Você está na página 1de 118

Professora autora/conteudista:

ELISABETH CASOY
É vedada, terminantemente, a cópia do material didático sob qualquer
forma, o seu fornecimento para fotocópia ou gravação, para alunos
ou terceiros, bem como o seu fornecimento para divulgação em
locais públicos, telessalas ou qualquer outra forma de divulgação
pública, sob pena de responsabilização civil e criminal.


SUMÁRIO
1 – Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

1. O Renascimento como transposição do período feudal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

2. Renascimento: descoberta do mundo e do homem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2 – O Renascimento, a cultura e a ciência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

3. O Renascimento, a cultura e a ciência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

4. Renascimento e particularidades da arte renascentista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

5. Pintores renascentistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

6. Literatura, escultura e arquitetura renascentistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52


6.1 Escultura renascentista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
6.2 Arquitetura renascentista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

3 – Considerações sobre o maneirismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

7. Considerações sobre o maneirismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

8. O barroco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
8.1 Estilos e tipos de arte barroca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

9. Rococó . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

10. Arte neoclássica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

11. O romantismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
11.1 Impacto do romantismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

4 – O realismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

12. O realismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

13. Arte moderna: a passagem do século XIX para século XX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114

Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116

Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117




1 – INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO
O Renascimento foi uma explosão cultural, política, científica e intelectual ocorrida na Europa
entre os séculos XIV e XVII. Na opinião de muitos historiadores, representa talvez o período mais
importante do desenvolvimento humano desde a queda da Roma antiga. A partir de suas origens em
Florença, cidade da Itália, no século XIV, o Renascimento espalhou-se por toda a Europa, e a fluidez
de suas ideias foi mudando e evoluindo para integrar o pensamento e as condições culturais dos
locais que atingia, embora permanecendo sempre fiel aos seus ideais. O Renascimento é também
considerado o início da Idade Moderna.

Muitos pesquisadores de história estabelecem como marco para a consolidação do Renascimento


e a emergência da Idade Moderna o dia 29 de maio de 1453 (século XV), data da queda de
Constantinopla, capital do Império Bizantino, conquistada pelos turcos otomanos. Para Gombrich
(2015), o Renascimento estende-se, então, até princípios do século XVII, tendo seu auge nos
séculos XV e XVI. Já a Idade Moderna se estenderia para os historiadores até o século XVIII, mais
precisamente 1789, ano da Revolução Francesa, quando se inicia a Idade Contemporânea, contada
até os dias atuais. O Renascimento representa um boom na exploração de novas alternativas,
comércio, casamentos de interesses econômicos, incursões diplomáticas e globalização, longos
períodos de guerras e as reformas religiosas – Protestante e Contrarreforma.

Tal como aconteceu com os antigos gregos e romanos (dos quais o Renascimento foi buscar
toda a sua inspiração), um exército conquistador, representado pelos otomanos, que conquistaram
parte da Europa Oriental, trouxe não só uma mudança de regime, mas também uma revisão cultural
de grande amplitude. O Renascimento mudou o mundo em quase todas as formas imagináveis.
Tinha um tipo de efeito “bola de neve”: cada novo avanço intelectual abria caminho para outros.

A Itália, no século XIV, foi um terreno fértil para o início de uma revolução cultural. A Guerra
dos Cem Anos e a Peste Negra haviam matado milhões de pessoas na Europa, com estimativas
de uma em cada três, entre 1346 e 1353 (HUBERMAN, 2011). Isso provocou mudanças na vida em
sociedade, na arte e na economia.

Pág. 4 de 118


Figura 1 – Retrato de Lorenzo de Medici, óleo sobre tela de Rafael Sanzio (pintado entre 1516 e 1519)

O conceito de que as obras de arte merecem ser levadas a sério, não como meras decorações ou ícones
religiosos, mas como exibições únicas da imaginação e do intelecto do ser humano começaram na
Itália, no Renascimento. Pintores magníficos como Sandro Botticelli, Fra Filippo Lippi, Michelangelo,
Ghirlandaio, entre outros, tinham algo importante em comum: todos eram radicados na Florença do
século XV e tinham vínculos estreitos com uma família que os patrocinava: os Medici. A família Medici
está entre os patrocinadores de arte mais renomados da história, mas eles também são reconhecidos
como os arquitetos da economia moderna. O Banco Medici foi pioneiro em aspectos cruciais das finanças
modernas, como transações internacionais e negociações de câmbio entre diversas moedas europeias.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Portrait_of_Lorenzo_di_Medici.jpg.

Em termos econômicos, isso significava que aqueles que sobreviveram à peste e à guerra ficaram
com uma riqueza proporcionalmente maior, com menos pessoas herdando mais, ou simplesmente em
virtude da oferta e demanda, já que, com menos trabalhadores disponíveis, os salários aumentaram
naturalmente. No topo da sociedade italiana, havia uma nova elite de governantes, com necessidade
de demonstrar o status da sua riqueza de forma a perpetuá-la para a história. Famílias como os
Medici, de Florença, voltaram seus olhos com entusiasmo para as antigas civilizações romanas e
gregas, que lhes serviam de motivação, e também para os artistas que dependiam de seu patrocínio.

Pág. 5 de 118


A Itália foi inundada pelos clássicos resgatados do mundo antigo, e artistas como Leonardo
da Vinci, Botticelli, Michelangelo, Rafael e Donatello levaram para suas pinturas os contos, os
heróis e os deuses das antigas Grécia e Roma, como ponto de partida para a criação de uma arte
de expressão extraordinária.

No entanto, a arte renascentista não se limitou simplesmente a “parecer bonita”. Por trás da nova
temática, surgiu uma nova disciplina intelectual. A perspectiva foi desenvolvida, a luz e a sombra
foram estudadas, e a anatomia humana foi examinada em busca de um novo realismo e um desejo
de capturar a beleza do mundo como realmente era. O Renascimento revisitou a ambição intelectual
das civilizações clássicas e foi além, ampliando os limites do que o homem conhecia e do que até
então havia conseguido realizar.

Ao mesmo tempo que os artistas estavam criando um novo e ousado realismo, especialmente
na pintura e escultura, os cientistas estavam envolvidos com uma revolução própria. Copérnico
e Galileu desenvolveram uma compreensão sem precedentes do lugar que o planeta ocupa no
cosmos, provando que a Terra girava em torno do Sol. Os artistas também faziam especulações
científicas ou apoiavam-se nas descobertas dos cientistas e filósofos. A revolução da inteligência
e da expressão humanas experimentou uma aproximação e integração entre a arte, a ciência e a
filosofia jamais vistas. Os avanços na química permitiram um aprimoramento na fabricação da
pólvora, enquanto um novo modelo de matemática estimulava os novos sistemas de negociação
financeira e tornava mais fácil do que nunca navegar por todo o mundo.

A navegação foi aprimorada extraordinariamente pelos navegadores renascentistas. Colombo


descobriu a América, Vasco da Gama liderou uma expedição para navegar da Europa à Índia e Pedro
Álvares Cabral chegou ao Brasil. O conhecimento expandiu-se em tamanho e significado inserido no
contexto do humanismo renascentista e da nova compreensão do universo. Ao mesmo tempo, os
territórios expandiram-se significativamente à medida que novos continentes foram encontrados,
novas terras colonizadas, novas culturas descobertas, com suas próprias crenças e entendimentos
adicionados ao grande escopo intelectual que atravessava toda a Europa. Pensadores radicais como
o protestante Martinho Lutero e o humanista Erasmo de Roterdã expuseram uma nova maneira de
olhar para o mundo, que devia menos à subordinação cega à Igreja Católica e mais às possibilidades
inerentes à mente humana.

Pág. 6 de 118


Os grandes avanços científicos que o Renascimento propiciou também contribuíram para


um dos seus maiores legados: a imprensa. Em 1440, Gutenberg apresentou sua prensa de tipos
móveis para o mundo, e isso permitiu pela primeira vez que os livros e o conhecimento pudessem
ser produzidos em massa. Uma única prensa poderia produzir 3.600 páginas por dia, resultando em
uma explosão de literatura e ideias sem precedentes na história. Em 1500, as impressoras na Europa
Ocidental produziram mais de 20 milhões de volumes. E, até 1600, esse número já havia subido
para 200 milhões (HUBERMAN, 2011). Lutero e Erasmo tornaram-se best-sellers, assim como, mais
tarde, poetas, dramaturgos e romancistas. As novas ideias dos pensadores livres, matemáticos e
cientistas tornaram-se acessíveis para as massas, e a arte e a ciência tornaram-se, pela primeira
vez na história humana, verdadeiramente democráticas.

As sementes do mundo moderno e de grande parte do que somos hoje foram plantadas e cultivadas
no Renascimento. Da possibilidade de circundar o mundo pela navegação até a descoberta do sistema
solar, desde a beleza do Davi de Michelangelo até a perfeição da Mona Lisa de Leonardo da Vinci,
do gênio de Shakespeare à audácia de Lutero e Erasmo, bem como de avanços impressionantes na
ciência e na matemática, o homem conseguiu atingir novas alturas em um período de mudanças
acentuadas. O Renascimento mudou o mundo, e a arte humanística e renovadora do período abriu
caminho para todos os movimentos artísticos que vieram a seguir: barroco, rococó, arte neoclássica,
romantismo, realismo, até a arte moderna e posteriormente a contemporânea.

Pág. 7 de 118


1. O RENASCIMENTO COMO TRANSPOSIÇÃO DO PERÍODO FEUDAL


O Renascimento foi um movimento sócio-político-cultural iniciado no século XIV na Itália,
estendendo-se até o século XVII por toda a Europa, na qual estava construída a civilização do Velho
Mundo. O Renascimento, também chamado de Renascença ou Renascentismo, é identificado como
um período marcado por modificações estruturais da sociedade dessa civilização e é considerado
uma ponte entre a Idade Média, tratada injustamente como a Idade das Trevas, e a Idade Moderna.

A era medieval, ou Idade Média, ocorreu no período que se estende aproximadamente da queda
do Império Romano do Ocidente, no século V, até o início do Renascimento, no século XIV. A filosofia
medieval, entendida como um projeto de inquérito filosófico independente, começou em diversas
regiões europeias com o colapso do Império Romano e na França (antigo Império Franco), na
corte itinerante de Carlos Magno, no último quarto do século VIII. É definida em parte pelo início da
redescoberta da cultura antiga desenvolvida na Grécia e em Roma no período clássico.

A história da filosofia medieval é tradicionalmente dividida em dois períodos principais. O


primeiro é o período do oeste latino (Gália – atual Itália –, França, Bélgica e Alemanha), após a Idade
Média precoce, até o século XII, quando as obras de Aristóteles e Platão começam a ser resgatadas,
preservadas e cultivadas na chamada era de ouro (resgate da mitologia grega). Os séculos XII ao XIV,
no oeste latino, testemunharam o culminar da recuperação da filosofia clássica antiga, em especial
pela colaboração dos escritores árabes, oriundos da ocupação de parte da Europa pelos otomanos,
com desenvolvimentos significativos no campo da filosofia da religião, da lógica e da metafísica.

A era medieval foi tratada depreciativamente pelos humanistas do Renascimento, que


consideravam esse como um período bárbaro entre a era clássica da cultura grega e romana e o
renascer, ou restauração, dela. Os historiadores modernos, no entanto, consideram a Idade Média
como uma etapa da história da humanidade fortemente influenciada por uma filosofia de vida
que se apoiava na teologia cristã. Um dos pensadores mais notáveis da época, Tomás de Aquino,
nunca se considerou um filósofo e criticava os filósofos por “ficarem sempre aquém da sabedoria
verdadeira e adequada que se encontra na revelação cristã, porque a filosofia deve ser uma serva
da fé em Deus” (HAUSER, 2000, p. 159).

Pág. 8 de 118


Figura 2 – Arte bizantina da Idade Média

Fonte: https://2.bp.blogspot.com/-jUh_qJzXzrw/WJiEL1b5FyI/AAAAAAAABNU/
RY_x5zOzW6AIqtXnzcBEkggoxKYOtzfQACEw/s1600/Arte-Bizantina.png.

Os problemas discutidos durante esse período foram a relação da fé com a razão, a existência
e a simplicidade de Deus, o propósito da teologia e da metafísica, os problemas do conhecimento
e da consciência do indivíduo submetidos aos desígnios de Deus. Os mosteiros estavam entre o
número limitado de pontos focais de aprendizagem acadêmica formal, que pode ser presumida
como resultado da regra de São Benedito, de 525, que exigia que os monges lessem diariamente
a Bíblia e sugeria que, no início da Quaresma, um exemplar desse livro cristão deveria ser dado a
cada monge (STORING, 2009) Em períodos posteriores, os monges foram encarregados de formar
administradores religiosos para as igrejas, mas todo o ensino formal do período era oferecido nas
abadias.

Os chamados bárbaros estiveram na maioria das nações europeias da Idade Média. Tratava-
se de povos magiares (húngaros), mongóis e vikings, que invadiram territórios ou que visitavam a
Europa em busca de transações comerciais. As invasões bárbaras foram realmente responsáveis
pela transição do mundo clássico para o medieval.

Pág. 9 de 118


Os bárbaros não eram todos primitivos, nem eram “bárbaros” no sentido de incivilizados e foras
da lei. O termo na época significava basicamente “estrangeiro”, alguém de fora da região. Os gregos
cunharam o termo. Para eles, os estrangeiros falavam ininteligivelmente, como se estivessem
emitindo sons para enxotar cães – algo como “bar-bar-bar”, daí o termo bár-ba-ro (HAUSER, 2000).
No período clássico, o significado original, quase onomatopeico, era “gaguejando” e representava
todos aqueles que falavam uma linguagem desconhecida e incompreensível. Apenas mais tarde,
na era medieval, por extensão, o termo passou a designar todos os estrangeiros.

Conclui-se, então, que a influência cultural desses estrangeiros era grande e incisiva em parte
da região europeia no período medieval, fosse nas relações sociais, no comércio ou nas artes.

A educação dos meninos de famílias nobres era confiada aos monges, que ensinavam a ler e
escrever em latim. Isso era muito importante, porque tanto a Bíblia quanto os serviços da igreja
usavam essa linguagem. Alguns meninos de famílias ricas eram “titulados” em particular. Além da
educação bélica, eles aprendiam as sete artes liberais: gramática latina, retórica, lógica, aritmética,
geometria, astronomia e música. As meninas não eram ensinadas a ler ou a escrever. Crianças
pobres passavam seu tempo trabalhando nos campos e cuidando da casa e aprendiam somente
o que precisavam para sobreviver nesse sistema social.

Deve-se notar que outras partes do mundo prosperaram nessa era. África do Norte, Oriente
Médio, China, Índia e outras partes do mundo estavam experimentando grandes mudanças.

A organização social também teve como consequência a mudança de determinados hábitos


cristalizados desde o período clássico. Durante os anos do Império Romano, os pobres eram
protegidos pelos soldados do imperador. Quando o império caiu, não havia leis que os protegessem,
então eles voltaram-se para os senhores de terras e seus exércitos, permitindo que eles agissem
em seu nome para manter a paz. Essa vontade de serem governados propiciou a emergência do
feudalismo.

Alguns camponeses eram livres, mas a maioria deles tornou-se servidores (servos) dos senhores
feudais em troca de um pedaço de terra para se dedicarem à agricultura, pagando um aluguel muito
alto em forma de parte significativa da sua produção. Os dogmas da Igreja Católica e a ideologia
do teocentrismo (Deus como centro de todas as coisas) mantinham a ordem e as coisas estáveis,
embora conflitos sociais ocorressem em diversas partes do território europeu.

Pág. 10 de 118


O arcabouço social construído em torno desses paradigmas refletiu-se decisivamente nas


manifestações artísticas, cujo dogma maior era: “O artista é um olho a serviço de Deus” (GOMBRICH,
2015, p. 177). A arte medieval do mundo ocidental cobre um amplo intervalo de tempo e espaço,
de mais de mil anos na Europa e às vezes no Oriente Médio e na África do Norte, e inclui grandes
movimentos e períodos de arte, arte nacional e regional, gêneros, avivamentos, artesanato de
artistas famosos e os estilos dos próprios artistas. A presença dos temas ditados pela teologia do
cristianismo foi recorrente nas expressões artísticas até a emergência do Renascimento.

A arte medieval foi produzida em muitos meios expressivos, e as obras que permanecem para a
posteridade em grande número incluem escultura, obras arquitetônicas, manuscritos e iluminuras,
vitrais, trabalhos em metal e mosaicos, todos os quais tiveram uma taxa de sobrevivência maior do
que outras mídias, como pinturas de paredes a fresco, trabalhos em metais preciosos ou têxteis,
incluindo tapeçarias. Especialmente no início do período, os artistas dedicaram-se às chamadas
artes menores ou artes decorativas, como trabalhos em metal, escultura de marfim, esmalte e
bordados usando metais preciosos, que provavelmente foram mais valorizados do que as pinturas,
a escultura ou a arquitetura monumental.

Figura 3 – Torre de Londres, remanescente do século XI

Exemplo expressivo da chamada arte românica, ou arte normanda. A maioria das amostras existentes do
estilo na Inglaterra compreende a arquitetura que os normandos ergueram após a invasão da ilha em 1066.
A arte normanda refere-se ao estilo de arte que foi desenvolvido e empregado pelos normandos na Europa.
Povo de origem viking, os normandos inicialmente se estabeleceram na Normandia, norte da França, no século
X, e foram se deslocando para Inglaterra, sul da Itália, Sicília, Irlanda e Escócia até o final do século XII.

Fonte: https://fr.wikipedia.org/wiki/Fichier:Tower_of_London_viewed_from_the_River_Thames.jpg

Pág. 11 de 118


CURIOSIDADES

Fundada há quase um milênio, a Torre de Londres foi expandida ao longo dos séculos pelos reis e
rainhas inglesas. As primeiras fundações foram colocadas em 1078, e o castelo foi constantemente
melhorado desde então.

Leia um fato curioso sobre ela em: http://www.curionautas.com.br/2017/06/os-corvos-da-torre-de-


londres.html (Acesso em: 12 jul. 2017).

Os historiadores da arte tentam classificar a arte medieval em grandes períodos e estilos,


muitas vezes com alguma dificuldade. Um esquema geralmente aceito inclui fases posteriores
da arte cristã primitiva, arte dos povos germânicos, arte bizantina, arte insular, pré-românica, arte
românica e arte gótica, assim como muitos outros períodos dentro desses estilos centrais. Além
disso, cada região, principalmente durante o processo de se tornarem nações ou culturas distintas,
teve seu próprio estilo artístico diferenciado, como arte bizantina, anglo-saxônica ou arte nórdica.
De qualquer forma, a arte praticada na maior parte do território europeu seguia a mesma imposição
filosófica orientadora de todas as manifestações sociais e culturais, com Deus como centro de
todas as coisas. Esse paradigma permaneceu até a ruptura proposta pela filosofia renascentista.
Uma peça incomum e altamente significativa, no entanto, é a tapeçaria de Bayeux, que muitas vezes
é incluída tanto no patrimônio da arte anglo-saxônica quanto no da arte normanda (ver figura 4).

Pág. 12 de 118


Figura 4 – Tapeçaria de Bayeux do século XI

Imagem de uma tapeçaria do século XI, possivelmente o trabalho têxtil mais conhecido na história da arte. É um
bordado medieval que retrata eventos da conquista da Inglaterra pelos normandos. Assim como a maioria das
outras peças da Idade Média que são tradicionalmente chamadas de tapeçaria, esse artefato não é realmente
feito nessa arte, ou seja, em que o desenho e o esquema de cores são executados na trama do tecido. É um
bordado muito bem executado, no qual o padrão é costurado com fio de lã em um pedaço de tecido pré-existente.
Um trabalho importante da arte medieval, a tapeçaria de Bayeux é uma fonte rica de informações históricas.

Fonte: http://lounge.obviousmag.org/anna_anjos/assets_c/2013/08/
WilliamtheConquerorTrans-thumb-600x417-45235.jpg.

O Renascimento surgiu como uma proposta disruptiva de todos os paradigmas medievais,


em especial porque recolocou o homem como centro de todas as coisas – postura central das
civilizações grega e romana –, em oposição ao teocentrismo medieval. Foi um período de atividade
filosófica abrangente e, na maioria absoluta dos aspectos, distinta.

Um pressuposto fundamental do movimento renascentista era que os restos da Antiguidade


Clássica constituíam uma fonte inestimável de excelência a que os tempos modernos degradados e
decadentes poderiam recorrer para reparar os danos causados desde a queda do Império Romano.
Muitas vezes, supunha-se que Deus havia dado uma única verdade unificada à humanidade e que
as obras dos antigos filósofos preservaram parte desse depósito original da sabedoria divina, que
dava ao homem autonomia para decidir seu destino no mundo.

Pág. 13 de 118


Esse pensamento não só estabeleceu as bases para uma cultura acadêmica que se centrou
em textos antigos e sua interpretação, mas também promoveu uma abordagem de interpretação
textual que se esforçou para harmonizar e conciliar correntes filosóficas divergentes. Estimulada por
textos recém-disponíveis, uma das características mais importantes da filosofia do Renascimento
é o interesse crescente pelas fontes primárias do pensamento grego e romano, que anteriormente
eram desconhecidas ou pouco lidas.

O estudo renovado do neoplatonismo, do estoicismo, do epicurismo e do ceticismo corroeu a


fé na verdade universal da filosofia teocentrista e ampliou o horizonte filosófico, fornecendo uma
rica semente, da qual a ciência moderna e a filosofia moderna gradualmente emergiram. A base da
filosofia da Renascença apoiou-se no aristotelismo, no humanismo, no platonismo, nas filosofias
helenísticas e nas novas filosofias da natureza.

Pág. 14 de 118


2. RENASCIMENTO: DESCOBERTA DO MUNDO E DO HOMEM


O Renascimento testemunhou a exploração a novos continentes e o desenvolvimento do comércio
no Mediterrâneo. Assistiu ao heliocentrismo copernicano tomar o lugar do sistema ptolomaico de
astronomia. Presenciou o declínio do sistema feudal e o surgimento de inovações potencialmente
poderosas como a impressão, a bússola e a pólvora. Para os estudiosos e pensadores daquele
tempo, no entanto, foi principalmente um momento do renascimento da aprendizagem clássica e
da sabedoria. Depois de um longo período de estagnação cultural, a vida voltara a pulsar.

Figura 5 – O nascimento de Vênus

A arte renascentista é rica não só em termos de beleza, estética e técnica, mas também das cores e dos
símbolos que traz, com uma linguagem visual perspicaz. Existem alguns símbolos que mantiveram consistência
no seu significado e são recorrentes em obras-primas proeminentes. Uma dessas obras é O nascimento de
Vênus (pintada entre 1484 e 1486 por Sandro Botticelli), que continua a ser um dos tesouros mais profundos
do Renascimento Florentino. O trabalho, pintado em têmpera em tela, retrata a figura nua feminina da deusa
Vênus, que emerge do mar. Foi encomendado por Lorenzo, o Magnífico (1449-1492), da família Medici, que
no círculo humanista do período Quattrocento do Renascimento estava particularmente interessado na
mitologia clássica (greco-romana), e marca o ponto culminante do ressurgimento dos mitos antigos.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Nascimento_de_V%C3%AAnus#/media/
File:Sandro_Botticelli_-_La_nascita_di_Venere_-_Google_Art_Project_-_edited.jpg.

Pág. 15 de 118


Após a diminuição da presença dos bárbaros na Itália, a sociedade tomou consciência de sua
antiga cultura (a da Roma antiga), despertando nas pessoas um desejo de reproduzi-la. Isso foi
possível devido à retomada dos estudos clássicos que simbolizavam sua grandeza no passado.
Para os italianos de então, a língua latina era familiar, o que facilitou a leitura dos diversos tipos de
registros até então escondidos em depósitos controlados pela Igreja Católica. Para Hauser (2000),
a Itália do século XV era uma região privilegiada, dois séculos à frente de seus vizinhos. De todas
as regiões circunvizinhas, a mais avançada relativamente era a França, mas pouco.

O espírito italiano, dito moderno, foi determinado a partir de algumas circunstâncias, dentre as
quais é possível destacar:

• a implantação do modelo de instituições políticas trazidas pelos lombardos da Alemanha,


povo germânico originário da Europa Setentrional que colonizou o vale do Danúbio e, a partir
dali, invadiu a Itália bizantina em 568;
• a influência da cavalaria, guerreiros montados a serviço da nobreza, cuja ascensão ocorreu
após a crise do Império Romano, entre os séculos V e X; e
• Sobretudo, o poder exercido pela Igreja.

No entanto, a história do Renascimento não é a história das artes ou das ciências ou da literatura
ou até mesmo das nações, e sim a história da realização da liberdade autoconsciente pelo espírito
humano manifestado pelos povos da Europa de então. Não é mera transformação política, uma
nova forma de arte, uma restauração de padrões clássicos de bom gosto. As artes e as invenções, o
conhecimento e os livros que de repente se tornaram vitais na época do Renascimento permaneceram
durante muito tempo negligenciados nas margens do Mar Morto durante a Idade Média. Não foi
sua descoberta que causou a Renascença, mas a energia intelectual, a explosão espontânea da
inteligência, que permitiu à humanidade fazer uso deles naquele momento.

A força então gerada ainda continua vital e presente no espírito do mundo moderno. Da mesma
maneira, não se pode atribuir todos os fenômenos do Renascimento a uma determinada causa ou
circunstância, ou ainda limitá-los ao domínio de um setor específico que contribui com a construção
do conhecimento humano. Para os apreciadores das artes, o período corresponde à revolução que
transformou a arquitetura, a pintura e a escultura, libertando-as da estética medieval. Estudantes
de literatura, filosofia e teologia veem no Renascimento, com a descoberta dos manuscritos, a
paixão pela Antiguidade Clássica, marcada pelo registro da poesia de Homero e, finalmente, com
o luteranismo, a libertação da consciência.

Pág. 16 de 118


Os homens descobriram na Antiguidade Clássica um ideal de vida humana, tanto moral como
intelectual. Por outro lado, houve um destaque aos homens da ciência, como os estudos astronômicos
de Nicolau Copérnico e Galileu Galilei, a anatomia de Andreas Vesalius e a teoria da circulação do
sangue de William Harvey. Juristas descreveram a dissolução de suposições legais com base em
falsos decretos, a aquisição de um verdadeiro texto do Código Romano e a tentativa de introduzir
um método racional na teoria da jurisprudência moderna, além do estudo do direito internacional.

O período também registra a exploração da América e do Oriente, assim como os benefícios


conferidos ao mundo pelas artes da impressão e da gravação, pela invenção da bússola e do
telescópio e pela descoberta do papel e da pólvora. No entanto, essas digressões não são capazes
de ultimar a dimensão do termo Renascimento. Um movimento natural não deve ser explicado por
esta ou aquela característica, mas ser aceito como um esforço da humanidade.

Dessa forma, é prudente resistir à tentação de estabelecer verdades absolutas em relação às


dinâmicas que contribuíram para esse período intricado da história da humanidade, tendo em vista
a complexidade do tema aqui investigado. Seria, do mesmo modo, um erro grosseiro ignorar por
completo a arte produzida durante a Idade Média.

Symonds (2005) chama a atenção para o risco que se corre ao utilizar certas palavras como
sinônimos para descrever episódios marcantes da história humana. Pode-se dizer que Renascença,
Reforma e Revolução sejam momentos semelhantes da História, mas não se referem à mesma coisa.

À luz dos estudos dedicados à história das civilizações, é possível observar que, posteriormente à
dissolução das estruturas que mantinham o Império Romano, a possibilidade de qualquer renovação
intelectual era algo impensável, devido a presença dos bárbaros na região. Em linhas gerais, para que
houvesse algum tipo de renovação da mentalidade da época, seria necessário, antes de tudo, criar
um ambiente pacífico e a solução de algumas questões indispensáveis, por exemplo, a formação
de uma língua moderna.

A primeira nação a reunir os pressupostos necessários para consagrar a nova era foi a Itália,
pois já possuía um sistema linguístico consolidado, além de estar localizada geograficamente numa
região contemplada por clima favorável. Outros aspectos que contribuíram para que o país assumisse
um papel de destaque durante o Renascimento foram a liberdade política e certa prosperidade
comercial, ao contrário de outros países, que viviam num estado constante de conflitos.

Pág. 17 de 118


O Renascimento foi um fenômeno intelectual com vistas ao racionalismo, ao humanismo e ao


naturalismo, baseados na convicção de que tudo poderia ser explicado pela razão, ou seja, pela
observação da natureza e do universo de forma calculada e matemática. Neste cenário, a mentalidade
propagada pela Igreja durante a Idade Média tornou-se anacrônica.

Durante a Idade Média, o homem viveu na penumbra, no interior das igrejas, distante da beleza
do mundo natural. O dogma, a autoridade e a escolástica foram os responsáveis por um período
de ignorância na mentalidade das pessoas. Sem condições de evoluir materialmente, as nações
viam-se presas à situação de inércia em seu desenvolvimento e mantinham-se em sua parca
sobrevivência. O humanismo foi o elemento central no Renascimento, pois valorizava o ser humano,
considerando-o a obra mais perfeita de Deus. Surgiu, então, o antropocentrismo renascentista, ou
seja, a imagem do homem como centro das preocupações intelectuais e artísticas.

O naturalismo, o hedonismo e o neoplatonismo foram outras características importantes do


movimento renascentista. O naturalismo afirmava que as leis naturais são as regras que regem a
estrutura e o comportamento do universo natural; o hedonismo afirmava que o prazer era o bem
supremo da vida humana; e o neoplatonismo não acreditava no mal, mas pregava uma visão otimista
de que tudo era bom, ou que algumas coisas eram apenas menos perfeitas que outras.

Para Hauser (2000), no Renascimento, diferentemente do que ocorria na Idade Média, surgiu um
conceito dinâmico do homem. O desenvolvimento pessoal e a história de desenvolvimento social
passam a coexistir em todas as categorias fundamentais de relacionamentos e, nessa condição, a
liberdade e a fraternidade assumiram-se como categorias ontológicas imanentes.

Pág. 18 de 118


Figura 6 – A Escola de Atenas

A Escola de Atenas é uma pintura do mestre italiano Rafael Sanzio (1483-1520). Essa obra e é
lembrada como a perfeição dos ideais artísticos e filosóficos do Renascentismo. A pintura apresenta
várias figuras da Grécia clássica e é uma declaração do ideal de convivência entre os seres
humanos da filosofia grega pagã e da moderna cultura italiana cristã que se inaugurava.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Sanzio_01.jpg.

Na perspectiva de Hauser (2000), a dificuldade em definir o homem renascentista reside no


fato de que as concepções do período a respeito das relações humanas se tornaram dinâmicas,
diferentemente do que ocorria antes, quando não havia espaço para o homem comum diante da
supremacia pessoal do rei e do papa.

Nesse ponto, é importante ressaltar que, ao contrário do que se pode imaginar, o Renascimento
não surgiu como um sopro divino. Roger Bacon, ainda no século XIII, proferia sua crença na Bíblia,
mas defendia a razão como condição indispensável para a formulação de hipóteses que poderiam
vir a ser confirmadas pela experiência. Seu interesse pelo racionalismo despertava certo incômodo
por parte da Igreja, pois perscrutava as ciências matemáticas e a filosofia, sobretudo natural, talvez
com maior curiosidade do que convinha (GOMBRICH, 2015).

Pág. 19 de 118


Podemos citar também os aforismos dos cátaros, dos paterini, dos fraticelli, dos albigenses
e dos hussitas. Estes, em sua maioria, queimaram no fogo divino da Santa Inquisição porque
repudiavam a Igreja em plena Idade Média. Um esforço a ser reconhecido é o de Frederico II, rei da
Germânia, imperador do Sacro Império Romano-Germânico (1220-1250) e primo de Tomás de Aquino,
que, durante sua existência, travou duros embates com os estados pontifícios, numa tentativa de
inaugurar uma nova sociedade pautada pelo espírito de tolerância moderno. Porém, assim como
outros tantos que ousaram lançar luz sobre a escuridão daquele período, também foi excomungado.

Embora tenha havido movimentos que, em certa medida, ensejavam ideias que seriam
compreendidas como pilares conceituais do Renascimento, essas tentativas não vingaram.
Primeiramente, pelo fato de a Igreja Católica reagir brutalmente aos ensaios de liberdade de
pensamento, tornando essas tentativas fragmentárias e sem efeito. Em segundo lugar, como ressalta
Hauser (2000), somente a Itália estava pronta para uma transformação de tal monta.

Feita a ressalva, à luz dos estudos da história da arte, o Renascimento italiano está dividido em
três fases. Ainda que apresentem características em comum, como o humanismo e a inspiração
na arte clássica, eles diferem em alguns aspectos.

A primeira fase, conhecida como Trecento, começou nos anos 1300 em Florença e é considerada
como o período pré-Renascimento. Nessa fase inicial da cultura renascentista, destacaram-se
Dante Alighieri, Petrarca e Boccaccio na literatura e especialmente Giotto (líder da chamada Escola
Protorrenascimento) na pintura (ver figura 7).

Pág. 20 de 118


Figura 7 – Beijo de Judas, afresco de Giotto di Bondone (pintada entre 1304 e 1313), característica do período
Trecento

Beijo de Judas, afresco de Giotto di Bondone (pintada entre 1304 e 1313), característica do período Trecento.

Fonte: http://pt.bcdn.biz/Images/2017/4/27/36ef7435-2794-4dd0-9153-f4c9b1ada678.jpg.

O termo trecento, palavra italiana que significa “trezentos” é resumo de milletrecento, ou “mil
e trezentos”, que significa o século XIV (1300 a 1400). Trata-se de um período altamente criativo,
que testemunhou o surgimento da pintura, da escultura e da arquitetura pré-renascentistas. Uma
vez que o Trecento coincide com o movimento pré-renascentista, o termo é frequentemente usado
como sinônimo de arte protorrenascentista, isto é, a ponte entre a arte gótica medieval e o início
da Renascença. Os principais tipos de arte praticados durante o período mostraram relativamente
pouca mudança para os tempos medievais românicos. Eles incluíram: pintura a fresco, pintura em
painel de têmpera, pintura e ilustração de livro, ourivesaria e trabalho em metal.

Pág. 21 de 118


Dante Alighieri (Florença, Itália, 1265-1321), considerado pelo filólogo alemão Erich Auerbach
(apud HAUSER, 2000), pesquisador de sua obra, como o pai da literatura moderna, produziu aquela
que seria a obra-prima do período, Comédia (Commedia), renomeada pelo poeta e crítico literário
italiano Giovanni Boccaccio (1313-1375) como A divina comédia (La divina commedia). Nela, o
autor, contemporâneo à Idade Média, narra sua viagem pelo inferno, pelo purgatório e pelo paraíso,
dimensões simbólicas oriundas do conceito de pós-morte propagado pelo cristianismo do século
XI que, em sua retórica, atribuía ao prazer um sinônimo para perdição e uma passagem ao pecado.
Nessa obra, Dante estabelece um diálogo com poetas da Antiguidade, mas produz seus textos na
língua vernácula inculta, diferentemente de outros autores consagrados, que o faziam no latim
tradicional.

Os três livros (Inferno, Purgatório e Paraíso) que compõem A divina comédia estão divididos em
33 cantos (espécie de capítulos), compostos por tercetos. O livro destinado ao inferno, no entanto,
possui um canto introdutório, totalizando 100 cantos e 14.230 versos hendecassílabos em terza
rima, um encadeamento de tercetos que rimam em esquema ABA, BCB, CDC, DED, EFE, como se
pode observar no fragmento a seguir, inicialmente no original e depois traduzido para o português
(ALIGHIERI, 1958, Canto I, p. 9):

Nel mezzo del cammin di nostra vita (a)

mi ritrovai per una selva oscura (b)

ché la diritta via era smarrita. (a)

Ahi quanto a dir qual era è cosa dura (b)

esta selva selvaggia e aspra e forte (c)

che nel pensier rinnova la paura! (b)

Tant’è amara che poco è più morte; (c)

ma per trattar del ben ch’i’ vi trovai, (d)

dirò de l’altre cose ch’i’ v’ho scorte. (c)

Io non so ben ridir com’i’ v’intrai, (d)

tant’era pien di sonno a quel punto (e)

Pág. 22 de 118


che la verace via abbandonai (d)

Tradução de Pinheiro:

Da nossa vida, em meio da jornada (a)

Achei-me numa selva tenebrosa (b)

Tendo perdido a verdadeira estrada (a)

Dizer qual era a coisa tão penosa (b)

Desta brava espessura a asperidade (c)

Que a memória a relembra inda cuidadosa (b)

Na morte há pouco mais de acerbidade (c)

Mas para o bem narrar lá deparado (d)

De outras coisas que vi, direi verdade (c)

Contar não posso como tinha entrado (d)

Tanto o sono os sentidos me tomara (e)

Quando hei o bom caminho abandonado (d)

O mapa simbólico criado para localizar o inferno, o purgatório e o paraíso é dividido em nove
círculos cada, formando, no total, 27 círculos. A estrutura triádica – baseada na Santíssima Trindade
– encontrada nesse poema épico de viés teológico ganha eloquência ao se verificar que três também
é o número de personagens criados pelo autor: o próprio Dante, compreendido como a personificação
do homem, Beatriz, que é a personificação da fé, e Virgílio, a personificação da razão – esta última,
bastante representativa dos ideais renascentistas.

Pág. 23 de 118


A divina comédia foi magnificamente ilustrada pelo pintor renascentista Sandro Botticelli.
O original é um livro manuscrito, ilustrado por 92 desenhos coloridos por técnicas especiais de
pintura que estão catalogadas entre as melhores obras do pintor renascentista. As imagens são
na maior parte desenhos a bico de pena (traços monocromáticos feitos com tinta líquida e uma
ponta de prata – silverpoint), muitos trabalhados com tinta a óleo líquida, e quatro páginas são
totalmente coloridas (GOMBRICH, 2015). O manuscrito desapareceu, provavelmente escondido pela
Igreja Católica, e a maioria foi redescoberta no final do século XIX, encontrada por museólogos na
coleção do duque de Hamilton de Lanarkshire (Escócia). Além disso, algumas páginas separadas
foram encontradas na Biblioteca do Vaticano (HAUSER, 2000) (ver figura 8).

Figura 8 – Mapa do Inferno, de Sandro Botticelli

Como pintor renascentista, Sandro Botticelli (1445-1510) ficou fascinado pelo autor da Divina comédia, que
viveu dois séculos antes. Ele recebeu de um membro da família Medici, Lorenzo di Pierfrancesco, o trabalho
de ilustrar uma cópia da obra. Os desenhos levaram muitos anos para serem executados e revelam a
extraordinária sensibilidade de Botticelli e o conhecimento aprofundado que adquiriu do poema de Dante.

Fonte: https://unalucciola.files.wordpress.com/2014/01/310.jpg?w=700&h=488.

Pág. 24 de 118


CURIOSIDADES

A Commedia de Dante foi escrita em uma época em que a poesia era reservada especialmente para
os afluentes da sociedade. Na magnífica obra, ele conseguiu unir a eloquência e o vernáculo que
iriam mais tarde definir a língua italiana, opção pela qual ele foi duramente criticado. Essa escolha,
entretanto, tornou-o amplamente popular, pois ele é considerado o pai da língua italiana. Além disso,
ele é importante para a literatura moderna porque suas obras inspiraram alguns dos maiores poetas
que o mundo produziu, como John Milton e William Shakespeare. Leia a curiosa história da literatura
criativa de Dante no artigo Dante: poemas autobiográficos, disponível em: http://www2.uol.com.br/
entrelivros/reportagens/dante_poemas_autobiograficos_imprimir.html.

A divina comédia é, sem dúvida, um obra singular no portfólio de Dante Alighieri, porém, há
de se destacar seu livro Vida nova, produzido entre 1292 e 1293. Nele, o autor inaugura o que se
convencionou chamar de literatura moderna, segundo Hauser (2000). Esse é considerado o primeiro
livro da literatura moderna e foi traduzido do idioma italiano para diversas línguas. A excelência de
Vida nova refere-se principalmente à sua raridade e também à unicidade quanto ao gênero literário,
por se tratar do primeiro prosimetrum (composição poética que combina prosa e verso) ocidental.

Além de Dante, Francesco Petrarca (1304-1374) e Giovanni Boccaccio (1313-1375) igualmente


propagaram a ideia de que a liberdade intelectual era algo inegociável. Petrarca, devoto cristão,
mas precursor do humanismo, estimava a realização do potencial humano e também a valorização
da fé. Dentre seus escritos mais polêmicos, estão 19 cartas intituladas Liber sine nomine, que
foram retiradas de seu Epistolae familiares e seniles com intuito de proteger a identidade de seus
interlocutores, que, em sua maioria, eram padres e bispos.

Boccaccio, como mencionado anteriormente, foi quem renomeou a obra-prima de Dante para
A divina comédia. Assim como Petrarca, ele prenunciava ideias humanistas com a publicação de
obras como Visão amorosa, De claris mulieribus, a biografia de Dante Trattatello in laude di Dante,
além, é claro, do famoso Decameron (HAUSER, 2000) (ver figura 9).

Pág. 25 de 118


Figura 9 – Uma cena do Decameron, pintada por Franz Xaver Winterhalter (1805-1873)

Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-hQTM-KhHALg/UHPtQJRQT7I/AAAAAAAAJqM/
vvYT9-0n1Pc/s640/1+Xaver_Winterhalter_Decameron.jpg.

Decameron é uma coleção de cem histórias sobre a humanidade contada por dez jovens (dez
histórias cada um) na época da Peste Negra, que abateu a Europa no século XIV, quando homens,
mulheres e crianças morriam aos milhares todos os dias, embora nenhuma história nessa obra
literária se refira à praga. As histórias como um todo são sobre a nova vida, sobre a sobrevivência
e a atividade humana que repovoará o mundo. A tese central da obra é que as pessoas podem
ser felizes, prósperas e criativas, mesmo nos piores momentos, porque o ser humano, ou parte da
humanidade, sobreviverá, já que nada apaga a força vital.

É preciso lembrar que a invenção da máquina de impressão também foi responsável pela
emergência do Renascimento. Em 1439, o alemão Johannes Gutenberg inventou a prensa de impressão
de letras móveis intercambiáveis e o livro impresso. William Caxton levou essa máquina para a
Inglaterra em 1477 (HAUSER, 2000). Ao longo do tempo, foram criadas máquinas de impressão na
Itália, na França, na Bélgica e em outros países europeus. Assim, os livros puderam ser publicados
facilmente em um curto período de tempo. As pessoas puderam obter obras para estudar e aprender.
A máquina de impressão difundiu a cultura, ajudou a educação e a alfabetização e foi um veículo
importante para as reivindicações sociais.

Pág. 26 de 118


As realizações do Renascimento foram orientadas pela redescoberta do mundo e, consequentemente,


pela descoberta do homem dinâmico, traduzido, em certa medida, por moderno. No entanto, Hauser
(2000) adverte para a dificuldade em decretar se estes ou aqueles autores pertencem a este ou àquele
período. O problema reside em ignorar a fluidez do conceito de Renascença. Para o autor, Petrarca,
Boccaccio, Gentile da Fabriano, Pisanello, Jean Fouquet, Jan van Eyck, Dante e Giotto pertencem
à Renascença, e Jean-Baptiste Poquelin (1622-1673), conhecido como Moliére, considerando seu
modo de pensar, à Idade Média. Nesse sentido, baseado nos estudos da história social da arte e
da literatura, é possível afirmar que a era moderna teve início com o Iluminismo, no século XVIII.

É incontestável que, durante o Renascimento, o espírito de liberdade intelectual lançou luzes


sobre as sombras que encobriam a visão do homem medieval, habitante das masmorras da
ignorância construída e defendida pela retórica da Igreja. Essa dinâmica, lenta, mas inabalável, foi
substituída pelo renascimento do desejo de ser e de saber das antigas Grécia e Roma. Os homens do
Renascimento desenvolveram um novo pensamento, que se manifestou na arquitetura, na política,
na ciência, na literatura e especialmente nas artes plásticas.

Figura 10 – A anunciação, pintura de Leonardo da Vinci, de 1472

Da Vinci foi uma das mentes mais brilhantes e mais criativas, senão a maior, do Renascimento
italiano, extremamente influente como artista e escultor, mas também imensamente talentoso
como engenheiro, cientista e inventor. Nasceu em 15 de abril de 1452, perto da cidade toscana
de Anchiano, filho ilegítimo de um advogado local. Foi aprendiz do escultor e pintor Andrea del
Verrocchio em Florença e, em 1478, tornou-se um mestre independente (GOMBRICH, 2015).

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Anuncia%C3%A7%C3%A3o_(Leonardo_da_Vinci)#/
media/File:Leonardo_da_Vinci_-_Annunciazione_-_Google_Art_Project.jpg.

Pág. 27 de 118


A consolidação dessas ideias deu-se nos anos de 1400, na cidade de Florença, que ostentava
o título de sede da cultura renascentista. Esse período é conhecido como Quattrocento, chamado
também de Alta Renascença, que possui como característica sua urbanidade. O poder, centrado no
senhor (geralmente um comerciante rico ou nobre), confere-lhe um status, um nível de superioridade
nas decisões da vida cotidiana e política. Essa nova ideia de cidade exigiria também um estudo
racional do espaço praticado, pois a utopia da cidade ideal é o ponto de encontro do pensamento
político e do pensamento estético renascentista (HAUSER, 2000).

O Quattrocento italiano foi o período no qual se evidenciou a convivência, por vezes antagônica,
de várias concepções de cultura. A ideia tomista que defendia a simplificação da arte era contradita
pelo cientificismo apregoado pelos ideais humanistas e, ainda, pela concepção neoplatônica de
Marsílio Ficino, que compreendia a beleza como equivalente ao amor advindo da inteligência
divina. Gombrich (2015), ao descrever Leonardo da Vinci, fornece a chave para se compreender a
Renascença. Ícone da renascença florentina, Leonardo, em sua vida e obra, apresenta a curiosidade
intelectual, o encantamento pelo fazer científico e pelo realismo calculado. Patriótico, sempre
assinou “Leonardo, o Florentino” em suas produções.

Pág. 28 de 118


Figura 11 – A Virgem das Rochas, pintura de Leonardo da Vinci

O retrato original foi realizado por Leonardo pouco depois de se colocar a serviço de Ludovico Sforza,
Duque de Milão. A contratação foi para várias pinturas de painéis para decorar a ancona (um altar de
madeira esculpido e concebido para acomodar imagens) na capela da Immacolata da Igreja de San
Francesco Grande, em Milão. A obra começou a ser feita em abril de 1483 e finalizada em 1486. Uma
segunda versão foi feita em Londres entre 1495 e 1508, encomendada como substituta para a Igreja
de San Francesco Grande. Ambas as pinturas religiosas são obras-primas da arte renascentista, e essa
segunda cópia não é menos importante do que a primeira, porque também está inserida entre um punhado
de obras conhecidas e pintadas e assinadas por “Leonardo, o Florentino” (GOMBRICH, 2015).

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Virgem_das_Rochas#/media/
File:Leonardo_Da_Vinci_-_Vergine_delle_Rocce_(Louvre).jpg.

Pág. 29 de 118


Nesse cenário do Quattrocento, a partir da valorização do sujeito reflexivo diante dos fenômenos
naturais, surge uma disciplina que problematizará sobremaneira o conceito de belo: a teoria da
arte, ou estética. A ideia de historicizar a arte surgiu durante o Renascimento, tendo como objetivo,
classificar as diferentes formas de produção artística através do tempo. Seu caráter classificatório
baseia-se na periodização e nas características intrínsecas das obras, com intuito de “facilitar”, em
tese, a compreensão das respectivas produções (HAUSER, 2000). Argan (2003) destaca a importância
de Leon Battista Alberti (1404-1472) na construção dessa teoria, considerando-o filósofo, arquiteto
e teórico da arte. Por meio de Alberti, a arte assume um novo eixo paradigmático, adquirindo uma
nova concepção autônoma e hegemônica. Seu estudo culminou em seus três tratados, constituindo
uma abrangente teoria da arte na pintura, na escultura e na arquitetura.

Alberti apontou para o processo operativo e o projetivo, a gênese e a estrutura da forma. Ele
escreveu a carta magna da pintura toscana no Quattrocento, em que abordou de modo sistemático
a concepção da perspectiva brunelleschiana e explorou o seu desenvolvimento no campo da
representação. Já na escultura, concebeu a teoria da estátua, que humanizou a figura de pessoas
famosas, e, na arquitetura, redigiu em Roma (seguindo o esquema do tratado de Vitrúvio) a importância
do estudo dos monumentos arquitetônicos para a elaboração do fundamento do classicismo
renascentista.

Essa longa, mas necessária citação sintetiza os pilares conceituais que orientaram a produção
artística de Leonardo da Vinci, Sandro Boticelli, Masaccio e Filippo Brunelleschi.

Pág. 30 de 118
Figura 12 – Perspectiva de Fillipo Brunelleschi para construção da Igreja de San Lorenzo e a construção ar-
quitetônica final, como se apresenta até os dias atuais

Os artistas renascentistas concentraram-se no desenvolvimento de novas técnicas e métodos artísticos


de composição e efeito estético. Além do interesse renovado pela Antiguidade Clássica, eles incluíram a
formulação da perspectiva e a ênfase nas formas arquitetônicas. Uma das características distintivas da arte
renascentista é o desenvolvimento da perspectiva linear. Embora antes dos artistas renascentistas pintores
como Giotto tentassem usar a perspectiva em suas pinturas, apenas com o arquiteto italiano Filippo Brunelleschi
(1377-1446) seus princípios foram demonstrados, inicialmente aplicados nos projetos de arquitetura.

Fonte: http://temasycomentariosartepaeg.blogspot.com.br/p/blog-page_878.html e https://i.


pinimg.com/originals/49/75/3f/49753fab1d1150b00cc5366834b517b6.jpg.

Figura 13 – O Reencontro do corpo de São Marcos, óleo sobre tela de Tintoretto (1562)

Tintoretto fazia parte da escola veneziana e era conhecido por sua energia na pintura,
que lhe valeu o apelido de Il Furioso. Seu uso dramático do espaço em perspectiva e de
efeitos de iluminação especiais tornaram-no um precursor da arte barroca.

Fonte: http://pt.wahooart.com/Art.nsf/O/8Y3JXY/$File/Tintoretto-
jacopo-Comin-St-Mark-Working-Many-Miracles-2-.JPG.

Pág. 31 de 118


Durante o Renascimento, houve muitos avanços na ciência, na matemática, na filosofia e arte.


Um dos mais monumentais da arte foi o desenvolvimento da perspectiva linear, que usa princípios
de matemática para retratar o espaço e a profundidade na arte. Os artistas renascentistas estavam
em grande parte preocupados em pintar cenas realistas, e a perspectiva linear deu-se um método
confiável para realizar isso, o que ajudou a tornar suas pinturas ainda mais cativantes.

O terceiro período do renascimento, o Quinquecento, desenvolveu-se durante os anos de 1500,


como o nome sugere. Os artistas começaram a se distanciar da temática religiosa, incluindo temas
profanos em suas obras. Nessa época, o estilo renascentista consolidou-se em diversas partes do
continente europeu. Os artistas que mais se destacaram foram Rafael e Michelangelo e, na literatura,
Erasmo de Roterdã e Maquiavel. Os mecenas, que financiavam as artes, foram essenciais para o
desenvolvimento da arte renascentista desse período.

O Renascimento transformou a vida dos povos europeus, promovendo uma nova visão de
mundo. A partir da defesa do livre acesso ao conhecimento, influenciou as artes, a ciência e a
relação entre o homem e a natureza das coisas. Podemos resumir da seguinte maneira as principais
características do período:

1. Humanismo: movimento intelectual que procura o melhor no ser humano sem se servir da
religião. O teocentrismo (Deus como centro das coisas) cede lugar ao antropocentrismo (o
homem no centro de tudo), e essa foi a principal característica da Renascença. O pensamento
humanista provocou uma reformulação no ensino das universidades, com a introdução de
disciplinas como poesia, história e filosofia. O humanismo tornou-se referência para muitos
pensadores, inclusive para os filósofos iluministas do século XVIII.
2. Racionalismo: defende a ideia de que tudo pode ser explicado pela razão e pela ciência.
Valoriza a experiência baseada no conhecimento científico.
3. Individualismo: enfatiza o valor moral do indivíduo. Representa uma das mais importantes
características do Renascimento associadas ao movimento humanista.
4. Antropocentrismo: refuta a ideia de que Deus está no centro do mundo e coloca o homem
como protagonista do universo.
5. Cientificismo: defende o método científico como forma de investigação.
6. Universalismo: privilegia questões universais. Foi a base de apoio para a filosofia que
orientava as grandes navegações e a descoberta de novos continentes.

Pág. 32 de 118


2 – O RENASCIMENTO, A CULTURA E A CIÊNCIA

3. O RENASCIMENTO, A CULTURA E A CIÊNCIA


Durante a Idade Média, o acesso aos livros era difícil fora do ambiente religioso, o que levava a
um baixo questionamento em relação à retórica praticada pela Igreja. Dessa forma, o Renascimento
científico, inserido no contexto do renascimento cultural, compreende o período no qual a Europa,
durante os séculos XV e XVI, presenciou a libertação da obscuridade. Os pensadores renascentistas,
mesmo com a intensa opressão da Igreja, buscaram procedimentos investigativos de conhecimento
por meio da experimentação, observação e comprovação, sobretudo nos campos de física, medicina,
matemática, geografia e astronomia. Alguns registros sobre a ciência do Renascimento são
importantes, em especial suas influências internas e externas.

Muitas pessoas ainda têm uma perspectiva muito restrita do início da história da ciência,
uma visão acostumada a olhar para o mundo ao nosso redor e achar que as inovações surgiram
especialmente na Europa e, posteriormente, na América do Norte. No Brasil, a maioria considera que
a influência cultural que recebemos é essencialmente europeia. De certa forma, livros de história
mais antigos estabeleceram uma linha entre os antigos gregos e a ciência moderna, afirmando que
as contribuições de outras partes do mundo eram mínimas.

Os historiadores e pesquisadores contemporâneos sabem que isso não é verdade e que outras
civilizações de outras partes do mundo fizeram contribuições significativas para a história da
ciência. Os mesopotâmios, os egípcios, os hindus, os maias e os chineses desempenharam uma
parte considerável, e o Islã preservou o conhecimento dos antigos, acrescentando mais ideias e
conclusões. Com a arrogância cultural moderna despojada, podemos ver que o conhecimento não
é privilégio do Ocidente e que a maioria dos cientistas modernos têm uma grande dívida com os
povos anteriores, especialmente os chamados bárbaros, que invadiram a Europa na Idade Média e
prestaram contribuição significativa, traduzindo muitos dos conhecimentos que adquiriram com a
invasão e queda do Império Romano.

Pág. 33 de 118


A influência árabe na arquitetura e na arte da Idade Média é sensível. Essa visão eurocentrista
surgiu na era do Renascimento na Europa, época em que grandes avanços científicos foram feitos
e a ciência como a conhecemos começou a tomar forma. Em vez dos polímatas (quem sabe tudo
de tudo) da Grécia Antiga e do Oriente Médio, começamos a dividir a ciência em disciplinas como
medicina, astronomia, ciências naturais etc.

Figura 14 – Retrato de Galileu Galilei, óleo sobre tela de Justus Sustermans (1636)

Galileu Galilei (1564-1642) é considerado o pai da ciência moderna porque foi um dos pesquisadores mais
ativos do Renascimento e desenvolveu importantes contribuições para física, astronomia, matemática e
muitas outras áreas científicas. Galileu melhorou consideravelmente o telescópio e descobriu partes do
universo ainda desconhecidas, como as luas de Júpiter e muitas estrelas novas. Usando o telescópio,
ele provou que os planetas estavam se movendo em torno do Sol e não em torno da Terra.

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d4/Justus_
Sustermans_-_Portrait_of_Galileo_Galilei%2C_1636.jpg.

Pág. 34 de 118


O registro de como o Renascimento ocorreu é complicado e impreciso. Os historiadores


costumavam rotular o período da história após a queda de Roma como Era das Trevas, em grande
parte devido à falta de evidências escritas, levando-nos a acreditar que nenhum progresso ocorreu
durante a Idade Média. Entretanto, agora sabemos que a era de ouro islâmica fez avanços científicos
relevantes, e mesmo a Europa do período medieval tinha mentes brilhantes, como Roger Bacon e
Gerbert d’Aurillac. Além disso, universidades surgiram em todo o continente nesse período. Como
resultado, esse período de tempo agora entendido como Idade Média desemboca perfeitamente
no Renascimento, que de certa forma recebe a melhor herança dele, especialmente de tudo aquilo
que foi preservado da cultura clássica pelos povos islâmicos.

Houve um período de renascimento intelectual do século XII em diante, mas que foi interrompido
pela infame Peste Negra em meados do século XIV, a qual matou entre 30% e 50% da população da
Europa e viu as pessoas cada vez mais começarem a migrar entre as diversas partes do continente.
Assim, arbitrariamente, o Renascimento europeu recebe a data 1450 como ponto de partida,
coincidindo com o momento em que os pensadores europeus começaram a receber informações
e conhecimentos de fora da Europa.

Isso ocorreu muito em função do intercâmbio provocado pela Peste Negra entre diversas regiões
e da queda da Constantinopla bizantina para os otomanos, em 1453, fazendo com que muitos
estudiosos fugissem para a Europa, levando textos e conhecimentos com eles para intercâmbio
com os pensadores europeus. Na Espanha, a agitação e a mudança na batalha constante entre
os mouros e os cristãos viram muitos cientistas fugir para a Europa Ocidental, desembarcando
nas grandes cidades italianas de Florença e Pádua, entre outras. Eles atuaram como o núcleo de
um avivamento da aprendizagem e transmissão de conhecimentos, somando-se ao sistema de
academias religiosas criadas por Carlos Magno (742-814), que incentivou os acadêmicos a observar
o funcionamento do universo, tanto fisicamente como pela metafísica.

Determinar quando o Renascimento terminou também é um processo muito mais difícil, porque
o pensamento renascentista se misturou ao iluminismo ao longo de um período de décadas. Muito
tempo depois dessa era, a sua influência na arte e na arquitetura permaneceu, e isso se aplica
igualmente à ciência.

Pág. 35 de 118


As novas influências deram origem ao embate entre o positivismo científico e a metafísica


religiosa, demanda que persiste até os dias atuais. Dentre os pensadores mais proeminentes, podemos
citar Nicolau Copérnico (Toruń, 1473 – Frauenburgo, 1543). O cônego da Igreja Católica, médico,
astrônomo e matemático polonês afirmou que a Terra não era o centro do universo, mas apenas
um planeta que girava em torno do Sol, negando, assim, a teoria geocêntrica defendida pela igreja.

Galileu Galilei (Pisa, 1564 – Florença, 1642), físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano, foi
o criador do método experimental baseado na interpretação dos sentidos e no mundo da matemática
e é autor da teoria da cinemática. Galileu foi submetido ao Tribunal do Santo Ofício, pois seus
pensamentos contrariavam a concepção aristotélica da Igreja. Giordano Bruno (Nápoles, 1548 –
Roma, 1600), filósofo, astrônomo e matemático, foi queimado vivo por defender ideias contrárias
às da Igreja Católica.

Pág. 36 de 118


4. RENASCIMENTO E PARTICULARIDADES DA ARTE RENASCENTISTA


A arte da Renascença enquadra as manifestações artísticas praticadas no período entre os
séculos XIII e XVII, época em que ocorreram mudanças significativas na sociedade europeia. A
denominada arte renascentista inspirou-se na Antiguidade Clássica, período histórico marcado pelo
registro da poesia de Homero, nos séculos VII a VIII a. C., até o fim da Antiguidade Tardia, entre 300
e 476 d.C., momento em que teve início a Idade Média.

Na Antiguidade Clássica, não havia distinção entre arte e técnica, pois o fazer artístico estava
relacionado a uma profissão, e não à fruição estética. O que se pode considerar hoje como obras de
arte eram artefatos produzidos para a arte do uso. Eram utensílios, e seu valor estava diretamente
ligado à excelência do seu feitio e à eficácia dos propósitos alcançados. Quanto mais eficaz, mais
belo.

Nesse sentido, o que se chama hoje de artista era considerado um trabalhador braçal, um artífice,
que era valorizado diante da capacidade de criar objetos com propósito específicos. Para Platão,
cada artífice era um “artista do bem”: um sapateiro era mais valorizado do que aquele que pintava
um sapato, pois era estranha à mentalidade grega a ideia de arte como expressão (HAUSER, 2000).
Por esse motivo, a poesia e a composição musical não eram consideradas como arte. Ademais, na
Idade Média, as artes plásticas eram sufocadas pela cultura religiosa teocêntrica da época, fato que
impedia a evolução formal e temática das obras produzidas até então. O artista que se distanciasse
daquele propósito ideológico e gótico era considerado herege e queimaria no fogo divino, para em
seguida queimar no fogo do inferno.

Nesse ponto, para o bom entendimento do nosso estudo, faz-se necessária uma digressão
para retomar o conceito contido no vocábulo “estética”. Estética (do grego aisthetiké – aquele que
percebe) é o nome dado ao ramo da filosofia que se ocupa de estudar a percepção em relação àquilo
que é considerado belo. Na antiguidade, a estética orientava-se pelos valores morais e apregoava
a tríade: belo, bom e verdadeiro. Platão, Aristóteles e Plotino desenvolveram os primeiros estudos
da estética juntamente com a lógica e a ética, o que referendava o juízo de valor enunciando as
normas gerais do belo. Atualmente, a estética é entendida como filosofia da arte, ocupando-se dos
problemas relativos à experiência estética, ou seja, a contemplação de objetos estéticos e o juízo
que se faz deles.

Pág. 37 de 118


Ao estudar a estética como disciplina filosófica, é possível identificar uma grande variedade de
definições da arte e do belo. Para São Tomás de Aquino, são três as condições necessárias para a
beleza: primeiro, a integridade ou perfeição, pois o que é incompleto é feio por isso mesmo; depois,
a devida proporção ou harmonia; e, por último, a claridade, pois aquilo que chamamos belo tem
cor brilhante. Há de se destacar, no entanto, que, ao estudar a estética como disciplina filosófica,
é possível identificar uma grande variedade de definições da arte e do belo.

Em Platão, por exemplo, o belo existe em si mesmo, separado do mundo sensível, pertencendo
ao mundo das ideias num plano superior e absoluto. Seu conceito afasta-se da participação do
juízo humano. Para o filósofo, o homem tem uma atuação apática diante da ideia do belo. Por isso,
tudo aquilo que está fora do mundo das ideias, pertencendo ao mundo do homem, estaria vinculado
à imitação e à cópia: o pintor só faz reproduzir a aparência do objeto construído pelo artesão; o
poeta só faz copiar a aparência dos homens e de suas atividades, sem a capacidade de realizá-las
(PLATÃO,2011).

O termo “arte da idade das trevas” surgiu na França no século XII disseminando-se por toda a
Europa até o início do século XV, período em que teve início o Renascimento. Foi cunhado pelos
renascentistas para desqualificar a produção artística medieval, considerada bárbara, a exemplo da
arte românica e gótica. Durante a Alta Idade Média (476-1000), a arte românica surgiu como ruptura
ao estilo clássico praticado até então, tornando-se a expressão máxima de um período marcado
por guerras religiosas e pelas disputas de feudos. Naquele cenário, a arquitetura românica esteve a
serviço da defesa. “As igrejas eram verdadeiras fortalezas erguidas com espessas paredes de tijolos
e pedras com reduzidas áreas de ventilação, monumentos românicos por excelência” (ARGAN, 2003,
p. 285) (ver figura 15). Ao contrário disso, a ideia presente na Antiguidade Clássica era a da busca
pela perfeição, em que o equilíbrio composicional e a harmonia foram perseguidos incansavelmente.

Já a arquitetura gótica tornou as igrejas brilhantes, iluminadas e coloridas e com um pé direito


altíssimo, como se estivesse subindo em direção a Deus.

Pág. 38 de 118


Figura 15 – Igreja românica de San Martín de Tours de Frómista, localizada na província de Palencia (Espanha)

Fonte: https://clasedecienciassociales.files.wordpress.com/2015/02/56465-iglesia-de-san-martin-de-fromista.jpg.

O estilo românico refletiu-se principalmente na arquitetura e na escultura, e posteriormente na


pintura. Representa a primeira das duas grandes eras artísticas internacionais que floresceram
na Europa durante a Idade Média. A arquitetura românica surgiu por volta do ano 1000 e durou
até cerca de 1150, altura em que evoluiu para o gótico. Ela estava no auge entre 1075 e 1125 na
França, na Itália, na Grã-Bretanha e Alemanha. Segundo Gombrich (2015), a construção românica, e
principalmente as igrejas, evoluiu do uso extensivo de um arco semicircular (romano) para janelas,
portas e arcadas, uma abóbada de barril (ou seja, arcos que formam um cofre semicilíndrico sobre um
espaço retangular) ou abóbadas de virilha (formadas pela interseção de dois arcos) para sustentar
o telhado da nave. Essa arte altamente espiritualizada revela a preocupação românica com valores
transcendentais, em contraste com a escultura marcadamente mais naturalista e humanística da
era gótica.

Pág. 39 de 118


A fase posterior ao românico é o gótico, em que se destacam as catedrais de Notre-Dame


(1163-1250), Chartres (1194), Sainte-Chapelle (1250), Amiens (1218-1247), Reims (1210) e Rouen
(1202-1880). A arte gótica tinha como função principal o ensino e a manutenção do cristianismo.
Diante do altíssimo número de analfabetos, as pinturas, as esculturas e os vitrais serviram como
um grande texto imagético, ensinando os princípios da religião católica por meio de narrativas
visuais. Influenciada pela arte bizantina, a pintura gótica caracterizava-se pelo geometrismo e pela
liberdade compositiva, que ignorava os conceitos de proporção e equilíbrio, tão valorizados na arte
clássica (figura 16).

Figura 16 – Anunciação, pintura gótica de Simone Martini (1333)

Fonte: http://static.artbible.info/large/martini_annunciatie.jpg.

Pág. 40 de 118


A arte gótica começou na França em 1144, quando o abade Suger completou a primeira igreja
gótica na abadia de Saint-Denis (GOMBRICH, 2015). Em seguida, espalhou-se por toda a Europa,
tornando-se um padrão internacional de cerca de 1250 a 1400. A Itália foi um dos últimos lugares
a adotar o movimento gótico e um dos primeiros a abandoná-lo em favor do seu próprio estilo, o
Renascimento italiano. Na arte gótica, os vitrais tornaram-se a principal forma de decoração do
interior das igrejas. A exceção a essa regra é a Itália, onde as grandes janelas do estilo gótico nunca
alcançaram o papel decorativo central que lhes foi atribuído no norte da França. No entanto, murais,
afrescos e outras formas de pintura foram uma forma importante de decoração das igrejas na Itália.

A arte do Renascimento, entretanto, não foi influenciada por esses estilos, e sim pelos conceitos
da Grécia e de Roma. A arte grega partia de uma elaboração racional para representar, por meio da
escultura, da pintura e da arquitetura, os prazeres da vida cotidiana. Embora os gregos cultuassem
os deuses mitológicos, sua cultura era voltada para as coisas do homem. Assim, a concepção de arte
praticada pelos greco-romanos adere ao principal conceito encontrado nas ideias renascentistas,
o humanismo. Vale ressaltar que, diferentemente das escolas medievais, o humanismo privilegiava
a experiência individual, fazendo do homem um pesquisador autônomo a partir de uma visão
antropocentrista e racionalista do mundo. Nesse sentido, a arte passa a ser uma bela representação
da natureza, agora mimetizada, sob a perspectiva racional das fórmulas matemáticas.

Na contemporaneidade, o principal problema existente nas questões que envolvem as teorias


da arte é definir o que é arte. Frederico Morais, crítico e historiador de arte, em seu livro Arte é o
que eu e você chamamos de arte (1998), reconstitui 2.000 anos de história da arte, registrando 801
definições sobre esta. O autor procura destacar a variedade dos princípios que norteiam o senso
estético e as percepções acerca das funções da obra de arte ao longo da existência humana.

Pág. 41 de 118


5. PINTORES RENASCENTISTAS
A pintura renascentista desenvolve-se durante os séculos XV e XVI nas principais cidades italianas,
como Nápoles, Roma, Ferrara, Urbino, Mântua, Florença e Veneza. Constituída a partir dos ideais
clássicos, como cuidado com o desenho e a harmonia da composição, a pintura do Renascimento
apresentava, na superfície plana, a natureza por meio de um simulacro de tridimensionalidade
conseguido com a aplicação da perspectiva. Esse recurso, além dos efeitos de luz e sombra,
resultou em obras com cenas dinâmicas, muito diferentes da pintura chapada da era medieval, que
preservava as formas estéreis orientadas pela escolástica. No Renascimento, vários pintores de
talento notável destacam-se:

1. Giotto di Bondone (1267-1337): conhecido simplesmente por Giotto, contemporâneo da primeira


Renascença italiana, foi considerado por Boccaccio o percussor da pintura renascentista. Dentre as
obras mais notáveis de sua produção, estão os afrescos A lamentação e Beijo de Judas, pintados
nas paredes da Cappella degli Scrovegni. Para Giotto, a arte é uma operação intelectual, baseada
na história e na natureza, como afirma Argan (2003). A principal característica de seu trabalho é a
representação dos santos com aparência humanizada. O tratamento dado a esses personagens
confirma sua visão humanista do mundo.

Para Gombrich (2015), Giotto foi a mais notável figura da pintura italiana, considerado a primeira
expressão monumental da produção italiana desse período, dando início a uma nova era. Aspectos
como a fé franciscana, o humanismo latente, o formalismo abstrato do Leste, o espírito de liberdade
do Oeste, bem como o colorido sensível, são encontrados em sua obra (ver figura 17).

Pág. 42 de 118


Figura 17 – Afresco de Giotto di Bondone (1302-1305)

Giotto distanciou-se do modelo bizantino, no qual a composição era constituída de elementos pictóricos
apartados, propondo um arranjo composicional mais equilibrado e colorido. Em seus quadros, o tratamento
dado à representação das figuras humanas propõe certo movimento, deixando-as mais críveis. Para o pintor,
o antigo não era questão de sobrevivência, evocação nem modelo, mas experiência histórica para investir
no presente (ARGAN, 2003). Além de Giotto, Fra Angelico, Paolo Uccello, Benozzo Gozzoli, Lorenzo Monaco,
Botticelli, Pollaiuolo, Piero della Francesca e Ghirlandaio foram alguns dos responsáveis pela produção pictórica
desse período, todos motivados pela premissa de que o sujeito deveria agir racionalmente no mundo natural.

Fonte: http://www.artehistoria.com/v2/jpg/GIV15322.jpg.

Pág. 43 de 118


2. Leonardo di Ser Piero da Vinci (Anchiano, 1452 - Amboise, 1519). Conhecido como Leonardo
da Vinci, é reconhecido como um dos maiores gênios da humanidade. Ao longo de sua vida,
dedicou-se a matemática, botânica, anatomia, engenharia, pintura, escultura, arquitetura, música e
literatura, contribuindo sobremaneira com a ciência a partir da disseminação de seus conhecimentos.
Pesquisador inquieto, desenvolveu estudos profundos sobre ótica, hidrodinâmica e aerodinâmica,
o que possibilitou uma série de inventos, como o paraquedas, um tanque blindado, uma vestimenta
especial para mergulho submarino, uma asa-delta e até uma bicicleta.

Embora cortês e independente, aceitava as ordens das autoridades tiranas à época. Afastado
das questões políticas e religiosas, demonstrava-se cético (comparado aos príncipes, cortesãos
e mercadores, que assimilavam os costumes da igreja, mas compactuavam com as ações dos
assassinos libertinos). Não se deve esquecer de que, para a compreensão da Renascença, a chave-
mestra é o ceticismo. É reconhecido como um dos maiores pintores de todos os tempos. Dentre
suas obras, destacam-se A última ceia (Santa Ceia) e A gioconda (Mona Lisa), obra em que a técnica
do sfumato ganha destaque.

Como já mencionado, devido à sua paixão por Florença, assinava “Leonardo, o Florentino”. Há
uma passagem nos estudos de Cheney (1995), importante historiador da arte, na qual fica evidente a
importância das obras Mona Lisa e A última ceia, respectivamente, um retrato, conservado no Louvre,
e um afresco na parede de Santa Maria delle Grazie, em Milão. Duas outras obras, indiscutivelmente
de sua autoria, são de grande destaque: A Virgem das rochas, na Galeria Nacional em Londres, e
Sant’Ana com a virgem e o menino, no Louvre.

De todas as obras, o quadro Mona Lisa é o mais emblemático, por despertar em seus observadores
milhares de comentários sobre a face enigmática da mulher nele retratada. Pode-se estudar a forma
piramidal da estrutura da composição, seu fundo de cena atmosférico, sua face idealizada. Há
menos agudez no desenho, mas não falta a habitual delineação dada pela luz. Notoriamente típicas
da perfeição, estão A Virgem das rochas e Sant’Ana com a virgem e o menino, em que a técnica de
iluminação confere uma dramaticidade à cena e transpassa a atmosfera psicológica do ambiente.

Contudo, é em A última ceia que se encontra o ápice de toda a maestria do pintor: o movimento
individual configura ao plano da composição sua magistralidade. Incrivelmente, o observador tem
seu olhar direcionado à cabeça de Cristo. Por esse motivo, considera-se como uma obra-prima de
pintura científica e mecânica, bem como uma ilustração realista de religiosidade (figura 18).

Pág. 44 de 118


Figura 18 – A última ceia, de Leonardo da Vinci: têmpera sobre “emboço” (reboco)

Criada durante o período 1495 a 1498, a pintura mural de Leonardo da Vinci conhecida como A última ceia
é uma obra-prima do Renascimento italiano e uma das obras mais conhecidas da arte cristã. Ilustra a cena
dos últimos dias de Jesus Cristo, como descrito no Evangelho de João. Flanqueado por seus 12 apóstolos,
Jesus acaba de declarar que um deles o trairá. A imagem retrata a reação de cada discípulo à notícia.
Embora na superfície pareça uma peça exclusiva de arte bíblica, é de fato um trabalho excepcionalmente
complexo, cujo simbolismo matemático, complexidade psicológica, uso de perspectiva e foco dramático
fazem dele o primeiro exemplo real da estética do Alto Renascimento (GOMBRICH, 2015, p 299).

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_%C3%9Altima_Ceia_(Leonardo_da_Vinci)#/media/
File:Leonardo_da_Vinci_(1452-1519)_-_The_Last_Supper_(1495-1498).jpg.

3. Donato di Niccoló di Betto Bardi: Conhecido como Donatello (Florença, 1386-1466), foi um
escultor renascentista italiano. Seu primeiro contato com o fazer artístico deu-se por meio dos
ensinamentos oferecidos pelo proprietário de uma oficina de ourives. Donatello tornou-se um
importante escultor do Renascimento italiano. Dentre suas obras mais expressivas, estão as
esculturas de São Marcos e Gattamelata. O escultor protagoniza uma nova concepção da escultura,
dotado de uma observação diferente da natureza, um estudo original das características reais do
corpo humano (GOMBRICH, 2015) (ver figura 19).

Pág. 45 de 118


Figura 19 – Escultura de Donatello

Escultura de Donatello retratando São João Evangelista, feita em mármore (1408 a 1415), mostra
seu excelente domínio dessa arte. Um dos principais escultores do Renascimento italiano, Donatello
era um mestre em mármore e bronze e tinha um amplo conhecimento de escultura antiga. Ele
também desenvolveu seu próprio estilo artístico conhecido como schiacciato (“achatado”).
Essa técnica utilizava um efeito de luz e sombra para criar a cena pictórica completa.

Fonte: https://www.epochtimes.com.br/donatello-um-dos-maiores-escultores-de-todos-os-tempos/#.WXwPdUbyu70.

4. Alessandro di Mariano di Vanni Filipepi, ou Sandro Botticelli (Florença, 1445-1510): Foi um dos
grandes pintores e retratistas da Renascença italiana. Apadrinhado pela influente família Medici,
Botticelli pintou O nascimento de Vênus. Produzida em têmpera sobre painel de madeira entre os
anos de 1483 e 1485, é uma reinterpretação de mitos relacionados à figura de Vênus que nasce
de uma concha. Nessa obra, o pintor florentino alcança o perfeito equilíbrio composicional, como
ressalta Gombrich (2015). A beleza da Vênus de Botticelli encobre as imperfeições do comprimento
de seu pescoço ou o acentuado caimento de seus braços em relação ao tronco. Esses aspectos
ressaltam a harmonia do conjunto, conseguindo um efeito gracioso e belo que acentua a delicadeza
e a ternura de um ser que foi impelido do mar, como uma dádiva divina (ver figuras 20 e 5).

Pág. 46 de 118


Figura 20 – O nascimento de Vênus, de Botticelli

Detalhe da pintura O nascimento de Vênus, de Botticelli, mostrando o pescoço propositalmente


alongado pelo pintor para melhor estética e para dar maior graça e beleza à deusa.

Fonte: http://www.theartpostblog.com/en/the-birth-of-venus-botticelli/.

5. Tommaso di Ser Giovanni di Simone (San Giovanni Valdarno, 1401 - Roma, 1428): conhecido
como Masaccio, foi um dos precursores no uso da perspectiva. Seu estilo exerceu forte influência
sobre o trabalho de outros artistas, como Fra Angelico, Michelangelo e Rafael. Dentre suas obras
mais conhecidas, estão o Tríptico de San Giovenale; Madonna e menino com Santa Ana; A virgem
com o menino e anjos; A expulsão do paraíso; O pagamento do tributo; A Natividade; São Jerônimo
e São João Batista; São Pedro curando doentes com sua sombra; A ressureição do filho de Teófilo;
e A Santíssima Trindade. Esta última foi uma das primeiras pinturas realizadas segundo as regras
matemáticas de Filippo Brunelleschi (ver figura 21).

Pág. 47 de 118


Figura 21 – A Santíssima Trindade

A Santíssima Trindade (1425 a 1428), pintura de Masaccio em que se nota a perfeição da


perspectiva de forte influência do arquiteto, escultor e ourives Filippo Brunelleschi.

Fonte: http://warburg.chaa-unicamp.com.br/img/obras/mini/trinity.jpg.

6. Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni (Caprese, 1475 - Roma, 1564). Conhecido como
Michelangelo e chamado de O Divino, foi pintor, escultor, arquiteto e poeta. É considerado um
dos maiores gênios da história da humanidade. Sua pintura realizada no teto da Capela Sistina,
na Catedral de São Pedro, em Roma, possui aproximadamente 300 figuras, com destaque para O
juízo final, que se trata de uma obra-prima. Dentre sua produção escultórica, destacam-se a Pietà,
esculpida aos 23 anos, e Davi, que foi esculpida em um bloco único de mármore (ver figura 22).

Pág. 48 de 118


Figura 22 – Pietà

A Pietà (1498-1499) é uma das mais significativas obras da escultura renascentista, produzida por
Michelangelo Buonarroti e atualmente alojada na Basílica de São Pedro, Vaticano. É a primeira de uma
série de obras do artista sobre o mesmo tema. A estátua foi encomendada pelo cardeal francês Jean
de Bilhères, que era um representante em Roma, com o fim de ser seu monumento funerário.

Fonte: http://stpetersbasilica.info/Altars/Pieta/Pieta-GMR_6315.jpg.

7. Raffaello Sanzio (Urbino, 1483 - Roma, 1520): Conhecido como Rafael, foi um mestre da pintura
e da arquitetura durante o renascimento italiano, exaltado pela perfeição e delicadeza de suas
madonas. Rafael inovou as técnicas de pintura utilizando contrastes de luzes e sombras. Seu traço
é suave e simples. Uma das pinturas mais famosas de Rafael é Escola de Atenas, encomendada
pelo Vaticano. Rafael, Michelangelo e Leonardo Da Vinci formam a tríade dos grandes mestres da
Renascença.

Pág. 49 de 118


Figura 23 – O casamento da Virgem, também conhecida como Lo Sposalizio

Esta é uma pintura a óleo do artista renascentista italiano Rafael Sanzio. Completada em 1504 para a igreja
franciscana de San Francesco, em Città di Castello, a pintura retrata a cerimônia de casamento entre Maria e
José. Mudou de mãos várias vezes antes de ser alocada em 1806 na Pinacoteca di Brera (GOMBRICH, 2015).

Fonte: http://temasycomentariosartepaeg.blogspot.com.br/p/blog-page_838.html.

Durante o Renascimento, muitos pintores se destacaram por suas obras. Diante da impossibilidade
de registrar todas as produções aqui, mas cientes da importância deles para a história da arte e
para as pesquisas dos alunos, apresentamos seus nomes a seguir:

Pág. 50 de 118


8. Lista dos pintores renascentistas italianos: Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael Sanzio,
Sandro Botticelli, Andrea del Sarto, Andrea del Verrocchio, Andrea Mantegna, Antonello da Messina,
Antoniazzo Romano, Antonio Pollaiuolo, Bartolomeo Carducci, Bartolomeo Montagna, Benedetto
Ghirlandaio, Benvenuto Tisi, Bernardino Butinone, Bernardino Campi, Bernardino Zenale, Bernardo
Castello, Boccaccio Boccaccino, Biagio d’Antonio, Cesare da Sesto, Cherubino Alberti, Cosimo
Rosselli, Davide Ghirlandaio, Defendente Ferrari, Domenico Ghirlandaio, Domenico Passignano,
Domenico Veneziano, Filippino Lippi, Fiorenzo di Lorenzo, Fra Angelico, Fra Bartolommeo, Francesco
Botticini, Francesco Melzi, Francesco Squarcione, Giambattista Moroni, Giorgio Vasari, Giovanni
Ambrogio Figino, Giovanni da Udine, Giovanni Francesco Bembo, Girolamo da Carpi, Girolamo
Muziano, Girolamo Savoldo, Giulio Campagnola, Giulio Clovio, Giulio Romano, Jacopo da Ponte,
Lavinia Fontana, Lorenzo Costa, Luca Cambiasi, Marco d’Oggiono, Matteo Perez d’Aleccio, Melozzo
da Forlì, Moretto da Brescia, Palma Vecchio, Paolo Uccello, Piero della Francesca, Pietro Perugino,
Pinturicchio, Polidoro de Caravaggio, Ridolfo Ghirlandaio, Ticiano, Tintoretto, Veronese.

9. Pintores renascentistas espanhóis: Alonso Berruguete, El Greco, Pedro Berruguete.

10. Pintores renascentistas portugueses: Francisco de Holanda, Jorge Afonso, Nuno Gonçalves
e Vasco Fernandes.

11. Pintores renascentistas flamengos: Pieter Bruegel e Pieter Huys.

12: Pintores renascentistas franceses: François Clouet e Toussaint Dubreuil.

Pág. 51 de 118


6. LITERATURA, ESCULTURA E ARQUITETURA RENASCENTISTAS


O Renascimento europeu espalhou-se por toda a Europa, ao longo de três séculos, e chegou aos
novos continentes descobertos pelos competentes navegadores europeus. O aumento constante do
nacionalismo, aliado ao primeiro florescimento da democracia, eram traços comuns a toda a região.
Os primeiros sinais de uma classe média começaram a surgir nas cidades, já que o comércio e os
negócios se tornaram proeminentes. O medo do contágio da Peste Negra, uma memória ruim, foi
ficando distante, e as pessoas tornaram-se ansiosas para sair de suas casas e ver mais do mundo.
O comércio internacional e até mesmo mundial começou a avançar. Junto com novos produtos e
riqueza, as ideias também se espalhavam de uma nação para outra.

As modas em Veneza logo se tornaram as modas em Paris e eventualmente em Londres


(Inglaterra), Colônia e Augsburgo (Alemanha) e Andaluzia e Granada (Espanha). A prática bem
conhecida de jovens privilegiados “percorrendo” o continente começou na Renascença. As ideias
que esses viajantes trouxeram de volta à sua terra natal influenciariam a cultura, o governo, a
literatura e a moda por muitos anos depois.

Uma das inovações mais revolucionárias do Renascimento foi a imprensa, colocada em operação
na metade do século XIV por Johannes Gutenberg. As prensas rudimentares já existiam há muito
tempo, originalmente usadas na produção do vinho, mas o design de Gutenberg maximizou a
eficiência de impressão de tal maneira que mudou o mundo das artes, das letras e das ideias para
sempre. Sua maior inovação consistia em um meio para produzir impressos rapidamente por meio
de tipos móveis (inventados há muito tempo pelos chineses), o que significa que novas folhas de
texto poderiam ser estabelecidas e impressas com muito menos esforço do que anteriormente. A
prensa revolucionada permitiu a reprodução rápida e relativamente barata da impressão gráfica.

Certamente, não é coincidência que as taxas de alfabetização tenham caído significativamente nas
décadas que se seguiram à invenção da imprensa. A agitação religiosa conhecida como a Reforma
Protestante não teria sido possível sem a capacidade de fazer muitas cópias de um documento
com rapidez e esforço mínimo. As famosas teses de Martinho Lutero espalharam-se como incêndio
pela Europa Continental graças à nova facilidade de reprodução. Mais ainda do que esse fator, a
impressão mudou toda a economia social da leitura e da aprendizagem. A literatura não era mais
um domínio rarefeito e privilégio da igreja. O efeito de haver literatura prontamente disponível foi
quase inconcebivelmente profundo na democratização da palavra escrita.

Pág. 52 de 118


Outro aspecto dessa inovação que não pode ser negligenciado é o efeito que teve no ato de ler.
Anteriormente, um documento era lido em voz alta para um grupo de pessoas. Na tradição oral,
histórias bíblicas ou humorísticas eram memorizadas e passadas. Graças ao aumento repentino do
material impresso, a leitura comunitária e a tradição oral gradualmente deram lugar a uma leitura
silenciosa e individual. Na época, essa era considerada uma novidade, e havia mesmo aqueles que
consideravam a prática com suspeita. No entanto, a imagem do indivíduo envolvido com o texto
em uma jornada solitária de interpretação é uma imagem renascentista por excelência.

As tendências e características da literatura renascentistas podem ser identificadas no conteúdo


e estilo de cada autor:

1. Giovanni Boccacio (Florença ou Certaldo, 1313 – Certaldo, 1375). Escritor humanista italiano. Ao
lado de Dante Alighieri e Francesco Petrarca, integra o trio dos grandes escritores do renascimento
italiano. Sua obra mais famosa, o Decameron (Decamerone), é uma coleção de cem histórias
irreverentes e satíricas em que retratou os costumes da sociedade, expôs os conflitos entre os
valores cristãos e a mente libertina da época e abordou todos os aspectos da vida humana real,
afastando-se do estilo medieval.

Decamerone é um vocábulo de origem grega: deca = dez, e hemeron = dias. Assim como a Divina
comédia é composta por cem cantos, o Decameron possui cem novelas, unidas por um sistema
de molduras literárias e, segundo Bonnell (2005), escritas em dialeto toscano. As histórias são
contadas por dez jovens, sete mulheres e três homens, que se recolhem a uma região de Florença
para fugir da peste negra. Aborda as coisas da vida que são temporais, transitórias e mortais, com
as contrariedades e agruras que levam a potenciais perigos. Boccaccio argumenta que é pela
graça de Deus, que nos dá forças e esclarecimento, que conseguimos lidar com essas situações,
pois estamos envolvidos nelas e fazemos parte delas. Ele nos defende, não por mérito nosso, mas
certamente por sua bondade e longanimidade e pelas orações daqueles que enquanto vivos as
fizeram.

Como obra literária, Decameron representa, indiscutivelmente, as ideias lavradas pelo humanismo.
Foi concebida a partir da revisitação aos clássicos gregos. Com sua publicação, Boccaccio
forneceu referências temáticas e formais para que outros escritores pudessem experimentar novas
possibilidades, casos dos ingleses Chaucer e Shakespeare.

Pág. 53 de 118


2. Niccolò di Bernardo dei Machiavelli (Florença, 1469 – Florença, 1527). Historiador, diplomata,
poeta, músico, filósofo e político italiano. Maquiavel, por meio de seus estudos a respeito da Antiguidade
Clássica, propôs, em suas obras, uma linguagem inovadora. Assim como outros renascentistas, é
tido como um dos precursores do pensamento moderno. Seus textos apresentam sua percepção do
Estado e do governo sem constrangimentos. Sua obra mais importante e reconhecida, O príncipe,
escrita em 1513, tinha como objetivo principal a unificação da Itália e a arregimentação de um povo
disperso por conta de uma fragmentação político-ideológica, como se pode observar na descrição
a seguir (MAQUIAVEL, 2014, p. 97):

A ambição dos venezianos fazia com que o Rei Luís fosse conduzido à Itália. Queriam
adentrar ao espaço geográfico, mas não dispunham de amigos na província. Ao
contrário, fecharam-se todas as portas em vista do comportamento inadequado do Rei
Carlos. Foram obrigados a contarem com algumas amizades que lhe assegurassem o
feito. Isso teria dado certo se não houvessem cometido outros erros que implicaram
a perda de seu prestígio. Conquistaram a Lombardia e somente assim o rei retomou
novamente sua reputação. Gênova cedeu, Florença tornou-se sua aliada, o marquês
de Mântua, o duque de Ferrara, Bentivoglio, a senhora Forli, o senhor de Faenza, de
Pesaro, de Rimini, de Camerino, de Piombino, os Luqueses, os Pisanos e os Sieneses
constituíram uma aliança de amizade. Consideraram os venezianos o bom trabalho
que haviam realizado na conquista de Lombardia, praticamente levando o rei a
assenhorar-se de dois terços da Itália.

Pág. 54 de 118


3. Erasmo de Roterdã (Roterdã, 1466 – Basileia, 1536). Teólogo, humanista e professor de língua
grega na Universidade de Oxford, ministrou aulas e palestras nas mais conceituadas universidades
da Europa. Proferiu críticas contundentes à Igreja Católica e ao protestantismo de Lutero. Em 1516,
publicou uma nova tradução do Novo Testamento do grego para o latim. Assim como outros tantos,
foi perseguido pela Igreja e teve sua produção incluída na lista de livros proibidos (Index Librorum
Prohibitorum). Em 1509, publicou O elogio da loucura, a mais conhecida entre suas obras. Nela, o
autor defende a tolerância e a liberdade de pensamento, pilar conceitual do humanismo. Podemos
observar a ideia central neste trecho da obra (ROTERDÃ, 2013, p. 79):

Costumeiramente, os homens feriam minha reputação e era sabido o quanto lhes


soava mal ouvir pronunciarem meu nome. Alegro-me em dizer que esta loucura é
capaz de contagiar os deuses e os mortais. Prova incontestável disso é observar
a consternação de todos ao aparecer eu diante dos presentes neste lotadíssimo
auditório. Aplaudiram-me com seu sorriso amável, mas não: estão sentados, tristes,
inquietos, como se houvesse saído da caverna de Trofônio há pouco. Assim como
o surgimento do sol no céu, como a primavera aparecendo após um longo inverno,
pude transformar seus semblantes em alegria, ao ser contemplado por todos os
presentes. Consegui realizar uma proeza com minha aparição, tal qual um ilustre
orador o faz com seu longo e meditado discurso.

Em O elogio da loucura, Erasmo de Roterdã apresenta a loucura como personagem protagonista


de uma narrativa que procura demonstrar que ela é mais democrática que as demais entidades
divinas, pois acomete todo tipo de ser humano. O autor chama a atenção para o fato de que
somente os merecedores poderão ser escolhidos pelos deuses. Obras como essa contribuíram
para o aclaramento das ideias, conectando a mente do homem e o mundo exterior, iluminando a
realidade e sua própria natureza.

4. William Shakespeare (Stratford-upon-Avon, 1564 - Stratford-upon- Avon, 1616). Poeta inglês,


ator e o mais famoso dramaturgo de todos os tempos. Começou a compor peças durante o reinado
de Elisabete I. Suas poesias eram aclamadas pelo público, e suas obras teatrais abordavam as
diversas dimensões do conflito humano. Escreveu quase 40 peças, divididas em históricas, comédias
e tragédias, como Otelo, Macbeth, A megera domada e Romeu e Julieta, entre outras tantas.
Shakespeare não publicou suas peças, pois preferia que elas fossem representadas. Elas foram
traduzidas para vários idiomas e até hoje são representadas em diversos meios de comunicação.

Pág. 55 de 118


5. Miguel de Cervantes Saavedra (Alcalá de Henares, 1547 - Madri, 1616). Importante poeta,
dramaturgo e novelista espanhol. Somente aos 58 anos, conseguiu publicar a primeira parte de
sua maior obra, Dom Quixote de La Mancha, uma crítica contundente à cavalaria medieval tão
consagrada no universo literário.

6. Luís Vaz de Camões (Lisboa, 1524 - Lisboa, 1580). Foi um poeta português, autor do poema épico
Os lusíadas, o maior representante do classicismo português e uma das mais importantes obras da
literatura, que exalta os feitos marítimos e narra fatos heroicos da história do povo português e do
Reino de Portugal. Os lusíadas reúne elementos épicos e líricos, sintetizando as principais marcas
do Renascimento português: o humanismo e as expedições ultramarinas. Camões influenciou
autores modernos da língua portuguesa, como é possível identificar até em versos de Vinícius de
Moraes e Chico Buarque. A seguir, uma comparação entre um poema de Camões e um de Vinícius:

Busque Amor novas artes, novo engenho,

para matar-me, e novas esquivanças;

que não pode tirar-me as esperanças,

que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!

Vede que perigosas seguranças!

Que não temo contrastes nem mudanças,

andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto

onde esperança falta, lá me esconde

Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n’alma me tem posto

um não sei quê, que nasce não sei onde,

vem não sei como, e dói não sei porquê.

Pág. 56 de 118


Luiz de Camões (Disponível em: <https://www.pensador.com/poesias_luis_de_


camoes/>. Acesso em: 16 jul. 2017).

Eu te amo, Maria, eu te amo tanto

Que o meu peito me dói como em doença

E quanto mais me seja a dor intensa

Mais cresce na minha alma teu encanto.

Como a criança que vagueia o canto

Ante o mistério da amplidão suspensa

Meu coração é um vago de acalanto

Berçando versos de saudade imensa.

Não é maior o coração que a alma

Nem melhor a presença que a saudade

Só te amar é divino, e sentir calma…

E é uma calma tão feita de humildade

Que tão mais te soubesse pertencida

Menos seria eterno em tua vida.

Vinícius de Moraes (Disponível em: <http://www.revistabula.com/1150-10-melhores-


poemas-vinicius-moraes/>. Acesso em: 16 jul. 2017).

Pág. 57 de 118


6.1 Escultura renascentista


A escultura renascentista é baseada na Antiguidade Clássica, mais precisamente na produção
da arte grega, na qual o equilíbrio composicional e a harmonia das formas eram privilegiados.
Diferentemente da arte egípcia, que tinha como motivo a espiritualidade, a arte grega partia de uma
elaboração racional para representar, por meio de esculturas, pinturas e arquitetura, os prazeres
da vida cotidiana. Embora os gregos cultuassem os deuses mitológicos, sua cultura era voltada
para as coisas do homem. A estatuária grega produzida em mármore durante o período arcaico é
marcada pelo realismo, pelo equilíbrio e pelo antropomorfismo, que atribui características humanas
às representações divinas e da natureza de um modo geral. Essas características podem ser
reconhecidas nos kouros (em grego, “homem jovem”).

Durante a Renascença, os escultores italianos passaram a visitar sítios arqueológicos e


encontraram fragmentos de esculturas gregas que serviram de referência para seus estudos. No
período clássico, no entanto, a necessidade de se criar a ilusão de movimento das esculturas fez
com que escultores passassem a adotar o bronze como matéria-prima, tendo em vista que sua
resistência mecânica permitia a fixação de movimentos mais complexos sem o risco de quebrar.
Nesse período, surgiu o nu feminino, ausente no período arcaico.

Produzida pelo pensamento humanista e marcada pela relação matemática entre os elementos,
as esculturas renascentistas fizeram da representação do corpo humano um tratado de anatomia.
Excetuando os artistas flamengos e alemães, que mantiveram como tema a religião, os demais
produziram obras com temas religiosos, mas também profanos. No Renascimento, a escultura
deixou de ser um ornamento da arquitetura e ganhou autonomia, como o Davi, de Michelangelo.

Os escultores renascentistas utilizaram diversos tipos de materiais, mas preferiam trabalhar


com bronze, mármore e madeira. Assim, há de se registrar a importância do mecenato oferecido
pela igreja e pelos representantes da nobreza naquele contexto.

Pág. 58 de 118


Figura 24 – São Jorge, de Donatello (1411 a 1412)

O nome original desse famoso artista renascentista era Donato di Niccolò de Betto Bardi,
nascido em 1386, em Florença, Itália. Foi um dos maiores mestre da escultura em mármore
e bronze e um dos maiores entre todos os artistas renascentistas italianos.

Fonte: https://i.pinimg.com/originals/e8/17/6c/e8176c02de0aa074de94b7e877bb36f4.jpg

Pág. 59 de 118


6.2 Arquitetura renascentista


A arquitetura renascentista produzida durante os séculos XIV, XV e XVI é reconhecida por
evocar os fundamentos utilizados na arquitetura praticada na Antiguidade Clássica, apreciada
pela simetria empregada na construção de templos como a Acrópole, o Partenon e as Cariátides.
Assim como ocorreu com os escultores no mesmo período, os arquitetos durante o Renascimento
conquistaram autonomia e passaram a empregar um estilo próprio em seus projetos, sem abrir
mão dos referenciais clássicos. A construção da Catedral de Santa Maria del Fiore, em Florença,
por Filippo Brunelleschi (1377-1446) é compreendida como elemento de ruptura na história da
arquitetura ao estilo praticado até então (ver figura 25).

Figura 25 – Catedral de Santa Maria del Fiore

Essa catedral, localizada em Florença, Itália, é uma das principais obras de


Filippo Brunelleschi, arquiteto, escultor e ourives. kavalenkava

Fonte: kavalenkava/Shutterstock

Brunelleschi encerrou o período gótico em Florença por meio do uso de motivos clássicos nas
construções, com a introdução do método renascentista. O gótico continuou sendo aplicado ao
longo do século XV, e só depois de quase um século o estilo renascentista ultrapassou as fronteiras
da Itália. Entretanto, apesar de as formas dos edifícios construídos à época ostentarem elementos

Pág. 60 de 118


típicos da arquitetura renascentista, ainda coexistia o gosto pelo complicado rendilhado e pela
ornamentação fantástica das edificações.

Brunelleschi dominava os fundamentos da arquitetura gótica: a convivência da horizontalidade


do românico com a verticalidade do gótico, o lanceolado, o uso de vitrais coloridos nas grandes
catedrais e, sobretudo, a utilização dos arcos ogivais. Além disso, mantinha um interesse especial
pelos processos construtivos que sustentaram a arquitetura romana. Vale lembrar que as principais
características encontradas na arte romana têm origem em duas referências distintas: a arte etrusca
(século VIII e II a.C.) e a arte greco-helenística.

Da primeira, os romanos apreenderam a utilizar o arco e a abóbada, recursos preciosos para a


arquitetura da época. Da segunda, o ideal de beleza nem sempre seguido à risca. Dentre os trabalhos
mais conhecidos de Brunelleschi, encontram-se o Domo de Santa Maria del Fiore, o Hospital dos
Inocentes, a Basílica de São Lourenço, a Igreja de Santa Maria dos Anjos e dos Mártires, a Igreja
de Santa Maria do Espírito Santo, a Capela Pazzi e o Palácio Pitti.

Pág. 61 de 118


3 – CONSIDERAÇÕES SOBRE O MANEIRISMO

7. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MANEIRISMO


No final do período Quinquecento, o ideal preconizado pelo movimento renascentista deu sinais
de declínio, abrindo espaço para o surgimento de obras ao estilo maneirista entre os anos de 1515 e
1600. Em linhas gerais, o maneirismo é marcado pela sofisticação racionalista e pela complexidade
compositiva. Ao contrário das obras renascentistas, a produção plástica do maneirismo notabiliza-
se pelo uso da perspectiva com diversos pontos de fuga, rompendo com a representação clássica
naturalista do estilo anterior (GOMBRICH, 2015).

O maneirismo foi um estilo e um movimento da arte europeia que emergiu nos últimos anos da Alta
Renascença italiana, em torno de 1520, e durou até cerca de 1580, quando o estilo barroco começou
a substituí-lo. No norte da Itália, continuou até o início do século XVII. Surgiu como uma revisão
dos valores clássicos e naturalistas valorizados pelo humanismo renascentista. Estilisticamente, o
maneirismo abrange uma variedade de abordagens em reação aos ideais harmoniosos associados
a artistas como Leonardo da Vinci, Rafael e Michelangelo.

A arte renascentista enfatiza a proporção, o equilíbrio e a beleza ideal. O maneirismo exagera


essas qualidades, resultando em composições assimétricas ou desigualmente elegantes. O estilo
é notável por sua sofisticação intelectual, bem como por suas qualidades artificiais (ao contrário
do estilo naturalista). Favorece a tensão e a instabilidade na composição em vez do equilíbrio e
da clareza da pintura renascentista anterior. Na literatura e na música, foi notável por seu estilo
altamente florido e pela sofisticação intelectual.

O maneirismo originou-se como uma reação à harmonia e ao naturalismo do classicismo


idealizado pelo alto renascimento, especialmente na arte praticada por Leonardo, Michelangelo e
Rafael nas duas primeiras décadas do século XVI. Na representação do humano nu, os padrões de
complexidade formal foram estabelecidos por Michelangelo, e a norma da beleza, idealizada por
Rafael. Mas, no trabalho maneirista, a obsessão pelo estilo e pela técnica na composição figurativa
muitas vezes superava a importância e o significado do assunto.

Pág. 62 de 118


A definição de maneirismo e as fases dentro dele continuam a ser um assunto de debate entre
os historiadores da arte. Por exemplo, alguns estudiosos aplicaram esse termo como um rótulo a
certas formas modernas iniciais de literatura (especialmente poesia) e música dos séculos XVI e
XVII. O termo também é usado para se referir a alguns pintores góticos tardios que trabalharam
no norte da Europa de 1500 a 1530, especialmente os maneiristas de Antuérpia – um grupo não
relacionado ao movimento italiano. O maneirismo também foi aplicado por analogia à Idade da Prata
da literatura latina. Uma das maiores expressões desse movimento foi o pintor italiano Girolamo
Francesco Maria Mazzola, o Parmigianino (ver figura 26).

Figura 26 – Madona de pescoço longo (1534-1540)

O maneirismo torna-se conhecido pelas proporções alongadas, altamente estilizadas e um tanto distantes
da realidade. A palavra maneirismo deriva da palavra italiana “maniera”, que significa “estilo” ou “maneira de
fazer”, no sentido de um estilo bonito, criativo, em franca oposição aos valores clássicos da Renascença e,
de certa forma, antecipando a arte moderna. A Madona de pescoço longo foi pintada por Girolamo Francesco
Maria Mazzola, também conhecido como Francesco Mazzola ou, mais comumente, Parmigianino.

Fonte: http://virusdaarte.net/wp-content/uploads/2016/08/avidopel-624x1004.jpg.

Pág. 63 de 118


ACONTECEU

O movimento maneirista foi inicialmente subestimado, de modo que os estudiosos da época


julgaram-no como uma imitação frívola de grandes artistas como Michelangelo Buonarroti, Leonardo
da Vinci e Rafael Sanzio. Os pintores e artistas desse estilo foram chamados por essa razão de
“maneiristas”, porque se considerava que foram fortemente influenciados pelo estilo, gosto e estética
de seus grandes predecessores e dessa forma criaram uma “maneira” de representar a arte desses
antecessores. Na realidade, os maneiristas foram os primeiros a entender que uma mudança estava
ocorrendo na consciência coletiva em razão dos acontecimentos a partir do início do século XVI, com
uma incerteza acentuada da própria existência, por isso, inventaram uma nova linguagem figurada.

Veja como isso aconteceu em: https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-renascentista/


maneirismo/.

Pág. 64 de 118


8. O BARROCO
Em termos de arte, a palavra “barroco” (derivada do português do século XVII, com o significado de
“pérola ou pedra irregular”) descreve um estilo bastante complexo, originário de Roma, que floresceu
durante o período de 1590 a 1720 e que envolveu a pintura, a escultura e também a arquitetura. Após
o idealismo do renascimento (1400-1530) e a característica marcante do maneirismo (1530-1600),
a arte barroca refletiu, sobretudo, as tensões religiosas desse período – notadamente o desejo da
Igreja Católica de Roma (como anunciado no Concílio de Trento, 1545-1563) de se reafirmar depois
da Reforma Protestante.

Muitos monarcas e imperadores católicos em toda a Europa tiveram uma participação importante
no desenvolvimento da Igreja Católica, resultando num grande número de projetos arquitetônicos,
pinturas e esculturas que foram encomendados por governantes de Espanha e França, entre outros.
Paralelamente à arte cristã, seguida pelo Vaticano, para glorificar sua própria grandeza divina e
fortalecer sua posição política, a arte barroca em áreas protestantes como a Holanda tinha muito
menos conteúdo religioso e, em vez disso, foi elaborada essencialmente para atrair as aspirações
crescentes das classes médias e dos comerciantes.

Seguindo as orientações feitas pelo Concílio de Trento sobre a forma como a arte pode servir
a religião, juntamente com o aumento da confiança na Igreja Católica, tornou-se claro que era
necessário um novo estilo de arte bíblica para apoiar a Reforma Católica e divulgar os milagres
e os sofrimentos dos santos à congregação da Europa. Esse estilo teve que ser mais emocional,
mais intenso e imbuído de um maior realismo. Fortemente influenciadas pelos pontos de vista dos
jesuítas (o barroco às vezes é chamado de “estilo jesuíta”), a arquitetura, a pintura e a escultura
trabalharam juntas para criar um efeito uniforme.

O impulso inicial veio com a chegada em Roma durante a década de 1590 de Annibale Carracci
e de Caravaggio (1571-1610). A presença dos dois pintores despertou um novo interesse no realismo,
bem como nas formas antigas, ambas incorporadas e desenvolvidas na escultura de Alessandro
Algardi e na escultura e arquitetura de Bernini. Peter Paul Rubens, que permaneceu em Roma até
1608, foi o único grande pintor holandês católico no estilo barroco, embora Rembrandt e outros
artistas holandeses tenham sido influenciados por Caravaggio e Bernini.

A França tinha uma relação muito forte com o barroco que era mais próxima da arquitetura,
notadamente com o Palácio de Versalhes. A figura-chave da arte barroca francesa do século XVII
foi Charles Le Brun (1619-1690) que exerceu uma influência muito além de seu próprio ofício. Um

Pág. 65 de 118


exemplo é a fábrica de tapetes Gobelins, da qual ele foi diretor. Espanha e Portugal adotaram esse
estilo com mais entusiasmo, assim como as áreas católicas de Alemanha, Áustria, Hungria e Países
Baixos.

O ponto culminante do movimento barroco foi o alto barroco (1625-1675), enquanto o apogeu da
grandiosidade do movimento foi marcado pela quadratura na perspectiva fenomenal representada
pelo afresco A glória de Santo Inácio (1688-1694), realizada no teto da capela de Santo Inácio, em
Roma, pelo pintor Andrea Pozzo (1642-1709). Trata-se certamente de uma das melhores pinturas
barrocas do século XVII (ver figura 27).

Figura 27 – afresco de Andrea Pozzo com o título A glória de Santo Inácio

Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-gX1qewuww8E/UupjihlSqMI/AAAAAAAAB1w/
F2IrSAldqLQ/s1600/Triumph_St_Ignatius_Pozzo.jpg.

Pág. 66 de 118


8.1 Estilos e tipos de arte barroca


Para cumprir o seu papel de propaganda, a arte barroca de inspiração católica tendia a ter
obras de arte pública em larga escala, como pinturas monumentais e grandes afrescos para tetos
e abóbadas de palácios e igrejas. A pintura barroca ilustra elementos-chave do dogma católico,
seja diretamente, em obras bíblicas, ou indiretamente, em composições mitológicas ou alegóricas.

Juntamente com essa abordagem monumental e vibrante, os pintores retratavam um forte


sentimento de movimento, usando espirais turbulentas e diagonais ascendentes, com fortes e
suntuosos esquemas de cores, para emocionar e surpreender. Novas técnicas de tenebrismo
(fortíssimos contrastes entre luzes e sombras) foram desenvolvidas para melhorar a atmosfera.
As pinceladas são cremosas e largas, muitas vezes resultando em camadas grossas de tinta. No
entanto, a teatralidade e o melodrama da pintura barroca não foram bem recebidos por críticos
posteriores, como o influente John Ruskin (1819-1900), que o considerava insincero.

Figura 28 – A incredulidade de São Tomé (1601), de Michelangelo Merisi da Caravaggio

A pintura barroca abrange uma grande variedade de estilos, começando em torno de 1600 e continuando
ao longo do século XVII até o início do século XVIII. Nas suas manifestações mais típicas, a arte barroca
é caracterizada por grandes dramas temáticos, cores ricas, profundas e penumbras intensas e sombrias.
Ao contrário da arte renascentista, que geralmente mostrava o momento antes de um evento acontecer, os
artistas barrocos escolheram o ponto mais dramático, o momento em que a ação estava ocorrendo.

Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-hI7INOCflys/VRMgGmAndWI/
AAAAAAAAqIY/9rd78RoDYKI/s1600/der_unglaubige_thomas.jpg

Pág. 67 de 118


A escultura barroca, tipicamente maior do que o tamanho real das pessoas, é caracterizada
por uma sensação semelhante de movimento dinâmico, juntamente com um uso ativo do espaço.
A arquitetura barroca foi projetada para criar espetáculos e ilusões. Assim, as linhas retas do
renascimento foram substituídas por curvas fluidas, enquanto os domos e telhados foram ampliados,
e os interiores cuidadosamente construídos para produzir efeitos espetaculares de luz e sombra.
Foi um estilo emocional que, sempre que possível, explorou o potencial teatral da paisagem urbana,
como ilustrado na Praça de São Pedro (1656-1667), em Roma, chegando até a Basílica de São Pedro
(ver figura 29).

Figura 29 – Basílica de São Pedro

Localizada em Roma, Itália. Seu criador, Gian Lorenzo Bernini, um dos maiores arquitetos
barrocos, rodeou a praça com colunatas, para transmitir a impressão de que as pessoas
estão sendo envolvidas pelos gigantescos braços da Igreja Católica.

Fonte: D. Bond/Shutterstock

Como é evidente, embora a maior parte da arquitetura, da pintura e da escultura produzida no


século XVII seja conhecida como barroca, esse não é de modo algum um estilo monolítico. Existem
pelo menos três vertentes diferentes, com as seguintes características:

Pág. 68 de 118


1. Grandeza religiosa: um estilo triunfante, extravagante, quase teatral, e às vezes melodramático,


da arte religiosa, encomendado pela Contrarreforma Católica e pelos governos das monarquias
absolutistas da Europa. Esse tipo de arte barroca é exemplificado pela escultura e arquitetura
visionária e audaciosa de Bernini (1598-1680), pelos afrescos de teto trompe l’oeil (técnica com
truques de perspectiva que cria ilusão ótica tridimensional) de Pietro da Cortona (1596-1669),
manifestadas em sua obra-prima Alegoria da Divina Providência (1633-1639), e pelas grandiosas
pinturas do mestre flamengo Peter Paul Rubens (1577-1640).

2. Grande realismo: um novo estilo com um naturalismo de composição figurativa. Essa nova
abordagem foi defendida por Caravaggio (1571-1610), Francisco Ribalta (1565-1628), Velázquez (1599-
1660) e Annibale Carracci (1560-1609). A ousadia e a presença física das figuras de Caravaggio, a
aproximação realista da pintura religiosa adotada por Velázquez, uma nova forma de movimento e
exuberância iniciada por Annibale Carracci e uma forma realista de pintura bíblica rústica, composta
com animais, desenvolvida por Castiglione (1609-1964) – todos esses elementos faziam parte desse
estilo dinâmico.

(3) Arte de cavalete: ao contrário das obras em grande escala, públicas e religiosas, de artistas
barrocos em países católicos, a arte barroca na Holanda protestante (muitas vezes citada como a
Era de Ouro holandesa) foi exemplificada por um novo tipo de arte de cavalete – uma brilhante forma
de pintura de gênero – destinada ao próspero chefe de família burguês. Essa nova escola holandesa
levou a um realismo aprimorado em arte retrógrada: paisagens, imagens de flores, composições de
animais e, em particular, novas formas de pintura da vida selvagem, incluindo o gênero de inspiração
protestante conhecido como pintura de vanitas (“vaidade”, em latim), referindo-se à natureza-morta,
que floresceu de 1620 a 1650.

Diferentes cidades e áreas tinham suas próprias “escolas” ou estilos, como Utrecht, Delft, Leiden,
Amsterdã, Haarlem e Dordrecht. Além disso, Roma – o centro do movimento – também abrigava
um estilo “clássico”, como identificado nas pinturas do pintor francês Nicolas Poussin (1594-1665)
e do artista de paisagem árcade Claude Lorrain (1600-1682) (ver figura 30).

Pág. 69 de 118


Figura 30 – Inspiração do poeta (1636 a 1638), de Nicolas Poussin

Nota-se na pintura toda grandiosidade do barroco e o jogo de sombra e luz característico desse estilo de arte.

Fonte: http://pt.wahooart.com/Art.nsf/O/8XYMEG/$File/Nicolas-Poussin-The-Poet_s-Inspiration.JPG.

Pág. 70 de 118


9. ROCOCÓ
Centrado na França e, em parte, como uma reação à grandeza barroca do governo de Versalhes
do rei Luís XIV, o rococó estava intimamente associado com Madame de Pompadour, a amante do
novo rei Luís XV. Um estilo de arte caprichoso e decorativo, o rococó foi aplicado a todas as formas
de arte, incluindo arquitetura, design de interiores, pintura, escultura, móveis, tecidos, porcelana e
outros objetos preciosos. A arquitetura rococó foi representada sobretudo pelos arquitetos franceses
Nicolas Pineau e Jules-Hardouin-Mansart (1646-1708), que desenharam interiores para o castelo
real de Marly. A pintura rococó, que se originou no início do século XVIII, é caracterizada por cores
suaves e linhas curvas e retrata cenas de amor, natureza, encontros amorosos, entretenimento
alegre e juventude.

A palavra “rococó” deriva da palavra rocaille, que em francês significa “escombros” ou “rochas”.
Rocaille refere-se ao estilo artístico inspirado nas formas e padrões da natureza e é usado como uma
palavra descritiva para as linhas sinuosas vistas nas artes decorativas do período (ver figura 31).

Após a morte de Luís XIV, o governo francês mudou-se de Versalhes de volta às suas antigas
mansões parisienses, redecorando suas casas com projetos mais suaves e materiais mais modestos
do que o estilo barroco do rei. Em vez de se cercarem com metais preciosos e cores fortes, a
aristocracia francesa agora vivia em interiores íntimos feitos com adornos de estuque, boiserie
(enfeites em alto-relevo nas paredes formando desenhos) e vidro espelhado. Esse novo estilo
caracterizou-se por sua assimetria, curvas graciosas, elegância e as deliciosas pinturas da nova
vida cotidiana e do amor cortesão, que decoraram as paredes dentro desses espaços (ver figura 32).

Pág. 71 de 118


Figura 31 – Par de cadeiras Luís XV

Legenda: Par de cadeiras Luís XV. Esse estilo nas artes decorativas foi o auge do rococó, caracterizado
pelo artesanato superior e altamente decorativo da França do século XVIII. Os defensores dele
produziram uma requintada decoração para o enorme número de casas de propriedade da realeza e
da nobreza durante o reinado de Luís XV. Ênfase foi colocada no potencial de embelezar os ambientes,
desse modo, pintores e escultores tornaram-se também dedicados às artes decorativas.

Fonte: https://d26lpennugtm8s.cloudfront.net/stores/215/107/products/par-de-poltrona-estilo-luis-xv-macica-
entalhada-mo-390401-mlb20305010860_052015-f-dfb79988b5c4c22668ad9eca5f6dd180-1024-1024.jpg.

Figura 32 – Pintura de Jean-Antoine Watteau

La surprise (1718), de Jean-Antoine Watteau. Um casal abraçando-


se enquanto uma figura vestida de Mezzetin toca um violão.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/La_Surprise#/media/File:Jean-Antoine_Watteau_La_Surprise,_oil_on_panel.jpg.

Pág. 72 de 118


O pai da pintura rococó foi Jean-Antoine Watteau (francês, 1684-1721), que inventou um novo
gênero chamado “fêtes galantes”, envolvendo cenas de festas e namoros. Nascido perto da fronteira
flamenga, Watteau foi influenciado por cenas do gênero da vida cotidiana, bastante popular em
Flandres e na Holanda. Ele é mais conhecido por suas representações de figuras elegantemente
vestidas reunidas em espaços ao ar livre, trocando gentilezas e desfrutando de músicas.

Embora o pensamento educado tenha sido cultivado ao longo do século XVIII, um novo tipo
de relacionamento intelectual começou a se desenvolver, conhecido como o iluminismo. Dentro
desse novo movimento cultural, as ideias sobre a arte mudaram, e os ideais rococós da frivolidade
e do erotismo elegante tornaram-se cada vez menos relevantes. Críticos como Diderot buscaram
uma “arte mais nobre”, e filósofos iluminados, como Voltaire e John Locke, criticaram a trivialidade
desse estilo. Enquanto alguns artistas do rococó continuaram a pintar com seu próprio estilo
provocativo, outros desenvolveram um novo tipo, conhecido como neoclassicismo, que atraiu os
críticos de arte da época.

Outro pintor relevante do rococó foi Jean-Honoré Fragonard. Ao contrário de Watteau, a habilidade
de Fragonard não foi reconhecida até bem depois de sua morte. Hoje, ele é mais conhecido por suas
pinturas de estilo rococó, como La coquette fixée (A coquete fascinada), que retrata um encontro
amoroso entre uma mulher e dois homens. Os olhos loucos e masculinos posicionam a figura
feminina como o ponto focal da pintura. Como um trabalho de entretenimento alegre, não há um
significado ou uma história complexa por trás da peça. É uma cena brilhante e alegre destinada a
diversão e prazer.

Pág. 73 de 118


10. ARTE NEOCLÁSSICA


O estilo artístico conhecido como neoclassicismo (também chamado de “classicismo”) foi o
movimento predominante na arte e na arquitetura europeias no final do século XVIII e início do século
XIX. Isso refletia o desejo de reavivar o espírito e as formas da arte clássica da Grécia antiga e de
Roma, cujos princípios de ordem e razão estavam inteiramente de acordo com a era do Iluminismo. O
neoclassicismo também foi, em parte, uma reação contra a ostentação da arte barroca e a frivolidade
decadente da escola decorativa do rococó, defendida pela corte francesa – e especialmente pela
amante de Luís XV, Madame de Pompadour. Foi uma arte também parcialmente estimulada pela
descoberta das ruínas romanas em Herculano e Pompeia (entre 1738 e 1750), juntamente com a
publicação em 1764 do livro altamente influente Geschichte der Kunst des Alterthums (História da
Arte Antiga), pelo historiador de arte alemão e estudioso Johann Winckelmann (1717-1768).

Tudo isso levou a um renascimento da pintura, da escultura e do design arquitetônico neoclássicos


em Roma, de onde se espalharam para o norte da França, Inglaterra, Suécia e Rússia. A América
do Norte e do Sul tornaram-se muito entusiasmadas com a arquitetura neoclássica, principalmente
porque ela emprestou aos edifícios públicos uma aura de tradição e permanência.

Os pintores neoclássicos incluíram Anton Raphael Mengs (1728-1779), Jacques-Louis David


(1748-1825), Angelica Kauffmann (1741-1807) e Jean-Auguste-Dominique Ingres (1780-1867). Entre
os escultores, encontramos Jean-Antoine Houdon (1741-1828), John Flaxman (1755-1826), Antonio
Canova (1757-1822) e Bertel Thorvaldsen (1770-1844). Entre os mais conhecidos expoentes da
arquitetura neoclássica, estão Jules-Hardouin Mansart (1646-1708), Jacques Germain Soufflot
(1713-1780), Claude Nicolas Ledoux (1736-1806), John Nash (1752-1835), Jean Chalgrin (1739- 1811),
Carl Gotthard Langhans (1732-1908), Karl Friedrich Schinkel (1781-1841),

O renascimento dos cânones artísticos da Antiguidade Clássica não foi um evento obscuro.
Baseou-se na própria arte renascentista, bem como nos estilos mais sóbrios da arquitetura barroca,
do humor do iluminismo, da insatisfação com o rococó e de um novo respeito pela pintura da história
clássica de Nicolas Poussin (1593-1665), bem como das configurações clássicas das paisagens de
Claude Lorrain (1600-1682). Além disso, amadureceu em diferentes países em diferentes momentos.

Pág. 74 de 118


Uma escola mais pura e rigorosa de pintura neoclássica apareceu na França na década de 1780
sob a liderança de Jacques-Louis David (1748-1825). Ele e seu contemporâneo Jean-François Peyron
estavam mais interessados na pintura narrativa do que nas formas ideais que fascinavam outros
artistas. Durante o final da década de 1780 e início dos anos 1790 – coincidindo com o surgimento
da Revolução Francesa –, David e outros pintores expressaram temas inspiradores da história
republicana romana para celebrar os valores de simplicidade, austeridade, heroísmo e estoicismo,
os mesmos que estavam sendo afirmados na época em conexão com a luta francesa.

A arquitetura neoclássica realmente se originou em torno de 1640 e continua até hoje,


paradoxalmente. Além disso, apesar das aparências, não há uma linha divisória clara entre o
neoclassicismo e o romantismo. Isso ocorre porque o renascimento do interesse na Antiguidade
Clássica pode se transformar facilmente num desejo nostálgico pelo passado.

Figura 33 – Fedra, de Alexandre Cabanel (1880)

A pintura neoclássica geralmente dava ênfase para o design linear e austero na representação de
eventos, personagens e temas clássicos, usando configurações e figurinos historicamente corretos.
O seu surgimento foi grandemente estimulado pelo novo interesse científico na Antiguidade
Clássica que surgiu ao longo do século XVIII, quando uma série de descobertas arqueológicas
notáveis, notadamente a escavação das cidades romanas enterradas de Herculano (iniciado em
1738) e Pompeia (iniciada em 1748), provocaram um interesse renovado pela arte clássica.

Fonte: https://i0.wp.com/www.epochtimes.com.br/wp-content/
uploads/2013/12/cr-alexandre_cabanel-00.jpg?w=900&ssl=1.

Pág. 75 de 118


Características: As obras neoclássicas (pinturas e esculturas) eram firmes, equilibradas, sem


emoção e severamente heroicas. Os pintores neoclássicos retrataram pessoas da literatura e da
história clássicas, como na arte grega e na arte romana republicana, usando cores sombrias com
destaques brilhantes ocasionais para transmitir narrativas morais de abnegação e autossacrifício
totalmente de acordo com a suposta superioridade ética de Antiguidade. A escultura neoclássica
tratava dos mesmos assuntos e era mais restrita do que a escultura barroca mais teatral, menos
caprichosa do que o indulgente rococó. A arquitetura neoclássica foi mais ordenada e menos
grandiosa do que o barroco, embora a linha divisória entre os dois possa às vezes ser apagada.
Possui uma estreita semelhança externa com as formas gregas da arquitetura, com uma exceção
óbvia: não havia cúpulas na Grécia antiga. A maioria dos telhados era plana.

Pintores neoclássicos: Os fundadores e artistas famosos do neoclassicismo incluem o retratista


e pintor histórico alemão Anton Raphael Mengs (1728-1779), o francês Joseph-Marie Vien (1716-
1809), que ensinou Jacques-Louis David, o italiano Pompeo Batoni (1708-1787), a pintora suíça
Angelica Kauffmann (1741-1807), o artista político francês Jacques-Louis David (1748-1825) e seus
alunos Jean-Germain Drouais (1763-1788), Anne-Louis Girodet de Roucy-Trioson (1767-1824), Jean-
Auguste Dominique Ingres (1780-1867), mestre francês de arte acadêmica, e o expatriado americano
Benjamin West (1738-1820).

Figura mais influente da pintura francesa durante as três décadas do período revolucionário
na França (1785-1815), David exemplificou o novo estilo do neoclassicismo, bem como a natureza
didática da arte acadêmica defendida pela Academia Francesa. A morte de Marat foi uma forte
tentativa de transformar um extremista sanguinário em um herói trágico que foi martirizado pela
causa revolucionária. Em seu foco numa questão política contemporânea, a imagem segue a tradição
estabelecida duas décadas antes por Benjamin West, que pintou a Morte do general Wolfe (1770,
Galeria Nacional, Ottawa) em memória da queda do militar na Batalha de Quebec (1759).

A morte de Marat (La mort de Marat ou Marat assassiné) é uma das imagens mais famosas
da Revolução Francesa. David foi o principal pintor francês do neoclassicismo, bem como um
membro dos montagnard (grupo revolucionário mais radical que se opunha aos girondinos durante
a Revolução Francesa). A pintura mostra o jornalista radical Jean-Paul Marat morto em seu banho,
em 13 de julho de 1793, após ser atacado por Charlotte Corday. Foi pintada nos meses após o
assassinato de Marat e é descrita por Timothy James Clark, historiador britânico, como a primeira
pintura modernista (ver figura 34).

Pág. 76 de 118


Figura 34 – A morte de Marat, de Jacques-Louis David

Jacques-Louis David, desde o princípio, foi simpático à Revolução Francesa, e suas majestosas pinturas
históricas, especialmente O juramento dos Horácios, A morte de Sócrates e Os lictores levando a Bruto os
corpos de seus filhos foram aclamadas universalmente como demandas artísticas de ação política.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Morte_de_Marat#/media/File:Death_of_Marat_by_David.jpg.

Pág. 77 de 118


11. O ROMANTISMO
Apesar dos primeiros esforços de pioneiros como El Greco (Domenikos Theotocopoulos, 1541-
1614), Adam Elsheimer (1578-1610) e Claude Lorrain (1604-82), o estilo que conhecemos como
romantismo não teve destaque até o final do período do século XVIII, quando o elemento heróico
como ícone do neoclassicismo teve um papel central na pintura. Esse elemento, combinado com
o idealismo revolucionário para produzir um estilo romântico e emotivo, surgiu após a Revolução
Francesa como uma reação contra a arte restritiva das academias. Os princípios do romantismo
incluíram: um retorno à natureza – exemplificado por uma ênfase na pintura espontânea ao ar livre
–, uma crença na bondade da humanidade, a promoção da justiça para todos e uma forte crença
nos sentidos e emoções, em vez da razão e do intelecto.

Pintores e escultores românticos tenderam a expressar uma resposta pessoal emocional à


vida, em contraste com a restrição e os valores universais defendidos pela arte neoclássica. Os
arquitetos do século XIX também procuraram expressar um sentimento de romantismo em seus
projetos de construção. Veja-se, por exemplo, a arquitetura vitoriana (1840-1900).

Entre os maiores pintores românticos, destacam-se Henry Fuseli (1741-1825), Francisco Goya
(1746-1828), Caspar David Friedrich (1774-1840), J.M.W. Turner (1775-1851), John Constable (1776-
1837), Théodore Géricault (1791-1824) e Eugène Delacroix (1798-1863). A arte romântica não deslocou
o estilo neoclássico, mas funcionou como um contrapeso para a severidade e a rigidez do último.
Embora o romantismo tenha terminado próximo de 1830, sua influência continuou muito depois.

Origens: Após a Revolução Francesa de 1789, ocorreu uma mudança social significativa em uma
única geração. A Europa foi abalada por crises políticas, revoluções e guerras. Quando os líderes
se reuniram no Congresso de Viena (1815) para reorganizar os assuntos europeus após as guerras
napoleônicas, ficou claro que as esperanças das pessoas por “liberdade, igualdade e fraternidade”
não tinham sido realizadas. No entanto, durante o decorrer desses agitados 25 anos, novas ideias
e atitudes tomaram lugar nas mentes dos homens.

O respeito pelo indivíduo, o ser humano responsável, que já era um elemento-chave na pintura
neoclássica, originou um fenômeno novo, mas relacionado com intuição emocional. Assim, o
neoclassicismo legal e racional foi confrontado com a emoção e a imaginação individual que
surgiu a partir dele. Em vez de elogiar o estoicismo e a disciplina intelectual, os artistas também
começaram a celebrar a intuição emocional e a percepção do indivíduo.

Pág. 78 de 118


Assim, no início do século XIX, uma variedade de estilos começou a surgir – cada uma moldada por
características nacionais –, tudo sob o título de “romantismo”. O movimento começou na Alemanha,
onde foi motivado em grande parte por uma sensação de cansaço do mundo (Weltschmerz), um
sentimento de isolamento e um anseio pela natureza. Mais tarde, tendências românticas também
apareceram na pintura inglesa e francesa. Entre as escolas que mais se destacaram, temos:

• Romantismo alemão (1800-1850)

Na Alemanha, a nova geração de artistas reagiu aos tempos de mudança por um processo de
introspecção: eles recuaram para o mundo das emoções, inspirados por um anseio sentimental pelos
tempos passados, como a era medieval, que agora era vista como um tempo em que os homens
viveram em harmonia entre si e com o mundo. Nesse contexto, a pintura da catedral gótica à beira
d’água de Karl Friedrich Schinkel foi tão importante quanto às obras dos chamados “nazarenos”:
Friedrich Overbeck, Julius Schnorr von Carolsfeld e Franz Pforr (GOMBRICH, 2015). Estes assumiram
a liderança das tradições pictóricas da renascença inicial e da arte alemã da era de Albrecht Dürer.
Nas lembranças do passado, os artistas românticos estavam muito próximos do neoclassicismo,
exceto que seu historicismo era crítico à atitude racionalista deste.

Simplificando, os artistas neoclássicos olharam para o passado em apoio à sua preferência


por indivíduos responsáveis e de mentalidade racional, enquanto os românticos faziam isso para
justificar sua intuição emocional não racional. O movimento romântico promoveu a intuição criativa
e a imaginação como base de toda a arte. Assim, a obra de arte tornou-se uma expressão de uma
voz do interior. Mas essa nova subjetividade não implicou a negligência do estudo da natureza ou
da pintura artesanal. Pelo contrário: artistas românticos conservaram as tradições acadêmicas de
sua arte e, de fato, suas qualidades pictóricas representam um ponto alto da arte ocidental.

O gênero preferido entre os românticos foi a pintura de paisagem. A natureza era vista como o
espelho da alma, enquanto na Alemanha politicamente restrita também era considerada um símbolo
da liberdade e do infinito. Assim, a iconografia da arte romântica inclui figuras solitárias no campo,
contemplando longamente a distância, além de motivos vanitas, como árvores mortas e ruínas
cobertas, simbolizando a transitoriedade e a natureza finita da vida. Os motivos de pinturas similares
de vanitas também ocorreram anteriormente na arte barroca. Pintores românticos emprestaram o
tratamento pictórico da luz, com seus efeitos tenebrosos de luz e sombra, diretamente dos mestres
barrocos. No romantismo, o pintor lança seu olho subjetivo ao mundo objetivo e mostra uma imagem
filtrada por sua sensibilidade.

Pág. 79 de 118


No momento em que a Restauração Europeia foi posta em movimento pelas Resoluções de


Carlsbad de 1819 (restrições sociais impostas pelo rei) e a perseguição a determinadas camadas
sociais começou, o apetite pelo romantismo alemão desvaneceu-se, e a rebelião foi substituída
por resignação e desapontamento. As aspirações emancipadoras foram guardadas em favor da
Restauração. Em face desse conservadorismo político, o artista-cidadão retirou-se para o seu
idílio privado, inaugurando o período do romantismo final, exemplificado pelas obras de Moritz von
Schwind (1804-71), Adrian Ludwig Richter (1803-1884) e Carl Spitzweg (1805-1885).

Spitzweg foi talvez o representante mais excepcional do novo estilo, incluindo a narrativa de
cenas familiares anedóticas como temas pictóricos favoritos, embora suas pinturas alegres e
pacíficas tenham um significado mais profundo. Atrás de sua beleza inocente, ele está satirizando
o materialismo da burguesia alemã (ver figura 35).

Figura 35 – Pintura típica do período do romantismo final alemão, realizada por Carl Spitzweg

Fonte: https://www.kunstkopie.de/kunst/carl_spitzweg_70/thm_kaktusfreund.jpg.

Pág. 80 de 118


• Romantismo espanhol (1810-1830)

Francisco Goya (1746-1828) foi o líder incontestável do movimento artístico romântico na


Espanha, demonstrando um toque natural para as obras de irracionalidade, imaginação, fantasia
e terror. Em 1789, foi firmemente estabelecido como pintor oficial para o tribunal real espanhol.
Infelizmente, por volta de 1793, foi atingido por algum tipo de doença grave, o que o deixou surdo
e fez com que se retirasse. Durante a sua convalescença (1793-1794), Goya executou um conjunto
de 14 pequenas pinturas em lata que marcam uma mudança completa de estilo, retratando um
mundo dramático de fantasia e pesadelo.

Figura 36 – Os fuzilamentos de 3 de maio

Pintura famosa de Francisco Goya, talvez o maior representante da pintura romântica espanhola.

Fonte: http://lounge.obviousmag.org/ideias_de_guerrilha/assets_c/2015/12/31_
goya_losfusilamentosdel3demayo-thumb-953x735-132395.jpg.

Pág. 81 de 118


Em 1799, Goya publicou um conjunto de 80 gravuras intituladas Los caprichos, comentando uma
série de comportamentos humanos à maneira de William Hogarth. Em 1812-1815, no rescaldo da
Guerra Napoleônica, ele completou um conjunto de impressões de aquatinta chamado Os desastres
da guerra, que descreve cenas do campo de batalha de uma forma perturbadora e macabra. As
gravuras permaneceram inéditas até 1863. Em 1814, em lembrança à insurreição espanhola contra
as tropas francesas na Puerta del Sol, em Madri, e ao fuzilamento de espanhóis desarmados
suspeitos de cumplicidade, Goya produziu uma de suas maiores obras-primas: Os fuzilamentos
de 3 de maio, 1808 (Prado, Madri). Outra obra-prima é O colosso (1808-1812, Prado, Madrid). Após
1815, Goya tornou-se cada vez mais retirado. Sua série de 14 imagens conhecidas como Pinturas
negras (1820-1823), incluindo Saturno devorando seu filho (1821, Prado, Madrid), oferecem uma
visão extraordinária de seu mundo de fantasia e imaginação pessoal.

• Romantismo francês (1815-50)

Na França, como em grande parte da Europa, as Guerras Napoleônicas acabaram no exílio para
Napoleão e em uma onda reacionária de políticas de restauração. A República Francesa tornou-se
mais uma monarquia. Em termos de arte, tudo isso levou a um enorme impulso para o romantismo,
até então restringido pelo domínio dos neoclassicistas, como o pintor político Jacques-Louis David
(1748-1825) e outros membros da Academia Francesa, que reinavam incontestáveis.

Mais amplos do que os seus homólogos alemães, os artistas românticos franceses não se
restringiram à paisagem e à pintura ocasional de gêneros, mas também exploraram a pintura de
retratos e histórica. Outra vertente do romantismo do século XIX explorada por eles foi a pintura
orientalista, tipicamente de cenas de gênero no norte da África. Entre os melhores expoentes,
estavam o acadêmico Jean-Léon Gérôme (1824-1904) e o pouco ortodoxo Eugène Delacroix.

O primeiro grande pintor romântico na França foi o maior aluno de David, Antoine-Jean Gros
(1771-1835). Cronista das campanhas de Napoleão e autor de um quadro retratando o imperador, Gros
foi associado ao estilo acadêmico da pintura, embora também tenha influenciado tanto Géricault
quanto Delacroix. Théodore Géricault (1791-1824) foi um importante pioneiro do movimento artístico
romântico na França. Sua obra-prima A balsa da Medusa (1819, Louvre) foi o escândalo do Salão de
Paris de 1820. Nenhum pintor até então tinha representado o horror tão graficamente (figura 37).

Pág. 82 de 118


Figura 37 – A balsa da Medusa, de Théodore Géricault

O impacto dessa pintura foi ainda mais eficaz por se basear em um desastre da vida real. A composição
poderosamente organizada por Géricault enfraqueceu vigorosamente a pintura intelectual calculada do
neoclassicismo acadêmico. A tridimensionalidade das figuras alia-se ao arranjo meticuloso da jangada,
com sua desesperança simbólica. Esse retrato de um naufrágio, de aspirações políticas populares, dá à
pintura o mesmo drama que marcou as obras dos antigos mestres barrocos como Rubens e Velázquez.
Géricault também adotou uma abordagem romântica para seus famosos retratos de internos em asilo.

Fonte: http://warburg.chaa-unicamp.com.br/img/obras/317_original.jpg.

Eugène Delacroix (1798-1863), que mais tarde se tornou o líder do romantismo francês, seguiu
os passos de Géricault após a morte prematura do último, pintando imagens cujas cores vivas e
pinceladas impetuosas foram projetadas para estimular as emoções e agitar a alma. Ao fazer isso,
ele reavivou deliberadamente o argumento secular sobre o primado do desenho ou da composição
de cores. Delacroix respondeu ao que ele considerava “insensato neoclássico” com movimento
dinâmico e uma composição baseada em cores, diferente daquelas de Ticiano ou Rubens (ver
figura 38).

Pág. 83 de 118


Figura 38 – Liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix (1830)

Quadro de temática essencialmente política, trazendo os ideais de liberdade da Revolução Francesa.

Fonte: http://cdn2.all-art.org/neoclasscism/delacroix/21.jpg.

Delacroix também era um ávido estudante de cores na pintura, em particular da interação de


cores e luz. Ele declarava que a carne só tem sua verdadeira cor ao ar livre, e particularmente ao
sol. Segundo Gombrich (2015, p 485), Delacroix afirmou: “Se um homem segura a cabeça apoiado
à janela, é bem diferente da sala, e aqui está a estupidez dos estudos de estúdio, que se esforçam
para reproduzir a cor errada”.

Um resultado importante de seus estudos foi a descoberta de que as nuances de cor podem ser
produzidas misturando cores primárias e complementares, um fato que foi explorado com grande
interesse pelos impressionistas. Delacroix influenciou diversos pintores do romantismo, e pode-se
dizer também que ele mesmo foi fortemente influenciado por John Constable, o grande pintor inglês.

Pág. 84 de 118


Figura 39 – A catedral de Salisbury, de John Constable

O foco da pintura de Constable (Suffolk, 1776 – Londres, 1837) foi sempre a paisagem natural inglesa,
que ele idolatrava desde a infância. Suas pinturas revoltaram-se contra o trabalho de artistas de estilo
neoclássico que simplesmente usavam a paisagem para exibir cenas históricas e míticas.

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Salisbury_Cathedral_from_the_
Bishop%27s_Grounds#/media/File:John_Constable_017.jpg

Outros artistas franceses que se dedicaram à tradição do romantismo incluem: Pierre-Paul


Prud’hon (1758-1823), Anne-Louis Girodet-Trioson (1767-1824), François Gérard (1770-1837), Georges
Michel (1763-1843), Antoine-Jean Gros (1771-1835) e Jean-Baptiste-Camille Corot (1796-1875). Um
caso incomum é o do pintor de história clássica Paul Delaroche (1797-1856), que se especializou
em cenas históricas melodramáticas tipicamente pagas com royalties ingleses, como a Execução
de lady Jane Gray (1833, National Gallery, Londres). Imensamente popular durante sua vida, ele fez
uma fortuna vendendo gravuras reproduzidas de suas pinturas.

Pág. 85 de 118


• Romantismo na Inglaterra (1820-1850)

John Constable (1776-1837) pertenceu a uma tradição inglesa de romantismo que rejeitou
composições marcadas por uma maior idealização da natureza, como as de Caspar David Friedrich,
em favor do naturalismo da arte barroca holandesa do século XVII e também de Claude Lorrain
(1604-1682). Essa tradição buscava um equilíbrio entre, por um lado, uma profunda sensibilidade à
natureza e, por outro, avanços na ciência da pintura e do desenho. Estes últimos foram exemplificados
pelos estudos sistemáticos de céu e nuvens da década de 1820 que caracterizaram o trabalho de
Constable. A observação precisa da natureza levou-o a ignorar a importância convencional da linha.

Essa emancipação de cor é particularmente característica da pintura de William Turner (1775-1851).


Para Turner, indiscutivelmente o maior de todos os pintores ingleses do romantismo, a observação
da natureza é meramente um elemento na realização de suas próprias ambições pictóricas. O humor
de suas pinturas é criado menos pelo que ele pintou do que por como ele pintou, especialmente
como empregou a cor e o pincel. Muitas de suas telas são pintadas com cortes rápidos. A camada
de tinta grossa alterna-se com a pintura delgada alla prima (de primeira), pintura tonal com fortes
contrastes de luz e sombra radical. Muitas vezes, leva um tempo para o objeto retratado emergir
dessa impressão giratória de cor e material.

Assim, por exemplo, em sua pintura Tempestade de neve: barco a vapor partindo do porto (1842,
Tate, London), Turner não tentou retratar a neve em movimento e o vento forte, mas sim traduzi-
los na linguagem da pintura. Nesse sentido, Turner é um precursor importante da pintura abstrata
moderna. Mais imediatamente, sua arte teve um enorme impacto nos impressionistas, que, ao
contrário dos pintores românticos, eram realistas e não estavam interessados em visões de luz que
aumentassem a expressividade, mas em efeitos luminosos reais na natureza.

Esse movimento para o realismo apareceu por volta de 1850. Nesse ponto, um abismo crescente
abriu-se entre emoção e realidade. Os românticos, incluindo grupos como os pré-rafaelitas, focavam-
se na emoção, na fantasia e nos mundos artisticamente criados, um estilo muito em sintonia com
a era vitoriana (1840-1900). Um excelente exemplo são os retratos de cães altamente sentimentais
e populares, produzidos por sir Edwin Landseer (1802-1873). Em contrapartida, os realistas que
viriam depois aderiram a uma linguagem mais naturalista, abrangendo estilos tão diversos como
o realismo francês (com temas socialmente conscientes) e o impressionismo.

Pág. 86 de 118


Outros pintores românticos ingleses incluem William Blake (1757-1827) e John Martin (1789-
1854). Mas, sem dúvida, Turner é um dos mais expressivos (ver figura 40).

Figura 40 – Tempestade de neve: barco a vapor partindo do porto (1842), de William Turner

O trabalho de Turner, inicialmente realista, tornou-se mais fluido e poético a partir do momento em
que começou a viajar pela Europa extensivamente. Ele foi particularmente inspirado por suas visitas a
Veneza. Seus esforços iniciais refletiram seu treinamento como desenhista topográfico e resultaram em
representações realistas de paisagens, mas, ao longo dos anos, desenvolveu seu próprio estilo. Conhecido
como o Pintor da Luz, ele criou cenas de imagens luminosas usando cores brilhantes. Suas obras –
aquarelas, pinturas a óleo e gravuras – são agora consideradas como predecessoras do impressionismo.

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/30/Joseph_Mallord_William_
Turner_-_Snow_Storm_-_Steam-Boat_off_a_Harbour%27s_Mouth_-_WGA23178.jpg

Pág. 87 de 118


11.1 Impacto do romantismo


O estilo de pintura romântico estimulou o surgimento de inúmeras escolas, tais como: a escola
de paisagens ao ar livre Barbizon; a escola Norwich de paisagistas; os nazarenos, um grupo de
pintores católicos alemães e austríacos; o simbolismo (por exemplo, Arnold Böcklin, 1827-1901); e o
movimento do esteticismo. Os expoentes mais influentes do romantismo figurativo inglês durante
a era vitoriana foram os membros da Fraternidade Pré-Rafaelita, cofundado por William Holman
Hunt (1827-1910) e Dante Gabriel Rossetti (1828-1882), este último conhecido por trabalhos como A
anunciação, entre outros. Outros artistas associados ao movimento incluíram: John Everett Millais
(1829-1896), conhecido por sua pintura romântica Ofélia, e Edward Burne-Jones (1833-1898), que
foi um eminente pintor de vitrais e designer de tapeçarias da William Morris & Co.

Outro grupo importante de pintores românticos foi a Escola do Rio Hudson de paisagistas,
ativa durante o período 1825-1875 e iniciada por Thomas Doughty, cujas composições pacíficas
influenciaram muito os artistas da escola. Outros membros incluíram Thomas Cole (paisagens
dramáticas e vivas), Asher B. Durand, Frederick Edwin Church, J. F. Kensett, S. F. B. Morse, Henry
Inman e Jasper Cropsey. Um subgrupo introduziu o estilo de luminismo, ativo entre 1850-1875.
Paisagens luministas são exemplificadas pelas telas de Frederic E. Church e Albert Bierstadt.

• Neorromantismo

Em Paris, no início da década de 1920, surgiu um grupo de pintores figurativos cujas quadriculações
tornaram-se reconhecidas rapidamente como neorromânticas. Entre eles, figurava um trio nascido
na Rússia: os irmãos Eugène e Leonid Berman e Pavel Tchelitchev. No entanto, nas artes plásticas
britânicas, o termo “neorromântico” denota o imaginativo estilo quase abstrato da paisagem criado
por Paul Nash (1889-1946) e Graham Sutherland (1903-1980), entre outros, entre final dos anos
1930 e os anos 1940. Inspirados em parte pelas paisagens visionárias de William Blake e Samuel
Palmer, as imagens neorromânticas geralmente incluíam figuras em um ambiente sombrio, que às
vezes mostravam uma intensidade impressionante.Os movimentos do romantismo espalharam-se
pelas Américas, chegando ao Brasil por volta de 1836, com o poeta Domingos José Gonçalves de
Magalhães (1811-1882). Na pintura, expressou-se a partir da segunda metade do século XIX, com
pintores como Pedro Américo (ver figura 41).

Pág. 88 de 118


Figura 41 – Independência ou morte, de Pedro Américo (1888)

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Independ%C3%AAncia_ou_Morte_
(pintura)#/media/File:Independence_of_Brazil_1888.jpg.

SAIBA MAIS

A pintura brasileira, ou as artes visuais no Brasil, surgiu no final do século XVI, influenciada pelo estilo
barroco importado de Portugal. Até o início do século XIX, esse estilo era a escola dominante no
Brasil, que florescia em todos os territórios, principalmente ao longo da costa marítima, mas também
em importantes centros interiores, como Minas Gerais. Uma ruptura repentina com a tradição barroca
foi imposta à arte do nosso país pela chegada da corte portuguesa em 1808, fugindo da invasão
francesa de Portugal. No entanto, a pintura barroca ainda sobreviveu em muitos lugares até o final do
século XIX.

Em 1816, o rei dom João VI apoiou o projeto de criação de uma academia nacional de pintura sob
sugestão de alguns artistas franceses, liderados por Joachim Lebreton, do grupo conhecido como
Missão Artística Francesa. Eles foram responsáveis pela introdução do estilo neoclássico e um novo
conceito de educação artística, refletindo as diretrizes das academias europeias, sendo os primeiros
professores da recém-fundada escola de arte.

Saiba mais sobre o romantismo no Brasil em: http://www.brasilartesenciclopedias.com.br/temas/


romantismo_na_pintura_brasileira.html.

Pág. 89 de 118


4 – O REALISMO

12. O REALISMO
De 1400 a 1800, a arte ocidental foi dominada por teorias acadêmicas inspiradas no renascimento
e na pintura idealizada como alta arte executada no período clássico de Grécia e Roma antigas.
Posteriormente, em parte por conta das grandes mudanças sociais desencadeadas pela Revolução
Industrial, houve um maior foco no realismo da imagem e dos temas, que se colocou fora dos
assuntos tratados pela tradição artística. O termo realismo foi promovido pelo romancista francês
Champfleury durante a década de 1840, embora tenha começado com seriedade em 1855, com
uma exposição do pintor francês Gustave Courbet (1819-1877), depois de uma de suas pinturas – O
ateliê do pintor – ter sido rejeitada pelo Salão de Paris. Courbet instalou seu próprio pavilhão nas
proximidades e emitiu um manifesto para acompanhar sua exposição pessoal, que foi intitulado
Le réalisme (O realismo).

O estilo da pintura realista espalhou-se para quase todos os gêneros, incluindo pintura de história,
retratos, pintura de gênero e paisagens. Os paisagistas do estilo foram às províncias em busca da
“França real”, criando colônias artísticas em lugares como Barbizon e mais tarde Grez-sur-Loing,
Pont-Aven e Concarneau. Entretanto, apesar dessa semelhança temática, existe uma forte distinção
entre o naturalismo romântico e o realismo. A temática favorita para artistas realistas era cenas de
gênero da vida rural e urbana, cenas de rua, cafés e clubes noturnos, além de aumentar a franqueza
no tratamento do corpo, nudez e assuntos sensuais. Não surpreendentemente, essa abordagem
corajosa surpreendeu muitos dos patronos das artes da classe alta e da classe média, tanto na
França quanto na arte vitoriana da Inglaterra, onde o realismo nunca foi completamente abraçado.

Pág. 90 de 118


Figura 42 – Outubro (1878), de Jules Bastien-Lepage

Pintura realista atualmente pertencente à Galeria Nacional de Victoria, Melbourne, Austrália.

Fonte: http://bertc.com/subthree/g62/bastien-lepage.htm.

Pintores realistas: os pintores realistas do século XIX incluem: Jean-François Millet (1814-75),
Gustave Courbet (1819-77) e Honoré Daumier (1808-79). No entanto, muitos outros foram influenciados
pelo realismo sem permitir que ele dominasse seu trabalho. Um exemplo interessante é o pintor
russo Ilya Repin (1844-1930), que produziu excelentes obras de estilo realista, como Barqueiros do
Volga (1870), bem como Procissão religiosa na província de Kursk (1883). Outro exemplo é Jules
Bastien-Lepage (1848-84).

O estilo realista foi adaptado por impressionistas franceses como Edgar Degas (por exemplo, em
sua pintura retratista O absinto). O estilo Biedermeier do realismo romântico – uma manifestação
doméstica reconfortante e popular em Alemanha, Áustria e Dinamarca, não muito diferente da Escola
de Realismo Holandês do século XVII – é significativa na arte alemã do século XIX.

Pág. 91 de 118


Figura 43 – O absinto, de Edgar Degas

Edgar Degas era um artista francês famoso por seu trabalho em pintura, escultura, gravura
e desenho. É considerado um dos fundadores do impressionismo, embora tenha rejeitado o
termo e preferido ser chamado de realista. Esta tela mostra seu domínio na representação
do realismo. Seus retratos são considerados os melhores da história da arte.

Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-rWwoMtDM70o/UzStCqSILVI/
AAAAAAAAUp4/_AKQBy2m5Jc/s1600/absinthe_degas.jpg.

As escolas principais do realismo durante o século XIX incluíram a escola figurativa inglesa, a
escola francesa (liderada por Gustave Courbet), a escola russa (liderada por Ilya Repin), a escola
alemã (liderada por Adolph von Menzel) e a escola americana (liderada por Thomas Eakins). Além
disso, numerosos artistas produziram pinturas de estilo realista, incluindo o romântico Théodore
Géricault (notadamente com seus retratos de asilo) e o impressionista Edgar Degas (notavelmente
seus retratos de dança e de balé).

Pág. 92 de 118


Realismo socialista (1920 a 1980): o realismo socialista refere-se a qualquer pintura ou escultura
criada em um estilo realista que contenha uma mensagem socialista. Às vezes chamado de arte
comunista, esse tipo político de pintura realista é mais bem exemplificado pelo estilo da arte russa
que foi introduzido no final da década de 1920 e início dos anos 1930, durante a era stalinista, e que
se tornou obrigatório para todos os artistas. A pintura e a escultura do realismo socialista foram um
elemento-chave da campanha de propaganda comunista destinada aos cidadãos da União Soviética.

Projetado para atrair um público de massa, procurou inspirá-lo com admiração por cidadãos
trabalhadores que tentam construir uma sociedade comunista. Enquanto a idealização heróica do
homem trabalhador era seu motivo, suas imagens eram caracterizadas por uma forma de realismo
facilmente compreendida, pintada em cores vivas. As esculturas realistas socialistas eram geralmente
peças monumentais com um forte elemento figurativo. No entanto, os cartazes foram, de longe, a
forma mais popular e onipresente.

Grande parte dessa atividade agitadora foi dirigida pelo chefe de cultura de Stalin, Andrei Zhdanov
(1896-1948). Outros países totalitários (por exemplo, Albânia, China, Coreia do Norte) buscaram
uma estética semelhante, assim como a Alemanha nazista. A arte nazista tinha o mesmo apelo de
condução das massas e foi produzida sob os auspícios de Joseph Goebbels.

A primeira instância moderna do realismo socialista consistiu na campanha de murais mexicanos


de grande escala lançada em 1921 pelo presidente Álvaro Obregón (1880-1928) e seu ministro da
Educação, José Vasconcelos (1882-1959). Destacou-se pela sua filosofia de indigenismo. Os três
artistas principais por trás dessa campanha nacionalista incluíram os comunistas Diego Rivera
(1886-1957) e David Alfaro Siqueiros (1896-1974), bem como o não comunista José Clemente Orozco
(1883-1949). Nos Estados Unidos, Rivera trabalhou com Ben Shahn em um afresco político para o
prédio da RCA em Nova York.

O realismo socialista russo foi formalmente proclamado em um decreto de 1932, intitulado


Sobre a reconstrução das organizações literárias e artísticas. Ele substituiu o estilo de transição
anterior conhecido como realismo heroico, que tomou forma na década de 1920 como resultado
de três fatores.

Pág. 93 de 118


Primeiro, as atividades da Associação de Artistas da Rússia Revolucionária (AKhRR), cujo objetivo


principal era retratar a vida cotidiana do campesinato e do proletariado urbano. Influenciado pelo
realismo acadêmico tradicional, como ensinado na Academia de Belas Artes de São Petersburgo
e pelas pinturas de artistas realistas como as do retratista Ivan Kramskoi (1837-1887), o pintor de
gênero Vasily Perov (1834-1882), o versátil Ilya Repin (1844-1930), e o pintor da história Vasily Surikov
(1848-1916), membros da AKhRR, que procuraram sobretudo capturar a autenticidade da vida na
Rússia soviética.

Em segundo lugar, as regras estabelecidas pelo Instituto Bolchevique de Cultura Artística


(INKhUK – Institut Khudozhestvennoi Kulturi), cujo papel era usar as artes para glorificar as
conquistas bolcheviques. Em 1922, a INKhUK já pressionava os artistas russos a abandonar a “arte
de cavalete”, e a mudar para o industrial design a fim de criar a “arte socialmente benéfica”. Então,
de 1927 a 1928, quando ficou claro que a campanha de Stalin para o rápido crescimento industrial
exigia um apoio à propaganda mais direta, as autoridades tornaram o realismo heroico/socialista
o único estilo aprovado de pintura e escultura.

Em terceiro lugar, a suspeita sentida pela classe dominante bolchevique em relação a todas as
obras de arte de vanguarda, associadas à arte burguesa decadente. Interessante notar que, aqui, existe
um paralelo com a visão de Hitler sobre a arte degenerada das classes médias alemãs. Isso significa
que todas as artes abstratas, bem como os movimentos de arte moderna, como expressionismo,
cubismo, futurismo, suprematismo, raionismo e o construtivismo foram mais cedo ou mais tarde
totalmente reprimidos pelo chamado realismo soviético. A morte e a destruição causadas pela
Segunda Grande Guerra Mundial (1939 a 1945) deram um enorme impulso (se não desejado) ao
realismo socialista russo, de modo que os artistas foram mobilizados para inspirar a moral popular
e a cultura do pós-guerra em todo o bloco soviético, que se desfez com a queda do Muro de Berlim,
derrubado em 1989. No México, a arte socialista atingiu um grande prestígio (Fig. 44).

Pág. 94 de 118


Figura 44 – A Nova Democracia, de David Alfaro Siqueiros, pintada em 1945

A pintura mural no México (início da década de 1920) foi uma forma de realismo socialista promovido pelas
autoridades mexicanas para reunificar o país durante os tumultos revolucionários de 1910 a 1929. Embora iniciado
durante as presidências de Álvaro Obregón (1920 a 1924) e Plutarco Elías Calles (1924 a 1928), foi liderado na
época pelos principais artistas modernos do México: Diego Rivera (1886-1957); José Clemente Orozco (1883-1949);
e David Alfaro Siqueiros (1896-1974), que criaram uma mitologia icônica e pictórica da Revolução Mexicana.

Fonte da imagem: http://www.escuelacima.com/nuevademocracia.gif (Acesso em: 20 jul. 2017).

Realismo social: ao mesmo tempo que o realismo socialista surgiu na Rússia no início dos anos
1930, outro movimento não relacionado – conhecido como realismo social – apareceu na América
do Norte. Associado às dificuldades econômicas causadas pelo Wall Street Crash (a quebra da
Bolsa de Valores) e a Grande Depressão (crise econômica do país), o realismo social chamou a
atenção para os efeitos sociais desses desastres e seus impactos sobre as vítimas. O movimento
está incorporado no trabalho de Ben Shahn (1898-1969), mas este tipo de manifestação artística,
embora de forte cunho social, não tinha o caráter de propaganda política do realismo socialista
controlada pelo governo (Fig. 45).

Pág. 95 de 118


Figura 45 – Obra de Ben Shahn

Ben Shahn, pintor, design gráfico e fotógrafo. Um dos artistas modernos mais importantes na arte norte-
americana do século XX, Shahn está associado ao movimento do realismo – especificamente da escola
de realismo social da década de 1930 – e muitos de seus trabalhos exploram questões de interesse
social e internacional. Também foi um mestre em várias mídias diferentes nas artes decorativas, incluindo
pintura, design, gravura, fotografia, cartaz, além de mosaicos, vitrais e ilustrações de livros.

Fonte da imagem: https://arteyartistas.files.wordpress.com/2008/03/


farmers.jpg?w=608&h=447 (Acesso em: 21 jul. 2017).

CURIOSIDADES

A arte é uma das manifestações mais instigantes do espírito humano. Muitas vezes, é uma expressão
da personalidade do artista e de sua maneira individual de expressar o mundo. Outras vezes, não
é autônoma, mas está ligada à política (revolucionária ou não), à arquitetura ou a algum tipo de
propaganda. Frequentemente, a arte se coloca ao serviço da promoção de certas utopias, que
posteriormente são substituídas por outras, em um caminhar incessante de oposições. A esse
respeito, leia o curioso depoimento do poeta Ferreira Gullar, ditado para sua neta em uma cama de
hospital.

Disponível em: https://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2016/12/leia-o-artigo-que-ferreira-gullar-


ditou.html (Acesso em: 21 jul. 2017).

Pág. 96 de 118


13. ARTE MODERNA: A PASSAGEM DO SÉCULO XIX PARA SÉCULO XX


Embora existam divergências quanto aos limites temporais que inauguram o início da chamada
Arte Moderna, em linhas gerais, esta refere-se à produção artística surgida na França do final
do século XIX em meio à Revolução Industrial, à ascensão da burguesia, à reforma urbana de
Haussman e à crise da manufatura. Na época, Charles Baudelaire problematizou sobremaneira
as transformações socioculturais. Sendo assim, o tema central da arte moderna era a cidade e
a vida cotidiana naquele novo cenário. A boemia, a prostituição e os andarilhos são amplamente
retratados nas representações pictóricas modernistas. À luz dos estudos da história da arte, este
período estende-se até o ano de 1970.

Na pintura, a tentativa de se criar um espaço tridimensional por meio do uso de volume e


perspectivas é abandonada. Assume-se a bidimensionalidade da tela e o interesse pelos estudos
de luz e cor. As pinturas impressionistas de Édouard Manet (1832-1883) e pós-impressionistas de
Vincent van Gogh (1853-1890) são exemplos dessa nova prática que perseguia o registro imediato
das cenas cotidianas.

Com o advento da Primeira Guerra Mundial, muitos artistas deixaram a França, partindo para Nova
York, levando consigo as ideias da nova arte. No entanto, foi após a Segunda Guerra Mundial que os
movimentos artísticos modernos começaram a disseminar-se na América com o expressionismo
abstrato de Jackson Pollock (1912-1956) até o hiper-realismo de Chuck Close (1940), dando origem
ao que chamamos hoje de arte contemporânea. A arte moderna representou um conjunto de ideias
compartilhadas por pintores, escultores e escritores que, individual ou coletivamente, procuraram
novas abordagens para o fazer artístico, promovendo um rompimento com a arte acadêmica.

Neste sentido, a arte moderna é uma resposta ao racionalismo e a representação verossímil do


objeto capturado. Apesar de a expressão aplicar-se a um grande número de gêneros artísticos que
compreendem mais de um século, dentre os principais movimentos artísticos iniciados naquele
período destacam-se: (1) impressionismo; (2) cubismo; (3) futurismo; (4) expressionismo; (5)
dadaísmo; (6) surrealismo; e (7) abstracionismo. Vamos analisá-los em seguida.

Pág. 97 de 118


(1) Impressionismo

Em 1874, na França, Claude Monet, Edgar Degas e Camille Pissarro, entre outros artistas,
preteridos pela crítica de arte oficial da época, inauguraram aquele que ficou conhecido como o Salão
dos Recusados. Tratava-se de uma exposição de pinturas criadas a partir da rejeição da tradição
acadêmica (uma regulação das academias de arte que só reconheciam a arte oficial produzida em
seu interior, de acordo com normas rígidas de produção) e com base nos herdeiros do romantismo.
Os impressionistas se dedicavam ao incansável estudo de luz, cores, reflexos e transparências
incidentes na natureza. O termo impressionismo foi jocosamente atribuído a uma pintura de Claude
Monet, Impressão, nascer do sol, pintado em 1872 e preservado no Museu Marmottan, em Paris.

Conforme mencionado anteriormente, os impressionistas mantinham um interesse na experiência


visual modificada pela constante alteração da luz na natureza, entusiasmados com as teorias ópticas
e os resultados da fotografia instantânea. Por isso, as cores não eram misturadas na paleta do
artista – em vez disso, eram misturadas na própria tela por meio da sobreposição de pinceladas e da
alteração da luz no decorrer de seu fazer artístico. Desta forma, os impressionistas romperam com
alguns princípios, como a eliminação do contorno na representação e a substituição de sombras
obtidas pelo preto e pelo azul-escuro, em favorecimento de sombras luminosas e coloridas obtidas
por meio das cores complementares dos diversos tons de azul (tons de laranja) e as escalas de
cinza (Fig. 46).

Pág. 98 de 118


Figura 46 – Pintura de Claude Monet, tipicamente impressionista

Na busca da verdade, os pintores impressionistas visavam a impressão óptica do que era luminoso
e transitório, e como resultado, a forma se tornou negligenciada. Embora não tenha sido entendido
pelo homem na rua, o impressionismo concordou com a evolução das ideias contemporâneas.
Assim que a resistência inicial foi superada, o movimento se espalhou irresistivelmente em todo
o mundo. O sucesso do novo estilo foi tão grande que rapidamente trouxe uma reação em sua
trilha. O pensamento analítico do artista estava sendo substituído em favor de sua visão.

Fonte: http://www.democrart.com.br/aboutart/wp-content/uploads/2015/03/
Democracia_Claude_Monet_Obra3.jpg (Acesso em: 20 jul. 2017).

Em linhas gerais, o impressionismo não mantém interesse por questões relacionadas à


condição humana. O artista impressionista é um pesquisador do fenômeno óptico. Na modernidade,
diferentemente do que ocorria na Renascença, os pintores podiam contar com certas facilidades,
como o acondicionamento das tintas em tubos resistentes e flexíveis e, ainda, a possibilidade de
transportar um cavalete portátil até o local desejado, visto que o verdadeiro tema de sua pesquisa
estava fora do ateliê. Além dos artistas já citados, podemos nos lembrar de Pierre-Auguste Renoir,
Frédéric Bazille, Gustave Caillebotte, Mary Cassatt e Berthe Morisot.

Pág. 99 de 118


(2) Cubismo

O cubismo é uma proposta estética que surgiu em Paris, entre os anos de 1907 e 1914, tornando-se
um dos movimentos mais influentes das artes plásticas. Influenciados pelo primitivismo das máscaras
africanas e pela obra de Paul Cézanne, Pablo Picasso (1881-1973) e Georges Braque (1882-1963)
foram os responsáveis pela difusão de uma proposta que tinha como premissa a desconstrução do
objeto representado. A ideia era registrar todas as faces do tema da pintura simultaneamente em
tons de bege, cinza e ocre. Assim como no abstracionismo, o cubismo se divide em duas vertentes:
o cubismo analítico, já mencionado, e o cubismo sintético, também chamado de colagem.

O cubismo sintético procurou, em certa medida, recuperar o figurativismo e ainda propôs uma
linguagem na qual a bidimensionalidade da pintura dialoga com a tridimensionalidade da escultura,
tendo em vista que os representantes do cubismo sintético se apropriavam de materiais como
vidro, madeira e metais na consecução de suas obras. Para Hauser (2000), o cubismo questionava
os pressupostos básicos da tradição da arte ocidental, os quais haviam prevalecido por muitos
séculos. De maneira geral, o estilo cubista enfatizou a superfície plana e bidimensional do plano da
imagem, rejeitando as técnicas tradicionais de perspectiva, encurvamento, modelagem e chiaroscuro
(sombra e luz do barroco), refutando as teorias anteriores de que a arte deve imitar a natureza. Os
pintores cubistas não se sentiam obrigados a copiar forma, textura, cor e espaço; em vez disso,
apresentaram uma nova realidade em pinturas que retratava objetos fragmentados de forma radical.
No Brasil, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Rego Monteiro foram influenciados pelo
cubismo analítico (ver Figura 47).

Pág. 100 de 118




Figura 47 – Mulher com violão, de Georges Braque (1913)

Braque foi uma figura-chave na pintura francesa moderna e é considerado principalmente


por sua arte abstrata, nomeadamente pelo seu trabalho pioneiro no cubismo, um dos
movimentos mais revolucionários e influentes da arte moderna – que ele fundou no final
dos anos 1900 em colaboração com Pablo Picasso, no princípio do século XX.

Fonte: https://1.bp.blogspot.com/-aMPHVf71VsI/TlfOna_azYI/AAAAAAAAKAI/6QJrjnMT37Y/
s400/mulher+com+viol%25C3%25A3o%252C+G.Braque%252C+1913.jpg.

Pág. 101 de 118




(3) Futurismo

O futurismo foi o mais importante movimento de arte de vanguarda italiano do século XX.
Celebrou a tecnologia avançada e a modernidade urbana. Comprometidos com o novo, seus membros
desejavam destruir as formas antigas de cultura e demonstrar a beleza da vida moderna – a beleza
da máquina, a velocidade, a violência e a mudança que ela proporcionava. Embora o movimento
promovesse alguma arquitetura, a maioria dos seus adeptos eram artistas que trabalhavam em
meios tradicionais, como pintura e escultura, e em uma variedade eclética de estilos inspirados
no pós-impressionismo. No entanto, estavam interessados em abraçar a mídia popular e novas
tecnologias para comunicar suas ideias. O entusiasmo pela modernidade e pela máquina levou-os
a celebrar a chegada da Primeira Guerra Mundial. No final, o grupo foi amplamente reconhecido
como uma importante vanguarda (ver Figura 48).

Figura 48 – Desenvolvimento de uma garrafa no espaço

Escultura em bronze de Umberto Boccioni (1912). O futurismo emitia manifestos à medida


que os anos se passavam, sempre celebrando seu espírito da era da máquina, o triunfo
da tecnologia sobre a natureza e a oposição às tradições artísticas anteriores.

Fonte: https://criticadeartebh.com/2017/01/12/boccioni-desenvolvimento-de-uma-garrafa-no-espaco-1912/.

Pág. 102 de 118




Em 1911, as pinturas futuristas foram exibidas em Milão na Mostra D’arte Libera, e segundo
Argan (2003, p. 368), os convites foram destinados a “todos aqueles que querem conhecer algo
novo, isto é, longe de imitações, derivações e falsificações”. As pinturas apresentavam pinceladas de
linha e cores altamente digitalizadas, que representavam o espaço como fragmentado e fraturado.
Temas e conceitos eram focados em tecnologia, velocidade e violência, em vez de retratos ou
paisagens simples. Entre as pinturas, estava O despertar da cidade (1910), uma imagem que pode
ser considerada a primeira pintura futurista em virtude de seu estilo avançado, de influência cubista.
A reação pública foi mesclada. Os críticos franceses dos círculos literários e artísticos expressaram
hostilidade, enquanto muitos elogiaram o conteúdo inovador.

(4) Expressionismo

O termo expressionismo é atribuído a uma tendência da arte moderna europeia iniciada em


1905, na Alemanha, como oposição ao impressionismo francês, que registrava a natureza por
meio de sensações visuais imediatas. Para os expressionistas, a arte liga-se à ação, por meio
da qual as imagens são distorcidas com o auxílio de cores fortes e traços vigorosos, afastando-
se da verossimilhança. Este importante período da história da cultura foi fundamental para o
desenvolvimento da arte moderna, que se propagava por meio dos diversos grupos adeptos ao
movimento. A Ponte (Die Brücke) e O Cavaleiro Azul (Der Blague Reiter) foram os grupos de maior
repercussão, contando com a participação de artistas como Emil Nolde, Ernst Ludwig Kirchner, Erich
Heckel, Karl Schmidt-Rottluff, Otto Dix e Georg Grosz, além de estrangeiros radicados na Alemanha
como Paul Klee e Kandinsky.

O grupo Die Brücke foi criado em 1905 na cidade de Dresden, na Alemanha, por iniciativa de
quatro estudantes de arquitetura. A proposta expressionista foi apresentada durante uma exposição
realizada numa antiga fábrica de lâmpadas. Inspirados pelas máscaras africanas e pela arte produzida
na Oceania, os artistas Ernst Ludwig Kirchner, Karl Schmidt-Rottluff, Fritz Bleyl e Erich Heckel se
apresentaram, através de sua arte, como a “ponte para o futuro”. No ano seguinte, os artistas Emil
Nolde, Max Pechstein, Cuno Amiet e Finn Axel Gallen juntaram-se ao grupo e publicaram o programa
do grupo produzido em xilogravura. Esta formação, no entanto, não perdurou. Nolde deixou o grupo
em 1907, Bleyl em 1909 e Pechstein em 1912.

Pág. 103 de 118




O Die Brücke está para os alemães como os fauves estão para os franceses. Ambos recorreram
à natureza para escolher os temas de suas obras. A composição de seus quadros rejeita a ordem
racional e a paleta de cores é carregada de tons avermelhados e esverdeados. Esta opção afasta-
se definitivamente da proposta difundida pelos abstracionistas. Kirchner acentuava os aspectos
conceituais ou imaginativos da arte, e reconhecia a importância que havia tido Hans von Marées
para geração expressionista. Marées era filho de um presidente da câmara prussiana descendente
da realeza. Seu interesse pela arte manifestou-se logo cedo.

Em 1854, tornou-se aluno de Carl Steffeck na Academia de Artes de Berlim. Suas pinturas eram
autorretratos, paisagens escuras, quadros com temas militares e retratos de seus amigos. Em 1864,
foi enviado por Adolf Friedrich Graf von Schack para Roma para copiar os grandes mestres, mas
encontrou rapidamente no filósofo Konrad Fiedler seu novo mentor. Em 1870, viajou à Espanha,
Holanda e França e foi altamente influenciado por Delacroix, passando a fazer parte de um novo
círculo de amigos idealistas, do qual Adolf von Hildebrand, Anselm Feuerbrand e Arnold Böcklin
faziam parte. Marées trabalhou com Hildebrand, com quem mantinha uma grande amizade, porém,
nos anos de 1871 e 1872, resolveu trabalhar novamente sozinho, morando em Dresden.

Realizou um grande afresco na estação zoológica do Nepal, considerada até hoje uma das
maiores obras de arte do século XIX. Em 1876, mudou-se definitivamente para Roma para aperfeiçoar
seus estudos a partir da observação das obras dos grandes mestres. Marées teve seu trabalho
reconhecido somente após a virada do século, como uma arte figurativa, inovadora e expressiva.
Atualmente, suas obras podem ser encontradas na Pinacoteca de Munique e na Galeria Nacional
de Berlim. A obra de Marées é carregada de vigor e apresenta uma crítica contundente à condição
social daquele período marcado por turbulência política, conflitos religiosos e questões relacionadas
às práticas sexuais.

Com o surgimento do grupo Der Blau Reiter (O Cavaleiro Azul), em Munique, surgiu uma abordagem
mais intelectualizada a respeito das questões envolvendo a produção da arte como reflexo da
condição humana e suas subjetividades. Faziam parte do Der Blau Reiter Paul Klee, Alfred Kubin
e Wassily Kandinsky. A primeira ação promovida pelo grupo foi editar uma revista, Almanach der
Blaue Reiter, que abordaria e difundiria a estética expressionista.

Pág. 104 de 118




O grupo caracterizou-se pelo internacionalismo, não se preocupando em fundar um programa


artístico específico. Kandinsky comentou a primeira exposição do grupo dizendo que, no pequeno
evento, não houve a tentativa de propagar um determinado estilo, preciso e pictórico, mas apontar como
os artistas possuem uma variedade de caminhos, por meio da variedade de formas representadas,
para expressar seus desejos interiores.

Além dos grupo citados, outro de relevância é A Tempestade. Ele foi criado em 1910 por Herwarth
Walden em Berlim como um periódico, para, em 1912, emprestar o nome a um importante espaço
para realização de exposições expressionistas. Walden foi um entusiasmado colaborador das
vanguardas alemãs. Tanto a galeria quanto o jornal, que mantinha Wassily Kandinsky e Marc Chagall
como editores, difundiam os trabalhos dos grupos A Ponte/Die Brücke e Cavaleiro Azul/Der Blaue
Reiter. O periódico trouxe em suas páginas uma declaração de Delaunay sobre suas teorias do
orfismo, além de projetos e textos do arquiteto modernista Adolf Loos. Em 1913, a galeria promoveu
o primeiro Herbstsallon, reunindo 366 quadros e 90 esculturas de 15 países diferentes. Em 1932,
Walden emigrou para a Rússia, onde foi declarado desaparecido em 1941.

O Grupo de Novembro/Novembergruppe, formado em Berlim por Pechstein, Cesar Domela, Karl


Schmidt-Rottluff, Jef Golyscheff e membros da A Ponte/Die Brücke, aspirava à união de todos os
artistas alemães, fossem eles expressionistas, cubistas ou futuristas. O grupo, politicamente articulado,
publicou seu primeiro manifesto em 1918, estabelecendo que “[...] o futuro da arte e a seriedade do
presente compele-nos, revolucionários de espírito, para uma unidade e concordância”(SALLES,2012).
Embora o refrão do grupo fosse liberdade, igualdade e fraternidade, seu programa não constituiu
uma ação politicamente relevante. Alguns de seus membros pertenceram ao Conselho Berlinense
de Trabalhadores da Arte e outros formaram a Bauhaus em 1919.

Dentro do clima da arte figurativa, entre as duas guerras mundiais, a terceira fase do expressionismo
alemão concretizou-se com o grupo Nova Objetividade/Neue Sachlichkeit, criado em 1923 por Felix
Hartlaub, diretor da Kunsthalle de Mannheim (SALLES, 2012).

A arte expressionista encontrou suas fontes no romantismo alemão, o que indica um forte
questionamento ao isolamento do homem diante de uma sociedade estéril e mecanizada, imune à
subjetividade de impulsos e paixões individuais. Vincent van Gogh, membro do pós-impressionismo
(1853-1890), e Paul Gauguin (1848-1903) são representantes dessa proposta estética. Desde o início,
tem destaque a intensidade que cria objetos e cenas, bem como o registro de emoção subjetiva
em cores e linhas vigorosas.

Pág. 105 de 118




O expressionismo transcende a ideia de um simples movimento ou reunião de amigos afortunados


querendo tomar chá e discutir arte. Trata-se de uma reflexão a respeito das transformações causadas
pela modernidade. Seu surgimento refletiu uma posição contrária ao racionalismo e ao trabalho
mecânico por meio de obras que combatiam a razão com a emoção. Foi influenciado pela filosofia
de Nietzsche e pela teoria do inconsciente de Freud, sobretudo a psicanálise.

A figuração, principal eixo da pintura até 1870, caracteriza-se pela representação de seres e
objetos reconhecíveis ao olhar. O artista capta e expressa de modo quase literal a paisagem física e
social – às vezes de forma idealizada, segundo os padrões da arte grega, como no neoclassicismo,
outras vezes deformando-a, como no expressionismo. Os expressionistas apregoavam, além de uma
nova proposta estética, uma reflexão a respeito das relações humanas, por isso a produção plástica
do movimento procurou representar os sentimentos de seus autores. As pinceladas vigorosas e a
paleta de cores vibrantes despertaram a cólera do regime nazista, que passou a denominar a arte
expressionista como degenerada.

A chegada do expressionismo anunciou novos padrões na criação e no julgamento de arte.


Esta agora estava destinada a vir de dentro do artista, ao invés de ser uma representação externa
do mundo visual, e o padrão para avaliar a qualidade de uma obra de arte tornou-se o caráter dos
sentimentos do artista, em vez de uma análise da composição.

Pág. 106 de 118




Figura 49 – Nu deitado com gato, de Max Pechstein (1909)

O expressionismo foi em parte uma reação contra o impressionismo e a arte acadêmica, mais inspirado
pelas correntes simbolistas da arte do final do século XIX. Vincent van Gogh, Edvard Munch e James
Ensor mostraram-se particularmente influentes para os expressionistas, incentivando a distorção da
forma e a implantação de cores fortes para transmitir uma variedade de ansiedades e anseios.

Fonte: http://25.media.tumblr.com/tumblr_mbe7dz4lIR1qkg583o1_1280.jpg.

Pág. 107 de 118




(5) Dadaísmo

De acordo com o poeta romeno Tristan Tzara,

Dada1 não significa nada: Sabe-se pelos jornais que os negros Krou denominam a
cauda da vaca santa: dada. O cubo é a mãe em certa região da Itália: dada. Um cavalo
de madeira, a ama-de-leite, dupla afirmação em russo e em romeno: dada. Sábios
jornalistas viram nela uma arte para os bebês, outros Jesus chamando criancinhas
do dia, o retorno ao primitivismo seco e barulhento, barulhento e monótono. Não
se constrói a sensibilidade sobre uma palavra; toda a construção converge para
a perfeição que aborrece, a ideia estagnante de um pântano dourado, relativo ao
produto humano (Fragmento do manifesto dadaísta escrito porTZARA apud ARGAN,
2003 p.512).

A citação do poeta romeno fornece a medida daquele que foi o principal pilar conceitual do
movimento dadá, o nonsense. Com a Primeira Guerra Mundial e indiferença diante da vida, Tzara
propôs uma reflexão a respeito do fazer artístico ao declarar que a obra de arte não deve ser a
beleza em si mesma, porque a beleza está morta. O poeta colocou em questão não só a arte, mas
as relações humanas na modernidade. Nesse sentido, o dadaísmo, iniciado em 1916 no Cabaret
Voltaire, na cidade de Zurique (Suíça), foi o primeiro movimento de arte conceitual em que o foco
não estava na elaboração de objetos esteticamente agradáveis, mas na reflexão, sobretudo, de qual
era o propósito da arte e do papel do artista naquele contexto.

Os artistas dadaístas utilizavam a justaposição de materiais como papel, plástico, tecido,


madeira e pigmentos diversos, criando uma colagem com as sobras produzidas pela sociedade
moderna. Essa proposta foi difundida com a publicação do Manifesto Dada por Tristan Tzara, em
1918. Entre os dadaístas, podemos citar Hans Arp (poeta e pintor alemão), Francis Picabia (poeta
e pintor francês), Max Ernst (pintor alemão), Raoul Hausmann (poeta e artista plástico austríaco),
Hugo Ball (poeta e filósofo alemão), Richard Huelsenbeck (escritor e psicanalista alemão), Sophie
Täuber (artista plástica suíça) e Marcel Duchamp, que, em 1913, instituiu o conceito de ready-made
com a criação da obra nomeada A roda de bicicleta.

Para Duchamp, as capitais do Velho Mundo trabalharam por centenas de anos para encontrar
aquilo que constitui o bom gosto, no entanto, ele entende que essa insistência é algo maçante.
Duchamp afirma que a arte na Europa está acabada e que a América deveria compreender sua

1 O termo dada em francês significa cavalo de madeira.

Pág. 108 de 118




importância para o futuro. Solicita que se olhem os arranha-céus: a própria cidade de Nova York
seria uma obra de arte em si.

Figura 50 – Autorretrato ABCD, de Raoul Hausmann (1921)

O dadaísmo foi uma revolta contra a cultura e os valores que seus participantes acreditavam ter sido
a causa da carnificina da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Desenvolveu-se rapidamente em um
tipo anarquista de arte de alta vanguarda, cujo objetivo era subverter e minar o sistema de valores
do establishment dominante que permitiu a guerra, incluindo as manifestações de arte anteriores,
que eles consideravam intrinsecamente ligadas ao desacreditado status quo político.

Fonte: http://lounge.obviousmag.org/dadaista/2012/05/dadaismo-arte-e-desordem.html.

Pág. 109 de 118




(6) Abstracionismo

O termo abstracionismo é utilizado para definir uma forma de arte que abre mão da representação
figurativa, privilegiando composições construídas a partir de linhas, formas geométricas e massas de
cor. Dessa forma, os abstracionistas pretendiam se distanciar dos ideais que nortearam a produção
artística até o final do século XIX, um período no qual a representação da natureza predominava.

Portanto, em linhas gerais, o abstracionismo procura uma linguagem universal que rejeita a
realidade concreta do visível. Para Frederico Morais, no entanto, a arte abstrata apresenta uma
crônica sublimada da realidade, mas, apesar de reduzida a manchas, cores e volumes, é sempre
possível recuperar nela as motivações figurativas que lhe serviram de ponto de partida. Muitos
pintores e escultores, trabalhando numa multiplicidade de estilos tanto na Europa quanto nas
Américas, continuavam a considerar a figura humana de suma importância.

O pintor russo Vassily Kandinsky (1866-1944) é considerado o precursor da arte abstracionista.


Há de se destacar, no entanto, que o abstracionismo se divide em duas tendências: o lírico e o
geométrico. A primeira tendência teve origem nas vanguardas europeias, mais precisamente no
expressionismo. Assim como este, o abstracionista procura a expressividade para propor uma arte
ligada ao espírito. Além de Kandinsky, Franz Marc, August Macke, Paul Klee e Marianne von Werefkin
foram artistas que se dedicaram ao experimentalismo da cor e da forma fluida.

A segunda vertente, o abstracionismo geométrico, difere substancialmente do abstracionismo


lírico, pois propõe uma lógica composicional geométrica e racional. Além disso, a dimensão
cromática obedece a uma lógica projetual pensada a partir de uma paleta composta somente pelas
cores primárias. Kazimir Malevich (1878-1935) e Piet Mondrian (1878-1944) foram os precursores
do abstracionismo geométrico.

Durante a ascensão dos regimes totalitários, em especial o nazismo e o social-realismo, a arte


foi utilizada como instrumento de propaganda política (FOUCAULT, 2001, p. 285-286). A estética
totalitária, sob o rígido controle do Estado, recusava quaisquer referências às inovações artísticas,
impondo um neoclassicismo ideológico como padrão. Vigorava o culto ao corpo, o estilo hiper-
realista, a simulação do movimento e, sobretudo, a ausência da individualidade em favor de narrativas
coletivas. Dessa forma, a pintura figurativa passou a ser associada à estética nazista e ao realismo
socialista. Portanto, a maioria dos trabalhos realizados na Alemanha, naquele período, era tachista
ou abstrato (ver figura 51).

Pág. 110 de 118




Figura 51 – Igreja da aldeia, de Wassily Kandinsky (1908)

A premissa básica da arte abstrata é que as qualidades formais de uma pintura (ou escultura)
são tão importantes (senão mais) do que suas qualidades de representação.

Fonte: http://cdn.playbuzz.com/cdn/420d5f19-cdc6-4176-848e-
314842e2e549/f15bd850-0efd-438d-8a3a-2f70e8b90606.jpg.

(7) Surrealismo

O surrealismo tem suas raízes nos estudos da psicanálise, mais precisamente do processo
psicanalítico de Sigmund Freud (anamnese, resistência, transferência etc.). Freud reúne, além do
objetivo terapêutico, o interesse de estabelecer a psicanálise como ciência, distinguindo as instâncias
psíquicas do inconsciente, do pré-consciente e do consciente, além de investigar os sonhos nas
representações artísticas. Durante seus estudos, ele procurou provar que psicologia é a ciência
dedicada ao comportamento humano e, por isso mesmo, deve ser compreendida como uma ciência
natural regida pelo inconsciente. Sua tese baliza os pilares conceituais de sua teoria cultural, que,
em última análise, tratava de investigar o inconsciente na construção do coletivo hereditário.

Pág. 111 de 118




O movimento surrealista propriamente dito surgiu em Paris em 1924, no contexto das


vanguardas europeias. André Breton (1896-1966) liderava um grupo de escritores que rejeitava o
racionalismo e defendia a importância do inconsciente na atividade criativa. Essa atividade psíquica
é proporcionalmente maior que a soma dos momentos de realidade (considerando-se os momentos
de sonho puro, sono e vigília). Mereciam, portanto, alguma atenção. Citou que os momentos de
gravidade que um observador comum confere à situação de vigília sempre o surpreenderam. Na
verdade, ao acordar, o homem torna-se refém de sua memória, que, em estado normal, procura
relembrar fracamente as situações do sonho, privando-se, muitas vezes, da consequência atual
da realidade.

Figura 52 – O filho do homem, de René Magritte

Embora alguns pensem que o surrealismo é apenas outra forma de arte, ele foi realmente um movimento cultural
que se expressou por meio da arte, da literatura e mesmo da política. Na pintura, Salvador Dalí (1904-1989) e
René Magritte (1898-1967) foram destaques, assim como Marc Chagall (1887-1985) e Joan Miró (1893-1983).

Fonte: https://www.arteeblog.com/2016/06/a-historia-de-o-filho-do-homem-de-rene.html

Pág. 112 de 118




Figura 53 – Cisnes refletindo elefantes, óleo sobre tela de Salvador Dalí (1937)

Legenda: a Primeira Guerra Mundial teve um efeito profundo na Europa, e muitas pessoas acreditavam que o conflito
era resultado do pensamento racional excessivo e dos valores materialistas das classes média e alta. O surrealismo
desenvolveu-se a partir deste processo de pensamento na Europa na década de 1920. O movimento também
abraçou a ideia psicanalítica dos desejos inconscientes, ou “das coisas que queremos, mas que não sabemos
que queremos” (WÖLFFLIN, 2015, p. 157). Ele centrou-se nessas ideias de caos e desejos inconscientes em um
esforço para penetrar profundamente na mente para encontrar inspiração para a criatividade política e artística.

Fonte: http://pt.wahooart.com/@@/5ZKF5R-Salvador-Dali-Cisnes-Refletindo-Elefantes-1937-.

ATIVIDADE REFLEXIVA

Considerando o que foi apresentado, reflita sobre a seguinte questão: a pintura do renascimento teve
contribuições específicas para a representação da mulher e da natureza?

Para contribuir na sua reflexão sugere-se a leitura do artigo a seguir:

Título: As Vênus do renascimento

Link: http://www.uel.br/eventos/eneimagem/anais/trabalhos/pdf/Parisotto_Giovanna%20Chaves.pdf

Pág. 113 de 118




CONSIDERAÇÕES FINAIS
O texto desta aula procurou mostrar que o Renascimento – ou seja, o período que se estende
aproximadamente a partir do meio do século XIV até o início do século XVII – foi um período de
grande atividade filosófica, abrangente e, em muitos aspectos, distinta. Objetivou-se mostrar que
as bases do movimento renascentista foram os princípios filosóficos e humanistas da Antiguidade
Clássica, que consideravam o ser humano, em sua plenitude intelectual, como centro de todas as
coisas. Os textos do período clássico, resgatados pelos viajantes que percorriam a Europa Ocidental,
fundamentaram os pressupostos para modificar radicalmente a orientação da filosofia cristã que
prevaleceu na Idade Média, chamada pelos renascentistas de “idade das trevas”.

Recolocando o homem como centro do mundo e o conhecimento como base do desenvolvimento


humano e social, o Renascimento teve uma profunda influência no curso do desenvolvimento da
sociedade, da cultura e da arte moderna do Ocidente, chegando às Américas durante o período
das grandes navegações. A influência do Renascimento na civilização ocidental provocou um novo
foco no humanismo e, como resultado, um posterior afastamento dos ideais dominantes que eram
sustentados pela Igreja Católica, que prevaleceram na Europa até meados do século XIV.

Embora a religião ainda tenha mantido certa influência ao longo do período renascentista,
o reconhecimento inicial do potencial humano e da investigação científica moldou o curso da
história ocidental e ainda influencia a cultura contemporânea até hoje. Os princípios do realismo,
particularmente como eles apareceram em termos de arte e literatura, permaneceram vitais em
todos os aspectos da sociedade moderna e figuras como Boccaccio, da Vinci e Maquiavel exercem
influência decisiva em vários aspectos das artes visuais, da literatura e do pensamento político e
social da atualidade.

Em termos de contribuições para a sociedade ocidental contemporânea, poucas figuras


renascentistas são tão proeminentes quanto Leonardo da Vinci. Ele não só era um artista e um
pensador revolucionário, mas foi pioneiro em vários avanços que hoje reconhecemos como certos
e viáveis. Como artista, da Vinci procurou representar o realismo em várias formas, principalmente
na figura humana. Em vez de pintar apenas as figuras religiosas elevadas e grandiosas (que ele
ainda retratou), frequentemente procurava mostrar o verdadeiro espírito humano em suas telas.

Uma pintura como a Mona Lisa ainda é uma imagem recorrente na cultura popular, mas há um
significado mais profundo para sua longevidade na sociedade contemporânea, devido ao realismo

Pág. 114 de 118




humanista dessa tela. Da Vinci foi um dos primeiros pintores a mostrar uma tendência realista
em sua pintura. Essa tradição na arte prevaleceu e hoje pode ser encontrada em todo o mundo da
arte, da pintura à literatura. Além de suas pinturas que representavam a observação científica, da
Vinci (assim como Michelangelo, Rubens e Donatello) também foi pioneiro em alguns dos primeiros
estudos de anatomia humana, bem como em vários outros desenvolvimentos científicos.

Em suma, partindo do estudo das manifestações renascentistas e suas bases, a complementação


do texto da aula mostra como o trabalho desses grandes artistas influenciou a cultura e o
pensamento ocidentais e como os movimentos artísticos a partir de então se desdobraram, ora
como aperfeiçoamento e aprofundamento das técnicas e orientações realistas da renascença –
caso do barroco e do neoclassicismo –, até as manifestações do modernismo, algumas vezes em
oposição ao retratismo renascentista, o que possibilitou a emergência da arte moderna abstrata.

Pág. 115 de 118




GLOSSÁRIO

Heliocentrismo: em astronomia, é a teoria que coloca o Sol estacionário no centro do universo, ou


em sentido estrito, situado aproximadamente no centro do sistema solar, no caso do heliocentrismo
renascentista. (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Heliocentrismo.)

Metafísica: é uma palavra com origem no grego e que significa “o que está para além da física”.
É uma doutrina que busca o conhecimento da essência das coisas. Os sistemas metafísicos, em
sua forma clássica, tratam de problemas centrais da filosofia teórica: são tentativas de descrever os
fundamentos, as condições, as leis, a estrutura básica, as causas ou princípios, bem como o sentido
e a finalidade da realidade como um todo ou dos seres em geral. (Fonte: https://www.significados.
com.br/metafisica/ e https://pt.wikipedia.org/wiki/Metaf%C3%ADsica.)

Sistema ptolomaico de astronomia: modelo matemático baseado no movimento dos planetas,


do sol e da lua. Ptolomeu desenvolveu um sistema contrário ao das esferas homocêntricas de
Eudoxos e Aristóteles. Esse sistema tinha enorme complexidade. (Fonte: http://www.ghtc.usp.br/
server/Sites-HF/Geraldo/ptolemaico.htm).

Pág. 116 de 118




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALIGHIERI, Dante. A divina comédia. Tradução José Pedro Xavier Pinheiro. São Paulo: Edigraf Ltda.,
1958.

ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna, do iluminismo aos movimentos contemporâneos. São Paulo:
Companhia das Letras, 2003.

BOCCACCIO, Giovanni. Trattatello em louvor de Dante. In: AUBERT, Eduardo Henrik (sel., trad., introd.
e notas). Vidas de Dante: escritos biográficos dos séculos XIV e XV. Cotia, SP: Ateliê, 2011, p. 117-198.

BONNELL, Robert. Dante, o grande iniciado: uma mensagem para os tempos futuros. São Paulo:
Madras, 2005.

CHENEY, Sheldon. História da arte. São Paulo: Rideel, 1995.

FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

GOMBRICH, Ernest Hans. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2015.

HAUSER, Arnold. História social da literatura e da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

HUBERMAN, Leo. A história da riqueza do homem: do feudalismo ao século XXI. Rio de Janeiro:
LTC, 2011.

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Nova Fronteira, 2014.

MORAIS, Frederico. Arte é o que eu e você chamamos de arte. São Paulo: Record, 1998.

PLATÃO. Diálogos V. São Paulo: Edipro, 2011. (Coleção Diálogos de Platão).

ROTERDÃ, Erasmo de. Elogio da loucura. São Paulo: L&PM, 2013.

SALLES, Cecília Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo: Intermeios, 2012.

Pág. 117 de 118




STORING, Hans Joachim. História geral da filosofia. São Paulo: Vozes, 2009.

SYMONDS, John Addington. Renaissance in Italy: the fine arts. Honolulu: University Press of the
Pacific, 2005.

WOLF, Dieter Dube. O expressionismo. São Paulo: Edusp, 1976.

WÖLFFLIN, Heinrich. Conceitos fundamentais da história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2015

Pág. 118 de 118

Você também pode gostar