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Transmissão de Calor (Capı́tulo 2)


Lista de Problemas (Resolução Completa)

1. Considere condução de calor unidimensional numa parede plana, em regime estacionário, sem
geração interna de energia térmica e com condutibilidade térmica (k) constante. Nestas condições,
impondo as temperaturas T (x = x0,ref ) = Tmax e T (x = xL,ref ) = Tmin (< Tmax ) e considerando
k = kref obtém-se a distribuição de temperaturas apresentada na figura (“Referência”) e o fluxo de
calor correspondente é dado por q′′x,ref = qx,ref
′′
i. Considerando qx,ref
′′
e Tmax (temperatura máxima

Problema 1

na parede) para os Casos 1–3 (ver figura), indique, justificando:


(a) qual dos perfis apresentados para o Caso 1 é obtido se k > kref ;
Resolução:

 
dT dT
qx′′
= ⇔k′′
qx,ref = kref ⇔
dx dx ref
  (1)
kref dT /dx dT dT
⇔ = <1⇔ <
k (dT /dx)ref dx dx ref

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Dos três perfis apresentados para o Caso 1, o único que respeita dT /dx < (dT /dx)ref é o
Perfil A.

(b) qual dos perfis apresentados para o Caso 2 é obtido se L < Lref (= xL,ref − x0,ref ); e
Resolução:

 
dT dT
qx′′ = ′′
qx,ref ⇔
k =k ref ⇔
dx dx ref
  (2)
dT dT
⇔ =
dx dx ref

Dos três perfis apresentados para o Caso 2, o único que respeita dT /dx = (dT /dx)ref é o
Perfil B.

(c) qual dos perfis apresentados para o Caso 3 é obtido se q′′x = −q′′x,ref .
Resolução:

 
dT dT
qx′′ = ′′
−qx,ref ⇔
k = −
k ref ⇔
dx dx ref
  (3)
dT dT
⇔ =−
dx dx ref

Dos três perfis apresentados para o Caso 3, o único que respeita dT /dx = − (dT /dx)ref é o
Perfil C.

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2. Uma tubagem que transporta vapor de água encontra-se revestida por um material isolante de
condutibilidade térmica k. Os raios interior e exterior do isolante são ri e ro , respectivamente.
Num dado instante de tempo particular, a distribuição de temperatura no isolante tem a seguinte
forma:  
r
T (r) = C1 ln + C2
ro
(a) As condições do problema são estacionárias ou transientes? Justifique.
Resolução:
   
∂T ∂ r ∂T
= C1 ln + C2 ⇔ =0⇒
∂t ∂t r0 ∂t (4)
⇒ As condições do problema são estacionárias

(b) Como variam a taxa e o fluxo de calor no isolante em função do raio?


Resolução:
Aplicando a lei de Fourier para o cálculo do fluxo e da taxa de transferência de calor,
tem-se:
Fluxo de calor
   
′′ dT d r C1
qr = −k = −k C1 ln + C2 ⇔ qr′′ = −k ⇒
dr dr r0 r (5)
′′ −1
⇒ O fluxo de calor é inversamente proporcional ao raio, i.e., qr ∝ r

Taxa de transferência de calor


 
C1
qr = Aqr′′ = (2πrL) −k ⇔ qr = −2πkLC1 ⇒
r (6)
⇒ A taxa de transferência de calor não depende do raio

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3. Uma superfı́cie plana com uma área de 2 m2 (A) e temperatura de 350 K (Ts ) é arrefecida convec-
tivamente por diferentes fluidos (em diferentes regimes de convecção) mas com uma temperatura
constante e igual a 300 K (T∞ ). Com base nos dados apresentados na tabela, determine as maio-
res e menores taxas de transferência de calor que poderão ser obtidas durante o processo de
Problema 3

Aplicações Coeficiente de Convecção (h [W m−2 K−1 ]) – Gama Tı́pica


Convecção Natural
Gases 2 − 25
Lı́quidos 50 − 1000
Convecção Forçada
Gases 25 − 250
Lı́quidos 50 − 20000

arrefecimento para:
(a) convecção natural; e
Resolução:
Considerando a taxa de transferência de calor calculada a partir da lei de arrefecimento de
Newton tem-se:
qconv = hA (Ts − T∞ ) (7)
onde, A = 2 m2 , Ts = 350 K e T∞ = 300 K. O coeficiente de transferência de calor por
convecção (ou simplesmente “coeficiente de convecção”), h, é obtido directamente da tabela.
Uma vez que qconv ∝ h (ver Equação (7)), as maiores (menores) taxas de transferência de
calor para cada regime são obtidas para os maiores (menores) coeficientes de convecção.
A tabela mostra que independente do regime de convecção (convecção natural ou forçada)
os valores mı́nimos (máximos) para o coeficiente de convecção são observados para os gases
(lı́quidos).
Substituindo os valores correspondentes na Equação (7), obtêm-se as respostas pretendidas.

hmin = 2 W m−2 K−1 ⇒ qconv,min = 2 × 2 (350 − 300) ⇔ qconv,min = 200 W (8)

hmax = 1000 W m−2 K−1 ⇒ qconv,max = 1000×2 (350 − 300) ⇔ qconv,max = 1 × 105 W (9)

(b) convecção forçada.


Resolução:
Seguindo o mesmo procedimento da alı́nea anterior, tem-se:

hmin = 25 W m−2 K−1 ⇒ qconv,min = 100 × 2 (350 − 300) ⇔ qconv,min = 2500 W (10)

hmax = 20000 W m−2 K−1 ⇒ qconv,max = 20000 × 2 (350 − 300) ⇔


(11)
⇔ qconv,max = 2 × 106 W

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4. Uma placa plana tem uma superfı́cie isolada e a outra exposta ao sol. A superfı́cie exposta ao sol
absorve radiação à taxa de 800 W m−2 (Gabssol ) e perde calor por convecção para o ar ambiente e
por radiação para as superfı́cies envolventes. Considere a emissividade da superfı́cie exposta ao
sol (ǫ) igual a 0.8 e o coeficiente de convecção do ar ambiente (h) igual a 12 W m−2 K−1 . Se a
temperatura do ar ambiente (T∞ ) e a temperatura das superfı́cies envolventes (Tsur ) forem iguais
a 40◦ C e 20◦ C, respectivamente, determine a temperatura da placa (Tp ) em regime estacionário.

Resolução:
Aplicando um balanço de energia à placa tem-se:

Ėin − Ėout + Ėg = Ėst (12)

A Equação (12) pode ser simplificada tendo em conta o seguinte:

como o regime é estacionário – não existem variações temporais de temperatura (i.e.,


dT /dt = 0) –, o termo de acumulação de energia térmica no interior da placa, Ėst
(= ρV c dT /dt), é nulo; e

uma vez que no interior da placa não há geração de energia térmica (resultante da con-
versão de outra forma de energia, como eléctrica, quı́mica, ou nuclear), o termo Ėg é
nulo.

Considerando estas hipóteses simplificativas, a Equação (12) dá origem à Equação (13).

Ėin = Ėout (13)

Os termos Ėin e Ėout (Equação (13)) são obtidos considerando as respectivas contribuições de
transferência de energia energia térmica (calor) através da superfı́cie da placa exposta ao sol
(ver figura), tal como as Equações (14) e (15) descrevem.

Ėin = AGabs
sol (14)

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 
 
Ėout = A h (Ts − T∞ ) + ǫσ Ts4 − Tsur4  (15)
| {z } | {z }
qconv
′′ ′′
qrad

Na Equação (15), qconv


′′
e qrad
′′
correspondem aos fluxos de calor convectivo e radiativo na superfı́cie
da placa exposta ao sol. Considerando as Equações (14) e (15), a Equação (13) pode escrever-se
de acordo com a Equação (16).


AGabs ′′ ′′ abs 4 4
sol = Aqconv + Aqrad ⇔ Gsol = h (Tp − T∞ ) + ǫσ Tp − Tsur ⇔
 
⇔ 800 = 12 [Tp − (40 + 273,15)] + 0,8 × 5,67 × 10−8 Tp4 − (20 + 273,15)4 ⇔ (16)
⇔ −4,536 × 10 −8
Tp4 ◦
− 12Tp + 4892,79 = 0 ⇒ Tp ≈ 350,6 K (77,5 C)

Note que nas expressões para os fluxos de calor radiativo e convectivo (Equação (16)), a tem-
peratura da superfı́cie da placa que troca calor com exterior (variável Ts na Equação (15)) é
substituı́da pela temperatura da placa (Tp ) uma vez que toda a placa se encontra à mesma
temperatura (Tp = Ts ). A condição de placa isotérmica deve-se ao facto de uma das superfı́cies
da placa ser adiabática e o regime ser estacionário.

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5. Considere a placa plana do Problema 4, desprezando agora a absorção de energia solar e conside-
rando que em vez da superfı́cie isolada, a placa tem uma superfı́cie mantida a uma temperatura
constante mas desconhecia (Ts,2 ). Considere as mesmas trocas de calor por convecção e radiação
para o exterior incluindo os mesmos valores para h, T∞ , ǫ e Tsur do Problema 4. Considere que
a placa tem 10 cm de espessura (L) e uma condutibilidade térmica (k) igual a 2 W m−1 K−1 .
Sabendo que em regime estacionário e nas condições referidas a temperatura da superfı́cie da
placa para o exterior – superfı́cie da placa que no Problema 4 absorvia radiação solar – é de
350 K (Ts,1 ), determine a temperatura desconhecida, Ts,2 , na superfı́cie oposta.

Resolução:
Aplicando um balanço de energia à superfı́cie exterior da placa tem-se:

Ėin − Ėout = 0 (17)

(As superfı́cies não têm volume nem massa, logo não se consideram os termos Ėg e Ėst no
balanço de energia a uma superfı́cie como se consideram em balanços de energia a meios.)
Os termos Ėin e Ėout (Equação (17)) são obtidos considerando as respectivas contribuições de
transferência de energia energia térmica (calor) de e para a superfı́cie em questão (superfı́cie
exterior da placa) – ver figura.

 
Ts,2 − Ts,1
Ėin = A k (18)
L
| {z }
′′
qcond

 
 4

Ėout = A h (Ts,1 − T∞ ) + ǫσ Ts,1 − Tsur4  (19)
| {z } | {z }
qconv
′′ ′′
qrad

Nas Equações (18) e (19), qcond


′′
, qconv
′′
e qrad
′′
correspondem aos fluxos de calor condutivo, convec-
tivo e radiativo, respectivamente. Considerando as Equações (18) e (19), a Equação (17) pode
escrever-se de acordo com a Equação (20).

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′′ ′′ ′′ 4 4

Aqcond = Aqconv + Aqrad ⇔ k (Ts,2 − Ts,1 ) /L = h (Ts,1 − T∞ ) + ǫσ Ts,1 − Tsur ⇔
⇔ 2 (Ts,2 − 350) /0,1 = 12 [350 − (40 + 273,15)] + (20)
 
+0,8 × 5,67 × 10 −8
3504 − (20 + 273,15)4 ⇒ Ts,2 ≈ 389,4 K (116,3◦ C)

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6. Considere uma esfera de raio igual a 2 cm (R0 ) que está envolvida por um material isolante. A
esfera é colocada numa cavidade micro-ondas estando inicialmente a uma temperatura constante
e uniforme de 20◦ C (Ti ) quando é submetida a um campo electromagnético que proporciona
um aquecimento em volume com uma taxa constante e uniforme de 1 W cm−3 (q̇). O material
da esfera tem uma densidade (ρ) e calor especı́fico (c) iguais a 6500 kg m−3 e 400 J kg−1 K−1 ,
respectivamente. A condutibilidade térmica do material da esfera é elevada o suficiente para
desprezar gradientes de temperatura no interior da esfera – assuma a temperatura da esfera
uniforme (isotérmica) em todo o seu volume em cada instante de tempo. Determine a temperatura
da esfera ao fim de 2 minutos de exposição ao campo electromagnético. Despreze trocas de calor
através da superfı́cie externa da esfera (r = R0 ).

Resolução:
Aplicando um balanço de energia à esfera tem-se:

Ėin − Ėout + Ėg = Ėst (21)

A Equação (21) pode ser simplificada tendo em conta o seguinte:

como não há transferência de energia térmica do exterior para a esfera (uma vez que a
esfera está envolvida por um isolante), o termo Ėin é nulo; e

como não há transferência de energia térmica da esfera para o exterior (esfera isolada), o
termo Ėout é nulo.

Considerando estas hipóteses simplificativas, a Equação (21) dá origem à Equação (22).

Ėg = Ėst (22)

Os termos Ėg e Ėst (Equação (22)) são calculados através das Equações (23) e (24), respectiva-
mente.

Ėg = q̇V (23)

dT
Ėst = ρV c (24)
dt
Considerando as Equações (23) e (24), a Equação (22) pode escrever-se de acordo com a Equação
(25).

dT
q̇ = ρc (25)
dt
Separando as variáveis T e t, e integrando desde o instante inicial em que t = 0 e T (t = 0) = Ti ,
ao instante t em que T (t) = T obtém-se:
Z t Z T
ρc ρc
dt = dT ⇔ t = (T − Ti ) (26)
0 q̇ Ti q̇

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A temperatura da esfera após 2 minutos de aquecimento é determinada através da equação
seguinte.

tq̇ 2 × 60 × 1 × 106
T = Ti + = 20 + ⇔ T = 66,2◦ C (27)
ρc 6500 × 400

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7. Considere uma esfera de raio igual a 5 cm (R0 ), que está inicialmente a uma temperatura constante
e uniforme de 80◦ C (Ti ) quando é mergulhada num fluido com uma temperatura de 20◦ C (T∞ ) e
um coeficiente de convecção, h, igual a 100 W m−2 K−1 . O material da esfera tem uma densidade
(ρ) e calor especı́fico (c) iguais a 8000 kg m−3 e 250 J kg−1 K−1 , respectivamente. A condutibilidade
térmica do material é elevada o suficiente para desprezar gradientes de temperatura no interior da
esfera. Determine o tempo de contacto necessário da esfera com o fluido para que a temperatura
da esfera atinja 40 ◦ C. Despreze qualquer influência da radiação na temperatura da esfera.

Resolução:
Aplicando um balanço de energia à esfera tem-se:

Ėin − Ėout + Ėg = Ėst (28)

A Equação (28) pode ser simplificada tendo em conta o seguinte:

como não há transferência de energia térmica do fluido envolvente para o interior da esfera,
o termo Ėin é nulo; e

uma vez que no interior da placa não há geração de energia térmica, o termo Ėg é nulo.

Considerando estas hipóteses simplificativas, a Equação (28) dá origem à Equação (29).

−Ėout = Ėst (29)

Os termos Ėout e Ėst (Equação (29)) são calculados através das Equações (30) e (31), respecti-
vamente.

Ėout = Ah (Ts − T∞ ) (30)

dT
Ėst = ρV c (31)
dt
Considerando as Equações (30) e (31), a Equação (29) pode escrever-se de acordo com a Equação
(32).

dT
−Ah (T − T∞ ) = ρV c (32)
dt
Considerando (T − T∞ ) = θ, dT /dt = dθ/dt. Assim, a Equação (32) pode ser escrita de acordo
com:


−Ahθ = ρV c (33)
dt
Separando as variáveis θ e t e integrado desde o instante inicial em que t = 0, T (t = 0) = Ti e,
consequentemente, θ(t = 0) = θi (= Ti − T∞ ), ao instante t em que T (t) = T e, consequente-
mente, θ(t) = θ (= T − T∞ ) obtém-se:

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Z t Z θ  
ρV c dθ ρV c θi
− dt = ⇔t= ln (34)
0 Ah θi θ Ah θ

O tempo de contacto necessário para a esfera atingir 40◦ C é obtido através do resultado da
integração da equação que governa a variação temporal da temperatura (Equação (34)), consi-
derando Ti = 80◦ C (condição inicial) e T (t) = 40◦ C e, consequentemente, θi = 80 − 20 = 60◦ C
e θ = 40 − 20 = 20◦ C, respectivamente, tal apresentado na equação seguinte.
 
8000 × (4/3)π × 0,053 × 250 60
t= ln ⇔ t ≈ 366,2 s (35)
4π × 0,052 × 100 20

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8 11. Em determinadas condições, a temperatura na superfı́cie da pele de um indivı́duo é 30 C, sendo

inferior à temperatura do corpo, que é de 36,5 C. A transição entre estas temperaturas tem

lugar numa camada da pele com uma espessura de 1 cm e com uma condutibilidade térmica de
0,42 W m−1 K−1 . A superfı́cie da pele está em contacto com ar a 20◦ C mas com um coeficiente
de convecção desconhecido.
(a) Estime o fluxo de calor que se escapa através da pele, considerando-a um meio condutor em
repouso.
Resolução:
A figura seguinte ilustra esquematicamente a distribuição distribuição de temperatura para
o problema. A condução de calor na camada de pele é unidimensional da superfı́cie interior
à temperatura Ts,1 (= 36,5◦ C), para a superfı́cie exterior à temperatura Ts,2 (= 30,0◦ C). A
espessura da camada de pele (L) bem como a condutibilidade térmica (k) são fornecidas
no enunciado.

A figura anterior pode ser representada através de um circuito térmico equivalente – ver
figura seguinte –, identificando as temperaturas na superfı́cie interna da pele (Ts,1 ), na
superfı́cie externa (Ts,2 ) e do ar exterior (T∞,2 ). Entre os nós do circuito térmico equiva-
lente correspondentes às temperaturas referidas encontram-se as respectivas resistências
térmicas: resistência térmica de condução (Rt,cond ) entre Ts,1 e Ts,2 e resistência térmica de
convecção (Rt,conv2 ) entre Ts,2 e T∞,2 .

Para o cálculo do fluxo de calor, qx′′ , pode recorrer-se ao circuito térmico equivalente, como

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se segue.
Ts,1 − Ts,2 Ts,1 − Ts,2 kA
qx = ⇔ qx = ⇔ qx = (Ts,1 − Ts,2 ) ⇔
Rt,cond L/(kA) L
qx (Ts,1 − Ts,2 ) k 0,42 (76)
⇔ = ⇔ qx′′ = (Ts,1 − Ts,2 ) ⇔ qx′′ = (36,5 − 30) ⇔
A Rt,cond
′′
L 0,01
⇔ qx′′ = 273 W m−2

(b) Determine o coeficiente de convecção do ar sobre a superfı́cie da pele.


Resolução:
Dado que nas condições do problema (condução unidimensional em coordenadas cartesia-
nas, em regime estacionário, sem geração de energia térmica e com condutibilidade térmica
constante) o fluxo de calor se mantém constante – à, semelhança, da taxa de transferência
de calor –, então o fluxo difusivo de calor calculado na alı́nea anterior (qx′′ (= qcond
′′
)) é igual
ao fluxo de calor removido da superfı́cie da pele por convecção (qconv2 ). Assim, tem-se:
′′

′′ ′′ Ts,2 − T∞,2 Ts,2 − T∞,2


qconv = qcond ⇔ = qx′′ ⇔ = qx′′ ⇔
2
Rt,conv2
′′
1/h2
(77)
qx′′ 273
⇔ h2 = ⇔ h2 = ⇔ h2 = 27,3 W m−2 K−1
Ts,2 − T∞,2 30 − 20

Note que para a resolução desta alı́nea recorreu-se à utilização do análogo eléctrico – circuito
térmico equivalente. Contudo, esta alı́nea também poderia ser resolvida recorrendo a um
balanço de energia à superfı́cie externa da pele (ver Problema 5).

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9 12. Durante o Inverno, a superfı́cie de um rio forma uma camada de gelo de espessura desconhecida.
A temperatura da água no lago encontra-se a 4◦ C (T∞,1 ) e a temperatura do ar ambiente é −30◦ C
(T∞,2 ). A temperatura na interface entre a água e o gelo é 0◦ C (Ts,1 ). A condutibilidade térmica
do gelo é 2,25 W m−1 K−1 (k). Os coeficientes de convecção do lado do ar (h2 ) e do lado da água
(h1 ) são 100 W m−2 K−1 e 500 W m−2 K−1 , respectivamente. Calcule a temperatura na superfı́cie
do gelo em contacto com o ar, Ts,2 , e a espessura da camada de gelo, L.

Resolução:
A figura seguinte apresenta a distribuição de temperatura para o problema. O sentido da trans-
ferência de calor verifica-se da água para o ar (uma vez que T∞,1 > T∞,2 ). A condução de calor
na camada de gelo é unidimensional (ao longo da coordenada x) uma vez que os gradientes de
temperatura segundo as direcções cartesianas ortogonais a x – i.e., ∂T /∂y e ∂T /∂z – são des-
prezáveis. Estes gradientes de temperatura são desprezáveis uma vez que se assume que: (1) a
placa de gelo é longa o suficiente nas direcções ortogonais a x; e (2) os coeficientes de convecção
(h1 e h2 ) e as temperaturas dos fluidos (T∞,1 e T∞,2 ) são constantes nas direcções ortogonais a
x.

O circuito térmico equivalente é apresentado na figura seguinte onde o sentido da transferência


de calor é identificado. Nesta figura, os diferentes nós do circuito correspondem às diferen-
tes temperaturas envolvidas no problema. Entre nós sucessivos do circuito térmico equivalente
definem-se as resistências térmicas de condução (Rt,cond ), convecção (Rt,conv ) e, eventualmente,
de radiação (Rt,rad ) – genericamente Rt . Para uma determinada taxa de transferência de calor
(qx ), quanto maior a resistência térmica (Rt ) maior a diferença de temperaturas (∆T ) – note
que ∆T = q × Rt .

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Uma vez que a taxa de transferência de calor (qx ) – tal como o fluxo de calor (qx′′ ) – é constante
ao longo de todo o circuito térmico equivalente tem-se:

qx = qconv1 = qcond = qconv2 (78)

Igualando a taxa de transferência de calor por convecção da água para o gelo (qconv1 ) à taxa de
transferência de calor do gelo para o ar (qconv2 ) tem-se:

T∞,1 − Ts,1 Ts,2 − T∞,2


qconv1 = qconv2 ⇔ = ⇔
Rt,conv1 Rt,conv2
Rt,conv2 h1
⇔ Ts,2 = (T∞,1 − Ts,1 ) + T∞,2 ⇔ Ts,2 = (T∞,1 − Ts,1 ) + T∞,2 ⇔ (79)
Rt,conv1 h2
500
⇔ Ts,2 = (4 − 0) + (−30) ⇔ Ts,2 = −10◦ C
100

Note que a resistência térmica à convecção na interface i de um sólido com um fluido, Rt,convi , é
calculada através da equação seguinte (Equação (80)) em que hi corresponde ao coeficiente de
transferência de calor por convecção sobre a superfı́cie sólida (devido à acção macroscópica do
movimento do fluido sobre a superfı́cie) e A à área de contacto sólido/fluido.
1
Rt,convi = (80)
hi A

A espessura da camada de gelo pode ser calculada igualando qcond a qconv1 (ou a qconv2 ) uma vez
que a temperaturas T∞,1 , Ts,1 e Ts,2 (ou Ts,1 , Ts,2 e T∞,2 ) são conhecidas.
Igualando qcond com qconv1 (Equação (78)) tem-se:

T∞,1 − Ts,1 Ts,1 − Ts,2


qconv1 = qcond ⇔ = ⇔
Rt,conv1 Rt,cond
T∞,1 − Ts,1 Ts,1 − Ts,2 L
⇔ = ⇔ h1 A (T∞,1 − Ts,1 ) = (Ts,1 − Ts,2 ) ⇔
1/(h1 A) L/(kA) kA (81)
k A (Ts,1 − Ts,2 ) 2,25 × (0 + 10)
⇔L= ⇔L= ⇔
h1 A (T∞,1 − Ts,1 ) 500 × (4 − 0)
⇔ L = 1,125 cm

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10 13. A parede de um forno usado para curar partes de plástico tem uma espessura L = 0,05 m e
a sua superfı́cie externa encontra-se exposta ao ar e a um ambiente amplo. O ar e o ambiente
envolvente estão a 30 ◦ C (T∞,2 = Tsur ). A temperatura da superfı́cie externa do forno é de
400 K (Ts,2 ), e o coeficiente de convecção (h) e emissividade (ǫ) são iguais a 20 W m−2 K−1 e 0,8,
respectivamente. Calcule a temperatura da superfı́cie interna da parede do forno (Ts,1 ), sabendo
que a condutibilidade térmica (k) do material da parede igual a 0,7 W m−1 K−1 .

Resolução:

As duas figuras seguintes apresentam a distribuição de temperatura para o problema e o circuito


térmico equivalente, respectivamente.

Nas condições do problema, o fluxo de calor ao longo da parede do forno (qx′′ ) é constante.
Igualando o fluxo difusivo de calor (qcond ′′
) com a soma dos fluxos convectivo e radiativo da
superfı́cie externa do forno (qx,conv&rad ) – equivalente à aplicação de um balanço de energia à
′′

superfı́cie externa do forno – obtém-se uma equação que permite obter a temperatura pretendida
(Ts,1 ) – ver Equação (82) – em função das propriedades geométricas (L) e termofı́sicas (k, h e
ǫ) e das temperaturas Ts,2 e T∞ (= Tsur ) descritas no enunciado do problema.

′′ ′′ Ts,1 − Ts,2 Ts,2 − T∞


qx,cond = qx,conv&rad ⇔ = (82)
Rt,cond A Rt,tot A

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Na Equação (82), Rt,tot corresponde à resistência térmica total resultante da associação em
paralelo das resistências térmicas de convecção e radiação – Rt,conv e Rt,rad , respectivamente.
Esta resistência térmica total é calculada como se apresenta de seguida (Equação (83)).

1 1 1 1
= + ⇔ = hA + hr A ⇔
Rt,tot Rt,conv Rt,rad Rt,tot
1 1 (83)
⇔ Rt,tot A = ⇔ Rt,tot A = 2

h + hr | {z } h + ǫσ (Ts,2 + Tsur ) Ts,2 2
+ Tsur
′′
Rt,tot

Note que por conveniência a taxa (lı́quida) de transferência de calor por radiação, qrad (=
Aǫσ(Ts4 − Tsur
4
)) pode ser calculada de forma similar à lei de arrefecimento de Newton – que
permite calcular a taxa de transferência de calor por convecção – através da equação seguinte
(Equação (84)),

qrad = hr A(Ts − Tsur ) (84)

em que hr corresponde ao coeficiente de transferência de calor por radiação – em estrita analogia


com o coeficiente de transferência de calor por convecção, h – o qual é determinado através da
Equação (85).
hr = ǫσ(Ts + Tsur )(Ts2 + Tsur
2
) (85)

Consequentemente, a resistência térmica de radiação, Rt,rad (considerada na Equação (83)), é


obtida através da equação seguinte (Equação (86)) tendo em conta a Equação (84).

Ts − Tsur Ts − Tsur 1
Rt,rad = = ⇔ Rt,rad = (86)
qrad hr A(Ts − Tsur ) hr A

(Note que a resistência térmica de convecção, Rt,conv , é obtida de forma similar – ver Equação
(87).)
Ts − T∞ Ts − T∞ 1
Rt,conv = = ⇔ Rt,conv = (87)
qconv hA(Ts − T∞ ) hA
O circuito térmico equivalente resultante da simplificação anterior – associação em paralelo das
resistências térmicas Rt,conv e Rt,rad para a obtenção de uma resistência térmica total, Rt,tot
(Equação (83)) – é apresentado na figura seguinte.

Substituindo a expressão para a resistência térmica total (Equação (83)) na Equação (82) e
tendo em conta os valores numéricos para as variáveis consideradas, tem-se:

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k  2 2

(Ts,1 − Ts,2 ) = h + ǫσ (Ts,2 + Tsur ) Ts,2 + Tsur (Ts,2 − T∞ ) ⇔
L
L 2 2

⇔ Ts,1 = h + ǫσ (Ts,2 + Tsur ) Ts,2 + Tsur (Ts,2 − T∞ ) + Ts,2 ⇔
k (88)
0,05
⇔ Ts,1 = × {20 + 0,8 × 5,67 × 10−8 × (400 + 30 + 273,15) ×
0,7
 
× 4002 + (30 + 273,15)2 } × [400 − (30 + 273,15)] + 400 ⇔ Ts,1 ≈ 593,937 K

Note que o procedimento considerado pela associação das resistências Rt,conv e Rt,rad para a
obtenção de uma única resistência térmica total, Rt,tot , apenas é adequado uma vez que T∞ =
Tsur .

Caso T∞ 6= Tsur , o circuito térmico equivalente seria representado pela figura seguinte.

Nesta situação a taxa de transferência de calor que atravessa a parede do forno (qcond (= qx ))
é igual à soma das taxas de transferência de calor qrad e qconv – ver Equação (89). Note que a
Equação (89) não é mais do que um balanço de energia à superfı́cie externa da parede do forno
– semelhante ao balanço de energia desenvolvido no Problema 5 (ver Equação (20)).

qx = qrad + qconv (89)

Substituindo na Equação (89) as taxas de transferência de calor, qx (= qcond ), qrad e qconv pelas
respectivas expressões tem-se:
Ts,1 − Ts,2 Ts,2 − Tsur Ts,2 − T∞
= + (90)
Rt,cond Rt,rad Rt,conv

Assim, a temperatura Ts,1 seria obtida resolvendo a Equação (90). (Observe que se Tsur = T∞ ,
a Equação (90) resulta na Equação (88).)

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11 14. Considere uma parede cujo corte transversal visto de topo é apresentado da figura (a). Esta
parede é formada pela união de várias unidades estruturais iguais. A unidade estrutural elementar
é composta por 4 materiais diferentes cujas dimensões se encontram na figura (a). Considere as
condutibilidades térmicas (k) dos Materiais A, B, C e D iguais a 0,2, 200, 160 e 0,02 W m−1 K−1 ,
respectivamente. Nas superfı́cies externas dos Materiais A e C a temperatura é constante e igual a
15 e 50 ◦ C, respectivamente. Despreze gradientes de temperatura ao longo do eixo z e resistências
de contacto entre materiais diferentes.

(a) (b)

Problema 14

(a) Em que condições as fronteiras laterais da unidade elementar (fronteiras paralelas ao eixo
x) podem ser consideradas adiabáticas?
Resolução:
As fronteiras laterais da unidade elementar são adiabáticas se o fluxo de calor através
destas superfı́cies for nulo, ou seja, se o gradiente de temperatura segundo y (∂T /∂y) for
nulo através destas fronteiras. Um fluxo de calor nulo através destas fronteiras é obtido
considerando uma parede longa (infinita) segundo a direcção y de forma a não haver desen-
volvimento de gradientes de temperatura segundo y devido à influencia das extremidades
da parede. É também necessário que ao longo de y as temperaturas das superfı́cies externas
(15 e 50 ◦ C) se mantenham constantes.
(b) Nas condições da alı́nea anterior e considerando transporte de calor unidimensional (1D),
determine a taxa de transferência de calor por unidade de altura da parede em cada unidade
estrutural elementar, qunid

, considerando:
(a) isotérmicas as superfı́cies perpendiculares ao eixo x; e
Resolução:
A taxa de transferência de calor por unidade de altura da parede em cada unidade
estrutural elementar é obtida através da Equação (91). Nesta equação, Ts,1 (Ts,4 )
corresponde à temperatura na superfı́cie externa do Material C (Material A).

′ ∆T ′ Ts,1 − Ts,4
qunid = ⇔ qunid = (91)
Rt,tot

Rt,tot

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Considerando isotérmicas as superfı́cies perpendiculares ao eixo x, a resistência térmica
total (Rt,tot

) na Equação (91) é calculada tendo em conta o circuito térmico equivalente
apresentado na figura seguinte através da Equação (92).

! "−1
′ ′ 1 1 1 ′
Rt,tot = Rt,cond + + ′ + ′ + Rt,cond ⇔
A
Rt,cond

D−1
R t,condB R t,condD−2
C

 −1
′ Lx,A kD Ly,D−1 kB Ly,B kD Ly,D−2 Lx,C
⇔ Rt,tot = + + + + ⇔
kA Ly,A Lx,D Lx,B Lx,D kC Ly,C (92)
 −1
′ 0,03 0,02 × 0,17 200 × 0,06 0,02 × 0,17
⇔ Rt,tot = + + + +
0,2 × 0,4 0,15 0,15 0,15
0,04 ′
+ ⇔ Rt,tot ≈ 0,388 m K W−1
160 × 0,4

Substituindo, Ts,1 , Ts,4 e Rt,tot



pelos respectivos valores na Equação (91) obtém-se a
taxa de transferência de calor por unidade de altura da parede pretendida – Equação
(93).
′ 50 − 15 ′
qunid = ⇔ qunid ≈ 90,206 W m−1 (93)
0,388
(b) adiabáticas as superfı́cies paralelas ao eixo x.
Resolução:
A figura seguinte apresenta o circuito térmico equivalente considerando adiabáticas as
superfı́cies paralelas ao eixo x.

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Nestas condições, a resistência térmica total (Rt,tot

) – necessária para o cálculo de qunid

(ver Equação (91)) – é determinada pela Equação (94).


!
′ 1
Rt,tot = +
Rt,condA−1 + Rt,condD−1 + Rt,cond
′ ′ ′
C−1
"−1
1 1
+ ′ + ′ ⇔
Rt,condA−2 + Rt,cond

B
+ Rt,cond

C−2
Rt,condA−3 + Rt,cond

D−2
+ Rt,cond

C−3

′ 1
⇔ Rt,tot = +
Lx,A /(kA Ly,A−1 ) + Lx,D /(kD Ly,D−1 ) + Lx,C /(kC Ly,C−1 )
1
+ +
Lx,A /(kA Ly,A−2 ) + Lx,B /(kB Ly,B ) + Lx,C /(kC Ly,C−2 )
−1 (94)
1
+ ⇔
Lx,A /(kA Ly,A−3 ) + Lx,D /(kD Ly,D−2 ) + Lx,C /(kC Ly,C−3 )

′ 1
⇔ Rt,tot = +
0,03/(0,2 × 0,17) + 0,15/(0,02 × 0,17) + 0,04/(160 × 0,17)
1
+ +
0,03/(0,2 × 0,06) + 0,15/(200 × 0,06) + 0,04/(160 × 0,06)
−1
1
+ ⇔
0,03/(0,2 × 0,17) + 0,15/(0,02 × 0,17) + 0,04/(160 × 0,17)

⇔ Rt,tot ≈ 2,263 m K W−1

Substituindo as variáveis da Equação (91) pelos respectivos valores obtém-se a taxa


de transferência de calor por unidade de altura da parede pretendida – Equação (95).

′ 50 − 15 ′
qunid = ⇔ qunid ≈ 15,466 W m−1 (95)
2,263

(c) Através do cálculo numérico 2D (bi-dimensional) do problema, verificou-se que qunid



é igual
a 22,6 W m . Qual é a correspondente resistência térmica efectiva da parede, Rt,eff .
−1 ′

Resolução:

′ ∆T ′ Ts,1 − Ts,4
qunid = ⇔ Rt,eff = ⇔
Rt,eff

qunid

(96)
′ 50 − 15 ′
⇔ Rt,eff = ⇔ Rt,eff ≈ 1,549 m K W−1
22,6

(d) A figura (b) apresenta a distribuição 2D da temperatura na unidade estrutural elementar


para 3 casos variando apenas o valor da condutibilidade térmica do Material B (kB ); kB
foi considerado igual a 0,02, 2 e 200 W m−1 K−1 . (Note que kD é igual a 0,02 W m−1 K−1 ).
Estabeleça a correspondência entre estes valores de condutibilidades térmicas com k1 , k2 e
k3 .

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Resolução:

1. Para o caso k3 as superfı́cies isotérmicas são completamente paralelas ao eixo y em


todo o domı́nio, o que implica necessariamente condução de calor unidimensional –
condução de calor exclusivamente ao longo de x. Esta evidência só é observável se k3
for igual a kD (= 0,02 W m−1 K−1 ).

2. k2 > k1 uma vez que para k2 a temperatura no Material B é mais uniforme do que
para k1 .

Considerando os Pontos 1. e 2. juntamente com os valores fornecidos no enunciado desta


alı́nea para as condutibilidades térmicas, conclui-se:

k1 = 2 W m−1 K−1 k2 = 200 W m−1 K−1 k3 = 0,02 W m−1 K−1

A distribuição de temperaturas k2 corresponde à solução do problema com os dados des-


critos no enunciado (kB = 200 W m−1 K−1 ).

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12 15. [Retirado do Teste de Repescagem 1 de 2014/2015] Considere um cabo eléctrico isolado
que se encontra esticado e suspenso no ar e cuja secção transversal é apresentada na figura.
O ar envolvente está à temperatura de 15◦ C e apresenta um coeficiente de convecção igual a
25 W m−2 K−1 . Em regime estacionário verifica-se no cabo eléctrico uma taxa volumétrica de
geração de energia térmica igual a 9,55 kW m−3 . As condutibilidades térmicas dos materiais que
constituem o isolamento (Material A e Material B) bem como as dimensões relevantes encontram-
se apresentadas na figura. Despreze a resistência térmica de contacto entre os Materiais A e B.

Problema 15

(a) Determine a taxa de transferência de calor por unidade de comprimento do cabo eléctrico
na superfı́cie intermédia do isolamento (r = R2 ).
Resolução:
A taxa de transferência de calor por unidade de comprimento do cabo ao longo do iso-
lamento, qr′ , é constante e independente da posição radial, r. Esta evidência constata-se
através da aplicação da lei de Fourier em coordenadas cilı́ndricas ao longo da direcção
radial (Equação (97)) tendo em conta que o perfil de temperatura (obtido pela integração
da forma adequada da equação de difusão de calor em coordenadas cilı́ndricas ao longo de
r) tem a forma funcional T (r) = C1 ln(r) + C2 , onde C1 e C2 são constantes de integração.

kA dT  ) dT
k(2πrL C1
qr /L = qr′ = − =− = −2πk r ⇒ qr /L 6= f (r) (97)
L dr 
L dr r

A taxa de transferência de calor ao longo do isolamento (R1 < r < R3 ) é calculada com
base na taxa volumétrica de geração de energia térmica no cabo eléctrico (q̇) e no volume
do cabo eléctrico (V ), tal como se segue.

qr = q̇V ⇔ qr = q̇πR12 L ⇔ qr /L = q̇πR12 ⇔


(98)
⇔ qr′ = 9550 × π × (0,03)2 ⇔ qr′ ≈ 27,0 W m−1 ⇒ qr′ (R2 ) ≈ 27,0 W m−1

(b) Determine a resistência térmica total entre a superfı́cie interior e exterior do isolamento do
cabo – superfı́cies r = R1 e r = R3 , respectivamente.
Resolução:
A figura seguinte apresenta a distribuição de temperatura ao longo do isolamento (Mate-
riais A e B). A sentido da transferência de calor verifica-se do cabo eléctrico (onde existe

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geração de energia térmica) para o ar envolvente à temperatura T∞,3 . A condução de ca-
lor no isolamento é unidimensional – ao longo da coordenada radial, r. Note que o perfil
de temperatura no isolamento não apresenta uma dependência linear com a coordena-
da espacial (r) como se verifica na condução de calor unidimensional em paredes planas
– ver figura referente à distribuição de temperatura na resolução do Problema 12. Para
condução de calor unidimensional (ao longo de r) em paredes cilı́ndricas o perfil de tem-
peratura apresenta uma forma funcional do tipo T (r) = C1 ln(r) + C2 – para mais detalhes
sobre a dependência do perfil unidimensional de temperatura com a coordenada espacial
em paredes plana, cilı́ndrica e esférica ver Problema 8.

O circuito térmico equivalente é apresentado na figura seguinte onde o sentido da trans-


ferência de calor é identificado.

A resistência térmica total do isolamento (Materiais A e B) – resistência que separa os


nós Ts,1 (temperatura em r = R1 ) e Ts,3 (temperatura em r = R3 ) no circuito térmico
equivalente (ver figura anterior) – é calculada através da associação em série das resistências
térmicas de condução nos Materiais A e B (Rt,condA e Rt,condB , repectivamente), tal como a
seguinte equação apresenta.

ln (R2 /R1 ) ln (R3 /R2 )


Rt,tot = Rt,condA + Rt,condB ⇔ Rt,tot = + ⇔
2πkA L 2πkB L
ln (R2 /R1 ) ln (R3 /R2 )
⇔ Rt,tot L = + ⇔ (99)
2πkA 2πkB
′ ln (6/3) ln (7/6) ′
⇔ Rt,tot = + ⇔ Rt,tot ≈ 0,687 m K W−1
2π × 0,25 2π × 0,10

(c) Determine a temperatura máxima no isolamento do cabo.

Página 38 de 61
Resolução:
Em primeiro lugar, é preciso identificar onde é que se verifica a temperatura máxima
no isolamento do cabo. Como o transporte de calor se verifica do cabo eléctrico para o ar
exterior, então a temperatura diminui ao longo da coordenada radial. Assim, a temperatura
no isolamento (R1 ≤ r ≤ R3 ) é mais elevada para o valor mais baixo de r, ou seja, a
temperatura máxima no isolamento, Tmax , é observada em r = R1 (Tmax corresponde a Ts,1
nas figuras da resolução da alı́nea anterior).
Assim, pretende-se determinar Ts,1 (= Tmax ). Uma vez que se conhecem qr′ (alı́nea (a)) e
as propriedades de transporte do problema (kA , kB e h3 ) bem como as dimensões (R1 , R2
e R3 ) da parede cilı́ndrica composta. Deste modo, pode-se determinar o que se pretende
através da seguinte equação.

(Tmax − T∞,3 )
qr = ⇔ Tmax = qr Rt,tot + T∞,3 ⇔
Rt,tot
⇔ Tmax = qr (Rt,condA + Rt,condB + Rt,conv3 ) + T∞,3 ⇔
 
ln(R2 /R1 ) ln(R3 /R2 ) 1
⇔ Tmax = qr + + + T∞,3 ⇔
2πkA L 2πkB L 2πR3 Lh3 (100)
 
ln(R2 /R1 ) ln(R3 /R2 ) 1
⇔ Tmax = qr′ + + + T∞,3 ⇔
2πkA 2πkB 2πR3 h3
 
ln(6/3) ln(7/6) 1
⇔ Tmax = 27 × + + + 15 ⇔ Tmax ≈ 33,56◦ C
2π × 0,25 2π × 0,1 2π × 7 × 25

(d) Repita a alı́nea anterior considerando agora que entre os Materiais A e B se observa uma
resistência térmica de contacto, Rt,c
′′
, não desprezável e igual a 0,5 m2 K W−1 .
Resolução:
O circuito térmico equivalente que corresponde ao problema em questão é apresentado na
figura seguinte.

Como na alı́nea anterior, a temperatura máxima no isolamento do cabo verifica-se em


r = R1 – Tmax corresponde a Ts,1 no circuito térmico equivalente anterior.

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(Tmax − T∞,3 )
qr = ⇔ Tmax = qr Rt,tot + T∞,3 ⇔
Rt,tot
′′

⇔ Tmax = qr Rt,condA + Rt,c A(r = R2 ) + Rt,condB + Rt,conv3 + T∞,3 ⇔
 
ln(R2 /R1 ) ′′ ln(R3 /R2 ) 1
⇔ Tmax = qr + 2πR2 LRt,c + + + T∞,3 ⇔
2πkA L 2πkB L 2πR3 Lh3
  (101)
′ ln(R2 /R1 ) ′′ ln(R3 /R2 ) 1
⇔ Tmax = qr + 2πR2 Rt,c + + + T∞,3 ⇔
2πkA 2πkB 2πR3 h3
 
ln(6/3) ln(7/6) 1
⇔ Tmax = 27 × + 2π × 0,06 × 0,5 + + + 15 ⇔
2π × 0,25 2π × 0,1 2π × 7 × 25
⇔ Tmax ≈ 38,65◦ C

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13 16. Considere um reservatório esférico destinado a conter uma mistura de fluidos em reacção exotérmi-
ca. O reservatório é formado, tal como indicado na figura, por duas camadas sendo a condutibi-
lidade térmica da Camada A igual a 19 W m−1 K−1 (kA ) e a condutibilidade térmica da Camada
B igual a 0,21 W m−1 K−1 (kB ). As dimensões do reservatório são R0 = 0,3 m, R1 = 0,35 m e
R2 = 0,4 m. Por razões de resistência dos materiais não convém ultrapassar na Camada A a
temperatura de 450◦ C (TmaxA ) e na Camada B a temperatura de 400◦ C (TmaxB ). O reservatório
encontra-se num ambiente a 35◦ C (Text ) e o coeficiente de convecção na superfı́cie do lado ex-
terior é igual a 8 W m−2 K−1 (hext ). O coeficiente de convecção na superfı́cie interior é igual a
200 W m−2 K−1 (hint ) e a mistura dos reagentes é homogénea e encontra-se toda à mesma tem-
peratura. Despreze a resistência térmica de contacto entre as Camadas A e B.

Problema 16

(a) Calcule a potência máxima que se pode libertar no interior do reactor.


Resolução:
O circuito térmico equivalente para o problema é apresentado na figura seguinte onde o
sentido da transferência de calor é identificado – como a reacção é exotérmica no interior
do reservatório esférico (existe libertação de energia térmica), o sentido do transporte de
calor verifica-se do interior do reservatório para o exterior. Note que a transferência de
calor é unidimensional (ao longo de r em coordenadas esféricas).

É necessário ver respeitados os limites de temperatura máxima nas Camadas A e B para o


cálculo da potência máxima (qr,max ) que se pode libertar. Devido ao sentido do transporte de
calor, a temperatura máxima na Camada A é observada em r = R0 (Ts,1 ) e a temperatura
máxima na Camada B é observada em r = R1 (Ts,2 ).
O procedimento para determinar a potência máxima consiste em duas etapas: (1) impon-
do Ts,1 = TmaxA determinar se Ts,2 ≤ TmaxB ; e (2) impondo Ts,2 = TmaxB determinar se
Ts,1 ≤ TmaxA . A etapa que permitir respeitar a temperatura máxima de ambas as camadas
é a que define as temperaturas Ts,1 (ou Ts,2 ) para o cálculo da potência máxima.

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Etapa (1)
Impondo Ts,1 = TmaxA , verificar se Ts,2 ≤ TmaxB .

(TmaxA − Text ) TmaxA − Ts,2


qr = = ⇔
Rt,condA + Rt,condB + Rt,convext Rt,condA
Rt,condA
⇔ Ts,2 = TmaxA + (Text − TmaxA ) ⇔
Rt,condA + Rt,condB + Rt,convext
(1/R0 )−(1/R1 )
4πkA
⇔ Ts,2 = TmaxA + (Text − TmaxA ) ⇔ (102)
(1/R0 )−(1/R1 ) (1/R1 )−(1/R2 ) 1
4πkA
+ 4πkB
+ 4πR22 hext
(1/0,3)−(1/0,35)
4π×19
⇔ Ts,2 = 450 + (1/0,3)−(1/0,35) (1/0,35)−(1/0,4) 1
(35 − 450) ⇔
4π×19
+ 4π×0,21
+ 4π×0,42 ×8
◦ ◦
⇔ Ts,2 ≈ 445,85 C > 400 C (= TmaxB )

Considerando Ts,1 = TmaxA , conclui-se que a temperatura máxima admissı́vel na Camada


B não é respeitada.

Etapa (2)
Impondo Ts,2 = TmaxB , verificar se Ts,1 ≤ TmaxA .

(TmaxB − Text ) Ts,1 − TmaxB


qr = = ⇔
Rt,condB + Rt,convext Rt,condA
Rt,condA
⇔ Ts,1 = TmaxB + (TmaxB − Text ) ⇔
Rt,condB + Rt,convext
(1/R0 )−(1/R1 )
4πkA
⇔ Ts,1 = TmaxB + (TmaxB − Text ) ⇔ (103)
(1/R1 )−(1/R2 )
4πkB
+ 4πR12 hext
2
(1/0,3)−(1/0,35)
4π×19
⇔ Ts,1 = 400 + (1/0,35)−(1/0,4) 1
(400 − 35) ⇔
4π×0,21
+ 4π×0,4 2 ×8

⇔ Ts,1 ≈ 403,49◦ C < TmaxA

Verifica-se então que nesta condição (impondo Ts,2 = TmaxB ) são respeitados os limites de
temperatura máxima nas Camadas A e B. Assim, a potência máxima que se pode libertar
no interior do reactor pode ser calculada pela seguinte equação.

(TmaxB − Text ) (TmaxB − Text )


qr,max = ⇔ qr,max = (1/R1 )−(1/R2 )

Rt,condB + Rt,convext + 4πR12 hext
4πkB 2
(104)
(400 − 35)
⇔ qr,max = (1/0,35)−(1/0,4) 1
⇔ qr,max = 1848,048 W
4π×0,21
+ 4π×0,42 ×8

(b) Nestas circunstâncias, qual é a temperatura no interior do reactor, Tint ?

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Resolução:
Uma vez que se conhece a potência máxima que se pode libertar (qr,max ), a resistência
térmica à convecção no interior do reservatório (Rt,convint ) e a temperatura Ts,1 (≈ 403,49◦ C)
nas condições consideradas para o cálculo de qr,max – ver resolução da alı́nea anterior (Etapa
(2)) – pode-se determinar a temperatura no interior do reservatório esférico, Tint , tal como
se segue.

(Tint − Ts,1 )
qr = ⇔ Tint = qr Rt,convint + Ts,1 ⇔
Rt,convint
1 1 (105)
⇔ qr + Ts,1 ⇔ Tint = 1848,048 × + 403,49 ⇔
4πR02 hint 4π × 0,32 × 200
⇔ Tint ≈ 411,660◦ C

(c) Se a taxa de libertação de calor aumentar 50 % qual terá de ser o novo valor do raio exterior
R2 a usar para garantir um correcto funcionamento do sistema? Suponha que todos os
parâmetros mantêm os seus valores.
Resolução:
Na alı́nea (a) observou-se que considerando Ts,2 = TmaxB garante-se que as temperaturas
máximas nas duas camadas não excedem os valores recomendados (TmaxA e TmaxB ). Assim,
considerando o novo valor para a taxa de transferência de calor (qr = qr,max (1 + 0,5)) e
Ts,2 = TmaxB pode-se calcular o valor R2 correspondente através da equação seguinte.

(Ts,2 − Text ) (TmaxB − Text )


qr = ⇔ qr,max (1 + 0,5) = (1/R1 )−(1/R2 )

Rt,condB + Rt,convext + 4πR12 hext
4πkB 2
(106)
(400 − 35)
⇔ 1848,048 × 1,5 = (1/0,35)−(1/R2 ) 1
⇒ R2 ≈ 0,37m
4π×0,21
+ 4πR22 ×8

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14 17. [Retirado do Teste 1 de 2014/2015] A figura apresenta um tanque esférico no interior do
qual está a ocorrer uma reacção lenta e endotérmica. A reacção consome em regime estacionário
uma taxa de energia uniforme por unidade de volume igual a 3 kW m−3 . O tanque é composto
pelos Materiais A e B cujas condutibilidades térmicas (k) e dimensões (Ri ) se encontram apre-
sentadas na figura. O tanque está envolvido por água a uma temperatura de 15◦ C (T∞ ) e com
um coeficiente de convecção (h) igual a 20 W m−2 K−1 .

Problema 17

(a) Determine a taxa de transferência de calor (q) e o fluxo de calor (q ′′ ) na superfı́cie externa
do Material B.
Resolução:
Aplicando um balanço de energia à região esférica onde existe reacção (r ≤ R1 ) – ver
figura seguinte – e considerando negativa a taxa volumétrica de geração de energia térmica
(q̇ < 0) – dado que existe consumo de energia térmica (reacção endotérmica) – e que a
energia térmica que entra para a região esférica central através da superfı́cie r = R1 por
unidade de tempo, Ėin , corresponde à taxa de transferência de calor, qr (= qcond
′′
× 4πR12 ),
obtém-se qr – ver Equação (107).

out + Ėg = 
Ėin − 
Ė st ⇔ Ėin = −Ėg ⇔ qr = − (−q̇V )

4 4 (107)
⇔ qr = q̇ × πR13 = 3 × 103 × × π × 0,453 ⇔ qr ≈ 1145,111 W
3 3

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O fluxo de calor na superfı́cie externa do material B, qr′′ (r = R3 ), é obtido pela Equação
(108).
qr 1145,111
qr′′ (r = R3 ) = = ′′
2 ⇔ qr (r = R3 ) ≈ 185,969 W m
−2
(108)
Ar (r = R3 ) 4π × (0,7)

A taxa de transferência de calor é constante longo de r nos Materiais A e B (i.e., R1 ≤ r ≤


R3 ). Contudo, o fluxo de calor depende da posição radial – pelo facto de a área da casca
esférica depender do raio correspondente, i.e., Ar (r) = 4πr2 .
(b) Determine a resistência térmica total (Rt,total ) entre a superfı́cie interna do Material A e a
água envolvente.
Resolução:
O circuito térmico equivalente para o problema apresenta-se de seguida.

No circuito térmico equivalente apresentado acima, Ts,1 = T (r = R1 ), Ts,2 = T (r = R2 ),


Ts,3 = T (r = R3 ) e T∞ = T (r = ∞). A resistência térmica total entre a superfı́cie interna
do Material A (r = R1 ) e a água envolvente (r = ∞) é obtida através da associação em
série das resistências térmicas de condução nos Materiais A e B (Rt,condA e Rt,condB , respec-
tivamente) e da resistência térmica de convecção (Rt,conv ), como apresentado de seguida.

R1−1 − R2−1 R2−1 − R3−1 1


Rt,total = Rt,condA + Rt,condB + Rt,conv = + + =
4πkA 4πkB hA
0,45−1 − 0,65−1 0,65−1 − 0,7−1 1 (109)
= + + ⇔
4π × 15 4π × 7 20 × 4π × 0,72
⇔ Rt,total ≈ 1,300 × 10−2 K W−1

(c) Determine a temperatura máxima no Material A.


Resolução:
Como a transferência de calor se verifica do exterior do tanque esférico (água) para o
interior (onde existe consume de energia térmica) – ver sentido da transferência de calor no
circuito térmico equivalente (figura na resolução da alı́nea anterior) –, então a temperatura
máxima no Material A observa-se em r = R2 :

T (r = R2 ) = Ts,2 = TmaxA (110)


Consequentemente, como se sabe (1) a taxa de transferência de calor ao longo dos Materiais
A e B (solução da alı́nea (a)), (2) a temperatura da água e (3) as dimensões das paredes

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esféricas (camadas A e B) e as respectivas condutibilidades térmicas (kA e (kB ) pode-se
obter a temperatura pretendida através da Equação (111).

∆T
qr = ⇔ T∞ − TmaxA = qr Rt,total ⇔ TmaxA = T∞ − qr Rt,total ⇔
Rt,total
 −1 
R2 − R3−1 1
⇔ TmaxA = T∞ − qr (Rt,condB + Rt,conv ) ⇔ TmaxA = T∞ − qr + ⇔
4πkB hA
 
0,65−1 − 0,7−1 1
⇔ TmaxA = 15 − 1145,111 + ⇔
4π × 7 20 × 4π × 0,72
⇔ TmaxA ≈ 4,271◦ C
(111)

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15 18. [Retirado do Teste de Repescagem 1 de 2018/2019] Uma placa de circuito (18 cm ×12 cm)
contém na sua superfı́cie 100 chips lógicos (ver figura), cada um dissipando 0,06 W para o fluido
circundante a uma temperatura T∞ = 40◦ C. Assuma que o espaçamento entre chips é muito
pequeno de modo a poder tratar a superfı́cie da placa como homogénea e que a transferência de
calor na superfı́cie traseira da placa é desprezável. Se o coeficiente de convecção na superfı́cie da
placa for h = 10 W m−2 K−1 , determine o fluxo de calor libertado pela placa, qconv
′′
, e a temperatura
da sua superfı́cie, Ts , desprezando o transporte de calor por radiação. Adicionalmente, assumindo
a superfı́cie da placa como negra, verifique se a transferência de calor por radiação é desprezável
face à convecção (considere a temperatura da envolvente Tsur = 40◦ C).

Problema 18

Resolução:
Aplicando um balanço de energia à placa tem-se:

Ėin − Ėout + Ėg = Ėst (112)

A Equação (112) pode ser simplificada tendo em conta o seguinte:

como o regime é estacionário, o termo de acumulação de energia térmica no interior da


placa, o termo Ėst , é nulo; e

como não existe energia térmica a entrar do meio envolvente para o interior da placa, o
termo Ėin é nulo.

Considerando estas simplificações, a Equação (112) dá origem à Equação (113).

Ėout = Ėg (113)

A figura seguinte apresenta uma representação esquemática do problema.

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′′
Ėout = Aqconv (114)

Ėg = nchips Ėg,chip (115)

Na Equação (114), qconv


′′
corresponde aos fluxo de calor convectivo da superfı́cie da placa. Na
Equação (115), Ėg,chip e nchips correspondem à potência libertada por cada chip e ao número
total de chips na placa, respectivamente.
Considerando as Equações (114) e (115), a Equação (113) pode escrever-se de acordo com a
Equação (116).

′′ ′′ nchips Ėg,chip
Aqconv = nchips Ėg,chip ⇔ qconv = ⇔
A (116)
′′ 100 × 0,06 ′′
⇔ qconv = ⇔ qconv = 277,778 W m−2
0,18 × 0,12

Uma vez conhecendo o valor do fluxo de calor convectivo da placa para o fluido envolvente
(qconv
′′
), da temperatura do fluido envolvente (T∞ ) e o respectivo coeficiente de convecção (h),
então a temperatura da superfı́cie da placa (T s) pode ser calculado considerando a aplicação
da lei de arrefecimento de Newton como se segue:

′′ qconv
′′
qconv = h (Ts − T ∞) ⇔ Ts = + T∞ ⇔
h (117)
277,778
⇔ Ts = + 40 ⇔ Ts = 67,778◦ C
10

Para avaliar a importância relativa do transporte de calor por radiação é necessário determinar
a temperatura da superfı́cie da placa considerando simultaneamente transporte de calor por
convecção e radiação. A figura seguinte apresenta uma representação esquemática do problema

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agora com uma contribuição radiativa para o transporte de calor entre a surperfı́cie da placa e
as superfı́cies exteriores (para além da componente convectiva).

Nestas condições, a Equação (114) é substituı́da pela Equação (118).


 

Ėout = A h (Ts − T∞ ) + ǫσ Ts4 − Tsur4 

(118)
| {z } | {z }
qconv
′′ ′′
qrad

Tendo em consideração as Equações (118) e (115), a Equação (113) pode escrever-se de acordo
com a Equação (119). Note que ǫ = 1 uma vez que a superfı́cie da placa é negra.

 nchips Ėg,chip
h (Ts − T∞ ) + ǫσ Ts4 − Tsur
4
= ⇔
 A 
⇔ 10 × [Ts − (40 + 273,15)] + 1 × 5,67 × 10−8 × Ts4 − (40 + 273,15)4 = (119)
100 × 0,06
= ⇔ Ts ≈ 329,012 K (55,862◦ C)
0,18 × 0,12

A importância relativa do transporte de calor por radiação, Ωrad , pode ser calculada através da
equação seguinte (Equação (120)).

Aqrad
′′
Aǫσ (Ts4 − Tsur4
)
Ωrad = ⇔ Ω rad = ⇔
A (qconv + qrad )
′′ ′′
nchips Ėg,chip
 
(0,12 × 0,18) × 1 × 5,67 × 10−8 × 329,0124 − (40 + 273,15)4 (120)
⇔ Ωrad = ⇔
100 × 0,06
⇔ Ωrad ≈ 42,9 %

Por unidade de tempo, 42.9 % da energia térmica dissipada pela placa é transportada por ra-
diação enquanto que 57.1 % (Ωconv ) é transferida por convecção. Ainda que não seja dominante,

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o transporte de calor por radiação é um mecanismo relevante e não deve ser desprezado. A re-
levância do transporte de calor por radiação já podia ser antecipada confrontando as tempe-
raturas da superfı́cie obtidas desprezando e considerando a radiação (67,778◦ C vs. 55,862◦ C).
Se a radiação fosse completamente desprezável as temperaturas obtidas pelas Equações (117) e
(119) seriam semelhantes.

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16 19. [Adaptado do Teste de Repescagem 1 de 2018/2019] Considere duas condições para o mes-
mo tubo de um circuito de refrigeração existente num sistema de ar condicionado: tubo sem de-
posição de resı́duos na sua superfı́cie exterior (tubo limpo) e tubo com uma camada de resı́duos
na sua superfı́cie exterior (tubo sujo) – ver figura. Assumindo esta camada de sujidade como
um revestimento isolante, pretende estudar-se a sua influência na taxa de transferência de calor,
comparando o caso sujo ao limpo, este último sem a camada de sujidade isolante. Para a resolução
desta questão, considere os dados numéricos apresentados na figura.

Problema 19

(a) Para cada um dos dois casos, sujo e limpo, desenhe o sistema de resistências térmicas.
Indique na representação a expressão matemática de cada resistência térmica individual.
Resolução:

Caso Limpo

O sistema de resistências térmicas (circuito térmico equivalente) correspondente ao Caso


Limpo é apresentado na figura seguinte.

Rt,convRef , Rt,condt e Rt,convAr correspondem, respectivamente, à resistência térmica de con-


vecção na superfı́cie interna do tubo, à resistência térmica de condução ao longo da espes-
sura da parede do tubo e à resistência térmica de convecção na superfı́cie externa do tubo.
Estas resistências térmicas são calculadas através das equações seguintes.

1 1
Rt,convRef = ⇔ Rt,convRef = (121)
hRef Aint 2πRint LhRef

ln(Rext /Rint )
Rt,condt = (122)
2πktubo L

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1 1
Rt,convAr = ⇔ Rt,convAr = (123)
hAr Aext 2πRext LhAr

Nas equações anteriores, Rint e Rext correspondem ao raio interior do tubo (= d/2) e ao
raio exterior do tubo (= d/2 + ∆rtubo ), respectivamente.

Caso Sujo

O sistema de resistências térmicas (circuito térmico equivalente) correspondente ao Caso


Sujo é apresentado na figura seguinte.

Rt,condi corresponde à resistência térmica de condução ao longo da espessura da parede de


isolante (sujidade). As resistências consideradas no circuito térmico equivalente anterior
são calculadas através das equações seguintes.

1 1
Rt,convRef = ⇔ Rt,convRef = (124)
hRef Aint 2πRint LhRef

ln(Rt−i /Rint )
Rt,condt = (125)
2πktubo L

ln(Rext /Rt−i )
Rt,condi = (126)
2πkisol L

1 1
Rt,convAr = ⇔ Rt,convAr = (127)
hAr Aext 2πRext LhAr

Nas equações anteriores, Rint , Rt−i e Rext correspondem ao raio interior do tubo (= d/2),
ao raio da superfı́cie cilı́ndrica que separa o tubo da camada de sujidade (camada isolan-
te) (d/2 + ∆rtubo ) e ao raio exterior da camada de sujidade (= d/2 + ∆rtubo + ∆risol ),
respectivamente.

(b) Quantifique a influência da camada de sujidade isolante, determinando o rácio entre as taxas
de transferência de calor do caso sujo sobre o caso limpo.
Resolução:

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sujo limpo limpo
qrsujo (∆T /Rt,tot ) Rt,tot Rt,convRef + Rt,condt + Rt,conv Ar
= = sujo
= sujo
=
qrlimpo limpo
(∆T /Rt,tot ) Rt,tot Rt,convRef + Rt,condt + Rt,condi + Rt,conv Ar
1 ln(Rext /Rint ) 1
2πRint LhRef
+ 2πktubo L
+ limpo
2πRext LhAr
= 1 ln(Rt−i /Rint ) ln(Rext /Rt−i ) 1
0
2πRint LhRef
+ 2πktubo L
+ 2πkisol L
+ 2πRsujo
ext LhAr
(128)
1
2π×0,025×100
+ ln[(2,5+1)/2,5]
2π×15
1
+ 2π×(0,025+0,01)×20
= ⇔
1
2π×0,025×100
+ ln[(2,5+1)/2,5]
2π×15
+ ln[(2,5+1+0,5)/(2,5+1)]
2π×0,1
1
+ 2π×(0,025+0,01+0,005)×20
qrsujo
⇔ ≈ 0,615
qrlimpo

A existência de sujidade na superfı́cie externa do tubo – com as caracterı́sticas considera-


das – é responsável por infligir uma penalização de aproximadamente 38.5 % na taxa de
transferência de calor que se obteria se o tubo não tivesse nenhum depósito de resı́duos na
sua superfı́cie externa (Caso Limpo).

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