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ANCORAGEM – CAPÍTULO 11

Libânio M. Pinheiro

Colaboradores:

Cassiane D. Muzardo; Artur L. Sartorti

Fevereiro de 2016

ANCORAGEM

Ancoragem é a fixação da barra no concreto, para que ela possa ser


interrompida. A transferência de esforços entre aço e concreto e a compatibilidade
de deformações entre eles são fundamentais para a existência do concreto armado.
Isto só é possível por causa da aderência.
Aderência (bond, em inglês) é a propriedade que impede que haja
escorregamento de uma barra em relação ao concreto que a envolve. É, portanto,
responsável pela solidariedade entre o aço e o concreto, fazendo com que esses
dois materiais trabalhem em conjunto.
Na ancoragem por aderência, deve ser previsto um comprimento suficiente
para que o esforço da barra (de tração ou de compressão) seja transferido para o
concreto. Ele é denominado comprimento de ancoragem.
Além disso, em peças nas quais é necessário fazer emendas nas barras, por
razões construtivas ou pelo grande comprimento da peça, também se deve garantir
um comprimento suficiente para que os esforços sejam transferidos de uma barra
para outra. Isto também é possível graças à aderência entre o aço e o concreto.

1 TIPOS DE ADERÊNCIA
Esquematicamente, a aderência pode ser decomposta em três parcelas:
adesão, atrito e aderência mecânica. Essas parcelas decorrem de diferentes
fenômenos que intervêm na ligação dos dois materiais.

1.1 Aderência por Adesão


A aderência por adesão caracteriza-se por uma resistência à separação dos
dois materiais. Ocorre em função de ligações físico-químicas na interface das barras
com a pasta, geradas durante as reações de pega do cimento. Para pequenos
deslocamentos relativos entre a barra e a massa de concreto que a envolve, essa
ligação é destruída.
A Figura 1 mostra um bloco de concreto moldado sobre uma placa de aço. A
ligação entre os dois materiais se dá por adesão. Para separá-los, há necessidade
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de se aplicar uma ação representada pela força Fb1. Se a força fosse aplicada na
horizontal, não se conseguiria dissociar a adesão do comportamento relativo ao
atrito. No entanto, a adesão existe independente da direção da força aplicada.

Figura 1 – Aderência por adesão

1.2 Aderência por Atrito


Por meio do arrancamento de uma barra em um bloco concreto (Figura 2),
verifica-se que a força de arrancamento Fb2 é maior do que a força Fb1 mobilizada
pela adesão. Esse acréscimo é devido ao atrito entre a barra e o concreto.

Figura 2 – Aderência por atrito

O atrito manifesta-se quando há tendência ao deslocamento relativo entre os


materiais. Depende da rugosidade superficial da barra e da pressão transversal ,
exercida pelo concreto sobre a barra, em virtude da retração (Figura 2). Em barras
curvas ou em regiões de apoio de vigas em pilares, aparecem acréscimos dessas
pressões de contato que favorecem a aderência por atrito.
O coeficiente de atrito entre aço e concreto é alto, em função da rugosidade da
superfície das barras, resultando valores entre 0,3 e 0,6 (LEONHARDT, 1977).
Na Figura 2, a oposição à ação Fb2 é constituída pela resultante das tensões
de aderência (b) distribuídas ao longo da barra.

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1.3 Aderência Mecânica


A aderência mecânica é devida à conformação superficial das barras. Nas
barras de alta aderência (Figura 3), as saliências mobilizam forças localizadas,
aumentando significativamente a aderência.

Figura 3 – Aderência mecânica em barras nervuradas

A Figura 4 (LEONHARDT, 1977) mostra que mesmo uma barra lisa pode
apresentar aderência mecânica, em função da rugosidade superficial, devida à
corrosão do aço e ao processo de fabricação da barra, gerando irregularidades na
superfície. Para efeito de comparação, são apresentadas superfícies microscópicas
de: barra enferrujada, barra recém-laminada e fio de aço obtido por laminação a
quente e posterior encruamento a frio por estiramento. Nota-se que essas
superfícies estão muito longe de serem efetivamente lisas.
Portanto, a separação da aderência nas três parcelas (adesão, atrito e
aderência mecânica) é apenas esquemática, pois não é possível quantificar
isoladamente cada uma delas.

Figura 4: Conformação superficial de barras de aço.


FONTE: Fusco (1995, p. 137).

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2 TENSÃO DE ADERÊNCIA
Para uma barra de aço imersa em uma peça de concreto, como a indicada na
Figura 5, a tensão média de aderência é dada por:

Figura 5 – Tensão de aderência

Rs
b 
  b
Rs é a força atuante na barra;
 é o diâmetro da barra;
b é o comprimento de ancoragem.

A tensão de aderência depende de diversos fatores, entre os quais:

 Rugosidade da barra;
 Posição da barra durante a concretagem;
 Diâmetro da barra;
 Resistência do concreto;
 Retração;
 Adensamento;
 Porosidade do concreto etc.

Alguns desses aspectos serão considerados na sequência deste texto.

3 SITUAÇÕES DE ADERÊNCIA
Na concretagem de uma peça, tanto no lançamento como no adensamento, o
envolvimento da barra pelo concreto é influenciado pela inclinação dessa barra. Sua
inclinação interfere, portanto, nas condições de aderência.

11.4
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Por causa disso, a NBR 6118:2014 considera em boa situação quanto à


aderência os trechos das barras que estejam com inclinação maior que 45º em
relação à horizontal (Figura 6 a).

FIGURA 6 – Situações de boa e de má aderência (PROMON, 1976)

As condições de aderência são influenciadas por mais dois aspectos:

 Altura da camada de concreto sobre a barra, cujo peso favorece o


adensamento, melhorando as condições de aderência;

 Nível da barra em relação ao fundo da forma; a exsudação produz porosidade


no concreto, que é mais intensa nas camadas mais altas, prejudicando a
aderência.

Essas duas condições fazem com que a NBR 6118:2014 considere em boa
situação quanto à aderência os trechos das barras que estejam em posição
horizontal ou com inclinação menor que 45º, desde que:

 para elementos estruturais com h < 60 cm, localizados no máximo 30 cm acima


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da face inferior do elemento ou da junta de concretagem mais próxima


(Figuras 6b e 6c);
 para elementos estruturais com h  60 cm, localizados no mínimo 30 cm
abaixo da face superior do elemento ou da junta de concretagem mais próxima
(Figura 6d).

Em outras posições e quando forem usadas formas deslizantes, os trechos das


barras devem ser considerados em má situação quanto à aderência.
No caso de lajes e vigas concretadas simultaneamente, as barras na parte
inferior da viga podem estar em uma região de boa aderência e na parte superior,
em região de má aderência.
Se a laje tiver espessura menor do que 30 cm, as barras estarão em uma
região de boa aderência.
Sugerem-se, então, as indicações das Figuras 6e e 6f para determinação das
condições de aderência.

4 RESISTÊNCIA DE ADERÊNCIA
A resistência de aderência de cálculo entre armadura e concreto é dada pela
expressão (NBR 6118:2014, item 9.3.2.1):

f bd  1  2  3  f ctd

1,0 para barras lisas



1  1,4 para barras entalhadas
2,25 para barras nervuradas

1,0 para situações de boa aderência


2  
0,7 para situações de má aderência

1,0 para   32 mm
3  
(132   ) / 100 para   32 mm
O valor fctd é dado por (item 8.2.5 da NBR 6118:2014):

f ctk,inf
f ctd  sendo f ctk,inf  0,7 f ctm
c

- para concretos de classes até C50:

f ct, m  0,3 f ck/2/3

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- para concretos de classes C55 a C90:


fct, m  2,12.ln(1  0,11. f ck )

5 COMPRIMENTO DE ANCORAGEM
Todas as barras da armadura devem ser ancoradas de forma que seus
esforços sejam integralmente transmitidos para o concreto, por meio de aderência,
de dispositivos mecânicos ou por combinação de ambos.
Na ancoragem por aderência, os esforços são ancorados por meio de um
comprimento reto ou com grande raio de curvatura, seguido ou não de gancho.
Com exceção das regiões situadas sobre apoios diretos, as ancoragens por
aderência devem ser confinadas por armaduras transversais ou pelo próprio
concreto, considerando-se este caso quando o cobrimento da barra ancorada for
maior ou igual a 3 e a distância entre as barras ancoradas também for maior ou
igual a 3.
Nas regiões sobre apoios diretos, não é necessária armadura de confinamento,
pois a pressão do concreto sobre a barra aumenta da aderência por atrito.

5.1 Comprimento de Ancoragem Básico

Define-se comprimento de ancoragem básico b (Figura 5) como o


comprimento reto necessário para ancorar a força limite R s = As fyd, admitindo, ao
longo desse comprimento, resistência de aderência uniforme e igual a f bd, obtida de
acordo com o item 4.
O comprimento de ancoragem básico b é obtido igualando-se a força última de
aderência b  fbd com o esforço na barra Rs = As fyd (ver Figura 5):
b   fbd = s fyd
 2
Como As  , obtém-se:
4
 f yd
b 
4 f bd
De maneira simplificada, pode-se dizer que, a partir do ponto em que a barra
não for mais necessária, basta assegurar a existência de um comprimento
suplementar b que garanta a transferência das tensões da barra para o concreto.

5.2 Comprimento de Ancoragem Necessário


Nos casos em que a área efetiva da armadura s,ef for maior que a área

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calculada As,calc, a tensão nas barras diminui e, portanto, o comprimento de


ancoragem pode ser reduzido na mesma proporção. A presença de gancho na
extremidade da barra também permite a redução do comprimento de ancoragem.
Com base nessas duas condições, o comprimento de ancoragem necessário
pode ser calculado pela expressão:
As , calc
 b, nec   .  b    b, min
As , ef

1,0 para barras sem gancho



  0,7 para barras tracionada s com gancho , com cobrimento no plano
normal ao gancho  3

b é o comprimento de ancoragem básico, calculado conforme o item 5.1;
b,min é o comprimento de ancoragem mínimo, maior valor entre 0,3b, 10 e 100 mm.

5.3 Ancoragem de Barras Comprimidas


Nas estruturas usuais de concreto armado, pode ser necessário ancorar barras
compridas, nos seguintes casos:

 em vigas – quando há barras longitudinais compridas (armadura dupla);


 em pilares – nas regiões de emendas, no nível dos andares ou da fundação.

As barras exclusivamente compridas ou que tenham alternância de solicitações


(tração e compressão) devem ser ancoradas em trecho reto, sem gancho
(Figura 7). A presença do gancho gera concentração de tensões, que pode levar ao
fendilhamento do concreto ou à instabilidade da barra.
Em termos de comportamento, a ancoragem de barras comprimidas e a de
barras tracionadas são diferentes em dois aspectos. Primeiramente, por estar
comprimido na região da ancoragem, o concreto apresenta maior integridade (está
menos fissurado) do que se estivesse tracionado, e poderiam ser admitidos
comprimentos de ancoragem menores.
Um segundo aspecto é o efeito de ponta, como pode ser observado na
Figura 7. Esse fator é bastante reduzido com o tempo, pelo efeito da fluência do
concreto. Na prática, esses dois fatores são desprezados.
Portanto, os comprimentos de ancoragem de barras comprimidas são
calculados como os das tracionadas. Porém, nas comprimidas não se usa
gancho.

11.8
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Figura 7 – Ancoragem de barras comprimidas (FUSCO, 1975)

6 ANCORAGEM NOS APOIOS


De acordo com a NBR 6118:2014, item 18.3.2.4, a armadura longitudinal de
tração junto aos apoios deve ser calculada para satisfazer a mais severa das
seguintes condições:

a) no caso de ocorrência de momentos positivos, a armadura obtida através do


dimensionamento da seção;
b) em apoios extremos, para garantir ancoragem da diagonal de compressão,
armadura capaz de resistir a uma força de tração Rs dada por:
a 
R s      Vd  N d
d 
em que Vd é a força cortante na face do apoio e Nd é a força de tração
eventualmente existente.
d para |Vsd,máx|  |Vc|
 VSd , max  
a  d    (1  cot g )  cot g   0,5d caso geral (vigas)
 2  (VSd , max  Vc )  0,2d para estribos inclinados a 45º

a  1,5.d (lajes)

Na flexão simples, o esforço a ancorar é dado por:


a 
Rs     Vd , face
d 
A armadura para resistir esse esforço, com tensão s = fyd, é dada por:

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Rs
As ,calc 
f yd

Na expressão do comprimento de ancoragem necessário (item 5.2),


As , calc
 b, nec    b
As , ef

Impondo-se  b ,nec   b ,disp e As ,ef  As ,nec , obtém-se:

 b
As , nec  As ,calc
 b, disp
A área das barras ancoradas no apoio não pode ser inferior a As,nec.

c) em apoios extremos e intermediários, por prolongamento de uma parte da


armadura de tração do vão (As,vão), correspondente ao máximo momento positivo do
tramo (Mvão), de modo que:

 As,apoio  1/3 (As,vão) se Mapoio for nulo ou negativo e de valor absoluto Mapoio 0,5 Mvão;

Mapoio = 0 Mapoio = 0

Mvão

|Mapoio|<0,5.Mvão

Mvão

Figura 8 – Situação de momento de apoio nulo ou menor que 50% do momento do


vão.

 As,apoio  1/4 (As,vão) se Mapoio for negativo e de valor absoluto Mapoio 0,5 Mvão.
|Mapoio|>0,5.Mvão

Mvão

Figura 9 – Situação de momento de apoio maior que 50% do momento do vão.


11.10
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Sobre os apoios devem existir sempre ao menos duas barras na face superior
e inferior da viga.

6.1 Comprimento Mínimo de Ancoragem em Apoios Extremos e


Intermediários
Em apoios extremos, para os casos (b) e (c) anteriores, a NBR 6118:2014
prescreve que as barras devem ser ancoradas a partir da face do apoio, com
comprimento mínimo dado por:

 b, nec conforme o item 5.1



 be, min  (r  5,5 ) sendo r o raio interno de curvatura do gancho (Tabela 1)
60 mm

Desta forma, pode-se determinar o comprimento mínimo necessário do apoio:

t min   be ,min  c
c é o cobrimento da armadura que deve ser  3 (Figuras 10a e 10b).
A NBR 6118:2014, item 18.3.2.4.1, estabelece que quando houver cobrimento
da barra no trecho do gancho, medido normalmente ao plano do gancho, de pelo
menos 70 mm, e as ações acidentais não ocorrerem com grande frequência com
seu valor máximo, o primeiro dos três valores anteriores pode ser desconsiderado,
prevalecendo as duas condições restantes.

a) Barra com ponta reta b) Barra com gancho

Figura 10 – Ancoragem no apoio

Para os casos de apoios intermediários, o comprimento de ancoragem pode


ser igual a 10 , desde que não haja qualquer possibilidade de ocorrência de
momentos positivos na região dos apoios, provocados por situações imprevistas,
11.11
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particularmente por efeitos de vento e eventuais recalques. Quando essa


possibilidade existir, as barras devem ser contínuas ou emendadas sobre o apoio.
Se o ponto A de início de ancoragem estiver na face do apoio ou além dela
(Figura 11a), e a força Rs diminuir em direção ao centro do apoio, o trecho de
ancoragem deve ser medido a partir dessa face, com a força Rs.
Quando o diagrama de momentos fletores de cálculo não atingir a face do
apoio, as barras prolongadas até o apoio (Figura 11b) devem ter o comprimento de
ancoragem marcado a partir do ponto A e, obrigatoriamente, deve ultrapassar 10
da face de apoio.
Quando houver qualquer possibilidade da ocorrência de momentos positivos
nessa região, provocados por situações imprevistas, particularmente por efeitos de
vento e eventuais recalques, as barras deverão ser contínuas ou emendadas sobre
o apoio.

Figura 11 – Ancoragem em apoios intermediários

7 GANCHOS DAS ARMADURAS DE TRAÇÃO


Os ganchos das extremidades das barras da armadura longitudinal de tração
podem ser (item 9.4.2.3 da NBR 6118:2014):
 semicirculares, com ponta reta de comprimento não inferior a 2 (Figura 12a);
 em ângulo de 45º (interno), com ponta reta de comprimento não inferior a 4
(Figura 12b);
 em ângulo reto, com ponta reta de comprimento não inferior a 8 (Figura 12c).

Para barras lisas, os ganchos devem ser semicirculares. Vale ressaltar que,

11.12
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segundo as recomendações da NBR 6118:2014, as barras lisas deverão ser sempre


ancoradas com ganchos.
A NBR 6118:2014 recomenda que não sejam utilizados ganchos em barras
com diâmetro maior que 32 mm ou em feixes de barras.

(a) (b) (c)


Figura 12 – Tipos de ganchos

Ainda segundo a NBR 6118:2014, o diâmetro interno da curvatura dos


ganchos das armaduras longitudinais de tração deve ser pelo menos igual ao
estabelecido na Tabela 1.
Tabela 1 – Diâmetros dos pinos de dobramento
BITOLA
CA - 25 CA - 50 CA - 60
(mm)
 < 20 4 5 6
  20 5 8 -

8 GANCHOS DOS ESTRIBOS


A NBR 6118:2014, item 9.4.6, estabelece que a ancoragem dos estribos deve
necessariamente ser garantida por meio de ganchos ou barras longitudinais
soldadas. Os ganchos dos estribos podem ser:
 semicirculares ou em ângulo de 45o (interno), com ponta reta de comprimento
igual a 5, porém não inferior a 5 cm – pode ser utilizado na cortante e na
torção (Figura 13);
cm
5
u
to

Estribo aberto Estribo fechado

Figura 13 – Estribo com ganchos à 45°.


11.13
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 em ângulo reto, com ponta reta de comprimento maior ou igual a 10, porém
não inferior a 7 cm (este tipo de gancho não deve ser utilizado para barras e
fios lisos) – Figuras 14 e 15.

10Øt ou 7 cm
ESTRIBO PARA
CORTANTE

Estribo aberto Estribo fechado

Figura 14 – Estribo com gancho reto para cortante.


10Øt ou 7 cm

ESTRIBO PARA
TORÇÃO

Estribo aberto Estribo fechado

Figura 15 – Estribo com gancho reto para torção.


O diâmetro interno da curvatura dos estribos deve ser no mínimo igual ao valor
dado na Tabela 2.

Tabela 2 – Diâmetros dos pinos de dobramento para estribos


BITOLA (mm) CA - 25 CA - 50 CA - 60
t ≤ 10 3t 3t 3t
10 < t < 20 4t 5t -
t  20 5t 8t -

9 ARMADURA TRANSVERSAL NA REGIÃO DA ANCORAGEM


A armadura transversal na região da ancoragem é dispensada quando
ocorrerem as seguintes situações:
- região de apoios diretos;
- ou quando o cobrimento da barras for maior que 3 e a distância entre as
barras ancoradas for maior que 3.
A armadura transversal na região da ancoragem tem a finalidade de confinar o
concreto nessa região.
Quando forem necessária armaduras transversais, elas podem ser constituídas
11.14
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pelos estribos que envolvem a ancoragem segundo os seguintes critérios:


- Para barras com  < 32 mm
Ao longo do comprimento de ancoragem deve ser prevista armadura transversal
capaz de resistir a 25% da força longitudinal de uma das barras ancoradas. Se a
ancoragem envolver barras de diferentes diâmetros, prevalece a que tiver maior
diâmetro.
- Para barras com diâmetro ≥ 32 mm
Deve ser verificada em duas direções transversais ao conjunto de barras ancoradas.
Essas armaduras transversais devem suportar as tensões de fendilhamento
segundo os planos críticos, respeitando o espaçamento máximo de 5.

Quando se tratar de barras comprimidas, pelo menos uma das barras


constituintes da armadura transversal deve estar situada a uma distância igual a 4
além da extremidade da barra ancorada.

10 EMENDAS DE BARRAS POR TRASPASSE


Esse tipo de emenda não é permitido para barras de bitola maior que 32 mm.
Cuidados especiais devem ser tomados na ancoragem e na armadura de costura de
tirantes e pendurais (elementos tracionados).
No caso de feixes, o diâmetro do círculo de mesma área, para cada feixe, não
pode ser superior a 45 mm.

10.1 Proporção das barras emendadas


Considera-se como na mesma seção transversal as emendas que se
superpõem ou cujas extremidades mais próximas estejam afastadas de menos que
20% do comprimento do trecho de traspasse (Figura 16).

Figura 16 – Emendas supostas como na mesma seção transversal.

11.15
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A proporção máxima de barras tracionadas da armadura principal emendadas


por traspasse na mesma seção transversal do elemento estrutural é dada na
Tabela 3 (Tabela 9.3 da NBR 6118:2014).
Tabela 3 – Proporção máxima de barras tracionadas emendadas

Quando se tratar de armadura permanentemente comprimida ou de


distribuição, todas as barras podem ser emendadas na mesma seção.

10.2 Comprimento de traspasse de barras tracionadas, isoladas


Quando a distância livre entre as barras emendadas estiver comprometida
entre 0 e 4 , o comprimento do trecho de traspasse para barras tracionadas deve
ser:
 0t   0t . b , nec   0t , min
0,3. 0t . b

 0t , min  15
200mm

 0t é um coeficiente que depende da porcentagem de barras emendaddas na
mesma seção conforme a Tabela 4 (Tabela 9.4 da NBR 6118:2014).

Tabela 4 – Valores de  0t

Quando a distância livre entre as barras emendadas for maior que 4 , ao


comprimento  0t deve ser acrescida a distância livre entre as barras emendadas.

11.16
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10.3 Comprimento de traspasse de barras comprimidas, isoladas

No cálculo do comprimento de traspasse 0c de barras comprimidas, adota-se a


seguinte expressão (NBR 6118:2014, item 9.5.2.3):
 0c   b ,nec   0c ,min

0c,min é o maior valor entre 0,6 b , 15  e 200 mm.

10.4 Armadura transversal nas emendas por traspasse, em barras isoladas


Quando forem atendidas as recomendações a seguir, pode ser dispensada a
armadura transversal nas emendas em traspasse:
- diâmetro da barra emendada por traspasse for menor que 16 mm e a
proporção de barras emendadas na mesma seção for menor que 25%;
- emenda na região de apoios diretos.

10.4.1 Armadura transversal em emendas de barras tracionadas (Figura 17)


Nos casos em que   16mm eou quando a proporção de barras emendadsa na
mesma seção for maior ou igual a 25%, a armadura transversal deve:
- ser capaz de resistir a uma força igual à de uma barra emendada,
considerando ramos paralelos ao plano da emenda;
- ser constituída por barras fechadas (estribos fechados) se a distância entre as
duas barras mais próximas de duas emendas na mesma seção for  10 (  é o
diâmetro da barra emendada);
- concentrar-se nos terços extremos da emenda.

10.4.2 Armadura transversal em emendas de barras comprimidas (Figura 17)


Devem ser mantidos os critérios para o caso de emendas de barras
tracionadas, co pelo menos uma barra da armadura transversal situada a 4 além
das extremidades da emenda.

11.17
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Figura 17 – Armadura transversal nas emendas.

10.5 Emendas por traspasse em feixes de barras


Podem ser feitas emendas por traspasse em feixes de barras quando as barras
constituintes do feixe forem emendadas uma de cada vez, desde que em qualquer
seção do feixe emendado não resultem mais de 4 barras.
As emendas das barras de um feixe devem ser separadas de 1,3 vez o
comprimento de emenda individual de cada uma  0t .

11 ANCORAGEM FORA DE APOIO


Algumas barras longitudinais podem ser interrompidas antes dos apoios. Para
determinar o ponto de início de ancoragem dessas barras, há necessidade de se
deslocar, de um comprimento a, o diagrama de momentos fletores de cálculo.

11.1 Deslocamento a do Diagrama

O valor do deslocamento a é dado por (item 17.4.2.2c da NBR 6118:2014)


quando se adota o Modelo de Cálculo I para o dimensionamento à cortante:
d para |Vsd,máx|  |Vc|
 VSd , max  
a  d    (1  cot g )  cot g   0,5d caso geral (vigas)
 2  (VSd , max  Vc )  
0,2d para estribos inclinados a 45º
a  1,5.d (lajes)
O ângulo  é a inclinação da armadura transversal em relação ao eixo
longitudinal da peça (45    90). O valor de Vc para flexão simples, flexo-tração
com a linha neutra cortando a seção é dado por:
Vc = Vco = 0,6 fctd bw d

11.18
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Vale ressaltar que, nos casos usuais, em que a armadura transversal (estribos)
é normal ao eixo da peça,  = 90o e a expressão de a resulta:

d para |Vsd,máx|  |Vc|


 VSd , max  
a  d     0,5d caso geral
 2  (VSd , max  V )
c  0,2d para estribos inclinados a 45º

O deslocamento a é fundamentado no comportamento previsto para
resistência da viga à força cortante, em que se considera que a viga funcione como
uma treliça, com banzo comprimido e diagonais comprimidas (bielas) formadas pelo
concreto, e banzo tracionado e montantes tracionados constituídos, respectivamente,
pela armadura longitudinal e pelos estribos. Nesse modelo há um acréscimo de
esforço na armadura longitudinal de tração, que é considerado através de um
deslocamento a do diagrama de momentos fletores de cálculo.

11.2 Trecho de ancoragem


Será calculado conforme o item 18.3.2.3.1 da NBR 6118:2014 (Figura 18).

Figura 18 – Cobertura do diagrama de força de tração solicitante pelo diagrama


resistente
O trecho da extremidade da barra de tração, considerado como de ancoragem,
tem início na seção teórica onde sua tensão s começa a diminuir, ou seja, o
esforço da armadura começa a ser transferido para o concreto.
A barra deve prolongar-se pelo menos 10 além do ponto teórico de tensão s
11.19
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

nula, não podendo em nenhum caso ser inferior ao comprimento de ancoragem


necessário, calculado conforme o item 5.2 deste texto.
Assim, na armadura longitudinal de tração das peças fletidas, o trecho de
ancoragem da barra terá início no ponto A (Figura 18) do diagrama de forças
Rs = Md/z deslocado. Se a barra não for dobrada, o trecho de ancoragem deve
prolongar-se além de B, no mínimo 10. Se a barra for dobrada, o início do
dobramento poderá coincidir com o ponto B (Figura 18). Atualmente, é raro o
emprego de barras dobradas (cavaletes).

11.3 Cobertura do diagrama de momento fletor


Os passos agora descritos servem para facilitar a aplicação da teoria de
cobertura do diagrama de momento fletor.
A cobertura do diagrama deve seguir os seguintes passos:
1º) Dividir o diagrama de momentos fletores em espaços iguais com retas
paralelas ao eixo da peça em número igual ao da quantidade de barras
calculadas para combater o valor de momento máximo, conforme a Figura
19.

Figura 19 - Divisão do diagrama de momentos fletores.

2º) Deve-se agora acrescentar o valor a na posição de cada barra, deslocando

o diagrama de momentos fletores. (ver Figura 20)

11.20
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

Figura 20 - Deslocamento do diagrama de momentos fletores com o valor de a

3º) Estender todas as barras com o valor de  b,nec , conforme definido

anteriormente. (ver Figura 21)

b,nec a

b,nec a

b,nec a

b,nec a

b,nec a

Figura 21 - Comprimento de ancoragem  b,nec

4º) Verificar se a extremidade de  b,nec da barra inferior no desenho, está ao

menos 10 além do final de a da barra desenhada exatamente acima.

11.21
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

Caso não esteja, deve-se alongar conforme a Figura 22.

b,nec a

b,nec a
10Ø

b,nec a
10Ø

b,nec a
10Ø

10Ø b,nec a

Figura 22 - Verificação do comprimento 10 nas barras

5º) A geometria de cada barra será indicada pelo comprimento resultante da


soma de todas as parcelas. (ver Figura 23)

b,nec a BARRA 01

b,nec a BARRA 02
10Ø

b,nec a BARRA 03
10Ø

b,nec a BARRA 04
10Ø
BARRA 05

10Ø b,nec a

BARRA 01
BARRA 02
BARRA 03
BARRA 04
BARRA 05

Figura 23 – Comprimento total das barras

QUESTIONÁRIO

11.22
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

1. O que é ancoragem por aderência?


2. Quais as parcelas da aderência e quais as causas delas?
3. Por que existem situações de boa e de má aderência? Quais as causas?
4. Como se determina o comprimento para ancoragem de uma barra?
5. Como se pode reduzir o comprimento de ancoragem?
6. Para estribos a 90º, segundo a NBR 6118:2014, como se determina o
deslocamento a?
7. Como se determinam os pontos de início de ancoragem e de interrupção de
uma barra?
8. Qual a dimensão mínima do apoio, para ancoragem das barras que chegam até
o apoio?
9. Como se determina o esforço nas barras para verificação da ancoragem em
apoios estreitos?
10. Como se determina o número de barras que devem ser prolongadas até o
apoio?
11. Quando no apoio não for possível a ancoragem das barras utilizadas, quais as
providências que podem ser adotadas?

AGRADECIMENTOS
Aos colaboradores na redação e na revisão deste texto:

Marcos Vinícius Natal Moreira,


Murilo Alessandro Scadelai e
Sandro Pinheiro Santos.

REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2014). NBR 6118 – Projeto
de estruturas de concreto. Rio de Janeiro, ABNT.
FUSCO, P.B. (1975). Fundamentos da técnica de armar: estruturas de concreto. v.3.
São Paulo, Grêmio Politécnico.
FUSCO, P. B. Técnica de armar as estruturas de concreto. São Paulo. PINI, 1995.
382 p.
LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. (1977). Construções de concreto: princípios básicos
do dimensionamento de estruturas de concreto armado. v.1. Rio de Janeiro,
Interciência.
PROMON ENGENHARIA (1976). Tabelas para dimensionamento de concreto
11.23
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Aderência e Ancoragem

armado: segundo a NB-1/76. São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 269p.

11.24

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