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O JORNALISMO INDEPENDENTE NO YOUTUBE: UMA ANÁLISE DO

CANAL SPOTNIKS1

Luis Ricardo Janke Seibt 2

RESUMO

O presente estudo analisa qualitativamente, por meio da descrição, os conteúdos produzidos


pelo canal de jornalismo Spotniks no Youtube. Este artigo procura identificar as principais
características do jornalismo independente e alternativo, comparando a teoria com o processo
de produção do canal supramencionado. A pesquisa tem como base os autores Amaral (2012),
Belo (2003), Downing (2002), Lima (2013) e Peruzzo (2009). O estudo aponta que o canal
Spotniks, embora se apresente como um canal de jornalismo alternativo, se aproxima muito
ao jornalismo tradicional desenvolvido pela grande mídia.

PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo Alternativo, Jornalismo Independente, Youtube, Spotniks.

ABSTRACT

The present study qualitatively analyzes, through the description, the contents produced by
Spotniks journalism channel on Youtube. This article seeks to identify the main characteristics
of independent and alternative journalism, comparing the theory with the production process
of the aforementioned channel. The research is based on the authors Amaral (2012), Belo
(2003), Downing (2002), Lima (2013) and Peruzzo (2009). The study points out that Spotniks
channel, while presenting itself as an alternative journalism channel, is very close to
traditional journalism developed by the mainstream media.

KEYWORDS: Alternative Journalism, Independent Journalism, Youtube, Spotniks.

1 Artigo realizado no semestre 2019/2, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em
Jornalismo, pela Universidade Luterana do Brasil, sob orientação do professor Sergio Lima
Lorenz (emaildosergiolima@gmail.com).

2 Graduando em Jornalismo. E-mail: ricardojanke@gmail.com


1 INTRODUÇÃO

A revolução tecnológica provocada pela internet, junto com o surgimento das mídias
sociais, possibilitou que uma série de veículos de comunicação alternativos surgisse,
apresentando um conteúdo diferenciado em relação ao que é produzido pela grande mídia.
Antes da internet, as fontes principais de notícias se concentravam no rádio, televisão e mídia
impressa. Recentemente, novos veículos começaram a ganhar espaço na internet, com
objetivo de fazer jornalismo, seja por meio de blogs, canais no Youtube, contas no Twitter,
Instagram ou Facebook.
O presente trabalho se propõe a analisar o canal Spotniks, que está sitiado na rede
social Youtube com 935 mil inscritos. Vai descrever sua programação e conteúdos, com
objetivo de compreender a linha editorial do veículo, identificando o tratamento dado aos
temas, as fontes, linguagem e características que classificam o canal como de jornalismo
alternativo e independente.
Kurovski (2005) considera que a plataforma Youtube propicia uma cultura
participativa e, por isso, está inscrita na história da comunicação. Ela entende que a rede
social é um sintoma e, ao mesmo tempo, um agente das transformações culturais e
econômicas, que estão relacionadas com as tecnologias digitais. A plataforma traz um
relacionamento cada vez mais complexo entre produtores e consumidores, sendo um site de
ruptura cultural e econômica. A revista Time, uma das principais publicações do mundo,
escolheu o Youtube como a melhor invenção de 2006.
Rodrigues (2007), nessa mesma linha, entende que a ferramenta permite que os
cidadãos participem mais do espaço público, debatendo e explorando diversos temas. Os
baixos custos e velocidade em que as informações são colhidas e transmitidas fazem com que
haja uma maior participação e engajamento do público. Vídeos com todos os tipos de
conteúdos são exibidos na plataforma, inclusive jornalismo alternativo.
Para Frossard (2008), a maneira como se faz jornalismo na internet vem sofrendo
transformações, se diferenciando do jornalismo impresso. A possibilidade do público
colaborar com o processo de criação ganhou força com a rápida expansão das redes sociais, o
que permite uma forte expressão social e mobilização política. Surge então, uma nova geração
de criadores de conteúdo com a divulgação de novos produtos audiovisuais.
O jornalismo independente vem sendo feito no Brasil desde o tardio surgimento da
imprensa escrita no país, mas tem apresentado um crescimento considerável após as
manifestações políticas de junho de 2013, ocasião em que esses protestos foram transmitidos
pelo coletivo Mídia Ninja, por meio de vídeos postados nas redes sociais. Esses conteúdos
ganharam tamanha projeção a ponto de serem posteriormente transmitidos nos grandes
veículos de imprensa (LIMA, 2013).
A metodologia utilizada neste trabalho terá abordagem qualitativa, usando a descrição
como ferramenta de análise. Será analisado o conteúdo produzido pelo canal Spotniks no mês
de outubro de 2019, descrevendo os temas abordados nos vídeos, verificando os critérios
utilizados pela produção para se determinar o que é notícia, o tratamento dado a cada caso, a
maneira como as fontes são ouvidas para a construção do material divulgado no canal.
A primeira seção do presente trabalho será teórica, descrevendo os principais conceitos
abordados na pesquisa, contextualizando o jornalismo alternativo atual, descrevendo as
características que fazem do Youtube uma importante ferramenta de comunicação e
explorando os conceitos e a história do jornalismo independente no Brasil. Em uma segunda
seção, será feita a descrição do canal Spotniks e em uma terceira seção será realizada a análise
do conteúdo produzido pelo canal no período de tempo indicado.
Com esses dados será possível conhecer mais sobre os processos do jornalismo
alternativo e independente feito no Youtube e compreender a relação do público com esse tipo
de veículo.

2 O JORNALISMO ALTERNATIVO E INDEPENDENTE NO YOUTUBE

O público brasileiro já é o segundo colocado entre aqueles que mais consomem vídeos
no Youtube e esse interesse é confirmado na pesquisa Video Viewers3, realizada pelo Google.
Os números demonstram que, em quatro anos, houve um aumento de 135% no consumo de
vídeos online. Dos consumidores, 80% busca um conteúdo alternativo e 75% dos usuários
afirmaram usar o Smartphone para assistir. A pesquisa também demonstrou que a plataforma
fica em segundo lugar no consumo geral de vídeos, registrando 15% do total da audiência. As
principais motivações que levam o público brasileiro a assistir vídeos na internet, de acordo

3 Pesquisa realizada pelo Google, disponível em: https://www.thinkwithgoogle.com/intl/pt-br/advertising-


channels/v%C3%ADdeo/pesquisa-video-viewers-2017-cinco-insights-sobre-consumo-de-videos-no-brasil/
com a pesquisa, são: conexão, a pessoa busca sentir algo em conjunto; conhecimento, a
pessoa busca se informar; entretenimento, a pessoa busca se divertir e identidade, a pessoa
busca se encontrar. Esses são os principais elementos que criam a conexão atual que o público
tem com a plataforma.
Já na perspectiva do debate político e social, o Youtube, como um espaço para o
discurso cívico, foi estudado por Jenkins (2009) e discute a redistribuição do poder da mídia,
a autenticidade da mídia alternativa e a adequação da paródia como um modo de retórica
política. O autor buscou compreender como a cultura participativa, a inteligência coletiva e a
convergência geram o seu impacto na sociedade. Sobre a ideia de uma nova mídia vir a
substituir todo um sistema político estabelecido pelas velhas corporações, Jenkins diz:

Debates sobre democracia digital há muito tempo vêm sendo moldados pela
fantasia de uma “revolução digital”, com a presunção de que as velhas
mídias (ou, nesse caso, o velho establishment político) seriam substituídas
pelo surgimento de novos participantes, sejam novas empresas de mídia
confrontando os velhos conglomerados, sejam blogueiros substituindo
jornalistas, ou cibercandidatos superando máquinas políticas (JENKINS,
2009, p. 356).

Também, discorrendo sobre as transformações provocadas pelo surgimento da internet,


no livro Web 2.0: Participação e Vigilância na Era da Comunicação Distribuída (2008), Carlos
Antoun defende que, após a virada do milênio, a internet teve um crescimento de público
jamais visto, fazendo com que se tornasse uma das maiores invenções concebidas pela
humanidade, principalmente ao considerar a ideia de explosão participativa provocada por ela.
O cidadão passou a, não apenas receber informações de forma passiva, mas, participar do
processo de modo a produzir, comentar e até modificar essas informações. Nesse contexto, de
acordo com Antoun, surgiram novas linguagens particulares de novas formas de mídia. A
maneira de entender o que é notícia se modificou, dessa forma. O Youtube apareceu em 2005
como uma ferramenta para a experimentação criativa, forma de manifestar opiniões e portal
para o ativismo político.
A web modificou a maneira como entendemos notícia, em razão das transformações
do nosso tempo, uma era de abundância de informação, explicada por Antoun (2008). O
Youtube, por sua vez, tem ocupado o papel da grande mídia em noticiários televisivos, em que
a imagem é muito importante. Com a facilidade em se criar um canal no Youtube, trocando
rapidamente informações e transmitindo notícias em tempo real, surge a figura do cidadão-
jornalista, referenciado por Gillmour (2005). Para o autor, existe um ganho de amplitude,
cobertura e leituras diferentes dos fatos em relação às outras mídias tradicionais, criando
assim um contraponto entre elas. Contraponto esse, fundamental para a ideia de mídia
alternativa.
O Jornalismo independente é desenvolvido sem o controle dos grandes veículos de
comunicação e, portanto, não está vinculado a compromissos com anunciantes, partidos
políticos ou órgãos governamentais. (LIMA, 2013). O jornalismo alternativo foi criado para
funcionar como um contraponto ao monopólio da grande mídia. Esse tipo de jornalismo pode
ou não ser comercial, mas frequentemente está ligado a organizações não governamentais. O
Youtube, com a proposta de ser a nova televisão, tem sido um espaço fortemente explorado
por esses veículos alternativos.
A mídia alternativa tem práticas com o objetivo de incentivar o debate público por um
número maior de pessoas, oferecendo temas e perspectivas diferentes dos grandes veículos de
comunicação hegemônicos. Dessa forma, as práticas do jornalismo alternativo seguem o
modelo da contrainformação com o objetivo de facilitar o acesso à informação a grupos
minoritários.
John Downing, em seu livro Mídia Radical (2002) descreveu as práticas da mídia
alternativa. Para ele, o papel da mídia alternativa era desmascarar as imprecisões divulgadas
pelos grandes veículos, em suas palavras “quebrar o silêncio, refutar as mentiras e fornecer as
verdades” (DOWNING, 2002). A contra-informação é encontrada na maioria das
manifestações, como em jornais populares, rádios comunitárias, fanzines e, agora, também
nas redes sociais e no Youtube, rede social e plataforma de vídeos que tem demonstrado um
crescimento acelerado frente a outros meios de comunicação, como já vimos anteriormente.
Há certa dificuldade em se classificar o jornalismo alternativo em virtude da amplitude
do seu significado. Ele incorpora diferentes definições quanto à organização das notícias,
operação da produção de conteúdo e a sua relação interativa com a sociedade (RENDEIRO,
2003).
O jornalismo alternativo e independente já existe no Brasil desde as publicações
humorísticas impressas da década de 1930, como o jornal A Manhã e as revistas Realidade e
Pasquim, no entanto, o seu auge foi durante a ditadura militar (1964-1985), ocasião em que,
durante a década de 70, surgiram diversos veículos de jornalismo ressaltando os valores éticos
e contrariando o poder arbitrário da época.
O jornalismo alternativo teve o seu auge na década de 1970, quando
floreceram dezenas de publicações que tinham como características, entre
outras, fazer oposição ao regime militar. Dessa forma, denunciavam torturas,
violações aos direitos humanos e criticavam o modelo econômico. Como o
nome diz, os alternativos tinham como proposta, ser uma alternativa aos
modelos dominantes de imprensa, aquela que se rende aos interesses
financeiros e é atrelada a grandes grupos econômicos (AMARAL, R et al.
2012, p.95).

Atualmente, a liberdade para a criação de conteúdos e a própria natureza do consumo


sob demanda permitiram o surgimento de diversos novos veículos de mídia, como mostra o
mapa do jornalismo independente, um projeto da Agência Pública. O mapa foi criado,
seguindo alguns critérios de seleção que trazem as características principais do jornalismo
independente feito pela mídia alternativa. Os critérios escolhidos pela agência são estes:
organizações que produzem primordialmente conteúdo jornalístico; organizações que
nasceram na rede; projetos coletivos, que não se resumem a blogs; sites não ligados a grandes
grupos de mídia, políticos, organizações ou empresas.
Belo (2003, p.24) estabelece as principais características do jornalismo alternativo. O
veículo não deve fazer parte da grande imprensa; deve trabalhar com um nicho específico,
tendo um público menor do que grandes empresas de comunicação; não deve ser ligado a
grandes grupos econômicos, nesse sentido deve valorizar ideais mais humanos do que
interesses de mercado; precisa ter a essência crítica, defender valores nacionalistas; combate
todas as formas de autoritarismo e zela pela liberdade de imprensa e expressão.
Trazendo mais características, Peruzzo (2009, p.131) define o jornalismo alternativo
da seguinte maneira:
Como o próprio nome indica, a comunicação alternativa se baliza por uma
proposição diferente: pretende ser uma opção como canal de expressão e de
conteúdos infocomunicativos em comparação à grande mídia comercial e à
mídia pública de tendência conservadora. Partindo desse pressuposto vem se
desenvolvendo ao longo da história uma práxis comunicacional- teoria e
prática – diversa e que se modifica em conformidade com o contexto
histórico em que se realiza. Suas diferenças são percebidas na direção
político-ideológica, na proposta editorial – tanto pelo enfoque dado aos
conteúdos quanto pelos assuntos tratados e pela abordagem crítica -, nos
modos de organização (de base popular, coletiva, no quintal de militantes) e
nas estratégias de produção/ação (vínculo local, participação ativa, liberdade
de expressão, uso mobilizador), entre outros aspectos. (PERUZZO, 2009,
p.131)
Deste modo, o jornalismo alternativo apresenta uma forma de contracomunicação,
uma comunicação elaborada no meio dos movimentos populares e das “comunidades”. O seu
objetivo é viabilizar a liberdade de expressão, oferecendo conteúdos diferenciados e servir
como um instrumento de conscientização, democratizando assim a informação e o acesso aos
meios de comunicação por parte da população, de maneira a contribuir para a transformação
da sociedade. (PERUZZO, 2009).
A partir do estudo desses autores, podemos compreender o conceito de jornalismo
alternativo e independente, as suas principais características, modo de ação e propósito. Na
seção seguinte, trataremos de descrever o canal Spotniks e o seu conteúdo publicado no
Youtube.

3 O JORNALISMO INDEPENDENTE DO PORTAL SPOTNIKS

O aumento da participação da juventude nas redes sociais em 2014, na época das


eleições presidenciais, foi o que motivou Felippe Hermes a criar o site Spotniks, com o
objetivo de contextualizar os assuntos de relevância social para o público, trazendo diversos
pontos de vista para dar base ao debate político.
A missão, descrita em linguagem informal no site Spotniks, é:

“colocar em órbita um satélite de conteúdo que permita aos nossos leitores o


acesso não apenas à notícia, mas ao que está por trás da notícia. Pra gente,
mais importante do que informar é explicar a informação. Por isso, nosso
foco é conteúdo. Conteúdo de primeira. E pra chegar nesse resultado é
preciso ir um pouco além das ferramentas disponibilizadas pelo jornalismo –
é preciso namorar também com aquilo que a economia, a filosofia, a política
e a biologia têm a dizer.” (HERMES, 2017)

Felippe Hermes recebeu o Prêmio Liberdade de Imprensa durante o trigésimo Fórum


da Liberdade, em Porto Alegre em abril de 2017. O criador do site defende a independência
do jornalismo desenvolvido pelo Spotniks, ainda que assuma um claro posicionamento
político: "A ideia é ser transparente. Não somos neutros. Temos posicionamento político e não
escondemos. Achamos que, mais importante do que dar a notícia, é dizer o que está por trás
dela."(HERMES, 2017)
A independência do jornalismo feito pelo Spotniks é destacada na seção ‘Fale com a
Gente’ no site: “somos desavergonhadamente apaixonados pela construção de uma sociedade
livre. E como disse certa vez o Tom Stoppard, se alguém tem o objetivo de mudar o mundo, o
jornalismo é a arma mais imediata a curto prazo.”(SPOTNIKS, 2014). O texto apresenta,
como princípios norteadores, o fortalecimento das instituições que geram prosperidade, o
respeito às liberdades individuais, à sociedade de mercado e a livre expressão, independente
de qualquer censura.
A liberdade é considerada um dos princípios fundamentais do jornalismo. Os
jornalistas precisam ser livres para realizar as suas atividades, sob o risco de ter o trabalho
comprometido ou inviabilizado, caso sejam impedidos por algum interesse externo. O próprio
exercício do jornalismo, desta maneira, está associado à defesa da liberdade de expressão. É
um valor que não apenas funda, mas dá razão e propósito à atividade. (HENRIQUES, 2009)
Em relação à necessidade de isenção ao se tratar de assuntos políticos, o portal elenca
uma série de princípios norteadores do seu jornalismo na seção ‘Princípios Editoriais’ do Site.
Os compromissos elencados são os seguintes: Confirmar a veracidade das informações antes
de publicar, expondo sua origem para que o leitor possa checá-la; manter atitude apartidária,
sem vínculos com partidos políticos ou governos; rejeitar publicidade estatal; rejeitar
publicidade de empresas envolvidas em corrupção; praticar um jornalismo criterioso na
apuração das informações, recorrendo a fontes confiáveis; manter independência e autonomia
em relação aos interesses dos anunciantes; priorizar a abordagem de temas que sejam de
interesse público e fomentem o debate; permitir o contraditório; identificar e corrigir
eventuais erros de informação e produzir informação com clareza e objetividade.
(SPOTNIKS, 2014)
Assim como os grandes veículos, Spotniks também reforça compromissos,
demonstrando agir de maneira transparente. Uma ideia basilar que remete aos princípios do
jornalismo. A ideia de credibilidade é um valor primordial para o jornalismo. Afinal, é preciso
haver confiança entre o comunicador e o seu público. O Manual da Folha de S. Paulo expõe
de maneira concisa esse objetivo com o uso do verbete 'mandato do leitor':

mandato do leitor – Nas sociedades de mercado, cada leitor delega ao jornal


que assina ou adquire nas bancas a tarefa de investigar os fatos, recolher
material jornalístico, editá-lo, publicá-lo. Se o jornal não corresponde a suas
exigências, o leitor suspende esse mandato, rompendo o contrato de
assinatura ou interrompendo a aquisição habitual nas bancas. A força de um
jornal repousa na solidez e na quantidade de mandatos que lhes são
delegados (Manual, 2001,p.45).

O compromisso com a ideia de verdade também está presente no texto de Spotniks.


Considerando que ninguém acessaria um vídeo jornalístico no Youtube para assistir mentiras,
nem compraria um jornal para lê-las, entendemos a verdade como um princípio capital para a
atividade jornalística. A imprensa deve publicar o que seja verdadeiro, pois a ficção é algo
que provém dos romances, ainda que existam colunas jornalísticas, ou suplementos dedicados
a ela. (ERBOLATO, 1991).

O rigor e a exatidão são outros fundamentos muito importantes para o jornalismo,


também associados à ideia de verdade. Para ser considerada verdadeira, a notícia precisa ser
produzida com respeito aos métodos de produção. A linguagem, mesmo contendo ironia e
sarcasmo, sendo utilizada como recurso pelo canal Spotniks, não deve levar a nenhum desvio
dos fatos objetivos. De acordo com Lage (2006), o jornalista deve demonstrar uma postura
ética distinta. Ele deve ressaltar a importância ou interesse de uma notícia, mantendo a
conformidade com os fatos.

Outro ponto que convém destacar é o espaço dado ao contraditório. Uma das
principais regras do jornalismo é dar espaço aos dois lados, conforme também é dito no
Manual da Folha:

Quando o repórter dispõe de uma informação que possa ser considerada


prejudicial a uma pessoa ou entidade, é obrigatório que ele ouça ou publique
com destaque proporcional a versão da parte atingida – esse procedimento,
na Folha, é chamado de ‘ouvir o outro lado’. [...] O outro lado também pode
levar o jornalista a refazer a sua apuração, ou mesmo abandonar a notícia, se
trouxer uma afirmação procedente que desminta a perspectiva inicial da
reportagem (Manual, 2001, p. 26-27).

Quanto a linha editorial, Spotniks entende que não existe imparcialidade em análises
políticas e econômicas, não havendo nada de errado com isso:

Motivações ideológicas fazem parte da pluralidade de imprensa e conectam


diferentes veículos ao redor do mundo: ora mais à esquerda (como o The
Guardian e o The Huffington Post), ora mais à direita (como o Le Figaro e a
Fox News), ora mais liberal (como a The Economist e a Reason Magazine).
(Spotniks, 2014)
Nesse sentido, também foram publicados princípios norteadores que orientariam a
linha editorial do portal. Spotniks se posiciona como um veículo liberal e defende o
fortalecimento de instituições políticas que abracem a liberdade de mercado, a propriedade
privada, a livre associação, a liberdade de imprensa, politica e religiosa, a isonomia, o
laicismo, o respeito aos contratos, a tolerância entre os povos e os direitos humanos e do
indivíduo. Se compromete a rejeitar ditaduras, governos populistas e autoritários, de qualquer
ideologia, comprometidos na perseguição a minorias (étnicas, sexuais, políticas ou religiosas),
ou que pretendam estabelecer uma centralização de decisões políticas e/ou econômicas. O
veículo também se compromete em denunciar empresas envolvidas em casos de corrupção,
defender as liberdades e direitos individuais, condenar abusos de autoridade, ser cético em
relação à concentração de poder nas mãos da classe política e apoiar o laicismo.

Desta forma, o portal Spotniks definiu e publicou quais seriam os princípios


fundamentais que norteariam a produção do seu conteúdo à sua maneira de fazer jornalismo.
Esses ideais servem de base para todos os suportes em que o portal multiplataforma está
presente, como no caso do canal Spotniks no Youtube, nosso objeto de estudo, como veremos
a seguir.

3.1 O CANAL SPOTNIKS NO YOUTUBE

O canal Spotniks no Youtube está inscrito na plataforma desde julho de 2014, mesma
época da criação do web site, tendo publicado o seu primeiro vídeo somente em agosto de
2018. Até o momento, 157 vídeos foram disponibilizados no canal para um público de 935 mil
inscritos.
Na aba ‘início’, o canal exibe um vídeo de apresentação. Em sua descrição estão
elencados todos os princípios com os compromissos do canal e a orientação da sua linha
editorial. A categoria no Youtube está elencada como Notícias e Política, indicando o tema do
vídeo. Atualmente, o vídeo intitulado ‘Afinal, que troço é esse tal de SPOTNIKS?’ tem
242.267 visualizações, 20 mil marcações como ‘gostei’, 233 como ‘não gostei’ e 850
comentários. O vídeo é narrado pelo dublador Sergio Stern, conhecido por dublar o
personagem Mike Wazowski na animação Monstros S.A.
O vídeo é construído em uma linguagem informal, provocativa e, em grande parte,
recheada de ironia e sarcasmo. No jornalismo, a ironia tem sido usada como um recurso
poderoso na formação de opinião. O jornalista tem o dever de interpretar a realidade para o
público. Os jornalistas precisam entender que a razão de ser da sua profissão consiste em
observar, interpretar e narrar a ‘realidade social’, da qual são igualmente ‘construtores’
(MESQUITA, 2005).
O uso da ironia é parte da interpretação que o jornalista faz da realidade, é a tradução
do real em uma linguagem. “A ironia está entre os recursos linguísticos-discursivos capazes de
compor uma estratégia enunciativa de natureza crítica pelo jornalismo, a que o sujeito
enunciador pode apresentar graus de (não) adesão e explicitude variados” (Seixas, 2015).
Os manuais de redação de grandes jornais como Folha de S. Paulo (2008) e O Globo
(1994) permitem o uso da ironia em seus textos jornalisticos, com algumas reservas. No
entanto, não é proibido o uso desse recurso pelos seus jornalistas. Outrossim, uso da ironia
como método para provocar a reflexão é plenamente aceitável.

O ironista não é imoral: ao contrário, ele obriga a imoralidade a sair do


esconderijo, imitando os seus defeitos, provocando-os, parodiando sua
hipocrisia, de forma que ninguém mais possa acreditar nela. O riso do
ironista é sempre calculado, intelectualizado, refletido.(MINOIS, 2003, p.
570).

Contando com uma edição e efeitos visuais atuais, com uso de memes4 e
fotomontagens típicas da internet, o vídeo procura estabelecer um diálogo com um novo
espectador, explicando do que se trata o canal Spotniks, quais os assuntos abordados, qual o
tratamento dado a esses temas. O objetivo do Spotniks, conforme o que é dito no vídeo, é
entender como esse planeta funciona, “...mas não da mesma maneira que você está
acostumado a ver por aí, não com os mesmos caras sentados em um sofá, discutindo com a
pose de quem bate um papo no salão de beleza”. (SPOTNIKS, 2014). Essa afirmação procura
reforçar a ideia do canal como um veículo alternativo à grande mídia. A explicação segue,
dando como objetivo principal do canal, “...conduzir o espectador para fora da sua bolha e
enxergar o mundo como se fosse a primeira vez”.

4 Em referência ao campo da informática, a expressão Memes de Internet é utilizada para


caracterizar uma ideia ou conceito, que se difundi através da web rapidamente. O Meme pode ser
uma frase, link, vídeo, site, imagem entre outros, os quais se espalham por intermédio de e-mails,
blogs, sites de notícia, redes sociais e demais fontes de informação.
Contextualizar, trazer dados aos fatos, se aprofundar nos temas propostos, são ideias
ligadas a outro princípio fundamental do jornalismo, o da objetividade. Por meio deste valor
capital para a atividade, o jornalismo se apresenta como relato livre, independente e autônomo,
credível, verdadeiro, rigoroso, exato e honesto. (HERMES, 2009). Não se trata de um culto
aos fatos, mas é uma questão metodológica, conforme o professor Nelson Traquina:

Assim, a objetividade no jornalismo não é a negação da subjetividade, mas


uma série de procedimentos que os membros da comunidade interpretativa
utilizam para assegurar uma credibilidade como parte não-interessada e se
protegerem contra eventuais críticas ao seu trabalho. (Traquina, 2005, p.
139)

Com sarcasmo, é dito no vídeo que a proposta do canal “...não é apenas jogar uma
manchete fria na tela como um conde Drácula saindo do caixão, mas contextualizar, se
aprofundar, trazendo dados, números, história e argumento.” (AFINAL, 2019). A ideia de
noticiar um mundo real, exatamente como ele é, remete às teorias clássicas do jornalismo,
como o espelho. A teoria do espelho é a mais antiga das teorias do jornalismo. Ela foi
desenvolvida a partir dos anos 1850 e surgiu no contexto das transformações na imprensa
americana, com o desenvolvimento de uma rentável indústria de notícias para as massas.
(PENA, 2010). A teoria sustenta que a imprensa deve ser um espelho que reflete, por meio das
notícias, a realidade.
Recorrendo às teorias clássicas do jornalismo para analisar o posicionamento do canal
Spotniks, verificamos que o jornalista, não apenas retrata a realidade como ela é, mas a
interpreta, insere o seu olhar para conduzir o público a um entendimento mais profundo dos
temas tratados nas reportagens. "Os jornalistas tem 'óculos' especiais a partir dos quais veem
certas coisas e não outras; e veem de certa maneira as coisas que veem. Eles operam uma
seleção e uma construção do que é selecionado." (BOURDIEU, 1997). Por isso, a notícia é
sempre precedida de uma ação em que o jornalista transforma a realidade em um produto
inteligível.
O vídeo segue com uma advertência bem-humorada sobre os “monstros” que seriam
encontrados pelo espectador em outros vídeos do canal, se referindo às figuras caricatas da
política brasileira. No entanto, deixa claro que a tônica do canal é o debate político e garante
não fazer proselitismos ou agir de forma partidária nas análises dos temas. O canal Spotniks,
mais uma vez, procura reforçar a sua natureza independente e livre, que é mencionado como
algo basilar no jornalismo por Traquina (2005): “Devido à importância da liberdade, outro
valor essencial desta comunidade interpretativa é a independência e a autonomia dos
profissionais em relação aos outros agentes sociais”. Apesar da proximidade existente entre
um veículo de jornalismo e seus anunciantes, bem como com o poder público, um dos valores
mais caros para o jornalismo é a independência. (HENRIQUES, 2009)
No encerramento, fica uma promessa ao espectador de novos conteúdos a serem
criados, como: entrevistas, reportagens, testes com populares e materiais especiais “com o
melhor do que o jornalismo independente produz no Brasil”, nesse momento o canal se
identifica como um veículo de jornalismo independente.

3.1.2 BATE-PAPO INFORMAL ENTRE ESPECIALISTAS APÓS ASSISTIREM AO FILME


CORINGA

O canal Spontiks aposta em modelos alternativos de linguagem para os seus produtos


audiovisuais. O vídeo intitulado ‘Levamos um psiquiatra, um palhaço, um ex-presidiário e um
sociólogo para assistir e debater CORINGA’ é um exemplo disso. O vídeo teve, até o
momento, 446.158 visualizações, 40 mil marcações como ‘gostei’ e 473 como ‘não gostei’ e
2.559 comentários. O vídeo foi publicado no dia 21 de outubro de 2019.
Na descrição do vídeo é dito se tratar de uma reportagem:

“Nos cinemas brasileiros, Coringa se tornou a estreia mais assistida da


história no mês de outubro. O Spotniks levou dois profissionais de saúde -
um deles, ex-presidiário (que chegou um pouquinho atrasado nas
gravações!) - um sociólogo e um palhaço para discutir o que podemos
aprender com o filme. Agradecemos a Warner Bros. Pictures Brasil e ao
cinema Reserva Cultural - que fica na Avenida Paulista, em São Paulo - pelo
apoio à reportagem.” (LEVAMOS, 2019).

No processo de produção jornalística, o profissional tem o dever de selecionar na


realidade o que será noticiado. Assim, são elencados alguns critérios, conhecidos nas teorias
do jornalismo como noticiabilidade. “A técnica de produção industrial de notícias estabeleceu
com este fim, critérios de avaliação formal, considerando constatações empíricas,
pressupostos ideológicos e fragmentos de conhecimento científico” (LAGE, 2001).
O Manual de Redação da Folha de S. Paulo define assim seus ‘critérios elementares
para definir a importância de uma notícia':
1) Ineditismo (a notícia inédita é mais importante do que a já publicada). 2)
Improbabilidade (a notícia menos provável é mais importante do que a
esperada). 3) Interesse (quanto mais pessoas possam ter sua vida afetada pela
notícia, mais importante ela é). 4) Apelo (quanto maior a curiosidade que a
notícia possa despertar, mais importante ela é). 5) Empatia (quanto mais
pessoas puderem se identificar com o personagem e a situação, mais
importante ela é). 6) Proximidade (quanto maior a proximidade geográfica
entre o fato gerador da notícia e o leitor, mais importante ela é). (Manual,
2001).

O trabalho realizado pelo canal Spotniks nesse vídeo, trata-se de uma reportagem com
pouca informação sobre o filme em si, subentendendo que o espectador já tenha
conhecimento sobre o longa-metragem. O foco está em discutir as questões relacionadas à
saúde mental e a sua relação, ou não, com o crime e a necessidade de ressocialização de ex-
criminosos, com base na opinião dos especialistas convidados. Relacionando com os critérios
de noticiabilidade, verificamos que se trata de um tema atual, de grande relevância social e
uma boa oportunidade para se debater o tema, na ótica de especialistas. Portanto, percebe-se
quais foram os critérios utilizados pela produção do canal ao selecionar o tema da reportagem.
“No campo das avaliações empíricas, alguns itens são consideráveis: a proximidade, a
atualidade, a identificação [social], a intensidade, o ineditismo, a oportunidade” (LAGE,
2001).
Álvaro Lages (palhaço profissional), Gustavo Higa (sociólogo), Daniel Barros
(psiquiatra) e Emerson Ferreira (psicólogo e ex-presidiário) são levados pela equipe do
Spotniks para assistir ao filme Coringa, que aborda temas como patologias mentais, conflitos
sociais e criminalidade. Após assistirem ao filme, os participantes foram convidados a se
sentar lado a lado e, um após o outro, exporem as suas impressões sobre o filme, do ponto de
vista das suas profissões e experiência. Não há, no entanto, a presença de um entrevistador no
vídeo, sendo esse conduzido pelos especialistas de maneira livre, como uma conversa
informal.
Na parte técnica, o produto audiovisual apresentado pelo canal Spotniks mantém uma
linguagem informal, tem uma edição simples, com poucos cortes, permitindo uma fluência ao
debate entre os convidados, com poucas interrupções, em certos momentos exibindo trechos
do filme, trazendo imagens cedidas pela Warner Bros, produtora do longa-metragem.
O vídeo tem um tempo total de pouco mais de 26 minutos e encerra, exibindo cenas do
filme, sem nenhuma conclusão ou desfecho adicional. A tela final do vídeo exibe as
informações referentes a produção, edição, câmera e roteiro com os respectivos nomes dos
profissionais responsáveis e também exibe outros produtos do canal para atrair o espectador.

3.1.3 MATÉRIA ESPECIAL: DESMISTIFICANDO MITOS DA DIREITA POLÍTICA

O próximo vídeo analisado trata-se do segundo episódio de uma minissérie especial do


Spotniks produzida para, conforme a própria descrição: "dissecar as dores e os amores do país
mais amado e odiado do mundo: os Estados Unidos”. O vídeo é intitulado: ‘Esses são os
mitos que a direita precisa parar de acreditar sobre os Estados Unidos.’ (ESSES, 2019).
Nessa produção, o canal Spotniks tem como objetivo demonstrar fatos e esclarecer
alguns mitos sobre esse país, difundidos por partidos e organizações identificados como
direita política. Em um primeiro vídeo dessa mesma série, publicado no mês de setembro, a
reportagem do Spotniks se concentrou em debater os mitos frequentemente defendidos pela
esquerda política. No caso do vídeo analisado, o tema central é a discussão sobre o racismo
nos EUA. A reportagem do Spotniks demonstra, através de dados, que, embora muitos
partidos e organizações ligadas à direita procurem minimizar o racismo institucionalizado na
sociedade americana, seus efeitos ainda são devastadores e percebidos socialmente, em razão
da segregação, e na economia americana. A reportagem demonstrou que um imóvel,
localizado em um bairro tipicamente negro nos EUA pode custar 50 mil dólares a menos do
que em uma localidade com maioria branca, por exemplo.
Outro tema tratado no vídeo é a questão da discriminação com imigrantes no país
norte-americano, outro tema que, segundo a reportagem, é minimizado por organizações da
direita política.
A comunicabilidade e o interesse também estão listados entre os princípios
fundamentais do jornalismo. O jornalista tem o dever de escolher notícias que sejam de
interesse público. (ERBOLATO, 1991).
O canal listou, na descrição do vídeo, todas as fontes utilizadas para a produção do
conteúdo. Foram consultadas as obras de David Landes: A Riqueza e a Pobreza das Nações,
Elsevier, 1998 e Matt Ridley: O Otimista Racional, Record, 2018. Também são citadas fontes
por meio de endereços de sites, que vão de gráficos do Nexo Jornal a reportagens da CNN
Business.
Até o momento, o vídeo em análise conta com 151.025 visualizações, tendo recebido
30 mil marcações com ‘gostei’, 1.700 marcações como ‘não gostei’ e 3.591 comentários,
desde sua publicação, no dia quatro de outubro de 2019.
Tecnicamente, o produto audiovisual apresentado pelo Spotniks conta com uma edição
complexa, com muitos cortes, uso de imagens ilustrativas e um modelo de reportagem mais
tradicional, sem sarcasmo, ironias e com a linguagem mais formal. O vídeo tem partes
narradas, ilustradas com diversas imagens e vídeos de alta qualidade. Em outros momentos,
trazendo a imagem da repórter Daniela Guaraná em localidades públicas nos Estados Unidos,
como monumentos históricos, ou no bairro Brooklyn, conhecido por ser um bairro de maioria
negra na cidade de Nova Iorque, assim contextualizando a reportagem.
O vídeo apresenta uma estética de documentário, apresentando maior seriedade na
linguagem e procurando demonstrar um grande aprofundamento de pesquisa. A reportagem
apresentada possui grande similaridade aos produtos jornalísticos apresentados na televisão
em programas de jornalismo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da análise do conteúdo do canal Spotniks no Youtube, bem como dos


compromissos firmados com o seu público e sua linha editorial, conclui-se que Spotniks trata-
se de um veículo de jornalismo liberal que apresenta um trabalho muito similar ao realizado
pelos grandes veículos de comunicação do país. No entanto, ele procura se apresentar ao
público como uma alternativa de jornalismo independente, diferente do mainstream, ainda
que, de acordo com Amaral (2012), o jornalismo alternativo deva ser feito para um nicho
específico, por grupos minoritários e de natureza contra-hegemônica.
O canal realiza um jornalismo tradicional e alega agir com imparcialidade e
transparência na escolha das fontes, permitindo o contraditório, dando espaço às minorias a
fim de provocar o debate social em torno de temas relevantes no nosso tempo. Porém, opinião
pode ser confundida com linha editorial em alguns momentos. O recorte escolhido em
algumas das suas reportagens pode estar induzindo o espectador a acreditar em algo que se
trata de opinião e não informação. É importante lembrar que o objetivo do jornalismo não é
apenas ser retrato da realidade, mas precisa interpretar o mundo e fazer a “costura”, algo que
parece faltar no conteúdo do Spotniks, em certos momentos.
É utilizada, na maioria das vezes, linguagem informal, a fim de se criar uma
proximidade maior ao espectador e por outras vezes uma linguagem mais formal e séria,
quando apresenta um aprofundamento nos temas, trazendo dados de pesquisa, fontes
documentais, para assim remeter a ideia de credibilidade e objetividade. Nota-se, também,
que em entrevistas mais dialogadas, como na análise do filme Coringa, pode ter faltado um
aprofundamento e intervenção da reportagem para auxiliar na construção de sentido para o
espectador, algo que é papel do jornalismo.
O canal Spotniks procura demonstrar em sua linha editorial que atende aos princípios
fundamentais do jornalismo no seu processo de produção de notícias, atendendo critérios
como: liberdade, independência e autonomia, credibilidade, verdade, rigor e exatidão,
honestidade, objetividade e interesse social. Porém, uma questão importante a ressaltar, para
discussão, é: até que ponto a ideologia do canal influencia e contamina o conteúdo e o
jornalismo apresentado pelo Spotniks?
Apesar de se posicionar como um veículo à direita política e da controversa sobre
jornalismo alternativo, Spotniks defende a legitimidade de manifestar uma opinião, sem ferir
os princípios do jornalismo e se apresenta como uma alternativa aos noticiários apresentados
pela grande mídia brasileira. No entanto, a alternativa parece estar melhor representada na
forma do que no conteúdo produzido pelo canal.

REFERÊNCIAS

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