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ORIGEM E BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA UNIÃO ESTÁVEL

O direito sempre se preocupou com a relação entre homem e


mulher, inicialmente essa preocupação era, sobretudo, patrimonial e tinha seu foco
nas famílias de fato, ou seja, nas famílias constituídas pelas formalidades do
casamento.

Por longos anos, as famílias não oriundas de um vínculo


formal de casamento entre um homem e uma mulher era chamado de concubinato,
era mal visto pela sociedade e não gozava de nenhuma proteção legal.

Com a evolução da sociedade e dos costumes, este tipo de


família passou a merecer reconhecimento e a gozar de proteção estatal,
principalmente o chamado concubinato puro, isto é, a união de pessoas que apesar de
não terem o vinculo formal do casamento não tinham qualquer impedimento moral ou
legal para aquela união, este tipo de união passou a ser denominada união estável,
nomenclatura que é adotada pela CRFB/88.

A união estável, como é hoje reconhecida, teve sua origem no


direito romano com o chamado usus, nesta modalidade de união o homem adquiria a
posse sobre a mulher após o prazo de um ano de convivência ininterruptos, desde que
a mulher não passasse, no decorrer deste período, três noites consecutivas fora de
casa. O usus ao ser declarado produzia os efeitos do casamento, assim sendo a
mulher deixava sua família de sangue e se tornava parte da família do homem, tendo
todo o seu patrimônio transmitido a este que se tornava o responsável por aquela
mulher e pela administração de seus bens.

Com o advento dos imperadores cristãos, inicialmente com


Constantino, este tipo de pratica passou a ser mal vista pela sociedade romana da
época e o matrimonio formal passou a ser amplamente incentivado.

Na idade média, a igreja católica tinha grande influência na


vida das pessoas, época em que direito e religião não eram passíveis de separação,
para o direito canônico o concubinato era considerado um pecado, as pessoas que se
atrevessem a contrair este tipo de união eram severamente punidas. Nesse período o
concubinato não gozava de nenhuma proteção e o matrimônio formal passou a ser
considerado ato solene, religioso e indissolúvel. Ressalta-se que até os dias atuais,
para o cristianismo o casamento ainda preserva tais características.
No Brasil, apesar de toda rejeição social e do repúdio do
legislador os vínculos extramatrimoniais sempre foram uma realidade a ser encarada.
O Código Civil de 1916, sob o pretexto de proteger as famílias constituídas através do
casamento formal, não tratou sobre as relações constituídas fora do sagrado
matrimônio, deixando assim, desprotegidas as pessoas que insistissem em tal prática.

Ademais, o antigo diploma legal tratou de punir o concubinato


vedando doações e seguros em favor da concubina que também foi excluída do
testamento. Tal rejeição a essa modalidade de constituição de família se deu em
grande parte pela influência da igreja católica no direito brasileiro, trazida pela
colonização portuguesa.

O casamento somente foi considerado ato civil no Brasil com o


advento do Decreto nº 181, de 24 de janeiro de 1890, somente a partir desta data o
casamento deixou de ser visto como ato religioso e passou ser válido somente se
respeitado a regulamentação legal. O decreto supracitado não regulamentou o
concubinato, entretanto também não o proibiu, porém deixou explícita a preferência
legal em proteger a família legitima, constituída pelo casamento em detrimento do
concubinato.

Paulatinamente, as decisões judiciais passaram a reconhecer


os direitos das concubinas, um marco legal extremamente importante foi a edição da
Súmula n° 35 do STF de 1963 que estabeleceu que “em caso de acidente do trabalho
ou de transporte, a concubina tem direito de ser indenizada pela morte do amásio, se
entre eles não havia impedimento para o matrimônio”.

Com a evolução da sociedade a relações extramatrimoniais


passaram a merecer aceitação, com a promulgação da Constituição Federal de 1988
foi dada uma nova dimensão a concepção de família e introduzindo um termo mais
abrangente e que melhor se adequasse à realidade atual: entidade familiar, trazendo
assim, proteção legal a relacionamentos constituídos fora do casamento e que outrora
eram marginalizados pela lei e pela sociedade.

Contudo, não se pode confundir a união estável com o


casamento civil, o que ocorreu foi a equiparação das entidades familiares, sendo todas
merecedoras de igual proteção jurídica. A Constituição Federal nada mais fez do que
atribuir legalidade a um fenômeno social e humano que já vinha obtendo
reconhecimento tanto pela jurisprudência quanto por leis esparsas que passaram a
proteger as relações independentes do casamento.
REFERÊNCIAS

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias . 10. Ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2015.

ESPINOSA, Marcello. Evolução histórica da união estável. Semana acadêmica, 2018. Disponível
https://semanaacademica.com.br/system/files/artigos/artigo_evolucao_historica_da_uniao_e
stavel_0.pdf. Acesso em: 11 de setembro de 2021.

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