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Ano 25 | Edição 149 | Outubro/Novembro/Dezembro 2023 | Conselho Regional de Psicologia do Paraná

SAÚDE PÚBLICA ÉTNICO-RACIAL LAICIDADE


Os caminhos de Sistema Conselhos discute Orientações para
reconstrução da Rede de o papel da Psicologia uma Psicologia
Atenção Psicossocial na luta antirracista ética e científica
© Por psicólogo Ednelson Garcia (CRP-08/12345)
Obra: Amizade - Surrealismo
06 Atuação
Laicidade por uma Psicologia ética e científica

08 Políticas Públicas
Construção coletiva de uma educação sem violências

SUMÁRIO
10 Étnico-Racial
No mês da mulher latino-americana e caribenha, Sistema Conselhos discute o
papel da Psicologia na luta antirracista

13 Psicologia Anticapacitista
A Psicologia frente às novas definições na avaliação biopsicossocial da deficiência

16 Capa
Inteligência artificial e saúde mental: entre opiniões divergentes, a parcimônia é consenso

21 CRP-PR em ação
É na luta que a gente se encontra

25 SUS
A 5ª Conferência Nacional de Saúde Mental e os caminhos de reconstrução
da Rede de Atenção Psicossocial

27 Orientação e Fiscalização
Avaliação de riscos psicossociais relacionados ao trabalho

29 Ética
Inteligência artificial ética: quais os impactos para a Psicologia

32 Administrativo-Financeiro
Assembleia Geral Orçamentária define anuidades e taxas para 2024

34 Espaço Psi Ψ
Você conhece a expressão "morte ao lacanês"?

Conselho Regional de Psicologia - 8ª Região (CRP-PR)


Produção: Revista Contato: Informativo Trimestral do Conselho Regional de Psicologia 8º Região (ISSN – 1808-2645) • Site: www.crppr.org.br
Endereço (sede): Avenida São José, 699, Cristo Rei, Curitiba-PR | CEP 80050-350 • Contatos: (41) 3500-7996 | ellen.nemitz@crppr.org.br
Tiragem: 25 mil exemplares • Impressão: Lunagraf • Jornalista responsável: Ellen Nemitz (17.589/RS) • Estagiária de jornalismo: Joana
Luiza Tápea Pereira • Redação: Ellen Nemitz, Rebeca Amaral e Joana Luiza Tápea Pereira • Coordenação da Comissão de Comunicação
Social: Julia Mezarobba Caetano Ferreira, João Victor da Silva e Andrey Santos Souza • Revisão: Ellen Nemitz, Karla Mendes e Julia Mezarobba
Caetano Ferreira Diagramação: Alec Bineck Lessa (1443/PR) • Ilustrações e Imagens: Freepik (freepik.com), Shutterstock (shutterstock.com), Flaticon
(flaticon.com) • Projeto gráfico: Agência Cupola
OS ARTIGOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES, NÃO EXPRESSANDO NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DO CRP-PR

Conselheiras(os/es): Psic. Ana Lígia Bragueto Costa (CRP-08/08334); Psic. Andrey Santos Souza (CRP-08/30587); Psic. Cláudia Cibele
Bitdinger Cobalchini (CRP-08/07915); Psic. Eduardo Da Silva Antônio (CRP-08/30797); Psic. Emerson Luiz Peres (CRP-08/06673); Psic.
Fabiane Kravutschke Bogdanovicz (CRP-08/19219); Psic. Fábio José Orsini Lopes (CRP-08/09877); Psic. Fabiola Regina Ortega (CRP-08/17317);
Psic. Fernanda Costa Peixoto Primo (CRP-08/12328); Psic. Gedeoni Coelho Marques (CRP-08/28627); Psic. Graciane Barboza Da Silva (CRP-
08/23467); Psic. Griziele Martins Feitosa (CRP-08/09153); Psic. Gustavo Filipowski (CRP-08/27778); Psic. Jéssica Alcimari Pelle (CRP-08/18477);
Psic. João Victor Da Silva (CRP-08/25123); Psic. Jorge Ivan Sada De Almeida (CRP-08/02536); Psic. Julia Mezarobba Caetano Ferreira (CRP-08/25872);
Psic. Karen Aparecida Freitas De Oliveira (CRP-08/09015); Psic. Kathia Regina Galdino De Godoy (CRP-08/14630); Psic. Lorene Camargo (CRP-08/18894);
Psic. Mário Seto Takeguma Júnior (CRP-08/18972); Psic. Matheo Bernardino (CRP-08/25791); Psic. Natália Cesar De Brito (CRP-08/17325); Psic. Pamela
Cristina Salles Da Silva (CRP-08/20935); Psic. Paulo Cesar De Oliveira (CRP-08/17066); Psic. Paulo Vitor Palma Navasconi (CRP-08/25820); Psic. Rosiane
Martins De Souza (CRP-08/14328); Psic. Sara Gladys Toninato (CRP-08/07092); Psic. Sérgio Bezerra Pinto Junior (CRP-08/26037).

CONTATO 149 | 3
EDITORIAL

Querida categoria,

É com muita alegria que entregamos a vocês a 149ª edição da revista Contato, que celebra um
ano da gestão do XV Plenário do CRP-PR e também fecha o ano de 2023. Por isso, pensamos
com muito carinho em uma série de temas inéditos por aqui, alinhados às discussões mais
contemporâneas da sociedade e da nossa gestão.

A laicidade é reafirmada, pela Resolução nº 07/2023 do CFP, como princípio fundamental da


prática psicológica e dos Estados democráticos, bem como o respeito a todas as manifesta-
ções espirituais/religiosas, para que intolerâncias, apagamentos e coações não ocorram mais.

A importância da atuação psi nas escolas, quando falamos de combate ao bullying e outras
violências, como as étnico-raciais, é explicitada em entrevista com o psicólogo Josafá Moreira
da Cunha, homenageado com o prêmio Cléia Oliveira de Direitos Humanos por seu trabalho
coordenando o Laboratório Interagir, que tem vasta experiência com projetos nessa área.

A coluna sobre questões étnico-raciais celebra o Dia Internacional da Mulher Latino-


Americana e Caribenha e relembra a Plenária Nacional sobre “Aquilombamento da Psicologia:
corpos-territórios de afeto, política, resistência e ancestralidade”, que ocorreu em julho deste
ano. Reafirmamos aqui e em todos os espaços nosso compromisso com a construção de uma
Psicologia comprometida com a erradicação do racismo e com as políticas afirmativas.

O núcleo anticapacitista apresenta, nesta edição, reflexões acerca da influência dos saberes
médicos nas trajetórias de vida das pessoas com deficiência e o cenário atual da avaliação
biopsicossocial para a análise avaliativa da deficiência, com a disseminação do modelo social.

A reportagem de capa, por sua vez, apresenta os complexos dilemas éticos trazidos pelo avan-
ço da inteligência artificial, sobretudo quando pensamos em seu uso no campo da saúde
mental. O tema volta a ser debatido na coluna da Comissão de Orientação e Fiscalização do
CRP-PR. São leituras necessárias, que suscitam várias questões sobre as quais nós, categoria
psi, precisamos refletir.

Além dessas reportagens, preparamos conteúdos que abordam a Rede de Atenção Psicossocial
e o processo conferencial de saúde mental, a avaliação de riscos psicossociais na relação
saúde-trabalho, bem como publicizam as deliberações da Assembleia Geral Orçamentária,
realizada em setembro deste ano.

Desejamos um excelente final de ano!

Boa leitura!
C hegamos à última edição da Revista Contato em 2023! Neste ano, estivemos ainda
mais perto de você, que lê a revista e nos ajuda a pensar nos temas que vão compor
esta publicação.
Recebemos diversas contribuições, publicamos algumas aqui neste espaço e, mais impor-
tante, transformamos as suas ideias em realidade, com artigos e reportagens elaborados
com base nas sugestões enviadas.
Este é só o começo! Continue dialogando conosco e fazendo da Revista Contato uma revis-
ta plural e diversa!
Você teve interesse por algo que foi escrito? Algo chamou sua atenção? Então, conte para
a gente! Envie seus comentários sobre alguma reportagem e/ou edição anterior da Revista bit.ly/3HFs3l0
Contato, ou sugestões sobre temas que gostaria de ler por aqui.
Comentários relacionados aos temas da revista e alinhados aos direitos humanos poderão
ser publicados nas próximas edições da Contato! Afinal, a gente sabe que é importante
manter contato!
Para fazer parte desta ação, basta preencher o formulário com as informações necessárias.
Em caso de dúvidas, entre em contato conosco pelo e-mail: crp08@crppr.org.br

ATENÇÃO: Não serão aceitos comentários desrespeitosos ou que aviltem os direitos humanos, tampouco que
contrariem, de alguma forma, o Código de Ética da Psicologia. O Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR)
se reserva o direito de não publicar comentários que não estejam de acordo com os critérios estabelecidos.

Gabriela Roberta Pereira Candido Flávia Daniela de Souza Santos


Estudante de Psicologia | @Gaby.Candido1 Psicóloga (CRP-08/24431)

Gosto bastante da revista, mas gostaria que


Sim, acompanho, inclusive eu e meus colegas
ela fosse no formato jornal, cria um aspecto
fundamentamos um trabalho sobre a revista,
mais sustentável, gostaria que apenas edições
utilizamos as revistas de 2019 a maio de
especiais fossem no formato revista. A respeito
2023, adoramos todos os temas emergentes
das matérias gostei das entrevistas com
que estavam presentes na coluna de ética. Foi
profissionais que atuam há maior tempo na área.
sensacional ler e adquirir conhecimento.

Daiana Quintanilha Carolina Martins dos Santos Carvalho


Estudante de Psicologia | @dai_quintanilha Psicóloga (CRP-08/34687) | @dracarolinacarvalho.oficial A equipe da
Contato agradece
Gostei muito de saber sobre a possibilidade de ter a participação e
um psicólogo por escola do ensino fundamental, pois Vi a solicitação de uma leitora na última edição convida todas as
sou formada em pedagogia e atuo na rede pública da revista quanto a publicação sobre o CREAS, pessoas a encaminhar
de ensino de Curitiba e quem acaba por ter que ser e gostaria muito da oportunidade de poder o resultado de suas
“psicólogo” são professores e pedagogos, e que por publicar resultado da minha tese de doutorado. pesquisas para a
vezes são chamados atenção e às vezes punidos por Encaminhei por e-mail para avaliação. Revista CadernoS
tentar ajudar os alunos com problemas psíquicos. de PsicologiaS.

CONTATO 149 | 5
Por Rebeca Amaral

Até o fechamento

E
desta matéria, a
Ação Direta de
Inconstitucionalidade m abril deste ano, o Conselho O conselheiro coordenador da Comissão de
(ADI) nº 7426 tramitava
no Supremo Tribunal Federal de Psicologia (CFP) publicou Orientação e Fiscalização do CRP-PR (COF),
Federal contestando a Resolução nº 07/2023, que estabe- psicólogo Paulo Vitor Palma Navasconi
a Nota Técnica nº
07/2023, ainda sem lece normas para o exercício profissional (CRP-08/25820), destaca que, embora a
conclusão da apreciação. quanto ao caráter laico da prática psicoló- laicidade represente a dissociação entre
gica. Pilar inerente a Estados consolidados Estado e dogmas religiosos, ela “não signi-
democraticamente, a laicidade é assegura- fica o apagamento ou anulação da fé, da
da pela Constituição da República e refle- espiritualidade ou até mesmo da religião
te – ou, pelo menos, deveria refletir – uma de uma outra pessoa”. Por isso, ele afirma
sociedade que respeita e protege suas cren- que a resolução é importante por “levar
ças de forma mútua, em aspectos indivi- a Psicologia a pensar em religião e espiri-
duais e coletivos, garantindo a ausência tualidade como manifestações de subjeti-
ATUAÇÃO

de intolerâncias. vidade, as quais não podem ser ignoradas


pela profissão”.
Para a Psicologia, resgatar o conceito da lai-
cidade é fundamental: a cultura brasileira Na opinião do psicólogo, a resolução rea-
é formada por múltiplas matrizes que defi- firma o caráter democrático da Psicologia.
nem modos de vida, organização social, Citando o papel da ciência psicológica no
construção e transmissão de saberes. A processo de redemocratização do país, o
resolução busca, portanto, assegurar que o conselheiro lembra que a profissão, em sua
exercício profissional considere, de maneira história recente, tem assumido compromis-
ética, esse aspecto multifacetado. sos com os direitos humanos, tornando-se

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um importante ator social. Por esse moti- de Psicologia tenham e manifestem sua
vo, Paulo defende que é necessário “reco- própria crença, religião ou espiritualidade,
nhecer os aspectos éticos e históricos dos desde que de forma desvinculada da prá-
povos originários e tradicionais, e tam- tica profissional. Assim, quando no exercí-
bém das religiosidades, das racionalidades cio da profissão, cabe-lhes, tão somente, o
não hegemônicas”. rigor ético e científico em seus respectivos
contextos de atuação, sejam eles coletivos
Assim, colocando a laicidade em prática, ou individuais.
profissionais de Psicologia têm condições
de prestar escuta e acolhimento adequados Acerca disso, Paulo faz uma observação
à realidade de cada pessoa. Tal exercício, salutar. “Na prática psicológica, jamais
como Paulo salienta, deve se voltar, inclu- devemos professar, instigar ou relacionar
sive, à compreensão das vivências agnósti- a nossa crença com a da pessoa atendida.
cas e ateístas. A postura isenta nada mais Apesar de ser um elemento aparentemente
é, desse modo, do que o cumprimento do terapêutico, sabemos que isso implica infra-
Código de Ética, que veda a indução a cren- ção ética, segundo os princípios fundamen-
ças, valores e práticas religiosas por profis- tais da Psicologia, além de produzir um pro-
sionais de Psicologia. cesso contrário aos aspectos científicos que
devemos seguir”, alerta o conselheiro.
Ainda segundo o psicólogo, esse é um
ponto central a ser demarcado e refletido, A abordagem da Resolução nº 07/2023
“especialmente num contexto de grande também se revela elementar sob uma pers-
incidência de fundamentalismo religioso”. pectiva mais reflexiva, além da prática que
Demonstrando preocupação com essa rea- regulamenta. Nas palavras de Paulo, ela
lidade, o conselheiro avalia que certos dis- pode ser um “instrumento a mais nas dis-
cursos têm “forte viés antidemocrático que cussões da categoria profissional, desta-
busca difundir a não relevância dos direi- cando que as dimensões de espiritualida-
tos humanos, produzindo ofensas e viola- de, religião e fé”, como já assentado pela
ções de direitos mínimos e básicos, ao invés Psicologia, constituem coletividades e sub-
de cuidado”. Logo, a Resolução nº 07/2023 jetividades, “mas também podem produzir
busca “impedir que saberes com eixos fun- apagamentos e outros processos danosos
damentalistas se façam presentes nas práti- combatidos pela profissão”.
cas psicológicas”, Paulo avalia.
A laicidade, portanto, é necessária não
A resolução do CFP determina, expres- apenas nas relações de Estado, mas tam-
samente, que o uso das próprias crenças bém no meio científico, como o da própria
como forma de publicidade e propagan- Psicologia. Neste último, ela deve, igual-
da é vedado a profissionais da categoria. A mente, encontrar espaço amplo, neutro e
vedação pretende delimitar a atuação de livre de valorações que provoquem coações
profissionais a um campo estritamente téc- ou violências reproduzidas por profissionais
nico. Deve-se ressaltar, por outro lado, que que têm, como dever ético, o papel de con-
o documento não impede que profissionais tribuir para a eliminação de opressões.

Para ler e saber mais:

Para ler a Resolução nº


07/2023 na íntegra,
acesse: bit.ly/44pGxNz

CONTATO 149 | 7
CONSTRUÇÃO
COLETIVA
de uma educação sem violências
Por Ellen Nemitz

www.neab.ufpr.br

H omenageado na categoria “Educação


pública e popular, com gestão públi-
ca, gratuita, democrática, laica,
inclusiva e de qualidade social” do Prêmio
Anual de Direitos Humanos do CRP-PR – Edição
cionais. Meu doutorado também foi nessa
temática, tentando entender como a qua-
lidade das relações nesse ambiente pode-
ria ajudar a atenuar um pouco o impacto
da violência”, conta Josafá, que também
Cleia Oliveira Cunha, o psicólogo e profes- transitou por outros espaços na academia
sor Josafá Moreira da Cunha (CRP-08/19599) e coordenou o Núcleo de Estudos Afro-
POLÍTICAS PÚBLICAS

iniciou sua carreira na área da aviação mili- Brasileiros da Universidade Federal do


tar, mas logo percebeu que se encontraria Paraná, bem como uma especialização
mesmo na Psicologia. Concluiu a graduação em educação das relações étnico-raciais,
na Universidade Federal do Paraná (UFPR) em ajudando a pensar as ações afirmativas
2006 e logo cursou o mestrado e o doutorado na UFPR.
na mesma instituição, onde hoje leciona. Foi
na formação que ele entendeu a importância O professor avalia que a formação em
da Psicologia do combate ao bullying e outras Psicologia ainda falha em abordar de forma
violências que afetam crianças e adolescentes crítica e aprofundada os problemas e fun-
no ambiente estudantil. cionamento dos sistemas educacionais.
Para aproximar estudantes em formação
“Eu estudava e trabalhava, desde o mestrado, das temáticas da violência entre pares e
com conflitos e violência em ambientes educa- bullying, engajou-se em trabalhos de exten-

8 | CONTATO 149
bit.ly/45W4yNr

são e em parceria com outras instituições, o ego, o nosso ou de quem a gente colo-
especialmente do terceiro setor. ca num altar teórico x, y, z. Tem que pen-
sar na humanidade, em como a huma-
Hoje, o docente lidera o Laboratório nidade vai ficar melhor a partir da ação
Interagir, no qual conta com o auxílio de da Psicologia”, declara.
uma equipe para elaborar e executar pro-
jetos como o “Aprendendo a Conviver”, Além disso, em um cenário de violências bit.ly/3L5oR2Z
um edital financiado pelo Ministério da exacerbadas afetando as escolas de diver-
Educação para oferecer formação a docen- sas maneiras, Josafá afirma que a Psicologia
tes na resolução de conflitos. A iniciativa precisa ser mais pró-ativa e engajada nos
envolveu mais de 100 escolas na região processos de avaliação das políticas públi-
metropolitana de Curitiba e foi expan- cas, sob risco de continuarmos agindo ape-
dida para outras regiões do Estado na nas nos casos extremos, esperando que as
forma de consultoria. pessoas ou grupos sociais caiam “nos mani-
cômios dos nossos tempos” – ou seja, ins-
A atuação, depois disso, só cresceu! Um tituições totais que perpetuam racismos e
edital internacional da Templeton World preconceitos de classe – porque o sistema
Charity Foundation permitiu ampliar para falhou em prevenir a violência. “O gran-
600 escolas o trabalho de responsabili- de desafio é reconhecer e encontrar as
dade social e resolução pacífica diante de melhores práticas baseadas em evidência,
conflitos. “Como universidade pública, nos e sempre continuar avaliando os resulta-
preocupamos sempre em pensar recursos, dos. A educação é um sistema complexo
modelos que sejam compatíveis com a rea- pelo número de pessoas envolvidas e pelo
lidade educacional brasileira, da região, tempo que as crianças passam nele, mas há
mas, ao mesmo tempo, que possam fun- ações que funcionam e a Psicologia pode
cionar como apoio, inspiração para escolas agregar muito valor”, conclui o professor.
em diferentes locais”, explica. Josafá conta,
também, que a pandemia não impediu o
desenvolvimento das atividades. Ao contrá-
rio, serviu de estímulo para a adaptação dos
recursos e ideias.

Profissional que dedicou sua carreira à edu-


cação, ele percebe com otimismo e espe-
rança o atual contexto de implementação
da Lei nº 13.935/2019, que prevê a presença
de profissionais da Psicologia e do Serviço
Social na educação básica, ainda que des-
taque a necessidade premente de avanços
para que a conquista seja efetivada, desde a
formação até a contratação por concursos
e a compreensão, por parte da categoria,
do potencial e das verdadeiras contribui-
ções que a Psicologia na educação pode tra-
zer – muito além de uma clínica individuali-
zada nas escolas, mas um trabalho coletivo.

“A gente precisa, como um empreendi-


mento científico, conversar dentro da área
pensando em problemas humanos, não
necessariamente pensando em como polir

CONTATO 149 | 9
Por Joana Tápea, com supervisão de Ellen Nemitz

A plenária temática “Aquilombamento


da Psicologia: corpos-territórios de
de 2022, 56% das pessoas no Brasil se iden-
tificam como pretas ou pardas. Apesar de
ÉTNICO-RACIAL

afeto, política, resistência e ances- ser maioria, a população negra ainda é mar-
tralidade” reuniu, em Brasília, representan- ginalizada e invisibilizada na sociedade bra-
tes do Sistema Conselhos de todo o país. O sileira. O racismo institucional é uma das
evento promovido pelo Conselho Federal de facetas da violência e se manifesta na forma
Psicologia (CFP) aconteceu nos dias 28 e 29 de políticas e procedimentos que, mesmo
de julho e promoveu um encontro históri- não sendo explicitamente racistas, geram
co para discutir a Psicologia antirracista e o disparidades raciais significativas. Isso ocor-
enfrentamento do racismo institucional. re quando certos grupos raciais são siste-
maticamente prejudicados em áreas como
Segundo dados do último censo do IBGE educação, emprego, habitação e sistema
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de justiça.

10 | CONTATO 149
O racismo institucional também pode ser resistência e denuncia as diversas formas de
observado na falta de diversidade em car- opressão vivenciadas por mulheres negras.
gos de poder e influência, na representa- O dia 25 de julho também é dedicado a
ção da mídia e na distribuição desigual Tereza de Benguela, importante persona-
de recursos públicos. O evento debateu a gem na história do Brasil e líder revolucio-
importância do fortalecimento de políticas nária do Quilombo de Quariterê.
públicas de inclusão e diversidade no CFP
e nos Conselhos Regionais de Psicologia AQUILOMBAMENTO NA PSICOLOGIA
como previsto no programa aprovado
no âmbito da Assembleia de Políticas, O quilombo, território de refúgio e resis-
da Administração e das Finanças (APAF), tência das pessoas escravizadas e descen-
incluindo ações concretas e cotidianas dentes, tornou-se, para além de um espaço
para acabar com as violências sistêmicas físico e de memória, um local de perten-
e estruturais. cimento. O termo “aquilombar-se” ganha
a ressignificação do afeto, acolhimen-
Em sua fala de abertura, o presidente do to, valorização dos saberes e identidade.
CFP, Pedro Paulo Bicalho (CRP-05/26077), “Quilombo para os brancos significa escra-
destacou a importância das ações afirmati- vos fugidos. Quilombo para os quilombo-
vas nos processos de eleições e composição las significa união”, enaltece a conselheira
dos Conselhos Regionais e Federal, tornan- Jeanyce Gabriela Araújo (CRP-04/52113).
do os espaços de gestão e chefias mais diver-
sos. “Uma honra estar nesta gestão e teste- Para a psicóloga, o quilombo é embrião das
munhar o aquilombamento da Psicologia mudanças sociais e o aquilombamento na
brasileira. A Psicologia não é mais a mesma Psicologia se dá pela criação de uma comu-
e se transformou na luta dos que nos ante- nidade acolhedora e atenta aos ensinamen-
cederam. Somos hoje a Psicologia das polí- tos das populações tradicionais, honrando
ticas públicas e do compromisso social”, seus saberes e incluindo seu conhecimen-
salientou o presidente. to na luta contra as violências sistêmicas
que afetam a população negra. “O quilom-
A vice-presidenta do CFP, Ivani Francisco de bo aceita todos os ensinamentos e práti-
Oliveira (CRP-06/121139), reforçou o com- cas. Agora, fora do nosso quilombo, nosso
promisso da representatividade nos cargos conhecimento não é incluído: é perseguido,
superiores. “Quando a gente pensa nessas desqualificado, sendo que o mesmo tem
plenárias e no acolhimento é para dizer valor e eficácia”, completou a conselheira.
para cada uma de vocês que não defende-
mos reserva de vagas para representativi- A psicóloga Jesus Moura (CRP-02/4617)
dade vazia. Nós queremos mudança. Nós relembrou sua trajetória na Psicologia
precisamos dos saberes e da atuação políti- desde a universidade e ressaltou a dificul-
ca de cada um e cada uma”, complementou. dade do acesso e permanência das pessoas
negras na academia, tornando-o um espaço
O evento é a terceira plenária temática e solitário e excludente. Relembrou, ainda, a
foca o acolhimento e fortalecimento da importância da educação na sua formação
pluralidade na Psicologia e seu reflexo na pessoal. “Quando eu encontrei a Psicologia,
sociedade. A mesa, composta majoritaria- foi onde eu também encontrei a negritude”,
mente por profissionais negras, foi ainda afirmou a profissional.
mais simbólica por ter sido realizada três
dias depois do Dia Internacional da Mulher Para ela, o evento é a realização de um
Negra Latino-Americana e Caribenha, lem- sonho gradual e conjunto, um avanço
brado em 25 de julho, data que celebra a na luta contra o racismo institucional.

CONTATO 149 | 11
Configura também um momento histórico, dora, é imprescindível que profissionais de
que abre o caminho para a elaboração de Psicologia se comprometam com a luta
uma Psicologia verdadeiramente antirracis- antirracista e proponham práticas cientí-
ta. “Aquilombar-se é existir, é sentir a força da ficas para uma mudança de pensamento,
luta e não desistir jamais”, finaliza. relacionada ao enfrentamento do racis-
mo. Para ela, é essencial que o combate
A representante do Ministério da Igualdade ativo ao racismo esteja presente em todos
Racial, Nahiane Hermano Guimarães, potuou os conselhos e seja uma luta cotidiana e
a importância do debate em torno da into- conjunta. “Quando caminhamos sozinhos,
lerância religiosa e a laicidade da Psicologia caminhamos bem. Mas, quando caminha-
para a saúde mental da população negra, mos juntos, nós corremos e transformamos
além da importância da representativida- realidades”, frisou.
de negra em cargos superiores. A repre-
sentante salientou que as vozes negras A vice-presidente do CFP, Ivani Oliveira, res-
devem ecoar cada vez mais alto e que as saltou ainda a obrigação ética de profis-
experiências e saberes desta população preci- sionais de Psicologia com a luta antirracis-
sam ser valorizadas. ta, regulamentada pela Resolução CFP n°
18/2002. “É dever ético usar o conhecimen-
A PSICOLOGIA ANTIRRACISTA to acumulado na Psicologia para a elimina-
ção do racismo e da discriminação racial.” A
O racismo interfere em todas as esferas da conselheira alertou também sobre a impos-
sociedade e molda diretamente as experiên- sibilidade de omissão diante de qualquer
cias vivenciadas pela população negra. A ato discriminatório. “A luta por liberdade é
exclusão social, falta de oportunidades no constante”, concluiu.
mercado de trabalho, dificuldade no acesso à
educação, alto índice de mortalidade, violên- O evento do dia 28 foi finalizado ao som
cia policial e o preconceito favorecem o adoe- dos tambores da escritora e multiartista
cimento psíquico dessa população. Dedê Fatuma. O final da plenária também
contou com o lançamento da edição 2023
Para Maria Conceição Costa, coordena- do Prêmio Profissional Virgínia Bicudo, com
dora geral da Articulação Nacional de o tema “Práticas para uma Psicologia antir-
Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es) racista”. O prêmio busca compartilhar e for-
(ANPSINEP), a Psicologia tem papel essencial talecer a luta antirracista por meio da divul-
na luta antirracista, mas precisa de mudan- gação de ações de profissionais e coletivos
ças em “sua prática cotidiana por ser ainda que envolvam a Psicologia e as relações
elitizada, embranquecida, com práticas racis- étnico-raciais e os direitos humanos.
tas e machistas”. De acordo com a coordena-

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A Psicologia frente às novas
definições na avaliação
biopsicossocial da deficiência

Por psic. Fernanda Costa Peixoto Primo (CRP-08/12328), coordenadora do Núcleo de


Psicologia Anticapacitista da Comissão de Direitos Humanos do CRP-PR

P
ara entendermos o papel de profis- políticas para esta população é, ainda, o
sionais da Psicologia no âmbito da laudo médico.
avaliação da deficiência, é importan-
te compreendermos o modelo estruturan- Desde a ratificação da Convenção
te da perspectiva biopsicossocial, em seu Internacional sobre os Direitos da Pessoa
PSIC. ANTICAPACITISTA
contexto histórico de constituição, e as com Deficiência no Brasil (Decreto Federal
mudanças que se apresentam no atual nº 6949/2009) e a nova definição de defi-
cenário brasileiro. ciência por ela instituída, tem-se debatido
sobre a reformulação dos modelos e ins-
O modelo médico da deficiência surge no trumentos nacionais de avaliação. Com
início do século XX, sob a premissa da rea- estado legal de emenda constitucional,
bilitação e normalização dos corpos, na a Convenção afirma que a deficiência se
superação de uma perspectiva caritativa constitui na interação com barreiras, de
vigente no século anterior. A partir deste forma a obstruir a participação plena e
modelo se estruturam serviços, políticas e efetiva das pessoas na sociedade.
normativas legais – que se mantêm vigen-
tes até a atualidade. A definição de quem A inclusão do conceito de barreira na
é, ou não, pessoa com deficiência permane- definição de deficiência acompanha um
ce centralizada no saber médico, uma vez momento histórico de transição entre o
que o instrumento de acesso aos serviços e modelo biomédico e o modelo social, que

CONTATO 149 | 13
tem início nos anos 1970. Este importante da saúde, podem vir a compor equipes de
movimento conceitual, embora seja deba- avaliação. Para tanto, precisarão ter qua-
tido teoricamente e encontre avanços nos lificação técnica, não apenas sobre os
estudos da deficiência, em especial com a instrumentos e referenciais teóricos do
perspectiva feminista na segunda geração processo avaliativo, mas notadamente
do modelo social, ainda não encontra apli- sobre os princípios do conceito biopsicosso-
cação na prática das avaliações. cial da deficiência.

A Lei Federal nº 13.146/2015, conhecida As alterações corporais – enfoque do ultra-


como Lei Brasileira de Inclusão (LBI), afir- passado modelo biomédico – são com-
ma, ao reiterar a definição apresentada preendidas, nesta nova perspectiva, como
pela Convenção, que a avaliação da defi- manifestações da diversidade humana. A
ciência será biopsicossocial, realizada con- análise avaliativa da deficiência se volta
forme instrumento criado pelo poder exe- para a relação deste corpo, único e funcio-
cutivo para este fim. Elenca, ainda, quatro nalmente diverso, com as possibilidades e
pontos para consideração em tal análise: as entraves que o ambiente lhe oferece, e as
funções e estruturas corporais; os fatores necessidades de suporte que se apresen-
socioambientais, psicológicos e pessoais; tam nesta realidade. No entendimento do
o desempenho de atividades; e a restrição modelo social, não é possível considerar
de participação. uma pessoa com deficiência apenas pela
análise de suas questões corporais. É neces-
Desde então, o instrumento nacional uni- sário entender o contexto em que a pessoa
ficado para avaliação da deficiênciaen- vive, os demais marcadores que a consti-
contra-se em desenvolvimento, com mui- tuem, sua condição de acesso aos serviços e
tos embates entre governo, movimento benefícios e as barreiras sociais que impac-
social e campo acadêmico. Atualmente, um tam o exercício de sua cidadania.
grupo de trabalho do governo federal deba-
te o instrumento unificado para avaliação A mudança conceitual incide, inclusive,
biopsicossocial, conforme proposta de apri- sobre o objetivo da avaliação, uma vez
moramento do Índice de Funcionalidade que, enquanto questão médica e indivi-
Brasileiro Modificado, que ainda carece de dual, a identificação da deficiência se con-
validação e regulamentação. figura como diagnóstico, direcionado ao
tratamento e à habilitação/reabilitação.
A LBI prevê que a avaliação da deficiên- Para o modelo social, o reconhecimento
cia seja multiprofissional e interdisciplinar. da deficiência se orienta ao acesso a direi-
Desta maneira, profissionais da Psicologia, tos e promoção da justiça social, pois as
assim como demais profissionais da área estruturas sociais excludentes, construídas

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sob a expectativa da normalidade e pouco Profissionais da Psicologia que venham a
sensíveis à diversidade, se configuram compor equipes avaliativas de deficiên-
como causa da deficiência. Assim, prevenir cia necessitam inserir em sua atuação, de
deficiências ou repará-las diz respeito ao maneira responsável, a análise crítica e his-
enfrentamento de tais desigualdades. Uma tórica da realidade social desta população,
sociedade inclusiva acolhe a pluralidade de assim como orientar sua prática de forma
formas de existir na interseccionalidade dos a superar concepções reducionistas e indivi-
marcadores constitutivos dos sujeitos. dualistas de deficiência.

Esta concepção complexa dos sujeitos Uma atuação ética em Psicologia se afasta
com deficiência permite vislumbrar a rea- da patologização da deficiência e se apro-
lidade de suas dinâmicas de vida, em que xima do direito à diferença e da compreen-
os diversos sistemas de opressão irão cola- são de que é a estrutura social excludente,
borar para o agravamento da experiência constituída conforme ideais de funciona-
da deficiência. Isso significa que na defi- mento corporal, que produz a experiência
nição da deficiência se inserem barreiras da deficiência. É na afirmação dos direi-
para além daquelas usualmente elencadas tos humanos das pessoas com deficiência
quando tratamos da diversidade funcio- que se fundamenta o papel da categoria
nal (arquitetônicas, comunicacionais, ins- neste cenário de importantes mudanças
trumentais, etc.). Desigualdades de classe, prático-conceituais.
raça, gênero, geração e orientação sexual
irão operar como barreiras na participação
destas pessoas, uma vez que atravessam a
maneira como elas afetam e são afetadas
pelo social.

Cabe ressaltar que o atual modelo avalia-


tivo, previsto pela LBI, se estabelece em
um momento histórico de transição e dis-
puta de narrativas sobre o lugar social da
deficiência. Ainda encontramos contex-
tos profissionais e comunitários permea-
dos pela lógica médico-caritativa, que
classifica os corpos entre normais e patoló-
gicos. Tal perspectiva tem caráter discrimi-
natório, devendo ser veementemente evita-
da pela categoria.

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Arte de capa foi gerada por
inteligência artificial, explorando
o conceito de ser humano, e
está disponível no Freepik. Ela foi
aprimorada com detalhes pelo
designer Alec Bineck Lessa
CAPA

Por Ellen Nemitz

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A
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inteligência artificial (IA) é uma rea- Ainda assim, o mercado disponibiliza 01110100 01110010 01100
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lidade em nossas vidas, inclusive na diversos aplicativos voltados para a saúde 00100000 01100
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saúde. Por um lado, estudos trazem mental. Na opinião do Psicólogo Clínico e 01101001 01101110 01110
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a perspectiva de revolucionar as possibili- Professor Universitário Thiago Del Poço 01100111 11101010 01101
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dades de pessoas que enfrentam doenças (CRP-06/127225), membro do Grupo de 00100000 01100
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graves. É o caso do dispositivo que ganhou Estudos do Janus, o Laboratório de Estudos 01100110 01101001 01100
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repercussão internacional capaz de cap- de Psicologia e Tecnologias da Informação 00100000 00101
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tar intenções de fala a partir de eletro- e Comunicação da PUCSP, essas tecnologias 00101001 00101
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dos e reproduzir a voz de quem a perdeu. podem servir como suporte para as ques- 01100101 01110011 01110
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Puro aprendizado de máquina, ou machi- tões da saúde mental de menor complexi- 01100001 01101110 01100
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ne learning. Por outro lado, a IA também dade, se utilizadas com o acompanhamen- 01100011 01101111 01101
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vem preocupando especialistas. “Um dos to profissional. Ele conta que já há estudos 01100101 01110011 01110
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maiores problemas da IA é a opacidade, comprovando a eficácia de ferramentas 01110100 01100101 01100
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o risco de você não perceber quando está que utilizam conceitos da terapia cogniti- 01101111 01100111 01101
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interagindo com ela”, destaca o professor vo-comportamental para guiar exercícios 01110000 01101111 01100
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da PUCPR Murilo Karasinski, doutor em de reestruturação cognitiva, por exemplo. 01100001 01110

Filosofia e pesquisador de temas como inte- Algumas 01110010 01101001 01101


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ligência artificial, biotecnologia, transuma- O profissional defende que estes recursos
informações
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nismo, pós-humanismo e cognição. podem ser eficazes para aproximarpessoas 01110011 01101111 01110

geradas pelo
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que residem em áreas remotas do serviço 01100101 00100
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Ele explica que a IA é um tema antigo – de Psicologia, mas admite que, sozinho, um
ChatGPT são
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data de aproximadamente 100 anos, com aplicativo só consegue resolver problemas 00100000 01100
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os estudos do matemático Alan Turing –, de menor complexidade. “Esquizofrenia,
apesar de apenas recentemente ter despon- pacientes com risco de suicídio e outras equivocadas, 01100100 01101001 01100
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tado como a bola da vez, muito por conta situações mais graves não são [casos] indi- o que pode 01010000 01100
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da ascensão da inteligência artificial gene- cados para o atendimento com esses apli-
ser prejudicial
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rativa ChatGPT. De fato, a ciência ainda cativos”, destaca. 01101101 01100001 01101

para a pessoa
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está estudando os usos da IA, que estão 01101001 01101110 01100


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em constante – e rápida – evolução. Alguns Ele também salienta suas falhas e limita- 01100001 11100111 11110

deles se propõem, inclusive, a servir como ções, uma vez que as máquinas ainda dei- que utiliza 01100101 01110011 00101
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apoio emocional robotizado. xam a desejar em sua capacidade de dis- 01101001 01110010 01100
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cernir comportamentos éticos. Além disso, 01110011 01110011 01100
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Perguntamos ao ChatGPT se ele é capaz de embora as conversas com IA possam pare- 01100001 01110100 11101
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ajudar com questões emocionais. A respos- cer muito fluidas, a máquina não tem a 00100000 01100
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ta foi afirmativa, listando formas de apoio capacidade de guardar e acessar dados pre- 01100011 01100
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como escuta, educação, acompanhamento gressos. São análises, como Thiago desta- 00100000 01101
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e monitoramento das mudanças no estado ca, que só um ser humano é capaz de fazer. 01110000 11100
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emocional e até mesmo rastreamento de “Lembrando também que algumas infor- 01100001 00100
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sintomas. A máquina assumiu sua limitação mações geradas pelo ChatGPT são equivo- 00100000 01000
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em casos graves, já que “a empatia humana, cadas, o que pode ser prejudicial para a pes- 00100000 01100
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o entendimento das complexidades indi- soa que utiliza”, finaliza. 01101111 00101
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viduais e a capacidade de fornecer apoio 01100100 01100001 01110
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personalizado ainda são insubstituíveis em O professor Murilo lembra ainda que as tec- 01110011 00100
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muitos casos.” A incapacidade de garantir nologias de IA generativa não criam, de 11100111 11110101 01100
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a privacidade das informações – um alerta fato, algo do zero, mas reproduzem aqui- 01100001 01101110 01110
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que a pessoa recebe já ao criar sua conta – lo que ela entende mais provável de um 01101111 01110010 01100
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também é apontado como empecilho. “A IA ser humano dizer, a partir de um banco de 01100100 01100
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pode ser uma ferramenta auxiliar valiosa, dados que se retroalimenta – quanto mais 01101111 01101110 01110
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mas não deve ser a única fonte de suporte”, usado, mais “inteligente” ele fica. O pesqui- 00101100 00100
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conclui o chat. sador traz também uma perspectiva muito 11100011 01101
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debatida no âmbito da filosofia, que é a humano e um computador, por exemplo, é
nossa capacidade humana de interagir com resultado certo: a máquina vence. Já coisas
fatores biológicos e produzir respostas ade- muito simples, como regar um jardim ou


quadas a estes contextos. cozinhar, podem ser uma realidade distante
para uma “inteligência” abstrata.
A máquina “Nós pensamos da forma como pensamos
porque somos seres, possuímos histórias, Entre o medo de que a IA venha a limar
pode dar uma um contexto, uma série de processos bioló- empregos, sobrepujando a humanidade, e
gicos que a máquina jamais terá. A máqui- a esperança de que seja o nosso caminho
resposta na pode dar uma resposta plausível, mas o rumo a um mundo tecnologicamente avan-
plausível, mas ser humano tem condição de avaliar você çado, é preciso, de fato, cautela. “A tradi-
ção filosófica mostra que a verdade sempre
de uma forma que a máquina não tem, por-
o ser humano que ela nunca vai ter a capacidade bioló- está no meio, nunca nos extremos. Então a

tem condição gica que o nosso cérebro tem de pensar e


interagir, decorrente de milhares de anos da
gente tem que encontrar um caminho que
seja sustentável, que permita que a gente
de avaliar evolução”, explica. traga as coisas boas da inteligência artifi-
cial, mas também que a gente veja as coi-
você de uma NEM AO CÉU NEM À TERRA sas ruins que ela é capaz de fazer”, salienta
forma que No último século, a IA já viveu seus momen-
Murilo.

a máquina tos de glória, quando euforicamente se À IMAGEM E SEMELHANÇA


imaginava que ela poderia resolver todos
não tem, os problemas, e momentos chamados de Quando a cientista negra Joy Buolamwini
porque ela invernos da inteligência artificial, em que tentou usar um aplicativo de reconheci-
ela avançava muito lentamente, confor- mento facial e seu rosto não foi reconheci-
nunca vai ter me explica Murilo. Hoje, em que pese seu do como humano, até que vestiu uma más-

a capacidade avanço significativo, cientistas divergem


sobre seus potenciais, segurança e até
cara branca, ela decidiu investigar o viés
racial na IA, e sua pesquisa Gender Shades
biológica mesmo definição. Afinal, se nós criamos e ficou mundialmente conhecida no docu-
alimentamos a IA, ela é mesmo inteligen- mentário Coded Bias.
que o nosso te? Ela é mesmo artificial? Há quem afir-
cérebro tem me que não, como o neurocientista Miguel
Nicolelis, e há quem a defenda, sim, como
A pesquisa provou que o viés não era um
caso isolado. Em testes realizados com as
de pensar uma forma de inteligência, ainda que não grandes companhias da área de tecnolo-

e interagir, comparável à humana, como a pesquisado-


ra Lúcia Santaella.
gia Microsoft, Face++ e IBM, objetos escu-
ros apresentam de 11,8 a 19,2% mais erros
decorrente que objetos claros. Quando a análise incluiu
A comunidade científica, no entanto, vem gênero, as mulheres negras foram evidente-
de milhares acendendo o alerta para essa aceleração mente as mais afetadas: as taxas de preci-
de anos da desenfreada do desenvolvimento da IA hoje são deste grupo variaram de 65,3 a 79,2%,


em dia, e inclusive pediu que os estudos enquanto outros grupos obtiveram de 88
evolução sejam suspensos até que tenhamos certeza a 94% (homens negros), de 92,9 a 98,3%
sobre a sua segurança. Há grupos, eviden- (mulheres brancas) e de 99,7 a 100% no
temente, entusiastas das possibilidades de caso dos homens brancos. A diferença na
mundo que podemos alcançar. taxa de erros chega, então, a quase 35 pon-
tos percentuais.
É verdade inegável que a IA consegue fazer
coisas complexas em níveis muito avança- O longa aborda, ainda, as tecnologias uti-
dos. Uma partida de xadrez entre um ser lizadas por muitas cidades para identificar

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Sistema OK
Linguagem... carregando
Processamento 80%
Falha no comando principal

pessoas suspeitas de crimes por imagens também mostram que a forma com que as
de câmeras. Circulando pelas ruas, estamos tecnologias das câmeras são desenvolvidas
quase constantemente na mira de câmeras para capturar e identificar rostos é racista
equipadas com sistemas que cruzam nossas porque não são desenvolvidas para o nosso
feições e características com enormes ban- fenótipo e cor, devido à correlação com a
cos de dados de pessoas suspeitas, a partir luz e sombra. Rostos de pessoas asiáticas,
de algoritmos. Pessoas negras são as mais por exemplo, também não são reconheci-
abordadas pela polícia, mesmo sendo, não dos”, explica.
raras vezes, inocentes.
O processo se retroalimenta, e apenas
Banir estas formas de reconhecimento mudar a base de dados não surtiria efeito,
facial que perpetuam violências e o racis- diz. Ela conjectura um cenário no qual um
mo é o trabalho a que se dedica a advoga- algoritmo é alimentado apenas com a base
da popular e pesquisadora do Data Privacy de dados de suspeitos. “Quem é considera-
Brasil Horrara Moreira, que coordena a cam- do suspeito no Brasil? São pessoas negras”, Para
panha Tire Meu Rosto da Sua Mira. A cam- lembra. “Então, o aprendizado de máqui- assitir:
panha pede o banimento desta tecnologia na ficaria enviesado de novo, porque só
considerando os riscos que ela traz para os reconheceria pessoas negras como suspei-
Coded Bias.
direitos humanos. tas. Por isso a gente pede o banimento, por-
Documentário,
que não existe uma forma segura de corri-
85 min, 2020.
"A partir do momento em que essas tecnolo- gir o problema.”
bit.ly/3sMpDLG
gias estão circulando pela cidade, ou estão
sendo utilizadas pela polícia, todo mundo O pesquisador sênior de Políticas de
se transforma em suspeito, e a configura- Tecnologia e autor do livro “Racismo
ção de quem é suspeito ou não também Algorítmico: mídia, inteligência artifi-
é um humano que faz", explica Horrara. O cial e discriminação nas redes digitais”,
problema disso é que essas configurações Tarcizio Silva, explica ao Centro de Estudos
podem acabar reforçando um padrão do Estratégicos da Fiocruz Antônio Ivo de
racismo estrutural, uma vez que a tecnolo- Carvalho (CEE-Fiocruz) que as tecnologias,
gia já se provou falha antes – como a pes- em um mundo marcado pelo privilégio
quisa de Joy Buolamwini nos mostra. branco, servem para fortalecer “a ordena-
ção racializada de conhecimentos, recursos,
O professor e pesquisador Murilo Karasinski espaço e violência em detrimento de gru-
explica que, embora haja diversas empre- pos não brancos”, em um processo de atua-
sas atuando na área de tecnologia, grande lização do racismo estrutural.
parte dos algoritmos vêm do Vale do Silício,
nos EUA, feitos por um perfil de pessoas TERRA SEM LEIS
parecido: homens, brancos, culturalmente
favorecidos, com acesso à universidade e Em um artigo traduzido e publicado pelo
em uma faixa etária semelhante. Essas pes- CEE-Fiocruz, o professor de inteligência cole-
soas acabam impondo seus modos de pen- tiva, políticas públicas e inovação social na
sar à coletividade. University College London, Geoff Mulgan,
e a cofundadora do Collective Intelligence
Horrara também acrescenta que o aprendi- Project e também tecnóloga social da
zado de máquina da inteligência artificial Microsoft, Divya Siddarth, afirmam que “os
treina esse algoritmo para ele fazer predi- especialistas em tecnologia têm poucas (se
ções a partir das imagens fornecidas a ele é que alguma) ideias sobre como essa coisa
– imagens deste norte global predominan- [Modelos de linguagem como o ChatGPT]
temente branco. “Além disso, pesquisas pode realmente ser implementada”. O arti-

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go elogia a iniciativa de alguns governos, legislação carece de um debate ampliado
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como a União Europeia e a China, em regu- e aprofundado com a sociedade, que pre- 00100000 01100100
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lar a IA e as deep fakes (forja de imagens cisa saber como a inteligência artificial fun-


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ou sons humanos baseada em técnicas de ciona, a partir de quais premissas e a que
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A gente pode
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inteligência artificial), mas destaca que reu- interesses ela serve, segundo o pesquisador 00100000 01100001
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niões transnacionais trazem nada mais que Murilo salienta, todas as pessoas seguem
imaginar
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“vagos apertos de mão e uma flagrante à mercê de tecnologias que podem servir 00100000 00101000

futuros em que falta de propostas reais”. como grandes aliadas ou potenciais riscos,
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comandadas por empresas com quase ilimi-
a inteligência A dupla ainda adverte sobre o “grande tado poder de lobby nos governos.
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artificial nos paradoxo” da IA: o mundo ainda tem pouco
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ajude a conectar
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conhecimento sobre o que ela faz e pode O futuro depende, então, de mais participa-
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fazer, e não existem instituições para nos ção da ciência, de entidades da sociedade
pessoas com
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aconselhar – um objetivo que pode ser civil e, principalmente, de pessoas dispostas
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pessoas. alcançado com o Observatório Global de IA, a debater seriamente o tema, e a Psicologia
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ou GAIO, na sigla em inglês, que se inspira no pode ser parte central deste debate, como
Profissionais modelo do IPCC (Painel Intergovernamental
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Horrara nos lembra: “A gente pode imagi-
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da Psicologia sobre Mudanças Climáticas). nar futuros em que a inteligência artificial
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neste processo
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nos ajude a conectar pessoas com pessoas.
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Neste mundo em que estamos aprendendo Profissionais da Psicologia neste processo
são muito
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empiricamente como regular uma máqui- são muito importantes porque vão acolher 01100010 01100001

importantes na que nós mesmos criamos, o Brasil tem


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os sintomas causados num determinado 00100000 01100011
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iniciativas de regulação, embora os pro- tempo e momento histórico, e lembrar que
porque vão jetos de lei ainda estejam em tramitação
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é no encontro com outro ser humano que a 00101110 00100000
acolher os e sem data para finalização. Enquanto a gente reafirma a nossa humanidade”.
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sintomas
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causados num
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determinado Para ler:


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tempo e 00100000 01100011


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momento 00100000 01101110 01101111
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histórico, e
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É hora de uma governança global para a IA: 01110010 01101001 01100001

lembrar que é
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Acesse: bit.ly/3Rar2pu 01100011 01100001

no encontro 01110000 01100001


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com outro Tarcízio Silva: “O racismo algorítmico é uma espécie de


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ser humano atualização do racismo estrutural”: 00110001 00110110 00101110
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que a gente
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Acesse: bit.ly/461VZAm 00100000 01100100
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reafirma a nossa
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humanidade 00100000 01100001


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SILVA, Tarcízio. Racismo Algorítmico: inteligência artificial e 01100101 01100100 01101001
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discriminação nas redes digitais. São Paulo: Edições Sesc, 2022. 01110011 00100000
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CRP-PR EM AÇÃO
É NA LUTA QUE
É NA LUTA QUE
A GENTE SE ENCONTRA
A GENTE SE ENCONTRA

Em setembro de 2023 o XV Plenário do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR)


completou um ano de gestão. Foram 12 meses e muitas ações, debates e articulações em
prol de uma Psicologia cada vez mais reconhecida e valorizada, ética, e que atue na defesa
intransigente dos direitos humanos e de acesso às políticas públicas.

A Psicologia tem um papel fundamental nessa luta e toda a categoria profissional pode
contribuir, na sua área de atuação, para discussões de temáticas importantes e no controle
social da sua região. Seria difícil relatar, neste espaço, tudo que fizemos, mas separamos
com o maior carinho alguns destaques!

Posse do XV Plenário Construindo a


Psicologia: as
Setembro/2022
comissões temáticas
O XV Plenário tomou posse em 23 de setembro
de 2022. Em uma Diretoria completamente fe-
do CRP-PR
minina, pela primeira vez duas mulheres negras Dezembro/2022
assumiram a liderança da autarquia. O Plenário O CRP-PR lançou em dezembro de 2022 uma cam-
também conta com nove pessoas negras e uma panha para que profissionais de Psicologia pudes-
indígena, duas pessoas com deficiência, pessoas sem se unir às Comissões Temáticas.
trans, não binárias e homoafetivas. A diversidade
garante que as pautas sejam debatidas de modo Se você deseja contribuir, acesse:
transversal, aliando a postura técnica e os deba- bit.ly/3Oo7nQ8
tes científicos ao reconhecimento das diversas
subjetividades e coletividades.

Germinário “Mulheres,
Psicologia e
enfrentamento das
violências” APAF e o futuro da
Novembro/2022 categoria
A delegação do CRP-PR participou em novembro
de 2022 do Germinário que resultou na publica- Dezembro/2022
ção da Carta-Compromisso em Defesa dos Direi- A Assembleia das Políticas, da Administração e
tos das Mulheres. das Finanças (APAF) do Sistema Conselhos é um
espaço em que importantes decisões são toma-
Saiba mais em: bit.ly/3rhXs6Z das, ocupado com muito cuidado pelo CRP-PR.
Em dezembro de 2022, o destaque foi a aprova-
ção de uma minuta de nota técnica acerca das
demandas do Sistema de Justiça a profissionais
da Psicologia que atuam em serviços do Sistema
Único de Assistência Social (SUAS) e do Serviço
Único de Saúde (SUS).

CONTATO 149 | 21
Saiba mais em: bit.ly/3PguOuV
5 anos da Resolução CFP
nº 001/2018
Janeiro/2023
O CRP-PR também esteve presente nas comemo-
rações de 5 anos da Resolução nº CFP 01/2018,
que estabelece normas de atuação para profis-
sionais de Psicologia em relação às pessoas tran-
sexuais e travestis. Durante o evento, do qual
Planejar para tornar real
participaram o Cons. Matheo Bernardino e Cons.
Fabiane Kravutschke Bogdanovicz, foi construída Março/2023
coletivamente uma carta de propostas em rela-
ção às pessoas transexuais. O Planejamento Estratégico, dividido em quatro
eixos, centraliza seus objetivos em consolidar
no CRP-PR uma Psicologia comprometida com
a transformação social, a partir de práticas dia-
CRP-PR cria Comissão lógicas e antirracistas, perspectivas decoloniais
e de Direitos Humanos, com atenção a aspec-
de Mulheres tos socioambientais e culturais, fortalecendo
Janeiro/2023 políticas públicas e fomentando o apoio à cate-
Com intensa participação da categoria, compos- goria profissional.
ta majoritariamente por mulheres, a Comissão de
Mulheres foi criada durante a gestão do XV Plená- Confira o documento em: bit.ly/3EzjVPZ
rio e tem estruturado o debate sobre os impactos
do machismo na saúde mental de todas as pes-
soas. A Comissão se fortalece ao discutir o tema
de forma transversal aos demais marcadores so-
Plenária reúne
ciais e tem aliado o debate das questões vivencia- indígenas profissionais
das pela categoria no cotidiano a uma formação de Psicologia
teórica sobre a temática.
Abril/2023
Saiba como participar: crppr.org.br/comissoes Em abril, profissionais de Psicologia de mais de 20
diferentes etnias indígenas se reuniram em Brasí-
lia-DF para debater o fazer da Psicologia com e
para essas populações. O CRP-PR foi representa-
Projeto de do pelo Núcleo de Psicologia e Povos Indígenas,
reestruturação da COE que também acompanhou o Acampamento Terra
Livre e participou dos equipamentos de atenção
Janeiro/2023 em Psicologia instalados no local.
O número de processos ético-disciplinares trami-
tados no CRP-PR tem crescido, já que a socieda- Saiba mais em: bit.ly/3EybcOf
de vem se apropriando dos canais de denúncia.
Isso exigiu o aumento de duas para quatro tra-
balhadoras na Comissão de Ética e os processos
eletrônicos agora tramitam em duas câmaras. O
sistema, em avaliação, objetiva dar mais celeri-
dade à tramitação dos processos, beneficiando a
sociedade e profissionais.

Delegação levou
CRP-PR cria Núcleo diversidade e debates
Transcentrado ao Congresso da Ulapsi
Fevereiro/2023 Abril/2023
O CRP-PR participou, com uma delegação que le-
O XV Plenário do CRP-PR oficializou, em fevereiro vou diversidade e o debate da Psicologia feminis-
de 2023, o Núcleo Transcentrado da Comissão de ta, antirracista, antiLGBTfóbica, antiproibicionis-
Direitos Humanos. O grupo é um espaço seguro ta e anticapacitista, do Congresso da Ulapsi 2023,
para que pessoas trans tragam questões e en- realizado entre os dias 13 e 15 de abril em Monte-
contrem acolhimento, ampliando os debates a vidéu, no Uruguai, com o tema “Os caminhos de
partir da Psicologia. encontro da Psicologia Latino-Americana”.

22 | CONTATO 149
diversidades que compõem a sociedade e o Siste-
Luta antimanicomial e ma Conselhos.
resistência
Maio/2023 Confira o evento em: bit.ly/48GfT6k
O CRP-PR lançou em maio mais uma campanha
em alusão ao Dia Nacional da Luta Antimanico-
mial. Neste ano, o tema escolhido foi “Nós da
Luta Antimanicomial no Paraná — 18M: vidas que
(r)existem”.

Saiba mais em: bit.ly/3Eym3aK

Comissão de Ética
realiza encontro de
atualização
Julho/2023
Continuando as ações estratégicas para atuali-
zação da Comissão de Ética, o CRP-PR realizou
em julho um encontro de atualização, debateu
aspectos técnicos da tramitação dos processos
éticos, em especial a análise de casos envolvendo
APAF: CRP-PR articula
afrontas aos direitos humanos.
criação de GT sobre
psicodélicos
Maio/2023
Em atenção ao XI Congresso Regional da Psicolo- “Marco temporal não:
gia, o CRP-PR levou à APAF o debate sobre psico- nunca mais um Brasil e
délicos, que constituiu um GT para elaborar plano
de trabalho institucional, com estudos científicos,
uma Psicologia sem nós”
respeito à laicidade e às cosmovisões, sobre o Julho/2023
uso assistido de psicodélicos e cannabis em con- O conselheiro Paulo Karaí Xondaro representou
texto psicoterapêutico. o Paraná em evento que reuniu lideranças e pro-
fissionais de Psicologia indígenas em Porto Ale-
gre-RS, um ato de resistência e uma declaração
contra o marco temporal. O título do evento re-
A sua Psicologia é gistra essa luta: “Nunca mais um Brasil e uma Psi-
diversa? cologia sem nós.”
Junho/2023
Eventos em junho e agosto propuseram a refle-
xão sobre como a atuação profissional lida com a
pluralidade da experiência humana. A troca pro-
Violência(s) na escola:
porcionou discussões e experiências, abrangendo isso é da nossa conta!
o fazer clínico e em diversas áreas.
Agosto/2023
Encontrar estratégias para superar as violências
presentes na escola foi objetivo deste evento
Não há Psicologia que reuniu cerca de 150 pessoas em Curitiba. O
evento foi fechado com a Carta do Paraná, um
ética que não seja documento que sintetiza as proposições, reivindi-
antirracista cações e esperanças para a educação brasileira.
Julho/2023
Leia o documento na íntegra: bit.ly/3RAnehR
A plenária nacional “Aquilombamento da Psico-
logia: corpos-territórios de afeto, política, resis-
tência e ancestralidade” reuniu pessoas negras
para debater a promoção de ações afirmativas
com foco no reconhecimento e acolhimento das

CONTATO 149 | 23
e questões comuns aos Estados da região. A apro-
Violência contra ximação fortalece o alinhamento entre os Esta-
as mulheres: faces dos e beneficia a categoria.
e interfaces com a
Psicologia
ESTIVEMOS EM AÇÃO:
Agosto/2023
O CRP-PR preparou em agosto um evento para
debater a violência contra as mulheres, em espe-
Luta pelo estabelecimento
cial negras. O debate é parte das ações da Comis- de 30 Horas e piso salarial
são de Mulheres do CRP-PR.

Audiência — Câmara
Federal sobre a Lei
As faces da Psicologia: 13.935/2019
pela valorização
da diversidade
profissional e humana Encontro com equipes
Agosto/2023 técnicas da Defensoria
Pública
Neste ano a campanha do CRP-PR alusiva ao Dia
da Psicologia destacou a diversidade que compõe
a sociedade e a profissão e propôs a reflexão: de
que forma a sua Psicologia é diversa? Ou, ainda, Protocolo para
de que forma a Psicologia a que você teve acesso comunicação de familiares
acolheu a sua diversidade? de vítimas de acidentes
Saiba mais sobre a campanha: bit.ly/45YWLhM fatais

Lançamento da Frente
Parlamentar de Proteção à
Saúde Mental

XV Encontro sobre
OUTROS DESTAQUES: Qualificação em Psicologia
Hospitalar
Participação do CRP-PR
em oficinas pelo Brasil
A equipe do CRP-PR, pioneira no uso dos sistemas Fóruns de Coordenações e
totalmente informatizados da BRC e SEI, tem par- Docentes de Psicologia
ticipado de oficinas nos CRPs de todo o país para
demonstrar as boas práticas em diversos setores.
As atividades têm como objetivo apresentar o
trabalho considerado de excelência, bem como Seminário Regional do
trocar experiências, aprendendo e incorporando CREPOP
práticas propostas em outros regionais.

I Fórum Paranaense de
Encontro de Diretorias Interseção da Psicologia
Regionais Sul do Esporte e da Educação
Física
As Diretorias dos CRPs do Paraná, Santa Catari-
na e Rio Grande do Sul têm se reunido periodi-
camente para discutir e aproximar os regionais,
Encontro Nacional de COEs
debatendo desafios para a categoria profissional
e COFs

24 | CONTATO 149
A 5ª Conferência Nacional de
Saúde Mental e os caminhos
de reconstrução da Rede de
Atenção Psicossocial
Por Ellen Nemitz

bit.ly/3PxVRmP

A
realização da 5ª Conferência Nacional de Unidades de Acolhimento Transitório e
de Saúde Mental (CNSM), cuja etapa Serviços Residenciais Terapêuticos adiciona-
nacional foi adiada diversas vezes e dos à rede ao longo da última década – sem
agora está prevista para acontecer de 11 a esses equipamentos, bem como sem a ofer-
14 de dezembro de 2023, de acordo com o ta de cuidados em saúde mental adequados
Conselho Nacional de Saúde, é um marco na na atenção primária, não há como o mode-
retomada da participação social nas políti- lo se sustentar.
cas públicas do setor. A última edição havia
sido realizada há mais de uma década, em Chama a atenção também a desca-
2010, e neste tempo o cenário nacional racterização de muitos CAPS que ope-
mudou consideravelmente. ram mais sob a lógica biomédica do que
de fato regidos pela lógica da atenção
A Lei nº 10.216/2001 muda o paradigma psicossocial: é o caso de CAPS que funcio-
da internação como principal recurso de namcomo "ambulatórios" ou os recentes
cuidado, abrindo caminho para a institui- processos de hibridização (junção dos CAPS
ção dos equipamentos substitutivos da comCAPS AD) que têm ocorrido em Curitiba
Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) pela e região metropolitana.
Portaria nº 3.088/2011, moldada ainda por
uma série de outras resoluções e portarias Mais recentemente, a incidência da socieda-
governamentais que se seguiram ao longo de civil e de entidades que compõem o con-
dos anos. A RAPS, que se assenta na estru- trole social, entre elas o Conselho Regional
SUS

tura do Sistema Único de Saúde (SUS), ainda de Psicologia do Paraná (CRP-PR), vem con-
em sua implementação sofreu resistências e quistando alguns avanços. Mais lentos do
retrocessos que a minaram, em que pesem que seria o ideal, mas ainda assim celebra-
alguns avanços importantes. dos pelos movimentos da luta antimanico-
mial. Um dos destaques, neste sentido, é a
São muitos os exemplos da dificuldade de destinação de um orçamento mais robusto
implementação da RAPS tal qual prevista para a RAPS, nutrindo um pouco esta rede
e a manutenção dos equipamentos exis- tão negligenciada nos anos passados. É
tentes. Com relação aos novos serviços, o uma ação avaliada como tímida e demora-
destaque fica por conta do baixo número da, por alguns setores técnicos, mas ainda

CONTATO 149 | 25
assim fundamental para, aos poucos, desfa- do ponto de vista do funcionamento institu-
bit.ly/3Rh5zvf zer alguns retrocessos na RAPS. cional, e essas instituições do Brasil não são
comunidades terapêuticas porque elas não
Além disso, a Portaria GM/MS nº 757/2023 têm vivência comunitária, não têm progra-
revoga a Portaria GM/MS nº 3.588/2017 e mas terapêuticos baseados nessa vivência.”
dispositivos das Portarias de Consolidação
GM/MS nº 3 e 6/2017, que instituíram os O profissional, que estuda o tema e tem
CAPS AD IV e outros instrumentosentendi- forte incidência no movimento em prol da
dos como manicomiais – ou seja, retrocesso luta antimanicomial, defende que as comu-
à própria ideia da reforma psiquiátrica bra- nidades terapêuticas deveriam, idealmente,
sileira – “uma tímida iniciativa de combate à ficar totalmente de fora do financiamento
ambulatorização da RAPS”, segundoexplica público. “Elas devem ser desconsideradas
o assessor técnico de pesquisas do CRP-PR, como dispositivos de RAPS, deixar de rece-
Altieres Edemar Frei (CRP-08/20211). A ber recursos públicos. Poderiam existir den-
reestruturação dos Núcleos de Apoio à tro de normas e fiscalização rigorosas, mas
Saúde da Família (NASF) por meio das equi- sem recebimento de recursos, especialmen-
pes e-Multi, com financiamento previsto e te do SUS.”
maior maleabilidade de composição das
equipes, também compõe a lista de vitórias Apesar deste cenário nacional um pouco
nas políticas de saúde. mais positivo, o conselheiro ressalta que o
Paraná está muito aquém no que diz respei-
O conselheiro do CRP-PR e professor da to às políticas, que são pouco nítidas e bas-
Universidade Estadual de Maringá, psicólo- tante defasadas. “É certo que as regionais
go Fábio José Orsini Lopes (CRP-08/09877), de saúde têm seus programas e suas ações,
destaca que vivemos, atualmente, o fim dos mas isso não está bem articulado em ter-
Saiba mais sobre o retrocessos, a retomada da lógica antima- mos de política estadual”, explica.
tema no texto "Al- nicomial no âmbito das políticas públicas e
gumas implicações
legislações. No entanto, há ainda entraves O pesquisador Altieres lembra ainda que
éticas do exercício
da Psicologia importantes a serem observados. “Não há as ações de Redução de Danos no âmbito
no contexto das das políticas de álcool e drogas ou mesmo
a retomada da RAPS, efetivamente, porque
(autointituladas)
comunidades tera- existem iniciativas pontuais que mantêm o ações que freiam o retrocesso dos CAPS
pêuticas" na Revista alerta, como os chamados CAPS híbridos ainda se mostram insuficientes, e sintetiza
Contato 145.
que, ainda que sejam um investimento em o momento atual: “Revogamos algumas
bit.ly/3PwfiN1 CAPS, vão contra as lógicas da ideia de rede portarias nefastas e, de certa forma, foi
substitutiva”, ele exemplifica. possível dar o ‘cavalo de pau’ que a Sônia
Barros comentou em uma de suas entre-
“Além disso, tem a questão das instituições vistas, que bom. Mas, do mesmo jeito que
não públicas, de longa permanência, como desligar o motor de um barco não significa
as autointituladas comunidades terapêu- que ele parará de fluir para aquela direção,
ticas, termo do qual não gosto porque a não basta propor o cavalo de pau, é preci-
comunidade terapêutica é um dispositivo so remar e remar. E essas remadas têm sido
reformista lá da década de 60, interessante tímidas por parte do Governo Federal.”

Para ler e saber mais:

CRP-PR apoia moção que pede inclusão de usuárias(os/es)


da RAPS na 5º Conferência de Saúde Mental do Paraná
bit.ly/3P5St1e

'Vamos investir em uma política que não isole o paciente',


diz chefe do inédito Departamento de Saúde Mental
do governo (Entrevista O Globo, 20/03/2023)
bit.ly/3PgDGRu

26 | CONTATO 149
AVALIAÇÃO DE RISCOS PSICOSSOCIAIS
RELACIONADOS AO TRABALHO
Por psic. Milena Luiza Poletto (CRP-08/13828), com
colaboração da Comissão de Orientação e Fiscalização

A
bit.ly/44Q3SZ3
saúde das pessoas trabalhadoras é Podemos citar como marco legal sig-
um campo de atuação da Psicologia nificativo a Portaria nº 3.214, de 08 de
que, assim como demais áreas, está junho 1978, que aprova as normas regu-
em permanente desenvolvimento, acompa- lamentadoras do Capítulo V, Título II,
nhando as mudanças do mundo do traba- da Consolidação das Leis do Trabalho
lho e seus impactos psicológicos e sociais. (CLT), relativas à Segurança e Medicina do
Trabalho. Inicialmente foram sancionadas
A relação saúde-trabalho começou a ser oito Normas Regulamentadoras (NRs), as
observada, com especial ênfase, a partir quais foram paulatinamente adequadas,
da revolução industrial e consolidação do bem como novas foram emitidas a partir de
modo de produção capitalista, que susci- necessidades singulares.

ORIENTAÇÃO E FISCALIZAÇÃO
tou mudanças expressivas na relação das
pessoas com o trabalho. Nesse processo, As NRs são disposições legais e comple-
que acentua a exploração da força de tra- mentares ao capítulo V da CLT que definem
balho e precariza as condições laborais, há procedimentos, obrigações, direitos e deve-
o aumento dos riscos ocupacionais para o res a serem cumpridos por pessoas empre-
corpo trabalhador. Dentre os riscos ineren- gadas e trabalhadoras, a fim de ampliar a
tes à atividade que podem causar danos à proteção da saúde e segurança de profis-
saúde estão os psicossociais, relacionados sionais no contexto do trabalho. Cada NR
à organização, gestão e condições de tra- possui parâmetros específicos de regula-
balho, além das relações socioprofissionais. mentação e exigências, visando a assegu-
rar a prevenção de acidentes e doenças
A relação saúde-trabalho necessita supe- provocadas ou agravadas pelo trabalho,
rar o debate individualizante, por ter reper- além da segurança e saúde do corpo funcio-
cussões sociais que extrapolam a díade da nal em serviços laborais e segmentos eco-
pessoa que emprega e a que é empregada, nômicos específicos.
atingindo, por exemplo, a saúde pública,
e consequentemente demandando discus- Dentre as exigências de algumas NRs cons-
sões sobre direitos trabalhistas, benefícios ta a obrigatoriedade da avaliação de risco
sociais e políticas públicas que requerem psicossocial, considerando que determina-
normatizações específicas. dos ambientes, tais como aqueles envol-

CONTATO 149 | 27
vendo altura ou confinamento, deixam ao trabalho com objetivos distintos do que
as pessoas mais expostas a riscos ineren- preveem as NRs.
tes ao trabalho, requisitando condições
psicológicas e de saúde específicas para o Um exemplo são as avaliações que visam ao
seu desenvolvimento. desenvolvimento de políticas específicas no
âmbito da saúde e segurança do trabalho.
Apesar da participação de profissionais Essas avaliações de riscos psicossociais não
da Psicologia nas equipes multiprofissio- foram abrangidas na resolução supracita-
Para ler e nais que atuam com saúde laboral e que da, de modo que foi necessária uma revi-
saber mais: realizam avaliação de riscos psicossociais são que culminou na regulamentação da
relacionados ao trabalho, a primeira regu- Resolução CFP nº 14/2023, que regulamen-
Confira nos links lamentação do Sistema Conselhos sobre ta o exercício profissional da psicóloga e do
abaixo as resoluções esta matéria ocorreu recentemente, com a psicólogo na realização de avaliação de ris-
citadas neste artigo: publicação da Resolução CFP nº 02/2022, cos psicossociais relacionados ao trabalho,
Resolução CFP nº 2/2022 que regulamenta normas e procedimentos no âmbito das Normas Regulamentadoras
bit.ly/44uSIIU para a avaliação psicossocial no contexto do Ministério do Trabalho e Previdência,
da saúde e segurança do trabalhador, em dos demais marcos legais de órgãos gover-
atendimento às normas regulamentado- namentais e de projetos e ações no âmbito
ras emitidas pela Secretaria de Trabalho do de saúde e segurança, nos diferentes con-
Ministério da Economia ou órgão correlato. textos de trabalho.

A norma se ateve à regulamentação do tra- A atual resolução amplia a interpretação da


Resolução CFP nº 14/2023 balho da categoria na realização da avalia- avaliação de riscos psicossociais, superando
bit.ly/44ALvHj ção de risco psicossocial, em atendimento o debate individualizante supracitado, uma
às normas regulamentadoras. Embora a vez que contempla tanto a avaliação de ris-
resolução abrangesse a indicação de aspec- cos psicossociais relacionados ao trabalho
tos a serem investigados, a observação de em atendimento às NRs quanto a avalia-
fatores específicos que poderiam eventual- ção de riscos psicossociais relacionados ao
mente influenciar a avaliação e as orienta- trabalho realizada em quaisquer contextos
ções quanto à utilização de instrumentos de trabalho.
psicológicos validados, bem como a emis-
Resolução CFP nº 06/2019
bit.ly/3sz2tZb são de documento pertinente, limitava-se Por fim, é importante ressaltar que profis-
às avaliações de riscos psicossociais de cará- sionais devem analisar a demanda da ava-
ter compulsório, ou seja, que atendem à lição de riscos psicossociais, considerando
obrigatoriedade prevista nas NRs. seu objetivo, uma vez que a intervenção
pode mudar significativamente a depen-
Embora a Resolução CFP nº 02/2022 der do objetivo da realização da avaliação
seja um marco importante, devido ao de riscos psicossociais. Da mesma forma
fato de ser a primeira norma a versar é necessário observar que a emissão de
exclusivamente sobre essa matéria, foi documento psicológico deve ocorrer con-
interpretada pela categoria profissional, forme prevê a Resolução CFP nº 06/2019,
especialmente representada por entidades e que o documento emitido deve ser com-
nacionais da Psicologia, como insuficiente, patível com a finalidade da avaliação de
atentando para o fato de que existem ava- riscos psicossociais.
liações de riscos psicossociais relacionados

28 | CONTATO 149
Inteligência artificial e ética:
quais os impactos para a Psicologia?

Por psic. Marina Zuan Benedetti Chenso (CRP-08/37777), colaboradora da Comissão de Ética

A inteligência artificial (IA) e suas


implicações éticas são preocupa-
ções que o mundo experimenta
atualmente. Aparentemente, não há como
desvencilhar a relação simbiótica que a
exemplo, convém entender que ela já faz
parte do nosso dia, direta ou indiretamente.

Em uma pesquisa sobre softwares para


a Psicologia, publicada pelo pesquisa-
humanidade tem com a “máquina”. Mas, dor Oliver Zancul Prado (2005) na revista
antes de pensar nos robôs super sofistica- Boletim de Psicologia, a pergunta central
dos, se vão ou não dominar a humanidade aborda a possibilidade de a Psicologia assi-
ou se possuem conteúdo moral suficiente- milar o processamento de dados, embrião
mente bom para atuar com autonomia nas do que hoje é chamado de inteligência arti-
demandas humanas, é preciso voltar um ficial. Isso inclui plataformas de registros
pouco e discutir alguns elementos éticos em nuvens capazes de produzir dados espe-
que a IA pode violar. cíficos, como aplicativos de organização de
ÉTICA

agenda, de gestão da clínica e de registro de


É o caso, por exemplo, do funcionamento prontuário, por exemplo, os quais realizam
do algoritmo nas propagandas e divulgação a coleta, levantamento e seleção de dados
de conteúdo de profissionais da Psicologia monitorados e ativados pelo ser humano.
na internet. Então, reformulando a pergun-
ta, qual o limite ético para que essa catego- Desde 1998, existem testes psicológi-
ria possa utilizar a IA? Pressupondo que a cos informatizados e softwares de corre-
IA como tecnologia pode ser utilizada para ção. Os questionamentos sobre “envio de
substituir a inteligência humana em ações e-mails”, por exemplo, atualmente nem
de reconhecimento de padrão, tomada de passam por qualquer discussão, mas já foi
decisão e na resolução de problemas, por ponto central de grandes rodas de conver-

CONTATO 149 | 29
sa e publicações científicas. Nesse contexto, tos da prática profissional, assim como
o Conselho Federal de Psicologia (CFP) regu- Moro e Lachal (2008) debatiam sobre o
Para ler e lamentou, por meio da Resolução nº 12/2005 que eles chamaram de “neo-humanismo”,
saber mais: (atualmente revogada pela Resolução nº atuações que se distanciavam deliberada-
11/2018), o “atendimento psicológico media- mente do aporte científico e da noção de
Confira abaixo as do pelo computador”. cuidado. Joaquim (2021), no mesmo sen-
referências citadas tido, levantou a discussão do quanto essa
neste artigo: Quais são as preocupações atuais, na relação confusão entre privado, social, real, vir-
PRADO, Oliver Zancul. Softwares entre ética, Psicologia e inteligência artifi- tual, profissional e pessoal pode ser pre-
para psicologia: regulamentação,
cial? Da mesma forma, a que devemos prestar judicial para a ciência psicológica, evo-
produção nacional e pesquisas
em Psicologia Clínica atenção no que concerne às mídias sociais, cando um princípio da criminalística que
Boletim de Psicologia, 2005, algoritmos utilizados para a captação de pes- afirma: “todo contato deixa uma marca”
Vol. LV, nº 123: 189-204.
soas seguidoras, confecção de laudos, emis- (Princípio de Locard).
bit.ly/44H2gR0
são de diagnósticos e desenvolvimento de
“terapias personalizadas”? De forma geral, todas essas inquietações
giram em torno dos instrumentos utiliza-
O Conselho Regional de Psicologia do Paraná dos pela Psicologia para exercer seu ofício.
(CRP-PR) possui um guia de orientação para A ética construída pelos valores e obriga-
GOUD, Stephen Jay. A Falsa a divulgação profissional, disponível em seu ções que regularam a atuação do indiví-
Medida do Homem. São Paulo: sítio eletrônico, no qual apresenta algumas duo em sociedade, modulando os aspec-
Martins Fontes (2014), 3ª edição.
sugestões e obrigações para profissionais, tos da moralidade, é o que preenche essa
MORO, Marie Rose e de modo a auxiliar a divulgação de seus tra- relação entre pessoas, atualmente filtra-
LACHAL, Christian. As
Psicoterapias: Modelos, balhos nas mídias digitais, correlacionando da e intermediada pela hiper-realidade.
Métodos e Indicações. todas as resoluções e notas técnicas referen-
Petrópolis: Vozes (2008).
tes ao tema, como a Nota Técnica nº 01/2022 Ao colocar em foco a consequência e o
Joaquim, R. M. (2021). do CFP. instrumento, afasta-se da estrutura dois
Neuropsicologia das
emoções: caracterização, aportes fundamentais do nascimento da
expressão facial e Entretanto, apesar das regulações, com Psicologia: o processo dialógico e o vín-
aspectos psicopatológicos.
Belo Horizonte: Editora quantas atrocidades não nos deparamos culo terapêutico, permeados pela subje-
Ampla (2021). quando começamos a navegar na rede? Essa tividade e pela relação pessoal. Antes de
Resolução CFP nº 11/2018: modulação de conteúdo seria mecanicamen- questionar a ética na utilização da inte-
bit.ly/3ZpVvlE tepossível? É flagrante que não. As redes ligência artificial, interessante pensar o
sociais possuem enormes equipes modulado- quanto esta última afasta a Psicologia da
ras de conteúdo, com protocolos específicos,- própria Psicologia.
que trabalham 24 horas e estão espalhadas-
pelo mundo. Termino com uma máxima popular, como
uma forma de instigação: “Ao perder-se
Nota Técnica nº 001/2022: Fica evidente a diferença de perspectivas na de si, interessante refazer o caminho, no
bit.ly/3PuoUXc rede, refletindo ideologias pessoais frente aos intuito de encontrar-se”. Talvez seja essa
constructos teóricos de uma ciência de forma a solução. Sair do caos e, consequente,
a promover a Psicologia como aquilo que lhes recuperar a coesão e fidelidade aos princí-
convém. Gould (2014), em “A Falsa Medida do pios fundantes da escola psicológica.
Homem”, já alertava para os desvirtuamen-

30 | CONTATO 149
EDITAL DE CENSURA PÚBLICA
COE 005/2023
O Conselho Regional de Psicologia - 8a Região, em obediência ao disposto na Lei b) Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais
no 5.766/71, Decreto no 79.822/77 e Código de Processamento Disciplinar, pelo esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente;
presente Edital, torna pública a decisão do Conselho Regional de Psicologia,
h) Orientar a quem de direito sobre os encaminhamentos apropriados, a par-
no Processo Ético Disciplinar no 002/2017, em aplicar a pena de CENSURA
tir da prestação de serviços psicológicos, e fornecer, sempre que solicitado, os
PÚBLICA, para a Psicóloga Giselly Bordin Moura, CRP-08/14557, por infração
documentos pertinentes ao bom termo do trabalho
aos Princípios Fundamentais IV, V e VII; Art.1º, alíneas “a” “b” e “h do Código de
Ética Profissional do Psicólogo e Artigo 1° e Artigo 2°, caput e parágrafo único, da Resolução CFP n° 015/96,
Resolução CFP Nº 015/1996. Art. 1°- É atribuição do PSICÓLOGO a emissão de atestado psicológico circuns-
crito às suas atribuições profissionais e com fundamento no diagnóstico psico-
Princípio Fundamental:
lógico produzido.
IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimora-
Art. 2°- Quando emitir atestado com a finalidade de afastamento para trata-
mento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como
mento de saúde, fica o PSICÓLOGO obrigado a manter em seus arquivos a docu-
campo científico de conhecimento e de prática.
mentação técnica que fundamente o atestado por ele concedido e a registrar
V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da popu- as situações decorrentes da emissão do mesmo (grifo da COE). Parágrafo único
lação às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e - Os Conselhos Regionais poderão, a qualquer tempo, suscitar o PSICÓLOGO a
aos padrões éticos da profissão apresentar a documentação que se refere o "caput" para comprovação da fun-
damentação científica do atestado.
VII. O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua
e os impactos dessas relações sobre as suas atividades profissionais, posicio- Curitiba, 05 de junho de 2023.
nando-se de forma crítica e em consonância com os demais princípios deste
Psic. Griziele Martins Feitosa (CRP-08/09153)
Código.
Conselheira Presidenta
Art. 1º - São deveres fundamentais dos Psicólogos: Conselho Regional de Psicologia do Paraná

a) Conhecer, divulgar, cumprir e fazer cumprir este Código;

EDITAL DE CASSAÇÃO DO REGISTRO PROFISSIONAL


COE 007/2023
O Conselho Regional de Psicologia - 8a Região, em obediência ao disposto na Lei no 5.766/71, Decreto no 79.822/77
e Código de Processamento Disciplinar, pelo presente Edital torna pública a decisão do Conselho Federal de
Psicologia no Processo Ético Disciplinar no 021/2017 (SEI nº 570800236.000022/2022-77) em aplicar a pena de
CASSAÇÃO DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL do Psicólogo Luiz Henrique Polentini, CRP-08/14149, “por unanimi-
dade, acompanhar o voto da senhora Conselheira Relatora Carla Isadora Barbosa Canto, com fundamento em suas
razões de decidir. A senhora Conselheira Relatora em seu voto manifestou-se por, em reexame necessário, referen-
dar a decisão recorrida que aplicou a penalidade de Cassação do Registro Profissional (art. 139, alínea “e”, do CPD),
do Psicólogo Luiz Henrique Polentini, CRP-08/14149, por infração aos Princípios Fundamentais I, II, III, V, VI, VII; Art.
1°, alíneas "a", "b", "c" e "e"; Art. 2°, alíneas "a", "c", "f" e "j"; Art. 8°, § 2º”.

Curitiba, 13 de julho de 2023.

Psic. Griziele Martins Feitosa (CRP-08/09153)


Conselheira Presidenta
Conselho Regional de Psicologia do Paraná
Assembleia Geral Orçamentária define
anuidades e taxas para 2024

N o dia 16 de setembro, o Conselho


Regional de Psicologia do Paraná
(CRP-PR) realizou a Assembleia
Geral Orçamentária para a definição dos
valores de anuidade que serão praticados
Ao todo, tivemos a inscrição de 146 pro-
fissionais de Psicologia. Na data e horário
estabelecidos para o início da assembleia,
entraram para participar da discussão 51
pessoas habilitadas ao voto. Por maioria,
em 2024. Após as experiências bem-suce- foi aprovada a proposta do XV Plenário, que
didas dos últimos anos, o CRP-PR manteve indicou o reajuste dos valores para o exercí-
a modalidade online como forma de par- cio orçamentário de 2024.
ticipação da categoria, além do formato
ADMINISTRATIVO-FINANCEIRO

presencial, a fim de facilitar o acesso de Confira a seguir os valores definidos para o


profissionais sem disponibilidade de deslo- próximo ano.
camento até a sede de Curitiba.
PESSOA FÍSICA
Para possibilitar o diálogo, a autarquia uti-
lizou uma plataforma especializada, por Anuidade de R$ 626,25 (seiscentos e vinte
meio da qual profissionais com inscrição e seis reais e vinte e cinco centavos);
ativa no Paraná se inscreveram para parti-
cipar do evento, tecer comentários e sanar Desconto de 15% (quinze porcento) para
dúvidas em relação ao conteúdo discutido. pagamento à vista até 31 de janeiro de
Em atendimento ao princípio da transpa- 2024;
rência dos atos da administração pública, e
no intuito de garantir a lisura dos seus pro- Desconto de 20% (vinte porcento) para
cessos decisórios, a plataforma contabili- pessoas que se formaram há até 24 meses
zou o voto das pessoas participantes. Outra (para a primeira anuidade do registro).
forma de ampliar a participação e acessibi-
lidade foi a oferta da interpretação das dis- PESSOA JURÍDICA
cussões, em tempo real, na Língua Brasileira
de Sinais (Libras). Além disso, a apresenta- Anuidade de R$ 313,13 (trezentos e treze
ção foi transmitida pelo YouTube e está dis- reais e treze centavos) para capital social de
ponível no canal do CRP-PR. até R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais);

32 | CONTATO 149
Anuidade de R$ 626,25 (seiscentos e vinte e do exercício. O documento já está dispo-
seis reais e vinte e cinco centavos) para capi- nível para acesso de toda a sociedade no
tal social a partir de R$ 50.000,01 (cinquen- Portal da Transparência, cumprindo os
ta mil reais e um centavo). requisitos legais previstos pelo Tribunal
de Contas da União (TCU), e apresentan-
TAXAS do os dados em linguagem mais acessível
às pessoas interessadas em acompanhar os
Registro de Pessoa Física: R$ 190,00 (cento processos do Conselho.
e noventa reais);
SERVIÇO DIGITAL
Segunda via de Carteira de Identidade
Profissional (CIP): R$ 120,00 (cento e vinte Primando pela redução de custos com a
reais); postagem de documentos, minimização
de impactos ambientais com o uso desne-
Reativação de inscrição ou renovação: cessário de papel e ampliação da praticida-
R$ 55,00 (cinquenta e cinco reais); de para a categoria, a emissão dos boletos
para 2024 será inteiramente digital. Dessa
Inscrição secundária: R$ 313,13 (trezentos forma, profissionais receberão os boletos
e treze reais e treze centavos); no e-mail cadastrado na autarquia, e tam-
bém poderão realizar a emissão de segunda
Taxa de emissão de Certificado Digital: R$ via das guias no site do CRP-PR.
40,00 (quarenta reais);
Profissionais de Psicologia com inscrição
Multa eleitoral: R$ 3,51 (três reais e cin- no Paraná podem realizar a atualização do bit.ly/3rqhah5
quenta e um centavos); e-mail utilizando os serviços online que o
Conselho oferece. Para conferência, manu-
Registro de Pessoa Jurídica: R$ 190,00 tenção ou atualização cadastral, basta
(cento e noventa reais); acessar os Serviços Pessoa Física no site.

Certificado de Pessoa Jurídica: R$ 70,00 PARTICIPAÇÃO E DIVULGAÇÃO


(setenta reais).
O empenho do CRP-PR começou com a
Observações: divulgação antecipada da assembleia orça-
mentária, cujo anúncio de realização se deu
Multas por infração disciplinar a serem em jornais de grande circulação, no site e
praticadas pelo CRP-PR poderão ser de 01 nas redes sociais do Conselho. A convoca-
(uma) a 05 (cinco) anuidades em vigor à ção para a assembleia também foi publica-
época da cobrança. da no Diário Oficial da União nº 147 – Seção
3, do dia 03 de agosto de 2023.
O superávit do exercício anterior poderá
ser usado para realizar reformas, amplia- A preparação para o evento passou pela
ções ou aquisição que venham a ser neces- contratação de plataforma para a ativida-
sárias nas sedes do CRP-PR. de – a Ten Meetings – a fim de possibili-
tar a realização da assembleia. A platafor-
RELATÓRIO INTEGRADO
ma passou por inúmeros testes por parte
de integrantes do plenário e do corpo
Durante a assembleia, foi apresentado o
Relatório Integrado de Gestão 2022, rela- funcional do CRP-PR, visando a ofertar a
tando as ações e resultados da autar- melhor experiência possível à categoria
quia, além de todos os dados financeiros durante o evento.

CONTATO 149 | 33
Você conhece a expressão
“morte ao lacanês”?
Por psic. Ana Carolina Lino Liberato (CRP-08/25927),
psicanalista, autora da camiseta “morte ao lacanês” e
“eu falei de você pra minha analista”. Instagram: @psi.anacll

A psicanálise é uma práxis que começou com Sigmund Freud. Com base no que ele
postulou sobre o inconsciente, muitas outras pessoas se debruçaram a pensar e reela-
borar a teoria e a prática clínica, criando novas vertentes dentro da própria psicanálise.
Jacques Lacan foi uma delas. Francês formado em medicina, ele pensou a psicanálise
a partir da linguística.
Pessoas que são de fora pensam que morte ao lacanês é a vontade de que Lacan morra
(mesmo que isso já tenha acontecido), como se a teoria dele deixasse de existir, e de
certa forma é um pouco isso. Lacanês vem do nome deste autor original e controver-
ESPAÇO PSI Ψ

so, conhecido por um estilo próprio de transmissão oral e escrita de seu conhecimento
bastante fora do usual. O termo diz respeito a uma forma de entender a teoria, trans-
mitir e se posicionar enquanto analista, apenas repetindo ou replicando termos da teo-
ria lacaniana de uma forma que não se articula com as demandas atuais.
É muito comum que o meio psicanalítico seja composto por um grupo muito especí-
fico de pessoas e não é por acaso. Morte ao lacanês é uma aposta de que a teoria e
a prática lacanianas sejam acessíveis para quem as deseje, e não somente para quem
possa custeá-las no sentido estrutural de poder social. E, para isso, é preciso repensar
as formas com que isso está sendo exercido. Por que é difícil encontrar pessoas analis-
tas indígenas? Gordas? Trans? Com deficiência? Negras? São perguntas que precisam
ser sustentadas, entendidas e tensionadas, já que são elas que mantêm esta estrutura
funcionando desta forma.
É possível dizer que Morte ao Lacanês é uma iniciativa, um manifesto, uma prática que
objetiva manter a psicanálise viva para várias pessoas e não somente para um grupo
branco, cis, hétero e abastado, que é como ela é mais facilmente acessada. Morte a isso
que não está mais à altura da subjetividade da época, para que se mantenha vivo o que
tem compromisso com o coletivo, com ética e rigor.

34 | CONTATO 149
O Sindicato dos Psicólogos do Paraná (Sindypsi) parabeniza toda a categoria pelo dia
27 de agosto. Produzimos saberes que são relevantes para a comunidade envolvendo
a promoção da dignidade humana, combate aos preconceitos e violências, na busca
por uma sociedade igualitária e justa, promovendo assim a luta contra a opressão e
formas de exploração. Lutamos também pela igualdade de direitos e oportunidades.
Dia 27 de agosto é um marco histórico para a Psicologia pelo reconhecimento da
nossa profissão e hoje percebemos avanços, mas também momentos de luta pelas
pautas como as 30 horas e o piso salarial. Convidamos vocês a se envolverem nesta
luta de classe e a refletir o quanto poderão contribuir nesta batalha.
Também temos que combater práticas que afetam a categoria, como o assédio moral,
violências, condições inadequadas no ambiente de trabalho, entre outros. Somos pro-
fissionais que se comprometem com os valores humanos em uma a prática ética, com
respeito, e com a atuação responsável.
Venha com a gente fazer a Psicologia crescer e defender nossos direitos.
Acesse a referência técnica do
CREPOP sobre a atuação de
profissionais de Psicologia com
os povos indígenas

© CRP-PR 2023

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