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01. Abertura da sucessão; Princípio da saisine; Morte real; Morte presumida com e sem
decretação de ausência .................................................................................................................................................. 1
02. Disposições gerais sobre sucessões; Herança e sua administração;
Vocação/capacidade hereditária .............................................................................................................................15
03. Aceitação da herança; Renúncia da herança; Exclusão da sucessão por indignidade e
deserdação; Herança jacente e vacante; Petição de herança ............................................................ 39
04. Sucessão legítima: falecido solteiro ............................................................................................................. 78
05. Sucessão legítima: falecido casado ou convivente em união estável .................................... 95
06. Sucessão testamentária: testamento em geral, capacidade para testar, formas de
testar...................................................................................................................................................................................... 106
07. Sucessão testamentária: disposições testamentárias, legados, substituição
testamentária, redução de disposições testamentárias, revogação de tratamento,
rompimento de testamento. Inventário e partilha ................................................................................... 123
SUCESSÃO EM GERAL
1. Abertura da sucessão
A sucessão se abre com o óbito. No exato momento da morte há a abertura
da sucessão e a transmissão da herança (bens, dívidas, créditos e obrigações)
deixada pelo falecido aos herdeiros (princípio da saisine) – art. 1.784.
Não há herança de pessoa viva, embora possa ocorrer a sucessão do
ausente.
São, portanto, pressupostos da sucessão:
a) que o de cujus tenha falecido;
b) que lhe sobreviva herdeiro.
Se o autor da herança estiver vivo, não há sucessão. Assim, só se abre a
sucessão havendo óbito real ou presumido.
Em termos de morte civil, existem três modalidades: a) morte real; b) morte
1
presumida sem declaração de ausência; c) morte presumida com declaração de
ausência.
a. Morte real
Aquela que se dá com corpo presente, ou seja, existe a materialidade (morte
natural, por atropelamento, por um tiro, cerebral, ...). Neste caso, necessário um
laudo médico, atestando a morte, para a elaboração do registro do óbito.
1
TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das sucessões. V. 6. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 13.
2
c. Morte presumida com declaração de ausência
Ao lado da morte natural, o legislador previu a morte presumida do ausente
(art. 6.º). Considera-se ausente aquele que desaparece de seu domicílio sem dar
notícias, sem deixar representante ou procurador para administrar-lhe o
patrimônio, conforme art. 22:
Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver
notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba
administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou
do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador.
2
TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das sucessões. V. 6. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 14-
20.
3
anos após a arrecadação. Essa é a previsão do art. 26, CC:
Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele
deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão
os interessados requerer que se declare a ausência e se abra
provisoriamente a sucessão.
O CPC/2015, contudo, traz a previsão, no § 1.º do art. 745, que o edital fará a
previsão de prazo e, no final deste prazo, é que poderá ser requerida a abertura
da sucessão provisória.
§ 1º Findo o prazo previsto no edital, poderão os interessados requerer a
abertura da sucessão provisória, observando-se o disposto em lei.
4
§ 2º Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário
até trinta dias depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir
a sucessão provisória, proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente
pela forma estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823.
Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a
conversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em
imóveis ou em títulos garantidos pela União.
3
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2012,
p. 34.
7
(art. 1.829) ou, a sua falta, a herança será recolhida pelo Município, Distrito Federal
ou União (art. 1.844).
A transmissão da herança ocorre no exato momento da morte do de cujus,
havendo a necessidade que os herdeiros posteriormente aceitem a herança,
vindo a tornar definitiva a transmissão que já havia ocorrido, conforme disposto
no art. 1.784. Como se verificou, é preciso que o herdeiro sobreviva ao autor da
herança (GONÇALVES, 2012, p. 36). Contudo, existem casos em que ambos
falecem em condições que não há como se precisar qual faleceu primeiro (em
um acidente de carro com morte instantânea, por exemplo).
A isso se dá o nome de comoriência, questão que se encontra prevista no
art. 8º do Código Civil:
Art. 8. Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se
podendo precisar quem precedeu aos demais, presumir-se-ão
simultaneamente mortos.
EXEMPLO:
Num mesmo acidente morrem marido e mulher sem filhos. Com a regra, a
8
sucessão de cada um é regulada como se o comoriente jamais tivesse morrido.
Venosa demonstra a vital importância da comoriência:
[...] já que a pré-morte de um casal, por exemplo, tem implicações no
direito sucessório. Se faleceu primeiro o marido, transmitiu a herança à
mulher; se ambos não tivessem descendentes ou ascendentes, e a mulher
falecesse depois, a herança iria para os herdeiros dela, ou seja, seus
colaterais. O oposto ocorreria se provasse que a mulher falecera antes. Tal
situação pode ocorrer em casos de catástrofes, acidentes ou mesmo por
coincidência. Para evitar os entraves das presunções de pré-morte,
portanto, o Código presume comoriência, isto é, o falecimento conjunto
(VENOSA, 2012, p. 13)
9
é verificada no momento da morte.
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encontrava divorciada. Não será herdeira, portanto.
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Princípio da Saisine
Ouça o podcast sobre o tema.
EM RESUMO
* Para todos verem: esquema
12
QUESTÕES
01. EXAME XXIX Gumercindo, 77 anos de idade, vinha sofrendo os efeitos do Mal de
Alzheimer, que, embora não atingissem sua saúde física, perturbavam sua memória.
Durante uma distração de seu enfermeiro, conseguiu evadir-se da casa em que residia.
A despeito dos esforços de seus familiares, ele nunca foi encontrado, e já se passaram
nove anos do seu desaparecimento. Agora, seus parentes lidam com as dificuldades
relativas à administração e disposição do seu patrimônio. Assinale a opção que indica o
que os parentes devem fazer para receberem a propriedade dos bens de Gumercindo.
b)Eles devem requerer a declaração de ausência, com nomeação de curador dos bens,
e, após um ano, a sucessão provisória; a sucessão definitiva, com transferência da
propriedade dos bens, só poderá ocorrer depois de dez anos de passada em julgado a
sentença que concede a abertura da sucessão provisória.
c) Eles devem requerer a sucessão definitiva do ausente, pois ele já teria mais de oitenta
anos de idade, e as últimas notícias dele datam de mais de cinco anos.
d)Eles devem requerer que seja declarada a morte presumida, sem decretação de
ausência, por ele se encontrar desaparecido há mais de dois anos, abrindo-se, assim, a
sucessão.
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02. EXAME XX Joana e Alcindo, casados sob o regime da comunhão universal de bens,
estavam a caminho de uma festa no litoral da Bahia, quando tiveram o carro atingido
por um caminhão em alta velocidade. Quando a equipe de socorro chegou ao local,
ambos os cônjuges estavam sem vida. Conforme laudo pericial realizado, não foi
possível determinar se Joana morreu antes de Alcindo.
Joana, que tinha vinte e cinco anos, deixou apenas um parente vivo, seu irmão Alfredo,
enquanto Alcindo, que já tinha cinquenta e nove anos, deixou três familiares vivos,
seus primos Guilherme e Jorge, e seu sobrinho, Anderson.
01 02
C C
14
02. Disposições gerais sobre sucessões; Herança e sua
administração; Vocação/capacidade hereditária
Estrangeiro:
Na sucessão de bens de estrangeiros, há uma disciplina especial. No caso de
bens de estrangeiros, situados no Brasil, aplica-se, via de regra, a lei do último
domicílio do falecido (lei estrangeira), salvo se a lei brasileira for mais favorável ao
cônjuge ou filhos brasileiros (o benefício é para situações em que o falecido for
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casado com brasileiro ou tiver filhos brasileiros). Significa dizer que a lei protege
o direito do cônjuge e dos descendentes em prejuízo de outros herdeiros
(ascendentes, colaterais).
* Para todos verem: esquema
2. Espécies de sucessão
O art. 1.786 define que a sucessão dá-se por lei ou por disposição de última
vontade.
a. Legítima
Decorre da lei; obedece a ordem da vocação hereditária (1.829) - ab intestato
(bens fora do testamento, testamento nulo) – art. 1.788. A sucessão legítima será
sempre a título universal, pois os herdeiros recebem a totalidade dos bens do
falecido, ou, uma fração ideal (não localizada) do patrimônio. Desta forma, os
herdeiros participam da totalidade do ativo e do passivo.
b. Testamentária
Decorre da manifestação da última vontade - bens abarcados pelo
testamento (é válido apenas sobre a quota disponível – 50% da sua parte). O
falecido não tem o poder de dispor livremente e integralmente do seu
patrimônio. Havendo herdeiros necessários (cônjuge, ascendentes e
descendentes – 1.845), fica limitado pela liberdade de testar disposta no art. 1.789,
CC. O poder de dispor integralmente só ocorre na hipótese de herdeiros
facultativos.
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c. Simultânea:
A sucessão será simultaneamente legítima e testamentária quando houver
testamento e o extinto tiver herdeiros necessários.
RESUMO
* Para todos verem: quadro
e. Sucessão contratual
Apesar de não existir herança de pessoa viva (art. 426), é possível a sucessão
contratual, sendo vedado o pacto sucessório. Porém, excepcionalmente, podem
em vida, a teor do art. 2.018, os ascendentes partilharem o seu patrimônio entre
os descendentes por escritura pública (com anuência de todos os descendentes):
Art. 2.018. É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de
última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros
necessários.
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f. Sucessões irregulares
Sucessão irregular ou anômala é aquela que não obedece às normas
próprias e à ordem da vocação hereditária. A CF/88 estabelece, no art. 5.º, XXXI, o
benefício ao cônjuge ou filhos brasileiros, na sucessão de bens de estrangeiros
situados no Brasil, permitindo a aplicação da lei pessoal do de cujus, se mais
favorável.
a. Espécies de sucessores
Herdeiro ou sucessor é aquele que será beneficiado com o patrimônio
deixado pelo falecido. O herdeiro pode ser legítimo ou testamentário.
a. Herdeiro legítimo:
O herdeiro legítimo é o que consta na ordem da vocação hereditária,
indicada pela lei. Art. 1.829, CC e 1.790 (união estável). Classificam-se como
necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge) e facultativos (colaterais e
companheiros ou conviventes). É chamada a sucessão que resulta da lei.
i. Necessários (legitimário ou reservatário):
É o descendente ou ascendente sucessível e o cônjuge (art. 1.845, CC), isto é,
todo parente em linha reta não excluído da sucessão por indignidade ou
deserdação (ou renúncia). Os herdeiros necessários não podem ser privados por
disposição de última vontade. Sua existência impede que o testador disponha a
totalidade de seus bens. A eles é reservada a legítima (metade da herança).
Segundo o art. 1.846, pertence aos herdeiros necessários a metade dos bens
da herança (legítima). A legítima corresponde, portanto a metade dos bens da
herança deixada pelo falecido, após a retirada da meação (se houver) e pagas as
dívidas e despesas de funeral. Assim, ao lado da expressão herdeiros necessários
surge a ideia de legítima e de porção disponível, conceitos que estão todos
interligados.
Nesse sentido, o art. 1.789 afirma que havendo herdeiros necessários “o
testador só pode testar a metade da herança”. Não existindo herdeiros
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necessários (ascendente, descendente e cônjuge) o testador pode dispor de 100%
de seus bens. IMPORTANTE: durante a vida há a liberdade de alienar,
onerosamente, todo o patrimônio existente, não deixando nada de herança. O
que não pode haver é doação de todo o patrimônio ou excedendo a parte da
liberalidade para um dos filhos.
Nesse caso, algumas hipóteses podem ocorrer:
i. Se o autor da herança tiver doado, em vida, para algum herdeiro, em
detrimento dos demais, não mencionando que essa doação sai da sua parte
disponível o herdeiro que recebeu deverá, no inventário, trazer esses bens
recebidos por doação a colação, descontando da sua quota parte (entende-se
como adiantamento de legítima);
ii. Se o autor da herança tiver doado, em vida, para algum herdeiro,
mencionando que se trata da sua parte disponível, não poderá exceder ¼ do
patrimônio do casal (no caso de comunhão universal, ou seja, ½ de meação e ½
de herança – dessa ½ da herança, somente a ½ (¼ do patrimônio, portanto) pode
ser disponível).
Cálculo da legítima
O art. 1.847 traz a forma de cálculo da legítima. A legítima é calculada sobre
a meação do falecido, representada pelos bens existentes a época da abertura da
sucessão.
Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na
abertura da sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral,
adicionando-se, em seguida, o valor dos bens sujeitos a colação.
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Patrimônio de R$ 100.000,00
Regime de bens: comunhão universal
Cônjuge sobrevivente = meação → 50% → R$ 50.000,00 Herança = 50% → R$
50.000,00
Dívidas do de cujus = R$ 10.000,00 Funeral = R$ 5.000,00
Total de despesas = R$ 15.000,00
50.000,00 – 15.000,00 = 35.000,00
Parte disponível = ½ → R$ 35.000,00 / 2 = 17.500,00
Legítima = a outra metade + eventuais bens doados em vida como
adiantamento de legítima.
1. Facultativos:
Ao lado dos herdeiros necessários, encontram-se os facultativos, que são os
colaterais até 4º grau. A existência de herdeiros facultativos não impede a
disposição em testamento de todos os bens pelo testador, assim considerado a
sua parte disponível.
Conforme se verá mais adiante, também é herdeiro facultativo o
companheiro sobrevivente, pois, ao contrário do cônjuge, que não pode ser
excluído da herança por ser herdeiro necessário, o companheiro pode ser
excluído através de testamento.
21
última vontade como uma parte do acervo, sem individualização de bens.
i. Legatário:
É o contemplado em testamento com coisa certa e determinada,
singularizada, precisa.
3. Herança e espólio
A herança é conjunto patrimonial que é transmitido em razão do
falecimento de alguém. Deve-se destacar que a herança inclui tanto os bens,
quanto os créditos e dívidas existentes em nome do falecido.
A herança constitui o espólio, que é o titular do patrimônio. O espólio é um
ente despersonalizado, uma massa patrimonial ou universalidade de coisas, até
a individualização pela partilha. É utilizado sob o prisma processual. Ao espólio é
reconhecida legitimidade ativa e passiva e o seu representante é o inventariante
ou, antes de sua nomeação, pelo administrador provisório (art. 75, VII, CPC/2015).
O espólio responde pelas dívidas do falecido até a partilha e dentro dos
limites da herança. O espólio tem legitimidade para propor ação de despejo de
imóveis de propriedade do falecido. Após a partilha, cada herdeiro responderá
pela dívida, dentro das forças de seu quinhão. Realizada a partilha, o espólio deixa
de existir, pois desaparece a universalidade patrimonial.
22
disto, há a necessidade de outorga do cônjuge do herdeiro, para a validade do
ato (art. 1.647., I, CC).
Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que
disponha o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.
Forma e objeto
O direito à sucessão aberta é considerado bem imóvel e, nesse sentido, para
que seja realizada a cessão, deve ser feita por escritura pública, com outorga
uxória como condição de validade do negócio jurídico (art. 1.793; art. 1.647, I; art.
166, IV).
A escritura deve estipular se a cessão é feita de forma gratuita ou onerosa;
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se estão sendo cedidos todos os direitos hereditários ou somente de parte do
quinhão; etc.
O objeto do contrato são os direitos hereditários.
O cedente: deve ter capacidade para alienar; garante a existência da
herança, não sua extensão.
O cessionário (aquele que adquire): recebe a herança no estado em que se
encontra, correndo o risco de ser mais ou menos, dependo da existência de
dívidas; sub-roga-se nos direitos do cedente, como se fosse ele próprio.
A cessão não pode ser feita quanto a um bem determinado, mas somente
quanto à quota parte do herdeiro cedente, sem individualização. Isto se dá em
razão da indivisibilidade da herança (todo unitário), de forma que é ineficaz a
cessão de bem individualizado (art. 1.793, § 2.º, CC).
§ 2º É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre
qualquer bem da herança considerado singularmente.
Não quer dizer que a cessão não possa ser feita, mas dependerá da
concordância dos demais herdeiros. Ex.: “cede para Fulano de Tal os direitos
hereditários que tem por falecimento de XXX, sobre o imóvel Y”. Dependerá da
concordância/liberalidade dos demais co-herdeiros. Isto acontece, normalmente,
quando os herdeiros fizeram a partilha de forma amigável, dividindo entre eles
os bens existentes.
Direito de acrescer
A cessão realizada abrange apenas os direitos hereditários existentes no
momento da cessão. Se depois de realizada houver, em favor do cedente,
substituição ou direito de acrescer (em razão de renúncia de um co-herderio, p.
e.x.), os direitos daí resultantes não estarão compreendidos na cessão realizada
anteriormente (GONÇALVES, 2012, p. 58).
25
Direito de preferência do co-herdeiro
O herdeiro cedente, conforme art. 504, caput e § 1º, deve dar ciência aos
herdeiros condôminos, para exercício de prelação (preferência). Nesse sentido, o
art. 1.794, CC traz a determinação de que:
Art. 1.794. O co-herdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa
estranha à sucessão, se outro co-herdeiro a quiser, tanto por tanto.
Caso não tenha sido dado o direito de preferência à algum co-herdeiro, este
poderá, nos termos do art. 1.795, CC, exercer este direito a posteriori:
Art. 1.795. O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão,
poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o
requerer até cento e oitenta dias após a transmissão.
Este direito deverá ser exercido em até 180 dias após a ciência da alienação.
E se mais de um herdeiro quiser exercer o direito de preferência? Neste caso,
segundo Tartuce (2012, p. 18) deverá o quinhão cedido ser distribuído entre eles,
na proporção de suas quotas hereditárias:
Art. 1.795. Parágrafo único. Sendo vários os co-herdeiros a exercer a
preferência, entre eles se distribuirá o quinhão cedido, na proporção das
respectivas quotas hereditárias.
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(transmissão) estejam pagos.
- Pela força dos § § 2º e 3º do art. 1.793, o cedente não responde pela evicção,
a menos que ceda bens inexistentes, ou que não lhe pertençam, em relação à
sua quota-parte. Esta regra decorre do princípio da indivisibilidade da herança e
do caráter aleatório da cessão.
- A cessão depende da anuência conjugal (na hipótese de casados) porque
a cessão é translativa. Havendo resistência do cônjuge ou companheiro em anuir
à cessão, possível a busca do suprimento judicial de consentimento. Exceção: art.
1.647: alienar, fazer doação, prestar fiança ou aval (Regime da Separação de Bens);
- O cessionário, responde como responderia o cedente, pelo passivo da
herança (até o limite do quinhão).
- A cessão pode sofrer desconstituição Judicial, quando eivada de qualquer
dos vícios de consentimentos;
- A ação anulatória deve ser promovida em autos próprios. Pode ocorrer a
suspensão do inventário ou não (depois de decidida a questão, faz-se, então, uma
sobrepartilha).
- Os direitos testamentários ou legatários podem ser transferidos por
cessão.
- Quando o cônjuge cede a totalidade, chamamos de cessão da
universalidade de Bens que compõe a meação. O cônjuge sobrevivo pode ceder
parcialmente.
27
comprovar o excesso, salvo se houver inventário demonstrando o valor dos bens
herdados (art. 796, CPC/2015). Como o inventário é um levantamento dos bens,
créditos e débitos existentes em nome do falecido, apura-se o valor das dívidas e
o valor dos bens necessários ao pagamento delas. Só serão partilhados os bens
ou valores que restarem após o pagamento das dívidas existentes (GONÇALVES,
2012, p. 54).
4
São Paulo: Lei Estadual 10.705/2000; Minas Gerais: Lei Estadual: 14.941/2003; Maranhão: Lei
Estadual .912/1998.
28
Art. 613. Até que o inventariante preste o compromisso, continuará o
espólio na posse do administrador provisório.
29
Ex1: Se o autor da herança falecer hoje e deixar um herdeiro e, amanhã,
entrar em vigor lei nova retirando deste a condição de herdeiro, a nova lei não o
atingirá, pois já lhe havia sido transmitidos os direitos de posse e domínio.
Ex2: Se a abertura da sucessão tiver ocorrido antes da CF/88, que igualou os
direitos sucessórios dos filhos adotivos aos biológicos, se o de cujus tiver deixado
um filho adotivo e o falecimento tiver ocorrido antes da vigência da CF/88, o filho
adotivo não herdará (GONÇALVES, 2012, p. 40). Diferente será se o falecimento
ocorrer após a entrada em vigor da CF/88. Neste caso, o filho adotado herdará da
mesma forma que o biológico.
O art. 1.798 trata da legitimidade para suceder, estabelecendo que aqueles
que estiverem vivos ou concebidos no momento da abertura da sucessão serão
legitimados a receber a herança.
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas
no momento da abertura da sucessão.
Para que alguém possa suceder, não basta invocar a ordem da vocação
hereditária. Devem ser preenchidas algumas condições (VENOSA, 2012, p. 53):
a. deve ser pessoa – animais não podem suceder. O que pode haver é o
testador impor ao herdeiro testamentário um encargo de cuidar de um animal
em específico.
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b. deve estar viva – pode já estar concebido na época da morte e terá
direito se nascer com vida e, então, tornar-se-á herdeiro desde a concepção.
c. deve ser capaz – é a aptidão específica para a herança, a legitimação.
Assim não basta existir no momento da morte, tem de ser legítimo, pois se o
autor da herança tiver deixado descendente, os ascendentes, mesmo que vivos,
não serão legítimos;
d. não pode ter sido declarada indigna – aquele que praticar atos contra
o autor da herança, que sejam presumidos incompatíveis com os sentimentos
de afeição real ou presumida.
Deve ser destacado o § 4.º, que estabelece que se até dois anos após a
abertura da sucessão não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados
caberão aos herdeiros legítimos.
Quem deve existir no momento da morte do autor da herança são os pais
do beneficiado, não este, que, na hipótese, sequer precisa estar concebido
(GONÇALVES, 2012, p. 73).
IMPORTANTE: Também deve ser salientado que essa disposição do art. 1.799,
I, CC, aplica-se tanto a filhos biológicos, quanto a filhos adotivos, em razão da
igualdade estabelecida pela CF, no art. 227, § 6º.
Com relação aos filhos havidos em razão de inseminação artificial, a questão
é diferenciada (e, de certa forma, injusta). Gonçalves (2012, p. 75) explica bem a
situação:
Em princípio não se pode falar em direitos sucessórios daquele que foi
concebido por inseminação artificial post mortem, uma vez que a
transmissão da herança se dá em consequência da morte (CC, art. 1.784) e
dela participam as “pessoas nascidas ou já concebidas no momento da
abertura da sucessão” (art. 1.798).
A questão, no entanto, é tormentosa e cabe à doutrina e à jurisprudência
33
fornecer subsídios para sua solução. A doutrina brasileira se inclina no
sentido de negar legitimação para suceder aos filhos havidos por métodos
de reprodução assistida, quer na hipótese de a morte do ascendente
preceder à concepção, quer na de implantação de embriões depois de
aberta a sucessão. Solução favorável à criança ocorreria se houvesse
disposição legislativa favorecendo o fruto de inseminação post mortem.
[...]
[...]se o Código Civil de 2002 trata os filhos resultantes de fecundação
artificial homóloga, posterior ao falecimento do pai, como tendo sido
“concebidos na constância do casamento”, não se justifica a exclusão de
seus direitos sucessórios. Entendimento contrário conduziria à aceitação
da existência, em nosso direito, de filho que não tem direitos sucessórios,
em situação incompatível com o proclamado no art. 227, § 6.º, da
Constituição Federal.
O inciso II, do art. 1.799, CC permite que também as pessoas jurídicas possam
ser beneficiadas no testamento. Desta forma, qualquer pessoa pode ser
contemplada no testamento, tanto física quanto jurídica, simples ou empresária,
de direito público ou privado.
O inciso III, do art. 1.799, CC permite que o testador beneficie uma fundação
que, nos termos do art. 62, pode ser criada por escritura pública ou testamento.
Neste último caso, segundo Gonçalves (2012, p. 77), “por ainda não existir a pessoa
jurídica idealizada pelo testador, aberta a sucessão os bens permanecerão sob a
guarda provisória da pessoa encarregada de instituí-la, até o registro de seus
estatutos, quando passará a ter existência legal”.
A doutrina admite que o testador deixe bens para uma pessoa jurídica
existente de fato, mas não de direito. São os casos das sociedades de fato, nos
termos do art. 986, CC. O que se deve perceber é que estas pessoas jurídicas
existem, já estão atuando, ainda que não tenham seus documentos constitutivos
registrados. O que não se permite é que o testador beneficie pessoa jurídica que,
sequer existe de fato.
Se, contudo, os bens destinados para constituir a fundação forem
insuficiente e o testador não dispuser de forma diversa, deverão os bens serem
34
destinados a outra fundação que tenha finalidade igual ou semelhante (art. 63,
CC). OBSERVAÇÃO: Já caiu questão no exame de ordem sobre esta situação!
36
EM RESUMO
* Para todos verem: esquema
QUESTÕES
01. EXAME XXIII Paulo, viúvo, tinha dois filhos: Mário e Roberta. Em 2016, Mário,
que estava muito endividado, cedeu para seu amigo Francisco a quota-parte da
herança a que fará jus quando seu pai falecer, pelo valor de R$ 1.000.000,00 (um
milhão de reais), pago à vista. Paulo falece, sem testamento, em 2017, deixando
herança líquida no valor de R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais). Sobre a
partilha da herança de Paulo, assinale a afirmativa correta.
37
Mário é nula, razão pela qual Mário e Roberta receberão, cada um, R$ 1.500.000,00
(um milhão e quinhentos mil reais).
01
38
03. Aceitação da herança; Renúncia da herança; Exclusão da
sucessão por indignidade e deserdação; Herança jacente e
vacante; Petição de herança
Espécies de aceitação:
O art. 1.805, estabelece as duas formas de aceitação: expressa e tácita.
e. Expressa - É a manifestada por escrito, público ou particular, de que o
beneficiário deseja receber a herança.
f. Tácita - É a que prevalece (Art. 1805, segunda parte, CC). A aceitação
tácita resulta de qualquer ato que demonstre a intenção de aceitar a herança,
atos compatíveis com caráter de herdeiro:
a) se o herdeiro cede seus direitos hereditários;
b) se o herdeiro nomeia advogado e se faz representar como tal no
inventário;
c) se o herdeiro concorda com a avaliação, ou contesta;
d) se o herdeiro efetua cobrança de dívidas do espólio;
e) se requer a abertura do inventário;
f) quando paga dívida dos de cujus com numerário proveniente do espólio;
g) quando doa bens da herança;
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h) que pratica atos que vão além de simples atos de conservação e
administração e que impliquem, necessariamente, a intenção de aceitar;
i) o silêncio do herdeiro, quando notificado para se manifestar (art. 1.807).
Art. 1805, §1º, CC: “não exprimem aceitação da herança os atos oficiosos,
como o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração
e guarda interina”. Esses atos são praticados de forma altruísta, sem o intuito de
aceitar a herança.
ATOS OFICIOSOS = praticados de forma desinteressada, com objetivo de
prestar favor.
ADMINISTRAÇÃO E GUARDA PROVISÓRIA = praticados pelo herdeiro para
atender a uma necessidade premente, sem intenção de tê-los para si.
Art. 1805, §2º, CC: a cessão pura e simples para os demais coerdeiros também
não importa aceitação da herança – equivale a uma renúncia (GONÇALVES, 2012,
p. 91).
c) Presumida - É o que ocorre no caso do art. 1807, CC, quando algum
interessado em saber se o herdeiro aceita ou não a herança faz requerimento ao
juiz, após passados 20 dias da abertura da sucessão, para que lhe intime a dizer,
em prazo não superior a 30 dias, se aceita ou não a herança (GONÇALVES, 2012,
91). Nesse caso, o silêncio é interpretado como manifestação da vontade
(aceitação presumida).
Percebe-se, então, que a aceitação tácita difere da presumida, pois esta
última depende da provocação de um terceiro interessado, enquanto que a
primeira resulta “de atos próprios da qualidade de herdeiro”.
Todavia, quem seriam esses interessados?
a) Os demais herdeiros;
b) As pessoas que, em caso de não aceitação, serão promovidas à condição
de herdeiros;
c) Algum credor.
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Forma que a pessoa manifesta a aceitação:
a) Direta: oriunda do próprio herdeiro
b) Indireta: quando alguém faz pelo herdeiro. Pode acontecer em algumas
hipóteses:
- oriunda de sucessores (art. 1809, CC) – se o herdeiro falecer antes de
aceitar a herança impede a transmissão desta a seus sucessores. Neste caso,
transmite-se a eles o direito de aceitá-la ou repudiá-la. Contudo, se para o
recebimento da herança deve ser implementada uma condição (diploma
universitário, p. ex.), se falecer o herdeiro antes da realização da condição, o direito
hereditário é como se nunca tivesse existido e, portanto, os sucessores do
herdeiro não poderão aceitar por ele.
Ex.: A falece e deixa dois sucessores: B e C. Antes que houvesse a aceitação
da herança por estes, B falece e deixa os herdeiros X e Y. Neste caso, X e Y:
• Podem recusar a herança do avô e aceitar a do pai;
• Podem recusar a do pai;
• Não podem recusar a do pai e aceitar a do avô – seria, de certa forma, um
aceite “parcial” da herança!
- mandatários – é possível haver renúncia ou aceitação da herança por
procuração.
- tutor ou curador – representantes do incapaz, mediante autorização
judicial (art. 1748, II, CC).
- credores – não poderá haver renúncia com prejuízo aos credores. Nesse
caso, os credores poderão aceitar a herança em nome do renunciante, a fim de
evitar a fraude (art. 1.813, CC). Neste caso os credores, com autorização do juiz do
inventário, aceitam a herança, recebem o quinhão hereditário do renunciante
(na proporção da dívida) e, havendo saldo, os demais bens/valores serão
entregues aos demais herdeiros que seriam beneficiados com a renúncia. O
saldo não será devolvido ao renunciante.
c) Aceitação parcial ou condicional: Não pode haver aceitação parcial.
Nesse sentido, temos que interpretar o art. 1808, caput e §1º, CC, pois trata da
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questão de um mesmo herdeiro ser:
- herdeiro universal de um título e;
- legatário de um título singular.
Art. 1.808. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob
condição ou a termo.
§ 1º O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los, renunciando
a herança; ou, aceitando-a, repudiá-los.
Irrevogabilidade da aceitação
O Código Civil, em seu art. 1.812, define a irrevogabilidade da aceitação e de
renúncia. Assim, realizada a aceitação (expressa ou tácita ou presumida) não
haverá possibilidade de revogar tal ato, de modo que a aceitação gera efeitos
imediatos e definitivos.
Anulação da aceitação
Assim, depois de realizada a aceitação, se for verificado que o aceitante não
é o herdeiro, como por exemplo, chamar-se à sucessão os colaterais e, depois,
verificar-se a existência de filhos, deverá ser declarada a ineficácia da aceitação,
devolvendo-se a herança a quem de direito. Se, contudo, o inventário já tiver
sido julgado, como homologação da partilha, apenas com a ação de petição de
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herança é que será possível reivindicar o que lhe cabe.
Características da Renúncia:
Rizzardo aponta as principais características da renúncia, acompanhando o
entendimento doutrinário dominante:
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a) A unilateralidade, por não depender da vontade de outros herdeiros.
b) A abstratividade, isto é, a ausência de motivações. Não é colocada
nenhuma razão, e muito menos vem mencionado algum pagamento, posto que
aí a figura seria cessão.
c) A indivisibilidade, porquanto a renúncia se opera em relação à herança,
e não a um bem, continuando o herdeiro a concorrer na partilha do restante do
patrimônio. A lei não admite renúncia parcial (art. 1.808).
d) Ato jurídico puro, ou seja, sem depender de condições ou termo. Art.
1.808
CC.
e) Gratuita, jamais se permitindo algum pagamento ou uma
compensação, sob
pena de confundir-se, então, com a cessão de direitos.
f) Efeito retroativo, valendo a contar da morte do autor da herança. Arts.
1.784 e 1.804.
g) O formalismo, que é de rigor, nunca se acolhendo que seja reconhecida
à renúncia por manifestação verbal, nem por instrumento particular. A renúncia
deve ser feita por instrumento público ou termo judicial (art. 1.806). Não há
presunção de renúncia ou renúncia tácita. Deve ser expressa e formal.
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tão somente o ITCD (causa mortis). Já no caso da renúncia translativa, há a
incidência de dupla tributação: causa mortis (ITCD – de cujus ao herdeiro) e inter
vivos (ITBI - herdeiro ao terceiro/beneficiário). Equivale a uma cessão de direitos
hereditários.
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f) uma vez realizada, RETROAGE à data da abertura da sucessão, no
sentido de que o renunciante é tratado como se nunca tivesse existido.
g) que não prejudique os credores: A Lei de Falências e Recuperação de
Empresas – Lei n. 11.101, de 9.02.2005, reconhece no art. 129, a ineficácia dos atos
em relação a falência: inc. V: a renúncia à herança ou legado, até dois anos antes
da decretação da falência.
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* Para todos verem: esquema
B herdeiro renunciante
“H” e “L” herdarão por cabeça – 50% para cada um.
C herdeiro renunciante
A e B recebem a cota de “C”.
Herdeiros de C: não herdam
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e) Se todos os herdeiros da mesma classe renunciarem, os filhos (netos do
autor da herança) serão chamados a suceder por direito próprio, por cabeça (art.
1811, CC). Neste caso, mesmo que o falecido tiver deixado vários filhos, todos
renunciantes, e cada um deles com quantidade diversa de filhos, cada neto do
autor da herança receberá em partes iguais, como se os seus pais jamais
tivessem existido (serão, todos eles, herdeiros de mesma classe e, neste caso, não
há diferença no percentual da herança). Se ele for o único descendente e
renunciar, essa renúncia não atinge aos netos, que herdam em condição própria,
caso esses não existam, são convocados os ascendentes...
* Para todos verem: esquema
A, B e C = herdeiros renunciantes
X, H, L e Y herdam por direito próprio ou cabeça. Não há diferença de
percentual na herança, neste caso.
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herança ou legado:
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Quadro comparative
* Para todos verem: esquema
RENÚNCIA CESSÃO
Expressa Expressa
Irrevogável Irrevogável
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por parte do herdeiro que venha a cometer os atos expressos no art. 1.814, CC.
No caso de prática de atos atentatórios ao de cujus, o legislador cria uma
pena, que consiste na perda da herança. Aplica-se ao sucessor legítimo e/ou
sucessor legatário (testamentário) que houver praticado ato de ingratidão.
O art. 1.814, CC traz expressas as causas que importam na exclusão do
herdeiro considerado indigno. Trata-se de situações taxativas, não se admitindo
qualquer tipo de interpretação expansiva.
Para Gonçalves (2012, p. 112), a exclusão por indignidade pressupõe:
a) seja o herdeiro ou legatário incurso em casos legais de indignidade;
b) não tenha sido reabilitado pelo de cujus;
c) haja uma sentença declaratória da indignidade.
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I – é o de homicídio, tentado ou consumando, cometido pelo herdeiro
contra o autor da herança.
Como se vê, – pela própria redação do inciso – o reconhecimento da
indignidade independe de anterior condenação do indigno no juízo criminal.
A prova dessa indignidade pode ser feita no cível. É a mais grave das causas
apontadas pelo legislador, pouco importando os motivos.
A pena é aplicada aos que praticaram homicídio doloso ou tentativa contra
o autor da herança e seus parentes sucessíveis.
A prova do fato e da culpabilidade é feita no curso da ação civil. Não é preciso
que já tenha havido condenação criminal. Contudo, se já tiver sido condenado no
crime, não mais se discute no cível sobre quem é o autor do fato (a sentença
penal transitada em julgado faz coisa julgada no cível). Também, se o autor do
fato tiver sido absolvido no criminal, não poderá ser declarado indigno no juízo
cível.
Além da sanção cível – exclusão por indignidade – o autor dos atos
atentatórios contra a vida do autor da herança ou ascendentes ou descendentes
seus, sofrerá, ainda, as sanções penais cabíveis.
E se houver sentença criminal absolvendo o réu (herdeiro), por
inimputabilidade? E se o juiz, absolver o réu pela inexistência do fato?
Nestes casos, a sentença criminal faz coisa julgada no cível, ou seja,
civilmente a exclusão ou a tentativa desta não surtirá efeitos (art. 935, CC).
Portanto, a sentença do juízo criminal impede que no cível se reconheça a
indignidade.
Por outro lado, verifica-se que a lei exige que o homicídio seja voluntário.
Exclui-se, portanto, o homicídio culposo, decorrente de imprudência, imperícia e
negligência. O dolo é essencial para o reconhecimento da exclusão do herdeiro.
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II – a hipótese retrata caso de denunciação caluniosa (art. 339, CP), da
calúnia (art. 138), injuria (art. 139) e difamação (art. 140, CP). APENAS NA
FORMA CONSUMADA – não existe, neste caso, tentativa
O que diz o art. 339 do CP: “dar causa a instauração de investigação criminal
ou processo judicial contra alguém, (...) imputando-lhe a prática de crime que
sabe ser inocente”. Denunciação caluniosa.
Nos casos de calúnia, injúria e difamação ocorre o mesmo.
Pergunta-se: É necessária a condenação do herdeiro para se reconhecer a
indignidade? O que importa é, sem dúvida, saber se o herdeiro deu causa à ação
penal contra o falecido.
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pelos interessados. Deve, portanto, haver uma ação declaratória intentada com
o objetivo de excluir o herdeiro da herança, possibilitando o devido contraditório
e a ampla defesa do herdeiro excluído.
O legitimado para propor a ação declaratória é qualquer interessado na
sucessão. Assim, admite-se a propositura por coerdeiro, Município, Distrito
Federal ou União, na falta de sucessores legítimos e testamentários.
Não tem interesse, contudo, aquele que não tiver benefício direto com a
exclusão. Ex.: quando o excluído tiver filhos, em razão do disposto no art. 1.816, CC,
os irmãos do indigno não terão legitimidade para propor a ação, pois não se
beneficiarão com sua exclusão.
Trata-se de ação de interesse privado, mas, quando houver interesse público,
admite-se a legitimidade do Ministério Público. Neste sentido o enunciado 115,
CJF/STJ:
O Ministério Público, por força do art. 1.815 do novo Código Civil, desde que
presente o interesse público, tem legitimidade para promover ação
visando à declaração de indignidade de herdeiro ou legatário.
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* Para todos verem: esquema
H – herdeiro indigno.
A e B – herdarão por representação (no lugar de seu pai, como se ele nunca
tivesse existido).
Com isto:
X – recebe 1/3 Y – recebe 1/3
A e B – dividem o 1/3 que caberia a seu pai.
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c) perda dos frutos e rendimentos: nos termos do art. 1.817, §único, o
herdeiro excluído deve restituir os frutos e rendimentos que tenha obtido até a
declaração de indignidade, mas tem direito a ser ressarcido das despesas com a
conservação dos bens.
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Trata-se de perdão. Sabem-se os sentimentos: PAI É PAI, MÃE É MÃE. Pode
ocorrer que o autor da herança, em vida, queira que o autor da ingratidão, não
seja excluído, muito embora tenha sido caluniado, injuriado, etc... Exclui-se,
evidentemente, o homicídio, pela lógica do impossível.
Este perdão é solene, porque a lei diz: ATO AUTÊNTICO OU TESTAMENTO, de
forma que deve ser expresso, embora não exista a exigência de palavras
sacramentais. A reabilitação do herdeiro pelo perdão, uma vez concedida, é
irretratável.
Mesmo que o testamento seja anulado, a cláusula que reabilita o indigno
permanece válida.
Ato autêntico é qualquer declaração, por instrumento público, não se
admitindo a validade da escritura particular, cartas, declarações verbais ou de
próprio punho, ainda que corroboradas por testemunhas.
E se o ofendido após o ato de indignidade contemplar o herdeiro, por via
testamentária? Aqui, evidentemente, o herdeiro está reabilitado. Não há a
necessidade de que exista a expressão “perdoo o indigno”, ou algo equivalente,
mas tão somente disposições que indiquem o perdão. A redação do parágrafo
único do art. 1.818, CC. O ato de perdão é inequívoco. Não existe perdão tácito.
Então temos que o perdão, ou melhor a reabilitação pode ser:
a) expressa
b) tácita – mas por via testamentária, contemplando o herdeiro.
3.2 Deserdação
A deserdação é uma causa de exclusão pela qual o autor da herança, através
de disposição de última vontade – testamento – exclui de sua sucessão o herdeiro
necessário que tenha praticado atos moralmente censuráveis e previstos na lei
civil.
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IMPORTANTE: só se aplica aos herdeiros necessários (descendentes,
ascendentes e cônjuge), que ficam privados de sua legítima, sem atingir a
meação.
Trata-se de uma pena civil que é aplicada pelo próprio autor da herança,
através de testamento.
Características da deserdação
a) o arbítrio do autor da herança não é ilimitado (incondicionado); precisa
seguir os pressupostos legais e limites.
b) o autor deve mencionar a causa constitutiva e determinante da
deserdação, entre as indicadas na lei (para permitir a defesa e o contraditório);
c) deve ser clara e expressa; atendendo os requisitos legais;
d) não existe deserdação tácita, virtual ou implícita;
e) o testador pode retratar a deserdação (por testamento). EX: não vale
simples reconciliação; precisa cancelar, ou fazer um novo testamento, seguindo
o rito anteriormente adotado.
f) o testamento que é anulável (nulo), torna ineficaz a cláusula de
deserdação;
g) condição ou termo são inconciliáveis com a deserdação;
ex: Ameaças, em relação ao herdeiro fazer ou deixar de fazer algo, sob pena
de ser deserdado, não têm o poder nem a legalidade para deserdar.
h) o excluído da sucessão não tem direito ao usufruto e à administração dos
bens (art. 1816, parágrafo único, CC);
i) não há proibição de deserdação parcial (sanção proporcional à gravidade
da ofensa, apesar de não estar pacífica tal posição);
j) o herdeiro que falece antes do testador não pode ser deserdado
(implicaria na quebra do princípio da pessoalidade, alcançando os descendentes
do punido. A pena é personalíssima). No entanto, existe a possibilidade de
deserdar o neto, vinculada a pré-morte do filho, condicionada aos mesmos
requisitos supracitados.
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Causas da deserdação – art. 1.814, art. 1.962 e art. 1.963, CC
Os arts. 1.814, 1.962 e 1.963 trazem as causas da deserdação. Dispõe o art. 1.814,
CC:
Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:
I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio
doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu
cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança
ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou
companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o
autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última
vontade.
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Requisitos de eficácia da deserdação:
O art. 1.964 afirma que somente com a declaração expressa da causa é que
a deserdação poderá ser ordenada via testamento. Fazendo-se a interpretação
deste dispositivo com o art. 1.961, CC, tem-se que são requisitos para a
deserdação:
Efeitos da deserdação:
O art. 1.816, CC afirma que os efeitos da exclusão são pessoais. Apesar de não
haver previsão expressa para a deserdação, aplica-se este mesmo dispositivo,
tendo em vista que o objetivo da indignidade e da deserdação é o mesmo.
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- Privação em todo ou parte, da legítima, sendo o deserdado havido como
se morto fosse;
- É de índole pessoal a sanção;
- Aos ascendentes não cabe a representação;
- Os descendentes recolhem a herança por direito de representação;
INDIGNIDADE DESERDAÇÃO
Decorre de lei, que prevê a sanção nos casos de Decorre da vontade do autor da herança que,
prática de atos previstos no art. 1.814, CC. em testamento, pune o responsável.
É instituto da sucessão legítima, ainda que Só pode ocorrer na sucessão testamentária, pois
também possa alcançar o legatário. depende do testamento, com expressa
declaração de causa (art. 1.964).
Sua efetivação se dá por ação judicial, proposta A deserdação se dá por testamento, com
por terceiros interessados, em ação própria e expressa declaração da causa (art. 1.964).
obtida mediante sentença judicial (art. 1.815).
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Admite reabilitação, mediante perdão do Não comporta perdão, pois o ato
ofendido. correspondente é praticado em testamento (ato
de última vontade). Pode, contudo, novo
testamento revogar o anterior.
Nem sempre os fatos são anteriores à morte do Os suportes fáticos são anteriores à morte do
autor da herança autor da herança.
3.4 Diferenças entre ser excluído da sucessão e não ter legitimidade para
suceder:
* Para todos verem: esquema
A pessoa recebe a coisa e a perde A pessoa nunca recebeu, pois não tinha
legitimidade para tanto.
É uma pena civil aplicada ao herdeiro ou É a inaptidão para receber a herança, por
legatário pela prática de determinados atos motivos de ordem geral, independente de
de ingratidão. seu mérito ou demérito.
O indigno existe e perde a herança havida, ou O ilegítimo não existe para a sucessão,
seja, o direito existiu até a declaração de portanto, não tem direito de suceder.
indignidade
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reclamá-la. Assim, o Estado determina, para evitar o perecimento da herança,
que haja a sua arrecadação para que, ao fim, seja entregue aos herdeiros que se
apresentem e tenham legitimidade para suceder.
Somente depois de realizadas as diligências legais, ainda não aparecerem
herdeiros, é que a herança será declarada vacante, para o fim de ser incorporada
ao patrimônio do Poder Público.
Existem, portanto, duas fases: a jacência e a vacância.
HERANÇA JACENTE: Assim, quando aberta a sucessão verifica-se que o de
cujus não deixou testamento, nem tem herdeiros, diz-se que a herança é
JACENTE (art. 1.819, CC). Mesmo quando haja herdeiro sucessível, enquanto não
se souber da sua existência, a herança será jacente.
HERANÇA VACANTE: depois que o Estado arrecadou os bens, com o intuito
de impedir o perecimento da riqueza, depois de realizadas as diligencias a fim de
verificar a existência de herdeiros, se restar demonstrado não existirem herdeiros
sucessíveis, a herança jacente será declarada VACANTE.
Casos de jacência:
Para que se configure a jacência deve haver – art. 1.819, CC:
a) ocorrência do óbito;
b) sem deixar testamento conhecido ou ser este caduco. Neste caso,
tem-se duas situações:
Sem testamento:
a. Inexistência de herdeiros conhecidos
b. Renúncia da herança por todos os herdeiros
Com testamento:
c. Herdeiro instituído ou testamenteiro não existir ou não aceitar a herança
d. Falecido não tiver herdeiros necessários.
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e) com herdeiros ausentes (ou, com beneficiários não conhecidos).
Cabe ao curador:
Art. 739, § 1o Incumbe ao curador:
I - representar a herança em juízo ou fora dele, com intervenção do
Ministério Público;
II - ter em boa guarda e conservação os bens arrecadados e promover a
arrecadação de outros porventura existentes;
III - executar as medidas conservatórias dos direitos da herança;
IV - apresentar mensalmente ao juiz balancete da receita e da despesa;
V - prestar contas ao final de sua gestão.
§ 2º Aplica-se ao curador o disposto nos arts. 159 a 161.
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seus sucessores.
A arrecadação será suspensa se aparecerem o cônjuge, companheiro ou
herdeiro do falecido para reclamar os bens (§ 6º, art. 740, CPC/2015).
Finalizada a arrecadação, serão expedidos editais, nos termos do art. 741,
CPC/2015 – na internet, site do tribunal e na plataforma do CNJ, devendo
permanecer por 3 meses. Em não havendo o site, a publicação deverá ocorrer na
imprensa da Comarca, por 3 vezes, com intervalos de 1 mês entre cada uma.
Havendo herdeiro habilitado, a arrecadação converte-se em inventário (art.
741, § 1.º, § 3.º, CPC/2015).
Declaração de vacância
Não havendo herdeiro habilitado, após um ano da publicação do edital, a
herança será declarada vacante (art. 743, CPC/2015).
Será VACANTE a herança quando, depois de todas as diligências, inclusive
com a publicação de editais, passado um ano, não houverem herdeiros
sucessíveis habilitados. Há uma exceção: se todos os chamados a suceder
renunciarem a herança, será, desde logo, declarada vacante (art. 1.823, CC), sem
que haja a fase de jacência.
Uma vez sendo declarada, por sentença, a vacância, o cônjuge, companheiro
ou herdeiros só poderão reclamar seu direito através de ação de petição de
herança (art. 743, § 2.º, CPC/2015).
Após a declaração de vacância, podem os credores pedir o pagamento das
dívidas reconhecidas, nos limites da força da herança (art. 1.821, CC + art. 741, § 4.º,
CPC/2015).
Mas essa declaração de vacância não faz com que os bens da herança se
incorporem, desde logo, ao patrimônio do Município ou Distrito Federal (se
localizados nos seus territórios) ou à União (se localizados em território federal).
Para tanto, o art. 1.822, CC prevê o prazo de 5 anos da abertura da sucessão.
O Código não deixa dúvida sobre a exclusão dos colaterais da sucessão
se não habilitarem até a sentença de vacância – art. 1.822, § único. Os demais
66
herdeiros têm o prazo de 5 anos.
Filho 1 = pré-morto.
Filho 2 = desaparecido – não se sabe da existência
Neto 1, 2 e 3 = herdarão por direito próprio, pois a classe anterior (dos filhos)
não existe = 1/3 para cada um.
Neto 1 = pré-morto → sua quota parte será divida entre Bisneto 1.1 e 1.2.
Quanto o Filho 2 for “descoberto”, terá direito de pleitear a herança (sua
quota parte). Neste caso, ficará com a ½ da herança e a outra ½ será dividida
entre os herdeiros de Filho 1.
3. A herança é distribuída entre os herdeiros legítimos, e aparece
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testamento do de cujus, em que outra pessoa é nomeada herdeira;
4. O filho não reconhecido ingressa com ação de investigação de
paternidade e, de forma cumulada, com a petição de herança.
Conceito:
A petição de herança é uma ação, oferecida pelo herdeiro preterido, no
sentido de que lhe seja deferida a quota parte que lhe cabe, por direito. Trata-se,
pois, do meio jurídico pelo qual o herdeiro (excluído por qualquer razão – não se
sabia da existência, por exemplo) pode se utilizar para garantir sua condições e o
acesso aos bens deixados pelo falecido (art. 1824, CC)
A ação visa, portanto, o reconhecimento da qualidade de herdeiro e a
satisfação quanto ao acervo hereditário, ou seja, contemplar o herdeiro – autor
da ação – com sua quota parte na herança. Necessita, contudo de uma ação de
estado, ou seja, de uma ação que objetive a declaração do parentesco.
A petição de herança tem dúplice objetivo:
a) o reconhecimento judicial da qualidade do herdeiro ou a condição de
herdeiro (qualidade sucessória);
b) a proclamação do princípio de que, sendo vários os herdeiros, qualquer
deles pode demandar a totalidade da herança.
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objeto é coisa determinada. Logo, a ação reivindicatória é o instrumento
correto para o legatário.
RESUMO:
* Para todos verem: esquema
Universal Singular
Proposta pelo herdeiro a ser reconhecido Proposta pelo legatário, por exemplo
69
LEGITIMIDADE PASSIVA: Será réu nessa ação, aquele que estiver na posse
da herança como se fosse herdeiro, aparentando uma qualidade e assumindo a
posição de herdeiro, sem o ser verdadeiramente.
a) Herdeiro aparente (possuidor dos bens hereditários);
b) Terceiro estranho à sucessão causa mortis;
c) Herdeiro que possua por outro título (usucapião).
d) Estado (quando há herança jacente)
Efeitos da sentença:
Reconhecida a qualidade hereditária do autor da petição de herança,
transmite- se a titularidade do patrimônio deixado em seu favor. Com a
procedência da ação e o trânsito em julgado há o reconhecimento da ineficácia
da partilha em relação ao autor da ação, sendo dispensada sua anulação. Bastará
o requerimento de retificação da partilha realizada anteriormente.
Esses efeitos também são diferentes com relação ao possuidor de boa e má-
fé e quanto ao terceiro adquirente:
Possuidor:
Aquele que possua os bens, com o julgamento da petição de herança,
deverá devolvê-los, com todos os acessórios. Responderá por perdas e danos e
pelos frutos que tiver colhido, salvo direito de retenção, se estiver de boa-fé.
Art. 1.826. O possuidor da herança está obrigado à restituição dos bens do
acervo, fixando-se-lhe a responsabilidade segundo a sua posse, observado
o disposto nos arts. 1.214 a 1.222.
Parágrafo único. A partir da citação, a responsabilidade do possuidor se há
de aferir pelas regras concernentes à posse de má-fé e à mora.
70
e os colhidos por antecipação (1215);
b) os frutos naturais ou industriais reputam-se percebidos e colhidos (art.
1215);
c) não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa
(art. 1217);
d) tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, podendo
levantar as voluptuárias (art. 1219).
Já o possuidor de má-fé:
a) Art. 1216, CC – pelos frutos colhidos e percebidos (e pelo que deixou de
perceber por culpa);
b) responde pela perda e deterioração da coisa, a que não der causa (art.
1218);
c) não tem direito de retenção de benfeitorias (nem levantar as
voluptuárias); as necessárias serão ressarcidas (art. 1218, 1220, 1222).
Terceiro adquirente:
A questão que se discute é se a alienação feita pelo herdeiro aparente é
válida ou não.
Art. 1.827. O herdeiro pode demandar os bens da herança, mesmo em
poder de terceiros, sem prejuízo da responsabilidade do possuidor
originário pelo valor dos bens alienados.
Parágrafo único. São eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo
herdeiro aparente a terceiro de boa-fé.
71
Herdeiro aparente (Art. 1.817CC):
É aquele que recebe a herança como se fosse o titular desse direito, ou seja,
reputa-se ser aquele o herdeiro, porém, não o é.
Exemplos:
1) pessoa que entra na posse dos bens, sem saber que existiam outros
herdeiros de grau mais próximo;
2) na hipótese de herdeiro testamentário, cujo testamento é invalidado.
3) a posse de herdeiros, quando há posterior reconhecimento de outro em
Ação de Investigação de Paternidade.
4) se herdeiro (aparente), cumpriu a vontade do testador (com bona fide),
tem seus atos protegidos (terceiro adquirente de boa-fé).
O art. 1.828 prevê que o herdeiro aparente de boa-fé tem seus atos
protegidos por lei em benefício de terceiros de boa fé:
Art. 1.828. O herdeiro aparente, que de boa-fé houver pago um legado, não
está obrigado a prestar o equivalente ao verdadeiro sucessor, ressalvado a
este o direito de proceder contra quem o recebeu.
72
prescricional de 10 anos (art. 205, CC). Inicia-se a correr o prazo prescricional com
a data da abertura da sucessão. Lembrando que todas suspensões e interrupções
prescricionais aplicam-se nesse caso e que a prescrição não corre contra pessoas
absolutamente incapazes – só começa a correr quando completar 16 anos,
passando a ser relativamente incapaz.
73
EM RESUMO
* Para todos verem: esquema
74
INDIGNIDADE
• Decorre de lei
• Hipótestes: art. 1.814, CC
• Independe de manifestação
• Alcança o herdeiro legítimo e o testamentário (instituído ou legatário)
• A exclusão depende da Ação de Indignidade
• Prazo – 4 anos – abertura da sucessão
• Admite reabilitação, mediante perdão do ofendido
• Nem sempre os fatos são anteriores à morte do autor da herança
DESERDAÇÃO
QUESTÕES
01. EXAME XXXI Arnaldo faleceu e deixou os filhos Roberto e Álvaro. No inventário
judicial de Arnaldo, Roberto, devedor contumaz na praça, renunciou à herança,
em 05/11/2019, conforme declaração nos autos. Considerando que o falecido não
deixou testamento e nem dívidas a serem pagas, o valor líquido do monte a ser
partilhado era de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Bruno é primo de Roberto e
também seu credor no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais). No dia 09/11/2019,
Bruno tomou conhecimento da manifestação de renúncia supracitada e, no dia
29/11/2019, procurou um advogado para tomar as medidas cabíveis. Sobre esta
situação, assinale a afirmativa correta.
a) Em nenhuma hipótese Bruno poderá contestar a renúncia da herança feita
por Roberto.
b) Bruno poderá aceitar a herança em nome de Roberto, desde que o faça no
prazo de quarenta dias seguintes ao conhecimento do fato.
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c) Bruno poderá, mediante autorização judicial, aceitar a herança em nome
de Roberto, recebendo integralmente o quinhão do renunciante.
d) Bruno poderá, mediante autorização judicial, aceitar a herança em nome
de Roberto, no limite de seu crédito.
02. EXAME XXX Juliana, Lorena e Júlia são filhas de Hermes, casado com Dóris.
Recentemente, em razão de uma doença degenerativa, Hermes tornou-se
paraplégico e começou a exigir cuidados maiores para a manutenção de sua
saúde. Nesse cenário, Dóris e as filhas Juliana e Júlia se revezavam a fim de suprir
as necessidades de Hermes, causadas pela enfermidade. Quanto a Lorena, esta
deixou de visitar o pai após este perder o movimento das pernas, recusando-se a
colaborar com a família, inclusive financeiramente. Diante desse contexto,
Hermes procura você, como advogado(a), para saber quais medidas ele poderá
tomar para que, após sua morte, seu patrimônio não seja transmitido a Lorena.
Sobre o caso apresentado, assinale a afirmativa correta.
a) A pretensão de Hermes não poderá ser concretizada segundo o Direito
brasileiro, visto que o descendente, herdeiro necessário, não poderá ser privado
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de sua legítima pelo ascendente, em nenhuma hipótese.
b) Não é necessário que Hermes realize qualquer disposição ainda em vida,
pois o abandono pelos descendentes é causa legal de exclusão da sucessão do
ascendente, por indignidade.
c) Existe a possibilidade de deserdar o herdeiro necessário por meio de
testamento, mas apenas em razão de ofensa física, injúria grave e relações ilícitas
com madrasta ou padrasto atribuídas ao descendente.
d) É possível que Hermes disponha sobre deserdação de Lorena em
testamento, indicando, expressamente, o seu desamparo em momento de grave
enfermidade como causa que justifica esse ato.
01 02
D C
77
04. Sucessão legítima: falecido solteiro
SUCESSÃO LEGÍTIMA
A sucessão legítima é subsidiária da sucessão testamentária. Nestes termos,
o art. 1.788, CC dispõe:
Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos
herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem
compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o
testamento caducar, ou for julgado nulo.
78
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente,
salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou
no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no
regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge
sobrevivente;
IV - aos colaterais.
Desta forma, se “A”, solteiro, falece, deixando filho e pai vivos, a sucessão
regular-se-á da seguinte forma: o filho recebe toda a herança do pai e, seu avô
(pai do falecido), nada receberá, pois a classe mais próxima exclui a mais remota.
79
* Para todos verem: esquema
80
* Para todos verem: esquema
a. Descendentes
Os filhos herdam por direito próprio, por cabeça ou per capita, recebendo
quotas iguais e, os netos herdam por estirpe, a não ser que todos os filhos já
faleceram. Nesse caso, os netos, por estarem no mesmo grau, herdam por cabeça
ou direito próprio (sucessão avoenga).
81
EXEMPLOS:
1. Por direito próprio:
Cada filho receberá ¼.
* Para todos verem: esquema
2. Por estirpe:
* Para todos verem: esquema
82
3. Por direito próprio (dos netos):
* Para todos verem: esquema
b. Ascendentes
Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes. Não
se admite o direito de representação na linha ascendente (art. 1.852).
§ 1º - mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas;
* Para todos verem: esquema
Pai = ½ da herança.
Mãe = ½ da herança.
Se, contudo, A falece, deixando a mãe viva e sendo o pai premorto, mesmo
que tenha avós paternos vivos, sua mãe recolherá toda a herança.
83
§ 2º - linha paterna e materna (metade)
* Para todos verem: esquema
84
* Para todos verem: esquema
2. Herdeiros necessários
O art. 1.845, CC estabelece quem são os herdeiros necessários:
Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o
cônjuge.
1. descendentes
2. ascendente
3. cônjuge (o companheiro não é herdeiro necessário, mas sim,
facultativo)
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Herdeiros necessários são os que não podem ser afastados da sucessão
legítima por vontade do autor da herança. Possuem a garantia da legítima.
Legítima: a porção (a metade) que a lei reserva aos Herdeiros Necessários,
sobre o acervo existente, quando da abertura da Sucessão.
* Para todos verem: esquema
Cláusulas restritivas
O autor da herança, conforme determina o art. 2.014, CC pode definir quais
os bens e valores que comporão os quinhões hereditários de cada herdeiro:
Art. 2.014. Pode o testador indicar os bens e valores que devem compor os
quinhões hereditários, deliberando ele próprio a partilha, que prevalecerá,
salvo se o valor dos bens não corresponder às quotas estabelecidas.
86
alienados os bens gravados, convertendo-se o produto em outros bens,
que ficarão sub-rogados nos ônus dos primeiros.
Assim, apenas se houver justa causa é que essas cláusulas poderão ser
estabelecidas pelo de cujus via testamento. Essa justa causa deve ser trazida pelo
de cujus no testamento. Ex.: incomunicabilidade, pois o cônjuge do herdeiro
necessário é um caçador/caçadora de dotes, pq o cônjuge do herdeiro possui
filho fora do casamento e, em razão do regime da comunhão universal, esse filho
acabará por herdar o patrimônio do de cujus, etc. Inalienabilidade e
incomunicabilidade, pois o herdeiro é consumidor compulsivo e aposta em jogos
de azar, etc.
Art. 1.849.
Art. 1.849. O herdeiro necessário, a quem o testador deixar a sua parte
disponível, ou algum legado, não perderá o direito à legítima.
87
Herdeiros Facultativos: liberdade de testar é absoluta; a totalidade do
patrimônio por ser objeto de testamento.
3. Direito de representação
Existem duas maneiras diferentes de suceder:
a) Por direito próprio/cabeça;
b) Por representação.
Pressupostos (requisitos):
1) A morte do representado: não há representação de herdeiro vivo.
88
Exceção: ter sido declarado deserdado, indigno ou ausente. Não cabe na
renúncia.
2) Parentesco em linha descendente: o representante deve ser
descendente do representado, ou, EXCEPCIONALMENTE, colateral – filho do
irmão (sobrinho) do autor da herança. A descendência é a civil e não apenas a
biológica (adoção, também).
3) Capacidade sucessória do representante em relação ao representado:
(legitimação para herdar). Deve ter legitimação para herdar. Ex. O filho substitui
o pai morto na herança do avô (linha descendente); ou filho substitui o pai pré-
morto na sucessão de um tio (linha colateral). Importante ressaltar a isonomia
Constitucional: igualdade dos filhos.
4) Inexistir solução de continuidade no encadeamento de grau entre o
representante e o representado: não se opera per saltum et omisso médio. Ex. o
bisneto não representa o filho do autor da herança se ainda vive o neto deste.
5) Que reste, no mínimo um filho do de cujus ou, na linha colateral um
irmão do falecido. Se não a sucessão será por direito próprio.
Efeitos
A representação produz dois efeitos:
1) O representante (representantes) só pode herdar o que herdaria o
representado, se vivesse (se vivo fosse) (art. 1854, CC). A porção é a mesma;
2) O quinhão do representado partir-se-á por igual entre os
representantes (art. 1855, CC).
3) O renunciante à herança de uma pessoa pode inobstante representá-la
na sucessão de outra. Na renúncia, os descendentes do abdicante não herdam
por direito de representação (art. 1856, CC). Assim, os efeitos da renúncia não
passam da herança à qual houve manifestação de repúdio.
4) Os representantes estão obrigados a trazer à colação os bens doados ao
representado pelo autor da herança (art. 1791); quando os netos, representando
os pais, sucedem os avós, serão obrigados a trazerem colação, para igualdade de
89
legítima;
5) O representante é considerado um herdeiro legítimo (e necessário...
colaterais, não), com todos os direitos inerentes (direito da saisina – art. 1572 –
1.784), sendo igualitária sua posição relativamente aos co-herdeiros.
6) A responsabilidade do representante por dívidas do espólio se sujeita ao
benefício do inventário – responde por elas até o limite do quinhão;
7) A quota hereditária do representante não responde pelas dívidas do
representado, mas pelas do autor da herança.
8) O direito de representação se opera na sucessão legítima
(excepcionalmente, na testamentária, quando será chamada de substituição.
90
Irmãos germanos - ou bilateral (do mesmo pai e mesma mãe);
Irmãos unilaterais (só o pai ou a mãe em comum). São irmãos paternos ou
consanguíneos e maternos ou uterinos.
Posição:
O irmão unilateral recebe metade do que receberá o irmão bilateral;
- os filhos de irmão unilateral (sobrinhos do “de cujus”) recebem metade
do que receberão os tios.
- os filhos de irmão unilaterais recebem metade do que receberão os filhos
de irmão germanos.
EXEMPLOS:
1º Exemplo: Se o de cujus deixa três irmãos, sendo que um deles já falecido
com filhos, a herança será dividida em três partes, cabendo uma para cada irmão
vivo e a terceira deverá ser repartida entre os sobrinhos que herdarão por
representação. Receberão a parte que caberia ao pai, se vivo fosse.
2º Exemplo: o de cujus deixa um (1) irmão vivo; um irmão (pré-morto) com
dois filhos e outro irmão (pré-morto) com três filhos. Divide-se em três partes
iguais, correspondente às três estirpes.
3º Exemplo: o de cujus deixa 3 irmãos vivos, 1 irmão pré-morto com filhos e
outro irmão pré-morto sem filhos. Divide-se em quatro (4) partes.
4º Exemplo: o de cujus deixa três irmãos vivos; um irmão pré-morto com
filhos; outro irmão pré-morto, com um filho pré-morto que tem um filho vivo.
Divide- se em quatro (4) partes... sobrinho-neto não herda.
Linha Ascendente
Art. 1852: O direito de representação se dá na linha reta descendente; mas
nunca na linha ascendente. Se um filho, ao falecer, deixa o pai vivo e a mãe já se
encontra falecida, sem quaisquer herdeiros descendentes, o progenitor vivo será
contemplado com toda herança. Os progenitores maternos nada herdarão.
91
Na indignidade, deserdação e ausência
A pena ou punição restringe-se à pessoa do indigno ou deserdado, não se
estendendo a estranhos, ou aos parentes, que poderão representá-los.
Na ausência, não fica prejudicado o direito de representação dos filhos. (art.
22, CC e art. 745 CPC/2015)
92
EM RESUMO
* Para todos verem: esquema
QUESTÕES
01. EXAME XXVI Lúcio, viúvo, tendo como únicos parentes um sobrinho, Paulo, e um tio,
Fernando, fez testamento de acordo com todas as formalidades legais e deixou toda a
sua herança ao seu amigo Carlos, que tinha uma filha, Juliana. O herdeiro instituído no
ato de última vontade morreu antes do testador. Morto Lúcio, foi aberta a sucessão.
Assinale a opção que indica como será feita a partilha.
a) Juliana receberá todos os bens de Lúcio.
b) Juliana receberá a parte disponível e Paulo, a legítima .
c) Paulo e Fernando receberão, cada um, metade dos bens de Lúcio.
d) Paulo receberá todos os bens de Lúcio.
02. EXAME XXV Ana, sem filhos, solteira e cujos pais são pré-mortos, tinha os dois avós
93
paternos e a avó materna vivos, bem como dois irmãos: Bernardo (germano) e Carmem
(unilateral). Ana falece sem testamento, deixando herança líquida no valor de R$
60.000,00 (sessenta mil reais). De acordo com os fatos narrados, assinale a afirmativa
correta.
a) Seus três avós receberão, cada um, R$ 20.000,00 (vinte mil reais), por direito
de representação dos pais de Ana, pré-mortos.
b) Seus avós paternos receberão, cada um, R$ 15.000,00 (quinze mil reais) e
sua avó materna receberá R$ 30.000,00 (trinta mil reais), por direito próprio.
c) Bernardo receberá R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), por ser irmão
germano, e Carmem receberá R$ 20.000,00 (vinte mil reais), por ser irmã unilateral.
d) Bernardo e Carmem receberão, cada um, R$ 30.000,00 (trinta mil reais), por
direito próprio.
03. EXAME XXIV Lúcia, sem ascendentes e sem descendentes, faleceu solteira e não
deixou testamento. O pai de Lúcia tinha dois irmãos, que tiveram, cada qual, dois filhos,
sendo, portanto, primos dela. Quando do falecimento de Lúcia, seus tios já haviam
morrido. Ela deixou ainda um sobrinho, filho de seu único irmão, que também falecera
antes dela. Sobre a sucessão de Lúcia, de acordo com os fatos narrados, assinale a
afirmativa correta.
a) O sobrinho concorre com o tio na sucessão de Lúcia, partilhando-se por
cabeça.
b) O sobrinho representará seu pai, pré-morto, na sucessão de Lúcia.
c) O filho do tio pré-morto será chamado à sucessão por direito de
representação.
d) O sobrinho é o único herdeiro chamado à sucessão e herda por direito
próprio.
01 02 03
D B D
94
05. Sucessão legítima: falecido casado ou convivente em
união estável
5
Em 10/05/2017 o STF reconheceu repercussão geral em que entende inconstitucional a
diferenciação na sucessão do cônjuge e do companheiro.
*** ver decisões do STF nos RE 646721 e RE 878694
95
a) Abertura da Sucessão não estavam separados judicialmente:
Consumada a dissolução (separação ou divórcio) desaparecia o direito sucessório
entre eles. Sucessão pressupõe vínculo conjugal.
b) Nem separado de fato há mais de 2 anos: Salvo quando com a
convivência se tornara impossível e não houve a culpa do sobrevivente. Contudo,
a EC 66/2010 aboliu a discussão da culpa no direito de família. Desta forma, deve-
se entender, quanto a este dispositivo que, havendo separação fática
(independentemente do prazo), o cônjuge sobrevivente não herdará. A previsão
do prazo de 2 anos estava vinculada a exigência deste prazo para a realização do
divórcio direto. Como a EC 66/2010 possibilita a realização do divórcio tão logo
tenha havido o rompimento do casal, entende-se, com base em Tartuce (2012,
p. 151) que este prazo não mais deve ser considerado.
96
assim como as dívidas, se comunicam. Neste caso, como o cônjuge sobrevivente
é meeiro (tem direito a metade do patrimônio por direito), não há razão para
concorrência.
Exemplo:
* Para todos verem: esquema
- Patrimônio de R$100.000,00
- Meação: R$ 50.000,00
- Legítima: R$ 50.000,00
- A = R$ 25.000,00
- B = R$ 25.000,00
97
metade dos bens comuns e, quanto aos particulares, não terá direito a nada.
98
descendentes, dos bens particulares.
EXEMPLO:
* Para todos verem: esquema
Cônjuge
Meação – 50% sobre bens comuns
Herança – ¼ (25%) sobre bens
particulares
Filhos
Bens comuns = ¼ para cada
Bens particulares = 18,75% para cada
99
EXEMPLOS:
Patrimônio: R$ 10.000,00 (particulares)
R$ 100.000,00 (aqüestos)
Herança: R$ 60.000,00 (50 +10).
* Para todos verem: esquema
Art. 1.832
Cônjuge = 50% de meação + 1/4 da
herança em concorrência
Filhos = dividem ¾ da herança = 15%
para cada um
100
QUINHÃO DO CÔNJUGE QUE CONCORRE COM DESCENDENTES:
O art. 1.832, estabelece a proporção da concorrência do cônjuge
sobrevivente com os descendentes:
Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá
ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo
a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos
herdeiros com que concorrer.
101
FILHOS COMUNS E EXCLUSIVOS DO AUTOR DA HERANÇA = FILIAÇÃO
HÍBRIDA = o cônjuge sobrevivente herda em partes iguais
(independentemente do número de filhos). Neste caso, mesmo havendo filhos
comuns, não lhe é reservada a quarta parte da herança.
Mãe = 1/3
- Pai = ½
102
CÔNJUGE COMO HERDEIRO DA TOTALIDADE DOS BENS:
O Cônjuge sobrevivente, na falta de descendentes e ascendentes, recolhe a
totalidade da herança (e a meação): (deve estar casado). Exige-se que a relação
matrimonial não estivesse rompida no momento da abertura da sucessão.
O Cônjuge é herdeiro concorrente (necessário) com descendente e
ascendente; é herdeiro exclusivo (necessário), quando não há descendente e
nem ascendente. O cônjuge exclui os colaterais da sucessão.
Sucessão ao Cônjuge (repete o art. 1.603, III) é chamado à totalidade da
herança, a totalidade do acervo, qualquer que tenha sido o regime de bens.
DIREITO REAL DE HABITAÇÃO:
O art. 1.831, CC estabelece o direito real de habitação para o cônjuge
sobrevivente, independentemente do regime de bens:
Art. 1.831 Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens,
será assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o
direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência
da família, desde que seja o único daquela natureza a inventariar.
Neste caso, mesmo que o bem seja deferido, pelo inventário, a outro
herdeiro, caberá ao cônjuge o direito real de habitação, sendo, então, vedada a
venda deste imóvel (desde que seja o único daquela natureza a inventariar).
103
Ouça o podcast sobre o tema.
A concorrência sucessória do
cônjuge/companheiro sobrevivente
EM RESUMO
* Para todos verem: esquema
104
QUESTÕES
01. EXAME XXVIII Matheus, sem filhos, casado com Jane, no regime de comunhão
parcial de bens, falece após enfarto fulminante. De seu parentesco em linha reta são
ainda vivos Carlos, seu pai, e Irene, sua avó materna. A partir da situação acima,
assinale a opção que indica a sucessão de Matheus.
b) Serão herdeiros Carlos e Jane, atribuído quinhão de 2/3 ao pai e de 1/3 à Jane,
cônjuge concorrente.
c) Carlos será herdeiro sobre a totalidade dos bens, enquanto Jane apenas herda,
em concorrência com este, os bens particulares do falecido.
02. EXAME XXII Clara e Sérgio são casados pelo regime da comunhão parcial de bens.
Durante o casamento, o casal adquiriu onerosamente um apartamento e Sérgio
herdou um sítio de seu pai. Sérgio morre deixando, além de Clara, Joaquim, filho do
casal. Sobre os direitos de Clara, segundo os fatos narrados, assinale a afirmativa
correta.
01 02
D B
105
06. Sucessão testamentária: testamento em geral,
capacidade para testar, formas de testar
SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
• Se alguém falece sem deixar testamento sucessão legítima (sucessão
por força de lei) obedece a ordem da vocação hereditária.
• Se o testamento não compreender todos os bens do testador ou o
testamento for invalidado ou caducar também haverá sucessão legítima.
• Sucessão testamentária representa a vontade do testador.
• Se não foi feito testamento, presume-se que a pessoa tenha concordado
com a ordem da vocação hereditária.
• Sucessão legítima representa, portanto, a vontade presumida do
testador.
• Contudo, do ponto de vista quantitativo, no Brasil prevalece a sucessão
legítima (há a limitação da liberdade de testar).
1. Conceito:
A noção de testamento está clara no art. 1.857 e 1.858 do Código Civil, sendo
considerado um “ato personalíssimo e revogável pelo qual alguém dispõe da
totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte”
(GONÇALVES, 2012, p. 228).
Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade
dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
§ 1o A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no
testamento.
§ 2o São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial,
ainda que o testador somente a elas se tenha limitado.
Art. 1.858. O testamento é ato personalíssimo, podendo ser mudado a
qualquer tempo.
106
* capacidade de receber do herdeiro instituído ou legatário
* ato jurídico revestido das formalidades legais
2. Características:
a) Ato personalíssimo: é privativo do autor da herança. Não se admite
testamento por procuração.
b) Ato revogável (mudado a qualquer tempo): a expressão revogável é
mais adequada e correta; é a principal característica dos testamentos. A
revogabilidade é da essência do testamento.
c) Negócio jurídico unilateral: aperfeiçoa-se com a vontade única do
testador. Não há a necessidade de manifestação da vontade do beneficiário.
d) Unipessoal: um só agente pode testar, num só ato. O testamento de
mão comum é defeso em lei, visa garantir a liberdade das disposições e evitar o
pacto sucessório - proibido art. 1.863 CC. Assim é vedado o testamento conjuntivo
(mão comum), feito por duas ou mais pessoas, seja simultâneo (disposição
conjunta para beneficiar terceira pessoa), recíproco (instituindo benefícios
mútuos) ou correspectivo (disposições em retribuição de outras
correspondentes). Nada impede, contudo, que o casal faça cada um seu
testamento em que um deixa os bens para o outro. O que não pode é isso ser
feito em um mesmo ato. Podem fazer, no mesmo momento, mas em atos
diferentes.
107
e) Solene: é um negócio jurídico não apenas formal, mas provido de
formalidades essenciais, prescritas em lei. A solenidade assegura a existência, a
validade e a eficácia. O formalismo constitui garantia e salva-guarda à liberdade
de testar.
Exceção: testamento nuncupativo (de viva voz), admissível como espécie
de testamento militar (art. 1.896).
f) Gratuito: não exige do contemplado qualquer correspectivo,
contrapartida ou reciprocidade, ou seja, não há vantagens para o testador.
Mesmo que haja encargo para o beneficiário, o testamento segue sendo gratuito.
Está contida na unilateralidade. Não existe contra-prestação (exigível).
Entretanto, o herdeiro responde pelas dívidas (arts. 1.792 e 1.821).
g) Revogável: a vontade testamentária é essencialmente revogável (art.
1.969), é ato de última vontade, desde que não tenha sido modificado; A
revogabilidade é conceito legal e da essência do testamento. É irrenunciável a
liberdade de revogar ou modificar o testamento. Toda renúncia é considerada
não escrita. Pode, contudo, o testador, modificar o testamento a qualquer
momento e quantas vezes quiser (art. 1.858). Exceção: o testamento é irrevogável
com relação a cláusula na qual eventualmente o testador tenha reconhecido
filho fora do matrimônio (art. 1.609, III). Se houverem vários testamentos
sucessivos, feitos pelo mesmo testador, com seu falecimento, terá validade
apenas o último, a não ser que sirva para completar o anterior.
h) Patrimonialidade não necessária: serve para dispor de parte ou de
todo patrimônio (parte disponível), bem como para instituir herdeiros, deserdá-
los ou retratar a deserdação (1.857, § 2º).
i) Ato causa mortis: a morte do testador é condição de eficácia do
testamento, com imediata abertura do processo sucessório. Assim, o testamento
só produz efeitos com a morte do testador. A abertura da sucessão é essencial
para o cumprimento das disposições contidas no testamento.
108
3. Capacidade para testar: art. 1.860
A capacidade testamentária pode ser ativa (quem pode dispor) ou passiva
(quem pode adquirir por testamento). A capacidade do agente é requisito de
validade do testamento. O art. 104 do CC trata da validade do negócio jurídico:
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
O dispositivo legal dispõe sobre os que não podem testar, por não terem
discernimento, de forma que se subentende que todos os demais possuem
capacidade para testar. Assim, podem testar os cegos e os analfabetos, por
exemplo. A norma do art. 1.860 é restritiva e só abrangem os casos específicos,
não permitindo interpretação extensiva.
109
dos pais ou representantes legais para o feitio do testamento se dá em razão de
que o testamento é personalíssimo e só o maior de 16 anos mesmo poderá fazer
o testamento.
b) Por falta de discernimento: aquelas pessoas que não tem
discernimento não são amentais, ou seja, se encontram, momentaneamente,
fora de seu juízo perfeito, em razão de uma patologia (arteriosclerose, excessiva
pressão arterial, etc), embriaguez, uso de entorpecente, etc. Trata-se de uma
situação transitória.
c) Incapacidade testamentária dos relativamente incapazes: os
relativamente incapazes são proibidos de testar, exceto os maiores de 16 anos,
cujo § único do art. 1.860 prevê a possibilidade. Não podem testar, portanto os
ébrios habituais e os viciados em tóxicos, por não terem consciência dos atos
praticados. O surdo mudo só não testa se não conseguir expressar sua vontade.
O surdo, mas não mudo, poderá testar, conforme art. 1.866.
d) Hipóteses não geradoras da incapacidade: exceto as hipóteses
previstas no art. 1.860, todas as pessoas podem fazer testamento válido. A idade
avançada, por exemplo, não é suficiente para negar a capacidade testamentária.
O que determina a incapacidade testamentária é a falta de discernimento. Deve-
se destacar que, em razão do Estatuto da Pessoa com Deficiência, houve
alteração dos arts. 3.º e 4.º do CC. Sendo assim, os deficientes mentais não são
mais incapazes podendo, portanto, testar.
Observação:
• A capacidade deve ser verificada no momento da elaboração do
testamento.
• Na dúvida, decide-se pela validade do ato, em respeito ao princípio do in
dubio pro capacitate.
• Os Tribunais (STF, especialmente) têm entendido que para a decretação
da nulidade de testamento deverá haver prova inequívoca da incapacidade do
testador.
110
b. Momento em que se exige a capacidade - capacidade
superveniente (art. 1.861)
A capacidade, o juízo perfeito deve existir na época da elaboração do
testamento. Neste instante que deve ser aferida.
Se no momento de realizar o testamento o testador tinha lucidez, o ato será
válido, mesmo que perca o juízo após a lavratura do ato. Se, contudo, no
momento de realizar o testamento o testador estava embriagado, por exemplo,
mesmo que no dia seguinte esteja curado, o testamento será nulo. Neste caso,
somente testando novamente para que o ato não seja nulo (ver art. 169, CC – o
negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação).
c. Impugnação da validade do testamento (art. 1.859)
A validade do testamento só pode ser discutida/questionada após a morte
do testador. Enquanto estiver vivo, não há o que se discutir, mesmo porque o
testamento pode ser alterado.
Assim, prevê o art. 1.859 que extingue-se em 5 anos o prazo para impugnar
a validade do testamento, contando da data do seu registro. O lapso quinquenal
é contado da Ação de Registro, Abertura e Cumprimento do Testamento (arts.
735 a 737 do CPC/2015). A ação de Registro só pode ser proposta a partir do óbito.
Por sua vez, o art. 1.909 afirma que são anuláveis as disposições
testamentárias que sejam viciadas por erro, dolo ou coação, extinguindo-se em
4 anos o direito de anular a disposição a partir do momento em que o interessado
tiver conhecimento do erro.
Significa dizer, portanto, que, ainda que se trate de um testamento nulo
(realizado sem a observância da forma legal ou que o testador deliberou
mediante dolo) só pode ser anulado até 4 anos após a ciência do vício.
4. Formas ordinárias de testamento
Art. 1.862 – testamento ordinário: público, particular e cerrado; Art. 1.886 –
testamentos especiais: marítimo, aeronáutico e militar.
Se o testamento não for feito através das formas e solenidades estabelecidas
na lei, O ATO SERÁ NULO DE PLENO DIREITO, SEM PRODUZIR QUALQUER
111
EFEITO (art. 104, III). O que se percebe, portanto, é que ao lado do casamento, o
testamento é um dos atos mais solenes do direito brasileiro, não admitindo outra
forma que não a prevista em lei. Neste caso, aplica-se o art. 166, IV - não revestir a
forma prescrita em lei, de forma que será inválido o testamento que não observar
a forma prescrita em lei.
112
Requisitos – Art. 1.864 CC:
1. Lavratura do ato notarial pelo Tabelião. O ato é privativo do notário
(tabelião) ou seu substituto legal.
2. Presença de testemunhas – (número = 2). As testemunhas devem
presenciar todo o ato e ter capacidade plena.
3. Leitura do Testamento. Tão logo seja redigito o testamento, este deve
ser lido pelo Tabelião, na presença do testador e das testemunhas ou pelo
testador, na presença do Tabelião e das testemunhas. Esse requisito é
fundamental e serve para que se verifique a coincidência da vontade do testador
e o que se encontra expresso no testamento. Deve ser feito em ato contínuo, de
forma que as testemunhas acompanhem todo o processo (declaração do
testador, redação e leitura). No caso do cego (art. 1.867) a leitura deve ser feita
duas vezes: uma pelo Tabelião e outra por uma das testemunhas (designada pelo
testador). Não pode fazer testamento público o surdo e o surdo-mudo. Podem
fazê-lo o surdo, o analfabeto, o cego e o alfabetizado.
4. Assinaturas. Depois de lido o testamento, deve ser coletada a
assinatura do testador, das testemunhas e do Tabelião.
113
presença de 2 testemunhas.
Art. 1.872 – O testador deverá saber ler, pois precisa ter meios de se certificar
que, no caso de terceiro redigir o testamento a seu rogo, seguiu corretamente e
fielmente as suas instruções. Neste caso, o testador pode não saber escrever, mas,
necessariamente, deve saber ler.
Art. 1.873 – O surdo-mudo pode fazer testamento cerrado, desde que
escreva e assine.
Requisitos:
O art. 1.868, CC estabelece os requisitos e formalidades do testamento
cerrado. O testamento cerrado se compõe de algumas fases:
a) a elaboração do testamento. O Tabelião pode escrever e aprovar o
testamento (1.870). Assinatura do testamento é imprescindível. Entrega ao
Tabelião, acompanhado de 2 testemunhas. Requer a lavratura do auto de
aprovação (art. 1.869).
b) entrega do testamento. O testamento deve ser entregue pessoalmente
pelo testador ao tabelião, constituindo-se de ato personalíssimo, não admitindo
a utilização de portador.
c) Participação das testemunhas. As testemunhas participam do ato de
entrega do testamento, mas não precisa que conheçam o seu conteúdo.
d) Lavratura do auto de aprovação pelo Tabelião. Depois de aprovado, o
auto de aprovação será lido pelo oficial e assinado pelas Testemunhas, Testador
e Tabelião. O auto de aprovação deve vir, conforme o art. 1.869, CC, logo após a
última palavra do testador. A solenidade de aprovação deve ser feita sem
interrupções.
e) Cerramento. Trata-se da última fase do testamento cerrado. O tabelião
dobra a cédula e costura-a com cinco pontos de retrós e lança pingos de lacre
sobre cada um. Se houver o rompimento do lacre pelo testador, não terá validade
o testamento. Se for feito o rompimento contra a vontade do testador, deverão
os interessados demonstrar ao juiz tal fato, para que não anule o ato.
114
Abertura, registro e cumprimento.
O art. 1.875, CC dispõe acerca da abertura, registro e cumprimento do
testamento cerrado. Assim, falecendo o testador, deverá o testamento ser
apresentado ao juiz que o abrirá, o fará registrar e determinará seu cumprimento.
Deve-se observar, portanto, que, quem abre a cédula testamentária
devidamente cosida é o juiz. Será extraída cópia autêntica do testamento para
juntar ao inventário.
Art. 735, CPC/2015 = se não houver vício externo que o torne suspeito de
nulidade ou falsidade, o juiz abre o testamento e mandará que o escrivão leia na
presença do apresentante. Depois de ouvido o MP, estando tudo nos conformes,
o juiz mandará registrar, arquivar e cumprir o testamento. Uma vez registrado o
testamento, deverá o testamenteiro (indicado ou dativo) assinar o termo de
testamentaria.
Testamento dilacerado (1.972): ter-se-á como revogado. É o risco desta
modalidade de testamento: uma deterioração ou dilaceramento acidental.
Requisitos:
O art. 1.876 apresenta os requisitos e formalidades do testamento
particular.
a) Deve ser escrito e assinado pelo testador.
b) Inquirição das testemunhas em juízo (confirmar o testamento);
c) Pode ser feito em idioma estrangeiro;
d) A lei permite que terceira pessoa redija, pois pode ser datilografado;
115
e) Se for escrito a mão, deverá ser feito pessoalmente pelo testador.
f) Uma testemunha pode confirmar (Leite, 393).
g) Leitura e assinatura de 3 testemunhas
e. Testemunhas instrumentárias
A atuação das testemunhas no testamento tem a função de conferir
validade ao ato.
Em princípio, todas as pessoas capazes, podem ser testemunhas. Contudo,
o art. 228, CC determina as pessoas que não podem ser testemunhas (cuidado
com as alterações do Estatuto da Pessoa com Deficiência):
Art. 228. Não podem ser admitidos como testemunhas:
I - os menores de dezesseis anos;
II - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) III -
(Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) IV - o
interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes; V -
os cônjuges, os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o terceiro
grau de alguma das partes, por consangüinidade, ou afinidade.
§ 1º Para a prova de fatos que só elas conheçam, pode o juiz admitir o
depoimento das pessoas a que se refere este artigo.
§ 2º A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igualdade de
116
condições com as demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos os
recursos de tecnologia assistida. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)
(Vigência)
Formas:
- é hológrafo; simplificada; sem formalidades;
- é válido datilografado, desde que datado e assinado pelo testador;
- não exige testemunhas;
- pode ser escrito por meios mecânicos (jurisprudência dominante);
- deve ser escrito pelo disponente ou por terceiro;
- não exclui a forma pública, embora indique a particular.
Execução:
As mesmas regras do testamento particular. Se público ou cerrado, segue-
se as normas de execução destes (art. 737, § 3.º, CPC/2015).
117
Art. 1885 – Se fechado, para manter secreto, a abertura se processa como o
testamento cerrado: será aberto pelo juiz que fará registrar.
Consequências:
Art. 1.882 – O codicilo pode ser autônomo, ou pode existir como parte
integrante de um testamento.
- Não revoga testamento. Por este é revogável (1.884);
- É revogável por outro codicilo;
- Mais de um codicilo: Na dúvida, vale a última disposição;
- É válido exista ou não testamento;
- Sendo o codicilo parte integrante ou complementar do testamento,
anulado ou revogado este, deixa de existir aquele;
- As regras da capacidade no testamento valem para o codicilo.
Seu registro e cumprimento se dará de acordo com o art. 737, § 3.º, CPC/2015,
obedecendo as regras do testamento particular.
118
a. Marítimo
É a declaração de última vontade, feita a bordo de navios, embarcações: em
alto mar. Pode ser feito pelos tripulantes ou pelos passageiros (art. 1.888).
Justifica- se em caso de emergência e necessidade. Não prevalece se a
embarcação estiver em local onde o testador poderia ter desembarcado e
testado de forma ordinária (art. 1.892). Caducará se o testador não morrer em
viagem, nem nos 90 dias subsequentes ao seu desembarque em terra, onde
possa fazer, na forma ordinária, outro testamento (art. 1.891).
Requisitos
- viagem realizada em navio nacional (extensão do território nacional);
- navio de guerra ou mercante (transporte de pessoas de um porto a
outro).
- testador esteja a bordo do navio.
- cédula testamentária seja registrada no diário de bordo.
- testamento fique sob a guarda do comandante.
Formas
- na forma do Público ou cerrado;
- exige apenas duas testemunhas;
- será lavrado, em regra, pelo Comandante;
- se o testador não puder assinar, alguém assina a rogo;
- o registro do testamento será no diário de bordo: parágrafo único, do art.
1888.
119
Formas e requisitos
- público ou cerrado, nos termos do art. 1.888, CC
- requisitos: os mesmos do marítimo.
- o comandante não se envolve na elaboração do testamento pois está
conduzindo a aeronave.
Caducidade: Efemeridade
Art. 1.891 – Caducará: Tem eficácia temporal e condicional:
a) não morrer na viagem;
b) 90 dias subsequentes ao desembarque não testar da forma ordinária
c) É nulo o testamento feito em portos – neste caso, poderia ser feito
através de uma forma ordinária de testamento. Tem que ser em alto mar (Art.
1892).
Requisitos
- Que a Força esteja “em campanha” (dentro ou fora do país) – mesmo
missão de paz.
- Que o testador esteja participando da guerra, em campanha, sem
possibilidade de se afastar para realizar o testamento pela forma ordinária.
- Qualquer pessoa envolvida – civil ou militar.
120
- Que não haja, no local, um tabelionato onde o testador possa dispor de
seus bens através de testamento público.
- Que a situação de perigo seja real.
Formas
Pode ser de 3 formas: público, cerrado ou nuncupativo.
- Público: o comandante da tropa ou diretor do hospital ou oficial de
saúde funcionará como tabelião. Lavrado perante duas testemunhas ou por três,
caso o testador não saiba assinar (uma delas assinará a rogo).
- Cerrado: o testador entregará o escrito, devidamente assinado, ao oficial
de patente mais acima, que o datará, indicará o lugar em que lhe foi apresentado,
assinando-o com as duas testemunhas, devolvendo-o ao apresentante.
- Nuncupativo: é feito de viva voz, perante duas testemunhas, por alguém
que esta empenhada em combate ou ferida, ou seja, a pessoa está exposta a risco
de vida e impossibilitada de usar a forma escrita. Se findar a guerra ou o testador
convalescer, cessarão os motivos que autorizam esta forma de testamento.
As declarações são feitas a duas testemunhas: que devem escrevê-las e
confirmar em juízo. É exceção e possui o risco, pois se o testador falecer, ficará
nas mãos das testemunhas.
121
Sucessão testamentária
Ouça o podcast sobre o tema.
EM RESUMO
* Para todos verem: aqui
122
07. Sucessão testamentária: disposições testamentárias,
legados, substituição testamentária, redução de disposições
testamentárias, revogação de tratamento, rompimento de
testamento. Inventário e partilha
a. Interpretação do testamento:
Quando da interpretação das cláusulas testamentárias, deve-se atentar para
buscar a verdadeira intenção do testador, ainda que não tenha se saído bem com
as palavras escritas. É nesse sentido a determinação do art. 1.899, CC.
b. Regras proibitivas:
• Nomeação a termo: Art. 1898
A designação do tempo: é vedada, com exceção do Fideicomisso. É cláusula
não escrita. A herança se transmite imediatamente, a partir do óbito. Aberta a
sucessão o herdeiro não tem o que aguardar.
Reafirma o princípio da saisine – a herança transmite-se com a morte.
Nesse caso, não há o prejuízo da nomeação em si, mas sim da designação
do termo (inicial ou final).
• Instituição de herdeiro sob condição captatória: Art. 1.900, I
Não admite nenhuma espécie de pacto sucessório (vedação de contrato que
tenha por objeto herança de pessoa viva – art. 426, CC).
Essa condição captatória “é a que representa um induzimento, mediante
nomeação e favorecimento de outrem, como herdeiro, para que este também
inclua o captador, ou terceiro, em suas disposições testamentárias, como
beneficiário” (Gonçalves, p. 331).
123
Ex.: lego tal quantia para Fulano se ele me contemplar em seu testamento.
Ex.: deixo a Fulano, que instituo como meu herdeiro, o quanto ele me
transmitir em seu testamento.
Essa vedação é em razão de que a instituição de herdeiro deve ser através
da plena liberdade e vontade do testador e, sendo possibilitada essa hipótese,
poderia haver influência do captador sobre o testador.
• Referência a pessoa incerta: Art. 1.900, II
Não há como ser cumprido um ato de disposição de última vontade se o
beneficiário não puder ser identificado. Nesse sentido, não é válida a disposição
testamentária em que conste: “beneficio meus amigos” ou “beneficio a pessoa
mais digna da cidade”. Trata-se de expressões vagas, de forma que não há como
precisar quem é a pessoa que o testador pretende beneficiar.
Quanto mais claro, melhor será. Contudo, não é preciso indicar o nome da
pessoa, desde que existam características possíveis de identificar o beneficiário.
Ex.: deixo x% dos meus bens para o primeiro filho da minha irmã Fulana, que
nascer após a minha morte.
• Beneficiar pessoa incerta, a ser identificada por terceiro: Art. 1.900, III
É simples. Neste caso, não seria uma liberalidade personalíssima do falecido,
mas sim do terceiro, que determinaria quem seria beneficiado.
• Beneficiar ao herdeiro, ou a outrem, da prerrogativa de fixar o valor
do legado: Art. 1.900, IV
É simples. Neste caso, não seria uma liberalidade personalíssima do falecido.
Quem deve fixar o valor do legado é o testador e não terceiro, ainda que a sua
ordem.
Ex.: A, B e C são meus herdeiros, cada um com a proporção que Fulano
decidir.
• Beneficiar às pessoas indicadas nos arts. 1.801 e 1.802: Art. 1.900, V
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou
companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
124
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver
separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem
se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento.
Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não
legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato
oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os
descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado
a suceder.
c. Regras permissivas:
• Nomeação pura e simples: art. 1897
Puro e simples: não tem condição suspensiva e nem resolutiva. Não há
qualquer encargo, condição ou contraprestação.
Ex.: nomeio Fulano como meu herdeiro, que receberá x% da minha
herança.
• Nomeação sob condição: art. 1897
Condição é acontecimento futuro e incerto do qual depende a eficácia do
negócio jurídico.
Ex.: deixo minha casa para Marcelo se ele me sobrevier.
Se houver uma condição suspensiva a aquisição do direito pelo herdeiro
dependerá do implemento da condição. O implemento da condição terá efeito
retroativo (ex tunc). Se não houver o implemento da condição, a cláusula
testamentária caducará.
Ex.: Fulano receberá “x valor” mensal enquanto for estudante de direito.
Neste caso, havendo uma condição resolutiva, se Fulano parar de estudar,
não mais receberá o valor definido pelo testador.
• Nomeação com a imposição de encargo: art. 1897
A herança pode vir subordinada a um encargo que o beneficiário deverá
cumprir, caso aceite a herança.
Ex.: instituo Fulano como meu herdeiro, que receberá x% do meu
patrimônio, com o encargo de alimentar Cicrano até os 24 anos de idade.
125
Há discussão doutrinária e jurisprudencial quanto ao descumprimento do
encargo e a perda da validade da disposição testamentária. A maioria da doutrina
entende que, descumprido o encargo, os interessados deverão propor ação
judicial para que seja declarada a ineficácia da deixa testamentária.
• Disposição motivada: art. 1897
É possível a nomeação de herdeiro por certo motivo. O testador ao nomear
alguém como seu beneficiário não é obrigado a indicar o motivo, mas, caso
queira, não pode haver a confusão com obrigação modal (de encargo), pois se
trata de fatos passados.
Ex.: nomeio Fulano como meu herdeiro, pois foi ele quem salvou a vida do
meu filho no acidente de carro sofrido em 2006.
• Disposição com cláusulas de inalienabilidade: art. 1.911
O art. 1.911 dispõe sobre a possibilidade de o testador estabelecer ônus ou
gravame sobre os bens que integram a herança. Essa cláusula de inalienabilidade
que pode ser imposta, traz como consequência a impenhorabilidade e a
incomunicabilidade desses bens.
Trata-se, portanto, da transferência do domínio de forma limitada.
Quando se faz a interpretação do art. 1.911 em conjunto com o art. 1.848,
verifica-se que a restrição imposta ao testador de justa causa, refere-se tão
somente a imposição de cláusulas para a legítima. Quanto ao testamento ou
legado, não há a imposição de justa causa.
126
b) distinguir a verdadeira vontade do de cujus;
c) proteger o de cujus contra decisões precipitadas.
3. Rompimento do testamento
Ocorre a ruptura do testamento quando “há a superveniência de uma
circunstância relevante, capaz de alterar a manifestação de vontade do testador,
como, verbi gratia, o surgimento de um herdeiro necessário” (Gonçalves, p. 457)
Enquanto a revogação depende da vontade do testador, o rompimento
independe de sua vontade, sendo determinado pela lei.
127
c. Subsistência do testamento se conhecida a existência de herdeiros
necessários (1.975)
Se o testador dispõe somente de sua metade disponível, a exclusão dos
herdeiros necessários não implica na ruptura do testamento.
Se o testador avançou na legítima do herdeiro necessário de que tinha
conhecimento, o testamento não se rompe, mas reduz-se a liberalidade, para o
efeito de restaurar por inteiro a quota legalmente reservada.
4. Revogação do testamento
CADUCIDADE – o ato perde a validade por uma causa que o esvazia, ou em
razão de um fato que lhe retira o objeto.
NULIDADE – há um vício, embora as consequências sejam idênticas: deixa
de existir a disposição testamentária, ou se invalida, ou perde todo o efeito.
Entretanto, a nulidade depende de declaração judicial, enquanto a revogação é
ato unilateral.
REVOGAÇÃO – O testamento é essencialmente revogável. Trata-se de
mudança na redação feita pelo próprio testador.
a. Espécies de revogação
REVOGAÇÃO EXPRESSA: dá-se mediante a confecção de novo testamento,
onde é indispensável mencionar a revogação do anterior, ou parte dele. Observa-
se a mesma solenidade pra a celebração (art. 1.969 CC). Não é necessário que a
revogação seja efetuada por outro testamento da mesma modalidade, mas,
necessariamente, tem de ser feita por outro testamento. Ex: testamento
marítimo pode revogar público; cerrado pode revogar particular.
REVOGAÇÃO TÁCITA: decorre do surgimento de novo testamento, cujos
dizeres e o conteúdo apresentam-se incompatíveis com o anterior. Ante a
contradição, permanece sempre a disposição mais recente. O simples fato de
existir novo testamento não significa que tenha revogado o anterior. Ambos
podem coexistir, desde que não sejam contraditórios, ou seja, desde que se
128
complementem.
b. Formas de revogação:
Segundo o art. 1.970, CC, a revogação do testamento pode se dar de forma
total ou parcial.
1) Total = revogação pura e simples: declara-se, em novo testamento, a
revogação do anterior, não fazendo qualquer limitação ou reserva.
2) Parcial: limita-se ao tópico atingido – art. 1.970 CC
3) A revogação de um testamento, mas existindo outro, sem que a este haja
alguma referência, leva a concluir quanto à revogação de apenas um,
perdurando o outro.
4) A revogação do testamento de reconhecimento de filho é válida.
Contudo, revoga-se o testamento, não a declaração de reconhecimento –
esta é intangível – única forma irrevogável do testamento.
5) O novo testamento não atinge os legados, pois estes são especificações
dos bens.
c. Efeitos da revogação:
- priva-se o testamento de qualquer eficácia, se total, ou da eficácia na
parte atingida, se parcial;
- passa a vigorar a sucessão (legítima) hereditária, em todos os seus
efeitos.
129
do interessado.
O erro, obstáculo e a violência física determinam a nulidade e não a simples
a nulidade do testamento, visto que determinam a falta de vontade, não sendo,
rigorosamente, vícios de consentimento.
Certas formas testamentárias excluem a possibilidade de ocorrência de
alguns vícios de vontade.
O erro determina a anulabilidade quando se dá:
a) nos motivos;
b) na designação;
c) na indicação dos bens.
a. Situações OU Classificação:
Legado de coisa alheia – não pode o testador legar coisa certa que não lhe
pertença no momento da abertura da sucessão (art. 1.912).
Exceções:
130
Art. 1.912 – será válido o legado de coisa alheia, se a coisa, mesmo não
pertencendo ao testador na época do testamento, após o testamento, vier a
integrar o patrimônio do testador.
Art. 1.913 – o testador determina que o herdeiro entregue bem seu (dele
herdeiro) a terceira pessoa. Trata-se, na verdade, de um encargo que, se não
cumprido, equivale à renúncia.
Art. 1.915 – confuso. Como deve o herdeiro cumprir o legado.
Legado de crédito. Art. 1.918 – trata-se de uma cessão de crédito, em que o
legatário substitui o testador e primitivo credor e pode promover a respectiva
cobrança.
Legado de alimentos. Art. 1.920 – engloba o sustento, a cura, o vestuário e a
casa, enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor. Via de regra,
cabe ao testador fixar o valor. Caso não o faça, o Juiz deverá fixar estes alimentos,
atendendo para as forças da herança e para as necessidades do alimentário.
Exemplo: compelir herdeiro a pagar alimentos a terceiros.
c. Direito de Pedir:
Desde a morte do testador o legatário tem direito de pedir a coisa deixada
por legado art. 1.923 CC.
131
(nulidade pressupõe um vício de origem) (Leite, p. 560)
Não se confunde com revogação. Nesta, há uma declaração de vontade. Na
caducidade, ocorre a perda da eficácia, total ou parcial, da disposição
testamentária, por fato alheio à vontade do testador.
Formas de caducidade dos legados – Hipóteses de caducidade – art.
1.939:
a) herdeiro ou legatário pré-morto;
b) um dos beneficiários recusa sua parte na herança ou abre mão do
legado;
c) quando o herdeiro é afastado por qualquer causa de exclusão por
indignidade.
132
Exemplos:
* Para todos verem: esquema
Sucessão testamentária:
Se o falecido tiver deixado 10% de seu patrimônio (ou uma casa) para A e B,
a herança será dividida: 90% (por sucessão legítima), entra A, B e C (30% para cada
um); 10% entre A e B. Como, neste caso, o testador não deixou expresso como
seria a divisão dos 10% entre A e B, caso B faleça, A receberá todos os 10% (pelo
direito de acrescer). Diferente será se o falecido disser: “Deixo 10% do meu
patrimônio para A e B, em parte iguais” (ou em qualquer percentual definido).
Neste caso, não haverá o direito de acrescer.
Desta forma, o direito de acrescer, na sucessão testamentária, ocorrerá na
hipótese do art. 1.941, CC – caso do exemplo acima – ou, ainda, no caso do art.
1.942, CC – quando os nomeados em conjunto receberem uma só coisa (legado)
133
ou quando esta não puder ser dividida sem risco de desvalorização.
Art. 1.941. Quando vários herdeiros, pela mesma disposição testamentária,
forem conjuntamente chamados à herança em quinhões não
determinados, e qualquer deles não puder ou não quiser aceitá-la, a sua
parte acrescerá à dos co-herdeiros, salvo o direito do substituto.
Art. 1.942. O direito de acrescer competirá aos co-legatários, quando
nomeados conjuntamente a respeito de uma só coisa, determinada e
certa, ou quando o objeto do legado não puder ser dividido sem risco de
desvalorização.
b. Fundamentos:
a) Decorrência da vontade presumida do testador – quando nomeia vários
beneficiários pela mesma disposição testamentária, para toda a herança ou parte
dela, sem determinar a porção de cada um; ou quando deixa a vários legatários
a mesma coisa ou parte dela. Presume-se que ele desejava que se um faltasse, os
demais ficassem com a herança.
b) Quando ocorre o direito de acrescer, o acréscimo é forçado, pois não
pode o beneficiário (co-herdeiro ou co-legatário) aceitar sua parte e renunciar ao
direito de acrescer. Ademais, nos termos do art. 1.943, § único, os co- herdeiros ou
co-legatários, aos quais acresceu o quinhão daquele que não quis ou não pôde
suceder, ficam sujeitos às obrigações ou encargos que o oneravam.
134
c. Pressupostos:
Para que ocorra o direito de acrescer, alguns pressupostos ou requisitos
devem estar presentes:
a) Nomeação de vários herdeiros ou legatários na mesma disposição
testamentária;
b) Atribuição sem discriminar as porções ou o quantum, no mesmo bem
ou porção de bens.
c) A falta ou impossibilidade de herdar de um herdeiro ou legatário
instituído no testamento.
d) O testamento não pode ter indicado uma pessoa determinada para que,
na falta do herdeiro ou legatário, receba sua parte – não pode haver substituto.
e) Indivisibilidade do bem, no caso de legados.
f) Indeterminação das quotas hereditárias.
135
e. Direito de acrescer entre co-herdeiros
Quando os co-herdeiros, pela mesma disposição de um testamento, são
conjuntamente chamados à sucessão em quinhões não determinados.
Ex.: Marília e Vinicius são meus herdeiros em 20% de meus bens.
Esta disposição estabelece uma solidariedade, uma conjunção entre
herdeiros (RET ET VERBIS – UMA SÓ FRASE DE DISPOSIÇÃO).
Daí necessário que estejam presentes 3 (três) elementos:
a) a instituição de herdeiros numa só cláusula;
b) a identidade de bens ou quotas hereditárias;
c) indeterminação das quotas hereditárias.
g. Legado de usufruto
Testamento institui o exercício do usufruto em favor de duas ou mais
pessoas. O usufruto é o direito de usar e gozar da coisa, por tempo certo ou
vitaliciamente. Haverá o direito de acrescer quando a nomeação for conjunta,
sem especificação das quotas. Assim, são requisitos: a) que haja a nomeação
conjunta, sem especificar as frações em que incide o usufruto; b) sempre sobre
um bem individuado.
7. Substituições testamentárias
O testador pode, além de estabelecer o beneficiário de seu testamento,
instituir o substituto, ou seja, a pessoa que, na impossibilidade do herdeiro
136
testamentário (ou legatário) de herdar (seja por já ser falecido ou por não aceitar
a herança, p.ex.), herdará em seu lugar. É o que estabelece o art. 1.947, CC:
Art. 1.947. O testador pode substituir outra pessoa ao herdeiro ou ao
legatário nomeado, para o caso de um ou outro não querer ou não poder
aceitar a herança ou o legado, presumindo-se que a substituição foi
determinada para as duas alternativas, ainda que o testador só a uma se
refira.
a. Substituição vulgar
Quando o testador designa uma ou mais pessoas para ocupar o lugar do
herdeiro ou legatário que não quiser ou não puder aceitar o benefício.
Trata-se de uma instituição condicional (que só ocorre que o beneficiário
não puder ou não quiser receber) e subsidiária (só produz efeitos se a disposição
principal não produzir efeitos). Estabelece a vocação direta, pois o substituto
herda diretamente do falecido.
A substituição vulgar pode ser:
a) Simples ou singular, um só substituto para um ou muitos herdeiros
instituídos
b) Coletiva ou plural, quando há mais de um substituto a ser chamado
simultaneamente
c) Recíproca, quando são nomeados dois ou mais beneficiários,
estabelecendo que reciprocamente se substituam. Neste caso, os herdeiros
recolherão a cota do que faltar.
137
deveres, sujeitando-se, inclusive, a condição ou encargo imposto ao substituído.
b. Substituição fideicomissária
Trata-se das situações nas quais o testador estabelece um beneficiário, mas
com a incumbência de, após, por sua morte, ou em vida, transmitir o bem a outra
pessoa, inclusive sob certa condição.
Existem três figuras: a) Fideicomitente – o instituidor, testador, doador; b)
Fiduciário (ou gravado) – que recebe o bem para, após, efetuar a transmissão; c)
Fideicomissário (ou substituto) – pessoa que recebe o bem quando da morte do
fiduciário.
O testador fixa o tempo do fideicomisso: vitalício (até a morte do fiduciário);
a termo (em tempo prefixado pelo testador) ou condicional (se depender de
implementação de alguma condição resolutiva).
Trata-se de uma vocação dupla, pois tanto o fiduciário, quanto o
fideicomissário se tornam titulares da herança. O fiduciário enquanto estiver vivo
ou não ocorrer a condição ou termo. O fideicomissário após estes períodos.
Há direito de acrescer – art. 1.956, CC: Se o fideicomissário aceitar a herança
ou legado, terá direito a receber também aquilo que acresceu aos fiduciários.
É proibido o fideicomisso sucessivo, ou seja, não pode o testador deixar o
bem para A, com o dever de, com sua morte, transmitir para B e este, para C. A
cláusula não será totalmente nula. Quando A falecer, B adquirirá a propriedade
do bem.
138
Assim, deve-se apurar o valor total do patrimônio na data da abertura da
sucessão, abatidas as dívidas e despesas de funeral, adicionando-se os bens
sujeitos a colação (art. 1.847, CC). A partir daí, o valor líquido é divido em duas
metades – uma delas a legítima e a outra, a parte disponível. Os valores que
ultrapassarem a metade disponível devem ser reduzidos, proporcionalmente,
nos termos do art. 1.967, CC.
Ordem: 1) herdeiro instituído (ou proporcionalmente, se houver mais de um);
2) legatário, na proporção do seu valor; 3) redução das doações (começando pela
mais nova ou proporcionalmente se forem na mesma data).
O testador pode, ainda, estabelecer forma diferente para a redução (§ 2.º):
§ 2o Se o testador, prevenindo o caso, dispuser que se inteirem, de
preferência, certos herdeiros e legatários, a redução far-se-á nos outros
quinhões ou legados, observando-se a seu respeito a ordem estabelecida
no parágrafo antecedente.
9. Testamenteiro:
Testamenteiro é o executor do testamento. É a pessoa que o de cujus
encarrega de fazer cumprir suas disposições de última vontade.
O testador pode nomear um ou mais testamenteiros, conjuntos (quando a
139
atuação é conjunta, cumulando funções) ou separados (quando o exercício da
testamentaria é feito uns em falta dos outros).
Testamentaria – conjunto de funções que são realizadas pelo
testamenteiro, o complexo de direitos e obrigações.
Trata-se de encargo complexo na execução do testamento – não é múnus
ou função pública, mas encargo de ordem privada, de caráter facultativo. Há
ampla liberdade de escusar-se à testamentaria. Um ou mais, conjuntos ou
separados, para cumprir a última vontade.
a. Espécies de testamenteiro:
O testamenteiro pode ser:
• Instituído: quando o testador o nomeia
• Dativo: quando não havendo testamenteiro nomeado ou, se o nomeado
recusar a testamentaria, o juiz nomeia alguém para o encargo – art. 735, § 4.º,
CPC/2015.
• Testamenteiro universal: a quem se confere a posse e a administração
da herança ou de parte dela, caso não haja herdeiros necessários – art. 1.977. O
art. 1.978 determina que o testamenteiro universal pode requerer o inventário e
cumprir o testamento.
• Testamenteiro particular: não desfruta do direito de posse ou
administração da herança por não tê-los ou por tê-los perdido.
b. Nomeação do testamenteiro:
O testamenteiro pode ser nomeado no próprio testamento ou codicilo. O
testador pode, ainda, instituir um ou vários testamenteiros para atuar em
conjunto ou em separado. Se não houver testamenteiro, o cumprimento do
testamento deverá ser cumprido pelo cônjuge ou companheiro sobrevivente ou
qualquer herdeiro. Se não houver testamenteiro, o juiz nomeará dativo,
obedecendo a ordem (§ 4.º, art. 735, CPC/2015).
140
c. Aceitação do encargo:
A pessoa que é nomeada testamenteira pode aceitar ou não o encargo. Em
se tratando de um múnus privado ninguém é obrigado a exercer.
d. Atribuições do testamenteiro:
1.979, CC – Registro do testamento – como o testamenteiro é o detentor (em
regra) do testamento, a ele incumbe (compete/pode) levá-lo a registro.
1.980, CC – Obrigação do Testamenteiro: cabe ao testamenteiro a execução
do testamento. Para tanto, deve:
1. apresentar o testamento em juízo para o registro.
2. depois de registrado o testamento, dar cumprimento, ou seja, executar
as disposições nele constantes – prazo – 180 dias.
1.982, CC - O testamenteiro – executor da última vontade – age de acordo
com os poderes conferidos pelo Testador.
1.983, CC - Prazo de 180 dias: suficiente. O prazo pode ser prorrogado (§
único)
1.984, CC – Na ausência de nomeação de testamenteiro, a execução
testamentária, compete a um dos cônjuges ou herdeiro nomeado pelo juiz.
3. defender a validade do testamento – art. 1.981, CC
1.981, CC - Propugnar a validade do testamento: deve defender a validade
do testamento, contra quem impugnar em juízo.
4. exercer as funções de inventariante, se estiver na posse e na
administração da herança ou se não houver cônjuge, nem herdeiros necessários.
1.990, CC - O testamenteiro exerce as funções de inventariante, na hipótese
do testador “tiver distribuído toda a herança em legados”.
5. prestar contas – art. 1.980.
1.985, CC - o encargo não se transmite aos herdeiros do testamenteiro. É
encargo pessoal indelegável. O testamenteiro pode fazer-se representar em juízo
por procurador (1.985) e mandatário (1.764)
1.986, CC - Mesmo conteúdo – responsabilidade solidária dos testamenteiros
141
aceitantes.
INVENTÁRIO E PARTILHA
1. Inventário
Aberta a sucessão com o falecimento do autor da herança, seu patrimônio
é, desde logo, transmitido aos herdeiros legítimos e testamentários, de acordo
com o art. 1.784, CC. Como a herança é transmitida “como um todo unitário”, é
preciso que seja feita a individualização de cada quota parte dos herdeiros, a fim
de terminar com o estado de comunhão. Nesse sentido, deve-se instaurar o
142
processo de inventário, para que seja possível realizar a partilha dos bens e
individualização dos quinhões hereditários.
Inventário significa achar, encontrar. Utilizada juridicamente no sentido de
enumerar e catalogar aquilo que “foi encontrado”, que pertence, neste caso, ao
falecido.
O procedimento de inventário é previsto no art. 610 e seguintes do
CPC/2015.
2. Inventário negativo
Mesmo que não existam bens, é possível que seja feito o processo de
inventário. Serve, tão somente, para comprovar que aquele que faleceu não
possui bens a inventariar.
Ex.: art. 1.523, I – causa suspensiva – viúvo que não deu partilha aos filhos não
deve casar – regime da separação obrigatória de bens (art. 1.641, I). É possível que
esta penalidade não seja imposta se restar comprovado que não haverá prejuízo
aos filhos. A forma de fazer essa prova é o inventário negativo.
Será dada abertura ao inventário, feita a pesquisa de bens e a sentença
judicial declarará a inexistência de bens a serem partilhados.
3. Inventário conjunto
Em situações excepcionais é possível que seja realizado o inventário de duas
pessoas ao mesmo tempo, no mesmo processo, visando a economia processual.
HIPÓTESES: Art. 672, CPC/2015 – identidade de herdeiros, herança deixada pelos
dois cônjuges ou companheiros ou dependência de uma das partilhas em
relação à outra.
4. Dispensa de Inventário
Dependendo dos bens que componham o acervo hereditário o inventário
pode ser dispensado – Lei 6.858/80 - Pagamento, aos Dependentes ou
Sucessores, de Valores Não Recebidos em Vida pelos Respectivos Titulares – FGTS
(Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e PIS-PASEP (Fundo de Participação)
143
– art. 666, CPC/2015.
Outros bens:
- bens que o de cujus tenha apenas a posse – não é necessário fazer
inventário – aquisição originária da propriedade – uscucapião.
- contas poupança – se o de cujus tiver um segundo titular na conta, este
poderá sacar os valores, ainda que a jurisprudência tenha uma tendência a
deferir só a metade dos valores.
- Alvará judicial: em sendo necessário o levantamento de importâncias
em dinheiro ou venda de algum bem antes de completado o inventário, é
possível que as partes façam requerimento em juízo de alvará judicial para tal
fim. Normalmente a justificativa utilizada é o pagamento das custas do
inventário, impostos, taxas, etc.
5. Inventário Judicial
O inventário judicial é divido em:
a) inventário judicial pelo rito tradicional – arts. 610 a 658, CPC/2015;
b) inventário judicial pelo rito do arrolamento sumário – art. 659, CPC/2015;
c) inventário judicial pelo procedimento do arrolamento comum – art. 664,
CPC/2015.
144
Legitimidade para requerer o inventário
Art. 615, CPC/2015: quem estiver na posse e administração do espólio deve
dar abertura ao inventário. Esse, contudo, não necessariamente, será o
inventariante, pois da abertura do inventário até a nomeação do inventariante
haverá um administrador provisório. Podem, ainda, requerer o inventário: o
cônjuge ou companheiro, herdeiro, legatário, testamenteiro, cessionário, credor
do herdeiro, do legatário ou do autor da herança, MP, Fazenda Pública ou o
administrador judicial da falência do herdeiro, legatário, autor da herança,
cônjuge ou companheiro supérstite (art. 616, CPC/2015).
A ação de abertura do inventário deve ser instruída com a certidão de óbito
do de cujus e procuração para o advogado.
O requerimento de abertura do inventário será instruído com a certidão de
óbito do de cujus (obrigatório – art. 615, § único, CPC/2015) e procuração
outorgada ao advogado que assina a petição. Poderá, ainda, conter:
- certidão de casamento do de cujus;
- cédula testamentária;
- certidões de nascimento, ou outro documento, dos herdeiros;
- certidões dos imóveis, etc.
Foro competente
O foro competente para processamento do inventário é o foro do último
domicílio do de cujus, mesmo que os herdeiros residam em localidade diversa
(arts. 1.785 e 1.796, CC e art. 48, CPC/2015).
Administrador provisório
Até que seja nomeado inventariante e este preste compromisso, a
administração da herança ficará a cargo do administrador provisório nomeado
pelo juiz (art. 613, CPC/2015). Este tem a função de representação do espólio,
devendo trazer ao acervo frutos percebidos, tendo direito de ser reembolsado
pelas despesas necessárias. Responde por danos a que der causa (art. 614,
CPC/2015).
145
Nomeação de inventariante
Ingressando os herdeiros com o processo do inventário, o juiz despachará e
nomeará o inventariante, que prestará compromisso e as primeira declarações
(prazo de 20 dias) (art. 620, CPC/2015). A função do inventariante é administrar os
bens do espólio, sendo seu representante legal até que a partilha seja efetivada.
A ordem preferencial6 de pessoas que podem ser nomeadas inventariante
é trazida pelo art. 617, CPC/2015:
Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:
I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse
convivendo com o outro ao tempo da morte deste;
II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não
houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se estes não puderem
ser nomeados;
III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na
administração do espólio;
IV - o herdeiro menor, por seu representante legal;
V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio
ou se toda a herança estiver distribuída em legados;
VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário; VII - o inventariante judicial,
se houver;
VIII - pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial.
6
O STJ entendeu que esta ordem é preferencial e não absoluta (REsp 402.891)
146
O inventariante pode ser removido do encargo nos casos previstos no art.
622, CPC/2015. Como o inventariante realiza um múnus público, pode ser
removido a qualquer momento, se comprovada a prática de determinados fatos,
descritos no art. 622, CPC/2015:
Art. 622. O inventariante será removido de ofício ou a requerimento:
I - se não prestar, no prazo legal, as primeiras ou as últimas declarações;
II - se não der ao inventário andamento regular, se suscitar dúvidas
infundadas ou se praticar atos meramente protelatórios;
III - se, por culpa sua, bens do espólio se deteriorarem, forem dilapidados
ou sofrerem dano;
IV - se não defender o espólio nas ações em que for citado, se deixar de
cobrar dívidas ativas ou se não promover as medidas necessárias para
evitar o perecimento de direitos;
V - se não prestar contas ou se as que prestar não forem julgadas boas;
VI - se sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio.
Primeiras declarações
Com a nomeação do inventariante, deverá prestar as primeiras declarações
no prazo de 20 dias. Essas primeiras declarações deverão conter (art. 620,
CPC/2015):
I - o nome, o estado, a idade e o domicílio do autor da herança, o dia e o
lugar em que faleceu e se deixou testamento;
II - o nome, o estado, a idade, o endereço eletrônico e a residência dos
herdeiros e, havendo cônjuge ou companheiro supérstite, além dos
respectivos dados pessoais, o regime de bens do casamento ou da união
estável;
147
III - a qualidade dos herdeiros e o grau de parentesco com o inventariado;
IV - a relação completa e individualizada de todos os bens do espólio,
inclusive aqueles que devem ser conferidos à colação, e dos bens alheios
que nele forem encontrados, descrevendo-se:
a) os imóveis, com as suas especificações, nomeadamente local em que
se encontram, extensão da área, limites, confrontações, benfeitorias,
origem dos títulos, números das matrículas e ônus que os gravam;
b) os móveis, com os sinais característicos;
c) os semoventes, seu número, suas espécies, suas marcas e seus sinais
distintivos;
d) o dinheiro, as joias, os objetos de ouro e prata e as pedras preciosas,
declarando-se-lhes especificadamente a qualidade, o peso e a
importância;
e) os títulos da dívida pública, bem como as ações, as quotas e os títulos
de sociedade, mencionando-se-lhes o número, o valor e a data;
f) as dívidas ativas e passivas, indicando-se-lhes as datas, os títulos, a
origem da obrigação e os nomes dos credores e dos devedores;
g) direitos e ações;
h) o valor corrente de cada um dos bens do espólio.
148
Essa citação é dispensada se todos os herdeiros já estiverem representados
nos autos ou se comparecerem espontaneamente.
Fase de impugnações:
Concluídas as citações as partes poderão impugnar alguma declaração
prestada pelo inventariante, no prazo de 15 dias, nos termos do art. 627, CPC/2015.
Se a impugnação for julgada procedente, o juiz determinará que as
declarações sejam retificadas.
Em caso de haver uma questão que demande produção de provas que não
a documental, especialmente no que se refere ao art. 627, III, CPC/2015 – contestar
a qualidade de herdeiro – o juiz deverá remeter o impugnante para as vias
ordinárias (dilação probatória) e suspender o inventário (art. 627, § 3.º, CPC/2015).
Últimas declarações:
Depois de aceita a avaliação dos bens ou resolvidas possíveis impugnações
à avaliação, o inventariante deverá prestar as últimas declarações (art. 636,
CPC/2015), quando poderá descrever bens que, porventura tenham sido
esquecidos (mesmo que por desconhecimento). As partes serão ouvidas sobre as
últimas declarações, podendo alegar a sonegação de bens pelo inventariante
somente depois da última declaração feita por ele, de que não existem outros
bens a inventariar (art. 621, CPC/2015).
149
Nessa fase, devem ser juntadas certidões negativas de débitos municipais,
estaduais e federais. Para tanto, deverão estar quitados os IPTUs, ITRs, e outros
impostos incidentes sobre os bens do de cujus.
6. Inventário administrativo:
A lavratura da Escritura Pública de Inventário trata de uma forma facultativa.
Não há obrigatoriedade da partilha extrajudicial. Assim, se todos forem capazes
e concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos no Tabelionato de Notas
(art. 610, § 1.º, CPC/2015).
Requisitos/pressupostos:
Todos capazes (capacidade de todos os interessados) e de acordo (ausência
de litigiosidade). Não pode envolver incapazes, nem existir testamento. Objetiva
150
desburocratizar e agilizar o procedimento judicial de inventário e partilha.
Se o testamento já foi anulado, pode ser feito o inventário extrajudicial,
fazendo constar da Escritura as informações da ação anulatória transitada em
julgado.
Os herdeiros e meeiros são representados por advogado (indispensável,
conforme art. 610, § 2.º, CPC/2015) e devem assinar a Escritura.
Se por todos reconhecida a União estável do falecido, poderá o companheiro
sobrevivente promover o inventário extrajudicial. Do contrário, via judicial e com
reconhecimento.
A opção pela via extrajudicial, poderá, inclusive, ser solicitada durante o
trâmite do procedimento judicial do inventário (arrolamento), mediante a
suspensão ou desistência.
Na via judicial existe a fixação da limitação em face da competência
territorial: local do óbito/último domicílio do de cujus. No âmbito extrajudicial, a
escolha do Tabelião é liberalidade das partes, não se condicionando ao domicílio,
situação dos bens ou local do óbito.
7. Sonegados:
Aberto o inventário, é dever do inventariante apresentar as primeiras e
últimas declarações, com a indicação e caracterização dos bens a serem
partilhados. Caso o inventariante ou algum herdeiro não descreva algum bem,
intencionalmente, de forma a desfalcar o ativo do espólio, cometerá o delito civil
de sonegação, sujeitando-se às penas dos arts. 1.992 e 1993, CC.
151
Intenção maliciosa de ocultar os bens do espólio e fraudar a expectativa dos
herdeiros.
Penas:
Os arts. 1.992 e 1.993 do CC determinam as penas aplicadas; ao herdeiro que
sonegar – perderá o direito que teria sobre o bem, devendo restituí-lo, bem como
aos seus frutos; se o sonegador for o inventariante, ainda será removido da
inventariança.
A pena é civil. Remoção do inventariante (art. 622, VI, CPC/2015) e perda do
bem sonegado, que é imposta por sentença.
A pena só poderá ser imposta em ação ordinária (LEITE, p. 724). Se o
sonegador for testamenteiro perde direito à vintena e é removido do cargo de
inventariante.
Para que tenha cabimento a ação de sonegados não é preciso que o
sonegador negue a restituição dos bens, mas que tão somente não os descreva,
estando tais bem em seu poder, ou em poder de terceiros, com sua ciência.
152
8. Do pagamento das dívidas
O espólio responde pelas dívidas do falecido, mas feita a partilha, cada
herdeiro responderá, dentro do limite de seu quinhão (art. 796, CPC/2015).
ART. 1997
Onde há dívidas, há responsabilidade solidária dos herdeiros. Antes da
distribuição da herança, pagam-se as dívidas. A herança responde pelo
pagamento das dívidas do falecido. O patrimônio do de cujus é a garantia dos
credores.
Ex. se existe um só herdeiro, ele é responsável exclusivo de todo pólo passivo
sucessório.
Até a partilha: da abertura da sucessão até a partilha – os bens da
herança, respondem pelo passivo. Feita a partilha, a proporcionalidade da
parte (quota) é que responde. A partir da divisão da herança, cada herdeiro
responde – individualmente – pela satisfação da dívida da herança (LEITE, p.
735).
Constituem-se em encargos da herança:
1. Despesas funerárias;
2. Vintena do testamenteiro;
3. Dívidas do falecido;
4. Cumprimento dos legados.
Antes da partilha, podem os credores pedirem ao juiz o pagamento das
dívidas vencidas e exigíveis (art. 642, CPC/2015).
9. Colação
Instituto de origem romana, a colação é reunião dos bens recebidos pelo(s)
descendente(s), a título de liberalidade (doação), antes da abertura da sucessão.
O que exceder a metade disponível, para cálculo das legítimas, devem ser
conferidos na parte indisponível.
ART. 2002 - Apenas os descendentes estão sujeitos a colação.
ART. 2003 - A colação visa igualar as legítimas dos descendentes e do
153
cônjuge sobrevivente.
Art. 621, § único, CPC/2015 – os bens a serem colacionados terão seu valor
calculado pelo valor do tempo da abertura da sucessão (para óbitos ocorridos
após a entrada em vigor desta lei). No caso de óbitos ocorridos antes de março
de 2016, aplica-se a regra do art. 2004 – O valor da colação é aquele atribuído na
liberalidade; se não tiver valor, por ocasião da partilha, se estimará o valor da
época da liberalidade( os bens serão avaliados com base no valor do tempo da
liberalidade); as benfeitorias, frutos e rendimentos são do donatário, “que
responde pelos danos e perdas que eles sofrerem” (§§ 1º e 2º, do art. 2004).
a. Dispensa da colação.
“O doador pode dispensar o donatário da colação, determinando que a
liberalidade saia de sua metade disponível, contanto que a doação não exceda o
valor da quota disponível, comutado o seu valor ao tempo da doação” (Gonçalves,
p. 542).
ART. 2005 – Contanto que não excedam a parte disponível (sua metade),
computada ao tempo da liberalidade (doação).
Deve ser expressa tal condição, em que pese inexistir forma sacramental.
Se a doação não exceder a parte disponível, não há que falar em colação. Se
exceder, o excesso deve ser colacionado. (Cf. LEITE, p. 770).
154
no momento da liberalidade.
O caput do art tem redação mas técnica que a do Código de 16, determinado
a redução e na a colação (e metade disponível).
ART. 2008 – Determina que o herdeiro renunciante deve conferir as doações
recebidas, para buscar a igualdade das legítimas.
ART. 2010 - São excluídos da colação: gastos ordinários como: educação,
alimentos, vestuário, despesas com casamento e doença. “Havendo excesso...
perdem o caráter de ordinários e devem ser colacionados” (LEITE, p. 782).
ART. 2011 - As doações remuneratórias, também, denominadas sob encargo,
não constituem liberalidade, sendo desnecessária a colação.
ART. 2012 – Por ocasião do inventário de cada cônjuge se travará a colação.
10. Partilha
Terminado o inventário, partilham-se os bens entre os herdeiros e
cessionários, separando-se a meação do cônjuge sobrevivente. É a forma de
terminar com a comunhão dos bens, com o condomínio (salvo se não for possível
dividir o bem – quando deverá ficar em condomínio, sendo, apenas, definido o
percentual de propriedade de cada herdeiro sobre o bem).
Se houver apenas um herdeiro, providencia-se a adjudicação dos bens, pois
não haverá partilha dos bens, nem divisão, de forma que poderá haver o
inventário simplificado.
Procedimento: ver arts. 647 a 658, CPC/2015
155
b. Forma de partilha:
ART. 2014 – ART. 2015 –
a) Escritura Pública;
b) Termo nos autos do inventário;
c) Escrito particular homologado;
c. Plano de partilha:
Melhor critério: bom senso, equilíbrio, igualdade possível.
Sempre que os herdeiros divergirem as partes formularão ao juiz pedido de
quinhão e o juiz deliberará. Deverá ser apresentado o esboço da partilha que
deverá ser efetivada pelo juiz.
ART. 2017 – Igualdade possível: quanto à natureza, valor e qualidade.
Igualdade é equidade. Princípio fundamental da partilha.
Neste caso, se o juiz tiver de decidir a partilha, normalmente optará pela
mais justa e equânime possível (provavelmente, dividir tudo entre todos).
d. Partilha em vida:
A partilha em vida é aquela feita pelo pai ou qualquer ascendente, via
escritura pública ou testamento, mas que não pode prejudicar a legítima dos
herdeiros necessários.
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ART. 2018 – Partilha em vida: possibilidade de ser fazer a partilha em vida ou
por testamento, reservada a legítima dos herdeiros necessários.
ART. 2019: Divisão Cômoda: Venda Judicial: Divisão do valor apurado:
“Dos bens insuscetíveis de divisão cômoda”: bens que não o couberem na
meação do cônjuge (ou companheiro) ou no quinhão do herdeiro, serão
vendidos judicialmente.
a) venda judicial;
b) cessão de direitos;
c) partilha-se o valor apurado.
d) Parágrafo Primeiro: adjudicação a todos. Um, dois ou três podem
requerer a adjudicação (total das quotas). Não se fará a venda se os herdeiros
requerem a adjudicação.
e. Sobrepartilha:
ART. 2022 –
a) Os bens sonegados ficam sujeitos a sobrepartilha;
b) quaisquer outros que se tiver ciência após a partilha.
Se a partilha foi feita com dolo ou outro vício de consentimento, cabe ação
157
de anulação e, não sobrepartilha.
158
Diferenças entre revogação de
testamento, rompimento e
redução de disposições
testamentárias
Ouça o podcast sobre o tema.
EM RESUMO
* Para todos verem: esquema
Art. 1.966, CC
Redução de Disposições Testamentárias
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RITOS DE INVENTÁRIO
Inventário judicial pelo rito tradicional – arts.
610 a 658, CPC/2015;
QUESTÕES
01. EXAME XXIX Mariana e Maurílio são filhos biológicos de Aldo. Este, por sua vez, nunca
escondeu ser mais próximo de seu filho Maurílio, com quem diariamente trabalhava.
Quando do falecimento de Aldo, divorciado na época, seus filhos constataram a
existência de testamento, que destinou todos os bens do falecido exclusivamente para
Maurílio. Sobre a situação narrada, assinale a afirmativa correta.
a) O testamento de Aldo deverá ser integralmente cumprido, e, por tal razão, todos
os bens do autor da herança serão transmitidos a Maurílio.
b) A disposição de última vontade é completamente nula, porque Mariana é
herdeira necessária, devendo os bens ser divididos igualmente entre os dois irmãos.
c) Deverá haver redução da disposição testamentária, respeitando-se, assim, a
legítima de Mariana, herdeira necessária, que corresponde a um quinhão de 50% da
totalidade herança.
d) Deverá haver redução da disposição testamentária, respeitando a legítima de
Mariana, herdeira necessária, que corresponde a um quinhão de 25% da totalidade da
herança.
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tema em vídeo com questões
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02. EXAME XXVII Em 2010, Juliana, sem herdeiros necessários, lavrou testamento
público deixando todos os seus bens para sua prima, Roberta. Em 2016, Juliana realizou
inseminação artificial heteróloga e, nove meses depois, nasceu Carolina. Em razão de
complicações no parto, Juliana faleceu poucas horas após o procedimento. Sobre a
sucessão de Juliana, assinale a afirmativa correta.
a) Carolina herdará todos os bens de Juliana.
b) Roberta herdará a parte disponível e Carolina, a legítima.
c) Roberta herdará todos os bens de Juliana.
d) A herança de Juliana será declarada jacente.
03. EXAME XXV Mário, cego, viúvo, faleceu em 1º de junho de 2017, deixando 2 filhos:
Clara, casada com Paulo, e Júlio, solteiro. Em seu testamento público, feito de acordo
com as formalidades legais, em 02 de janeiro de 2017, Mário gravou a legítima de Clara
com cláusula de incomunicabilidade; além disso, deixou toda a sua parte disponível para
Júlio. Sobre a situação narrada, assinale a afirmativa correta.
a) O testamento é inválido, pois, como Mário é cego, deveria estar regularmente
assistido para celebrar o testamento validamente.
b) A cláusula de incomunicabilidade é inválida, pois Mário não declarou a justa causa
no testamento, como exigido pela legislação civil.
c) A cláusula que confere a Júlio toda a parte disponível é inválida, pois Mário não
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pode tratar seus filhos de forma diferente.
d) O testamento é inválido, pois, como Mário é cego, a legislação apenas lhe permite
celebrar testamento cerrado.
01 02 03
D A B
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