 5 ou mais porções de frutas e vegetais por dia, minimizar ou
eliminar o consumo de bebidas contendo açúcar, < 2 horas de tela e > 1
hora de atividade física por dia.

Pode ser implementado em um consultório de cuidados primários com um


Estágio 2 nutricionista, inclui diretrizes do Estágio 1 além de maior estrutura de
refeições e lanches com atenção à densidade energética dos alimentos.

Pode ser implementado em um consultório de atenção primária com uma


Estágio 3 equipe multidisciplinar e instalações externas para atividade física
estruturada, incluindo diretrizes do estágio 2, mais atividade física
estruturada aumentada e programa alimentar.

Pode ser idealmente implementado em um centro de controle de peso


Estágio 4 pediátrico com uma equipe multidisciplinar com experiência em obesidade
pediátrica, incluindo, além das recomendações do estágio 3, medicamentos,
regimes alimentares extremamente estruturados ou cirurgia bariátrica.
Fonte: KUMAR S, KELLY AS., 2017.

No âmbito da terapêutica não-farmacológica da obesidade na população


pediátrica, os principais temas abordados foram a prescrição de dietas com restrição
calórica, exercícios físicos regulares, intervenções no estilo de vida, suplementação de

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Ômega-3 e uso de prebióticos (BAHIA L, et al., 2019; DEL-RÍO-NAVARRO BE, et al.,


2019; NICOLUCCI, AC, et al., 2017).
A promoção de uma dieta balanceada com redução controlada da ingesta calórica,
a realização de exercícios físicos regulares sob supervisão e a promoção de mudanças no
estilo de vida demonstram um efeito positivo para redução do IMC. Tal circunstância é
potencializada quando utilizada de forma combinada e permanente, quando comparada
ao uso isolado e a curto prazo de cada abordagem (BAHIA L et al., 2019).
Não existe um consenso sobre as melhores estratégias dietéticas para perda de
peso em crianças, mas aquelas com ingestão de carboidratos modificados e de baixo
índice glicêmico, mostraram-se tão eficazes quanto as dietas padrão com controle de
porções ingeridas. No entanto, essas dietas apresentam baixa adesão dos pacientes
pediátricos, especialmente a longo prazo. (KUMAR S, KELLY AS., 2017).
A suplementação de prebióticos mostrou-se efetiva na abordagem da
obesidade. O uso de 8g de inulina enriquecida com oligofrutose durante 16 semanas
promoveu melhoria na composição corporal com diminuição do ganho de peso de 2,4
vezes em relação ao grupo placebo, evidenciando uma redução de 2,4% de gordura
corporal e de 3,1% do peso no Z-escore. Além disso, foi observada uma diminuição de
Interleucina-6 e triglicerídeos e uma alteração da microbiota, com aumento de
Bifidobacterium spp. Não houve alteração do perfil lipídico e glicêmico. (NICOLUCCI
AC, et al., 2017).
O uso isolado de 3g de ácidos graxos ômega-3 durante 12 semanas apresentou
resposta satisfatória na abordagem de hipertrigliceridemia nos pacientes pediátricos com
obesidade. Foi obtida uma redução de 39% da dosagem sérica de triglicerídeos. Não
foram observadas mudanças no IMC e perfis glicêmico e lipídico (DEL-RÍO-
NAVARRO, BE et al., 2019).

3.2 ABORDAGEM FARMACOLÓGICA


O tratamento farmacológico para obesidade em crianças e adolescentes, ainda é
muito discutido na Pediatria. Nos artigos analisados foram utilizados fármacos como:
Metformina, Orlistat, Liraglutida e Sibutramina. Os resultados encontrados foram os
seguintes:
A Metformina continua sendo o tratamento padrão para crianças pré-diabéticas e
adolescentes obesos, já que favorece a diminuição da produção da glicose hepática e
aumenta a sensibilidade periférica à insulina. Observou-se uma perda de peso média de 2

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Kg (0 a 4) e por isso caiu em desuso para perda de peso (MORALES CAMACHO WJ, et
al., 2019).
No ensaio clínico realizado utilizando placebo e Metformina, os resultados obtidos
foram: em comparação ao placebo, crianças tratadas com Metformina apresentaram após
6 meses: redução do IMC, a leptina e a proporção leptina/adiponectina de alto peso
molecular. Após 12 meses, além dos resultados anteriores, apresentaram também redução
da proteína C- reativa ultrassensível, da espessura da íntima- média da carótida e da
gordura corporal e hepática. Após 24 meses, houve redução da pontuação do IMC,
leptina, proporção de leptina/ adiponectina de alto peso molecular. Já a proteína C-reativa
ultrassensível e gordura hepática foram mantidas (BASSOLS J, et al., 2019).
Em crianças pré-púberes e púberes, com o uso de Metformina e placebo, observou-
se, em comparação ao placebo, que as crianças do grupo pré-púbere tratadas com
metformina apresentaram: redução do escore Z do IMC e níveis de interferon-γ e do
inibidor-1 do ativador do plasminogênio total; aumento no índice de verificação de
sensibilidade à insulina quantitativa e na relação adiponectina-leptina. Já no grupo
púbere, não houve alterações entre grupo placebo versus metformina. Foram relatados
efeitos colaterais nos dois grupos, sendo nenhum desses grave. (PASTOR-
VILLAESCUSA B, et al., 2017).
Esse resultado vai ao encontro com o achados de uma revisão sistemática realizada
nas bases PubMed e MEDLINE. Foram incluídos 5 ensaios clínicos randomizados em
que também foi possível perceber que a metformina diminuiu o IMC dos pacientes
obesos, mas não aumentou a sensibilidade insulínica. (COMINATO L, et al., 2015)
A eficácia do Orlistat no tratamento da obesidade infantil é modesta, após um ano
comparando Orlistat com placebo, demonstrou diferença menor que 1kg/m2. (KUMAR
S, KELLY AS., 2017). Esses resultados diferem do que foi encontrado em um ensaio
clínico randomizado duplo-cego com 528 adolescentes participantes. 348 pacientes
fizeram uso do orlistate e 180, placebos. E, após 1 ano de estudo, 26,5% dos pacientes
do grupo em uso do medicamento perderam pelo menos 5% de sua massa e 13,3%
perderam pelo menos 10%. Ao passo que no grupo placebo a perda de massa foi menor,
onde 15,7% dos indivíduos perderam 5% e apenas 4,5% perderam 10% (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2019).
O uso da Liraglutida foi considerado seguro na população pediátrica (faixa etária
pesquisada: 7 – 11 anos e 12 a 17 anos), sendo positivo para redução de IMC/obesidade
(MASTRANDREA LD, et al., 2019).

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No estudo placebo foi observado que a Liraglutida 3 mg foi superior ao placebo, no


que diz respeito à alteração da linha de base na pontuação do desvio padrão do IMC na
semana 56. Além disso, no grupo da Liraglutida, em 51 dos 113 participantes houve uma
redução do IMC de pelo menos 5%, em 20 dos 105 participantes do grupo placebo. Uma
redução no IMC de pelo menos 10% foi observada em 33 e 9, respectivamente. Portanto,
houve uma redução maior com liraglutida do que com placebo para IMC e para o peso
corporal. Após a descontinuação, foi observado um aumento maior na pontuação do
desvio padrão do IMC com Liraglutida do que com placebo. Também foram observados
em maior número no grupo da Liraglutida, eventos adversos gastrointestinais e outros
eventos adversos que levaram à descontinuação do tratamento. (KELLY AS, et al., 2020)
Mead et al. (2016) identificou 21 ensaios (11 metformina - incluindo um com
metformina e fluoxetina), seis com sibutramina e quatro com orlistat (é importante citar
que apenas 4 ensaios reportaram acompanhamento pós-intervenção). Foram um total de
2484 crianças, com a mediana de idade de 13.7 anos e mediana de IMC de ~35 Kg/m2 ;
18 ensaios eram placebo e 17 desses ensaios incluíram mudanças de estilo de vida
concomitante. Houve meta análise do IMC em 16 ensaios (1884 participantes) com 6
meses (14 ensaios) e 12 meses (2 ensaios). Uma pequena mas significante diferença
mediana de IMC foi observada: −1.3 kg/m2 (95% CI: −1.9 a −0.8) a favor da intervenção.
Quando os dados foram analisados, metformina, sibutramina e orlistat demonstraram
mudança no IMC. Os efeitos adversos mais comuns foram os gastrointestinais nos ensaios
com orlistat e metformina. Houve taquicardia, constipação e hipertensão nos ensaios com
sibutramina. Um suicidio foi reportado no grupo Orlistat.
Styne DM et al. (2017) sugere que qualquer medicação deve ser suspensa se não
for observada perda de peso maior do que 4% do IMC depois de um período de 12
semanas com a dose integral da medicação.

3.3 ABORDAGEM FAMILIAR


Desde o nascimento, o ato de nutrir a criança é indissociável de inúmeras
representações de cunho afetivo, que cercam a relação entre a criança e sua mãe e, mais
tarde, incluem a família de forma ampliada. Nesse contexto, a alimentação representa a
possibilidade e a capacidade do cuidador em satisfazer o outro, dependente em suas
demandas e necessidades e, em contrapartida, a experiência deste outro em sentir-se
satisfeito e saciado com aquilo que lhe é oferecido e, portanto, reconhecido em relação

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ao que necessita. Esta vivência é de caráter subjetivo e é modulada pela gama de afetos
que cercam esse vínculo. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2019)
Diante disso, um aspecto importante a respeito dos trabalhos que descrevem ou
relatam intervenções no estilo de vida de crianças e adolescentes, dizem respeito ao
envolvimento familiar nesse processo. De acordo com Gaspar, et. al., (2014) o
envolvimento dos pais tem sido um componente essencial nos estudos sobre o tratamento
da obesidade infantil, pois, sabe-se que o fraco envolvimento familiar pode se tornar um
obstáculo ao progresso do tratamento. Os autores ainda sugerem que as abordagens
baseadas na família conseguem melhores reduções no sobrepeso infantil do que as
intervenções farmacológicas e educacionais individualizadas.
A negação ou o desconhecimento sobre os efeitos deletérios da obesidade para a
saúde são fatores que podem postergar a busca por ajuda profissional e o início do
tratamento. É notório que algumas crianças já enfrentam efeitos negativos da obesidade,
principalmente na execução de tarefas simples do dia a dia e durante as práticas esportivas
e, nestes casos, as famílias reconhecem mais facilmente a obesidade como problema de
saúde se comparadas com aquelas crianças em que os reflexos negativos ainda não se
manifestaram. (BORGES F, et al., 2013). Os bloqueios nas famílias em considerar o
excesso de peso estão frequentemente relacionados ao não reconhecimento da obesidade
como doença ou dos problemas de saúde que ela pode acarretar (Moraes PM e Dias
CMSB, 2013).
A família é considerada a principal influência ambiental para a criança e o
conhecimento que ela tem sobre os alimentos não advém apenas de suas experiências,
mas também da observação do comportamento alimentar do outro, e, nesses casos, dado
a proximidade, sobressaem as escolhas alimentares da família (KIM HF, et al., 2016). A
família pode intervir no desenvolvimento e na continuidade da obesidade na infância.
Quando são evidenciadas relações conflituosas, com vínculos frágeis e estressantes,
transmite-se às crianças a insegurança emocional, de tal modo que a família deixa de ser
reconhecida como um ambiente acolhedor e seguro (HONDT ED, et al., 2013)

5 CONCLUSÃO
O aumento global na incidência da obesidade infantil tem conquistado a atenção
da medicina no âmbito das pesquisas clínicas que abordam as possíveis estratégias
terapêuticas mais atualizadas e eficazes para o manejo do quadro e suas comorbidades,
uma vez que representam um risco exponencial à saúde. O tratamento abordado pelos

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estudos analisados nesta revisão, engloba, principalmente, a mudança de hábitos de vida


com envolvimento familiar e a administração de fármacos. O efeito positivo dessa
mudança no cotidiano da criança é notável, porém, ainda que o aumento do gasto calórico
com a implementação de atividade física e diminuição de tempo de tela sejam eficazes,
não há consenso acerca de qual dieta garantiria maior adesão a longo prazo. A
administração de fármacos, como: Metformina, Orlistat e Liraglutida, é restrita aos
pacientes cujas estratégias de mudança de hábitos não foram suficientes para uma
melhora significativa do quadro, assim como aos que apresentam complicações de caráter
mais complexo. Concluindo, há uma necessidade crescente de realização de ensaios e
estudos clínicos adicionais acerca da aplicabilidade dos medicamentos em questão e seus
efeitos adversos, assim como uma análise mais aprofundada sobre a rotina alimentar
infantil, incluindo aspectos de cunho emocional e socioeconômico.

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