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Universidade Federal do Rio Grande - FURG 05/10/2020 Escola de Engenharia

Aula no. 04 (Semana 05/10/2020 a 10/10/2020)


Capı́tulo 4 - Torção (Parte 1 de 2)

Nesta quarta aula será iniciado o estudo da torção que corresponde ao Capı́tulo 4 da
disciplina. Na quinta e próxima aula este capı́tulo será concluı́do.
Aqui será apresentado o estudo das tensões e deformações em barras retas sujeitas a um
momento de torção que também pode ser denominado de torque que serão representados pela
letra T .
Este estudo estará dividido em duas partes. A torção de barras com seção transversal
circulares maciças ou ocas e a torção de barras com seção transversal com forma geométrica
não circular. A motivação para esta pseudo divisão decorre da diferença do tratamento entre
os dois casos. As soluções da torção de barras circulares se pode obter de forma bem simples,
mas para barras com seção transversal não circular, as soluções existem apenas no âmbito da
teoria da elasticidade.
Na figura 1 são mostradas duas seções transversais circulares, uma maciça e outra oca.
Se pode observar que a seção maciça fica definida por um único parâmetro, seu diâmetro D
ou seu raio R. A seção circular oca fica definida por dois parâmetros, seus diâmetro externo
De e interno Di ou seus raios externo ou interno, ou seu diâmetro externo De e a espessura
da parede t.

Figura 1: Seções circulares maciça e oca.

Na engenharia estrutural há várias situações nas quais se tem torção. Se pode citar
como exemplos, pórtico espaciais e grelhas são estruturas sujeitas a torção, vigas com lajes
em balanço (marquizes) estão sujeitas a torção, o clássico caso de eixos de transmissão de
potência, etc.

4.1 Tensões e deformações em barras circulares sob torção.

Na figura 2 está representada uma barra circular sob um momento de torção constante de
valor T .

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Figura 2: Barra sob torção. (Fonte: SILVA, 2006, p. 348 )

Um momento de torção ou torque atuará quando as forças forem excêntricas ao eixo


geométrico da barra. Assim, o plano onde atua o torque é um plano paralelo aos planos das
seções transversais.
Na figura 3, está representado um barra circular sujeita a um torque constante de inten-
sidade T e um plano qualquer perpendicular ao eixo geométrico da barra, que a corta em C.
Se as forças internas na seção transversal atuam no plano da seção, já se pode inferir que
as tensões que irão atuar na seção serão do tipo tangencial ou de cisalhamento que serão
indicadas pela letra grega τ (tau).
Na figura 3, também são mostradas algumas destas forças internas dF .

Figura 3: Forças internas tangenciais. (Fonte: BEER & JOHNSTON, 2008, p. 155 )

Nesta figura, a distância ρ é o valor da distância do ponto de aplicação de cada uma destas
forças internas ao eixo geométrico da barra. De modo que, se pode escrever a equação de
equilı́brio de momentos em torno do eixo geométrico da barra na forma

ρ dF = T (1)
A

Mas tendo em vista que dF = τ dA, a expressão (1) toma a forma



ρ (τ dA) = T (2)
A

A expressão (2) estabelece uma importante condição que as tensões tangenciais τ devem
manter em qualquer seção transversal da barra circular sob torção. Entretanto, não se sabe

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como estas tensões tangenciais se distribuem sobre a área desta seção circular. Isto só pode
ser resolvido se for analisada a deformação produzida pela torção haja vista que aqui é válida
a Lei de Hooke, ou seja, deformações e tensões apresentam a mesma forma de variação.
É extremamente importante analisar o que acontece com as deformações pois o objetivo
é resolver a integral que aparece na expressão (2). Assim, se obteria uma expressão que
permitirá calcular as tensões tangenciais nos pontos da seção transversal circular sob torção.
Cabe aqui lembrar o princı́pio da reciprocidade para tensões tangenciais que afirma que
τij = τji . Na figura 4 e mostrado um pequeno elemento de uma barra circular mostrando que
a torção provoca tensões tangenciais no plano de uma seção e tensões tangenciais no plano
perpendicular longitudinal.

Figura 4: Tensões tangenciais em um ponto sob torção. (Fonte: BEER & JOHNSTON, 2008,
p. 155 )

Na figura 5 da página anterior, é mostrada uma barra circular engastada na sua extremidade
da esquerda e livre na da direita e comprimento L. Sobre a superfı́cie desta barra é mostrada
um segmento de reta BA de extensão idêntica ao comprimento da barra.

Figura 5: Barra circular sob torção. (Fonte: BEER & JOHNSTON, 2008, p. 156 )

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Quando um torque T for aplicado a esta barra na sua extremidade livre, a barra sofrerá
rotação em torno de seu eixo geométrico. A seção transversal desta extremidade livre irá girar
de um ângulo ϕ. Este ângulo é denominado de ângulo de torção.
A figura 6 mostra o efeito da ação de um torque numa barra circular. Se pode observar que
várias linhas longitudinais ficam deformadas por efeito do torque. Esta figura também mostra

Figura 6: Tensões tangenciais em um ponto sob torção. (Fonte: BEER & JOHNSTON, 2008,
p. 156 )

que a barra circular sob torção não sofre alteração de comprimento e suas seção transversais
que eram inicialmente planas irão girar em torno do eixo geométrico da barra e se manterão
planas e indeformadas.
Para a determinação das deformações serão consideradas as três representações mostradas
na figura 7.

Figura 7: Tensões tangenciais em um ponto sob torção. (Fonte: BEER & JOHNSTON, 2008,
p. 156 )

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A barra tem comprimento L e sua seção transversal tem raio r. Na figura 7(b) é mostrado
um pequeno elemento quadrado originado por duas seções transversais próximas e duas linhas
longitudinais. Este pequeno elemento passará a ter a forma de um losango, após a barra ser
deformada por torção, como mostrado na figura 7(c).
A deformação angular deste elemento denominada por γ é a medida da variação angular
entre lados daquele elemento. A deformação angular é igual ao ângulo entre as linhas AB e
A′ B ′ . Assim, da figura 7(c) para pequenos valores de γ o comprimento do arco AA′ valerá
Lγ. Mas, por outro lado, AA′ vale r ϕ. Assim, se pode escrever

γ= (3)
L
Nesta expressão, γ e ϕ são expressos em radianos. Esta expressão (3) mostra que a
deformação angular γ é proporcional ao ângulo de torção ϕ. Além disso é proporcional a
distância ρ medida a partir do centróide da seção ao ponto considerado.
Portanto, se pode afirmar que a deformação angular em uma barra circular sob torção
varia linearmente no sentido radial, no sentido do centro da seção a borda da mesma. Esta
deformação é máxima em todos os pontos do contorno da seção, quando ρ = R, ou seja,

γmax = (4)
L
Tomando as expressões (3) (4), e eliminando o termo ϕ, se obtém
ρ
γ= γmax (5)
R
Por outro lado, a Lei de Hooke para tensões tangenciais estabelece que

τ =Gγ (6)

onde G é o valor do módulo de elasticidade transversal do material. Assim,


ρ
Gγ= G γmax (7)
R
ou seja,
ρ
τ= τmax (8)
R
Voltando a expressão (2), se pode escrever
∫ ∫
τmax
T = ρ τ dA = ρ2 dA (9)
A R A

Nesta expressão (9), a integral representa, por definição, o valor do momento polar de
inércia da área da seção transversal circular.

J= ρ2 dA (10)
A

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De modo que, se chega a


T R
τmax = (11)
J
Por fim, substituindo a expressão (11) na expressão (8) se chega finalmente a expressão
geral que permite determinar os valores das tensões tangenciais em qualquer ponto de una
seção transversal de uma barra circular sob torção, dada por
T ρ
τ= (12)
J
Nesta expressão, o valor do momento polar de inércia J poderá ter dois valores, um para
seção maciça e outro ara seção vazada (ôca). Estes valores são
πD4 πR4
J= = (13)
32 2
4
π(Dext − Dint4
) 4
π(Rext − Rint
4
)
J= = (14)
32 2
Nestas expressões, D e R representam os valores do diâmetro e raio para uma seção circular
maciça, e Dext , Rext , Dint , Rint representam os valores dos diâmetros externo e interno, e dos
raios externo e interno de uma seção circular vazada.
A figura 8 mostra a distribuição das tensões tangenciais devido à torção para as duas
situações de seções circulares.

Figura 8: Distribuição de tensões tangenciais sob torção. (Fonte: BEER & JOHNSTON,
2008, p. 160 )

De modo a concluir este tema das tensões e deformações em barras circulares, as de-
formações angulares máximas e o ângulo de torção estão relacionados pela expressão (4) e a
Lei de Hooke estabelece que
τmax T R
γmax = = (15)
G GJ
Igualando as expressões (4) e (15) se chega a
T L
ϕ= (16)
GJ
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Esta expressão permite determinar o valor do ângulo de torção, ou seja, o quanto irá girar
uma seção transversal em relação a outra que dista L unidades de comprimento.
Em muitas situações, o valor do torque atuante ao longo do comprimento L pode ser
variável mas constante por trechos. Nestas situações, deve ser aplicada a expressão (16) dada
ela forma

i=n
Ti Li
ϕ= (17)
i=1
GJ

Noutras situações o torque T pode apresentar uma lei de variação ao longo do comprimento
L. Para estas situações a aplicação da expressão (16) deverá ocorrer na forma

T (x)
ϕ= dx (18)
GJ
Nas expressões (16), (17) e (18) aparece nos denominadores o termo GJ. Este termo é
conhecido como rigidez à torção da barra. Quanto maior o seu valor, menor as deformações
e os deslocamentos. Seu valor é função da propriedade mecânica G do material envolvido e
da propriedade geométrica da seção transversal da barra J.

4.2 Eixos de transmissão de potência.

Um caso clássico de situação de barras circulares sob torção é a situação de eixos de


transmissão de potência.
Tais situações em geral envolvem um motor que gera uma dada potência que é transmitida
por um eixo (barra circular) girando a uma dada velocidade e transmitindo esta potência até
uma máquina que realizará trabalho.
Para se determinar o valor do torque T envolvido numa situação deste tipo, se deve
empregar a clássica expressão da dinâmica

P =T ω (19)

Nesta expressão P é o valor da potência transmitida, T é o valor do torque atuante no


eixo e ω o valor da velocidade angular expressa em radianos por segundo, Hz.
Por outro lado, se pode expressar a velocidade angular como função da frequência na forma

ω=2πf (20)

Nesta expressão, f representa o valor da frequência, cuja unidade é s−1 .


Levando esta expressão (20) na expressão (19) se obtém

P =2πf T (21)

De modo que, se pode calcular o valor do torque T envolvido na transmissão da potência


P , por
P
T = (22)
2πf

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Se deve ter cuidado com as unidades a serem empregadas. Para o SI, potência é dada por
N.m/s, o torque em N.m e a frequência em s−1 . Em muitas situações, a potência pode ser
expressa em cv, hp ou em rpm. Para estas situações as conversões são

1 hp = 746 N.m/s (23)

1 −1 1
1 rpm = s = Hz (24)
60 60

1 cv = 735 N.m/s (25)

Referências Bibliográficas

1) BEER, F.P., JOHNSTON, E.R.,DEWOLF, J.T., MAZURECK, D.F. Mecânica dos Ma-
teriais. 5a. Ed., Porto Alegre, Brasil: The McGraw-Hill Companies, Inc., 2008.

2) HIBBELER, R.C. Mechanics of Materials. Ed. 10, Hoboken, NJ: Pearson, 2015.

3) SILVA, V. D. Mechanics and Strength of Materials. Heidelberg: Springer-Verlag, 2006.

Rio Grande, 05 de outubro de 2020.

Prof. Ernesto L. G. Alquati


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