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Universidade Federal Fluminense

GEC00042 - História dos Sistemas da Comunicação


Docente: Ariane Diniz Holzbach
Discente: Nicholas Gabriel Moura Bongiolo - Estudos de Mídia

Antes da escrita ser consolidada como mídia de massa, a cultura oral era o principal meio de
transmitir e receber informações. Contudo, a falta de possibilidade de conservação e a
susceptibilidade de alteração dessas informações eram fatores que destacavam a necessidade
de outro método com o mesmo propósito e grau de reprodutibilidade da fala que atingisse
um número expressivo de pessoas. Nessa época, os livros já eram uma mídia existente, mas
ainda eram a realidade de poucos daquela sociedade na qual cada livro era manuscrito
artesanalmente. Esse contexto mudaria drasticamente no que ficou conhecido como
“revolução” da cultura impressa com a invenção da prensa de tipos móveis de Gutenberg na
segunda metade do século XV, o que tornou possível a reprodução massiva de textos e
livros. Tal tecnologia possibilitou o surgimento da imprensa e a consolidação de uma mídia
impressa popular como cultura de massa, limitada pelo conhecimento precário de escrita e
leitura da sociedade naquele período, é claro.

Ainda assim o jornal impresso apenas se tornou realidade no contexto brasileiro trezentos
anos depois com a mudança da família real portuguesa de Lisboa para o Rio de Janeiro em
1808 por causa da invasão francesa em Portugal. Tal acontecimento tornou propício o
surgimento de um jornal feito para leitores brasileiros devido aos investimentos na
infraestrutura do país com a chegada da realeza portuguesa. Dessa forma, o surgimento de
um jornal para brasileiros era inevitável e assim nasceu o “Correio Braziliense”, publicado
por Hipólito José da Costa pela primeira vez em primeiro de junho de 1808 em Londres
com uma formatação bastante diferente dos jornais impressos de hoje em dia e inspirado nas
publicações inglesas daquele período. Inclusive, nessa época, o jornalista já reconhecia a
importância da mídia impressa independe dos poderes e das influências do Estado como é
mostrado no livro “O Nascimento da Imprensa Brasileira” de Isabel Lustosa: A forma
que Hipólito achou para trabalhar pela mudança foi a palavra impressa e livre de
censuras, tal como ele via ser a prática no país que o acolhera. A Inglaterra era um país
livre, onde a monarquia constitucional era um fato; onde o Parlamento realmente
funcionava e limitava o poder do rei; onde havia uma imprensa livre. Hipólito percebia a
importância dessas duas instituições para o funcionamento das outras. Dessa forma,
Hipólito tecia comentários e críticas sobre a administração da coroa portuguesa e deixava
claro suas posições políticas, além de divulgar acontecimentos internacionais que deixavam
os leitores do jornal atualizados do contexto político dessa época. Isso tudo porque o
jornalista brasileiro entendia o papel “educador” da cultura impressa sobre o indivíduo
médio para que ele não fosse subjugado pelo governo e grupo hegemônico daquele tempo,
nesse caso, a monarquia.

Sob uma ótica otimista, a cultura impressa possibilita a transmissão e a reprodução em


massa de conhecimento geopolítico, técnocientífico e artístico quando a acessibilidade a
posse dos meios de comunicação é democrática para diferentes grupos e classes sociais .
Hoje em dia, se uma escritora consegue atingir um público em escala mundial como é o
caso da Chimamanda Ngozi da Nigéria, devemos pelo menos um pouco de gratidão pela
invenção dos tipos móveis que tornou possível o surgimento de uma cultura escrita naquele
contexto. Nesse mesmo sentido, se podemos ter acesso a imagens de outros países e
realidades, devemos reconhecer o papel de Louis Daguerre com o Daguerreótipo, também
foi possível pela cultura impressa que surgiu com Gutenberg e que deu origem às
impressões e câmeras fotográficas que conhecemos hoje como foi contado no texto de
Walter Benjamin: Pequena História da fotografia. Dado esses fatos, devo salientar que,
sem a prensa de Gutemberg ou o Daguerreótipo, ainda teríamos desenvolvido uma cultura
impressa porque existia demanda para tal devido às necessidades do tempo em que
surgiram, mas, provavelmente, seriam um pouco diferentes do que vemos como cultura
impressa hoje.

Contudo, quando acontece dos meios de comunicação estarem no controle dos grupos
hegemônicos, o que ocorre na maioria das vezes, é perceptível uma relação de dominação
do grupo de maior poder simbólico e material para o de menor. O caso de Chimamanda
relatado na palestra “O Perigo de Uma Única História” exemplifica esse caso. Nele, a
escritora nigeriana relata como a falta de acesso à literatura nacional e o contato exclusivo
que ela tinha com a literatura inglesa prejudicou a formação dela como uma mulher negra
nigeriana de classe média e a tornou a não reconhecer costumes e hábitos próprios e sim
estrangeiros. A autora também conta como o conhecimento sobre a cultura e vivência na
Nigéria e na África em geral era transmitido erroneamente pela grande mídia de massa nos
países ditos “desenvolvidos”, no qual o continente africano era tratado pela mídia em geral
como um lugar de uma apenas um povo e sinônimo de fome, miséria, doenças e guerras.
Além disso, Chimamanda também revela o preconceito que tinha com o México por ser
consumidora dos grandes jornais ocidentais. A escritora tinha uma visão extremamente
estereotipada e eurocentrista do país latino, no qual via com os mesmos olhos que a mídia
internacional olhava para o seu país. Por isso a cultura impressa se torna uma desvantagem
quando nem todos têm o poder de construir narrativas e de possuir os meios de
comunicação, pois torna possível a construção e a transmissão apenas dos olhares únicos
sobre um determinado contexto ou realidade.

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