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A TRANSIÇÃO DO JORNALISMO – DO SÉCULO

XIX AO SÉCULO XX
Rodrigo Carvalho Da Silva∗
UNESP – Universidade Estadual Paulista

Índice The press is a social organization, thus the


analysis of its history is necessary to the un-
Introdução 1 derstanding of the process of social cons-
1 Desenvolvimento 2 truction through mediatic production that
Considerações Finais 8 throughout the years had gone through many
Bibliografia 9 transformations.The study of how the press
originated is of great relevance once it leads
Resumo
us to the period that men began to feel the
need to communicate to bigger and bigger
A imprensa é uma instituição social, as-
public.
sim a análise de sua história se faz necessária
Keywords: history, press, journalism.
justamente para entendermos como se dá o
processo de construção social através da pro-
dução midiática que ao longo dos anos pas- Introdução
sou por diversas transformações. O próprio
A história é construída através do tempo por
estudo de como se originou a imprensa é
ações sociais e agentes históricos e a im-
de grande relevância uma vez que nos pode
prensa certamente tem uma grande atuação
oferecer orientações sobre o período em que
como agente histórico da sociedade. Os pro-
o homem passou a sentir a necessidade de se
dutos da mídia são sempre caracterizados
comunicar para públicos cada vez maiores.
por elementos políticos, econômicos, cultu-
Palavras-chave: história, imprensa, jor-
rais, sociais e mercadológicos.
nalismo.
A história da imprensa é um tema discu-
Abstract tido por diversos profissionais como jorna-
listas, sociólogos e historiadores, pois seu es-

Comunicador social com habilitação em Jorna- tudo implica na discussão do desenrolar da
lismo e pós graduado em Comunicação Mercadoló-
gica, redator.carvalho@itelefonica. comunicação social.
com.br. O jornalismo pode ser definido como um
conjunto de técnicas, saber e ética. É sempre
baseado no imediatismo e depende intima-
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mente dos acontecimentos sociais. Já a im- crescente de pessoas dedica-se in-


prensa é toda a produção do saber e conhe- tegralmente a uma atividade que,
cimento social. Porém, ambos, imprensa e durante as décadas do século
jornalismo são constituídos historicamente. XIX, ganhou um novo objetivo –
Assim, o que se pretende neste trabalho é fornecer informação e não propa-
discorrer sobre uma parte da história do jor- ganda. (TRAQUINA, 2005. p.
nalismo que consequentemente engloba a 34).
história da imprensa.
As características e valores que foram re-
conhecidos ao jornalismo enquanto atividade
1 Desenvolvimento permanecem os mesmos ainda hoje, sendo: a
1.1 História e Expansão do notícia, a procura da verdade, a independên-
cia, a objetividade e prestação de sérico ao
Jornalismo público.
A expansão do jornalismo começou no O conceito de que o jornalismo fornece
século XIX juntamente com a expansão da informação e não propaganda transformou
imprensa, mas conquistou maior espaço no a notícia como um produto subjetivamente
século XX a partir do surgimento de novos baseado em fatos e não opiniões. A par-
meios de comunicação social, como o rádio tir desse momento, a informação passou a
e a televisão. Atualmente no século XXI ser tratada como mercadoria e essa mudança
vivemos uma nova revolução no jornalismo pode ser visível com o aparecimento de uma
devido a Era da Informação e do Conheci- imprensa mais sensacionalista no final do
mento, que exige uma série de novas trans- século XIX. Nos Estados Unidos, esse tipo
formações e adaptações dos antigos meios de jornalismo recebeu o nome de jornalismo
de comunicação ao mesmo tempo em que amarelo. (SILVA, 1991).
abre novas perspectivas como o jornalismo O século XIX foi o período da História
on-line. de maior importância para a imprensa de-
A comercialização do jornalismo teve iní- vido a fatores como a evolução dos sistemas
cio ainda no século XIX, tratando a infor- econômico e político, os avanços tecnológi-
mação no formato de notícia e esta como um cos, transformação sociais e o reconheci-
produto. mento da liberdade em rumo à democracia.
Quando o jornalismo se expandiu
O jornalismo como conhecemos transformando-se em um negócio lucrativo e
hoje na sociedade democrática tem rentável conseguiu também sua independên-
suas raízes no século XIX. Foi du- cia econômica em relação aos subsídios
rante o século XIX que se verificou políticos que dominava a imprensa em
o desenvolvimento do primeiro seus primórdios. Assim, no final do século
mass media, a imprensa. A ver- XIX o jornalismo se tornou cada vez mais
tiginosa expansão dos jornais no vital como veículo para a publicidade.
século XIX permitiu a criação de (TRAQUINA, 2005)
novos empregos neles; um número Além da independência política e

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econômica, os avanços tecnológicos tam- Devido à falta de tempo para apurar mais
bém transformaram o jornalismo. detalhadamente as informações e executar
um trabalho de pesquisa mais aprofundado,
As melhorias na reprodução de os jornalistas não conseguem trabalhar os
imagem, sobretudo com a fo- acontecimentos de forma relacionada com os
togravura em 1851 e a helio- sistemas e contextos em que estão inseridos.
gravura em 1905, deram um novo Assim, a cobertura jornalística muitas vezes
élan à imprensa [...] Em particular, é feita apenas superficialmente.
a invenção da máquina fotográfica De acordo com Traquina (2005), muitos
iria inspirar o jornalismo no seu fatores sociais colaboraram para a expan-
objetivo de ser as “lentes” da so- são do jornalismo, sobretudo a escolariza-
ciedade, reproduzindo ipsis verbis ção da sociedade e o processo de urbaniza-
a realidade. (TRAQUINA, 2005, ção, intensificando o crescimento de futuras
p.38). metrópoles.

O impacto tecnológico marcou o Seria principalmente nas últimas


jornalismo do século XiX como décadas do século XIX, surpreen-
iria marcar toda a história do jor- dida pela turbulência das transfor-
nalismo ao longo do século XX mações sociais, que a cultura le-
até o presente, apertando cada trada e a imprensa começariam de-
vez mais a pressão das horas-de cididamente a avançar para além
– fechamento, permitindo a rea- das elites tradicionais. Nessa
lização de um valor central da cul- época, em ritmo acelerado, no
tura jornalística – o imediatismo. compasso de um modo de vida que
De novas edições dos jornais no exporta capitais e invade rapida-
mesmo dia à quebra da progra- mente inúmeros espaços do pla-
mação televisiva anunciada como neta, a história da formação das
boletins, novos avanços tecnológi- metrópoles brasileiras multiplica
cos nas últimas décadas do século o tempo e a experiência social.
XX tornaram possível, de longa (CRUZ, 2000, p. 42).
distância, atingir o cúmulo do ime-
diatismo – “a transmissão direta A expansão da imprensa ainda foi im-
do acontecimento”. (TRAQUINA, pulsionada pela liberdade através da con-
2005, p.53). quista de direitos fundamentais e da demo-
cracia como nova forma de governo. Os jor-
Segundo Bourdieu (1997), a atividade jor- nais passaram a ser reconhecidos como um
nalística por ser realizada sob pressão do meio de denunciar as mazelas e injustiças
tempo, do imediatismo e pelo “furo” de re- sociais. O jornalismo passou a ser um ali-
portagem. Esses fatores acabam construindo ado da democracia e a partir de então ficou
diariamente uma representação instantânea e considerado como o Quarto Poder. (SODRÉ,
descontinuada da realidade e do mundo. 1999).

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Sem deixar de vez a discussão do dis- • O repórter escreve para agradar o editor;
curso político, o jornalismo passou a incor-
porar outros gêneros como notas, reporta- • A construção dos fatos ocorre de acordo
gens, entrevistas e crônicas. Surgiram en- com os interesses do editor;
tão as editorias especializadas em temas e • Os textos jornalísticos (notícias,
abordagens específicas como esportes, lazer, matérias, reportagens) são sem-
vida social e cultural, crítica literária, notí- pre redigidos de forma semelhante,
cias policiais, regionais, nacionais, interna- como se seguissem um modelo pré-
cionais e etc. (LUCA, 2008). determinado. Os textos parecem ser
Com a ascensão do jornalismo, os meios moldados;
de comunicação passaram a obrigatoria-
mente ter de descobrir e produzir notícias • Sempre que um editor é substituído
em escala cada vez maior para atender a ocorrem alterações no formato dos tex-
demanda. Assim, a empresa jornalística tos e até na forma como as notícias são
cresceu, ofertando mais oportunidades de percebidas e construídas;
emprego. A atividade de repórter também • As fontes fornecem a matéria-prima
ganhou maior destaque, responsabilidade e para os produtos jornalísticos (notí-
reputação. Transformou-se em uma profis- cias). Nesse contexto surge uma grande
são emergente. Era o repórter o responsável problemática da atividade jornalística.
por descobrir os acontecimentos, apurar e Ao mesmo tempo em que o repórter
enquadrar os fatos sob determinada perspec- procura agradar a fonte para que essa se
tiva de notícia, com poder de despertar o in- mantenha sempre acessível, ele também
teresse do público. deve se atentar para não virar refém e
acabar sendo manipulado por interesses
1.2 Características do Processo particulares das fontes. A adoção do
de Produção Midiática ponto de vista da fonte acaba sendo uma
ocorrência muito comum;
através do Jornalismo
Nos primórdios do jornalismo, as notícias • Um jornalista sempre produz seus tex-
resultavam de antigas formas de se contar tos tendo em mente a opinião de
histórias. Com o tempo isso foi mudando diferentes agentes sociais como ou-
e inúmeras questões passaram a interferir tros repórteres, editores, fonte, veículo,
na definição do que pode ou não ser con- púbico, assessor de imprensa etc.
siderado notícia. Diversos elementos den- Geralmente os jornalistas se preocupam
tro da dinâmica da produção jornalística in- muito com a opinião de seus pares e
terferem nessa construção, assim com pres- assim acabam redigindo seus textos de
supostos mentais, estereótipos e concepções forma com que sejam aceitos ou ao
prévias que circulam na sociedade. Como menos não rejeitados pelo meio jor-
fatores influenciadores na produção jornalís- nalístico. Um jornalista não escreve so-
tica destacam-se: mente para os leitores, mas principal-
mente pensando na opinião de outros

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jornalistas que poderão ler seu texto e, quais princípios a atividade jornalística era
portanto na construção de sua própria desenvolvida e como as notícias eram pro-
imagem. Há uma busca constante por duzidas. Existem diversas teorias que muitas
reconhecimento e respeitabilidade den- vezes podem estar co-relacionadas, sendo
tro da categoria. elas:

A atividade jornalística ainda é caracte- Teoria do espelho


rizada por fatores determinantes como pre- Corresponde a teoria defensora da própria
cisão, velocidade, pragmatismo e imper- ideologia jornalística, que diz que as notí-
turbabilidade. (SODRÉ, 1999). cias são como são porque correspondem ao
O jornal muitas vezes é considerado como reflexo da realidade. Segundo esta teoria, o
o espelho da realidade, mas seu reflexo é jornalista é um profissional da comunicação
subjetivo e depende do diversos pontos de que não possui interesses particulares rela-
vista. Esse reflexo é apenas uma dimensão cionados ao executar de seu trabalho. As-
na construção e percepção da realidade que sim, um jornalista nunca deixa de cumprir
ocorre de forma discursiva. Esse é o refe- com seu dever de informar e procurar sempre
rencial que circula entre leitores e jornalis- a verdade, independente de posicionamentos
tas. Ocorre um recorte da realidade, através próprios ou de terceiros. O papel do jorna-
de um viés do próprio jornalista ou do agente lista é reconhecido como o observador que
social que ele tem em mente quando pauta relata os acontecimentos com honestidade e
determinados acontecimentos e outros não. equilíbrio. (TRAQUINA, 2005).
Existem diversas abordagens na cons-
trução dessa realidade dentro do trabalho jor- Teoria da ação pessoal ou a teoria do
nalístico que são chamados de enquadramen- “gatekeeper”
tos midiáticos.
Essa teoria surgir nos anos 50 e foi apli-
A área jornalística está intimamente liga-
cada pela primeira vez ao jornalismo por
da à aprovação do mercado através de da
David Manning White.
opinião do público e da audiência. Nesse
Gatekeeper significa a pessoa que toma à
ambiente, os jornalistas são os profissionais
decisão final quando existe uma sequência de
que mais estão propensos a considerar o
opções, ou no caso do jornalismo, possíveis
índice de audiência durante o processo de
posicionamentos. Para esta teoria, o pro-
produção de notícias e avaliação do veículo.
cesso de produção de notícias é concebido a
Assim, jornalistas e veículos precisam fazem
partir de uma série escolhas, na qual o jorna-
concessões de acordo com a lógica do mer-
lista precisa se decidir por uma que irá abor-
cado e do marketing. (BORDIEU, 1997).
dar em seu texto. As demais opções são ex-
cluídas e não serão publicadas pelo veículo
1.3 Teorias do Jornalismo que o gatekeeper atua.
Ao longo de várias décadas e com o avanço De acordo com White esse processo de es-
do jornalismo começaram a surgir diversas colha é subjetivo e ocorrem de acordo com
teorias com a intenção de explicar a partir de particularidades do jornalista ou do veículo,

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dependentes de seus juízos de valor influen- notícias serão produzidas. (TRAQUINA,


ciado por experiências, atitudes e expecta- 2005).
tivas anteriores. Assim, as notícias podem Assim, segundo a teoria organiza-
ser consideradas como um produto das pes- cional, as notícias são o resultado
soas e de suas intencionalidades. Porém, de processos de interação social
a teoria do gatekeeper fundamenta-se ape- que têm lugar dentro da empresa
nas no processo de seleção dos fatos e de jornalística. O jornalista sabe que
seus posicionamentos, abandonando outras o seu trabalho vai passar por uma
importantes dimensões do processo de pro- cadeia organizacional em que os
dução das notícias. (TRAQUINA, 2005). seus superiores hierárquicos e os
seus assistentes têm certos poderes
A teoria do gatekeeper analisa as
e meios de controle. O jorna-
notícias apenas a partir de quem
lista tem que se antecipar às ex-
as produz: o jornalista. As-
pectativas dos seus superiores para
sim, é uma teoria que privile-
evitar os retoques dos seus textos
gia apenas uma abordagem micro-
e as reprimidas – dos meios que
sociológica, ao nível do indivíduo,
fazem parte do sistema de con-
ignorando por completo quaisquer
trole, e que podem ter efeitos so-
fatores macro-sociológicos como a
bre a manutenção ou não do seu
organização jornalística, É, assim,
lugar, a escolha das suas tarefas, e
uma teoria que se situa ao nível da
a sua promoção – quer dizer, nada
pessoa jornalista, individualizando
menos do que a sua carreira profis-
uma função que tem uma dimen-
sional. (TRAQUINA, 2005, 158).
são burocrática inserida numa or-
ganização. (TRAQUINA, 2005, p.
Teorias de ação política
151).
Nos anos 70, logo após a onda de protestos
Teoria organizacional ocorrida nos anos 60, surgiu um processo
de investigação que ficou conhecido como
A teoria organizacional analisa o trabalho os estudos da parcialidade. Esse processo
jornalístico no contexto da organização. O investigativo considera as notícias como o
jornalista direciona seu trabalho no mesmo reflexo da realidade sem distorção, então
caminho do posicionamento e valores do procura-se investigar se na construção da
veículo para qual trabalha. notícia ocorreu ou não alguma distorção,
O jornalista prioriza a política e normas uma vez que acredita-se ser possível repro-
editoriais da organização até mesmo em re- duzir a realidade. Porém, a teoria de ação
lação as suas próprias convicções, crenças política considera também que os jornalis-
e valores. A cultura organizacional se so- tas fazem parte de uma classe partidária que
brepõe em relação à cultura profissional ou possui parcialidades políticas e tem o poder
pessoal. Dessa maneira, a direção da em- de distorcer ou manipular as notícias a favor
presa jornalística controla a forma como as de suas opiniões.

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De acordo com esta teoria os diferentes colhido – são alguns exemplos de


meios de comunicação e propagação de notí- como a notícia, dando vida ao
cias correspondem a instrumentos que vei- acontecimento, constrói o acon-
culam interesses políticos. Na versão de es- tecimento e constrói a realidade.
querda a mídia colabora para manter o sis- [...] a escolha da narrativa feita
tema capitalista, já na versão de direita a mí- pelo jornalista não é inteiramente
dia é questiona o capitalismo. livre. Essa escolha é orientada pela
De acordo com Bourdieu (1997), hoje aparência que a “realidade” as-
os jornalistas produzem e estabelecem uma sume para o jornalista, pelas con-
visão particular da política, que encontra venções que moldam a sua per-
base nas estruturas do jornalismo e nos inte- cepção e fornecem o repertório
resses particulares dos jornalistas que a partir formal para a apresentação dos
de então começam a surgir. acontecimentos, pelas instituições
e rotinas. (TRAQUINA, 2005, p.
Teorias Construcionistas 174).
Nos anos 70 surgiu um novo conceito que
passou a tratar as notícias como construção. Teoria estruturalista
Nesta teoria, a concepção de notícias como
espelho da realidade é totalmente descartada. Essa teoria reconhece a relativa autonomia
Segundo a teoria construcionista, as notícias dos jornalistas em relação ao controle das
não podem refletir a realidade, mas ajudam a notícias e que estas são um produto social
construí-la. Assim, as notícias não seriam a constituído de práticas jornalísticas como su-
representação fiel da realidade, mas também posições sobre o que é e como funciona a
não seriam uma invenção da realidade, cor- sociedade. Assim, a mídia tem o papel de
respondendo portanto, a uma convenção en- reproduzir as definições de grupos que têm
tre o que aconteceu na realidade e o que foi acesso privilegiado aos fatos. Durante a pro-
construído e representado através da notícia. dução jornalística a mídia coloca-se em uma
posição subordinada e estruturada em re-
Na perspectiva do paradigma cons- lação a quem detêm primeiro as informações
trutivista, embora sendo índice reais dos acontecimentos.
do “real”, as notícias registram Teoria Interacionista
as formas literárias e as narra-
tivas utilizadas para enquadrar o As notícias resultam de um processo pro-
acontecimento. A pirâmide in- dutivo envolvendo a percepção, seleção e
vertida, a ênfase dada à resposta transformação dos acontecimentos (matéria-
às perguntas aparentemente sim- prima) em notícias (produto final). Nesse
ples: quem? onde? quando?, contexto, a teoria interacionista considera
a necessidade de selecionar, ex- que os jornalistas vivem norteados pelo
cluir, acentuar diferentes aspectos tempo que determina o resultado de seus tra-
do acontecimento – processo o- balhos. Todo o dia é preciso ter notícias. Os
rientado pelo enquadramento es- acontecimentos podem surgir a qualquer mo-

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mento e em qualquer parte, assim é preciso negativo, destaca-se a disputa pelo público
interagir de forma ordenada com espaço e e principalmente o surgimento de uma nova
tempo. dependência, que se antes era estritamente
política, passou a ser também econômica
1.4 A Especialização Jornalística (dependente dos índices de leitores, audiên-
cia, resultados e lucratividade), além de,
A partir dos anos 60 os jornalistas mesmo que em menor intensidade, ainda
começaram a se especializar em deter- sofrer com pressões e subornos políticos.
minadas editorias de acordo com afinidades Porém, as mudanças no campo jornalís-
com temas que habitualmente costumavam tico não se limitaram às transformações na
cobrir ou que abordavam com maior fa- estrutura de produção, organização e finan-
cilidade. A tendência de especialização ciamento, atingiram também o conteúdo e a
incentiva os repórteres a escrever para representatividade das notícias. Aos poucos
públicos específicos. (DARNTON, 1995). surgiam as diferenças entre as matérias com
Porém a especialização em áreas traz al- cunho informacional, supostamente neutras
guns problemas como a intimidade com as e objetivas, e os textos opinativos na forma
fontes, o que acaba ocasionando certa auto- de artigos que apresentavam um posiciona-
censura devido ao estreitamento de um rela- mento definido sobre determinados temas,
cionamento de amizade que muitas vezes se abordados através de ideologias e valores
estabelece. Já um repórter que cobre di- particulares ao articulista.
versas áreas não tem esse problema, pois A organização interna do jornalismo
não sofre retaliações antecipadas justamente começou então a exigir diversas competên-
porque não criar relações com suas fontes. cias, como a divisão do trabalho e especia-
lização em áreas. Assim o jornalismo pas-
Considerações Finais sou a ser uma área com diversos profissio-
nais e funções como redatores, articulistas,
No final do século XIX o jornalismo críticos, repórteres, revisores, desenhistas,
constituía-se em um meio de debate dos dis- fotógrafos, além do quadro de funcionários
cursos políticos através rejeição, neutrali- dos setores administrativos e de operaciona-
dade ou apoio às forças dominantes. Com lidade.
o passar do tempo, a atividade jornalística O jornalismo deve sempre se adaptar as
passou por diversas transformações que mu- evoluções sociais, sobretudo em relação às
daram principalmente sua essência e motivo inovações tecnológicas, práticas culturais e
de existência. O jornalismo começou a ser padrões de comportamento. Nesse contexto,
tratado como um produto, mas isso trouxe podemos concluir que o modelo de jorna-
pontos positivos e negativos para a ativi- lismo que temos hoje tenta atender as ca-
dade. No lado positivo, aponta-se o próprio racterísticas atuais de nossa sociedade.
reconhecimento do jornalismo como profis-
são, sua estruturação e regularização, além
de uma maior independência na cobertura
dos fatos, mesmo que subjetiva. Já do lado

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Bibliografia
BOURDIEU, Pierre. A Influência do Jor-
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Luiza (Org.). História da Imprensa no
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