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SANDRA RAMALHO DE PAULA

TÍTULO
Reforma do Ensino Médio no Paraná 96/98
INTRODUÇÃO

Este artigo tem como objetivo analisar brevemente a proposta de reforma do ensino médio no
Paraná de 96/98, através do PROEM - Programa de Expansão e Melhoria e Inovação no Paraná.
Para tanto, faz-se necessário buscar as bases referenciais para a construção dessas políticas.
Desse modo iremos analisar o relatório de encaminhamento para a implantação do PROEM e o
relatório sobre educação da América Latina para a UNESCO.1 A partir da análise dos documentos
iremos investigar a construção de um novo sujeito, o aluno, presente nas reformas do ensino médio.
As novas políticas econômicas e sociais determinaram uma grande reforma no sistema
educacional como um todo, sendo que a justificativa para tais reformas é a crise das instituições
educacionais, assim como também, a falta de qualidade dos projetos pedagógicos e a
improdutividade administrativa dos estabelecimentos escolares. Sendo assim, para as novas
políticas educacionais a escola sofre com a sua própria incompetência de gerenciamento, pois
segundo tais discursos, a crise econômica não impede o acesso da população á escola. Entretanto
essa mesma escola, mantém a evasão escolar, a repetência e o analfabetismo funcional. Ainda
nesta perspectiva de reforma encontramos no relatório da UNESCO para a educação na América
Latina, documento este que prevê a adequação do ensino nestes países ás exigências dos
organismos internacionais, que financiam as políticas sociais dos países em desenvolvimento. No
caso do Paraná, assim como em outros estados e países, relata o documento do PROEM, quem
financia a educação básica é o Banco Mundial. Assim, as reformas educacionais atendem ao
mesmo tempo tanto os interesses dos organismos internacionais quanto o poder político local, que
ao retirar a educação da esfera da política, a coloca na esfera do mercado, reconfigurando a noção
de cidadania, na qual a ação do indivíduo deve promover suas conquistas, e transformando o
conhecimento em propriedade e mercadoria.
Ainda, segundo estes documentos, na perspectiva neoliberal, há um problema mais
complexo: a culpabilização dos indivíduos pela crise, ou seja, tudo aquilo que não funciona na
sociedade é atribuído aos indivíduos que dela participam. Esse sistema educacional funciona
baseado em prêmios e castigos, e o sucesso do aluno é premiado com a possibilidade de sua
inserção no mercado de trabalho, do mesmo modo que o seu fracasso será punido com a exclusão
deste aluno no mercado de trabalho e consumo. Com esta política de reformas cria-se um mercado
educacional no qual a qualidade da educação ofertada é definida pelo sucesso alcançado pelo

1
Este relatório foi elaborado sob coordenação de Jacques Delors para a UNESCO com o objetivo de propor
novas reformas para a educação na América Latina : Educação: Um tesouro a descobrir. Relatório para
UNESCO da Comissão Internacional sobre educação para o XXI. São Paulo, Cortez, 1996.

2
aluno no mercado de trabalho. Assim, percebemos que o principio da qualidade total, que define as
relações do mercado empresarial, passa também a definir as políticas educacionais, colocando a
escola na esfera da empresa.

As Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio identificam-se muito com tais orientações, isto
é a sociedade do conhecimento como norteadora das novas relações sociais, reclamando como
imprescindível à justificação imediata de uma reforma educacional. Para tal,os diversos atores
sociais deverão ser envolvidos para que se obtenha o consenso entre a escola, os pais, os aluno,
os professores e as empresas, sendo que todos serão responsabilizados pelo sucesso ou fracasso
das reformas. O Estado passa a ter um papel regulador das políticas educacionais, uma vez que a
ação efetiva cabe aos atores sociais envolvidos, isto é, que estes busquem parcerias para executar
seus projetos de gestão. A descentralização administrativa não significa a retirada da ação do
Estado, pois sua ação agora estratégica está baseada nas avaliações das instituições e dos alunos,
controladas por este Estado, através do ENEM.2 Analisando estes documentos, podemos entender
o dimensionamento que vem sendo dado as reformas educacionais brasileiras. Os princípios
norteadores das reformas estão fundamentados em quatro pilares propostos pela UNESCO no
relatório organizado por Jacques Delors.

O governo do Paraná vem implantado o PROEM, desde sua aprovação em outubro de 1996,
pela Assembléia Legislativa do Paraná, o Governo do Estado com esta proposta definiu a reforma
do ensino médio, atendendo plenamente às exigências dos órgãos financiadores internacionais. A
implantação destas reformas se faz necessário para que o Estado possa receber os empréstimos
solicitados a estes órgãos para gerir as despesas com a educação.
É neste quadro social de desemprego crescente que o executivo estadual ganha espaço para seu
discurso de reforma educacional, sendo esta a única forma de acesso ao mercado de trabalho para
os jovens da classe trabalhadora. Assim, o projeto neoliberal de gerência de qualidade total está na
contramão do que há de mais importante em uma reforma educacional, isto é, os participantes do
processo, que devem agir ativamente nas discussões, elaborando suas propostas para a melhoria
do ensino. As propostas impostas pelo Estado, sem ao menos uma consulta à comunidade, não
atendem à expectativa dos atores sociais envolvidos e fracassam enquanto realidade,
comprometendo a formação das mais diferentes gerações de alunos e cidadãos.

Os projetos de reformas nos campos social e educacional estão longe de serem novos, são
apenas reengenharias da redistribuição de renda apenas entre os que já detém os meios de
domínio sobre os demais membros da sociedade. Para formular uma educação de qualidade como

3
projeto político é necessário repensar os currículos, os métodos de ensino e os processos de
avaliação, levando em consideração os saberes produzidos, os sujeitos e a comunidade como um
todo. Com o objetivo de compreender as propostas de reforma para o ensino médio contida nos
documentos oficiais e implantada no Paraná, através do PROEM. A proposta desse trabalho é
analisar esses documentos buscando compreender algumas das dimensões políticas e culturais
contidas no discurso proferido pelos mesmos.

A TRANSFORMAÇÃO DA ESCOLA PELAS ATUAIS POLÍTICAS EDUCACIONAIS EM


EMPRESAS.

As reformas educacionais propostas pelos documentos oficiais: “LDB – Lei de Diretrizes e


Bases Parecer Lei n º 9.394/96, PROEM – Programa de Expansão e Melhoria e Inovação no
Paraná Parecer 15/98, PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais”,3 aparecem como a grande
solução para a crise no mundo atual, e é nesta perspectiva que as atuais propostas de reforma são
encaminhadas.
Estas propostas de reforma produzem um discurso que despolitiza a educação pela
construção e manutenção da hegemonia na sociedade pós – industrial. Nessa perspectiva da
transformação da escola, e da sociedade como um todo, Gilles Deleuze, ao tratar das grandes
modificações pelas quais a sociedade contemporânea vem passando, nos mostra a transformação
das instituições em empresas.

“(...) a fábrica cedeu lugar à empresa. A família, a escola, o exército, a fábrica não sã mais espaço analógicos
distintos que convergem para um proprietário, Estado ou potência privada mas são agora figuras cifradas,
deformáveis, de uma empresa que só tem gerentes. Até a arte abandonou os espaços fechados para
entrar nos circuitos abertos do banco. [...] O homem não é mais o homem confinado, mas o homem
endividado.”4

Para que este homem seja parte desta nova realidade, ele deverá ser envolvido pelo
princípio que norteia o espaço da empresa, isto é, ele deverá transformar o espaço físico, como
temos presente nas empresas e corporações, e até mesmo como uma diretriz presente nos
documentos que foram analisados. Além do espaço físico, há uma importantíssima transformação

2
ENEM Exame Nacional do Ensino Médio.
3
Parecer 15/98, PCNs - Parâmetros Curriculares Nacionais, LDB - Lei de Diretrizes e Bases, PROEM -
Programa de Expansão e Melhoria e Inovação no Paraná, (decreto 1.208/97.
4
Deleuze,Gilles, Conversações,Rg, Ed. 43, 1996,p. 4.

4
na linguagem, a linguagem institucional se transformando em linguagem empresarial. A escola
passa então, a ter o papel de formar este novo homem, atendendo ás novas exigências do
mercado econômico e do mundo transformado em empresa. Ainda citando Deleuze "(...) no regime
das escolas: as formas de controle contínuo, avaliação contínua e a ação da formação permanente
sobre a escola, o abandono correspondente de qualquer pesquisa na Universidade, a introdução
da” empresa “em todos os níveis de” escolaridade.”5 Pode se perceber que, quando o Estado adota,
as regras empresariais para administrar o espaço público, é porque quer constituir uma nova ordem
neste espaço, sendo que esta nova ordem será constituída por meio da despolitização do mesmo.
Nesta perspectiva cria-se a chamada Gestão da Qualidade Total, sendo que assim a
empresa irá operar nos moldes do sistema de qualidade. Em se tratando da educação, como nos
mostra Deleuze, a escola se transforma em empresa. E segundo Tomaz Tadeu Silva:

“Gestão da Qualidade Total, em Educação, é uma demonstração de que a estratégia neoliberal não se
contentará em orientar a educação na forma que exige o mercado, mas tentará reorganizar o próprio
interior da educação. Isto é, as escolas e as salas de aula de acordo com esquemas de organização do
processo de trabalho."6

Assim, por meio do discurso da qualidade total observamos o aluno transformado em cliente,
isto é, um sujeito que consome o conhecimento, e este transformado em produto.
O desafio diante desta realidade será pensar um novo modelo de escola pública, pois segundo
Pablo Gentili: "qualidade para poucos não é qualidade é privilégio”.7 Entretanto, ao contrário daquilo
que afirma Pablo Gentili, as propostas de reforma apresentadas pelo Estado neoliberal pensam a
qualidade, somente na democratização do acesso à escola, não observando que o conceito de
qualidade em educação é muito mais amplo, diferente da qualidade total que nos apresenta o
sistema empresarial. Faz - se necessário pensar sobre um novo modelo de escola pública, no qual
a qualidade se refira a um sujeito em sua totalidade, sua singularidade e multiplicidade. Como diz
Michel Peters:

“(...) que os educadores ou o setor empresarial formulem modelos de escola. A educação pode, de fato, ser
a estrela do futuro. Ela pode, ser concebida de forma inteligente, tornar-se a base para assim chamada

5
Id. , ibid. , p. 5.
6
Silva, Tomas Tadeu da, A Nova Direita e as Transformações na Pedagogia da Política e na Política da
Pedagogia IN, Gentili, Pablo; Silva Tomaz Tadeu da . Neoliberalismo, Qualidade Total e Educação.
7
Gentili Pablo; " O Discurso da " qualidade" como nova retórica conservadora no campo educacional" .in:
Gentili Pablo; Silva, Tomaz Tadeu, Neoliberalismo a Qualidade Total e Educação. Petrópolis, Ed, Vozes,
1994.

5
"nova economia" fornecendo as capacidades, habilidades, compreensão e atitude necessária para uma
sociedade pós - industrial, baseada na informação. Entretanto, a noção de " cultura de empresa", tal como
tem sido apresentada nos discursos sobre política educacional, não permite que possam melhor servir as
necessidades da empresa e da economia através do aumento tanto do nível de participação quanto do bem
estar dos trabalhadores, por meio de um processo de decisão cooperativo e de participação nos lucros.
Apenas quando os educadores e o público em geral puderam ver os benefícios da "cultura empresa" é que
essa noção de qualidade poderá merecer uma maior consideração."8

Podemos perceber que tanto o discurso neoliberal, quanto o dos intelectuais, pensam uma
escola enquanto um espaço possível de transformação da sociedade. Mas para os neoliberais a
transformação deverá atender às necessidades do mercado econômico, adequando o ensino a
utilidade empresarial. Enquanto que para os intelectuais, o espaço da escola deve ser pensado
enquanto um espaço para o desenvolvimento do sujeito em sua totalidade, para que este sujeito
possa se reconhecer como um indivíduo capaz de compreender e participar dos diversos processos
sociais nos quais se está inserido.
Já para Michael W. Apple, estas reformas estão entre o neoliberalismo e o conservadorismo,
porque procuram ao mesmo tempo incluir os novos conceito e valores do mercado econômico, e
manter assim como também os valores tradicionais da sociedade. Ao mesmo tempo em que,
segundo a nova ótica do mercado, o Estado deve ser minimizado, afrouxando as leis sobre as
empresas e o capital privado, este mesmo Estado precisa ser forte no controle do ensino e do
conhecimento a ser ensinado, assim como também na transmissão, de normas e valores
considerados corretos. No entanto, para a sociedade as escolas não atendem a formação para o
mercado e nem mesmo para manter os valor tradicionais considerados corretos pela sociedade.
Para Apple, “Elas são demasiadamente controladas pelo Estado e não ensinam aquilo que
“supostamente” devem ensinar”.9 A educação tem sido o espaço no qual o discurso neoliberal mais
tem crescido, ao mesmo tempo em que essa escola tem perdido muito de sua força política e de
sua capacidade de mobilização. Grupos dominantes na política e na economia tem conseguido
levar os debates educacionais para os seus campos de ações, ou seja, para terrenos do
conservadorismo, da padronização, da produtividade, da mercantilização e das necessidades
industriais.

8
Peters Michel, " Governabilidade Neoliberalismo e Educação"in; Silva Tomaz Tadeu, O sujeito da
Educação, Estudos Foucaultianos, Petrópolis, Ed, Vozes, 1995.
9
Appel, W Michael. “Justificando o Neoliberalismo: Moral, Geneses e Política Educacional”. In Siva,
Heron; Azevedo, José Clovis; Santos, Edmilson Santos; Novos Mapas Culturais Novas Perspectivas
Educacionais, Porto Alegre, Sulina, 1997.

6
Segundo a lógica neoliberal, que vem definindo as reformas no sistema educacional atual, o
sistema educacional é terrivelmente desperdiçador, motivo pelo qual as escolas estão fracassando
em sua tarefa de produzir uma força de trabalho que atenda às necessidades do mercado
econômico. A educação como produtora de capital humano. Assim, o Estado neoliberal se propõe a
pensar o espaço da escola como o locus de produção do capital humano, onde o sujeito é pensado
no interior dessa escola, como o sujeito competitivo e individualista embora para os
conservadores estes valores sejam tratados como virtude a serem desenvolvidas no sujeito pela
educação. .
Para a formação deste novo sujeito, no entanto, é necessário redefinir a organização no interior da
escola. Segundo Philip Wexler, a formação desse sujeito deve atender às exigências do novo
modelo de sociedade, na qual o principal agente da racionalização da educação, deve buscar
estabelecer parcerias com as empresas. Como cita Philip Wexler:

“Não existe mais nenhuma tentativa de fingir que existe uma mediação organizada, pública e institucional entre
a educação e a produção econômica. Desde a “transição da escola para o trabalho”, passando pela
redefinição do conhecimento educacional, até, finalmente, à redefinição do sujeito da escolarização , o
estudante, a educação deve ser reorganizada para espelhar – como forma de organização – os novos e
reestruturados locais de trabalho e, ao mesmo tempo, para lhes corresponder, através de uma transferência
e um fluxo fácil do “produto”, na passagem desse “produto”, da situação de estudante para a de
trabalhador”. 10

Observamos assim, a linguagem da educação transformada em a linguagem do trabalho, desse


modo, os professores terão que se transformar em líderes de equipes, os diretores em “gestores”
ou gerentes e os alunos em clientes potenciais, e o conhecimento em mercadoria cultural.
Entretanto, a principal tendência na reforma educacional é reestruturar as escolas públicas à
imagem das empresas, de forma que as escolas se tornem organizações de “alto desempenho”.
Tais organizações produzirão resultados de aprendizagem mensuráveis e de alta qualidade,
possibilitando que os empregos de alta qualificação sejam competitivamente obtidos por
trabalhadores qualificados pela escola para atender a este mercado global.
O novo conhecimento mercadoria, que a educação deverá produzir, está diretamente
vinculado ao mercado de trabalho; a escola agora deve organizar um currículo que seja voltado

10
Wexler, Philip. “Escola Toyotista e Identidades da Fin de Siécle”. In. Territórios contestados “currículo e
os novos mapas Políticos e Culturais, (org) Silva, Ti\omaz Tadeu da; Moreira, Antonio Frávio , Petrópolis,
Vozes,1998.

7
para o desenvolvimento das habilidades e competências da “vida real”11. Segundo essa nova visão
da educação trata – se de uma mudança do foco acadêmico para o foco do “mundo real”, sendo
que a escola deverá preparar este aluno para enfrentar os problemas desse tal mundo real.
Segundo esta lógica, a escola até o momento não cumpriu sua função de formar sujeitos que se
adequassem as exigências do mercado de trabalho e o conhecimento acadêmico cientifico foi
desqualificado, assim como também a cultura de modo amplo. A chave para este novo
conhecimento, e para formar este novo sujeito, está na capacidade da escola de adequalos às
novas exigências do mercado. Dentro desta nova cultura de produção de conhecimento, que é
desenvolvida para sustentar as articulações institucionais do novo regime de produção, o objetivo é
expandir a esfera do consumo. Para tanto é preciso produzir no interior da escola o sujeito que
consome, desse modo o conceito de cidadania foi transformado no conceito de consumo, o cidadão
é o indivíduo que consome.
Para Tomaz Tadeu Silva, a Qualidade não é um problema novo para os empresários, estes
sempre estiveram preocupados com a questão da qualidade no processo produtivo, mas de acordo
com as transformações sociais estes empresários também transformaram suas relações com o
sistema de produção e o mercado econômico, estabelecendo uma relação direta entre, Qualidade,
Produtividade, Rentabilidade12. É nesta trilogia que se unificam os apologistas do gerenciamento
competitivo, sendo que esta trilogia não pode ser tratada e nem pensada isoladamente, pois ao
procurar qualidade procura - se no sistema produtivo, a obtenção de maior rentabilidade. No
entanto, a “qualidade” na educação não deveria ser pensada a partir desta lógica, mas o é, e neste
aspecto as atuais reformas procuram atender a todas as exigências do sistema produtivo. A
qualidade na educação deveria pressupor que não existe um único critério de qualidade, existindo
sim, diversos critérios históricos que respondem a estes princípios de qualidade. Nosso desafio é ,
combater este discurso que se expande dentro do espaço da escola e redefine as relações sociais
em seu interior e por outro lado construir, não apenas um novo discurso, mas um novo sentido,
que leve a qualidade da educação ao status de direito que corresponda de fato ao exercício da
cidadania, sem nenhuma restrição
No relatório para Unesco, a proposta para a educação no Ensino Médio é de uma educação
que atenda as necessidades e exigências do mercado econômico. Nesta colocação fica clara a
intenção da proposta apresentada no relatório (...) “a procura de educação para fins econômicos
não parou de crescer (...) As comparações internacionais realçam a importância do capital humano

11
Vida Real – Só agora o ensino será para a veda real segundo o PCNs.
12
CJ. Silva T.T. Identidades terminais. Petrópolis, Vozes, 1996. Este texto foi parafraseado.

8
e, do investimento educativo para a produtividade”.13 Neste relatório encontramos o discurso de que
na América Latina, a proporção de repetência atinge a 30% do efetivo total, o que provoca
desperdício de preciosos recursos humanos e financeiros. A solução encontrada para o problema,
aparece nos diversos programas de aceleração escolar. Não há como negar a necessidade de
projetos pedagógicos que busquem encontrar soluções para os problemas da repetência e evasão
escolar. Mas com certeza “empurrar” o aluno para fora da escola com estes programas de
aceleração como, a correção de fluxo e o CEAD – centro de educação á distancia, é no mínimo um
desrespeito para com o aluno, que se vê colocado no mercado de trabalho com o certificado de
conclusão do ensino básico. Entretanto este indivíduo se encontrará em grande desvantagem em
relação aos seus concorrentes, sendo que em algumas empresas do mercado estes alunos não
podem nem se quer deixar seus currículos para concorrer a uma vaga. As empresas que estão se
estabelecendo no Paraná em grande maioria são multinacionais e não querem funcionários apenas
com certificado de conclusão do ensino básico, querem também que eles dominem códigos de
linguagem que permitam a estes funcionários o acesso ao conhecimento das novas tecnologias.
O discurso apresentado no relatório organizado por Jacques Delors para a UNESCO, referência
para os documentos oficiais do Governo brasileiro que direcionam os novos rumos da educação.
São apresentados como a formula que resolverá os problemas do Ensino Médio, não tem obtido o
sucesso aclamado, e o que temos são alunos que entram e saem do Ensino Médio sem
qualificação profissional, e sem conhecimento intelectual. Para muitos destes alunos, os três anos
escolares são vistos como uma perda de tempo. Quando um projeto se propõe a ensinar o aluno a
aprender a conhecer, precisaria antes conhecer este aluno, quando se propõe a ensinar à
aprender a fazer, precisaria pensar em que condições este aluno poderá fazer algo. E quando
queremos que nosso aluno aprenda a viver em comunidade, precisaríamos antes ensinar este
aluno a reconhecer o outro que não é ele. Para este aluno, pensar a sociedade na sua diversidade a
escola terá que reconhecer nele e nos outros a diversidade social. Entretanto, o que vemos hoje na
escola é a uniformização de nossos alunos diante do imperialismo globalizado do mercado
econômico.
A partir dos princípios apresentados pelo relatório Delors, deve - se desenvolver em nossos
alunos as habilidades e competências já citadas anteriormente, e necessárias para que ele possa
ser aceito no mercado de trabalho. Não há duvida que o aluno deverá desenvolver tais habilidades
ao longo de sua vida, não apenas escolar, mas em todas as suas relações, podendo assim, se
reconhecer como indivíduo que atua e transforma sua realidade e não apenas aquele que é parte

13
Id. , ibid. , p. 70.

9
do sistema de exclusão e exploração social no qual é sujeitado como produto do mercado
econômico.
É inquestionável que nos últimos anos houve uma grande ampliação no acesso à escola, por
parte dos jovens entre 15 e 17 anos no Brasil, mas, ao mesmo tempo, não se pode dizer que houve
melhora na qualidade do ensino. Um aspecto importante a ser observado em relação ao discurso
do Governo Federal, no que tange a educação de ensino médio, é o fato de que esta é a primeira
vez na história brasileira que o ensino médio é incluído como ensino obrigatório, nas Leis de
Diretrizes e Bases Educacional atual. A importância deste fato esta na responsabilidade
governamental, de fornecer a população esta fase da escolarização, tornando – a obrigatória. Em
seu relatório, que resultou no parecer 15/98, Guiomar Namo de Mello reproduz o discurso já contido
em outros relatórios que orientam as diretrizes da educação, e como esta deverá ser organizada
para enfrentar os novos desafios do mercado econômico e do sistema de produção pós – industrial.
Neste parecer Guiomar Namo de Mello se pauta no relatório e nas recomendações da UNESCO
para estabelecer os princípios que devem direcionar a educação brasileira, princípios estes que são
norteados pelas relações do mercado econômico, Segundo este parecer, devemos formar alunos
capacitados para as exigências desta nova realidade. Ainda, segundo o parecer 15/98 devemos
abarcar entre os conteúdos escolares temas como sensibilidade, igualdade, identidade, leveza, a
delicadeza e a sutileza.14 O aluno também deve ser preparado para suportar a inquietação, conviver
com o incerto e o imprevisível. E apesar de tudo isso, primar pela qualidade e a estética da
sensibilidade, buscando sempre o aprimoramento nas práticas e processos, ambos se associam ao
prazer de fazer bem feito e com satisfação. Como diz a relatora: “O ensino de má qualidade é, em
sua feiúra, uma agressão a sensibilidade, e por isso, será também antidemocrático e antiético”15.
O texto segue esta linha de raciocínio pautada pela visão de que a escola deverá promover a
formação de um sujeito sensível, criativo e inquieto. Entretanto, é um discurso vazio, com palavras
de grande apelo emocional, mas sem conteúdo político. Cada qualidade citada acima aparece como
produto a ser consumido no ”supermercado da educação”. A questão é que quando alguém com
grande poder de decisão e direcionamento de um processo social pensa qualidade e democracia
como sinônimo de beleza, é motivo para nos preocuparmos seriamente com o resultado do que
estamos ajudando a construir. Se os agentes da educação forem pensar o currículo dentro de tais
concepções, estaremos construindo uma outra subjetividade humana. Para Antônio Flávio Moreira,
as reformas curriculares tem o papel de agir como instrumento de controle da escola, do professor e

14
Citação do texto, Parecer 15/98 de Guiomar Namo de Mello.
15
Id. , ibid. , p. 75.

10
do aluno. O currículo representa no interior da escola o sistematizador e organizador do espaço da
sala de aula, sendo o currículo o meio que define as práticas escolares, correspondendo a um
projeto cultural, uma seleção da cultura, uma escolha que parte de um universo mais amplo de
possibilidades. A nossa cultura constitui a fonte do que se inclui ou exclui para o currículo, refletindo
portanto interesses. Portanto não cabe pensar o currículo como instrumento neutro a serviço do
aluno, esse se constitui como espaço de relações de lutas, conflitos e de poder. Constitui-se
também como um dos espaços de construção da identidade. Para Tomaz Tadeu Silva é no
processo curricular que somo produzidos como sujeitos particulares, portanto, não podemos nos
espantar com a importância que vem sendo dada à construção de novos currículo escolares para
atender as políticas e reformas educacionais deste momento16.
Segundo Antônio Flavio Moreira, ao abarcar tantos propósitos, as reformas têm na verdade
uma função, a de se fazer crer que existe de fato uma estratégia política para melhorar a qualidade
da oferta educacional. Porque os programas de reformas promovidos evocam uma ressonância na
opinião publica, levando nos a acreditar que estamos vivendo um momento de grandes
transformações sociais, mesmo quando os atores sociais envolvidos não participam do resultado da
reforma. Entretanto vêem se representados em um discurso de intenções que acaba sendo
reproduzido em sala de aula, mesmo que este não se reverta em novas práticas, que possivelmente
transformariam a realidade social. Mas para que isto se tornasse realidade seria preciso reordenar
as novas forma de controle do social e do político. A escola representa um importante aparato de
controle ideológico e de qualificação de mão-de-obra, ela é chamada a cumprir seu papel
qualificando produtos para o mercado de trabalho.17

AS TRANSFORMAÇÕES LOCAIS: O PROEM – PROGRAMA EXPANSÃO, MELHORIA E


INOVAÇÃO MÉDIO DO PARANÁ

Temos acompanhado no Paraná uma reforma que atende a todos os requisitos exigidos pelo
Banco Mundial. Como cita o relatório preliminar do PROEM em sua apresentação. “O Programa é
parte integrante da política da Secretaria de Estado da Educação do Paraná o Ensino Médio. E terá
parte financiado, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID”.18 Ainda na apresentação
deste texto encontramos detalhamentos sobre a implementação do projeto em cinco anos. O

16
CJ. Moreira, Antônio Flávio. In: Silva, T.T. e Moreira ªF. (org) Territórios Contestados, o currículo e os
Mapas Políticos e Culturais, Petrópolis, 1998, Ed. Vozes . Este texto foi parafraseado.
17
Id. , ibid. , p 118.

11
documento não deixa duvidas quanto a sua relação direta com os interesses do mercado
econômico mundial:

“A garantia da efetividade da execução das ações propostas pelo Programa está relacionada ao engajamento
da comunidade paranaense, em especial da educacional. Isto porque as propostas dele constantes implicam
em mudanças pedagógicas e estruturais significativas para o alcance da equidade, eficiência e eficácia no
Ensino Médio do Paraná”.19

Quando este relatório cita a participação da comunidade ele está se referindo aos cargos de
confiança da Secretaria de Educação, neste caso os diretores, os chefe de área e os chefes de
núcleo, que são indicados ou pela secretaria ou por deputados com grande demanda de votos na
região. Lembrando ainda que os princípios de equidade, eficiência e eficácia, citados
anteriormente, estão diretamente ligados ao interesse do mercado, pois, trabalham com os
princípios que norteiam a dinâmica empresarial. Assim Gestão e Gerência de Qualidade Total,
como apresenta a introdução do documento tem o objetivo apenas de atender as exigências do
mercado, Como citado no relatório do PROEM:

“A estratégia preconizada pelo de Ação – Gestão 1995/1998 – Plano ABC da Secretaria da Educação da
Educação, está orientada por três princípios fundamentais: I. permanência do aluno na escola, assegurando-lhe
melhor aproveitamento escolar e maior qualidade e relevância das aprendizagens; II. bons professores,
proporcionando-lhes permanente capacitação e incentivos ao desempenho profissional; III. Participação da
comunidade na condução do processo educativo, privilegiando o processo de alianças e parcerias.”20

Podemos perceber que o acesso e permanência do aluno na escola, é a principal preocupação


do Governo do Paraná. Quando se trata de qualidade esta é passível de questionamento, na
realidade cotidiana o que se vive é uma pressão dos chefes de área sobre os diretores, e dos
diretores sobre os professores, que, nos conselhos de classe, são pressionados a aprovar alunos
que não alcançaram o desempenho mínimo de 50% em até três disciplinas; qualidade neste caso
significam alto índice de aprovação de alunos.
Quando o documento se refere a qualidade profissional do professor, ele prevê a capacitação
dos docentes, o estimulo à ascensão e a mobilidade na carreira profissional. Prevê - se também a
elaboração de um novo plano de carreira para profissionais da educação que atuam no Ensino

18
PROGRAMA EXPANSÃO, MELHORIA E INOVAÇÃO NO ENSINO MÉDIO DO PARANÁ –
PROEM, DOCUMENTO SÍNTESE, Apresentação. Curitiba, 1996.
19
Id. ,

12
Médio. Entretanto aquilo que se observa na prática, o que vem ocorrendo ao longo dos últimos
anos, é a contratação dos professores em caráter provisório, pelo Paraná Educação (empresa
contratada pelo governo do Paraná para administrar o sistema de contratação dos novos
professores da rede pública do sistema de ensino paranaense). Essa situação divide os professores
em três categorias: o professor padrão, que prestou concurso público, o professor contratado por
regime da CLT; e o professor como já citado contratado pelo Paraná Educação. Estes dois últimos,
mantém sempre o caráter provisório de contratação e a permanência do professor na escola em
que esta trabalhando, estando sempre sob a ameaça da demissão ao final de cada ano letivo.
Outro aspecto importante apontado no texto, diz respeito a participação da comunidade na
condução do processo educativo. Isto se verifica no estabelecimento de alianças e parcerias para
gerir as necessidades da escola, como a manutenção de laboratório de informática e construção de
área esportiva. Assim, as escolas terão que buscar junto as empresas o financiamento dos curso
que pretendam oferecer, e os cursos oferecidos serão financiados pelos empresários, tendo que
atender aos interesses de seus patrocinadores, e por conseqüência atender aos interesses do
mercado econômico. Como citado no PROEM ao observar a necessidade “da aquisição de
habilidades adequadas ao desempenho técnico em mercados de trabalho dinâmicos e
competitivos.”21 É pertinente observar que não estamos questionando a formação técnica,
necessária ao aluno trabalhador, para sua inserção imediata no mercado de trabalho. Estamos
interrogando a forma de acesso a esta formação, ressaltando que, até o momento o Governo do
Paraná não ofertou vagas para a formação técnica na rede pública de ensino. Esta formação,
segundo os documentos já citados, é de responsabilidade do Governo, e se daria nos cursos de,
pós – médio, isto é cursos oferecidos aos alunos após o término do Ensino Médio, ou paralelamente
ao Ensino Médio, ofertando ao aluno condições de se inserir no mercado de trabalho mesmo sem o
acesso a Universidade.
Aquilo que estamos presenciando hoje é a proliferação de cursos à distancia, que se utilizam do
espaço físico da escola pública, mas cobra dos alunos uma taxa mensal. Alguns cursos, de
interesse do mercado, são oferecidos para a comunidade nas instituições privadas, com altas taxas
de mensalidade, inviabilizando o acesso do aluno que não dispõe de recursos para o pagamento.
Não há duvida de que a universalização do ensino básico é uma grande conquista social, mas o
acesso a este ensino simplesmente não representa uma melhoria na qualidade do ensino brasileiro.
No Estado do Paraná devido ao aumento da demanda e às novas exigências do mercado de

20
id. , ibid. , intrudução.
21
id. , ibid. , p 4.

13
trabalho, houve uma grande ampliação do numero de vagas, mas ao mesmo tempo uma crescente
política de aceleração escolar, com os projetos já citados anteriormente. Com estes processos de
aceleração o Estado eliminou a defasagem escolar, entre série e idade, mas manteve a defasagem
do conhecimento.
Segundo as analises feitas por alguns autores que vêm discutindo este novo modelo de
educação, podemos compreender que, não existe melhor exemplo do que o campo da educação
para observarmos como os princípios neoliberais têm discursivamente reestruturado a educação de
acordo com a lógica do mercado. A educação agora possui uma nova função, formar um novo
sujeito para o mercado de trabalho. Diante destas políticas, as pessoas são constantemente
pressionadas a desenvolver atividades que são definidas por estes discursos, como exemplo:
marketing, publicidade e gerência. Estes discursos provocam mudanças nas relações sociais
transformando assim o comportamento do homem no mundo do trabalho, do qual ele é totalmente
dependem Ao analisarmos o PROEM podemos observar o desenvolvimento dessa nova
linguagem:

“A educação média de formação geral visará o aprofundamento e consolidação das aprendizagens do


ensino fundamental, proporcionando preparação básica para a cidadania e o mundo do trabalho. Será
orientada pelos princípios da eficiência, eficácia e equidade. A educação profissional pós – média estará
voltada para as demandas do desenvolvimento econômico do Estado e do mercado de trabalho. E
organizar- se- á segundo a empregabilidade de seus futuros egresso.”22

Como podemos compreender, há um paradoxo no Estado neoliberal, e pelo fato deste Estado
pregar um doutrina limitadora do papel do Estado. Entretanto, o que se observa é o fortalecimento
deste mesmo Estado sob as políticas neoliberais.
Ao buscarmos no PROEM o conceito de sujeito que o texto pretende criar, encontramos essa
subjetividade sugerida por Michel Peters, o “Homo economicus”, isto é uma subjetividade voltada
para o consumo. Outro aspecto abordado no PROEM é sobre a nova função do diretor da escola,
que agora passa á ser o Gestor administrativo, equiparando - se ao empresário que administra
uma empresa a escola agora deve ser administrada objetivando a produção. Este novo sistema
administrativo tem como base a implementação dos sistemas de avaliações permanentes, de
informações gerências, do desenvolvimento curricular, com o objetivo de avaliar o desempenho de
alunos, professores e escolas. Neste ponto do PROEM vemos claramente o princípio de Gerência

22
Id. , ibid. , p 14.

14
de Qualidade Total, sistema que já faz parte do processo de avaliação das empresas. Como é
possível, perceber em nenhum momento, o documento do PROEM fala da democratização das
instituições escolares, pois quando se trabalha com a lógica do mercado econômico, se trabalha
com a lógica da empresa. Assim, notamos que democracia e empresa são conceitos que não
pertencem a um mesmo universo de valores, desse modo a eliminação da democracia do espaço
da escola, despolitiza a educação colocando - a á disposição do mercado.
Podemos então perceber a forma como a cultura da empresa se aplica a este modelo
administrativo escolar proposto nas atuais reformas. Para efetivar sua ação o governo pretende
desenvolver estratégias, como, o projeto de planejamento Estratégico, o sistema de Informações
gerências, o sistema de Avaliação Permanente, a unidade de Desenvolvimento de Currículo, o
projeto de Autonomia da Escola, o projeto Mobilização Social e Marketing, e o projeto de Infra –
Estrutura Administrativa. Entretanto, o Governo encontra alguma resistência nas comunidades para
finalizar a implantação de seus programas, não conseguindo obter o consenso da comunidade
escolar em torno deste projeto. Como o projeto não atende aos interesses da comunidade escolar e
por não ter sido discutido com ela a comunidade vem criando dificuldades para a sua
implementação. E possível perceber, ao longo o documento do PROEM, o seu caráter impositivo,
pois não interessa ao Governo que se discuta suas ações quando esta tem o objetivo de promover
a despolítização dos espaços de resistência.
Para concluir a análise do documento do PROEM, é necessário observarmos como se pretende
desenvolver as ações de implementação do projeto. Para alcançar os objetivos proposto pelo
PROEM e atender às exigências contratuais do BID – Banco Interamericano de
Desenvolvimento, é necessário:
(...) à instituição, implantação, implementação e manutenção do projeto, no período de 5 anos, para se
executar o programa. Que ficará a cargo da Secretaria de Estado da Educação SEED, através da
Superintendência de Educação/Departamento de Ensino de 2 º Grau – DESG. Contará para tanto, com um
gerente geral de execução e uma equipe multidisciplinar responsável pela implementação das ações
pertinentes aos diversos componentes do Programa
O gerenciamento do PROEM ficará a cargo da Unidade de Coordenação do Programa – UCP/PROEM, a que
cabe assegurar a eficiência e a eficácia dos processos de planejamento, implantação, monitoramento e
avaliação prevista, em consonância com as normas e orientações emanadas do agente financiador – BID –
Banco Interamericano de Desenvolvimento.”23
Como é possível observar o discurso de autonomia, com já foi citado no inicio do trabalho, não
corresponde a autonomia política, pois, o controle de todo o processo de reforma já esta definido

23
Id. , ibid. , p 53.

15
previamente pelo governo. Assim é possível perceber o quanto esta autonomia é restrita a busca de
parcerias por parte da escola para a manutenção do processo de reforma. Criando, um profundo
antagonismo na forma de propor e executar as reformas no interior da escola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de um projeto para a educação, que visa transformá-la em um agente da racionalidade


econômica, é de extrema importância que toda a comunidade reafirme um compromisso e
resignifique a qualidade educacional. Para tanto, a noção de qualidade deverá ser política e
democrática. Assim podemos trabalhar a racionalidade econômica no interior da escola, entretanto
não podemos reduzir a escola a um objeto exclusivo da racionalidade econômica. Como já
sabemos, os atuais projetos de reformas educacionais, vêm sendo impostos por Governos
neoliberais, sem que haja uma consulta ampla à comunidade. Portanto, é compreensível que estes
projetos encontrem resistência entre os sujeitos envolvidos, isto é, entre os alunos os professores e
a comunidade escolar como um todo. Não participando da construção do projeto, estes sujeitos não
se reconhecem nele enquanto atores sociais não encontrando significado para a sua participação
na execução das reformas.
Pensar sobre uma educação de qualidade, como projeto político, significa repensar o currículo,
os métodos de ensino e processos de avaliações. Dentro do processo histórico, observar a
qualidade significa procurar compreender como a composição da oferta educacional transformou-
se nas estruturas de classe e em outros eixos de dominação social. Portanto, para entender a
educação como um processo de construção de novas relações sociais, onde o conhecimento
enquanto um bem simbólico possa estar à disposição de toda a comunidade; é necessário que se
compreenda do papel da escola na sociedade como um todo.
É neste contexto que o Paraná vem implantando o PROEM, com o intuito de obter empréstimos
dos Bancos internacionais. O Governo do Estado do Paraná foi o primeiro a implantar as reformas
propostas pelo Governo Federal. A hipótese apresentada neste trabalho procura mostrar que, as
reformas são para a manutenção da sociedade de consumo e não para a transformação desta
sociedade. As escolas não educam para a vida, mas sim, para o trabalho e para a manutenção do
trabalho de exploração. Podemos notar ainda, que o conceito de “vida”, isto é, de “ensino para a
vida”, está reduzido à produção, ao trabalho e ao consumo de bens. Da forma como as reformas
são propostas, não é possível pensar uma transformação do homem e da sociedade, através do
conhecimento.

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