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ROTEIRO – AULA

TEORIA DO INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES – JUROS - parte 3

1.JUROS

1.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o


forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei,
serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do
pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

Era estabelecido o percentual do art. 161, §1º do CTN, isto é, 1% ao mês


ou 12% ao ano. O STJ firmou entendimento que a taxa SELIC não poderia ser
utilizada devido à sua insegurança, ela não permitiria o prévio
conhecimento.

Contudo, mudou o entendimento no inf. 510, afirmando que a taxa a que se


refere o art. 406 do CC é a SELIC.

STJ Inf. 510 - A taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406
do Código Civil de 2002, é a SELIC. A incidência da taxa Selic como
juros moratórios exclui a correção monetária, sob pena de bis in idem,
considerando que a referida taxa já é composta de juros e correção
monetária.

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Art. 407. Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos
juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às
prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor
pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as
partes.

Juro trata-se de um FRUTO CIVIL que corresponde à remuneração devida ao


credor em virtude da utilização do seu capital. Os juros podem ser:

1) Quanto à origem: convencionais ou legais;

2) Quanto à relação com o inadimplemento: moratórios ou compensatórios /


remuneratórios.

1.2. QUANTO À ORIGEM: JUROS CONVENCIONAIS OU LEGAIS

São casos de juros legais: juros moratórios, juros processuais (art. 240
NCPC – são moratórios que decorrem da mora), juros das indenizações por
atos ilícitos (que o art. 398 reputa moratórios). Os convencionais decorrem
de manifestação das partes.

CPC Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo
incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e
constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398
da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).

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CC Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se
o devedor em mora, desde que o praticou.

Em suma:

1.3. QUANTO À RELAÇÃO COM O INADIMPLEMENTO: JUROS MORATÓRIOS OU


COMPENSATÓRIOS/REMUNERATÓRIOS.

Juros moratórios – são uma penalização pela mora no cumprimento da


obrigação, um ressarcimento imputado pelo descumprimento parcial da
obrigação. Incidem independentemente de alegação de prejuízo.

Como regra, são devidos desde a constituição em mora (mora ex re e ex


persona) e independem de alegação e prova do prejuízo. No caso de dívida
líquida e vencida a mora é ex re (dies interpellat homine).

Juros compensatórios/remuneratórios – são os que têm a exata noção de frutos


(compensam ou remuneram determinada pela utilização do seu capital por
outrem). São também aqueles incidentes sobre a verba indenizatória, nos
casos de inadimplemento total da obrigação, sob a justificativa de que o
credor a ser indenizado ficou privado da utilização do capital.

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Como se vê, os juros compensatórios ou remuneratórios podem ser tanto os
contratuais (normalmente nominados de encargos básicos nos contratos de
adesão) quanto indenitários.

ATENÇÃO!

Informativo 537 do STJ:

1.4. JUROS CAPITALIZADOS (ANATOCISMO)

A capitalização de juros, também chamada de anatocismo, ocorre quando os


juros são calculados sobre os próprios juros devidos. Outras denominações
para “capitalização de juros”: “juros sobre juros”, “juros compostos” ou

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“juros frugíferos”. Normalmente, os juros capitalizados estão presentes nos
contratos de financiamento bancário.

Carlos Roberto Gonçalves explica melhor:

“O anatocismo consiste na prática de somar os juros ao capital para


contagem de novos juros. Há, no caso, capitalização composta, que é
aquela em que a taxa de juros incide sobre o capital inicial, acrescido
dos juros acumulados até o período anterior. Em resumo, pois, o chamado
‘anatocismo’ é a incorporação dos juros ao valor principal da dívida,
sobre a qual incidem novos encargos. ” (Direito Civil Brasileiro. 8ª
ed., São Paulo: Saraiva, 2011, p. 409).

Veja outra definição um pouco mais difícil, porém necessária à plena


compreensão da matéria: Juros capitalizados são os “juros devidos e já
vencidos que, periodicamente (v.g., mensal, semestral ou anualmente), se
incorporam ao valor principal (LIMA, Roberto Arruda de Souza; NISHIYAMA,
Adolfo Mamoru. Contratos Bancários - Aspectos Jurídicos e Técnicos da
Matemática Financeira para Advogados. São Paulo Atlas, 2007, p. 36).

Desse modo, a capitalização (incidência dos juros vencidos sobre o


principal) pode ter periodicidades diversas. Existe a capitalização mensal,
semestral, anual etc. Isso deve ser previsto no contrato.

1.4.1. Capitalização anual de juros

A capitalização de juros foi vedada no ordenamento jurídico brasileiro pelo


Decreto 22.626/33 (Lei de Usura), cujo art. 4º estabeleceu:

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Art. 4º É proibido contar juros dos juros: esta proibição não
compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta
corrente de ano a ano.

O STJ entende que a ressalva prevista na segunda parte do art. 4º (a parte


em cinza) significa que a Lei de Usura permite a capitalização anual. Em
outras palavras, a Lei de Usura proibiu, em regra, a capitalização de juros.

Exceção: é permitida a capitalização de juros em periodicidade anual.

O CC-1916 (art. 1.262) e o CC-2002 também permitem a capitalização anual:

Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos


juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que
se refere o art. 406, permitida a capitalização anual.

Desse modo, a capitalização anual sempre foi PERMITIDA (para todos os


contratos).

1.4.2. Capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano

A capitalização de juros por ano é permitida, seja para contratos bancários


ou não-bancários. O que é proibida, como regra, é a capitalização de juros
com periodicidade inferior a um ano.

Ex: capitalização mensal de juros (ou seja, a cada mês incidem juros sobre
os juros).
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A capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano (ex:
capitalização mensal de juros) é proibida também para os bancos?

NÃO. A MP n.º 1.963-17, editada em 31 de março de 2000, permitiu às


instituições financeiras a capitalização de juros com periodicidade
inferior a um ano. Em suma, é permitida a capitalização de juros com
periodicidade inferior a um ano em contratos BANCÁRIOS celebrados após 31
de março de 2000, data da publicação da MP 1.963-17/2000 (atual MP 2.170-
36/2001), desde que expressamente pactuada.

Veja a redação da MP 2.170-36/2001:

Art. 5º Nas operações realizadas pelas instituições integrantes do


Sistema Financeiro Nacional, é admissível a capitalização de juros com
periodicidade inferior a um ano.

O STJ confirma essa possibilidade na Súmula 539:

Súmula 539 do STJ - É permitida a capitalização de juros com


periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com
instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de
31/3/2000 (MP 1.963-17/00, reeditada como MP 2.170-36/01), desde que
expressamente pactuada.

Desse modo, os bancos podem fazer a capitalização de juros com periodicidade


inferior a um ano, desde que expressamente pactuada.

1.4.3. Desde que expressamente pactuada

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O que significa essa terminologia “desde que expressamente pactuada”? De
que modo o contrato bancário deverá informar ao contratante que está
adotando juros capitalizados com periodicidade inferior a um ano?

O STJ adota a segunda corrente, inclusive editou a Súmula 541 sobre o


assunto:

Súmula 541-STJ: A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual


superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança
da taxa efetiva anual contratada.

1.4.4. Impugnações à MP 2.170-36/2001

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Existem, no Poder Judiciário, milhares de ações judiciais questionando a
legalidade e a constitucionalidade da MP 2.170-36/2001. As três impugnações
principais contra a referida MP são as seguintes:

1) Ilegalidade da capitalização inferior a um ano

Sustentava-se que o art. 5º da MP 2.170-36/2001, que permite a capitalização


inferior a um ano, teria sido revogado pelo art. 591 do Código Civil, que
permite somente a capitalização anual.

Alguns alegavam também que haveria violação ao CDC.

Essa tese foi acolhida pela jurisprudência? A MP 2.170-36/2001 é ilegal? A


capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano (ex:
capitalização mensal de juros) é proibida também para os bancos?

NÃO. É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um


ano em contratos BANCÁRIOS celebrados após 31 de março de 2000, data da
publicação da MP 1.963-17/2000 (atual MP 2.170-36/2001), desde que
expressamente pactuada (STJ. 2ª Seção. REsp 973.827/RS, Rel. p/ Acórdão
Min.Maria Isabel Gallotti, julgado em 08/08/2012).

O art. 591 do Código Civil não alterou a regra do art. 5º da MP porque esta
é norma específica e o CC é lei geral, aplicando-se o princípio da
especialidade, segundo o qual lei geral não revoga lei especial, ainda que
seja posterior.

A MP também não viola qualquer disposição do CDC.

Portanto, sob o ponto de vista da legalidade, o art. 5º da MP 2.170-36/2001


é plenamente válido.

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2) Inconstitucionalidade formal da MP por violação ao art. 62 da CF/88
(relevância e urgência)

Outra impugnação que era feita contra a MP 2.170-36/2001 era a de que o


tema “capitalização de juros” não possuía relevância e urgência, de forma
que não poderia ter sido tratado por meio de medida provisória (art. 62 da
CF/88).

Essa tese foi acolhida pela jurisprudência? A MP 2.170-36/2001 é


inconstitucional por ter sido editada sem relevância e urgência?

NÃO. O STF decidiu que o art. 5º da MP 2.170-36/2001 é formalmente


constitucional, não tendo violado o art. 62 da CF/88.

A definição do que seja relevante e urgente para fins de edição de medidas


provisórias consiste, em regra, em um juízo político (escolha
política/discricionária) de competência do Presidente da República,
controlado pelo Congresso Nacional.

Desse modo, salvo em caso de notório abuso, o Poder Judiciário não deve se
imiscuir na análise dos requisitos da MP.

No caso concreto, do ponto de vista da relevância, esta estaria presente,


considerando que a MP trata sobre a regulação das operações do Sistema
Financeiro, tema de suma importância para a economia do país. No que se
refere à urgência, a norma foi editada há 15 anos, em um período cuja
realidade financeira era diferente da atual, sendo difícil afirmar com
segurança que não havia o requisito da urgência naquela oportunidade. O
cenário econômico, caracterizado pela integração da economia nacional ao
mercado financeiro mundial, exigia medidas céleres, destinadas à adequação
do Sistema Financeiro Nacional aos padrões globais. Além disso, se a Corte
declarasse a inconstitucionalidade da norma, isso significaria atuar sobre
um passado em que milhares de operações financeiras poderiam, em tese, ser
atingidas. STF. Plenário. RE 592377/RS, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, red.

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p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em 4/2/2015 (repercussão geral)
(Info 773).

3) Inconstitucionalidade material da MP

Existe uma ADI no STF que, além dos requisitos da MP, alega também a
inconstitucionalidade material da capitalização de juros em periodicidade
inferior a um ano. Trata-se da ADI 2316, cujo julgamento ainda não foi
concluído. Dificilmente, contudo, esta MP será declarada inconstitucional.

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