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Luana Rodrigues Castiglioni

Lucas D’Ávila

Avaliação da Vazão Mínima de Referência utilizada no


Requerimento de Outorga de direito de uso de águas
superficiais na Bacia Hidrográfica do Rio Guandu pela
AGERH - Agência Estadual de Recursos Hídricos.

Projeto de pesquisa apresentado à


Universidade Federal do Espírito Santo, com
objetivo de aprovação na disciplina de
Metodologia da Pesquisa, no curso de
Engenharia Ambiental.
Orientadora: Profa Dra. Regina de Pinho Keller

Vitória
2023
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Justificativa
A água é um recurso que apresenta os mais variados usos e é de extrema
importância em todas as atividades desenvolvidas pelo homem. Dentre os usos
mais fundamentais estão o abastecimento público, dessedentação animal,
agricultura, entre outros. Devido a isso, surge o planejamento e a gestão dos
recursos hídricos a fim de reduzir os conflitos envolvendo o uso da água decorrente
do crescimento populacional e da melhora na expectativa de vida da população
(BARBOSA et al., 2005; MARTINS et al., 2011).
Considerando sua importância, em 1997 foi criada a Lei Nacional de Recursos
Hídricos, Lei n° 9.433/97, a qual aborda, a gestão múltipla dos recursos hídricos,
institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, e cria o Sistema de Informações
sobre Recursos Hídricos (BRASIL, 1997).
Dentre os instrumentos estabelecidos pela PNRH, a outorga de direito de uso
da água assume como escopo assegurar um controle quali-quantitativo dos usos da
água, bem como garantir à atual e as futuras gerações a necesssária
disponibilidade de água, adequando o padrão de qualidades aos respectivos usos.
O Estado do Espírito Santo, por meio da IN AGERH nº 007/2020, estabelece
qua a vazão de referência para orientar a outorga de direitos de uso de recursos
hídricos é calculada com base na vazão de permanência de 90% - Q90. Estabelece
ainda que, o somatório das vazões outorgadas para um mesmo trecho do curso
hídrico fica limitado a 50% (cinquenta porcento) da vazão de referência do corpo de
água. (ESPÍRITO SANTO, 2020),
No gerenciamento do uso múltiplo da água, torna-se necessário o
conhecimento da disponibilidade hídrica no local de estudo. Isto, tendo em vista que
a sua falta pode comprometer a gestão do uso da água, principalmente, ao realizar
estudos que tenham como objetivo o enquadramento e outorga dos recursos
hídricos (TUCCI, 2002).
No presente trabalho, há a necessidade da obtenção das vazões mínimas,
que são normalmente utilizadas para outorga nos bacias hidrográficas do estado do
Espírito Santo e em Minas Gerais, que estabelece a outorga, por cada seção
considerada, em condições naturais, será de 50% (cinquenta por cento) da vazão
mínima Q7,10, ficando garantidos a jusante de cada derivação, fluxos residuais
mínimos equivalentes a 50% (cinquenta por cento) da Q7,10. (IGAM, 2012).
Para tanto, a utilização da técnica de regionalização de vazões, pode ser
aplicada a fim de explorar dados pré-existentes e transferir informações de locais
com monitoramento fluviométrico para outro sem informações, dentro de uma área
com comportamento hidrológico semelhante.
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Problema

A utilização da vazão mínima de referencia Q90 estipulada para outorga no estado do


Espírito Santo na normativa CONERH-ES nº 012/2016, garante maior segurança hídrica
que a vazão Q7,10?

Hipótese

Não, pois a utilização da Q7,10 permite uma captação de água menor do que a Q90
garantindo maior segurança hídrica para os municípios que constituem a bacia hidrográfica
do Rio Guandu.

Objetivo Geral

Avaliar a Vazão Mínima de Referência utilizada no Requerimento de Outorga de direito de


uso de águas superficiais na Bacia Hidrográfica do Rio Guandu pela AGERH - Agência
Estadual de Recursos Hídricos.

Objetivos Específicos

1. Aplicar diferentes metodologias de regionalização hidrológica para estimar as vazões


mínimas de referencia na bacia hidrográfica do Rio Guandu.

2. Comparar as vazões mínimas de referência Q90 e Q7,10 na bacia hidrográfica do Rio


Guandu.
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Revisão bibliográfica

No Brasil, a Agência Nacional de Águas (ANA) realiza o monitoramento hidro


meteorológico em tempo real com cerca de 1.874 estações fluviométricas e 2.767
pluviométricas, operadas por entidades parceiras ou contratadas pela agência.
(ANA, 2023). Porém, os dados disponibilizados pela ANA, cobrem porções
relativamente pequenas, em comparação a extensão do território nacional, além do
sistema de informações hidrológicas Hidro Web, apresentar falhas diárias, mensais
e anuais, o que pode inviabilizar a utilização dessas séries.
A disponibilidade hídrica natural em uma bacia hidrográfica é representada
pelas vazões mínimas e seu conhecimento é de fundamental importância para a
correta gestão de recursos hídricos (BARBOSA et al., 2005; MARTINS et al., 2011).
Diante disso, um dos maiores desafios em hidrologia é a análise do
comportamento real relacionado à disponibilidade hídrica natural em uma bacia
hidrográfica e identificar o real comportamento dos processos hidrológicos para
análise de vazões, tendo em vista que este conhecimento é quali-quantitativo,
dificultando seu gerenciamento por meio de bases ambientalmente sustentáveis.
Devido à falta de dados consistentes de monitoramento dos recursos hídricos,
a regionalização hidrológica permite transferir informações de um local para outro,
dentro de uma área com comportamento hidrológico semelhante, tendo como
objetivo a obtenção de informações em locais com ausência de dados ou com
poucos dados, baseando na similaridade espacial de algumas funções, variáveis e
parâmetros que permitem essa transferência (TUCCI, 2002).
A fim de tornar possível um melhor conhecimento acerca destes dados,
técnicas de regionalização de vazões vem sendo utilizadas. Para tal, pressupõe-se
que a similaridade espacial de determinadas regiões resulta em similaridade de
dados hidrológicos, podendo, então, usar de estimativas para defini-los, algumas
das principais funções hidrológicas utilizadas em recursos hídricos são: curva de
probabilidade de vazões máximas e mínimas, curva de permanência e curva de
regularização.
Na década de 80 a Eletrobrás elaborou um documento intitulado Metodologia
de Regionalização de Vazões, no qual adotou o método da curva adimensional
regional, genericamente designado de método da cheia-índice ou “index-flood”, para
regionalizar vazões (ELETROBRÁS, 1985; TUCCI, 2002). Esse método foi
desenvolvido pelo “National Environmental Research Center” da Inglaterra na
década de 70, baseado em uma extensa revisão sobre métodos estatísticos
aplicados à hidrologia.
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A aplicação do critério de vazão de referência ou vazão mínima, segundo


Tucci 2002, constitui-se em procedimento adequado para a proteção dos rios, pois
as alocações para derivações são feitas, geralmente, a partir de uma vazão de base
de pequeno risco.
Entre as vazões quantitativas de disponibilidade hídricas do curso de água,
têm-se as vazões mínimas de referência que caracterizam a disponibilidade hídrica
natural e pode ser considerada um dos fatores limitantes para concessão de outorga
de direito de uso dos recursos hídricos, as vazões mínimas são caracterizadas por
sua duração e frequência de ocorrência, que está associada ao período de retorno
do evento considerado, ou a sua permanência no curso de água. (Silva et al. 2010)
A vazão mínima de referência de 7 dias consecutivos associada ao período de
retorno de 10 anos é denominada Q7,10. Muitos estudos e projetos utilizam a vazão
Q7,10 ou vazões associadas a uma permanência de 90% (Q 90) ou 95% (Q 95) do
tempo, e é comumente utilizada como vazão de referência, principalmente como
critério de outorga, nas licenças ambientais e na avaliação de impacto ambiental de
obras hidráulicas (LISBOA et al., 2014).
A etapa relativa ao estabelecimento de regiões hidrologicamente homogêneas
não é realizada junto ao cálculo das funções regionais, devido à variedade de
métodos existentes para regionalização hidrológica.

Metodologia

A regionalização de uma função ou variável é estabelecida através de um dos


seguintes critérios: estabelecimento da relação empírica entre valores da função e
características conhecidas, espacialmente, do sistema hidrológico e
estabelecimento da função com base nos valores do item anterior ou de relações
adimensionais. A metodologia foi separada por etapas do processo conforme a
seguir:
1. IDENTIFICAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA UTILIZADA NO ESTUDO
A bacia hidrográfica do Rio Guandu está localizada na região centro-oeste do
Estado do Espírito Santo, na divisa com o Estado de Minas Gerais. Possui uma área
de drenagem de aproximadamente 2.145 km² e abrange quatro municípios
capixabas: Afonso Cláudio, Baixo Guandu, Brejetuba e Laranja da Terra (AGERH).
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Figura 1 – Localização da Bacia do Rio Guandu, Microbacia do Rio Doce, Espírito Santo.
Fonte: própria, 2023.
2. SOFTWARES UTILIZADOS
A série histórica analisada neste trabalho se deu através dos dados de
operação da estação fluviométrica baixados através do site HidroWeb (2023) da
ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico). Para a confecção da série
histórica, a curva da Q7,10 e a curva de permanência de 90% foram utilizados os
softwares Hidro 1.4 e SisCAH, onde ambos foram fornecidos pelo GPRH da UFV
(Grupo de Pesquisa em Recursos Hídricos da Universidade Federal de Viçosa). Já
para a aplicação das análises probabilísticas para a obtenção dos resultados das
vazões mínimas de referência foi utilizado o programa Excel.
3. ORGANIZAÇÃO DOS DADOS
Ocorreu de forma quantitativa com o intuito experimental para a geração de
modelos e equações matemáticas para análise através de métodos estatísticos e
probabilísticos.
4. ANÁLISE DOS DADOS FLUVIOMÉTRICOS
Os dados de vazão de um longo período são essenciais para poder descrever
o comportamento de um corpo d’água, a partir de uma análise temporal desses
dados podemos chegar em uma série histórica do comportamento de vazão de uma
estação fluviométrica. Os dados analisados da bacia hidrográfica, foram do ano de
1989 até o ano de 2014, assim sendo criada uma série histórica de 25 anos e
somente os dados consistentes foram utilizados. Foram utilizados os dados de
vazões mínimas mensais para a obtenção da vazão média anual de longo período e
foi feito as vazões médias mensais de longo período de tempo.
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5. ESTIMATIVA DA CURVA DE PERMANÊNCIA 90%


A curva de permanência é uma função que caracteriza a frequência da oferta
das vazões, o que permite avaliar a disponibilidade frente às demandas de um rio. A
curva de permanência de vazões é utilizada para o planejamento e projeto de
sistemas de recursos hídricos sendo usada como ferramenta para a outorga de
direito de uso da água em alguns estados brasileiros (Naguetti e Pinto, 2007). Foi
adotado 50 intervalos de classe classes de vazões em função dos valores extremos
da série histórica. A partir da série histórica foram apropriados a quantidade de
registros em cada intervalo e apropriados a frequência de vazões registradas em
cada intervalo pela fórmula:
𝑁º 𝑑𝑒 𝑣𝑎𝑧õ𝑒𝑠 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑠 𝑛𝑜 𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑣𝑎𝑙𝑜
𝐹𝑟𝑒𝑞𝑢ê𝑛𝑐𝑖𝑎 = 𝑁º 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑔𝑖𝑠𝑡𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑣𝑎𝑧õ𝑒𝑠

Equação 1: frequência das vazões.

A ferramenta utilizada para obtenção dos valores e plotagem do gráfico foi o


SisCAH, já para a Q90 e Q95 foram utilizados os menores valores da vazão de cada
classe com frequências percentuais.
6. ESTIMATIVA DA Q7,10 PELO MÉTODO DE GUMBEL
Esta distribuição de valor extremo foi introduzida por Gumbel (1941) e é
comumente conhecida como distribuição de Gumbel. Gumbel é uma das funções de
distribuição de probabilidade mais amplamente utilizadas para valores extremos em
estudos hidrológicos para previsão de vazões máximas e mínimas (Gumbel, 1941).
A vazão mínima de 7 dias consecutivos com período de retorno de 10 anos pode
ser obtidas usando as seguintes equações:

EQUAÇÃO 2: equações utilizadas durante o processo do método de Gumbel.

TABELA 1: média e desvio padrão da variável reduzida da distribuição de Gumbel.


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Cronograma

Quadro 1 – Cronograma de atividades previstas do projeto (jan./2024 a dez./2024)

OBJETIVOS ATIVIDADE PERÍODO


ESPECÍFICOS
J F M A M J J A S O N D
A E A B A U U G E U O E
N V R R I N L O T T V Z

Levantamento dos x x
Aplicar diferentes dados hidrológicos e
metodologias de fisiográficos da bacia
regionalização
hidrológica para Preenchimento de x x
estimar as vazões falhas
mínimas de
referencia na bacia Aplicação das x x x x
hidrográfica do Rio metodologias de
Guandu. regionalização de vazões
mínimas

Comparar as vazões Avaliação e adequação x x x


mínimas de dos modelos de
referência Q90 e regionalização
Q7,10 na bacia
hidrográfica do Rio Construção da curva de x x
Guandu
permanência da Q90
para a comparação com
a Q7,10

Revisão bibliográfica x x x x x x x x x x x x

Redação do Projeto de IC x x x x
Fonte: Produção dos autores.
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Referências Bibliográficas

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Brasília: ANA, 2023. Disponível em:<HIDROWEB (snirh.gov.br)>. Acesso em: 15 de junho de 2023.

AGÊNCIA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS - AGERH. Instrução Normativa nº 007/2020, de 18


de agosto de 2020. Estabelece procedimentos administrativos e critérios técnicos referentes à outorga
de direito de uso de recursos hídricos em corpos de água de domínio do Estado do Espírito Santo, e dá
outras providências. Espírito Santo, Secretaria de estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, 2020.
Disponível em: < https://abrir.link/5Sr9o >. Acesso em: 15, de julho. 2023.

AGÊNCIA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS - AGERH. GBH Guandu. Disponível em:


<https://agerh.es.gov.br/cbh-guandu>. Acesso em: 27 de janeiro. 2023.

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n 1,– Campo Grande/MS: CBESA, 2005, 64-71 p.

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HIDROWEB – Sistemas de informações hidrológicas. Agência Nacional de Águas. Disponível em:


<HIDROWEB (snirh.gov.br)>. Acesso em 12 de julho de 2023.

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regionalização das vazões mínimas anuais e quadrimestrais na Bacia do Piracicaba-MG.
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