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TRAÇÃO

Ensaios físicos mecânicos


Introdução

Nos séculos passados, como a construção


dos objetos era essencialmente artesanal,
não havia um controle de qualidade
regular dos produtos fabricados. A
qualidade era avaliada pelo uso. Tendo em
vista que só sabiam que o material ia
falhar, quando ele de fato falhava.
Atualmente, entende-se que o controle de
qualidade precisa começar pela matéria-
prima e deve ocorrer durante todo o
processo de produção, incluindo a
inspeção e os ensaios finais nos produtos
acabados. Isto é, colocar suas
características em forma de número para
que seja possível prever o que acontecerá
com eles.  
Ensaios Mecânicos

 Os ensaios mecânicos dos materiais são


procedimentos padronizados que
compreendem testes, cálculos, gráficos e
consultas a tabelas, tudo isso em conformidade
com normas técnicas. Realizar um ensaio
consiste em submeter um objeto já fabricado
ou um material que vai ser processado
industrialmente a situações que simulam os
esforços que eles vão sofrer nas condições
reais de uso, chegando a limites extremos de
solicitação. 
Ensaio e Tração

O ensaio de tração é sem


dúvida um dos mais utilizados
dos ensaios mecânicos e,
quando realizado
criteriosamente, pode
fornecer informações básicas
sobre as propriedades
mecânicas fundamentais dos
materiais empregados na
engenharia e se eles são
adequados para o uso
desejado.
Ensaio de Tração

● Ele é um tipo de ensaio mecânico destrutivo, onde um corpo de


prova ou produto acabado é submetido a uma força uniaxial que
o deforma até a fratura (rompimento). Durante o processo, os
valores de força aplicada e os valores de deformação são
guardados para que seja possível criar um gráfico de tensão-
deformação
Introdução

A metodologia do ensaio consiste na


fixação do corpo de prova pelas suas
extremidades nas garras de fixação da
máquina universal de ensaios. São
aplicadas cargas crescentes na direção axial
e as deformações correspondentes são
medidas com auxílio de um extensômetro.
As cargas são mensuradas na própria
máquina e o ensaio ocorre normalmente
até a ruptura do material, ou até o limite
da máquina. 
Introdução

Os dados obtidos com o teste


permitem construir as curvas de
tensão versus deformação que
geram muitos dados para
caracterização quantitativa,
qualitativa, controle de qualidade e
pesquisas.
Introdução

Devido ao estiramento do corpo de prova, uma redução de área na região central da amostra é
observada após o limite de resistência do material, e é denominado empescoçamento ou
estricção. É esperado que a ruptura ocorra sempre na região de estricção da amostra, uma vez
que a tensão se concentra nessa região. A menos que haja um defeito interno ou
descontinuidade, fora dessa região, que cause ruptura. 
Tensão deformação em Materiais metálicos

● Sendo um dos ensaios mais empregados atualmente na


indústria, o ensaio de tração avalia diversas propriedades
mecânicas dos materiais, através de características
observadas do gráfico gerado por esse ensaio, o qual é
denominado diagrama tensão deformação, sendo
extremamente útil para complementar a análise
matemática envolvida no processo.
Gráfico de tensão deformação em Materiais metálicos

A partir do gráfico de tensão deformação dos materiais metálicos poderíamos descrever todo os
parâmetros importantes no ensaio. Na imagem a seguir podemos entender melhor tais
parâmetros, que aparecem quando o material está sujeito a esforços de natureza mecânica (isso
significa que esses parâmetros determinam a maior ou menor capacidade que o material tem
para transmitir ou resistir aos esforços que lhe são aplicados):
Gráfico típico de tensão x deformação de um ensaio de tração

A partir das medidas de cargas e os respectivos alongamentos,


constrói-se o gráfico de tensão x deformação, como mostra a figura 2,
a qual mostra essa relação para diferentes tipos de Metais. A análise
dos gráficos obtidos com os ensaios de tração permite o levantamento
de algumas informações importantes que são apresentadas a seguir:
Módulo de elasticidade (ou módulo de Young): 

● É dado pela razão entre a tensão aplicada em um material pela sua


deformação. O módulo de elasticidade é preferencialmente obtido
na fase elástica do material, logo, na fase em que se aplica uma
tensão no material que tende a se deformar e quando esta tensão é
interrompida o material volta a seu estado inicial. Podemos obter o
módulo de elasticidade através da inclinação (coeficiente angular)
do segmento linear no gráfico tensão deformação.
● Nos materiais metálicos, o módulo de elasticidade é considerado
uma propriedade insensível com a microestrutura, visto que o seu
valor é fortemente dominado pela resistência das ligações atômicas,
sendo apresentado conforme a relação:

Equação 1:
E = σ / ε. Tensão aplicada (σ)
Deformação (ε).
Deformação Plástica

À medida que o material continua a ser deformado além do regime elástico, a tensão deixa de ser
proporcional à deformação, fazendo com que a lei de Hooke não seja obedecida, ocorrendo uma
deformação permanente e não recuperável, sendo chamada de deformação plástica. Na maioria dos
materiais metálicos, a transição do comportamento elástico para o plástico é gradual, ocorrendo uma
curvatura no ponto de surgimento da deformação plástica, a qual aumenta mais rapidamente com a
elevação de tensão.
Limite elástico:

Também denominado limite de elasticidade ou limite de fluência, é a


tensão máxima que um material elástico pode suportar sem sofrer
deformações permanentes após a retirada da carga externa. Portanto,
dentro do limite elástico o material retorna ao seu estado normal
elástico depois de sofrer uma dada deformação.
Limite de proporcionalidade

  É o limite ao qual a tensão aplicada não é mais


proporcional ao alongamento, de forma que o material
não apresenta mais linearidade.
 
Limite de resistência

 O limite de resistência à tração (algumas vezes representada pela sigla LRT) é a


tensão no ponto máximo do gráfico de tensão deformação de engenharia, a qual
corresponde à tensão máxima que pode ser sustentada por uma estrutura sob
tração. Observando o gráfico da figura 2, após o escoamento a tensão necessária
para continuar o processo de deformação plástica em materiais metálicos aumenta
até alcançar um valor máximo e a partir desse ponto, a tensão diminui até a fratura
do material. Isso ocorre devido à rápida diminuição da seção resistente do corpo de
prova ao se ultrapassar a tensão máxima, sendo expressa pela equação:

Equação 2:
σ = F / A0
F é a força ou carga instantânea aplicada em uma direção ortogonal à seção reta (A0);
 A0 representa a área da seção do corpo de prova (antes da aplicação da força).
 
 
Ductilidade 

Representa uma medida do grau de deformação plástica que o material aguentou até a
fratura. Um material que experimenta uma deformação plástica muito pequena quando
ocorre sua fratura é chamado de frágil. A ductilidade pode ser expressa quantitativamente
tanto pelo alongamento percentual como pela redução de área percentual.
Pode-se obter o alongamento percentual AL% da seguinte maneira:

Equação 3:
AL% = (Lf – L0/L0) * 100
 
Lf é o comprimento da porção útil do corpo de prova no momento da fratura;
L0 o comprimento útil original;
 
O conhecimento da ductilidade dos materiais é importante, pois dá uma indicação do grau
onde uma estrutura irá se deformar plasticamente antes de fraturar, além de especificar o
grau de deformação permissível durante operações de fabricação.
 
Tenacidade

● Representa uma medida da capacidade de um material em absorver


energia até a fratura. Esta é uma propriedade desejável para casos de
peças sujeitas a choques e impactos, como engrenagens, correntes,
entre outras. Portanto, a geometria do corpo de prova e a maneira
como a carga é aplicada, são fatores importantes nas determinações de
tenacidade. Logo, a tenacidade à fratura é uma propriedade indicativa
da resistência do material à fratura quando este possui uma trinca.
Resiliência

• É a capacidade de um material absorver


energia quando é deformado elasticamente, e
recuperar essa energia depois do
descarregamento;
• Propriedade importante para materiais que
recebem cargas cíclicas;
• Como melhorar a resiliência.

Dada pela seguinte equação:

Equação 4:
 

Módulo de resiliência (Uf); 
Tensão de escoamento (σ);
Módulo de elasticidade (ε);
 
Encruamento:

• Fenômeno modificativo da estrutura


dos metais, em que a deformação
plástica causará o endurecimento e
Fenômeno
aumento modificativo
de resistência do metal;
• da estrutura dos metais,
Discordâncias;
• Resistência
em que e durabilidade;
a deformação
• Encruamento
plástica indesejável;
causará o
• Recuperação da microestrutura e
endurecimento e
propriedades originais.
aumento de resistência do
metal.
Gráfico tensão-deformação para diferentes graus de encruamento
Estricção ou Empescoçamento

• Pode ser entendido como uma


“formação de pescoço” ou
“estiramento” que ocorre quando o
aumento da dureza por
encruamento é menor que a tensão
aplicada e o material sofre uma
grande deformação;
• Deformação plástica;
• Diminuição da seção transversal;
• Zona de estricção (formada em
torno de um ponto de fratura);
• Indicador de ductilidade;
Coeficiente de Poisson (V): 

• É um parâmetro resultante da razão entre as deformações transversal/lateral e axial (tais


deformações sempre com sinais opostos). O sinal negativo foi incluído nesta relação para
que ν seja sempre um número positivo.
• O coeficiente de Poisson mede a rigidez do material na direção perpendicular à direção de
aplicação da carga uniaxial, com valores entre 0,25 e 0,35 e no máximo 0,50, para diversos
metais. O coeficiente de Poisson é definido então como sendo o valor positivo ν que
satisfaz a relação:

Equação5:
 

εx/εy é a deformação transversal/lateral;


εz é a deformação axial;
Ensaio de tração típico em metais

- Inicialmente, ocorre deformação elástica, logo, a


tensão e deformação tendem a aumentar linearmente
e quando a carga é retirada o corpo poderia relaxar as
tensões e retomar à sua forma original, dessa região do
gráfico é possível obter-se o módulo de elasticidade do
material, que é proporcional a rigidez do material.
- Prosseguindo o ensaio, há um ponto (B) em que o
corpo entra no regime plástico de deformação (limite
de escoamento), tornando o alongamento permanente.

- Em seguida, o corpo deforma-se até que a tensão


limite de resistência seja atingida (C), onde se inicia a
estricção.
- E ao fim do ensaio, ocorre a ruptura do corpo (D).

(Figura 3)
Gráfico de Tensão deformação de um
ensaio de tração

Além das propriedades mecânicas,


através da curva é possível avaliar a
resiliência e tenacidade de um
material, em outras palavras, a
capacidade de um material absorver
energia no regime elástico e plástico,
respectivamente.
Ainda, através da análise macroscópica
da fratura, do perfil das regiões do
gráfico e das normas técnicas é
possível classificar um material em
dúctil ou frágil.
Ensaios de tração típicos para
materiais dúcteis e frágeis

Os Materiais dúcteis tendem a apresentar


grande deformação plástica, ocorrendo
estricção no corpo de prova durante o ensaio,
esse é o caso do cobre, aços baixo carbono ou
da maioria dos polímeros.
No caso de materiais frágeis, ocorre pouca ou
nenhuma deformação plástica, pois o material
armazena toda a energia aplicada para deformá-
lo e fratura catastroficamente, isso ocorre com
ferro fundido cinzento, aço temperado e
materiais cerâmicos.

Figura 4 – Ensaios de tração típicos para o aço baixo carbono, cobre e ferro
fundido cinzento A forma e a magnitude do gráfico de tensão deformação
de um metal dependerão da sua composição, tratamento térmico, histórico
prévio de deformação plástica e da taxa de deformação, temperatura, e
estado de tensão imposto durante o ensaio.
Figura4
Materiais Poliméricos e Cerâmicos

Polímeros
Os materiais poliméricos são geralmente compostos orgânicos
baseados em carbono, hidrogênio e outros elementos não-metálicos
que são constituídos de moléculas muito grandes e apresentam baixa
densidade, podendo ser extremamente flexíveis .É o tipo de ensaio
mecânico mais utilizado por permitir a avaliação de diversas
propriedades dos materiais, sendo sua melhor visualização pelo
gráfico Tensão e deformação .
Materiais Poliméricos e Cerâmicos

● Considerando os polímeros, o ensaio é sensível aos parâmetros


estruturais e externos, por isso, existem curvas típicas para três grupos
de polímeros: frágeis(a) - sofrem fraturas quando se deformam
elasticamente, plásticos(b) - se comportam de maneira semelhante
aos metais e elastoméricos(c) - deformação totalmente elástica.,
observa-se claramente que o comportamento dos polímeros difere
dos metais, principalmente devido aos mecanismos de deformação.
As principais normas utilizadas nesse caso são ASTM D638 e ISSO 527-
1.

Gráfico de tensão x deformação para polímeros (a) frágeis, (b) plásticos, (c) elastômeros.
Materiais Poliméricos e Cerâmicos

Materiais cerâmicos
Os materiais cerâmicos são geralmente uma combinação de elementos metálicos
e não-metálicos, geralmente são óxidos, nitretos e carbetos. São geralmente
isolantes de calor e eletricidade e também são mais resistentes à altas
temperaturas e à ambientes severos que metais e polímeros. Com relação às
propriedades mecânicas as cerâmicas são duras, porém frágeis.
É muito difícil realizar ensaios de tração em materiais cerâmicos, pois trincas
podem ser introduzidas no processo de fabricação dos corpos de prova. As
cerâmicas são mais resistentes à compressão que em tração, devido à forma
como as trincas se propagam.
Então, as curvas tensão deformação de materiais cerâmicos são geralmente
obtidas por flexão (3 ou 4 pontos), que em ensaios de tração, pois é muito mais
fácil produzir cerâmicas na forma de blocos de seção transversal retangular para
esse tipo de ensaio.
Maquinários e procedimentos

Máquinas
● Existem dois tipos de máquinas de ensaios
mecânicos, a hidráulica e a eletromecânica.
Máquina eletromecânica

É baseada em um motor elétrico que permite


maior controle sobre variação de velocidade e
deslocamento da travessa móvel.
As garras garantem a fixação e o alinhamento
axial dos corpos de prova e os sistemas de
fixação mais comuns são cunha, flange ou
rosca. Para traçar o gráfico de  tensão x
deformação, a força aplicada é medida
instantaneamente utilizando uma célula de
carga, enquanto o alongamento é medido
através dos extensômetros. O equipamento
possui um software que permite o controle e
ajuste dos parâmetros e funções bem como
permite a visualização dos resultados do
ensaio.
Máquina hidráulica

Máquinas hidráulicas para testes de


tração são baseadas no movimento de
um pistão de atuação simples ou dual.
Esse pistão aciona o cabeçote para
cima ou para baixo. No entanto, a
maioria das máquinas para teste
estático existe apenas um pistão de
ação simples.
Ensaio de Tração

Para realização do ensaio coloca-se


adequadamente o corpo de prova preso às
garras, ajustando manualmente a altura da
barra tracionada, de modo que as garras
estejam alinhadas e que não haja nenhuma
força atuando na célula de descarga. Define-
se no software o método no qual será
realizado o ensaio (tração), as dimensões do
corpo de prova, velocidade do ensaio e de
retorno, os limites de operação do
equipamento, a forma de apresentação dos
resultados, entre outros. O ensaio termina
quando o material se rompe.
Corpo de Prova

A fim de tornar os ensaios reprodutíveis, normas


técnicas que garantem a padronização das
dimensões e formatos dos corpos de prova são
utilizadas.
A forma e dimensões do corpo de prova variam de
acordo com a rigidez do material ensaiado, com a
capacidade da máquina e com a geometria do
produto acabado de onde foi retirado, de modo a
garantir que ocorra a fratura na região útil do corpo
de prova para poder validar o ensaio.
As propriedades mecânicas do material são
medidas na parte útil do corpo de prova (região Lo)
e as regiões extremas que são fixadas nas garras da
máquina, são conhecidas como cabeças (D). As
cabeças devem ter seção maior do que a parte útil
para que a ruptura do corpo de prova não ocorra
nelas e suas dimensões e formas dependem do tipo
de fixação da máquina.
 
Uso de Extensômetro nos Ensaios

 Já no ensaio com o uso do extensômetro, o instrumento


de medição é fixado no corpo de prova. Ele mede
exclusivamente as deformações que ocorrem no
material, dentro de um comprimento de referência,
excluindo, portanto, os efeitos da deformação da
máquina e dos elementos de fixação.
A extensometria é essencial para obtenção de
propriedades na região elástica da curva, como os
limites de elasticidade e de proporcionalidade e os
módulos de elasticidade e de resiliência. Além disso, o
uso do extensômetro permite também maior precisão
na determinação do limite de escoamento convencional.
 

Extensômetro típico utilizado


em ensaio de tração
Exemplo de teste de tração do alumínio

No gráfico de tensão deformação do alumínio foram realizadas duas medidas sendo o


gráfico em preto sem a utilização do extensômetro e o gráfico de cor vermelha
utilizando-se o extensômetro. Para o modulo de Young obteve-se o valor 71,4 GPa para
ambos os casos, ou seja, com e sem extensômetro, entretanto temos valores muito
maiores para o limite de resistência e alongamento quando não se utiliza o
extensômetro.

Gráfico de tensão x deformação do alumínio com e sem a


utilização de extensômetro
Normas

● ISO 6892 – Teste de tração de materiais metálicos em temperatura ambiente


● ISO 527-3 – Teste de tração em filmes e folhas
● ASTM E8 / E8M – Teste de tração de materiais metálicos
● ASTM A370 – Teste de tração em tubos e tubulações
● ASTM D412 – Teste de tração de elastômeros
● ASTM D638 – Teste de tração de plásticos
● ASTM D6319 – Teste de tração em luvas médicas
● ASTM D5035 – Teste de tira de alongamento e resistência têxtil
● ASTM D1414 – Teste em O-Rings de borracha
● ASTM D5034 – Teste de tração em tecidos
● ASTM D882-18 – Teste de tração em plástico fino
● ASTM F2458 – Teste de resistência de adesivos e selantes de tecido

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