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44598-02 – Sobretensões em Sistemas Elétricos

III Amortecimento

III.1 Introdução

Embora houvessem, nas situações anteriores, componentes resistivos nos circuitos abordados,
especial atenção não foi dada às perdas destes circuitos. Deve-se lembrar que todos os circuitos
práticos possuem perdas devido a sua resistência própria e também às perdas no ferro dos
equipamentos. Além disto, as próprias cargas são também elementos importantes de dissipação.

III.2 Circuitos RLC

Os circuitos equivalentes para o estudo de chaveamento poderão ser representados por um circuito
RLC, em série ou paralelo, ou por um conjunto destes circuitos convenientemente associados. Na
Tabela III.1 encontram-se as duas formas de associação RLC juntamente com suas principais
características.

Tabela III.1 – Características das associações RLC elementares

Item Configuração Paralelo Configuração Série

Diagrama

∂ 2 ψ R ∂ψ ψ
∂ 2 φ 1 ∂φ φ + + = g(t)
+ + = f (t) ∂t 2 L ∂t LC
∂t 2 RC ∂t LC
Equações Sendo ψ a tensão em um
Sendo φ a corrente em um ramo
componente ou a corrente no
ou a tensão nos terminais.
circuito.
Constante de tempo τ P = RC τS = L R
Período angular (circuito não
τ P ⋅ τ S = LC = τ 2 τ P ⋅ τ S = LC = τ 2
amortecido)
R
η= =R CL Z0 = L
C 1
Coeficiente de amortecimento Z0 λ=
η

III – Amortecimento – SHaffner Versão 9/3/2006 III.1


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Aplicando-se transformada de Laplace às equações diferenciais da Tabela III.1, chega-se a:

1 1 R 1
s 2 Φ(s)+ sΦ(s)+ Φ(s)= F(s) e s 2 Ψ(s)+ sΨ(s)+ Ψ(s)= G(s)
RC LC L LC

Isolando-se Φ(s) e Ψ(s), tem-se:

F(s) G(s)
Φ(s)= e Ψ(s)=
s 1 s 1
s2 + + s2 + +
RC LC L LC
R

Estas duas expressões podem ser simplificadas utilizando-se τ P , τ S e τ 2 conforme definido na


Tabela III.1, e recaem nas seguintes equações genéricas (observar a semelhança entre as duas
equações:

F(s) G(s)
Φ(s)= e Ψ(s)=
s 1 s 1
s2 + + 2 s2 + + 2
τP τ τS τ

Portanto, a solução das equações diferenciais dos circuitos mostrados na Tabela III.1 recai sempre
nas seguintes transformadas inversas:

F(s) G(s)
φ(t)= L −1 Φ(s) = L −1 e ψ(t)= L −1 Ψ(s) = L −1
s2 + s τ + 1 s2 + s τ + 1
P τ2 S τ2

Como as expressões são semelhantes, basta resolver uma para obter a solução da outra. As
respostas desse circuitos (i(t) ou v(t) das configurações paralelo ou série) em relação a uma série de
estímulos (f(t) ou g(t) no domínio do tempo e F(s) e G(s) no domínio da freqüência) podem ser
representadas por uma família de curvas adimensionais (nomalizadas) – vide Greenwood, capítulo
4, páginas 48-70.

A seguir serão apresentadas as soluções para três tipos de funções, configuração paralelo:

F1(s) = 1
F3(s) = s
F4(s) = 1/s

III – Amortecimento – SHaffner Versão 9/3/2006 III.2


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1
φ1(t)= L −1 Φ1(s) = L −1
s + sτ + 1 2
2

P τ

−t *
2η t* t
se η > 1
2 então φ1(t)= e sen 4 η2 − 1

t* =
4η − 1
2 2η LC
−t *

se η = 1
2 então φ1(t)= t ⋅ e* 2η

−t *
2η t*
se η < 1
2 então φ1(t)= e sen 1 − 4 η2

1 − 4 η2 2η

s
φ 3(t)= L −1 Φ 3(s) = L −1
s + sτ + 1 2
2

P τ

−t *
t* 1 t*
se η > 1
2 então φ 3(t)= e 2η
cos 4 η2 − 1 − sen 4 η2 − 1
2η 4 η2 − 1 2η
−t *

se η = 1
2 então φ 3(t)=(1 − t )⋅e * 2η

−t *
t* 1 t*
se η < 1
2 então φ 3(t)= e 2η
cos 1 − 4 η2 − sen 1 − 4 η2
2η 1 − 4 η2 2η

1
φ 4 (t)= L −1 Φ 4 (s) = L −1
s(s + τ + 1 2 )
s
2

P τ

−t *
t* 1 t*
se η > 1
2 então φ 4 (t)= 1 − e 2η
cos 4 η2 − 1 + sen 4 η2 − 1
2η 4 η2 − 1 2η
−t *

se η = 1
2 então φ 4 (t)= 1 −(1 + t )⋅e * 2η

−t *
t* 1 t*
se η < 1
2 então φ 4 (t)= 1 − e 2η
cos 1 − 4 η2 + sen 1 − 4 η2
2η 1 − 4 η2 2η

Para configuração série, basta substituir ψ por φ e η por λ.

III – Amortecimento – SHaffner Versão 9/3/2006 III.3


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III.3 Curvas de Amortecimento Generalizadas

Utilizando-se as equações obtidas no item anterior é possível obter curvas correspondentes à


solução das equações diferenciais da Tabela III.1. As curvas mostradas nas Figuras III.1, III.2 e
III.3 foram obtidas para diversos valores de η (0,1 - 0,3 - 0,5 - 0,75 - 1,0 - 1,5 - 2,0 - 4,0 - 10 -
1000).

Figura III.1 – Gráfico da transformada inversa de Φ1(s)

Figura III.2 – Gráfico da transformada inversa de Φ3(s)

III – Amortecimento – SHaffner Versão 9/3/2006 III.4


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Figura III.3 – Gráfico da transformada inversa de Φ4(s)

Exemplo III.1 – Considere um disjuntor trifásico 345 kV-25.000 MVA (capacidade de interrupção
de aproximadamente 40 kA), instalado em um sistema cuja capacitância equivalente é igual a
25.000 pF e cuja corrente de curto-circuito é igual a 40 kA. Determinar:

a) A magnitude da tensão a que ficam submetidos os pólos do disjuntor quando este interrompe um
curto circuito (desconsiderando o amortecimento).

Como visto anteriormente, a tensão aproxima-se do dobro do valor de pico da tensão nominal. Para
um sistema com o neutro aterrado tem-se:
2U Leficaz 2 2 × 345 k V × 2
U max = = = 563 kV
3 3

b) O valor da resistência que deve ser inserido em paralelo com o disjuntor (durante a abertura
deste) para que a tensão seja reduzida a 70% do valor calculado no item anterior.

A forma de onda da tensão sobre o disjuntor, para diferentes valores de η está mostrada na Figura
III.3 – observar a semelhança entre a equação de Φ4(s) e a equação (II.11). Para reduzir para 70%
deve-se buscar a curva que apresentar valor máximo igual a 1,4 (2 x 0,7 = 1,4) – tal curva
corresponde ao valor de η igual a 1,8.

III – Amortecimento – SHaffner Versão 9/3/2006 III.5


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Mas R = η ⋅ Z0 e Z0 = L
C . O valor de L pode ser obtido a partir do conhecimento da corrente
de curto-circuito do sistema:

345.000
Uφ 3 ≅ 5 Ω ⇒ L = X L = 5 = 13,2 mH
XL = =
I CC 40.000 2 πf 2 π 60

Daí, a impedância de surto e a resistência a ser utilizada para amortecer a corrente são,
respectivamente:

L 13,2 ⋅ 10− 3
Z0 = = = 727 Ω
C 25 ⋅ 10− 9
R = η ⋅ Z0 = 1,8 ⋅ 727 ≅ 1300 Ω

c) O período angular τ e o tempo em que ocorre o valor máximo de tensão.

O período angular é dado por:

τ = LC = 13,2 ⋅ 10−3 × 25 ⋅ 10− 9 = 18,2 µ s

Da Figura III.3, nota-se que o valor de máximo ocorre para t* = 3,4, logo:

t = t * ⋅ LC = t * ⋅ τ = 3,4 ⋅ 18,2 ⋅ 10− 6 ≅ 62 µ s

III.4 Chaveamento de Carga

As funções mais freqüentes executadas pelos dispositivos de chaveamento são ligamentos e


desligamentos de cargas que, muitas vezes, podem ser representadas por circuitos RL paralelos.
Quanto tais cargas são desligadas, a capacitância efetiva do sistema torna-se um elemento
importante na determinação do transitório gerado. Supondo que a carga apresente alto fator de
potência (cosθ≅1) , a corrente e a tensão na mesma apresentam-se aproximadamente em fase. Neste
caso,, quando ocorrer a abertura efetiva do circuito (durante a passagem da corrente por zero) a
tensão sobre a capacitância do circuito será pequena e, portanto, o transitório produzindo também.
Caso contrário (baixo fator de potência), quando ocorrer a abertura efetiva do circuito (durante a
passagem da corrente por zero) a tensão sobre a capacitância do circuito será máxima e o transitório
produzindo também.

III – Amortecimento – SHaffner Versão 9/3/2006 III.6


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Exemplo III.2 – Considere uma carga com as seguintes características: R = 30 kΩ, L = 5 H, ligada
a uma rede com neutro aterrado onde a tensão de linha e 13,8 kV. Determinar a tensão a que ficam
submetidos os terminais de uma chave que abre tal circuito sabendo que a capacitância associada é
igual a 3 nF.

Para esta carga tem-se:

L 5
Z0 = = ≅40800 Ω
C ⋅ −9
310

R 30000
.
η= = ≅0,74
Z0 40800
.

Os terminais da chave ficam submetidos a uma diferença de potencial, cuja forma de onda é dada
pelo gráfico da Figura III.3 e cujo valor máximo (para η = 0,74) corresponde a um fator de 1,05, ou
seja:

U Leficaz 2 , kV 2
138
max
U chave = , =
105 , =118
105 , kV
3 3

Neste gráfico a escala de tempo é dada por:

τ= LC = 5×310
⋅ −9 ≅12 µs

Da Figura III.3, nota-se que o valor de máximo ocorre para t* = 4,2, logo:

t =t * ⋅τ =4,2×1210
⋅ −6 ≅50 µs

EPC III.1 – Determinar as curvas de tensão (em kV) em função do tempo (em segundos)
correspondentes aos Exemplos III.1 e III.2.

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