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ISSN: 2595-6825
RESUMO
Esse artigo buscou revisar sistematicamente as opções farmacológicas e as principais
intervenções da área psicossocial para o tratamento eficaz de pacientes portadores de
transtorno afetivo bipolar (TAB), relacionando a importância da adesão contínua do
paciente ao tratamento. Sabe-se que indivíduos portadores de TAB apresentam redução na
expectativa de vida, além de risco maior de mortalidade quando comparados à população
geral. Sendo assim, estudos mostram que o tratamento farmacológico de longo prazo é
fundamental para a remissão dos sintomas. O lítio é a droga de primeira linha, considerada
padrão ouro para tratamento do TAB. A depender do caso, pode-se associar o lítio a outros
medicamentos, tais como os antipsicóticos de segunda geração. Apesar de muito avançada,
a terapia farmacológica no TAB ainda apresenta limitações uma vez que a adesão dos
pacientes é precária. Por outro lado, as intervenções psicossociais que abrangem a
psicoeducação de paciente e familiares, psicoterapia e suporte social, têm se mostrado
bastante efetivas na redução das taxas de evasão e no aumento dos níveis de adesão
terapêutica. Dessa forma, as intervenções psicossociais apresentam-se como ferramentas
úteis para incentivar e auxiliar os pacientes, uma vez que a contenção dos sintomas pela
terapia medicamentosa é fundamental para a funcionalidade do indivíduo.
ABSTRACT
The article sought to systematically review the pharmacological options and the main
interventions in the psychosocial field for the effective treatment of patients with bipolar
affective disorder, relating the importance of the patient's continued adherence to treatment. It
is known that individuals with bipolar affective disorder have reduced life expectancy, and a
higher risk of mortality when compared with the general population. Therefore, studies have
shown that long-term pharmacologic treatment is fundamental for the remission of symptoms.
lithium the first choice drug, considered the gold standard in bipolar affective disorder.
Depending on each case, lithium can be associated with other drugs such as second-generation
antipsychotics. Even though the pharmacotherapy is quite advanced, it still has its limitations
once the patient's adherence is low. On the other hand, psychosocial interventions that includes
psychoeducation of the patient and their families, psychotherapy and social support, proved to
be effective in reducing patient evasion rates and increasing therapeutic adherence levels. In
this way, the psychosocial interventions have shown as important tools to encourage and help
patients, once the control of symptoms are mandatory to the individual's functionality.
1 INTRODUÇÃO
O transtorno bipolar é uma doença que tem sua incidência aumentada nos últimos anos,
apresentando altas taxas de mortalidade, sendo a sexta maior causa de exclusão familiar e de
incapacidade para a vida social dentre todas as perturbações médicas. É caracterizado por um
transtorno crônico, causando uma instabilidade e alternância do humor, sendo acompanhado de
episódios de hipomania, mania, e depressão com graus variados de intensidade, com ou sem
sintomas psicóticos, podendo persistir por semanas ou meses (ALMEIDA et al., 2018).
Indivíduos portadores de TAB em fase de mania não conseguem avaliar de forma
fidedigna seu estado afetivo. Portanto, essa fase é a que o paciente mais tem dificuldade em
aceitar o diagnóstico e os tratamentos que lhe são propostos. Já na fase depressiva, o indivíduo
apresenta-se mais apático, embotado e com dificuldades em realizar as tarefas do cotidiano.
Isso traz a percepção de adoecimento e torna o paciente mais receptivo ao tratamento
(MAZZAIA; SOUZA, 2017).
Cabe ressaltar ainda, que o TAB apresenta dois subtipos principais, os quais se diferem
pela gravidade e duração dos sintomas: o Tipo I, no qual há a maior frequência de episódios de
mania, e o Tipo II, que se caracteriza por episódios de hipomania que duram um curto período
de tempo. No entanto, ambos possuem o estágio depressivo. No Tipo I, a alteração do humor
tem como particularidade o fato de um episódio maníaco prevalente, que pode ser precedido ou
sucedido de episódio hipomaníaco ou depressivo, que podem ter ainda manifestação de
sintomas psicóticos. Já no tipo II, o seu aspecto específico é uma recorrência maior de episódios
depressivos e pelo menos um episódio hipomaníaco, sem apresentar quadros maníacos ou
sincronicidade dos fenômenos opostos de humor. Há ainda outras classificações, a destacar as
“características mistas”, em que o paciente apresenta sintomas maníacos e depressivos
simultaneamente - e o “Transtorno Ciclotímico”, no qual há períodos de hipomania e depressão
intercalados ao longo do tempo (BOSAIPO; BORGES; JURUENA, 2017).
De acordo com a literatura, indivíduos portadores de TAB têm um risco de mortalidade
de duas a três vezes maior que a população em geral, bem como uma redução na expectativa de
vida (de 15 anos em média). A falta de compreensão do TAB como patologia de fato, aliado a
descrença nas dificuldades enfrentadas pelo paciente, podem desestimular a adesão ao
tratamento. O TAB deve ser considerado é dotado de uma neurofisiopatologia complexa ,
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O lítio é um estabilizador de humor utilizado desde 1949 para o tratamento do TAB,
sendo indicado como tratamento padrão ouro pela maioria das diretrizes, uma vez que o seu
uso está associado a prevenção de episódios maníacos e redução do risco de suicídio (GOMES-
DA-COSTA ET AL., 2022). Entretanto, o uso do lítio está relacionado a efeitos colaterais
renais, sendo eles: diabetes insipidus nefrogênico, nefropatia tubulointersticial crônica e lesão
renal aguda. Além desses efeitos, o uso prolongado do lítio pode causar reações adversas na
tireoide e nas glândulas paratireoides. Por ter uma baixa janela terapêutica e farmacocinética
inconstante, a dosagem exata do lítio para cada paciente é um desafio, tendo a sua concentração
sérica constantemente monitorada (LUKAWSKA ET AL, 2021).
De acordo com uma revisão sistemática publicada em 2021, a combinação do lítio com
outros medicamentos (asenapina, olanzapina, risperidona, quetiapina, carbamazepina,
lorazepam) demonstrou ser mais eficaz no tratamento da mania aguda quando comparado à
monoterapia. Já em relação ao tratamento da depressão bipolar, o mesmo estudo constatou que
o uso do lítio em monoterapia é ineficaz no tratamento da depressão bipolar aguda
(FOUNTOULAKIS; TOHEN; ZARATE, 2022). Ademais, diretrizes publicadas pela Rede
Canadense para Tratamentos de Humor e Ansiedade (CANMAT) indicam que o tratamento de
primeira escolha para os Episódios de Mania agudos inclui quetiapina, divalproex, asenapina,
aripiprazol, paliperidona, risperidona e cariprazina, em monoterapia. Ainda, a mesma diretriz
recomenda o tratamento combinado de lítio ou divalproato com os antipsicóticos atípicos como
quetiapina, aripiprazol, risperidona ou asenapina, já que a combinação dos medicamentos
apresenta maior eficácia do que o tratamento monoterápico (YATHAM ET AL, 2018).
O tratamento do transtorno bipolar com episódios depressivos permanece de difícil
controle. Um estudo de coorte retrospectivo analisou 1807 pacientes com transtorno bipolar
tipo 1 e os resultados obtidos mostraram que, após a remissão da depressão o tratamento com
antidepressivos aumenta o risco de ocorrência de episódios maníacos, principalmente quando é
utilizado antidepressivo tricíclico (CHEN ET AL, 2022).
No que tange a opções de tratamento mais atuais, uma nova alternativa para o tratamento
do TAB é a cariprazina, agonista parcial da dopamina, classificada como antipsicótico atípico
de segunda geração e é um dos medicamentos aprovados para o tratamento da depressão
bipolar. Foi realizado um estudo com pacientes masculinos e femininos com idade entre 18-65
anos e diagnóstico de transtorno bipolar tipo 1, associado a episódio depressivo maior atual. O
estudo evidenciou que a cariprazina melhorou de forma significativa os sintomas de depressão
quando comparado ao grupo placebo. Além disso, foram constatados efeitos benéficos da
cariprazina na mania bipolar (YATHAM ET AL, 2020).
Os principais medicamentos utilizados e os efeitos colaterais associados estão
resumidos na Tabela 1.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho abordou, a partir da análise dos achados da literatura, a proposta de
tratamento farmacológico e psicossocial para pacientes com TAB e a dificuldade na adesão ao
tratamento por parte deles. Os resultados sugerem que o tratamento farmacológico e abordagens
psicossociais aliadas à detecção precoce podem trazer benefícios na remissão total dos sintomas
e na prevenção de recaídas. Dessa forma, é de suma importância estudos para ampliar as
modalidades de intervenções psicossociais e a sua eficácia no tratamento para o TAB. Além
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