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Convergência e novas narrativas no jornalismo móvel: o

processo de produção de conteúdo e novos atores


sociais

Paula Melani Rocha


Professora do Programa de Pós-graduação Mestrado em Jornalismo da Universidade Estadual de
Ponta Grossa (UEPG). Professora da graduação em Jornalismo da UEPG. Pesquisadora
colaboradora do LabJor/UNICAMP. Doutora e mestre em sociologia pela UFSCAR. Pós-doutora em
Jornalismo pela Universidade Fernando Pessoa (PT). E-mail: paulamelani@gmail.com

Resumo
As transformações desencadeadas no jornalismo em consonância com os avanços tecnológicos vêm
suscitando reflexões sobre um novo fazer jornalístico, formas narrativas e sua relação com o público.
O presente artigo traz a discussão sobre a constituição de um novo paradigma jornalístico no século
XXI, o jornalismo móvel, em especial suas especificidades, processo de produção e a atuação dos
profissionais envolvidos. A metodologia adotada fundamenta-se em pesquisa bibliográfica e
documental sobre os conceitos convergência do jornalismo, jornalismo móvel, narrativa multimídia e
produção jornalística. A análise compreende ainda exemplos de reportagem utilizando celular,
aplicativos e videojornalismo. A discussão aponta para uma nova atuação do profissional em
conformidade com outros atores sociais.

Palavras-chave
Jornalismo Móvel; Narrativas; produção jornalística.

Abstract
The changes triggered in journalism in line with technological advances come provoking reflections
on a new make journalistic narrative forms and their relationship with the public. This paper presents
a discussion on the establishment of a new journalistic paradigm in the twenty-first century, the mobile
journalism, particularly its specific features, the production process and the performance of the
professionals involved. The methodology is based on bibliographical and documentary research on the
concepts of convergence journalism, mobile journalism, multimedia narrative and journalistic
production. The analysis also includes examples of reporting using mobile, applications and
Videojournalism. The discussion points to a new role of the professional in line with other social
actors.

Keywords
Mobile Journalism; narratives; journalistic production.

A convergência do jornalismo e suas transformações no mercado

O presente artigo apresenta parte da pesquisa Inovação tecnológica e conhecimento


científico em Jornalismo que está sendo desenvolvida junto ao Laboratório de Estudos
Avançados em Jornalismo (LabJor/Unicamp), a qual procura compreender as transformações
no processo de trabalho do jornalismo na configuração do Jornalismo Móvel. Parte-se do
princípio que se trata de um novo paradigma do jornalismo, perpassando pelas suas interfaces
com a convergência do conteúdo noticioso, formas narrativas e processo de produção. A
reflexão proposta tem como objetivo apontar suas especificidades, seu potencial no exercício
do jornalismo brasileiro e os impactos no mercado profissional. Para isso, fundamenta-se em
estudos sobre convergência do jornalismo, jornalismo móvel, narrativa multimídia e produção
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jornalística.
De acordo com os historiadores, o mundo capitalista vive seu terceiro estágio, o pós-
industrial, no qual há uma transferência da atividade econômica da indústria para os serviços
(MEYER, 2004) e o jornalismo ocidental, consequentemente, está inserido nesta dinâmica do
modo de produção capitalista a qual repercute no fazer jornalístico. Assim, as transformações
que o jornalismo, sobretudo, ocidental vêm passando desde as duas últimas décadas do século
XX e início do século XXI ocasionadas também pela aceleração das transformações
tecnológicas e paralelamente pelo surgimento de novos veículos e plataformas estão
configurando um novo paradigma do jornalismo, o qual inclui processo de produção
jornalística, distribuição, modelos de gestão e novos atores sociais.
Uma das atuais preocupações do exercício do jornalismo na "era pós-
industrial” corresponde ao suporte econômico das empresas de comunicação baseado em
anúncios, assinaturas e vendas de exemplares, que não conseguem mais custear a estrutura da
produção da informação nos moldes do modelo anterior, o industrial. A internet e as
transformações tecnológicas mudaram a conduta do receptor que até então era passivo, lia o
jornal ou ficava horas sentado em frente à televisão. Os jornalistas, por sua vez, passaram a
explorar a nova plataforma, saindo da condição de mediador do teor da informação a ser
transmitida, para "competir e conviver com alternativas comunicacionais criadas pelo mundo
da web" (MENDEZ, 2016, s/p.). O resultado repercutiu na queda de assinaturas dos jornais e
revistas, e consequentemente na redução do volume de publicidade; a diversidade de canais,
inclusive gratuitos, disponibilizados na internet, também afetou o índice de audiência da
televisão. Segundo a revista Exame.com1, o jornal americano New York Times registrou uma
queda de 1,2% na receita trimestral de 2016 (os dados foram divulgados em 03 de maio de
2016), ocasionada por recuo nas vendas de anúncios publicitários digitais e impressos.
Enquanto a receita de anúncios digitais, que corresponde a um terço do faturamento total com
publicidade, caiu 1,3%, para 41,8 milhões de dólares, a receita com anúncios impressos
diminuiu para 9%. Contudo, a receita de circulação referente aos assinantes da versão digital
do jornal subiu 14,2%, para 54,2 milhões de dólares no primeiro trimestre. Essa repercussão
positiva do New York Times, em relação à circulação, o torna vitrine para os demais veículos
nacionais e internacionais. Muitas empresas procuram seguir, na medida do possível, seus
passos em inovação de produção de conteúdo. No caso dos "grandes" jornais brasileiros há
um certo atraso em inovações marcado por especificidades culturais e regionais. Pesquisa
realizada pela World Association of Newspaper and News Publishers mostrou que a
circulação de jornais caiu 2% em 2012 e que os índices regionais apresentaram uma queda
mais acentuada, principalmente na América e na Europa Ocidental. Na América Latina, os
dados mostram que a taxa de publicidade sofreu uma redução mais rápida que a circulação.
Nesse cenário, as demissões de recursos humanos nos veículos têm aumentado. Nos
EUA, The Baltimore Sun’s demitiu 150 dos 400 jornalistas, Philadelphia Inquirer’s, dentre
600 restaram 300, Cleveland Plani Dealer’s reduziu de 400 para 240; San Francisco
Chronicle’s, de 500 para 200 e Los Angeles Times’, de 1.100 para 600 (DOWNIE JR;
SCHUDSON, 2009). Em 2013, demissões coletivas foram registradas em jornais brasileiros
como Estado de São Paulo, Valor Econômico e Folha de S. Paulo. Em agosto, o Grupo Abril
fechou quatro revistas. Na cidade de São Paulo, 280 demissões foram homologadas de janeiro
a abril de 2013, índice 37,9% maior do que o mesmo período em 2012.2 Entre os anos de
2011 e 2013, os grupos de comunicação do Paraná, rádio, TV e impressos, por sua vez,
somaram 287 demissões.

1
Disponível em //exame.abril.com.br/negocios/noticias/receita-do-new-york-times-cai-com-vendas-menores-de-
anuncios, acessado em 06 de abril de 2016.
2
Dados da reportagem “A revolta dos passaralhos” consideram apenas jornalistas registrados.
http://www.apublica.org/2013/06/revoada-dos-passaralhos/
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Segundo o site Comunique-se3, somente em 2015, foram demitidos 1400 jornalistas no
país. As demissões envolveram diferentes plataformas, impressos (jornais e revistas),
emissoras de televisão, assessoria de imprensa e Internet. O site A Conta dos Passaralhos4
computou 1.433demissões em 57 veículos de 2012 até 2015, entretanto, na conta não estão
incluídas as assessorias de imprensa, apenas emissoras de rádio e televisão, impressos e
Internet5. Se por um lado as redações dos jornais "tradicionais" também ficaram mais enxutas,
por outro, o cenário da convergência do jornalismo alterou o processo de produção de
conteúdo, incorporando habilidades multimidiáticas. Empresas nacionais e internacionais
como Al Jazeera América, Wall Street Journal, Guardian, New York Times, Folha de
S.Paulo e Estado de São Paulo estão investindo em documentários e videojornalismo, pois
são as plataformas acessadas cada vez mais pelo público, as quais permitem navegar para
outros conteúdos e mídias gerados pelas empresas de comunicação. Os vídeos digitais são
consumidos em diferentes telas: desktop, mobile, tablet, combinados com smartTVs e
consoles. Pesquisa realizada pela ComScore6 com 8.376 pessoas entrevistadas por e-mail no
período de 2 a 10 de setembro de 2015 e divulgada em novembro do mesmo ano apontou a
preferência do público em acessar serviços de vídeo por streaming à TV aberta. No Brasil,
73% dos entrevistados informaram assistir tv aberta e 82% acessam serviços de vídeo on-
line sob demanda. Já na América Latina os índices são 70% TV e 81% vídeo. Assim, a
reflexão busca identificar o que está mudando no perfil dos profissionais produtores de
conteúdo, na construção da narrativa e formas testadas pelos veículos "tradicionais".
As mudanças no mercado de trabalho não são exclusivas ao mundo do jornalismo e
muito menos restritas ao Brasil, elas afetam os empregos, a organização das empresas e a
implantação de políticas de gestão. Hirata (2002, p.344) mostra que a crise financeira que
abalou diferentes países no final da segunda metade do século XX ocasionou uma "tipologia
complexa em fase de elaboração", a qual ela concebe como "transformação paradoxal do
trabalho" refletindo uma situação envolvendo poucas pessoas no trabalho e precarização de
muitos. O desenvolvimento dos mercados financeiros é sustentado pelo aumento da
precarização do emprego e do desemprego. Segundo a autora ocorreu a precarização dos laços
empregatícios com o aumento do desemprego de longa duração, flexibilizou-se o uso da mão
de obra e aumentou as formas instáveis de emprego. Como por exemplo, o trabalho em tempo
parcial nos países do Norte e o crescimento do trabalho informal nos países do Sul. Em 1998,
na França, "um em cada 11 assalariados tinha laços empregatícios precários; mais de 17% do
conjunto dos assalariados do setor privado tinham um emprego em tempo parcial (INSEE,
1998, p. 23 apud HIRATA, 2002, p.344) e em 2000, somente 57% dos empregos no país eram
estáveis.

Jornalismo Móvel no Brasil e suas configurações

As transformações no processo de comunicação digital emergiram no final do século


XX em diferentes frentes. Para Westlund (2012) desde a década de 1990 existia a
convergência tecnológica entre celulares e plataformas multimídias, porém a produção e
utilização de conteúdos noticiosos bem como o acesso a notícias móveis por parte do público
só passou a ocorrer de forma cotidiana com o nascimento comercial de dispositivos móveis
habilitados para touchscreen, oferecidos com assinaturas fixas para a internet móvel. Esse
novo comportamento afetou diretamente a procura pelos impressos e consequentemente

3
Disponível em //portal.comunique-se.com.br/, acessado em 01 de abril de 2016.
4
Disponível em //passaralhos.voltdata.info/, acessado em 06 de abril de 2016
5
Disponível em //docs.google.com/spreadsheets/d/12TIuxaVN-
_nAE6ZrX2lveuIDdx9Xr4zKddV9KAJqAxY/edit#gid=1097261744, acessado em 01 de abril de 2016.
6
Site oficial da empresa //www.comscore.com/por/Produtos
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estimularam a preocupação com os modelos de gestão de empresas de comunicação em vigor
até então.
Bradshaw (2014, p.113) aponta que o modelo de consumo do “jornalismo tradicional”
passou a ser desafiado também, quando o twitter e o facebook adicionaram uma infraestrutura
de distribuição via livestreams, imagens, livros-áudio e textos a milhões de usuários. Com
isso, os usuários tiveram a oportunidade de estarem presentes em um “website em particular”,
distribuindo conteúdos informativos em diferentes formatos. E o consumidor passou a
consumir esses conteúdos em determinados momentos do dia, de acordo com sua rotina. O
autor apresenta uma pesquisa etnográfica realizada pela The Associated Press, em 2008, a
qual justamente identificou esse “novo ritmo de consumo de notícias”, e um dos exemplos da
amostragem é a corretora de seguros de Brighton identificada como Jill:

• ela assistia ao noticiário da tv pela manhã enquanto se preparava para o


trabalho e tomava o pequeno almoço.
• ouvia o rádio no carro a caminho para a empresa.
• Verificava o email a cada hora, lendo as manchetes do Yahoo dez vezes ao
dia.
• recebia sms (mensagens de texto por celular) e alertas de email.
• tinha um placar ao vivo no desktop.
• ouvia mais rádio a caminho de casa, enquanto conduzia.
• À noite, obtinha notícias via facebook e email enquanto assistia à tv
(BRADSHAW, 2014, p.113).

As alterações que a comunicação vem passando na sociedade digital configuram-se no


espaço público, no qual os sistemas de comunicação midiáticos estabelecem os
relacionamentos entre instituições, organizações da sociedade e receptores coletivos de
informação (CASTELLS, 2005). A tecnologia digital, entre outras coisas, também ampliou o
acesso à comunicação e viabilizou certa autonomia e empoderamento das pessoas como
produtoras de conteúdo. A Internet favoreceu as possibilidades de comunicação nas redes
sociais. No século XXI, por exemplo, cidadãos de 80 países de regimes autoritários e
democráticos utilizaram a Internet para organizar movimentos sociais revolucionários e
greves. É válido citar as dezoito nações que participaram da onda conhecida por “Primavera
Árabe”, os manifestos na Itália, nos EUA e na Inglaterra contra a crise econômica e, no Brasil,
as manifestações por redução de tarifas de transporte público, contra a corrupção e gastos com
a Copa das Confederações FIFA em 2013 e Copa do Mundo FIFA 2014, protestos contra a
violência policial e, mais recentemente, em 2015 e 2016, as manifestações dos estudantes e as
ocupações das escolas em diferentes estados do país bem como os manifestos nas ruas pró e
contra o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e contra e a favor à
instauração do governo interino. Para Primo (2007, p.1), “a Web 2.0 tem repercussões sociais
importantes, que potencializam processos de trabalho coletivo, de troca afetiva, de produção e
circulação de informações [...]”.
Nesse sentido Castells (2005) define o novo sistema de comunicação por três grandes
tendências:
A primeira seria a organizada em torno dos negócios de media aglomerados, incluindo
televisão, rádio, imprensa, produção audiovisual, publicação editorial, empresas comerciais
on-line, indústria discográfica, distribuição global e local simultaneamente. Estes
aglomerados estão ligados sob diferentes formas de parceria e ao mesmo tempo competem
entre si. A comunicação é tanto global quanto local, genérica e especializada, dependente de
mercados e de produtos.
A segunda seria um sistema de comunicação cada vez mais digitalizado, interativo,
especializado e fragmentado, nos quais as audiências estão cada vez mais segmentadas. A
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tecnologia tornou possível uma maior integração das fontes de comunicação no mesmo
hipertexto.
E a terceira tendência seria a difusão da sociedade em rede viabilizou uma
comunicação de massas difundida em toda a Internet, com potencial de chegar a todo o
planeta. É autocomandada porque é sem a mediação do sistema de media, iniciada por
indivíduos ou grupos. Criou-se um sistema de redes de comunicação global e horizontal, que
“pela primeira vez na história, permite que as pessoas se comuniquem umas com as outras
sem utilizar os canais criados pelas instituições da sociedade para a comunicação
socializante” (CASTELLS, 2005, p. 23).
Para Jenkins (2008) as múltiplas convergências envolvem três eixos: inteligência
coletiva, cultura participativa e convergência de meios. E o comportamento de migração do
público impulsiona a navegação pelos fluxos de conteúdos disponibilizados em diferentes
suportes e mercados midiáticos. Assim, não se pode atribuir a percepção desse novo cenário
apenas aos efeitos nos modelos de gestão das organizações jornalísticas. A "era pós-
industrial", com a globalização e a sociedade digital, repercute diretamente no processo
comunicacional como um todo, atravessando a produção de conteúdo, o próprio conteúdo, o
processo de trabalho e agentes envolvidos. O jornalista Rodrigo Lara Mesquita (2014, p.27)
sintetiza essa nova configuração:

A tendência tecnológica é reforçada pela demanda da sociedade. A


tecnologia, suas ferramentas e processos vão contribuir para dar vazão às
necessidades de uma sociedade muito mais complexa e fragmentada da que
foi regida pelas tecnologias da era industrial. Essa percepção já é latente na
sociedade contemporânea, atônita com o contexto e surpreendida pelos
novos processos da informação, comunicação e articulação num mundo em
profunda transformação. Nesse cenário, o do avanço das multiplataformas de
atuação, estão contidos também o cloud, a mobilidade e a analytics.

As estruturas narrativas acompanham as transformações dos modelos jornalísticos,


norteadas pela forma, pelo conteúdo, pelas especificidades e potencialidades das medias, bem
como, pela inovação tecnológica. Os marcos das diferenciações necessitam de reflexão
intelectual sobre os recursos, demandas sociais e sobre o público, ao qual se destinam.
Historicamente os paradigmas do jornalismo emergem em contextos determinados em
consonância com as dinâmicas da sociedade, dialogando com as manifestações políticas,
econômicas, sociais, culturais e tecnológicas, e motivados pela preocupação em atrair público
frente às transformações. Foi assim que se deu com os diferentes gêneros como o jornalismo
partidário, informativo e interpretativo.
No entanto, embora os modelos jornalísticos tenham se desenvolvido em realidades
específicas como o modelo francês e o anglo-saxônico, eles ultrapassaram as fronteiras
territoriais e foram incorporados e adaptados por outros países. Foi caso do jornalismo
interpretativo que floresceu nos EUA para atender a sociedade do período pós-Primeira
Guerra Mundial carente de entendimento sobre a complexidade das relações internacionais,
políticas, econômicas e sociais que se travavam naquele momento. Ou mesmo o jornalismo
informativo americano que nasceu na década de 1830 impulsionado pelo crescimento da
população urbana nos EUA, fortalecimento do comércio, aumento de imigrantes, com
destaque para os penny papers que traziam as mudanças políticas, sociais e tecnológicas da
época.
Atualmente, é amplamente reconhecido que os anos de 1830, uma década
extraordinária sob muitos aspectos, representaram uma revolução no

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jornalismo norte-americano. Essa revolução levou ao triunfo da “notícia”
sobre o editorial e dos “fatos” sobre a opinião, uma mudança moldada pela
expansão da democracia e do mercado, e que, com o tempo conduziria à
incômoda submissão do jornalista à objetividade (SCHUDSON, 2010, p.
25).

O novo modelo que se constitui no século XXI é consagrado pelo mundo digital e
conectado, com novas mídias, plataformas e a imersão da tecnologia em todas as etapas do
processo de produção jornalística. Ele vislumbra a convergência do jornalismo. Alterou-se o
mercado profissional, algumas funções desapareceram, outras foram incorporadas por
diferentes postos em uma redação, novas surgiram assim como novos atores sociais no
processo de produção de conteúdo, os impressos, por exemplo, criaram núcleos de produção
de vídeojornalismo e documentário e núcleo de produção de artes (infografia, newsgame,
interatividade). Semelhante ao gênero interpretativo, o novo paradigma surge em uma
sociedade complexa, globalizada e digital, marcada pela convergência de mídia e de notícias.
Para analistas de diferentes áreas como econômica, política e social, a sociedade está muito
mais complexa que outrora. De acordo com o professor José Esteves Rei, da Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal) entre as mudanças que contribuem para tal cenário
estão:

As alterações nas redações e nas rotinas jornalísticas, nomeadamente com a


emergência e impacto da Internet;
as transformações nos gêneros e formatos, com especial incidência naquelas
que o ciberjornalismo tem vindo a desenvolver;
as lógicas empresariais e dos grupos mediáticos, especialmente no
respeitante às orientações editoriais;
na formação e nos papeis e identidades dos jornalistas [...];
[...] e, finalmente, nos desafios para o jornalismo e para a cidadania,
decorrentes do acesso e uso de ferramentas de auto-edição em rede (NETO,
2007, p.25).

Esse novo modelo de jornalismo já em exercício, também é tema de pesquisas e


discussões científicas que o analisam sob diferentes aspectos. As organizações que atuam com
comunicação estão buscando redefinir o seu lugar no processo comunicacional bem como as
formas de trabalhar seu conteúdo, interação, publicação. Parte dessas empresas, organizações
e coletivos já estão explorando diferentes tipos de peças de conteúdo
(texto/áudio/vídeo/infográfico/fotos/animação/base de dados) e formas narrativas para
estimular a navegação. Cresce o uso da multimidialidade por parte dos fornecedores de
conteúdo. Isso está repercutindo diretamente no processo de produção do conteúdo que passa
a exigir uma equipe interdisciplinar de profissionais responsáveis por etapas específicas da
linha de produção definidas por suas competências e expertise.
Um mesmo conteúdo passa ser composto por diferentes peças e formatos como áudio,
audiovisual, texto, imagem, imagem animada, infográfico, games, de acordo com as
potencialidades oferecidas pela pauta, todas juntas formam ou não uma unidade de conteúdo,
tudo depende das potencialidades da pauta. Se por um lado, as peças são independentes,
paradoxalmente elas se completam. Essa mudança trouxe um desafio para essas organizações
que vislumbram trabalhar com equipe multidisciplinar no mesmo ambiente da redação,
composta por profissionais de diferentes áreas e campos. As funções dos cargos nas redações
estão se reconfigurando e não se trata, entretanto, de apenas dominar o uso das novas
tecnologias como uma ferramenta técnica, mas de conhecer as transformações que elas
propiciaram no modo de pensar e fazer jornalismo, perpassando pelo processo de produção da
notícia, formas narrativas e interações com novos atores sociais.
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Novas narrativas e o jornalismo móvel

A abordagem sobre jornalismo móvel perpassa também pelo crescente uso do celular
com internet banda larga, aplicativos e dispositivos. As empresas de comunicação estão
remanejando o processo de produção de conteúdo e incorporando as potencialidades do
celular e seus aplicativos. No cenário brasileiro o uso de celulares aumenta a cada ano e o
Brasil juntamente com os mercados dos outros três países do BRIC (Rússia, China e Índia)
correspondem a quase um quarto das vendas globais em telefonia móvel. Pesquisa da GSMA
Intelligence7, em 2012, revelou que os países do BRIC geraram uma receita de mais de US $
250 bilhões com telefonia móvel. Valor mais alto que as vendas na América do Norte em
2011. Os dados apontam ainda um aumento médio de 13,9% ao ano no período de 2008 a
2012, o que representa 3,6 pontos percentuais mais rápido do que a média do mercado em
desenvolvimento. Ao vislumbrar os dados atuais principalmente dos países do BRIC, a
estimativa apresentada pela GSMA Intelligence é de que em 2017, os mercados em
desenvolvimento vão ultrapassar os mercados desenvolvidos em termos de receita.
Em consonância com o aumento do uso de celulares no Brasil está o crescimento do
uso de internet banda larga na telefonia móvel. Dados da Agência Nacional de
Telecomunicações (ANATEL), referente a junho de 2014, mostram que as linhas de celular
que dão acesso à internet banda larga chegaram a 46,6%. Já o relatório Nosso planeta mobile:
Brasil. Como entender o usuário de celular, divulgado em maio de 2012 pela Google,
mostrou que 14% da população brasileira tem smartphones e que cada vez mais esses
usuários dependem dos dispositivos. Nesse sentido, o relatório revelou que 73% dos usuários
acessam a internet por smartphone. As facilidades de navegação via banda larga estimularam
um novo perfil de consumidor aos usuários mediado pelos smartphones. Entende-se como
consumidor não apenas aquele que acessa produtos pelos sites via celular, mas também
conteúdo, como vídeos, música, sites, áudios, animação e também notícias, semelhante ao que
ocorreu nos EUA e países europeus. O celular permite processar tanto a comunicação quanto
a informação por meio de áudios, textos, vídeos gráficos e animação (Westlund, 2012). O
acesso de vídeo no celular já vem alterando o formato de captação de imagens. Se até dois
atrás era inconcebível usar a câmera de celular na vertical para captar imagens em uma
manifestação ou mesmo entrevista, hoje já é algo usual, pois a visualização no celular é na
vertical.
No Brasil, os aplicativos mais utilizados pelos usuários brasileiros são os de games
com 68% da fatia do mercado, seguidos pelas redes sociais com 67%, mapas, navegação e
buscas com 51%, vídeos e filmes com 49%, e em quinto estão as notícias com 45%, conforme
informações ministradas pelo curso de Jornalismo Móvel oferecido pelo Knight Center, no
segundo semestre de 2014. O desafio das empresas de jornalismo brasileiras é o de justamente
canalizar o crescente uso de celulares e fundamentalmente o consumo de conteúdo móvel por
esse novo perfil de usuário para a navegação em conteúdos informativos, ou seja, impulsionar
as buscas por notícias no celular e estimular a replicação de conteúdo jornalístico, e uma das
ferramentas é justamente o vídeo.
O celular pode-se caracterizar como um meio de convergência do jornalismo. Na
medida em que os aplicativos permitem aos usuários estarem em “website em particular”
(BRADSHAW, 2014), distribuindo conteúdos informativos em diferentes formatos. O celular
possibilita replicar conteúdos em diferentes formatos e instigar o usuário/receptor a buscar
mais informações sobre o assunto que lhe interessar, assim como replicar tais conteúdos para
outros usuários, com o facilitador de ser móvel e consequentemente acessado em qualquer
7
A GSMA Intelligence é uma fonte de dados de operadoras móveis mundiais que oferece periodicamente um
conjunto preciso de informações métricas sistematizadas da indústria móvel. Ela representa os interesses das
operadoras de telefonia móvel. Site oficial é: //gsmaintelligence.com/about/
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lugar e circunstância.
Nos EUA, em paralelo à rápida difusão de dispositivos móveis touch-screen, os
produtores de conteúdo de diferentes mídias têm também experimentado novos aplicativos
móveis e em alguns casos se associando aos lançamentos. A primeira geração de iPhones, por
exemplo, foi comercializada exibindo o logotipo do jornal New York Times. Outra garantia
para os fornecedores de notícias ocorreu quando o conteúdo de notícias passou a ser acessado
pelos navegadores móveis, como o navegador Safari para iPhones. O passo seguinte foi o
desenvolvimento dos chamados aplicativos nativos que fornecem notícias e/ou serviços
públicos (BRADSHAW, 2014). Outro aplicativo utilizado pelo New York Times em
videojornalismo é o 3608, tanto na captação das imagens quanto na visualização em celulares
e tablets. Em setembro de 2008, aconteceu o lançamento comercial do Android, pelo Google e
pela Open Handset Alliance, e abriu-se uma nova porta para os produtores de dispositivos
móveis além dos iPhones. Na esteira das inovações, os produtores de conteúdo, como editores
de notícias também investiram no desenvolvimento de aplicativos Android (BRADSHAW,
2014). No Brasil os smarth phones androids são o carro chefe no mercado de telefonia móvel,
eles representam 90% do mercado, segundo dados divulgados pela Microsoft em 2013.
Assim, a tendência que vem se configurando no mercado é de explorar as
potencialidades do celular tanto para a navegação em sites jornalísticos (texto, vídeo e áudio),
como para a propagação de conteúdos jornalísticos de diferentes formas narrativas entre os
usuários de telefonia móvel, impulsionando o videojornalismo.

Produção jornalística e novos atores sociais

As estruturas narrativas no jornalismo acompanham as transformações dos modelos


jornalísticos, norteadas pela forma, pelo conteúdo, pelas especificidades e potencialidades das
mídias, como inovações tecnológicas e dinâmicas sociais. Os marcos das diferenciações
necessitam de reflexão intelectual, recursos e demandas sociais/público. No caso da televisão,
por exemplo, o repórter da revista Life, Robert Drew incomodou-se no início da década e
1950 com a forma que o jornalismo na televisão se apropriou da narrativa do rádio,
aproximando-se de um radiojornalismo filmado, sem explorar até então as particularidades do
audiovisual.
O jovem repórter da revista Life Robert Drew assistia na TV a um programa
do lendário Edward R. Murrow quando sentiu vontade de tomar um copo
d’água. Foi até a cozinha, abriu a geladeira, pegou a garrafa, depois o copo,
verteu, bebeu, pensou um pouco na vida, voltou. Foi quando se deu conta do
seguinte: apesar de ter permanecido pelo menos dois minutos longe da TV, a
trama ainda lhe parecia perfeitamente clara, como se ele não tivesse
despregado os olhos do aparelho. Não foi difícil descobrir a razão: na
cozinha, continuara a ouvir a voz de Murrow. Drew fez então a experiência
contrária: abaixou o volume e ficou olhando as imagens mudas. O programa
se tornou incompreensível. Pensou lá consigo: “Ainda não descobriram a
televisão. Continuam fazendo rádio”. Foi uma dessas epifanias que
determinam toda uma vida. Dali por diante a missão de Drew seria descobrir
do que a TV era capaz. O desafio era ambicioso: de que maneira tornar o
jornalismo de televisão propriamente televisivo, ou seja, como contar
histórias não-ficcionais num novo meio em que o olho vale mais do que o
ouvido? (SALLES, 2005, p.28).

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http://www.nytimes.com/marketing/nytvr/index.html
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E foi a partir daí que Robert Drew e Leacock realizaram vários experimentos no
audiovisual até encontrar uma nova dimensão para a câmera, com uma participação efetiva
assumindo a posição de um personagem, assim eles criaram um novo processo de escritura
fílmica para o documentário com perfil autoral e não mais uma transposição e adaptação de
narrativas já consagradas em outras mídias. Nesse sentido, Robert Drew passou a incorporar
na linguagem fílmica as tendências do Novo Jornalismo, as quais se sobressaiam no cenário
americano da época. Isso significava utilizar estratégias narrativas que mostrassem os
conflitos e as microficções do cotidiano no audiovisual (COSTA, 2005).
Outro marco na televisão foi a introdução do sistema digital em substituição ao
analógico. Essa inovação também acarretou alterações no modo de produção das notícias,
repercutindo em mais agilidade no processo produtivo, maior qualidade de imagem e áudio e,
em contrapartida, redução de postos de trabalho nas redações.
Na mesma lógica da constatação de Robert Drew sobre transpor a narrativa do rádio
para a televisão, o conteúdo na convergência do jornalismo não corresponde apenas a navegar
por diferentes formatos de mídias distintas como texto do impresso, reportagem em
videoteipe ou radiojornalismo, mas também explorar as potencialidades da mídia móvel. Ao
considerar o viés dos produtores de conteúdo informativo, deve-se respeitar também as
peculiaridades da mídia móvel e suas restrições. Estudos realizados com editores de
conteúdos de jornais da Europa e América do Norte realizado em junho de 2012 pelo
Newsmedia Marketing Association International (INMA), sobre a utilização de estratégias
para a divulgação de conteúdo, apontou que não há um modelo sincronizado adotado por
todos eles, mas sim “semelhanças e diferenças quanto às percepções e ações” realizadas pelos
editores consultados (WESTLUND, 2012, p.13).
Jornais como Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e O Globo estão trabalhando
com equipes multidisciplinares nas plataformas digitais, produzindo texto, vídeo, infográfico
e ambientes de análise. O Globo, por exemplo, colocou o site como o centro do sistema de
informação, há seis anos a produção passou a congregar engenheiros e técnicos com a
redação. Montou-se também um núcleo de videojornalismo com cinegrafistas, repórteres,
editor de imagem e editor de texto. O Estado de São Paulo investiu no projeto Estadão Dados,
com profissionais de ciência da informática auxiliando na produção de bases de dados,
montou a Tv Estado para a produção de conteúdo em vídeo, a editoria Estadão Ao vivo, com
notícias atualizadas em diferentes períodos do dia, Infográficos com reportagem especiais em
formato de infografia, interagindo linhas de tempo, vídeos, animação e texto. Em 23 de abril
de 2012 a empresa lança o Estadão Noite, produzido pela redação integrada e não por uma
equipe em especial, a qual envolve jornalista e designer no processo de fechamento do
material. O jornal Folha de São Paulo, por sua vez, unificou a redação do impresso com a
redação do online. O repórter deixou de ser o "dono da informação", ele faz a apuração e
informa quão perecível ela é, mas cabe ao editor definir em qual plataforma ela irá ser
publicada e em qual tempo. Criou-se um centro produtor de notícias com fluxo contínuo de
produção e fechamento. A tecnologia da informação passou a ocupar espaço de editoria, com
um posto avançado para atender a redação. Surgiram novas funções como editor de
plataformas digitais, editor de redes sociais, editor ou coordenador multimídia e editor de
aplicativos (BARBOSA, 2013) e o jornalista passou a desempenhar multitarefas na cobertura
da pauta. Na empresa Folha de S.Paulo, por exemplo, o repórter precisa apresentar um projeto
de pauta no qual sugere a divisão de conteúdo por peças em audiovisual, áudio, imagem e
texto. Nesse sentido, participam novos atores do processo de produção de conteúdo, com
profissionais de informática,
Barbosa (2013), por sua vez, trabalha essa noção de continuum multimídia, definindo-
a como uma das características delineadoras de um novo estágio de evolução para o
jornalismo nas redes digitais: a quinta geração. Para chegar à proposição dessa quinta geração,
a autora toma como parâmetro a categoria da medialidade (GRUSIN, 2010) que integra na
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produção jornalística atual diversos formatos de conteúdos como apontou-se acima (textos,
fotos, áudios, vídeos, infográficos, slideshows, newsgames, linhas de tempo entre outros)
criados, editados e distribuídos pelas organizações jornalísticas para multiplataformas e todos
realizados por profissionais, empregando tecnologias digitais e em rede. Sobre as rotinas de
produção, Barbosa (2013) menciona o emprego de softwares, bases de dados, algoritmos,
linguagens de programação e de publicação, sistemas de gerenciamento de informações,
técnicas de visualização, metadados semânticos, podemos incluir aplicativos entre outros.
“Medialidade, assim, explica melhor esse panorama, quebrando a retórica do “novo” e
dissipando a equivocada ideia de concorrência entre meios que compõem um mesmo grupo
jornalístico multimídia” (BARBOSA, 2013, p. 34).
O Processo de produção do conteúdo jornalístico também usufrui de especificidades,
desde a seleção da pauta como sua construção. O jornal carioca Extra é um dos pioneiros no
Brasil na utilização do aplicativo WhatsApp tanto para receber conteúdo dos leitores como
para localizar fontes para as reportagens. A ideia da criação da rede via WhatsApp partiu do
editor Fábio Gusmão, em 2013, quando o jornalista Guilherme Amado realizava a produção
da série de reportagens “Os embaixadores do Narcosul”, publicada a partir de maio de 2014.
O repórter contou com a colaboração de jornalistas de diferentes países na investigação e
apuração de informações sobre o narcotráfico na América do Sul, numa extensão total de 16
mil quilômetros.
Em palestra ministrada no 9º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da
ABRAJI, realizado em julho de 2014 em São Paulo, Fábio Gusmão informou que o Extra
investiu em uma estação de escuta de WhatsApp conectada a um computador a qual é
controlada por uma pessoa da redação, além de colocarem dois televisores na redação para os
profissionais monitorarem o conteúdo de informações que chegam ao jornal pelo aplicativo.
Ainda em 2013, o jornal Extra inovou na utilização do aplicativo de mensagens para receber
informações das manifestações populares nas ruas de todo o país e trabalhar a cobertura
jornalística. Em, entrevista ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas9, publicada em
24 de junho de 2014, Fábio Gusmão diz que se inspirou na divulgação das manifestações na
Primavera Árabe e que o aplicativo aproximou mais o jornal do público. Segundo o editor, o
jornal possui 26 mil usuários cadastrados, um registro de mais de um milhão de mensagens
enviadas para a redação, 50 mil fotos, 2 mil vídeos e 1,8 mil áudios. Desse total de conteúdo,
o Extra publicou 500 reportagens no impresso e mil no site. Gusmão ressaltou que o
aproveitamento do material enviado não chega a 5%, mas procuram priorizar o que é
“relevante” (Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, 2014). Contudo, em 2016 o
jornal cancelou o WhatsApp porque o número do jornal foi banido após ter sido bloqueado
quatro vezes consecutivas, prejudicando 70 mil usuários, por ter sido considerado spam. O
editor online do Extra, Fábio Gusmão, decidiu trocar o número e aplicativo pelo Telegram.
Outra potencialidade dos aplicativos de celulares, desenvolvidos pelas empresas,
refere-se à edição rápida de áudio, foto e vídeo para facilitar a captação da informação e sua
divulgação. A captação de imagens e sons em celulares auxilia nas coberturas factuais ou
mesmo investigativas, pois o celular é mais fácil de manusear. As empresas estão trabalhando
com vídeos factuais com 6 a 7 segundos de produção, fáceis de divulgar no Istagram ou Vine.
Aplicativos localizadores de outros celulares também já são utilizados em coberturas de rua
em busca de fontes que presenciaram o acontecimento.
Há diferentes formatos utilizados no videojornalismo: microdocumentários,
minidocumentários, interativos, factuais (hardnews), entrevistas, vídeos arte, 360º, cômicos
entre outros. As empresas estão testando formas narrativas, em geral explorando mais a
linguagem de documentário do que de televisão, com formatos mais varáveis que exploram a

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Disponibilizada no site https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/comment/reply/15665. Acessado em 8 de fevereiro
de 2015.
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narrativa visual, não como complementar ou suplementar ao texto/áudio, mas como elemento
principal na composição do conteúdo informativo da peça.

Considerações finais

A reflexão proposta procurou mostrar a configuração do jornalismo móvel como um


novo paradigma do jornalismo com particularidades no processo de produção jornalística,
envolvendo novos atores, narrativas, suportes e recursos tecnológicos. É um modelo
complexo que leva a conceber o fluxo contínuo da informação, caracterizado por diferentes
peças jornalísticas, compostas por estruturas narrativas e formatos adversos.
O jornalismo está inserido na sociedade e na sua dinâmica, ele dialoga com o contexto
social, político, econômico, cultural e tecnológico. Não está estanque das crises do modo
produtivo, ao contrário vivencia as etapas do capitalismo e suas intempéries. E ao mesmo
tempo passa por transformações próprias. O jornalismo se desenvolveu no modo de produção
capitalista. Tornou-se um negócio e seu produto é a informação. A informação, por sua vez, é
um importante legado da sociedade democrática. Por isso, o jornalismo tende a sobreviver na
atualidade. Embora a discussão não se encerra neste artigo, buscou-se apontar a preocupação
dos fornecedores de conteúdo em conciliar o fazer jornalístico com o cenário da sociedade
atual, conectada em rede, digital e com ênfase na medialidade.

Referências

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do jornalismo nas redes digitais”. In Canavilhas, J. (Ed.), Notícias e Mobilidade. O
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