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AO JUÍZO DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DE VILA VELHA/ES

ALDO VENICIO LOSS DE ANDRADE, brasileiro, casado, inscrito no CPF nº


162.942.107-39, residente e domiciliado na Rua Quinze, nº 18, bairro Vila Nova, Vila
Velha/ES, CEP 29105150, Telefone (27) 998729830, e-mail: aldinho_loss@hotmail.com,
vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por sua procuradora firmatária,
conforme instrumento de mandato anexo, propor

AÇÃO REVISIONAL

em face de Banco Votorantim S.A, pessoa jurídica de direito privado, devidamente inscrita
no CNPJ nº 59.588.111/0001-03, estabelecida na Avenida das Nações Unidas, 14.171,
Torre A, 18º andar, Vila Gertrudes, São Paulo/SP, CEP 04794-000, pelos motivos de fato e
de direito a seguir aduzidos.
1. DOS FATOS

Trata-se de demanda proposta pelo autor visando revisão do Contrato de


Financiamento de Veículo nº 561200436, tendo em vista a incidência de cláusulas
abusivas, especialmente as relacionadas aos juros aplicáveis e outras irregularidades
constatadas.

Na data de 08 de outubro de 2020, o autor firmou com a ré um contrato de


financiamento de veículo para a compra de um carro NEW FIESTA SE 1.5, 16V 4P (AG)
COMPLETO, 2013/2014, BRANCA, no valor de R$20.917,17, (sendo principal de R$
36.500,00 – entrada de R$ 19.000,00 + seguro prestamista de R$ 1.706,05 + registro de
contrato R$ 350,84 + TAC de R$ 789,00 + tarifa de avaliação de veículo R$ 250,00 + título
de capitalização de R$ 375,28), para pagamento em 60 parcelas de R$ 570,00, à taxa de
juros de 1,74% a.m. (23,05% a.a.), com primeiro vencimento em 07/11/2020.

Ocorre que o respectivo contrato foi celebrado sob uma taxa de juros de 1,74% ao
mês e de 23,05% ao ano, contrato de financiamento em anexo, em completo
descompasso com a taxa média do mercado financeiro, bem como a imposição de várias
tarifas indevidas.

Segundo dados do próprio Banco Central, na data das operações, em outubro/2020,


a taxa média de mercado para a respectiva operação de crédito era de 1,45% a.m, porém,
a instituição financeira vem cobrando 1,77%, o que significa ser superior em 22% da taxa
média divulgada pelo BACEN de 1,45%.
Caso a taxa de juros aplicada no início do contrato fosse correspondente à taxa
média do mercado financeiro segundo o BACEN, o valor original da parcela seria de
R$438,69 (quatrocentos e trinta e oito reais e sessenta e nove centavos) e não R$570,00
(quinhentos e setenta reais).

Portanto, tendo em vista que o Réu impôs ao Autor taxas de juros remuneratória em
patamar abusivo no instrumento contratual celebrado, incorrendo em flagrante ilegalidade,
conforme entendimento já consolidado na jurisprudência das mais variadas Cortes
Jurídicas do país, restou motivado o ajuizamento da presente ação revisional.

2. DA JUSTIÇA GRATUITA

O autor não goza de confortável situação financeira, não podendo arcar com gastos
atípicos ao seu já comprometido orçamento mensal.

Destarte, requer desde já os benefícios da justiça gratuita, com fulcro nos arts. 98 e
99 do CPC, juntamente com o inciso LXXIV, do art. 5º da Constituição Federal, haja vista
não dispor de condições financeiras para suportar custas e despesas processuais sem
prejuízo do seu próprio sustento e de sua família, conforme declaração de
hipossuficiência em anexo.
3. DO DIREITO
Excelência, o que o autor pretende com o ingresso desta ação é a justiça, com a
aplicação de índices e sistema de juros, que permitirão a Ré uma margem de lucro sem
comprometer de maneira excessiva a parte autora.

Almejando conhecer melhor o contrato, a parte autora o submeteu a um parecer


técnico, conforme já mencionado, oportunidade em que se faz prova a planilha/cálculo
demonstrativa (documento anexo), apontando diversas irregularidades, sendo elas:

a) realização de cobrança de tarifa de avaliação e registro de contrato, sem


efetivamente prestar tais serviços;

b) realização de cobrança de TAC;

c) Taxas de juros superiores a taxa média de mercado divulgado pelo Banco Central,
colocando o consumidor em desvantagem exagerada;

d) realização de venda casada de seguro prestamista e título de capitalização.

Assim, primando pelos princípios que regem as relações consumeristas, bem como o
Sistema Financeiro Nacional, com base na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,
fundamentamos esta exordial, nos seguintes termos:

3.1 DA ABUSIVIDADE DA APLICAÇÃO DA TAXA DE JUROS

De acordo com o Banco Central, a taxa de juros cobrados pela Ré na data do


financiamento (08/10/2020) era de 1,45 a.m%, contudo, não é o que se observa do
contrato de financiamento do Autor. Na realidade, a taxa de juros cobrada pela instituição
financeira é de 1,77% ao mês, havendo uma diferença de 0,32%.

A partir do julgamento do REsp. 1.061.530/RS, sob o rito dos Recursos Repetitivo,


pelo Tribunal Superior de Justiça, ficou assentada a possibilidade de limitação dos juros
remuneratórios, quando há abusividade comprovada, vejamos:

ORIENTAÇÃO 1 - JUROS REMUNERATÓRIOS

É admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em


situações excepcionais, desde que caracterizada a relação de
consumo e que a abusividade (capaz de colocar o consumidor em
desvantagem exagerada - art. 51, §1º, do CDC) fique cabalmente
demonstrada, ante as peculiaridades do julgamento em concreto.
(...)” (REsp 1061530 RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/10/2008, DJe 10/03/2009).

Com esta orientação jurisprudencial, tanto o STJ quanto os demais Tribunais pátrios
passaram a valer-se da taxa média de mercado divulgada pelo Banco Central para
averiguar abusos das Instituições Financeiras, sendo fartos os precedentes neste sentido.
Ou seja, ainda conforme manifestação do STJ neste mesmo julgamento:

1.2. A Revisão dos Juros Remuneratórios Pactuados


Fixada a premissa de que, salvo situações excepcionais, os juros
remuneratórios podem ser livremente pactuados em contratos de
empréstimo no âmbito do Sistema Financeiro Nacional,
questiona-se a possibilidade de o Poder Judiciário exercer o
controle da liberdade de convenção de taxa de juros naquelas
situações que são evidentemente abusivas.
(...)
O Ministro César Asfor Rocha, diante de juros remuneratórios
pactuados à taxa de 34,87% ao mês contra uma taxa média,
apurada por perícia, de 14,19% ao mês, entendeu que, estando
“cabalmente comprovada por perícia, nas instâncias
ordinárias, que a estipulação da taxa de juros remuneratórios
foi aproximadamente 150% maior que a taxa média praticada
no mercado, nula é a cláusula do contrato” (REsp 327.727/SP,
Segunda Seção, DJ de 08.03.2004).
(...)
Assim, a análise da abusividade ganhou muito quando o Banco
Central do Brasil passou, em outubro de 1999, a divulgar as taxas
médias, ponderada segundo o volume de crédito concedido, para
os juros praticados pelas instituições financeiras nas operações de
crédito realizadas com recursos livres (conf. Circular nº 2957, de
30.12.1999).
(...)
A taxa média apresenta vantagens porque é calculada segundo as
informações prestadas por diversas instituições financeiras e, por
isso, representa as forças do mercado. Ademais, traz embutida em
si o custo médio das instituições financeiras e seu lucro médio, ou
seja, um 'spread' médio. É certo, ainda, que o cálculo da taxa
média não é completo, na medida em que não abrange todas as
modalidades de concessão de crédito, mas, sem dúvida, presta-se
como parâmetro de tendência das taxas de juros. Assim, dentro do
universo regulatório atual, a taxa média constitui o melhor
parâmetro para a elaboração de um juízo sobre abusividade.
(...)
A jurisprudência, conforme registrado anteriormente, tem
considerado abusivas taxas superiores a uma vez e meia (voto
proferido pelo Min. Ari Pargendler no REsp 271.214/RS, Rel. p.
Acórdão Min. Menezes Direito, DJ de 04.08.2003), ao dobro (Resp
1.036.818, Terceira Turma, minha relatoria, DJe de 20.06.2008) ou
ao triplo (REsp 971.853/RS, Quarta Turma, Min. Pádua Ribeiro, DJ
de 24.09.2007) da média.” (REsp 1061530 RS, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/10/2008,
DJe 10/03/2009).

Assim, restou assentado que, as taxas de juros remuneratórios que “uma vez e
meia” acima da taxa média, que representa uma discrepância de 50% (cinquenta por
cento), segundo o BACEN, para a mesma operação, à época da celebração do contrato,
são consideradas abusivas, ensejando a revisão contratual e, consequentemente, sua
limitação ao índice divulgado pelo Banco Central.

Destaca-se que, no caso em análise, o contrato foi celebrado com taxas


desproporcionais à taxa média de mercado segundo o Bacen, que no momento da
contratação era de 1,45% ao mês.

Logo, com a cobrança de taxa de juros de 1,77% ao mês, superior em 22% da taxa
média divulgada pelo BACEN de 1,45%, apura-se as parcelas recalculadas no valor de
R$438,69 e não R$570,00, conforme cobrado pelo Banco, o que resulta em um excesso
cobrado por parcela de R$131,31.

Desta forma, em observância a planilha contida nos autos, o saldo devedor de


operação em outubro de 2023 (data do laudo pericial) é de R$3.715,48. Quanto ao
recálculo das 24 parcelas a vencer a partir do mês de novembro e considerando a média
de 1,45% a.m, tem se que as parcelas terão que ser pagas no valor de R$184,42, e não
R$570,00.

Assim, requer a este douto juízo que seja julgado procedente a pretensão autoral a
fim de adequar a taxa de juros remuneratórios do contrato firmado ao patamar médio do
mercado, de 1,45% ao mês, de modo a reduzir o valor da parcela do contrato nº
561200436 para R$184,42, a partir de novembro de 2023, conforme memória de cálculo
anexa.

3.2. DO DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL - DA COBRANÇA EFETIVA


DE JUROS REMUNERATÓRIOS DIVERGENTES DA TAXA EXPRESSAMENTE
PREVISTA NO CONTRATO
Como exposto, o banco demandado impôs à parte autora a cobrança de juros
remuneratórios divergentes daqueles que constam no instrumento contratual. A
verificação é facilmente confirmada por meio do laudo pericial em anexo.

Em assim agindo a parte ré descumpre com o respeito às normas insertas em


precedente do STJ, TEMA 27:

A relação contratual é regida sob a luz de alguns princípios que visam harmonizar
as relações privadas. O mais usual denomina-se boa fé. O Estado confere aos indivíduos
a liberdade para contratar, em contrapartida, espera-se respeito e compromisso na
execução do acordo firmado.

As obrigações de cumprimento são impostas em comum acordo pelas partes na


busca de satisfazerem a vontade de ambos com a efetivação do negócio jurídico
celebrado. Com a quebra de cumprimento, o acordo firmado resta prejudicado.

A seguir demonstrar-se-á a divergência entre a taxa de juros prevista no


Instrumento Contratual e a taxa de juros efetivamente cobrada pela instituição
financeira.

O próprio banco Réu EXPRESSAMENTE previu a incidência, a título de juros


remuneratórios mensais, da taxa de 1,74% ao mês e 23,05% ao ano.
No entanto, na prática a teoria aplicada pelo banco vem sendo outra.

Isso porque, tem se tornado cada vez mais corriqueiro a instituição financeira
descrever determinada taxa de juros no contrato e praticar OUTRA, obviamente maior e
mais prejudicial ao consumidor.

Na realidade, a taxa de juros remuneratórios cobrados pelo banco é


DIFERENTE da taxa descrita no contrato.

Vejamos a taxa contratada:

Entretanto, o que não se pode tolerar é o fato de o banco réu pactuar a


cobrança de 1,74% ao mês e, na REALIDADE, cobrar 1,77% ao mês, conforme
demonstrado abaixo.
Ora, Excelência, a situação se mostra intolerável pelo simples fato de configurar
verdadeiro DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL, uma vez que a na data das operações,
em outubro/2020, a taxa média de mercado para a respectiva operação de crédito era de
1,45% a.m, conforme se observa abaixo:

De outro modo, levando-se em consideração a aplicação da taxa PACTUADA de


1,74% a.m, apura-se as parcelas recalculadas no valor de R$472,25 (quatrocentos e
setenta e dois reais e vinte e cinco centavos) e não R$570,00 (quinhentos e setenta
reais), como cobrado pela instituição financeira, ou seja, um excesso por parcela de
R$97,75 (noventa e sete reais e setenta e cinco centavos).

Logo, apura-se um saldo devedor em outubro/2023 (data do presente laudo) de


R$5.387,33 (cinco mil, trezentos e oitenta e sete reais e trinta e três centavos). Assim,
restam 24 parcelas a vencer a partir de novembro de 2023, no valor de R$276,51
(duzentos e setenta e seis reais e cinquenta e um centavos) e não 570,00 (quinhentos e
setenta reais), cobrados indevidamente pelo banco.

Pactuada foi a cobrança de juros remuneratórios a 1,74% ao mês. Na PRÁTICA o


Réu ESCOLHE cobrar 1,77% ao mês, sendo a taxa efetivamente cobrada SUPERIOR
EM 22% DA TAXA MÉDIA DIVULGADA PELO BACEN DE 1,45%.

Resta, portanto, evidente o flagrante DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL


ocorrido no pacto ora analisado, devendo ser aplicada a taxa média de mercado referente
ao período de contratação ou, subsidiariamente, a taxa de juros contratada.

Assim sendo, roga-se pelo reconhecimento do descumprimento contratual,


devidamente demonstrado pelas provas apresentadas, bem como pela aplicação da taxa
média de mercado, por ser esta mais benéfica ao consumidor.

3.3. COBRANÇA DE TAC


Verifica-se, no presente caso, a cobrança de tarifas administrativas no momento da
celebração do contrato no valor de R$789,00 (setecentos e oitenta e nove reais), referente
a TAC, em 08/10/2020.

Todavia, conforme entendimento firmado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN)


é proibida a cobrança de tal tarifa. Nos termos do art. 4º e 9º da Lei nº 4.595/1964,
compete ao Conselho Monetário Nacional dispor sobre taxa de juros e sobre a
remuneração dos serviços bancários, e ao Banco Central do Brasil fazer cumprir as
normas expedidas pela CMN.

Com o início da vigência da Resolução CMN nº 3.518/2017, em 30/04/2008, a


cobrança por serviços bancários para pessoas físicas e jurídicas ficou limitada às
hipóteses taxativamente previstas em norma padronizadora expedida pelo Banco Central.

Contudo, a Tarifa de Abertura de Crédito não foi prevista na Tabela anexa à circular
BACEN 3.371/2007 e atos normativos que a sucederam, de forma que não é mais
VÁLIDA sua pactuação em contratos posteriores a 30/04/2008.

Portanto, a cobrança de tarifa TAC somente é permitida em contratos celebrados até


30/04/2008 (fim da vigência da Resolução CMN 2.203/96.

Com a vigência da CMN nº 3.518/2007, em 30/04/2008, a cobrança por serviços


bancários prioritários ficaram limitados às hipóteses taxativamente previstas em norma
padronizadora pela autoridade monetária. Desde então, não tem mais respaldo legal a
contratação da Tarifa de Abertura de Crédito (TAC) e Tarifa de Emissão de Carnê (TEC).

Neste sentido, é o entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE


FINANCIAMENTO COM GARANTIA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. COMPENSAÇÃO/REPETIÇÃO SIMPLES DO
INDÉBITO. RECURSOS REPETITIVOS. TARIFAS BANCÁRIAS. TAC E TEC.
EXPRESSA PREVISÃO CONTRATUAL. COBRANÇA. LEGITIMIDADE.
FINANCIAMENTO DO IOF. POSSIBILIDADE.
(...)
"(...) 3. Ao tempo da Resolução CMN 2.303/1996, a orientação estatal quanto à
cobrança de tarifas pelas instituições financeiras era essencialmente não
intervencionista, vale dizer, "a regulamentação facultava às instituições
financeiras a cobrança pela prestação de quaisquer tipos de serviços, com
exceção daqueles que a norma definia como básicos, desde que fossem
efetivamente contratados e prestados ao cliente, assim como respeitassem os
procedimentos voltados a assegurar a transparência da política de preços
adotada pela instituição."
4. Com o início da vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em 30.4.2008, a
cobrança por serviços bancários prioritários para pessoas físicas ficou limitada
às hipóteses taxativamente previstas em norma padronizadora expedida pelo
Banco Central do Brasil.
5. A Tarifa de Abertura de Crédito (TAC) e a Tarifa de Emissão de Carnê
(TEC) não foram previstas na Tabela anexa à Circular BACEN 3.371/2007 e
atos normativos que a sucederam, de forma que não mais é válida sua
pactuação em contratos posteriores a 30.4.2008.
6. A cobrança de tais tarifas (TAC e TEC) é permitida, portanto, se baseada
em contratos celebrados até 30.4.2008, ressalvado abuso devidamente
comprovado caso a caso, por meio da invocação de parâmetros objetivos
de mercado e circunstâncias do caso concreto, não bastando a mera
remissão a conceitos jurídicos abstratos ou à convicção subjetiva do
magistrado.
(...)
9. Teses para os efeitos do art. 543-C do CPC: - 1ª Tese: Nos contratos
bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da Resolução CMN
2.303/96) era válida a pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de
emissão de carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador,
ressalvado o exame de abusividade em cada caso concreto.
- 2ª Tese: Com a vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em 30.4.2008, a
cobrança por serviços bancários prioritários para pessoas físicas ficou limitada
às hipóteses taxativamente previstas em norma padronizadora expedida pela
autoridade monetária. Desde então, não mais tem respaldo legal a contratação
da Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) e da Tarifa de Abertura de Crédito (TAC),
ou outra denominação para o mesmo fato gerador. Permanece válida a Tarifa
de Cadastro expressamente tipificada em ato normativo padronizador da
autoridade monetária, a qual somente pode ser cobrada no início do
relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira. (...)" (REsp
1251331/RS, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 28/08/2013, DJe 24/10/2013).
"A pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de
carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, é válida
apenas nos contratos bancários anteriores ao início da vigência da
Resolução-CMN n. 3.518/2007, em 30/4/2008." (Súmula 565, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 24/02/2016, Dje 29/02/2016).

A pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê


(TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, é válida apenas nos contratos
bancários anteriores ao início da vigência da Resolução-CMN n. 3.518/2007, em
30/04/2008. Logo, observa-se que o financiamento do veículo se deu em 2020, portanto,
indevida sua cobrança no contrato.

Deste modo, firma-se a interpretação sistemática do art. 39, V, do CDC, devendo ser
reconhecida a nulidade da referida cobrança, com a restituição dos valores pagos.

3.4 COBRANÇA DE PRÊMIO DE SEGURO E TÍTULO DE


CAPITALIZAÇÃO - VENDA CASADA

Na concepção básica do que é venda casada podemos defini-la da seguinte


maneira: Condicionar a obtenção de um serviço ou produto à aquisição de outro produto
ou serviço.

A exigência da contratação de seguro para fins de concessão de financiamento


configura venda casada, prática comercial abusiva proibida pelo art. 39, I do CDC.

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras


práticas abusivas:
I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento
de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites
quantitativos.

No presente caso, há cláusula contratual que determina a contratação do seguro à


seguradora indicada pela instituição financeira demandada, contudo, ao autor não foi
oferecida outra opção de contratação com seguradora distinta senão aquela vinculada ao
próprio Banco Votorantim S.A.

Desta forma, a instituição financeira restringiu a liberdade de escolha do consumidor,


não sendo possível realizar a contratação do produto em seguradora diversa daquela
imposta pelo Banco.

Destaca-se que o Superior Tribunal de Justiça, em julgamento de matéria de


Recursos Repetitivos (REsp nº 1.639.320/SP), decidiu que, em contratos bancários
celebrados a partir de 30/04/2008, o consumidor não pode ser compelido a contratar
seguro com a instituição financeira ou com seguradora por ela indicada.

A obrigação em contratar com a própria instituição financeira ou outra por ela


indicada, retira do consumidor a liberdade de contratar com uma instituição mais
vantajosa.

No caso dos autos, verifica-se que a instituição financeira incluiu a cobrança de


R$1.706,05, referente ao seguro, e o montante de R$375,28, referente a título de
capitalização.

De igual modo, a cobrança do título de capitalização é abusiva, pois caracteriza


venda casada, além de configurar falha no dever de informação, uma vez que não é
possível identificar a natureza da cobrança (arts. 39, I e 46 do CDC).
A jurisprudência pátria também se posiciona neste sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. EMPRÉSTIMO. TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO. VENDA


CASADA. ABUSIVIDADE. NULIDADE. DEVOLUÇÃO EM DOBRO DO
INDÉBITO. DIFERENÇA ENTRE O VALOR PAGO E O VALOR RESGATADO.
DANOS MORAIS CONFIGURADOS. PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO.
Tendo o apelante afirmado a imposição da contratação de título de
capitalização como condicionante para a obtenção de empréstimo, assim
como apresentado elementos que amparam a sua alegação, incumbia ao
apelado demonstrar a regularidade da contratação, em cumprimento ao
art. 373, II, do CPC. Não tendo o apelado se desincumbido do ônus de
demonstrar a regularidade da contratação do título de capitalização, impõe-se a
conclusão de que praticou venda casada, de forma abusiva e ilícita, em
violação ao art. 39, I, do CDC, razão por que o contrato deve ser reputado
nulo, nos termos do art. 51, IV e XV, CDC, respondendo objetivamente pelos
danos causados. Tratando-se de desconto realizado mediante abusiva
venda casada, restam preenchidos os requisitos do art. 42, parágrafo
único, do CDC, incorrendo a instituição financeira em conduta
flagrantemente violadora da boa-fé objetiva, motivo pelo qual merece ser
determinada a devolução em dobro do indébito. No tocante ao valor a ser
devolvido em dobro, não é possível que seja aquele inicialmente descontado,
de R$ 300,00 (trezentos reais), como pretende o apelante. Isso porque o título
de capitalização foi resgatado, tendo ocorrido a prévia devolução de parte do
dinheiro ao consumidor. Assim, a devolução em dobro deve ter como base a
diferença entre o valor descontado inicialmente e aquele resgatado pelo
consumidor. Os danos morais restam configurados, diante do abalo emocional
experimentado pelo demandante, em virtude da imposição da contratação, com
a imediata dedução indevida do valor correlato de sua conta-corrente. Ademais,
os extratos bancários revelam que se trata de pessoa hipossuficiente e que o
desconto do valor do título de capitalização atingiu-lhe de forma expressiva.
Quantia indenizatória a título de danos morais fixada em R$ 3.000,00 (três mil
reais), a qual é proporcional perante o caso concreto e a capacidade econômica
das partes, atende à dupla função da indenização civil por danos morais
(reparatória e punitiva) e está em consonância com a jurisprudência desta
Segunda Câmara Cível. Recurso conhecido e parcialmente provido. (TJ-AM -
AC: 06340464320218040001 Manaus, Relator: Onilza Abreu Gerth, Data de
Julgamento: 11/07/2022, Segunda Câmara Cível, Data de Publicação:
11/07/2022).

AÇÃO REVISIONAL – FINANCIAMENTO DE VEÍCULO – SEGURO – VENDA


CASADA - Insurgência contra a cobrança de seguro de proteção financeira -
ADMISSIBILIDADE: A cláusula que prevê a cobrança de seguro é de
adesão e abusiva, uma vez que não permitiu à contratante optar com qual
Seguradora pretendia contratar, ensejando verdadeira venda casada. A
questão já foi pacificada pelo C. STJ nos Recursos Repetitivos nºs 1.639.259 –
SP e 1.639.320 - SP. Sentença reformada neste aspecto. TARIFA DE
AVALIAÇÃO DO BEM – REGISTRO DE CONTRATO - Cobrança no contrato de
financiamento – INADMISSIBILIDADE: É ilegal a cobrança das mencionadas
tarifas, considerando-se o entendimento do C. Superior Tribunal de Justiça em
recurso repetitivo, uma vez que não houve comprovação de que os serviços
tenham sido efetivamente prestados. Sentença reformada. RECURSO
PROVIDO. (TJ-SP - AC: 10116748220158260405 SP
1011674-82.2015.8.26.0405, Relator: Israel Góes dos Anjos, Data de
Julgamento: 26/02/2019, 37ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
28/02/2019).

APELAÇÃO CÍVEL - PRELIMINAR - PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE -


OBSERVÂNCIA - RECURSO CONHECIDO - AÇÃO REVISIONAL DE
CONTRATO BANCÁRIO - TARIFA DE CADASTRO - INÍCIO DE
RELACIONAMENTO - LEGALIDADE DA COBRANÇA -- SEGURO E TÍTULO
DE CAPITALIZAÇÃO - VENDA CASADA - CONFIGURAÇÃO - ABUSIVIDADE
- REPETIÇÃO DO INDÉBITO - AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ - DEVOLUÇÃO
SIMPLES. - Se o recorrente se atentou para as especificidades do caso e para
os termos da sentença, pois suas alegações recursais se prestam à
contraposição efetiva dos fundamentos daquele "decisum", a irresignação
recursal deve ser conhecida. - Considerando que a tarifa de cadastro não se
confunde com a TAC, "Permanece válida a tarifa de cadastro expressamente
tipificada em ato normativo padronizador da autoridade monetária, a qual
somente pode ser cobrada do início do relacionamento entre o consumidor e a
instituição financeira" ( REsp 1.251.331/RS). - Conforme entendimento
sufragado pelo STJ em recurso repetitivo, a contratação de seguro será
considerada ilegal quando a cláusula contratual impuser a contratação de
um produto e seguradora específicos, obstando a liberdade de escolha do
consumidor. - Configurada a venda casada do seguro junto com o
financiamento oferecido pelo banco, faz jus o contratante à restituição do
valor cobrado. - A INCLUSÃO DE COBRANÇA DE TÍTULO DE
CAPITALIZAÇÃO NO CONTRATO DE FINANCIAMENTO, MEDIANTE
ASSINATURA DE FORMULÁRIO DE ADESÃO QUE NÃO DEU LIBERDADE
DE ESCOLHA PELO CONTRATANTE, CARACTERIZA VENDA CASADA,
PRÁTICA CONSIDERADA ABUSIVA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO. - A
devolução de valores considerados indevidos em contratos bancários se dá de
maneira simples, por ausência de má-fé na sua cobrança. - Recurso ao qual se
dá parcial provimento. (TJ-MG - AC: 10000210419537001 MG, Relator: Lílian
Maciel, Data de Julgamento: 21/07/2021, Câmaras Cíveis / 20a CÂMARA
CÍVEL, Data de Publicação: 22/07/2021).
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO -
FINANCIAMENTO DE VEÍCULO - TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO - VENDA
CASADA. O valor do veículo adquirido pelo consumidor é fixado pelo lojista e,
não, pela instituição financeira, que apenas fornece o crédito para aquisição do
bem. A CONTRATAÇÃO DE TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO CONFIGURA
VENDA CASADA, POIS VINCULADA A SEGURADORA ESPECÍFICA,
EVIDENCIANDO, NA REALIDADE, QUE A CONTRATAÇÃO FOI IMPOSTA
AO CONSUMIDOR, INEXISTINDO QUALQUER LIBERDADE NA ESCOLHA,
O QUE VIOLA O DISPOSTO NO ART. 39, I, DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. (TJ-MG - AC: 10000204531503001 MG, Relator: Rogério
Medeiros, Data de Julgamento: 04/08/0020, Data de Publicação: 06/08/2020).

Diante disso, é impositivo o reconhecimento da venda casada relacionado ao seguro


e ao título de capitalização. Assim, considerando a ilicitude apontada, pugna-se pela
declaração de nulidade da referida cobrança, com a restituição dos valores pagos sob
este título, desde a contratação, corrigidos de cada desembolso.

3.5 TARIFA DE AVALIAÇÃO DE VEÍCULO E REGISTRO DO CONTRATO

No que se referente à abusividade da tarifa de avaliação de bens e de registro do


contrato, a questão se encontra pacificada conforme julgamento do REsp. nº
1.578.553/SP (tema 958), sob a sistemática dos recursos repetitivos, em que se fixou a
seguinte tese: “a validade das cláusulas que preveem as taxas de avaliação do bem e
registro do contrato ficam adstritas à efetiva prestação do serviço para serem
consideradas válidas, bem como deve haver o controle de onerosidade excessiva,
devendo ser analisado cada caso concreto”.

No caso dos autos, observa-se que como tarifa de avaliação de veículo foi cobrado
o valor de R$250,00 (duzentos e cinquenta reais) e como taxa de registro do contrato foi
cobrado o valor de R$350,84 (trezentos e cinquenta reais e oitenta e quatro centavos).
Embora referidas tarifas constem da especificação do crédito na cédula, não há
qualquer menção a ela nas cláusulas referentes às condições gerais, e não há notícia de
que os serviços tenham sido prestados, a ilegalidade é reforçada pelo fato de que tais
taxas seriam, em tese, para remunerar determinado serviço, serviço este para o qual o
Banco nunca apresentou nenhuma nota fiscal ao requerente para justificar o valor.

Diante disto decidiu as Cortes Superiores, em sede de recursos repetitivos, que para
que a cobrança de referidas taxas sejam consideradas válidas, é necessário a efetiva
comprovação da realização do serviço, o que, no presente caso, não ocorreu.

Assim dispõe o artigo 51, XII do Código de Defesa do Consumidor:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua


obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;

Fica evidente, no presente caso, que referidas taxas e tarifas foram embutidas ao
contrato de financiamento unilateralmente pela instituição financeira com o objetivo de
maximizar seus lucros, onerando excessivamente o requerente.

Neste sentido dispõe a Lei Consumerista em seu artigo 39, V, que estabelece que é
vedado ao fornecedor de serviços, dentre outras práticas abusivas exigir do consumidor
vantagem manifestamente indevida, bem como no artigo 51, § 1º, inciso III que prevê que
presume-se exagerada a vantagem que se mostra excessivamente onerosa para o
consumidor , considerando as circunstâncias peculiares ao caso.

Segue abaixo ementa do Superior Tribunal de Justiça no julgamento dos Recursos


Especiais Repetitivos acerca do Tema 958, que assim dispõe:
RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. TEMA 958/STJ. DIREITO
BANCÁRIO. COBRANÇA POR SERVIÇOS DE TERCEIROS,
REGISTRO DO CONTRATO E AVALIAÇÃO DO BEM. PREVALÊNCIA
DAS NORMAS DO DIREITO DO CONSUMIDOR SOBRE A
REGULAÇÃO BANCÁRIA. EXISTÊNCIA DE NORMA REGULAMENTAR
VEDANDO A COBRANÇA A TÍTULO DE COMISSÃO DO
CORRESPONDENTE BANCÁRIO. DISTINÇÃO ENTRE O
CORRESPONDENTE E O TERCEIRO. DESCABIMENTO DA
COBRANÇA POR SERVIÇOS NÃO EFETIVAMENTE PRESTADOS.
POSSIBILIDADE DE CONTROLE DA ABUSIVIDADE DE TARIFAS E
DESPESAS EM CADA CASO CONCRETO. 1.DELIMITAÇÃO DA
CONTROVÉRSIA: Contratos bancários celebrados a partir de
30/04/2008, com instituições financeiras ou equiparadas, seja
diretamente, seja por intermédio de correspondente bancário, no âmbito
das relações de consumo. 2. TESES FIXADAS PARA OS FINS DO ART.
1.040 DO CPC/2015: 2.1. Abusividade da cláusula que prevê a cobrança
de ressarcimento de serviços prestados por terceiros, sem a
especificação celebrados a partir de 25/02/2011, data de entrada em
vigor da Res.-CMN3.954/2011, sendo válida a cláusula no período
anterior a essa resolução, ressalvado o controle da onerosidade
excessiva; 2.3. Validade da tarifa de avaliação do bem dado em garantia,
bem como da cláusula que prevê o ressarcimento de despesa com o
registro do contrato, ressalvadas a: 2.3.1. abusividade da cobrança por
serviço não efetivamente prestado; e a 2.3.2. possibilidade de controle
da onerosidade excessiva, em cada caso concreto. 3. CASO
CONCRETO. 3.1. Aplicação da tese 2.2,declarando-se abusiva, por
onerosidade excessiva, a cláusula relativa aos serviços de terceiros
("serviços prestados pela revenda"). 3.2. Aplicação da tese 2.3,
mantendo-se hígidas a despesa de registro do contrato e a tarifa de
avaliação do bem dado em garantia.4. RECURSO ESPECIAL
PARCIALMENTE PROVIDO."(Resp nº 1.578.553/SP. Rel. Min. Paulo de
Tarso Sanseverino; j. 28/11/2018).

No presente caso, a cobrança do serviço de registro de contrato e a tarifa de


avaliação de bem devem ser reputados como abusivos, porquanto ausente prova de
efetiva prestação dos serviços correlatos, sendo oportuno observar que, a ré nunca
apresentou ao requerente quaisquer notas ou documentos que justificassem a cobrança
ao consumidor, o que possibilita o reconhecimento de sua abusividade e a restituição da
quantia paga ao consumidor.

3.6 DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA

A descaracterização da mora quando a abusividade contratual comprovada é


assentada na jurisprudência nacional, por meio do Superior Tribunal de Justiça no
julgamento do REsp 1.061.530/RS, onde restou consignado:

a) O reconhecimento da abusividade nos encargos exigidos no período da


normalidade contratual (juros remuneratórios e capitalização) descarateriza a
mora; [...] (REsp 1061530 RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 22/10/2008, DJe 10/03/2009).

Portanto, toda e qualquer mora que o devedor possa ter incorrido deve ser afastada,
em razão flagrante prática abusiva da instituição financeira.

Logo, deve ser reconhecido o afastamento da mora sobre a parte autora, bem como
impedido o requerido dos seus efeitos correspondentes, quais sejam: cobrança de multa
contratual, a incidência de juros moratórios e até mesmo a inclusão do nome do autor em
cadastro de inadimplentes.

3.7 REPETIÇÃO DO INDÉBITO

Como demonstrado ao longo desta exordial, o Autor arcou com financiamento


acima do valor, além de taxas que o colocaram em desvantagem excessiva, tendo em
vista que desembolsou com: taxa de juros de 1,77% ao mês e 13,05% ao ano; tarifa de
registro de contrato, no valor de R$350,84; tarifa de abertura de crédito, no valor de
R$789,00; tarifa de avaliação de veículo no valor de R$250,00; título de capitalização no
valor de R$375,28 e prêmio de seguro no valor de R$1.706,05.

O STJ em PRECEDENTE VINCULANTE definiu que quando identificados valores


pagos a maior é direito do consumidor obter restituição do indevido, seja por meio de
repetição, seja por meio de compensação com eventual saldo devedor, TEMA 908, nas
informações adicionais:
"[...] independentemente do julgamento da prestação de contas, fica ressalvada
ao correntista a possibilidade de ajuizar ação revisional de contrato cumulada
com repetição de eventual indébito ou, ainda, se for o caso, revisar as cláusulas
contratuais em sede de embargos à execução, com a observância dos
princípios do contraditório e da ampla defesa". (REsp 1497831 / PR, em
repetitivo)

Nesse sentido, requer seja a parte Ré condenada a devolver os valores pagos a


maior, por meio de repetição do indébito com aplicação do art. 42, parágrafo único do
Código de Defesa do Consumidor.

4. DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E


INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

O presente caso versa, indubitavelmente, sobre relação de consumo, haja vista a


natureza do serviço prestado pela instituição financeira ré, que se amolda exatamente no
disciplinado pelo texto legal do art. 3º, caput e § 2°, do Código de Defesa do Consumidor.

Por sua vez, o autor se amolda perfeitamente na definição de consumidor, de


acordo com a lição do art. 2º, caput, do CDC.
A aplicação do CDC aos contratos bancários pacificados pela edição da Súmula
297 do STJ:

O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.

Por atração do Código de Defesa do Consumidor ao caso em tela, corolário lógico


é que seja aplicada a inversão do ônus da prova.

O artigo 6°, inciso VIII, do diploma consumerista elenca duas hipóteses para
inversão deste ônus, a saber: a verossimilhança das alegações ou a hipossuficiência
da requerente.

Dessa forma, deve ser operada a inversão do ônus da prova, pois, in casu,
encontram-se presentes os dois requisitos referidos no artigo 6°, inciso VIII, do Código de
Defesa do Consumidor ao deferimento da medida excepcional, restando o encargo de
eventual fato não comprovado à demandada.

5. DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer:

a) Deferir a parte autora o benefício de litigar ao abrigo da Gratuidade de Justiça,


artigo 98 do CPC, conforme declaração de hipossuficiência anexa;

b) Em sede de tutela antecipada de urgência, requer:

i) a consignação judicial dos valores incontroversos, no importe de R$


131,31 (cento e trinta e um reais e trinta e um centavos), referente ao
valor da parcela mensal recalculada conforme a Taxa Média do Banco
Central, de 1,45% ao mês;

ii) subsidiariamente, caso não seja este o entendimento de Vossa


Excelência, a consignação judicial dos valores incontroversos, no importe
de R$ 276,51 (duzentos e setenta e seis e cinquenta e um centavos),
referente ao valor da parcela mensal recalculada conforme a Taxa de
Juros contratada, de 1,74% ao mês;

iii) seja o Réu impedido de incluir o Requerente em qualquer cadastro


negativo de inadimplência, devendo removê-lo caso já efetuado;

iv) seja afastada a cobrança de qualquer penalidade de mora até o deslinde


da presente demanda;

c) Seja citado o Requerido para integrar a relação processual, nos termos do Art.
238 e Seguintes do Código de Processo Civil;

d) Seja aplicada a inversão do ônus da prova, em atenção aos Arts. 6º, VII e 14,
§3º, do Código de Defesa do Consumidor, em especial, para que o Réu apresente
toda a documentação referente à relação contratual das partes;

e) A parte autora opta pela não realização da audiência de conciliação;

f) No mérito, a confirmação da tutela antecipada de urgência anteriormente


concedida, com a TOTAL PROCEDÊNCIA DA AÇÃO para o fim de:
i) seja julgado procedente a pretensão autoral a fim de adequar a taxa de juros
remuneratórios do contrato firmado ao patamar médio do mercado, de 1,45% ao
mês, conforme memórias de cálculo anexas, e não mais de 1,77% ao mês
cobrada pela instituição financeira;

ii) Por consequência da revisão do contrato, o recálculo das parcelas nos termos
do laudo pericial apresentado, apurando-se 24 parcelas a vencer a partir de
novembro/2023, no valor de R$184,82 e não R$570,00;

iii) Reconhecer o flagrante DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL pela cobrança de


juros de 1,77% a.m, superior em 22% da taxa média de mercado divulgada pelo
BACEN de 1,45% a.m;

iv) A restituição dos valores indevidamente cobrados referente ao seguro e título


de capitalização, no importe de R$1.706,05 e R$375,28, respectivamente,
contratados mediante venda casada;

v) A restituição dos valores indevidamente cobrados referentes ao registro de


contrato e tarifa de avaliação de veículo, bem como sobre a tarifa de TAC, no
montante de R$350,84, R$250,00 e R$789,00, respectivamente.

vi) A condenação da parte ré à repetição do indébito do montante indevidamente


cobrado nas parcelas de seguro (R$3.421,10), título de capitalização (R$750,56),
tarifas de registro de contrato (R$701,68), avaliação de veículo (R$500,00), e tarifa
TAC (R$1.578,00), que resultam o valor de R$6.951,34 (seis mil, novecentos e
cinquenta e um reais e trinta e quatro centavos).

e) Que seja deferida a inversão do ônus da prova nos termos do art. 6º, VIII, do
CDC;
f) A condenação da ré aos honorários sucumbenciais no importe de 20% do valor
da causa, inclusive constantes das custas e despesas processuais.

Dá-se a causa o valor de R$16.205,32 (dezesseis mil, duzentos e cinco reais e


trinta e dois centavos)

Nesses termos, pede deferimento.


Vila Velha, 17 de novembro de 2023.

Manuela Braga Araújo Vasconcelos


OAB/ES nº 15.903

Larissa da Silva Cribari


OAB/ES 37.644

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