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Saneamento

e Águas Residuais
Agenda da apresentação

1. Crescimento e Ambiente

2. A Lei Angolana e o licenciamento de descargas

3. Estatísticas e objectivos para o abastecimento de água e saneamento

4. Algumas definições

5. O tratamento das águas residuais

6. As operações unitárias

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Agenda da apresentação

7. O saneamento em Angola

8. Poluição industrial

9. Tecnologias mais limpas versus tecnologias fim de linha

10. Breve análise ao conteúdo das licenças de descarga e sua fiscalização

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1. Crescimento e
Ambiente
Poluição
▶ É a introdução directa ou indirecta, por acção do homem, de substâncias ou
de calor na água, no ar ou no solo, susceptíveis de prejudicar a saúde
humana ou a qualidade do ambiente e de causar a deterioração dos bens
materiais ou a deterioração ou entraves na fruição do ambiente e na
legítima utilização da água, do ar e do solo

▶ A poluição acentuou-se após a 2.ª Guerra Mundial, com o grande


crescimento económico e da população, com a urbanização progressiva da
população e com a agricultura e pecuária intensivas

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1. Crescimento e
Ambiente
▶ Sendo inevitável o crescimento, tem que haver um compromisso com
o ambiente em nome da sobrevivência da vida humana no planeta

▶ A maior parte das águas residuais e das emissões atmosféricas não


sofrem qualquer tratamento em Angola e na maior parte dos países

▶Apesar de hoje existirem muito poucas estações de tratamento de


águas residuais (há quatro), Angola terá que seguir o caminho que
outros países trilharam, apesar dos custos que isso representa

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1. Crescimento e
Ambiente
▶ O desenvolvimento sustentável (Relatório Bruntland ONU 1987).

O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual,


sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas
próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro,
atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de
realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos
recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais

Como se concretiza o Desenvolvimento Sustentável?

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2. A Lei Angolana e o licenciamento de
descargas
▶ A Lei Angolana da Qualidade da Água (Decreto-Lei n.º 261/11, de 6 de
Outubro), tal como estabeleceu para as águas superficiais as categorias A1,
A2 e A3 e para as subterrâneas a categoria A1, para poderem servir para a
produção de água para consumo humano (ACH), também estabeleceu, no
Anexo VI, valores - limite de emissão (VLE) para as águas residuais

▶ Da mesma forma que é necessário uma autorização para a captação de água


para a produção de ACH, também qualquer descarga tem que ser objecto de
uma licença, na qual constam as condições em que a descarga se pode
realizar

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2. A Lei Angolana e o licenciamento de
descargas
▶ Da licença deve constar um conjunto de condições, nomeadamente:
▶ caudal diário máximo que pode ser rejeitado

▶ VLE para um conjunto de parâmetros característicos das águas


residuais urbanas (ou do sector industrial em causa)

▶ frequência do autocontrolo

▶ frequência do envio dos resultados analíticos ao licenciador

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2. A Lei Angolana e o licenciamento de
descargas
▶ A emissão da licença, tal como a autorização da captação para produção de
ACH, está subordinada à apresentação e aprovação de um projecto da
estação de tratamento de águas residuais (ETAR), o que pressupõe uma boa
caracterização do efluente a tratar, uma correcta concepção da ETAR e um
adequado dimensionamento dos diferentes órgãos

▶ A licença pressupõe a existência de uma rede de drenagem que concentre


as águas residuais geradas por um aglomerado populacional ou por uma
unidade industrial

▶ A diferença de situações entre uma unidade industrial e um aglomerado


populacional. A abordagem às novas unidades industriais e aos hotéis novos
ou reabilitados

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3. Estatísticas e objectivos para o abastecimento
de água e o saneamento em Angola
▶ Os gráficos aqui apresentados são relativas a 2012 e os objectivos são os
definidos em documentos oficiais para 2017

▶ As fontes foram o Instituto Nacional de Estatística de Angola, o Plano


Nacional Estratégico para a Água de 2013-2017 e o Programa Nacional de
Desenvolvimento do Governo Angolano para o período de 2012-2017

▶ Documentos mais recentes: “Plano de Desenvolvimento Nacional para 2018-


2022” e “Plano de acção do sector de energia e águas para 2018-2022”
apontam para uma cobertura da população abastecida por água de qualidade
em 2022 de 85% em meio urbano e de 80% em meio rural

▶ Quanto a ETAR, só existem em Luanda, Benguela, Lobito e Moçâmedes,


prevendo-se que o número passe para sete em 2022

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3. Estatísticas e objectivos para o abastecimento
de água e o saneamento em Angola

▶ Em 2012 a população urbana em Taxa de cobertura de


Angola é de 60% do total abastecimento de água
100 90
▶ Taxa de cobertura de 90 80
87

abastecimento de água em Angola 80


70
- 2012 vs 2017 (v. Gráfico)

PERCENTAGEM
58 55
60
50
50
40
30
20
10
0
Meio urbano Meio rural Média
nacional Taxa de cobertura em 2012 Objectivo
para 2017

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3. Estatísticas e objectivos para o abastecimento
de água e o saneamento em Angola

Padrão A

• População com ligações interiores de água, bem como à rede de


saneamento – consumo de 70 l/hab.dia, em 2012
• Objectivo para 2017 – consumo de 100 l/hab.dia

Padrão B

• População com ligações através de torneira à porta do prédio ou


do prédio vizinho e com soluções individuais do tipo fossa séptica
- consumo de 40 l/hab.dia
• Objectivo para 2017 – consumo de 70 l/hab.dia

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3. Estatísticas e objectivos para o abastecimento
de água e o saneamento em Angola

Padrão C

• População que vive em musseques recorrendo a chafarizes e sem


ligação à rede de saneamento, mas com soluções individuais de
saneamento do tipo latrinas – consumo de 25 l/hab.dia, em 2012
• Objectivo para 2017 – consumo de 30 l/hab.dia

Padrão D

• População recorrendo a outros pontos de água como nascentes,


riachos, charcos, camião- cisterna ou água da chuva e recurso a
latrinas ou à defecação ao ar livre (DAL)- consumo de 15 l/hab.dia
• Objectivo para 2017 – consumo de 30 l/hab.dia
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3. Estatísticas e objectivos para o abastecimento
deágua
de águaeeoosaneamento
saneamento emem Angola
Angola

Taxa de cobertura de abastecimento de água da


população urbana em Angola (2012 vs 2017)
2012 2012Objectivo Objectivo
2017 2017

46 46
42 42
Percentageem

26,9
23
23 21
entageem 21
26,9
cer 14,7 13,4
10
10

PADRÃO AP ADRÃO A PADRÃO


P AD RÃO B B PADRÃO
PADRÃO C C P ADRÃO
PADRÃO D D

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3. Estatísticas e objectivos para o abastecimento
de água e o saneamento em Angola

▶ Estima-se que em Angola, em 2012 cerca de 40% da população recorria à


DAL. Este valor tem vindo a diminuir, mas não se encontraram valores
actualizados nem há previsões para 2022. Apenas se estima que o número
de aldeias que não recorrem à DAL passe de 315 em 2017 para 425 em 2022

▶ No mesmo período (2018-2022) estima-se que o número de aldeias com kits


de tratamento passe de 25 para 400

▶ Sem definir números, o Plano de Desenvolvimento para 2018- 2022 define


um conjunto de objectivos prioritários e outros menos prioritários

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3. Estatísticas e objectivos para o abastecimento
de água e o saneamento em Angola

▶ Para concretizar o objectivo estratégico do Programa de Governo para o


período 2012-2017, as medidas previstas eram:

▶ Prosseguir a construção de pequenos sistemas e pontos de abastecimento


de água e saneamento comunitário nas áreas suburbanas e rurais. O
presente Plano de 2018-2022 prossegue esta orientação

▶ Implementar um Programa Nacional de Monitorização da qualidade da


água para consumo humano, com níveis de atendimento de 70%, em
zonas urbanas e 40% em zonas rurais. Para 2022 pretende-se que os 18
laboratórios provinciais que existirão nessa altura, cubram 60% das
necessidades de monitorização analítica do país

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3. Estatísticas e objectivos para o abastecimento
de água e o saneamento em Angola

▶ Assegurar uma eficiente gestão e exploração dos sistemas, através da


criação de entidades vocacionadas para o efeito

▶ Em Luanda, Huambo, Benguela, Lobito, Malange, Cunene, Kwanza Norte,


Bié e Uíge, em 2017 já eram empresas públicas de água e saneamento
que geriam e exploravam os sistemas existentes. Actualmente já são 17
as províncias com empresas pública e em 2022 serão 19

▶ No período 2018-2022 serão realizados estudos conducentes à


construção de ETAR em todas as capitais provinciais

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3. Estatísticas e objectivos para o
abastecimento de água e o saneamento em
Angola
▶ O quadro que se apresenta contém os indicadores com objectivos ao longo
do período 2012-2017

Fonte: Angola - Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017

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3. Estatísticas e objectivos para o abastecimento
de água e o saneamento em Angola

▶ No período de 2012-2017, o investimento previsto para o abastecimento de


água e saneamento foi de 5.542 milhões USD. Já em 2018-2022 a estimativa
de investimento com os novos projectos e com os projectos em curso será
de 6.082 milhões ou de 9.672 milhões, se se considerar o investimento
privado

▶ Do que fica dito, destaca-se a importância que o Governo Angolano concede


a este sector, pelo que a abordagem que a seguir fazemos tem presente a
situação em Angola, mas também os investimentos previstos

▶ Os investimentos previstos terão tradução prática em muitas novas infra-


estruturas, umas mais importantes outras menos, fundamentalmente em
termos de abastecimento de água, que o governo considera mais prioritário

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4. Algumas
definições
Autodepuração

▶ Quando num meio receptor é descarregada matéria orgânica, a água tem um


mecanismo natural de purificação, chamado autodepuração, que é realizada
por meio de processos físicos (diluição e sedimentação), químicos (oxidação)
e biológicos, os quais permitem a completa regeneração do meio receptor
▶ Cada curso de água tem a sua capacidade de autodepuração que, se for
excedida de forma contínua, não permite a sua regeneração

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4. Algumas
definições
CBO - Carência Bioquímica de Oxigénio
▶ A carência bioquímica de oxigénio define-se como a quantidade de oxigénio
dissolvido, expresso em mg/l, que é consumido durante a estabilização da
matéria orgânica por acção de microrganismos, essencialmente bactérias,
degradando-a e eliminando-a, de que resulta a produção de anidrido
carbónico e de água

▶ Normalmente calcula-se o CBO ao fim de cinco dias, embora teoricamente


seja necessário um tempo infinito para se dar a oxidação completa de
matéria orgânica. Contudo, ao fim de cinco dias o CBO já representa cerca
de 80% do total.

▶ O VLE do CBO é de 40 mg/l de O2

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4. Algumas
definições
CQO - Carência Química de Oxigénio
▶ A carência química de oxigénio indica a quantidade de oxigénio consumido
na oxidação das substâncias oxidáveis, orgânicas e minerais, existentes na
água.

▶ Da oxidação química da matéria orgânica resulta igualmente anidrido


carbónico e água; no entanto, o CQO é sempre superior ao CBO, porque
inclui igualmente o oxigénio consumido na oxidação de matérias
biologicamente inertes.

▶ O VLE é de 150 mg/l de O2

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4. Algumas
definições
Concentração/Caudal/Carga
▶ Já vimos as definições de concentração e de caudal no módulo sobre
abastecimento de água

▶ Quando se trata de ACH, o objectivo é assegurar que ela é potável na


torneira do consumidor, independentemente de se tratar de 50, 500 ou
100.000 m3/dia

▶ No caso da rejeição de uma água residual, se se refere a concentração


apenas, só se sabe se ela é mais ou menos concentrada; assim como se só se
referir o caudal, fica-se apenas a saber o seu valor, não se conseguindo
avaliar, com a informação parcelar, qual o impacto da descarga no meio
receptor, que é o que realmente interessa

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4. Algumas
definições
Concentração/Caudal/Carga
▶ De fato, posso ter uma água residual muito concentrada mas com um caudal
diminuto, como outra com um enorme caudal e uma pequeníssima
concentração, podendo em ambos os casos o impacto ser mínimo

▶ Interessa assim conhecer e associar ambas as variáveis, caudal e


concentração, e conhecer a carga poluente, ou seja: C = c x Q

▶ Contudo, para saber o impacto real, além da carga é necessário conhecer


igualmente o caudal do meio receptor, assim como os objectivos de
qualidade para ele estabelecidos

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4. Algumas
definições
Efluente biodegradável
▶ Trata-se de um efluente, cujos constituintes poluentes são estabilizados
pela acção de microrganismos, mas em que a relação entre o CBO e o CQO é
superior a 0,3

▶ Um efluente pode conter matéria orgânica ou considerar-se um efluente


orgânico, mas se a relação for inferior a 0,3 é de difícil ou muito difícil
biodegradabilidade e, portanto, não susceptível de ser tratado pelos
microrganismos comuns de uma ETAR. Teriam que ser tratados numa ETAR
por estirpes seleccionadas de bactérias específicas para esse efluente. É o
caso, por exemplo, do tratamento de efluentes ricos em hidrocarbonetos

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4. Algumas
definições
ETAR - Estação de Tratamento de Águas Residuais
▶ A estação de tratamento de águas residuais é uma infra-estrutura que trata
as águas residuais, de origem doméstica ou industrial, antes de serem
descarregadas com um nível de poluição aceitável, conforme legislação ou
de acordo com o estabelecido na licença de descarga

▶ Se o efluente industrial é descarregado na rede pública, o tratamento pode


ser menos exigente, devendo cumprir os VLE estabelecidos no Regulamento
de Descarga Municipal, em geral menos exigente

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4. Algumas
definições
Eutrofização
▶ É o fenómeno causado pelo excesso de nutrientes (azoto e fósforo) numa
massa de água, provocando um aumento excessivo de algas. A situação é
particularmente grave em lagoas, lagos, albufeiras e meios onde a renovação
de água é mais lenta. A eutrofização ocorre naturalmente em lagos e
albufeiras, mas pode ser acelerada pela acção do homem, podendo provocar
o crescimento descontrolado de algas

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4. Algumas
definições
Habitante-equivalente ▶ Assim, podemos dizer que uma
▶ É um conceito útil para avaliar a
vaca, que rejeita 360 g CBO/dia,
capacidade de uma ETAR, em termos equivale a 6 hab.-equiv., do mesmo
homogéneos e comparáveis modo que se pode concluir que
uma unidade industrial que rejeita
▶ A equivalência em geral refere-se ao CBO, diariamente 6.000 kg de CBO,
havendo uma Directiva Comunitária provoca uma poluição equivalente
(Directiva 91/271/CEE) que estabelece que
a um hab.- equiv. corresponde uma carga
à de uma cidade com 100.000
orgânica de 60 g CBO/dia hab.

6. ### $% &B( )*+it*nt/ 0i*


= 8##. ### 9𝑎𝑏<𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠
#, #6 𝑘 𝑔 𝐶 𝐵 𝑂

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4. Algumas
definições
Meio aeróbio
▶ Quando num meio receptor existe oxigénio dissolvido, diz-se que o meio é
aeróbio

Meio anaeróbio
▶ Anaeróbio significa sem oxigénio. No caso da descarga das águas residuais se
fazer num curso de água ou num lago, a degradação da matéria orgânica
induz o consumo de oxigénio dissolvido, podendo o meio tornar-se
anaeróbio

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4. Algumas
definições
Oxigénio dissolvido
▶ O oxigénio dissolvido na água está intimamente ligado às actividades
biológicas que ai têm lugar, porque os organismos animais e vegetais têm
necessidade de oxigénio para respirar. Quando se verifica a rejeição de
poluição orgânica, parte (ou a totalidade) do oxigénio dissolvido é
consumido pelos microrganismos que dele necessitam para a sua actividade
de decomposição da matéria orgânica

▶ O oxigénio dissolvido é afectado por diversos factores, nomeadamente a


temperatura. O aumento conduz à diminuição do teor em oxigénio, por
diminuição da sua solubilidade e por uma multiplicação de bactérias e seres
vivos que conduz a um maior consumo de oxigénio

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4. Algumas definições

Poluição difusa

 Contrariamente às fontes pontuais, não é possível confinar a poluição


difusa a uma origem, sendo de difícil avaliação devido às
características intermitentes das suas descargas e/ou à sua abrangência

 São exemplos a adubação ou a aplicação de pesticidas por meios aéreos


e o arrastamento desses poluentes

 Trata-se de uma forma de poluição difícil de combater, precisamente


por não estar concentrada num ponto. O seu combate é sobretudo
preventivo e deve assentar em boas práticas agrícolas, como por
exemplo, não aplicar adubos ou pesticidas num período (ou num dia) de
chuva ou em que há o risco de chover e boa parte ser arrastada
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4. Algumas
definições
Poluição doméstica
▶ Trata-se da poluição resultante das actividades domésticas em que é
utilizada água: sanitários, chuveiros, lavatórios, cozinha, lavagem de roupa,
de que resultam águas residuais com características diferentes, mas cujo
conjunto constitui a poluição doméstica

Poluição industrial
▶ É a poluição hídrica resultante da actividade industrial. Conforme o sector
industrial, assim a poluição resultante tem características mais ou menos
semelhantes com a doméstica

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4. Algumas
definições
Poluição inorgânica
▶ Também chamada poluição mineral. Trata-se de uma poluição, em que os poluentes
não possuem carbono, não sendo susceptíveis de ser tratados pela acção de
microrganismos. São exemplo as unidades de lavagem de inertes ou de tratamento
de metais

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4. Algumas
definições
Poluição orgânica
▶ Trata-se da poluição originada pela actividade fisiológica do homem ou de certos
sectores industriais (lacticínios, matadouros, curtumes, cerveja, suiniculturas,
têxteis, papel, etc.), em geral facilmente biodegradáveis

▶ Há uma enorme variedade de compostos que contribuem para a poluição orgânica –


hidratos de carbono, gorduras, proteínas, petróleo, fenóis, etc. sendo o ponto em
comum a existência de carbono na sua cadeia, podendo todos ser mineralizados
por acção de microrganismos

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4. Algumas
definições
Poluição pontual

▶ As fontes pontuais de poluição compreendem a descarga de efluentes


a partir de industrias ou de ETAR urbanas, entre outros, sendo estas
fontes de identificação fácil, podendo ser conhecidas, monitorizadas
e regulamentadas. É fácil caracterizá-las e definir o seu impacto
ambiental, assim como responsabilizar o agente poluidor, se
necessário
Poluição urbana

▶ É a poluição resultante da actividade doméstica e das actividades


desenvolvidas por unidades (fábricas, restaurantes, hotéis,
hospitais, áreas de serviço, oficinas, etc.) instaladas na malha
urbana e que descarregam as suas águas residuais na rede publica

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4. Algumas
definições
Redes de drenagem unitária e separativa
▶ As redes de drenagem são condutas, em regra instaladas na via pública, que
recolhem e transportam as águas residuais, desde as habitações até à ETAR
ou ao ponto de descarga no meio receptor. A rede pode ser:

▶ Unitária – se as águas residuais e pluviais são recolhidas em conjunto

▶ Separativa – se as águas residuais e pluviais são recolhidas em condutas


diferentes

▶ Se o objectivo não é tratar as águas residuais, a rede unitária é mais


económica. Contudo, se se pretende tratar as águas residuais urbanas, a
solução exige que a rede seja separativa

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Algumas definições

Saneamento apropriado

▶ Tem lugar com sanitários com descarga para sistemas de esgoto, fossas
sépticas ou latrinas de fossa, latrinas de poço melhoradas ventiladas e
latrinas de poço de laje (in Relatório sobre “Objectivos de Desenvolvimento
Sustentável” do INE)

▶ Em 2016, 32% dos agregados familiares tinham acesso a


instalações sanitárias adequadas (46% em áreas urbanas e 11% em
áreas rurais)

▶ Em 2016, 18% dos agregados familiares tinham acesso a instalações


sanitárias adequadas e a lugar para lavar as mãos (25,6% em áreas urbanas e
5,7% em áreas rurais)

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4. Algumas
definições
Taxa de crescimento
▶ A ETAR (como a rede de drenagem) é uma infra-estrutura que, como outras,
é projectada para um horizonte distante (não menos de 35-40 anos), não
sendo possível adequá-la anualmente à medida que a população cresce

▶ Por esta razão, é fundamental avaliar o mais correctamente possível qual a


população e os consumos previstos de água no ano do horizonte, porque:

▶ Se a população for sobreavaliada, os custos serão superiores ao


necessário

▶ Se a população for subavaliada, a ETAR não poderá tratar a carga


poluente gerada, o que poderá ter consequências ambientais negativas a
partir de certa altura

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4. Algumas
definições
Tratamento biológico
▶ O tratamento é biológico quando a matéria orgânica dissolvida é
mineralizada por acção de microrganismos. Já vimos que a relação CBO/CQO
deve ser superior a 0,3
▶ Por outro lado, para que o tratamento biológico seja eficaz deve haver uma
relação entre as concentrações de CBO, de azoto total e de fosforo total,
próxima de 100:5:1

▶ O efluente doméstico tem, naturalmente, uma relação próxima desta, o que


significa que é naturalmente equilibrado
▶ Quando isso não sucede (há diversos sectores industriais com este
problema), tem que se corrigir a relação, em geral adicionando sais com
azoto ou com fósforo

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4. Algumas
definições
Tratamento físico-químico
▶ Quando as águas residuais são inorgânicas, o tratamento não é realizado por
microrganismos, mas essencialmente por um conjunto de reações físicas e
químicas, que asseguram a eliminação dos poluentes presentes.

▶ É semelhante ao que sucede com o tratamento da ACH, só que aqui tem


lugar uma filtração e a desinfecção da água, o que não é necessário no caso
das águas residuais.

▶ O parâmetro de referência para avaliar a eficiência deste tratamento são os


sólidos suspensos totais (SST) cujo VLE é de 60 mg/l. No caso dos
tratamentos de superfície tem que se considerar os metais presentes

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5. O tratamento das águas residuais

▶ Como já se referiu, as águas residuais podem ser orgânicas ou inorgânicas,


correspondendo a cada grupo tratamentos diferentes

▶ Como esgotos orgânicos referimos os urbanos e uma grande variedade de


industriais, nomeadamente: lacticínios, matadouros, aviários, papel,
cervejas.

▶ Como inorgânicos podemos destacar: lavagem de inertes, serrações de pedra


ou tratamento de metais

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5. O tratamento das águas residuais

Águas residuais orgânicas


Em termos gerais são as seguintes as fases do tratamento a que as águas
residuais domésticas brutas são sujeitas:

▶ No primeiro conjunto de tratamentos, designado por pré-tratamento ou


tratamento preliminar, o esgoto é sujeito a um processo de separação de
sólidos mais grosseiros e incluem: a gradagem, o desarenamento, a
tamisagem, o desengorduramento e, por vezes, a correcção do pH

▶ Antes de passar à fase seguinte, o esgoto, sobretudo se for industrial, pode


sofrer uma homogeneização, por forma a manter a mesma qualidade ao
longo do dia. Não é um pré-tratamento

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5. O tratamento das águas residuais

Águas residuais orgânicas (Cont.)


▶ Apesar do esgoto apresentar um aspecto ligeiramente melhor após o pré-
tratamento, possui praticamente inalteradas as suas características
poluidoras

▶ Segue-se, então, o tratamento propriamente dito. A primeira fase é


designada por tratamento primário, onde a matéria poluente é separada da
água nos decantadores primários, exclusivamente por acção física. No
entanto, em alguns casos, este processo pode ser ajudado pela adição de
agentes químicos que, através de uma coagulação/floculação possibilita a
obtenção de flocos de matéria poluente de maiores dimensões e assim mais
facilmente decantáveis

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5. O tratamento das águas residuais

Águas residuais orgânicas (Cont.)


▶ Após o tratamento primário, a matéria poluente que permanece na água é
de reduzida dimensão, normalmente constituída por colóides, não sendo
passível de ser removida por processos exclusivamente físico-químicos.

▶ A eficiência do tratamento primário em termos de SST pode chegar a 90% e


em termos de CBO a 30%

▶ Segue-se o chamado tratamento secundário, onde a matéria orgânica é


consumida por microorganismos em reactores biológicos

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5. O tratamento das águas residuais

Águas residuais orgânicas (Cont.)


▶ Os reactores biológicos são normalmente constituídos por tanques com
grande quantidade de microorganismos aeróbios, sendo necessário
promover o seu arejamento por meios mecânicos ou naturais

▶ O esgoto saído do reactor contem uma grande quantidade de


microorganismos, sendo muito reduzida a matéria orgânica remanescente

▶ O rendimento pode chegar aos 95% em termos de CBO, no caso das lamas
activadas e a 80% no caso da lagunagem

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 45


5. O tratamento das águas residuais

Águas residuais orgânicas (Cont.)


▶ Os microorganismos sofrem posteriormente um processo de decantação nos
decantadores secundários

▶ Terminado o tratamento secundário, as águas residuais tratadas apresentam


um reduzido nível de poluição por matéria orgânica, podendo, na maioria
dos casos, ser descarregados no meio receptor sem problemas

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5. O tratamento das águas residuais
Águas residuais orgânicas (Cont.)
▶ Por vezes é necessário, antes da descarga no meio receptor, proceder à
desinfecção das águas residuais tratadas para a remoção dos
microorganismos patogénicos ou, em casos especiais, à remoção de
nutrientes como o azoto e o fósforo, os quais, como já sabemos, podem
potenciar a eutrofização das águas receptoras. É o tratamento terciário
▶ Se as águas residuais são tratadas por lagunagem, o pré-tratamento quanto
muito, tem gradagem e desengorduramento e nunca existe uma fase de
separação entre a matéria sólida e líquida num decantador

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5. O tratamento das águas residuais

Águas residuais inorgânicas


▶ Quando as águas residuais são inorgânicas (é sempre uma poluição
industrial) o pré-tratamento pode ser o desarenamento (no caso de lavagem
de inertes) ou ser dispensado, tendo lugar em seguida um tratamento físico-
químico

▶ Há casos de águas residuais inorgânicas, como sucede nos tratamentos


de superfície, em que o tratamento, apesar de físico-químico, é de maior
complexidade, devido à presença de metais pesados e de cianetos

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5. O tratamento das águas residuais urbanas

ETA
R

Fonte: simarsul.pt

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6. As operações
unitárias
▶ No tratamento da água para consumo humano, já vimos que as operações
unitárias aplicadas dependem das características das águas brutas. Para o
tratamento de águas residuais, urbanas ou industriais, sucede o mesmo.

▶ Para um tratamento correcto é fundamental um bom conhecimento do


efluente a tratar, só possível com uma adequada caracterização.

▶ Vamos agora ver as operações unitárias mais comuns

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 50


6. As operações
unitárias
Gradagem

▶ Esta operação tem como objectivo a remoção de sólidos


grosseiros, flutuantes e sedimentáveis, de maiores
dimensões que as aberturas dos equipamentos utilizados
(grades), impedindo ainda a flutuação de detritos nos
órgãos a jusante ou o bloqueamento de equipamentos
electromecânicos

Crivagem

▶ A gradagem pode ser substituída por uma operação


equivalente, a crivagem, em geral realizada em crivos
rotativos, com limpeza automática.

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6. As operações
unitárias
Tamisagem
▶ É uma operação complementar da gradagem (ou da crivagem) na remoção de
detritos sólidos com dimensões superiores a 1 mm
Desarenação
▶ Nesta operação são removidos sólidos, tais como areias e outros detritos
minerais inertes e pesados, que tenham velocidades de sedimentação superior à
dos sólidos orgânicos. Os inertes vão para o fundo, enquanto a matéria
orgânica, de sedimentação mais lenta, permanece em suspensão e passa para
as operações seguintes. A remoção das areias e outros detritos efectua-se para
a proteger as bombas e outros equipamentos a jusante

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 52


6. As operações
unitárias
Desengorduramento

▶ É uma operação de eliminação de gorduras e outros flutuantes, susceptíveis


de se aglutinarem ou de flutuarem nos órgãos de tratamento seguintes, onde
poderiam criar problemas de colmatação e/ou de fermentação

Correcção de pH

▶ Esta operação tem lugar fundamentalmente no tratamento de algumas águas


residuais industriais, podendo usar-se reagentes que ajudam a aumentar ou
a reduzir o pH, por forma a que as operações seguintes tenham lugar no pH
mais adequado à optimização da sua eficiência. É semelhante ao que se
passa com as águas para consumo humano, quando se ajusta o pH para 6,3
antes da aplicação do sulfato de alumínio na coagulação

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6. As operações
unitárias
Coagulação/floculação
▶ Trata-se de uma operação idêntica ao que foi descrito
para o tratamento de ACH

Decantação primária
▶ Os órgãos onde tem lugar esta operação são
geralmente circulares ou rectangulares, sendo o seu
objectivo reduzir a velocidade do fluxo de águas
residuais de entrada, que é feita pelo centro,
permitindo que os sólidos sedimentáveis se depositem
no fundo do tanque, de onde são retirados misturados
com água, constituindo as lamas primárias

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 54


6. As operações
unitárias
Decantação primária

▶ A eficiência do decantador depende de vários factores, nomeadamente:


▶ O tempo de retenção do esgoto no decantador, que é o principal critério
de dimensionamento. Considera-se aceitável o valor de duas horas a
caudal máximo
▶ O jar-test
▶ As lamas devem ser retiradas regulamente de forma a prevenir a
septicidade do sistema e a evitar, assim, a formação de lamas flutuantes

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6. As operações
unitárias
Tratamento biológico

▶ O principal objectivo desta operação é a remoção da matéria orgânica,


decorrendo sempre em dois órgãos diferentes: um, onde têm lugar os
processos de decomposição da matéria orgânica por microrganismos
aeróbios, e um segundo onde tem lugar a separação entre a matéria sólida e
o efluente tratado

▶ Existem diversos sistemas (lamas activadas, discos biológicos, valas de


oxidação, etc.) que utilizam processos de tratamento e critérios de
dimensionamento diferentes, mas que efectuam o mesmo tratamento
biológico

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6. As operações
unitárias
Tratamento biológico (Cont.)
▶ Por serem os mais comuns e, eventualmente, os que mais se adaptam às
condições de Angola, apenas se fará referência às lamas activadas
(provavelmente interessante para todas as capitais de província) e à
lagunagem (certamente a melhor solução para a generalidade dos
aglomerados populacionais de Angola)

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6. As operações
unitárias
Lamas activadas
▶ O processo de lamas activadas é um tratamento aeróbio de águas residuais
que se caracteriza por um contacto entre a matéria orgânica da água
residual e os microorganismos aeróbios, responsáveis pelos processos de
oxidação dessa matéria e uma introdução de oxigénio na mistura de água
residual e flocos biológicos
▶ Os flocos biológicos, também denominados por lamas activadas, são massas
biologicamente activas, resultantes de processos de floculação de partículas
coloidais orgânicas e inorgânicas e de células vivas, principalmente
bactérias
▶ A unidade de tratamento onde se realiza o processo (reactor) é composta
por um tanque e por um sistema de arejamento, além dos dispositivos de
entrada e de saída da água residual

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6. As operações
unitárias
Lamas activadas (Cont.)

www.ec.europa.eu/environment/water/water-urbanwaste/.../waterguide_pt.pdf

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6. As operações
unitárias
Lamas activadas (Cont.)
▶ No tanque estabelecem-se condições que permitem o desenvolvimento
rápido de microrganismos aeróbios que, através das suas actividades
metabólicas, reduzem a matéria orgânica das águas residuais, mas também
se criam condições para a floculação dos sólidos em suspensão, tornando-os
fáceis de remover através de uma simples decantação
▶ O material mantem-se em suspensão através da agitação do meio e à medida
que os microorganismos assimilam a matéria orgânica da água residual e se
reproduzem, diminui o CBO da água residual e aumenta a massa de células
vivas dando origem à produção de lamas

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6. As operações
unitárias
Lamas activadas (Cont.)
▶ As lamas formadas no tanque de arejamento apresentam boas
características para decantar, sendo separadas num órgão à parte, a jusante
do reactor
▶ O oxigénio é fornecido em geral por agitação mecânica ou por difusores
submersíveis
▶ No caso das lamas activadas funcionarem em arejamento prolongado (ou
baixa carga), o mais comum, não é necessário o tratamento primário

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6. As operações
unitárias
Lamas activadas (Cont.)

▶ As bases de dimensionamento de um tanque de lamas activadas em baixa


carga são as seguintes
▶ Carga mássica: ≤ 0,1 kg CBO/kg de MLSS.dia
▶ Carga volúmica: ≤ 0,35 kg CBO/m3.dia
▶ Concentração de lamas: 4 a 5 g MLSS/l
▶ Potencia de arejamento:
▶ 30 W/m3 para arejadores de superfície

▶ 15 W/m3 para sistemas de arejamento com bolhas finas de ar

▶ Necessidade de oxigénio: 1,8 kg O2/kg CBO eliminado

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6. As operações
unitárias
Decantação secundária
▶ O objectivo desta operação é a de separar sólidos suspensos, possibilitando a
remoção das lamas em excesso e a recirculação de lamas para o tanque de
arejamento
▶ A recirculação de lamas é um aspecto vital de todo este processo, porque é
precisamente esta introdução de uma massa importante de microrganismos
bem adaptados às condições do reactor que garantem uma tão elevada
eficiência na eliminação da matéria orgânica
▶ O sucesso da obtenção de valores de qualidade para os sistemas de
tratamento dependem da capacidade de sedimentação do efluente no
decantador. Enquanto a sedimentação de sólidos é evitada no tanque de
arejamento, pela acção de equipamento de arejamento e agitação, o
decantador é dimensionado para promover uma boa sedimentação

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6. As operações
unitárias
Tratamento de Lamas
▶ As principais origens das lamas são os decantadores primários e secundários.
As lamas são constituídas essencialmente por água mas, enquanto as
secundárias são mais ricas em nutrientes e proteínas, as primárias
precisamente porque resultam da sedimentação dos sólidos em suspensão
não digeridos, são ricas em matéria orgânica e mais densas
▶ Como as lamas possuem elevadas quantidades de água, recorre-se ao seu
espessamento como forma de concentrar os sólidos. Ao aumentar a
concentração em sólidos, o tratamento das lamas pode ser feito de maneira
mais económica, pois requer menos volume de tanque, tubagens de menor
diâmetro e menores equipamentos de bombagem

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6. As operações
unitárias
Tratamento de Lamas (Cont.)
▶ Se apenas há lamas secundárias, estas, em geral, já estão estabilizadas,
visto que resultam de um processo de arejamento prolongado, podendo
seguir directamente para valorização, depois de secas
▶ Se há mistura de lamas primárias e secundárias, após o espessamento, as
lamas precisam de ser estabilizadas antes de secas. Neste processo poderá
produzir-se biogás por via anaeróbia
▶ As lamas misturadas espessadas podem atingir concentrações em sólidos
entre 4 e 6%, sendo o espessamento, em geral, auxiliado por um floculante
▶ Os principais objectivos da estabilização das lamas são reduzir os organismos
patogénicos, eliminar odores e controlar a potencial putrefacção de matéria
orgânica presente nas lamas primárias

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6. As operações
unitárias
Tratamento de Lamas (Cont.)
▶ A estabilização das lamas pode conseguir-se por meios biológicos (digestão
aeróbia ou anaeróbia) ou químicos (em geral com cal)

▶ Possuindo as lamas espessadas ainda cerca de 95% de água, é necessário


reduzir o seu volume, de modo a reduzir-se os custos com o seu transporte
para destino final, melhorar a sua movimentação e armazenamento,
viabilizar a sua compostagem ou facilitar a sua valorização agrícola. O
destino para aterro deve ser evitado

▶ A desidratação das lamas pode ser natural (em leitos de secagem abertos ou
cobertos) ou mecânicos (filtros prensa, centrífugas, entre outros)

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6. As operações
unitárias
Lagunagem natural
▶ A lagunagem natural é constituída, em geral, por três lagoas em série:
anaeróbia, facultativa e aeróbia
▶ O efluente a tratar sofre uma depuração biológica, graças aos
microrganismos (sobretudo bactérias) que se desenvolvem a partir da
matéria orgânica contida no efluente
▶ Devido à grande área das lagoas expostas ao sol, as diferentes lagoas são
rapidamente colonizadas por diferentes algas. Pela fotossíntese, as algas
utilizam durante o dia o anidrido carbónico do ar como fonte de carbono e
produzem oxigénio que se dissolve na água e fica assim disponível para as
bactérias depuradoras
▶ Como as algas são vegetais com clorofila, utilizam o azoto e o fósforo sob a
forma mineral, donde a eficácia da lagunagem na eliminação dos nutrientes

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6. As operações
unitárias
Lagunagem natural

www.ec.europa.eu/environment/water/water-urbanwaste/.../waterguide_pt.pdf

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6. As operações
unitárias
Lagunagem natural
▶ Área e altura das lagoas:
▶ A depuração por lagunagem
▶5 m2/hab.- equiv.
natural é um processo simples
mas que repousa sobre ▶ Repartição pelas três lagoas:
fenómenos biológicos muito
▶ 1.ª lagoa: ocupa 50% da área
complexos
total. Tem 3-3,5 m de altura
▶ Para os efluentes urbanos e para
▶ 2.ªlagoa: ocupa 25% da área total
climas tropicais, as bases de
e tem 1-1,5 m de altura
dimensionamento são as
seguintes: ▶ 3.ª lagoa: ocupa 25% da área
total e tem 0,4 a 0,8 m de altura

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6. As operações
unitárias
Lagunagem

▶ O papel de cada uma das lagoas é o seguinte:

▶ A primeira lagoa assegura a decantação da maior parte da matéria em


suspensão e a redução de boa parte da carga orgânica por meio de bactérias
anaeróbias. Regularmente (de 2 em 2 anos) são extraídas lamas desta lagoa

▶ A segunda, aeróbia na parte superior e anaeróbia no fundo, assegura a


redução do azoto e do fósforo, bem como a continuação da degradação da
matéria orgânica remanescente

▶ A terceira, chamada de estabilização, afina o tratamento, ou seja, melhora


as características do efluente final

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6. As operações
unitárias
Lagunagem arejada
▶ A lagunagem natural tem como alternativa a lagunagem arejada, na qual o
oxigénio necessário às bactérias é fornecido por um equipamento de
arejamento, sendo as turbinas flutuantes o mais vulgar (também se podem
aplicar difusores de ar)
▶ Nestas condições, o sistema é constituído por duas lagoas dispostas em
série: a lagoa de arejamento e a lagoa de decantação
▶ O princípio da lagoa arejadora só se distingue das lamas activadas, porque
não existe a recirculação das lamas, nem a extracção das lamas em contínuo

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6. As operações
unitárias
Lagunagem arejada (Cont.)

www.infraestruturaurbana.pini.com.br www.engineeringfundamentals.net

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6. As operações
unitárias
Lagunagem arejada (Cont.)
▶ Na lagoa de decantação, as matérias em suspensão, constituídas pela
acumulação de microrganismos e de partículas retidas, são decantadas
produzindo lamas. Estão são regulamente bombeadas ou removidas, quanto
representam um volume demasiado grande. Sempre que possível, é melhor
recorrer a duas lagoas de decantação que possam ser utilizadas
separadamente, permitindo assim realizar a limpeza quando necessário
▶ O volume deve ser de 0,3 a 0,5 m3 por hab-equiv e a profundidade de 2 m,
em que 1 m é para a acumulação de lamas
▶ Para o conjunto da ETAR deve prever-se uma área de 0,75 a 1,5 m2 por hab-
equiv, para o clima de Angola

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6. As operações
unitárias
Lagunagem arejada (Cont.)
▶ Para o conjunto da ETAR deve prever-se uma área de 0,75 a 1,5 m2 por
habitante equivalente, para o clima de Angola
▶ A lagoa arejada deve ter um tempo de retenção de 10-15 dias , um volume
de 1,5 m3 por utente e uma altura de 2 a 3,5 m com arejadores de
superfície e superior a 4,0 m se o arejamento for feito com injectores de ar

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6. As operações
unitárias
Em condições de particular exigência do meio receptor (eliminação de
nutrientes quando se trata de lagos ou albufeiras; ou desinfecção se o receptor
é origem para a produção de ACH) pode ser necessário um tratamento
terciário, que pode ser:
Desnitrificação
▶ É uma operação que requer condições anóxicas (ausência de oxigénio) para
que as comunidades biológicas apropriadas se formem e reduzam os nitratos
até à forma de azoto gasoso
Remoção do fósforo
▶ Pode ser feita por precipitação química, geralmente com sais de ferro ou
alumínio

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6. As operações
unitárias
A desinfecção

▶ Há situações em que o meio receptor é de tal


modo sensível, que as águas residuais tratadas
sofrem como processo de afinação uma
desinfecção para a remoção dos organismos
patogénicos. Pode ser por meio de cloro gasoso (ou
hipoclorito, se o caudal não for grande), por
ozonização ou por meio de radiação ultravioleta,
embora o primeiro processo seja o mais comum

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 76


7. O saneamento em
Angola
▶ O principal objetivo do saneamento é proteger as pessoas contra os riscos
sanitários, resultantes da disseminação dos germes contidos nos dejectos
humanos

▶ No caso do saneamento individual, ou na falta de qualquer saneamento, o


problema é essencialmente de saúde pública e não de ambiente, visto que
as consequências são sempre muito limitadas no espaço

▶ Já no caso do saneamento colectivo, que pode abranger centenas, milhares


ou milhões de pessoas, assim como no caso de grandes unidades industriais
ou de agricultura e pecuária intensivas, para além da saúde poder ser
afectada, também o ambiente pode ser afectado, seja um regato, um rio,
um lago ou o próprio mar

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 77


7. O saneamento em
Angola
▶ Quando falamos de saneamento colectivo, implicitamente existe a montante
uma rede de drenagem e a concentração da carga poluente produzida.
Contudo, se a colecta por uma rede é a forma mais eficaz de afastar para
longe os dejectos das pessoas, pode-se, por outro lado, criar problemas
noutro ponto de um meio natural que até pode ser sensível e que antes não
era afectado pelas águas residuais. Num caso destes, o tratamento será
indispensável.
▶ Como já se referiu, estima-se que em Angola cerca de 40% dos habitantes,
ainda recorrem à DAL – cerca de 50% nas zonas rurais e cerca de 30% nas
zonas urbanas
▶ Trata-se de um sério problema de saúde a que o governo e as províncias têm
vindo a dar uma importância crescente

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 78


7. O saneamento em
Angola
▶ De acordo com os objectivos do Governo para 2017, o recurso à DAL será
muito reduzido, prevendo-se que nesse ano apenas 10% da população nas
zonas rurais e cerca de 5% nas zonas urbanas recorram a ela. Não se
encontraram valores actuais nem previsões para 2022
▶ Uma coisa é certa: a redução do recurso à DAL terá consequências positivas
ao nível da saúde pública e da incidência nas doenças de origem hídrica
▶ Ao nível do ambiente, também haverá certamente melhorias, mas sempre
pontuais, já que é a concentração da poluição (o saneamento colectivo ou a
descarga de grandes fontes poluidoras industriais) que pode ter um efeito
mais nefasto no meio receptor

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 79


7. O saneamento em
Angola
Saneamento individual - Latrina simples
▶ A latrina é a solução individual de saneamento mais comum para as pessoas
que vivem em casas onde não há abastecimento de água, nem rede
doméstica
▶ A latrina é escavada no solo e recebe apenas os dejectos sólidos e líquidos e
papel higiénico, não recebendo água
▶ As fezes retidas no interior decompõem-se ao longo do tempo por digestão
anaeróbia
▶ Devem ser instaladas em zonas não inundáveis e acessíveis aos utilizadores
▶ Devem ficar distantes de poços, afim de evitar a contaminação destes,
sendo correcto a adaptar-se uma distância mínima de segurança de 15m

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 80


7. O saneamento em
Angola
Saneamento individual - Latrina simples (Cont.)
▶ A latrina deve ser ventilada por meio de um tubo de ventilação. Recomenda-
se como medidas:
▶ uma abertura circular com 90 cm de diâmetro ou quadrada de 80 cm de
lado
▶ a profundidade varia com as características do solo e o nível freático,
sendo razoável um valor de cerca de 2,5 m
▶ o piso deve dispor de uma abertura destinada à passagem dos dejectos
para dentro da latrina, sendo preferível, por razões de higiene, não
instalar assento
▶ Pode-se aproveitar a terra retirada da escavação da latrina para fazer um
aterro compacto, formando-se uma plataforma à volta da latrina

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7. O saneamento em
Angola
Saneamento individual - Latrina simples (Cont.)
▶ Esta plataforma protege a base, desvia as águas da chuva e dificulta a
penetração de roedores. Para durar mais tempo, pode-se relvar a plataforma
à volta.
▶ Se ocorrerem maus cheiros, podem aplicar-se pequenas quantidades de
material alcalino como cal ou cinzas. Desta forma, o mau cheiro que
inicialmente se desprende dos dejectos em fase de digestão ácida (gás
sulfídrico, mercaptans e outros) é anulado com a elevação do pH, já que isto
permite o desenvolvimento de bactérias responsáveis pela produção de
gases inodoros, como CO2 e metano

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7. O saneamento em
Angola
Saneamento individual - Latrina simples (Cont.)
▶ Esta solução é de baixo custo, não consome água, tem risco mínimo para a
saúde, é de operação e manutenção simples e recomenda-se para áreas de
baixa densidade populacional. No entanto, é imprópria para áreas de alta
densidade populacional e podem poluir o solo
▶ A abertura deve ser mantida tapada quando a latrina não estiver a ser usada,
a fim de evitar a proliferação de moscas e mosquitos

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7. O saneamento em
Angola
Saneamento individual - Latrina com duplo compartimento
▶ Esta latrina consta de dois tanques contíguos e
independentes, destinados a receber apenas dejetos
sólidos e líquidos e papel higiénico. A casinha dá acesso aos
dois tanques, cada um com uma tampa. Usa-se o primeiro
tanque, até esgotar a sua capacidade, ficando cheio para
uma família de seis pessoas ao fim de um ano (cada tanque
tem um volume de 1m3)
▶ Isola-se o primeiro tanque e veda-se bem a tampa,
sofrendo o material uma fermentação natural
▶ Começa-se então a usar o segundo tanque até esgotar a sua
capacidade e, durante este ano, o material no primeiro
tanque ficou mineralizado, podendo ser usado como adubo
www.icrc.org
▶ De qualquer modo, deve ficar sempre uma pequena
quantidade de material já fermentado, para favorecer o
reinicio da fermentação

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7. O saneamento em
Angola
▶ Saneamento individual - Latrina com duplo compartimento (Cont.)
▶ Os tanques podem ser enterrados, semi-enterrados ou construídos à
superfície
▶ Cada tanque deve ter um tubo de ventilação.
▶ Se o terreno é inundável ou se há risco de contaminação de poços, as
paredes e o fundo devem ser construídos em betão ou com tijolos e
impermeabilizados com argamassa ou cimento
▶ Para evitar inundações em época de chuva, a latrina deve ser circundada
com um aterro bem compactado

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7. O saneamento em
Angola
▶ Saneamento individual - Latrina com duplo compartimento

▶ Como vantagens relativamente à latrina simples, podem referir-se as


seguintes:
▶ pode aplicar-se em locais com nível freático mais alto, porque os tanques
só têm 1,0 m de altura
▶ tem maior duração que a latrina simples, sendo um solução praticamente
definitiva
▶ a limpeza é mais fácil, visto que os tanques são mais baixos
▶ o material mineralizado pode ser valorizado
▶ há menos riscos de contaminação

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7. O saneamento em
Angola
Fossa séptica
▶ A fossa séptica (FS) é um dispositivo utilizado na Europa(cada vez menos).
Em Angola, nas zonas urbanas, há uma percentagem relevante que recorre a
ela.
▶ A FS pressupõe a existência de uma rede de drenagem doméstica para as
diferentes água residuais: sanitários, chuveiros, cozinha e lavagem de
roupa, sendo todas canalizadas para a fossa
▶ Pode haver FS em habitações com ligações interiores de abastecimento de
água, mas também há situações em que o abastecimento pode ser feito a
partir de camião cisterna ou em que o abastecimento de água é feito a
partir de torneira à parte. A água tem é que ser armazenada num
reservatório que vai alimentar a rede doméstica de água

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7. O saneamento em
Angola
Fossa séptica (Cont.)

http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/septic.jpg

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7. O saneamento em
Angola
Fossa séptica (Cont.)

▶ De acordo com o PNEA (Programa Nacional Estratégico para a Água) 13,4% da


população das zonas urbanas têm soluções individuais do tipo FS, prevendo-
se que em 2017 este grupo representará 21% da população urbana.

▶ A FS é um processo mais eficaz que a latrina, tendo nela lugar dois


processos:

▶ uma decantação que permite separar as partículas mais densas e menos


densas do que a água

▶ uma fermentação das lamas decantadas que conduzirá à destruição e


liquefacção parciais dos compostos orgânicos degradáveis e, portanto, a uma
redução da massa das lamas e de matéria orgânica contida nas águas
residuais

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 89


7. O saneamento em
Angola
Fossa séptica (Cont.)

▶ A altura deve ser entre 1,2 e 1,5 m e deve dispor de uma altura mínima de
25 cm entre o plano da água e a cobertura, reservados ao chapéu que se
formam na parte superior, constituído por gorduras e partículas menos
densas do que a água

▶ O dispositivo de entrada é um tubo em forma de cotovelo que mergulha a 30


cm da superfície de água e o dispositivo de saída será em forma de T,
mergulhando cerca de 30 cm

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 90


7. O saneamento em
Angola
Fossa séptica (Cont.)
▶ A ventilação assegurará a evacuação dos gases de fermentação
▶ O acesso à fossa deve ser fácil, de modo a permitir o esvaziamento das
lamas
▶ Para lá de moradias individuais, as FS são adequadas para restaurantes,
hotéis ou outros estabelecimentos isolados ou localizados em zonas não
servidas por rede de saneamento, mas não devem servir populações
superiores a 200 hab.- equiv.

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 91


7. O saneamento em
Angola
Fossa séptica (Cont.)
▶ As FS podem ter entre 1 e 3 compartimentos. Se forem dois , o primeiro
deve ter um volume igual a 2/3 do total; se foram três compartimentos, o
1.º deve ter 2/3 do total, o 2.º deve ter 2/3 do terço restante e o 3.º deve
ter 1/9 do total
▶ O tempo de retenção deve ser de três dias para FS com menos de 10m3 e de
dois dias para as que têm mais de 10 m3
▶ O volume ocupado pelas lamas é de cerca de 0,5 l/hab.dia, devendo as
lamas ser extraídas quando atingirem 50% do volume da FS, devendo deixar-
se cerca de 10% do volume de lama na FS para favorecer o desenvolvimento
inicial da fermentação

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 92


7. O saneamento em
Angola
Fossa séptica (Cont.)
▶ Em geral, as lamas são retiradas de dois em dois anos
▶ Os rendimentos de remoção de CBO podem atingir:

▶ 30% a 50% se a FS tiver 1 compartimento

▶ 35% a 65% se a FS tiver 2 compartimento

▶ 40% a 70% se a FS tiver 3 compartimento

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 93


7. O saneamento em
Angola
Fossa séptica (Cont.)

▶ Nas FS com dois ou três compartimentos, estes são separados por um orifício
situado a 2/3 da altura útil, medida a partir do fundo

▶ Por forma a proteger a FS, pode haver vantagem em instalar uma pequena
caixa separadora de gorduras na canalização que conduz os esgotos da
cozinha para a FS

▶ Também há FS estanques, ou seja, FS que, quando cheias, têm que ser


aspiradas por camiões próprios que devem transportar o conteúdo para uma
ETAR urbana, onde serão tratados juntamente com as águas residuais
urbanas

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 94


7. O saneamento em
Angola
▶ O efluente à saída da FS (em especial se recebe as águas residuais de muitas
casas) não pode ser rejeitado num curso de água, devendo ser sujeito a um
processo complementar de espalhamento ou à sua infiltração no solo,
conforme as condições concretas do local. Como órgãos complementares da
FS podemos recorrer a:

Poço Absorvente

▶ Usa-se quando se trata de FS unifamiliares. São construídos na vertical e


pelas suas paredes o esgoto saído da FS é infiltrado

▶ Só se pode usar quando o nível freático não é muito elevado, devendo


garantir-se uma distância mínima de 1,5 m entre o fundo do poço e o nível
freático

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 95


7. O saneamento em
Angola
Poço
Absorvente

Fonte: http://www.ipv.pt/millenium/ect7_lpvc.htm

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 96


7. O saneamento em
Angola
Trincheira de infiltração
▶ Consiste num conjunto de canalizações assentes a uma determinada
profundidade, num solo cujas características de permeabilidade permitem a
absorção do esgoto saído da FS. A percolação do liquido através do solo
permitirá a mineralização do esgoto por acção dos microrganismos presentes
antes que o mesmo se transforme em fonte de contaminação das águas
subterrâneas e superficiais

Trincheira de filtração
▶ São constituídas por duas canalizações sobrepostas, com o espaço entre as
duas ocupado por areia. Aplica-se quando o tempo de infiltração no solo não
permite outro sistema mais económico

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 97


7. O saneamento em
Angola

http://www.comitesm.sp.gov.br/

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 98


7. O saneamento em
Angola
Saneamento colectivo
▶ Para ser possível o saneamento colectivo, é sempre necessário a existência
de uma rede de drenagem que recolha e concentre num ponto todas as
águas residuais. De qualquer modo, se a existência de uma rede de
drenagem é condição necessária, não é suficiente para um correcto
saneamento colectivo.
▶ Com efeito, é indispensável que as águas residuais concentradas sejam
submetidas a um tratamento que lhe altere as características e permita a
sua rejeição nem causar problemas nem na saúde das pessoas nem no meio
receptor.
▶ Vamos abordar apenas os seguintes processos: fossa séptica,
lagunagem natural, lagunagem arejada, lamas activadas e espalhamento
superficial

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 99


7. O saneamento em
Angola
Fossa séptica
▶ Já falámos da FS. Agora é apenas para referir que este órgão não deve tratar
mais de 250 habitantes, devido ao seu menor rendimento de depuração. E
nestas condições ter sempre 3 compartimentos
▶ O órgão de infiltração deverá ser a trincheira de infiltração ou a trincheira
de filtração. Como se disse, o efluente à saída da FS nunca pode ser
descarregado directamente no meio receptor natural

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7. O saneamento em
Angola
Lagunagem natural

▶ A lagunagem natural, constituída por três lagoas pode apresentar um


rendimento de remoção de matéria orgânica até 80%, sucedendo que no
tempo seco o caudal de saída pode ser inferior a mais de 50% relativamente
ao caudal de entrada, devido à evaporação

▶ Tanto a remoção do azoto total, como do fósforo total, também apresentam


boa eficiência, com valores superiores a 60%

▶ Quanto à desinfecção, ela é muito importante praticamente todo o ano,


devido ao prolongado tempo de retenção do efluente no conjunto das
lagoas, à radiação ultravioleta solar e à competição biológica

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 101


7. O saneamento em
Angola
Vantagens da Se o declive for favorável, não se verifica qualquer consumo de energia
lagunagem A exploração é simples, mas se a limpeza geral não for feita regularmente, os
natural rendimentos baixam muito
Baixos custos de exploração

Eliminação de grande parte dos nutrientes

Muito boa eliminação dos microrganismos patogénicos

Boa resposta às fortes variações de carga hidráulica

Simplicidade de construção civil

Boa integração na paisagem

Isenção de poluição acústica


As lamas provenientes da limpeza estão bem estabilizadas e são fáceis de aplicar
num solo agrícola, salvo as lamas junto à entrada da primeira lagoa

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 102


7. O saneamento em
Angola
inconvenientes
da lagunagem área exigida importante
natural

o custo do investimento depende muito das características do subsolo, sendo de


renunciar à lagunagem se os terrenos forem arenosos ou instáveis

os rendimentos de remoção de matéria orgânica são inferiores aos processos


intensivos. No entanto, a matéria orgânica descarregada efectua-se sob a forma
de algas o que é menos prejudicial para o meio receptor

a qualidade do efluente descarregado varia ao longo do ano

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 103


7. O saneamento em
Angola
Lagunagem arejada

▶ Relativamente à lagunagem natural apresenta melhor rendimento na


remoção da matéria orgânica (mais de 80%), mas apresenta pior rendimento
em termos de remoção de nutrientes

▶ É mais adequada para zonas de maior densidade populacional, embora não


para grandes concentrações urbanas

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 104


7. O saneamento em
Angola
Vantagens da
lagunagem
arejada Tolera grandes variações de cargas
hidráulicas e orgânicas

Trata bem águas residuais muito


concentradas
Responde bem quando as águas residuais são
uma mistura de urbanas e industriais
biodegradáveis

A limpeza das lamas é feita de dois em dois


anos

As lamas saem bem estabilizadas

Boa integração na paisagem

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 105


7. O saneamento em
Angola
inconvenientes
da lagunagem Deficiente tratamento dos nutrientes
arejada

Presença de equipamentos electromecânicos, exigindo a manutenção por mão de obra


especializada

Poluição acústica devido ao sistema de arejamento

Forte consumo de energia

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 106


7. O saneamento em
Angola
Lamas activadas

▶ Como já dissemos, o princípio das lamas activadas é acelerar os processos de


auto-depuração que ocorrem naturalmente nos meios receptores

▶ No sistema de lamas activadas com arejamento prolongado (também


designado de baixa carga), o mais vulgar, o rendimento de remoção do CBO
pode atingir 95% ou mesmo valores mais elevados

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 107


7. O saneamento em
Angola
Vantagens das
É adequado a qualquer dimensão do aglomerado populacional, exceptuando os mais pequenos
lamas (< 5.000habitantes)
activadas

Bom rendimento de eliminação do conjunto dos parâmetros (SST, CBO, CQO e azoto)

É adequado à protecção dos meios receptores sensíveis

As lamas saem bem estabilizadas

Área ocupada muito menor que a da lagunagem

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 108


7. O saneamento em
Angola
Inconvenientes Elevados custos de investimento
das lamas
activadas
Grande consumo de energia

Necessidade de pessoal especializado e de um controlo regular

Sensibilidade às sobrecargas hidráulicas, ou seja, às variações de caudal

Decantabilidade das lamas por vezes difícil de controlar

Grande produção de lamas

Dificuldade, por vezes, de integração paisagística

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 109


7. O saneamento em
Angola
▶ Do que fica dito, não se pode concluir que há um processo que é sempre o
melhor e mais vantajoso. Há vantagens e inconvenientes para todos pelo
que, após uma boa caracterização do efluente a tratar, da variação do
caudal ao longo do dia, do conhecimento do meio receptor, das condições
climáticas da zona, entre outros factores, é necessário para cada caso
concreto proceder a um estudo técnico-económico que permita concluir
qual a melhor solução
▶ E a melhor solução não é necessariamente a que corresponde ao menor
investimento inicial

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 110


7. O saneamento em
Angola
▶ Para as condições de Angola, país extenso, pouco densamente povoado,
com carências de mão de obra qualificada, com dificuldades de dispor
rapidamente de reagentes e sobressalentes, diríamos genericamente sem
passar ao lado do parágrafo anterior, que:
▶ As lamas ativadas serão a melhor solução para Luanda e para as restantes
grandes cidades. Em principio para mais de 50.000 habitantes as lamas
ativadas constituem a melhor solução
▶ Para esta população e superiores, a lagunagem, mesmo a arejada,
ocuparia uma área significativa, só possível a distâncias maiores , o que
acarretaria custos significativos com a adução

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 111


7. O saneamento em
Angola
▶ Recorde-se que, por exemplo Vila Real Santo António numa cidade do
Algarve esteve perto do avançar com um tratamento para 120.000
habitantes (população de Verão), por recurso a lagunagem arejada

▶ Sem se ser categórico e definitivo, diríamos que a lagunagem natural


será a melhor solução em Angola para a generalidade dos aglomerados
populacionais dotados de redes de saneamento (ou quando ao vierem a
ter), a lagunagem arejada para aglomerados de média dimensão e lamas
activadas para as capitais provinciais e cidades de maior dimensão

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 112


7. O saneamento em
Angola
O espalhamento
▶ Alternativamente ao anteriormente abordado, está o espalhamento
superficial das águas residuais orgânicas no solo. Através da capacidade
depuradora dos microrganismos do solo, a matéria orgânica é transformada,
enriquecendo o solo em nutrientes e matéria mineralizada, facilmente
assimilados pelas plantas. Acresce a poupança de água que isto representa
▶ Sucede que, dadas as características patogénicas de muitos microrganismos
presentes nas águas residuais urbanas, o espalhamento superficial não deve
ser a solução, pelos riscos que isso comportaria para o homem
▶ Contudo, há sectores como a suinicultura, a avicultura, a produção de
açúcar, entre outros, cujas águas residuais podem ser tratadas no solo por
acção dos microrganismos aeróbicos, evoluindo a matéria orgânica para
formas minerais estáveis

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 113


7. O saneamento em
Angola
O espalhamento (cont.)
▶ Para que o processo funcione é preciso assegurarmo-nos:
▶ da capacidade de aceitação do solo face ao conteúdo das águas residuais
▶ da existência de um dispositivo de prévio tratamento das águas
residuais, sobretudo SST, de modo a torná-las compatíveis com a sua
dispersão no solo e assim não contribuir para a sua colmatação

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 114


7. O saneamento em
Angola
O espalhamento (cont.)
▶ Para que o espalhamento seja eficaz é necessário conhecer bem as cargas
poluentes produzidas e as características pedológicas do solo e saber qual a
área necessária de terreno para receber um determinado efluente, de modo
a não afectar a qualidade das águas que o atravessam
▶ Esta aplicação não pode ser feita durante o período das chuvas, durante o
qual o efluente deve ser armazenado (por exemplo numa lagoa) para ser
utilizado mais tarde, quando as condições climáticas forem mais favoráveis.
▶ O exemplo da aplicação de efluentes de suinicultura

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 115


8. Poluição industrial

▶ Já vimos que as águas residuais industriais podem apresentar muito maior


variabilidade do que as domésticas, tanto em termos quantitativos como
qualitativos
▶ Desta forma, não basta recolher uma amostra simples num determinado
momento para conhecer as características das águas residuais de uma
actividade industrial qualquer. Aliás, mesmo para as domésticas não se deve
proceder assim
▶ A recolha pontual apenas informa sobre a qualidade do esgoto nesse
momento, desconhecendo-se o que se passou antes e depois, ou seja, não
permite retirar qualquer conclusão nem mesmo utilizar o valor analítico
obtido para nada

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 116


8. Poluição industrial

▶ O procedimento é outro. O ideal seria recolher num tanque todo o esgoto


que foi drenado durante o período de trabalho da fábrica, só que este
volume pode ser pequeno ou grande (há fábricas que descarregam dezenas
de milhares de m3/dia). Dada esta impossibilidade, o que se faz é recorrer a
um aparelho chamado “colector automático” e regulá-lo para que, com a
periodicidade que se entenda, seja aspirado um pequeno volume
▶ Joga-se com o intervalo de tempo e com o volume de amostra recolhida, por
forma a que, ao fim de 24 horas, o compartimento encaixe todo o líquido
aspirado

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 117


8. Poluição industrial

▶ Homogeneiza-se o volume total e é uma numa amostra desta mistura que vai
ser analisada, amostra essa de facto representativa do que foi descarregado
ao longo do dia e que vai ser um elemento essencial de trabalho, porque é a
partir daí que se vai dimensionar a ETAR capaz de tratar aquele efluente até
aos valores estabelecidos na licença de descarga
▶ Obtemos, assim, um valor médio, mas se tivéssemos analisado cada uma das
pequenas amostras recolhidas, teríamos verificado enormes variações de
qualidade do efluente ao longo do dia. O mesmo sucederia com a variação
do caudal ao longo do dia.
▶ Quanto ao caudal, um medidor-registador revelaria a sua variação ao longo
do dia

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 118


8. Poluição industrial

▶ Claro que as variações de qualidade e de quantidade são características de


cada sector e de cada fábrica, não se podendo aplicar a nenhuma o que
sucedeu noutra, mesmo que se trate do mesmo sector industrial
▶ Tendo em conta que uma ETAR deve trabalhar o mais possível em condições
constantes de caudal e de qualidade, é muito importante eliminar os picos e
assegurar que o esgoto bruto é o mais constante possível. Isto consegue-se
num órgão chamado homogeneizador, equipado com agitador e com um
tempo de retenção tal que garante que o efluente à saída pouco varia ao
longo do dia
▶ Quanto à regularização quantitativa, recorre-se em geral a um poço de
bombagem que garante que à ETAR aflua um caudal constante, embora não
permanente

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 119


8. Poluição industrial

▶ Instala-se no poço de bombagem um sistema de bóias de nível máximo e


mínimo, que determinam quando é que as bombas entram em acção e
quando devem parar, garantindo que a ETAR funcione a caudal constante

▶ A ETAR industrial deve dar o mesmo tipo de resposta que uma ETAR urbana,
ou seja, assegurar que o efluente tratado respeita os VLE da licença

▶ Da licença constam apenas os parâmetros que são relevantes para aquela


actividade. Por exemplo, não se pesquisam metais num matadouro, nem
CBO numa unidade de lavagem de areias

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 120


8. Poluição industrial

▶ Cada sector, mesmo quando as águas residuais são orgânicas, tem problemas
próprios. Por exemplo: os curtumes têm sulfuretos e crómio que devem ser
tratados à parte, para não causar problemas no tratamento biológico; os
lacticínios e os matadouros têm em geral problemas de gorduras, pelo que
se tem de instalar um desengordurador para que as gorduras não causem
problemas no tratamento biológico

▶ Quando as unidades industriais se localizam na malha urbana e descarregam


as águas residuais industriais na rede pública, se forem compatíveis com as
águas residuais urbanas do ponto de vista do tratamento conjunto, em geral,
podem rejeitar as suas tal e qual

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 121


8. Poluição industrial

▶ Contudo, se tiverem elementos indesejáveis para o tratamento ou para a


rede (por exemplo gorduras) ou uma grande concentração em sólidos,
poderá ter que se proceder a um pré-tratamento antes das águas residuais
industriais poderem ser descarregadas
▶ Um caso muito frequente que se passa na malha urbana de Lisboa, como na
de Luanda, como em qualquer cidade, tem a ver com a existência de
gorduras nas águas residuais de muitos estabelecimentos. Estamos a falar de
restaurantes, hotéis, etc., que deviam instalar caixas separadoras de
gordura antes da descarga na rede, por forma a proteger a rede e a ETAR

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 122


8. Poluição industrial

▶ Do mesmo modo, também as oficinas e as áreas de serviços deveriam


instalar caixas separadoras de hidrocarbonetos para evitar que estes
afectem a rede e a ETAR

▶ Em geral, são estabelecidas regras e definidos num Regulamento de


Descarga as condições a que um efluente industrial deve obedecer para
poder ser descarregado na rede pública, sendo necessário por vezes corrigir
um ou mais parâmetros com um pré-tratamento ou mais simples ou mais
completo

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 123


8. Poluição industrial

▶ Situação semelhante sucede nas Zonas Industriais, nas quais não faz sentido
cada unidade ter o seu próprio tratamento

▶ Apenas as unidades que precisem farão um pré-tratamento, antes das


respectivas águas residuais (domésticas e industriais) se reunirem para
serem sujeitas a um tratamento conjunto com todas as águas residuais da
zona industrial

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 124


8. Poluição industrial

Caracterização média das águas residuais de alguns sectores industriais

▶ Como foi referido, tal como não há duas habitações cujas águas residuais
tenham igual concentração em termos dos parâmetros mais significativos,
por mais forte razão não haverá duas fábricas do mesmo sector com iguais
concentrações dos seus efluentes industriais

▶ Quando queremos fazer uma ETAR para uma cidade ou para uma fábrica, é
indispensável estudar minuciosamente cada caso

▶ Existem contudo, caracterizações médias dos sectores e, dessa forma,


vamos apresentar um conjunto de caracterizações relativas a alguns
sectores com significado em Angola

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 125


8. Poluição industrial

Águas residuais urbanas brutas Refinarias


▶ SST – 720 mg/l ▶ SST – 100 mg/l
▶ CBO – 220 mg / l de O2 ▶ CBO – 150 a 350 mg / l de O2

▶ CQO – 500 mg/l O2 ▶ CQO – 300 a 800 mg/l O2


▶ Gorduras – 100 mg/l ▶ Fenóis – 20 a 200 mg/l
▶ Hidrocarbonetos – 300 mg/l

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 126


8. Poluição industrial

Cerveja Refrigerantes
▶ SST – 720 mg/l ▶ SST – 220 mg/l
▶ CBO – 1660 mg /l ▶ CBO – 430 mg /l
▶ CQO – 3.200 mg/l ▶ CQO – 980 mg/l
▶ Gorduras – 1 mg/l

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 127


8. Poluição industrial

Lacticínios
▶ A situação é muito diferente, conforme
se produzir queijo ou se engarrafar leite
(1) Parâmetro (1) (2)
▶ No caso do fabrico do queijo é muito
SST 480 mg/l 1.100 mg/l
importante qual o destino do soro, dado
que se trata de um subproduto com uma CBO 1.500 mg /l 5.400 mg/l
enorme carga poluente. Se for rejeitado
ou se for separado e valorizado, as CQO 1.700 mg/l 12.000 mg/l
características serão completamente
Gorduras 140 mg/l 380 mg/l
diferentes (2). Em termos médios temos:

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 128


8. Poluição industrial

Suiniculturas
Considera-se que um animal com 60 Se considerarmos que em média são
kg rejeita diariamente: rejeitados 15 l de águas residuais por
▶ SST – 270 g animal e por dia, as concentrações
médias serão:
▶ CBO – 180 g
▶ SST – 18.000 mg/l
▶ CQO – 450 g
▶ CBO – 12.000 mg /l
▶ CQO – 30.000 mg/l

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 129


8. Poluição industrial

Matadouro de aves Curtumes

▶ SST – 1.200 mg/l ▶ SST – 2.740 mg/l


▶ CBO – 1.500 mg /l ▶ CBO – 403 mg /l
▶ CQO – 2.500 mg/l ▶ CQO – 4.387 mg/l
▶ Gorduras – 2.500 mg/l ▶ Gorduras – 182 mg/l

É óbvio que estas concentrações são valores médios, que podem variar em função do
consumo de água por unidade de produção, pelo que não podem ser usados quando,
por exemplo, uma fábrica quer construir a sua ETAR

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 130


9. Tecnologias mais limpas versus tecnologias fim de
linha
▶ Tudo o que se transmitiu até aqui assentou numa lógica de tratamento e,
portanto, de fim de linha ou curativa

▶ Se no que concerne à poluição doméstica, não é possível reduzir de forma


significativa a poluição gerada por cada pessoa, é possível, através de um
uso eficiente da água, reduzir o consumo desta. Contudo, o resultado no
essencial será uma maior concentração das águas residuais nos parâmetros,
dado que a carga poluente no essencial se mantém

▶ No entanto, quando pensamos na indústria, o panorama é outro

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 131


9. Tecnologias mais limpas versus tecnologias fim de
linha
▶ A poluição é muitas vezes desperdício de matérias primas, o que representa,
além do mais, um prejuízo económico

▶ Foi com base nesta premissa, que há mais de quatro décadas, a lógica de
protecção do ambiente assentou primordialmente na implementação de
medidas internas ao processo industrial, o mais a montante possível,
procurando-se reduzir ao máximo os consumos de água, de matérias-primas
e de energia

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 132


9. Tecnologias mais limpas versus tecnologias fim de
linha
▶ E se tomarmos em consideração três países: um desenvolvido, outro
medianamente desenvolvido e outro em vias de desenvolvimento e
compararmos, para produzir uma unidade qualquer (1 l de cerveja, 1 m2 de
pele curtida, 1 kg de pasta de papel, 1 kg de carcaça num matadouro, 1 kg
de queijo ou 1 barril de petróleo refinado) o consumo de água, de energia
ou de matérias-primas usados, veremos que o mais desenvolvido é o que
tem valores unitários de produção menores

▶ Em boa verdade, só deve ser tratado numa ETAR aquilo que não pode ser
reutilizado, nem reciclado, nem valorizado

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 133


9. Tecnologias mais limpas versus tecnologias fim de
linha
Devem aplicar-se em cada processo produtivo as melhores tecnologias disponíveis,
sendo as vantagens evidentes e permitindo:

▶ Reduzir os consumos unitários de água, energia e matérias primas

▶ Usar águas residuais do processo industrial em operações menos exigentes

▶ Reutilizar águas residuais tratadas

▶ Garantir maior fiabilidade do que a ETAR porque as medidas são inseridas no


próprio processo industrial

▶ Reduzir os custos com do investimento inicial na ETAR e com a sua


exploração

▶ Reduzir a produção de lamas

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 134


10. Breve análise ao conteúdo das licenças de
descarga e sua fiscalização
▶ A legislação é criada para definir em que condições certas actividades e
práticas podem ocorrer
▶ No que concerne ao licenciamento das descargas de águas residuais, e com
vista à protecção da qualidade da água do meio receptor, a lei estabelece os
VLE para um conjunto de parâmetros. Mas se a lei é importante e
enquadradora, o essencial, contudo, é que ela seja cumprida, ou seja, que
as descargas sejam tratadas e cumpram os limites estabelecidos
▶ A licença que regula as condições de descarga é emitida, apenas quando
ficar evidenciado que a entidade promotora (pública ou privada) apresentou
uma solução credível para o problema, sendo concedido um prazo para a sua
implementação

Milheiras Costa Luanda, 23.09 a 11.10 de 2019 135


10. Breve análise ao conteúdo das licenças de
descarga e sua fiscalização
▶ Cabe à fiscalização acompanhar o processo no sentido de acautelar que os
objectivos foram cumpridos, ou seja, que a ETAR foi construída e que
cumpre as condições de descarga
▶ Se a ETAR não foi construída ou não cumpre os VLE, a empresa deve ser
objecto de um processo de contra-ordenação, que pode culminar numa
multa, devendo ser dado um prazo ao infractor para corrigir a falha
▶ Novo incumprimento poderá determinar novo processo de contra-ordenação
e o agravamento da multa. Se a gravidade da situação o justificar, a fábrica
pode vir a ser encerrada

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10. Breve análise ao conteúdo das licenças de
descarga e sua fiscalização
▶ Para lá do papel penalizador, a fiscalização pode e deve desenvolver
igualmente um papel pedagógico, no sentido de ajudar as empresas a
resolver os problemas, esclarecendo o que a lei estabelece, o que nem
sempre é evidente. Pelo papel que têm em acompanhar diferentes
empresas, os inspetores podem difundir práticas inovadoras e positivas, que
podem ajudar as empresas a encurtar caminho nos passos a dar até uma
solução definitiva e satisfatória.
▶ O Anexo VI “Valores Limite de Emissão na Descarga de Águas Residuais” da
Lei da Qualidade da Água constam valores orientadores e gerais

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10. Breve análise ao conteúdo das licenças de
descarga e sua fiscalização
▶ Contudo, a licença de descarga, que é especifica para cada situação
concreta, tem (ou poderia ter) margem para adaptar as condições gerais a
qualquer particular, já que não faz sentido tratar de forma igual (impor os
mesmos valores de descarga a todos os efluentes) o que é diferente
▶ A lei geral não o pode fazer, mas a licença deveria ter em conta: o caudal
descarregado e o caudal do meio receptor e não apenas os VLE
▶ Porque se o objectivo é a protecção do meio receptor e assegurar que os
objectivos de qualidade são respeitados, o que se tem que garantir é que a
descarga não altere tais objectivos

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10. Breve análise ao conteúdo das licenças de
descarga e sua fiscalização
▶ E neste aspecto, os limites impostos podiam ser revistos à luz da relação
entre os dois caudais
▶ Se nuns casos pode fazer todo o sentido que os VLE da licença sejam os da
lei, noutros casos, se o caudal de descarga é pequeno (e a carga é pequena)
e o meio receptor é muito grande, pode fazer sentido que os VLE constantes
na licença até possam ser francamente superiores aos da legislação

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10. Breve análise ao conteúdo das licenças de
descarga e sua fiscalização

▶ Não se trata de fazer o jeito a ninguém, mas apenas de fazer uma gestão
racional da capacidade de diluição e de autodepuração do meio receptor,
assim como dos seus objectivos de qualidade. A verdade é que os custos da
construção da ETAR e da sua exploração são função da qualidade do efluente
tratado e valores mais exigentes implicam custos mais elevados

▶ A relação entre a licença de descarga e o PCQA

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Elementos de apoio

▶ Decreto Presidencial nº 261/11, de 6 de Outubro

▶ Ersar – Guia técnico nº 14

▶ Ersar – Recomendações nºs 1/2007 e 2/2007

▶ Ersar – Tratamento de águas residuais

▶ Funasa – Manual de saneamento

▶ Plano de Desenvolvimento Nacional de 2018-2022 do Governo de Angola

▶ Plano de Acção do Sector da Energia e Águas 2018-2022 do MNEA

▶ Relatório sobre ”Objectivos de Desenvolvimento sustentável” do INE

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