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7º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente

Bento Gonçalves – RS, Brasil, 9 a 11 de maio de 2023

Reúso de águas no estado do Rio Grande do Norte: oferta, demanda e


oportunidades

Cláudia Regina Maciel Gomes Garcia 1, João Vinícius Cruz 2, Sara Raquel
Laurentino Barbosa de Lima 3
1
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (claudiasemarh@gmail.com)
2
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (vinicius.365@gmail.com)
3
Graduanda em Engenharia Civil – DECAM/UFRN (sararaquellbl@gmail.com)

Resumo
Além do panorama insatisfatório da universalização do saneamento, a região semiárida tem
como agravante o acúmulo das precipitações em poucos meses do ano e elevadas taxas de
evaporação. Assim, açudes e barragens, que representam 80% dos corpos d’água no Nordeste,
não sustentam a demanda em anos consecutivos de seca. Por isso, para melhor convivência
com esse ambiente, adotou-se a prática do reúso dos esgotos. Apesar disso, os poucos
municípios do Rio Grande do Norte (RN) que operam sistemas de tratamento de esgoto o
fazem insuficientemente com precária operação. Nesse contexto, o RN elaborou a Política
Estadual de Reúso (Lei 11.332/2022), cujo objetivo é viabilizar, estimular e gerir a prática do
reúso. Este trabalho objetivou, no âmbito do RN, quantificar sistemas de tratamento de
esgotos existentes (oferta), bem como caracterizar potenciais consumidores de água de reúso
(demanda), a fim de apontar áreas com maior viabilidade de aplicação das práticas de reúso
(oportunidade). Para isso, utilizaram-se dados solicitados à Companhia de Águas e Esgoto e
ao Instituto de Gestão das Águas, bem como dados disponibilizados pelo atlas de esgoto da
Agência Nacional de Águas. Como principais resultados deste trabalho, aponta-se a
identificação de que 75%, dos 112 municípios onde o reúso foi identificado como solução
para o lançamento de efluentes, necessita de investimentos, pois apenas 28 deles possuem
Estações de Tratamento de Esgoto, totalizando 47 estações. Além disso, das vazões outorgas
no estado em 2021, destacaram-se em ordem decrescente: irrigação, carcinicultura, industrial
e lançamento em corpos d´água.

Palavras-chave: Tratamento de Esgoto. Consumo. Outorga. Municípios.

Área Temática: IV – Efluentes e Águas residuárias

Water reuse in the state of Rio Grande do Norte: supply, demand and
opportunities
Abstract
Besides the unsatisfactory panorama of universal sanitation, the semiarid region is
aggravated by the accumulation of rainfall in few months of the year and high rates of
evaporation. Thus, dams and reservoirs, which represent 80% of the water bodies in the
Northeast, don’t sustain the demand in consecutive years of drought. Therefore, to better
coexist with this environment, the practice of sewage reuse was adopted. Despite this, the few
municipalities in Rio Grande do Norte (RN) that operate sewage treatment systems do so
insufficiently and with precarious operation. In this context, the State of Rio Grande do Norte
has elaborated the State Reuse Policy (Law 11.332/2022), which objective is to make feasible,
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stimulate, and manage the practice of reuse. This work aimed, in RN, to quantify existing
sewage treatment systems (supply), as well as characterize potential consumers of reused
water (demand), in order to point out areas with greater feasibility of applying reuse
practices (opportunity). To this end, was used data requested from the Water and Sewage
Company and the Water Management Institute, as well as data made available by the sewage
atlas of the National Water Agency. The main results of this work are that 75% of the 112
municipalities where reuse was identified as a solution for effluent disposal need investments,
because only 28 of them have sewage treatment plants, totaling 47 plants. In addition, of the
flows authorized in the state (2021), the following stood out in descending order: irrigation,
carciniculture, industrial, and discharge into water’s bodies.

Key words: Sewage Treatment. Consumption. Granting. Municipalities.

Theme Area: IV - Effluents and Wastewater

1 Introdução
Além do panorama insatisfatório quanto à universalização dos serviços de
saneamento, conforme art. 2, Inciso I, da Lei Federal no 11.445/2007 (atualizada pelo novo
marco legal do saneamento – Lei Federal 14.026/2020), a região semiárida brasileira ainda
possui mais um agravante: o acúmulo das precipitações em poucos meses do ano e elevadas
taxas de evaporação, que favorecem a escassez de recursos hídricos (NASCIMENTO;
FERREIRA, 2012; ASA, 2019; MDR, 2020). Esse cenário de seca é um problema cujas
consequências econômicas e sociais habita o campo da política, demandando esforços
efetivos do poder público para solucioná-lo (FURTADO, 1989).
Com isso, os açudes e as barragens representam 80% dos corpos de água nos estados
do Nordeste (ANA, 2020). Entretanto, estes reservatórios, apesar de extremamente
importantes e necessários, não sustentam a demanda por água em anos consecutivos de seca
(MARENGO et al, 2017). Sendo assim, uma das alternativas adotadas para melhorar a
convivência com a seca nessa área é a prática do reúso dos esgotos. Apesar disso, os poucos
municípios do RN que operam sistemas de tratamento de esgoto o fazem de modo
insuficiente, sendo estes majoritariamente lagoa de estabilização, cuja operação é precária, ou
fossas sépticas e rudimentares (LIMA et al., 2019; ANDRADE NETO, 1994; ANDRADE
NETO, 1997).
Atrelado a esse panorama, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos (SEMARH) elaborou o Projeto de Lei que foi aprovado e tornou-se a Lei
11.332/2022, cujo objetivo é viabilizar, estimular e gerir a prática do reúso no território
potiguar. Nesse sentido, como um dos seus instrumentos, essa lei instituiu o Programa
Estadual de Reúso, cujos objetivos, dentre outros, pode-se citar: promover ações de
fortalecimento científico do reúso de água em todos os níveis de conhecimento; fomentar o
reúso de águas, por meio de tecnologias sociais e parcerias públicas e privadas, para
popularização do reúso em todo o Estado do Rio Grande do Norte, sobretudo quanto às
produções agrícola e aquícola; promover mecanismos de efetivação do reúso, considerando as
sazonalidades e demais características das diversas regiões do Estado.
A luz do que foi apresentado, o reúso de esgoto tratado contribui para a prevenção da
poluição dos recursos hídricos e amplia a oferta de água. Portanto, essa ferramenta para
melhoria da convivência com a seca, e a caminhada do Estado do Rio Grande do Norte em
direção ao fomento dessa prática, colabora para o atendimento do compromisso com a agenda
2030, que atualmente possui pauta global (ONU, 2015). Isso porque, a prática do reúso
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contribui diretamente para a promoção do Objetivo do Desenvolvimento Sustentável número


6 (ODS 6), relacionado à água limpa e saneamento.
Em face do exposto, este trabalho teve como objetivo, no âmbito do estado do Rio
Grande do Norte, quantificar os sistemas de tratamento de esgotos existentes (oferta), bem
como caracterizar os potenciais consumidores de água de reúso (demanda), a fim de apontar
as áreas com maior viabilidade de aplicação das práticas de reúso (oportunidade). Para isso,
foram utilizados dados solicitados tanto à Companhia de Águas e Esgoto do Estado do Rio
Grande do Norte (CAERN) quanto ao Instituto de Gestão das Águas do Rio Grande do Norte
(IGARN), bem como dados disponibilizados pelo atlas de esgoto da Agência Nacional de
Águas (ANA).

2 Metodologia
2.1 Identificação das ofertas
Nesta etapa, as Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) existentes e em construção
foram quantificadas. Além disso, foi elaborado o mapa contendo tanto a solução para remoção
de matéria orgânica (DBO) dos efluentes sanitários provenientes das ETEs, quanto as vazões
para cada município, cuja identificação como “solução de semiárido” e “solução
complementar” mostra que receberam indicação de reúso pelo Atlas de Esgoto (ANA, 2017).

2.2 Identificação das demandas


A identificação das demandas foi realizada a partir dos dados de outorga solicitados ao
IGARN durante o ano de 2020. Como critério de seleção dos tipos de usos de água
analisados, utilizou-se os fins não potáveis cuja soma resultou em vazão superior a 150l/s.

2.3 Identificação das oportunidades


Após identificar as ofertas e as demandas, foi possível correlacionar as variáveis para
identificar as oportunidades, o que foi realizado a partir dos seguintes procedimentos:
georreferenciamento das demandas por água com base nas vazões outorgadas, classificação
de acordo com a tipo de uso e coordenadas geográficas; georreferenciamento das ofertas de
esgoto por ETE, considerando a Q (vazão), a localização de acordo com a tipologia de
solução para o descarte diagnosticado no Atlas de Esgoto da ANA (2017) e as coordenadas
geográficas; e sobreposição dos resultados de oferta de esgoto e demandas de outorga. Todas
as análises e produtos de geoprocessamento foram elaborados utilizando-se o software livre
QGIS e arquivos vetoriais do banco de dados da ANA.

3 Resultados e discussão
3.1 Identificação das ofertas
Conforme é possível identificar por meio da Figura 1, os dados analisados por esta
pesquisa mostraram que o reúso foi identificado como uma solução para o lançamento de
efluentes em 67% dos municípios do Rio Grande do Norte, aproximadamente 112, pois
possuem corpo receptor intermitente ou efêmero ou requer solução complementar (revisão da
classe do rio, corpo receptor alternativo ou reúso). No entanto, os dados solicitados à CAERN
para esta pesquisa mostraram que apenas 28 desses municípios possuem ETE, totalizando 47
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estações. Assim, 75%, dos 112 municípios onde o reúso foi identificado como solução para o
lançamento de efluentes, necessitam de investimentos que garantam a coleta e tratamento
desses efluentes.

Figura 1 – Mapa com solução para a remoção da matéria orgânica (DBO) do esgoto no Rio Grande do Norte.

Fonte: Própria autoria, 2021.

Adicionalmente, os dados solicitados à CAERN para esta pesquisa mostraram duas


estações de tratamento com situação “em construção”, ambas localizadas no município de
Natal e deverão disponibilizar uma vazão de 2.300 l/s de esgoto tratado a nível terciário. Essa
vazão corresponde a 56% do somatório das 47 estações analisadas por esta pesquisa. Seguidas
das estações Central (Natal) 405l/s, Cajazeiras (Mossoró) 324l/s, Ponta Negra (Natal) 250l/s,
CIA (Macaíba) 104l/s, Walfredo Gurgel (Caicó) 86l/s, Passagem das Pedras (Mossoró)
70,44l/s e Princesinha do Oeste (Pau dos Ferros) 45,93l/s. Ao agrupar essas ETEs por
município, foi possível identificar que as 10 maiores vazões, em ordem decrescente, se
encontram nos municípios de: Natal, Mossoró, Extremoz, Parnamirim, Macaíba, Caicó, Pau
dos Ferros, Assu, Currais Novos e Macau.

3.2 Identificação das demandas


Das demandas outorgadas no Igarn, foram selecionados os usos que apresentaram
maior vazão identificável para fins não potáveis, correspondendo a 65% das vazões outorgas
no estado em 2021. Em ordem decrescente, são eles: irrigação, carcinicultura, industrial e
efluentes, conforme observa-se na Tabela 1. Vale salientar que o uso “efluentes” é uma
outorga de lançamento.

Tabela 1 – Usos da água outorgados pelo IGARN em 2020.


Quantidade de
ID Uso da Água Vazão (l/s) Média (l/s)
pontos
1 Irrigação 5 6382,13 1276,42
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2 Humano 9 3846,77 427,41


3 Carcinicultura 260 1153,51 4,436
4 Industrial 3 288,95 96,31
5 Efluentes 66 153,14 2,32
6 Outros 2 132,16 66,079
7 Humano/irrigação 6 91,22 15,20
8 Irrigação/outros 2 50,97 25,48
9 Irrigação/animal 9 28,22 3,13
10 Outros/irrigação 4 24,96 6,24
11 Humano/lazer/irrigação 2 10,06 5,02
12 Humano/industrial 7 8,54 1,22
13 Humano/animal/outros 3 6,80 2,26
14 Animal/irrigação 554 6,43 0,01
15 Carcinicultura/piscicultura 53 5,85 0,11
16 Outros/lazer 1 4,40 4,39
17 Piscicultura/humano/animal 1 2,30 2,30
18 Humano/animal/irrigação 62 2,10 0,03
19 Irrigação/humano/animal 1 1,50 1,49
20 Humano/outros 6 0,47 0,07
21 Regularização de barragem 3 0,00 0
Fonte: Adaptado de IGARN, 2021.

Nesse contexto, ocorreram 466 outorgas, sendo 316 de fonte subterrânea (aquíferos) e
150 de fonte superficial (Rios, lagoas e açudes), de acordo com a Tabela 2.

Tabela 2 – Vazão por uso da água nas Bacias Hidrográficas.


BACIA QTE FONTE VAZÃO POR USO DA ÁGUA(l/s)
HIDROGRÁFICA (unidade) SUPERF. SUBTER. IRRIG. CARCIN. INDUS. EFLUE. TOTAL %
F.L.N.E.D. 103 103 1399 25 21 1445 18%
JACÚ 17 13 4 799 125 23 947 12%
PIRANHAS/AÇU 66 27 39 492 318 8 41 858 11%
APODI/MOSSORÓ 84 35 49 742 60 4 23 829 11%
TRAIRI 22 11 11 627 33 41 701 9%
CEARÁ-MIRIM 13 12 1 147 537 2 685 9%
CATÚ 6 5 1 680 1 681 9%
MAXARANGUAPE 16 5 11 344 37 381 5%
BOQUEIRÃO 32 5 27 374 374 5%
CURIMATAÚ 7 5 2 251 2 253 3%
PUNAÚ 43 19 24 236 236 3%
PIRANGI 33 7 26 101 19 28 149 2%
TRAIRÍ 4 3 1 1 94 30 125 2%
POTENGI 12 2 10 4 24 21 6 54 1%
DOCE 3 3 6 41 47 1%
F.L.L.E.D. 4 4 39 39 0%
GUAJU 1 1 9 9 0%
TOTAL 466 150 316 6249 1129 283 150 7812 1
Fonte: Adaptado de IGARN, 2021.

Esta pesquisa constatou que tal demanda ocorre principalmente nas bacias da Faixa
Litorânea Norte de Escoamento Difuso (FLNED), destacando-se os municípios de Tibau e
Touros, cujas demandas são superiores a 500l/s, sendo a irrigação identificada como a
principal finalidade da outorga. Por sua vez, na bacia do Rio Apodi/Mossoró (município de
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Mossoró), a demanda de uso da água para carcinicultura se destacou. Enquanto na bacia do


Rio Jacu (Serrinha, Goianinha e Arez), o uso industrial foi destaque. Finalmente, no Rio
Piranhas/Açu (Caicó), os efluentes receberam outorgas de lançamento com maior vazão.

3.3 Identificação das oportunidades


Na Figura 2, percebe-se que as outorgas e as ETEs estão localizadas principalmente
no litoral do Estado, sendo a irrigação a principal finalidade do uso da água.
Figura 2: Mapa da relação entre a vazão das ETEs e os uso não potáveis identificados

Fonte: Própria autoria, 2021.

A correlação da vazão de outorga demandada por cada tipo de uso com a vazão das
ETEs nos municípios que as possuem, permitiu identificar os municípios que necessitam de
maiores investimentos em estações de tratamento com a finalidade de reúso. Além disso,
identificou-se não só aqueles possuem demanda e oferta proporcionais, mas também os que
possuem ETEs com altas vazões, superando as demandas para fins não potáveis. Sendo assim,
observou-se oportunidades de reúso (oferta e demanda proporcionais) nos municípios de São
Gonçalo do Amarante, Pendências, São Miguel do Gostoso, Mossoró e João Câmara, sendo a
Irrigação e a Carcinicultura os usos principais.
Por outro lado, observou-se necessidade de investimento (demanda outorgada superior
à oferta) nos municípios de Espirito Santo, Afonso Bezerra, São José de Mipibu, Goianinha,
Carnaubais, Pedro Velho e Assu. Esses municípios apresentaram uma demanda média de 186
l/s para uma oferta de apenas 16l/s, em média (diferença de aproximadamente 24%). Assim,
tais municípios necessitam de mais investimentos destinados ao tratamento das suas águas
residuárias, por meio não somente de soluções convencionais como, por exemplo, as ETEs,
mas também de soluções alternativas como os sistemas de reúso agrícola do esgoto tratado em
comunidades rurais.
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Finalmente, identificou-se necessidade de estudos complementares para


aproveitamento dos efluentes que excedem as demandas (oferta superior às demandas
outorgadas) nos municípios de Natal, Extremoz, São Paulo do Potengi e Currais Novos.
Portanto, recomenda-se que sejam realizados estudos para análises complementares, a fim de
identificar possíveis demandas por outros métodos, bem como estudos de viabilidade técnica,
econômica e ambiental. Isso porque, tais localidades possuem estrutura de tratamento de
efluentes podendo beneficiar suas próprias comunidades rurais, além dos municípios vizinhos
em situação de escassez hídrica e demanda capaz de ser suprida por meio da água de reúso.
Sobre isso, destaca-se a elaboração do Termo de Referência elaborado pela SEMARH
sobre o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA). Tal documento
técnico, é requisito para obtenção de recursos que viabilizem a distribuição da água de reúso
da ETE Jaguaribe, em construção no município de Natal, para a região metropolitana de
Natal, Médio Oeste, passando pelo Litoral Nordeste até a Baixa Verde. Além disso, visa
também a distribuição do esgoto tratado da ETE Guarapes-Jundiaí, também em construção no
município de Natal, em direção à Região Norte do Agreste Potiguar.

4 Considerações finais
Como principais resultados deste trabalho, pode-se apontar identificação de que apesar
de 67% dos municípios do Rio Grande Norte, apenas 28 deles possuem ETE, totalizando 47
estações. Assim, 75% dos 112 municípios onde o reúso foi identificado como uma solução
para o lançamento de efluentes, necessitam de investimentos que garantam a coleta e
tratamento desses efluentes. Além disso, das vazões outorgas no estado em 2021, destacaram-
se em ordem decrescente: irrigação, carcinicultura, industrial e efluentes (outorga de
lançamento em corpos d´água).
Sendo assim, tais resultados sugerem que o fomento do reúso não potável no referido
estado tem potencial para tornar efetiva a prática do conceito de substituição de fontes. Isso
porque, as águas para suprir demandas dos principais usos outorgados (carcinicultura e
irrigação) podem ser oriundas do esgoto tratado, em substituição às águas dos corpos hídricos,
sejam eles superficiais ou subterrâneos. Com isso, fica evidenciada a importância do
investimento nas atividades de reúso de águas para o crescimento da segurança hídrica no
semiárido potiguar. Nesse contexto, as duas estações de tratamento com situação “em
construção”, localizadas no município de Natal deverão disponibilizar uma vazão
correspondente a 56% do somatório de todas as 47 ETEs selecionadas nesta pesquisa. Assim,
sugere-se providenciar as medidas necessárias para realização do EVTEA, a fim de
possibilitar a adução da água de reúso produzida por tais unidades de tratamento até os locais
cujas demandas possam ser supridas por esse efluente.
Portanto, resta evidente que cabe ao poder público e às Organizações da Sociedade
Civil debruçar-se sobre a realidade que se apresenta e elaborar soluções convencionais ou
alternativas nas cidades e comunidades rurais, a fim de progredir no que tange ao panorama
relacionado à coleta, tratamento e reúso de esgoto tratado. Isso deve ocorrer com especial
atenção para os municípios que demandam de mais investimentos, conforme apontado por
esta pesquisa, o que também inclui adequações e melhorias em ETEs de municípios com
oferta de efluentes superior a demanda, a fim de transportar o excedente para as áreas de
escassez. Desse modo, pode-se avançar no campo do desenvolvimento sustentável e no
compromisso com a agenda 2030.
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Referências
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LIMA, S. R. L. B et al.; Avaliação dos sistemas de tratamento de esgoto em diferentes regiões


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03.

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