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Resumo
A utilização do sistema construtivo de vigas metálicas mistas em aço e concreto incorporado
com laje steel deck no Brasil, já não é mais uma novidade no mercado. Porém, os
profissionais da arquitetura ainda não estão habituados a concepção de projetos de estruturas
em aço e uma das principais preocupações tem sido a melhoria da formação técnica desses
profissionais, bem como o desenvolvimento de mecanismos que possibilitem a inserção deles
no processo global de concepção. Devido a velocidade necessária, junto a estimativa de
materiais para compor os orçamentos, e a necessidade de que esta estimativa esteja cada vez
mais próxima da realidade final do projeto executivo, o uso de ábacos e relações para pré-
dimensionamento de vigas mistas tem se mostrado uma boa ferramenta para a aproximação
entre o valor estimado e o projeto final. O objetivo deste trabalho é relacionar os ábacos e
alguns dos valores existentes, recentemente publicados, para o pré-dimensionamento desta
solução com os valores de vigas mistas já executadas em obras finalizadas, para que se tenha
uma relação de pré-dimensionamento entre vão e altura de viga que possa chegar a um pré-
dimensionamento satisfatório, ou seja, próximo do real.
Introdução
comparadas com as vigas de aço isoladas, uma vez que a flambagem local da mesa (FLM),
assim como a flambagem lateral com torção (FLT), são impedidas ou amenizadas. Em
edifícios, o perfil mais utilizado como viga de aço é do tipo “I”. As lajes de concreto podem
ser moldadas in loco, com face inferior plana ou com fôrma de aço incorporada, ou ainda,
podem ser formadas de elementos pré-fabricados.
As vigas mistas podem ser simplesmente apoiadas, o que é mais usual, ou podem ser
contínuas. As simplesmente apoiadas apresentam maior eficiência do sistema misto, pois a
viga de aço trabalha, predominantemente, a tração e a laje de concreto à compressão. As vigas
contínuas, devido a presença de momentos fletores negativos, apresentam um comportamento
estrutural diferente das simplesmente apoiadas. Embora os momentos fletores negativos
reduzam a eficiência do sistema misto, deve-se notar que a continuidade das vigas traz
vantagens sob o ponto de vista de redução de esforços e deslocamentos e da estabilidade
global da estrutura.
Com relação ao método construtivo, pode-se optar pelo não escoramento da laje devido a
necessidade de velocidade de construção. Por outro lado, o escoramento da laje pode ser
apropriado caso seja necessário limitar os esforços e deslocamentos verticais da viga de aço
na fase construtiva. (ALVA, 2000).
1. Pesquisa bibliográfica
Um sistema misto pode ser configurado quando se tem interação entre aço e concreto. No
caso de vigas mistas, a interação é maior quanto menor for o deslocamento relativo entre a
laje e a viga de aço. Para isso, é necessário que haja transmissão de tensões entre as duas
peças. Essa interação pode ser classificada da seguinte forma: interação nula (perfil isolado),
interação parcial e interação total, como pode ser visto na Figura 1.
Figura 1 - Caracterização dos tipos de interação entre laje e vigas de aço (CARDOSO, 2006)
A interação nula acontece quando não há nenhuma ligação ou atrito entre a laje de concreto e
o perfil de aço, de forma que cada elemento se deformará de maneira independente,
ocorrendo, então, a formação de duas linhas neutras, uma no perfil do aço e outra na laje de
concreto. A interação parcial, por sua vez, acontece quando o grau de interação não é
suficiente para impedir o total escorregamento relativo entre a viga de aço e a laje de concreto
e haverá ainda duas linhas neutras dependentes. Já a interação total, acontece quando o uso de
conectores de cisalhamento ligam os elementos, de forma que não acontece escorregamento
relativo. Nela, temos somente uma linha neutra, garantindo assim, maior resistência e/ou
menos altura e menor peso da estrutura.
ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 13ª Edição nº 012 Vol.01/2017 Julho/2017
Analise da relação vão x altura de vigas metálicas mistas já executadas Julho/2017
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Figura 2 - Interação entre o aço e o concreto no comportamento de vigas mistas (ALVA, 2000)
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A largura efetiva é uma parte importante do dimensionamento das vigas mistas. É nesta etapa
que determinamos quanto da laje de concreto será considerada no dimensionamento. Ela é
definida como sendo uma largura fictícia que, multiplicada pela máxima tensão atuante na
laje de concreto, nos fornece a mesma resultante da distribuição real de tensões. Este
fenômeno é observado na figura 5 de forma simplificada, apresentado por Alva (2000).
Figura 5 - Distribuições das tensões longitudinais na laje considerando o efeito "shear-Lag" - ALVA(2000)
De acordo com a NBR 8800 anexo O item 1.2.1, para o cálculo das propriedades geométricas
no regime elástico, é feita a homogeneização teórica da seção transversal transformando a
área de concreto em área de aço equivalente, conforme figura 6, ou seja, a largura efetiva de
concreto é reduzida pelo fator α, desprezando a participação do concreto na zona tracionada, α
é dado por:
a laje de concreto fica comprimida em uma parte do vão onde atuam momentos fletores
positivos. A continuidade das vigas pode colaborar, sob o ponto de vista global da estrutura,
devido à possibilidade de contar com o efeito de pórtico (ALVA,2000).
Algumas vantagens do uso de vigas mistas simplesmente apoiadas em relação as vigas mistas
contínuas, de acordo com Johnson (1994), são:
Uma pequena parte da alma do perfil fica comprimida e a mesa superior está travada
pela laje, portanto, a resistência do perfil não fica restrita ao colapso devido à
flambagem;
As tensões na alma do perfil são relativamente baixas, criando uma situação favorável
para a abertura de furos, nessa região, para passagem de dutos de serviço do edifício;
Momentos positivos e força cortante vertical são estaticamente determinados, e não
são influenciados por fissuração, fluência ou retração do concreto;
Não há interação entre o comportamento de vigas de vãos adjacentes;
Os momentos nas colunas são menores, já que o pórtico é travado contra deslocamento
lateral;
A análise global fica simplificada e o dimensionamento é mais rápido.
Duas situações de construção são possíveis com vigas mistas: sistema escorado e não
escorado. No sistema escorado, a laje deve ser escorada até que o concreto atinja resistência
suficiente para trabalhar em conjunto com o aço neste método. Os deslocamentos e as tensões
de serviço são menores do que no caso de uma construção não escorada devido à rigidez e à
resistência do sistema misto.
Já no sistema não escorado, durante a concretagem da laje, as vigas de aço deverão suportar
todo o peso próprio do concreto e as sobrecargas de construção devido ao concreto não
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2. Considerações
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Figura 9 - Arranjo típico de um sistema de piso de um edifício de múltiplos andares com sistema de vigas
secundárias e principais (ALBRECHT 2010).
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4. Levantamento de dados
Os dados levantados para esse trabalho foram colhidos do banco de dados de duas empresas
que atuam no mercado de estruturas metálicas da região nordeste do Brasil. Em um primeiro
momento, foram catalogadas as vigas secundárias metálicas dimensionadas como vigas
mistas, com o vão de maior utilização em cada obra, sendo então, relacionados o vão da viga,
a altura e o tipo de utilização da obra. Posteriormente, foram coletados os dados referentes as
vigas principais, sendo observados, neste caso, o tipo de obra, o vão da viga principal, o vão
das vigas secundárias de cada lado e a altura do perfil.
Os dados levantados serão apresentados aleatoriamente em forma de tabela, com os dados
colhidos sem especificação de qual empresa se origina, para que haja homogeneidade nos
resultados obtidos. Em seguida, os resultados alcançados serão comparados com os que foram
obtidos por Guimarães (2015), que apresentou relações de vão x altura para 387 vigas, porém,
de uma única obra, uma vez que, conforme descreve a autora, pela prática da padronização de
vigas para a otimização da fabricação destas, o que é uma prática comum entre as fábricas,
temos uma certa variação entre os resultados obtidos.
Na sequência, os resultados obtidos serão comparados com os ábacos de pré-
dimensionamento elaborados pelo professor Philip A. Corkill, já mencionado, onde o ábaco
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nos possibilita, partindo do vão, obter um intervalo de altura de vigas, o qual dependerá da
utilização do pavimento. Feito isto, serão apresentadas relações de pré-dimensionamento
encontradas para as vigas secundárias e as vigas principais.
A partir da tabela 1, na qual temos os dados obtidos do levantamento das vigas secundárias de
52 obras já realizadas, construímos um gráfico para uma melhor análise dos resultados.
por exemplo, que entre os vãos de 6m e 7,5m, claramente, as vigas W360 são as utilizadas.
Comparando os gráficos obtidos, vemos que, no gráfico obtido por Guimarães (2015) existe
uma redução do valor médio da altura das vigas entre os vãos de 8m e de 10m, o que não se
mostra um resultado esperado, já que temos o aumento do vão. Este tipo de situação não
aparece quando observamos o gráfico no qual contemplamos apenas as vigas secundárias.
Esta diferença de resultados pode estar diretamente ligada ao fato de os dados captados na
obra do Shopping Várzea Grade contemplarem vigas secundárias, vigas principais e, dentre
estas vigas, existirem ainda os fatores de padronização do fabricante da estrutura.
Agora faremos a comparação entre o gráfico obtido para as vigas secundárias neste trabalho, e
o gráfico de pré-dimensionamento elaborado pelo professor Philip A. Corkill, no qual foi
delimitada uma região de possibilidades conforme a utilização da viga.
Gráfico 3 - Gráfico obtido nesta pesquisa x Gráfico obtido por Philip A. Corkill
Inicialmente, vemos que todos os pontos obtidos para as vigas secundárias no gráfico a
esquerda estão contidos na região pré-determinada pelo gráfico do professor Philip A. Corkill,
o que comprova tanto a eficiência do gráfico de pré-dimensionamento elaborado pelo
professor , quanto a eficiência e o dimensionamento correto das vigas secundárias que veem
sendo utilizadas nas soluções metálicas pelas empresas estudadas.
Apesar do gráfico de pré-dimensionamento do professor Corkill não apresentar claramente os
demais vãos e as alturas de vigas entre os intervalos apresentados, analisando com cautela
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vemos que, ao considerarmos uma linha central na região apresentada no gráfico do professor
Corkill, esta linha estaria superior a linha que define as vigas secundárias obtidas neste
trabalho, isto se dá pelo fato de que o gráfico elaborado pelo professor pré-dimensiona vigas
metálicas, enquanto que todas as vigas secundárias analisadas neste trabalho e que compõem
o gráfico a esquerda, foram dimensionadas como vigas mistas. Podemos, então, rapidamente
observar uma redução na altura das vigas metálicas quando consideradas como vigas mistas.
Retornando à análise do gráfico obtido para as vigas secundárias, vemos, do lado direito do
gráfico, que a equação que melhor representa a relação entre vão e altura de vigas mistas para
os dados obtidos é dada por uma equação linear. Porém, para facilitar o pré-dimensionamento
das vigas mistas foi estabelecida uma relação linear entre o vão e a altura da viga que melhor
se encaixa nos dados obtidos neste trabalho, conforme mostrado no seguinte gráfico.
Obtivemos a relação de 0,0497 entre o vão e a altura da viga, ou seja, para uma vão de 6m,
por exemplo, temos uma altura de viga de 0,2982m. Como os perfis são de alturas
padronizadas, temos uma viga de W310. Esta relação pode, então, ser aproximada para 0,05,
o que recai sobre a já conhecida relação de pré-dimensionamento de vigas mistas de L/20,
onde L é o vão da viga, comprovando a veracidade desta relação, e que esta é uma ótima
opção para obter as alturas de vigas mistas secundárias de forma rápida e eficiente, tanto para
arquitetos, quanto para engenheiros.
Tendo feito a análise referente as vigas secundárias, partimos então, para os dados obtidos das
vigas principais. Foram consideradas apenas as vigas principais internas da obra, ou seja, as
vigas que possuem vigas secundárias dos dois lados, visto que essas vigas serão as mais
solicitadas da estrutura e, consequentemente, as que necessitam de maior altura.
Conforme feito anteriormente, os dados levantados serão apresentados aleatoriamente em
forma de tabela, apresentando os dados colhidos sem especificação de qual empresa se
origina, para que haja homogeneidade nos resultados obtidos.
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Analogamente ao que foi feito para a tabela 01, transformamos os dados da tabela 02 em
gráfico para uma melhor análise dos resultados.
Observamos, mais uma vez, que os valores das alturas se aglomeram de acordo com as alturas
dos perfis laminados padrões da Gerdau, que são utilizados nas vigas W250, W310, W360,
W410, W530, W610. Porém, observamos também que, em média, as alturas das vigas
principais são maiores que as alturas das vigas secundárias. Vimos que o gráfico atinge até a
altura do maior perfil laminado do mercado, que é o W610. Este resultado já era esperado,
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visto que essas vigas apoiam as vigas secundárias e, necessariamente, são mais carregadas.
Porém, é importante observar que existe essa diferença de altura entre as vigas secundárias e
as principais na hora da concepção arquitetônica, podendo então, prever, por exemplo, que as
vigas principais fiquem no eixo das alvenarias, dessa forma, não reduzimos o pé direito da
estrutura.
Diferente do gráfico das vigas secundárias, no gráfico das vigas principais não é possível
identificarmos uma altura padrão para uma região de vão de viga. Vemos que uma mesma
altura de viga é utilizada em vários tipos de vãos. Este fato pode ser explicado ao
observarmos a tabela de dados e vermos que as vigas principais podem ser de mesmo vão ou
vãos muito próximos como, por exemplo, as vigas número 2 (dois) e número 11 (onze), que
vencem o vão de 5m (cinco metros) e o de 5,14m (cinco metros e quatorze centímetros),
respectivamente. Porém, apesar de serem vãos muitos próximos, possuem vãos de influência
muito diferentes 3m (três metros) e 9,7m (nove metros e sete centímetros), respectivamente,
por isso possuem alturas com praticamente 0,10m (dez centímetros) de diferença. Esta relação
é mais um ponto importante para ser observado na concepção arquitetônica.
Conforme feito para o gráfico das vigas secundárias, vamos tentar estabelecer uma relação
linear que melhor represente a relação altura de viga e vãos principais para facilitar o pré-
dimensionamento de vigas principais.
Vemos, no gráfico, a reta linear que melhor se aplica aos dados obtidos, contudo, observamos
que os pontos se mostram dispersos com relação a linha traçada, demostrando que uma
relação linear não é a que mais se adequa aos dados obtidos. Porém, de forma a facilitar o pré-
dimensionamento, vamos continuar com a relação linear.
Como observamos no gráfico 5 das vigas principais, a relação linear encontrada é de 0,0579
vezes o vão da viga para encontrarmos a sua altura. Para termos um número fechado e
facilitar o pré-dimensionamento, vamos então, arredondar esse valor para 0,06, de forma que,
caso tenhamos um vão de 10m (dez metros), teremos uma altura de viga de 0,6m (sessenta
centímetros), o que nos leva a utilização de um perfil de W610. Porém, para casos com um
vão de 8m (oito metros), teremos uma altura de viga de 0,48m (quarenta e oito centímetros).
Para estes vãos, poderíamos ter vigas de W530 ou W460, esta aproximação vai depender de
cada caso específico, pois existem mais fatores como o vão das vigas secundárias, a conexão
da viga principal com o pilar, e caberá ao arquiteto, ou ao engenheiro, a observação do seu
projeto para a melhor escolha do pré-dimensionamento.
5. Conclusão
um engenheiro e de um arquiteto quanto a questões não relacionadas neste trabalho como, por
exemplo, o tipo de ligação das vigas, a área de influência de cada viga. Assim, um aspecto
que pode ser explorado em trabalhos futuros é o pré-dimensionamento de pilares, para
edifícios metálicos de pequeno e médio porte.
6. Referências Bibliográficas
ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 13ª Edição nº 012 Vol.01/2017 Julho/2017