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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ...

VARA CÍVEL DA COMARCA DE , ESTADO DO


AUTOS Nº,
Opus-6 Ltda, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o n.º
00.000.000/0001-00, com sede na Rua Brasil, n.º 1000, Bairro Jaba, Cidade Zumbi,
Estado de São Paulo, CEP 00.000-000, representada neste ato por seu (sua) só cio (a)
gerente Sr.(a) Fulano de Tal, brasileiro (a), casado, profissional da á rea de
financeira, portador (a) do CIRG nº 00.000.000-0 e do CPF n.º000.000.000-00, por
intermédio de seu advogado (a) e bastante procurador (a) (procuraçã o em anexo -
doc. 01), com escritó rio profissional sito à Rua Bertioga, nº 330, Bairro Saúde,
Cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, onde recebe notificaçõ es e intimaçõ es,
vem mui respeitosamente à presença de Vossa Excelência apresentar
CONTESTAÇÃO
à açã o de reintegraçã o de posse interposta em face de Opus-1000 Ltda, pessoa
jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o n.º 00.000.000/0001-00, com sede
na Rua Brasil, n.º 1001, Bairro Jaba, Cidade Zumbi, Estado de São Paulo, CEP
00.000-000, representada neste ato por seu (sua) só cio (a) gerente Sr.(a) Cicrano de
Tales, brasileiro (a), casado, profissional da á rea de administração de empresas,
portador (a) do CIRG nº 00.000.000-0 e do CPF n.º 000.000.000-00, pelos motivos
de fato e de direito a seguir aduzidos.
1. DOS FATOS
Em ..../..../...., o Autor celebrou Contrato de Arrendamento Mercantil com o Réu, sob o
nº ...., conforme exposto na inicial.
O índice de juros, através de uma manobra especificamente imaginada para tal
Contrato, nã o aparece claramente. Um simples exame mostra que a taxa de juros nã o
está especificada, bem como a forma de tal cobrança também inexiste. Ou seja:
aproveitou-se o Autor em cobrar juros nã o especificados de forma capitalizada - o que
é vedado per lei - e nã o aceito pelos Tribunais Superiores em nosso país.
Ocorre que a forma pela qual vêm sendo aplicados os juros está em desacordo com
termos legais, sendo que o Autor, conforme será demonstrado a seguir, já pagou em
montante superior os valores contratados, face a forma de cobrança dos juros de
forma ilegal.
2. DO DIREITO
É o que se passa a expor
2.1. AS FALHAS DO CONTRATO
O Contrato tem vá rias falhas legais, que, a título de summario cognitio, mostrarã o à
Vossa Excelência que, além de justa e de direito, a pretensã o do Réu tem amparo na
lei.
2.2. DOS JUROS
Os juros, nas palavras de Arnaldo Rizzardo, em "Contrato de Crédito Bancá rio", 2a
Ediçã o, Editora Revista dos Tribunais, 1994, pá g. 272:
"Constituem juros o proveito tirado do capital emprestado, ou a renda do dinheiro,
como o aluguel é o preço correspondente ao uso da coisa locada no contrato de
locaçã o."
No mesmo sentido Nelson Casrotto Filho e Bruno Hartmut Kopittke (in “Aná lise de
Investimentos”)
"Quando sã o cobrados juros simples ou legais, apenas o principal rende juros, isto é,
os juros sã o diretamente proporcionais ao capital emprestado."
E ainda:
"Quando o dinheiro é investido a juro composto, os juros vencidos sã o reinvestidos
para obter mais juros nos períodos seguintes. Em contrapartida, a oportunidade de
ganhar juros sobre juros nã o existe num investimento que proporcione juros simples."
(in "Princípios de Finanças Empresariais", de Richard A. Brealey e Stewart C. Myers,
Editora Mcgraw-Hill de Portugal Ltda, 1992, pá g. 37).
A capitalizaçã o de juros ou juros compostos, na opiniã o de Arnaldo Rizzardo, ob. cit.
pá g. 272:
"... é a soma de seu montante ao capital, para efeito de produzir juros, isto é,
corresponde à operaçã o que envolve o cá lculo de juros sobre juros, adicionados ao
capital."
James C. Van Horne, explica
"O pró prio termo quer dizer simplesmente que os juros pa¬gos sobre um
investimento ou empréstimo sã o somados ao principal. Com isso ganham-se juros
sobre juros." (in "Fundamentos da Administraçã o Financeira” Editora Prentice Hall do
Brasil, 1984, pá g. 35
E ainda, segundo Arnaldo Rizzardo, ob. cit., pá g. 273:
"A cada período de juros (normalmente indicados ao mês), existe um efetivo
recebimento do produto do juro, ou entã o, tal produto é agregado ao saldo anterior.
Da mesma forma, nas captaçõ es diversas das cadernetas de poupança. Nos
empréstimos, o rendimento mensal também é acrescido ao saldo anterior. No mês
seguinte, o cá lculo envolverá o capital e o acréscimo. A cada novo período de um mês,
o produto do juro adere ao capital anterior, e passa a render novo juro, como
efetivamente acontece nas remuneraçõ es financeiras."
2.3. JUROS APLICADOS PELO RÉ U
Conforme aduzido anteriormente, o Contrato estipula os juros, porém nã o os
denomina como sendo juros simples ou capitalizados. A diferença de aplicaçã o dos
juros simples ou capitalizados favorece o Autor, uma vez que a capitalizaçã o dos juros,
especialmente em Contratos a longo prazo, tem o escopo de multiplicar o valor
original do Contrato.
Saliente-se que a forma de cá lculo, provoca desequilíbrio contratual e favorece apenas
uma das partes, acarretando sobrecarga excessiva sobre a outra parte. Impera,
portanto, o recalculo dos valores já pagos e daqueles que ainda nã o foram pagos, a fim
de que se restabeleça o equilíbrio contratual.
A capitalizaçã o de juros é proibida de acordo com o art. 4º do Decreto nº 22.626/33:
"E proibido contar juros dos juros; esta proibiçã o nã o com¬preende a acumulaçã o de
juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano."
A respeito, há a Sú mula nº 121 do STF:
" É vedada a capitalizaçã o de juro, ainda que expressamente convencionada. "
Em conjunto com a Sú mula nº 121 do STF e o art. 4º do Decreto nº 22.626, de
07.04.33, temos ainda:
"Art. 11 - O contrato celebrado com infraçã o desta lei é nulo de pleno direito, ficando
assegurado ao devedor à repetiçã o do que houver pago a mais."
"Art. 13 - É considerado delito de usura toda a simulaçã o ou prá tica tendente a ocultar
a verdadeira taxa de juro ou a fraudar os dispositivos desta lei, para o fim de sujeitar o
devedor a maiores prestaçõ es ou encargos além dos estabelecidos no respectivo título
ou instrumento.
Penas: Prisã o por seis meses a um ano e multas de cinco contos a cinquenta contos de
réis ..."
-ambos do (Dec. 22.626/33).
Apesar destes preceitos legais as instituiçõ es financeiras, em geral, aplicam a
capitalizaçã o de juros, o que é inadmissível e, portanto, nã o pode ser mantida.
Assim sendo, as clá usulas que fixam os juros devem ser declaradas nulas, posto que
contrariam o ordenamento jurídico.
O Có digo de Defesa do Consumidor, no art. 51, veio a confirmar esta nulidade:
"Art. 51 - Sã o nulas de pleno direito, entre outras, as clá usulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
IV - estabeleçam obrigaçõ es consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a
equidade;
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variaçã o do preço de maneira
unilateral;
§ 1º - Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:
I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;
II - restringe direitos ou obrigaçõ es fundamentais inerentes à natureza do contrato, de
tal modo a ameaçar seu objeto ou o equilíbrio contratual;
III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a
natureza e conteú do do contrato, o interesse das partes e outras circunstâ ncias
peculiares ao caso."
A capitalizaçã o dos juros é vedada por lei e a sua estipulaçã o seria nula mesmo que
estivesse expressa em clá usula do contrato (Lei nº n" 8.078/90, art. 51, IV e X).
Assim, os autos devem ser remetidos ao Contador Judicial, para que seja apurado a
taxa correta mensal a ser aplicada no Contrato em questã o, bem como os valores já
pagos e daqueles a pagar.
"Art. 47 - As clá usulas contratuais serã o interpretadas de maneira mais favorá vel ao
consumidor."
A forma como vem sendo cobrado os juros nã o se coaduna com permissivos legais.
E adiantando a impugnaçã o de matéria de defesa que possivelmente será apresentada,
servindo a mesma para elucidar a questã o e definir, de modo acautelató rio que o
contrato está sendo cobrado de forma errô nea, o Autor poderá aduzir ainda que a Lei
nº 4.595/64 revogou a Lei da Usura nesta parte sobre capitalizaçõ es de juros. Nada
dispõ e a Lei nº 4.595/64 que se oponha à proibiçã o do art. 4º do Decreto nº
22.626/33, que continua vigente. Por outro lado, a Sú mula nº 596, que poderá ser
trazida como matéria de defesa pelo Autor, diz respeito à s taxas de juros e mais
encargos inerentes a operaçõ es de crédito bancá rio, nã o tendo relaçã o com o
anatocismo.
Enquanto o Enunciado nº 596 do STF refere-se ao art. 1º do Decreto nº 22.626/33, o
verbete 121 se apoia no art. 4º do mesmo diploma, guardando sintonia com a regra
que veda o anatocismo, ou seja, a capitalizaçã o dos juros.
A Sú mula nº 596 do STF expressa:
"As disposiçõ es do Decreto nº 22.626/33 nã o se aplicam à s taxas de juros e aos
outros encargos cobrados nas operaçõ es realizadas por instituiçõ es pú blicas ou
privadas que integram o Sistema Financeiro Nacional.”
Esta Sú mula espelha o fato de que as instituiçõ es financeiras nã o mais se amoldam à
limitaçã o de juros, podendo ser superiores a 12% ao ano. Porém, nã o se refere ao
anatocismo (juros sobre juros ou juros capitalizados), apenas dispõ e sobre o limite de
juros e nã o sobre a aplicaçã o de juros sobre juros. O art. 4º da Lei de Usura, que nã o
permite a aplicaçã o do anatocismo, nã o foi revogado pela Lei nº 4.595/64. Esta Lei
revogou sim, o limite de juros e o art. 1º do Decreto nº 22.626/33, mas nã o o artigo
4º deste. E é neste sentido a jurisprudência do STF e do STJ ao tratarem da matéria.
"O art. 1º do Dec. 22.626/33 está revogado nã o pelo desuso ou pela inflaçã o, mas
pela Lei 4.595/64, pelo menos ao permitir à s operaçõ es com as instituiçõ es de crédito
ou privadas, que funcionam sob o estrito controle do Conselho Monetá rio
Nacional."(RTJ 72/916)
Por isso é que a maioria dos julgados dos Tribunais Superiores determinam a taxa de
12% ao ano como nã o legalizada, dispondo inclusive, que a norma prevista na CF/88,
nã o é auto aplicá vel.
Porém, o que se discute aqui nã o é nem mesmo a taxa de juro, aplicada no contrato em
questã o. O que se quer fazer valer aqui, é que os juros, da forma como estã o sendo
cobrados - capitalizados - estã o em contradiçã o aos termos legais supra expostos.
Algumas decisõ es jurisprudenciais a respeito deste assunto têm assim decidido,
prescrevendo que a capitalizaçã o de juros ainda está proibida no nosso país, porém,
aceitando a fixaçã o de juros dos juros acima dos 12% ao ano.
"Juros. Capitalizaçã o. A disposiçã o do Decreto 22.626/33, que veda a capitalizaçã o de
juros, aplica-se à s instituiçõ es bancá rias, nã o afastada sua incidência pela Lei
4.595/64."(STJ, 3ª. Turma, Resp. 2.393 - SP - 90.0002174-0, Recorrente: Banespa S/A,
Recorrida: Luiz Fernandes Rosa Piva - ME, Rel. Min. (Gueirros Leite, Rel. Desig. Min.
Eduardo Ribeiro, julg. 12.06.90, DJU 27.08.90, Seçã o I, pá g. 8321).
"Direito Privado. Juros. Anatocismo. Vedaçã o incidente também sobre instituiçõ es
financeiras. Exegese do enunciado nº 121, em face do nº 596, ambos da sú mula do
STF. Precedentes da Excelsa Corte.
- A capitalizaçã o de juros (juros sobre juros) é vedada pelo nosso direito, mesmo
quando expressamente convencionada, nã o tendo sido revogada a regra do art. 4º do
Decreto 22.626/64. O anatocismo, repudiado pelo verbete nº 121 da sú mula do Su-
premo Tribunal Federal, nã o guarda relaçã o com o enunciado nº 596 da mesma
sú mula."(STJ, 4a Turma, Resp. 1285 - GO (89.0011431-0), Rei. Min. Salvio de
Figueiredo, Recorrente: Banco Itaú S/A, Recorrido: Eldorado Materiais de Construçã o
Ltda., julg. 14.11.89, Revista STJ 22/197 a 200).
"É vedada a capitalizaçã o de juros, ainda que expressamente convencionada (Sú mula
121). Dessa proibiçã o nã o estã o excluídas as instituiçõ es financeiras, dado que a
Sú mula 596 nã o guarda relaçã o com o anatocismo. A capitalizaçã o semestral de juros,
ao invés da anual, só é permitida nas operaçõ es regidas por leis especiais que nela
expressamente consentem. Recurso Extraordiná rio conhecido e provido."(REst.
90.341, STF, 1a Turma, RTJ 91/1341).
"DIREITO PRIVADO. JUROS. ANATOCISMO. A contagem de juros sobre juros é proibida
no direito brasileiro, salvo exceçã o dos saldos líquidos em conta corrente de ano a
ano. Inaplicabilidade da Lei da Reforma Bancá ria (nº 4595, de 31.12.64). Atualizaçã o
da Sú mula nº 121 do STF. Recurso provido."(STJ, 3a Turma, Resp. 2.293 - Alagoas
(90.1793-9), Rei. Min. Clá udio Santos, julg. 17.04.90, pub. DJU 07.05.90, Seçã o I, pá g.
3830).
"Juros. Capitalizaçã o. A capitalizaçã o semestral de juros, ao invés da anual, só é
permitida nas operaçõ es regidas por leis ou normas especiais, que expressamente o
autorizem. Tal permissã o nã o resulta do art. 31 da Lei 4.595 de 1964. Decreto nº
22.626/ 33, art. 4º. Anatocismo: sua proibiçã o. 'lus cogens'. Sú mula 121. Dessa
proibiçã o nã o estã o excluídas as instituiçõ es financeiras. A Sú mula 596 nã o afasta a
aplicaçã o da Sú mula 121. Exemplos de leis específicas, quanto a capitalizaçã o
semestral, inaplicá veis à espécie. Precedentes do STF. Recurso Extraordiná rio
conhecido, por negativo de vigência do art. 4º, do Decreto nº 22.626/33, e
contrariedade do acó rdã o com a Sú mula 121, dando-lhe provimento."(STF, 1a Turma,
RExtr. 100.336, PE, Rei. Min. Néri da Silveira, julg. 10.12.1984, RTJ 124/616 a 620).
"Execuçã o por título judicial. Mú tuo hipotecá rio pelo sistema BNH. A decisã o recorrida
contrapõ e-se à Sú mula 121, segundo a qual é vedada a capitalizaçã o de juros, ainda
que expressamente convencionada. Proibiçã o que alcança as instituiçõ es financeiras.
No caso, nã o há incidência de lei especial. Provimento do recurso para excluir-se da
condenaçã o os juros capitalizados mês a mês." (STF, 2a Turma, RExt. 96.875 - RJ, Rei.
Min. Djaci Falcã o, julg. 16.09.93, RTJ 108/277 a 283).
Em síntese: nã o se quer discutir a existência ou nã o da dívida, que existe e é exigível.
Busca-se, discutir os valores que foram pagos a mais pelo Réu, e que se o Contrato
fosse calculado de forma correta, as prestaçõ es apontadas como em atraso, e que
deram margem à propositura da presente açã o, certamente já estariam liquidadas. As
prestaçõ es pagas pelo Réu, eram superiores ao valor devido.
3. DOS PEDIDOS
Diante do todo exposto, requer a Vossa Excelência;
a intimaçã o do Autor, para que informe a taxa de juros mensais, os valores e datas dos
pagamentos;
sejam remetidos os autos ao Sr. Contador Oficial, para que este calcule da forma legal
(juros simples) os valores do contrato em questã o, a fim de comprovar que se os juros
estivessem sendo cobrados na forma legal, estaria o Réu adimplente para com o Autor,
nã o cabendo a presente Reintegraçã o de Posse;
ao final seja julgada improcedente a açã o ora impugna da, devendo ser restituído o
bem em favor do Requerido, bem como autorizado a compensaçã o dos valores
apurados em montante superior, com os pagamentos a serem efetuados;
Protesta-se pela produçã o de todos os meios de provas em direito admitidas, em
especial prova pericial.
Nesses Termos, Pede Deferimento.
[Local], [dia] de [mês] de [ano].
[Assinatura do Advogado]
[Nú mero de Inscriçã o na OAB]

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