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2019
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Sumário
Unidade 1
Atelier VI: pesquisa e levantamento de dados sobre a temática�������������� 7
Seção 1
Atelier VI: temática do projeto��������������������������������������������������������� 9
Seção 2
Atelier VI: metodologia de projetos de arquitetura hospitalar���24
Seção 3
Legislação vigente e normas pertinentes���������������������������������������38
Palavras do autor
O
lá!
Bem-vindo(a) à disciplina de Atelier de Projeto de Arquitetura VI.
O que seria de um arquiteto, se não soubesse como projetar?
Caminhamos ao longo de toda a trajetória acadêmica estudando sobre
formas, proporção, elementos construtivos e metodologia de projeto para
nos tornarmos aptos para exercer a profissão. No entanto, devemos consi-
derar que existem inúmeros tipos de edificações, cada qual com a sua
função e particularidade.
Conhecer as características que diferenciam os edifícios é fundamental
para criar soluções que atendam às necessidades e aos desejos de quem
usufruirá do espaço. Por isso, esta disciplina tem como objetivo respaldar o
futuro profissional nas mais variadas situações.
Desta vez, abordaremos a ampla e complexa temática da arquitetura
hospitalar. Este livro trata desde a evolução histórica dos hospitais e a
concepção do projeto de edifícios de saúde até o detalhamento e a apresen-
tação do projeto arquitetônico. Em síntese, temos como foco orientar o aluno
na compreensão da temática dos edifícios de saúde e na metodologia de
análise de projetos e fazer com que ele conheça a legislação vigente e entenda
a concepção do projeto de edifícios de saúde, que vai desde o pré-dimensio-
namento, o sistema estrutural e os detalhamentos até as técnicas de apresen-
tação do projeto arquitetônico.
A Unidade 1 tem caráter introdutório e versará sobre assuntos gerais para
que você possa compreender, de forma efetiva, como funciona um edifício
da área da saúde. Nas Unidades 2, 3 e 4, relacionaremos a temática com o
processo projetual já desenvolvido pelo(a) aluno(a) em disciplinas anteriores.
Tópicos como análise do entorno, programa de necessidades, partido arqui-
tetônico, pré-dimensionamento, desenhos técnicos e apresentação de projeto
serão abordados ao longo do material.
Este livro funciona como um guia, mas não se limite a ele! Busque
por conhecimento em outras fontes, como livros, palestras e pesquisas
científicas, a fim de vivenciar a arquitetura com olhos mais atentos.
Aprofunde-se nos conteúdos tratados neste material didático e conte
com a ajuda do(a) professor(a) neste processo de aprendizagem.
Bons estudos!
Unidade 1
Convite ao estudo
Olá, aluno(a)!
Nesta unidade, teremos como foco a temática da arquitetura hospitalar.
Você sabe quando surgiram os primeiros médicos e hospitais? Qual era a confi-
guração desses espaços e quais as modificações que aconteceram no decorrer
da história? Existe leis e normas que regem o funcionamento destes edifícios?
Para responder a essas questões, introduziremos o assunto e conhece-
remos a temática do projeto de arquitetura hospitalar, buscando referências
projetuais a partir de análises de projetos correlatos. Além disso, conhece-
remos as normas que regem o projeto dos edifícios de saúde. Por fim, teremos
conhecimento sobre o histórico do tema do projeto e a legislação vigente e
criaremos um repertório de referências arquitetônicas.
Imagine a situação na qual você foi contratado(a) por um escritório
de arquitetura especializado em construções da área da saúde. A prefei-
tura da sua cidade, localizada no interior do estado, está em um acelerado
processo de expansão que envolve a abertura de novos loteamentos. Dessa
forma, a prefeitura lançou um edital para um concurso municipal de projeto
arquitetônico para uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do novo bairro
recém-aprovado.
Este edital apresenta como requisitos a apresentação de um projeto arqui-
tetônico, no nível de anteprojeto, de um Estabelecimento Assistencial de
Saúde (EAS), com capacidade entre 2.400 e 4.000 pacientes e que atenda aos
critérios estabelecidos pelo Manual de Estrutura Física das Unidades Básicas
de Saúde, publicado pelo Ministério da Saúde.
Na Seção 1.1, você iniciará uma pesquisa sobre a temática de projeto e
analisará algumas edificações voltadas para o uso da saúde, a fim de conhecer
melhor as características dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS).
Com isso, você compreenderá a setorização e circulação entre os ambientes
necessários em uma edificação da área de saúde. Na Seção 1.2, identificará
as tipologias existentes e compreenderá o processo de concepção do projeto
arquitetônico. Nesse contexto, terá contato com o Plano Diretor Hospitalar
e qual é o processo projetual que envolve a criação de uma edificação. Para
terminar, na Seção 1.3, você se aprofundará na legislação vigente sobre
edifício de saúde, que norteará o desenvolvimento do projeto que deverá
atender a todas as normativas.
Com os conteúdos apresentados nesta disciplina, será possível entender
que a arquitetura pode influenciar no processo de cura dos doentes, atuando,
inclusive, como um tratamento auxiliar.
Está pronto(a) para descobrir os poderes do projeto arquitetônico?
Seção 1
Diálogo aberto
Hospitais, clínicas médicas, postos de saúde e laboratório de análises
clínicas; o projeto de edifícios voltados para a área da saúde exige atenção
especial, pois nestas construções existe a aglomeração de pessoas enfermas,
infectadas e debilitadas, o que aumenta o risco de contaminação e disseminação
de doenças. Devemos considerar ainda que os Estabelecimentos Assistenciais
de Saúde (EAS) prestam serviços de atendimento para indivíduos abatidos, e
que a maneira com que o projeto de arquitetura destas edificações for ideali-
zada impacta diretamente sobre o bem-estar da pessoa que precisa ser curada.
Pense em um cenário em que você faz parte de um escritório de arquitetura
especializado em projetos de EAS e a sua equipe trabalhará em uma Unidade
Básica de Saúde (UBS) no bairro novo da cidade onde mora. Você gostaria
de compreender mais sobre a temática para apresentar maior segurança e
melhores escolhas no momento de começar a projetar. Sendo assim, decidiu
estudar o processo histórico que moldou as edificações de atendimento à saúde
no Brasil, além de buscar por referências de projetos de arquitetura hospitalar e
analisar as soluções que foram utilizadas para atingir o resultado final.
Analise o processo histórico das construções de edifícios de saúde.
Quais foram as transformações e influências que culminaram na tipologia
construtiva que vivenciamos hoje? Quais dos elementos identificados devem
estar presentes no seu projeto arquitetônico? Que referências arquitetônicas
poderão auxiliá-lo no processo criativo, enriquecendo seu projeto?
Sua pesquisa acerca das edificações de arquitetura hospitalar executadas
no Brasil fez com que você identificasse alguns nomes que se destacaram
no projeto de edifícios de saúde, dentre eles, João Filgueiras Lima. Nesse
contexto, vcê opta por analisar uma obra completa do arquiteto para auxili-
á-lo na elaboração de um processo metodológico para EAS. Inicie observando
quais são os setores que compõem o projeto, os ambientes e suas respec-
tivas funções. Existem várias especialidades médicas atuando em conjunto?
Analise como os espaços se relacionam e os fluxos de circulação. O fluxo de
pacientes se cruza com o fluxo de médicos e funcionários? Observe também
fotografias dos ambientes internos. Este edifício é inteiramente branco ou
apresenta cores? Como são os móveis? Existe paisagismo? Estes são alguns
dos questionamentos que você deve levantar ao analisar a obra.
9
Para tanto, veremos, nesta seção, a evolução histórica dos hospitais,
contextualizando a temática da arquitetura hospitalar. Nesse sentido, desco-
briremos como eram os hospitais da antiguidade e quais acontecimentos os
transformaram nos complexos de saúde atuais. Compreender como ocorreu
a evolução destas edificações auxilia na criação de um panorama geral que
possibilitará o entendimento acerca da função e das percepções dos edifí-
cios de saúde. A análise de projetos arquitetônicos atuais lhe permitirá criar
um repertório de referências que poderão ser utilizadas futuramente, no
momento de projetar um edifício de saúde.
Está curioso(a) para descobrir como a arquitetura pode influenciar no
tratamento dos pacientes? Vamos começar nossa jornada de aprendizagem
sobre a arquitetura hospitalar!
Saiba mais
A profissão de médico foi estabelecida na Babilônia, sendo dissemi-
nada para o Egito. Os registros encontrados nos pergaminhos egípcios
mostram uma variedade de especialidades médicas, como olhos, dentes
e distúrbios internos. A remuneração era farta e os tratamentos eram
custeados pelo governo. Imhotep, considerado o primeiro arquiteto
que já existiu e responsável pela construção da pirâmide mais antiga,
era também um excelente médico (GÓES, 2004, cap. 2).
10
Vocabulário
Por esse motivo, a palavra hospital tem origem no latim hospitalis,
adjetivo derivado de hospes, que significa hóspedes. O termo como
conhecemos hoje tem a conotação de nosocomium, do grego, que signi-
fica “tratar os doentes”.
Pesquise mais
O livro De Architectura Libri Decem, de Marcus Vitruvius Pollio, intro-
duziu os princípios da arquitetura clássica que influenciaram as
construções do Renascimento e são utilizados até os dias atuais. Este
compêndio está dividido em dez volumes, que apresentam aspectos
arquitetônicos, desde a escolha do local para implantar uma cidade até
a decoração do interior das construções. O artigo escrito pela profes-
sora Giselle Luzia Dziura apresenta mais detalhadamente quais foram
as contribuições dos escritos de Vitruvius. Leia o intervalo de páginas
de 20 a 26 e saiba mais.
DZIURA, G. L. Três tratadistas da arquitetura e a ênfase no uso do
espaço. Da Vinci, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 19-36, 2006.
11
A Idade Média ficou conhecida como Idade das Trevas por diferentes
razões, por exemplo, a infestação de pestes que culminou em grandes epide-
mias, aumentando a necessidade de implantação de locais para quaren-
tena. Assim, acelerou-se o processo de construção de hospitais, localizados
próximos aos mosteiros e às igrejas, reforçando o poder do cristianismo
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1944). Um dos marcos da arquitetura hospitalar
está associado à construção de dois Hotéis Dieu, em Lyon e em Paris (Figura
1.1). A planta baixa destes estabelecimentos abrigava uma capela e deveria
permitir que todos os pacientes observassem os atos religiosos enquanto
repousavam em suas camas (GÓES, 2004). Porém, em meados do século XII,
surgiram diversos concílios que proibiram o exercício da medicina pelo clero,
incluindo as operações com derramamento de sangue. Apenas as doenças
da alma deveriam ser tratadas pelo clero, enquanto o exercício da medicina
ficou nas mãos de leigos.
Figura 1.1 | Catedral de Notre-Dame com o antigo Hotel Dieu à direita (Paris).
12
Após o incêndio do Hotel Dieu em Paris, no ano de 1772, ocorreram
mudanças significativas acerca da construção e do planejamento dos estabe-
lecimentos de saúde. O hospital era imenso para a época, com capacidade
de 2.500 leitos, e apresentava diversos problemas de contaminação e disse-
minação de doenças (GÓES, 2004). A Academia de Ciências de Paris ficou
encarregada pela sua reconstrução. Diversos projetos foram apresentados
e cada um deles previa atender 5.000 leitos. Contudo, a comissão se opôs
às propostas e estabeleceu novos parâmetros para a construção, incluindo,
dentre outros aspectos, a redução do número de leitos por hospital (1.200);
a disposição em pavilhões, nos quais as enfermarias ficariam isoladas e não
haveriam salas contínuas; e a utilização de, preferivelmente, apenas um
pavimento, com o máximo de dois ou três, conforme a concessão. Estes
princípios foram utilizados para direcionar a construção de vários hospitais
durante mais de um século (GÓES, 2004).
Reflita
A preocupação com a contaminação e infecção, dispersa pelos próprios
doentes, acarretou mudanças na estrutura física das edificações hospita-
lares. Quais outros aspectos podem ser influenciados pela arquitetura?
13
Figura 1.2 | Faculdade de Medicina de São Paulo (1978)
Saiba mais
A denominação Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS) é dada
a qualquer edifício destinado a prestar serviços de assistência à saúde
para a população. Independentemente do nível de complexidade do
projeto, todos eles devem garantir o acesso do paciente, seja em regime
de internação ou não.
14
ainda, outros fatores que se unem ao elemento da cobertura para contribuírem
com a melhor eficiência do edifício, como o sistema de galerias de manutenção,
que funcionam também como dutos de ventilação natural e que canalizam os
ventos, favorecendo a circulação do ar; e o resfriamento evaporativo, que usa
a nebulização de água para diminuir a temperatura do ar. Este último também
funciona como um filtro para as partículas de poeira.
Figura 1.3 | Hospital Sarah – Unidade Salvador
Assimile
Os sheds são aberturas zenitais (ou seja, posicionadas na cobertura)
com um formato característico que se assemelha aos dentes de uma
serra, muito utilizados na construção de fábricas. As obras de Lelé
popularizaram este elemento no Brasil, que se transformou e originou
uma estrutura única em cada obra na qual fora empregado. O shed
favorece o efeito chaminé, com o qual o ar quente é dissipado pela
abertura por meio da diferença de densidade do ar. Mas, cuidado! O
posicionamento da abertura deve calcular a incidência solar para que
15
ela não se transforme em um canalizador dos raios solares e prejudique
o conforto térmico do edifício.
Exemplificando
Os elementos vegetais apresentam influência sobre as sensações
do usuário. Estudos apontam a contribuição da vegetação para uma
16
melhor saúde mental, com menos estresse e ansiedade (BARTON;
PRETTY, 2010; LEE; JORDAN; HORSLEY, 2015; AKPINAR, 2016). Dessa
forma, o paisagismo pode ser incorporado aos espaços hospitalares
como tratamento auxiliar ao paciente.
Um exemplo é a proposta do projeto de extensão do Hospital de Helsin-
gborg na Suécia. Note que existe uma grande porção da área destinada
às localidades verdes.
17
optou por buscar referências em obras desenvolvidas por outros arquitetos
que lhe auxiliarão na elaboração do anteprojeto.
A pesquisa histórica desenvolvida mostrou que a preocupação com
a saúde da população existe desde os primórdios da civilização. Nesse
contexto, você identificou características como a escolha correta do local
de implantação, o aproveitamento da insolação e ventilação natural e a
organização dos ambientes visando a funcionalidade da edificação. Neste
momento, deverá enriquecer o seu projeto com referências arquitetônicas
de projetos correlatos.
Além disso, terá como função escolher uma obra do arquiteto João
Filgueiras Lima dentro da temática apresentada na seção. Comece pesqui-
sando em revistas, livros e sites o acervo desenvolvido pelo arquiteto durante
a sua carreira e selecione uma obra da área da saúde para ser analisada. Faça
uma ficha técnica da edificação, na qual deve constar o nome da obra, local de
implantação, data do projeto e de início e fim da construção. Inclua também
dados referentes ao tamanho da edificação (em m²). Com estas informações,
você poderá procurar pelos desenhos técnicos (plantas baixas, cortes, eleva-
ções) e por fotografias da obra.
Primeiramente, analise uma escala macro, verificando como o sol incide
sobre a edificação: identifique a direção do Norte e quais as faces de maior
e menor insolação. Obtenha a informação dos ventos dominantes; por
exemplo, no Rio de Janeiro, estes são provenientes da direção leste. Observe
a existência de áreas vegetadas no terreno ou se ele é todo pavimentado.
Depois de analisar o entorno, e com a planta baixa em mãos, identi-
fique os setores que fazem parte da construção. Quais são eles? Recepção,
ambulatório, maternidade, centro cirúrgico, patologia clínica, Unidade de
Tratamento Intensivo (UTI) e administração. Consegue reconhecer algum
deles? Você pode usar lápis de cor ou canetas hidrocor para identificar os
ambientes que fazem parte de um mesmo setor. Identifique também como
são distribuídos os fluxos. Use linhas e setas com cores de acordo com cada
setor, e classifique-os como fluxo interno (dos médicos e enfermeiros) e
externo (dos pacientes e visitantes). Esses fluxos se cruzam?
Veja o exemplo a seguir (Figura 1.6), que analisa o Centro de Apoio ao
Grande Incapacitado Físico, uma das unidades da Rede Sarah em Brasília,
DF. Veja como a planta baixa colorida facilita a visualização de como foram
organizados os ambientes em setores ou unidades funcionais
18
Figura 1.6 | Exemplo de análise de obra (o Centro de Apoio ao Grande Incapacitado Físico,
Brasília, DF)
19
Faça uma descrição de todas as características que você achar pertinente
e organize-as em pranchas que serão anexadas ao memorial descritivo do
projeto, o qual será entregue ao final da disciplina. Por fim, vale acrescentar
que você pode colocar imagens para ilustrar o texto e facilitar a compreensão.
Avançando na prática
Resolução da situação-problema
Faça um quadro para te ajudar a organizar as características de cada período.
Na linha de cabeçalho, escreva os períodos históricos que deseja comparar. A
primeira coluna determinará qual característica será analisada. Utilize algumas
das citadas anteriormente e crie o seu quadro. Veja um exemplo:
20
Quadro 1.1 | Modelo de quadro comparativo dos edifícios de saúde ao longo da história
Antiguidade Idade Média Renascimento Atualidade
Localização
Público
Médicos
Sistema
construtivo
Equipamentos
21
I. Economia na construção e manutenção, a partir da concentração de instala-
ções hidráulicas, elétricas, de esgoto, etc.
II. A cobertura em forma de ondas foi utilizada apenas para conferir ao edifício
um apelo estético com forte identidade visual.
22
III. A cobertura da unidade do Rio de Janeiro está desassociada das divisórias,
permitindo maior flexibilidade dos ambientes.
23
Seção 2
Diálogo aberto
Para que o arquiteto seja capaz de desenvolver um projeto arquitetônico
eficiente no setor de saúde, é necessário que se tenha conhecimento acerca
do funcionamento dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS) e da
metodologia aplicada ao projeto. Neste sentido, o Plano Diretor Hospitalar
(PDH) se transforma em um documento norteador das ações e soluções
voltadas para o desenvolvimento das edificações de saúde.
Voltemos ao cenário profissional em que você trabalha em um escritório
de arquitetura especializado em projetos de EAS, e a equipe da qual faz parte
participará de um concurso público para um projeto de uma Unidade Básica
de Saúde (UBS) no bairro novo da cidade na qual você mora. Já foi criado
um repertório de referências arquitetônicas que lhe auxiliará na criação do
projeto arquitetônico do EAS. Agora, você iniciará o processo projetual a
partir do desenvolvimento de um PDH e da adoção de uma metodologia que
indicará algumas técnicas que poderão ser utilizadas no decorrer do projeto.
Para isso, será necessário que você identifique: como são classificados os EAS?
Quais informações devem constar no PDH? Quais são as etapas metodoló-
gicas a serem seguidas no processo criativo de elaboração do projeto?
Nesta seção, apresentaremos um embasamento teórico sobre a rede de
saúde no Brasil, que nos permitirá conhecer e caracterizar os tipos de edifí-
cios de saúde. Versaremos também sobre o PDH e sua importância para o
levantamento de soluções técnicas e organizacionais que influenciarão o
funcionamento do EAS. Ainda, estudaremos a metodologia de projeto que
define as etapas que envolvem a concepção de um projeto arquitetônico.
Vamos diferenciar os conceitos de “máquina de curar” e “máquina de
cuidar” a partir da utilização de recursos de humanização da arquitetura
hospitalar. Está pronto para compreender o que está por trás da elaboração
de um projeto arquitetônico?
24
saúde. O resultado da conferência ficou registrado em um documento denomi-
nado Declaração de Alma-Ata, no qual foram determinados dez tópicos acerca
dos cuidados primários em saúde. Dentre eles, é enfatizado o caráter multifato-
rial do conceito de saúde, entendido não só pela ausência de enfermidades, mas
também pelo “estado de completo bem-estar físico, mental e social” (ALMA-
ATA, 1978). Ainda, a declaração afirma: “é direito e dever dos povos participar
individual e coletivamente no planejamento e na execução de seus cuidados de
saúde” (ALMA-ATA, 1978). Neste contexto entra o papel do arquiteto: projetar
e planejar um ambiente propício para a promoção da saúde, envolvendo todos
os aspectos que ela abrange (físico, mental e social).
O Ministério da Saúde surgiu a partir da fragmentação do Ministério de
Educação e Saúde, no ano de 1953. Nas décadas seguintes, foram desenvol-
vidos planos e políticas de promoção de saúde, dentre as quais destaca-se:
• A III Conferência Nacional da Saúde (CNS), realizada em 1963 pelo
ministro Wilson Fadul, que defendia a municipalização dos serviços
de saúde.
• A criação do Plano Nacional de Saúde, instituído pelo ministro e
médico Lionel Miranda no ano de 1967 a partir das diretrizes estabe-
lecidas pela III CNS.
A Constituição Federal de 1988 incumbiu ao poder público a responsa-
bilidade da saúde da população, sendo dever do Estado a garantia da saúde.
A partir disso, o governo criou o Sistema Único de Saúde (SUS), regulamen-
tado pela Lei Orgânica da Saúde (BRASIL, 1990).
Reflita
25
oferecido pelo SUS? Ou aqueles que tem menos recursos estão fadados
ao atendimento, muitas vezes precário, da rede de saúde pública?
26
Unidade para realização de atendimentos de atenção básica
Centro e integral a uma população, de forma programada ou não,
de saúde/ nas especialidades básicas, podendo oferecer assistência
1 Unidade odontológica e de outros profissionais de nível superior.
Básica de A assistência deve ser permanente e prestada por médico
Saúde generalista ou especialista nestas áreas, podendo, ou não,
oferecer: SADT e pronto atendimento 24 Horas.
Unidade destinada à prestação de atendimento em atenção
básica e integral à saúde, de forma programada ou não,
nas especialidades básicas, podendo oferecer assistência
odontológica e de outros profissionais, com unidade de
2 Unidade mista
internação, sob administração única. A assistência médica
deve ser permanente e prestada por médico especialista ou
generalista. Além disso, pode dispor de urgência/emergência
e SADT básico ou de rotina.
Unidade destinada à prestação de assistência a pacientes
Pronto-
2 com ou sem risco de vida, cujos agravos necessitam de
socorro
atendimento imediato, podendo ter, ou não, internação.
Hospital destinado à prestação de atendimento nas
especialidades básicas, por especialistas e/ou outras
2 Hospital geral
especialidades médicas. Além disso, pode dispor de serviço
de urgência/emergência e de SADT de média complexidade.
Unidade
Unidades isoladas nas quais são realizadas atividades que
de apoio de
2 auxiliam a determinação de diagnóstico e/ ou complementam
diagnose e
o tratamento e a reabilitação do paciente.
terapia
Hospital destinado à prestação de assistência à saúde em
uma única especialidade/área. Dispõe serviço de urgência/
Hospital
3 emergência e SADT, podendo ter, ou não, SIPAC. Por fim,
especializado
vale acrescentar que este tipo de hospital é, geralmente, de
referência regional, macro regional ou estadual.
Ambulatório Clínica destinada à assistência ambulatorial em apenas uma
3
especializado especialidade/área da assistência.
27
Assimile
Os hospitais são instituições complexas que abrangem, além do trata-
mento médico, diversos setores, podendo desempenhar a função de
hotel, restaurante, lavanderia, farmácia, laboratório, empresa (adminis-
tração), dentre outros. Por isso, o planejamento é imprescindível para
que todos os setores funcionem dentro da sua própria individualidade,
além de se relacionar e trabalhar em conjunto.
28
Fonte: Mendes (2007, p. 82).
29
O conteúdo destas etapas será retomado e aprofundado nas unidades
seguintes deste material.
Você pode estar se perguntando: mas qual caminho devo seguir para
atingir o resultado, que é o projeto arquitetônico? Christopher Alexander,
arquiteto austríaco, desenvolveu o design methodis, um método que sistematiza
o processo de criação (ALEXANDER, 1964; GÓES, 2004). Quando aplicado à
arquitetura, o método é decomposto em meta-projeto e projeto (Figura 1.7).
Figura 1.7 | Sistematização da metodologia de projeto
30
do processo criativo, ele poderá desenvolver as suas próprias técnicas e seus
próprios métodos para concepção de projetos.
Exemplificando
Existem exemplos nacionais de profissionais que atuam na promoção
de novos processos e normas que regem a arquitetura hospitalar,
dentre eles: Sylvia Caldas Ferreira Pinto, que participa dos trabalhos
escritos pelo Ministério da Saúde; João Carlos Bross, que estuda sobre
técnicas de gerenciamento do projeto; e João Filgueiras Lima (Lelé), que
desenvolveu processos de padronização e industrialização aplicada aos
edifícios hospitalares.
A Rede Sarah é um exemplo de aplicação dos conceitos de pré-fabri-
cação desenvolvidos por Lelé durante seus estudos na Europa. Todos
os hospitais da rede utilizam sistemas pré-fabricados, desde a superes-
trutura até os objetos hospitalares (LUKIANTCHUKI et al., 2011). A
expansão da rede permitiu o aperfeiçoamento das técnicas, garantindo
estruturas mais leves e funcionais. Um destes materiais consiste na
argamassa armada, utilizada nas lajes da estrutura do Hospital Sarah do
Rio de Janeiro (Figura 1.8).
31
Um dos problemas enfrentados pela grande parte dos EAS modernos
e que merece destaque é a desumanização dos ambientes hospitalares. Na
seção anterior, vimos como os princípios da Academia de Ciências de Paris
transformaram o modo de projetar os edifícios de saúde. Nesse contexto,
surgiu o modelo construtivo pavilhonar, no qual a preocupação com a conta-
minação (até então acreditava-se que esta seria contida por meio de barreiras
físicas) originou uma estrutura que utilizava a ventilação, a iluminação e a
redistribuição das unidades funcionais como fatores dificultadores da disse-
minação de doenças. Desse modo, as construções eram concebidas sob os
princípios do conforto ambiental, provendo maiores quantidades de ar por
leito e pátios ajardinados para separação dos enfermos de acordo com a
patologia (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1944).
A partir do século XIX, os avanços tecnológicos permitiram identificar
os microorganismos (até então desconhecidos) como a causa da dissemi-
nação de doenças, além da adoção de técnicas de assepsia que se tornaram
mais eficazes que a disposição de barreiras físicas para eliminar os fatores
de contaminação (TOLEDO, 2008). Uma vez que o confinamento do ar e
a concentração de gás carbônico deixaram de ser responsáveis pela insalu-
bridade, surgiu um novo modelo arquitetônico denominado monobloco,
que concentrou todas as funções em um único bloco construtivo com vários
pavimentos. A preocupação excessiva com o rigor funcional dos hospitais
levou a uma abdicação de qualquer fator que não fosse necessário do ponto
de vista da clínica médica, o que afastou a prática terapêutica dos hospitais
modernos (TOLEDO, 2008).
Dessa forma, a humanização se apresenta como a maneira de tratamento
do paciente a partir da qual ele é visto como ser humano, e não apenas como
um doente. O foco do atendimento à saúde não deverá ser simplesmente
curar, e sim cuidar, por meio do conforto físico e psicológico oferecido ao
indivíduo. Este aspecto deve ser incorporado em todos os EAS, indepen-
dente do nível de complexidade, visando universalizar o tratamento humani-
tário na arquitetura hospitalar.
Pesquise mais
O seguinte artigo, de Júlio Nardino, descreve algumas ações de humani-
zação da arquitetura hospitalar e aponta as características a serem
observadas no PDH.
NARDINO, J. C. dos S. Planejando o hospital do futuro: a importância
do Plano Diretor Hospitalar. In: XII Semana de Extensão, Pesquisa e
Pós-Graduação (SEPesq). 2016.
32
Dessa forma, encerramos mais uma etapa de aprendizado sobre a arqui-
tetura hospitalar. Na próxima seção, compreenderemos as normas e leis
aplicadas ao projeto arquitetônico de edifícios da área da saúde.
33
Você poderá incluir princípios como humanização, economia e tecnologias
neste texto. Por fim, este relatório será anexado ao memorial descritivo do
projeto e entregue ao final da disciplina.
Desenvolvido o PDH, partiremos para a conceituação do projeto, primeira
etapa descrita no método de projeto. Relacione o seu repertório de referên-
cias, o PDH, e as discussões acerca do assunto para criar um conceito próprio
deste projeto de arquitetura hospitalar. Tenha em mente que o conceito é o
aspecto no qual a edificação se destaca e no qual será fundamentada. Deve
ser algo palpável, como elaborar um projeto sustentável com base nas certi-
ficações, ou utilizar a industrialização para facilitar o processo construtivo.
O conceito não precisa representar apenas uma face do projeto e pode ser
destrinchado em vários fatores.
Um exemplo é o Dell Children’s Medical Center (Figura 1.9), no Texas
(EUA), que usou a sustentabilidade como um dos conceitos do projeto. Este
hospital foi o primeiro a obter a certificação LEED Platinum, que consiste em
uma espécie de selo de edificação sustentável utilizado globalmente.
Figura 1.9 | Dell Children’s Medical Center, Texas, EUA
34
os conceitos escolhidos, você pode utilizar imagens. Além disso, não se esqueça
de diagramar a prancha para melhorar a apresentação do projeto. Anexe estes
documentos no memorial descritivo que será entregue ao final da disciplina.
Avançando na prática
Resolução da situação-problema
Para aprofundar o seu conhecimento sobre a humanização, leia o artigo
apresentado e anote os principais pontos de uma edificação humanizada.
Em seguida, pesquise por referências e exemplos da prática de humanização
em livros, revistas, sites na internet e artigos ou trabalhos acadêmicos, como
teses e dissertações. Escolha uma edificação hospitalar humanizada ou retire
os exemplos de princípios humanizadores de várias referências.
Um exemplo é o Hospital Miguel Piltcher, do arquiteto Irineu Breitman
(Figura 1.10), construído em 1973. As obras de Irineu muito se assemelham
aos projetos de João Filgueiras Lima, apesar de terem suas divergências
técnicas. A valorização da iluminação e ventilação naturais por meio do uso
de sheds é um dos pontos em comum dos arquitetos.
Figura 1.10 | Hospital Miguel Piltcher, Pelotas (RS), Brasil
35
Fonte: Toledo (2008, p. 205).
1. A rede de saúde pode ser caracterizada de acordo com o nível de atendimento em:
nível primário, nível secundário e nível terciário.
36
2. O Plano Diretor Hospitalar (PDH) é um instrumento utilizado como suporte para
a elaboração de um projeto arquitetônico na área da saúde. Seu desenvolvimento é
fundamental para que a edificação seja concebida de forma adequada e apresente uma
funcionalidade eficiente.
1. Diagrama espacial.
2. Matriz de requisitos.
3. Conceituação.
4. Geração de requisitos.
5. Solução arquitetônica.
a. 1 – 2 – 3 – 4 – 5.
b. 3 – 4 – 2 – 1 – 5.
c. 4 – 2 – 1 – 3 – 5.
d. 3 – 1 – 2 – 4 – 5.
e. 2 – 4 – 3 – 1 – 5.
37
Seção 3
Diálogo aberto
As leis e normas são fundamentais para a regulamentação e determinação
de critérios de segurança, conforto, funcionalidade e higiene, necessários em um
Estabelecimento Assistencial de Saúde (EAS). As atividades exercidas em um
EAS requerem situações específicas para que possam atuar de maneira eficiente.
Voltemos ao cenário em que você é um dos arquitetos que compõem
a equipe responsável por projetar uma Unidade Básica de Saúde (UBS)
no bairro novo da cidade na qual o escritório está instalado. Neste ponto,
você já criou um repertório de referências e desenvolveu o Plano Diretor
Hospitalar do EAS. O próximo passo é conhecer a legislação vigente para
que você tenha subsídio técnico no momento de projetar. A atividade desta
seção propõe uma análise de um projeto correlato, em formato de pranchas,
no qual você poderá verificar a relação entre a legislação e o projeto. Você
sabe qual é a função das leis e qual é o impacto que elas causam no desenho
de um projeto? Como uma lei pode determinar algumas diretrizes? Quais
elementos e soluções deverão estar contidas no projeto para que atenda às
normas do corpo de bombeiro?
Nesse sentido, conheceremos nesta seção as normas, as leis, os manuais e
outros documentos relacionados ao projeto de arquitetura hospitalar. Além
disso, discutiremos sobre o Ministério da Saúde e seu papel na promoção
de condições básicas para a população, as características de edificações e as
normas técnicas voltadas para os EAS.
O descumprimento de qualquer uma destas normas resultará na não
aprovação do projeto arquitetônico ou, ainda pior, em falhas funcionais e proce-
dimentais do EAS, que podem prejudicar a saúde e o bem-estar da população.
Prepare o papel e a caneta, pois o estudo da legislação vigente requer que
você identifique e anote as instalações necessárias a determinado ambiente,
dimensões mínimas de circulação, procedimentos e processos envolvidos
nas atividades médicas e de serviços, entre outras situações necessárias nos
ambientes hospitalares.
Está pronto para começar?
38
Não pode faltar
39
Assimile
A aprovação de um projeto de arquitetura hospitalar é semelhante a
qualquer outro projeto. Assim como na aprovação de um projeto de uma
residência, por exemplo, o arquiteto deverá seguir as normas da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) referentes à apresentação do projeto
arquitetônico (NBR nº 8402, 8403 e 8404 de 1984; NBR nº 10126 e 10068
de 1987; NBR nº 10582 de 1988; e NBR nº 10067 de 1995), bem como as
diretrizes determinadas pela prefeitura da cidade na qual será implantado,
como o Código de Obras e o Plano Diretor Municipal.
A diferença é que os Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS)
deverão obedecer às normativas impostas pelo Ministério da Saúde,
que abrangem aspectos de circulação, conforto ambiental, controle de
infecções e contaminação, além de combate a incêndios.
40
A quantificação das vagas de estacionamento deve seguir as orientações
previstas na legislação municipal, sendo prevista ao menos uma vaga (ou
12,00 m²) para cada quatro leitos. Além disso, devem ser reservadas as áreas
de estacionamento das viaturas de serviço (ambulâncias, por exemplo).
As circulações horizontais correspondem aos corredores, que devem
ter largura mínima de 2,00 metros em casos de circulação de pacientes (seja
ambulante, cadeirante, transportado em maca ou cama) ou de tráfego intenso
de materiais ou pessoas. Ambos devem servir exclusivamente para circulação
e a largura mínima deve permanecer livre caso seja instalado um equipamento
como bebedouro, telefone público, extintores ou lavatórios. Corredores para
tráfego baixo de pessoas ou cargas podem ter largura mínima de 1,20 metros.
A dimensão das portas também deve ser observada. Com exceção das
portas utilizadas para passagem de macas, que devem ter largura mínima
de 1,10 metros, e em caso de portas de acesso às unidades de diagnóstico
e terapia, que requer largura mínima de 1,20 metros; as demais aberturas
podem apresentar largura de 0,80 metros. A altura de qualquer uma das
aberturas deve apresentar, no mínimo, 2,10 metros. As portas dos sanitários
de pacientes devem abrir para fora ou permitir a retirada da folha pelo lado
externo, caso o paciente esteja dentro do banheiro e precise de socorro.
As circulações verticais compreendem as escadas e rampas. Neste caso, além
das normativas referentes à prevenção de incêndio, à NBR nº 9050:2015 e aos
órgãos municipais, as circulações verticais devem atender a critérios específicos.
As escadas de uso dos pacientes devem ter uma largura mínima de 1,50 metros,
enquanto que as de uso exclusivo do pessoal pode ter largura mínima de 1,20
metros (Figura 1.11). Nenhum lance de escada pode vencer mais de 2,00 metros,
e não é permitido a utilização de degraus em leque. A largura mínima das rampas
deverá ser 2,00 metros ou, em caso de circulação restrita a funcionários, 1,20
metros. O número máximo de pavimentos a ser vencido pelas rampas é dois, e as
inclinações devem obedecer às regras da NBR nº 9050:2015.
Figura 1.11 | Exemplo de dimensionamento de circulação vertical
41
Os elevadores devem obedecer às normas da NBR nº 14712:2013 e ser
instalados em um EAS no qual as atividades de unidade de internação, centro
cirúrgico, centro obstétrico, unidade de terapia intensiva e radiologia estejam
em um pavimento diferente do térreo e não acessíveis por meio de rampas.
42
O conforto luminoso será atingido a partir do cumprimento das regula-
mentações dispostas na norma NBR ISO/CIE nº 8995-1:2013 e das diretrizes
do Código de Obras e Posturas do município. Algumas unidades funcionais,
em especial, necessitam da incidência da luz solar direta, como os ambula-
tórios, os consultórios, as salas de exame e observação, internação, materni-
dade e berçário, os laboratórios e as salas para diálise. A iluminação natural
deve ser complementada pela luz artificial em todos os ambientes nos quais
há a manipulação de pacientes.
Reflita
Relembre as obras de João Filgueiras Lima para a Rede Sarah de hospitais
e identifique as características utilizadas pelo arquiteto para promover
o conforto ambiental e o bem-estar dos pacientes e usuários. Observe a
Figura 1.12 que mostra um dos ambientes da unidade de Brasília.
43
o arquiteto tem papel fundamental. Diversos fatores interferem no controle
da contaminação, por exemplo: fluxos e padrões de circulação; transportes de
materiais, equipamentos e resíduos sólidos; sistemas de renovação de ar; facili-
dade de limpeza das superfícies e materiais; entre outros.
No que diz respeito aos critérios do projeto, um dos primeiros pontos
a se considerar a fim de evitar a infecção hospitalar é o zoneamento das
unidades funcionais. Isto implica no isolamento das áreas críticas (com risco
maior de infecção, como ambientes para internação de pacientes pós-cirúr-
gico ou no pós-parto, recém-nascidos, diálises, preparo de alimentos, entre
outros), áreas semicríticas (compartimentos ocupados por pacientes que não
se enquadram nas categorias de alto risco de infecção) e áreas não críticas
(ambientes não ocupados por pacientes).
O segundo aspecto a ser considerado é a adoção de barreiras físicas a
partir da compartimentação das etapas do procedimento. Qualquer atividade
que envolva a separação de objetos contaminados e não contaminados deve
prever salas ou equipamentos que permitam esse isolamento. Por exemplo,
os centros cirúrgicos, obstétricos, lactário, entre outros, recebem vestíbulos
acoplados a eles que funciona como uma barreira ao acesso direto a estes
ambientes. Estes vestíbulos são classificados em área limpa (sem contato com
material contaminado) e área suja (apresenta contato com material contami-
nado) e devem ser dispostos de maneira estanque e com acessos separados.
Exemplificando
A lavagem de roupas é outro processo que necessita de separação entre
a área limpa e a suja. Primeiro, existe a classificação da roupa suja, cujo
ambiente é tratado como altamente contaminado e deve apresentar
uma série de requisitos arquitetônicos (exaustão mecanizada, processo
de recepção da roupa por meio de carros ou tubulões, pisos e paredes
laváveis, entre outros). O processo de lavagem da roupa também neces-
sita de setorização. Uma das maneiras de solucionar esta situação é
por meio da adoção de uma máquina de lavar com porta dupla, uma
delas voltada para a área suja, na qual a roupa será depositada, e outra
voltada para a área limpa, na qual outro operador recolherá a roupa já
lavada. A comunicação entre estes compartimentos deverá ser feita por
meio de visores e interfones.
44
> envaze de refeições > distribuição) e lavagem (recepção > lavagem de
recipientes e utensílios > esterilização). A compartimentação deve se
adequar a este fluxo para garantir o funcionamento do processo. As ativi-
dades de recepção, desinfecção e separação de materiais são consideradas
áreas sujas, portanto devem ser realizadas em ambientes para uso exclusivo
e com paramentação adequada.
Os acabamentos e materiais utilizados no projeto devem permitir a sua
higienização. Pisos, paredes, balcões, etc. devem ser laváveis e resistentes a
agentes químicos de limpeza e desinfetantes. Os forros das áreas críticas não
podem ser removíveis.
Combate a incêndios
O primeiro passo para garantir o controle contra incêndios é permitir
a aproximação dos veículos do corpo de bombeiros. O edifício deve ser
acessado por pelo menos duas fachadas opostas e os acesos devem estar livres
de congestionamento.
O zoneamento dos ambientes do EAS deve ser setorizado de acordo
com as instalações físicas e função, a fim de identificar os espaços com
maior ou menor risco de incêndio. A compartimentação deve impedir que
o fogo se propague de um ambiente ao outro horizontal e verticalmente.
Dentre os setores, os que merecem atenção por terem maior risco são:
apoio ao diagnóstico e terapia (laboratórios), serviço de nutrição e dieté-
tica (cozinha), farmácia (área para armazenagem e controle), Central de
Material Esterilizado, processamento de roupa (lavanderia), arquivo e área
para armazenagem (devido ao material combustível), gerador e subestação
elétrica e caldeiras. Os setores de médio e alto risco devem ser interligados às
áreas de circulação ou garagem por meio de uma antecâmara, e não podem
ser utilizados como rota de via de escape.
Os materiais construtivos devem ser especificados de modo que resistam
à ação do fogo, em especial, do sistema estrutural e das portas dos setores de
incêndio. As escadas podem ser do tipo protegida (paredes e portas resistentes
ao fogo), enclausurada (paredes e portas corta-fogo) ou à prova de fumaça
(antecâmara com duto de ventilação). Devem ser dispostas, no mínimo, duas
escadas nas unidades de internação, situadas em posições opostas, e o raio de
abrangência não pode ultrapassar 15 metros, para os setores de alto risco, ou
30 metros, para os demais locais.
Os sistemas de detecção de incêndio e sinalização devem ser executados
em conformidade com NBR nº 17240:2010 e 9077:2001.
45
Pesquise mais
O Manual de Normas para Projetos Físicos de Estabelecimentos Assis-
tenciais de Saúde, publicado pelo Ministério da Saúde, determina
critérios para instalações prediais ordinárias e especiais nos EAS.
Leia o capítulo 7, página 117 a 129, que trata das instalações hidrossani-
tárias, elétricas e eletrônicas, fluido-mecânicas e de climatização.
BRASIL. Normas para projetos físicos de estabelecimentos assisten-
ciais de saúde. Brasília: DF/ Ministério da Saúde,1994a.
46
como “tipo”, “dimensão e quantidade mínima” e “características”. A seguir, o
Quadro 1.2 mostra um exemplo que poderá ser seguido.
Quadro 1.2 | Modelo de quadro para resumo dos requisitos e características dos EAS
Dimensão e quantidade
Item Tipo Características
mínima
Critério: circulações externas e internas
Paciente externo
ambulante, doador
e acompanhante;
paciente externo
transportado;
paciente a ser inter-
Acessos
paciente externo de
12,00 m² ou uma vaga
ambulatório; funcio- Consultar Código de Obras
a cada quatro leitos ou
nários; fornecedores; municipal.
menos.
entregas (combus-
tível, mantimentos,
medicamentos, etc);
remoção de mortos;
remoção de resíduos.
1. Circulação de pacien-
tes: 2 metros de largura;
Circulação de pessoal e
de carga: 1,20 metros de
largura.
Desníveis superiores a 3 cm,
Circulações horizontais
usar rampa;
2. Passagem de macas e
Não é permitido usar o corre-
camas: largura mínima
dor como sala de espera.
1) Corredores; 1,10 metros, altura míni-
2) Portas. ma 2,10 metros;
Portas dos banheiros deve abrir
Unidades de diagnóstico
para fora e permitir retirada da
e terapia: largura mínima
folha para o lado externo.
1,20 metros, altura míni-
ma 2,10 metros;
Demais portas: largura
mínima 0,80 metros,
altura mínima 2,10
metros;
47
1. As larguras mínimas devem
estar livres de equipamentos
(bebedouros, telefones, etc.);
Distância entre a escada e a
porta do quarto mais distante
não pode ser superior a 35,00
1. Uso por pacientes,
metros;
largura mínima 1,50
Piso revestido com material
metros;
antiderrapante;
Uso por pessoal, largu-
Não são permitidos degraus
ra mínima 1,20 metros;
em leque;
Lance máximo a ser
Os degraus devem obedecer à
vencido: 2,00 metros
formula: 2 vezes altura +
(caso seja acima disso,
profundidade = 0,64 metros.
utilizar patamar inter-
mediário).
2. A rampa pode vencer, no
máximo, dois pavimentos;
2. Uso por pacientes,
Em caso de mudança de
largura mínima 2,00
direção, devemos ter patamares
metros;
intermediários;
Uso por funcionários,
São obrigatórios o piso an-
largura mínima 1,20
tiderrapante, o corrimão e o
metros;
Circulações verticais
guarda-corpo;
Pé direito mínimo: 2,00
1) Escadas; Não é permitido abrir portas
metros;
2) Rampas; sobre a rampa (caso seja
Inclinações admissíveis:
3) Elevadores; necessário, criar um vestíbulo
6,25% para desníveis
4) Monta-cargas; com, no mínimo, 1,50 metros
até 3,00 metros, 8,33%
5) Tubos de queda. de largura e 1,20 metros de
para desníveis até 1,50
comprimento).
metros, 10,00% para
desníveis até 0,274
3) É necessário em um EAS
metros, 12,5% para
que qualquer um dos seguintes
desníveis até 0,183
ambientes estejam em um pavi-
metros.
mento diferente do térreo e não
acessível por rampa: unidade de
3. Área mínima da
internação, unidade de diagnós-
cabine: 2,20 x 1,20
tico e tratamento dos pacientes
metros;
internados, centro cirúrgico,
Largura livre da porta:
centro obstétrico, unidade de
1,10 metros.
terapia intensiva e radiologia.
4) –
4) Devem ser dotados de porta
corta-fogo;
5) –
A abertura deve ser feita em
recintos fechados e nunca em
corredores.
48
Complete o quadro com o restante dos critérios e elabore um relatório
com as informações. A partir disso, você deverá selecionar um projeto corre-
lato (um hospital, preferencialmente) e identificar quais soluções adotadas
no projeto foram impactadas pelas limitações e recomendações da legis-
lação. Identifique os pontos em comum entre a legislação apresentada no seu
relatório e os elementos projetuais. Apresente sua análise em pranchas no
tamanho A3 (no máximo 3) diagramadas (podem ser realizadas à mão, com
colagens dos projetos analisados, ou algum software de desenho gráfico).
Avançando na prática
49
em educação, saúde, lazer e cultura e culto religioso); e tipo 3 (ativi-
dades de grande porte).
• Usos comerciais: vicinal, de bairro, setorial, geral e específico.
• Usos industriais: tipo 1 (compatíveis com o uso residencial – não
causam incômodos); tipo 2 (não geradoras de fluxo intenso e compa-
tíveis com o entorno); e tipo 3 (usos e padrões específicos, como
agropecuária e uso extrativista).
• Usos de serviços: vicinal, de bairro, setorial, geral e específico.
Para implantar um Estabelecimento Assistencial de Saúde (EAS), é neces-
sário que o zoneamento da cidade permita o seu uso no bairro no qual se
deseja construí-lo. Desta forma, as edificações de saúde podem ser implan-
tadas em zonas que permitem o Uso Comunitário 1, no que se refere aos
ambulatórios de pequeno porte (postos de saúde), e mais enfaticamente no
Uso Comunitário 2 de Saúde.
Para compreender como funciona o uso e a ocupação do solo urbano, no
que diz respeito aos EAS, você deverá verificar, no PDM da sua cidade, quais
zonas permitem o uso na área de saúde e identificá-las em um mapa.
Resolução da situação-problema
Você deverá obter o PDM da sua cidade, seja fazendo uma busca no site
municipal, ou indo até a prefeitura e solicitando o arquivo, normalmente
disponibilizado em formato PDF. Dentro do PDM, você deverá encontrar a
Lei de Uso e Ocupação do Solo e identificar como é feita a classificação dos
usos e das atividades desenvolvidas no município. Tomando como exemplo
a cidade de Umuarama, no noroeste do Paraná, a zona que permite o Uso
Comunitário 2 - Saúde é somente a Zona Central (ZC), sendo que a ativi-
dade é tolerada nas zonas de Comércio e Serviços (ZCS), Zona Residencial
de Baixa Densidade (ZBD), Zona Residencial de Média Densidade (ZMD),
Zona Residencial de Alta Densidade (ZAD) e Zona de Serviços I (ZSI). As
zonas ZBD, ZMD e ZAD também permitem o Uso Comunitário 1 (com
ressalva para a ZBD, no qual o porte deve ser até 100m²).
Observe, no PDM da sua cidade, quais zonas permitem ou toleram o uso
para atividades de saúde. Em seguida, identifique no mapa do município
no qual estão estas zonas. Você pode usar cores diferentes de acordo com
o uso (Comunitário 1 ou Comunitário 2 de Saúde) e/ou de acordo com a
permissão (uso permitido ou tolerado).
50
Faça a valer a pena
51
III. A compartimentação dos ambientes deverá prever a setorização dos
espaços de acordo com o maior, ou menor, risco de incêndio em baixo,
médio e alto risco.
IV. As superfícies devem permitir a sua completa higienização e serem
confeccionadas com materiais resistentes à ação de agentes químicos
e desinfetantes.
Assinale a alternativa que contém apenas as alternativas relacionadas ao controle da
infecção hospitalar.
3. Você é arquiteto e foi contratado para projetar um hospital geral privado com
capacidade para 1.500 leitos. O cliente já encontrou um terreno para implantar o
edifício, porém, quer a sua opinião antes de realizar a compra do lote. A Lei de Uso e
Ocupação da cidade mostra que o lote escolhido está inserido na Zona Residencial de
Baixa Densidade, cuja tabela de parâmetros é a seguinte:
52
educação infantil (ensino maternal, pré-escola, jardim de infância) e estabelecimentos de educação especial.
4
Uso comunitário 2: atividades com concentração de pessoas ou veículos, níveis altos de ruídos e padrões
viários especiais.
5
Uso industrial. Tipo 1: atividades industriais compatíveis com o uso residencial, não incômodas. Tipo 2:
atividades industriais compatíveis ao seu entorno e aos parâmetros construtivos da zona, não geradoras de
intenso fluxo de pessoas e veículos.
Considerando a zona na qual o terreno que o cliente escolheu está inserido, assinale
a alternativa correta.
53
Referências
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14712: elevadores elétricos: elevadores
de carga, monta-cargas e elevadores de maca: requisitos de segurança para projeto, fabricação e
instalação. Rio de Janeiro: 2013.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 17240: sistemas de detecção e alarme
de incêndio: projeto, instalação, comissionamento e manutenção de sistemas de detecção e
alarme de incêndio: requisitos. Rio de Janeiro: 2010.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9077: saídas de emergência em edifí-
cios. Rio de Janeiro: 2001.
AKPINAR, A. How is quality of urban green spaces associated with physical activity and health?.
Urban forestry and urban greening, v. 16, p. 76-83, 2016.
BARTON, J.; PRETTY, J. What is the best dose of nature and green exercise for improving mental
health? A multi-study analysis. Environmental science and technology, v. 44, n. 10, p. 3947-3955,
maio. 2010.
BRASIL. Decreto nº 76.973, de 31 de dezembro de 1975. Dispõe sobre normas e padrões para
prédios destinados a serviços de saúde, credenciação e contratos com o mesmo e dá outras
providências. Brasília: DF, 1975a.
BRASIL. Lei nº 6.229, de 17 de julho de 1975. Dispõe sobre a organização do Sistema Nacional
de Saúde. Brasília: DF, 1975b.
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspon-
dentes e dá outras providências. Brasília, DF: 1990.
CBCA – Centro Brasileiro de Construção em Aço. Técnica e arte a serviço da cura. Revista
Au – Arquitetura e Urbanismo, out. 2008. Disponível em: http://www.cbca-acobrasil.org.br/
noticias-detalhes.php?cod=3108&orig=obras&codOrig=90339. Acesso em: 8 jul. 2019.
GÓES, R. de. Manual prático de arquitetura hospitalar. São Paulo: Edgard Blucher, 2004.
LEE, A.; JORDAN, H.; HORSLEY, J. Value of urban green spaces in promoting healthy living and
wellbeing: prospects for planning. Risk management and healthcare policy, p. 131-137, ago. 2015.
TOLEDO, L. C. M. de. Feitos para cuidar: a arquitetura como um gesto médico e a humanização
do edifício hospitalar. 2008. 241 f. Tese (Doutorado em Ciências da Arquitetura) – Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.