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CAA/UFPE | Edição 01 | JAN 2022

BOLETIM

Municípios do Agreste de
Pernambuco ainda não conseguiram
implementar a Política Nacional
de Resíduos Sólidos
Patrícia de Oliveira Campos (Mestranda em Gestão, Inovação e
Consumo no PPGIC/CAA/UFPE)¹
Islla Soares (Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável
pela UPE e Professora da SEDUC/PE)²
Italo Cavalcante da Silva Soares (Doutorando em Desenvolvimento e
Meio Ambiente – PRODEMA/UFPE. Técnico do CAA/UFPE)³

O adequado gerenciamento dos resíduos sólidos se constitui na atualidade como um


dos principais desafios à gestão ambiental nos municípios brasileiros. Um marco
significativo sobre essa temática no Brasil foi a promulgação da Lei nº 11.445, de 05 de
janeiro de 2007, que estabeleceu diretrizes nacionais para o saneamento básico. Segundo a
Lei, os serviços públicos de saneamento básico devem englobar o abastecimento de água
potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos, e drenagem
e manejo das águas pluviais urbanas (BRASIL, 2007), para a garantia da qualidade de vida das
populações. A partir dessa regulamentação, houve a necessidade de os municípios
incluírem o manejo dos resíduos sólidos em seus planos de saneamento.

Para orientar a gestão adequada dos resíduos sólidos, e na tentativa de reduzir os impactos
ambientais, sociais e econômicos deles derivados, o governo federal sancionou a Lei nº
12.305, de 02 de agosto de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS). Com a promulgação, os municípios precisaram se adaptar às diretrizes que nela são
previstas, como ações que procuram resolver problemas sobre o manejo dos resíduos
sólidos urbanos e a busca da instituição de uma educação ambiental categórica (BRASIL,
2010). A PNRS objetiva a implementação de uma destinação ambientalmente adequada
dos resíduos sólidos urbanos em todo o país. De acordo com a política, é necessário
incentivar e priorizar a não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos
resíduos sólidos.

¹patricia.ocampos@ufpe.br
²islla_soares@hotmail.com
³italo.soares@ufpe.br
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Embora a PNRS tenha sido criada em 2010, muitos municípios brasileiros ainda não
conseguiram se adequar às suas exigências. Na Região Agreste de Pernambuco, composta
por 72 municípios, não é diferente. Especialistas apontam que as principais dificuldades
enfrentadas pelas gestões públicas municipais para a implementação da PNRS são de
ordem técnica, econômica, fiscal e política (BRANDÃO et. al., 2016). Segundo os autores,
destacam-se como principais entraves à implementação da PNRS a ausência de pessoal
técnico qualificado para conduzir a implementação e gestão da política e a ausência de
recursos para autofinanciar a implementação e gestão da política de resíduos sólidos.
Porém, para superar esses desafios, alguns municípios têm se reunido através de consórcios
ou de forma compartilhada, conforme sugere a PNRS. O trabalho intermunicipal deve ser
integrado e cooperado, para que juntos os municípios implementem soluções que
garantam a gestão adequada dos resíduos sólidos. A grande vantagem da estrutura
consorciada é a desativação dos lixões nos municípios integrantes dos consórcios, o que
contribui significamente para o desenvolvimento sustentável das localidades.

No Agreste pernambucano, alguns municípios têm adotado o consórcio ou outras formas


de cooperação para implementação da PNRS. São exemplos de consórcios municipais: o
Consórcio de Municípios do Agreste e Mata Sul do Estado e Pernambuco – COMAGSUL; o
Consórcio dos Municípios da Mata Norte e agreste de Pernambuco; o Consócio
Intermunicipal Dom Mariano; o Consórcio Público Intermunicipal do Agreste
Pernambucano e Fronteiras; e o Consorcio Público dos Municípios da Mata Sul
Pernambucana, que tem apenas o município de Pombos como integrante da região Agreste
do estado. Esses municípios se reuniram com atribuições de gestão ou prestação de
serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos para atender aos requisitos da
política de resíduos sólidos de forma cooperada.

Apesar da recomendação de desativação, alguns municípios do Agreste de Pernambuco


ainda utilizam os seus lixões para a disposição final de resíduos sólidos, a exemplo de Brejo
da Madre de Deus, Canhotinho, Casinhas, Feira Nova, Orobó, Panelas, Paranatama, Passira,
São Vicente Férrer, Santa Cruz do Capibaribe, Surubim e Vertente do Lério (SNIS, 2022).

De acordo com o SNIS (2021), existem 3 classificações de locais para disposição final de
resíduos sólidos no solo: o lixão, o aterro controlado e o aterro sanitário. O lixão, ou
vazadouro a céu aberto, é o local em que os resíduos são dispostos diretamente no solo sem
nenhum tipo de tratamento. O acondicionamento de forma inadequada causa diversos
tipos de contaminação ao meio ambiente (solo, lençol freático, ar), além de promover
problemas de cunho social e de saúde pública (pessoas catam o lixo para sobrevivência,
inclusive para alimentação, podendo adquirir doenças, além das patologias causadas pela
proliferação de vetores e do odor).

No aterro controlado os resíduos são cobertos com uma camada de terra. Assim, há alguns
cuidados com relação à segurança dos trabalhadores e trânsito de pessoas na unidade e à
proliferação de vetores. Ele é considerado uma evolução do lixão, mas não é apontado
como a melhor forma de disposição final dos resíduos sólidos.

O aterro sanitário é a instalação que dispõe os resíduos em camadas no solo, mas com o
controle técnico e operacional permanente. O objetivo é que o solo seja impermeabilizado,
que o chorume seja coletado e tratado e que haja coleta e queima de biogás, de maneira que
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o meio ambiente e a saúde pública não sofram os danos causados pelos resíduos nele
descartados. Assim, o aterro sanitário apresenta-se como uma possibilidade para a
destinação final dos resíduos sólidos.

Em Caruaru, município com a maior população do Agreste de Pernambuco, a disposição


final dos resíduos sólidos urbanos é realizada em aterro sanitário. Segundo dados
disponibilizados no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS, em 2020 o
município gastou com coleta de resíduos sólidos domiciliares e públicos mais de 12,5
milhões de reais. Essas despesas foram gastas para atender a uma população de
aproximadamente 324 mil habitantes, o equivalente a 88,7% da população total do
município. No Gráfico 1, é possível visualizar a evolução da população atendida pela coleta,
em relação ao total da população, nos anos de 2017 a 2020.

Gráfico 1.
População urbana do município de Caruaru atendida pela
coleta de resíduos sólidos – 2017 – 2020

Fonte: Elaborado pelos autores, com base em dados do SNIS (2022).

A partir do Gráfico 1, observa-se que na série de 2017 a 2020 a população urbana que passou
a ser atendida pela coleta de resíduos sólidos aumentou a cada ano, com acréscimo de 660
habitantes quando comparados 2018 a 2017, e acréscimo de quase 4 mil habitantes
atendidos nos anos de 2019 e 2020.

Em relação aos gastos realizados com a coleta de resíduos domiciliares e públicos no


município de Caruaru, é possível visualizar as despesas na dos últimos quatro anos,
conforme Gráfico 2.
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Gráfico 2.
Despesas com a coleta de resíduos domiciliares e
públicos no município de Caruaru – PE

Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados do SNIS (2022).

A partir do Gráfico 2 é possível visualizar que entre 2017 e 2019 houve um aumento nos
valores gastos na coleta de resíduos sólidos domiciliares e públicos. Contudo, em 2020
houve uma diminuição nos gastos com coleta. Importante destacar que o ano de 2020 foi
marcado pelo início da pandemia de Covid-19. Assim, a hipótese que poderia ser levantada é
que com o lockdown no município houve a diminuição na geração de resíduos sólidos.
Porém, os dados da quantidade de resíduos sólidos domiciliares e públicos coletados
mostram que em 2020 houve um aumento na geração de resíduos, quando comparado ao
ano anterior, mesmo com o lockdown, conforme mostra o Gráfico 3.

Gráfico 3.
Quantidade total de resíduos sólidos
domiciliares e públicos coletados no município de Caruru – PE

Fonte: Elaborado pelos autores, com base em dados do SNIS (2022).


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Em função da não adequação de municípios à Política Nacional de Resíduos Sólidos, foram


estabelecidos novos marcos legais para que a disposição final ambientalmente adequada
seja implantada. Assim, a Lei nº 14.026, de 15 de julho de 2020 estabeleceu os seguintes
prazos para que os municípios se adequem à PNRS: até 02 de agosto de 2022, para
municípios com mais de 100 mil habitantes; até 02 de agosto de 2023, para municípios que
tenham população entre 50 mil e 100 mil habitantes; e até 02 de agosto de 2024, para
municípios com população menor que 50 mil habitantes. Desse modo, espera-se que os
municípios que ainda não implementaram a PNRS elaborem o plano municipal de gestão
integrada de resíduos sólidos ou o plano de gerenciamento de resíduos sólidos, para
garantirem a adequada gestão dos resíduos nos municípios, garantindo mais qualidade de
vida para a população e contribuindo em face do desenvolvimento sustentável das
localidades.

Brasil. Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o


saneamento básico; altera as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de
maio de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei
no 6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências. 2010.

Brasil. Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos


Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. 2010.

Brasil. Ministério do Desenvolvimento Regional. Secretaria Nacional de Saneamento – SNS.


Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento - SNIS: Diagnóstico do Manejo de
Resíduos Sólidos Urbanos – 2020. Brasília: SNS/MDR, 2021.

Brandão, A. L.; Pimentel, R. M. M.; Castilho, C. J. M. de. Implementação da política de


resíduos sólidos nos municípios do agreste meridional de Pernambuco. Gaia Scientia, [S. l.],
v. 10, n. 3, 2016.

Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SINIS). Diagnóstico do manejo de


resíduos sólidos urbanos. Disponível em: http://www.snis.gov.br/diagnostico-anual-
residuos-solidos/diagnostico-do-manejo-de-residuos-solidos-urbanos-2018. Acesso em 3
de janeiro de 2022.

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