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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 23ª REGIÃO
'VARA DO TRABALHO TANGARÁ DA SERRA

ATA DE AUDIÊNCIA

Aos 18 (dezoito) dias do mês de novembro do corrente


ano, na sala de audiências da MMa. Vara da Justiça do Trabalho de Tangará da
Serra (Itinerante de Campo Novo do Parecis) - MT, sob a jurisdição do Juiz do
Trabalho WANDERLEY RODRIGUES DA SILVA, realizou-se a presente audiência
relativa à Ação Trabalhista (Proc. n° 01696.2005.051.23.00-1), entre as partes:

RECLAMANTE : ROBSON VICENTE DE ALMEIDA LOBO

RECLAMADO : MUNICÍPIO DE BRASNORTE - MT

Às 18:00 horas, de ordem do MM. Juiz do Trabalho


foram apregoadas as partes, que se fizeram ausentes.

Após, foi proferida a seguinte

DECISÃO

Vistos e cuidadosamente examinados os autos.

1 - Relatório

Em 19 de setembro do fluente ano, ROBSON VICENTE


DE ALMEIDA LOBO, qualificado à fl. 03, ajuizou a presente ação trabalhista em
face do MUNICÍPIO DE BRASNORTE - MT, aduzindo em síntese que fora contratado
pelo acionado para exercer o cargo de Secretário de Administração em 01/01/2001,
tendo sido dispensado em 27/12/2004, imotivadamente, sem que lhe fossem pagas
as verbas resilitórias que entende fazer jus, em razão do que pugna pela
condenação patronal ao pagamento dos valores relacionados às fls. 05/06.

Juntou procuração e documentos, atribuindo à causa o


valor de R$ 37.000,00 (trinta e sete mil reais).

Em resposta, a reclamada apresentou defesa escrita


consistente em exceção de incompetência em razão da matéria, aliada a
contestação onde cinge-se a aduzir que o obreiro, uma vez que o liame que os une
fora disciplinado pelo regime jurídico administrativo não fazendo jus, segundo
acredita, às verbas elencadas na exordial.

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Na audiência de UNA, dispensados os depoimentos


pessoais, declararam os contendores que não dispunham de outros meios
probatórios a serem produzidos, encerrando-se, ato contínuo, a fase instrutória.

Razões finais orais e ambas as propostas de conciliação


infrutíferas..

É o relato do essencial.

Decido.

2 - Fundamentação

2.1 – Da Preliminar de Incompetência Absoluta da


Justiça do Trabalho.

Ab initio, insta analisar a procedência da eriçada


preliminar de incompetência desta Especializada, porquanto aduz o Município
reclamado que, por ter mantido vínculo de natureza administrativa com o autor,
competente para o deslinde da controvérsia seria a Justiça Comum estadual.

E bem compulsando os autos, constato que a pretensão


patronal há de ser acolhida, no particular, pois que ausente o pressuposto
processual concernente à competência do Juízo.

Com efeito, refere o artigo 267, caput, inciso IV e


parágrafo terceiro do CPC que “Extingue-se o processo sem julgamento do
mérito...quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo...O juiz conhecerá de ofício, em
qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferia a sentença de mérito, da
matéria constante dos ns. IV, V e VI;”.

De fato, os pressupostos processuais aludem a


requisitos a serem reunidos para que o processo seja tido por existente, bem como
tenha desenvolvimento válido podendo, em razão disto, haver exame de ofício por
parte do magistrado, visto que ostentam índole de questão de ordem pública.

É como ensina o ilustre Alexandre Câmara, cuja lição


pedem-se vênia para transcrever, ipsis litteris:

“Os pressupostos processuais podem ser definidos como


os requisitos de existência e validade da relação

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processual. Em outros termos, os pressupostos


processuais são os elementos necessários para que a
relação processual exista e, em existindo, possa se
desenvolver validamente. Desta definição já se pode
extrair, facilmente, a conclusão de que os pressupostos
processuais devem ser divididos em dois grupos: os
pressupostos processuais de existência e os
pressupostos processuais de validade.”1

De igual teor é o magistério de Humberto Theodoro


Júnior, para quem:

“Não se confundem os pressupostos processuais com as


condições da ação. Os pressupostos são aquelas
exigências legais sem cujo atendimento o processo, como
relação jurídica, não se estabelece ou não se desenvolve
validamente. E, em conseqüência, não atinge a sentença
que deveria apreciar o mérito da causa. São, em suma,
requisitos jurídicos para a validade e eficácia da relação
processual. Já as condições da ação são requisitos a
observar, depois de estabelecida regularmente e relação
processual, para que o juiz possa solucionar a lide
(mérito).

Os pressupostos, portanto, são dados reclamados para


análise de viabilidade do exercício do direito de ação sob
o ponto de vista estritamente processual. Já as condições
da ação importam o cotejo do direito de ação
concretamente exercido com a viabilidade abstrata da
pretensão de direito material...

Doutrinariamente, os pressupostos processuais


costumam ser classificados em:

a) pressupostos de existência, que são os requisitos


para que a relação processual se constitua
validamente; e
b) pressupostos de desenvolvimento, que são aqueles a
ser atendidos, depois que o processo se estabeleceu
regularmente, a fim de que possa ter curso também
regular, até a sentença de mérito ou a providência
jurisdicional definitiva.

Os pressupostos de existência válida ou de


desenvolvimento regular do processo são, por outro lado,
subjetivos e objetivos.

1
CÂMARA, Alexandre. Lições de Direito Processual Civil, Ed. LumenJuris,, vol. 01,10ª edição, 2004, pág. 229.

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Os subjetivos relacionam-se com os sujeitos do processo:


juiz e partes. Compreendem:
a) a competência do juiz para a causa;
b) a capacidade civil das partes;
c) sua representação por advogado...”2 – grifos
acrescidos.

Na espécie, compulsando acuradamente a peça de


ingresso, indiscutivelmente, constato que o reclamante prestou serviços ao
município reclamado em virtude de um liame de natureza administrativa, posto que
ocupava cargo em comissão, qual seja, cargo de Secretário de Viação, Obras e
Serviços Públicos, nos precisos termos do artigo 2º, IV.

Deste modo, indubitável que o reclamante ostentava a


qualidade de servidor estatutário e não a de empregado público, condição esta que
instauraria a competência da Justiça do Trabalho.

Neste ponto, em que pese asseverar a novel redação


conferida ao artigo 114 da Carta Política hodierna, que a competência da Justiça
Obreira para apreciar as controvérsias instaladas entre os servidores públicos (sem
a ressalva que alguns tentam lhe imprimir), o Excelso Supremo Tribunal Federal,
por intermédio do seu Excelentíssimo Presidente, houve por bem deferir pedido de
medida liminar, proferida na ADIN nº 3395-6/2005, para dar “interpretação
conforme” ao inciso I do citado preceito de modo a retirar da esfera competencial
deste ramo do Poder Judiciário as demandas que envolvam os chamados servidores
estatutários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Por oportuno, destaco que, muito embora receba com


ressalvas a decisão emanada da mais alta Corte deste país, certo é que a sua
inobservância poderia ensejar, a meu juízo, a interposição de reclamação
constitucional, junto à citada Corte, consoante prevê o artigo 102, I “l” da Carta
Política hodierna, posto que, nos termos do preceito contido no artigo 11, § 1º da
Lei nº 9.868/1999, as decisões liminarmente adotadas pelo STF, em ADIN,
produzem efeitos erga omnes.

Assim, tendo sido o reclamante, incontroversamente,


contratado na qualidade de servidor público estatutário, conclusão outra não me
afigura condizente com a decisão supramencionada, senão a que aponta para a
incompetência da Justiça do Trabalho para o deslinde da presente demanda.

Destarte, declaro a incompetência da Justiça do Trabalho para examinar os


pedidos consignados na peça de ingresso, ante a natureza do vínculo jurídico que
uniu os contendores e, em conseqüência, com fulcro no artigo 795, § 2º da CLT,
transitada em julgado esta decisão, determino a remessa destes autos à Justiça
Comum estadual, em Brasnorte/MT, para a devida apreciação, reiterando-lhe
nossas melhores homenagens, procedendo-se os registros pertinentes.

2
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, Ed. Forense, vol. I, 32ª edição, págs. 52/53.

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Cientes as partes, nos moldes do que preconiza o artigo


834 da CLT e Súmula nº 197 do C. TST.
Nada mais.

Wanderley Rodrigues da Silva


Juiz do Trabalho

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