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Abril 2016
1 Introdução
Flexão corresponde à atuação de um momento fletor M. Ela é denominada Flexão
Normal quanto ocorre no plano de um dos eixos principais de inércia de uma seção
transversal. Nos casos mais comuns, de seção simétrica, essa flexão atua em um dos
planos de simetria da seção. Nos casos de atuação conjunta de momento fletor M e
força normal N, neste texto será utilizada a denominação Flexão Composta num
sentido mais amplo. A rigor, ela deveria se restringir aos casos em que a linha neutra
se encontra dentro da seção, portanto com predominância de momento fletor.
Nos casos de armadura bilateral, com armaduras dispostas ao longo de faces
opostas perpendiculares ao plano de ação do momento fletor, a flexão composta
também pode ser considerada como relativa aos casos em que uma armadura é
tracionada e a outra comprimida, ou seja, com a posição da linha neutra variando entre
d’ e d, correspondendo aos domínios de deformação 2b (x > d'), 3 e 4.
Para a reta a e os domínios 1 e 2a (x < d'), portanto com a linha neutra no
intervalo entre - e d', as denominações mais adequadas seriam Tração Excêntrica ou
Flexo-tração. Analogamente, para os domínios 4a, 5 e reta b, em que x > d (x > 1), as
respectivas denominações seriam Compressão Excêntrica ou Flexo-compressão.
Neste texto, serão estudados os casos de armadura bilateral abrangendo todos
os domínios, desde a reta a até a reta b, pois a subdivisão indicada é decorrente
apenas da variação do sentido e da magnitude e dos esforços solicitantes M e N, que
atuam simultaneamente em uma determinada seção.
Assim, os seguintes casos serão abordados:
Duas armaduras tracionadas (reta a, domínios 1 e 2a, com x < d´)
Uma armadura tracionada e outra comprimida (Domínios 2b, 3 e 4)
Duas armaduras comprimidas (Domínios 4a, 5 e reta b)
2 Hipóteses básicas
As hipóteses básicas dão as indicadas pela NBR 6118:2014:
a) As seções transversais mantêm-se planas após a deformação;
b) A deformação das barras aderentes, sob tração ou compressão, é a mesma do
concreto em seu entorno;
c) As tensões de tração no concreto, normais à seção transversal, podem ser
desprezadas;
d) Para análise no estado-limite último, podem ser empregados o diagrama
tensão-deformação idealizado na Figura 2.
cu 3,5 0 00 ;
e) A ABNT NBR 6118:2014 permite, para efeito de cálculo, que se trabalhe com
um diagrama retangular equivalente (Figura 3), ou seja, para os dois
diagramas, devem ser próximos os respectivos valores da resultante de
compressão e da distância de seu ponto de aplicação até a linha neutra.
cu σcd
c2
x
LN
Figura 4 – Seções nas quais a largura aumente para a borda mais comprimida.
cd 0,9. c . fcd , no caso da largura da seção, medida paralelamente à linha
neutra, diminuir à partir desta para a borda comprimida (Figura 5);
LN
Figura 5 – Seções nas quais a largura diminui para a borda mais comprimida.
c um coeficiente que leve em conta os fatores: 1) a diminuição da resistência
devido ao efeito de longa duração (efeito Rüsch) - diminuição da ordem de 25%; 2) o
estado triaxial de tensões provocado pelo atrito das superfícies da prensa no corpo de
prova – 0,95; o aumento da resistência do concreto ao longo do tempo – 1,20. A
multiplicação destes três valores resulta em 0,75x0,95x1,20=0,855. A NBR 6118:2014
apresenta os seguintes valores para c :
R s 2 A s 2 s 2
Portanto:
Nd As1 f yd As 2 s 2
M d A s1 f yd As 2 s 2 d
h
2
s 2 s1
d x
d x
3.3 Exemplo
Seção 20 cm x 60 cm, concreto C25, aço CA-50, Nk = 680 kN (tração),
Mk = 2720 kN.cm (e = 4 cm), d' = 3 cm (seria melhor considerar d' = 4 cm, por conta
dos cobrimentos da armadura especificados pela NBR 6118:2014).
Utilizando as equações de equilíbrio, obtém-se:
50
1,4 680 As1 As 2 s 2
1,15
50 60
1,4 2720 As1 As 2 s 2 3
1,15 2
Admitindo s2 = fyd, ou seja, situação que inclui tração uniforme na reta a:
As 2 9,33 cm2
σcd
x
4.1.1 Flexo-compressão
Considerando-se o equilíbrio da seção indicada na Figura 8, com força normal de
compressão, tem-se:
N d Rc Rs 2 Rs1
hx h h
N d e Rc Rs 2 d Rs1 d
2 2 2
Mas:
Rs1 As1 s1
Rs 2 As 2 s 2
d
Rc x cd b
d
Rc b d x cd
Portanto:
Nd b d x cd As1 s1 As 2 s 2
hx h
M d b d x cd As1 s1 As 2 s 2 d
2 2
Exemplo
4.1.2 Flexo-tração
N d Rs1 Rs 2 Rc
h h hx
N d e Rs1 d Rs 2 d Rc
2 2 2
Portanto:
Nd As1 s1 As 2 s 2 b d x cd
h hx
N d e As1 s1 As 2 s 2 d b d x cd
2 2
s1 s2
c
d x x d x
Portanto:
s1 s2
c
1 x d x
x
d
Essas equações são as mesmas para a flexão simples, visto que o estado de
deformação da seção é o mesmo.
4.3 Exemplo
Seção 20 cm x 60 cm, concreto C25, aço CA-50, Nk = 680 kN (tração),
Mk = 47.600 kN.cm (e = 70 cm), d' = 3 cm (seria melhor considerar d' = 4 cm).
Assim, tem-se:
As1 43,51cm 2
As 2 1,63cm 2
As1 46,44cm 2
x
hx h h
N d e Rc Rs 2 d Rs1 d
2 2 2
Como:
R s1 A s1 s1
R s 2 A s 2 s 2
Rc b d x cd
Resulta:
Nd b d x cd As1 s1 As 2 s 2
hx h
M d b d x cd As 2 s 2 As1 s1 d
2 2
Nd b h cd As1 s1 As 2 s 2
h
M d A s 2 s 2 A s1 s1 d
2
εcu εc2
(εcu-εc2).h
εcu
s1 s2
c
x d x d x
( cu c 2 )
Domínio 5: c 0,2% a h
cu
s1 s2 c2
x d x d ( cu c 2 )
x h
cu
Reta b: c s1 s 2 c 2
5.3 Exemplo
Seção 20 cm x 60 cm, concreto C25, aço CA-50, Nk = 1.650 kN (compressão),
Mk = 6.600 kN.cm (e = 4 cm), d' = 3 cm (seria melhor considerar d' = 4 cm).
Utilizando-se as equações de equilíbrio, e admitindo-se compressão uniforme
(reta b), tem-se que s1 = s2 = c = c2 = 0,2% e, consequentemente,
s1 = s2 = 42 kN/cm2:
2,5
1,4 1650 0,85 20 60 As1 42 As 2 42
1,4
60
1,4 6600 As 2 42 As1 42 3
2
As 2 9,89 cm2
6 Equações adimensionais
Até aqui, foi apresentado o dimensionamento por meio das equações de equilíbrio
e de compatibilidade.
Porém esse procedimento é muito trabalhoso, além de ser restrito a armaduras
bilaterais assimétricas, que consiste em um caso particular.
Esse problema pode ser solucionado com o uso de programas de computador, e
com isso poder dimensionar qualquer tipo de seção, para várias disposições de
armadura na seção. Para isso, é muito melhor empregar equações adimensionais, que
consistem nas mesmas equações de equilíbrio e de compatibilidade já apresentadas,
adaptadas para que todos os termos sejam adimensionais. Para isso, emprega-se a
notação:
Nd
Força normal adimensional
b h f cd
Md e
Momento fletor adimensional
b h f cd
2
h
As1 f yd
1 Taxa mecânica da armadura As1
b h f cd
A s 2 f yd
2 Taxa mecânica de armadura As2
b h f cd
1 2
1 d
1 2
2 h
b) Uma armadura tracionada e outra comprimida (Concretos C20 a C50 onde
a largura da seção transversal permanece constante ou crescente no
sentido mais comprimido)
Flexo-compressão
d
0,68 x 1 s1 2 s 2
h f yd f yd
d 1 x 1 d
0,68 x 0,4 1 s1 2 s 2
h 2 h f yd f yd 2 h
Flexo-tração
d
0,68 x 1 s1 2 s 2
h f yd f yd
d 1 x 1 d
0,68 x 0,4 1 s1 2 s 2
h 2 h f yd f yd 2 h
Para y < h:
d
0,68 x 1 s1 2 s 2
h f yd f yd
d 1 x 1 d
0,68 x 0,4 2 s 2 1 s1
h 2 h f yd f yd 2 h
Para y ≥ h:
s1
0,85 1 2 s2
f yd f yd
1 d
2 s 2 1 s1
f yd f yd 2 h
Os ábacos consistem num gráfico versus , que para cada par ( ) é obtida a
taxa mecânica de armadura ω e, consequentemente, a área de armadura necessária.
Para construir os ábacos, fixa-se a posição das barras, a relação d'/h e o aço.
Analisando as equações de equilíbrio, verifica-se que e são funções de x e ω. Para
cada par adotado (x, ω) existe um único par ( ). Desse modo, pode-se construir os
ábacos para cada tipo de aço (por exemplo, CA-50) e para alguns valores adequados
de d'/h.
Solução:
1,4 1650
1,078
2,5
20 60
1,4
4
0,071
60
d´ 3
0,05
h 60
Com o ábaco relativo a armadura bilateral simétrica, CA-50, d'/h = 0,05, obtém-se:
ω = 0,38
E, portanto:
A s 18,72cm 2
As
A s1 A s 2 9,36cm 2
2
(18,85 cm2).
perfazendo 10 16 (20,11 cm2). Neste caso, em cada face, as barras precisariam ser
Questionário
1) Com base na notação utilizada na flexão composta, qual o significado de As1 e
As2?
2) Com relação às armaduras bilaterais assimétricas, quais os casos possíveis na
flexão composta?
3) Quais as solicitações que podem acarretar duas armaduras tracionadas? Qual o
esforço predominante?
4) Idem para duas armaduras comprimidas.
5) Idem para uma armadura tracionada e outra comprimida.
6) Quais os domínios possíveis na flexo-tração e qual o intervalo de variação da linha
neutra?
7) Idem na flexo-compressão?
8) Quais os domínios em que ocorre ruína por deformação plástica excessiva da
armadura?
9) Idem para ruína por ruptura do concreto?
10) Qual a deformação máxima no concreto no domínio 5?
11) O que significa domínio 5a?
12) Quais as condições que podem levar ao mínimo consumo de armadura na flexo-
tração?
13) Idem na flexo-compressão?
14) Como são elaborados os ábacos para flexão composta?
15) Como se dimensiona uma seção usando ábacos para flexão composta?