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Resumo: O presente artigo faz um apanhado histórico das mudanças nas formas de produzir e veicular
informação jornalística. Provocada pela emergência das inovações tecnológicas iniciadas no século XVII
até a chegada da informatização nas redações o jornalismo sempre sofreu alterações de ordem prática e
institucional, a busca incessante pela rapidez na divulgação dos fatos e pelo furo jornalístico são
condicionados em grande parte pelas mudanças de ordem tecnológica decorrente na sociedade. Por meio
do levantamento é possível visualizar que a ação jornalística sempre esteve atrelada à emergência de
novas tecnologias que modificaram e a cada dia mais altera as formas de produção e veiculação da
notícia. Sendo, portanto, imprescindível aos profissionais da mídia, principalmente alunos de jornalismo e
profissionais da área, conhecerem essa trajetória do campo, principalmente por nos depararmos hoje com
um ambiente cada vez mais tecnológico e imediatista.
Introdução
Para Martins e Luca (2008) o amplo rol de transformações, aliado aos artefatos
modernos e aos novos meios de comunicação que invadiram o cotidiano urbano -
carros, bondes elétricos, cinema, máquinas fotográficas portáteis e, nos anos 1920, o
rádio, - delinearam tanto uma paisagem marcada pela presença de objetos técnicos
como configuraram outras sensibilidades, subjetividades e formas de convívio social.
Com isso a eficiência, a pressa, a velocidade e a mobilidade transformaram-se em
marcas distintivas dessa nova sociedade e também do jornalismo, que desde seu
nascimento está relacionado às tecnologias da comunicação.
A consolidação do jornal como fenômeno de massa, a partir das grandes
concentrações urbanas no século XIX e da Revolução Industrial, são indícios da
afinidade entre o jornalismo e a evolução técnica dos meios. Segundo Michel Stephens,
citado por Queiroga (2003), “um conhecimento histórico do jornalismo ensina que, do
tambor, aos satélites, a atividade foi profundamente transformada pelas inovações
tecnológicas”. Nilson Lage (2000) coloca que:
Alguém que estude bem o assunto, no entanto, concluíra que essa
modificação é mais profunda do que parece à primeira vista e que o processo
de mudanças está longe de terminar: na verdade, promete tornar-se
permanente (LAGE, 2000, p. 213 apud QUEIROGA, 2003, p. 225).
E, as transformações não param por aí, principalmente pela aceleração com que
as novas técnicas se multiplicam e se renovam. Com a utilização dos computadores em
rede, por exemplo, passou a ser possível realizar entrevistas através de e-mails, fazer
pesquisas em sites oficiais, estar em contato direto com fontes por meio de rede sociais
e uma gama quase inesgotável de material para pesquisa sobre os mais diversos
assuntos. Essa rápida evolução da tecnologia implicou em mudanças na formação dos
profissionais de jornalismo, pois as novas técnicas têm ensejado uma constante
adaptação dos jornalistas que estão na ativa e dos jovens que entram no mercado de
trabalho. A adaptação tornou-se a palavra chave e a regra obrigatória nas redações. É
necessário um constante aprendizado, em virtude da obsolescência cada vez mais
frequente de algumas técnicas que são superadas por outras, mais modernas e mais
atuais.
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O Taylorismo foi um modo de produção idealizado pelo engenheiro norte-americano Frederick W. Taylor, em 1911.
Taylor propunha uma intensificação da divisão do trabalho, ou seja, o fracionamento das etapas do processo
produtivo de modo que o trabalhador desenvolvesse tarefas ultraespecializadas e repetitivas, diferenciando o trabalho
intelectual do trabalho manual e exercendo um controle sobre o tempo gasto em cada tarefa para que, num esforço de
racionalização, a tarefa fosse executada num prazo mínimo. Portanto, o trabalhador que produzisse mais em menos
tempo receberia prêmios como incentivos. Fonte Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Taylorismo.
função era bem definida. O repórter era repórter, o editor era editor, o fotógrafo era
fotógrafo, funções claras, definidas e delimitadas por tarefas, que se juntavam nas
páginas dos jornais diários. Para Maria José Baldessar, essa nova realidade transforma o
jornalista em um trabalhador diferente. “Esse jornalista é polivalente, capaz de apurar,
redigir, revisar e diagramar [...].” (BALDESSAR, 2008, p. 6). Já Marcondes Filho
(2002) argumenta que a adoção de computadores, a utilização de sistemas em rede, o
acesso on-line à internet, a fusão e mixagem de produtos na tela conduziram as
empresas jornalísticas a uma reformulação completa de seu sistema de trabalho,
adaptando em seu interior a alta velocidade de circulação de informações, exigindo que
o homem passasse a trabalhar na velocidade do sistema causando uma precarização da
profissão.
Jornalismo tornou-se um disciplinamento técnico, antes que uma habilidade
investigativa ou lingüística. Bom jornalista passou a ser mais aquele que
consegue, em tempo hábil, dar conta das exigências de produção de notícias
do que aquele que mais sabe ou que melhor escreve. Ele deve ser uma peça
que funciona bem, “universal”, seja, acoplável a qualquer altura do sistema
de produção de informações (MARCONDES FILHO, 2002, p. 36).
Considerações finais
As novas formas de produção jornalística provenientes das estruturas
tecnológicas constituem-se como parte do contexto social e cultural de cada época e
contribuem para a manutenção do jornalismo como instituição social secular. Diante de
tal cenário evolutivo de transformações e da emergência de novos hábitos e padrões de
produção no jornalismo se faz necessário compreender que a instituição jornalística está
intimamente ligada ao ambiente histórico e social a que pertence e às suas invenções
técnicas. Os modelos explicativos para a formação do jornalista, enquanto profissional,
devem, portanto, compreender tantos os conflitos e a dinamicidade próprios destes
processos externos a profissão, quanto os movimentos internos que ocorrem dentro da
instituição jornalística tais como: princípios organizativos, regras, metas, conflitos,
pressões, imposições e disputas.
A nova gama de ferramentas proporcionou ao profissional de jornalismo acesso
a um grande volume de informações sem que, muitas vezes, fosse necessário qualquer
deslocamento físico. Fator este que contribuiu para que a informação jornalística, bem
apurada, passasse a circular com mais rapidamente e qualidade. Por outro lado, é
possível verificar que, neste contexto, a busca exagerada pela rapidez de publicação e a
comodidade proporcionada pelas novas tecnologias, podem levar os jornalistas ao erro e
má apuração, fazendo-se imprescindível que mesmo com as mudanças ocorridas ao
longo dos séculos na prática jornalística, os conceitos e critérios fundamentais para a
construção do discurso jornalístico não mudassem. Ainda é sempre será preciso checar
as informações obtidas, sejam elas de qualquer meio; ouvir os dois lados da questão e
tentar sempre ser imparcial, e fiel aos conceitos éticos e deotológicos da profissão. A
necessidade de se divulgar conteúdos com rapidez não podem servir para justificar a
falta de qualidade na apuração das informações veiculadas. As técnicas mudam, mas os
procedimentos para a realização de um bom jornalismo devem permanecer sempre.
Bibliografia
SILVA, Carlos Eduardo Lins. Mil Dias: seis mil dias depois. 2º Ed. São Paulo:
Publifolha, 2005.