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DIMENSIONAMENTO DE VIGAS

DE CONCRETO ARMADO
Introdução
• Vigas são elementos que, juntamente com os pilares e as lajes, compõem a superestrutura de
uma edificação.
• As vigas trabalham recebendo as cargas das lajes e também de outros elementos construtivos
apoiados sobre elas, como as paredes e/ou as divisórias. As vigas absorvem essas cargas e as
levam até seus apoios, que são os pilares.
• Em alguns casos, as vigas podem descarregar sobre outras vigas, mas depois a carga chega aos
pilares para que, então, sejam transmitidas às fundações e, consequentemente, até o solo.
Introdução
• Destaca-se que, apesar da ocorrência de outros esforços que podem existir nas vigas, como
cisalhamento, tração, compressão ou torção, a flexão é o principal esforço que acomete esse tipo
de elemento, sendo, muitas vezes, o responsável pelo tamanho da seção que o elemento vai ter.

Sendo a viga um elemento


majoritariamente fletido, uma das
faces da viga sofrerá tensões de
tração e a face oposta tensões de
compressão.
Introdução
• Enquanto o concreto for capaz de resistir aos esforços de tração atuantes, não ocorrem fissuras e
a viga está no que chamamos de Estádio Ia (peça não fissurada), em que o próprio concreto
resiste à tração.
• Com o aumento do carregamento, os momentos fletores também aumentam e, assim, as tensões
de tração superam a resistência do concreto à tração na flexão e então a viga fissura,
configurando o que se conhece por Estádio Ib (início da fissuração no concreto tracionado).
• O Estádio II é configurado pelo concreto já fissurado da viga e que não é mais considerado como
colaborante para resistir aos esforços de tração na flexão.
• O Estádio III é configurado pelo início do esmagamento do concreto comprimido.
Introdução
• Além das armaduras longitudinais, dentro das vigas de concreto armado, são dispostas armaduras
transversais, também chamadas comumente de estribos, e as armaduras de pele, conhecidas
também como costelas.
• Estribos: são as responsáveis pela estabilidade da viga diante dos esforços de cisalhamento
(esforço cortante) e, em alguns casos, também de torção, quando esses esforços ocorrem.
• Costelas: responsável por auxiliar na resistência também dos esforços de torção e em vigas de
alturas maiores que 60 cm, a disposição da armadura de pele minimiza as fissuras superficiais
que ocorrem nas laterais das vigas em função dos efeitos de retração do concreto.
Pré-dimensionamento
• Largura (bw ): A seção transversal das vigas não pode apresentar largura menor que 12 cm e a
das vigas-parede, menor que 15 cm. Estes limites podem ser reduzidos, respeitando-se um
mínimo absoluto de 10 cm em casos excepcionais.
- bw = (espessura parede) – 2 × (revestimento)

• Altura (h): A altura das vigas deve ser preferencialmente modulada de 5 em 5 cm, ou de 10 em 10
cm. A altura mínima indicada é 20 cm.
- Em vigas biapoiadas e sem balanços em suas extremidades, a altura pode se calculada dividindo-
se o vão l por 10, arredondando-se para o múltiplo de 5 superior.
- Em vigas contínuas a altura será calculada dividindo-se o maior vão por 12, também
arredondando-se para o múltiplo de 5 superior. Esta altura h pode ser usada em toda a viga,
mesmo nos menores vãos.
- A altura da viga em balanço pode ser estimada dividindo-se o comprimento do balanço por cinco.
Pré-dimensionamento
• Altura (h)
Dimensionamento de vigas de seção retangular
com armadura simples
• Após o pré-dimensionamento de uma viga em concreto armado e conhecidos os esforços
(momento fletor e força cortante) atuantes em uma viga, deve-se partir ao seu
dimensionamento.
• Para tanto, recorremos ao auxílio das tabelas tipo k, assim como ocorre no dimensionamento de
lajes maciças em concreto armado.
• Obter o coeficiente Kc  Obter o coeficiente Ks (tabela)  Calcular a armadura.
• Coeficiente kc
𝑏𝑤 . 𝑑²
𝑘 =
𝑀

• A altura útil “d” em uma viga é a distância da borda mais comprimida


até o eixo da armadura tracionada.
d = h – c − l/2 − t
Adotar inicialmente l = 10 mm e t = 5 mm
Dimensionamento de vigas de seção retangular
com armadura simples
• Após o pré-dimensionamento de uma viga em concreto armado e conhecidos os esforços
(momento fletor e força cortante) atuantes em uma viga, deve-se partir ao seu
dimensionamento.
• Para tanto, recorremos ao auxílio das tabelas tipo k, assim como ocorre no dimensionamento de
lajes maciças em concreto armado.
• Obter o coeficiente Kc  Obter o coeficiente Ks (tabela)  Calcular a armadura.
• Coeficiente kc
𝑏𝑤 . 𝑑²
𝑘 =
𝑀

• A altura útil “d” em uma viga é a distância da borda mais comprimida


até o eixo da armadura tracionada.
d = h – c − l/2 − t
Adotar inicialmente l = 10 mm e t = 5 mm
Dimensionamento de vigas de seção retangular
com armadura simples
• Após o cálculo do coeficiente Kc, a NBR 6.118 (ABNT, 2014), em seu item 14.6.4.3, indica que se
deve verificar o limite para redistribuição dos esforços e condições de ductilidade.
• Para proporcionar o adequado comportamento dúctil em vigas e lajes, o coeficiente βx no ELU
deve obedecer aos seguintes limites:
 βx = x/d  0,45 para concretos com fck  50 Mpa
onde x é a posição da Linha Neutra e d é a altura útil das lajes.
• Na sequência, a obtenção da área de aço “As” necessária às vigas de concreto armado é feita por
meio da Equação:
𝑘 .𝑀
𝐴 =
𝑑

• O detalhamento das armaduras longitudinais das vigas de concreto armado é realizado por meio
da escolha de armaduras que atendam à área de aço calculada  Ver Tabela.
Dimensionamento de vigas de seção retangular
com armadura simples

- Quando as barras de uma camada têm um mesmo


diâmetro, a verificação de ah,min pode ser feita com
auxílio da Tabela A-4, que mostra a “Largura bw
mínima” para um dado cobrimento nominal (c);
- Determina-se a largura mínima na intersecção entre a
coluna com o número de barras e a linha com o
diâmetro das barras, considerando concreto com
brita 1 (Br.1) apenas ou concreto com brita 2 (Br.2).
Dimensionamento de vigas de seção retangular
• Distribuição transversal:
- O espaçamento mínimo livre entre as faces das barras longitudinais, medido no plano da seção
transversal, deve ser igual ou superior ao maior dos seguintes valores:
Dimensionamento de vigas de seção retangular
com armadura dupla
• Nas seções retangulares com armadura dupla, além da armadura longitudinal na face tracionada,
há armadura longitudinal na face comprimida.
• O cálculo de vigas com armadura dupla também pode ser realizado por meio dos coeficientes tipo
k e o cálculo do coeficiente Kc.
• Quando se verifica que a viga não atende ao limite de βx ≤ 0,45, deve-se utilizar a armadura
dupla. Para isso, é necessário verificar qual parcela de momento fletor é responsável pela
armadura que estará comprimida e auxiliará o concreto na resistência das tensões de
compressão.
𝑏𝑤 . 𝑑²
𝑀 =
𝑘

• Onde M1d é a primeira parcela do momento total Md; Kclim é o valor do coeficiente kc no limite
permitido pela norma, ou seja, βx = 0,45.
Dimensionamento de vigas de seção retangular
com armadura dupla
• Outra parcela do momento é dada por:
𝑀 =𝑀 −𝑀
• O momento M2d é a parcela do momento que irá gerar a armadura comprimida. Essa armadura
comprimida A’s é calculada por:
𝑀
𝐴′ =
𝜎′ (𝑑 − 𝑑 )

onde d’ é a distância da borda tracionada até o eixo da armadura tracionada e é a tensão na


armadura comprimida.
A área de aço tracionada “As” da viga é dada pela
𝑘 .𝑀 𝑀
𝐴 = +
𝑑 𝑓 (𝑑 − 𝑑 )

onde fyd é a tensão na armadura tracionada.


Dimensionamento de vigas de seção retangular
• Armadura longitudinal mínima
- Após o cálculo da armadura, deve-se verificar a quantidade mínima de armadura. Essa armadura
mínima, definida no item 19.3.3.2 da NBR 6.118 (ABNT, 2014), deve atender à Equação a seguir:

- A Tabela a seguir mostra os valores de ρsmin para concreto de resistência até 50 MPa:
Dimensionamento de vigas ao cisalhamento
• Dentro da viga de concreto armado, podemos explicar o que ocorre por meio da analogia de
treliça, isso é, os esforços caminham no elemento estrutural de forma que se assemelham às
treliças.
• Na Figura, são observadas as componentes que ocorrem internamente em uma viga de concreto
armado e quem é responsável por suportar cada componente existente.

Banzo tracionado: é resistido pelas armaduras


longitudinais.
Banzo comprimido: é resistido pelo concreto
comprimido ou pelo concreto e armaduras
comprimidas.
Biela comprimida: resistida pelo concreto
comprimido da viga.
Diagonal tracionada: é resistida pelos estribos.
Dimensionamento de vigas ao cisalhamento
Dimensionamento de vigas ao cisalhamento
• O dimensionamento das vigas ao cisalhamento depende da resistência do concreto comprimido.
Essa resistência é verificada pelo não esmagamento do concreto na região das bielas.
• A verificação da compressão na biela definida pela NBR 6.118 (ABNT, 2014) em seu item 17.4.2.2
é feita por:
𝑓
𝑉 = 0,27 . 1 − .𝑓 .𝑏 .𝑑
25

onde Vrd2 é a resistência de cálculo do concreto comprimido, fck é resistência característica do


concreto à compressão (expresso em kN/cm²), fcd é a resistência de cálculo do concreto à
compressão (expresso em kN/cm²).
• A verificação da compressão na biela é atendida quando:

𝑉 ≤𝑉

onde Vsd é o esforço cortante de cálculo (já majorado).


Dimensionamento de vigas ao cisalhamento
• A parcela da força cortante absorvida pela armadura transversal do estribo é dada por:
𝑉 =𝑉 -𝑉
onde Vc é a parcela da força cortante absorvida pelo concreto, determinada por meio da equação:
/
0,21. 𝑓
0,6. 𝛾 𝑏 .𝑑
𝑉 =
10

onde é o coeficiente de minoração da resistência do concreto igual a 1,4.


Conhecidas as parcelas Vsd, Vc e Vsw, é possível calcular a armadura necessária para resistir aos
esforços de cisalhamento na viga:
𝐴 𝑉
=
𝑠 0,9. 𝑑. 𝑓

onde Asw é a área de todos os ramos da armadura transversal, s é o espaçamento da armadura


transversal, sempre adotado como 100 cm, e é a tensão na armadura transversal.
Dimensionamento de vigas ao cisalhamento
• O detalhamento da armadura transversal pode ser auxiliado por meio de tabelas que apresentam
a quantidade de armadura a cada espaçamento possível.
Dimensionamento de vigas ao cisalhamento
• Armadura transversal mínima

𝐴 , =𝜌 , .𝑏

- A taxa de armadura transversal mínima , , depende da inclinação dos estribos em relação


ao eixo longitudinal do elemento estrutural, da classe do concreto e do aço adotado.
- Para aço CA-50 e ângulo dos estribos igual a 90º, pode empregar a tabela a seguir:
Dimensionamento de vigas ao cisalhamento
• Armadura de pele
- A armadura de pele deve ser adicionada em vigas com
altura superior a 60 cm, para minimizar os efeitos da
retração na superfície do concreto e combater as
fissuras superficiais geradas por esse motivo.
- Essa armadura deve obedecer ao item 18.3.5 da NBR
6.118 (ABNT, 2014): a armadura de pele deve ser
disposta de modo que o afastamento entre as barras
não ultrapasse d/3 e 20 cm, onde d é a altura útil da
viga.
- Para o cálculo da armadura de pele conforme item
17.3.5.2.3 da NBR 6.118 (ABNT, 2014), pode-se adotar:

𝐴sp,face = 0,10 %𝐴c, = 0,0010 𝑏 . h Se refere à quantidade


em cada face
Exemplo 1
• Para a viga a seguir, conhecidos os esforços, calcular a armação longitudinal e transversal:
• Viga em concreto armado apoiada sobre pilares.
• bw = 20 cm.
• h = 35 cm.
• Aço CA-50.
• Concreto C30.
• Obra em São Paulo (SP)
• Carga distribuída sobre a viga: 25,00 kN.m.
• Brita 1
Exemplo 1
• Esforços solicitantes
Exemplo 1
• Cálculo da armadura longitudinal
d = h – c - l /2 - t= 35 – 3 – 1/2 - 0,5 = 31 cm
Md = 1,4.Mk = 1,4 x 4632 = 6484,8 kN.cm

• Verificar pela tabela de coeficientes tipo K, para concreto C30, qual o coeficiente Ks.
• Para proporcionar um adequado comportamento dúctil nas lajes, o coeficiente βx deve ser menor
ou igual a 0,45.
Exemplo 1

• Com kc = 2,96 cm²/kN


• Concreto C30
• Βx = 0,26 < 0,45 ok!
• Ks = 0,026 cm²/kN
Exemplo 1
• Cálculo da armadura longitudinal
𝑘 .𝑀 0,026. 6484,8
𝐴 = = = 𝟓, 𝟒𝟒 𝒄𝒎𝟐
𝑑 31

• Cálculo da armadura longitudinal mínima

0,150
𝐴 = 20.35 = 1,05 𝑐𝑚 /𝑚
100

𝐴 >𝐴  Usar 𝟓, 𝟒𝟒 𝒄𝒎𝟐  316 = 6,0 cm² (Tabela)

• Verificação da largura mínima bw,min


Pela Tabela bw,min=15 cm (considerando c = 2,0 cm)
p/ c = 3,0 cm  bw,min=15 cm + 2 cm = 17 cm < 20 cm (ok!)
Exemplo 1
• Cálculo da armadura transversal
- Verificação da compressão na biela ≤ :

67,34 ≤ 315,67 : Ok, atende quanto à compressão na biela.


- Cálculo da armadura = -

/ /
Exemplo 1
• Cálculo da armadura transversal
- Verificação da compressão na biela 𝑉 ≤ 𝑉 :

𝑉 = 𝑉 - 𝑉 = 67,34 − 53,87 = 13,87 𝑘𝑁

- Com o valor de 𝑉 , calcula-se a armadura

𝐴 𝑉 13,87
= = . 100 = 1,11 𝑐𝑚 /𝑚
𝑠 0,9. 𝑑. 𝑓 50
0,9. 31.
1,15
• Cálculo da armadura transversal mínima

𝐴 , = 0,1159 . 20 = 𝟐, 𝟑𝟐 𝒄𝒎𝟐 /𝒎  c/17 (Tabela)

𝐴 , ≥𝐴  Usar 𝐴 ,
Exemplo 2
• Detalhamento

N3 25 C = 399

Pilar
3 16 20 x 40
35 cm

N1 225 c/17
385 cm

30 399 30
N2 3 C = 459
20 cm
Exemplo 2
• Para a viga a seguir, conhecidos os esforços, calcular a armação longitudinal e transversal:
• Viga em concreto armado apoiada sobre pilares.
• bw = 20 cm.
• h = 35 cm.
• Aço CA-50.
• Concreto C30.
• Obra em São Paulo (SP)
• Carga distribuída sobre a viga: 47,00 kN.m.
• Brita 1
Exemplo 2
• Esforços solicitantes
Exemplo 2
• Cálculo da armadura longitudinal
d = h – c - l /2 - t= 35 – 3 – 1/2 - 0,5 = 31 cm
Md = 1,4.Mk = 1,4 x 8708 = 12191,2 kN.cm

• Verificar pela tabela de coeficientes tipo K, para concreto C30, qual o coeficiente Ks.
• Para proporcionar um adequado comportamento dúctil nas lajes, o coeficiente βx deve ser menor
ou igual a 0,45.
Exemplo 2

• Com kc = 1,58 cm²/kN


• Concreto C30
• Βx = 0,56 > 0,45 Não ok!
• Deve-se adotar armadura
dupla
• Βx = 0,45
• Kc,lim = 1,90 cm²/kN
• Ks,lim = 0,028 cm²/kN
Exemplo 2
• Cálculo do Momento M1d: Parte do momento que será absorvida pela armadura tracionada

• Cálculo do Momento M2d: Parte do momento que será absorvida pela armadura comprimida

• Cálculo da Armadura Comprimida A’s


Exemplo 2
• Cálculo da Armadura Tracionada As
𝑘 .𝑀 𝑀
𝐴 = + =
𝑑 𝑓 (𝑑 − 𝑑 )

0,028. 10115,8 2075,4


𝐴 = + = 10,91 𝑐𝑚²
31 50
(31 − 4)
1,15

• Cálculo da Armadura Mínima de Tração

0,150
𝐴 = 20.35 = 1,05 𝑐𝑚 /𝑚
100

As = 10,91 cm²  4  20 = 12,60 cm²


A’s = 1,77 cm²  2  12,5 = 2,50 cm²
Bw,min para Br.1
com c = 2,0 cm
Exemplo 2
• Detalhamento

Armadura A’s

Detalhar as barras!
35 cm

Estribo (Dimensionar!)

Armadura As
20 cm

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