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Zhongzheng Fang

Estudo da viabilidade de microgeração eólica de eletricidade no Estado de São Paulo

São Paulo
2020
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Zhongzheng Fang

Estudo da viabilidade de microgeração eólica de eletricidade no Estado de São Paulo

Projeto de Formatura apresentado àEscola Politécnica da


Universidade de São Paulo, no âmbito do Curso de
Engenharia Ambiental

Orientador: Prof. Demetrio C. Zachariadis

São Paulo
2020
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ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1

1.1 Contextualização da energia eólica ............................................................................. 2

1.2 Setor energético do Brasil ........................................................................................... 4

1.3 Motivação e Objetivo .................................................................................................. 7

2 LEVANTAMENTO DOS DADOS ................................................................................... 8

2.1 Considerações iniciais e Premissas ............................................................................. 8

2.2 Panorama da energia elétrica no Brasil ..................................................................... 10

2.3 Impactos socioambientais das gerações energéticas por tipo.................................... 13

2.4 Legislação.................................................................................................................. 17

2.5 Aerogerador de pequeno porte .................................................................................. 22

3 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................................. 26

3.1 Dimensionamento...................................................................................................... 32

3.2 Impacto na emissão de GEE...................................................................................... 37

3.3 Viabilidade econômica .............................................................................................. 38

4 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 43

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................. 46
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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, dedico a minha gratidão a Deus que sem ele nada faria mais sentido na vida.
Agradeço por sempre me ajudar e sempre me proporcionar o melhor caminho para seguir. Ele
émeu pastor e nada me faltará.

Queria também agradecer àminha família que não somente me deu apoio durante a elaboração
deste trabalho, mas também por ter sido meu aliado fiel durante toda a graduação.

Por fim, devo profundas gratidões ao Professor Demetrio C. Zachariadis pelos sinceros
conselhos que despertaram o meu interesse pelo assunto. Agradeço por todas as reuniões que
sempre foram bastante construtivas e necessárias para o andamento deste projeto.
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RESUMO EXECUTIVO

O século XX foi marcado pelo crescimento exponencial da demanda de energia no país, e ao


mesmo tempo, a sociedade preza cada vez mais pela preservação do meio ambiente. Diante
desse cenário, a busca pelas fontes renováveis e limpas torna-se algo imprescindível na
definição da do desenvolvimento socioeconômico do Brasil. A nação possui um significativo
potencial eólico, entretanto, a maioria das discussões sobre a energia do vento se referem aos
grandes parques eólicos que estão concentrados no Nordeste. Pouco tem se falado sobre a
instalação residencial de um aerogerador que por sua vez écaracterizada pela simplicidade e
sustentabilidade como suas vantagens. Além disso, a crescente atenção voltada para a iniciativa
de geração de energia por parte dos consumidores e o retorno significativo tanto financeiro
quanto socioambiental atraíram o investimento de muitas empresas de energia no mercado
brasileiro. Motivado por essas razões, o presente trabalho abordará sobre os aspectos da
instalação de um sistema de microgeração de energia através do vento. Este projeto écomposto
por vária etapas incluindo a contextualização do cenário energético, o levantamento da parte
regulatória, o cálculo do retorno socioambiental e a análise da viabilidade econômica.

Palavras-chave: microgeração distribuída; energia eólica; energia renovável; viabilidade


econômica; sustentabilidade, impacto ambiental.
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ABSTRACT

The demand for electric energy is growing exponentially in the country, and at the same time,
society is increasingly focusing on preserving the environment. Given this scenario, the
research for clean and renewable sources becomes essential in the discussion of Brazil's
socioeconomic development. The nation has significant wind potential, however, most
discussions around wind energy refer to the large wind farms that are concentrated in the
Northeast. Little has been discussed about the residential installation of a wind turbine, which
in turn is characterized by simplicity and sustainability as its advantages. In addition, the
growing attention focused on the energy generation by consumers initiative and the significant
financial and socio-environmental return attracted the investment of many energy companies
in the Brazilian market. Motivated by these reasons, the present work will approach the aspects
of the installation of a system of distributed generation through the wind. This project consists
of several stages including the contextualization of the energy scenario, the survey of the
regulatory part, the calculation of the socio-environmental return and the analysis of economic
viability.

Keywords: distributed generation; wind energy; renewable energy; economic viability;


sustainability, environmental impact.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Turbina Eólica de Brush
Figura 2 - Evolução das turbinas eólicas
Figura 3 - Histórico do número de instalações eólicas mundiais
Figura 4 - Matriz Elétrica do Brasil 2018
Figura 5 - Evolução da geração eólica
Figura 6 - Potencial Eólico Brasil
Figura 7 - Evolução da tarifa média de eletricidade no Brasil
Figura 8 - Projeção da evolução da composição da capacidade instalada total por fonte
Figura 9 - Emissão de GEE pela queima de biomassa
Figura 10 - Procedimentos e etapas de acesso
Figura 11 - Componente de um micro aerogerador
Figura 12 - Rotor horizontal
Figura 13 - Rotor Savoniu
Figura 14 - Rotor Darrieus
Figura 15 - Rosa do vento de São Roque
Figura 16 - Perfil lateral da instalação do aerogerador
Figura 17 - Turbina eólica Tumo-Int 1000
Figura 18 - - Curva de potência do aerogerador Tumo-Int 1000
Figura 19 - Especificações do aerogerador Hi-Vawt DS 700
Figura 20 - Curva de potência do aerogerador Hi-Vawt DS 700
Figura 21 - Perfil da velocidade do vento
Figura 22 - Distribuição de Weibull de São Roque
Figura 23 - Fluxo de caixa adotando a tarifa da CPFL para o modelo Tumo-Int
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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Geração eólica por estado brasileiro


Tabela 2 – Consumo de eletricidade no Brasil
Tabela 3 – Geração nacional de eletricidade por fonte e modalidade
Tabela 4 – Quantidade de unidade de geração distribuída por fonte
Tabela 5 – Possíveis alterações no SCEE
Tabela 6 – Comparativo dos diferentes cenários de alteração no SCEE
Tabela 7 – Dados demográficos de São Roque
Tabela 8 – Dados anemométricos de São Roque
Tabela 9 – Especificações do aerogerador Tumo-Int 1000
Tabela 10 – Fator de rugosidade
Tabela 11 – Comprimento de rugosidade
Tabela 12 - Velocidade na altura de 10 metros
Tabela 13 - Distribuição de Weibull de São Roque
Tabela 14 – Energia mensal gerada nos dois tipos de microgerador
Tabela 15 – Redução mensal da emissão de CO2
Tabela 16 – Parâmetros estabelecidos para a avaliação da viabilidade econômica
Tabela 17 – Tarifa elétrica das distribuidoras de SP
Tabela 18 – Uso residencial de eletricidade em São Roque 2019
Tabela 19 – Faturamento mensal real de eletricidade
Tabela 20 – Modelo matemático para calcular os critérios de seleção (Tumo-Int)
Tabela 21 – Resultado da seleção das distribuidoras para o modelo Tumo-Int 1000
Tabela 22 - Resultado da seleção das distribuidoras para o modelo Hi-Vawt DS 700
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LISTA DE SÍMBOLOS

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica


EPE – Empresa de Pesquisa Energética
GEE – Gases de Efeito Estufa
kW – Quilowatts
MCTI – Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação
MMGD – Micro e Minigeração Distribuída
MME – Ministério de Minas e Energia
MWh – Megawatts
ONU – Organização das Nações Unidas
PDE – Plano Decenal de Expansão de Energia
PRODIST – Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional
PROEÓLICA – Programa Emergencial de Energia Eólica
SCEE – Sistema de Compensação de Energia Elétrica
SIN – Sistema Interligado Nacional
TWh – Tetrawatts
UTE – Usina de Termoelétrica
SIN – Sistema Interligado Nacional
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1 INTRODUÇÃO

As duas grandes revoluções industriais que mudaram o rumo da história humana são
conhecidas como os momentos propulsores da utilização de energia do vapor e energia elétrica.
Desse modo, é evidente que o desenvolvimento socioeconômico de um país está
intrinsecamente ligado à sua capacidade e tecnologia de produção energética. Entretanto, o
avanço e o aumento na geração de energia proporcionaram, ao mesmo tempo, uma devastação
ao meio ambiente, os fenômenos tais como a emissão de gases estufas, emissão de partículas
suspensas, inundações, e poluições audiovisuais são alguns exemplos que afetam diretamente
o bem-estar e a existência dos humanos no presente e no futuro.

Finalmente em 1972, na Conferência de Estocolmo organizada pela ONU, o mundo deu a


alerta para as alterações que haviam causadas pelas atividades antrópicas no meio ambiente
após a Segunda Guerra Mundial. Uma série de estudos elaborados pelos especialistas que
resultaram em um termo bastante conhecido no século XXI: o Desenvolvimento Sustentável
(Brundtland, 1987).

O auge dessa série de preocupações voltadas para o meio ambiente foi a assinatura do
Acordo de Paris em 2016. Entre os principais temas discutidos neste acordo, estáa utilização
de energias de fontes renováveis. Várias nações se comprometeram àcausa de recuperação do
meio ambiente, incluindo o Brasil, que surpreendeu o mundo com as suas metas de redução de
43% de emissões totais de GEE para o ano 2030.

Por outro lado, o uso de energia elétrica no mundo cresceu de forma exponencial nas
últimas décadas, e o Brasil não deixou de acompanhar este crescimento. Entre 2013 e 2019, o
consumo nacional de energia elétrica aumentou aproximadamente 150%, apresentando um
valor de 549 TWh no ano de 2019 (EPE, 2019). Mais que isso, durante o perí
odo citado, o país
esteve em uma recessão econômica, o que indica que o Brasil ainda possui um grande potencial
para o desenvolvimento de suas atividades industriais e econômicas, e consequentemente
aumentaráa demanda energética nacional.
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Diante desses cenários, é imprescindível o desenvolvimento e estudos de energias


renováveis, que minimiza os danos causados ao ambiente e àsociedade humana. A meta deste
trabalho éanalisar a viabilidade da substituição de uma parcela do atual sistema nacional de
geração energética, cuja origem épredominantemente hidrelétrica e térmica, por microgeração
distribuída de energia eólica.

1.1 Contextualização da energia eólica

O uso da energia oriundo do vento remonta aos tempos da antiguidade humana, quando
o homem descobriu a possibilidade da navegação de barcos com vela movidos pela força do
vento. Essa foi um aproveitamento simples e primitivo da força de impulso que o vento propõe,
sem a necessidade de ter que transformar essa energia em outras.

Avançando um pouco na linha do tempo, surgiram os famosos cata-ventos que ao invés


de empregar diretamente a forma primária da força do vento, transforma ela em energia
mecânica para a irrigação, essa tecnologia foi bastante utilizada pela China 2000 A.C. e pelo
Império Babilônico 1700 A.C. Os cata-ventos para a moagem de grãos, que alguns deles
funcionam atéos dias de hoje, são modelos provenientes do Império Persa 200 A.C. (CHESF-
BRASCEP, 1987). Mesmo sendo um modelo rústico e com baixo rendimento, os moinhos de
vento obtiveram um papel importante na história do desenvolvimento humana pois libertou, de
certa forma, as forças humanas ou de animais que antes eram necessárias nessas atividades.

Após a Segunda Revolução Industrial, a energia elétrica tornou-se o protagonista das


forças motoras para impulsionar o desenvolvimento econômico e industrial das diversas nações.
O consumo dela tem crescido de forma exponencial devido àgrande demanda de carga causada
pelo acelerado desenvolvimento da sociedade humana. Diante disso, encontrar uma maneira de
transformar a energia do vento em grandes blocos de energia elétrica ficou interessante para os
engenheiros, e desse modo, surgiu a primeira turbina eólica em 1888, nos Estados Unidos,
construí
do pelo Charles F. Brush. Esse aerogerador de 17 metros de diâmetro oferecia 12 kW
em corrente contínua para carregamento de baterias, as quais eram destinadas, sobretudo, para
o fornecimento de energia para 350 lâmpadas incandescentes (CRESESB, 2017).
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Figura 1 – Turbina Eólica de Brush. Fonte: DANISH WIND INDUSTRY ASSOCIATION

Após essa grande invenção, as turbinas eólicas entraram em uma fase de


desenvolvimento rápido. As dimensões da altura, do diâmetro do rotor e da potência nominal
são cada vez mais surpreendentes.

Figura 2 – Evolução das turbinas eólicas. Fonte: Global Wind Report 2018

No cenário atual da matriz energética mundial, a energia eólica junto com a solar e
geotérmica representam apenas uma fração de 1,6% do consumo total (IEA, 2018), mesmo
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tendo toda essa preocupação com o meio ambiente e desenvolvimento sustentável. O mundo
ainda éregido por energias de fontes fósseis que degradam o ambiente, tornando-o inabitável
para o ser humano. Por outro lado, vale ressaltar que o crescimento da instalação total da
potência eólica tem tido um avanço significativo nos últimos anos.

Figura 3 – Histórico do número de instalações eólicas mundiais. Fonte: Global Wind Report 2018

1.2 Setor energético do Brasil

Jáem relação àextensão nacional, a energia eólica ainda éconsiderada uma fonte recente
para o Brasil. O crescimento dessa fonte se deu devido àcrise energética de 2001 cuja uma das
soluções foi a tentativa de incentivar o uso de energias alternativas através do Programa
Emergencial de Energia Eólica (PROEÓLICA), porém não obteve sucessos significantes. Mais
adiante em 24 de abril de 2002, uma nova tentativa de incentivo à utilização das energias
renováveis foi proposta pela lei nº10.436: Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de
Energia Elétrica (PROINFA). Este tem como a meta a diversificação da matriz energética
focando principalmente nas fontes renováveis.
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A crise hídrica de 2011 também alavancou a procura pela energia eólica, a falta de água
não só afetou o consumo humano deste recurso, também reduziu a capacidade de geração
hídrica, que correspondia 70,1% da matriz elétrica nacional. Diante de um suposto apagão, a
saída para isso foi o desenvolvimento das fontes alternativas pela parte do governo. Por outro
lado, os grandes e pequenos consumidores de energia elétrica também começaram a buscar pela
energia elétrica mais barata devido a razão do aumento de 100% nos valores da tarifa cobra
pelas concessionárias.

Atualmente, a matriz elétrica do país ainda émajoritariamente composta por hidráulica.


Vale ressaltar que esta não é considerada uma fonte poluidora, mas em comparação com a
eólica, ainda apresenta certas desvantagens ambientais como a inundação das áreas de reserva
histórica e ambiental e a mudança no ecossistema aquático.

Figura 4 – Matriz Elétrica do Brasil 2019. Fonte: BEM 2020

Especificamente analisando a energia eólica, o aumento de geração do ano 2017 para o


ano 2018 foi de 14,4%, jáo da hidrelétrica foi de 4,9%. O preço praticado no último leilão de
energia renovável realizado pelo ANEEL em junho de 2019 para a eólica foi de R$ 79,9 por
MWh, enquanto o preço da hidráulica chegou no nível de R$ 198,12 por MWh. A figura 5
abaixo demonstra a rápida ascensão da eólica no valor da geração. É evidente que éuma fonte
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ganhando cada vez mais relevância no cenário nacional, o que justifica a escolha dela para ser
o tema do trabalho.

Figura 5 – Evolução da geração eólica. Fonte:MME

Em quesito da geração nacional de energia éolica, a região Nordeste se destaca como a


maior contribuidora. Segundo o MME, a região corresponde por mais de 85% do total de
geração. Isso se deve às condições climáticas favoráveis da região, como a alta velocidade e a
baixa variação das direções do vento, além dos relevos geográficos quase planos que constituem
um ambiente sem obstáculo e com pouca turbulência para o escoamento do vento.

Tabela 1 - Geração eólica por estado brasileiro. Fonte: MME

Pela figura 6, percebe-se que o potencial eólico ébastante expressivo na região Nordeste,
porém também são verificado o potencial eolico em algumas localidades dentro do Estado de
São Paulo, o qual éo estado foco deste trabalho.
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Figura 6 - Potencial Eólico Brasil. Fonte: FEITOSA, E. A. N. et al. Panorama do Potencial Eólico no Brasil. Brasília:
Dupligráfica, 2003. (adaptado)

1.3 Motivação e Objetivo

Em meio desse clima de busca por fontes energéticas limpas, foi ampliada a atenção dada
para as energias renováveis. O vento tem se destacado entre essas fontes de energias com a sua
geração mais limpa comparando com as fontes térmicas ou hidrelétricas.

Entretanto, quando se trata de energia eólica, muitas vezes presumimos que são os
grandes parques eólicos concentrados nas regiões Norte e Nordeste brasileiro que geram uma
enorme quantidade de carga atendendo centenas de municípios, raramente associamos ela com
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as localidades do Sudeste e a possibilidade de uma geração de pequeno porte para suprimir


parcialmente o uso residencial de energia. Trata-se da microgeração e da minigeração
distribuídas de energia elétrica, inovações que podem aliar economia financeira, consciência
socioambiental e autossustentabilidade.

Segundo os dados publicados pela EPE, a micro e minigeração de energia eólica possui
uma participação insignificativa em comparação na mesma categoria com a fonte solar ou de
biomassa. Se antes isso era explicado pelo alto custo e baixo retorno proporcionados pelas
turbinas eólicas de pequeno porte, com o surgimento de equipamentos mais modernos, a
geração distribuída de energia eólica demonstra-se cada vez mais atraente para os
consumidores.

Já a escolha do Estado de São Paulo é devido a sua concentração demográficas e as


intensas atividades industriais e econômicas. É o estado com mais emissão de GEE produzido
no consumo energético.

Por essas razões, o presente trabalho tem por finalidade elaborar um projeto que analisa
a viabilidade de instalação de um sistema de microgeração de energia eólica numa residência
situada no município de São Roque, no Estado de São Paulo para atender às demandas
domésticas. O estudo engloba alguns aspectos como as legislações envolvidas, a determinação
dos impactos socioambientais gerados e a viabilidade econômica do projeto.

2 LEVANTAMENTO DOS DADOS

2.1 Considerações iniciais e Premissas

Por se tratar de um projeto que emprega conhecimentos multidisciplinares profundos, fica


inviável para apenas um aluno da graduação da engenharia ambiental projetar integralmente
todos os aspectos técnicos e mecânicos do trabalho. Sendo assim, adota-se as premissas a seguir
para dar a possibilidade da execução do projeto:
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• O presente projeto é da natureza acadêmica voltada para a engenharia ambiental,


portanto, não serádiscutido com detalhes as partes mecânicas e tampouco as questões
técnicas encontradas durante a instalação. Os equipamentos da geração de energia eólica
são possivelmente instalados nas unidades consumidoras dentro das condições normais
e respeitando todas as leis fí
sicas, despreza-se os aspectos mais detalhados como a força
de fixação exigida pela torre do aerogerador, a força torção causada pelo movimento
das pás, a força de suporte do teto da residência, e entre outras.
• A parte da ligação com a rede central e as instalações no quadro elétrico são possíveis e
estão de acordo com as legislações regulatórias.
• Não foi possível fazer a medição anemométrica no local de estudo por questão dos
entraves temporais, pois se trata de um processo com a duração de 3 a 5 anos. Os dados
utilizados neste projeto serão extraídos dos documentos com alta confiabilidade como
a Atlas Eólico, Plano Decenal e do MME.
• Para o estudo de caso, estabelece-se a aprovação de todos os processos de licenciamento
ambiental, avaliação estrutural e permissão para a compra de equipamentos
• Estabelece-se uma aproximação entre o fator de emissão de energia eólica para a
geração centralizada e a geração distribuída. Uma vez que não foi possível encontrar
dados sobre a emissão de GEE para a fabricação e transporte do micro aerogerador.
• Os modelos de turbinas apresentados neste trabalho são disponibilizados nos sites de
venda exterior, sendo assim, considera apenas o valor de aquisição convertido para o
Real pelo câmbio do dólar, desprezando o custo de transporte e o imposto de
importação.

Com essas premissas estabelecidas, o espoco e o objetivo do trabalho fica mais evidente, o
que permite a continuidade para este projeto de formatura.
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2.2 Panorama da energia elétrica no Brasil

A eletricidade constitui o elemento básico da vida cotidiana do século XXI. Em 2019, o


consumo nacional da energia elétrica chegou ao patamar de 550.769 GWh (Plano Decenal
2019). A autoprodução não injetada, que inclui somente a parcela de autoprodução destinada
ao autoatendimento do consumidor final, corresponde a aproximadamente 10% do total. Jáas
MMGD, apenas 0,3%. Conforme àtabela abaixo:

Tabela 2 - Consumo de eletricidade no Brasil. Fonte: PDE 2019

A projeção do crescimento do consumo, segundo a EPE, éde 51,2% entre 2019 e 2029.
Entretanto o crescimento da modalidade de MMGD para o mesmo perí
odo foi de 917%. O tal
fato demonstra a grande importância desse segmento e a atenção cada vez mais focada nas
pequenas gerações por parte dos consumidores. Este crescimento foi estimulado pela
disponibilidade de elevado potencial de fontes renováveis, qualidade dos recursos energéticos
nacionais, o alto valor das tarifas de eletricidade para os consumidores e um modelo de
compensação de créditos extremamente favorável.

Segundo a ANEEL, o aumento da tarifa de energia elétrica no país foi de 74,6% entre
2010 e 2020, o que torna mais atraente a microgeração de energia nas unidades consumidoras,
gerando um elevado retorno financeiro para os consumidores.
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Figura 7 - Evolução da tarifa média de eletricidade no Brasil. Fonte: ANEEL

Por outro lado, podemos destacar a importância das fontes renováveis na composição
da capacidade instalada de eletricidade. De acordo com os dados da EPE, atualmente, as fontes
de energia limpa correspondem a 84% do total, sendo que a fonte hidráulica é a maior
responsável pela geração. Entretanto, a previsão é que haverá uma redução da participação
hidráulica, e a fonte em questão para este trabalho, a eólica, quase que duplica a sua participação
na matriz elétrica brasileira.

Figura 8 - Projeção da evolução da composição da capacidade instalada total por fonte. Fonte: PDE 2019
12

Tabela 3 - Geração nacional de eletricidade por fonte e modalidade. Fonte: PDE 2019

Jáem relação ao número de unidades de geração distribuída, são registradas 425.582


unidades consumidoras que recebem os créditos, com a potência total de 4.163,76 MW
(ANEEL 2020), conforme a tabela 4.

Tabela 4 - Quantidade de unidade de geração distribuída por fonte. Fonte: ANEEL


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2.3 Impactos socioambientais das gerações energéticas por tipo

Em 2019, o consumo de energia elétrica do Estado de São Paulo atingiu 132 TWh. E
segundo a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, as hidrelétricas
são responsáveis por 65% da produção paulista, as termoelétricas a biomassa por 25% e as
termoelétricas fósseis pelos 10% restantes. As fontes fotovoltaica e eólica, apesar de já
contarem com instalações no Estado, ainda não têm representatividade na matriz estadual.

Os dados indicam que ainda há espaço para a minimização dos impactos ambientais
minimizados, pois entre as fontes citadas, as duas menos poluentes, que são a eólica e a
fotovoltaica, são as com a menor representatividade. Dessa forma, percebe-se a possibilidade
de uma melhoria na redução dos poluentes resultados pela produção energética através do uso
mais intensivo do vento para geração de eletricidade.

Para analisar os ganhos ambientais que a fonte eólica traz, vale entender as vantagens e
os impactos negativos de cada modalidade que compõe a matriz elétrica paulista.

Hidrelétrica

Considerada com uma fonte renovável pois utiliza a água, que éum recurso regenerável,
como a sua força motriz. As instalações hidrelétricas foram empregadas pelo governo
simbolizando um indício do rápido desenvolvimento do Brasil nas décadas de 50. As
hidrelétricas, sendo a diretriz governamental, impulsionaram a construção de grandes barragens
que expandiu em uma escala exponencial no território nacional. Somente nas décadas de 80
que começaram a despertar atenções voltadas para os impactos negativos gerados pelas usinas
hidráulicas. Em 2019, a geração de eletricidade das hidrelétricas atingiu 421 TWh (sendo 418
TWh em geração centralizada e 3 TWh em geração distribuída), ou seja, 64% do total da
geração nacional.

De um lado, os projetos das hidrelétricas trouxeram avanços econômicos, geração de


empregos e desenvolvimento da infraestrutura local. Por outro lado, acompanha-se por muitos
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impactos negativos: inundação da área ocupada pelo reservatório, alteração no ecossistema


local, emissão de GEE gerados pela decomposição dos materiais orgânicos imersos (mesmo em
quantidades menores comparadas aos combustíveis fósseis, mas ainda significativas), entre
outras. Em termo da emissão de GEE, segundo MIRANDA (2012), o fator de emissão das
hidrelétricas em média éde 86,21 gCO2e/kWh.

Atualmente, novos projetos exigem outorga de uso da água, condicionando a diversas


exigências socioambientais que constituem como um fator limitante para os novos
procedimentos. Além disso, a construção civil e a elaboração do empreendimento demandam
tempo e custo de investimento alto, o que torna as hidrelétricas uma opção de longo prazo.

Biomassa

É considerada a biomassa qualquer matéria orgânica de origem animal ou vegetal,


classificados em vegetais lenhosos (madeira), vegetais não lenhosos (amiláceos e aquáticos),
resíduos orgânicos (agrícolas, industriais e urbanos) e biofluidos (óleos vegetais). Esses são
utilizados nas usinas termoelétricas específicas para a transformação de energia biológica em
energia elétrica. A biomassa surgiu a partir do seu relativo baixo teor de poluentes comparado
com a queima dos combustíveis fósseis, substituindo assim os combustíveis tradicionais.

Os ganhos desse combustível são evidentes: éuma fonte renovável com baixo custo de
matéria prima, menor teor de poluentes emitidos, aproveitamento dos materiais residuais, etc.
Porém, mesmo tendo muitas vantagens em relação ao uso dos combustíveis fósseis, essa fonte
ainda apresenta impactos socioambientais negativos: emissão de GEE ainda significativa,
dificuldade no armazenamento, eficiência reduzida, relação com diversas doenças respiratórias.
Segundo Environment Agency, o fator de emissão da queima de biomassa para a geração de
eletricidade é de 148 kgCO2e/MWh para as matérias primas norte-americanas, e 95
kgCO2e/MWh para as matérias primas europeias, conforme indicado na figura 9.
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Figura 9 - Emissão de GEE pela queima de biomassa. Fonte: Environment Agency

Atualmente, esta fonte de energia corresponde a 69 TWh gerados em 2019 (11% da


produção total). Vale ressaltar que a micro e minigeração representa 45% do total da geração
dessa fonte, o que indica um papel importante do uso de biomassa na geração distribuída.

Combustíveis fósseis

Os combustíveis fósseis são recursos que não se regeneram em um horizonte de tempo


comparado com o ciclo da vida humana, por isso, são considerados fontes de energia não
renovável. As principais matérias-primas são carvão mineral, gás natural e derivados de
petróleo.

Mesmo sendo a fonte com alta eficiência de produção e rápida implementação, é


inevitável citar os grandes impactos causados pelo esse tipo de combustível. Esses impactos
surgem desde o processo de obtenção das matérias primas, até na fase da geração de
eletricidade. Por ser uma fonte não renovável, a sua extração resulta na degradação contínua da
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natureza, a busca por mais campos de reservas cada vez mais inacessíveis provoca um risco
ambiental cada vez maior. Outro ponto a destacar éa sua emissão de GEE durante a queima
nas termoelétricas. Segundo MIRANDA (2012), o fator de emissão para uma UTE de gás
natural éde 518,11 gCO2e/kWh, e o fator de emissão para uma UTE de óleo diesel éde 828,69
gCO2e/kWh.

Uma outra importância das UTEs é a sua complementaridade com outras usinas
geradoras de energia. Pela razão de ter a possibilidade de ser ativada e desativada quando
houver necessidade, as usinas termoelétricas são utilizadas para complementar a geração das
hidrelétricas. Por exemplo, no perí
odo chuvoso, quando as usinas hidráulicas situam no seu
pleno funcionamento, a eletricidade gerada ésuficiente para abastecer a demanda de energia de
uma região, e nesses momentos, as UTEs fósseis são desativadas.

Além disso, a exploração das matérias primas, especificamente a extração das reservas
de petróleo, constitui uma das principais atividades econômicas, tornando-se uma fonte de
receita importante para muitos países do mundo.

O Brasil produziu, em 2019, 42 TWh de eletricidade pela queima do carvão e gás


natural. Na geração distribuída, os combustíveis fósseis não têm representatividade expressiva.

Eólica

A produção energética pelas turbinas eólicas éconsiderada como uma energia limpa,
uma vez que utiliza o vento como a sua força motriz, além de não emitir GEE durante a fase de
funcionamento. Entretanto, ainda existem muitos pontos negativos, tais como, a instabilidade
de geração devido àimprevisibilidade do vento, a poluição visual e a questão de ruí
dos. Além
de tudo, a fabricação e o transporte das peças provocam a emissão de GEE, mesmo em baixa
escola, porém ainda existe. Por essa razão, o seu fator de emissão é de 16,15 gCO2e/kWh
(MIRANDA 2012).

Em termo de geração centralizada, o pais tem destacado um grande aumento da


participação nos parques eólicos na matriz elétrica. Segundo os dados da EPE, a geração eólica
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járepresenta 10% (65 TWh) da geração total, e a projeção para 2029 éque esse percentual
aumente para 16% (155 TWh).

Jáem termo de geração distribuída, a eólica apresenta uma baixa representatividade com
a produção total de apenas 0,1 TWh. O fato se deve a alta exigência de instalação como as
condições anemométricas adequadas, o espaço com a área vazia suficiente para o bom
funcionamento do equipamento e a disponibilidade reduzida de modelos no mercado brasileiro.

2.4 Legislação

Em primeiro lugar, vale ressaltar que o presente projeto se refere a microgerações de


energia, ou seja, éum sistema de produção energética de pequeno porte que pode ser instalado
em residências. No Brasil, a primeira resolução regulatória que deu a definição para MMGD
foi a Resolução Normativa ANEEL nº482/2012, o qual entrou em vigor em 17 de abril de
2012. Desde então, o consumidor brasileiro pode gerar sua própria energia elétrica a partir de
fontes renováveis ou cogeração qualificada e inclusive fornecer o excedente para a rede de
distribuição de sua localidade. Segundo ela, foram estabelecidas as seguintes definições:

I. Microgeração distribuída: central geradora de energia elétrica, com potência


instalada menor ou igual a 75 kW e que utilize cogeração qualificada, conforme
regulamentação da ANEEL, ou fontes renováveis de energia elétrica, conectada
na rede de distribuição por meio de instalações de unidades consumidoras.

II. Minigeração distribuída: central geradora de energia elétrica, com potência


instalada superior a 75 kW e menor ou igual a 5MW e que utilize cogeração
qualificada, conforme regulamentação da ANEEL, ou fontes renováveis de
energia elétrica, conectada na rede de distribuição por meio de instalações de
unidades consumidoras

Com o objetivo de reduzir os custos e o tempo para a conexão da micro e minigeração,


compatibilizar o Sistema de Compensação de Energia Elétrica com as Condições Gerais de
Fornecimento (Resolução Normativa nº414/2010), aumentar o público-alvo e melhorar as
informações na fatura, a Resolução nº482/2012 foi alterada e complementada pela Resolução
18

Normativa REN nº687/2015 na seção 3.7 do Módulo 3 dos Procedimentos de Distribuição de


Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional (PRODIST).

De acordo com o PRODIST, para o consumidor se enquadrar na categoria de MMGD e


poder ter o acesso ao sistema de distribuição, épreciso passar por um procedimento de avaliação
que serádetalhada por etapas abaixo:

1. O consumidor precisa preparar um formulário de requerimento junto com os


documentos exigidos (memorial descritivo, localização das instalações de conexão,
arranjo fí
sico do projeto, diagramas e outras informações solicitadas pelo
requerimento) e enviar para a distribuidora responsável pela região onde estásituada
a unidade consumidora.
2. A distribuidora por sua vez deve emitir o parecer de acesso, que éum documento
formal obrigatório informando as condições de acesso e os requisitos técnicos que
permitam a conexão das instalações do consumidor com os respectivos prazos.
3. O PRODIST deixou claro que o procedimento de acesso ésimples e rápido, e uma
vez aprovado. O consumidor já pode realizar a execução do projeto e solicitar a
vistoria ao final.
4. A distribuidora aceita o pedido de vistoria e retorna com relatório técnicos ao
consumidor.
5. Por fim, se o projeto e a instalação estiverem dentro das condições previstas pelas
normas estabelecidas pela ANEEL, a distribuidora é responsável pela coleta das
informações das unidades geradoras junto aos micros e minigeradores distribuídos
e envio dos dados àANEEL para fins de Registro.

No caso da microgeração, o acessado (distribuidora) ainda deve arcar com os custos da


aquisição e instalação do sistema de medição, assim como os custos das manutenções
posteriores.
19

Figura 10 - Procedimentos e etapas de acesso. Fonte: ANEEL

Além dessas categorizações, a resolução ainda traz uma aplicação importante que torna
a MMGD mais atraente para os consumidores comuns: o Sistema de Compensação de Energia
Elétrica.

Segundo a ANEEL, o SCEE éum sistema no qual a energia ativa injetada por unidade
consumidora com microgeração distribuída ou minigeração distribuída écedida, por meio de
empréstimo gratuito, à distribuidora local e posteriormente compensada com o consumo de
energia elétrica ativa dessa mesma unidade consumidora ou de outra unidade consumidora de
mesma titularidade da unidade consumidora onde os créditos foram gerados, desde que possua
o mesmo Cadastro de Pessoa Física (CPF) ou Cadastro de Pessoa Jurídica (CNPJ) junto ao
Ministério da Fazenda.

Quando a energia injetada na rede for maior que a consumida, o consumidor receberá
um crédito em energia (kWh) a ser utilizado para abater o consumo em outro posto tarifário
(para consumidores com tarifa horária) ou na fatura dos meses subsequentes. Os créditos de
energia gerados continuam válidos por 60 meses.
20

Também há a possibilidade de o consumidor utilizar esses créditos em outras unidades


consumidoras previamente cadastradas dentro da mesma área de concessão. São 3 modalidades
com as definições abaixo:

• Geração compartilhada: caracterizada pela reunião de consumidores, dentro da


mesma área de concessão ou permissão, por meio de consórcio ou cooperativa,
composta por pessoa física ou jurídica, que possua unidade consumidora com
microgeração ou minigeração distribuída em local diferente das unidades consumidoras
nas quais a energia excedente serácompensada.
• Autoconsumo remoto: caracterizado por unidades consumidoras de titularidade de
uma mesma Pessoa Jurídica, incluídas matriz e filial, ou Pessoa Física que possua
unidade consumidora com microgeração ou minigeração distribuída em local diferente
das unidades consumidoras, dentro da mesma área de concessão ou permissão, nas quais
a energia excedente serácompensada
• Empreendimento com múltiplas unidades consumidoras (condomínios):
caracterizado pela utilização da energia elétrica de forma independente, no qual cada
fração com uso individualizado constitua uma unidade consumidora e as instalações
para atendimento das áreas de uso comum constituam uma unidade consumidora
distinta, de responsabilidade do condomínio, da administração ou do proprietário do
empreendimento, com microgeração ou minigeração distribuída, e desde que as
unidades consumidoras estejam localizadas em uma mesma propriedade ou em
propriedades contíguas, sendo vedada a utilização de vias públicas, de passagem aérea
ou subterrânea e de propriedades de terceiros não integrantes do empreendimento.

Recentemente, estásendo discutida no Congresso sobre a possibilidade a reforma do SCEE,


visando uma melhoria no alinhamento dos incentivos e na garantia da sustentabilidade
sistêmica. Desse jeito, as mudanças podem interferir no quadro atual de compensação e a
energia injetada podem ser utilizadas para compensar apenas alguns componentes da tarifa.
Segue abaixo um quadro de resumo publicado no PDE 2030:
21

Tabela 5 - Possíveis alterações no SCEE. Fonte: PDE 2030

Com essas incertezas, foram desenhados 2 cenários de projeções diferentes em que


representam situações com a aprovação das mudanças ou com a manutenção das regras atuais.
Os principais aspectos atingidos são resumidos na tabela 6:

Projeção para 2030


Cenário com manutenção Cenário com alteração
Capacidade instalada de
MMGD (GW) 24,5 16,8
Número de consumidores
com MMGD em 2030
(milhões) 3 2
Investimento até 2030
(bilhões) 70 50
Capacidade instalada de
MMGD por eólica (%) 1 1
Tabela 6 – comparativo dos diferentes cenários de alteração no SCEE. Fonte: PDE 2030
22

Dado a natureza da microgeração de energia das residências, raramente o consumidor


individual consegue obter um balanço positivo na conta elétrica. Além disso, háum outro fator
que podem interferir no dimensionamento e na análise da viabilidade econômica, o Custo de
Disponibilidade. Segundo a Resolução nº482/2012, o custo de disponibilidade é o custo
mínimo que o consumidor teria que pagar para a distribuidora quando o valor da fatura mensal
éinferior ao valor do custo de disponibilidade associada àquela unidade consumidora. Esse
custo depende da instalação elétrica e pode ser verificada a seguir:

• Para a instalação monofásica ou bifásica a 2 condutores, o custo de disponibilidade éde


30 kWh
• Para a instalação bifásica a 3 condutores, o custo de disponibilidade éde 50 kWh
• Para a instalação trifásica, o custo de disponibilidade éde 100 kWh

Desse jeito, para uma residência com a instalação trifásica, se o consumo de energia foi
de 200 kWh e a energia injetada também foi de 200 kWh. A fatura mensal daquela unidade é
de 100 kWh, que éo valor definido pelo custo de disponibilidade. No caso deste projeto, este
fator seráanalisado posteriormente.

2.5 Aerogerador de pequeno porte

Um micro aerogerador é composto por diversos componentes e sistemas, como estão


apresentados na figura abaixo, e esses conjuntos permitem que o equipamento capture a força
do vento e transformá-la em energia elétrica para as atividades antrópicas.
23

Figura 11 - Componente de um micro aerogerador. Fonte: ANEEL (2007)

O componente essencial de um micro aerogerador éo seu rotor, que éresponsável por


capturar e converter a força cinética do vento em força mecânica, e posteriormente transmitir
essa força para o eixo central, onde estásituado o gerador que transformaráa força mecânica
em energia elétrica. Existem vários modelos de rotores, com pás ou sem pás, eixo horizontal ou
vertical. A escolha do rotor precisa ser adequada às condições anemométricas do local:
• Velocidade mínima para acionar o funcionamento do rotor (Cut-in)
• Velocidade máxima que a partir dela pode haver a danificação do equipamento (Cut-
out)
• Velocidade média que atinge a potência nominal máxima
• Altura máxima do equipamento estabelecida pelos órgãos regulatórios no local
24

Abaixo são apresentados alguns modelos mais comercializados no mercado.

a) Rotores com o eixo horizontal

Figura 12 - Rotor horizontal. Fonte: Google Imagem

Os rotores com o eixo horizontal são aqueles cujo eixo de rotação éparalelo ao solo.
Esse tipo de rotor éo mais comum entre os modelos vendidos, apesar de não ser o mais indicado
para o uso urbano devido ao seu nível relativamente alto de ruí
dos. Ele possui 2 ou mais pás
dependendo das condições anemométricas no local. A vantagem deste modelo consiste em alta
eficiência de produção energética. Jáos pontos negativos são ruí
dos baixos e baixa eficiência
quando o vento éturbulento.
25

b) Rotores com o eixo vertical

Figura 13 - Rotor Savoniu. Fonte: Google Imagem

Figura 14 - Rotor Darrieus. Fonte: Google Imagem

Os rotores com o eixo vertical são aqueles cujo eixo de rotação éperpendicular ao solo.
Nesse tipo de rotor não énecessário um mecanismo de orientação, pois a sua arquitetura permite
26

capturar a força do vento em qualquer direção, o tal fenômeno também abre a possibilidade
para a instalação próxima ao solo.

O movimento do rotor Savonius estábaseado no princípio do acionamento diferencial:


o vento atinge às superfí
cies das pás e causam os esforços diferenciados, assim, a força
resultante move o rotor e gera rotações. Neste modelo, as principais vantagens são a melhor
adaptabilidade àvariação das direções do vento e o ruí
do quase imperceptível. Além disso,
devido ao formato geométrico da sua pá, ele funciona mesmo em condição de baixa velocidade
do vento. Entretanto, apresentam uma potência mais baixa.

Já o movimento do rotor Darrieus está baseado no princípio da variação cíclica de


incidência. Eles constituem-se de lâminas curvas (duas ou três) de perfil aerodinâmico, atadas
pelas duas pontas ao eixo vertical movido por forças de sustentação. Esse modelo apresenta
pontos negativos como o ruí
do durante o seu funcionamento, a necessidade um sistema de
aceleração inicial e o custo relativamente alto comparando com outros modelos.

3 ANÁLISE DOS DADOS

Com a finalidade de apresentar na prática todas as bases teóricas e acadêmicas levantadas


neste trabalho, elabora-se uma simulação de instalação do equipamento e seus retornos
ambientais e financeiros. Serão apresentados 3 aspectos referentes ao projeto:
Dimensionamento, Impacto na emissão de GEE e Viabilidade econômica.

O local escolhido para o estudo de caso éo município de São Roque, situado no interior
do Estado de São Paulo. Os dados demográficos são apresentados na tabela 7:

Tabela 7 - Dados demográficos de São Roque. Fonte: IBGE


27

O município ainda éum dos que possui as melhores condições anemométricas para a
geração de energia eólica entre os disponibilizados pelo Atlas Eólico. Segundo a tal fonte, os
dados do vento da cidade estão apresentados a seguir:

Tabela 8 - Dados anemométricos de São Roque

Outro ponto de destaque dessa cidade éque não háuma variação constante das direções
do vento, permanecendo basicamente em 2 direções apenas.

Figura 15 - Rosa do vento de São Roque


28

O empreendimento serárealizado em uma casa, de instalação trifásica, localizada a 2


km de distância ao sul do centro de São Roque. O ambiente e o relevo ao redor da residência é
um campo com declive caracterizados pela existência de poucas árvores e arbustos. A casa não
faz parte de nenhum condomínio e háoutras casas germinadas como seus vizinhos. A altura do
ponto mais alto da construção éde 7 metros em relação ao solo. O local onde seráinstalado o
aerogerador éno telhado, com o eixo central da rotação da turbina em uma distância de 3 metros
ao ponto mais alto do telhado. A instalação estáconforme o que indica na figura 16.

Figura 16 - Perfil lateral da instalação do aerogerador. Fonte: elaboração própria

Por falta de disponibilidade no mercado brasileiro, foi necessário incluir na pesquisa os


fabricantes do exterior. Com a finalidade de comparar diferentes modelos de microturbina
eólica e analisar os fatores contribuintes para a conclusão final deste trabalho, foram escolhidos
um microgerador de eixo horizontal e um de eixo vertical.
29

a) Eixo horizontal
O modelo de micro aerogerador escolhido éda marca Tumo-Int.

Figura 17 - Turbina eólica Tumo-Int 1000

Esse modelo do fabricante chinês possui as seguintes especificações técnicas:

Tabela 9 - Especificações do aerogerador Tumo-Int 1000. Fonte: Tumo-Int


30

A curva de potência, que mede a potência da turbina conforme a variação da


velocidade do vento, estáapresentada abaixo:

Figura 18 - Curva de potência do aerogerador Tumo-Int 1000. Fonte: Tumo-Int

Percebe-se que este modelo de turbina éapropriado para ambientes com vento de
baixa velocidade, a sua velocidade de cut-in é2,5 m/s e consegue suportar até50 m/s.
Repara-se também que o nível de ruí
do produzido durante o funcionamento é baixo
(menos de 20 dB em uma distância de 5 metros do equipamento), que éuma caracterí
stica
importante para o uso no ambiente urbano de concentração demográfica relativamente
alta. Além disso, o rotor com 1,96 metros de diâmetro também vai minimizar o possível
impacto de sombras giratórias nas residências vizinhas. O investimento de aquisição deste
modelo éde aproximadamente R$ 6.000,00 de acordo com a pesquisa nos sites de varejo
online (Amazon, Mercado Livre, Ali Express).
31

b) Eixo vertical

Figura 19 - Especificações do aerogerador Hi-Vawt DS 700. Fonte: Hi-Vawt

Jáeste modelo de microturbina possui uma velocidade de ativação um pouco maior que
o modelo de eixo horizontal, em 3 m/s, e suporta até60 m/s. A altura do rotor, por sua vez,
éum pouco menor que o modelo anterior citado.

Figura 20 - Curva de potência do aerogerador Hi-Vawt DS 700. Fonte: Hi-Vawt


32

A curva de potência da Hi-Vawt DS 700 apresenta uma potência menor comparada com
a curva da Tumo-Int, e o investimento éde aproximadamente R$ 5.000,00 de acordo com os
varejistas online.

3.1 Dimensionamento

Para determinar a energia gerada pela turbina, énecessário introduzir algumas fórmulas
que serão utilizadas posteriormente.

Rugosidade

A rugosidade do terreno éum fator importante que compromete no potencial eólico. Ela
representa o grau de interferência na velocidade e na estabilidade do vento provocado pela
variação da superfície do terreno.

Um dos conceitos estreitamente ligado à rugosidade é a Camada de Limite, por


definição, ela éa região do fluido que estáem contato com alguma superfí
cie e então apresenta
perturbações gerada pela aderência do fluido àessa superfície.

Figura 21 - Perfil da velocidade do vento


33

A rugosidade afeta diretamente na distribuição da velocidade do vento com a altura


conforme o que demonstra pela Lei de Potência:

𝑉 = 𝑉0 (𝐻⁄𝐻 )𝜂
0

Onde:
V = velocidade na altura desejada (m/s)
V0 = velocidade na altura conhecida (m/s)
H = altura desejada (m)
H0 = altura conhecida (m)
η = fator de rugosidade do terreno

Tabela 10 - Fator de rugosidade

A Lei de Potência éum modelo simples e prático, entretanto não apresenta uma precisão
adequada para os resultados obtidos (Dutra, 2007). Desse modo, existe um outro modelo
chamado de Lei Logarítmica:

𝑙𝑛𝑧𝑧
𝑉(𝑧) = 𝑉(𝑧𝑟 ) [ 𝑧0𝑟 ]
𝑙𝑛𝑧
0

Onde:
V(z) = velocidade na altura desejada (m/s)
V(zr) = velocidade na altura conhecida (m/s)
Z = altura desejada (m)
Zr = altura conhecida (m)
Z0 = comprimento de rugosidade do terreno (mm)
34

Tabela 11 – Comprimento de rugosidade

Como a estação anemométrica de São Roque forneceu apenas as medições nas alturas
de 50 metros e 75 metros, temos que adaptar a velocidade na altura desejada (10 metros) através
da Lei de Potência e da Lei Logarí
tmica.

Como São Roque se enquadra nos critérios de “pequenas cidades com arvores e
arbustos” e “campo em declive”, então o fator de rugosidade do terreno éigual a 0,3 para a Lei
de Potência e o comprimento de rugosidade éigual a 0,008 m para a Lei logarí
tmica.

Dessa forma, a velocidade média do vento na altura desejada é:

Lei de Potência Lei Logarítmica


4,8 m/s 3,8 m/s
Tabela 12 –Velocidade na altura de 10 metros. Fonte: elaboração própria

Ambas as velocidades atingiram a mínima exigida pela ficha técnica da turbina, que é
2,5 m/s, indicando a possibilidade do funcionamento do equipamento.

Distribuição de Weibull

A distribuição Weibull representa as frequências que uma certa velocidade épraticada


pelo vento naquela região durante um perí
odo determinado. Ela édefinida pelo seguinte modelo
matemático:
35

𝑣 𝑘−1
𝑘
𝑘 −(𝑣𝑐)
𝑝(𝑣) = [ 𝑐 ] × [𝑐 ] ×𝑒

Onde:
p(v) = probabilidade de ocorrência de velocidade de vento
v = velocidade do vento
c = fator de escala
k = fator de forma

Para o município de São Roque, a distribuição de Weibull das velocidades do vento


segue a tabela abaixo:

Distribuição de Weibull
Probabilidade de ocorrência
c 7,4
k 2,71
1 1,2%
2 3,8%
3 7,2%
4 10,6%
5 13,3%
6 14,5%
7 14,1%
8 12,2%
9 9,4%
10 6,4%
11 3,9%
12 2,1%
13 1,0%
14 0,4%
15 0,1%
16 0,0%
17 0,0%
18 0,0%
19 0,0%
20 0,0%
Tabela 13 – Distribuição de Weibull de São Roque. Fonte: elaboração própria
36

Figura 22 - Distribuição de Weibull de São Roque. Fonte: Atlas Eólico

Energia mensal gerada

Combinando a distribuição de Weibull com a curva de potência, épossível estimar a


produção mensal de energia elétrica pela expressão abaixo:


𝐸 = 720 ∫ 𝑃(𝑣)𝑓 (𝑣)𝑑𝑣
0

Onde:
E = energia eólica mensal gerada
P(v) = potência em relação a velocidade do vento (curva de potência do aerogerador)
f(v) = probabilidade de ocorrência de velocidade do vento

Assim, a energia mensal gerada com os aerogeradores em questão na cidade em


interesse éde:

Energia mensal gerada (kWh)


Tumo-Int 1000 192,9
DS 700 129,6
Tabela 14 – Energia mensal gerada nos dois tipos de microgerador
37

3.2 Impacto na emissão de GEE

É evidente que o empreendimento de geração eólica proporcionará uma redução na


emissão de gases de efeito estufa (nesse caso, principalmente o gás carbônico). A metodologia
consiste no cálculo da diferença de emissão de CO2 embutida nas situações antes e depois da
adoção do projeto descrito neste trabalho. O MCTI (Ministério de Ciência, Tecnologia e
Inovação) divulga dados sobre o fator de emissão do SIN (Sistema Interligado Nacional), ou
seja, uma estimativa da média das emissões de CO2 em proporção com a energia gerada levando
em consideração todas as usinas existentes no SIN que operaram em um determinado perí
odo.
De acordo com a mesma entidade, se multiplicar o fator de emissão de um determinado perí
odo
com as cargas de energia geradas naquele mesmo perí
odo, obteráo total de emissão de gás
carbônico daquele perí
odo.

Dessa forma, como todo o Estado de São Paulo estáconectado ao SIN, pode-se assumir
que o fator de emissão do SIN é o fator de emissão para qualquer residência utilizando
integralmente a energia provinda do sistema da rede central. Com isso, se cruzar os dados do
fator de emissão do SIN com a energia mensal consumida, obteráa emissão de CO2 mensal.

De modelo análogo, se na unidade consumidora houver a presença da modalidade de


geração distribuída, teráque substituir a parcela de energia da autogeração com o novo fator de
emissão da geração distribuída.

O modelo matemático que expressa a metodologia levantada acima éo seguinte:

𝑄𝑟𝑒𝑑 = (𝐹𝑠𝑖𝑛 − 𝐹𝑒𝑜𝑙) × 𝐸

Onde:
Qred = quantidade de CO2 reduzida
FSIN = Fator de emissão do SIN
Feol = Fator de emissão da geração eólica
E = energia eólica gerada
38

Segundo o MCTI, o fator de emissão do SIN possui uma variação horária, sendo que
para este estudo de caso, define-se o mês de outubro de 2020 como o mês de referência. A
média mensal deste mês éde 0,5720 tCO2/MWh, ou seja, 572 gCO2/kWh.

Os resultados finais da redução de emissão são de 107,2 kg e 72,0 kg de CO2 por mês,
respectivamente paro os modelos de eixo horizontal e eixo vertical, como estádemonstrado na
tabela a seguir:

Redução mensal da emissão


Tumo-Int 1000 DS 700
Fsin (gCO2e/kWh) 572,0 572,0
Feol (gCO2e/kWh ) 16,2 16,2
E (kWh) 192,9 129,6
Qred (kg) 107,2 72,0
Tabela 15 - Redução mensal da emissão de CO2. Fonte: elaboração própria

3.3 Viabilidade econômica

Antes de entrar nos cálculos matemáticos, pela necessidade da realização de uma análise
financeira mais precisa e condizente com a realidade, são estabelecidos diversos fatores que
influenciam no aspecto econômico do sistema:

• Decaimento de produtividade da turbina eólica: 3% a.a.


• Depreciação de 5% a.a. ao investimento inicial, em modelo linear, incluindo os custos
de eventuais manutenções (o manual do equipamento indico que o produto funciona
sem requisito de nenhuma manutenção, porém foi incluso aqui por precaução)
• Payback Simples usando o fluxo de caixa
• Vida útil dos equipamentos em 15 anos conforme o que estáindicado na ficha técnica
do equipamento
• Define-se a TMA (Taxa Mínima de Atratividade) como a taxa de IPCA dos últimos 12
meses acumulados, uma vez que o mercado estácom a visão pessimista sob a influência
do COVID-19
39

Para definir a viabilidade econômica nosso projeto, foram estabelecidos 4 parâmetros:


• VPL (Valor Presente Líquido): O VPL traz ao valor presente um valor futuro. Ele
representa a diferença entre os recebimentos e os pagamentos de um projeto de
investimento em valores monetários atuais (de hoje)
• TIR (Taxa Interna de Retorno): A TIR calcula a taxa de desconto que deve ter um
fluxo de caixa para que seu Valor Presente Líquido (VPL) iguale-se a zero
• RBC (Relação Benefí
cio-Custo): ésimplesmente uma relação entre o faturamento total
do projeto e o custo total do projeto, dentro do período da vida útil do aerogerador
• PBS (Payback Simples): éo tempo necessário para que alcance o retorno integral do
investimento inicial, ele écalculado pela seguinte fórmula:

𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜
𝑃𝐵𝑆 =
𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝐴𝑛𝑢𝑎𝑙 𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑎 × 𝑇𝑎𝑟𝑖𝑓𝑎 𝑑𝑒 𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎

O quadro abaixo demonstra os critérios para a escolha:

VPL TIR RBC PBS


Parâmetro

Critério para escolha VPL > 0 TIR > TMA RBC > 1 PBS < Vida útil

Tabela 16 – Parâmetros estabelecidos para a avaliação da viabilidade econômica

Segundo as pesquisas feitas, para este sistema projetado, o investimento inicial é de


R$ 6.000,00 para o modelo Tumo-Int 1000, e R$ 5.000,00 para o modelo Hi-Vawt DS 700.
Estes valores incluem os custos de equipamento, de instalação e de homologação do sistema.

Foram extraídas também as tarifas de energia elétrica, incluindo impostos, cobrada pelas
principais distribuidoras no Estado de São Paulo, estas serão utilizadas para calcular a economia
mensal do projeto.
40

Tarifa Branca
Distribuidora UF
(R$/kWh)
Eletropaulo SP 0,96
CPFL Paulista SP 0,9
Elektro SP 1,02
Cetril SP 1,12
Cedri SP 1,5

Tabela 17 - Tarifa elétrica das distribuidoras de SP. Fonte: elaboração própria

Para o município escolhido, foram extraídos o consumo anual de eletricidade por uso
residencial, do Anuário de Energéticos por Município Ano Base – 2019.

Uso residencial de eletricidade 2019


Número de consumidor Consumo (kWh)
São Roque 33.251 78.978.041

Tabela 18 - Uso residencial de eletricidade em São Roque 2019. Fonte: Secretaria do governo de SP

Podemos dividir o consumo anual pelo número de consumidores, e assim obteráa média
do consumo anual por família em São Roque. O valor dessa média éde 2375,2 kWh, o que será
usado como o consumo anual da residência deste estudo de caso.

Além disso, vale recordar o conceito do custo de disponibilidade, especialmente neste


estudo de caso em que o consumo mensal da residência é197,9 kWh, e a economia mensal
gerada pelo aerogerador éde 192,9 kWh e 129,6 kWh. A diferença entre os dois números, que
é 5 e 68,3 kWh, respectivamente, constituem o consumo real provindo da rede central.
Entretanto, esses saldos são menores que os consumo mínimo estabelecido na Resolução nº
482/2012. O resultado do faturamento se enquadra no critério do custo de disponibilidade, e
dependendo do tipo de instalação elétrica da residência éde:

Consumo do SIN (kWh): 5


Faturamento mensal real de eletricidade (kWh)
Monofásica 30
Bifásica 50
Trifásica 100

Tabela 19 - Faturamento mensal real de eletricidade. Fonte: elaboração própria


41

Por exemplo, como a residência éde instalação trifásica, então a economia mensal real
éa diferença entre o consumo total mensal (197,9 kWh) e o custo de disponibilidade (100 kWh).
O resultado éde 97,9 kWh.

Sintetizando o que foi mencionado acima, para calcular os retornos financeiros sob a
tarifa de uma distribuidora (utilizando a empresa CPFL como exemplo), os resultados são
mostrados na tabela abaixo:

Juro anual 3,92%


Ano Economia Anual Custo Anual Saldo Anual VPL PBS RBC TIR
0 -R$ 6.000,00 -R$ 6.000,00 -R$ 6.000,00 10 1,23 5%
1 R$ 1.057,32 -R$ 300,00 R$ 757,32 R$ 728,75
2 R$ 1.025,60 -R$ 300,00 R$ 725,60 R$ 671,89
3 R$ 994,83 -R$ 300,00 R$ 694,83 R$ 619,13
4 R$ 964,99 -R$ 300,00 R$ 664,99 R$ 570,19
5 R$ 936,04 -R$ 300,00 R$ 636,04 R$ 524,79
6 R$ 907,96 -R$ 300,00 R$ 607,96 R$ 482,70
7 R$ 880,72 -R$ 300,00 R$ 580,72 R$ 443,68
8 R$ 854,30 -R$ 300,00 R$ 554,30 R$ 407,52
9 R$ 828,67 -R$ 300,00 R$ 528,67 R$ 374,02
10 R$ 803,81 -R$ 300,00 R$ 503,81 R$ 342,98
11 R$ 779,69 -R$ 300,00 R$ 479,69 R$ 314,25
12 R$ 756,30 -R$ 300,00 R$ 456,30 R$ 287,65
13 R$ 733,61 -R$ 300,00 R$ 433,61 R$ 263,04
14 R$ 711,61 -R$ 300,00 R$ 411,61 R$ 240,27
15 R$ 690,26 -R$ 300,00 R$ 390,26 R$ 219,21
Final total R$ 12.925,70 -R$ 10.500,00 R$ 2.425,70 R$ 490,07

Tabela 20 - Modelo matemático para calcular os critérios de seleção do modelo de Tumo-Int

O fluxo de Caixa fica positivo a partir do ano 10:

Figura 23 - Fluxo de caixa adotando a tarifa da CPFL para o modelo Tumo-Int. Fonte: elaboração própria
42

Assim, os resultados dos criterios de seleção em condições das diferentes distribuidoras


do Estado de São Paulo são:
TMA 3,92%
Tarifa Branca
Distribuidora UF VPL PBS (Ano) RBC TIR
(R$/kWh)
Eletropaulo SP 0,96 R$ 1.146,35 9 1,31 7%
CPFL Paulista SP 0,9 R$ 490,07 10 1,23 5%
Elektro SP 1,02 R$ 1.802,64 8 1,40 8%
Cetril SP 1,12 R$ 2.896,46 7 1,53 11%
Cedri SP 1,5 R$ 7.052,95 5 2,05 20%
Tabela 21 - Resultado da seleção das distribuidoras para o modelo Tumo-Int 1000

TMA 3,92%
Tarifa Branca
Distribuidora UF VPL PBS (Ano) RBC TIR
(R$/kWh)
Eletropaulo SP 0,96 R$ 2.705,40 7 1,58 12%
CPFL Paulista SP 0,9 R$ 2.049,11 7 1,48 10%
Elektro SP 1,02 R$ 3.361,68 6 1,67 13%
Cetril SP 1,12 R$ 4.455,50 6 1,84 16%
Cedri SP 1,5 R$ 8.611,99 4 2,46 26%
Tabela 22 - Resultado da seleção das distribuidoras para o modelo Hi-Vawt DS 700

Percebe-se que todas as distribuidoras avaliadas apresentam resultados positivos para a seleção:
• Os VPL (Valor Presente Líquido) são todos positivos
• Os tempos de PBS (Payback Simples) são menores que a vida útil da turbina (15 anos)
• As RBC (Relação Benefício-Custo) indicam que o retorno émaior que o investimento
• As TIR (Taxa Interna de Retorno) são maiores que a TMA (Taxa Mínima de
Atratividade) estipulada, que éo IPCA acumulado dos últimos 12 meses (3,92%)

Conforme às análises feitas acima, identificamos 3 variáveis que interferem na viabilidade


econômica do projeto:
• Tarifa cobrada pelas distribuidoras
• Energia gerada pela turbina eólica
• Preço de aquisição e de manutenção

O retorno financeiro do projeto é advindo da economia de energia proporcionada pela


microgeração eólica. Esse valor estábaseado na multiplicação entre a energia gerada e o custo
43

da energia, como foi mencionado na seção anterior. Dessa forma, quanto maior a tarifa, mais
economia energética é retornada, e mais vantajoso fica o projeto. O método também foi
explicado pelo modelo matemático elaborado: as empresas que possuem tarifas mais altas,
representam um tempo de retorno mais curto.

A segunda variável éa energias gerada pela turbina eólica. Ainda pelo método descrito no
parágrafo acima: quanto maior a energia gerada, mais economia energética é retornada.
Entretanto, existem situações excepcionais quando se trata da questão do custo de
disponibilidade, também mencionado da seção anterior. Esse é o consumo mínimo pela
utilização do sistema de distribuição da rede central. Assim, na situação em que a diferença
entre o consumo de eletricidade e a energia eólica gerada éinferior ao consumo mínimo, aquela
turbina que possui uma potência menor pode sair como vencedora, uma vez que a potência do
aerogerador estádiretamente relacionada com o preço do produto.

Por fim, o preço de investimento e de manutenção dos equipamentos define o custo que
deve ser recuperado ao longo do perí
odo de vida útil do aerogerador. Portanto, quanto menor
esse custo, mais atraente éo projeto.

4 CONCLUSÃO

O presente trabalho teve o objetivo principal de demonstrar, através do levantamento de


dados e do estudo de caso, a construção de um projeto de geração própria de energia eólica para
o uso residencial e seus impactos financeiros e ambientais.

A contextualização do panorama energético e elétrico permitiu que obtenha uma visão


geral sobre a matriz energética nacional e do Estado de São Paulo, e mais que isso, despertou a
procura pela utilização das fontes renováveis, sendo que estas são consideradas a tendência do
futuro. A grande quantidade dos consumidores potenciais e a pouca exploração do mercado
constituem uma atração bastante interessante para os investidores.

Por meio das análises feitas nas etapas anteriores, conclui-se que a implementação de um
sistema de microgeração eólica distribuída é um investimento lucrativo para o consumidor,
tanto no âmbito ambiental, quanto no âmbito financeiro.
44

Do ponto de vista ambiental, o projeto apresenta o impacto positivo imediato da redução


de dezenas de quilogramas de CO2 por mês. O país estáinserido numa caminhada para atingir
as metas ambientais estabelecidas no Acordo de Paris (NDC). A partir de 2015, o Brasil
avançou em relação ao seu compromisso anterior e adotou uma meta de redução absoluta nas
suas emissões, válida para todos os setores da economia: 37% de corte em 2025 em relação aos
níveis de 2005. Isso quer dizer que são 1,11 bilhões de toneladas de CO2eq reduzido em um
perí
odo de 20 anos, com a redução anual média de 55,5 milhões de toneladas. De acordo com
a simulação do projeto, a redução anual da microgeração do modelo Tumo-Int 1000 em uma
residência no município de São Roque representa 2,3x10-6% dessa meta, o que éconsiderado
um valor bastante significativo.

Do ponto de vista econômica, a simulação propõe indicativos econômicos bastante


vantajosos, com um perí
odo de retorno do investimento em 5 a 10 anos. Esse PBS éconsiderado
atraente uma vez que a vida útil da turbina de microgeração éde 15 anos, ou seja, o consumidor
terápelo menos 5 anos de economia energética. Além dos ganhos individuais, o projeto alivia
a pressão da demanda de eletricidade encarregada no governo e ainda pode reduzir a perda
energética durante o longo percurso de transmissão.

Além disso, ainda foram definidas as variáveis e as situações excepcionais que interferem
no resultado da viabilidade econômica do projeto: a tarifa de energia, a energia gerada e o preço
de aquisição e de manutenção. A combinação entre essas três variáveis resulta no retorno
financeiro da instalação da turbina residencial.

Entretanto, devido ao caráter acadêmico, ainda existem alguns entraves que não foram
abordados neste trabalho. As questões da instalação técnica merecem bastante atenção, pois
assim como foi apresentado na seção de Premissas, foram desprezadas as questões sobre a
instalação mecânica e elétrica. Outro ponto de preocupação é a limitação teórica dos dados
utilizados, como os modelos matemáticos para a adaptação da velocidade do vento na altura
desejada e a interferência de outras construções vizinhas. O ideal seria contratar empresas
experientes para fazer uma medição no local com os equipamentos profissionais. A distribuição
de Weibull que por sua vez éconsiderada adequada para a maioria dos regimes estatísticos de
vento, porém ainda apresenta diferenças com a situação real.
45

Por fim, épreciso ficar atento às discussões no Congresso referente àreforma do Sistema
de Compensação de Energia Elétrica. As incertezas trazidas podem mudar as análises feitas no
estudo de caso e resultar em um cenário desfavorável para os consumidores.
46

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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content/uploads/2019/04/GWEC-Global-Wind-Report-2018.pdf >. Acessado em: agosto de
2020.

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<http://www2.aneel.gov.br/cedoc/bren2012482.pdf>. Acessado em: outubro de 2020

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outubro de 2020

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Geração. Disponível em <http://www.aneel.gov.br/15.htm>. Acesso em outubro de 2020

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[9] ANEEL, Micro e Minigeração distribuída, Disponível em :<


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Acessado em: outubro de 2020

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[11] ALDABÓ, Ricardo. Energia eólica. São Paulo: Artliber Editora, 2005.

[12] MONTEZANO, B. E. M., 2012. Estratégias para identificação de Sítios Eólicos


promissores usando Sistema de Informação Geográfica e Algoritmos Evolutivos, Dissertação
de Mestrado, COPPE, UFRJ, Rio de Janeiro.
47

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State University, Columbus, OH, 2010.

[14] CEPEL, Emissões de Gases de Efeito Estufa em Reservatórios de Centrais Hidrelétricas


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[20] GOVERNO DO ESTADO SP, Anuário de energéticos por município do Estado de São
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[22] HI-VAWT, Página de produtos. Disponivel em: < http://www.hi-


vawt.com.tw/en/ds700w.html> Acessado em: novembro de 2020

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