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A REVOLUÇÃO DA PRENSA GRÁFICA

BRETON, Philippe. PROULX, Serge. Sociologia da Comunicação. São Paulo: Loyola, 2002.
BRIGGS, Asa. Uma História Social da Mídia: De Gutenberg à Internet / Asa Briggs e Peter Burke. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

1. 1450 – O RENASCIMENTO, OU A RENOVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO ATRAVÉS


DO LIVRO MODERNO.

Transformação
da Estrutura Mental
do Homem

- “A transformação do documento escrito em livro impresso é freqüentemente


apresentada como o símbolo das mutações intelectuais e sociais que caracterizaram a
saída da Idade Média e transformaram o documento escrito em uma incomparável
ferramenta de comunicação.” Breton, 39.

- “A prática da impressão gráfica se espalhou pela Europa com a diáspora dos


impressores germânicos. Por volta de 1500, haviam sido instaladas máquinas de
impressão em mais de 250 lugares na Europa - ...” Briggs, 26.

- “O livro moderno está na inserção de duas dimensões: de um lado, o sistema técnico


que permite seu aprimoramento como suporte de textos; de outro, o mundo
extraordinariamente variado das idéias das quais ele favoreceu a difusão. As técnicas
da imprensa, atreladas às que permitem o transporte e a difusão dos livros até o leitor
– técnicas geralmente deixadas de lado apesar de sua importância -,
incontestavelmente desenvolveram a função de comunicação do livro.” Breton, 39.

- “É verdade também que o livro impresso foi um dos suportes essenciais das novas
idéias que se difundiram nos meios humanistas e a partir deles em círculos mais
amplos.” Breton, 40.

- “Mas o século XV foi o período das idéias colocadas em movimento, e seria


provavelmente mais justo dizer que foi o movimento intelectual em expansão na
Europa que transformou o livro e contribuiu para dar-lhe uma nova função de
comunicação.” Breton, 40.
“... A Reforma e a Contra-Reforma vão pôr o livro ao seu serviço.” Braudel, 366.
“A Reforma e, depois, a Contra-Reforma foram a ocasião de uma promoção sem
precedentes de todos os suportes da comunicação social.” Breton, 51.

“Em contraste, a impressão gráfica custou a penetrar na Rússia e no mundo cristão


ortodoxo, uma região (...) onde o alfabeto utilizado era o cirílico e na qual a educação
formal estava praticamente confinada ao clero. (...) No início do século XVIII graças aos
esforços do czar Pedro, o Grande (reinado de 1686 a 1725), que fundou uma gráfica em
São Petersburgo em 1711...” (...) O fato de os materiais impressos terem chegado tão
tarde à Rússia mostra que a revolução da impressão gráfica não era um fator independente
e não se ligava somente à tecnologia. Essa revolução precisava ter condições sociais e
culturais favoráveis para se disseminar, e a ausência de população laica letrada na Rússia
foi um sério obstáculo para o surgimento, na região, da cultura impressa.” Briggs, 27.
- “O Renascimento fez do livro uma ferramenta eficiente de comunicação,
ferramenta que se torna logo de saída um objeto comercial.” Breton, 45.

O livro, um luxo, esteve desde o início submetido às rigorosas leis do lucro, da


oferta, da procura. O material de um tipógrafo renova-se muitas vezes, a mão-de-
obra paga-se caro, o papel representa mais do dobro dos outros custos...
O mundo dos editores tem os seus pequenos ‘Fugger’... O livro mercadoria está
ligado às rotas, aos tráficos, às feiras. No seu conjunto foi um meio de poder ao
serviço do Ocidente. Braudel, 366.

- Imperativo mercantil
Princípio - Renovação dos Processos Técnicos
de - Novas Modalidades de Intercâmbio Intelectual.
Performatividade, que comandou a busca pelo processo de impressão.

2. REAÇÕES À DIFUSÃO DA PRENSA GRÁFICA

O trio imprensa-pólvora-bússola
“Foi este trio que ‘mudou todo o estado e a face das coisas em
todo o mundo.’”
Francis Bacon (1561-1626).

“A impressão gráfica, junto com a escrita, foi um dos marcos


do ‘progresso da mente humana’” Marquês de Condorcet (1743-1794).

“A arte da impressão disseminará tanto conhecimento que as


pessoas comuns, sabedoras de seus direitos e liberdades, não
serão governadas de forma opressora.” Samuel Hartlib, 1641.

- “No entanto, alguns comentaristas desejaram que a nova época jamais tivesse chegado.
As loas triunfais da invenção foram contrariadas pelo que se pode chamar de narrativas
catastróficas. Os escribas, cujo negócio era ameaçado pela nova tecnologia, deploraram
desde o início a chegada da impressão gráfica. Para os homens da Igreja, o problema
básico era que os impressos permitiam aos leitores que ocupavam uma posição baixa na
hierarquia social e cultural estudar os textos religiosos por conta própria, em vez de
confiar no que as autoridades contavam. Para os governos, essas conseqüências
mencionadas por Hartlib não deviam ser celebradas.” Briggs, 28.

→ “O desenvolvimento das cidades foi assim o berço natural do desenvolvimento


da imprensa e, sobretudo, da circulação dos livros.
→ O livro impresso começou a desempenhar um papel novo de ágora intelectual,
amplamente reforçado por sua dupla condição de mercadoria e objeto portátil.”
Breton, 46.
3. CONSEQÜÊNCIAS SOCIAIS E CULTURAIS DA DIFUSÃO DA PRENSA GRÁFICA

A. “... A invenção da impressão gráfica mudou a estrutura ocupacional das cidades


européias. Os próprios impressores eram um novo tipo de grupo de artesãos
necessariamente letrados. A correção das provas tipográficas constituía uma ocupação
recente surgida com a nova técnica, assim como a quantidade de vendedores de livros e
bibliotecários naturalmente cresceu em conseqüência da explosão do número de livros.”
Briggs, 30.

B. CONSEQÜÊNCIAS PARA O CONHECIMENTO:

B1. Duas conseqüências a longo prazo da invenção dos impressos:


“Em primeiro lugar, as publicações padronizaram e preservaram o conhecimento,
fenômeno que havia sido muito mais fluido na era em que a circulação de informações se
dava oralmente ou por manuscritos. Em segundo lugar, as impressões deram margem a
uma crítica à autoridade, facilitando a divulgação de visões incompatíveis sobre o mesmo
assunto.” Briggs, 32.

B2 → “A impressão gráfica facilitou a acumulação de conhecimento, por difundir as


descobertas mais amplamente e por fazer com que fosse mais difícil perder a informação.
Por outro lado, (...) a nova técnica desestabilizou o conhecimento ou o que era entendido
como tal, ao tornar os leitores mais conscientes da existência de histórias e interpretações
conflitantes.” Briggs, 76.

B3. “Os acadêmicos ou qualquer pessoa em geral à procura de conhecimento tinham


outros problemas. (...): Explosão da Informação.

As questões mais graves eram as de recuperação de informação e, ligada a isso, a


seleção e crítica de livros e autores. Havia necessidade de novos métodos de
administração da informação,...

Com a multiplicação dos livros, as bibliotecas tiveram de ser ampliadas, ficou mais difícil
encontrar um livro nas prateleiras, e os catálogos se tornaram cada vez mais necessários.
Briggs, 29.

B4. “Um conceito relativamente novo de escrita, que hoje em dia chamamos de ‘literatura’,
junto com o conceito de ‘autor’, alteração ligada à idéia de uma versão do texto correta ou
autorizada. (...) O que chamamos de plágio, assim como a propriedade intelectual
ameaçada por ele, este é essencialmente um produto da revolução da imprensa.” Briggs,
76.

C. → “A mudança do foco auditivo para o visual!”


D. → “A Cultura das publicações.” Marshall Mcluhan.

- “O material impresso tornou-se parte importante da cultura popular no século XVII, se


não antes.” Briggs, 32. “As brochuras eram folhetos comercializados por
‘vendedores ambulantes’ ou mascates em vários lugares no início da Europa moderna;..
Briggs, 30.
“... Materiais impressos tornaram-se muito importantes na vida diária. A
capacidade de penetração desses materiais merece ser enfatizada. A difusão de livros,
panfletos e jornais constituía somente uma parte da história, que incluía também o
surgimento de dois gêneros normalmente associados apenas aos séculos XIX e XX: o
cartaz e o formulário oficial.” Briggs, 77.

E. “Outra importante conseqüência da invenção foi envolver empreendedores mais


intimamente no processo de difundir conhecimento. O uso do novo meio estimulou cada
vez mais a consciência da importância da publicidade, tanto econômica (‘anúncios’)
quanto política (que chamamos de ‘propaganda’, termo que começou a ser usado no fim
do século XVIII). Briggs, 77.

F. “O surgimento de jornais no século XVII aumentou a ansiedade sobre os efeitos da


nova tecnologia.”
→ “O jornal como fonte regular de informações apareceu no início do século XVII. No
plano técnico, seu desenvolvimento foi possível em virtude da conjunção de três fatores:
o desenvolvimento dos métodos de impressão, já em marcha desde o século XV; a
melhoria dos transportes e das vias de comunicação físicas, que trazia certa segurança e
ao mesmo tempo grande rapidez de encaminhamento; e o desenvolvimento do serviço
postal, que iria permitir o fornecimento à imprensa da infra-estrutura ideal para uma
difusão estável.

Essas razões técnicas só têm sentido, porém, se as relacionamos ao que Ellul chama de
a formação de uma ‘opinião’, nascida dos contatos que se desenvolveram entre os
diversos grupos sociai que compunham a nação.” Breton, 59.

→ “O primeiro jornal regular de importância (boletins impressos já existiam aqui e ali) foi
La Gazette, de Théophraste Renaudot, cujo primeiro número data de 30 de maio de 1631.
Saía toda semana em doze páginas e tinha uma tiragem de 1.200 exemplares. Será
preciso esperar um século e meio para ver publicado na França o primeiro jornal
cotidiano, Le Journal de Paris, que nasceu em 1º de janeiro de 1777.” Breton, 59.

→ “Acima de tudo, deve-se agradecer ao jornal diário do século XVIII, uma amostra do
efêmero que se tornaria extremamente valioso para os historiadores sociais: o fato de os
impressos se tornarem parte da vida cotidiana ao menos em algumas regiões da
Europa... Somente na Grã-Bretanha, estima-se que 15 milhões de jornais foram vendidos
durante o ano de 1792.” Briggs, 78.

→ “Os efeitos do aparecimento de jornais e outros noticiosos têm sido discutidos desde
aqueles dias até hoje. No início, eles tiveram seus críticos, alguns se queixando de que
traziam à luz o que devia ser mantido em segredo, outros acusando-os de trivialidade. No
entanto também tiveram admiradores. O jornal Il Caffé, de Milão, alegava que abria as
mentes das pessoas e, mais exatamente, que transformava romanos e florentinos em
europeus.” Briggs, 79.
→“Genericamente, os jornais contribuíram para o aparecimento da opinião pública,
termo que tem seu primeiro registro em francês por volta de 1750; em inglês, em 1781; e
em alemão, em 1793.” Briggs, 80.
“A grande questão, (...), é a extensão do efeito da mídia e suas
mensagens sobre as mudanças de atitude e mentalidade das
pessoas.”

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