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Resumo
As transformações desencadeadas no jornalismo em consonância com os avanços tecnológicos vêm
suscitando reflexões sobre um novo fazer jornalístico, formas narrativas e sua relação com o público.
O presente artigo traz a discussão sobre a constituição de um novo paradigma jornalístico no século
XXI, o jornalismo móvel, em especial suas especificidades, processo de produção e a atuação dos
profissionais envolvidos. A metodologia adotada fundamenta-se em pesquisa bibliográfica e
documental sobre os conceitos convergência do jornalismo, jornalismo móvel, narrativa multimídia e
produção jornalística. A análise compreende ainda exemplos de reportagem utilizando celular,
aplicativos e videojornalismo. A discussão aponta para uma nova atuação do profissional em
conformidade com outros atores sociais.
Palavras-chave
Jornalismo Móvel; Narrativas; produção jornalística.
Abstract
The changes triggered in journalism in line with technological advances come provoking reflections
on a new make journalistic narrative forms and their relationship with the public. This paper presents
a discussion on the establishment of a new journalistic paradigm in the twenty-first century, the mobile
journalism, particularly its specific features, the production process and the performance of the
professionals involved. The methodology is based on bibliographical and documentary research on the
concepts of convergence journalism, mobile journalism, multimedia narrative and journalistic
production. The analysis also includes examples of reporting using mobile, applications and
Videojournalism. The discussion points to a new role of the professional in line with other social
actors.
Keywords
Mobile Journalism; narratives; journalistic production.
1
Disponível em //exame.abril.com.br/negocios/noticias/receita-do-new-york-times-cai-com-vendas-menores-de-
anuncios, acessado em 06 de abril de 2016.
2
Dados da reportagem “A revolta dos passaralhos” consideram apenas jornalistas registrados.
http://www.apublica.org/2013/06/revoada-dos-passaralhos/
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Segundo o site Comunique-se3, somente em 2015, foram demitidos 1400 jornalistas no
país. As demissões envolveram diferentes plataformas, impressos (jornais e revistas),
emissoras de televisão, assessoria de imprensa e Internet. O site A Conta dos Passaralhos4
computou 1.433demissões em 57 veículos de 2012 até 2015, entretanto, na conta não estão
incluídas as assessorias de imprensa, apenas emissoras de rádio e televisão, impressos e
Internet5. Se por um lado as redações dos jornais "tradicionais" também ficaram mais enxutas,
por outro, o cenário da convergência do jornalismo alterou o processo de produção de
conteúdo, incorporando habilidades multimidiáticas. Empresas nacionais e internacionais
como Al Jazeera América, Wall Street Journal, Guardian, New York Times, Folha de
S.Paulo e Estado de São Paulo estão investindo em documentários e videojornalismo, pois
são as plataformas acessadas cada vez mais pelo público, as quais permitem navegar para
outros conteúdos e mídias gerados pelas empresas de comunicação. Os vídeos digitais são
consumidos em diferentes telas: desktop, mobile, tablet, combinados com smartTVs e
consoles. Pesquisa realizada pela ComScore6 com 8.376 pessoas entrevistadas por e-mail no
período de 2 a 10 de setembro de 2015 e divulgada em novembro do mesmo ano apontou a
preferência do público em acessar serviços de vídeo por streaming à TV aberta. No Brasil,
73% dos entrevistados informaram assistir tv aberta e 82% acessam serviços de vídeo on-
line sob demanda. Já na América Latina os índices são 70% TV e 81% vídeo. Assim, a
reflexão busca identificar o que está mudando no perfil dos profissionais produtores de
conteúdo, na construção da narrativa e formas testadas pelos veículos "tradicionais".
As mudanças no mercado de trabalho não são exclusivas ao mundo do jornalismo e
muito menos restritas ao Brasil, elas afetam os empregos, a organização das empresas e a
implantação de políticas de gestão. Hirata (2002, p.344) mostra que a crise financeira que
abalou diferentes países no final da segunda metade do século XX ocasionou uma "tipologia
complexa em fase de elaboração", a qual ela concebe como "transformação paradoxal do
trabalho" refletindo uma situação envolvendo poucas pessoas no trabalho e precarização de
muitos. O desenvolvimento dos mercados financeiros é sustentado pelo aumento da
precarização do emprego e do desemprego. Segundo a autora ocorreu a precarização dos laços
empregatícios com o aumento do desemprego de longa duração, flexibilizou-se o uso da mão
de obra e aumentou as formas instáveis de emprego. Como por exemplo, o trabalho em tempo
parcial nos países do Norte e o crescimento do trabalho informal nos países do Sul. Em 1998,
na França, "um em cada 11 assalariados tinha laços empregatícios precários; mais de 17% do
conjunto dos assalariados do setor privado tinham um emprego em tempo parcial (INSEE,
1998, p. 23 apud HIRATA, 2002, p.344) e em 2000, somente 57% dos empregos no país eram
estáveis.
3
Disponível em //portal.comunique-se.com.br/, acessado em 01 de abril de 2016.
4
Disponível em //passaralhos.voltdata.info/, acessado em 06 de abril de 2016
5
Disponível em //docs.google.com/spreadsheets/d/12TIuxaVN-
_nAE6ZrX2lveuIDdx9Xr4zKddV9KAJqAxY/edit#gid=1097261744, acessado em 01 de abril de 2016.
6
Site oficial da empresa //www.comscore.com/por/Produtos
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estimularam a preocupação com os modelos de gestão de empresas de comunicação em vigor
até então.
Bradshaw (2014, p.113) aponta que o modelo de consumo do “jornalismo tradicional”
passou a ser desafiado também, quando o twitter e o facebook adicionaram uma infraestrutura
de distribuição via livestreams, imagens, livros-áudio e textos a milhões de usuários. Com
isso, os usuários tiveram a oportunidade de estarem presentes em um “website em particular”,
distribuindo conteúdos informativos em diferentes formatos. E o consumidor passou a
consumir esses conteúdos em determinados momentos do dia, de acordo com sua rotina. O
autor apresenta uma pesquisa etnográfica realizada pela The Associated Press, em 2008, a
qual justamente identificou esse “novo ritmo de consumo de notícias”, e um dos exemplos da
amostragem é a corretora de seguros de Brighton identificada como Jill:
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jornalismo norte-americano. Essa revolução levou ao triunfo da “notícia”
sobre o editorial e dos “fatos” sobre a opinião, uma mudança moldada pela
expansão da democracia e do mercado, e que, com o tempo conduziria à
incômoda submissão do jornalista à objetividade (SCHUDSON, 2010, p.
25).
O novo modelo que se constitui no século XXI é consagrado pelo mundo digital e
conectado, com novas mídias, plataformas e a imersão da tecnologia em todas as etapas do
processo de produção jornalística. Ele vislumbra a convergência do jornalismo. Alterou-se o
mercado profissional, algumas funções desapareceram, outras foram incorporadas por
diferentes postos em uma redação, novas surgiram assim como novos atores sociais no
processo de produção de conteúdo, os impressos, por exemplo, criaram núcleos de produção
de vídeojornalismo e documentário e núcleo de produção de artes (infografia, newsgame,
interatividade). Semelhante ao gênero interpretativo, o novo paradigma surge em uma
sociedade complexa, globalizada e digital, marcada pela convergência de mídia e de notícias.
Para analistas de diferentes áreas como econômica, política e social, a sociedade está muito
mais complexa que outrora. De acordo com o professor José Esteves Rei, da Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal) entre as mudanças que contribuem para tal cenário
estão:
A abordagem sobre jornalismo móvel perpassa também pelo crescente uso do celular
com internet banda larga, aplicativos e dispositivos. As empresas de comunicação estão
remanejando o processo de produção de conteúdo e incorporando as potencialidades do
celular e seus aplicativos. No cenário brasileiro o uso de celulares aumenta a cada ano e o
Brasil juntamente com os mercados dos outros três países do BRIC (Rússia, China e Índia)
correspondem a quase um quarto das vendas globais em telefonia móvel. Pesquisa da GSMA
Intelligence7, em 2012, revelou que os países do BRIC geraram uma receita de mais de US $
250 bilhões com telefonia móvel. Valor mais alto que as vendas na América do Norte em
2011. Os dados apontam ainda um aumento médio de 13,9% ao ano no período de 2008 a
2012, o que representa 3,6 pontos percentuais mais rápido do que a média do mercado em
desenvolvimento. Ao vislumbrar os dados atuais principalmente dos países do BRIC, a
estimativa apresentada pela GSMA Intelligence é de que em 2017, os mercados em
desenvolvimento vão ultrapassar os mercados desenvolvidos em termos de receita.
Em consonância com o aumento do uso de celulares no Brasil está o crescimento do
uso de internet banda larga na telefonia móvel. Dados da Agência Nacional de
Telecomunicações (ANATEL), referente a junho de 2014, mostram que as linhas de celular
que dão acesso à internet banda larga chegaram a 46,6%. Já o relatório Nosso planeta mobile:
Brasil. Como entender o usuário de celular, divulgado em maio de 2012 pela Google,
mostrou que 14% da população brasileira tem smartphones e que cada vez mais esses
usuários dependem dos dispositivos. Nesse sentido, o relatório revelou que 73% dos usuários
acessam a internet por smartphone. As facilidades de navegação via banda larga estimularam
um novo perfil de consumidor aos usuários mediado pelos smartphones. Entende-se como
consumidor não apenas aquele que acessa produtos pelos sites via celular, mas também
conteúdo, como vídeos, música, sites, áudios, animação e também notícias, semelhante ao que
ocorreu nos EUA e países europeus. O celular permite processar tanto a comunicação quanto
a informação por meio de áudios, textos, vídeos gráficos e animação (Westlund, 2012). O
acesso de vídeo no celular já vem alterando o formato de captação de imagens. Se até dois
atrás era inconcebível usar a câmera de celular na vertical para captar imagens em uma
manifestação ou mesmo entrevista, hoje já é algo usual, pois a visualização no celular é na
vertical.
No Brasil, os aplicativos mais utilizados pelos usuários brasileiros são os de games
com 68% da fatia do mercado, seguidos pelas redes sociais com 67%, mapas, navegação e
buscas com 51%, vídeos e filmes com 49%, e em quinto estão as notícias com 45%, conforme
informações ministradas pelo curso de Jornalismo Móvel oferecido pelo Knight Center, no
segundo semestre de 2014. O desafio das empresas de jornalismo brasileiras é o de justamente
canalizar o crescente uso de celulares e fundamentalmente o consumo de conteúdo móvel por
esse novo perfil de usuário para a navegação em conteúdos informativos, ou seja, impulsionar
as buscas por notícias no celular e estimular a replicação de conteúdo jornalístico, e uma das
ferramentas é justamente o vídeo.
O celular pode-se caracterizar como um meio de convergência do jornalismo. Na
medida em que os aplicativos permitem aos usuários estarem em “website em particular”
(BRADSHAW, 2014), distribuindo conteúdos informativos em diferentes formatos. O celular
possibilita replicar conteúdos em diferentes formatos e instigar o usuário/receptor a buscar
mais informações sobre o assunto que lhe interessar, assim como replicar tais conteúdos para
outros usuários, com o facilitador de ser móvel e consequentemente acessado em qualquer
7
A GSMA Intelligence é uma fonte de dados de operadoras móveis mundiais que oferece periodicamente um
conjunto preciso de informações métricas sistematizadas da indústria móvel. Ela representa os interesses das
operadoras de telefonia móvel. Site oficial é: //gsmaintelligence.com/about/
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lugar e circunstância.
Nos EUA, em paralelo à rápida difusão de dispositivos móveis touch-screen, os
produtores de conteúdo de diferentes mídias têm também experimentado novos aplicativos
móveis e em alguns casos se associando aos lançamentos. A primeira geração de iPhones, por
exemplo, foi comercializada exibindo o logotipo do jornal New York Times. Outra garantia
para os fornecedores de notícias ocorreu quando o conteúdo de notícias passou a ser acessado
pelos navegadores móveis, como o navegador Safari para iPhones. O passo seguinte foi o
desenvolvimento dos chamados aplicativos nativos que fornecem notícias e/ou serviços
públicos (BRADSHAW, 2014). Outro aplicativo utilizado pelo New York Times em
videojornalismo é o 3608, tanto na captação das imagens quanto na visualização em celulares
e tablets. Em setembro de 2008, aconteceu o lançamento comercial do Android, pelo Google e
pela Open Handset Alliance, e abriu-se uma nova porta para os produtores de dispositivos
móveis além dos iPhones. Na esteira das inovações, os produtores de conteúdo, como editores
de notícias também investiram no desenvolvimento de aplicativos Android (BRADSHAW,
2014). No Brasil os smarth phones androids são o carro chefe no mercado de telefonia móvel,
eles representam 90% do mercado, segundo dados divulgados pela Microsoft em 2013.
Assim, a tendência que vem se configurando no mercado é de explorar as
potencialidades do celular tanto para a navegação em sites jornalísticos (texto, vídeo e áudio),
como para a propagação de conteúdos jornalísticos de diferentes formas narrativas entre os
usuários de telefonia móvel, impulsionando o videojornalismo.
8
http://www.nytimes.com/marketing/nytvr/index.html
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E foi a partir daí que Robert Drew e Leacock realizaram vários experimentos no
audiovisual até encontrar uma nova dimensão para a câmera, com uma participação efetiva
assumindo a posição de um personagem, assim eles criaram um novo processo de escritura
fílmica para o documentário com perfil autoral e não mais uma transposição e adaptação de
narrativas já consagradas em outras mídias. Nesse sentido, Robert Drew passou a incorporar
na linguagem fílmica as tendências do Novo Jornalismo, as quais se sobressaiam no cenário
americano da época. Isso significava utilizar estratégias narrativas que mostrassem os
conflitos e as microficções do cotidiano no audiovisual (COSTA, 2005).
Outro marco na televisão foi a introdução do sistema digital em substituição ao
analógico. Essa inovação também acarretou alterações no modo de produção das notícias,
repercutindo em mais agilidade no processo produtivo, maior qualidade de imagem e áudio e,
em contrapartida, redução de postos de trabalho nas redações.
Na mesma lógica da constatação de Robert Drew sobre transpor a narrativa do rádio
para a televisão, o conteúdo na convergência do jornalismo não corresponde apenas a navegar
por diferentes formatos de mídias distintas como texto do impresso, reportagem em
videoteipe ou radiojornalismo, mas também explorar as potencialidades da mídia móvel. Ao
considerar o viés dos produtores de conteúdo informativo, deve-se respeitar também as
peculiaridades da mídia móvel e suas restrições. Estudos realizados com editores de
conteúdos de jornais da Europa e América do Norte realizado em junho de 2012 pelo
Newsmedia Marketing Association International (INMA), sobre a utilização de estratégias
para a divulgação de conteúdo, apontou que não há um modelo sincronizado adotado por
todos eles, mas sim “semelhanças e diferenças quanto às percepções e ações” realizadas pelos
editores consultados (WESTLUND, 2012, p.13).
Jornais como Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e O Globo estão trabalhando
com equipes multidisciplinares nas plataformas digitais, produzindo texto, vídeo, infográfico
e ambientes de análise. O Globo, por exemplo, colocou o site como o centro do sistema de
informação, há seis anos a produção passou a congregar engenheiros e técnicos com a
redação. Montou-se também um núcleo de videojornalismo com cinegrafistas, repórteres,
editor de imagem e editor de texto. O Estado de São Paulo investiu no projeto Estadão Dados,
com profissionais de ciência da informática auxiliando na produção de bases de dados,
montou a Tv Estado para a produção de conteúdo em vídeo, a editoria Estadão Ao vivo, com
notícias atualizadas em diferentes períodos do dia, Infográficos com reportagem especiais em
formato de infografia, interagindo linhas de tempo, vídeos, animação e texto. Em 23 de abril
de 2012 a empresa lança o Estadão Noite, produzido pela redação integrada e não por uma
equipe em especial, a qual envolve jornalista e designer no processo de fechamento do
material. O jornal Folha de São Paulo, por sua vez, unificou a redação do impresso com a
redação do online. O repórter deixou de ser o "dono da informação", ele faz a apuração e
informa quão perecível ela é, mas cabe ao editor definir em qual plataforma ela irá ser
publicada e em qual tempo. Criou-se um centro produtor de notícias com fluxo contínuo de
produção e fechamento. A tecnologia da informação passou a ocupar espaço de editoria, com
um posto avançado para atender a redação. Surgiram novas funções como editor de
plataformas digitais, editor de redes sociais, editor ou coordenador multimídia e editor de
aplicativos (BARBOSA, 2013) e o jornalista passou a desempenhar multitarefas na cobertura
da pauta. Na empresa Folha de S.Paulo, por exemplo, o repórter precisa apresentar um projeto
de pauta no qual sugere a divisão de conteúdo por peças em audiovisual, áudio, imagem e
texto. Nesse sentido, participam novos atores do processo de produção de conteúdo, com
profissionais de informática,
Barbosa (2013), por sua vez, trabalha essa noção de continuum multimídia, definindo-
a como uma das características delineadoras de um novo estágio de evolução para o
jornalismo nas redes digitais: a quinta geração. Para chegar à proposição dessa quinta geração,
a autora toma como parâmetro a categoria da medialidade (GRUSIN, 2010) que integra na
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produção jornalística atual diversos formatos de conteúdos como apontou-se acima (textos,
fotos, áudios, vídeos, infográficos, slideshows, newsgames, linhas de tempo entre outros)
criados, editados e distribuídos pelas organizações jornalísticas para multiplataformas e todos
realizados por profissionais, empregando tecnologias digitais e em rede. Sobre as rotinas de
produção, Barbosa (2013) menciona o emprego de softwares, bases de dados, algoritmos,
linguagens de programação e de publicação, sistemas de gerenciamento de informações,
técnicas de visualização, metadados semânticos, podemos incluir aplicativos entre outros.
“Medialidade, assim, explica melhor esse panorama, quebrando a retórica do “novo” e
dissipando a equivocada ideia de concorrência entre meios que compõem um mesmo grupo
jornalístico multimídia” (BARBOSA, 2013, p. 34).
O Processo de produção do conteúdo jornalístico também usufrui de especificidades,
desde a seleção da pauta como sua construção. O jornal carioca Extra é um dos pioneiros no
Brasil na utilização do aplicativo WhatsApp tanto para receber conteúdo dos leitores como
para localizar fontes para as reportagens. A ideia da criação da rede via WhatsApp partiu do
editor Fábio Gusmão, em 2013, quando o jornalista Guilherme Amado realizava a produção
da série de reportagens “Os embaixadores do Narcosul”, publicada a partir de maio de 2014.
O repórter contou com a colaboração de jornalistas de diferentes países na investigação e
apuração de informações sobre o narcotráfico na América do Sul, numa extensão total de 16
mil quilômetros.
Em palestra ministrada no 9º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da
ABRAJI, realizado em julho de 2014 em São Paulo, Fábio Gusmão informou que o Extra
investiu em uma estação de escuta de WhatsApp conectada a um computador a qual é
controlada por uma pessoa da redação, além de colocarem dois televisores na redação para os
profissionais monitorarem o conteúdo de informações que chegam ao jornal pelo aplicativo.
Ainda em 2013, o jornal Extra inovou na utilização do aplicativo de mensagens para receber
informações das manifestações populares nas ruas de todo o país e trabalhar a cobertura
jornalística. Em, entrevista ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas9, publicada em
24 de junho de 2014, Fábio Gusmão diz que se inspirou na divulgação das manifestações na
Primavera Árabe e que o aplicativo aproximou mais o jornal do público. Segundo o editor, o
jornal possui 26 mil usuários cadastrados, um registro de mais de um milhão de mensagens
enviadas para a redação, 50 mil fotos, 2 mil vídeos e 1,8 mil áudios. Desse total de conteúdo,
o Extra publicou 500 reportagens no impresso e mil no site. Gusmão ressaltou que o
aproveitamento do material enviado não chega a 5%, mas procuram priorizar o que é
“relevante” (Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, 2014). Contudo, em 2016 o
jornal cancelou o WhatsApp porque o número do jornal foi banido após ter sido bloqueado
quatro vezes consecutivas, prejudicando 70 mil usuários, por ter sido considerado spam. O
editor online do Extra, Fábio Gusmão, decidiu trocar o número e aplicativo pelo Telegram.
Outra potencialidade dos aplicativos de celulares, desenvolvidos pelas empresas,
refere-se à edição rápida de áudio, foto e vídeo para facilitar a captação da informação e sua
divulgação. A captação de imagens e sons em celulares auxilia nas coberturas factuais ou
mesmo investigativas, pois o celular é mais fácil de manusear. As empresas estão trabalhando
com vídeos factuais com 6 a 7 segundos de produção, fáceis de divulgar no Istagram ou Vine.
Aplicativos localizadores de outros celulares também já são utilizados em coberturas de rua
em busca de fontes que presenciaram o acontecimento.
Há diferentes formatos utilizados no videojornalismo: microdocumentários,
minidocumentários, interativos, factuais (hardnews), entrevistas, vídeos arte, 360º, cômicos
entre outros. As empresas estão testando formas narrativas, em geral explorando mais a
linguagem de documentário do que de televisão, com formatos mais varáveis que exploram a
9
Disponibilizada no site https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/comment/reply/15665. Acessado em 8 de fevereiro
de 2015.
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narrativa visual, não como complementar ou suplementar ao texto/áudio, mas como elemento
principal na composição do conteúdo informativo da peça.
Considerações finais
Referências
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