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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
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AGRADECIMENTOS
À Vanessa e ao Pedro, pelo amor verdadeiro e por compreenderem as minhas
ausências.
À minha mãe Luzia, por todo o esforço e preocupação com a minha formação.
RESUMO ABSTRACT
O principal objetivo desta pesquisa foi realizar uma aproximação da obra do arquiteto The main objective of this research was to approach the work of the architect Jarbas
Jarbas Karman por meio da análise gráfica de cinco projetos de hospitais desenvolvidos ao Karman through the graphic analysis of five hospital projects developed during the second half
longo da segunda metade do século XX e da determinação de algumas de suas principais of the 20th century and by determining some of his main design strategies.
estratégias projetuais.
Jarbas Karman has dedicated 59 years of his career to the research and design of health
Jarbas Karman dedicou 59 anos de sua carreira à pesquisa e ao projeto de instituições institutions. He has collaborated with dozens of undergraduate and graduate courses and
de saúde. Colaborou com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação e participou de participated in conferences, congresses and seminars in Brazil and abroad. Karman published
conferências, congressos e seminários no Brasil e no exterior. Publicou mais de uma centena more than a hundred articles in national and international journals and wrote three books. He was
de artigos em periódicos nacionais e internacionais e escreveu três livros. Foi o idealizador e the creator and one of the founders of the Instituto de Pesquisas Hospitalares Arquiteto Jarbas
um dos fundadores do Instituto de Pesquisas Hospitalares Arquiteto Jarbas Karman - IPH, que Karman - IPH, which currently owns one of the largest healthcare architectural collections in
atualmente possui um dos maiores acervos arquitetônicos na área da saúde no Brasil e atua na Brazil and helps promote and disseminate knowledge in architecture, engineering and hospital
promoção e divulgação do conhecimento em arquitetura, engenharia e administração hospitalar. administration. He was a member of several institutions focused on hospitals and participated in
Foi membro de instituições voltadas à área hospitalar e participou de diversas comissões para a several commissions for the elaboration of resolutions and technical norms. Heading his office,
elaboração de resoluções e normas técnicas. No comando do seu escritório, desenvolveu mais he developed more than 300 architectural projects for healthcare buildings, including new
de 300 projetos arquitetônicos de edifícios assistenciais de saúde, entre novas construções, constructions, renovations, extensions and reformulations of different scales and programs.
reformas, ampliações e reformulações de diferentes escalas e programas.
Even with a vast technical and scientific production, his work has not been much studied.
Mesmo com uma vasta produção técnica e científica, sua obra foi pouco estudada. Much of the Brazilian literature on the subject since the 1990s mentions Jarbas Karman, which
Grande parte da literatura brasileira especializada no tema a partir da década de 1990 cita confirms his deep knowledge on the subject. However, his texts and projects were rarely used.
Jarbas Karman, reforçando seu profundo conhecimento sobre o tema. Porém, seus textos e There are few articles or academic papers that use his work as research of the transformations of
projetos foram muito pouco utilizados. Existem poucos artigos ou trabalhos acadêmicos que hospital buildings in Brazil, which makes it difficult to say how relevant his ideas and achievements
aproveitam seu trabalho como parte do processo de investigação das transformações do are to good practices related to the architectural design of hospitals.
edifício hospitalar no Brasil, o que torna difícil dizer qual a relevância de suas ideias e seus
feitos para as boas práticas relacionadas ao projeto arquitetônico de hospitais. Thus, to better understand the projected work of the architect in question, five hospital
projects developed between 1958 and 1999 were analyzed: Hospital e Maternidade São
Sendo assim, para compreender melhor a obra projetada do arquiteto em questão, foram Domingos, Hospital da Guarnição do Galeão, Instituto Nacional de Câncer e Queimados,
analisados cinco projetos de hospitais desenvolvidos entre os anos de 1958 e 1999: Hospital Hospital Unimed Sorocaba and Centro Médico Hospitalar Vila Velha. The analyzes made it
e Maternidade São Domingos, Hospital da Guarnição do Galeão, Instituto Nacional de Câncer possible to determine 19 design strategies related to five different themes: seven related to
e Queimados, Hospital Unimed Sorocaba e Centro Médico Hospitalar Vila Velha. As análises functional organization, three related to physical flexibility, four related to operational efficiency,
permitiram determinar 19 estratégias projetuais relacionadas a cinco temas diferentes: sete two related to biological safety, and two related to physical and psychological comfort.
relacionadas à organização funcional, três relacionadas à flexibilidade física, quatro relacionadas
à eficiência operacional, duas relacionadas à segurança biológica, e duas relacionadas ao It is expected that the result of this research can provide evidence for other studies of
conforto físico e psicológico. Karman’s work and for future research on the transformations of Brazilian hospitals, in addition
to stimulating the debate about architectural solutions for this specific type of project.
O que se espera é que o resultado desta pesquisa possa oferecer evidências para outros
estudos da obra de Karman e para futuras pesquisas sobre as transformações dos hospitais Keywords: Jarbas Karman, hospital architecture, healthcare facilities, design strategy, graphic
brasileiros, além de estimular o debate acerca das soluções arquitetônicas para esse tipo analysis.
específico de projeto.
CPOR: Centro de Preparação de Oficiais da Reserva. 6.1: Relação entre as categorias, os eixos de investigação e as
estratégias projetuais.
FAUUFRJ: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
m: metros.
LISTA DE IMAGENS
CAPÍTULO 1 1.14: Corte transversal da proposta para o concurso de projetos 2.3: Exposição O desenho de hospitais de Jarbas Karman,
do Hospital Albert Einstein. 2016.
1.1: Jarbas Karman durante palestra (data desconhecida). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
1.15: Recorte do jornal Folha da Manhã, edição de 25 de maio 2.4: Perspectiva do Hospital Santa Helena.
1.2: Cartaz que retrata Jarbas Karman como candidato ao de 1958. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
grêmio estudantil, em 1938. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2.5: Jardim frontal e acesso principal do Hospital Santa Helena.
1.16: Recorte do jornal Folha da Manhã, edição de 24 de Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
1.3: Mapa do loteamento localizado no bairro do Sumaré. agosto de 1958.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2.6: Perspectiva do hall principal do Hospital Santa Helena.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
1.4: Panfleto comercial das casas de Santana. 1.17: Planta do pavimento térreo do Hospital Santa Helena.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2.7: Perspectiva do Hospital de Clínicas de Pelotas.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
1.5: Casas de Santana em construção. 1.18: Planta do do 1º subsolo do Hospital Santa Helena.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2.8: Planta do 3º pavimento do Hospital de clínicas de Pelotas.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
1.6: Perspectiva da Maternidade Escola de Belém, 1949. 1.19: Perspectiva da proposta vencedora do concurso para o
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Hospital Santa Mônica, desenvolvida por Roberto Nadalutti e 2.9: Corte transversal do Hospital de Clínicas de Pelotas.
Oscar Valdetaro. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
1.7: Elevação, corte e detalhes do hospital em Marabá, 1950. Fonte: Revista Hospital de Hoje, vol. 08, 1957, p. 205.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2.10: Perspectiva do Hospital Santa Mônica.
1.20: Perspectiva da proposta desenvolvida por Jarbas Karman Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
1.8: Jarbas Karman (à direita) em visita ao Kitchener Waterloo e Alfred Willer para o oncurso do Hospital Santa Mônica.
Hospital, em Ontário, Canadá, 1952. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2.11: Corte longitudinal do Hospital Santa Mônica.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
1.21: Corte perspectivado do Hospital São Luiz.
1.9: Jarbas Karman durante sua aula no curso Planejamento de Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2.12: Vista frontal do Hospital e Maternidade São Domingos.
Hospitais, 1953. Fotografia de de José Moscardi.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 1.22: Perspectiva do projeto para o hospital do Instituto de Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
Oncologia de São Paulo.
1.10: Desenhos desenvolvidos por Lauro Miquelin como parte Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2.13: Vista externa do solário do Hospital e Maternidade São
das pesquisas das transformações dos edifícios hospitalares, Domingos.
da antiguidade até final do século XX. 1.23: Corte transversal e elevação lateral do projeto para o Fotografia de José Moscardi.
Fonte: Anatomia dos edifícios hospitalares, p. 67. hospital do Instituto de Oncologia de São Paulo. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
1.11: Redesenhos desenvolvidos por Lauro Miquelin do estudo 2.14: Perspectiva do Hospital Israelita Albert Einstein.
publicado por Jarbas Karman em 1980. CAPÍTULO 2 Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Anatomia dos edifícios hospitalares, p. 93.
2.1: Perspectiva interna do Laboratório Central de Pesquisas. 2.15: Elevação frontal do Hospital Israelita Albert Einstein.
1.13: Perspectiva da proposta desenvolvida por Jarbas Karman Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
e Alfred Willer para o concurso de projetos do Hospital Albert
Einstein. 2.2: Exposição O desenho de hospitais de Jarbas Karman, 2.16: Perspectiva do Hospital São Luiz.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 2016. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
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2.17: Corte transversal do Hospital São Luiz. 2.31: Vista frontal do Hospital Vera Cruz (foto atual). 3.5: Diagramas de análise da Biblioteca de Jussieu,
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fotografia de Manuel Sá. desenvolvidos por Eisenman.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fonte: Ten Canonical Buildings, p. 244 e 245, 2008.
2.18: Vista externa dos quartos do Hospital Santa Genoveva.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. 2.32: Vista aérea do Hospital São Judas Tadeu, com destaque 3.6: Diagramas de análise dos acessos e da circulação na
para os blocos projetados por Karman e Fiorentini. Residência no Belvedere, desenvolvidos por Flório e equipe.
2.19: Quarto de internação do Hospital Santa Genoveva. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fonte: Projeto residencial moderno e contemporâneo: análise
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. gráfica dos princípios de forma, ordem e espaço de exemplares
2.33: Vista panorâmica do Hospital São Judas Tadeu. da produção arquitetônica residencial (volume 1), p. 318, 2002.
2.20: Perspectiva do Hospital Santa Genoveva. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. 3.7: Diagramas de análise da Casa Faermann, desenvolvidos
2.34: Acesso principal do Hospital Unimed Sorocaba. por Luciana Brasil.
2.21: Hospital da Guarnição do Galeão durante a construção. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fonte: Davidi Libeskind – ensaio sobre as residências
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. unifamiliares, p. 122, 2007.
2.35: Imagem aérea do Hospital Unimed Sorocaba.
2.22: Corredor externo do Hospital da Guarnição do Galeão. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. 3.8: Diagramas de análise da circulação da Arthur Heurtley
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. House, desenvolvidos por Tagliari.
2.36: Vista aérea do Hospital Unimed Araçatuba. Fonte: Frank Lloyd Wright: princípio, espaço e forma na
2.23: Jardim interno do Hospital da Guarnição do Galeão. Fonte: Unimed Araçatuba/Divulgação. arquitetura residencial, p. 176, 2011.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
2.37: Vista do acesso principal do Hospital Unimed Araçatuba. 3.9: Diagramas de análise da Villa Savoye, desenvolvidos por
2.24: Perspectiva do Laboratório Central de Pesquisas. Fotografia de Andrés Otero. Clark e Pause.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fonte: Precedents in Architecture, p. 57, 1985.
2.25: Corte longitudinal do Laboratório Central de Pesquisas. 2.38: Vista lateral do Centro Médico Hospitalar Vila Velha. CAPÍTULO 4
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
4.1: Capa da primeira edição do livro Iniciação à Arquitetura
2.26: Primeira proposta de ampliação desenvolvida por Karman CAPÍTULO 3 Hospitalar, 1972.
e Wilheim, 1979. Fonte: Acervo IPH.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. 3.1: Diagramas de comparação das circulações lineares
produzidos por Clark e Pause. 4.2: Modelo de diagrama de análise do agrupamento funcional
2.27: Perspectiva das ampliações do Hospital Israelita Albert Fonte: Precedents in Architecture, p. 193, 1985. e da organização física das unidades funcionais.
Einstein.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. 3.2: Diagramas da organização dos espaços das villas 4.3: Modelo de diagrama de análise da flexibilidade fisica e
Palladinanas, desenvolvidos por Wittkower. conforto físico e psicológico.
2.28: Eixo de circulação externa do Instituto de Câncer e Fonte: Architectural Principles in the Age of Humanism, p. 57,
Queimados. 1949. 4.4: Modelo de diagrama de análise das circulações.
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
3.3: Diagramas de comparação entre a Villa Malcontenta e Villa 4.5: Modelo de diagrama de análise dos fluxos.
2.29: Imagem aérea do Instituto Nacional de Câncer e Garches, desenvolvidos por Rowe.
Queimados. Fonte: The Mathematics of the Ideal Villa, p. 102 e 103, 1947. CAPÍTULO 5
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman.
3.4: Diagramas de análise da forma da Villa Stein-de-Monzie, 5.1: Estudo dos acessos e das circulações para uma versão
2.30: Elevação frontal do Hospital Vera Cruz. produzidos por Baker. anterior do projeto para o Instituto Nacional de Câncer e
Fonte: Acervo IPH /Coleção Jarbas Karman. Fonte: Le Corbusier: uma análise da forma, p. 190 e 191, 1998. Queimados.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
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5.2: Hospital e Maternidade São Domingos. 5.13: Posto de enfermagem e corredor da internação do 1º 5.25: Maquete do Hospital da Guarnição do Galeão.
Fotografia de José Moscardi. pavimento. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fotografia de José Moscardi.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.26: Hospital da Guarnição do Galeão durante a construção.
5.3: Perspectiva Hospital e Maternidade São Domingos. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.14: Corredor de acesso ao centro obstétrico.
Fotografia de José Moscardi. 5.27: Jardim interno do Hospital da Guarnição do Galeão (foto
5.4: Hospital e Maternidade São Domingos durante a Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. atual).
construção. Fotografia de Andrés Otero.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.15: Unidade de Assistência Intensiva. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fotografia de José Moscardi.
5.5: Hospital e Maternidade São Domingos durante a Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.28: Bloco das internações do Hospital da Guarnição do
construção. Galeão (foto atual).
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.16: Posto de enfermagem do 1º subsolo iluminado pelo vazio Fotogradia de Andrés Otero.
interno. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.6: Via de acesso interna do Hospital e Maternidade São Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Domingos. 5.29: Planta esquemática de setorização do conjunto
Fotografia de José Moscardi. 5.17: Quarto de internação com janela sobre laje rebaixada. arquitetônico.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fotografia de José Moscardi. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.7: Acesso social do Hospital e Maternidade São Domingos. 5.30: Jardim interno que poderia ser ocupado com futuras
Fotografia de José Moscardi. 5.18: Sala de estar do acesso social. ampliações.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.8: Fachada do Hospital e Maternidade São Domingos voltada 5.19: Solário localizado no volume de ligação entre os blocos 01 5.31: Tubulação instalada por entre os vazios das vigas. Vista a
para a Rua da Constituição. e 02. partir do 1º subsolo.
Fotografia de José Moscardi. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.20: Hospital da Guarnição do Galeão durante a construção. 5.32: Eixo de circulação externa (foto atual).
5.9: Bloco 02 do Hospital e Maternidade São Domingos. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fotografia de Andrés Otero.
Fotografia de José Moscardi. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.21: Hospital da Guarnição do Galeão durante a construção.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.33: Eixo de circulação interna (foto atual).
5.10: Bloco 01 do Hospital e Maternidade São Domingos. Fotografia de Andrés Otero.
Fotografia de José Moscardi. 5.22: Hospital da Guarnição do Galeão (foto atual). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fotografia de Andrés Otero.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.34: Quarto de internação (foto atual).
5.11: Escada interna. Fotografia de Andrés Otero.
Fotografia de José Moscardi. 5.23: Estudo para os jardins internos do Hospital da Guarnição Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. do Galeão.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.35: Jardim voltado para o eixo externo (foto atual).
5.12: Rampas internas. Fotografia de Andrés Otero.
Fotografia de José Moscardi. 5.24: Perspectiva do Hospital da Guarnição do Galeão. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.36: Jardim voltado para o eixo interno (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
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5.37: Jardim entre os blocos 01 e 02 (foto atual). 5.49: Vista do Bloco 02 e das rampas de ligação (foto atual). 5.61: Detalhe do lanternim.
Fotografia de Andrés Otero. Fotografia de Federico Cairoli. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.62: Lajes rebaixadas na sala de mecanoterapia (unidade de
5.38: Corredor da internação do 2º pavimento do Bloco 02. 5.50: Vista posterior do Bloco 02 (foto atual). fisioterapia).
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fotografia de Federico Cairoli. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.39: Perspectiva do Hospital de Nunoa, em Santiago do Chile 5.63: Marquise da entrada principal (foto atual).
(não construído). 5.51: Jardim interno entre blocos que poderia se ocupado com Fotografia de Federico Cairoli.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. futuras ampliações (foto atual). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fotografia de Federico Cairoli.
5.40: Perspectiva do Hospital Geral de Babahoyo, em Quevedo, Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.64: Vista interna da recepção principal.
Equador (não construído). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.52: Corte longitudinal do pronto-socorro.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.65: Vista posterior do Bloco 02 - corredor externo e área de
5.41: Foto aérea do Instituto de Câncer e Queimados. convivência dos visitantes e acompanhantes (foto atual).
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.53: Eixo de circulação externa (foto atual). Fotografia de Federico Cairoli.
Fotografia de Federico Cairoli. Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.42: Vista do Bloco 02 a partir da marquise de acesso do Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
pronto-socorro. 5.66: Maquete do Hospital Unimed Rio Claro (não construído).
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.54: Trecho aberto da circulação interna (foto atual). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fotografia de Federico Cairoli.
5.43: Maquete do Instituto Nacional de Câncer e Queimados. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.67: Pespectiva eletrônica do Hospital Unimed Tatuí.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.55: Trecho fechado da circulação interna (foto atual).
5.44: Maquete do Instituto Nacional de Câncer e Queimados. Fotografia de Federico Cairoli. 5.68: Foto aérea do Hospital Unimed Sorocaba.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.45: Elevação noroeste do Instituto Nacional de Câncer e 5.56: Meias rampas de ligação entre os blocos (foto atual). 5.69: Implantação da primeira etapa, antes da ampliação do
Queimados. Fotografia de Federico Cairoli. Bloco 07.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.46: Elevação nordeste do Instituto Nacional de Câncer e 5.57: Corredor externo avarandado do Bloco 02 (foto atual). 5.70: Maquete do Hospital Unimed Sorocaba.
Queimados. Fotografia de Federico Cairoli. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.71: Jardim interno que poderá receber futuras ampliações
5.47: Vista do acesso principal do Instituto Nacional de Câncer 5.58: Corredor da unidade de internação do 1º pavimento. (foto atual).
e Queimados. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fotografia de Manuel Sá.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.59: Vista para os boxes individuais da UTI.
5.48: Vista do Bloco 02 do Instituto Nacional de Câncer e Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.72: Corte transversal da UTI.
Queimados. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Imagem 5.60: Jardim entre os blocos 01 e 02.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.73: Vista do eixo externo de circulação.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
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5.74: Vista do corredor das internações. 5.85: Vista do acesso principal do Médico Hospitalar Vila Velha 6.6: Organização das circulações dos hospitais horizontais.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. (foto atual). Desenho sem escala.
Fotografia de Andrés Otero.
5.75: Elementos de fechamento e proteção solar (foto atual). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. I6.7: Configuração espacial das internações.
Fotografia de Manuel Sá. Desenho sem escala.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.86: Vista posterior do Centro Médico Hospitalar Vila Velha
(foto atual). 6.8: Configruração dos jardins internos dos hospitais
5.76: Vista do jardim entre os blocos 06 e 07 (foto atual). Fotografia de Andrés Otero. horizontais.
Fotografia de Manuel Sá. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Desenho sem escala.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
5.87: Espaço técnico do 4º pavimento (foto atual). 6.9: Iluminação e ventilação naturais através das lajes
5.77: Corredor da internação iluminado por lanternins e por Fotografia de Andrés Otero. rebaixadas.
janelas nas extremidades (foto atual). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Desenho sem escala.
Fotografia de Manuel Sá.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.88: Corredor interno do 1º pavimento (foto atual). CAPÍTULO 7
Fotografia de Andrés Otero.
5.78: Posto de enfermagem iluminado por janelas altas Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 7.1: Jarbas Karman durante palestra noa VIII Convenção
instaladas sobre laje rebaixada. Brasileira de Hospitais, 1980.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.89: Posto de enfermagem (foto atual). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fotografia de Andrés Otero.
5.79: Vista da rampa externa de automóveis (foto atual). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fotografia de Andrés Otero.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.90: Corredor do centro cirúrgico com laje rebaixada e
lanternins (foto atual).
5.80: Imagem frontal do Centro Médico Hospitalar Vila Velha Fotografia de Andrés Otero.
(foto atual). Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fotografia de Andrés Otero.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 5.91: Hall de acesso do 1º pavimento (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
5.81: Localização das protenções por meio de pintura da laje. Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
CAPÍTULO 6
5.82: Centro Médico Hospitalar Vila Velha durante a construção.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 6.1: Desenho esquemático da organização das circulações em
edifícios hospitalares desenvolvido por Jarbas Karman.
5.83: Vista frontal do Centro Médico Hospitalar Vila Velha (foto Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman.
atual).
Fotografia de Andrés Otero. 6.2: Organização funcional dos hospitais verticais.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. Desenho sem escala.
5.84: Vista lateral do Centro Médico Hospitalar Vila Velha (foto 6.3: Organização funcional dos hospitais horizontais.
atual). Desenho sem escala.
Fotografia de Andrés Otero.
Fonte: Acervo IPH / Coleção Jarbas Karman. 6.5: Configruração dos espaços técnicos.
Desenho sem escala.
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SUMÁRIO 13
31 2.1. Os 16 principais projetos de Jarbas Karman segundo o IPH 301 6.3. Eficiência
61 CAPÍTULO 4
AS CATEGORIAS E A PADRONIZAÇÃO DAS ANÁLISES
77 CAPÍTULO 5
ANÁLISES DOS PROJETOS
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Imagem 1.1
Jarbas Karman durante palestra (data desconhecida).
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA 17
1.1. Jarbas Bela Karman: engenheiro, arquiteto e educador era maior e se tornou um pequeno bairro hoje conhecido como
Urbanizadora (ver imagens 1.3). A segunda gleba, menor, se
Jarbas Bela Karman nasceu em Campanha, MG, em 1917. localizava ao longo da Rua Dr. Zuquim (ver imagens 1.4 e 1.5).
Graduou-se em Engenharia Civil em 1941 pela Poli USP. Cursou
o CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva) durante a Anos mais tarde, seguindo seu desejo de trabalhar na
faculdade, tornando-se segundo tenente da reserva do Exército. área da saúde pública, Jarbas Karman afastou-se da Sociedade
Com a dupla titulação – tenente e engenheiro – foi convocado Urbanizadora e candidatou-se, em 1949, a um cargo para
para prestar serviço militar durante a Segunda Grande Guerra, trabalhar no Serviço Especial de Saúde Pública (SESP). O cargo
em 1942, no norte do país, colaborando com a construção de em questão consistia em desenvolver e supervisionar projetos
fortificações. Quando retornou a São Paulo, em 1944, formou- de construção, reformas e adequações de instituições de saúde
se arquiteto no curso de pós-graduação da Poli USP. Durante para a população ribeirinha no Vale Amazônico e no Vale São
a especialização, interessou-se pela arquitetura de hospitais, Francisco. De acordo com Luiz Vieira de Campos, o SESP foi
pois, de acordo com o próprio Karman, não obtinha respostas uma agência bilateral criada em 1942 pelo governo brasileiro
quanto às dúvidas geradas durante os trabalhos acadêmicos de com recursos e sob as orientações do governo estadunidense.
investigação desse tipo de edifício, obrigatório para a formação A agência tinha entre seus objetivos a realização de obras de
do arquiteto, na época [1]. infraestrutura e a formação de profissionais de nível superior
e técnico nas áreas de saneamento básico e saúde pública
Mesmo antes de se formar engenheiro, Karman formou, em (Campos, 2008, p. 880). Karman trabalhou no SESP durante
Imagem 1.2
1936, junto de seu irmão Elemer Maurício Karman, a Sociedade cerca de um ano. Se mudou com sua esposa Zaíra para Belém Cartaz que retrata Jarbas Karman
Urbanizadora de São Paulo Ltda., para urbanizar, construir e do Pará e passou a desenvolver projetos de hospitais e centros como candidato ao grêmio estudantil,
comercializar lotes e casas em glebas adquiridas pela família na de saúde para diversas cidades brasileiras (ver imagens 1.6 e em 1938.
várzea do rio Sumaré e no bairro de Santana, respectivamente 1.7).
zonas oeste e norte da cidade de São Paulo. A primeira gleba
Imagem 1.6
Perspectiva da Maternidade Escola de Belém, 1949.
Imagem 1.7
Elevação, corte e detalhes do hospital em Marabá, 1950.
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A parceria entre os EUA e o Brasil também previa a professores contava com os grandes autores
concessão de bolsas e custeio para formação de profissionais de projetos hospitalares daqueles anos, como
no exterior. Sabendo disso, Karman pleiteou uma bolsa para o próprio Rino Levi, Jarbas Karman, Jorge
cursar o mestrado em Arquitetura de Hospitais da Universidade Machado Moreira, Roberto Cerqueira César e
de Yale, em New Haven, Connecticut. A bolsa foi concedida e Oscar Valdetaro, com uma participação dos
ele partiu para a América do Norte em 1951. médicos na concepção do projeto cada vez
mais como consultores do que como coautores
Sua experiência no exterior foi bastante ampla: viajou pelo (como no caso do Hospital das Clínicas de São
Canadá e dezenas de cidades dos EUA. Frequentou cursos Paulo). Entre os alunos, estavam alguns outros
sobre centros cirúrgicos e centrais de esterilização em Ontário, projetistas de hospitais, já profissionais ou ainda
planejamento de hospitais em Nova Iorque e segurança em estudantes, como Paulo Antunes Ribeiro, autor
hospitais em Boston. Concluiu seu mestrado em 1952, retornando do projeto da Maternidade Arnaldo de Moraes, no
para o Brasil em seguida. Rio de Janeiro; Aldary Toledo, à época, arquiteto Imagem 1.8
do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Jarbas Karman (à direita) em visita ao Kitchener Waterloo
Após o seu regresso, fundou seu escritório de consultoria Bancários; Arnaldo Mesquita, da Divisão de Hospital, em Ontário, Canadá, 1952.
e projetos, com ênfase em edificações hospitalares, na cidade Obras do Ministério da Educação e Saúde; João
de São Paulo, e iniciou uma campanha para divulgar os Filgueiras Lima, estudante de arquitetura e futuro
conhecimentos que adquiriu. Uma de suas primeiras ações autor dos hospitais da Rede Sarah; etc.” (Costa,
foi idealizar, juntamente com os arquitetos Rino Levi e Roberto 2011, p. 46).
Cerqueira Cesar, um curso sobre arquitetura de edifícios
hospitalares. Os três arquitetos formaram a Comissão de Durante a cerimônia de encerramento do curso, Karman
Planejamento de Hospitais do Instituto dos Arquitetos do Brasil – apresentou algumas justificativas para a criação de um instituto
Departamento de São Paulo (IAB-SP) e realizaram, entre os dias que promovesse a pesquisa e o debate sobre a construção,
13 e 18 de abril de 1953, o primeiro Curso de Planejamento de a gestão e o desenvolvimento das tecnologias hospitalares.
Hospitais. A ideia prosperou e, em 1954, um grupo encabeçado pelo
próprio Karman fundou o Instituto Nacional de Pesquisas e de
Estruturado de forma multidisciplinar, o curso teve a Desenvolvimento Hospitalares (INPDH). O instituto acabou
participação de arquitetos, engenheiros, médicos, enfermeiros sendo rebatizado, no ano seguinte, para Instituto Brasileiro de
e administradores hospitalares, além do apoio de diversas Pesquisas e de Desenvolvimento Hospitalares (IPH) [2].
instituições, dentre elas a Universidade de São Paulo (USP), Imagem 1.9
a Associação Paulista de Medicina, a Associação Paulista de O IPH se tornou um importante instituto de pesquisas nas Jarbas Karman durante sua aula no curso Planejamento
de Hospitais, 1953.
Hospitais e a Sociedade de Medicina e Cirurgia. O curso deu áreas de gestão e arquitetura de hospitais. Karman o presidiu
origem ao livro “Planejamento de Hospitais”, editado pelo IAB- de 1954 a 1960, tornando-se presidente honorário e vitalício a [1] De acordo com um depoimento de Jarbas Karman transcrito por Monica
SP e publicado em 1954. A publicação pode ser considerada partir de 1970. No início de suas atividades, o instituto promoveu Cytrynowicz no livro “Instituto de Pesquisas Hospitalares Arquiteto Jarbas
Karman - IPH: 60 anos de história” (ver páginas 11 e 12).
uma das primeiras sobre o tema no Brasil. Amplamente ilustrada, pesquisas e cursos técnicos e editou a revista “Hospital de Hoje”
reuniu as palestras que ocorreram durante os seis dias do evento. [3], cujo conteúdo era dedicado à arquitetura, engenharia e [2] O instituto foi renomeado novamente em 2009 para IPH - Instituto de
administração hospitalar. Entre as décadas de 1970 e 2000, o Pesquisas Hospitalares Arquiteto Jarbas Karman, em homenagem ao seu
idealizador. A história do instituto pode ser conhecida por meio do livro
Segundo Renato Gama-Rosa Costa, esse acontecimento instituto foi mantenedor de uma faculdade que oferecia cursos “Instituto de pesquisas hospitalares arquiteto Jarbas Karman - IPH: 60 anos
foi um marco para a consolidação dos arquitetos como de graduação e pós-graduação com foco na área de gestão de história”, escrito por Monica Cytrynowicz.
“protagonistas do processo de construção dos hospitais, desde hospitalar, cursos dos quais Karman foi professor.
[3] A revista “Hospital de Hoje” foi um periódico editado pelo IPH entre
a sua concepção até a entrega da obra”. Costa completa: os anos de 1955 e 1969. Publicou diversos artigos sobre arquitetura de
Atualmente o IPH patrocina, divulga e incentiva pesquisas hospitais e projetos arquitetônicos de arquitetos renomados como Rino Levi,
“[...] O curso ministrado por médicos e arquitetos nas áreas de arquitetura, engenharia e gestão em saúde. Oferece Vilanova Artigas, Oscar Niemeyer, Jorge Wilheim e Oswaldo Bratke. Seus
para médicos e arquitetos no IAB-SP, durante 6 cursos técnicos, mantém uma biblioteca especializada e um volumes estão disponíveis para download no portal do IPH.
dias, em abril de 1953, representou um ‘turning amplo acervo arquitetônico [4]. [4] Atualmente, o acervo do IPH é mantenedor de duas coleções: do
point’ nesse processo no Brasil. O time de arquiteto Jarbas Karman e do arquiteto Irineu Breitman, além de possuir
projetos e documentos de outros profissionais.
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Ao longo de sua carreira, Karman colaborou com Para chegar a essa conclusão – de que não é possível
dezenas de cursos de graduação e pós-graduação; participou dizer qual a contribuição de Jarbas Karman para a arquitetura
de conferências, congressos e seminários e proferiu aulas e de edifícios assistenciais de saúde contemporâneos no Brasil
palestras no Brasil e no exterior; publicou mais de uma centena por meio das principais publicações especializadas no país –
de artigos em periódicos nacionais e internacionais e escreveu verificou-se duas obras escritas a partir de 1990 que tiveram
três livros: “Iniciação à Arquitetura Hospitalar” (1972), “Manual ampla divulgação, que tratam da teoria e da prática do projeto
de manutenção hospitalar” (1994) e “Manutenção e segurança de edifícios de saúde e que serviram de fonte bibliográfica para
hospitalar preditivas” (2011 – lançado postumamente), além de muitos dos trabalhos científicos dedicados a esse tema no Brasil
participar da publicação “Planejamento de Hospitais” (1954). desde então; são elas: “Anatomia dos edifícios hospitalares”,
Foi membro de diversas instituições voltadas à área hospitalar, de Lauro Carlos Miquelin (1992), e “Feitos para curar”, de Luiz
inclusive no exterior, em que se destacam o “Grupo de Saúde Carlos Toledo (2006).
Pública da União Internacional dos Arquitetos” (UIA-PHG) e o
“The American Public Health Association”; participou de diversas “Anatomia dos edifícios hospitalares”, publicação reduzida
comissões para a elaboração de resoluções e normas técnicas da tese de doutorado do autor, é um dos trabalhos mais citado
de instituições como ANVISA e ABNT. Sob o comando do seu entre as pesquisas acadêmicas sobre arquitetura de hospitais
escritório, desenvolveu mais de 300 projetos arquitetônicos de no Brasil a partir do final da década de 1990 [7]. Este trabalho
edifícios assistenciais de saúde (EAS), entre novas construções, desenvolveu alguns critérios de avaliação dos edifícios a partir de
reformas, ampliações e reformulações de diferentes escalas e uma reflexão crítica sobre as transformações que os edifícios de
programas [5]. saúde sofreram ao longo da história ocidental; da antiguidade até
o final do século XX. A análise dessas transformações, chamadas
Após 67 anos de carreira, sendo 59 dedicados ao pelo autor de “evolução histórica das anatomias dos edifícios na
planejamento e ao projeto de instituições de saúde, faleceu em saúde”, o ajudaram a criar parâmetros para um método de análise
São Paulo, no dia dois de junho de 2008. dos edifícios contemporâneos. O texto e os desenhos são de
grande riqueza, pois organizam, no tempo e no espaço, muitas
1.2. Por que estudar os projetos de hospitais de Jarbas das principais transformações que os hospitais sofreram ao longo
Karman da história do ocidente, associando fatos econômicos, sociais,
urbanos e científicos que contribuíram para as modificações
Imagem 1.10 Quase toda a literatura brasileira especializada em físicas e funcionais dos edifícios. Não foi encontrada publicação
Desenhos desenvolvidos por Lauro Miquelin como planejamento físico-funcional de hospitais a partir da década de brasileira que trate dessas transformações com tamanho esmero,
parte das pesquisas das transformações dos 1990 cita Jarbas Karman, reforçando seu profundo conhecimento demonstrando, com desenhos esquemáticos, algumas das
edifícios hospitalares, da antiguidade até final do sobre o tema. Porém utilizam muito pouco seus textos e sua obra principais mudanças que os hospitais tiveram da antiguidade até
século XX.
projetada e construída. Existem poucos artigos ou trabalhos o século XX (ver imagem 1.10).
acadêmicos que lançam mão de seus projetos como parte
[5] A lista completa dos projetos desenvolvidos por Karman pode ser do processo de investigação das transformações do edifício Lauro Miquelin cita Jarbas Karman durante suas pesquisas
consultada no portal do IPH.
hospitalar no Brasil, o que torna difícil dizer qual a relevância sobre as transformações dos edifícios de saúde no Brasil, em seus
[6] O termo “estratégia projetual” foi emprestado de Rafael Moneo. de sua obra para as boas práticas relacionadas ao projeto estudos sobre a “anatomia dos hospitais” a partir da década de
Foi apresentado no prefácio do livro “Inquietação teórica e estratégia arquitetônico de hospitais. 1970. O livro discorre brevemente sobre um estudo desenvolvido
projetual”. Ele descreve que “estratégia” é entendido como “mecanismos,
procedimentos, paradigmas e artefatos formais que parecem com por Karman, publicado na revista Projeto, em outubro de 1980,
insistência recorrente na obra dos arquitetos de hoje: entendo que os Jarbas Karman deu uma importante contribuição para intitulado “Centro de Saúde e Hospital ‘Linha de Frente’”. Esse
utilizem para configurar o construído”. Pode-se lançar mão desse conceito a arquitetura de edifícios de saúde a partir de 1950, com a estudo apresenta uma unidade de atendimento ambulatorial que
para estudar não só as obras contemporâneas, mas todos os arquitetos
que desenvolveram e aprimoraram seus métodos de projeto através de
introdução de algumas estratégias projetuais [6] que suscitaram cresceria até se tornar um hospital de 100 leitos (ver imagem
conceitos que foram presentes ao longo de sua vida profissional. inovações físico-funcionais. Entretanto, não é possível conhecer 1.11).
essa contribuição pelas principais publicações brasileiras que
[7] É possível que o livro “Anatomia dos Edifícios Hospitalares” seja a obra tratam desse tema específico: nem pelos trabalhos de caráter O estudo apresentado por Miquelin é pouco aprofundado
mais citada entre os estudos dedicados ao entendimento da arquitetura de
edifícios assistenciais de saúde, posto que está presente em quase toda a teórico (ou histórico), nem pelos trabalhos de caráter prático para uma avaliação da obra de Karman, principalmente ao se
bibliografia dos trabalhos publicados a partir do início da década de 2000 (ou técnico). A obra escrita e projetada do arquiteto foi pouco observar que em 1980 ele já havia projetado grandes hospitais,
consultados para o desenvolvimento deste trabalho. analisada pelas publicações mais difundidas.
21
Imagem 1.11
Redesenhos desenvolvidos por Lauro Miquelin do estudo
publicado por Jarbas Karman em 1980.
como o da Guarnição do Galeão (Rio de Janeiro, 1967-1976) e o que esse texto foi inovador, já que tais informações eram pouco
Hospital Regional do Gama (Distrito Federal, 1976). abordadas por arquitetos até então.
O livro “Feitos para curar”, de Luiz Carlos Toledo – Essa publicação também não permite verificar qual a
que também se trata de uma publicação reduzida da tese de contribuição de Karman para as concepções e diretrizes relativas
doutorado de seu autor, defendida na Faculdade de Arquitetura ao projeto de edifícios de saúde no Brasil, principalmente por
e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU- não apresentar nenhum de seus projetos arquitetônicos durante
UFRJ) em 2002 – traz uma ampla contribuição para o debate seus estudos. Mas o destaque à citação do texto publicado em
sobre o projeto de hospitais no Brasil. 1954 indica que a obra do arquiteto em questão merece uma
atenção especial, ainda não dada por outros estudiosos.
Toledo propõe uma abrangente revisão bibliográfica para
desenvolver uma leitura crítica dos processos de projetos de Ao se fazer uma rápida observação de dois projetos
edifícios de saúde no país. Essa revisão bibliográfica resulta em arquitetônicos de Karman na década de 1950, desenvolvidos
um texto sobre as transformações dos hospitais a partir do século para concursos públicos e que não foram executados por não
XVIII, apoiado na alegação do filósofo Michel Foucault de que terem conseguido a primeira colocação, nota-se que ele propôs
os hospitais se tornaram instituições terapêuticas apenas depois algumas modificações físicas e funcionais aparentemente novas
de uma profunda reflexão da Academia de Ciências da França para a época, como: enfermarias com quartos posicionados ao
como consequência de um devastador incêndio que atingiu longo das duas fachadas longitudinais do edifício, ocupando lados
o Hotel Dieu, na época um dos maiores hospitais da Europa. opostos dos corredores (estratégia classificada por Ronald de
Seus estudos passam da análise dessas transformações para a Góes como enfermarias “duplamente-carregadas” [8]) e postos
apresentação de algumas publicações especializadas, trazendo de enfermagem descentralizados (para diminuir os percursos das
roteiros minuciosos de projeto que foram de imensa valia para equipes de cuidados); iluminação e ventilação naturais (sempre
dar assistência aos profissionais que recebiam encomendas para que possível) para todas as áreas de permanência de pacientes
projetarem edifícios assistenciais de saúde. O estudo também para criar espaços mais agradáveis; a predileção por edifícios
apresenta pesquisas sobre os primórdios das normatizações com poucos pavimentos e espaços técnicos entre andares para
brasileiras e sobre a situação da rede pública e do setor a instalação de máquinas e passagem de tubulações aparentes,
privado de saúde da época, observando que grande parte dos reduzindo o custo de manutenção e possibilitando o acesso dos
hospitais construídos a partir do final do século XIX relegavam funcionários sem atrapalhar a rotina dos serviços hospitalares.
para segundo plano, em detrimento das tecnologias médicas,
fatores como os de conforto ambiental. Os estudos avançam até Um desses exemplos é a proposta para o primeiro edifício
ele demonstrar que os hospitais podem ser projetados de outra do Hospital Israelita Albert Einstein, realizado em coautoria com o
maneira, privilegiando a diminuição do estresse e elevando as arquiteto Alfred Willer [9], em 1958. As estratégias citadas acima
sensações de bem-estar dos usuários, apontando caminhos a foram aplicadas ao projeto com o intuito de tornar a instituição
serem seguidos. mais eficiente, segura e confortável (ver imagem 1.12).
[8] Os termos “simplesmente carregado” e “duplamente carregado” são
jargões técnicos amplamente conhecidos por projetistas de hospitais. Uma
Em seu livro, Toledo cita apenas uma fonte escrita por A primeira estratégia relevante é a descentralização descrição pormenorizada dos seus significados pode ser encontrada no
Karman: o texto contido no início do “Capítulo V – Cirurgia”, dos postos de enfermagem, configurada por uma série de livro “Manual Prático de Arquitetura Hospitalar”, mais especificamente na
publicado no livro “Planejamento de Hospitais” (1954). O texto é bancadas de trabalho distribuídas ao longo dos corredores das página 91. O livro foi escrito pelo arquiteto e professor Ronald de Góes,
tendo a primeira edição publicada em 2004 pela editora Blucher.
uma apresentação pormenorizada dos procedimentos médicos, internações, justaposta às paredes, entre as portas dos quartos.
de enfermagem e técnicos de um centro cirúrgico. Toledo diz Cada posto é configurado por uma bancada de trabalho e um [9] Alfred Willer, arquiteto checo radicado no Brasil, foi coautor de uma série
armário alto. A cada dois postos, há uma bancada com cuba de de projetos desenvolvidos por Karman entre os anos de 1954 e 1961.
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Imagem 1.12
Planta da internação da proposta para o concurso de projetos do Hospital Albert Einstein.
Imagem 1.13
Perspectiva da proposta desenvolvida por Jarbas Karman e Alfred Willer Imagem 1.14
para o concurso de projetos do Hospital Albert Einstein. Corte transversal da proposta para o concurso de projetos do Hospital Albert Einstein.
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lavagem compartilhada e um conjunto de ambientes de apoio, No ano seguinte ao projeto do Santa Helena, Karman
com depósito de material de limpeza, rouparia e sanitário de participou de um concurso para a escolha da melhor proposta
funcionários (ver imagem 1.13). para o Hospital Santa Mônica, que seria construído na cidade
de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais. A proposta, até
A segunda estratégia instigante, incomum para a época, onde se sabe, não obteve premiação. O projeto vencedor,
é o projeto de um pavimento técnico a cada dois pavimentos e que foi construído, é de autoria dos arquitetos Roberto
úteis. O edifício, se construído, teria 8 pavimentos destinados Nadalutti e Oscar Valdetaro [10] (ver imagem 1.19). Mesmo sem
aos serviços médicos, técnicos e administrativos e 7 espaços premiação, Karman publicou o projeto na revista “Hospital de
técnicos “interandares”. Esses vazios serviriam tanto para Hoje” (volume 10, páginas 33-48). A publicação dos desenhos
possibilitar ventilação (cruzada e não) e iluminação (direta e e do memorial descritivo ajudou a divulgar as ideias relativas
indireta) aos quartos e aos banheiros das enfermarias, quanto ao “desenvolvimento horizontal”. Irineu Breitman, em um artigo
para permitir que as instalações não fossem “embutidas” nas escrito para a “Revista IPH”, [11] no ano de 2004, faz a seguinte
lajes, sendo executadas para fora dos andares úteis. Essa observação:
estratégia resultou em pavimentos soltos uns dos outros, em
barras horizontais sobrepostas e levemente afastadas; solução “O seguinte é o projeto que o Dr. Jarbas fez para
que confere leveza ao volume do edifício (ver imagem 1.12 e participar no concurso do Hospital Santa Mônica
1.14). em Belo Horizonte em 1957, que é um Hospital
Horizontal, basicamente em dois pisos com Imagem 1.19
O concurso teve repercussão na imprensa de São rampa, escada e elevador, quando as ideias Perspectiva da proposta vencedora do concurso para o
Paulo, gerando um debate sobre o planejamento dos hospitais ainda eram muito incipientes.” (Breitman, 2004, Hospital Santa Mônica, desenvolvida por Roberto Nadalutti e
Oscar Valdetaro.
modernos. O jornal Folha da Manhã, na edição de 1958, noticiou p. 35).
a vitória da proposta desenvolvida pelos arquitetos Rino Levi,
Roberto Cerqueira César e Luiz Roberto Carvalho Franco, O projeto possui 5 pavimentos (ver imagem 1.20).
tecendo algumas críticas aos demais trabalhos. Não contente Os inferiores (semienterrados e acomodados no declive do
com os comentários sobre seu projeto, Karman pediu direito de lote) abrigam as áreas de serviços, apoio técnico-logístico e
resposta, que lhe foi concedido na edição de 24 de agosto do estacionamento, enquanto o térreo e o primeiro pavimentos
mesmo ano. Em sua entrevista, defendeu, entre outras coisas, concentram todas as áreas de atendimento ao paciente externo,
o “desenvolvimento horizontal” dos hospitais e a redução dos de diagnóstico, de terapia e as internações. Sendo assim, as
percursos das equipes de enfermagem. Duas ideias que o principais atividades do hospital, aquelas que demandam
acompanharam por toda a sua carreira (ver imagens 1.15 e 1.16). mais intensidade dos tráfegos e dos cuidados aos pacientes,
acontecem somente em dois pavimentos.
O desenvolvimento horizontal já havia sido experimentado
por Karman em outras oportunidades. Em 1956, o arquiteto Com o tempo, Karman foi experimentando diferentes
projetou um pequeno hospital para até 54 leitos em Goiânia, estratégias projetuais que buscava corresponder a suas
com dois pavimentos, chamado Hospital Santa Helena. Neste ideias. Em seu livro “Iniciação à Arquitetura Hospitalar” (1972),
projeto, todas as unidades médicas, a cozinha, a lavanderia e que será explorado no capítulo 4, o arquiteto descreve os
os acessos do público externo, de ambulância e de suprimentos requisitos e conceitos que nortearam sua arquitetura até então. Imagem 1.20
ficam no pavimento térreo. No pavimento inferior, semienterrado, A horizontalidade dos edifícios, a redução dos percursos da Perspectiva da proposta desenvolvida por Jarbas Karman e
estão localizadas a entrada de funcionários, os vestiários, enfermagem, a aproximação das unidades funcionais afins, Alfred Willer para o oncurso do Hospital Santa Mônica.
a manutenção, o depósito geral e a residência médica. A a flexibilidade física e operacional, a segurança biológica dos
circulação vertical acontece por uma escada e uma rampa. Como usuários e a promoção da ventilação e iluminação natural são [10] O projeto vencedor do concurso para o Hospital Santa Mônica é
os setores destinados ao tratamento médico ficam no mesmo alguns dos principais temas. composto por uma base de dois pavimentos sob uma torre de oitos
piso, a instalação de elevadores não foi necessária, fato que pavimentos. Esse partido formal, conhecido como “base-torre”, era um
dos mais comuns à época e ainda é bastante utilizado. O projeto pode ser
certamente gerou uma considerável economia na construção e Um exemplo parcialmente executado e amplamente consultado no volume 8 da revista Hospital de Hoje.
na manutenção do edifício (ver imagens 1.17 e 1.18). divulgado por Karman em suas palestras foi o projeto para o
Hospital São Luiz, também concebido juntamente com Willer [11] Artigo publicado na Revista IPH número 05, páginas 34-37, em
em 1961, para a cidade de Santos. Com 3 pavimentos, o dezembro de 2004.
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edifício possui um espaço técnico “interandar”, semelhante aos para as transformações dos edifícios de saúde no Brasil ao longo
propostos para o concurso do Hospital Israelita Albert Einstein do século XX.
(ver imagens 1.21). O edifício foi executado, mas não chegou
a funcionar como um hospital. Tornou-se uma faculdade após 1.3. Dos meios para se estudar a obra de Jarbas Karman
algumas alterações, feitas pelo próprio Karman durante a obra.
O principal objetivo dessa dissertação é realizar uma
A ideia dos espaços “interandares”, para o São Luiz e aproximação do raciocínio projetual de Jarbas Karman por
para o Albert Einstein, tinha dois objetivos principais: 1) conferir meio da análise de alguns de seus projetos arquitetônicos
flexibilidade física para a realização da manutenção e instalação desenvolvidos entre as décadas de 1950 e 1990, no intuito de
de novas tecnologias; 2) diminuir os custos operacionais, apontar suas principais estratégias projetuais e oferecer esse
considerando que os serviços médico-hospitalares não conhecimento a futuros estudos sobre as transformações do
precisariam de sucessivas interrupções para eventuais reparos, edifício hospitalar brasileiro no século XX.
reduzindo substancialmente a necessidade de se quebrar
paredes, pisos e forros. Acredita-se que esses espaços, que Para realizar essa aproximação e demonstrar quais as
encareciam a obra, não foram prontamente aceitos pelos suas principais estratégias projetuais, este estudo se valeu do
empresários, gestores e outros profissionais ligados às áreas da método de análise gráfica em arquitetura. Os procedimentos
saúde e da construção civil, tanto que, para concretizar suas concentraram-se em analisar um conjunto de projetos
ideias, as características físicas dos espaços técnicos passaram arquitetônicos, destacando questões importantes para o próprio
por sucessivas mudanças ao longo do tempo. autor, em um processo sistematizado.
Ainda em relação aos espaços técnicos “interandares”, O método empregado permitiu a realização de uma
outra experiência que não chegou a ser concretizada foi o projeto comparação gráfica das soluções arquitetônicas, levando ao
de um hospital para o Instituto de Oncologia de São Paulo, apontamento das principais estratégias projetuais do arquiteto.
desenvolvido em coautoria com o escritório RM Arquitetos, entre
os anos de 1976 e 1977, na cidade de São Paulo. Semelhante Resumindo, a pesquisa foi estruturada da seguinte
à proposta para o concurso do Einstein, o projeto apresenta um maneira:
espaço técnico entre cada andar útil. A estrutura chegou a ser
executada, mas a obra ficou parada durante anos (ver imagens a) Seleção de cinco projetos arquitetônicos de hospitais
1.22 e 1.23). desenvolvidos por Jarbas Karman entre as décadas de 1950 e
1990 que possibilitem uma análise plena;
Além dos espaços técnicos, da descentralização
dos postos de enfermagem e da preferência pelos hospitais b) Definição do método de análise;
horizontais, há outros importantes “requisitos” e “conceitos”
contidos no livro de 1974 que não são abordados pelos trabalhos c) Apresentação e análise de cada um dos cinco projetos
mais difundidos no país a partir da segunda metade do século selecionados;
XX, posto que a publicação não é citada em suas bibliografias.
Outro aspecto que evidencia o desconhecimento da extensa d) Avaliação e comparação dos resultados;
obra arquitetônica de Karman é, até onde se pesquisou, a
ausência de seus projetos entre os objetos de análise referente e) Considerações finais sobre o estudo.
às transformações dos edifícios hospitalares brasileiros, seja
por Miquelin, por Toledo ou outros pesquisadores dedicados ao
tema.
Imagem 1.21
Corte perspectivado do Hospital São Luiz.
2
30
Imagem 2.1
Perspectiva interna do
Laboratório Central de Pesquisas.
2. OS PRINCIPAIS PROJETOS DESENVOLVIDOS POR JARBAS KARMAN 31
Imagem 2.4
Perspectiva do Hospital Santa Helena.
Imagem 2.10
Perspectiva do Hospital Santa Mônica.
Imagem 2.11
Corte longitudinal do Hospital Santa Mônica.
35
Imagem 2.14
Perspectiva do Hospital
Israelita Albert Einstein.
Imagem 2.15
Elevação frontal do Hospital
Israelita Albert Einstein.
37
Imagem 2.17
Corte transversal do
Hospital São Luiz.
38
Imagem 2.20
Perspectiva do Hospital Santa Genoveva.
39
Imagem 2.21
Hospital da Guarnição do Galeão durante a construção.
Imagem 2.24
Perspectiva do Laboratório Central de Pesquisas.
Imagem 2.25
Corte longitudinal do Laboratório Central de Pesquisas.
41
2.1.10. Ampliações do Hospital Israelita Albert Einstein O trabalho de Karman, Wilheim e Fiorentini teve como
uma de suas premissas o respeito à obra de Rino Levi. Todas as
O Hospital Israelita Albert Einstein é uma das maiores intervenções no edifício inaugurado em 1971 buscaram a menor
instituições privadas da América Latina. Detém, além do descaracterização possível. As novas construções estabelecem
complexo de alto padrão localizado no bairro do Morumbi, uma um diálogo com a antiga, valorizando a história e demonstrando
série de unidades-satélites e um centro comunitário localizado que é possível expandir um hospital sem sobrepor a arquitetura
na comunidade de Heliópolis. A Sociedade Beneficente Israelita pré-existente.
Brasileira Albert Einstein, organização à qual a rede hospitalar
pertence, também administra dois hospitais municipais em O projeto foi publicado na revista Projeto Design nº 214.
parceria público-privada com a prefeitura de São Paulo.
Imagem 2.28
Eixo de circulação externa do
Instituto de Câncer e Queimados.
Imagem 2.29
Imagem aérea do Instituto
Nacional de Câncer e Queimados.
43
Imagem 2.33
Vista panorâmica do Hospital São Judas Tadeu.
45
Imagem 2.34
Acesso principal do Hospital
Unimed Sorocaba.
Imagem 2.35
Imagem aérea do Hospital
Unimed Sorocaba.
46
Imagem 2.38
Vista lateral do Centro Médico
Hospitalar Vila Velha.
48
2.2. Critérios de seleção dos projetos optou-se por selecionar os projetos cujos edifícios tivessem sido
projetados originalmente por ele, excluindo-se as ampliações,
A seleção levou em consideração os cinco critérios a reformas e modernizações.
seguir:
Os projetos que respeitam essa premissa são: Hospital
2.2.1. Projetos que possuem peças gráficas suficientes para Santa Helena, Hospital de Clínicas de Pelotas, Concurso para o
a produção dos redesenhos Hospital Santa Mônica, Hospital e Maternidade São Domingos,
Concurso para o Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital São
Diante da decisão de se redesenhar os projetos, a fim de Luiz, Hospital Santa Genoveva, Laboratório Central de Pesquisas,
possibilitar o emprego de um método sistematizado de análise, Hospital de Força Aérea do Galeão, Instituto Nacional de Câncer
com a padronização gráfica dos diagramas e das análises, e Queimados, ampliação do Hospital São Judas Tadeu da
optou-se pela escolha daqueles que tivessem os desenhos que Fundação Pio XII, Hospital Unimed Sorocaba, Hospital Unimed
permitissem uma plena compreensão da arquitetura. Araçatuba e o Centro Médico Hospitalar Vila Velha.
Quase todos os projetos respondiam a esse critério, Vale reiterar que, mesmo que os projetos tenham
excluindo-se apenas as ampliações para o Hospital Israelita incorporado outras construções, considera-se que o Hospital da
Albert Einstein, do qual a Coleção Jarbas Karman não possui as Guarnição do Galeão e a ampliação do Hospital São Judas Tadeu
plantas de todos os pavimentos. da Fundação Pio XII, pela configuração de sua arquitetura, são
trabalhos desenvolvidos integramente por Karman.
2.2.2. Projetos que foram executados
2.2.4. Projetos que foram publicados ou utilizados
Uma das intenções dessa pesquisa é identificar as didaticamente em aulas, palestras e congressos
estratégias projetuais de Karman que foram concretizadas. Não
somente em seus projetos, mas que deixaram de ser propostas Considerando que um dos objetivos desta pesquisa é
e se tornaram reais. Sendo assim, optou-se por projetos que contribuir para a compreensão das transformações dos edifícios
tivessem sido executados de acordo com o que Karman planejou, hospitalares brasileiros, estudando parte da obra de Jarbas
sem adaptações que descaracterizassem o planejamento físico- Karman, a seleção considerou aqueles que tiveram alguma
funcional. repercussão. Deu-se preferência aos projetos publicados em
revistas ou apresentados em aulas e palestras.
Os projetos que se enquadram nessa premissa são:
Hospital Santa Helena, Hospital e Maternidade São Domingos, Sendo assim, os projetos que tiveram alguma repercussão
Hospital Santa Genoveva, Hospital de Força Aérea do Galeão, foram: Hospital Santa Helena, Hospital de Clínicas de Pelotas,
ampliações do Hospital Israelita Albert Einstein, Instituto Concurso para o Hospital Santa Mônica, Hospital e Maternidade
Nacional de Câncer e Queimados, ampliação do Hospital Vera São Domingos, Concurso para o Hospital Israelita Albert Einstein,
Cruz, Hospital Unimed Sorocaba, Hospital Unimed Araçatuba e Hospital São Luiz, Laboratório Central de Pesquisas, Hospital de
o Centro Médico Hospitalar Vila Velha. Força Aérea do Galeão, ampliações do Hospital Israelita Albert
Einstein, ampliação do Hospital Vera Cruz e o Hospital Unimed
2.2.3. Projetos desenvolvidos integralmente por Karman Sorocaba.
Como alguns dos projetos são ampliações, as 2.2.5. Projetos que possuem registro fotográfico
preexistências podem ter causado restrições às implantações
das ideias de Karman. Um exemplo é a impossibilidade de se Para auxiliar na compreensão das estratégias projetuais
planejar acessos distintos entre pacientes externos e internos e ilustrar suas características físicas e espaciais, optou-se por
em virtude de o edifício existente só ter uma face voltada para escolher os projetos que tivessem registro fotográfico ou que
a rua. Isso poderia trazer complicações para se identificar e fossem passíveis de novas fotografias, desde que o edifício não
comparar as estratégias projetuais, uma vez que preexistências tivesse sido descaracterizado demasiadamente.
não projetadas por ele fariam parte da análise. Sendo assim,
49
2º) Hospital da Guarnição do Galeão – por ter por ter farto material
iconográfico (desenhos e fotografias), ter sido executado de
acordo com o planejado, ter sido projetado integralmente por
Karman e ter tido alguma repercussão;
5º) Centro Médico Hospitalar Vila Velha – por ter por ter farto
material iconográfico (desenhos e fotografias), ter sido executado
de acordo com o planejado e ser um dos últimos projetos
executados de Karman.
3
52
Imagem 3.1
Diagramas de comparação das circulações lineares produzidos por Clark e Pause.
3. A DEFINIÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISE GRÁFICA 53
E SEUS PROCEDIMENTOS
“A arquitetura é uma aventura mais bem explorada pelo desafio de praticá-la. Porém, como em
qualquer disciplina criativa, a aventura da arquitetura pode se inspirar na análise daquilo que outros
fizeram e, por meio dessa análise, tentar entender as maneiras que eles encontraram para alcançar
os desafios” (Unwin, 2013, p. 03).
3.1. Análise gráfica como forma de apreensão da arquitetura “Podemos definir o diagrama como uma
ferramenta gráfica que permite visualizar
Redesenhar uma obra de arquitetura é uma forma eficiente fenômenos ou fluxos, tanto da realidade como
de compreendê-la. É muito comum entre os arquitetos registrar do projeto. O diagrama, que surge da matéria
impressões de um objeto, ou espaço, desenhando aquilo que lhes ou phylum que ainda não possui nenhuma
causa fascínio ou estranhamento. Esse gesto pode ter diversas forma ou figura precisa, é uma primeira etapa
finalidades, como documentar uma experiência marcante, de cristalização momentânea, uma visão
aumentar o repertório criativo ou ilustrar para outras pessoas as esquemática concebida para evoluir ao longo do
características mais interessantes de um determinado edifício. tempo sem condicionar a forma. Um diagrama
Assim fez Charles-Édouard Jeanneret em suas viagens de é uma possibilidade, um meio geométrico que
estudo, quando desenhou, em 1907, detalhes do Palácio Vecchio permite avançar do indizível para as palavras;
em Florença e, em 1911, alguns planos e vistas do Partenon em isto é, do que não tem forma nem linguagem
Atenas. para o que pode ser formulado, projetado e
formalizado. O diagrama estabelece relações e
Essa prática também é eficaz para as pesquisas em nada nele pode ser supérfluo” (Montaner, 2017,
arquitetura. A análise sistematizada de um objeto arquitetônico, p. 23).
amparada por desenhos esquemáticos, permite ao pesquisador
realizar uma reflexão crítica da produção arquitetônica do A construção de um método gráfico em arquitetura se
passado e do presente. Uma das melhores maneiras de se dá, entre outras maneiras, pela interpretação de outros métodos
realizar esse procedimento é por meio de um método de análise e pela adequação de suas diretrizes para cada pesquisa. Um
gráfica. bom exemplo está em como Colin Rowe se inspirou no método
de Rudolf Wittkower para encontrar paralelos entre a obra de
Uma série de pesquisadores se valeram dos métodos de Andrea Palladio e Le Corbusier.
análise gráfica para estudar a obra de um ou mais arquitetos.
Esses métodos se tornaram mais frequentes em meados do Wittkower, historiador britânico especializado na arte da
século XX. As análises gráficas são baseadas na utilização de renascença, foi um dos maiores responsáveis pela introdução
desenhos esquemáticos para a investigação das características do método iconológico [1] na análise da forma e do espaço
formais, espaciais e programáticas de um objeto arquitetônico. arquitetônico. Lecionou no Warburg Institute entre os anos 1934
Para Wilson Flório, o “método gráfico permite ‘desvendar’, por e 1956, um importante centro de estudos sobre história da arte,
intermédio do desenho, relações arquitetônicas espaciais e atualmente associado à Universidade de Londres. Publicou em
formas ocultas” (Flório, 2002, p. 12). 1949 o livro “Architectural Principles in the Age of Humanism”,
no qual analisou, principalmente, as obras dos arquitetos Leon
O elemento mais importante de um método de análise Battista Alberti e Andrea Palladio. Seu objetivo foi descrever
gráfica é o diagrama. Trata-se de desenhos que capturam um as práticas arquitetônicas fundamentais nos séculos XV e [1] O método iconológico teve como precursor Irwin Panofsky, um dos
determinado fenômeno espacial, que destacam a geometria XVI e demonstrar que havia uma relação matemática com a principais alunos de Aby Warburg (fundador do Warburg Institute). O
de um edifício ou que investigam o movimento em uma planta escala musical grega. Como parte de seu estudo, Wittkower método busca compreender a arte em três níveis: o primeiro a partir de uma
arquitetônica. De acordo com Josep Maria Montaner, os desenvolveu onze diagramas analíticos a partir das plantas descrição de seus elementos; o segundo, pela identificação dos significados
diagramas podem ser entendidos da seguinte forma: das villas palladianas, chegando a um diagrama-síntese que iconográficos, ou seja, formas ou motivos que possam ser identificados
por convenções; e o terceiro, por meio do significado iconológico, ou seja,
demonstrava um padrão geométrico (ver imagem 3.2). De a interpretação da obra de arte considerando quem a produziu, onde e
acordo com Monika Stumpp, Wittkower conclui que as “villas são quando.
54
derivadas de uma fórmula geométrica básica, dotada de um eixo A tese que inspirou Baker, defendida na Universidade de
central e uma absoluta simetria dos compartimentos em ambos Cambridge em 1963, sob o título “The Formal Basis of Modern
os lados” (Stumpp, 2013, p. 17). Architecture”, permanece pouco conhecida. Porém, é possível
ter contato com o método de Eisenman por meio do livro “Ten
O método iconológico de Wittkower acabou influenciando canonical buildins: 1950-2000”, publicado em 2008.
o arquiteto e pesquisador britânico Colin Rowe, durante o período
em que foi bolsista no Warburg Institute. Na intenção de realizar Einseman propõe que os 10 edifícios selecionados, mesmo
uma revisão crítica da arquitetura moderna, Rowe publicou em possuindo a “presença do passado”, romperam paradigmas,
1947 um ensaio intitulado “The Mathematics of the Ideal Villa”, no sugerindo novas possibilidades para o futuro. Hilton Berredo e
qual investigou as “regras” composicionais das villas palladianas Guilherme Lassance fazem a seguinte afirmação:
e das villas corbusianas, por meio da decomposição gráfica dos
projetos e da comparação dos diagramas resultantes. O autor “Se sua dissertação ainda via a arquitetura do
analisou e comparou, por exemplo, a Villa Malcontenta com a ponto de vista da abstração dos sistemas formais,
Villa Stein e a Villa Rotonda com a Villa Savoye, demonstrando a obra de 2008 encara a arquitetura como uma
que Le Corbusier não rompeu totalmente com os paradigmas disciplina ‘autorreferente’, que ‘fala’ sobre si
renascentistas, reconhecendo a “presença do passado” na mesma, e que produz edifícios que podem
Imagem 3.2
Diagramas da produção da arquitetura moderna (ver imagem 3.3). ser lidos como textos contendo referências a
organização dos edifícios do passado e ideias para os edifícios
espaços das villas O ensaio de Rowe não foi bem aceito no momento de do futuro, os quais, por sua vez, serão textos que
Palladinanas, sua publicação, porém a originalidade de suas ideias - que falam dos edifícios do passado e aportam ideias
desenvolvidos por
propunham uma visão especulativa, não cronológica e que para os futuros, numa espécie de conversa sem
Wittkower.
se valiam das análises gráficas como evidências de suas fim. Em meio a esse diálogo diacrônico, algumas
proposições - inspirarou o uso do método gráfico para a obras, as ‘canônicas’, ditam às outras ‘textos’
realização de novas abordagens históricas na arquitetura. Flório contraditórios e divergentes, deixando seu ‘leitor’
afirma que, “segundo Montaner, as análises gráficas realizadas inquieto, incapaz de decidir se o que está sendo
por Rowe têm sido cruciais para redigir a análise arquitetônica em ‘dito’ pode ser interpretado de certa maneira
suas estruturas espaciais, compreendendo critérios tipológicos, ou mesmo de modo totalmente contrário. A
compositivos e construtivos” (Flório, 2002, p. 11). Podemos dizer marca do ‘cânone’ de Eisenman, portanto, é a
que seu trabalho colaborou enormemente para tornar os métodos ‘indecibilidade’” (Berredo, Lassance, 2011).
de análise gráfica ferramentas valiosas para as pesquisas de
revisão crítica da histórica da arquitetura. O método de Eisenman propõe uma relação intrínseca entre
texto e imagem em vez de categorias de análise. Os diagramas,
Outro exemplo mais recente foi como Geoffrey H. Baker se na sua grande maioria produzidos a partir de perspectivas
baseou na tese de doutorado de Peter Eisenman para investigar axonométricas, evidenciam determinados aspectos importantes
a obra de Le Corbusier. de cada edifício, sempre criando destaques com a cor vermelha.
A recorrência da apresentação dos projetos pelo mesmo “ponto
Baker publicou sua pesquisa em 1984 sob o título “Le de vista” e da utilização da mesma cor para ressaltar o que se
Imagem 3.3 Corbusier: an analysis of form”. O método utilizado se baseia deseja mostrar facilita a apreensão do leitor (ver imagem 3.5).
Diagramas de na exploração dos projetos por meio de desenhos analíticos
comparação entre representados em plantas, cortes, perspectivas e diagramas No Brasil, podemos destacar 3 trabalhos que definiram
a Villa Malcontenta que algumas vezes correspondem a um tema pré-determinado métodos de análise gráfica a partir da interpretação de outros
e Villa Garches,
(comuns a vários projetos) e em outras ilustram temas específicos autores.
desenvolvidos por
Rowe. (que correspondem somente a um projeto). A análise de 16
projetos, de diferentes escalas e usos, permitiu identificar O primeiro trabalho foi publicado em 2002, em dois volumes
diversos “sistemas de articulação”, que algumas vezes se [2], sob o título “Projeto residencial moderno e contemporâneo:
[2] O primeiro volume contém as análises das residências brasileiras, e o relacionam com uma série de projetos, outras com somente um análise gráfica dos princípios de forma, ordem e espaço de
segundo volume contém as análises das residências internacionais. (ver imagem 3.4). exemplares da produção arquitetônica residencial”. Os livros
55
Imagem 3.4
Diagramas de análise da forma da Villa
Stein-de-Monzie, produzidos por Baker.
Imagem 3.5
Diagramas de análise da Biblioteca de Jussieu,
desenvolvidos por Eisenman.
56
apresentam uma pesquisa desenvolvida na Universidade forma mais sintética possível” (Brasil, 2007, p. 119). Por fim,
Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, pelos professores há um texto comparando os resultados das análises, categoria
Wilson Flório, Haroldo Gallo, Silvio Stefaninni Sant’anna e por categoria, demonstrando como os “temas dominantes” se
Fernanda Magalhães, com o objetivo de estabelecer princípios desenvolvem ao longo da trajetória do arquiteto.
de análise gráfica de projetos arquitetônico para fins didáticos.
Foram analisados 62 projetos residenciais de arquitetos do Brasil O terceiro refere-se à pesquisa de mestrado de Ana
e do exterior, resultando em 1.500 desenhos (ver imagem 3.6). Tagliari, realizada em 2008, pelo Instituto de Artes da Universidade
Estadual de Campinas – UNICAMP. Foram analisados 14 projetos
O método é composto por seis categorias de análise: residenciais do arquiteto estadunidense Frank Lloyd Wright. O
“setorização”, “acessos/perímetros”, “circulação/espaço-uso”, trabalho foi publicado em 2001, sob o título “Frank Lloyd Wright:
“gruas de compartimentação”, “hierarquia” e “simetria/equilíbrio”. princípio, espaço e forma na arquitetura residencial” (ver imagem
As análises são realizadas por meio de diagramas produzidos 3.8).
após o redesenho dos projetos.
O contato da pesquisadora com os métodos de análise
Essa pesquisa não tinha o objetivo de suscitar gráfica se deu durante sua graduação, quando foi auxiliar
Imagem 3.6
uma observação crítica da produção projetual moderna e da pesquisa desenvolvida na Universidade Presbiteriana
Diagramas de análise contemporânea, mas sim oferecer aos alunos do primeiro Mackenzie, em 2002. Juntamente de Wilson Flório, coordenador
dos acessos e da ano da faculdade de arquitetura daquela universidade uma geral da pesquisa, Tagliari foi responsável por desenvolver e
circulação na Residência ferramenta que possibilitasse uma melhor compreensão dos supervisionar uma considerável parte dos desenhos.
no Belvedere, aspectos formais, espaciais e programáticos das residências
desenvolvidos por Flório
e equipe.
selecionadas, além de aumentar o “repertório” projetual. No O método propõe 12 categorias de análise, que
entanto, inaugurou novas possibilidades no âmbito acadêmico correspondem aos princípios orgânicos de Wright. São eles:
e foi seguida de algumas pesquisas que utilizaram de métodos “acessos e perímetros”, “hierarquia e lareira”, “circulação
gráficos de análise. e espaços”, “grau de compartimentação”, “coberturas”,
“setorização”, “campos visuais”, “geometria e ritmo”, “proporção e
O segundo consiste na pesquisa de mestrado de Luciana equilíbrio”, “volume/massa”, “relação planta/corte” e “opacidade/
Tombi Brasil, realizada em 2004, que pesquisou uma série de transparência”. As análises são feitas por meio de diagramas
projetos residenciais do arquiteto David Libeskind. Brasil utilizou bidimensionais e tridimensionais, produzidos a partir do
um método gráfico semelhante ao proposto pelos professores redesenho dos projetos. O processo de observação e descrição
da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Sua dissertação dos diagramas é feito por comparação, respeitando a seguinte
foi desenvolvida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da ordem: agrupamento dos diagramas por categorias em cada fase
Universidade de São Paulo – FAU-USP – e publicada em 2007 sob do arquiteto; elaboração de um texto explicando as observações
o título “A obra de David Libeskind – ensaio sobre as residências e de um diagrama-síntese para cada categoria; e comparação
unifamiliares” (ver imagem 3.7). de todos os diagramas por categorias, independente da fase,
possibilitando uma leitura crítica do processo projetual de Wright
O método possui quatro categorias: “setorização de uso”, ao longo de sua trajetória.
“organização geométrica e sistema de distribuição”, “espaço
de transição” e “planos verticais e horizontais”. As análises Essas três pesquisas desenvolvidas no Brasil foram
gráficas foram realizadas por meio de diagramas bidimensionais fortemente influenciadas pelo trabalho de Roger Clark e Michael
desenvolvidos a partir das plantas dos projetos, que foram Pause, ambos professores da Universidade Estadual da Carolina
redesenhadas anteriormente. Nesse ponto, Luciana Brasil do Norte, EUA. O método desenvolvido por eles pode ser
explica que a análise “apontou para uma possível organização apreendido no livro “Precedents in Architecture”, publicado em
Imagem 3.7
em temas dominantes e estruturadores do raciocínio projetual 1985. Clarck e Pause investigaram 64 edifícios, projetados por
Diagramas de análise de Libeskind” e que os diagramas elaborados “resultam do 16 arquitetos – de Filippo Brunelleschi a Robert Venturi – com o
da Casa Faermann, reconhecimento das qualidades icônicas das residências e intuito de observar como cada projeto se relacionava com alguns
desenvolvidos por permitem ordenar, transmitir e processar as informações da temas pré-estabelecidos pelos autores.
Luciana Brasil.
57
O método analítico de Clarck e Pause é sintético, as colaborações de autores como Rowe, Clark e Pause foram
compostos de diagramas bidimensionais que exploram 11 cruciais para a ampla aceitação dessa forma de se estudar o
categorias diferentes que buscam compreender desde aspectos processo de produção do projeto arquitetônico, para fins tanto
compositivos (como a massa e a geometria) até aspectos didáticos como teóricos.
construtivos (como a estrutura). O procedimento, claro e objetivo,
permitiu-lhes observar o partido arquitetônico de cada projeto Ao focar nas publicações brasileiras, observa-se uma
(por meio de um diagrama síntese) e encontrar similaridades grande influência das ideias de Clark e Pause. O método
projetuais ao comparar as categorias analisadas, denominadas sistematizado desenvolvido pelos dois, que propõe a
pelos autores de “ideias formais” (ver imagem 3.9). dissecação dos projetos arquitetônicos em camadas temáticas
por meio de diagramas bidimensionais simplificados, oferece
O livro está em sua quarta edição (2012) e já conta com aos pesquisadores uma plataforma eficiente e flexível para a
mais de 100 edifícios analisados, de 38 arquitetos, incluindo, por criação de outros métodos. As muitas possibilidades de se
exemplo, obras de Peter Zumthor e dos suíços Jacques Herzog realizar a leitura das análises é outra questão importante, pois
e Pierre de Meuron. permite comparações temáticas de diferentes projetos. No
caso das pesquisas que se concentram em apenas um autor,
As pesquisas discutidas acima, de Rowe a Eisenman, de o método permite a identificação de estratégias recorrentes e a
Flório a Tagliari, demonstram que há diversos métodos de análise compreensão de diferentes soluções projetadas para problemas Imagem 3.8
gráfica em arquitetura e diversos caminhos para a construção de equivalentes. Diagramas de análise da circulação da Arthur Heurtley House,
muitos outros. Os métodos estão em constante transformação e desenvolvidos por Tagliari.
Imagem 3.9
Diagramas de análise da Villa Savoye,
desenvolvidos por Clark e Pause.
58
Já o método de Eisenman não possui a mesma flexibilidade b) Definição das categorias de análise, baseadas nas principais
de apropriação. Sua leitura dos edifícios “canônicos” não é questões apontadas por Karman no livro “Iniciação à Arquitetura
realizada por uma matriz comparativa clara, mas por uma Hospitalar”;
investigação que toma cada edifício como um ícone, que contém
no seu próprio processo de projeto algumas características c) Padronização das escalas e definição das características
(às vezes implícitas, às vezes explícitas) que precisam ser gráficas para a análise de cada categoria;
destacadas. O diagrama, assim como no trabalho de Clark e
Pause, é elemento fundamental. Os diagramas de Eisenman d) Análises dos cinco projetos;
são compostos, em sua maioria, por plantas e perspectivas
axonométricas requintadas, produzidas com recursos digitais e e) Avaliação dos resultados por meio da comparação das
o uso de cores, tornando-os bastante comunicativos e atraentes. análises, categoria por categoria.
Sendo assim, a expressão gráfica de Eisenman colabora, e
muito, para tornar as análises gráficas mais esclarecedoras,
dispensando, de certa forma, a necessidade de categorias pré-
estabelecidas e possibilitando a compreensão dos aspectos
destacados com o auxílio de um pequeno texto complementar.
4
62
Imagem 4.1
Capa da primeira edição do livro
Iniciação à Arquitetura Hospitalar, 1972.
4. AS CATEGORIAS E A 63
Em 1972, esses “requisitos” e “conceitos” foram reunidos Os “requisitos” e “conceitos” delineados por Karman
em um livro intitulado Iniciação à Arquitetura Hospitalar. Nele, são apresentados, de certa forma, nos 10 primeiros capítulos
Karman organizou seus principais apontamentos sobre o do livro. Primeiro, no capítulo intitulado Arquitetura Hospitalar
planejamento físico-funcional de hospitais. A exposição de suas Integrada, Karman faz uma introdução ao assunto. Em seguida,
ideias era acompanhada de alguns relatos de suas experiências nos quatro capítulos subsequentes, descreve os agrupamentos
até então. funcionais que uma instituição de saúde pode ter. Depois, nos
cinco capítulos seguintes, apresenta e esclarece os “requisitos”
Mesmo se tratando de um livro de arquitetura, cujo e os “conceitos” que deveriam ser considerados ao se projetar
propósito era colaborar com o desenvolvimento dos projetos um edifício hospitalar.
arquitetônicos, a publicação não possui desenhos para auxiliar
a compreensão de como as ideias poderiam ser aplicadas. No primeiro capítulo, Karman introduz suas ideias ao tratar
Aliás, o livro não possui nenhuma ilustração, fato que dificulta a da integração dos diferentes aspectos que se relacionam com
apreensão das considerações do autor. o planejamento e com o funcionamento dos hospitais. O autor
discorre sobre as dificuldades e os desafios que os “planejadores
O livro é organizado em 17 capítulos e aborda, entre e consultores hospitalares” encontravam naquele período e
outros assuntos, os seguintes temas: o programa arquitetônico aponta que a solução só surgiria por meio de um “trabalho de
e os agrupamentos funcionais; o planejamento físico em ampla colaboração” para a realização do “planejamento integral
função da flexibilidade; o planejamento físico em função da assistência médico-hospitalar” e de pesquisas sistemáticas.
da eficiência; aspectos relacionados à racionalização das Defende também que:
unidades de enfermagem; o planejamento em função da
assepsia; planejamento físico em função do conforto térmico; “O importante é que não mais se construam
particularidades físicas e funcionais do edifício; aspectos hospitais errados ou obsoletos, que não
relacionados aos espaços de isolamento; o planejamento físico- mais se repitam os erros decorrentes do
funcional das “unidades sanitárias”; elementos que constituem desconhecimento do seu funcionamento e que [1] O artigo “Racionalização da Unidade de Enfermagem” foi publicado em
o “hospital geral”; terminologias utilizadas no planejamento de não sejam mais mutilados por improvisações, três partes, nos volumes 14, 16 e 24 da revista Hospital de Hoje, entre os
hospitais; e legislação e as principais leis que regiam a construção empirismo, tradições, fantasias e caprichos e anos de 1959 e 1965.
de hospitais na época. por desconhecimento ou não aplicação dos
[2] Palestra intitulada “Unidade de Centro Cirúrgico e Centro de Material
contínuos progressos médicos, técnicos e Esterilizado” redigida e publicada no livro Planejamento de Hospitais (1954).
Uma curiosidade é que o livro não possui ficha catalográfica, administrativos.” [...] (Karman, 1972, p. 6).
nem inscrição no International Standard Book Number – ISBN. [3] O artigo “Planejamento do Conforto Acústico no Hospital” foi publicado
A publicação é atribuída à União Social Camiliana, entidade no volume 06 da revista Hospital de Hoje, no ano de 1957.
64
A partir daí, Karman defende que “os bons hospitais se Adiante, faremos uma breve descrição dos critérios.
caracterizam por um certo número de constantes”, formados por Primeiro, uma apresentação sucinta do segundo, terceiro, quarto
“conceitos e requisitos básicos que permitem julgar e avaliar a e quinto capítulos, que tratam dos diferentes agrupamentos
qualidade” dos projetos. Nessa parte do texto, frisa: funcionais. Depois, as descrições seguirão capítulo por capítulo,
do sexto ao décimo.
“[...] Dentre esses requisitos destacam-se os
seguintes: flexibilidade, por etapas, zoneamentos 4.1.1. Do segundo ao quinto capítulo: agrupamentos
dos setores principais, circulação disciplinada, funcionais
distribuição adequada dos serviços, interligação
funcional dos departamentos afins, separação O segundo, terceiro, quarto e quinto capítulos tratam
dos tráfegos público e interno, compacticidade de quatro dos cinco diferentes agrupamentos funcionais
do plano, manutenção econômica, assepsia, destacados por Karman. São eles: “agrupamento administrativo”,
racionalização da distribuição interna,
“agrupamento de diagnóstico, terapia e pesquisa”, “agrupamento
funcionalidade das articulações, utilização de consultas e atendimento” e “agrupamento industrial”. O quinto,
e distribuição adequadas do pessoal e do chamado por ele de “agrupamento de internação”, não tem um
equipamento, etc.” (Karman, 1972, p. 8). capítulo dedicado como os demais, porém podemos considerar
que esse agrupamento é discutido no oitavo capítulo, no qual o
Alguns desses requisitos podem ser considerados autor aborda a “racionalização da unidade de enfermagem”.
redundantes, ou partes do mesmo princípio, como “circulação
disciplinada” e “separação dos tráfegos público e interno” O agrupamento administrativo trata dos serviços de gestão
ou “distribuição adequada dos serviços” e “racionalização e de ensino. Entre esses serviços, estão os de direção, admissão
da distribuição interna”. Nesse ponto, Karman não faz uma de pacientes, serviço social, relações públicas, contabilidade,
separação rigorosa dos requisitos por temas, mas ensaia essa secretariado, arquivo médico, biblioteca, salas de aula, auditório,
organização nos capítulos seguintes. Alguns requisitos são etc.
citados em mais de um capítulo, apontando que certas ideias
podem corresponder a mais de um tema. O agrupamento de diagnóstico, terapia e pesquisa
trata dos serviços de exames e de procedimentos médico-
Quanto aos conceitos, Karman descreve que: hospitalares. Algumas das unidades que fazem parte desse
agrupamento são: cirurgia, obstetrícia, radiologia, radioterapia,
“[...] destacam-se os de: compactação, medicina nuclear, análises laboratoriais, fisioterapia, terapia
centralização, humanização, relação funcional ocupacional, necropsia, farmácia, etc.
de nível, assistência continuada, prioridade de
percurso, etc.” (Karman, 1972, p. 8). O agrupamento de consultas e atendimento engloba
as unidades ambulatoriais e de pronto atendimento, como os
Esses conceitos podem ser entendidos como uma síntese ambulatórios e os prontos-socorros.
das observações gerais de Karman em relação ao planejamento
físico-funcional dos “bons hospitais”, sendo possível aplicá-los O agrupamento industrial trata dos serviços de apoio
em qualquer projeto. Eles serão descritos, principalmente, entre técnico e logístico. Algumas das unidades que fazem parte desse
o sexto e o décimo capítulos. agrupamento são: cozinha, lavanderia, almoxarifado, vestiários,
manutenção, resíduos, áreas de abastecimento, etc.
Para facilitar a interpretação das ideias de Karman e,
consequentemente, colaborar, de forma mais objetiva, com o O agrupamento de internação, mesmo não especificado
apontamento das ideias mais relevantes para a definição das no livro, pode ser entendido como as unidades de hospitalização,
categorias de análise gráfica, os “requisitos” e os “conceitos” sendo: internações clínicas, cirúrgicas, obstétricas e pediátricas;
descritos ao longo do livro serão tratados, a partir de agora, unidades de terapia intensiva e semi-intensiva.
como critérios de projeto.
65
Importante destacar que Karman não trata, nesse e em só do conjunto como um todo, mas também das unidades, de
nenhum outro capítulo, sobre as relações entre os ambientes forma independente.
de cada unidade, tampouco das relações entre as unidades.
Alguns exemplos são citados no livro, quase sempre junto da Sobre as expansões de edifícios horizontais e verticais,
apresentação de um critério específico de projeto. No entanto, Karman afirma:
fica claro que o objetivo não foi definir o correto posicionamento
de cada unidade, nem descrever as relações interfuncionais, “As construções térreas ou de pouca altura são
apenas apresentar o perfil funcional de cada agrupamento. as que ensejam a mais fácil expansão, bastando
Karman se preocupou em transferir as ideias que colaborariam para tanto a justaposição de sucessivos
para as definições das relações operacionais, possivelmente módulos, segundo as necessidades e etapas
pelo fato de que elas podem acontecer de formas diferentes preestabelecidas. Já a ampliação de prédios
em cada instituição (a depender do perfil de atendimento, dos multipavimentos obriga a expansão igual ou
serviços médicos prestados, do tamanho do edifício, etc.). simultânea de todos os andares, mesmo dos
que não a requerem. A ampliação é idealmente
4.1.2. Sexto capítulo: “Planejamento em função da conseguida quando cada departamento ocupa
flexibilidade” um setor individualizado; em zona”. (Karman,
1972, p. 38-39).
Nesse capítulo, Karman trata dos critérios de projeto
que tornam os edifícios fisicamente mais flexíveis; ou seja, que 4.1.2.2. Desenvolvimento horizontal
colaboram para que as reformas, as ampliações e as atualizações
tecnológicas aconteçam com maior facilidade. Logo no primeiro Esse critério trata das vantagens operacionais dos hospitais
parágrafo, ele afirma que “para que os hospitais se mantenham concebidos em poucos pavimentos. O “desenvolvimento
eficientes e atualizados através dos anos, devem atentar a horizontal” atende a uma série de temas, não só a flexibilidade
múltiplas formas de flexibilidade”. Para tratar do planejamento física das construções. Durante a explicação desse critério,
em função da flexibilidade, Karman destaca quatro critérios: Karman cita que a altura dos edifícios é consequência direta das
“expansão e zoneamento”, “desenvolvimento horizontal”, “relações funcionais de nível” (critério que será discutido no oitavo
“flexibilidade de circulação” e “flexibilidade de estrutura”. A capítulo). Outro fator que influencia na escolha de um partido
seguir trataremos de cada um deles. arquitetônico horizontal ou vertical é a eficiência das unidades
de enfermagem, pois o autor considera que cada unidade de
4.1.2.1. Expansão e zoneamento internação deve ter entre 20 e 35 leitos subordinados a um posto
de enfermagem (outro critério que será apresentado no oitavo
O primeiro critério citado nesse capítulo se refere à capítulo) e que um hospital em altura só se torna economicamente
necessidade de se prever e facilitar futuras expansões dos justificável se cada andar destinado às internações tiver duas ou
edifícios, para “atender a evolução da medicina e da tecnologia”. mais unidades, ou seja, 40 a 70 leitos por andar.
As expansões podem ser internas e/ou externas, ou seja, 4.1.2.3. Flexibilidade de circulação
com ou sem acréscimo de área. Podem acontecer em altura,
com a adição de mais pavimentos, ou em extensão, com a Esse critério discute como a organização das
construção de novos blocos/edifícios. circulações pode tornar o espaço mais flexível em relação ao
seu funcionamento. Karman alega que “o bom planejamento
Segundo Karman, as expansões internas obrigam, em está estritamente vinculado à boa solução de circulação”. Na
muitos casos, que o crescimento de um serviço se faça em sequência, faz algumas observações acerca do posicionamento
detrimento de outros. Quando o crescimento de uma unidade dos elevadores e de recursos para tornar seus usos mais flexíveis,
obriga o reposicionamento de outra, que está em pleno como a criação de mais de um núcleo de circulação vertical e
funcionamento, pode acarretar aos hospitais a “separação de a utilização de dispositivos do tipo “viagem-direta” (quando se
setores bem localizados ou naturalmente interligados”. Sendo concede preferência de chamada para alguns passageiros).
assim, o projeto deve prever a possibilidade de expansão não Ainda sobre as circulações verticais, Karman denota que há
66
muitas vantagens na utilização de rampas, pois os elevadores, O “forro removível” consiste na substituição de forros
entre outros problemas, possuem instalação e manutenção monolíticos por placas removíveis, permitindo, assim, amplo
dispendiosa, interrompem a rotina hospitalar quando não estão acesso ao espaço entreforro e facilitando a manutenção das
em operação e causam, muitas vezes, esperas demoradas antes instalações aparentes.
do embarque.
As “paredes removíveis” seguem um princípio similar ao
4.1.2.4. Flexibilidade de estrutura do “forro removível”, pois propiciam mudanças de leiaute mais
rápidas e menos onerosas.
O último critério, e talvez o mais relevante desse capítulo,
trata de parâmetros que tornam os edifícios mais flexíveis, A “cobertura extensível” é a expansão dos edifícios por
tanto para a facilitação da manutenção predial quanto para meio de lajes pré-moldadas em concreto armado. Podemos
modificações físicas dos espaços internos. Karman afirma que “a entender esse aspecto como uma estratégia projetual específica,
flexibilidade de um hospital muito depende da sua estrutura; esta pois Karman associa a “cobertura extensível” com o projeto para
deve ser projetada de forma a não restringir ou tolhê-la”. Ou seja, o Hospital da Guarnição do Galeão que, de fato, foi concebido
a estrutura e os elementos que compõem a construção devem para ser expandido com o uso desse tipo de tecnologia construtiva
ser pensados de tal forma que facilite futuras modificações (projeto que será analisado no quinto capítulo).
espaciais, obviamente sem comprometer a segurança física e
biológica dos usuários. 4.1.3. Sétimo capítulo: “Planejamento em função da eficiência
e racionalização”
Karman elege cinco aspectos que colaboram com a
flexibilidade estrutural: “vigas excêntricas”, “espaço interandares”, Nesse capítulo, Karman trata de critérios de projetos que
“forro removível”, “paredes removíveis” e “cobertura extensível”. colaboram com a eficiência e a racionalização dos processos
operacionais dos edifícios hospitalares. Em linhas gerais, esse
As “vigas excêntricas” ocorrem com o deslocamento capítulo é composto por três critérios: “concentração”, “funções
das vigas em relação aos eixos das paredes, permitindo a livre da unidade intermediária de serviços” e “centralização”.
descida das instalações presentes e futuras. Esse artifício evita,
por exemplo, perfurações dos elementos estruturais e o desvio 4.1.3.1. Concentração
das tubulações junto às lajes.
A “concentração” propõe que, sempre que possível, duas
Os “espaços interandares” são compostos por “sub- ou mais atividades sejam concentradas em um único local. Um
pavimentos” livres, com aproximadamente um metro de altura, posto de enfermagem que cuide de uma sala de espera, uma
localizados entre as lajes de cobertura dos pavimentos que recepção que sirva para mais de um setor ou atividade, uma
ficam abaixo e entre as lajes de piso dos pavimentos que ficam unidade funcional que concentre atividades afins que antes
acima destes espaços. De acordo com Karman, esses espaços ficavam espalhadas em pequenos ambientes pelo hospital...
foram pensados para substituírem os “caixões perdidos”, os Karman afirma que esse critério “concorre para a racionalização
“forros falsos” e os “entrepisos entulhados”, sistemas que eram pela melhor utilização das instalações, dos espaços e das
comumente utilizados para a distribuição das canalizações. O atividades”.
“sub-pavimento”, ao atingir as lajes rebaixadas dos corredores
(critério que será descrito mais adiante), passaria a ter dois metros Karman oferece alguns exemplos, que ajudam na
de altura, podendo ser utilizado como uma unidade intermediária compreensão do critério. Um deles é que pode-se concentrar
de serviços. Os espaços “interandares” possibilitam, segundo o em um mesmo ambiente as observações de um pronto-
autor, ventilação e a iluminação naturais cruzadas, isolamento socorro de pequeno movimento, a recuperação pós-obstétrica,
acústico entre os pavimentos, ventilação dos ambientes a recuperação pós-operatória e os cuidados intensivos,
localizados no interior dos andares e execução livre, aparente e configurando um “Centro de Terapia Intensiva”, estratégia que
acessível das instalações, facilitando e reduzindo os custos de justifica a permanência integral de uma equipe de enfermagem.
manutenção. Vale destacar aqui que as Unidades de Terapia Intensiva como as
que conhecemos hoje ainda não eram habituais nesse período.
67
4.1.3.2. Funções da unidade intermediária de serviços “compactação”, “densidade linear”, “rendimento de circulação”,
“postos descentralizados”, “equipe de enfermagem”, “relação
Introduzida no capítulo anterior, no qual são descritos os funcional de nível”, “desenvolvimento horizontal”, “berçário
“espaços interandares”, a “unidade intermediária de serviços” privativo”, “bem-estar mental” e “ventilação e iluminação”. Cada
fica localizada no espaço entre dois pavimentos úteis. Essa um deles será abordado a seguir.
unidade pode colaborar com a manutenção das instalações, pois
oferecem fácil acesso aos “sub-pavimentos”, podem se tornar 4.1.4.1. Compactação
galerias de observação para as salas de cirurgias e de parto,
servem de copa de distribuição para as unidades de internação, A “compactação” enseja atingir, numa unidade de
podem conter estações satélites de esterilização de utensílios, internação, o maior número de leitos com o menor percurso das
podem abrigar os lactários das maternidades, etc. equipes de enfermagem.
leitos por metro linear (Hospital Santa Mônica de e da produtividade dos serviços. Segundo Karman: “cada passo
Belo Horizonte, Hospital Albert Einstein de São pesa e custa”.
Paulo), esta densidade é significativa, quando
comparada à densidade de 0,47 leitos por metro 4.1.4.4. Postos descentralizados
das Unidades do Serviço Americano de Saúde
Pública; à de 0,63 da Sadvikens Hospital da Karman defende o projeto de postos descentralizados,
Suécia, com três leitos por quarto e à de 0,47 do compostos por balcões dispostos ao longo dos corredores, que
St. Lô Hospital da França, com seu sistema de permitem que cada equipe de enfermagem atenda até oito leitos.
corredor central”. (Karman, 1972, p. 64). Esse critério foi intitulado por Karman anteriormente, em aulas e
palestras, como “postinhos” [4].
Esses apontamentos, assim como no critério de
“compactação”, induzem a adoção do modelo “duplamente 4.1.4.5. Equipe de enfermagem
carregado”.
Para viabilizar a descentralização dos postos de
4.1.4.3. Rendimento de circulação enfermagem, Karman sugere que cada equipe tenha um formato
específico, variando de duas a quatro pessoas. Esse não é
O “rendimento de circulação” trata, de forma superficial, um critério de projeto, e sim uma diretriz administrativa para a
das vantagens da redução dos percursos nos hospitais. Esse implantação do critério anterior.
critério não se aplica somente às unidades de internação, mas
também ao planejamento físico-funcional hospitalar de forma 4.1.4.6. Relação funcional de nível
geral. Karman afirma que “a eficiência de um hospital está
diretamente ligada ao rendimento da sua circulação” e que esse A “relação funcional de nível”, assim como o “rendimento
rendimento depende de três fatores distintos: da extensão das de circulação”, é um critério que não se aplica somente às
linhas de circulação, dos tipos e das frequências dos percursos. unidades de internação. Karman defende que algumas unidades
funcionais devam ser, sempre que possível, posicionadas no
Essa é uma ideia complexa, que não foi devidamente mesmo pavimento. Essa paridade de nível entre certos serviços
explicada nessa ou em outras publicações. Karman tinha torna os edifícios hospitalares mais eficientes.
particular interesse em compreender os diferentes tipos de
percursos em um hospital, mas não chegou a publicar um texto São muitas as relações entre as unidades funcionais de um
que apontasse como tratar do assunto de forma mais prática e hospital. Algumas dependem mais de outras para funcionarem
objetiva. Sempre que possível, para se fazer entender, ilustrou com mais eficiência, como é o caso do pronto socorro em relação
suas ideias acerca dos percursos com exemplos e expressões à unidade de diagnóstico por imagem (a aproximação desses
concisas. dois setores aumenta a velocidade dos atendimentos urgentes
e emergentes) ou do berçário em relação à maternidade (os
No livro em questão, Karman defende que a “redução recém-nascidos devem ficar próximos das puérperas). Essas
no percurso das enfermeiras redunda em maior rendimento relações variam de instituição para instituição, obrigando que
e eficiência da unidade, mesmo sendo às custas de se analise criteriosamente, durante a criação do programa
percursos maiores para atendentes e serventes”, apontando a físico-funcional, quais unidades devem estar no mesmo piso.
descentralização dos postos de enfermagem como uma das Sobre isso, Karman afirma que “inúmeras são as interligações
soluções para reduzir as distâncias e aumentar a eficiência das que exigem continuidade de piso; a estrita observância dessas
unidades. relações funcionais de nível é que determina o desenvolvimento
horizontal dos hospitais”.
Ao lermos a explicação desse critério, assim como outras
citações acerca desse assunto ao longo do livro, podemos Esse critério pode ser considerado uma das principais
[4] O termo “postinho” consta em manuscritos e diapositivos de Karman, concluir que a diminuição dos percursos nos edifícios hospitalares justificativas para o projeto de hospitais em poucos pavimentos.
o que leva a crer que ele utilizava o termo para nomear sua solução mais colabora, e muito, para o aumento da qualidade do atendimento
radical de descentralização dos postos de enfermagem.
69
4.1.4.7. Desenvolvimento horizontal A primeira delas trata dos ruídos nos ambientes
hospitalares. Karman afirma que deve-se prever som ambiente
Nesse critério, Karman descreve algumas questões de até 32 decibéis para os quartos e 42 decibéis para as áreas
acerca do posicionamento das enfermarias e de suas relações de serviços, cuidar para que os corredores não se tornem
com outras unidades do hospital. propagadores de som, sempre que possível utilizar os sanitários
entre os quartos e os corredores como barreiras acústicas,
Quando os quartos são adjacentes, aumentam a utilizar revestimentos que absorvam os sons e procurar isolar
“densidade linear” da unidade; quando as unidades são os vestíbulos das escadas e dos elevadores em relação aos
sobrepostas, criando “pavimentos tipo”, a infraestrutura dos corredores das internações.
edifícios se torna mais flexível e econômica.
A segunda trata das vantagens da descentralização
Quanto à posição das internações em relação as outras dos postos de enfermagem, pois possibilita mais rapidez no
unidades, Karman afirma que: atendimento, além de colaborar para que o mesmo grupo de
cuidadores sempre atenda os mesmos pacientes.
“Devendo, ainda, pelo princípio de relação
funcional de nível, o bloco cirúrgico ficar em A terceira trata da limitação de um ou dois leitos por quarto.
nível com a clínica cirúrgica, depreende-se a Karman afirma que, quanto maior for a privacidade do paciente,
necessidade de, praticamente, todo o hospital se mais confortável ele se sentirá.
desenvolver horizontalmente, pois, conjuntos tais
como o Centro de Terapia Intensiva, Central de A quarta trata de elementos que colaboram com a
Esterilização, etc., guardam estreita relação com deambulação precoce dos pacientes, como peitoris envidraçados
aqueles blocos e a eles devem ficar contíguos: para permitir melhor apreciação da paisagem, sanitários
(Hospital Maria Auxiliadora de Goiânia e Hospital privativos que encorajem o uso sem auxílio da enfermagem e
São Domingos de Uberaba)”. (Karman, 1972, p. salas de estar e refeição nos andares que incentivem o convívio.
68).
A quinta, já abordada anteriormente, propõe o incentivo do
Esse é mais um critério que concorre para o projeto de “rooming-in”, prática médica que aproxima os recém-nascidos
hospitais em poucos pavimentos. das mães, reforçando a importância do projeto de berçários
privativos.
4.1.4.8. Berçário privativo
A sexta incentiva o contato entre pacientes, acompanhantes
Esse critério defende que os berçários devem ser e visitantes, tanto em unidades críticas (centro obstétrico, centro
descentralizados e associados aos quartos da maternidade, de cirúrgico e unidade de terapia intensiva) quanto em unidades
modo a aproximar os recém-nascidos das mães. Hoje esse é um semicríticas (ambulatórios e internações).
procedimento médico muito utilizado, porém de forma diferente
ao preconizado no texto. A descentralização foi uma solução 4.1.4.10. Ventilação e iluminação
inovadora para a promoção da prática médica conhecida como
“rooming-in” em meados do século XX. Com o tempo deixou de Nesse critério, Karman indica o rebaixamento das lajes
ser praticada, pois os bebês saudáveis passaram a ficar dentro dos corredores para possibilitar a iluminação e a ventilação
do próprio quarto das mães, pouco tempo depois do nascimento. natural cruzadas nos últimos pavimentos dos edifícios e o uso
dos espaços intermediários para a ventilação natural cruzada
4.1.4.9. Bem-estar mental nos demais andares.
4.1.5. Nono capítulo: “Planejamento em função da assepsia” Para a definição das categorias de análises que permitam
identificar as principais estratégias projetuais de Karman e,
Esse capítulo apresenta considerações acerca do risco de posteriormente, uma comparação na busca de apontar como
infecção hospitalar em duas unidades funcionais: na lavanderia se transformaram ao longo do tempo, uma reorganização
e no centro cirúrgico e obstétrico. dos principais critérios de projeto se faz necessária. Os cinco
primeiros capítulos tratam do agrupamento funcional, o sexto
Na lavanderia, Karman descreve ligeiramente o processo trata da flexibilidade, o sétimo e o oitavo tratam da eficiência e
de funcionamento do setor, faz considerações sobre as áreas racionalização, o nono trata da assepsia, e o décimo trata do
de separação das roupas sujas, da utilização das máquinas de conforto térmico. Sendo assim, podemos estabelecer cinco
porta dupla (hoje conhecidas como lavadoras de barreiras), do eixos conceituais para reordenar os principais critérios, sendo:
despejo das águas das máquinas de lavar, da exaustão do ar e agrupamento funcional, flexibilidade, eficiência/racionalização,
da utilização de tubulação de descida de sacos. segurança biológica e conforto ambiental.
No centro cirúrgico e obstétrico, o autor trata de algumas A seguir discutiremos cada eixo conceitual e os critérios
peculiaridades da unidade e do planejamento dos vestiários de de projeto aos quais se relacionam. Cada eixo apontará o que
acesso, dos armários de limpeza, das relações com as centrais devemos investigar nos projetos. Consequentemente, orientarão
de esterilização, dos berçários normais e de enfermagem. a definição das categorias de projetos.
4.1.6. Décimo capítulo: “Planejamento em função do conforto 4.2.1. Eixo um: agrupamento funcional
ambiental”
O primeiro trecho do livro descreve os agrupamentos
O décimo e último capítulo que apresenta critérios de funcionais. Podemos dizer que um dos critérios para se organizar
projeto trata, principalmente, de diretrizes que colaboram para o corretamente as unidades e os serviços hospitalares é entender
conforto higrotérmico dos ambientes hospitalares. suas afinidades operacionais, administrativas e técnicas.
Para discutir sobre o conforto ambiental, Karman retoma Em geral, as unidades que fazem parte do mesmo
outros critérios apresentados anteriormente, entre eles o de agrupamento funcional estão contíguas, ou próximas. Porém,
iluminação e ventilação naturais cruzadas por meio dos rebaixos em certos casos, unidades e ambientes de agrupamentos
de trechos das lajes de cobertura dos andares e do uso dos diferentes precisam ser aproximadas, pois a interdependência
pavimentos intermediários. Ao tratar desses critérios, o autor de seus serviços deve ser privilegiada. Karman afirma, quando
defende a iluminação e a ventilação natural em detrimento do trata do critério de “concentração”, que a “utilização racional
resfriamento do ar por meio mecânico. de instalações, de espaços e de pessoal gera a necessidade
de certa concentração de uso ou produção”. Sendo assim, o
Esse capítulo, que não aparece no índice, nos mostra, agrupamento funcional não obrigatoriamente determina quais
assim como outros trechos do livro, que alguns critérios se unidades e serviços devem estar próximos.
relacionam com mais de um tema.
Como o autor não define em seu texto quais as diretrizes
4.2. Considerações sobre os critérios de projetos e a definição para estabelecer as relações de proximidade das unidades
de cinco eixos de investigação funcionais, identificar os agrupamentos funcionais e a posição
de cada unidade funcional em seus projetos é o primeiro passo
São muitos os critérios de projetos delineados no livro. para observar quais as proximidades e as possíveis relações
Karman trata da classificação dos agrupamentos funcionais, programáticas.
de questões acerca da organização dos serviços hospitalares
e da apresentação de soluções que julgava interessantes para
otimizar a rotina operacional das instituições.
71
Karman julgava que os edifícios hospitalares careceriam, Os critérios relacionados à eficiência e racionalização da
com o tempo, de transformações infraestruturais e tecnológicas rotina operacional dos hospitais são os mais subjetivos e difíceis
para manterem bons padrões de atendimento médico. Portanto, de se compreender. Karman elenca uma série de ideias sobre o
defendia que os projetos deveriam prever e facilitar tais assunto, no sétimo e oitavo capítulos. Entre os principais critérios,
transformações. podemos destacar os de “concentração”, “centralização”,
“compactação”, “densidade linear”, “rendimento de circulação”,
A ideia de flexibilidade se materializa de várias formas “relação funcional de nível” e “desenvolvimento horizontal”.
e em diferentes escalas. No livro, estão indicadas a previsão Todos esses critérios se relacionam, direta ou indiretamente,
de novas construções, a utilização de elementos construtivos com o planejamento de hospitais mais eficientes, seguros e
removíveis e a utilização de soluções específicas no projeto de confortáveis.
espaços e estruturas.
Os critérios de “concentração”, “centralização” e
Um exemplo é o planejamento das expansões já durante “compactação” correspondem ao planejamento dos processos
o primeiro projeto. Em 1980, Karman desenvolveu um estudo e dos fluxos operacionais. Sendo assim, a apreensão desses
para uma rede de unidades sanitárias em Angola. As unidades critérios pode ser feita pela investigação dos leiautes. Como não
iniciariam o funcionamento como pequenos centros de saúde, é o objetivo dessa pesquisa analisar a configuração espacial de
mas se transformariam, com o tempo, em hospitais de até 100 todas as unidades funcionais de cada hospital, a aplicação desses
leitos. As expansões se dariam de forma coordenada, com a conceitos pode ser observada pela investigação da organização
implantação de novos serviços sem afetar os que já estivessem dos agrupamentos funcionais e do leiaute de duas importantes
estabelecidos. Esse projeto foi publicado no mesmo ano em que unidades hospitalares: as internações e os centros cirúrgicos. A
foi concebido, na revista Projeto [5]. Nessa publicação, Karman escolha dessas duas unidades se dá pela atenção que Karman
intitulou o planejamento das expansões coordenadas de “Plano deu a elas em duas de suas principais publicações na década de
Diretor”. Atualmente, os Planos Diretores Hospitalares são uma 1950: a confêrencia realizada durante o I Curso de Planejamento
importante ferramenta de planejamento hospitalar, como pode de Hospitais e publicada no livro Planejamento de Hospitais, no
ser apurado, por exemplo, no livro Plano diretor físico hospitalar: qual discorre minuciosamente sobre o funcionamento e o projeto
uma abordagem metodológica frente a problemas complexos, de centros cirúrgicos e das centrais de esterilização; e o artigo
escrito por Ana Carolina Potier Mendes e publicado em 2018. sobre a racionalização das unidades de enfermagem, publicado
em alguns volumes da revista Hospital de Hoje.
Outro critério muito citado no livro é o uso dos espaços
técnicos. Karman defendeu o uso dessa solução ao longo de Os critérios de “densidade linear” e de “rendimento
toda a sua carreira. Em 2004, no primeiro seminário do Grupo de circulação” estão diretamente ligados à organização das
de Saúde Pública da União Internacional dos Arquitetos (UIA- circulações e à aproximação dos serviços afins. Como dito
PHG) no Brasil, Karman apresentou, em sua palestra, o conceito anteriormente, Karman teve especial interesse acerca dos
de “espaços técnicos integrados” [6], que reunia várias tipos de percursos existentes em um edifício hospitalar, porém
soluções para facilitar a manutenção predial e a substituição não chegou a publicar um texto que explorasse esse assunto
das instalações ao longo do tempo. Os espaços técnicos foram especificamente. Podemos apurar esse interesse ao observarmos
pensados, principalmente, para conferir mais flexibilidade que o autor aborda essa questão em diferentes capítulos, como
infraestrutural aos edifícios. quando escreve sobre a “flexibilidade das circulações” no sexto
capítulo e sobre as “linhas de circulações externas” e “linhas de
Sendo assim, identificar as estratégias relacionadas à circulações internas” no primeiro capítulo. Esse interesse pela
flexibilidade física dos edifícios é de suma importância para se classificação e ordenação dos percursos, cujo objetivo é tornar
compreender a obra projetada de Karman. as relações funcionais mais eficientes, nos mostra que, para [5] Estudo publicado na revista Projeto, nº 24, outtubro / novembro de 1980.
compreender a organização funcional dos edifícios hospitalares [6] Jarbas Karman foi o resposável por organizar o seminário do UIA Public
projetados por Karman, devemos investigar as características Health Group em São Paulo, no ano de 2004. Os encontros ocorreram no
dos acessos e das circulações. auditório do Hospital Israelita Albert Einstein e durante o a Feira Hospitalar.
72
Os critérios de “relação funcional de nível” e de térmico”. O primeiro trata das questões relacionadas com
“desenvolvimento horizontal” estão relacionados diretamente o conforto psicológico dos usuários em relação ao espaço
com a contiguidade de níveis das unidades funcionais e, construído, principalmente em relação aos pacientes. O segundo
consequentemente, com o número de pavimentos dos edifícios. se relaciona com o conforto higrotérmico dos ambientes.
Ao apresentar esses critérios, Karman sempre faz uma defesa
dos hospitais projetados em poucos pavimentos. Dessa forma, Karman elenca, entre outros critérios de projeto relativos
observar o número de pavimentos dos edifícios também ao conforto psicológico, o incentivo da deambulação precoce
se faz necessário para compreendermos como os projetos (por meio da relação com os meios externos) e a promoção
correspondem às ideias aqui discutidas. do convívio entre os pacientes, acompanhantes e visitantes
(por meio de espaços coletivos). Ao se analisar os leiautes das
4.2.4. Eixo quatro: segurança biológica plantas, é possível identificar a presença dos espaços de convívio
e a oferta de jardins internos e externos, questões essas que
Não há, propriamente, critérios definidos acerca da contribuem consideravelmente para a diminuição do estresse e
segurança biológica. No livro, Karman faz apontamentos gerais da ansiedade dos pacientes e funcionários.
sobre as lavanderias e os centros cirúrgicos, pois os fluxos de
pessoas e material devem ter atenção especial para que se evite Sobre os critérios de conforto térmico, Karman aponta,
contaminações e infecções hospitalares. principalmente, a oferta de iluminação e ventilação naturais.
Em diversos momentos, comenta sobre o rebaixamento das
As preocupações acerca dos riscos de contaminação lajes para possibilitar a instalação de janelas altas para iluminar
mudaram com o passar do tempo. Consequentemente, os e ventilar os ambientes localizados no interior dos pavimentos.
projetos apresentaram transformações condizentes. Flávio Esse critério pode ser investigado por meio das plantas baixas
Bicalho publicou, em 2010, um livro intitulado A Arquitetura e dos cortes, de forma a compreender suas dimensões e seus
e a Engenharia no combate às infecções, no qual apresenta aspectos físicos.
princípios e soluções arquitetônicas que colaboram para a
redução das infecções hospitalares. Entre as soluções de 4.3. Categorias de análise
projeto, Bicalho discorre sobre os vestiários de barreira (que
atualmente são requisitos obrigatórios por norma para centros Após as considerações sobre as ideias apresentadas
cirúrgicos e salas contaminadas) e as unidades que precisam por Karman no livro Iniciação à Arquitetura Hospitalar e a
ter separação das áreas contaminadas e limpas, com utilização determinação de cinco eixos conceituais para interpretar
de máquinas de barreira, como as lavanderias e as centrais seus critérios de projetos, as análises gráficas respeitaram as
de material esterilizado. Ambas as unidades são tratadas por seguintes categorias:
Karman no livro, porém de forma bem menos minuciosa do que
Bicalho, fato que mostra como essa questão ganhou importância 4.3.1. Primeira categoria: Agrupamento Funcional
com o passar do tempo.
Considerando que três dos projetos selecionados foram
Como forma de aproximação das questões relacionadas desenvolvidos depois de 1974, foram adotados, em vez dos
à segurança biológica, pode-se analisar os fluxos de pessoas e cinco agrupamentos definidos por Karman, os oito preconizados
de materiais nos centros cirúrgicos e nas unidades de tratamento pela RDC-50 [7]. A resolução da Agência Nacional de Vigilância
intensivo (UTI) projetados por Karman, por se tratarem de Sanitária (ANVISA) estabelece as seguintes atividades:
unidades críticas, cujo risco de contaminação aos pacientes é “prestação de atendimento eletivo e de promoção e assistência
alto. à saúde em regime ambulatorial e de hospital-dia”, “prestação
de atendimento imediato de assistência à saúde”, “prestação
[7] A Resolução de Diretoria Colegiada nº 50, publicada em de 21 de 4.2.5. Eixo cinco: conforto ambiental de atendimento à saúde em regime de internação”, “prestação
fevereiro de 2002 foi criada para atualizar a normatização em relação ao de atendimento de apoio ao diagnóstico e terapia”, “prestação
projeto e a construção de estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS). A O conforto ambiental, segundo as ideias de Karman, de serviços de apoio técnico”, “formação e desenvolvimento de
norma encontra-se em vigência no atual momento (março de 2020). possui dois segmentos: o “bem-estar mental” e o “conforto recursos humanos e de pesquisa”, “prestação de serviços de
73
apoio de gestão e execução administrativa” e “prestação de • Fazem parte da “prestação de serviços de apoio logístico”
serviços de apoio logístico” [8]. as seguintes unidades: lavanderia, almoxarifado,
manutenção hospitalar, engenharia clínica, morgue, áreas
Nos hospitais gerais e especializados: de conforto e higiene dos usuários (vestiários, áreas de
troca, guarda-volumes, etc.), segurança predial e áreas
• Fazem parte da “prestação de atendimento eletivo e de para os equipamentos e medidores de abastecimento,
promoção e assistência à saúde em regime ambulatorial resíduos e despejo (ou tratamento) de efluentes.
e de hospital-dia” as seguintes unidades: ambulatório e
hospital-dia (unidade de procedimentos cirúrgicos de baixa As análises referentes a essa categoria foram realizadas
complexidade que não necessitam de internação superior com o uso de diferentes cores sobre as plantas redesenhadas
a 24 horas); (ver imagem 4.2).
• Faz parte da “prestação de atendimento imediato de 4.3.2. Segunda categoria: Flexibilidade Física
assistência à saúde” a unidade de pronto atendimento a
urgências e emergências (pronto-socorro); Foram analisados dois aspectos relacionados à
flexibilidade física: o potencial de expansão e as características
• Fazem parte da “prestação de atendimento à saúde em dos espaços técnicos.
regime de internação” as seguintes unidades: internações,
terapia intensiva e terapia semi-intensiva; O potencial de expansão dos hospitais é um dos principais
fatores que conferem flexibilidade física e infraestrutural aos Imagem 4.2
• Fazem parte da “prestação de atendimento de apoio ao edifícios. Muitos dos projetos possuem a indicação das áreas Modelo de diagrama de análise do agrupamento funcional e da
destinadas às futuras expansões. Essas indicações eram organização física das unidades funcionais.
diagnóstico e terapia” as seguintes unidades: laboratório
de análises clínicas, imagenologia, endoscopia, métodos denominadas por Karman como o “Plano Diretor”. Outros
gráficos, laboratório de anatomia patológica, medicina projetos não possuíam essas indicações nas plantas, mas
nuclear, centro cirúrgico, centro obstétrico, fisioterapia, possuíam espaços pensados para serem ocupados com futuras
terapia ocupacional, fonoaudiologia, banco de sangue, construções. Sendo assim, as análises se concentraram em
radioterapia, quimioterapia, hemodiálise, banco de leite e identificar esses espaços, suas dimensões, suas relações com a
medicina hiperbárica; área construída e quantos leitos poderiam ser acrescentados ao
projeto.
• Fazem parte da “prestação de serviços de apoio técnico”
as seguintes unidades: serviço de nutrição e dietética (SND/ Os espaços técnicos, de acordo com as ideias de Karman,
cozinha), farmácia e central de material esterilizado; estão mais relacionados com a flexibilidade física do que com
a eficiência operacional, pois, além de facilitar a manutenção,
• A “formação e desenvolvimento de recursos humanos e de possibilitam a troca das instalações com agilidade e redução de
pesquisa” não possui unidades funcionais propriamente custos.
ditas. Podemos entender essa atribuição como um conjunto
de ambientes que se distribuem pelo hospital, tais como: As análises referentes a essa categoria foram realizadas
salas de aula e treinamento, auditório, biblioteca, etc.; com o uso da cor vermelha (em dois diferentes tons) sobre as
plantas e os cortes redesenhados (ver imagens 4.3).
• Fazem parte da “prestação de serviços de apoio de gestão Imagem 4.3
e execução administrativa” todos os ambientes destinados 4.3.3. Terceira categoria: Eficiência Operacional Modelo de diagrama de análise da flexibilidade fisica e conforto físico e
à administração dos hospitais, tais como: gerência, psicológico.
secretariado, recursos humanos, gestão financeira, diretoria Foram analisados três aspectos relacionados à eficiência
clínica e o serviço de arquivo médico (SAME); operacional: a organização dos acessos e das circulações,
a configuração das unidades de internação e o percurso das [8] As atribuições podem ser concultadas na Parte II da RDC 50, a partir da
página 23.
equipes de enfermagem.
74
A análise dos acessos e da organização das circulações circulação”, essa investigação permitiu comparar a compactação
considerou quatro tipos: os corredores e acessos destinados aos entre as unidades.
usuários externos (pacientes externos, acompanhantes, visitantes
e demais usuários que não possuem relação direta com a rotina As análises referentes a essa categoria foram realizadas
operacional dos hospitais), os corredores e acessos destinados com o uso de diferentes cores (para observar as características
aos usuários internos (pacientes internos, acompanhantes, das circulações e da distribuição espacial das internações) e
funcionários, suprimentos e demais fluxos relacionados a cotas na cor vermelha (para medir os percursos da enfermagem
operação que precisam de controle), os corredores destinados e os quartos de internação) sobre as plantas redesenhadas (ver
a ambos os usuários (circulações mistas, onde circulam usuários imagens 4.2 e 4.4).
externos e internos), e os corredores com restrição de acesso
(circulações de unidades com alto risco de contágio e que 4.3.4. Quarta categoria: Segurança Biológica
necessitam de maior controle biológico, vestiários de barreira e
áreas de transferência). Também foi calculado a área quadrada Em relação à segurança biológica, duas unidades de cada
destinada aos corredores, estabelecendo um percentual em projeto foram analisadas: os centros cirúrgicos e as unidades
relação à área construída da edificação. de tratamento intensivo (UTI). Dois aspectos foram investigados
em cada uma das unidades: a configuração físico-funcional e os
Em relação às unidades de internação, foram analisadas principais fluxos.
a quantidade de leitos, a disposição e a distribuição espacial
dos quartos, a posição dos berçários (quando tiver), a posição Foram analisados dois aspectos dos centros cirúrgicos: a
e a quantidade de postos de enfermagem e a localização das disposição dos ambientes e os fluxos de pacientes, funcionários
áreas de apoio. Para ser possível estabelecer uma relação entre e de materiais (sujo e limpo).
a metragem construída e o número de leitos, foi estabelecida uma
base comparativa de dois leitos por quarto. Karman projetava Para as unidades de tratamento intensivo (UTI), também
quartos flexíveis, que podiam comportar, muitas vezes, de um foram analisados dois aspectos: a disposição dos ambientes e
a três leitos. Sendo assim, para normalizar o número de leitos os fluxos de pacientes, funcionários e visitantes.
entre todos os hospitais analisados, considerou-se dois leitos por
quarto. Já para os leitos das unidades de tratamento intensivo As análises referentes a essa categoria foram realizadas
e de tratamento semi-intensivo (que são considerados leitos de com o uso de diferentes cores (para observar as distribuições
Imagem 4.4 internação), o número corresponde exatamente ao apresentado espaciais dos centros cirúrgicos e das unidades de tratamento
Modelo de diagrama de análise das circulações.
nas plantas. intensivo) e com o uso de vetores coloridos (para analisar os
diferentes fluxos) sobre as plantas redesenhadas (ver imagens
Também foram medidos os percursos das equipes de 4.2 e 4.5).
enfermagem (em metros lineares) e a “densidade linear” de cada
unidade. 4.3.5. Quinta categoria: Conforto Físico e Psicológico
Os percursos foram avaliados, em cada projeto, medindo- Foram analisados três aspectos relacionados ao conforto
se a distância entre o posto e o último quarto que a enfermagem físico e psicológico: a configuração dos jardins (dando ênfase
daquele posto atende e a distância entre os quartos mais distantes aos internos), a configuração das lajes rebaixadas e as áreas
que cada posto atende. Essa medição permitiu criar uma base internas destinadas ao convívio de pacientes, acompanhantes,
comparativa das distâncias percorridas pela enfermagem em visitantes e funcionários.
cada unidade.
Os jardins internos estão presentes em praticamente todos
O cálculo da “densidade linear” possibilitou a avaliação das os grandes projetos de Karman. Identificá-los permitiu observar
plantas em relação ao critério de “compactação”. Considerando a relação entre espaços cobertos e descobertos. Quanto maior
Imagem 4.5 que, quanto mais leitos uma unidade tem por metro linear de a oferta de jardins, de acordo com o próprio autor, maior é a
Modelo de diagrama de análise dos fluxos.
corredor, maiores são a “compactação” e o “rendimento de sensação de bem-estar dos usuários.
75
O rebaixamento de trechos das lajes, para a instalação de 4.5. Tabela de relações entre as categorias de análise, os
janelas altas nos miolos dos pavimentos, concorre também para eixos conceituais e os critérios de projetos
gerar mais conforto entre os usuários, uma vez que possibilita
a iluminação e a ventilação naturais (direta ou indireta) de A tabela a seguir apresenta, de forma sintética, a relação
ambientes cujas paredes não fazem divisa com o meio externo. entre as categorias de análise, os eixos conceituais e os principais
critérios de projetos apresentados no livro Iniciação à Arquitetura
Já os espaços de convívio contribuem, e muito, para o bem- Hospitalar, além de uma demonstração das características
estar psicológico dos usuários, principalmente se considerarmos gráficas de cada análise e das escalas empregadas.
que são áreas de descompressão, atualmente muito valorizadas
não só em edificações hospitalares, mas também em empresas
onde os trabalhadores permanecem por longos períodos.
As análises referentes a essa categoria foram realizadas Categoria Eixo de investigação O que foi analisado Exemplos de diagramas de análise
com o uso de diferentes cores (para observar a configuração dos
jardins internos e das áreas de convivência) e com o uso da cor
Agrupamento Eixo 1: agrupamento funcional • Ditribuição das unidades
vermelha (para destacar e medir as alturas das lajes rebaixadas) funcionais no espaço
Funcional Eixo 3: eficiência/racionalização
sobre as plantas e os cortes redesenhados (ver imagem 4.3).
5
78
Imagem 5.1
Estudo dos acessos e das circulações
para uma versão anterior do projeto para o
Instituto Nacional de Câncer e Queimados.
5. ANÁLISES DOS PROJETOS 79
Localizado na cidade de Uberaba, no estado de Minas O projeto foi publicado, até onde se sabe, em três revistas:
Gerais, o Hospital e Maternidade São Domingos foi construído Acrópole (ano 23, nº 237, em agosto de 1961), Hospital de Hoje
por iniciativa das irmãs da Congregação Dominicana Nossa (ano 8, volume 19, 1963) e Hospitais Portugueses (nº 143, em
Senhora de Monteils. Após o encerramento das atividades da maio de 1964).
Santa Casa de Misericórdia de Uberaba, as irmãs não tinham
para onde encaminhar os estudantes da Escola de Enfermagem
Frei Eugênio (fundada pela congregação), fato que suscitou a
necessidade de um novo hospital na cidade.
Imagem 5.2
Hospital e Maternidade São Domingos.
Fotografia de José Moscardi.
Imagem 5.3
Perspectiva Hospital e Maternidade São Domingos.
82
Imagem 5.4 Havia duas construções no lote: uma voltada para a rua
Hospital e Maternidade Frei Paulino, com três pavimentos, onde se localizava a Escola
São Domingos durante a de Enfermagem Frei Eugênio; outra justaposta à divisa de fundos
construção. do lote, sem uso identificado. Ambas as construções foram
mantidas, mas não fizeram parte do projeto arquitetônico.
Imagem 5.5
Hospital e Maternidade São
Domingos durante a construção.
83
84
Imagem 5.8
Fachada do Hospital e Maternidade São Domingos
voltada para a Rua da Constituição.
Fotografia de José Moscardi.
85
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Imagem 5.9
Bloco 02 do Hospital e Maternidade São Domingos.
Fotografia de José Moscardi.
Imagem 5.10
Bloco 01 do Hospital e Maternidade São Domingos.
Fotografia de José Moscardi.
87
88
Na Prancha 10 foram analisados os acessos e as praticamente todas as circulações são mistas e no 1º pavimento,
circulações do térreo e do 1º pavimento do Hospital e Maternidade de ambos os blocos, somente o centro cirúrgico e o centro
São Domingos. obstétrico possuem restrições de acesso.
Todos os demais acessos são realizados pelo térreo. As circulações verticais são realizadas por meio de uma
O pronto-socorro é acessado por uma rampa circular voltada escada, uma rampa e dois elevadores. Ambos os sistemas
para a Rua da Constituição. Já o acesso principal, destinado de circulação vertical são mistos. Ao que parece, as rampas
aos pacientes ambulatoriais, visitantes e acompanhantes (que são preferencialmente utilizadas para o tráfego de pacientes
também pode ser utilizado pelos funcionários) acontece por meio acamados e dos funcionários (considerando que o hall entre a
de um jardim voltado para a rua Frei Paulino (via que também dá rampa e os elevadores fica numa faixa resguardada em relação
acesso à capela). aos acessos externos), enquanto os elevadores e a escada são
mais facilmente acessados pelo público em geral. Os elevadores
As circulações do bloco 01 do pavimento térreo são, em são do tipo “maca-leito” (mais compridos, para o transporte de
sua maioria, mistas. Nelas transitam os pacientes ambulatoriais e pacientes acamados) e possuem portas duplas, o que possibilita
emergenciais, os médicos, equipe de enfermagem e funcionários. o embarque de pacientes por ambos os halls (tanto pelo que fica
As circulações internas ficam reservadas às residências do em frente à rampa, quanto ao que fica em frente à escada).
capelão e médica. Já no bloco 02, onde se encontram o convento
e a capela, as circulações são todas internas, destinadas somente Ao todo, as circulações ocupam uma área de 2.053,34 m²
ao sacerdote e às freiras. (26,25% da área construída). Desse total, 69,24% são destinados
Imagem 5.11
Escada interna.
às circulações mistas.
Fotografia de José Moscardi. As circulações do 1º pavimento do bloco 01 são todas
mistas. Nelas transitam os médicos, enfermagem, funcionários,
pacientes internos, acompanhantes e visitantes. Já no mesmo
pavimento do bloco 02, há a presença da circulação restrita
do centro cirúrgico (que possui maior controle de acesso e só
devem circular os médicos, enfermagem, funcionários da própria
unidade e os pacientes que serão submetidos às cirurgias).
Imagem 5.13
Posto de enfermagem e corredor da
internação do 1º pavimento.
Fotografia de José Moscardi.
103
104
Na Prancha 12 foram analisados os percursos das quartos possuem banheiros individualizados. Os quartos da
internações e as densidades lineares do Hospital e Maternidade maternidade também possuem um berçário descentralizado,
São Domingos. que promove a aproximação entre os recém-nascidos saudáveis
e as mães.
Na unidade localizada no 1º subsolo, há um posto
centralizado, que também faz o controle de acesso. Esse posto Visão geral das internações: A configuração das unidades
atende os 32 leitos do andar. de internação deste projeto pode ser entendida como uma
variação do sistema “duplamente carregado”, já explicado
Dois percursos foram medidos: a distância do posto até o anteriormente. Ao invés de um corredor central, com quartos em
quarto mais distante e a distância entre os quartos que o posto ambos os lados, há dois corredores intercomunicados e uma
atende. Ambos foram medidos em metros lineares, considerando faixa central com os postos de enfermagem e os ambientes de
da saída do posto até a porta dos quartos. apoio.
O maior percurso posto-a-quarto é de 15,00 metros; o de A internação localizada no 1º pavimento possui três postos
quarto-a-quarto é de 26,55 metros. de enfermagem, que dividem os leitos para diminuir o percurso
das enfermeiras. Considerando a divisão analisada, o maior
O corredor mede 32,30 metros (lado maior). Considerando número de leitos atendido por um posto é de 40 leitos (10 a mais
que essa unidade possui 32 leitos, a “Densidade Linear”, obtida que o preconizado atualmente na RDC-50) e o maior percurso
pela divisão do número de leitos pela metragem linear do posto-a-quarto é de 14,85 metros.
corredor, é de 0,99 leito por metro linear.
Na prancha 13 foram analisados a distribuição espacial e Visão geral do centro cirúrgico: Apesar de separar o
os principais fluxos do centro cirúrgico, do centro obstétrico e da centro obstétrico do centro cirúrgico, as duas unidades foram
central de material esterilizado do Hospital e Maternidade São posicionadas uma próxima da outra, separadas somente pela
Domingos. As unidades estão localizadas no 1º pavimento do central de material esterilizado. Essa, por sua vez, ocupa uma
bloco 02. posição estratégica para ter uma intensa relação com as duas
unidades contíguas, haja vista a comunicação direta entre os
O centro cirúrgico possui 275,04 m² de área construída. corredores e as salas de cirurgia e de parto com a área de preparo
É composto por uma sala de pequena cirurgia, uma sala para de materiais para serem esterilizados. Porém, não há ainda o
exames de cistoscopia, uma sala de tratamento de fraturas e conceito de se desenhar um fluxo contínuo que permita a entrada
três salas de cirurgias. As cubas de escovação das mãos de material sujo, o preparo, a esterilização, a armazenagem e a
ficam localizadas em corredores entre as salas. Para efeito de distribuição de material esterilizado sem cruzamentos durante o
comparação, foram consideradas seis salas de cirurgia, número processo. Outra questão interessante de observar é o vestiário
que perfaz um total de 22 leitos por sala. dos médicos ter duas portas, uma para fora e outra para
dentro da antessala do centro cirúrgico. Solução que pode ser
O centro obstétrico possui 183,98 m² de área construída. entendida como um ensaio dos vestiários de barreira (que ficam
É composto por três salas de pré-parto (denominadas no projeto posicionados entre os corredores externos e internos das áreas
como “trabalho de parto”), um posto de enfermagem, duas salas críticas dos hospitais contemporâneos).
de parto e uma sala de estar para a parteira.
Imagem 5.15
Unidade de Assistência Intensiva.
Fotografia de José Moscardi.
109
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Imagem 5.16
Posto de enfermagem do 1º subsolo
iluminado pelo vazio interno.
Fotografia de José Moscardi.
113
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Imagem 5.17
Quarto de internação com janela
sobre laje rebaixada.
Fotografia de José Moscardi.
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Imagem 5.19
Solário localizado no volume de ligação entre os
blocos 01 e 02.
119
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5.2. ANÁLISE: HOSPITAL DA GUARNIÇÃO DO GALEÃO
Imagem 5.22
Hospital da Guarnição do Galeão (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
122
O projeto foi implantado dentro da Base Aérea do Galeão, reproduzida nos redesenhos. Foram mantidas as posições e as
próximo ao Aeroporto Internacional Tom Jobim. numerações indicadas no projeto original.
O projeto redesenhado corresponde ao entregue em 1976 O sistema construtivo é um aspecto bastante instigante
(já com as revisões de Karman para a retomada das obras). deste projeto. A estrutura das novas construções do Bloco
O conjunto arquitetônico é composto, basicamente, por dois 01 é formada por uma extensa grelha de vigas vierendeel de
blocos: um com três e outro com quatro pavimentos. concreto armado distantes 3,60 metros umas das outras, tanto
no sentido longitudinal quanto no transversal. A grelha, por sua
O bloco principal, denominado a partir de agora como vez, é sustentada por pilares de seção circular, distantes 7,20
Bloco 01, é majoritariamente térreo e formado por diversos metros uns dos outros. A estrutura foi pensada para permitir a
volumes, sendo três deles existentes. A disposição desses execução de lajes apoiadas e penduradas, facilitar as futuras
volumes, separados por jardins, quase forma um quadrado, expansões e permitir que as instalações fossem executadas
com dimensões aproximadas de 111,80 m por 110,40 m. Um sem interferências e de forma multidirecional (necessidades de
dos edifícios existentes, a noroeste do conjunto, possui dois desvios e abertura de buracos em vigas e lajes).
pavimentos (térreo mais um), enquanto uma porção a leste
possui um subsolo semienterrado. A área total construída é de 22.328,17 m².
Imagem 5.23
Estudo para os jardins internos do Hospital da
Guarnição do Galeão.
Imagem 5.24
Perspectiva do Hospital da Guarnição do Galeão.
125
126
Imagem 5.25
Maquete do Hospital da Guarnição do Galeão.
Imagem 5.26
Hospital da Guarnição do Galeão durante a construção.
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Imagem 5.27
Jardim interno do Hospital da Guarnição do Galeão (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
Imagem 5.28
Bloco das internações do Hospital da Guarnição do Galeão (foto atual).
Fotogradia de Andrés Otero.
129
130
Imagem 5.29
Planta esquemática de setorização do
conjunto arquitetônico.
135
136
Ao se observar a distribuição funcional, nota-se que o Os percursos são maiores em relação aos hospitais compactos,
projeto propõe a criação de unidades funcionais independentes. porém a aproximação de unidades afins (como o pronto-socorro,
a central de material esterilizado e o centro cirúrgico) encurta os
As unidades que se relacionam com o público externo percursos críticos, privilegiando o deslocamento dos pacientes.
(ambulatório, administração, pronto-socorro, fisioterapia, A posição do bloco das internações, paralela ao bloco principal,
radiologia e o laboratório de análises clínicas) foram posicionadas facilita a criação de mais de um eixo de conexões (no caso
no térreo, a nordeste do conjunto. Essas unidades possuem deste projeto, três conjuntos formados por uma passarela e duas
acessos independentes: entrada exclusiva para os pacientes rampas cada), diminuindo, assim, as distâncias percorridas
externos e outra, do lado oposto, exclusiva para os funcionários pelos funcionários.
(gerando sempre um acesso interno e outro externo).
Imagem 5.30
Jardim interno que poderia ser
ocupado com futuras ampliações.
139
140
Imagem 5.31
Tubulação instalada por entre os vazios das
vigas. Vista a partir do 1º subsolo.
141
142
Imagem 5.33
Eixo de circulação interna (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
145
146
Na prancha 34 foram analisados os percursos das Visão geral das internações: a configuração das
internações e as densidades lineares do Hospital da Guarnição internações deste projeto pode ser entendida como uma unidade
do Galeão. “duplamente carregada”, composta por um corredor central e
quartos dos dois lados.
Na unidade localizada no 1º subsolo, há sete postos
descentralizados, posicionados ao longo do corredor. A Foi proposta uma descentralização radical dos postos
descentralização buscou diminuir os percursos da enfermagem. de enfermagem. Um posto atenderia no máximo 16 leitos.
Cada um dos postos atende até oito quartos (ou 16 leitos). Essa solução reduz drasticamente o percurso da enfermagem,
tornando o trabalho mais eficiente e menos desgastante.
Dois percursos foram medidos: a distância do posto até o
quarto mais distante e a distância entre os quartos que o posto
atende. Ambos foram medidos em metros lineares, considerando
da saída do posto até a porta dos quartos.
Na prancha 35 foram analisados a distribuição espacial Visão geral do centro cirúrgico: o centro cirúrgico e
e os principais fluxos do centro cirúrgico, do centro obstétrico e
o centro obstétrico formam praticamente a mesma unidade.
da central de material esterilizado do Hospital da Guarnição do Possuem acessos independentes, mas os corredores estão
Galeão. As unidades estão localizadas no pavimento térreo do ligados internamente e compartilham duas salas de cirurgia. A
Bloco 01. central de material esterilizado foi posicionada ao lado do centro
cirúrgico. As duas unidades possuem comunicação por guichês
O centro cirúrgico possui 581,46 m² de área construída. para a retirada de material limpo e a entrega de material sujo.
É composto por uma sala de transferência de pacientes, três
vestiários de barreira, uma sala de recuperação pós-anestésica, Nota-se a preocupação de Karman com o controle
conforto médico e seis salas de cirurgia. As cubas de escovação biológico ao projetar os vestiários de barreira (que impedem os
das mãos ficam localizadas ao longo dos corredores, próximas cirurgiões e auxiliares de acessarem diretamente a unidade sem
às salas de cirurgia. antes se paramentarem) e a área de transferência de pacientes,
que trocam de macas antes de adentrarem a unidade (as macas
Para efeito de comparação, esse hospital possui 37,5 de fora da unidade não entram, são usadas somente macas
leitos por sala de cirurgia. internas).
O centro obstétrico possui 120,96 m² de área construída. É Já a central de material esterilizado possui acesso de
composto por três salas de pré-parto, um posto de enfermagem funcionários independente, fora do centro cirúrgico. A recepção
e uma sala de parto com visor de observação. Duas salas do do material sujo ocorre por guichês específicos e a devolução
centro cirúrgico podem ser utilizadas pelo centro obstétrico do material limpo por guichês diferentes. Dentro da unidade, não
(salas compartilhadas). há um fluxo contínuo de trabalho, sendo que o material que está
sendo preparado cruza com o material esterilizado.
A central de material esterilizado possui 189,00 m² de área
construída e fica localizada ao lado do centro cirúrgico, com
comunicação direta por meio de guichês localizados no corredor
restrito (interno ao centro cirúrgico).
Imagem 5.37
Jardim entre os blocos 01 e 02 (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
157
158
Imagem 5.38
Corredor da internação do
2º pavimento do Bloco 02.
163
164
Imagem 5.39
Perspectiva do Hospital de Nunoa,
em Santiago do Chile (não construído).
Imagem 5.40
Perspectiva do Hospital Geral de Babahoyo,
em Quevedo, Equador (não construído).
171
Imagem 5.41
Foto aérea do
Instituto de Câncer e Queimados.
172
Imagem 5.42
Vista do Bloco 02 a partir da marquise de acesso do pronto-socorro.
173
174
Imagem 5.45
Elevação noroeste do Instituto Nacional de
Câncer e Queimados.
Imagem 5.46
Elevação nordeste do Instituto Nacional de
Câncer e Queimados.
177
178
Imagem 5.47
Vista do acesso principal do Instituto
Nacional de Câncer e Queimados.
Imagem 5.48
Vista do Bloco 02 do Instituto
Nacional de Câncer e Queimados.
179
180
Imagem 5.49
Vista do Bloco 02 e das rampas de ligação (foto atual).
Fotografia de Federico Cairoli.
Imagem 5.50
Vista posterior do Bloco 02 (foto atual).
Fotografia de Federico Cairoli.
185
186
Ao se observar a distribuição funcional, nota-se que o Visão geral do agrupamento funcional: a distribuição
projeto buscou criar unidades funcionais autônomas. do programa arquitetônico propõe a criação de unidades
funcionais autônomas, cujos ambientes estejam agrupados em
As unidades que se relacionam com o público externo volumes independentes, dispersos ao longo do Bloco 01. Isso
(ambulatório, administração, pronto-socorro, fisioterapia, possibilita que cada unidade estabeleça seus fluxos e rotinas,
radiologia, o laboratório de análises clínicas, a radioterapia gerando flexibilidade operacional. A aproximação de unidades
e os auditórios) foram posicionadas no térreo, a sudoeste do afins (como o centro cirúrgico, a central de material esterilizado
conjunto. Essas unidades possuem acessos independentes: e a UTI) demonstra a preocupação em encurtar os percursos
entrada exclusiva para os pacientes externos e outra, do lado críticos. A posição do bloco das internações, paralelo ao bloco
oposto, exclusiva para os funcionários (gerando sempre um principal, facilita a criação de mais de um eixo de conexão (no
acesso interno e outro externo). caso deste projeto, dois conjuntos de meias rampas), situação
que diminui as distâncias percorridas pelos funcionários.
A posição de cada unidade deve ser destacada:
considerando o fluxo do paciente externo (da chegada até
o atendimento), a primeira unidade é a administração (onde
se localiza a recepção principal), depois o ambulatório, a
radiologia, os laboratórios, a radioterapia, a fisioterapia, os
auditórios e a lanchonete. O pronto-socorro se localiza próximo
à administração, mas em sentido oposto ao ambulatório. Essa
disposição, considerando o percurso do público externo, cria
certa privacidade para o paciente que precisa de atendimento
urgente, separando sua chegada do paciente ambulatorial.
Imagem 5.51
Jardim interno entre blocos que poderia se ocupado com
futuras ampliações (foto atual).
Fotografia de Federico Cairoli.
189
190
Imagem 5.52
Corte longitudinal do
pronto-socorro.
191
192
Na Prancha 56 foram analisados os acessos e as Ao todo, as circulações ocupam uma área de 5.464,60 m²
circulações do 1º pavimento do Instituto Nacional de Câncer e (37,55% da área construída).
Queimados.
Imagem 5.58
Corredor da unidade de internação do 1º pavimento.
199
200
Na prancha 58 foram analisados os percursos das São dois tipos de quartos diferentes: um com antecâmara
internações e as densidades lineares do Instituto Nacional de para permitir o isolamento dos pacientes e a paramentação
Câncer e Queimados. das equipes de cuidados (necessário para os pacientes com
queimaduras de grau elevado) e outro sem. Os quartos com
Na unidade localizada no pavimento térreo, a ala noroeste antecâmara ficam no final das alas noroestes dos dois andares.
possui um posto, que atende oito quartos (16 leitos). Na ala O comprimento (de eixo a eixo das paredes) do quarto com
central há quatro postos, cada um atende oito quartos (16 leitos). antecâmara é de 4,15 metros, enquanto o sem antecâmara
Na ala sudeste há um posto, que atende cinco quartos (10 leitos). mede 5,05 metros. Ambos os tipos de quartos possuem larguras
Os postos descentralizados estão posicionados ao longo do iguais, medindo 3,60 metros (de eixo a eixo das paredes). Todos
corredor. A descentralização buscou diminuir os percursos da os quartos possuem banheiro individualizados.
enfermagem.
Visão geral das internações: a configuração das
Dois percursos foram medidos: a distância do posto até internações deste projeto pode ser entendida como uma unidade
o quarto mais distante e aquela entre os quartos que o posto “duplamente carregada”, composta por um corredor central e
atende. Ambos foram medidos em metros lineares, considerando quartos dos dois lados.
da saída do posto até a porta dos quartos.
Foi proposta uma descentralização radical dos postos
O maior percurso posto-a-quarto é de 10,10 metros; o de enfermagem. Há uma pequena variação no número de leitos
quarto-a-quarto é de 13,40 metros. Porém, o percurso médio atendida por cada posto, porém, no geral, cada um atenderia no
(que mais se repete) é de 4,30 metros posto-a-quarto e de 8,60 máximo 16 leitos. Essa solução reduz drasticamente o percurso
metros quarto-a-quarto. da enfermagem, tornando o trabalho mais eficiente e menos
desgastante.
O corredor mede 107,85 metros. Considerando que essa
unidade possui 90 leitos, a “Densidade Linear” da unidade,
obtida pela divisão do número de leitos pela metragem linear do
corredor, é de 0,83 leito por metro linear.
Na prancha 59 foram analisados a distribuição espacial e Visão geral: O centro cirúrgico e a central de material
os principais fluxos do centro cirúrgico e da central de material esterilizado formam praticamente a mesma unidade. Possuem
esterilizado do Instituto Nacional de Câncer e Queimados. As acessos independentes, mas há a comunicação interna para se
unidades estão localizadas no pavimento térreo do Bloco 01. entregar e retirar o material por meio de portas-guichê.
O centro cirúrgico possui 520,36 m² de área construída. Os pacientes trocam de maca e os funcionários precisam
É composto por uma sala de transferência de pacientes, dois passar obrigatoriamente pelos vestiários para acessarem o
vestiários de barreira (masculino e feminino), uma sala de centro cirúrgico. O acesso da central de material esterilizado
recuperação pós-anestésica, conforto médico, conforto da ocorre pelo lado de fora, pelo corredor interno do hospital. Isso
enfermagem e quatro salas de cirurgia. As cubas para escovação faz com que os funcionários da central de material esterilizado
das mãos ficavam localizadas em ambientes contíguos às salas não circulem por dentro do corredor restrito. Essas barreiras
de cirurgia (próximo às portas), abertos para os corredores contribuem com a segurança biológica interna das unidades.
internos da unidade.
Outro aspecto importante de se destacar é a redução
Para efeito de comparação, esse hospital possui 48 leitos dos cruzamentos do material sujo e limpo na central de material
por sala de cirurgia. esterilizado. A unidade foi separada em duas zonas, uma
suja e outra limpa. O material sujo é recebido pelo expurgo e
A central de material esterilizado possui 177,31 m² de área só é entregue para a esterilização depois de passar por uma
construída e fica localizada ao lado do centro cirúrgico, com lavagem preliminar. O impedimento do trânsito de pessoas entre
comunicação direta por meio de guichês localizados no corredor as duas zonas também colabora para a diminuição do risco de
restrito (interno ao centro cirúrgico). contaminação cruzada do material.
Imagem 5.59
Vista para os boxes individuais da UTI.
205
206
Imagem 5.60
Jardim entre os blocos 01 e 02.
207
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Imagem 5.61
Detalhe do lanternim.
209
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Imagem 5.62
Lajes rebaixadas na sala de mecanoterapia (unidade de fisioterapia).
211
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Imagem 5.63
Marquise da entrada principal (foto atual).
Fotografia de Federico Cairoli.
Imagem 5.64
Vista interna da recepção principal.
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Imagem 5.65
Vista posterior do Bloco 02 - corredor externo e área de
convivência dos visitantes e acompanhantes (foto atual).
Fotografia de Federico Cairoli.
217
218
5.4. ANÁLISE: HOSPITAL UNIMED SOROCABA
Imagem 5.68
Foto aérea do Hospital
Unimed Sorocaba.
220
Imagem 5.70
Maquete do Hospital Unimed Sorocaba.
223
224
Ao se observar a distribuição funcional, nota-se que o Sendo assim, pode-se concluir que há três faixas
projeto apresenta boa parte das unidades funcionais implantadas programáticas: uma destinada às unidades que se relacionam
em blocos autônomos, separados uns dos outros. tanto com os pacientes externos quanto com os usuários internos,
uma intermediária que se relaciona com o atendimento ao
As unidades que se relacionam com o público externo paciente interno e outra destinada às unidades de apoio técnico-
(administração, hospital-dia, pronto-socorro, diagnóstico por logístico, que se relacionam somente com as rotinas internas do
imagem e o laboratório de análises clínicas) foram posicionadas hospital e que não devem ser acessadas pelo público externo.
a sudoeste do conjunto. Essas unidades possuem acessos
independentes: entrada exclusiva para os pacientes externos e Visão geral do agrupamento funcional: a distribuição do
outra, do lado oposto, exclusiva para os funcionários (gerando programa arquitetônico propõe a criação de unidades funcionais
sempre um acesso interno e outro externo). autônomas em blocos independentes. Isso possibilita que cada
unidade possa operar de forma independente, com fluxos e rotinas
A UTI também foi posicionada a sudoeste do conjunto, específicas, gerando flexibilidade operacional. A aproximação
para facilitar o acesso dos visitantes. O posicionamento da de unidades afins (como o centro cirúrgico, UTI e internação)
unidade não prejudicou o acesso interno de pacientes e de demonstra a preocupação em encurtar os percursos críticos. A
funcionários. posição do bloco das internações, paralela aos demais, facilita a
criação de mais de um eixo de conexão (no caso deste projeto,
O bloco da internação foi posicionado paralelamente aos três corredores) e também diminui as distâncias percorridas
outros, de forma a possibilitar um acesso independente para pelos funcionários.
o público externo e dois acessos internos (um que conecta as
unidades médico-hospitalares e outro que conecta as unidades
de apoio técnico-logístico).
Imagem 5.71
Jardim interno que poderá receber
futuras ampliações (foto atual).
Fotografia de Manuel Sá.
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Imagem 5.72
Corte transversal da UTI.
231
232
Na Prancha 73 foi analisada a configuração das circulações a implantação de catracas e sistemas de controle na recepção
e dos acessos do Hospital Unimed Sorocaba. principal, delegando esse controle para cada unidade funcional.
Os internos são controlados e só pessoas autorizadas podem
O projeto apresenta circulações externas, mistas, internas acessar.
e restritas.
A metragem das circulações internas é maior que a das
Os pacientes externos transitam por um eixo exclusivo, circulações externas. As internas possuem 1.493,27 m² e as
localizado na extremidade sudoeste. Esse eixo se inicia na externas 884,72 m².
recepção principal (Bloco 01) e culmina no Bloco 07 (internações).
A circulação externa conecta as unidades que se relacionam Ao todo, as circulações ocupam uma área de 3.039,19 m²
com os pacientes externos, com os acompanhantes e visitantes (29,57% da área construída).
(administração, diagnóstico por imagem, laboratórios, UTI e
internações).
Na Prancha 74 foram analisados a distribuição espacial e comprimento de 5,40 metros (de eixo a eixo). Todos os quartos
os percursos das internações do Hospital Unimed Sorocaba. possuem largura de 3,60 metros (de eixo a eixo) e banheiro
privativo.
A unidade é composta por duas alas: uma maior (noroeste)
e outra menor (sudeste). A ala noroeste possui 32 quartos Visão geral das internações: a configuração da unidade de
com um leito cada (sem distinção entre maternidade e demais internação deste projeto pode ser entendida como uma variação
pacientes), dois postos de enfermagem e ambientes de apoio. do sistema “duplamente carregado”, com quartos nas fachadas
A ala sudeste possui 16 quartos com três leitos cada, um posto opostas, dois corredores intercomunicados e uma faixa central
de enfermagem e ambientes de apoio. O berçário, o lactário, a de serviços e apoio.
chefia de enfermagem e a comissão de controle das infecções
hospitalares (CCIH) ficam posicionados entre as duas alas. São três postos de enfermagem, que dividem os cuidados
dos pacientes para diminuir o percurso da enfermagem.
Ao todo são 48 quartos e 96 leitos (considerando Considerando a divisão analisada, o maior número de leitos
a normalização proposta no capítulo 4 para possibilitar a atendido por um posto é de 32 leitos (dois a mais que o
comparação da capacidade de leitos). preconizado atualmente na RDC-50).
Na prancha 76 foram analisados os principais fluxos do O acesso da central de material esterilizado acontece
centro cirúrgico, do centro obstétrico e da central de material de duas formas: o expurgo (área suja) é acessado por fora do
esterilizado do Hospital Unimed Sorocaba. centro cirúrgico, por uma porta voltada para o corredor interno do
hospital; o depósito de material esterilizado, a área de esterilização
No centro cirúrgico, o acesso de pacientes ocorre por uma e a área de preparo (áreas limpas) são acessadas por dentro
sala exclusiva de transferência, ao lado da secretaria e próxima do centro cirúrgico, obrigando os funcionários a passarem pelo
da recuperação pós-anestésica. O acesso de funcionários ocorre vestiário de barreira, realizando, assim, a paramentação.
através de vestiários de barreira, que possuem portas para fora
da unidade e para dentro do corredor restrito (interno ao centro Visão geral do centro cirúrgico: O centro cirúrgico, o
cirúrgico). centro obstétrico e a central de material esterilizado formam
praticamente a mesma unidade. Possuem alguns acessos
O acesso do centro obstétrico ocorre por meio de um independentes e outros compartilhados.
corredor exclusivo, localizado ao lado do acesso ao centro
cirúrgico. Os pacientes acessam por uma sala de acolhimento, Para acessar as áreas críticas (onde ocorrem as cirurgias
localizada ao lado da secretaria. Os médicos e funcionários e os partos), os pacientes trocam de maca e os funcionários
acessam pelo corredor da unidade. Não há áreas de precisam passar obrigatoriamente pelos vestiários de barreira.
paramentação. O acesso da área suja da central de material esterilizado ocorre
pelo corredor interno do hospital e o acesso das áreas limpas
Os partos ocorrem dentro do centro cirúrgico. Há uma ocorre por dentro do centro cirúrgico. Isso faz com que os
área destinada ao centro obstétrico, com duas salas de parto, funcionários que trabalham na área suja da central de material
neonatologia e um posto de enfermagem. O acesso das gestantes esterilizado não circulem por dentro do corredor restrito. Essas
é realizado pela mesma área de transferência dos demais barreiras contribuem para a segurança biológica interna das
pacientes, e o dos médicos, funcionários e acompanhantes é unidades.
realizado pelos vestiários de barreira.
Outro aspecto importante de se destacar é a eliminação
A Central de material esterilizado possui quatro áreas dos cruzamentos do material na central de material esterilizado.
principais: o expurgo (área suja), a área de preparo dos kits para A unidade foi separada em duas zonas: suja e limpa. O material
esterilização, a área das autoclaves (onde ocorre a esterilização sujo é recebido pelo expurgo e só é entregue para a esterilização
dos instrumentos) e o depósito de material esterilizado (áreas depois de passar por uma lavagem preliminar. A organização
limpas). O material sujo é recebido pelo expurgo por guichês espacial, o impedimento do trânsito de pessoas entre as duas
específicos, um voltado para o corredor restrito (interno ao centro zonas e as barreiras físicas criam um fluxo contínuo, sem
cirúrgico) e outro voltado para o corredor interno do hospital. cruzamentos e com baixo risco de contaminações por cruzamento
Após a recepção e a lavagem preliminar, o material (ainda entre materiais sujos e limpos.
contaminado) é entregue para a área de preparo por meio de
guichês. Não há portas entre o expurgo e a área de preparo que
permita a passagem de funcionários. O material é preparado
e depois esterilizado em uma sala contígua, onde ficam as
autoclaves. Após a esterilização, o material é armazenado em
uma outra sala, que possui comunicação (por portas) com as
salas de preparo de material e das autoclaves. O material limpo
é entregue por meio de guichês específicos, localizados um para
o corredor restrito (interno ao centro cirúrgico) e outro para o
corredor interno do hospital.
239
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Imagem 5.75
Elementos de fechamento e proteção solar (foto atual).
Fotografia de Manuel Sá.
Imagem 5.76
Vista do jardim entre os blocos 06 e 07 (foto atual).
Fotografia de Manuel Sá.
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Imagem 5.78
Posto de enfermagem iluminado por janelas altas
instaladas sobre laje rebaixada.
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Imagem 5.79
Vista da rampa externa de automóveis (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
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Imagem 5.80
Imagem frontal do Centro Médico
Hospitalar Vila Velha (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
252
O projeto consiste em um único bloco de nove pavimentos. O hospital foi implantado em um lote de 18.359,57 m²,
São três volumes horizontais sobrepostos e três volumes com acesso pelas ruas Moema e Doralice Queiroz.
verticais que conectam todo o conjunto. Os volumes horizontais
são deslocados no sentido vertical, criando dois andares A área total construída é de 20.051,78 m².
parcialmente vazios.
Imagem 5.83
Vista frontal do Centro Médico
Hospitalar Vila Velha (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
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Imagem 5.86
Vista posterior do Centro Médico
Hospitalar Vila Velha (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
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Imagem 5.87
Espaço técnico do 4º pavimento (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
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Na Prancha 93 foram analisadas as circulações dos 4º, 5º, aproximadas. As internas medem 2.230,00 m², as externas
6º, 7º e 8º pavimentos do Centro Médico Hospitalar Vila Velha. medem 1.530,31 m² e as mistas, 1.429,01 m².
No 4º pavimento há apenas circulações internas e restritas. Ao todo, as circulações ocupam uma área de 5.411,06 m²
(26,98% da área construída).
Nos 5º, 6º, 7º e 8º pavimentos as circulações se desenvolvem
de forma semelhante, possuindo circulações internas, externas e
mistas. As circulações internas são formadas, basicamente, pelo
hall de circulação vertical interno (onde se deslocam apenas
pacientes internados e funcionários). As circulações externas
são compostas pelo hall de circulação vertical e pelas salas de
espera do público externo (sempre controladas por recepções
e secretarias). As circulações mistas são compostas pelos
corredores centrais dos pavimentos.
Imagem 5.89
Posto de enfermagem (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
277
278
Na prancha 97 foram analisados os principais fluxos do enviado para o 3º pavimento por meio de um monta-carga limpo,
centro cirúrgico, do centro obstétrico e da central de material para ser distribuído pelo depósito inferior.
esterilizado do Centro Médico Vila Velha.
O acesso da central de material esterilizado acontece de
O centro cirúrgico possui ambientes em dois andares. duas formas: pelos vestiários de barreira do centro cirúrgico, para
O acesso de pacientes ocorre pelo 3º pavimento, por uma sala acessarem o expurgo e o depósito do 3º pavimento, e por dois
exclusiva de transferência, ao lado da secretaria e próxima vestiários de barreira (um sujo e outro limpo), para acessarem as
da recuperação pós-anestésica. O acesso de funcionários áreas do 4º pavimento.
ocorre pelo 4º pavimento, através de vestiários de barreira, que
possuem portas para fora e para dentro da unidade. Mesmo com Visão geral: o centro cirúrgico e o centro obstétrico formam
ambientes em andares distintos, todo o perímetro da unidade é praticamente a mesma unidade. Possuem alguns acessos
controlado. Não há acessos sem barreiras. independentes e outros compartilhados. Já a central de material
esterilizado possui ambientes internos e externos ao centro
Os partos ocorrem dentro do centro cirúrgico. Há uma área cirúrgico, guardando, assim, uma intensa relação operacional.
destinada ao centro obstétrico, com um posto de enfermagem,
uma sala de conforto das parteiras, duas salas de parto e uma Para acessar as áreas críticas (onde ocorrem as cirurgias
sala de apoio para a neonatologia. O acesso das gestantes e os partos), os pacientes trocam de maca e os funcionários
ocorre pelas salas de acolhimento, pré-parto e trabalho de parto. precisam passar obrigatoriamente pelos vestiários de barreira. O
As salas se abrem para fora e para dentro do centro cirúrgico. A acesso às áreas suja e limpa da central de material esterilizado
enfermagem faz o controle. Já o acesso dos funcionários ocorre ocorre também por vestiários de barreiras. A disposição
pelos vestiários de barreira do centro cirúrgico, localizados no 4º dos ambientes e a criação de vestiários exclusivos diminui a
pavimento. necessidade de os funcionários que trabalham na central de
material esterilizado circularem por dentro do corredor restrito.
A central de material esterilizado também possui Essas barreiras contribuem com a segurança biológica interna
ambientes nos dois pavimentos. No 3º pavimento, interno ao das unidades.
centro cirúrgico, há um expurgo para a recepção do material
sujo e um depósito para dispensação de material limpo, ambos Outro aspecto importante de se destacar é a eliminação
segregados (sem nenhuma comunicação interna). No 4º dos cruzamentos do material sujo e limpo na central de material
pavimento, são quatro áreas principais: o expurgo (área suja), a esterilizado. A unidade foi separada em duas zonas, uma
área de preparo dos kits para esterilização, a área das autoclaves suja e outra limpa. O material sujo é recebido pelo expurgo e
(onde ocorre a esterilização dos instrumentos) e o depósito de só é entregue para a esterilização depois de passar por uma
material esterilizado (áreas limpas). O material sujo é recebido lavagem preliminar, sem cruzar com o limpo durante o processo.
pelos dois expurgos por guichês específicos, no 3º pavimento A organização espacial, o impedimento do trânsito de pessoas
voltado para o corredor restrito (interno ao centro cirúrgico) e entre as duas zonas e as barreiras físicas colaboram para a
no 4º pavimento voltado para o corredor interno do hospital. O diminuição do risco de contaminação cruzada do material.
material sujo recebido no 3º pavimento passa por uma lavagem
preliminar e é transportado para o expurgo no 4º pavimento. O
material contaminado do hospital é recebido pelo expurgo no 4º
pavimento. Após passar por uma lavagem preliminar, o material
(ainda contaminado) é entregue para a área de preparo por
meio de guichês. Não há portas entre o expurgo e a área de
preparo. O material é preparado e depois esterilizado em uma
sala contígua, onde ficam as autoclaves. Após a esterilização, o
material é armazenado em uma outra sala, onde é distribuído por
meio de um guichê voltado para o corredor interno do hospital ou
283
284
Na prancha 98 foi analisada a distribuição espacial da apoio ficam posicionados em ambas as fachadas longitudinais
unidade de terapia intensiva (UTI) e da unidade de terapia semi- do andar, gerando um corredor central. A unidade possui 32
intensiva do Centro Médico Hospitalar Vila Velha. leitos.
Imagem 5.91
Hall de acesso do 1º pavimento (foto atual).
Fotografia de Andrés Otero.
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6
296
Imagem 6.1
Desenho esquemático da organização das circulações em
edifícios hospitalares desenvolvido por Jarbas Karman.
6. AS ESTRATÉGIAS PROJETUAIS DE JARBAS KARMAN 297
Após a análise de cinco projetos arquitetônicos “Conceito que desempenha um papel importante
desenvolvidos por Jarbas Karman, foi possível estabelecer na concepção e na atualização de instituições
paralelos entre as soluções projetuais pensadas para cada uma de saúde; no ordenamento funcional e na
das cinco categorias previamente definidas. aglutinação racional e lógica de componentes e
afins; na interação e nos inter-relacionamentos
A primeira categoria trata do agrupamento funcional, a qualitativos e quantitativos; na mais-valia
segunda da flexibilidade física das construções, a terceira da posicional e proximal de elementos distância/
eficiência operacional, a quarta da segurança biológica, e a urgência/prioridade/necessidade/peculiaridade
quinta do conforto físico e psicológico dos usuários. dependente; na otimização de fatores, utilização
de custo/benefício, na potencialização de vetores
O objetivo desses paralelos é discutir as semelhanças de correlacionamento funcional de produção e
e diferenças das soluções aplicadas em cada projeto, de recursos humanos. É um conceito introduzido
estabelecendo, assim, as estratégias projetuais do autor. no planejamento hospitalar pelo arquiteto Jarbas
Karman.” (Góes, 2011, p. 49).
6.1 Agrupamento funcional
O primeiro conceito foi tratado por Karman de maneira
O hospital possui um dos mais complexos programas indireta em seu livro. Pode-se dizer que a aplicação dos critérios
físico-funcionais dentre os edifícios urbanos. O agrupamento de “relação funcional de nível” e de “prioridade de percurso”
dos setores deve levar em consideração uma série de fatores (descritos no Capítulo 4 desta dissertação) colabora para uma
tecnológicos e relacionados aos procedimentos médicos e a organização funcional mais eficiente e produtiva.
gestão hospitalar.
O segundo conceito, como citado por Góes, foi
Sobre esse fato, Ronald de Góes afirma que o hospital é: introduzido por Karman entre o final do século XIX e início do XX.
O conceito de “valência” não possui um texto que estabeleça
“[...] um edifício multifacetado, onde interagem suas bases e sua aplicação. Estudos recentes do Instituto de
relações diversas de alta tecnologia e refinados Pesquisas Hospitalares Arquiteto Jarbas Karman - IPH apontam
processos de atuação profissional (atendimento que esse conceito pode ser a evolução de outro, também não
médico e serviços complementares) com documentado, chamado “Ideal Centrado e Real Posicionado”.
outras de características industriais (lavanderia, Há diapositivos utilizados em aulas e palestras que contêm
serviços de nutrição, transportes, etc.).” (Góes, desenhos e títulos relacionados a ambos os conceitos. Porém,
2011, p. 47). por não haver melhores explanações e publicações sobre os
assuntos, esses conceitos não serão discutidos neste trabalho.
Ainda discorrendo sobre o programa, Góes descreve
cinco conceitos, sendo que dois se referem diretamente ao Mesmo que os conceitos mais recentes ainda careçam de
agrupamento funcional: a “contiguidade” e a “valência”. mais pesquisas, é possível se aproximar das ideias de Karman
acerca do agrupamento das unidades funcionais quando afirma
Sobre a contiguidade, Góes explica: que o hospital é “constituído, ao mesmo tempo, de partes
estreitamente interligadas e dificilmente dissociáveis e de partes
“Conceito pelo qual a anatomia do edifício independentes e dificilmente agrupáveis” (Karman, 1972, p. 12).
hospitalar organiza os percursos, distâncias
e relações entre setores e unidades ou Não há explicações no livro Iniciação à Arquitetura
departamentos”. (Góes, 2011, p. 48). Hospitalar que apontem quais unidades devam ser agrupadas
ou aproximadas e quais devam ser afastadas.
Já sobre a “valência”, Góes descreve:
A primeira observação que pode ser feita é sobre como
Imagem 6.2
Karman foi delineando, com o tempo, unidades funcionais Organização funcional dos hospitais verticais.
Desenho sem escala.
298
autônomas, com basicamente um acesso externo (quando as No Centro Médico Hospitalar Vila Velha, estão localizadas,
unidades atendem os pacientes externos) e um acesso interno. principalmente, nos dois primeiros pisos.
No projeto do Hospital e Maternidade São Domingos a No Hospital da Guarnição do Galeão, no Instituto Nacional
distribuição funcional não configura ambientes autônomos. As de Câncer e Queimados e no Hospital da Unimed de Sorocaba,
áreas de atendimento dos pacientes externos foram distribuídas as unidades que atendem os pacientes externos estão numa
no pavimento térreo do Bloco 01, ao longo de dois corredores mesma faixa programática.
intercomunicados, obrigando os usuários a passar pelo
ambulatório e pelo pronto-socorro para acessar a fisioterapia e o As unidades que se relacionam mais com os pacientes
raio x. internos (centro cirúrgico e centro obstétrico) ficam localizadas
em pavimentos superiores nos hospitais verticais e mais ao
Essa configuração muda nos projetos seguintes. No centro do conjunto arquitetônico nos horizontais.
Hospital da Guarnição do Galeão, Karman propôs unidades
funcionais autônomas, com corredores exclusivos, que podiam As unidades de apoio técnico-logístico, nos hospitais
ser acessadas sem a necessidade de se percorrer os corredores verticais, ficam próximas do solo, onde há a possibilidade de criar
de outras unidades. Todos os projetos seguintes possuem docas de carga e descarga afastadas ou que não interfram no
solução semelhante. acesso dos usuários externos (térreo, subsolos semienterrados
com acesso por vias internas, etc.). Nos hospitais horizontais,
A opção por criar unidades funcionais autônomas pode ocupam uma faixa afastada da dos usuários externos, que pode
ser determinada como a primeira estratégia projetual de Karman: ser oposta ou contígua.
1ª estratégia: Criação de unidades funcionais autônomas, que A distribuição geral das unidades funcionais que atendem
possam ser acessadas diretamente, sem a necessidade de se os pacientes externos e internos e as de apoio técnico-logístico
percorrer corredores internos de outras unidades. determinam outras duas estratégias projetuais:
Uma observação importante sobre essa questão é que 2ª estratégia: Nos hospitais verticais, as unidades de
os projetos horizontais possuem uma configuração mais clara atendimento ao paciente externo e as unidades técnico-logísticas
e organizada das unidades funcionais autônomas. O Centro devem ser aproximadas do solo para facilitar os acessos e
Médico Hospitalar Vila Velha, hospital vertical, não possui uma diminuir os deslocamentos verticais. A posição delas, no plano
organização tão clara, tanto que o centro cirúrgico e a central de horizontal, deve ser feita para possibilitar entradas distintas (sem
material esterilizado ocupam mais de um andar. cruzamentos) e maior controle dos acessos. As unidades de
atendimento ao paciente interno podem ocupar pavimentos mais
Outra semelhança está na forma como as unidades elevados, porém não muito distantes do térreo, possibilitando,
funcionais foram agrupadas. Em alguns casos, estão próximas e assim, mais controle dos tráfegos internos (ver imagem 6.2);
em outros compõem uma só unidade.
3ª estratégia: Nos hospitais horizontais, as unidades de
As unidades de atendimento ao paciente externo atendimento ao paciente externo e as unidades técnico-logísticas
(ambulatório, pronto-socorro, diagnóstico por imagem e de devem ocupar faixas paralelas ou opostas, de forma a possibilitar
terapias diversas) foram posicionadas para facilitar o acesso dos acessos segregados e sem cruzamentos. As unidades de
usuários externos. Nos hospitais verticais, estão posicionadas atendimento ao paciente interno devem ser posicionadas em
nos primeiros pavimentos, e nos hospitais horizontais, estão uma faixa mais centralizada, possibilitando, assim, mais controle
localizadas numa mesma faixa programática, uma ao lado da dos tráfegos internos (ver imagem 6.3).
outra.
Em relação à distribuição geral das internações, pode-se
Imagem 6.3 No Hospital e Maternidade São Domingos, essas unidades dizer também que, tanto para os hospitais verticais quanto para
Organização funcional dos hospitais horizontais. foram concentradas num mesmo bloco, no pavimento térreo. os horizontais, a posição das unidades funcionais depende muito
Desenho sem escala. de como serão definidos os acessos e como se desenvolverão
299
as circulações. Sendo assim, a decisão da posição das unidades elevados; nos edifícios horizontais, as unidades podem ser
funcionais está intrinsecamente ligada à organização dos sobrepostas e sua localização é definida para facilitar o acesso
acessos e circulações. independente de visitantes e reduzir os percursos dos pacientes
internados e do recebimento de refeições e de suprimentos.
Outras similaridades relacionadas ao agrupamento
funcional, mais específicas, merecem maior atenção. Entre elas, a As posições das internações nos projetos analisados
posição das UTIs, dos centros cirúrgicos, dos centros obstétricos, determinam outras duas estratégias relacionadas à distribuição
das centrais de material esterilizado e das internações devem funcional:
ser destacadas.
6ª estratégia: Nos hospitais verticais, as internações devem
No Hospital e Maternidade São Domingos, a Unidade de ocupar os últimos pavimentos;
Assistência Intensiva foi posicionada ao lado do centro cirúrgico
e próxima do centro obstétrico. Se considerarmos que essa 7ª estratégia: Nos hospitais horizontais, as internações devem
unidade precedeu as atuais Unidades de Tratamento Intensivo ser posicionadas de forma a favorecer os acessos segregados e
(UTI), veremos que, em três dos outros quatro projetos, a a redução dos percursos internos.
localização desta unidade é semelhante. O único hospital onde
isso não ocorre é no da Guarnição do Galeão: a UTI fica mais Semelhante às duas primeiras estratégias, o
distante do centro cirúrgico (posicionada no 1º subsolo do Bloco posicionamento das internações também está intrinsecamente
02) e se relaciona mais intensamente com as internações. ligado à organização dos acessos e das circulações.
Os centros cirúrgicos, os centros obstétricos (quando Sendo assim, conclui-se que as análises apontam sete
presentes no programa) e as centrais de material esterilizado de estratégias projetuais relacionadas à primeira categoria. Todas
todos os cinco projetos estão próximos ou formam uma mesma as estratégias têm como objetivo suscitar soluções alinhadas
unidade. Nos quatro primeiros hospitais, Karman projetou as com os critérios de “prioridade de percurso”, “concentração”,
unidades no mesmo piso. No projeto para o Centro Médico “centralização”, “relação funcional de nível” e “desenvolvimento
Hospitalar Vila Velha, as unidades ocupam dois pavimentos, que horizontal”, além de promover a autonomia de cada unidade,
são conectados por uma escada e dois monta-cargas internos gerando maior flexibilidade operacional ao hospital. Observou-se
à unidade, solução que certamente priorizou a posição da UTI também que, tanto nos hospitais horizontais quanto nos verticais,
(localizada no mesmo pavimento do centro cirúrgico e do centro o agrupamento funcional tem grande relação com a organização
obstétrico). dos acessos e das circulações e que algumas unidades estão
próximas ou foram aglutinadas, como é o caso da UTI e do
O posicionamento destas quatro unidades e o aglutinamento conjunto centro cirúrgico, centro obstétrico e central de material
de algumas delas se relacionam com os critérios de “prioridade esterilizado.
de percurso”, “contiguidade de nível”, “concentração” e
“centralização”. Estas soluções também determinam outras duas 6.2. Flexibilidade física
estratégias projetuais relacionadas à distribuição do programa
físico-funcional: Jarbas Karman escreveu em seu último livro [1] um
jogo de palavras, sob o título “critérios preditivos”. Um desses
4ª estratégia: Aproximar as unidades críticas, principalmente do critérios foi amplamente utilizado por ele em seus diapositivos de
centro cirúrgico, do centro obstétrico e da UTI; aulas e palestras. O critério diz o seguinte: “Hospital, instituição
inacabada” / “Permanente canteiro de obras”. (Karman, 2011, p.
5ª estratégia: Aproximar ou aglutinar as unidades que possuem 25). No livro Iniciação à Arquitetura Hospitalar, Karman dedica Imagem 6.4
intensas relações funcionais, principalmente do centro cirúrgico, um capítulo todo a esse assunto, tamanha era a importância da Áreas de expansão dos hospitais horizontais.
do centro obstétrico e da central de material esterilizado. questão. Ele afirma que: Desenho sem escala.
As internações, por sua vez, são posicionadas de duas [1] Manutenção e segurança hospitalar preditivas, publicado postumamente,
formas: nos edifícios verticais, ocupam os pavimentos mais em 2011.
300
“Os hospitais devem estar em condições de 9ª estratégia: Nos hospitais verticais, previsão da construção de
atender as necessidades não só presentes, novos blocos, de forma ordenada e que cause o menor impacto
mas também futuras. Essas necessidades possível nas unidades funcionais constituídas.
de expansão são necessidades reais,
permanentemente sentidas pelos hospitais, Os edifícios horizontais são mais flexíveis do que os
mormente quando servindo comunidades de alto verticais nesse aspecto. As estratégias de projetar unidades
índice de crescimento”. (Karman, 1972, p. 38). funcionais autônomas e de posicioná-las separadamente, com
jardins internos que servem como áreas de espera para futuras
Para identificar as estratégias relacionadas à flexibilidade construções, possibilita a expansão de uma unidade sem
física, dois aspectos foram analisados nos projetos: o potencial prejudicar os serviços contíguos e com pouco impacto para o
de crescimento e a configuração dos espaços técnicos. funcionamento do restante do hospital. Os edifícios verticais
necessitam, na grande maioria, de novas construções anexas
6.2.1. Potencial de crescimento e remanejamento de unidades funcionais (seja daquelas que
precisam crescer ou daquelas que precisam dar espaço para
Muitos de seus projetos possuem a previsão de futuras outras crescerem). Essa também é uma das condições que
expansões. Essas previsões são representadas em plantas, favorecem o desenvolvimento horizontal.
cortes e diagramas e foram denominadas como “Plano Diretor”,
termo utilizado em alguns memoriais, desenhos e publicações. 6.2.2. Configuração dos espaços técnicos
Entre os cinco projetos analisados, quatro apresentam O advento dos espaços técnicos em edifícios hospitalares
áreas de expansão. Os projetos para o Hospital da Guarnição talvez seja uma das maiores defesas de Karman ao longo de
do Galeão, do Instituto de Câncer e Queimados e o Unimed sua carreira. Esses espaços estão presentes em praticamente
Sorocaba podem expandir suas unidades funcionais de forma todos os projetos de novos hospitais e o conceito aparece com
independente. Já o Centro Médico Hospitalar Vila Velha não frequência em seus textos e material didático.
possui essa condição; o projeto prevê a construção de um novo
edifício no lote, conectado ao existente. Nos cinco projetos analisados, há a presença desses
espaços. No início, são mais tímidos, pontuais; depois aparecem
Dos projetos analisados, o único no qual não há a previsão em diferentes formatos e dimensões. Foram analisados os
de expansões físicas é o Hospital e Maternidade São Domingos. espaços que o autor tenha mencionado com maior destaque em
seu texto, como os espaços “interandares”, os sótãos, os porões
A área prevista para as expansões cresceu e as casas de máquinas não convencionais aos outros edifícios
consideravelmente entre os projetos. O Hospital da Guarnição (não foram considerados os espaços destinados aos motores
do Galeão possui condições de expandir sua área construída em dos elevadores, ao barrilete das caixas d’água, etc.).
3,18%; o Instituto de Câncer e Queimados, 61,35%; o Hospital
Unimed Sorocaba, 304,82%; e o Centro Médico Hospitalar Vila No Hospital e Maternidade São Domingos, há um único
Velha, 123,28%. Esse crescimento demonstra a preocupação de espaço técnico acima do centro cirúrgico, com pé-direito de 2,2
Karman em propiciar o maior potencial de expansão possível em metros e acessível aos funcionários da manutenção. Este espaço
seus projetos. é fechado nos quatro lados por paredes de alvenaria e coberto
por uma laje de concreto armado.
Sendo assim, duas estratégias projetuais relacionadas ao
potencial de expansão dos edifícios podem ser determinadas: No Hospital da Guarnição do Galeão, há dois tipos de
espaços técnicos: um espaço “interandar” entre o 1º subsolo e o
8ª estratégia: Nos hospitais horizontais, criação de jardins 1º andar do Bloco 02 e um sistema composto pelas vigas, lajes e
internos que sirvam de área para futuras expansões das unidades forros removíveis do Bloco 01. O Bloco 02 possui um pavimento
Imagem 6.5 funcionais, de forma independente umas das outras (ver imagem técnico com dois espaços técnicos de pés-direitos alternados.
Configruração dos espaços técnicos. 6.4); Esses espaços ficam posicionados sob os quartos do 1º
Desenho sem escala. pavimento e sobre os quartos do 1º subsolo e medem 1,7 metro
301
No Centro Médico Hospitalar Vila Velha, o hospital com Compreender os fluxos de um hospital é fundamental
maior número de pavimentos, há quatro espaços técnicos para o desenvolvimento do projeto arquitetônico. São diversos
avantajados: dois no 2º pavimento (um acima do pronto-socorro tipos diferentes de fluxos, desde o atendimento do paciente
e outro acima da unidade de diagnóstico por imagem) e dois externo até o recolhimento e armazenamento dos resíduos.
no 4º pavimento (um acima do centro cirúrgico e outro acima Considerando que uma grande parte dos fluxos acontece
da UTI). O pé-direito desses espaços técnicos também varia: no mediante o deslocamento de pessoas e de materiais, pode-se
2º pavimento medem 2,3 metros, e no 4º pavimento medem 2,9 dizer que os acessos e as circulações são os meios por onde
metros de altura. Sendo assim, pode-se dizer que esses espaços esses fluxos acontecem.
podem ser considerados andares técnicos.
Sobre as circulações, Karman explica:
Nos hospitais horizontais, os espaços técnicos ocupam,
de formas diferentes, quase toda a cobertura dos hospitais. No “A eficiência está intimamente condicionada ao
Centro Médico Vila Velha, o edifício com o maior número de seu sistema de comunicações, de interligação e,
pavimentos, há dois andares técnicos localizados nos pavimentos particularmente, de circulação.
intermediários (ver imagem 6.5).
Existe grande variedade e diversidade de
O espaço técnico do Hospital e Maternidade São percursos e nem sempre é fácil atender a todos
Domingos e os espaços técnicos com maiores pés-direitos dos os requisitos que deles se exige. De qualquer
demais projetos ficam sobre o centro cirúrgico e sobre a UTI. forma, porém, as linhas de circulação devem ser
flexíveis, disciplinadoras, definidas, diferenciadas,
Diante dessas observações, uma estratégia projetual extensíveis, interdependentes e sem conflitos e
relacionada aos espaços técnicos pode ser determinada: cruzamentos”. (Karman, 1972, p. 14).
10ª estratégia: Criação de espaços técnicos com dimensões que Sendo assim, é correto dizer que a eficiência operacional
possibilitem o acesso dos funcionários da manutenção em todo também está diretamente ligada à organização dos acessos e Imagem 6.6
o complexo hospitalar, sobre ou sob as unidades, priorizando os das circulações. Organização das circulações dos hospitais horizontais.
que ficam sobre ou sob os centros cirúrgicos e as UTIs. Desenho sem escala.
302
Os cinco projetos analisados apresentam dois tipos de para os hospitais verticais, a segregação das circulações
acessos: os internos e os externos. As circulações apresentam é possível e recomendada. A organização dos acessos é
quatro tipos: externas, mistas, internas e restritas. semelhante ao Hospital da Guarnição do Galeão e ao Hospital
Unimed Sorocaba. Já as circulações verticais, diferentemente
No Hospital e Maternidade São Domingos, há a do Hospital e Maternidade São Domingos, possuem uma certa
predominância das circulações mistas, onde circulam juntos separação: há três escadas exclusivas para o público interno e
pacientes externos, visitantes, médicos, pacientes internados uma outra exclusiva para o público externo. Os três elevadores
e funcionários. A compactação do hospital não permitiu uma maca-leito possuem portas duplas, mas se abrem para halls
clara separação dos percursos. Porém, os acessos são bem com classificações distintas e totalmente separados (interno
setorizados: os internos acontecem, prioritariamente, no 2º e e externo), o que colabora com a implantação de sistemas de
no 1º subsolos, e os acessos externos acontecem no térreo. chamada prioritária de elevadores.
Como há apenas uma escada e uma rampa, e os dois halls dos
elevadores podem, em certos momentos, ser acessados tanto No Hospital da Guarnição do Galeão, no Instituto de
pelo público interno quanto pelo externo, as circulações verticais Câncer e Queimados, no Hospital Unimed Sorocaba e no
foram consideradas mistas. Centro Médico Hospitalar Vila Velha, as circulações restritas se
desenvolvem internamente aos centros cirúrgicos. Para acessá-
No Hospital da Guarnição do Galeão, a configuração las, os pacientes precisam passar por uma sala de transferência
dos acessos e das circulações muda drasticamente. Há uma (onde trocam de macas) e os funcionários e acompanhantes
segregação quase que total entre as circulações internas e precisam passar por vestiários de barreira.
externas. As circulações mistas ficam localizadas apenas nas
unidades de internação. As unidades de atendimento ao paciente De acordo com as análises, é possível determinar duas
externo podem ser acessadas diretamente pelo público externo, estratégias projetuais em relação à organização dos acessos e
sem a necessidade de controle prévio (catracas e cadastros). Os das circulações:
acessos internos ficam numa faixa oposta aos acessos externos,
são controlados e destinados somente aos funcionários e ao 11ª estratégia: Separar o máximo possível os acessos e as
recebimento dos suprimentos. circulações internas e externas, tanto as horizontais quanto
as verticais, evitando cruzamentos e situações que facilitem
No Instituto Nacional de Câncer e Queimados, a lógica o acesso do público externo nas circulações internas sem um
de segregar as circulações e os acessos é mantida. Porém, controle ou cadastro prévio (ver imagem 6.6);
para acessar as internações e a UTI, os visitantes circulam por
um trecho da circulação interna, solução que o próprio Karman 12ª estratégia: Criar circulações restritas para os centros
desaconselha. cirúrgicos e para os ambientes onde haverá procedimentos
invasivos nos pacientes, por meio de vestiários de barreiras e
No Hospital Unimed Sorocaba, a configuração dos acessos áreas de transferências, quando necessário.
e das circulações é semelhante ao Hospital da Guarnição do
Galeão. A segregação é quase total, sendo que as circulações As áreas destinadas às circulações apresentam pequenas
mistas se desenvolvem apenas nas internações. As unidades de diferenças. O Hospital e Maternidade São Domingos possui
atendimento ao paciente externo também podem ser acessadas 26,25% da área construída destinada às circulações, o Hospital
diretamente pelo público externo, sem a necessidade de controle da Guarnição do Galeão possui 27,16%, o Instituto Nacional
prévio, e os acessos internos são controlados e ficam numa faixa de Câncer e Queimados possui 37,55%, o Hospital Unimed
oposta. Sorocaba possui 29,57%, o Centro Médico Hospitalar Vila Velha
possui 26,98%.
No Centro Médico Hospitalar Vila Velha, as circulações
são parcialmente segregadas. Há a presença de circulações Os percentuais apontam que não há grande diferença
mistas em algumas unidades, mas que não interferem no entre a metragem destinada às circulações dos hospitais
desenvolvimento das circulações internas. A configuração dos horizontais e verticais. Outra observação é que, de acordo com
acessos e das circulações deste projeto demonstra que, mesmo esses números, a média da área destinada às circulações é
303
de 29,5%. Com esses percentuais, pode-se dizer que, para se o posto mais ao centro do andar é responsável por atender 40
atingir uma segregação adequada, a escolha entre um edifício leitos, e o mais a leste é responsável por 38 leitos.
vertical e um horizontal tem pouca influência na média da área
que será destinada às circulações. No Hospital da Guarnição do Galeão e no Instituto
Nacional de Câncer e Queimados, as unidades de internação
6.3.2. Configuração espacial das internações são semelhantes. Ambas possuem quartos justapostos às
fachadas longitudinais dos blocos, um corredor central e os
O hospital surgiu na antiguidade, em templos religiosos que postos de enfermagem espalhados ao longo dos corredores.
acolhiam os doentes para cuidados e estudos de suas doenças. As configurações dessas internações também podem ser
Na idade média, os religiosos recebiam os doentes em edifícios consideradas como uma variação do modelo “duplamente
cuja arquitetura se assemelhava às catedrais e ofereciam abrigo carregado”.
e cuidados. No renascimento, já existiam grandes hospitais na
Europa, onde a maior parte de seus espaços eram destinados Em ambos os hospitais, há em média um posto de
ao abrigo e aos cuidados de doentes. No século XIX, os edifícios enfermagem a cada 8 quartos, ou seja, cada posto é responsável
de saúde se transformaram radicalmente, após a publicação e por atender 16 leitos.
a aplicação de estudos e modelos desenvolvidos na França. Em
toda a história, as internações sempre estiveram presentes nos No Hospital Unimed Sorocaba, a configuração da unidade
edifícios hospitalares. Esse fato torna a internação dos doentes de internação é semelhante à do Hospital e Maternidade São
um serviço primordial para a constituição de um hospital, mesmo Domingos. Os quartos ficam posicionados ao logo das fachadas
nos dias de hoje. Não há hospital sem leitos de internação. longitudinais do bloco e há uma faixa central onde ficam
localizados os postos de enfermagem e os ambientes de apoio
Jarbas Karman considerava as unidades de internação e serviços. Cada posto é responsável pelo atendimento de 32
uma das mais importantes do hospital moderno. Durante seu leitos.
mestrado em Yale, tomou conhecimento dos estudos realizados
pela universidade para aprimorar o projeto arquitetônico das No Centro Médico Hospitalar Vila Velha, os quartos ficam
unidades de internação [2]. Munido desse conhecimento, justapostos às fachadas longitudinais do andar. São dois postos
desenvolveu seus projetos de acordo com critérios que buscavam de enfermagem, um em cada uma das duas alas de cada
reduzir os percursos da enfermagem e tornar mais eficientes as unidade. Os postos de enfermagem e os ambientes de apoio e
rotinas operacionais. serviços ficam justapostos às fachadas oeste, num espaço onde
caberiam dois quartos. Cada posto é responsável por atender 40
Todos os projetos analisados possuem quartos em ambas leitos.
as fachadas longitudinais do bloco ou andar onde a unidade
foi implantada. As internações podem ser classificadas como De acordo com as configurações das internações
“duplamente carregadas”. Porém, não possuem a mesma planta. analisadas, é possível determinar duas estratégias projetuais
Há variações na forma como os espaços foram projetados. relacionadas à configuração espacial das internações:
No Hospital e Maternidade São Domingos, os quartos 13ª estratégia: Projetar unidades “duplamente carregadas”, com
Imagem 6.7
ficam justapostos às fachadas longitudinais. Há uma faixa central quartos ao longo das duas fachadas longitudinais dos edifícios. Configuração espacial das internações.
no andar destinado aos postos de enfermagem, ao berçário e Desenho sem escala.
aos serviços de apoio, gerando dois corredores longitudinais 14ª estratégia: Descentralizar os postos de enfermagem,
entre os quartos e essa faixa central, conectados por outros aproximando a enfermagem dos pacientes internados o máximo [2] O estudo em questão, intitulado “Yale Traffic Index”, foi realizado no início
corredores. possível. da década de 1950 por John Thompson e Robert Pelletier na Yale School
of Public Health, com o intuito de identificar os padrões de tráfego das
Os postos de enfermagem foram parcialmente Outro indicador que foi possível observar é o número de enfermeiras. A pesquisa abarcou a configuração espacial de 30 unidades
de internação, a fim de medir a eficiência da equipe do hospital. Por meio
descentralizados. A unidade possui três postos de enfermagem. leitos por metro quadrado construído. O Hospital e Maternidade do estudo, uma observação importante, conhecida como “traffic link”,
O posto da maternidade é responsável por atender 16 leitos, São Domingos possui 59,24 m² por leito; o Hospital da Guarnição identificou a acessibilidade de determinadas salas por diferentes caminhos
do Galeão possui 99,23 m² por leito; o Instituto de Câncer e (Delvin, 2010, p.80).
304
Queimados possui 75,8 m² por leito; o Hospital Unimed Sorocaba No Hospital Unimed Sorocaba, o maior percurso posto-a-
possui 93,42 m² por leito; o Centro Médico Hospitalar Vila Velha quarto é de 15,35 metros e o quarto-a-quarto é de 28,8 metros. A
possui 75,1 m² por leito. Como a relação entre área construída e densidade linear da internação é de 0,95 leito por metro linear.
leitos não é constante nem cronologicamente progressiva, pode-
se dizer que a relação média entre a metragem construída e o No Centro Médico Hospitalar Vila Velha, o maior percurso
número de leitos projetados por Karman é de 80,55 m² por leito. posto-a-quarto é de 23,25 metros e o quarto-a-quarto é de 36
metros. A densidade linear da internação do 8º pavimento é de
6.3.3. Percursos das equipes de enfermagem 0,88 leito por metro linear.
A redução dos percursos nos hospitais foi outra das Importante considerar que houve uma mudança na
grandes preocupações de Karman. Quanto menores os modulação arquitetônica das unidades de internação entre os
percursos, mais eficiente é o atendimento e menor o desgaste projetos. No Hospital e Maternidade São Domingos, a modulação
dos funcionários. A racionalização dos percursos aumenta a eixo-a-eixo entre as paredes dos quartos mede 3,15 metros; no
eficiência operacional dos hospitais. Hospital da Guarnição do Galeão, a modulação mede 3,3 metros;
e nos demais projetos, a modulação mede 3,6 metros. Isso tem
A descentralização dos postos de enfermagem, estratégia considerável impacto nos percursos e na densidade linear das
utilizada por Karman desde seus primeiros projetos após seu unidades, posto que o aumento da distância eixo-a-eixo das
regresso da América do Norte, teve como objetivo reduzir os modulações causa aumento no comprimento dos corredores.
percursos da enfermagem, que certamente são os maiores entre
os funcionários dos hospitais. Porém, mesmo com o aumento da modulação, os percursos
do Hospital Unimed Sorocaba apresentam números semelhantes
Karman definiu alguns critérios para nortear o projeto das ao do Hospital e Maternidade São Domingos, considerando
internações. Entre eles, o de “compactação”, de “densidade que as organizações espaciais de ambas as internações são
linear” e de “rendimento da circulação”. Para investigar as semelhantes. O hospital projetado em 1958 possui uma distância
estratégias projetuais relacionadas a esses critérios, foi calculada posto-a-quarto de 15 metros, enquanto o projetado em 1992
a “densidade linear” de cada unidade e medidos dois percursos: possui 15,35 metros; a distância quarto-a-quarto do primeiro
a distância do posto até o último quarto que ele atende e a hospital é de 26,55 metros e a do segundo é de 28,8 metros. Já o
distância entre os quartos que cada posto atende. Centro Médico Hospitalar Vila Velha, projetado em 1999, possui
percursos mais longos do que o Hospital Unimed Sorocaba, tanto
No Hospital e Maternidade São Domingos, o maior o posto-a-quarto, quanto o quarto-a-quarto. Isso evidencia como
percurso posto-a-quarto é de 15 metros e o quarto-a-quarto é de a configuração espacial tem impacto significativo nos percursos
26,55 metros. A densidade linear da internação do 1º pavimento da enfermagem.
é de 1,24 leito por metro linear.
A descentralização dos postos de enfermagem é outra
No Hospital da Guarnição do Galeão, que possui uma característica que vale ser observada. O primeiro projeto propõe
descentralização radical dos postos, o maior percurso posto- uma descentralização menos radical, com três postos e número
a-quarto é de 4 metros e o quarto-a-quarto é de 8 metros. A máximo de 40 leitos por posto. Os dois projetos seguintes
densidade linear da internação do 1º pavimento é de 1,02 leito propõem uma descentralização radical, com uma série de
por metro linear. postos distribuídos ao longo dos corredores e número máximo
de 16 leitos por posto. E os dois últimos projetos retomam uma
No Instituto Nacional de Câncer e Queimados, que descentralização menos radical, com dois ou três postos por
também possui uma descentralização radical dos postos, o maior unidade, cada qual responsável por até 40 leitos. Não se sabe o
percurso posto-a-quarto é de 10,10 metros e o quarto-a-quarto motivo de Karman não ter seguido com a descentralização radical
é de 14,4 metros. Porém, o percurso médio posto-a-quarto é de dos postos de enfermagem; sabe-se apenas que seus últimos
4,3 metros e o quarto-a-quarto é de 8,6 metros. A densidade projetos arquitetônicos, desenvolvidos na década de 2000,
linear da internação do 1º pavimento é de 0,89 leito por metro possuem configurações espaciais e distâncias semelhantes
linear.
305
ao Hospital Unimed Sorocaba e Centro Médico Hospitalar Vila Não havia, na época, a preocupação dos autores em
Velha. evitar o cruzamento do material contaminado e do material
esterilizado. Os procedimentos internos tinham que cuidar para
Essa categoria não sugere uma estratégia projetual que não houvesse contaminação cruzada do material. Porém,
propriamente dita, mas indica qual a melhor distribuição espacial a configuração espacial das unidades que quase formam uma
das unidades de internação dentre as analisadas (em relação só unidade possibilita que o material cirúrgico não transite pelo
aos números e desconsiderando a descentralização radical dos hospital. Considerando que o centro cirúrgico é o que mais
postos), que é a com quartos justapostos em ambas as fachadas demanda serviço às centrais de material esterilizado, essa
longitudinais e uma faixa central com os postos de enfermagem aproximação, ou quase aglutinação, dinamiza o fluxo de material,
e os ambientes de serviços e apoio. tornando a unidade mais eficiente e segura.
zona limpa é composta por uma área de preparo e esterilização De acordo com as análises, é possível determinar uma
e outra de armazenamento do material esterilizado. As duas estratégia projetual relacionada às configurações espaciais e
zonas se comunicam somente por guichês. Os guichês de aos fluxos dos centros cirúrgicos, centros obstétricos e centrais
recebimento do material sujo estão localizados no expurgo e os de material esterilizado:
de recebimento do material limpo no depósito.
15ª estratégia: Agrupar, ou aglutinar em uma só unidade, o
No Hospital Unimed Sorocaba, os acessos de pacientes, centro cirúrgico, o centro obstétrico (quando houver) e a central
de funcionários e os fluxos de material possuem aspectos de material esterilizado, preservando os diferentes acessos,
semelhantes aos do Hospital da Guarnição do Galeão e aos do as barreiras (sempre que necessárias) e o fluxo contínuo de
Instituto Nacional de Câncer e Queimados. O centro cirúrgico, o esterilização do material, criando áreas de entrega e de recepção
centro obstétrico e a central de material esterilizado formam uma dos materiais para dentro e para fora do centro cirúrgico.
mesma unidade. O centro cirúrgico e o centro obstétrico possuem
acessos de pacientes distintos, mas, para a realização dos Um fato interessante ao se analisar nestas unidades é
partos, as gestantes precisam passar pela área de transferência, que Karman, com o tempo, foi aprimorando as formas de acesso
pois as salas de parto ficam dentro do centro cirúrgico. O acesso (introduzindo as barreiras) e o fluxo da esterilização dos materiais
de funcionários do centro obstétrico acontece por um corredor (tornando-o contínuo, sem cruzamentos), sem abrir mão de
ligado diretamente ao eixo de circulação interna do hospital e do mantê-las sempre juntas.
centro cirúrgico por meio de dois vestiários de barreira.
Outra questão que deve ser salientada é o número de salas
Na central de material esterilizado, o acesso da zona suja cirúrgicas por leito. O Hospital e Maternidade São Domingos
se dá pelo corredor interno do hospital e da zona limpa pelo possui 22 leitos por sala; o Hospital da Guarnição do Galeão
corredor restrito do centro cirúrgico, o que obriga os funcionários possui 37,5 leitos por sala; o Instituto de Câncer e Queimados
da zona limpa a passarem pelos vestiários de barreira. A entrega possui 48 leitos por sala; o Hospital Unimed Sorocaba possui
de material sujo acontece por guichês localizados no expurgo e 27,5 leitos por sala; o Centro Médico Vila Velha possui 29,66 leitos
que se abrem para o corredor restrito do centro cirúrgico e para o por sala. Esses indicadores sugerem que o número de salas por
corredor interno do hospital. A devolução do material esterilizado leito diminuiu entre os anos de 1960 e 1980, voltando a crescer
acontece por guichês localizados no depósito de material limpo na década de 1990.
e que também se abrem para ambos os corredores. A diferença
desta unidade para o projeto do hospital paraguaio é que as 6.4.2. Configuração espacial e fluxos das unidades de
autoclaves não estão localizadas no mesmo ambiente da sala tratamento intensivo e de tratamento semi-intensivo
de preparo, o que torna o fluxo de esterilização mais contínuo,
eliminando qualquer cruzamento de material sujo e limpo. Todos os projetos analisados possuem unidades de
tratamento intensivo e apenas dois possuem unidades de
No Centro Médico Hospitalar Vila Velha, as unidades tratamento semi-intensivo.
ficam posicionadas em dois andares. No 3º pavimento, encontra-
se o acesso dos pacientes e todos os ambientes relacionados às No Hospital e Maternidade São Domingos, Karman propôs
cirurgias e aos partos, e no 4º pavimento encontram-se os acessos aos gestores do hospital a criação de uma unidade que reunisse
de funcionários e os ambientes destinados à esterilização de todos os pacientes críticos do hospital em um único local. A
material. Todos os fluxos são similares ao do Hospital Unimed unidade faz parte de um sistema progressivo de cuidados (há
Sorocaba, com a diferença de que o acesso de funcionários da uma “Unidade de Autoassistência”, uma “Unidade de Assistência
central de material esterilizado, tanto para a zona limpa quanto Moderada” e uma “Unidade de Assistência Intensiva”). Sendo
para a zona suja, acontece por meio de vestiários de barreira assim, a unidade de terapia intensiva do Hospital e Maternidade
e há dois expurgos e dois depósitos de material esterilizado: São Domingos pode ser considerada uma precursora das UTIs.
um expurgo e um depósito internos ao centro cirúrgico (no 3º A unidade é composta por um salão para cinco leitos (separados
pavimento) e outros dois internos à unidade (no 4º pavimento). A por cortinas), um box de isolamento e um posto de enfermagem.
comunicação dos expurgos e dos depósitos é realizada por dois Os pacientes e os funcionários acessam pela mesma porta.
monta-cargas, um limpo e outro sujo.
307
No Hospital da Guarnição do Galeão, há uma área de De acordo com as análises, é possível determinar uma
tratamento intensivo e uma área de tratamento semi-intensivo. estratégia projetual relacionada às configurações espaciais e
As duas áreas configuram uma só unidade. Os pacientes críticos dos fluxos das UTIs:
ficam em boxes com um ou dois leitos, e os pacientes semicríticos
ficam em quartos com dois leitos cada. O acesso de pacientes 16ª estratégia: Separar os pacientes críticos em boxes
ocorre pelo corredor das internações, o de funcionários por meio individuais, de forma a aumentar a flexibilidade de ocupação da
de vestiários de barreira e os de visitantes por meio de uma sala unidade e a segurança contra as infecções hospitalares.
de paramentação.
A separação dos pacientes em boxes individuais elimina a
No Instituto de Câncer e Queimados, a unidade de necessidade do uso de cortinas (difíceis de serem esterilizadas),
tratamento intensivo possui duas alas, ambas com três leitos facilita assepsia do espaço onde se localiza o leito na troca
cada. Os pacientes ficam em boxes individuais. Dois boxes de de pacientes e reforça a necessidade de assepsia das mãos
cada ala compartilham uma antecâmara e um pequeno banheiro, dos médicos e da enfermagem antes do atendimento (uma vez
solução que possibilita o isolamento desses boxes. O acesso que é preciso entrar e sair do box, diferentemente dos salões
de pacientes é feito de forma direta e o de funcionários ocorre abertos onde se torna mais fácil atender vários pacientes ao
por dois vestiários de barreira. Os visitantes acessam por uma mesmo tempo). Dessa maneira, a separação dos pacientes em
área separada, onde podem observar os pacientes por meio de boxes individuais contribui consideravelmente com o aumento
visores de vidro. da segurança biológica da unidade.
o rebaixamento das lajes para iluminação e ventilação dos internos que poderiam ser ocupados com futuras expansões e
ambientes internos e a presença de espaços de convivência. outros que deveriam ser preservados para a convivência dos
usuários.
6.5.1. Jardins externos e internos
No Instituto de Câncer e Queimados, os jardins localizados
Foram analisados, principalmente, a presença e a entre os volumes construídos do Bloco 01 poderiam ser ocupados
metragem dos jardins internos. Considerando que os jardins por futuras expansões e o jardim entre os blocos foi projetado
externos dificilmente podem ser frequentados pelos pacientes exclusivamente para a convivência dos pacientes internados,
internados e pelos funcionários, e que nem todos os projetos acompanhantes, visitantes e funcionários. Ao todo, os jardins
possuem informação acerca da dimensão e dos perímetros dos medem 4.597,31 m², metragem equivalente a 31,58% da área
lotes, deu-se preferência aos jardins conformados pelos volumes construída.
construídos.
No Hospital Unimed Sorocaba, os jardins localizados entre
No Hospital e Maternidade São Domingos, o edifício os blocos 01, 03, 04 e 05 poderiam ser ocupados por futuras
é cercado por jardins em praticamente todas as direções. Há expansões e o jardim entre os blocos 05 e 07 foi projetado
jardins nos recuos laterais, de frente e de fundos. O maior jardim exclusivamente para a convivência dos pacientes internados,
externo, localizado entre o Bloco 01 e a Rua Frei Paulino, serve acompanhantes, visitantes e funcionários. Ao todo, os jardins
como um espaço de transição entre a cidade e o hospital. medem 2.059,44 m², metragem equivalente a 20,04% da área
construída.
Quanto aos jardins internos, há apenas um, posicionado
na parte leste do Bloco 01, que vai do 2º subsolo até a cobertura. O Centro Médico Hospitalar Vila Velha não possui jardins
Esse jardim possui dimensões diferentes, aumentando de internos. Há alguns poucos jardins externos estreitos que
tamanho ao atingir o pavimento térreo. Ao todo, as aberturas margeiam três das quatro ruas com que o lote faz divisa, entre a
nos pavimentos para esse jardim interno medem 83,6 m² rampa de automóveis e a Rua Moema.
(considerando as aberturas em todos os pavimentos), metragem
equivalente a 1,07% da área construída. De acordo com as análises, é possível determinar uma
estratégia projetual relacionada à criação de jardins internos:
No Hospital da Guarnição do Galeão, o conjunto
arquitetônico foi implantado dentro da base aérea do Galeão, 17ª estratégia: Criar jardins internos entre os volumes construídos
pertencente à Aeronáutica brasileira. O Hospital é cercado de para aumentar a oferta de iluminação e ventilação natural e os
jardins e considerável massa arbórea. espaços de convivência descobertos e ajardinados.
Há vários jardins internos. A maioria deles está localizado Os hospitais horizontais possuem muito mais jardins
entre os volumes construídos do Bloco 01. Alguns jardins internos que os verticais, mais uma das vantagens do hospital
poderiam ser ocupados com futuras expansões, mas um deles, horizontal em relação ao hospital vertical (ver imagem 6.8).
localizado no centro do bloco, foi projetado exclusivamente para
servir de espaço de convivência, descanso e contemplação dos 6.5.2. Lajes rebaixadas
funcionários. Há também um grande jardim entre os blocos 01 e
02, conformado pelas rampas de circulação vertical, destinado Para proporcionar iluminação e ventilação naturais
para a convivência dos pacientes internados, acompanhantes para os ambientes internos que não possuíam janelas para o
e visitantes. Ao todo, os jardins externos medem 3.688,81 m², exterior e ventilação cruzada para os demais ambientes que
metragem equivalente a 16,52% da área construída. as possuíam, Karman rebaixava as lajes de cobertura dos
corredores dos últimos pavimentos dos edifícios verticais. Nos
No Instituto de Câncer e Queimados e no Hospital Unimed edifícios horizontais, praticamente todos os corredores tinham as
Imagem 6.8 Sorocaba, a criação de jardins internos segue raciocínio parecido lajes rebaixadas para a instalação de janelas altas.
Configruração dos jardins internos dos hospitais horizontais. com o do Hospital da Guarnição do Galeão. Ambos os hospitais
Desenho sem escala. possuem considerável área verde envoltória, e há diversos jardins
309
No Hospital e Maternidade São Domingos, a maior parte 18ª estratégia: Rebaixar as lajes de cobertura das circulações
das lajes de cobertura dos corredores do 1º pavimento foram para permitir a instalação de janelas altas e possibilitar a
rebaixadas. Isso possibilitou que os berçários descentralizados, iluminação e ventilação naturais dos ambientes localizados mais
os banheiros e outros ambientes de apoio tivessem iluminação ao centro do pavimento.
e ventilação naturais. Nos quartos, a criação de janelas altas
possibilitou a ventilação cruzada, fator que colabora com as O rebaixamento das lajes de cobertura dos corredores,
trocas de ar e que diminui as temperaturas internas. presente em todos os projetos analisados e realizado por meio
de soluções técnicas diversas, evidencia a preocupação do
No Hospital da Guarnição do Galeão, praticamente autor em ampliar a relação entre os espaços internos e o meio
todas as lajes de cobertura dos corredores do Bloco 01 foram externo, proporcionando iluminação e ventilação naturais para o
penduradas na grelha de vigas vierendeel. No Bloco 02, as lajes maior número de ambientes possíveis (ver imagem 6.9).
de cobertura dos corredores foram rebaixadas para possibilitar
a iluminação e ventilação natural dos quartos. Porém, para 6.5.3. Espaços de convivência
possibilitar a iluminação natural dos corredores e dos banheiros,
uma série de lanternins foram criados ao longo da cobertura de O último aspecto analisado foi a presença de espaços
todo o bloco, no sentido transversal. coletivos de convivência internos e cobertos destinados
aos usuários. Esses espaços podem ser configurados pelas
O Instituto Nacional de Câncer e Queimados e o Hospital recepções, salas de estar, varandas, solários ou qualquer outro
Unimed Sorocaba possuem soluções muito semelhantes: todas local que não seja destinado, prioritariamente, ao atendimento, à
as lajes de cobertura dos corredores internos foram rebaixadas, terapia e ao apoio técnico-logístico.
possibilitando a iluminação e a ventilação de quase todos os
ambientes internos. No hospital paraguaio, o rebaixamento das No Hospital e Maternidade São Domingos, há espaços de
lajes do 1º pavimento do Bloco 02 é ligeiramente diferente: ao convivência de uso interno, externo e misto. O público externo
invés de rebaixar a laje dos corredores, foram rebaixados dois pode se reunir na recepção principal, formada por uma sala de
trechos de lajes sobre os banheiros. Mesmo com essa diferença, estar e servida por uma pequena loja de souvenirs. Os pacientes
o objetivo é o mesmo: permitir a ventilação cruzada dos quartos internados, os visitantes e os funcionários podem se reunir em
e a iluminação e ventilação dos banheiros e outros ambientes de um solário localizado na ligação entre os blocos 01 e 02. Os
apoio localizados no interior do pavimento. espaços de convivência internos ficam localizados no convento
e só podem ser acessados pelos religiosos que trabalham no
Assim como no 1º pavimento do Bloco 02 do Hospital da hospital. Há, ainda, uma lanchonete ao lado do acesso do centro
Guarnição do Galeão, o hospital paraguaio e o hospital paulista obstétrico, preparada para acolher os familiares das gestantes
possuem lanternins para a iluminação e ventilação dos corredores, e que também pode ser frequentada pelos funcionários. Ao
cujas lajes rebaixadas não permitem a instalação de janelas todo, os espaços de convivência medem 150,92 m², metragem
altas, mas com formatos diferentes. No hospital localizado em correspondente a 1,93% da área construída.
Capiatá, há alguns poucos lanternins na UTI, nos laboratórios, na
radioterapia e na cozinha. Já no hospital localizado em Sorocaba, No Hospital da Guarnição do Galeão, há espaços de
há diversos lanternins, em todas as unidades funcionais. convivência de uso interno, externo e misto. O público externo,
de modo semelhante ao São Domingos, pode se reunir na
No Centro Médico Hospitalar Vila Velha, apenas as recepção principal e na lanchonete. Os funcionários possuem
lajes dos corredores que ficam sob os espaços técnicos foram uma área exclusiva na lanchonete, que pode ser acessada pela
rebaixadas. Sendo assim, há lajes rebaixadas no pronto- circulação interna (sem cruzar com a circulação externa). Os
socorro, ambulatório, unidade de diagnóstico por imagem, demais espaços de convivência são formados por uma grande
centro cirúrgico, centro obstétrico e UTI. Também foram criados área aberta, localizada no pilotis do Bloco 02, e pelos espaços
diversos lanternins, tal qual no Hospital Unimed Sorocaba. contíguos aos quartos de internação. Esses últimos podem
ser acessados tanto pelo público externo quanto pelo interno, Imagem 6.9
Essa solução compreende, em si mesma, uma estratégia portanto, foram considerados de uso misto. Ao todo, os espaços Iluminação e ventilação naturais através das lajes rebaixadas.
projetual. Desenho sem escala.
310
de convivência medem 2.909,4 m², metragem correspondente a 19ª estratégia: Criar áreas de transição entre o espaço externo
13,03% da área construída. e o hospital para a convivência dos pacientes externos,
acompanhantes e visitantes.
No Instituto de Câncer e Queimados, há apenas áreas de
convivência de uso externo e interno. O público externo pode se Considerando que os hospitais possuem um alto valor de
reunir na recepção principal. Os visitantes e os acompanhantes construção por metro quadrado, esses espaços de convivência
podem conviver com os pacientes internados nos corredores (que não são destinados a atendimento, terapia e apoio técnico-
avarandados, justapostos aos quartos de internação. Os logístico) devem ser considerados uma importante colaboração
funcionários possuem duas áreas de convivência: uma localizada para o bem-estar dos usuários. Porém, fica claro, perante as
na residência médica (1º subsolo do Bloco 02) e outra numa análises, que os principais espaços coletivos de convivência
sala de estar localizada antes dos dormitórios dos plantonistas dos hospitais projetados por Karman não são aqueles internos e
(Bloco 01). Ao todo, os espaços de convivência medem 896,41 cobertos, mas sim os externos, compostos principalmente pelos
m², metragem correspondente a 6,16% da área construída. jardins que ficam entre os blocos.
No Hospital Unimed Sorocaba, são apenas duas áreas de A tabela 6.1 apresenta, de forma sucinta, a relação entre as
convivência de uso externo: uma localizada na recepção principal categorias de análise, os eixos conceituais e as 19 estratégias
e outra no acesso dos visitantes à unidade de internação. Essas projetuais de Jarbas Karman.
duas áreas medem 163,9 m², metragem correspondente a 1,6%
da área construída.
Agrupamento Eixo 1: agrupamento funcional 1ª estratégia: Criação de unidades funcionais autônomas, que possam ser acessadas diretamente, sem a necessidade de se percorrer corredores internos de outras unidades
Funcional Eixo 3: eficiência/racionalização
2ª estratégia: Nos hospitais verticais, as unidades de atendimento ao paciente externo e as unidades técnico-logísticas devem ser aproximadas do solo para facilitar os acessos
e diminuir os deslocamentos verticais. A posição delas, no plano horizontal, deve ser feita para possibilitar entradas distintas (sem cruzamentos) e maior controle dos acessos. As
unidades de atendimento ao paciente interno podem ocupar pavimentos mais elevados, porém não muito distantes do térreo, possibilitando, assim, mais controle dos tráfegos
internos
3ª estratégia: Nos hospitais horizontais, as unidades de atendimento ao paciente externo e as unidades técnico-logísticas devem ocupar faixas paralelas ou opostas, de forma
a possibilitar acessos segregados e sem cruzamentos. As unidades de atendimento ao paciente interno devem ser posicionadas em uma faixa mais centralizada, possibilitando,
assim, mais controle dos tráfegos internos
4ª estratégia: Aproximar as unidades críticas, principalmente do centro cirúrgico, do centro obstétrico e da UTI
5ª estratégia: Aproximar ou aglutinar as unidades que possuem intensas relações funcionais, principalmente do centro cirúrgico, do centro obstétrico e da central de material
esterilizado
7ª estratégia: Nos hospitais horizontais, as internações devem ser posicionadas de forma a favorecer os acessos segregados e a redução dos percursos internos
Felxibilidade Física Eixo 2: flexibilidade 8ª estratégia: Nos hospitais horizontais, criação de jardins internos que sirvam de área para futuras expansões das unidades funcionais, de forma independente umas das outras
9ª estratégia: Nos hospitais verticais, previsão da construção de novos blocos, de forma ordenada e que cause o menor impacto possível nas unidades funcionais constituídas
10ª estratégia: Criação de espaços técnicos com dimensões que possibilitem o acesso dos funcionários da manutenção em todo o complexo hospitalar, sobre ou sob as unidades,
priorizando os que ficam sobre ou sob os centros cirúrgicos e as UTIs
Eficiência Eixo 3: eficiência/racionalização 11ª estratégia: Separar o máximo possível os acessos e as circulações internas e externas, tanto as horizontais quanto as verticais, evitando cruzamentos e situações que facilitem
Operacional o acesso do público externo nas circulações internas sem um controle ou cadastro prévio
12ª estratégia: Criar circulações restritas para os centros cirúrgicos e para os ambientes onde haverá procedimentos invasivos nos pacientes, por meio de vestiários de barreiras e
áreas de transferências, quando necessário
13ª estratégia: Projetar unidades “duplamente carregadas”, com quartos ao longo das duas fachadas longitudinais dos edifícios
14ª estratégia: Descentralizar os postos de enfermagem, aproximando a enfermagem dos pacientes internados o máximo possível
Segurança Biológica Eixo 3: eficiência/racionalização 15ª estratégia: Agrupar, ou aglutinar em uma só unidade, o centro cirúrgico, o centro obstétrico (quando houver) e a central de material esterilizado, preservando os diferentes
acessos, as barreiras (sempre que necessárias) e o fluxo contínuo de esterilização do material, criando áreas de entrega e de recepção dos materiais para dentro e para fora do
Eixo 4: segurança biológica
centro cirúrgico
16ª estratégia: Separar os pacientes críticos em boxes individuais, de forma a aumentar a flexibilidade de ocupação da unidade e a segurança contra as infecções hospitalares
Conforto Eixo 5: conforto ambiental 17ª estratégia: Criar jardins internos entre os volumes construídos para aumentar a oferta de iluminação e ventilação natural e os espaços de convivência descobertos e ajardinados
Físico e Psicológico
18ª estratégia: Rebaixar as lajes de cobertura das circulações para permitir a instalação de janelas altas e possibilitar a iluminação e ventilação naturais dos ambientes localizados
mais ao centro do pavimento
19ª estratégia: Criar áreas de transição entre o espaço externo e o hospital para a convivência dos pacientes externos, acompanhantes e visitantes
Tabela 6.1
Relação entre as categorias, os eixos de investigação e as estratégias projetuais.
312
313
7
314
Imagem 7.1
Jarbas Karman durante palestra noa VIII
Convenção Brasileira de Hospitais, 1980.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 315
São muitos os arquitetos que contribuíram para a • Duas estratégias tornam os hospitais mais eficientes
modernização dos hospitais brasileiros, propondo novas e seguros contra infecções hospitalares por meio da
soluções e inovações. No século XX, arquitetos como Jorge aglutinação das unidades afins, da criação de barreiras
Machado Moreira, Oscar Niemeyer, Vilanova Artigas, Rino físicas, do controle e da restrição dos acessos, do
Levi, Oscar Valdetaro, Roberto Nadalutti, Jarbas Karman, João encurtamento dos percursos críticos e da definição de
Filgueiras Lima, João Carlos Bross, Lauro Miquelin e Luiz Carlos fluxos contínuos para a esterilização dos materiais;
Toledo, entre outros, se dedicam ou se dedicaram a estudar e
projetar edifícios assistenciais de saúde. Dentre eles, Karman • Duas estratégias tornam os hospitais mais confortáveis física
talvez tenha sido o que mais produziu nesse campo, tanto em e psicologicamente por meio da criação de jardins internos,
número de projetos, quanto em publicações de artigos e livros. de espaços coletivos de convivência e da valorização da
Participou da publicação de algumas das principais normas iluminação e ventilação naturais.
ainda vigentes e foi o idealizador de uma instituição sem fins
lucrativos dedicada à pesquisa e à divulgação de conhecimento Cada uma dessas estratégias projetuais representa
sobre o planejamento físico-funcional de hospitais. Mesmo com uma síntese de soluções arquitetônicas recorrentes, que foram
a extensa produção e os feitos realizados, sua obra foi pouco utilizadas para responder a uma série de questões inerentes
divulgada e seus projetos foram pouco estudados até o momento. à construção e à operação dos edifícios hospitalares. As
estratégias, cada uma à sua maneira, têm como objetivo a
Esta pesquisa teve como objetivo conhecer melhor a obra criação de hospitais mais eficientes, seguros e confortáveis. As
projetada de Jarbas Karman, com foco em suas ideias, por meio análises dos projetos podem oferecer evidências para futuras
da interpretação do livro Iniciação à Arquitetura Hospitalar e da pesquisas acerca das transformações dos hospitais brasileiros
análise de cinco de seus principais projetos arquitetônicos. ou, até mesmo, estimular novas soluções arquitetônicas para
esse tipo específico de projeto.
As análises gráficas apontaram 19 estratégias projetuais.
Sete estão relacionadas ao agrupamento funcional, três estão Contudo, esta pesquisa é apenas em uma pequena
relacionadas à flexibilidade física, quatro estão relacionadas à aproximação da obra projetada de Karman. O resultado desta
eficiência operacional, duas estão relacionadas à segurança dissertação, obviamente, não é o suficiente para definir todas as
biológica, e três se relacionam com o conforto físico e psicológico suas possíveis colaborações ao tema. Sua obra é vasta e carece
dos usuários. Resumidamente, pode-se dizer que: de muitas outras aproximações e investigações.
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