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Brazilian Journal of Health Review 18679

ISSN: 2595-6825

Tratamento e acompanhamento de pacientes com Transtorno Afetivo


Bipolar
Treatment and follow-up of patients with Bipolar Affective Disorder
DOI:10.34119/bjhrv5n5-076

Recebimento dos originais: 16/08/2022


Aceitação para publicação: 14/09/2022

Ana Carolina Lima Vieira


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Julia Costa de Paula


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RESUMO
Esse artigo buscou revisar sistematicamente as opções farmacológicas e as principais
intervenções da área psicossocial para o tratamento eficaz de pacientes portadores de
transtorno afetivo bipolar (TAB), relacionando a importância da adesão contínua do
paciente ao tratamento. Sabe-se que indivíduos portadores de TAB apresentam redução na
expectativa de vida, além de risco maior de mortalidade quando comparados à população
geral. Sendo assim, estudos mostram que o tratamento farmacológico de longo prazo é
fundamental para a remissão dos sintomas. O lítio é a droga de primeira linha, considerada
padrão ouro para tratamento do TAB. A depender do caso, pode-se associar o lítio a outros
medicamentos, tais como os antipsicóticos de segunda geração. Apesar de muito avançada,
a terapia farmacológica no TAB ainda apresenta limitações uma vez que a adesão dos
pacientes é precária. Por outro lado, as intervenções psicossociais que abrangem a
psicoeducação de paciente e familiares, psicoterapia e suporte social, têm se mostrado
bastante efetivas na redução das taxas de evasão e no aumento dos níveis de adesão
terapêutica. Dessa forma, as intervenções psicossociais apresentam-se como ferramentas
úteis para incentivar e auxiliar os pacientes, uma vez que a contenção dos sintomas pela
terapia medicamentosa é fundamental para a funcionalidade do indivíduo.

Palavras-chave: transtorno bipolar, terapêutica, cooperação e adesão ao tratamento,


continuidade da assistência ao paciente.

ABSTRACT
The article sought to systematically review the pharmacological options and the main
interventions in the psychosocial field for the effective treatment of patients with bipolar
affective disorder, relating the importance of the patient's continued adherence to treatment. It
is known that individuals with bipolar affective disorder have reduced life expectancy, and a
higher risk of mortality when compared with the general population. Therefore, studies have
shown that long-term pharmacologic treatment is fundamental for the remission of symptoms.
lithium the first choice drug, considered the gold standard in bipolar affective disorder.
Depending on each case, lithium can be associated with other drugs such as second-generation
antipsychotics. Even though the pharmacotherapy is quite advanced, it still has its limitations
once the patient's adherence is low. On the other hand, psychosocial interventions that includes
psychoeducation of the patient and their families, psychotherapy and social support, proved to
be effective in reducing patient evasion rates and increasing therapeutic adherence levels. In
this way, the psychosocial interventions have shown as important tools to encourage and help
patients, once the control of symptoms are mandatory to the individual's functionality.

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Keywords: bipolar disorder, therapeutics, treatment adherence and compliance, continuity of


patient care.

1 INTRODUÇÃO
O transtorno bipolar é uma doença que tem sua incidência aumentada nos últimos anos,
apresentando altas taxas de mortalidade, sendo a sexta maior causa de exclusão familiar e de
incapacidade para a vida social dentre todas as perturbações médicas. É caracterizado por um
transtorno crônico, causando uma instabilidade e alternância do humor, sendo acompanhado de
episódios de hipomania, mania, e depressão com graus variados de intensidade, com ou sem
sintomas psicóticos, podendo persistir por semanas ou meses (ALMEIDA et al., 2018).
Indivíduos portadores de TAB em fase de mania não conseguem avaliar de forma
fidedigna seu estado afetivo. Portanto, essa fase é a que o paciente mais tem dificuldade em
aceitar o diagnóstico e os tratamentos que lhe são propostos. Já na fase depressiva, o indivíduo
apresenta-se mais apático, embotado e com dificuldades em realizar as tarefas do cotidiano.
Isso traz a percepção de adoecimento e torna o paciente mais receptivo ao tratamento
(MAZZAIA; SOUZA, 2017).
Cabe ressaltar ainda, que o TAB apresenta dois subtipos principais, os quais se diferem
pela gravidade e duração dos sintomas: o Tipo I, no qual há a maior frequência de episódios de
mania, e o Tipo II, que se caracteriza por episódios de hipomania que duram um curto período
de tempo. No entanto, ambos possuem o estágio depressivo. No Tipo I, a alteração do humor
tem como particularidade o fato de um episódio maníaco prevalente, que pode ser precedido ou
sucedido de episódio hipomaníaco ou depressivo, que podem ter ainda manifestação de
sintomas psicóticos. Já no tipo II, o seu aspecto específico é uma recorrência maior de episódios
depressivos e pelo menos um episódio hipomaníaco, sem apresentar quadros maníacos ou
sincronicidade dos fenômenos opostos de humor. Há ainda outras classificações, a destacar as
“características mistas”, em que o paciente apresenta sintomas maníacos e depressivos
simultaneamente - e o “Transtorno Ciclotímico”, no qual há períodos de hipomania e depressão
intercalados ao longo do tempo (BOSAIPO; BORGES; JURUENA, 2017).
De acordo com a literatura, indivíduos portadores de TAB têm um risco de mortalidade
de duas a três vezes maior que a população em geral, bem como uma redução na expectativa de
vida (de 15 anos em média). A falta de compreensão do TAB como patologia de fato, aliado a
descrença nas dificuldades enfrentadas pelo paciente, podem desestimular a adesão ao
tratamento. O TAB deve ser considerado é dotado de uma neurofisiopatologia complexa ,

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envolvendo o eixos neuro-hormonais importantes e interações que afetam o indivíduo


sistemicamente. A doença é vista de maneira diferente nos dias de hoje, após melhores
elucidações de seus mecanismos, de modo que a ciência não mais a compreenda como mera
alteração emocional, mas sim como uma doença complexa capaz de afetar o funcionamento de
diferentes sistemas metabólicos, alterando hormônios (tireoidianos, estrógeno e testosterona) e
até mesmo a própria microbiota intestinal. Dessa forma, as comorbidades individuais são
potencializadas e o tratamento ideal torna-se ainda mais difícil (BRIETZKE; MANSUR, 2018).
A proposta do tratamento pode ser farmacológica ou não, a depender do estágio de
manifestação do paciente. Todavia, pacientes com transtorno bipolar normalmente requerem
tratamento farmacológico de longo prazo, de modo a prevenir episódios recorrentes de
depressão e mania. Os fármacos incluem o lítio, anticonvulsivantes, antipsicóticos e
antidepressivos, que são usados de forma a combater os sintomas, aliviar tal condição e fornecer
melhor funcionalidade ao indivíduo (KISHI, et al., 2020) . Vale destacar que, apenas o uso de
fármacos não é suficiente para tratar o TAB, visto que a adesão medicamentosa é estimada em
menos de 50% dos pacientes (PIMENTEL; SIQUARA, 2017).
A literatura sugere que a conduta mais efetiva seria a combinação da terapia
medicamentosa, em conjunto com intervenção psicoeducacional familiar, visando reduzir as
instabilidades emocionais e internamentos. Ademais, incentivar uma vida social saudável,
gerando uma boa qualidade de vida certamente aumentaria a adesão à terapia medicamentosa e
resultaria em um tratamento mais efetivo (ALMEIDA et al., 2018).
Nesse contexto, o objetivo do presente estudo consiste em analisar, a partir de uma
revisão narrativa da literatura, a importância do tratamento farmacológico e do
acompanhamento dos portadores de transtorno bipolar e as dimensões psicossociais que
precisam ser mais elucidadas, e necessitam de cuidados mais alternativos e eficazes.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O lítio é um estabilizador de humor utilizado desde 1949 para o tratamento do TAB,
sendo indicado como tratamento padrão ouro pela maioria das diretrizes, uma vez que o seu
uso está associado a prevenção de episódios maníacos e redução do risco de suicídio (GOMES-
DA-COSTA ET AL., 2022). Entretanto, o uso do lítio está relacionado a efeitos colaterais
renais, sendo eles: diabetes insipidus nefrogênico, nefropatia tubulointersticial crônica e lesão
renal aguda. Além desses efeitos, o uso prolongado do lítio pode causar reações adversas na
tireoide e nas glândulas paratireoides. Por ter uma baixa janela terapêutica e farmacocinética

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inconstante, a dosagem exata do lítio para cada paciente é um desafio, tendo a sua concentração
sérica constantemente monitorada (LUKAWSKA ET AL, 2021).
De acordo com uma revisão sistemática publicada em 2021, a combinação do lítio com
outros medicamentos (asenapina, olanzapina, risperidona, quetiapina, carbamazepina,
lorazepam) demonstrou ser mais eficaz no tratamento da mania aguda quando comparado à
monoterapia. Já em relação ao tratamento da depressão bipolar, o mesmo estudo constatou que
o uso do lítio em monoterapia é ineficaz no tratamento da depressão bipolar aguda
(FOUNTOULAKIS; TOHEN; ZARATE, 2022). Ademais, diretrizes publicadas pela Rede
Canadense para Tratamentos de Humor e Ansiedade (CANMAT) indicam que o tratamento de
primeira escolha para os Episódios de Mania agudos inclui quetiapina, divalproex, asenapina,
aripiprazol, paliperidona, risperidona e cariprazina, em monoterapia. Ainda, a mesma diretriz
recomenda o tratamento combinado de lítio ou divalproato com os antipsicóticos atípicos como
quetiapina, aripiprazol, risperidona ou asenapina, já que a combinação dos medicamentos
apresenta maior eficácia do que o tratamento monoterápico (YATHAM ET AL, 2018).
O tratamento do transtorno bipolar com episódios depressivos permanece de difícil
controle. Um estudo de coorte retrospectivo analisou 1807 pacientes com transtorno bipolar
tipo 1 e os resultados obtidos mostraram que, após a remissão da depressão o tratamento com
antidepressivos aumenta o risco de ocorrência de episódios maníacos, principalmente quando é
utilizado antidepressivo tricíclico (CHEN ET AL, 2022).
No que tange a opções de tratamento mais atuais, uma nova alternativa para o tratamento
do TAB é a cariprazina, agonista parcial da dopamina, classificada como antipsicótico atípico
de segunda geração e é um dos medicamentos aprovados para o tratamento da depressão
bipolar. Foi realizado um estudo com pacientes masculinos e femininos com idade entre 18-65
anos e diagnóstico de transtorno bipolar tipo 1, associado a episódio depressivo maior atual. O
estudo evidenciou que a cariprazina melhorou de forma significativa os sintomas de depressão
quando comparado ao grupo placebo. Além disso, foram constatados efeitos benéficos da
cariprazina na mania bipolar (YATHAM ET AL, 2020).
Os principais medicamentos utilizados e os efeitos colaterais associados estão
resumidos na Tabela 1.

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Medicamentos Efeitos colaterais

Antimaníacos (ex: Benzodiazepínicos de alta -Efeitos neurológicos (ex: Distonia tardia,


potência, Clonazepam, Lorazepam, Clozapina, neurotoxicidade, discinesia tardia, síndrome
Risperidona, Quetiapina, Antipsicótico atípico neuroléptica maligna, convulsões, acatisia,
agonista parcial nos receptores D1, D2, D3, 5-HT parkinsonismo e dentre outros).
tipo 1A e dentre outros).
-Efeitos endocrinológicos (ex:
Hiperprolactinemia, aumento de peso,
ginecomastia, amenorreia e hiperglicemia).

-Efeitos hematológicos (ex: Agranulocitose,


neutropenia, eosinofilia).

-Efeitos cardiovasculares (ex: Hipotensão


postural e alterações no eletrocardiograma).

Estabilizadores de Humor (ex: Lítio, -Efeitos endocrinológicos (ex: Ganho de peso,


Carbamazepina, Oxcarbazepina, Valproato, diminuição da função da tireoide, hipotireoidismo
Gabapentina, Topiramato, Pregabalina, e bócio e dentre outros).
Tiagabina, Verapamil e dentre outros).
-Efeitos cardiovasculares (ex: Na existência da
síndrome bradicardia-taquicardia o uso do Lítio
deve ser cessado).

-Efeitos dermatológicos (ex: Erupções


acneiformes, é mais provável no início do
tratamento).

-Efeitos neurológicos (ex: Tremor essencial e


dentre outros).

-Efeitos hematológicos (ex: Leucocitose).

-Efeitos nefrológicos (ex: Diabetes insípido


nefrogênico, poliúria e polidipsia).

Adaptado de: BERTRAM, TREVOR, 2017 e STAHL, STEPHEN M, 2019.

Pacientes com TAB necessitam de um tratamento farmacológico a longo prazo a fim de


prevenir os episódios de mania e hipomania, que dificultam a adesão terapêutica. Uma revisão
sistemática sobre adesão ao tratamento do transtorno bipolar analisou onze artigos e um desses
artigos identificou a interrupção do uso dos psicofármacos em um quarto dos pacientes, e um
terço do restante utilizou os medicamentos de forma irregular. Foram relatadas que as principais
justificativas para o tratamento irregular são: efeitos colaterais, pouca motivação e atitudes
negativas com o tratamento. Além disso, outro estudo revelou que 63% dos pacientes não
aderem ao tratamento medicamentoso (MIASSO; CARMO; TIRAPELLI, 2022). Sendo assim,
estratégias para compreender o paciente holisticamente devem ser utilizadas e estimuladas,
levando sempre em consideração a percepção geral do paciente, reconhecendo o

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direcionamento psicoterapêutico e o suporte social como partes fundamentais no tratamento


do indivíduo (COSTA; GÓES; MORAIS, 2021).
A complexidade da neurobiologia envolvida no TAB é parte importante na escolha do
tratamento e na compreensão da doença em todas as suas esferas. O tratamento, por sua vez,
envolve a localização dos sintomas e a sua interação com determinada área do sistema nervoso
para assim obter regressão dos mesmos. Estudos sugerem que um dos sintomas associados a
episódios de mania vem do córtex Orbitofrontal, onde foi possível mapear essa área do encéfalo.
Outro ponto chave foram as intervenções psicossociais aliadas ao tratamento farmacológico,
nas quais tem-se observado efeitos benéficos no tratamento de manutenção do TAB em grupos
que utilizam da psicoeducação e psicoterapia com as abordagens cognitivo-comportamental e
interpessoal (CORREA L. M; LIMA R. C, 2020) . Ao combinar técnicas de psicoeducação,
visando informar o paciente sobre o transtorno e aumentar a adesão ao tratamento
medicamentoso, evita-se também a evasão. O número de recaídas apresentou redução ao se
utilizar técnicas que visem resolução de problemas, monitorização das oscilações e
compreensão das razões envolvidas nos episódios depressivos ou outras comorbidades
secundárias do paciente (BOSAIPO; BORGES; JURUENA, 2017).
O relacionamento médico/usuário é um fator que interfere diretamente no processo de
adesão ao tratamento não farmacológico proposto. Antigamente, essa relação era extremamente
valorizada e estabelecida na confiança do paciente na equipe que o assiste. Hoje, o advento
tecnológico das redes móveis contribuiu, em muito, para a disseminação de informações
conflitantes, o que colabora para a quebra dessa relação.
O TAB se enquadra no perfil de doença crônica, cujo foco do tratamento é o controle e
não a cura da doença, resultando em tratamentos longos, alta taxa de abandono e níveis
consideráveis de depressão. O empenho profissional é a chave para a resolução do problema,
devendo manter-se uma estratégia que estimule e busque otimizar a qualidade de vida do
paciente, sendo necessário a reiteração da importância do vínculo médico/usuário para o
fornecimento de um suporte emocional voltado para a realidade de quem sofre com transtornos
mentais (MAZZAIA; SOUZA, 2017).
Outro ponto que se correlaciona com a adesão ao tratamento não farmacológico, é que
esses pacientes não têm suporte familiar adequado em grande maioria das vezes, dessa forma,
a família possui um papel importante na reinserção social do indivíduo em sofrimento psíquico.
Portanto, os familiares devem ser abordados e educados acerca da maneira de lidar com
comportamentos agressivos e estressantes secundário aos efeitos colaterais dos medicamentos.
Ademais, as pessoas envolvidas precisam aprender a manejar as diversas situações que

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englobam o indivíduo portador de TAB, tais como: desentendimentos pessoais e familiares,


problemas financeiros e até mesmo as reações adversas esperadas para esses pacientes
(MAZZAIA; SOUZA, 2017).
Observa-se, na prática, que os sistemas de saúde não estão preparados para fornecer
intervenções que englobem a política de inclusão ao tratamento em todas as classes sociais.
Mesmo diante das peculiaridades individuais de cada país, é constatada uma ausência de
cobertura para populações vulneráveis a nível mundial, independentemente do nível de
desenvolvimento socioeconômico daquela população. Indícios sugerem que os pacientes
portadores de TAB têm menor chance de ter atendimento médico em níveis de atenção primária
do que a população geral (BRUSCHI; SILVA; ÁLVARES,2019).
Isto posto, sabe-se que existem diversas estratégias que podem ser adotadas para reduzir
as desigualdades no cuidado à saúde geral dos portadores de TAB. Como forma de buscar
reduzir as barreiras para a evasão ao tratamento, são oferecidos cuidados integrados, com um
psiquiatra e um médico geral. São feitas intervenções preventivas, utilizando da tecnologia para
melhores estratégias de comunicação e compreensão do paciente com TAB em sua totalidade,
não se limitando em concepções pré-formadas pautadas em discrepâncias sociais (BRIETZKE;
MANSUR, 2018).
Aos profissionais da saúde cabe trabalhar em articulação com a comunidade,
implementando medidas educativas, de modo a incentivar e auxiliar os pacientes na
reintegração socioprofissional, devendo orientar os pacientes sobre os sinais de alarme e manejo
das crises. Dessa forma, o paciente é colocado no centro da esfera do processo de cuidado,
sendo concedido espaço para que as suas dúvidas, medos e dificuldades sejam sanados.
(ENES, et al. 2020). No que se refere a terapia não farmacológica são indicados: Terapia
cognitiva baseada na atenção plena mais tratamento usual, Psicoeducação, Terapia Cognitiva e
Terapia Cognitivo- Comportamental (BRUSCHI; SILVA; ÁLVARES,2019).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho abordou, a partir da análise dos achados da literatura, a proposta de
tratamento farmacológico e psicossocial para pacientes com TAB e a dificuldade na adesão ao
tratamento por parte deles. Os resultados sugerem que o tratamento farmacológico e abordagens
psicossociais aliadas à detecção precoce podem trazer benefícios na remissão total dos sintomas
e na prevenção de recaídas. Dessa forma, é de suma importância estudos para ampliar as
modalidades de intervenções psicossociais e a sua eficácia no tratamento para o TAB. Além

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disso, proporcionar planejamentos para a intervenção segura de politerapia, com a verificação


clara de seus efeitos colaterais.

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