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Projeto Pós-graduação

Curso Núcleo Comum


Disciplina Metodologia Científica
Tema A redação acadêmica
Professor Prof. Ms. Anderson Novello

Introdução
Escrever corretamente e de forma clara é uma arte. Todavia, talento
para a escrita não nasce conosco, nem é fruto de inspiração divina. Portanto,
não é uma arte além do alcance de ninguém.
É importante compreender que escrever corretamente implica um bom
vocabulário, clareza de ideias, mas também esforço físico. É comum
pensarmos que um texto bem escrito de um autor consagrado saiu de uma
tacada só, como se o autor fosse iluminado. Não é bem assim. Um texto bem
escrito é reescrito várias vezes, mexido e remexido de todas as maneiras, com
vários cortes, revisões múltiplas e lindos trechos que vão parar na lixeira.
Quando redigir seu artigo, fique atento ao uso correto dos conceitos e
termos científicos de sua área. Eles são fundamentais para o trabalho
científico. Ao usar apropriadamente os conceitos e termos científicos, você
evita equívocos e facilita a compreensão e a avaliação do trabalho pelos seus
pares.

A redação acadêmica

Pratique a escrita
Escreva e mostre para seu professor orientador. Observe suas críticas e
reescreva. Não tenha receio de mudar frases, cortar palavras. No processo de
escrever e reescrever, o texto torna-se enxuto e elegante, sem repetições nem
excesso de palavras. Se uma frase não ficou clara, refaça-a. Não escreva outra

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para explicar a primeira e assim por diante, ad nauseam1. Provavelmente, o
seu texto não vai ficar bom da primeira vez, mas não desista. É a fase do
trabalho físico mencionado anteriormente: escrever, escrever e, depois,
reescrever.
Uma tática interessante é pedir que alguém, além do seu professor
orientador, leia o seu projeto de artigo; de preferência, alguém que não esteja
familiarizado com o assunto, mas interessado o suficiente para ler. Quem não
conhece o assunto terá dúvidas e fará perguntas. Responder aos
questionamentos faz com que você perceba o quanto já sabe.

Lembra a parte da clareza das ideias?


Quanto mais tentar explicar a um leigo, mais terá que elaborar seu
pensamento e, com isso, a redação construir-se-á mentalmente.
Além de responder verbalmente, anote as perguntas e responda
também no artigo. A cada nova versão, dê novamente a um leigo. Essa é uma
maneira simples de saber o que se esqueceu de descrever, onde o texto não
está claro e o que precisa ser mais bem explicado. Seu professor orientador o
ajudará com as correções teóricas, éticas e metodológicas.
Ao redigir, você descreve aos leitores todas as etapas pelas quais
passou para concluir seu trabalho. Para que compreendam, a ordenação é
fundamental. Você não só deve estruturar o texto completo em capítulos
ordenados (“introdução”, “metodologia”, “fundamentação teórica” etc.), como
também organizar os parágrafos dentro desses capítulos.
Os parágrafos devem estar de acordo com cada etapa de suas
reflexões, além de acompanhar todo processo de pensamento que o levou
desde a ideia para a pesquisa até a suas conclusões.
Cada parágrafo expressará uma dessas etapas. Seu tamanho será
determinado pela maior ou menor necessidade de elucidação de cada etapa.
Fique atento para não escrever uma frase para “consertar” a anterior que não
ficou muito clara. Reescreva a anterior.

1
Ad nauseam é uma expressão em latim cujo significado é “até enjoar ou entediar”.
2

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Ao terminar o raciocínio descrito no parágrafo, comece o seguinte, nas
palavras de Severino (2007, p. 151):
A estrutura do parágrafo reproduz a estrutura do próprio trabalho;
constitui-se de uma introdução, de um corpo e de uma conclusão.
Na introdução, anuncia-se o que se pretende dizer; no corpo,
desenvolve-se a ideia anunciada; na conclusão, resume-se ou
sintetiza-se o que se conseguiu.
De acordo com Severino, ademais, ainda que cada um dos parágrafos
contenha uma etapa distinta de suas reflexões, devem estar conectados uns
aos outros ou seu texto se tornará uma colcha de retalhos ininteligível.
Portanto, a articulação de um texto em parágrafos está intimamente
vinculada à estrutura lógica do raciocínio desenvolvido. É por isso
mesmo que, na maioria das vezes, esses parágrafos são iniciados
com conjunções que indicam as várias formas de se passar de uma
etapa lógica à outra. (SEVERINO, 2007, p. 152)

No vídeo no material on-line, você vai saber um pouco mais sobre a


importância de falar e escrever corretamente no mercado de trabalho.

Domínio da linguagem oral e escrita


Conheça algumas dicas importantes para escrever melhor:

 Evite o gerúndio. A chance de errar é grande. Expressões como “vou


estar pesquisando”, “vou estar escrevendo” ou “vou estar” qualquer
outra coisa só estão corretas em algumas situações e, provavelmente,
nenhuma das que você empregaria.

 Transcrição de citações: como já foi dito anteriormente, as citações


devem ser grafadas como estão no texto original. Inclusive, com
eventuais erros gramaticais, redação e/ou digitação. Caso não pretenda
citar ipsis litteris (expressão em latim que significa “literalmente”) o autor,
mas utilizar-se de suas ideias, cuidado com as paráfrases. Escrever a
mesma frase mudando as palavras por sinônimos também
configura plágio.

 Cuidado com o falso eruditismo! Não tente parecer mais erudito usando
palavras das quais não tenha domínio do significado. Na dúvida sobre o

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significado, consulte o dicionário. Não escreva uma bobagem por
preguiça.

 Evite repetir e/ou usar palavras que não acrescentem informação. Use
todas as palavras necessárias para deixar seu texto claro, mas evite
penduricalhos. Procure ser objetivo. Os leitores agradecem.

 Se você tem dificuldade na escrita, prefira frases curtas. Frases longas


podem ser armadilhas perigosas. Você corre o risco de se perder no
meio e terminar enrolando mais do que esclarecendo.

 Pleonasmo é uma figura de estilo que usa a redundância para enfatizar


uma expressão. Entretanto há um tipo de pleonasmo que está longe de
ser uma figura de estilo. É um vício de linguagem e não deve ser usado.
Exemplos: encarar de frente, elo de ligação, certeza absoluta,
comparecer pessoalmente, há anos atrás, metades iguais, outra
alternativa, voltar atrás, adiar para depois etc.

Note também no link a seguir, uma lista de lista de pleonasmos viciosos.


http://recantodacronica.blogspot.com.br/2009/12/relacao-dos-
pleonasmos-viciosos.html

Sempre que for escrever, comece a redação do seu artigo de forma a


interessar o leitor:

 Nos primeiros parágrafos, dê indicações claras do que se trata e do que


se propõe.

 Em seguida, desenvolva o texto de forma organizada e ordenada.


Tenha em mente que o objetivo de redigir um artigo é transmitir a seus
leitores os seus achados. Para que eles compreendam, sua redação deve ser
clara, objetiva e suas ideias expressas de forma organizada.

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No link a seguir, você vai encontrar 18 exemplos de como começar a
redigir um texto.
https://www.algosobre.com.br/redacao/o-paragrafo-chave-18-formas-
para-voce-comecar-um-texto.html

Elementos de ligação entre parágrafos


Um artigo científico com frases soltas e jogadas de qualquer maneira
não atingirá seu objetivo maior, que é divulgar a ciência. Apesar de a
estruturação de um texto ser feita por meio de parágrafos, estes devem estar
conectados de modo a formar um todo coerente. Para tanto, utilizamos o
recurso dos conectivos (elementos de ligação) que podem ser:

 Pronomes;

 Conjunções;

 Preposições;

 Advérbios;

 Locuções adverbiais;

 Palavras denotativas.

Expressões a evitar e expressões de uso recomendável


Algumas formas de expressão, embora corretas, tornaram-se tão
difundidas que passaram a ser utilizadas também em contexto ou versões
equivocadas. Um exemplo clássico é a expressão “a nível de”.
Para ajudá-lo com suas eventuais dúvidas, acesse uma lista dessas
expressões e seus substitutos adequados, clicando no link a seguir.
http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?evento=portlet&pIdPlc=ecp
TaxonomiaMenuPortal&app=assessoriadecomunicacao&lang=pt_BR&pg=5563
&tax=13099

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Para conhecer e evitar outros erros comuns na redação, clique no link a
seguir e acesse uma lista com 100 deles. Leia com atenção e veja se já
cometeu ou comete alguns deles.
https://www.algosobre.com.br/redacao/100-erros-comuns-em-redacao.html

Notas de rodapé
Ao usar notas de rodapé, certifique-se de que são informações
complementares. Evite inserir muitas notas e/ou notas muito extensas. Como
seu nome indica, são notas, não tratados ou testamentos. Se as suas notas
estiverem muito extensas, avalie a possibilidade de inserir as informações no
próprio parágrafo.
As notas de rodapé destinam-se a prestar esclarecimentos ou tecer
considerações, que não devam ser incluídas no texto, para não interromper a
sequência lógica da leitura. Devem ser reduzidas ao mínimo e situar-se em
local tão próximo quanto possível do texto.
Para a utilização de notas de rodapé deve-se observar um certo
equilíbrio. Não se deve permitir que um texto permaneça equívoco ou ambíguo
por falta de explicação em nota de rodapé. Por outro lado, não se desvia para
rodapé informação básica que deve integrar o texto.

Veja no vídeo do material on-line algumas dicas de escrita.

Tipos textuais

Resumo
Um resumo é um relato reduzido dos pontos principais de uma obra - um
resumo de artigo científico, por exemplo. Ele não deve ser muito grande, algo
entre dez a doze linhas, ou de quatro a seis frases, sem entrada de parágrafo e
começando por uma introdução ao artigo. As frases seguintes contemplarão a
justificativa, o método utilizado, os resultados e a conclusão.

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Durante seu curso, você deverá escrever vários resumos, tanto como
tarefa como para seu uso pessoal, nos fichamentos. Entretanto vemos, com
muita frequência, resumos mal feitos, nos quais o aluno pega o texto lido e
tenta reduzi-lo, com cortes de algumas palavras. Isso não é um bom resumo.
Ao fazer um resumo, certifique-se de que, ao resumir algum trecho de
outro autor, o texto mantém-se fiel à ideia original. Resumir é descrever de
maneira sucinta e objetiva algum ponto ou ideia que compreendeu. Não é
cortar palavras aleatoriamente do texto original para ele ficar menor. Isso não é
um bom resumo. O bom resumo deve ser sucinto e ir direto aos pontos
principais.
Veja dois exemplos de resumo de artigo científico:

Texto 1
A educação escolar no Brasil: o público e o privado
(Carlos Roberto Jamil Cury)

Este artigo tem por fim esclarecer alguns pontos significativos para a
compreensão da relação público-privado na educação e no ensino. Para tanto,
buscou-se no ordenamento jurídico atual - sem deixar de referir-se ao do
passado - compreender como tal relação se coloca. Daí o entendimento do
significado da educação como serviço público e da necessidade das
instituições privadas terem a autorização do poder público para seu
funcionamento. O estudo pretendeu criar, tanto quanto possível, um espaço
para comparação com conceitos iguais ou semelhantes na área da saúde.

Palavras-chave: ensino público e ensino privado; ensino no


ordenamento jurídico; a educação como serviço público.

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Texto 2
O direito à saúde na interface entre sociedade civil e Estado
(Felipe Rangel de Souza Machado)

O objetivo deste artigo é discutir sobre o desenvolvimento do direito à


saúde no Brasil. Parte-se do processo de construção dos direitos sociais,
passando pela assunção destes direitos na Carta Magna Brasileira até chegar
às compreensões atuais de certos segmentos sociais sobre o direito à saúde. A
análise baseia-se na pesquisa realizada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, a
respeito da atuação conjunta entre conselhos de saúde e Ministério Público.
Pode-se observar que o direito à saúde tem sido associado à ideia de acesso a
serviços de saúde. Isto, no entanto, tem se mostrado ser um aspecto limitador
na luta pela garantia e ampliação deste direito. Por este motivo, determinados
segmentos da sociedade vêm adotando uma postura mais ativa em relação à
compreensão sobre este direito. Tal compreensão tem rendido ganhos
substanciais na luta pela ampliação do direito à saúde no Brasil. Assim,
explicitar as diferentes concepções sobre o direito à saúde de um conselho de
saúde que tem se demonstrado atuante no cenário nacional pode dar indícios
sobre as formas de atuação possíveis e as estratégias desenvolvidas nestas
instituições para a garantia deste direito.

Palavras-chave: direito à saúde; conselhos de saúde; direitos sociais.

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Paráfrase
Parafrasear é, essencialmente, reescrever. É quando você se apropria
da ideia de um autor, mencionando-o, mas reelaborando com suas próprias
palavras aquilo que ele disse ou escreveu. Em outras palavras, paráfrase é a
transformação de um texto já escrito em outro texto.
É importante salientar que, quando produzimos uma paráfrase,
alteramos e substituímos as palavras do texto, mas, de maneira alguma,
devemos alterar seu sentido.
A paráfrase é um excelente exercício de escrita que visa facilitar a
compreensão do leitor sobre alguns conceitos que, aparentemente, podem ser
de difícil entendimento.
Para compreender um pouco mais a noção de paráfrase, imagine-se
explicando um assunto para uma criança, supondo-se que essa criança
desconheça parcial ou totalmente tal assunto. Para fazer-se entender, você
buscará uma adequação da linguagem, uma didática especial no manuseio das
palavras e, principalmente, buscará exemplos claros e práticos que possam
“traduzir” o assunto.
Em textos acadêmicos, a paráfrase é bem-vinda por, pelo menos, dois
motivos: evita o excesso de transcrições (citações diretas) e traz fluidez ao
texto, despertando um maior interesse do leitor.
No vídeo no material on-line, você verá como são elaborados o resumo
e a paráfrase.

Resenha
A resenha é a descrição sintetizada e discutida de uma obra e tem o
intuito de dar aos leitores informações sobre a obra referenciada. A resenha
pode ser de um filme, de uma peça de teatro, de um livro, de textos em geral,
de um evento, de discos, de uma exposição, de esportes (jornais estão cheios
de resenhas sobre futebol, cinema e espetáculos) etc. Uma resenha é um texto
não muito extenso, entre duas e seis páginas.

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Ao fazer uma resenha, você deve:
1. Começar apresentando a obra, ou evento, que será resenhada. Dizer do
que se trata, seu autor, sua importância em relação a outras similares,
enfim, delimitar o contexto no qual se insere.

2. Em seguida, deve descrever seus pontos mais importantes e compará-la


com outras obras, do mesmo autor ou obras similares de outros autores.
Além disso, deixará claros os pontos em que a obra supera as outras e
em que sai perdendo.

3. Por fim, emita seu julgamento indicando para os leitores se considera


que a obra vale a pena ser vista (filme, peça teatral, show musical), lida
(livro), visitada (exposição, feira).

As resenhas também podem apenas descrever uma obra para seu


público-alvo, mais frequentemente elas apresentam caráter opinativo.
Ou seja, seu objetivo é a crítica ou a avaliação de uma determinada obra
ou evento.

Veja, em seguida, alguns exemplos de resenhas:

Texto 1
Resenha por Arnaldo Lorençato e Helena Galante

Titular da cozinha do restaurante italiano número da cidade desde julho


de 2012, Luca Gozzani imprime sua marca em receitas, como o suflê
desenformado de queijo sobre creme de batata ao parmesão e o tartare de
atum fresquíssimo coberto por uma esfera de iogurte — sim, isso mesmo, no
clássico Fasano há uma esfera de iogurte. Ambas as sugestões custam R$
69,00. O ravióli de vitelo regado por creme de queijo parmesão e fios de molho
rôti (R$ 99,00) atesta a excelência do cozinheiro. Nada supera, porém, o
porquinho de leite de carne tenra envolta em pele fina como um papel e

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deliciosamente crocante. Ele vem assentado sobre feijão-branco colorido por
molho de tomate (R$ 115,00). Na sobremesa, ele faz o tiramisu (R$ 42,00) de
uma maneira peculiar. Em vez de ficar pronto esperando o pedido, o doce é
montado na hora com o biscoito borrifado por uma mistura de café, vinho
marsala e açúcar antes de receber o creme de queijo mascarpone. Fica
durinho e deve ser quebrado com a colher. Há ainda duas opções de menu
degustação, uma com ingredientes da terra e outra de pescados. Cada um
deles custa R$ 310,00. Recomenda-se reservar.

Texto 2
Exemplo de resenha esportiva publicada na revista Manchete Esportiva:
Flamengo Sessentão, por Nelson Rodrigues
Corria o ano de 1911. Vejam vocês: — 1911! O bigode do kaiser estava,
então, em plena vigência; Mata-Hari, com um seio só, ateava paixões e
suicídios; e as mulheres, aqui e alhures, usavam umas ancas imensas e
intransportáveis. Aliás, diga-se de passagem: — é impossível não ter uma
funda nostalgia dos quadris anteriores à Primeira Grande Guerra. Uma menina
de catorze anos para atravessar uma porta tinha que se pôr de perfil.
Convenhamos: — grande época! grande época!
Pois bem. Foi em 1911, tempo dos cabelos compridos e dos espartilhos,
das valsas em primeira audição e do busto unilateral de Mata-Hari, que nasceu
o Flamengo. Em tempo retifico: — nasceu a seção terrestre do Flamengo. De
fato, o clube de regatas já existia, já começava a tecer a sua camoniana
tradição náutica. Em 1911, aconteceu uma briga no Fluminense. Discute daqui,
dali, e é possível que tenha havido tapa, nome feio, o diabo. Conclusão: —
cindiu-se o Fluminense e a dissidência, ainda esbravejante, ainda ululante, foi
fundar, no Flamengo de regatas, o Flamengo de futebol.
Naquele tempo tudo era diferente. Por exemplo: — a torcida tinha uma
ênfase, uma grandiloquência de ópera. E acontecia esta coisa sublime: —
quando havia um gol, as mulheres rolavam em ataques. Eis o que empobrece

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liricamente o futebol atual: — a inexistência dohisterismo feminino. Difícil, muito
difícil, achar-se uma torcedora histérica. Por sua vez, os homens torciam como
espanhóis de anedota. E os jogadores? Ah, os jogadores! A bola tinha uma
importância relativa ou nula. Quantas vezes o craque esquecia a pelota e saía
em frente, ceifando, dizimando, assassinando canelas, rins, tórax e baços
adversários? Hoje, o homem está muito desvirilizado e já não aceita a
ferocidade dos velhos tempos. Mas raciocinemos: — em 1911, ninguém bebia
um copo d’água sem paixão.
Passou-se. E o Flamengo joga, hoje, com a mesma alma de 1911.
Admite, é claro, as convenções disciplinares que o futebol moderno exige. Mas
o comportamento interior, a gana, a garra, o élan são perfeitamente inatuais.
Essa fixação no tempo explica a tremenda força rubro-negra. Note-se: — não
se trata de um fenômeno apenas do jogador. Mas do torcedor também. Aliás,
time e torcida completam-se numa integração definitiva. O adepto de qualquer
outro clube recebe um gol, uma derrota, com uma tristeza maior ou menor, que
não afeta as raízes do ser. O torcedor rubro-negro, não. Se entra um gol
adversário, ele se crispa, ele arqueja, ele vidra os olhos, ele agoniza, ele
sangra como um césar apunhalado.
Também é de 1911, da mentalidade anterior à Primeira Grande Guerra,
o amor às cores do clube. Para qualquer um, a camisa vale tanto quanto uma
gravata. Não para o Flamengo. Para o Flamengo, a camisa é tudo. Já tem
acontecido várias vezes o seguinte: — quando o time não dá nada, a camisa é
içada, desfraldada, por invisíveis mãos. Adversários, juízes, bandeirinhas
tremem então, intimidados, acovardados, batidos. Há de chegar talvez o dia em
que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada.
Bastará a camisa, aberta no arco. E, diante do furor impotente do adversário, a
camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável.

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Revisão
Outra parte muito importante da produção de um texto de qualidade é a
revisão. Revise, revise e revise. Não espere para fazer apenas uma revisão
final. Vá revisando o texto cotidianamente. Você verá que, a cada revisão,
encontrará algo a ser corrigido e/ou reformulado.
Muitas vezes, o autor apega-se a frases ou a parágrafos que
redigiu. Entretanto, durante o processo de elaboração/reflexão/redação/revisão,
ocorre-lhe uma outra redação para o mesmo trecho. Apesar de notar a
redundância, ele pode sentir dificuldade em descartar suas frases queridas e a
tentação de deixar as duas proposições é grande. Primeiro, porque as duas
podem ser, realmente, boas construções textuais. Segundo, porque o processo
de redação é custoso.

Páginas cheias de texto demoram a ser produzidas, logo, descartar


qualquer coisa parece um retrocesso que acabará por inviabilizar o término do
trabalho no prazo estipulado. Ainda assim, essa tentação deve ser vencida e,
pelo bem da clareza e da objetividade do trabalho, o autor deve escolher a
opção que melhor descreve o que quer dizer.

É importante notar que, reiteradas vezes, mesclamos duas frases


e construímos uma terceira mais adequada. Todavia, na minha experiência,
duas construções muito boas, porém redundantes, raramente se tornam uma
terceira melhor. É mais provável que as duas boas, misturadas, tornem-se uma
terceira mais “fraca”.

Antes de mesclar, observe com cuidado se realmente a junção foi para


melhor. Senão, não tenha dó, escolha uma e prossiga! Olha o prazo!!!

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Síntese
Quando for produzir qualquer tipo de texto, não se acanhe em pedir a
opinião de seu orientador. Ele é seu primeiro leitor. E se, após várias revisões,
ainda não se sentir confiante com sua redação e/ou seu professor orientador
demonstrar preocupação com ela, não se esquive de contratar um revisor para
a versão final.

O custo é muito menor do que apresentar um artigo mal escrito e cheio


de erros. O cuidado que você confere à elaboração de seu artigo reflete a
importância que você dá a ele. Um texto mal escrito e descuidado mostrará à
sua banca examinadora o pouco valor que você dá ao seu trabalho.

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Referências
ALGO SOBRE. 100 erros comuns em redação. Disponível em:
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Acesso em: 2 ago. 2014.

CURY, C. R. J. A educação escolar no Brasil: o público e o privado. Trab.


educ. saúde [online]. 2006, vol.4, n.1, pp. 143-158. ISSN 1981-
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Acesso em: 1 nov. 2014.

MACHADO, F. Ra. de S. O direito à saúde na interface entre sociedade civil


e Estado. Trab. educ. saúde [online]. 2009, vol.7, n.2, pp. 355-371. ISSN 1981-
7746. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1981-77462009000200009.
Acesso em: 1 nov. 2014.

MARQUES JR., N. Atelier de redação. [s.d.] Disponível em:


http://www.atelierderedacao.com.br/. Acesso em: 3 ago. 2014.

PORTAL DA PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Vícios de linguagem.


Disponível em:
http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?evento=portlet&pIdPlc=ecp
TaxonomiaMenuPortal&app=assessoriadecomunicacao&lang=pt_BR&pg=5563
&tax=13099. Acesso em: 3 ago. 2014.

RECANTO DA CRÔNICA. Relação dos pleonasmos viciosos. 2009. Disponível


em: <http://recantodacronica.blogspot.com.br/2009/12/relacao-dos-
pleonasmos-viciosos.html>. Acesso em: 31 jul. 2014.

RODRIGUES, N. Flamengo Sessentão. Publicado originalmente na antiga


Manchete Esportiva, no dia 26/11/1955. Disponível em:
http://globoesporte.globo.com/rj/torcedor-flamengo/platb/2009/08/07/flamengo-
sessentao-por-nelson-rodrigues/. Acesso em: 22 jul. 2014.

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SANTOS, C. S. dos. Diferença na igualdade. Revista Estudos Feministas.
Vol. 21, nº 3. Florianópolis. set./dez. 2013.

Bibliografia de apoio
ABRAHAMSOHN, P. Redação científica. Reimpressão. Rio de Janeiro:
Guanabara-Koogan, 2009. 270 p.

BELL, J. Projeto de pesquisa. Guia para pesquisadores iniciantes em


educação, saúde e ciências sociais. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. 224 p.

BOBÁNY, D. de M.; MARTINS, Roberta R. C. Do textual ao visual. Um guia


completo para fazer seu trabalho de conclusão de curso. Rio de Janeiro: Novas
Ideias, 2008. 96 p.

DYNIEWICZ, A. M. Metodologia da pesquisa em saúde para principiantes.


2. ed. São Caetano do Sul: Difusão Editora, 2009. 208 p.

ECO, U. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 1983. 176 p.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,


2007. 176 p.

RUDIO, F. V. Introdução ao projeto de pesquisa científica. Petrópolis:

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Vozes, 1986. 144 p.

RUIZ, J. A. Metodologia científica. Guia para eficiência nos estudos. 6. ed. 7ª


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LORENÇATO, A.; GALANTE, H. Resenha. Veja São Paulo. São Paulo, nº


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SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. Revisada e


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VIANA, A. C. O parágrafo-chave: 18 formas para você começar um texto.


Apud LANDARIN, Noely. Algo sobre. Redação. [s.d.] Disponível em:
<http://www.algosobre.com.br/redacao/o-paragrafo-chave-18-formas-para-
voce-comecar-um-texto.html>. Acesso em: 4 ago. 2014.

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Atividades

1. Assinale a única alternativa que não diz respeito a comportamentos que


devemos evitar quando escrevemos um texto:
a. Utilização de verbos no gerúndio.

b. Repetir ou usar palavras que não acrescentem informação ao texto.

c. Utilização de eruditismo sem dominar o significado das palavras.

d. Frases curtas, pois não obstruem a compreensão do texto.

2. No que se refere ao resumo, leia atentamente as seguintes assertivas:

I. Diz respeito aos pontos principais de uma obra.

II. O resumo de um artigo científico deve ter, no máximo, entre oito a dez
parágrafos.

III. O resumo de um artigo científico deve ser iniciado por uma introdução e
seguido de justificativa, do método utilizado, dos resultados e da
conclusão.

IV. Resumir não significa reduzir um texto, mas sim descrever de maneira
sucinta e objetiva algum ponto que o leitor compreendeu.

Assinale a alternativa que apresenta apenas assertivas verdadeiras:


a. I, II e III.

b. I, II e IV.

c. I, III e IV.

d. II, III e IV.

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3. Acerca da paráfrase, leia as proposições abaixo e assinale a alternativa
correta:

I. Parafrasear nada mais é do que reescrever um texto com outras


palavras, mencionando autor de cuja ideia se apropria.

II. Na paráfrase, além da substituição das palavras, pode haver


modificação do sentido do texto.

III. Paráfrases são bem-vindas em textos acadêmicos, pois evitam o


excesso de citações diretas e trazem fluidez ao texto.

a. Apenas a proposição II é verdadeira.

b. Proposições I e II são verdadeiras.

c. Proposições I e III são verdadeiras.

d. Proposições II e III são verdadeiras.

4. Relativamente à resenha, avalie as assertivas a seguir e assinale a


opção correta:

I. Resenha é a descrição sucinta de um livro e tem o objetivo de dar aos


leitores informações sobre a obra resenhada.

II. Objeto da resenha pode ser um filme, uma peça de teatro, um livro, um
evento, entre outros.

III. Resenhas devem limitar-se a apenas descrever uma obra, de modo a


nunca apresentar caráter opinativo.

a. Apenas a proposição I é verdadeira.

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b. Apenas a proposição II é verdadeira.

c. Proposições II e III são verdadeiras.

d. Proposições I, II e III são verdadeiras.

5. Acerca da revisão, analise as proposições a seguir e identifique a


alternativa correta:

I. O ideal é que o escritor se limite a fazer apenas uma revisão final, a fim
de evitar alterações desnecessárias do texto.

II. No processo de revisão, ao mesclarmos duas frases e criarmos uma


terceira, geralmente, esta última tende a conferir estilo ao texto.

III. É aconselhável evitar recorrer à ajuda do professor-orientador para


revisar o texto, pois, provavelmente, ele avaliará, com reservas, a obra
final.

a. Proposições I e II são verdadeiras.

b. Proposições I e III são verdadeiras.

c. Proposições II e III são verdadeiras.

d. Nenhuma das alternativas é verdadeira.

Para consultar o gabarito das questões, acesse o material on-line.

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