Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Cláudia Regina Maciel Gomes Garcia 1, João Vinícius Cruz 2, Sara Raquel
Laurentino Barbosa de Lima 3
1
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (claudiasemarh@gmail.com)
2
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (vinicius.365@gmail.com)
3
Graduanda em Engenharia Civil – DECAM/UFRN (sararaquellbl@gmail.com)
Resumo
Além do panorama insatisfatório da universalização do saneamento, a região semiárida tem
como agravante o acúmulo das precipitações em poucos meses do ano e elevadas taxas de
evaporação. Assim, açudes e barragens, que representam 80% dos corpos d’água no Nordeste,
não sustentam a demanda em anos consecutivos de seca. Por isso, para melhor convivência
com esse ambiente, adotou-se a prática do reúso dos esgotos. Apesar disso, os poucos
municípios do Rio Grande do Norte (RN) que operam sistemas de tratamento de esgoto o
fazem insuficientemente com precária operação. Nesse contexto, o RN elaborou a Política
Estadual de Reúso (Lei 11.332/2022), cujo objetivo é viabilizar, estimular e gerir a prática do
reúso. Este trabalho objetivou, no âmbito do RN, quantificar sistemas de tratamento de
esgotos existentes (oferta), bem como caracterizar potenciais consumidores de água de reúso
(demanda), a fim de apontar áreas com maior viabilidade de aplicação das práticas de reúso
(oportunidade). Para isso, utilizaram-se dados solicitados à Companhia de Águas e Esgoto e
ao Instituto de Gestão das Águas, bem como dados disponibilizados pelo atlas de esgoto da
Agência Nacional de Águas. Como principais resultados deste trabalho, aponta-se a
identificação de que 75%, dos 112 municípios onde o reúso foi identificado como solução
para o lançamento de efluentes, necessita de investimentos, pois apenas 28 deles possuem
Estações de Tratamento de Esgoto, totalizando 47 estações. Além disso, das vazões outorgas
no estado em 2021, destacaram-se em ordem decrescente: irrigação, carcinicultura, industrial
e lançamento em corpos d´água.
Water reuse in the state of Rio Grande do Norte: supply, demand and
opportunities
Abstract
Besides the unsatisfactory panorama of universal sanitation, the semiarid region is
aggravated by the accumulation of rainfall in few months of the year and high rates of
evaporation. Thus, dams and reservoirs, which represent 80% of the water bodies in the
Northeast, don’t sustain the demand in consecutive years of drought. Therefore, to better
coexist with this environment, the practice of sewage reuse was adopted. Despite this, the few
municipalities in Rio Grande do Norte (RN) that operate sewage treatment systems do so
insufficiently and with precarious operation. In this context, the State of Rio Grande do Norte
has elaborated the State Reuse Policy (Law 11.332/2022), which objective is to make feasible,
7º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente
Bento Gonçalves – RS, Brasil, 9 a 11 de maio de 2023
stimulate, and manage the practice of reuse. This work aimed, in RN, to quantify existing
sewage treatment systems (supply), as well as characterize potential consumers of reused
water (demand), in order to point out areas with greater feasibility of applying reuse
practices (opportunity). To this end, was used data requested from the Water and Sewage
Company and the Water Management Institute, as well as data made available by the sewage
atlas of the National Water Agency. The main results of this work are that 75% of the 112
municipalities where reuse was identified as a solution for effluent disposal need investments,
because only 28 of them have sewage treatment plants, totaling 47 plants. In addition, of the
flows authorized in the state (2021), the following stood out in descending order: irrigation,
carciniculture, industrial, and discharge into water’s bodies.
1 Introdução
Além do panorama insatisfatório quanto à universalização dos serviços de
saneamento, conforme art. 2, Inciso I, da Lei Federal no 11.445/2007 (atualizada pelo novo
marco legal do saneamento – Lei Federal 14.026/2020), a região semiárida brasileira ainda
possui mais um agravante: o acúmulo das precipitações em poucos meses do ano e elevadas
taxas de evaporação, que favorecem a escassez de recursos hídricos (NASCIMENTO;
FERREIRA, 2012; ASA, 2019; MDR, 2020). Esse cenário de seca é um problema cujas
consequências econômicas e sociais habita o campo da política, demandando esforços
efetivos do poder público para solucioná-lo (FURTADO, 1989).
Com isso, os açudes e as barragens representam 80% dos corpos de água nos estados
do Nordeste (ANA, 2020). Entretanto, estes reservatórios, apesar de extremamente
importantes e necessários, não sustentam a demanda por água em anos consecutivos de seca
(MARENGO et al, 2017). Sendo assim, uma das alternativas adotadas para melhorar a
convivência com a seca nessa área é a prática do reúso dos esgotos. Apesar disso, os poucos
municípios do RN que operam sistemas de tratamento de esgoto o fazem de modo
insuficiente, sendo estes majoritariamente lagoa de estabilização, cuja operação é precária, ou
fossas sépticas e rudimentares (LIMA et al., 2019; ANDRADE NETO, 1994; ANDRADE
NETO, 1997).
Atrelado a esse panorama, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos (SEMARH) elaborou o Projeto de Lei que foi aprovado e tornou-se a Lei
11.332/2022, cujo objetivo é viabilizar, estimular e gerir a prática do reúso no território
potiguar. Nesse sentido, como um dos seus instrumentos, essa lei instituiu o Programa
Estadual de Reúso, cujos objetivos, dentre outros, pode-se citar: promover ações de
fortalecimento científico do reúso de água em todos os níveis de conhecimento; fomentar o
reúso de águas, por meio de tecnologias sociais e parcerias públicas e privadas, para
popularização do reúso em todo o Estado do Rio Grande do Norte, sobretudo quanto às
produções agrícola e aquícola; promover mecanismos de efetivação do reúso, considerando as
sazonalidades e demais características das diversas regiões do Estado.
A luz do que foi apresentado, o reúso de esgoto tratado contribui para a prevenção da
poluição dos recursos hídricos e amplia a oferta de água. Portanto, essa ferramenta para
melhoria da convivência com a seca, e a caminhada do Estado do Rio Grande do Norte em
direção ao fomento dessa prática, colabora para o atendimento do compromisso com a agenda
2030, que atualmente possui pauta global (ONU, 2015). Isso porque, a prática do reúso
7º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente
Bento Gonçalves – RS, Brasil, 9 a 11 de maio de 2023
2 Metodologia
2.1 Identificação das ofertas
Nesta etapa, as Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) existentes e em construção
foram quantificadas. Além disso, foi elaborado o mapa contendo tanto a solução para remoção
de matéria orgânica (DBO) dos efluentes sanitários provenientes das ETEs, quanto as vazões
para cada município, cuja identificação como “solução de semiárido” e “solução
complementar” mostra que receberam indicação de reúso pelo Atlas de Esgoto (ANA, 2017).
3 Resultados e discussão
3.1 Identificação das ofertas
Conforme é possível identificar por meio da Figura 1, os dados analisados por esta
pesquisa mostraram que o reúso foi identificado como uma solução para o lançamento de
efluentes em 67% dos municípios do Rio Grande do Norte, aproximadamente 112, pois
possuem corpo receptor intermitente ou efêmero ou requer solução complementar (revisão da
classe do rio, corpo receptor alternativo ou reúso). No entanto, os dados solicitados à CAERN
para esta pesquisa mostraram que apenas 28 desses municípios possuem ETE, totalizando 47
7º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente
Bento Gonçalves – RS, Brasil, 9 a 11 de maio de 2023
estações. Assim, 75%, dos 112 municípios onde o reúso foi identificado como solução para o
lançamento de efluentes, necessitam de investimentos que garantam a coleta e tratamento
desses efluentes.
Figura 1 – Mapa com solução para a remoção da matéria orgânica (DBO) do esgoto no Rio Grande do Norte.
Nesse contexto, ocorreram 466 outorgas, sendo 316 de fonte subterrânea (aquíferos) e
150 de fonte superficial (Rios, lagoas e açudes), de acordo com a Tabela 2.
Esta pesquisa constatou que tal demanda ocorre principalmente nas bacias da Faixa
Litorânea Norte de Escoamento Difuso (FLNED), destacando-se os municípios de Tibau e
Touros, cujas demandas são superiores a 500l/s, sendo a irrigação identificada como a
principal finalidade da outorga. Por sua vez, na bacia do Rio Apodi/Mossoró (município de
7º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente
Bento Gonçalves – RS, Brasil, 9 a 11 de maio de 2023
A correlação da vazão de outorga demandada por cada tipo de uso com a vazão das
ETEs nos municípios que as possuem, permitiu identificar os municípios que necessitam de
maiores investimentos em estações de tratamento com a finalidade de reúso. Além disso,
identificou-se não só aqueles possuem demanda e oferta proporcionais, mas também os que
possuem ETEs com altas vazões, superando as demandas para fins não potáveis. Sendo assim,
observou-se oportunidades de reúso (oferta e demanda proporcionais) nos municípios de São
Gonçalo do Amarante, Pendências, São Miguel do Gostoso, Mossoró e João Câmara, sendo a
Irrigação e a Carcinicultura os usos principais.
Por outro lado, observou-se necessidade de investimento (demanda outorgada superior
à oferta) nos municípios de Espirito Santo, Afonso Bezerra, São José de Mipibu, Goianinha,
Carnaubais, Pedro Velho e Assu. Esses municípios apresentaram uma demanda média de 186
l/s para uma oferta de apenas 16l/s, em média (diferença de aproximadamente 24%). Assim,
tais municípios necessitam de mais investimentos destinados ao tratamento das suas águas
residuárias, por meio não somente de soluções convencionais como, por exemplo, as ETEs,
mas também de soluções alternativas como os sistemas de reúso agrícola do esgoto tratado em
comunidades rurais.
7º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente
Bento Gonçalves – RS, Brasil, 9 a 11 de maio de 2023
4 Considerações finais
Como principais resultados deste trabalho, pode-se apontar identificação de que apesar
de 67% dos municípios do Rio Grande Norte, apenas 28 deles possuem ETE, totalizando 47
estações. Assim, 75% dos 112 municípios onde o reúso foi identificado como uma solução
para o lançamento de efluentes, necessitam de investimentos que garantam a coleta e
tratamento desses efluentes. Além disso, das vazões outorgas no estado em 2021, destacaram-
se em ordem decrescente: irrigação, carcinicultura, industrial e efluentes (outorga de
lançamento em corpos d´água).
Sendo assim, tais resultados sugerem que o fomento do reúso não potável no referido
estado tem potencial para tornar efetiva a prática do conceito de substituição de fontes. Isso
porque, as águas para suprir demandas dos principais usos outorgados (carcinicultura e
irrigação) podem ser oriundas do esgoto tratado, em substituição às águas dos corpos hídricos,
sejam eles superficiais ou subterrâneos. Com isso, fica evidenciada a importância do
investimento nas atividades de reúso de águas para o crescimento da segurança hídrica no
semiárido potiguar. Nesse contexto, as duas estações de tratamento com situação “em
construção”, localizadas no município de Natal deverão disponibilizar uma vazão
correspondente a 56% do somatório de todas as 47 ETEs selecionadas nesta pesquisa. Assim,
sugere-se providenciar as medidas necessárias para realização do EVTEA, a fim de
possibilitar a adução da água de reúso produzida por tais unidades de tratamento até os locais
cujas demandas possam ser supridas por esse efluente.
Portanto, resta evidente que cabe ao poder público e às Organizações da Sociedade
Civil debruçar-se sobre a realidade que se apresenta e elaborar soluções convencionais ou
alternativas nas cidades e comunidades rurais, a fim de progredir no que tange ao panorama
relacionado à coleta, tratamento e reúso de esgoto tratado. Isso deve ocorrer com especial
atenção para os municípios que demandam de mais investimentos, conforme apontado por
esta pesquisa, o que também inclui adequações e melhorias em ETEs de municípios com
oferta de efluentes superior a demanda, a fim de transportar o excedente para as áreas de
escassez. Desse modo, pode-se avançar no campo do desenvolvimento sustentável e no
compromisso com a agenda 2030.
7º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente
Bento Gonçalves – RS, Brasil, 9 a 11 de maio de 2023
Referências
ANDRADE NETO, C. O. Sistema simples para o tratamento de esgotos sanitários:
experiência brasileira. Rio de Janeiro: ABES, 1997. 299p.
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (Brasil). Reúso d’água: ação da ANA para implantar
plano da bacia Piancó-Piranhas-Açu resulta em quatro plantas no RN e PB. ASCOM: Jan.
2019. Disponível em: < https://www.ana.gov.br/noticias/reuso-d2019agua-acao-da-ana-para-
implantar-plano-da-bacia-pianco-piranhas-acu-resulta-em-quatro-plantas-no-rn-e-pb> Acesso
em: 30 jun. 2020.
FURTADO, Celso. A fantasia desfeita. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
ONU. Organização das Nações Unidas. Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030
para o Desenvolvimento Sustentável. 2015.