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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

E-mail do autor: erick.arq@gmail.com


FOLHA DE APROVAÇÃO 3

Erick Rodrigo da Silva Vicente

As estratégias projetuais de Jarbas Karman: análises gráficas de cinco hospitais projetados na


segunda metade do século XX.

Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São


Paulo para a obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Aprovado em:

Banca examinadora:

Prof. Dr.

Instituição:

Julgamento:

Assinatura:

Prof. Dr.

Instituição:

Julgamento:

Assinatura:

Prof. Dr.

Instituição:

Julgamento:

Assinatura:
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“Creio que poucos sabem ‘ver’ um hospital, porque o hospital, infelizmente, é


pouquíssimo conhecido entre nós; muitos não entram sequer no mérito das soluções
apresentadas, não se importando que estas sejam sumárias e superficiais, contanto
que o aspecto da planta seja ‘limpo’ e o exterior monumental. Este modo de aquilatar
a obra arquitetônica talvez se preste para prédios comerciais, mas nunca para um
hospital. O hospital é bem diferente, pois, ao mesmo tempo em que cada departamento
e peça integrante forçosamente têm que observar dimensões exatas, é preciso que
estes departamentos e peças sejam dispostos em conformidade com as interligações
ideais. Qualquer concessão vai se refletir na elevação do custo de manutenção do
hospital.”

Jarbas Karman, Folha da Manhã, 24 de agosto de 1958.


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AGRADECIMENTOS
À Vanessa e ao Pedro, pelo amor verdadeiro e por compreenderem as minhas
ausências.

À minha mãe Luzia, por todo o esforço e preocupação com a minha formação.

À memória da minha avó Maria, por me ensinar sobre ética, altruísmos e


solidariedade.

Ao professor Rafael Perrone, pela orientação e por acreditar na relevância deste


trabalho.

À professora Helena Ayoub por toda a colaboração durante a pesquisa.

À professora Ana Tagliari, pelas observações e sugestões no exame de


qualificação.

Ao Lucas Kater, pela revisão dos textos.

À Terezinha Vendramini, pelos conselhos ao longo da minha vida profissional.

Ao presidente do IPH, Ricardo Karman, pela amizade, paciência e apoio.

E, principalmente, à memória de Jarbas Karman, por ter me ensinado


sobre arquitetura, ciência e que nunca deveríamos deixar de buscar novos
conhecimentos.
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RESUMO ABSTRACT

O principal objetivo desta pesquisa foi realizar uma aproximação da obra do arquiteto The main objective of this research was to approach the work of the architect Jarbas
Jarbas Karman por meio da análise gráfica de cinco projetos de hospitais desenvolvidos ao Karman through the graphic analysis of five hospital projects developed during the second half
longo da segunda metade do século XX e da determinação de algumas de suas principais of the 20th century and by determining some of his main design strategies.
estratégias projetuais.
Jarbas Karman has dedicated 59 years of his career to the research and design of health
Jarbas Karman dedicou 59 anos de sua carreira à pesquisa e ao projeto de instituições institutions. He has collaborated with dozens of undergraduate and graduate courses and
de saúde. Colaborou com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação e participou de participated in conferences, congresses and seminars in Brazil and abroad. Karman published
conferências, congressos e seminários no Brasil e no exterior. Publicou mais de uma centena more than a hundred articles in national and international journals and wrote three books. He was
de artigos em periódicos nacionais e internacionais e escreveu três livros. Foi o idealizador e the creator and one of the founders of the Instituto de Pesquisas Hospitalares Arquiteto Jarbas
um dos fundadores do Instituto de Pesquisas Hospitalares Arquiteto Jarbas Karman - IPH, que Karman - IPH, which currently owns one of the largest healthcare architectural collections in
atualmente possui um dos maiores acervos arquitetônicos na área da saúde no Brasil e atua na Brazil and helps promote and disseminate knowledge in architecture, engineering and hospital
promoção e divulgação do conhecimento em arquitetura, engenharia e administração hospitalar. administration. He was a member of several institutions focused on hospitals and participated in
Foi membro de instituições voltadas à área hospitalar e participou de diversas comissões para a several commissions for the elaboration of resolutions and technical norms. Heading his office,
elaboração de resoluções e normas técnicas. No comando do seu escritório, desenvolveu mais he developed more than 300 architectural projects for healthcare buildings, including new
de 300 projetos arquitetônicos de edifícios assistenciais de saúde, entre novas construções, constructions, renovations, extensions and reformulations of different scales and programs.
reformas, ampliações e reformulações de diferentes escalas e programas.
Even with a vast technical and scientific production, his work has not been much studied.
Mesmo com uma vasta produção técnica e científica, sua obra foi pouco estudada. Much of the Brazilian literature on the subject since the 1990s mentions Jarbas Karman, which
Grande parte da literatura brasileira especializada no tema a partir da década de 1990 cita confirms his deep knowledge on the subject. However, his texts and projects were rarely used.
Jarbas Karman, reforçando seu profundo conhecimento sobre o tema. Porém, seus textos e There are few articles or academic papers that use his work as research of the transformations of
projetos foram muito pouco utilizados. Existem poucos artigos ou trabalhos acadêmicos que hospital buildings in Brazil, which makes it difficult to say how relevant his ideas and achievements
aproveitam seu trabalho como parte do processo de investigação das transformações do are to good practices related to the architectural design of hospitals.
edifício hospitalar no Brasil, o que torna difícil dizer qual a relevância de suas ideias e seus
feitos para as boas práticas relacionadas ao projeto arquitetônico de hospitais. Thus, to better understand the projected work of the architect in question, five hospital
projects developed between 1958 and 1999 were analyzed: Hospital e Maternidade São
Sendo assim, para compreender melhor a obra projetada do arquiteto em questão, foram Domingos, Hospital da Guarnição do Galeão, Instituto Nacional de Câncer e Queimados,
analisados cinco projetos de hospitais desenvolvidos entre os anos de 1958 e 1999: Hospital Hospital Unimed Sorocaba and Centro Médico Hospitalar Vila Velha. The analyzes made it
e Maternidade São Domingos, Hospital da Guarnição do Galeão, Instituto Nacional de Câncer possible to determine 19 design strategies related to five different themes: seven related to
e Queimados, Hospital Unimed Sorocaba e Centro Médico Hospitalar Vila Velha. As análises functional organization, three related to physical flexibility, four related to operational efficiency,
permitiram determinar 19 estratégias projetuais relacionadas a cinco temas diferentes: sete two related to biological safety, and two related to physical and psychological comfort.
relacionadas à organização funcional, três relacionadas à flexibilidade física, quatro relacionadas
à eficiência operacional, duas relacionadas à segurança biológica, e duas relacionadas ao It is expected that the result of this research can provide evidence for other studies of
conforto físico e psicológico. Karman’s work and for future research on the transformations of Brazilian hospitals, in addition
to stimulating the debate about architectural solutions for this specific type of project.
O que se espera é que o resultado desta pesquisa possa oferecer evidências para outros
estudos da obra de Karman e para futuras pesquisas sobre as transformações dos hospitais Keywords: Jarbas Karman, hospital architecture, healthcare facilities, design strategy, graphic
brasileiros, além de estimular o debate acerca das soluções arquitetônicas para esse tipo analysis.
específico de projeto.

Palavras-chave: Jarbas Karman, arquitetura hospitalar, estratégia projetual, análise gráfica.


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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS UTILIZADAS LISTA DE TABELAS


NO TEXTO
ABDEH: Associação Brasileira para o Desenvolvimento do 4.1: Relação entre as categorias, os eixos de investigação e
Edifício Hospitalar. conteúdo das análises.

CPOR: Centro de Preparação de Oficiais da Reserva. 6.1: Relação entre as categorias, os eixos de investigação e as
estratégias projetuais.
FAUUFRJ: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.

IAB-SP - Instituto de Arquitetos do Brasil Departamento de São


Paulo.

IPH: Instituto de Pesquisas Hospitalares Arquiteto Jarbas


Karman.

m: metros.

m²: metros quadrados.

Poli USP: Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

RDC 50: Resolução de Diretoria Colegiada nº 50.

SESP: Serviço Especial de Saúde Pública.

UIA-PHG: Public Health Group of International Union of


Architects.

UTI: Unidade de Tratamento Intensivo.


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LISTA DE IMAGENS

CAPÍTULO 1 1.14: Corte transversal da proposta para o concurso de projetos 2.3: Exposição O desenho de hospitais de Jarbas Karman,
do Hospital Albert Einstein. 2016.
1.1: Jarbas Karman durante palestra (data desconhecida). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
1.15: Recorte do jornal Folha da Manhã, edição de 25 de maio 2.4: Perspectiva do Hospital Santa Helena.
1.2: Cartaz que retrata Jarbas Karman como candidato ao de 1958. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
grêmio estudantil, em 1938. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2.5: Jardim frontal e acesso principal do Hospital Santa Helena.
1.16: Recorte do jornal Folha da Manhã, edição de 24 de Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
1.3: Mapa do loteamento localizado no bairro do Sumaré. agosto de 1958.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2.6: Perspectiva do hall principal do Hospital Santa Helena.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
1.4: Panfleto comercial das casas de Santana. 1.17: Planta do pavimento térreo do Hospital Santa Helena.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2.7: Perspectiva do Hospital de Clínicas de Pelotas.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
1.5: Casas de Santana em construção. 1.18: Planta do do 1º subsolo do Hospital Santa Helena.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2.8: Planta do 3º pavimento do Hospital de clínicas de Pelotas.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
1.6: Perspectiva da Maternidade Escola de Belém, 1949. 1.19: Perspectiva da proposta vencedora do concurso para o
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Hospital Santa Mônica, desenvolvida por Roberto Nadalutti e 2.9: Corte transversal do Hospital de Clínicas de Pelotas.
Oscar Valdetaro. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
1.7: Elevação, corte e detalhes do hospital em Marabá, 1950. Fonte: Revista Hospital de Hoje, vol. 08, 1957, p. 205.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2.10: Perspectiva do Hospital Santa Mônica.
1.20: Perspectiva da proposta desenvolvida por Jarbas Karman Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
1.8: Jarbas Karman (à direita) em visita ao Kitchener Waterloo e Alfred Willer para o oncurso do Hospital Santa Mônica.
Hospital, em Ontário, Canadá, 1952. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2.11: Corte longitudinal do Hospital Santa Mônica.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
1.21: Corte perspectivado do Hospital São Luiz.
1.9: Jarbas Karman durante sua aula no curso Planejamento de Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2.12: Vista frontal do Hospital e Maternidade São Domingos.
Hospitais, 1953. Fotografia de de José Moscardi.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 1.22: Perspectiva do projeto para o hospital do Instituto de Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
Oncologia de São Paulo.
1.10: Desenhos desenvolvidos por Lauro Miquelin como parte Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2.13: Vista externa do solário do Hospital e Maternidade São
das pesquisas das transformações dos edifícios hospitalares, Domingos.
da antiguidade até final do século XX. 1.23: Corte transversal e elevação lateral do projeto para o Fotografia de José Moscardi.
Fonte: Anatomia dos edifícios hospitalares, p. 67. hospital do Instituto de Oncologia de São Paulo. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
1.11: Redesenhos desenvolvidos por Lauro Miquelin do estudo 2.14: Perspectiva do Hospital Israelita Albert Einstein.
publicado por Jarbas Karman em 1980. CAPÍTULO 2 Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Anatomia dos edifícios hospitalares, p. 93.
2.1: Perspectiva interna do Laboratório Central de Pesquisas. 2.15: Elevação frontal do Hospital Israelita Albert Einstein.
1.13: Perspectiva da proposta desenvolvida por Jarbas Karman Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
e Alfred Willer para o concurso de projetos do Hospital Albert
Einstein. 2.2: Exposição O desenho de hospitais de Jarbas Karman, 2.16: Perspectiva do Hospital São Luiz.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2016. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
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2.17: Corte transversal do Hospital São Luiz. 2.31: Vista frontal do Hospital Vera Cruz (foto atual). 3.5: Diagramas de análise da Biblioteca de Jussieu,
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fotografia de Manuel Sá. desenvolvidos por Eisenman.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fonte: Ten Canonical Buildings, p. 244 e 245, 2008.
2.18: Vista externa dos quartos do Hospital Santa Genoveva.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. 2.32: Vista aérea do Hospital São Judas Tadeu, com destaque 3.6: Diagramas de análise dos acessos e da circulação na
para os blocos projetados por Karman e Fiorentini. Residência no Belvedere, desenvolvidos por Flório e equipe.
2.19: Quarto de internação do Hospital Santa Genoveva. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fonte: Projeto residencial moderno e contemporâneo: análise
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. gráfica dos princípios de forma, ordem e espaço de exemplares
2.33: Vista panorâmica do Hospital São Judas Tadeu. da produção arquitetônica residencial (volume 1), p. 318, 2002.
2.20: Perspectiva do Hospital Santa Genoveva. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. 3.7: Diagramas de análise da Casa Faermann, desenvolvidos
2.34: Acesso principal do Hospital Unimed Sorocaba. por Luciana Brasil.
2.21: Hospital da Guarnição do Galeão durante a construção. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fonte: Davidi Libeskind – ensaio sobre as residências
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. unifamiliares, p. 122, 2007.
2.35: Imagem aérea do Hospital Unimed Sorocaba.
2.22: Corredor externo do Hospital da Guarnição do Galeão. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. 3.8: Diagramas de análise da circulação da Arthur Heurtley
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. House, desenvolvidos por Tagliari.
2.36: Vista aérea do Hospital Unimed Araçatuba. Fonte: Frank Lloyd Wright: princípio, espaço e forma na
2.23: Jardim interno do Hospital da Guarnição do Galeão. Fonte: Unimed Araçatuba/Divulgação. arquitetura residencial, p. 176, 2011.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
2.37: Vista do acesso principal do Hospital Unimed Araçatuba. 3.9: Diagramas de análise da Villa Savoye, desenvolvidos por
2.24: Perspectiva do Laboratório Central de Pesquisas. Fotografia de Andrés Otero. Clark e Pause.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fonte: Precedents in Architecture, p. 57, 1985.

2.25: Corte longitudinal do Laboratório Central de Pesquisas. 2.38: Vista lateral do Centro Médico Hospitalar Vila Velha. CAPÍTULO 4
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
4.1: Capa da primeira edição do livro Iniciação à Arquitetura
2.26: Primeira proposta de ampliação desenvolvida por Karman CAPÍTULO 3 Hospitalar, 1972.
e Wilheim, 1979. Fonte: Acervo IPH.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. 3.1: Diagramas de comparação das circulações lineares
produzidos por Clark e Pause. 4.2: Modelo de diagrama de análise do agrupamento funcional
2.27: Perspectiva das ampliações do Hospital Israelita Albert Fonte: Precedents in Architecture, p. 193, 1985. e da organização física das unidades funcionais.
Einstein.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. 3.2: Diagramas da organização dos espaços das villas 4.3: Modelo de diagrama de análise da flexibilidade fisica e
Palladinanas, desenvolvidos por Wittkower. conforto físico e psicológico.
2.28: Eixo de circulação externa do Instituto de Câncer e Fonte: Architectural Principles in the Age of Humanism, p. 57,
Queimados. 1949. 4.4: Modelo de diagrama de análise das circulações.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
3.3: Diagramas de comparação entre a Villa Malcontenta e Villa 4.5: Modelo de diagrama de análise dos fluxos.
2.29: Imagem aérea do Instituto Nacional de Câncer e Garches, desenvolvidos por Rowe.
Queimados. Fonte: The Mathematics of the Ideal Villa, p. 102 e 103, 1947. CAPÍTULO 5
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
3.4: Diagramas de análise da forma da Villa Stein-de-Monzie, 5.1: Estudo dos acessos e das circulações para uma versão
2.30: Elevação frontal do Hospital Vera Cruz. produzidos por Baker. anterior do projeto para o Instituto Nacional de Câncer e
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fonte: Le Corbusier: uma análise da forma, p. 190 e 191, 1998. Queimados.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
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5.2: Hospital e Maternidade São Domingos. 5.13: Posto de enfermagem e corredor da internação do 1º 5.25: Maquete do Hospital da Guarnição do Galeão.
Fotografia de José Moscardi. pavimento. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fotografia de José Moscardi.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.26: Hospital da Guarnição do Galeão durante a construção.
5.3: Perspectiva Hospital e Maternidade São Domingos. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.14: Corredor de acesso ao centro obstétrico.
Fotografia de José Moscardi. 5.27: Jardim interno do Hospital da Guarnição do Galeão (foto
5.4: Hospital e Maternidade São Domingos durante a Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. atual).
construção. Fotografia de Andrés Otero.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.15: Unidade de Assistência Intensiva. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fotografia de José Moscardi.
5.5: Hospital e Maternidade São Domingos durante a Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.28: Bloco das internações do Hospital da Guarnição do
construção. Galeão (foto atual).
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.16: Posto de enfermagem do 1º subsolo iluminado pelo vazio Fotogradia de Andrés Otero.
interno. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.6: Via de acesso interna do Hospital e Maternidade São Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Domingos. 5.29: Planta esquemática de setorização do conjunto
Fotografia de José Moscardi. 5.17: Quarto de internação com janela sobre laje rebaixada. arquitetônico.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fotografia de José Moscardi. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.7: Acesso social do Hospital e Maternidade São Domingos. 5.30: Jardim interno que poderia ser ocupado com futuras
Fotografia de José Moscardi. 5.18: Sala de estar do acesso social. ampliações.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.

5.8: Fachada do Hospital e Maternidade São Domingos voltada 5.19: Solário localizado no volume de ligação entre os blocos 01 5.31: Tubulação instalada por entre os vazios das vigas. Vista a
para a Rua da Constituição. e 02. partir do 1º subsolo.
Fotografia de José Moscardi. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.20: Hospital da Guarnição do Galeão durante a construção. 5.32: Eixo de circulação externa (foto atual).
5.9: Bloco 02 do Hospital e Maternidade São Domingos. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fotografia de Andrés Otero.
Fotografia de José Moscardi. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.21: Hospital da Guarnição do Galeão durante a construção.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.33: Eixo de circulação interna (foto atual).
5.10: Bloco 01 do Hospital e Maternidade São Domingos. Fotografia de Andrés Otero.
Fotografia de José Moscardi. 5.22: Hospital da Guarnição do Galeão (foto atual). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fotografia de Andrés Otero.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.34: Quarto de internação (foto atual).
5.11: Escada interna. Fotografia de Andrés Otero.
Fotografia de José Moscardi. 5.23: Estudo para os jardins internos do Hospital da Guarnição Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. do Galeão.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.35: Jardim voltado para o eixo externo (foto atual).
5.12: Rampas internas. Fotografia de Andrés Otero.
Fotografia de José Moscardi. 5.24: Perspectiva do Hospital da Guarnição do Galeão. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.36: Jardim voltado para o eixo interno (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
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5.37: Jardim entre os blocos 01 e 02 (foto atual). 5.49: Vista do Bloco 02 e das rampas de ligação (foto atual). 5.61: Detalhe do lanternim.
Fotografia de Andrés Otero. Fotografia de Federico Cairoli. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.62: Lajes rebaixadas na sala de mecanoterapia (unidade de
5.38: Corredor da internação do 2º pavimento do Bloco 02. 5.50: Vista posterior do Bloco 02 (foto atual). fisioterapia).
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fotografia de Federico Cairoli. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.39: Perspectiva do Hospital de Nunoa, em Santiago do Chile 5.63: Marquise da entrada principal (foto atual).
(não construído). 5.51: Jardim interno entre blocos que poderia se ocupado com Fotografia de Federico Cairoli.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. futuras ampliações (foto atual). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fotografia de Federico Cairoli.
5.40: Perspectiva do Hospital Geral de Babahoyo, em Quevedo, Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.64: Vista interna da recepção principal.
Equador (não construído). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.52: Corte longitudinal do pronto-socorro.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.65: Vista posterior do Bloco 02 - corredor externo e área de
5.41: Foto aérea do Instituto de Câncer e Queimados. convivência dos visitantes e acompanhantes (foto atual).
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.53: Eixo de circulação externa (foto atual). Fotografia de Federico Cairoli.
Fotografia de Federico Cairoli. Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.42: Vista do Bloco 02 a partir da marquise de acesso do Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
pronto-socorro. 5.66: Maquete do Hospital Unimed Rio Claro (não construído).
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.54: Trecho aberto da circulação interna (foto atual). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fotografia de Federico Cairoli.
5.43: Maquete do Instituto Nacional de Câncer e Queimados. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.67: Pespectiva eletrônica do Hospital Unimed Tatuí.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.55: Trecho fechado da circulação interna (foto atual).
5.44: Maquete do Instituto Nacional de Câncer e Queimados. Fotografia de Federico Cairoli. 5.68: Foto aérea do Hospital Unimed Sorocaba.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.

5.45: Elevação noroeste do Instituto Nacional de Câncer e 5.56: Meias rampas de ligação entre os blocos (foto atual). 5.69: Implantação da primeira etapa, antes da ampliação do
Queimados. Fotografia de Federico Cairoli. Bloco 07.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.

5.46: Elevação nordeste do Instituto Nacional de Câncer e 5.57: Corredor externo avarandado do Bloco 02 (foto atual). 5.70: Maquete do Hospital Unimed Sorocaba.
Queimados. Fotografia de Federico Cairoli. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.71: Jardim interno que poderá receber futuras ampliações
5.47: Vista do acesso principal do Instituto Nacional de Câncer 5.58: Corredor da unidade de internação do 1º pavimento. (foto atual).
e Queimados. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fotografia de Manuel Sá.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.59: Vista para os boxes individuais da UTI.
5.48: Vista do Bloco 02 do Instituto Nacional de Câncer e Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.72: Corte transversal da UTI.
Queimados. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Imagem 5.60: Jardim entre os blocos 01 e 02.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.73: Vista do eixo externo de circulação.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
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5.74: Vista do corredor das internações. 5.85: Vista do acesso principal do Médico Hospitalar Vila Velha 6.6: Organização das circulações dos hospitais horizontais.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. (foto atual). Desenho sem escala.
Fotografia de Andrés Otero.
5.75: Elementos de fechamento e proteção solar (foto atual). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. I6.7: Configuração espacial das internações.
Fotografia de Manuel Sá. Desenho sem escala.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.86: Vista posterior do Centro Médico Hospitalar Vila Velha
(foto atual). 6.8: Configruração dos jardins internos dos hospitais
5.76: Vista do jardim entre os blocos 06 e 07 (foto atual). Fotografia de Andrés Otero. horizontais.
Fotografia de Manuel Sá. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Desenho sem escala.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.87: Espaço técnico do 4º pavimento (foto atual). 6.9: Iluminação e ventilação naturais através das lajes
5.77: Corredor da internação iluminado por lanternins e por Fotografia de Andrés Otero. rebaixadas.
janelas nas extremidades (foto atual). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Desenho sem escala.
Fotografia de Manuel Sá.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.88: Corredor interno do 1º pavimento (foto atual). CAPÍTULO 7
Fotografia de Andrés Otero.
5.78: Posto de enfermagem iluminado por janelas altas Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 7.1: Jarbas Karman durante palestra noa VIII Convenção
instaladas sobre laje rebaixada. Brasileira de Hospitais, 1980.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.89: Posto de enfermagem (foto atual). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fotografia de Andrés Otero.
5.79: Vista da rampa externa de automóveis (foto atual). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fotografia de Andrés Otero.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.90: Corredor do centro cirúrgico com laje rebaixada e
lanternins (foto atual).
5.80: Imagem frontal do Centro Médico Hospitalar Vila Velha Fotografia de Andrés Otero.
(foto atual). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fotografia de Andrés Otero.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.91: Hall de acesso do 1º pavimento (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
5.81: Localização das protenções por meio de pintura da laje. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
CAPÍTULO 6
5.82: Centro Médico Hospitalar Vila Velha durante a construção.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 6.1: Desenho esquemático da organização das circulações em
edifícios hospitalares desenvolvido por Jarbas Karman.
5.83: Vista frontal do Centro Médico Hospitalar Vila Velha (foto Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
atual).
Fotografia de Andrés Otero. 6.2: Organização funcional dos hospitais verticais.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Desenho sem escala.

5.84: Vista lateral do Centro Médico Hospitalar Vila Velha (foto 6.3: Organização funcional dos hospitais horizontais.
atual). Desenho sem escala.
Fotografia de Andrés Otero.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 6.5: Configruração dos espaços técnicos.
Desenho sem escala.
12
SUMÁRIO 13

15 CAPÍTULO 1 170 5.3. Análise: Instituto de Câncer e Queimados


INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
218 5.4. Análise: Hospital Unimed Sorocaba
17 1.1. Jarbas Bela Karman: engenheiro, arquiteto e educador
250 5.5. Análise: Centro Médico Hospitalar Vila Velha
20 1.2. Por que estudar os projetos de hospitais de Jarbas Karman
295 CAPÍTULO 6
26 1.3. Dos meios para se estudar a obra de Jarbas Karman AS ESTRATÉGIAS PROJETUAIS DE JARBAS KARMAN

29 CAPÍTULO 2 297 6.1. Agrupamento funcional


OS PRINCIPAIS PROJETOS DESENVOLVIDOS POR JARBAS KARMAN E OS
CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS OBJETOS DE PESQUISA 299 6.2. flexibilidade física

31 2.1. Os 16 principais projetos de Jarbas Karman segundo o IPH 301 6.3. Eficiência

48 2.2. Critérios de seleção dos projetos 305 6.4. Segurança Biológica

49 2.3. Projetos selecionados 307 6.5. Conforto Físico e Psicológico

51 CAPÍTULO 3 313 CAPÍTULO 7


A DEFINIÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISE GRÁFICA E SEUS CONSIDERAÇÕES FINAIS
PROCEDIMENTOS
317 BIBLIOGRAFIA
53 3.1. Análise gráfica como forma de apreensão da arquitetura

58 3.2. O método e seus procedimentos

61 CAPÍTULO 4
AS CATEGORIAS E A PADRONIZAÇÃO DAS ANÁLISES

63 4.1. Interpretando os “requisitos” e “conceitos” contidos no livro “Iniciação à


Arquitetura Hospitalar”

70 4.2. Considerações sobre os critérios de projetos e a definição de cinco eixos


de investigação

72 4.3. Categorias de análise

75 4.4. Padronização das análises

77 CAPÍTULO 5
ANÁLISES DOS PROJETOS

80 5.1. Análise: Hospital e Maternidade São Domingos

120 5.2. Análise: Hospital da Guarnição do Galeão


14
15

1
16

Imagem 1.1
Jarbas Karman durante palestra (data desconhecida).
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA 17

1.1. Jarbas Bela Karman: engenheiro, arquiteto e educador era maior e se tornou um pequeno bairro hoje conhecido como
Urbanizadora (ver imagens 1.3). A segunda gleba, menor, se
Jarbas Bela Karman nasceu em Campanha, MG, em 1917. localizava ao longo da Rua Dr. Zuquim (ver imagens 1.4 e 1.5).
Graduou-se em Engenharia Civil em 1941 pela Poli USP. Cursou
o CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva) durante a Anos mais tarde, seguindo seu desejo de trabalhar na
faculdade, tornando-se segundo tenente da reserva do Exército. área da saúde pública, Jarbas Karman afastou-se da Sociedade
Com a dupla titulação – tenente e engenheiro – foi convocado Urbanizadora e candidatou-se, em 1949, a um cargo para
para prestar serviço militar durante a Segunda Grande Guerra, trabalhar no Serviço Especial de Saúde Pública (SESP). O cargo
em 1942, no norte do país, colaborando com a construção de em questão consistia em desenvolver e supervisionar projetos
fortificações. Quando retornou a São Paulo, em 1944, formou- de construção, reformas e adequações de instituições de saúde
se arquiteto no curso de pós-graduação da Poli USP. Durante para a população ribeirinha no Vale Amazônico e no Vale São
a especialização, interessou-se pela arquitetura de hospitais, Francisco. De acordo com Luiz Vieira de Campos, o SESP foi
pois, de acordo com o próprio Karman, não obtinha respostas uma agência bilateral criada em 1942 pelo governo brasileiro
quanto às dúvidas geradas durante os trabalhos acadêmicos de com recursos e sob as orientações do governo estadunidense.
investigação desse tipo de edifício, obrigatório para a formação A agência tinha entre seus objetivos a realização de obras de
do arquiteto, na época [1]. infraestrutura e a formação de profissionais de nível superior
e técnico nas áreas de saneamento básico e saúde pública
Mesmo antes de se formar engenheiro, Karman formou, em (Campos, 2008, p. 880). Karman trabalhou no SESP durante
Imagem 1.2
1936, junto de seu irmão Elemer Maurício Karman, a Sociedade cerca de um ano. Se mudou com sua esposa Zaíra para Belém Cartaz que retrata Jarbas Karman
Urbanizadora de São Paulo Ltda., para urbanizar, construir e do Pará e passou a desenvolver projetos de hospitais e centros como candidato ao grêmio estudantil,
comercializar lotes e casas em glebas adquiridas pela família na de saúde para diversas cidades brasileiras (ver imagens 1.6 e em 1938.
várzea do rio Sumaré e no bairro de Santana, respectivamente 1.7).
zonas oeste e norte da cidade de São Paulo. A primeira gleba

Imagem 1.3 Imagem 1.4 Imagem 1.5


Mapa do loteamento localizado no bairro do Sumaré. Panfleto comercial das casas de Santana. Casas de Santana em construção.
18

Imagem 1.6
Perspectiva da Maternidade Escola de Belém, 1949.

Imagem 1.7
Elevação, corte e detalhes do hospital em Marabá, 1950.
19

A parceria entre os EUA e o Brasil também previa a professores contava com os grandes autores
concessão de bolsas e custeio para formação de profissionais de projetos hospitalares daqueles anos, como
no exterior. Sabendo disso, Karman pleiteou uma bolsa para o próprio Rino Levi, Jarbas Karman, Jorge
cursar o mestrado em Arquitetura de Hospitais da Universidade Machado Moreira, Roberto Cerqueira César e
de Yale, em New Haven, Connecticut. A bolsa foi concedida e Oscar Valdetaro, com uma participação dos
ele partiu para a América do Norte em 1951. médicos na concepção do projeto cada vez
mais como consultores do que como coautores
Sua experiência no exterior foi bastante ampla: viajou pelo (como no caso do Hospital das Clínicas de São
Canadá e dezenas de cidades dos EUA. Frequentou cursos Paulo). Entre os alunos, estavam alguns outros
sobre centros cirúrgicos e centrais de esterilização em Ontário, projetistas de hospitais, já profissionais ou ainda
planejamento de hospitais em Nova Iorque e segurança em estudantes, como Paulo Antunes Ribeiro, autor
hospitais em Boston. Concluiu seu mestrado em 1952, retornando do projeto da Maternidade Arnaldo de Moraes, no
para o Brasil em seguida. Rio de Janeiro; Aldary Toledo, à época, arquiteto Imagem 1.8
do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Jarbas Karman (à direita) em visita ao Kitchener Waterloo
Após o seu regresso, fundou seu escritório de consultoria Bancários; Arnaldo Mesquita, da Divisão de Hospital, em Ontário, Canadá, 1952.
e projetos, com ênfase em edificações hospitalares, na cidade Obras do Ministério da Educação e Saúde; João
de São Paulo, e iniciou uma campanha para divulgar os Filgueiras Lima, estudante de arquitetura e futuro
conhecimentos que adquiriu. Uma de suas primeiras ações autor dos hospitais da Rede Sarah; etc.” (Costa,
foi idealizar, juntamente com os arquitetos Rino Levi e Roberto 2011, p. 46).
Cerqueira Cesar, um curso sobre arquitetura de edifícios
hospitalares. Os três arquitetos formaram a Comissão de Durante a cerimônia de encerramento do curso, Karman
Planejamento de Hospitais do Instituto dos Arquitetos do Brasil – apresentou algumas justificativas para a criação de um instituto
Departamento de São Paulo (IAB-SP) e realizaram, entre os dias que promovesse a pesquisa e o debate sobre a construção,
13 e 18 de abril de 1953, o primeiro Curso de Planejamento de a gestão e o desenvolvimento das tecnologias hospitalares.
Hospitais. A ideia prosperou e, em 1954, um grupo encabeçado pelo
próprio Karman fundou o Instituto Nacional de Pesquisas e de
Estruturado de forma multidisciplinar, o curso teve a Desenvolvimento Hospitalares (INPDH). O instituto acabou
participação de arquitetos, engenheiros, médicos, enfermeiros sendo rebatizado, no ano seguinte, para Instituto Brasileiro de
e administradores hospitalares, além do apoio de diversas Pesquisas e de Desenvolvimento Hospitalares (IPH) [2].
instituições, dentre elas a Universidade de São Paulo (USP), Imagem 1.9
a Associação Paulista de Medicina, a Associação Paulista de O IPH se tornou um importante instituto de pesquisas nas Jarbas Karman durante sua aula no curso Planejamento
de Hospitais, 1953.
Hospitais e a Sociedade de Medicina e Cirurgia. O curso deu áreas de gestão e arquitetura de hospitais. Karman o presidiu
origem ao livro “Planejamento de Hospitais”, editado pelo IAB- de 1954 a 1960, tornando-se presidente honorário e vitalício a [1] De acordo com um depoimento de Jarbas Karman transcrito por Monica
SP e publicado em 1954. A publicação pode ser considerada partir de 1970. No início de suas atividades, o instituto promoveu Cytrynowicz no livro “Instituto de Pesquisas Hospitalares Arquiteto Jarbas
Karman - IPH: 60 anos de história” (ver páginas 11 e 12).
uma das primeiras sobre o tema no Brasil. Amplamente ilustrada, pesquisas e cursos técnicos e editou a revista “Hospital de Hoje”
reuniu as palestras que ocorreram durante os seis dias do evento. [3], cujo conteúdo era dedicado à arquitetura, engenharia e [2] O instituto foi renomeado novamente em 2009 para IPH - Instituto de
administração hospitalar. Entre as décadas de 1970 e 2000, o Pesquisas Hospitalares Arquiteto Jarbas Karman, em homenagem ao seu
idealizador. A história do instituto pode ser conhecida por meio do livro
Segundo Renato Gama-Rosa Costa, esse acontecimento instituto foi mantenedor de uma faculdade que oferecia cursos “Instituto de pesquisas hospitalares arquiteto Jarbas Karman - IPH: 60 anos
foi um marco para a consolidação dos arquitetos como de graduação e pós-graduação com foco na área de gestão de história”, escrito por Monica Cytrynowicz.
“protagonistas do processo de construção dos hospitais, desde hospitalar, cursos dos quais Karman foi professor.
[3] A revista “Hospital de Hoje” foi um periódico editado pelo IPH entre
a sua concepção até a entrega da obra”. Costa completa: os anos de 1955 e 1969. Publicou diversos artigos sobre arquitetura de
Atualmente o IPH patrocina, divulga e incentiva pesquisas hospitais e projetos arquitetônicos de arquitetos renomados como Rino Levi,
“[...] O curso ministrado por médicos e arquitetos nas áreas de arquitetura, engenharia e gestão em saúde. Oferece Vilanova Artigas, Oscar Niemeyer, Jorge Wilheim e Oswaldo Bratke. Seus
para médicos e arquitetos no IAB-SP, durante 6 cursos técnicos, mantém uma biblioteca especializada e um volumes estão disponíveis para download no portal do IPH.
dias, em abril de 1953, representou um ‘turning amplo acervo arquitetônico [4]. [4] Atualmente, o acervo do IPH é mantenedor de duas coleções: do
point’ nesse processo no Brasil. O time de arquiteto Jarbas Karman e do arquiteto Irineu Breitman, além de possuir
projetos e documentos de outros profissionais.
20

Ao longo de sua carreira, Karman colaborou com Para chegar a essa conclusão – de que não é possível
dezenas de cursos de graduação e pós-graduação; participou dizer qual a contribuição de Jarbas Karman para a arquitetura
de conferências, congressos e seminários e proferiu aulas e de edifícios assistenciais de saúde contemporâneos no Brasil
palestras no Brasil e no exterior; publicou mais de uma centena por meio das principais publicações especializadas no país –
de artigos em periódicos nacionais e internacionais e escreveu verificou-se duas obras escritas a partir de 1990 que tiveram
três livros: “Iniciação à Arquitetura Hospitalar” (1972), “Manual ampla divulgação, que tratam da teoria e da prática do projeto
de manutenção hospitalar” (1994) e “Manutenção e segurança de edifícios de saúde e que serviram de fonte bibliográfica para
hospitalar preditivas” (2011 – lançado postumamente), além de muitos dos trabalhos científicos dedicados a esse tema no Brasil
participar da publicação “Planejamento de Hospitais” (1954). desde então; são elas: “Anatomia dos edifícios hospitalares”,
Foi membro de diversas instituições voltadas à área hospitalar, de Lauro Carlos Miquelin (1992), e “Feitos para curar”, de Luiz
inclusive no exterior, em que se destacam o “Grupo de Saúde Carlos Toledo (2006).
Pública da União Internacional dos Arquitetos” (UIA-PHG) e o
“The American Public Health Association”; participou de diversas “Anatomia dos edifícios hospitalares”, publicação reduzida
comissões para a elaboração de resoluções e normas técnicas da tese de doutorado do autor, é um dos trabalhos mais citado
de instituições como ANVISA e ABNT. Sob o comando do seu entre as pesquisas acadêmicas sobre arquitetura de hospitais
escritório, desenvolveu mais de 300 projetos arquitetônicos de no Brasil a partir do final da década de 1990 [7]. Este trabalho
edifícios assistenciais de saúde (EAS), entre novas construções, desenvolveu alguns critérios de avaliação dos edifícios a partir de
reformas, ampliações e reformulações de diferentes escalas e uma reflexão crítica sobre as transformações que os edifícios de
programas [5]. saúde sofreram ao longo da história ocidental; da antiguidade até
o final do século XX. A análise dessas transformações, chamadas
Após 67 anos de carreira, sendo 59 dedicados ao pelo autor de “evolução histórica das anatomias dos edifícios na
planejamento e ao projeto de instituições de saúde, faleceu em saúde”, o ajudaram a criar parâmetros para um método de análise
São Paulo, no dia dois de junho de 2008. dos edifícios contemporâneos. O texto e os desenhos são de
grande riqueza, pois organizam, no tempo e no espaço, muitas
1.2. Por que estudar os projetos de hospitais de Jarbas das principais transformações que os hospitais sofreram ao longo
Karman da história do ocidente, associando fatos econômicos, sociais,
urbanos e científicos que contribuíram para as modificações
Imagem 1.10 Quase toda a literatura brasileira especializada em físicas e funcionais dos edifícios. Não foi encontrada publicação
Desenhos desenvolvidos por Lauro Miquelin como planejamento físico-funcional de hospitais a partir da década de brasileira que trate dessas transformações com tamanho esmero,
parte das pesquisas das transformações dos 1990 cita Jarbas Karman, reforçando seu profundo conhecimento demonstrando, com desenhos esquemáticos, algumas das
edifícios hospitalares, da antiguidade até final do sobre o tema. Porém utilizam muito pouco seus textos e sua obra principais mudanças que os hospitais tiveram da antiguidade até
século XX.
projetada e construída. Existem poucos artigos ou trabalhos o século XX (ver imagem 1.10).
acadêmicos que lançam mão de seus projetos como parte
[5] A lista completa dos projetos desenvolvidos por Karman pode ser do processo de investigação das transformações do edifício Lauro Miquelin cita Jarbas Karman durante suas pesquisas
consultada no portal do IPH.
hospitalar no Brasil, o que torna difícil dizer qual a relevância sobre as transformações dos edifícios de saúde no Brasil, em seus
[6] O termo “estratégia projetual” foi emprestado de Rafael Moneo. de sua obra para as boas práticas relacionadas ao projeto estudos sobre a “anatomia dos hospitais” a partir da década de
Foi apresentado no prefácio do livro “Inquietação teórica e estratégia arquitetônico de hospitais. 1970. O livro discorre brevemente sobre um estudo desenvolvido
projetual”. Ele descreve que “estratégia” é entendido como “mecanismos,
procedimentos, paradigmas e artefatos formais que parecem com por Karman, publicado na revista Projeto, em outubro de 1980,
insistência recorrente na obra dos arquitetos de hoje: entendo que os Jarbas Karman deu uma importante contribuição para intitulado “Centro de Saúde e Hospital ‘Linha de Frente’”. Esse
utilizem para configurar o construído”. Pode-se lançar mão desse conceito a arquitetura de edifícios de saúde a partir de 1950, com a estudo apresenta uma unidade de atendimento ambulatorial que
para estudar não só as obras contemporâneas, mas todos os arquitetos
que desenvolveram e aprimoraram seus métodos de projeto através de
introdução de algumas estratégias projetuais [6] que suscitaram cresceria até se tornar um hospital de 100 leitos (ver imagem
conceitos que foram presentes ao longo de sua vida profissional. inovações físico-funcionais. Entretanto, não é possível conhecer 1.11).
essa contribuição pelas principais publicações brasileiras que
[7] É possível que o livro “Anatomia dos Edifícios Hospitalares” seja a obra tratam desse tema específico: nem pelos trabalhos de caráter O estudo apresentado por Miquelin é pouco aprofundado
mais citada entre os estudos dedicados ao entendimento da arquitetura de
edifícios assistenciais de saúde, posto que está presente em quase toda a teórico (ou histórico), nem pelos trabalhos de caráter prático para uma avaliação da obra de Karman, principalmente ao se
bibliografia dos trabalhos publicados a partir do início da década de 2000 (ou técnico). A obra escrita e projetada do arquiteto foi pouco observar que em 1980 ele já havia projetado grandes hospitais,
consultados para o desenvolvimento deste trabalho. analisada pelas publicações mais difundidas.
21

Imagem 1.11
Redesenhos desenvolvidos por Lauro Miquelin do estudo
publicado por Jarbas Karman em 1980.

como o da Guarnição do Galeão (Rio de Janeiro, 1967-1976) e o que esse texto foi inovador, já que tais informações eram pouco
Hospital Regional do Gama (Distrito Federal, 1976). abordadas por arquitetos até então.

O livro “Feitos para curar”, de Luiz Carlos Toledo – Essa publicação também não permite verificar qual a
que também se trata de uma publicação reduzida da tese de contribuição de Karman para as concepções e diretrizes relativas
doutorado de seu autor, defendida na Faculdade de Arquitetura ao projeto de edifícios de saúde no Brasil, principalmente por
e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU- não apresentar nenhum de seus projetos arquitetônicos durante
UFRJ) em 2002 – traz uma ampla contribuição para o debate seus estudos. Mas o destaque à citação do texto publicado em
sobre o projeto de hospitais no Brasil. 1954 indica que a obra do arquiteto em questão merece uma
atenção especial, ainda não dada por outros estudiosos.
Toledo propõe uma abrangente revisão bibliográfica para
desenvolver uma leitura crítica dos processos de projetos de Ao se fazer uma rápida observação de dois projetos
edifícios de saúde no país. Essa revisão bibliográfica resulta em arquitetônicos de Karman na década de 1950, desenvolvidos
um texto sobre as transformações dos hospitais a partir do século para concursos públicos e que não foram executados por não
XVIII, apoiado na alegação do filósofo Michel Foucault de que terem conseguido a primeira colocação, nota-se que ele propôs
os hospitais se tornaram instituições terapêuticas apenas depois algumas modificações físicas e funcionais aparentemente novas
de uma profunda reflexão da Academia de Ciências da França para a época, como: enfermarias com quartos posicionados ao
como consequência de um devastador incêndio que atingiu longo das duas fachadas longitudinais do edifício, ocupando lados
o Hotel Dieu, na época um dos maiores hospitais da Europa. opostos dos corredores (estratégia classificada por Ronald de
Seus estudos passam da análise dessas transformações para a Góes como enfermarias “duplamente-carregadas” [8]) e postos
apresentação de algumas publicações especializadas, trazendo de enfermagem descentralizados (para diminuir os percursos das
roteiros minuciosos de projeto que foram de imensa valia para equipes de cuidados); iluminação e ventilação naturais (sempre
dar assistência aos profissionais que recebiam encomendas para que possível) para todas as áreas de permanência de pacientes
projetarem edifícios assistenciais de saúde. O estudo também para criar espaços mais agradáveis; a predileção por edifícios
apresenta pesquisas sobre os primórdios das normatizações com poucos pavimentos e espaços técnicos entre andares para
brasileiras e sobre a situação da rede pública e do setor a instalação de máquinas e passagem de tubulações aparentes,
privado de saúde da época, observando que grande parte dos reduzindo o custo de manutenção e possibilitando o acesso dos
hospitais construídos a partir do final do século XIX relegavam funcionários sem atrapalhar a rotina dos serviços hospitalares.
para segundo plano, em detrimento das tecnologias médicas,
fatores como os de conforto ambiental. Os estudos avançam até Um desses exemplos é a proposta para o primeiro edifício
ele demonstrar que os hospitais podem ser projetados de outra do Hospital Israelita Albert Einstein, realizado em coautoria com o
maneira, privilegiando a diminuição do estresse e elevando as arquiteto Alfred Willer [9], em 1958. As estratégias citadas acima
sensações de bem-estar dos usuários, apontando caminhos a foram aplicadas ao projeto com o intuito de tornar a instituição
serem seguidos. mais eficiente, segura e confortável (ver imagem 1.12).
[8] Os termos “simplesmente carregado” e “duplamente carregado” são
jargões técnicos amplamente conhecidos por projetistas de hospitais. Uma
Em seu livro, Toledo cita apenas uma fonte escrita por A primeira estratégia relevante é a descentralização descrição pormenorizada dos seus significados pode ser encontrada no
Karman: o texto contido no início do “Capítulo V – Cirurgia”, dos postos de enfermagem, configurada por uma série de livro “Manual Prático de Arquitetura Hospitalar”, mais especificamente na
publicado no livro “Planejamento de Hospitais” (1954). O texto é bancadas de trabalho distribuídas ao longo dos corredores das página 91. O livro foi escrito pelo arquiteto e professor Ronald de Góes,
tendo a primeira edição publicada em 2004 pela editora Blucher.
uma apresentação pormenorizada dos procedimentos médicos, internações, justaposta às paredes, entre as portas dos quartos.
de enfermagem e técnicos de um centro cirúrgico. Toledo diz Cada posto é configurado por uma bancada de trabalho e um [9] Alfred Willer, arquiteto checo radicado no Brasil, foi coautor de uma série
armário alto. A cada dois postos, há uma bancada com cuba de de projetos desenvolvidos por Karman entre os anos de 1954 e 1961.
22

Imagem 1.12
Planta da internação da proposta para o concurso de projetos do Hospital Albert Einstein.

Imagem 1.13
Perspectiva da proposta desenvolvida por Jarbas Karman e Alfred Willer Imagem 1.14
para o concurso de projetos do Hospital Albert Einstein. Corte transversal da proposta para o concurso de projetos do Hospital Albert Einstein.
23

Imagem 1.15 Imagem 1.16


Recorte do jornal Folha da Manhã, edição de 25 de maio de 1958. Recorte do jornal Folha da Manhã, edição de 24 de
agosto de 1958.
24

Imagem 1.17 Imagem 1.18


Planta do pavimento térreo do Hospital Santa Helena. Planta do do 1º subsolo do Hospital Santa Helena.
25

lavagem compartilhada e um conjunto de ambientes de apoio, No ano seguinte ao projeto do Santa Helena, Karman
com depósito de material de limpeza, rouparia e sanitário de participou de um concurso para a escolha da melhor proposta
funcionários (ver imagem 1.13). para o Hospital Santa Mônica, que seria construído na cidade
de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais. A proposta, até
A segunda estratégia instigante, incomum para a época, onde se sabe, não obteve premiação. O projeto vencedor,
é o projeto de um pavimento técnico a cada dois pavimentos e que foi construído, é de autoria dos arquitetos Roberto
úteis. O edifício, se construído, teria 8 pavimentos destinados Nadalutti e Oscar Valdetaro [10] (ver imagem 1.19). Mesmo sem
aos serviços médicos, técnicos e administrativos e 7 espaços premiação, Karman publicou o projeto na revista “Hospital de
técnicos “interandares”. Esses vazios serviriam tanto para Hoje” (volume 10, páginas 33-48). A publicação dos desenhos
possibilitar ventilação (cruzada e não) e iluminação (direta e e do memorial descritivo ajudou a divulgar as ideias relativas
indireta) aos quartos e aos banheiros das enfermarias, quanto ao “desenvolvimento horizontal”. Irineu Breitman, em um artigo
para permitir que as instalações não fossem “embutidas” nas escrito para a “Revista IPH”, [11] no ano de 2004, faz a seguinte
lajes, sendo executadas para fora dos andares úteis. Essa observação:
estratégia resultou em pavimentos soltos uns dos outros, em
barras horizontais sobrepostas e levemente afastadas; solução “O seguinte é o projeto que o Dr. Jarbas fez para
que confere leveza ao volume do edifício (ver imagem 1.12 e participar no concurso do Hospital Santa Mônica
1.14). em Belo Horizonte em 1957, que é um Hospital
Horizontal, basicamente em dois pisos com Imagem 1.19
O concurso teve repercussão na imprensa de São rampa, escada e elevador, quando as ideias Perspectiva da proposta vencedora do concurso para o
Paulo, gerando um debate sobre o planejamento dos hospitais ainda eram muito incipientes.” (Breitman, 2004, Hospital Santa Mônica, desenvolvida por Roberto Nadalutti e
Oscar Valdetaro.
modernos. O jornal Folha da Manhã, na edição de 1958, noticiou p. 35).
a vitória da proposta desenvolvida pelos arquitetos Rino Levi,
Roberto Cerqueira César e Luiz Roberto Carvalho Franco, O projeto possui 5 pavimentos (ver imagem 1.20).
tecendo algumas críticas aos demais trabalhos. Não contente Os inferiores (semienterrados e acomodados no declive do
com os comentários sobre seu projeto, Karman pediu direito de lote) abrigam as áreas de serviços, apoio técnico-logístico e
resposta, que lhe foi concedido na edição de 24 de agosto do estacionamento, enquanto o térreo e o primeiro pavimentos
mesmo ano. Em sua entrevista, defendeu, entre outras coisas, concentram todas as áreas de atendimento ao paciente externo,
o “desenvolvimento horizontal” dos hospitais e a redução dos de diagnóstico, de terapia e as internações. Sendo assim, as
percursos das equipes de enfermagem. Duas ideias que o principais atividades do hospital, aquelas que demandam
acompanharam por toda a sua carreira (ver imagens 1.15 e 1.16). mais intensidade dos tráfegos e dos cuidados aos pacientes,
acontecem somente em dois pavimentos.
O desenvolvimento horizontal já havia sido experimentado
por Karman em outras oportunidades. Em 1956, o arquiteto Com o tempo, Karman foi experimentando diferentes
projetou um pequeno hospital para até 54 leitos em Goiânia, estratégias projetuais que buscava corresponder a suas
com dois pavimentos, chamado Hospital Santa Helena. Neste ideias. Em seu livro “Iniciação à Arquitetura Hospitalar” (1972),
projeto, todas as unidades médicas, a cozinha, a lavanderia e que será explorado no capítulo 4, o arquiteto descreve os
os acessos do público externo, de ambulância e de suprimentos requisitos e conceitos que nortearam sua arquitetura até então. Imagem 1.20
ficam no pavimento térreo. No pavimento inferior, semienterrado, A horizontalidade dos edifícios, a redução dos percursos da Perspectiva da proposta desenvolvida por Jarbas Karman e
estão localizadas a entrada de funcionários, os vestiários, enfermagem, a aproximação das unidades funcionais afins, Alfred Willer para o oncurso do Hospital Santa Mônica.
a manutenção, o depósito geral e a residência médica. A a flexibilidade física e operacional, a segurança biológica dos
circulação vertical acontece por uma escada e uma rampa. Como usuários e a promoção da ventilação e iluminação natural são [10] O projeto vencedor do concurso para o Hospital Santa Mônica é
os setores destinados ao tratamento médico ficam no mesmo alguns dos principais temas. composto por uma base de dois pavimentos sob uma torre de oitos
piso, a instalação de elevadores não foi necessária, fato que pavimentos. Esse partido formal, conhecido como “base-torre”, era um
dos mais comuns à época e ainda é bastante utilizado. O projeto pode ser
certamente gerou uma considerável economia na construção e Um exemplo parcialmente executado e amplamente consultado no volume 8 da revista Hospital de Hoje.
na manutenção do edifício (ver imagens 1.17 e 1.18). divulgado por Karman em suas palestras foi o projeto para o
Hospital São Luiz, também concebido juntamente com Willer [11] Artigo publicado na Revista IPH número 05, páginas 34-37, em
em 1961, para a cidade de Santos. Com 3 pavimentos, o dezembro de 2004.
26

edifício possui um espaço técnico “interandar”, semelhante aos para as transformações dos edifícios de saúde no Brasil ao longo
propostos para o concurso do Hospital Israelita Albert Einstein do século XX.
(ver imagens 1.21). O edifício foi executado, mas não chegou
a funcionar como um hospital. Tornou-se uma faculdade após 1.3. Dos meios para se estudar a obra de Jarbas Karman
algumas alterações, feitas pelo próprio Karman durante a obra.
O principal objetivo dessa dissertação é realizar uma
A ideia dos espaços “interandares”, para o São Luiz e aproximação do raciocínio projetual de Jarbas Karman por
para o Albert Einstein, tinha dois objetivos principais: 1) conferir meio da análise de alguns de seus projetos arquitetônicos
flexibilidade física para a realização da manutenção e instalação desenvolvidos entre as décadas de 1950 e 1990, no intuito de
de novas tecnologias; 2) diminuir os custos operacionais, apontar suas principais estratégias projetuais e oferecer esse
considerando que os serviços médico-hospitalares não conhecimento a futuros estudos sobre as transformações do
precisariam de sucessivas interrupções para eventuais reparos, edifício hospitalar brasileiro no século XX.
reduzindo substancialmente a necessidade de se quebrar
paredes, pisos e forros. Acredita-se que esses espaços, que Para realizar essa aproximação e demonstrar quais as
encareciam a obra, não foram prontamente aceitos pelos suas principais estratégias projetuais, este estudo se valeu do
empresários, gestores e outros profissionais ligados às áreas da método de análise gráfica em arquitetura. Os procedimentos
saúde e da construção civil, tanto que, para concretizar suas concentraram-se em analisar um conjunto de projetos
ideias, as características físicas dos espaços técnicos passaram arquitetônicos, destacando questões importantes para o próprio
por sucessivas mudanças ao longo do tempo. autor, em um processo sistematizado.

Ainda em relação aos espaços técnicos “interandares”, O método empregado permitiu a realização de uma
outra experiência que não chegou a ser concretizada foi o projeto comparação gráfica das soluções arquitetônicas, levando ao
de um hospital para o Instituto de Oncologia de São Paulo, apontamento das principais estratégias projetuais do arquiteto.
desenvolvido em coautoria com o escritório RM Arquitetos, entre
os anos de 1976 e 1977, na cidade de São Paulo. Semelhante Resumindo, a pesquisa foi estruturada da seguinte
à proposta para o concurso do Einstein, o projeto apresenta um maneira:
espaço técnico entre cada andar útil. A estrutura chegou a ser
executada, mas a obra ficou parada durante anos (ver imagens a) Seleção de cinco projetos arquitetônicos de hospitais
1.22 e 1.23). desenvolvidos por Jarbas Karman entre as décadas de 1950 e
1990 que possibilitem uma análise plena;
Além dos espaços técnicos, da descentralização
dos postos de enfermagem e da preferência pelos hospitais b) Definição do método de análise;
horizontais, há outros importantes “requisitos” e “conceitos”
contidos no livro de 1974 que não são abordados pelos trabalhos c) Apresentação e análise de cada um dos cinco projetos
mais difundidos no país a partir da segunda metade do século selecionados;
XX, posto que a publicação não é citada em suas bibliografias.
Outro aspecto que evidencia o desconhecimento da extensa d) Avaliação e comparação dos resultados;
obra arquitetônica de Karman é, até onde se pesquisou, a
ausência de seus projetos entre os objetos de análise referente e) Considerações finais sobre o estudo.
às transformações dos edifícios hospitalares brasileiros, seja
por Miquelin, por Toledo ou outros pesquisadores dedicados ao
tema.

Sendo assim, estudar a obra de Jarbas Karman é um


exercício importante para entendermos sua contribuição para
o planejamento físico-funcional de hospitais contemporâneos e
27

Imagem 1.21
Corte perspectivado do Hospital São Luiz.

Imagem 1.22 Imagem 1.23


Perspectiva do projeto para o hospital do Instituto de Oncologia de São Paulo. Corte transversal e elevação lateral do projeto para o hospital do Instituto de Oncologia de São Paulo.
28
29

2
30

Imagem 2.1
Perspectiva interna do
Laboratório Central de Pesquisas.
2. OS PRINCIPAIS PROJETOS DESENVOLVIDOS POR JARBAS KARMAN 31

E OS CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS OBJETOS DE PESQUISA


Em 2009, o IPH passou a ser mantenedor do acervo de Por ser Coordenador Técnico do IPH e por ter trabalhado
Jarbas Karman. Desde então, vem pesquisando, organizando, durante sete anos com Karman (entre 2001 e 2008), o autor do
digitalizando e disponibilizando esse material para pesquisadores, presente trabalho foi um dos três curadores dessa exposição,
professores e estudantes. ficando responsável pelo projeto expositivo, pela seleção dos
projetos arquitetônicos e pelo desenvolvimento dos textos
A “Coleção Jarbas Karman” compreende aproximadamente técnicos. A seleção dos 11 projetos considerou os seguintes
70 anos de produção profissional. O IPH recebeu projetos que critérios: os que tivessem plantas, cortes e elevações para
vão desde os empreendimentos imobiliários da Sociedade uma plena compreensão da arquitetura; os que apresentassem
Urbanizadora de São Paulo até os edifícios hospitalares material gráfico de qualidade (desenhos, perspectivas,
desenvolvidos pela Arquitetura de Hospitais Karman [1]. Na diagramas, etc.); os que possuíssem documentação fotográfica;
área hospitalar, a coleção possui cerca de 350 projetos, sendo os que haviam sido publicados em revistas ou que foram citados Imagem 2.2
obras novas, ampliações e reformas (informações apuradas por Karman em suas palestras (registradas em negativos e Exposição O desenho de hospitais
de Jarbas Karman, 2016.
do currículo de Karman). Deste universo, há documentação diapositivos); os edifícios ou ampliações que tivessem sido
de aproximadamente 331 projetos identificados e 19 não projetados originalmente por ele (excluindo as reformas e as
identificados. Entre os documentos físicos constam 277 projetos, modernizações internas de construções existentes); e os que
sendo que alguns coincidem com os digitais. Dos documentos permitissem ilustrar suas ideias de forma didática.
digitais, compostos basicamente por arquivos do tipo “CAD”,
cerca de 210 pastas estão em processo de identificação e Após a exposição, iniciou-se um projeto editorial para a
indexação. produção de um livro que apresentasse sua trajetória profissional
e alguns desenhos, fotografias e informações técnicas de 16
Em paralelo, há um trabalho para consolidar as informações de seus principais projetos arquitetônicos. A intenção dessa
de cada projeto. Estão sendo conferidos datas, lugares, se publicação, atualmente em desenvolvimento, é divulgar seu
foram ou não executados, quais peças gráficas correspondem trabalho para a comunidade de arquitetos e para o público em
aos edifícios construídos e se há material externo para compor geral. Imagem 2.3
o acervo (publicações, fotografias, artigos, monografias, teses, Exposição O desenho de hospitais
etc.). No presente momento, a curadoria do acervo de Karman de Jarbas Karman, 2016.
destaca 16 projetos arquitetônicos como os mais importantes.
[1] Durante a pesquisa dos projetos, percebeu-se que os títulos dos
Até o momento, já ocorreram diversas ações de divulgação Além dos 11 já citados acima (expostos em 2016), foram incluídos:
carimbos das plantas mudaram com o passar dos anos. Nos primeiros
da obra de Karman. Entre elas, e talvez a mais importante, a Hospital Santa Helena (1956), Hospital Santa Genoveva (1962), projetos o título que aparece é “JARBAS KARMAN – arquiteto consultor
exposição realizada durante o “VII Congresso Brasileiro para Hospital Unimed Sorocaba (1992), Hospital Unimed Araçatuba hospitalar” e nos últimos, desenvolvidos na década de 2000, o título que
o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar”, em Salvador, no (1995) e o Centro Médico Hospitalar Vila Velha (1995-1999). aparece é ‘’Arquitetura de Hospitais Karman S/C LTDA”.
ano de 2016 [2] (ver imagens 2.2 e 2.3). Na ocasião, foram
[2] O “Congresso Brasileiro para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar”
apresentados um panorama de sua trajetória profissional e 11 Com o tempo, esse número crescerá. Já há avanços na
é organizado pela ABDEH-Associação Brasileira para o Desenvolvimento
projetos arquitetônicos, sendo: Hospital de Clínicas de Pelotas identificação de outros projetos localizados em cidades do Brasil do Edifício Hospitalar de dois em dois anos, cada edição em uma cidade
(1956), Concurso para o Hospital Santa Mônica (1957), Hospital e do exterior. diferente. Na edição de 2016, realizada em Salvador, o arquiteto Jarbas
e Maternidade São Domingos (1958), Concurso para o Hospital Karman recebeu uma homenagem da ABDEH e o IPH organizou uma
Israelita Albert Einstein (1958), Hospital São Luiz (1961), 2.1. Os 16 principais projetos de Jarbas Karman segundo o exposição de sua obra.
Laboratório Central de Pesquisas (1968), Hospital de Força Aérea IPH
[3] Sobre a autoria dos projetos arquitetônicos de Jarbas Karman: aqueles
do Galeão (1967-1976), ampliações do Hospital Israelita Albert desenvolvidos entre os anos de 1954 e 1961 são em coautoria com Alfred
Einstein (1984-1993), Instituto Nacional de Câncer e Queimados Para a seleção dos objetos de análise, houve uma Willer; aqueles desenvolvidos entre os anos de 1962 e 1979 possuem
(1982), ampliação do Hospital Vera Cruz (1982) e Hospital São avaliação preliminar dos 16 projetos destacados pelo IPH até o apenas Jarbas Karman como autor; as ampliações do Hospital Israelita
Judas Tadeu da Fundação Pio XII (1993) [3]. Essa exposição foi momento. A seguir, as observações dessa avaliação. Albert Einstein, entre as décadas de 1980 e 1990, foram desenvolvidas em
coautoria com Jorge Wilheim e Domingos Fiorentini; aqueles desenvolvidos
registrada no livro “O desenho de hospitais de Jarbas Karman:
a partir de 1981 são em coautoria com Domingos Fiorentini.
exposição realizada durante o VII Congresso Brasileiro para o
Desenvolvimento do Edifício Hospitalar”, publicado em 2017 [4]. [4] A exposição realizada em 2016 foi documentada no livro digital O
desenho de hospitais de Jarbas Karman, disponível para download no site
www.iph.org.br.
32

2.1.1. Hospital Santa Helena

Já abordado no capítulo 1, O Hospital Santa Helena foi


projetado em 1956. Localiza-se na cidade de Goiânia, estado de
Goiás.

O projeto possui dois pavimentos (térreo e subsolo


semienterrado) e três acessos distintos: um para os pacientes
externos e visitantes, um para funcionários e outro para a
ambulância e suprimentos. As circulações eram parcialmente
separadas entre pacientes externos e internos.

O programa apresenta um pequeno ambulatório,


fisioterapia, uma sala para exames de raio X, uma sala de cirurgia,
uma sala de parto, um berçário central e uma internação com 44
leitos (sem indicação da divisão entre leitos gerais, cirúrgicos e
de maternidade). O setor técnico-logístico possui uma Central de
Material Esterilizado, cozinha, lavanderia, almoxarifado, setor de
manutenção, vestiários de funcionários e residência médica.

Publicado em artigos de jornais goianos e no volume 2


da revista Hospital de Hoje, esse foi um dos primeiros projetos
executados de Karman após seu retorno da América do Norte.
Mesmo se tratando de uma pequena instituição, as ideias de
horizontalidade e ordenação dos fluxos foram aplicadas.

Imagem 2.4
Perspectiva do Hospital Santa Helena.

Imagem 2.5 Imagem 2.6


Jardim frontal e acesso principal do Hospital Santa Helena. Perspectiva do hall principal do Hospital Santa Helena.
33

2.1.2. Hospital de Clínicas de Pelotas

O Hospital de Clínicas de Pelotas, atualmente conhecido


como Hospital São Francisco de Paula, foi projetado em 1954 e
localiza-se em Pelotas, interior do Rio Grande do Sul. O edifício
não chegou a ser integralmente executado.

O projeto possui partido formal misto, com tipologia


conhecida como “base-torre”, muito comum até hoje. As
enfermarias são duplamente carregadas, ou seja, possuem
quartos em ambos os lados do corredor, com capacidade
para abrigar até 225 leitos. Os postos de enfermagem são
descentralizados e posicionados ao longo do corredor da
unidade.

A composição formal da torre chama atenção: ao todo são


três pavimentos separados por dois grandes vazios horizontais,
destinados às máquinas e às instalações aparentes. Esses
vazios seriam estruturados por pilares de transição na diagonal,
com formato em “V”.

O projeto foi publicado em jornais do Rio Grande do Sul e


de São Paulo, na revista estadunidense Progressive Architecture
(em outubro de 1961) e no volume 12 da revista Hospital de
Hoje. Encontra-se em funcionamento, porém sofreu diversas
alterações, o que descaracterizou completamente o projeto. As Imagem 2.7
expansões previstas também não foram executadas de acordo Perspectiva do Hospital de Clínicas de Pelotas.
com o planejado.

Imagem 2.8 Imagem 2.9


Planta do 3º pavimento do Hospital de clínicas de Pelotas. Corte transversal do Hospital de Clínicas de Pelotas.
34

2.1.3. Proposta para o Hospital Santa Mônica

Outro que foi abordado no capítulo 1, o projeto para o


concurso do Hospital Santa Mônica, realizado em 1957, foi
uma das primeiras propostas de retomada da horizontalidade
dos edifícios de saúde de médio e grande porte no Brasil,
condição abandonada no início do século XX após a superação
do partido pavilhonar. O concurso para o qual essa proposta foi
desenvolvida tinha o objetivo de selecionar o melhor projeto para
a construção de um hospital na cidade de Belo Horizonte, estado
de Minas Gerais.

O projeto se desenvolve em cinco pavimentos, sendo que


todos os serviços relacionados ao atendimento hospitalar ficam
posicionados em apenas dois: no térreo e no primeiro.

Publicado no volume 10 da revista Hospital de Hoje, a


proposta possui um memorial descritivo minucioso, que aponta
como as soluções físicas e funcionais tornariam a instituição
mais eficiente, racional e econômica, além de ter espaços
pensados para proporcionar maior conforto físico e psicológico
aos usuários, com iluminação e ventilação cruzadas em todos os
quartos e a adoção de jardins internos acessíveis para pacientes,
acompanhantes, visitantes e funcionários.

Imagem 2.10
Perspectiva do Hospital Santa Mônica.

Imagem 2.11
Corte longitudinal do Hospital Santa Mônica.
35

2.1.4. Hospital e Maternidade São Domingos

O Hospital e Maternidade São Domingos foi projetado


em 1958. Localiza-se na cidade de Uberaba, estado de Minas
Gerais.

O edifício é composto por dois blocos, um com quatro


e outro com dois pavimentos. Os blocos se conectam por uma
praça coberta no térreo e uma passarela no primeiro pavimento.
Assim como o Santa Mônica, a implantação e a distribuição do
programa funcional do São Domingos foram pensadas para
possibilitar maior horizontalidade ao conjunto arquitetônico.

O projeto foi tema de diversos artigos de jornais, na revista


Acrópole nº 273, na revista Hospital de Hoje volume 19 e na
revista portuguesa Hospitais Portugueses nº 143. O edifício foi
executado exatamente como previsto no projeto e é uma das
primeiras obras modernas da cidade mineira.

Imagem 2.12 Imagem 2.13


Vista frontal do Hospital e Maternidade São Domingos. Vista externa do solário do Hospital e Maternidade São Domingos.
Fotografia de de José Moscardi. Fotografia de José Moscardi.
36

2.1.5. Concurso para o Hospital Israelita Albert Einstein

Também abordada no capítulo 1, a proposta para o


concurso do Hospital Israelita Albert Einstein foi desenvolvida em
1958, na cidade de São Paulo.

Essa é uma das primeiras propostas que apresentam


um espaço técnico interandar a cada dois pavimentos úteis.
Espaços esses configurados por pavimentos de baixa altura e
destinados às instalações prediais aparentes, com fácil acesso
para os funcionários da manutenção.

O projeto é composto por três blocos: um a nordeste com


três pavimentos, um a noroeste com dois, e uma torre centralizada
com oito pavimentos. Os acessos de ambulância, serviços e de
funcionários estão localizados no centro e o acesso principal se
dá por meio de uma rampa que conduz os pacientes e visitantes
até o primeiro pavimento. A estratégia de criar rampas externas
para possibilitar o acesso do público a pavimentos elevados
foi utilizada em diversos projetos. A duplicação do térreo pode
ser observada em projetos como para o Hospital das Clínicas
de Pelotas (já apresentado anteriormente), para o Hospital São
Luiz e para o Centro Médico Hospitalar Vila Velha (que serão
apresentados mais adiante).

Imagem 2.14
Perspectiva do Hospital
Israelita Albert Einstein.

Imagem 2.15
Elevação frontal do Hospital
Israelita Albert Einstein.
37

2.1.6. Hospital São Luiz

Mais um abordado no capítulo 1, o Hospital São Luiz foi


concebido em 1961, para ser construído na cidade de Santos,
litoral do estado de São Paulo. O edifício não chegou a ser um
hospital, pois passou por adaptações para abrigar uma faculdade
de ciências médicas pouco antes de sua inauguração. Esse foi
um dos últimos trabalhos desenvolvidos em coautoria com Alfred
Willer.

O partido formal é composto por um único bloco com


andares de dimensões diferentes. No térreo, estão localizados
os serviços de apoio técnico e logístico. No primeiro pavimento,
acessível por rampa externa, se encontram administração,
ambulatório, pronto-socorro, unidade de terapia intensiva, centro
cirúrgico, centro obstétrico e central de esterilização. No segundo
pavimento, ficam localizados o berçário e as enfermarias. Todos
os pavimentos são conectados por uma rampa interna e uma
escada.

O projeto propunha um espaço técnico interandar entre


o primeiro e o segundo pavimentos, destinado às tubulações
aparentes. Com o rebaixamento da laje de alguns corredores do
primeiro pavimento, foi possível criar um corredor destinado aos
serviços de apoio das enfermarias.

Karman usou desenhos do projeto em uma série de artigos


e em diapositivos de palestrar para explicar as funções dos
Imagem 2.16
espaços técnicos interandares e demonstrar como as unidades Perspectiva do
de enfermagem poderiam ser mais eficientes. Hospital São Luiz.

Imagem 2.17
Corte transversal do
Hospital São Luiz.
38

2.1.7. Hospital Santa Genoveva

O Hospital Santa Genoveva foi projetado em 1962.


Localizado na cidade de Goiânia, capital do estado de Goiás,
foi um dos primeiros projetos de Karman executados em um só
pavimento.

O edifício foi implantado em um bosque arborizado de


aproximadamente 53.000 metros quadrados. A planta tem o
formato semelhante a um “H”. A ala norte abriga as enfermarias,
e a sul, o centro cirúrgico, o centro obstétrico, as áreas de apoio
logístico, o refeitório, a cozinha, as áreas de conforto e a unidade
de reabilitação motora. O bloco transversal, que conecta as
duas alas, abriga o ambulatório, o pronto-socorro, a radiologia, a
administração e as áreas de recepção e espera pública.

Uma característica particular desse projeto é a presença


de varandas envidraçadas nos quartos das internações,
configuradas por volumes em balanço nas duas fachadas
longitudinais da ala norte. Essas varandas possuíam suportes
para redes de balanço, que poderiam ser usadas pelos
acompanhantes ou pelos próprios pacientes, respeitando e
promovendo os costumes locais como forma de proporcionar
maior conforto psicológico aos usuários.

O hospital, depois de sucessivas ampliações que não


levaram em conta os conceitos inerentes ao projeto original,
foi totalmente descaracterizado e acabou encerrando suas
atividades em meados da década de 2010.

Imagem 2.18 Imagem 2.19


Vista externa dos quartos do Hospital Santa Genoveva. Quarto de internação do Hospital Santa Genoveva.

Imagem 2.20
Perspectiva do Hospital Santa Genoveva.
39

2.1.8. Hospital da Guarnição do Galeão

O projeto para o Hospital da Guarnição do Galeão,


atualmente chamado HFAG-Hospital de Força Aérea do Galeão,
foi desenvolvido entre os anos de 1967 e 1976. Localizado na Ilha
do Governador, na cidade do Rio de Janeiro, é um dos maiores
projetos executados de Karman na área da saúde.

O conjunto, que acabou incorporando três edifícios


desocupados, é composto de um bloco retangular com três
pavimentos e meio (pilotis, dois andares úteis e um espaço
interandar) e um conjunto de outros blocos térreos. O bloco
retangular e os blocos térreos são separados por um grande
jardim e conectados por rampas e passarelas.

Apesar de incorporar edifícios existentes que estavam


vazios (sem uso), considera-se que esse é um projeto
desenvolvido integralmente por Karman, pois o arquiteto pôde
transformá-los da forma como achou melhor.

O projeto foi publicado na Revista Aeronáutica (edição de


setembro de 1968) e na revista Acrópole nº 353.

Imagem 2.21
Hospital da Guarnição do Galeão durante a construção.

Imagem 2.22 Imagem 2.23


Corredor externo do Hospital da Guarnição do Galeão. Jardim interno do Hospital da Guarnição do Galeão.
40

2.1.9. Laboratório Central de Pesquisas

Concebido para abrigar um laboratório de pesquisas


em saúde pública na cidade de Brasília, em 1968, o projeto
para o Laboratório Central de Pesquisas, que não chegou a
ser executado, tem como maior característica uma estrutura
composta por uma grelha metálica que serviria de suporte flexível
para uma série de pavilhões independentes.

O conjunto modular formado por perfis de aço sustentaria,


inicialmente, 24 pavilhões pré-fabricados com as mesmas
dimensões (passíveis de expansão), dispostos paralelamente.
Os pavilhões seriam conectados por um sistema intrincado de
circulações segregadas (externas e internas).

As lajes de piso pré-moldadas seriam apoiadas e as da


cobertura seriam penduradas nas vigas metálicas, solução que
proporcionaria a criação de um espaço técnico de fácil acesso
para as instalações aparentes entre os dois pavimentos do
conjunto. Por fim, lajes apoiadas nas últimas vigas cobririam os
pavilhões, criando um segundo espaço técnico.

O projeto foi publicado na revista Acrópole nº 355 e


amplamente utilizado por Karman em suas aulas e palestras.

Imagem 2.24
Perspectiva do Laboratório Central de Pesquisas.

Imagem 2.25
Corte longitudinal do Laboratório Central de Pesquisas.
41

2.1.10. Ampliações do Hospital Israelita Albert Einstein O trabalho de Karman, Wilheim e Fiorentini teve como
uma de suas premissas o respeito à obra de Rino Levi. Todas as
O Hospital Israelita Albert Einstein é uma das maiores intervenções no edifício inaugurado em 1971 buscaram a menor
instituições privadas da América Latina. Detém, além do descaracterização possível. As novas construções estabelecem
complexo de alto padrão localizado no bairro do Morumbi, uma um diálogo com a antiga, valorizando a história e demonstrando
série de unidades-satélites e um centro comunitário localizado que é possível expandir um hospital sem sobrepor a arquitetura
na comunidade de Heliópolis. A Sociedade Beneficente Israelita pré-existente.
Brasileira Albert Einstein, organização à qual a rede hospitalar
pertence, também administra dois hospitais municipais em O projeto foi publicado na revista Projeto Design nº 214.
parceria público-privada com a prefeitura de São Paulo.

O primeiro edifício, como dito anteriormente, foi projetado


por Rino Levi após vencer um concurso fechado. Karman,
que também participou do concurso, colaborou com o projeto
executivo de Levi como consultor, a convite da instituição,
assumindo o acompanhamento da obra após o falecimento do
autor, em 1965. Uma prova disso foi a descentralização dos
postos de enfermagens, que passaram a ocupar os corredores
das unidades de internação. Imagem 2.26
Primeira proposta de ampliação
Em meados da década de 1960, Karman desenvolveu desenvolvida por Karman e Wilheim, 1979.
uma proposta de ampliação, mas não chegou a ser executada.
Em 1979, dessa vez em parceria com Jorge Wilheim, retomou os
planos para a construção de novos edifícios que ampliariam a
capacidade de atendimento do hospital.

A primeira versão do novo projeto sugere a construção de


um edifício horizontal formado por três pavilhões e um anexo com
planta trapezoidal. O projeto tira partido da topografia, fazendo
com que os pavilhões tenham mais andares, acompanhando a
declividade do terreno.

No início da década de 1980, já com a participação de


Domingos Fiorentini, a proposta evoluiu para um Plano Diretor
que propunha mais que dobrar a área do hospital, a ser realizado
em três etapas: a primeira, um bloco no centro do lote, com seis
pavimentos; a segunda, uma torre de 17 pavimentos a sudoeste
do terreno; a terceira, ampliação do bloco de seis pavimentos.
Somente a terceira etapa não foi executada.

O bloco de seis pavimentos, que recebeu inicialmente


o centro de diagnóstico, os consultórios e um hospital-dia, foi
inaugurado em 1982. A torre, que na época abrigou as novas
internações, unidades de terapia e a ampliação dos serviços de
diagnóstico, teve as obras iniciadas em 1987 e finalizadas em Imagem 2.27
1994. Perspectiva das ampliações do
Hospital Israelita Albert Einstein.
42

2.1.11. Instituto Nacional de Câncer e Queimados

O Instituto Nacional de Câncer e Queimados, atualmente


chamado de Instituto Nacional del Cancer – INCAN, foi projetado
em 1982. O Hospital foi construído na província de Capiatá, a
sudeste de Assunção, capital do Paraguai. Até onde se sabe,
este é o único projeto executado de Karman fora do Brasil.

A implantação possui uma certa semelhança com o


Hospital da Guarnição do Galeão. O projeto é composto por
um conjunto de blocos térreos e um bloco retangular de três
pavimentos, separados por jardins e conectados por meias
rampas.

O hospital está em pleno funcionamento. Sofreu poucas


modificações e ainda preserva boa parte das características do
projeto original.

Imagem 2.28
Eixo de circulação externa do
Instituto de Câncer e Queimados.

Imagem 2.29
Imagem aérea do Instituto
Nacional de Câncer e Queimados.
43

2.1.12. Ampliação do Hospital Vera Cruz

Em 1992, Karman desenvolveu o projeto de modernização


e ampliação do Hospital Vera Cruz, tradicional instituição
localizada em Campinas, cidade do interior de São Paulo.

O novo edifício, composto por uma torre vertical com


11 andares (dois subsolos, térreo, oito pavimentos e um andar
técnico), abriga duas unidades de internação, uma unidade
de Tratamento Semi-Intensivo, uma Unidade de Tratamento
Intensivo, um Centro Cirúrgico, novos espaços administrativos e,
no térreo, a recepção/admissão.

O andar técnico possui pé-direito de 2,3 metros e


está estrategicamente posicionado entre o quinto e o sexto
pavimentos, andares que abrigam, respectivamente, o centro
cirúrgico e a unidade de terapia intensiva.

Uma característica peculiar desse projeto são os


elementos que compõem a fachada. Para que os caixilhos do
tipo maxim-ar tivessem os vãos de abertura reduzidos, tornando
o hospital mais seguro contra quedas e acidentes, Karman
desenhou um prisma aerodinâmico para aumentar a ventilação
natural dos ambientes internos. As dimensões desses elementos
correspondem à modulação da caixilharia e foram executados
de forma seriada, em peças metálicas e chapas dobradas de
alumínio composto.

Outra questão importante de se destacar é a configuração


do andar técnico. Em vez de possuir um pavimento de baixa altura,
o projeto apresenta um andar inteiro destinado às máquinas e às
instalações aparentes com pé-direito de aproximadamente 2,5
metros de altura.

O projeto foi publicado na edição especial da revista AU,


em setembro de 2002.

Imagem 2.30 Imagem 2.31


Elevação frontal do Hospital Vera Cruz. Vista frontal do Hospital Vera Cruz (foto atual).
Fotografia de Manuel Sá.
44

2.1.13. Ampliação do Hospital São Judas Tadeu da Fundação


Pio XII

O Plano Diretor e as ampliações do Hospital São Judas


Tadeu, localizado na cidade de Barretos, cidade do interior
do estado de São Paulo, foram desenvolvidos em 1993.
Recentemente a instituição foi rebatizada para Hospital do Amor.

Karman foi convidado para projetar a primeira ampliação,


que contava com um pequeno pavilhão em um lote na periferia
da cidade. Em vez de propor uma obra que sanasse a demanda
momentânea, a sugestão foi desenvolver um Plano Diretor
que coordenasse sucessivas expansões ao longo dos anos,
permitindo ao hospital crescer de forma flexível, acompanhando
o aumento gradual das necessidades.

O plano previa a construção de cerca de 11 blocos,


sendo que o destinado às internações poderia ser executado em
mais de uma fase. Hoje, o hospital conta com serviços de pronto-
atendimento, ambulatório, laboratório, fisioterapia, radioterapia,
quimioterapia, medicina nuclear, centro cirúrgico e terapia
intensiva, além de todos os serviços de apoio técnico-logístico.

Mesmo depois de 27 anos, o hospital não esgotou as


possibilidades de expansão previstas pelo Plano Diretor. Alguns
blocos existentes hoje foram projetados por outros profissionais,
que respeitaram as ideias dos primeiros autores. Os blocos
projetados por Karman sofreram algumas modificações, entre
elas a substituição das janelas e a mudança das cores das
fachadas.
Imagem 2.32
Vista aérea do Hospital São Judas Tadeu, com destaque para os blocos projetados por Karman e Fiorentini.
Outra questão importante de se frisar é que, semelhante
ao Hospital da Guarnição do Galeão, considera-se que esse
é um projeto desenvolvido integralmente pelos autores, pois
os arquitetos puderam, em virtude da grande dimensão do
lote, aplicar as estratégias projetuais de Karman sem grandes
dificuldades.

Imagem 2.33
Vista panorâmica do Hospital São Judas Tadeu.
45

2.1.14. Hospital da Unimed Sorocaba

Esse hospital foi projetado em 1992 para uma cooperativa


de médicos de Sorocaba, cidade do interior de São Paulo. O
edifício se desenvolve em um só pavimento.

Semelhante ao partido arquitetônico de Capiatá, o projeto


possui uma série de blocos independentes, separados por
jardins e conectados por um conjunto de corredores.

Mesmo sem ter sido publicado em revistas especializadas,


Karman utilizava as plantas do Unimed Sorocaba com muita
frequência em suas aulas e palestras. Entre os diapositivos
disponíveis em seu acervo, há diagramas que apresentam a
organização das circulações e plantas do Centro Cirúrgico e
da Unidade de Tratamento Intensivo e da Internação, provas da
importância deste projeto para o autor.

O hospital sofreu diversas modificações, porém ainda


preserva muitas das características do projeto original.

Imagem 2.34
Acesso principal do Hospital
Unimed Sorocaba.

Imagem 2.35
Imagem aérea do Hospital
Unimed Sorocaba.
46

2.1.15. Hospital Unimed Araçatuba

Projetado em 1995, esse hospital localiza-se na cidade


de Araçatuba, interior de São Paulo. O projeto foi encomendado
pela mesma cooperativa de médicos de Sorocaba, em virtude
do sucesso da implantação do hospital anterior.

Bastante semelhante ao projeto de Sorocaba, o edifício


também se desenvolve em um pavimento e possui uma série
de blocos independentes separados por jardins e conectados
por um conjunto de corredores. Os fechamentos horizontais,
desenvolvidos em placas cimentícias pré-fabricadas, servem de
brise soleil e dão unidade visual ao conjunto.

Imagem 2.36 Imagem 2.37


Vista aérea do Hospital Unimed Araçatuba. Vista do acesso principal do Hospital Unimed Araçatuba.
Fotografia de Andrés Otero.
47

2.1.16. Centro Médico Hospitalar Vila Velha

Um dos últimos projetos executados de Karman, foi


desenvolvido entre os anos 1995 e 1999. O Centro Médico Vila
Velha, conhecido hoje como Vila Velha Hospital, fica localizado
na cidade de Vila Velha, estado do Espírito Santo.

O edifício possui nove pavimentos, dois amplos espaços


técnicos localizados no terceiro e quinto andares e acessos em
cotas diferentes. A quimioterapia, a hemodiálise, a fisioterapia
e as unidades técnico-logísticas são acessadas pelo térreo.
O saguão principal, o pronto atendimento, o ambulatório e a
imagenologia ficam no primeiro pavimento e são acessados por
meio de rampas e escadas externas, de forma semelhante aos
projetos para o Hospital de Clínicas de Pelotas, o concurso do
Albert Einstein e o São Luiz.

O edifício foi executado com pequenas modificações em


relação ao projeto original, que não descaracterizaram o partido
formal e a organização físico-funcional.

Imagem 2.38
Vista lateral do Centro Médico
Hospitalar Vila Velha.
48

2.2. Critérios de seleção dos projetos optou-se por selecionar os projetos cujos edifícios tivessem sido
projetados originalmente por ele, excluindo-se as ampliações,
A seleção levou em consideração os cinco critérios a reformas e modernizações.
seguir:
Os projetos que respeitam essa premissa são: Hospital
2.2.1. Projetos que possuem peças gráficas suficientes para Santa Helena, Hospital de Clínicas de Pelotas, Concurso para o
a produção dos redesenhos Hospital Santa Mônica, Hospital e Maternidade São Domingos,
Concurso para o Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital São
Diante da decisão de se redesenhar os projetos, a fim de Luiz, Hospital Santa Genoveva, Laboratório Central de Pesquisas,
possibilitar o emprego de um método sistematizado de análise, Hospital de Força Aérea do Galeão, Instituto Nacional de Câncer
com a padronização gráfica dos diagramas e das análises, e Queimados, ampliação do Hospital São Judas Tadeu da
optou-se pela escolha daqueles que tivessem os desenhos que Fundação Pio XII, Hospital Unimed Sorocaba, Hospital Unimed
permitissem uma plena compreensão da arquitetura. Araçatuba e o Centro Médico Hospitalar Vila Velha.

Quase todos os projetos respondiam a esse critério, Vale reiterar que, mesmo que os projetos tenham
excluindo-se apenas as ampliações para o Hospital Israelita incorporado outras construções, considera-se que o Hospital da
Albert Einstein, do qual a Coleção Jarbas Karman não possui as Guarnição do Galeão e a ampliação do Hospital São Judas Tadeu
plantas de todos os pavimentos. da Fundação Pio XII, pela configuração de sua arquitetura, são
trabalhos desenvolvidos integramente por Karman.
2.2.2. Projetos que foram executados
2.2.4. Projetos que foram publicados ou utilizados
Uma das intenções dessa pesquisa é identificar as didaticamente em aulas, palestras e congressos
estratégias projetuais de Karman que foram concretizadas. Não
somente em seus projetos, mas que deixaram de ser propostas Considerando que um dos objetivos desta pesquisa é
e se tornaram reais. Sendo assim, optou-se por projetos que contribuir para a compreensão das transformações dos edifícios
tivessem sido executados de acordo com o que Karman planejou, hospitalares brasileiros, estudando parte da obra de Jarbas
sem adaptações que descaracterizassem o planejamento físico- Karman, a seleção considerou aqueles que tiveram alguma
funcional. repercussão. Deu-se preferência aos projetos publicados em
revistas ou apresentados em aulas e palestras.
Os projetos que se enquadram nessa premissa são:
Hospital Santa Helena, Hospital e Maternidade São Domingos, Sendo assim, os projetos que tiveram alguma repercussão
Hospital Santa Genoveva, Hospital de Força Aérea do Galeão, foram: Hospital Santa Helena, Hospital de Clínicas de Pelotas,
ampliações do Hospital Israelita Albert Einstein, Instituto Concurso para o Hospital Santa Mônica, Hospital e Maternidade
Nacional de Câncer e Queimados, ampliação do Hospital Vera São Domingos, Concurso para o Hospital Israelita Albert Einstein,
Cruz, Hospital Unimed Sorocaba, Hospital Unimed Araçatuba e Hospital São Luiz, Laboratório Central de Pesquisas, Hospital de
o Centro Médico Hospitalar Vila Velha. Força Aérea do Galeão, ampliações do Hospital Israelita Albert
Einstein, ampliação do Hospital Vera Cruz e o Hospital Unimed
2.2.3. Projetos desenvolvidos integralmente por Karman Sorocaba.

Como alguns dos projetos são ampliações, as 2.2.5. Projetos que possuem registro fotográfico
preexistências podem ter causado restrições às implantações
das ideias de Karman. Um exemplo é a impossibilidade de se Para auxiliar na compreensão das estratégias projetuais
planejar acessos distintos entre pacientes externos e internos e ilustrar suas características físicas e espaciais, optou-se por
em virtude de o edifício existente só ter uma face voltada para escolher os projetos que tivessem registro fotográfico ou que
a rua. Isso poderia trazer complicações para se identificar e fossem passíveis de novas fotografias, desde que o edifício não
comparar as estratégias projetuais, uma vez que preexistências tivesse sido descaracterizado demasiadamente.
não projetadas por ele fariam parte da análise. Sendo assim,
49

Os projetos que possuem farto registro fotográfico ou que


foram fotografados recentemente são: Hospital e Maternidade
São Domingos, Hospital de Força Aérea do Galeão, ampliações
do Hospital Israelita Albert Einstein, Instituto Nacional de Câncer
e Queimados, ampliação do Hospital Vera Cruz, ampliação
Hospital São Judas Tadeu da Fundação Pio XII, Hospital Unimed
Sorocaba, Hospital Unimed Araçatuba e o Centro Médico
Hospitalar Vila Velha.

2.3. Projetos selecionados

Dentre os 16 projetos apresentados, cinco foram


escolhidos. São eles:

1º) Hospital e Maternidade São Domingos – por ter farto material


iconográfico (desenhos e fotografias), ter sido executado de
acordo com o planejado, ter sido projetado integralmente pelos
autores e ter tido considerável repercussão;

2º) Hospital da Guarnição do Galeão – por ter por ter farto material
iconográfico (desenhos e fotografias), ter sido executado de
acordo com o planejado, ter sido projetado integralmente por
Karman e ter tido alguma repercussão;

3º) Instituto Nacional de Câncer e Queimados – por ter farto


material iconográfico (desenhos e fotografias), ter sido executado
de acordo com o planejado, ter sido projetado integralmente
pelos autores e ser o único trabalho de Karman no exterior;

4º) Hospital Unimed Sorocaba – por ter farto material iconográfico


(desenhos e fotografias), ter sido executado de acordo com
o planejado, ter sido projetado integralmente pelos autores e
figurar com certa frequência entre os diapositivos que Karman
utilizava em suas aulas e palestras;

5º) Centro Médico Hospitalar Vila Velha – por ter por ter farto
material iconográfico (desenhos e fotografias), ter sido executado
de acordo com o planejado e ser um dos últimos projetos
executados de Karman.

No capítulo 4, os cinco projetos serão melhor apresentados,


juntamente de cada análise gráfica.
50
51

3
52

Imagem 3.1
Diagramas de comparação das circulações lineares produzidos por Clark e Pause.
3. A DEFINIÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISE GRÁFICA 53

E SEUS PROCEDIMENTOS
“A arquitetura é uma aventura mais bem explorada pelo desafio de praticá-la. Porém, como em
qualquer disciplina criativa, a aventura da arquitetura pode se inspirar na análise daquilo que outros
fizeram e, por meio dessa análise, tentar entender as maneiras que eles encontraram para alcançar
os desafios” (Unwin, 2013, p. 03).

3.1. Análise gráfica como forma de apreensão da arquitetura “Podemos definir o diagrama como uma
ferramenta gráfica que permite visualizar
Redesenhar uma obra de arquitetura é uma forma eficiente fenômenos ou fluxos, tanto da realidade como
de compreendê-la. É muito comum entre os arquitetos registrar do projeto. O diagrama, que surge da matéria
impressões de um objeto, ou espaço, desenhando aquilo que lhes ou phylum que ainda não possui nenhuma
causa fascínio ou estranhamento. Esse gesto pode ter diversas forma ou figura precisa, é uma primeira etapa
finalidades, como documentar uma experiência marcante, de cristalização momentânea, uma visão
aumentar o repertório criativo ou ilustrar para outras pessoas as esquemática concebida para evoluir ao longo do
características mais interessantes de um determinado edifício. tempo sem condicionar a forma. Um diagrama
Assim fez Charles-Édouard Jeanneret em suas viagens de é uma possibilidade, um meio geométrico que
estudo, quando desenhou, em 1907, detalhes do Palácio Vecchio permite avançar do indizível para as palavras;
em Florença e, em 1911, alguns planos e vistas do Partenon em isto é, do que não tem forma nem linguagem
Atenas. para o que pode ser formulado, projetado e
formalizado. O diagrama estabelece relações e
Essa prática também é eficaz para as pesquisas em nada nele pode ser supérfluo” (Montaner, 2017,
arquitetura. A análise sistematizada de um objeto arquitetônico, p. 23).
amparada por desenhos esquemáticos, permite ao pesquisador
realizar uma reflexão crítica da produção arquitetônica do A construção de um método gráfico em arquitetura se
passado e do presente. Uma das melhores maneiras de se dá, entre outras maneiras, pela interpretação de outros métodos
realizar esse procedimento é por meio de um método de análise e pela adequação de suas diretrizes para cada pesquisa. Um
gráfica. bom exemplo está em como Colin Rowe se inspirou no método
de Rudolf Wittkower para encontrar paralelos entre a obra de
Uma série de pesquisadores se valeram dos métodos de Andrea Palladio e Le Corbusier.
análise gráfica para estudar a obra de um ou mais arquitetos.
Esses métodos se tornaram mais frequentes em meados do Wittkower, historiador britânico especializado na arte da
século XX. As análises gráficas são baseadas na utilização de renascença, foi um dos maiores responsáveis pela introdução
desenhos esquemáticos para a investigação das características do método iconológico [1] na análise da forma e do espaço
formais, espaciais e programáticas de um objeto arquitetônico. arquitetônico. Lecionou no Warburg Institute entre os anos 1934
Para Wilson Flório, o “método gráfico permite ‘desvendar’, por e 1956, um importante centro de estudos sobre história da arte,
intermédio do desenho, relações arquitetônicas espaciais e atualmente associado à Universidade de Londres. Publicou em
formas ocultas” (Flório, 2002, p. 12). 1949 o livro “Architectural Principles in the Age of Humanism”,
no qual analisou, principalmente, as obras dos arquitetos Leon
O elemento mais importante de um método de análise Battista Alberti e Andrea Palladio. Seu objetivo foi descrever
gráfica é o diagrama. Trata-se de desenhos que capturam um as práticas arquitetônicas fundamentais nos séculos XV e [1] O método iconológico teve como precursor Irwin Panofsky, um dos
determinado fenômeno espacial, que destacam a geometria XVI e demonstrar que havia uma relação matemática com a principais alunos de Aby Warburg (fundador do Warburg Institute). O
de um edifício ou que investigam o movimento em uma planta escala musical grega. Como parte de seu estudo, Wittkower método busca compreender a arte em três níveis: o primeiro a partir de uma
arquitetônica. De acordo com Josep Maria Montaner, os desenvolveu onze diagramas analíticos a partir das plantas descrição de seus elementos; o segundo, pela identificação dos significados
diagramas podem ser entendidos da seguinte forma: das villas palladianas, chegando a um diagrama-síntese que iconográficos, ou seja, formas ou motivos que possam ser identificados
por convenções; e o terceiro, por meio do significado iconológico, ou seja,
demonstrava um padrão geométrico (ver imagem 3.2). De a interpretação da obra de arte considerando quem a produziu, onde e
acordo com Monika Stumpp, Wittkower conclui que as “villas são quando.
54

derivadas de uma fórmula geométrica básica, dotada de um eixo A tese que inspirou Baker, defendida na Universidade de
central e uma absoluta simetria dos compartimentos em ambos Cambridge em 1963, sob o título “The Formal Basis of Modern
os lados” (Stumpp, 2013, p. 17). Architecture”, permanece pouco conhecida. Porém, é possível
ter contato com o método de Eisenman por meio do livro “Ten
O método iconológico de Wittkower acabou influenciando canonical buildins: 1950-2000”, publicado em 2008.
o arquiteto e pesquisador britânico Colin Rowe, durante o período
em que foi bolsista no Warburg Institute. Na intenção de realizar Einseman propõe que os 10 edifícios selecionados, mesmo
uma revisão crítica da arquitetura moderna, Rowe publicou em possuindo a “presença do passado”, romperam paradigmas,
1947 um ensaio intitulado “The Mathematics of the Ideal Villa”, no sugerindo novas possibilidades para o futuro. Hilton Berredo e
qual investigou as “regras” composicionais das villas palladianas Guilherme Lassance fazem a seguinte afirmação:
e das villas corbusianas, por meio da decomposição gráfica dos
projetos e da comparação dos diagramas resultantes. O autor “Se sua dissertação ainda via a arquitetura do
analisou e comparou, por exemplo, a Villa Malcontenta com a ponto de vista da abstração dos sistemas formais,
Villa Stein e a Villa Rotonda com a Villa Savoye, demonstrando a obra de 2008 encara a arquitetura como uma
que Le Corbusier não rompeu totalmente com os paradigmas disciplina ‘autorreferente’, que ‘fala’ sobre si
renascentistas, reconhecendo a “presença do passado” na mesma, e que produz edifícios que podem
Imagem 3.2
Diagramas da produção da arquitetura moderna (ver imagem 3.3). ser lidos como textos contendo referências a
organização dos edifícios do passado e ideias para os edifícios
espaços das villas O ensaio de Rowe não foi bem aceito no momento de do futuro, os quais, por sua vez, serão textos que
Palladinanas, sua publicação, porém a originalidade de suas ideias - que falam dos edifícios do passado e aportam ideias
desenvolvidos por
propunham uma visão especulativa, não cronológica e que para os futuros, numa espécie de conversa sem
Wittkower.
se valiam das análises gráficas como evidências de suas fim. Em meio a esse diálogo diacrônico, algumas
proposições - inspirarou o uso do método gráfico para a obras, as ‘canônicas’, ditam às outras ‘textos’
realização de novas abordagens históricas na arquitetura. Flório contraditórios e divergentes, deixando seu ‘leitor’
afirma que, “segundo Montaner, as análises gráficas realizadas inquieto, incapaz de decidir se o que está sendo
por Rowe têm sido cruciais para redigir a análise arquitetônica em ‘dito’ pode ser interpretado de certa maneira
suas estruturas espaciais, compreendendo critérios tipológicos, ou mesmo de modo totalmente contrário. A
compositivos e construtivos” (Flório, 2002, p. 11). Podemos dizer marca do ‘cânone’ de Eisenman, portanto, é a
que seu trabalho colaborou enormemente para tornar os métodos ‘indecibilidade’” (Berredo, Lassance, 2011).
de análise gráfica ferramentas valiosas para as pesquisas de
revisão crítica da histórica da arquitetura. O método de Eisenman propõe uma relação intrínseca entre
texto e imagem em vez de categorias de análise. Os diagramas,
Outro exemplo mais recente foi como Geoffrey H. Baker se na sua grande maioria produzidos a partir de perspectivas
baseou na tese de doutorado de Peter Eisenman para investigar axonométricas, evidenciam determinados aspectos importantes
a obra de Le Corbusier. de cada edifício, sempre criando destaques com a cor vermelha.
A recorrência da apresentação dos projetos pelo mesmo “ponto
Baker publicou sua pesquisa em 1984 sob o título “Le de vista” e da utilização da mesma cor para ressaltar o que se
Imagem 3.3 Corbusier: an analysis of form”. O método utilizado se baseia deseja mostrar facilita a apreensão do leitor (ver imagem 3.5).
Diagramas de na exploração dos projetos por meio de desenhos analíticos
comparação entre representados em plantas, cortes, perspectivas e diagramas No Brasil, podemos destacar 3 trabalhos que definiram
a Villa Malcontenta que algumas vezes correspondem a um tema pré-determinado métodos de análise gráfica a partir da interpretação de outros
e Villa Garches,
(comuns a vários projetos) e em outras ilustram temas específicos autores.
desenvolvidos por
Rowe. (que correspondem somente a um projeto). A análise de 16
projetos, de diferentes escalas e usos, permitiu identificar O primeiro trabalho foi publicado em 2002, em dois volumes
diversos “sistemas de articulação”, que algumas vezes se [2], sob o título “Projeto residencial moderno e contemporâneo:
[2] O primeiro volume contém as análises das residências brasileiras, e o relacionam com uma série de projetos, outras com somente um análise gráfica dos princípios de forma, ordem e espaço de
segundo volume contém as análises das residências internacionais. (ver imagem 3.4). exemplares da produção arquitetônica residencial”. Os livros
55

Imagem 3.4
Diagramas de análise da forma da Villa
Stein-de-Monzie, produzidos por Baker.

Imagem 3.5
Diagramas de análise da Biblioteca de Jussieu,
desenvolvidos por Eisenman.
56

apresentam uma pesquisa desenvolvida na Universidade forma mais sintética possível” (Brasil, 2007, p. 119). Por fim,
Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, pelos professores há um texto comparando os resultados das análises, categoria
Wilson Flório, Haroldo Gallo, Silvio Stefaninni Sant’anna e por categoria, demonstrando como os “temas dominantes” se
Fernanda Magalhães, com o objetivo de estabelecer princípios desenvolvem ao longo da trajetória do arquiteto.
de análise gráfica de projetos arquitetônico para fins didáticos.
Foram analisados 62 projetos residenciais de arquitetos do Brasil O terceiro refere-se à pesquisa de mestrado de Ana
e do exterior, resultando em 1.500 desenhos (ver imagem 3.6). Tagliari, realizada em 2008, pelo Instituto de Artes da Universidade
Estadual de Campinas – UNICAMP. Foram analisados 14 projetos
O método é composto por seis categorias de análise: residenciais do arquiteto estadunidense Frank Lloyd Wright. O
“setorização”, “acessos/perímetros”, “circulação/espaço-uso”, trabalho foi publicado em 2001, sob o título “Frank Lloyd Wright:
“gruas de compartimentação”, “hierarquia” e “simetria/equilíbrio”. princípio, espaço e forma na arquitetura residencial” (ver imagem
As análises são realizadas por meio de diagramas produzidos 3.8).
após o redesenho dos projetos.
O contato da pesquisadora com os métodos de análise
Essa pesquisa não tinha o objetivo de suscitar gráfica se deu durante sua graduação, quando foi auxiliar
Imagem 3.6
uma observação crítica da produção projetual moderna e da pesquisa desenvolvida na Universidade Presbiteriana
Diagramas de análise contemporânea, mas sim oferecer aos alunos do primeiro Mackenzie, em 2002. Juntamente de Wilson Flório, coordenador
dos acessos e da ano da faculdade de arquitetura daquela universidade uma geral da pesquisa, Tagliari foi responsável por desenvolver e
circulação na Residência ferramenta que possibilitasse uma melhor compreensão dos supervisionar uma considerável parte dos desenhos.
no Belvedere, aspectos formais, espaciais e programáticos das residências
desenvolvidos por Flório
e equipe.
selecionadas, além de aumentar o “repertório” projetual. No O método propõe 12 categorias de análise, que
entanto, inaugurou novas possibilidades no âmbito acadêmico correspondem aos princípios orgânicos de Wright. São eles:
e foi seguida de algumas pesquisas que utilizaram de métodos “acessos e perímetros”, “hierarquia e lareira”, “circulação
gráficos de análise. e espaços”, “grau de compartimentação”, “coberturas”,
“setorização”, “campos visuais”, “geometria e ritmo”, “proporção e
O segundo consiste na pesquisa de mestrado de Luciana equilíbrio”, “volume/massa”, “relação planta/corte” e “opacidade/
Tombi Brasil, realizada em 2004, que pesquisou uma série de transparência”. As análises são feitas por meio de diagramas
projetos residenciais do arquiteto David Libeskind. Brasil utilizou bidimensionais e tridimensionais, produzidos a partir do
um método gráfico semelhante ao proposto pelos professores redesenho dos projetos. O processo de observação e descrição
da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Sua dissertação dos diagramas é feito por comparação, respeitando a seguinte
foi desenvolvida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da ordem: agrupamento dos diagramas por categorias em cada fase
Universidade de São Paulo – FAU-USP – e publicada em 2007 sob do arquiteto; elaboração de um texto explicando as observações
o título “A obra de David Libeskind – ensaio sobre as residências e de um diagrama-síntese para cada categoria; e comparação
unifamiliares” (ver imagem 3.7). de todos os diagramas por categorias, independente da fase,
possibilitando uma leitura crítica do processo projetual de Wright
O método possui quatro categorias: “setorização de uso”, ao longo de sua trajetória.
“organização geométrica e sistema de distribuição”, “espaço
de transição” e “planos verticais e horizontais”. As análises Essas três pesquisas desenvolvidas no Brasil foram
gráficas foram realizadas por meio de diagramas bidimensionais fortemente influenciadas pelo trabalho de Roger Clark e Michael
desenvolvidos a partir das plantas dos projetos, que foram Pause, ambos professores da Universidade Estadual da Carolina
redesenhadas anteriormente. Nesse ponto, Luciana Brasil do Norte, EUA. O método desenvolvido por eles pode ser
explica que a análise “apontou para uma possível organização apreendido no livro “Precedents in Architecture”, publicado em
Imagem 3.7
em temas dominantes e estruturadores do raciocínio projetual 1985. Clarck e Pause investigaram 64 edifícios, projetados por
Diagramas de análise de Libeskind” e que os diagramas elaborados “resultam do 16 arquitetos – de Filippo Brunelleschi a Robert Venturi – com o
da Casa Faermann, reconhecimento das qualidades icônicas das residências e intuito de observar como cada projeto se relacionava com alguns
desenvolvidos por permitem ordenar, transmitir e processar as informações da temas pré-estabelecidos pelos autores.
Luciana Brasil.
57

O método analítico de Clarck e Pause é sintético, as colaborações de autores como Rowe, Clark e Pause foram
compostos de diagramas bidimensionais que exploram 11 cruciais para a ampla aceitação dessa forma de se estudar o
categorias diferentes que buscam compreender desde aspectos processo de produção do projeto arquitetônico, para fins tanto
compositivos (como a massa e a geometria) até aspectos didáticos como teóricos.
construtivos (como a estrutura). O procedimento, claro e objetivo,
permitiu-lhes observar o partido arquitetônico de cada projeto Ao focar nas publicações brasileiras, observa-se uma
(por meio de um diagrama síntese) e encontrar similaridades grande influência das ideias de Clark e Pause. O método
projetuais ao comparar as categorias analisadas, denominadas sistematizado desenvolvido pelos dois, que propõe a
pelos autores de “ideias formais” (ver imagem 3.9). dissecação dos projetos arquitetônicos em camadas temáticas
por meio de diagramas bidimensionais simplificados, oferece
O livro está em sua quarta edição (2012) e já conta com aos pesquisadores uma plataforma eficiente e flexível para a
mais de 100 edifícios analisados, de 38 arquitetos, incluindo, por criação de outros métodos. As muitas possibilidades de se
exemplo, obras de Peter Zumthor e dos suíços Jacques Herzog realizar a leitura das análises é outra questão importante, pois
e Pierre de Meuron. permite comparações temáticas de diferentes projetos. No
caso das pesquisas que se concentram em apenas um autor,
As pesquisas discutidas acima, de Rowe a Eisenman, de o método permite a identificação de estratégias recorrentes e a
Flório a Tagliari, demonstram que há diversos métodos de análise compreensão de diferentes soluções projetadas para problemas Imagem 3.8
gráfica em arquitetura e diversos caminhos para a construção de equivalentes. Diagramas de análise da circulação da Arthur Heurtley House,
muitos outros. Os métodos estão em constante transformação e desenvolvidos por Tagliari.

Imagem 3.9
Diagramas de análise da Villa Savoye,
desenvolvidos por Clark e Pause.
58

Já o método de Eisenman não possui a mesma flexibilidade b) Definição das categorias de análise, baseadas nas principais
de apropriação. Sua leitura dos edifícios “canônicos” não é questões apontadas por Karman no livro “Iniciação à Arquitetura
realizada por uma matriz comparativa clara, mas por uma Hospitalar”;
investigação que toma cada edifício como um ícone, que contém
no seu próprio processo de projeto algumas características c) Padronização das escalas e definição das características
(às vezes implícitas, às vezes explícitas) que precisam ser gráficas para a análise de cada categoria;
destacadas. O diagrama, assim como no trabalho de Clark e
Pause, é elemento fundamental. Os diagramas de Eisenman d) Análises dos cinco projetos;
são compostos, em sua maioria, por plantas e perspectivas
axonométricas requintadas, produzidas com recursos digitais e e) Avaliação dos resultados por meio da comparação das
o uso de cores, tornando-os bastante comunicativos e atraentes. análises, categoria por categoria.
Sendo assim, a expressão gráfica de Eisenman colabora, e
muito, para tornar as análises gráficas mais esclarecedoras,
dispensando, de certa forma, a necessidade de categorias pré-
estabelecidas e possibilitando a compreensão dos aspectos
destacados com o auxílio de um pequeno texto complementar.

Em ambos os casos, seja inspirado em Eisenman ou em


Clark e Pause, todo novo método deve surgir de um processo
erudito, crítico e que organize as ideias de forma a torná-lo o
mais compreensível possível.

Sendo assim, o método definido para se estudar a obra


de Jarbas Karman se apoiou em outros métodos gráficos, com
o objetivo de estabelecer os procedimentos adequados para
o entendimento de suas estratégias projetuais. As principais
inspirações foram o trabalho de Clarck e Pause – posto que a
manipulação de plantas, cortes e elevações permite, de forma
eficiente, a exposição de aspectos que seriam dificilmente
percebidos somente por recursos textuais –, o trabalho de Peter
Eisenman – que empregou o uso da cor vermelha para facilitar
o entendimento dos diagramas – e o trabalho de Tagliari – que
estabeleceu as categorias de análise baseadas nas ideias do
próprio arquiteto e realizou uma avaliação comparativa, categoria
por categoria.

3.2. O método e seus procedimentos

O método de análise da obra de Jarbas Karman buscou


analisar graficamente seus projetos arquitetônicos por meio
de categorias baseadas em suas próprias ideias. A avaliação
dos resultados se deu pela comparação das análises de cada
projeto, categoria por categoria. Para atingir esse objetivo, o
método respeitou os seguintes procedimentos:

a) Redesenho das implantações, plantas e cortes dos cinco


projetos selecionados;
59
60
61

4
62

Imagem 4.1
Capa da primeira edição do livro
Iniciação à Arquitetura Hospitalar, 1972.
4. AS CATEGORIAS E A 63

PADRONIZAÇÃO DAS ANÁLISES


As categorias de análise dos projetos arquitetônicos de fundada em 1954 e atualmente responsável pelo Centro
hospitais de Jarbas Karman foram estabelecidas a partir dos Universitário São Camilo. Seu formato se assemelha a uma
“requisitos” e “conceitos” por ele próprio definidos, entre as apostila, e deveria compor, originalmente, o material didático que
décadas de 1950 e 1970. o autor utilizava em suas aulas e palestras. Aparentemente, não
teve grande repercussão entre os arquitetos e os pesquisadores,
Karman publicou uma série de artigos nas três primeiras posto que há pouquíssimas referências a ele na bibliografia
décadas após seu período de estudos na América do Norte. consultada para o desenvolvimento dessa pesquisa. Porém, a
Alguns deles apresentam seus projetos arquitetônicos e outros compreensão dos seus apontamentos é vital para a realização
versam sobre questões técnicas relacionadas ao planejamento de uma aproximação da obra de Jarbas Karman; sendo assim,
físico-funcional de instituições de saúde. Entre os artigos mais entender o que significam os “requisitos” e os “conceitos” do livro
relevantes, se encontram considerações acerca da “racionalização é imprescindível para orientar as análises gráficas dos projetos
das unidades de enfermagem” [1], do planejamento de centros arquitetônicos em questão.
cirúrgicos [2] e da acústica em ambientes de saúde [3]. Já
nos artigos que apresentam os projetos, Karman destacou, em 4.1. Interpretando os “requisitos” e “conceitos” contidos no
alguns casos, quais critérios seguiu ao desenvolvê-los. livro “Iniciação à Arquitetura Hospitalar”

Em 1972, esses “requisitos” e “conceitos” foram reunidos Os “requisitos” e “conceitos” delineados por Karman
em um livro intitulado Iniciação à Arquitetura Hospitalar. Nele, são apresentados, de certa forma, nos 10 primeiros capítulos
Karman organizou seus principais apontamentos sobre o do livro. Primeiro, no capítulo intitulado Arquitetura Hospitalar
planejamento físico-funcional de hospitais. A exposição de suas Integrada, Karman faz uma introdução ao assunto. Em seguida,
ideias era acompanhada de alguns relatos de suas experiências nos quatro capítulos subsequentes, descreve os agrupamentos
até então. funcionais que uma instituição de saúde pode ter. Depois, nos
cinco capítulos seguintes, apresenta e esclarece os “requisitos”
Mesmo se tratando de um livro de arquitetura, cujo e os “conceitos” que deveriam ser considerados ao se projetar
propósito era colaborar com o desenvolvimento dos projetos um edifício hospitalar.
arquitetônicos, a publicação não possui desenhos para auxiliar
a compreensão de como as ideias poderiam ser aplicadas. No primeiro capítulo, Karman introduz suas ideias ao tratar
Aliás, o livro não possui nenhuma ilustração, fato que dificulta a da integração dos diferentes aspectos que se relacionam com
apreensão das considerações do autor. o planejamento e com o funcionamento dos hospitais. O autor
discorre sobre as dificuldades e os desafios que os “planejadores
O livro é organizado em 17 capítulos e aborda, entre e consultores hospitalares” encontravam naquele período e
outros assuntos, os seguintes temas: o programa arquitetônico aponta que a solução só surgiria por meio de um “trabalho de
e os agrupamentos funcionais; o planejamento físico em ampla colaboração” para a realização do “planejamento integral
função da flexibilidade; o planejamento físico em função da assistência médico-hospitalar” e de pesquisas sistemáticas.
da eficiência; aspectos relacionados à racionalização das Defende também que:
unidades de enfermagem; o planejamento em função da
assepsia; planejamento físico em função do conforto térmico; “O importante é que não mais se construam
particularidades físicas e funcionais do edifício; aspectos hospitais errados ou obsoletos, que não
relacionados aos espaços de isolamento; o planejamento físico- mais se repitam os erros decorrentes do
funcional das “unidades sanitárias”; elementos que constituem desconhecimento do seu funcionamento e que [1] O artigo “Racionalização da Unidade de Enfermagem” foi publicado em
o “hospital geral”; terminologias utilizadas no planejamento de não sejam mais mutilados por improvisações, três partes, nos volumes 14, 16 e 24 da revista Hospital de Hoje, entre os
hospitais; e legislação e as principais leis que regiam a construção empirismo, tradições, fantasias e caprichos e anos de 1959 e 1965.
de hospitais na época. por desconhecimento ou não aplicação dos
[2] Palestra intitulada “Unidade de Centro Cirúrgico e Centro de Material
contínuos progressos médicos, técnicos e Esterilizado” redigida e publicada no livro Planejamento de Hospitais (1954).
Uma curiosidade é que o livro não possui ficha catalográfica, administrativos.” [...] (Karman, 1972, p. 6).
nem inscrição no International Standard Book Number – ISBN. [3] O artigo “Planejamento do Conforto Acústico no Hospital” foi publicado
A publicação é atribuída à União Social Camiliana, entidade no volume 06 da revista Hospital de Hoje, no ano de 1957.
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A partir daí, Karman defende que “os bons hospitais se Adiante, faremos uma breve descrição dos critérios.
caracterizam por um certo número de constantes”, formados por Primeiro, uma apresentação sucinta do segundo, terceiro, quarto
“conceitos e requisitos básicos que permitem julgar e avaliar a e quinto capítulos, que tratam dos diferentes agrupamentos
qualidade” dos projetos. Nessa parte do texto, frisa: funcionais. Depois, as descrições seguirão capítulo por capítulo,
do sexto ao décimo.
“[...] Dentre esses requisitos destacam-se os
seguintes: flexibilidade, por etapas, zoneamentos 4.1.1. Do segundo ao quinto capítulo: agrupamentos
dos setores principais, circulação disciplinada, funcionais
distribuição adequada dos serviços, interligação
funcional dos departamentos afins, separação O segundo, terceiro, quarto e quinto capítulos tratam
dos tráfegos público e interno, compacticidade de quatro dos cinco diferentes agrupamentos funcionais
do plano, manutenção econômica, assepsia, destacados por Karman. São eles: “agrupamento administrativo”,
racionalização da distribuição interna,
“agrupamento de diagnóstico, terapia e pesquisa”, “agrupamento
funcionalidade das articulações, utilização de consultas e atendimento” e “agrupamento industrial”. O quinto,
e distribuição adequadas do pessoal e do chamado por ele de “agrupamento de internação”, não tem um
equipamento, etc.” (Karman, 1972, p. 8). capítulo dedicado como os demais, porém podemos considerar
que esse agrupamento é discutido no oitavo capítulo, no qual o
Alguns desses requisitos podem ser considerados autor aborda a “racionalização da unidade de enfermagem”.
redundantes, ou partes do mesmo princípio, como “circulação
disciplinada” e “separação dos tráfegos público e interno” O agrupamento administrativo trata dos serviços de gestão
ou “distribuição adequada dos serviços” e “racionalização e de ensino. Entre esses serviços, estão os de direção, admissão
da distribuição interna”. Nesse ponto, Karman não faz uma de pacientes, serviço social, relações públicas, contabilidade,
separação rigorosa dos requisitos por temas, mas ensaia essa secretariado, arquivo médico, biblioteca, salas de aula, auditório,
organização nos capítulos seguintes. Alguns requisitos são etc.
citados em mais de um capítulo, apontando que certas ideias
podem corresponder a mais de um tema. O agrupamento de diagnóstico, terapia e pesquisa
trata dos serviços de exames e de procedimentos médico-
Quanto aos conceitos, Karman descreve que: hospitalares. Algumas das unidades que fazem parte desse
agrupamento são: cirurgia, obstetrícia, radiologia, radioterapia,
“[...] destacam-se os de: compactação, medicina nuclear, análises laboratoriais, fisioterapia, terapia
centralização, humanização, relação funcional ocupacional, necropsia, farmácia, etc.
de nível, assistência continuada, prioridade de
percurso, etc.” (Karman, 1972, p. 8). O agrupamento de consultas e atendimento engloba
as unidades ambulatoriais e de pronto atendimento, como os
Esses conceitos podem ser entendidos como uma síntese ambulatórios e os prontos-socorros.
das observações gerais de Karman em relação ao planejamento
físico-funcional dos “bons hospitais”, sendo possível aplicá-los O agrupamento industrial trata dos serviços de apoio
em qualquer projeto. Eles serão descritos, principalmente, entre técnico e logístico. Algumas das unidades que fazem parte desse
o sexto e o décimo capítulos. agrupamento são: cozinha, lavanderia, almoxarifado, vestiários,
manutenção, resíduos, áreas de abastecimento, etc.
Para facilitar a interpretação das ideias de Karman e,
consequentemente, colaborar, de forma mais objetiva, com o O agrupamento de internação, mesmo não especificado
apontamento das ideias mais relevantes para a definição das no livro, pode ser entendido como as unidades de hospitalização,
categorias de análise gráfica, os “requisitos” e os “conceitos” sendo: internações clínicas, cirúrgicas, obstétricas e pediátricas;
descritos ao longo do livro serão tratados, a partir de agora, unidades de terapia intensiva e semi-intensiva.
como critérios de projeto.
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Importante destacar que Karman não trata, nesse e em só do conjunto como um todo, mas também das unidades, de
nenhum outro capítulo, sobre as relações entre os ambientes forma independente.
de cada unidade, tampouco das relações entre as unidades.
Alguns exemplos são citados no livro, quase sempre junto da Sobre as expansões de edifícios horizontais e verticais,
apresentação de um critério específico de projeto. No entanto, Karman afirma:
fica claro que o objetivo não foi definir o correto posicionamento
de cada unidade, nem descrever as relações interfuncionais, “As construções térreas ou de pouca altura são
apenas apresentar o perfil funcional de cada agrupamento. as que ensejam a mais fácil expansão, bastando
Karman se preocupou em transferir as ideias que colaborariam para tanto a justaposição de sucessivos
para as definições das relações operacionais, possivelmente módulos, segundo as necessidades e etapas
pelo fato de que elas podem acontecer de formas diferentes preestabelecidas. Já a ampliação de prédios
em cada instituição (a depender do perfil de atendimento, dos multipavimentos obriga a expansão igual ou
serviços médicos prestados, do tamanho do edifício, etc.). simultânea de todos os andares, mesmo dos
que não a requerem. A ampliação é idealmente
4.1.2. Sexto capítulo: “Planejamento em função da conseguida quando cada departamento ocupa
flexibilidade” um setor individualizado; em zona”. (Karman,
1972, p. 38-39).
Nesse capítulo, Karman trata dos critérios de projeto
que tornam os edifícios fisicamente mais flexíveis; ou seja, que 4.1.2.2. Desenvolvimento horizontal
colaboram para que as reformas, as ampliações e as atualizações
tecnológicas aconteçam com maior facilidade. Logo no primeiro Esse critério trata das vantagens operacionais dos hospitais
parágrafo, ele afirma que “para que os hospitais se mantenham concebidos em poucos pavimentos. O “desenvolvimento
eficientes e atualizados através dos anos, devem atentar a horizontal” atende a uma série de temas, não só a flexibilidade
múltiplas formas de flexibilidade”. Para tratar do planejamento física das construções. Durante a explicação desse critério,
em função da flexibilidade, Karman destaca quatro critérios: Karman cita que a altura dos edifícios é consequência direta das
“expansão e zoneamento”, “desenvolvimento horizontal”, “relações funcionais de nível” (critério que será discutido no oitavo
“flexibilidade de circulação” e “flexibilidade de estrutura”. A capítulo). Outro fator que influencia na escolha de um partido
seguir trataremos de cada um deles. arquitetônico horizontal ou vertical é a eficiência das unidades
de enfermagem, pois o autor considera que cada unidade de
4.1.2.1. Expansão e zoneamento internação deve ter entre 20 e 35 leitos subordinados a um posto
de enfermagem (outro critério que será apresentado no oitavo
O primeiro critério citado nesse capítulo se refere à capítulo) e que um hospital em altura só se torna economicamente
necessidade de se prever e facilitar futuras expansões dos justificável se cada andar destinado às internações tiver duas ou
edifícios, para “atender a evolução da medicina e da tecnologia”. mais unidades, ou seja, 40 a 70 leitos por andar.

As expansões podem ser internas e/ou externas, ou seja, 4.1.2.3. Flexibilidade de circulação
com ou sem acréscimo de área. Podem acontecer em altura,
com a adição de mais pavimentos, ou em extensão, com a Esse critério discute como a organização das
construção de novos blocos/edifícios. circulações pode tornar o espaço mais flexível em relação ao
seu funcionamento. Karman alega que “o bom planejamento
Segundo Karman, as expansões internas obrigam, em está estritamente vinculado à boa solução de circulação”. Na
muitos casos, que o crescimento de um serviço se faça em sequência, faz algumas observações acerca do posicionamento
detrimento de outros. Quando o crescimento de uma unidade dos elevadores e de recursos para tornar seus usos mais flexíveis,
obriga o reposicionamento de outra, que está em pleno como a criação de mais de um núcleo de circulação vertical e
funcionamento, pode acarretar aos hospitais a “separação de a utilização de dispositivos do tipo “viagem-direta” (quando se
setores bem localizados ou naturalmente interligados”. Sendo concede preferência de chamada para alguns passageiros).
assim, o projeto deve prever a possibilidade de expansão não Ainda sobre as circulações verticais, Karman denota que há
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muitas vantagens na utilização de rampas, pois os elevadores, O “forro removível” consiste na substituição de forros
entre outros problemas, possuem instalação e manutenção monolíticos por placas removíveis, permitindo, assim, amplo
dispendiosa, interrompem a rotina hospitalar quando não estão acesso ao espaço entreforro e facilitando a manutenção das
em operação e causam, muitas vezes, esperas demoradas antes instalações aparentes.
do embarque.
As “paredes removíveis” seguem um princípio similar ao
4.1.2.4. Flexibilidade de estrutura do “forro removível”, pois propiciam mudanças de leiaute mais
rápidas e menos onerosas.
O último critério, e talvez o mais relevante desse capítulo,
trata de parâmetros que tornam os edifícios mais flexíveis, A “cobertura extensível” é a expansão dos edifícios por
tanto para a facilitação da manutenção predial quanto para meio de lajes pré-moldadas em concreto armado. Podemos
modificações físicas dos espaços internos. Karman afirma que “a entender esse aspecto como uma estratégia projetual específica,
flexibilidade de um hospital muito depende da sua estrutura; esta pois Karman associa a “cobertura extensível” com o projeto para
deve ser projetada de forma a não restringir ou tolhê-la”. Ou seja, o Hospital da Guarnição do Galeão que, de fato, foi concebido
a estrutura e os elementos que compõem a construção devem para ser expandido com o uso desse tipo de tecnologia construtiva
ser pensados de tal forma que facilite futuras modificações (projeto que será analisado no quinto capítulo).
espaciais, obviamente sem comprometer a segurança física e
biológica dos usuários. 4.1.3. Sétimo capítulo: “Planejamento em função da eficiência
e racionalização”
Karman elege cinco aspectos que colaboram com a
flexibilidade estrutural: “vigas excêntricas”, “espaço interandares”, Nesse capítulo, Karman trata de critérios de projetos que
“forro removível”, “paredes removíveis” e “cobertura extensível”. colaboram com a eficiência e a racionalização dos processos
operacionais dos edifícios hospitalares. Em linhas gerais, esse
As “vigas excêntricas” ocorrem com o deslocamento capítulo é composto por três critérios: “concentração”, “funções
das vigas em relação aos eixos das paredes, permitindo a livre da unidade intermediária de serviços” e “centralização”.
descida das instalações presentes e futuras. Esse artifício evita,
por exemplo, perfurações dos elementos estruturais e o desvio 4.1.3.1. Concentração
das tubulações junto às lajes.
A “concentração” propõe que, sempre que possível, duas
Os “espaços interandares” são compostos por “sub- ou mais atividades sejam concentradas em um único local. Um
pavimentos” livres, com aproximadamente um metro de altura, posto de enfermagem que cuide de uma sala de espera, uma
localizados entre as lajes de cobertura dos pavimentos que recepção que sirva para mais de um setor ou atividade, uma
ficam abaixo e entre as lajes de piso dos pavimentos que ficam unidade funcional que concentre atividades afins que antes
acima destes espaços. De acordo com Karman, esses espaços ficavam espalhadas em pequenos ambientes pelo hospital...
foram pensados para substituírem os “caixões perdidos”, os Karman afirma que esse critério “concorre para a racionalização
“forros falsos” e os “entrepisos entulhados”, sistemas que eram pela melhor utilização das instalações, dos espaços e das
comumente utilizados para a distribuição das canalizações. O atividades”.
“sub-pavimento”, ao atingir as lajes rebaixadas dos corredores
(critério que será descrito mais adiante), passaria a ter dois metros Karman oferece alguns exemplos, que ajudam na
de altura, podendo ser utilizado como uma unidade intermediária compreensão do critério. Um deles é que pode-se concentrar
de serviços. Os espaços “interandares” possibilitam, segundo o em um mesmo ambiente as observações de um pronto-
autor, ventilação e a iluminação naturais cruzadas, isolamento socorro de pequeno movimento, a recuperação pós-obstétrica,
acústico entre os pavimentos, ventilação dos ambientes a recuperação pós-operatória e os cuidados intensivos,
localizados no interior dos andares e execução livre, aparente e configurando um “Centro de Terapia Intensiva”, estratégia que
acessível das instalações, facilitando e reduzindo os custos de justifica a permanência integral de uma equipe de enfermagem.
manutenção. Vale destacar aqui que as Unidades de Terapia Intensiva como as
que conhecemos hoje ainda não eram habituais nesse período.
67

4.1.3.2. Funções da unidade intermediária de serviços “compactação”, “densidade linear”, “rendimento de circulação”,
“postos descentralizados”, “equipe de enfermagem”, “relação
Introduzida no capítulo anterior, no qual são descritos os funcional de nível”, “desenvolvimento horizontal”, “berçário
“espaços interandares”, a “unidade intermediária de serviços” privativo”, “bem-estar mental” e “ventilação e iluminação”. Cada
fica localizada no espaço entre dois pavimentos úteis. Essa um deles será abordado a seguir.
unidade pode colaborar com a manutenção das instalações, pois
oferecem fácil acesso aos “sub-pavimentos”, podem se tornar 4.1.4.1. Compactação
galerias de observação para as salas de cirurgias e de parto,
servem de copa de distribuição para as unidades de internação, A “compactação” enseja atingir, numa unidade de
podem conter estações satélites de esterilização de utensílios, internação, o maior número de leitos com o menor percurso das
podem abrigar os lactários das maternidades, etc. equipes de enfermagem.

4.1.3.3. Centralização Karman explica que, para se atingir a compactação


ideal de uma unidade de internação, deve-se destinar “toda a
A “centralização” propõe que as unidades com atividades extensão das fachadas aos quartos de pacientes”, ou seja, os
similares devam ficar agrupadas, formando macrossetores quartos devem ficar posicionados em ambas as extremidades
funcionais, tornando, assim, a rotina operacional dos hospitais dos pavimentos. Os sanitários e os ambientes de apoio e serviços
mais eficiente. também devem ser posicionados de forma específica de modo a
não alongar os percursos, ficando justapostos aos corredores e
De acordo com Karman, esse critério objetiva a economia não de permeio entre dois quartos. Esses apontamentos sugerem
de tempo, energia e material. Um dos exemplos é da concentração claramente que a adoção do modelo “duplamente carregado” é
das atividades de apoio técnico-logístico; sobre isso ele afirma: a melhor solução para o projeto das internações.

“[...] nos hospitais modernos, dentro do conceito 4.1.4.2. Densidade linear


de industrialização, há uma definida tendência
em prol da centralização de serviços, tais como: A “densidade linear“ é a quantidade de leitos de uma
de Laboratório, Cirurgia, Farmácia, Lavanderia, unidade de internação em relação ao comprimento de seu
Costura Industrial, Lactário, Tipografia, Oficinas,corredor. Karman acreditava que o “rendimento da unidade”
Cozinha, Lavagem de Pratos, etc.”. (Karman, estava diretamente ligado aos percursos dos funcionários em
1972, p. 60). relação ao número de leitos. Ou seja, quanto maior o número
de leitos e menores os percursos, maior seria a eficiência do
Sendo assim, a “centralização” trata, basicamente, atendimento hospitalar.
das vantagens do agrupamento das unidades funcionais que
possuem afinidades operacionais. Karman afirma que “quanto maior a densidade linear,
maior será o rendimento da unidade e menores as caminhadas”.
4.1.4. Oitavo capítulo: “Racionalização da unidade de Isso o leva a concluir que “a maior ou menor eficiência da
enfermagem” unidade de enfermagem depende da maior ou menor ocupação
de ambos os lados dos corredores por quartos de pacientes”.
Esse capítulo apresenta 10 critérios de projeto para o Sobre a questão de a ocupação de ambos os lados do corredor
planejamento de unidades de enfermagem mais eficientes e aumentar a “densidade linear” das unidades de internação,
confortáveis. Esse é o maior e mais importante capítulo do livro, Karman aponta que:
pois é quando Karman apresenta suas principais ideias em relação
à racionalização dos percursos dos usuários (principalmente da “A ocupação de ambas as fachadas da unidade
enfermagem) e do conforto físico e psicológico dos pacientes. de hospitalização só com quartos e enfermarias
Mesmo que focados no planejamento das internações, alguns dos e a localização dos serviços no corredor
critérios desse capítulo se estendem ao planejamento hospitalar permitem densidades lineares da ordem de 1,10
como um todo. Os critérios abordados nesse capítulo são:
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leitos por metro linear (Hospital Santa Mônica de e da produtividade dos serviços. Segundo Karman: “cada passo
Belo Horizonte, Hospital Albert Einstein de São pesa e custa”.
Paulo), esta densidade é significativa, quando
comparada à densidade de 0,47 leitos por metro 4.1.4.4. Postos descentralizados
das Unidades do Serviço Americano de Saúde
Pública; à de 0,63 da Sadvikens Hospital da Karman defende o projeto de postos descentralizados,
Suécia, com três leitos por quarto e à de 0,47 do compostos por balcões dispostos ao longo dos corredores, que
St. Lô Hospital da França, com seu sistema de permitem que cada equipe de enfermagem atenda até oito leitos.
corredor central”. (Karman, 1972, p. 64). Esse critério foi intitulado por Karman anteriormente, em aulas e
palestras, como “postinhos” [4].
Esses apontamentos, assim como no critério de
“compactação”, induzem a adoção do modelo “duplamente 4.1.4.5. Equipe de enfermagem
carregado”.
Para viabilizar a descentralização dos postos de
4.1.4.3. Rendimento de circulação enfermagem, Karman sugere que cada equipe tenha um formato
específico, variando de duas a quatro pessoas. Esse não é
O “rendimento de circulação” trata, de forma superficial, um critério de projeto, e sim uma diretriz administrativa para a
das vantagens da redução dos percursos nos hospitais. Esse implantação do critério anterior.
critério não se aplica somente às unidades de internação, mas
também ao planejamento físico-funcional hospitalar de forma 4.1.4.6. Relação funcional de nível
geral. Karman afirma que “a eficiência de um hospital está
diretamente ligada ao rendimento da sua circulação” e que esse A “relação funcional de nível”, assim como o “rendimento
rendimento depende de três fatores distintos: da extensão das de circulação”, é um critério que não se aplica somente às
linhas de circulação, dos tipos e das frequências dos percursos. unidades de internação. Karman defende que algumas unidades
funcionais devam ser, sempre que possível, posicionadas no
Essa é uma ideia complexa, que não foi devidamente mesmo pavimento. Essa paridade de nível entre certos serviços
explicada nessa ou em outras publicações. Karman tinha torna os edifícios hospitalares mais eficientes.
particular interesse em compreender os diferentes tipos de
percursos em um hospital, mas não chegou a publicar um texto São muitas as relações entre as unidades funcionais de um
que apontasse como tratar do assunto de forma mais prática e hospital. Algumas dependem mais de outras para funcionarem
objetiva. Sempre que possível, para se fazer entender, ilustrou com mais eficiência, como é o caso do pronto socorro em relação
suas ideias acerca dos percursos com exemplos e expressões à unidade de diagnóstico por imagem (a aproximação desses
concisas. dois setores aumenta a velocidade dos atendimentos urgentes
e emergentes) ou do berçário em relação à maternidade (os
No livro em questão, Karman defende que a “redução recém-nascidos devem ficar próximos das puérperas). Essas
no percurso das enfermeiras redunda em maior rendimento relações variam de instituição para instituição, obrigando que
e eficiência da unidade, mesmo sendo às custas de se analise criteriosamente, durante a criação do programa
percursos maiores para atendentes e serventes”, apontando a físico-funcional, quais unidades devem estar no mesmo piso.
descentralização dos postos de enfermagem como uma das Sobre isso, Karman afirma que “inúmeras são as interligações
soluções para reduzir as distâncias e aumentar a eficiência das que exigem continuidade de piso; a estrita observância dessas
unidades. relações funcionais de nível é que determina o desenvolvimento
horizontal dos hospitais”.
Ao lermos a explicação desse critério, assim como outras
citações acerca desse assunto ao longo do livro, podemos Esse critério pode ser considerado uma das principais
[4] O termo “postinho” consta em manuscritos e diapositivos de Karman, concluir que a diminuição dos percursos nos edifícios hospitalares justificativas para o projeto de hospitais em poucos pavimentos.
o que leva a crer que ele utilizava o termo para nomear sua solução mais colabora, e muito, para o aumento da qualidade do atendimento
radical de descentralização dos postos de enfermagem.
69

4.1.4.7. Desenvolvimento horizontal A primeira delas trata dos ruídos nos ambientes
hospitalares. Karman afirma que deve-se prever som ambiente
Nesse critério, Karman descreve algumas questões de até 32 decibéis para os quartos e 42 decibéis para as áreas
acerca do posicionamento das enfermarias e de suas relações de serviços, cuidar para que os corredores não se tornem
com outras unidades do hospital. propagadores de som, sempre que possível utilizar os sanitários
entre os quartos e os corredores como barreiras acústicas,
Quando os quartos são adjacentes, aumentam a utilizar revestimentos que absorvam os sons e procurar isolar
“densidade linear” da unidade; quando as unidades são os vestíbulos das escadas e dos elevadores em relação aos
sobrepostas, criando “pavimentos tipo”, a infraestrutura dos corredores das internações.
edifícios se torna mais flexível e econômica.
A segunda trata das vantagens da descentralização
Quanto à posição das internações em relação as outras dos postos de enfermagem, pois possibilita mais rapidez no
unidades, Karman afirma que: atendimento, além de colaborar para que o mesmo grupo de
cuidadores sempre atenda os mesmos pacientes.
“Devendo, ainda, pelo princípio de relação
funcional de nível, o bloco cirúrgico ficar em A terceira trata da limitação de um ou dois leitos por quarto.
nível com a clínica cirúrgica, depreende-se a Karman afirma que, quanto maior for a privacidade do paciente,
necessidade de, praticamente, todo o hospital se mais confortável ele se sentirá.
desenvolver horizontalmente, pois, conjuntos tais
como o Centro de Terapia Intensiva, Central de A quarta trata de elementos que colaboram com a
Esterilização, etc., guardam estreita relação com deambulação precoce dos pacientes, como peitoris envidraçados
aqueles blocos e a eles devem ficar contíguos: para permitir melhor apreciação da paisagem, sanitários
(Hospital Maria Auxiliadora de Goiânia e Hospital privativos que encorajem o uso sem auxílio da enfermagem e
São Domingos de Uberaba)”. (Karman, 1972, p. salas de estar e refeição nos andares que incentivem o convívio.
68).
A quinta, já abordada anteriormente, propõe o incentivo do
Esse é mais um critério que concorre para o projeto de “rooming-in”, prática médica que aproxima os recém-nascidos
hospitais em poucos pavimentos. das mães, reforçando a importância do projeto de berçários
privativos.
4.1.4.8. Berçário privativo
A sexta incentiva o contato entre pacientes, acompanhantes
Esse critério defende que os berçários devem ser e visitantes, tanto em unidades críticas (centro obstétrico, centro
descentralizados e associados aos quartos da maternidade, de cirúrgico e unidade de terapia intensiva) quanto em unidades
modo a aproximar os recém-nascidos das mães. Hoje esse é um semicríticas (ambulatórios e internações).
procedimento médico muito utilizado, porém de forma diferente
ao preconizado no texto. A descentralização foi uma solução 4.1.4.10. Ventilação e iluminação
inovadora para a promoção da prática médica conhecida como
“rooming-in” em meados do século XX. Com o tempo deixou de Nesse critério, Karman indica o rebaixamento das lajes
ser praticada, pois os bebês saudáveis passaram a ficar dentro dos corredores para possibilitar a iluminação e a ventilação
do próprio quarto das mães, pouco tempo depois do nascimento. natural cruzadas nos últimos pavimentos dos edifícios e o uso
dos espaços intermediários para a ventilação natural cruzada
4.1.4.9. Bem-estar mental nos demais andares.

O “bem-estar mental” aborda seis características que


colaboram com o aumento do conforto psicológico dos usuários,
principalmente dos pacientes, nas unidades de internação.
70

4.1.5. Nono capítulo: “Planejamento em função da assepsia” Para a definição das categorias de análises que permitam
identificar as principais estratégias projetuais de Karman e,
Esse capítulo apresenta considerações acerca do risco de posteriormente, uma comparação na busca de apontar como
infecção hospitalar em duas unidades funcionais: na lavanderia se transformaram ao longo do tempo, uma reorganização
e no centro cirúrgico e obstétrico. dos principais critérios de projeto se faz necessária. Os cinco
primeiros capítulos tratam do agrupamento funcional, o sexto
Na lavanderia, Karman descreve ligeiramente o processo trata da flexibilidade, o sétimo e o oitavo tratam da eficiência e
de funcionamento do setor, faz considerações sobre as áreas racionalização, o nono trata da assepsia, e o décimo trata do
de separação das roupas sujas, da utilização das máquinas de conforto térmico. Sendo assim, podemos estabelecer cinco
porta dupla (hoje conhecidas como lavadoras de barreiras), do eixos conceituais para reordenar os principais critérios, sendo:
despejo das águas das máquinas de lavar, da exaustão do ar e agrupamento funcional, flexibilidade, eficiência/racionalização,
da utilização de tubulação de descida de sacos. segurança biológica e conforto ambiental.

No centro cirúrgico e obstétrico, o autor trata de algumas A seguir discutiremos cada eixo conceitual e os critérios
peculiaridades da unidade e do planejamento dos vestiários de de projeto aos quais se relacionam. Cada eixo apontará o que
acesso, dos armários de limpeza, das relações com as centrais devemos investigar nos projetos. Consequentemente, orientarão
de esterilização, dos berçários normais e de enfermagem. a definição das categorias de projetos.

4.1.6. Décimo capítulo: “Planejamento em função do conforto 4.2.1. Eixo um: agrupamento funcional
ambiental”
O primeiro trecho do livro descreve os agrupamentos
O décimo e último capítulo que apresenta critérios de funcionais. Podemos dizer que um dos critérios para se organizar
projeto trata, principalmente, de diretrizes que colaboram para o corretamente as unidades e os serviços hospitalares é entender
conforto higrotérmico dos ambientes hospitalares. suas afinidades operacionais, administrativas e técnicas.

Para discutir sobre o conforto ambiental, Karman retoma Em geral, as unidades que fazem parte do mesmo
outros critérios apresentados anteriormente, entre eles o de agrupamento funcional estão contíguas, ou próximas. Porém,
iluminação e ventilação naturais cruzadas por meio dos rebaixos em certos casos, unidades e ambientes de agrupamentos
de trechos das lajes de cobertura dos andares e do uso dos diferentes precisam ser aproximadas, pois a interdependência
pavimentos intermediários. Ao tratar desses critérios, o autor de seus serviços deve ser privilegiada. Karman afirma, quando
defende a iluminação e a ventilação natural em detrimento do trata do critério de “concentração”, que a “utilização racional
resfriamento do ar por meio mecânico. de instalações, de espaços e de pessoal gera a necessidade
de certa concentração de uso ou produção”. Sendo assim, o
Esse capítulo, que não aparece no índice, nos mostra, agrupamento funcional não obrigatoriamente determina quais
assim como outros trechos do livro, que alguns critérios se unidades e serviços devem estar próximos.
relacionam com mais de um tema.
Como o autor não define em seu texto quais as diretrizes
4.2. Considerações sobre os critérios de projetos e a definição para estabelecer as relações de proximidade das unidades
de cinco eixos de investigação funcionais, identificar os agrupamentos funcionais e a posição
de cada unidade funcional em seus projetos é o primeiro passo
São muitos os critérios de projetos delineados no livro. para observar quais as proximidades e as possíveis relações
Karman trata da classificação dos agrupamentos funcionais, programáticas.
de questões acerca da organização dos serviços hospitalares
e da apresentação de soluções que julgava interessantes para
otimizar a rotina operacional das instituições.
71

4.2.2. Eixo dois: flexibilidade 4.2.3. Eixo três: eficiência / racionalização

Karman julgava que os edifícios hospitalares careceriam, Os critérios relacionados à eficiência e racionalização da
com o tempo, de transformações infraestruturais e tecnológicas rotina operacional dos hospitais são os mais subjetivos e difíceis
para manterem bons padrões de atendimento médico. Portanto, de se compreender. Karman elenca uma série de ideias sobre o
defendia que os projetos deveriam prever e facilitar tais assunto, no sétimo e oitavo capítulos. Entre os principais critérios,
transformações. podemos destacar os de “concentração”, “centralização”,
“compactação”, “densidade linear”, “rendimento de circulação”,
A ideia de flexibilidade se materializa de várias formas “relação funcional de nível” e “desenvolvimento horizontal”.
e em diferentes escalas. No livro, estão indicadas a previsão Todos esses critérios se relacionam, direta ou indiretamente,
de novas construções, a utilização de elementos construtivos com o planejamento de hospitais mais eficientes, seguros e
removíveis e a utilização de soluções específicas no projeto de confortáveis.
espaços e estruturas.
Os critérios de “concentração”, “centralização” e
Um exemplo é o planejamento das expansões já durante “compactação” correspondem ao planejamento dos processos
o primeiro projeto. Em 1980, Karman desenvolveu um estudo e dos fluxos operacionais. Sendo assim, a apreensão desses
para uma rede de unidades sanitárias em Angola. As unidades critérios pode ser feita pela investigação dos leiautes. Como não
iniciariam o funcionamento como pequenos centros de saúde, é o objetivo dessa pesquisa analisar a configuração espacial de
mas se transformariam, com o tempo, em hospitais de até 100 todas as unidades funcionais de cada hospital, a aplicação desses
leitos. As expansões se dariam de forma coordenada, com a conceitos pode ser observada pela investigação da organização
implantação de novos serviços sem afetar os que já estivessem dos agrupamentos funcionais e do leiaute de duas importantes
estabelecidos. Esse projeto foi publicado no mesmo ano em que unidades hospitalares: as internações e os centros cirúrgicos. A
foi concebido, na revista Projeto [5]. Nessa publicação, Karman escolha dessas duas unidades se dá pela atenção que Karman
intitulou o planejamento das expansões coordenadas de “Plano deu a elas em duas de suas principais publicações na década de
Diretor”. Atualmente, os Planos Diretores Hospitalares são uma 1950: a confêrencia realizada durante o I Curso de Planejamento
importante ferramenta de planejamento hospitalar, como pode de Hospitais e publicada no livro Planejamento de Hospitais, no
ser apurado, por exemplo, no livro Plano diretor físico hospitalar: qual discorre minuciosamente sobre o funcionamento e o projeto
uma abordagem metodológica frente a problemas complexos, de centros cirúrgicos e das centrais de esterilização; e o artigo
escrito por Ana Carolina Potier Mendes e publicado em 2018. sobre a racionalização das unidades de enfermagem, publicado
em alguns volumes da revista Hospital de Hoje.
Outro critério muito citado no livro é o uso dos espaços
técnicos. Karman defendeu o uso dessa solução ao longo de Os critérios de “densidade linear” e de “rendimento
toda a sua carreira. Em 2004, no primeiro seminário do Grupo de circulação” estão diretamente ligados à organização das
de Saúde Pública da União Internacional dos Arquitetos (UIA- circulações e à aproximação dos serviços afins. Como dito
PHG) no Brasil, Karman apresentou, em sua palestra, o conceito anteriormente, Karman teve especial interesse acerca dos
de “espaços técnicos integrados” [6], que reunia várias tipos de percursos existentes em um edifício hospitalar, porém
soluções para facilitar a manutenção predial e a substituição não chegou a publicar um texto que explorasse esse assunto
das instalações ao longo do tempo. Os espaços técnicos foram especificamente. Podemos apurar esse interesse ao observarmos
pensados, principalmente, para conferir mais flexibilidade que o autor aborda essa questão em diferentes capítulos, como
infraestrutural aos edifícios. quando escreve sobre a “flexibilidade das circulações” no sexto
capítulo e sobre as “linhas de circulações externas” e “linhas de
Sendo assim, identificar as estratégias relacionadas à circulações internas” no primeiro capítulo. Esse interesse pela
flexibilidade física dos edifícios é de suma importância para se classificação e ordenação dos percursos, cujo objetivo é tornar
compreender a obra projetada de Karman. as relações funcionais mais eficientes, nos mostra que, para [5] Estudo publicado na revista Projeto, nº 24, outtubro / novembro de 1980.
compreender a organização funcional dos edifícios hospitalares [6] Jarbas Karman foi o resposável por organizar o seminário do UIA Public
projetados por Karman, devemos investigar as características Health Group em São Paulo, no ano de 2004. Os encontros ocorreram no
dos acessos e das circulações. auditório do Hospital Israelita Albert Einstein e durante o a Feira Hospitalar.
72

Os critérios de “relação funcional de nível” e de térmico”. O primeiro trata das questões relacionadas com
“desenvolvimento horizontal” estão relacionados diretamente o conforto psicológico dos usuários em relação ao espaço
com a contiguidade de níveis das unidades funcionais e, construído, principalmente em relação aos pacientes. O segundo
consequentemente, com o número de pavimentos dos edifícios. se relaciona com o conforto higrotérmico dos ambientes.
Ao apresentar esses critérios, Karman sempre faz uma defesa
dos hospitais projetados em poucos pavimentos. Dessa forma, Karman elenca, entre outros critérios de projeto relativos
observar o número de pavimentos dos edifícios também ao conforto psicológico, o incentivo da deambulação precoce
se faz necessário para compreendermos como os projetos (por meio da relação com os meios externos) e a promoção
correspondem às ideias aqui discutidas. do convívio entre os pacientes, acompanhantes e visitantes
(por meio de espaços coletivos). Ao se analisar os leiautes das
4.2.4. Eixo quatro: segurança biológica plantas, é possível identificar a presença dos espaços de convívio
e a oferta de jardins internos e externos, questões essas que
Não há, propriamente, critérios definidos acerca da contribuem consideravelmente para a diminuição do estresse e
segurança biológica. No livro, Karman faz apontamentos gerais da ansiedade dos pacientes e funcionários.
sobre as lavanderias e os centros cirúrgicos, pois os fluxos de
pessoas e material devem ter atenção especial para que se evite Sobre os critérios de conforto térmico, Karman aponta,
contaminações e infecções hospitalares. principalmente, a oferta de iluminação e ventilação naturais.
Em diversos momentos, comenta sobre o rebaixamento das
As preocupações acerca dos riscos de contaminação lajes para possibilitar a instalação de janelas altas para iluminar
mudaram com o passar do tempo. Consequentemente, os e ventilar os ambientes localizados no interior dos pavimentos.
projetos apresentaram transformações condizentes. Flávio Esse critério pode ser investigado por meio das plantas baixas
Bicalho publicou, em 2010, um livro intitulado A Arquitetura e dos cortes, de forma a compreender suas dimensões e seus
e a Engenharia no combate às infecções, no qual apresenta aspectos físicos.
princípios e soluções arquitetônicas que colaboram para a
redução das infecções hospitalares. Entre as soluções de 4.3. Categorias de análise
projeto, Bicalho discorre sobre os vestiários de barreira (que
atualmente são requisitos obrigatórios por norma para centros Após as considerações sobre as ideias apresentadas
cirúrgicos e salas contaminadas) e as unidades que precisam por Karman no livro Iniciação à Arquitetura Hospitalar e a
ter separação das áreas contaminadas e limpas, com utilização determinação de cinco eixos conceituais para interpretar
de máquinas de barreira, como as lavanderias e as centrais seus critérios de projetos, as análises gráficas respeitaram as
de material esterilizado. Ambas as unidades são tratadas por seguintes categorias:
Karman no livro, porém de forma bem menos minuciosa do que
Bicalho, fato que mostra como essa questão ganhou importância 4.3.1. Primeira categoria: Agrupamento Funcional
com o passar do tempo.
Considerando que três dos projetos selecionados foram
Como forma de aproximação das questões relacionadas desenvolvidos depois de 1974, foram adotados, em vez dos
à segurança biológica, pode-se analisar os fluxos de pessoas e cinco agrupamentos definidos por Karman, os oito preconizados
de materiais nos centros cirúrgicos e nas unidades de tratamento pela RDC-50 [7]. A resolução da Agência Nacional de Vigilância
intensivo (UTI) projetados por Karman, por se tratarem de Sanitária (ANVISA) estabelece as seguintes atividades:
unidades críticas, cujo risco de contaminação aos pacientes é “prestação de atendimento eletivo e de promoção e assistência
alto. à saúde em regime ambulatorial e de hospital-dia”, “prestação
de atendimento imediato de assistência à saúde”, “prestação
[7] A Resolução de Diretoria Colegiada nº 50, publicada em de 21 de 4.2.5. Eixo cinco: conforto ambiental de atendimento à saúde em regime de internação”, “prestação
fevereiro de 2002 foi criada para atualizar a normatização em relação ao de atendimento de apoio ao diagnóstico e terapia”, “prestação
projeto e a construção de estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS). A O conforto ambiental, segundo as ideias de Karman, de serviços de apoio técnico”, “formação e desenvolvimento de
norma encontra-se em vigência no atual momento (março de 2020). possui dois segmentos: o “bem-estar mental” e o “conforto recursos humanos e de pesquisa”, “prestação de serviços de
73

apoio de gestão e execução administrativa” e “prestação de • Fazem parte da “prestação de serviços de apoio logístico”
serviços de apoio logístico” [8]. as seguintes unidades: lavanderia, almoxarifado,
manutenção hospitalar, engenharia clínica, morgue, áreas
Nos hospitais gerais e especializados: de conforto e higiene dos usuários (vestiários, áreas de
troca, guarda-volumes, etc.), segurança predial e áreas
• Fazem parte da “prestação de atendimento eletivo e de para os equipamentos e medidores de abastecimento,
promoção e assistência à saúde em regime ambulatorial resíduos e despejo (ou tratamento) de efluentes.
e de hospital-dia” as seguintes unidades: ambulatório e
hospital-dia (unidade de procedimentos cirúrgicos de baixa As análises referentes a essa categoria foram realizadas
complexidade que não necessitam de internação superior com o uso de diferentes cores sobre as plantas redesenhadas
a 24 horas); (ver imagem 4.2).

• Faz parte da “prestação de atendimento imediato de 4.3.2. Segunda categoria: Flexibilidade Física
assistência à saúde” a unidade de pronto atendimento a
urgências e emergências (pronto-socorro); Foram analisados dois aspectos relacionados à
flexibilidade física: o potencial de expansão e as características
• Fazem parte da “prestação de atendimento à saúde em dos espaços técnicos.
regime de internação” as seguintes unidades: internações,
terapia intensiva e terapia semi-intensiva; O potencial de expansão dos hospitais é um dos principais
fatores que conferem flexibilidade física e infraestrutural aos Imagem 4.2
• Fazem parte da “prestação de atendimento de apoio ao edifícios. Muitos dos projetos possuem a indicação das áreas Modelo de diagrama de análise do agrupamento funcional e da
destinadas às futuras expansões. Essas indicações eram organização física das unidades funcionais.
diagnóstico e terapia” as seguintes unidades: laboratório
de análises clínicas, imagenologia, endoscopia, métodos denominadas por Karman como o “Plano Diretor”. Outros
gráficos, laboratório de anatomia patológica, medicina projetos não possuíam essas indicações nas plantas, mas
nuclear, centro cirúrgico, centro obstétrico, fisioterapia, possuíam espaços pensados para serem ocupados com futuras
terapia ocupacional, fonoaudiologia, banco de sangue, construções. Sendo assim, as análises se concentraram em
radioterapia, quimioterapia, hemodiálise, banco de leite e identificar esses espaços, suas dimensões, suas relações com a
medicina hiperbárica; área construída e quantos leitos poderiam ser acrescentados ao
projeto.
• Fazem parte da “prestação de serviços de apoio técnico”
as seguintes unidades: serviço de nutrição e dietética (SND/ Os espaços técnicos, de acordo com as ideias de Karman,
cozinha), farmácia e central de material esterilizado; estão mais relacionados com a flexibilidade física do que com
a eficiência operacional, pois, além de facilitar a manutenção,
• A “formação e desenvolvimento de recursos humanos e de possibilitam a troca das instalações com agilidade e redução de
pesquisa” não possui unidades funcionais propriamente custos.
ditas. Podemos entender essa atribuição como um conjunto
de ambientes que se distribuem pelo hospital, tais como: As análises referentes a essa categoria foram realizadas
salas de aula e treinamento, auditório, biblioteca, etc.; com o uso da cor vermelha (em dois diferentes tons) sobre as
plantas e os cortes redesenhados (ver imagens 4.3).
• Fazem parte da “prestação de serviços de apoio de gestão Imagem 4.3
e execução administrativa” todos os ambientes destinados 4.3.3. Terceira categoria: Eficiência Operacional Modelo de diagrama de análise da flexibilidade fisica e conforto físico e
à administração dos hospitais, tais como: gerência, psicológico.
secretariado, recursos humanos, gestão financeira, diretoria Foram analisados três aspectos relacionados à eficiência
clínica e o serviço de arquivo médico (SAME); operacional: a organização dos acessos e das circulações,
a configuração das unidades de internação e o percurso das [8] As atribuições podem ser concultadas na Parte II da RDC 50, a partir da
página 23.
equipes de enfermagem.
74

A análise dos acessos e da organização das circulações circulação”, essa investigação permitiu comparar a compactação
considerou quatro tipos: os corredores e acessos destinados aos entre as unidades.
usuários externos (pacientes externos, acompanhantes, visitantes
e demais usuários que não possuem relação direta com a rotina As análises referentes a essa categoria foram realizadas
operacional dos hospitais), os corredores e acessos destinados com o uso de diferentes cores (para observar as características
aos usuários internos (pacientes internos, acompanhantes, das circulações e da distribuição espacial das internações) e
funcionários, suprimentos e demais fluxos relacionados a cotas na cor vermelha (para medir os percursos da enfermagem
operação que precisam de controle), os corredores destinados e os quartos de internação) sobre as plantas redesenhadas (ver
a ambos os usuários (circulações mistas, onde circulam usuários imagens 4.2 e 4.4).
externos e internos), e os corredores com restrição de acesso
(circulações de unidades com alto risco de contágio e que 4.3.4. Quarta categoria: Segurança Biológica
necessitam de maior controle biológico, vestiários de barreira e
áreas de transferência). Também foi calculado a área quadrada Em relação à segurança biológica, duas unidades de cada
destinada aos corredores, estabelecendo um percentual em projeto foram analisadas: os centros cirúrgicos e as unidades
relação à área construída da edificação. de tratamento intensivo (UTI). Dois aspectos foram investigados
em cada uma das unidades: a configuração físico-funcional e os
Em relação às unidades de internação, foram analisadas principais fluxos.
a quantidade de leitos, a disposição e a distribuição espacial
dos quartos, a posição dos berçários (quando tiver), a posição Foram analisados dois aspectos dos centros cirúrgicos: a
e a quantidade de postos de enfermagem e a localização das disposição dos ambientes e os fluxos de pacientes, funcionários
áreas de apoio. Para ser possível estabelecer uma relação entre e de materiais (sujo e limpo).
a metragem construída e o número de leitos, foi estabelecida uma
base comparativa de dois leitos por quarto. Karman projetava Para as unidades de tratamento intensivo (UTI), também
quartos flexíveis, que podiam comportar, muitas vezes, de um foram analisados dois aspectos: a disposição dos ambientes e
a três leitos. Sendo assim, para normalizar o número de leitos os fluxos de pacientes, funcionários e visitantes.
entre todos os hospitais analisados, considerou-se dois leitos por
quarto. Já para os leitos das unidades de tratamento intensivo As análises referentes a essa categoria foram realizadas
e de tratamento semi-intensivo (que são considerados leitos de com o uso de diferentes cores (para observar as distribuições
Imagem 4.4 internação), o número corresponde exatamente ao apresentado espaciais dos centros cirúrgicos e das unidades de tratamento
Modelo de diagrama de análise das circulações.
nas plantas. intensivo) e com o uso de vetores coloridos (para analisar os
diferentes fluxos) sobre as plantas redesenhadas (ver imagens
Também foram medidos os percursos das equipes de 4.2 e 4.5).
enfermagem (em metros lineares) e a “densidade linear” de cada
unidade. 4.3.5. Quinta categoria: Conforto Físico e Psicológico

Os percursos foram avaliados, em cada projeto, medindo- Foram analisados três aspectos relacionados ao conforto
se a distância entre o posto e o último quarto que a enfermagem físico e psicológico: a configuração dos jardins (dando ênfase
daquele posto atende e a distância entre os quartos mais distantes aos internos), a configuração das lajes rebaixadas e as áreas
que cada posto atende. Essa medição permitiu criar uma base internas destinadas ao convívio de pacientes, acompanhantes,
comparativa das distâncias percorridas pela enfermagem em visitantes e funcionários.
cada unidade.
Os jardins internos estão presentes em praticamente todos
O cálculo da “densidade linear” possibilitou a avaliação das os grandes projetos de Karman. Identificá-los permitiu observar
plantas em relação ao critério de “compactação”. Considerando a relação entre espaços cobertos e descobertos. Quanto maior
Imagem 4.5 que, quanto mais leitos uma unidade tem por metro linear de a oferta de jardins, de acordo com o próprio autor, maior é a
Modelo de diagrama de análise dos fluxos.
corredor, maiores são a “compactação” e o “rendimento de sensação de bem-estar dos usuários.
75

O rebaixamento de trechos das lajes, para a instalação de 4.5. Tabela de relações entre as categorias de análise, os
janelas altas nos miolos dos pavimentos, concorre também para eixos conceituais e os critérios de projetos
gerar mais conforto entre os usuários, uma vez que possibilita
a iluminação e a ventilação naturais (direta ou indireta) de A tabela a seguir apresenta, de forma sintética, a relação
ambientes cujas paredes não fazem divisa com o meio externo. entre as categorias de análise, os eixos conceituais e os principais
critérios de projetos apresentados no livro Iniciação à Arquitetura
Já os espaços de convívio contribuem, e muito, para o bem- Hospitalar, além de uma demonstração das características
estar psicológico dos usuários, principalmente se considerarmos gráficas de cada análise e das escalas empregadas.
que são áreas de descompressão, atualmente muito valorizadas
não só em edificações hospitalares, mas também em empresas
onde os trabalhadores permanecem por longos períodos.

As análises referentes a essa categoria foram realizadas Categoria Eixo de investigação O que foi analisado Exemplos de diagramas de análise
com o uso de diferentes cores (para observar a configuração dos
jardins internos e das áreas de convivência) e com o uso da cor
Agrupamento Eixo 1: agrupamento funcional • Ditribuição das unidades
vermelha (para destacar e medir as alturas das lajes rebaixadas) funcionais no espaço
Funcional Eixo 3: eficiência/racionalização
sobre as plantas e os cortes redesenhados (ver imagem 4.3).

4.4. Padronização das análises


Flexibilidade Física Eixo 2: flexibilidade • Potencial de expansão
Para favorecer uma avaliação comparativa, todas as • Configuração dos espaços
análises foram realizadas em pranchas no formato A3, com técnicos
escalas padronizadas. As escalas utilizadas foram:

Eficiência Eixo 3: eficiência/racionalização • Configuração das circulações


• Para a apresentação dos redesenhos dos projetos e para as • Distribuição espacial das
Operacional
análises das distribuições dos programas, dos potenciais internações
de expansão, dos espaços técnicos, das circulações, • Percurso da enfermagem

dos jardins internos, das lajes rebaixadas e dos espaços


de convivência, as plantas foram analisadas nas escalas
Segurança Biológica Eixo 3: eficiência/racionalização • Distribuição espacial e
1:2500 (implantações), 1:750 (plantas e cortes) e 1:250 fluxos dos centros cirúrgicos,
Eixo 4: segurança biológica
(cortes ampliados); centros obstétricos e central
de material esterilizado
• Distribuição espacial e fluxos
• Para as análises das distribuições espaciais das das UTIs
internações e dos percursos da enfermagem, as plantas
foram analisadas na escala 1:500; Conforto Eixo 5: conforto ambiental • Configuração dos jardins
Físico e Psicológico • Configuração das lajes
rebaixadas
• Os quartos das internações e os cortes de demonstração • Presença de espaços de
convivência
das lajes rebaixadas foram analisados na escala 1:250;

• Os centros cirúrgicos e as unidades de tratamento intensivo Tabela 4.1


foram analisados na escala 1:250. Relação entre as categorias, os eixos de investigação e conteúdo das análises.
76
77

5
78

Imagem 5.1
Estudo dos acessos e das circulações
para uma versão anterior do projeto para o
Instituto Nacional de Câncer e Queimados.
5. ANÁLISES DOS PROJETOS 79

Foram cinco os projetos analisados: o Hospital e


Maternidade São Domingos, o Hospital da Guarnição do Galeão,
o Instituto Nacional de Câncer e Queimados, o Hospital Unimed
Sorocaba e o Centro Médico Hospitalar Vila Velha. O primeiro foi
desenvolvido em 1958 e o último entre os anos de 1995 e 1999;
uma diferença de 41 anos entre eles.

Como descrito no capítulo anterior, para facilitar a


apreensão dos cinco projetos, que possuem diferentes
dimensões, formas, volumes e programas funcionais, as análises
foram sistematizadas e respeitaram, principalmente, três
princípios gerais:

• O primeiro princípio foi a padronização das escalas dos


desenhos. Foram utilizadas implantações, plantas e cortes
nas escalas 1:2500, 1:750, 1:500 e 1:250. Cada categoria
foi analisada com escalas equivalentes.

• O segundo princípio foi a definição da configuração das


análises gráficas de cada categoria. Foram produzidos
diagramas a partir das implantações, plantas e cortes
redesenhados, com o uso de cores, cotas e indicações
textuais.

• A terceira foi a padronização da apresentação das análises


em pranchas A3. Ao todo foram produzidas 102 pranchas
de análise. Cada prancha é acompanhada de um texto
explicativo, que discorre sobre o que foi analisado e os
principais aspectos observados.

Maiores detalhes sobre os projetos serão apresentados a


seguir, juntamente com as análises.
80
5.1. ANÁLISE: HOSPITAL E MATERNIDADE SÃO DOMINGOS

Localizado na cidade de Uberaba, no estado de Minas O projeto foi publicado, até onde se sabe, em três revistas:
Gerais, o Hospital e Maternidade São Domingos foi construído Acrópole (ano 23, nº 237, em agosto de 1961), Hospital de Hoje
por iniciativa das irmãs da Congregação Dominicana Nossa (ano 8, volume 19, 1963) e Hospitais Portugueses (nº 143, em
Senhora de Monteils. Após o encerramento das atividades da maio de 1964).
Santa Casa de Misericórdia de Uberaba, as irmãs não tinham
para onde encaminhar os estudantes da Escola de Enfermagem
Frei Eugênio (fundada pela congregação), fato que suscitou a
necessidade de um novo hospital na cidade.

Jarbas Karman foi contratado para desenvolver o projeto


arquitetônico. Para essa tarefa contou com a colaboração do
jovem arquiteto Alfred Willer (1930- ), que havia começado a
trabalhar pouco tempo antes em seu escritório. O novo hospital
seria implantado em um lote da congregação, localizado no bairro
Nossa Senhora da Abadia, entre a entre as ruas Frei Paulino, Rua
da Constituição e Capitão Domingos.

Os arquitetos, aproveitando a oportunidade de pensarem


um hospital completamente novo, cujas dimensões do lote
sugeriam um edifício compacto que provavelmente seria
construído em uma só etapa, acabaram cuidando de quase
todo o processo de projeto e construção, desenhando, inclusive,
as camas que seriam usadas para acomodar os pacientes. O
projeto foi entregue em 1958.

A obra durou aproximadamente dois anos. Pouco tempo


depois da inauguração, ocorrida em 31 de janeiro de 1960, o
hospital se tornou, de acordo com Andreia de Freitas Lopes
(2018), um estabelecimento de referência para a região. Houve
grande repercussão e o local passou a ser visitado por médicos,
engenheiros e arquitetos do Brasil e do exterior. Uma nota do
jornal Lavoura e Comércio, na edição de 22 de agosto de 1961,
documenta a visita do arquiteto português Eduardo Valente
Esteves Hilário, que afirmou:

“É notável o padrão de conforto do Hospital


São Domingos, que rivaliza com os melhores da
Europa. O seu planejamento é totalmente novo,
evoluído e ampliando o conceito arquitetônico
da construção, representando o bloco cirúrgico
a sua parte mais forte. Reflete em toda a parte
o sentimento moderno de humanização dos
hospitais, o que valoriza ainda mais as suas
instalações. Uberaba está de parabéns’”
(Lavoura do Comércio, 22 de agosto de 1961).
81

Imagem 5.2
Hospital e Maternidade São Domingos.
Fotografia de José Moscardi.

Imagem 5.3
Perspectiva Hospital e Maternidade São Domingos.
82

5.1.1. Redesenhos e aproximação

O projeto é composto por dois blocos e um elemento de


ligação, implantados em um lote de 8.495,18 m². O lote apresenta
desnível aproximado de 6,65 metros entre a rua Frei Paulino (cota
mais alta, localizada no lado oeste) e a Rua Capitão Domingos
(cota mais baixa, localizada no lado leste). A rua da Constituição
(localizada no lado sul e que faz esquina com ambas as outras
ruas) acompanha o desnível.

O bloco maior, identificado como 01, possui quatro


pavimentos. Foi posicionado para se relacionar plenamente com
a rua Capitão Domingos e com a Rua da Constituição.

O bloco menor, identificado como 02, possui dois


pavimentos. Foi posicionado num platô ao norte do lote. O
acesso acontece por meio de um grande jardim aberto para a
rua Frei Paulino, cujos caminhos (de pedestres e de automóveis)
conduzem para uma pequena praça, localizada sob o volume de
ligação entre os blocos.

Não há uma indicação de modulação arquitetônica, porém


as dimensões internas e a posição dos pilares, indicam que o
projeto seguiu uma modulação de 3,15 metros.

Imagem 5.4 Havia duas construções no lote: uma voltada para a rua
Hospital e Maternidade Frei Paulino, com três pavimentos, onde se localizava a Escola
São Domingos durante a de Enfermagem Frei Eugênio; outra justaposta à divisa de fundos
construção. do lote, sem uso identificado. Ambas as construções foram
mantidas, mas não fizeram parte do projeto arquitetônico.

Imagem 5.5
Hospital e Maternidade São
Domingos durante a construção.
83
84

Imagem 5.6 Imagem 5.7


Via de acesso interna do Hospital e Maternidade São Domingos. Acesso social do Hospital e Maternidade São Domingos.
Fotografia de José Moscardi. Fotografia de José Moscardi.

Imagem 5.8
Fachada do Hospital e Maternidade São Domingos
voltada para a Rua da Constituição.
Fotografia de José Moscardi.
85
86

Imagem 5.9
Bloco 02 do Hospital e Maternidade São Domingos.
Fotografia de José Moscardi.

Imagem 5.10
Bloco 01 do Hospital e Maternidade São Domingos.
Fotografia de José Moscardi.
87
88

5.1.2. Categoria 1: agrupamento funcional

O São Domingos é um hospital geral e maternidade. Possui


pronto atendimento, atendimento ambulatorial, atendimento em
regime de internação, cirurgia e obstetrícia.

São quatro pavimentos, definidos nesta pesquisa como 2º


subsolo, 1º subsolo, térreo e 1º pavimento.

O 2º subsolo (composto somente pelo bloco 01) abriga o


morgue, o velório (com acesso independente), uma sala destinada
ao gerador e às caldeiras, a lavanderia e a manutenção. Sendo
assim, somente ambientes destinados ao apoio logístico.

O 1º subsolo (composto somente pelo bloco 01) abriga os


vestiários de funcionários, o almoxarifado, a cozinha, os refeitórios,
uma residência médica composta por quatro dormitórios, e uma
unidade de internação, denominada por Karman de “Unidade de
Auto-Assitência”.
89
90

O pavimento térreo abriga, no bloco 01, o pronto-socorro,


o ambulatório, a radiologia, o laboratório de análises clínicas, a
farmácia, a fisioterapia, a administração, a residência do capelão
e outra residência médica, composta por quatro dormitórios
(maiores do que os do 1º subsolo). No bloco 02, que não mantém
contato com o restante do hospital, estão localizados a capela, a
sacristia e o convento.

O 1º pavimento abriga, no bloco 01, a “Unidade de


Assistência Moderada” (principal unidade de internação do
hospital). No bloco 02, conectado ao 01 por uma passarela,
estão localizados a “Unidade de Assistência Intensiva”, o centro
cirúrgico, o centro obstétrico e a central de material esterilizado.

A “Unidade de Assistência Intensiva” se assemelha ao


formato das atuais unidades de tratamento intensivo (UTI). Não,
obviamente, em relação ao programa funcional, à tecnologia e
aos procedimentos realizados atualmente, mas em relação ao
conceito de concentrar em uma mesma unidade os pacientes
críticos. Essa unidade tinha duas funções: conferir maior eficiência
ao atendimento médico em tempo integral aos pacientes críticos
que, a princípio, ficariam espalhados em outras unidades
hospitalares e servir para a recuperação pós-anestésica dos
pacientes provindos do centro cirúrgico. A localização estratégica
da unidade, contígua ao centro cirúrgico, contribuiria muito para
o desempenho satisfatório de ambas as funções. Essa unidade
possivelmente precedeu as UTI’s projetadas por Karman em
projetos posteriores.
91
92

Ao se observar a distribuição funcional, é possível dizer


que o projeto buscou a criação de um hospital compacto,
que permitesse o compartilhamento de espaços de apoio por
unidades distintas e que diminuísse os deslocamentos dos
pacientes externos e internos e de funcionários.

Os ambientes destinados ao atendimento dos pacientes


externos (pronto-socorro, consultórios, fisioterapia, radiologia e
laboratório) foram posicionados no térreo, possivelmente para
diminuir o deslocamento vertical e para contribuir com o controle
de acesso, considerando que os fluxos gerados por esses
ambientes são intensos e de difícil controle (pela necessidade de
se evitar o contato com as unidades destinadas exclusivamente
ao tratamento dos pacientes internos e de apoio técnico-
logístico).

As unidades de apoio técnico-logístico estão distribuídas,


principalmente, nos pavimentos inferiores e não possuem
contato direto com o público externo. O acesso de pessoal e de
suprimentos ocorre de forma independente (essa questão será
analisada mais adiante).

As internações foram distribuídas em três locais diferentes:


no 1º subsolo, no 1º pavimento do bloco 01 e no 1º pavimento do
bloco 02.

O 1º pavimento do bloco 02 é destinado quase que


exclusivamente às unidades que demandam maior controle de
acesso e de segurança biológica (maior risco de propagação de
infecções hospitalares). O centro cirúrgico, o centro obstétrico,
e a central de material esterilizado formam praticamente uma
mesma unidade, com acessos distintos. Já a “Unidade de
Assistência Intensiva” foi posicionada ao lado, com acesso direto
para o centro cirúrgico.

Visão geral do agrupamento funcional: a distribuição


do programa arquitetônico apresenta uma compartimentação
funcional que se realiza mais na vertical do que na horizontal. Os
pavimentos inferiores abrigam, principalmente, os serviços de
apoio técnico-logístico, enquanto o térreo e o primeiro pavimento
abrigam os serviços de pronto-atendimento, de atendimento
ambulatorial, de internação e de diagnóstico e terapia. A maior
parte do programa é composta pelas internações (36,71%) e
pelos ambientes de apoio logístico (34,68%).
93
94

5.1.3. Categoria 2: Flexibilidade Física

Na Prancha 07 foram analisadas as áreas de expansão do


Hospital e Maternidade São Domingos.

O projeto não apresenta, em suas peças gráficas originais,


a definição de áreas de expansão. Também não há a indicação
nas plantas de áreas vazias que poderiam ser ocupadas com
unidades hospitalares.

Sendo assim, se considerou que neste projeto não há


potencial de expansão previamente pensado.
95
96

Na Prancha 08 foi analisada a configuração dos espaços


técnicos do Hospital e Maternidade São Domingos.

O projeto apresenta somente um espaço técnico,


composto por uma casa de máquinas acima do centro cirúrgico.

Não há a presença de espaços “interandares”, espaços


técnicos acessíveis sob telhados ou andares destinados às
instalações aparentes.
97
98

5.1.4. Categoria 3: Eficiência e Racionalização

Na Prancha 09 foram analisadas as circulações e os


acessos dos 1º e 2º subsolos do Hospital e Maternidade São
Domingos.

O acesso e a circulação no 2º subsolo são destinados


somente aos funcionários.

No 1º subsolo há circulações mista e interna. Os


acompanhantes e visitantes que têm como destino a unidade
de internação do pavimento, acessam pelo térreo e descem por
elevador, escada ou rampa. Os funcionários e os suprimentos
acessam por uma doca de descarga coberta (sob a rampa do
pavimento térreo). O projeto possui uma separação entre as
circulações internas e mistas neste andar, certamente pensadas
para possibilitar maior controle e evitar que o público externo
tenha contato com parte das atividades internas do hospital.
99
100

Na Prancha 10 foram analisados os acessos e as praticamente todas as circulações são mistas e no 1º pavimento,
circulações do térreo e do 1º pavimento do Hospital e Maternidade de ambos os blocos, somente o centro cirúrgico e o centro
São Domingos. obstétrico possuem restrições de acesso.

Todos os demais acessos são realizados pelo térreo. As circulações verticais são realizadas por meio de uma
O pronto-socorro é acessado por uma rampa circular voltada escada, uma rampa e dois elevadores. Ambos os sistemas
para a Rua da Constituição. Já o acesso principal, destinado de circulação vertical são mistos. Ao que parece, as rampas
aos pacientes ambulatoriais, visitantes e acompanhantes (que são preferencialmente utilizadas para o tráfego de pacientes
também pode ser utilizado pelos funcionários) acontece por meio acamados e dos funcionários (considerando que o hall entre a
de um jardim voltado para a rua Frei Paulino (via que também dá rampa e os elevadores fica numa faixa resguardada em relação
acesso à capela). aos acessos externos), enquanto os elevadores e a escada são
mais facilmente acessados pelo público em geral. Os elevadores
As circulações do bloco 01 do pavimento térreo são, em são do tipo “maca-leito” (mais compridos, para o transporte de
sua maioria, mistas. Nelas transitam os pacientes ambulatoriais e pacientes acamados) e possuem portas duplas, o que possibilita
emergenciais, os médicos, equipe de enfermagem e funcionários. o embarque de pacientes por ambos os halls (tanto pelo que fica
As circulações internas ficam reservadas às residências do em frente à rampa, quanto ao que fica em frente à escada).
capelão e médica. Já no bloco 02, onde se encontram o convento
e a capela, as circulações são todas internas, destinadas somente Ao todo, as circulações ocupam uma área de 2.053,34 m²
ao sacerdote e às freiras. (26,25% da área construída). Desse total, 69,24% são destinados
Imagem 5.11
Escada interna.
às circulações mistas.
Fotografia de José Moscardi. As circulações do 1º pavimento do bloco 01 são todas
mistas. Nelas transitam os médicos, enfermagem, funcionários,
pacientes internos, acompanhantes e visitantes. Já no mesmo
pavimento do bloco 02, há a presença da circulação restrita
do centro cirúrgico (que possui maior controle de acesso e só
devem circular os médicos, enfermagem, funcionários da própria
unidade e os pacientes que serão submetidos às cirurgias).

Visão geral sobre os acessos e circulações: o projeto


possui quatro acessos principais e a organização de três tipos
diferentes de circulações.

Os acessos dos 2º e 1º subsolos são exclusivamente


internos, o acesso do térreo que ocorre pela Rua da Constituição
é externo, e o acesso que ocorre pela rua Frei Paulino é misto.
Essa organização permite a que a recepção de materiais e
suprimentos, o acesso de funcionários e a saída de resíduos e
cadáveres aconteça em locais diferentes do acesso de pacientes,
acompanhantes e visitantes.

As circulações são parcialmente segregadas. Na maior


parte do hospital não há uma separação clara entre público
externo e interno. As circulações horizontais do 2º subsolo são
Imagem 5.12
Rampas internas. destinadas somente aos funcionários, no 1º subsolo há um
Fotografia de José Moscardi. trecho exclusivo para os funcionários, no térreo do Bloco 01
101
102

Na Prancha 11 foi analisada a distribuição espacial das


internações do Hospital e Maternidade São Domingos.

A unidade localizada no 1º subsolo é composta por 15


quartos de dois leitos cada (seis deles dedicados à maternidade
e nove aos demais pacientes), dois quartos de isolamento com
um leito cada (um para a maternidade e outro para os demais
pacientes), um berçário, um posto de enfermagem e ambientes
de apoio. Ao todo são 17 quartos e 32 leitos (considerando
a normalização proposta no capítulo 4 para possibilitar a
comparação da capacidade de leitos).

Os quartos foram posicionados em ambas as fachadas


longitudinais do edifício (fachadas opostas). O berçário, o posto
de enfermagem e os ambientes de apoio ficam localizados
em uma faixa central, gerando dois corredores paralelos no
sentido longitudinal, interligados por outro corredor no sentido
transversal.

A unidade localizada no 1º pavimento segue a mesma


lógica organizacional. São 47 quartos de dois leitos cada (oito
destinados à maternidade, 12 destinados à pediatria e 27
destinados aos demais pacientes), um berçário central, três
postos de enfermagem e áreas de apoio. Ao todo são 94 leitos.

Os quartos também foram posicionados ao longo das


duas fachadas longitudinais do edifício. O berçário, os postos
de enfermagem, as áreas de apoio, a rampa, os elevadores
e a escada ficam localizados numa faixa central, entre dois
corredores longitudinais paralelos, ligados por outros três
corredores transversais e pelo hall dos elevadores. Também é
possível transitar de um corredor para o outro por dentro dos
postos de enfermagem, que se abrem para ambos os lados.

Imagem 5.13
Posto de enfermagem e corredor da
internação do 1º pavimento.
Fotografia de José Moscardi.
103
104

Na Prancha 12 foram analisados os percursos das quartos possuem banheiros individualizados. Os quartos da
internações e as densidades lineares do Hospital e Maternidade maternidade também possuem um berçário descentralizado,
São Domingos. que promove a aproximação entre os recém-nascidos saudáveis
e as mães.
Na unidade localizada no 1º subsolo, há um posto
centralizado, que também faz o controle de acesso. Esse posto Visão geral das internações: A configuração das unidades
atende os 32 leitos do andar. de internação deste projeto pode ser entendida como uma
variação do sistema “duplamente carregado”, já explicado
Dois percursos foram medidos: a distância do posto até o anteriormente. Ao invés de um corredor central, com quartos em
quarto mais distante e a distância entre os quartos que o posto ambos os lados, há dois corredores intercomunicados e uma
atende. Ambos foram medidos em metros lineares, considerando faixa central com os postos de enfermagem e os ambientes de
da saída do posto até a porta dos quartos. apoio.

O maior percurso posto-a-quarto é de 15,00 metros; o de A internação localizada no 1º pavimento possui três postos
quarto-a-quarto é de 26,55 metros. de enfermagem, que dividem os leitos para diminuir o percurso
das enfermeiras. Considerando a divisão analisada, o maior
O corredor mede 32,30 metros (lado maior). Considerando número de leitos atendido por um posto é de 40 leitos (10 a mais
que essa unidade possui 32 leitos, a “Densidade Linear”, obtida que o preconizado atualmente na RDC-50) e o maior percurso
pela divisão do número de leitos pela metragem linear do posto-a-quarto é de 14,85 metros.
corredor, é de 0,99 leito por metro linear.

Na unidade localizada no 1º pavimento, há três postos de


enfermagem. A descentralização buscou diminuir os percursos
da enfermagem. O posto localizado do lado oeste, destinado à
maternidade, é responsável pela atenção de 16 leitos, o posto
mais ao centro é responsável por 40 leitos e o posto localizado
no lado leste é responsável por 38 leitos (essa divisão considerou
uma distribuição balanceada entre postos e quartos).

O maior percurso posto-a-quarto é de 14,85 metros; o de


quarto-a-quarto é de 26,55 metros.

O corredor mede 75,45 metros (ambos os lados).


Considerando que essa unidade possui 94 leitos, a “Densidade
Linear” é de 1,24 leito por metro linear.

São cinco tipos de quartos diferentes: o quarto de


isolamento e o quarto comum do 1º subsolo; o quarto de
maternidade, o quarto comum e o quarto com antessala do 1º
pavimento.

No 1º subsolo somente o quarto de isolamento possui


banheiro individualizado. Os pacientes internados nos demais
quartos teriam que utilizar banheiros externos, localizados em
frente ao posto de enfermagem. No 1º pavimento, todos os
105
106

5.1.5. Categoria 4: Segurança Biológica

Na prancha 13 foram analisados a distribuição espacial e Visão geral do centro cirúrgico: Apesar de separar o
os principais fluxos do centro cirúrgico, do centro obstétrico e da centro obstétrico do centro cirúrgico, as duas unidades foram
central de material esterilizado do Hospital e Maternidade São posicionadas uma próxima da outra, separadas somente pela
Domingos. As unidades estão localizadas no 1º pavimento do central de material esterilizado. Essa, por sua vez, ocupa uma
bloco 02. posição estratégica para ter uma intensa relação com as duas
unidades contíguas, haja vista a comunicação direta entre os
O centro cirúrgico possui 275,04 m² de área construída. corredores e as salas de cirurgia e de parto com a área de preparo
É composto por uma sala de pequena cirurgia, uma sala para de materiais para serem esterilizados. Porém, não há ainda o
exames de cistoscopia, uma sala de tratamento de fraturas e conceito de se desenhar um fluxo contínuo que permita a entrada
três salas de cirurgias. As cubas de escovação das mãos de material sujo, o preparo, a esterilização, a armazenagem e a
ficam localizadas em corredores entre as salas. Para efeito de distribuição de material esterilizado sem cruzamentos durante o
comparação, foram consideradas seis salas de cirurgia, número processo. Outra questão interessante de observar é o vestiário
que perfaz um total de 22 leitos por sala. dos médicos ter duas portas, uma para fora e outra para
dentro da antessala do centro cirúrgico. Solução que pode ser
O centro obstétrico possui 183,98 m² de área construída. entendida como um ensaio dos vestiários de barreira (que ficam
É composto por três salas de pré-parto (denominadas no projeto posicionados entre os corredores externos e internos das áreas
como “trabalho de parto”), um posto de enfermagem, duas salas críticas dos hospitais contemporâneos).
de parto e uma sala de estar para a parteira.

A central de material esterilizado possui 141,66 m² de


área construída e fica localizada entre o centro cirúrgico e o
centro obstétrico, com comunicação direta por meio de portas e
guichês com ambas as unidades.

Ainda há no andar uma sala compartilhada de conforto


médico e uma lanchonete.

O acesso de pacientes e de funcionários ocorre pelos


mesmos locais, tanto para o centro cirúrgico quanto para o
centro obstétrico. Os vestiários são compartilhados e foram
posicionados externamente às unidades, em uma posição
equidistante aos dois acessos.

O centro cirúrgico possui uma antessala de acesso


compartilhada com a UTI e a central de material esterilizado. O
centro obstétrico tem acesso direto do corredor do hospital.

O material sujo externo ao centro cirúrgico é recebido


pela central de material esterilizado pela mesma porta de saída
do material limpo e do acesso de funcionários. O material sujo
do centro cirúrgico e do centro obstétrico é entregue diretamente
para a esterilização por meio de guichês (localizados nas salas
Imagem 5.14 de cirurgia e nas salas de parto) e depois é devolvido por portas
Corredor de acesso ao centro obstétrico. que se abrem diretamente para os corredores internos das
Fotografia de José Moscardi. unidades.
107
108

Na Prancha 14 foram analisados a distribuição espacial


e os principais fluxos da “Unidade de Tratamento Intensivo” do
Hospital e Maternidade São Domingos.

Karman e Willer projetaram uma pequena unidade


para abrigar seis leitos, que receberia pacientes críticos, que
precisassem de atenção especial de forma ininterrupta até a
melhora do quadro clínico, além de servir como apoio ao centro
cirúrgico, hospedando temporariamente os pacientes saídos
das cirurgias. Essa unidade, denominada pelos autores de
“Unidade de Assistência Intensiva” pode ser entendida como
uma antecessora das unidades de tratamento intensivo (UTI), tão
importantes para os hospitais modernos e contemporâneos.

Essa unidade, que mede 66,99 m² de área construída,


possui dois ambientes: um salão com cinco leitos separados por
cortinas e um box de isolamento composto por divisória de vidro.
No salão há, além dos leitos, um posto de enfermagem e uma
área de apoio dotada de uma bancada com cuba de lavagem e
armário alto. No total são seis leitos, o que perfaz uma relação de
21 leitos de internação para cada leito crítico (ou 4,76% de leitos
críticos em relação aos leitos convencionais).

O acesso de pacientes e funcionários ocorre pela mesma


entrada, localizada na antessala do centro cirúrgico. Ainda há
uma ligação direta entre o posto de enfermagem e o corredor
interno do centro cirúrgico, reforçando a intensa ligação proposta
para essas duas unidades.

Visão geral da “Unidade de Assistência Moderada”: essa


pequena unidade certamente antecedeu as UTIs. Sua posição,
ao lado do centro cirúrgico, já sugere uma certa interdependência
entre os setores.

Imagem 5.15
Unidade de Assistência Intensiva.
Fotografia de José Moscardi.
109
110

5.1.6. Categoria 5: Conforto Ambiental

Na Prancha 15 foram analisados os jardins envoltórios


e internos dos 2º e 1º subsolos do Hospital e Maternidade São
Domingos.

O 2º e o 1º subsolos possuem um jardim externo voltado


para a Rua da Constituição (aberto para a cidade) e outro no
recuo lateral e de fundos do lote (oposto à Rua da Constituição
e fechado por muros). Internamente, há um vazio vertical, que
culmina em um jardim no 2º pavimento, que permite a iluminação
e a ventilação naturais dos corredores e de alguns ambientes
localizados mais ao centro dos pavimentos.
111
112

Na Prancha 16 foram analisados os jardins envoltórios e


internos do térreo e do 1º pavimento do Hospital e Maternidade
São Domingos.

No pavimento térreo há três jardins externos: um voltado


para a rua Frei Paulino, um sobre a rampa de acesso voltado para
a Rua da Constituição e outro localizado no recuo lateral (oposto
à Rua da Constituição), todos eles abertos para a cidade.

O Jardim voltado para a rua Frei Paulino possui uma via


de automóveis e outra de pedestres, que conduzem os pacientes
e visitantes até um outro jardim, circular, sob a laje de piso da
passarela do 1º pavimento, onde se localizam o acesso principal
do hospital e o acesso público da capela.

O vazio interno que se origina no 2º subsolo ascende ao


térreo e ao 1º pavimento. No térreo, ele aumenta de tamanho,
passando de 19,08 m² para 24,00 m².

Visão geral dos jardins: o projeto possui jardins em quase


todo os espaços vazios. Dois jardins se destacam: o localizado
ao longo da Rua da Constituição e o voltado para a rua Frei
Paulino. Os dois jardins são abertos para o espaço público,
configurando um espaço coletivo aberto de transição entre a
cidade e o hospital.

Em relação aos jardins internos, há somente um vazio


vertical, localizado na porção oeste do Bloco 01. Esse vazio
percorre todos os andares. Ele possui dimensões menores nos
pavimentos inferiores, aumentando no térreo e no 1º pavimento.
Sua função é permitir a iluminação e a ventilação naturais dos
corredores e de alguns espaços localizados no centro dos
andares.

Ao todo, os jardins internos medem 83,60 m², sendo assim,


1,07% da área construída.

Imagem 5.16
Posto de enfermagem do 1º subsolo
iluminado pelo vazio interno.
Fotografia de José Moscardi.
113
114

Na Prancha 17 foi analisado o rebaixamento das lajes do


Hospital e Maternidade São Domingos.

A cobertura do 1º pavimento possui o rebaixamento de


alguns trechos das lajes, para possibilitar a instalação de janelas
verticais altas para iluminar e ventilar grande parte dos ambientes
internos.

As lajes dos corredores do Bloco 01 foram rebaixadas


para possibilitar a iluminação e a ventilação dos banheiros,
dos berçários, espaços de serviços contíguos aos corredores
e para possibilitar a ventilação cruzada nos quartos (condição
que colabora para a diminuição das temperaturas internas dos
ambientes).

No Bloco 02, as lajes dos corredores do centro cirúrgico e


do centro obstétrico foram rebaixadas para permitir a iluminação
e a ventilação das salas de pré-parto e da lanchonete e somente
iluminação nas salas de cirurgia e de parto.

Resumindo, o rebaixamento das lajes de cobertura dos


corredores permitiu a instalação de janelas altas em quase todos
os ambientes do 1º pavimento.

Imagem 5.17
Quarto de internação com janela
sobre laje rebaixada.
Fotografia de José Moscardi.
115
116

Na Prancha 18 foi analisada a presença de áreas de


convivência nos 2º e 1º subsolos do Hospital e Maternidade São
Domingos.

Foi identificada, no 1º subsolo, uma brinquedoteca que,


de acordo com seu posicionamento, não é de uso exclusivo dos
pacientes internados na pediatria. Sendo assim, considerou-se
essa sala de uso comum tanto para pacientes, acompanhantes
e visitantes, quanto para os funcionários.

Não há área de convivência no 2º subsolo.


117
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Na Prancha 19 foi analisada a presença de áreas de


convivência no térreo e no 1º pavimento do Hospital e Maternidade
São Domingos.

No Bloco 01 do pavimento térreo há uma sala de estar


para o público externo, localizada junto do acesso principal
(social). Contígua a essa sala, há uma pequena loja, denominada
“lojeca”, onde se vendia jornais, revistas e presentes que os
visitantes podiam comprar para os pacientes internados (ver
imagem 5.18).

No Bloco 02 do pavimento térreo há um espaço coletivo no


convento, composto de uma sala de estar e uma ampla sala de
jantar, antes do claustro. Considerou-se esse como um espaço de
convivência interno, levando-se em conta que certamente parte
das freiras trabalhavam no hospital e na escola de enfermagem.

No 1º pavimento, localizado junto à passarela de ligação


entre os blocos, há um solário envidraçado, com vista para o
jardim externo localizado junto às divisas laterais e de fundos.
Esse solário foi exclusivamente projetado para promover
a convivência dos pacientes, acompanhantes, visitantes e
funcionários (ver imagem 5.19).

Imagem 5.18 Visão geral dos espaços de convivência: neste projeto há


Sala de estar do acesso social. poucos espaços destinados exclusivamente para a convivência
dos usuários. Há, no 1º subsolo, uma pequena sala destinada a
atividades lúdicas infantis; no térreo há uma sala de estar junto
de um dos acessos e as áreas sociais do convento. Porém, no
1º pavimento, há um belo solário, com uma vista privilegiada
para os jardins externos localizados nos 1º e 2º subsolos.
Como o solário está posicionado muito próximo à internação,
este espaço pode ser considerado como um incentivo para a
“deambulação precoce”, questão que o próprio Karman discute
no texto publicado na revista Hospital de Hoje (vol. 19, 1963).

Ao todo, as áreas de convivência perfazem 150,92 m²,


constituindo 1,93% da área construída.

Imagem 5.19
Solário localizado no volume de ligação entre os
blocos 01 e 02.
119
120
5.2. ANÁLISE: HOSPITAL DA GUARNIÇÃO DO GALEÃO

O Hospital da Guarnição do Galeão fica localizado na


Ilha do Governador, na cidade do Rio de Janeiro. A edificação
começou a ser contruída, efetivamente, na década de 1950,
quando o ministro da Aeronáutica Eduardo Gomes decidiu
construir um hospital psiquiátrico. As obras tiveram início em
1954 e foram paralisadas no ano seguinte.

Em 1966 a diretoria de Engenharia da Aeronáutica decidiu,


em vez de um hospital psiquiátrico, construir no local um hospital
geral de 300 leitos. Para tanto, foi necessário um novo projeto de
arquitetura, contratado por meio de uma concorrência pública.

O edital exigia que o novo projeto aproveitasse os edifícios


existentes, construídos entre os anos de 1954 e 1955. O único a
respeitar essa diretriz foi o arquiteto Jarbas Karman, que venceu
a licitação e assinou contrato em maio de 1966.

O projeto durou um ano, sendo entregue em maio de


1967. A obra começou em seguida, mas foi paralisada em 1969,
já com boa parte da estrutura em concreto armado executada.

Quatro anos mais tarde, o Ministro da Aeronáutica Joelmir


Campos de Araripe Macedo encabeçou o processo de retomada
da construção do hospital. Porém, com a longa paralisação,
não havia mais um projeto consolidado, o que dificultava sua
conclusão.

Em 1975 foi criada a Comissão de Estudo e Construção


do Hospital da Aeronáutica do Galeão, que analisou a situação
e concluiu que seria necessário revisar o projeto e compatibilizá-
lo com a obra existente. Para essa tarefa, Jarbas Karman
foi contratado novamente e, em 1976, entregou um projeto
consolidado e compatibilizado.

As obras foram retomadas e o hospital foi inaugurado em


janeiro de 1981.

O projeto foi publicado em 1968 na revista Acrópole (nº


353) e na Revista Aeronáutica (edição de setembro e outubro). A
publicação da Acrópole contém alguns poucos desenhos e um
memorial sucinto explicando alguns dos conceitos que orientaram
o projeto, o formato do edifício, as dimensões dos blocos e
alguns aspectos específicos do projeto, como solução estrutural,
flexibilidade física, questões programáticas, organização das
circulações e a adoção de espaços técnicos para a manutenção
Imagem 5.21 das instalações.
Hospital da Guarnição do Galeão durante a construção.
121

Imagem 5.22
Hospital da Guarnição do Galeão (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
122

5.1.1. Redesenhos e aproximação

O projeto foi implantado dentro da Base Aérea do Galeão, reproduzida nos redesenhos. Foram mantidas as posições e as
próximo ao Aeroporto Internacional Tom Jobim. numerações indicadas no projeto original.

O projeto redesenhado corresponde ao entregue em 1976 O sistema construtivo é um aspecto bastante instigante
(já com as revisões de Karman para a retomada das obras). deste projeto. A estrutura das novas construções do Bloco
O conjunto arquitetônico é composto, basicamente, por dois 01 é formada por uma extensa grelha de vigas vierendeel de
blocos: um com três e outro com quatro pavimentos. concreto armado distantes 3,60 metros umas das outras, tanto
no sentido longitudinal quanto no transversal. A grelha, por sua
O bloco principal, denominado a partir de agora como vez, é sustentada por pilares de seção circular, distantes 7,20
Bloco 01, é majoritariamente térreo e formado por diversos metros uns dos outros. A estrutura foi pensada para permitir a
volumes, sendo três deles existentes. A disposição desses execução de lajes apoiadas e penduradas, facilitar as futuras
volumes, separados por jardins, quase forma um quadrado, expansões e permitir que as instalações fossem executadas
com dimensões aproximadas de 111,80 m por 110,40 m. Um sem interferências e de forma multidirecional (necessidades de
dos edifícios existentes, a noroeste do conjunto, possui dois desvios e abertura de buracos em vigas e lajes).
pavimentos (térreo mais um), enquanto uma porção a leste
possui um subsolo semienterrado. A área total construída é de 22.328,17 m².

Os edifícios existentes foram incorporados de tal maneira


que, sem uma observação minuciosa, não se percebe a diferença
entre o que é novo e o que foi aproveitado.

O bloco secundário, denominado a partir de agora como


Bloco 02, está localizado à leste do conjunto. Foi implantado
paralelamente ao principal, com planta retangular, medindo
aproximadamente 21,20 m por 113,05 m. Este bloco possui
quatro pavimentos, sendo pilotis, dois pavimentos úteis e um
espaço técnico “interandar”.

Os blocos são conectados por três conjuntos formados,


cada um, por duas meias-rampas e uma passarela (que conecta
o térreo do bloco principal aos três pavimentos do bloco
secundário).

O Bloco 01 segue uma modulação arquitetônica com


distâncias derivadas de 1,20 metro, tanto no sentido longitudinal,
quanto no transversal. As medidas dos ambientes e a distância
entre os pontos estruturais e de muitos dos componentes
construtivos foram definidas seguindo essa modulação.

O Bloco 02 possui uma modulação estrutural distinta


do Bloco 01. As medidas dos ambientes internos seguem
modulações específicas. Os quartos, por exemplo, possuem, na
transversal, modulação de 3,30 metros entre eixos. A indicação
dos módulos arquitetônicos constante no projeto foi fielmente
123
124

Imagem 5.23
Estudo para os jardins internos do Hospital da
Guarnição do Galeão.

Imagem 5.24
Perspectiva do Hospital da Guarnição do Galeão.
125
126

Imagem 5.25
Maquete do Hospital da Guarnição do Galeão.

Imagem 5.26
Hospital da Guarnição do Galeão durante a construção.
127
128

Imagem 5.27
Jardim interno do Hospital da Guarnição do Galeão (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.

Imagem 5.28
Bloco das internações do Hospital da Guarnição do Galeão (foto atual).
Fotogradia de Andrés Otero.
129
130

5.2.2. Categoria 1: agrupamento funcional

O Hospital da Guarnição do Galeão é um hospital


geral e maternidade. Possui pronto atendimento, atendimento
ambulatorial, atendimento em regime de internação, radiologia,
laboratório de análises clínicas, unidade de reabilitação motora,
unidade de medicina nuclear, cirurgia e obstetrícia.

São quatro pavimentos, definidos nesta pesquisa como 2º


subsolo, 1º subsolo, térreo e 1º pavimento.

O 2º subsolo (pilotis do Bloco 02) abriga um espaço


livre e coberto para a convivência, recreação e atividades dos
pacientes, acompanhantes, visitantes e funcionários.

O 1º subsolo abriga, no Bloco 01, a unidade de medicina


nuclear, o laboratório de anatomia patológica, o biotério, uma
unidade de cirurgia experimental, uma doca de descarga, um
depósito geral e o velório. No Bloco 02 estão localizados uma
unidade de internação e as unidades de tratamento intensivo e
semi-intensivo.
131
132

O pavimento térreo concentra todos os serviços de


diagnóstico e terapia, administrativos e de apoio técnico-logístico.

O Bloco 01 abriga o ambulatório, a administração, a


lanchonete, a capela ecumênica, a fisioterapia, a radiologia, o
laboratório de análises clínicas, o pronto-socorro, a central de
material esterilizado, o centro cirúrgico, o centro obstétrico, os
vestiários de funcionários, a lavanderia, os refeitórios, a cozinha,
o almoxarifado, a farmácia, a central de gases, a central de
abastecimento (gerador e caldeiras), a manutenção e uma ampla
doca de descarga.

O Bloco 02 abriga o espaço “interandar”. Sobre os quartos


do pavimento inferior, o pé direito é baixo e o espaço se destina
às instalações aparentes; sobre o corredor, o pé direito é maior
e abriga atividades de apoio às internações, principalmente a
maternidade.
133
134

O 1º pavimento do Bloco 01 abriga a unidade de ensino e


pesquisa e uma residência médica, e o do Bloco 02 a segunda
unidade de internação. Os pisos do 1º pavimento dos dois blocos
não estão na mesma cota.

Imagem 5.29
Planta esquemática de setorização do
conjunto arquitetônico.
135
136

Ao se observar a distribuição funcional, nota-se que o Os percursos são maiores em relação aos hospitais compactos,
projeto propõe a criação de unidades funcionais independentes. porém a aproximação de unidades afins (como o pronto-socorro,
a central de material esterilizado e o centro cirúrgico) encurta os
As unidades que se relacionam com o público externo percursos críticos, privilegiando o deslocamento dos pacientes.
(ambulatório, administração, pronto-socorro, fisioterapia, A posição do bloco das internações, paralela ao bloco principal,
radiologia e o laboratório de análises clínicas) foram posicionadas facilita a criação de mais de um eixo de conexões (no caso
no térreo, a nordeste do conjunto. Essas unidades possuem deste projeto, três conjuntos formados por uma passarela e duas
acessos independentes: entrada exclusiva para os pacientes rampas cada), diminuindo, assim, as distâncias percorridas
externos e outra, do lado oposto, exclusiva para os funcionários pelos funcionários.
(gerando sempre um acesso interno e outro externo).

A posição de cada unidade deve ser destacada:


considerando o fluxo do paciente externo (da chegada até
o atendimento), a primeira unidade é o ambulatório, depois a
administração, seguida da lanchonete, da capela ecumênica,
da fisioterapia, da radiologia, do laboratório e do pronto-socorro.
O pronto-socorro foi posicionado próximo a central de material
esterilizado e ao centro cirúrgico, localizando-se em uma
zona central em relação ao centro cirúrgico, ao laboratório e a
radiologia.

As unidades que se relacionam somente com os pacientes


internos e com a rotina operacional do hospital (apoio técnico-
logístico) ficam posicionadas no centro e na porção sudoeste do
conjunto.

Dessa forma, pode-se concluir que há duas faixas


programáticas: uma destinada às unidades que se relacionam
tanto com os pacientes externos quanto com os usuários internos,
e outra destinada às unidades que se relacionam somente com
os usuários internos.

As internações, a unidade de tratamento intensivo e a


unidade de tratamento semi-intensivo foram agrupadas em um
volume horizontal composto por três pavimentos e meio. Ao se
sobrepor às internações, as soluções estruturais e de instalações
se tornam mais eficientes, considerando a possibilidade da
adoção de um “pavimento tipo”.

Visão geral do agrupamento funcional: a distribuição do


programa arquitetônico propõe a criação de unidades funcionais
autônomas, cujos ambientes estejam agrupados em volumes
independentes, dispersos ao longo do Bloco 01. Isso possibilita
que cada unidade tenha independência operacional, com
rotinas e fluxos específicos, gerando flexibilidade operacional.
137
138

5.2.3. Categoria 2: Flexibilidade Física

Na Prancha 28 foram analisadas as áreas de expansão do


Hospital da Guarnição do Galeão.

A grelha de vigas vierendeel de concreto apoia as lajes


dos ambientes onde ocorrem as atividades médico-hospitalares,
administrativas e de apoio, enquanto as lajes dos corredores
são penduradas. Como a grelha cobre todo o perímetro das
novas construções do Bloco 01, futuras expansões poderiam ser
facilmente executadas, seguindo a mesma lógica.

Há uma série de jardins internos entre as unidades


funcionais. Alguns deles poderiam ser ocupados com futuras
expansões. Cada jardim possibilitaria a expansão de uma
unidade funcional autônoma, sem prejudicar o funcionamento
das outras adjacentes. Seguindo essa lógica, o ambulatório, a
administração, a fisioterapia, a radiologia, o laboratório e as áreas
de apoio logístico poderiam crescer de forma rápida e com baixo
custo de execução (uma vez que a estrutura já estaria pronta).

O Bloco 02, destinado às internações e às unidades de


tratamento intensivo e semi-intesivo, não apresenta áreas de
expansão.

As áreas destinadas às expansões totalizam 710,90 m².


Isso permitiria que o hospital crescesse 3,18% em relação à sua
área construída.

Imagem 5.30
Jardim interno que poderia ser
ocupado com futuras ampliações.
139
140

Na prancha 29 foi analisada a configuração dos espaços


técnicos do Hospital da Guarnição do Galeão.

Como explicado anteriormente, a estrutura do Bloco


01 permite a execução das instalações aparentes de forma
multidirecional. Isso é possível por haver uma faixa técnica
horizontal formada pelos vazios nas vigas vierendeel.

Internamente, os espaços formados entre a parte de


baixo das lajes apoiadas (altas) e a parte inferior das vigas
(local onde os forros removíveis eram instalados) são destinados
à passagem de tubulações, dutos e canaletas. Externamente,
essas instalações transitam livremente entre as unidades,
reduzindo a necessidade de grandes percursos.

No Bloco 02 há um espaço “interandar”, entre o 1º subsolo


e o 1º pavimento. Os trechos que ficam sob os quartos do 1º
pavimento e sobre os do 1º subsolo possuem pé-direito de
1,80 metro de altura e são destinados apenas às instalações
aparentes. Esses espaços podem ser facilmente acessados
pelos funcionários e a manutenção pode ocorrer sem incomodar
os pacientes internados. Sob e sobre os corredores, o pé-direito
é de 2,50 metros de altura e abriga uma área destinada ao apoio
das internações e da maternidade.

Imagem 5.31
Tubulação instalada por entre os vazios das
vigas. Vista a partir do 1º subsolo.
141
142

5.2.4. Categoria 3: Eficiência e Racionalização

Na Prancha 30 foram analisados as circulações e os


acessos dos 1º e 2º subsolos do Hospital da Guarnição do
Galeão.

O 2º subsolo é livre, destinado ao convívio dos usuários.

No 1º subsolo há circulações externas, mistas e internas.


No Bloco 01 (subsolo semienterrado), os pacientes externos
acessam a unidade de medicina nuclear e o laboratório de
anatomia patológica de forma independente, por meio de um
corredor externo, que por sua vez é acessado por meio de uma
escada, e da rampa de ligação com o Bloco 02. O velório pode
ser acessado pelo público externo por uma rampa de automóveis
localizada próximo à doca de descarga.

Os pacientes internos e os funcionários também circulam


por um corredor exclusivo. Não há circulações mistas no 1º
subsolo do Bloco 01.

No Bloco 02 a circulação da unidade de internação é, em


sua maioria, mista.
143
144

Na Prancha 31 foram analisados as circulações e os


acessos do pavimento térreo do Hospital da Guarnição do
Galeão.

O térreo possui circulações externas, mistas, internas e


restritas.

Os pacientes externos circulam por um eixo exclusivo,


localizado na extremidade nordeste do Bloco 01. Esse eixo se
inicia na via principal de acesso ao hospital e culmina em um dos
eixos de ligação entre os blocos. A circulação externa conecta
as unidades que se relacionam com os pacientes externos
(ambulatório, administração, fisioterapia, radiologia, laboratório,
pronto-socorro e as internações).

Os pacientes internos e funcionários circulam em dois


eixos exclusivos: um localizado numa faixa central do Bloco 01
e outro localizado mais a sudoeste. Esses eixos se originam no
acesso de funcionários e na doca de descarga e conectam todas
as unidades funcionais do hospital.
Imagem 5.32
Eixo de circulação externa (foto atual).
Os três eixos de ligação entre os blocos possuem
Fotografia de Andrés Otero.
configurações distintas: o mais a nordeste destina-se ao público
externo, o central e o mais a sudoeste destinam-se ao público
interno.

Ao todo, pode-se dizer que são 13 acessos independentes,


nove externos e quatro internos. Os acessos externos permitem
a entrada direta do público nas unidades de atendimento, sem a
necessidade de cadastros ou controles anteriores. Os acessos
internos, estes controlados, são destinados aos funcionários,
à manutenção, ao recebimento de suprimentos e à saída de
cadáveres e resíduos.

Imagem 5.33
Eixo de circulação interna (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
145
146

Na Prancha 32 foram analisados os acessos e as


circulações do 1º pavimento do Hospital da Guarnição do Galeão.

O 1º pavimento possui, em sua maioria, circulações


internas e mistas.

No Bloco 01 as circulações são exclusivamente internas.


Nesse andar estão localizadas a unidade de ensino e pesquisa
e a residência médica, ou seja, somente os funcionários podem
acessar.

No Bloco 02 há uma unidade de internação. Portanto, a


circulação é mista, pois circulam os visitantes, acompanhantes,
pacientes internos e funcionários.

Visão geral dos acessos e circulações: Karman buscou


separar o máximo possível as circulações, evitando cruzamentos
e mistura de pessoal interno e externo. As circulações mistas
estão localizadas principalmente nas internações; praticamente
a única unidade em que todos circulam por um só corredor.

Essa separação torna desnecessária a implantação de


catracas e sistemas de controle na recepção principal para
os pacientes externos que serão atendidos no ambulatório, na
radiologia, na fisioterapia, no laboratório e no pronto-socorro,
delegando esse controle para cada unidade funcional (que, de
qualquer maneira, deve recepcionar os pacientes independente
de recepções centrais). O controle só acontece para os visitantes
que irão para a UTI.

Os acessos correspondem à separação das circulações.


Os acessos externos foram pensados para evitar que o público
externo circulasse livremente pelo hospital. Os acessos internos
são controlados e só pessoas autorizadas podem adentrar o
hospital.

As circulações internas ocupam maior espaço (53,88% do


total da área destinada às circulações), seguidas das circulações
externas (25,19% do total da área destinada às circulações).

Ao todo, as circulações ocupam uma área de 6.063,98 m²


(27,16% da área construída).
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148

Na Prancha 33 foi analisada a distribuição espacial das


internações do Hospital da Guarnição do Galeão.

A unidade localizada no 1º subsolo é composta por 40


quartos de dois leitos cada, quatro ambientes que podem ser
convertidos em quartos de dois leitos e três enfermarias de
quatro leitos cada (formadas por dois quartos, sem a parede
de divisão). Ao todo são 46 quartos e 92 leitos (considerando
a normalização proposta no capítulo 4 para possibilitar a
comparação da capacidade de leitos).

Os quartos, o berçário e algumas áreas de apoio foram


posicionados em ambas as fachadas longitudinais do edifício
(fachadas opostas), gerando um corredor único de circulação.
Os postos de enfermagem, os depósitos de material de limpeza,
os sanitários de funcionários e outros ambientes de apoio ficam
localizados ao longo do corredor central.

A unidade localizada no 1º pavimento segue a mesma


lógica organizacional. São 17 quartos de maternidade de dois
leitos cada, 38 quartos de dois leitos cada para os demais
pacientes, um berçário central e uma série de postos de
enfermagem distribuídos ao longo do corredor. Ao todo são 114
leitos.
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150

Na prancha 34 foram analisados os percursos das Visão geral das internações: a configuração das
internações e as densidades lineares do Hospital da Guarnição internações deste projeto pode ser entendida como uma unidade
do Galeão. “duplamente carregada”, composta por um corredor central e
quartos dos dois lados.
Na unidade localizada no 1º subsolo, há sete postos
descentralizados, posicionados ao longo do corredor. A Foi proposta uma descentralização radical dos postos
descentralização buscou diminuir os percursos da enfermagem. de enfermagem. Um posto atenderia no máximo 16 leitos.
Cada um dos postos atende até oito quartos (ou 16 leitos). Essa solução reduz drasticamente o percurso da enfermagem,
tornando o trabalho mais eficiente e menos desgastante.
Dois percursos foram medidos: a distância do posto até o
quarto mais distante e a distância entre os quartos que o posto
atende. Ambos foram medidos em metros lineares, considerando
da saída do posto até a porta dos quartos.

O maior percurso posto-a-quarto é de 4,95 metros; o


quarto-a-quarto é de 8,00 metros.

O corredor mede 88,95 metros. Considerando que essa


unidade possui 92 leitos, a “Densidade Linear” da unidade,
obtida pela divisão do número de leitos pela metragem linear do
corredor, é de 1,03 leito por metro linear.

Na unidade localizada no 1º pavimento, há nove


postos de enfermagem distribuídos ao longo do corredor. A
descentralização buscou diminuir os percursos da enfermagem.
Cada um dos postos atende até oito quartos (ou 16 leitos).

O maior percurso posto-a-quarto é de 4,10 metros; o


quarto-a-quarto é de 8,00 metros.

O corredor mede 112,05 metros (ambos os lados).


Considerando que essa unidade possui 114 leitos, a “Densidade
Linear” da unidade é de 1,02 leito por metro linear.

São dois tipos de quartos diferentes: um com 4,80 metros


e outro com 5,325 metros de comprimento. Todos os quartos
possuem uma área anexa, voltada para o exterior, medindo
3,30 metros de comprimento e 1,60 metro de largura. Essa área
poderia ser utilizada de diferentes maneiras: poderia ser ocupada
como uma área de estar, um prolongamento do quarto para
receber mais um leito, uma área de apoio para a enfermagem
ou poderia servir como um berçário descentralizado. Todos os
Imagem 5.34 quartos possuem banheiros individualizados.
Quarto de internação (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
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5.2.5. Categoria 4: Segurança Biológica

Na prancha 35 foram analisados a distribuição espacial Visão geral do centro cirúrgico: o centro cirúrgico e
e os principais fluxos do centro cirúrgico, do centro obstétrico e
o centro obstétrico formam praticamente a mesma unidade.
da central de material esterilizado do Hospital da Guarnição do Possuem acessos independentes, mas os corredores estão
Galeão. As unidades estão localizadas no pavimento térreo do ligados internamente e compartilham duas salas de cirurgia. A
Bloco 01. central de material esterilizado foi posicionada ao lado do centro
cirúrgico. As duas unidades possuem comunicação por guichês
O centro cirúrgico possui 581,46 m² de área construída. para a retirada de material limpo e a entrega de material sujo.
É composto por uma sala de transferência de pacientes, três
vestiários de barreira, uma sala de recuperação pós-anestésica, Nota-se a preocupação de Karman com o controle
conforto médico e seis salas de cirurgia. As cubas de escovação biológico ao projetar os vestiários de barreira (que impedem os
das mãos ficam localizadas ao longo dos corredores, próximas cirurgiões e auxiliares de acessarem diretamente a unidade sem
às salas de cirurgia. antes se paramentarem) e a área de transferência de pacientes,
que trocam de macas antes de adentrarem a unidade (as macas
Para efeito de comparação, esse hospital possui 37,5 de fora da unidade não entram, são usadas somente macas
leitos por sala de cirurgia. internas).

O centro obstétrico possui 120,96 m² de área construída. É Já a central de material esterilizado possui acesso de
composto por três salas de pré-parto, um posto de enfermagem funcionários independente, fora do centro cirúrgico. A recepção
e uma sala de parto com visor de observação. Duas salas do do material sujo ocorre por guichês específicos e a devolução
centro cirúrgico podem ser utilizadas pelo centro obstétrico do material limpo por guichês diferentes. Dentro da unidade, não
(salas compartilhadas). há um fluxo contínuo de trabalho, sendo que o material que está
sendo preparado cruza com o material esterilizado.
A central de material esterilizado possui 189,00 m² de área
construída e fica localizada ao lado do centro cirúrgico, com
comunicação direta por meio de guichês localizados no corredor
restrito (interno ao centro cirúrgico).

O acesso de pacientes ocorre por uma sala exclusiva


de transferência, ao lado da recuperação pós-anestésica e o
de funcionários ocorre através de vestiários de barreira, que
possuem portas para fora da unidade e para dentro do corredor
restrito (interno ao centro cirúrgico).

O material sujo é recebido pela central de material


esterilizado por guichês específicos. Há um guichê para o material
sujo voltado para dentro do corredor restrito (interno ao centro
cirúrgico) e outro voltado para o corredor interno do hospital.
O preparo e a esterilização do material acontecem no mesmo
ambiente. O material limpo é armazenado em um ambiente
contíguo e depois é devolvido por dois guichês específicos: um
voltado para o corredor restrito e outro para o corredor interno do
hospital.
153
154

Na prancha 35 foram analisados a distribuição espacial


e os principais fluxos da unidade de terapia intensiva (UTI) e da
unidade de terapia semi-intensiva do Hospital da Guarnição do
Galeão.

A UTI e a semi-intensiva ficam localizadas na extremidade


sudoeste do 1º subsolo do Bloco 02. As duas formam praticamente
uma só unidade, pois possuem o mesmo acesso e compartilham
as áreas de apoio.

Essa unidade, que mede 474,98 m² de área construída,


possui três zonas: a de acesso dos visitantes, pacientes e
funcionários (onde também ficam localizadas as áreas de apoio),
a dos pacientes semi-intensivos e a dos pacientes intensivos.

A zona dos pacientes semi-intensivos é composta por


cinco quartos de dois leitos cada, com dimensões equivalentes
aos das internações. A zona dos pacientes intensivos é composta
por sete boxes de um ou dois leitos.

Ao todo são 09 leitos intensivos e 10 leitos semi-intensivos.


Para efeito de comparação, há nesse projeto um leito de UTI
para cada 23,77 leitos de internação.

O acesso dos pacientes ocorre diretamente, por uma


porta que se abre para o corredor da internação; a dos médicos
e funcionários ocorre através de vestiários de barreira e a de
visitantes através de uma sala de paramentação, também de
barreira (com porta para a sala de espera e porta para dentro da
unidade).

Visão geral da UTI e semi-intensiva: a unidade conta com


uma série de soluções que aumentam a segurança biológica
dos pacientes. Os vestiários de barreira para os médicos,
funcionários e visitantes colaboram para a redução das infecções
provenientes de fora, e a separação dos pacientes em boxes
(em duplas ou individualmente) colabora para a redução das
infecções provenientes de dentro da unidade.
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156

5.2.6. Categoria 5: Conforto Ambiental

Na Prancha 37 foram analisadas as características dos


jardins envoltórios e internos do Hospital da Guarnição do Galeão.

O Hospital foi implantado em uma ampla área verde. Há


jardins ao redor de todo o conjunto arquitetônico.

Há uma série de jardins internos localizados no Bloco


01. Alguns jardins poderiam ser ocupados, com o tempo, por
novas construções. Outros, destinados ao convívio dos usuários,
seriam preservados.

Os jardins internos somam 3.688,81 m², o equivalente a


16,52% da área construída.

Imagem 5.35 Imagem 5.36


Jardim voltado para o eixo externo (foto atual). Jardim voltado para o eixo interno (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero. Fotografia de Andrés Otero.

Imagem 5.37
Jardim entre os blocos 01 e 02 (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
157
158

Na Prancha 38 foi analisado o rebaixamento das lajes dos


1º e 2º subsolos do Hospital da Guarnição do Galeão.

As lajes de cobertura dos corredores e das varandas


dos quartos do 1º subsolo do Bloco 02 foram rebaixadas. Isso
possibilitou a criação do corredor técnico de apoio às internações
e de uma área de convivência para os funcionários, ambos no
espaço “interandar” (pavimento térreo).

O rebaixamento das lajes de cobertura possibilitou


também a criação de um duto de ventilação indireta para os
banheiros e os ambientes justapostos ao corredor central.
159
160

Na prancha 39 foi analisado o rebaixamento das lajes do


pavimento térreo do Hospital da Guarnição do Galeão.

A grelha de vigas vierendeel, como dito anteriormente,


possibilita a execução de lajes apoiadas e rebaixadas. Sendo
assim, há lajes rebaixadas ao longo de todo o Bloco 01.

Foram rebaixadas praticamente todas as lajes de


cobertura das circulações, possibilitando a instalação de
janelas altas entre a parte de baixo das vigas e o topo das lajes
rebaixadas (penduradas por tirantes). Esse sistema permitiu que
praticamente todos os espaços internos tivessem iluminação e
ventilação naturais. No caso dos ambientes que já possuíam
aberturas para os jardins, as janelas altas permitiam a ventilação
cruzada.
161
162

Na prancha 39 foi analisado o rebaixamento das lajes do


1º pavimento do Hospital da Guarnição do Galeão.

As lajes de circulação e das áreas anexas aos quartos


do 1º pavimento do Bloco 02 também foram rebaixadas, criando
duas faixas de ventilação e iluminação naturais para os quartos.
Essa solução permitia, inclusive, a ventilação cruzada.

Ao longo dos corredores da internação foram criados


lanternins de iluminação natural. Esses lanternins possuem seção
trapezoidal, com as janelas instaladas dos lados inclinados.
Foram executados 17 lanternins, que ofertavam iluminação para
os corredores e para os banheiros.

Visão geral das lajes rebaixadas: Karman projetou um


sistema estrutural para permitir a instalação, em larga escala, de
janelas altas. Seria possível, inclusive, reproduzir este sistema
nas futuras ampliações das unidades funcionais.

Pode-se dizer que Karman acreditava que o rebaixamento


das lajes para a criação de aberturas altas para o exterior
reduziria o consumo de energia do hospital (com menos gastos
provenientes da iluminação artificial e do uso de ar-condicionado)
e tornaria os ambientes internos mais agradáveis para os
usuários.

Imagem 5.38
Corredor da internação do
2º pavimento do Bloco 02.
163
164

Na Prancha 41 foi analisada a presença de áreas de


convivência dos 1º e 2º subsolos do Hospital da Guarnição do
Galeão.

O pilotis localizado no 2º subsolo do Bloco 02 configura uma


imensa área de convivência para os pacientes, acompanhantes,
visitantes, médicos e funcionários. Por se tratar de uma área
aberta, envolta por jardins, poderia ser utilizada também para
atividades terapêuticas.

No 1º subsolo do Bloco 02, considerou-se as áreas anexas


aos quartos como espaços de convivência mista, que poderiam
ser utilizados pelos pacientes, visitantes, acompanhantes e pelas
equipes de cuidados.
165
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Na Prancha 42 foi analisada a presença de áreas de


convivência no pavimento térreo do Hospital da Guarnição do
Galeão.

Há áreas de convivência externas e internas nesse


pavimento. No Bloco 01, a recepção é o local de encontro e de
permanência do público externo. A lanchonete, que fica ao lado,
também foi considerada uma área de convivência.

A lanchonete, inclusive, possui duas áreas destinadas


ao público: uma externa e outa interna. Essas áreas possuem
acessos separados.

No Bloco 02, há uma área destinada ao encontro e


descanso dos funcionários, localizada na varanda voltada para o
lado sudeste. A varanda voltada para o jardim interno (a noroeste)
não apresentou, ao se analisar as plantas originais, um uso claro.
Portanto, não foi considerada.
167
168

Na Prancha 43 foi analisada a presença de áreas de


convivência no 1º pavimento do Hospital da Guarnição do
Galeão.

Há uma área de convivência interna, localizada no 1º


pavimento do Bloco 01, internamente à unidade de ensino
e pesquisa. Trata-se de uma sala de estar aberta, que
aparentemente poderia ser frequentada por qualquer funcionário.

No Bloco 02, semelhante ao 1º subsolo, foram considerados


áreas de convivência mista os espaços anexos aos quartos de
internação.

Ao todo, as áreas de convivência somam 2.909,40 m². A


maior parte dessa metragem é destinada às áreas de convivência
mista, em virtude do pilotis do 2º subsolo e dos espaços anexos
aos quartos de internação.

Visão geral dos espaços de convivência: há uma grande


oferta de espaços destinados à convivência. O pilotis do 2º
subsolo e os espaços anexos aos quartos propiciam mais
conforto físico e psicológico aos usuários e promovem o encontro
dos pacientes com seus familiares e amigos. Porém, os espaços
de convivência mais interessantes deste projeto não são os
internos, mas sim os externos, formados, principalmente, pelos
jardins localizados no centro do Bloco 01 e entre os Blocos 01 e
02.
169
170
5.3. ANÁLISE: INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER E QUEIMADOS

Na década de 1980, um consórcio formado por empresas


brasileiras foi responsável pelo desenvolvimento de projetos
hospitalares em alguns países latino-americanos. Jarbas Karman
foi convidado a participar, assumindo a responsabilidade pela
arquitetura. Foram desenvolvidos projetos para o Paraguai, Chile,
Equador e Uruguai.

O primeiro projeto a ser desenvolvido, e o único a ser


executado, foi um hospital especializado no tratamento oncológico
e de queimados. O Instituto Nacional de Câncer e Queimados,
atualmente chamado de Instituto Nacional del Cancer (INCAN),
localiza-se em Capitá, província pertencente ao Departamento
Central, próxima ao distrito de Areguá, no Paraguai.

O projeto foi desenvolvido com a colaboração do arquiteto


Domingos Fiorentini (1945-2014) e foi entregue em 1982.

Imagem 5.39
Perspectiva do Hospital de Nunoa,
em Santiago do Chile (não construído).

Imagem 5.40
Perspectiva do Hospital Geral de Babahoyo,
em Quevedo, Equador (não construído).
171

Imagem 5.41
Foto aérea do
Instituto de Câncer e Queimados.
172

5.3.1. Redesenhos e aproximação

O projeto é composto por dois blocos principais, um térreo


e outro com três pavimentos (subslolo semienterrado e mais dois
pisos). Os blocos são conectados por meias rampas. O bloco
térreo foi posicionado em uma cota intermediária entre o 2º e 3º
piso do bloco com três pavimentos. O hospital foi implantado em
um lote de 178.520,35 m², na Ruta Arégua, estrada que liga a
província de Capiatá ao distrito de Areguá.

O bloco térreo, denominado a partir de agora como Bloco


01, é formado por diversos ouros blocos menores, separados por
jardins e conectados por dois eixos de circulação. A disposição
dos blocos menores forma um retângulo virtual com dimensões
aproximadas de 233,50 m por 64,00 m.

O bloco com três pavimentos, denominado a partir de


agora como Bloco 02, está localizado a nordeste do conjunto. Foi
implantado paralelamente ao Bloco 01, com distância de 27,45
metros. Este bloco possui planta retangular, medindo 108,90
metros de comprimento por 21,75 metros de largura.

Os piso térreo do Bloco 01 se conecta com o térreo e o


1º pavimento do Bloco 02 por meio de dois conjuntos de meias-
rampas.

O projeto segue uma modulação arquitetônica com


distâncias derivadas de 1,20 metros e submódulos de 0,60 e
0,30 metro, tanto no sentido longitudinal, quanto no transversal.
As medidas dos ambientes, a distância dos pontos estruturais
e de muitos dos componentes construtivos seguiram essa
modulação.

A modulação arquitetônica foi reproduzida nos redesenhos


da mesma forma como consta no projeto arquitetônico.

O sistema construtivo é composto de pilares, vigas e


lajes em concreto armado. O projeto possui lajes apoiadas e
penduradas nas vigas. Os fechamentos são majoritariamente
feitos em alvenaria e caixilhos de ferro, os revestimentos externos
são em tijolos cerâmicos aparentes.

A área total construída é de 14.554,27 m².

Imagem 5.42
Vista do Bloco 02 a partir da marquise de acesso do pronto-socorro.
173
174

Imagem 5.43 Imagem 5.44


Maquete do Instituto Nacional de Câncer e Queimados. Maquete do Instituto Nacional de Câncer e Queimados.
175
176

Imagem 5.45
Elevação noroeste do Instituto Nacional de
Câncer e Queimados.

Imagem 5.46
Elevação nordeste do Instituto Nacional de
Câncer e Queimados.
177
178

Imagem 5.47
Vista do acesso principal do Instituto
Nacional de Câncer e Queimados.

Imagem 5.48
Vista do Bloco 02 do Instituto
Nacional de Câncer e Queimados.
179
180

5.3.2. Categoria 1: agrupamento funcional

O Instituto Nacional de Câncer e Queimados é um


hospital especializado. Possui pronto atendimento, atendimento
ambulatorial, atendimento em regime de internação, radiologia,
laboratório de análises clínicas, unidade de oncologia, unidade
de reabilitação motora e cirurgia.

São três pavimentos, definidos nesta pesquisa como 1º


subsolo, térreo e 1º pavimento.

O 1º subsolo, semienterrado, abriga a residência médica.


181
182

O pavimento térreo concentra todos os serviços de


diagnóstico e terapia, administrativos e de apoio técnico-logístico.

O Bloco 01 abriga a administração, o pronto-socorro,


o ambulatório, a radiologia, o hemocentro, o laboratório de
análises clínicas, o laboratório de anatomia patológica, a unidade
de tratamento radioterápico (com um acelerador linear), a
fisioterapia, o centro cirúrgico, a central de material esterilizado,
a unidade de terapia intensiva, a unidade de ensino e pesquisa,
os refeitórios, a cozinha, o almoxarifado, os vestiários de
funcionários, a lavanderia, as áreas de abastecimento, a doca
de descarga, a central de gases, a manutenção, o morgue e o
depósito de resíduos.

O Bloco 02 abriga uma das unidades de internação.


183
184

O 1º pavimento do Bloco 02 abriga a outra unidade de


internação.

Imagem 5.49
Vista do Bloco 02 e das rampas de ligação (foto atual).
Fotografia de Federico Cairoli.

Imagem 5.50
Vista posterior do Bloco 02 (foto atual).
Fotografia de Federico Cairoli.
185
186

Ao se observar a distribuição funcional, nota-se que o Visão geral do agrupamento funcional: a distribuição
projeto buscou criar unidades funcionais autônomas. do programa arquitetônico propõe a criação de unidades
funcionais autônomas, cujos ambientes estejam agrupados em
As unidades que se relacionam com o público externo volumes independentes, dispersos ao longo do Bloco 01. Isso
(ambulatório, administração, pronto-socorro, fisioterapia, possibilita que cada unidade estabeleça seus fluxos e rotinas,
radiologia, o laboratório de análises clínicas, a radioterapia gerando flexibilidade operacional. A aproximação de unidades
e os auditórios) foram posicionadas no térreo, a sudoeste do afins (como o centro cirúrgico, a central de material esterilizado
conjunto. Essas unidades possuem acessos independentes: e a UTI) demonstra a preocupação em encurtar os percursos
entrada exclusiva para os pacientes externos e outra, do lado críticos. A posição do bloco das internações, paralelo ao bloco
oposto, exclusiva para os funcionários (gerando sempre um principal, facilita a criação de mais de um eixo de conexão (no
acesso interno e outro externo). caso deste projeto, dois conjuntos de meias rampas), situação
que diminui as distâncias percorridas pelos funcionários.
A posição de cada unidade deve ser destacada:
considerando o fluxo do paciente externo (da chegada até
o atendimento), a primeira unidade é a administração (onde
se localiza a recepção principal), depois o ambulatório, a
radiologia, os laboratórios, a radioterapia, a fisioterapia, os
auditórios e a lanchonete. O pronto-socorro se localiza próximo
à administração, mas em sentido oposto ao ambulatório. Essa
disposição, considerando o percurso do público externo, cria
certa privacidade para o paciente que precisa de atendimento
urgente, separando sua chegada do paciente ambulatorial.

O centro cirúrgico, a central de esterilização e a unidade


de terapia intensiva foram aproximadas e ocupam uma faixa
central do conjunto.

As unidades relacionadas à rotina operacional do hospital


(apoio técnico-logístico) ficam posicionadas mais a sudeste do
conjunto, numa faixa oposta à entrada principal.

Sendo assim, pode-se concluir que há duas faixas


programáticas: uma destinada às unidades que se relacionam
tanto com os pacientes externos quanto com os usuários internos,
e outra destinada às unidades que se relacionam somente com
os usuários internos.

As internações e a residência médica foram agrupadas


no Bloco 02, que possui três pavimentos. Como as duas
unidades de internação possuem praticamente o mesmo leiaute,
a sobreposição dos andares se torna uma solução eficiente,
pois possibilita atingir um maior número de leitos sem aumentar
desnecessariamente os percursos.
187
188

5.3.3. Categoria 2: Flexibilidade Física

Na Prancha 52 foram analisadas as áreas de expansão do


Instituto Nacional de Câncer e Queimados.

Há uma série de jardins internos entre as unidades


funcionais. A maioria deles poderia ser ocupada com futuras
expansões. Cada jardim possibilitaria a expansão de uma ou mais
unidades funcionais autônomas sem prejudicar o funcionamento
das outras adjacentes. Todas as unidades poderiam ampliar sua
área construída.

O Bloco 02, destinado às internações e à residência


médica, poderia ampliar suas dimensões em ambos os lados no
sentido noroeste-sudeste. Seria possível criar mais 116 quartos,
acrescendo mais 232 leitos ao hospital.

As áreas destinadas às expansões totalizam 8.929,39 m².


Isso permitiria que o hospital crescesse 61,35% em relação à
sua área construída.

Imagem 5.51
Jardim interno entre blocos que poderia se ocupado com
futuras ampliações (foto atual).
Fotografia de Federico Cairoli.
189
190

Na prancha 53 foi analisada a configuração dos espaços


técnicos do Instituto Nacional de Câncer e Queimados.

Os espaços técnicos são configurados, principalmente,


pela elevação dos telhados que cobrem as lajes do Bloco 01.
Essa solução não permite o acesso com facilidade das equipes
de manutenção, mas possui baixo custo de implantação.

A maior parte dos espaços técnicos são baixos, medindo


(na cumeeira dos telhados) cerca de 1,20 metro de altura. Porém,
a altura do telhado acima da sala de procedimentos do pronto-
socorro, das salas de cirurgia e do eixo interno de circulação
interna é maior, medindo (na cumeeira dos telhados) 2,10 metros.
Nestes espaços, facilmente acessados pelos funcionários da
manutenção, poderiam ser instalados máquinas e equipamentos.

No Bloco 02, há uma pequena casa de máquinas, que fica


abaixo do barrilhete das caixas d’água. Nesse espaço também
poderia ser instalados máquinas e equipamentos.

Neste projeto, não há a presença de espaços


“interandares”.

Imagem 5.52
Corte longitudinal do
pronto-socorro.
191
192

5.3.4. Categoria 3: Eficiência e Racionalização

Na Prancha 54 foram analisados as circulações e os


acessos do 1º subsolo do Instituto Nacional de Câncer e
Queimados.

No 1º subsolo há somente circulações internas, destinadas


aos médicos e funcionários que frequentam a residência médica.
193
194

Na Prancha 55 foram analisados as circulações e os


acessos do pavimento térreo do Instituto Nacional de Câncer e
Queimados.

O térreo possui circulações externas, mistas, internas e


restritas.

No Bloco 01, os pacientes externos transitam por um eixo


exclusivo, localizado na extremidade sudoeste do Bloco 01. Esse
eixo se inicia na recepção principal (unidade administrativa) e
culmina no acesso dos auditórios e da lanchonete. A circulação
externa conecta as unidades que se relacionam com os pacientes
externos (pronto-socorro, administração, ambulatório, radiologia,
laboratórios, radioterapia, fisioterapia, auditórios e lanchonete).

Os pacientes internos e funcionários transitam em um eixo


exclusivo, que cruza o Bloco 01 no sentido longitudinal. Esse
eixo conecta todas as unidades funcionais do hospital.
Imagem 5.53 Imagem 5.54
Eixo de circulação externa (foto atual). Trecho aberto da circulação interna (foto atual).
Fotografia de Federico Cairoli. Fotografia de Federico Cairoli. Há um trecho do eixo interno onde os visitantes e
acompanhantes dos pacientes internados acabam transitando.
Esse trecho foi considerado uma circulação mista por não
haver outra forma, por dentro do hospital, de o público externo
acessar as internações e a UTI. Há um acesso descoberto para
os visitantes, externo ao hospital. Porém, certamente não seria
utilizado em dias de chuva.

Sendo assim, um dos eixos de conexão entre os blocos foi


considerado de circulação mista.

No Bloco 02 há circulações externas, internas e mistas.


Os acompanhantes e visitantes transitam por corredores
localizados nas extremidades do bloco, justapostos aos quartos.
Esses corredores são avarandados, voltados para os jardins
externos e internos, servindo também como área de convivência.
A enfermagem, os médicos e os funcionários circulam por
um corredor central, exclusivo. As circulações mistas estão
localizadas no prolongamento das rampas, local de cruzamento
dos fluxos internos e externos.

Em relação aos acessos, existem entradas internas e


externas, devidamente separadas e afastadas umas das outras.
São 10 acessos externos e quatro acessos internos.
Imagem 5.55 Imagem 5.56
Trecho fechado da circulação interna (foto atual). Meias rampas de ligação entre os blocos (foto atual).
Fotografia de Federico Cairoli. Fotografia de Federico Cairoli.
195
196

Na Prancha 56 foram analisados os acessos e as Ao todo, as circulações ocupam uma área de 5.464,60 m²
circulações do 1º pavimento do Instituto Nacional de Câncer e (37,55% da área construída).
Queimados.

No 1º pavimento há circulações externas, internas e mistas.


As circulações acontecem de forma equivalente ao pavimento
inferior: os acompanhantes e visitantes se deslocam por
corredores localizados nas extremidades do bloco, justapostos
aos quartos, os funcionários transitam por um corredor central
e as circulações mistas estão localizadas no prolongamento
das rampas, onde acontece o cruzamento dos fluxos internos e
externos.

Visão geral dos acessos e circulações: o projeto apresenta


uma segregação parcial dos acessos e das circulações, evitando
cruzamentos indesejados e a mistura de pessoal interno e
externo. As circulações mistas aparecem somente no trecho que
os visitantes precisariam percorrer para acessar as internações
e a UTI; trajeto que seria feito após a liberação do público na
recepção principal.

Essa configuração torna desnecessária a implantação


de catracas e sistemas de controle na recepção principal para
os pacientes externos que serão atendidos no ambulatório, na
radiologia, nos laboratórios, na radioterapia ou na fisioterapia,
delegando esse controle para cada unidade funcional. O controle
só acontece para os visitantes que irão para a UTI ou para as
internações.

Um aspecto importante de destacar é a separação das


circulações externas e internas nas internações, gerando um
corredor central exclusivamente de serviços.

Os acessos correspondem à separação das circulações:


os externos foram pensados para evitar que o público externo
circulasse livremente pelo hospital; os internos são controlados e
só pessoas autorizadas podem adentrar o hospital.

A metragem das circulações internas é ligeiramente maior


que a das circulações externas. As internas possuem 2.456,52
m² e as externas 2.179,46 m². A maior segregação fez com que
a metragem das circulações mistas tivesse apenas 709,56 m²
(12,98% do total da área de circulação).
Imagem 5.57
Corredor externo avarandado do Bloco 02 (foto atual).
Fotografia de Federico Cairoli.
197
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Na Prancha 57 foi analisada a distribuição espacial das


internações do Instituto Nacional de Câncer e Queimados.

A unidade localizada no pavimento térreo possui três


alas: uma a noroeste, uma centralizada e outra a sudeste. As
três alas possuem 36 quartos adultos com dois leitos cada e
nove quatros pediátricos com três leitos cada, totalizando 45
quartos. O número de leitos considerados para a unidade foi de
90 (considerando a normalização proposta no capítulo 4 para
possibilitar a comparação da capacidade de leitos entre os
projetos).

Os quartos, a área de circulação externa e algumas áreas


de apoio foram posicionados em ambas as fachadas longitudinais
do edifício (fachadas opostas), gerando um corredor único de
circulação. Os postos de enfermagem, os depósitos de material
de limpeza, os sanitários de funcionários e outros ambientes de
apoio ficam localizados ao longo do corredor central (destinado
somente ao tráfego de funcionários).

A unidade localizada no 1º pavimento segue a mesma


lógica organizacional. São três alas com 44 quartos adultos de
dois leitos cada e quatro quartos de isolamento com um leito
cada. Ao todo são 48 quartos e 96 leitos (considerando dois
leitos por quarto).

Imagem 5.58
Corredor da unidade de internação do 1º pavimento.
199
200

Na prancha 58 foram analisados os percursos das São dois tipos de quartos diferentes: um com antecâmara
internações e as densidades lineares do Instituto Nacional de para permitir o isolamento dos pacientes e a paramentação
Câncer e Queimados. das equipes de cuidados (necessário para os pacientes com
queimaduras de grau elevado) e outro sem. Os quartos com
Na unidade localizada no pavimento térreo, a ala noroeste antecâmara ficam no final das alas noroestes dos dois andares.
possui um posto, que atende oito quartos (16 leitos). Na ala O comprimento (de eixo a eixo das paredes) do quarto com
central há quatro postos, cada um atende oito quartos (16 leitos). antecâmara é de 4,15 metros, enquanto o sem antecâmara
Na ala sudeste há um posto, que atende cinco quartos (10 leitos). mede 5,05 metros. Ambos os tipos de quartos possuem larguras
Os postos descentralizados estão posicionados ao longo do iguais, medindo 3,60 metros (de eixo a eixo das paredes). Todos
corredor. A descentralização buscou diminuir os percursos da os quartos possuem banheiro individualizados.
enfermagem.
Visão geral das internações: a configuração das
Dois percursos foram medidos: a distância do posto até internações deste projeto pode ser entendida como uma unidade
o quarto mais distante e aquela entre os quartos que o posto “duplamente carregada”, composta por um corredor central e
atende. Ambos foram medidos em metros lineares, considerando quartos dos dois lados.
da saída do posto até a porta dos quartos.
Foi proposta uma descentralização radical dos postos
O maior percurso posto-a-quarto é de 10,10 metros; o de enfermagem. Há uma pequena variação no número de leitos
quarto-a-quarto é de 13,40 metros. Porém, o percurso médio atendida por cada posto, porém, no geral, cada um atenderia no
(que mais se repete) é de 4,30 metros posto-a-quarto e de 8,60 máximo 16 leitos. Essa solução reduz drasticamente o percurso
metros quarto-a-quarto. da enfermagem, tornando o trabalho mais eficiente e menos
desgastante.
O corredor mede 107,85 metros. Considerando que essa
unidade possui 90 leitos, a “Densidade Linear” da unidade,
obtida pela divisão do número de leitos pela metragem linear do
corredor, é de 0,83 leito por metro linear.

Na unidade localizada no pavimento térreo, a ala noroeste


possui um posto que atende 10 quartos (20 leitos). Na ala central
há quatro postos, cada um atende oito quartos (16 leitos). Na
ala sudeste há um posto que atende seis quartos (12 leitos).
Os postos descentralizados estão posicionados ao longo do
corredor.

O maior percurso posto-a-quarto é de 10,10 metros;


o quarto-a-quarto é de 14,40 metros. Porém, assim como no
pavimento térreo, o percurso médio (que mais se repete) é de
4,30 metros posto-a-quarto e de 8,60 metros quarto-a-quarto.

O corredor mede 107,85 metros. Considerando que essa


unidade possui 96 leitos, a “Densidade Linear” da unidade,
obtida pela divisão do número de leitos pela metragem linear do
corredor, é de 0,89 leito por metro linear.
201
202

5.3.5. Categoria 4: Segurança Biológica

Na prancha 59 foram analisados a distribuição espacial e Visão geral: O centro cirúrgico e a central de material
os principais fluxos do centro cirúrgico e da central de material esterilizado formam praticamente a mesma unidade. Possuem
esterilizado do Instituto Nacional de Câncer e Queimados. As acessos independentes, mas há a comunicação interna para se
unidades estão localizadas no pavimento térreo do Bloco 01. entregar e retirar o material por meio de portas-guichê.

O centro cirúrgico possui 520,36 m² de área construída. Os pacientes trocam de maca e os funcionários precisam
É composto por uma sala de transferência de pacientes, dois passar obrigatoriamente pelos vestiários para acessarem o
vestiários de barreira (masculino e feminino), uma sala de centro cirúrgico. O acesso da central de material esterilizado
recuperação pós-anestésica, conforto médico, conforto da ocorre pelo lado de fora, pelo corredor interno do hospital. Isso
enfermagem e quatro salas de cirurgia. As cubas para escovação faz com que os funcionários da central de material esterilizado
das mãos ficavam localizadas em ambientes contíguos às salas não circulem por dentro do corredor restrito. Essas barreiras
de cirurgia (próximo às portas), abertos para os corredores contribuem com a segurança biológica interna das unidades.
internos da unidade.
Outro aspecto importante de se destacar é a redução
Para efeito de comparação, esse hospital possui 48 leitos dos cruzamentos do material sujo e limpo na central de material
por sala de cirurgia. esterilizado. A unidade foi separada em duas zonas, uma
suja e outra limpa. O material sujo é recebido pelo expurgo e
A central de material esterilizado possui 177,31 m² de área só é entregue para a esterilização depois de passar por uma
construída e fica localizada ao lado do centro cirúrgico, com lavagem preliminar. O impedimento do trânsito de pessoas entre
comunicação direta por meio de guichês localizados no corredor as duas zonas também colabora para a diminuição do risco de
restrito (interno ao centro cirúrgico). contaminação cruzada do material.

O acesso de pacientes ocorre por uma sala exclusiva de


transferência, ao lado da secretaria e próximo da recuperação
pós-anestésica. O acesso de funcionários ocorre através de
vestiários de barreira, que possuem portas para fora da unidade
e para dentro do corredor restrito (interno ao centro cirúrgico).

A Central de material esterilizado possui três ambientes


principais: o expurgo (área suja), a área de preparo e esterilização
e o depósito de material esterilizado (áreas limpas). O material
sujo é recebido pelo expurgo por portas-guichê específicas, uma
voltada para o corredor restrito (interno ao centro cirúrgico) e outra
voltada para o corredor interno do hospital. Após a recepção
e a lavagem preliminar, o material (ainda sujo) é entregue para
a área de preparo por meio de guichês. Não há portas entre
o expurgo e a área de preparo que permitam a passagem de
funcionários. O preparo e a esterilização do material acontecem
no mesmo ambiente. O material esterilizado é armazenado em
uma sala contígua e depois é devolvido por duas portas-guichê
específicas: uma voltada para o corredor restrito (interno ao
centro cirúrgico) e outra para o corredor interno do hospital. Os
acessos das áreas suja e limpa acontecem pelo corredor interno
do hospital.
203
204

Na prancha 60 foram analisados a distribuição espacial


e os principais fluxos da unidade de terapia intensiva (UTI) do
Instituto Nacional de Câncer e Queimados.

A UTI fica localizada ao lado da central de material


esterilizado e próxima ao centro cirúrgico, no térreo do Bloco 01.
A unidade mede 281,50 m² de área construída.

Pode-se dizer que são duas unidades em uma: cada


ala possui três boxes individuais de internação, um posto de
enfermagem, rouparia, sanitário de funcionários e um depósito
de material de limpeza. Os acessos de pacientes, os vestiários de
barreira dos funcionários, as salas de acolhimento dos familiares,
o conforto médico e a sala de utilidades estão localizados entre
as alas e o corredor interno do hospital. Os visitantes possuem
acessos separados, sem comunicação direta com os espaços
internos da UTI, a não ser por guichês localizados nas salas de
estar e voltados para as salas de acolhimento. Eles adentram
a unidade por duas salas de estar independentes, ligadas a
corredores contíguos aos boxes, onde podem observar os
pacientes por meio de visores de vidro fixo.

Ao todo são 06 leitos intensivos distribuídos em boxes


individuais. Dois boxes de cada ala dividem uma antecâmara e
um sanitário, possibilitando a criação de dois isolamentos por ala
(mediante pressurização de ar interno aos boxes).

Para efeito de comparação, há nesse projeto um leito de


UTI para cada 31 leitos de internação.

Visão geral da UTI e semi-intensiva: a unidade conta com


uma série de soluções que aumentam a segurança biológica
dos pacientes. Os vestiários de barreira para os médicos e
funcionários e as salas de observação separadas para os
visitantes colaboram com a redução das infecções provenientes
de fora da unidade, e a separação dos pacientes em boxes
individuais colabora para a redução das infecções provenientes
de dentro da unidade.

Imagem 5.59
Vista para os boxes individuais da UTI.
205
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5.3.6. Categoria 5: Conforto Ambiental

Na Prancha 61 foi analisada a configuração dos jardins


envoltórios e internos do Instituto Nacional de Câncer e
Queimados.

O hospital foi implantado em uma região pouco urbanizada.


O lote possui uma extensa área verde e considerável massa
arbórea. Há jardins ao redor de todo o conjunto arquitetônico.

Há uma série de jardins internos localizados no Bloco


01, que poderiam ser ocupados, com o tempo, por novas
construções. Há também um grande jardim interno entre
os blocos 01 e 02, conformado pelos dois eixos de conexão,
que deveria ser preservado em grande parte para o uso dos
pacientes, acompanhantes, visitantes e funcionários.

Os jardins internos somam 4.597,31 m², o equivalente a


31,58% da área construída.

Imagem 5.60
Jardim entre os blocos 01 e 02.
207
208

Na Prancha 62 foi analisado o rebaixamento das lajes do


pavimento térreo do Instituto Nacional de Câncer e Queimados.

Foram rebaixadas praticamente todas as lajes de cobertura


das circulações do Bloco 01, possibilitando a instalação de
janelas altas entre a parte de baixo das lajes altas e o topo
das lajes baixas. As lajes rebaixadas são apoiadas em alguns
momentos e penduradas por tirantes em outros.

Esse sistema permitiu que praticamente todos os espaços


internos tivessem iluminação e ventilação naturais. No caso dos
ambientes que já possuíam aberturas para os jardins, as janelas
altas permitiam a ventilação cruzada.

Ao longo dos corredores da UTI, da radiologia, dos


laboratórios, da radioterapia e no salão da cozinha foram criados
lanternins de iluminação natural. Os lanternins são formados por
uma caixa de alvenaria sobre uma abertura quadrada nas lajes
rebaixadas. Possuem duas janelas verticais opostas e cobertura
em telha de fibrocimento. Esses lanternins complementam
o sistema de iluminação por janelas altas, uma vez que os
corredores não são beneficiados pelas aberturas geradas com o
rebaixamento das lajes.

Imagem 5.61
Detalhe do lanternim.
209
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Na prancha 63 foi analisado o rebaixamento das lajes do


1º pavimento do Instituto Nacional de Câncer e Queimados.

No 1º pavimento do Bloco 02, ao invés do corredor


central, foram rebaixadas as lajes de cobertura em dois trechos
longitudinais. Cada trecho possui uma parte maior sobre os
banheiros e outra parte menor sobre os quartos. Essa solução
permite a iluminação e a ventilação naturais para os banheiros e
ventilação cruzada para os quartos.

Visão geral das lajes rebaixadas: quase todas as lajes


de cobertura dos corredores foram rebaixadas. No segundo
pavimento do Bloco 02 as lajes rebaixadas são ligeiramente
diferentes da forma como foram propostas no Bloco 01, porém,
com o mesmo objetivo.

Sendo assim, conclui-se que os autores acreditavam que


o rebaixamento das lajes para a criação de aberturas altas para o
exterior reduziria o consumo de energia do hospital (com menos
gastos provenientes da iluminação artificial e do uso de ar-
condicionado) e tornaria os ambientes internos mais agradáveis
para os usuários.

Imagem 5.62
Lajes rebaixadas na sala de mecanoterapia (unidade de fisioterapia).
211
212

Na Prancha 64 foi analisada a presença de áreas de


convivência do 1º subsolo do Instituto Nacional de Câncer e
Queimados.

Há apenas uma área de convivência interna. Trata-se da


sala de estar e cozinha da residência médica. Como a unidade
não possui portas que impeçam outros funcionários de entrar
e os dormitórios são todos suítes (não havendo a necessidade
de se banhar em vestiários coletivos), considerou-se essa área
como de uso coletivo do pessoal interno do hospital.
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Na Prancha 65 foi analisada a presença de áreas de


convivência do pavimento térreo do Instituto Nacional de Câncer
e Queimados.

Há áreas de convivência externas e internas nesse


pavimento. No Bloco 01, a recepção é o local de encontro e de
permanência do público externo. No Bloco 02, as circulações
avarandadas externas das internações podem ser utilizadas
como local de encontro e convivência dos pacientes internados,
dos acompanhantes e dos visitantes.

A área de convivência interna fica localizada na unidade


de estar para médicos e plantonistas. Há uma sala de estar que
antecede os quartos de descanso e se abre para o corredor
interno do hospital.

Imagem 5.63
Marquise da entrada principal (foto atual).
Fotografia de Federico Cairoli.

Imagem 5.64
Vista interna da recepção principal.
215
216

Na Prancha 66 foram analisadas as áreas de convivência


do 1º pavimento do Instituto Nacional de Câncer e Queimados.

Assim como no pavimento térreo, as circulações


avarandadas externas das internações podem ser utilizadas
como local de encontro e convivência dos pacientes internados,
dos acompanhantes e dos visitantes.

Visão geral: os espaços de convivência foram pensados


pontualmente. As salas de estar no 1º subsolo e na unidade de
plantonistas no térreo são os locais de encontro e descanso
dos médicos e de outros funcionários. As circulações externas
avarandadas das internações permitem o encontro e a convivência
dos pacientes internados com o público externo, sem interferir
no trabalho da enfermagem. Porém, os espaços de convivência
mais interessantes deste projeto não são os internos, mas sim os
externos, formados por vários jardins localizados no Bloco 01 e
entre os Blocos 01 e 02.

Imagem 5.65
Vista posterior do Bloco 02 - corredor externo e área de
convivência dos visitantes e acompanhantes (foto atual).
Fotografia de Federico Cairoli.
217
218
5.4. ANÁLISE: HOSPITAL UNIMED SOROCABA

A Confederação Nacional das Cooperativas Médicas –


Unimed do Brasil foi fundada em 1975 para congregar uma série
de cooperativas médicas em todo o Brasil. Atualmente, reúne
334 cooperativas, possui 2.445 hospitais credenciados e 119
hospitais próprios [1].

No início da década de 1990, Jarbas Karman foi contratado


para desenvolver o projeto arquitetônico de um hospital para a
cooperativa sediada em Sorocaba, cidade do interior de São
Paulo.

O projeto, desenvolvido em colaboração com Domingos


Fiorentini, foi entregue em 1992 e o hospital, hoje chamado de
Hospital Dr. Miguel Soeiro, foi inaugurado em 1996.

A repercussão deste projeto entre os cooperados fez com


que Karman desenvolvesse outros trabalhos para a Unimed.
Entre os mais importantes, estão os projetos para os hospitais
de Rio Claro (1995), de Araçatuba (1995), de Catanduva (2001)
e de Tatuí (2003), cidades do interior paulista. Destes, somente o
de Araçatuba e o de Tatuí foram executados.

Imagem 5.66 Imagem 5.67


Maquete do Hospital Unimed Rio Claro (não construído). Pespectiva eletrônica do Hospital Unimed Tatuí.

1 De acordo com as informações obtidas na página


https://www.unimed.coop.br/, em 20/02/2020.
219

Imagem 5.68
Foto aérea do Hospital
Unimed Sorocaba.
220

5.4.1. Redesenhos e aproximação

O projeto é composto por oito blocos térreos separados


por jardins e conectados por circulações. Desconsiderando o
Bloco 01 (administração e o hospital-dia), o Bloco 06 (centro
cirúrgico, centro obstétrico e central de material esterilizado) e o
Bloco 08 (serviços de apoio técnico-logístico), cada bloco abriga
uma unidade funcional.

Os blocos 01, 03, 04 e 05 ficam posicionados a sudoeste


do conjunto; os blocos 02 e 06 ficam centralizados; o Bloco 07
fica a sudoeste e o Bloco 08 a nordeste.

O Bloco 07, que abriga as internações, foi ampliado logo


após a inauguração do hospital. O redesenho desse projeto
considerou essa ampliação por dois motivos: a ampliação já
fazer parte do Plano Diretor e favorecer uma melhor apreensão
das ideias do autor (ver imagem 5.62).

O projeto segue uma modulação arquitetônica com


distâncias derivadas de 1,20 metro e submódulos de 0,60 e 0,30
metro, tanto no sentido longitudinal quanto no transversal. As
medidas dos ambientes, a distância dos pontos estruturais e de
muitos dos componentes construtivos foram definidas seguindo
essa modulação. A modulação arquitetônica foi reproduzida
nos redesenhos da mesma forma como consta no projeto
arquitetônico.

O sistema construtivo é composto por pilares, vigas e


lajes em concreto armado. O projeto possui lajes apoiadas
e penduradas nas vigas. As paredes internas e externas
são majoritariamente feitas em alvenaria, os caixilhos foram
executados em ferro e os revestimentos externos são em tijolos
cerâmicos aparentes.

O projeto possui elementos arquitetônicos externos em


chapas cimentícias pré-fabricadas, que desempenham o papel
de brise-solis e de fechamento dos corredores externos.

O hospital foi implantado em um lote de 67.135,00 m², no


bairro Jardim São Paulo, com acesso pela pelas ruas Antonia
Dias Petri, Ubira Swinerd Martins e Antonio Aparecido Ferraz.

A área total construída é de 10.277,07 m².


Imagem 5.69
Implantação da primeira etapa, antes
da ampliação do Bloco 07.
221
222

Imagem 5.70
Maquete do Hospital Unimed Sorocaba.
223
224

5.4.2. Categoria 1: agrupamento funcional

O Hospital Unimed Sorocaba é um hospital geral


e maternidade. Possui pronto atendimento, atendimento
ambulatorial, atendimento em regime de internação, diagnóstico
por imagem, laboratório de análises clínicas e cirurgia.

O Hospital possui oito blocos e um só pavimento.

O Bloco 01 abriga a administração e a unidade de hospital-


dia (que realiza procedimentos e pequenas cirurgias que não
necessitam de internação).

O Bloco 02 abriga o pronto-socorro.

O Bloco 03 abriga a unidade de diagnóstico por imagem.

O Bloco 04 abriga o laboratório de análises clínicas.

O Bloco 05 abriga a unidade de tratamento intensivo (UTI).

O Bloco 06 abriga o centro cirúrgico, o centro obstétrico e


a central de material esterilizado.

O Bloco 07 abriga as internações.

O Bloco 08 abriga as áreas de apoio técnico-logístico


(vestiários de funcionários, abastecimento, manutenção, morgue,
farmácia, almoxarifado, cozinha, refeitório e lavanderia).
225
226

Ao se observar a distribuição funcional, nota-se que o Sendo assim, pode-se concluir que há três faixas
projeto apresenta boa parte das unidades funcionais implantadas programáticas: uma destinada às unidades que se relacionam
em blocos autônomos, separados uns dos outros. tanto com os pacientes externos quanto com os usuários internos,
uma intermediária que se relaciona com o atendimento ao
As unidades que se relacionam com o público externo paciente interno e outra destinada às unidades de apoio técnico-
(administração, hospital-dia, pronto-socorro, diagnóstico por logístico, que se relacionam somente com as rotinas internas do
imagem e o laboratório de análises clínicas) foram posicionadas hospital e que não devem ser acessadas pelo público externo.
a sudoeste do conjunto. Essas unidades possuem acessos
independentes: entrada exclusiva para os pacientes externos e Visão geral do agrupamento funcional: a distribuição do
outra, do lado oposto, exclusiva para os funcionários (gerando programa arquitetônico propõe a criação de unidades funcionais
sempre um acesso interno e outro externo). autônomas em blocos independentes. Isso possibilita que cada
unidade possa operar de forma independente, com fluxos e rotinas
A UTI também foi posicionada a sudoeste do conjunto, específicas, gerando flexibilidade operacional. A aproximação
para facilitar o acesso dos visitantes. O posicionamento da de unidades afins (como o centro cirúrgico, UTI e internação)
unidade não prejudicou o acesso interno de pacientes e de demonstra a preocupação em encurtar os percursos críticos. A
funcionários. posição do bloco das internações, paralela aos demais, facilita a
criação de mais de um eixo de conexão (no caso deste projeto,
O bloco da internação foi posicionado paralelamente aos três corredores) e também diminui as distâncias percorridas
outros, de forma a possibilitar um acesso independente para pelos funcionários.
o público externo e dois acessos internos (um que conecta as
unidades médico-hospitalares e outro que conecta as unidades
de apoio técnico-logístico).

A posição de cada unidade deve ser destacada:


considerando o fluxo do paciente externo (da chegada até o
atendimento), a primeira unidade é a administração (onde se
localiza a recepção principal). Do lado esquerdo, encontra-
se o hospital-dia; do lado direito, encontram-se a unidade de
diagnóstico por imagem, o laboratório de análises clínicas, a
UTI e a internação. O pronto-socorro possui acesso separado
tanto para os pacientes externos quanto para as ambulâncias
(solução que cria certa privacidade para o paciente que precisa
de atendimento urgente, separando sua chegada dos demais).

O centro cirúrgico, o centro obstétrico e a central de


material esterilizado formam praticamente a mesma unidade e
foram aproximadas da UTI e da internação.

As unidades relacionadas ao apoio técnico-logístico ficam


posicionadas mais a nordeste do conjunto, numa faixa oposta à
circulação externa. A ligação com o Bloco 07 ocorre diretamente
por um corredor interno. A cozinha e a lavanderia são as unidades
de apoio mais próximas da internação. O depósito de resíduos
fica localizado em uma outra construção, próxima à área de
abastecimento.
227
228

5.4.3. Categoria 2: Flexibilidade Física

Na Prancha 71 foram analisadas as áreas de expansão do


Hospital Unimed Sorocaba.

Há uma série de jardins internos entre os blocos. A maioria


deles foi projetada para ser ocupada por futuras expansões.
Cada jardim possibilitaria a expansão de uma ou mais unidades
funcionais autônomas, sem prejudicar o funcionamento das
outras adjacentes. Todas as unidades poderiam ampliar sua
área construída.

Também foi prevista a possibilidade da expansão vertical


do conjunto arquitetônico. Os Blocos 01, 02, 03, 04, 05, 06 e 08
poderiam ser ampliados em mais um pavimento e o Bloco 07,
mais dois. Para tanto, foram estipulados três eixos de circulação
vertical, compostos por escadas e elevadores, posicionados
próximos aos acessos da internação.

O Bloco 07, destinado às internações, poderia ampliar


suas dimensões em ambos os lados (sentido nordeste-sudoeste)
e acrescer mais três pisos (totalizando quatro). Seria possível
criar mais 32 quartos no térreo e 80 em cada novo pavimento,
totalizando 272 quartos. Ao todo, o hospital poderia acrescentar
mais 544 leitos.

O número de leitos da UTI também poderia ser ampliado.


O Bloco 05 poderia crescer no pavimento térreo e com a adição
de mais um pavimento. Ao todo, poderiam ser acrescidos mais
14 leitos, dobrando, assim, a capacidade da unidade.

As áreas destinadas às expansões totalizam 31.326,79


m². Isso permitiria que o hospital praticamente triplicasse sua
área, chegando a um crescimento físico de 304,82%.

Imagem 5.71
Jardim interno que poderá receber
futuras ampliações (foto atual).
Fotografia de Manuel Sá.
229
230

Na prancha 72 foi analisada a configuração dos espaços


técnicos do Hospital Unimed Sorocaba.

Os espaços técnicos possuem dois tipos de configuração:


espaços gerados pela elevação dos telhados e casas de
máquinas com laje de cobertura.

Os espaços técnicos oriundos da elevação dos telhados


possuem variações de altura. Os mais baixos medem, em
geral, 1.10 metro de altura e os mais altos medem, no máximo,
1,80 metro de altura (na cumeeira dos telhados). Os mais altos
permitem o acesso das equipes de manutenção. Esta é uma
solução com baixo custo de implantação.

As casas de máquinas se assemelham aos espaços


“interandares”. Possuem 2,00 metros de pé-direito, com vigas
invertidas na laje de piso e vigas para baixo na laje de cobertura.
São de fácil acesso para os funcionários da manutenção e
abrigam máquinas de grande porte, como equipamentos de ar-
condicionado e filtros de ar. São quatro casas de máquinas: uma
sobre a UTI (mais especificamente sobre a UTI pediátrica), outra
sobre as salas de parto e outras duas sobre as salas de cirurgias.

Imagem 5.72
Corte transversal da UTI.
231
232

5.4.4. Categoria 3: Eficiência e Racionalização

Na Prancha 73 foi analisada a configuração das circulações a implantação de catracas e sistemas de controle na recepção
e dos acessos do Hospital Unimed Sorocaba. principal, delegando esse controle para cada unidade funcional.
Os internos são controlados e só pessoas autorizadas podem
O projeto apresenta circulações externas, mistas, internas acessar.
e restritas.
A metragem das circulações internas é maior que a das
Os pacientes externos transitam por um eixo exclusivo, circulações externas. As internas possuem 1.493,27 m² e as
localizado na extremidade sudoeste. Esse eixo se inicia na externas 884,72 m².
recepção principal (Bloco 01) e culmina no Bloco 07 (internações).
A circulação externa conecta as unidades que se relacionam Ao todo, as circulações ocupam uma área de 3.039,19 m²
com os pacientes externos, com os acompanhantes e visitantes (29,57% da área construída).
(administração, diagnóstico por imagem, laboratórios, UTI e
internações).

Os pacientes externos emergenciais acessam o pronto-


socorro por uma entrada exclusiva, localizada a certa distância
da entrada principal.

Os pacientes internos e funcionários transitam por dois


eixos exclusivos: um centralizado, que conecta todos as unidades
médico-hospitalares, e outro que se desenvolve internamente
ao Bloco 08, que conecta todas as unidades de apoio técnico-
logístico. Ainda há um eixo transversal, contíguo ao centro
obstétrico, que conecta os eixos internos.

As circulações do Bloco 07 são mistas. Os acompanhantes


e visitantes circulam pelos mesmos corredores que os pacientes
internos e funcionários. O controle de acesso e do trânsito interno
é feito pelos postos de enfermagem.

Em relação aos acessos, existem entradas internas e


externas, devidamente separadas e afastadas umas das outras.
São sete acessos externos e seis acessos internos (um deles
destinado à saída de cadáveres).

Visão geral dos acessos e circulações: desconsiderando


o Bloco 07, o projeto apresenta uma segregação total dos
acessos e das circulações, evitando cruzamentos indesejados e
a mistura de pessoal interno e externo. Somente na internação há
circulações mistas, uma vez que os acompanhantes e visitantes
circulam junto dos pacientes internos e funcionários.

Os acessos correspondem à separação das circulações.


Imagem 5.73 Os externos foram pensados para evitar que o público circulasse
Vista do eixo externo de circulação. livremente pelo hospital. Essa configuração torna desnecessária
233
234

Na Prancha 74 foram analisados a distribuição espacial e comprimento de 5,40 metros (de eixo a eixo). Todos os quartos
os percursos das internações do Hospital Unimed Sorocaba. possuem largura de 3,60 metros (de eixo a eixo) e banheiro
privativo.
A unidade é composta por duas alas: uma maior (noroeste)
e outra menor (sudeste). A ala noroeste possui 32 quartos Visão geral das internações: a configuração da unidade de
com um leito cada (sem distinção entre maternidade e demais internação deste projeto pode ser entendida como uma variação
pacientes), dois postos de enfermagem e ambientes de apoio. do sistema “duplamente carregado”, com quartos nas fachadas
A ala sudeste possui 16 quartos com três leitos cada, um posto opostas, dois corredores intercomunicados e uma faixa central
de enfermagem e ambientes de apoio. O berçário, o lactário, a de serviços e apoio.
chefia de enfermagem e a comissão de controle das infecções
hospitalares (CCIH) ficam posicionados entre as duas alas. São três postos de enfermagem, que dividem os cuidados
dos pacientes para diminuir o percurso da enfermagem.
Ao todo são 48 quartos e 96 leitos (considerando Considerando a divisão analisada, o maior número de leitos
a normalização proposta no capítulo 4 para possibilitar a atendido por um posto é de 32 leitos (dois a mais que o
comparação da capacidade de leitos). preconizado atualmente na RDC-50).

Os quartos foram posicionados em ambas as fachadas


longitudinais do edifício (fachadas opostas). Os postos de
enfermagem e os ambientes de apoio ficam localizados em uma
faixa central do pavimento, gerando dois corredores paralelos
no sentido longitudinal, interligados por outros cinco corredores
no sentido transversal (os cruzamentos também podem ser feitos
por dentro dos postos de enfermagem, que se abrem para os
dois lados).

A descentralização dos postos buscou diminuir os


percursos da enfermagem. Cada posto é responsável pelo
atendimento de 16 quartos, ou 32 leitos (considerando a
normalização proposta).

Dois percursos foram medidos: a distância do posto até o


quarto mais distante e a distância entre os quartos que o posto
atende. Ambos foram medidos em metros lineares, considerando
da saída do posto até a porta dos quartos.

O maior percurso posto-a-quarto é de 15,35 metros; o


quarto-a-quarto é de 28,80 metros.

O corredor da unidade mede 100,65 metros (lado maior).


Considerando que essa unidade possui 96 leitos, a “Densidade
Linear” da unidade é de 0,95 leito por metro linear.

Cada ala possui um tipo diferente de quarto. Na ala


Imagem 5.74 sudoeste os quartos possuem comprimento de 5,975 metros (de
Vista do corredor das internações. eixo a eixo das paredes). Na ala noroeste, os quartos possuem
235
236

5.4.4. Categoria 4: Segurança Biológica

Na prancha 75 foi analisada a distribuição espacial do


centro cirúrgico, do centro obstétrico e da central de material
esterilizado do Hospital Unimed Sorocaba. As unidades estão
localizadas no Bloco 06.

O centro cirúrgico possui 507,24 m² de área construída.


É composto por uma secretaria, uma sala de transferência de
pacientes, dois vestiários de barreira (masculino e feminino),
uma sala de recuperação pós-anestésica, uma sala de conforto
médico, uma central de armazenamento de materiais, dois
depósitos de equipamentos, uma câmara clara e outra escura
para a revelação dos exames de RX móvel e quatro salas de
cirurgia. As cubas de escovação das mãos ficam localizadas em
ambientes contíguos as salas de cirurgia (próximo às portas),
abertos para os corredores internos da unidade.

Para efeito de comparação, esse hospital possui 27,5


leitos por sala de cirurgia.

O Centro obstétrico possui 283,32 m² de área construída.


É composto por ambientes que estão fora e dentro do centro
cirúrgico. Na parte externa, há uma recepção, uma secretaria,
uma sala de exames obstétricos (tocologia), uma sala de
higienização, uma sala de conforto para as parteiras e duas
salas de trabalho de parto. Na parte interna ao centro cirúrgico,
há uma sala para conforto das parteiras, um depósito de
equipamentos, duas salas de parto com ligação direta para uma
sala de neonatologia. As cubas de escovação das mãos ficam
localizadas em um ambiente contíguo às salas de parto (próximo
às portas), abertos para os corredores internos da unidade.

A central de material esterilizado possui 128,00 m² de área


construída e fica localizada numa região a oeste do conjunto, com
comunicação direta para dentro e para fora do centro cirúrgico,
por meio de guichês voltados para o corredor restrito (interno ao
centro cirúrgico) e para o corredor interno do hospital.
237
238

Na prancha 76 foram analisados os principais fluxos do O acesso da central de material esterilizado acontece
centro cirúrgico, do centro obstétrico e da central de material de duas formas: o expurgo (área suja) é acessado por fora do
esterilizado do Hospital Unimed Sorocaba. centro cirúrgico, por uma porta voltada para o corredor interno do
hospital; o depósito de material esterilizado, a área de esterilização
No centro cirúrgico, o acesso de pacientes ocorre por uma e a área de preparo (áreas limpas) são acessadas por dentro
sala exclusiva de transferência, ao lado da secretaria e próxima do centro cirúrgico, obrigando os funcionários a passarem pelo
da recuperação pós-anestésica. O acesso de funcionários ocorre vestiário de barreira, realizando, assim, a paramentação.
através de vestiários de barreira, que possuem portas para fora
da unidade e para dentro do corredor restrito (interno ao centro Visão geral do centro cirúrgico: O centro cirúrgico, o
cirúrgico). centro obstétrico e a central de material esterilizado formam
praticamente a mesma unidade. Possuem alguns acessos
O acesso do centro obstétrico ocorre por meio de um independentes e outros compartilhados.
corredor exclusivo, localizado ao lado do acesso ao centro
cirúrgico. Os pacientes acessam por uma sala de acolhimento, Para acessar as áreas críticas (onde ocorrem as cirurgias
localizada ao lado da secretaria. Os médicos e funcionários e os partos), os pacientes trocam de maca e os funcionários
acessam pelo corredor da unidade. Não há áreas de precisam passar obrigatoriamente pelos vestiários de barreira.
paramentação. O acesso da área suja da central de material esterilizado ocorre
pelo corredor interno do hospital e o acesso das áreas limpas
Os partos ocorrem dentro do centro cirúrgico. Há uma ocorre por dentro do centro cirúrgico. Isso faz com que os
área destinada ao centro obstétrico, com duas salas de parto, funcionários que trabalham na área suja da central de material
neonatologia e um posto de enfermagem. O acesso das gestantes esterilizado não circulem por dentro do corredor restrito. Essas
é realizado pela mesma área de transferência dos demais barreiras contribuem para a segurança biológica interna das
pacientes, e o dos médicos, funcionários e acompanhantes é unidades.
realizado pelos vestiários de barreira.
Outro aspecto importante de se destacar é a eliminação
A Central de material esterilizado possui quatro áreas dos cruzamentos do material na central de material esterilizado.
principais: o expurgo (área suja), a área de preparo dos kits para A unidade foi separada em duas zonas: suja e limpa. O material
esterilização, a área das autoclaves (onde ocorre a esterilização sujo é recebido pelo expurgo e só é entregue para a esterilização
dos instrumentos) e o depósito de material esterilizado (áreas depois de passar por uma lavagem preliminar. A organização
limpas). O material sujo é recebido pelo expurgo por guichês espacial, o impedimento do trânsito de pessoas entre as duas
específicos, um voltado para o corredor restrito (interno ao centro zonas e as barreiras físicas criam um fluxo contínuo, sem
cirúrgico) e outro voltado para o corredor interno do hospital. cruzamentos e com baixo risco de contaminações por cruzamento
Após a recepção e a lavagem preliminar, o material (ainda entre materiais sujos e limpos.
contaminado) é entregue para a área de preparo por meio de
guichês. Não há portas entre o expurgo e a área de preparo que
permita a passagem de funcionários. O material é preparado
e depois esterilizado em uma sala contígua, onde ficam as
autoclaves. Após a esterilização, o material é armazenado em
uma outra sala, que possui comunicação (por portas) com as
salas de preparo de material e das autoclaves. O material limpo
é entregue por meio de guichês específicos, localizados um para
o corredor restrito (interno ao centro cirúrgico) e outro para o
corredor interno do hospital.
239
240

Na prancha 77 foi analisada a distribuição espacial da


unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Unimed Sorocaba.

A UTI fica localizada no Bloco 05, ao lado do laboratório


de análises clínicas e com o acesso interno defronte ao centro
cirúrgico. São 636,32 m² de área construída.

A unidade possui uma área destinada aos pacientes


pediátricos e outra aos pacientes adultos. Os ambientes de
apoio ficam agrupadas ao logo da fachada sudoeste do bloco.
Um corredor interno conecta todas as áreas.

A área adulta possui oito boxes com um leito cada. Dois


desses boxes são de isolamento, com antecâmaras e banheiros
individualizados. O posto de enfermagem fica localizado em uma
sala voltada para os boxes (enxergando todos os leitos) e para
o corredor interno da unidade (com ligação direta para as áreas
de apoio).

A área pediátrica possui um salão com quatro leitos,


separados por divisórias e visores de vidro (mas sem fechamento
frontal, o que não configura um box) e dois boxes de isolamento,
com antecâmaras e banheiros individualizados. O posto de
enfermagem fica posicionado entre os leitos e o corredor interno
da unidade.

As áreas de apoio são compostas por vestiários de barreira,


secretaria, copa de distribuição, duas salas de utilidades (uma
para cada posto de enfermagem), central de armazenamento
de materiais, sanitário de funcionários, depósito de material de
limpeza, área para lavagem e higienização de materiais, conforto
médico e quarto de plantonista.

Os familiares e visitantes possuem esperas exclusivas,


contíguas ao corredor externo.

Para efeito de comparação, há nesse projeto um leito de


UTI para cada 6,85 leitos de internação.
241
242

Na prancha 78 foram analisados os principais fluxos da


unidade de tratamento intensivo do Hospital Unimed Sorocaba.

Três fluxos foram analisados: de visitantes, de pacientes


internos e de funcionários.

Os familiares e visitantes acessam por meio de duas salas


de espera exclusivas, voltada para o corredor externo do hospital.
As esperas dão acesso para as salas de acolhimento (onde os
médicos conversam com os familiares) e, na área destinada aos
adultos, os visitantes podem acessar diretamente os boxes de
pacientes.

Os funcionários acessam por meio de dois vestiários de


barreira (feminino e masculino).

Os pacientes acessam diretamente pelo corredor interno


da unidade. Por não haver dispositivos de transferência de
macas, o corredor interno da UTI não foi considerado uma
circulação restrita.

Visão geral da UTI: a unidade conta com uma série de


soluções que aumentam a segurança biológica dos pacientes.
Os vestiários de barreira para os médicos e funcionários e o
acesso externo para os visitantes colaboram com a redução
das infecções provenientes de fora da unidade. A separação
dos pacientes em boxes individuais, com o advento de quatro
isolamentos com sanitário exclusivo, colabora para a redução
das infecções provenientes de dentro da unidade.
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244

5.4.5. Categoria 5: Conforto Ambiental

Na Prancha 79 foi analisada a configuração dos jardins


envoltórios e internos do Hospital Unimed Sorocaba.

O lote possui uma extensa área verde. Há jardins ao redor


de todo o conjunto arquitetônico.

São sete jardins internos localizados entre os blocos.


Alguns jardins foram pensados para serem ocupados por
novas construções. Há também um grande jardim interno entre
os blocos 06 e 07, conformado pelos dois eixos de conexão,
destinado ao uso dos pacientes internos, acompanhantes,
visitantes e funcionários. Não há previsão de ocupação desse
jardim por futuras construções, a não ser para a construção de
um núcleo de circulação vertical.

Os jardins internos somam 2.059,44 m², o equivalente a


20,04% da área construída.

Imagem 5.75
Elementos de fechamento e proteção solar (foto atual).
Fotografia de Manuel Sá.

Imagem 5.76
Vista do jardim entre os blocos 06 e 07 (foto atual).
Fotografia de Manuel Sá.
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246

Na Prancha 80 foi analisado o rebaixamento das lajes do


Hospital Unimed Sorocaba.

Foram rebaixadas praticamente todas as lajes de cobertura


das circulações, possibilitando a instalação de janelas altas entre
a parte de baixo das lajes altas e o topo das lajes baixas. As lajes
rebaixadas são apoiadas e penduradas por tirantes.

Esse sistema permitiu que praticamente todos os espaços


internos tivessem iluminação e ventilação naturais. No caso dos
ambientes que já possuíam aberturas para os jardins, as janelas
altas permitiam a ventilação cruzada.

Ao longo de grande parte dos corredores de todo o


hospital foram criados lanternins de iluminação natural. Os
lanternins são formados por uma caixa de alvenaria sobre uma
abertura quadrada nas lajes rebaixadas. Possuem duas janelas
verticais opostas e cobertura em telha de fibrocimento. Esses
lanternins complementam o sistema de iluminação por janelas
Imagem 5.77
Corredor da internação iluminado por lanternins
altas, uma vez que os corredores não são beneficiados pelas
e por janelas nas extremidades (foto atual). aberturas geradas com o rebaixamento das lajes.
Fotografia de Manuel Sá.
Visão geral das lajes rebaixadas: quase todas as lajes
de cobertura dos corredores foram rebaixadas, solução cujo
objetivo é dotar de iluminação e ventilação naturais quase todos
os ambientes internos do hospital.

Sendo assim, conclui-se que os autores acreditavam


que criar aberturas altas para o exterior reduziria o consumo
de energia do hospital (com menos gastos provenientes da
iluminação artificial e do uso de ar-condicionado) e tornaria os
ambientes internos mais agradáveis para os usuários.

Imagem 5.78
Posto de enfermagem iluminado por janelas altas
instaladas sobre laje rebaixada.
247
248

Na Prancha 81 foi analisada a presença de áreas de


convivência no Hospital Unimed Sorocaba.

Foram identificadas no projeto apenas duas áreas de


convivência para o público externo. Trata-se do hall localizado
junto da recepção principal (Bloco 01) e da sala de estar e de
espera dos visitantes e familiares na internação (Bloco 07).

Visão geral dos espaços de convivência: há somente dois


lugares cobertos, dentro do hospital, de encontro para os usuários
externos. Porém, os espaços de convivência mais interessantes
deste projeto não são os internos, mas sim os externos, formados
pelos jardins entre os blocos e, principalmente, pelo jardim
destinado aos pacientes internados, visitantes e funcionários
localizado entre os blocos 06 e 07.
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250
5.5. ANÁLISE: CENTRO MÉDICO HOSPITALAR VILA VELHA

O Centro Médico Hospitalar Vila Velha, hoje conhecido


como Vila Velha Hospital, é uma instituição privada, localizada
na cidade de Vila Velha, estado do Espírito Santo.

Em 1995, Jarbas Karman foi contratado para desenvolver


o projeto arquitetônico. O hospital foi implantado no centro da
cidade, próximo ao Terminal Vila Velha, ponto nodal do Sistema
Trancol de transporte, que conecta a região metropolitana de
Vitória. O lote, configurado por um quarteirão limitado de quatro
ruas, foi formado por diversos terrenos menores, adquiridos
pelos empreendedores desde o início da década de 1980.

Houve algumas versões do projeto. Uma entregue em


1995, mas que não foi construída. Quatro anos mais tarde,
a versão definitiva foi entregue e o edifício foi executado. A
inauguração aconteceu na década de 2000.

O hospital possui nove pavimentos, oferece diversos


serviços de saúde, como atendimento ambulatorial, emergencial
e quimioterápico, hemodiálises, reabilitação motora e exames
laboratoriais e de imagem.

Esse foi o segundo hospital projetado por Karman na


cidade de Vila Velha. O primeiro foi o Hospital Estadual Infantil e
Maternidade Alzir Bernardino Alves, em 1989. Ambos os projetos
foram desenvolvidos com a colaboração de Domingos Fiorentini.

Imagem 5.79
Vista da rampa externa de automóveis (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
251

Imagem 5.80
Imagem frontal do Centro Médico
Hospitalar Vila Velha (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
252

5.5.1. Redesenhos e aproximação

O projeto consiste em um único bloco de nove pavimentos. O hospital foi implantado em um lote de 18.359,57 m²,
São três volumes horizontais sobrepostos e três volumes com acesso pelas ruas Moema e Doralice Queiroz.
verticais que conectam todo o conjunto. Os volumes horizontais
são deslocados no sentido vertical, criando dois andares A área total construída é de 20.051,78 m².
parcialmente vazios.

O embasamento, que possui dois pavimentos e é maior


em relação aos pavimentos elevados, possui planta retangular,
com 79,62 metros no sentido longitudinal e 33,78 metros no
sentido transversal.

O volume intermediário, que possui um pavimento, mede


79,62 metros no sentido longitudinal e 28,665 metros no sentido
transversal.

O volume superior, que possui quatro pavimentos, mede


86,55 metros no sentido longitudinal e 17,34 metros no sentido
transversal.

O projeto segue uma modulação arquitetônica com


distâncias derivadas de 1,20 metro e submódulos de 0,60 e 0,30
metro, tanto no sentido longitudinal, quanto no transversal. As
medidas dos ambientes, a distância dos pontos estruturais e de
muitos dos componentes construtivos foram definidas seguindo
Imagem 5.81 essa modulação. A modulação arquitetônica foi reproduzida
Localização das protenções por meio de pintura da laje.
nos redesenhos da mesma forma como consta no projeto
arquitetônico.

O sistema construtivo é composto por pilares em concreto


armado e lajes em concreto protendido, sem a presença de
vigas. Essa é uma questão interessante, pois, para possibilitar
a abertura de buracos nas lajes, sem prejudicar a proteção,
Karman sugeriu que as formas fossem marcadas com tinta
sob os cabos de proteção. Após a concretagem e a retirada
das formas, as lajes ficavam com leves marcações, que foram
reforçadas em seguida com outra demão de tinta. Assim, as
equipes de manutenção e de obras saberiam a posição dos
cabos, podendo planejar as furações sem prejudicar a estrutura.
Essa foi uma solução de baixo custo para evitar problemas
estruturais e não reduzir a flexibilidade física para futuras
reformas e atualizações infraestruturais. As paredes internas e
externas são majoritariamente feitas em alvenaria, os caixilhos
foram executados em alumínio e os revestimentos externos
Imagem 5.82 são em pintura e pastilhas cerâmicas de diferentes formatos e
Centro Médico Hospitalar Vila Velha durante a construção.
texturas.
253
254

Imagem 5.83
Vista frontal do Centro Médico
Hospitalar Vila Velha (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
255
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Imagem 5.84 Imagem 5.85


Vista lateral do Centro Médico Hospitalar Vila Velha (foto atual). Vista do acesso principal do Médico Hospitalar Vila Velha (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero. Fotografia de Andrés Otero.
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Imagem 5.86
Vista posterior do Centro Médico
Hospitalar Vila Velha (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
259
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5.5.2. Categoria 1: agrupamento funcional

O Centro Médico Hospitalar Vila Velha é um hospital


geral e maternidade. Possui pronto atendimento, atendimento
ambulatorial, serviço de hemodiálise, serviço de quimioterapia,
atendimento em regime de internação, diagnóstico por imagem,
laboratório de análises clínicas, laboratório de anatomia
patológica e cirurgia.

O hospital possui um único bloco de nove pavimentos.

O pavimento térreo abriga uma recepção do público


externo, a unidade de hemodiálise, a unidade de quimioterapia,
a área de coleta de amostras dos pacientes externos para o
laboratório de análises clínicas, a fisioterapia, o laboratório
de anatomia patológica, o morgue, o velório, os vestiários
de funcionários, a manutenção, a lavanderia, a cozinha, o
almoxarifado e a farmácia, além de outros ambientes de apoio.

O 1º pavimento abriga uma segunda recepção (maior


que a do térreo), uma parte da administração, uma lanchonete,
o pronto-socorro, o ambulatório e a unidade de diagnóstico por
imagem.

O 2º pavimento é parcialmente aberto. A administração se


localiza numa faixa central (parte fechada) e dos lados norte e sul
do andar (parte aberta) ficam dois espaços técnicos, destinados
à instalação de máquinas e aos dutos e tubulações aparentes.

O 3º pavimento abriga o centro cirúrgico, o centro


obstétrico, uma parte da central de material esterilizado, uma
unidade de exames cardiológicos e a unidade de tratamento
intensivo.
261
262

O 4º pavimento, semelhante ao 2º, é parcialmente aberto.


A central de material esterilizado, os vestiários de barreira do
centro cirúrgico, o laboratório de análises clínicas e outros
ambientes de apoio (parte fechada) estão localizados numa
faixa central, enquanto que, nos lados norte e sul do andar (parte
aberta), ficam dois espaços técnicos, destinados à instalação de
máquinas e aos dutos e tubulações aparentes.

O 5º andar abriga o hospital-dia (unidade destinada à


realização de cirurgia e procedimentos ambulatoriais, que não
requerem internação por mais de 12 horas) e a unidade de
terapia semi-intensiva.

O 6º andar abriga a maternidade, o berçário, o lactário, o


banco de leite e a unidade de internação pediátrica.

O 7º andar abriga uma unidade de internação adulta e a


unidade de ensino e pesquisa.

O 8º andar abriga uma unidade de internação adulta, o


conforto e a residência médica.
263
264

Ao se observar a distribuição funcional, nota-se que o


projeto buscou criar unidades funcionais autônomas, mesmo
o edifício possuindo um único bloco. A compartimentação das
unidades acontece de forma horizontal (duas ou mais unidades
em um mesmo andar, com acessos independentes) e de forma
vertical (unidades separadas por andar, como é o caso das
internações).

As unidades que mais se relacionam com o público


externo (hemodiálise, quimioterapia, fisioterapia, área de coleta
de amostras para os exames laboratoriais, pronto-socorro,
ambulatório e a unidade de diagnóstico por imagem) foram
posicionadas nos dois primeiros pavimentos. As unidades que
se relacionam menos com o paciente externo (administração
e hospital-dia) foram posicionadas em andares elevados, com
recepções separadas das áreas de tráfego interno.

Essas unidades possuem acessos independentes:


entrada exclusiva para os pacientes externos e outra, do lado
oposto, exclusiva para os funcionários (gerando sempre um
acesso interno e outro externo).

As áreas de apoio técnico-logístico (almoxarifado, farmácia,


cozinha, lavanderia, manutenção, vestiários de funcionários,
morgue e velório) ficam posicionadas no térreo. O almoxarifado,
a farmácia, a cozinha e a lavanderia ficam justapostos à fachada
oeste, voltados para uma doca de carga e descarga. As áreas
de abastecimento (central de energia, gerador, caldeiras,
central de gases e depósito de resíduos) ficam posicionadas em
construções anexas dentro do lote, próximas ao edifício.
265
266

As unidades que se relacionam mais com os pacientes


internos e funcionários foram posicionadas a partir do 3º
pavimento. O centro cirúrgico, o centro obstétrico e a UTI estão
no mesmo pavimento. A central de material esterilizado foi
posicionada sobre o centro cirúrgico.

As internações ocupam os 6º, 7º e 8º pavimentos.

A posição de cada unidade deve ser destacada:


considerando o fluxo do paciente externo (da chegada até o
atendimento), os dois primeiros andares abrigam as unidades
com maior fluxo, certamente para diminuir a necessidade dos
deslocamentos verticais, não sobrecarregando o uso dos
elevadores.

O centro cirúrgico e a central de material esterilizado


formam praticamente a mesma unidade, e foram aproximadas
da UTI. A central de material esterilizado foi posicionada sobre
o centro cirúrgico, sendo que a recepção de material sujo
e a devolução de material limpo é feita em nível, por meio de
ambientes internos ao centro cirúrgico.

As unidades relacionadas à rotina operacional do hospital


(apoio técnico-logístico) ficam posicionadas todas no térreo,
com acesso exclusivo, numa faixa oposta ao acesso do público.

Sendo assim, pode-se concluir que o posicionamento


das unidades levou em consideração a otimização dos
deslocamentos verticais, o favorecimento do acesso em nível de
pacientes e suprimentos, além de priorizar os percursos críticos,
aproximando unidades como o centro cirúrgico e a UTI.

Visão geral do agrupamento funcional: a distribuição do


programa arquitetônico propõe a criação de unidades funcionais
autônomas, sejam no mesmo pavimento ou em andares
distintos. Isso possibilita que cada unidade possa funcionar de
forma independente, com fluxos e rotinas específicas, gerando
flexibilidade operacional. A aproximação de unidades afins
(como o centro cirúrgico e a UTI) demonstra a preocupação em
encurtar os percursos críticos. A posição das internações nos
pavimentos mais elevados sugere que essas são as unidades
que menos demandam deslocamentos verticais.
267
268

5.5.3. Categoria 2: Flexibilidade Física

Na Prancha 90 foram analisadas as áreas de expansão do


Centro Médico Hospitalar Vila Velha.

O projeto, por se tratar de um edifício vertical, não possui


áreas para expansões internas. As unidades funcionais não
poderiam crescer de forma independente, sem atrapalhar as
demais.

Porém, o Plano Diretor previa a construção de outro


bloco, voltado para a rua Hernani Souza e conectado ao hospital
projetado. Essa expansão acresceria ao hospital mais 19 leitos
de UTI, 32 leitos semi-intensivos e 222 leitos gerais (dobrando a
capacidade operacional).

Considerando o indicado no Plano Diretor, o edifício


poderia expandir mais 24.720,12 m². Isso permitiria ao hospital
mais que dobrar sua área construída, chegando a um crescimento
físico de 123,28%.
269
270

Na prancha 91 foi analisada a configuração dos espaços


técnicos do Centro Médico Hospitalar Vila Velha.

Existem quatro espaços técnicos no hospital: dois


localizados no 2º e dois localizados no 4º pavimento.

Os espaços técnicos deste projeto podem ser


interpretados como uma evolução dos espaços “interandares”,
sendo que a principal transformação foi o aumento do pé-direito.
O comprimento do piso ao teto no 2º pavimento é de 2,30 metros
e no 3º pavimento é de 2,90 metros.

Dessa forma, pode-se dizer que o projeto para o Centro


Médico Hospitalar Vila Velha possui andares técnicos, uma vez
que o pé-direito desses espaços chega a ter a altura de um
pavimento útil.

Vale destacar que, mesmo com o pé-direito avantajado


em relação aos anteriores, os pavimentos técnicos do Centro
Médico Hospitalar Vila Velha possuem grande parte de seus
ambientes ocupados por dutos, equipamentos e máquinas,
sobrando pouco espaço para a circulação dos funcionários da
manutenção.

Imagem 5.87
Espaço técnico do 4º pavimento (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
271
272

5.5.4. Categoria 3: Eficiência e Racionalização

Na Prancha 92 foram analisados as circulações e os de exames cardiológicos e a UTI). O corredor da unidade de


acessos do térreo e dos 1º, 2º e 3º pavimentos do Centro Médico exames cardiológicos foi considerado misto, uma vez que
Hospitalar Vila Velha. pacientes internados, médicos, funcionários e pacientes
externos (após fazerem o cadastro e serem liberados) trafegam
No pavimento térreo há circulações internas e externas. juntos. A circulação interna é composta, basicamente, por um
Os pacientes externos e os acompanhantes acessam por um eixo longitudinal que conecta todas as unidades do andar.
hall e podem se dirigir diretamente às unidades de atendimento A circulação restrita é composta pelos corredores internos ao
do andar (hemodiálise, quimioterapia, coleta e fisioterapia) sem centro cirúrgico.
a necessidade de passarem pela recepção; os funcionários
acessam por uma entrada exclusiva, localizada na fachada norte;
os suprimentos são recebidos pelo almoxarifado, pela farmácia
e pela cozinha pela doca de carga e descarga localizada na
fachada oeste. As circulações e os acessos desse andar são
totalmente segregados, certamente para possibilitar maior
controle e evitar que o público externo tenha contato com as
atividades internas do hospital.

No 1º pavimento há circulações internas, externas e


mistas. Os pacientes externos e os acompanhantes acessam
por um hall e podem se dirigir diretamente às unidades de
atendimento do andar (pronto-socorro, ambulatório e diagnóstico
por imagem) sem a necessidade de passarem pela recepção.
O pronto-socorro possui dois acessos exclusivos: um para
pacientes trazidos por carros comuns (por familiares, amigos
ou outros acompanhantes) e um para pacientes emergenciais,
trazidos por ambulâncias (acesso preferencial, cuja porta se
abre diretamente para dentro do pronto-socorro). Os acessos
externos do 1º pavimento são realizados por escadas e rampas
de automóveis externas ao edifício. As circulações internas e
externas são segregadas, para evitar cruzamentos indesejados.
As circulações do ambulatório, do pronto-socorro e um pequeno
trecho da unidade de diagnóstico por imagem são consideradas
mistas, pois médicos, funcionários e pacientes externos (após
fazerem o cadastro e serem liberados) trafegam juntos pelos
corredores destas unidades.

No 2º pavimento há circulações internas e externas,


segregadas.

No 3º pavimento há circulações externas, mistas,


internas e restrita. Os pacientes circulam por dois eixos: um
no sentido transversal e outro no sentido longitudinal. O eixo
Imagem 5.88 transversal externo conecta o hall de circulação vertical ao eixo
Corredor interno do 1º pavimento (foto atual). longitudinal, que por sua vez conecta as unidades funcionais
Fotografia de Andrés Otero. que o público externo pode acessar (centro obstétrico, unidade
273
274

Na Prancha 93 foram analisadas as circulações dos 4º, 5º, aproximadas. As internas medem 2.230,00 m², as externas
6º, 7º e 8º pavimentos do Centro Médico Hospitalar Vila Velha. medem 1.530,31 m² e as mistas, 1.429,01 m².

No 4º pavimento há apenas circulações internas e restritas. Ao todo, as circulações ocupam uma área de 5.411,06 m²
(26,98% da área construída).
Nos 5º, 6º, 7º e 8º pavimentos as circulações se desenvolvem
de forma semelhante, possuindo circulações internas, externas e
mistas. As circulações internas são formadas, basicamente, pelo
hall de circulação vertical interno (onde se deslocam apenas
pacientes internados e funcionários). As circulações externas
são compostas pelo hall de circulação vertical e pelas salas de
espera do público externo (sempre controladas por recepções
e secretarias). As circulações mistas são compostas pelos
corredores centrais dos pavimentos.

Há circulações verticais internas, externas e mistas. São


quatro escadas: três que se abrem para os corredores internos
(consideradas de uso exclusivo dos funcionários) e uma que
se abre para o corredor externo (considerada de uso exclusivo
dos pacientes externos, acompanhantes e visitantes). Os três
elevadores são do tipo “maca-leito” (mais compridos, para o
transporte de pacientes acamados) e, por possuírem portas
duplas que se abrem tanto para o hall interno quanto para o hall
externo, foram considerados um eixo de circulação mista.

Visão geral dos acessos e circulações: o projeto apresenta


uma segregação total dos acessos e parcial das circulações.
Essa configuração evita o cruzamento indesejado e a mistura
de pessoal interno e externo. As circulações mistas aparecem
no pronto-socorro, no ambulatório, nas unidades de diagnóstico
por imagem e de exames cardiológicos e nos últimos quatro
pavimentos. Mesmo com a mistura de pessoal interno e externo
nessas unidades, os pacientes externos, acompanhantes
e visitantes só acessam esses corredores após cadastro e
liberação.

Os acessos correspondem à separação das circulações.


A configuração dos acessos externos torna desnecessária
a implantação de catracas e sistemas de controle nas duas
recepções principais, delegando esse controle para a recepção
de cada unidade funcional. Os acessos internos são controlados
e só pessoas autorizadas podem adentrar o hospital.

A área das circulações internas é a maior dentre as


circulações. As circulações externas e mistas possuem áreas
275
276

Na Prancha 94 foram analisadas as distribuições espaciais


das internações do Centro Médico Hospitalar Vila Velha.

São três andares destinados às internações: os 6º, 7º e


8º pavimentos. As configurações espaciais dos três andares
são similares, sempre compostas de duas alas (uma sul e outra
norte).

No 6º pavimento, a ala sul possui 20 quartos de


maternidade com dois leitos cada, um posto de enfermagem e
ambientes de apoio. O berçário, o lactário e o banco de leite
ficam localizados numa faixa central do pavimento, entre as duas
alas de internação. A ala norte possui 12 quartos pediátricos
com dois leitos cada, um posto de enfermagem e ambientes de
apoio.

No 7º pavimento, a ala sul possui 20 quartos adultos com


dois leitos cada, um posto de enfermagem e ambientes de apoio,
e a ala norte possui 18 quartos adultos com dois leitos cada, um
posto de enfermagem e ambientes de apoio.

No 8º pavimento, a ala sul possui 20 quartos adultos com


dois leitos cada, um posto de enfermagem e ambientes de apoio,
e a ala norte possui 18 quartos adultos com dois leitos cada, um
posto de enfermagem e ambientes de apoio.

Ao todo, são 108 quartos e 216 leitos (considerando


a normalização proposta no capítulo 4 para possibilitar a
comparação da capacidade de leitos).

Os quartos, os postos de enfermagem e as áreas de


apoio foram posicionados em ambas as fachadas longitudinais
do edifício (fachadas opostas), gerando um corredor único de
circulação.

Imagem 5.89
Posto de enfermagem (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
277
278

Na Prancha 95 foram analisados os percursos das


internações do Centro Médico Hospitalar Vila Velha.

A descentralização dos postos buscou diminuir os


percursos da enfermagem. Cada posto é responsável pelo
atendimento de até 20 quartos, ou 40 leitos (considerando a
normalização proposta).

Dois percursos foram medidos: a distância do posto até o


quarto mais distante e a distância entre os quartos que o posto
atende. Ambos foram medidos em metros lineares, considerando
da saída do posto até a porta dos quartos.

O maior percurso posto-a-quarto é de 23,25 metros; o


quarto-a-quarto é de 36,00 metros.

Os corredores das unidades medem 80,25 metros.


Considerando que o número médio de leitos por unidade seja
76 (7º e 8º pavimentos), a “Densidade Linear” das unidades é de
0,88 leito por metro linear.

Existe somente um tipo de quarto. O comprimento é de


4,575 metros (de eixo a eixo das paredes) e a largura é de 3,60
metros (de eixo a eixo). Todos os quartos possuem banheiro
privativo.

Visão geral das internações: as configurações das


internações deste projeto podem ser entendidas como unidades
“duplamente carregadas”, compostas por um corredor central e
quartos, posto de enfermagem e ambientes de apoio localizados
dos dois lados.

Foi proposta uma descentralização dos postos de


enfermagem. Há um posto em cada ala. Nas alas do lado sul cada
posto atende 40 leitos; nas alas do lado norte, cada posto atende
até 36 leitos. Essa solução reduz o percurso da enfermagem,
tornando o trabalho mais eficiente e menos desgastante.
279
280

5.5.4. Categoria 4: Segurança Biológica

Na prancha 96 foi analisada a distribuição espacial do


centro cirúrgico, do centro obstétrico e da central de material
esterilizado do Centro Médico Hospitalar Vila Velha. As unidades
estão localizadas nos 3º e 4º pavimentos.

O centro cirúrgico possui 841,89 m² de área construída.


No 3º pavimento estão localizados uma secretaria, uma sala de
transferência de pacientes, uma sala de conforto médico, uma
sala de recuperação pós-anestésica, uma sala de utilidades, um
depósito de equipamentos, uma câmara clara e outra escura para
a revelação de exames de RX móvel, uma sala para anatomia
patológica, nove salas de cirurgia e um depósito de material de
limpeza. As cubas para escovação das mãos ficam localizadas
nos corredores. No 4º pavimento ficam localizados os acessos
de funcionários (internos), dois vestiários de barreira (masculino
e feminino) e uma lanchonete. A circulação entre os pavimentos
é realizada por uma escada interna, que só pode ser acessada
pelos funcionários após passarem pelos vestiários.

Para efeito de comparação, esse hospital possui 29,66


leitos por sala de cirurgia.

O centro obstétrico possui 315,08 m² de área construída.


É composto por ambientes que estão fora e que estão dentro do
centro cirúrgico. Na parte externa, há duas esperas, uma sala
de acolhimento das gestantes, duas salas de pré-parto com um
leito cada e uma sala de trabalho de parto com dois leitos. Na
parte interna ao centro cirúrgico, há um posto de enfermagem,
uma sala de utilidades, uma sala para conforto das parteiras,
duas salas de parto e uma sala de neonatologia. As cubas para
escovação das mãos ficam localizadas nos corredores.

A central de material esterilizado possui ambientes nos


dois pavimentos. No 3º pavimento, interno ao centro cirúrgico,
há um expurgo para a recepção de material sujo e um depósito
de material limpo. No 4º pavimento há dois vestiários de barreira
(um que dá acesso à área suja e outro à área limpa), um expurgo,
uma sala de preparo do material, uma sala de secagem, um
ambiente para a esterilização do material (sala das autoclaves),
uma sala de armazenamento de material limpo e uma secretaria.
A unidade mede 296,03 m² de área construída. Há dois monta-
cargas que fazem o transporte vertical de materiais: um sujo, que
se abre para os expurgos dos dois andares, e um limpo, que se
abre para as duas áreas de armazenamento e dispensação de
material limpo.
281
282

Na prancha 97 foram analisados os principais fluxos do enviado para o 3º pavimento por meio de um monta-carga limpo,
centro cirúrgico, do centro obstétrico e da central de material para ser distribuído pelo depósito inferior.
esterilizado do Centro Médico Vila Velha.
O acesso da central de material esterilizado acontece de
O centro cirúrgico possui ambientes em dois andares. duas formas: pelos vestiários de barreira do centro cirúrgico, para
O acesso de pacientes ocorre pelo 3º pavimento, por uma sala acessarem o expurgo e o depósito do 3º pavimento, e por dois
exclusiva de transferência, ao lado da secretaria e próxima vestiários de barreira (um sujo e outro limpo), para acessarem as
da recuperação pós-anestésica. O acesso de funcionários áreas do 4º pavimento.
ocorre pelo 4º pavimento, através de vestiários de barreira, que
possuem portas para fora e para dentro da unidade. Mesmo com Visão geral: o centro cirúrgico e o centro obstétrico formam
ambientes em andares distintos, todo o perímetro da unidade é praticamente a mesma unidade. Possuem alguns acessos
controlado. Não há acessos sem barreiras. independentes e outros compartilhados. Já a central de material
esterilizado possui ambientes internos e externos ao centro
Os partos ocorrem dentro do centro cirúrgico. Há uma área cirúrgico, guardando, assim, uma intensa relação operacional.
destinada ao centro obstétrico, com um posto de enfermagem,
uma sala de conforto das parteiras, duas salas de parto e uma Para acessar as áreas críticas (onde ocorrem as cirurgias
sala de apoio para a neonatologia. O acesso das gestantes e os partos), os pacientes trocam de maca e os funcionários
ocorre pelas salas de acolhimento, pré-parto e trabalho de parto. precisam passar obrigatoriamente pelos vestiários de barreira. O
As salas se abrem para fora e para dentro do centro cirúrgico. A acesso às áreas suja e limpa da central de material esterilizado
enfermagem faz o controle. Já o acesso dos funcionários ocorre ocorre também por vestiários de barreiras. A disposição
pelos vestiários de barreira do centro cirúrgico, localizados no 4º dos ambientes e a criação de vestiários exclusivos diminui a
pavimento. necessidade de os funcionários que trabalham na central de
material esterilizado circularem por dentro do corredor restrito.
A central de material esterilizado também possui Essas barreiras contribuem com a segurança biológica interna
ambientes nos dois pavimentos. No 3º pavimento, interno ao das unidades.
centro cirúrgico, há um expurgo para a recepção do material
sujo e um depósito para dispensação de material limpo, ambos Outro aspecto importante de se destacar é a eliminação
segregados (sem nenhuma comunicação interna). No 4º dos cruzamentos do material sujo e limpo na central de material
pavimento, são quatro áreas principais: o expurgo (área suja), a esterilizado. A unidade foi separada em duas zonas, uma
área de preparo dos kits para esterilização, a área das autoclaves suja e outra limpa. O material sujo é recebido pelo expurgo e
(onde ocorre a esterilização dos instrumentos) e o depósito de só é entregue para a esterilização depois de passar por uma
material esterilizado (áreas limpas). O material sujo é recebido lavagem preliminar, sem cruzar com o limpo durante o processo.
pelos dois expurgos por guichês específicos, no 3º pavimento A organização espacial, o impedimento do trânsito de pessoas
voltado para o corredor restrito (interno ao centro cirúrgico) e entre as duas zonas e as barreiras físicas colaboram para a
no 4º pavimento voltado para o corredor interno do hospital. O diminuição do risco de contaminação cruzada do material.
material sujo recebido no 3º pavimento passa por uma lavagem
preliminar e é transportado para o expurgo no 4º pavimento. O
material contaminado do hospital é recebido pelo expurgo no 4º
pavimento. Após passar por uma lavagem preliminar, o material
(ainda contaminado) é entregue para a área de preparo por
meio de guichês. Não há portas entre o expurgo e a área de
preparo. O material é preparado e depois esterilizado em uma
sala contígua, onde ficam as autoclaves. Após a esterilização, o
material é armazenado em uma outra sala, onde é distribuído por
meio de um guichê voltado para o corredor interno do hospital ou
283
284

Na prancha 98 foi analisada a distribuição espacial da apoio ficam posicionados em ambas as fachadas longitudinais
unidade de terapia intensiva (UTI) e da unidade de terapia semi- do andar, gerando um corredor central. A unidade possui 32
intensiva do Centro Médico Hospitalar Vila Velha. leitos.

A UTI fica localizada no 3º pavimento, ao lado da unidade


de exames cardiológicos e próxima ao centro cirúrgico. São
562,31 m² de área construída.

A unidade possui duas alas, sem identificação de


ocupação (adulto ou pediátrico). Acredita-se que uma ala seja
destinada à pediatria e outra aos adultos. Os ambientes de apoio
ficam espalhados pelas duas alas.

A ala sul possui nove boxes com um leito cada. Um


desses boxes é de isolamento, com banheiro exclusivo. O posto
de enfermagem é composto por duas bancadas de trabalho e
uma bancada de apoio e serviços, todas posicionadas ao longo
do corredor interno da unidade.

A ala norte possui dez boxes com um leito cada. Um


desses boxes é de isolamento, com banheiro exclusivo. O posto
de enfermagem é composto por uma bancada de trabalho e uma
bancada de apoio e serviços, ambas posicionadas ao longo do
corredor interno da unidade.

As áreas de apoio são compostas por secretaria, sala de


acolhimento e reuniões (familiares e visitantes), duas salas de
utilidades (uma para cada posto de enfermagem), uma farmácia
satélite, sanitários para funcionários, depósito de material de
limpeza e dois quartos para plantonistas.

Os familiares e visitantes possuem espera exclusiva, que


pode ser acessada pelo corredor externo.

Para efeito de comparação, há nesse projeto um leito de


UTI para cada 11,36 leitos de internação.

A unidade de tratamento semi-intensivo fica localizada


no 5º pavimento. Sua organização espacial é idêntica às alas
nortes das unidades de internação dos 7º e 8º pavimentos. Os
pacientes ficam internados em quartos de dois leitos cada e o
posto de enfermagem e as áreas de apoio numa posição central
em relação aos quartos. Os quartos, o posto e os ambientes de
285
286

Na prancha 99 foram analisados os principais fluxos da


unidade de tratamento intensivo e da unidade de tratamento
semi-intensivo do Centro Médico Hospitalar Vila Velha.

Três fluxos foram analisados: de visitantes, de pacientes


internos e de funcionários.

Na UTI, os familiares e visitantes acessam por meio


de uma espera exclusiva, voltada para o corredor externo do
hospital. A espera dá acesso para a área de acolhimento (onde
os médicos conversam com os familiares) e para o corredor
interno da unidade.

Os pacientes e os funcionários acessam diretamente o


corredor interno da unidade, sem vestiários de barreira ou áreas
de transferência.

Na unidade de tratamento semi-intensivo, os familiares e


visitantes acessam por meio de uma espera exclusiva, voltada
para o corredor externo do hospital. A espera dá acesso para o
corredor central da unidade (circulação mista).

Os pacientes internos e os funcionários acessam


diretamente o corredor central da unidade, sem vestiários de
barreira ou áreas de transferência.

Visão geral da UTI e da semi-intensiva: a UTI conta


com algumas soluções que aumentam a segurança biológica
dos pacientes. A separação dos acessos do pessoal interno e
externo e a separação dos pacientes em boxes individuais, com
o advento de dois isolamentos com sanitário exclusivo, colabora
para a redução das infecções provenientes de dentro e de fora
da unidade.

Já a unidade de tratamento semi-intensivo possui


distribuição espacial similar à das unidades de internação. Os
acessos são diretos, sem barreiras físicas.
287
288

5.5.5. Categoria 5: Conforto Ambiental

Na Prancha 100 foi analisada a configuração dos jardins


envoltórios e internos do Centro Médico Hospitalar Vila Velha.

O projeto possui poucas áreas verdes. Há alguns jardins


indicados no recuo frontal, em volta da rampa de automóveis e
da escada externa de acesso do público.

O projeto não possui jardins internos.


289
290

Na Prancha 101 foi analisado o rebaixamento das lajes do


Centro Médico Hospitalar Vila Velha.

Foram rebaixadas algumas lajes de cobertura das


circulações dos 1º e 3º pavimentos. O rebaixamento dessas
lajes só foi possível em virtude da criação dos espaços técnicos
abertos em ambos os andares. Essa solução possibilitou a
instalação de janelas altas entre a parte de baixo das lajes altas
e o topo das lajes baixas. As lajes rebaixadas são ora apoiadas,
ora penduradas por tirantes.

Esse sistema permitiu que boa parte dos espaços internos


dos dois pavimentos tivessem iluminação e ventilação naturais.

Ao longo das lajes rebaixadas foram criados lanternins de


iluminação natural. Os lanternins são formados por uma caixa de
alvenaria sobre aberturas quadradas nas lajes. Possuem duas
janelas verticais opostas e cobertura em telha de fibrocimento.
Esses lanternins complementam o sistema de iluminação por
janelas altas, uma vez que os corredores não são beneficiados
pelas aberturas geradas com o rebaixamento das lajes.

Visão geral das lajes rebaixadas: por se tratar de um edifício


vertical, com nove pavimentos, foi possível o rebaixamento das
lajes de cobertura somente dos dois andares que possuem
espaços técnicos acima, nos 1º e 3º pavimentos. Assim como
nos edifícios horizontais, o objetivo do rebaixamento das lajes é
dotar de iluminação e ventilação naturais alguns dos ambientes
internos do hospital.

Importante destacar, neste projeto, o rebaixamento das


lajes de cobertura dos corredores da UTI. Isso possibilitou
a todos os boxes de internação de pacientes ter iluminação
natural indireta. Também seria possível, caso fosse o desejo
dos médicos e diretores clínicos, dotar os boxes de ventilação
natural (em geral substituída por condicionamento de ar filtrado
para reduzir o risco de infecções).

Sendo assim, conclui-se que os autores acreditavam


que criar aberturas altas para o exterior reduziria o consumo
de energia do hospital (com menos gastos provenientes da
iluminação artificial e do uso de ar-condicionado) e tornaria os
Imagem 5.90
ambientes internos mais agradáveis para os usuários, mesmo
Corredor do centro cirúrgico com laje
rebaixada e lanternins (foto atual). que a solução tenha sido usada em somente dois pavimentos.
Fotografia de Andrés Otero.
291
292

Na Prancha 102 foi analisada a presença de áreas de


convivência do Centro Médico Hospitalar Vila Velha.

Há áreas de convivência internas, mistas e externas,


localizadas no térreo, 1º, 6º e 8º pavimentos.

Os dois halls de acesso são as áreas de convivência


externa do hospital, juntamente com a lanchonete localizada ao
lado do hall do 1º pavimento.

No 6º pavimento, a brinquedoteca da internação pediátrica


também se abre para a sala de espera, tornando o ambiente
uma área de convivência mista entre pacientes internados,
acompanhantes e visitantes, além de ser utilizada como um
ambiente de terapia.

No 8º pavimento há a unidade de conforto e residência


médica. Esta unidade possui uma ampla sala de estar e uma sala
com mesas e computadores. Esses ambientes se destinam ao
descanso e à convivência dos médicos e funcionários. Portanto,
foram considerados áreas de convivência interna.

Visão geral dos espaços de convivência: há seis ambientes


considerados espaços de convivência dentro do hospital. Três
destinados ao público externo, um ambiente de uso misto e dois
destinados exclusivamente aos funcionários.

Não há jardins internos ou externos que tenham sido


pensados como áreas de convivência.

Ao todo, as áreas de convivência somam 384,65 m²


(1,92% do total da área construída).

Imagem 5.91
Hall de acesso do 1º pavimento (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
293
294
295

6
296

Imagem 6.1
Desenho esquemático da organização das circulações em
edifícios hospitalares desenvolvido por Jarbas Karman.
6. AS ESTRATÉGIAS PROJETUAIS DE JARBAS KARMAN 297

Após a análise de cinco projetos arquitetônicos “Conceito que desempenha um papel importante
desenvolvidos por Jarbas Karman, foi possível estabelecer na concepção e na atualização de instituições
paralelos entre as soluções projetuais pensadas para cada uma de saúde; no ordenamento funcional e na
das cinco categorias previamente definidas. aglutinação racional e lógica de componentes e
afins; na interação e nos inter-relacionamentos
A primeira categoria trata do agrupamento funcional, a qualitativos e quantitativos; na mais-valia
segunda da flexibilidade física das construções, a terceira da posicional e proximal de elementos distância/
eficiência operacional, a quarta da segurança biológica, e a urgência/prioridade/necessidade/peculiaridade
quinta do conforto físico e psicológico dos usuários. dependente; na otimização de fatores, utilização
de custo/benefício, na potencialização de vetores
O objetivo desses paralelos é discutir as semelhanças de correlacionamento funcional de produção e
e diferenças das soluções aplicadas em cada projeto, de recursos humanos. É um conceito introduzido
estabelecendo, assim, as estratégias projetuais do autor. no planejamento hospitalar pelo arquiteto Jarbas
Karman.” (Góes, 2011, p. 49).
6.1 Agrupamento funcional
O primeiro conceito foi tratado por Karman de maneira
O hospital possui um dos mais complexos programas indireta em seu livro. Pode-se dizer que a aplicação dos critérios
físico-funcionais dentre os edifícios urbanos. O agrupamento de “relação funcional de nível” e de “prioridade de percurso”
dos setores deve levar em consideração uma série de fatores (descritos no Capítulo 4 desta dissertação) colabora para uma
tecnológicos e relacionados aos procedimentos médicos e a organização funcional mais eficiente e produtiva.
gestão hospitalar.
O segundo conceito, como citado por Góes, foi
Sobre esse fato, Ronald de Góes afirma que o hospital é: introduzido por Karman entre o final do século XIX e início do XX.
O conceito de “valência” não possui um texto que estabeleça
“[...] um edifício multifacetado, onde interagem suas bases e sua aplicação. Estudos recentes do Instituto de
relações diversas de alta tecnologia e refinados Pesquisas Hospitalares Arquiteto Jarbas Karman - IPH apontam
processos de atuação profissional (atendimento que esse conceito pode ser a evolução de outro, também não
médico e serviços complementares) com documentado, chamado “Ideal Centrado e Real Posicionado”.
outras de características industriais (lavanderia, Há diapositivos utilizados em aulas e palestras que contêm
serviços de nutrição, transportes, etc.).” (Góes, desenhos e títulos relacionados a ambos os conceitos. Porém,
2011, p. 47). por não haver melhores explanações e publicações sobre os
assuntos, esses conceitos não serão discutidos neste trabalho.
Ainda discorrendo sobre o programa, Góes descreve
cinco conceitos, sendo que dois se referem diretamente ao Mesmo que os conceitos mais recentes ainda careçam de
agrupamento funcional: a “contiguidade” e a “valência”. mais pesquisas, é possível se aproximar das ideias de Karman
acerca do agrupamento das unidades funcionais quando afirma
Sobre a contiguidade, Góes explica: que o hospital é “constituído, ao mesmo tempo, de partes
estreitamente interligadas e dificilmente dissociáveis e de partes
“Conceito pelo qual a anatomia do edifício independentes e dificilmente agrupáveis” (Karman, 1972, p. 12).
hospitalar organiza os percursos, distâncias
e relações entre setores e unidades ou Não há explicações no livro Iniciação à Arquitetura
departamentos”. (Góes, 2011, p. 48). Hospitalar que apontem quais unidades devam ser agrupadas
ou aproximadas e quais devam ser afastadas.
Já sobre a “valência”, Góes descreve:
A primeira observação que pode ser feita é sobre como
Imagem 6.2
Karman foi delineando, com o tempo, unidades funcionais Organização funcional dos hospitais verticais.
Desenho sem escala.
298

autônomas, com basicamente um acesso externo (quando as No Centro Médico Hospitalar Vila Velha, estão localizadas,
unidades atendem os pacientes externos) e um acesso interno. principalmente, nos dois primeiros pisos.

No projeto do Hospital e Maternidade São Domingos a No Hospital da Guarnição do Galeão, no Instituto Nacional
distribuição funcional não configura ambientes autônomos. As de Câncer e Queimados e no Hospital da Unimed de Sorocaba,
áreas de atendimento dos pacientes externos foram distribuídas as unidades que atendem os pacientes externos estão numa
no pavimento térreo do Bloco 01, ao longo de dois corredores mesma faixa programática.
intercomunicados, obrigando os usuários a passar pelo
ambulatório e pelo pronto-socorro para acessar a fisioterapia e o As unidades que se relacionam mais com os pacientes
raio x. internos (centro cirúrgico e centro obstétrico) ficam localizadas
em pavimentos superiores nos hospitais verticais e mais ao
Essa configuração muda nos projetos seguintes. No centro do conjunto arquitetônico nos horizontais.
Hospital da Guarnição do Galeão, Karman propôs unidades
funcionais autônomas, com corredores exclusivos, que podiam As unidades de apoio técnico-logístico, nos hospitais
ser acessadas sem a necessidade de se percorrer os corredores verticais, ficam próximas do solo, onde há a possibilidade de criar
de outras unidades. Todos os projetos seguintes possuem docas de carga e descarga afastadas ou que não interfram no
solução semelhante. acesso dos usuários externos (térreo, subsolos semienterrados
com acesso por vias internas, etc.). Nos hospitais horizontais,
A opção por criar unidades funcionais autônomas pode ocupam uma faixa afastada da dos usuários externos, que pode
ser determinada como a primeira estratégia projetual de Karman: ser oposta ou contígua.

1ª estratégia: Criação de unidades funcionais autônomas, que A distribuição geral das unidades funcionais que atendem
possam ser acessadas diretamente, sem a necessidade de se os pacientes externos e internos e as de apoio técnico-logístico
percorrer corredores internos de outras unidades. determinam outras duas estratégias projetuais:

Uma observação importante sobre essa questão é que 2ª estratégia: Nos hospitais verticais, as unidades de
os projetos horizontais possuem uma configuração mais clara atendimento ao paciente externo e as unidades técnico-logísticas
e organizada das unidades funcionais autônomas. O Centro devem ser aproximadas do solo para facilitar os acessos e
Médico Hospitalar Vila Velha, hospital vertical, não possui uma diminuir os deslocamentos verticais. A posição delas, no plano
organização tão clara, tanto que o centro cirúrgico e a central de horizontal, deve ser feita para possibilitar entradas distintas (sem
material esterilizado ocupam mais de um andar. cruzamentos) e maior controle dos acessos. As unidades de
atendimento ao paciente interno podem ocupar pavimentos mais
Outra semelhança está na forma como as unidades elevados, porém não muito distantes do térreo, possibilitando,
funcionais foram agrupadas. Em alguns casos, estão próximas e assim, mais controle dos tráfegos internos (ver imagem 6.2);
em outros compõem uma só unidade.
3ª estratégia: Nos hospitais horizontais, as unidades de
As unidades de atendimento ao paciente externo atendimento ao paciente externo e as unidades técnico-logísticas
(ambulatório, pronto-socorro, diagnóstico por imagem e de devem ocupar faixas paralelas ou opostas, de forma a possibilitar
terapias diversas) foram posicionadas para facilitar o acesso dos acessos segregados e sem cruzamentos. As unidades de
usuários externos. Nos hospitais verticais, estão posicionadas atendimento ao paciente interno devem ser posicionadas em
nos primeiros pavimentos, e nos hospitais horizontais, estão uma faixa mais centralizada, possibilitando, assim, mais controle
localizadas numa mesma faixa programática, uma ao lado da dos tráfegos internos (ver imagem 6.3).
outra.
Em relação à distribuição geral das internações, pode-se
Imagem 6.3 No Hospital e Maternidade São Domingos, essas unidades dizer também que, tanto para os hospitais verticais quanto para
Organização funcional dos hospitais horizontais. foram concentradas num mesmo bloco, no pavimento térreo. os horizontais, a posição das unidades funcionais depende muito
Desenho sem escala. de como serão definidos os acessos e como se desenvolverão
299

as circulações. Sendo assim, a decisão da posição das unidades elevados; nos edifícios horizontais, as unidades podem ser
funcionais está intrinsecamente ligada à organização dos sobrepostas e sua localização é definida para facilitar o acesso
acessos e circulações. independente de visitantes e reduzir os percursos dos pacientes
internados e do recebimento de refeições e de suprimentos.
Outras similaridades relacionadas ao agrupamento
funcional, mais específicas, merecem maior atenção. Entre elas, a As posições das internações nos projetos analisados
posição das UTIs, dos centros cirúrgicos, dos centros obstétricos, determinam outras duas estratégias relacionadas à distribuição
das centrais de material esterilizado e das internações devem funcional:
ser destacadas.
6ª estratégia: Nos hospitais verticais, as internações devem
No Hospital e Maternidade São Domingos, a Unidade de ocupar os últimos pavimentos;
Assistência Intensiva foi posicionada ao lado do centro cirúrgico
e próxima do centro obstétrico. Se considerarmos que essa 7ª estratégia: Nos hospitais horizontais, as internações devem
unidade precedeu as atuais Unidades de Tratamento Intensivo ser posicionadas de forma a favorecer os acessos segregados e
(UTI), veremos que, em três dos outros quatro projetos, a a redução dos percursos internos.
localização desta unidade é semelhante. O único hospital onde
isso não ocorre é no da Guarnição do Galeão: a UTI fica mais Semelhante às duas primeiras estratégias, o
distante do centro cirúrgico (posicionada no 1º subsolo do Bloco posicionamento das internações também está intrinsecamente
02) e se relaciona mais intensamente com as internações. ligado à organização dos acessos e das circulações.

Os centros cirúrgicos, os centros obstétricos (quando Sendo assim, conclui-se que as análises apontam sete
presentes no programa) e as centrais de material esterilizado de estratégias projetuais relacionadas à primeira categoria. Todas
todos os cinco projetos estão próximos ou formam uma mesma as estratégias têm como objetivo suscitar soluções alinhadas
unidade. Nos quatro primeiros hospitais, Karman projetou as com os critérios de “prioridade de percurso”, “concentração”,
unidades no mesmo piso. No projeto para o Centro Médico “centralização”, “relação funcional de nível” e “desenvolvimento
Hospitalar Vila Velha, as unidades ocupam dois pavimentos, que horizontal”, além de promover a autonomia de cada unidade,
são conectados por uma escada e dois monta-cargas internos gerando maior flexibilidade operacional ao hospital. Observou-se
à unidade, solução que certamente priorizou a posição da UTI também que, tanto nos hospitais horizontais quanto nos verticais,
(localizada no mesmo pavimento do centro cirúrgico e do centro o agrupamento funcional tem grande relação com a organização
obstétrico). dos acessos e das circulações e que algumas unidades estão
próximas ou foram aglutinadas, como é o caso da UTI e do
O posicionamento destas quatro unidades e o aglutinamento conjunto centro cirúrgico, centro obstétrico e central de material
de algumas delas se relacionam com os critérios de “prioridade esterilizado.
de percurso”, “contiguidade de nível”, “concentração” e
“centralização”. Estas soluções também determinam outras duas 6.2. Flexibilidade física
estratégias projetuais relacionadas à distribuição do programa
físico-funcional: Jarbas Karman escreveu em seu último livro [1] um
jogo de palavras, sob o título “critérios preditivos”. Um desses
4ª estratégia: Aproximar as unidades críticas, principalmente do critérios foi amplamente utilizado por ele em seus diapositivos de
centro cirúrgico, do centro obstétrico e da UTI; aulas e palestras. O critério diz o seguinte: “Hospital, instituição
inacabada” / “Permanente canteiro de obras”. (Karman, 2011, p.
5ª estratégia: Aproximar ou aglutinar as unidades que possuem 25). No livro Iniciação à Arquitetura Hospitalar, Karman dedica Imagem 6.4
intensas relações funcionais, principalmente do centro cirúrgico, um capítulo todo a esse assunto, tamanha era a importância da Áreas de expansão dos hospitais horizontais.
do centro obstétrico e da central de material esterilizado. questão. Ele afirma que: Desenho sem escala.

As internações, por sua vez, são posicionadas de duas [1] Manutenção e segurança hospitalar preditivas, publicado postumamente,
formas: nos edifícios verticais, ocupam os pavimentos mais em 2011.
300

“Os hospitais devem estar em condições de 9ª estratégia: Nos hospitais verticais, previsão da construção de
atender as necessidades não só presentes, novos blocos, de forma ordenada e que cause o menor impacto
mas também futuras. Essas necessidades possível nas unidades funcionais constituídas.
de expansão são necessidades reais,
permanentemente sentidas pelos hospitais, Os edifícios horizontais são mais flexíveis do que os
mormente quando servindo comunidades de alto verticais nesse aspecto. As estratégias de projetar unidades
índice de crescimento”. (Karman, 1972, p. 38). funcionais autônomas e de posicioná-las separadamente, com
jardins internos que servem como áreas de espera para futuras
Para identificar as estratégias relacionadas à flexibilidade construções, possibilita a expansão de uma unidade sem
física, dois aspectos foram analisados nos projetos: o potencial prejudicar os serviços contíguos e com pouco impacto para o
de crescimento e a configuração dos espaços técnicos. funcionamento do restante do hospital. Os edifícios verticais
necessitam, na grande maioria, de novas construções anexas
6.2.1. Potencial de crescimento e remanejamento de unidades funcionais (seja daquelas que
precisam crescer ou daquelas que precisam dar espaço para
Muitos de seus projetos possuem a previsão de futuras outras crescerem). Essa também é uma das condições que
expansões. Essas previsões são representadas em plantas, favorecem o desenvolvimento horizontal.
cortes e diagramas e foram denominadas como “Plano Diretor”,
termo utilizado em alguns memoriais, desenhos e publicações. 6.2.2. Configuração dos espaços técnicos

Entre os cinco projetos analisados, quatro apresentam O advento dos espaços técnicos em edifícios hospitalares
áreas de expansão. Os projetos para o Hospital da Guarnição talvez seja uma das maiores defesas de Karman ao longo de
do Galeão, do Instituto de Câncer e Queimados e o Unimed sua carreira. Esses espaços estão presentes em praticamente
Sorocaba podem expandir suas unidades funcionais de forma todos os projetos de novos hospitais e o conceito aparece com
independente. Já o Centro Médico Hospitalar Vila Velha não frequência em seus textos e material didático.
possui essa condição; o projeto prevê a construção de um novo
edifício no lote, conectado ao existente. Nos cinco projetos analisados, há a presença desses
espaços. No início, são mais tímidos, pontuais; depois aparecem
Dos projetos analisados, o único no qual não há a previsão em diferentes formatos e dimensões. Foram analisados os
de expansões físicas é o Hospital e Maternidade São Domingos. espaços que o autor tenha mencionado com maior destaque em
seu texto, como os espaços “interandares”, os sótãos, os porões
A área prevista para as expansões cresceu e as casas de máquinas não convencionais aos outros edifícios
consideravelmente entre os projetos. O Hospital da Guarnição (não foram considerados os espaços destinados aos motores
do Galeão possui condições de expandir sua área construída em dos elevadores, ao barrilete das caixas d’água, etc.).
3,18%; o Instituto de Câncer e Queimados, 61,35%; o Hospital
Unimed Sorocaba, 304,82%; e o Centro Médico Hospitalar Vila No Hospital e Maternidade São Domingos, há um único
Velha, 123,28%. Esse crescimento demonstra a preocupação de espaço técnico acima do centro cirúrgico, com pé-direito de 2,2
Karman em propiciar o maior potencial de expansão possível em metros e acessível aos funcionários da manutenção. Este espaço
seus projetos. é fechado nos quatro lados por paredes de alvenaria e coberto
por uma laje de concreto armado.
Sendo assim, duas estratégias projetuais relacionadas ao
potencial de expansão dos edifícios podem ser determinadas: No Hospital da Guarnição do Galeão, há dois tipos de
espaços técnicos: um espaço “interandar” entre o 1º subsolo e o
8ª estratégia: Nos hospitais horizontais, criação de jardins 1º andar do Bloco 02 e um sistema composto pelas vigas, lajes e
internos que sirvam de área para futuras expansões das unidades forros removíveis do Bloco 01. O Bloco 02 possui um pavimento
Imagem 6.5 funcionais, de forma independente umas das outras (ver imagem técnico com dois espaços técnicos de pés-direitos alternados.
Configruração dos espaços técnicos. 6.4); Esses espaços ficam posicionados sob os quartos do 1º
Desenho sem escala. pavimento e sobre os quartos do 1º subsolo e medem 1,7 metro
301

de altura. São destinados às tubulações aparentes e podem 6.3. Eficiência


ser facilmente acessados pelos funcionários da manutenção.
No Bloco 01, a grelha de vigas vierendeel forma uma espécie Karman dedicou dois capítulos do seu livro aos critérios
de duto horizontal para a passagem livre das tubulações nos sobre eficiência. Um sobre como planejar em função do tema
sentidos transversal e longitudinal. propriamente dito, e o outro sobre a racionalização das unidades
de internação. Ambos os capítulos apresentam critérios que
No Instituto de Câncer e Queimados e no Hospital Unimed norteiam o projeto de arquitetura. Algumas relações entre a
Sorocaba, os espaços técnicos são parecidos. No projeto arquitetura e os critérios de “concentração”, “centralização”,
paraguaio, os espaços técnicos ficam sob o telhado elevado “relação funcional de nível” e “desenvolvimento horizontal”
dos volumes construídos do Bloco 01. São duas dimensões de já foram estabelecidas na primeira categoria (agrupamento
pé-direito: os menores medem 1,2 metro (sobre a maioria das funcional). Esta categoria se concentrou em analisar a organização
unidades funcionais) e os maiores medem 2,1 metros de altura das circulações, a configuração espacial e os percursos da
(sobre as salas de cirurgia). No hospital paulista, há espaços enfermagem nas internações.
técnicos sob os telhados que medem 1,1 metro (sobre a maioria
das unidades) e 1,8 metro de altura (sobre a unidade de 6.3.1. Organização dos acessos e circulações
diagnóstico por imagem e sobre o laboratório), além de quatro
casas de máquinas semelhantes à do São Domingos, duas sobre Como observado acima, as questões que envolvem o
as salas de cirurgias, uma sobre as salas de parto e uma sobre agrupamento das unidades funcionais estão intrinsecamente
a UTI. ligadas à organização dos acessos e das circulações.

No Centro Médico Hospitalar Vila Velha, o hospital com Compreender os fluxos de um hospital é fundamental
maior número de pavimentos, há quatro espaços técnicos para o desenvolvimento do projeto arquitetônico. São diversos
avantajados: dois no 2º pavimento (um acima do pronto-socorro tipos diferentes de fluxos, desde o atendimento do paciente
e outro acima da unidade de diagnóstico por imagem) e dois externo até o recolhimento e armazenamento dos resíduos.
no 4º pavimento (um acima do centro cirúrgico e outro acima Considerando que uma grande parte dos fluxos acontece
da UTI). O pé-direito desses espaços técnicos também varia: no mediante o deslocamento de pessoas e de materiais, pode-se
2º pavimento medem 2,3 metros, e no 4º pavimento medem 2,9 dizer que os acessos e as circulações são os meios por onde
metros de altura. Sendo assim, pode-se dizer que esses espaços esses fluxos acontecem.
podem ser considerados andares técnicos.
Sobre as circulações, Karman explica:
Nos hospitais horizontais, os espaços técnicos ocupam,
de formas diferentes, quase toda a cobertura dos hospitais. No “A eficiência está intimamente condicionada ao
Centro Médico Vila Velha, o edifício com o maior número de seu sistema de comunicações, de interligação e,
pavimentos, há dois andares técnicos localizados nos pavimentos particularmente, de circulação.
intermediários (ver imagem 6.5).
Existe grande variedade e diversidade de
O espaço técnico do Hospital e Maternidade São percursos e nem sempre é fácil atender a todos
Domingos e os espaços técnicos com maiores pés-direitos dos os requisitos que deles se exige. De qualquer
demais projetos ficam sobre o centro cirúrgico e sobre a UTI. forma, porém, as linhas de circulação devem ser
flexíveis, disciplinadoras, definidas, diferenciadas,
Diante dessas observações, uma estratégia projetual extensíveis, interdependentes e sem conflitos e
relacionada aos espaços técnicos pode ser determinada: cruzamentos”. (Karman, 1972, p. 14).

10ª estratégia: Criação de espaços técnicos com dimensões que Sendo assim, é correto dizer que a eficiência operacional
possibilitem o acesso dos funcionários da manutenção em todo também está diretamente ligada à organização dos acessos e Imagem 6.6
o complexo hospitalar, sobre ou sob as unidades, priorizando os das circulações. Organização das circulações dos hospitais horizontais.
que ficam sobre ou sob os centros cirúrgicos e as UTIs. Desenho sem escala.
302

Os cinco projetos analisados apresentam dois tipos de para os hospitais verticais, a segregação das circulações
acessos: os internos e os externos. As circulações apresentam é possível e recomendada. A organização dos acessos é
quatro tipos: externas, mistas, internas e restritas. semelhante ao Hospital da Guarnição do Galeão e ao Hospital
Unimed Sorocaba. Já as circulações verticais, diferentemente
No Hospital e Maternidade São Domingos, há a do Hospital e Maternidade São Domingos, possuem uma certa
predominância das circulações mistas, onde circulam juntos separação: há três escadas exclusivas para o público interno e
pacientes externos, visitantes, médicos, pacientes internados uma outra exclusiva para o público externo. Os três elevadores
e funcionários. A compactação do hospital não permitiu uma maca-leito possuem portas duplas, mas se abrem para halls
clara separação dos percursos. Porém, os acessos são bem com classificações distintas e totalmente separados (interno
setorizados: os internos acontecem, prioritariamente, no 2º e e externo), o que colabora com a implantação de sistemas de
no 1º subsolos, e os acessos externos acontecem no térreo. chamada prioritária de elevadores.
Como há apenas uma escada e uma rampa, e os dois halls dos
elevadores podem, em certos momentos, ser acessados tanto No Hospital da Guarnição do Galeão, no Instituto de
pelo público interno quanto pelo externo, as circulações verticais Câncer e Queimados, no Hospital Unimed Sorocaba e no
foram consideradas mistas. Centro Médico Hospitalar Vila Velha, as circulações restritas se
desenvolvem internamente aos centros cirúrgicos. Para acessá-
No Hospital da Guarnição do Galeão, a configuração las, os pacientes precisam passar por uma sala de transferência
dos acessos e das circulações muda drasticamente. Há uma (onde trocam de macas) e os funcionários e acompanhantes
segregação quase que total entre as circulações internas e precisam passar por vestiários de barreira.
externas. As circulações mistas ficam localizadas apenas nas
unidades de internação. As unidades de atendimento ao paciente De acordo com as análises, é possível determinar duas
externo podem ser acessadas diretamente pelo público externo, estratégias projetuais em relação à organização dos acessos e
sem a necessidade de controle prévio (catracas e cadastros). Os das circulações:
acessos internos ficam numa faixa oposta aos acessos externos,
são controlados e destinados somente aos funcionários e ao 11ª estratégia: Separar o máximo possível os acessos e as
recebimento dos suprimentos. circulações internas e externas, tanto as horizontais quanto
as verticais, evitando cruzamentos e situações que facilitem
No Instituto Nacional de Câncer e Queimados, a lógica o acesso do público externo nas circulações internas sem um
de segregar as circulações e os acessos é mantida. Porém, controle ou cadastro prévio (ver imagem 6.6);
para acessar as internações e a UTI, os visitantes circulam por
um trecho da circulação interna, solução que o próprio Karman 12ª estratégia: Criar circulações restritas para os centros
desaconselha. cirúrgicos e para os ambientes onde haverá procedimentos
invasivos nos pacientes, por meio de vestiários de barreiras e
No Hospital Unimed Sorocaba, a configuração dos acessos áreas de transferências, quando necessário.
e das circulações é semelhante ao Hospital da Guarnição do
Galeão. A segregação é quase total, sendo que as circulações As áreas destinadas às circulações apresentam pequenas
mistas se desenvolvem apenas nas internações. As unidades de diferenças. O Hospital e Maternidade São Domingos possui
atendimento ao paciente externo também podem ser acessadas 26,25% da área construída destinada às circulações, o Hospital
diretamente pelo público externo, sem a necessidade de controle da Guarnição do Galeão possui 27,16%, o Instituto Nacional
prévio, e os acessos internos são controlados e ficam numa faixa de Câncer e Queimados possui 37,55%, o Hospital Unimed
oposta. Sorocaba possui 29,57%, o Centro Médico Hospitalar Vila Velha
possui 26,98%.
No Centro Médico Hospitalar Vila Velha, as circulações
são parcialmente segregadas. Há a presença de circulações Os percentuais apontam que não há grande diferença
mistas em algumas unidades, mas que não interferem no entre a metragem destinada às circulações dos hospitais
desenvolvimento das circulações internas. A configuração dos horizontais e verticais. Outra observação é que, de acordo com
acessos e das circulações deste projeto demonstra que, mesmo esses números, a média da área destinada às circulações é
303

de 29,5%. Com esses percentuais, pode-se dizer que, para se o posto mais ao centro do andar é responsável por atender 40
atingir uma segregação adequada, a escolha entre um edifício leitos, e o mais a leste é responsável por 38 leitos.
vertical e um horizontal tem pouca influência na média da área
que será destinada às circulações. No Hospital da Guarnição do Galeão e no Instituto
Nacional de Câncer e Queimados, as unidades de internação
6.3.2. Configuração espacial das internações são semelhantes. Ambas possuem quartos justapostos às
fachadas longitudinais dos blocos, um corredor central e os
O hospital surgiu na antiguidade, em templos religiosos que postos de enfermagem espalhados ao longo dos corredores.
acolhiam os doentes para cuidados e estudos de suas doenças. As configurações dessas internações também podem ser
Na idade média, os religiosos recebiam os doentes em edifícios consideradas como uma variação do modelo “duplamente
cuja arquitetura se assemelhava às catedrais e ofereciam abrigo carregado”.
e cuidados. No renascimento, já existiam grandes hospitais na
Europa, onde a maior parte de seus espaços eram destinados Em ambos os hospitais, há em média um posto de
ao abrigo e aos cuidados de doentes. No século XIX, os edifícios enfermagem a cada 8 quartos, ou seja, cada posto é responsável
de saúde se transformaram radicalmente, após a publicação e por atender 16 leitos.
a aplicação de estudos e modelos desenvolvidos na França. Em
toda a história, as internações sempre estiveram presentes nos No Hospital Unimed Sorocaba, a configuração da unidade
edifícios hospitalares. Esse fato torna a internação dos doentes de internação é semelhante à do Hospital e Maternidade São
um serviço primordial para a constituição de um hospital, mesmo Domingos. Os quartos ficam posicionados ao logo das fachadas
nos dias de hoje. Não há hospital sem leitos de internação. longitudinais do bloco e há uma faixa central onde ficam
localizados os postos de enfermagem e os ambientes de apoio
Jarbas Karman considerava as unidades de internação e serviços. Cada posto é responsável pelo atendimento de 32
uma das mais importantes do hospital moderno. Durante seu leitos.
mestrado em Yale, tomou conhecimento dos estudos realizados
pela universidade para aprimorar o projeto arquitetônico das No Centro Médico Hospitalar Vila Velha, os quartos ficam
unidades de internação [2]. Munido desse conhecimento, justapostos às fachadas longitudinais do andar. São dois postos
desenvolveu seus projetos de acordo com critérios que buscavam de enfermagem, um em cada uma das duas alas de cada
reduzir os percursos da enfermagem e tornar mais eficientes as unidade. Os postos de enfermagem e os ambientes de apoio e
rotinas operacionais. serviços ficam justapostos às fachadas oeste, num espaço onde
caberiam dois quartos. Cada posto é responsável por atender 40
Todos os projetos analisados possuem quartos em ambas leitos.
as fachadas longitudinais do bloco ou andar onde a unidade
foi implantada. As internações podem ser classificadas como De acordo com as configurações das internações
“duplamente carregadas”. Porém, não possuem a mesma planta. analisadas, é possível determinar duas estratégias projetuais
Há variações na forma como os espaços foram projetados. relacionadas à configuração espacial das internações:

No Hospital e Maternidade São Domingos, os quartos 13ª estratégia: Projetar unidades “duplamente carregadas”, com
Imagem 6.7
ficam justapostos às fachadas longitudinais. Há uma faixa central quartos ao longo das duas fachadas longitudinais dos edifícios. Configuração espacial das internações.
no andar destinado aos postos de enfermagem, ao berçário e Desenho sem escala.
aos serviços de apoio, gerando dois corredores longitudinais 14ª estratégia: Descentralizar os postos de enfermagem,
entre os quartos e essa faixa central, conectados por outros aproximando a enfermagem dos pacientes internados o máximo [2] O estudo em questão, intitulado “Yale Traffic Index”, foi realizado no início
corredores. possível. da década de 1950 por John Thompson e Robert Pelletier na Yale School
of Public Health, com o intuito de identificar os padrões de tráfego das
Os postos de enfermagem foram parcialmente Outro indicador que foi possível observar é o número de enfermeiras. A pesquisa abarcou a configuração espacial de 30 unidades
de internação, a fim de medir a eficiência da equipe do hospital. Por meio
descentralizados. A unidade possui três postos de enfermagem. leitos por metro quadrado construído. O Hospital e Maternidade do estudo, uma observação importante, conhecida como “traffic link”,
O posto da maternidade é responsável por atender 16 leitos, São Domingos possui 59,24 m² por leito; o Hospital da Guarnição identificou a acessibilidade de determinadas salas por diferentes caminhos
do Galeão possui 99,23 m² por leito; o Instituto de Câncer e (Delvin, 2010, p.80).
304

Queimados possui 75,8 m² por leito; o Hospital Unimed Sorocaba No Hospital Unimed Sorocaba, o maior percurso posto-a-
possui 93,42 m² por leito; o Centro Médico Hospitalar Vila Velha quarto é de 15,35 metros e o quarto-a-quarto é de 28,8 metros. A
possui 75,1 m² por leito. Como a relação entre área construída e densidade linear da internação é de 0,95 leito por metro linear.
leitos não é constante nem cronologicamente progressiva, pode-
se dizer que a relação média entre a metragem construída e o No Centro Médico Hospitalar Vila Velha, o maior percurso
número de leitos projetados por Karman é de 80,55 m² por leito. posto-a-quarto é de 23,25 metros e o quarto-a-quarto é de 36
metros. A densidade linear da internação do 8º pavimento é de
6.3.3. Percursos das equipes de enfermagem 0,88 leito por metro linear.

A redução dos percursos nos hospitais foi outra das Importante considerar que houve uma mudança na
grandes preocupações de Karman. Quanto menores os modulação arquitetônica das unidades de internação entre os
percursos, mais eficiente é o atendimento e menor o desgaste projetos. No Hospital e Maternidade São Domingos, a modulação
dos funcionários. A racionalização dos percursos aumenta a eixo-a-eixo entre as paredes dos quartos mede 3,15 metros; no
eficiência operacional dos hospitais. Hospital da Guarnição do Galeão, a modulação mede 3,3 metros;
e nos demais projetos, a modulação mede 3,6 metros. Isso tem
A descentralização dos postos de enfermagem, estratégia considerável impacto nos percursos e na densidade linear das
utilizada por Karman desde seus primeiros projetos após seu unidades, posto que o aumento da distância eixo-a-eixo das
regresso da América do Norte, teve como objetivo reduzir os modulações causa aumento no comprimento dos corredores.
percursos da enfermagem, que certamente são os maiores entre
os funcionários dos hospitais. Porém, mesmo com o aumento da modulação, os percursos
do Hospital Unimed Sorocaba apresentam números semelhantes
Karman definiu alguns critérios para nortear o projeto das ao do Hospital e Maternidade São Domingos, considerando
internações. Entre eles, o de “compactação”, de “densidade que as organizações espaciais de ambas as internações são
linear” e de “rendimento da circulação”. Para investigar as semelhantes. O hospital projetado em 1958 possui uma distância
estratégias projetuais relacionadas a esses critérios, foi calculada posto-a-quarto de 15 metros, enquanto o projetado em 1992
a “densidade linear” de cada unidade e medidos dois percursos: possui 15,35 metros; a distância quarto-a-quarto do primeiro
a distância do posto até o último quarto que ele atende e a hospital é de 26,55 metros e a do segundo é de 28,8 metros. Já o
distância entre os quartos que cada posto atende. Centro Médico Hospitalar Vila Velha, projetado em 1999, possui
percursos mais longos do que o Hospital Unimed Sorocaba, tanto
No Hospital e Maternidade São Domingos, o maior o posto-a-quarto, quanto o quarto-a-quarto. Isso evidencia como
percurso posto-a-quarto é de 15 metros e o quarto-a-quarto é de a configuração espacial tem impacto significativo nos percursos
26,55 metros. A densidade linear da internação do 1º pavimento da enfermagem.
é de 1,24 leito por metro linear.
A descentralização dos postos de enfermagem é outra
No Hospital da Guarnição do Galeão, que possui uma característica que vale ser observada. O primeiro projeto propõe
descentralização radical dos postos, o maior percurso posto- uma descentralização menos radical, com três postos e número
a-quarto é de 4 metros e o quarto-a-quarto é de 8 metros. A máximo de 40 leitos por posto. Os dois projetos seguintes
densidade linear da internação do 1º pavimento é de 1,02 leito propõem uma descentralização radical, com uma série de
por metro linear. postos distribuídos ao longo dos corredores e número máximo
de 16 leitos por posto. E os dois últimos projetos retomam uma
No Instituto Nacional de Câncer e Queimados, que descentralização menos radical, com dois ou três postos por
também possui uma descentralização radical dos postos, o maior unidade, cada qual responsável por até 40 leitos. Não se sabe o
percurso posto-a-quarto é de 10,10 metros e o quarto-a-quarto motivo de Karman não ter seguido com a descentralização radical
é de 14,4 metros. Porém, o percurso médio posto-a-quarto é de dos postos de enfermagem; sabe-se apenas que seus últimos
4,3 metros e o quarto-a-quarto é de 8,6 metros. A densidade projetos arquitetônicos, desenvolvidos na década de 2000,
linear da internação do 1º pavimento é de 0,89 leito por metro possuem configurações espaciais e distâncias semelhantes
linear.
305

ao Hospital Unimed Sorocaba e Centro Médico Hospitalar Vila Não havia, na época, a preocupação dos autores em
Velha. evitar o cruzamento do material contaminado e do material
esterilizado. Os procedimentos internos tinham que cuidar para
Essa categoria não sugere uma estratégia projetual que não houvesse contaminação cruzada do material. Porém,
propriamente dita, mas indica qual a melhor distribuição espacial a configuração espacial das unidades que quase formam uma
das unidades de internação dentre as analisadas (em relação só unidade possibilita que o material cirúrgico não transite pelo
aos números e desconsiderando a descentralização radical dos hospital. Considerando que o centro cirúrgico é o que mais
postos), que é a com quartos justapostos em ambas as fachadas demanda serviço às centrais de material esterilizado, essa
longitudinais e uma faixa central com os postos de enfermagem aproximação, ou quase aglutinação, dinamiza o fluxo de material,
e os ambientes de serviços e apoio. tornando a unidade mais eficiente e segura.

6.4. Segurança biológica No Hospital da Guarnição do Galeão há uma grande


mudança. O centro cirúrgico e o centro obstétrico formam
Karman não estabelece, no livro de 1972, critérios acerca praticamente a mesma unidade. Os acessos de pacientes
da segurança biológica dos ambientes hospitalares. Porém, faz são diferentes (os pacientes cirúrgicos entram por uma sala
uma série de apontamentos sobre os bons procedimentos de de transferência) e as gestantes entram por um corredor que
algumas unidades, entre elas a lavanderia, o centro cirúrgico, dá acesso às salas de pré-parto e às salas de parto. O centro
a central de esterilização e os berçários. Como salientado no cirúrgico e o centro obstétrico ainda compartilham duas salas de
Capítulo 4 desta dissertação, os procedimentos relacionados ao cirurgia.
controle das infecções hospitalares mudaram com o passar do
tempo. Consequentemente, os projetos também mudaram. A central de material esterilizado fica posicionada entre o
centro cirúrgico e o pronto-socorro. Possui guichês de recepção
Como forma de aproximação das questões relacionadas à do material sujo e guichês de devolução do material limpo voltados
segurança biológica, foram analisados a configuração espacial para dentro do corredor restrito do centro cirúrgico e para o
e os principais fluxos dos centros cirúrgicos, dos centros corredor interno do hospital. Mesmo com guichês diferentes de
obstétricos, da central de material esterilizado e das UTIs. recepção e devolução do material, tanto para dentro como para
fora do centro cirúrgico, não há separação de área limpa e suja
6.4.1. Configuração espacial e fluxos dos centros cirúrgicos, dentro da central de material esterilizado.
centros obstétricos e centrais de material esterilizado
No Instituto Nacional de Câncer e Queimados, o centro
Em todos os hospitais analisados, o centro cirúrgico, cirúrgico e a central de material esterilizado praticamente
o centro obstétrico (no caso dos hospitais que oferecem os formam a mesma unidade. Uma unidade está contígua à outra,
serviços de maternidade) e as centrais de material esterilizado de tal forma que seus limites não são fácies de definir. No centro
foram aproximados ou formam a mesma unidade. cirúrgico, o acesso dos pacientes acontece por uma área de
transferência de macas e o dos funcionários acontece por dois
No Hospital e Maternidade São Domingos, o centro vestiários de barreira (masculino e feminino).
cirúrgico e a maternidade foram posicionados no 1º pavimento do
Bloco 02. A central de material esterilizado foi posicionada entre Na central de material esterilizado, o acesso de funcionários
as duas unidades, possibilitando a criação de diversos guichês acontece pelo corredor interno do hospital, externo ao centro
para a transferência do material contaminado diretamente das cirúrgico. A entrega e a devolução do material contaminado
salas de cirurgia e de parto para a área de esterilização. e esterilizado seguem princípio parecido ao do Hospital da
Guarnição do Galeão: há guichês distintos (sujo e limpo) voltados
O acesso de pacientes e de funcionários, no centro para dentro do corredor restrito do centro cirúrgico e para o
cirúrgico e no centro obstétrico, acontecia pelo mesmo local. corredor interno do hospital. Porém, diferente do projeto anterior,
Na central de material esterilizado, o acesso de funcionários, o a central de material esterilizado foi separada em duas zonas:
recebimento do material contaminado do hospital e a saída de uma suja e outra limpa. A zona suja é composta por um expurgo,
material limpo também acontecia pelo mesmo local. que realiza uma lavagem preliminar do material contaminado. A
306

zona limpa é composta por uma área de preparo e esterilização De acordo com as análises, é possível determinar uma
e outra de armazenamento do material esterilizado. As duas estratégia projetual relacionada às configurações espaciais e
zonas se comunicam somente por guichês. Os guichês de aos fluxos dos centros cirúrgicos, centros obstétricos e centrais
recebimento do material sujo estão localizados no expurgo e os de material esterilizado:
de recebimento do material limpo no depósito.
15ª estratégia: Agrupar, ou aglutinar em uma só unidade, o
No Hospital Unimed Sorocaba, os acessos de pacientes, centro cirúrgico, o centro obstétrico (quando houver) e a central
de funcionários e os fluxos de material possuem aspectos de material esterilizado, preservando os diferentes acessos,
semelhantes aos do Hospital da Guarnição do Galeão e aos do as barreiras (sempre que necessárias) e o fluxo contínuo de
Instituto Nacional de Câncer e Queimados. O centro cirúrgico, o esterilização do material, criando áreas de entrega e de recepção
centro obstétrico e a central de material esterilizado formam uma dos materiais para dentro e para fora do centro cirúrgico.
mesma unidade. O centro cirúrgico e o centro obstétrico possuem
acessos de pacientes distintos, mas, para a realização dos Um fato interessante ao se analisar nestas unidades é
partos, as gestantes precisam passar pela área de transferência, que Karman, com o tempo, foi aprimorando as formas de acesso
pois as salas de parto ficam dentro do centro cirúrgico. O acesso (introduzindo as barreiras) e o fluxo da esterilização dos materiais
de funcionários do centro obstétrico acontece por um corredor (tornando-o contínuo, sem cruzamentos), sem abrir mão de
ligado diretamente ao eixo de circulação interna do hospital e do mantê-las sempre juntas.
centro cirúrgico por meio de dois vestiários de barreira.
Outra questão que deve ser salientada é o número de salas
Na central de material esterilizado, o acesso da zona suja cirúrgicas por leito. O Hospital e Maternidade São Domingos
se dá pelo corredor interno do hospital e da zona limpa pelo possui 22 leitos por sala; o Hospital da Guarnição do Galeão
corredor restrito do centro cirúrgico, o que obriga os funcionários possui 37,5 leitos por sala; o Instituto de Câncer e Queimados
da zona limpa a passarem pelos vestiários de barreira. A entrega possui 48 leitos por sala; o Hospital Unimed Sorocaba possui
de material sujo acontece por guichês localizados no expurgo e 27,5 leitos por sala; o Centro Médico Vila Velha possui 29,66 leitos
que se abrem para o corredor restrito do centro cirúrgico e para o por sala. Esses indicadores sugerem que o número de salas por
corredor interno do hospital. A devolução do material esterilizado leito diminuiu entre os anos de 1960 e 1980, voltando a crescer
acontece por guichês localizados no depósito de material limpo na década de 1990.
e que também se abrem para ambos os corredores. A diferença
desta unidade para o projeto do hospital paraguaio é que as 6.4.2. Configuração espacial e fluxos das unidades de
autoclaves não estão localizadas no mesmo ambiente da sala tratamento intensivo e de tratamento semi-intensivo
de preparo, o que torna o fluxo de esterilização mais contínuo,
eliminando qualquer cruzamento de material sujo e limpo. Todos os projetos analisados possuem unidades de
tratamento intensivo e apenas dois possuem unidades de
No Centro Médico Hospitalar Vila Velha, as unidades tratamento semi-intensivo.
ficam posicionadas em dois andares. No 3º pavimento, encontra-
se o acesso dos pacientes e todos os ambientes relacionados às No Hospital e Maternidade São Domingos, Karman propôs
cirurgias e aos partos, e no 4º pavimento encontram-se os acessos aos gestores do hospital a criação de uma unidade que reunisse
de funcionários e os ambientes destinados à esterilização de todos os pacientes críticos do hospital em um único local. A
material. Todos os fluxos são similares ao do Hospital Unimed unidade faz parte de um sistema progressivo de cuidados (há
Sorocaba, com a diferença de que o acesso de funcionários da uma “Unidade de Autoassistência”, uma “Unidade de Assistência
central de material esterilizado, tanto para a zona limpa quanto Moderada” e uma “Unidade de Assistência Intensiva”). Sendo
para a zona suja, acontece por meio de vestiários de barreira assim, a unidade de terapia intensiva do Hospital e Maternidade
e há dois expurgos e dois depósitos de material esterilizado: São Domingos pode ser considerada uma precursora das UTIs.
um expurgo e um depósito internos ao centro cirúrgico (no 3º A unidade é composta por um salão para cinco leitos (separados
pavimento) e outros dois internos à unidade (no 4º pavimento). A por cortinas), um box de isolamento e um posto de enfermagem.
comunicação dos expurgos e dos depósitos é realizada por dois Os pacientes e os funcionários acessam pela mesma porta.
monta-cargas, um limpo e outro sujo.
307

No Hospital da Guarnição do Galeão, há uma área de De acordo com as análises, é possível determinar uma
tratamento intensivo e uma área de tratamento semi-intensivo. estratégia projetual relacionada às configurações espaciais e
As duas áreas configuram uma só unidade. Os pacientes críticos dos fluxos das UTIs:
ficam em boxes com um ou dois leitos, e os pacientes semicríticos
ficam em quartos com dois leitos cada. O acesso de pacientes 16ª estratégia: Separar os pacientes críticos em boxes
ocorre pelo corredor das internações, o de funcionários por meio individuais, de forma a aumentar a flexibilidade de ocupação da
de vestiários de barreira e os de visitantes por meio de uma sala unidade e a segurança contra as infecções hospitalares.
de paramentação.
A separação dos pacientes em boxes individuais elimina a
No Instituto de Câncer e Queimados, a unidade de necessidade do uso de cortinas (difíceis de serem esterilizadas),
tratamento intensivo possui duas alas, ambas com três leitos facilita assepsia do espaço onde se localiza o leito na troca
cada. Os pacientes ficam em boxes individuais. Dois boxes de de pacientes e reforça a necessidade de assepsia das mãos
cada ala compartilham uma antecâmara e um pequeno banheiro, dos médicos e da enfermagem antes do atendimento (uma vez
solução que possibilita o isolamento desses boxes. O acesso que é preciso entrar e sair do box, diferentemente dos salões
de pacientes é feito de forma direta e o de funcionários ocorre abertos onde se torna mais fácil atender vários pacientes ao
por dois vestiários de barreira. Os visitantes acessam por uma mesmo tempo). Dessa maneira, a separação dos pacientes em
área separada, onde podem observar os pacientes por meio de boxes individuais contribui consideravelmente com o aumento
visores de vidro. da segurança biológica da unidade.

No Hospital Unimed Sorocaba, a unidade de tratamento Um aspecto importante de pontuar é o crescimento


intensivo também possui duas alas: uma dedicada à pediatria e considerável do número de leitos de UTI em relação ao número
outra aos adultos. Na ala dos adultos, todos os pacientes ficam de leitos de internação na década de 1990. O Hospital e
internados em boxes individuais, sendo que dois dos boxes Maternidade São Domingos possui 21 leitos de internação para
possuem antecâmara e banheiro. Na ala pediátrica, quatro cada leito de UTI; o Hospital da Guarnição do Galeão possui
leitos são separados por paredes com visores e dois estão em 23,77; o Instituto de Câncer e Queimados possui 31; o Hospital
boxes de isolamento, com antecâmara e banheiro. O acesso Unimed Sorocaba possui 6,85; e o Centro Médico Hospitalar Vila
de pacientes é feito de forma direta, o de funcionários por meio Velha possui 11,36.
de vestiários de barreira e o de visitantes, na ala adulta, pode
ser feito diretamente da área externa para cada box e na ala 6.5. Conforto físico e psicológico
pediátrica por meio das salas de acolhimento.
Em 1997, ao ser entrevistado para a publicação do projeto
No Centro Médico Vila Velha, há uma unidade de de expansão do Hospital Israelita Albert Einstein pela revista
tratamento intensivo e uma unidade de tratamento semi-intensivo. Projeto Design (nº 214), Karman ressaltou que a arquitetura
As unidades foram posicionadas em andares diferentes, portanto de hospitais “deve utilizar todos os recursos para oferecer
totalmente separadas. A UTI possui duas alas, sem identificar a tranquilidade, bem-estar e conforto” (Karman, 1997, p. 44).
quem se destinam. Em princípio, a ocupação é flexível, posto
que todos os leitos são separados em boxes individuais e cada O conforto e o bem-estar dos pacientes foram
box pode virar um isolamento mediante a alteração da pressão preocupações constantes de Karman. Seus primeiros projetos
interna (sistema de insuflamento de ar tratado ou exaustão de ar
da década de 1950 já propunham uma franca relação com o
interno). O acesso dos pacientes e dos funcionários ocorre pelas
meio externo e a criação de jardins internos e de aberturas altas
mesmas portas e o de pacientes por um corredor voltado para a nos ambientes que não possuíam janelas para fora do edifício.
área de espera externa. Outra solução que visava o bem-estar dos pacientes é a criação
de espaços que poderiam ser utilizados para o encontro e a
A unidade de tratamento semi-intensivo do hospital convivência dos usuários.
capixaba possui configuração espacial e acessos idênticos nas
unidades de internação localizadas no 7º e 8º pavimentos. Para definir algumas das estratégias relacionadas ao
conforto dos usuários, foram analisados a presença de jardins,
308

o rebaixamento das lajes para iluminação e ventilação dos internos que poderiam ser ocupados com futuras expansões e
ambientes internos e a presença de espaços de convivência. outros que deveriam ser preservados para a convivência dos
usuários.
6.5.1. Jardins externos e internos
No Instituto de Câncer e Queimados, os jardins localizados
Foram analisados, principalmente, a presença e a entre os volumes construídos do Bloco 01 poderiam ser ocupados
metragem dos jardins internos. Considerando que os jardins por futuras expansões e o jardim entre os blocos foi projetado
externos dificilmente podem ser frequentados pelos pacientes exclusivamente para a convivência dos pacientes internados,
internados e pelos funcionários, e que nem todos os projetos acompanhantes, visitantes e funcionários. Ao todo, os jardins
possuem informação acerca da dimensão e dos perímetros dos medem 4.597,31 m², metragem equivalente a 31,58% da área
lotes, deu-se preferência aos jardins conformados pelos volumes construída.
construídos.
No Hospital Unimed Sorocaba, os jardins localizados entre
No Hospital e Maternidade São Domingos, o edifício os blocos 01, 03, 04 e 05 poderiam ser ocupados por futuras
é cercado por jardins em praticamente todas as direções. Há expansões e o jardim entre os blocos 05 e 07 foi projetado
jardins nos recuos laterais, de frente e de fundos. O maior jardim exclusivamente para a convivência dos pacientes internados,
externo, localizado entre o Bloco 01 e a Rua Frei Paulino, serve acompanhantes, visitantes e funcionários. Ao todo, os jardins
como um espaço de transição entre a cidade e o hospital. medem 2.059,44 m², metragem equivalente a 20,04% da área
construída.
Quanto aos jardins internos, há apenas um, posicionado
na parte leste do Bloco 01, que vai do 2º subsolo até a cobertura. O Centro Médico Hospitalar Vila Velha não possui jardins
Esse jardim possui dimensões diferentes, aumentando de internos. Há alguns poucos jardins externos estreitos que
tamanho ao atingir o pavimento térreo. Ao todo, as aberturas margeiam três das quatro ruas com que o lote faz divisa, entre a
nos pavimentos para esse jardim interno medem 83,6 m² rampa de automóveis e a Rua Moema.
(considerando as aberturas em todos os pavimentos), metragem
equivalente a 1,07% da área construída. De acordo com as análises, é possível determinar uma
estratégia projetual relacionada à criação de jardins internos:
No Hospital da Guarnição do Galeão, o conjunto
arquitetônico foi implantado dentro da base aérea do Galeão, 17ª estratégia: Criar jardins internos entre os volumes construídos
pertencente à Aeronáutica brasileira. O Hospital é cercado de para aumentar a oferta de iluminação e ventilação natural e os
jardins e considerável massa arbórea. espaços de convivência descobertos e ajardinados.

Há vários jardins internos. A maioria deles está localizado Os hospitais horizontais possuem muito mais jardins
entre os volumes construídos do Bloco 01. Alguns jardins internos que os verticais, mais uma das vantagens do hospital
poderiam ser ocupados com futuras expansões, mas um deles, horizontal em relação ao hospital vertical (ver imagem 6.8).
localizado no centro do bloco, foi projetado exclusivamente para
servir de espaço de convivência, descanso e contemplação dos 6.5.2. Lajes rebaixadas
funcionários. Há também um grande jardim entre os blocos 01 e
02, conformado pelas rampas de circulação vertical, destinado Para proporcionar iluminação e ventilação naturais
para a convivência dos pacientes internados, acompanhantes para os ambientes internos que não possuíam janelas para o
e visitantes. Ao todo, os jardins externos medem 3.688,81 m², exterior e ventilação cruzada para os demais ambientes que
metragem equivalente a 16,52% da área construída. as possuíam, Karman rebaixava as lajes de cobertura dos
corredores dos últimos pavimentos dos edifícios verticais. Nos
No Instituto de Câncer e Queimados e no Hospital Unimed edifícios horizontais, praticamente todos os corredores tinham as
Imagem 6.8 Sorocaba, a criação de jardins internos segue raciocínio parecido lajes rebaixadas para a instalação de janelas altas.
Configruração dos jardins internos dos hospitais horizontais. com o do Hospital da Guarnição do Galeão. Ambos os hospitais
Desenho sem escala. possuem considerável área verde envoltória, e há diversos jardins
309

No Hospital e Maternidade São Domingos, a maior parte 18ª estratégia: Rebaixar as lajes de cobertura das circulações
das lajes de cobertura dos corredores do 1º pavimento foram para permitir a instalação de janelas altas e possibilitar a
rebaixadas. Isso possibilitou que os berçários descentralizados, iluminação e ventilação naturais dos ambientes localizados mais
os banheiros e outros ambientes de apoio tivessem iluminação ao centro do pavimento.
e ventilação naturais. Nos quartos, a criação de janelas altas
possibilitou a ventilação cruzada, fator que colabora com as O rebaixamento das lajes de cobertura dos corredores,
trocas de ar e que diminui as temperaturas internas. presente em todos os projetos analisados e realizado por meio
de soluções técnicas diversas, evidencia a preocupação do
No Hospital da Guarnição do Galeão, praticamente autor em ampliar a relação entre os espaços internos e o meio
todas as lajes de cobertura dos corredores do Bloco 01 foram externo, proporcionando iluminação e ventilação naturais para o
penduradas na grelha de vigas vierendeel. No Bloco 02, as lajes maior número de ambientes possíveis (ver imagem 6.9).
de cobertura dos corredores foram rebaixadas para possibilitar
a iluminação e ventilação natural dos quartos. Porém, para 6.5.3. Espaços de convivência
possibilitar a iluminação natural dos corredores e dos banheiros,
uma série de lanternins foram criados ao longo da cobertura de O último aspecto analisado foi a presença de espaços
todo o bloco, no sentido transversal. coletivos de convivência internos e cobertos destinados
aos usuários. Esses espaços podem ser configurados pelas
O Instituto Nacional de Câncer e Queimados e o Hospital recepções, salas de estar, varandas, solários ou qualquer outro
Unimed Sorocaba possuem soluções muito semelhantes: todas local que não seja destinado, prioritariamente, ao atendimento, à
as lajes de cobertura dos corredores internos foram rebaixadas, terapia e ao apoio técnico-logístico.
possibilitando a iluminação e a ventilação de quase todos os
ambientes internos. No hospital paraguaio, o rebaixamento das No Hospital e Maternidade São Domingos, há espaços de
lajes do 1º pavimento do Bloco 02 é ligeiramente diferente: ao convivência de uso interno, externo e misto. O público externo
invés de rebaixar a laje dos corredores, foram rebaixados dois pode se reunir na recepção principal, formada por uma sala de
trechos de lajes sobre os banheiros. Mesmo com essa diferença, estar e servida por uma pequena loja de souvenirs. Os pacientes
o objetivo é o mesmo: permitir a ventilação cruzada dos quartos internados, os visitantes e os funcionários podem se reunir em
e a iluminação e ventilação dos banheiros e outros ambientes de um solário localizado na ligação entre os blocos 01 e 02. Os
apoio localizados no interior do pavimento. espaços de convivência internos ficam localizados no convento
e só podem ser acessados pelos religiosos que trabalham no
Assim como no 1º pavimento do Bloco 02 do Hospital da hospital. Há, ainda, uma lanchonete ao lado do acesso do centro
Guarnição do Galeão, o hospital paraguaio e o hospital paulista obstétrico, preparada para acolher os familiares das gestantes
possuem lanternins para a iluminação e ventilação dos corredores, e que também pode ser frequentada pelos funcionários. Ao
cujas lajes rebaixadas não permitem a instalação de janelas todo, os espaços de convivência medem 150,92 m², metragem
altas, mas com formatos diferentes. No hospital localizado em correspondente a 1,93% da área construída.
Capiatá, há alguns poucos lanternins na UTI, nos laboratórios, na
radioterapia e na cozinha. Já no hospital localizado em Sorocaba, No Hospital da Guarnição do Galeão, há espaços de
há diversos lanternins, em todas as unidades funcionais. convivência de uso interno, externo e misto. O público externo,
de modo semelhante ao São Domingos, pode se reunir na
No Centro Médico Hospitalar Vila Velha, apenas as recepção principal e na lanchonete. Os funcionários possuem
lajes dos corredores que ficam sob os espaços técnicos foram uma área exclusiva na lanchonete, que pode ser acessada pela
rebaixadas. Sendo assim, há lajes rebaixadas no pronto- circulação interna (sem cruzar com a circulação externa). Os
socorro, ambulatório, unidade de diagnóstico por imagem, demais espaços de convivência são formados por uma grande
centro cirúrgico, centro obstétrico e UTI. Também foram criados área aberta, localizada no pilotis do Bloco 02, e pelos espaços
diversos lanternins, tal qual no Hospital Unimed Sorocaba. contíguos aos quartos de internação. Esses últimos podem
ser acessados tanto pelo público externo quanto pelo interno, Imagem 6.9
Essa solução compreende, em si mesma, uma estratégia portanto, foram considerados de uso misto. Ao todo, os espaços Iluminação e ventilação naturais através das lajes rebaixadas.
projetual. Desenho sem escala.
310

de convivência medem 2.909,4 m², metragem correspondente a 19ª estratégia: Criar áreas de transição entre o espaço externo
13,03% da área construída. e o hospital para a convivência dos pacientes externos,
acompanhantes e visitantes.
No Instituto de Câncer e Queimados, há apenas áreas de
convivência de uso externo e interno. O público externo pode se Considerando que os hospitais possuem um alto valor de
reunir na recepção principal. Os visitantes e os acompanhantes construção por metro quadrado, esses espaços de convivência
podem conviver com os pacientes internados nos corredores (que não são destinados a atendimento, terapia e apoio técnico-
avarandados, justapostos aos quartos de internação. Os logístico) devem ser considerados uma importante colaboração
funcionários possuem duas áreas de convivência: uma localizada para o bem-estar dos usuários. Porém, fica claro, perante as
na residência médica (1º subsolo do Bloco 02) e outra numa análises, que os principais espaços coletivos de convivência
sala de estar localizada antes dos dormitórios dos plantonistas dos hospitais projetados por Karman não são aqueles internos e
(Bloco 01). Ao todo, os espaços de convivência medem 896,41 cobertos, mas sim os externos, compostos principalmente pelos
m², metragem correspondente a 6,16% da área construída. jardins que ficam entre os blocos.

No Hospital Unimed Sorocaba, são apenas duas áreas de A tabela 6.1 apresenta, de forma sucinta, a relação entre as
convivência de uso externo: uma localizada na recepção principal categorias de análise, os eixos conceituais e as 19 estratégias
e outra no acesso dos visitantes à unidade de internação. Essas projetuais de Jarbas Karman.
duas áreas medem 163,9 m², metragem correspondente a 1,6%
da área construída.

No Centro Médico Hospitalar Vila Velha, há espaços de


convivência de uso interno, externo e misto. O público externo
pode se reunir na recepção localizada no térreo e na recepção
e lanchonete localizadas no 1º pavimento. No 6º pavimento,
a brinquedoteca da unidade de internação pediátrica foi
transformada em uma área de convivência que pode ser
acessada pelos visitantes e acompanhantes. No oitavo pavimento
há uma unidade de conforto e residência médica, que dispõe
de uma ampla sala de estar e um escritório coletivo para uso
dos médicos e funcionários. Ao todo, os espaços de convivência
medem 384,65 m², metragem correspondente a 1,92% da área
construída.

Nos projetos analisados, poucos são os espaços coletivos


internos destinados à convivência dos usuários. Dentre eles, o
Hospital da Guarnição do Galeão é o que disponibiliza mais
espaços para atividades livres, pois possui um andar livre,
dedicado para esse fim, no 2º subsolo do Bloco 02. Porém, é
possível notar que todas as recepções foram projetadas para
servirem de área de transição entre os espaços externos e
externos. Mesmo nas menores, há uma área de acumulo de
pessoas, com pequenas lojas, cafés, lanchonetes e áreas para
se descansar. Sendo assim, é possível determinar uma última
estratégia projetual, relacionada à criação de espaços de
convivência:
311

Categoria Eixo de investigação Estratégias projetuais relacionadas

Agrupamento Eixo 1: agrupamento funcional 1ª estratégia: Criação de unidades funcionais autônomas, que possam ser acessadas diretamente, sem a necessidade de se percorrer corredores internos de outras unidades
Funcional Eixo 3: eficiência/racionalização
2ª estratégia: Nos hospitais verticais, as unidades de atendimento ao paciente externo e as unidades técnico-logísticas devem ser aproximadas do solo para facilitar os acessos
e diminuir os deslocamentos verticais. A posição delas, no plano horizontal, deve ser feita para possibilitar entradas distintas (sem cruzamentos) e maior controle dos acessos. As
unidades de atendimento ao paciente interno podem ocupar pavimentos mais elevados, porém não muito distantes do térreo, possibilitando, assim, mais controle dos tráfegos
internos

3ª estratégia: Nos hospitais horizontais, as unidades de atendimento ao paciente externo e as unidades técnico-logísticas devem ocupar faixas paralelas ou opostas, de forma
a possibilitar acessos segregados e sem cruzamentos. As unidades de atendimento ao paciente interno devem ser posicionadas em uma faixa mais centralizada, possibilitando,
assim, mais controle dos tráfegos internos

4ª estratégia: Aproximar as unidades críticas, principalmente do centro cirúrgico, do centro obstétrico e da UTI

5ª estratégia: Aproximar ou aglutinar as unidades que possuem intensas relações funcionais, principalmente do centro cirúrgico, do centro obstétrico e da central de material
esterilizado

6ª estratégia: Nos hospitais verticais, as internações devem ocupar os últimos pavimentos

7ª estratégia: Nos hospitais horizontais, as internações devem ser posicionadas de forma a favorecer os acessos segregados e a redução dos percursos internos

Felxibilidade Física Eixo 2: flexibilidade 8ª estratégia: Nos hospitais horizontais, criação de jardins internos que sirvam de área para futuras expansões das unidades funcionais, de forma independente umas das outras

9ª estratégia: Nos hospitais verticais, previsão da construção de novos blocos, de forma ordenada e que cause o menor impacto possível nas unidades funcionais constituídas

10ª estratégia: Criação de espaços técnicos com dimensões que possibilitem o acesso dos funcionários da manutenção em todo o complexo hospitalar, sobre ou sob as unidades,
priorizando os que ficam sobre ou sob os centros cirúrgicos e as UTIs

Eficiência Eixo 3: eficiência/racionalização 11ª estratégia: Separar o máximo possível os acessos e as circulações internas e externas, tanto as horizontais quanto as verticais, evitando cruzamentos e situações que facilitem
Operacional o acesso do público externo nas circulações internas sem um controle ou cadastro prévio

12ª estratégia: Criar circulações restritas para os centros cirúrgicos e para os ambientes onde haverá procedimentos invasivos nos pacientes, por meio de vestiários de barreiras e
áreas de transferências, quando necessário

13ª estratégia: Projetar unidades “duplamente carregadas”, com quartos ao longo das duas fachadas longitudinais dos edifícios

14ª estratégia: Descentralizar os postos de enfermagem, aproximando a enfermagem dos pacientes internados o máximo possível

Segurança Biológica Eixo 3: eficiência/racionalização 15ª estratégia: Agrupar, ou aglutinar em uma só unidade, o centro cirúrgico, o centro obstétrico (quando houver) e a central de material esterilizado, preservando os diferentes
acessos, as barreiras (sempre que necessárias) e o fluxo contínuo de esterilização do material, criando áreas de entrega e de recepção dos materiais para dentro e para fora do
Eixo 4: segurança biológica
centro cirúrgico

16ª estratégia: Separar os pacientes críticos em boxes individuais, de forma a aumentar a flexibilidade de ocupação da unidade e a segurança contra as infecções hospitalares

Conforto Eixo 5: conforto ambiental 17ª estratégia: Criar jardins internos entre os volumes construídos para aumentar a oferta de iluminação e ventilação natural e os espaços de convivência descobertos e ajardinados
Físico e Psicológico
18ª estratégia: Rebaixar as lajes de cobertura das circulações para permitir a instalação de janelas altas e possibilitar a iluminação e ventilação naturais dos ambientes localizados
mais ao centro do pavimento

19ª estratégia: Criar áreas de transição entre o espaço externo e o hospital para a convivência dos pacientes externos, acompanhantes e visitantes

Tabela 6.1
Relação entre as categorias, os eixos de investigação e as estratégias projetuais.
312
313

7
314

Imagem 7.1
Jarbas Karman durante palestra noa VIII
Convenção Brasileira de Hospitais, 1980.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 315

São muitos os arquitetos que contribuíram para a • Duas estratégias tornam os hospitais mais eficientes
modernização dos hospitais brasileiros, propondo novas e seguros contra infecções hospitalares por meio da
soluções e inovações. No século XX, arquitetos como Jorge aglutinação das unidades afins, da criação de barreiras
Machado Moreira, Oscar Niemeyer, Vilanova Artigas, Rino físicas, do controle e da restrição dos acessos, do
Levi, Oscar Valdetaro, Roberto Nadalutti, Jarbas Karman, João encurtamento dos percursos críticos e da definição de
Filgueiras Lima, João Carlos Bross, Lauro Miquelin e Luiz Carlos fluxos contínuos para a esterilização dos materiais;
Toledo, entre outros, se dedicam ou se dedicaram a estudar e
projetar edifícios assistenciais de saúde. Dentre eles, Karman • Duas estratégias tornam os hospitais mais confortáveis física
talvez tenha sido o que mais produziu nesse campo, tanto em e psicologicamente por meio da criação de jardins internos,
número de projetos, quanto em publicações de artigos e livros. de espaços coletivos de convivência e da valorização da
Participou da publicação de algumas das principais normas iluminação e ventilação naturais.
ainda vigentes e foi o idealizador de uma instituição sem fins
lucrativos dedicada à pesquisa e à divulgação de conhecimento Cada uma dessas estratégias projetuais representa
sobre o planejamento físico-funcional de hospitais. Mesmo com uma síntese de soluções arquitetônicas recorrentes, que foram
a extensa produção e os feitos realizados, sua obra foi pouco utilizadas para responder a uma série de questões inerentes
divulgada e seus projetos foram pouco estudados até o momento. à construção e à operação dos edifícios hospitalares. As
estratégias, cada uma à sua maneira, têm como objetivo a
Esta pesquisa teve como objetivo conhecer melhor a obra criação de hospitais mais eficientes, seguros e confortáveis. As
projetada de Jarbas Karman, com foco em suas ideias, por meio análises dos projetos podem oferecer evidências para futuras
da interpretação do livro Iniciação à Arquitetura Hospitalar e da pesquisas acerca das transformações dos hospitais brasileiros
análise de cinco de seus principais projetos arquitetônicos. ou, até mesmo, estimular novas soluções arquitetônicas para
esse tipo específico de projeto.
As análises gráficas apontaram 19 estratégias projetuais.
Sete estão relacionadas ao agrupamento funcional, três estão Contudo, esta pesquisa é apenas em uma pequena
relacionadas à flexibilidade física, quatro estão relacionadas à aproximação da obra projetada de Karman. O resultado desta
eficiência operacional, duas estão relacionadas à segurança dissertação, obviamente, não é o suficiente para definir todas as
biológica, e três se relacionam com o conforto físico e psicológico suas possíveis colaborações ao tema. Sua obra é vasta e carece
dos usuários. Resumidamente, pode-se dizer que: de muitas outras aproximações e investigações.

• Sete estratégias tornam os hospitais mais eficientes por


meio da distribuição das unidades funcionais, favorecendo
a flexibilidade operacional, encurtando as distâncias mais
importantes e permitindo uma melhor organização dos
acessos e dos fluxos;

• Três estratégias tornam os hospitais mais flexíveis física e


operacionalmente, possibilitando expansões e atualizações
infraestruturais coordenadas, de acordo com as demandas
das instituições, com redução de custos e de impacto nas
rotinas hospitalares;

• Quatro estratégias tornam os edifícios mais eficientes,


seguros e confortáveis por meio da organização dos
acessos, das circulações, da distribuição espacial das
internações e da redução dos percursos da enfermagem;
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