Você está na página 1de 681

As Humanidades Greco-Latinas e a Civilizacao do Universal

Autor(es): Instituto de Estudos Cássicos, Faculdade de Letras de Coimbra, ed. lit.


Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Instituto de Estudos
Publicado por: Cássicos
URL URI:http://hdl.handle.net/10316.2/9712
persistente:
Accessed : 18-May-2019 02:56:28

A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis,
UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e
Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos.

Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de


acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s)
documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença.

Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s)
título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do
respetivo autor ou editor da obra.

Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito
de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste
documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por
este aviso.

pombalina.uc.pt
digitalis.uc.pt
(Página deixada propositadamente em branco)
AS HUMANIDADES GRECO-LATINAS
E A CIVILIZAÇÃO DO UNIVERSAL

LES HUMANITÉS GRÉCO-LATINES


ET LA CIVILISATION DE L'UNIVERSEL
Título
AS HUMANIDADES GRECO-LATINAS E A CIVILIZAÇÃO DO UNIVERSAL - ACTAS

1.' edição, 1988

Editores
INSTITUTO DE ESTUDOS CLÁSSICOS DA FACULDADE DE LETRAS DE COIMBRA
e Livraria MINERVA

Capa
Athena Lemnia de Fídias.
Desenho de Louro Fonseca
a partir de uma cópia romana.

Tiragem
1 500 exemplares

Composição e impressão
BARBOSA & XAVIER, LDA.
Rua Gabriel Pereira de Castro, 31-C
4700 BRAGA - PORTUGAL

Distribuidor
Livraria MINERVA
Rua dos Gatos, lO-ri c
3000 COIMBRA - PORTUGAL

© Instituto de Estudos Clássicos

N.O Depósito Legal 24660/88


CONGRESSO INTERNACIONAL
CONGRES INTERNATIONAL

AS HUMANIDADES GRECO-LATINAS
E A CIVILIZAÇÃO DO UNIVERSAL
, ,
LES HUMANITES GRECO-LATINES
ET LA CIVILISATION DE L'UNIVERSEL

ACTAS
ACTES

COIMBRA· 1988
(Página deixada propositadamente em branco)
íNDICE GERAL

Prólogo 11

Prologue 13

Manifesto .. ........ ... ... ............... ..... ... .. .... .... ... ... ........ ...... ........ .. .. ... .. ...... ..... .. 15

Manifeste ......... ............ ... ..... ..... .. ..... ..... ...... ............. .. .. .................... ...... .... 17

Comissão de Honra 19

Comissão Executiva 21

PatroCÍnios . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

Programa das Sessões 23

Lista dos Participantes 35

Sessão de Abertura .......... ..... .. .... .. ......... ......... ..... .......... ....... .. ..... .. .. .. ...... .. 71

Alocução da Presidente da Comissão Executiva, Prof: Doutora Malia


Helena da Rocha Pereira .. ............. ... ... ....... ... ...... ..... ...... ...... .... .. 73

Alocução do Presidente do Congresso, Presidente Léopold S. Senghor 77

Alocução do Embaixador de Portugal na UNESCO, Prof. Doutor


José Augusto Seabra .... .... .. ........ ............ ..... ........ .......... .. ...... ... .. 85

Alocução do Reitor da Universidade de Coimbra, Prof. Doutor Rui


de Alarcão . . . . . .. . . . . .. . .. . . . . .. . . . . .. . . . . . . . . . . . . . .. . .. . . . . . . . . . . .. . . . . .. . . . . .. .. . . . . . . . . . 89
8

COMUNICAÇÕES

I. Apreciação do Mundo Antigo 93

O. Tsagarakis, Homer and Classical Studies .... ... ..... ........ ....... ..... .... 95

M. Helena Urefía Prieto, Politique et éthique dans la Grece du IV'


siecle avant J. C. (la leçon de la paideia d'Isocrate) ............. ........ 103

G. Pascucci, Il contributo deI s. XIX aI progresso degli studi classici 125

E. Cizek, Pour une nouvelle histoire de Rome, pour une nouvelle


histoire de la littérature latine ... .... ... ...... ............. .... ... ......... .. .... 143

H. Bauzá, Roma y el destino de Occidente .... .......... .... .............. .. .. 157

II. Permanência da Cultura Clássica 169

A. Costa Ramalho, Literatura novilatina em Portugal .. ................... 171

C. Montemayor, Los poetas neolatinos de México en el siglo XVIII


y su contribución ideológica e histórica ....................................... 181

Gladstone Chaves de Melo, A Antiguidade na obra de Machado de Assis 193

M. Baptista Pereira, Modos de presença da Filosofia Antiga no pen-


samento contemporâneo ......................................... .. ................. 209

P. Grimal, Optique contemporaine dans l'étude des classiques ......... 311

J. Leclant, Regards d'un historien contemporain sur les cultures antiques 317

V. Poschl, Les causes de la décadence des langues anciennes ............ 323

III. Pensamento e Humanismo: Ética, Direito, Ciência e Técnica ......... 335

A. W. Adkins, Human nature in the philosophical ethics of ancient


Greece and today ......... . . ..... . ........ . ..... . ..... ... ..... . ... .. ...... ......... ..... . 337

R. M. Rosado Fernandes, Homem antigo e homem de hoje perante


a Natureza, a Técnica e o Progresso ............................ .............. 371

G. Dorival, L'originalité de la patristique grecque ........ ................... 383

J. 1mbert, La place du droit romain dans la pensée juridique moderne 421


9

IV. Igreja e Latinidade .... ..... .......... ... ... ...... .... ...... .. .. ... .............. ........ .. ... 431

R. Schilling, Ce que le christianisme doit à la Rome antique .......... .. 433


Amadeu Torres, Paul~ Orósio, ~~st?rióf5.rafo romano-bracarense e a sua
mensagem neste fIm de mIlemo ................ .......................... .. ...... . 465
J. Geraldes Freire, Da filologia clássica do séc. XIX à filologia cristã
(grega e latina) e ao latim tardio, especialmente no ocidente
hispânico (séc. IV-VII) ... ... .... ... .. .. .... ..... ... .. .. ... .. ......................... 483
C. Gnilka, La conversione della cultura antica vista dai Padri della
Chiesa ............ ..... ......... ...... ... ... ..... ............... .. ............................ .. 509
A. Melloni, La Veterum Sapientia di Giovanni XXIII e le Disposizioni
deI Vaticano II sull'uso deI Latino ............................................. 531
Abbé Jean Pierre-Bassene, Pourquoi 1'Assemblée des Évêques de l'Afri-
que no ire frallcophone a recommandé fortement l' enseignement du
latin et du grec dans les Séminaires ... ..... ... .... ....... ... ... .... .... .... .. 561
Dom Jean Clain:, Le latin et le chant grégorien ............. .. ............... 571

V. O humanismo greco-Iatino ante o mundo oriental, a Africa e a América 583

M. Amorós, La cultura greco-Iatina y el Japón ........ .. .......... .......... 585


B. Pinto-Bull, As humanidades greco-Iatinas face à Africa: Incompa-
tibilidade? Compatibilidade? ... ... .. .. ..... .... .. .. ... ....... ..... ........ ... ..... ... 595
Abbé P. Dovi N'Danu-Alipui, L'humanisme gréco-Iatin et l'Afrique ...... 607
Ch. Minguet, Le monde antique et l'Amérique Latine au XIX' siecle:
du néo-classicisme au pan-Iatinisme . .... .. ...... ............................ . 627

Sessão de Encerramento ....... ......... ... .. ............ ......... .. ...... .... ...... ............... 643

Relatório e conclusões pela Presidente da Comissão Executiva, Prof.'


Doutora Maria Helena da Rocha Pereira ........................ .. ............. 645
Proposta dos Professores de Latim, Grego e Português do 8.° Grupo A,
do Ensino Secundário ...... ...... .. .. ...... ... ..................... ........... ...... ... 653
Alocução do Presidente do Congresso, Presidente Léopold S. Senghor 655
Alocução do Vice-Presidente da União Latina, Embaixador de Itália
na UNESCO, Ivancich Biaggini .................. .. ............................... 657
Alocução do Sr. Ministro da Educação, Eng.o Roberto Carneiro .... .. 661
íNDICE DAS FOTOGRAFIAS

entre as pp.

1. o Presidente da República cumprimenta o Presidente do Congresso 16/17

2. Vista parcial da assistência ...... ...... ... ... ....... .. ... ... .... .. .... ......... ....... . 34/35

3. Vista parcial da assistência .. .. ...... ................. .. .. ........ ........ ..... ....... . 34/35

4. Vista parcial da assistência ...................... ......... .. .......................... . 34/35

5. Sessão de abertura - mesa da presidência ... ........ .... ...... .. .. ..... .. .. .. 72/73

6. Sessão de encerramento - mesa da presidência .................... ..... .. 644/645

7. Visita das mínas romanas de Conimbriga .. ...... ........ ...... .......... .. .. 668/669
PRóLOGO

o Congresso Internacional ((As Humanidades Greco-Latinas e a


Civilização do Universal» decorreu na Universidade de Coimbra, de
11 a 16 de Abril de 1988, por iniciativa conjunta do Instituto de Estudos
Clássicos da mesma Universidade e da Association Archives du xx e
Siecle, sediada em Paris. Os princípios que nortearam esta organização
podem ler-se no manifesto assinado por Léopold S. Senghor, seu ilustre
Presidente, e transcrito nestas Actas, pelo que se torna desnecessário
repeti-los aqui. Diremos antes que os temas a tratar se ordenaram por
cinco rubricas, segundo as quais agrupámos as comunicações: ((Apre-
ciação do mundo antigo», ((Permanência da Cultura Clássica», ((Pensa-
mento e humanismo: ética, direito, ciência e técnica», (dgreja e lati-
nidade», ((O humanismo greco-latino ante o mundo oriental, a Africa e
a América». Em cada uma delas falaram vários especialistas, para o
efeito c011.vidados, que representavam diversos países de quase todas
as partes do mundo. Dois dos mais ilustres, o Prof. Pierre Grimal, da
Universidade de Paris e o Prof. A. W. H. Adkins, da de Chicago, à última
hora nã,o puderam comparecer, por motivos de saúde, mas foram lidas
as comunicações que enviaram, respectivamente, pelo Prof. Ch. Minguet
e pela Prof.a Maria Irene Ramalho de Sousa Santos. Também por
motivos de saúde, não pôde estar no Congresso o representante da
Espanha, Prof. Manuel Fernández Galiano, um dos grandes helenistas
da actualidade. Dificuldades administrativas não permitiram a vinda do
Prof. Lloyd-Thompson, da Universidade de Ibadan, Nigéria, um dos
países africanos onde se publica uma revista de estudos clássicos.
Mesmo assim catorze nações deram o seu contributo a este aconteci-
mento cultural.
Queremos salientar o alto significado da presença, na sessão de
abertura, do Senhor Presidente da República, Dr. Mário Soares, do
Senhor Embaixador de Portugal na UNESCO, Dr. José Augusto Seabra,
e do Senhor Reitor da Universidade, Dr. Rui Alarcão. E, na de encer-
12 PRóLOGO

ramento, do Senhor Ministro da Educação, Eng.o Roberto Carneiro, e


do Senhor Vice-Presidente da União Latina, Embaixador Biaggini.
Também as alocuções proferidas nessas sessões solenes ficam arqui-
vadas nestas Actas.
Não o fica, porém, um dos momentos mais altos do Congresso,
aquele em que Sophia de Mello Breyner Andresen declamou, em por-
tuguês e em francês, alguns dos seus mais belos poemas inspirados
pela Grécia antiga. Tão-pouco pode ficá-lo o interesse e o entusiasmo
com que cerca de quatro centenas de participantes provenientes de
diversas áreas do saber, além da clássica, acompanharam as sessões
e intervieram nos debates.
É aqui também o lugar para referir a cerimónia de recepção, na
tarde do dia 11, do Presidente Senghor na Câmara Municipal de Coimbra,
cujo presidente teve a gentileza de oferecer em seguida um «pôr-do-sol»
nos Claustros de Santa Cruz, nesse evocativo local onde a vocação
universitária da cidade se afirmou quase desde os alvores da naciona-
lidade; para realçar o valor da notável exposição bibliográfica, com
raros espécimes, que incluíam vinte e cinco incunábulos e edições
quinhentistas de autores gregos, latinos e humanistas, a qual se ficou
a dever à erudição e saber do Director da Biblioteca Geral da Univer-
sidade, Prof. Aníbal Pinto de Castro; para recordar a lição de arqueo-
logia que foi a visita ao Museu Monográfico e ruínas romanas de
Conimbriga, orientada pela sua Directora, Dr. a Adília Moutinho; para
registar o encantamento da audição do coro dos Antigos Orfeonistas
do Orfeão Académico, no dia 13, e, no dia 15, do do actual Orfeão
Académico este, na capela do Palácio de São Marcos, em concerto
memorável em que merece menção à parte a estreia de um órgão
histórico acabado de restaurar, tocado por um artista como o Prof.
Gerhard Doderer.
A todas estas entidades, e não menos àquelas que concederam o
seu valioso patrocínio a uma inicativa que, de outro modo, não teria
podido ser levada a efeito, a Comissão Executiva do Congresso renova
aqui a sua muita gratidão.

MARIA HELENA DA ROCHA PEREIRA


Presidente da Comissão Executiva
PROLOGUE

Le Congres International «Les Humanités Gréco-Latines et la Civi-


lisation de l'Universel» s' est déroulé à l'Université de Coimbra, du 11
au 16 avril 1988, sur l'initiative conjointe de l'Institut des Études Clas-
siques de cette même Université et de l'Association Archives du XX'
Siecle, siégeant à Paris. Les principes qui ont régi cette manifestation
peuvent être lus dans le manifeste signé par Léopold S. Senghor, son
illustre Président, et transcrits dans ces Actes, ce qui rend inutile
de les répéter ici. Nous dirons. plutôt que les themes à traiter se sont
ordonnés sur cinq rubriques, d'apres lesquelles nous avons regroupé
les communications: «Appréciation du monde antique», «Permanence
de la culture classique», «Pensée et Humanisme: éthique, droit, science
et technique», «Église et latinité», «L'humanisme gréco-Iatin face au
monde oriental, à l'Afrique et à l'Amérique». Divers spécialistes, invités
à cet effet, et représentant plusieurs pays du monde entier, se sont
exprimés sur chacune d' elles. Deux des plus illustres, le Prof. Pierre
Grimal, de l'Université de Paris, et le Prof. A. W. H. Adkins, de celle
de Chicago, se sont trouvés dans l'impossibilité, en derniere minute,
de se déplacer pour des raisons de santé. Mais les communications
qu'ils avaient envoyées ont été lues, respectivement, par le Prof. Ch.
Minguet et par Mme. le Prof. Maria Irene Ramalho de Sousa Santos.
Le représentant de l'Espagne, le Prof. Manuel Fernández Galiano, l'un
des grands hellénistes de l'actualité, n'a pas pu, lui non plus, être présent
au congres pour les mêmes raisons. Des difficultés administratives n'ont
pas permis la venue du Prof. Lloyd Thompson, de l'Université d'Ibadan,
Nigéria, l'un des pays africans ou est publiée une revue d'études clas-
siques. Quoi qu'il en soit, quatorze nations ont apporté leur contri-
bution à cet événement culturel.
Nous tenons à signaler la haute signification de la présence, lors
de la session d' ouverture, de Monsieur le Président de la République,
14 PROLOGUE

Mário Soares, de Monsieur l'Ambassadeur du Portugal à l'UNESCO, José


Augusto Seabra, et de Monsieur le Recteur de l'Université, Rui Alarcão.
Et, à la session de clôture, de Monsieur le Ministre de I'Education,
Roberto Carneiro, et de Monsieur le Vice-Président de l'Union Latine,
Ambassadeur Biaggini. Les allocutions proférées durant ces sessions
solennelles sont elles aussi incluses dans ces Actes.
Ce qui malheureusement n'y figure pas représente pourtant l'un
des plus élevés moments du Congres: lorsque Sophia de Mello-Breyner
Andresen déclama, en portugais et en français, quelques-uns de ses
plus beaux poemes inspirés par la Grece antique. On n'y retrouve pas
non plus l'intérêt et l' enthousiasme avec lesquels environ quatre cerlts
participants provenant des divers domaines du savoir, outre le domaine
classique, ont suivi les sessions et ont participé au débat.
Il y a aussi tout lieu de mentionner ici la cérémonie de réception,
dans le courant de l' apres-midi du 11, du Président Senghor à la Mairie
de Coimbra dont le maire a ensuite eu la gentillesse d'offrir un
«coucher de solei!» dans les Clo'itres de «Santa Cruz », en ce lieu évocatit
ou la vocation universitaire de la ville s' est affirmée presque depuis le
début de la nationalité; de réhausser la valeur de la notable exposition
bibliographique composée de rares spécimens, qui comprenaient vingt
cinq incunables et des éditions du XVIe siecle d'auteurs grecs, latins
et d'humanistes, laquelle est due à l'érudition du Directeur de la Biblio-
theque Générale de l'Université, Prof. Aníbal Pinto de Castro; de rappeler
la leçon d'archéologie de Conimbriga, orientée par sa Directrice, Mme.
Adília Moutinho; d'évoquer l'enchantement de l'audition du choeur des
«Antigos Orfeonistas» de l'«Orfeão Académico» le 13, et, le 15, celui
de l'actuel «árfeão Académico», ce dernier dans la chapelle du «Palácio
de São Marcos», durant un concert mémorable ou i! faut mentionner à
part la premiere d'un orgue historique récemment restauré, dont jouait
un artiste comme le Prof. Gerhard Doderer.
C'est à toutes ces entités, ainsi qu'à celles qui ont concédé leur
précieux parrainage à une inicia tive qu'il n'aurait pas été possible de
mener à bien autrement, que le Comité Exécutif du Congres renouvelle
ici loute sa gratitude.

MARIA HELENA DA ROCHA PEREIRA


Présidente du Comité Exécutif
MANIFESTO

A Antiguidade Greco-Latina está, como todos sabem, na base da


civilização europeia, e os seus padrões modelaram, durante séculos,
a maior parte da cultura ooidental, quer sob o ponto de vista literário,
como sob o artístico, científico, filosófico e até político, e pode afir-
mar-se que não cessou ainda de o fazer. Mas o alargamento de hori-
zontes iniciado a paTt1r da grande eX!pansão europeia dos séoulos XV
e XVI traz àquela herança cultural novos dados que são avidamente
absorvidos, primeiro procurando integrá-los nos esquemas dos antigos
(preocupação de identificar novas terras e povos com os referidos pelos
clássicos), depois orgulhando-se das novidades que aqueles nunca haviam
pressentido. O achado de continentes desconhecidos, insuspeitados por
um lado, o encontro com o Oriente, por outro, vêm demonstrar a
existência de novos valores que merecem estudo e consideração.
No nosso século de comunicações aceleradas, este quadro geral
da humanidade aparece oada vez mais como um vasto mosaico, em
que cada peça tem o seu valor próprio. CamÍlIlha-se para a civilização
do universal, onde, aliás, o entendimento não deve impedir a diver-
sidade, mas apenas harmonizá-la. Por todos estes motivos, é chegada
a ocasião, quando se aprlOxirrna o teJ1mo do segundo milénio, de pro-
mov<er uma reflexão sobre o papel que desempenharam e devem conti-
nuar a desempenhar as humanidades greco-Iatinas no quadro deste
v,a sto e complexo contexto em que hoje nos movemos .
É essa, preoisamente, a razão do Congresso Internacional As Huma-
nidades Greco-Latinas e a Civilização do Universal, e, por isso, em cada
um dos gu:andes temas em que se divide, só um é completamente
voltado para o passado, a1iás próximo (Contribuição do séc. XIX para
a apreoiação do mundo antigo). Os outros quatro encaram sucessiva-
mente a permanência da cultura clássica (designadamente na literatura
e no pensamento contemporâneo), pensamento e humanismo (compa-
rando a v,i são antiga da natureza humana, do direito romano, da natu-
16 MANIFESTO

reza e da técnica, com a actual), novas directrizes da Igreja e da


latinidade, e tradição e modernidade: encontro e pennuta com o
Oriente, a África, a América.
Esta perspectiva universalista levou-nos a pedir a colaboração de
especialistas de diferentes áreas, certos de que a interdisciplinaridade
é uma garantia imprescindível do bom êxito deste encontro.

Léopold S. Senghor
1. Presidente da República cumprimenta o Presidente do Congresso
(Página deixada propositadamente em branco)
MANIFESTE

L'Antiquité gréco-Iatine est, comme chacun sait, à la base de la


civilisa.tion européenne. Ses modeles ont façonné, pendan:t des siecles,
la cU'lture occidenrt:ale dans sa plus grande parrt, aussi bien du point
de vue Jiottéraire que des points de vue al'tistique, sdentif.ique, philo-
sophique et mêrne politique, et on peut affiirmer qu'elle n'a jamais
cessé de le faire. Mais l'élargdlssemenrt d'horizons, co:rmnencé à partir
de la grande expansion européenne des xve et XVle siecles, a emichi
cet héritage cUilturel de nouveLles dorunées, qui ont été absorbées avec
avidité en essayant de les inrt:égrer, d'abord. cLans les schémas hérités
(préoccupation d'identifier les nouvelles terres et les nouveaux peuprles
avec ceux mell'tionm.és par les «class1iques») et, ensuMe, en s'enorgueil-
lissant de nouveautés que les Anciens n'avaient jamais pressenties
auparavant. La découverte de nouvealUx conrt:inents insoupçonnés et La
rencontre diJ1ecte avec l'Orient OI1It démOl1Jtré l'existence d'autJres valeurs,
qui méritent étude et considéIlation.
Dans notre siecle de co:rmnunications accélérées, ce cadre général
de l'Humanité apparaít, de plus en plus, comme une vas:te mosaique
dans laqueNe chaque piece a sa valeuT propre. Naus nous ooheminons
vers la civilisation de l'Universel ou, d'ailileurs, la compréhension ne
doit pas empêoher la diversité, mais l'hanrnoniser. Pour toutes ces
raisons, le moment est venu, alors que le second miUénaire touche
à sa fin, de promouvoir une réflex~on sur le rôle qu'ont tenu, eil: doivent
continuer à tenir, les humanités gréco-Iatines dans le cadre de ce con-
texte vas1te et complexe ou nous évoluons aujourd'hui.
C'est là, justement, la raison du Congres International Les Humanités
Gréco-Latines et la Civilisation de l'Universel et c'es1: pau r cela que,
parmi les grands themes en lesquds il se divise, un seul est comple-
tement tourné vers le passé, récent au demeurant (contribution du
XIxe siecle à l'appréciation du monde ancien). Les quatre aUJtres themes
s'attachent successivement à la permanence de la cu]ture classique
18 MANIFESTE

(en littérature et dans la pensée oontemporaine), aux relations entre la


pensée et l'humanisme (comparant la vision ancienne de la nature
humaine, du droit romain, de la nature et de la technique avec la vision
actuelle), aux nouvelles orientations de l'Église et de la latinité, et aux
rapports entre tradition et modernité: rencontre et échange avec l'Orient,
l'Afrique et l'Amérique.
Cette perspective universaliste nous a amenés à solliciterr la colla-
boration de spécialistes eles différents secteurs, l'interdisciplinarité nous
paraissant une garantie fondamentale pour le succes de notre rencontre.

Léopold S. Senghor
COMISSÃO DE HONRA
COMITÉ D'HONNEUR

Dr. Mário Soares


Presidente da República

Dr. Aníbal Cavaco Silva


Primeiro Ministro

Dr. João de Deus Pinheiro


Ministro dos Negócios Estrangeiros

Eng." Roberto Carneiro


Ministro da Educação

Dr. Alberto Ralha


Secretário de Estado do Ensino Superior

Dr. José Augusto Seabra


Embaixador de Portugal na UNESCO

Dr. Britaldo Rodrigues


Presidente do Instituto Nacional de Investigação Científica

Dr. Fernando Cristóvão


Presidente do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa

Dr. José Mariano Gago


Presidente da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica

Dr. Rui Alarcão


Reitor da Universidade de Coimbra

Dr. Virgílio Meira Soares


Reitor da Universidade de Lísboa
20

Dr. José Bacelar e Oliveira


Reitor da Universidade Católica

Dr. Ludwig Franz Scheidl


Presidente do Conselho Dir ectivo da Faculdade de Letras de Coimbra

Dr. Charles Minguet


Presidente da Association Archives du XX' Siecle

Eng." António Moreira


Presidente da Câmara Municipal de Coimbra

Dr. Fernando Aguiar Branco


Presidente da Fundação Eng.o António de Almeida

Fundação Luso-Americana

PRESIDENTE DO CONGRESSO
PR~SIDENT DU CONGR~S

Presidente Léopold Sédar Senghor


COMISSÃO EXECUTIVA
COMITÉ EXÉCUTIF

M. H. Rocha Pereira
Professora da Universidade de Coimbra, Presidente

R. Schilling
Presidente da Universidade de Estrasburgo

A. Segala
Secretário da Association Archives

Sebastião T. Pinho
Professor da Universidade de Coimbra

J. Ribeiro Ferreira
Professor da Universidade de Coimbra

M. F. Sousa Silva
Professora da Universidade de Coimbra

Francisco de Oliveira
Professor da Universidade de Coimbra
PATROCíNIOS
PATRONAGE

- Ministério dos Negócios Estrangeiros

- Ministério da Educação

- Secretaria de Estado do Ensino Superior

- Instituto Nacional de Investigação Científica

- Instituto de Cultura e Língua Portuguesa

- Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica

- Reitoria da Universidade de Coimbra

- Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra

- Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

- Association Archives du XX' Siec1e

- Câmara Municipal de Coimbra

- Região de Turismo do Centro

- Fundação Eng." António de Almeida

- Fundação Luso-Americana

- Museu Monográfico de Conimbriga

- Banco Pinto e Sottomayor

- Livraria Minerva

- Regisconta

- Sistmatic - Sistemas Informáticos,Lda.


PROGRAMA DAS SESSõES

PROGRAMME DES SÉANCES


24

11 de Abril de 1988
Segunda-Feira

PROGRAMA

11 H - Sessão solene de abertura, sob a presidência de Sua Excelência o


Senhor Presidente da República, Dr. MARIO SOARES.

Abertura do Congresso pela Presidente da Comissão Executiva,


Prof.' Doutora M. H . ROCHA PEREIRA.

Alocução do Presidente do Congresso,


Presidente LÉOPOLD SÉDAR SENGHOR.

Alocução do Embaixador de Portugal na UNESCO,


Prof. Doutor JOSÉ AUGUSTO SEABRA.

Alocução do Reitor da Universidade de Coimbra,


Prof. Doutor RUI ALARCAO.

15 H - Presidente da Sessão: R. SCHILLING (Univ. de Estrasburgo)


Secretário: ANA PAULA QUINTELA (Univ. do Porto).

P. GRIMAL (Univ. de Paris IV - SorbOlme),


Optique contemporaine dans l'étude des classiques.

G. PASCUCCI (Univ. de Florença),


Contribution du XIX' siecle au progres des humanités gréco-latines.

J. GERALDES FREIRE (Univ. de Coimbra),


Da Filologia Clássica à Filologia cristã (grega e latina) e ao latim
tardio, especialmente no ocidente hispânico (sécs. IV-VII).

17.30 H - Sessão de cumprimentos na Câmara Municipal de Coimbra.

18 H - Pôr-do-sol nos claustros de Santa Cruz, oferecido pela Câmara Municipal


de Coimbra.
25

11 avril 1988
Lundi

PROGRAMME

11 H - Séance solennelle d'puverture, sous la présidence de San Excellence le


Président de la République, M. MARIO SOARES.

Ouvertllre dll Congres par la Présidente du Comité Exécutif,


M.me le Prof. M. H. ROCHA PEREIRA.

Allocution par le Président du Congres,


Président LÉOPOLD SÉDAR SENGHOR.

Allocution par l'Ambassadeur du Portugal aupres de l'UNESCO,


Prof. JOSÉ AUGUSTO SEABRA.

Allocution par le Recteur de l'Université de Coimbra,


Prof. RUI ALARCÁO.

15 H - Président de la Séance: R. SCHILLING (Univ. de Strasbourg)


Secrétaire: ANA PAULA QUINTELA (Univ. de Porto).

P. GRIMAL (Univ. de Paris IV - Sorbonne),


Optique contemporaine dans l'étude des classiques.

G. PASCUCCI (Univ. de Florence),


Contribution du XIXe siecle au progres des humanités gréco-latines.

J. GERALDES FREIRE (Univ. de Coimbra),


Da Filologia Clássica à Filologia cristã (grega e latina) e ao latim
tardio, especialmente no ocidente hispânico (sécs. IV-VII).

17.30 H - Séance de compliments à la Mairie de Coimbra.

18 H - Réception dans le Cloítre de Santa Cruz, offerte par la Mairi e de


Coimbra.
26

12 de Abril de 1988
Terça-Feira

PROGRAMA

9H - Presidente da Sessão: WALTER DE MEDEIROS (Univ. de Coimbra)


Secretário: BELMIRO FERNANDES PEREIRA (Univ. de Aveiro).

H. BAUZA (Univ. de Buenos Aires) ,


Roma y el destino de occidente.

CH. MINGUET (Univ. de Paris X - Nanterre),


Le monde antique et l'Amérique Latine au XIX' s.: du neoclassicisme
au panlatinisme: Simon Bolivar, Alexandre Humboldt, Napoléon III.
V. PbSCHL (Univ. de Heidelberg),
Les causes de Za récession des Zangues anciennes.

12 H - Exposição bibliográfica.

15 H - Presidente da Sessão: JORGE OSóRIO (Univ. do Porto)


Secretário: EDUARDO BRAGA (Univ. do Porto).

G. DORIVAL (Univ. de Tours),


L'originalité de la Patristique grecque.

J. LECLANT (Académie des Inscriptions et Belles Lettres),


Regards d'un historien contemporain sur les cultures antiques.
E. CIZEK (Univ. de Bucareste),
Pour une nouvelle histoire de Rome, pour une nouvelle histoire
de la littérature Zatine.

M. BAPTISTA PEREiRA (Univ. de Coimbra),


Modos de presença da filosofia antiga no pensamento contemporâneo.
27

12 avril 1988
Mardi

PROGRAMME

9H - Président de la Séance: WALTER DE MEDEIROS (Univ. de Coimbra)


Secrétaire: BELMIRO FERNANDES PEREIRA (Univ. de Aveiro) .

H. BAUZA (Univ. de Buenos Aires),


Roma y el destino de occidente.

CH. MINGUET (Univ. de Paris X - Nanterre),


Le monde antique et l'Amérique Latine au XIX' s.: du neoclassicisme
au panlatinisme: Simon Bolivar, Alexandre H umboldt, N apoléon II I.

V. PbSCHL (Univ. de Heidelberg),


Les causes de la récession des langues anciennes.

12 H - Exposition bibliographique.

15 H - Président de la Séance: JORGE OSóRIO (Univ. de Porto)


Secrétaire: EDUARDO BRAGA (Univ. de Porto).

G. DORIVAL (Univ. de Tours),


L'originalité de la Patristique grecque.
L. LECLANT (Académie des Inscriptions et Belles Lettres) ,
Regards d'un historien contemporain sur les cultures antiques.
E. CIZEK (Univ. de Bucareste),
Pour une nouvelle histoire de Rome, pour une nouvelle histoire
de la littérature latine.

M. BAPTISTA PEREIRA (Univ. de Coimbra),


Modos de presença da filosofia antiga no pensamento contemporâneo.
28

13 de Abril de 1988
Quarta-Feira

PROGRAMA

9H - Presidente da Sessão: AN1BAL PINTO DE CASTRO (Univ. de Coimbra)


Secretário: VIRGíNIA SOARES PEREIRA (Univ. de Braga).

A. W. H. ADKINS (Univ. de Chicago),


Rumem nature in the phiZosophicaZ ethics of ancient Greece and today.

A. MELLONI (Istituto per le scienze religiose - Bolonha),


La Veterum Sapientia di Giovanni XXIII e i suoi rapporti con le
disposizioni deZ Vaticano II sull'uso del latino.

J . IMBERT (Univ. de Paris),


La place du droit romain dans la pensée juridique moderne.

O. TSAGARAKIS (Univ. de Creta),


Romer and ClassicaZ Studies.

14.30 H - Partida para Conimbriga.

15 H - Visita às ruínas romanas de Conimbriga.

21 H - Recital pelos Antigos Orfeonistas do Órfeão Académico de Coimbra,


no Auditório da Reitoria.
29

13 avril 1988
Mercredi

PROGRAMME

9H - Président de la Séance: ANlBAL PINTO DE CASTRO (Univ. de Coimbra)


Secrétaire: VIRG1NIA SOARES PEREIRA (Univ. de Braga).

A. W. H. ADKINS (Univ. de Chicago),


Human nature in the philosophical ethics of ancient Greece and today.

A. MELLONI (Istituto per le scienze religiose - Bologne),


La Veterum Sapientia di Giovanni XXIII e i suoi rapporti con le
disposizioni del Vaticano II sull'uso del latino.

J . IMBERT (Univ. de Paris),


La place du droit romain dans la pensée juridique moderne.

O. TSAGARAKIS (Univ. de Crete),


Homer and Classical Studies.

14.30 H - Départ pour Conimbriga.

15 H - Visite des ruines romaines de Conimbriga.

21 H - Récital des Anciens Orphéonistes de l'Orphéon Académique de Coimbra,


dans l'Auditorium.
30

14 de Abril de 1988
Quinta-Feira

PROGRAMA

9H - Presidente da Sessão: ANíBAL PINTO DE CASTRO (Univ. de Coimbra)


Secretário: MARIO HÉLDER (Univ. dos Açores) .

CH. GNILKA (Univ. de Münster),


La conversione della cultura antica vis ta dei padri della Chiesa.

R. SCHILLING (Univ. de Estrasburgo),


Ce que le Christianisme doit à la Rome antique.

M. H. URENA PRIETO (Univ. de Lisboa),


Politique et éthique dans la Grece du IV- siecle avant J. C.
(La leçon de la paideia d'Isocrate).

AMADEU TORRES (Univ. Católica Portuguesa),


Paulo Orósio: o historiógrafo latino-peninsular e a sua mensagem
universalista neste fim de milénio.

15 H - Presidente da Sessão: VíTOR JABOUILLE (Univ. de Lisboa)


Secretário: CARLOS MORAIS (Univ. do Porto).

PINTO BULL (Guiné-Bissau),


L'humanisme gréco-latin face à l'Afrique:
Incompatibilité? Compatibilité?
A. DOVI N'DANU-ALIPUI (Conférence Episcopale de Togo),
L'humanisme gréco-latin et l'Afrique.

J.-P. BASSENE (Senegal),


Pourquoi l'Assemblée des Évêques de l'Afrique Noire francophone
a recommandé fortement l' enseignement du grec et du latin dans
les Séminaires.

C. MONTEMAYOR (Academia Mexicana de Língua Espafiola),


Sobre as humanidades greco-latinas e o México.
GLADSTONE CHAVES DE MELO (Univ. Federal Fluminense - Brasil),
A presença da Antiguidade na obra de Machado de Assis.
31

14 avril 1988
Jeudi

PROGRAMME

9H - Président de la Séance: ANtBAL PINTO DE CASTRO (Univ. de Coimbra)


Secretaire: MARIO HÉLDER (Univ. de Açores).

CH. GNILKA (Univ. de Münster),


La conversione della cultura antica vista dei padri della Chiesa.

R. SCHILLING (Univ. de Strasbourg),


Ce que le Christianisme doit à la Rome antique.

M. H. URENA PRIETO (Univ. de Lisboa),


Politique et éthique dans la Grece du IV' siecle avant J. C.
(La leçon de la paideia d'Isocrate).

AMADEU TORRES (Univ. Católica Portuguesa),


Paulo Orósio: o historiógrafo latino-peninsular e a sua mensagem
universalista neste fim de milénio.

15 H - Président de la Séance: VtTOR JABOUILLE (Univ. de Lisboa)


Secrétaire: CARLOS MORAIS {Univ. de Porto).

PINTO BULL (Guiné-Bissau),


L'humanisme gréco-Iatin face à l'Afrique:
Incompatibilité? Compatibilité?
A. DaVI N'DANU-ALIPUI (Conférence Episcopale de Togo),
L'humanisme gréco-Iatin et l'Afrique.
J.-P. BASS:BNE (Sénégal),
Pourquoi l'Assemblée des Evêques de l'Afrique Noire francophone
a recommandé fortement l'enseignement du grec et du latin dans
les Séminaires.
C. MONTEMAYOR (Academia Mexicana de Língua Espafiola),
Sobre as humanidades greco-Iatinas e o México.

GLADSTONE CHAVES DE MELO (Univ. Federal Fluminense - Brasil),


A presença da Antiguidade na obra de Machado de Assis.
32

15 de Abril de 1988
Sexta-Feira

PROGRAMA

9H - Presidente da Sessão: MANUEL DE O. PULQUÉRIO (Univ. de Coimbra)


Secretário: JOÃO BEATO (Univ. de Lisboa) .

R. M. ROSADO FERNANDES (Univ. de Lisboa),


Homem antigo e homem de hoje perante a Natureza, a Técnica
e o Progresso.
A. COSTA RAMALHO (Univ. de Coimbra),
A literatura novilatina em Portugal.
Dom J. CLAIRE (Abbaye de Solesmes),
Le latin et le chant grégorien.
15 H - Presidente da Sessão: AIRES DO NASCIMENTO (Univ. de Lisboa)
Secretário: MARTA VARZEAS (Univ. do Porto).
SOPHIA DE MELLO-BREYNER (Lisboa),
Leitura de poemas sobre temas clássicos.
A. SEGALA (Association Archives du XX" Siecle),
Le Programme Archives: un exemple de convergences panlatines
à l'horizon du 3e millenaire.
17 H - Sessão de encerramento.
Relatório e conclusões pela Presidente da Comissão Executiva,
Prof.' Doutora M. H. ROCHA PEREIRA.
Alocução do Presidente do Congresso,
Presidente LÉOPOLD SÉDAR SENGHOR.
Alocução do Vice-Presidente da União Latina,
Embaixador da Itália, GIACOMO IVANCICH BIAGGINI.
Alocução do Senhor Ministro da Educação,
Prof. Doutor ROBERTO CARNEIRO.
19.30 H - Concerto de órgão em S. Marcos.
20.30 H - Recepção em S. Marcos.

16 de Abril de 1986
Sábado

PROGRAMA

9.30 H - Visita à cidade de Coimbra.


33

15 avril 1988
Velldredi

PROGRAMME

9H - Président de la Séance: MANUEL DE o. PULQUÉRIO (Univ. de Coimbra)


Secrétaire: JOAO BEATO (Univ. de Lisboa).

R. M. ROSADO FERNANDES (Univ. de Lisboa),


Homem antigo e homem de hoje perante a Natureza, a Técnica,
e o Progresso.
A. COSTA RAMALHO (Univ. de Coimbra),
A literatura novilatina em Portugal.
Dom J. CLAIRE (Abbaye de Solesmes),
Le latin et le chant grégorien.
15 H - Président de la Séance: AIRES DO NASCIMENTO (Univ. de Lisboa)
Secrétaire: MARTA VARZEAS (Univ. de Porto).
SOPHIA DE MELLO-BREYNER (Lisboa),
Leitura de poemas sobre temas clássicos.
A. SEGALA (Association Archives du XIX' Siecle),
Le Programme Archives: un exemple de convergences panlatines
à l'horizon du 3' millenaire.
17 H - Séance de clôture.
Aperçu et conclusions par la Pré si dente du Comité Exécutif,
Prof." Doutora M. H. ROCHA PEREIRA.
Allocution par le Président du Congres,
Président LÉOPOLD SÉDAR SENGHOR.
Allocution par le Vice-Président de l'Union Latine,
Ambassadeur de l'ltalie, GIACOMO IVANCICH BIAGGINI.
Allocution par M. le Ministre de l'Éducation,
Prof. Doutor ROBERTO CARNEIRO.
19.30 H - Concert d'orgue à S. Marcos.
20.30 H - Réception à S. Marcos.

16 avril 1988
Samedi

PROGRAMME

9.30 H - Visite de la ville de Coimbra.


(Página deixada propositadamente em branco)
(Página deixada propositadamente em branco)
LISTA DOS PARTICIPANTES

ABRANTES, Maria Gabriel de Castro


Aguada de Cima
3750 Agueda
PORTUGAL

ADKINS, A. W. H.
University of Chicago
5801 South Ellis Avenue, Chicago Illinois 60637
U.S.A.

AFONSO, Alberto da Conceição


Av. Almirante Reis, 83 - 4.° Esq."
1100 Lisboa
PORTUGAL

AFONSO, Maria Edviges P. A. Ferreira


Av. Almirante Reis, 83 - 4." Esq."
1100 Lisboa
PORTUGAL

ALBINO, Anabela Tavares


Rua Carlos Chartel, 25 - 3." Esq.o
2735 Cacém
PORTUGAL

ALMEIDA, Adelino Cardoso de


Departamento de Linguas, Lit. e Culturas - Univ. de Aveiro
3800 Aveiro
PORTUGAL

ALMEIDA, Ana Paula Oliveira de


Externato Aguiar da Beira
3570 Aguiar da Beira
PORTUGAL
36 LISTA DOS PARTICIPANTES

ALMEIDA, Maria de Fátima Araújo


Av. Dias da Silva, 212 - 3.° B
3000 Coimbra
PORTUGAL

ALMEIDA, Maria Laura Casais


Figueirosa
3660 S. Pedro do Sul
PORTUGAL

ALMEIDA, Maria Luísa Alves Ferreira de


Av. Afonso Cerqueira, Bl. 2A - 6.° Dt.o
3500 Viseu
PORTUGAL

ALMEIDA E SOUSA, Maria do Carmo


Trav. da Ladeira do Seminário, 7
3000 Coimbra
PORTUGAL

ALVAREZ MENDtVIL, Mónica


Guillermo Estrada, 7 _10.° E
33006 Oviedo
ESPANHA

ALVELOS, Maria Manuela Pereira Pinto Dourado


Rua Prof. Egas Moniz, 13 - r/c Esq.o
3800 Aveiro
PORTUGAL

ALVES, Eusébio Augusto Pimentel


R. Frei Heitor Pinto, 138
4300 Porto
PORTUGAL

ALVES, Manuel dos Santos


Rua Eng.o José Justino de Amorim, 120-2.o E
4700 Braga
PORTUGAL

ALVES, Maria José Corriça


Rua António Borges, 180 - 5.° Esq.o Ft.
4200 Porto
PORTUGAL

ALVES, Paula Cristina Ferreira Dias da Cunha


Rua Olavo Billac, 6 - 2.° Dt.o
2900 Setiíbal
PORTUGAL
LISTA DOS PARTICIPANTES 37

AMARAL, Ana Lúcia Carmo Almeida do


Rua da Matemática, 10
3000 Coimbra
PORTUGAL

AMARAL, Maria Augusta Gomes Conde


Largo do Figueiredo, 1 - 1.0 Esq.o
1400 Lisboa
PORTUGAL

AMORcóS, M.
Jesuit Residence - 6-15-2 Hongo. Bunkyo Ku
113 Tokyo
JAPÃO

ANDRADE, Fernando Guilherme da Costa


Rua Jacinto Nunes, 17 _1.0 De
1100 Lisboa
PORTUGAL

ANDRADE, Maria CesaItina Costa Rebelo de


Rua da Granja, lOA - Monte Estoril
2765 Estoril
PORTUGAL

ANDRl!, Carlos M. B. Ascenso


Instituto de Estudos Clássicos - Faculdade de Letras
3000 Coimbra
PORTUGAL

ANDRl!, Maria de Jesus Reinas


Rua D. José Alves Matoso, 16 _1.0
6300 Guarda
PORTUGAL

ANTÓNIO, José Barata


Rua Fernando Pessoa, 31
2330 Entroncamento
PORTUGAL

ANTÓNIO, Maria de Deus Ramos Pinheiro Barata


Rua Fernando Pessoa, 31
2330 Entroncamento
PORTUGAL

ANTUNES, António
Lagares
3400 Oliveira do Hospital
PORTUGAL
38 LISTA DOS PARTICIPANTES

ANTUNES, Maria dos Anjos


Casais da Borralha (Escola Sec. Adolfo Portela - Águeda )
3750 Águeda
PORTUGAL

ANTUNES, Maria do Carmo Faria Garcia Gaspar


Bairro S. Miguel, 20 - 2.°
3000 Coimbra
PORTUGAL

ARAúJO, Maria Eduarda de Almeida Miranda


Rua de Mira Gaia - Aguada de Cima
3750 Águeda
PORTUGAL

AYME, Marie Louise


Faculté de Lettres - Section Français
3000 Coimbra
PORTUGAL

AZEVEDO, Adriana Manuela de Mendonça Freire Nogueira


Rua da Estação, 7 - 2.° Dt.o
2725 Mem-Martins
PORTUGAL

AZEVEDO, Maria Teresa Schiappa de


Rua do Brasil, 222D - 2.° E
3000 Coimbra
PORTUGAL

BANDEIRA, Ana Maria Leitão


Arquivo da Universidade de Coimbra
3000 Coimbra
PORTUGAL

BARÃO, Maria José Mendes de Lemos


Alto do Forno, Lote 7A - 3.° Dt.o Buarcos
3080 Figueira da Foz
PORTUGAL

BARBOSA, Jorge Morais


Universidade de Évora - Apartado 94
7001 Évora
PORTUGAL

BARBOSA, José Severo Biscaia de Abreu


Rua Padre António Vieira. 48 sub/cave
3000 Coimbra
PORTUGAL
LISTA DOS PARTICIPANTES 39

BARBOSA, Maria Augusta Oliveira


Rua Heróis da Pátria, 56 - Miramar
4405 Valadares
PORTUGAL

BARRADAS, Alda Maria Margarido


Rua da Matemática, 10
3000 Coimbra
PORTUGAL

BASTOS, João Manuel Moreira


Br.o do Fomento da Habitação da Vergada, Bl. IV _1.0 Esq.o
4535 Lourosa
PORTUGAL

BAUZÁ, H.
Jorge Newbery 2411
1426 Capital Federal
ARGENTINA

BEATO, Agostinho Pires


Escalos de Baixo
6005 Alcains
PORTUGAL

BEATO, João
Rua Vale do Pereiro, 17 - 2.°
1200 Lisboa
PORTUGAL

BECHARA, Evanildo
Rua Castro Matoso, 12 - 4.° Esq.o
3000 Coimbra
PORTUGAL

BERTONCINI, Elena
Via dell'Aeroporto, 68
Pisa
ITALIA

BESSA, António Augusto Ribeiro


Rua Capela do Telheiro, 227 - 2.° Esq.o
4465 S. Mamede de Infesta
PORTUGAL

BIAGGINI, Giacomo Ivancich


Ambassadeur Déléghé Permanent d'Italie aupres de l'UNESCO
Paris
FRANCE
40 LISTA DOS PARTICIPANTES

BÓIA, Maria de Fátima Rocha Pereira


Rua Dr. Mário Sacramento, 111- 1.0 Esq.o
3800 Aveiro
PORTUGAL

BORRALHO, Maria Louisa Maiato da Rosa


Rua Dr. Mário de Vasconcelos e Sá, 28A - 4.° Esq.o
4000 Porto
PORTUGAL

BRAGA, José Eduardo Teixeira Pereira


Rua de Montarroio, 49
3000 Coimbra
PORTUGAL

BRAGA, Maria Luísa


INIC - Av. Elias Garcia, 137 _7. 0

1093 Lisboa Codex


PORTUGAL

BRANCO, Isabel Rodrigues


Alameda Calouste Gulbenkian, 81 - 4.° C
3000 Coimbra
PORTUGAL

BRASÃO, José Ruivinho


Rua Vila de Ca tió, Lt. 400 - 4.° Ft.
1800 Lisboa
PORTUGAL

BRASETE, Maria Fernanda Amaro de Matos


Universidade de Aveiro - Depart. de Línguas, Lit. e Culturas
3800 Aveiro
PORTUGAL

BRITO, Maria Filomena de Andrade S. Carvalho Pereira de


Rua Feliciano de Castilho, 111- 2.° Esq.o
3000 Coimbra
PORTUGAL

BRONNER, A. M.
14 avo du G.al de Gaulle
67000 Strasbourg
FRANÇA

BULL, Benjamim Pinto


Rua Dr. Manuel de Arriaga, 11 - 3.° Dt.o
2670 Loures
PORTUGAL
LISTA DOS PARTICIPANTES 41

CABRITA, Maria Inês C. P. Bastos Inácio


Rua Oudinot, 58 - 2.°
3800 Aveiro
PORTUGAL

CAEIRO, Maria da Conceição César


Prol. Rua Verde Pinho, 30 - r/c Esq.o
3000 Coimbra
PORTUGAL

CAETANO, Lucüia de Jesus


Rua Brig. Correia Cardoso, 288 - 3.°
3000 Coimbra
PORTUGAL

CAMELO, José António Fernandes


Rua Gomes Freire, 121- 3.° Dt.o
1100 Lisboa
PORTUGAL

CAMPOS, José Lemos de


Casa de Rica-Fé
5300 Bragança
PORTUGAL

CAPELO, Rui Grilo


Rua Dr. Augusto Rocha, 23 - 3.° Esq.o
3000 Coimbra
PORTUGAL

CARDOSO, João Corrêa


Praceta S. Sebastião, 59 - 1.0 De
3000 Coimbra
PORTUGAL

CARDOSO, Palmira Rodrigues


Av. Dias da Silva, 162 - 1.0 Dt .o Posto
3000 Coimbra
PORTUGAL

CARNEIRO, Manuel Cerejeira Abreu


Universidade de Aveiro - Depart. de Línguas, Lit. e Culturas
3800 Aveiro
PORTUGAL

CARRIÇO, Maria Teresa dos Santos


Rua da República, 49
3080 Figueira da Foz
PORTUGAL
42 LISTA DOS PARTICIPANTES

CARTAXO, João Augusto da Costa dos Santos


Rua Joaquim Sotto Mayor- Bloco B/C 1.0 Dt.o
3080 Figueira da Foz
PORTUGAL

CARVALHO, Amélia Maria Botelho de


Freixo - Bencanta
3000 Coimbra
PORTUGAL

CARVALHO, António Borges de


Nogueira do Cravo
3400 Oliveira do Hospital
PORTUGAL

CARVALHO, Laura Arminda Duarte de Almeida


Av. da República, 88 - 1.0 E
1600 Lisboa
PORTUGAL

CARVALHO, Maria José Barreiros de


Rua Fernandes Coelho, 19
3080 Figueira da Foz
PORTUGAL

CARVALHO, Maria Leonor Santa Bárbara de


Quinta do Borel, Lt. 59 - 6.° D
2700 Amadora
PORTUGAL

CASTELO BRANCO, António Teodósio


Banco Pinto Sotto Mayor
3000 Coimbra
PORTUGAL

CASTRO Aníbal Pinto de


Cernache
3000 Coimbra
PORTUGAL

CASTRO, Inês Luísa de Omellas de Andrade da Silva


Rua Tristão Vaz, 49 - 3.° Dt.o
1400 Lisboa
PORTUGAL

CASTRO, Maria da Graça Brandão e


Rua Visconde de Ovar, 247
3880 Ovar
PORTUGAL
LISTA DOS PARTICIPA NTES 43

CERQUEIRA, Luís Manuel Gaspar


Rua Comércio, 7 - 3.° Dt.O - Porto Salvo
2780 Oeiras
PORTUGAL

CIZEK, E.
Rue Pasteur, 21- Secteur 6
Bucarest
ROMÉNIA

CLAIRE, Jean
Maitre de Choeur de Solesmes
72300 Sablé-Sur-Sarthe
FRANÇA

COELHO, Eduardo Fernando Jesus


Av. Calouste Gulbenkian, Bl. 1 - 4.° Dt."
3750 Águeda
PORTUGAL

COELHO, Manuel Marques


Rua Senhora da Encarnação, 28 - Buarcos
3080 Figueira da Foz
PORTUGAL

COELHO, Maria Helena da Cruz


Av. João de Deus Ramos, 158 - 5.° D
3000 Coimbra
PORTUGAL

CONCEIÇÃO, Helena Maria dos Santos


Casal de Santo Elói - Rua Dr. Almada Guerra, 1 r/c
2710 Coimbra
PORTUGAL

CONCEIÇA.O, Manuel Joaquim dos Santos da


Gândara - Milheirós de Poiares
3700 S. João da Madeira
PORTUGAL

CORDEIRO, Adriano Milho


Rua de Santo António - Moita do Norte - Zona de Expansão
2260 V. N. da Barquinha
PORTUGAL

CORREIA, Agueda Graça Loureiro de Lemos


Rua Calouste Gulbenkian, Bl. 5A - 4.° C
3080 Figueira da Foz
PORTUGAL
44 LISTA DOS PARTICIPA NTES

CORREIA, Francisco Carvalho


Rua Dr. Alexandre Lima Carneiro - Areias
4780 Caldas da Saúde
PORTUGAL

CORREIA, Maria de Lurdes Miguel Ferreira


Rua Nova de S. Sebastião, 38
3000 Coimbra
PORTUGAL

COSTA, Eugénia Maria de Jesus


Rua Mártires da Pátria, 10 - L"
2400 Leiria-Gare
PORTUGAL

COSTA, Felismina Martins


Av. Fernão de Magalhães, 508 - 4.° De
3000 Coimbra
PORTUGAL

COSTA, Helena Maria Ribeiro Almeida


Vildemoinhos - Cubo
3500 Viseu
PORTUGAL

COSTA, Isabel Maria de Jesus Gonçalves


Av. Afonso III, 78 _1.0 Dt.o
1900 Lisboa
PORTUGAL

COSTA, Manuel Tomás Gaspar da


Rua dos Biscoitos
9950 Madalena do Pico (Açores)
PORTUGAL

COSTA, Maria Manuel Veiga Pimentel d'Abreu Amorim da


Quinta do Sobreiro, Lt. 8 - 1.0 Dt.· - Olivais
3000 Coimbra
. PORTUGAL

COUTO, Aires Pereira do


Rua do Soito, 13, 2.° - Bairro de Guimarães
3500 Viseu
PORTUGAL

CRISTÓVÃO, Maria do Rosário


Rua de Olivença, 10
6000 Castelo Branco
PORTUGAL
LISTA DOS PARTICIPANTES 45

CUNHA, Luís da Luz e


Estrada Velha de Abraveses, 99
3500 Viseu
PORTUGAL

CUNHA, Maria da Glória Andrade da


Rua Verde Pinho, 123 - 2.° Dt.o
3000 Coimbra
PORTUGAL

CUNHA, Mário R. de Sousa


Rua Sá da Bandeira, 612 _1.0 Dt.o
4000 Porto
PORTUGAL

CUNHA, Paulo Jorge Fonseca Ferreira da


Rua Dr. Mário de Vasconcelos e Sá, 28A - 4.° Esq.o
4000 Porto
PORTUGAL

DANU-ALIPUI, D. N'
4409 Lomé
TOGO

DAVID, Almerinda Luís


Rua dos Combatentes, 99 _1.0
3000 Coimbra
PORTUGAL

DAVID, Maria Teresa Marques


Urbanização da Quintinha, Lt. 488 - Cotovia
2970 Sesimbra
PORTUGAL

DELGADO, Isabel Maria Cabral Teles dos Santos Lopes


Rua Joaquim António de Aguiar, 104A _1.0
3000 Coimbra
PORTUGAL

DELGADO, Luzia da Conceição Moreira


Rua Carlos Alberto P. Abreu, Bl. Sul- 6.° B
3000 Coimbra
PORTUGAL

DESERTO, Jorge Pereira Nunes do


Trav. do Cabaço, 7 - Moita do Norte
2260 Vila Nova da Barquinha
PORTUGAL
46 LISTA DOS PARTICIPANTES

DIAS, Aida Fernanda


Rua António José de Almeida, 255 - 6.° E
3000 Coimbra
PORTUGAL

DIAS, Amélia da Encarnação Sousa Pinto Simões


Rua General Humberto Delgado, 40 - 2.°
3000 Coimbra
PORTUGAL

DIAS, José Oliveira de Sousa


Rua Luís de Camões, 27 - 2." E
2490 Vila Nova de Ourém
PORTUGAL

DIAS, Maria Teresa Morgado


Quinta do Prado
3600 Castro Daire
PORTUGAL

DORIVAL, G.
1 rue Samson
75013 Paris
FRANÇA

DUARTE, Ana Paula Fonseca


Rua Dr. Henrique Seco, 52 - 3.° E
3000 Coimbra
PORTUGAL

DUARTE, Helena Maria Vaz


Rua 25 de Abril, 25 - 1.0 Dt."
2330 Entroncamento
PORTUGAL

DUARTE, Maria Mercedes Beirão B.


Rua Lopes Guimarães, 8 - 3.° E sq."
3080 Figueira da Foz
PORTUGAL

DUARTE, Rosa Maria Pereira Esteves Dias


Prol. da Rua Pedro Alvares Cabral, Lt. C - 4." A
3000 Coimbra
PORTUGAL

DUARTE-SANTOS, Luís Augusto


Quinta de S. Nicolau
3000 Coimbra
PORTUGAL
LISTA DOS PARTICIPANTES 47

EIRó, Filomena Maria Esteves


Rua 25 de Abril, 19
2330 Entroncamento
PORTUGAL

ESPiRITO SANTO, Arnaldo Monteiro


Av. Salvador Allende, 31
2780 Oeiras
PORTUGAL

ESTEVES, Maria Luísa N. Carvalho Costa Sanches


Av. S. João de Deus, 58 - 6.° A
8500 Portimão
PORTUGAL

FARIA, Maria do Céu Novais de


Av. 5 de Outubro, 254 - 5.° Di."
1600 Lisboa
PORTUGAL

FERNANDES, José Sílvio Moreira


Caminho Velho da Igreja - S. Gonçalo - Apt. 2521
9000 Funchal
PORTUGAL

FERNANDES, Maria da Conceição Romão M.


Caminho Velho da Igreja - S. Gonçalo - Apt. 2521
9000 Funchal
PORTUGAL

FERNANDES, R. M. Rosado
Trav. da Palmeira, 2 - 1.0
1200 Lisboa
PORTUGAL

FERNANDES, Teresa Maria Lopes Abreu Leitão


Rua Estados · Unidos da América, 3 _1.0 Dt.o
2330 Entroncamento
PORTUGAL

FERRAO, Cristina Maria Gomes


Rua Miguel Bombarda, 48 - 1."
3080 Figueira da Foz
PORTUGAL

FERREIRA, António Manuel dos Santos


Rua Hintze Ribeiro (Ed. Barrocas), 4.° C/Sul
3800 Aveiro
PORTUGAL
48 LISTA DOS PARTICIPANTES

FERREIRA, Ermelinda Adelaide Carvalhal Mouco Costa


Rua Pedro Alvares Cabral, 57 - r/c-B
6300 Guarda
PORTUGAL

FERREIRA, João Vale


Mosqueiro - Lijó
4750 Barcelos
PORTUGAL

FERREIRA, José Ribeiro


Rua General Humberto Delgado, 82 - 2.° Esq.o
3000 Coimbra
PORTUGAL

FERREIRA, Manuel
Av. D. Pedro V, 11- 2.° De
2795 Linda-a-Velha
PORTUGAL

FERREIRA, Maria Cândida Freire Nunes


Rua Dr. Henrique Sêco, 48 - 2.° Dt.
3000 Coimbra
PORTUGAL

FERREIRA, Maria Fernanda


Vila Nova de Anços
3130 Soure
PORTUGAL

FERREIRA, Olga de Almeida


Aguada de Cima
3750 Agueda
PORTUGAL

FERREIRA, Paula Manuela Pinto


Av. Fernão de Magalhães, 470 - 3.°
3000 Coimbra
PORTUGAL

FERRO, Manuel Simplício Geraldo


Rua dos Coutinhos, 38 - 1.0 Dt.o
3000 Coimbra
PORTUGAL

FIALHO, Maria do Céu


Av. Elísio de Moura, 397 _7.° A
3000 Coimbra
PORTUGAL
LISTA DOS PARTICIPANTES 49

FIGUEIREDO, Maria Ivone Mendes da Silva Barreto de


Av. Dr. José Eduardo V. Neves, Lt. 1 - 3.° Dt.O
2330 Entroncamento
PORTUGAL

FONSECA, Carlos Alberto Louro


Rua dos Combatentes da Grande Guerra, 100 - 10.° De
3000 Coimbra
PORTUGAL

FONSECA, Maria de Lurdes Dias da


Vale - Molelos
3460 Tondela
PORTUGAL

FONTES, Hilário
Rua da Vila, 185
Avelar
PORTUGAL

FRADA, Maria Isabel Jerónimo Dias


Rua do Molhe, 113 - 2.° Esq.o
4100 Porto
PORTUGAL

FRAGA, Maria do Céu Amaral Fortes


Rua Vitorino Nemésio, 23
9500 Ponta Delgada
PORTUGAL

FREIRE, José Geraldes


Rua Guerra Junqueiro, 132
3000 Coimbra
PORTUGAL

FREIRE, Maria Teresa de Almeida Gouveia Geraldes


Ladeira das Alpenduradas. 39
3000 Coimbra
PORTUGAL

FRóIS, Maria da Conceição


Centro de Estudos e Formação Autárquica
Rua do Brasil, 131
3000 Coimbra
PORTUGAL

FUTRE, Marília Pulquério


Urbanização da Portela, Lt. 117 _7.° Esq.o
2685 Sacavém
PORTUGAL
50 LISTA DOS PARTICIPANTES

GABRIEL, José Alberto M. J.


Rua dos Combatentes, 151 A - c/v Dt.o
3000 Coimbra
PORTUGAL

GAGO, Alda Maria da Silva


Rua Dr. José de Mascarenhas, () - 1.0 Esq.o
2800 Alhada
PORTUGAL

GALVAO, João Paulo


Rua Afonso de Albuquerque, 8
3000 Coimbra
PORTUGAL

GAMA, Maria Celeste Abreu Teixeira da


Rua Dr. Alberto de Oliveira, 53 - 1.0 Dt.o
3000 Coimbra
PORTUGAL

GARC:iA TRABAZO, José Virgílio


Av. Pedro Masaveu, 29 - 6.° Izq.
33007 Oviedo
ESPANHA

GIL, Isabel Maria de Sá Nogueira Osório Santos


Trav. do Cabaço, 7 - Moita do Norte
2260 Vila Nova da Barquinha
PORTUGAL

GIL, Maria de Lurdes


Av. Fernão de Magalhães, 495 C - 5.° E
3000 Coimbra
PORTUGAL

GIRÃO, Suzana Fernandes Nóbrega Silva


Quinta de Fora
3670 Vouzela
PORTUGAL

GNILKA, C.
Mauritz - Linden - Weg 40, D
4400 Münster
R. F. ALEMANHA

GOMES, Maria de Jesus


Rua de Entrecampos, 46 - 1.0 Esq.o
1700 Lisboa
PORTUGAL
LISTA DOS PARTICIPANTES 51

GONÇALVES, João Magalhães


Av. 22 de Dezembro, 19
2900 Setúbal
PORTUGAL

GONÇALVES, Madalena Morna


Av. 25 de Abril, 10 - 5. Dt.
0 O

2400 Leiria
PORTUGAL

GON'ÇALVES, Maria Isabel Rebelo


Av. do Brasil, 132 - 5. Esq.o
0

1700 Lisboa
PORTUGAL

GOUVEIA, Helena Igreja Ferreira


Rua dos Covões, 67 r/c - S. Martinho do Bispo
3000 Coimbra
PORTUGAL

GRIMAL, P.
30, rue des Fonds
78350 Jouy-en-Josas
FRANÇA

GUERREIRO, Maria Henrique Alves


Rua Barão de Sabrosa, 252 - 3. D 0

1900 Lisboa
PORTUGAL

GUILLERMO, Putzeys Alvarez


Ambassade du Guatemala, 73 rue de Courcelles
75008 Paris
FRANÇA

IMBERT, J.
12, place du Panthéon
75005 Paris
FRANÇA

JEREZ PRADO, Cristina


Perez de la Sala, 51 - 5. D 0

33007 Oviedo
ESPANHA

JABOUILLE, Victor
Rua Projectada à Av. D. Sebastião, 5, 703
2825 Costa da Caparica
PORTUGAL
52 LISTA DOS PARTICIPANTES

JESUS, Maria Saraiva de


Quinta do Olho d'Água, Bl. A9 _11. 0 Dt.o- Esgueira
3800 Aveiro
PORTUGAL

JORDÃO, Francisco Vieira


Urbanização da Quinta do Sobreiro, Lt. 7 - r/c Dt.o
3000 Coimbra
PORTUGAL

JOURDAN, Pierre
Rua Correia Teles, 17
3000 Coimbra
PORTUGAL

JULIÃO, Maria de Fátima dos Santos Barbosa da Silva


Urbanização D. João, 27 _7.0 De
3000 Coimbra
PORTUGAL

JúNIOR, Manuel Alexandre


Rua A/B, Lt. 4 - V Esq.o
2745 Queluz
PORTUGAL

JUNQUEIRO, José Adelmo Gouveia Bordalo


Univ. de Aveiro - Dep. de Didáctica e Tecnologia Educativa
3800 Aveiro
PORTUGAL

KOCHANOWSKI, Vania Gila


Associat. Romano - Yekhipé, 20 rue Ortolan '
Paris
FRANÇA

LAGES, Elda Quintão


Pr. Almirante Reis, 18 - 1.0
2900 Setúbal
PORTUGAL

LEAL, Maria Celeste


Estrada da Buraca, 8
1500 Lisboa
PORTUGAL

LECLANT, J.
77, rue Georges-Lardennois
75019 Paris Cedex
FRANÇA
LISTA DOS PARTICIPANTES 53

LEMOS, Fernando José Patrício de


Calçada da Fonte - Igreja Nova
2640 Mafra
PORTUGAL

LÉRIAS, Graça Maria Miranda


Rua Tomás Ribeiro, 14 - Quinta do Meio
2900 Setúbal
PORTUGAL

LIMA, Maria Teresa Moya de Araújo


Rua António Bessa Leite, 1562 - 3.°
4100 Porto
PORTUGAL

LOPES, Fernando Alexandre de Matos Pereira


Bairro das Mesuras, Lt. 9 - 1.0 F
3500 Viseu
PORTUGAL

LOPES, Fernando Vieira


Casa Paroquial de Seroa
4590 Paços de Ferreira
PORTUGAL

LOPES, João de Oliveira


Faculdade de Letras
3000 Coimbra
PORTUGAL

LOPES, Maria Teresa Pestana


Rua Dr. Fernandes Martins, Lt. 3 - r/c Dt.O
3000 Coimbra
PORTUGAL

LOUREIRO, Ana de Melo


Rua António José de Almeida, 208 - Cave C
3000 Coimbra
PORTUGAL

LOURENÇO, Maria Esteves Ferreira


Rua da Fosforeira, lB
7700 Almodôvar
PORTUGAL

LUCAS, Maria Manuela


Av. Fernão de Magalhães, 470 - 3.°
3000 Coimbra
PORTUGAL
S4 LISTA DOS PARTICIPANTES

LUíS, Mário Helder José Gomes


Rua Vitorino Nemésio, 6 - 1.0
9500 Ponta Delgada
PORTUGAL

MACEDO, Isabel Maria Estelita de


Rua do Zaire, 129 - 1.0 Esq.o
4200 Porto
PORTUGAL

MACHADO, António da Purificação


Rua Padre Américo, 42 - 3.° Dt.o
3000 Coimbra
PORTUGAL

MAIA, Clarinda de Azevedo


Rua Combatentes da Grande Guerra, 72 - 2.° Dt:
3000 Coimbra
PORTUGAL

MALÇA, Maria Alice Nogueira


Av. Calouste Gulbenkian, 107 - 2.° A
3000 Coimbra
PORTUGAL

MANTAS, Vasco Gil da Cruz Soares


Rua do Teodoro, 14 - 1.0
3000 Coimbra
PORTUGAL

MARGARIDO, Ana Paula Santana Rodrigues


Faculdade de Letras
3000 Coimbra
PORTUGAL

MARQUES, AntlÓnio de Figueiredo


Rua António Joaquim Araújo, 34 - 3.° E sq .o
2300 Tomar
PORTUGAL

MARQUES, António Soares


Fornos do Dão
3530 Mangualde
PORTUGAL

MARQUES, Arnaldo Lopes


Rua 1.0 de Dezembro, 63 B
2330 Entroncamento
PORTUGAL
LISTA DOS PARTICIPANTES 55

MARQUES, Manuel Luís


Seminário do Varatojo
2560 Torres Vedras
PORTUGAL

MARQUES, Maria Alegria Fernandes


Inst. de História Económica e Social- Faculdade de Letras
3000 Coimbra
PORTUGAL

MARQUES, Maria Luísa Costa Sousa Ferreira


Av. 25 de Abril
3460 Tondela
PORTUGAL

MARQUES, Paulo Jorge Albernaz Leite


Largo Anselmo F. de Carvalho, 9
3460 Tondela
PORTUGAL

MARTINHO, Maria Cristina S. Carvalho Lopes


Rua Parto à Poeta Cavador, 17 - 3.° Dt.O
3780 Anadia
PORTUGAL

MARTINS, Isaltina das Dores Figueiredo


Prol. Av. Elísio de Moura, 99 - 2.° Di."
3000 Coimbra
PORTUGAL

MARTINS, Maria Helena Esteves Mendes


Rua Dr. Eustáquio Picciochi Garcia, 4 - 1.0 Di."
2330 Entroncamento
PORTUGAL

MARTINS, Norberto Manuel Marques Henriques


3720 Pinheiro da Bemposta
PORTUGAL

MARTINS, Paula Maria de Avelar Fernandes


Av. D. Afonso Henriques, 36 _1.0
3000 Coimbra
PORTUGAL

MATEUS, Daniel Mendes Ferreira


Escola C+S
3220 Miranda do Corvo
PORTUGAL
56 LISTA DOS PARTICIPANTES

MATOS, Albino de Almeida


Rua Dr. António José de Almeida, 155 - 2.°
3000 Coimbra
PORTUGAL

MATOS, Maria Adelaide Pereira Almeida


Rua Pedro Alvares Cabral, 57 - r/c B
6300 Guarda
PORTUGAL

MATOS, Paulo Manuel Vieira de


Alqueidão da Serra
2480 Porto de Mós
PORTUGAL

MEDEIROS, Walter de
Rua Infanta D. Teresa, 20 - 2.°
3000 Coimbra
PORTUGAL

MELLO-BREYNER, Sophia de
Travessa das Mónicas, 57 - 1.0
1100 Lisboa
PORTUGAL

MELLONI, A.
Istituto per le scienze religiose- via S. Vitale, 114
40125 Bologna
ITALIA

MELO, Gladstone Chaves de


Rua Cosme Velho, 354, C.lO
22241 Rio de Janeiro
BRASIL

MENDES, Ana Bela Martins de Almeida


Rua Mário Augusto Almeida, 25 _1.0 Esq." - B.o N. de Matos
3000 Coimbra
PORTUGAL

MENDES, Dulce Geraldes


Av. Dias da Silva, 101
3000 Coimbra
PORTUGAL

MENDES, Maria Manuela Teixeira de Sá


Rua do Flower, 130 - Canidelo
4400 Vila Nova de Gaia
PORTUGAL
LISTA DOS PARTICIPANTES 57

MENDES, Maria Teresa Sousa


Transv. Poente à Rua J. Sotto Mayor, 2" 2.° D
3080 Figueira da Foz
PORTUGAL

MINGUET, C.
Univ. de Paris X" Nanterre "200, rue de la République
92001 Nanterre
FRANÇA

MIRANDA, Maria Margarida Lopes de


Bairro de S. José, 2
3000 Coimbra
PORTUGAL

MOITA, João Gonçalves


Rua da Escola Primária, 17" 3.° Dt.O
2800 Cova da Piedade
PORTUGAL

MONTEIRO, António Amaro


Quinta da Fonte, Lt. 2" 3.° Esq .o
3000 Coimbra
PORTUGAL

MONTEIRO, Ofélia Paiva


Rua Dr. José Alberto dos Reis, 98
3000 Coimbra
PORTUGAL

MONTEMAYOR, C.
Alumnos, 14" Dpto. 17" CoI. San Miguel Chapultepec
11850 Mexico D. F.
MÉXICO

MORAIS, Carlos Manuel Ferreira


Rua da Igreja, 42" Serzedo
4405 Valadares
PORTUGAL

MORUJAO, Maria do Rosário Barbosa


Rua Pinheiro Chagas, 16" 3.°
3000 Coimbra
PORTUGAL

NASCIMENTO, Aires Augusto


Av. Visconde de Valmor, 56
1000 Lisboa
PORTUGAL
58 LISTA DOS PARTICIPANTES

NASCIMENTO, Jaime Pereira


Estrada de Alapraia - Quinta de St." Teresinha, Lt. 8
2765 S. João do Estoril
PORTUGAL

OLIVEIRA, Francisco de São José de


Rua Padre Américo, 42 - 2." Esq.o
3000 Coimbra
PORTUGAL

OLIVEIRA, Maria de Fátima Henriques


Rua José Henriques Coelho, 7 - 6.° F
2780 Paço d'Arcos
PORTUGAL

OLIVEIRA, Maria Fernanda Soares de


Rua Padre Américo, 42 - 2.° Esq."
3000 Coimbra
PORTUGAL

OLIVEIRA, Maria de Lourdes Nunes Flor de


Rua Pascoal de Melo, 67 - r / c
1000 Lisboa
PORTUGAL

OSÓRIO, Alberto Cerqueira Caldeira


Rua de Angola, 67 - 1."
3000 Coimbra
PORTUGAL

OSÓRIO, Jorge Alves


Rua Paula Vicente, 31
4400 Vila Nova de Gaia
PORTUGAL

PAIXAO, José António de Carvallio


Beco do Capitão - Cruzes - S. Martinho do Bispo
3000 Coimbra
PORTUGAL

PASCUCCI, G.
17 via Pier Capponi, I
50132 Firenze
ITALIA

PATO, Maria Cremilde


Rua João Pinto Ribeiro, 11- r/c Esq ..
3000 Coimbra
PORTUGAL
LISTA DOS PARTICIPANTES 59

PATRÃO, Helena Maria da Mota Barbosa


Rua do Cruzeiro, 128 - 2.° A
3720 Oliveira de Azeméis
PORTUGAL

PATRíCIO, Maria de Lurdes da Costa Henriques


Pr aceta Fernando Alcobia, 10 - 2.° Esq.o
2900 Setúbal
PORTUGAL

PEREIRA, Artur Pais


Largo da Luz, 11
1699 Lisboa Codex
PORTUGAL

PEREIRA, Belmiro Fernandes


Quinta do Carramona, D-23 - r/c Dt.O
3800 Aveiro
PORTUGAL

PEREIRA, Maria Helena da Rocha


Faculdade de Letras
3000 Coimbra
PORTUGAL

PEREIRA, Maria Isabel Valente


Escola Secundária Adolfo Portela
3750 Agueda
PORTUGAL

PEREIRA, Marta Isabel de Oliveira Várzeas Seabra


Rua António Jardim, 103 -Lo
3000 Coimbra
PORTUGAL

PEREIRA, Miguel Baptista


Faculdade de Letras
3049 Coimbra Codex
PORTUGAL

PEREIRA, Teresa Maria Bettencourt


Rua Rio de Janeiro, 3-A A
9000 Funchal
MADEIRA

PEREIRA, Virgínia Soares


Av. D. Afonso Henriques, 863 - 8.° Dt.o Trás
4450 Matosinhos
PORTUGAL
60 LISTA DOS PARTICIPANTES

PEREIRA PINTO, José Nuno


Rua Fradique Morujão, 145 - Senhora da Hora
4450 Matosinhos
PORTUGAL

PERICAO, Maria da Graça


Biblioteca Geral
3049 Coimbra Codex
PORTUGAL

PINHO, Jorge Manuel Tomé Martins de


Rua Dr. Luís Carrisso, 12· 2.° De
3080 Figueira da Foz
PORTUGAL

PINHO, Sebastião Tavares de


Ladeira do Seminário, 5 - c/v
3000 Coimbra
PORTUGAL

PINHO DA CRUZ, Maria da Graça G. Mendes


Av. Camilo de Matos, 102 - 2.°
3730 Vale de Cambra
PORTUGAL

PINTO, Clotilde dos Anjos Cardoso Machado Correia


Rua Fernandes Tomás, 308 - 4.° D
4000 Porto
PORTUGAL

PINTO, Isabel Maria dos Santos


Rua Conselheiro Santos Viegas, 137
4760 Vila Nova de Famalicão
PORTUGAL

PIRES, Isabel Maria Gomes


Rua de Moçambique, 5 - 2.° Dt.o
3000 Coimbra
PORTUGAL

PISSARREIRA, Augusto
Av. Bombeiros Voluntários, 35 - 2.° Dt.o - Algés
1495 Lisboa
PORTUGAL

POESCHL, V.
Seminar fur Klassische Philologie, Marstollhof
6900 Heidelberg
R. F. ALEMANHA
LISTA DOS PARTICIPANTES 61

PONTES, Maria do Rosário Gomes Nogueira


Faculdade de Letras do Porto - Rua do Campo Alegre
4000 Porto
PORTUGAL

PORTUGAL, Maria Antónia Alegre


Av. Afonso Henriques, 7
3000 Coimbra
PORTUGAL

PORTUGAL, Maria Teresa Alegre


Av. Afonso Henriques, 7
3000 Coimbra
PORTUGAL

PRATA, Rosa Maria da Silva Sardo


Bairro Novo - Azurva
3800 Aveiro
PORTUGAL

PRAZERES, Maria Augusta Óliveira


Rua Heróis da Pátria, 56 - Miramar
4405 Valadares
PORTUGAL

PULQUÉRIO, Manuel de Oliveira


Rua Frei Tomé de Jesus, 7 - r/c Esq.o
3000 Coimbra
PORTUGAL

QUINTAL, Graça Maria de Jesus


Rua de Diu, 356
4465 S. Mamede de Infesta - Matosinhos
PORTUGAL

RAMALHO, Américo da Costa


Rua António Nobre, 4 - 1.0
3000 Coimbra
PORTUGAL

RAMOS, Esperança do Céu Simões Peixinho


Quinta do Carramona, 27 - 4.° Esq.o
3800 Aveiro
PORTUGAL

REBELO, António· Manuel Ribeiro


Largo da Sé Velha, 18 - 2.° F
3000 Coimbra
PORTUGAL
62 LISTA DOS PARTICIPANTES

REGEDOR, Maria Enúlia Marques Gomes


Av. Dr. Elísio de Moura, 417 - 5.° B
3000 Coimbra
PORTUGAL

REIS, Lillian Santos


Urbanização do Salgueiral, lO-B
4800 Guimarães
PORTUGAL

REIS, Manuel Augusto da Encarnação


Urbanização do Salgueiral, 10-B
4800 Guimarães
PORTUGAL

REIS, Maria Augusta Geraldo Pires Tavares dos


Praceta R. Falcão de Resende,!- r/c
3000 Coimbra
PORTUGAL

REIS, Pedro José da França Pinto dos


Rua do Brasil, 277
3000 Coimbra
PORTUGAL

REIS TORGAL, Luís Manuel Soares dos


Faculdade de Letras
3000 Coimbra
PORTUGAL

RIBAS, Tomaz
Gabinete de Etnografia - Inatel- Calçada de Santana
1000 Lisboa
PORTUGAL

RIBEIRO, Cristina de Lurdes Soares


Av. Dr. António José de Almeida, 412 _1.0 Esq.o
3500 Viseu
PORTUGAL

RIBEIRO, Maria Aparecida


Ladeira do Seminário, 5 c/v
3000 Coimbra
PORTUGAL

RIBEIRO, Maria Manuela de Bastos Tavares


Trav. Alberto de Oliveira, 6 - 2.° Dt.o
3000 Coimbra
PORTUGAL
LISTA DOS PARTICIPANTES 63

RISCADO, Maria Leonor Crespo Ramos


Rua General Humberto Delgado, 82 _7.° C
3000 Coimbra
PORTUGAL

ROCHA, Maria Dália de Matos Ribau Cerqueira da


Travessa do Mato, 21 - 1.0 Dt.o
3080 Figueira da Foz
PORTUGAL

RODRIGUES, Alice Correia Godinho


Arquivo da Universidade de Coimbra - Rua de S. Pedro
3000 Coimbra
PORTUGAL

RODRIGUES, Filomena Maria de Matos Ala


Rua dos Combatentes da Grande Guerra, 188 - r/c Esq.o
3000 Coimbra
PORTUGAL

RODRIGUES, Lucinda dos Santos Ribeiro Manso Tavares


Av. Dias da Silva, 162 - 3.° B
3000 Coimbra
PORTUGAL

RODRIGUES, Manuel Augusto


Arquivo da Universidade de Coimbra
3000 Coimbra
PORTUGAL

RODRIGUES, Maria Alcida Barbosa Leão Campos


R. E. - Av. Bissaia Barreto, 22 - 2.°
3000 Coimbra
PORTUGAL

RODRIGUES, Maria Manuela


Rua Luís de Camões, 29 - 2.°
3000 Coimbra
PORTUGAL

ROSA, Leonel Melo


Rua Sebastião Magalhães Lima - Torre 5 - 1.0 A
3800 Aveiro
PORTUGAL

SA, José António


Rua Cândido Guerreiro, 4 _1.0 Esq ..
1000 Lisboa
PORTUGAL
64 LISTA DOS PARTICIPANTES

SACADURA, Amílcar Alexandre


Rua Manuel Mendes, 37 - 1.0
3800 Aveiro
PORTUGAL

SALDANHA, Maria Cesarina B. E. Branco


Rua Direita - Benfica do Ribatejo
2080 Almeirim
PORTUGAL

SANTANA, Maria Helena


Rua Instituto Maternal,l - 2.°
3000 Coimbra
PORTUGAL

SANTOS, Custódio Lopes


Univ. Católica Portuguesa (Centro 'R egional de Viseu)
3500 Viseu
PORTUGAL

SANTOS, Joaquim 'José Moreira dos


Codal
3730 Vale de Cambra
PORTUGAL

SANTOS, M. Alvaro dos


3070 Mira
PORTUGAL

SANTOS, Maria Fernanda Guimarães


Espargo
4520 Feira
PORTUGAL

SANTOS, Maria Helena Duarte


Quinta de S. Nicolau
3000 Coimbra
PORTUGAL

SANTOS, Maria Margarida Moreira Aives dos


Rua Padre Afonso Soares, sln.o
4490 Póvoa de Varzim
PORTUGAL

SANTOS, Maria Olinda Alves dos


Rua Dr. Nogueira de Carvalho, 1- rlc
3080 Figueira da Foz
PORTUGAL
LISTA DOS PARTICIPANTES 65

SCHEIDL, Ludwig Franz


Faculdade de Letras
3000 Coimbra
PORTUGAL

SCHILLING. R.
20, rue d'Oslo
67000 Strasbourg
FRANÇA

SEABRA, José Augusto


Délégation Permanente du Portugal aupres de l'UNESCO
1, rue Miollis
75732 Paris Cedex 15
FRANÇA

SEABRA, Maria Judite de Carvalho Ribeiro


Rua Padre Estêvão Cabral, 72 - 5.° Dt.o
3000 Coimbra
PORTUGAL

SEGALA, A.
5, rue Chabanais
75002 Paris
FRANÇA

SEGORBE, Isabel
Rua Prof. Dr. José Alberto dos Reis, 138 - 4.° E
3000 Coimbra
PORTUGAL

SEMEDO, Alice Lucas


Rua Afonso Costa, 106
7750 Mértola
PORTUGAL

SENGHOR, L. S.
1, Square Torqueville
75017 Paris
FRANÇA

SEQUEIRA, Serafim
Praceta do Montebelo, 10 _1.0 Dt.o
2900 Setúbal
PORTUGAL

SERAFIM, Eduardo Rui Pereira


Rua Maria e Oliveira, 25 - Vestiária
2460 Alcobaça
PORTUGAL

5
66 LISTA DOS PARTICIPANTES

SERRA, José Pedro


Av. do Restelo, 24
1400 Lisboa
PORTUGAL

SEVERINO, E.
Via Antonio Callegari
25121 Brescia
ITALIA

SILVA, AdíUa Alarcão


Museu Monográfico de Conimbriga
3250 Condeixa
PORTUGAL

SILVA, Ana Cristina Rui L. Almeida de Lacerda e


Av. Dr. António José de Almeida, 220 - 5.° A
3500 Viseu
PORTUGAL

SILVA, Ana de Jesus de Olazabal Correia da


Calçada de Santo Amaro, 112 - 5.°
1300 Lisboa
PORTUGAL

SILVA, António Jorge


Rua Comandante Sacadura Cabral, 22
3000 Coimbra
PORTUGAL

SILVA, Celina
Rua da Restauração, 239 _1.0
4700 Braga
PORTUGAL

SILVA, Helena Maria A. Correia da


Rua Nova da Bolsa, Bl. E - 2.° C
3500 Viseu
PORTUGAL

SILVA, Lino Moreira da


Rua de Santa Maria, 86
4800 Guimarães
PORTUGAL

SILVA, Maria de Fátima Sousa e


Prolongo da Av. Elísio de Moura, 99 - 3.° Dt.o
3000 Coimbra
PORTUGAL
LISTA DOS PARTICIPANTES 67

SILVA, Maria de Lourdes Dias da


Couraça de Lisboa, 39A - 2.°
3000 Coimbra
PORTUGAL

SILVA, Maria Margarida P. P. Brandão Gomes da


Rua Mendes dos Remédios, Lt. 3 - 2.° Dt.O
3000 Coimbra
PORTUGAL

SILVA, Vanda Maria Victor


B.0 Caixas de Previdência, Bl. C-1-7.0 Esq.o - B.0 N. de Matos
3000 Coimbra
PORTUGAL

SOARES, Carlos Martins


Rua de Angola, 36 - 2.° Di."
2735 Cacém
PORTUGAL

SOARES, João Silva


Rua de Santa Catarina, 16 - 1.0
3080 Figueira da Foz
PORTUGAL

SOARES, Maria Luísa de Castro


Bairro Norton de Matos, H. E. Bl. B-2 _7.° Dt.O
3000 Coimbra
PORTUGAL

SOARES, Nair de Nazaré de Castro


Prolongo da Rua Pedro Álvares Cabral, Lt. C - 3.° B
3000 Coimbra
PORTUGAL

SOBRAL, Maria Clara Andrade de Lemos


Ladeira das Alpenduradas, 48
3000 Coimbra
PORTUGAL

SOTTOMAYOR, Ana Paula Quintela Ferreira


Rua do Breiner, 102 _1.0
4000 Porto
PORTUGAL

SOUSA, Maria José Mendes d'Almeida e


Rua Jorge Colaço, 16 - 3.° Dt.o
1700 Lisboa
PORTUGAL
68 LISTA DOS P ARTICIPANTES

TANNUS, Carlos António Kalil


Rua Prudente de Morais, 101 - Apt. 102
C. E. P. 22420 Rio de Janeiro
BRASIL

TAVARES, António Augusto Rodrigues


Domus Amicis Alpolentim - Terrugem
2710 Sintra
PORTUGAL

TEIXEIRA, Maria Odete Sampaio de Almeida Nunes


Av. Gaspar de Lemos, 17 - 2.0 Esq.o
3080 Figueira da Foz
PORTUGAL

TENGUY
20, rue Ortolan
Paris V
FRANÇA

TERRA, Isabel
Rua dos Combatentes, 100 - 6.°
3000 Coimbra
PORTUGAL

THEMUDO, Marina Ramos


Prol. Rua P. Alvares Cabral, Lt. C - 6.° E - B.0 Norton de Matos
3000 Coimbra
PORTUGAL

THOMPSON, L.
Department of Classics - Univ. af Ibadan
NIGERIA

TIQUE, Rosalina Maria Caeiro


Bairro das Condeixeiras, 7 - 3.° E
3000 Coimbra
PORTUGAL

TORRA.O, João Manuel Nunes


Faculdade de Letras
3000 Coimbra
PORTUGAL

TORRES, Amadeu
Faculdade de Teologia
4700 Braga
PORTUGAL
LISTA DOS PARTICIPANTES 69

TRIGO, Salvato
Rua Clube dos Caçadores, 648
4400 Vila Nova de Gaia
PORTUGAL

TSAGARAKIS, O.
University of Crete
Hellas
GRÉCIA

URE:NA PRIETO, Maria Helena Dinis de Teves Costa


Rua José Lins do Rego, 26 - 4.° De
1700 Lisboa
PORTUGAL

VARGUES, Isabel Nobre


I. H. T. I. - Faculdade de Letras
3000 Coimbra
PORTUGAL

VAZ, Maria Odette


Av. Gaspar de Lemos, 13 - 2.° Dt.O
3080 Figueira da Foz
PORTUGAL

VAZ, Maria Teresa da Silva


Eiras (Farmácia)
3000 Coimbra
PORTUGAL

VAZ, Virgínia Gabriel


Rua José Bento Costa, 9 _l.0 Esq.o- Portela
2710 Sintra
PORTUGAL

VELOSO, Aida Maria Lima Medeiros Marques


Rua Prof. Narciso Costa, 19 - Lt. 25 - 2.° A
2400 Leiria
PORTUGAL

VENTURA, José Manuel Rodrigues


R. Ten. Cor. Alfredo P. Conceição, 4
2330 Entroncamento
PORTUGAL

VENTURA, Zélia Sampaio


Instituto de Estudos Clássicos - Faculdade de Letras
3000 Coimbra
PORTUGAL
70 LISTA DOS PARTICIPANTES

VERtSSIMO, Maria Manuela Franco


Av. Dias da Silva, 115.1.° Dt.O
3000 Coimbra
PORTUGAL

VIANA, Maria Mafalda O. Melo NWles


Rua Egas Moniz, 255
2775 Parede
PORTUGAL

VIDAL, António Dias da Silva


Rua António Luís Gomes
3720 Oliveira de Azeméis
PORTUGAL

VIEIRA, Eudoro dos Santos


Bairro Santa Sofia, Lt. 19.5.° B
2600 Vila Franca de Xira
PORTUGAL

VIEIRA, Isabel Maria Rodrigues Coelho


Rua Armando Ramos, 4
Quatro Estradas
PORTUGAL

VILHENA, António Mateus


Rua Ten. Jean Raymond, 16.3.° E
2900 Setúbal
PORTUGAL

VIZEU, Margarida Maria Salazar A.


Prol. Rua Verde Pinho, 17· r/c Dt.o
3000 Coimbra
PORTUGAL
sEsslo DE ABERTURA
/

SEANCE D'OUVERTURE
(Página deixada propositadamente em branco)
(Página deixada propositadamente em branco)
ALOCUÇÃO DA PRESIDENTE DA COMISSÃO EXECUTIVA

PROF.' DOUTORA MARIA HELENA DA ROCHA PEREIRA

Senhor Presidente da ~epúbli'Üa


Senhor Presidente Léopold Sédar Senghor
Senhor EmbaiX!ador de Portugal na UNESCO
Senhor Reitor da Universridade de Coimbra
Senhor Director-Geral do Emsino Superior, em representação do
Senhor SecI'etário de Estado do Ensmo Superior
Senhor Presidente da União Latina
Senhor Presidente do Instituto de Cultura. e Língua Portuguesa
Senhor P,r esidente da Assoc:iation Archives du xxe Siecle
Exoe1entísSÍlInaJS Autoridades
Senhores Congressistas

É meu grato dever saudar, na qualdood.e de Presidenrte da Comi,s são


Executiva, as altas autoridades que nos ,demtm a honra da sua pre-
sença, e entre esrtas seja"me peiI1m.i1Üida UIIl1a pa:1av,r a especial de admi-
ração e respeito pelo Senhor }>ireSlÍdente da Repúblioa, que, com a sua
vmda ,a té nós, sublinha a dimensão nacional des,t e aoto de cultura;
outm ainda para o P'oosidente Léopold Sédar Senghor, o grn.nde ilIlspi-
rador deste Congresso, ele meSllIlJ() notável CU/lúor ,das hUlIl1anidades
greco-Iartrlnas e paradigma, oom a sua .acção e o seu exemplo, daquele
ideal de universalddade que será o Lema dos noSlSOS trabalhos desta
semana.
Qu~semos que este nos's o encontro decorres'se sob o signo do uni-
versal, lançando os olhos para o passado com a 'mna1idade de 'a quilatar
do seu enraizarrnento no presente e da sua projecção no futuro. Efecti·
vamente, se a cultum greco-I,a't1na sobrevive há qutalSe três miléruios,
é porque merece sobreviv,e r. Não ,i móvel e ,i:1ossi!lii mda, oomo pensam
74 SESSÃO DE ABERTURA

algums, mas enriquecendo-se no contacto com out,r as formas de saber,


e assim se transformando, como é próprio do ser vivo.
A grande transformação começou, como todos sabem, na era dos
desoobrimentos, e operou-se numa Europa renascentista toda imbuída
do saber reencontrado da Antiguidade. Esse afeiçoar da antiga à nova
mundividência exprime-se de forma magnífica num poema' como Os
Lusíadas, que se desenro,l a na perspectiva de um desafio constante
entre a virtus dos antigos e a dos portugueses . O que se passa no plano
literário tem paralelo na ciência, e aqui também peço vénia para
apontar outro exemplo nacional, o livro de um amigo de Camões,
Garcia de Orta, que havia de alargar a medicina pelas plantas, iniciada
por Dioscórides, à profusão de novos simples e drogas que a sua perma-
nênc1a no Oriente dia a dia revelava ao seu espírito observador e arguto.
Os seus Colóquios apresentam-se como uma tensão contímua entre o
saber de um interlocutor enldito e livresco, Ruano, e o do próprio
autor, que lhe oontrapõe a nov.a experiência: «Não me ponhais medo
com Dioscórides nem Galeno, porque não hei-de dizer senão a verdade».
E, mais adiante, de roI1ma ainda mais incisiva: ({A tudo vos responderei:
digo que se sabe mais em um dia agora pelos POTtugueses do que se
sabia em cem anos pelos Romanos». Quem lesse só estas frases julgaria,
equivocamente, que os Colóquios dos Simples e Drogas, que, quando
difundidos em versão latina, deles derivados, haviam de alcançar
audiência universal, abjuravam definitivamente do saber antigo. Não
é assim. Todo o conhecimento é confrontado com o das fontes greco-
-latinas Ce árabes também), que é ponto de partida e aferição de
qualquer novidade que se apresente. Aliás, era esta a tendência geTal,
que o mesmo Garcia de Orta deixa entrever, ao referir, com inegável
simpatia, aquele Visorei da índia que, «muito curioso de saber, e posto
que não sabia latim, em toscano erutendia Plínio» . Eram ainda as
desorições e informações dos antigos que procuravam lugar mos novos
mapas, e é curioso registar a preocupação com que, em 1502, o fiamoso
e iII1fluente planisfério dito de Cantino colocava a legenda «Taprohana»
sobre a ilha de Ceilão, enquanto algUll'1s autores quinhe!OJt,i s,t as discutiam
se a Taprobana de Plínio era aquela ilha ou antes Samatra - Samatra,
já às portas do Pacífico __ ,
As novas terras haviam de ser motivo de uma curiosidade sempre
renovada, que deixou a sua marca em dezenas ou mesmo centenas de
livI'Os, Repetia-se então, à escala planetária, o que os historiógrafos
gregos tinham feito no decurso dos séculos VI e V a. C. O motivo é
sempre o mesmo: a humana sede de saber. Registam-se usos, crenças,
SESSÃO DE ABERTURA 75

línguas desconhecidas. Nem tudo é feito sob o signo da tolerância e


da compreensão. Mas um vasto contributo positivo veio alargar e caldear
o saber do velho mundo.
Este processo, que durou séculos, não está ainda concluso. Mas
desse conglomerado cultural chegou até nós uma herança que devemos
continuare haI1lTlonizar. É esse desejo que nos congrega aqui, em espí-
rito de interdisdplinaridade, em que conviverão classicistas com filó-
sofos, juristas, musicólogos.
Um acto de reflexão em comum durante os dias desta semana, em
que tomarão a palavra especialistas de diversos países e continentes,
desde o México ao Japão, desde a Alemanha à Argentina, ao Togo e ao
Senegal. Quisérarmos que ainda fossem mais. Por razões de vária ordem,
não puderam vir o representante dos Estados Unidos (que, no entanto,
mandou uma comunicação que vai ser lida), o da Inglaterra, da Espanha,
da Colômbia e da Nigéria (onde a tradição olásls ica é suficientemente
forte para nela se publicar a revista Museum Africum). Mesmo assim,
estão presentes doze países, pertencentes à Europa, Africa, Asia e Amé-
rica. De todos esperamos uma colaboração frutuosa, um diálogo fecundo
que nos aproxime cada vez mais.
Quero ainda saudar, muito calorosamente, os Congressistas que
aqui aoorrel1am em tão elevado número, vindos dos mais variados
pOl1Jtos do n0'sso País, quer do continente, quer das ilhas. E quero
agmdeoer-vos o acto de oonfiança que a vossa presença significa.

J'ajoute maintenant quelques mots de salutation à l'adresse des


participants de l'a ngue étrangere, qui sont accourus nombreux à notre
appel. C'est un plaisir et un honneur de vous avoir ici, et j'ose espérer
que, quaud vous rentrerez dans vos pays, vaus remporterez un souvenir
agréable de votre court séjour parrni nous, dans ceUe ville remplie
de monmnents historiques, à l'ombre d'une des universités les plus
anóennes du monde.
(Página deixada propositadamente em branco)
ALOCUÇÃO DO PRESIDENTE DO CONGRESSO
PRESIDENTE LlWPOLD SÉDAR SENGHOR

Monsieur le Président de la Répuhlique,


Messieurs les Am:bass,a deurs,
Monsieur l'e Recteur,
Mesdames, Mes,s ieurs les Profes's eurs,
Mesdames et MessieuI's,

Je voudrais, taut d 'abord et ab imo pectore, remercier le Président


Má'r io Soares d'honorer de sa presençe l'inauguration soleIllI1elle de notI'e
Congres dans l'enceinte d'une des universités les plus prestigieuses
d'Europe, qui, depuis 700 ans, à recueilli et fécondé l'héritage des
humanités gréco-Iatines. Cest grâce à son sans de l'Histoire et à sa
fidele amitié que nous avons pu résoudr,e les problemes complexes
posés par l'organisation de ce Congres, aloI's que d'autres pays latins
n'ont pas su peI'Cevoir, pour l'avenir de notre Civilisation, l'enjeu des
themes proposés.
C'est aussi 1e moment de rendre un hommage particulier à la vision
prospective et à l'acHon, effioace et persévérante, déployée par l'Ambas-
sadeur du Portugal aupres de l'UNESCO, Monsieur 'J osé Augusto Seabra.
Celui-ci s'est fait [lotre interprete vigHamrt, d'abord, aupres de Monsieur
Cavaco Silva, Premier Ministre, ensuite, aupres des Ministres des
Affaires Étrangeres et de l'Éducation. Je n'oublierai pas la compréhen-
sion et l'appui concretque de hauts responsables du Gouvernement
portugais nous ont donnés à travers notamment l'LC.A.L.P. et l'I.N.I.C.
78 SESSÃO DE ABERTURA

Evidemment, rien n'aurait été possible sans l'adhésion et la parti-


cipation de l'Université de Coimbra ni surtout de Madame da Rocha
Pereira, Président du Conseil Scientifique, que je tiens à remercier
personnellement pour son aotion, discrete et savante, aussi bien dans
la définition des themes du Congres qu'en ce qui concerne son orga-
nisation matérielle.
Je ne voudrais pas passer sous silence la participation tres impor-
tante de la Fondation de Almeida de Porto et de la Fondation luso-
brésilienne de Lisbonne aux charges de ce Congres. C'est ainsri que
nous avons pu recueilHr les analyses de nombreux spécialistes venus
du monde entier et appartenant aux disciplines les plus diverses.
Last, but not least, le Président que je suis n'aurait pu réunir ce
Congres si les grandes aides que voiJlà et d 'autres, v,e nues d'Europe,
d'Amérique et d'Afrique, n'avaient pas pu être susdtées, organisées
par le Professeur Amos Segala, le SecrétaJire général de l'Association
Archives, et le Professeur Robert Schilling, un des plus grands latinistes
de France.
Vouz le savez, la bataille n' est pas perdue, encore que nous soyons
loin, aujourd'hui, des années d'apres la Premiere Guerre mondiale.
Alo'r s, dans des pays développés, à commencer par l'Europe occiden-
tale, pour fonner d'honnêtes gens, c'est-à.dire des hommes de oulture,
on enseigna·i t, dans les écoles secondaires, les Studia humanitatis: les
humanités gréco-Iatines . Et cela même en Afrique, il faut le souligner.
11 est vrai que, depuis 10rs, exactement depuis la Deuxieme Guerre
mondiale, on avait constaté, même dans les pays latins d'Europe et,
naturellement, chez les Latino-Américains, un recul de l'enseignement
du latin et du grec. A y réfiléohir, ce dédain était du essentiellement à la
plus grande place qu'occupaient, daoJis la vie des hommes, les sdences
et les techniques. Paradoxalement, c'est le développement de celles-ci,
mais surtout leurs applications dans les servires, d'un mot dans la vie,
qui est en train de donner un nouvd élan aux Humanrités gréco4atines.
Le cas des f.tats Unis d'Amérique est, à cet égard, révélateur.
Quand, dans les années 1970, j'ai été fait docteur honoris causa de
Harvard, la doyenne 'des universités d'U.S.A., son Président m'a expliqué
la raison pour laquelle l'enseignement du latiu, mais surtout du grec,
avait beaucoup progressé depuis la fin de la Deuxieme Guerre mondiale.
«C'est, m'a+il précisé, qu'en développant l'imagination, ,l'enseignement
du grec permet de mieux fOJ:1mer de bons businessmen». C'est pour
des raisons semblables ou, mieux, complémentaires que les éleves de
l'enseignement secondaire choi·s issent la section olassique, qui a, depuis
SESSÃO DE ABERTURA 79

quelques années, augmenté dans un pays comme la France, sans oublier


l'Afrique fnmcophone. Je vous renvoie à l'artide qui signalait le fait
dans le journal Le Figaro du 14 aout 1987. Ce n'est pas par hasard si l'on
constate, dans les pays francophones d'Afrique, un phénomene sem-
blable. C'est ainsi qu'en son temps, il y a quelques années, l'assemblée
des év.êques de l'Afnique de l'Ouest franoophone a rendu obligatoire,
dans les sémmaires, l'enseignement du latin et du gI1ec.

*
* *

Rlappelés, pour commencer, ces faits significatifs, H nous reste à


en chercher les raisoos profondes. Nous les trouverons, par de là les
faits grammaticaux et stylistiques, dans le génie prorfond des peuples
latiu et grec. Pour cela, il nous faut remonter l'mstoire jusqu'aux siecles
d'avant notre ere, ou l'Empire romain s'étendait, du Nord au Sud,
depuis le milieu de la GeI1manie jusqu'au sud de l'Egyp1le et, de l'Ouest
à l'Esrt, depuis l'Océan Atl,a ntique jusqu'à l'Arabie Pétrée.
Que l'on se gaI1de surtout d'exolure de cet Bmpire rom ain , avec
toutes ses conséquences, l'AfI1ique. C'est le moment de vous rappeler
les deux écoles oulturelles qui ont joué un rôle si important dans les
Humanités gréco-latines: l'école grecque d'Alexandrie avec Plotin, du
lHe siecle apres J. C., et l'école latine d'Rippone avec Saint-Augustin,
au IVe siecle apres J. C. Déjà, ces deux écoles, avec leurs apports
mystiques africains, apport,a ient, une fois de plus la 'contribution du
oontinent noir à la Civilisation de l'Universel.
Or donc, dans cet Empire I1omain, Ílmmense pour l'époque, ou se
cotoya~ent des Européens, des Africainset des Asiatiques, le latin était
la langue de l'Administration. Mais, et cela mérite d'être souligné, les
hommes de culture s'écrivaient en grec. Rien n'est plus significatif
à cet égard que ,l a traduotionde la Bible. En effet, c'est aux IHe·IP siecles
avant J. C. que la Bible a été traduite de l'hébreu en grec, d'une langue
sérnirtique en u:ne langue albo-européenne. J e vois, dans oette traduction
et pour l'histoire de la civilisation humaine, UJll fait majeur. C'est qu'à
tmvers 1e grec, l'âme, la spiritualité des civilisations sémitiques est
passé aux peuples grec et latin, puis, à travers eux, aux peuples albo·
européens, puis, siecle apres siecle, à tous les continents de notre
planete Terre. Ce n'est pas tout, le style sémitique de La Bible, fait de
répétitions qui ne se I1épet,e nt pas, comme j'aime à le dire, aHait modi-
80 SESSÃO DE ABERTURA

fier le style et, partant, -l a s)llIl'taxe du gree PUtS du latin o En effet, e'est
au IV e siecle ~pres J. C. que la Bible fut tradui-t e du gree en latim par
Saint-Jérôme et devint la Vulgate.
C'est aim:si que les deux langues classiques que voilà sont devenues
capables de tout traduire: depu is les mathématiques et la pensée la
plus abstraite jusqu'aux sensations les plus subtiles et les pures effu-
sians de l'âme.
Paur revenir aux peuples latm et gree, je voudrais montrer com-
ment, à traveJ:1S Ietl.TS Il angues, pertectionmées de -s iede en siecle, ils ont
développé cet esprit de méthode et d'organisation qui, en cette fin du
XXC sliecle, constitue l'appoI1t majeur de l'Erurope, plus préoisément de
l'Euramérique, à la Civilisat,i on de l'Universel. RaPlpelez-vous la phrase
du pI1ési,dent de l'Université de Harvard que je VIOUS ai citée plus haut.
Je voOudmis y ajoUJter la fameuse phmse d'Aristote, lJirée de l'Ethique
à Nicomaque: «II y a dOI1Je ,tI'Ois facUiLtés qui [lOUS permettent de con-
naj,tre et d'agir: la sensibi,Hté (aisthésis) , la raison (nous) et le désir
(orexis)>>. Je sai,s qu'en général, les professeurs traduisent Je moOt gree
orexis par «volonté». En vérité, e'es,t une imemprétation à I'européenne ,
et c'esrt là son intérêt, qui fait du désir l.liI1e volonté. Une autre interpré-
tation, fameuse, mais dans 1e même -SeI1!S, est oeLle de René Descartes.
Dans une de ses Méditations metaphysiques, .Ia sensibilité, la raison
et .J.e désir sont devenus, sous sa oplume frél[}çaise, «le penser, Je vouloir
et le sentir». C'est dire que DescaI1tes, -l,e oPere du rationalisme, a mis l-a
raó.son à la prem:iere pIare et la sensibilité à ladern1ere tout en réif,iant
le «désir» en «vouloir». Pour revenk aux grecs, ,l eur mér1ite a été, entre
le VIle et le ve siecle avant J. C., d'aHer prendre, des ma!Í.ns des
Egy.ptiens, le flambeau de la oiviHsatian hllil1lJaline. Je songe à d'illustres
voyagetuI1S OOIffiIffie Platon, le pmlosophe, Thales, le mathématicien,
Budoxe, l'astronome, .sans oub1ier Hérodote, le opere de I'Hi's toire. C'es,t
ainsi qu'ils om ajouté la sensibi:lité afr1ioaine à la ,r aisonalbo-européenne.
Comme le prouveIllt les veI1ttliS de lear langue, que nous allons maim-
tenant essayer de définir avec les quaHtés de la langue lavine.
La premiere q'1la1ité de la langue greoque est la -I1ichesse nuancée
de san vocabUilaiTe. Pamdoxalement, on Je doi>t, en gmnde paI1tie, aux
sophistesoomme Protagoras et Prodicos, qui ont beaucoup enrichi la
langue, mais -surtOUlt ,e n oTIJt f.ait la langue la plus precise du mOIlide.
II suffit, pour s'en convairncre, de cornparer Jes deux diotrionnai'r es
«Grec-Français» par Anatole BaHly et «Latin-Français» par Félix Gaffiot.
Le premier a 2.300 pages quand le seoond, ma:1gI1é ses ,iJhl.ustratiOIl!s, m'en
comporte que 1.702. n s'y ajoute, etce [l'est pas Je moins !important,
SESSÃO DE ABERTURA 81

que nombre de mots latins, simples, mais surtout composés, sont em-
pruntés du grec. Et c'est, le plus souvent, l'emprunt, non d'un mot,
voire d'une racine mais d'un affixe, c'est-à-dire d'un préfixe, infixe ou
suffixe. Depuis qu'avec le dévdoppement des scienoes et techniques,
l'Europe, puis l'Amérique sont, au XIxe siecle, entrées dans l'ere
industriel1e, ces emprunts sont de plus eu plus courants. Je n'en veux
pour preuve que la liste des néologismes techniques que le Ministre
français des Postes et Télécommunications m'a adressée l'an dernier.
Le document est d'autant plus intéressant qu'à côté des mots français,
iI y ales mats anglo-américains. II reste que le pIus significatif me
semble être, non pas un de ces mots trop techniques et pour minitel,
mais un mot plus courant - j'aUais dire: plus maniable - , comme
Mirapolis ou orthokinetics.
Quand, l'aUJtre sair, j'ai vu et entendu ces deux mats à la Télévi-
sion française, j'ai tout de suite identifié, d'une part, les racines mir-,
«merveilleux», et poli-, «ville», d'autre part, les racines ortho-, «droit»
et kine-, «mouvement» . J'ai d()[lc traduit, «ville des merveilles» et «qui
permet de se tenir droit». C'est qu'il s'agissait d'un «paJ:1C d'attractions»
et d'un «fauteuil mobile».
La deuxieme qualité des langues à flexian que sont le grec et le
latin est qu'eUes ont essentiellement une syntaxe de subordination
quand nos langues agglutinantes d'Afrique et d'Asie du Sud, comme
l'égyptien anoien, le sumérien et le dravidien, ant, par nature, une
syntaxe de juxtaposition et de coordinati'o n. Ce qui mérite explicatio01.
Dans les langues à flexion, la fonction du mot dans la propositian est
indiquée par sa désinenoe. L'écrivain est done plus lribre, qui place le
mm à la pIaoe ou il fera l'effet voulu. Je songe, ici, à certains effets
de construction comme l'anacoluthe.
Cependant, la caractéristique maj,e ure du grecet du latin est sur-
tout dans leur syntaxe desubordination quand ·1es langues agglutinantes
d'Afrique et d'Asie pratiquent, de préférenoe, la syntaxe de juxtapo-
sition et de coordination. L'exemple que voici nous penmettra de mieux
comprendre. Voiei un texte wolof du Sénégal, tradUJit mot à mot! «Je
suis un guérisseur et j'habite le village de Djilor avec mon ami Waly.
Vn malade voulait me vair. II s'adressa à ,luÍ». Vn Fmnçais aurait dit,
plus exactement, iI aurait écrit: «Comme je suis un guérisseur et que
j'habite le village de DjilOT, ou j'ai un anni, Waly, un malade, voulant
me voir, s'adressa à oelui-ci» . Dans le premier cas, celui du style africain,
nous avons deux propositions indépendantes ooordonnées, puis deux
propositians indépendan,t es juxtaposées. Dans le deuxiffine cas, par can-

6
82 SESSÃO DE ABERTURA

tre, eelui du style albo-européen, nous avons un texte solidement, logi-


quement avticulé eomme suit: deux propositions subordonnées de cause,
coordonnées, une proposition subordonnée de lieu, une proposition
SUbOTdol1'née de cause, enfin, une proposition principale.
Curieusement, ce style afrioain ressemble à cdui de la Bible, dont
la traduction de l'hébreu en grec, par les Septante, les 70 rabins, qui
étaienrt: 72 en réalité, a exercé une influence durable sur la civiHsation
gréco-latine, et d'abord sur la langue. C'était aux III"-IIe siecles avant J. C.
lê dis: sur les deux langues, ear e'est à partir du texte grec qu'a été
faite la traduction la1line. Et ee latin va devenir ainsi, et pendant tout
le Moyen-Age, la langue liturg,i que de l'Europe chrérienne, mais aussi la
langue culturelle de l'Empire d'Oecident, héritier de l'Empire romrun.
Comme vous le sav,ez, c'est de ce l,a tin de la vulgate que naitrant les
langues néo-latines d'Europe, qui devi,e ndront, entre autres et par ordre
alphabétique, l'espagnol, le français, l'italien et le portugais.
Le faü mérite qu'on s'y arrête. C'est ainsi, pour prendre un exemple
significatif, qu'au XllIe siecle, sur 3.000 mots du f.mnçais élémentaire,
le quart, c'eslt-à~dire quelque 25% étaient des mots savants, tirés du
latin ou, mieux, du grec. Fait plus caractéristique encare, 1es deux tiers
des mots anglais ou, plus e:x:actement, anglo-arrnéricain:s d'aujourd-hui,
provi,e nnent, par ordre historique, du f,rançais, du latin ou du grec.
01" donc, nous sommes, actue1lement, en train de eréer la «Civili-
sation de l'Universel», pour parler comme le Pere Pierre Teilhard de
Chardin. C'est pourquoi, j>e voudrais, avan-í de conclure, vous apporter
le témoignage de l'Afrique noire latinophone. En effet, tout en gaI'dant
les vertus de oe que nous appelons la Négritude, les intellectuels de
cette partie du continent ont tenu à assimiler et faire assimi,l er, des
l'école primaire, mais surtout dans l',e nseignement secondaire, l,e s vertus
de la civi1isation gréco-latine. Nos intellectuels y sont d'autant pIas
encouragés qu'ils savent, maintenant, le fait oulturel majeur que voiei.
On nous a arppr1Ís, en son teIl1JpS, dans les manuels européens de
musique, que le plain-chant et la polyphonie avaient été apportés à
l'Europe oocidentale, chrétienne, par les Arabes et par l'Andalousie,
au VlIle siecle apres J. C. Le fait est vrai, mais il est plus vrai encore
que les Arabes ont pris, en Afrique et en passant, le plain·ehant et la
polyphonie, qui y sorrt nés. C'est, au demeurant, ce que soutiendront
de grands afri.canistes comme 1e Révérend Pere Henri Gravrand, de la
Congregation des Peres du Saint-Bsprit et du Saint-Coeur de Marie.
Ce que confirme ce fait, ,mcontestable, que les dix millions de Négro-
Africains deportés aux Amél1iques pendant trois sieoles -la moitié
SESSÃO DE ABERTURA 83

étaient morts dans les navires négriers - ont gardé, dans leur coeur
et leur tête, la polyphorüe et le plain-chant africains. Comme on le
sai'Í, en effet, les Negro-spirituals sont chantés en plain-chant polypho-
nique. Cependant, comme en Afrique, les consonnances ou accompagne-
ments ne sont pas à l'octave, à la quinte et à la quarte ainsi qu'en
EUTope, mais à l'octave, à la quinte et à la tierce. Je sou1igne: à la tierce,
qui est l'accompagnement sensible -les Européens disent «sensue1»,
qui sont obsédés par le péché.
Or done, et pour vevenir aux humamités gréco-latines, 1'assemblée
des évêques de l'AfTique de 1'Ouest francophone, sinon latine, a décidé,
iI Y a qudques années, de rendre obligatoire, dans les séminaires,
l' enseignement des humanités gréco-latines. II y a mieux, au lendemain
de 1'indépendance, nous avons, au Sénégal, créé, dans 1'enseignement
secondaire, une section classique ou ,1es éleves ont à choisir entre 1'arabe
d'une part, le latin et le gvec d'autre part. C'est ainsi que, dans ce pays,
musulman à 80%, si quelque 65'% des éleves de la section classique
choisissent 1'arabe, environ 35%, et surtout des jeunes filles, préferent
le latin et 1e grec. La raison majeure de celles-oi est, comme me l'a dit
notre premiere temme professeur de grec à l'université de Dakar, que
nos intellectuelles négro-afvioaines se sentent moins dépaysées dans le
monde de 1'humanisme gréco-latin, qu'on leur a fait assimiJler.

*
* *
J,e voudrais conclure sur oette eoneordance entre le reoteur de
l'Université de Harvard et la premiere jeune fille négro-afrieaine l'eçue,
en France, au concours de 1'Agrégation des Lettres olassiques. Ce double
témoignage est significatif, qui caractérise notre temps, e'est-à-dire ce
dernier quart du XXe siecle, qui voit naitre, vrali.ment, la Civilisation
de ['Universel.
Bien s11r, celle-ei l'eposera essentiellement sur le roe solide des
Humanités gréco-latines. C'est ce que prouve l'option qu'a faite, dans
ce sens, l'Afrique latine. Et e1le l'a faite avec d'autant plus d'enrt:hou-
siasme que ses éHtes ont été, comme moi, nourries, en grande partie,
par la leeture et le chant en latin de la Bible. De cette Bible dont la
traduction a gaI'dé, avee le s.tyle, le charme des langues sémitiques:
de leur musique, singulierement de leur poésie, faite, comme en Afrique,
d'images analogiques et de répétitions qui ne se répetent pas.
84 SESSÃO DE ABERTURA

PO'llr tinir, je voudrais, de nouveau, reo.nercier le grand homme


de culture qu'est le Président Mário Soares et, avec lui, le peuple
portugais. Ce peuple qui, plus que tO'llt autre en Burope, ignore les
haines de race ou de culture. Ce peupte qui, depuis les Iberos, a réalisé
l'une des symbioses, biologique et culturelle, 1es plus completes, présent
qu'il a été, au cours des SlÍeoles, sur tous les continents de notre planete
Terre. II reste qu'il a toujours éclairé cette riche symbiose à la lumiere
de l'humanisme gréco-Iatin.
ALOCUÇÃO DO EMBAIXADOR DE PORTUGAL NA UNESCO
PROF. DOUTOR JOSÉ AUGUSTO SEABRA

Senhor Presidente da República


Senhor PI'esidente Léopold Sédar Senghor
Senhor Director-Geral do Ensino Superior
Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra
Senhor Presidente do Conselho Científico da Faculdade de Letras
Digníssimas Autoridades
Senhoras e Senhores Congressis,t as

A realização em Portugal e nesta velha Universidade de Coimbra,


nossa alma mater, de um Congresso Internacional sobre «As Humani-
dades Greco-Latinas e a Civilização do Universal», presidido pela alta
e nobre figura carismática de Léopold Sédar Senghor, é para nós, Portu-
gueses, uma subida honra, assinalada aqui pela presença nesta sessão
inaugural de Sua Excelência o Senhor Presidente da Repúblioa. Por ter
aoompanhado desde o início, em representação do Estado e do Governo,
uma iniciativa cultural de tão largo alcance, não posso deixar de teste-
munhar aos seus organizadoI'es e participantes a satisfação das auto-
ridades portuguesas pelo empenhamento que tooos puseram na sua
realização, desejando-lhes o maior sucesso.
Portugal é, desde a sua origem, uma pátria de universalidade. Cioso
da sua independência e da sua liberdade, das suas tradições e da sua
história, ele deu ainda, corno escveveu Camões no auge da primeira
gvande Renascença do Classicismo e do Humanismo, «novos mundos
ao mundo», abrindo a EUTopa cristã, herdeira da civilização greco-latina,
a outras civilizações e oulturas, no limiar da Idade Moderna.
Apegado à sua língua, que n'Os Lusíadas Vénus «oom pouca oor-
rupção crê que é latina», ele soube, como anteviu o poeta e humanista
António Ferreira, fazê-la florescer, falar, cantar, ouvir-se e viv,e r a toda
86 SESSÃO DE ABERTURA

a ,r osa dos ventos, até tornar-se o idioma de vários países indepen-


dentes, do Brasil à África, dispersando-se ainda como língua franca e
através dos crioulos e do papiá cristão, pelos continentes e ilhas onde
2. nossa Diáspora se disseminou.
Como não havia pois o nosso País de acolher de braços abertos
aqueles que, hoje, se lançam nesta outra exaltante aventura de em-
preender uma «Nova Renascença» das novas civilizações matriciais,
em demanda de uma «civilização do universal», insistentemente anun-
ciada por Léopold Sédar Senghor, que só ela permitirá superar esta
cri,s e de civüização de que estamos a sair, na viragem do segundo para
o te:rceiro milénio da nossa Era?
Civilizações matriciais: a da Grécia e a da Latinidade, prolon-
gando-se do Mediterrâneo ao Atlântico, pda Europa, pela Africa, peIa
América, sem esquecer o Oriente, onde retornaram.
Uma civiHzação nova, renascente: feirt a de polflogo entre povos,
línguas, culturas, enlaçando-se numa mestiçagem tolerante e proliferante.
Que sejam os poetas a prefiigurá-Ia, eis o que lhes é próprio, como
entre nós aoonteceu, neste século, com Fernando Pessoa, cujo cente-
nário este amo celebramos. Ao multiplicar-se em heterónimos, ele não
se esqueceu de enviar Ricardo Reis, «latinista por educação alheia» e
«semi-helenista por educação própria», para o Brasil, na América Latina,
como medianeiro da tradição e da modernidade. E não reclamava
Pessoa para o «Portugal futuro», a exemplo da «Grécia antiga», o dom
dos deuses de ser ao mesmo tempo uma nação e todas as outras, já
que para ele cada uma é «todo o mundo a sós», universal pO'rtanto por
e~celência, oomo escreveu na Mensagem?
É 'e ssa igualmente, hoje, a mensagem de Léopold Sédar Senghor.
O poeta da «negritude», mas também da «lIl1estiçagem cuhural», o
derensor da francofonia, mas também das demais línguas latinas,
a oomeçar pelO' Português, tomou sobre si a missão de fazer das
Humanidades, actualizando-as, o fundalIl1ento de uma nova «civilização
do universal», à medida do nosso tempo e dos tempos a vir.
Remmdando livrelIl1ente ao cargo de Chefe de um Estado de que
foi fundador, depois de ter sido um resistente e um político devotado
à oausa da democracia e do socialismo humarrlJista, mantendo-se fiel à
sua ré católica e à educação que recebera dos padres do Espírito Santo,
com o culto do latim e do grego que apurou com a sua «agrégation
de gI1ammaire», Léopold Séda·r Senghor tornou-se assim um cidadão do
mundo, um paradigma da fraternidade entre os povos, as línguas, as
cuLturas.
SESSÃO DE ABERTURA 87

É como rnn Amigo, um Irmão que ele está uma vez mais entre
nós, a presidir a este Congresso. Não esquecemos, não esqueceremos
nunca os versos repassados de emoção que a Portugal dedicou:

Escuto no fundo de mim o canto em voz de sombra das saudades.


Será a voz antiga, a gota de sangue português que sobe do fundo das idades,
O meu nome que remonta às origens?
Gota de sangue ou então Senhor ...

o sangue, o nome português. Eis os leitimotive da sua Elegia das


Saudades, onde Coimbra, que UIIl1 dia vis Ltou, aparece como símbolo
emblemático desse regresso às origens:

Reencontrei o meu sangue, descobri o meu nome há anos em Coimbra,


sob a floresta dos livros.

evoca ele nostálgico, reiterando o seu saudosismo:

Sorver todos os livros, os dourados, todos os prodígios de Coimbra,


Lembrar·me, simplesmente lembrar· me .. .

Sim, estes vel'SOS de Senghor ecoam aÍlnda e sempre, hic et nunc,


com os seus acentos, os seus ritlIllos africanos e latinos, a provar que
a grande poesia é tanto mais universal quanto mais enraizada, como
as civili:mçães e as culturas de que emerge. Saibamos escutar, através
dos poetas, as vozes dessas civilizações e culturas, projectadas do pas-
sado para o futuro , o «futuro do passado » de que fala Pessoa.
Numa época em que a ciência e a técnica, de que os gregos lança-
ram os fundamentos longínquos , conhecem uma vertiginosa expansão,
sendo a condição necessária, embora não suficiente, para a libertação
do homem das suas carências básicas, a techne poietike pode e deve
renascer, como a dimensão plenamente humana da liberdade criadora:
das Humanidades clássicas ao Humanismo moderno e contemporâneo,
é dessa «libel'dade livre» cantada por Rimbaud, que essencialmente
se trata.
Este Congresso, pelo plurali-smo dos seus participao.ltes, vindos de
todos os horizontes, pela aJlta qualidade cientifica e Hterária das comu-
nicações pJ1evisnas, pelo espírito elevado e e~igeI1ite que o anima, será
uma .m anifestação significativa da renascença do estudo das línguas e
culturas cláss,k as, que em inúmeros países de quadrantes diversos está
88 SESSÃO DE ABERTURA

a ter lugar. As&im. os responsáv,e is da Educação saibam oomproonder-


-lhes o alcance, que é complementar e não larutagÓIlico da formação
científica, técnioa e profissional próprj,a da época actual.
Enquanto Embaixador de Portugal junto da UNESCO e Vioe-Presi-
dente da União Latina, aqui também representada pelo lSeu Vioe-Pre-
sidente italiano, Embaixador Ivancich, congratulO{[l1e com este momento
ímpar de cultura e de espiritualidade que vamos VlÍver, sob a égide
desta Universidade de CoilIIlbra, uma das marisantigas da Europa,
pmstes a oomemorar enl 1990 os seus 700 anos, e pela qual de novo
perpassa, hoj,e oomo ontem, um sop:ro de universalidade viv.a, enoarnada
por Léopold Sédar Senghor.
ALOCUÇÃO DO REITOR DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
PROF. DOUTOR RUI DE ALARCAO

Senhor Pres,i dente da República Portuguesa


Senhor Presidente Léopold Senghor
Senhor Embaixador de Portugal na UNESCO
SenhOT Secretário de Estado do Ensino Superior
Senhor Pres1dente da ASls ooiation ATChives du xxe Siecle
Senhor PTesidente da COIIl1'Í'ssão Executiva do Congres,s o
Exoolentíssümas Autooidades
SenhoI1es Congressistas
Senhores Professores e Estudantes
SenhO'rase Senhores

A razão fundamental do CongressO' «As Hurmanidades Greco-Latinas


e a Oivilização do Universal» é - cito - a de «pJ:1OII1over uma reflexão
sobre o palpeI que desempenharann e devem cOIlltinuaJI" a desempenhar
as hlllIIlJal1idades greco-Iatinas no quadro ( ... ) do v.aSlto e complexo con-
texto em que hoje nos movemos».
Isto quer dizer, desde logo, duas coils as. A primeira é que o objectivo
do Congresso não se oonfina ta urna área oiocunscruta do pensamento ,
mas antes se estende ta vári'a s delas, desde a ciência à religião, da ética
ao dio:"eito, ptassrundo pela arte, a fiJIosofia, a política. A segunda está na
circUJIlistârncia de que o Congres1so não tem um sentido passadista, mas
verdadeiramente prospectivo, proouI1ando esolaJI"ecer o presente e pers-
pectivar o futuro. Tem-se desta problemática, por conseguinte, uma visão
pluralista e actualista, as duas se .fundindo numa visão universalista.
Assim conceberam os organizadores este congresso. A:SSli m o esboçou
o grande humanista Presidente LéopoLd Senghor, que dele tomou a
iniciativa e a ele preside, e tanto nos dig;nrifica com a sua presença.
Assim o plam.eaI1am - oom o lélIpoio do itlus1Jre Bmbaixador de Portuga,l
na UNESCO - os organizadores da relu1Jião, nomeadamente a insigne
90 SESSÃO DE ABERTURA

Presidente da Comissão Executiva, Senhora Doutora Maria Helena da


Rocha Pereira.
Sendo esta a ideia e este o plano, não foi decerto uma casuaJidade
ou um for1Juito que ditou a escolha da Universidade de Coimbra para
lugar do encontro. Pois não é verdade que a Universidade de Coimbra
se conta como uma das mais antigas do mundo latino? Não é a sua
Faouldade de Letras, e em especial o Instituto de Estudos CJásskos,
com o Centro de Estudos Olássicos e Humanísticos, uma sede presti-
giosa de estudo das humanidades greco-Iatinas? Não é Portugal um
país que, a mais da conrtribuição que deu para a grande expansão
europeia da idade moderna, pode ufanar-se de uma clara vocação
universalista?
Seja como for, a escolha de Coimbra e da sua Universidade para
lugar deste enoontro internacional honra-nos e sensibiliza-nos. Como
muito nos honra e sensibiliza a presença de Sua Ex. a o Senhor Presidente
da República, que desta forma continua, na sua «magistratura de
infiluência», a amar e a cuidar da cultura como peça fundame:nrtal que
é no progres,s o espiritual e no desenvolvimento e equilíbrio socio-político.

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores:

A antiguidade greco-latina está na base da civilização europeia e


da cultura ooiclental. Bem sabemos isso. Só não sabemos tão bem como
ela se misturou e harmoil1izou com os outros elementos dessa civiH-
zação e dessa cultura, em especiaJ com o germani's mo, e como se
comportou a antiguidade clássica em confironto com o Oriente, a Mrica
e a América. E não são poucas, por outro lado, nem são de somenos, as
interrogações sobre o devir da cultura clássica num contexto civili-
zadonaJ que só agora se constrói verdadeiramente planetário.
Dúvidas e questões que são, ou podem ser, de grande, e mesmo
decisiva, importância. Pois têm a ver com o nÜ'sso destino colectivo,
a rem'a tar no destino político. Um destÍlIlo onde não falte uma inces-
sante procura da democracia, também ela de raiz dásslÍca, mas agora
entend1da como regra de jogo, onde se ambiciona, mais que o domínio
da maioria, o apaziguamento de conflitos pelo alcance de consensos.

Senhores Congressistas:

Na arte de inventar o futuro, as vossas comunicações e debates,


de cientistas e homens de cultma, têm o seu lugar e o seu papel.
Desejo-vos êxito nessa 'ars in'lleniendi'. E aceitai as melhores saudações.
COMUNICACÕES
J

CO~IMUNICÂTIONS
(Página deixada propositadamente em branco)
I

APREOIAOÃO
-'
DO ~{UNDO ANTIGO
/

APPREOIATION DU MONDE ANTIQUE


(Página deixada propositadamente em branco)
HOMER AND CLASSICAL STUDIES

O. TSAGARAKIS
University of Crete

ln dealing with the theme «Optiques contemporaines dans l'étude


des classiques», I thought it wise to limit myself to a specific subject
which I Carl claim to have some good knowledge. However, within
the limited time and scope of the paper the discussio'l1 will be rather
general but illuminating.
Homer has always been an important subject of research and
instruction, and his work, the Iliad and the Odyssey, has been much
discussed since ancient times. Homer is in the mainstream of Greek
literature which, optirmists will say, continues to have an educational
effect upon contemporary man.
Nowadays the educational priorities of our societies lie mainly in
the tra1ning of mau to become more productive and efficient. Now,
while this utilitarian concept of education, which threatens the very
foundations of our civilization 1, is certainly not new, today it simply
has assumed large proportions, mainly because of the complexities of
modem life and the pressure upon the individual.
Modem man is too much preoccupied with the present and has
little or no time to let himself be taught by Homer ar, for that matter,
by Greco-Roman literature which, in the words of mlbert Highet,
contains «much of the best art and thought in the possession of the

1. See in this context L. Sedar Senghor, «'H à.t;Ca 't'fíc; ô~ôaO'xa)'Lac; 't'wv
x).aO'O'~xwv
O'1tovowv», I1)'á't'wv 36 (1948), 3 ff.
96 HOMER AND CLASSICAL STUDIES

human race» 2. Modem man begins to realize that his educational


training may secure him a good job but does not educate him.
Yet it is rather encouraging to see at least that classical studies
are still available to students at our universities and research goes on.
Qur knowledge is thus enriched and others may also benefit from it.
Classical studies are relevant to contemporary world and should be made
available to alI. 3
Greek and European literature begins with Homer. The Homeric
epics, which were composed some time in the eighth century B. C.,
are therefore significant in the history of Westem civilization. Their
influenoe and fame have been enduring 4, and it is no won der why we
are still studying Homer today and even more so now than before 5.
We have discovered the truth of Plato's words «1tcip' 'O(.l.1Ípou XPD
(.l.!l.vMvWIi (Cratyl. 391 C). Homeric scholarship has not yet fathomed
all the secrets of Homer's poetry, but it has ma de much progress, in
the last two centuries, towavd solving some vexed · problems about
composinon and Sltyle.
The basic problem has been, since anoient t:io:nes, to explain
Homer 6, and there developed two opposing approaches to the study
of the Homeric epics: the unitarian and the anaJytical approach. It was
important to understand how the epics caone to be, and research at

2. Cf. G. Highet, The Classical Tradition (Repr.), London 1966, p . 497 n . 45.
3. According to W. Nikolai, «Wirkungsabsichten des Iliasdichters », Gnomosyne
(1981), p. 82, there is «ein neues Interesse rur die gesellschaftliche Relevanz kultu-
reller Phanomene, die wiedererwachene Begeisterung für littérature engagée ... »
4. Cf. A. Heubeck, «Blick auf die neuere Forschung» in Homer (ed. J. Latacz) ,
Darmstadt 1979 (Wege der Forschung CDLXIII), pp. 556ff. On Homer's influence
on epic poetry see C. M. Bowra, From Virgil to Milton, London 1945, passim and
G. S. Kirk's remarks, Homer and the Oral Tradition, Cambridge 1976, pp. 85 ff.
5. The large quantity of publications is sufficient proof to this claim. David
W. Packard - Tania Meyers, A Bibliography of Homeric Scholarship, Malibu 1974,
list some 384() items for the period 1930-1970, without claiming completeness af
their survey. Cf. also A. Heubeck Die homerische Frage, Darmstadt 1974, pp. 243-304
and his remarks in his article «Homeric Studies Today», in Homer, Tradition and
Invention (ed. B. C. Fenik), Leiden 1978 (Cincinnati Classical Studies, II), p. 1.
J. Latacz, op. cit., pp. 18 ff. claims that there are 12.000 titles of Homeric biblio·
graphy from c. 1770 to 1977.
6. Cf. R. Pfeiffer, History of Classical Scholarship, Oxford 1968, passim,
G. Finsler, Homer in der Neuzeit von Dante bis Goethe, Leipzig-Berlin 1912, passim.
See also in this context Henrietta v. Apfel, «Homeric Criticism in Fourth Century
B. C.», TAPA 69 (1938), pp. 245 ff.
HOMER ANO CLASSICAL STUDIES 97

first concentrated on their genesis. This was the so-called «Homeric


Question» which was launched in modem times by August Wolf's
Prolegomena ad H omerum (Halle 1795) and which was destined to
trouble scholars for a long time. Yet it now has lost much of its
original force, owing mainly to a more careful study of Homer in the
light of new advances in archeology, linguistics and related areas
of research. On the other hand, new approaches have been made to
the study of Homer's poetry.
The analysts of the 19th century made an important contribution
to Homer with their study of his language, which had begun earLier in
the 18th century with the work of R. Bentley who discoveroo the digao.nma
and gave a historical perspective to the study of the Homeric language
and to the Greek language in general. Older linguistic fonns were
distinguished from younger ones 7 and so were the parts of the poems
in which those forms occurred more frequently (Iliad II, X, XXIII and
XXIV; Odyssey I-IV, VIII, XI and XXIV). Wilamowitz, despite his
criticism of Lachman and others, also adopted the analytical approach,
finding contradictions and various peculiarities which he then tried to
remove in an attempt to discover the «genume» Homer 8. ln the struggle
between poetry and rationalism the latter wins.
It was only recently that we have leamed that we should not apply
literary criteria to the Homeric epics, mainly because they were com-
posed in the style of the traditional technique of oral composition
(1 t is another question whether the Homeric epics as we know them,
were composed oral1y or with the aid of writing in a traditional style).
But already in the Renaissanoe theories of the literary epic had affected
reading and understanding of Homer 9. The criticism of Homer was,
more or less, an elaboration of Byzantine schoHa and of the commen-
taries of Aristotle's Poetics and Horace's Ars poetica.
Critics looked for rational explanations for the creation and function
of poetry and later the search for illogicalities, contradictions etc.
continued and even increased in the age of «rartionaUsm» !O. It shou1d
also be noted that there was at the same time, a growing reaction

7. ln this context see P. Chantraine, Grammaire homérique, Paris 1948 and


G. P. Shipp, Studies in the Language of Homer, Cambridge 1972, passim. Cf. also
D. L. Page, History and the Homeric Iliad, Berkeley 1959.
8. U. v. Wilamowitz-Moellendorf, Die !lias und Homer, Berlin 1920.
9. Cf. M. Mueller, The Iliad, Boston 1984, p. 185.
10. Criticizing Lachman's theory Wilamowitz, op. cit., p. 16, says that his
theory was «ein seltsames Gemish von Rationalismus und Romantik».

7
98 O. TSAGARAKIS

against this position. For Herder, for example, poetry was not exactly
a scholarly treatise; it was ill-suited fo'f that kind of criticaI anaIysis.
Poetry was «life», a mirror of a people's strength and shortcomings,
an expression of its ideaIs li.
The analytical approach was perhaps unavoidable under the circwn-
stances (lack of knowledge of the historical process of the making of
epic poetry) and perhaps also necessary in order for the truth to come
out: the composition of the poems reveals such a degree of artistry
and planuing that canIlJot possibly be achieved by the compilation of
various poetic materiaIs and by many poets. This fact was strongly
emphasized by the unitarians and W. Schadewaldt was convinced that
the Iliad was composed by a single poet 12. But as early as 1794 Herder
had pointed out that only a great poet could compose a poem around
a central theme, which in the case of the Iliad is the menis 13. The fact
must be duly emphasized that analysts, especially those of an earlier
date, failed to consider the artistry of the Homeric epics. We may
still not know who Homer was, when and where he lived, but to-day
for us he is no longer a shadow figure 14; he is a comprehensible perso-
nality produced by a specific culture. The belief also prevailing in the
eighteenth century that Homer was primitive, singing artlessly seems
«strange to us to-day» 15.
Recent studies in folk epics have shown clearly that the language
of the Homeric epics is oral, not literary, and the technique of com-
position is basically that of orally composed epics 16, but some scholars
continue to study Homer along traditional lines in order to discover
what part of the poem is «genuine» and what is n01. The neo~malysts,

11. Cf. E. Drerup, «Homer und die Volksepib, in Homer (ed. J. Latacz), p . 154 f.
12. Cf. W. Schadewaldt, Iliasstudien, Leipzig 1948.
13. Cf. E. Drerup, op. cit., p. 158. ln his book Homer ein Günstling der Zeit,
1795, Herder criticized Wolf for missing the important point that the Homeric
epics are great poetry and were therefore created by a single poeto
14. Wilamowitz had already tried to show that Homer was a real person and
composed the Iliad (cf. E . Bethe, «Homerphilologie heute und künftig», Hermes 70
(1935), p. 47) .
15. Cf. W. F. Jackson Knight, Many-Minded Homer Cedo J. D. Cristie), London
1968, p. 133. The belief has its origin in romanticism on which see, in this context,
Ruth Finnegan, Oral Poetry, Cambridge 1979, p. 31 f.
16. Cf. J. Latacz, «Tradition und Neuerung in der Homerforshung» in Homer
(op. cit.), pp. 25 ff., who refers to Herman and even 'Wolf, without underestimating
of course the work of Milman Parry and his successors (cf. A. Lord, The Singer
of Tales, Cambridge Mass. 1971).
HOMER AND CLASSICAL STUDIES 99

on the other hand, try to explain discrepaneies in plot and strueture


in terms not of many poets but of many sourees 17.
The rather modem theory of oral eomposition, which has indeed
illuminated some dark sides of the «Homerie Question», has not yet
sueeeeded in explaining satisfaetorily sueh important matters as origi-
nality, individuality and unity 18 which are still a foeus point of Homerie
seholarship. The relationship of oral poetry to the Homerie epics needs
further study but I do not think that such a study should beeome
the «Homerie Question» of our time as Lesky put it 19 .
Nowadays the historieal approaeh to Homer is in full swing and
rightly soo Inereasing arehaeologioal disooveries, hnguistic studies, espe-
eially the deeipherment of Linear B 20, as well as recenrt developments
in related fields of study 21 have made it possible to consider the
problem of composition, and Homer's work in general, in a wider,
historically speaking, contexto
It is important that we know more about the hisrtorical faetors
whieh sustained and favored the development of oral eomposition since
Greek epic tradition passed through many ehanges, adopting new themes
and fOI1mulas as well asnew linguistic forms 22. We should also know
what factors influeneed the transition from oral to literary form and
when it oceurred.

17. Cf. esp. W. Kullmann, «Oral Poetry Theory and Neoanalysis in Homeric
Research», GRBS 4 (1984), pp. 307 ff.
18. Parry argued that the traditional style makes tmity, individuality and
originality irrelevant (d. his paper «Studies in the Epic Technique of Oral Verse·
Making», HSCP 41 (1930), p. 138). Cf. also Lord, op. cit., p . 148, and M. F. Com-
pellack, «Some Formulary Illogicalities in Homer», TAPA 96 (1965), p. 55.
19. Cf. A. Lesky, Geschichte der griechischen Literatur, 2nd ed., Bem 1963, p. 34.
ln this context d. also A. Parry, «Have We Homer's Iliad?», YCS 20 (1966), pp. 177 ff.
20. Cf. M. Ventris - J . W. Chadwick, Documents in Mycenaean Greek, 2nel ed.,
Cambridge 1973. This script put the language of the Homeric epics in a new
perspective as it proved that some cultural elements in Homer's poetry are very
olel indeed (d. in this context my study Nature and Background of Major Concepts
of Divine Power in Homer, Amsterdam 1977, passim).
21. Oriental studies in epic poetry are, for example, helpful if they are valued
carefully. Cf. T. B. L. Webster, «Homer and Eastem Poetry», Minas 4 (1956), pp . 104 ff.;
R. O. Bamett, «Ancient Oriental Influences on Archaic Greece» (Studies Presented
to H. Goldman, N. Y. 1956, pp. 212 ff.) and also C. Starr, The Origins of Greek
Civilization, passim.
22. Cf. G. F. EIse, «Homer anel the Homeric Problem», Univ. of Cincinnati
Classical Studies (Semple Lectures) 1 (1967), pp. 315 ff.
100 O. TSAGARAKIS

While the interest in the historical background of Homer's work 23


is growing nowadays, it is certainly not new. Already in the eighteenth
century there emerged an interest in the historical causes, underlying
the production of a work of art 24, and even before that time Pope had
asked his readers to take into consideration the poet's background.
Yet romanticism with its emphasis on the naturalness of poetry was
too strong to allow any real historical interest to grow. There was,
at the same time, an interest in the standards of poetic excellence in
Homer.
Today we know more about Homer's medium of expression (lan-
guage, style, themes, portrayal of characters), owing to the work done
by previous generations of scholars. We now know enough about the
technical aspects of this traditional medium to be able to understand
much better the role the poet played in the composition of his poems.
More people are now convinced that even a traditional medium of
expression allows a gifted poet to create and to be original 25. ln the
light of the new understanding, which was made possible by the contri-
bution of previous research, especially in the last fifty years, we can
now study anew old problems such as unity of plot and authorship.

II

But it is certainly not only the technical, so to speak, aspects of


Homer's poetry that Homeric scholarship has dealt with and made

23. The background extends from Mycenaean times down to the Dark Ages .
Cf. G. S. Kirk, Homer and the Oral Tradition, Cambridge 1976, pp. 19 ff. The picture
the poet gives of the heroic world is a composite one containing elements fram
different epochs. On the cultural continuity across the ages see Webster, From
Mycenae to Home r, London 1958, passim. The eighth century B. c., the time af
composition of the Homeric epics, marks a turning point in Greek history.
Cf. recent1y R. Hligg (ed.), The Greek Renaissance of the Eighth Century B. C.
(Proceedings of the Second International Symposium ot the Swedish Institute
in Athens), Stockholm 1981.
24. See Kirsti Simonsuuri, Homer's Original Genius, Cambridge 1979, pp. 77 ff.
A new sense of history was developing and spreading in the nineteenth century.
Cf. also Highet, op. cit., p. 448.
25. Cf. A. Pope, Preface to the Iliad, 1715, who praised Homer as an inventive
poet, and M. 'W. M. Pope, «The Parry-Lord Theory of Homeric Composition»,
Acta Classica 6 (1963), pp. 1 ff., esp. pp. 20 f. On the subject more recent1y see m y
study Form and Content in Homer, Wiesbaden 1982 (Hermes Einzelschriften, voI. 46),
passim.
HOMER AND eLASSleAL STUDIES 101

progress in reeent deeades 26 - which of eourse advanced classical


studies. There has also been a study of Homerie culture and art TI which
is more interesting to ordinary readers of Homer. Ordinary readers enjoy
the poems and do not eare much about the problems of composition.
The importanee of understanding the culture of the poems was
pointed out in modem times by Dacier who praised Homer for depicting
the moral values and customs of an early society 28. The poet entertains,
and, at the sarne time, teaehes us (deleetat and doeet).
ln Classical Athens the Homeric poems were highly esteemed as
an outstanding achievement of poetic art and hlliIIlan wis dom , and the
judgement of the ancients has not been challenged; it is still valido
Matthew Arnold, the 19th century translator of Homer, discovered for
himself that Homer is rapid, simple in thought and expression and
noble 29, and this is so whatever we may now say about the «formulaic
method» that provides the key to the style 30. We note of course that
there have been those who critidzed the poet for failing to do what
they wanted him to do 31, but that kind of eriticism has not made any
real contribution to our understanding of the poet's art 32.
Homer has not ceased to be a valuable source of inspiration and
he continues to educate us alI 33. His interpretation of life has a universal
appeaI. We may interpret his poetry according to our own indiv1idual
or national experiences but the problem of suffering is, for example,
common to all men everywhere, and it is basically this problem that
underlies the pIot of both epics, though the Iliad is a menis poem and
the Odyssey, a nos tos poen1.

26. See also in this context C. Segal (ed.), The Heroic Paradox, Ithaca and
London 1982, p. 2 for the «sociologically and linguistically oriented criticism of
the past decade».
27. Cf. J. Redford, Nature and Culture in the Iliad, Chicago-London 1975, passim.
On the eighteenth century views about nature and culture in Homer see Robert
Wood, An Essay on the original Genius and Writings of Homer, London 1775.
28. Cf. Simonsuuri, op. cit., pp. 6 f.
29. Cf. F. Codino, Einführung in Homer, Berlin 1970, p. 19. Plato refers to
Homer as frE~6'ta't6v 'tE xat CTOqJw'ta'tov (Alcib. II, 147B). Cf. also Rep. 606 c. See
further W. Jaeger, Paideia (transl. by G. Highet), Oxford 1968, pp. 35 ff.
30. M. Arnold, On Translating Homer, London 1861, p. IV. See also Highet,
op. cit., pp. 479 f.
31. Cf. EIse, op. cit., p . 347.
32. Cf. S . Shepard, «Scaliger on HomeI' and ViI'gil. A Study in Literary
Prejudice», Emerita XXIX (1961), pp. 313 ff.; G. Finsler, Homer in der Neuzeit
von Dante bis Goethe, 1912; D. M. Foerster, Homer in English Criticism, 1947.
33. Cf. J . B. Hainsworth, «Criticism of an Oral Poet», JHS 90 (1970) , pp. 90 ff.
102 O. TSAGARA KIS

The poetic theme of suffering raises questions like: why do people


suffer (and great heroes, like Achilles or Odysseus, are also people) ,
who is responsible for their sufferings and what can be done about it 34 .
ln the Iliad, basically a war poem, man caIlJIlot escape death, but the
poet teaches us that there are things worth fighting and dying for,
honor, loyalty, family and country. Human life is short, but there is
enough time for man to prove his wo-rth and to accomplish great deeds.
The history of Western man has proved Homer right.
The enduring love o-f husband and wife, which gives the Odyssey
its physiognomy, is also universal. The emphasis on intimacy and settled
home life constitutes a rema.rkable change and points to a new outlo-ok
of life and to an ideal that can be attained by man·.
Of all the scenes that impress us deeply for their humanity l only
need mention two. ln the first Odysseus alone, shipwrecked, is sitting
on the rocks of a distant is,l and gazing at the open sea; tears running
fram his eyes in his desire to see his home again (E 82ff.). This scene
gains in significance and power when we consider that the hero has
rejected the offer of a goddess to live with her and even become
immortal (vv. 215 ff .). The hero refused to exohange his troublesome
life with the conforts and carefree life away from home 35.
The other scene presents King Priam on his knees pleading with
Achilles to release Hector's body for burial (O 477ff.). The sight of the
broken father sets Achilles think o-f his own father and in the end he
achieves through suffering a new understanding of life. The old heroic
view of glory and honor exemplified by Diomedes in E is now permeated
with the spirit of compassion and humanismo
Homer still speaks to contemporary mau and helps keep the flame
of classical studies alive in a world in which new winds of change
and progress threaten its very existence.

34. See Jaeger, op. cit., passim; W. J. Verdenius, Homer the Educator of the
Greeks, Amsterdam 1970 and G. C. Vlachos, Les sociétés politiques homériques,
Paris 1974.
35. The sufferings of individual heroes (Achilles himself, Patroclus, Hector)
and families (Andromache, Hecabe and Priam) or entire people (Trojans) in the
Iliad are connected to the menis of Achilles, while those in the Odyssey are related
to the problem of a personal responsibility (on this point recently W. Kullmann ,
«Die neue Anthropologie der Odyssee und ihre Voraussetzungen», Didactica Classica
Gandensia 17-18 (1977-1978) , pp. 37 ff. More recently on the problem of suffering
W. Nicolai, op. cit. , pp. 87 ff.
POLITIQUE ET ÉTHIQUE DANS LA GR1tCE DU Ive SlECLE
AV ANT JÉSUS CHRIST
(la leçon de la paideia d'Isocrate)

MARIA HELENA URENA PRIETO


Universidade Clássica de Lisboa

Au cours des trente dennieres années du IVe siecle avant Jésus


Christ et pendant tout le IVe sieole, la Grece a été le théâtre des luttes
les plus sanglantes, dont l'écho s'est répercuté à Athenes sous forme
d'une bataille d'idées acharnée dans laquelle ont pris part des drama-
turges, des philosophes, des orateurs, etc. Des noms comme ceux d'Aris-
tophane, d'Euripide, de Gorgias, de Protagoras, de Soc:rate, de Platon,
d'Aristote, de Xenophon, d'Isocrate, nous viennent à l'esprit, parmi
d'autres.
L'éc1at du génie de quelques uns, comme Platon et Aristote, estampe
la renommée d'autres oomme Isocrate. II nous suffit de comparer, par
exemple, lia bibliographie dépouillée dans L'Année Philologique pendant
les dix dernieres années, pour constater que les études sur Isocrate
n'arrivent pas à remplir dix pages, tandis que les titres concernant
AI1iJstote, pendant la même période, atteignent les cent cinquante pages.
Une telle disproportion dénonce les gouts et les préférences des savants
modernes et surtout l'importance que le philosophe de Stagire a eu
et contmue d'avoir pour l'histoire de la pensée occidentale, mais elle ne
signifie pas pour autant que la personnalité et l'activité d'Isocrate soient
méprisables pour la compréhension des évenements de son siecle et
pour la culture des peuples de l'Occident européen.
Aristote aurait inauguré son cours de rhétorique à l'Académie
- dit-on - par cette boutade: «II serait honteux de se taire et de laisser
104 MARIA HELENA UREi'lA PRIETO

parler Isacrate» 1, parodie sans doure d'un vers d'Euripide 2. Si nous


n'avions pas d'autres indices de la notoriété d'Isacrate, l'émulation du
philosophe nous suffirait pour deviner le prestige et l'influence saciale
et politique du vieil professeur d'éloquence: le fondateur du Lycée, en
effet, n'était pas homme à gaspiller son temps en se battant contre des
moulins à vent.
Isocrate naquit en 436, dans le deme d'Erchia, comme Xénophon .
San pere, Théodoros, était le propriétaire d'un atelier de fllites, ce que
lui a permis de donne r à son fils une ooucation soignée. Pendant la
derniere pédode de la guerre du Pélopornnese, Isocrate a été disciple
de Gorgias, en Thessalie. Quant il revint à Athenes, en voyant sa fo,r tune
considérablement diminuée à cause de la guerre, il décida de tirer parti
des connaissances rhétoriques qu'il avait acquises; il gagne sa vie
comme logographe, c'est-à-dire, iI compose des discours juridiques que
les plaideurs récitent dans les tribunaux, comme s'ils en étaient les
auteurs. La renommée d'Isocrate comme logographe s'est vite répandue,
mais ce succes ne pouvait pas le contenter puisqu'il l'obligeait à effacer
sa personnalité derriere relle de ces clients. Depuis 393, semble-t-il, il a
renoncé au métier de logographe, qu'il méprisait, et iI a commencé
à exprimer ses propres idées, soit comme professeur d'éloquence, soit
comme publiciste politique. 11 a ouvert à Athenes une école qui a
COIlJnu un succes extl1aordinaire.
En suivant l'exemple de Gorgias et de Lysias, il a employé le
discours fictif pour faire la propagande de son idéal pol>itique, en
dévouant à oette tâche tout le reste de sa longue vie. 11 combinait
l'enseignement de la composition littéraire avec la réflexion et l'expres-
sion des idées fondamentales à l'homme et au citoyen, en organisant
de cette façon le cyde des disciplines que pendant des mi1looaires an
appelait et qu'on appelle encare aujourd'hui, les humanités.
Les anciens, Cicéron 3 parmi d'autres, par1aient avec admiration
des disciples qu'Isocrate avait formés. On sait que, parmi eux, il y en
avait qui lui v'e naient de pays lointains et que d'autres, atheniens, OIlt
reçu des honneurs de la polis, en récompense des services rendus au

1. Cic., De Oratore, III, 55; Quint., r. O., III , 14. Voir aussi Jean Aubonnet,
Introduction (in Aristote, Politique, Paris, Les Belles Lettres, 1960, tome I , p. XVI) .
2. Euripide, frag. 796 Nauck: ... IX.LO"XPÓV O"Lwltiiv, ~IX.p~ápovc; ~i'Éiiv À.ÉYELV ... (iI
serait honteux de nous taire et de laisser parler les barbares ... ).
3. Cicéron, De Oratore, II, 94; Brutus, 32; Orator, 40.
PO LIT IQU E ET ÉTHIQU E D ANS LA GR:bCE DU IVo SI ÉCLE AVA NT J ÉSUS CHRIST 105

bien commun 4. Parmi ses disciples se trouvaie nt des OTateurs, comme


Lycourgue et Hipéride; des historiens, comme Théopompe et Éphore;
un poete tragique, comme Thódecte; des hommes d'État, conune Thimo-
thée, fils de Conon, remarquable stratege athenien; des princes, comme
Nicodes de Chypre. Même si elle ne s'es,t pas exercée directement ,
l'influe nce d'Isocrate a été considérable par l'intermédiaire de t els
disciples.
Isocrate ambitionnait de jouer un rôle dans la politique de la
Grece, mai's la faible sse de sa voix et une certaine timidité le détour-
nereut de la tribune aux harangues: il eut done recours au discours
fictif, eu l'organisant définitivement comme un genre littéraire distinct,
dont les procédé s principaux, d'apres lui même, étaient l'union de 1'his-
toire, des idées générales (quaJ.ifiées de philosophie) et de la fiction
moralisatrice.
Pendant cinquante ans, inlassablement, il a lutté en faveur du
panhéllénisme, en essayant de convaÍncre les Grecs que 1e bonheur et
la paix n'étaient possibles que par l'union de tO'llS cont re le roi de Perse,
leur ennemi commun. Tout en conservant l'autonomie de chaque dté,
les Grecs devaieut prendre conscience de leurs intérêts communs et
comprendre que l'héllénisme était avant tourt une communauté de civi-
lisation. D'apres Isocrate, la COI1Jditipn prindpale du succes était que
les Greos acceptent de se soumettre à une seule direction: ou à l'hégé·
monie d'une cité (Athenes étant la cité 1a plus digne de 1'hégémonie,
selon lsocrate) ou à 1'autorité d'un souverain. Se pIiamt aux évenements,
Isocrate a eSlSayé de trouver un tel souverain, successivement, dans Jason
de Pheres, Denys de Siracuse, Nicocles de Chypre, Archidamos de Sparte
et, eu demier lieu, danoS Philippe de MaOOdoine, qu'i! espérait voir
diri,ger une expédition contre le barbare, non comme conquérant et
maítre de 1'Héllade, mais comme chef d'une confédération panhéllénique.
L'Histoire se chargea de réaliser les plans d'Isocrate, bien que d'une
façon tout à fait inattendue pour lui et sourtout d'une façon qu'il ne
saurait souhaiter: à la suite de la perte de l'indépendance de la Greoe,
sornnise à la Macédoine et, plus tard, à Rome, l'hélIénisme est devenu,
en effet, la civilisation commune aux peuples du bassin de la Méditér-
Talnée et plus lain encore, al,lx peuples de l'Inde, eu Orient, et à ceux

4. Antídosis, 93-94; 224. Toutes les citations, dans cette note et dans les
suivantes, sont faites d'apres le texte des Discours d'Isocrate de la collec. Budé
(Paris, Les Belles Lettres, 1956-66). Les traductions d'Isocrate, elles aussi, sont
des extraits du texte de cette éclition.
106 MARIA HELENA URENA PRIETO

de la Péninsule Ibérique et eles Iles Britanniques, en Occident. FiItré


par le génie de Rome, l'héllénisme a laissé des empreintes profondes
à travers les siecles dans la culture et dans la civili,sation européenne.
Par suite de l'expansion de l'Europe, grâce aux découvertes maritimes,
ceuvre du génie portuga~s et espagnol, l'héllénisme a répandu son
influence jusqu'en Amérique et en Afrique australe 5.
Isocrate lui-même n'aurait jamais pu l'imaginer, lui qui - dit-on-
est mort de ohagrin à quatre vingt dix huit ans, apres la bataille de
Chéronée, une fois perdues les illusions de voir Philippe se contenter
du rôle de général d'une confédération panhéllénique, au lieu de celui
de conquérant et maitre d'une Héllade soumi:se.
Isocrate oonoev:ait le panhéHénisme avant tout comme le produit
d'une réforme morale des dtés et surtout de la cité d'Athenes, qui
devrait être, selon lui, le guide par excellence du proces d'union de tous
les Grecs, droit qu'elle avait conquis par son passé héro'ique de rempart
de la Grece 6, et de foyer rayonnant de culture, si bien que Thucydide
avait pu l'appeler «la Grece de la Grece» et «l'éducatrioe de la Grece» 7.
Cette réforme mOTale de la cité et du citoyen était aus's i l'a tâche
de la phiIosophi'e socratique, mais Isocrate ne croit pas à l'adéquation
des méthodes socratiques puisqu'iI doute de la possibilité d'atteindre
la connaissance suprême (imcr·t1íll:r'j) et le bien absolu; ii estime que
seule l'opinion sagement modérée et probable (oóça) et le bien relatif
sont possibles d'atteindre. Là ou le philosophe critique la rhétorique
comme un formalisme vide, l'orateur y voit le moyen d'offrir aux poli-
ticiens non seulement des procédés pour exposer leurs idées et con-
vaincre les foules, mais surtout eles directrices générales pour le gouver-
nement et pour l'activité diplomatique.
Convaincu (d'ailleurs, tel que ses antagonistes de l'école socratique)
que toute éducation (qui aanbitionne de dépasser le niveau de la pure
spécialisation eu vue d'un métier) doit être une «culture politique», iI

5. Pour plus de détail sur la vie d'Isocrate et de ses idées, voir: G. Mathieu,
Les Idées Politiques d'Isocrate, Paris, Les BeBes Lettres, 1966 (11925); idem, Intro-
duction (in Isocrate, Discours, tome I, Paris, Les Belles Lettres, 1956); W. Jaeger,
Paideia, Die Formung des griechischen Menschen, 11936. Ce livre a plusieurs éditions
allemandes et est traduit en plusieurs langues; la traduction portugaise a été
publiée par l'Éd. Aster, s. d.
6. Isocrate, Paneg., 53, 76-81 et passim; Philippe, 146-148 et passim.
7. Thucydide, Oraison Funebre prononcée par Péricles, II, 7, 41. Dans ce
passage, l'historien appelle Athenes «l'éducatrice de la Grece». L'Antiquité lui
attribuait aussi la phrase: «Athenes est la Grece de la Grece».
POLITIQUE ET ÉTHIQUE OANS LA GRECE OU IV· SIECLE AVANT JÉSUS CHRIST 107

se bat pour l'union de la morale et de la vie politique 8. II combat sans


trêve la politique extérieure d'Athenes, son impérialisme, en préconi-
sant une confédération de cités, comme nous l'avons dit, sous l'hégé-
mCYl1ie d'Athenes, certes, mais dans le respect de l'autonomie de chacune
d'entre elles 9. II affirme que l'idéal des démocraties est une vie régie
par les vertus morales 10; il rappelle sans cesse les devoirs mÜ'raux de
l'État 11; iI a.pplaudit l'action politique alliée au Droit 12; il fait remar-
quer que la fidélité aux trai,t és, la justice et la douceur envers les
autres Grecs sont le fondement de la concorde 13; il considere le stratege
Timothée comme le modele du général, vu sa conception diplomatique
de la guerre 14, et fait remarquer, à ce propos, qu'un chef doit posséder
aussi des qualités de sociabilité et de charme 15.
Son analyse de la politique intérieure d'Athenes et des déficiences
du fonctiannement de la démocratie est implacable; elle dénonce par
surcroit la faillite de l'éducation du citoyen 16. Seule une réforme morale
permettra La réconciliation des Grecs et cette réforme devra avoir
comme soutien une paideia assise dans la conviction de la supériorité
des forces spirituelles sur les forces physiques, que l'orateur proclame
à plusieul's reprises 17. II soutient la these de la priorité des devoirs
moraux jusqu'aux dernieres conséquences, en admettant qu'une mort
glorieuse est préférable à une vie honteuse 18 et qu'une défaite juste
est supérieure à une victoire i!l1juste 19. II esquisse le portrait de l'hon-
nête homme, en signalant comme conditions indispensables un juge-
ment équilibré et réaliste en face des circonstallJ..ces, la bienséance et la
justice dans les rapports sociaux, la pondération et la mesure dans

8. W. Jaeger, Paideia, Liv. IV, passim.


9. Sur la Paix, 41-45. Dans ces paragraphes, Isocrate parle aux Atheniens sur
le combat pour la liberté des Grecs, sur le respect pour les alliés, sur la conduite
guidée par l'honnêteté et par la raison.
10. Paneg., 76-79.
11. Sur la Paix, 119-120; Panat., 185; Arch., 36-38.
12. Plat., 40.
13. Ibid., 39.
14. Antíd., 116.
15. Ibid., 131-138.
16. Dans I'Aréop., et passim.
17. II parle de la supériorité des forces spirituelles sur les forces physiques
dans plusieurs écrits, comme: Paneg., 1-2; Lettre aux Magistrats de Mytilene, 5;
Al1tid., 250, 302, 304, etc.
18. Paneg., 95
19. Panat. , 187.
108 MARIA HELENA URENA PRIBTO

l'action, la modestie et la maltrise de soi face au succes 20. Comme une


atmosphere enveloppant, pour ainsi dire, toutes les vertus et rendant
facile la cohexistence pacifique, il fait l'éloge de la bienveillance (Ei)VOt~)
entre Citoyens et entre États 21.
Bien que san langage sait différent de celui de Platon dans la
République 22, au fand ce qui définit la perfection mOTale pour Isacrate
ce sont aussi les quatre$ vertus que déjà les penseurs grecs pa'iens,
avant les chrétiens, réputaient de «cardinales» parce qu'elles sont comme
l'axe autour duque! se meut toute conduite valable du point de vue
éthique: la prudence ou sagesse, la force, la tempérance et la justice.
II parle à maintes reprises de la prudence ou sagesse, en vantant, comane
naus l'avons dit, la supériorité de la raison et du jugement droit.
Quant à la force, il va jusqu'à affirmer que le courage dans la guerre
ne vaut pas la constance et la force d'âme dans la paix 23. Parmi les
bienfaits de sa paideia, il compte les exhortatiorns efficaces à la tempé-
rance 24. Mais la vertu la plus haute, à laque!le il exhorte inJassablement
leso cités et Ies citoyens c'est la justice, qu'on atteirut pIus facilement
grâce à l'éducatiorn et aux moeurs s'a ins développés depuis l'enfance
que grâce à la multiplicité des lois répressives 25. L'enthousiasme dans
l' éloge de la justice le mene non seulement à 'vanter son excellence
intrinseque, mais aussi à signaler ses bénéfices: il parle des recom-
penses temporelles et éternelles de la justice u" aussi bien que de son
«utilité»: de pense» - affirme-í-il dans le discours Sur la. Paix n - «que
naus ne devons pas quitter cctte assemblée sans avoir nam seulement
voté la paix, mais encore pris des mesures pour la cornserver, au lieu
d'agir selon TIotre habitude: nous doruJ.er quelques irnlStants de répit
pour retamber dans les mêmes troubles; ce n'est pas une relâche,
mais une guérison complete de nos maux actueIs que naus devons
découvrir. Or rien de ceia ne peut se produire avant que nous ne soyons

20. Ibid ., 30-32.


21. Sur la Paix, 78; Panat., 116, 269; Lettre II à Philippe, 18, 21, 24 et pa~sim.
22. Quant aux vertus «cardinales», voir Platon, Rép., 487a-504a. II s'agit de la
sagesse ou prudence: sophia; de la force ou courage: andreia; de la tempérance:
sophrosyne; de la justice: dikaiosyne.
23. Panat., 198 (force).
24. Antid., 84 (tempérance).
25. Aréop., 41 et passim (justice).
26. Sur la Paix, 34 (récompense de Ia justice).
27. Ibid., 25-26; Plat., 25.
POLITIQUE ET ÉTHIQUE DANS LA GRÉCE DU IV· SIÉCLE A V ANT J ÉSUS CHRIST 109

persuadés qu'il y a plus d'avantage et de profit dans le calme que


dans l'agitatà.on, dans le droit que dans l'injustice, dans le souci de nos
propres aHaires que dans la oonvoitise visant le bien d'autrui.» Dans oe
discours Isocrate a composé, pour ainsi dir"e, un hymne à la Justice.
Par oeite préocoupation pragmatique de l'utilité de la justice et des
autres vertas, Isocrate se distingue de Blaton et de l'Aca:démie en
généraI. II sait qu'il s'adresse à une foule sur laquelle la cO\tltemplation
du bien suprême et idéal a peu de prise; il poursuit le bien possible,
dans un monde réeI.
Est-ce que l'orateur étailt vraiment coovaincu de l'utilité de la
vertu? 28 Était-il vraiment convai!Ilcu, dans soo optimisme, de la possi-
bilité d'atteindre par la vertu la richesse (1CÀ.OÜ'"COÇ) et le bonheur
(EUOa.q.W\lta.)~? Ou aspirait-il seulement à en persuader l'homme ordi-
naire, en aiguillonant son intérêt? Nous ne le savO!IlS pas au juste.
Néanmoins, il semble confier plus dans les bonnes dispositions natu-
relles et dans la réaction aux impulsions que dans l'enseignement de
la vertu, tel qu'on le prétendait dalI1JS l'école socratique. Isocrate ne croit
pas, en effet, à l'enseignement de la vertu, bien qu'il espere que l'étude
de l'éloquence et l'exercice sauront développer la vertu chez les natures
douées.
L'attachement d'Isocrate au régime démocratique d'Athenes, bien
que tres grand, ne l'empêchait pas de surmonter par la réflexio!Il les
étroites limites de la polis pour envisager d'autres régimes et pour
louer leurs aspects positifs. PaI1Il1i plusieurs discours et lettres adressés
à des souverains, on peut remarquer oeux qu'il a envoyés à Nicocles,
roi de Chypre 30. Dans le premier de ces discours (une exhortatio!Il à
Nioocles sur les devolÍrs du roi), il a inauguré, pour ainsi dire, la tradi-
tion des traités d'éducation des princes, qui était destinée à une vitalité
surprenante pendant le Moyen-Age, la Renaissanoe et les deux siecles

28. Sur la PatX, 25-40; Antid., 281-282.


29. Arch., 36.
30. Nicoc1es, roi de Salamine, ville de Chypre, était le fils d'~vagoras, qui
est mort (selon Diodore de Sicile, XV, 47) en 374/73. Nicoc1es naquit peut-être
dans les premieres années du IV· siec1e a. J. C. Le premier discours de la série
(A Nicocles) , a été écrit selon toute vraisemblance vers 370. L'authenticité de ce
discours n'a pas été contestée; malgré cela, on ades suspicions quant à quelques
interpolations qui ne suffisent pas, oependant, à altérer les lignes générales de
la pensée de l'orateur.
110 MARIA HELENA UREl'iA PRIETO

suivants 31. DalI1.'S ce discours, on voit se succéder les regles de conduite


qui, du fait de sa r6péti1lion pendant des siecles, nous semblent
aujourd'hui banales mais qui ne l'était pas autrefois: ces vénérables
lieux communs de la sagesse des peuples sur l'art de gouverner et sur
la sociabilité inter pares ohez un peuple civilisé.
11 appartient au gouvemant d'assurer à son peuple la justice, la
prospérité et la paix. En vue de cela, iI faut qu'il exerce sur soi-même
une discipline sévere. La supériorité du gouvemant lui exige une exoel-
lence dans la vertu qui puisls e égaler les honneul's dOlIlit H est objet.
«11 n'est pas d'athlete» - écrit Isocrate - «pour qui fortifier son corps
soit une obligation aussi grande que pour un roi ceUe de fortifier son
âme», car les prix qu'offrent les jeux ne sont rien à côté de la gloire
des roi,s 32.
Veiller au bien commun, en établissant des lois adéquates et cohé-
rentes; exeroer la justice avec impartialité; défendre les faibles contre
les forts et les oppresseurs, eu prenant soin de tous comme un pere;
punir avec sérénité et modération les délits; donner l'exemple de la
maitrise de soi et de la tempérance; se montrer toujours si épris de
vérité que ses paroles aient plus de crédit que les sel'lTIents des autres;
s'entourer de bons conseillers, en sachant distinguer entre ami et adula-
teur; exercer la justice eu politique i'llternationale, entretenant avec les
ttats plus faibles les relations qu'on souhaiterait avoir avec les ttats
plus forts - toutes ces nornles sont le fondement de la conduite d'un
souverain digne de ce nom 33. Mais si le gouvel'nant veut mériter une
gloire impérissable 34, et avoir des raisons pour nourrir «pour toute

31. Contemporain d'Isocrate, Xénophon a esquissé dans la Cyropédie le portrait


du souverain idéal. Dans la période romaine, Dion Chrysostome a composé quatre
discours sur la royauté. Dans la période byzantine, le diacre Agapétos a adressé
à l'empereur Justinien, à l'occasion de son ascension au trône (526) , une exhorta-
tion; le patriarche Photius a fait de même à l'adresse de son disciple, le prince
Michel, lors de son baptême (859). Manuel II Palaiologos a dédié à son fils Jean des
Regles de Vie (1415) . Pendant le Moyen-Age latin, ce son1 multipliés les traités
d'éclucation du prince, tels que le De Regimine principis de St. Thomas D'Aquin
et d'Égide Colonna. Depuis la Renaissance, ont proliféré des traductions et des
adaptations des discours d'Isocrate et d'autres anciens. Sur ce sujet, voir mon
article: «O 'ofício' de rei n'Os Lusíadas segundo a concepção clássica», in Actas
da IV Reunião Internacional de Camonistas, Ponta Delgada, 1984, pp. 767-805.
32. A Nicocles, lI.
33. Ibid., 16-3I.
34. Ibid., 32-37.
POLITIQUE ET ÉTHIQUE DANS LA GR:tCE DU IV' SIÉCLE AVANT JÉSUS CHRIST 111

l'éternité de plus douces espérances» 35, il doit encore remplir deux


conditions. Une de ces conditions est celle de rendre cuIte aux dieux,
non seulement avec les rites traditionnels, mais aussi avec un creur pur,
paroe que - affil1IIle l'auteur 36 - «te plus beau sacrifice, le plus noble
geste de déférence, ce s'e ra de se montrer l'homme le meilleur et le
plus juste. II y a plus de chance pour que de tels fideles - et non pas
ceux qui s'acquittent de multiples offrandes - , connalssent grâce aux
dieux la prospérité.» Une autre condition sera oelle d'aimer sa patrie
et ses semblables parce que - écrit Isocrate 37 - <<uul ue peut diriger
convenablemenrt des chevaux, des chiens, des hommes, ni quelque entre-
prise que oe soit, s'il ne prend plaisir dans la compagnãe des êtres ou
des choses sur lesquels il doit veiller.» Ce noble humanisme, que les
Grecs appelaient «philanthropie», explique la pérénité du succes des
exhortatioIlis d'Isocrate qui ont inspiré, comme nous le disions tout'à
l'heure, maints traités chrétiens d'éducation des princes et pouvait
couvrir de honte le pragmatisme froid et iJJ:npitoyable d'un Machiavel.
Dans le deuxieme di,s cours envoyé à Nicocles, vraisemblablement
prononcé par le roi de ChypI'e luilffiême, iI s'agit des devoiTs des sujets
envers leur souv,e rain et env,e rs leurs concitoyens. Ces devoirs sont la
contre-partie des devoirs du souv,e rain. Dans le dernier discours de
la série, Isocrate loue, dans la personne du roi Évagoras, le feu pere
de Nicoeles, 1e gouvernant idéa1 38 •
Avec ce , triptyque sur l,es devoirs des gouvernants et des sujets,
Isocrate elôt, pour ainsi dire, le cyele de la paideia, jetant les fondements

35. Paneg., 28; Sur la Parx, 34.


36. A Nicocles, 20.
37. Ibid., 15.
38. Le discours, dont le titre est Nicocles , le deuxieme de la sene, a été
envoyé au roi de ce nom, semble-t-il, en vue d'être prononcé par lui-même. Qu'iI
ait été ou non, iI s'agit d'une apologie du roi et de la monarchie adressée à ses
sujets, ou l'on expose des idées que quelques uns pensent invraisemblables sous
la plume d'Isocrate; cela pouvait nous faire douter de l'authenticité du discours
(sans raisons valables, selon G. Mathieu). Isocrate aurait composé ce, discours
pour fortifier l'autorité du monarche, contesté par ces sujets, et pour nourrir
des sympathies qui puissent servir les desseins de trouver un prince pour être le
chef de la confédération panhéllénique.
Le troisieme discours, avec le titre d'Evagoras, éloge en prose du feu pere
de Nicocles, écrit (semble-t-il) vers 365, est encore un hommage de l'orateur au
roi de Chypre, peut-être parce qu'il jugeait utile de maintenir l'amitié avec un souve-
rain vassal du roi de Perse, qu'il devienne ou non le chef d'une confédération
panhéllénique.
112 MARIA HELENA URENA PRIETO

de tous les programmes et de tous les régimes politiques sur l'exercice


des vertus morales.
Avouons, néamnOlins, que le prograunme politique de l'orateur n'est
pas tout à fait i,s ernpt de contradictions et de bornes. D'un côté il sacri-
fie au succes de sa propagande la cohérence des exigences morales
lorsque, des fois, iI prêche la vertu désintéressée et, d'autres fois, comme
nous l'avons dit, il fait de l'utilité de la vertu un appât pour le citoyen
et le gouvernant,' en la montrant toujours avantageuse et proHtable . .. 39
D'un autre côté, sa «philantropie» ne s'étend pas aux «barbares», auxque1s
il n'ootroie jamais le droit de oité mais la seule oondition de serf.
L'honneur lui revient, pourtant, si les siocles qui ont sUiÍvi (et
surtout notre siecle, lorsqu'i·l exige de tous les peuples et de toutes
les races le respect des droits de l'hO'ImIle) n'ont pas découvert des
devoirs et des droits plus sublimes que ceux qu'Isocrate a ensei gné,
inlassablement, pendant dnquante ans, au peuple grec.
Plüt au ciel qu'aujourd'hui nous tous (00 spécial les professionnels
de l'information, héritiers des orateurs politiques d'autrefois 40) nous
puissions répéter sans hypocrisie l'éloge de la parole, instrument de
paix et de civilisation; un éloge tel que l'a écrit lsocrate 41:

253 Ii faut dane avair sur la parole la même apmlOn que sur les
autres aeeupatians, ne pas juger différemment les ehases semblables
et ne pas mantrer d 'hastilité cantre celle des facultés naturelles de
l'hamme qui lui a valu le plus de bien. En effet, camme je l'ai déjà
dit, de taus nas autres caracteres aucun ne naus distingue des animaux.
Nous sommes même inférieurs à beaucoup sous le rapport de la
rapidité, de la force, des autres facilités d'action. 254 Mais, parce
que nous avons reçu le pouvoir de nous canvaincre mutuellement
et de faire apparaitre clairement à nous-mêmes l'objet de nos décisions,
non seulement nous nous sommes débarrassés de la vie sauvage, mais
nous nous sommes réunis pour construire des villes; nous avons fixé
des lois; nous avons découvert des arts; et, presque toutes nos inven-
tions, c'est la parole qui nous a permis de les conduire à bonne fino
255 C'est la parole qui a fixé les limites légales entre la justice et
l'injustice, entre le mal et le bien; si cette séparatian n'avait pas été

39. On trouve des contradictions parlois dans le même discours. Voir, par
exemple, le Panathéna'ique, 117-118, ou l'auteur préfere la survivance, bien qu'alliée
à l'injustice, et, ibidem, 185, ou il préfere la défaite avec justice à la victoire
injuste ...
40. W. Jaeger, Paideia, Liv. IV, Cap. III (Éducation politique et idéal panhél-
lénique).
41. Antid., 253-257.
POLITIQUE ET ÉTHIQUE DANS LA GRf::CE DU IV· SmCLE AVANT J ÉSUS CHRIST 113

établie, nous serions incapables d'habiter les uns pres des autres.
Cest par la parole que nous confondons les gens malhonnêtes et que
nous faisons l'éloge des gens de bien. C'est grâce à la parole que nous
formons les esprits incultes et que nous éprouvons les intelligences;
car nous faisons de la parole précise le témoignage le plus sur de la
pensée juste; une parole vraie, conforme à la loi et à la justice,
est l'image d'une âme saine et loyale. 256 C'est avec l'aide de la
parole que nous discutons des affaires contestées et que nous pour-
suivons nos recherches dans les domaines inconnus. Les arguments
par lesquels nous convainquons les autres en parlant, sont les mêmes
que nous utilisons lorsque nous réfléchissons; nous appelons orateurs
ceux qui sont capables de parler devant la foule, et nous considérons
comme de bon conseil ceux qui peuvent, sur les affaires, s'entretenir
avec eux-mêmes de la façon la plus judicieuse. 257 En résumé, pour
caractériser ce pouvoir, nous verrons que rien de ce qui s'est fait
avec intelligence, n'a existé sans le C011cours de la parole: la parole
est le guide de toutes nos actions comme de toutes nos pensées;
011 a d'autant plus recours à elle que l'on a plus d'intelligence.

Contemporains d'Isocrate, les sophistes aussi ont fait l'éloge de


la parol,e e1: ont exercé et enseigné l'art de la parole, mais Isocrate a
voulu s'élaigner d'eux, soumet1lamt la rhétorique à une déonrtologie;
en faisant de la parole la servante de l'homme, au lieu de faire de
l'homme le jouet de la paro1e. Aussi a-t-il appelé l'éloquence ~< philo­
sophie», et de cette philosophie il s'est servi comme d'une paideia,
qui, pendant des siec1es, s'est traduite dans ce que nous connaissons
aujoul'd'hui COImIle la «cuItare générale» des peuples européens.

UN EXEMPLE DE LA SURVIVANCE DE LA PAIDEIA


POLITIQUE DES ANCIENS: LES LIVRES D'EMBLEMES

Les idées politiques d'Isocrate et d'autres auteurs grecs et romains


nous ont été tralllsmises par la littérature et par la tradition scolaire.
Dans ce dernier domaine nous pouvons signaler une méthode péda-
gogique, employée de façon systématique depuis le seizieme jusqu'au
dix-huitieme siocles: l'utilisation de la littérature emblématique.
L'embleme se composait d'une courte maxime qui servaJit de titre,
d~une gravure allusive au suJet et d'un texte bref, écrit en général eu
vers et en laJngue latine. De cette façon rapide et expressive, les éduca-
teurs éveillaient l'intérêt de leurs disciples et facilitaient la mémo-
risation, avec des moyens qui antéoipaient la moderne bande déssinée.
114 MARIA HELENA URENA PRIETO

Le fondateur de la littérature emblématique a é1té André Alciati,


juriste milanais, qui en 1531 a publié à Augsbourg son E111,blematum
libellus (Petit livre d' emblemes). Dans l'édition de Padoue, publiée
en 1661 (gravure 1: frontispice), figuraient anne emblemes politiques,
associées en trois unités thématiques:

- Premiere: Les devoirs du prince (princeps):

E. 144: Princeps subditorum incolumitatem procurans (Le Prince


qui prend des mesures pour le salut de ses sujets);
E. 145: ln senatum boni principis (Quelle doit être l'audience
du bon prince);
E. 146: Consiliarii principum (Quels doivent être les conseillers
des princes);
E. 147: Opulentia tyranni, paupertas subjectorum (Opulence du
roi; pauvreté des sujets);
E. 148: Quod non capit Christus, rapit fiscus (Ce que Dieu ne
reçoit pas, le fisc l' enleve).
E. 149: Principis clementia (La clémence du prince);

- Deuxieme: Les avantages de la république (respublica):

E. 150: Salus publica (Le salut de la république);


E. 151: Respublica liberata (La libération de la république);

Troisieme: Les dons de la paix (pax):

E. 177: Pax (La paix);


E. 178: Ex bello pax (La paix qui succede à la guerre);
E. 179: Ex pace ubertas (L'abondance de la paix).

Les ,e mblemes politiques traduisent, au moyen d'images al1egorico-


symboliques et de maximes mo ralisatrices, la dootrine des traités d'édu-
cation des princes, qui peuvent être envisagés comme des abrégés de
philosophie politique 42.

42. Cf. supra, note 31. On trouve une bibliographie abondante dans le livre de
Mario Praz: Studies in seventeenth-century imagery, Roma, Edizioni di Storia
POLITIQUE ET É TI-IlQUE DANS LA GRl?CE DU IVo SIECLE AVANT JÉSUS CHRIST 115

Le fondateur du gem'e ne se limitait pas aux enseignements poli-


tiques: iI transmettait au moyen des emblemes des maX'imes de morale
pratique, adéquates à n'importe quel citoyen, dans les différents domai-
nes de la religion, de l'amour, de l'amitié, de la vie civique, etc. Ses.
innombrab1es ünitateurs se sont spécialisés, en bornant leurs emblemes
à des sujets particuliers. Par la suite, sont parus des livPes d'emblemes
pieux, amoureux, politiques, etc. Même les sciences de la nature, la
physique et la chim1e ont été enseignées à travers les emblemes!
L'emblématique politique a été cultivée un peu partout en Europe,
mais la Péninsule Ibérique a été le terrain de choix pour les péda-
gogues désir·e ux de transmettI'e leur message 43 . L'emblématique pÜ'li-
tique était aunre chose qu'un jeu pour des hO/ffimes âgés, respectables
et ~nstruits: elle était une tâche eXiercée avec beaucoup de sérieux en
esprit de service pour le bien commun.
Les manifestes avantages pooagogiques du mot aHié à l'image ont
séduit des hommes remarquables, principalement des juristes, qui se
sont servis de l'emblématique dans l'éduoation des princes, surtout
de ceux qui se révelai,e nt plus contraires à des lectures sél1ieuses.
Parmi les plus fameux des livres espagnols d'emblemes, on peut
compter oelui de Don Juan de Solórzano Pereira qui est né en 1575 et
mort en 1655. II était docteur en lois par l'UIlIiversité de SalamMlJCa et
magistrat à Lima, au Pérou. II a finirt sra carriere comme membre du
Conseil Suprême de Cas,t ille. Ses ouvrages de jeunesse avaient oomme
sujet le Droit Romain; pendant son âge mur, il s'est consacré à la tâche
de compi1er et de commenter les lois et la jurisprudence du Pérou;
dans sa vieiUesse, iI a employé ses heuI'es de loisirs à la récLaction et
à la composition d'une centaine d'emblemes politiques qu'il a com-
mentés lui-même av,e c un immense s'a voir juridico-politique 44.
Le frontispice de la premiere éditioiJl. de son livre, publiée en 1653,
représente déjà une remarquable composition allégorioo-symbolique
concernant. l' empire espagnol.

e Letteratura, 1975. Utile aussi la consultation de: Yves Giraud et alii, L'Emb/eme
à la Renaissance, Paris, Société d'Édition d'Enseignement Supérieur, 1982.
43. CC au sujet de l'emblématique espagnole: Giuseppina Leda, Contributo
allo Studio della letteratura emblematica in Spagna (1549-1613), Pisa, 1970; Aquilino
Sánchez-Pérez, La Literatura Emblematica Espanola (siglos XVI e XVII), Madrid,
Sociedad General Espafiola de Libreria, S. A., 1977.
Voir aussi mon article: «O 'ofício de rei' n 'Os Lusíadas segundo a concepção
clássica», in Actas da IV Reunião Internacional de Camonistas, Ponta Delgada, 1984.
44. Emblemata centum regio-politica, Madrid, D. Garcia Morras, 1653. Voir
aussi: F. Javier de Ayala, Ideas Politicas de Juan de Solórzano Pereira, Sevilla, 1946.
116 MARIA HELENA URENA PRIETO'

Ce livre de SolórzanO' Pereira présente un intérêt tout spécial pour


les portugais car iI existe une paraphrase portugaise de l'O'uvrage, en
vers, illustl'ée par UJI1e centaine d'erullãl1!Ílnures, O'fferte au prilI1ce régent
Dom JoãO' en 1790. Le manuscrit appartient à la Bibliotheque NatiO'nale
de RiO' de Janeiro, provenarrt de la BibliO'theque Roya1e de notre roi
Dom JO'ão VI. SO'n éditiO'n fac-similée a été publiée en 1985 par l'Institut
de Culture et Langue PortugalÍse 45.
Le choix parmi les multiples images de ces deux livres est tres
malaisé à oause du charme des vieilles gravures d'Alcia:ti et des enlumi-
nures du manuscrit pO'rtugais, qui sont des copies tres libres de l'origi.Jnal;
mais; puisqu'H faut choisir, je me bornerai à trois gravures d'Alciati
et à cLix enluminures de SO'lórzano Pereira, qui illustrent les finallÍtés de
tO'us les gO'uvernements et les devoirs de tous les gouvernants, c'est-à-dire,
rendre culte à Dieu, d'un côté, et procurer à sem peuple la justice, la
prospérité et la paix, d'un autre côté.

- L'embleme IV de SP, avec le titre: Reges Deus habet quasi pilas


(Les rois dans la main de Dieu sont comme des balles), illustre la cO'n-
viction que les rois, tel que les autres hommes, sO'nt un jouet entre les
mains de Dieu Tres-Haut et Tout-puissant 46. De cette dépendance déri-
vent les devoirs de religion et les limitations du pouvoir absO'lu des
rois par la crainte de Dieu.
- L'embleme XXV de SP, avec le titre: Educationis uis (La force
de l'éducation) , rappelle le pouvoir de l'éducation. De la même façon
que les ohiem de chasse manifestent l'éducation reçue depuis leur
naissance, oelui-Ià en poursuivant un cerf, celui-ci sans bO'uger, ainsi
les citoyens dO'ivent être éduqués depuis l'enfance chacun pour son
métier, parmi lesquels O'n oompte le «(ffiétier de roi» 47.

45. Francisca Antónia de Navaes Campas, Príncipe Perfeito. Emblemas de


D. João de Solórzano. EdiçãO' fac-similada da manuscrita da Bibliateca Nacianal da
Ria de JaneirO', aferecida aO' Príncipe D. Jaãa em 1790. PrefáciO', introduçãO', camen-
tária e índices par Maria Helena de Teves Costa Drena Prieta, prafessara cate-
drática da Faculdade de Letras de Lisbaa, Lisbaa, ICALP, 1985.
46. La maxime est inspirée en Plaute, Captiui: Enim uero Di nos quasi pilas
homines habent.
47. Cf. Isocrate, A Nicocles, 12: «Ne t'imagine pas que l'applicatian sait utile
dans taus les autres domaines, mais sans farce paur naus rendre meilleurs et plus
raisannables. Et n'accuse pas l'humanité d'être assez disgraciée paur avoir trauvé
à l'égard des animaux des pracédés qui permettent d'adaucir leur caractere et
POLITIQUE ET ÉTHlQUE DANS LA GRECE DU IV· SIÉCLE AVANT JÉSUS CHRIST 117

- L'embleme LXIV de SP, avec le titre: Omnibus aequa (La Justice


doit être égale pour tout le monde), nous présente une allégorie de la
Justice. Le roi doit peser dans la balance de sa Justice l'hUiIllble autant
que le puiss3JIllt; s'il agit de cette façon, le peuple aura du respect et luí
sera soumis comme un lion apprivoisé.
- L'embleme CXLV d'Alciati (gravure 2), avec le titre: ln sena tum
boni principis (Quelle doit être l'audience du bon prince), représente le
com;eil du roi, ou leso magistrats ont les mains coupées en face d'un
roi qui n'a pas d'yeux. Les magistrats doivent être incorruptibles de
tel sorte qu'ils semblent ne pas avoir de mains, étant incapables de rece-
voir des présents pour se laisser suborner. Le roi lui-même doit pro-
noncer ses jugements comme s'il n'avait pas d'yeux, pour ne pas se
laisser séduire par l'affection ou les préférences. Et ils sornt tous assis
à fin qu'Hs pu1ssent refléchir longtemps avant de prendre une décision 48.
- L'embleme LXIII de SP, avec le titre Regum tribunal (Le tribunal
du roi), I1eprésente un roi darrs son tribunal entouré des muses. La
Sagesse coopere avec la Justice: en s'asseyant au tribunal comme juge
suproême, le roi dolÍt demander l'aide des neuf muses, prê·t resses de la
Sagesse, symboles des arts Hbéraux dans lesquels le roi doit être instruit 49 .
- L'embleme LXXVI SP, avec le titre: Pungat et ungat (Le roi doit
punir et récompenser), montre des ruches et des abeilles, pour rappeler
aux mis la vertu de la clémence. Que la dureté de la justice, comme
l'aiguillon de l'abeil1e, 50it compensée par la douceur du mieI. Que celui
qui peut blesser, aiane mieux guérir et récompenser.
- L'embleme CXLIV d'Alciati (gravure 3), avec le titre: Princeps
subdÚorum incolumitatem procurans (Le prince qui prend des mesures
pour le salut de ses sujets), représente un dauphin enlacé à une arrcre.
Tel que l'ancI1e fixe le bateau au fond, pendant la tempête, et 1e dauphin,

d'en augmenter la valeur tandis que nous restons sans secours vis-à-vis de nous-
mêmes pour acquérir la vertu. Au contraire, pense que l'éducation et l'application
sont capables plus que tout d'améliorer notre nature.»
48 . Cf. Isocrate, Aréopagitique. Ce discours tout entier est un éloge de l'inté-
grité et de l'indépendance morale des magistrats de l'Aréopage.
49. Cf. Isocrate, A Nicocles, 13: «Ne t'imagine pas que tu doives ignorer aucun
des poetes célebres ou des maitres de la sagesse; deviens l'auditeur des premiers
et le disciple des seconds; ". »
118 MARIA HELENA URENA PRIETO

ami de l'homme, l'enlace en la rendant pIus ferme - ainsi le bom roi


sera pour son peuple protection et refuge 50.
Cette image reproduit le revers d'une monnaie de l'empéreur Vespa-
sien et au XVIe siede fut adoptée comme vignette par l'imprimeur Aldo,
à Venise. Émsme l'a employée avec le proverbe Festina lente (Hâte-toi
lentement), qui met la fixité de l'ancre en face de la vitesse du dauphin 51.
- L'embleme LXVI de SP, avec le titre: Legum munia, urbium
moemia (Les lois servent de remparts aux villes) , nous présente une
ville entourée d'une palissade et ceinte par une file d'yeux, à fin de
rappeler le devoir de surveillance. Que le roi établisse des lois sages
et surveiUe san exécution de teI sorte qu'elles protegent le peuple
oomme des remparts et des sentineHes (teIs que des yeux attentifs)
protegent la ville 52.
- L'embleme LXXXIII de SP, avec le titre: ln principes insueta
tributa imponentes (Aux princes qui imposent des impôts extraordi-
naires), avertit les rois contre les impôts qui oppriment le peuple. Les
rois qui ilmposent au peuple des tributs extraordinaires sont semblables
à quelqu'un qui voudrait imposer des tributs aux omhres: du rien on
ne peut rien cueillir .. . Une telle extorsion est comtraire au soin paterneI
du roi envers ses sujets 53.
- L'embleme LXXXV de SP, avec le titre: Regum verus thesaurus
(Le vrai trésor des monarches), rappelle aux rois qu'ils doivent s'efforcer

50. Idem, ibidem, 23-24: «Montre-toi redoutable en prouvant que rien ne


t'échappe, mais indulgent en infligeant des sanctions qui restent au dessous des
fautes commises. Cherche à prouver ton art du commandement. non par la bruta-
lité ni par des châtiments excessifs, mais par la supériorité de ton intelligence
et en développant chez tous la conviction que tu sais mieux qu'eux préparer leur
propre détense.»
51. Idem, ibidem, 15-16: «Veille sur la masse de tes sujets et, par-dessus tout.
rends-Ieur agréable ton autorité. Sois convaincu que. parmi les oligarchies comme
parmi les autres formes gouvernementales, celles-Ià durent le plus longtemps qui
se font les servantes les plus zélées de la masse.»
52. Idem, ibidem, 17: «Cherche des lois pleinement justes, utiles, sans contra-
diction interne, capables de diminuer le plus possible les contestations et de
hâter le plus pour les citoyens la solution des conflits, car tels doivent être les
avantages des lois bien établies.»
53. Idem, ibidem, 21: Intéresse-toi aux biens de tes concitoyens; rappelle-toi
que les gens dépensiers consomment ton propre avoir tandis que les travailleurs
l'accroissent. Toutes les fortunes possédées par les habitants d'un État sont les
ressources domestiques de qui sait bien régner.»
POLITIQUE BT f:THIQUE DANS LA GRECE DU IVC SIECLE AVANT JÉSUS CHRIST 119

pour se faire aimer au lieu de se faire craindre. Le vrai trésor d'un


monarche est l'amour de som peupIe. Si le roi ne vexe pas son peupIe
par des i:mpôts excessifs et veille à sa prospérité pIus qu'à la sienne,
le peuple lui prêtera son aide spontanée au besoin. Dans l'image nous
voyons un oi1toyern quã porte des présents pour secourir son roi.
- L'emblE!ine LXXXVIII de SP, avec le tÍ'tre: Inglorium pro sola
gloria certamen (Lutter pour la gloire du seul triomphe), raprésernte un
combat de coqs. Faire la guerre par vaine gloire c'est faire comme
les coqs: on ne retireaucun pI10fit de la victoire et iI n'y a pas de lo~
morale qui pULsse la jusnifier 54. Cei embleme est un écho des innom-
brables controverses nées autour du probleme de la «guerre juste»,
soutenues pendant des siecles.
- L'embletne CLXXVIII d'Akiati (gravure 4), avec le titre: Ex bello
Pax (La paix qui succede à la guerre), nous parle de la paix com quise
par la guerre. Le guerre ne peut se justifier que si eUe est coooitiom
de paix. Alms, le casque guerrier devient une ruche d'abeiJ,les melliferes
qui font succéder à l'amel'tume de la lutte la douceur de la paix.
- L'embleme )«CIV de SP, avec le titre: Pacis commoda (Les avan-
tages de la paix), nous parle de l'abondance et des autres avantages de
la paix. La dées,s e de la paix, couroumée d'épis, avec le caducée, enseigne
salutaire d'Hermes, à la main droite, met le feu, avec la mam gauche,
aux armes et aux trophées guerriers, alors que, sur ses gernO'llX, la COTIle
d'abondanoe verse les fleurs et les fruits de la paix.

Les imagescommentées ne sont qu'Wl écharntillon des milliers de


cenes qui peuplent les pages de centaines de livres d'emblemes publiés
pendant trois siec1es. Ces livres représeutent uu des canaux de trans-
mission de la pensée politique d'oI'igine grecque et la tine qui, en
passant par les traités d'éducation des princes du Moyen Âge et de la
Rcenaissanoe, s'est prolongée par l'abondante littérature politique des
siecles postérieurs. Ces liwes ont joué un rôle remarquable darns la
divulgation d'un patrimoine d'idées qui est arrivé jusqu'à nos jours
camme une oonquête de la conscience des peuples dans leur réflexion
millénai'l'e.

54. Idem, ibidem, 24: «Prouve ton amour de la guerre par ton savoir et par
ton entrâInement, ton amour de la paix, par ton refus de tout avantage injuste.»
120 MARIA HELENA URENA PRIETO

GRAVURE 1
Frontispice de l'éd. D'Alciati de 1661.
POLITIQUE ET ÉTHIQUE DANS LA GRí;CE DU IV· SIí;CLE AV ANT JÉSUS CHRIST 121

I GRAVURE 2
~
122 MARIA HELENA URENA PRIETO

.
,ANDREA..
/

ALeIATl
\lBLEltlAT
CVJ\1
Comménl.:Jrys
ampl.[silllls .

GRAVURE 3
POLITIQUE ET ÉTHlQUE DANS LA GRtCE DU I VC SIECLE AVANT JÉSUS CHRIST 123

GRAVURE 4
(Página deixada propositadamente em branco)
IL CONTRIBUTO DEL SECOLO XIX
AL PROGRESSO DEGLI STUDI CLASSICI

G. PASCUCCI
Università di Firenze

L'Ottocento e una tappa fondamentale nel progresso degli studi


classici: il nome stesso di Alterthumswissenschaft, comprensivo delle
innumeri sfaocettature, secondo le quali la nuova scienza sarebbe dovuta
indagarsi, nonché il fine che ad essa veniva assegnato, sono formulati
aI principio deI seco lo XIX da Federico Augusto Wolf (1759-1824): «Alle
bisherigen Ansichten laufen zu diesen vornehmsten Ziele wie zu einem
Mittelpunkte zusammen. Es ist aber dieses Ziel kein anders aIs die
Kenntniss der alterthümlichen Menschheit selbst, welche Kenntniss aus
der durch das Studiwn der alten Ueberreste bedingten Beobachtung
ei,n er organisch entwickelten beduetungsvollen National-Bildung her-
vorgeht. Kein niedriger Standpunkt aIs dieser kann allgemeine und
wissenschaftliche Forschungen über das Alterthum begrunden» (cf. Dar-
stellung der Alterthums-Wissenschaft, 1807, p. 124). Ed allo stesso Wolf
va il merito di aver istituito nella sua università, ad Halle, sin daI 1786,
lo strumento specifico per la sua attività di maestro, quel 'seminarium'
per la formazione dei docenti di discipline classiche, ri.masto alla base
della tradizione universitaria tedesca e trapiantato da noi, in ltaHa,
solo alla fine deI primo conflitto mondiale.
Como si vede, cuore degli studi filologici nell'800 fu la Germania,
non tanto quale sede di nuove, sensazionali conquiste scientifiche o
di strabilianti innovazioni metodologiche, ma come luogo deputato aI
perfezionamento delle conquiste anteriori e all'unificazione sotto una
etichetta comune delle varie esperienze settoriali, che lo studio dell'
antichità era andato svolgendo daI sec. XV in poi, dapprima in Italia,
successivamente in Francia, Olanda e Inghilterra. Valga di esempio cio
126 G. PASCUCCI

che si intende sotto iI pomposo titolo di 'metodo deI Lachmann', ossia


l'insieme dei pI1incipi che regolano la 'constituti.o textus' di un autore
antico, che e operazione fondamentale e preliminare della nuova soienza,
in quanto le consente di attingere a fonti il piú po,s sibile corrette e sicure.
Orbene, il ripudi.o della vulgata e l'esigenza di porre a fondamento
dell'edizione di un testo i codici che lo trasmettono, con procedimento
non saltuario ma oontinuato, furono espressi, prima deI Lachmann
(1793-1851) nella prefazione dell'edizione di Lucrezio (1850), daI W.olf
nei Prolegomena ad Homerum (1795), ip . 4: «ab h.oc leviore et quasi
desultorio genere plurimum discrepat iusta, perpetua, et oertis artis
legibus nixa recensio. ln illo nihil prope aliud, quam passim extantia
aliquove libro prodita vulnera sanare volumus; transmittimus plura,
ad sensum quidern bona et tolerabilia, sed ad auctoritatem nihilo meliora
pessimis. lusta quidem reoensio, bonorum instrumentorum omnium
stipata praesidio, ubique veram manum scriptoris rimatur; scripturae
cuiusque, non modo suspectae, textes ordine interr.ogat,- et quam omnes
annuunt, non nisi gravissimis de causis loco movet; alia per se scriptore
dignissima, et ad veritatem seu elegantiam sententiae optima, non nisi
suffragatione textium recipit: haud raro adeo, cogentibus illis, pro
v,e nustis infert minus venusta; emplastris solutis, ulcera nudat; denique
non monstrata solum, ut mali mediei,sed ei latentia wtia curat». Qui iI
concetto di 'reoensio', aI posto di eià che si diceva 'emendatio ope
codicum', od anche 'recognitio', brilla di chiara luoe anche in virtü
della nobile formulazione latina. AI Lachmann va ascritto iI merito di
averlo riportato in luce, dopo l'oblio cui l'aveva relegato Gotttredo
Hermann (1769-1835), fautore di altro indirizzo nella filologia, e di
averlo r.iportato in luce, dopo l'oblio cui l'aveva relegato Gorttfredo
per motivi di carattere religioso, ancorché teorizzato, inizialmente, in
servigi.o di essa. Quanto alla sfidueia verso i codici piu recenti, iI
Lachmann presentava una posizione condivisa già daI Poliziano e daI
Vettori, ma specialmente dallo Scaligero, ed esasperata dall'olandese
Carel Gabriel Cobet (1813-1869) nel motto 'comburendi, non conferendi':
di averla ridotta entro limiti acoettabili spetta a questo seeolo, che per
voce di Pasquali (1934) praclamà 'recentiores non deteriores'. Ma la
caratteristica essenziale deI metodo deI Lachmann consiste, per la com-
munis opinio, nella ricostruzione della storia deI testo e particolarmente
dei rapporti genealogici che intercorrono fra i manoscritti giunti sino
a noi: eppure, sotto questo rispetto, iI contributo deI Lachmann e stato
scarso ed incerto: i veri fondatori della classificazione genealogica dei
manoscritti furano lo svedese Schlyter (in campo diverso dalla filologia
IL CONTRIBUTO DEL SECOLO XIX AL PROGRESSO DEGLI STUDI CLASSICI 127

classica), Karl Gottlob Zumpt (1793-1843), ii danese Iohan Nicolai Madvig


(1804-1886) IlieIle edizioni, rispettivamente, d~lle Verrine e deI De finibus,
ma sopra tuui Friedrich Wilhelm Ritschl (1806-1876) e Jakob Bernays
(1824-1881) neIle edizioni di Dionigi di Alicarnasso e di Plauto ed in
queIla di Lucrezio. Anche per l'esigenza di fissare la derivazione di tutti
i codici di un'opera da un unico archetipo si risale, oltre aI Lachmann,
sino ad Erasmo ed aIlo Scaligero, mentre per ii termine archetipo inteso
tecnicamente con lo specifico senso di capostipite medievale peI'duto,
si deve foc capo aI Madvig nella dissertazione De emendandis Ciceronis
orationibus pro P. Ses tio et in P. Vatinium (1833). Altra operazione, di
cui si e abusato neIl'Ottocento e purtroppo si continua ancÜ'Toggi a
fare uso incontI'ollato - per convincersene si veda la praefatio aIla
nuova edizione teubneriana deI Bellum Gallicum di Cesare (1987) ad
opera deIlo Hering - e quella che va sotto iI nome di 'eliminatio corucum
descriptorum' - troppo spesso ridotta acomodo espediente per rispar-
miare tempo e fatica aI filologo: indizi insufficienti o maga ri la semplice
constatazione di una massa di recenziori accanto ad un manoscritto di
conclamata antichità, hanno fatalmente portato a postulare la deriva-
zione dei piu reoenti da quel piu antko: ii primo ad applica-re questa
norma - sembra correttamente - fu iI Poliziano; se ne avvalsero poi
ii francese Boivin in un'annotazione autografa aI Parisinus Graeous 2306
contenente ii ITEpt ü~ouç e l'alsaziano Schweigaeuser per l'ediziorne deI
Manuale di Epitteto ~attivi entrambi nel sec. XVIII), ma CO'll acoentuato
rigore Hermann Sauppe (1809-1893) per queIle di Lisia e di Floro.
II Lachmann non oe ne ha lasciato menzione. Esplicita fu invece la sua
distinzione fra 'reoensio' e 'interpretatrio', che lo indusse a sostenere:
'recensere ... sine interpretatione et possumus et debemus', un principio
che a noi puõ parere paradossale, ma che aI Lachmann pote essere
suggerito daIl'urgenza di fornire edizioni rigorosamente diplomatiche,
riproducenti la tradizione manoscritta nella forma piu antica per noi
raggiungibile, senza prendere minimamente in con~iderazione ii senso
deI testo e le norme deIla grammatica. Quanto poi aI render conto
deIla storia di un testo neIl'antichità, iI primo esempio veniva daI Wolf
che nei suoi Prolegomena seppe attuare, grazie aIla utilizzazione degli
scolii veneti scoperti daI Villoison, un quadro deI Fortleben di Omero,
daIle origini dei due poemi sino ad Apione attraverso il passaggio
obbligato di Pisistrato: con ciõ preparava la via non aI Lachmann, ma
piuttosto aI concetto di Textgeschichte di Otto Jahn (1813-1869) e di
Ulrich Wilamowitz (1848-1931) e a tutti gli studi che neIlo Otto e Nove-
cento si sono fatti su «varianti antiche e antiche edizioni», per ripetere
128 G . PASCUCCI

iI titoIo di un capitoIo delIa Storia della tradizione di Pasquali. La stessa


questione omerica non era altro, per iI Wolf, che la prima fase, orale
e popolar·e, delIa storia deI testo dell'Iliade e delI'Odissea: come tale, e
non come problema storico-letterario a sé, essa e trattata nei ProZego-
mena. Infine va considerato genuino contributo deI Lachm.ann, pur senza
misconoscere il suo debito a predecessori e a contemporanei, la formu-
lazione dei criteri che permettono di determinare meccanieamente (cioé
senza ricorrere aI iudicium) quale, tra le varie lezioni di un testo, ris alga
all'archetipo. Codesta disarticolazione delle varie componentá che nel
loro camplesso costitu]soono il me todo deI Lachmam:l, cou relativa
attribuzione di ciaseuna a studiosi che lo preeedettero o lo seguirono,
e stata operata con suecesso daI nostro Timpanaro nel VII cap. di
La genesi deZ metodo deZ Lachmann, un'opera che ha avuto l'onore
di essere tradotta in tedesco (ho seguito la 3a edizione, Padova 1986):
e con lo stesso suo intento ce ne serviamo non alIo seopo di ridimen-
sionare la figura deI Laehmann, filologo d'ingegno meno acuto e profondo
di altri suo i contemporanei, ma piuttosto per far vedere come la costru-
zione, che va sotto il nome di lui, debba considerarsi il risultato di una
eollaborazione collettiva, cui hanno partecipato, oltre aI Lachmann, altri
insigni fil010gi, appartenenti a scuole diverse e ciascuno dotato di
proprie attitudini. Si sarà notato, credo, che nou si sia fatto ancora
parola dell'altra operazione, su cui si fonda la 'constitutio textus', cioé
1"emendatio' - o, come si esprimevano i nostri umru::u:isti, 'emendatio
ope ingenii'. Anch'essa fu praticata nei secoli anteriori: e sopratutto
nell'Inghilterra deI XVIII secolo, per es. daI grande Bentley, che forte
delle sue squisite conoscenze linguistiche e prosodico-metriche, la esercità
con genialissimo intuito, anche se a volte con temeraria audacia. Famosa
e la sua dichiarazione: 'nobis et ratio et res ipsa centum codicibus
potiores sunt' , e non meno quella sua pagina della prefazione alla
edizione di Orazio, in cui sostiene che la congettura, proprio perché
coinvolge integralmente le responsabilità dei filologo, finisce coJ dare
risultati piu sicuri che l'accettazione della lezione tramandata o la
scelta fra varianti. Siamo agli antipodi rispetto aI concetto lachm.an-
niano di 'recensio sine interpretatione'. Ma la critica congetturale fioriva
anche in Germania, per merito di Hermann: mirabile conoscitore di
língua e di stile greeo, autore di importanti contributi metrici, non ebbe
alcun interesse per ta tradizione manoscritta: le sue edizioni fondate
non sui codici, ma su edizioni precedenti, presentano come migliora-
mento dei testi studiati iI frutto delle sue congetture o comunque di
sue scelte basate soltanto sullo iudicium - i cosiddetti criteri interni
IL CONTRIBUTO DEL SECOLO XIX AL PROGRESSO DEGLI STUDI CLASSICI 129

'usus scribendi' dell'autore e 'lectio difficilior', già utilizzati dai gram-


matici antichi -: naturalmente, moltissime volte difficoltà testuali sino
allora insuperate, poterono essere da lui risolte, poiché conoscere a
fondo la lingua e stile di uno scrittore resta sempre condizione inde-
rogabile per ristabilirne iI testo. Tuttavia la completa indifferenza per
iI fondamento documentario dei testi classici costituisce non solo un
arretramento rispetto alla nuova critica testuale, ma anche un aspetto
essenziale della sua incomprensione e ostilità per la filologia ottocen-
tesca di Wolf e di August Boeckh (1785-1867).
Di qui quelIa dicotomia nella tradizione filologica tedesca, sanzio-
nata da Konrad Bursian (1830-1883) nelIa sua Geschichte der klassischen
Philologie in Deutschland (1883), che distingue la filologia di Hermann
- incline ad una conoscenza delI'antichità basata sulIo studio delle
strutture grammaticali e stilistiche delIa lingua e limitata alIa critica
formale dei testi - dalIa filologia del Boeckh, mirante alla compren-
sione globale delI'antico e fondata anche sull'apporto di discipline
antiquarie complementari: archeologia, storia, linguistica, epigrafia,
numiSimatica, metmlogia, etc. La 'magna charta' di questa piu aaupia
ricognizione delI'antico e costituita dalIe lezioni berlinesi raccolte e
pubblicate dopo la sua morte da uno dei discepolri, la Enzyklopiidie und
Methodenlehre der philologischen Wissenschaften (1877). La 'querelle',
aI tempo deI suo massimo fervore, parve rkhiamare le rivalità fra i
YP/l:!_I.'(.ux:nxol. alessandrini e i xpvnxoL pergameni deH'età elIeni,srtica; ma in
Germania ri! contrasto presto si attenuà, data la sostanziale validità
dei principi e dei metodi, nelIe rispettive deficienze integrantisi vicen-
devolmente, e Hnl per ridursi a dive:rsità di atteggiamenti inspirati · nei
successivi studiosi daI prevalere delle attitudini personali. Si ridestà,
agli inizi deI Novecento, sotto ahro cielo, in Italia, quasi pedaggio del
suo apprendistato filologico dana Germania, e pur ammantandosi di
nobili fini scientitici, nascose di fatto meschini interessi di parte o
di potel'e.
Ma lo spirito della concezione boeckhiana deI mondo antico pro-
dusse uel priu grande dei suoi discepoli, Karl Ottfried Müller (1797-1840),
il modelIo di scienziato aperto a tutte le discipline delI'antichità: editore
di Eschilo e di Varrone, illustratore di monumenti e di storia di singole
7tóÀ.w:; greche, archeologo, etruscologo, storico delI a letteratura greca.
Da Gottinga, dove insegnà prima scienze dell'antichità e poi storia
dell'arte antica, viaggià in Inghilterra, Francia, Italia, e in Grecia: qui
poco piu che quarantenne lo colse la morte, mentre copiava iscrizioni
delfiche: fu cremato ad Atene sul colle di Colono.
130 G . PASCUCCI

E assai probabile che la nuova critica deI Lachmann beneficiasse,


aI momento deI suo concretizzarsi, delI 'atmosfera comparativistica, diffu-
sasi nella cultura europea a metà delI'800, che provocà iI sorgere delIa
linguistica comparata. Analoghi i fini, ricostruire la lezione delI'arche-
tipo o il termine àl una lingua-madre perduto; analoghi i metodi,
procedere alIa classificazione genealogica dei codici di uno stesso testo
o delle lingue attestate di una stessa famiglia, con la sola differenza
che mentre l'archetipo non coincide per il filologo con l'originale, l'uno
e l'altro si identificano per iI linguista e che le corruttele di una tradi-
zione manoscritta si manifestano come elementi turbativi deI contesto
(e quindi, senz'altro, come errori), mentre l'innovazione linguistica,
riuscita ad imporsi, cessa ipso facto d'esser tale Ce quindi di doversi
considerare errore). Due linguisti sopra tutti, con velleità di filologi,
August Schleicher (1821-1868) e Georg Curtius (1820-1885), si adoprarono
anche daI punto di vista teorico, per il riavvicinamento delle due disci-
pline, che per un po' procedettero paralIelamente da un fase di incon-
cussa fede nel metodo genealogico a quelIa di totale sfiducia. Ché, se
non mancarono applicazioni di esso perfettamente riuscite, presto
apparvero i limiti delI a sua validità: tradizioni manoscritte troppo
semplici (rappresentate eioé da uno o due codici) o troppo complicate
(dove i copisti, oltre a trasorivere il testo, ebbero a confrontarlo con
altri codici o a correggerlo per oongettura, SI da os curare i rappOlTti di
parentela tra codiei - tradizioni dunque, come si dice, contaminate
o interpolate), restavano aI di fuori delI a sua portata. Era stato solo un
caso fortunato che il Lachmann avesse sperimentato con successo il
suo metodo sul testo di Lucrezio. Di fronte a tali difficoltà si ricorse
a rimedi estremi: si cercà di eliminare iI maggior numero possibile di
codici, come sospetti di interpolazioni o 'descripti', sino a ridurli a uno
o due soltanto, e cOSI svaniva ogni difficoltà genealogica (come fece
Wilhelm Dindorf - 1802-1883 - editore di troppi testi critiei di autori
greci) oppure si rinuncià aI criterio meccanico di scelta delIe varianti,
sostituendogli la rivalutazione dei criteri interni e dei codiei piu recenti;
iI migliore e piu indipendente degli scolari del Lachmann, lo J ahn,
nell'editio maior di Persio usciva con dichiarazioni polemiche verso il
maestro, constatando: 'non potuerunt quidem codioes eligi, ad quorum
normam verba scripto~is oonstituerentur, sed omnes semper respiciendi
erant', ma subito dopo specificava che in quelI'omnes non erano inclusi
tutti i 'recentiores'. Parimenti, in campo linguistico, si andava ricono-
scendo l'inadeguatezza deI metodo comparativo: anche qui, contro il
concetto delI a trasmissione verticale, la sola presa in considerazione
IL CONTRIBUTO DEL SECOLO XJX AL PROGRESSO DEGLI STUDI CLASSICI 131

dalla teoria genealogica, veniva via via aHermandosi iI concetto della


trasmissione verticale, la sola presa in considerazione dalla teoria
orizzontale, che riduceva ad effetto di contatto, piuttosto che di eredi-
tarietà, la piu parte di materiale comune a lingue apparentate. II Nove-
cento avrebbe escogitato altre misure per sopperire alle deficienze deI
metodo lachmanniano, sempre piu diffondendosi la convinzione della
sua inapplicabilità ai casi (che sono i piu frequenti!) di tradizione non
esclusivffi11ente meccanica.
Fuori della Textkritik, l'impegno per la filologia totale produsse
ingente mole di importantissime realizzazioni, alle quali parteciparono
in lavora di équipe validi studiosi, di cui la Germania era provvista in
gran copia e seppero provvedere con l'efficienza dell'organizzazione e
l'abbondanza delle risorse finanziade varie istituzioni sai.entifiche degli
studi tedeschi: prima fra tutte la Preussische Akademie der Wissen-
schaften, con sede a Berlino, sotto i cui auspici fu pubblicato tra il 1825
e il 1859 il Corpus Inscriptionum Graecorum, ideato daI Boeckh, che fu
anche editore dei due primi volumi, prontamente sostituito, a partire
daI 1873, della piu aggiornata raccolta delle Inscriptiones Graecae, nonché,
per impulso di Theodor Mommsen (1817-1903), iI Corpus Inscriptionum
Latinarum, la cui direzione dapprima offerta a Bartolomeo Borghesi
(1781-1860), insigne archeologo e epigrafista della minuscola repubblica
di S. Marino, alla sua morte fu assunta daI promotoJ1e, che daI 1869 lo
condusse quasi alla fine. Nasce nell'insegna di questa stessa temperie
culturale la prima edizione della famosa Realenziklopiidie der klassischen
Alterthumswissenschaft, fondata a Stoccarda nel 1839 da August Pauly
(1796-1845) e proseguita dallo storico della letteratura latina Wilhelm
Sigismund Teuff,el (1820-1878), ma dpubblioata in integralmente nuova,
amplissima rielaborazione daI 1894 e giunta a compimento soltanto
da pochi anni, $Otto la direzione di successivi filologi da G. Wissowa
a W. John. II suo titolo promette meno di quanto l'opera mantenga,
perché, se nella varietà e molteplicità degli aspetti dei mondo antico
insiste sulle res, sulle sue «cose», di fatto non esclude perà iI doveroso
interesse per le manifestazioni dei pensiera e della letteratura, cioe della
«parola». Né e possibile tacere, per quanto la sua pubblicazione abbia
avuto inizio soltanto daI 1900 e tuttora sia lungi dall'avvicinarsi alla fine,
della colossale impresa, che onora ,la lessicografia latina, il Thesaurus
Linguae Latinae, originariamente posto sotto gli auspici Academiarum
quinque Germanicarum, poi, dopo l'interruzione dei due conflitti mon-
diali, proseguito con iI concorso e l'aiuto di enti culturali europei e
132 G. PASCUCCI

americani, che rispecchia nel titolo opere famose, realizzate nell'età eroica
della filologia classica, ii peJ:1iodo umanistico, quando in ristrettissime
cerchie si condussero a ter:mine lavori, che oggi esigerebbero una coope-
razione internazionale. Ma iI suo piano ideato daI Wolf, aI principio
dell'800, sostenuto nel corso deI successivo cinquantennio daI fervore
di Mommsen, e progettato da Karl Helm (1809-1882), in collaborazione
eon Ritsehl e Alfred Fleckeisen (1820-1899), comincià a prender corpo
soltanto dopo il 1883 per iniziativa deI basiIeese Eduard Wülfflin (1831-
1906), che appunto in quell'anno fondà la rivista, daI Htolo significativo
Archiv für lateinische Lexicographie und Grammatik mit Einschluss der
iilteren Mittellateins aIs Vorarbeit zu einen Thes. L. Lat.; e il suo pro-
gramma, diversamente da ogni altra consimile opera, comportava l'inclu-
sione della cosidetta 'infima Iatinitas', vale a dire non solo il paziente
e minuto scandaglio di tutta la latinità dalle origini agli Antonini, ma
anche degli scrittori piu importanti sino aI VII sec. d. Cr.
ln questa atmosfera di fervoroso entusiasmo per l'antichità si deve
anche accennare alla collezione di testi piu ampia e piu nota, la Biblio-
theca scriptorum Graecorum et Romanorum Teubneriana, .pubblicata
a Lipsia sin daI 1824, in seguito alle istanze di Franz Passow (1786-1833),
tuttora instancabilmente volta a rinnovare le sue edizioni e ad ampliare
di continuo la sua già vastissima dotazione di testi: ad essa per tutto il
sec. XIX non si puà oontrapporreche la francese Scriptorum Grae-
corum Bibliotheca, cou traduzione latina, pubblicata a Parigi dall'editore
Ambroise Fermin Didot, sotto la direzione di Désiré Nisard (1806-1888)
e con la collaborazione deI tedesco Friedrich Dübner (1802-1867).
D'altra parte la consuetudine eon l'attività editoriale d'alto livello
promosse anche l'al1estimento di vocabolari particolari di singoli autori,
dove tutti i termini che compaiono in un dato scrittore (e i relativi
passi che li contengono) vengono o semplicemente registram (Indiei,
Concordanze) od anche distinti nella speeiale accezione semantica, cioé
sottoposti ad una prelimiri.are interpretazione sulla base deI contesto
che li ospita (Lessioi) . II nostro secolo ha continuato in gran parte
sulla traccia segnata, ma quando - neU'ultimo ventennio - ha voluto
rinnovare pTodotti antiquati o colmare precedenti lacune, giovandosi
di sofisticati sistemi alla moda, non ha saputo forniroi che 'indici'.
L'Ottocento, infiue, fu iI seooLo che, grazie anche aI progresso delle
comunicazioni e rdazioni fra i popoli, ha favorito il sorgere e molti-
plicarsi di pubblicazioni periodiche, contenenti sotto forme di memorie,
articoli, indicazi(jUi e resoconti bibliografici i nuovi contributi all'inda-
gine deI mondo antico, le polemiche e i dibattiti, le disoussiohi e inter-
lL CONTRIBUTO DEL SECOLO XIX AL PROGRESSO DEGLI STUDI CLASSICI 133

pretazioni di temi generali e specifici, cioé le riviste. Da a110ra gran


parte de11a produzione filologica e rimasta affidata a questo tipo di
pubblicistica, divenuto veicolo e mezzo di scambio . delI'attività de110
spirito umano anche nel settore antichistico. Apre la serie, come piu
antica fra le riviste di filologia classica sino ad oggi sopravvissute,
il Rheinisches Museum für die Philologie, fondato nel 1827 da Boeckh
e daI danes e Georg Niebhur (1776-1831) e in armonia con l'indirizzo di
scuola aperto a11a collaborazione anche di giuristi, storici ed archeologi:
la sua prima annata contiene la replica di Boeckh alIe aspre critiche di
HeI1mann sul primo volume deI Corpus epigrafico greco: dove sarebbero
state trascritte iscrizioni da copie inesatte, con rinuncia all'autopsia
o aI ricorso di calchi fedeli, sicché troppo spesso il senso verrebbe
restaurato a prezzo di drastiche congetture. Nell'impossibilità di ricor-
dare le altre riviste tedesche, successive a questa, passo a far menzione
di quelle degli altri paesi limitandone la rassegna alle piu antiche di
ciascuno di essi ,tuttora superstirti: Mnemosyne, edita a Leida daI 1852,
destinata a raccogliere scritti filologioi di stretta osservanZia; Transactions
and Proceedings della American Philological Association, attiVla a New
York daI 1869; Rivista di filologia e d'istruzione classica, pubblicata
a Torino daI 1873, che aCCOIlluna esd.genze scientifiche ed intenti didattici;
Revue de ph.ilologie, de littérature et d'histoire anciennes, edita a Parigi
daI 1877, il cui titolo già ostenta ampiezza e varietà di orizzoll1ti; Wiener
Studien, nata a Vienna nel 1879; Journal of Hellenic Studies, pubblicata
a Londra daI 1880, COlJ1 vivi ilnteressi, anche archeologici, e infine Eranos,
pubblicata a Upsala daI 1896.
Questo atteggiamento dell'animo tedesco verso il mondo antico
era stato preparato dall'entusiasmo della cultura settecentesca per gli
studi archeologici di J ohann J oachim Wincke1mann, per la sua convin-
zione profonda di ritrovare nella <<llobile semplicità e serena grandezza»
i segni della migliore arte greca, figurativa e letteraria. Di nuovo, i
capolavori della letteratura classica produssero l'attonito ridestarsi dello
spirito, come già aI tempo di Petrarca: solo che adesso fonte di ispira-
zione non eTalno piu né Virgilio né Cicerone, ma Omero, Sofocle,
P.latone. La cultura latinaappariva nierrt'altro che utile approccio alIa
greca. Quando Winckelmann scriveva «una statua romana sarà sempre,
aI confronto con un originale greco, cià che la Didone virgiliana e aI
confronto con la Nausicaa di Omero», egli non aveva ancora avuto
occasione di vedere alcun originale greco; ma era per lui pacifico che
la regina Vlirgiliana, quale piu tarda, stesse sopra un gradino piu basso
che l'omerica fanciulla . Si produsse cosi una grave frattura fra la
134 G . PASCUCCI

tradizione latina dell'umanesimo ed ii neoclassicismo tedesco, come


si chiamava una volta, o neoumanesimo greco, come oggi si preferisce.
DeI quale ii Winckelmann fu l'iniziatore, iI Goethe iI banditore e Wilhelm
von Humboldt iI teorico: e quando questi divenne ministro dell'istru-
zione del regno di Prussia, ed ebbe fondato l'università di Berlino e
istituito iI nuovo ginnasio umanistico, la sua teoria trovà piena attua-
zione e forza sufficiente da incidere profondamente sulla vita cultural e
della nazione. Ma intanto la sancita svalutazione della cultura latina,
che pure, come si e visto, fu tutt'altro che ripudiata, ricevette ulteriare
motivazione daI principio romantico della superiorità delle origini e
dell'idealizzamento di tutto cià che fosse primiero o magari primitivo.
Un secolo e mezzo durà, contrastata debolmente in ltalia da argomenti
retorici o nazionalistici, questa situaZlione di subalternità della cultura
latina rispetto alla greca, facendosene accanito assertore ii Mommsen
nei capitoli d'informazione letteraria della sua Romische Geschichte
(1854-56): soltanto ai primi deI Novecento, auspice Friedrich Leo, la
scuola di Gottinga, senza negare i molti debiti delIa letteratura latina
verso la greca, riconobbe doti di originalità e di capacità creativa ai
Romani, rintracciabili piuttosto che in un'utopistica disposizione a creare
daI nulla, in una congenita idoneità a trasfoI1IIlare elementi di cultura
e di arte stranieri in carne e sangue propri. Intorno agli anni '30 Ernst
Bickel definiva l'essenza della letteratura latina nel motto: 'romische
Litteratur aIs griechische Renaissance', accettabile non nel senso che egli
ne dava, ma in quello di una cultura greca che fu lievito alle energie
spirituali dei Latini, non diversamente da come in età umanistica per
la scoperta degli antichi autori la cultura europea fermentà nelle gran-
diose manifestazioni delle sue letterature nazionali.
AlIe connessioni della linguistica can la filologia, anzi con la parte
piu tecnica di essa, la critica dei testo, già abbiamo accennato. Non
meno importanti risultati nel corso delI'Ottocento furono conseguiti
dagli studi grammaticali. A non parlare delle tendenze manifestatesi
nel sec. XVII di considerare la grammatica come soggetta a leggi logiche,
per ovvie esigenze didattiche riducibili ad una serie di precetti e di
norme (la scuola francese di Port-Royal), si puà dire di questa disciplina
che assunse vera carattere di scienza soltanto con la rivoluzionaria
scoperta deI sec. XIX delI'unità linguistica del gruppo indeuropeo.
AlIa cosidetta gra.mmatica logica delI'età postumanistica si sostituI la
grammatica comparativa di Franz Bopp (1791-1867) e dei suoi discepoli,
nei quali tuttavia la coeva cultura positivistica si fece sentire con
l'imposizione di ferree leggi fonetiche. La nuova scuola, detta dei neo-
IL CONTRIBUTO DEL SFCOLO XIX AL PROGRESSO DEGLI STUDI CLASSICI 135

grammatici, trovo naturalmente iI sui piu adatto terreno sperimentale


nelI'applicazione alIe lingue olassiche, conseguendo risultati preziosi,
dai quali neppure oggi possiamo presdndere: basti citare i due volumi
delIa Ausführliche Grammatik der griechischen Sprache wissenschaftlich
und mit Rücksicht auf dem Schulgebrauch ausgearbeitet e gli altrettanti
Ausführliche Grammatik der lateinischen Sprache di RaphaeI Kühner
(1802-1878), che sottoposti a revisioni e parziali aggiornamenti ancor
oggi usiamo avere fra mano neIle nostre ricerche. La prima opera,
d'impostazione dichiaratamente scolastica, riduce la comparazione aI
solo latino, con poco felice prospettiva storica, e non distingue sufficien-
temente tra fenomeni cOilTIuni derivanti da eredità indeuropea e quelli
prooottisi nei posteriori contatti dei due ambienti linguistici già diffe-
renziati storicamente e geograficamente, mentre la seconda, di piu alto
livelIo sdentifico, elabora l'ampio materiale raccolto eon piu sicura
prospettiva storica.
Nello studio dei dialetti greci si segnalo Heinrich Ludolf Ahrens
(1809-1881), autore anche di lliIla celebre edizione di Teocrito e dei
bucolici greci, che ha tenuto il campo sino alI'avvento di quelIa oxoniense
deI Wilamowitz, all'inizio deI nostro secolo. Sul versante latino risul-
tarono privilegiate le ricerche sulIa lingua arcaica, quale preliminare
esigenza per la ricostruzione deI testo di Plauto, dopo la fortunata
scoperta deI palinsesto Ambrosiano, di cui il Ritschl, originariamente
partito da studi letterari greci, fu iI primo sicuro decifratore. I tanti
suoi meriti di critico deI testo, che gli valsero il titolo di sospitator Plauti,
non possono andare disgiunti daI riconoscimento delI'importanza delIe
sue indagini sul10 sviluppo stanco deI latino, sull'alfabeto e sul verso
saturnio, studiato suUe iscrizioni metriche arcaiche, anziché sui fram-
menti di Livio Andronico e di Nevio riportati dai grammatici. Viceversa
l'interesse per iI tardo latino e per il latino cristiano sono vanrto di
questo seco lo e segnatamente della scuola svedese deI LOfstedt e di quelIa
olandese di Nimega.
Nel campo del1a storiografia classica 10ttocento produsse studioSI
di altissima statura, primi fra tutti il Niebuhr: nelIa tradizione di Wolf
sgombro la storia delle origini di Roma dalI'intrico di leggende e di
miti tramandati dagli storici antichi; e sulle arme di Lorenzo ValIa
transformo la di lui critica testuale alI'opera di Livio in implacabile
critica storica. Scopritore di testi ancora ignoti, nei suoi viaggi per
l'Italia, oommisero la decadenza delIa Roma papale, «oggi coda, come
fu un tempo capo deI mondo»! Alla sua influenza, esercitata attraverso
saggi e corsi di lezione, anche di storia gI1eca, relativi alI'età fra la morte
136 G. PASCUCCI

di Alessandro e iI compimento deI dominio romano con la conquista


delI'Egitto, non fu insensibile Gus,t av Droysen (1808-1884), delIa cui
molteplice attiv:ità d'i l1Jterprete di teatro greco e di storico moderno
l

ci esimiamo daI far ricordo, per concentrare l'attenzione sul trittico,


composto tra iI 1833 e iI 1843: Storia di Alessandro, Storia dell'Ellenismo
e Storia della formazione deZ sistema statale ellenistico, ripubblicato
in due volumi nel 1877 come Storia dell'Ellenismo. Infatti la nozione di
ElIenismo, inteso come fase storica apertasi con le conquiste deI Mace-
done e caratterizzata da un'originale e nuova civiltà, risultante dalIa
cormpenetra:úone tra mondo greco e orientale, si e venuta affermando
con l'accrescersi deI prestigio di colui che la communis opinio identi-
fica con iI suo scopritore, iI Droysen, nel panorama culturale tedesco
e in misura riflessa nei paesi e negli ambienti piu soggetti alI'egemonia
culturale tedesca. Non e superfluo ricordare, ad es., che HelIénisme
nelIa storiografia antichistica francese ed HelIenism in quelIa anglo-
sassone - nonos't ante l'innovazione terminologioa connessa con la pre-
sunta sooperta deI Droysen - haIlillo continuato a indicare la grecità
in generale, piuttosto che l'epoca storica iniziatasi con Alessandro. II
fatto e che iI teruni:ne 'E),,),,'llvL<T[.LÓç sin per gli antichi non era di univoco
signifioato: valeva come 'grecità pura, corretta' rispetto alIa parlata
barbarizzante, ma anche 'greco comune', xowIÍ elaboratasi nelIa oonvi-
venza fra conquistatori e vinti, come si deduce daI titolo di un'opera
deI grammatico Ireneo, detto anche Pacato: I1epL "'t'fíç 'tWV 'AÀeç,cxvopÉwv
OLCX)"ÉX'tou ll1tEPL 'E),,),,'llVLCTfJ.OÜ, che ha senso so.lo se i due concetti di lingua
parlata ad Alessandria ed elIenismo coincidano. E se pure tra gl,i esempi
piu vistosi dei rapporto di influenza fra Greci e Orientali e lo scambi'o
linguistico, tanto l'imporsi e modificarsi deI greco - divenuto una specie
di lingua franca - entro un'area vastissima in analogia con la sorte di
lingue moderne metropolitane nelI'uso di coloni indigeni africani ed
asiatioi, quanto la costruzione di vas1Ji stati territoriali e in essi la pre-
senza di una corte e di un'amministrazione, espressione di una minoranza
che si sovrappOl1Je aI substrato, costituiscono un unico fenomeno, oltre
che linguístico, oulturale, cui si addioe lo stesso termine di Ellenismo:
ed 'E)"),,T}VL<T't'lÍc;, allo~a, e il suddito che corrisponde can te autorità
centr.ali in una lingua non sua, ii siro, l'egizio, o l'ebreo che parlano
l.ID greco inquinato dagli idiotismi delIa propria língua nativa. Sicché
falsa e l'accusa rivolta dai moderni aI Droysen di aver frainteso il
termine 'E),,),,'llvliCT'tcxC di Act. Ap. 6, 1, accreditando agli Ebrei un rapporto
privilegiato coi Greci: vera e invece che lo interpretà nel senso tra-
dizionale, con estrema esattezza illustrato già daI Salmasius, e cioé
IL CONTRIBUTO DEL SECOLO XIX AL PROGRESSO DEGLI STUDI CLASSICI 137

comprensivo di ogni realtà di non Greci parlanti iI greco. Questa


ricostruzione storioa dell'Ellenismo favorl la nascita di nuovi interessi
per un'età, non piu considerata di decadenza o di involuzione. Si sono
già ricordati gli studi di Ahrens per Teocrito e la sua lingua; accanto
vanno registrati gli interventi su Eratostene da parte di Gottfried
Bernhardy (1800-1875), autore anche di un Compendio di Letteratura
greca, la cui 2a edizione dà rilievo alIe novità emerse dalle ricerche
di Droysen sulI'ElIenismo, indicando in lui iI demolitore delle pro-
spettive classicistiche svalutatrici di quell'età; gli studi sulla poesia
alessandrina di Augusto Meineke (1790-1870), comprendenti una colle-
zione di monografie da Euforione a Partenio e un'ampia selezione
delI'Anthologia Graeca, anohe se la fama del filologo resta legata alIa
mirabile edizione dei Comici greci; l'edizione di Callimaco, approntata
da Otto Schneider (1815-1880), che ha resistito oltre settanta anni sino
a queUa di Pfeiffer. II fiorire di studi sulIa poesia elIenistica si e avvan-
taggiato di due altre oircostanze: iI numero sempre crescente di reperti
papiracei, che ne riportano alla luce nuovi frammenti e la convinzione
che alcuni filoni di essa agirono direttamente sulla tradizione poetica
latina, specie di età augustea. Per completare iI quadro delIa storio-
grafia classka delI'Ottocento e indispensabile fare almeno ii nome di
Mommsen: la statura dell'uomo impedisce di riferirne in termini
adeguati; tanto val,e percià limitarsi a circoscrivere la sfera dei molte-
plici interessi, tutti rivolti aI mondo romano, che vanno dalla storia
politica, indagata con forte dose di passionalità, aI diritto costitu:úonale,
a queUo penale, aHa cronologia, alIe antichità pubbliche, all'attività
edito'r iale di testi epigraf.ici (come iI Monumentum Ancyranum) e storici
(Cassiodoro, Iordanes) nelIa celebre edizione dei Monumenta Germaniae
historica, e giuridioi (Digesto e Codex Theodosianus).
Ma un gran dono l'Ottocento, prossimo aI declino, stava appron-
tando per gli studiosi di antichità: la scoperta dei papiri. Fu buon
profeta iI Mommsen nel presagire che come il secolo diciannovesimo
er a · stato l'età delle iscrizioni, cOSI iI ventesimo sarebbe l'epoca dei
papiri. Non già che anteriOl1mente non si avesse notiZJia di rinvenimenti
di quel material e scrittorio, usato dagli antichi, poi disperso o abban-
donato e di nuovo risorto alla luce, dopo secoli di seppeUimento, in
favorevoli condizioni di clima e di ambiente: a presoindere daI ritro-
vamento dei rotoli di EI'colano, verso la metà deI '700, un unicum per iI
luogo e per lo stato di conservazione, fu dapprima la descrizione dei
mirabilia di Egitto da parte di studiosi delle piu varie discipline aI
seguito della campagna napole onica a risvegliare l'interesse per quella
138 G. PASCUCCI

regione di ant-ÍCa civiltà, poi la smania collezionatrice di reperti archeo-


logici (tra cui anche i papiri) a favorirne la raccolta presso corti,
biblioteche, musei. Dapprima acquistati dagli abitanti del luogo, quali
sottoprodotto di ricerche degli oggetti piu preziosi, a volte casualmente
recuperati nei cartonnages degli involucri delle mummie (come il papiro
rinvenuto nel 1850 da Auguste Mariette , contenente buona parte di un
partenio di Alcmane), dopo il 1870 divennero oggetto di specifiche
campagne di scavi, organizzate da vari stati europei, con particolare
fervore e continuità dagli Inglesi. Accanto alla restituzione di gran
numero di documenti, piu o meno integri, relativi alla situazione eco no-
mica e politica dell'Egitto sotto la dominazione tolemaica e romana
(che ha rischiarato le nostre conoscen:ce su quella regione), quest'alacre
attività ci ha fatto recuperare, piu spesso in frammenti, o parti di opere
greche già note o testi del tutto nuovi, come Iperide, Eronda, Bacchilide,
l'Aristote della Costituzione degli Ateniesi, o frammentarie porzioni
delIa produzione di Callimaco, di Menandro, dei lirici greci.
A questa rigogliosa e profondamente innovatrice stagione degli studi
antichistioi in Germania, rispose nel resto d'Europa un'attività piu
modesta, prevalentemente ispirata ai canoni della cultura settecentesca.
Piu di tutte le altre nazioni rimase emarginata l'Italia, almeno sino ai
tempi della sua unifica:cione: vi era trascurato il greoo, considerato
piuttosto língua orientale; il latino, ridotto a sterile esercizio di bello
scrivere; la filologia, scambiata con quelI'indirizzo di studi che si suol
cMamare antiquaria. E i pochi cultori delle discipline classiche si
sentirono dolorosamente isolati: cosIl'abate Amadeo Peyron (1785-1870),
editore di papiri documentari nonché di frammenti di Empedocle e di
Parmenide e dei frammenti torinesi dei palinsesti ciceroniani, lavori
pubblicati in Germania; cOSI il poeta Giacomo Leoparoi (1798-1837),
i cui studi filologici, pur di livelIo europeo, rimasero in gran parte
allo stato di frammenti o di abbozzi, certo anohe per la diffiooltà di
trovare in ltalia consenso o discussione. Piu fortunato fu il prefetto
delI'Ambrosiana e poi della Vaticana Angelo Mai (1782-1854), scopritore
deI Plauto e deI Frontone ambrosiani e del De republica vaticano,
anche se in veste di editore presto il fianco alIe ruvide censure deI
Niebuhr e di Leopardi, e in veste di studioso si rese colpevole di essersi
appropriato, senza renderne conto, di proposte di emendamento alui
suggerite. Dapo iI 1870 anche gli studi antichistici tentarono di sprovin-
cializzarsi, agganciandosi aI modelIo tooesco e per quanto iI periodo
di rifondazione durasse pressoché un cinquantennio, già se ne riscon-
IL CONTRIBUTO DEL SECOLO XIX AL PROGRESSO DEGLI STUDI CLASSICI 139

trano i primi effetti quando apparvero filologi di elevata statura scien-


fica come Enea Piccolomini (1850-1903) e Girolamo Vitelli (1849-1935),
tutti e due formatisi in Germania, alIa scuola l'uno di Mommsen, l'altro
di Ritschl: il primo, di piu forti interessi metodologici e minore felieità
e originalità nel congetturare e nelI'interpretare; ii secondo, di indirizzo
essenzialmente hermanniano, praticà la congettura come arte assai piu
che come scienza, dando iI meglio di sé alIa papirologia dO'Ve rifulsc.
A parte, vero autodidatta va considerato il piu anziano Domenico
Comparetti (1835-1927) editore di testi e di iscrizioni, autore deI famoso
Virgílio nei Medioevo, studioso di filologia classica, medieVlale, romanza
e finnica: in complesso la figura piu prodigiosa che I'Qttocento italiano
abbia espresso .
ln Francia primeggiarono gli studi archeologici epigraf.ici, topo-
grafiei e geografici rivolúi alia Grecia e alI'oriente ellenizzato: ne fu
centro la Scua.la di Atene fondata nel 1846 sul modelIo delI'Acca-
demia Romana di Francia, istituita quasi due secoli avanti daI Colbert.
Nel settore piu speeificamente filologico la metodologia scientifica
tedesca tardà a far sentire il suo influsso: pertanto si moltiplicarono
a ritmo veloce le edizioni dei classici non attingendo che raramente
livelIi oritici atti a garantirne la durata. COSI fu per quelIe di Jean
François Boissol1ade (1774-1857), professore di greco alIa Sorbona, che
pubblicà una silloge di 24 volumi di poeti greei e l'editio princeps di
Babrio da un codice deI Monte Athos. Ma nonostante l'incerta attendi-
bilità testuale, la grande opera di Paul Émile Littré (1801-1881) , l'edizione
con traduzione francese delI'intero Corpus Hippocraticum in 10 volI.
sfida ancora il tempo, in mancanza di altra integrale piu moderna.
MoltepLice attività svolse Émile Egger (1813-1885), sia come editO'I"e di
testi sia come studioso di lingua e letteratura greca. Ma il filologo
piu insigne delI'Qttocento fu Henri WeiI (1818-1909), tedesco di naseita
e di formazione, che nelI'insegnamento alia Sorbona introdusse i piu
raffinati metodi delIa critica testuale: le sue edizioni di Eschilo e di
sette drammi di Euripide permisero alIa Francia di entrare in concor-
renza con l'Europa scientificamente piu progredita. Due storiei antichi
di fama internanionale furono Fustel de Coulanges (1830-1889) e Gaston
Boissier (1823-1908) le cui opere principali, La città antica e Cicerone
e i suai amici, pur reggendo alI'usura deI tempo, non si leggono senza
una vaga impressione di libri destinati alI'alta divulgazione.
ln Olanda e da ricordare ii nome di Cobet, fiIologo di poca fede neUa
critica testuale 'ope codicum' e pertanto portato a congetturare e atetiz-
zare senza scrupolo; ebbe fama di esperto conoscitore di tutte e due Ie
140 G. PASCUCCI

lingue classiche, che scriveva e parlava correttamente, senza indulgere


ad eccessivi neologils mi. E di ascendenza quasi ciceroniana la conce-
zione deI mondo classico e deI fine deI suo apprendimento che si legge
in queste parole (daI Protrepticus ad studia humanitatis, p. 6, 1854):
«excolere animum et mentem doctrina, rerum utiliUflIl observatione et
cognitione ingenii dotes omnes acuere, intelligendi facultatem in dies
augere, vetera et cognita emendare et amplificare, nova excogitando
reperire, inquirere in rerum causas, perscrutari rerum originem et pro-
gressum, ex veteribus praesentia explicare, obscura et intricata expedire,
ubique vera a falsis discernere, prava et vitiosa corrigere, futilia et
absurda confutare, labefactar e, tolIere et, ut uno verbo absolvam, verum
videre, hoc demum est humano ingenio ac ratione dignum, hoc pabulum
est animi, hoc demUflIl est vivere. »
I filologi inglesi deI primo Ottocento, pur inferiori aI Bentley per
genialità e vastità di orizzonti, si attenero tuttavia aI suo metodo neHa
cJ1itica testuale e furono soprattutto congetturatori di squisita cono-
scenza delI'uso linguistico e metrico, specie per cio che riguarda le parti
recitativ,e delIa tragediae commedia greche. Ma ebbero anche l'esigenza
di rifarsi ai codiei: Peter Elmsley (1773-1825) pubblico edizioni eccelIenti
di tragedie come l'Edipo a Colono, per il cui testo eolIaziono il oodice
Laurenziano, riconoscendone chiaramente la superiorità; neHa Vaticana
vide e giudico per lo piu rettamente i codici euripidei. Alui risale
anche l'ipotesi delIa derivazione di tutta la tradizione di Eschilo da un
capostipite medievale, l'archetipo, unico esemplare scampato aI naufra-
gio delIa civiltà, che e concetto, come sappiamo, non nuovo ma sul
punto di esser ripreso da Madvig e da Lachmann. Accanto a lui vanno
citati Thomas Gaisford (1799-1855), editore di metridsrti e les,s icografi,
e di Peter Dobree (1782-1825), specialista di oratoria attica. Ebbe fama
anche · Richard Jebb (1841-1905), che scrisse mirabilmente versi greci
e latini, una dote che ebbe in comune con Walter Headlam, il commen-
tatore di Eranda (1866-1908): nel 1887 celebrando si per la prima volta
in Italia l'anniversario delIa fondazione delI'Univ,e rsità di Bologna, il
Jebb inv,i o un'ode pindarica in greco come segno di personale adesione
(ma quest'anno, a un seeolo e~atto di distanza, durante i festeggiamenti
dei IX oentenario, nessuna simile voce e rieccheggiata fra i partecipanti
a quelIa kermesse); pubblico la edizione di Sofocle con traduzione
inglese e commento, nonché quella di BaochiHde. Invece gli studiosi
della generazione piu giovane si volsero prevalentemente aI latino: con
opere di critica le tteraria William Young SelIar (1825-1890), con edizioni
IL CONTRIBUTO DEL SECOLO X IX AL PROGRESSO DEGLI STUDI CLASSICI 141

e commenti di testi Robinson Ellis (1834-1913), COrl studi lessicografrici


Henry Nettleship (1839-1893).
Per concludere, mi piace riportare iI consuntivo, fornito dallo Jebb
alIo scadere deI secolo, sulIo stato degli studi classici nel suo paese
(in Humanism in Education, p. 34, 1899) l'itenendo che in larga misura
possa corrispondere alIa srtuazione di essi in buona parte delIo Occidente
europeo : «Durante questo secolo, gli studi umanistici hanno guadagnato
in genuinità: sono stati gradualmente sottratti alI'isolamento della scuola
e sempre piu inseriti nel generale circuito degli intel'essi intelIe ttuali e
letterari. Lungi daI perdere vigol'e ed efficacia per aver oessato di
mantenere quelIa piu esdusiva posizione, che essi occupavano due o tre
generazioni prima, hanno acquistato nuova forza, una piu larga sfera
di genuina attività e un posto piu stabile nella educazione superiore,
perché il loro aocoglirrnento, sul quale questa si fonda, e divenuto piu
intelligente». Un'estensione dunque in superficie non a scapito delIa
penetrazione in profondità.
(Página deixada propositadamente em branco)
POUR UNE NOUVELLE HISTOIRE DE ROME,
POUR UNE NOUVELLE HISTOIRE
DE LA LITTÉRATURE LATlNE

EUGEN CIZEK
Université de Bucarest

L'étude sClentifique, selorn les méthodes d'une recherche plus exacte,


de l'histoire romaine, ainsi que d'ailleurs de l'histoire de la littérature
latine, ne débuta qu'au XIXe siecle. C'est l'époque des grandes syntheses
comportant un grand nombre de tomes, autant que des essais d'une
portée plus modeste, mais d'uneenvergure scientifique tres solide.
Pour ce qui est des syntheses sur l'histoire de Rome, le sommet a été
atteint dans les grandes et épaisses syntheses de Theodor Mommsen,
le seul spécialiste de l'antiquité, dont, à notre connaissance, l'oeuvre
ait jamais été couronnée par un prix Nobel. Ces syntheses ont été
traduites en français et en d'autres langues, y compris en roumain.
En effet, en Roumanie, Joachim Nicolaus est en train de traduire, dans
les publications de «Editura Stiinçifidí. ~i Enciclopedicã», Bucarest, la
Romische Geschichte de Mommsen, 4e edition, Berlin, 1865. Les deux
premiers tomes ont déjà été publiés, en 1987 et en 1988. Les livres de
Mommsen, de même que d'autres sortis en Allemagne, en France, en
Italie et en Angleterre sont devenus olassiques. Cependant notre époque
connait divers matériaux nouveaux, dus aux découvertes archéologiques
et épigraphiques, que les syntheses du XIxe et même de la premiere
moitié de notre siecle ignoraient. A cela s'ajoutent de nouvelles inter-
prétations de textes, de nouvelles grilles de lecture, que les savants de
nos temps ont proposées. Car, quoiqu'on dise et quoiqu'on fasse, les
textes littéraires demeúrent les principales sources pour l'historien, qui
souhaite étudier et comprendre l'histoire de Rome. Notamment quant
à la reconstitution des réalités historiques concernant la phase la plus
144 EUGEN CIZEK

ancienne de l'histoire romaine, la royauté, les débuts de la République,


nous disposons d'une documentation que nos devanciers n'avaient pas
les moyens de connaitre. Toujours est-il que certains ouvrages plus
récents tirent largement profit des découvertes réalisées pendant les
dernieres décennies. Nous songeons par exemple aux études en général
excellentes, qui sont parues dans les recueils de la fameuse Aufstieg
und Niedergang der romischen Welt. Néanmoins, les syntheses rédigées
au XIxe siecle, aussi bien que, hélas, pendant notre siecle mettent
d 'ordinaire en oeuvre des méthodes de reeherche tres positivistes, qui
à notre sens sont dépassées.
C'est que de nouvelles syntheses s'averent nécessaires. A la vérité,
à quoi songeons-nous? A des livres exploitant la nouvelle doeumenta-
tion, aim.si qu'un éc1airage inédit des faits historiques. A de nouvelles
grilles de lecture, à des ouvrages adéquats à la mentalité, à l'univers
spirituel de l'homme de la fin du xxe et des commencements du XXIe
siecle.
II eonvient de mettre abondamment à profit les aequis de l'histoire
économique, de l'histowe sociale, de l'histoire des mentalités surtout.
Et pourquoi pas de la psyehanalyse? II va sans dire que toute nouvelle
histoire générale de Rome doit reeeler de solides connaissaIlces quant
à l'économie romaine, quant à la vie sociale et politique, à la société
réelle. Mais tout spécialement s'impose une étude fouillée des menta-
lités romaines. A notre sens, force est à tout chercheur des réalités
romaines de mettre en vedette non seulement comment nous les hommes
de la fin du xxe siecle, nous imaginons Rome, mais aussi, sinon surtout,
eomment les Romains se représentaient eux-unêmes, eomment ils perce-
vaient et jugeaient les événements, les faits historiques, leur vie conerete.
Nous n'envisageons pas que la grande vie, politique par exemple, ma,i s
également la vie quotidienne cel1e des petites gens, les aspeets préten-
dument mineurs de l'existence des Romailfis. Les soueis e:t les goúts de
ehaque jour, les divertissements, Ú!S jeux, les proces qui se déroulaient
au Forum, les réactions permanentes à l'environnement ordinaire.
Certes, la tâehe, la besogne d'un auteur d'une histoire générale romaine
- et même de tout ouvrage portant sur l'Italie ancienne - serait plus
aisée si on possédait un corpus de textes littéraires, ainsi que d'autres
témoignages - inseriptions, monnaies, etc. - relatifs aux mentalités
romaines. Mettre en branle un semblable corpus, voiei une des tâehes
les plus importantes et les plus ardues des futurs philologues et des
futurs historiens de Rome.
POUR UNE NOUVELLE HISTOIRE DE ROME 145

Pourtant qu'est-ce que les mentalités? ARome et ailleurs, la men-


talité se manifeste comme une donnée commune à un groupe, qui peut
être formé par de nombreux individus. Alex Mucchielli soutenait récem-
ment que la mentalité suppose un systeme de références implicites d'un
groupe social, une culture interiorisée, un état d'esprit, une certaine
perception du monde, bref des comportements, autant que des opini.ons
typiques, une position existentielle fondamentale. En effet, Alex
Mucchielli avait tendance à fournir p1usieurs définitions des mentalités 1.
Nous ajouterions, à la suite de l'historien roumain des mentalités et
de la culture Alexandru Dutu, que la et les mentalités impliqu(ent) tout
d'abord un ensemble de représentati.ons communes à Uill groupement
social 2 • Hormis cela, iI est oertain qu'une mentalité assure la cohésion
du groupe social, qu~ l'avait assumée.
ARome, les mentalités OI11t évolué plus lentement, se sont mani-
festées comme fout persistantes, ont supposé ce que Fernand Braudel
appelait la longue durée 3. Les mentalités romaines .ont changé en fonc-
tion des mutations subies par les structures politiques, de même que
des traumatismes culturels, mais à un rythme plus lento Tandis que
certains éléments de l'univers mental collectif des Romains se sont
maintenus durant tout le cheminement de la R.ome antique. Ou à peu
preso A quoi songeons-nous? Sans nul doute, notamment à l'outillage
mental des Romains, lequel a été tres stable. C'est que cet outillage
mental constituait l'ensemble des modalités de pensée et des cadres
logiques, des éléments clefs de la vision du monde, qu'exprimaient le
vocabulaire, la grammaire du latin, tout particulierement les conrceptions
cardinales sur le temps, l'espace, la nature, la société, lia divinité, de
même que les mythes et les clichés de pensée 4. II se trouve que les

1. Voir à ce propos Alex Mucchielli, Les mentalités, Paris 1985, pp. 5-7, 17-22,
93 , 102, 116.
2. Alexandru Dutu, Literatura compara ta # istoria mentalitatilor, Bucarest
1982, pp. 19, 55, 89, 97-98, 109, 114, etc.
3. Sur la «longue durée», voir Fernand Braudel, Ecrits sur l'histoire, Paris 1969,
pp. 11-61, 112-115, 137-139, etc.
4. Sur l'outillage mental en général, voir Robert Mandrou, La France aux
XVII' et XVIII' siecles, Paris 1967, pp. 289-290; Jacques Le Goff, Les mentalités:
une histoire ambigue, Paris 1974, pp. 82-90; Alexandru Dutu, op. cit., pp. 19, 55, 97,
109-114. Signalons qu'on appelle aussi les composantes de cet outillage mental
«objets nodaux» ou catégories d'objets essentiels de référence et de positionnement:
à ce propos Alex Mucchielli, op. cit., pp. 17, 25-28, 114.

10
146 EUGEN CIZEK

Romains se sont toujours représenté l'espace et le temps en vertu des


intérêts de Rome. Par conséquent, comme courts et brefs, facilement
parcourus, lorsque ces intérêts étaient bien servis, tandis qu'ils les
imaginaient comme longs, subissant des distorsions, quand l'Empire
était 'a ccablé par les échecs ou par des difficu1tés majeures. Une bonne
partie de cet outillage mental comprenait des éléments qui transgres-
saient 1es zones de la conscience et de la prise de conscience. Car ces
élémenrts, relevant d'une couche profonde du psychique des Romains,
agissaient sur la vie mentale, ainsi que sur le comportement des hommes,
à partir de ce que 1e grand historien roumain Vasile Pârvan qualifiait
j-adis de «subconscient col1ectif» 3. Certaines représentations des Romains
évoluerent pourtant sensiblement. Nous envisageons par e~emple l'image
que les Romains se forgeaient de l'«autre», d'all'trui, de l'étranger. Elle
évolua de la représentation schématique d'un Barbare prirruitif ou,
par contre, tJ10p raffiné, tel l'Oriental soumis à la dissolution morale,
vers une aUltre plus complexe, ou se manifestait le gout exotique des
contrées 'IDoonnUles, le mythe du bon sauvage en somme 6. Tandis qu'à
la fin de l'a.J1Jtiquité on adopta tres souvent l'idée d'un dialogue per-
manent avec l'«autre», avec le Barbare.
Qui plus est, les représentations du monde, de la Cité, d'autres
peuples, aussi bien que des détails de la vie quotidienne, des plaisirs
de Rome et des ennuis, que subissaient ses citoyens, déboucherent sur
les moyens de sai'sir le monde et de le juger, somme toute sur les
valeurs. Alex Mucchielli montre que le jugement de valeur constitue
le fondement des doctrines, des mentalités et des idéologies, des images
collectives stéréotypées. Ce qui fait la fonction essentielle des valeurs,
c'est leur capacité d'agir comme des regles et des lois ou s'impose la
source de la conduirt:e idéale, qu'assume la collectivité 7. Tout change-
ment de mentalités suppose une nouvelle organisation des valeurs .

5. A ce sujet, voir Vasile Pârvan, Scrieri, texte établi par Alexandru Zub,
Bucarest 1981, pp. 365, 383-385, 411.
6. En effet, vers la fin du I" siecle de notre ere, surgit à Rome le mythe
du bon sauvage. A ce propos, voir Eugen Cizek, L'époque de Trajan. Circonstances
politiques et problemes idéologiques, Bucarest-Paris 1983, pp. 122-123.
7. Sur les valeurs en général, voir A. Mucchielli, op. cit., pp. 9-22, 35-37, 74, 81-89.
Pour ce qui est des rapports entre les mentalités et l'idéologie, voir Femand Dumont,
Les idéologies, Paris 1974, pp. 7-11; Jean Baechler, Qu'est-ce que l'idéologie, Paris
1976, pp. 11-27.
POUR UNE NOUVELLE HISTOIRE DE ROME 147

Les futurs historiens de Rome devraient en principe se pencher


notamment sur les mentalités, mais également sur les valeurs et les
idées. Ces dernieres répondent aux exigences de la vie sociale et poli-
tique précisément sous l'incidence de ces facteurs intermédiaires, que
sont les mentalités et les valeurs. Intermédiaires, mais témoignant
d'une grande importance. Alors que les idées et les doctrines font état
d'un aspect tres structuré, c'est l'apparence d'une nébuleuse qui caracte-
rise les mentalités. II n'empêche qu'à défaut ele cette nébuleuse, sans
parvenir à comprendre les mentalités, on ne saurait saisir l'essentiel
de l'histoire romaine. Ce qui fait que faute d'étudier, d'utiliser les
mentalités, on serait condamné à cette vision extérieUIre et extrinseque
des réalités historiques, vision pratiquée par les historiens positivistes.
Au contraire, si on se donne la peine d'étudier les menta11tés, on aboutit
à la vision intérieure et intrinseque des phénomenes historiques,
laquelle, à notre avis, sera indispensable à toute nouvelle histoire de
Rome, générale ou partielle.
Ce qui ne voudrait nullement dire qu'on doive négliger les événe-
ments, comme on le songe parfois. Sans tout ramener au récit eles
événements - nous l'avons déjà mis en relief - il convient d'explorer,
de présenter et d'analyser les événements embJématiques. Pour ce qui
est de la vie sociale, autant que pour ce qui est des réactions mentales.
En outre, nous nous sommes :mpportés ci-dessus à la psychanalyse.
Puisqu'elle pourrait nous aider à mieux comprendre certaines person-
nalités historiques de premier ordre. Sans aucun doute, oe ne sont point
les personnalités, qui ont fOI1gé l'histoiJ:1e de Rome, mais les structures
historiques supposant toujours un aspect oollectif 8. Néanmoins, certai-
nes personnalités romaines ont réagi elles aussi en tant qu'embléma-
tiques par rapport aux forces vitales ele l'histoire de Rome. II ne faut
donc pas négliger la dimension personnelle de l'histoire romaine.
C'est ainsi que nousenvisageons une nouvelle histoire de Rome.
Laquelle pourrait tiDer parti de ce qui est essentiel dans les méthodes
traditionnelles, mais en mettant en oeuvre les acquis des investigations
plus récentes, qu'on pratique dans les sciences de l'homme. La sémio-
tique historique, la psychanalyse, peut-être même un certain structu-

8. Quant aux structures historiques et à leur rôle, voir Eugen Cizek, Despre
diacronie, sincronie si dialectica schimbiírii, in Rev. de Filozofie 27, 1980, pp. 423-427.
148 EUGEN CIZEK

ralisme centré sur la diachronie, tout particulierement pourtant l'his-


toire des mentalités. De cette maniere on pourrait aboutir à cet éclairage
nouveau, plus frais, pour le caractériser ainsi que nous avons préconisé
plus haut. Cela vaut, répétons-Ie, aussi bien pour 1'histoire générale
du phénomene romain, que pour la seule exploration de quelques com-
partiments de 1'évolution de la Cité éternelle.

*
* *

Plus utile encore nous semble une nouvelle histoire de la litté-


rature latine. L'étude soientifique des oeuvres littéraires romaines fut
amoroée toujours au XIXc siecle. Nous songeons tout spécialement à
certains ouvrages monumentaux, tel celui de W. S. Teufrel, Geschichte
der romischen Literatur, Leipzig, 1870, qu'on a jadis traduit en fratnçais.
Cependant, à partir de 1890, Martin Schanz s'est mis à publier son
grand ouvrage en quatre parties, son exceptionnelle oeuvre Geschichte
der romischen Literatur bis zum Gesetzbungswerk des Kaisers Justinian.
Cette tres vaste histoire littéraj;re fut plus tard reprise par Carl HOSlUS.
II s'agit en somme de la pIus ample, de la plus détaiJlée histoire de la
littératuve latine, qui ait jamais été publiée. Les informations, les
renseignements foumis par Schanz-Hosius s'averent toujours hors pair.
Personne [l'a jamais su leur faire une véritable ooncurrence. Cependant
ce fameux Schanz-Hosius n'insiste guere sur les problemes de la valeur
des oeuvres littéraires et opere avec une méthodologie positiviste, à
decevoir le plus indulgent des partisam.s d'une investigation plus
moderne. En outre, iI est certain que maintes anal)'lses des écrivains
sont manifestement perimées. Nous songeons par exemple à celle de
l' oeuvre de Suétone.
II convient de faire ici mention d'une petite, mais adrnirable
histoire de la littérature latine. Nous nous référons sans doute à celle
rédigée par René Pichon et publiée maintes fois à Paris, à partir de 1897.
La conception de ce livre, centré sur la valeur des oeuvres littéraires,
est tout à fait différente de celle qu'assument Martin Schanz et Carl
Hosius. 11 va de soi qu'iI y a, chez Pichon, des analyses surannées ;
iI en est de même de la bibliographie, qui est désuete. Pourtant quel
livre magnifique! L'histoire littéraire de Pichon est, à 'n otre avis, le
meilleur qu'on ait écrit jusqu'à présent. 11 bri1le par ses analyses d'une
rare finesse, par ses remarques subtiIes, dont la partée dépasse de loin
la dette que 1'auteur avait contracté vis-à-vis d'Hippolyte Taine. Aucun
POUR UNE NOUVELLE HISTOIRE DE ROME 149

autre historien de la littérature latine, n'a su retrouver plus tard le


style élégant, d'une beauté extraordinaire, qu'a utilisé René Pichon.
Pendant notre siecle se sont agglomérées de nombreuses histoires
de la littérature latine. Surtout en Itatie. Quelqu'un plaisantait naguere
en dis'a nt que ohaque université italienne s'efforce d'avoir sa propre
histoire de la littérature latine. Ce qui ne voudrait absolument pas dire
que ces ouvrages, pour la plupart, ne soient pas remarquables. Nous
songeons en particulier à l'élégant livre d'Augusto Rostagni, mis à jour
en 1964 par Italo Lana, ainsi qu'à celui tres dense d'Ettore Paratore.
On ne saurait ignorer eu outre les études fort savantes encore en train
de paraítre dans la série littéraire d'Aufstieg und Niedergang der
romischen Welt, sous la direction de Wolfgang Haase. Nous nous
permettons aussi de signaler la grande histoire de la littérature latine,
eu quatre volumes et cinq tomes - car le second volume comporte
deux parties - publié en roumain par une équipe d'enseignants et de
chercheurs de l'Université de Bucarest, entre 1964 et 1986. Ce qui donne
un total dépassant larg,e ment deux mille pages .
II nous semble pourtant qu'une nouvelle histoire de la littérature
latine pourrait être utile, sinon nécessaire. Nous envisageons un livre,
sorti dans un volume ou deux, qui ne saurait alIeI' outre douze ou treize
cents pages. C'est-à-dire un livre utile aux spécialis,t es autant qu'à des
lecteurs moins avertis. II devrait, à notre sens, proposer, quant à
nombre d'oeuvres littéraires, plusieurs griHes de lecture, allant d'une
structure de surface jusqu'aux significations les plus profondes, jusqu'
aux dimensions allégoriques, jusqu'à la parabole, jusqu'à certaines allu-
sions cachées. Vn semblable livre serait à même de présenter sa matiere
par étapes historiques, sans ignorer l'évolution des genres, comme
nous allons bientôt le montrer. II serait susceptible de valoriser, à part
les méthodes traditionnelles, les acquis du structuralisme classique,
de la sémiotique et notamment de la théorie du discours. Il s'agit de
concevoir le texte littéraire en tant que texte et surtout comme un
ensemble de signes, fussent-ils contextueIs ou purement esthétiques.
D'autre part, cette nouvelle histoire de la littérature latme pourrait
tenir compte de l'architecture intérieure du discours, que comporte
un texte littémhl-e, et également de ses rapports avec d'autres pratiques
discuJ1sives ou non-discursives. Force lui serait d'envisager le discours
de l'écrivain en fonotion d'une pratique sociale particuliere, que condi-
tionne l'eX!i,stence de certaines conventions, imposées par une commu-
nauté sociale. II ,s'agit autant des conventions linguistiques, que des
conventions relevant du comportement discursif, de la compétence
150 EUGEN CIZEK

discursive. Etant donné que le diseours littéraire se propose de déclen-


cher certains changements dans la conduite de son public 9.
En tout premier lieu, une nouvelle histoire de la littérature latinc
devrait, à notre avis, impliquer, elle aussi, les mentalités, ou autrement
dit le diseours mental des écrivains. Aussi les méthodes de l'histoire
des mentalités pourraient-elles rejoindre celles de la théorie du discours.
C'est ainsi qu'on se proposera de faire montre comment les Romains
se représentaient leur art liutéraire, comment Hs s'imaginaient les
écrivains et leur publico Ce qui suppose de faire revivre les climats
mentaux, ou on créait les oeuvres, de mettre en vedette les rapports
entre les auteurs et leur public, à savoir entre l'émetteur, le message
et 1e récepteur. On serait obligé, selon nous, à tenir compte de l'horizon
d'attente, des gouts d 'un publie conçu comme partie prenante de l'oeuvre
littéraire elle..même. Ainsi que des mpports entre la littérature et d'autres
formes d'art, d'autres manifestations de l'esprit. Oui, d'acoI'd, mais
qu'est-oe qu'il en est des mpports entre ces oeUVI'es littéraires, entre
les auteurs? II va sans dire qu'on ne saurait 1es négliger. Toujours est-il
qu'on est tenu d'abandonner l'ancienne notion d'influence littéraire.
Btant donné qu'elle suppose l'absence d'une authentique réaction de
l'oeuvre qui est, pour ainsi dire, influencée. On ne subissait pas une
influence, romaine et plus aneienne, ou bien greeque, comme on subis-
sait une maladie. D'ailleurs rappelons-nous que l'influence a aussi désigné
le nom d'une maladie, d'une grippe terrible, qui sévissait · apres la
premiere guerre mondiale! Nous songeons done que les théoriciens
littéraires ont proposé à juste titre de remplacer le concept d'influence
par oelui d'intertextualité, qui suppose une vraie réaction aussi bien
du texte plus ancien que du texte plus récent.
D'autre part, nous estimons qu'il ne faut guere négliger les bio-
graphies des auteurs qui ont produit ces textes. Certes, il ne convient
pas d'y trop insister, mais il est nécessaire de reconstituer les vies des
écrivains et d'appliquer assez souvent les méthodes de la psychanalyse.
A savoir, de oonstater comment se sont formés les écrivains, comment
leurs frustrations se sont exprimées dans leurs oeuvres, à quel point
leur oonscience a pu contrôler leurs pulsions. Sans conteste, les histo-

9. Voir Teodora Cristea, Linguistica discursului ~i didactica limbilor straine,


in Limbile Moderne ln ~coala , 1983, pp. 11-19; Anca Magureanu, Discursul literar
ca practica discursiva institutionalizat, ibid., pp. 23-31.
POUR UNE NOUVELLE HISTOIRE DE ROME 151

riens de la littéraure latine ne devraient guere raconter longuement


les sujets des oeuvres, s'en tenir à la surface du phénomene artistique.
Nous avons déjà montré en passant combien nous semble important
le probl€:ine des genres littéraires. II y a quelques années, René Martin
et Jacques Gaillard ont publié à Paris un livre intitulé Les genres litté-
raires à Rome. Ce livre en deux tomes abonde en remarques d'une
admirable subtilité. II n'empêche que nous ne saurions adhérer à UiIle
conception qui mmene la littérature latine seulement à quatre genres
littéraires - narratif, démonstratif, dramatique et affectif - ainsi qu'à
d'autres productions flottant au-delà de leurs fronW~res 10. II n'en est
pas moins vrai que le français ne dispose pas d'un mot afin d',i ndiquer
les divisions des genres littéraires, les sous-genres. Alors que le roumain
emploie, dans ce cas, le mot «specie», espece. René Martin et Jacques
Gaillard essaient de tourner cette difficulté, en propos ant pour le
sous-genre le vocable «forune» c'est-à-dire fO[TIle d'un genre. Quoi qu'il
en soit, une nouvelle histoire de la littérature latine sera tenue, à notre
avis, de restaurer 1es genres, ainsi que les sous-genres, sinon, lorsqu'une
telle opération s'avérerait utile, même les fédérations de genres.
Toujours est-il que les textes littéraires entretwnnent entre eux
des rapports non seulement dans les cadres fouJ1nis par les genres
littéraires. Les discours, que comportent les textes, font exprimer à
Rome et ailleurs des options esthétiques, des choix stylistiques, qui
ne sont pas particuliers à un seul écrivain. De cette maniere, ont surgi
à Rome de véritables courants littéraires, qui décantaient, qui illus-
traient certaines options esthétiques . Au demeurant, les options esthé-
tiques prenaient souvent fOl'llle dans l~s cénacles littéraires et dans les
cercles politiques et culturels des Romains . Ces circuli se sont déve-
loppés à partir du ue sieole avant notre ere et du cerole des Scipions
jusqu'aux époques impériales, ou ils out connu un essor remarquable.
C'est à leur intérieur qu'on fabriquait des choix politiques, mais égale-
ment les optiques esthétiques. La nouv.elle histoire générale de la
littérature latine devra donc déceler les courants litéraires, en rapport
avec les ceroles poJitiques et culturels.
Néanmoins, iI ue convient nul1ement de ranger automatiquement
toute oeuvre littéraire latine dans un certain courant littéraire, en
l'attachant à une option esthéthique détermirnée. Beaucoup d'oeuvres
littéraires ne dénotent aucune démarche stylistique collective et précise.

10. Voir à ce propos, René Martin· Jacques Gaillard, Les genres littéraires
à Rome, 2 tomes, Paris 1981, I, pp. 7-23.
152 EUGEN CIZEK

Qui plus est, certains genres étaÍlent plus sensibles à l'égard des aptions
et des controverses littéraires, qui en découlaient, tandis que d'autres
demeuraient plus au mains étoongers aux défis stylistiques. Les optians
stylistiques, les débats, qui s'y rattachaient, affectaient eu principal
les genres prétendument nables, tels oeux relevant de l'art orataire,
de la tragédie, de l'épopée, même de la poésie lyrique. Au contraire, la
littérature satirique et parasatirique, comme la satura, l'épigramme
à portée satirique, la fable etc. demeuraient tres souvent en dehors de
ces options. L'historiagraphie, eHe, jauissairt d'une évidente autanamie
stylistique. Ce qui fait que souvent les histariens n'adhéraient à aucun
courant littéraire.
Jadis Augusta Rastagni estimait que les Ramains avaient une dispo-
sitian naturel1e au romantiSlIlle 11. Paurtant, à natre sens, ce sont le
classicisme et l'expressionnisme les camants et les démarches styl.istiques
les plus adéquats aux mentalités, à l'horizon d'attente des Romains. Le
c1assicisme, en raisan de la prapension des Ramains au pragmatisme
et ,a u constructivisme, à leur gaut de l'équilibI1e, des explications ratian-
neUes des faits, à leur logique rigoureuse. L'expressionnisme, du fait
de sa capadté de répandre à d 'autres zones de l'univers mental des
Romains, aussi vivantes que celles dont relevent les traits, que naus
avons mentionnés dans la phrase antérieure. II est question de leur
indination à une expression intense des sentÍments, même à la violence,
füt-ce dans les zones du comique au ailleurs. Au demeurant, le théâtre
populaire et oral des ltaliens antiques était nettement expressianniste .
De sUI1crolt, à notre avis, la lütérature latine débuta saus le signe de
l'expressionnisme, si bien que la praduction littéraire romaine préclas-
sique a été impregnée par des éléments expres·s ionnistes. Une véritable
arienta:tian à un expressionnisme bien net peut être décelée dans la
faule des écrivains archa'iques, orientation qu'avaient illustrée les
plume s de Naevius, Plaute, Catan et Accius . Paur leur part, étant
taujours plus au moins expressionnistes, Térence et Ennius préparaient
en même temps le classicisme.
Lucrece est lui aussi marqué par l'expressiaunisme, taut en frayant
largement la voie aux filans classiques, eu train de se manifester dans

11. A ce sujet, voir Augusto Rostagni, «Poesia ed estetica classica», in Rivista


di Filologia e di Istruzione Classica, N. S., 5, 1927, pp. 1 et suiv. (notammen't pp. 7-12,
21-22) et «Genio greco e genio romano», ibid., 7, 1929, pp. 305 et suiv. (notamment
pp. 322-329) .
POUR UNE NOUVELLE HISTOIRE DE ROME 153

la littérature latine. En réalité, la belle et étrange poésie de Lucrece


se trouvait à la charniere de l'expressionnisme et d'un classicisme à
peine naissant. Ce sont les efforts de César et de Cicél1on, qui ont mené
à la constitution d'un classicisme bien solide de la prose latine, tandis
que Virgile et Horace ont mis en ceuvre une poésie classique. Horace
a d'ailleurs muni le classicisme latin d'une théorie esthétique fort
cohérenrte. Auparravant, certains poetes du ler siede avant notre ere,
qui se voulaient les adeptes romains de Callimaque et qui étaient
appelés par Cicéron poetae no ui 12, avaient fait essaimé le néotérisme
ou bien te «oallimaquisme» romain. n était eu fait question d'un
courant littéraire tres cohérent, engendré par uu oerde culturel bien
homogene. On y pratiquait une poési,e concentrée, raffinée, à dessein
simple, mais qui faisaiIÍ valoir, à la di.fférence de ses modeles grecs,
une profonde tendance au subjectivisme. Héritant de 1'expressionnisme,
par exemple Catulle véhiculait la sincérité ardente, même la violence
des sentiments et, de ce fait, du vocabulaire 13. En outre, les nootéri-
ques se rattachaient à l'att-icisme sobre des orateurs qui privilégiaient
le discours austere, coneis et simple, en s'opposant à la fois au dassi-
cismeet l'asianisnne fleuri, pathétique et tres coloré d'une certaine
éloquence du ler siecle avant notre ere. Au demeurant, 1'attkisme, le
néotérisme et l'asianisme se maintinrent longtemps, y compris sous
1'Empire. II en alla de même de l' expressionnisme.
A son tour, le classicisme, souvent conçu cornrrne un atticisme
élargi, faisait privilégier un art lucide, reposant sur l'équilibre de
1'expression, sur la convenance, Sll'r des criteres rationnels, à utiliser
lors de la construction du discoll'rs litlt'é raire. D'aÍllleurs, les siecles
de 1'Empil1e mettent en vedette un véritable combat entre l,e olassicisme
et les divers courants non-classiques. Au ler siecle de notre erre, surtout
à son milieu, s'épanouit une nouvelle forme d'asianisme, centrée sur un
discours oondensé, mais brillant, pathétique et polychrome, connue
sous le nom de style nouveau. Ce style, illustré principalernent par
Séneque ,e t Lucain, se décanta dans un vél1itable nouveau mouvement
littéraire, d'inspiration plutôt romantique 14 . En même temps, Pétrone

12. Cic., Orator, 48,161; Ad Atticum, 7,2,1. Sur le «callimaquisme» romain,


voir John Patrick Sullivan, Literature and Politics in the Age of Nero, Ithaca-
Londres 1985, pp. 74-78. ~
13. A cet égard, voir Pierre Grimal, Le lyrisme à Rome, Paris 1978, pp. 113-114.
14. Sur le classicisme et le style nouveau, voir Eugen Cizek, L'époque de
Néron et ses controverses idéologiques, Leyde 1972, pp. 264-365.
154 EUGEN CIZEK

pratiquait un expressionnisme ostensibIe, à TIoire aviso Cependant, le


classicisme n'est pas mort paur autant. A vrai dire iI y a eu plusieurs
classicismes sous l'Empire. Parce qu'à la fin du ler siecle de notre ere
émergea un second olassicisme, par rapport au premier, eelui du siecle
d'Auguste, dont il se départait assez sensiblement, en tirant parti de
l'expérience des adeptes du style nouveau. Toutefois, la rivalité entre
le seeond clas's idsme et le style nouveau favorisa l'essor de l'atticisme,
désonnais archalsant, qui s'imposa énergiquement au milieu du II"
siec1e de notre el'e, grâce à Fronton, Aulu-Gelle et à leurs adeptes.
Sa domination fut ephémere, mais les néotériques, revenus à la charge,
firent prévaloir leur autorité en matiere de poésie lyrique, y eompris
au I1l e siecle de notre ere. Ceci étant, le IVe siede met en lumiere un
troisieme dassidsme, dorénavant tres dominant et souvent plus proche
du premier olas,s icisme que ne l'avait été le second classicisme. Mêine
Ies auteurs chréüens hésitaient entre ce classicisme, pourtant assumé
par leur majorité, et l'expressionnisme, bien implanté dans la tradition
populaire, romaine et italienne.
Voiei donc les problemes et, selon nous, les moyens de les sur-
monter, que pourrait affronter une nouvelle histoire globale de la litté-
rature latine. A notre sens, iI convient d'utiliser, nous le répétons, des
méthodes modernes, telles celles fournies surtout par la théorie du
discours et par l'histoire eles mentalités, aussi bien que par les théories
et les pratiques des genres et des styles . Des styles qui souvent ne sont
pas particulierement romains, mais universels. Ces méthodes ne s'averent
pas seulement utiles à une histoire générale de la littérature latine,
mais aussi aux livres qu'on vouda:1ait consacrer à certaines sections de
l'art littéraire des Romains. Car les ouvrages SUl' la poésie latine
d'a. Ribbeck, A. Cartault, M. Pattin, F. Plessis sont déjà anciens. II est
vrai pourtant que nous disposons du beau livre de Pierre Grimal sur
le lyrisme à Rome. En ce qui concerne la prose dem.eurent encore
importantes les syntheses dues à Eduard Norden c'est-à-dire Die antike
Kunstprosa, et surtout à Arrton D. Leeman, Orationis ratio, Amsterdam,
1963. Cependant font encare défaut les amples syntheses sur les grands
genres de la prose. II n'y a aucune synthese solide et ample sur la
philosophie romaine, puisque celle-ci n'est pas un simple prolongement
de la sagesse grecque. Alors qu'une vaste synthese sur l'historiographie
à Rome attend d'être imprimée. Hélas .
Nous n'avons pas le loisir de nous attarder sur nombre de eompli-
cations, que suscite toute synthese quant à la littérature latine. II y
a 1e p robleme posé par les rapports avec la littérature grecque, il y a le
POUR UNE NOUVELLE HISTOIRE DE ROME 155

probleme de l'héritage de la eulture romaine, de l'aeeueil que lui ont


fait le Moyen Âge et les temps modernes. A résoudre, à notre sens,
toujours en fonction de l'intertextualité, si on prend en eonsidération
deux centres aetifs de rayonnement, établissant des rapports bilatéraux
entre eux. Est-ce tout? Sans doute nono Car il y a aussi le probleme de
la valeur. Aucune des méthodes modernes n'a pu expliquer le talent,
n'a pu éclaircir pourquoi une ceuvre littéraire s'avere plus belle qu'un c
autre. Nous estimons que seul le talent de l'historien de la littérature,
seule sa capaoité de discerner la valeu r, la beauté pourraient servir afin
de saisir les acqUJis esthétiques et de présenter aux lecteurs les meilleures
pages des ceuvres littéraires romaines. Vn semblable historien a besoin
de beaueoup de fines se , d'imagination, de capacité de manier même un
verbe magique. Les méthodes modemes sont nécessaires pour mieux
comprendre et pour révéler d'une façon plus exacte le laboratoire
intime de la création artistique, les structures, les moyens conerets
qu'avaient employés les écrivains de Rome, en somme le eomment de
lellr création. Mais le pourquoi? A cet égard, on ne saurait tenir compte
notamment que des impressions subies par l'historien littéraire, qui
doit être également un critique.
II est done indispensable de teinter l'utilisation de la méthodologie
moderne d'un certain impressionnisme. L'un n'empêche pas l'alltre
eomme on dito D'ailleurs est-ee que le talent, à savoIT le talent de
l'exégete, n'est-il pas néeessaire pour toute analyse des ceuvres littéraires
latines, pour aborder tous les aspeets d'une telle analyse et même
pour tout récit sur l'histoire de Rome?
(Página deixada propositadamente em branco)
ROMA Y EL DESTINO DE OCCIDENTE

H. BAUZA
Universidad de Buenos Aires

A Léopold Sédar Senghor

ABSTRACT

Aun cuando lo romano y lo griego proceden de un mismo origen


- el mundo indoeuropeo - , evidencian características diferentes. Frente
aI lógos helénico, el hombre romano evidencia un subjetivi,s mo que se
traduce en el término lex oon que se enfrenta ante La reaLidad. Por la
lex conquista, coloniza, funda y también a través de La lex transfiere
a los restantes pueblos su experi,e ncia de la realidad y deI mundo.
Por otra parte, la caída de su Imperio en el afto 476 no implica,
por cierto, la muerte de lo romano dado que sobrevive transfigurado
en la Romanidad, de la que la 'E umpa occidental y su proyeoción
americana constituyen una herencia viviente.
Su legado, que esen primem instancia UIll legado semántico, entre
otras circunstancias determina y configura el destino de Occidente que
se conc:reta en la idea de humanidad, poéticamente eXlpresada en un
conocido verso de Terencio:
Homo sum: humani nihil a me alienum puto (Heautont., p. 77).

1. CONSIDERACIONES GENERALES

Las naciones de la Europa occidental y su prolongación americana,


en suma, ese complejo tramado de ideas y costumbres que se suele
denominar Occidente, están implantados en la latinidad, circunstancia
158 H. BAUZA

que es previa a ellas y que las determina como un entOTI10 semántico


en el que acontece el déroulement de su historia.
En ese ámbito se diversifican, conviven, luchan por la preen1i-
nencia y pervivencia de sus localismos, pero por sobre todas las cosas,
concurren I. La concurrencia o convergenoia espiritual está dada por
la identidad que confiere una misma raíz semántica, aun cuando cada
nación y cada pueblo ostente una lengua propia.
Empero, las ramas de este árbol convergen en un mismo tronco
quees Roma oomo instancia histórica, o bien el latín como ámbito
semántieo.
De ese modo vemos pues que la latinidad no es la suma de cada
una de estas branches en forma aislada sino, pO'I' el contrario, un aliento
que preexiste a l,a s naciones y a los pueblos y que los determina y confi-
gura en cuanto a la manera de concebir la natura, el mundo y la historia.
Por esa causa, cada vez que consideramos qué aspectos sustan-
ciales competen a la esencia de Occidente , necesaria!l11ente debemos
recurrir a lo greco-latino, en el que Occidente apoya sus raíces.
En esa dimensión, toda vez que buscamos no sólo nuestros oríge-
nes, sino también la causa de nuestros comportamientos y actitudes,
debemos remitirnos a esas fuentes. Así, por ejemplo, aprehendemos la
realidad mediante un lenguaje y un método griegos; incluso nuestra
postura ante la physis - aunque sorprenda -, es también griega. Para-
fraseando conocidas palavras de W. J,a eger, es como si yo constante-
mente descubriera lo que han descubierto los griegos.
Roma y lo latino, por su parte, si bien parten de lo griego, dirigen
su mirada hacia otro horizonte: la ciudad, el mundo y la historia,
pero en un sentido diferente a como lo inteligieron los griegos.

2. LO ROMANO FRENTE A LO GRIEGO

Si bien lo romano y lo griego proceden de un mismo origen


- el mundo indoeuropeo -, evidencian características diferentes. Las
mismas ofrecen distintas cosmovisiones tanto respecto deI hombre como
de la deidad y, en consecuenda, revelan también diferentes aotitudes
ante el mito y ante la historia 2.

1. Idea sugerida por J. Marias, en «Sobre Europa», en voI. colectivo El espí-


ritu europeo, Madrid, Guadarrama, 1957, p. 13.
2. Hemos profundizado este aspecto en «Roma: síntesis entre mito e historia»,
en Escritos de filosofía, Buenos Aires, 1979, n.O 3, pp. 9-23.
ROMA Y E L DESTINO DE OCCIDENTE 159

El griego parte de una armonía objetiva que se impone aI hombre;


de ahí que su postura ante la realidade sea teorética, es decir contem-
p1ativa de un cosmos que se le presenta como un absoluto. Talvez
sea la palabra lógos la que con más claridad exprese esa particular
relación entre el hombre y el mundo 3.
Pam el romano la relación entre el hombre y el mundo es inversa.
No se trata ya de una realidad que se impone aI hombre, sino que es la
palabra deI hombre la que ordena el mundo, no en cuanto a la physis,
por cierto, sino en lo que atafie aI ámbito histórico . No estamos frente
a la citada actitud contemplativa, sino ante una postum práctica que
se sustanciará en la conciencia político-fundacional tipica de los romanos.
De ese modo, tal como sefiala Cicerón en diversos pasajes, el hombre
romano se sintió llamado a ordenar el mundo, los pueblos y la historia
y desde un pasado remoto tuvo también conciencia de la fundación
de un imperium, hecho que se concretará a partir deI programa polí-
tico de Julio César quien - según sugiere J. Carcopino -, apparaU en
realité comme le plus souple et le plus vigoureux des démiurges poli-
tiques, celui qui, pour concilier la culture hellénistique et la discipline
romaine, la domination d'un seul et la vitalité des républiques muni-
cipales, l'annexion totaZe de I'Orient et l' assimilation des sujets du
peuple-roi, sut accomplir la plus grande des révolutions de I'antiquité,
une des plus efficaces de I'histoire \ que se sustanciará en la creación
de un imperio.
El imperium, tal como lo concibieron los latinos, no es sólo una
mera forma de gobierno, sino una magistratura en la que se perfilan
el ius diuinum y el ius humanum y donde el impera to r será taunhién
el Pontifex Maximus.
En el conoddo Somnium Scipionis, inscripto en el VI libra deI
De re publica 5, Cicerón, después de haber descripto qué es el mundo,
qué la tierra y qué el poderío romano, hace decir aI famoso general:
Homines enim sunt hac lege generati, qui tuerentur illum globum,
quem in hoc templo medium uides, quae terra dicitur 6.
Es decir que, según la concepción deI orador, la función deI hombre
ya no es la contemplativa de los griegos, sino la práctica de administrar

3. Cf. Disandro, Sentido POlítICO de los romanos, Buenos Aires, 1970, p . 10 ss.
4. Jules César, Paris, P. U. F., 1968, p. 566.
5. III 15.
6. «Los hombres, en efecto, han sido creados según esta ley, para que admi-
nistraran aquel globo que tú ves en medio de ese templo que se denomina tierra».
160 H. BAUZÁ

esta tierra. De ahí se desprenden el caráoter ético, la actitud pmgmá-


tica y finalmente, la necesidad de conquista pero también de civ-ilización,
típicas deI hombre romano.
El concepto de lex 7 - emanado dei hornbre - evidencia tlilla nota
subjetiva de los latinos, en oposición a la objetividad del lógos helénico.
EI romano a tmvés de la lex oonquista, colonim, funda y también, por
medio de la lex, transfiere a los restantes pueblos su experiencia de
la vida y deI mundo. Da ahí que - como explican Oicerón, Virgilio y
Tito Livio, entre otros autores -, la noción de historia universal, tal
como la concebimos nosotros, arranca de lo romano.
En esa perspectiva, la hi,s toria universal está sentida como la
proyecoión deI ejemplo o paradigma romanos.
Empero, corresponde sefialar que si bien a partir deI influjo de!
estokismo e! hombre romano avivó su deseo de indagar su posición
en el cosmos, por su mentahdad pmgmática desvió esa búsqueda a su
situación en el mundo concreto. En ello se sinHó llamado a construir
la historia y concibió la propia como modelo pam los pueblos que más
tarde habrían de enoontrarse bajo su influencia.
De ese modo observamos en la mentalidad latina una óptica dife-
rente de la helénica en cuanto a la relación entre mito e histOTia. Para
el griego la historia se inscribe en el mito; para el romano, en cambio,
el mito se adecua a la historia.
En la perspectiva helénica estamos ante el mundo de la historia
construido sobre el modelo deI mHo; en la latina, por el contrario,
e! mito se forja a partir de la historia; aquí es el hombre el que OTdena,
varia e inclusive, a veces, hasta crea mitos adecuándolos a su propia
realidad. A:sí, por ejemplo, el mito de Roma es un testimonio elocuente
de esa postum.
Esa es la línea que arranca de Ennio y en la que el mito se presenta
limitado por la historia. VirgiLio, si bien se filia en ella, luego la pleni-
fica pues la somete a una perspeotiva teológica que pretende anular
la contraposición entre mito e historia.
m ejemplo romano se amplía con Tito Livio quien valoriza la tradi-
ción pues la ooncibe fundada incorruptis rerum gestarum monumentis,
por lo que extiende la ejemplaridad deI pasado romano a los hombres
que la gobiernan. Por esa causa su obra es una galería de uiri cuyos

7. Para sus distintos matices semánticos, cf. A. Forcellini, Lexicon totius


latinitatis, Patavii, Typis Seminarii, 1940.
ROMA Y EL DESTINO DE OCCIDENTE 161

exempla deben ser temidos en cuenta para exaltar la areté de la historia,


como esenciales para una formación cívica y como fundantes de una
paideía latina 8.
P. Grimal 9 sostiene que en el culto a la personaHdad, cultivado
ya entre los Escipiones, se percibe una suerte de exaltaoión de la areté
deI político respecto de la cuallos romanos - atentos aI modelo griego-
tienen urna predisposición partkular.
En la medida en que Roma pretemdió hacer de cada pueblo o de cada
ciudad conquistada una nueva Roma, y gradualmente las fue incorpo-
rando a su ámbito confiriéndoles su lengua, sus costumbres, más tarde
la ciudadania e incluso la religión cristiana que Teodosio, aI abrazarla
para sí la había incorporado también para eI Imperio, conformó una
sociedad más vasta que eIla misma y que podemos englobarla bajo
el rótulo de occidental.
Esta es una suerte de crisol en eI que . conviven la inteligibilidad
helénica, las lucubraciones órficas sobre el tema de la inrnortalidad
deI alma, el lenguaje teológico aCUÍÍado por Platón, Demócrito y sus
teorías atomistas, junto a Lucreoio y sus epicurefstas cavilaciones sobre
la natura. Alienta también en eIla el profetismo veterotestamentario,
a la par que la noción de misterio desplegada por los cultos sibilinos y
que constituyen una preparación para el Aduentus. Se suma, por cierto,
el cristianismo y su idea de salvación que haIló buena aoogida, entre
otras circunstancias, gracias a · la à.ntroducciém paulatina de diversos
cultos orientales de marcado oaráoter soteriológico. Está presente uam-
bién el estoicismo cuyo influjo fue también decisivo en la consolidaciÓTI
de la conciencia occidental.
Esta sociedad occidental, en la que alientan las nociones de equi-
lib:rio, proporción y síntesis, tiene como propósito el destpHegue y
acrecentamiento dei genuino humanismo, que nos es más que el logro
de la liberta~ humana, la que responsabiliza aI hombre respecto de cada
una de las acciones que realice y de cada UlIla de las ideas que profese.
El auténtico humanismo ~ que es el legado más sublime l.mnsfe-
rido por Roma a Ocddente - , nos ensefia que la realidad y los actos
quedan siempre em el dominio de lo humano, sim. que pDT ello el hombre

8. Ad hoc, cf. P. J. 'Walsch, Livy. Ris Ristorical Aims and Methods, Cambridge,
1963, esp. cap. IV.
9. Le siecle des Scipions. Rome et l'hellénisme au temps des guerres puniques,
Paris, Aubier, 1975.

11
162 H. BAUZÁ

desprecie el misterio de la fe, el enoanto de los mitos o incluso, las


fantasías de sus ensofiaciones lO.
Roma transfiere como destino a Occidente la toma de conciencia
del sentido trágico de la historia y la responsabilidad que cabe aI
hombre en el despliegue de la historia, no sólo provinciana, sino incluso
de la universal.
El legado romano nos alerta de que la clave de lo humano se funda
en la inteligenda, en la voluntad y, por sobre todas las cosas, en el
amor a la libertad que nace dei respeto y solidaridad pO'r el semejante.
En ese aspecto Roma hizo suyo el mensaje cristiano.
Amén de la hi,s toria, concebida de manera fáctica, Roma nos ha
legado también una filosofía de la historia universal de la que se des-
prende en primer lugar que el pasado constituye una herencia viviente;
en segundo, la conveJ.1gencia de los pueblos hermanos; en terceJ.1O, en
fin, la toma de conciencia de que no estamos aislados, sino que forma-
mos parte de un tramado más vasto que es el ámbito occidental, que nos
condiciona y en el que actuamos y aI que debemos concurrir en aras
de afianzar nuestra propia esencia.

3. ROMA: CAlDA Y TRANSFIGURACION DEL IMPERIO

EI 28 de agosto deI 476 Rómulo Augústulo - último sucesor de


Augusto - entregaba su trono a Odoacro, jefe de tribus germánicas 11.
Empero, es menester sefialar que la caída física de Roma, capital
deI imperio de Occidente, lejos de implicar la muerte o la abolición de
sus principios, por el contral1io, se nos impone como una transfiguració'l1.
EI hecho de que hayan surgido las lenguas romances o neolatinas,
y can ellas una peculiar forma de pensamiento y una determinada
visión de la realidad, y que el cristianismo se haya difundido por el
Viejo y por el Nuevo Mundo, san la evidencia más clara de que ellegado
romano sobrevive como una atmósfera que alienta el espíritu y el
pensamiento deI hombre occidental.
En cuanto a la caída, tradicionalmente se ha sefialado que las
guerras civiles habrían debilitado el impedo aI extremo de que no fue

10. Ad hoc véase F. Flora, «Espíritu europeo, espíritu universal», en Bl espíritu


europeo, ya cit., p. 84.
11. Hemos comentado su caída en «ltinerario de Roma a un milenio y medio
de su caída», en La Prensa, Buenos Aires, 19.12.1976.
ROMA Y EL DESTINO DE OCCIDENTE 163

difícil para las huestes germânicas dominar la capi,t al. Esas guerras
intestinas, agravadas por luchas de clases, implicaron un cambio de
actitud mental que según opina Rostovtzeff 12, fue detemninante de la
caída deI imperio. Respecto de esa caída, el mencionado romanista
ruso refiere que la evolución y el desmembramiento deI mundo antiguo
tienen para nosotros una lección y una advertencia.
Los mooievales expusieron una exégesi,s cristiana según la cual la
caída era una suerte de castigo divino infligido a Roma por haber
perseguido la nueva fe.
Polibio, aI eX!poner su doctrina de la anakykZosis política, aI inscribir
a Roma en e! ciclo de las edades, había sugerido que la ruina deI
imperio era una circunstancia inevitable implícita en el dérouZement
histórico.
Los humanistas de los siglos XV y XVI no hablan de una brusca
caída, sino de una lenta inclina tio imperii ('declinación deI imperio'),
ligada fundamentalmente a causas morales y políticas. Pesa en ellos
la perspectiva de los estoicos - sustentada también por Cicerón-
para quienes el atisbo de la decadencia de Roma se aprecia en el envi-
lecimiento de las costumbres y en lo que denominan ausencia de
grandes hombres.
En 1576, cuando se recordaba otra nueva centuria de la caída de
Roma, Lowenklav, aI hacer una exégesis apologética de la Historia noua
de Zósimo, interpretó que el Cristianismo fue la causa determinante de
la caída deI Imperio. Su tesis 13 fue retomada más tarde po,r Gibbon
en su History of the Decline and FaU of the Roman Empire, aparecida
dos siglos más tarde, es decir en 1776.
Lowenklav, desarrollando una suerte de filosofí,a de la historia
habla de los tempora fataZia mediante los cuales, acol'de con la con-
cepción cíclica y, en consecuencia, fatalista de! mundo antiguo, se
muestra sensible aI drama de la disgregaciÓll y caída de pueblos y
culturas. Ve que Roma no podía, por tanto, escapar de tal cosmovisión
y considera que el Cristianismo, en suataque contra el culto oficial
deI Imperio, socavó radicalmente los pilares religiosos deI orbe romano
y, por tanto, también los políticos.
A la sazón, la sociedad era esclava deI estado y el Cristianismo
ofrecía aI hombre esperanza, creencia y una particular concepción de

12. Roma, Buenos Aires, Eudeba, 1968, p. 248 ss.


13. Comentada por S. Mazzarino, «La fin du monde antique», Paris, Gallimard,
1973, p . 93 ss.
164 H. BAUZA

la caridad entendida como amor aI prójimo; de esa manera su mensaje


soteriológico transformó los viejos esquemas de pensamiento y creen-
das en una diJmensión nueva.
Con el aifanzamiento deI Cr'Ístiarüsmo se debilita naturalm~nte
la digna tio Caesaris, fundada en una categoda rehgiosa y política a .un
mismo tiempo, ava1ada por la promulgación de la lex regia, que fue
uno de los pilares de la postemor deificación imperial.
En tanto que religión y estado estaban estrechamente vinculados
- el paganismo era entonces el culto oficial de Roma - , el debilita-
miento y posterior persecución de tal mligión implicó . por cierto la
decHnación deI 'i mperio. Concurre a ello el hecho de que en el ano 313
se promulgó el edicto de Milán sobI'e la neutralidad religiosa deI Estado;
que anos más taI'de el emperador Teodosio abrazó el Cri.stianismo y
luego - invirtiendo la anterior historia romana - , persiguió a los
paganos. Se reformó entonces el antUguo oalendario basado en festivi-
dades paganas y muchos de sus templos perdieron sentido sacro, otros
fuemn ,a daptados aI oristianismo (inclusive el 25 de diciembre, festi-
vidad deI Solis lnuicti Natalis pasó simbólica y convencionalmente a
partir deI siglo VI a celebrarse como Navidad) 14. Otros templos, . en
cambio, fueron destruidos; asÍ parece que sucedió oon el de Vesta
y con la casa de las Vesta1es y otros monumentos oonmemorativos de la
gesta mmana quedaron sepultados en el olvido; tal el caso deI Ara
Pacis Augustae.
Se adujeron también respecto de la oaída, razones políticas vin-
culadas con el hecho de que a Roma, por haberse extendido tanto,
se le habría dificultado la posibilidad de conser\"ar la hegemonia deI
imperio, a la vez que contener la paulatina invasión de las ·tribus
germánicas.
A la sazón el imperio contaba con un número elevado de provin-
cias que, como unidad, lo habían hecho ingobernable. Es el mentado
motivo de la «inrnoderada grandeza».
Corresponde sefialar que en tanto que la idea de Roma se proyecta
y amplia paPa convertirse en humanitas, se debilita Roma como estado
político. EI rasgo más importante de Roma en esas circunstancias, se
funda en haber ienrido concienoia de esa suerte de entrega en aPas
de 10 universal (la idea de fundar nuevas Romas), aun cuandoello
implicaba su natural debilitamiento.

14. Ad hoc, cf. · F. Cumont, Le religioni orientali nel pagane~imo romano, Bari,
Laterza, 1967, p. 19.
ROMA Y EL DESTINO DE OCCIDENTE 165

Más tarde, por esas razones, fue preoiso dividir el imperio.


A los problemas políticos, a las divergencias lingüísticas, es menes-
ter afiadir - aI margen deI cristianismo - el influjo de cultos orien-
tales - Mitra, Osiris, Isis, Magna Mater, Cibeles y otros - que a medida
que penetrabam en Roma, socabavan su hegemonía. F. Cumont l'j ha estu-
diado eon detenimiento dichos cultos y ese particular sincretismo
operado en Roma.
A esas circunstancias se afiade también como causa determinante
de la caída y transfiguración del imperio una razón de orden lingüístico,
relacionada con la transformación deI latín y el posterior nacirniento
de las lenguas romances, que habrían contribuido a fpagmentar la
unidad originaria deI imperito 16.
Bmpero, es forzoso no considerar un único motivo, sino una plura-
lidad de causas· convergentes que fueron determinando una nueva
cosmovisión de la realidad. De ese modo, el nacimiento de diferentes
lenguas - y con ellas nuevas formas de pensamiento - , la irrupción
de cultos orientales que proponían una nueva forma de piedad y una
diferente manera de establ,e cer la religio hombre·dios, el acelerado
despliegue deI cristianismo, la ruptura deI vínculo Imperio-paganismo,
la atención de Roma ante las diferentes costumbres y cultos de sus
colonias, las disensiones civiles, la presencia de los hunos en el hori-
zonte deI Volga y la consiguiente penetración de las huestes germá-
llJicas, debilitaron el ámbito físico deI imperio, circunstancia que culminó
en el 476 aun cuamdo era sólo la culminación de un dilatado proceso.
Merece también sefialarse la influencia del estoicismo, sensible
aI drama deI debilitami'e nto del hombre y, consecuentemente, la toma
de conciencia de los derechos naturales a todo individuo.
En un agudo análisis, Fustel de Coulanges 17 puntualiza que si bien
cayó la V rbs (' ciudad'), vale decir Roma en su estado físico, sus
murallas, sus construcciones, no se derrumbó en cambio la ciuitas,
es decir, la ciudad en su faz sacra y fundacional. ESit a se había difun-
dido ,e n las diferentes provincias deI imperio por obra de la misión
civilizadora de Roma y vivía, en consecuencia, transfigurada propor-
cionando los ' pilares básicos de la sociedad occidental.

15. En op. cit., passim .


. 16. Comentada por C. Disandro en conferencia «·C aída y trasiego deI Imperio
romano» dictada en el IV Simposio Nacional de Estudios Clásicos, Resistencia
(Arg.), setiembre de 1976.
17. La ciudad antigua, Barcelona, lberia, 1961.
166 H. BAUZA

En su concepclOn universalista, fundada en el reconocimiento y


aceptación de los otros pueblos, la cosmovisión latina se nos presenta
más 'a mplia que la griega. Roma, si bien originariamente inscripta en
la tradición helénica logra, más tarde, proponer aI mundo una cosmo-
visión humanista propia.

4. ROMA: SU LEGADO AL MUNDO OCCIDENT AL

Ellegado romano se funda principalmente en su concepto de huma-


nitas que implica el reconocimiento de la personalidad humana y que
se asienta en el respeto por los valores eternos . En el imperio por
sobre el concepto Roma se yergue el verbo romanizar, que implica la
transferenda de los valor es de libertad, fe, disciplina, gravedad, respeto
por la tradición, por la religión y por las leyes a las tierras que no
lo practicaban.
Acorde con esa conciencia de «elegida » Roma se sintió llamada a
esa misión conquistadora y civilizadora. Así po'r ejemplo nos lo tes,ti-
monia un pasaje harto comentado de la Eneida; nos referimos a los
versos 851-853 deI canto VI cuando Anquises refiere a su hijo la misión
deI romano:
tu regere imperio populos, Romane, memento
(hae tibi erunt artes), pacisque imponere morem,
parcere subiectis et debellare superbos. 18
En ese aspecto el Imperio trasciende sus fronteras y en esa dimen-
sión conquistadora, colonizadora y humanista Europa se proyectó aI
mundo 'a mericano.
Roma, de ese modo, gravita decisivamente en el destino de Occi-
dente. Su influjo se ve no sólo en las lenguas neolatinas, en la religión
yen l'a s oostumbres, sino - como hemos puntualizado - , en un ámbito
semántico condicionante de nuestra idiosincracia occidental y a través
deloual inteligimos aI hombre, aI mundo, a la physis y por el cual
nos adscribimos y somos partícipes de la Historia, aunque más no sea
que en un grado insignificante.

18. Comentados por Norden, P. Vergi1ius Maro Aeneis Buch VI, Darmstadt,
WB, 1981, i.1 y por R. Schilling, en «Tradición e innovación en el canto VI de la
Eneida de Virgilio» , en Virgilio en e1 bimi1enario de su muerte, comp. por H. F. Bauzá,
Buenos Aires, Parthenope, 1981, p. 140 y S.
ROMA Y EL DESTINO DE OCCIDENTE 167

Roma está también presente en nuestras instituciones, en el funda-


mento de nuestras leyes y en la base de nuestras costumbres.
Roma gravita también en nosostros de manera velada y casi sin
que nos percatemos, ya en la línea ondulante de una pieza de alfarería
campesina, ya en la cadencia de ciertas canoiones, ya en las supersti-
ciones populares, ya en la manera como ensamblamos una piedra junto
a otra para oonstruir un camino o para levantar una bóveda.
A través de la herencia que supo recibir y asimilar de los griegos,
nos transmite el equilíbrio, la justa medida y la divina proporción.
En lenguaje mítico-poétioo, nos ofrece también una armoniosa síntesis
entre lo apolíneo y 1'0 dionisíaco.
Empero, por sobre todas esas cosas, Roma nos transmite su idea
deI hombre. Vn ser que sin dejar de ser lllIl zoon politikón o logikón
como lo define Aristóteles, es también un viviente en el que anidan
pasiones y, de entre éstas, la del amor, indómita e ineluctable como
la imaginaron los epicureístas y ante la que sucumbimos todos, como
refiere un conocido verso de Virgilio:
omnia uincit Amor: et nos cedamus Amori (Buc. X 69).
Pera también en esa idea de hombre sustentada por los romanos
están la inteHgenoia, la voluntad y la tenacidad, mediante las que poder
vencer las situaciones adversas.
Bmpero, por sobre todas ellas está la idea de humanidad, enten-
dida como una armónica convivencia de hombres, idea que más tarde
los pensadores deI Trecento y deI Renacimiento italianos teorizaron
mediante el a,hondamiento en las humanae litterae.
Bsos pensamientos están conden5ados en la noción de humanidad.
Esta, entendida en sentido universal, que es el legado más sublime que
Roma ha transmiJtido aI ámbito occidental, se c1.liIl1ple y verifica en el
sentido de libertad, respeto y soHdaridad para oon los semejantes;
es ésta una noción que alienta y vivifica en su seno y que Terencio
condensó en un verso memorable:
Homo sum: humani nihil a me alienum pu to (Heautont., 77).
(Página deixada propositadamente em branco)
II

PERMANÊNOIA DA OULTURÀ OLÁSSIOA


PERMANENOE DE LA OULTURE OLASSIQUE
(Página deixada propositadamente em branco)
LITERATURA NOVILATINA EM PORTUGAL
ENTRE 1485 E 1537

AMERICO DA COSTA RAMALHO


Universidade de Coimbra

Um dos estrangeiros que melhor conheceram a Literatura Portu-


guesa, e era igualmente conhecedor das principais literaturas europeias,
esc~eveu: «The Portuguese is the greatest Hterature produced by a
small country with the exception of ancient Greece .. . » - «A Portu-
guesa é a maior literatura produzida por um pequeno país com a
excepção da Grécia antiga ... » Isto declarou em Junho de 1922, Aubrey
Fitzgerald Bell, na Fortnightly Review.
Talvez se pudesse dizer algo de semelhante da literatura em latim,
produzida em Portugal, mas aí sem abrir excepção, se tivesse chegado
até nós tudo quanto foi escrito em latim neste País, desde o século XV,
ou 'a inda antes. Ao colocar o tel1II1O a quo nos anos de Quatrocentos,
quero I'eferir-me em especial ao latim dos humani'stas do Renascimento.
O primeiro livro que encontramos foi escrito, por volta de 1460,
com o título de Gesta lllustrissimi Regis lohannis De Bello Septensi,
Acta per Reuerendum Matthaeum de Pisano, Artium Magistrum
Poetamque Laureatum.
Bmbora escrito provavelmente no ano do falecimento do Infante
D. Henrique, só veio a ser impresso em 1790, por iniciativa do Abade
José Correia da Serra, mais famoso como cientista do que como
homem de letras. Na sua quaJidade . de Secretário da Academia das
Oiências de Lisboa, Correia da Serra incluiu-o como 1.0 volume da
«Colecção de Livros Inéditos dos Reinados de D. João I, D. Duarte,
D. Afonso V e D. João II, publicados por ordem da Academia Real
das Sciencias de Lisboa.»
172 AM.tRICO DA COSTA RAMALHO

o autor era italiano de origem, foi mestre e secretário latino do


rei D. Manso V, falecido em 1481. Apesar de se intitular poeta laureado,
não chegou até nós um só dos seus versos. Mas a construção do
Livro sobre a Guerra de Ceuta revela capacidade de expressão dramá-
tica e sentido do pitoresoo.
A traduçãO' em português só aparece em 1915, para comemorar
o quinto centenário da conquista de Ceutà. EntI'etalnto, o 'm anuscrito
em que se baseou a edição do Abade Cor.reia da Serra des1aparecera e o
tradutor, o coronel de Engenharia Roberto Correia P.into, antigo pro-
fessor do Colégio Militar, não pôde sequer verificar as más leituras
do manuscrito ou os erros tipográficos que, uma e outros, má leitura
e erros, dificultam, por vezes, de forma invencível a boa tradução de
um texto la,ti'l1o, seja ele qual for.
Aliás, não obstante a impressão favorável que se colhe da compe-
tência do tradutor, penso que esta versão do latim quatrocentista não
deve ser impressa sem uma revisão prévia - o livro está esgotado-
e nunca sem o latim em face do português.
Mateus de Pisano gozou de um ambiente de simpatia que o seu
sucessO'r mai,s próximo, no posto de pr.ofessor da corte e de secretário
latino da realeza, não conheceu. Refiro-me a Cataldo Parísio Sículo.
Com efeito, Mateus de Pisano e o cronista seu contemporâneo,
Gomes Eanes de Zurar.a, trocarGllIll ramalhetes de flores: Zurara chamou
a ' Pisano, oorno é sabido, «poeta laureado, e um dos suficientes filó-
sofos e oradores que em seus dias concorreran1 na Cristandade»
(Crónica de D. Pedro de Meneses) ; e Mesrtre Mateus retribuiu, dizendo
do cronista ter sido «bom gramático, notável astrólogo e grande ero;-
nista» (Livro da · Guerra de Ceuta, p. 21).
Cataldo não enoontrou a mesma simpatia entre os intelectuais da
corte portuguesa. Para dar um só exemplo, o seu disourso na eIlltrada
solene em Évora, em 28 de Novembro de 1490, da pr,i ncesa Isabel de
Castela, mulher do príncipe D. Afonso de POJ:1tugal, é cuidadosamente
omitido pelos cronistas oolIlitemporâneos. E Rui de Pina contenta-se
com diZJer, algo depreciativamente e ocultando que o discurso foi em
latim: «E assi chegaram aa porta de Aviz, onde se fez hüa arenga ... »
(Cronica d'ElRey D. João II, cap. XLVII).
A correspondênoia de Cataldo reflecte a sua ânsia em obter infor-
mações par.a as Crónicas sobre a Expansão Portuguesa, que gostaria
de ter publicado. Tudo quanto conseguiu foi compor poemas e escrever
discursos e epístolas. Um desses poemas foi a Arcitinge, sobre a con-
qui,s ta de Arzila e Tânger, em 1471 , que o poeta aproveita para exaltar
LITERATURA NOVILATINA EM PORTUGAL ENTRE 1485 E 1537 173

a rei D. Afonso V e a príncipe D. João, seu filha. É a primeira carme


heróica sabre a Expansãa Partuguesa e deve ter sido pri:ncip1ado ainda
em Bolonha, de onde Catalda veio para Portugal, pravaveLmente em 1485.
As Crónicas que Carbalda gastaria de ter escrito estiveram para ser
canfiadas a Angela Paliciana que, para a efeita, se oferecera ao rei
D. Jaão II, induzida oertamente pelos filhas da ohamoeler João Teixeira
Laba que eram seus alunas em Flarença. Mas Policiamo morreu em
1494 e na ana seguinte falecia D. Joãa .II. Também o legada pcmtifício,
e depois bispo de Ceuta, Giusrta Baldino que, segundo parece, reoebera
idêntica encarga ainda na tempa de D. Afonso V, fulecia em Almada,
em 1493, nada deixaIlida.
O começo da historiografia humanfstica está claramente ligada aa
Humanismo Ital,i ana. Na tarefa ' estiveram irmplicados, com.o acabamos
de ver, Mateus de Pisarra, Catalda Parísio, Justa Baldina, Am.gelo Poli.-
ciana. Mas só passuím.os .o livro de Mateus de Pisana e as carta,s e
poemas de conteúda hi-stórioa de Ca1Jaldo Par:ísia.
Entretanta, faziam a sua formaçãa em Itália numerosos portu-
gueses que estudavam Direito, Tealogia e Medicina, famnas de prepa-
raçãa espeoializada que então vinham após uma imiciação mais .ou
menas longa em Humanidades. Muitos são hoje descanheoidos ou a,pemas
nomes sem significada especial. Outros adquiriram notorieda,de, por
serem referidas numa carta ou num epigrama. E são para nós mais
da que nomes aqueles que deixamm alguma ooisa escrita.
Quatra estãa liga,dasaa chanceler João Teixeira de que já falei:
seu irmãa Luís; seus filhos Luís, Alvaro e Tristão. Todos gente de
Direi·ta. Martim Figueiredo, ·s eusobI1inha Aires Barbosa, Henrique
Caiado, Fernando Coutinho, etc. De passagem, Diago Pacheca, Diago
de Sausa, D. Fernanda de Ahneida e muitos .outros.
De alguns destes falarei adiante.
A historiografia da final do sécul.o XV perdeu-se. As crorucas em
latim que devia,m ter sido escritas, em Flarença, par Am.rgel.o Palioiano,
inexi'stemtes, as de Justa Baldina e de Catald.o Parísio, escritas em
Partugal, que existiram pravavelmente, mas se perderam.
T.odavia, Catalda oampensa -e m parte, a falta das crónicas com
alguns discursas e paemas que pos-s uem inegável conteúda histórica
e oircunstancial. E também com algumas cartas que são, no funda,
reportagens biográficas e mlIDdanas, como aquela que acompanhou a
paema Verus Salomon Martinus, dirigida ao conde de Alcoutim, D. Pedro
de Memeses, onde' se faz a biografia do herói do paema, D. Martinho
Castelo Branco, 1.0 aonde de Vila Nova de Portimão, e se dedica uma
174 AMJ::RICO DA COSTA RAMALHO

atenção especial ao mais famoso dos seus genros, a saber, João Rodri-
gues de Sá de Meneses. Essa carta, em conjunto com uma obra do
próprio Sá de Meneses, de que adiante falarei, permitiu acabar de vez
com a lenda de que o célebre alcaide-mor do Porto fora discípulo de
Ângelo PolioialIlo, em Flovença.
A mesma carta, em confronto com o curriculum vitae de D. Diogo
de Almeida, coloca-nos em plena aventura guerreira da Graciosa, a
fortaleza que D. João II tentou construir em Africa «sobre o rio, acima
de Larache» e teve de abandonar. Apesar de se ter cifrado numa
derrota par.a os portugueses, a retirada da Graciosa foi conduzida com
tanta coragem e sangue-frio que o prestígio do Rei se viu acrescido,
não obstante o insucesso. Na correspondência de Cataldo e em cartas
diferentes enoontram-se dois dos heróis da Graciosa, D. Martinho Castelo
Branco e D. Diogo de Almeida. A carta ' referente a este úLtimo é diri-
gida ao papa Inocêncio VIII, falecido em 1491, e versa a existência
heróica de D. Diogo de Almeida, futuro prior do Crato, que se estreou
nas armas, combatendo aos 15 anos de idade em Africa, ao lado de
D. Afonso V.
A propósito do cerco da Graciosa pelas tropas incontáveis dos
Mouros e da ,r esistência da pequena força de elite portuguesa, de 1.500
homens, que se encontrava dentro, Cataldo escreve na carta referente
a D. Martinho Castelo Branco: «Se este feito tivesse sido praticado no
tempo dos Romanos, sobre ele teriam composto os autores uma longa
história.» Passava-se ,isto em 1489. O espírito que levará a Os Lusíadas
começou em Portugal na Uteratura NovilatÍ!I1a.
A carta ao Papa Inocêncio VIII, redigida por Cataldo em latim,
em nome de D. Diogo de Almeida, foi traduzida por Franoisco Rodrigues
Lobo e publioada por Ricardo Jorge, a parnir de um manuscrito que se
encontm no Museu Britânico. Pode ler-se em Cartas dos Grandes do
Mundo de Ricardo Jorge, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1934.
O ambiente histórico do final do séc. XV é ainda pintado em outros
escritos em latim 1iterário, como as orações de obediénda ao Papa.
Uma oração de obediência era pronunoiada, sempre que mudava
o Rei, normal,m ente por falecimento do anterior, ou sempre que um
novo Papa era eleito, também por motivo idêntico.
Do final do século XV, possuímos várias orações: a do Dr. Vasco
Fernandes de Lucena, em 9 de Dezembro de 1485, em nOlIlle de
D. João II, ao papa Inocêncio VIII; a do bispo de Ceuta, D. Fernando
de Almeida, ao papa Alexandre VI, em nome de D. João II, na derra-
deira metade de 1493.
LITERATURA NOVILATIN A E M PORTU GA L ENTR E 1485 E 1537 175

Do reinado de D. Manuel, temos a oração pronunciada pelo DI[.


Diogo Pacheco, ao papa Júlio II, em 4 de Junho de 1505; e a do
mesmo Diogo Pacheco, em nome igualmente do rei D. Manuel, ao papa
Leão X, em 2 de Abril de 1514. Esta embai~ada que ficou conhecida
por embaixada de Tristão · da Cunha, do nome do seu chefe, deixou
fama nos anais da diplomacia europeia da época, como um aconteci-
mento de fausto e exotismo que encontrou aúIlpla repel'cussão nas
páginas da Crónica de D. Manuel de DaúIlião de Góis. Ficou particular-
mente faanoso o elefante que nela seguia. As suas habilidades não foram
esquecidas pelo cronista.
Dos oradores subsequentes, recordamos que no tem.po de D. Sebas-
tião, um deles foi Aquiles Estaço que vivia em Roma na corte ponti-
fícia onde foi secretário latino dos papas e um dos humanistas de
prestígio intemacional no seu tempo.
Estas orações de obedi,ê noia não eram apenas modelos de boa
pl'osa latina, mas serviaúIl para que os estados, e no oaso vertente,
Portugal, anunoi,a ssem os acontecimentos mais notáveis da sua vida
política, desde a última obediência prestada. Os oradores portugueses,
através delas, informavam a Europa das vioissoitudes da expansão ultra-
marina, então em curso, pois as orationes eram logo impressas e distri-
buídas, a partir de Roma.
Com alcance político semelhante, embora se não trate de uma
oração de obediênoia, foi o discurso pronunciado em 31 de Agosto de
1481 , perante o papa Sisto IV, por D. Garcia de Meneses, bispo de Évora.
É um texto eloquente, escrito - sem exagero! - em magnífico
latim que ainda hoje se lê com surpresa, pois tal não seria de esperar,
de um pOT'tuguês, em 1481. Mas D. Gamia de Meneses havia estudado
em Itália na Universidade de Perúsia.
O vigor do estilo ajuda à e~pressão dos sentimentos de horror e
indignação perante as atrocidades cometidas pelo invasor turco, através
de uma Europa enfl'onhada no mais profundo egoíSlJIlo de cada pequena
comunidade em relação aos vizinhos, pel'mitindo, assim, que o inimigo
da Fé avançasse e prosperasse. A esquadra portuguesa enviada contra
os turoos que haviam ocupado Otranto não chegou a entrar em acção,
porque os turoos partiram, mas ficou um texto latino que é um modelo
do seu género. A guerra, endémica oomo a peste, continua-oo em Itália,
agora complicada pela invasão estrangeira: em Agosto de 1494,
Carlos VIII de França vinha à conquista de Nápoles, aproveitando as
lutas intestinas de Itália .
176 AM~RICO DA COSTA RAMALHO

o português Caiado que nesse mesmo ano, possivelmente, se dirigia


a Florença para ouv.ir AngeLo Po1iciano, por morte deste, dirige os seus
passos para Bolonha onde se encontra em 1495 e publica no ano
seguinte as suas éclogas. Ap:r.endera o latim com Pedro Rombo e Cataldo
Parísio, como informa nos seus versos. Mas no Siculo não se encontra
qualquer retribuição ao lisonjeiro epigrama que Caiado lhe dedicou.
E no entanto ser elogiado por Henrique Caiado era uma homenagem
prestigiosa, sobretudo vinda de Itália. Caiado, tido por um dos melhores
poetas bucólicos neolatinos da Europa do seu tempo, tem sido freq~en­
temente reeditado e traduzido no estrangeiro em a~ recentes.
A poesia de Caiado, sociaLmente, mverte a situação do Sículo em
Portugal. Agora é um português que conta entre os seus mecenas e as
pessoas das suas relações, a gente grada de Bolonha, Florença e Milão.
Caiado morreu jovem em Itália. Por isso, toda a sua actividade
poética se concentra entre 1495 e 1501, quando em Bolonha, são reedi-
tadas as éclogas e acresoentadas as silvas e dois livros de epigramas,
onde há numerosos portugueses, uns já mencionados, outros ainda não,
como Luís de Melo, D. João Castelo Branco e Frei Gomes de Lisboa.
Nos anos finais da sua vida, Caiado parece ter feito a vontade aos
seus familiares e ooncluído o curso de Direito. Datam desse período
dois discursos, pronunciados em Pádua, e publicados em Veneza, um
em 1504 e outro em 1507.
Tudo isto se passa nos finais do século XV. De 1500, é o primeiro
volume das cartas e orações de Cataldo Par~sio, irmpresso em Lisboa.
Os livros de poemas são dos anos subsequentes. As cartas e as orações,
embora escri,t as por um italiano, têm muito que ver com Portugal,
mas a escassez do tempo obriga-me a omi,t ir este tópico que, aliás, já
tratei em outras qcasiões.
Quero apenas salientar que as duas primeiras décadas do séc. XVI
nâo estão vazias de produções literárias, pois além do 2.° volume das
cartas e mações de Cataldo, publicado por volta de 1513, das Visiones
e poemas · como o Verus Salomon Martinus já citado, que são da mesma
altura, a grande massa dos Poemata, em que está incluído o livro
chamado Aquila é de certo anterior, isto é, da ·primeira década do
século XVI.
Também importa referir aqui o livro de epigramas de Lourenço de
Cáoeres, que Eugénio Asensio oota de 1518 e eu creio ser anteJ:1Í.or, por
motivos que tenciono apresentar noutra ocasião. Os epigramas dão-nos
conta da existência de rivalidades com émulos que recebem alfinetadas
sob a capa de pseudónimos. Lourenço de Cáoeres pertenoe claramente
LITERATURA NOVILATINA EM PORTUGAL ENTRE 1485 E 1537 177

a um grupo que não inclui Cataldo e lhe é provavehnente hostil. Um


só nome é comum a Cáceres e a Cataldo, o de Diogo Pacheco que, aliás,
também é celebrado nas éclogas e epigramas de Henrique Caiado.
Os poetas mencionados nos versos de Lourenço de Cáceres são
Luís Teixeira, Aires Barbosa, Diogo Pacheco, Domingos da Fonseca,
Lourenço Rodrigues, Mestre Gonçalo. Destes dois últimos são incluídos
poemas na co~ectânea. Roque de Almeida figura numa ode em que
ele e Lourenço de Cáceres se encontram à beira do Tormes, portanto
em Salam3lllca.
No final de outra ode sáfica de 14 estâncias, dedicada a João da
Silveira, o poeta Cáceres declara que é nestes ritmos, portanto os da ode
sáfica, que deve ser celebrado o elogio dos heróis, mas só pel.os bons
poetas. E termina em ar de captatia beneualentiae: «Ego uero tam sum
malus poeta, quam tu es optimus heras», em que há, como todos
reconhecerão facilmente, Uima reminiscência catuliana. Seguem-se algu-
mas cartas em prosa, dois epigramas em dísticos elegíacos, em que
Aires Barbosa el.ogia Lourenço de Cáceres, e o libellus termina com
mais um epigrama em louvor do poeta, este de André Pereira.
Detive-me um pouco neste pequeno livro, da segunda década do
século XVI, porque ele n.os dá testemunho de um ambiente humanís-
tico que estabelece a continuidade entre o mundo de Cataldo e os
anos trinta do século XVI. Aliás, como atrás sugeri, é possível que
alguns d.os epigramas aludam a Cataldo, como não será fantasia admitir
que naquela declaração de Lourenço de Cáceres, de que era no metro
sáfico das odes que deviam elogiar-se os heróis, se encontre uma alusão
a Cataldo, cujos poemas encomiásticos e outros, geralmente longos,
são em hexâmetros e pentâmetros dactíHcos. Cataldo faleceu não muito
depois de 1516 e os versos de Cáceres são desta mesma década. Por
outro lado, os elogios dos heróis continuarão a ser feitos em ritmos
dactílicos, mas os metros horacianos das odes, particularmente o sáfico,
serão usados mais tarde nos el.ogios dos santos.
Todavia, o livro que cons~dero mais notável deste período é uma
gramática latina. Não uma gramática qualquer, mas a Naua gramma-
tices marie matris dei uirginis ars, cuius authar est magister Stephanus
eques lusitanus, publicada em 1516. ~ um livro extraordinário, bem
digno de uma tese de doutoramento. Só o seu prefácio dav:a para uma
longa conferência: não apenas pelas questões que desvenda, como a
existência de uma querela gramatical de antigos e modernos na Univer-
sidade de Lisboa, mas também pelos conceitos sobre língua e império,

12
178 AMÉRICO DA COSTA RAMALHO

na sequência de Lourenço Valla e António de Nebrija, e ainda outras


questões doutrinais.
Sem me deter nos livros de Ail'es Barbosa, quer os de matéria
gramatkal, quer a Historia Apostolica de Arator, publicados entre 1511
a 1517, passo aos anos trinta. De 1527, é a primeira redacção do
De Platano de João Rodrigues de Sá de Meneses, de que já tratei em
outras ocasiôes - livro verdadeiramente extI'aol'dinário., pelo. que nos
revela da cultura intelectual e da circulação de 1ivros e ideias, por
volta de 1530. A segunda r.edacção é de 1537, com a resposta às objecções
de Juan Femández, professor de Retórica na Universidade de Coimbra.
Participam na discussão. Jorge Coelho., futllJI10 secretário. latino do
Infante D. Henrique, melhor prosador e epistológrafo que poeta, e
D. Miguel da Silva, então. bispo eleito. e futuro oa.I1deal (1541) em Roma,
a quem Baltasar Castiglio!I1e dedicara já em 1527 Il Cortegiano. Em
Roma, para onde fugiu à cólera do rei D. João. III, será poeta latino,
cuja obra está por coLigir e estudar.
Em 1530, em Lovaina, André de Resende publica o Encomium
urbis et academiae Louaniensis, um louvor a Erasmo e seus discípulos,
e em 1531, é o próprio Erasmo que faz pub1icar em Basileia o Carmen
eruditum et elegans Angeli Andreae Resendii, aduersus stolidos poli-
tio ris litteraturae oblatratores. O' autor usava então o praenomen
Ang.elus que será substituído mais tarde pelo de Lucius.
Além do encómio que tanto encantou o humanista de RoteJ:1dão,
que não mais será omitido entre os testimonia nas edições completas
das suas o.bras, saídas depois da morte, em 1536, aí são menoionados
alguns dos seus admira)dores portugueses, entre os quais D. João III
que, como é sabido, pensou em trazer Erasmo. para Coimbra.
A morte do grande humanista deu origem em Portugal a poemas
de André de Resende e de Nicolau Clenal'do, flamengo que era pro-
fessor do Infante D. Henrique, futuro carxLeal e rei. Resende e Clenardo
honraram a memória de Erasmo. Aires Barbosa publicará neste àno
de 1536, em Coimbra, Antimoria. Eiusdem nonnulla Epigrammata
contra a Moria ou Elogio da Loucura de Erasmo. Alguns dos epigramas
valem bastante mais do que a Antimoria. O poema é precedido de uma
carta-prefácio de Jorge Coelho em que este não consegue esconder o
despeito pela po.uca atenção que Erasmo lhe dera em Vlida.
Bntretanto, os portugueses no estrangeiro, e em particular na
Flandres com a qual existia uma tradição de relaçôes principescas
e diplomáticas - a mãe de CaJ:11os o Temerário, mo.rto em 1477, era
portuguesa - na Flandres, que se tomara um importante centro cul-
LITERATURA NOVILATINA EM PORTUGAL ENTRE 1485 E 1537 179

tural da Europa, ao mesmo tempo que empório económico em relaçôes


com Portugal, os portugueses informavam e esclareciam sobre o que
se passava no Oriente.
André de Resende publica em Lovaina, em 1531, a Epitome rerum
gestarum in lndia a Lusitanis, anno superiori, iuxta exemplum epistolae,
quam Nonius Cugna, dux lndiae maximus designatus, ad regem misit,
ex urbe Cananorio , IIII ldus Octobris. Anno M.D.XXX. Igualmente em
Lovaina, em 1539, Damião de Góis faz sair dos pre10s os Commentarii
rerum gestarum in lndia, anno MDXXXVIII.
Chegamos assim a 1537, ano da transferência da Universidade para
Coimbra. O teI'mo transferência é mais honroso para a nossa Univer-
sidade que já tinha estado em Coimbra, nos séculos XIV e XV, a
começar em 1307. Mas no século XVI considerava-se de maior prestígio
falar da fundação da Universidade de Coimbra, em 1537, do que da
sua transferência de Lisboa.
Seja como for, este ano de 1537, é considerado por muitos como
o do ~nício do Humanismo Renascentista em Portugal. Outros, ins~s­
tindo em que o Humanismo Greco-Latino é um fenómeno tardio entre
nós,oonsideram que ele só passa aeXiistir em Portugal, com a fundação
do Colégio das Artes, em 1548. f: como se tudo aquilo de que falei
nesta pequena comunicação, nunca tivesse exi's tido. E notem que sobre
o período considerado, omiti muitos factos, nomes e obras. Não falei,
por exemplo, do movimento humanístico na Corte onde em 1529,
Rodrigo Sanches, mestre dos moços da capela da rainha D. Catarma,
assinava um recibo de dois Virgílios, dois Luca.nos,. um Horácio, dois
T,e rênoios, duas Epístolas de Ovídio, d01s Colóquios de ETasmo. Este
Rodrigo Sanches fomenta na Corte a corresponoonoia em latim, por
volta de 1533, estimulado por Joana Vaz.
Gostaria de dedicar as minhas últimas palavras a uma breve consi-
deração sobre a poesia novilatina, com exclusão do teatro.
O conhecido lugar comum sobre a falta de originalidade e de vida
da poesia dos humanistas em latim, fOI1mulado, há quase um século
por Philippe Monnier, está hoje muito mitigado. Poetas C()[110 Ângelo
Policiano, Mkhelle Marullo, Sannazaro, loannes Sec1..liI1!dus e outros são
agora con5iderados poetas por direito próprio. Bntre nós, algumas
composições de André de Resende, Inácio de Morais, Diogo de Tcive,
Diogo Pires, par.a não voltar a referir as Bucólicas de Henrique Caiado,
podem competir oom o que de melhor se escreveu em português na
mesma época, exoepção feita, naturalmente, de Camôes.
180 AMJ::RICO DA COSTA RAMALHO

Outra noção corrente é a de que a poesia latina escrita por portu-


gueses, se encontra toda ou quase toda, e certamente a melhor, nos
oito volumes do Corpus Illustrium Poetarum Lusitanorum Qui Latine
Scripserunt, publioado no séoulo XVIII.
Nada mais falso. Nem lá está a maioria, mas apenas alguns, nem
os melhores, se exceptuarmos Cai,a do, Manuel da Costa e António de
Gouveia. Os quatro poetas, todos do século XVI que há pouco mencionei,
como autores de poemas que -r ivalizam com os escritos em português,
a saber, Morais, Resende, Teive e P.ires, :f:iiguram entre os ausentes.
Estão na moda as antologias de poesia latina dos humanistas,
traduzidos para francês, inglês, italiano e alemão. PossuÍInós no Centro
de Estudos Clássicos e Humanísticos alglliIl:s desse$ livros, publicados
em anos recentes. Na minha biblioteca pessoal, tenho outros, com-
prados no estrangeiro.
Nós faríamos melhor em pubEcar o nono volume do Corpus com
as melhores poesias de alguns dos que lá faltam. É a sugestão que
aqui deixo como final desta comunicação, demasiado breve para a
importância da matéria.

N. B. A maior parte dos autores e obras referidos atrás, encontra-se no livro


de Isaltina das Dores Figueiredo Martins, Bibliografia do Humanismo
em Portugal no século XVI. Coimbra, Centro de Estudos Clássicos e
Humanísticos (L N . L C.), 1986.
A oratio de D. Garcia de Meneses; pronunciada em 1481 fica, natu-
ralmente, fora do âmbito da Bibliografia. Mas pode ver-se, publicada
e traduzida por Américo da Costa Ramalho, Latim Renascentista em
Portugal, Coimbra, Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos
(L N. L C.), 1985, pp. 2-25.
LOS POETAS NEOLATINOS DE MÉXICO EN EL SIGLO XVIII
Y SU CONTRIBUCIóN IDEOLóGICA E HISTóRICA

CARLOS MONTEMA YOR


Academia Mexicana de la Lengua Espaíiola (México)

La literatum me~icana abarca muchas lenguas y muchos períodos


notables. ElIa comprende, por supuesto, la escrita en lengua espafiola
desde el siglo XVI hasta nuestros días; también la escrita en lenguas
indígenas, ·especialmente en náhuatJ y en maya; también la que escri-
bieron en latín hombres fundamentales para nuestra historia política
y hUlIllanística. De esta literatura mexicana, la escrita en latílil, les
hablaré hoy. . .
EI latín . fue una lengua ComÚll en la vida culta de México desde
el siglo XVI. Conviene recordar que Espafia era en el momento de
su expansión territorial y deI establecimiento de la Nueva Espafia la
primera potencia europea, en el apogeo de su cuLtura, su lengua, su arte.
En ese esplendor, la Nueva Espafia se nutre de una cultura olásica: la
lengua castelIana deI siglo de oro, la erudiciÓln renacentista en griego
y en latín, la inteligencia fOJ1midabJe de gramáticos que en muy pocos
afios lograban dominar lenguas indígenas que no tenían semejanza
alguna con las lenguas· romances y que elaboraban diccionarios y
gramáticas que aÚll hoy seguimos utilizando; a elIo debe agregarse
que el pensamiento de Erasmo orientó la evangelizacián en México a
través de Fray ' Juan de ZUJillárraga, primer Arzobispo novohispano,
y que el pensamiento de Tomás Moro propiciá, con Vasco de Quiroga,
la primera organización de los puebJos purépechas de Michoacán. Es
decir, la cultura novohispana surgiá madura, con una estatura clásica;
no tuvo balbuceos de infancia.
182 CARLOS MONTEM A YOR

Pero esto era, vasta y madura, la cultUJ:1a europea desplegándose


sobre los escombros de los pueblos indígenas. A los ojos de aquellos
espafioles deI siglo XVI, lÜ's pueblos indígenas eran pueblÜ's postrados
por ele demonio, poseídos por satanás, condición que les servía de
justificación para numerosos despojos y mas acres que aÚ!l1. ahora no
se olvidan en México. Es decir, los novohi's panos eran espafíoles viviendo
en tierra extrafia, como lo e~presa sin sombra de duda Bernardo de
Balbuena. México no era un pais distinto, una patria ajena a Espafía.
Sería necesario que surgiera la otra voz, la masacrada, la perseguida.
la de las culturas indígenas, para que México despertara en la fusión
en la me:zda de los dos mundos culturales: eI europeo y el indígena.
Este despertar ocurrió en el siglo XVIII. Este despertar lo debemos
a los humanistas que escribieron en latín las más bellas páginas que
en esa lengua hemos cantado los mexicanos.
Referiré primero la contribución gen~al de estos humanistas a la
historia de México; después comentaré tres obras notables de ellos.

II

VaDios rasgos tuvieron estos hombres en comÚ!n. Primero, haber


nacido todos en el territorio de México y alredor de los últimos anos
de la tercera década deI siglo XVIII. Segundo, haber escrito la mayor
parte de sus obras en latín. Tercero, haber pertenecido a la orden
de lüs jesuítas. Estas coincidencias son Úitiles para entender sus obras.
A mediados dei siglo XVIII, y a través, particularmente, deI natu-
ralista Buffon y de su seguidor De Pauw, Europa declaraba orgullo-
samente que todo en América era inferior poI1que se trataba de un
continente goologicamente infantil, o quizás ya degenerado. Europa era
el continente maduro y sano; América el inmaduro y enfemno. En este
afán por decretar la inferioridad territorial y humana de América,
llegaron aI extremo de afirmar que los americanos no hacíamos el amor
porque nos faltaba la potencia vital para gozar de los dones sexuales
(pe:m en realiJdad les aseguro que padecemos de lo contrario: el desbor-
c1amiento de esa cualidade). En este contexto de luohas de pa.risajes y
de continentes, pues, debemos situar, primem, las obras de estas
escritores neoLatinüs de México, que celebran la naturaleza pródiga
deI nuevo cününente y la sabiduria política y moral de sus antiguos
pueblos.
En el momento de su mac1urez personal, justamente en la década
de los cincuentas, comenzaron a tener en México una influencia deci-
LOS POETAS NEOLATINOS DE M~XICO EN EL SIGLO XVIII 183

siva en la ensenanza y en el rectorado de colegios importantes eu todo


el país. Ensenaban historia, fiJosofía, física, matemáticas, teologia, latín;
dominaban varias lenguas indígenas; luchavan porque se extendiera la
ciencia experimental y porque el pensélJIlliento cartesiano tomara en
la vida universitaria el lugar de la tradición escolástica. Pero sobre
todo, se iban preparando para la comprensión histórica de México como
un país diferenciado de Hspana.
El afio de 1767 la corona espafiola decretó la eXipulsión de los
jesuítas en todos sus territorios. En la plenitUld de su vÍlda, en la ple-
nitud de su inteligencia, estos humanistas abandonaron México para
siempre, dejando alumnos, colegios, libros, círculos intelectuales en que
el neoclasiósmo que habían creado empezaba a crecer poderosamente.
La mayor parte de ellos fuerOll acogidos en I talia, especialmente en
Bolonia. En ese destierro, en medio de la Europa que estaba negando
a América toda dignidad terI1itorial y humana, estas mexicanos llegaron a
enseftar a europeos, a recibir reconodmiento, a concluir aquí las obras
de latín, en italiano y en espanol que atrajeron el aplauso y el estudio
de los colegios italianos de su tiempo. Y aquí, en Europa, formularon
por vez primera en forma acabada, acaso por La nostalgia deI destierro,
la idea histórica de México como una patria, como un país distinto.
A Francisco Xavier Clavijero, a José Luis Maneiro, a Manuel Cavo,
a Diego José Abad, a Francisco Javier Xavier Alegre, a Rafael Landívar, a
Rafael Campoy, entre otros, debemos este pensamiento histórico y polí-
tico con que se forjó México. Fueron, por ejemplo, los primeros en
revaloDar la historia indígena de manera totaJ; con ellos por vez pri-
mera se aprecia la civi!ización indígena eu sí misma, y se comparan
sus figuras y hazafias con las de otros pueblos oomo lüs griegos, los
romanos o aun los hebreos de los relatos bíblicos. Pero ese pasado,
también por vez primera, lo aSUlmieron como el suyo, estableciendo el
pasado espanol y el indígena como origen de México, lo cual equivalía
ya a desliga,r nos de Espana, a vemos ya no como un dominio espanol,
sino como otro país. Por ello pudieron, télJIllbién por vez primera,
reconocer y alentar el mestizaje como base racial de los mexicanos, y
defenderIo ante el purismo de criollos y peninsulares. Por último, aI
gran Clavijero debe mi país la idea rectODa de la eoocación oomo
única vía de evolución social, superando así la convÍloción buffoniana
de que el atraso o progreso de los pueblos se debe a la naturaleza de
los continentes. Estas ideas, que e110s formularon en latín, eu italiano
y en espaííol, serían el anunóo deI pensamiento independentista que
se fortalecería en México en las guerras libertarias deI siglo XIX.
184 CARLOS MONTEMA YOR

III

Pasemos ahora a la última parte de esta conferencia. Tres obras


poéticas destacan de esa generación. En ellas veo tres rasgos principales
de la literatura mexicana de todos los tiempos. Primero, el realismo
que apasionadamente describe nuestro paisaje y nuestros pueblos,
desde la Grandeza Mexicana de Balbuena o El Periquillo Sarniento de
Lizardi, hasta el Pedro Páramo de Juan RuJfo; me refiero a la Rusti-
catio Mexicana de Rafael LandíveT. Segundo, la vocación por la cultura
grecolatina, que desde el siglo XVI ha tenido un ejercicio ininterrum-
pido hasta Alfonso Reyes o Rubén Bonifaz Nuiío; me .refiero a la
traducción que de la Ilíada rnzo en hexámetros latinos Francisco Xavier
Alegre. Tercero, la vocación por el misterio religioso y filosófico que
alrededor de Dios y la soledad de Dios y deI hombre hemos tenido
desde SOT Juana Inês de la Cruz hasta José Gorostiza: me refiero aI
de Deo Heroica de Diego José Abad.
Rafael Landívar nació el afio de 1731 en el territorio de la Nueva
Espana que actualmente corresponde a Guatemala. De todos fue el que
manejó quizás el verso latino CQll1 mayor soltura y suavidad, con una
asombrosa natural,i dad que sólo se ve afectada en ciertos momentos
por los adornos propios deI neoclasicismo de su época. El poema se
compone de quince cantos, además de un prólogo en prosa y de un
apéndice en verso. Uno de sus traductores mexicanos, Esoobedo, com-
puso otro poema latino para exaLtar la belleza deI quetzal, que no
describió Landívar y que algunas ediciones de la Rusticatio Mexicana
incluyen. Algunos temas jamás habían sido tratados en lengua latina,
lo que evidencia el talento versificador de Landívar. Cada canto va
tratando distintos temas: lagunas, ríos, aves, ganado mayor y menor,
fieras salvajes, juegos, surgimiento de vo1canes como los que cada siglo
siguen naciendo en México. Orgullosamente, advierte en el prólogo
que su poema 110 da cabida a la fioción: «ln hoc autem opusculo
nullus erit fictioni locus ... Quae vicLi refero».
Acaso su amor por México y su pasión por defender nuestro
paisaje lo llevaron a aclarar que nada era imaginario en su poema,
que todo lo que en él se dice correspondía a la verdad y belleza deI
mundo e11 que él naciera. Describe minas, labores, multitudes, o la
astucia de la cacería acuática o terrestre, y el latín lo $ligue dócil y terso
por los campos mexicanos. Es capaz de provocar en el latín una
ductilidad en los procesos más técnicos deI trabajo de las minas,
LOS POETAS NEOLATINOS DE M~XICO EN EL SIGLO XVIII 185

como aquí, aI descobrir la extracción deI agua de las galerías por


cubos y mulas:

Si tamen huic renuat puteo succedere limpha,


Quod multis submissa ulnis tranquilla residat,
Altera torpentes atollat machina fontes
Interiora super speluncae strata reposta;
Quam pari ter muli, subducti faucibus antri,
Instructam situlis ipso sub colle rotabunt,
Cisternamque brevi replebunt tempore rivis,
Antlia quos labris educet prima supernis.
(VII, 247-254)

Pera también puede lograr la más alta poesía al describir la tritu-


ración de las rocas extraídas de las minas, cuando su enOI1IIle peso se
reduce a un fino polvo que flota en los aires:

Saxea si quando ferratas frustula plagas


Effugiant, pilisque rebelli mole resistant,
Haec pistrina domat replicatis orbitus acta,
Dum tenuata gravi sinuati pondere saxi
Se tollant flatu tenuis quasi pulvi ad auras .
(VIII, 46-50)

Más peI'suasivo es su verso cuando descDÍbe el vigor esplendoroso


deI caballo salvaje y el ritmo mismo de sus cascos aI galope:

Haec inter facile tumidus praecordia fastu


Praestat equus niveus cauda spectabilis atra.
Ille per auratos herbosa sedilia campos,
Impexis per colla jubis per terga per aures,
Arrectaque simul cauda colloque retorto,
Quadrupedante ferox sensim quatit aequora passu ...
(X, 26-31)

No menos bella, y más intensa y ágil, es la descripción de la doma


de un cabano salvaje (X, 59-75), equiparable también a la descripción de
la pelea de gallos, primer antecedente en la literatura hispanoamericana
dei mismo as unto que tratará después García Márquez · (XV, 10-78).
Sutil es su melodiosa primera mención de las aves de México:

Innumeras quondam sylvis America volantes


Condidit insignes nitido velamine plumae,
Egregiasque adeo dulcis modulamine linguae.
(XIII, 11-13)
186 CARLOS MONTEMAYOR

Pera brillante es la descripción deI ave más milagrosa, el colibrí, aI


dec.ir que en el vacío podríaanos creer suspendido su cuerpo de un hilo:
Suspensamque putes volucrem super aethera filo.
(XIII, 234)

Imposible es hacer, por ahora, um recuento de los pasajes más


sefialadaanente líricos. Todos los cantos guardan una gran unidad y
van desplegando un potente verso que busca mimetizarse con la materia
que canta. Hay un consciente amor, paso a paso, por el país que
describe. Una conciencia muy clara de que ese país existe en si mísmo,
y de que a él debe levantar la vista. Hay, ciertamente, un joven orgullo
en todo el poema, un orgullo que hace de México no un territorio
perteneciente a un país europeo, sino un territorio nuevo, un país
nuevo, una patria.
Sorpreeooe ahora, quizás, que se haya expresado en laJtin. Un
magnífico latin en que VirgiHo y Lucrecio son sin duda las referencias
más claras, y no solaanente porque a veces un verso muestre su origen,
como éste, que nos remi te a la cuarta égloga:
Non omnes armenta juvant strepitusque bubulcum
(XI, 18)

sino po'r que guardan una tersa cadencia aprendida, y asimilada, en


esos modelos. Un magnífico latín, sí, para defender la cultura de un país .
Pero la cultura no entenruda como la actividad preciosi's ta de un esta-
mento selecto: la cultura entendida en una fOIlITla más oontemrporánea,
la que comprende todo aquello que la Rusticatio Mexicana celebra en el
arte, los juegos, el vestido, los alimentos, la cacería de todos los pueblos
de México. Y en latín creyeron que para todo mundo hablaban; que
para toda la Europa que deoretaba la inferioddad de América, en latín
demostraban la grandeza deI mundo en que habían naddo.
Esta concienC'ia lleva taanbién a Landívar a designar la prillIlera
tradición poética a la que sentía pertenecer en un pasaje al que alude
en su prólogo como la única excepción de su descr1pción reali SJta ,
pues se trata sólo de una imagen poética la reunión de todos los poetas
en una misma ribera: «eam si exdpias, quae ad lacum. Mexicanunn
canentes poetas induoit», dijo. EI pasaje es el siguiente:
Tunc cap ti tacita rigui dulcedine ruris
Littora concentu replent quandoque poetae.
Hic pius aethero flagrans Carnerus amore
Terribiles Christi plagas, ludribia, mortem,
LOS POETAS NEOLATINOS DE MÉXICO EN EL SIGLO XVIII 187

Hic clarus sacro succensus Abadius aestro


Opprobiumque crucis numeris deflevit amaris.
Oceinuit Domino sublimes carmine laudes.
Haec quoque terrifico strepuerunt littora cantu,
Pelai cum fata viri, cum ferrea bella
Doctus Apollinea cantaret Alegrius arte.
Quin sua littoreis signarunt nomina truneis
Zapata, et Reyna, et socco celebratus Alarco,
Tristia lenirent dulei cum taedia plectro.
Ut tamen oceinuit modulis Joanna canoris,
Constitit unda fluens, ruptoque repente volatu
Aere suspensae longum siluere volucres,
Visaque duIcisono concentu saxa moveri.
Ne vera Musas livor torqueret amarus,
Ipsa Aganippaeas jussa est augere Sorores.
(I, 276-294)

Dos de las obras que aquí destaca Landívar, la de Alegre y la de


Diego José Abad, son las que ahora nos corresponde referir.

IV

Menos poeta que Landívar, pero con una presencia intelectual


mayor y una inteligenda deslumbrante para italianos y mexicanos,
Francisco Xavier Alegre tIradujo aI latín la Ilíada de Homero. He estu-
diado la Home ri !lias publicada en Roma por el Vaticano en el afío
de 1788, y desconozco edioiones posteriores. Necesario es revisar en su
totalidad esta edición para corregi r algtllIlas fallas y para sefíalar los
pasajes que no registra deI texto griego.
Francisco Xavier Alegre, nacido en Veracruz en 1729, dedicó muchas
obras aI estudio y aI cultivo de la poesía latina y espafíola. Muy joven
aún, escribió en latin un largo poema titulado Alejandriada, que lo
famiLiarizó oon la métrica y la cadencia latirna. Sabemos que siguienqo
a Cicerón compuso uu Arte poética; que tradujo la de Boileau con
anotaciones especiales para aplicarse a la poesía de lengua espafíola,
y que, además de muchas otras obras de campos teológicos, jurídicos o
filosóficos, sin excluir lo s matemáticos, escribió varios volÚlInenes en
verso latino y caste11ano oon temas religiosos y profanos. De Homero,
además de la Ilíada , sabemos que tradujo también la Batracomiomaquia.
En el próJogo de la traducción que ahora nos ocupa, Alegre da cuenta
de todas las versiones latinas anteriores y de las que en su tiempo se
habían hecho ya a otras lenguas eUlropeas, incluida la inglesa de Pape.
Su erudición no lo abandona en ningún momento, y la sombra de
188 CARLo.S Mo.NTEMAYo.R

V,irgHio. (quizás debía, debería decir, su luz) y de Ovidio no se aparta


de sus versos nunca. El armplio y so.noro griego de Homero, pues, muy
pocas veces logra filtrarse en la cadencia latina, y esto es lo que podría
hechar de menos un lector que amara el poema griego. Por otra parte,
en el contexto de su tiempo, Alegre no. se prorpUSo. hacer una traducción
palabra a palabra o verso a verso deI poema; se prorpuso. cantado en
latín, celebrarlo en latíil, recrear desde su fina pasión los momentos
que en cada rapsodia conmovieron más intensamente su espíritu. Esta
puede ser la clave para su tradueción, para gozar eon ena: leerla
como un poema subrayado ya, un poema eu el que un gran lector,
una gran alma, ha enfatizado. los instantes preolaros en que se detuvo,
en que repitió U[l verso, en que amó una imagen y se demoró en ella,
repitiéndola, admirándola ..
De los nUlITlerosos ejemplos, escojo aIguno.s pasajes cOIliffiovedores.
Todos recordamos, para empezar, el verso admirable de la primera
rapsodia en que silencioso, el andano Crises . se aleja por la orilla
deI es't ruendoso. mar. Alegre no se detiene en él, pero sí, en cambio,
alternando algunas frases, eu los que sefialan que el dios avanza como.
la noche; me parece un buen ejemplo de su estilo de traducción esta
descripçión de Apolo descendiendo deI Olimpo enfurecido .ya y con el
carcaj lleno de flechas resonando en su espalda, ilmenazante:
Audiit Architenens, subitasque exarsit in iras, .
tum se nube cava, ac densa caligine condens
iinde petit t~rras, humeris argentea pendet
ex altis pharetra, atque arcus, quem plurima circum
tela sonant gradiente Deo, caedeisque minante.
(I, 49-53; en griego, I , 43-47)

Lomismo oeurre en el beLlo pasaje de la muerte de Simoisio,


cuando insisrte en que la imagen deI árbol derribado despojado de su
follaje es como el guerrero derrortado aI que despojan de sus armas:
... ... ... .. .. ..... ...... Telamonius Ajax
Nam petit adverso venientis pectora telo,
Perque humerum ad tergum duplicato vulnere adegit,
Ille cadit, placidae quondam ceu ad stagna paludis
Populus alticomo consurgit vertice ad auras,
Quam faber, aut volucrem meditatus flectere in orbem,
Temonemve altum excidit rutilante bipenni,
lUa autem herbosas propter jacet arida· ripas.
Haud secus Anthemidem juvenem Salaminius heros
Exutumque armis, deformem ac pulvere linquit.
(IV, 459-468; en griego, IV, 473-489)
LOS POETAS NEOLATINOS DE MÉXICO EN EL SIGLO X VIII 189

Leamos un párrafo más de esta traducción de Alegre, para pasar


aI . último poeta. Creo que esta tensión dramática, el ritmo intenso . e
interior de esrtos ·versos dan una espléndida visión deI sufrimiento de
Príamo aI besar las manos deI hombre que asesinó a sus hijos:

SoliCJ..ue Automedon, et Martius Alcimus oUi


Circum ~ssistebant, ambosque ingressus in aulam
Priamides latuit; geima atque amplexus Achillis
Procidit, horrendasque manus tremulo admovet ori,
Invictas, validas, homicidas, sanguine charo
Tot sibi gnatorum infectas, et caede recenteis.
Virque virum veluti fato quum impulsus acerbo
Interimit, p atria profugus, tectisque paternis
Externas volat in terras, opulentaque magni
Tecta viri, adstanteisqub omnes stupor occupat ·ingens,
Sic Priamum intuitus stupuit Pelejus heras.
Inque vicem socii sese spectantque, silentque .
Attoniti; at lacrimans Priamus sic ora resolvit:
(XXIV, 401-403; en griego, XXVI, 476-508)

v
Finalmente, Diego José Abad fue el autor deI poema qmzas más
importante de esa generaoión. Con el paso de los anos, sin embargo,
ese poema que trató de la eternidard, me parece que ha tomado una
dimensión más modesta de la que le tributaron sus leatores italianos
y mexicanos de su tierrnpo. Quizás ahora lá Rusticatio Mexicana ha
alcanzado un esplendor mayor, porque alienta en él una vida mexicana
que sigue siendo nuestra, que sigue fiel a nuestros pueblos y nuestros
paisajes. En el poema de Diego José Abad, en cambio, Dios va escOll-
diéndose cada vez más, y posiblemente no sólo en el México deI poema,
sino en nuestl'O mtmdo contemporáneo. Su lenguaje es más lejano,
más inocente, a veces, menos escrupulosamente moderno. Pero es indu-
dable que sus cantos contienen la más intensa prueba de la nostalgia
mexicGÍJna por la eternidad. .
Este poei:na, conocido en México como Poemá Heroico, que em latín
tituló su autor de Deo H eroica y que sus conteinporánoos designaram
sin más como Poema, se compone de XLIII cantos, todos de más de
cien versos y aJgunos, como el canto XLII, de más de setecientos.
Se trata de un poema inrnenso, pues, de más de seis mil hexá.rnetros
latinos. Aparte de este poema, Diego José Abad, que había nacido en
Jiquilpan, Michoacán, en el afio de 1727, se empenó en la traoocción
190 CARLOS MONTEM A YOR

de la octava égloga de Virgilio y en dos Himnos en honor de


San Felipe de Jesús, y el resto de su obra la consagró a la filosofía
y a las matemáticas. De esta vocación filosófica y científica los cantos
de Deo Heroica reciben su fundamental aliento.
Las influencias poéticas son aquí más clar:as que en la obre de
Landívar O, incluso, que en la de Alegre. Resuenan en espeoial los eoos
muy precisos de ViI1gilio, Ovidio y Lucrecio. En menor medida, pera
también en pasajes importalI1tes, no es difícil oír a Horacio y Tibulo,
y en ocasiones a Séneca, que no es común entre nosotros.
Como es iJlnposible comentar el poema entero, me reduciré, para
terminar mi conferencia, a mencionar algunos aspectos deI canto cuarto,
que el poeta tituló Aetemitas. Este canto es para mí el puente entre el
poema de Sor Juana, Primero suefLo, deI siglo XVII, y Muerte sin fin,
de José Gorostiza, dei siglo XX. E:J. tema es univeI1sal, y así lo trata
Abad; pero 00 ciertos momentos el asombro mexicruno se apodera
deI tema.
Los prio:neros diez versos parten de la 1magen de la inconstancia
lunar. Parecen un rigul'oso silogismo pensado por una moote lógica
o matemática, por una inteligenda eu que nuestra Sorr Juana o nuestro
José Gorostiza podían hallá acomodo:

Aspice ut inconstans est, et mutatur in horas,


et nunquam Lunae est, nec vultus, nec color idem.
Aemula nunc fratris toto, et pleno ore refulget
candida: nunc languet, medioque atrata nigrescit
orbe: modo obtusis, modo acutis cornibus ardet
vix: nunc obruitur, penitusque immergitur umbris:
illius in caelo vestigia nuHa supersunt.
Haec itidem cunctas res inconstantia versat
humanas: sic apparent, surguntque, caduntque:
sic et mutantur, quae subsunt omnia Lunae.
(IV, l-lO)

Atrayentes son los versos en · que Abad apunta que en todas las
cosas mudables deI oielo, la ti erra y los mares, es posible ver las huella's
de la niebla y la oscuridad de la nada de que surg.ieran:

Omnia mutantur caelo, terraque, marique.


Umbrae et nigroris, nihilique, unde eruta quondam
omina, nunc etiam quaedam vestigia servant.
(IV, 18-20)
LOS POETAS NEOLATINOS DE MI?XICO EN EL SIGLO XVIII 191

Lapidaria es su frase de que Dias no puede reducirse aI tiempo


fugaz:
Non, ut homo, angusto fugitivi temporis orbe
arctatur Deus ...
(IV, 39-40)

Pera 10 admirable, lo más cercano aI aluar de su vida, de su


pasión mística y devota, de su vigor poético en que nos es posible
reconocer a otros poetas de México, lo expresa en los últimos diez
versos de este cuarto canto:

.. . Perpetuo praesens semper sibi constato


Omnia complectens, simul omnia conspicit uno
intui tu, neque transcurrit neque mente movetur.
Divina Mentis nulla aut conceptio transit,
aut amor, aut odium nunc est, quod non erit olim,
aut quod non fuerit semper sine fine per aevum.
Non hoc, deinde aliud, fluxa, ut nos mente revolvit:
non animus sese studia in contraria scindit
mobilis, aut varius nunc hunc, nunc volvitur illuc.
Mens immota manet, manet aeque immota voluntas .
Et solus Dominus sic immutabilis ipse est.
Omnino Deus ille est, qui non coeperit esse,
Immotaque queat simul amplecti omnia mente.
(IV, 89-100)

En esa Mente inrnóvjl, quieta como su Voluntad, en esa umca


permanencia iIlilllodificable que no tuvo primdpio, en esa Mente que
inmóvil abarca todas las cosas, descansa, luminosa y lejana, como
una estrella fría, la soledad de Dios, la otra soledad que el hombr.e no
alcanza. Aquí, en este canto, ha comenzado a escribirse en México
Muerte sin fin, ha comenzado el encuentro de las dos estrellas en exilio:
el hombre y Dias.

VI
Hasta aquí, los poemas. Ahora, una pregunta: el humanismo de
estas hombres, (en qué sentido fue universal? Creo que en el lazo
de culturas hasta ese momento distantes: Las indígenas y la europea.
Fue universal en su capacidad de servir a la oreación de un nuevo
país. Su humaniS>ffio no fue reooger viejos poemas o conodmientas,
ongmar una nueva literatura, imponer una cultura «univeI1sal» sobre
culturas regionales: fue abrirse a cultuI1as de las que nada su país,
192 CARLOS MONTEMA YOR

fue la capacidad de situarse, y pertenecer, a una parte real deI mundo.


Fue su comprensión histórica de México en su doble origen, su capa-
cidad de eJqlresar, por vez primera, y en impecables páginas caste-
llanas y latinas, la mexicanidad.
Pero debo ahora terminar. Y lo haré recordando a Virgilio, que
ha sido como un dios tutelar pam nosotros. Vasco de Quiroga, aI
llegar a Nueva Espana leía de otra manera el terso y proteico texto
de la cuarta égloga de Virgilio, creyendo que el nuevo linaje de oro
que nacería en el mundo representaba aI pueblo de México. Para Diego
José Abad, dos siglos después se cumplía la esperam.za de Vasco de
Quiroga. En ese siglo, en esos últimos afios del siglo XVIII en que
él y sus companeros humanistas forjaron la idea de México, dice en su
Deo H eroica que de nuestro nuevo y desconocido continente surge
la nueva vida humana:

Servati, et memores hoc nos ab cardine rerum


venturos deinceps, nostrosque putabimus anuos,
et novus hinc oritur, saeculorum, et vertitur ordo.
Aurea nunc ibit; subsidet decolor aetas.
Ignotoque etiam surget gens aurea mundo.
(XXIII, 133-137)

Y a ese nuevo pueblo de oro, a esa nueva generaclOn áurea él se


sintió pertenecer. A ese Méxioo de oro, que habían forjado con sus
palabras latinas y su amor patrio Diego José Abad y sus companeros
hUlITIanlstas, a ese México, a ese pueblo, sintió que pertenecía su vida.
Y a vidas como las suyas mi país debe tarrnbién la conciencia de su
antigua e insustituible existencia.
A ANTIGüIDADE NA OBRA DE MACHADO DE ASSIS

GLADSTONE CHAVES DE MELO


Universidade Federal Fluminense

Não trago novidade se disser que a palavra civilização, de base


latina, foi criada e empregada pela primeira vez pelo Marquês de Mira-
beau, em 1756, no seu livro L'Ami de l'Homme ou Traité sur la Population.
Com o novo termo quis o economista designar o estado desenvolvido
de uma comunidade ou sociedade, o que até então era designado pelo
vocábulo police (exatamente como em português polícia). E Sipecifica-
mente, o estágio a que tinham chegado as nações européias com a
Aufklarung.
Leonel Franca explicita o sentido da nova palavra, interpretando
Mirabeau e precisando-o: «o desenvolvimento das ciênoias, das letras
e das artes, prudência equilibrada das instituições políticas e sociais,
mantenedoras da justiça e da paz, requinte de ademanes e delicadem
de maneiras corteses e refinadas» (A Crise do Mundo Moderno, pp. 14-15) .
Não é difícil ver na conceituação de Franca bem mais do que
intentou Mirabeau, uma vez que agora estamos, nitidamente, diante
de um ideal, a que tendem ou devem tender todos os grupos humanos
não conformados com a mesmice, ou, menos ainda, entregues à lei da
gravidade.
Nesta pauta semântica se alinham os adjetivos bárbaro e selvagem
(opostos a civilizado), que fizeram fortuna para designar trés momentos
da evolução (ou involução) dos povos. E, apesar de deterioridada e
contestada a inteligência primeira de civilização e civilizado, chegou
até nós a tricotomia, agora votada à excomunhão.
Realmente, depois das especulações de antropólogos e filósofos
alemães a respeito da Kultur, que, por fim, veio a designar «oonjunto
de estilos de vida, quer materiais, quer espirituais», sem qualquer cono-

13
194 GLADSTO'NE CHAVES DE MELO'

taçãO' qualitativa, a palavra civilização, creia que par valta de 1920,


entra a sinanimizar-se com cultura, perdendO' entãO' calar de excelência,
de superioridade.
Daí parque Lucien Febvre, em 1930, ainda mastrava irânica estra-
nheza pela nava entendimento dada à nabre palavra: «de algum tempO'
para cá passau a ter livre trânsitO' a idéia de civilizaçãO' de nãa-civili-
zadas» - depuis longtemps la natian d'une civilisation des non-civi-
lisés est oaurante (cf. Civilisation, le mot et l'idée, p . 2).
Quero nesta comunicação manter o significado setecentista, origi-
nal, cam a feliz especificação de Leanel Franca, insistindo, portanto,
na inseparável nota de ideal, a que aspiram ou devem aspirar as socie-
dades O'rganizadas.
E, nesta clave, penso que estarei certo afirmando que o primeiro
vagido, os primeiras esforças pela civilização começaram em remotos
tempas, com os sumérios, antiqüíssimO's povas do sul da MesO'potâmia.
Cerca de 3300 a. C. iniciam eles sua grandiasa obra de elevação
humana, de primado do ,e spírito, até de cultura desinteressada, chama
esta que Jamais se apagará de todo, bruxoleante aqui, mortiça ali,
vivaz acolá. Nos primórdios do segundo ' milênio já tinha declinado
o pader pO'lítico de Sumer, mas a tacha sagrada passau a outras mãos.
Aí está a CódigO' de H amurabi , que nas chegau quase inteiro; aí está
Assurbanipal; aí está Nabucadanasor.
Também está numa saciedade teocrá1lioa e fechada, desdenhosa
dos primares culturais, mas ciosa guaI'dadora de um tesouro sem preço
que lhe vai sendo entregue, a palavra de Deus. É a pavO' de Israel.
CaminhandO' palia aeste, a chama faz surgir incipiente, depais cres-
cente, depois fulgurante a Grécia e O' gênio gI'ega, cO'm a epO'péia, a
tragédia, a oratória, a sábia organizaçãO' política e, sobretudo, com o pen-
samentO' lógico apuradíssimo . Vem a século de Péricles, com todo a seu
esplendar. Depois... a decadência. A Grécia sucl1!Illbiu às hostes roma-
nas, que fizeram dela simples província da futuro imenso ImpériO' .
Mas ...

Graecza capta ferum ulctorem cepit et artes


Intulit agresti Latio (Epist., II, 1, 157)

disse um dos grandes romanas, paeta maiar, autar da Carmen saeculare.


O testemunho é mais significativa, parque HO'rácio viveu no século de
ouro da Latinidade, contemporâneo de CícerO' e de VirgíliO'.
A ANTlGOIDADE NA OBRA DE MACHADO DE ASSIS 195

o gênio romano absorveu o gênio grego, assimilou fundo o espírito


da Hélade, e trouxe importantíssima oontribuição para a obra civili-
zadora: a estrutura política da sociedade, a formulação e o mergulho
no saber jurídico, com seus conoeitos e definições lapidares. Satírioos,
épicos, líricos, comediógrafos e trágicos, oradores, juristas e historia-
dores fizeram perpétuas as letras romanas.
Mas o Império, cansado de tanta grandeza, como diz Savi-López,
entra a declinar, abastarda-se, prostitui-se e, por fim, sucumbe ao mar-
telo dos barbari.

Serenando o maior movimento de povos que já registrou a Histó-


ria, começa a longa assimilação da sabedoria grega, da herança de
Roma, agora dignificadas e alcandoradas pela espiritualidade judaico-
cristã. É o admirável e imorredouro trabalho da idade-sem-nome, da
que, simplesmente, fica entre a antiga e a moderna, idade malsilnada
pelos negadores da grande2)a maior, da transcendência comunicada,
idade maldita como «noite dos mil anos» ou «época de trevas », não
obstante haver fundado a Universidade, haver construído a Catedral,
ter pensado a Summa Theologiae e haver cantado a Divina Commedia.
E fez muito mais: começou a maior parte das coisas de que se orgulha
a nossa atual «civilização do bem estar», violenta, egoísta, tecnocrá-
tica, esvaziada.
Muito judiciosa, pois, e oportuna esta observação de um eminente
medievalista, ao fechar seu fascinante pequeno livro La grande clarté
du Moyen Age: «Les ténebres du Moyen Age ne sont que celles de
notre ignorance. Une clarté d'aurore baigne les âges lointains de notre
genese pour qui sait porter 1e flambeau de la connaissance [et] de
l'amour» (p. 187).

o Renascimento contesta mas retoma, tergiversa e continua, exta-


sia-se ante o esplendor grego e a grandeza romana, e intenta cI1iar uma
era nova, marcada pela afirmação do homem. Como que entra a glosar,
longamente, o famoso passo de Terêncio: Homo sum, et nihil humani
a me alienum pu to (Heautontimorumenos, a. L se. 1, v. 85).
Entrou por muitos descaminhos; porém, no que ora nos interessa
trom~e valiosa contribuição às letras e às artes plásticas, como é óbvio.
Sobretudo, valorizou a palavra, procurou a medida e~ata, e a proporção,
instaurou (ou restaurou) o clássioo.
196 GLADSTONE CHAVES DE MELO

Estou com René Pichon - embora generalize sua observação-


quando diz, a respeito da literatura latina:

Les vrais classiques sont ceux chez que l'influence grecque et l'esprit
national se balancent dans un exact équilibre, qui, coinme Ciceron,
Virgile et Horace, possedent une forme exquisse sans manquer d'idées
sérieuses, qui sont des artistes sans cesser d'être Romains.
(Histoire de la Lit. Latine, p. 40)

.~ *

Tenho, pois, sempre entendido que a ohamada «civilização oci-


dental» é o resultado histórico da fusão do pensamento grego, do 6enso
político e jurídico dos romanos com a espiritualidade judaico-cristã,
fusão destes tI1ês elementos na forja da Idade Média.
Um dos traços mais sensíveis de tal civilização é a sua umversa-
lidade. Apresenta matizes locais, carregados ou tênues, mas é funda-
mentalmente uma civilização do homem para o homem de todos os
tempos e de todas as latitudes.
Na sua diuturna elaboração histórica, seis vezes milenar, houve,
sem dúvida, infimitos desacertos e contramarchas, miríades de cenas
brutais. Mas estes acompanhames têm sinal negativo, e o erro e o mal
°
são, por natureza, infecundos: só a verdade e bem constroem e deixam
descendência plausível.
Concordo em cheio com Aldo Ferrabino, que, eloqüente, sentencia:

De idade em idade, até ao presente, ressoou a afirmação do primado


do homem sobre as coisas, do espírito sobre a matéria, da inteligência
sobre a força, da concórdia sobre a guerra. Foi assim conservado, perpe-
tuado e divulgado o testemunho do espírito, que elevou a natureza
acima de si mesma, auxiliando a impotência humana e moderando
a violência.
(ln Heresias do nosso Tempo , p. 359)

*
* *

Esta introdução, talvez abusivamente estirada, foi posta para situar


o maior escritor brasileiro, Joaquim Maria Machado de Assis.
Com certeiro instinto, ele integrou"se na civilização do universal;
inteligente, decompô-la e abraçou-a; reta, serviu-o devotado. Percebeu
A ANTIGOIDADE NA OBRA DE MACHADO DE ASSIS 197

que a cultum clássica, lato sensu, constitui expressão adequada e alta


desta civilização do universal e escolheu-a decidido como forma de
pensamento e de expressão.
Convencido disto há muito tempo, folguei quando vi fazer o mesmo
asserto, palmilhando embora outros caminhos, um dos maiores e mais
lúcidos ensaistas contemporâneos brasileiros, o jornalista Otávio Tirso
de Andrade. Tratava ele de uma forma de neo-racismo, que de certo
modo empolgou alguns setores do pensamento europeu e se tornou
bandeira de luta da esquerdência brasileira, empenhada agora em des-
pertar e espevitar uma «consciência negra», que antes nunca existira
e que seria a feição cabocla do Volksgeist. Assim conclui Hrso de
Andrade seu brilhante artigo «Neo-racismo», publicado no matutino
carioca Jornal do Brasil (8.2.88, 1.0 cademo, p. 11):

A prova do acerto da definição de neo-racismo formulada pelo autor de


La défaite de la pensée nos é dada por sabermos que o maior, o maIs
inteligente, o mais autenticamente universal de todos os ficcionistas
brasileiros, o genial mulato Machado de Assis, jamais se alistaria entre
os partidários da identidade cultural, que anda por aí a bradar: Axé!

Podemos identificar a presença da cultura clássica na obra de


Machado de Assis, atentando nestes três aspectos: 1. freqüência de remis-
sões a fatos da histÓTia grega e da romana e alusões à mitologia e à lite-
ratura; 2. repetido aproveitamenrto de autores pinaculares da fase clássica
das litePatu~as modernas (e aqui destaco Shakespeare); 3. o extremo
cuidado que pôs na correção da linguagem, exemplamnente vernácula.
:e. realmente notável nele a porfiada, quase obsessiva busca do
termo próprio, do adjetivo insubstituível, a sistemátka fuga ao verba-
lismo, ao tropicalismo, à ênfase. A este propósito já disse eu dele que,
contrariando tudo o que se poderia esperar de um suposto recalcado,
mulato, pobre, epiléptico, de só escolaridade primária, contrariando
tudo, nos saiu um grego do século de Pé:Picles!
Seria intolerável, e descortês, que fosse documentar exaustivamente
o que acima alinhei como provas da presença, viva e atuante, da cultura
clássica na obra machadiana. Contentar-me-ei, pois, em transcrever,
eventuaLmente comentando-os, alguns tópicos do que ficou em livro,
desde as primeiras manifestações da juvenvude até os escritos da pró-
diga velhice. .
Na poesia (de valor indiscutivelmente menor), apontamos para
«Uma ode de Anacreonte», composta entre os vinte e seis e os trinta
anos, peça de imitação, onde ele aproveita onze versos de certa tra-
198 GLADSTONE CHAVES DE MELO

dução de Castilho e põe, em oito cenas, um diálogo entre Lísias, Cléon,


Mirto e três escravos, tudo passado em Samos. Versos alexandrinos
clássicos e rimados, 435, que já para o fim alternam com dissilábicos
agudos. Em «Pálida Elvira», poema a que antecede uma evocação de
Ulisses, tirada de Stern, a décima-sexta estrofe começa com um verso
de Virgílio, das Eclogas (III, 93):

- Latet anguis in hcrba ... Neste instante


Entrou a tempo o chá ... perdão, leitores,
Eu bem sei que é preceito dominante
Não misturar comida com amores;
Mas eu não vi, nem sei se algum amante
Vive de orvalho e pétalas de flores;
Namorados estômagos consomem:
Comem Romeus, e Julietas comem.
(Poesias Completas, ed. Garnier, p. 143)

o poema «Clódia», todo romano, assim termina:


... ........... ................ Ingrata e fria,
Lésbia esqueceu Catulo. Outro lhe pede
Prêmio à recente, abrasadora chama;
Faz-se agora importuno o que era esquivo.
Vitória é dela: o arúspice acertara.
(p. 351)

Nos romances da primeira fase, inferiores, como se sabe, meio


convencionais e marcados por jogos de situação, muito raras ocorrem
alusões à antigüidade. Creio que não serão muito mais que este passo
de A Mão e a Luva (1874):
Eu, que sou o Plutarco desta dama ilustre, não deixarei de notar que,
neste lance, havia nela um pouco de Alcibíades - aquele gamenho e
delicioso homem de Estado, a quem o despeito também deu forças
um dia para suportar a frugalidade espartana.
(p. 32, ed. Garnier)

o primeiro grande romance, Memórias Póstumas de Brás Cubas,


apresenta-se recheado de tais reminiscências, de que arrolo algumas:
Por exemplo: Suetônio deu-nos um Cláudio que era um simplório,
ou «uma abóbora», como lhe chamou Sêneca, e um Tito, que mereceu
ser as delícias de Roma. Veio modernamente um professor e achou
meio de demonstrar que dos dous césares, o delicioso, o verdadeiro
delicioso foi o «abóbora» de Sêneca.
(p. 9 da 4: ed. Garnier)
A ANTlGOIDADE NA OBRA DE MACHADO DE ASSIS 199

Que, em verdade, há dous meios de grangear a vontade das mulheres:


o violento, como o touro de Europa, e o insinuativo, como o cisne de
Leda e a chuva de ouro de Dânae, três inventos do padre Zeus, que,
por estarem fora da moda, aí ficam trocados no cavalo e no asno.
(p. 51)

Nos primeiros dias meti-me em casa, a fisgar moscas, como Domiciano,


se não mente Suetônio, mas a fisgá-las de um modo particular: com
os olhos.
(p. 295)

Não tinha remorsos. Se possuísse os aparelhos próprios, incluía neste


livro uma página de Química, porque havia de decompor o remorso
até os mais simples elementos, com o fim de saber de um modo posi-
tivo e concludente por que razão Aquiles passeia à roda de Tróia o
cadáver do adversário, e Lady Macbeth passeia à volta da sala a sua
mancha de sangue.
(p. 324)

Não tinha vasto alcance, o objeto da pergunta; mas, ainda assim,


demostrei que não era indigno das cogitações de um homem de Estado;
e citei Filopêmen, que ordenou a substituição dos broquéis de suas
tropas, que eram pequenos, por outros maiores e bem assim as lanças ,
que eram demasiado leves, fato que a História não achou que desmen-
tisse a gravidade de suas páginas.
(p. 337)

[Brás Cubas, na Câmara dos Deputados, perguntara ao Ministro se


não em útil diminuir a barretina da GuaI1da Nacional.]
Há de lembrar-se, disse-me o alienista, daquele famoso maníaco
ateniense que supunha que todos os navios entrados no Pireu eram
de sua propriedade. Não passava de um pobretão, que talvez não
tivesse, para dormir, a cuba de Diógenes; mas a posse imagmana
dos navios valia por todos os dracmas da Hélade. Ora bem: há em
todos nós um maníaco de Atenas; e quem jurar que não possuiu
alguma vez, mentalmente, dous ou t rês patachos, pelo menos, pode
crer que jura falso.
(p. 370)

o mmance que se segue, Quincas Borba, já é bastante mais parco


em greguices e romanices. Lembro estas duas:
Os seus eclipses [da lua] (perdoe-me a astronomia) talvez não sejam
mais que entrevistas amorosas . O mito de Diana descendo a encon-
trar-se com Endimião bem pode ser verdadeiro. Descer é que é de mais.
Que mal há que os dous se encontrem ali mesmo no céu , com os grilos
entre as folhagens cá de baixo. A noite, mãe caritativa, encarrega-se
de velar a todos .
(p . 64 da ed. Garnier)
200 GLADSTONE CHAVES DE MELO

Ou mu~to me engano (e então se me releve a ignorância), ou laborou


em equívoco Maohado de Assis. Terá feito confusão, identificando
Artêmis, ou Diana, com Selene. Nunca vi tal identificação. Terá o mestre
tomado a nuvem por Juno, chamando à Lua Diana?
Perdoem-lhe esse risco. Bem sei que o desassossego, a noite mal
dormida, o terror da opinião, tudo contrasta com esse risco inoportuno.
Mas, leitora amada, talvez a senhora nunca visse cair um carteiro.
Os deuses de Homero - e mais eram deuses - debatiam uma vez no
Olimpo, gravemente, e até furiosament€. A orgulhosa Juno, ciosa dos
colóquios de Tétis e Júpiter em favor de Aquiles, interrompe o filho
de Saturno. Júpiter troveja e ameaça; a esposa treme de cólera. Os
outros gemem e suspiram. Mas quando Vulcano pega da urna de néctar
e vai coxeando servir a todos, rompe no Olimpo uma enorme garga-
lhada inextinguivel. Por quê? Senhora minha, com certeza nunca viu
cair um carteiro.
(p. 98)

Em Dom Casmurro (para não poucos o maior romance de Maohado)


quase não aparece a velha Grécia, mas ausente não está. A respeito de
uma citação da Sagrada Escri,t ura feita pelo Padre Cabral e tomada
ao Livro de Já (5, 18), diz o narrador:
«Ele fere e cura!» Quando, mais tarde, vim a saber que a lança de
Aquiles também curou uma ferida que fez, tive tais ou quais veleidades
de escrever uma dissertação a este propósito. Cheguei a pegar em
livros velhos, livros mortos, livros enterrados, a abri-los, a compará-los,
catando o texto e o sentido, para achar a origem comum do oráculo
pagão e do pensamento israelita.
(p. 56 da ed. Melhoram.)

Vale agora transcrever todo um pequeno capítulo (CXXV) relativo


ao discurso beira-túmulo feito por Bentinho ao seu maior amigo e
suposto corneador:
Príamo julga-se o mais infeliz dos homens, por beijar a mão daquele
que lhe matou o filho. Homero é que relata isto, e é um bom autor,
não obstante contá-lo em verso, mas há narrações exatas em verso,
e até mau verso. Compara tu a situação de Príamo com a minha:
eu acabava de louvar as virtudes do homem que recebera defunto
aqueles olhos ... É impossível que algum Homero não tirasse da minha
situação muito melhor efeito, ou quando menos , igual. Nem digas que
nos faltam Homeros, pela causa apontada em Camões; não, senhor,
faltam-nos, é certo, mas é porque os Príamos procuram a sombra e o
silêncio. As lágrimas, se as têm, são enxugadas atrás da porta, para que
as caras apareçam limpas e serenas; os discursos são antes de alegria
que de melancolia, e tudo passa como se Aquiles não matasse Heitor.
(p. 275)
A ANTIGtlIDADE NA OBRA DE MACHADO DE ASSIS 201

o meu plano foi esperar o café, dissolver nele a droga e ingeri-la.


Até lá, não tendo esquecido de todo a minha história romana, lem-
brou-me que Catão, antes de se matar, leu e releu um livro de Platão.
Não tinha Platão comigo; mas um tomo truncado de Plutarco, em que
era narrada a vida do célebre romano, bastou-me a ocupar aquele pouco
tempo, e, para em tudo imitá-lo, estirei-me no canapé.
(p. 293)

No romance Esaú e Jacó não faltam alusões e reminiscências, várias


delas da boca ou da pena do Conselheiro Aires (que muitos consideram
a principal encarnação de Machado). Logo no início, falando das duas
irmãs, que tinham ido consultar a cartomante do Morro do Castelo e
receberam um número a indicar a vez de serem atendidas, comenta
o narrador:

Também não há que dizer do costume, que é velho e velhíssimo. Relê


Esquilo, meu amigo, relê as Eumênides: lá verás a Pítia, chamando
os que iam à consulta: «Se há aqui helenos, venham, aproximem-se,
segundo o uso, na ordem marcada pela sorte ... ». A sorte outrora, a
numeração agora, tudo é que a verdade se ajuste à prioridade, e nin-
guém perca a sua vez de audiência.
(p. 3 da ed. Garnier)

Deixando de lado o passo em que o Conselheiro declama o começo


da Ilíada, acrescentando ser homenagem, digamos, de Homero a Paulo ,
e a seguir vecita a abertura da Odisséia, atribuindo ao outro gêmeo,
Pedro, o imortal poema (p . 136) - deixando-o de lado, atento no capí-
tulo LXI, cujo título já traz a Grécia, «Lendo Xenofonte »:

Almoçou tranqüilo, lendo Xenofonte: «Considerava eu um dia quantas


repúblicas têm sido derribadas por cidadãos que desejam outra espécie
de governo, e quantas monarquias e oligarquias são destruídas pela
sublevação dos povos; e de quantos sobem ao poder, uns são depressa
derribados, outros, se duram, são admirados por hábeis e felizes ... ".
[ ... ] Tudo isto em grego e com tal pausa, que ele chegou ao fim do
almoço, sem chegar ao fim do primeiro capítulo.
(pp. 192-193)

Aqui um espírito maldoso vislumbraria certa pacholice no ex-apren-


diz de tipógrafo, só possuidor de curso primário, nascido no Morro do
Livrame nto. Sendo Aires um alter ego do autor, ler Xenofonte no
original é un peu fort ...
Numa tirada magnífica sobre o encilhamento (que, à p . 228, se
nomeia), uma falsa e trágica euforia económica da aurora da República
202 GLADSTONE CHAVES DE MELO

brasileira (1890-1892), encaixa nosso autor esta greguice, sugerida pelo


exibicionismo dos novos-ricos:
As parelhas [das carruagens] arrancavam os olhos à gente: todas pare-
- ciam descer das rapsódias de Homero, posto fossem ' corcéis de paz.
As carruagens também. Juno certamente as aparelhara com suas
correias de ouro, freios de ouro, rédeas de ouro, tudo de ouro incor-
ruptível. Mas nem ela nem Minerva entravam nos veículos de ouro
para os fins da guerra contra ílion. Tudo ali respirava a paz. Cocheiros
e lacaios, barbeados e graves, esperando tesos e compostos, davam
uma bela idéa do ofício. Nenhum aguardava o patrão, deitado no inte-
rior dos carros, com as pernas de fora.
(p. 230)

*
* *

Nos contos, que são muito numerosos e em que Machado excedeu


antes de ter chegado no romance à plenitude, nos contos, digo, tam-
bém ocorrem não poucas reminiscências, alusões ou evocações da
Antigüidade.
No célebre «o alienista», única peça longa e movimentada, em
todo o elenco machadiano, o protagonista é o Dr. Simão Bacamarte,
médico notável, recheado de ciência adquirida nos grandes centros do
mundo. Afinal posto na Vila de Itaguaí, decidiu-se por identifioar as
diversas formas de demência, descobrir-lhes as causas e, conseqüen-
temente, a cura. Acaba ficando patente que o único louco da Vila era
o doutor. Assim termina Machado a sua apresentação do herói:

um grande homem austero, Hipócrates forrado de Catão.


(Papéis Avulsos, ed. Garnier, p. 67)

Na «Teoria do medalhão» (palavra esta desconhecida dos portu-


gueses, mas de que eles também têm belos exemplares), um pai zeloso
vai ensinando ao filho de 21 anos como ele poderá chegar a este estágio
«superior». A certa altura da conversa, atalha o rapaz:

- Isto é o diabo! Não poder adornar o estilo de quando em quando.


- Podes; podes empregar umas quantas figuras expressivas: a hidra
de Lema, por exemplo, a cabeça de Medusa, o tonel das Danaides, as
asas de Ícaro, que românticos, clássicos e realistas empregam sem
desar, quando precisam delas.
(ibid., pp. 92-93)
A ANTIGOIDADE N A OBRA DE MACHADO DE ASSIS 203

É óbvio que aí se está fazendo caricatura e mofa; porém uma


coisa e outra possuem a virtude de ressaltar o positivo, o autêntico,
no caso, o alto valor da cultura séria e elaborada.
Na mesma coletânea temos «Uma visita de Alcibíades», conto-fan-
tasia, em que o narrador, lendo Plutarco, mergulha na Grécia e conversa
com Alcibíades (pp. 237-248).
O livro Histórias sem Data abriga um «Conto alexandrino», onde
dois sábios, Pítias e Stroibus, porfiam em isolar, no sangue dos ratos,
o princípio da ratonice. E conseguem-no, tendo o primeiro injetado,
cobaia espontânea, im~diatarmente surripiado uma idéia do colega. Daí
por diante os dois, fàrtamente inoculados, se tornam ladrões agilís-
simos e universais, em quem ninguém pode pôr mão. Interessante é
notar que neste conto (como em outros passos) Maohado foi profético,
porque pressentiu que a degradação que então se inioiava da inteli-
gência chegaria ao ponto, hoje atingido, de atribuir, como causa, a
distúrbios e carências fisiológicas muitas desordens morais.
Páginas Recolhidas oferece-nos em «Um erradio» a rica figura de
um boémio, lido e inteligente. Elisiário, que, espraiando-se tanta vez,
se tornou alvo da maior admiração do narrador. Olhe-se este trecho:
Elisário entrou a comentar a bela obra anônima, com tal abundância
e agudeza que me deixou ainda mais pasmado. Que de cousas me
disse a propósito da Vénus de Milo, e da Vénus em si mesma! Falou
da posição dos braços, que gesto fariam, que atitude dariam à figura,
formulando uma porção de hipóteses graciosas e naturais. Falou da
Estética, dos grandes artistas, da vida grega. Era um grego, um puro
grego, que ali me aparecia e transportava de uma rua estreita para
diante do Pártenon. A opa do Elisiário transformou-se em clâmide.
a língua devia ser a da Hélade, conquanto eu nada soubesse a tal
respeito, nem então, nem agora. Mas era feiticeiro o diabo do ho mem .
(p. 33 da ed. Garnier)
Em «Eterno!», outro conto do mesmo livro, damos com isto:
A aurora registrou o nosso pacto imoral. Não consenti que ele fos se a
bordo despedir·se. Parti. Não falamos da viagem ... Ó mares de Homero,
flagelados por Euros, Bóreas e o violento Zéfiro, mares épicos, podeis
sacudir Ulisses, mas não lhe dais as aflições do enjôo. Isso é bom para
os mares de agora, e particularmente para aqueles que me levaram
daqui à Bahia.
(p. 63)

Não nos passe despercebido que aí Machado, ao contrário da


opinião comum, chama violento ao zéfiro. Mas ele está certo: trata-se
de vento de oeste, habitualmente suave, mas eventualmente tempestuoso.
204 GLADSTONE CHAVES DE MELO

No esplêndido conto «Papéis velhos», damos com esta glosa de


Dáfnis e Cloé:

Parece que o anjo L ... a, exausto da perpétua antífona, ouviu cantar


Dáfnis e Cloé [o autor pôs acento agudo na vogal final] cá em baixo,
e desceu a ver o que é que podiam dizer tão melodiosamente as duas
criaturas. Dáfnis vestia então uma casaca e uma comenda, administrava
um banco, e pintava-se; o anjo repetiu-lhe a lição de Cloé: adivinha-se
o resto.
(p. 121)

Relíquias de Casa Velha, cuja só metade é de contos, dá título


grego a um deles, «Pílades e Orestes », que é, de facto, uma complexa
história de dois amigos inseparáveis, Quintanilha e Gonçalves, um dos
quais aoaba por casar-se e leva o outro para padrinho de núpcias e
de dois filhos. O solteiro morre de uma bala perdida, por ocasião da
Revolta da Armada (1893). E assID! teI1mina o conto, buscando analogia
nas letras he1ênicas:

Orestes vive ainda, sem os remorsos do modelo grego. Pílades é agora


o personagem mudo de SofocIes. Orai por ele!
(p. 123 da ed. Garnier)

*
* *
Machado de Assis andou constante 'nos jornais da Corte, depois
nos da República. Aí publicou poemas, folhetins (mais tarde recolhidos
em romances), contos, ensaios, crítica literári,a e teatral, crônicas.
Comentou acontecimentos do Brasil e do mundo, com muita liberdade,
chiste e humor.
Deste cronista disse muito bem outro mestre da crônica:

Ninguém mais, neste século, e principalmente neste país, é capaz de


escrever com aquela graça dançarina; ninguém mais é bastante sábio
e bastante livre para começar sua crônica pelas rosas e borboletas do
jardim, para emendá-las, com a lógica suprema do delírio, numa inti-
mação da Intendência Municipal; e ninguém mais sabe compor aquela
salada, a que se referia Montaigne, onde entram Voltaire, a instituição
do júri, a carta que o Grão-Turco escreveu do próprio punho no jubileu
do Papa, as saudades de Granada , algumas reflexões sobre o Corão,
aplicados logo após as eleições de Ubá, tudo isto envolto nos melhores
molhos da língua 'e enfeitado com o creme destas considerações finais
sobre um parecer dos síndicos da Geral" ,
(Gustavo Corção, in Obra Compl eta, III, p. 325)
A ANTIGüIDADE NA OBRA DE MACHADO DE ASSIS 205

Nestas crOnIcas, sobretudo nas do Diário de Notícias, «A Semana»


(1892-1897), andou Machado à solta evocando os antigos dos dois pólos
do Mediterrâneo. Aí é que dá asas mais largas ao vezo, muito seu, de,
a propósito dos sucessos locais ou remotos, de pessoas e de conflitos,
fugir para a Grécia ou para Roma, levta do por fatais associações de
idéias e imagens.
Claro que não vou trazer para aqui todos os lanços pertinentes.
Atenção pedirei só para dois ou três, não necessariamente os melhores,
mas adequados ao meu fim.
Vem ao caso, por exemplo, mostrar esta comparação da Grécia
de 1892 com a antiga:

Sombra de Aristóteles, espectro de Licurgo, de Draco, de Sólon, e tu,


de governo ou de exército, filósofos, políticos, acaso sonhastes jamais
justo Aristides, apesar do ostracismo, e todos vós, legisladores, chefes
com esta imensa banalidade de um gabinete que pede demissão? Onde
estão os homens de Plutarco? Onde vão os deuses de Homero? Que é
dos tempos em que Aspásia ensinava Retórica aos oradores? Tudo, tudo
passou. Agora há um parlamento, um rei, um gabinete e um presidente
de conselho, o Sr. Tricoupis, que ficou com a pasta da fazenda. Ouves
bem, sombra de Péricles? Pasta da fazenda. E notai mais que todos
esses movimentos políticos se fazem, metidos os homens em casacas
pretas, com sapatos de verniz ou cordovão, ao cabo de moções de
desconfiança ...
(A Semana, ed. Garnier, p . 7)

Numa crOnIca de 18 de março de 1894, comentando uma escara-


muça, que ele chama «batalha», ocornida a 13, episódio .da Revolta da
Armada, nosso autor longamente discreteia sobre a velha Grécia. Aí,
detenho-me neste passo:

Todos os guerreiros me apareciam, com as armas homéricas, rutilantes


e fortes, os seus escudos de sete e oito couros de boi, cobertos de
bronze, os arcos e setas, as lanças e capacetes. Agamêmnon, rei dos
reis, o divino Aquiles, Diomedes; os dois Ajax, e tu, artificioso Ulisses,
enfrentando com Heitor, com Enéias, com Páris, com todos os bravos
defensores da santa rIion. Via o campo coalhado de mortos, de armas,
de carros. As cerimônias do culto, as libações e os sacrifícios vinham
temperar o espectáculo da cólera humana; e, posto que a cozinha de
Homero seja mais substancial que delicada, gostava de ver matar um
boi, passá-lo pelo fogo e comê-lo com essa mistura de mel, cebola,
vinho e farinha, que devia ser mui grata ao paladar antigo.
(p. 121)
206 GLADSTONE CHAVES DE MELO

A propósito de um Sr. Lopes Neto, provavelmente «o primeiro


brasileiro que se deixou queimar», envereda Machado por estas consi-
derações:

São gostos, são costumes. De mim confesso que tal é o medo que tenho
de ser enterrado vivo, e morrer lá em baixo, que não recusaria ser
queimado cá em cima. Poeticamente a incineração é mais bela. Vede
os funerais de Heitor. Os troianos gastam nove dias em carregar e
amontoar as achas necessárias para uma imensa fogueira. Quando
a Aurora, sempre com aqueles seus dedos cor de rosa, abre as portas
ao décimo dia, o cadáver é posto no alto da fogueira, e esta arde um
dia todo. Na manhã seguinte, apagadas as brasas, com vinho, os lacri-
mosos irmãos e amigos do magnânimo Heitor coligem os ossos do
herói e os encerram na urna, que metem na cova, sobre a qual erigem
um túmulo. Daí vão para o esplêndido banquete dos funerais no palácio
do rei Príamo.
Bem sei que nem todas as incinerações podem ter esta feição épica;
raras acabarão um livro de Homero, e a vulgaridade dará à cremação,
como se lhe chama, um ar chocho e administrativo.
(p. 280)

*
* *
Quanto ao segundo e ao terceiro itens justificadores da atitude
clássica de Machado de Assis, dispenso-me de comprová-los, seja pela
extensão do que foi posto aqui, seja por já terem ficado obliquamente
documentados. Eu acrescentaria somente que, apostado sempre em
testemunhar a civilização do universal, ele, com extrema freqüência,
traz à colação a Bíblia, Antigo e Novo Testamento.
Atrás ficou dito que a «mania» grega de Machado o acompanhou
até os últimos dias. Permito-me transcrever um trecho de preciosa
carta escrita a Mário de Alencar em 21 de janeiro de 1908, quase exata-
mente oito meses antes da morte, ocorrida a 29 de setembro. Aí, o
mestre incentiva muito o «querido amigo» a prosseguir na preparação
e feitura de um projetado poema, em versos brancos, Prometeu.
E acrescenta:

Agora, ao levantar-me, apesar do cansaço de ontem, meti-me a reler


algumas páginas do Prometeu de Ésquilo, através de Leconte de Lisle;
ontem entretive··me com o Fédon de Platão, também de manhã; veja
como ando grego, meu amigo! Oxalá possa chegar a ver parte que
seja do seu trabalho.
(Obra Completa, III, pp. 1085-1086)
A ANTlGOIDADE NA OBRA DE MACHADO DE ASSIS 201

*
* *
E, para terminar com chave de ouro, esta «confissão» de quatorze
anos antes, numa crônica do Diário de Notícias, 11 de novembro de 1894,
comparando acontecirmentos da Bahia com os da Grécia contemporânea:

A antigüidade cerca-me por todos os lados. E não me dou mal com


isso. Há nela um aroma que, ainda aplicado a cousas modernas, como
que lhe troca a natureza. Os bandidos da atual Grécia, por exemplo,
têm melhor sabor que os clavinoteiros da Bahia. Quando a gente lê que
alguns sujeitos foram estripados na Tessália ou Maratona, não sabe
se lê um jornal ou Plutarco. Não sucede o mesmo com a comarca de
Ilhéus. Os gatunos de Atenas levam o dinheiro e o relógio, mas em
nome de Homero. Verdadeiramente não são furtos, são reminiscências
clássicas.
(A Semana, pp. 170-171)

BIBLIOGRAFIA

Salvo indicação em contrário, os textos alegados de Machado de Assis


tomei-os a edições originais, Garnier, reproduzidas por estereotipia até o fim
da década de vinte. Passo agora a identificar a fonte das outras citações.

ASSIS, J. M. Machado de. A Semana. Edição coligida por Mário de Alencar. Rio de
Janeiro-Paris, Livraria Garnier, 1910.
--o Dom Casmurro. Apuração do texto, revisão, introdução e notas por Maxi-
miano de Carvalho e Silva. S. Paulo, Edições Melhoramentos, 1966.
--o Obra Completa. (... ) 3 volumes. Rio de Janeiro, Companhia José Aguilar
Editora, 1971, 1972, 1973.
CERIANI, Grazioso et alii. HeresIas do nosso Tempo. Prefácio de Dom Giovanni
Rossi. (Tradução portuguesa de Antônio Marques). Porto, Livraria Tavares
Martins, 1956.
COHEN, Gustave. La grande clarté du Moyen Age. Paris, Gallimard, 1945.
FEBVRE, Lucien et alii. Civilisation, le mot et l'idée. Paris, Le Renaissance du
Livre, 1930.
FRANCA, Leonel. A Crise do Mundo Moderno. Rio de Janeiro, Livraria José Olímpio
Editora, 1941.
PICHON, René. Histoíre de la Ltttérature Latine. Paris, Librairie Hachette, 1947.
(Página deixada propositadamente em branco)
MODOS DE PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA
NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO

MIGUEL BAPTISTA PEREIRA


Universidade de Coimbra

Exposto ao passado, que a distância foi diluindo, o homem europeu


fê-lo renascer em condicionalismos históricos diferentes, sendo a Renas-
cença um regresso paradigmártico à Antiguidade, reiterado depois, v. g.,
no Neo-humanismo do séc. XVIII, no radicalismo filológico de Nietzsche
no séc. XIX e no culto das raízes de M. Heidegger e da Hermenêutica
Filosófica no séc. XX, segundo o ritmo característico de ao avanço no
tempo corresponder o recuo crescente na busca do originário revelado
no interesse pelos Pré-Socráticos e pelo mito nos nossos dias. O modelo
linear do tempo do progresso ' é demasiado unilateral e abstracto para
a intelecção do passado, que não podemos sacrificar a mero preâm-
bulo ou ao «ainda não» do futuro, segundo o esquema interpretativo
escolástico, crítico-transcendental, idealista ou o ideal de ciência e
progresso dos sécs. XIX e XX 1. Por isso, os modos de presença da
Filosofia Antiga no pensamento dos nossos dias implicam uma com-
preensão profunda do tempo, de que a linearidade do progresso é
empobrecimento e simplificação ilusória. É necessário reconsiderar que
os três modos passado, presente e futuro são inseparáveis do apare-
cimento do tempo e, além disso, do aparecimento de cada modo
no tempo, isto é, há passado, presente e futuro no passado, há

1. M. B. Pereira, «Introdução» in: F. E. Peters, Termos Filosóficos Gregos,


trad. (Lisboa 1974), pp. XIII-XVII.

14
210 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

passado, presente e futuro no presente, há passado, presente e futuro


no futuro 2. PoOr outroO lado, deve respeitar-se a pluralidade de tempoOs
históricos humanos e a sua simcronidade e manter o tempo humanoO
plural integradoO no tempo natural do eco-sistema «terra» em vez
de o sacrificar à imposição do esquema linear, abstracto e quan-
tificável do progresso indefinido. Assim, o passado deixa de ser a
fase que simplesmente p~ecede o pvesente, mas é «um presente pas-
sado com 00 seu próprio passado e o seu próprioO futuro» 3. Este é o
leque de possibilidades e de esperanças doO presente passado, donde
emerge a configuração ,do presente actual. De modo análogo, o futuro
do presente enquanto cenário actual de esperanças, temoves, fins diver--
gentes e possibilidades indetermináveis distingue-se do campo daquelas
realizações futuras deste oenário, a que se chama presente noO futuro.
Assim co.mo o presente actual não coincide co.m o futuro do presente
passado nem tão-poucoO o exaure, também o presente no futuro não se
identifica com o futuro do presente. O potencial de futuro que se ergue
do passado 4, tmnsborda para além das margens do presente, como o
futuro do pI1esente rompe os diques do presente no futuro . A memória
augustiniana como passadoO no presente é a selecção de algumas possi-
bilidades apenas do pI1esente passado e, _por isso, o passado, enquanto
memória, omite, ao presentificar apenas algumas possibilidades, a rela-
ção do passado ao. seu passado e futuro próprios. Por isso, é necessário
proceder a uma profunda diferenciação doOs modos augustinianas do
tempo 5. Enquanto Agostinho nas Confissões reduziu o tempo ao pri-
mado do presente - presente no passado, presente no presente, pre-
sente no futuro 6 - observamos hoje que nenhum presente realiza o
futuro do presente passado, cujos projectos superam sempre o.S resul-
tados das no.ssas experiências. É que todo o presente recordado, expe-
rienciado o.u a experienciar é transcendido sempre pelo futuro, tornado
assim oriente de convergênoia de to.das as diferenças tempo.rais e fo.nte

2. A. M. Klaus Mueller, «Zeit und Evolution» in: G. Altner, Hrsg., Die WeU
aIs offenes System, Eine Kontroverse um das Werk von Ilya Prigogine (Frankfurt/M.
1986), p . 125.
3. J. Moltmann, "Verschraenkte Zeiten der Geschichte. Notwendige Differen-
zierungen und Begrenzungen des Geschichtsbegriffs» in: H. Kueng/D. Tracy, Hrsg. ,
Das neue Paradigma von Theologie. Strukturen und Dimensionen (Zürich-Gütersloh
1986), p. 9.
4. E. Bloch, Das Prinzip Hoffnung (Frankfurt/M. 1959), p . 7.
5. J. Moltmann, o. C., pp. 91-92.
6. Agostinho, Confissões , XI, 20, 26.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 211

do tempo histórico, segundo a tese heideggeriana de Ser e Tempo.


«O fenómeno primário da temporalidade orig1nária e autêntica é o
futuro» 7 .
Aberto ao futuro, o passado investigado pela história distingue-se
criticamente, pela sua maior riqueza, da apropriação ou da presenti-
ficação do passado pela tradição, rompendo-se a pretensa continuidade
evidente entre passado e presente, como revela o fenómeno dos renas-
cimentos. Esta diferença entre o passado acontecido e a interpretação,
que dele a tradição elaborou, relativiza a mesma tradição, liberta o
homem do seq peSO monolítico e, em virtude do futuro presente no
passado, impede o absolutismo do presente e a redução do passado
a um prólogo seu. Esta diferença entre passado acontecido e uma
tradição esquecida da dimensão futura do pass·a do possibililta o reconhe-
cimento das possibilidades olVlidadas e a sua integração no futuro do
presente actual. A verdadeira consciência histórica não só compara
criticamente a tradição e suas instituições com o passado acontecido
e investigado na sua polivalência mas interroga o futuro desse presente
passado, possivelmente interrompido, reprimi,d o ou esquecido. A crítica
da tradição, longe de ser uma ruptura com o passado, bate-se pela
pureza das suas fontes a fim de nelas farer renascer a sua dimensão
de futuro, que se torna contemporânea das nossas presentes preocupa-
ções . Em vez do cepticismo e do relativismo gerados no fracasso do
absolutismo da tradição ou do tempo presente, aparece a relação a
envolver passado, presente e futuro, mortos e vivos nUlma comunidade
de esperança 8. Esta comunidade alarga~se, pela primeira vez, a todos
os povos, culturas e religiões do mundo, que até agora percorrerallIl
histórias próprias e separadas, em virtude do peJ:ligo mundial de pos-
sível holocausto, que ameaça toda a humanidade, coage à s,i ncronização
dos diferentes tempos históricos e desperta na consciência humana a
unidade de um futuro comum e a esperança colectiva de uma sobre-
vivéncia pacífica. É que no momento do perigo fulge a rememoração
salvadora 9 e 'onde se avoluma a ameaça, cresce também a esperança 10

7. M. Heidegger, Sein und Zeit, Erste Haelfte 6(Tübingen 1949), p. 329.


Cf. J. Moltmann, o. C., p. 92.
8. J. Moltmann, o. C., p. 95.
9. W. Benjamin, «Gesehiehtsphilosophisehe Thesen» in: Illuminationen (Frank-
turt/M. 1961), p. 270, eit. J. Moltmann, O. C., p. 9925 •
10. M. Heidegger, Die Technik und die Kehre 3(Pfullingen 1976), p. 4; Id.,
Vortrage und Aufsatze 4(Pfullingen 1978), p. 32.
212 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

e com eS'Ía a possibilidade do advento de uma comunidade ecumemca,


construída com a participação de todas as culturas e, portanto, do
humanismo europeu na sua vocação de universalidade.
Esta sincronização, porem, não se pode confinar aos tempos histó-
ricos do homem mas tem de envolver a história da natureza, até agora
vítima de explorações destruidoras, de modo que o tempo do progresso
seja sempre mediado pelas leis da vida e pelo ritmo. da. natureza, a que
obedece o ambiente natural e a nossa própria corporeidade e cujos
limites e equilíbrio não podem ser transgredidos sob pena de legarmos
às futuras gerações uma terra inabitável e uma natureza irrecuperável.
O diálogo do homem com a natureza tornou-se já um diálogo do homem
com a sua própria história 11 e o nosso projecto de futuro ' tem de se
sincronizar com. o porvir dos outros homens e com o da natureza.
Se os homens de hoje são oapazes de destruir o presente e o
futuro na loucura de um holocausto, permanece intocável e salva
«a imortalidade objectiva dos mortos», isto é, podem-nos roubar ' o
futuro 'da vida a viver mas nunca o passado da nossa vida vivida
com seu potencial de futuro, que, salvo da ameaça, se pode tornar
rememoração salutar em tempo de penúria 12.
Destruído o falso mito do tempo linear, que privava o passado da
sua dimensão própria de presente e 'de futuro, impedia a solidariedade
com o passado e o advento de uma comunidade de esperança, também
a concepção optimista e ingénua de que o moderno é sempre o melhor
e o mais perfeito, se tem de suspender para, na comparação entre os
tempos, se conceder vóz crítica tanto ao presente como ao passado,
já que nenhum pode reivindicar o monopólio do valor. Tem o homem
ocidental regredido na busca do seu passado num ritmo directamente
proporcional ao avanço cronológico do tempo. Apesar de os modos
actuais de presença do ·Pensamento Antigo não ex:aurirem o seu poten-
cial de futuro, eles são, como memória, parte oonstituinte da identidade
do europeu e urdem com os modos de presença de futuras interpre-
tações a contribuição ocidental para uma cultura ecuménioa e plane-
tária, seriamente ameaçada pelo niilismo activo de uma tecnologia sem
sentido.

11. K. Pohl, «Geschichte der Natur und geschichtIiche Erfahrung, Bemerkungen


zu IIya Prigogines Versuch eines neuen Dialogs zwischen Natur- und Geisteswissen-
schaften» in: G. Altner, Hrsg., o. C., p. 107. Cf. C. F. v. Weizsaecker, Der Garten
des Menchlichen - Beitriige zur geschichtlichen Anthropologie (München!Wien 1977).
12. J. Moltmann, o. C., pp. 100-103.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÁNEO 213

É impossível registar num trabalho de pequenas dimensões todos


os modos de presença da Filosofia Antiga no pensamento actual e, por
isso, impõe-se necessariamente uma escolha dos que se afiguram mais
relevantes. Os modos de presença seleccionados repartem-se por três
secções:
I - Antropologia Filosófica, Axiologia, Filosofia Social e Política.
Filosofia da Comunicação, Filosofia do Trágico, Tópica e Filosofia da
Linguagem, Ontolog1a e Filosofia da Natureza.
II - Filosofia da Física Nuclear a partir dos escritos de doze gran-
des especialistas da Microfísica, alguns dos quais Prémio Nobel.
III - Na discussão actual Modernidade / Pós-Modernidade.

Na comemoração do quinto centenário do nascimento de Copér-


nico, W. Heisenberg exprimia em Washington num simpósio interna-
cional (1973) a sua convicção' «de que todos os nossos problemas de
hoje, os nos'sÜ's métodos, os nossÜ's conceitos científicos são, pelo menos
parcialmente, o resultado de uma tradição cientffica, que, através dos
séculos, acompanha ou orienta o caminho da oiência». Era, portanto,
legítimo para este físico atómico perguntar pela extensão da presença
da tradição na ciência contemporânea e determinar· os modos mais
significativos desta presença 13. Numa análise penetrante, W. Heisenberg
descreve a força .da tradição na escolha dos problemas científicos, na
influência sobre as «camadas mais profundas» dos processos e do
método da ciência e na formação e transmissão dos conceitos com que
pretendemos captar os fenómenos 14.
Anos antes, o mundialmente conhecido especialista em Filologia
Clássica Bruno Snell reunira num volume, que intitulara Os Gregos e
Nós, as suas investigações sobre modos de presença da cultura grega
no pensamento hodierno, privilegiando temas oomo regra e liberdade na
linguagem, teoria do estilo, humanismo poHtioo, cultura geral e ciência
da natureza, desenvolvimento de uma linguagem científica na Grécia e
progresso, queda e tradição IS . Para B. SnelI, tanto o progresso oomo

13. W. Heisenberg, Tradition in der Wissenschaft, Reden und Aufsatze (Mün-


chen 1977), p. 7.
14. Id., o. C., pp. 8-24.
15. B. SnelI, Die alten Griechen und Wir (Gottingen 1962), pp. 7-76.
214 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

a decadência não podem entender a história, porque esquecem a tra-


dição. O que nós chamarmos natureza e o que nes't a desde o Renasci-
mento foi descoberto, não cabem, na sua totalidade, dentro dos limites
de uma só imagem, por causa de elementos que se excluem e contra-
diZJem. Se o Impressionismo nos ensinou a contemplar o estímulo fugidio
do jogo da luz, é porque prescindiu de outros traços, como a ordem
permanente da NatuI'eza ou a sua estabilidade sólida, tão importantes
em épocas de êxtase perante a grandeza dominadora do mundo sensível.
Isto significa para B. Snell que, v. g., a pintura impressionista de modo
algum superou o que até então fora pintado, como a luz eléctrica
baniu o velho candeeiro a gás. É simplesmente natural que tais senti-
mentos de fascínio per-ante a Natureza ganhem expressão não só na
juventude e na frescura de uma cultura mas também sempre que «uma
nova eX!periência do mundo se traduza pela primeira vez» 16. Não é na
decadência em que o homem se distancia de áureas experiências primi-
tivas nem no progresso que situa no futuro o reino do sempre melhor,
que está a essência do acontecer histórico mas na estrutura do ser vivo,
que apenas se pode exprimir em formas limitadas e de modo unilateral,
reprimindo e esqueoendo o antigo para que o novo surja, sem que isto
signifique só progresso ou simplesmente decadência 17. A concepção de
B. Snell coincide, no domínio das ciências filológicas, com o conceito
de complementaridade criado por Niels Bohr para a análise de aspectos
opostos e exclusivos das partículas elementares da Microfísica, como
adiante se verá. A complementaridade subjaz à afirmação de B. Snell
quarnto à «tensão entre progresso e decadência, entre tradição e pre-
sente», de que vive toda a cultura e que é assumida como ponto de
refeI1ência para a compreensão do significado actual da arte grega.
A essência da tradição abrange, simultaneamente, a crença no pro-
gresso e na revivescência do antigo, isto é, o renascimento como se
houvesse apenas decadência e a certeza da criação do novo, como
se houves's e só progresso 18. Con1Jinua ainda presente o modelo da com-
plementaridade, quando B. Snell declara «concepção unilateral» toda
a interpretação da arte grega, que, esquecida das descobertas do espí-
rito helénico, a isola, oomo mero fenómeno estético, de outras criações
culturais, rasgando um fosso intransponível, v. g., entre a produção
poética e plástica e as concepções teoréticas abstractas 19. Pela comple-

16. Id., o. C., p. 59.


17. Id., o. C., p. 63.
18. Id., o. C ., p. 74.
19. Id., o. C., p. 60.
PRESEN ÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 215

mentaridade, há modos de presença grega na novidade do pensamento


ocidental: «sem a certeza homérica num mundo ordenado e compreen-
sível, não seria possível a filosofia europeia nem a ciência; sem a
convicção dos líricos de que se pode emitir um juízo pessoal sobre
o valor e o desvalor das coisas e de que é possível uma comunidade
dos que comungam nos mesmos sentimentos, faltaria uma dimensão
essencial à vida política, religiosa e artística do Ocidente; sem a fé dos
trágicos na responsabilidade de cada indivíduo pelas suas acções não
existliria o que precisamente hoje sentimos como legado essencial do
mundo ocidental; sem o escárneo da comédia antiga não saberíamos
que nem sempre devemos ceder à seriedade e à fúria, quando nos
confrontamos com opiniões diferentes; sem a comédia nova não sabe-
ríamos o que é uma sociedade humana e civilizada» 20. Após um relance
sobre mil anos de cultura greco-romana, B. Snell renova a pergunta
sobre se o sentido da história é a decadência ou o progresso e regista,
antes da resposta, dois factos: com o crescimento da auto-consciência
humana e o alargamento do conhecimenrt:o sohre si mesmo, deu-se de
facto a queda «do belo e grande mundo da literatura e da arte gregas
clássicas» e também «da grande poesia latina» 21; como, por outro lado,
a filosofia e as oiências receberam e desenvolveram, sob múltiplas
formas, os conhecimentos saídos da poesia, também porr este ângulo
estes domínios do pensamento vigoroso caíriam sob o âmbito da per-
gunta pela decadência ou pelo progresso 22. A resposta de B. Snell com-
prova o conceito de complementaridade histórica. Dificilmente se poderia
encontmr um camlinho mais curto entre H()(ffiero e Séneca do que o
percurso seguido peI.a história, pois seria utópico uma vida sem as
«estações necessárias», que são o sofrimento, a loucura, a insuficiência
e o horror, numa palavra, sem tudo o que i,m pede o progresso e parece
indiciar a decadência 23. Este caminho, porém, não é arbitrário mas
objectivo, como prova a datação dos estilos artístioos 24, não é unilateral
como pretende a leitura subjectiva e sentimental da poesia, mas apoia-se
na descoberta de novas perspectivas reais, pois ninguém pode negar
que o artista peroopoiona sensivelmente o mundo, concebe sentindo e

20. Id., o. C., p . 66.


21. Id., o. C., pp. 70-71.
22. Id., o. C., p. 71.
23. Id., o. C ., pp. 71-72.
24. Id., o. C., p . 72.
216 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

narra com em.oções, convencid.o de que v,ê e dá forma a algo novo 25.
Como expressão última da complementaridade, B. Snell julga toda a
obra mesmo perfeita afectada de algo particular, que exclui .outra obra:
«A grandeza, que a épica pode dizer nã.o é apenas diferente da da tra-
gédia mas é-Lhe precisamente .oposta; o mesm.o vale para todos os
géner.os e estilos literários e artísticos e para todas as formas de vida» 26.
Também d.o ponto de vista histórico, quem diz em arte ou em poesia
algo de n.ovo, pode «pôr fora de moda» o antigo em virtude da parti-
cularid~de que o afectou, mas de modo algum p.ode ferir a sua gran-
deza, agora redescoberta e sentida como actual. O novo, pela particula-
ridade que o persegue, pode ser também superado e, por isso, torna-se
inevitável o recurso a.o mais antig.o TI. A grandeza nasce com a n.ovidade
originária da vida e é-lhe directamente proporcional, enquanto a parti-
cularidade é o sistema das possibilidades de cada grandeza e n.ovidade
históricas. As diferenoiações, que na história do h.omem e da natureza
tendem para uma particularização cada vez maior, só pela inserção
no todo, a exempl.o dos Gregos, podem ser complementadas 28. O esque-
cimento da visã.o helénica da totalidade, expressa em termos como
natureza, veI'dade; liberdade, just,i ça e beleza impede a ordem saudável
do mundo e, por isso, é necessário concretizar nos extensos domínios
da vida o conteúdo abstracto daqueles termos, pois, com.o diz Goethe,
«o que herdaste dos teus antepassad.os, adquire-o para o possuires» 29.
A esta convergência do físico nuclear W. Heisenberg e do filólogo
B. Snell, que pmtica na leitura dos textos da Antiguidade a comple-
mentaridade da Física de Niels Bohr, junta-se o testemunho de Kurt
von Fritz sobre a relevância para Ü's nossos dias da filosofia social e
política da Antiguidade 30. Nesta contribuição, as carências do séc. XX
como tempo de penúria tornam-se também modos singulares de pre-
sença da Antiguidade ausente e um lugar de inserção do potencial
crítico do passado. Kurt von Fritz ordena assim a problemática do seu
trabalho:

25. Id., o. C., p. 73.


26. Id., o. C., pp. 73-74.
27. Id., o. C., p. 74.
28. Id., o. C., p. 74.
29. Id., o. C., p. 75.
30. Kurt von Fritz, The Relevance of Ancient Social Political Philosophy for
our Times. A short Introduction to the Problem (Berlin-New York 1974). É uma
crítica ao livro de H. Arendt, Between Past and Future. Exercises in Political
Thought (New York 1969).
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORANEO 217

«1. O que é que torna os Gregos antigos tão importantes para um


autor apaixonadamente comprometido na procura de uma solução para
problemas do nosso tempo aparentemente novos e únicos? 2. Mais
especificamente, o que é que os Gregos antigos têm de comum connosco
de modo a poderem dar-nos alguma orientação? 3. Diferiram de nós
em aspectos, que sejam precisamente a condição da sua utilidade?
De facto, se eles fossem iguais a nós em todos os aspectos, não teríamos
muito a aprender deles» 31. Apesar da grande importância da tradição
no pensamento grego desde Heródoto a Platão e a Aristóteles, a filo-
sofia grega rasgou na tradição uma brecha profunda e nisto se apro-
xima do pensamento actual. Uma as<sinalável diferença nos separa,
porém, da ruptura provocada pela filosofia grega: é que, em lugar do
enorme élan e da esperança des't a em encontrar soluções para os enigmas
do universo e para os problemas do homem, um grito de desespero,
saído do homem sem caminhos num mundo em mutação, atravessa o
nosso tempo 32, em que, pela primeira vez, o progresso corrói a verda-
deira base da nossa existência planetária 33 . Este é o resultado trágico
da crença cega da Modernidade num ideal de felicidade constituído
pelo aumento do conforto material e pela libertação da necessidade
de trabalhar, que está na base da maior parte das ideologias modernas,
em contraste vivo com o espírito da Antiguidade Greco-Romana, que
julgaria supremo absurdo transf ormar o mundo sem primeiro se inter-
rogar sobre o valor ético desta mudança 34. Embora os Gregos se tenham
debatido entre difemntes e até contraditórias respostas aos problemas
suscitados pela razão nascente, jamais deixaram de se ouvir uns aos
outros . A Modernidade, ao contrário, caracteriza-se pela recusa egooên-
trica da audição do outro nos problemas humanos, quando as dife-
rentes convicções, sem qualquer atenção mútua, são defendidas com
argumentos, que visam destruir o adversário, sem lhe consentir qual-
quer possibilidade de verdade 35. Apesar de o poder, na Antiguidade,
ter ocasionalmente defendido os seus interesses contra a verdade 36 ,
uma grande diferença distingue a Antiguidade dos nossos tempos, em
que; além dos poderes totalitários, os «intelectuais», que incarnam

31. Id., o. C., p. 3.


32. Id., o. C., pp. 4-5.
33. Id., o. C., p. 5.
34. Id., o. C., pp. 6-7.
35. Id., o. C., pp. 7-8.
36. Id., o. C., p. 8.
218 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

o papel dos anügos poetas, pensadores e filósofos, recusam ouvir os


adversários e usam a violência contra os argUJIllentos que os atingem.
Entre os filósofos antigos estabeleceu-se consenso quanto a princípios
da vida prática apesar das divergências na fundamentação metafísica,
desde Demócrito e Eudoxo a Séneca e epicuristas. Restaurar uma dis-
cussão honesta e sem preconceitos aparece a Kurt von Fritz «uma das
mais essenciais, se não a mais essencial pré-condição para uma solução
não destruidora dos nossos mais críticos problemas» 37. As raízes desta
aberração moderna da incomunicabilidade estão no dogmatismo reli-
gioso gerador de excomunhões e de perseguições e na sua secularização
ideológica 38, de que o poder se liberta através do ilUilIlinismo indirecto
de filósofos insuspeitos, «cuja raça quase desapareceu nos nossos dias» 39.
O trânsito do dogmatismo religioso para o dogmatismo ideológico
originou, com a eliminação da questão de Deus, o problema moderno
da legitimidade, que, segundo K. von Fritz, a filosofia dos valores não
conseguiu solucionar. Neste contexto, surge a ciência neutra de Max
Weber, que, a partir de observações e de análises históricas, mostra
as consequências inevitáveis ou prováveis de certas acções, a que o
homem se sujeita, se decidir praticá-las. A ciência, porém, segundo
Max Weber, não oferece qualquer orientação à nossa decisão, deixando
o homem entregue a si mesmo na escolha do «daimon», que deseja
seguir 40. É perante a 1ncapacidade de resposta de Max Weber a um dos
males do nosso tempo - a luta entre ideologias presas da própria inco-
municabilidade - que K. von Fritz recorre à leitura dos filósofos
gregos. Para deter:minar o sentido da palavra ci!;~(X., na sua acepção
económica e não económica, e a relatividade do conceito de valor, cita
textos da Étrica a Nicómaco 41 e, quanto a valores absolutos, refere que
a situação dos filósofos antigos era totalmente diferente da nossa, pois
não conheciam qualquer religião revelada «com mandamentos defini-
tivos» 42. A pluralidade de deuses desavindos e o âmbito restrito da
justiça de Zeus obrigaram os pensadores gregos a uma fundamentação
diferente da Ética. Desde os primeiros poetas aos últimos filósofos,
os pensadores gregos estavam convencidos de que o mundo obedecia

37. Id., o. p. 9.
C.,
38. Id., o. pp. 10, 12, 13.
C.,
39. Id.,o. C., p . 11.
40. Id.,o. C., p.lS.
41. Aristóteles, EN 1119 b 26 sS.; 11.19 a 19 sS.; 1123 b 17; 1131 a 24 sS.; 1164 a 22 ss.
42. Kurt von Fritz, o. C., p. 17.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 219

a uma ordem, que o homem devia respeitar. Nesta convicção funda-


mental assentam «todas as teorias éticas e morais dos Gregos», por
diferentes que tenham sido os resultados obtidos. A esta concepção
se opõe a direcção mais progressista do pensamento e da arte modernos
quando propõe «a representação do mundo totalmente desordenado e
absurdo», esquecida de que toda a desordem e todo o absurdo têm
como condição de possibilidade a ordem e o sentido 43. É importante
saber que ordem é esta e qual o posto do homem no mundo, de con-
trário não se pode esclarecer o sentido de bem ou de mal para o
homem, que nenhum decreto pode fixar, porque tal sentido depende
da natureza das coisas 4~. Ser social por excelência 45 e não auto-sufi-
ciente 46, o homem nasce com diferentes talentos e inclinações, que se
desenvolvem em contacto com os outros homens e contribuem, sobre-
tudo quando excepcionais, para a felicidade individual e para o bem
d9l comunidade 47. A igualdade dos homens torna-se um postulado
segundo o qual se devem conceder a todos os homens iguais oportu-
nidades para desenvolverem as suas quaHdades e igual direito a serem
ouvidos e a não serem excluídos da comunicação por motivos que se
prendem com opiniões e convicções próprias 48. Desta verdade funda-
mental Aristóteles conclui que são necessários bens materiais nas
diversas profissões para o desenvolvimento das aptidões e que, além
disso, é imprescindível um poder competente 49. Porém, quando os bens
materiais e o poder são procurados por si mesmos e não de acordo
com as necessidades dos indivíduos, acontece o maior dos males-
a 1tÀ.EOVE~&J. ou o desejo do que é supérfluo em bens e poder em detri-
mento ,do que é bom para o indivíduo so, A vida, que é a actividade
suprema, pode realizar-se no degrau pobre e vazio do simples viver
(~fív) ou na actualização plena (E\) ~fív) das suas aptidões e talentos
(1) xa.,,' &:PE'tl)V ÉVÉPYHa.), que propo'I'CÍona a maior felicidade (EUOa.LJ..I;OVCa.)
do indivíduo e a melhor integração na sociedade 51, A imperfeição do

43. Id., o. C., p. 18.


44. Id., o. C., p. 19.
45. Aristóteles, Política, 1253 a 7-9, 25-28.
46. Platão, República, 368 b 5 ss.
47. Kurt von Fritz, o. c., pp. 20-21.
48. Id., o. C., pp. 21-22.
49. Id., o. C., p. 23.
50. Id., o. C., pp. 24, 25.
51. Id., o. C., p. 26.
220 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

homem, porém, retira-lhe a possibilidade de uma realizaçã9 contínua


das suas actividades superio'r es e obriga-o ao descanso, à recriação e
ao jogo. Aqui nasce uma nova aberração: «Desde que as necess~dades
da vida e a injustiça na distribuição de salários causada pela 1tÀEO\lEÇia. de
parte dos membros da sociedade obrigaram com muita frequência
homens a trabalhar para além dos limites em que a obra pode ser
agradável, divulgou-se a crença em que UIIlla vida de ócio total e de
diversão constante era a mais feliz e realizada» 52. Este sonho exprimiu-se
de modo ingénuo no mito do «país das maravilhas» e, a nível filosó-
fico, na obra de H. Marcuse 53, que nos descreve um mundo, onde a
máquina subsütui o homem na maior parte do seu trabalho e as tarefas
a realizar são reduzidas a um mínimo. Porém, uma vida de ócio e de
diversão constante gera o taedium vitae e frequentemente termina
no suicídio 54.
À filosofia moral e política antiga contrapõe K. von Fritz o capi-
talismo moderno com o trabalho mecânico, a competição, o super-
-trabalho, o trabalho infantúle a explüração do trabalhador e comenta
nestes termos a introdução da cadeia de produção: «Ao introduzir esta
espécie de sistema, ele (H. Ford) privou os trabalhadores precisamente
daquele elemento da obra, que a pode tornar fonte de felicidade e de
satisfação: o gosto e o orgulho em fazer algo bem, ao passo que na
linha de produção o trabalhador individual é justamente um elo numa
cadeia impessoal e totalmente incapaz de fazer algo que ostente o
cunho da sua personalidade ... » 55 . O pensamento económico da idade
capitalista, estatal ou privado, despoja o homem do trabalho que o
satisfaz 56, cria necessidades fictícias 57, alonga os tempos livres mas
ignora o seu preellchimenrto 58, garaJllte o simpJes viver (sfí\l) mas não a
sua qualidade (EU 'sfí\l) 59.
A recuperação da natureza e a comunicação entre os homens podem
colher benefícios dá meditação da Filosofia Antiga. Para Aristóteles 60,

52. Id., o. C., p. 27.


53. H. Marcuse, One dimenslOnal Man. Studies in the Ideology of the Advanced
Industrial Society (Boston, Mass. 1964).
54. Kurt von Fritz, o. C., pp. 27, 28.
55. Id., o. C., pp. 29-30.
56. Id., o. C., p. 30.
57. Id., o. C., p. 31.
58. Id., o. C., p . 32.
59. Id., o. C., p . 38.
60. Aristóteles, Política, 1255 a 1-7, 31-37.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 221

o homem fora da sociedade torna-se mais selvagem do que as bestas


mais selvagens. Por isso, de início, a extensão da protecção para além
dos limites da comunidade abmngeu homens de talento excepcional
como 'adivinhos, poetas e cantores, médicos e, em certa medida, traba-
lhadores de metais, depois por tratados especiais estendeu-se a grupos
de comunidades e, finalmente, a todo o ser humano 61 . Esta superação
da xenofobia confiinrna a dupla doutrina de Aristóteles de que o homem
fora da sooiedade excede as bestas em selvajaria e de que numa
comunidade de difeJ:1entes indivíduos, que trabalham e exercem funções
diversas segundo as suas qualidades e aptidões, os talentos mais raros
e . excepcionais rompem os laços da comunidade isolada e realizam a
unificação da humanidade 62 . A destruição da comunidade .não dá o
paraíso e a exclusão da sociedade gera o perverso. É na comunicação
da sociedade e não · na excomunhão decretada pelo monopólio da fé
absoluta que o homem se torna verdadeiramente homem, isto é, capaz
do discurso s:obre o bem e o mal, sobre o justo e o injusto (ÀÓyoç
1tEpl. "tou &:yai7ou xal. "tou xaxou, 1tEpl. "tou ~xaLou xal. "tou &:o~xou) 63, pois o
bem é um meio ([.L€crov) entre ext!1emos, que se não pode fixar rigida-
mente para todos os tempos mas tem de se procurar no emaranhado
de todas as circunstâncias 64. O Aristóteles tardio já não acreditou que
fosse possível ou mesmo desejável a criação de uma sociedade em
que tudo estivesse regulado do melhor modo possível, porque tal socie-
dade eUminaria todos os riscos e tensões próprias do homem, todos
os seus erros e loucuras, que a filosofia sooial e política não proibe
mas simplesmente impede que se volvam destruidores 65. O erro funda-
mental de todas as utopias sociais e políticas foi ter pretendido impor,
desde o exterior, à sociedade uma forma perfeita. É da essênoia não
só da vida humana mas de toda a vida encontrar a verdadeira forma
e perfeição apenas por crescimento interior, oomo diz Platão no pri-
meiro livro de Leis 66. Como a vida depende do mundo ambiente, inevi-
tavelmente envolve tensões, sofre riscos e corre perigos, sem os quais a
vida fenece 67. Ninguém pode ser homem e muito menos sábio ou santo,
se não for educado segundo o discurso social sobre o bem e o mal, o

61. Kurt von Fritz, o. C., p. 42.


62. Id., o. C., pp. 42-43.
63. Aristóteles, Política, 1253 a 9-31.
64. Id., EN 1094 b 11-20/21; 1176 a 31 ss.; 1104 a 1 ss.; 1107 b 14 ss.
65. Kurt von Fritz, o. C., p. 53.
66. Platão, Leis, 642 c 9.
67. Kurt von Fritz, o. C., p. 53.
222 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

justo e o injusto. Porém, depois de ter alcançado a maturidade neste


processo, o homem pode desenvolver o que há nele de divino (tO ih:~ov)
transcender o status do homem ordinário e atingir uma autonomia
para além da sua inevitável dependência física 68 . Este é o estado do
filósofo, que persiste na aquisição do conhecimento e da intuição 69
num percurso que transgride a vida ordinária do homem, acompa-
nhado pelo sábio ou pelo santo de todas as grandes civilizações e reli-
giões, que, independentemente da nossa crença, desempenharam um
relevante papel na história da humanidade 70.
A exigênda de uma Antiguidade não antiquada é um requisüo do
novo humanismo 71. Surpreende hoje o inculto a notícia de que homens
com posições ideológicas opostas se encontraram no fundo comum da
cultura humanista. Em carta a seu pai, datada de 10.11.1837, K. Marx
falava dos clássicos que lia, das línguas que aprendia, das traduções
que fazia e, além da tese de doutoramento intitulada Diferença entre
a Filosofia da Natureza de Demócrito e de Epicuro, dedicou sete cader-
nos à filosofia epicurista, estóica e céptica 72; o mesmo K. Marx distin-
guiu o trabalho humano da actividade do animal pela criação estética
e pela possibilidade de o homem se moldar pelas leis da beleza;
Nietzsche abriu a luta contra o Cristianismo em nome da moral grega
dos senhores; Hegel pautou a sociedade nascida da Revolução Francesa
pela polis grega livre, em que se eliminara a separação entre a subjecti-
vidade da privacidade burguesa e a substancialidade do universal 73.
Desde a Aufklarung a Hegel, o confronto da realidade do tempo com
a idealidade da perfeição clássica e a liberdade do passado apontava
para a mudança da l'ealidade presente ,i nsuportável, mas na segunda
metade do séc. XIX aparece uma interpretação apoética e meramente
estética da formação clássica com a separação entre cultura e política,
que para Goethe ainda se identificavam 74. Distanciado do homem e da

68. Id., o. C., p. 54.


69. Aristóteles, EN 1177 a 19 ss.
70. Kurt von Fritz, o. C. , p . 54.
71. W. Jens, Antiquierte Antike? Perspektiven eines neuen Humanismus (Mün-
sterdorf 1971).
72. K. Marx, «Brief an den Vater in Trier» in: MEW, Ergiinzungsband, Schriften,
Manuskripten-Briefe bis 1844, Erster Teil (Berlin 1973), pp. 8, 9, 13-255, 257-373.
73. W. Jens, o. C., pp. 6-12.
74. Id., o. C., p. 22.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 223

sua liberdade a favor do poder, o neo-human~smo tornou-se então


ideológico e possibiLitou na Alemanha a macabra coligação entre esté-
tica e terror 75 com a morte do ideal humanista da comunicação.
Na introdução à sua análise da actual sociedade norte-americana,
Neil Postmann contrapõe a visão de Orwell à de A. Huxley, isto é, a
repressão através de um poder externo ao amor da própI'ia repressão
e das tecnologias, que aniquilam a capacidade de pensar, o medo perante
aqueles que proibem os livros ao receio de que um dia já não haja
qualquer razão para proibir livros porque ninguém há capaz de os ler,
o temor de que a verdade possa ser dis's imulada, ao medo de que a
verdade naufrague num mar de irrelevância. Se para Orwell somos
banidos pelo que odiamos, em Huxley é o que nós amamos, o veículo
da cicuta mortal. É segundo o modelo de Huxley que N. Postmann
anaLisa a sociedade norte-americana no seu ritmo destruidor de diversão
até à morte 76, em que a imagem da América da época da imprensa,
do livro e da intelig,ência letrada se vai submergindo num pôr de sol
trágico 77. A importância do livro e a prática da leitura, após o renas-
cunento da Antiguidade Clássica, a descoberta da imprensa e o impulso
dado à difusão do texto bíblico pela Reforma fizeram insensivelmente
deslocar para a Hermenêutica a tarefa da Retórica, que a era do discurso
oral consagrara. Daí, a estima de Melanchton pela Retórica, que exerci-
tava a «ars bene legendi», isto é, a capacidade de compreender e de
julgar os discursos, as disputas mais longas e, sobretudo, os livros
e os textos 78. Na continuidade desta nova orientação, compreende-se a
importância da palavra escrita na América do tempo de Franklin,
o alto índice de alfabetização já no séc. XVII em regiões importantes,
as heranças de livros 79, a formação escolar oomo dever moral e impe-
rativo intelectual, não tivesse a América herdado da metrópole «uma
completa e altamente desenvolvida tradição literária» 80. Esta divul-
gação do humanismo teve por consequência que a América do tempo
colonial não necessitou de uma aristocracia cultural, pois a leitura

75. Id., o. C., pp. 23-24.


76. N. Postmann, Wir amiisieren uns zu Tode, Urteilsbildung im Zeitalter der
Unterhaltungsindustrie, Vbers. (Frankfurt/M. 1985), pp. 7-8.
77. Id., o. C., pp. 44-82.
78. H.-G. Gadamer, Rhetorik und Hermeneutik, aIs offentlicher Vortrag der
Jungius-Gesellschaft der Wissenschaften, gehalten am 22.6.1976 in Hamburg (Gottin-
gen 1976), p. 8.
79. N. Postmann, o. C., pp. 45-47.
80. Id., o. C., p. 48.
224 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

estava socialrmente difundida e o livro circulava por todas as classes 81 .


O públioo compreendia os oradores, cujos discursos se prolongavam às
vezes por sete horas, interessava~se pelos problemas e intervinha nas
discussões 82, pois oradores e públioo tinham por referência coonum
a mesma eloquênoia literária 83. Ler tOI'l1ou-se modelo de mundo e vin-
culação ao mesmo: palavra por palavra, linha por linha, página por
página, o livro ou o jornal mostrava que o mundo era um lugar sério,
coerente, que se deixava instituir racionalmente e melhorar através
de uma crítica sensata e adequada 84. No tempo presente, a substi-
tuição do livro do homo typographicus pelo ilusionismo da imagem
sedutora, que deteI'mina o que e como o homem deve pensar e sen1:Ú!r,
signifioa o divertimento total, a perda da realidade, a fuga para o reino
do prazer, a deterioração do gosto, a queda na menoridade e a diveI'são
até à morte 85. É uma ideolog:ia, que, por ser sem palavI'as, mais pode-
rosa se torna e mais irremediavelmente se afunda na incomunicabilidade.
O problema da comun~oação e da sua ética, que K. von Fritz valo-
rizou na Filosofia Social e Política Antiga, reapareceu na dialógica
contemporânea do «Pensamento NoVlo», de raiz judaica 86, na Nova
Retórica de eh. Peoo1man 87, na teoria do consenso de J. HabeI1IIlas 88
e na pragmática transoendental de K.-O. Apel 89. Com a crise do egocen-
trismo e do modelo substancialista, a relação eleva-se a dimensão ori~­
nária da realidade, não a relação do quadro categorial aristotélico
81.Id., o. C., p. 49.
82.Id., o. C., pp. 60-6L
83.Id., o. C., p . 65.
84.Id., o. C., p. 8L
85.Id., o. C., pp. 1143, 105-187.
86.G. B. Kasper, Das dialogische Denken, Franz Rosenzweig, Ferdinand Ebner,
Martin Buber (Freiburg/Basel/Wien 1967); Heinz Horst-Schrey, Dialogisches Denken
(Darmstadt 1970) .
87. eh. Perelman / L. Olbrechts-Tyteca, La nouvelle Rhétorique. Traité de l'Argu-
mentation, I-II (Paris 1958).
88. J. Habermas, «Vorbereitende Bemerkungen zu einer Theorie der kommu-
nikative Kompetenz» in: J. Habermas / N. Luhmann, Theorie der Gesellschaft oder
Sozialtechnologie - Was leistet die Systemforschung? (Frankfurt/M. 1971), pp. 101-141;
Id., «Was heisst Universalpragmatik» in: K.-O. Apel, Hrsg., Sprachpragmatik und
Philosophie (Frankfurt/M. 1976) pp. 174-272; Id., Theorie des kommunikativen
Handels, I-II (Frankfurt/M. 1981).
89. K.-O. Apel, Transformation der Philosophie. 1- Sprachanalytik, Semiotik,
Hermeneutik (Frankfurt/M. 1973), II -Das Apriori der Kommunikationsgemein-
schaft (Frankfurt/M. 1973); Id., «Sprachtheorie und transzendentale Sprachprag-
matik zur Frage ethischer Normen» in: Id., Sprachpragmatik und Philosophie,
pp. 10-173.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 225

mas a da «alma que pode de algum modo ser todas as coisas» e que Tomás
de Aquino . comentou nestes termos: «Secundum esse immateriale ...
res non solum est id, quod est, sed quodammodo alia» 90. Ser as outras
coisas para além de si mesmo é estar aberto aos outros e ao mundo,
é estar junto de outrem não por acréscimo ou acidentalmente mas por
relação essencial, manifestada na intencionalidade dos nossos actos de
conhecimento, de vontade e de sentimento, em que o outro é o termo,
o conteúdo e a actualidade do nosso ser cognoscente, volitivo e afec-
tivo 91. Como a alma aristotélica, o Àóyoç do diálogo platónico só era
na relação ao outro, na intersubJectividade e na reciprocidade, fora
das quais se tornaria «ilógico» 92 . Sepultada sob o peso do solipsismo
na dupla vertente racionalista e naturalista, a relação comunicativa
emerge lentamente do esquecimento em virtude da acção persistente
de uma série de pensadores, que vão de F. H. Jacobi, Hegel, W. von
Humboldt e Fichte a Feuerbach, Karl Marx, P. Leroux, E. Husserl,
K. Jaspers, M. Ponty e M. Heidegger 93. t, porém, no «pensamento
novo » de M. Buber, F. Rosenzweig, F. Ebner, E. Grisebach, E. Levinas,
G. Marcel, etc. que, após a Primeira Grande Guerra, renasce com traços
originais a relação dialógica, que Platão praticara e de que nos legou
um testemunho escrito nos seus diálogos . Já não é a consciência pura
nem o eu infinito do Idealismo que interessam, em primeiro lugar,
estes pensadores, mas o eu concreto e limitado, que fala e o tu como
seu horizonte transcendente, não é a constituição dos objectos e dos
outros mas a correlação e a reciprocidade que mantêm o distancia-
mento perante o mundo e perante os outros exigido pela diferença,
não é o monopólio do solipsismo mas a participação dos interlocuto-
res, não é o peso bruto do «en-soi» das coisas mas a «relação» e o
«entre », que diferenciam e unem o homem, não é o pensamento da
solidão silenciosa mas a linguagem da comunhão e do encontro. Uma
nova temática invade o campo da filosofia: o homem é ser-com-outros,
o estranho é próximo e irmão, a ttica é social, a consciência é soli-
dária do sofrimento e da alegria, da justiça e da injustiça dos outros,

90. Tomás de Aquino, ln Anstotells De Anima, lib. II, lect. 6, ed. A. M. Pirrota
(Taurini 1956), p. 101, n. 263.
91. M. B. Pereira, Filosofia e Crise actual de Sentido, I (Coimbra 1986), p. 52.
92. Cf. R. Marten, Der Logos der Dialektik. Eine Theorie zu Platons Sophistes
(Berlin 1965), pp. 7-44.
93. M. B. Pereira, o. C., pp. 81-92; M. Theunissen, Der Andere. Studien zur
Sozialontologie der Gegenwart (Berlin 1965).
226 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

a autonomia não prescinde da reLação do eu ao tu, a confi,a nça é cate-


goria básica do comportamento humano, o sentido da felicidade, da
gratidão e da dádiva, o olhar mútuo como fOl'Illa suprema da concreção
da imediatidade e da J1eciprocidade humanas, a linguagem é origina-
riamente dialógka e nela uala o pensamento, a revelação do ser neces-
sita do diálogo e da sua novidade e diferença temporal para nele
aparecer oomo dádiva 94. Se o diálogo apologénioo, o método escolástico
e O' diálogo pedagógioo tinham em Platão uma referência obrigatória, a
Dialógica dos nossos dias e sobretudo o diálogo ecuménico são modos
de presença da experiência platónica da unidade misteriosa, que pre-
side à O'ralidade, alimenta as controvérsias mas se recusa à fixação
da escrita 95.
A «Nova Retórioa» de Ch. Perelman e L. OlbI1echts-Tyteca apre-
senJtou-se como uma reposição oontemporânea da Antiga Retórica,
sobTetudo de Aristóteles, Cícero e Quintiliano, mas dentro de uma O'rien-
taçãO' lógico-sistemática 96. O conceito fundamental da teoria de Perelman
é o conceito de auditório ou assembleia dO's que o orador pretende
influir através da sua argumentaçãO' 97. O fim de toda a argumentação
é oonquista'r ou fortal,ecer a adesão do auditório 98 mediante uma adap-
tação do discurso aos ouvintes 99. Por isso, a argumentação torna-se
uma função do auditório HXl. Estes conceitos simples de Retórica ganham
dimensão filosófica quando refeI1idos ao «auditório universa1», de cuja
convicção e consenso depende o valor de um argumento. Por isso, o
acordo do auditório universal é o critério da racionalidade e da objoecti-
vidade da argumentação 101 e o fim de toda a filosofia. Este acordo,
porém, não é uma realidade factual, que se possa verificar mas signi-
fica um tipo de validade a que todos adeririam, se conhecessem e com-
preendessem os argumentos, que a esclar,e cem: «L'acord d'un auditoire
universel n'est donc pas une question de fait mais de droit» 102. O audi-
tório universal tem, portanto, um carácter ideal, é a «humanidade

94. Id., o. C., pp. 92-98.


95. H. J. Kramer, Arete bei Platon und Aristoteles (Heidelberg 1959), pp. 380-486,
Cf. K. Gaiser, Platons ungeschriebene Lehre (Stuttgart 1963).
96. Ch. Perelman / L. Olbrechts-Tyteca, o. C., p. 1 ss.
97. Id., o. C., p. 25.
98. Id., o. C., pp. 18, 24, 59.
99. Id., o. C., p. 31 ss.
100. Id., o. C., p. 58.
101. Id., o. C., p. 40.
102. Id., o. C., p. 41.
PRESENÇA D A F ILOSOFI A ANTIGA NO P E NSAME NTO CONTE MPORÁN EO 227

esclareoida » 103, composta de homens enquanto seres raoionaâs, é a tota-


lidade dos homens num estado de desenvolvimento pleno das suas
capacidades de argumentação. Este estado corresponde à situação ideal
de discurso de J. Habermas, em que se realiza o consenso, como no
auditório universal de Perelman o acordo. Segundo o princípio da univer-
salização, a racionalidade de um juízo de valor só se pode basear na
possibilddade do acordo de todos e de cada um. Para Perelman, quem
pretender convencer alguém, deve ser apartidário e expor-se aos contra-
-argumentos, segundo a regra «audiatur et altera pars», p01s a cada
um assiste o direito de argumentar. Num espírito de abertura à crítica
e de tolerânoia insere-se a tendência para a universalidade, própria da
argumentação racional e orientada para «la réalisation de la oommuniolIl
universelle » 104. A argumentação universal oapaz de gerar o acordo de
todos proposto por Pere1man é a leitura que a Nova Retórica faz do
discurso (ÀÓyo<;) aristotélico enquanto meio -(jJ.ÉO'ov) de encontro e não
de exclusão, a que se referiu Kurt von Fritz. Ao falao: do conceito de
gosto, que é a consumação última dos juízos morais e penetr-ou na
cultura do séc. XVII, H.-G. Gadamer considera-o elemento grego, que
através do Cristianismo influiu na Filosofia Moral: «A ética grega
- a ética da medida dos Pitagóricos e de Platão, a ética do meio, que
Aristóteles criou - é num sentido profundo e abrangente uma ética
do bom gosto» 105.
Dois dos mais significativos pensadores alemães deste fim de século
- J. Habermas e K.-O. Apel- vêm dedicando o seu labor à construção
de uma filosofia da comunicação, mau grado as diferenças que os
distinguem. A valorização da argumentação inscreve~se numa oonside-
ração mais vasta do sentido da Retórica, que H.-G. Gadamer faz remOlIl-
tar a Platão. De facto, apesar da crítica impiedosa à Retórioa epidíctica
desenvolvida por Platão no Górgias, permanece intangível o sentido
profundo de Retórica ,e xpresso no Pedro: para além do domínio de
várias técnicas do discurso oral, a Retórica é indissociável da verdade
e do conhecimento da alma humana, pressupostos comuns à Retórica
de Aristóteles, que é mais uma filosofia da vi da, que acede ao discurso

103. eh. Perelman, «Betrachtungen über die pr aktische Vernunft» in: Zeitschrift
für philosophische Forschung 20 (1966), p . 221.
104. Id., «La Regle de Justice» in: Dialectica 14 (1960) , p. 238.
105 H.-G. Gadamer, Wahrheit und Methode, Grundzüge einer philosophischen
Hermeneutik 2(Tübingen 1966) , p . 57.
228 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

e o determina do que uma arte formal de bem falar 106. Diferentes nas
correntes que . presidiram ao seu percurso académico, J. Habermas e
K."O. Apel têm em comum traços filosóficos relevantes: primado conce-
dido à linguagem, ·de que a consciência monológica se sente privada;
oposição ao idealismo e à prioridade absoluta da consciência; crítica
ao solipsismo metódico, que acredita na possibilidadede de um regresso
ao singular; defesa da dimensão inultrapassável do ' homem como
ser-com-outros-homens; recusa de um conhecimento e de uma ciência
neutros e crítica a toda a teoria, que vele os interesses reais, que lhe
subjazem; interesse pela emanoipação plena como liberdade consti-
tutiva da essência do homem; defesa da situação ideal do discurso,
do apriori da comunidade de comunicação, de uma pragmática trans-
cendental, de uma comunicação ideal e da ética da lógica 107 . Só numa
situação ideal de fala em que não há qualquer coacção têm os interlo-
cutores direitos iguais e é possível consenso sobre imperativos, nor-
mas, etc., que «todos podem querer» 108. Por isso, J. Habermas considera
ideal toda a situação de fala, «em que se não impedem comunicações
não só através de acções contingentes exteriores mas também por
coacções, que resultam da própria estrutura da comunicação» 109. Uma
comunicação não produz «qualquer coacção apenas quando a todos
os participantes for proporcionada uma distribu.ição simétrica de opor-
tunidades de escolher os seus actos de fala e de os realizar» 110. Esta
situação ideal tem carácter contra-factual, pois não é um fenómeno
empírico nem tão-pouco uma construção mas um pressuposto de todos
os discursos 111. Só uma antecipação da situação ideal de fala garante
que possamos relacionar o consenso obtido com um consenso racional
e dispor de uma instância crítica, que possa problematizar todo o con-
senso realizado e examinar se ele é um indicador suficiente de um
consenso justificado 112.

106. Id., «Hermeneutik aIs theoretische und praktische Aufgabe» in: Rechts-
theorie 9 (1978), pp. 261-262; Id., Rhetorik und Hermeneutik, p. 14.
107. Cf. N. Copray, Kommunikation und Offenbarung. Philosophische und
theologische Auseinandersetzungen auf dem Weg zu einer Fundamentaltheorie der
menschlichen Kommunikation (Düsseldorf 1983), pp. 92-13l.
108. J. Habermas, Legitimationsprobleme im Spiitkapitalismus (Frankfurt i'M.
1973), p. 148.
109. Id., «Wahreitstheorien» in: H. Fahrenberg, Hrsg., Wirklichkeit und
Reflexion Festschrift für W. Schultz (Pfullingen 1974) p . 255.
110. Id., o. C., p. 255.
111. Id., o. C., p. 257.
112. Id., o. C., p. 258.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORANEO 229

o argumento tradicional «ex consensu omnium» elaborado por


Aristóteles é a raiz clássica destas leituras contemporâneas, em que da
vigência universal de uma ideia se concluía a sua verdade. Ao contrário
de Platão, para quem a opinião de muitos jamais ultrapassava a doxa,
o consenso de todos ou dos sábios tem para Aristóteles força convin-
cente 113. A expressão «consensus omnium» ou «consensus gentium» e
a fundamentação do seu conteúdo de verdade continuaram no legado
estóico do pensamento de Cícero: «Omnium consensus naturae vox est»
(Tusc. 1,15). Desta «metafísdca do consenso» deduziu Cícero conse-
quências para o seu ideal político, em que ideias platónicas de harmonia .
e comunidade de novo reaparecem no «consensus omnium bonorum » 114 .
Companheira secular da Retórica, a Poética também renasce hoje
em modos de presença. Quando se escreve sobre o regresso do trágico 1lS,
é a actualização do discurso poético grego numa das suas vertentes
mais profundas que é necessariamente evocada. No campo da Filologia
Clássica, Wolfgang Schadewaldt asslÍnalou o interesse do nosso tempo
pela Tragédia Grega com evidênoia para três conceitos basilares: culpa,
destino e homem 116. O fenómeno da tragédia, que percorre a história
literária europeia desde o Classicismo grego ao Classicismo alemão,
acompanhado da respectiva teorização que se estende de Aristóteles
até Schiller, é a temática da obra de Hans Wagner 117, que investiga
duas teorias diferentes de tragédia: a aI'i's totélica, que tem por fulcro o
conceito de x6:ila:po"LC; e continua nos clássicos da tragédia francesa e em
Lessing; a segunda teoria remonta à obra 1tEpt ü~OC; do Pseudo-Longinus
do séc. I P. C. e gira à volta do termo «sublime», que através de Kant
chegou até Schiller; com Hegel termina a teoria clássica da tragédia 118.
Porque estas interpretações não esgotam o fenómeno trágico, a tragédia
diz o sentido dos di,a s que passam. É que o trágico segue o homem
na própI1ia compreensão, que ele tem do ser: é esta a tese de M. Müller 119.

113. Aristóteles, EN 1173 a 1 ss.; 1098 b 27 ss.; Metafísica, A 993 30 ss.; Retórica,
1356 aIS.
114. H. Scheit, Wahrheit, Diskurs, Demokratie, Studien zur Konsensustheone
der Wahrheit (Freiburg/MÜllchen 1987), pp. 31-33.
115. J.-M. Domenach, Le Retour du Traglque (Paris 1967).
116. W. Schadewaldt, Antike und Gegenwart, Ober die Tragodie (München 1966).
117. H. Wagner, Asthetik der Tragodie, Von Aristoteles bis Schiller (Würzburg
1987).
118. Id., o. c., pp. 70, 71-112.
119. M. MüIler, «Unsinn und Sinn oder eine philosophische Reflexion auf das
europaische Phanomen des Tragischen» in: Der Kompromiss oder vom Unsinn
und Sinn menschlichen Lebens (Freiburg/MÜllchen 1980), pp. 99-136.
230 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

o aparecimento expresso dO' mundo sensível ou da vida originária na


obra de arte é o universal concreto em que a oposição logos-sensibi-
lidade é transoondida pela força da imaginação criadora capaz de tornar
sensivelmente presente o mundo misterioso da vida. Não são os estados
subjectivos da interioridade e seus correIa tos objectivos do mundo
exterior, nãO' é a natureza na sua oposição à alma nem a transcendência
e a imanência separadas e fechadas sobre si mesmas, que a linguagem
originária da arte presentifica mas a relação primária do homem ao
mundo e dO' mundo ao homem, que é símbolo ou coincidência do todo
com o «aí »· situadO' e concreto e supera todas as regiões insul'a res do
interior e do exterior, do psíquico e do físko, do subjectivo e dO' objec-
tivo. A Hnguagem originária não serve o interior nem o exteI1ior, não
está em funçãO' nem ao serviço de algo ou de alguém mas é apenas
por si mesma e a si mesma se fala, como reconhece M. Heidegger ao
citar NO'valis : «Ninguém sabe com preoisão o que tem de próprio
a linguagem: que ela apenas se ocupa de si mesma» !:ro. O que é por
amO'r de si mesmo na relação homem-mundo, o que descansa feliz
em si mesmO' e é portador do próprio sentido, é o belo e diz-se em
teI1mos de ser e não de qualquer categoria estética subjectiva ou
objectiva m. Desta beleza não prescinde a poesia trágica e, por isso,
o herói, que não é um deus mas tãO'-pouco se identifíica com o homem
banal, habita nO' chão originário da relação homem-mundo, nde repre-
senta um dracma tão profundamente humano que todO's e cada um se
sentem nele solida'I'klimente implicados, vivendO' o cuidado e a preo-
cupação pela sorte do ser humano.
Na dimensãO' humana da oidade grega, no seu logos acerca do bem
e do mal, do justo e do injusto, lateja a profundidade da eXiperiência
trágioa. A procura do meio, que anima toda a Ética e a Política de
AI1istóteles, é uma resposta da filosofia prática às ameaças da contra-
dição trágica. A purificação (xcii)Clptnç) de paixões extremas e mórbidas
visa, cO'mo libertação, o meio entre o delírio dionisíaco da afirmação
do mundo e da morte 'e a oposição ou afirmação de si mesmo contra o
mundo daIJ.oLPCl, entre a aniquilação de si mesmo na adesão à totali-
dade do mundO' e a recusa dO' mundo na afirmação de si mesmo e na
vontade de dirigir a IJ.OLpCl. Como reconheceu K . Jaspers, o obscuro
conceitO' a:ristotélico de Xcii)ClPO'LÇ pretende significar um acontecimento,
que diz respeito ao ser próprio do homem, à sua experiência de ser,

120. M. Heidegger, Unte rwegs zur Sprache (Pfullingen 1959), p . 241.


121. M. Miiller, o. C. , pp. 106-108.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÁNEO 231

à apropriação da verdade através da purificação de elementos, que


velam, obscurecem logo de início experiências exislt enoiais, que, por
isso, nos repnimem e cegam 122. O meio visado pela tragédia transcende
o homem negador do mundo e o mundo destruidor do homem e é dito
naquele «sim)} ou acordo com o mundo, que protege a humanidade
e a mundanidade. Este tipo de meio, que não elimina o homem nem o
mundo e mantém a identidade na diferença, é o sentido último de
xá.i}apO'Lç trágica, que transforma a Poética de Aristóteles num grande
capítulo da Política 123. Este «meio» aparece no «sem-sentido}} da pro-
cessão da acção do herói de elementos opostos, que se enlaçam não
segundo o acaso nem segundo leis reais ou ideais mas de acoI'do com
uma necessidade, que transcende as categorias da lógica do homem
e do seu conhecimenrto de mundo. A «hyhris)} do herói pretende exaurir
a verdade des1s a «neces-sidade}} e dominá-la, recusaIlido-lhe obediência,
mas esquece que ela é, simultaneamente, ocultação e mistério. O hoa:nem,
que aparece no herói grego, deve empreender a aventura de conhecer
o segredo do mundo mas jamais o pode desvelar, deve colaborar na
revelação e configuração da verdade e, ao mesmo tempo, venerar e reve-
renciar o seu velamento. A vertigem do domínio total da verdade é uma
radicalização da humanidade por parte do herói, que o consome e
destrólÍ e, nesta ruína e fracasso da transcendência humana, manlifesta-se
a grandeza, o poder e a excelência do cosmos insondável. O «meio}}
será uma nova transcendência capaz de superar a oposição da grandeza
humana e da grandeza cósmica sem cair numa obediência muda e cega
ou numa revolta desesperada contra o mundo. Este «meio)} é o sentido
último da Xá.i}a,pO'LÇ, que se apropria do que se revela e ent-r ega, venera
o que se furta e permanece intocável no seu segredo. A purificação
como via de salvação só é possível a pa-r tir do abismo ou mistério,
que suporta o trágico, funda a suhstituição do mundo antigo e a che-
gada de deuses novos e permite, no mundo novo, a identificação e o
sentido até então recusados. Pela sua dimensão de ruptura, o trágico
acontece no colapso de sentido do mundo e no fracasso de um homem
singular, de uma classe, de um povo ou da humanidade concreta em
·qualquer das suas épocas ou situações históricas. A «catástrofe}} trágica
pressupõe uma OI'dem finita e vulnerável do mundo humano de que
o herói não duvida e a transgressão desta o:rdem com a chegada do

122. K. Jaspers, Vber das Tragische, Aus dem Werk von der Wahrheit (MÜD'
chen 1952), pp. 14-15.
123. M. Müller, o. C., pp. 109-110.
232 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

«outro» ou do diferente, que aniquila o sentido que reúne os homens


e as coisas. A cegueira quanto a tudo o que se situa fora do seu mundo,
acompanha a universalização redutora do herói, que se projecta imediata
e celeremente no seu ideal último, sem se aperceber de que abstraiu
da plenitude inesgotável das possibilidades vivas da sua realidade con-
creta. Assim, a ideia do melhor dos mundos não pôde considerar a
seriedade do sofrimento e da dor, o apaixonado não ouve a exigência
da sociedade, o cidadão cumpridor não entende a linguagem da paixão
devoradora. Por isso, o Mundo Antigo fechou-se quando excluiu a inte-
rioridade e o Cristianismo ascético não atendeu às exigências dos
sentidos, que se vingaram, revoltando-se. «Quanto mais fiel for o serviço
e quanto mais logioamente o homem a ele se entregar, tanto menos
pode ele fugir à maldição de o outro lhe faltar», assim comenta, neste
contexto, E. Staiger os versos de Hoderlin: «Se sirvo a um, falta-me
o outro» 124. Não é no pensamento abstracto nem na divagação utópica
que o «outro», que falta, é vivido na sua agressividade e força destrui-
dora ou no encontro de sentido mas na acção em que o herói expe-
riencia a dolorosa transformação das suas convicções supremas em
ilusões e preconceitos e, perante o mistério do diferente, deixa de com-
preender o mundo ou permanece teimosamente fiel à crença antiga ou
se reconcilia com o novo que se anuncia. O que se vela e mostra
através da diferença de mundos que se opõem, é a historicidade da
experiência originária exemplarmente traduzida na imagem heidegge-
riana dos vários riachos, que jorram da mesma fonte contra a utopia
de um progresso ou de um regresso indefinidos 125. No fracasso do
homem e do seu mundo tradicional e no advento de uma realidade
nova e salvadora acontece a história do mundo e, por isso, o nasci-
mento e a purificação da consciência trágica situam-se no núcleo da
história europeia da consciência, do pensamento e da verdade. Só na
possibilidade e no facto não só de se conciliar com tudo mas também
de a tudo se opor e de recusar toda a hal'monização «se mostra, em
primeiro lugar, toda a extensão e magnitude do ser humano perante
a grandeza e o poder da mundanidade do mundo, se manifesta o ser
humano de modo exemplar e contudo concreto e não simplesmente
imaginado, na sua incomparabilidade única: o homem todo em verdade
e realidade» 126. Na Tragédia, diz-se poeticamente uma determinada con-

124. E. Staiger, Grundbegriffe der Poetik (München 1978), p. 134.


125. M. Heidegger, Der Satz 110m Grund 2(Pfullingen 1958), p. 154.
126. M. Müller, o. C., p. 117.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIG A NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 233

cepção histórica de homem e de mundo e, por isso, não há um conceito


unívoco e intemporal de trágico mas apenas a tentativa de se captar
num conceito análogo o fenómeno histórico da compreensão e da cons-
ciência trágicas. Há uma analogia ou proporção histórica no trágico,
que se manifesta na semelhança das mudanças epocais da articulação
entre grandeza e decadência, felicidade e destruição, chamamento e
fracasso imanentes à acção humana. Tais diferenças históricas do nexo
trágico são outros tantos modos de presença do universal concreto no
fracasso ou na purificação salvadora. Só num mundo de eliminação
do homem, em que tudo se administrasse segundo a perfeição técnica
anónima, seria supérfluo falar de experiências positivas ou negativas
de sentido e não haveria qualquer outra possibilidade trágica a não ser
a tragédia da impossibilidade da tragédia.
Há um paralelismo entre a história do ser e a história do trágico,
uma correspondência entre as épocas históricas da compreensão do ser
- a fisio-lógica, a metafísica, a positivista e a histórica - e as épocas
da configuração poética do trágico, desde a cósmica com o primado da
<púcnc; nos Pré-Socráticos, a .metafísica com a prioridade ética da lei
e do dever e a eticização do trágico desde Platão até à crise dos grandes
sistemas idealistas, a positivista com o predomínio da técnica e da
manipulação e o eclipse do homem e do mundo, que impossibilita
o trági'Üo, desde Comte até à mentalidade téonica contemporânea e à
histórica em que o trágico e a redenção se dão no tempo e não na
natureza ou no intemporal, como disto já tiveram consciência Agostinho
e Pascal, o Historicismo da segunda metade do séc. XIX e M. Heidegger.
No período metafísico, a redução da consciência trágica ao conflito entre
o dever e as inclinações naturais ou entre deveres opostos representa já
um esquecimento do autenticamente trágico, que, por essência, remete
para uma salvação através de outrem e não para uma salvação por forças
próprias como seria o po er do homem ou o dever da consciência 127 .
É aqui que se insere o trágico cristão, pois o homem, como ser histórico,
não é uma essênoia unívoca e abstracta mas uma liberdade, que recusou
o apelo da Liberdade Divina no primeiro encontro, condicionando com
a sua queda toda a história subsequente da humanidade concreta,
que só pela his,t ória se compr eende e nela se redime. Porque o trágico
no homem resultou do seu fracasso original no encontro livre com
Deus, da sua «superbia » ou posição livre e absoluta de si por si mesmo
e só num segundo encontro foi possível a «humilitas » ou saída liber-

127. Id., o. C., pp . 122-123.


234 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

tado!ra de si na entrega ao Outro da Redenção e a dádiva da nova


xCÍ,1}a,pcnc;, o trá~ico e a libertação do trágico não são apenas cósmicos
nem ético-metafisicos mas históricos 128. A existência humana, que, desde
o início, é trágica pela «superbia», reclama, ao mesmo tempo a sua
própria libertação: se esta chega e se é aceite, uma vez chegada, é uma
pergunta que só na história pode encontrar resposta 129. Ao tornar-se
homem e ao temporalizar-se, o Libertador-Cristo é o histórico por exce-
lência, que reconstitui a história do diálogo do Infinito com o finito
e, pela sua «kenosis» e destruição, converte em mistério o sentido
fundaunental da tragédia.
Da teorização da Retórica, da Poética e da Lógica nasceram os
tópicos ou lugares comuns, que se estenderam depois à ciência e à arte,
à filosofia, à teologia e ao direito. A obra de Ernst R. Curtius presen-
teou-nos oom um tesouro riquíssimo de formas e motivos de que viveu
a literatura europeia «de Homero até Goethe» e que foi transmiüdo
peLa Arrtiguklade aos Tempos Modernos através da literatura latina
medieval 130. Sob a microscopia filológica de E. Curtius, a produção
literária medieval reduz-se ao método - genial nos grandes espíritos-
de colecciona:r, misturar e fundir o arsenal de topai, que, na história da
literatura europeia, relativiza a estética da originalidade do séc. XIX
e do princípio do séc. XX!3l. G. R. Hocke continuou a investigação do
seu mestre E. Curtius na literatura moderna 132 e a sua interpretação
do maneirismo» como «ars combinato·r ia» confimna a ideia de que a
«ars combinatoria» criada por Raimundo Lulo como variante da dou-
trina tópica da invenção se refractou no séc. XVII em tentativas de
sistematização filosófica, literária e científica. Na conünuidade profunda
do sistema cultural das artes liberais assentaria a unidade do desen-
volvimento literário desde a Antiguidade tardia até ao séc. XVII e a
doutrina do génio elaborada neste século proviria sem ruptura da dou-
trina tópica da invenção 133 situada na imagrnação criadora, cujas estru-

128. Id., o. C., p. 124.


129. Id., o. C., p. 126.
130. E. R. Curtius, Europiiische Literatur und lateinisches Mittelalter 5(Bern/
München 1967) .
131. L. Bornscheuer, Topik, Zur Struktur der gesellschaftlichen Einbildungs-
kraft (Frankfurt/M. 1976), p. 13.
132. G. R. Hocke, Manierismus in der Literatur. Sprach- Alchimie und esoterische
Kombil1ationskul1st. Beitriige zur vergleichenden europiiischen Literaturgeschicht
(Reinbek 1959).
133. L. Bornscheür, o. C., pp . 14, 19.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 235

turas de profundidade demarcam o campo da tópica. Na riqueza das


formas e dos conteúdos da literatura europeia estaria a «substância
tópica da consciência sócio-cultural», pois «a tópica é o lugar genuíno
do significado social, da autenticidade histórica e da evidência esté-
tica» 134 e condição necessária de produtividade relevante, de comunhão
social e de reoepção estética. Ass.im, «quanto mais 'tópica' for uma
obra, de maior 'combinatória' é a sua eSlt rutura. A 'combinatória' é o
método de uma mediação inovadora do material tópico. Quanto mais
estruturada for uma obra no ponto de vista da 'combinatória', tanto
mais facilmente se deixa identificar ... o seu material tópico» 135. Hoje,
a investigação da Tópica alarga-se, para além da Literatura, à Lógica
(De Pater), ao Direito (Vieweg, Otte) à Sociologia (KesHng, Negt), à
Politologia (Henni), à Hermenêutica (Poeggeler, Gadamer, Habermas)
e à Psicanálise (Freud) 136 .
São longas as raízes da Semiótica contemporânea e da Filosofia
da Linguagem. Ao analisar o trivium, descobriu eh. Morris a prefigu-
ração e a equiv:alência da triíplice dimensão da Semiótica - sintáctica,
semântica e pragmática - na Gramática, Dialéctica e Retórica, respec-
tivamen1le 137. Por seu lado, a Filosofia da Linguagem tem de recorrer
ao manancial da tradição greco-Iatina, quer para evitar falsas origina-
lidades ou filiações incorrectas, como ressalta do estudo e da crítica
de E. Coseriu 138, quer pélJI'a determinar a essência linguística da filosofia
e erigir o clássioo em paradigma estético, como H.-G. Gadamer 139 ou
pam construir a filosofia da semântica da língua latina ou língua
universal da ciênoia da Idade Média, como M. Heidegger 140, quer para
estudar o mundo concreto da língua viva falada desde Dante a Vico
como K-O. Apel 141 ou para aprofunda'r a essência do poético como

134. Id., o. C., p. 20.


135. Id., o. C., pp . 20-21.
136. Id., o. C., pp. 109-206.
137. Ch. Monis, Foundations of the Theory of Signs (Chicago 1938), pp. 36, 30.
138. E. Coseriu, Tradición y Novedad en la Ciencia deI Lenguaje, Estudios de
Historia de la LingUística (Madrid 1977), !pp. 13-61; Id., Die Geschichte der Sprach-
philosophie von der Antike bis zur Gegenwart, Eine Vbersicht, Teil I: Von der
Antike bis Leibniz (Tübingen 1975) pp. 20-161.
139. H.-G. Gadamer, Wahrh eit und Methode, Grundzüge einer philosophischen
Hermeneutik 2(Tübingen 1966).
140. M. Heidegger, Die Kategorien- und Bedeutungslehre des Duns Skotus
(Tübingen 1916).
141. K -O. Apel, Die Idee der Sprache in der Tradition des Humanismus von
Dante bis Vico 2(Bonn 1975) .
236 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

P. Ricoeur 142 contra a miragem de uma linguagem fo'r mal, que apenas
compreende o que ela mesma constrói.
Se a terminologia filosófica da Fenomenologia é inacessível sem
os conoeitos de «fenómeno», «logos», «epoche», «redução», «noesis»,
«noema», dados «hiléticos», «eidos», «eidética», ideias, percepção, apo-
dítico, doxa, teoria, oiência, espírito (nous), etc., em M. Heidegger é o
pensamento grego o interlocutor preferencial. A multiplicidade dos
aspectos da obra e da influência de Heidegger e a unidade do caminho
percorrido articulam-se, de modo único, na reLação de Heidegger aos
Gregos. Algo de novo aparece nesta relação sob a fOI'ma de aproximação
e de interrogação crítica do sentido do oomeço grego da filosofia, que
perseguirá este filósofo até aos últimos dias . Anaximandro, Heraclito
e Parménidesnão foram considerados deg:raus da questão metafísica
mas testemunhos da abertura do começo, em que a verdade é o pres-
suposto da rectidão de uma proposição e da mamifestação de cada ser.
A criação grega da Metafísica não é, para Heidegger, um rumo errado
do pensamento mas um calIninho histórico do Ocidente, que, à maneira
de um destino, decidiu e determinou o próprio futuro e, por isso, não é
fora mas dentro da história da Metafísica e das suas tensões imanentes
que Heidegger precisa o sentido da sua pergunta fundamental 143. O livro
de F. Brentano sobre os diferentes s.ignificados do ser em Aristóteles
provocou em Heidegger a pergunta pela raiz desta pluralidade de
significações. Nos primeiros anos de ensino em Marburg, dedicou-se
Heidegger a «interpretações fenomenológicas de Aristóteles», segundo
a afirmação do seu discípulo H.-G. Gadaaner 144. O exame das Lições
sobre Lógica de 1925-26 e do Ser e Tempo podem mostrar o grau de
influência destas interpretações de Aristóteles, que, em primeira inten-
ção, pretenderam destruir as leituras escolásticas, que se sobrepuseram
aos textos originais. Foi sobretudo a rejeição aristotélica da ideia plató-
nica de Bem, a proposta da analogia, o aprofundamento da essência de
q>úO"tC;, o livro VI da Ética a Nicómaco e o livro II da Física que HeicLdeger
criativamente interpretou. Na desvinculação da pergunta pelo Bem,
própria da p:mxis humana, da teoria abstractá do ser e na crítica à
doutrina platónica das ideias a favor do primado ontológico do mo-vi-
mento e da importância da q>ÚO"LC;, Aristóteles é precurso-r do pensamento

142. P. Ricoeur, La Métaphore Vive (Paris 1975), pp. 13-ó1.


143. H.-G. Gadamer, Heideggers Wege, Studien zum Spatwerk (Tübingen ' 1983),
pp. 70-71.
144. Id., o. C., p. 118.
PRESENÇA DA FILO SOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 237

heideggeria:no 145. De não menor importância foi a interpretação heideg-


geriana . dos conceitos de oúvCX,~~ç e ÉvÉPYE!;CX, da Metafísica e, em 1940,
no seminário sobre a Física B 1 de Aristóteles, mais tarde (1958) publi-
cado pela J1evista Il Pensiero III, o reaparecimento do manusorito da
anterior leitura da Física. Esta pesquisa do oonceito aristotélico de
epÚC1LÇ interpretado à luz do começo (ó:.px1)) do pensamento grego tinha
por finalidade opor este conoeito à «natureza» das ciências modernas.
O regresso aos Gregos é tarefa essencial para Heidegger, que o distin-
gue de todos os outros fenomenólogos e, por isso, H .-G. Gadamer CO'Il-
fessa que, em 1923, viera para Freiburg não por causa da Fenomeno-
logia de Husserl mas para ouv.ir as interpretações heideggerianas de
Aristóteles 146. A célebre «Kcehre» de Heidegger não é uma ruptura com
os Gregos mas a rejeição de uma interpJ:1etação inadequada da filo-
sofia, a que uma forte influência de Husserl o conduzira e o tema da
superação da Metafísica vem na sequência da meditação do pensamento
grego, que, por ser inicial ou arque-o-Iógico, perguntava pelo ser dos
sendos sem a interferência da «posição voluntariosa do romano »
(Dilthey) nem o «cuidado pelo conhecimento conhecido » (lição de Hei-
degger em Marburg, 1923) 147. Para quem, como Heidegger, empreendeu
destruir a imanência fenomenológica da auto-oonsciência transcendental,
o auxílio veio-lhe do pensamento grego, que formulara as perguntas do
começo, do ser e do nada, do uno e do múltiplo e pensara a t\;vx1Í,
o Àóyoç e o \lOUç, sem ceder aos ídolos do auto-conhecimento nem ao
primado metódico da auto-consciência 148 . Por isso, é a pergunta pelo
sentido de ser que Heidegger endereça à intencionalidade e à correlação
noético-noemática da Fenomenologia, que se não pode formular sem
usar a linguagem do ser.
Apesar de Nietzsche, e de Holderlin terem sido também interlo-
cutores de Heiddeger, foram, contudo, os GJ:1egos que, desde o início,
o desafiaram a pensar de um modo ainda mais grego 149, a descobrir
neles o seu próprio perguntar e a rever-se nos fragmentos de Anaxi-
mandro, de Heraclito e de Parménides. Nesta linguagem do começo,
diz-se a exper1ência da verdade como desvelamento e do ser como
presença não de um modo eterno mas de cada vez, isto é, no horizonte

145. Ido, o. C., p. 71.


146. Id., 0o C., p. 119.
147. Id., o. Co, p. 120.
148. Id., o. C. , p. 120.
149. M. Heidegger, Unterwegs zur Sprach 2(Pfullingen 1966), p . 134.
238 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

do tempo, embora o Heidegger tardio reconheça eXlpressarnente que os


Gregos não pensaram esta experiência do ser como aletheia e reduziram
a verdade a uma adequação entre ser e aparecer, ouSlia e fantasia ISO.
Isto, porém, deixa intacta a convicção de que a experiência do ser não
pode ter por medida a proporção ou o pensamento em que se apre-
senta mas, como esOI'eve o Heidegger tardio, é «Breignis» ou «dareim»,
que torna pos<sível a presença do sendo em geral. Bmbora isto não
tenha sido pensado pelos Gregos, desenhou"se de modo imp.ensado
no seu pensamento, oom especial relevo para a análise aristotélica de
epÚC]"Lt;, que está no centro da incansável tentativa heideggeriana de pensar
com os Gregos e mais originariamente que eles, remontando à fonte,
para além do uso escolar do texto aristotélico 151. Pensar de modo mais
grego não significa apenas pensar de outro modo mas pensar com os
Gregos o outro ou o diferente, que se furta ao nosso pensamento, que
se fixou na objectividade e na superação epistéa:nica da oposição dos
objectos. Sob o ser oonsistente de Parménides, rasga-se a dimensão
profunda da sua origem, a &'px1Í das mudanças, que Parménides não
pensou. Os conceitos da filosofia desaut,e nticam-se, quando já nada
de real diZiem e apenas obedecem à coacção do pensamento: a isto
chamou Heidegger «linguagem da Metafísica» elaborada por Aristóteles
e presente em todo o nosso mundo conceptual 152. Contra este domínio,
pensou Heidegger, em diálogo com os Gregos, que o ser inclui o movi-
mento e o sendo supremo o movimento sumo em virtude da arti-
culação entre movimento, «energeia» e «entelechia» e, por isso, se deve
pensar par.a além da Metafísica, na convicção de que a peJ:1gunta pelo
começo a partir das respostas hi's tóricas visa o que nos é destinado
e tece o caminho do nosso filosofar. Também o texto aristotélico da
Física recupera, contra o pitagorismo de Platão, um pensamento mais
antigo e pensa o ser como mobilidade em vez de harmonia numérica,
na vizinhança de uma natureza, que se gosta de ocultar. Como a natu-
reza, deve pensar-se o ser, que é aletheia, clareira na raJÍz do que
aparece e simultaneamenneocultação. Este pensamento se já não cai
nos modos gregos de pensar, é porque os transcende na sua fonte ou
pensa os Gregos de modo ainda mais grego 153.

150. Id., Zur Sache des Denkens 2(Tübingen 1976), p. 77.


151. H.-G. Gadamer, o. c., p. 122.
152. Id., o. c., p. 126.
153. Id., o. c., p. 128.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÁNEO 239

Se O diálogo com O'S Gregos esteve na raiz da superação do idea-


lismo fenomenológico praticada por Heidegger, é o exemplo de TO'más
de Aquino que frutifica na tentativa de J. MaJréchail e sua escO'la para
repensar o mais prO'fundo da temática kantiana - a afirmação do ser
ou no esforço criador e fecundo de G. Siewerth pa,r a discutir com
Hegel o «mi,s1ério» do ser 154.
O regresso ao conoeito de natureza com rejeição de toda a ruptura
que nela pudesse abrir a Metafísica, é um ideal perseguido por pensa-
dores contemporâneO's, oomo K. Loewith, K. Lorenz ou Ernst Blooh.
Rebelde à comp~eensão do sentido de histO'ricidade, K. Loewith pro-
curou resposta para os problemas dO's nO'ssos dias na concepção
greco-romana de origem, como superação da subjectividade, relativi-
dade, escatolO'gia, ideologia do prog~esso, esquecimento da O'rigem,
numa palavra, do historicismo em sentido lato 155. Loewith pretende
instalar-se imediatamente na natureza e no seu ciclo e eterno retO'rno,
pois para ele, na sequência de Nietzsche, o Deus judaico-cristão morreu
e com ele toda a historiddade, a criação e a escatologia, o homem
como imagem de Deus Transcendente e alvo da sua solioitude provi-
dencial 156 • Ao interpretar o nascimento do mundo moderno, Loewith
atribui ao pensamento judaico-cristão, na intenção de o transcender,
a responsabilidade deste período his·t órko e dO's traços, que o marca-
ram, como a secularização, o ideal de ciência moderna, a ideia de
prO'gresso e tenta, sem qualquer mediação, regressar à epÚCTLÇ ou natura 157.
Para K. Lorenz, a Natureza é limite inultrapassável e resiste a
todas as tentativas da Metafisioa: «Evolução é tudo ... É a história
do mundo a única coisa, que realmente é importante» 1S8. O enoontro
com a Natureza é a descoberta de sentido, pOJ1que «um homem, que
exactamente conhece a beleza de um bosque primaveril, a beleza das
flores, a complicação magnífica de qualquer espécie animal, não pode

154. J. Maréchal, Le Point de Départ de la Métaphysique. V - Le Thomisme


devant la Philosophie Critique 2(Louvain-Paris 1949); G. Siewerth, Der Thomismus
aIs Identitatssystem 2(Frankfurt/M. 1961); Id., Grundfragen der Philosophie im
Horizont der Seinsdifferenz. Gesammelte Aufsatze zur Philosophie (Düsseldorf 1963).
155. K. Loewith, Zur Kritik der geschichtlichen Existenz, Gesammelte Abhand-
Iungen (Stuttgart 1960), p . 235.
156. Id., Nietzsches PhiIosophie der ewigen Wiederkehr des GIeichen 2(Stuttgart
1956), p. 193.
157. Id., Weltgeschichte und Heilgeschichte. Die theologische Voraussetzungen
der GeschichtsphiIosophie S(Stuttgart-Berlin-Koln-Mainz 1967), p. 185.
158. K. Lorenz I F. Kreuzer, Leben ist Lernen, Von Immanuel Kant zu Konrad
Lorenz. Ein Gesprach über das Lebenswerk des Nobelpreistragers (Zürich 1984), p. 23.
240 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

duvidar do conteúdo de sentido do mundo» 159. Um nimbo de absoluto


envolve o mundo como totalidade, que é o único ponto indubitável
de todas as nossas referências axiológicas: «O valor último é indubi-
tável, porque não é passível de ser relativizado, é a criação o,r gânica
na sua totalidade e até a Axiologia humana encontrará um fundamento
válido e pontos seguros de refer,ência apenas quando aprender a ver
o homem como parte desse Todo maior» e não como imagem de Deus 160.
O homem é parte da Natureza e nasceu de nlOdo natural sem qualquer
infracção das leis da Natureza mas deve ter consciência da grandeza
e da beleza do universo, que a doutrina da evo'l ução traduz com força
explicativa, elevação poética e magnitude impressionante 161. A exaltação
da Natureza e o deslumbramento de K. Lorenz perante ela enquanto
algo de absoluto e de infinito 162 assumem proporções de religiosidade
já conhecidas na Europa desde G. Bruno. A exaltação entusiástica da
Natureza oomo instância suprema de que não há recurso racional, seio
maternal, donde tudo procede no tempo, situa K. Lorenz no campo
histórico da investigação da Natureza, da Fisiologia, cujo fascínio nutriu
altos expoentes do pensamento europeu, como, v. g., os Pré-Socráticos,
Demócrito, Estóicos, J. Escoto Eriúgena, G. Bnmo, B. Espinosa, eh.
Darwin, F. Nietzsche 163.
O programa do jovem Marx «humanização da Natureza e natura-
lização do homem» inspira toda a obra de Ernst Bloch, desde o Espírio
da Utopia (1918) até à grande suma O Princípio da Esperança (1954 ss.).
A ,natureza, porém, é uma realidade inacabada, não é in actu o que
in potentia lhe compete, é eminentemente futura e possível, é impulso
que a soÍ mesmo se transoonde, é um «ainda não», a que na consciência
corresponde a esperança, a utopia ou a antecipação ainda imperfeita
do futuro. A sintonização do homem com o mundo e a libertação do
mundo para possibilidades ainda não realizadas é o núcleo utópico
do pensamento de Ernst Bloch, que transpõe os mitos do paraíso
perdido e da idade do ouro para uma escatologia messiânica. Esta

159. Id., o. C., p. 43.


160. K. Lorenz, «Stamm- und Kulturgeschicht1iche Ritenbildung (1966)>> in: Id.,
Das Wirkungsgefüge der Natur und das Schicksal des Menschen (München-Zürich
1963), p. 175.
161. Id., Das sogennante Bose, Zur Naturgeschichte der Aggression 11(München
1984), p. 212.
162. K. Lorenz / F. Kreuzer, o. C., p. 47.
163. Cf. M. B. Pereira, «O Sentido de Fulguração na Gnosiologia biológica de
Konrad Lorenz» in: Revista da Universidade de Aveiro - Letras 3 (1986), pp. 21-95.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 241

filosofia do futuro, que tematiza conceptualmente as possibilidades


progressivas da natureza, pressupõe que o futuro já existe de
modo seminal no presente, como ÀÓyoC; CT1tEpIJ.cx:nxóc;, que é presença do
ser possível temporariamente impedido, «extemporâneo» mas em pro-
cesso de maturação, pois «amne possibile exigit existere» 164. Um subs-
tracto histórico permanece latente desde as mitologias pré-históricas
até às formas recentes da filosofia, exprime-se de modo provisório em
múltiplos fenómenos mas ainda não apareceu como o «unum» do
sentido da história. Por isso, cada forma do espírito objectivo reenvia
para algo, que nela se oculta e tem de se ler como um palimpsesto.
A utopia ou o futuro sem lugar é a latência do presente, que mais tarde
será explioitada, é a esperança fundada na abertura da matéria e do
processo do mundo. Bm vez do ser acabado e da categoria de realidade,
é a privação e a possibilidade, que basicamente caracterizam a matéria
como ser em potência, que, na sua totalidade, envolve a substância
e o sujeito numa unidade dialéctica ou jogo de mediações entre EV e
1toÀÀá, que Platão desenvolvera formaLmente no diálogo Parménides.
A natureza é percorrida pela tensão entre o núcleo seminal e a floração
plena, entre a multiplicidade infinita e o uno e a filosofia é o movi-
mento, que pretende captar este processo lógico e histórico da natureza
naturante.

II

Todas as grandes descobertas no reino das Ciências da Natureza


provocaram profundas transformações na vida humana e é a Física
Nuclear e a Biologia Molecular que hoje susoitam dolorosas interro-
gações sobre o futuro da humanidade. Na consoi,ênoia do abismo do
perigo fulge também a densidade de pensamento e em grandes figuras
da Física do nosso século surpreendemos rasgos de pensamento, que
actualizam a anta-teologia da Filosofia Antiga.
Max Planck, Prémio Nobel de Física em 1918, reconheceu que já
não há pergunta, por mais abstracta que seja, «que se não relac.iO'l1e
de algum modo com um problema da área das Ciências da Natureza» 165

164. H. H. Holz, Logos Spermatikos, Ernst Blochs Philosophie der unfertigen


Welt (Darmstadt 1975), p. 23.
165. Max Planck, «Religion und Naturwissenschaft» in: H. P. Duerr, Hrsg.,
Physik und Transzendens, Die grofJen Physiker unseres lahrhunderts über ihre
Begegnung mit dem Wunderbaren (MÜDchen 1986), p. 21.

16
242 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

e, por isso, se justifica a questão sobre o sentido de uma Metafísica,


que respeite as leis da Física e a validade da sua verdade 166. A resposta
a este problema inicia-se no reconhecimento da seriedade do mito, do
rito e sobretudo do síanbolo, que, na dimensão religiosa, «nunoa apre-
senta UIIIl valor absoluto mas sempre e apenas uma referência mais
ou menos imperfeita a algo de superior, que não é directrunente aces-
sível aos sentidos» 167. O sfunbolo ultrapassa a esfera religiosa, abraIlge
todo o dommio da vida humana e, por isso, «sem símbolo não será
possível entendimento nem qualquer comunicação entre os homens» 168
e a variedade simbólica segue o destino da variedade de palavras, que
na pluralidade das línguas traduzem o mesmo conceito 169. Interroga-se
Max PI'a Ilck sobre a transcendência ou a imaIlênoia à consciência
humana do sentido último e da omnipotência revdadas no símbolo,
isto é, tonnula o problema da onto-teologia confrontado com as exigên-
cias das Ciências da Natureza, sobretudo com «a mais exacta de todas»
- a Física 170. O conteúdo essencial desta ciência repousa na mensu-
ração realizada nos limites do nosso espaço e tempo e dos modos mais
variados mas as grandezas manuseadas pela Fisioo são de diminuta
dimensão e estão na «proporção da grandeza de uma cabeça de alfinete
para a da esfera terrestre» 171. Toda esta variadíssima mensuração per-
mitiu concluir que «sem excepção, fenómenos ffsicos na sua totalidade
se podem reduzir a processos mecânicos ou eléctricos, provocados pelos
movimentos de certas partículas elementares, como electrões, protões,
positrões, neutrões. Tanto a mas's a como a carga de cada UJIIla destas
partículas elementares se expr.imem por UJIIl número muito determi-
nado, pequeno, que tanto mais exactamente se deixa defini'r quanto
mais se refinarem os métodos de mensuração» 172. Estes pequenos
números são as oonstantes universais, as pedras de construção do edi-
fício da Físioa Teórica. Quanto ao significado destas constaJI1tes, per-
gunta Max Planck se elas se r,e duzem a meras CI1iações do espírito do
inv,e stigador ou se possuem ·UJIIl valor real independente da inteligência
do homem 173. O facto de toda a mensuração fí's ica se poder reproduzir

166. Id., o. C., p. 24.


167. Id., o. C., p. 27.
168. Id., o. C., p. 27
169. Id., o. C., p. 28.
170. Id., o. C., p. 29.
171. Id., o. C., p. 30.
172. Id., o. C., p. 30.
173. Id., O. C., p. 30.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 243

significa, para Max Planck, que o seu resultado não depende apenas
da individualidade, do lugar, do tempo e das oirclliIls.tâncias do operador
e que, portanto, algo existe «f.ora do observador» e justifica a pergunta
«por uma causalidade real subjacente de facto ao observador» 174.
É lícita a análise positiva das proposições físicas, a distinção entre o
empiricamente comprov,a do e o que ainda o não foi e a eliminação
de preconceitos mas o olhar para o passado oientífico, tão caro ao
Positivismo, é insufioiente para a ciência futura, que exige novas e
criativas constelações de ideias e prob1ematizaçães, que se não deduzem
simplesmente de resultados já obtidos 175. É por isso que o Positivismo
resistiu até ao fim à introdução de hipóteses sobre o átomo e ao
reoonhecimento de oonstantes universais, cuja existência é argumento
a favor de «uma realidade na natureza», que é independente de toda a
mensuração humana», presente ou futura 176. Este mundo real e autó-
nomo, que se estende incomensurave1mente para além da terra e a
que não temos acesso directo mas só mediante sensações e medidas,
esbate o egocentrismo e desperta no homem sentimentos de pequenez
e de impotência ou uma nova fOI'Ina de admimção e de espanto não só
através «da existência e da grandeza das partículas elementares consti-
tutivas do grande mundo na sua totalidade» mas também do «plano
único», que rege essas paI1tioulas ou da «legalidade universal, para nós
até certo ponto cognosdve1», que domina todos os processos da natu-
reZJa m. Esta admiração, desde os Gregos, raíz da filosofia, não tem por
objecto as leis que o homem irmporia 'à natureza mas o universo, que
as transcende e, por iss.o, na leitura de Max Planck, Kant não ensinou
que o homem prescreve simplesmente à natureza as suas leis mas
apenas que o homem «,a o forunular as leis da Natureza, lhe acrescenta
também algo de si próprio» 178, pois, de contrário, seria ininteligível
que Kant se sentisse externamente impressionado e e)Qperienciasse a
mais profunda veneração perante o céu estrelado 179. Depois de exem-
plificar a legalidade da natureza oom o princípio da conservação da
energia, Max PlaJilck refere outra lei «muito mais envolvente» que
possui a peculiaridade de responder claramente e com maior exactidão

174. Id., o. C., p. 31.


175. Id., o. C., p. 31.
176. Id., o. C., p. 32.
177. Id., o. C., pp. 32-33.
178. Id., o. C., p. 33.
179. Id., o. C., pp. 33-34.
244 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

ao problema do decurso de um processo natural e provoca no obser-


vador imparcial o «maior dos assombros», ao dar-lhe a impressão de
«a natureza ser regida por uma vontade racional e consderüe da fina-
lidade » 180. Exemplo relevante desta lei é a curvatura da refracção da
luz, que, através das várias camadas atmosféricas, segue a via que mais
r apidamente conduza ao seu fim, como se os fotões, que constituem
o raio luminoso, se comportassem «à maneira de seres racionais» 181.
A universalização deste caso da luz é o princípio da acção mínima, que
mais tarde deu nome ao «quantum» elementar, após ter entusiasmado
Leibniz e Maupertuis, que viram neste princípio um sinal sensível da
pvesença de uma razão ordenadora e dominadora da natureza 182. No
princípio da acção mínima vê Max Planck a relação recíproca entre
causalidade eficiente e causalidade final, segundo o modelo platónioo-
-aristotélico: à causa eficiente, que, desde o presente, age sobre o futuro
e apresenta estados posteriores condicionados por estados anteriores,
junta-se a causa final, que, inv,e rsaunente, desde o futuro ou de um
fim visado deduz o curso dos processos, que a tal fim conduzem !S3.
No domínio da Física, estes dois modos de ver são «apenas formas
matemáticas diferentes de uma mesma realidade» e seria ocioso per-
guntar qual destes dois modos mais próx1mos estaria da verdade. Para
Max Planck a investigação da Física Teórica, no seu desenvolvimento
histórico, conduziu a uma formulação da causalidade física dotada de
carácter teleológico, à concepção de uma ordem racional, a que a natu-
reza e o homem estão submetidos mas cuja essência própria nos
permanece incognoscível em virtude da nossa condição corpórea e
sensível 1s4• Afirmada a e~istência de uma ordem racional do mundo
independente da nossa intervenção e apenas indirectamente acessível
ao homem, a mensuração das Ciências da Natureza e a simbólica reli-
giosa convergem, segundo Max Planck, para a raiz misteriosa da ordem
do universo 185.
Sir James Jeans, especia1ista inglês em Matemática e em Aristóteles,
após ter considerado de natureza matemática todas as imagens cien-
tíficas correctas da Natul'eza, numa recuperação da tradição pitagórica,

180. Id., o. C., p. 34.


181. Id., o. C., pp. 34-35.
182. Id., o. C . , p. 35.
183. Id., o. C., p . 35.
184. Id., o. C., p . 36.
185. Id., o. C., pp. 37-39.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÁNEO 245

serviu-se da alegoria da cavernà de Platão para exprimir a distância


e a diferença, que separam da realidade última a Ciência da Natureza:
«nós estamos ainda encerrados na nossa caverna, de costas para a luz,
e só podemos observar na parede as sombras» . A única tarefa oientífica
que presentemente nos cabe, é «estudar estas sombras, classificá-las
e explicá-las do modo mais sitmples possível, isto é, por conceitos mate-
máticos, pois só um matemático pode esperar com:preender a Teoria
da Relatividade, a Teoria Quântica e a Mecânica Ondulatória, que hoje
tentam desvendar a natureza profunda da totalidade do mundo» 186. Vindas
do reino da realidade, «algumas sombras projectadas no muro das
nossas cavernas» provocam em nós a reminiscência não da preexistência
no reino da luz mas de objectos e acontecimentos fami,l,i ares da nos's a
vida de caverna. É que «a sombra de um jogo de xadrez.. . que fosse
jogado pelos intervenientes à luz do sol, recordar-nos-ia dos jogos de
xadrez, que nós houvéssemos jogado na nossa caverna» 187. Esta «tão
grande semelhança» não poderia ser ca's ual nem tão-pouco maquinal
mas induziria a supor que fora, no reino da luz, os jogadores seriam
seres dirigidos por um espírito semelhante ao nosso numa esfera inaces-
sível à nossa observação directa» 188. Os fenómenos da Física são som-
bras projectadas pela realidade oculta, que nos evocam regras seme-
lhantes de jogo válidas na penumbra da nossa vida. Este jogo com
regras é o da Matemática Pura, tal qual é formulada sem recurso ao
mundo exterior pela consdência interna do matemático. Criação do
pensamento e mundo 1ndependente, a Matemática Pura é a única imagem
da verdadeira reaHdade da natureza, pois o jogo de sombras que pode
ser a queda de uma maçã, a baixa-mar e a praia-m:ar ou o movimento
dos electrões no átomo, é produzido par actores muito familiarizados
com oonceitos matemáticos. Por isso, os fenómenos do mU!Ildo exterior,
pela sua estrutura matemática, podem comparar-se a criações abstractas
do nosso próprio espírito e a totalidade do mundo parece ter sido
pensada por um Matemático Puro, Arquiteoto do mundo 189. Parece
fora de dúvida que a Natureza se adapta melhor aos conceitos da Mate-
mática Pura do que aos da Biologia ou da Mecânica e age, portanto,
segundo as mesmas leis do nosso pensaunento matemático 190. A Mate-

186. Sir James Jeans, «ln unerforschtes Gebiet» in H. P. Duerr, o. C., pp. 49-50.
187. Id., o. C., pp. 50-51.
188. Id., o. C., p. 51.
189. Id., o. C., p. 52.
190. Id., o. C., pp. 53-54.
246 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

mática Pura do homem, mediadora entre as sombras e a verdadeira


realidade, não se ocupa da matéria ma:s do pensamento puro, de que
promanam as suas criações, como o conceito de espaço, as leis da
probabilidade, o princípio de equivalência de partes distantes no tempo
e no espaço, etc. Por isso, «as leis, a que a Natureza obedece, recoroam-
-me menos aquelas a que obedece uma máquina em movimento do que
aquelas a que um músico obedece, quando escreve uma tuga ou um
poeta, quando compõe um soneto» 191, pois os movimentos de electrões
e ,de átomos assemelham-se mais a uma dança do que aos movimentos
das partes de uma locomotiva. Este modelo da dança alargado à tota-
lidade do mundo sobreleva o paradigma da máquina e permite repre-
sentar, «embora sempre de modo muito imperfeito e iIl1suficiente», o
pensamento da totalidade do mundo como pensamento de um mate-
mático 192, que é espírito universal de que nós, espíritos singula!res,
somos partículas ou impulsos 193 . Deste Espírito Universal é o espaço
sempre homogéneo e o tempo un.iforme e leis do seu pensamento são
todas as leis da natureza, cuja uniformidade anuncia «a consequência
interna deste Espírito » 194 . Se a totalidade do mundo é uma totaHdade
de pensamento, a sua oriação deve ter sido um aoto de pensamento de
um pensador, que a teoria moderna da ciência nos coage a representar
como um cria:dor em acção fora do tempo e do espaço, que são apenas
fragmentos da sua criação. Em apoio desta afirmação, é citado o Timeu
de Platão, 386 b-c, pa:ra quem o tempo e o céu foram fo'r mooos no
mesmo momento a fim de se poderem simultaneamente dissolver, se
isto alguma vez vier a acontecer 195 . O Espkito, em que os átomos, de
que resultou o nosso espírito individual, existem como pensamentos ,
aparece no rdno da matéria não como um intruso casual mas como
criador e senhor semelhan,t e ao nosso pensamento matemático e reve-
lado na sua erpifania, que é a matéria 196. O mundo das sombras da
consciência ingénua em contraste com a luz da ciência atÓlmica é descrito
pelo físioo e mósofo ingLês A. EddingtOll em 1927 nestes termos:
« ... T'0do '0 objecto do meu mundo ciroundanrte tem o seu duplo ...
Um é,me famHiar desde a minha tenra infância, é um objecto rotineiro

191. Id., o. C., p. 55.


192. Id., o. C., pp. 55·56.
193. Id., o. C., p . 57.
194. Id., o. C., p . 58.
195. Id., o. C., p. 61.
196. Id., o. C ., p. 64.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÁNEO 247

do meu ambiente, a que chamo mundo ... Tem extensão, certa duração,
cor. (O outro) não pertence ao ml1.'ndo, de que acabo de falar, àquele
mundo, que aparece imediatamente à minha volta, mal eu abro os
olhos ... É uma parte de UJIll mundo, que chamou para si sobretudo
de um modo mediato a minha atenção. Do ponto de vista científico,
a minha mesa consta em grande parte de vazio, entremeado de inú-
meras cargas eléotricas, que com grande velocidade correm de um lado
para outro», não ultrapassando cada uma a biliO'llésima parte do volume
da mesa 197 . De facto, foram os Gregos que introduziram a distância
entre mundo quotidiano e científico através de Leucipo, o primeiro
atomista grego de meados do séc. V a. C., que à visão ordinária das
coisas opôs a sua constituição de vazio e de átomos. Também para
Anaxágoras, o mundo não aparece imediatamente na sua estrutura
interna, pois é um mUJ1do de ã.01]À.~, isto é, do que não vem imediata-
mente à luz (ÕtjJLÇ 'tW\I &.o'lÍÀ.W\I CP~WÓ!.lEWX" B 21 a) e, por isso, o que
aparece, é apenas um aspecto do oculto. Para Demócrito e para os
Pitagóricos, com especial relevo para Arquirtas, os fenómenos são um
ponto de partida necessário para o mundo da cpúcnç, cuja verdade harmo-
niza os aspeotos múltiplos das diferentes percepções, de que partimos.
Por outro lado, uma ciência exacta da Natureza, isto é, fundada na Mate-
mática só foi possível, quando se «acreditou» numa estrutura harmó-
nica, matematicamente simples e transparente do mundo e este pres-
suposto fundamental é o núcleo autêntico do pensamento pitagórico 198 .
Se Sir James Jeans modelou a sua filosofia da ciência pelos diálogos
República e Timeu de Platão, A. Einstein, Prémio Nobel de Física de
1921, desenvolveu a explicação da origem dos deuses e da religião
a partir do medo já eX'plorada por Crítias 199 e enalteceu a exceI.ência e a
ordem admirável da natureza e do mundo do pensamento em contraste
com a negatiV'idade dos desejos e fins do homem. Esta religiosidade
cósmica sem dogmas nem deuses foi vivida por herejes de todos os
tempos, julgados muitas vezes como ateus e algumas COllUO santos e
entre eles figura Demócrito, como sfunbo,lo de religiosidade c6smica,

197. Texto citado por W. Broecker, «Das Hohlenfeuer und die Erscheinung von
der Erscheinung» in: D. Heinrich I W. Schultz I K.-H. Volkmann I Schluck, Die
Gegenwart der Griechen im neueren Denken, Festschrift für H.-G. Gadamer zum
60. Geburtstag (Tübingen 1960), p . 32.
198. Cf. O. Becker, «Die Aktualitãt des Pytagoreischen Gedankens » in: D. Hein-
rich I W. Schultz I K.-H. Volkmann I Schluck, o. C., p . 18.
199. A. Einstein, «Religion und Wissenschaft» in: H .-P. Duerr, o. C., pp. 67-68.
248 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

que pertence à arte e à ciência despertar e marnter viva 200. Há um valor


super-pessoal no mUll1do que se atinge através da libertação de si
mesmo e mediante a universalidade de pensamentos, sentimentos e de
tendências 201. O significado e a excelência de tal valor no mundo não
necessitam de qualquer fundamentação raciona:!, pois existem com a
mesma necessidade e evidência do próprio homem, que vive a religio-
sidade cósmica. A fornte de desejo de verdade e de conhecimento e a
crença na pos·s ibilidade de o mundo dos fenómenos ser conduzido por
leis da razão são imprescindíveis à construção de uma ciência autên-
tica e despontam ambos no reino da religiosidade cósmica 202. Como o
universo estóico, esse reino não reserva lugar para qualquer causa ou
vontade humana ou divina, que estejam fora da ordem dos aconteci-
mentos naturais regulados por leis 203. Liberto da prisão dos desejos
e das expectativas individuais, o cientista sente «profunda veneração
perante a razão que se manifesta na realidade» e «na sua última pro-
fundidade» lhe é inacessível 204 .
A Metafísica, que desde Aristóteles é uma teoria do ser, aparece
num escrito de Max Bom, Prémio Nobel de Física em 1969, em con-
fronto com a Hsica Clássica e Contemporânea 205. Apesar das diferentes
mutações na imagem física do mundo, os métodos têm permanecido
invariáveis: eX!perimeIlltação, observação de regularidades eXJpressas
depois em fÓfillUlas matemáticas, previsão de novos fenómenos, inte-
gração das diferentes leis empíricas em teorias capazes de satisfazer
«a nossa necessidade de harmornia e de beleza lógica» e exame destas
teorias através de previsões 206 . A capacidade de prever, que é a grande
exigência da Física, apoia-se no reconhecimento do princípio da causa-
lidade, que, por sua vez, significa na sua formulação mais sirruples a
assunção de leis invariáveis da Natureza. Este «princípio metaHsico»
de causalidade é posto em dúvida pela Física Moderna , cujo objecto
nos é dado apenas através de aparelhos mais ou menos complicados
e pel'oou a semelhança com os fenómenos do macrocOSITWS, dada a sua
redução a partículas, forças , campos, etc. Por isso, justifica-se a per-

200. Id., o. C. , p. 69.


201. Id., «Naturwissenschaft und Religion II (1941)>> in: H.-P. Duerr, o. C., p. 74.
202. Id., o. C., p. 75.
203. Id., o. C., p. 77.
204. Id., o. C., p. 78.
205. Max Bom, «Physik und Metaphysik» in: H.-P. Duerr, o. C ., pp . 79-95.
206. Id., o. C., p. 80.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 249

gunta pelo estatuto. ontológico deste novo objecto da Física NI, o que
pressupõe uma análise do. princípio de causalidade. A necess1idade, que
vincula a causa ao. efeito e, segundo. Parménides, encadeia o ser, é para
Max Bom «um conceito algo místico», cuja natureza metafísica reco-
nhece 208. A sequência necessária de acontecimentos no tempo, que per-
mite prever fenómeno.s futuros, é característica da causalidade física
e funda o detel'l1linismo da máquina gigante do mundo, defendida pelos
físicos do séc. XIX como erradicação definitiva de toda a traça da
Metafísica. Max Bom esclarece a confusão destes físicos, que identifi-
caram causalidade e determinismo : não há relação de dependência
causal na sucessão determinística do sistema ptolomaico, dos círculos
de Copérnico ou das elipses de Kepler mas apenas quando um grupo de
dados «determilIla quantitativamente» (isto é, causa) outro grupo de
dados 209. Na praxis quotidiana do físico, a experimentação é a produção
de deteITIlinadas condições de observação e a observação posterior do
efeito. É precisamente «a relação atemporal entre observação e con-
dição de observação. (aparelhagem), que é o objecto real da Ciência da
Natureza» 210. A Física Clássica praticou de facto. esta relação. de causa
e efeito, mas, ao teorizá-la, confundiu-a indevidamente com o determi-
nismo. Assim, se a nova Mecânica Quântica não admite qualquer inter-
pretação determinística, nem por isso foge à vigência universal do
princípio de causalidade 211. As condições de observação e a própria
observação jamais podem prescindir do observador e, por isso, enquanto
a Fís<ica Clássica pressupôs que os fenómenos da natureza se proces-
savam 'i ndependentemente do facto da sua observação e sem qualquer
relação com ela, a Física Quântica exige que UIIll fenómeno se descreva
e preveja em relação com a espécie bem de finida de observador e de
aparelhagem instrumental. Como a mesma espécie de fenómenos pode
ser observada em separado através de diferentes aparelhos, impôs-se
a ideia da diferença e da complementaridade de to.dos estes aspectos 212.
A geração de A. Einstein, de Niels Bohr e de Max Bom aprendera que o
mundo físico objectivo existe e se desenvolve segundo leis invariáveis
e independentes do homem. Com a Mecânica Quântka, o observador

207. Id., o. C., p. 8I.


208. Id., o. C., p. 8I.
209. Id., o. C., p. 82.
210. Id., o. C., p. 83.
211. Id., o. C., p. 85
212. Id., o. C., p. 89.
250 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

aparece oomo um ser interveniente, à semelhança da assistência do


futebol, cujo compromisso influi nos jogadores e no próprio jogo.
Longe de cair no relativismo subjectivista, a Mecânica Quântica usa
«,i nvariantes da percepçã.o» como todo o homem no seu quotidiano mas
apenas noutro nível de percepção, determinado pelos sofisticados apa-
relhos que manipula. Também na experiência da Física Quântica as
múltiplas observações se articulam segundo traços invariáveis, que são
indicador es de coisas, objectos e partículas 213. O electrão, que aparece
ora como onda ora como partícula, remete para algo traaJ.s.físico, para
«uma ideia metafísica», como, aliás, a relação causal da Física Clás·
sica 214, pois as mensagens da Microfísica falam de um mundo real
exterior, que uma imagem única não exprime mas sim a complemen-
taridade de várias 215. Expurgada do determinismo, a causalidade através
da pluralidade de perspectiva continua a dizer relações de um mundo,
que, ao aparecer, continua invisível como afirmara Anaxágoras.
Sir Arthur Eddington, matemático e astrofísico, que procurou unir
numa teoria fundamental a Teoria da Relatividade e a Teoria Quântica,
retoma o problema da Metafísica no seu trabalho Ciência e Misticismo:
«a beleza e a harmonia no rosto da Natureza es,t ão, na sua raiz, unidas
à serenidade, que transfigura a face do homem» 216. Distinto do conhe-
cimento simb6lico científico, que analisa, deduz e codifica, o conheci-
mento inteI1ior, v. g., do humor, acontece espontaneamente e não por
um exame analítioo. O mesmo se passa com o <<llOSSO sentimento mís-
tico de Deus». Há homens paa:-a quem o sentimento imediato dá pre-
sença do Ser Divi,n o, que penetra na alma, é um conhecimento muito
mais claro do que o resto da nossa expefi.ência e, por isso, sentem a
falta deste sentido como uma carência espiritual do homem 217 . Toda
a análise filosófica ou teológica da experiência não ultrapassa o domí-
nio do conhecimento simbólico, distinto, portanto, dessa experiência,
que é conhecimento interim. As grandezas da Físka, que formam parte
da realidade, a que temos acesso pela via dos sentidos, são distintas da
outra realidade, que se manifesta na consciênoia e no sentimento do
valor e da finalidade 218. A consciência excede o seu cérebro, é «algo

213. Id., o. C., pp. 92-93.


214. Id., o. C., p . 94.
215. Id., o. C., pp. 94-95.
216. Sir Arthur Eddington, «Wissenschaft und Mysticismus » in: f-I.-P . Duer r,
o. C. , p. 10lo
217. Id., o. C., pp . 102-103.
218. Id., o. C., p . 103.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÁNEO 251

maior» e, por isso, não nos conduz apenas ao mundo exterior da Física,
o que aconteceria se «a totalidade de uma consciência se reflectisse na
dança das moléculas do nosso cérebro de modo que a determinada
sensação correspondesse detenminada figura dessa dança» 219. Embora
para a Física Atómioa seja uma ilusão a represerutação de objectos
fanliliares, como, v. g. de uma mesa, jamais atingiríamos o conceito
científico e simbólico de mesa, se eliminássemos definitivamente os
sentidos oom suas imagens e ilusões. Também a vida quotidiana do
espírito se prende de representações ingénuas e até de ilusões mas
a faouldade, que as produziu, deve pôr-se «ao serviço das , forças supe-
riores da natureza» do homem, abrir o mundo espiritual e transformar
a esfera da sensibilddade a fim de a harmonizar «com a minha essência
própria» 220. O mundo do espírito não é o mundo simbólico da ciência
em que ninguém habita, mas um mundo habitável do quotidiano, tão
real como o mundo material, apesar de lhe não ser aplicável o conhe-
cimento exacto da ciência. Algo de muito profundo em nós se mani-
festa no as's ombro perante a criação, na expressão da arte, no desejo
de Deus. Dentro de nós deve procurar-se a justificação desta tendência,
que está <<num impulso poderoso, que desponta ao mesmo tempo com
a consciênoia, numa luz interior, que parte de uma força superior à
nossa» 221 e a que a ciência não permanece estranha, pois o desejo
de saber brota precisamente desse impulso, que o espímto deve seguir e
desse perguntar, que não pode ser reprimido. A experiência do per-
guntar abrange toda a realidade, interior e exterior, de tal modo que
nós somos «parte do problema», dotados de «forças espirituais» à pro-
cura de resposta para a pergunta da verdade, que provém do nosso
desejo natura:l de verdade e da «luz que acena de cima» 222. É tão legí-
timo associar um mundo físico real às nossas sensações como «ao
outro lado do nosso ser um mundo espiritual» 223, que apareceu com
capacidade de transformar a estrutura nua do mundo físico na riqueza
da nos's a experiência, como narra a gesta da evolução biológica 224 ,
Este mundo espiritual ou «alma do mundo» 225 carece de formulação

219. Id., o. C., p. 103.


220. Id., o. C., p. 104.
221. Id., o. C., p. 107.
222. Id., o. C., p. 107.
223. Id., o. C. , p. 111.
224. Id., o. C., p. 114.
225. Id., o. C., p. 116.
252 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

em símbolos diferentes dos da Matemática, pois, de contrário, esfuma-se


após momentos de exaltação, sem garantir o contacto permanente «de
alma a alma», como requer a verdadeira expressão religiosa 226 . A Física
pressupõe um «fundo», que está fora do âmbito da sua competência
e onde habita «a nossa própria personalidade» e talvez «uma persona-
lidade maior ». Em todo o caso, «a ideia de um espírito universal ou
logos» é uma luminosa consequência derivada do estado presente da
Física Teórica 227.
Noutro escrito 228, Eddington vê nas Ciências da Natureza uma
«tentativa de decifração do criptograma da experiência» com resul-
tados inegáveis mas sem qualquer interrogação sobre a verdade da
objectividade científica e suas teorias. O homem interroga-se sobre
«a úlüma verdade» e sente-se responsável perante ela, não fosse a
necessidade de verdade um dos traços essenciais do ser espiritual do
homem 229. Se não é impossível que a Física Teórica avance um dia
da organização para a produção do organismo, «o eu mais íntimo»,
contudo, jamais pode ser uma parte do mundo físico nem uma produção
robótica 230. O nosso conceito actual (1931) de Física é suficientemente
vaZJio para receber quase tudo, pois não passa de um esquema de sím-
bolos e de equações matemáticas ou de um esqueleto pronto a ser
revestido, de um piam.o prestes a ser executado ou de uma simbólica
à espera de interpretação 231. Por isso, a contribuição da Ffsica para o
problema da experiência reduz-se a um esqueleto, cujo preenchimento
não está na sua competência 232 . O olhar einsteiniano não atinge o essen-
cial e Deduz uma galeria de pintura, v. g., a dez metros quadrados de
cor amarela, a cinco metros de cor vermelha, etc. 233, pois muito aper-
tada é a limitação da Física e demasiado abstracta a sua especialização
para nos transmitir «uma compreensão completa do mundo, que envolve
o espírito humano» 234. O mundo da Física não pode coincidir «com a
nossa vivênoia da reaLidade em toda a sua amplitude» nem perscrutar

226. Id., o. C., p. 116.


227. Id., o. C., p. 116.
228. Sir Arthur Eddington, «Die Naturwissenschaft auf neuen Bahnen» in: H.-P.
Duerr, o. C., pp. 121-138.
229. Id., o. C., pp. 122-123.
23D. Id., o. C., pp. 124-125.
23,1. Id., o. C., p. 125.
232. Id., o. C., p. 126.
233. Id., o. C., p. 127.
234. Id., o. C., p. 128.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 253

«O mistério da existência», que está centrado no espírito, lugar da


verdade e de todas as possibilidades de realização responsável da beleza
e da bondade 235. Se a luz, a cor e o som chegam ao nosso espírito
como vozes do mundo exterior, os movimentos de verdade, beleza e
bondade, que agitam a nossa consciência, emanam de algo superior a nós
mesmos, que a desorição humana 10caLiZia fora de nós ou oculta na
nossa interioridade mais profunda 236.
Segundo Eddington, a essência da realidade é simpleSilllente espi-
ritual e não uma mistura de espírito e matéria, pois para a concepção
actual de matéria não tem sentido a síntese entre a «propriedade mate-
rial» e a essência de algo interior. Isto não significa a negação do
mundo físico mas apenas que pelo método da Física não atingimos
o ser íntimo das coisas, embora a sill11bólica da Física possa receber
em si tudo, como as ondas podem ser de água, de ar, de éter e de
probabilidade (na Teoria Quântica). Aberto pela Física um «espaço
para a realidade do espírito e da consc1ênoia» 237, a dimensão espiritual
da experiência está para a sua dimensão física como a água para a
forma das ondas. O saber cientíNco, mediado pelas modificações físicas
transmitidas ·a o sistema nervoso, recebe forma exacta através dos sím-
bolos da Matemática mas este saber não basta, pois nós somos seres
interessados na verdade, que têm um conhecimento imediato de si
meSilllOS 238. Aos actos da consciência não correspondem átomos e elec-
trôes das células do cérebro mas um véu de símbo,los a interpretar
e este véu só é erguido pelo saber imediato do espírito e na clareira
do véu erguido surge a realidade espiritual e anímica, enquanto rela-
tivamente ao mundo dos corpos continua corrido o véu dos símbolos
científicos239 • Não há dúvida de que as Ciências da Natureza hoje
possuem um conceito «muito mais místico do mU!lldo exterior do que
no século passado», dominado por modelos mecanicistas, que no séc. XX
foram substituídos por símbolos e equações matemáticas 240. Este novo
crescimento destas ciênoias mergulha as suas raízes no passado, pois
só aos ombros dos que nos precederam, podemos ver mais longe 241.

235. Id., o. C., p . 129.


236. Id., o. C., p. 129.
237. Id., o. C., p. 131.
238. Id., o. C., p. 132.
239. Id., o. C., p. 133.
240. Id., o. C., pp. 134-135.
241. Id., o. C., p. 137.
254 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

o célebre físico dinamarquês Niels Bohr, Prémio NOobel em 1922,


reflectiu sobre a unidade do saber sem e1i,m inar a distinção entre
Física, Biologia, Psioologia, Arte e Religião e, pelo conceito de comple-
mentaridade, previu uma unidade sem sacrifício das diferenças 242.
Contra a tese neopositivista da exclusividade da linguagem artificial
como modelo necessário do rigor científico, Niels Bohr assevera que
«o nosso oonhecimento fundamental é evidentemente a linguagem do
trato quotidiano, que responde às necessidades da vida prática e serve
a comunicação socia!» , de que a comunicação científica é parte inte-
grante. Esta, pOl1ém, induz"nos a perguntar «em que medida a objecti-
vidade da descrição se pode manter, quando o círcuLo da experiência
se projectO'll para além dos dados da vida quotidiana», e UI!lla vez que
todos oos conhecimentos são de início desoIÚtos em conceitos relativos
a experiências anteI1iol1es e, portanto, demasiado estreitos para poderem
responder a eJeperiências novas 243. O alargamento da aparelhagem con-
ceptual não só seria uma ordem em cada ciência mas revela também
semelhanças no modo de ana:lisar e de sintetizar experiências em domí-
nios científicos «aparentemente separados» e possibilita «·u ma descrição
ob}ectiva cada vez mais abrangente». Nestas oi:l'Ounstâncias, a Matemá-
tica, que é «um refinamento da linguagem do quotiJdiano», torna-se
na sua abstmcção precisa «um auxílio indispensável à expressão de
conjuntos hamnoniosos», porque dota a linguagem naturel de meios
de expressão de relações, que as palavras da linguagem comUlIll signi-
ficariam de modo demasiado inexacto ou prolixo. As chamadas Ciéncias
eJeacÍGts da Natureza devem o seu progresso ao uso de métodos mate-
máticos abstractos, que, por seu lado, se desenvolverrurn frequente-
mente sem qualquer intenção de uso mas apenas pelo desejo da U1I1iver-
salização de construções lógicas. É isto o que sucede na Física, que,
tendo signifiicado de início, todo o saber sobre a Natureza, se propôs
mais tarde investigar «as leis fundamentais, que dominam as proprie-
dades da matéria inanimada» 244, segundo as exigências de uma descrição
objectiva. No nosso tempo, novas zonas de experiência investigadas
impuseram outros pressupostos à «aplicação UIIlívoca dos nossos con-
ceitos mais elementares», resultando uma Epistemologia, cuja influência
se estende «a probLemas muito para além do domínio da Física» 245.

242. Niels Bohr, «Einheit des Wissens» in: H.-P. Duerr, o. C., pp. 139-157.
243. Id., o. C., p. 139.
244. Id., o. C., p. 140.
245. Id., o. C., p. 141.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 255

Após a seoularização da imagem imediata de mundo e a suspensão do


princípio de finalidade, foi pos,sível com os princípios da Mecânica
Clássica prever o estado de um sistema físico em qualquer ponto
temporal futuro a partir do seu estado deteI1ITlinado por grandezas
mensuráveis num momento temporal dado: é a descrição «determinís-
tica ou causal» da 1magem mecanicista de Natureza erigida em «ideal
de explicação científica em todos os domínios do saber» 246. A desorição
objectiva da Mecânica Clássica repousava no uso bem definido de
imagens e representações referidas «a dados da vida quotidiana»,
apesar de as idealizações dessa Mecânica como o espaço e o tempo
absoLutos e a propagação praticamente instantânea da luz, transcen-
derem o domÍlllio da experiência. A descrição, porém, de fenómenos
electro~magnétioos e ópticos desoobre o papel do observador, de cuja
velocidade relativamente a outros observadores depende o modo dife-
rente de coordenar os acontecimentos. De facto, «tais observadores
julgarão diferentemente não apenas a forma e a situação de corpos
sólidos mas também os acontecimentos em pontos diferentes do espaço,
que a um observador parecem simultâneos e a outro situados em
tempos diferentes 247. Este problema da dependência da descrição dos
fenómenos físicos também do ponto de vista do observador revelou-se
fecunda para a «descoberta de leis físicas UDJiversais válidas para todos
os observadores» 248, como se pode exemplificar com «a métrica espaço-
-temporal de quatm dimensões» de A. Einstein, que impõe a acção da
gravidade e a velocidade da luz como limite superior do uso sem
contradição do conceito físico de velocidade e, ao mesmo tempo,
expurga a descrição dos elementos subjectivos e alonga-lhe o campo
de competência. Por outro lado, a investigação da esrtrutura atómica da
matéria descobI1iu novas dimensões no problema da observação. Desde
a Antiguidade, a divisibilidade limitada da matéria foi usada para
explicar a permanência nela de propriedades características e manteve-se
até aos nossos tempos cama hipótese, pois a grandeza dos nossos
órgãos dos sentidos e dos aparelhos usados impedia a observação
imediata do átomo. No nosso século, o estudo de propriedades da
matéria como a radio-aotividade confirmam os fundamentos da teoTia
atómica e a construção de amplificadores possibillitou o estudo de
fenómenos assentes na acção dos átomos individuais e um amplo conhe-

246. Id., o. C., p. 141.


247. Id., o. C., p. 142.
248. Id., o. C., p. 142.
256 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

cimento da estrutura dos sistemas atómicos. Assim, descobriu-se que


o electrão é parte comum a todas as espécies de matéria, que o núcleo
do átomo, pela sua permanência sem mudança, explica a invariabili-
dade das propriedades dos elementos nos processos físicos e químicos
vulgares e que a transformação do núcleo do átomo através de meios
potentes inaugura uma esfera de investigação totalmente nova, frequen-
temente chamada (<<alquimia moderna», que incide sobre «a possibi-
lidade de se libertaJrem monstruosas quantidades de energia Ligadas
aos núcleos dos átomos» 249. Se a imagem simples do átomo explicava
«muitas propriedades fundamentais da matéria», não houve dúvidas
desde o começo de que «as imagens clássicas da Mecânica e do Electro-
-magnetismo não bastavam para explicar a estabilidade essencial de
estruturas atómicas, que se exprimem nas propriedades específicas
dos elementos. A chave explicativa encontrou-a Max Planck no início
do séc. XX, aquando da descoberta da «acção quântica universal».
As idealizações da Física Clássica, válidas para o macrocosmos não
atingiam o novo tipo de totalidade revelado pela existência dos quanta,
cuja legalidade, de espécie peregrina, se furtava à desOI1ição deter-
minística usada para os fenómenos macrocósmicos. As observações
realizadas no espaço da Micro-Física articulam-se segundo relações
expressas nos simbolos do f01.1lTIalismo matemático, que, presos da sua
natureza estatística, se mantêm distantes dos «diferentes processos
quânticos individuais» 230. O formalismo mecânico-quântico descreve
numerosas e~pedências de propriedades fí.sicas e químicas da matéria,
fixando a sua invariância e ordenando os conhecimentos das proprie-
dades das partículas e da estrutura nuclear dos átomos. Nesta esfera,
que transcende a teoria da Física Clássica, a linguagem enriquecida de
expressões téonicas é o lugar da descrição da ordem das observações,
porque a palavra «experimentação» refere-se sempre a uma situação
em que nós poderemos narrar a outros o que f.izemos e observámos.
Apesar da interferência do observador e dos aparelhos de observação
na constituição do objeoto, Niels Bohr oonsidera capazes de induzir em
erro expressões como «fenómeno», «observação» ou «produção de pro-
priedades físicas de objectos atómioos através da mensuração», porque
tais expressões têm um sentido inconciliável com a linguagem do quoti-
diano e com uma definição. «Fenómeno» é apenas o que se observa
em circunstâncias descritas com exactidão e segundo o método global

249. Id., o. C., p. 149.


250. Id., o. C., p. 144.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÁNEO 257

da ex,periênoia, isto é, o átomo enquanto fenómeno reduz-se aos


esboços ou traços, que se obtêm com o auxílio de amploificadores e
são o campo de aplicação do fOI'lIlalismo mecânico-quântico 251. A estru-
tura matemática do formalismo usado oferece possibilidades de livre
escolha de uma ordem de experiência. Esta ordem escolhida, porém,
pode transmitir «resultados singulares diferentes», que, por vezes, se
lêem como «escolha Livre da natureza» 252, sem que isto signifique uma
personificação -da natureza mas simplesmente a impossibilidade de indi-
carem de modo habitual directrizes para o processamento de fenómenos
indivisíveis 253. É que a explicação lógica não ultrapassa o campo das
probabilidades quanrt:o ao aparecimento de fenómenos individuais em
condições determinadas de experiência. A descrição de fenómenos da
Física Atómica coage-nos ao uso de conceitos fundamentais mas dife-
rentes, que se a~iguram opostos, quando o decurso dos processos
atómicos é descrito em conceitos clássicos e complementares por serem
um «conhecimento essencial dos sistemas atómicos e, na sua totaHdade,
esgotarem este conhecimento» 254. O conceito de complementaridade é
a expressão lógica da nossa situação de observadores, que descrevem
objectivamente os fenómenos da Física A1ómica, reconhecem que o
fenómeno quântico integra em si a acção recíproca entre aparelhos
e sistemas físicos investigados, valorizam a observação na ordenação
das experiências e limitam a concepção mecanicista e determinística
da natureza sem ferir «a descrição das propriedades fundamentais da
matéliÍa» 255.
A história da Física e o alargamento de espaços de experiência,
ao revelarem as lãJmitações dos conoeitos clássicos, rasgaram novos cami-
nhos para a recuperação do ordenamento lógico da experiência. A epis-
temologia da Física Atómica evoca «situações semelhantes» noutras
experiências, que estão fora dos limites da Ciência Física. Em pTimeiro
lugar, surge a eX!periência dos seres vivos, a princípio confundidos com
a matéria inan:imãda mas cuja totalidade OTgânica e individual Aristó-
teles defendeu contra a visão dos atomistas, como, aliás, os conceitos
de potência e de finalidade 256. Da eliminação da finalidade resultou a

251. Id., o. C., p. 146.


252. Id., o. C., pp. 146-147.
253. Id., o. C., p. 147.
254. Id., o. C., p. 147.
255. Id., o. C., p. 148.
256. Id., o. C., p. 148.

17
258 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

concepção determinística de natureza desde a Renascença mas nas


últimas décadas progrediu muito o nosso conhecimento da estrutura
e da função dos organismos em virtude do importante papel desem-
penhado pela Mecânica Quântica, pois as leis estatísticas não só
exprimem a estabilidade das estruturas moleculares extraordinaria-
mente complexas mas também as mutações a que os seres vivos estão
sujeitos 257. Actualmente pergunta-se se uma comparação com sistemas
físicos complexos como modernas instalações industriais ou máquinas
electrónicas de calcular pode oferecer uma base suficiente paTa uma
descrição objectiva de totalidades auto-reguladoras como os organismos
vivos 258 . No entanto, os processos estudados na Física Quântica não
são um «análogo imediato» das funções biológicas, cuja conservação
exige permuta constante de matéria e energia entre o organismo e o
seu ambiente. Todo o método que submetesse as funções biológicas
ao modelo dos conceitos físicos, «impediria o desenvo1vimento livre da
vida», o que implica uma nova atitude perante o ser vivo, que equilibre
o mecanicismo com o formalismo 259. Como o quantum de acção da
Física, o conceito de «vida» é elementar em Biologia, onde nos defron-
tamos mais com «manifestações de possibilidades da Natureza» do que
com resultados das nossas próp.rias tentativas . Daí, a complementa-
ridade em Biologia entre conceitos da Física e da Química e conceitos,
que, directamente referidos à integridade dos organismos, estão para
além das esf,e ras destas dências 260. Impõe-se-nos também o conceito de
consciência quando o comportamento é tão complexo que a sua des-
crição remete directamente para a introspecção do organismo indi-
vidual. Assim nasce a complementaridade entre o conteúdo da nossa
atenção e o «fundo» designado pela expressão «nós mesmos » 26 1. As
tensões e oposições da personaLidade estudadas na Psiquiatria apre-
sentam uma analogia com a situação da Física Atómica, seus fenó-
menos complementares e respectiva conceptualização. Por outro lado,
há um paralelo entre vivências psíquicas e observações físicas, pois a
dificuldade em dar um conteúdo intuitivo ao subconsciente corresponde
à limitação do esclarecimento intuitivo do formalismo da Mecânica
Quântica 262. Os traços que no organismo deixam toda a vivência cons-

257. Id., o. C., p . 149.


258. Id., o. C., p. 149.
259. Id., o. C., p. 149.
260. Id., o. C., p. 150.
261. Id., o. C., pp. 150-151.
262. Id., o. C., p. 151.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 259

ciente, furtam-se à introspecção e não se podem descrever exaustiva-


mente com o auxílio de conceitos mecanicistas, mas de um ponto de
vista finalista não só podemos acentuar a influência desses traços perma-
nentes sobre as nossas reacções e estímulos mas também devemos
valorizar o facto de eles serem transmitidos por hereditariedade a
gerações futuras. A transcendência da consdência permanece salva-
guardada, pois «os conceitos simples da Física perdem em grau cres-
cente a sua aplicação imediata na medida em que nos aproximamos
cada vez mais dos traços ligados à consciência de organismos v.ivos» 263.
Como exemplo, é aduzido o problema da vontade livre, que não tem
lugar numa concepção determinista. A Física Atómica, porém, e em
especial os 1imites da descrição mecanicista de problemas biológicos,
levam-nos a aceitar «que a capacidade do organismo para se adaptar
ao ambiente encerra em si o poder de escolher o caminho mais apro-
priado a este fim» 264. Esta questão não pode ser considereda em termos
simplesmente físicos e, por isso, «é importante saber que o problema
deveria ser esclarecido através de vivênoias psíquicas» na tentativa de
compreender, v. g., a decisão futura de uma pessoa em determinada
situação a partir da base em que se move e das infLuências que sofre
e, em última análise, colocando-nos em seu lugar. Reconhecidos os
limites de uma descrição objectiva, deve falar-se, de um ponto de vista
prático e lógico, de «liberdade da nossa vontade» com espaço suficien-
temente amplo para o uso de palavras como responsabilidade e espe-
rança 265. O desenvolvimento da Física incidiu sobre a situação do
observador e oferece-nos meios lógicos para ordenar amplas regiões
de experiência com linha de demarcação entre objecto e sujeito, pois
numa descrição meramente objeotiva não há lugar para conceitos defi-
nitivos como sujeito último ou realismo e ideaHsmo 266 .
Após ter aflorado problemas científicos complementares, que oon-
tribuem para a unidade do saber, Niels Bohr interroga-se sobre a
existência de uma «verdade poética ou espiritual ou oultural», ao lado
de uma verdade científica 267 . A riqueza da arte está na sua capacidade
de transmitir harmonias, que estão para além da análise sistemática e,
por isso, pode dizer-se que poesia, artes plásticas e música ostentam

263. Id., o. C., p. 152.


264. Id., o. C., p . 152.
265. Id., o. C., pp. 152-153.
266. Id., o. C., p. 153.
267. Id., o. C., p. 153.
260 M IG UEL BA PTISTA P E R E IRA

uma sene de formas de expressão, em que a eXlgencia de difin ições


própria da comunioação científica é substituída pelo jogo mais livre
da fantasia. O equilíbrio entre seriedade e humor, que distingue toda a
expressão artística, lembra traços complementares, que se destacam
no jogo infantil e são não menos apreciados na idade madura. Na
ciência predomina a tendência sistemática para alaFgar e OI'denar
conceptualmente a experiência; na arte vigora a tendência individual
para despertar sentimentos de totalidade da situação. A unidade do
saber é agora polissémica, porque a expressão de valores espirituais
e oulturais evoca o problema gno~iológico do equilíbrio entre o nosso
desejo de uma visão total da vida na sua multiplicidade e as nos's as
possibilidades de e:lCpressão sem contradição lógica 268 .
As relações entre oulturas nacionais aiiiguram-se complementares,
embora não no mesmo sentido em que se aplicou a complementaridade
na Física Atómica· ou na Psicologia, que ostentavam características
invariáveis. FrequentemeIlte, o encontro de nações originou uma fusão
de culturas, que manteve valiosas linhas da tradição nacional. A investi-
gação antropológica torna-se uma fonte cada vez mais importante para
o esclarecimento de traços comuns no desenvolvimento de diferentes
culturas. NenhlliIIla experiência se pode definir sem um quadro lógico
e toda a desaI'iJ.1lonia aparente só por um alargamento do quadro con-
ceptual se pode eliminar 2ó9 .
Erwin Schrodinger, físico austdaco e Prémio Nobel de Física em
1933, abre lliIIl artigo sobre a unidade da consciência com um conceito
de homem, que actuaLiza a ideia aristotélica de «a alma poder ser de
certo modo todas as coisas »: «A razão por · que o nosso eu, que sente,
percepciona e pensa, jamais surge na nossa imagem científico-Ul.atural
de illU:Ildo, pode facilmente exprimir~e nestas palavras: Ele mesmo é
esta imagem de mundo. É idêntico ao todo e, por isso, não pode ser
nele contido como parte» TIo. Na sequência do ' problema neoplatónico
da alma do mundo na sua relação com as almas individuais, considera
«paradoxo aritmético » a unidade e a multiplioidade de sujeitos privados
com um só «mundo externo real». A multiplicidade de eus justifica a
pergunta pela ,identidade do mundo, que lhes corresponde,. pela distinção
entre mundo real e imagens de mundo e pela correspondência ou não

268. Id., o. C., p. 154.


269. Id., o. C., p. 157.
270. Erwin Schrõdinger, «Das arithmetische Paradoxon - Die Einheit des
Bewusstseins» in: H.-P. Duerr, o. C. , pp. 159-170.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÁNEO 261

destas à realidade. Estas perguntas, que, segundo Schrodinger, não têm


resposta adequada, são antinomias ou a estas conduzem e «nascem
de uma fonte, a que eu chamo o paradoxo aritmético: os múltiplos eus
conscientes, de cujas experiências sensíveis se compõe um mundo» m.
Duas saídas foram tentadas para este paradoxo: a monadologia de
Leibniz e a união de todas as consciências numa só com a redução
da multiplicidade a mera aparência, como ensinam, v. g., os Upanishades.
Estas duas saídas não têm sentido «do ponto de vista do nosso pensa-
mento actual científico-natural, que se funda -no pensamento grego
antigo e é -puramente oddentaJ » 1:72 . O misticismo não impressiona
«o nosso pensamento ocidental», que o acusa de fantástico e de não-
científico. Para SchOdinger, a razão está no facto de «a nossa ciência,
que é grega, s,e fundar na objectivação » e de, por isso, se ter vedado
a si mesma no caminho p ara uma justa compreensão do espírito.
A partir desta leitura unilateral do pensamento grego, vem a afirmação
central de que neste ponto se deve corrigir o nosso estilo contem-
porâneo de pensar atravé s de UIIlla recepção do pensamento oriental,
sem contudo alienaI1mos «a e~actidão lógioa a que o nosso pensamento
chegou e que em nenhuma época teve paralelo » 273. Daí, o delineamento
do programa de Schrõdinger: rasgar caminhos «para uma futura fusão
do princípio de identidade com a nossa própria imagem científico-
-cultural de mUllldo, sem que isto se tenha de pagar com uma perda
da objectividade e exactidão lógica ZI4. A doutrina da identidade de
todas as consciências ou espíritos entre si e com a consciência suprema
pode reolamarr~se do facto de j amais a consciência ser experienciada
numa pluralidade de sujeitos mas apenas num só, pois mesmo em
casos patológicos de desdobramento de personaUdade as pessoas suce-
dem-se, nunca são simultâneas e nada sabem uma da outra 275. O «outro»
dos nossos sonhos é a concretização de uma difkuldade séria da vida
real, sobre que não exercemos qualquer poder. Isto explica por que
«em todos os tempos a maior p arrte dos homens se convencesse de
que estava realmente em ligação com as pessoas, que encontrava em
sonhos», fossem vivas ou mortas, deuses ou heróis. No séc. VI a . C.,
Heraclito verberou esta superstição mas Lucrécio Caro mantém-na viva

271. Id., o. C., p. 159.


272. Id., o. C., pp. 160-161.
273. Id., o. C., p. 161.
274. Id., o. C., p. 161.
275. Id., o. C., pp. 161-162.
262 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

no séc. I a. C. e talvez ainda hoje haja quem nela acredite 276. f. tão
parado~al a unidade do mundo numa pluralidade de consciências como
a unidade de um espírito numa multiplicidade de sub-espíritos m .
A solução está na incorporação da doutrina oriental de identidade na
estrutura da nossa ciência actual. Todas as consciências são sempre
e apenas uma só como o ser parmenídeo e o seu tempo não é o pas-
sado nem o futuro mas o presente, em que a recordação e a expectativa
se integram, e deste modo Schrodinger retoma o tempo do Timeu 278 .
Esta unidade da conscioência ou espírito contém, como o Uno de Plotino
ou de Prodo, o mundo espaço-temporal, que é uma representação sua
e, por isso, «modelo original e imagem são uma só coisa» 279. Justi-
fica-se a alusão a Berkeley, quando Schrodinger escreve que a expe-
riência nenhuma garantia nos dá de que o mundo seja algo para além
da repI'esentação do Espírito uno. A consciência ou espírito desem-
penha um duplo papel: por um lado é o teatro onde se exibe o acon-
tecer total do mundo ou «o vaso, que encerra tudo em tudo fora do
qual nada há»; por outro lado, sente a impressão, «talvez errónea» ,
da sua vinculação a órgãos especiais, que servem a vida do seu por-
tador 280 . f. como o pintor que se pintasse a si mesmo como figura
secundária no seu quadro ou como o escritor que se identifica com
uma personagem de segundo plano do seu romance. O duplo papel
desconcertante do espírito é criar tudo, como o artista, e ser ao mesmo
tempo uma figura dispensável e ins1ignificante, que se poderá eliminar
sem prejuízo do sentido da obra 281. O que falta, é o espírito no mundo,
pois o homem ainda não conseguiu construir uma imagem do mundo
sem dela -e xpulsar o espírito 282. O espectáculo, que se realiza como
mundo, só tem sentido na sua relação ao espíI'ito que o contempla
mas o que a Ciência da Natureza nos oferece, é a inversão absurda do
primado do espírito, como se o espírito nascesse do espectáculo da terra
e com el,e fenecesse, mala sol arrefecesse e a terra se convertesse em
deserto de gelo e neve 283.

276. Id., o. C., p. 162.


277. Id., o. C., p. 165.
278. Id., o. C. , p. 166.
279. Id., o. C., p. 167.
280. Id., o. C. , pp. 167-168.
281. Id., o. C., p. 168.
282. Id., o. C., p. 168.
283. Id., o. C., p . 169.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNE O 263

A contribuição mais impres5iva da Ciência da Natureza para res-


ponder às perguntas sobre a essência, a odgem e o fim do homem é
«a meu ver a pr-ogressiva idealização do tempo», em que mais do que
Agostinho de Hipona e Boécio, colaboraram Platão, Kant e Einstein.
«O que é que empresta à obra de Platão um brilho tão Ímpar, que ainda
hoje irradia, sem qualquer diminuição mais de dois mH anos depois?» 284.
Não foram, de certo, descoberas no reino dos números ou das figuras
geométricas nem concepções novas do mundo material, em que sábios
desde Tales a Demócrito, o seu aluno Aristóteles e Teofrasto o supe-
raram, nem longos passos dos seus diálogos repassados da crença de
que «a palavra manifestaria por si mesma o seu interior», nem tão-pouco
a sua utopia social e polít,ica, que lhe acarretou dificuldades e fracassos.
O que impôs Platão, foi a «ideia de uma existéncia intemporal» e a
sua defesa como um ser« mais real do que qualquer experiência
faotual , que é apenas uma soa:nbra daquela existência intemporal» 285.
Esta «iluminação» veio-lhe da doutrina de Parménides e dos Eleatas
mas foi lida mais como uma reminiscência de um saber anterionrnente
adquirido mas olvidado no tempo do que uma descoberta de verdades
totalmente novas. No espírito de Platão, o Uno imutável, omnipresente
e eternamente estável de PaTlUénides transformou-se num pensamento
muito mais poderoso, no reino das ideias, que salicina a imaginação
criadora, embora deva necessariamente peI'manecer um mistério 286.
Esta concepção, porém, proveio «de uma experiência muito rea1», isto é,
da admiração e da veneração que sentiu Platão perante invenções no
reino dos números e das figuras geométricas, como muitos depois dele
e os pitagórJcos antes dele. Ele conheceu o núcleo essencial destas
descobertas e por elas se deixou possuir até ao fundo do seu espírito,
porque manifestava ao pensamento lógico relações verdadeiras e válidas
para todos os tempos. «Estas relações valem até aos nossos dias e
valerão para o futuro, ~rndependentemente da existência ou não de per-
guntas nossas sobre elas. Uma verdade matemática é intem,p oral e não
nasce apenas no momento em que a descobrimos. Contudo, a sua
descoberta é um acontecimento muito real e pode emocionar-nos como
um grande presente de uma fada» 21f1. A idealização do tempo realizada

284. E. Schrodinger, «Naturwissenschaft wld Religion» in: H.-P. Duerr, o. C.,


p. 172.
285. Id., o. C., p . 173.
286. Id., o. C. , p . 173.
287. Id., o. C. , p . 174.
264 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

por Platão é «uma libertação da tirania do pai Chronos», pois o que


construímos no espírito não domina o espírito, não o cria nem o
destrói 288.
Numa curta reflexão intitulada «o que é o real», Schrodinger
aduz razões para eliminar o duallismo «pensar e ser» ou «espírito e
matéria» 289. A primeira tentativa histórica foi a proposta «totalmente
ingénua do grande Demócrito», que pensou a alma constituída por
átomos finos, lisos, esféricos e de grande mobilidade, teoria que Epicuro
e Lucrécio seguiram e modificaram, com destaque para a explicação da
liberdade do homem e do animal 290 . Decidido por um espiritualismo,
que abre caminho desde Platão até os Vedas 291, Schrodinger defende
oontra todos os materialismos a redução da realidade à representação
e desta à vivência psíquica e, em seguida, critica a defesa da necessidade
da existência de um objecto fora ou ao lado da representação, porque
seria uma duplicação supérflua contra o princípio da «lâmina de Occam»
e atribuiria ao próprio corpo, ao mundo e:merior e às suas relações
UIITl estatuto de realidade física, de que as nossas vivências psíquicas
seriam mero epifenómeno excedentário contra a experiência fUIl!da-
mental e condicionante segun do a qual «nós pensamos todos os aconte-
ciJmentos em pI'ocesso dentro da nossa representação de mundo sem
qualquer suposição de um substrato material como objecto» que supor-
tasse a nossa representação 292.
Sobre a dência e o pensamento ocidental em paralelo com a
mística do Orienrte escreveu W. Pauli, fí,sico austríaco e Prémio Nobel
da Física em 1945 293 • Apesar de rer recebido influências do Oriente,
escreve W. Pauli, o pensamento ocidental distingue-se deste sobretudo
pelo cultivo da ciência, com especial relevo para a Matemática e as
Ciências da Natureza, cuja comunicação a outrém gerou a tradição
e o exame crítico o controlo através de métodos empíricos. A possibi-
lidade do argumento matemático e de a Matemática se aplicar à Natu-
reza surgiu na Antiguidade e foi uma experiência enigmática, super-
-humana, nimbada de religiosidade e, portanto, vivida pelo homem

288. Id., o. C., p. 183.


289. Id., «Was ist wirklich? » in: H.-P. Duerr, o. C. , pp . 184-188.
290. Id., o. C., p . 185.
291. Id., «Die vedantische Grundansicht» in: H.-P. Duerr , o. C., pp. 189-192.
292. Id., «Was ist wirklich?», o. C. , pp. 186-188.
293. 'W. Pauli, «Die Wissenschaft lmd das abendUindlische Denken» in: H.-P .
Duerr, o. C., pp . 193-206.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 265

como divina 294. Torna-se essencial a relação entre conhecimento salví-


fico e conhecimento científico, pois a períodos de investigação crítica
seguem-se frequentemente outros em que se deseja e procura a inte-
gração da ciência numa espiritualridade mais ampla, portadora de ele-
mentos místicos . Se a ciência caracteriza o Ocidente, a atitude mística
é comum ao Ocidente e ao Oriente, apesar de diferentes entre si neste
domínio. Após haver remetido para o livro de R. Otto,. West-ostliche
Mystik (Gotha 1926), onde se compara a mística ocidental de Mestre
Eckhart com a do indiano Shankara, W. Pauli subscreve a opinião de
que a mística procura a unidade suprema das coisas externas e da inte-
rioridade do homem, sacrificando a· multiplicidade das coisas a uma
ilusão. Assim acontece a unidade do homem com a Divindade, apelidada
na China Tao, na 1ndia Samadhi e no Budismo Nirvana e que, para o
pensamento ocidental, acarreta a dissolução da consciência do eu 295 .
Enquanto a mística consequente não investiga razões mas busca modos
de fugir à dor de um mundo ameaçador, maneiras de conhecer este
mundo como aparência e de atingir a última realidade, o Uno ou a
Divindade, no ponto de vista científico e ocidental, «em certo sentido
se pode dizer grego», procuram-se razões por que o Uno se espelha no
múhiplo, pergunta-se o que é que se reflecte no espelho e o que é o
espelho, pretende-se saber por que razão o Uno não permaneceu eterna-
mente só e o que é que origina a chamada ilusão do mundo . Se o misti-
cismo une Ocidente e Oriente, a diferença entre eles é assim concebida
por W. Pauli: «Eu julgo que o destino do Ocidente é articular sempre
e de novo estas duas atitudes fundamentais , a crítioa e racional, que
pretende compreender, por um lado, e a míst<ica e irracional, que pro-
cura a vivência salvadora da unidade, por outro >} 296. Na alma do homem
habitam sempre estas duas tendências unidas dialecticamente, de modo
que, apesar de diferentes, uma seja portadora do gérmen da outra.
O Ocidente deve reconhecer esta complementaridade sem sacrificar a
consciência do eu observadora e crítica nem recusar o caso-limite da
vivênoia mística da unidade 297 .
Nwna retrospectiva histórica, W. Pauli distirngue dois modelos de
síntese da atitude científica e da experiência mística: um InICIOU-Se
com Pitágoras no séc. V a. C., prolongou-se nos seus discípulos, fo,i

294. Id., o. C ., p . 194.


295. Id., o. C., p. 194.
296. Id., o. C., p. 195.
297. Id. , o. C., p. 195.
266 MI GUEL BAPTISTA PEREIRA

desenvolvida por Platão e continuou no Neoplatonisono e no Neopita-


gOl'iso:no da Antiguidade tardia. A Teologia cristã primitiva exprimiu-se
atmvés do seu quadro categorial, o desenvolvimento do pensamento
cristão posterior explorou este modelo, que na Renascença acusou um
novo florescimento. O abandono da Alma do Mundo e o regresso à
gnosiologia de Platão por parte de Galileu, o renascimento pa-rcial
de elementos pitagóricos em Kepler estão na génese da Ciência Moderna
da Natureza, a que hoje chamamos clássica. O segundo modelo de
síntese é a tentativa da Alquimia e da Filosofia Hermética, que desde
o séc. XVII entrou no ocaso 298.
No seu longo processo hist6rico, a primeira síntese da atitude
científica e da experiência mística revestiu-se de formas novas, de que
W. Pauli apresenta um resumo exemplar, «que tem significado também
para o nosso tempo» 299. Embora recentes investigações acentuem a
influência da Matemática e da Astronomia da Babilónia na gestação
da ciência na Grécia, foi na Hélade clássica que o espírito científico e
crítico atingiu o seu primeiro ponto alto. Aqui se formularam aquelas
oposições e paradoxos, que ainda hoje são problemas nos<sos, embora
sob outra forma: aparência e realidade, ser e devir, unidade e multi-
plicidade, expeDiência sensível e pensamento puro, contínuo e número
inteiro, relação numérica racional e número irracional, necessidade e
finalidade, causalidade e acaso 300. A ideia de átomo de Leucipo e de
Demócrito representou um triunfo do pensamento racional, que buscava
soluções para obv,i ar às dificuldades do problema da unidade e da
multiplicidade. Não é correcto, observa W. Pauli, rotular estes pensa-
dores de materialistas em sentido moderno, porque o anímico e o
material não estavam então tão separados , como sucedeu mais tarde.
Por isso, Demócr.ito supôs átomos da alma e do corpo, cujo elemento
de ligação era o fogo. Entre os átomos há um espaço vazio e esta
possibilidade do vácuo é a resposta do atomismo helénico à discussão
multissecular acerca da existência de um espaço sem qualquer matéria 301.
Demócrito nega o acaso e a causalidade final, pois 00 átomos caem
no espaço vazio segundo leis necessárias. «Se compreendi correcta-
ment'e», continua W. Pauli, «deve surgir frequentemente um desvio
no início do movimento rectilíneo dos átomos no sentido do desenca-

298. Id., o. C., p. 195.


299. Id., o. C., p. 195.
300. Id., o. C., p. 196.
301. Id., o. C., p. 196.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORANEO 267

deamento de um movimento circular e só este pode conduzir ao turbi-


lhão cosmogónico» 302 . Esta antiga forma de atomismo precede, como
especulação filosófica , a teoria científica moderna, pois ainda não havia
descoberto o processo de exame empírico dos princípios. Antes de
Demócrito, já se fizera sentir a influência de Pitágoras e discípulos
através de «uma doutrina mística da salvação» intrinsecamente vin-
culada ao pensamento matemático e apoiada na mística babilónica dos
números. Onde está o número, está também a alma, expressão da
Unidade, que é Deus. Relações totalmente numéricas, como aparecem
nas proporções entre os intervalos musicais simpJes, são harmonia,
isto é, o que traz unidade aos opostos. Bnquanto parte da Matemática,
o número pertence também a um mundo eterno, abstracto, super-
-sensível, que não pode ser apreendido através dos sentidos mas só
pelo intelecto e de modo contemplativo. Matemática e contemplação,
ciência e sabedoria são, para os pitagóricos, inseparáveis» 303. W. Pauli
considera a incorporação de «muitos elementos místicos dos pitagó-
ricos na doutrina platónica das ideias uma reacção contra o raciona-
lismo dos atomistas e, nesta perspectiva, pitagóricos e Platão partilham
o mesmo apreço pela contemplação, pela Matemática e pelos objectos
ideais da Geometria. A descoberta de extensões incomensuráveis por
Teeteto, amigo de Platão, impressionaram profundamente o fundador
da Academia, não se tratasse aqui de um problema essencial, que se
não podia resolver através da percepção sensível mas somente pelo
pensamento » 304.
A distinção entre objectos geométricos ideais e corpos percebidos
pelos sentidos está na raiz da concepção platónica do que hoje chama-
mos matéria. Na raiz dos corpos sensíveis há «algo totalmente passivo,
dificilmente captável pelo pensamento e que Platão designa por termos
femininos, como, v. g., receptora e ama das ideias, aparecendo a palavra
xwpa. com o sentido de espaço preenchido por matéria 305. Aristóteles
tentou apreender de modo mais positivo este X feminino e indeter-
minado, a que chamou ü)..'T) e que, ao contrário dos Eleatas, não consi-
derou simples privação mas um ser em potência. Desde Parménides,
o ser tem de captar-se pdo pensamento racio!l1al, por oposição ao
não-ser, que nada significa, não existe nem é pensável. Cícero traduziu

302. Id., o. C., p. 196.


303. Id., o. C., pp. 196-197.
304. Id., o. C., p. 197.
305. Id., o. C., p. 197.
268 MIGUEL BAPTISTA PERE IRA

por «matéria» a palavra aristotélica ü)"Y), que se tornou para nós


designação corrente.
W. Pauli reconhece que muito se escreveu Ja sobre a doutrina das
ideias e a teoria da reminiscência de Platão. Justifica-se, porém, que
sejam retomadas, «,porque exerceram uma permanente influência no
pensamento ocidental, dificilmente alcançada por qualquer outro pro-
blema» 306. É com este modelo platónico que W. Pauli interpreta a conci-
liação moderna entre racionalismo e empirismo: «Também o (homem)
moderno, que procura uma posição intermédia na valorização das
sensações e do pensamento, pode, na esteira de Platão, esolarecer o
processo de compreensão da natureza como uma correspondência, isto
é, como uma coincidência de imagens internas preexistentes na psique
humana com objectos externos e suas relações » m. A diferença, porém,
que separa Platão do homem moderno, continua W. Pauli, está na muta-
hilidade dessas imagens preexistentes, que, sendo relativas ao estádio
de desenvolvimento da consciência, justificam que se aplique a este pro-
cesso evolutivo o nome platónico de «dialéctica» 308 . Por este ângulo
interpretativo, W. Pauli chega em gnosiologia às mesmas conclusões,
que outro Prémio Nobel, K. Lorenz, retirou da sua interpretação das
formas a priori de Kant 309 .
Na prossecução das doutrinas pitagóricas, a mística de Platão é
uma mística da luz, em que a compreensão se reaJiza nos seus dife-
rentes graus, desde a opinião (oó1;a) , o saber geométrico (oLci\Jo~a) até
ao conhecimento supremo das verdades universais e necessanas
(É1'tLO"tlU.lY)). O fascínio da luz foi tão poderoso, que as obscuridades se
esbateram, a ideia de Bem se tornou realidade suprema e a tese socrá-
tica da pos's ibilidade do ensino da virtude e da ignorância como única
causa das más acções se converteu na doutrina platónica da identidade
entre a ideia de Bem e a causa do saber verdadeiro e da ciência 310 .
Nos Elementos . de Eudides, a ciência elevou-se a «um sistema axiomá-
tico da Geometria», que resistiu a toda a crítica e só no séc. XIX
experimentou modificações essenciais 311 . A dimensão mística de Platão

306. Id., o. C., pp. 197-198.


307. Id., o. C., p. 198.
308. Id., o. C., p. 198.
309. K. Lorenz, «Kants Lehre vom Apr iorischen im Licht gegenwartiger Biologie
(1947)>> in Id., Das Wirkungsgefüge .. ., pp. 82-109.
310. W. Pauli, o. C., p. 198.
311. Id., o. C., p . 198.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 269

prosseguiu no Neoplatonismo, a que Plotino deu estrutura sistemática


sem deixar, no entanto, de redu2lÍr a matéria a uma simpJes c~rência
(privatio) de ideia, ao mal enquanto «privatio boni», que não pode ser
apreendido pelo pensamento ' conceptual. Nasceu, deste modo, a mescla
da oposição ética bem/mal com a naturalística ser/não-ser, que nós
podemos traduzir de modo mais adequado por racionaljirracional 312 •
Após Agostinho, permaneceu estreita a relação entre Cristianismo e
Neoplatoni,s mo e com Eckhart, o mestre da época gótica, e a alquimia
prosseguiu na Idade Média a síntese entre ciência e misticismo. Só mais
tarde, no «grand siec1e» (séc. XVII), a vontade de conhecer e de
dominar a Natureza entrou em conflito com a Unidade herdooa sob
o signo do misticismo do Mundo Antigo e Medieval, em lugar da aLma
do mundo apareceu «a lei abstracta e matemática da Natureza» 313 e a
imagem. de mundo cindiu-se em domínio da razão, por um .lado, e em
esfera da religiosidade, por outro, como o demonstra a filosofia de
Descartes e os escritos teológicos de Newton 314. Na Alquimia, que invadiu
a Renascença, ,"igorou o encontro com a matéria e com a ciência da
Natureza em oposição a um espiritualismo desencarnado e um monismo
psicofísico estreitamente vinculado ao concreto e visível, cujo conteúdo
psicológico foi nos nossos dias, valorizado pela psicologia do incons-
ciente de C. G. Jung e cuja doutrina dos opostos apresenta um mate-
rial precioso de investigação. Pemnte esta síntese de ciência e misti-
cismo, pergunta W. Pauli à Ciência da Natureza dos nossos dias se
não poderá realizar, em nível superior, o antigo espaço de unidade
psicofísica da Alquimia, cri~do uma base conceptual una para a con-
cepção cientíHco-natural do físico e do psíquico. A resposta ainda não
surgiu com clareza, apesar dos progressos da Biologia sobretudo no
estudo da relação entre causalidade eficiente e final e das estruturas
ps.icofísicas 315 • . A própria Física Quântica, segundo a formulação de
Niels Bohr, deparra-se com pares complementares de opostos como par-
tícula/onda, lugar/grandeza de movimento, possibilitando ao observador
a escolha do modelo de ordenação da experiência, que jamais pode
prever deterministic~ente o curso da Natureza 316. Parra W. Pauli, o
nosso tempo atingiu de novo o cume da superação da atitude raciona-

312. Id., o. C., pp. 198-199.


313. Id., o. C., pp. 200-201.
314. Id., o. C., p. 201.
315. Id., o. C., p. 203.
316. Id., o. C., p. 203.
270 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

lista e a consequente consciência da sua estreiteza unidimensional.


É a própria racionalidade que hoje nos conduz a uma real:idade, que
se não pode directamente percepcionar e cuja apreensão cai na esfera
dos símbolos matemáticos ou outros, conforme se trata do átomo ou
do inconsciente. Os efeitos visíveis desta «realidade abstracta» são tão
concretos como explosões atómicas e, do ponto de vista moral, podem
ser radicalmente maus. Compreende-se a fuga do simplesmente racional
para uma mística cristã ou budista mas para quem o racionalismo
estreito perdeu a força convincente e a atracção da atitude mística com
o esvaziamento do ' mundo não é suficiente, resta apenas expor-se às
oposições agudizadas e aos conflitos da razão e da sua superação, pois
deste modo pode o investigador seguir mais ou menos conscientemente
um caminho interior de salvação e lentamente podem nascer, como
compensação, «imagens, fantasias ou ideias », que revelem possível uma
aproximação dos pólos dos pares de opostos 317, que, na leitUJI'a de
W. Pauli são uma herança clássica. À divisão rigorosa do espírito
humano em departamentos separados operada no séc. XVII opõe
W. Pauli o «mito expresso ou inexpresso da nossa própria contempo-
raneidade», isto é, o objectivo de uma superação dos opostos, traçado
a partir do paradigma da síntese clássica entre ciência e experiência
mística 318 .
Pascual E . Jordan, físico alemão e especialista em Mecânica Quân-
tica, Teoria da Relatividade e Biofísica, interroga-se no seu trabalho
intitulado O significado da visão do mundo da Física Moderna sobre
o valor da crença nas respostas definitivas da ciência no nosso quoti-
diano, quando comparada com os reais resultados da Ciênoia da Natu-
reza 319 . A resposta obriga P . Jordan a uma retrospectiva do percurso
de mais de dois milénios de pensamento científiico e a estabelecer um
confronto crítico entre Demócrito, Descartes, LalIDettrie e a Física
Atómica contemporânea. O que Demócrito há mais de dois mil anos
concebeu quanto à constituição dos seres e que «tão espantosamente
se desenvolveu depois na investigação ocidental da Natureza», foi a
ideia de que tudo no mundo não passa de uma monstruosa quantidade
de corpúsculos indivisív.eis, invariáveis, indestrutíveis e não gerados, a
que chamou átomos. Movendo-se no espaço vazio, os átomos encon-

317. Id., o. C., p. 204.


318. Id., o. C. , p . 205.
319. P. Jordan, «Die weltanschauliche Bedeutung der modernen Physik» in:
H.-P. Duerr, o. C., pp. 207-227.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 271

tram-se segundo leis necessárias e este movimento regulado, diríamos


hoje, segundo as leis da Mecânica, é simultaIneamente a verdade e a
realidade objectiva 320. No tempo de Demócrito, em que os fenómenos
naturais ooultavam deuses, semi-deuses, daimones, ninfas e seres
míticos, esta visão atomística foi uma surpreendente secularização ou
substituição de um mundo sacralizado por uma natureza ~ominada
por leis e tornou-se paradigmática para a investigação física até ao
séc. XX. A necessidade e a legalidade desta visão da natureza foram
desenvolvidas e explicadas sob os nomes de causalidade e de determi-
nismo pela ciência do Ocidente. Embora filosoNcamente se exig,i sse a
distinção entre causalidade e determinismo, cabendo à causalidade «um
conteúdo mais rico e profundo», os físicos de hoje, seguindo o exemplo
de D. Rume, usam os dois conceitos como sinónimos e P. Jordan neste
estudo da influência de Demóorito até ao séc. XX falará apenas de
determinismo 321. É pertinente neste contexto a afirmação de Demócrito,
citada por P. Jordan: «Nada há senão os átomos e o espaço vazio. Tudo
o resto é opinião». Não passa, portanto, de especulação e de fantasia
tudo o que o homem aHrmar do mundo para além da sua constituição
atómica e das suas relações no espaço vazio. Se esta imagem de mundo
de Demócrito for de facto real, então a realidade total é rigorosamente
predeterminada no seu percurso como um sistema planetário. «Isto
significa que deve haver uma predeterminação cronometrada, um deter-
minismo mecanicista totalmente abrangente, que se estende desde o
grande ao mais pequeno e até à singularidade mais fina de todos os
processos naturais» 322. Descartes submeteu-se a este modelo e reduziu
todos os seres vivos a máquinas, incluindo o corpo humano, apesar
da sua complexidade, que era superior à de um sistema planetário.
Ao libertar o espírito humano do mecanicismo corpóreo, Descartes
tentou harmonizar dois mundos de pensamento: o mundo de uma
Ciência da Natureza profundamente influenciada pela filosofia de Demó-
crito e o mundo das doutrinas teológicas e representações religiosas
com suas proposições sobre a essência do homem 323. As consequências
radicais da doutrina de Demóorito aparecem na obra de Lamettrie
L'Homme Machine, que universaliza o modelo da máquina e determina
as reacções humanas com o mesmo rigor do cálculo dos movimentos

320. Id., o. C., p . 208.


321. Id., o. C., pp. 209-210.
322. Id., o. C., p . 211.
323. Id., o. C., p. 212.
272 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

planetários, fundando uma filosofia materialista da natureza. Para o


determinismo atomístico e suas leis necessárias, é indiferente a natu-
reza morta ou viva do átomo, pois apenas interessa a regularidade
sem fissuras e necessária do seu movimento, segundo o paradigma da
máquina, onde o problema da liberdade não tem sentido 324. Sem influên-
cia no seu tempo, Lamettrie permaneceu um pensador solitário mas
na segunda metade do séc. XIX, a doutrina da evolução biológica
aproveitou o esquema atomístico, segundo o qual de formas iniciais
ínfimas, simples e invisíveis proviriam organismos cada vez mais ricos
e complexos até ao mmido da vida de hoje. As forças condutoras da
evolução pareciam coincidir com os fundamentos, que, desde Demó-
crito a Lamettrie foram propostos na Filosofia da Natureza 325. No século
passado, a velha concepção de Demócrito foi «extraordinariamente
fecunda para a Física e a Químioa» e unanimemente seguida pelos
cientistas como evidente. Porém, na viragem do século alguns repre-
sentantes célebres da Física e da Química puseram em dúvida a exis-
tência do átomo e negaram que alguma vez se tivessem aduzido provas
concludentes nesta matéria. Esta crítica convenceu Físicos e Químicos
de que reaLmente a ideia plurissecular do átomo não passava de simples
hipótese. Na verdade, os factos então conhecidos não provavam a exis-
tência do átomo e, por isso, o maior trabalho do séc. XX na História
da Física consistiu na prova definitiva da hipótese de Demóorito com os
trabalhos de A. Einstein e de muitos outros físicos 32~.
Hoje o Momo é quase tão palpável como os fenómenos da Macro-
física: conhecemos-lhe o peso, medimos-lhe o tamanho e podemos afir-
mar que na extensão de um centímetro há cerca de 100 milhões de
átomos. Contudo, o átomo de hoje não cOI'responde já à ideia simples
de constituinte mÍlllimo da matéria, que DemócI'ito imaginara: hoje
conhecemos o núcleo do átomo; sabemos que no núcleo se contém mais
de 999 por mil da massa e no véu electrónico menos de um por mil.
Porém, quando mentalmente unimos as duas partículas elementares do
núcleo do átomo, que são o protão e o neutrão, ao electrão, que é o
constituinte da capa electrónica, temos nesta reunião de elementos
primários, que formam a matéria, «algo semelhante» ao que Demócrito

324. Id., o. C., pp. 213-214.


325. Id., o. C., pp. 214-215.
326. Id., o. C., pp. 216-217.
PRESENÇA D A FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÁNEO 273

imaginara sob o nome de átomo, pois o protão, o neutrão e o electrão


são, de facto, em certo sentido, partículas não-compostas 3T7.
A Microfísica é uma nova região da Física, que a ciência do séc. XX
descobriu, mas sujeita a leis, que são essencialmente diferentes das
que tradicionalmente vigoravam na Macrofísica. Antes de 1900, todos
os factos físicos e químicos estudados confirmavam o determinismo
sem laounas dos processos da Macrofísica mas os fenómenos da Micro-
física descobertos após 1900 exig1ram um tipo diferente de leis, que
se chamaram estatísticas por oposição às leis determinísticas da Macro-
física 328. Assim, a irradiação do radium é a divisão repentina do núcleo
do átomo em dois novos núcleos e, perante um miligrama de radium,
com um número enorme de indivíduos ou átomos, o físico conhece a
intensidade da irradiação sem necessidade de nova mensuração, porque
essa intensidade está fixada segundo leis e «não pode alterar-se de hoje
pam amanhã». O físico pode, neste caso, prever o tempo que dura a
desintegração de metade ou de dez por cento do milímetro de radium
com a mesma segurança com que o astrónomo prediz os echpses da lua
ou do sol 329. O problema, porém, muda radicalmente de figura, se pre-
tendemos determinar o tempo e o lugar da desintegração de cada átomo
ou indivíduo do colectivo, que é o milímetro de radium. Não só o físico
de 1970 mas também o físico de gerações futuras, escreve Jordam., jamais
poderão prever o comportamento individual futuro de um átomo sin-
gular e, neste sentido, continuarão inultrapassáveis os limites das propo-
sições estatísticas, com que se traduzem as leis da natureza. A convicção
de que neste caso se rasgou uma brecha no determinismo, exprimiu-se
nesta frase de W. Heisenberg: «A Física Quântica trouxe a refutação
definitiva do princípio de causalidade» 330. Trata-se, portanto, de um
conhecimento definitivo, que nos introduz nos segredos da Natureza,
e de um acontecimento, cuja cáusa jamais se poderá prever, pois está
tora da legalidade estatística da Natureza. Por isso, a expres,s ão «acon-
tecimento sem causa» significa apenas que todo o acontecimento da
Natureza na sua singularidade e individualidade é um salto - natura
facit saltus - e acontece sem determinismo causal 331. Os processos mais
finos da Física são acontecimentos-salto ou saltos quânticos na termi-

327. Id., o. C., p. 218.


328. Id., o. C., p . 219.
329. Id., o. C., pp. 219-220.
330. Id., o. C., p. 221.
331. Id., o. C., pp. 221-222.

IS
274 MIGUEL BAPTISTA PE REIRA

nologia de Max Planck e nestes saltos surpreendentes está a «forma


fundamental de todo o acontecer em geral». Os antecedentes permitem
prever a frequência de saltos quânticos fora da influência técnica dos
reactores atómicos mas nunca a determinação espaço-temporal da desin-
tegração de elementos singularizados. Também nos reactores atómicos
os processos, que aí decorrem, são saltos quânticos da transformação
de elementos como na desintegração radioaotiva e, apesar de provo-
cados, não passam de casos simplesmente prováveis quanto à determi-
nação da sua singularização 332. A Física de hoje revela dentro dos pro-
cessos que ainda nada têm a ver com a vida, uma espontaneidade
vooificável sob o nome de acontecimento objectivamente indetermi-
nado. É certo que o átomo se desintegrará num momento qualquer
do tempo mas a previsão des,t e momento não cabe na capacidade da
ciência de hoje. Há espontaneidade na matéria, isto é, há aconteci-
mentos, que não podem ser calculados de antemão nem permitem
qualquer aproximação de previsibilidade à análise científica, o que
invalida, mesmo quanto à matéria, o determinismo olássico de Demó-
crito, Descartes e Lamettrie 333 .
No começo do séc. XX, quando, além da realidade do átomo, se
provou a existência de saltos quânticos, registou-se na Biologia a redes-
coberta das regras de hereditariedade de Mendel, por largo tempo
esquecidas. Do rápido desenvolvimento da Biologia resultou a Genética
e a investigação das mutações biológicas e com estas um aprofunda-
mento do problema da espontaneidade, agora localizada na região da
vida orgânica, cujos resultados se podem sintetizar nes't es termos: Da
espontaneidade existente nas relações da Microfísica é de concluir «uma
espontaneidade paralela e até superior para os organismos vivos » 334.
A Cibernética tem estudado relações de comando, estabelecidas a partir
de certos dispositivos, entre uma acção mínima em determinado lugar
e um efeito grande e diferente, que aquela desencadeia. Desde há
muito se sabe que operações de comando, neste sentido, acontecem
nos organismos vivos de modo super-abundante, mas a Cibernética
criou conceitos e desenvolveu métodos, que revelam um estreito para-
lelismo entre uma direcção tecnicamente construída e o sistema mais
complicado dos organismos vivos. A influência recíproca entre a inves-
tigação técnica e a biológica pode, neste campo, conduzir a novas

332. Id., o. C., p . 222.


333. Id., o. C., p. 223.
334. Id., o. C. , p . 224.
PRESENÇA D A FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 275

descobertas, dada a vizinhança entre a camada microfísica do ser mate-


rial, onde a espontaneidade é um facto naturé\Jl, e a vida, cujo nível
de espontaneidade sobreleva o da matéria. Por isso o determinismo no
estilo de Lamettrie, isto é, a convicção de que há apenas acontecimentos
naturais, herméticos, de tipo causal, que, na sua solidão e exclusividade,
não consentem qualquer intervenção na sua raiz, é falso no ponto de
vista científico 335 . O mistério rodeia a investigação da Microfísica, pois
«cada átomo singular de radium é, para nós, um portador de mistépio»,
que até ao momento mantém o segredo da sua desintegração.
Ao referir-se à «espontaneidade» sob o nome de «relações de inde-
terminação»,W. Heisenberg acentua que doravante se têm de exprimir
em fórmulas matemáticas não os «acontecimentos objectivos» mas «as
probabilidades de apa:recimento de certos acontecimentos», não «o acon-
tecimento fáctico» mas a sua possibilidade - «a 'potentia', se quisermos
usar este conceito da filosofia de Aristóte'les» 336 . Se avançarmos defini-
tivamente da -Física Clássica para a Física Quântica e a chamada Ciência
exacta da Natureza incluir nos seus fundamentos «o conceito de proba-
bilidade ou possibilidade, de 'potentia', então muitos problemas herda-
dos da Filosofia Antiga receberão nova luz e, inversamente, a com-
preensão da Teoria Quântica aprofundar-se-á em virtude do estudo de
ques tões já antigamente formuladas» 337. A Teoria Quântica, se nasceu
unida à Teoria do Atomo, mantém, contudo, «estreitas relações com
aqueles filósofos, que situaram a matéria no centro do seu sistema».
Por isso, o seu desenvolvimento nos últimos anos (Heisenberg escreve
em 1958) «realiza muito claramente - se quisermos em princípio esta-
belecer comparações com a Filosofia Antiga - a viragem de Demócrito
para Platão» 338. Na verdade, a descoberta de Max Planck já indica que
«a estrutura atómica da matéria se pode conceber como expressão de
formas matemáticas nas leis da natureza» 339. De facto, a filosofia grega
da Natureza, desde Tales até Demócrito formulou o problema das
partes mínimas constituintes da matéria e substituiu a questão parme-
nídea do ser e do não-ser pela polaridade entre o p~eno e o vácuo,

335. Id., o. C., pp. 225-227.


336. W. Heisenberg, «Die Plancksche Entdeckung und die philosophische Grund-
fragen der Atornlehre» in: Id., Schritte über Grenzen, Gesammelte Reden und
Aufsiitze 6 (München~Zürich 1984), p . 29.
337. Id., o.'c., p. 29.
338. Id., o. C., p. 31.
339. Id ., o. C., p. 31.
276 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

entre o átomo e o espaço vazio. Com átomos em número infinito, inva-


riáveis, indivisíveis, em movimento e diversamente situados no espaço
vazio, construiu Demócrito os diferentes acontecimentos do mundo,
como a tragédia e a comédia, na sua diversidade, puderam ser escritas
com as mesmas let.ras 340. Platão herdou elementos essenciais da atomÍs-
tica precedente e fez corresponder aos quatro elementos terra, água,
ar e fogo, quatro espécies de partículas elementares, que são «segundo
Platão construções matemáticas fundamentais de superior simetria»:
cubos (terra), icosaedros (água), octaedros (ar) e tetraedros (fogo) 341.
Estas partículas de estmrtura geométrica não são, porém, indivisíveis
mas podem reduzir-se a triângulos e construir-se a partir deles. Os
triângulos, porém, não são matéria mas apenas formas mat.emáticas
e, por isso, a partícula elementar não é o puramente dado, o invariável
e o indivisível mas necessita de uma explicação matemática. «Por isso, a
última raiz dos fenómenos não é a matéria mas a lei matemática,
a simetria, a forma matemática» 342.
Ao referir-se ao material de experiências realizadas nos últimos
vinte anos (1958) sobre as partículas elementar,es, M. Heisenberg afirma
que, se soubermos experimentalmente que partículas se podem trans-
formar Ir adioactivamente em que partículas, podemos tiTar conclusões
quanto a propriedades simétricas das partículas e das leis, que as
regulam 343. À semelhança do que pensara Platão, tudo se apresenta
como se «a este aparentemente . tão complicado mundo de partículas
elementares e de campos de força estivesse subjacente uma estrutura
matemática simples e transparente. Todas aquelas relações, que nós
oonhecemos como leis da natureza nos diferentes domínios da Física,
poder-se-iam deixar deduzir desta estrutura UlIla» 344. Como em Platão,
a teoria definitiva da matéria deverá caracterizar-se por uma série de
importantes exigências de simetria, que se não podem traduzir por
figuras e imagens de tipo platónico mas por equações matemáticas.
Num artigo sobre as concepções filosóficas de W. Pauli 345, W. Hei-
senberg apresenta como primeiro problema nuclear da reflexão filo-

34(). Id., o. C., p . 22.


341. Id., o. C., p. 22.
342. Id., o. C., p. 22.
343. Id., o. C., p. 37.
344. Id., o. C., p. 39.
345. W. Heisenberg, «Wolfgang Paulis philosophische Auffassungen» in: Id.,
Schritte über Grenzen, pp. 43-51.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÁNEO 277

sófica de Pauli o da essência do conhecimento da natureza, «que em


última análise encontra a sua expressão racional na apresentação de
leis da natureza matematicamente formuladas», com recusa de toda
a interpretação empirista ou de um conceptualismo isolado e a proposta
de uma vinculação entre percepção sensível e conceito. É que a alma
e a percepção sensível estão submetidas a uma ordem do mundo
obJectiva e independente do nosso arbítrio 346 . A ponte entre a matéria
desordenada da experiência e as ideias é fOi'mada, segundo Pauli, por
certos arquétipos, que preexistem na alma como fo'r mas do seu incons-
ciente ou imagens de forte conteúdo emocional, que, ao coincidirem
com as relações dos objectos exteriores, ociginam novos conhecimentos.
Esta concepção de origem platónica, que penetrou no pensamento
cristão através do Neoplatonismo de Platino e Prodo, é reconhecida
por Pauli nos modelos e arquétipos de Copérnico, cujo simbolismo
trinitário, ames da correspondência ao material da experiência, con-
venceu Kepler. Nesta perspectiva, a ciência moderna da natureza é um
desenvolvimento cristão da «Metafísica da Luz» de Platão, «em que o
fundamento uno do espírito e da matéria se busca nos modelos origi-
nais e a compreensão nos seus diferentes graus e espécies até ao conhe-
cimento da verdade da salvação encontrou o seu lugar» 347. O desen-
volvimento do pensamento de Platão no Neoplatonismo e no Cristia-
nismo conduziu a uma depreciação da matéria entendida como carência
de ideias e mal, a que se opôs a filosofia alquimista com a concepção
de um espírito, que habita na matéria e espera a salvação, e com a
tarefa de uma inserção no curso da natureza, que pernüte designar
com as mesmas palavras e identificar misticamente os processos quí-
micos reais ou aparentes da retorta com os processos psíquicos. Dentro
da cOJ1respondência mística entre macrocosmos e microcosmos, a liber-
tação da matéria pela acção transformadora do homem identifica-se
com a mudança salvadora do homem pela acção eficaz de Deus e esta
unidade de dois pólos é simbolizada pela Tetraktys pitagórica, enquanto
a divisão é relegada para a camada obscura do mundo na sua separação
material e ,d emoníaca 348 . Quer esta unidade da Alquimia quer a do
pensamento platónico-cristão cindiram-se mais tarde numa Química
científica e numa mística religiosa separada po,r processos materiais,
por um lado, e numa imagem científica de mundo e numa concepção

346. Id., o. C., pp. 4445.


347. Id., o. C. , p. 46.
348. Id., o. C., pp. 46-47.
278 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

religiosa independentes, por outro. Estas linhas, que o desenvolvimento


do espírito ocidental separou, são para Pauli relações complementares,
cuja compreensão hoje a Mecânica Quântica sobremaneira facilita 349.
No pensamento científico, que de modo especial caracteriza o Oci-
dente, a alma empreende o caminho do exterior, pergunta pela razão
da multiplicidade e da pluralidade de imagens. Na mística oriental e
ocidental, pelo contrário, procura-se viver a unidade das coisas, redu-
zindo a multiplicidade a uma ilusão. A ciência atingiu no séc. XIX a
representação-limite de um mundo material objectivo independente de
toda a observação e, noutro extremo, a vivência mística converteu-se
num estado-limite da alma unida à divindade mas totalmente separada
do mundo dos objectos 350 . Esta ruptura no pensamento ocidental é
interpretada por Pauli como uma complementaridade, pois «na alma
do homem habitarão sempre as duas atitudes e uma trará já consigo
a semente do seu oposto, que é a outra » 351. Quando, nos primeiros
meses de 1927, as reflexões sobre o significado da Mecânica Quântica
assumiram forma racional e Niels Bohr lançou o conceito de comple-
mentaridade, foi Pauli um dos primeiros físicos, que se decidiu sem
reservas por esta nova possibilidade de explicação. É que as suas con-
cepções filosóficas iam ao encontro dos traços característicos da com-
plementaridade de Niels Bohr; ao intervir na natureza em cada experi-
mentação, o home.m escolhe qual o lado da natureza que pretende
tornar visível e, nesta escolha, sacrifica simultaneamente, outros aspec-
tos da mesma natureza, que permanecem ocultos, isto é, «escolha e
vítima» pertencem-se mutuamente 352. O centro do pensamento de Pauli
era percorrido pelo desejo de uma compreensão una do mundo, que
recebesse em si a tensão dos opostos e a Teoria Quântica oferecia-lhe
novas perspectivas de pensar a unidade até então ignoradas. Fascinara-o
a unidade de linguagem em que o alquimista se exprimia sobre pro-
cessos materiais e anímicos e sentira a necessidade de uma nova lingua-
gem una para o domínio abstracto da Física Atómica e da Pskologia
Moderna: «Hoje temos na Física uma realidade invisível (dos objectos
atómicos) , em que o observador intervém com certa liberdade (onde
é posto perante a alternativa da 'escolha e da vítima'): temos na Psi-
cologia do Inconsciente processos, que nem sempre se podem atribuir

349. Id., o. C., p. 47 .


350. Id., o. C., pp. 47-48.
351. Id., o. C., p. 48.
352. Id., o. C., p. 48.
PRESENÇA D A FILOSOFIA A NTIGA NO PENSAMENT O CONTEMPORÂNE O 279

com evidência a determinado sujeito » mas a unidade do ser total terá


êxito, quando a mesma linguagem se referir «a uma realidade invisível
mais profunda», seguindo um modo de expressão, que no sentido da
correspondência (Bohr), transcende a causalidade da Física Clássica 353 .
Daí o culto de Pauli pela simetria relacionada com a Tetraktys pita-
górica, a aversão pela divisão (<< um atributo muito antigo do diabo »),
o distanciamento perante sistemas, que prolongaram a ruptura carte-
siana espírito-co:rpo, a crítica ao apriori de Kant por ter fixado defini-
tivamente as formas da intuição e os conceitos do entendimento e a
recepção dos paradigmas originários e dos arquétipos de C. Jung, que
«não são necessariamente inatos » mas podem mudar-se lentamente e
adaptar-se a qualquer situação gnosiológica 354. Estes arquétipos de Pauli
diferem, portanto, dos paradigmas platónicos imutáveis e independentes
da alma mas são «testemunhos de uma ordem universal do cosmos,
que abrange de igual modo matéria e espírito ». Esta ordem de «con-
juntos mais universais » não se compagina com o esquema de estru-
turas causais da Física Clássica nem tão-pouco com o «acaso» da teoria
evolucionista de Darwin mas é uma «superação dos opostos », uma
síntese da racionalidade e do misticismo 355 .
A Física Nuclear dos anos 30 descobriu no núcleo do átomo pro-
tões e neutrões, que formavam com os electrões «os últimos elementos
constituintes de toda a matéria » 356. Experiências posteriores mostraram
que há outras espécies de partículas, que se distinguem das primeiras
já mencionadas pela sua curta existência, pois desintegram-se muito
mais rapidamente, mudando-se noutras: são os mesões e os hiperões,
além de cerca de trinta espécies diferentes de partículas, de curta
duração , hoje já conhecidas (1958) . Estas partículas elementares são
de facto as unidades mínimas da matéria, que, embora se pareçam
dividir, su:rpreendem-nos com o facto de as partes restantes não serem
mais pequenas nem mais leves do que as unidades iniciais 357. É que a
energia resultante do choque de partículas, que é o único processo
de divisão perante a impossibilidade da máquina, converte-se em massa
e gera novas partículas, o que reafirma a tese da existência de unidades
mínimas na estrutura da matéria. Todas as partículas de Heraclito,

353. Id., o. C. , p. 49.


354. Id., o. C., pp . 49-50.
355. Id., o. C. , pp. 50-51.
356. Id., «Die Plancksche Entdeckung .. . ", p . 33.
357. Id., o. C., p. 34.
280 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

para quem «O fogo é a matéria primária por que todas as coisas são
constituídas ... , é , ao mesmo tempo, a força impulsionadora, que
mantém o mundo em movimento e podemos, talvez, para chegarmos
à nossa concepção de hoje, identificar fogo e energia» 358. As partículas
da Física Moderna podem transformar-se umas nas outras tão rigoro-
samente como as da filosofia platónica e são «as únicas tormas pos-
síveis da matéria». A energia torna-se matéria, ao transformar-se e ao
manifestar-se na forma de partícula: «Ressoa aqui a relação entre
forma e matéria, que na filosofia de Aristóteles desempenha um papel
tão central» 359.
Nos diálogos travados no Max-Planck-Institut de Munique entre
1961-1965 360 , W. Heisenberg responde a C. F. von Weizsacker que o prin-
cípio platónico «no começo era a simetria» é mui.to mais correcto do
que a tese de Demócrito: «no começo era a paJ1tícula» 361. As partículas
elementares encarmam as simetrias, são uma sequência das mesmas
e a sua apresentação mais simples. Ao falar assim, continua W. Heisen-
berg, «estamos naturalmente já no centro da filosofia platónica. As
partículas elementares podem comparar-se aos corpos singulares do
Timeu de Platão por serem os paradigmas, as ideias da mátéria» 362.
Às considerações de C. F. von Weizsacker sobre a insuficiência da alter-
nativa «sim ou não», «ser ou não-ser», «bem ou mal» para a Teoria
Quântica, que exige respostas complementares, prováveis, com interfe-
rência do «sim» e do «não », responde W. Heisenberg que, de facto,
a divisão, de que falou Pauli, não tem o sentido que lhe deu o Aristo-
telismo, mas o de complementaridade, pois a divisão aristotélica era,
com razão, para Pauli «um atributo do diabo», ao conduzir ao caos
através de uma repetição contínua 363 . A terceira possibilidade exigida
pela complementaridade da Teoria Quântica abre, para W. Heisenberg,
o caminho do mundo real, pois «na Mística Antiga o número 'três' está
vinculado ao princípio divino» e da tríade hegeliana 'tese-antítese-sín-
tese' anuncia-se «que da união entre tese e antítese nasce algo qualita-

358. Id., o. C., 34.


359. Id., o. C., p . 35.
360. W. Heisenberg, «Elementarteilchen W1d Platonische Philosophie (1961-1965)>>
in: Id., Der Teil und das Ganze. Gesprache im Umkreis der Atomphysik 4(München
1970), pp. 321-333.
361. Id., o. C., p. 325.
362. Id., o. C., p. 326.
363. Id., O. C' p. 331.
I
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 281

tivamente novo» 364. As alternativas, que, segundo C. F. von Weizsacker,


constituem as partículas elementares e o mundo, como os triângulos
formavam os corpos regulares de Platão, não são matéria, como não
eraon os triângulos platónicos. Partindo, porém, da lógica da Teoria
Quântica, a alternativa é uma forma fundamental donde resultam,
por repetição, formas mais complexas . O caminho deve conduzir da
alternativa para o grupo simétrico ou propriedade; os representantes
de uma ou mais propriedades são as formas matemáticas ou as ideias
das partículas elementares. A alternativa da Lógica Quântica é «segu-
ramente uma estrutura do nosso pesamento muito mais radical que o
triângulo» 365.
Estes modos de presença do pensamento grego na Física Contem-
porânea foram reformulados por W. Heisenberg numa conferência pro-
nunciada em Atenas, frente à Acrópole, em 1964, e subordinada ao tema
«A Lei da Natureza e a Estrutura da Matéria»: «Aqui, nesta parte do
mundo, na costa do Mar Egeu, reflectiraon os filósofos Leucipo e Demó-
crito sobre a estrutura da matéria e, acolá em baixo, na praça, sobire
a qual desce agora o crepúsculo, discutiu Sócrates sobre as dificul-
dades fundamentais dos nossos meios de expressão; além, ensinou
Platão que a ideia, a figura é a estru,t ura fundamental autêntica sob
os fenómenos. As perguntas, que, pela primeira vez, há dois milénios e
meio, se formularam nesta terra, ocuparam, desde então, quase ininter-
ruptamente, o pensamento humano, foram no decurso da hist6ria de
novo explicadas, sempre que se alterou através dos nossos desenvol-
vimentos a luz em que surgiram os antigos caminhos do pensaonento» 366.
Apesar de o desenvolvimento da Física Atómica ter mudado radical-
mente a nossa imagem de natureza e da estrutura da matéria, não é
exagero afirmar que alguns dos problemas antigos encontram solução
clara e definitiva nos nossos dias. O começo da Filosofia Grega é domi-
nado pelo dilema do uno e do múltiplo, pois, se há uma pluralidade
variável de fenámenos sensíveis, é inegável a crença racional na sua
redução a um princípio uno 367• • A compreensão dos fenómenos inicia-se
na percepção de semelhanças e de regula'r idades, que são consequências
especiais de algo comum aos diversos fenómenos e, por isso, consi-

364. Id., o. C., p. 331.


365. Id., o. C., p. 332.
366. Id., «Das Naturgesetz und die Struktur der Materie» in: Id., Schritte
über Grenzen, pp. 187-206.
367. Id., o. C. , p. 189.
282 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

derado princípio. É traço característico do pensamento da Grécia Antiga


que os primeiros filósofos tenham investigado a «causa material» de
todas as coisas. Tornou-se problemático, porém, se esta causa se deve
identif icar com algo de concreto como «água» ou «fogo » ou se há que
pressupor uma substância originária, cujas formas passageiras inte-
gram o reino da matéria rea1 368 • A redução da substância fundamental
à simplicidade principal é a sua multiplkação em partes mínimas indi-
visíveis, eternas e indestrutíveis, em que o ser infinitamente se repete.
O espaço vazio possibilita a situação e o movimento dos átomos, cuja
propriedade positiva é apenas a existência 369 . Se o átomo situado e em
movimento tem uma extensão finita , não se vê por que não possa ser
dividido e, neste caso, não perca a sua simplicidade. Parece que a
h ipótese atómica na sua forma primeira não teve subtilidade sufi-
ciente para explicar o que os filósofos desejaJ:1iam realmente cQim-
preender: o princípio simples, que subjaz aos fenómenos e à estrutura
da matéria 370. Por outro lado, as qualidades, como cheiro, cor ou gosto
são reduzidas à situação e ao movimento dos átomos mas permanece
o problema quanto ao que dete'l111ina aquelas qualidades empíricas a
partir da situação e do movimento 371. A hipótese atómica procura res-
ponder ao problema do uno e do múltiplo, formulando o princípio
fundamental, a causa material dos fenómenos. Porém, «só uma lei
universal, que determina a sua (dos átomos) situação e velocidade,
poderia desempenhar de facto o papd de princípio fundador» 372. Presa
das formas estatísticas, das simetrias geométricas, da legalidade da
natureza, a Filosofia Grega não incidiu sobre os processos no espaço
e no tempo e, por isso, permaneceu-lhe estranha a ideia moderna «de
que situação e velocidade do átomo num tempo dado se poderiam arti-
cular claramente com a sua situação e velocidade num tempo posteriorr
através de uma lei matemática» 373.
Ao criticar Leucipo e Demócrito, Platão aceitou a ideia de partes
mínimas da matéria mas rejeitou que o átomo fosse o fundamento de
todo o ser e o único objecto material existente. Para Platão, os átomos
não eram propriamente matéria mas formas geométricas, corpos regu-

368. Id ., o. Co, p . 189.


369 o I do, 0o Co , p. 191.
370o Ido, o. Co, po 191.
37 1. Ido, o. Co , p. 192.
372 o Id o, 0o C., p. 192.
373 o Ido, o. Co, p o 192.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTE MPORÁNEO 283

lares dos matemáticos, ideias, que subjazem à estrutura da matéria


e caracterizam o comportamento físico dos elementos. Compostos de
triângulos comutáveis entre si, os átomos não podem ser infinitamente
.
divisíveis e a sua forma matemática regula-os enquanto partes mínimas
da matéria 374 . A frase «Deus é um matemático», escrita numa fase pos-
terior da filosofia, «tem a sua raiz neste passo da filosofia platónica» 375.
Apesar de separada do pensamento antigo pelo rigor do método e pelo
conceito de lei, a ciência moderna e contemporânea responde a velhos
problemas , que permaneceram insolúveis através dos séculos. Durante
o séc. XIX, o desenvolvimento da Qufmica e da doutrma do calor
seguiu precisamente o mesmo modelo de átomo de Leucipo e de Demó-
crito, pois as partículas, como os electrões, os núcleos dos átomos, os
protões e os neutrões pareciam unidades últimas e, portanto, «átomos
no sentido da filosofia materialista», que, pelo menos indirectamente,
se poderiam ver e existiam realmente como as pedras ou as flores 376.
As mesmas dificuldades, que surgiram nas discussões antigas sobre as
partes mínimas da matéria, ressurgiram no desenvolvimento da Física
do nosso século. Assim, o primeiro problema foi o da divisibilidade
infinita da matéria. Se os átomos químicos são compostos de núcleos
e de electrões e os núcleos se dividem, por sua vez, em protões e
neutrões, não será possível prosseguir a divisão destes últimos? Se for
possível, então as partículas elementares não são átOiIllos em sentido
grego. Se não for possível, devem aduzir-se as razões desta impossibi-
lidade. Se até agora foi possível desintegrar mesmo as partículas consi-
deradas indivisíveis, isto poderia significar que jamais atingiríamos o
fim da divisibilidade ou que não há na matéria partículas mínimas 377.
O segundo problema diz respeito ao modo de existência do átomo,
isto é, se ele é um objecto físico como a pedra ou a flor. A isto res-
ponde a Física Quântica que a situação do átomo é totalmente dife-
rente da dos objectos da macrofísica e, por isso, não lhe podemos
aplicar, sem equívocos, os conceitos usuais de situação, velooidade,
cor, grandeza, etc., da linguagem normal mas necessitamos da precisão
da linguagem matemática 378 . O primeiro problema da divisibilidade
infinita da matéria encontrou solução devido aos progressos da Física

374. Id., o. C., p . 191.


375. Id., o. C., p. 194.
376. Id., o. C., p. 197.
377. Id., o. C., p. 198.
378. Id., o. C., pp . 198-199.
284 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

das Partículas Elementares, quando do choque de duas partículas


elementares resultaram várias partículas novas da mesma espeCle, con-
ciliando-se a divisibilidade indefinida com a ideia de unidades mínimas 379.
Quanto ao segundo ,problema, a Física do nosso tempo confirmou a
perspectiva de Platão contra ' Demócrito, pois as partícü las mínimas
da matéria não são, de facto, objectos físicos no sentido usual do
termo mas formas, estruturas ou, na linguagem platónica, ideias sobre
que apenas a linguagem matemática pode falar sem equívocos. A espe-
rança comum de Demóorito e de Platão foi aproximar-se do «uno» nas
unidades mínimas da matéria, acercar-se do princípio uno, que regula
o curso do mundo. Platão estava convencido de que este princípio só
se poderia compreender e exprimir em f6rmulas matemáticas, em con-
sonância com o problema central da Física Teórica de hoje, que busca
a for.mulação matemática da lei, que está na base do comportamento
das partículas elementares, com a intenção de construir uma doutrina
una da. matéria 380. Esta situação recorda a introdução dos co'r pos simé-
tricos de Platão nas estruturas fundamentais da matéria. Embora estas
simetrias ,ainda não fossem correctas, continuou certa a crença de
Platão em simetrias matemáticas reguladoras das unidades mínimas
da matéria no centro da natureza 381 .
A procura do Uno, da mq.is profunda fonte de toda a compreensão
foi a origem comum da Religião e da Ciência mas o método científico
e o interesse pelo singular, que se pudesse eX!perimentar, orientaram a
ciência por. outros caminhos e originaram um conflito com a Religião.
S6crates fora condenado porque a sua religião contradiúa a tradição .
Galileu é símbolo do mesmo conflito no começo da Modernidade e no
séc. XIX o cOnflito atinge o seu auge na tentativa filosófica da substi-
tuição da religião cristã por uma filoso.fia científica, apoiada na versão
materialista da dialéctica hegeliana 382, Pod~r-se-á dizer que os cientistas
se movem da pluralidade para a unidade, quando desta fazem uma
interpretação materialista mas esta redução da matéria não evi,t a con-
flitos com a ciência. Só a relação à unidade assegura a harmonia da
sociedade e, por isso, a contradição com os resultados da ciência tOlr na-se
um problema sério. Não se trata primariamente do combate entre mate-
rialismo e idealismo mas da luta entre o método científico e a relação

379. Id" o. C., pp. 199-200.


300. Id" o. C" pp. 200-201.
381. Id., o. C., p. 201.
382, Id., o, C" p, 202,
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 285

comll!Ill ao «uno». Hoje a contribuição da ciência da natureza não é no


sentido do materialismo de Demócrito ou do idealismo de Platão mas
do uso cuidado da linguagem e da significação das palavras e, neste
contexto, W. Heisenberg privilegia o problema da linguagem na ciência
moderna da natureza e na Filosofia Antiga. Os limites inevitáveis dos
nossos meios de expressão foram tema central da filosofia de Sóorates
de tal modo que «toda a sua vida foi um combate cO'l1stante cOll1tra
estes limites» 383. As razões pelas quais Sóorates privilegiou o problema
da linguagem, não são só os equívocos gerados pelo linguajar super-
ficial, que só uma atitude rigorosa elimina, mas também os limites
do rigor e da clareza da expressão que é uma «tarefa insolúvel sempre
aquém do seu ideal de preoisão» 384. A tensão entre a exigência de clari-
dade perfeita e a inevitável insuficiência dos conceitos existentes carac-
teriza especialmente a Ciência Moderna da Natureza. Na Física Atómica,
usa-se uma linguagem matemática altamente desenvolvida, que - satisfaz
todas as exigências de precisão e de clareza. No entanto, não sabemos
até onde se pode aplicar a linguagem matemática aos fenómenos e,
por isso, a ciência termina por não prescindir da linguagem natural.
Esta situação ajuda a esolarecer a tensão entre o método científico
e a relação da sociedade ao «uno», aos princípios fundamentais para
além dos fenómenos, que se não pode exprimir numa linguagem de
precisão científica mas apenas na linguagem natural acessível a todos 385 .
Platão não se submeteu às limitações que a linguagem clara e pre-
cisa da matemática impõe, mas transitou para a linguagem dos poetas,
«que gera no ouvinte imagens e lhe transmite uma espécie completa-
mente diferente de compreensão» 386. Provavelmente, estas imagens arti-
culam-se com «formas inconscientes do nosso pensamento» ou arqué-
tipos carregados de forte carácter emocional e que, de algum modo,
espelham as estruturas internas do mundo. -Qualquer que seja a expli-
cação destas formas de compreensão, a linguagem das imagens e das
metáforas é provavelmente a única que nos aproxima do «uno» desde
regiões mais universais. Se a harmonia de ll!Illa sociedade repousa na
interpretação comunitária do princípio uno, que preside aos fenómenos,
então, reconhece Heisenberg, «a linguagem dos poetas deveria ser mais
importante do que a da ciência» 387.

383. Id., o. C., p. 203.


384. Id., o. C., p. 204.
385. Id., o. C., p. 205.
386. Id., o. C., p. 205.
387. Id., o. C., p. 206.
286 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

Em diálogo com W. Pauli, Heisenberg retoma o problema da


«ordem centra!», que, na antiga terminologia, se chama o "Uno» e a
que temos acesso pela linguagem religiosa 388. A eficácia do Uno revela-se
já no facto de sentirmos como bem o que for ordenado e como maio
que for caótico. Na Ciência da Natureza reconhecemos metáforas, v. g.,
«a natureza está criada segundo este plano» . Esta convergência da
linguagem metafísica torna-se mais compreensível com a Teoria Quân-
tica, porque nesta podemos formular numa linguagem matemática
abstracta tipos de ordem e de unidade em amplos domínios e, ao mesmo
tempo, saber que, ao descrevermos na linguagem natural os efeitos
destes tipos de ordem recorremos a metáforas, a modos complementares
de visão, que exibem paradoxos e aparentes contradições 389.
Este problema da unidade e da multiplicidade foi estudado na
dupla vertente clássica e quântica por C. F. von Weizsacker, físico
e filósofo alemão, célebre pelos seus trabalhos de Astrofísica e de
Cosmologia e por ter sido Director do Max-Planck-Institut de Stanberg
para a investigação das condições de vida do mundo científico-técnico
(1970-1980) 390. O trabalho de von Weizsacker intitula-se «Parménides
e a Teoria Quântica» e constitui um capítulo do seu livro A Unidade
da Nature za.
Pergunta von Weizsacker se não é verdade que nos confrontamos
hoje com o problema de Parménides de Eleia: hen to pano O todo
é primeiramente o mundo, «comparado a uma esfera bem redonda»
mas abrangendo também o experienciar e o experienciado, a consciência
e o ser: to gar auto noein estin te kai einai, isto é, ver e ser são o
mesmo. Weizsacker traduz noein por ver para evitar a introversão
abstracta do pensamento 391. A primeira parte da investigação incide
sobre o que Parménides e Platão realmente tinham de comum e aparece
sob o nome de Uno, no único lugar sistemático da obra escrita, que
lhe é consagrado: o diálogo Parménides 392. Isto reenvia-nos pare as
doutrinas não-escritas de Platão, pois «de facto todos os seus diálogos
tocam manifestamente as fronteiras do não-escrito» e desafiam o leitor

388. Id., "Positivismus, Metaphysik und Religion» in: Id., Der Teil und das
Ganze, p. 291.
389. Id., O. C., p. 292.
390. C. F. von Weizsacker, "Parmenides und die Quantentheorie» in: Id., Die
Einheit der Natur 4(MÜllchen 1972) , pp. 466-491.
391. Id., O. C., p. 470.
392. Id., O. C., p. 474.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 287

a prosseguir o pensamento. Frequentemente, um diálogo termina numa


aporia, que um diálogo posterior resolve apenas para se prender de
nova aporia mas em nível superior 393. Se tomarmos nota dos lugares
paralelos em cada diálogo, obteremos um sistema de entrosamentos,
um novo tecido, que revela mais do que uma leitura cursiva dos textos.
Se Platão não escreveu determinadas doutrinas, foi porque ou julgou
impossível essa escrita ou possível mas indesejável ou desejável mas
nunca realizada. O núcleo da doutrina do Uno foi urna doutrina de
escrita impossível, ao passo que a doutrina não-escrita de uma meta-
física de dois princípios (hen e aoristos dyas) e a consequente concepção
matemática da natureza foi de escrita possível mas indesejável, porque
de acordo com o Fedro e a Carta VII, se deixa supor que essa doutrina
seria de tal modo próxima da doutrina do Uno, que prejudicaria quem
não entendesse esta vizinhança 394. Os dois princípios da escrita possív,el
mas não desejável era o Uno (hen) e a dualidade sem limites (aoristos
dyas) , de cujo jogo provinham os números, as dimensões e figuras
espaciais e os elementos do mundo sensível 395. Há, porém, um paradoxo
fundamental na doutrina dos dois princípios, pois não se vê razão para
pluralidade e distinção nem como se podem distinguir quando o' esta-
tuto de princípio os une. Se há, portanto, algo que seja princípio esse
algo tem de ser um só e não múltiplo ou então não há qualquer prin-
cípio em sentido rigoroso. Aristóteles evitou o problema através da
introdução da estrutura de «relação-ao-Uno» no quadro categorial mas
eliminou toda a diferença no Uno ou ousía suprema 396. PaI'Il1énides,
porém, procedeu de outro modo e escolheu uma experiência singular,
quando escreveu o caminho, a visão e a epifania do que é (to eon),
como o presente eterno, concebido segundo o modelo do ver divino
presente a todas as coisas presentes, passadas e futuras 397. C. F. von
Weizsacker interroga-se sobre a possibilidade deste tipo de conheci-
mento, inseparável da expressão afirmativa do directamente visto e
da racionalidade abstracta mais extrema dos argumentos e das afirma-
ções, do aparecimento divino e da racionalidade científica 398. Torna-se
esclarecedor um paralelo com o conhecimento das Ciências Físicas,
que se funda em proposições universais não verificáveis na experiência

393. Id., o. C., p. 475.


394. Id., o. C., p. 475.
395. Id., o. C., pp. 475-476.
396. Id., o. C., p. 476.
397. Id., o. C., p. 477.
398. Id., o. C., p. 477.
288 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

quanto à sua universalidade nem rigorosamente falsificáveis. Há uma


percepção científica, uma espécie de percepção da mesma, comparável
à percepção da ideia platónica na realidade singular e a este campo de
percepção se reduz todo o material disponível do conhecimento cien-
tífico. Todas as descobertas da ciência assentam na percepção de formas
até então ocultas, a que se atribuem as notas de unidade, universahdade
e abstracção 399. O investigador, que concebeu algo de novo, viveu uma
espécie de iluminação, viu o que outros e ele próprio antes não haviam
visto. Não pode, porém, apelar para esta iluminação mas tem de se
certificar da sua verdade, submetendo-a ao exame da experiência e
tentando falsificá-la. A percepção científica justifica-se, como uma luz
acesa na escuridão, por aquilo que deixa ver e o investigadoT convence
os outros, quando os conduz à visão, que ele mesmo teve.
O poema de Parunénides oferece~nos rigorosamente esta estrutura
metódica. Em linguagem poética familiar ao homem culto do seu temrpo,
o autor pinta a viagem para a visão, expõe o que se lhe depara, apre-
senta argumentos, a que um pensamento escolar se não pode furtar
e, deste modo, ensina o leitor a ver. Se nós não virmos, então a causa
estará na nossa incapacidade. Porém, se Platão fala claramente do
mesmo Parménides e, no entanto, o critica (v. g., Sofista, 241 d 5), então
deve haver possibilidade de discutir a percepção não quanto ao que
nela é percepcionado mas quanto ao modo de o compreender, o que
exige novas percepções 400. Uma percepção sensível não é um acto do
pensamento argumentativo, embora tenha forma judicativa e percep-
done formas integráveis na argumentação e, por isso, pode comparar-se
à experiência mística ou unio mystica na sua relação com o discurso
sobre o Uno 401. A experiência mística, apesar de diferente nas suas
expressões, é admiravelmente idêntica em todas as culturas: o Neopla-
tonismo identificou o Uno da experiência mística com o Uno de Platão
e na antiga tradição asiática o exercício da meditação pertence aos
pressupostos evidentes do pensamento filosófico, cuja elevação corres-
ponde à altura da experiência meditativa. Quebrada a relação à expe-
riência, nasce o problema do valor da representação do Uno, das suas
imagens, que são o mundo, a vida e a consciênoia, como ensina o
Timeu, 37 c 8 e o Génesis, I. No poema de Parménides, ver e ser são
o mesmo, consciência e ser unem-se; na doutrina indiana dos Vedas, o

399. Id., o. C., p . 478.


400. Id., o. C., p. 479.
401. Id., o. C., p. 479.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PE NSAMENTO CONTEMPORÂNEO 289

Uno é ser-consciência-felicidade, uma identidade pura e não pluralidade


de aspectos e só no tempo e no mundo sensível há a cisão entre ser,
consciência e felicidade 402. A racionalidade plena termina no reconhe-
cimento da experiência meditativa ou mística e, por' isso, a filosofia,
ao argumentar, prepara ou interpreta essa experiência. Os místicos
encontraram na filosofia do Uno uma interpretação da sua experiência,
apesar de a ex,periência mística não ser filosofia como a percepção
sensível não é ciência da natureza. Uma argumentação teórica sobre
o Uno a partir do reconhecimento da possibilidade da experiência mís-
tica é o que tenta Platão no diálogo Parménides , que é «um exercício
necessário (gymnasia) à compreensão das formas (ideias) >> transposto
por von Weizsacker para o estado actual da Ciência da Natureza nU!Ill
confronto da problemática da Física com Parménides e Platão 403.
A preparação da primeira hipótese do diálogo começa em 137 a 4
com a pergunta de Parménides sobre as consequências decorrentes
das duas hipóteses sobre o Uno: «se (ele) é uno ou se não é uno ». Neste
«ele» entre parêntesis está a primeira «crux» do tradutor, pois também
seria correcto a tradução «se o Uno é» . Do mesmo modo, no começo
propriamente dito da hipótese 137 c 4 (ei hen estin), é admis,s ível a
dupla tradução «se o Uno é» ou «se ele é uno». Alguns intérpretes
compreendem a primeira hipótese no sentido de que o Uno é, outros,
porém, preferem a tradução «o Uno é uno». Para von Weizs.a cker, este
dilema é semelhante à situação de um passeador numa bifurcação
sem indicação do caminho: é que os dois caminhos possiveLmente
conduzem ao mesmo fim e, por isso, não estão sinalizados. De facto,
todos os intérpretes estão de acordo em que a primeira hipótese acentua
a unidade do Uno e a segunda o ser do Uno 404. O sentido da unidade
do Uno deveria ser de algum modo conhecido por Parménides e Aristó-
teles, de contrário seria impossível o diálogo entre os dois 405. Supõe-se
precisamente o conhecimento do que Parménides designara como uno,
do eon e os argumentos apresentados mostram que o eon não deve
ser interpretado no sentido de Parménides, isto é , há na primeira hipó-
tese uma crítica aos Eleatas 406. A argumentação move-se com rigor entre
o pressuposto explícito da unidade do Uno e conceitos filosóficos, que

402. Id., o. C., p. 480.


403. Id., o. C., p. 481.
404. Id., o. C., p. 482.
405. Id., o. C., p. 482.
406. Id., o. C., p. 483.

19
290 MIGU E L BAPTISTA P EREIR A

eram do conhecimento do leitor culto de então. Ao corrigir a doutrina


do velho Parménides, procede com todo o direito porque também
Parménides raciocinou a partir das mesmas prerilissas. A primeira
hipótese abrange tudo o que for uno, portanto, também tudo o que em
Platão é uno e, por isso, contém a crítica aos E1eatas. Justifica-se
imediatamente a pergunta acerca do sentido do Uno neste contexto
envolvente e folhear a doxografia das opiniões de Platão é falsear a
resposta, pois trata-se do sentido originário da Unidade que possibilita
compreender as respostas, que a doxografia regista. Dentro destes pres-
supostos, von Weizsacker analisa o rigor da argumentação platónica ,
tendo em vista a Teoria Quântica 407.
Depois de citar o texto de Parménides 137 c 4 - d 3 em que d.o Uno
se predica a unidade e não a muLtiplicidade, porque esta contém partes
ou é um todo a que não falta parte alguma, e onde se conclui que o Uno
nem é um todo nem tem partes, von Weizsacker lembra a Física
Clássica em que não há tal unidade, se exceptuarmos um ponto de
massa, e a Teoria Quântica em que as partículas elementares não são
pontos de massa mas contém virtualmente outras partículas elemen-
tares e mostram na experimentação extensão espacial 408. Se conside-
rarmos, porém, os objectos ou a totalidade do mundo, também neles
encontramos partes e não o Uno em sentido rigoros.o. Na Teoria Quân-
tica, o átomo é uma unidade, que se desintegra, quando nele localizamos
partes, isto é, o núcleo e o electrão e, neste caso, falamos do átomo
como de um todo mas não porque lhe não faltam partes, como diz o
texto platónico, mas porque as partes nele estão «submersas ». Feita
esta reserva, «podemos adaptar a linguagem da Teoria Quântica à de
Platão, de tal modo que se denomina uno precisamente um objecto
teorético-quântico 409. Este modo de falar revela-se perfeitamente rigo-
roso quando identificado com «a forma matemática da regra de compo-
sição» deste objeoto, cujas partes existentes estão em função de deter-
minados estados e as restantes são apenas prováveis. O objecto total é,
portanto, uno mas divisível numa pluralidade e, ao passar da proba-
bilidade para a realidade, deixa de ser o que era até então 410.
Em seguida, Platão analisa o problema da possibilidade de deter-
minações espaciais do Uno (137 d 4 - 139 b 3) e assevera que .o Uno não

407. Id., o. C., p. 483 .


4ü8. Id., o. C. , p. 484.
409. Id., o. C. , p. 484.
4110. Id., o. C., p. 485 .
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 291

tem começo nem meio nem fim, não possui qualquer figura recta ou
redonda, não está em lugar algum, não está noutro nem em si, não
está em repouso nem se move, porque estas determinações só seriam
possíveis se o Uno tivesse partes. Na Teoria Quântica, um objecto tem
determinada propriedade, quando esta for de facto encontrada ou
quando existe de antemão um estado em que essa propriedade seja
provável. Porém, não há quaisquer estados, em que um objecto fosse
plenamente determinado quanto à sua situação e movimento, como
diz a relação de indetepminação. Por i,s so, considerado em si, um
objecto quântico é uno sem possuir, ao mesmo tempo, qualquer situa-
ção determinada ou qualquer movimento preciso 411. Justifica-se a per-
gunta pelo modo como estas determinações espaciais acontecem de
facto no objecto quântico. Só pela acção recíproca entre este e outros
objectos se estabelece a dinâmica interna do objecto total, que daqueles
resulta. A medida do objecto quântico relativamente à sua posição e
movimento é dada na acção recíproca entre o aparelho macrofísico
que mede e o objecto microfísico a medir e nesta relação dinâmica
é «necessariamente sacrificada uma parte de informação possível no
ponto de vista da Teoria Quântica sobre o sistema total» e sua unidade.
Por isso, pode dizer-se que «determinações espaciais só são possíveis,
quando se perde uma parte da unidade teorético-quântica» 412. Se apli-
carmos este raciocínio à totalidade do mundo, em que nenhum objecto
está isolado mas em permanente relação recíproca, o mundo será lido
como um objecto teorético-quântico cuja descrição em termos de um
todo espacialmente estruturado com partes actualmente distintas sacri-
fica, por redução, a descrição da unidade quântica, mais rica em deter-
minações do que a sua descrição espacial. Para uma descrição plena
teorético-quântica, que incidisse sobre todas as determinações do mundo
enquanto objecto quântico, ninguém está em situação adequada a essa
descrição nem é, portanto, capaz de receber tais informações. Por isso,
aplica-se à Física Quântica a conclusão de Platão: «Portanto, dele não
haverá nem um nome, nem uma descrição (logos) nem um saber nem
uma percepção, nem uma opinião» (142 a 4). C. F. von Weizsacker for-
mula nestes tepmos o princípio onto-gnosiológico da Teoria Quântica:
«Quanto maior for o objecto do saber que escolhermos, tanto mais
saber não passível de descrição espacial se pode obter sobre esse

411. Id., o. C., p. 485 .


412. Id., o. C. , p. 486.
292 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

objecto» 413. Se incluiI1mos no objecto total o nosso próprio saber, dele


haveria apenas um saber fictício, formalmente possível, sem condições
de realização a não ser que esta ficção seja a sombra, que sobre o muro
das figuras do nosso saber finito projecta «uma omnipO'tência divina,
não-finita» e não uma possibilidade da finitude humana 414.
Em 139 b 4 - 140 d 8, Platão afirma que do Uno se não podem pre-
dicar os binómios identidade/diferença, semelhança/não-semelhança e
igualdade/desigualdade, porque a unidade de modo algum coincide com
qua1quer destas dete:runinações. Na Teoria Quântica, estes predicados
só se podem atribuir a objectos observados na sua acção recíproca, o
que implica a perda de unidade do objecto, como no caso precedente
e, se o objecto for totalmente isolado, nem a identidade consigo mesmo
se pode observar 415.
No que toca o problema do tempo, Platão sustenta (140 e 1 - 141 e 7)
que do Uno se não pode dizer que é mais velho ou mais novo ou
mesmo que é agora. Na Teoria Quântica, regista-se uma inconsequência
pelo menos na últ,i ma explicaçãO' desta teoria. Na verdade, se as
grandezas características de um objecto são consideradas funções do
tempo e o tempo, como única entre as grandezas mensuráveis, é funda-
mentalmente mensurável, não corresponde, contudo, aO' tempo qual-
quer grandeza que o possa medir, pois o que de facto aparece como
medida, é uma função periódica temporal 416. Por outro lado, um objecto
rigorosamente isolado não está no tempo, não pode sujeitar-se a acção
recíproca própria, mensuração da suoessão dos seus estados, nem pre-
serva o sentido dos conceitos fundamentais da Teoria Quântica, sobre-
tudo do da probabilidade, por essência temporal.
Finalmente, Platão recO'nhece que só há ser no tempo e descreve
os modos de participação do ser como modos de ser no tempo (141 e 3-
142 a 1). Para von Weizsacker, esta pO'sição não é um erro do interlo-
cutor, se distinguiI'l1los o tempo do Uno (aion no Timeu, 37 d 5) da sua
imagem, que progride segundo o número e se conta pelos movimentos
celestes (ohronos) 417. Se o Uno for também ser e, estando no tempo,
for múltiplo, a primeira hipótese «se (ele) é uno» parece ter.minar numa

413. Id., o. C., p. 486.


414. Id., o. C., pp. 486-487.
415. Id., o. C., p. 487.
416. Id., o. C., p. 488.
417. Id., o. C., p. 489.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNE O 293

contradição (137 c 4, 141 e 10-11). É necessário analisar a segunda hipó-


tese «se o Uno é» a fim de responder à aporia da primeira.
Se o Uno é, a sua unidade distingue-se do seu ser e unidade e
ser podem de novo distinguir do ser e da un1dade, respectivamente,
e isto num processo in infinitum, isto é, o Uno contém uma multipli-
cidade infinita (142 b 1 - 143 a 3). O Uno que é, desenvolve-se em mundo
com inevitáveis contradições já postas na raiz: «Assim, não só o Uno
que é, é múltiplo mas também o próprio Uno é dividido pelo ser e é
necessariamente múltiplo» (144 e 5-7). O lógico, neste caso, só evita
a contradição, fixando uma unidade real e descrevendo-a sem consi-
derar a sua raiz nem a sua divisão posterior, isto é, não investigando
como é que a unidade pode ser e o ser pode ser uno 418. Na Teoria
Quântica, o modo de um objecto pensado em isooamento total poder
ser um objecto fora do pensamento é a sua acção recíproca com outros
objectos, apesar de, nesta situação, deixar de ser este objecto singu-
larizado e até de ser um objecto . De modo paradoxal, pode dizer-se
que uma propriedade só é observável, se o objecto perder precisamente
esta propriedade, em contraste com a Física Clássica que jamais con-
siderou a pema do objecto . A Ontologia Clássica, em que se baseou
a Física não se apercebeu de que a sua aplicação supunha a sua
própria falsidade. A totalidade, porém, não existe para si, como a Lógica
e a Ontologia Clássica a descreveram, mas apenas «no Uno impensável».
Deste modo, encontra-se já previsto no Parménides o fundamento da
complementaridade de Niels Bohr 419.
Este problema do múltiplo e do uno foi estudado sob a epígrafe
«a fragmentação e totalidade» por David Bohm, físico americano, espe-
cialista em Teoria Quântica e defensor de uma interpretação objectiva
desta teoria 420. Arte, Ciência, Tecnologia, trabalho humano repartem-se
por regiões especiais, separadas como ilhas, a que a interdisciplina-
ridade não consegue reduzir o separatismo mútuo, como o desenvolvi-
mento social acarreta uma divisão em povos, grupos religio> s os, polí-
ticos, económicos e rácicos diferentes 421 . O ambiente natural do homem
é considerado um conjunto de partes existentes em separado e expostas
à exploração pelos diferentes grupos humanos. De modo semelhante,

418. Id., o. C., p. 490.


419. Id., o. C., pp. 490-491.
420. J. David Bohm, «Fr agmentierung und Ganzheit» in: H .-P. Duerr, o. C.,
pp. 263-293.
421. Id., o. C., p. 263.
294 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

cada homem de acordo com os seus desejos, fins, planos, deveres,


qualidades psíquicas, etc., consta de um grande número de comparti-
mentos separados com conteúdo opostos em tal grau crítico que se
tornam inevitáveis as neuroses e em muitos homens ano'rmalmente
fragmentados, os sinais da paranóia, os traços da psicose, os sintomas
esquizóides, etc. A capacidade humana de se distanciar do mun'd o e de
dividir as coisas originou um longo espectro de consequências negativas
e positivas, porque o homem perdeu a consciência do que fazia e exage-
rou o processo divisivo para além dos limites aceitáveis. Aplicado este
processo à imagem do homem e ao seu mundo, a fragmentação resul-
tante induziu-o a uma praxis parcelar, que embora não pareça, é fruto
da sua existência autónoma 422. Não só os mitos com o seu sentido de
totalidade preveniram a ruptura entre homem e natureza e entre homem
e outro homem mas também expressões como a inglesa «health» (saúde),
do anglo~saxónico «hale», e a alemã «heil» são parentes de «whole»
(todo) e significam a totalidade originária da salvação, da santidade
(holy e heilig) e cobre o campo da palavra hebraica «schalom» 423.
A esta análise de D. Bohm subjaz a concepção de uma tensão no homem
entre o seu mais profundo impulso para a totalidade e para a salvação
e os esquemas de pensamento, que parcelam a realidade 424. A esta
fragmentação junta-se a crença em que ela descreve o mundo como ele
é em si mesmo e semelhante convicção revive no conceito ocidental de
«teoria». Na Antiguidade, vigorou a teoria de que a matéria celeste
era radicalmente diferente da matéria terrestre e de que, portanto, os
corpos terrestres teriam de cair enquanto os corpos celestes deveriain
naturalmente permanecer no céu como a lua. Com o advento dos tempos
modernos, descobriu a ciência que não há qualquer diferença essencial
entre matéria celeste e terrestre e que, portanto, os corpos celestes
deveriam cair como os terrestres segundo a lei da gravitação universal.
Ora esta teoria apresenta uma nova espécie de visão do céu, diferente
da antiga, segundo a qual os movimentos dos planetas dependem da
velocidade com que toda a matéria celeste ou terrestre cai nos centros
diferentes dos respectivos sistemas. Esta concepção newtoniana, como
aliás a grega, que a antecedeu, prestou bons serviços mas conduziu a
inexactidões, quando se estendeu a domínios novos, em que se revelaram
congruentes as recentes teorias da relatividade e da mecânica quântica.

422. Id., o. C., p. 265.


423. Id., o. C., p. 265.
424. Id., o. C., p. 266.
PR ESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 295

Estas projectam uma imagem de mundo que se distingue radicalmente


da de Newton, não porque sejam verdadeiras e aquela falsa, mas porque
são exactas em determinados domínios diferentes dos de Newton e só
nestes 425. Em vez de apodar de falsas as teorias antigas, D. Bohm con-
sidera simplesmente que o homem constrói no seu percurso temporal
teorias novas, que são exactas até certo ponto e depois se tornam cada
vez mais inexactas, mas jamais atinge a visão definitiva da realidade
ou mesmo uma aproximação progressiva da verdade absoluta. Para o
homem, há simplesmente um desenvolvimento sem fim de novas con-
cepções, que deixam intocada a validade de determinados traços funda-
mentais das mais antigas, como é o caso da Teoria da Relatividade
relativamente à Mecânica NewtQlI1iana 426. As novas teorias são a fonte
principal da organização do nosso saber factual e, por isso, toda a nossa
experiência se estrutura segundo as categorias ou modos como pen-
samos o espaço, o tempo, a mart:éria, a substância, a causalidade, o
acaso, a necessidade, a universalidade, a particularidade, etc. 427. A expe-
riência e as formas do saber constituem um processo único, uma cor-
rente geradora do jogo jamais definitivo da própria configuração. O que
impede a teoria de superar os seus limites e de se adaptar aos dados
em movimento, é a crença na verdade imutável do saber de que se
sente portadora 428. Esta atitude faz corresponder às limitações e divi-
sões sem fim do nosso pensamento fragmentos de realidade e desloca
a totalidade para o campo do ideal. O que D. Bohm propõe, é precisa-
mente o contrário, ou seja, é a totalidade que é real e a fragmentação
não passa da resposta deste todo à acção do homem orientada pela
actividade divisora do pensamento 429. Todos os nossos modos diferentes
de pensar são modos de ver a realidade una, que têm a sua esfera
singular de validade, pois o objecto total não é precepcionado num
olhar único mas em todos os olhares. Há, porém, teorias, que preten-
dem exprimir as grandes imagens de nós mesmos e do mundo, em
que se forma a nossa representação universal da realidade. Neste
contexto, as teorias universais da Física desempenham um papel impor-
tante por se ocuparem da essência da matéria, de que tudo se constrói,
e dos conceitos de espaço e de tempo, com que se descrevem todos os

425. Id., o. C., p. 267.


426. Id., o. C. , p. 268.
427. Id., o. C., pp. 268-269.
428. Id., o. C., pp. 269-270.
429. Id., o. C. , p. 271.
296 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

movimentos da matéria 430 . O atomismo de Demócrito é a teoria de


uma realidade fragmentada, composta de átomos, que se movem no
vácuo, dOI1Jde resultam as formas e as propriedades dos corpos macro-
cósmicos. A aceitação desta teoria física como verdade absoluta visa
fixar os esquemas universais da Física e, por isso, contribui para a
fragmentação, que reduz o mundo natural, com inclusão do homem,
do cérebro, do sistema nervoso, do entendimento, etc., a estruturas e
funções de massas de átomo separados na sua existência insular. A con-
firmação experimental da concepção atomística teve o seu limite nos
novos domínios da Teoria da Relatividade e da Teoria Quântica, onde
se desenham novas perspectivas, que se distinguem do atomismo como
este das teorias, que o precederam 431 . Perante o «pouco sentido » em
se descrever e seguir na sua singularidade uma partícula atómica e a
limitada esfera de aplicação da ideia da trajectória do átomo, preva-
lece a descrição do átomo como onda e partícula ou «como uma nuvem
confusa», cuja forma depende da totalidade do campo circundante,
incluindo os instrumentos de observação. É eliminada a separação do
atomismo clássico entre observador e observado, que se tornam agora
«aspectos de uma reaHdade total e única, indivisível e indesmontável,
que se fundem um no outro e se penetram reciprocamente» 432 . Na
Teoria da Relatividade é abolido o conceito de um corpo cristalizado
como o átomo clássico, pois não pode haver sinal mais rápido do que
a luz e, por isso, em vez de um universo de elementos indivisíveis e
inalteráveis propõe-se «o mUJIldo como um devir universal de aconte-
cimentos e de processos », em que se destacam formas de ondas com
redemoínhos numa corrente, que nós acentuamos para configurar a
nossa percepção. De facto, estas figuras da corrente fundem-se e unem-se
no movimento total do fluir, sem qualquer separação ou independência
das partículas 433 . A Teoria da Relativi,dade e a Teoria Quântica revelam
o mundo «como um todo indivisível em que todas as partes do Uni-
verso, incluindo o observador e os seus instrumentos se fundem e unem
numa totalidade única » 434. Esta corrente, porém, precede as coisas,
que vemos nascer e desaparecer no seu fluxo, como a corrente da

430. Id., o. C., pp. 271-272.


431. Id., o. C., pp. 272-273.
432. Id., o. C. , p. 273.
433. Id., o. C., p. 274.
434. Id., o. C., p. 275.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 297

consciência, as formas de pensamento e as ideias 435. O modelo de Demó-


crito é substituído pelo de Heraclito no te:x;to de D. Bohm: «Há um rio
universal, que se não deixa cortar explicitamente mas apenas implici-
tamente conhecer, como indicam as formas e construções explicita-
mente apreensíveis - algumas invariáveis, outras variáveis, que se
podem abstrair do rio universal» 436. Neste devir, o espírito e a matéria
não são substâncias separadas entre si mas antes «diferentes aspectos
de um movimento único, total e ininterrupto», que a fragmentação é
incapaz de compreender. As figuras diferentes imanentes a esta tota-
lidade indivisa possuem «autonomia e estabilidade relativa», em que se
apoia a validade limitada do atomismo clássico 437.
O devir universal tem, para D. Bohm. uma estrutura semelhante
à causalidade quadripartida de Aristóteles 438. Escolhido como exen1plo o
ser vivo, a causa material, v. g., de UJIlla planta é a terra, o ar, a água,
a luz do sol, sobre que outras causas - eficiente, formal e final-
agem. Na teoria das causas, D. Bohm sublinha o significado decisivo
da causa formal, que o uso moderno da linguagem reduziu a algo de
exterior. Ao contrário, na Filosofia Grega Antiga, a palavra «forma»
significa prioritariamente «uma actividade fOIlIIladora interna» ou a
causa do crescimento e da diferenciação das formas essenciais do ser
vivo 439. Trata-se, portanto, de uma causa doadora de forma, «de um
movimento interno ordenado e organizado, próprio da essência das
coisas» e que implica sempre a causa final 440 . Quando esta for cons-
ciente, chama-se intenção no âmbito do pensamento humano ou divino.
Na concepção da Antiguidade, resume D. Bohm, a mesma causa formal
age sobre o entendimento, a vida e o cosmos, pois «de facto Aristóteles
considerou o universo como um organismo único, onde cada parte
cresce e se desenvolve relativamente ao todo e neste encontra o lugar
e a tarefa, que lhe são próprios» 441.
Esta interpretação da causalidade aristotélica serve a análise mo-
derna da corrente da consciência percordda por «diferentes figuras de
pensamento», que parecem associar-se de modo mecânico. Contudo.

435. Id., o. C., p. 275.


436. Id., o. C., p. 275.
437. Id., o. C., p. 275.
438. Id., o. C. , p. 276.
439. Id., o. C. , pp. 276-277.
440. Id., o. C., p. 277.
441. Id., o. C., p. 277.
298 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

penetrar na raiz de algo não é associar mecanicamente figuras de


pensamento mas conhecer a integração de cada fenómeno no todo único,
cujas partes se articulam internamente, como os órgãos do corpo 442.
Ascender à raiz ou fundamento é um processo semelhante à percepção
artística situado bem longe da simples repetição por associação de razões
já conhecidas, porque diante de um espectro de factores ou de coisas,
que parecem desconexas, acontece de repente uma compreensão-relâm-
pago de uma totalidade única, como no caso da descoberta da gravi-
tação universal de Newton. Este acto de percepção científica, localizado
na vizinhança da criação artística, deve considerar-se um «aspecto da
actividade formadora do entendimento», que elabora os conceitos poste-
riormente associados em séries de causas eficientes 443. Pelo «conceito
de causa doadora de forma» compreende-se o todo indiviso em movi-
mento, presente na Teoria da Relatividade e na Teoria Quântica e,
por isso, cada estrutura relativamente autónoma e estável, como a par-
tícula atómica, não é um ser independente e permanente mas um
produto, que se formou na totalidade fluente do movimento e nesta
de novo se dissolverá. Pela causalidade formal e final, certo desenvol-
vimento da Física Moderna pratica uma visão da natureza, que apre-
senta «semelhanças necessárias com intuições» do pensamento antigo,
em contraste com o reducionismo de sistemas mecânicos actuais, que
deixaram de se pautar pelo modelo organicista e concebem as parti-
culas atómicas como elementos existentes separados 444 . A maior parte
dos físicos ainda pensa hoje segundo o modelo do atomismo clássico
e, presa do cálculo matemático, não avança até à essência real das
coisas . Na Biologia e na Psicologia pratica-se o mesmo reducionismo,
apesar de nelas ser muito mais palpável «a acção da causa doadora da
forma no movimento fluente, indiviso e ininterrupto da experiência
e da observação» 445 . Esta tendência fragmentadora das Ciências da
Natureza repercute-se no estado presente da sociedade e nos processos
de ensino, onde prevalece a imagem fragmentada de si mesmo e do
mundo 446 . A tentação de dividir o que é uno e indivisível, tem como conse-
quência imediata a tentativa de identificar o que é diferente, pois a
fragmentação é, por essência, uma confusão perante a pergunta sobre

442. Id., o. C., p. 278.


443. Id., o. C., p. 278.
444 . Id., o. C., pp. 278-279.
445 . Id., o. C., pp. 279-280.
446. Id., o. C., p . 280.
PRES ENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÁNEO 299

O que é diferente e o que é uno, cuja resposta clara é necessária a cada


fase da vida. O modo fragmentado de pensar gera um amplo alfobre
de crises sociais, políticas, económicas, ecológicas, psicológicas, etc., no
indivíduo e na sociedade e sem esclarecimento desta confusão são
inúteis todas as medidas 447 . A separação entre método e conteúdo do
pensamento, que é fonte primeira da fragmentação, é injustificável,
pois trata-se apenas de dois aspectos do mesmo movimento ou da
mesmo causa, que a tudo abrange e dá forma 448.
O problema da superação da fragmentação abre um confronto
entre a concepção ocidental e a oriental de totalidade, que dependem
de diferentes conceitos de medida. No Ocidente, os Gregos conside-
raram o conceito de medida uma das condições supremas da vida
honesta e o sofrimento do homem trágico o resultado da infracção
da recta medida 449. A mensuração praticada não foi entendida em sen-
tido moderno como uma espécie de comparação do objecto com a sua
medida exterior mas como um processo revelador da «medida interior
ou da harmonia íntima, que impede a fragmentação. Assim, a palavra
latina mede ri, curar, donde veio o termo «medicina», tem na sua raiz
o sentido de «medida» e isto significa para nós que a saúde corporal
é o resultado de um estado em que todas as partes e processos do
corpo realizam internamente o equilíbrio da medida. Da mesma raiz
provém não só a palavra moderatia, que designa a virtude realizadora
da medida interior justa, base da acção e do comportamento sociais do
homem, mas também o termo meditatia, que significa a ponderação,
a pesagem ou a mensuração do processo do pensamento, que recon-
duzem a actividade interna do entendimento a um estado paradigmático
e harmónico. Por isso, a consciência da medida interior das coisas é,
no ponto de vista corporal, social e anímico, a ohave essencial de uma
vida saudável, feliz e harmónica 450. Com mais exactidão, esta medida,
pela sua harmonia, pode exprimir-se como proporção ou relação, que
os latinos traduziram por ratia. Na Antiguidade, apareceu a razão
«como visão da totalidade de uma relação ou uma proporção, que se
pensa ser internamente relevante para a essência das coisas». Esta
ratia não é necessariamente uma relação numérica mas sohretudo

447. Id., o. C., pp. 281-282.


448. Id., o. C., p. 284.
449. Id., o. C., p . 286.
450. Id., o. C., p. 286.
300 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

«a forma qualitativa de uma proporção ou relação universal 451 e, por


isso, a gravitação universal de Newton pode traduzir-se nesta série
proporcional: assim como a maçã cai, também cai a lua e tudo de
facto cai » 452. A relação proporcional é a razão teórica de algo na sua
adequação à realidade porque, assim como na nossa representação
os diferentes aspectos de UilIla coisa se relacionam, também na realidade
existe essa estrutura proporcional. O fundamento essencial ou a ratio
de uma coisa é a totalidade das relações internas da sua estrutura e do
processo, em que ela se forma, se mantém e dissolve e, por isso, com-
preender essa ratio significa, neste caso, compreender a «essência mais
íntima» de uma coisa. D. Bohm recorda, neste contexto, a concepção
grega do lugar na medida da música e nas artes plásticas e regista
as mutações históricas do conceito de medida. Ao exteriorizar-se, o
conceito de medida perde o seu sentido de aspecto e torna-se «verdade
absoluta sohre a realidade como ela é ». A medida, porém, se não é
exterior ao homem, como declarou Protágoras, tão-pouco se pode
reduzir a produto do arbítrio ou do gosto de cada um, pois é uma
visão, que se deve adequar à realidade total e manifesta-se na clareza
do conhecimento e na harmonia da acção 453.
No Oriente, não é a medida mas o Incomensurável a autêntica
realidade que se não pode nomear, descrever ou pensar de modo
racional. O sânscrito matra que significa «medida» no sentido musical e
pertence à mesma família do grego metron, tem a mesma raiz da
palavra . maya, que significa ilusão. Daí, a oposição Ocidente·Oriente:
«Para a sociedade ocidental, tal qual saiu dos Gregos, a medida com
tudo o que esta palavra contém, é a essência da realidade ou, pelo
menos, a chave para esta essência. Pelo contrário, no Oriente, a medida
no decorrer dos tempos foi considerada de algum modo errónea e
enganadora» 454. Por isso, a fOI1ma, a ordem das formas, as proporções
e as relações «racionais », que estruturam a ciência e a tecnologia do
Ocidente, são, para o oriental, uma espécie de véu, que oculta a verda-
deira realidade do Incomensurável da filosofia e da teologia. A síntese
harmoniosa destas duas concepções talvez fulgisse em tempos remotos,
quando os homens eram suficientemente sábios para reconhecerem no
Incomensurável a vel1dadeira realidade e na medida e na proporção

451. Id., o. C., pp. 286-287.


452. Id., o. C., p . 287.
453. Id., o. C., pp. 288-289.
454. Id., o. C., p. 289.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 301

racional aspectos de segundo grau da mesma realidade 455. O que hoje


nos é pedido para transcendermos a fragmentação, não é um simples
regresso ou uma repetição de atitudes antigas mas «um trabalho cria-
dor», mais difícil do que a descoberta científica ou a criação literária,
em que a recepção da grande sabedoria da totalidade, que outrora
vigorou no Oriente e no Ocidente, se avance para uma «percepção nova
e original», que valha para as nossas presentes condições de vida 456.
As técnicas da meditação, como aliás as da ciência e as da arte, que
perpetuam a influência de outrem, não podem substituir a «liberdade
e a independência» da actividade criadora 457. Contactar com o Incomen-
surável transcende tudo o que o homem pode apreender com o seu
entendimento ou realizar com suas mãos e instrumentos. Dele depende
apenas a capacidade de dirigir a atenção e a energia para criar ordem
e clareza no magno campo da mensuração, percorrendo o estrato das
medidas externas até às medidas interiores da saúde, da acção e da
contemplação. Na percepção original e criadora da vida em todos
os seus aspectos espirituais e corporais está possivelmente o verdadeiro
sentido de meditação 458. Quebrar os fragmentos, abrindo os limites da
mensuração, é expor-se ,à visão original e criadora da totalidade, que é
acção sobre nós do Incomensurável, porque, ao mergulhar raízes para
além da medida e das ideias, essa visão procede do Incomensurável,
que é a causa geradora de todas as formas, que se jogam no campo
múltiplo da mensuração 459

III

Nos diálogos de Castelgandolfo de 1985, subordinados ao problema


da crise actual, L. Kolakowski, além de se interrogar sobre a génese do
mal-estar que hoje nos incomoda, apesar da segurança prometida pela
Modernidade, afirmou que «quanto menos moderna for a Modernidade,
tanto 'menos são os ataques contra ela» m. Longe de defender ou de
rejeitar «toat court» a Modernidade ou a tradição, L. Kolakowski con-

455. Id., o. C., p . 290.


456. Id., o. C., p. 291.
457. Id., o. C., pp. 291-292.
458. Id., o. C., p 292.
459. Id., o. C., p. 293.
460. L. Kolakowski, «Die Moderne auf der Anklagebank» in: K. M. Michalski,
Hrsg., Vber die Krise, Castelgandolfo-Gespriiche 1985 (Stuttgart 1986), pp. 82-83.
302 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

sidera, no entanto, ser «o lado mais perigoso da Modernidade» o desa-


parecimento de tabus ou do que se afigure «irracional», porque nenhuma
comunidade sobrevive «sem um sistema de tabus». Por isso, a raciona-
lização ao ameaçar a presença de tabus, destrói a possibilidade da
sobrevivência humana, pois não há qualquer técnica que os substitua.
No fundamento do código de proibições, estão as razões do respeito
pela vida humana e pelos direitos do homem e mesmo o sistema tota-
litário, que celebra na máquina buroorática o triunfo da racionalidade,
só pode sobreviver mediante a reposição dalguns daqueles valores
tidos por «irracionais» 461. Daí, o menos moderno ou o mais tradicional
na Modernidade é o que menos nela se pode impul?Jl1ar. Este texto de
Kolakowski serve de introdução à presença do passado na discussão
actual sobre Modernidade e Pós-Modernidade.
Perante a consciência moderna, que se recusa envelhecer e defende
a perenidade do processo trinitário da história com a invencibilidade
do terceiro reino - o do Espírito, coroa necessária da Antiguidade e da
Idade Média, o homem pós-moderno não se define por ser anti-moder-
nista mas pela busca de uma nova relação com todo o passado do
pensamento e da arte e, consequentemente, com a própria Moderni-
dade, que não exclui %2. O que é recusado à Modernidade é a sua
exigência de novidade definitiva e consumada e o que dela se exige
é que permaneça aberta a uma nova transcendência e a um futuro
ainda sem configuração, pois as possibilidades do que chega, não são
monopólio da «hybris» moderna. A forma superior da consciência
histórica não é, pois, aquela altura singular última e irrepetível, a que
se alca'l1dorou a Modernidade, mas um tipo de «ambitio saeculi» com
memória, isto é, referida na sua diferença a concepções e formas de
saber do passado e a culturas e discursos extra-modernos 463. Os limites
do crescimento e a consciência ecológica, que travaram a expansão
indefinida da liberdade e do domínio modernos, são frutos espontâneos
da redescoberta pós-modema da Natureza, Pandora de bens limitados,
que urge respeitar, a exemplo do Pensamento Antigo, e não explorar
até à exaustão. De facto, o mundo aberto de um progresso indefinido

461. Id., o. C., pp. 91-92.


462. R. Spaemann, «Ende der ModemiHit» in: P. Koslowski / R. Spaemann /
R. Loew, Hrsg., Moderne oder Postmoderne? Zur Signatur des gegenwartigen
Zeitalters (Heidelberg 1986), p. 20.
463. P. Koslowski, «Vorwort» in: P. Koslowski / R. Spaemann / R. Loew, o. C.,
pp. XI-XII.
PRESENÇA DA FILasaFIA ANTIGA Na PENSAMENTO. caNTE MPaRÂNEa 303

repausava ingenuamente na lei da canservaçãa da mavimenta e da


energia e esquecia a segunda lei da Termodinâmica - a da entrapia, que
acena com a espectro. da ponta zero irreversível 464. Ciente dos limites
desta finitude, a consciência ecológica sabe que se não. pode ramper
a laça que une a homem à natureza, a sujeita ao. abjecta de domínio.,
cama já há meia século. nas ensinou a princípio. da indeterminação.
de Heisenberg e nas canfiI1ma a método. holística da Medicina cam a
valarizaçãa da condição. psica-somática da hamem 465. Não. basta cansi-
derar a terra a parque natural das necessidades de alga, que se não.
defina apenas par relação. às nassas necessidades mas que valha par si
mesma e, coma tal, tenha sentida. Isto. é uma riqueza au excesso. sabre
a nassa experiência actual, é a qualidade de vida 466.
A crítica da razão. científica moderna não. só descobriu nas pra-
cessas da ci·ê ncia a existência de paradigmas e a relação. de tada a acta
científica ao. sujeita, à camunidade científica e ao. homem mas também
reconheceu far.mas extra-científicas de campreensãa de mundo. e deu
espaça aas mitos e às religiões. Esta atenção. ao. pluralismo. de formas
de saber é pasteriar ao. prajecta falhada da razão. totalitária moderna e
distingue-se das projectas de Modernidade, coma a Refarma, a Contra-
-Refarma, a Barraca, a Iluminismo., a Idealismo., a Pasitivisma, a
Marxismo. e de tadas as pasições, que na Modernidade alimentaram
prajectas absolutas. O discursa pluralista pós-maderna não. só pretende
libertar a razão. para a que nela a precede coma princípio. translógica
mas reconhece na tempo. um futura, que não. é uma simples prajecçãa
da razão.. Na Modernidade, a razão. ascilou entre a divinização. e a
desespera e, par isso., a irracionalismo. e o refúgio. em mitas seguem,
cama sombras, a ditadura da razão.. A Pós-Modernidade, parém, busca
«uma nava síntese para além da apasiçãa racionalisma-irracionalisma»
na direcção. de um «essencialisma pós-maderna» na arte e na filasafia,
que recupere a herança da Antiguidade e da Idade Média e supere a
falsa separação. e a isalamenta entre arte, ciência e religião. criadas
pela Madernidade numa nava integração. na mundo. da vida, sem cair
na academismo. da imitação. nem na elitismo. da classicismo. 467. À Moder-

464. R. Spaemann, o. C. , pp. 31-34.


465. Id., o. C., pp. 32-33.
466. Id., o. C., pp. 37-38.
467. P. Koslowski, «Die Baustelle der Postmoderne- Wider den Vollendungs-
zwan der Moderne, Statt einer Einleitung» in: P. Koslowskij R. SpaemannjR. Loew,
o. C., pp. 7-11.
304 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

nidade pertenceu não só a razão científica e o iluminismo mas também


a crítica e a revoha contra a ciência, mas hoje consolida-se a convicção
de que a ciência não é qualquer destino inelutável mas apenas uma
entre outras possibilidades de domínio da realidade e de conhecimento
do mundo. Mesmo na revolta mais ou menos emocional contra a ciência
e técnica exprime-se hoje a nostalgia de algo perdido, que outrora
existiu e depois desapareceu e a que Kurt Hübner chama o mundo
mítico-religioso %8 . Embora sob o signo do mito, a realidade da vida
não deixou de apresentar uma articulação racional e duradoura, que
foi a alternativa da ciência e, por isso, nesta época de mal-estar justi-
fica-se a pergunta pelo sentido do sistema mítico do passado para o
nosso tempo. Aos pressupostos e principios da ciência correspondem
no pensamento mítico representações fundamentais sobre a relação
entre acontecimentos regulares dR natureza ou da vida humana. Do ponto
de vista meramente formal, a relação entre o mito grego e a realidade
não difere, para K. Hübner, da relação entre a ciência e a realidade,
pois nos dois casos há pressupostos a priori, há frases protocolares
a confir.mar ou a infirmar frases universais e de pressupostos míticos
ou científicos derivam-se logicamente conhecimentos necessários. Apesar
desta semelhança meramente formal, mito e ciência, enquanto sistemas
de experiência, são totalmente diferentes no que respeita aos respectivos
conteúdos 469 . Apesar disso, é um erro fatal pensar que o homem mítico
tenha necessariamente menor capacidade lógica quando ele apenas se
ocupava de matéria diferente e servia outros fins 470. Por isso, é tão
inviável teoricamente remeter o mito para o reino das fábulas, da pura
fantasia ·ou da superstição como pretender que a ciência seja o único
acesso à realidade 471. A Pós-Modernidade domina a tensão, que dilace-
rava a Modernidade, através de uma mudança de consciência, que
elimina a crença ingénua na ciência e na técnica bem como a sua recusa
emocional e reconhece a veI'dade do mito 472. Na adesão ao mundo, ao
século, a natureza, no culto do antropocentrismo e do pro~esso inde-

468. Kurt Hiibner, "Wissenschaftliche Vernunft und Postmoderne» in: P.


Koslowski / R. Spaemann / R. Loew, o. C., pp. 73-74; Id., Kritik der wissenschaftlichen
Vernunft (Freiburg-Miinchen 1978), pp. 461-426.
469. Id., «Wissenschaftliche Vernunft und Postmoderne», p. 75.
470. Id., o. C., p . 77.
471. Id. o. C. , p. 78.
472. Kurt Hübner, Die Warheit des Mythos (Miinchen 1985), passim.
PRESENÇA DA FILOSOFIA A NTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO 305

finido, na racionalidade instrumental, na objectivação universal e no


interesse pelo lucro, no consórcio entre razão e poder, a Modernidade
opunha-se a todas as vinculações pré-racionais 473 e fi concepção de
que razão e mito dão acesso uma realidade com sentido. O homem
pós-moderno, ciente de que a razão científica está mobilizada pelo
objectivo do consumo e do conforto, atribui-lhe um lugar no «utile»
e no «iucundum» mas no mito reconhece estar para além ·de si e de
toda a realidade em virtude de algo, que vale para além do «utile»
e do «iucundum» 474.
Já em 1974 se usou o termo «Pós-Modernismo » para significar uma
reacção insignificante ao Modernismo latente na poesia espanhola e
hispano-americana mas em 1947 A. Toybee falou de «Pós-Modernismo »
no sentido do fim do domínio ocidental, da cultura cristã e do indivi-
dualismo, suavizado pela expectativa da fusão da fé muçulmana, cristã,
budista e hindu. Este pluralismo permanecerá nota saliente de todos
os futuros conceitos de Pós-Modernismo 475. Na Arquitectura, o termo
apareceu, pela primeira vez, em 1945, no trabalho de J. Hudnut intitu-
lado The post-modern House. Por 1960, explodiu uma multiplicidade de
movimentos, que depõem e substituem o Modernismo, denunciando
um pluralismo filosófico e estilístico e uma relação dialéctica e crítica
à ideologia modernista 476. Em 1975, eh. Jencks começou a usar esta
expressão nas suas lições e investigações no sentido de um duplo código,
metade moderno e a outra parte algo diferente, que, regra geral,
correspondia ao modo de construção tradicional, a fim de comunicar
com um público mais vasto 477. Este duplo código visa suprir carências
da arquitectura moderna, que já não era compreendida pelos seus
utentes nem se inseria na cidade e sua história. A nova arquitectura
teria, portanto, de satisfazer exigências profissionais e a elite, e de ser,
ao mesmo tempo, popular, de integrar novas técnicas e antigos padrões,
de continuar o Modernismo e de o transcender 478. Este código duplo

473. Ernst-Wolfgang Boeckenfoerde, «Kirche und modernes Be"vufl,tsein» in:


P. Koslowski / R. Spaemann / R. Loew, o. C., pp. l03-lO8.
474. R. Loew, «Ontologische Aspekte der Postmoderne» in: P. Koslowski /
R. Spaemann / R. Loew, o. C., pp. 84-86.
475. eh. Jencks, Die Postmoderne, Der neue Klassicismus in Kunst und
Architektur Vbers (Stuttgart 1987), p. 13 .
476. Id., «Post-Modern und Split-Modern, Einige grundlegende Definitione »
in: P. Koslowski / R. Spaemann / R. Loew, o. C., p. 215
477. Id., o. C., p. 209.
478. Id., o. C., p. 210.

20
306 MJGUEL BAPTISTA PEREIRA

com sua estratégia de comunicação, o seu hibridismo, a sua ambigui-


dade, o seu eclectismo e pluralismo aparece na literatura 479, na pin-
tura 480 e na arte em geral 481 . Para esta concepção, é Modernismo taI'dio
e não Pós-Modernismo manter-se apenas na tradição do novo numa
auto-referência hermética sem uma relação mais complexa ao passado,
ao pluralismo, à continuidade significativa e ao simbolismo 482. O valor
de uma obra depende também da sua tradição, pois ao «choque do
novo», que gerou a descontinuidade da Modernidade, opõe-se agora o
«choque do antigo» 483. J .-F. Lyota:rd 484 permanece, segundo esta con-
cepção de Pós-Modernidade, um modernista tardio, que, situando-se
no tempo pós-industrial, julga ilegitimadas todas as formas de saber
em virtude do colapso das grandes narrações, que lhes outorgavam
uma coesão última hoje irmpossível. Daí, a chegada do niilismo e do
anarquismo, a vigência de «jogos linguísticos» em luta recíproca, a sensi-
bilidade para a diferença, a guerra à totalização, o agonismo e a
revolução permanente 485.
Na Bienal de Veneza de 1980 organizada por Paolo Portoghesi e
outros arquitectos e críticos, o tema «A Presença do Passado » signi-
ficou o regresso da tradição e do simbo,lismo e de outros elementos
proibidos pelo Modernismo 486. É esta relação à diferença do passado
que -e stá ausente da análise de Lyotard, onde é patente a sua afinidade
com formas contemporâneas de saber, que fracturam a totalidade,
e com os «jogos linguísticos» descontínuos de L. Wittgenstein, capazes
de exoI'cizar todo o pensamento e linguagem únicos. Linguagem e vida
de Lyotard só são possíveis numa pluralidade não incomunicável mas
agónica, num complexo paradoxal de perspectivas, numa constelação
heterogénea, numa unidade não hierárquica nem teológica mas trans-
versaI 487, que J . Habermas conhece na complexidade agónica da arqui-

479. Id., o. C., pp. 211, 220.


480. Id., o. C., pp. 216-217.
481. Id., o. C., pp. 216, 218.
482. Id., o. C., p. 227.
483. Id., o. C., pp. 231-232.
484. J.-F. Lyotard, La condition postmoderne. Rapport sur le Savoir (Paris 1979);
Id., Le Differend (Paris 1893).
485. eh. Jencks, o. C., pp. 229-230.
486. Id., o. C., p. 234.
487. W. Welsch, «Nach we1cher Moderne? Klãrungsversuche im Feld von Archi-
tektur und Philosophie» in: P. KoslowskijR. SpaemannjR. Loew, o. C., pp. 252-253;
PRESENÇA DA F ILOSO F IA ANTIGA N O PENSAM ENTO CONTEMPORÂNEO 307

tectura pós-moderna mas com possibilidades de acordo e convergência 488 .


Esta vertente exclusivamente científica do problema é uni dimensional
e, por isso, K. Hübner reclama a presença da dimensão mítica na
complexidade agonal 489 • Esta crítica a Lyotard é reforçada por eh.
Jencks, que distingue na Inglaterra e na América dois modernismos e,
consequentemente, dois pós-modernismos: um, apocalíptico, que acentua
o choque do novo, a descontinuidade, a separação e os jogos lingufs-
ticos wittgensteinianos; outro, racional, democrático, que se institui
positivamente e considera paradigmártica a relação à tradição. Esta
Pós-Modern~dade pretende uma nova unidade e, com este objectivo,
fortalece as tradições como indicadores normativos de caminho 490.
Na discussão Modernidade/Pós-Modernidade, o edifício da Moder-
nidade parece instável na sua base assente no domínio científico-
L
-técnico, industrial e económico da natureza e ameaçada no seu oDjec-
tivo de solucionar todos os macroproblemas humanos, como a C()[lser-
vação da vida, a satisfação de todas as necessidades, a realização da
liberdade, da igualdade e da autonomia, pois esgotam-se recursos natu-
rais, cresce a poluição e universaliza-se a crise ecológica 491 . Enquanto
a Modernidade pensa solucionar estes problemas com meios téonicos, a
Pós-Modernidade procura com uma f.tica Ecológica e Intersubjectiva
e um novo pensamento filosófico, científico, religioso e artístico mudar
as atitudes fundamentais, criando novos modelos poHticos e econó-
micos. Sem a mudança do homem na sua pluridirmensionalidade reli-
giosa, filosófica, científica, artística, na visão quotidiana do mundo e
na praxis individual e colectiva, a solução técnica continua sempre
parcial e aquém da volta radical, a que M. Heidegger chamara «Kehre».
A esteticização da arte, enquanto compensação da «des-sacralização» do
mundo e da perda da escatologia e momento do processo da erradi-

Id., «Postmoderne und Postmetaphysik. Eine Konfrontation von Lyotard und


Heidegger» in: Philosophisches lahbuch 92 (1985) , pp. 116-122.
488. J . Habermas, «Moderne und postmoderne Architektur» in: Id., Die neue
Uniibersichtlichkeit (Frankfurt/ M. 1985), p. 27.
489. Kurt Hübner, «Diskussion über die Postmoderne in der Kunst» in:
P. Koslowski / R. Spaemann / R. Loew, o. C., p. 258.
490. eh. Jencks, «Diskussion über die Postmoderne in der Kunst» in: P .
Koslowski / R. Spaemann / R. Loew, o. C., p. 258.
491. R. Maurer, «Moderne oder Postmoderne? Ein Resümee» in: P. Koslowski /
R. Spaemann / R. Loew, o. C., pp. 278-279.
308 MIGUEL BAPTISTA PEREIRA

cação do mal, é uma nova justificação pelas obras, que, de modo


algum, nos pode ressarcir da destruição da natureza e do homem, como
pretende O. Marquard 492. De sensibilidade muito diferente desta este-
ticização da arte, a obra recente de Ch. Jencks é um~ suma da Pós-
-Modernidade, onde se analisa a polimorfia do clássico na arte dos
nossos dias - classicismo metafísico, narrativo, alegórico, realista,
eoléctico - e se apresenta um sumário de regras 493. Ao estudo da seme-
lhança formal, entre mito e ciência, das respectivas diferenças de con-
teúdo e da sua complementaridade como modos humanos de ser-no-
-mundo, acresce a investigação das relações entre mito e arte por
G. Picht, onde está patente a eclosão da sensibilidade pós-moderna 494.
A Pós-Modernidade, ao articular o salto qualitativo para o futuro
com a recuperação das raízes, do sentido e da verdade do mito e da
Filo,s ofia Antiga, rompe a antinomia e a polarização entre progresso
e reacção enquanto regresso do passado. Como a arquitectura, que
enlaça o antigo e o novo, a Filosofia procura a nova síntese em que o
passado, pelo seu potencial de futuro, convirja solidariamente no porvir
de todos nós.
Na discussão sobre Modernidade e Pós-Modernidade é a ess.ência
da razão que se interroga e, com ela, a racionalidade do transracional
e do mistério. A diferença na sua pluralidade mítica, científica, filosó-
fica e teológica põe em risco a sua inteligibilidade, quando se cristaliza
numa transversalidade pura e heterogénea sem traça de unidade, pois,
ao contrário do diverso, o diferente eclode de um fundo relacional,
que, ao perfazer-se num processo de perfeição, se pluraliza. A unidade
in-diferente, por seu lado, absorve num sistema de identidade a alte-
ridade e, com ela, a pluralidade, pois a perfeição deste mOdelo de
unidade só na purificàção radical de toda a diferença se consuma.
As narrações do que legitima e dá coesão última às sociedades, são
objectivações plurais e controversas do continente inobjectivável mas
real do indizível, que é o fundo mítico da humanidade sempre a caminho
da linguagem. Esta dimensão mítica permanece estranha à análise

492. O. Marquard, «Nach der Postmoderne, Bemerkungen über die Futuri-


sierung des Antimodernismus und die Usance Modernitãt» in: P. Koslowski /
R. Spaemann / R. Loew, o. C., pp. 45-54.
493. eh. Jencks, Die Postmoderne, Der neue Klassicismus in Kunst und
Architektur, pp. 43-137 279-315, 317-350.
494. G. Pieht, Kunst und Mythos, Mit einer Einführung von Carl Friedrich von
Weizsacker 2(Stuttgart 1987), pp. 45-113, 117-269,273-569.
PRESENÇA DA FILOSOFIA ANTIGA NO PENSAMENTO CONTEMPORANEO 309

epistemológica de J.-F. Lyotard, em que é recusado lugar a toda a


narração legitimadora. Se a ameaça do holocausto une os homens,
o terror nela gerado desperta a consciência para o valor ignoto em
perigo e, ao mesmo tempo, ausente do discurso dos homens. A episte-
mologia da agonia das diferenças, a esteticização compensadora das
grandes narrações ético-religiosas recusadas, o niilismo no termo da
Modernidade e a disseminação do «outro» com olvido da neguentropia
emudecem perante um mundo em transe para a ecumenicidade, em que
as diferenças também são míticas, onto-antropológicas e não apenas
epistemológicas e o «outro», desde a natureza ao homem interconti-
nental e ao Inobjectivável, que nos cerca terá de ser saudado num
reconhecimento de valor, que prepara a nova ordem da civilização do
universal. Sem este alargamento do conceito de diferença, é impossível
construir o homem planetário na nova época, que a descolonização
iniciou. A cultura ocidental não é telos nem meta da cultura mundial
mas uma das culturas do mundo solicitada ao encontro com as outras
e capaz de as ouvir após longo tempo de império, pois o homem plane-
tário é eminentemente policêntrico, devendo o substancialismo euro-
cêntrico diluir-se na relação ecuménica 495. Esta relação, porém, é um
surpreendente modo de presença da temática da diferença e da alteri-
dade já explorada pelo Pensamento Antigo, com especial realce para o
NeoplatoniSllIlo 496, a que naturaLmente a controvérsia sobre a Moder-
nidade ou a Pós-Modernidade não pode ficar alheia. De facto, sempre
que se interroga a essência da razão, o Pensamento Antigo é um inter-
locutor necessário, que no advento do novo também celebra modos
seus de presença.

495. M. B. Pereira, "Prefácio» in: Nicolau de Cusa, A Visão de Deus, trad.


(Lisboa 1988), p. [8].
496. Id., o. C., pp. [44]-[55].
(Página deixada propositadamente em branco)
OPTIQUE CONTEMPORAlNE
DANS L'ÉTUDE DES CLASSIQUES

P. GRIMAL
Université de Paris

Longtemps, 1'étude des langues anciennes, cQJIlduisant à la lecture


des ·ceuvres classiques, en grec et en latin, fit partie des institutions
que 1'O'l1 ne remettait pas en questiono On peut regretter ce temps-là,
on ne peut le faire revenir, et, d'ail:leurs, serait-ce bien souhaitable.
On ne doit pas se dissimuler que la lecture des «dassiques», poursuivie
depuis la Renaissance jusqu'à la moitié de notre sieole, avait fini par
devenir un automatisme se suffisant à lui-même et, par une sorte d'entro-
pi'e, perdre une grande partie de ses vertus. II en résultait un véritable
malaise, le texte donnant à une «traduction», rarement à un commen-
taire explicatif qui en mettait le sens en IUlllliere. Bien des fois 1'énoncé
des regles de grammaire appliquées dans tel passage semblait suffire
à en épuiser la signification. II en résultait une conséquence, souvent
dénoncée: la «lecture», dans lIDe classe de 1'enseignement secondaire,
se bornant à 1'analyse grammaticale de quelques phrases, ce qui empê-
chait de prendre une vue un peu générale de ce qu'avait voulu dire
1'auteur, et des raisons qui l'avaient condui à écrire le texte en questiono
Aussi, par une réaction naturelle, et comme 1nstinctive, a-t-on
assisté, depuis une ou deux générations de professeurs - dans les
Universités - à des tentatives d'exégese pOI"tant sur des aspects déter-
minés des ceuvres littéraires antiques et tendant à leur appliquer les
méthodes de 1'histoire Httéraire moderne. En même temps, les historiens
de 1'Anrtiquité, pour qui les textes littéraires sont la source de renSe1-
gnements divers, montraient que leur étude pouvait être renouvelée dans
la perspective qu'ils proposaient. Si bien que, peu à peu, plusieurs
champs d'études se sont ouverts, qui coexistent, paJ:1fois se font concur-
312 P. GRIMAL

rence, mais souvent se completent, et laissent espérer un renouveau


d'intérêt pour des textes et, plus généralement, une civilisatio!D. dont
la richesse est lain d'être épuisée et demeure préeieuse pour notre temps.
Nous voudrions ici présenter les différentes directions dans les-
quelles se sont engagées ces études et en esquisser l'état présent.

*
* *

L L'étude formelle des reuvres antiques, c'est-à-dire la définition


de leur esthétique, des procédés auxquels les auteurs ont recours, bref
leur rhétorique et leur poétique. C'est là, sans doute, une tradition tres
ancierme, et qui remonte à l'Antiquité, aux écoles des grammairiens et
des rhéteurs. Une différence, toutefois, apparait. Tandis que les Aneiens
se proposaient de fournir aux écrivains futurs des procédés étiquetés,
des «recettes» pour atteindre à la perfection des modeles (Homere,
Virgile, Démosthene ou Lysias, Cicéron, etc.), l'étude, par les Modernes,
de la rhétorique, notamment, est justifiée par ce que l'on pourrait appe-
ler la psychologie de l'reuvre d'art et, plus généralement, de l'esthétique.
II. Dépassant la «surface» du texte, certains Modernes tentent de
découvrir une symbolique qu'il dissimulerait. lei encore, la méthode
est antique. Nous la trouvons, par exemple, bien représentée dans le
commentaire de Servius à Virgile et, pIus haut encore, dans les exégeses
d'Homere, comme celle que Platon met dans la bouche du rhapsode
Ion. On peut s'interroger sur la légitimité de ce point de vue. La pente
est dangereuse. Mais un ouvrage comme celui de Norden, sur la signi-
ficatio!D. du chant VI de l'Enéide montre qu'il peut y avoir des réussites.
Et, dans ce cas, iI s'agit moins de symbolisme que de tout un arriere-
plan religieux, plusieurs courants de pensée venant confluer dans ce
récit auquel O!D. reconnait (sans doute à juste titre) une valeur de mythe.
D'autres textes, moins célebres et moins riohes, permettent, de la
même façon, de retrouver des croyances, des faits religieux qui ne
nous sont pas toujours connus par des témo.i gnages objectifs.
Ce theme de reaherches a donné lieu à d'importants ouvrages sur
la religionantique; en France, ceux de G. Dumézil, de Jean Bayet, et de
bien d'autres; en Allemagne, depuis l'ouvrage de G. Wissowa, celui
de Latte, et beaucoup d'autres dans plusieurs pays.
Sans doute cette connaissance, qui s'est développée depuis moins
de cent ans, des religions antiques, a parfois sa fin en soi; elle
OPTlQUE CONTEMPORAINE DANS L'~TUDE DES CLASSIQUES 313

s'integre dans une histoire, plus générale, de l'esprit humain. Mais


elle contribue aussi beaucoup à la compréhension des ouvrages qui
sont issus de ce milieu spirituel, qui en sont imprégnés. Cela a donné
un regain de vie à des traités comme le De natura deorum et le De diui-
natione de Cicéron, longtemps négligés par les Modernes.

III. A côté de l'interprétation fondée sur l'histoire des religions,


il faut placer celle qui fait appel à l'hi's toire de la pensée philosophique.
Pendant longtemps, les textes philosophiques (Platon, Aristote, etc.)
ont formé un domaine à part, abandonné par les «littéraires» à des
techniciens, qui se donnaient pour tâche de recons,t ituer les doctrines,
souvent peu connues, par des témoignages indirects, l'évolution des
écoles. Ces reoherches O!Ilt abouti, des la fin du siecle dernier, en
Allemagne et en Angleterre, à des ouvrages irremplaçables, comme, par
exemple, les Stoicorum Veterum fragmenta de Von Arnim et les Epicurea
d'Usener. Ces entreprises, fondamentales, ont été poursuivies, en plu-
sieurs pays, si bien qu'il est possible aujourd'hui de connaitre un peu
moins mal les courants de la pensée philosophique entre l'époque
archa'ique de l'hellénisme (avec les Vorsokratiker de Diels) et la fin
du monde antique. Plotin, le Corpus H ermétique, etc., nous ont été
rendus acces's ibles grâce aux travaux de R. P. Festugiere, et d'autres.
Mais, de même qu'il y ades «'s péciaHstes» de l'histoire religieuse,
dont les ouvrages servent à mieux comprendre les grands textes, de
même les historiens de la philosophie ont permis de redonner vie, et
de rendre leur véritable place à la pensée des Romains et aux reuvres
de Cicéron et de Séneque. C'est nn hilStorien de la pensée grecque,
Léon Robin, qui a commenté Lucrece; apres lui est venu Cyril Bailey,
qui n'est pas moins important pour retrouver la doctrine sto'icienne
dans le poeme.
Mais l'imprégnation philosophique n'est pas seulement décelable
dans les traités de caractere technique (De fato, De finibus, etc.); on la
retrouve, par exemple, dans l'éloquence de Cicéron, la forme de ses
raisonnements, qui doivent beaucoup à la dialectique que lui avait
enseignée l'un de ses maítres . C'est l'un des mérites d'Alain Michel
d'en avoir éIIpporté la démonstration dans son ouvrage sur Rhétorique
et philosophie chez Cicéron.
De même, la confrontation entre les ouvrages de Séneque et les
sources sto'iciennes éIIpporte un éolairage nouveau sur la pensée du pre-
cepteur de Néron et permet d'échapper aux jugements sommaires,
répétés depuis l'Antiquité, et repris par ce qui est aujourd'hui une autre
314 P . GRIMAL

direction de la critique, qui consiste à replacer les ceuvres dans leur


moment historique.

IV. L'interprétation historique des ceuvres littéraires a commencé,


on le sait, au siecle dernier, avec les travaux de Taine, notamment le
célebre La Fontaine et ses fables, paru en 1861. Cette méthode n'a pas
été appliquée immédiatement aux ceuvres antiques, même si le Virgile
de Sainte-Beuve, paru quatre ans plus tôt, est déjà orienrté dans ce senso
L'interprétation historique ne peut do-nner toute sa mesure que si
1'époque oú se place chaque fois 1'ceuvre considerée est bien connue.
Lorsque Voltaire, par exemple, évoque le siecle d'Auguste, ii le fait
avec de constants anachronismes, qui faussent totalement l'image qu'iI
prétend dégager. C'est pourquoi des ouvrages qui, en leur temps, furent
d'intéressantes tentatives, sont aujourd'hui périmés. II falIut attoodre
le développement scientifique de l'historiographie antique pour que
1'on put parvenir à des analyses plus convaincantes. En France, la these
de J. Carcopino, Virgile et les origines d'Ostie, parue en 1918, marque
une étape importante dans cette direction. Mais une telIe construction
n'était possible qu'avec le secours des «sciences auxiliaires», et notam.-
moot de l' épigraphie.
On notera aussi que les recherches prosopographiques, l'identifica-
tion des personnages qui ont entouré 1'auteur, la reconstitution de la
société oú ii vécut rendent de grands services. Citons l'exempJe le plus
notable, que nous donnent les ouvrages de R. Syme, sur la Révolution
romaine, mais aussi son Salluste et son Tacite. II est certain aussi que
si nous parvenons à mieux connaitre les amis d'Horace, beaucou:p de
ses carmina nous seront plus clairs.

V. Les recherches portant sur 1'histoire de la langue, grecque et


latine, sont égalemen't d'un grand secours. Les linguistes disposent là
d'un corpus étalé sur des siecles. Leurs analyses, en marquant les diffé-
rentes strates des différentes langues liutéraires, donnent au texte un
relief que l'habitude nous dissimule. Ainsi, ii n'est pas indifférent de
confronter la langue homérique aux dialectes parlés réellement dans
le monde heUénique vers le VllIe ou le VlIe siecle avant noire ere.
II 00 va de même pour les langues du lyrisme, tant choraI que drama-
tique. A Rome, de même, un vaste champ est ouvert, depuis les
fragments des carmina archa'iques jusqu'à la latinité tardive. En parti-
culier, iI convient d'accorder une place spéciale à l'évolution séman-
tique, témoin de celle des notions.
OPTIQUE CONTEMPORAINE DANS L 'ÉTUDE DES CLASSIQUES 315

*
* *
, On voit qu'il existe une grande variété de recherches, certaines
bien engagées, d'autres à peine amorcées, portant sur les grands textes
classiques et leur environnement. C'est un immense chapitre de l'histoire
humaine, de l'histoire de l'esprit humain qui s'ouvre là - ce qui est
plus difficile à saisir que les phénomenes économiques ou politiques,
mais plus profondément significatif.
Pour toutes ces raisons, iI .c onvient d'encourager une étude qui n 'a
pas fini de se montrer féconde.
(Página deixada propositadamente em branco)
REGARDS D'UN HISTORIEN CONTEMPORAIN
SUR LES CULTURES ANTIQUES

JEAN LECLANT
College de France (Pa ris)

Pour répondre à l'invitation si prestigieuse que m'a faite le Comité


et en particuJier le Président Léopold Sédar Senghor de participer au
présent débat de Coimbra - invitation dont je mesure parlaitement
l'honneur et la valeur -, je voudrais me pemnettre de vous présenter
quelques points de vue qui ne seront pas oeux d'un classique, mais
d'un égyptologue. On peut en effet penser, que pour se situer par
rapport à la Oivilisation de l'Universel, l'importance des humanités
classiques devait certes être iei soulignée de façon éminente, mais que
l'opinion d'un égyptologue, c'est-à<l.ire d'un historien de l'Afrique la
plus ancienne, méritait sans doute d'être aussi entendue.
A l'heure présente, une évolution significative a marqué les études
historiques: au cours des dernieres déoennies, un ° approfondissement
de la réflexion a fait s'évamouir, tout au moins s'estomper, la valeur de
l'objectivité qui, dans les périodes précédentes, avait semblé absolu-
ment primordiale. Si une oertaine forme de neutralité est toujours
requise des historiens, iI n'en reste pas moins qu'ils apparaissent,
d'une maniere ou d'une autre, «engagés». La confiance dans l'idéal
objectivité, si longtemps de mise, a été ébranlée. Depuis un demi-siecle,
les historiens ont pris consoience de l'illusion positiviste; ils savent
désormais que leur curiosité est orientée par les préoccupations et les
penchants de leu'r temps; ene dépend en grande partie de leur forma-
tion et des conditions sooiaJes dans lesquelles ils sont appelés à tra-
vailler. Leur appréhension du passé est tributaire de la culture de leur
génération; de nouvelles grilles de lecture se proposent à l'attention;
iI y ades modes: l'école des Annales en est un exemple probant.
L'analyse économico-sociale ·est passée au premier plan avant d'être
sU1ppléée par l'histoire des mentalités. Remarquons cependant que ces
318 JEAN LE CLANT

«tendances » n'affectent l'étude des différentes périodes qu'à des degrés


divers; iI est notable que les récents essais d '«ego-histoire», qui viennent
d',ê tre si brillamment présentés, sont dus essentiellement à des spécia-
listes des époques médiévale ou moderne: Georges Duby, Jacques Le
Goff, René Rémond; de façon typique, iI n'y a pas là d'historien
de l'Antiquité.
Liée aux autres sciences sociales, la r,e cherche historique participe
de leur évolution - et celle-ci est rapide - , de plus en plus sans doute
accélérée. Pendam.t des générations, on avait pu croire qu'il était possi-
ble d'isoler des «faits historiques », en quelque sorte à l'état puro Les
historiens et leurs lecteurs vivaient apparemment dans un systeme de
pensée stable, alos pour ainsi dire; tous s'accordaient sur le type
d'événements qui devaient constituer le «J)ait historique»: ou, quand,
comment? La méthode semblait olaire. Le choc des problemes, les
heurts brutaux de mentalités et de systemes ont fait éclater ce bel
équilibre. ParalleIement au principe d' «indétermination» mis en évidence
jusque dans les sciences physiques les plus dures, la matiere historique
apparaít susceptible d'être modifiée par le regard qu'on y jette; comme
l'a excellemment écrit Henri-l,r énée Marrou, «la vérité de l'historien
l'epose sur LIDe correspondance tres sublime entre la strueture du passé
et ceUe de l'esprit qui le l'econs,t ruit ».
Autres considérations fondamentales qui pourraient opposer les
tenants de deux orientations différentes du travai! historique. Ou bien
iI s'agit de reconstituer une génese, un devenir: on se penche SUl' le
passé pour comprendre l'évolution, les constantes aussi, bien entendu;
ainsi, selon le mot de B . Croce, «toute histoire est histoire contempo-
raine ». Ou bi,e n on cherche à appréhendel', puis à comprendre le passé
en lui-même; non sans une séduction d'exotis'm e, on dOillle une valeur
pl'opre au récit - animé et passionnant - des aventures humaines;
comme l'a bien indiqué I. Marrou, OTI tâche de saisir l'homme (les
hommes, leur société, leurs techniques, leurs valeurs) au coeur de
chacune des civilisations, dans ce qui constitue leur irréductible origi-
nalité. Quel que soit le point de vue adopté, l'historien est chargé de
découvrir les ailleurs. Tandis que le géographe introduit au dépayse-
ment spatial, l'historien découvre les autrefois. Mais il constate aussi
une continuité certaine et doit reconnaítre un héritage qu'on ne saurait
rejeter. S'il est l'homme des différences, il ne peut exclure la fraternité
- tout au moins la sympathie. Homme d'ouverture et de dialogue,
l'historien doit se pencher sur le passé avec toutes les ressources de ses
connaissanoes, de son intelligence, de sa sensibilité. C'est pourquoi, si
REGARDS D ' UN HISTORIEN CONTEMPORAIN SUR LES CULTURES ANTlQUES 319

s'estompe la notion d'une Histoire proprement dite, avec une grand


«H», se profi1ent en revance des tempéraments d'historiens tres diverso
Tout autant que chargés de la «résurrection du passé»( Michelet)
les historiens doivent être les «gardiens des lieux de mémoire» (Pierre
Nora). Tâche qui n'est nullement facile. Dans leurs essais de communion,
les historiens menent une sorte de lutte contre la mort; aux documents
inertes, ils redonnent vie. Dans cette maniere de transmutation résident,
SaTIS doute, plus d'une illusion et de nombreux risques. C'est pourquoi
il doit y avoir 1..lil1 «métier d'historien» (Marc Bloch).
En ce qui concerne plus particulierement l'historien des civilisa·
Hons anciennes, sa tâche premiere est probablement de prendre cons-
cience de la IliOtion du temps qu'avaient les gens qu'il étudie. Ainsi
l'égyptologue découvre vite qu'iJ n'y a pas eu d'historiens à l'époque
pharaonique; oar l'Egypte, pendant trois millénaires, s'est située elle-
même hors du temps: le soleil - &ê - lui offrait l'alternance du diurne
et du noctume; la crue - Hâpy - lui apportait le rythme annuel;
mais, grand oI1donnateur de l'intégration du pays dans l'unité cosmique,
Pharaon assurait la permanence des valeurs et l'accomplissement sans
discontinuité du mythe sur terre: faisant monter vers les dieux les
offrandes et les prieres des hommes, il recevait des premiers leurs
grâces et leurs bienfaits; serviteur de Mât -la Vérité-Justice - , ii obte-
nait d'eux en retour la stabilité politique, la prospérité économique
et la paix victorieuse. Pour l'assyriologue en revanche, le pacte entre
souverains et dieux se marque dans des Annales, des Chroniques, qui
notent avec precision les faits du temps présent. Mais il faut attendre
le «'miracle grec» pour assister au triomphe de l'homme et à l'impor-
tance donnée à ce monde d'ici-bas: l'histoire nait avec Hérodote et ses
enquêtes systématiques sur le passé.
Autre caractere spédfique de celui s'attache à l'histoire de l'Anti-
quité: la prééminence, dans sa docuanentation, de l'archéologie. C'est
av,e c les découvertes d'Herculanum et de Pompei -les publications
en partioulier de Winckelmann (1764) - , que le monde antique a resurgi;
désoI1ffiais, à travers la Méditerranée, se déployent les efforts de voya-
geurs érudits et de coHectionneurs. En 1882, par sa «Lettre à M. Dacien>,
puis en 1824 san «Précis du systeme hiéroglyphique», Champollion
- génial déchiffreur des hiéroglyphes - redonne à l'humanité plns de
trois millénaires néiformes des rois achéménides par Grotefend et
bientôt de celles des Assyriens eux-mêmes par H. C. Rawlinson. L'archéo-
logie ne saurait se réduire à des travaux de terrassements, à une chasse
aux trésors. L'interprétation des vestiges antiques s'appuie sur les textes
320 JEAN LECLANT

- et panni ceux·d se distinguent des inscriptions de toutes natures,


patiemment recueiUies et étudiées: l'épigraphie ne se borne pas à
mettre en évidence des formulaires; elle donne aussi acces à la connais·
sance concrete de la société (culte, organisation politique, rouages de
la vie économique) et de la vie privée - en ce qu'elle a de plus quoti-
dieno Avec les progres de la recherche aI'chéologique et la venue au
jour d'un riche matériel, tres divers, ce sont des perspectives sans cesse
nouvelles sur la culture matérielle, les usages, les coutumes; !'individueI,
le ponctuel entre dans des séries; c'est sur une histoire unanimiste que
débouche la technique archéologique.
Archéologue - et plus .p récisément égyptologue - , je souhaiterais
vous présenter aussi quelques réflexions sur une civilisation qui, comme
l'indiquait hier, dans son discours d'ouverture, le Président Léopold
Sedar Senghor, se situe parmi les composantes de notre culture gréco-
latine: celle de l'antique Egypte. Civilisation hautement africaine, car
le Nil est fleuve d'Afrique et ses origines les plus lointaines s'enracinent
puissamment dans ce contÍ:nent. Le fait a pu être longtemps occulté par
l'approche biblique et sémitique selon laquelle l'histoire des Pharaons
était généralemoot abordée; iI faut tenir compte aussi de la préémi-
nence des points de vue méditerranéens, en fonction d'une lecture trop
étroite des auteurs classiques.
Mais dans les années d'apres-guerre, la perspective a changé. C'est
là un exemple coneret de l'importance du climat global dans lequel se
situe toute recherohe historique: il fallait sans doute dépasser l'étape
du colonialisme et atteindve celle de l'appréciation des authenticités
africaines; c'est ainsi que les «Ethiopiques » du Président Léopold Sedar
Senghor ont pu contribuer au progres de l'Egyptologie. La crise des
valeurs traditionnelles entraÍnant une large ouverture vers les diffé-
rences, de nouvelles données sont apparues pour situer l'ancienne civi-
lisation de la va1lée du Nil. ParalleIement, s'opéraient un renouvellement
de certames méthod.es de recherche et un élargissement de la doeumen-
tation, vers le Nil et le Soudan en particulier.
II serait long de V'Ous expliquer comment la civilisation pharao-
nique est en partie le fruit d'une antique culture paléo-africaine dont
témoignent les gravures rupestres sahariennes. Pharaon est successeur
des grands fétichoo.rs, chefs de chasse, maitres d'une faune dont les
artistes préhistoriques du Tassili et du Hoggar ont fixé les images
combien suggestives, détenteurs des rites traditionnels qui lient la tribu
au cosmos. Aux époques tardives encore, ptolémai'que et romaine, sur
les parois des temples d'Edfou et de Dendara, les Pharaons apparais-
REGARDS D'UN HISTORIEN CONTEMPORAIN SUR LES CULTURES ANTIQUES 321

sent, queue animale pendant en arriere, mas sue blanche à la main, à


!'instar du premier souverain, le légendaire Narmer; leurs sceptres sont
des bâtons de puissance; leurs couronnes, leurs parures procedent des
temps primordiaux. Culture d'interprétation cosmique, l'Egypte pharao-
nique tresse à travers l'ensemble de la création un énorme réseau de
correspondances. Les di,e ux, les êtres et les choses ne sont que des
formes d'apparition, à des degrés divers, d'une même réalité; ce qui
s'affimne dans le domaine végétal a son équivalent dans le monde
minéral, dans les qualités des hommes, dans les vertus du dieu : la
«verdeur» de la jouvence divine ou humaine, c'est la croissance du
papyrus ou l'éclat de la malachite; jamais le symbolisme n'a connu
une telle plénitude, ni de t.els raffinements d'expression. Dans cet
univers de participation, le chaos s'ordonne selon les grands axes de
l'espace: axe fluvial Sud-Nord, axe solaire Est-Ouest (le couchant étant
aussi la terre des morts), axe nocturne du Pôle autour duquel se regle
la grande mécanique des astres et des étoiles. Le temps lui-même est
dominé: sa fuite se résorbe dans la permanence des mythes et la durée
des générations; la mort n'est qu 'une autre forme de la vie. Comme
on le voit, plus encore sans doute que Platon, c'est le sage dogon
Ogotemmeli qui introduit au mieux vers cet univers ou l'humain
s'inscrit tout naturellement dans l'Universel. La loi du nombre y pré-
side, la proportion y regne de façon décisive; une rigueur presque
abstraite impose la monumentalité grandiose des pyramides; une géomé-
trie créatrice soutient l'architecture du temple qui est !'image du monde.
A ce point originale, oette civilisation du Nil a cependant, par
Alexandrie, pris son essor vers la Méditerranée; centrés sur Osiris, le
dieu qui avait com1.U le trépas et la résurrection, sur la déesse Isis
et son enfant Rorus, les cultes isiaques, aux époques ptolémai:que et
romaine, se sont répandus dans la Méditerranée orientale, puis en
Campanie et à Rome et au..delà jusqu'aux bornes lointaines du Danube
et du Rhin, jusqu'à l'Atlantique; ne vient-on pas tout récemment, sur
la rive ibérique du détroit de Gibraltar, à Bélo, de mettre en évidence
un temple d'Isis, qui date sans doute du début de l'ere chrétienne?
Porteuse d'espérance et de chadté, cette rdigion n'a pas manqué d'être
une rivale dangeureuse pour le christianisme.
En évoquant devant vous, bien rapidement, ces quelques aspects
de I'Egypte pharaonique, puis des cuItes isiaques, je voulais seulement
vous rendre attentifs à une définition élargie, plus compréhensive et plus
riche encore, de ce que peut pl'étendre être la Civi.lisation de l'Universel.

21
(Página deixada propositadamente em branco)
LES CAUSES DE LA DÉCADENCE
DES LANGUES ANCIENNES

VIKTOR POSCHL
Unh",rsité de Heidelberg

Nous ne pouvons considérer le probleme des causes de déclin des


langues anciennes dans notre monde occidental que dans le contexte
des transformations culturelles qui s'accomplissent devant nous et en
nous. Ce dont nous allons traiter est un phénomene d'une extrême
importanoe de l'histoire intellectuelle et culturelle. Depuis la fin de
la guerre nous sommes inondés d'ouvrages traitant de ce sujet. Ils
contiennent bien des vérités et aussi bien des exagérations. Permettez-
moi de citer quelques titres:

• Abschied von der Geschichte / Adieux à Z'histoire (A. Weber),


• Verlust der MitteJ La perte du milieu (H. Sedlmayr),
• Verlust des Menschlichen / La perte de Z'Humain (K. Lorenz),
Die nicht mehr schonen Künste / Les arts qui ne sont plus beaux
(sous la direction de R. J auE),
• La perte de la sagesse (G. Marcel),
• Die Abschaffung der Sünde / La suppression du péché (Heinrich
HeiJne et la disparition de la notion de péché, D. Sternberger),
• La perte de la vertu (A. MacIntyre),
• Gottesfinsternis / L'éclipse de Dieu (M. Buber),
• La crise de la raison (A. Einstein et Medeau-Ponty),
• Der Tod der Tragodie / La mort de la tragédie (G. Steiner),
• Die Krise des Helden / La crise du héros (A. Wlosok),
• Das Verschwinden der Kindheit / La disparition de Z' enfance
(M. Postman) ,etc.
324 VIKTOR PôSCHL

Le grand précurseur est natUl1ellement le Déclin de I'Occident d'Oswald


Spengler, qui des l'entre-deux-guerres avait connu bon nombre de
successeurs. Je ne citerai que La rebelión de las masas / La révolte des
masses d'Ortega y Gasset et Deutscher Geist in Gefahr / L' esprit alle-
mand en danger d'E. R. Curtius (1932).
L'élément sans conteste le plus important à l'origine du processus
a été la rapidité exceptionnelle du développement scientifique, de
l'application pratique des sciences et des retombées politiques, sociales
et économiques. Le développement de la physique nucléaire, de l'électro-
nique, de la microbiologie, le triomphe de l'ol'dinateur, la puissance
de la télévision sont d'es phénomEmes qui exeroent lIDe immense fasci-
nation. Les programmes scolaires en subissent aussi les lois, auxqueUes
personne ne peut échapper. L'apprentissage des langues qui, au temps
de Wilhe1m von Humboldt forrnait le oreur du systeme éducatif, se voit
reléguer à une plaee secondaire, l'utilité des sciences saute aux yeux
et la variété des possibilités de carriere qu'offrent les filieres scienti-
fiques et techniques oblige l'Education à mettre le point fort sur les
sciences. Mais, comme ni le temps d'enseignement, ni les capacités
d'assimilation des éleves ne sont illimités, iI faut retirer aux uns ce
que pl'ennent les autres. II reste done moins de temps pour l'ensei-
gnement des langues et là encore, les langues modernes l'emportent,
l'anglais surtout, qui ne cesse de prendre une place prépondérante et
est considéré, à juste titre, comme indispensable. C'est la lingua franca
de notre monde, la langue de communication - et la langue scientifique
internationale, sans oublier le rôle essentiel que joue la musique anglo-
saxonne dans la culture de notre jeunesse. Tout cela augmente l'intérêt
que l'on porte à l'anglais. L'enseignement des langues modernes alui
aussi subi une transformation qu'il ne faudrait pas sous-estimer. On
n'apprend plus aujou:rd'hui une langue en s'exerçant sur des textes
littéraires, mais en pratiquant la eonversation. La connaissance d'une
langue étrangere est surtout considérée comme un moyen pour commu-
niquer. II n'entre guere en ligne de compte qu'une langue étrangere
puisse ouvrir un monde nouveau et que ce monde étranger puisse
aider à mieux comprendre le sien propre. On peut voir dans cette
attitude un aut:re phénomene de notre époque, extrêmement préoccu-
pant, la diminution de l'intérêt porté à la culture littéraire.
Cette évolution n'est pas non plus bénéfique à l'enseignement des
langues anciennes, car celles-ci s'acquierent en premiere ligne par la
pratique des textes littéraires, même si sont faits des essais intéres-
sants de latin parlé pour créer des rapports vivants avec cette langue.
LES CAUSES DE LA De.CADENCE DES LANGUES ANCIENNES 325

Le déclin de la culture littéraire conduit à un appauvrissement alarmant


de la vie de l'esprit. Seule l'étude de la grande littérature développe
l'intellect et rien d'autre ne peut la remplacer. Seule la littérature peut
apprendre qu'une langue, à la fois art et instrUiIl1ent, peut nous aider
à devenir maitre de notre vie, seule, elle peut nous faire comprendre
ce que veut dire parler bien et clair, à joindre l'utile à l'agréable, à
être maitre de son langage de sorte que la langue n'agisse pas seule-
ment sur l'inteUect mais encore sur les sentiments, comme l'apprenait
l'ancienne rhétorique. L'enseignement des langues anciennes joue dans
ce contexte un rôle qu'il ne faudrait pas sous-estimer, car suivant
Nietzsche, ce sont les seules qu'on lise lentement et exactement. Les
difficultés qui sont liées à la lecture, la distance qui les sépare de nos
rnodes d'ex:pression et de notre mentalité modernes out quelque chose
de stimulant. «e'est dans l'honnêteté intellectuelle et la discipline
qu'exige la traduction que se montre le pIus clairement la valeur éduca-
tive des langues anciennes ,} (W. Rüegg).
La traduction soigneuse, mot par mot et phrase par phrase, est
un moyen admirable pOllir exercer combinaison, concentration et pré-
cision et pour enriehir Ie voeabulaire de sa propre langue. Pline Ie
Jeune disait déjà: «Ce qui aurait échappé au lecteur n'échappe pas
au traducteur et il y forme son intelligentia et son iudicium, sa puis-
sance de pensées et sa eapacité de jugement». En traduisant un texte
clairement formulé eu latin et en cherehant l'expression précise et à
la fois convaincante et naturelle dans sa propre langue, on s'exerce
à maitriser celle-ci et on développe son sens des langues en général. Or la
langue est l'instrument le plus important de toute aetivité supérieure.
S'occuper "intensivement des langues anciennes, les traduire peut
aussi avoir d'autres effets: cette occupation peut entrainer les aptitudes
et les capacités d'assimilation. Il n'y a rien de plus difficile que de
comprendre exactement quelque ohose d'étranger, ce qui veut dire
quelque ehose de différent, qui contredit nos propres modes de penser
et e'est ex,actement ce à quoi contribue la traduction. Ce disant, on
remarquera qu'une langue - et iI ne faut jamais l'oublier - est quel-
que chose d'éminemment social. Malheureusement, même dans l'enseigne-
ment des langues modernes, on ne s'exerce pas à la traduction aussi
souvent qu'il serait souhaitable. On ne veut pas s'attarder à faire des
traductions et l'on oublie qu'une patiente lenteur est parfois plus
rentable que le principe temps . Egon Friedell avait déjà écrit au début
de ce. siede: «Nous ne savons pIus savourer les choses. Toute notre
civilisation a pris pour devi se le minimUID d'effort et le maximum
326 VIKTOR PóSCHL

d'effet. On ne voyage plus en diligence mais en train rapide et nous


ne percevons que des instantanés hatifs des régions ou nous passons».
Que dirait aujourd'hui Friedell des voyages en voiture et en avion, du
rythme haletant auqueI se poursuivent tous les développements, du flot
d'images que nous déverse la télévision?
Il arrive souvent que l'on cherche à pallier la disparition de la
langue en tant que telle par l'étude de la «civilisation antique», surtout
dans les pays anglo-saxons. On y remarque un net déplacement du
centre d'intérêt aux dépens des textes originaux. Aussi souhaitable
que soit la connaissance des antiques civilisations, elle ne peut jamais
remplacer les bénéfices que l'on tire de l'acquisition précise d'une
langue. Dans 'Ce cas aussi on cherche à se tirer d'affaire et à faire
de nécessité vertu. A notre époque il faut être utilitaire avant tout.
Au cours d'un col1oque à Heidelberg, le minisrt:re allemand des Sciences
a I1eproché aux philosophes de s'occuper de problemes aussi éthérés que
les partkularités de Schopenhauer à la fin de sa vie, au lieu d'enseigner
des choses utiles à notre monde moderne. En disant cela, ii n'a vraisem-
blablement pas pensé que nous pouvions aussi tirer quelque chose
d'utile de Schopenhauer. La victoire de l'utilitarisme, la préponderance
du matérialisme dans notre société de consommation et de jouissance
dévalorisent lesefforts faits pour atteindre à la culture, apanage des
langues anciennes. La prospérité actuelle ne contribue pas peu à cette
mentalité. Nous en sommes arrivés, comme le disait Salluste, à ce que
«la paix et la richesse, choses souhaitables par ailleurs, sont devenues
un fardeau et un malheur»: otium diuitiaeque optandi alias, oneri
miseriaeque fuere. La ruée vers l'argent, la puissance, la jouissance
menent notre monde, auaritia, ambitio et luxuri,a aurait dit Salluste.
Non seulement la primauté du matériel, mais également la mathé-
matisation des sciences natureHes et économiques pousse à l'adoration
du nombre qui se répand partout et fait préférer la quantité à la
quaJité. Les directeurs des établissements d'enseignement secondaire
s'efforcent d'avoir le plus grand nombre d'éleves possible, ce qui a
souvent pour conséquence - on en ades exemples effrayants - de
faire des concessions à l'esprit du temps et de baisser le niveau: moins
de latin, et si possible pas du tout de grec, semble un programme
attractif.
L'augmentation du nombre des bacheliers a fait gonHer dans des
proportions impressionnantes en Allemagne le nombre des étudiants
dans les universités. On compte à Berlin aujourd'hui 100.000 étudiants,
à Heidelberg, 28.000 alors qu'11 y a vingt ans ils n'étaient que 11.000.
LES CAUSES DE LA DÉCADENCE DES LANGUES ANCIENNES 327

On n'a trouvé jusqu'à présent aucun moyen pour endiguer ce torrent


qui ne cesse de grossir.A l'opposé quel bonheur en Grande-Bretagne ou les
étudiants, soigneusement choisis, étudient trois ans, quatre tout au plus.
L'hégérnonie du nombre se fait également remarquer d'une autre
façon, là ou iI se lie au principe démocratique de la majorité: des
commissions prennent des décisions aux lourdes conséquences par suite
de résolutions prises à la majorité des voix et non au poids des compé-
tences. Ainsi, tandis que les valeurs mesurables gagnent de plus eu
plus de terrain celles qui ne le sont pas, les valeurs Slpécifiquement
humaines, les valeurs esthétiques, morales, spirituelles accusent des
pertes immenses. L'esprit de géométrie l'emporte sur l'esprit de finesse.
Dans la disparition progressive des langues anciennes de nos pro-
grammes scolaires, une idée moderne joue en outre un rôle fatal, je
veux parler de l'idée d'égalité. De la trilogie révolutionnaire, liberté,
égalité, fraternité, l'égalité a connu une brillaIllte carriere. La liberté
a beaucoup souffert, quant à la fraternité, n'en parlons pas! Toutes
les disciplines demandent en principe aujoul1d'hui à bénéficier d'à peu
pres le même nombre d'heures. Dans les lycées classiques allemands,
ou j'ai encare eu le bonheur de faire mes études, il en allait tout autre-
ment. II existait une elaire hiérarchie des sujets suivant ce que l'on
tenait alors pour important. Naus avions pendant des années 9 heures
de latin par semaine, puis 8 et enfin 7 et à partir de la 4e année de
lycée 6 heures de grec jusqu'à la terminale, ce qui ne nous empêchait
pas d'avoir du français pendant 7 ans et de l'anglais pendant 4.
Humboldt était convaincu que l'enseignement intensif des langues
anciennes profitait à toutes les autres disciplines parce qu'il apprenait
à penser, il apprenait à apprendre. Au cours d'une discussion sur la
réforme de l'enseignement qui a eu lieu, il y a bien des années, dans U:Il
ministere de l'Education d'Allemagne, on entendit reprocher à la filiere
classique d'offrir trop peu d'heures de mathématique à ses éleves. Vn pro-
fesseur connu qui enseignait les mathématiques à l'université riposta:
«Oui, mais ils apprennent le latin» - e'est une réflexion qui ne serait
plus guere aooeptée de nos jours, bien que de nombreux et excellent's
scientifiques et ingénieurs qui ont fait des études seconclaires elas-
siques, soient là pour en eonfirmer avec éclat la justesse.
Les heures d'enseignement de latin ont été ridieule:ment réduites,
parfois à 2 heures par semaine et pendant seulement 2 ans au lycée
ou à l'université, souvent d'ailleurs parce que le «Latinum» est obliga-
toire pour l' étude de certaines disciplines. Cette situation est préoecu-
pante car il est la plupart du temps impossible d'apprendre correcte-
328 VIKTOR P6SCHL

ment la langue latine en si peu de temps. II n'est d'autre part pas


étonnant que cette méthode provoque chez les étudiants un phénomene
d'aversion pour le latino Quand l'un de ceux-ci fait . carriere dans
I'Education, on peut penser avec quelle passion il va prendre fait et
cause pour cette langue. II y a un seuil à ne pas dépasser, sinon
l'enseignement du latin devient une absurdité que combattent justement
les partisans d'une formation classique véritable.
L'application du principe d'égalité joue d'ailleurs - tout au moins
tacitement - un rôle qu'il ne faut pas sous-estimer dans le ressenti-
ment contre la filiere classique, ouvrant une blessure que 1'0n n 'est
manifestement pas encore parvenu à refermer. Le combat mené en
faveur de la «Gesamtschule», établissement d'enseignement à filiere
unique que tous les éleves suivent ensemble le plus grand nombre
d'années possible, est porté par un élan pseudo-dérnocratique répondant
à l'esprit du ternps. On postule l'égalité des chances, mais on la confond
avec l'égalité des dons, alors qu'i,l serait vraiment démocratique et
social de faire la difrerence entre les enfants doués et les autres
et d'assurer aux premiers, quelle que soit leur origine sociale, la
meilleure éducation possible, le plus tôt possible. Le dévelIoppement
positif d'une économie nationale n'est pensable qu'à condition que se
régénere sans cesse une élite à la culture éprouvée, une élite à laquelle
on puisse presque demander l'impossible. II est arrivé en Autriche, au
cours d'une discussion ou 1'0n plaidait en faveur de la filiere commune
et de la lirmitation, pour ne pas dire la suppression, du latin qu'un
vieux socialiste s'est levé et dit: «Mais, enfin qu'est-ce que vous voulez?
Nous avons toujours combattu pour que nos enfants puissent alIer
au lycée et maintenant vous voulez le supprimer. Vous nous faites un
tort oonsidérable».
Si nous voulons trouver les causes du déclin des langues anciennes,
ii ne faut pas passer sous silence un autre fait que certains partisans
de la culture dassique trouveront peut-être désagréable à entendre: il
faut avouer que ce genre de formation peche souvent en ce qui con-
cerne l'actualité et ne donne guere une orientation raisonnable actuelIe.
Ces critiques ne sont pas nouvdles, particulierement en AlIemagne.
II n'est que de citer Nietzsche. II est incontestable que pendant long-
temps les recherches sur Homere et sur Plaute, la critique de Cicéron
et de Virgile ont plutôt obscurci qu'éclairé l'actualité de ces grands
esprits. A la suite de Nietzsche, en AlIemagne, des hommes comme
Stefan George, RudoH Borchardt, R. A. Schroder, E. R. Curtius ont
maintes fois souligné le fait .
LES CAUSES DE LA DÉCADENCE DES LANGUES ANCIENNES 329

La conséquence en a été, comme l'a si bien dit R. A. Schroder


dans la postface de sa traduction de Cicéron, Cato Maior, que de désert
ou ,les marécages ont pris la place de terres autrefois fertiles. Bt ainsi
la participation du public à la controverse philologique' s'est enlisée,
lentement mais surement, et que celle-ci s'est mis à foisonner dans le
vide, se nourrissant de sa propre substance, si vous me permettez cette
expression hyperbolique». Schroder a écrit cette phrase il y a plus de
50 ans, mais elle n'a en rien perdu de son actua:lité. II est de mode
aujourd'hui de donner la préférence aux aspects purement formeIs et
il est particulierement dangereux de ne souligner que les arriere-plans
sociaux ou de réduire la poésie vivante à des tableaux et à des dia-
grammes sous prétexte de donner à la critique littéraire l'apparence
trompeuse d'une précision qui la rapprochemit des méthodes scie'l1-
tifiques.
Nous devons mentionner un autre fait: II est incontestable que le
monde antique nous devient chaque jour plus étranger. ' Cet éloigne-
ment, visible des le premier regard, peut apporter au censeur à courte
vue un argument supplémentaire contre la valeur éducative des langues
anciennes. Mais c'est justement ce caractere d'étrangeté qui plaide en
faveur, et non contre, l'intérêt porté aux cultures anciennes. Certes,
nous abordons là un autre monde, un monde opposé au nôtre. Les
cultures antiques se caractérisent par la valeur incontestable donnée
aux normes religieuses et mOl-ales que - spécialement dans le monde
romain - une tradition incroyablement forte maintenait vivantes et
ne cessait de consolider, par le respect indéracinable devant des notions
telles que arete ou uirtus, que nous , lisions Platon ou Aristote, o~
Cicéron, Salluste ou Horace, par le prix indiscuté donné à ce que
Rousseau nomme dans la derniere phrase de son Contrat Social, la
religion civile, qut plaçait toute éducation et toute sagesse à l'ombre
des quatr~ vertus cardinales (prudence, force, justice et tempérance)
et s'efforçait inlassablement à s'exercer à ces vertus, ce dont témoigne
chaque page des auteurs cités - tout cela nous est devenu bien étranger
et nous fait cependant cruellement défaut. Nous nous rendons cOllIlpte
que notre époque manque de valeurs fondamentales stables, ce que
d'ailleurs confirme la critique de la culture dont nous avons parlé,
mais, surtout l'insatisfaction généraJe de la jeunesse face au compor-
tement de notre société, insatisfaction qui n'est, hélas, que trop justifiée.
Mais d'autre part on peut y trouver le point de départ de changements
souhaitables. Sous la révolte de la jeunesse contre le vide d'une époque
uniquement préoccupée de valeurs matérialistes, contre les agressions
330 VIKTOR PôSCHL

portées à l'environnement, contre l'appauvrissement moral et spirituel


au milieu de la surabondance, on peut voir une absence de valeurs
qu'il nous faudra combler. II s'y fait jour la nostalgie d'un ordre
que la perte de la tradition, la crise des valeurs et la disparition des
normes ont détruit. On y voi! certes s'entrechoquer d'étranges contra-
dictions: d'un côté, la jeunesse combat toutes les formes de l'autorité,
de l'autre, elle réclame ardemment des normes, semblant confirmer
ainsi la phrase de Thucydide suivant laquelle la nature de l'homme
ne change pas, que les formes du comportement et des besoins élémen-
taires humains restent toujours les mêmes.
Mais il existe d'autres signes prometteurs, et d'autres contradictions.
Les personnages et les situations symboJiques que la mytholl ogie antique
tient à notre disposition se retrouvent sans cesse dans la littérature
moderne. La mythologie antique reprend inlassablement vie sur la
scene de nos théâtres et garde ainsi intact le lien qui nous rattache
à notre tradition et que tous les changements, toutes les prophéties de
malheur n'ont heureusement pas rompu. La fameuse perte du sens
historique a donné en fait une soif inextinguible de l'histoire. Les
visiteurs se précipitent en foule pour admirer les expositions ou une
abondante documentation soigneusement choisie nous présente diverses
époques de l'histoire. Les expositions tournantes des musées, qui ne
se limitent certes pas à l'art moderne, attirent des visiteurs par milliers,
au grand étonnement de leurs organisateurs. On peut y voir aussi le
désir d'utiliser judicieusement un temps de loisir qui ne cesse d'aug-
mente r. Même le nombre croissant d'étudiants, que nous déplorons,
peut être également une bonm.e chose. Les milliers d'étudiants qui
étudient les lettres aujourd'hui en Allemagne, sans espoir de trouver
un travail correspondant à leur formation, trouvent acces à des choses
qui enrichissent leur vie, ce qui peut être pour eux plus important
qu'une carriere brillante. Malheureusement peu de choix de carriere
s'offre à ces étudiants de lettres classiques, contrairement à ce qui se
passe aujourd'hui encore en Angleterre ou 75% des éturliants qui ont
étudié les langues anciennes à l'université, trouvent des postes dans
l'administration, la diplomatie ou la finance. On les y engage même
de préférence à tout autre. Les voyages également, dans les pays du
sud, ces pays méditerrannéens, berceau de notre culture ainsi que
dans les centres de la culture des pays occidentaux, ou de si nombreux
témoins de notre histoire culturelle se dressent vivants devant nos
yeux peuvent faire naltre et consolider les liens qui nous rattachent
aux racines de notre culture. Mais aussi souhaitables que soient ces
LES CAUSES DE LA Df: CADENCE DES LANGUES ANCIENNES 331

contacts, aussi utiles que puissent être les traductions de textes anciens,
il faut qu'existe également la possibilité d'accéder immédiatement à
ces textes et de jouir de 1'admirable force originelle des langues
anciennes.
II nous faut des établissements d'enseignement, lycées et univer-
sités, qui puissent réaliser ce programme sous sa fohme optimale. Ce ne
serait d'ailleurs pas un grand malheur si seul un petit nombre d'éleves
apprenaient le latin, et encore moins le grec. II peut arriver que dans
les écoles d'élite - et ces écoles doivent exister et être encouragées
par tous les moyens possibles - un petit nombre d'enfants doués et
curieux d'études deviennent familiers des langues anciennes et qu'en
émanent les forces qui donnent leur empreinte à notre cUllture; des
personnalités ou se jouent harmonieusement toutes les forces vitales,
celles de 1'eSiprit et celles du cceur, qui ressentent la joie d'agir dams
la bonté et la beauté - et la joie éprouvée devant la beauté et la force
d'une langue n'est certainement pas la moins intense.
Nos écoles pourraient cO'lltribuer à ce que ces possibilités devien-
nent réalités. Pour ce faire, iI faut qu'il y ait dans toutes les villes de
quelque importance des endroits ou 1'on puisse apprendre les langues
anciennes dans les textes. II faut qu'il y ait un certain nambre d'écoles,
aussi petit soit-il, ii faut qu'il y ait une équipe d'enseignants et d'éleves
qui maintiennent le potentiel ooucatif des langues anciennes et le
tiennent à la disposition de notre monde. Nous pouvons ici aussi
discerner en Allemagne et en d'autres lieux du monde ocddental des
signes encourageants. II y a chez nous des étudiants extrêmement
doués qui vouent un intérêt passionné aux langues anciennes, qui écri-
vent des theses excellentes sans parler des professeurs de haut niveau
qui enseignent dans les universités. Ou a parlois l'impression que la
qualité des travaux universitaires va en augmentant, quant à la quan-
tité, cela va malheureusement aussi de soi.
Les Iettres classiques et, avec elles, la science de 1'antiquité qui ne
peuvent exister sans la connaissance des langues anciennes, sont dans
notre monde technique et industrialisé une compensation, un contre-
poids nécessaire. A une époque ou tout ce qui est superficiel prend la
premiere place et ou tout ce qui fait le propre de 1'homme se trouve
toujours plus en danger, il est pIus que jamais nécessaire de créer ces
contrepoids. Le danger n 'est pas nouveau. «Car ii est dans la nature
de .J'homme» - ainsi que l'a déjà dit Humboldt - «d'être toujours
poussé à ne tenir compte que de 1'extérieur, de devenir toujours plus
étranger à lui-même et de se perdre completement». Nous rencontrons
332 VIKTOR PõSCHL

ici la notion d'aliénatio!l1 qui apparait pour la premiere fois chez


Rousseau dans sa critique de la civilisation et qui joue un si grand
rôle chez Marx. Le danger de I'alién:ation, de la déshumanisation, s'est
accm aujourd'hui dans des proportions effrayantes dans tous les
domaines de la vie. Un contrepoison efficace est nécessaire et I'un des
plus efficaces est l'intérêt porté aux langues et à la littérature dont
l'amour peut éclairer toute une vie. S'occuper de langues, de littérature,
de poésie exige la présence de I'homme tO'llt entier, c'est activer la ratio
comme l'irrationnel, les sentiments, la sensibilité artistique, la pensée
abstraite comme la sensualité. L'amour de la langue et de la poésie
comme I'arnour de la musique, des arts, de la beauté en général
correspond à un profond besoin de l'homme. Je voudrais le nommer
besoin de culture, non pas d'une pseudo-culture, celle dont nous inon-
dent les médias et la mode, mais celle que Cicéron appelait cultura
animi, la culture de l'esprit et du oreur.
On se rend de ph,ls en plus compte de la nécessité d'une compen-
sation de ce genre. Ou re1Jlarque dan$ le monde entier une tendance à
ne pas spécialiser trop tôt les chercheurs, particulierement dans le
domaine des sciences. On demande de plus en plus une large formation
générale, la préférence étant donnée aux lettres. Les programmes
scolaires doivent absolument tenir compte de ce changement. C'est
ainsi que les universités élitaires américaines, comme nous l'a récem-
ment rapporté le Prof~sseur Schettler, Président de I'Académie des
Sciences de Heidelberg, ont énomnément diminué les programmes
d'enseignement et d'exarnen et introduisent de plus en plus de cours
littéraires dans les études de médecine. II faut en tout cas faire tout
notre possible pour combler le fossé qui sépare le progres technique
et le progres moral, lesqualités économiques et les quaJités culturelles.
Nous devons répondre au reproche que I'on nous fait suivant lequel
nous' avons acheté le progres maté~iel par la perte de notre substance
culturelle, spirituelle et humaine. L'animosité portée à la tradition, à
l'histoire, c'est-à-dire aussi à la culture, qui ne cesse de s'étendre chez
nous confirme ce reproçhe. Nous ne pouvons apprendre ce qu'est la
culture ni de nous mêmes, ni des phénomenes passagers d'une mode
changeante, mais des modeles qui ont depuis longtemps fait la preuve
de leur force vitale, des grands poetes, musiciens et artistes du passé
et, parmi eux, les grandes figures de I'antiquité trouvent leur place
légitime. On ne peut pas les exclure de notre culture. Elles y sont
indissoh.lblement liées. L'antique culture fondée par les Grecs a marqué
de sa pJus belleempreinte la latinité. ·
LES CAUSES DE LA Df:CADENCE DES LANGUES ANCIENNES 333

L'alternative n est donc pas à vrai dire «grec ou pas grec», «latin
ou pas latin», mais «culture ou pas culture». Le latin surtout est un
élément international qui unit les cultures nationales de l'Europe de
l'est et de l'ouest. Chacune de nos cultures nationales a ses particularités
qui font sa fierté et que nous devons maintenir. Mais nous appartenons
aussi à une communauté culturelle, dont nous devons également être
fiers. Pourquoi devrions-nous aujourd'hui ou tous les peuples d'Asie,
d'Afrique, d'Amérique recherchent fiévreusement leurs racines pour
y trouver leur justification, ne pas avoir aussi le droit en Europe de
soigner l'héritage commun qui constitue la meilleure partie de notre
identité? De cette identité le latin fait aussi parti e et ce n'est pas un
hasard si le mot culture est un mot latino
(Página deixada propositadamente em branco)
III
PENSAMENTO E HUMANISMO:
ÉTICA, DIREITO, CIÊNCIA E TÉCNICA
/

PENSEE ET HUMANISME:
ÉTHIQUE, DROIT, SCIENCE ET TECHNIQUE
(Página deixada propositadamente em branco)
HUMAN NATURE lN THE PHlLOSOPHlCAL ETHICS
OF ANClENT GREECE AND TODAY

A. W. H. ADKINS
University of Chicago

Do moral philosophers need a view of human nature? If so, why?


What role does it play in ancient Greek philosophical ethics and those
of today? Ms. G. E. M. Anscombe 1 gave what might well have been
intended as an answer to these questions:

It is not profitable fo r us at present to do moral philosophy; that


should be laid aside at any rate until we have an adequate philosophy
of psychology, in which we are conspicuously lacking . .. . ln present-day
philosophy an explanation is required how an unjust man is a bad
man, or an unjust action a bad one; to give such an explanation
belongs to ethics; but it cannot even be begun until we are equipped
with a sound philosophy of psychology. 2

Now is Ms. Anscombe seeking a theory of human nature? She


might be saying something like this: 'If we knew what human nature
was, we would surely be able to state which human beings were exem-
plifying it, and so showing themselves as good specimens of human

1. ln «Modem Moral Philosophy,» Philosophy 33 (1958) , 1-19.


2. 'Presumably Ms. Anscombe favours psychology because ancient Greek philo-
sophers and their successors argue for the psuche as the locus of the most
important good and bad for human beings. «For the proof that an unjust man
is a bad man would require a positive account of justice as a 'virtue'. This part of
the subject-matter of ethics is, however, completely closed to us until we have an
account of what type of characteristic a virtue is - a problem not of ethics,
but of conceptual analysis - and how it relates to the actions in which it is
instanced .. . a matter which I think Aristotle did not succeed in really making clear.»

22
338 A. W. H . ADKINS

beings.' Or should we? Ms. Anscombe's philosophy is deeply influenced


by Aristotle, and the 'good specimen' argument suits his overall position,
as we shall see later. However, Ms. Anscombe is not only influenced by
Aristotle, but herself a prominent philosopher in the Christian tradition.
Since in that tradition human nature is regarded as 'fallen,' to discover
human nature is not to discover what makes a human being a good
[specimen of] human being, what a human being 'ought' - in some
sense of 'ought' - to be; and moral psychology may furnish similar
problems. 3 However, it seems possible to develop a theory of the good
specimen of human being by specifying how one might surpass the
weakneslSes of human nature. ln both cases, we may ask whether a
determinate view of human nature is needed by the moral philosopher.
We may also inquire whether a merely descriptive view of human
nature will suffice for moral philosophy; is there always a system ot
values, explicit or impliót, recogm.ized or denied, associated with the
concept? This should become clearer Iater. 4
Socrates was the first moral philosopher, but it is relevant to con-
sider the beliefs and values of his non-philosophicaJ contemporaries
and predecessors, for these beliefs and values set the problems which
Socrates tried to solve, and his attempted solutions set further problems
for subsequent moral philosophers. 5

3. EIsewhere, Ms . Anscombe has denied the possibility of a moral 'ought" in the


absence of belief in a just and judging God. The apparent implications of some
types of psychiatry may have their part to play, though most psychiatrists seem
to agree with Spinoza that greater knowledge of oneself increases one's autonomy
and freedom.
4. Presumably most Greek philosophers would not have regarded the much-
debated 'Naturalistic Fallacy' as a fallacy.
5. It is unusual to approach the study of Greek philosophical views of
anything by analyzing the thought and beliefs of those non-philosophical thinkers
who preceded the philosophers. It is certainly rare to study human nature in this
way: let me cite the table of contents of a popular text book for American college
students. Its author, Leslie Stevenson (The Study of Human Nature: Readings,
Oxford 1981), divides his readings into four groups : Part I: Beliefs about Human
Nature in the Ancient Religious Traditions. Part II: Reasoned Argument about
Human Nature in Greek and Mediaeval Philosophy. Part III: The Searching for
a Scientific Theory of Human Nature. Part IV: How far is a Scientific Theory
of Human Nature possible? Most readers wiU expect to find all the 'modem'
- in the widest sense of 'modem,' in which its contrary is 'ancient' - readings to be
placed in Part III and Part IV, and would not be surprised to find no mention
of Greek or Roman Religion in Part L Stevenson's book fulfills their expectations.
Insofar as he is making a judgment about the quality of Greek religion as a
HUMAN NATURE lN THE PHILOSOPHICAL ETHICS 339

ln early Greece, a poJytheistic and traditional society, human beings


are of course distinguished from gods. Gods do not die. But the only
other explicit difference between gods and human beings in Homer is
that the gods have mOl'e valour, social position, strength and wealth 6
than men. 7 It seems clear that if a mortal possessed enough valour,
status-and-possessions and strength, he would become a god; and there
are examples. 8 The weakness of the Greek god, and the enterprise of
the mortal worshippers, demand a constant reminder 9 that there are
things which gods can or are allowed to do which mortaIs cannot
or must not do. The early Greeks often criticize another's action as
'gl'eater than a human be~ng can/shou1d attempt to accomplish'; and
this furnishes a defini:tion - by exclusion - of human nature. lO.
There is, however, a different train of thought, which employs the
word phusis, frequently rendered by 'nature', so that 'human phusis'
would be 'human nature'. The word basically means 'birth'; but one
should never forget that connotations of words tend to be lost in
translation: 'human nature' is in fact not an adequa te tranSllation
of 'hllJman phusis' as the phrase is used in the later fifth century B. C.
At this time, the period of the sophists, the connotations of phusis
began to be important. Such a word might be used to refer to the
common features with which human beings are born - eyes, nose,
mouth, etc.; and indeed a passage from a writer of the late 5th

religion, few will disagree. But ancient Greek beliefs about their gods nonetheless
throw light on their view of human nature. So I shall discuss pre-philosophical
Greek writers briefly, noting their influence on Socrates, and thence through
Plato and Aristotle and beyond.
6. Arete, time, and bia, Iliad 9.498.
7. The mysterious substance ichor appears only in Iliad 5, to explain why
Diomedes cannot kill the gods though - in that book - he can wound them.
8. Hercules, Castor and Pollux, for example. There are easier routes to
immortality, if not to godhead; even the remo te and minor nymph Calypso could
have made Odysseus immortal by feeding him on ambrosia. (Odyssey 5.135-6.209).
9. Note Poseidon and the Greeks in the Iliad, Poseidon and the Phaeacians
in the Odyssey.
10. For example, Capaneus in Aeschylus, Septem 425; Agamemnon in Aeschylus ,
Agamemnon 925; in Herodotus 3.38 we find a miraculous pair of hoplites 'bigger than
accords with the phusis of mortaIs' (To translate phusis here by its basic sense
of 'growth' makes sense, and is not unusual at this date.) For Socrates in the
Apology, see below, n. 33. Herodotus' phusis here - the hoplites are not mortals-
shows how phusis in its more traditional usage might express limits. 'Hubris' is
used traditionally when emotions run higher, and the need to restrain rthe
transgressor is more urgent.
340 A. W. H. ADKINS

century B. C. emphasizes precisely this. Ris goal was to break down


the distinction between Greeks and 'barbarians.' 11 At the sarne time
a new, 'sdentific,' medicine was beginning to develop in Greece; and
the -quite recent - opposition of phusis ['birth, nature'] to nomos
['convention, law'] had become rautine among the thinkers of the day 12.
The evidence I have supplied thus far suggests that phusis was
suitable for use as a restraint in the sarne way as the traditional 'not
within the scope of human power.' After all, few doctors can have ever
deduced from the fact that all human beings have stomachs that all
human beings should gratify those stomachs to the limite of thair
abilities. 13 Yet in ~lato's Gorgias we find ·Callicles urging that the senses
should be gratified to the full at all times, eX!plidtly in the name
of phusis.
ln part this results fram an attempt to derive human phusis not
from human behavior alone but from nature as seen in other animaIs
and birds. 14 But there is another reason. Phusis might have been regu-
larly used to refer to birth simply as a physical [or psycho-physical]
evento ln fact, it is often used aJso of the entire complex of social and
economic advantages or disadvantages from being born into a particular
family at a particular time. People of high birth in this sense were
termed agathoi, and commended for their possession of arete, human
excellence, since they contributed more than others to the weUbeing
of their poleis. ln a society organized into small poleis, fiel'cely inde-
pendent and consequently frequently at war, those who could most
effidently assure the security of the polis and of the crops on which
its survival depended had a stronger prima facie claim to be good

u. Antiphon the Sophist, D-K B44.


12. The Presoeratie Democritus eould write that 'by nomos there exist (the
data of the senses) but by phusis only atoms and void' (D-K B125, 168). A moment's
thought would surely have eonvinced him that no one ever made an agreement
or law that though there are 'really' only atoms and void, heneeforth sense-data,
mOlmtains, rabbits and philosophers shall be deemed to existo
13. Indeed, Socrates, Plato and Aristotle seleet the doetor and the athletics
trainer as experts whose adviee one fails to heed at one's peril where the health
of the body is at issue, precisely as an analogue for an expert in the health of the
psuche for whom seareh is being made.
14. ln Aristophanes' Clouds 1427 ff., Pheidippides commends the attitudes of
barnyard roosters to their fathers, and is asked by his disgruntled father why
he doesn't also eat dung and sleep on a pereh. Cf. Soerates' eharaeterization of
GaUicles' preferenees as 'the !ife of a bustard' in Plato's Gorgias, 499 b 6.
HUMAN NATURE lN THE PHILOSOPHICAL ETHlCS 341

specimens of human beings than those who could not do soo 15 Heavy
infantry - and a small number of cavalry - performed this function.
The equipment was quite expensive, and had to be purchased by the
individual, so that the polis' most important defenders carne from a
class, del10ted and commended as 'the agathoi, the possessors of arete.'
Such people naturally had a different kind of expectations and behavior
from those of low birth and the poor. They had been accustomed to
have their own way in the polis; they had always been agathoi phusei,
good specÍ!IDens of mankind, by birth; now they were agathoi phusei in
the additional sense of 'by nature.' Consequently, their superiority and
privileges were linked to the real rather than the conventional.
So kat'anthropon, 'in accol'dance with what anthropoi [human
beings] can do' brings in the idea of constraint, whereas phusis as
applied to agathoi andres [warriors of 'good family'] tends to, and
is meant to, free them from constraint: these are the 'real' best speci-
mens, and as such, should maximize their own well-being and that of
their friends as tradicional arete demanded. 16 Traditionally, the fea;r of a
just - or at least a jealous - god had acted as a restraint; but that
fear was fading.
Antiphon, the sophist mentioned above, also advised his readers to
behave in accordance with the laws of the polis when not alone, but
the edicts of phusis when alone. To act against the law damages one
only if found out; but to act against phusis does real harm to the agent.
Though SOillle of his phrases suggest that to act against phusis is
impossible, the advice clearly supposes that the agent has a choice. 17

15. See Adkins 1960 passim.


16. See, for example, Callicles' tirade, Gorgias 482 c 4 ff.
17. 'Dikaiosune (justice), then, is not to transgress what is laid down by
nomos in the polis in which one lives. A man would accordingly make use of justIce
in a manner most advantageous to himself if he were to treat the nomoi as most
important when witnesses were present, but the edicts of phusis as important
when he is alone; for the edicts of the nomoi are adventitious, whereas those of
phusis are necessary. Those of the nomoi arise out of compacts between men,
not as a result of phunai (natural growth), whereas those of phusis are a result
of natural growth and do not arise out of compacts between men. Supposing,
then, that a man transgresses what is laid down by nomos, if he escapes the
notice of those who made the compact, he is free from both shame (aischune,
linked with aischron) and actual damage, while .if he does not escape notice, he
does not escape those penalties; but supposing, against possibility, a man violates
one of the requirements implanted by phusis, if he escapes the notice of all
mankind, the damage to him is no less, and if all see, no more, for he is not
damaged on account of an opinion, but on account of truth' (D-K B44).
342 A . W . H . ADKINS

Evidently no stronger 'ought' than a prudential one is expected to


deter the agent; but it is a constant feature of Greek ethics that arete
must in some sense of wellbeing conduce to the wellbeing of its pos-
sessor; and this must render the possession of arete, and of being
agathos, a desirable. This fact must be linked in some fairly dose
IDanner to the conoepts of human na,tUire held by the Greeks, or at
all events some Greeks. Note also that the criteria for the good specimen
of human being are dosely linked with the sUir\llival of the polis.
The 'sophists' 18 place human phusis at the centre of their concerns.
It was difficult in the intellectual world of late-fifth-century Greece to
deny the dose relationship between arete, 'human excellence,' phusis,
'human nature,' and eudaimonia, 'life at its best, human flourishing.'
So far as terminology is concerned, the Socrates of the early and middle
dialogues, and Aristotle, and many non-philosophical Greeks, agreed;
and whatever is so characterized must be not merely choiceworthy
but most choiceworthy.19 The only satisfactory way of commending a
different kind of behavior, when phusis is the topic for discussion,
is to try to show that human phusis, properly understood, is not
eXipres,s ed merely by satisfying the 'natural desires,' including the desires
for power and wea1th.
Plato and Socrates certainly wished to change the view of human
phusis. RelevaIl!t questions are discussed in earher dialogues; but the
most detaHed presentation is given in the Republic. Phusis, as Plato
wishes to use it, is introduced where the topic under discussion is
the minimal polis of four or five artisans and farmers, and it seems
uncontroversial that different people differ in respect of phusis. ln
consequence, the artisans will flourish more if each 'does his own
thing' and exchanges the fruit of his labours with others. 2O
Socrates speaks of this polis as the 'true' or 'healthy' polis. Glaucon
and AdJimantUis caH it 'the city of plÍ.gs', and Soc.rates, accepting the
additions to be found in the poleis of the day, terms the result a

18. 'Sophist' means 'intellectual' at this time. Socrates, Plato and Aristotle
were all sophists in the language of the day.
19. Is it inevitable that to act in accordance with the behests of phusis is
to display human phusis?
20. Where potters are generally the sons of potters, blacksmiths the sons of
blacksmiths, that potters differ from blacksmiths phusei in one sense of phusis
is patently true; and in the stronger sense of phusis might be difficult to disprove.
The leisured Greeks in the dialogue were 110t likely to be interested enough
to deny it.
HUMAN NATURE lN THE PHlLOSOPHICAL ETHICS 343

'feverish' polis. [Once again the medical analogy, 372e is.] Socrates now
argues that war is inevitable for such a polis, since it will need more
territory, and will need to take it fram other poLeis. 21 Using the previous
agreement that 'each of us is better by phusis for one particular task,'
he argues that there should be a seIparate miliJtary clas's in this polis. 22
Already in this context Plato introduces the idea of philosophy, 375 elO:
the guardians are to be like dogs, and be friendly to those they know,
hostile to those they do not know. 23 So, 376c7, the éIlpproved guardian
of the polis must be 'philosophic,' 'spirited,' swift and strong in respect
of his phusis, so as to be by phusis competent at fulfUling his ergon,
his task. Socrates rather shamefacecLly produces a myth, whose goal
is to inculcate into the dtizens a belief in a real difference in the.ir
capabilities. Those with gold in their psuchai are fit to rule, those
with silver to be soldiers, those with iron or bronze to be farmers and
artisans, 415 a-c. Insofar as this is believed, it strengthens Socrates' claim
that there are politica:lly important differences in human psuchai.
At 428e7, Socrates says that 'it is by reason of the smallest group
and part in it, then, and the knowledge in that ... ruling element, that
the whole polis founcled in aocorcLance with phusis would be wise.'
Suitable characters are to be steeped in indelible right opinion because
they have had a good phusis and a good trophe [nature and nurture].
And 433 a, 'We posited ... that each individual shou1d perfoI'm that one
task of those concerned with 24 the polis for which his phusis was most
naturally suited.' If two artisans exchange tasks, no great harm is done,
434a; but if someone who is an artisan phusei attempts to enter
one of the other classes, this exchange and meddling is a disaster to
the polis. Socrates then turns to study individual psuchai. As to impart
physical health is to ensure that those parts of the body that in accor-
dance with phusis are meant to rule and be ruled respectively do in
fact do so, so justice is to ensure that the parts of the psuche meant
to rule and be ruled do in fact do soo This discussion precedes the

21. Particularly in Greece, where oultivable land was always at a premium.


22. This is a much more surprising point: most Greek poleis relied on a
militia of yeoman-farmers for their defense an land. Sparta and Crete affer the
closest resemblances, as was to be expected. Socrates and his pupils charac·
teristically preferred the constitutions of Sparta and the Cretan cities to that of
democratic Athens.
23. This usage is af course without the transcendental implications of the
term which appear in the later books.
24. Plato here uses both phusis and the verb pephukenai to emphasize his point.
344 A . W. H. ADKINS

introduction of the philosopher-rulers, but follows some way after the


myth of the souls with different metaIs, which entails that human
beings are bom une qual in ways ~mportant in ethics and politics.
Callicles and Plato both treat human phusis in a hierarchical
manner. For both, but in different ways, 'birth,' the qualities one was
bom with, broadly interpreted, is of great importance. The provisions
for mating among the rulers of the Republic suggest the eugenics of
the aristocratic breeder of horses or dogs. 2S [It should be noted how
ingeniously Plato has contrived to enroll the 'cooperative excellences'
- justice aJlJd self-restradnt - in the company of aretai-by-phusis.]
This hieral:'chical system might suggest a rigid view of human
natures [plural] , to the point of raising doubts about 'human nature'
as such. However, Plato's eschatology and epistemology, displayed in
the myths for the most part, reveal a much greater flexibility. Plato
adopts the belief in the transmigration of psuchai, 'souls.' 26 Earlier
believers in transmigration had taken the same view. Z7 Plato turns
this to moral account in his myths, in different ways. ln · several dialo-
gues the psuche is punished or rewarded after death for its deeds on
earth, then reborn. 28 ln the myth of Bor in the Republic, it is taken
for granted that a human psuche can be incarnaJted in the body of
an andmal. l'l1Ideed, it is difficult to say that there is a distinc-
tively human psuche in the myth of Er. The omission is dealt with
in the myth of the Phaedrus: the psuche which has never 'seen the
Fo I'illS , cannot pass into a human body. The hurnan being is capable
of forming concepts, using words and reasoning. 29 For the first time a

25. The parallel was explicitly drawn in the Theognidea, 183 ff. ln the later
fifth and earlier fourth centuries, the reason why agathoi parents have kakoi
children was much debated.
26. Psuche denotes whatever distinguishes a living creature from a dead one.
That there is a difference is indisputable; its nature and ontological status are
the topics of discussion.
27. Pythagoras and Empedocles both claimed to have been incarnated also
in a non-human formo No earlier believer that the psuche passed through a
sequence of lives distinguished the human psuche from those of animaIs, 01' indeed
plants. lndeed, Empedocles claimed to have been in different lives a boy, a girl,
a fish and a planto
28. See Meno, Gorgias, Phaedo , and Republic.
29. Anyone who has seen the Forms at all before birth will be capable of these
activities to some extent. The philosopher-ruler of the Republic evidently needs
much greater acquaintance with iliem.
HUMAN NATURE lN THE PHILOSOPHICAL ETHICS 345

specific differentia for human beings is given. [Plato still treats the
passing of a human psuche into a non-human body as a regular occur-
rence, Phaedrus 249b-c]. The Republic contains both the metals-myth,
desrigned to em:phaSlÍze the differences w1thin the hUllTlan race, and also
the myth of Er, in which transference between different animal species
is taken for granted. Both in different ways suggest that there is no
such thing as an overall human nature. Before the composition of the
Phaedrus, Plato seems to have given little thought to what makes
human beings distinctively humano 30
I now tum to Aristotle. Aristotle did not believe in the Forms as
existing aIIlrte rem, beyond space and time; and as a biologist he
distinguished between different types of psuche, life-principle, aJlotting a
different type to eaoh species. The life-principle is more or less equated
with the organizing phusis, the final cause. The final cause of each
different creature or species can exist only embodied in a member
of the appropriate species. It follows that a psuche cannot exist outside
its body; and if it could, it couM transmigrate into no other species.
[Nous survives, De Anima 429 alO ff., but has no memory, so that
individuaHty is impossible outside the body.] The form of rabbit is
transmitted to a new generation of rabbits by the male in sexual
reproduction, the female supplying the matter. Human phusis is seen
in the light of Aristotle's overaJl biology. So prima facie it should be
possible .to find a 'hUllTlan nature' in Aristotle based on his view of the
human species.
For Aristotle, 'not in accordance with human powers' can function
in the traditional sense,31 furnishing a restraint and a definition by
exclusion. 32 ln EN 1177b, on the other hand, the theoretic life is 'better
than what oan be achieved by human oapabilities.' Aristotle is aware
that to recommend such a life as the highest and most choiceworthy
for human beings must sound like hubris to some of his contemporaries,

3'0. It had long been possible to contrast human behavior with animal behavior.
Hesiod does so, W & D, 203 ff., 276 ff.
31. Above, p. 339 and note 10.
32. So, in EN 11,15 b 8, AristotIe distinguishes between the fearful which is
huper anthropon, too much for mankind, from that which is kat' anthropon,
in accordance with what man can bear; and in EN 1110 a 23 he says that pity is
extended to those who are forced to behave badly by constraints which are too
strong for he anthropine phusis, human phusis. ln Politics 1286 b 27 he speaks of
'a greater [cooperative] arete than is in accord with human nature.'
346 A . W. H. ADKINS

and adds 'one ought not to follow those who exhort one, since orre is
human, to have human thoughts.' 33 For Plato and Aristotle, then, the
most choiceworthy life for a mortal human being is to live in accor-
dance with something not mortal within uso Plato's eschatology and
metaphysic point in the sarne direction. It would be better for the
philosopher-rulers not to go back into the Cave; and the psuchai of
the Phaedrus myth are on earth solely as the result of a chariot accident
while they were disembadied. 34 For these phHosophers, then, there is
a better activity for the human being than the life of the citizen at
its best. 35
ln the Republic Plato constructs an elaborate frarnework, and claims
that the major cooperative excellences - justice and self-control- can
be shown to be essenrtial to the wellbeing of the polis and af the psuche.
He also daims that this polis and this psuche exemplify the 'polis by
phusis' and the 'psuche by phusis'; and evidently to say 'by phusis'
is to say 'best'. He does not mean that a 'golden-souled' - by phusis-
infant in its cradle may be relied upon to develop into a philosapher
ru1er, or even a good citizen. Nurture is as important as nature: all the
'golden-souled' and 'silver-souled' are to be given a thorough moral
education at the leveI of 'right opinion,' and tested repeatedly to make
sure tna:t their responses are reliable, before they are allowed any taste
of power.
Aristotle too believes that phusis is not enough to produce a good
man, a good spedmen of a mano He presents his view more concisely
than does PI.ato. 'Ethics gets its name, with a minor change, from

33. [The exhorters are mostly poets; but Plato's Socrates, on trial for impiety,
claims only anthropine sophia, human wisdom. He glosses the phrase, Apology
21 d 7, as 'not even thinking that I know what I do not know.' Socrates is con-
trasting himself with the sophists, 'who doubtless have some greater than human
wisdom.' Plato's Socrates, who possesses some rhetorical ability, is passing on the
impiety charge to others.] For Aristotle, of course, there is a divine spark within
man; and he goes so far, a few lines later, as to equate human beings with that
elemento The gods in whom Aristotle believed did not, of course, feel envy at the
success af mortaIs. They, the intelligences of the spheres, have their gaze directed
on the highest of them, the Unmoved Mover; and the Unrnoved Mover, contem-
plating itself, is not aware of the existence of anything other than itself.
34. The belief that human beings - or all living creatures - are on earth as
the result of some wrongdoing of theirs elsewhere is found in e. g. Empedocles
D-K BUS. [The belief is found also in other cultures].
35. The question whether this is still an activity that displays - merely -
human nature I shall defer for the momento
HUMAN NATURE lN THE PHlLOSOPHlCAL ETHlCS 347

ethos, habito So it is apparent that none of the 'ethical' aretai are innate
in us by phusis. For none of the things that are as they are by phusis
can be habituated to behave differently. For example, a stone, which
falls to earth by phusis, could not be habituated to go upwards, even
if one tried ten thousand times by throwing it upwards... So the
(ethical) aretai do not arise in us by phusis or contrary to phusis. They
arise in us and we are by phusis [pephukenai] able to receive them,
but ethos is necessary for our perfection' [EN 1103 a 17 ff.]. 36 We have
by phusis a 'capacity for opposites,' and acquire a good state of character
[an arete] or a bad one [a kakia] in accordance with our habituation.
ln this usage, phusis denotes a potentiality. Huanan beings are neither
good nar bad by nature. Without habituation, however, man is the
most dangerous of animals.:rI Here, Plato and Aristotle are in close
agreement. Does Aristotle suppose that different human beings have
very different capacities phusei for development? His preference for
analysis over pom,g·con's truction conceals the faot; but for Aristotle aH
women, ohildren, barbarians and many Greek - but not agathoi-
males are incapable of planning their lives, leaving a handful of adult
male Greeks with the ability to live their lives autonomously by the
light of reason. 38 Barbarians are only fit to be ruled despotica11y. The
exoel1enoes in the full sense oan be exerciz.ed on.l.y by an adult male Greek
in a good polis. 39 Women and even slaves caIIl. be 'good'. But a 'good'
woman or s1ave has not the sarne exoeUences as the agathos ana,
even if they possess qualities called by the sarne names. A woman's ·
sophrosune is not like a man's.4O A modem reader might wonder why
Aristotle did not conclude that there was no 'human nature' at alI, since
there were such differences phusei between the Greeks and Persians,
differences which fundamentally affected the way in which each lived.
However, for Aristotle the phusis of anything sets the norm, the goal,
even if only a few reach it - or could reach it. There is no question
of surveying the human race to find characteristics shared by alI.
Women, slaves and barbarians are debarred fram either of Aristotle's
paradigms: the agathos aner taking part in politics and, if need be, war,

36. The doctrine of phusike are te, found in EN 6, usually taken as being
compatible with the doctrine in the text, is in fact not soo
37. Politics 1253 a 31 ff. , compare EN 1153 a 3-8.
38. Politics 1260 a 12.
39. There is one passage which suggests that even he is not exercizing them
except when he is actually participating actively in politics (Politics 1277 a 29).
40. Politics 1260 a 10 ff.
348 A. W. H. ADKINS

in the best polis, and the contemplative man, whose activity i~ 'higher
than hmnan'.41 Both for Plato and for Aristotle there is an activity
more choiceworthy than pohtics, alJ.1d mOTe tham. hmnan. 42
The authors whom we have so far discussed for the most part
have a view of hmnam. nature which is part aptimistic, part pessimistic.
Plato in the Republic presented the ideal polis ao:lJd its philosopher-ruler
as existing phusei in a commendatory sense. True, probably after his
experiences in Syracuse and elsewhere, he concluded that the ideal of
the philosopher-ruler was unattainable, in part because the ruler's
'mortal phusis' 43 would prevent him fmm thinking of the polis rather
than of himself, in part because his i'l1tellectual grasp would be inade-
quate for the task [Laws 874Eff.]; bUJt even in the Laws [875C] he
insists that .should such ' a paragon occur, he or she should be given
autocratic powers. AristotIe is in a sense less pessimistic: he seems to
believe in the Politics thata community of leisured male Greeks with
no unduly rare charaçteristics could live the 'good life', an d attain to
'húman flourishing' and display their phusis in the best polis. 44 [Taking
Aristotle's course of lectures on the subject would presumably increase
their chances.] The 'best man' in the 'best polis' is not an impossible
dream. On the other hand, women, foreigners and slaves are incapable,
in Aristotle's view, of achieving human excellence and human flourishing
in the full sense. Both philosophers agree that phusis in human beings
is a 'potentiaJlity of opposli,t es,' and that nur'iure is as important as
nature. 45

41. EN 10.1177 b 26 ff.


42. Man is not the most important inhabitant of the cosmos, and - Aristotle
assumes without much argument - the facu1ty concerned with the finest and
best objects must be the finest and best facu1ty.
43. Diotima uses the phrase in Plato's Symposium, but the sense is differen t .
44. Plato and Aristotle must have known rather similar Greeks, and indeed
.for some years the sarne Greeks in Athens. The difference in their evaluation of
human nature is probably dúe to the traumas suffered by Plato dming the rule
of the Thirty [several of whom were dose r elatives] and at the trial and execution
of Socrates, whom he regarded as the best, wisest, and most just person he had
ever meto
45. The Stoic view seems to me mor e ' difficult to evaluate. Whether we take
the view that the goal is to live 'according to phusis' as referring to one's own
phusis or to that of the cosmos, it would appear prima fade that the individual
human being can do little about either of them, since everything is subject to
the ineluctable chain of causes. There seems little room for a 'potentiality
of opposites' in the Stoic cosmos. However, in the earlier PIa to, in Aristotle al1d
HUMAN NATURE lN THE PHILOSOPHICAL ETHICS 349

Today the glassy essence of the human being 46 has shivered into
smithereens. 47 Any significant consensus between one philosophical
school and another on human nature would be worthy of careful note. 48

in the Stoics, to live in accordance with 'human nature' was for the most part
represented a desirable and morally choiceworthy goal. Epicurus seems to agree,
though his grounds for doing so appear inadequate.
46. As Alasdair MacIntyre has recently reminded us, Atter Virtue, 2nd ed.,
Notre Dame University Press, 1984. This work, and James D. 'Wallace, Virtues and
Vices, Cornell U. P., 1978, are discussed later in this essay.
47. Different thinkers have tried to reconstruct it in different ways. The con-
frontation of the Old and New Testaments and the Graeco-Roman classics exerted
some strains, but did not break the glass. Many of the Fathers of the Church had
received the equivaleut of a university - and hence philosophical- education before
becoming Christians. Even those who were born inrto Christian families had to use
the language of intellectual life, which in the earlier centuries was still overwhel-
mingly Greek, and inevitably had non-Christian connotations. The alternative was
Latin. There too the available terms for the discussion of human nature had
connotations derived from Greek philosophy. The Early Fathers' ideas of the
rationality, 'fallenness,' and the mode of perfectibility of mankind varied from
writer to writer. The Christian tradition down to the present day has from time
to time been more influenced now by one early Christian writer, now by another,
sometimes with shattering results. Add the results of the blows, intended or not,
inflicted by [for example] Macchiaveli, Hobbes, Darwin and the Social Darwinists,
Hume, Marx, Kant, Nietzsche, Freud, Jung, the Existentialists, the Behaviorists,
the Ethologists, the Sociobiologists, and all who have fragmented homo sapiens
into homo economicus, homo ludens homo necans, one-dimensional man, gramma-
tical man ... The list goes on for ever.
48. It may be appropriate to juxtapose three different views to underline
the extent of possible differences: the ancient Greek, the Old Testament and
Rabbinic, ond the Existentialist. Plato and Aristotle certainly believed that human
phusis was a 'potentiality for opposites,' but that either a good or a bad hexis
could be produced by habituation. The person with the hexis would reliably
produce the good or ·bad actions falling under the hexis concerned. His behavior
would be predictable. The Old Testament, and still more the Rabbinic, tradition
held that there was a good spring of aotion and a bad spring of action in all
human beings, and that no-one ever can be relied upon to act in accordance with
the good oue. Now at least some of the Existentialists, as I understand them,
believed that to achieve Aristotle's ideal of ethike arete was to become 'inauthentic,'
a creature of one's environment, never making a choice of nation for oneself. What
was needed was to choose one's own values [as some said] or to perform an 'acte
gratuit,' an act chosen without reference to one's previous character or behavior.
The comparison may be made to Aristotle's disadvantage by emphasizing 'habit' in
'habituation,' since if anything is 'inauthentic,' a habit surely is. But to do so is
misleading. As we have already seen, Aristotle's agathos must have practical
wisdom, phronesis, as well as ethike arete. His prohaeresis is either a decision
made at the time with deliberation, or dependent on an earlier deliberation on
350 A. W . H. ADKINS

Evidently I cannot discuss here all the philosophers who are dis-
cussing human nature today. I propose to discuss two members of a
group of philosophers who, in the English-speaking world at least, have
revived interest in a long-neglected type of moral philosophy: virtue-
ethics, which will offer comparisons with Greek eudaemonistic are te-
ethics, based on determina te vtiews of human nature.
ln discussing James D. Wallace and Alasdair MacIntyre I shall con-
sider the following: [1] Does the position of either of them rest on a
determinate view of human nature [whether as something to be trans-
cended or something to aspire to]? 49 [2] Is there any problem for a
modem virtue-ethicist which Plato, Aristotle and the Stoics did not have?
WalJace presents himself as a twentieth-century Aristotelian. He
grants that muoh has happened in biology since Aristotle. But he argues
that nonetheless life is per se a normative concept that cannot be
understood apart from the conception of 'a creature's good.' 'Among
the facts about living creatures are how they live normally, under
what conditions they flourish, and what the proper functioning is of
their parts?' [P. 20]. 'The mode of life that is characteristic of creatures
of a given kind is the one that normal individuaIs oE that kind wiU
lead under favorable circumstances. These are all nOI1ffiative conside-

which a policy has been based. It is not a matter of mere routine. Hebrew tradition
holds that such reliability is not available. Existentialists hold that it is all too
available. Insofar as they aspire to a life of as many authentic actions as possible,
they are struggling to achieve unpredictability. Existentialists deny that 'human
nature' has any ascertainable meaning, for reasons too complex to discuss here.
Some philosophers - not existentialists - regret the indeterminacy of human
nature, since the possibility of an ethic based, like Aristotle's, on a determinate
view of human nature, is ruled out. Other Existentialists, such as Karl Jaspers,
regard such indeterminacy as the only chance of the human race to evade
destruction at its own hands. Most of those modern writers mentioned in note 47,
who are not philosophers in the present-day sense tend to be ignored by moral
philosophers, at all events in the English-speaking world. Few consider the effect
on ethical theory or practice if the theories of Freud, Jung, or Skinner about
human nature were generally taken seriously by other thinkers. I shall not discuss
the effect on this occasion.
49. The views of Plato, Aristotle and the Stoics are dear: the point from
which all human beings begin their lives is, fram an ethical point of view,
unsatisfactory. They differed over the means of making progress fram that point,
and over the possibility of achieving the goal by one's own efforts; but they
held that phusis supplied a determinate goal and that others could see whether
it had or had not been attained.
HUMAN NATURE lN THE PHILOSOPHlCA L ETHICS 351

rations.' [Presumably this entitles us to conclude that, for Wallace, the


good of any creature is at least to be a good specimen of the species
to which it belongs.] 'To establish what that mo de of life is demands
a great deal of knowledge - biological, in the case of non-humans.'
Are any problems of evaluatilJJ:g experienced by biologists? P. 22: 'Gene-
raJizat10ns about the data as a whole will embrace the defective and
unfavorable along with the normal and favorable, yet any selection
of the data prior to generalization in order to exclude the defective
organisms will presuppose the very distinctions that the study is
supposed to establish. The procedure appears hopelessly circular and
question-oogging' [,a nd if any moral philosopoor uses it he is likely to be
rebuked by his peers]. P. 23: 'What a bioll ogist does, however, is to
fit this problem into a vast network of concepts, classifications, theory
and lore. The broader his knowledge and the better his theories, the
easier this is apt to be. It is an indicatio'Il of the breadth and depth of
contemporary biology that this sort of thing rarely seems problematic.'
Wallace, so far as I can see, does not suggest the appropriate field
of study for throwing light on the human species. Sociobiology? stJ
History of values?
There are two possible responses to this situation. Either orre
should take a stricter line with biologists, or one should consider
whether moral philosophers can derive any benefit from the comparison.
ln the later 20th Century, there are severaI grounds for doubt over an
ethic based OTI a concept of human nature. One is that the human
race is subject to evolution and that this calls in question any value-
judgement made, since 'human nature' is not a constant. But all species
are subject to natural selection. sl Can a biologist predict which charac-
teristics of a species will confer an evolutionary bonus, and conse-
quently how the species will develop? And is there not a similar relevant

50. He does mention E. D. Wilson, the father of sociobiology, who himself


in his On Human Nature, Harvard U. P., 1978, quoted the American anthropologist
George P. Murdock's list of well over fifty characteristics, ranging from 'age-
grading' to 'weather control,' that have been recorded in every culture known
to history or ethnology. [Wallace might strengthen his case b y adding more
detail of this kind to his definition and discussion of human nature below. If the
virtues are to be chosen for their power to facilitate a life lived in a framework
of conventions, the more detailed the study of individual cultures, the better.]
51. This remains true, even if particular species are unaffected by it for
millions or tens of millions of years; and even if human evolution is now almost
entirely cultural.
352 A. W . H. ADKINS

question about the virtues, or the interpretation of them, in a rapidly


changing environment, supposing flourishing to be the goal? 52 Or must
one clarify 'living well' at his point? 53 Wallace's proposal Cp . 34] is that

'living a life informed by convention is natural for human beings


in much the sarne way that perception, nutrition, growth and repr o-
duction are natural. The fOrIner , however, happens to be uniquely
humano A human being who is incapable of taking part in activities
that require conventions is defective in the sarne sense in which a
dog that is incapable of perception or a plant that is incapable of
nourishing itself are defective.' 54 P. 38. 'The notion of a human 'task'
provides a basis for a similar study of human life and human good.
We study a creature that naturalIy lives a certain kind of social life
structured by conventions. Regularly we find language, politics, inquiry,
commerce, and arts among other things. Human beings have certain
physical and psychological characteristics, which determine certain
needs and interests. FinalIy, these creatures live in a certain kind
of world. 55 ln the course of living the sort of life that they naturalIy
lead, they regularly encounter kinds of problems. By studying this
sort of life, by noting the var ious purposes and goals of activities
that make up human life and the problems encountered in realizing
these purposes, we can come to understand what it is for a human
being to live welI and what characteristics of a human being contribute
to living well. ln putting the matter so briefly and simply, 1 do not
mean to minimize the extraordinary complexity of this task.' 56

52. See e. g. Karl Jaspers, The Future of Mankind, tr. by E . B. Ashron, Univer-
sity of Chicago Press, 1961.
53. 'Living welI as a roach or weasel' is certainly not Aristotelian. Only a
minority of human beings can possess eudaimonia, EN 1099 b 32.
54. Note that Wallace too is defining in terms of what a flawed such-and-
such lacks .
55. Wallace minimizes the differences in the conditions under which the human
species has existed even since the beginning of the historical record, and under
which . members of different cultures do today. The lk represent one extreme;
but even within Western Europe in 1988, the interpretation of the virtues and the
good life presents some differences as one crosses national frontiers. More broadly,
can we determine whether the Eskimo, the Samoans or the Scots 'live better' ?
ar do alI rank equalIy, each in their different environment?
56. WalIace add [p. 38]: 'Of course, one may at the sarne time approach the
matter from the opposite direction. On the assumption that certain virtues are
human excellences, what must human life and human good be like? 1 propose
to proceed in both ways.' But would it be possible to arrive at a list of excelIences
while having no knowledge of what human life and the human good are like?
HUMAN NATURE lN THE PHlLOSOPHICAL ETHICS 353

50 for Wallace the nature of mernbers of the human race is to


live a life under convention. 57
A few more questions. Has WalIace a 'human nature' which is in
any way determinate, or one whose esse is mutari? Can it determine
[a] what virtues the set of virtues is to contain? [b] what rank-order
they are to have? [c] which excel1ence[s] is [are] relevant at time t?
[d] what each of the exoelIences demands in general, and [e] which
should take precedence at time t? 58 Lex x and y be alternative actiocns
possible for A to perform at time t, and let y be an action prima faoie
more expressive of courage than x . Does WalIace enable us to say on
the basis of his view of human nature, 'true courage would have
demanded action x, but you did action y' . Or 'courage was not needed
here, but rather self-control or benevolence'? To take a dramatic
example: If an enemy had fired his nuclear missiles in circumstances
in which interception was impossible, would it require courage to
press the button in retaliation, or not to press it? One could ask the
sarne question about self-controI. Does one show it more by foUowing
orders with which one disagrees on moral grounds, or by refusing
to do so? 59
For Wallace, the virtues are the qualities which in all communities
would be advantageous to alI their members generally.60 They derive

57. Plato would possibly have been pleased by the linking of nomos and
phusis, though his use of nomos is not the sarne. 'Convention' here has the sense
of 'anything not given by nature,' not merely mores, but language and everything
termed 'culture'.
58. Below, Wallace groups together [1] courage and selfrestraint [2] honesty,
being faithful to one's word, and truthfulness as conscientiousness; and [3] bene-
volence. But it is a commonplace that being faithful to one's word and truthfulness
may clash, as may courage and benevolence. Where does practical wisdom
[phronesis] come in? Courage and selfrestraint are needed to carry out one's plans;
but what determines the appropriateness of a plan? Aotion in accordance with a
particular virtue presumably might not be a virtuous action, if one behaved with
courage when benevolence was needed in the circumstances.
59. Consider the Melian Dialogue, in which the Athenians attempt to convince
the Melians that the traditional Greek inter-polis values of resisting the aggressor,
on which the remainder of the free polis' values rested, were irrelevant against an
enemy so powerful. The Melians should think rather of self-restraint... The Athe-
nians do not attempt to convince the Melians that 'true courage' would require
them to surrender without a fight. A 'persuasive redefinition' can suceed only
if it seems to have some resemblance to traditional, or already accepted, usage,
values and behavior.
60. I take him to be referring to relationships within the community. Though
some will suffer for their behaving in accordance with the virtues, one is much

23
354 A. W. H. ADKINS

from the nature of community, and also from the situation of a human
being in a community. But there are commU!nities at ali kinds of levds
and sizes. ln Homer, the noble oik.os or household in peace, the local
contingent led by the preeminent agathos in war, are the relevant
communities. Between Homer and 'today,' tlie polis, tJhe kingdom, the
empilre and the iOJaJtion SltatJe have each had their day as 'preferred commu-
nity,' with smaller communities within them, and have equipped to
resist communities similar to themselves outside their borders. The
above example of the missiles shows tJhe importance of the topic.
The judgment as to which course of action diSiplays courage or self-
control seems likely to depend on the reference-community of the judgc.
Between a judge who holds that the appropriate reference-community
is the nation state in whioh he lives and a judge who holds that the
relevant community is here the world community there is likely to be
little agreement. Can Wallace establish which is the relevant commu-
nity? Since the world community is the species community viewed at
time t, surely :im any ciroumstances in which the destruction of that
community is possible, on the biological analogy the courageous action
to take is the one which gives the species the best chance of survival.
Wallace could reply on the basis of some of his arguments that the
sole function of courage is to ensure that the decision is taken without
fear; it does not furnish criteria, or guarantee that the decision will
be correcto The cri teria will presumably be derived from the conven-
tions of the community; but Wallace does not say whether these are
themselves subject to rational judgment.
MacIntyre's approach to virtue-ethics is more detailed, more empi-
rioaI, aJnd more historical. He discusses ethics at various periods in
terms of the virtues acknowledged and, if I understand him, regards
the sequence as in some way a natural sequence, an evolution. ln the
Homeric poems there is no idea of virtue, or rather are te, applicable
to all; there are simply different aretai for each kind of person, which
are applied to commend that kind when the person discharges his or
her social function most efficiently. 61 The justification for these aretai

more likely to be benefited during a complete lifetime. But whether Wallace is


concerned with it here or not, there are occasions when the whole community
is endangered by the virtues as customarily understood. Compare the position of
the Melians, discussed in the preceding note.
61. This is only partially true. It is true of the sucessful hero-warrior and
his chaste wife, but I see no reason to suppose that a minstrel, a farm labourer,
or a beggar, however efficiently they discharged their roles, would be said to
HUMAN NATURE lN THE PHILOSOPHICAL ETHICS 355

is given - and for MacIntyre in some sense must be given - in the


course of epic narra tive. 62 ln addition, 'Morality and social structure
are one and the sarne in heroic sooiety' [123]. 63
Furthermore [125]:

[C]ourage in herDic society is a capacity not just to face particular


harms and dangers but to face a particular kind Df pattern Df harms
and dangers, a pattem in which individual lives find their place and
which such lives in tum exemplify.64

Both MacIntyre and Wallace h01d that a morality totally free from
local situation and circumstance is probably a chirnera. To achieve
such a morality was the goal of what MacIntyre terms 'the Enligh-
tenment PlDoject.' It i,s in the afteI'math of the failure of this project, as
MacIntyre sees it, that After Virtue was written. 65 MacIntyre sees
modern society as a society trying to live with a set of incommensurable
moral concepts. Each was drawn originally from a different context of
situations and values. ln that context it had meaning and purpose;
it now has neither. MacIntyre strikes down all competing modem
ethical theories and systems. [The blows are not always deadly.] He
then retums to Aristotelianism as the most satisfactory moral philo-
sophy available. This move does not solve all his problerns: he accepts
neither Aristotle's metaphysical biology nor Aristotle's set of aretai,
nor the kind of polis that Aristotle regarded as essential and the social
harmony that went with it. One of MacIntyre's criticisms of Aristotle
is that he removes the tragedy from the universe. Since that was one

possess are te. There is an unqualified use of agathos and kakos, and it does not
refer to such peDple.
62. For MacIntyre, each successive development of the virtues requires a
different literary fDrm for its expression.
63. Furthermore, [the HDmeric poems] provided a mDral background to
contempDrary debate in classical [Greek] societies, an account of a now transcended
or part1y·transcended mDral order whose beliefs and concepts were still partially
influential, but which also provided an illuminating contrast to the presento The
understanding of herDic society - whether it ever existed Dr nDt - is thus a
necessary part of the understanding of classical society and Df its successors.
64. If one takes seriously - as one should - the different kinds of courage
and other virtues needed in different times and places, it is already somewhat
difficult to see how they can be unequivocally identified cross-culturally. When
MacIntyre introduces the 'practice,' it becDmes more difficult. [See below.]
65. It seems to me that MacIntyre and Wallace are, in different ways, still
affected by the Enlightenment Projecto [See below.]
356 A . W. H. ADKINS

of Aristotle's goals, presumably he would not be unduly upset by the


criticismo But MacIntyre's preference is for conflict, including tragic
conflict, apparently because it is a dialectical source of insights into
the human condition and a condition of development - by 'Darwinian'
testing - of human excellences from Romer onwards [until the Enligh-
tenrnent Project?].
MacIntyre attempts no overall account of human nature to replace
Aristotle's, which he has discarded, nor any proposals for a politics
which does fiOt need a polis. Ris principal theoretic contribution is
the concept of a 'practice,' which he defines on p . 187:
By a 'practice' I am going to mean any coherent and complex form of
socially established coopera tive human activity through which goods
internal to that form of activity are realised in course of trying to
achieve those standards of excellence which are appropriate to, and
partially definitive of, that form of activity, with the result that
human powers to achieve excellence, and human conception of the
ends and goods involved, are systematically extended.

[McIntyre gives examples: 'not Tic-tac-toe, but chess; not planting


turnips, but farming .']
'ln the ancient and medieval worlds the creation and sustaining of
human communities - of households, cities, nations - is generally taken
to be a practice in the sense in which I have defined it.' 66

And what is a virtue? P. 191:


'A virtue is an acquired human quality the possession and exercise of
which tends to enable us to achieve those goods which are internal
to practices and the lack of which effectively prevents us from
achieving any such goods.' 67 'ln other words, we have to accept as
necessary components of any practice with internal standards of
excellence the virtues of justice, courage and honesty.'

My other quotations from MacIntyre are drawn from his second


edition; but the text is not significantly different from that of the first.
ln his first edition, however, taking the painter's life as an example of
a practice, MacIntyre claimed that the goods internal to the practice
of painting can be obtained only by being a painter, and generally

66. Viewed as MacIntyre views it, modem politicaI life cannot be a practice.
67. MacIntyre amplifies and amends this definition later, but the comments
that I am making here seem not to be 'affected by the late version.
HUMAN NATURE lN THE PHlLOSOPHICAL ETHICS 357

that [sound] judgements of quality in praotices can be made only


by those who have participated in the practke under consideration at
any time [p. 177].
MacIntyre's 'goods internal to the practice' are the satisfactions
to be had by - and only by - those who have participated in this
practice, 68 69 including the satisfaction of this practice well practiced
and the abiLity to make informed judgements about the performance
of others in this praotioe. The satisfaotions of ioe dancing are not the
satisfactions of ice hockey, and one cannot assume that an expert
practitioner and informed judge of ice dancing will be an informed
judge of ice hockey.70
ln the second edition, however, there are two methods. To enjoy
the internal goods of the painter's life, oue may be either oneself a
painter, or 'wi:lling to learn systematically what the .. . painter has to
teach' [190].
I find both of these positions rather difficult. Is the first intended
as an account of the manner in which we discover the virtues, or are
the virtu.es discovered in some other way, 71 and is their rol,e in practices
a subsequent discovery? If their characteristics are discovered in prac-
üoes, and the courage of the painter is different form that of the quarter-
back, and one oan discover the nature of the painter's courage only
by painüng, how do we arrive at the concept of a virrtue exercised
outside the context of the practice to which it belongs? How do we

68. The Aristotelian ancestry of 'practice' is evident. Aristotle holds that the
aretai are energeiai when exercized, and that pleasure supervenes on any unre-
stricted energeia. A praxis, an ethico-political action, requires both phronesis and
ethike are te. The pleasure which supervenes on any energeia is not pleasure
unqualified: the pleasure of the nmner is not that of the chess player. That Aristotle
speaks of 'pleasure' and MacIntyre does not represents a widespread difference
between the Greeks and many of 'ourselves:' the Greeks have no word for
'satisfaction' which does not suggest satiety. We might say that X derives great
pleasure from playing chess or that he derives great satisfaction from doing soo
There is a choice of terms that the philosopher may draw on if he needs to draw
a distinction. The Greek will use 'pleasure'.
69. Note, for example, Aristotle's difficulties in EN 10.
70. One might be an informed judge, per accidens, if one had taken part in
both practices; but not qua expert practitioner of ice dancing.
71. MacIntyre seemed to be saying above that courage in Homer, which is
pre-eminently military courage, was different from even military courage in other
cultures. MacIntyre grants, 175, that the virtues are not exercised solely in
practices. Must they be acquired solely in practices?
358 A. W . H. ADKINS

recognize that the courage of the painter is, though in mauy ways
different, an iustance of the sarne quality as the soldier's? 72 What sense
of 'same' are we employing?
The additions of the second edition create more problems. MacIntyre
seems 'to be withdrawing his claim that only the practitioner of practice
x can enjoy the internal goods of practice x. But who are the persons
wh:o are will:1ng to learn systematically to what the parinter has to teach?
Are they pUipils who are to become practitioners thernselves? Or are
they to become oonnoisseLlrs and crities, or merely eduC:.::1..ted laypersons?
Al1d do those who are uot to be practitioners have to do anything other
than leam systematically what the painter has to teach, in arder to
gain the internal goods of the practice? If Maclntyre daims that they
need not, this seems to me to be falsified by experience. I have in fact
over a period of time watched a palnter who was obliging enough to
explaiu to me in great detail what he was doi'TIg as he was doing it, and
what eHeots he was hoping to produce. I learned much fmm what he
to1d me. But it had never occurred to me to surppose that, as a result,
my experience in any way approached his ex:pel~ience in painting the
picture. Nor, now that it has been suggested to me, does it appear
plausible. Some of the examp·l es ou p. 190 of Madntyre's second edition
suggest that Ustening to the expert in detail will make oue into a good
judge of baseball, others that it will make oue into a good baseball
player, ,a nd that it is possible to be a good judge of baseball without
having played baseball.
The point that I thought MacIntyre was making in the fi.rst edition
was a very Aristotelian one: that in behaving wiJth arete, that is to say
the excellence[s] proper to the activity in which one is engaged, one
enjoys a satisfaction - a good inteTnal to the practice - which is not
available m any other way. ln Aristotle, oue acquires both craft-skills
and virtues by doing ar making - under instruction - the things that
skilled craftsmen ar the virtuous make or do. After a certain poiut,
the pupi1 beoomes autonomous and does not need more instruction;

72. Winston Churchill, a competent amateur painter, remembered sitting


before his first blank canvas afraid to begin, until a friend, passing by took the
brush from his hands and made a broad sweeping stroke; after which the 'painter's
block' vanished. Had Churchill never tried to paint, he might well have scoffed
at the ide a that painting - which he took up as a recreation in difficult times-
requires courage. [Aristotle would never have accepted the suggestion that painters
need courage in order to be painters.]
HUMAN NATURE lN THE PHILOSOPHlCAL ETHICS 359

at which point, I take it, being now self-motivated he begins to enjoy


the good[s] internal to the practice. This may be MacIntyre's position
in the seoond edition too; but p. 190 as a whoJe suggests that the two
editions reflect two different views: [a] to acquire a practice and
thereby disoover the need for virtues in that practice, one has to do
what the skiUed practitioner of the pTactice in question does, undeT
instruction which requires actions, not merrely thoughts [b] meTe
instruction in words from a talented painter will enable one to expe-
rience the goods inteITIal to the practice of painting, and be a competent
judge of quality in paàntings.
Does MacIntyre suppose 11 possible to raise watching baseball,
listening to string quartets, ar any other activity prurasitic urpon a praotice,
to the leveI of a practice, providing that one pays attention to the right
teachers? Suppose X enjoys listening to string quartets, listens syste-
rnatioally wheneveT possible to the words and explanations of those
who play stringed instruments wdl, and ha·s read a good many books
on the subject. It had not occurred to me to clarim on X's behalf that
his experience as a listeneT, though lmdo'llbtedly an internal good, was
the sarne as the internal good[s] enjoyed by the players; and I doubt
whether the internal good enjoyed by the players is identical with that
of the oomposer whi1e he was composing the quartet, ar afterwards,
when he hears ar remembers the composition not merely as a fine
work, but a fine work that he himself compased. X, the quartet and
the COffiPOSeT are alI experienoing internal goods af some kind; but are
they alJ in the sarne pmctice, or in different practices ?
Whatever MacIntyre's answer may be, he holds that the argument
af the seoond edition oontinues to rule out subjectivism and emonivism
in pmctices. De gustibus es,t disp'lltandum. 73
I turn to other prroblems. Why caJ1110t a talentoo hut vicious practi-
tioner of a practice as MacIntyre defines it gain the goods interior
to the practice? Madntyr.e h3ls replied to his critios thrus [p . 193]:

'It is no part of my thesis that great violinists cannot be vicious 01'


great chess-players mean-spirited. Where the virtues are required, the
vices may flourish. It is just that the vicious and mean-spirited neces-
sarily rely on the virtues of others for the practices in which they
engage to flourish and aIs o deny themselves the experience of achieving
those internal goods which may reward even not very good chess-players
and violinists.'

73. lndeed, very many more persons are able to join in the debate.
360 A. W. H. ADKINS

This requires further analysis. The non-co-operative 'great violinist'


can enjoy one good intrinsic to the practice, since playing the violin
well is presumably such a good. Indeed, it is presumably the greatest.
The great violinist is relying on his great and now dead predecessors,
whom he can hardly treat badly, at least in ways which will prevent
him from enjoying the goods of their work. If he treats contemporary
violinists badly, he will not enjoy the gaod of camaraderie with skilled
coUeagues; but an honest, just and courageous vioHnist of a retiring
disposition is equally and perhaps more likely to miss those goods.
Does 'great' exclude the potentiaUy great who play less well than they
might because that is what the public applauds and rewards? 74 Does
MacIntyre cO'llsider the violinist who is scrupulo'lls within the context
of his practice, but totally unscrupulous at all other times? 75 Again, if
the problem noted above is really present in MacIntyre, how do we
come to have the idea of a virtue displayed not in a practice?
My account suggests that MacIntyre will have some difficulty in
giving an expositio'll of the human good, human excellences, which
resembles Aristotle's. Some parts of his argument - especially in the
first edition - suggest that his goal is to show that all practices per se
demand the exercise of all the aretai, each of which can be univocally
applied across practice-boundaries. Somewhere along that road one
might reach a coherent view of human nature. ln fact MacIntyre does
nat even want to do that. He does not want a coherent set Df practices
whose goals anel goods cannot conflict with each other. Again, MacIntyre
grants that there may be bad practices. [Would one need the virtues
in order to experience the goods internal to these practices?] Conflict is
beneficial, and the human good is to search for the human good. 76
ln consequence, Aristotle's phronimos, with his practical wisdom
extending over all the ethico-political concerns of the polis, is replaced
by a set of skilled practitioners in individual practices. MacIntyre
seems to suppose it impossible to reinstate government as a practice;
and if the goal were to produce complete social harmony, it is clear
that he would not wish to do soo

74. Is MacIntyre making matters more difficult for himself by choosing this
example? Had he taken the example of the conductor of a symphony orchestra,
the need for co-operation would have been more evident.
75. Compare the alleged possibility of using amoral or immoral means to the
end of theoria in some - in my opinion incorrect - interpretations of EN 10.
76. Has this any resemblance to [Plato's] Socrates' bios anexetastos ou biotos
anthropoi? It seems much more indeterminate.
HUMAN NATURE lN THE PHlLasaPHlCAL ETHlCS 361

Sa far as the modern thinkers I have discussed here are cancerned,


there is na cansensus on the characteristics of h1.liIIlan nature 'taday.'
The emphasis is rather on the essential 'openness' of the cancept. Sarne
are delighted by the situatiall, athers noto ln a paper af sarne fifty
minutes my discussions of human nature cannat be camprehensive.
I have tried to discuss a few tapics in a little mare detail, but I may
still be aversimplifying the thaught af twa complex baoks.
Let me now try ta render a little mare precise the differences
between the views of the ancient and the modem world, and perhaps
even suggest a reason far sarne of them. The view[s] of Socrates, Plata
and Aristotle are certainly based on a polis-ethic, and they themselves
would have denied that the 'good life' could be lived other than in a
polis, or that poleis could be created by non-Greeks, Plato's ideal polis,
the polis phusei, the polis of the Republic, depends an the objective
existence of clearly distinguishable types of person phusei; 77 Aristotle's
on the objective existence, that is to say the existence phusei, of diffe-
rent psuchai in men and women, agathoi and nan-agathoi, Greeks and
non-Greeks, slaves and freedmen. We have ta admit that in the eyes
of Aristotle virtually all of us are barbarians, living in a manner and
under a politicaI constitution that praves us ta be barbarians. 78 As has
aften been painted out, Aristotle's metaphysical biology supparts these
judgments; but it has less frequently been painted out that the plausi-
bility of the biaTogy rests, far any ancient Greek, an previous saciaI and
politicaI assumptions of the Greeks, sa fal' as cancerns human beings. 79
Any modem bialagist will claim that madem biology is nat like
that, but tatally 'objective' and 'value-free.' There are na hidden assump-

77. It does not strictly depend on the Theory of Forms or on philosopher-


rulers. The tripartite polis and the tripartite psuche are the organizing mo deIs for
the 'best polis: The Forms simply strengthen Plato's case, and enable him to root
the rulers of the polis, and the p olis over which they rule, in reality in the highest
sense. Plato does not claim that there are only fonr types of psuche. See e. g.
Republic 415 b .
78. Aristotle demands a citizen-body of gentleman-farmers, in a community
small enough to be addressed by a herald, and in which all members of the citizen
body - which does not mean all of the inhabitants - will in turn actively take
part in the government. Human phusis is only displayed to the hül in these adult
male Greeks in these circumstances. I see nothing to suggest that Aristotle, Plato
or Socrates would have admired our representative democracy.
79. All recorded Greek history and politics assumed the inferiority of women;
the - unexpected - defeat of the Persians by the Greeks in 480 and 479 produced
the view that Persians were inferior to Greeks and fit only to be governed in the
362 A . W. H. ADKINS

tions concerning vaIues; the biologist is concerned only with the truth.
WalIace is in some sense denying the validity of this claim; but what
he means is perhaps not aItogether clear.
To clarify matters, I will try to establish what WalIace does not
mean. When ecologists and bioJogists clash with the buiIders of dams
and motorways, there is a clash of vaIues; but evidently this is not the
normative aspect of biology that WalIace has in mind. 80
He is, presumabIy, thinking of the way in which arete-ethics sear-
ches for the aretai, the excellences, of the human being, or the good
man as distinot from the good child, woman or slave, 'good' being
interprreted as 'good specimen' - as, I take it, 'good man' and 'bad man'
are to be interpreted in the quotat1on from Ms. Anscombe with which
I began this paper. 81 Those who attempt to base virtue-ethics on human
nature sooner or Iater make the admission that human beings are to
be found nowhere in a state of nature - which is, of course, very
different from saying that they are nowhere found in a state of phusis.
But human beings are not ll[lique in this. The domesticated animaIs
are IJIot to be found only, o'r sometJi.mes at all, in nature but in culture. 82
Let tiS cOIJIsider WalIace's own exampIe: the dog. 83 What definition of
a good dog will cover the pekinese and the pirt bulI? 84 One might repIy

way in which they actually were governed, autocraticalIy, slaves of the Great King;
and most of the non-Greeks that most Greeks met were in the literal sense
slaves of other Greeks.
80. IronicalIy, the builders of dams and motorways are the traditionalists
here. Many ethical traditions take the view that the other species were put on
this planet for our use.
81. I am carefulIy distinguishing between arete-ethics and virtue-ethics here.
82. What is a 'good specimen' of a horse? Is it one that is untamed, ranging
over such uncultivated or uncultivable land that remains? One that comes from
domesticated stock, but is itself untameable or virtualIy so, a chalIenge to ride?
One that is docile, readily tamed, smalI in stature, a creature 'that a child could
handle'? One that is docile, readily tamed, talI, large in bulk, strong, and able to
puIl heavy weights? The answer is clear: it is alI of these, and more, depending
on what one needs the animal for. What is the 'real' or 'true' equine nature?
A Socrates could cause as much confusion among us by asking for a definition
of a 'good horse' or 'the excelIence of a horse' as did Plato's Socrates by asking
for a definition of a 'good man' or 'the excellence of a man.'
83. Aristotle had no problems with domestic animals: for him, a good horse
is defined in terms of its usefulness to man, EN 1106 a 20.
84. Wallace simply writes that a human being incapable of living a life struc-
tured by convention is an inferior human being in the sarne way as a dog without
HUMAN NATURE lN THE PHlLOSOPHlCAL ETHICS 363

that the Kennel Club has definitions of the good pekinese and the good
pit bull. Socrates might reply that the comparisan with human nature
and the good man demands that the definltion is given on the sarne
leveI of generaJity: one has a perlect right to ask for a demnition of the
'good dog' and 'canim:e nature' . Can one go beyond physical health as
the defirung characteristic of a good dog? Not even so far, since the
flat nose of the pekinese, a defining char:acteristic of the breed, produces
ill-health, and is known by breeders, owners and judges to produce
ill-heaJth; nm intelllÍgence o'r mental health, since some breeds of dog
are now very stupid and others neuro>tic. The Kennel Club dlid not at
any time prescribe that these breeds shou1d be unhealthy, stupid,
or neurotic, but it demanded characteristics which brought these
charac1)eristics in their traiu. [If one could canvass the opinion of the
pekinese, it wou1d doubtless prefer to have a nose through which
effioen:t breathirng was possible.]
But maybe this is a problem whkh does not exist beyond the
domain of culture: if we observe species in the wild, the problems will
vanish; surely we take an objective view aí the desirable qualities of
wild animaIs? 85 Perhaps if the animaIs are harmless or distant; but
if the neighbours of St. Jerome said 'now do be a good Hon: their words
were anthropocentric, protreptic, prophylactic, designed to persuade
Leo not to use those teeth and claws whose effidency is the mark of
any healthy lion disrplaying leonine nature at its best. No doubt the
biologist in his laboratory or in the field would judge differently.
At all events, Wallace must have meant something different by
olaiming that 'life is a normative concept.' There must be a norma tive
view in which the relationship between the creature studied and the
convenience of human beings plays no parto So let us consider a case
in which, so far as I know, the convenience of human beings has never
been involved.
The modem biologist takes a good specimen of anything living to
be one which possesses the characteristics which give it and/or its
species an evolll'tionary bonus for survival. But we do not know what

perception is an inferior dog. But he l1eeds more specificity than this if the
analogy is to be useful.
85. I have already considered endangered species which are endangered
because they interfere with human plans, il1terests, or comfort. 'The only good
hornet is a dead hornet' might spril1g to the lips even of a biologist who has
just beel1 stung by one.
364 A. W. H. ADKINS

these characteristics are, even with comparatively simple creatures,


because we do not know what is going to happen, even in the short
run. Take the case of the peppered moth, beloved of students of
evolution. So far as I am aware, the creature has never done any harm
to anyone, so that we can all, biologists and laypersons alike, be com-
pletely dispasls ionate. ln the light of Wallace's discussions , it seems
reasonable to suppose that for him too an animal's exceHences must
be those of its characteristics which enable either the animal itself, or
the population of the spocies of wh~ch it is a member, to survive to the
point of reproduoing ~tself. Now the 'good peppered moth' fluttering
in rural c1eanl,i ness is the peppered moth with light coloured wings,
smce such peppered moths are less easily noticed by predators than
are the darker ones: it will be likely to fare better than the melanic
specimens. ln urban surroundings, or rural surroundings that become
urban, the 'industI1ial' melanic will have the edge. It will be the 'good
peppered moth'. ln the wake of a 'clean air act,' ar the dosing down
of the f.actories, m an urban area, the c1eaner air will again favour
the les's clark peppered moths. So the speoifications of a good peppered
m01h may change over and over again. True, one may make the hypo-
thetioal claiJIn that if the surroU1l<dings become dark, melanic peppered
moths will flolLI'Ílsh. One may make the claim with some conficlence;
but one may be wrong none theless. The members of any population
of living oreatures have more than one pair of characteristics which
they possess in different degrees, and in circumstances as yet unforeseen
some other characteI1istic may prove more important for peppered moth
survival than the relationship of their colour to their backg:rounds .
Before the outbreak of myxomatosis, the speoification 'immune to
myxomatosis' was nüt among the cri,t eria of a 'good mbbit,' or 'leporine
nature at its bes'Í,' wheter reckoned from the rabbit's point of view
or from the biologist's. No orre knew which the 'good rabbits' were
going to be. We cannot say that even if in the long nLI1 it is unclear
what characteristics a:n anima l requiTes to survive, we can do so in
the short run. The myxomatosis outbreak was a quite new threat to the
rabbit popul'a tion, and it lasted only a few years. Wallace offers the
example of an organism one of whose structures serves to store sugar,
but also acts as an aooust.ic damper over certain wavelengths of sound.
The biologist, he says, will take no notice of the aco'Ustic properties
of the structure. But anyone can imagine changed conditions in which
an an:imal's ability to withstand loud sounds or to hear soft ones would
be of cruoial importance to its survival; at which point slight diffe-
HUMAN N ATU RE lN THE PHILOSOPHICAL ETHICS 365

rences in the configuration oE the sugar-storer which affected its


acoustic properties might well determine the way in which the species
developed, and the qualities oE the 'good specimen' changed. We should
be oonoerned not only with the immanent teleology oE the individual
animal, but with its role in the environment oE the population. 86 The
survival oE particular individuals cannat be guaranteed. IndividuaIs
with alI of the J1equired cri teria may not survive, less favoured specimens
may survive. The statistical probability that one group will prove 'fitter'
than another telIs us nothing oE the prospects oE any individual in that
gJ10Up.87 No immanent teleology here; the population is not itself an
organism. 88
Now what can we say of the 'virtues' of WalIace and MacIntyre?
Have they found a leveI oE speci:ficity which allows for alI likely
developments in the human condition without making the criteria for
virtue[s] so vague that their use becomes vacuous? And do they avoid
the term 'human nature' to avoid the difficulties I have just discussed?
Take WalIace's 'courage' and 'self-restraint,' qualities which enable
the agent to think purposefulIy about his situation without the distrac-
tions Df fear and desire. If one maintains that in any conceivable life
there will always be situations which evoke fear or desire, so that
there will always be need Eor courage and selE-restraint, is one saying
anything significant? 89 When Eear is the relevant emotion, the relevant
virtue is courage; but can anyone predict what courses of action courage

86. The sarne developments can occur in human culture. I have noted else-
where that were Achilles alive today, he would be either in therapy or in jail.
87. Do biologists in fact appraise individual animaIs? If a species is predatory,
then the individual members of the population who are the most successful
predators are presumably the best specimens. If good specimens starve, the
fittest survive, and the quality of the species is maintained or improved; as is
the quality of the prey, since at the population leveI the prey most fitted to survive
are on the whole those who do survive. But if the predai1:or is too successful, and
catches and kills alI of the prey, alI of the predators will starve also. If we accept
Wallace's account of the thought processes of modem biologists, surely this
situation - even if it rarely occurs - complicates the question of deciding what
a good specimen of the predatory species in question is like. This may have
implications for virtue-ethics; but I have no space to pursue them line of
thought here.
88. The likelihood that a particular type of ethical conduct will advantage
the agent in general, as Wallace says, is rather similar.
89. The Oxford philosopher R. M. Rare holds that courage should no longer
be regarded as a virtue, since its results in the nuclear age are too dangerous .
Should one therefore downgrade courage? One is unlikely to make cowardice into
366 A . W. H . ADKINS

will require irn different communities in different times and places?


Can we deny that in one society courage may require the performance
of action A, in another the non-performanoe of action A?
That virtue-ethics is inadequately specific as a guide to action is
a commonplace. Aristotle acknowledged that the subject-matter made
scientific knowledge impossible in his arete-ethics; but probably did
not see a problem in this, since his 'best specimen' men were designed
to be the entire citizen body of a small polis, similar iu education,
background a:IlJd interests, who might be expected to agree broacLly
ou what shouJd be done both generally and in specifk oases; to
qualify as phronimoi they needed to possess all the aretai; in a
simpler world they might in fact agree for the most part; and they
accepted that aretai were good for them in a desirable sense of 'good.'
That is to say, directly beneficial, not beneficial merdy in the sense
of improving the quality of life in the polis, and so indirectly good
for them, everr if in a particuJar case the agathos seemed to have come
off worse. This view depends on the previous history of arete, which
differs from the history of 'virtue.'
Wallace's virtues are not all desirable for the sarne reasons. We
may ask why they are held to f()lI'm a set. They are not different ways
of showing practical wisdom, and it appears that one might have
some of them and not others. Those who had courage and self-restraint,
defined as keeping calm in the face of terrors am.d pleasures so as to
bring practical reasoning into play, and no other excellences, would
have no motive for uot employing practical wisdom in a manner bene-
ficial to themselves alone. Agairn, suppose someone to accept all of
Wallace's 'virtues,' to what criteriOIl is he to appeal when there is an
apparent clash between the demands of two or more virtues? Modern
society is complexo The polis was quite oomplex too; but both Plato
and Aristotle simplified their problem by arguing for ar assuming a
determinate human phusis as an ideal, to which individuaIs might
or might not conformo Consequently, in addition to the aretai in the
full sense, those of the citizen in Aristotle'.s best polis, there were
- inferior - versions of aretai ar are te for womern and slaves. Aristotle
has no problem over this, since no-one expected aretai to be other

a virtue; it is much more common to employ a 'persuasive redefinition' and


distinguish what one calls 'troe courage': 'troe courage requires a sensible resolve
not to behave rashly, against the odds. After alI, being a predator is not the only
way to flourish.' Not alI persuasive redefinitions have a chance of success, of course.
HUMAN NATURE lN THE PHILOSOPHlCAL ETHlCS 367

than exclusive of whole classes of persons. Those modern moral philo-


sophers for whom 'virtue' and 'human nature' play an important role
usually demand a version of the concepts that is the sarne for all in
the sense that social, politicaI or econornic factors a:r e irrelevant. 90
We still have difficulties in applying the concepts, whether to good
persons or good citizens. However highly we admire our elected repre-
sentatives, we use 'human nature' of them, if at alI, to excuse their
mistakes and misdemeanours. Yet they need, and idealIy should have,
mental excellences which other good citizens not in a position of poli-
ticaI, administrative or economic power may possess but do not so
urgently need. A 'human nature at its best' attainable only by a pro-
portion of the community is distasteful to most of us; and if rather
over 99% of the population was excluded - as it would be by Aristode 's
definition - from such a desirable, there would be trouble; but we
have difficulty in defining an egalitarian version that goes beyond
supposing all possessed of a minimal rationallÍty, which constitutes
'human nature' on which 'human rights' may be constructed; and
though 'human nature at its best' is not prima facie nonsensical, it
seems to be little discussed in secular contexts.
ln short, the 'human nature' of the thinkers of 'today' whom
l have discussed here is indeterminate, and sofar as l can see could
not be made determinate on any terms acceptable to the thinkers
themselves or their folIowers. 'The life governed by convention is
natural for human beings' and 'the human good is to search for the
human good' enable no comparison between lives or actions of contem-
poraries, much less those remote in time or space. On WalIace's terms,
have we demonslt rable grounds for preferring any convention or set
of conventions to any other? Like many modern moral philosophers,
WalIace warks - as l have shown - with contextless and largely
unarticulated communities. Let me ask some more specific questions.
All communimes require courage; 91 but was the courage of the villein
the sarne as that of his feudal lard? Or, like the third class in Plato's

90. Not alI conventions give precedence to co-operative excellences. Consider


the convention of the duel. [One might argue that society, in accepting 01' imposing
this convention, imposed roles on a pattem of behavior whose occurrence it
could not prevent.]
91. Is this a by-product of the Enlightenment Project not rejected b y
MacIntyre?
368 A. W . H. ADKINS

Republic, is the villein not supposed to display courage or other virtues?


'Villain' in its more recent usage and spelling suggests that he was not. 92
I suggested above, p. 355 that MacIntyre had some problems in finding
an univocal usage of any virtue-term, or even isolating the concept of
'courage' or any other 'virtue' at all; and Wallace seems to have similar
problems. Again like many other modem moral philosophers, Wallace
seems to presuppose not exactly that all communities resemble modern
liberal democraoies, but that at least they could be adjusted at any
period of history until they became similar to such comm1l[lities. Hut
if a virtue is related to wellbeing of the community as a whole - and
Wallace evidently values some virtues on these grounds - it may be
that in some communities only some members will need courage
[Plato] or that the kind of courage which directly relates to the
defense of the polis is treated as the paradigm kind [Aristotle]. Aristotle
would, I take it, have said that in the 10th century no one on this
planet was enj.oying 'hl1iII1an flourishing'. Would Wallace agree? And
would he aIs o agree that one could not leap from the 10th century to
any kind of egalitari.an ethic and society in one or a small number
of bounds? MacIntyre oertainly has a sense of history, and of the
development of virtues over time; but has he any grounds for preferring
one or more practices to others? Do some practices have more 'internal
goods' than others? Is chess 'better for the character' than Rugby
football? Or are all practices equal in this respect? Are all conventions
equal? Is it totally unimportant which practices one chooses, or which
conventions are present in the society ln which one lives?
So far as I can see, Wallace and MacIntyre do not answer these
questions; and I find it difficult to see how one could answer them
without, as Plato and Aristotle do, preferring one form of society, one
way of life, one type of government linked with the nature of mankind
as they saw it. Only this can oHer any degree of specificity; and this is
not acceptable in liberal democracies. Indeed, the lack of specificity
in 'virtues' is not only a result, but seems to be a desired result, of
liberal democracy. That different people in different positions - the

92. I presume that 'W allace does not hold that the more opportunities a
community offers for the display of [say] courage, the better the community;
so that 'a land fit for heroes to live in' ranks below 'a land that only heroes could
live in.' [Aristotle has similar problems about war and the opportunities for
performing the kallista, most 'noble, of actions.]
HUMAN NATURE lN THE PHILOSOPHlCAL ETHlCS 369

ruler 01' rulers, magistrates, subjects and the wives of each of them,-
required different excellences, even if they carried the sarne labels,
was once taken for granted. And Aristotle suppHes a concept of human
nature to 'justify' his views. Few modem moral philosophers would
accept a 'human nature' which was not treated as possessed equalIy
by alI. This view, as we have seen, occurs rather infrequently in the
Greek philosophers we have discussed, and it is symptomatic of wide
differences between the ancient world and 'today.'
(Página deixada propositadamente em branco)
HOMEM ANTIGO E HOMEM DE HOJE
PERANTE A NATUREZA, A TÉCNICA E O PROGRESSO

R. M. ROSADO FERNANDES
Universidade de Lisboa

Para o homem do nosso tempo, mas especialmente para os que,


como muitos de nós, se dedicaram e dedicam ao estudo da antiguidade
clássica e do humanismo que daí resultou, é inevitável que se ponha
a questão sobre o que sentia o homem antigo face à Natureza e à
Técnica e que posição assumia ele perante a necessidade de controlar
a primeira, o que só poderia acontecer se dominasse a segunda. Domar a
Natul'eza e dela tirar os recursos para a sobrevivência do homem nesta
terra só é possível graças a um crescente conhecimento da própria
Natureza, no qual se pressupõe o aperfeiçoamento das capacidades
humanas, que eram já na antiguidade consideradas como as mais
excelentes de todos os animais da criação. Aristóteles (Part. Anim., 687 a),
ao afirmar que a Natureza deu ao homem mãos e não patas dianteiras,
cita a A:naxágoras que não tinha dúvidas quanto ao facto de que era
por possuir mãos que o homem era o mais inteligente dos animais.
Só que Aristóteles, movido aqui pelo seu pendor filosófico, comenta a
afirmação do pensador da Jónia e mostra ser preferível dizer «que foi
por ser o mais inteligente que tOttllOU as mãos». Isto explicava e ainda
hoje explica que o homem fosse adquirindo cada vez mais profundos
conhecimentos do meio que o rodeava e que pudes,s e pôr em prática,
na sua intervenção no terreno, os pri!l1cípios que ia deduzindo. De certa
forma muitos antigos acabaram por incluir dentro da noção de pro-
gresso o à vontade que sentiam no dOttllínio da técnica aperfeiçoada
a seu favor, ao retirarem da Natureza recursos alimentares e do subsolo,
riquezas que, juntamente com outras intervenções menos pacíficas,
lhes permitiam obter um certo domínio sobre as zonas em que habi-
372 R . M. ROSADO FERNANDES

tavam e seus habitantes e depois total domínio sobre o homem seu


semelhante que noutras zonas vivia. No entanto, não foi sem acidentes
que se progrediu no conhecimento e na técnica, uma vez que a própria
descoberta do fogo valeu severo castigo a quem o deu a conhecer à
Humanidade, certamente porque devia ainda vigorar o princípio de
que os segredos da Natureza eram pertença exclusiva dos deuses e o
seu conhecimenJto negado muito naturalmente ao homem.
A ideia do castigo de Prometeu é, no final de contas, uma invenção
humana que não aparece ao ar.repio do que geralmente se passa quando
algo de importante se descobre, sobretudo quando a descoberta dá ao
seu descobridor possibilidades de se distinguir entre os seus iguais
ou mesmo de deter nas suas mãos um instrumento que lhe confere
maior poder. Na antiguidade nunca foi uniformemente positiva a acei-
tação da cresoente facilidade com que o homem procurava fazer crescer
o produto da terra pela agricultura ou diminuir as distâncias pela
invenção do navio, para só falarmos de dois exemplos conhecidos.
Já Hesíodo na sua teológica má vontade considerava todo esse esforço
técnico do homem como um retrocesso próprio de um estádio bem
inferior ao que o mesmo homem tinha conhecido aquando dos tempos
justos da Idade do Ouro, em que a Natureza e Homem viviam em
comunhão permanente. No mito das Idades, mito pessimista, o homem
era um resto desgarrado e destituído de uma época melhor, em que
havia mais justiça, mais abundância sem esforço, mais concórdia entre
todos os viventes. Como pode o homem de hoje, homem da Idade do
Atamo, depois de ter passado pela Idade da Revolução Industrial (será
ela a verdadeira Idade do Aço?) encarar tal pessimismo que hoje parece
obsoleto e até em contradição com os progressos da técnica, que tanto
têm aliviado o ser humaJIlo das pesadas tarefas a que outrora proce-
dera, como homem livre ou como escravo? Perante tal progresso
técnico, como é possível ser pessimista e não encarar os mitos de
outrora como meras lendas, que nada têm a ver connosco e que, como
tal, devem ser entendidas e examinadas? Só que continuamos a ser os
mesmos homens e voltados para o passado ou para o futuro, conti-
nuamos a ter os nossos Prometeus, oontinuamos a culpar gerações
passadas, e nunca nos é possível chegar a admitir que o homem é
felizmente sempre parecido com o que o precedeu, a não ser que o con-
siga ultrapassar pela força interior de que soube munir-se.
Mesmo os pensadores antigos mais ligados à observação da Natu-
reza, como os Jónios, ou os mais materialistas, que tudo viam com-
posto de átomos, quer se tratasse da matéria, da alma humana ou
HOMEM ANTIGO E HOMEM DE HOJE 373

dos deuses, como Demócrito, Epicuro e o seu herdeiro romano Lucrécio,


embora cons~deTassem fundamental a compreensão do mundo que nos
rodeia, o desvendar dos seus segredos e, se possível, um cada vez
maior domínio sobre ela, nem mesmo esses conseguiam pôr de lado
a ideia de que a grande ameaça que sobre o homem pesava tinha
origem nos destemperos da Natureza, manifestados em catástrofes
naturais, em epidemias, em doenças, com a consequente destruição
de sociedades inteiras e de corpos humanos. Essa Mãe ameaçadora
podia por vezes aparecer encarnada nas figuras de deuses, mas, pouco
a pouco, o aspecto divino começa a ser vítima da dúvida constante,
como já é visível na posição de Hipócrates, quando no tratado sobre
o «Mal Sagrado», se ocupa da epilepsia e lhe nega origem divina atri-
buindo-lhe simples causas naturais. Contudo, mesmo que despojada
de algumas vestes sobrenaturais, durante mais de dois milénios vai a
Natureza permanecer Senhora e Mestra de corpos e de engenhos,
ameaçadora nas suas manifestações negativas. A descrição da peste
em Atenas por Tucídides, ou das epizootias no mundo animal cele-
brizadas em hexâmetros dactílicos nas Geórgicas de Vergílio, bem como
das catástrofes naturais que Lucrécio, o materialista, também em hexâ-
metros tentou perpetuar, como a destruição de montanhas por tremores
de terra, dão-nos a ideia da importância que o homem antigo lhe
conferia. Tal convicção não impede, contudo, que muitos considerem
que o esforço do homem, no sentido de conseguir melhores condições
para a sua espécie, era digno de admiração e correspondia a uma
escala de valores em que o progresso técnico rivalizava com o progresso
moral, desde que concebido para o homem «medida de todas as coisas»,
como Protágoras pretendia, malgrado a má vontade de Platão e do seu
Sócrates. Na veroade, tal como hoje, já se pretendia ver no progresso
técnico uma ameaça de desumanização, sem que primeiramente se
discutisse quais as finalidades da técnica utilizada e se elas serviam
ou não à melhoria da vida humana. POT isso os sofistas, que acredi-
tavam no avanço do saber humano em relação ao das gerações pas-
sadas, acabann por ser ridicularizados pela dialéctica concebida a
posteriori por Platão, que pretendia ensinar a virtude e estratificar
a sociedade humana, defendendo o ensino abstracto da matemática e da
geometria como ciências próprias para formar a classe dos «guardiões»
na sua república totalitária, negando qualquer importância à obser-
vação, como princípio científico que leva necessariamente à aplicação
prática das descobertas da técnica. Era esta actividade digna de escravos
e de gente de baixa condição, ao mesmo tempo que afirma ser a retó-
374 R. M. ROSADO FERNANDES

rica, cuja técnica era dominada pelos sofistas que dela faziam modo
de vida, um instrumento de aduJação para seduzir as audiências popu-
lares que desprezava. É Socrates que refere no Górgias, que por muito
bom que seja um constnltor de máquinas (se quisermos podemos tam-
bém entender por «engenheiro» o gr. mechanopoios) e por muito útil
que seja a sua profissão, nem por isso alguém bem nascido deverá
casar fi,lho ou filha com um descendente de um membro de tal pro-
fissão, de tal forma é injurioso o nome desta.
O testemunho de Platão é para nós da maior impO'rtância por ter
vindo a ser, devido à sua espantosa capacidade filosófica e inteligência,
o modelo de pensadores ocidentais, cuja Í1nfluência na fomnação da
consciência colectiva da nossa sociedade e na formação dos espíritos
dos que se destinam ao poder, foi sempre da maior importância.
De facto Platão está muito menos interessado na observação da Natu-
reza, do que no domínio do homem e do seu espírito, e por isso não
admira que recuse, como pouco sublime, qualquer téonica que torne
o homem mais livre e independente. Tão-pouco aceita o progresso
material como necessário, uma vez que é no reino do espírito e do
poder que se processa e aplica toda a sua «engenharia utópica», na feliz
expressão de Karl Popper, e na qual virá a alicerçar a sua cidade ideal,
as suas leis e o seu estadista. O nlósofo-rei não se deve preocupar
nem com a adulação do povo, que é a retórica, nem com as obras
públicas que são outros tantos trabalhos de adulação. É o que Sócrates
responde a Cálicles, no Górgias, por este ter esboçado o elogio a Temís-
toc1es, Címon e Péricles: «louvas homens que fartaram os Atenienses
de tudo o que estes desejavam. Diz-se que fizeram grande a cidade.
mas não se vê que ela está apenas inchada, que esta grandeza que lhe
criaram é uma espécie de tumor. Foi sem sabedoria e justiça que esses
homens de Estado encheram a cidade de portos, estaleiros, muralhas,
impostos e outras bagatelas do género.» (Trad. do Prof. M. Pulquério).
É difícil encontrar maior prova de má vontade para com um progresso
material que poderia contribuir para o bem estar dos atenienses e que
seria compatível com o progresso moral, visto pôr à disposição de um
povo meios que a todos podiam dar vantagem, nlilll esforço iguali-
tarista que virá a ser o timbre do progresso moderno, arpesar das
desilusões de que virá a ser vítima, conforme nos sugeriu há décadas
Raymond Aron.
Será difícil negar que o homem, apesar dos esforços dos ideólogos
em controlarem o seu labor, ou dos mágicos em o arrastarem para o
irraciona,l, ou mesmo de algumas igrejas em confinarem o seu génio,
HOMEM ANTIGO E HOMEM DE HOJE 375

O homem dizíamos nunca parou, no decorrer dos séculos, de organizar


as sociedades humanas em que vivia seguindo o processo natural, como
tão bem entendeu Aristóteles ao classificá-lo, como naturalista que era,
de «animal político » ou se quisermos de outra forma traduzir o zoon
politikon, de «animal social». As próprias leis elaboradas pelo homem
e que eram apresentadas por filósofos e historiadores como a grande
conquista que distinguia a sociedade humana civilizada da barbárie,
mesmo essas também eram concebidas segundo os princípios das leis
da Natureza, visto que também esta dispõe de leis para crescer e
manter-se, leis que ao serem ilnfringidas por qualquer fenómeno ime-
diatamente criam graves desequilíbrios, que podem levar à destruição
do ambiente e das sociedades que neste se inserem. O progresso técnico,
no entanto, nunca se confinou à fabricação de leis que só servissem
para limitar o homem nos seus excessos, pois outras promulgou que
protegiam e fomentavam a criatividade humana, para que esta cola-
borasse no desenvolvimento da sociedade concebida como um todo.
Esse processo de desenvolvimento, que obviamente tem de ser enten-
dido dentro dos limites impostos por cada época, caracterizava-se por
constante crescimento demográfico e pelo consequente aumento da
procura de novos meios financeiros ou de riquezas, principal causa
da guerra, como já detectara Tucídides (1,83) que entre as afirmações
que põe na boca de um dos políticos que intervêm na guerra do Pelo-
poneso (Arquidamo), nos comunica que «a guerra não é tanto uma
questão de armas mas de meios financeiros, pois só estes podem
tornar as armas de alguma utilidade.» Apesar do crescendo de mortan-
dades que se vai verificar no decorrer da história do mundo, quando
as nações se defrontam umas às outras, nunca deixará o homem de
acudir pelos meios da técnica e da ciência, afinal meios que o pro-
gresso tinha posto à sua disposição, às primeiras necessidades que
permitissem a sua continuação no planeta que habitava e habita, conce-
bendo esse progresso técnico como dirigido para o aumento da pro-
dução de que se alimentava, para o domínio do espaço, de forma a
mover-se mais rápida e eficazmente nas zonas em que vive, para a
destruição dos seus inimigos de forma a criar, se possível, uma força
dissuasora de defesa, quando não uma força que lhe permitisse ir
buscar alhures os meios Hnanceiros e as riquezas de que necessitava
para a sua auto-sufidência. Ao me smo tempo também era esse mesmo
progvesso utilizado para o estudo da preservação do seu corpo e da
sua alma face à doença, com todos os limites impostos pela religião
e pela magia que tinha de enfrentar, mesmo quando crente ou supers-
376 R. M. ROSADO FERNANDES

ticioso. Dificilmente o homem abandonou a prossecução do que achava


útil para a sociedade em que vivia e para o aumento do poder de que
dispunha e nunca houve força espiritual ou ética que jamais tivesse
tido a capacidade de interromper essa caminhada, lenta mas segura,
do homem para o poder e para o domínio do Universo. São esses
aspectos negativos, tantas vezes apresentados como casos da mais como-
vente heroicidade, que vieram incendiar os ânimos mesmo dos homens
pacíficos por natureza, que se impressionaram com a orgia do . poder
e a possibilidade, variável conforme as épocas, do domínio total do
espaço que conheciam, quando, nas fileiras dos exércitos de Alexandre,
de César, de Carlos V ou de Napoleão, subjugavam povos em nome do
império e de valores em que possivelmente até acreditavam. Tinham
porém de defrontar a Natureza, que era o seu grande obstáculo, a sua
grande inimiga, embora inimiga imparcial, porque igualmente difícil
para todas as partes em confronto. O frio, o oalor, as torrentes cauda-
losas, as tempestades, quando não a morte, eram acidentes que surgiam
amiude nessas caminhadas gloriosas, e que se não conseguiram levar
ao insucesso a formação dos impérios helenístico e romano, em casos
mais recentes, provocaram pesadas derrotas pelo frio e pela neve às
tropas bem equipadas de Napoleão e de Hitler, diante de Moscovo
e de Estalinegrado, apesar da disciplina e determinação do atacante,
que se viu impotente perante idêntica determinação dos atacados e
invadidos, ajudados estes pelo manto protector da Natureza, que parecia
tomar parte a seu favor na defesa do solo pátrio.
É inegável, contudo, que a expansão do poderio de um povo pelas
nações suas vizinhas ou mais longínquas até, dá como resultado que
daí se retire uma certa ideia de progresso, a que não é alheia a cres-
cente facilidade dos transportes, o incremento da ciência por se conhe-
cerem novas plantas, novas pedras, novos animais, a que acrescia o
desejo natural, agora saciado, dos naturalistas de conhecerem novos
costumes e novas sociedades. Muito disto nos dá a conhecer a produção
intelectual romana, em que se denota um certo optimismo quanto ao
progresso, mesmo na obra do velho Plínio, na qual ao mesmo tempo
que notamos algum saudosismo pela austeridade das grandes reali-
zações do passado, somos postos ao corrente da sua opinião negativa
pelas obras ditadas pelo luxo desenfreado, que tem sido ao longo dos
séculos o sinal ineludível do apetite nunca saciado dos povos conquis-
tadores. Em todo o mundo antigo já vemos prefigurada a aliança
entre a técnica e o poder, uma vez que este tem em mente não só
possuir os homens seus vassalos ou cidadãos, mas muito naturalmente
HOMEM ANTIGO E HOMEM DE HOJE 377

também proporcionar-lhes as riquezas que extrai da Natureza e a saúde,


de cuja conquista tratam seus físicos e médicos. Já na época imperial
Celso no proémio do seu tratado de Medicina nos diz que «tal como a
agricultura promete alimento para corpos sãO's, assim também a arte
médica promete a saúde para os doentes. Em parte alguma falta esta
arte, pois até as nações mais incivilizadas tiveram conhecimento de
ervas e de outros meios práticos para o auxílio das feridas e das
doenças. Foi contudO' entre os Gregos que esta arte foi muito mais
cultivada do que entre as restantes nações, mas mesmo entre eles não
o foi desde os seus inícios mais remotos, mas apenas alguns séculos
antes de nós.»
Não se pO'de contudo pensar que só por existir uma noção con-
creta e explícita de progressO' técnico, se deixaram de lado os aspectO's
irracionais da vida, desde a magia até à superstição mesmo em épocas
em que a abundância parecia indicar que o poder se exercia confonne
as leis da bO'a governação e com o apoio dos meios conquistados
pouco a pouco pela ciência e pela técnica. Sempre houve os que nãO'
acharam esse progresso técnico suficiente nem meritório, uns, como
Séneca, porque não o achavélllIl compatível com o progresso moral que
defendiam, outros, como PlatãO', porque o consideravam epidícticO',
visto estarem mais interessados em criarem sociedades utópicas geral-
mente de índole autoritária ou totalitária. Já nesta altura se definem
claramente dois campos, que não chegam a acordo sobre o que é o
Progresso e sobre a medida em que a técnica e a ciência devem intervir
no mundo natural para dele extrair a felicidade possível para o homem
e para a sociedade.
O homem de hoje, o homem da Idade Atómica, julgamos nós,
que se encontra a nível teórico, numa posição superior à do homem
antigo de há mais de dois mil anos, tanto no plano . filosófico, como
científico e téonico, como, ousamos dizer, no plano ético. De facto
comparada a sua situação com a do seu antepassado, que diferenças
nO'tamos, que sentido mais apurado da realidade, das coisas e da vida
humana em geral, comparada esta com a realidade antiga, em que a
distância era distância, a velocidade infinüamente menor, os meios
de investigação ridículos comparados com os de hoje, a capacidade de
matar o seu semelhante bem inferior em poder mortal, ao passo que
hoje a capacidade de oomunicar é incomparavelmente superior à de
outrora, a todos os níveis, que nada têm a ver com o homem interior,
com o homem pessoa humana (medida de todas as coisas como o fez
Protágo-ras). Hoje tudo é melhor, mais eficaz e mais próximo. Em que
378 R . M. ROSADO FERNANDES

medida houve todavia um progresso moral que acompanhasse esse


inegável avanço científico e técnioo?
A partir da última guerra mundial, o homem, nosso vizinho e,
segundo alguns, nosso irmão, conseguiu meroê dos progressos da Física,
de meios financeiros consideráveis e de recursos humanos de altís-
simo nível postos à sua disposição, chegar à desintegração do átomo
e da matéria, processo que pode desencadear, se for utiHzado como
força letal, os efeitos mais devastadores no planeta em que vivemos,
sem que seja possível limitá-lo nas suas consequências. Será este então
um uso imoral do progres,s o técnico, uma vez que este devia estar ao
serviço do homem para lhe fazer bem e não para lhe fazer m al? No
entanto, quando em 1947 se publicaram as actas de um dos Encontros
Internacionais de Genebra, intitulado Progresso Técnico e Progresso
Moral, podemos ler na intervenção do biólogo marxista britânico
J. B. S . Haldane uma interpretação optimista dos resultados atómicos
(nessa altura ainda controlados exolusivamente pelos Estados Unidos),
e ao mesmo tempo uma premonição do que neste mesmo momento se
está a passar a nível inte:m acional. Diz Haldane: «Eu acredito firme-
mente na possibiHdade de todas as bombas deste género, possibilidade
que será muito maior quando mais de um Estado a possuir, e que
será muito mais provável se os povos temerem a possibilidade do seu
emprego numa guerra civil. Se não forem destruídas, serão provavel-
mente empregadas, e algumas dezenas, talvez mesmo algumas centenas
de milhões de homens, de mulheres e de crianças virão a mOHer de
forma horrível, mas não mais horrível do que as centenas de milhões
que teriam morrido na nossa época, se Pasteur, Koch, Lister e outros
nunca tivessem vivido. » E acrescenta mais adiante: «Creio também
que se exageram os efeitos das bombas atómicas, mas elas poderiam
certamente matar a maior parte dos Ingleses. » Eis afirmações em que
um mal é compensado pela fraca consolação de outro mal ter sido
combatido, e eis simultaneamente uma falta de fé, estranha por parte
de um dentista, que não oonsegue prever que o poder devastador da
quase bomba de estimação, que então critica levemente, poderia ser
multiplicado pelos cientistas que a estudavam até níveis imprevisíveis
tal como aconteceu. Esta atitude é tanto mais bizarra, quanto Haldane
tinha peremptoriamente afirmado um pouco atrás a sua crença em
que «o progresso técnico pode ser um progresso moral para o produtor,
se este compreender o que está a fazer.» E se não estiver? E se estiver,
mas estiver mais empenhado na sua supremacia em relação aos outros?
HOMEM ANTIGO E HOMEM DE HOJE 379

Afinal de contas a situação actual é simples. Pela intervenção


atómica pode o homem proceder à destruição do seu planeta, ideia
completamente alheia ao homem antigo, em cujo número podemos já
inoluir os nossos avós, sobretudo no caso da minha geração. Embora
subsista ainda o perigo de catástrofes naturais e de epidemias que
podem ceifar milhares de vidas e destruir inúmeros haveres, este
potencial destrutivo completamente novo tudo sobreleva e de tal forma
que até foi eufemisticarrnente intitulado de «Dissuasor», uma vez que
nem o feiticeiro que o lançar está seguro de poder conter em limites
razoáveis o seu feitiço .
Temos assim vivido, nos países mais ricos, porque mais desenvol-
vidos, que não nos que só são ricos em recursos naturais, numa era
de paz sem precedentes, rodeados de conforto, se nos compararmos
com os mais pobres, ainda que circundados de erupções bélicas, que
assumem as formas mais diversas desde o terrorismo personalizado
à prosaica guerra civil, fenómenos violentos que malgrado os esforços
dos que os promovem não têm conseguido até agora pôr termo aos
avanços da técnica e da ciência ao serviço da produção, do bem estar
e da destruição, esta chamada agora de «convenciona!», se não pres-
supuser o nosso total aniquilamento.
Trata-se de uma novíssima forma de paz, que se ao mesmo tempo
permite aumentar pela biotecnologia a produção do planeta e outras
formas de riqueza e bem estar, por outro lado não consegue encontrar
mecanismo, porque isso depende das sociedades implicadas e da sua
crença nos valores éticos e de solidariedade humana, que encurte a
distância que separa as zonas desenvolvidas das que se encontram
em vias de desenvolvimento ou em retrocesso de desenvolvimento,
e nas quais habitam cerca de 750 milhões de seres humanos mal
nutridos, ou, sem usar o eufemismo, com fome.
As possibilidades de investigar e de produzir em tranquilidade
são de tal forma imensas, que contrariando em absoluto as predições
mais pessimistas do Malthusianismo, o mundo desenvolvido, já domi-
nados muitos dos aspectos mais difíceis da Mãe Natureza, produz muito
mais do que consome, e por ser lal"gamente excedentário é forçado
tristemente a lançar-se em guerras comerciais, que são guerras apesar
de não disporem de armas de fogo, entre aliados, ao mesmo tempo que,
por falta de solidariedade e de visão política e prática do futuro, não se
começa pouco a pouco a esboçar uma política não demagógica que per-
mita aos povos em vias de desenvolvimento, venderem os seus produtos
380 R. M . ROSADO FERNANDES

a preços compensatórios, de forma a poderem financiar o seu ensino, a


sua investigação e principalmente alimentar as suas populações.
Continua porém a progredir-se em todos oS campos da dência,
muito especialmente no das ciências bélicas, cada vez matando o
homem mais facilmente o seu semelhante, sem muitas vezes ter de
arriscar sequer a vida, no repto e no duelo a que forçava a arma
branca, como proclama D. Quixote ao oensurar a cobardia dos que
matavam oorn aVIDa de fogo e à distância. Por outro lado sentimos
por vezes, no caso da medicina, como que um escondido desejo de
atingir e assegurar a imortalidade do homem, muito embora flagelos
de novas e velhas enfermidades desafiem todas as tentativas , alimen-
tando com isso as casas dos curandeiros e oS santuários por esse
mundo fora. Quem pode negar contudo que há um progresso técnico
notável, mas quem pode negar também, que a par desse progresso há
uma incapacidade impressionante de o homem o fazer acompanhar
no seu foro íntimo e comportamento exterior por um correspondente
progresso moral? Até no caso do espectacular aumento da produção
de alimentos, aumento que só os que sonhavam com a Idade do Ouro,
podiam prever, até nesse caso são os países que mais produzem casti-
gados pelo avanço técnico que criaram, uma vez que o muito que lhes
sobra e que serviria ao bem da Humanidade, não encontra, ou por
falta de meios ou de interesse ou de interesses, os consumidores que
deveriam em princípio situar-se entre os mais neoessitados.
A conclusão é simples: estamos a pagar um alto preço pela paz,
e ainda bem que o estamos a pagar apesar de tudo, desde que a guerra
deixou de ser, não por virtude do homem, mas do medo que ele sente
a respeito do tal Dissuasor, o factor de estabilização (segundo os mar-
xistas a forma de o capitalismo oombater as crises de desemprego) ,
porque tudo forçava a reconstruir depois de tudo ser morto e reduzido
a escombros, mas que posteriormente vinha a ocupar algumas gerações
num esforço pI'odutivo não bélico.
Perante esta paz generalizada e não virtuosa, perante as ilimitadas
possibilidades de produzir mais e melhor, perante os avanços das novas
tecnologias que tornam todo o mundo no's so vizinho, perante as con-
quistas da medicina que asseguram mais baixos índices de mortalidade
e maior esperança de vida, perante tudo isto e mais ainda, como sejam
as desilusões que muitos destes progressos provocam, como deverá
I'eagir o homem, castigado por trabalhar demais, por produzir demais,
por investigar demais e por , apesar disso, não ter conseguido dominar
HOMEM ANTIGO E HOMEM DE HOJE 381

O caos e a desordem do seu planeta e substituí-los por uma ordem


humana e o cosmos que a todos contemp1a?
Será necessário que para isso abdique de muitos princípios que
desde menino lhe ensinaram. De facto só precisará de ser o melhor
da escola, se esse seu esforço servir de alguma coisa que não seja
somente a sua valorização pessoal e a adulação do seu egoísmo e dos
seus pais. Se assim for, a investigação, a experimentação, o estudo e o
trabalho que nos diferentes campos promover só terão sentido se servi-
rem para explicar melhor a presença da humanidade no universo, as
relações entre os seus semelhantes e para aumentar o conforto espiri-
tual e material possível durante a nossa humana passagem pelo mundo.
Só que ainda estamos longe de atingir esse interesse comum que
ligue as pessoas, os povos e as nações. A escravização do ser humano
e a posse planetária é ainda a ambição de alguns; o crescer em pres-
tígio e em riqueza passando por cima dos cadáveres de amigos e adver-
sários, é o desejo de muitos. Torna-se pois urgente, se porventura for
possível, uma concertação de ordem moral mais adaptada às realidades
do globo, que embora as mesmas de sempre, são, graças às possibi-
lidades de comunicação, de todos conhecidas.
Caso assim não aconteça receamos que o velho mito das Idades,
em que da Idade do Ow·o se passa para a da Prata e desta para a do
Bronze, desta para a do Ferro, desta para a do Aço e finalmente desta
para a do Atomo, continue a ser uma sucessão verdadeira. Só que desta
vez corremos o risco de não hav,e r tantas gerações para o futuro, caso
não queiramos aproveitar o progresso técnico de que vamos dispor
para o nosso progresso moral, visto que será ele mesmo a causa da
nossa destruição sem etapas, bem ao contrário do que pensava o hO'menl
antigo. Desde que a Natureza deixou de ser, por estar conhecida e
dominada, a nossa principal adversária, será o homem o nosso prin-
cipal inimigo, e o lO'bo do homem .como já os antigos diziam, a não
ser que se encontre, como nosso irmão que é, ao nosso lado na busca
, da felicidade para si e para os outros. Basta para isso que pense e tire as
conclusões necessárias do simples facto de que dispõe agora de poderes
que o substituem em muitos casos à Natureza e à sua força destrui-
dora ou criadora, mas que de toda a maneira o tornam capaz de
aniquilar, caso não acredite em valores que transcendam O'S seus instintO's
predadores, toda a Humanidade e a si próprio também, sem que com
isso nada venha a ganhar.
(Página deixada propositadamente em branco)
L'ORIGINALlTÉ DE LA PATRISTIQUE GRECQUE

GILLES DORIVAL
Université de Tours et Centre Lenain de TilIemont

Un texte de Clément d'Alex,andrie va nous aider à préciser les


temles dans lesquels peut être envisagée la question de l'originalité de
la patIlistique grecque. II est tiTé du Pédagogue, écrit dans les années 200.
Grâce au Christ, qui est l'éducateur, le pédagogue, de tous les hommes,
le pa'ien convrem apprend oomment o,r ganiser les multiples aspects de
sa vie quotidierme:
«Dieu a vouJu que la femme soit imberbe, fiere de sa seu1e oheve-
lure naturel1e oomme le oheval l'est de sa oriniere; mais il a o:mé
l'homme d'une barbe comme les lionset ill'a désigné comme un homme
par une poitrine velue; c'est le signe de la force et de l'autorité. ( .. .)
Et Dieu attache une telle irnrportance à cette piIosáté qu'il a fixé la crois-
sance pour les hammes au même moment que ae11e de la sagesse:
préoisément paroe qu'il aime la gravité, iI a rendu imposanrt l'aspect
de l'homme en l'honorant d'une respectable barbe blanahe. La sagesse
et la mi,s on blanchies par la réflexion n'aIlrivent à leur plein épanoui,s-
sement qu'avec le temps; elles fortifienrt la vicillesse par la Vligueur
d'une riche expérienoe, elJes presentent sa barbe blanohe oomme l'aima-
ble fleur d'une sagesse imposante et lui oonferent le drodrt à une con-
fiance tout à fait justifiée.
Tel est done le signe distinctif de l'homme: la barbe, par quoi iI
montre qu'H est un homme, plus ancien qu'Eve et le symbole d'une
nature supérieme; à Lui, Dieu a déddé que oonvenait la pilosité et il a
parsemé de poiJs tout le COIlpS de l'homme, mais le seul endroit glabre
et mou de son côté, iI le lui a enlevé pom en fabriquer le réceptaole
de sa semence: une femme déHcate, Eve, qui doit l'aider à la généraItion
des enfants et à la vie des foyers. Quant à lui - puisqu'il avait perdu
384 GILLES DORIVAL

la partie glabre de san corps - il resta homme et il montre ce qu'est


l'homme; et c'est à lui qu'a été accordé le rôle actif, oomme à elle le
rôle passif. En effet, les corps velus sont par nature plus secs et plus
chauds que les corpos dépourvus de polils. C'est pourquoi les êtres mâles
sont plus velus et plus chal1ds que les êtres femelles. ( . .. )
II est donc saorilege de maltraiter ce qui est le symbole de la nature
virile, la pillosité. Mais vOl1loir s'embeUir en s'épilant ( ... ), si on le fait
pour un homme, c'est le signe d'un efféminé, et si on le fait pour une
femme, c'est le signe d'un adultere; il faut éloigner et écarter de notre
vie le plus possible l'un et l'autre. «En vérité, tous l,e s cheveux de votI1e
tête sont comptés», dit le Seigneur; mais ils sont auss[ comptés, les
poils qui couvrent votre menton et même assurément oeux qui sont
partout sur votre corps. ( ... ) Ce qu'il faut arracher, ce ne sont pas les
poils, mais les convoitises» 1.
Les éditeurs et traducteurs français de ce texte soulignent à juste
titre que ce que Clément dit ioi est un lieu commun de la philosophie
hellénistique. Celle-ci n'avait pas accepté la mode des mentons rasés
qui s'était introduite dans le monde grec depuis Alexandre. De nombreux
paralleles paJens sont signalés dans les notes de bas de page: Chrysippe,
Diogene le Cynique, Épictete, Musonius, Séneque. Certaines expres,s ions
du passage rappeUent l'Iliade d'Homere. La doctrine de la plus forte
chaleur du mâle est énonoée par Aristote et Galien. La chute du texte
elle-<luême (<<Ce qu'il faut aI1racher, oe ne sont pas les poUs, mais les
convoitises») pOl1rmit être une formule stolcienne. Le tan de la page
rappelle oelui de la c1iatribe cy-nico-stoldenne 2.
Ce qui fait de oe texte une page de patristique grecque, ce sont
deux référenoes scripturaires: la premiere consiste en une allusion à
l'épisode bien COIl!IlU de la Genese ou Dieu crée la femme (2,18-25).
Voici la traduction des versets 21 et 22, que j'emprunte à M. Harl :
«Et Dieu jeta un égarement (ou: une torpeur) sur Adam et ill'endormit;
et il prit un de ses côtés et il substitua de la ohair à sa plaoe. Et Ie
Seigneur Dieu édifia le côté qu'il avait pris à Adam pour en faire une
femme et iI I'amena à Adam» 3. La seconde citation, signaIée par les
mots «dit Ie Seigneur», est empruntée au Nouveau Testament (Luc 12,7).

1. Clément d'Alexandrie, Le Pédagogue, III, 18-19, Sources Chrétiennes, n° 158,


Paris, 1970, pp. 45-46.
2. Voir H.-I. Marrou, «La diatribe chrétienne», Patristique et humanisme,
Paris, 1976, pp. 267-277.
3. M. Harl, La Genese, La Bible d'Alexandrie, Paris, 1986, p. 104.
L 'ORIGlN ALITÉ D E LA PATRISTIQ UE GRE CQUE 385

Donc, à nous en teniI' pour le moment à ces quelques lignes de


Clément, ce qui distingue un Pere grec de son contempo'r ain paien,
ce n'est pas le comportement: tous deux veulent être et sont barbus.
Ce n'est pas non plus la plupart des raisons données à ce compor-
tement: tous deux se réferent au même arsenal d'arguments contenus
dans la littérature et la philosophie grecques. Mais c'est la présence,
en plus, chez le Pere, des Écritures comme critere de vérité et d'argu-
mentation. Tel est le premier niveau ou l'on peut saisir l'originalité
de la patristique grecque. Qu'est-ce à dire?

CARACTERE PRÉGNANT DES ÉCRITURES


ET MÉTHODE D'INTERPRÉTATION

En réalité, les Peres grecs ne sont pas les seuls à donner aux
Écritures une te1le place. Les auteurs du judaisme hellénistique, notam-
ment Philon d'Alexandrie, et les courants gnostiques chrétiens recourent
dans leurs écrits, tout comme les Peres, en même temps à la culture
philosophico-religieuse de leur temps et aux Écritures. Mais celles-ci
se réduisent, chez les Juifs, à ce que les chrétiens appellent l'Ancien
Testament, chez les gnostiques, à des pages choisies du Nouveau Testa-
ment. En affirmant l'unité indissociable des deux Testaments, l'Ancien
préfigurant le Nouveau, 1e Nouveau accomplissant l'Ancien, les Peres
occupent une place originale qui permet de les distinguer des Juifs
et des gnostiques.
Dans la tradition patristique, la place des Écritures est pri.mor-
diale. II n'existe probablement pas d'ceuvres patristiques sans dtations
ou références scripturaires. C'est que ' les peres se dO'l1I1ent pour tâche
soit d'·e xpliquer par l'Écriture, sait d'expliquer l'Écriture. Or, en vertu
d'une regle d'interprétation empruntée à l'érudition hellénistique et
selon laquelle, oomme le disait Aristarque de Samothrace, il faut expli-
quer Homere par Homere, c'est l'Écriture qui explique l'Écriture. Aussi
la plaoe de l'Écriture est-elle nécessairement prégnante dans tous les
écrits patristiques.
Attachons-nous à dégager quelques aspects de ce caractere prégnant.
L'orthodoxie s'est constituée au travers de trais polémiques: contre
les Juifs, contre les gnostiques et les marginaux de l'orthodoxie, contre
les paiens. Or iI y a un élément commun à ces trois polémiques, pour-
tant différentes par bi.en des aspeots. C',e st la présenoe de Ieçons
d'exégese. On peut dire que la patristique consiste avant tout à donner
386 GILLES DORIVAL

des leçons d'exégese aux adversaires des chrétiens. Pour los orthodoxes,
si les Juifs, les gnostiques, les hérétiques, les paiens affirmemt ce qu'ils
affiI1ment, c'est parce qu'ils sont de mauvais interpretes de la Bible. On
pourrait multiplier les exemples et analyser de ce püÓ.nt de vue le Dialogue
avec Tryphon, un inter10cuteur juif, éorit par Justin au milieu du
Ue siec1e, ou le traité Contre les hérésies d'Irénée, ou enoore l,e Contre
Celse d~OrigEme. Je me 1imiterai à un seul e~emple: l,e Traité du Saint
Esprit que Basi1e de Césarée a dirigé au miheu du IVe siede contre
les ariens de la seoonde généJ1ation, Aeoe, Eunome et les eunomiens.
En vertu du principe phi1osophique selon leque! «Ies êtres énoncés de
Íaçon dissemblable sont de natUI1e elissemblabl,e», Aece oroit démontrer
que le Per,e, le Fils et le Saint Esprit ne sünt pas semblables; en effet,
selon lui, les ÉcrituI1es réservent des propositions difféI1entes au Pere,
au Fils et à l'Esprit; le PeI1e est énoncé lorsqu'il y a le tour préposi-
tiOll1nel €~ ou, «de qui», le FUs lorsqu'il y a Ot'OU, «par qui», et l'Esprit
lorsqu'il y a €'J Wt, «en qui». La réfutation de Basüe est d'ordre scriptu-
raiI1e. Elle oonsiste à montrer que les hérétiques ne trouvenrt auoun
appui dans les Écritures, qui appliquent indirfféremmenJ1: les trais prépo-
sitions à chacune eles personnes de la triniúé. En ce sens, en vertu même
du principe utilisé par Aece, l,e s trois personnes sont semblables. PaDIDi
la vingtaine de oitations servant à la rérfutation, Basile accorde une
place particuliere à Matthieu 28,19 (<<'B aptisez au nom du Pere et du
Fils et de l'Espl'it») ou 1es toois personnes, coordonnées par la particule
de liaison '){.(1.L sont sur le même plano Ainsi ce n'est pas au terrne d'un
raisonnement de type philosüphique que Basile réfute Aece. Tout au
oontraire: i1s partagent le même priLllCipe philosophique de base. Ce
sont des considémtions exégétiques qui pe:ru:nettent à Basile d'établir
qu'Aece est un exégete IDcompétent.

Passons à un autre aspect de oe rôle fondamen:tal de l'Écriture.


A premiere vue, les grands concepts théologiques élaborés par les Peres,
- ceux d'OOOL,(1., «être», d'Ó:(.!;ooúc)"toç, de epúO"tç, «nature», de 1tPÓCT'ú>1tO'J,
«personne», d 1ú1tócr"t"t1.O"tç, «hypostase» - , n'ont aucune coloration bibli-
que. En réalirté 1es Écritures s'Ü'nt loin d'être absentes. D'abord parce
que ces te:ru:nes prétenoont traduiTe le vrai seus des Écritures. Prenons
l'exemple d'ÓllooúcrtOç. Ce te:ru:ne, central pour définir les personnes de la
trinité, est, oertes, absent des écritures. Mais, lorsque, dams le texte
signalé à l'insúamt, Basile de Césarée veut montrer que les tJ10is per-
sonnes sorrt de même nature, il fait la démonstration que les tours
prépositionnels scripturairesÉv ou, Ot'OU et É'J Wt emploient pour chacune
L ' ORIGINALIT~ DE LA PATRISTIQUE GRECQUE 387

des perSOIlll1es. Ainsi, óp,ooúcnoç est d'une oertaine façon présent dans
les Écritures, eu ce qu'il eXiprime le sens même des énoncés scripturaires.
En second lieu, on peut montrer que l'Écriture a été au cceur de
l'élaboration de oertains de ces concepts. C'est le cas pour npócrwno\l,
dont l'adoption est due pour une part à la technique exégétique d'orig,i ne
paienne que M.-J. Rondeau appelle «la méthode prosopologique» 4;
deV'ant un texte, il faut se demander: qUJi. parle? est-ce Dieu, le Fils,
l'Esprit, Israel, l'Église, etc.? La formule prosopologique a joué rpendant
plusieurs sieoles un rôle :iJJnportant pour passer du donné révélé à la
fOI1mulation dogmatique; 1e conoept de personne intervient non seule-
ment dans le dogme trinitaire, non seulement dans le dogme christo-
logique, mai>s aussi dans l'ecalésiologie, oor npócrwno\l sert à désrigner
«non seulement la personne singuliere du Christ, mais atlJSsi le Christ
incluant en lui toute l'humanité».
Ce camotere prégnant des Écritures pourrait être étabH à l'a,i de de
bien d 'autres exemples. Nous en verrons une illustration lorsque nous
parlerons de la rhétoI1ique ohrétienne du modele et de la citation
bibliques. Mais il est urgent de se poser la question suivante: cet élément
d'originalité de la patristique n'est-il pas plus apparent que réel? Car;
en se référant sans ces,s e aux Écritures, ~es Peres ne forut peut-être
pas autre ohose que les paiens de la tmdition médio- et néoplatonicienne
aV'ec le texte de Platon. N'y a-t-il pas en fiait1: une communauté de
démarche et de méthode? Un texte d'Origene va naus permettre de
répondre à cette questiono
Voiei oe qu'il éorit dans le Traité des Principes, 10rsqu'iJ aborde la
question des ÉCI1itures divines: «On ne pensera pas ( ... ) que l'inspi-
ration de l'Écriture divine, qui s'étend à travers tout son COI1pS, n'existe
pas, sous prétexte que la faiblesse de notre intelligeuce n'est pas capable
de scruter à tmvers chaque mot les pensées secretes et cachées, alors
que le trésor de la sagesse divine est dissimulée dans des «vases» de
peu de prix et sans ornernents de mots, comme l'indique l'Apôtre:
'Mais naus avons ce trésor dans des vases d'argile, (. .. ) afin que la
foroe de la prnssance divine bril1e davantage' (of. 2 Cor. 4,7), sans que
le fard de l'éloquence hU!illaine se mêle à l'éloquence des doctrines.
Si en effet nos livres avaient entrainé les hommes à croire parce qu'ils
étaient écrits avec l',a rt de Ja rhétorique, ou avec la messe de la philo-
sophie, 'notre foi', assurément, consisterait dans l'art des mots et 'dans

4. M.-J. Rondeau, Les Commentaires patristiques du psautier (III-V siecles).


Vol. II. Exégese prosopologique et théologie, Rome, 1985.
388 GILLES DORIVAL

la sagesse humaine, et non dans la puissance de Dieu' (cf. 1 Cor. 2,5) .


Mais en realité tout le monde sait que 'la parole de cette proclamation'
a été accueillie par la plupart des hommes sur presque toute la terJ:1e,
et sait bien que leur foi ne réside pas 'dans les mots persuasifs de la
sagesse, mais une démonstration d'esprit et de puissance' (1 Cor. 2,4)>> .
Ouelques lignes plus bas, Origene cite l'Apôtre Paul: «Nous disons la
sagesse parmi les parfais, mais non la sagesse de ce monde, ni des
princes de ce monde, qui seront détruits» (1 Cor. 2,6). Il commente
ainsi: Paul montre que «la sagesse, la nôtre, n'a rien de COIIllIIlun, quant
à la beauté du discours, avec la sagesse de ce monde» 5.
Le passage que Je viens de citer fait apparaitre un theme important
et récurrent dans la patristique 6: celui de l'Etl'tÉÀWx. des Écritures, de
leur pauvreté rhétorique. Rien à voir avec le texte de Platon commenté
par la tradition platonicienne. Les Peres ont conscience d'avoir affaire
à un texte de référence original: pour eux le langage biblique s'oppose
au langage des hommes, qui se caractérise par un style (cpPcX.cnc;), qu:i a de
la beauté (xcx.ÀÀÓc;), de l'ornement (1tEP~~OÀ1Í), de la cohérence (&.xoÀovi}Ccx.),
un bel arrangement de mots. Rien de tel dans le langage biblique, qui
est pauvre et qui offre même des fautes de grammaire, des incohérences
logiques, des absuJ:1di'iés, des impossibilités. Cette pauvreté du langage
biblique est également soulignée par les paiens, qui, à l'image de Celse
ou de l'empereur Julien, en tirent argument pour affirmer que la prédi-
cation chréüenne s',a dresse seulement à des hommes grossiers et
incultes 7.
Ce dernier argument doit être réfuté. A la différence des paiens,
les Peres dans la nécessité de justifier leur texte de référence. Origene
s'y prend de deux façons: d'abord iI montre que le texte biblique est
habité par une force; iI agit, iI communique son «enthousiasme», comme
on peut en juger par sa diffus-ion sur la terre entiere et par l'attraction
qu'iI exeroe sur les hommes 8. En second lieu, Origene invoque la péda-
gogie divine: si les Écritures possédaient les beautés grecques, jamais
l'homme ne comprendrait que ce qui agit en elle est la vérité; on
croirait qu'elles ont du pouvoir par leur propre force; le charme d'un
5. Origene, Traité des Principes , introduction, traduction et dossier annexe
par M. Harl, G. Dorival et A. Le Boulluec, Paris, 1976.
6. On le retrouve au V· siecle chez Théodoret de Cyr, Thérapeutique des
maladies helléniques, I, 9-53.
7. Voir par exemple Origene, Contre Celse, VI, 1.
8. Voir le commentaire que M. Harl donne du fragment du Commentaire SUl'
l'Evangile de Jean d'Origene conservé par la Philocalie, Sources Chrétiennes, n° 302,
Paris, 1983, pp. 274-281.
L'ORIGINALlTÉ DE LA PATRlSTlQUE GRECQUE 389

texte entrainerait le lecteur et le tromperait: séduit par une belle suite


de mo.ts, il ne chercherait pas un sens digne de Dieu, il ne saurait pas
que le texte vient de Dieu. La pauvreté du style, les incohérences, les
absupcLités, les impo.ssibilités, obligent le lecteur à ne pas s'arrêter
au style, mais à chercher à déco.uvrir le seus inspiré par Dieu, - ce
qu'Origene appelle les «réalités». Dans ce travail sur les sens, le chrétien
se heurte à l'obscurité du langage biblique, so.n àcrci<pELCx. Elle est due à
l'incompétence rhétorique des écrivains sacrés inspirés par Dieu et se
traduit dans les textes par des maladresses, des hizarreries, des ambi-
guités, des discontinuités. To.ut comme la simplicité, elle a l.me fonction
pédago.gique: ce qu'Origene appelle les «pierres d'achoppemen1» du
langage biblique permet d'écarter les indignes, empêche le lecteur de
s'arrêter au sens apparent, permet à l'exégete de déco'llvrir le sens
profond.
Ce dernier se laisse décrypter grâce à la méthode allégorique. Retrou-
verions-nous ici la tradition classique? On sait en effet que l'allégorie
est une méthode de lecture mise au point par la tradition philosophique,
notamment sto.icienne, pour éviter les objections d'immoralité, d'impiété
et d'anth:wpomorphisme adJ:1essées aux textes d'Homere et aux mythes
grecs. DeI'riere la lmtre, un sens plus élevé existe, d'oI1dre physique
ou moral ou symbolique. Assurément les Peres sont h6-itiers de cette
méthodologi,e: pour eux, l'Écriture contient des enseignements pour
la vie chrétienne et d'autres portant sur les réalités spirituelles ou la
proto-histoire de l'humanité. Mais ce qui fait leur originalité, c'est que,
chez eux, l'aHégorie est essentiellement typologique: les événements de
l'Ancien Testament annoncent les événements du Nouveau, la venue du
Messie, la naissance, la prédication, la mort et la résurrection du Christ,
ainsi que son retouT à la fin des temps, et aussi les réalités chrétiennes.
Le Christ est ainsi la clef des Écritures 9. L'allégorie paienne, qui met
eu correspondance des mats et des choses, ne parait pas avoir co.nnu
l'équival'e nt de la typologie chrétienne, qui décrit, sous une histoire

9. L'allégorie typologique est un bien commun à l'ensemble de la patristique


grecque. Certes, chez les antiochiens, il y a une critique de l'allégorie alexandrinc,
jugée trop en rupture avec le sens historico-littéral, et ils proposent de lui substituer
la «théorie", qui, selon eux, serait plus clans la continuité du récit biblique. Mais,
clans les faits, c'est-à-dire dans les textes , la théorie des antiochiens ressemble à
l'allégorie.
390 GILLES DORIVAL

vratÍe, une histoire plus vraie encore 10: nous tenons là un élément
d'innovation au sein d'une. méthode commune.
Cet exemple peut-iI donner lieu à généralisation? Comment s'opere
la rencontre entre la tradi,tion grecque et les Écritures?

CHRISTIANISME ET HELLÉNISME

Revenons à la page de Clément d'Alexandrie. On hésite entre


plusieurs jugements: le lecteur bienveillant parlera d'une fusion assez
réussie entre la traditiou grecque et le chris6alIlisme; tel autre trouvera
le mélange confus, sans v'r aie profondeur et pour tout dire un peu
r1dicule; un autre jugera qu'on a ici un bel exemple de récupération
maladroite et saugrenue d'idées et de valeurs grecques. II ne s'agit pas
ici de trancher entre ces opinions, mais de voÍlr qu'elles refletent par-
faitement l'héstitation de l'historiographie antique et moderne sur la
maniere de situer la patr1stique par mpport a'llX humanités classiques.
Pour les uns, comme ·l e pa'ien Celse qui écriv:it son Discours vrai vers
170, le chri'süanisme n'est pas en continuité avec la tradition grecque,
iI n'en est pas une reprise; au mieux, i,l lui fiait des emprunts ma1adroits;
le plus ,s ouvent ii la caricature et opere des oontresens 11. La tradition
néoplatonioierune de la fin de l'Antiquité va dans le même seus: res
chrétiens nesout pas des grecs, mais des étrangers; oe sont des ignorants
et des iIncultes, qui apportent le bouleversement de l'innoVlation 12. Dans
son Commentaire sur la République, Prodos critique la «théosophie
barbare» 13. A II10tre époque, le grand historien Paul Lemerle parle de
«la fondamentale incompatibilité d'espnit entre l'heJ;léni,s me profane
et le chrism.:élJIlJi'sme patristique» 14. Ces partisaDIs de la solurtion de conti-
tin'llfité en1Jre patristique et hdlénisme reçoivent le renfort à premiere

10. Voir H..I. Marrou, Décadence romaine ou antiquité tardive? III'-IV' siecle,
Paris, 1977, pp. 73-83.
11. Voir Origene, Contre Celse, passim.
12. H.-D. Saffrey, «Allusions antichrétiennes chez Proclus le diadoque plato-
nicien», Revue des Sciences Philosophiques et Théologiques 59, 1975, pp. 553-563 .
Voir aussi les fragments du Contre les Galiléens de l'empereur Julien cités par
Cyrille d'Alexandrie, Contre Julien I et II , éd. P. Burguiere et P. l?vieux, SC 322,
Paris, 1985.
13. Prodos, Commentalres sur la République, II, p. 255, 21-22.
14. L. Lemerle, Le premier humanisme byzantin. Notes et remarques sur
el'lseignement et cultures à Byzance des origines au X' siecle, Paris, 1971, p. 44.
Voir aussi L. Jerphagnon, Vivre et philosopher sous les Empereurs chrétiens,
Toulouse, 1983.
L ' ORIGINALIT~ DE LA PATRISTIQUE GRECQUE 391

vue innatendu d'une pwtie de la tradition patristique, celle des fidéistes


et du COll:mnt antiirutellectuel. Tertulien, um. pere latin reru de culture
grecque, demande: «Qu'y a-t-il de comffiun entre Athenes et Jéru s alem ,
entre l'Académie et l'Église?» 15; pour lui, il y a discontinuité entre le
ehristianisme et la traditiOlIl cJassique; les mêler serait pe:rmettre
à la pensée paienne de meter sa loi à l'ÉvangiHe ou invirter à un amal-
game inoohérent; la supéTiorirté du christianisme, qui n'est pas une
phi1losophie, réside préoisément dans son <:aIraetere suprarationnel:
«je crois, parce que e'est absurde» 16. Le grec Tla tien lui aussi se défie
radicalement de la OUJltUITe grecque; champion de l'antiheUénisme, il
estime que l'aven.iT du ehristi,a nisme dépend de son aptitude à rester
un culte barbare 17. Plus tard, cerr,tains paJI'mi les moines grecs d'Orient
se feront une gloire de leur ignorance; il lem suffit de savoir lire les
Évangiles et les Psaumes 18.
Le second pôle autour duquel s'organise l'historiographie anrtique
et moderne afflirrme à la fois La eontinuité entre l'hellén~sme et le
chris1Jianisme et la supéruorité du secOiOJd sur le premier. L'hellénisme
serait une ,e squisse imparfairte du chrisüanitSme, ou encore une prrépa-
rat10n à ce dernier. A vrai dire, les Peres grecs ici n'innovent pas, mais
reprerJJneiI1t une idée chere au judaisme hellénis1tique, pour lequel,
comme on le voit dans l'reuVlre de Philon, la philosophie est une prépa-
ration à la théologie. Pour Justm, vers 150, chaque école philoso-
phique grecque, notamment la platOlIlicienne, a entrevenu un aspect de
la vérité, oar tous les êtres rationnels ont part au Logos, qui esrt le
Christ; la raisOIJ1 diVline a semé des graines de vérirté dans tous les
êtres créés à l'image de Dieu 19. A l'époque moderne, Werner Jaeger
a brillamment iUus1lré l'idée selon laqueHe la patristique cOlJ1siste dans
la fusion ha:rm.onieuse entre la propaideia qu'est la culture paienne
et la paideia qu'est 1e chnisti'arüsa:ne 20.
Ainsi voilà dessiecles que les uns sorrt persuadés qu'il n'y a jamais
eu de oOlJ101liation entI'e ehristianisme et hellénisme, tandis que les

15. Sur la prescription des hérétiques, 7.


16. Sur la chair du Christ, 5.
17. Discours aux Grecs.
18. Voir A.-J. Festugiere, Les moines d'Orient. I. Culture ou sainteté, Paris, 1961
et H.-I. Marrou, Histoire de l'éducation dans l'antiquité, Paris, 1948, pp. 472-484.
19. I Apologie, 46; II Apologie, 8. Voir H. Chadwick, Early Christian Thought
and the Classical Tradition, Oxford, 1966, pp. 1-30.
20. W. Jaeger, Early Christianity and Greek Paideia, Londres, Oxford, New
York, 1961; traduction française par G. Hocquard sous le titre Le christianisme
ancien et la paideia grecque, Metz, 1980.
392 GILLES DORIVAL

autres insistent sur les éléments de rapprochement. L'histaire même


du mot grec É.ÀÀT)\lLO'(J.ÓÇ reflete cette contradiction. Ce terme est dérivé
du verbe É.ÀÀT)'\ICSW, qui signifie parler grec. Au IVe siede avant notre
ere, chez Théophraste, le mot désigne la premiere des cinq qualités
du style, l'usage gmmmaticalement conect du grec 21 . Plus tard, il
désigne l'usage de la langue de la koiné, par apposition à l'attique pur.
A peu pres à la même époque, il s'emploie dans un contexte tout diffé-
root, un oontexte d 'acculturation, pour désigner l'imitation des Grecs
par les Juifs (2 Maccabées 13): l'hellénisme consiste à adopter les ma-
nieres grecques. A l'époque patristique, le mot désigne la langue et la
culture grecques, la paideia: mais, pour les uns, il est relativement
neutre du point de vue religieux, tandis que, pour les autres, il implique
la croyanoe aux dieux et s'identifie aLors avec le paganisme. L'empe-
reur Julien illustre bien oet emploi; les historiens Sozomene et Philos-
torge aussi, qui utilisent le mot pour caractériser l'esprit des réformes
de Julien; lorsque le code de Justinien (5, 11,9, 1) pade de l'impiété de
l'helléniSlIlle, il est clair que le vocable désigne le paganisme. En ce
demier seus, la relation entre christianisme et hellénisme ne peut être
que de l'ordre du conflit 22.
Le po1nt de vue que j'adopte ici consiste à tenir compte du point
de vue des uns et des autres et à affirmer que la patristique grecque
est à la fais en continuité et en discontinuité avec l'hellénisme. La rela-
tion avec ce dernier n'est done pas simple: il y ades élémeuts communs,
mais aussi des transformations, des innovations, eles ruptures. Vn tel
point de vue est d'autant plus justifié que la patrisüque et l'hellénisme
ne constituent pas des blocs monolithiques, mais sont traversés par
des contradictions internes et changent à travers les siedes: certains
Peres refusent l'hellénisme, dont d'autres veuloot faire leur mieI; les
philosophes palens, en général, se défient du christianisme, mais d'autres
ont pour lui tant de sympathie qu'ils se convertissent, ainsi Justin ou,
dans le monde latin, l'éleve de Porphyre, Marius Victormus 23 .

21. Voir aussi Diogene de Babylone dans L Ab Arnim, Stoicorum Veterum


Fragmenta, III, Stuttgart, 19642, p. 214, 13-14.
22. Tel est le terme utilisé à juste raison dans le titre d 'un livre élaboré sous
la direction d'A. Momigliano, The Conflict between Paganism and Christianity in
the Fourth Century, Oxford, 1963.
23. Voir P. Hadot, Porphyre et Victorinus, Paris, 1968.
L'ORIGINALITÉ DE LA PATRISTIQUE GRECQUE 393

Si l'on en croit la Clavis Patrum Graecorum 24, la Patristique grecque,


ce sont erwiron 420 auteurs, depuis les premiers Peres apostoliques
à la fiu du ler siecle jusqu'à Jean Damascene au milieu du VIIle siecle,
sau;s compter un tres grand nambre d'anonymes. Ce sont des milliers
d'ceuvres, dont beaucoup restent inédites ou mal éditées. Nul ne peut
prétendre connaitre chacun de ces auteurs, encore moirns chacune de
ces ceuvres. II fant se contenter de donner quelques coups de sonde.
Je me limiterai aux cinq premiers siecles, qui voient la naJssance de la
patristique chez les Peres apostoliques et apologistes, sa croissance
à la fin du IIe siecle et au cours du IIIe siecle avec Clément et Origene
et oe qu'il es't convenu d'appeler son âge d'or, illustré notamment à la
filll du Ive siede par les Cappadociens et Jean Chrysostome. Je procé-
demi de la maniere suivante. Pour le lecteur de la Patrologie Grecque,
de la Patrologie Orientale, du Corpus Christianorum. Series Graeca, des
volumes de Sources Chrétiennes, qui sont les principales colleotious
ou 1'on Lit les Peres grecs, la patristique grecque se présente d'abord
comme un corpus de textes re1evant de différentes formes littéraires:
quels sont les éléments de continuité et d'innovation par rapport à la
tradition palerme? C'est ensuite - peut-être - une façon d'écrire:
a-t-on le droit de parler d'une écriture chrétienne? C'est enco,re des
idées sur Dieu, l'homme, le monde: quelle est leur originalité? C'est
enfin un gerlI1e de vie que les Peres s'efforcent de propager: comment
se situe-t-il par rapport à l'hellénisme?

FORMES LITTÉRAIRES PA1ENNES


ET INNOVATIONS CHRÉTIENNES

Les plus anciennes ceuvres chrétiennes et patristiques appartien-


nent-elles à des formes littéraires héT'itées de l'hellénisme? La réponse
de Werner Jaeger est largement affirma1:ive 25. S'il ne distingue pas de
rapprochement paien pertinent pour les collections de Dits du Christ
(les Logia) et pour les Évangiles, en revanche les Actes reprennent un
modele classique; les Lettres de Paul et de Clérnent de Rome doivent
être rapprochées du genre de la lettre phi.losophique, bien attestée chez
Platon, Isocmte, Épicure et bien d'autres. La Doctrine des Douze
Apôtres, qui est le plus ancien manuel catéchétique, liturgique et disci-

24. M. Geerard, Clavis Patrum Graecorum, 4 tomes, Turnhout, 1974-1983.


25. Dans l'ouvrage cité à la note 20.
394 GlLLES DORIVAL

plinaire connu, développe des themes que l'on retrouve dal11s le traité
Sur la tranquillité de Démocrite et dans le Tableau de Cébes. Le sermon
ades rapports étroits avec la diatribe et la dialexis de la philosophie
grecque populake des Cyniques, des Épiouriens ou eles Stoi'ciens. La
littérature martyrologique a eles paralleles pai'ens dans les Actes des
martyrs paiens. Lorsque les Peres apologistes, au moment des persé-
cutions, veulenrt faire justioe des accusations de caIIlIlli.ba:11sme, d'a,t héisme
et de subversion, ils rédigent des apo,logies, qui sonrt des discours didac-
tiques, - un genTe bien oonll1u dans l'helléni's me. Le dialogue, à qui
Platon a donné ses lettres de noblesse, est uf~ilisé dans la controverse
avec les Juifs. La fiorme du protreptique philosophique, iHustrée par
Platon et Aristote ert qui ocmsiste à exorteT le lecteur à adopter un
style de V'ie philosophique, seule voie d'acces au bonheur et au bien,
est reprise par Cléme!nt d'Alexandrie au profit du chri,s tiamsme.
Sans doute POUlITarl.t-OIl1, ça et là, nuancer les analyses de Werner
Jooger, contester tel rapprochemenrt (aJinsi à propos de la Doctrine des
Douze Apôtres) ou au oont.raire en pl1oposer qu'il ne signale pas (par
exemple entre les collections de Dits du Chrisrt et la collection des
Apophtegmes des Sept Sages que nous a conservés Jean de Stobée
citant Démétrios de Phalere). Mais l'essentiel n'est pas là. Dans son
souci d'étabHr 1.liIl!e continuité entre la tradition hellénique ert la patris-
tique, WeI1Iler Jaeger en v-ient à négliger l'autre sOUlrce d'oú est sorti
le christ>iamsme, je veux dire le judai'sme, et notamment le judai'sme de
langue grecque: plutât que d'établir UJIl lien de filiation directe entre
la diatribe pai'enne et le sermon ohrétien, on songera plutât à l'homélie
juive, doa:1t l'existence est attesrtée dans la lit.urgie de l'époque du Christ;
au reste, le Nouveau Testament nous en conserve des exemples (ainsi
le sermon de Pierre en Actes 1,15-22). De même, la littéTature marty-
rologique doiJt avant tout être rapprochée du célebre passage OLI, au
chapitre 7 de 2 Maccabées, la mere et ses sept fiI.s préferent la mort
au reniement de leur foi juive. Quant à l'Apocalypse de Jean, elle releve
manifestement dJU même geJlJre littéraire que le livre de Daniel, la litté-
rature apocalyptique, si eu vogue aux alentours de l'ere chrétienne.
Sans doute n'a-'l:-on plus a;f,fai-re id à l'hellénisme au sens OLI nous
entendons ce mot aujourd'hui. Mais, apTeS tout, ce sont là des textes
grecs. Bt, parmi ces textes greos, il faut privilégier la Bible des Septante,
dont les livres Oil1't été tmduits à partir de l'hébreu entre les années
280 avanrt notre ere et l'époque du Nouveau Testament; certains livres
L'ORlGINALITÉ DE LA PATRISTlQUE GRECQUE 395

ont été oosmposés directement en grec 26. Comment ne paS faire de


rapprochemeni, par exemple, entre les 4 Livres des Grands Prophetes,
qui raconten1 la vie et la prédication d'un mspiré annançant un messie
à venir, et les 4 ÉvangiLes, qUli fant leréoirt de la vie et de l'enseignement
du dit messie? Ainsi l'heLlénása:ne auquelle christianisme ancien se réfere
revêt un sens un peu plus large que celui auquel l'on pense sponta-
néa:nent. Mais au nom de quoi disqualifierait-on Les productions du
j udalsme hel1énophone?
Revenons aux rf iormes tradiiionnelles de la l<ittémture grecque, afin
de mesurer ,La part de la continuHé et la part de l'innorvation que
présente la patristique. II est na,t urel que, dfcl[]js 1e dornaine de la théo-
logie, elle récUlpere la palette des formes philosophiques, et notamment
le geme du traité. Certaia:ls traités de patl'istique sont même peut-être les
meilleurs exenllpJes exiistants de telle ou telle fOJ:1ll1e philosophique par-
ticuliere. C'est ailll!si que le Traité des Principes d'Origene illustre remar-
quablement le type pa'ien du nraité de ph)"sique. Cornsacrés à l'analyse
des rapports enTre Dlieu, l'homme et le monde, les traités de physique
se composen1 nOl'fialemen1 d'une préface, qui énonce un programme
de réfutation et de recherohe, et de deux parties, qui ne sont pas sur le
mêa:ne .pLan: la premiere partie, plus oourte, consiste en une vue synop-
tique des questions de ph)"sique trairtées de maniere s)"stématique, la
seconde revient sur 1es sujets de la premiere et est faite de questions
partioulieres, qui corres:pondent à un but expUcirte de réfutation et de
recherche, selon le p'IIOgmmme défini dans la préface. La tradhion
pa'ienne offre pJusieurs e~emples de ce t)"pe de trai.té: l'Onirocriticon
rédigé par Artémidore au IF sdeole de notre ere, le Traité du destin
éCl'it dfcl[]js lesannées 200 par Alexandre d'Aphrodi,s e, La réponse que
JambHqueadresse, vers 300, à la lettre de Porphyre à Anébon sur les
Mysteres d'Egypte, le trarirté Des dieux et du monde rédigé par Salous-
tios vers 360, la Lettre que Prodos adms,s e vers 450 à l'ingénieur Théo-
dore sur la Providence. Bien entendu, toutes ces ceuvres offrent une
problématique prorpI1e, a:nai,s leur ressemblance formelle est hors de
doure.
La part de laoontinuité, qui est ici prirnordiale, n'exclut pas des
traits d'originailité. C'est ainsi que le Traité des Principes termine par
une réoapirtulation qui a pour objet de compléter l'exposé antérieur.
Une telle récapitulation parait absente de la tradition philosophique

26. Voir G. Dorival, M. Harl et O. Munnich, La Bible grecque des Septante.


Du juda"isme hellénistique au christianisme ancien, Paris, 1988.
396 GILLES DORIVAL

pa'ienne. En revanehe, il en existe quelques exemples chez les Peres:


ainsi le livre III de l'A Autolycos de Théophile d'Antioche. La récapi-
tulation théologique a évidemment un parallele bien connu: dans la
rhétorique classique, tout discours s'acheve normalement par une réca-
pitulation qui consiste à rassembler la matiere traitée et à la répéter
brievement. Mais la réoapitulation théologique se distilIlgue de la réca-
pitulation rhétorique en ee que, au lieu de résumer, elle complete.
Elle n'es,t done pas une simple transposition d'un procédé rhétmique.
La part de l'innovation est ioi réelle, mais Hmitée.
Elle parait plus grande dans un autre genre qui se rattache à la
théologie: les traités d'hérésiologie, qui dénoncent et réfutent les doctri-
nes des hérétiques. Certes, comme l'a montré A. Le BO'lllluec, ils dérivent
en partie de l'hi,storiographie grecque appliquée à la description des
courants de pensée; et les ouvrages polémiques ne manquent pas, chez
Plutarque, Lucien ou Sextus Empiricus. Mais la visée d'exclusion qui
caractérise nos traités parajrt être une nouveauté d'origine ehrétienne,
dont Justin est sans doute le pere 27.
Je passe maintenant aux genres qui relevent de l'interprétation
des textes. La li.ttérature exégétique constitue en effet une bonne partie
du legs patristique. Ce sont les érudits alexandrins qui ont mis au point
les regles d'établissement d'une édition sdentifique au moyen des signes
diacritiques comme l'astérisque et l'obel 28 . Fidele à cette tradition
savante, OrigEme, qui écrit entre 220 et 250, a édité la Bible grecque
des Septante selon les mêmes principes. Là ou il a innové par rapport
à la tradition alexandrine, c'est lorsqu'il a constitué ses célebres
H exaples, dont ne subsistent aujourd'hui que quelques bribes. Cette
Bible sextuple se présentait comme une synopse de six colonnes
donnant de gauche à droite le texte de l'Alnoien Testament hébreu en
caracteres hébm'iques, la transcription de l'hébreu en caracteres grecs,
la vers10n grecque d'Aquila (vers 130), celle de Symmaque (vers 165), la
Septante et la vers10n de Théodotion (vers 50). A certains livres, il y
avait une ou deux versions supplémentaires et anonymes. Soucieux de
composer un instrument de référence pour la controverse avec les J uifs.
désireux peut-être aussi d'atteindre le texte hébreu original de la Bible,
Origene est ainsi l'inven,t eur de la premiere polyglotte biblique.

27. A. Le Boulluec, La notion d'hérésie dans la littérature grecque, 2 tomes,


Paris, 1985.
28. H. Pfeiffer, History of Classical Scholarship from the Beginnings to the
End of the Hellenistic Ages, Oxford, 1968.
L ' ORIGlNALITÉ DE LA PATRISTIQUE GRECQUE 397

Origene a consacré la majeure part de son activi>té à expliquer la


Bible. Tout naturellement, il a utilisé les formes herméneutiques que
la tradition grecque luettait à sa disposition: Commentaires, Scholies,
Hypotheses, Questions et l'éponses et même traités. Je me limiterai
aux trois premieres. Les Commentaires sont un genl'e littéraire dans
lesquel un texte de référence (Homere, Platon, Aristote, les Tragiques)
est intégralement expliqué par unités de senso Le genre des Scholies
aux classiques se caractérise par la brieveté et le caractel'e clairsemé
de l'explication, mise en marge du texte de référence. Origene a con-
sacré des commentaires (en général perdus) à la Genese (jusqu'à 5, I),
Isaie (jusqu'à 30,5), Ezéchiel, Petits Prophetes (sauf Abdias), Psaumes,
Cantique des cantiques, Lamentations, peut-être Proverbes et Ecclésiaste
et, dans le Nouveau Testament, à Matthieu, Luc, Jean, Romains, Galates,
Ephésiens, Philippiens, Colossiens, Thessaloniciens, Tite, Philémon et
peut~être Hébreux. Les livres qu'Origene a pourvus de scholies sont
Genese, Exode, Lévitique, Nombres, Deutéronome, Psaumes et peut-être
Isaie et Ecclésiaste 29 . II ne semble pas qu'Origene ait composé d'Hypo-
theses; en revanche on connait une collection d'Hypotheses sur les
Psaumes attribuée à Eusebe de Césarée. Origtme n'est sans doute pas
l'inventeur des Commentaires bibliques, qui paraissent avoir été prati-
qués avant lui par certains gnostiques chrétiens (Basilide, Héracléon)
et par Hippolyte. En revanche, iI est l'inventeur des Scholies bibliques.
Commentaires et Scholies se multiplieront dans les siecles suivants.
Par exemple nous connaissons, au IVe siecle, huit Commentaires sur
les Psaumes ainsi que les Scholies sur les Psaumes d'Évagre, et, au
ve siecle, deux CümJI1lentaires sur les Psaumes et .quatre coUections
de Scholies sur le même livre biblique.
Quelle est la part de l'innovation patristique oons ce domaine de
J'interprétation? Elle revêt plusieurs aspects. D'abord il est possible
que la librairie chré:tienne soit responsable d'une innovation technique
intéressante: ceUe qui consiste à donner dans un même volume le
texte de référence et 1e commentaire. Les Commentaims chréHens citent
en effet intégralement le texte biblique qu'ils commentent. Au con-
traire, les Commentaires pa'iens de l'époque hellénistique forment des
volumes séparés; le t,ex1Je de référence est donné dans un volume à part;
un systeme de signes de renvoi et de 1emmes permet de passer du
livre commenté au livre commentaire. Mais iI est juste de dire que la

29. Voir P. Nautin, Ortgene. Sa vze et son oeuvre, Paris, 1977.


398 GILLES DORIV AL

mise en pages des Commenti;l!ires paiens est tres mal CO'l1l1ue à l'époque
romaine; ils présentaient peut-être la dispositiün attestée pIus tard
chez les Peres.
Une deuxieme irmovation parait mieux assurée. Les Peres sont,
semble-t-il, les IDventeurs d'une forme littéraire qui consiste à com-
biner le genre des Commerutaires et celui des Scholies. Elle porte tantôt
le nom d'Eklogai (ou morceaux choislis), nantôt celui de Stromates
(ou tapisseries), tântot celui d'Hypotyposes (ou esquisses), tantôt
encore celui de Glaphyres (ou sculptures, cisdures). Elle tiJent de la
schoHe en oe soos qu'elle éohappe au caractere systémat!i. que des Com-
mentaiTes, puisqu'elle consiste dans l'explication de passages chois~s
des Écritu:ms; toutefois, elle emprunte aux Commentaires leur aspect
d'amples développements.
Une illinovartion patristique toute proche consiste à enrichir le genre
interprétatif à raide de fomnes littéraires nouvelles. J'oo signalerai une.
Durant les deux premiers siedes, les homélies n'appa:rtiennent pas
encore à l'exégese savante qui nous intéresse iei; ce n'est pas un hasard
si le christlianisme de cette époque ne nous a pas laissé de discours
homilétiques dont l'eX!istence soit inoontestable; les homéllies sont alors
des discours occasionn:els destinés à rester omux. C'esrt avec Mélriton
de Sardes, Clément d'AlexfcllIlJdrie, Hippolyte de Rome et Origene que le
genre homilétique à proprement parler apparalt, comme sous-catégorie
du genre interprétatif. Certes les homélies scrlipturaiI1es ont souvent
une visée parénétique et veulent exhorter l'auditoire cmétien à la vie
vertueuse. Mais elles n'appart,i ennent pas pour autant au genre
protreptique et ne relevent pas d'une littérature moralri:satrice. Car,
fondamentalemoot, elles consistent en une explication d'un livre ou
d'un passage de la Bible. Elles forment, si 1'0n veut, un commentaire
oral des Écritures. Cette communauté de fomne littérnire entre les
Commen1Jajres et les Homé.1ies est bioo marquée par le fait qu'à
l'époque byzantme, des collections d'homé1ies sornt fabriquées simple-
ment en ajoutarnt des doxologies à des Com:mentaires. Origene a pro-
noncé pres de 400 homélies sur I'Ancien Testament et pn:~s de 120 sur
le Nouveau Testar.ment. Les aureurs les plus admirés dants I'Antiquité
étaient les Peres Cappadociens et surtout Jean Chrysostome qui, à
Antioche ou à Constantinople à la fin du IVe sioole, a oomposé environ
140 homélies SUl' l'Arncien Tes,t ament et pres de 500 SUl' le Nouveau.
Je passe mamtenant au genre historique. A. Momigliano a bien
dégagé ce qui fait l'originaHté des historiens chrétiens, et d'abord des
aurteurs de Chroniques oomme 1e Pseudo-Hippolyte, Jules I'African,
L 'ORIGINALIT-';; DE LA PATRISTIQUE GRECQUE 399

Eusebe de Césarée 30. IIs transforment largement la ohronographie hellé-


nistique en introduisaIllt une perspective proViÍdentiaHste; leurs chroni-
ques oommencent à la création du monde dont la date est cakulée
par référence à la Genese, elles font ressortir l'antéI1iorité des JUJifs, et
done des chrétiens, sur les pa'iens; el1es ohris,t ianisent le déroulement
des événements en lessituant par rapport aux SUcceSSLonS des évêques.
Eusebe de Césarée, un évêque du début du IV e siecle, est l'inven-
teur d'une nouvelle sorte d'histoire. L'histoire ecclési,a stique se caracté-
rise d'abord par de nouvel1es approohes: e'est taujours l'h1stoire d'une
nation en guerre, mais cette nation et cette gueI're ne sont pas ordi-
naires; e'est en eHet l'histoire de la guerre entre les chrétiens, qui
forment une nation d'orÍlgine transOOIlidam:te dont 1e ohef est le Christ,
et leurs ennemis, menés par le di,a ble qui essaie de polluer la pureté de
l'Église; les épisodes de cette guerI1e s'appel1ent peI'sécuticms et héré-
si.es. II y a ensuite une lI1ouvel1e éoriture. L'histoire politique - mili-
taire, diplomatique - , tradi,ti,oIlJIlel1e oonsistait à mêler UIl1 maX11I1unl
de discours, le plus SOUVeJ.lt Eictifs, et un minimlliIIl de documents
authentiques. Avec Eusebe, les propoI1uions sont inversé es. II privilégie
les documents par rapport aux disoaurs.
A la même époque, un nouveau genre histoI1ique est inauguré par
Athanase d'Alexandrie écrivant la Vie de Saint Antoine, le genre hagio-
graphique, qui prend la succession de la lirttérature martyrologique.
II a subi aussi l'influence du geme pythagoI1ioien dru iM:oç àV1Íp, qui
consiste à raoonter la vie d'U!ll homme divin: on peut oiter la Vie
d'Apollonios de Tyane par Philostrate ou les Vies de Plotin de Porphyre
et de J amblique. Dans la patl1istique, le saint homme devient l'unique
type d'homme parfait, le seul qui mérite une biogmphie. Des centaines
de vies de saints saIllt aiJnsi rédigées par les auteUI1S partristiques et
byzantins.
A ces nauvelles façOll1s d'éoI1ire I'histoire , caractérisées par leur
immense productivité, on peut opposer d'autres innovations patrisuiques
qui n'ont pas eu de vrai sucees. Eusebe, dans sa Vie de Constantin,
tente de présenter l'eJ.llpereur oomme un modele de piété; cela l'entraine
à négliger desaspects bi.en réeIs de son existence, comme 108 oampagnes
militaires, la oonduite politique, 1es passions humaines. Avec A. Momi-

30. A. Momigliano, «Pagan and Christian Historiography in the Fourth Century


A. D .», The Conflict between Paganism and Christianity in the Fourth Century,
Oxford, 1963, pp. 79-99.
400 GILLES DORIVAL

gliano, Ü'n peut parler d'échec. L'Autobiographie en trimetres iambiques


de Grégoire de Nazianze est un document passionnant, original dans la
littérature grecque, mais aussi isolé.
Avec oette derniere ceuvre, nous abordons la poésie grecque chré-
tienne. Pendant les trois premiers sieoles, elle consiste en des hymnes
(ainsi celui qui acheve le Pédagogue de Clément d'Alexandrie), 00 des
épitaphes, en des additions ou eLes j,nterpolations aux Gracles Sibyllins
juifs. Ce n'est que dans la seconde moitié du IVe siecle que la poésie
chrétienne prend un peu plus d'ampleur, notamment avec la rédaction
d'ceuvres ocrites en hexametres dactyliques: on possede environ 18000
vers de Grégoire de Nazianze; à la même époque sans doute remonte
la Vision de Dorothée publiée pour la premiere fois en 1984 31 . Du
ve siecle, datent les poésies de l'impératrioe Eudocie, la Paraphrase de
l'Evangile de Jean de Nonnos de Panopolis et le Psautier homérique,
ainsi que les Hymnes de Synésios. On pourrait encore citer quelques
nÜ'ms . Mais au total il y a peu de poetes chrétiens de langue grecque.
Et des formes poétiques traditionnelles sont completement absentes: la
comédie et la· tragédie notamment 32. Ce phénomene recevra son expli-
cation lorsque j'aboI'derai la question des valeurs chrétiennes et paiennes.
Ainsi, si l'on laisse de côté les formes littéraires poétiques, auxque1-
les il faut ajouter le genre du roman qui parait avoir été totalement
délaissé par les chrétiens jusque vers le VIIle siecle (Roman de Barlaam
et Joasaph) 33, ce qui frappe, c'est que les Peres ont adopté la plupart
des formes littéraires léguées par la tradition classique, quitte à les
transformer plus ou moins profondément. Ce double phénomene de
continuité et d'innovaüon se retrouve-t-illorsque I'Ü'n aborde la question
des styles présents dans la patristique grecque?

31. O. Hurst, O. Reverdin et J. Rudhart, Papyrus Bodmer XXIX. Vision de


Dorothée, Cologny, Geneve, 1984. Voir aussi A. H. M. Kessels, P. W. Van Der Horst,
«The Vision of Dorotheus (Pap. Bodmer 29) edited with introduction, translation
and notes», Vigiliae Christianae 41, 1987, pp. 313-359.
32. La tragédie intitulée La Passion du Christ, parfois attribuée à Grégoire de
Nazianze, est probablement postérieure à l'époque patristique.
33. II est vrai que les chrétiens trouvaient dans leur Ancien Testament ce
qu'A.-J. Festugiere a appelé «les romans juifs» (Esther, Jonas, Tobie, Judith). Mais ,
pour eux, ces livres relevent de la littérature biblique inspirée.
L'ORIGINALITÉ DE LA PATRISTIQUE GRECQUE 401

RHÉTORIQUE PArENNE ET ÉCRITURE CHRÉTIENNE

Lorsqu'on ht les Peres gI'ecs, on I'econnait en leurs écrits, selon


j'expression de M. Harl 34 , une double rhétorique, d'abord une rhéto-
rique oommune, identique à oeUe des écrivains palens, ensuite une
rhétorique spécifique, liée à la Bible et aux réalités de la vie chrétienne.
Par exemple, lorsqu'ils veulent parler du divin, les Peres font OOiIIJJIIle
les autres écrivains I1e1igieux. Ils se servent de l'anaLogie et des sym-
boles: la lumiere, la ténebre, l'océan. Ils utilisent la négation; Hs affir-
moot que ce qu'ils cheI1chent à dire est indicible; üs privilégioot l<es
adjeotifs composés avec le suffixe privatif - ex.; ils emploient des oxymo-
rons (la sobre iVI1esse, le sommeil vigilant, la douce blessure). Ils se
servent du vocabulaire eLe l'éminence, en multipliant les adjectifs de
sens favorable, les superlatifs et les mots composés sur - Ú1tÉp. Cette
rhétorique commune est particulieI'ement visible - et même, ànotre
jugement de moeLernes, voyante -, à partir du IVe sieole, chez les Cappa-
dooiens et Jean Chrysos tome , qui ont été les éleves de célebres rhéteurs
palens, comme Libanios 35. Mais iI ne faudrait pas croire qu'elle est
absente chez les Peres de l'époque antérieure, sous prétexte qu'ils
critiquent l'art de la rhétorique, comme nous l'avons vu dans le texte
d'Origene. Certes ils ont reçu une éducation plus philosophique que
rhétorique; mais cela ne signifie pas qu'ils ignorent l'art d'écrire;
simplement 1ls n'écrivent pas dans le but de montrer qu'ils savent
écrire; leur propos est de démontrer, et pour ce faire, les ressources
de la rhéto'r ique peuvoot être utriles. C'est dire qu'on ne trouvera pas
de grands stylistes avant les Cappadociens, mais des écrivains ordinaires.
A côté eLe cette rhétorique commune, il y a chez les Peres une
rhétorique qu'on peut qualifier de biblique. Elle repose sur le recours
systématique à la citation scripturaire, et cela de plusieurs façons
comme l'a bien analysé M. Harl. Le reoours à la citation biblique
rédigée à la premiere personne permet à l'écrivain et à son lecteur
de s'approprier les mots mêmes des personnages inspá.rés. L'accumu-
lation de citations autour d'un même sujet vise à créer un effet
d'imprégnation. L'éolatement d'une oitation à travers un texte, chacuiIl

34. M. Harl, «Le langage de l'expérience religieuse chez les Peres grecs», Rivista
di Storia e Letteratura Religiosa, 1977, pp. 5-34.
35. W. Jaeger, op. cit., pp. 68-85, a notamment analysé l'influence de la mimésis
sur les homélies de Grégoire de Nazianze et sur les oeuvres de ses contemporains.
402 GILLES DORIVAL

des mais de I'Écriture éta'l1lt repris à plusieurs reprises et étarnt com-


biné avec les autres mots de différentes manieres, crée une véritable
trame biblique et constitue un style original.
Aux citaüons sCIiipturaâres on peut assimiler les modeles et figures
bibliques, autour desquels iI arriv,e que les textes patristiques s'orga-
nisent. Je choisU,mi un exemple dans un domaine apparemment inat-
tendue, celui qui passe pour avoir subi Le plns l'inHuence de la seoonde
sophistique 36. On pense spontanément que, dans leurs di's oours d'apparéllt,
les Cappadodens et Jean Chrysostome repmduisent fidelement, oonfor-
mément à la doctrine de la !J.Cp:rjCnc;, de l'imitation, 105 regles rhéto-
riques tréllditiOlIDel1es. Bn téllÍt la Bibl,e joue U!I1 rô1e f'o ndamental dans
leur éoriture. L'Éloge funebre de Basile de Césarée écrit par son jeune
frere Grégoire de Nysse en 381 n'est pas un véritable éloge funebre:
ii ne CO!I:1tient ni manifestation de doulerur, lliÍ lamentations, ni conso-
lation. II se rapproohe plutôt du xa.1}~pà\l ÉyXW(..I.LO\l, de l'éloge pur et
simple, dont les éléments oonstitutifs sont, si l'on suit Théon et
Ménandre, les suivants: un prologue, ou 1tPOOt(..l.LO\l, présenliant une ampli-
fioaüon, ou ~ÜÇ'l1úLC;; puis U!I1e louange, ou E1t~LVOC;, composé de huit
,Ó1tOL: quatre relatifs aux qualités naturelles (1t~,pCC;, yÉ\lOC;, yÉ\lEúLC;, Cj>úút.C;,
la patde, la famille, la naissance, la constitution natUlldle), trois portant
sur les quaLités morales (ci\l~'t"po<p1), 1t~LÔEC~, É1tL't'l1Ô:EÚ(..l.~'t,~, la petite
eruance, l'éduoation, les occupations) et le dernier conoemant Les hauts
faits (1tpiiÇL<;); chague 'Ó1to<; est développé par une comparaison, une
úÚyXPLúLC;, avec U!I1 grand homme; enfin un épilogue, é1tt).oyoC;, conclut
l'ensemble. A oe sohéma, Grégoire apporte UIlle modification essentieHe:
au lieu que La comparaison soit répartie entre l'e s topoi, ce sont ces
derniers qUJi sont intégrés dans les comparai sons 37; Grégoire met Basile
en paraHele avec Paul, Jean-Béllptiste, Élie, Samuel et Mo'ise, l'idée étant
que Dieu a pourvu tous les âge~ de I'humanité d'un homrne à chaque
fois capable de la conduíre au salut. Les topai intervierment oons oe
cadre compamtiif: BasiLe a reçu une double éducation, chrétieIlJIle et
pa'ienIle, comme Moise avait reçu à la fois l'éducation juive eIi l'éduoa-
tion égyptienne; sa naiSlsanoe résulte d'un mimcle, oomme ceHe de
Samuel; son ascétisme est comparable à oelui d'Élie et de Jean-Baptiste;
son amour pour les hommes peut être rapproché de celui de Paul.
Ce faÍlsant, Grégoire de Nysse dégage les vertus pliOpres de Basile.

36. Je dois cet exemple au mémoire de maitrise de F. Alpi soutenu en 1978


à l'Université de Paris V sous la direction de M. Harl.
37. Sauf dans le cas de la patrie et de la famille.
L'ORIGINALITÉ DE LA PATRISTIQUE GRECQUE 403

Comme on 1e voit, le reoours à l'Écriture bouleverse les d:gles de la


rhétarique. Ses olass1mcations lais~ent la place à des modeles hibliques,
qui organisent la matieI1e de l'éloge. Grâce à cela, l'Eloge funebre de
Basile dev1ent une étude symbolique, qui recense les signes de vertu
et de saiuteté de Basâle. La B~b1e est ainsi inspiratrke d'une nouvelle
rhétOlfique.
L'analyse de l'ensemble des écrits patristiques confinnerait sans
aucun doute cente comdusâon. Ce qui signe les écrits des Peres grecs,
e'est la pDésenoe de oi·tations et de modeles scripturaires, qui constituent
eomme autam1 de moments ou leurs te~tes prennent leur respir.ation.
II existe une belle fiormule d'Origene, selon laquelle les Éeritures sont
éerites «avee U[l style paur ainsi dilr e divin»: grâce à la rhéto.r ique
biblique, il y a quelque ehose de ce style div1n tres spécifique dans
les plus réuStSÍles des reuvres patristiques.

PHILOSOPHIE PAXENNE ET THÉOLOGIE PATRISTIQUE

Ce sont les paiens de l'Antiquité eux~mêmes qui naus invitern,t à


tenter de eomprendre les rapports qui existent entre la philosophie
paienne et la théologie patristique. Car, selon eux, les ohrétiens ne
sont pas néoessairement extérieurs aux valeurs de la philosophie. Certes
les images que les paiens ont le plus souvent d'eux fie vont pas en oe
sens: ils voient le ohrisiiamlÍsme oomme une superstition étrangere aux
saines traditions, fanatique, caractérisée par l'impiété, 1'athéisme ,
l'immoralité, et I1esponsable à ce titre de tous ' 1es cavadysmes survenus
dans l'empire, ou bien oomme une assooiation religlieuse vouée au
Christ, oomparable à d'aUJtres thiases de l'empire romarl.n, ou enoore
oomme une 's ecte }uive rebelle dominée par un certain Chrestos (Suétone,
Claude, 35,3). Mais, pour l.e médecin et philosophe Galien, les chrétiens
forment une éoole philosophique, earaetérisée par le mépris de la mart,
la tempéramce alimentaire, la poursuite de la justice; dans la morale,
ils sont exemplaires, même si, dans l'argumenrtation rationnelle, ils
sont défieients 38. Que penser de cente description?
En réaHté, la relation des Peres avec la philosophie n'est pas
simple. Certams d'entre eux, COlImne Tertulien ou Tatien, ont prétoodu

38. R. L. Wilken, «The Christians as the Romans (and Greeks) Saw Them»,
E. P. Sanders, Jewish and Christian Self-Definition, Volume One. The Shaping of
Christianity in the Second and Third Centuries, London, 1980, pp. 100-125.
404 GILLES DORIVAL

couper radicalement les ponts avec e11e. Mais leur propos est polémique
et dans les faits ils sont nourris de philosophie; Hs uti:lisent notamment
contre les prétentions de la philosophie à atteilJ1d!re la vérité tout
l'arsenal des argurments sceptiques. D'autres Peres réüterent la COIJ1-
damnation que l'apôtre Paul fait de la ph:ilosophie dam.s la Lettre aux
Colossiens 2,8 et de la sagesse du monde en 1 Corinthiens 17,25. Pour
l'auteur de la Réfutation de toutes l"es hérésies, chaque herésie résulte
de la corruptiolJ1 introdu~te dans la foi par une philosaphie particuliere:
les rphilosophes sont les peres des hérétiques. Pom Épiphane de Sala-
mÍlne, la philosophie vient du diable. Pour Théodoret, la philosophie
est une maladie de l'âme, les philosophes se contredilsent. Mais, là
encore, le lecteur n'a pas de mal à retrouver des argurmentaüems et des
concepts d'origine rphilosophique. Quant aux Peres quâ. passent pour
être le pIus influencés par la phllosophie grecque, iJs combinent une
dénonciat~on de la philosophie avec une appréciation positive. Pour
Justin et Clément, Platon a plagié l'Ancien Testa:ment, dont iI reproduit
plus ou moins bien les enseignements 39. Dans le même temps, Justin
pense que Dieu a semé en l'homme les graiJnes de la vé!rité et Clément
considere que le Logos allume en chaque âme une étinoelle de vérité.
II ne faut donc pas prendre à la lettre les proclamations antiphilo-
sophiques des Peres: ce sont des sortes de déclarations de principe,
qui ont pour fonction de rappeler que, du poi[}Jt de vue chrétien, la foi
est supérieure à la raisOl1. Pour les phHosophes, la vérité est nonnale-
ment à la portée de tout hormme qui, partout dans le monde, s'adQII:m e
avec sérieux auxactivités intellectueHes; tel n'est pas le poâ.nt de vue
des Peres, pour qui la vérité est de l'ordre d'une révélation donnée
à une COIl1LTIl!Ul1!auté partiounere et consistant dans des faits historiques
particuliers. La foi peut done légitimer un eertain mépris pour la philo-
sophie des paiens, qui se manifeste notamment dans les tentatives
chrétienrnes de donner des sens nouveaux au mot de philosophie,
désignant, chez certains théologieJ.1Js, la foi chrétâ.enne elle"1illême, ou
bien, chez les moines, la vie monas,t ique. Mais une fois affirunée la
primauté de la révélation, une autre attitude, plus positive, plus conoi-
liante, est en général attestée; elle consiste à reoonnaltre une grande

39. Selon Justin, Platon a déduit du Pentateuque la triade des êtres suprêmes,
Pour Clément, Platon a trouvé dans la Bible la triade, la doctrine de la vie apres
la mort, celle de la création du monde, le diable (c'est l'âme mauvaise du monde
des Lois), le résurrection (c'est le mythe d'Er), etc. Voir H. Chadwick, op. cit.,
à la note 19.
L'ORIGlNALIT~ DE LA PATRISTlQUE GRECQUE 405

utihté à la philosophie grecque, oomme le montre par exemple la Pré-


face du Traité des Principes d'Origene: les aipâtres OIlit transmis des
enseignemerrts tres olairs sur Dieu, le Chrisrt, l'Esprit, l'âme, la résur-
rection, la CQil'lduite humaine, les anges bons et mauvais, le commen-
cemeIlit et la fin du monde; mais il reste, d'UtIle part, à découvrir «les
raisons de leurs assertions», ainsi que «les 'commeIlit' et les 'pourquoi'»,
d'autre part, à constituer un oorps de doctrine; cette recherche se fait
d'un côté à l'aidé des Écritures, de l'autre, au moyen de «l'enchainement
logique et du droit misOtIlnement», c'est-à-dire des techniques et des
concepts philosophiques.
Toutefms, il faurt le noter, l'utilisation que les Peres font de ta
philosophie grecque ne signiJie pas qu'ils 1a connaissent tous en pro-
fondeur. Les Mstoriens de la phiLosophie émettent même en général un
jugement assez sévere à ce sujet 40. Les peres seraient, comme d'ailleurs
d'autres éorivains paiens de leur époque, les témoins et les utHisateurs
d'une sorte de koiné philosophique caraotérisée par des emprunts
éclectiques aux logiques aristotélicienne et stolcienrne, à l'érthique StOI-
cienne et à la physique platonicienne. Ils connaitraient rarement les
gmnds auteurs par lectuJ:1e dirrecte et dépendraienrt en général de
manuels. ToU!tef.ois OOS études récerntes tendeut à modifier partiellement
cette appréoia1tiJÜin peu favorable: les Apologistes, nortamment Justin,
apparaissent oomme de bons connaisseurs du moyen plartonisme 41;
Clément a lu Platon; Origene est, avec GaJien, le meâ.lleur connaisseur
antique de la logique stolcienne et iI est remarquablement compétent
sur la physique et l'érthique du Portique; Grégoire de Nysse et plus
encore Marius Vicrtorinus sont des lecteurs attentifs de Plotin et de
Porphyre. Le pseudo-Denys reflete assez fi,delement le néoplatoniSlIlle
tardif.
L'énUimération qui vient d'être faite fait ressortir l'affinité des Peres
pour le plato11JÍsme. C'est lá UtIl fait bien connu, et qui contraSlte avec
la théologie du Moyen Âge occidental, donrt l'inspirateur est Aristote.
Les Peres n'ignorent pas ce dernier 42, mais ils refusent $Ia physique,
qui affirmait la divinité, la transcendance et l'éternüté du Ciel et qui
heurtait donc de pJein fouet la doctrine scripturaire de la créatiorn du

40. Notamment L. Jerphagnon, op. cit., à la note 14.


41. Voir R. Joly, Christianisme et Philosophie. Études sur Justin et les Apolo-
gistes grecs du deuxieme siecle, Bmxelles, 1973.
42. La doctrine d'Origene sur le commencement du monde semblable à sa fin,
dont l'Apôtre Paul nous apprend qu'alors Dieu sera tout en tous, repose sur le
406 GlLLES DORIV AL

monde 43. Pour la même rruson, ils refusent la physique stoicienne,


dOIllt le panthéisrme proolame la divinité du mcmde, parce qu'elle est
contradictoire avec leur idée de la transcendance de Dieu. En revanche,
ils sorrt en aooord avec une intuition du platonisme selon laquelle
l'homme est dans ce monde comme dans une pr1son et qu'il appartient
par son âme d'es,s enoe div~ne à un monde plus élevé. II y a là une
oonception de la condit1on humaine largement répandue dans la pensée
grecque d'époque tardive: paiens et chrétiens se senrent des étrangers
sur cette terre, des exilés qui aspirent à retourner dans leur patrie
d'origine; ce séjour terrestre passager doit servir à man:üfesrter la vie
divine, à servir Dieu et à préparer le salut de l'âme; car le monde est
une école des âmes; comomnément aux Lois X 879b, Dieu est le péda-
gogue de l'tmivers; en général, la présence de l'homme id-bélJS est
ressentie comme contraire à La nature; la naissance est un malheur,
voiIà pourquoi iI ne faut pas fêter les anniversaires; l'homme est sur
ceúte terre à la su~te d'une chute qui s'explique comme une punition
d'ualJe faute lélllltérieure ou qui résulrte d'un ohoix de l'âme (le premier
Plotin) ou encore qui oorrespond à une IO'i mtérieure (le seoond Plotin).
Théologiens chrétiens et phiIosophes paiens, notamment platoni-
dens, partagent ensuite bien des idées sur le divin ert sur la relation
de l'homme à Dieu. Pour toU'S, Dieu n'eSlt pas sounÚls à la mort, iI jouit
d'une puissanoe surnaturelle, est parfaitement bon. Les Peres acceptent
l'idée platonicienne d'Uin Dieu hors du monde, transcendant, immuabJe,
impass[ble, inooppopeJ. Entre Dieu et les hommes, iI ex.iste des êtres
intermédiélJires, bons ou mauvais, qui reçoivent des noms différents:
démo!l1s, anges, éous, esprits . Dieu parle aux hommes par les rêves;
iI y a de célebres r,êveurs paiens (Aelius Aristide) et chrétiens (notam-
ment les martyrs Polycarpe et Perpétue). Certains hommes reçoivent
de Dieu des pouvoirs particuliers - pouvoir de guérir, pouvoir de parler
en langues, pouvoir de prédire -: on les élJppelle des thaumaturges ou
des pmphetes. L'homme peut connrutre Dieu par trais voies, la vaie
de la négation, oelle de l'analogie (fondée sur l'analogie platonicienne

principe aristotélicien selon lequel la fin est semblable au commencement. Au IVe


siec1e, Eunome utilise abondamment le syllogisme, tout comme Evagre. Le discrédit
d 'Aristote vient peut-être en partie du fait qu'il a été utilisé par des hérétiques.
43. Les Peres reprochent aussi à l'aristotélisme sa doctrine de la providence,
limitée au monde supralunaire, sa conception du bonheur comme résidant non
seulement dans la vertu mais aussi dans la santé et les circonstances extérieures, etc.
L'ORIGINALITf: DE LA PATRISTIQUE GRECQUE 407

entre le soleil et le bien) et celle de l'émineoce 44. L'homme es,t capable


de faire l'expérience de Dieu, et même de s'as,sdJmiler à lui. Rechercher
l'assimilatian à Dieu (ól1oLwcnc; i}EW~, selom l'exipreslsiem du Théétete de
Platon), et mê:me l'identification, es,t le hut par excellence 45, ehez cer-
tains hommes exception:nels, comme Plotin, il est atrteint au cours de
cette vie dans les expériences d'extase, peu nO'illbreuses voire uniques,
mais flOlTmalement il est réservé pour l'apres-vie, lopsque l'ârme, débar-
rassée du oorps, remonte vers Dci.eu.
Tels sonrt les principaux élémenrts de contiLnuité. II faut maintenant
présenter les éléments de rupture, nom sans avoir attiré l'attention sur
les diffioultés que rencontre ici l'analyse. Je me serv<irai de deux eXeJll-
pIes. On dit SOUVeIlJt que chrétiens et pa'iens seraient en conflit à propos
de la dootl'ine sur le monde: la philosophie grecque proolalIDera1t l'éter-
nité du monde et récusemi t l'idée chrétienne sdon laquel:le il a eu un
commenoement et aura une fiin. En réalité la philosophie grecque n'est
pas si UIIl!anllme sur le sujet; l,a tradition aristotélioienne et une partie
de la tradition platonioienne vont eu ce sens; mais certains m édio-
platonideIlJs mterpretenJt le Timée à La le1Jtre et affirmoolt que le monde
a été creé par Dieu. D'a,utre pa,r t, et surtourt, les chrétiens n'ont pas
InaIIlqué de relever la res:semblance entre le dOllJllé bibLique et la doctrine
sto'icienne des catastrophes périodiques par déLuge et conflagratio[1.
e'est dire que, lorsqu'on crcxit saisri,r um. élément de di:soontinUJité avec
la rphilosophie grecque présenrtée comme un taut, on met parlois le dcxigt
seuJement sur un dés'a ccord avec une partie de la tradirtion. Pour être
rigoureuse, l'anaJyse devmit préoi>ser les élémenrts de continuité et de
rupture éoole philosophique par école philosophique. Tâche impossible
à entreprencLre en quelques lignes, et que d'aucuns O[1t d'aiUeurs entre-
pris de mener à bien 46.

44. Contre Aece et Eunome, pour qui «Dieu ne sait de son être rien de plus
que nous», qui le savons par révélation, à savoir qu'il est inengendré, les Cappa-
dociens et Jean Chrysostome insistent sur l'incompréhensibilité de Dieu et déve-
loppent toute une théologie apophatique. Le pseudo-Denys la reprendra.
45. H. Merki, ·O!J.OLWC)LÇ 1}EWL, von der platonischen Angleichung an Gatt zur
Gottiihnlichkeit bei Gregor von Nyssa, Fribourg, 1952.
46. Ainsi pour le néoplatonisme A. H. Armstrong, «The Self-Definition of
Christianity in Relation to Later Platonism», E. P. Sanders, Jewis11 and Christian
Self-Definition, Volume One. The Shaping of Christianity in the S econd and Third
Centuries, Londres, 1980, pp. 74-99.
408 GILLES DORIVAL

Le second exemple démontre les difficultés de l'interprétation .des


faits. Je l'e:mpIUJnte à A. H. Armstrong 47. Beaucoup d'historiens de la
théologie considerent que la doctrine trinitaire prénic6enne, qu'ils défi-
nissent comme subordinatiam:iste, est directement influencée par le
platoni,s me de san temps; elle correspondrait à la hiérarchie descen-
dante platonicienne des trois dieux: le premier principe, le deuxieme
dieu Nous .ou Logos, l'Ame du monde. La doctrÍlIle définie au concile
de Nicée, en 325, en affirmanrt: l'unité d'opération des personnes dans la
création ,e t la rédemption, marquerait une rupture décisive avec la pensée
grecque et notamment avec l'idée selon laquel:1e iI y ades degrés dans
la divinité. En l1éalité il n'est pas possible d'accepter ce poirnt de vue.
D'abord par'c e que le rapprochement entre la théoJogie anténicéen.me
et le médãoplataniSllllJe est superficie!; la doctI1Ítlle eles Peres d'avant
Nicée doiJt plutôt être comparée à la théologie du Nouveau Testaa:nent,
qui ,a une allure subordinationiste ~ncontestable. Ensuite, pame que le
mouvement qUi.Í s'est pmdui,t à Nkée a eu Heu, qudques dizaines
d'années <l!uparavant, chez les penseurs néoplatonioi.tms, et notamment
POl1phyl1e qui a identifié l'Être de la triade intelligible Être-Vie-Pensée
au premier pI1Í!noipe inconnaissable. Faut-il des lors renverser l'opinion
tmditionndle et affiI1iller que la doctrine ruicéenne est prlus en conti-
nuité aVle c la phiJlosophie grecque que la doctmne amténicéenne? Je m'en
garderaIi bien, précisément à cause des enseignements du premier exem-
pIe sur les risques à ,misonner en teI1illes génémux. De pLus, il faut bien
voir que la philosophie a ses débatls propves, tout comme la théologie:
an risque de voir des rencontres, ou des ruptUl1eS, là ou il n'y a pell't-
être que des collIlcidenoes.
II me semble pourtant possible de repérer certains désaccords
globaux enrtre les théologiens et les philosophes. Ce qui choque avant
tout les philosophes paJens dans la foi chrétienne, c'est d'abord le rôle
excessif dévolu à la Cl10yance par rapport au l1aisonrnemenrt: 48. Lucien,
Galien, Celse, Marc-Aurel,e sont étonnés de voir les chrétiens faire con-
fiance à des proposi1tions non démont,r ées par la raiso'l1. Pour Galien,
les chrért:iens possedent trois des quatre vertus cardinales, le courage,
la maltrlÍse de sai et la justice; mais iI leur manque la sagesse, La
<ppóVr]O"Lt;. Cel.se voit en les chrétiens les ennemis de la science. Porphyre

47. Voir note précédente.


48. Voir E. R. Dodds, Pagan and Christian in an Age of Anxiety, Cambridge,
1965, traduction française par H.-D. Saffrey sous le titre Pa'iens et chrétiens dans
un âge d'angoisse, Claix, 1979, pp . 119-154 et W. Jaeger, op. cit., à la note 20, passim.
L'ORIGINALITÉ DE LA PATRISTlQUE GREeQUE 409

insiste sur l'aspect irrationne1 de la foi, la 'ltLcT'nç. Ju1ien s ecrie: «II n'y
a rien dans votI'e philosophie, sinon le seul mot: 'erois'». Ce n'est pas
que la philosophie palenne de l'époque pauristique ne dOlme aueun
rôle à la foi, à la 'ltLO"'nç; mais elle intervient seulement au début de
l'activité philosophique, elle sert de marche-pied à la raison. Au lieu
que les Peres donnent à la philosophie le s.tatut de serva'l1J1:e de la foi .
II y a là un élément qui rend irréconcillÍ.ables, au mOlÍ.ns du point de
vue des philos'Üphes, le ehristianisme et la philosophie.
Ainsi, pour les Peres, ce qui est fondamental, c'est l'adhésion à
une révélation: tout repose sur une personne, le Christ, et tout passe
par lui. Cette ~ocahsation SUl" le Christ donne des traits tout à fait
originaux à la maniere d'Ünt la pensée patristique tmite les grands
themes de son époque. Prenons l'exemple de l'as'sirrniJation à Dieu,
theme COIlllmUll aux paiens et aux chrétiens . Chez les Peres, cente assimi-
lation consiste d'abord à s'assirnHel" à l'Image de Dieu, le Christ, à
imiter ses comportements autant que faire se peut, à répéter ses paro-
les, à prier eomme lui avec les psaumes. Le Christ est la vOlÍ.e et la
vérité, se10n Jean 14,6. Nous touehons ici le oceur de la pen:sée patris-
tique, qui est aussi le point de désaccord fondamental avec les phi.lo-
sophes. Car, pour ces dernieTs, l'idée même que le Christ soit le Logos
de Dieu incarné est ab surde , antiphilosophique. L'idée d'incarnation,
le concept de Dieu fait homnlJe, a-P'paru SOl1!S les traits d'un Iliouveau-né
en Judée, est contmire à une saine idée de Di,e u: elle suppose que Dieu
ait été d'aboI'd inactif et ensuite actif; d'abord indifférent au monde
ensuite phHanthrope; eHe implique qu'il prnsse y avo1r d'll changem,e nt
en Dieu, oe qui est contraÍlre à la perfection de Dieu; d'autre part,
comment Dieu, qui est parfait, peut-il se mêler directeme'l1J1: à la matiere?
D'autres éléments du contenu de la foi sont considérés par les
phiJosophes comme antiphilo sophiques . La r ésurrection des corps est
selon eux cQ[]traire à la saine phys'i que, qui dénlDntre qu 'à la mort les
quatre éléments dont est composé tout corps se séparent et retournent
aux substélJIlces dont ils S'Ü'I1t issus . II faut aussi signaler, contrasta'l1't
avec la pensée paienm.e, la conviction ehrétienne de la discontinuité
entre Dieu et sa cJ1éation 49; cela ne signiHe pas que Dieu soit absent
du monde; son omniprésence est au contraire proclamée; mais les
Peres pensent que la création, même si elle a continuellement besoin
de Dieu pour continuei" à être, est autre que Dieu et est d'une autre

49. Voir J. Pépin, Théologie cosmique et théologie chrétienne (Ambroise,


Exam. 11, 1-4), Paris, 1964, pp. 25'1-307 et A. H . Armstrong, art. cito à la note 46 .
410 GILLES DORIV AL

substance. Pour la tradition philosopruque, au contraire, le II10IIlde maté-


riel est divin ou du moints em continuité avec le Dieu sup['iême, dont il
cOIliStitue la plus hurrnble des théophanies.
Affi,rmation de la supéviorité de la foi, rut-elle celle eLes humbles,
sur la philosophie et la raison, rôle cenrtral du Chri.st, doctrines de
l'incarnation, de la résurrection et des rapports entre Drieu et 1e monde,
tels sont, me semble-t-il, les principaux élémeruts de rupture que la
pensée patristique préserrlÍ'e par rapport à la tJradition phiJosophique.
II y a là UIIl!e odginaHté mcontestable, mai,s quri. est tempérée par l,e
fait que les PeDes ont tenté de penser rationnellement ces éléments
de nouveauté, rendant ailIlsi U1n bel hommage à I'activité de réfleXiÍon
par exoellence qu'est la philosophie. Ce fuisaJlJt, ils ont introduit dans
le champ de la pensée des concep1ts, pa:rfois d'origine pa'ienne, parfois
l1!ouveaux, mais toujours em rupl1:uDe avec la tTadition phÜosophique,
comme oeux de logos ou verbe, de perSOIlJIle, de consubstantiaHté, de
nature. Je développeroi um seul exemple, celui de mlEÜP.«, souffle, esprit;
ainsi que I'a montré A.-J. FeSltugiere so, la division corps - âme - esprit
de la téologie grecque ne correspond pas à la trichotomie des parties
de l'âme atJtJestJée chez Pl,a ton, le moyen pllélJtonisme et le stoioisme; em
revanche, elle a un parallele dans1e Traité de l'âme d'Aristote, qui toure-
foos uülise le moí '\IOÜC;, et JlI()[l le terme 1t\IEUP./X. Au seus de pa:rtie supé-
rieUJre et pour ainsi dire divine de I'âme, ce eLer.n:iJer mot est mconnru
avant Paul (J Thessaloniciens 5,23). Son origÍlne oOJllsiste em Genese 2,7.
ou Dioo souffle sur la face de I'hornrrne un souffle de vie qui em fai,t
tm être v,ival1!Í. Chez A<ristore, iiI y a bien UIll mlEÜV;/X de I'âme, mais il
s'agit <lu 's ouffle igné principe de l'âme mortelle. Chez les Sto'iciens,
le même mot désigne la parceHe matérieHe de feu qui maintient le
oorps du monde; c'est UIll ,souffile corporel. Les Peres coupent le '1t'\lEÜ[.l/X
de toure OOIlJIlotation oorporeNe et créent ainsi un concept spécifique
pour désigner 1e siege de la vie supérieure et la partie divine de
l'homme. Ce concept résulte si l'on voot d'une sorte de bricolage, mais
on ne peut en nier la fécondité, l'intérêt, l'odginallÍre.
On sera peut-être étonné que, dans ceHe tentartive de préciser
l'originaJi.té de 1a pensée patristique, je n'ai mentionné ni le mono-
théisme, mi la morale ohrétienne. Nous savons que les adversalÍres plato-
niciems d'Ambroise, un Pere latm certes, mais un leoteur fidele d'Origene

50. A.-J. Festugiere, L'idéal religieux des Grecs et l'Evangile, Paris, 1932,
pp. 196-200.
L'ORIGlNALITÉ DE LA PATRISTIQUE GRECQUE 411

et d'Eusebe, reprochaient aux chrétiens de ne pas admettre le poly-


théisme philosophique, qui distingue entre l,e Dieu sup\fême, créateur
des âmes, et les dieux secondaires, crooteurs des corps. Ma[s cette
dd.stinction même montre bien que le débat ne poptait pas véritable-
ment sur l'opposition entre polythéisme et monotháisme: les deux
concepts sont en réaHté philosopm.quement conciliables; le néop1ato-
nisme eu est un bon eXiemple: il utilrise 1e concept d'Urn pour dire Dieu
et, eu même temps, iI proclame l'exisotence d'une pyramide descendante
de dieux intelligibles et i'l1'telligents. POlir les théologiens oorétiens
eux~mêmes, il y a trais dieux et une seule divinité, comme on le disait
à l'époque d'Origene, ou trois personnes en un seul Dieu, comme on le
dim plus tapd. Un reproche de Celse permet de comprendre ce qui esrt
iei en question: oe qu'il critique, ce n'est pas le monothéisme chrétieu,
mais le fait qu'il soit sec1laiJre, intolérant, irrai,s onné. C'est dire que
nous sommes renvoyés à un probleme de comportement, de morale
pratique.
Dans le texte naguere cité, cette morale faisait l'admiration de
Galieu. C'est évidemmenrt paroe qu'il reconnaissait ses propres valeurs.
De son côté, Celse affirme que les chrétiem; n'ont rieu de neuf à dire
dans le domaime de la morale et que les philosophes O'l1lt 1Jout dito Faut-il
aocepter ce jugement? La manrrere dont Origene lui répldque doit être
notée: ii aocepte oetlte idée sans protester. C'est que chaque homme
a UIle oOlItIIaissanoe innée du bien et du mal; i,l y a une 10i eLe la nature
qui a été implantée à La oréation. AiIlS,i oe qu'apporte l'Év:ang:i1e, ce
n'est pas une morale nouvelle, mais la reconnaiss>a:nce du fait que le
fOIldement de raspiration éthique la plus élevée cOIlsiste cLans la bonté
et l'amour div:ins 51. C'est diTe que le chriSltÍlanisme apporte de nouvelles
rarrsons d'agir, qui vont se tr.aduire par de Il!ouveaux cOIDiportements,
un nouveau genre de vie. L'empereur Julien l'avait hien compris, qui
attpibuaitle suoces du ChI1i:Sltila n1sme à «'$Ia philaniliroplie envers les
étrangers, sa prevoyance pour l'entJerrement des morts et sa sévérité
dans la vie» (Lettre 84) 52.

51. Voir H. Chadwick, op. Ctt.


52. Voir E. R. Dodds, op. cit., p. 154.
412 GILLES DORIVAL

VALEVRS PArENNES ET GENRE DE VIE CHRÉTIEN

On sait que 1e monde grec classique - et notarrnrment Isocrate-,


aVMt élaboré le projet d'unrifier l'humanàté sous la culture et la civili-
satJion grecques. Alexandre et, apres Lui, l'Antiquité hellénistique et
romaine cmt réahsé concretermerut cette paideia. Elle combine une édu-
cation et un systeme de valeurs, la premiere ccmstituan1 l'apprentissage
de la seoonde. L'instruction repose sur Homere et les auteurs olassiques.
Grâce à elle, le jeune grec aJPprend qu'il faut révérer les dieux, respecter
le serment donné, se connaHre soi-IJ:nême, c'est-à-dire savoir qu'on esrt
morte!, hO'l1orer ses parents et ses arrni's. Que! eSlt le stJatut de la paideia
aux yeux des Peres grecs? Quel jug,e ment porteJJJt-i1s sur l'éoole paienne
1

de type dassique? Comme l'écrit H. MaI1rou, «H paraltraÍlt naturel que


les premieJ1s chJ1étiens, si intransigeants dans leu r voloruté de rupture
à l'égaJ1d d'un monde paien dont ils ne cessent de dénoncer les erreurs
et les torts, 'aJÍent en conséquence oréé à leur uSlage une école d'inspi-
ration re1igieuse. Or, la chore est remarquable, i1s ne l'cmt pas fait». Et
pourtant cela n'était pas inconcevable: le judaisme de la même époque
a ses éooles 53. AinSli, que l'on soit chrétien ou paien, on apprend à
écrire de la même façon, en recopiant des listes de noms mythologiques.
AUI1iODiS-nOll!S ici un bel exemple de continuité entre le paganisme
et le christiJani~me? En réalité - et c'est là un élémen1 d'originalité
de la pensée patJ1i's tique quand ou la compare à la pensée paieIlJIle-,
les Peres font subir à la paideia grecque une dévalorisation fondamen-
tale: ils la ramenent au mng de 1tpo1tCt.LoEC,Ct., de paideia préparatoke, la
vraie paideia étant la foi chrétienme saus sa fo.rme intellectuellement
élaborée. Ainsi chez Clément d'AleX'andnie 54 . Les Actes de Philippe (8)
padent du chrisrt.iarusme comme de la paideia «jeune et nouvelle».
Vn bon exemple de cet1e dévailorisatJion est constil/:ué par le trail/:é de
Basile .de Césarée, Sur la maniere de tirer profit des lettres helléniques.
Il ne faut pas y chercher, cornrme trop souven.t les lecte'lll"s, de la
Renaissance à nos jours, U'Il traité sur l'utiH.té de l'étude des classiques
paiens. S"adressant à de jeunes chrétiens eu cours d'études, Basill e les
met en gaI1de contre elles. II attire leur attention sur le danger que
présentent les auteurs dassiques. Pour en triompher, il leur recom-

53. H. Marrou, Histoirc de l'éducation dans l'antiquité, Paris, 1948, pp. 451-471.
54. Voir W. Jaeger, op. cit., pp . 46-67.
L' ORIGINALITÉ DE LA PATRISTIQUE GRECQUE 413

mande de discerner ce qui, dans les lettres grecques, peut const'Ítuer


une préparation utile à la vie chrétienne. II faut opérer parmi elles
un tri sévere et ne retenir que les exemples de vertus COillfo'r mes à
l'Évangile 55.
On le voit: la oulture classique est réduite au rang de propédeutique
par les Peres. Elle oocupe Ie seconde rang par rapport à l'enseignement
chrétien, qui est dispensé aux catéchUlmenes par Ie didasoale, un terme
grec qui signifie enseignant. A partár du IVe siÍecle, c'eSlt souvent
r évêque lui-même - et oe fait montre l'i1IIlportance attachée par l'Église
ancienne à rinstruction des futurs chrétiens - qui assur'e le catéchu-
ménat sous forme d'homélies oatéchértiques, dont UIJl grand nombre
nous sont parvenus. De plus, avec la chris,t~anisation cro~ssante, qui
se traduit par le fait sooiologique qu'on devient chrétien moins par
conversion que par naissanoe, lili enseignement élémeIlJtaire a lieu dans
la famille; Jean Chrysostoone, Traíté de la vaine gloíre et comment íl
faut que les parents élevent leurs enfants, recommande de raconter
des récits bibliques, oomme l'histoire de Cain et Abel, de Jacob et Esau.
Cette I'éoupération ,d e Ja culture olas,s ique à un niveau inférieur
a rencontré deux séries de critiques. Du côté des Peres, d'abord, et en
deux temps successifs. Tertullien, Sur l'ídolâtríe, 10, toujours soucieux
de couper les ponts avec l'heHénisme, interdit aux chI'étiens d'exerGe'r
le métier de pI'ofesseur qui obligeait à expliquer aux emants la mytho-
logie paienne. Mais iI n'a pas été vraianent suiv,i . La Tradítíon aposto-
lique, 16, d'Hippolyte peI'met au pI'ofes's eur de conserver son métier
s'il n'a rien d'autre pour vivre. Origene fut pI'oresseur de gmmmaire.
II est vrai qu'ensuite iI vendit tous ses livres paiens pour se consacrer
à la Bible, mais aÍ!nSli iI se constituait une rente jcrurnaliere suffisante
pour vivre et, dans Slon ens,eigmement, H continua à utiliser les philo-
sophes et les poetes grecs 56. En 264, Anatolius, futur évêque d'Alexandrie,
fut nommé professeur d'Aristote. D'autres exemples peuverrt être cités.
Le second temps de la critique des Peres se sQltue au IVe sQecle.
Elle pI'end ses moines daJUs l'ascétisme. Les moines cénobites créent
des écoles mouastique.5, destinoos à la fOJ1IIlation des futurs moines.
La seuIe Iecture pmtiquée porte sur lesÉcriJtures. P.our appI'eIldre à
liI'e, on ue se sert plus de noms mythologiques, mais de listes de person-

55. Voir H. Marrou, op. cit ., p . 462 et M. Harl, «Culture grecque et christianisme
en Orient dans la deuxieme moitié du IV' siecle (Quelques travaux récents) >>,
L'Information Littéraire, 1976, pp. 214-222.
56. P. Nautin, Origene. Sa vie et son oeuvre, Paris, 1977, pp. 183-197 et 415-417.
414 GILLES DORIVAL

nages bibliques, de v,e rsets des Proverbes et d'histoires saintes. Certains


Peres ont voulu confier l'éducation des enfants aux moines. Ainsi Jean
Chrysostome dans les armées 375. Le mêrne Chrysostome abandonne
cette idé e dans les années 395, mais ii se propose de transposer le
modele édueatif monas tique eoupé de la culture classique dans les
milieux laies: dans le tmité signalé à l'instant, ii exclut de l'éduoation,
confiée aux fao:niUes, les textJes d 'Homere et des Tragiques . Mais ce
projet pédagogique a lui aussi échoué.
Les paleIltS eux.Jffiêmes ont tooté de réagir contre la conoeption
chrétierme de la paideia. En juin 362, l'emperour JuHen soumet l'exer-
cice de la fonction de professem· à des conditions de compétence et
de moraliM. Or, les professellJ1s chrétiens ne les remplissent pas, puisque,
expliquant Homere sans eroire aux dieux, ils ne sont ni honnêtes ni
francs. Julien Leur laisse done le choix entre l'apostasie ou la démission.
J ulien crée ainsi la premiere école CO'Ilfessionnelle et propagandiste de
l'histoire.
Un fai,t doit être noté ioi. Quelle fut la réaction des ehrétiens à
cette politique? I1s aUiJ1aient pu être tentés d'abandonner le modele de
l'éducation classique. Or oe ne fut pas le caso Ils entreprirent au con-
traire de créer des classiques de remplacement. Les Apolinaire pere et
fils adapterent le Pentateuque en hex:arnetres dactyliques, miroot les
livres historiques en tragédies, utiHserent pour d'autres livres bibliques
le modele de la oomédie ou de l'ode, récrivirent le Nouveau Testament
sous forme de dialogrues platoniciens. Tous les metres et tous les genres
furent mis à oontribution. A défaut des auteurs classiques, fmppés
d'interdit par l'empereur, les ohrétiens voulaient gaJ1der les modeles
classiques. Bel hommage rendu à l'helléniso:ne et à la doctrine de la
mimésis .
Mais, de oet effort de oonstituer des textes d'études hellénico-
chrétiens, iI ne reste rien. La législatiolJJ. de Julien est en effet rapportée
quelques mois apres sa mort, en janvier 364. Les proresseurs chrétie'Ills
sont réintégrés et l'enseignement traditionnel reprend comme avant.
La paideia de l'hellénisme a eédé définitivement la pIare à la paideia
chrétienne à deux étages, un étage préparatoire récupérant la tradition
classique - et c'est la continuité - , et un étage supérieur eor,respon-
dant à l'enseignement de la foi - et c'est la nouveauté-.
eette tmnsformation profonde de la paideia s'est tout naturellement
accompagnée de nouveaurtés dans les modes de vie. Les Huit Catécheses
Haptismales de Jean Chrysostome, publiées pour la premiere fois en
L'ORIGINALITf: DE LA PATRISTIQUE GRECQUE 415

1957, le montrent bien 57. Jean remplit son eLevoir d'évêque, qui est
d'instruire les catéchumEmes. Nous sommes peut-être en 390, à Antioche.
Les deux premieres catécheses consistent en une instruction sur le sens
du baptême et le C011'tenu de la foi; elles exhortent à mener une vie
chrétienne. Les homélies trois et quatre sont adressées aux néophytes,
c'est-à-dire aux nouveaux baptisés, et reviennent SUJr la foi. On doit
noter que les fêtes des néoph)"tes duraient sept Jours, comme celles
du mariage palen. Les homélies suivantes précisent ce qu'il faut enten-
dre par vie chrétienne: iI faut se modérer dans le boire et 1e manger,
éviter de préférer 10s courses et le théâtre à la s)"naxe, mépriser les
bien de ce monde, prier et donner l'aumône, se conformer aux grands
modeles chrétiens oomme Abraam. Derriere la banalité d'tm praip0s
qui aprpaI1ait aujourd'hui comme un peu moralisateur, c'est en réalité
un genre de vie largement inconnu de l'hel1énisme qui est recommandé
ioi. Sans me limiter aux textes de Jean Chrysostome, je voudmis en
dOIliller les traiJts prinaipaux. Nan sans attirer l'attention sur un point:
iI y a UJI1e distorsion entre le discours de l'évêque et la realité; ses
insistances térncrignent du fait que les comportements concrets des
chrétiens sont sans aucun doute assez loin du genre de vie qui est
prôné; dans 'l a réalité, iI ne doit pas manquer de chrétiens qui font
des exces de nourriture et de bois,s an, qui vont aux courses et au théâtre,
qui oubJient d'aJller à la messe et de prier, qui sant attachés aux
richesses et négligent les pauvlr es. e'est done un idéal de vie que pro-
posent les Peres. Mais, comme nous allons le voir, eet idéal s'est réelle-
ment traduit dans les mentalités, au moins dans une eerrtaine mesure.
Ce qui frappe, ce SOI1Jt les éléments de l'upture avec la tradition
hellénique, qui ne manquent pas: le refus du théâtre 58 est chez les
leHrés chrétiens si réel qu'on ne peut oiter, en dehors de l'entreprise
avortée des Apolinaire, aUCUll!e pieee de théâtre chrétienne d'époque
patristique; le refus des jeux de l'amphithéâtre et des courses de
l'hippodrome est, lui, I1esté largement le1Jtre morte, malgré les condam-
nations réitérées : on connalt les noms de cocher,s chrétiens célebres
et on sait le rôle des factions du cirque dans la politique byzantine.
Le refus eLes fêtes palennes a été plus subtilement pensé: les Peres ont
tenté de leur substituer des fêtes chrétiennes; mais oelles-ai O11t mis
eLes décennies, v'Oire des siecles pour s'imposer, et elles n'ont jamais
pu totalement éLiminer leurs devancieres . Les Peres refusent aussi la

57. Elles ont été éditées par A. 'Wenger, Sources Chrétiennes , n° 50, Paris, 1957.
58. Auquel on peut ajouter celui du romano
416 GILLES DORIVAL

musique instrumentale au profit de la seule musique vocale; l'emp1re


byzantin ne tolere de fait qu'un s'e ul instruilneIllt, l'orgue. Tom ces refus
s'expliquent par la volonté d'éliminer les aspects de la vie cons,j,derés
comme les 'Plus opposés à la recherche du salut pmmis par le Christ.
C'est dir,e que l'ascese oonstitue un aspect essentiel du genre de vie
chrétien. Elle est 10m d'être inconnue de La tradition grecque; ii suffit
ici de penser à Socrate, aux cyniques, aux stoiciens, aux néopythago-
rioiens, à Platino Le refus du luxe et du plaisir, la méfiance à l'égard
de la réussite sooiale, l'abstinence et la continence sont cOllTIllTIuns aux
Peres et aux philosophes pa'iens. Même la méfiance à l'égard du corps,
de la nudité, des gymnases, du sport, absente de la pensée clas,s ique,
n'est pas étrangere à la pensée philosophique grecque d'époque tardive;
Plotin avait honte d'avoir un oorps; certains philosophes pratiquent
des exercioes de mor1Jification. Mais, chez les chrétiens, l'ascese revêt des
formes inéc1ites. Je signalerai d'abord l'érémitisme: ce phénomene est
presque totalement étranger à la tradition de l'hellénisme, dont iI est la
contradiction absolue, puisqu'il com,lste à fuir hors des villes, c'est-à-dire
de l'espaoe civique par excellence, pour se réfugier dans le désert des
campagnes et y trouver Dieu, grâoe à la priere et à la continence; ou
connait cependant quelques ermites paiens, davantage d'ermites juifs;
mais, oomme mouvement sociologique global, l'anachorese est propre
au chris1Jianisme égyptien et syrien à partir de la fin du I1l e siecle.
elle a sa littératl,1.re, en particulier les Dits des Peres du désert. Elle
revêt deux formes : l.lJlle fOI1me radicale, ou l'ermite reste dans une soli-
tude absoll1e de reclus ou d'hypetre (en plein air, par exemple au
sommet d'une colloDlI1e) jusqu'à la fin de sa vie, et une forme tempérée,
ou la solitl1de est rompl1e de temps en temps par exemple pour se
rendre à la synaxe.
Le monachisme cénobitique constitue une autre forme de l'ascé-
tisme. Les traditions grecque et juive ont connu des C'ommunautés
d'ascetes, comme les néopythagoriciens de Rome, les thérapeutes
d'Égypte ou les esséniens de Qumrân. Mais rien de comparable à la
floraison des asoéteres et eLes monasteres à partir du IVe sieole. Ce n'est
pas l'aspect de rupture avec la vHle qui doit être ici retenu, puisque
les asoéteres d'hommes et les couvents de femmes, comme celui
d'Olympias à Antioche, sont urbains. II s'agit plutôt d'une rupture
avec le monde de la sexualité et de la famille pour mieux se consacrer
aux affaires de Dieu.
L'idéal de virginité est ainsi au oreur de la pensée patristique.
Nous tenons ici un élément de rupture essentiel, tant av:ec la tradition
L ' ORIGINALITÉ DE LA PATRISTIQUE GRECQUE 417

grecque qu'avec le judaisme, Dans ce dernier, le mariage est un devoir,


même pour les prêtres; la fécondité est une bénédiction; toutefois,
l'idée de la supériorité de la virginité apparalt chez les thérapeutes
et les esséniens. Dans la tradition pai'enne, le céllÍbat est objet de répro-
bation, le célibataire grec doit payer m1e amende; à l'époque d'Auguste,
devant la baisse du nambre des oito.yens, les lois caducaires récom-
pensent financierement les gens maóés et obligent au mariage et au
remariage; les lois décimaires vo.nt dans le même senso Toutefois, ii
existe des viel'ges, mais uniquement dans certains cuItes: les prêtresses
d'Athéna et d'Artémis, la Pythie, l'hiérophante d'Éleusis, les vestales.
A l'imitation de Socrates, les plülosophes grecs pratiquent la conti-
nence, mais, sauf excep1Jions, iis prennent som d'assurer leur descen-
dance; car c'est Ul1 devo ir de perpétuer l'humanité. C'est le Nouveau
Testament qui donne une valeur éminent à la virginité: Marie est
vierge, le Christ est vierge, Paul, tout en reoonnaissant que le mariage
est bon, en tant qu'il est symbol,e de l'unÍlon du Christ et de l'Église,
voit dans la virginité un état supérieur. Des la fin du ler siecle appa-
raissent des asdrtes et des vierges pour le Seigneur; ils vivent soit
dans leur faanille soit dans des maisons de vierges. A la fin des persé-
cutions, la virginité prend la place du martyre: elle devient le genre
de vie chrétienne le plus parfait, celui qui fiait vivre les hommes de
la vie même des anges. Cet idéal de virginité prend parfois la forme
d'un rigorisme absolu: l'encratisme va jusqu'au refus du mariage et à
l'eunuchisme. Selon Eusebe, OI'igene lui-même s'est automutilé. Des
problemes apparaissent, comme celui des cohabitatiOl1s suspectes entre
vierges des deux sexes. Quoi qu'il en soit, un vaste mouvement social
de refus de la sex;U!alité s'est ainsi développé, auquel les Peres ont
fait écho. I1s en O11t même tiré une nouvelle forme litté raire, les traités
de la v1rginité dans laquelle se so.nt i1lustrés Méthode d'Olympe, Basile
d'Ancyre, Athanase, Grégo.ire de Nysse, Jean Chrysostome. Les Peres
condamnent le rigor.isme absolu des encraties, cal' iI risquait d'aboutir
à une rupture entre le christianisme et la sooiété. IIs sont tous d'acco.rd
pour procl'anner la supérioóté de la virginité. Mais Hs hésitent sur la
valeur à accoJ1der au ma'r iage: parfois, comme ohez Paul, il est pré-
senté comme un momdre bÍlen par rappo.rt à la virginité; pour le vieux
Jean Chrysostame, qui accorde à des époux exemplaires le titre de
vierge, c'est un état louable, car iI sauvegarde en nous la part du spiri-
tuel et nous ouvre les portes du deI; mais, le plus souvent, ainsi chez
le jeune Jean Chrysostome marqué par l'ascéti:sme, iI est un moindre
418 GILLES DORIV AL

ma:l par rapport à la fornication, c'est le refuge des êtres faibles face
à la concupiscooce.
Quant au remaniage apres le déces d'un conjoint, les Peres balan-
cent entre deux attitudes: à l'image de Paul, qui tolérait les seoondes
noces tout en estimant la viduité supérieure, Jean Chrysostome les
acLmet oomme U11Je ooncession faite à la misere hUílIlaine. Inversernent,
AthénagoJ1e 1es qualifie d'«adultere déguisé». Les Cappadociens imposent
aux remaPiés des pénitences. Une attitude comparable existe dans le
cas du divoroe, généralisé daJlls la société civile des premiers s,iecles;
iI est condamné taJ:O!t par le Nouveau Tesrtament que par les Peres;
les divorcés remaJ1iés sont exclus de 1'Église; mais la pensée patl'istique
admet en général leur réintégration apres un temps de pénitence 59.
Apres 1'ascese, je voudrais parler de la philanthropie chrétienne.
L'amour d'autnü n'est pas un trait pJ10pre du christial1'isme. Pas m ême,
et contrairement à ce qu'on dit souvent, 1'amour des ennemis prôné
par Exode 23,4-5, 4 Maccabées 2, 14, Matthieu 5,44 et Luc 6,28: le phil 0-
sophe cynique doit, lui aussi, «a1mer ceux qui l,e frappent, comme s'il
était le peJ1e ou le frere de taus» 60. Ce qui esrt nouveau, me semble-t-il,
c'est qu'il a induit des compol'tements sociaux de grande ampleur.
Toutefois iI en est un, ou iI n'a probablement joué aucun rôle, contrai-
rement à ce que 1'on affirme parfois: la disparition de 1'esdavage, qui
va prendre plusieurs sieoles, ne s'explique pas par une volonté chré-
tienne de dcmner à I 'esolave 1e même statut social que celui des autres
chJ1étiens, mais par le fait que l'évolu1Úon des conditions éconOtInJiques
n',a plus nécessité ce type de main d'reuvre 61 . Le premier changem.ent
concerne la femme. Le christianisone, fidele en cela au judaisme, est
porteur d',u n oompol'ooment qui ne parait pas attesté à gralIlide échelle
dans le paganisme 62: le respect de l'homme pour la femme, et des
mal'is ,p our leurs épouses. Ce respeot a probablemoot été renfOl'cé
par la valeur que l'interdiction du divoroe accorde au mariage.
Le second grand changement est 1'attention aux démunis et aux
étrangers. Le Nouveau Testament fait 1'éloge des petits et ,a ffirme qu'il
est plus diffidle à UIl1 riche d'entJ.1er dans le royaUílIle des oieux qu'à
un ohameau de passer par le chas d'une aiguille. Les Peres affinnent

59. Je suis redevable sur ce point à une conférence de C. Munier prononcée


lors du Congres Intemational de patristique d 'Oxford en aout 1987.
60. Voir Épictete, Entretiens, III, 22, 54.
61. II faut toutefois nuancer le propos en rappelant que le christianisme a
joué un rôle dans l'adoucissement de la condition des esclaves.
62. On peut signaler par exemple les cyniques ou Plutarque.
L'ORIGlNALITt:. DE LA PATRISTIQUE GRECQUE 419

que la seule justification des richesses, c'est de les mettre au service


des pauvres. Les communautés des premiers siecles secourent les
pauvres, aident les familles au moment eles enterrements. Les Peres
reoommandent d'accueillir l'étranger. Au IV'" siecle, les évêques cons-
truisent des hospices et des hôpitaux. Ils organisent la lutte c<?lltre les
cabmités naturelles: tremblements de terre, famines, inondations.
L'évêque remp1i,t alors un rôle social que le pouvoir impérial, le pouvoir
provinoial, le pouvoir munio~pal n'assument pas. On comprend mieux,
dans ces conditions, l'expansion du christianisme. Elle correspond à la
nouvelle sociabilité de la société.

PATRISTIQUE GRECQUE ET ANTIQUITÉ TARDIVE

Avant de conclure, je voudrais résumer en quelques mats comment


je vois 1'or.iginalité de la patristique grecque. Elle peut se défiruÍ<r
comme une tentative de penser et de légitimer une révélation, conçue
indissolublement comme un texte écrit -1'Anoien et le Nouveau Testa-
ments - , et comme une personne qui a réaHsé les promesses de ce texte
-le Christ, Parole de Dieu incarnée - . AÍ'nsi la patristique se caracté-
rise par la prégnanoe d'un texte de référence inoonnu de la tradition
classique, dont iI s'agit de oomprendre le sens grâce à une méthode
d'intepprétation d'origine grecque, mais pronfondément modifiée par les
Peres, 1'allégorie typologique: le Christ est la clef des ÉCJ:1ilt ureS. Ensu.ite,
la littérature patristique est la fid6le hériti6re des formes littéraires
classiques, mais avec des innovations ~mportantes en théologie, en
herméneutique et en histoire notamment. La Httérature ele type spirituel
(homélies, vies de .saints, dits des moines) prend une exteIl!sion conSÍ-
dérable. Ce double phénomene de continuité et de nouveauté trouve
soo corres,pondant dans 1'écriture patmstique elle~même, qui est double,
1'une marquée par la rhétorique c1assique, l'autre que l' on peut caracté-
riser comme une rhétorique biblique, définie par la présenoe de cita-
tions et de modeles soripturaires. Sur le pLan du contenu, l'originaLité
patristique oonsiste moins dans le monothéisme et la mo!['ale que dans
l'affirmation de la légitimité d'une méthode de pensée qui repose sur
la révéla:tion du Christ et qui aboutit à défendre des concepts nouveaux,
comme ceux q'incarnation, de résurrection des corps, de tJ.1aIlJSoendance
absolue de Dieu par rapport au monde, d'esprit. Enfin, la patJ:1istique
grecque voit s'opérer le remplacement de ndéal classique de la paideira
par un nouvel idéal, caractérisé d'abord par une dévalorisatioo et, druns
le même temps, une récupération de certe même paideia et ensuite par
420 GILLES DORIVAL

l'affinnation d'un,e paidei a supeneure, eorrespondant à l'enseignement


de la foi. Ce faisant, les Peres se sont faits les propagandistes de
nouveaux' comportements, notamment aseétiques · et philanthropiques.
Les Peres grecs ont ainsi beaucoup fait pour le ehristianisme-
avee lequel il ne faut évidemment pas les confondre, mais dont ils
sont les hérauts convaincus. En aeoeptant la eonfrontation avec l'hellé-
nisme, ils ont peJ:1IIlis à une secte juive dissidente de se transfonner
en une insmtution eapable non seulement d'accueillir les gens simples de
tout l'empire I1omain, mais aussi cLe répondre aux besoins des lettrés
et des élites. En tirant les leçons de cette eonfrontation dans le cLomaine
des eomportemenrts, ils ont contribué à l'émergence d 'une Église à voca-
tion universelle, susceptible de cLoIliller leur plaee à tous: les hommes,
les femmes et les enfants, les maitres et les esdaves, les pauvres et les
riches, les étrangers et les grees. C'est done à l'hellénisme que le
ehristianisme des Peres doit d 'avoÍ<r acquis un projet et une dimension
universels. En combinant au message emémen, qui veut que tous les
croyants soient égaux devant Dieu dans le Christ, l'apport de la pensée
grecque, qui affinrne la validité universelle du raisonnement correcte-
ment concLuit, la patristique gI1ecque a réussi à lé gitimer ndée .d'une
religion vraie pour tous les hommes, pour tous les pays et pour toutes
les circonstances. Sans doute a-t-elle trahi, ee faisant, le projet des
philosophes grecs, dévalorisé au profit de la foi. II n'en reste pas
moins que, . d'une certaine fiaçon, elle a accompli l'idéal uuiversaliste
de la paieLeia.
Les Peres sorrt ainsi à l'ianage de l'Antiquité tardive, dont les histo-
riens savent bieu aujourd'hui qu'elle ne se caraetérise pas eomme une
période de déclin, ui, non plus, comme un âge d'angoisse, mais plutôt
pour I1eprendre une icLée de P. Brown, comme une période d'ouverture:
ouverture de l'espace, qui cesse d'être centré sur les vHles et qui
integre petit à ~tit les campagnes, ouverture de nouvelles relations
sociales, qui s'organisent autour d'un nouveau personnage dont les
relations avec le divin sont admises par tous: le saint homme, qui
s'appelle le martyr cLans les premiers siecles, l'évêque aux lHe et IVe
siecles, le moine ermite à partir du IVe siecle. Et ouverture de l'écriture
elle-même, qui invente des formes et eLes styles au service de la propa-
gation d'idées et de comportements nouveaux 63 .

63. Voir P. Brown, The Making of Late Antiquity, Harvard, 1978, traduit en
trançais par A. Rousselle sous le titre Genese de l'Antiquité tardive, Paris, 1983.
LA PLACE DU DROIT ROMAIN
"DANS LA PENSÉE JURIDIQUE MODERNE

JEAN IMBERT
Université de Droit de Pans

Les grandes civilisations antiques n'ont pas toutes laissé des traces
dans notre droit moderne: les Chaldéens, les Hittites, les Egyptiens
ont disparu sans nous légue"r aucune institution, aucun vocabulaire
juridique, aucune influence même lointaine dans nos coutumes ou nos
usages. De la civilisation hebralque, quelques institutiOiIlS ont subsisté
dans les siecles chrétiens: l'Europe a par exemple connu la dime, qui
s'est effaoée avec le prestige de l'EgHse. Nous ne gardons auj ourd'hui ,
dans quelques rares pays (Belgique, Grande-Bretagne par exemple) que
l'antique cérémonie de l'onction qui, depuis le temps de Samuel et
de Saül, imprime UiIl caractere sacré à la royauté, onotJion qui s'est
progressivement muée en un véritable sacre chez les souverains espag-
nols avant de s'imposer dans l'empire chrétien de Charlemagne. Encore
faut-il préciser " que cette cérémonie du sacre n'a plus de nos jours
qu'une significatlion symbolique dont le sens profond s'est perdu
au ~ours des siecles: le geste sacré s'est maintenu, mais personne
aujouJ1d'hui ne croit plus à l'origine divine du pouvoir ni que l'auto-
rité du souverain est puisée dans cette consécration liturgique. Le rite
s'est maintenu mais a perdu son sens origineI.
II n'en va pas de même des institutions grecques ou romaines, qui
ont profondément influencé et notre vocabulai.re et nos concepts juri-
diques. Bien entendu, certaines des conceptions antiques out été modi-
fiées en fonction de l'évolution politique, économique et sociale (à titre
d'exemple: disparition de l'esclavage) , et il ne pouvait en être autre-
ment! Mais le droit romain a gardé une prédominance technique qui, par
delà l'Europe, s'est étendue à l'ensemble du monde contemporain, même
422 JEAN IMBERT

dans les pays anglo-saxons et d'autres, qui au départ avaient fondé


leurs institutions et leur raisonnement juridique sur d'autres bases.
II y aurait beaucoup à dire sur la transnússion historique des
droits grecs et romains au fi! des deux millénaires qui ont vu leur
diffusion dans le monde occidental. En schématisant à outrance, on
peut dégager quelques étapes essentielles. La premiere est celle de la
poussée hellénisante: conquis militairement par les Romains, les Grecs
les ont conquis intellectuellement à leur tour, ' et la pensée grecque
a eu une part prédominante dans l'essor du droit classique romain.
Les prerniers jurisconsultes latins furent en effet les disciples des
philosophes grecs, édectiques ou stokiens; les écoles de rhéteurs ne
leur enseignaient pas seulement l'art oratoire, mais aussi la façon
de construire un raisonnement ou de mener une discussion, selon la
dialectique d'Aristote: elles leur ont appris également à définir les
conoepts et à classer les notions. Parmi ces notions qui ont profon-
dément influencé jusqu'à nos jours la philosophie et les normes juri-
diques, retenons surtout celles de loi, de coutume, de consentement,
mais aussi celle du droit de par nature, de droit naturel, héritée
d'Aristote, célébrée par Cicéron, renouvelée par Saint Thomas d'Aquin
et à laquelle tiennent encare beaucoup nombre de nos contemporains,
philosophes ou juristes.
La deuxieme grande étape se situe aux alentours du XlIe siecle,
que les historiens du droit désignent habituellement du nom de «renais-
sance du droit romain» . Au cours des siecles précédents en effet, un
autre systeme juridique fort différent avait triomphé dans une large
partie de l'Europe et avait laissé des traces profondes dans les coutumes
locales: le droit germanique. La lutte sera longue entre les deux con-
ceptions du droit, mais le droit romain s'imposera finalement par un
double canal: celui des universités , dont les deux seuls enseignements
juridiques fondamentaux (à Coimbra comme à Bologne ou à Paris)
étaient consacrés au droit canonique lui-même et à l'étude du droit
romain, considéré pendant des siecles coanrne un droit universel,
toujours en vigueur. Cette permanence de la jurisprudence romaine
eut évidemment une destinée différente selon les pays, mais elle est
indéniable. Ainsi, dans l'Allemagne de la fin du XIxe siecle, un proces
en responsabilité qui mettait en jeu une compagnie de chemins de fer
fut trrutlJOhé en se référant au Digeste de Justinien, du VIe siecle de
notre ere ...
La troisieme étape fondamentale est celle de la rédaction des
constitutions et des codes, qui s'étage du début du XIxe siecle à nos
LA PLACE OU OROlT ROMA lN OANS LA PENS~E JURlDIQUE MOOERNE 423

jours. Comme nous le verrons, les différents systemes politiques, même


lã ou n'ont pas été rédigées des constitutions, empruntent leur phra-
séologie aux termes grecs ou romains. Quant aux codes, il est patent
qu'iIs ne reproduisent pas intégralement les regles romaines. L'un des
premiers, le Code civil français de 1804, est un savant mélange de
droit coutumier et de droit romain, mais ii se réfere - sans le dire
expressément - aux concepts antiques, même s'il adopte des institu-
tions de droit coutumier, qui se sont pour ainsi dire pliées au monde
technique romain. Et chacun connalt le succes universel de la codifi-
cation, plus ou moins inspirée ou imitée ou guidée par le Code
Napoléon: la Rhénanie, la Belgique, le Luxembourg en ont adopté les
principes, qui se retrouvent par la suite en Hollande, en Allemagne
(le B. G. B. de 1900), en Suisse, en Italie, etc. Et ailleurs: ce sont des
Français qui ont participé activement à la rédaction du premier Code
japonais comme du premier Code éthiopien. Par l'intermédiaire des
colonisateurs, le droit romain, inspirateur des droits européens, a
pénétré en Asie du Sud-Est et en Afrique: le récent Code civil du Zaire,
qui va entrer eu vigueur le l er aout 1988, ne se comprend guere si
l'on ne se réfere pas aux concepts juridiques romains. L'un des derniers
grands codes rédigés, qui établit des normes pour quelques centaines
de millions de fideles, est le Code de droit cano nique de 1983, ou nous
retrouvons de nombreuses traces de la technique juridique romaine,
qu'il s'agisse de son plan, de son vocabulaire ou des institutions juri-
diques qu'iI adopte.. . et ceci d'autant plus qu'iI est rédigé en latin
dont iI conserve les termes (parfois difticiles à traduire en langue verna-
culaire, comme la restitutio in integrum, mentionnée au canon 1646).
Apres ce rappel trop rapide d'une évolution de plus de vingt siecles,
iI nous faut maintenant entrer dans le vif du sujet et examiner quelles
sont les techniques juridiques que nous avons héritées de l'antiquité
gréco-romaine, en voyant d'abolI'd les institutions grecques qui ont été
adoptées par la république romaine et l'empke, puis les nomnes pro-
prement romaines qui les ont complétées, adaptées, renouvelées.

I. LE MONDE GREC

Sur le plan des institutions politiques, le monde grec nous a légué


une terminologie dont tous les politologues contemporains se servent
couramment .. . sans d'ailleurs lui avoir gardé sa signification origineHe.
424 JEAN IMBERT

Le gouvernement des meilleurs - aristocratie - a pris un sens


légerement différent puisque, depuis deux siecles, iI tend à désigner le
gouvernement de la classe sociaIe la pIus élevée ou la plus riche,
qu'autrefais nos ancêtres, conservant la terminologie grecque, appelaient
la ploutocratie: la domination des aristocrates est désonnais confondue
avec celle des ploutocrates, que les Grecs distinguaient parfaitemoot.
Autre eXiemple: la tyrannie concernait dans l'antiquité le régime
instauré par un chef de parti, qui disposait de la totaHté du pouvoir.
Ce régime n'était pas nécessairement odieux; il permettait au contraire
d'instaurer une 1égis,l ation équitable ... mais le fils de Pisistrate, Hippias,
abusa tellement de son pouvoir que le vocabIe tyran prit alors un sens
péjoratif qu'il a gardé de nos jours. On pourrait le comparer - mutatis
mutandis - à un autre tenne grec, despote, qui désignait un maitre
absolu, teI1Il1e qui connut un regain de prestige avec le despotisme
éclairé du XVlIIe siecle et que Ies historiens contemporains utilisent
couramment.
Le terme monarque a connu, lui aussi, une évolution assez sen-
sible. En stricte logique, la monarchie désigne le gouvernemoot d'un
seul, de même que la dyarchie se référait à un gouvernement de deu x
personnes. Si Grecs et Romains l'ont employé dans san sens précis ,
le Moyen Age Iui a accolé une notion d'hérédité, et naus avons conservé
jusqu'à nos jours cette double acception du terme: gouvernement d'un
seul qui succede à son prédécesseur par droit héréditaire.
Quant à la démocratie, san sens précis a été perdu de vue lorsque
les «Lumieres » du XVlIIe siecle ont disserté à son sujet. II faut recon-
naitre que le régime caché sous ce mot pouvait revêtir de multiples
formes: la puissance du peuple peut en effiet revêtir des modalités
différentes, dans la mesure ou tous les citoyens se réunissaient pour
faire les lois (comme à Athenes) et ou, au contraire, les citoyens délé-
guaient leurs pouvoir à des représentants élus. Nos contemporains sont
allés plus lain encore en distinguant les démocraties populaires et les
démocraties libérales, mais l'attachement passionnel à la tenninologie
grecque traduit encore le prestige du mot et la notion - assez floue! -
qu'il recouvre.
Et que dire de la théocratie, tenne sans doute inventé par l'écrivain
juif Flavius Josephe, qui lui préfere d'ailleurs hiérocratie (souverai-
neté des pr,êtres), théocratie souvent employée par les historiens
modernes ou les publicistes contemporains pour désigner la prédomi-
nance de la mligion et de ses pontifes dans 1m régime politique?
Le terme anarchie se retrouve égaIement, aussi bien dans Ies pays
LA PLACE DU DROlT ROMAIN DANS LA PENSÉE JURIDIQUE MODERNE 425

anglo-saxons que dans les autres. Bien d'autres termes grecs ont passé
dans notre terminologie moderne: canon (pour regle); et le régime
de la cité (polis) a donné naissance à une véritable science que naus
désignons en de nombreuses langues du nom de «poJitique».
Certes, d'autres vocables grecs ont au contraire disparu, distancés
par des appellations romaines qui les ont supplGlJIltées: le titre de basileus
(roi), utilisé par Alexandre le Grand, a bien été repris par Héraclius
et les empereurs romains d'Orient, mais n'a laissé aucun souvenir
dans nos institutions politiques mooernes. II en va de même du terme
qui désignait la loi - nomos - dont Pindare disait déjà, cinq cents
ans avant notre ere, qu'elle était mere de toutes choses . Le concept
de no mos a bien survécu, mais le vocable a cédé la place à l'appellation
romaine de lex ... Seuls les savants parlent encore de nomographie ou
de nomologie!
Si le vocabulaire grec a soellé pour de longs siecles la terminologie
politique, le droit privé de la Greoe antique a laissé, lui aussi, des traces
tangibles dans le monde moderne: les termes grecs, adoptés et utilisés
par les Romains, ont la plupart du temps gardé leur sens origineI.
Dans le droit des contrats, qui traduisent juridiquement bien des
relations sociales, les mats grecs sont encore en usage courant dans
bien des pays. Nous paI'lons couramment de contrats synallagmatiques,
qui désignent une forme de transaction habituelle, tandis que l'acte
chirographaire (éorit à la main) , continue à caractériser l'acte écrit
signé de la main du débiteur; l'une des formes du testament emprunte
encare au gJ1ec sa qualification d'o1ographe.
La technique juridique grecque - et tout particulierement celle
d 'Athenes - a été souvent adoptée par Rome, qui nous a transmis
des vocables que nos contemporains utilisent toujours. Les exemples
en sont assez nombreux et seuls queIques cas précis seront retenus .
L'anatocisme entend encare indiquer que les intérêts non versés annuel-
lement par le débiteur s'ajoutent chaque année au capital initial et
produisent eux-mêmes intérêt. L'antichrese est comme autrefois un
contrat par lequeI un débiteur. abandonne à san créancier l'un de ses
biens afin qu'il en perçoive les fruits (pour sureté de sa créance) .
L'emphythéose, comme en Grece ou à Rome, caractérise toujours les
baux de longue durée (18 à 99 ans) dont on peut trouver de nombreux
exemples oontemporains.
Ce sont encore les Grecs qui ont donné ses caracteres essentiels
à une institution bien connue, l'hypotheque, qui consiste en un droit
426 JEAN IMBERT

réel qui greve un immeuble pour garantir le paiement d'une dette:


les pays anglo-saxons lui préferent le terme mortgage, mais lui ont
attribué les mêmes caractéristiques juridiques qu'à l'hypotheque.

II. LE MONDE ROMAIN

Le monde romain, s'il n'a pas hésité à adopter les termes. et les
techniques des Grecs, a en outre fait preuve d'imagination et alui aussi
contribué fortement à modeler nos concepts et notre langage modernes.
Des institutions politiques de la Rome antique, nous avons gardé
le rex, qui a donné naissance à roi, royal, royauté, qui a fait une sérieuse
concurrence au vocable grec monarque et qui, comrrne lui, a revêtu
progress!ivement une tonalité héridhaire qu'il n'avait pas à l'origine.
Mais les mutations institutionnelles de la royauté sorrt peu de
choses si nous les comparons à celles qu'a subies un autre terme dont
l'usage est encore beaucoup plus courant: la République. La res publica,
c'est tout simplement à Rome la chose publique, qui s'oppose aux
intérêts particuliers: elle ne désigne pas un régime politique bien défini.
Preuve en est qu'Auguste, quand il crée ce que nous appelons l'empire,
entend tout simplement restituer la «république», et ne craint pas de
se proclamer sauveur de la liberté: il a dli passer pour teI aux yeux
de ses contemporains, fatigués d'une longue période de guerres civiles.
Et c'est encore le sens d'Etat, sans aHusion a une forme précise de
gouvernement, que nous trouvons chez les auteurs du XVle siecle, par
exemple Bodin avec ses «six livres de la République». La transmutation
du teJ1IIle s'opere au XVlIIe siecle, lorsqu'on oppose la République à la
Royauté: les révolutionnaires français, apres avoir coupé la tête à
Loui,s XVI, adopteront la république pour désigner U!ll régime sans roi,
mais sans lui donner un sens technique bien précis, de telle sorte
que de nos jours encore des régimes fort différents se cachent sous
l'appellation non contrôlée de république, qu'il s'agisse de républiques
populaires ou démocratiques ou libérales ...
L'empire - hérité de l'imperium romain aussi bien en anglais qu'en
français - n'a guere un sens plus précis. Vn livre de 500 pages a été
consacré en 1980 au concept d'empire, et décrit bien l'évolution du
terme. Son sens strict renvoie évidemment à l'empire romain puis
à ses dérivés, du Saint Empire Romain Germanique à Napoléon ou
Bokassa, en passant par Mussolini. Mais, d'autre part, les occidentaux
(et d'autres) ont inventé un sens élargi du mot «emp'ire» en y faisant
LA PLACE OU OROlT ROMAIN OANS LA PENS~E JURIDIQUE MOOERNE 427

entrer tout ce qui s'apparentait à une grande surface territoriale dont


le centre peut être constitué par une monarchie ou une république
qui a dominé des populations hétérogenes: ici encore, la richesse du
mot a conduit à des emplois fort diverso
Les termes de droit public romain ont done connu une longévité
exceptionnelle, même si leur sens origineI s'est plus ou moins modifié:
ainsi, le dictateur désignait l'homme politique auquel on confiait les
rênes de la république pour six mois; iJ désigne toujours un homme
unique et omnipotent, mais sans limitation de durée.
Quant au droit privé romain, il est la base fondamentale du droit
européen, et de bien d'autres, même s'iI a subi quelques déviartions
dues à l'évo.Jution divergente des Etats depuis le XVle siecle. II avait
en effet été adopté par l'Eglise, dans la mesure même ou il ne heurtait
pas de front les prindpes de l'Evangile. Ses données fondamentales
ont été conservées, souvent dans leurs termes mêmes. Vn bon exemple
nous en est foumi par le mariage, ou le droit canonique et nombre
de droits eontemporains eonservent encore la maxime romaine: Nuptias
non concubitus sed consensus facit, selon un fragment d'Ulpien repro-
duit au Digeste, et bien des institutions concemant le mariage ont fait
leur réapparition au XIle siecle, apres l'éolipse due aux infiltrations
germaniques: ainsi les fiançailles, ainsi les conditions d'âge et d'absence
de parentéentre les époux, ainsi le délai de viduité, ains,i le divoree,
toutes institutions qui se sont pérennisées.
La structure de la famille reste romaine, même aux temps que
nous vivons et qui ont vu l'apparition d'une génétique nouvelle qui
trouble les données traditionneHes. Dans bien des pays, subsiste la
regle pater is est quem nuptiae demonstrant: l'enfant eonçu pendant
le mariage est considéré avoir pour pere le mari de la mere, ce qui
n'est plus nécessairement vrai aujourd'hui, avec la fécondation in vitro.
De même tous les pays - ou presque! - connaissent l'adoption, insti-
tution romaine qui avait pour hut de procurer une postérité légitime
au pere de famille qui ne peut eu avoir selon la nature, ainsi que la
légitimation, inventée par les empereurs romains ehrétiens pour per-
mettre aux concubins de rendre légitimes leurs enfants naturels en
régularisant leur situation par un maI1iage subséquent. Dans le droit
suecessoral, la computation romame subsiste dans ses grandes lignes
pour déterminer l'ordre des héritiers: seule la femme mariée a obtenu
alljourd'hui plus de droits dans la sueeession de son mari qu'elle n'en
avait dans le syst6ne romain.
428 JEAN IMBERT

On a dit maintes fois que le droit des contrats des pays ' européens
ponvait être facilement um.ifié, justement parce qu'en ce domaine tous
les droits nationaux avaient adopté la terminologie et la technique du
droit de Justinien, dans le dernier état du droit romain. Tous les
oontrats reposent depuis cette date sur le consentement des cocon-
tractants, qui doivent respecter certaines formes obligatoires différentes
selon les types de contrat, . pour en assurer la preuve (notamment la
rédaction éventuelle d'un écrit). Et les contrats les plus fréquents
portent encore leur dénon1ination romaine, qu'il s~agisse de la vente,
du louage, du prêt, du commodat, du dépôt, etc., tandis que les vices du
oonsentement affec~ant ces contrats sont repris de la terminologie
romaine: erreur; doI, crainte, etc.
L'article 1780 du Code civil français, toujours en vigueur, parle
encore de «louage de services» (traduction littérale de locatio operarum),
alors que depuis le début de notre sieole la pratique a lancé une
expression plus moderne: contrat de travail ...
Quant aux droits que I'homme peut exercer sur les choses, le droit
romain nóus a légué une distinction fondamentale, adoptée par presque
tous les pays: d'une part la propriété, qui entraine l'usus, le. fructus et
l'abusus (droit absolu mais non pas illimité) et d'autre part la posses-
sion, qui se manifeste par des actes matériels d'usage et de jouis's ance,
possession qui est protégée dans l'intérêt de la paix et du bon ordre,
et qui ne nécessite pas comme la propriété la production d'une preuve
toujours difficitle à fournir: le sim.rple fait de détenir une chose jouit
de la protection légale, I'Etat réprimant tout acte de violence troublant
la possession paisible. Et, outre le concept de propriété, nous tenons
encore de la tec.lmiqu~ romaine la réglementation des droits réels sur
la chose d'autrui, que nous appelons comme dans l'antiquité les servi-
tudes et les usufruits . .
Les exemples de .la survivance du droit romain dans les civilisa-
tions contemporaines pourraient .être aisément multipliés. Les termes
techniques se :retrouvent um. peu partout, quitte à être déformés et
parlois à . perdre Jeur sens origineI. Vn seul exemple de «déformation»
suffira: le ler aout 1988, va entrer en vigueur le nouveau code. civil du
Zaire. Ce code n'abandonnepas la vieille tradition africaine du verse-
ment d'une somme d'ai'gen:t . à la famiUe de la femme que l' on désire
épouser: oomme le législateur zairois n'a pas voulu parler d'«achat»,
il emploie la terminologie latine de la «doÍ»... qui, dans son sens
LA PLACE DU DROIT ROMAIN DANS LA PENS~E JURIDIQUE MODERNE 429

preCls, désigne les biens que la femme apporte à son mari et non pas
ceux que le mari donne pour se procurer une femme. Plus ou moins
malmenées, les institutions romaines subsistent et aurout la vie longue!

*
* ~,

En terminant cet exposé nécessairement tres technique, que vous


voudrez bien me pardonner, iI me reste à signaler l'influence la plus
profande, encore que diffuse, du droit antique, de ce droit romain
aHmenté par la pensée grecque qui en a fait le modele normatif le
plus élaboré et le plus completo Initiés par la logique aristotélicienne,
les juristes de l'époque classique romaine nous ont légué la rigueur des
définitions, la précision des distinctions, la classification des concepts
et une méthode de raisonnement qui est devenue universelle, ce qui
méritait d'être signalé dans le présent congres.
e'est en effet dans la tradition héritée du droit gréco-romain que
se maintient avec le plus de vitalité, dans son intégrité linguistique, la
culture gréco-Iatine célébl1ée avec tant de foi par le Président Senghor.
Dans la plupart des Etats, même dans les pays anglo-saxons ou cette
tradition romaine est moins vive, nous continuons à légiférer, à discuter,
à raisonner, à trancher les litiges comme le faisaient les jurisconsultes
de l'époque olassique romaine: c'est là sans doute leur plus beau titre
de gloire.
(Página deixada propositadamente em branco)
IV
IGREJA E LATINlDADE
/ /

EGLISE ET LATINITE
(Página deixada propositadamente em branco)
CE QUE LE CHRISTIANISME
DOIT A LA ROME ANTIQUE

R. SCHILLING
Université de Strasbourg

A Paulo principium.
Peut-êtI'e l'apôtre Paul n'existerait-il pas, si sa vie n'avait été pro-
tégée dans une période critique par la loi I'Omaine. Souv,e nons-nous
en effet du passage des Actes des Apôtres (21,27 s.): alors qu'il s'était
rendu à Jérusalem et qu'il était entré dans le temple, il fut accusé
par les Juifs de violation du tem.ple (sous prétexte qu'il y avait introduit
des «gentils»: 21,28). AlOI1S, tandis que les Juifs cherchaient à leur tuer
(21,31), iI fut libéré et sauvé par un tr1bun de cohorte romain. Par la
suite, comme le tribun, bien qu'il l'eílt sauvé, avait ordonné de le faire
«fouetter de verges» (22,24) selon la ooutume, pour l'interroger, Paul
déolara qu'il était citoyen romain (22,25): iI dit expressément: «pour
ma part, je suis même né citoyen romain» (22,28).
Le lendemain, oomme iI se présentait devant le Sanhédriu, Paul
fut de nouv,e au, pour des raisons de sécurité, «a.rraché à la foule et
eIIl!ll1ené au camp romain» par le tribun romain qui craignait «qu'il
ne rut mis en pieces en raison du tumulte» (23,10) .
Ce ne fut pas la fin de tribulations de Paul. En ef.fet le lendemain,
alors que le tribun avait appris que les Juifs s'étaient engagés par
serment à faire périr PauJ., il prit des mesures de précaution en recru-
tant «deux oents soLdats, soixante-dix cavaliers et deux cents auxi-
liaires» (23,23-24) pour que Paul «rut conduit sain et sauf aupres du
gouv,e rneur Felix» (cet Antonius Felix était procurateur de Judée depuis
l'an 52 jusqu'à 59 ou 60) * avec cette letJtre: «Claudius Lysiae adresse son

* Antonius Felix était le frere de Panas l'affranchi de Néron: cf. R. E. s. v.


Antonius Felix c. 2616 s., n. 54.

28
434 R. SCHILLING

salut à san Exeellence le gouverneur Felix. Cet homme avait été pris par
les Juifs et allait être tué par eux quand je suis survenu avec ma troupe
et le leur ai soustrait en apprenant qu'il était Romain ... » (23,25-27).
Alors les Juifs tenterent pour la troisieme fois, à l'instigation du
grand-pI1être Ananias, de perdre Paul devant le goruverneur Felix en
l'accusant d'être UIIl «hormne pestiféré»: mais en vain car eelui-ci renvoya
les accusateurs (24,22). Cependant Paul était toujours dans les ehaines
à Césarée parce que Felix voulait tout de même «être agréable aux
Juifs». Son suocesseur fut Portius Festus (24,27).
A nOUVieau les chefs des prêtres s'efforcerent de perdre Paul (25,1).
En effet ils demanderent à Festus «de donner l' ordre de conduire Paul
à Jérusalem, avec l'intention de préparer un traquenard pour le tuer
en oours de route» (25,3). Comme Festus lui demandait s'il voulait
«monter à Jérusalem» et «être jugé là-bas» en sa présenoe, Paul refusa
en disant: de suis devant 1e tribunal de César, c'est là qu'il convient
de me juger ... ren appelle à César» (25, 10-12).
C'est ainsi qu'à plusieurs reprises Paul échappa à la mort sous la
sauvegarde de la loi romaine. Jamais I'apôtre n'oublia oette protection.
En effet plus tard iI n'o:mit pas d'énumérer toutes les souffrances qu'il
avait endurées «·au cours de multipJes épreuves et de quantité d'empri-
sonnements; j'ai été - poUJI1suit"iI- roué de nombre de ooups et menacé
souvent de morto Les Juifs m'ont infligé à dnq reprises les trente-neuf
coups de fouet ... » (Cor. 11,11,23-24). Ailleurs (Rom. 13,1) iI s'écria:
«Que tout esprit soit soumis ,a ux puissances supérieures: car iI n'y a
pas de puissanoe qui ne procede de Dieu». Et utilisant 1es mêmes
paroles que 1e Christ à propos de César (cf. Matth. 22,21), iI fit cette
dédaration: «VoiJà pourquoi vaus devez payer l'impôt, car c'est avec
l'agrément de Dieu qu'agissent les agents préposés à oet offioe. Rendez
dane à ,t ousoe que vous devez: l'impôt à qui perçoit l'impôt, la redevance
à qui perçoit la redevance» (Rom. 13,7).
Voilà pourquoi iI ne m'a pas paru inutile de rappeler les circons-
tanoes qui auraient entraíné Paul dans une mort prococe sans une
intervention au nom de l'autorité romaine. 01' peut-on imaginer le
christianisme, surtout aux premiers temps, sans Paul? II n'est pas
besoin de poser la question plus longtemps pour comrprendre quel rôle
a joué l'ordre romain - et eombien de fois, à l'aube du christianisme,
pour assurer la sauv,e garde du plus dynamique des arpôtres.
Venons-en à des ,o onsidérations plus générales. L'historien qui s'inté-
resse à l'implantation I1o:maine du christianisme au cours des quatre
premiers siecles est conduit à méditer sur deux eonstatations fonda-
CE QUE LE CHRISTIANISME DOIT A LA ROME ANTIQUE 435

mentales. La premiere concerne la situation religieuse de l'empire


romain. En apparence, iI s'agit toujours d'un polythéisme, qui a subi
de fortes influences extérieures (helléniques et orientales). En fait, ce
polythéisme avait éVoOlué depuis quelque temps vers un hénothéislIne,
c'est-à-dire vers l'affirmation de la suprématie d'un seul dieu - posi-
tion qui peut constituer une étape vers le monothéisme 1. A cet égard,
l'assimilation faite par Varron 2 «entre Jupiter et le dieu des Juifs»
est d'autant plus révélatrice qu'elle émane d'une personnalité éminente
dans la cité romaine.
CeUe idéologie, fondée sur le «regne de Jupiter» avait entrainé
une aura de respeot pour l'empereur, que le fondateur de l,a dynastie
julienne s'é1lait ingénié à favoriser grâce à La complaisance complice
des poetes. S'il ne faisait pas l'objet d'un cuIte véritable, de soOn vivant,
du moins en Occident (contrairement aux usages de l'Orient), le prince
régnant passait pour le représentant sur terre du dieu suprême, et en
tant que tel, bénéficiait d'une vénération qui se transformait en culte
véritable à sa mort (alors iI était oensé devenir un diuus, hors le cas
d'indignité, sanotionné par la damnatio memoriae).
Horace 3 avait olairement fOI1IIlulé ceUe conoeption au bénéfice
d'Auguste, peu de temps apres que ce titre prestigieux d'Augustus 4
eut été conféré (en 27 avant J. C.) par le sénat romain à Octave, devenu
le maítre du monde par la victoire d'Actium (00 31 avant J. C.), en
adressant la priere suivante à Jupiter:

«Pere et gardien de la race humaine,


Fils de Saturne, le soin du grand César
T'a été confié par les destins: puisses-tu
Régner avec César pour second!»

Ainsi Rome propoOsait aux peuples assujettis à sa loi une souveraineté


que le Christ a reconnue dans sa fameuse réponse aux pharisiens
(Mathieu, 22,21): "Rendez à César ce qui est à César et à Dieu ce qui
est à Dieu».

1. Cf. le chapitre «Le romain de la fin de la république et du début de


l'Empire en face de la religion» de mon livre Rites, cultes, dieux de Rome (=RCDR)
(Paris, Klincksieck, 1979), pp. 71-93.
2. Cf. Augustin, De consensu euangelistarum 1,22,30: Varro deum Iudaeorum
Iouem putauit.
3. Horace, C., 1, 12,49-52. L'ode est datée entre les années 25 et 23 avant J. C.
4. Sur Augustus, cf. G. Dumézil, Idées Romaines (Paris, 1969), p. 81 s.
436 R. SCHILLING

L'autre constatation réside daps un contraste saisissant, pour peu


que l' on suive l,e développement du christianisme au cours des quatre
premiers siecJes. Alors qu'il naquit en Orient, sur la terre de Judée
(un protectorat romain sous le roi Hérode, puis une province procum-
torienne), le christianisme fixera son ancrage définitif en Oocident et,
singulieI'ement, dans la capitale romaine. Ce transfert d'est en ouest
apparaissait d'autant moins inéluctable à I'origine que d'autres métro-
poles, oriell'taJes, jouissaient d'un grand prestige, teHe Ephese, ou
St Paul avairt fondé une Eglise 5. Et puis, ce transfert s'est accompli
en sens inverse du déplacement de la capitale politique de I'empire,
qui a eu lieu de I'ouest vers I'est, à la fin du même laps de temps:
quand Consrtantin délaissera Rome pour fonder Constantinople eu 330.
L' établissement à Rome d'une Eglise appelée au rôle primordial
n'était pas un hasaI1d. C'est là que le peUipJe chrétien pouvait vénérer
les reliques des -deux apôtres martyrs, Pierre et Paul. Des le II e siecle,
le prêtre Gaius revendiquait hautement le priviJl.ege romain de possé-
der les tombes des princes des apôtres (de Pierre au Vatican et de
Paul SUT la voie d'Ostie). Les persécutions ne restreignirent nullement
ce culte des reliques. On sait qu'au milieu du llIe siede la persécution
de I'empereur Vialérien a provoqué une translation (sans doute partielle)
des restes de Pierre et de Paul sur la voie Appienne, au lieu dit ln
Catacumbas; la vénération des deux apôtres en cet endroit est bien
attestée par les nombreux grafitti de la triclia sous fOI1IDe d'invocations
adressées à Pierre et à Paul 6.
Des lors, il n'est pas surprenant que l'Eglise de Rome ait bénéficié
tres tôt d'une oonsidération particuliere. Cel1e-ci rejaillit logiquement
sur l'évêque de Rome. Témoms, les déclarations des premiers auteurs
chrétiens. Ainsi, Cyprien considere que la chaire de Pierre, siege de
l'év,ê que de Rome, constitue «la souroe et l'origine de l'épiscopat» 7 .
Ce point -de vue est en acooI1d avec le sentiment qu'avaient déjà exprimé
Tertullien et lrénée; le premier notait que Simon reçut le nom de

5. Actus Apostolorum, 19,8.


6. A propos des problemes soulevés par cette translation de reliques en 258
apres J. C., cf. ma mise au point: «Est-il possible de donner une réponse au
probleme soulevé par le double culte de St. Pierre au Vatican et à St. Sébastien?»
in Miscellanea in onore di Enrico Iosi, I (= RAC, 1966, publ. 1968), pp. 287-295.
(La translation s'est sans doute limitée au,'{ capita, aux chefs des apôtres, selon
]'intuition d'Enrico Iosi) .
7. Cyprien, De catholicae ecclesiae unitate, 4.
CE QUE LE CHRISTIANISME DOIT A LA ROME ANTIQUE 437

Pierre (cf. Mathieu, 16, 18) «pour construire l'Eglise» 8 et que les clefs
du cieI avaient été données à l'Eglise par son entremise 9; le second
avait reconnu à l'Eglise de Rome une potentior principalitas e:n vertu
de sa fondat~on par les apôtres Pierre et Paul 10. II appartient toutefois
à Cyprien d'avoir énoncé les formules les plus expHcites: «(L'Eglise de
Rome) est la chaire de Pierre et l'Eglise principale d'ou est née l'unité
épiscopale» 11; ailleurs: «(L'Eglise de Rome) est la mere et la souche
de l'église universelle» 12 .

*
* *
Ce primat de Rome ne sera pas sans importantes conséquences.
Tout d'abord, le siege de l'évêque romain apparaitra de plus en plus
comme un roc au milieu des tempêtes - le roe «contre lequel ne
prévaudront pas les portes de l'enfer», conformément aux promesses
évangéliques (Mathieu, 16,18). Force est de constater que les premiers
troubles dans l'Eglise sont dus essentiellement à des mouvements
d'origine orientale. Signalons-en quelques-uns.
Ainsi, la secte des Encratites, représe:ntée en particulier par le
syden Tatianus 13, prêchait un rigorisme ascétique qui allait jusqu'au
refus du mariage et de la procréation: elle fut combattue par Irénée.
Ain:si, les Marcionites, fondés au He si~de par un nommé Marcion,
originaire de Sinope, rejetaient le Dieu de l'Ancien Testament qui leur
apparaissait dur et cruel au seul profit du Dieu du Nouveau Testament,
bon et miséricorclieux, qui eSlt le pere de Jésus-Christ: Tertullien a
écrit le Contre Marcio1'l pour réfuter leur enseignemenrt. Quant à la
doctrine des Manichéens 14, sectateurs de Mani (ou Manes), elle se
répandit au lHe siecle à partir de la Perse, proelamant la distinction
irréductible entre Dieu et la Matiere, entre le Bien et le Mal: cette
hérésie subit les attaques de TertulHen 15.

8. Tertullien, De praescriptione haereticorum, 22.


9. Idem, Scorpiae, 10.
10. Irénée, Aduersus haereses, 3,3,2. Sur Irénée, évêque de Lyon, cf. R. E.,
s. v. Eirenaios n. 8, c. 2124 s.
11. Cyprien, Epistulae, 59,14.
12. Idem, Epist., 48,3.
13. Cf. R. E., s. v. Tatianus n . 9, c. 2%8 s.
14. Cf. R. E., Suppl. VI, s. v. Manichlüsmus, c. 240 s.
1'5. Tertullien, De praescriptione haereticorum , 7.
438 R. SCHILLlNG

Mais la vague, peut-être la plus subversive qui vint de l'Orient,


fut au ue sieole le montanisme. Son fondateur, Montanus 16, originaire
de Phrygie, avait été prêtre de Cybele (ou d'ApolJon selon d'autres
versions) avant sa oonv'e rsion au christianisme. Tres tôt, i! versa dans
un mysticisme exalté, assisté qu'il étaJit par deux femmes, Maximilla
et PrisciUa. Convaincu de ses dons prophétiques, il s'esrtima au-dessus de
toute forme institutionnelle, au-dessus de l'autorité des évéques et i!
n'hésitait pas à préférer, au nom d'une inspiration permanente du
Paraclet, ses propres lumieres à l'Ecriture. Cette exal.tation prophétique
et cet appel aux reSSOUI'ces intuitives ont réus si à séduire l'esprit
fougueux de Tertullien qui, de pourfendeur d'hérésies, devint vers la
fin de sa vie un adepte du montanisme: cette adhésion lui fit renier
ses premieres proc1amations sur le primat de Pierre ... 17.
On conçlOit que l'Anonyme cité par Eusebe 18 se soit employé à
combattre un mouvement qui était en opposition flagrante avec toute
la symbolique représentée par le siege de Rome: l'unité de l'Eglise,
l'autorité épiscopale, la sauvegarde de l'orthodoxie. On le comprend
d'autant plus que cette doctrine tenta de se déployer à l'intérieur même
de la cité romaine: nous savons que le prêtI'le Gaius, témoitn au ue
siecle des sépultures apostoliques, pOll émique contre un chef monta-
niste nommé Proclus 19.
Ce refus des élucubrations importées de l'orient, cette allergie
instinctiv,e du génie de Rome qui, pour reprendre l'expression célebre
de Juvénal 20 , ne peut supporter que de fleuve de Syrie, l'Oronte,
déverse sa lie (faex) dans le Tibre», ne représente, somme toute, qu'un
aspect - un aspect négatif pour l'observateur attentif au climat spiri-
tuel. Examinans maintenant les alpports positifs de l'insertion romaine
du christianiSlITIe.
C'est d'aboI'ld l'iIIIlmense espace unifié par la puissance romaine,
qui a offert un vaste champ de diffusion au chrisüanisme naissant.
Aussi, le chrétien Orose a-t-i! voulu rendre justice, au début du Ve sieole,
à l'ceuvre de pacification réalisée par Auguste. II a rappelé le rite
solennel de la clôture du temple de Janus, qui marquait à Rome la fin

16. Cf. R. E., s. v. Montanus n. 17, c. 206 s.


17. Tertullien, De pudicitia, 21.
1-8. Eusebe, Hist. eccl., 5,16,7.
19. Cf. R. E., s. v. Gaius n. 7, c. 509.
20. Juvénal, 3,61 s.
CE QUE LE CHRISTIANISME DOIT A LA ROME ANTIQUE 439

des guerres et l'avenement de la paix dans l'empire 21: «L'an 752 de la


fondation de Rome, César Auguste, apres avoir réuni dans une même
paix tou:s les peuples s1tués sur tou:t le pourtour de la mer, depuis
l'orient jusqu'à l'occident, depuis le septentrion jusqu'au Midi, put
fel1IIler pour la troisieme fois les portes du temple de Janus». Et il a
ajouté 22: «En ce temps-Ià, c'est-à-dire l'aD!l1ée ou, par une disposition
providentielle, Auguste établit une paix solide et véritable, naquit le
Christ: son avenement a été servi par cette paix et, à sa naissance,
les hommes purent entendre les anges chanter dans l'allégresse: Gloi.re
à Dieu au plus haut des cieux et paix sur la terre aux hommes de
bonne volonté». Témoignage suppJémentaire de gratitude envers Au-
guste: l'historien chréüen lui fait gré d'avoir refusé, «au moment ou
il était parvenu au faíte de la puissance, le titre de dominus hominum,
alors que devait naitre pa:n:ni les hommes le véritable dominus de tout
le genre humai.n» 23. Cette discrétion d'Auguste qui refusa non seule-
ment la divinisation, de son vivant, mais encore la sal'lltaJtion dominus
fournit à Orose l'occasion d'um paral1ele contrasté avec l'empereur
Domitien qui, à la fin du Ie siecle, se fi.t, lui, appeler dominus et deus 24.
L'espace romanisé présemtait à terme un autre avantage pour le
christianisme: une unÍ'té linguistique. Sans doute convient-il ici de
tenir co:mpte à la fois de la politique romaine em matiere linguistique
et de l'évolution de la communauté des chrétiens au cours des trois
premiers sieoles. Rome n'a jamais imposé sa langue aux di.fférents
peuples qu'elle a pris en gestion. En particulier, elle a respecté la
langue et les tradition:s grecques qui étaient restées vivantes dans toute
la part1e orientale de l'ernpire. Une preuve éclatante de ce respect
est la publication bilingue, en latin et en grec, du testament d'Auguste,
qui, par un paradoxe piquant, n'est parvenu à notre connaissance que
grâce à sa conservation dans la virlle orientale d'Ancyre (la moderne

21. Orose, Aduersum paganos, 6,22,1. L'an 752 de la fondation de Rome


correspond à 2 avant J. C. - A propos de la triple fermeture du temple de Janus
sous Auguste, voir Res gestae diui Augusti, éd. Gagé (Paris, Les Belles Lettres,
1977), 13, p. 95.
22. Ibidem, 6,22,5.
23. Ibidem, 6,22,5. - L'allusion d'Orose fait référence à une anedocte rap-
portée par Suétone (August., 53,1): au cours d'une célébration de jeux à laquelle
iI assistait, un public enthousiaste voulut donner le titre dominus à Auguste qui
décIina cet honneur.
24. Ibidem, 7, 10,2. - Cf. aussi le témoignage de Suétone, Domit., 13, 4.
440 R. SCHILLING

Ankara) 25. Mais cette attitude libérale n'a pas empêché le latin de
devenir la langue administrative commune à tout l'empire et de servir
de véhicule linguistique universel.
Quant au message chrétien 26, il a été diffusé hors des frontieres
de la Palestine, comme on sairt, dans la XOL'J'lí grecque. Cette langue
s'est imposée dans l'orient (ou d'autres langues, par exemple le syria-
que, auraient pu la concurrencer) avec d'autant plus d'autorité qu'elle
avait été déjà choisie par 1es Septante pour la traducrtion de la Bible.
II ne fait pas de doute qu'en occident également, en raison des origines
de la plupart de ses membres la communauté des chrétiens établie à
Rome (peut-être des 40; surement avant l'incendie de Rome de 64,
qui leur fut imputé par Néron) TI pratiquai1 le grec. Ainsi, le plus
ancien texte liturgique rornain, la Tradition apostolique d'Hyppolyte
de Rome (vers 200), est rédigé en grec et sur la liste des quatone
noms de papes des deux premiers siecles, on en a dénombré dix qui
sont grecs.
Mais l'insertion de cette communauté dans l'écrin romain, sans
parler de l'arrivée de nouveaux oonrvertis, de langue latine, ne pouvait
que favoriser avec le temps une latinisation progressive. En effet, il ne
faudrait pas rprendre à la lettre les outrances satiriques d'un Juvéna.l
qui s'écrie: de ne rpuis supporter, ô citoyens, une Rome grecque ... » 28?
Pas plus que l'Oronte syrien (qu'il évoque tout aussirtôt) ne s'est deversé
dans le Tibre latiIn, la minorité grecque n'a jamais mis en péril la
latinité de Rome. L'exaspération de Juvénal ne fait que refléter l'agace-
ment des citoyens «établis» d'une société en face de minorités étran-

25. Cf. l'introduction de l'édition Res gestae diui Augusti par J. Gagé (Paris,
1977) p. 5 S . et p. 43 S. - De modestes fragments ont été également trouvés à
Antioche et à Apollonie. Rien ne subsiste de l'original, qui, gravé sur une table
de bronze, devait être placé devant le mausolée d'Auguste à Rome (Suétone,
August., 101,6).
26. Les considérations suivantes doivent beaucoup pour la documentation
à l'ouvrage de Cyrille Vogel, Introduction aux sources de l'histoire du culte
chrétien au Moyen Age (Spoleto, S. d.), p. 241 S. Nous renvoyons pour plus ample
information à cet exposé accompagné par une abondante bibliographie. Les
emprunts textuels sont cités entre guillemets.
27. Cf. Tacite, Annales, 15,44.
28. Juvénal, 3,60-62:
... .. ........... .... .. .. Non possum ferre, Quirites,
graecam Vrbem; quamuis quota portio faecis Achaei?
Iam pridem Syrus in Tiberim defluxit Orontes.
CE QUE LE CHRISTlANISME DOIT A LA ROME ANTlQUE 441

geres, trop «I"e[Jluantes» ou trop «voyantes» - un phénomene sociolo-


gique constant à travers les siecles.
Cette latinisation a dü s'accomplir par étapes et comporter sans
doute une coexistence temporaire du grec et du latin dans le culte.
«Les textes latins les plus anciens de Rome (vers 150) sont des versions
du grec: texte latin de la Lettre de Clément aux Corinthiens (original
grec Ve!rS 96; traduction latine de la seconde moitié du He siecle);
version vuJgate du Pasteur d'Hermes (milieu du He siecle); version
latine de la Doctrine des Apôtres. Toutes ces versions, effectuées à
Rome (Bardy, Harnack, Mohrmann) plutôt qu'en Afrique (Haussleiter)
témoignent du besoin de disposer de deux langues pour atteindre
l'auditoire dans sonoentier. II n'est pas int,e rdit de penser que le pre-
mier apport latin à l'Eglise de Rome date de l'époque Oll l'africain
Viotor I fut évêque de Rome (193-203) . Vers 250 seulement apparaissent
à Rome des textes rédigés directement en latin: ainsi, le traité de
Novatien, De Trinitate (vers 256), les Lettres du pape Corneille à Cyprien
de Carthage, la Lettre du clergé de Rome au clergé de Carthage» 29.
C'est ainsi que progressivement le latiu l'a emporté dans la commu-
nauté chrétienne.
On peut dire qu'à partir du lHe siecle la pratique du bilinguisme
tend à disparaitre au profit exclusif du latino En effet, depuis 250, la
correspondance des évêques et du clergé de Rome ne se fait plus en
grec. L'inscrriJpüon funéraire du pape Corneille mort en 253 et inhumé
vers la fi!l1 du lHe siecle sur la voie Appienne à St. Callixte constitue
par elle-même un dooument officiel de l'Eglise de Rome: elle est la
premiere à être rédigée en latino
«C'est aussi à partir de 250 environ, quand le latin est devenu
langue officielle de l'Eglise de Rome, que la communauté chrétienne
perd jusqu'à la connaissance des sources grecques de son histoiI'e;
elle devra les redécouvrir bien plus tard dans la traduction latine de
l'Histoire ecclésiastique et de la Chronique d'Eusebe. Le souvenir des
anciens martyrs est perdu, comme l'est aussi l'histoire des papes, dont
les dates de pontificat elles-mêmes ne SO!l1t oonservées que depuis 235» 30.
La latinisation de la liturgie a dü suivre la latinisation des lectures,
en conformité avec la pratique linguisrtique courante. II est admis que
«la transition au latin cultuel est antérieure de toute 'façon au ponti-

29. C. Vogel, 0.1., pp. 242-243.


30. Ibidem, p. 244.
442 R. SCHILLING

ficat de Damase (366-384): ce pape a composé probablement des formu-


laires euchoJogiques oonservés dans le Sacramentaire dit Léonien et a
rédigé en latin ses célebres epigrammata» 31.

*
* *
Le passage au latin engageait les chrétiens dans des voies nou-
velles ... avec des problemes nouveaux. Quelle devait être, pour le
culte, leur attitude vis à vis du vocabulaire de I'antique religion?
Devaient-ils conserv'er ou nou les termes les plus usuels qui portaient
la marque «pa'ienne»? Et quelle devait être leur attitude vis à vis des
cérémonies antiques qui avaient profondément imprégné les sensibi-
lités, comme, par exemple, le renouvellement annuel du feu à l'inté-
rieur du sanctuaire de Vesta?
Pour le vocabulaire sacré, ii est bien connu que deux tendances
contraires se sont manifestées 32: «lme tendance novatrice, liée à la
consdenoe de l'originalité du message chrétien et à la volonté de se
différencier linguistiquemen1 de la société pa'ienne ambiante, - et une
tendance conservatrioe, liée au génie même de la langue latine et au
tour d'esprit romain». Ainsi, les chrétiens d'Occident ont ressenti le
te:rnne sacer comme trop 1ntimement associé aux cultes pa'iens et, à
l'instar des Septante qui avaient préféré au mot LEPOC; le t'e rme plus
rare en grec olassique li/toC; pour rendre I'hebreu qâdôS, ils ont substi-
tué à sacer le mot sanctus (choix qui a permis des créations originales
par dérivation, telles que sanctificare, sanctificatio sanctimonialis).
Toutefois, en oonnaisseur avisé de Tertullien, René Braun a observé
que I'usage de cet auteur se révele pIus nuancé: chez lui, I'exclusion
de sacer n'est pas totale 33. Si ce terme est utilisé le pIus souvent (neuf
occurrences) par référence au culte pa'ien, il reste au moins deux
endroits (dans le De corona et l'Aduersus Marcionem IV) ou il figure
dans un contexte chrétien. Bien plus, Tertullien n'a pas hésité à employer
(à trois reprises) dans un oontexte chréiien un mot aussi spécifique
des institutions de la république romaine que sacrosanctus qui désigne
la qualité inviolable des tribuns de la plebe: chez l'écrivain chrétien, ii
est employé «comme une sorte d'intensif de sacen>.

31. Ibidem, p. 245.


32. Cf. René Braun, "Sacré» et "profane» chez Tertullien, 111 Hommages à
Robert Schilling, Paris, 1983, p. 45.
33. Ibidem, p. 46.
CE QUE LE CHRISTIANISME DOIT A LA ROME ANTIQUE 443

L'exemple de Tertullien est significatif. Plusieurs vocables latins,


empruntés par les chrétiens, ont une origine plus profane que reli-
gieuse. Ainsi saeramentum était un terme juridique qui désignait un
dépôt qu'on confiait aux dkux en garantie de sa bOillle foi (Varron,
L. L., 5,180) . Ce dépât étant sans doute accompagné d'un seru:nent, le
mot a pris un sens dérivé, de co~oration militaire, pour qualifier
l'engagement personnel du soldat envers son général. Encare convient-il
d'être circanspect dalIls la présentation de cette évolutian sémantique.
La dis,t ance entre· le sens origineI et la métamorphose finale du mor!:
paraitra moins grande ~i on tient compte du fait qu'au 11 0 siocle, iI a
déjà subi une sorte de transmutélltion - dans le creuset d'un magicien
dans l'art de rénover le vocabulaire: Apulée. QUélllld ce dernier présente
san héros Lucius à la veille de s'engager dans la sainte miJice d'Isis,
iI nome saeramentum cet engagernent 34: le mot, tout en gardant ses
attaches avec l'acception militaire de l'époque c1assique, prend, en
vertu du contexte, une oonnotation religieuse: ii devient disponible
pour le sens mystique des chrétiens. La promotion religieuse de gratia
est taut aussi instructive. C'était un terme entierement profélllle qui
s'appliquait à Rome aux relations humaines: iI marque la bienveillance
(de qui octroie) aussi bi'e n que la reconnaissance (de qui reçoit). Cette
heureuse réciprocité de sentiments explique qu'il ait pris aussi le sens
d'agrément, de beauté. Tel quel, ii ap'paraissait comme étranger à toute
contamination «palenne» . Bénéficiant de surcrolt d'une parenté étroite
avec le grec Xcí.P!tJ[.ux qui, lui, portait l'ernpreinte chrétienne, iI a été
admis aisément dans le vooabulaire de l'Eglise pour signifier la bien-
veillance divine. Détail digne de remarque: chemin faisant, iI n'a pas
perdu ses harmoniques latines qui évoquent aussi l'idée de beauté, de
grâce, comme iI appert dans la formule de la salutation angélique:
«Aue Maria, gratia plena».
Dans d'autres cas, l'emprunt du vocable s'est fait au prix d'une
inflexion du seus origineI. Ainsi en est-iI du mot religiosus. Dans la
langue olassique, ce mot correspond essentiellement à une idée néga-
tive - une idée de scrupule exagéré ou de tabou, selon qu'iI s'applique
à une personne (pour Nigidius Figulus 35 le religiosus peche par une
pratique excessive et superstitieuse de la religion), ou à un objet (un
loeus religiosus, par exemple une tombe, est inviolable). Quand iI sera
repris par les chrétiens, iI n'est plus confiné dans ces limites restrictives .

34. Apulée, Metam., U, 15, S.


35. Nigidius Figulus cité par Aulu-Gelle, N. A., 4,9,2.
444 R . SCHILLlNG

II a un sens pasitif: ainsi, quand St. Jérôme (Epist. 107,2) adresse à sa


carrespo11!dente les mats suivants: «religiosissilrna in Christo filia» , iI
entend certainement lui faire un compHment. Le mot a pris une colo-
ration nettement laudative. Encore ici, Apulée parait avoir servi d'inter-
médiaire: dans le livre XI des Métamorphoses 36, il oppose les religiosi
qui sont les fideJ.es adO'I'ateurs d'Isis aux gens du vulgaire (populi) ou
aux impies (inreligiosi).
Le mot religiosus fait référence au substantif religio. Contraire-
ment à son dérivé en -osus, celui-ci a toujours gardé, c1epuis l'époque
classique, un sens fondamentalement positif 37. Véritable création
romaine, qui ne comportait pas de traduction grecque (et qui a passé
tout droit dans les langues modernes aussi bien romanes qu'anglo-
saxonnes), iI traduit le senrtiment qu'éprouvaient les Romains de l'exis-
tence nécessaire de relations entre les dieux et les hommes: si celles-ci
sont bonnes, elles valent aux hommes la bienveillance divine (pacem
ueniamque deum: «la paix et la grâce des dietlX»); si elles SO'11t mau-
vaises, leur colere (iram deum). n est remarqrl.1ahle que ce mot, à la
patine antique indéniable, ait été accueilli daJIls leur vocabulaire par
les chrétiens. Sans doute la raison en est-eHe que, transposé du paly-
théisme au monothéisme, iI pouvait garder le même sens, qui reflétait
une conviction immuable: l'existence de relatio'11s inéluctables entre
le surnaturel et l'humanité.
Ce qui est sur, c'est qu'iI apparait plusieurs fois (dix-sept occur-
rences) dans le recueil qui contient les prieres les plus anciennes de
l'Eglise latine, le Sacramentaire dit Léonien ou Sacramentarium Vero-
nense 38. II n'est pas inutile de relever les emplois les plus significatifs.
Ainsi, l'expression (uera) religio est opposée à (uaria) superstitio, en

36. Apulée, Metam., 11, 13, 6.


37. Cf. «L'originalité du vocabulaire religieux latin» dans mon livre RCDR ,
p . 30 S., en particulier, pp. 39-43. Cet examen de religio réfute en passant l'inter-
prétation unilatérale qui ne voudrait reconnaítre à ce terme qu'un sens restrictif,
en se fondant sur l'expression particuliere mihi religio est ... (<< j'ai scrupule de ... »).
38. Sous la dénomination «Sacramentaire Léoniem (qui en faisait attribution
au pape Léon le Grand) il a été publié dans le tome LV de la Patrologie latine de
Migne. Nos citations sont empruntées à l'édition plus récente et plus savante
de L. C. Mohlberg, parue sous le titre Sacramentarium Veronense dans la collec·
tion Rerum ecclesiasticarum documenta, dont elle constitue le tome I des Fontes,
Rome, Herder, 2" éd., 1966 (par référence à la Source, un manuscrit de Vérone,
n . LXXXV de la bibliotheque Capitulaire). La date du Sacramentarium Veronense ,
en tant que collection, se situe autour de 550.
CE QUE LE CHRISTIA NISME DOIT À LA ROME ANTIQUE 445

parfaite eonfomnité avee l'enseignement classique 39 . La Nativité du


Christ est célébrée «comme le début et l'achevement de la religion tout
entiere» 40. A l'anniversaire de la fête des apôtres Pierre et Paul du
29 juin, les deux martyrs sont salués comme les pionniers de la «mise
en route de la religion» ( ... per quos sumpsit religionis exordium (sei!.
Ecclesia) 41. En d'autres endroits, la priere demande à Dieu pour le
peuple ehrétien «un aeeroissement de religion» (<<Concede, Domine,
populo tuo ... religionis aumentus (sic)>» 42. AiUeurs, Dieu est invoqué
pour le maintien de «l'intégI1ité de la religion» (religionis integritas)
en même temps que pom «la sécurité du siege romain» (Romani
nominis securitas) 43. Enfin, l'assoeiation dans la priere de religio et
de pax, tout en montrant la préoccupation des esprits, garde une rés 0-
nance dassique (dans la meSllJI1e ou elle rappelle les «leçons » tirées de
l'histoire par un Tite-Live sur l'importance de la religio pour assurer
la pax deum): «Domine Deus noster, quaesurnus, concede propitius, ut
Ecclesia tua iugiter et religione crescat et pace ... » 44.
Ainsi, l'utilisation liturgique de religio avec toutes les irisations
de ses nuances montre que 1es chrétiens n'ont pas hésité à recourir
aussi au «remploÍ» de vocables «pa'iens», de même qu'ils se sont volon-
tiers inspirés de l'iconographie «pa'ienne» pour leur pein1ure ou leur
sculpture 45. Avec religio, ils ont adopté un des mots-clefs de la Rome
antique. Ce n'est pas 1e seul. Le Sacramentarium Veronense témoigne
d'une utilisation importante des termes cultuels spécifiques que sont
le verbe uenerari, réservé à l'usage religieux pendant toute la période
républicaine (uenes-ari: «exercer un charme (sur les dieux pour obte-

39. Sacramentarium Veronense (le édit., Mohlberg, Rome, Herder, 1966)


(= S. V.), p. 27, n. 213.
40. Ibidem, p. 159, n. 1248: «Omnipotens sempiterne Deus, qui in Domini
nostri Iesu Christi filii tui natiuitate tribuisti totius religionis initium perfectio-
nemque constare, da nobis, quaesumus ... ».
41. Ibidem, p. 37, n. 280; p. 41, n. 303; p. 48, n. 357.
42. Ibidem, p . 9, n. 57. - Cf. p. 63, n. 474; p. 84, n. 670; p. 131, n. 1033;
p. 142, n. 1125.
43. Ibidem, p. 64, n. 480. - Nomen peut s'appliquer à l'Eglise de Rome
comme au peuple romain. - Cf. p. 123, n. 960; p. 131, n. 1026.
44. Ibidem, p. 78, n. 615: «Seigneur notre Dieu, accorde dans ta faveur à ton
Eglise de progresser sans cesse dans la religion et dans la paix .. .» . - Cf. p. 168,
n. 1316.
45. Par exemple, le Genius a parfois servi pour la représentation de l'Ange:
cf. «Génie et Ange» dans mon livre RCDR (Paris, 1979), p. 415 s., en particulier
pp. 439-441.
446 R. SCHILLING

nir ... )>» et le substantif corrélatif uenia (<<mot pontifical» selon le


témoignage de Servius, ad Aeno 1, 519, pour désigner la «grâce des
dieux») 46 Une enquête a pu montrer 47 la part importante de ces voca-
0

bles dans le Sacramentarium Veronense: elle a relevé cinquante huit


occurrences pour le verbe uenerari qui s'emploie soit avec le sens
propre «vénérer» (lequel peut s'appliquer à Dieu, à la Vierge ou aux
saints) 48 soit avec le sens secondaire «célébrer» 49 0

Quant à uenia, 1e sens premier est, à l'époque classique, «grâce


divine» (par exemple, dans l'expression pacem ueniamque deum qui
revient fréquemment chez Tite-Live) et le sens secondaire «pardon»
(qui est «une sorte de faveur»: Littré) o Dans le Sacramentarium Vero-
nense le mot apparait dans les deux emplois: avec le sens de «grâce»
(dix-sept oocurrences) et le sens de «paJ:1don» (quatorze occurrenoes) SOo
Donnons un seul exemple du premier senso Lors de l'anniversaire
de saints martyrs, le cé1ébrant demande à Dieu «ut illis (= martyribus)
reuerentiam deferentes nobis ueniam consequamur» 51 0

En dehors du legs 1exioographique, l'influence classique s'est égale-


ment traduite dans le tour de phrase des prieJ1es chrétienneso Les
collectes du Sacramentarium Veronense respirent la olarté et la con-

460 Pour une analyse plus précise de uenerari et de uenia ainsi que de leurs
relations, cio mon livre La religion romaine de Vénus (Paris, De Boccard, 2' édo,
1982), po 33 So et po 39 SO RCDR, ppo 295-3020
470 II s'agit d'un mémoire inédit, rédigé sous ma direction, par Jo Kauffmann;
La part du classicisme et la part de la nouveauté dans le vocabulaire religieux
du Sacramentarium Veronense, alias Sacramentaire léonien (Université de Stras-
bourg, 1972).
480 So Vo (2e édo, Mohlberg, 1966)0 - Exemples d'emplois de uenerari (= «vé-
nérer»), appliqué à Dieu: po 57, no 422: ... Te principaliter toto corde uenerantes ... ;
po 58, no 432: 000Vt Te tota mente ueneremur ... ; à la Vierge: po 54, no 398: 0. 0uene-
randae gloria Genetricis o.. ; aux saints: po 85, no 674: o.. quos ueneramur obsequio ...
490 Ibidemo - Exemples d'emplois de uenerari (= «célébrer»): po 23, llo 178:
... diem sacratissimum celebrantes ascensionis in caelum Domini nostri : sed et
memoriam uenerantes .. .; po 43, n. 317: .. . praecipuorum apostolorum natalem
diem plena deuotione uenerari ... ; po 100, no 798: .. . ueneranda festiuitas ...
50. Ibidem, p. 431: Index s. v. uenia.
51. Ibidem, po 15, n. UI «<en témoignant notre respect à leur égard, puis-
sions-nous obtenir ta grâce pour nous»o - On notera en passant la symétrie
stylistique entre les deux membres de phrase, introduits respectivement par illis
et par nobiso
CE QUE LE CHRISTlANISME DOIT A LA ROME ANTlQUE 447

CIslon, à !'instar des carmina de Caton 52 dont on connait le laconisme


dépouillé de tout sentimentalisme trouble. Comrne chez Caton, elles
énoncent la requête dans une forme harmonieusement équilibrée et,
comme jadis, elles sont associées à la célébration de sacrifices: «Eccle-
siae tuae, quaesumus, Domine, preces et hostias apostolica commendet
oratio ut quod pro illorum gloria celebramus nobis prosit ad ueniam» 53.
Mais maintenant, iI ne s'agit plus des mêmes sacrifices: si la vicrtime est
toujours appelée hostia, ene oesse d'être sanglante pour devenir spki-
tuelle: spiritalis et salutaris, elle désigne le Christ: «Remotis obu:mbra-
tionibus carnalium ulÍCtimarum, spiritalem tibi, summe Pater, host!am
supplici seruitute deferimus ... » 54.
Ainsi s'est transmis au service de l'Eglise le génie des carmina
que Rome avait forgés au cours des siec1es, pOUl" capter la bienveil-
lance de ses di,e ux. Selon la fOI1IIlule de St Augustin 55, le christianisme
avait su emporter «1es vases d'or et d'argent» de ses adversaires pour
les utiliser à sa façon. II n'est pas surprenant des lors que cet héritage
ait été perçu comme un trésor et que l'Eglise ait tenu à exprimer à
Dieu sa gmtitude d'avoir fixé précisément à Rome le siege de la pri-
mauté apostolique, pour la diffusion du message évangélique dans le
monde entier 56: «Omnipotens sempiterne Deus, qui ineffabili sacra-
mento ius apostolici principatus in Romani nominis arce ' posuisti,
unde se eu angelica ueritas per tota mundi regna diffunderet, praesta
ut quod in orbem terrarum eorum praedicatione manauit, christianae
deuotionis sequatur uniuersitas».

52. Caton, De agricultura, 141,2: Mars pater, te precor quaesoque uti sies
uolens propitius mihi domo familiaeque nostrae ... (<<Vénérable Mars, je te prie
et te demande que tu sois bienveillant et propice à moi, à ma maison, à mon
personnel ... »).
53. S. V., p. 43, n. 318 (<<Puisse, Seigneur, l'intercession des apôtres recom-
mander des prieres et les sacrifices de ton Eglise afin que la fête que nous
célébrons en leur honneur serve à nous gagner ta grâce»).
54. Ibidem, p. 33, n. 253 (<<Délaissant les ténébreux sacrifices de victimes
sanglantes, nous t'offrons, ô Pere suprême, en humbles suppliants, une hostie
spirituelle ...»).
55. Augustin, De doctr. christ., 3,11.
56. S. V., p. 39, n. 292 (<<Dieu tout-puissant et étemel, qui par un mystere
ineffable as établi la juridiction des princes des apôtres sur la citadelle du
peuple romain pour diffuser la vérité évangélique à travers tous les royaumes
de la terre, accorde nous que le message qui s'est répandu dans le monde par
leur prédication soit accueilli avec dévotion par l'univers chrétien»).
448 R. SCHILLING

*
* *
Le legs oultuel ne représente qu'une partie de l'héritage. La jeune
Eglise a également puisé dans le trésor romain pour établir les struc-
tures de sa liturgie et pour constituer les regles de sa juridiction.
On sait que chez les Anciens le temps était rythmé par des fêtes
qui étaient distribuées dans les Fasti sur le cours de l'année, si bien
que oertains mois étaient «,m arqués» liturgiquement: par exemple, le
mois de mars se signa:lait par des célébrations eorrespondant à l'ouver-
ture des opérations militaires et, symétriquement, le mois d'ootobre,
par des célébrations de olôture des mêmes opérations 51.
11 est évident que parmi ces cérémonies, plusieurs ont provoqué
l'aversion des ehrétiens, soit par leur naturisme areha'ique (les Luper-
calia du 15 février) soit par leu(["s débordements orgias tiques (les
Saturnalia de décembre). Ce sont celles-ci qui ont suscité les colleotes
rédigées sur un ton agressif à l'encontre du paganisme 58.
En voiei quelques exemples. Allusion aux Luperques demi-nus
courant autour du Pallatin: ou demande à Dieu de ramener les errantes
in uia à «la lumiere de la vérité» - ueritatis lumen (S. V., p. 11, n. 75).
Une oraison plus longue insiste sur la nécessité de bannir «vous ces
rites empreints d'un areha'isme impie» - omni ritu pestiferae uetustatis
abolito, «toutes ces abominations» - cunctis abominationibus abdicatis
(S. V., p. 79, n. 623). Une autre prie le Seigneur, comme bon pasteur,
de ne pas livrer «les brebis rachetées par san précieux sang aux
assauts et aux morsures des démons» (S. V., p. 68, n. 520). Allusion
probable au festin des Saturnalia: la oollecte rappelle l'incompatibilité
entre la partioipation à la table eucharistique et le diabolicum conui-
uium et demande au Seigneur que le peupJe chrétien «rejette le gout
des nourritures i'lllpies qui sont mortelles (pour l'ârrne)>> - gustu morti-
ferae prophanitatis abiecto, afin d'accéder au banquet du salut éternel»
- ad epulas aeternae salutis accedant (S. V., p. 11, n. 76).

57. Cf. G. DlI.mézil, La religion romaine archa'ique (2e éd., Paris, 1974), p. 216 s.
- Pour toutes les allusions aux fêtes «pa'iennes», on renvoie une fois pour toutes
à cet ouvrage, pourvu d'un précieux Index. - Fasti (dies) désigne chez les
Romains, par brachylogie, le calendrier (les jours fasti, ouvrables, étant les plus
intéressants pour les activités de la communauté, par opposition aux jours
nefasti, réservés aux dieux).
58. Cf. la liste des collectes foumie par L. C. Mohlberg dans l'introduction
de son édition du Sacramentarium Veronense, p. LXXVIII, contre les Lupercalia,
les Saturnalia et le culte des idoles.
CE QUE LE CHRISTIAN IS ME DOIT À LA ROME ANTIQUE 449

D'une façon générale, les mises en garde sont nombreuses contre


«1es embuches du démon» - diabolicis ... laqueis (5. V., p. 11, n. 78),
contre «les vanités impies» - profanis uanitatibus (5. V., p. 67, n. 515),
contre «,l es perv,e rsités du monde» - prauitatibus mundi, et «l'esclavage
des démons» - diabolicam ... seruitutem (5. V., p. 67, n. 516). Ces col-
lectes opposent souvent «aux divertissements impies, mortels (pour
l'âme)>> - mortiferis sacrilegis oblectationibus, «la jouissance des joies
de l'éternité» - aeternitatis tuae ' potius delectatione laetentur (5. V.,
p. 79, n. 620). La priere se fait instante pour demander au Seigneur
que ses pI'Otégés soient «purifiés de toute contamination perverse»-
ab omnibus contagiis prauitatis (5. V., p. 80, n. 625), «libérés des entra-
ves terI1estres» - terrenis sustentationibus expediti (5. V., p . 166, n. 1297)
et «armés contre les ruses du démon» - .contra diabolicas armemur
insidias (5. V., p. 167, n. 1304).
Mais, à l'égard du pagani,s me l'Eglise ne s'est pas corntentée d'une
attitude négative, qui aurait laissé les esprits sur leur faim. Et puis
la société mmaine allait connaitre des profonds bouleversements; iI
convenait de surcroÍt, de ménager les sensibilités, marquées par plu-
sieurs siecles de romanité. II fallait tenir compte des circonstances
historiques, savoir verser le vin nouveau dans des outres anciennes.
Cette nécessité sera magnifiquement perçue par St Augustin qui
tentera de substituer dans les mentalités de ses contemporains au gout
pour la domination temporelle nn idéal de grandeur spirituelle. C'est
à dessein qu'il recourra dans la Cité de Dieu (2,29) au mythe troyen
évoqué par Virgile, afin de donner au rêve romain d'un «empire sans
fin» un sens nouveau. II invitera les Romains à porter désormais leurs
regards vers la patrie céleste: «Expergiscere, dies est (<<réveiJlle-toi, voiC'Í
le jour») ... sais is maintenant la patrie céleste. Là tu regneras vraiment
et pour toujours. Là, il n'existe plus de foyer de Vesta, plus de roche
Capitoline, mais existe le Dieu uni que et véritable». A cette fin il
n'hésite pas à reprendre les vers que Virgile avait prêtés à Jupiter
dans sa réponse à Vénus, la protectrice attitrée des Romains-Enéades:
Ris ego nec metas rerum nec tempora pano:
Imperium sine fine dedi ... 59

(<<Je ne leur fixe de limites ni dans l'espace ni dans le temps: je leu r


ai donné un empire sans fin .. . »).

59. Virgile, Aen., 1,278 s. On sait que les Romains se considéraient comme
des Enéades = descendants d'Enée, fils de Vénus.

29
450 11.. SCHILLING

Cette promesse (qui a donné naissance au theme de la Rome


éternelle) est reprise par Augustin presque dans les mêmes termes ...
mais Dieu remplace Jupiter: Nec metas rerum nec tempora ponit ;
imperium sine fine dabit.
Ce respect des sensib1lités devait se manifester essentiellement
dans l'organisation de la vie quotidienne. C'est là que l'ordonnance du
temps au Fil des jours prend toute son importance. Dans les Fasti
romains, oertaines oérémonies comportaient un symbolisme puissant,
qui transcendait les limites de la cité antique. Ainsi, la liturgie d'un
toyer public au centre de Rome qui était, depuis un temps immé mo-
rial, l'objet du cuIte vigilant des Vestales, sous la surveillanoe du
Pontifex maximus. Ce feu, qui ne devait jamais s'éteindre, symbolisait
la perpétuité de la cité. Mais, une fois par an, iI était renouvelé solen-
nellement à l'intérieur du sanctuaire de Vesta: ce rite s'accomplissait
le ler mars qui corresrpondait au début de l'armée ancienne 60 . Alors,
p r écise Ovide, «la flamme ranimée prend des forces nouvelles ». Ce
renouvdlement conoernait, par ricochet, chaque famille puisque, au
l er mars, les particuliers allaient quérir leur feu à l'autel de Vesta 61.
Ce symbolisme ne sera pas perdu pour le christianis·m e. Au cours
de la liturgie de la v,i gile pascale, «toutes les lumieres de l'église sont
éteintes pour être rallumées par la suite à un feu consacré» 62 . Puis le
célébrant allume suocessiv,e ment un des trois cierges fixés sur un
support à une flamme empruntée aux charbons de l'enoensoir qui ont
été bénis: chaque fois, ii chante d 'une voix de plus en plus haute
(altius): Lumen Christi, que suit la réponse: Deo gratias. La lumiere
du Christ, vainqueur des ténebres de la mort, apparait comme une
promesse de résurrection: Haec nox est, in qua destructis uinculis
mortis, Christus ab inferis uictor ascendit 63.
Le theme de l'opposition de la lumiere du Christ aux ténebres
du monde deviendra familier aux fideles. Sa signification prendra une
extension plus large, dans la mesure ou les ténebres recelent le mal
et l'erreur, définitivement vaincus par l'avenement du Christ: Tuere,

60. Cf. Ovide, Fasti, 3, 143-144; Macrobe, Saturn., 1, 12,6.


61. Solin, 1, 3,5.
62. Cf. Missale Romanum (de Pie V) s. v. Benedictio Cerei.
63 . Ibidem: verset tiré de la préface de la vigile pascale (<<C'est cette nuit
que le Christ, apres avoir brisé les chaínes de la mort, remonta victorieusement
des enfers»).
CE QUE LE CI-IRTSTTANISME DOIT À LA ROME ANTIQUE 451

Domine, supplices tuos, sustenta fragiles, purga terrenos et inter mor-


talium tenebras mortales ambulantes tua semper luce uiuifica atque
a malis omnibus clementer ereptos ad summa bona peruenire concede 64.
La société ancienne reconnaissait encore au feu une vertu purifi-
catrice, comme l'attestent certaines cérérnonies, aussJ bien publiques
que privées. Aux Parilia du 21 avril, bergers et troupeaux sautaient à
cette fin pardessus des meules enflammées 65. Lors de la naissance
d'un enfant, on allumait un cierge, en il1voquant Candelifera pour
purifier l'atmosphere des mauvais esprits 66.
Ce symbolisme, aussi, a été ~epris par la liturgie chrétienne, même
si les liens censés exister entre l'ancien et le nouveau culte ne sorrt
pas toujours évidents. Ainsi H. Usener 67 a cité le texte d'un sermon
du pape Innocent III (1198-1216) pour la f.ête de la purification de la
Vierge du 2 février: Facibus accensis in principio mensis (= Februarii)
urbem de nocte lustrabant: unde festum illud appellabatur amburbale.
Cum autem sancti Patres consuetudinem istam non possent penitus

64. S. V., p. 8, n. 46 (<<Protege, Seigneur, tes serviteurs suppliants, soutiens


leur fragilité, purifie les de leurs souillures terrestres et vivifie les toujours par
ta lumiere tandis qu'ils cheminent parmi les ténebres mortelles des mortels;
enfin accorde leur, apres les avoir arrachés dans ta miséricorde à tous leurs
maux, de parvenir aux biens suprêmes ») .
65. Ovide, Fasti, 4,727 s.; 781-786.
66. Cf. Tertullien, Ad nat., 2,2. - Arnobe, Aduers. nat., 2, 11. - Si l'on pense
que la flamme devait plutôt stimuler l'action de Juno lucina, protectrice attitrée
des parturientes, le but poursuivi reste le même: préserver la sécurité de la mere
et de l'enfant contre les forces hostiles.
67. H. Usener, Das Weihnachtsfest2 , Bonn, 1911 (= Hildesheim - New York,
1972), p. 314, n. 22: «Au début du mois (= février) la lustration de la ville se
faisait de nuit avec des torches allumées: d'oú le nom de amburbale pour cette
fête. Mais comme nos vénérables Peres ne pouvaient extirper completement cette
coutume, ils déciderent que ce serait en l'honneur de la Bienheureuse Vierge
Marie qu'on porterait des cierges allumés». - Cf. aussi la citation (Ibidem) de
J. Beleth, théologien parisien (XIIe siecle): Erat enim antiquitus Romae consue-
tudo ut circa hoc tempus in principio Februarii urbem lustrarent eam ambiendo
suis processionibus gestantes singuli candeIas ardentes et uocabatur illud ambur-
bale (<<II existait dans l'antiquité une coutume à Rome, qui voula1t que vers ce
temps, au début de février, on procédât à la lustration de la ville en organisant
tout autour des processions, oú chacun portait un cierge allumé - fête qUI se
nommait amburbale») .
452 R. SCHILLlNG

exstirpare, constituerunt ut in honore Beatae Virginis Mariae cereos


portarent accensos.
En raison de la sobriété de nos sources anciennes (Servius ne
définit l'amburbale ou amburbium que par la circumambulation des
victimes autour de la ville 68 - rite qui rappelle la lustration des champs
mentionnée par Caton) 69, nous ne sommes pas à même de nous pro-
noncer sur la validité de l'argumentation du pape Innocent III 70 .
En tout état de cause, jJ ressort clairement du sermon papal que
la célébration de la puri~ication de la Vierge (quarante jours apres la
naissance du Christ) par une procession aux cierges (cereos) - d'ou le
nom de Chandeleur - était délibérément mi se en rapport avec une
antique lustration aux flambeaux (facibus) . Le Missale Rqmanum de
Pie V a gardé le rite de la distribution des cierges bénis et de la pro-
oession (Benedictio et distributio candeIa rum atque processio} pour
la célébration de la purification de la Vierge, le 2 février. Toutefois,
sur le symbolisme lustral, manifesté par la flamme des 'cierges à la
cire pure (Domine ... iussu tuo per opera apum hunc liquorem ad per-
fectionem cerei uenire fecisti) 71, iI a superposé de surcrolt le symbo-
lisme triomphal de La lum~ere victorieuse des ténebres 'e: ~. Concede
propitius ut, sicut haec luminaria igne uisibili accensa nocturnas
depellunt tenebras, ita corda nostra inuisibili igne, id est Sancti Spiritus
splendore illustrata, omnium uitiorum caecitate careant .. .) 72.
Revenons aux raisons invoquées par le pape Innocent III: elles
révelent que l'adoption de traditions anciennes pouvait être motivée

68. Servius, ad Buc., 3,77: ... amburbale uel amburbium dicitur quod urbem
circuit et ambit uictima. - Cf. aussi Paulus-Festus, s. v. Februarius, p. 75 L: Februa-
rius mensis dictus quod tum, id est extremo mense anni, populus februaretu r id
est lustraretur ac purgaretur.
69. Caton, De agricult., 141. Le rite comporte essentiellement la circumambu-
lation du suovétaurile (= verrat, bélier, taureau) autour du champ.
70. II ne s'agit pas de contester l'existence de processions aux flambeaux, qui
est bien attestée dans l'antiquité par exemple le 13 aout en l'honneur de Diane
(voir mon commentaire dans RCDR, p. 196 s.) mais son application à l'amburbium.
71. Missale Romanum (de Pie V) , Die II Februarii (<< Seigneur, tu as ordonné
que par l'ceuvre des abeilles cette liqueur parvienne à la perfection de la ·cire»).
72. Ibidem; (<< ... Accorde dans ta bienveillance que, de même que ces lumi-
naires, allumés d'un feu visible, chassent les ténebres de la nuit, de mêmenos
cceurs, illuminés par un feu invisible, c'est-à-'d ire la splendeur du Saint Esprit,
soient affranchis de l'aveuglement du vice»).
CE QUE LE CHRISTIA NISME DOlT À LA ROME ANTIQUE 453

par des considérations opportunistes: on conservait le rite en chan-


geant son sens . symbalique. Ce n'était là qu'un palliatif.
Tourtefois, l'Église a montré qu'elle était capable aussi de repTendre
une institution, en madifiant à la fois son rite et sa finalité. S'il est
une institution qui s'était imposée par son prestige dans la religion
ramaine, ce sont les Vesta.J.es 73. Celles-ci, au nambre de six (elles seront
sept au Ive siecle), étaient ohoisies par le grand pontifice pour assurer
le service du sanctuaire de Vesta. Il consistait essentiellement à veiller
sur la flamme du foyer public (qui ne devait jamais s'éteindre), à garder
les talismans de la puissance ramaine (pignora imperii) enfeTillés dans
le penus Vestae, à préparer les ingrédients nécessaires à la plupart des
sacrifices. Ces prêtresses étaient recrutées à une âge tendre (entre six
et dix ans) et exerçaient leur office au moins pendant trenl1:e années
qui étaient consacrées, les dix premieres à l'apprentissage, les dix
suivantes à l'exercice du culte, les dix dernieres à l'enseignement des
novices. Elles jouissaient d'une grande considération dans la société
romaine: on connaissait leur droit de grâce envers un condamné à mort
qui se trouvait sur leur route et on prêtait un pouvoir miraculeux à
leur priere 74.
Tres tôt, le christianisme avait suscité dans son sein des vocations
::le femmes qui entendaient danner une réponse personnelle aux con-
seils évangéliques 75, en se vouant à la vkginité. Il semble qu'à partir
du Ive siecle ces vierges aient préféré renoncer à leur indépendance
pour vivre en communauté: plusieurs couvents sont signalés à Vérone,
à Bologne, surtout à Rome, par des allusions de St Ambroise. ·Désor-
mais, leur engagement était sanctionné au cours d'une cérémonie
publique. Se posait alors la question d'un statut pour ces uirgines
sacratae 76 .
Alla.it-on s'illspirer du «précédent» des Vestales? Loin s'e:n faut.
C'est au contraire le souci d'une nette. différenciation qui se manifeste
dans tous les témoignages. Ainsi, St Ambroise n: «Comme:nt peut-on
m'opposer les prêtresses de Vesta: chez eHes, la chasteté n'est pas une

73. Les considérations qui suivent reprennellt les conclusions de mon étude
«Vestales et vierges chrétiennes dans la Rome antique», in RCDR, pp. 166-182.
74. Cf. Pline l'Ancien, Nat. hist., 28,12.
75. Cf. Math., 19,10-12; Paul, Iêre Ep. ad Cor., 7,7.
76. Prudence, Perist., 2, 301 s.: Cernis sacratas uirgines.. . hoc est monile
Ecclesiae. (<<Tu vois les vierges consacrées .. . : elles sont la parure de l'Eglise»).
77. Ambroise, De uirginibus, 1,4,15.
454 R. SCHILLING

attitude morale, mais une question d'années» . Et dans une lettre à


l'emper,e ur 78, l'évêque de Milan fait un portrait contrasté entre les
Vestales, «aux privileges énormes, à la chasteté purement temporaire,
à la CO'l1dition luxueuse» et les vierges chrétiennes qui ont choisi leur
état, «qui sont de mise modeste, pratiquent le jeíme et ne jouissent
pas de profits».
Ce souci s'est concrétisé dans la liturgie (apres le simple enga-
gement privé, propositum, la vierge recevait la consécration oHicielle
par la prise de voile, uelatio). Alors qu'on aumit pu garder le voile
blanc des Vestales, suffibulum 79, comme embleme de pureté, on lui
substitua délibérément le voile nuptial des épouses, le flammeum,
couleur de feu 80. C'est que la significatiO'l1 symbolique avait entiere-
men1t changé. Contrairement à la Vestale, astreinte à une chasteté essen-
tiellement rituelle, la vierge chrétienne avait assumé son état pour
devenir l'épouse du Christ - sponsa Christi, nupta Christo 81: c'est
pour Lui qu'elle entendait se garder pure. La priere cons.ignée dans le
Sacramentarium Veronense pour la consécration des vierges souligne
cette orientation de vie, fondée sur l'amour 82. Le flammeum nuptial
substitué au suffibulum des Vestales sur la tête des vierges chrétiennes:
rien ne pouvait indiquer plus clairement la nouveauté de la perspective
que l'Eglise entendait ouvrir, tout en s'inspirant des coutumes du tem ps.
Reste le domaine de la création juridique. Comme toute société
a besoin de lois pour assurer son bon fonctionnement, le jeune chris-
tianisme était conduit par son expansion même à formuler les siennes.
Une fois qu'il eut franchi la période de «l'ignorance et des persécutions»

78. Idem, Epist., 18,11-12.


79. Selon Festus, p. 474 L, le suffibulum désigne de voile rectangulaire, de
couleur blanche, qui recouvrait la tête des Vestales ... ».
80. Cf. Catulle, 61,122: Flammeum uidea uenire: «Je vois venir le voile couleur
de feu» s'écrie le poete, en décrivant le cortege nuptial dans cet épithalame.
81. Ces expressions, prouvant le symbolisme nuptial, sont fréquentes chez
les écrivains chrétiens du temps (Prudence, Perist., 14,79; Ambroise, De uirginib.,
3,1, etc.). Jérôme, Epist., 22,20, pousse la logique du symbolisme à l'extrême, en
écrivant à Paula, la mere de la vierge Eustochium: sacrus Dei esse caepisti
(<<tu es devenue la belle-mere de Dieu»).
82. S. V. (Ad uirgines sacras), pp. 138-139, n. 1104: « ••• Sit in eis, Domine, per
donum spiritus tui prudens modestia, sapiens benignitas, grauis lenitas, casta
libertas. ln caritate ferueant et nihil extra te diligant; laudabiliter uiuant lauda-
rique non appetant. Te in sanctitate corporis, te in animi sui puritate glorificent.
Amare te timeant, amare tibi seruiant ... ». «< ... Seigneur, que par le don de ton
esprit, elles possedent une prudente modestie, lme sage bienveillance, une véritable
CE QUE LE CHRISTIANISME DOlT À LA ROME ANTIQUE 455

pour parvenir au stade «de la to~érance, puis de la religion d'Etat» 83,


il s'est trouvé à 1'aise à l'intérieur des institutions romaines. «Des les
premiers siecles de son existence officielle, observe J. Imbert, la com-
munauté chrétienne n'a pas hésité à recourir au vocabulaire, aux con-
cepts du droit de 1'Empire, dans lequel elle pouvait puiser à pleines
mains, sans renier son idéal» 84.
Le christianisme tirait de cette situation un avantage certain. Au
lieu d'être obligé de secréter pour ainsi dire son propre droit à partir
des orientations évangéliques, iI disposait d'emblée de 1'expérience
séculaire des Romains, qui s'était cristallisée dans les constitutions
impériales et, surtout, dans les sommes des jurisconsultes (les Instltu-
tiones de Gaius et, plus tard, les Digesta de Justinien). On sait que
«1'élaboration des regles de droit, leur interprétation et leur mi se en
reuvre avaient commencé par être l'ceuvre collective et anonyme du
college des pontifes » 85. Par un retour des choses, le droit issu de la
religion ancienne allait entrer au service de la nouvelle religion. Si 1'on
prend la mesure de 1'ceuvre accomplie au Ive siecle, on appréciera
l'importance du legs .
Cette mise à disposition fut facilitée par la bienveillance de plus
en plus grande des empereurs à l' égard du christianisme, depuis que
Constantin s'en mait proclamé, par 1'édit de MiIan en 313, le protecteur.
Des lOO"s, ii était inévitable que la rivalité entre 1'ancienne et la nouvelle
religion éclatât tót ou tardo
Rappelons les prinoipales étapes de cet affrontement. L'affaire de la
statue de la Victoire mit aux prises Symmaque, le préfet pa'ien de Rome
et Ambroise, 1'évêque de Milan: elle s'acheva par la défaite du premier
avec 1'enlevement de la Victoire de 1'autel du Sénat. En 383, 1'empereur
Gratien renonça au titre de Pontifex Maximus et supprima les subven-
tions aux temples palens et les traitements de leurs prêtres. Le coup
d'estoc final fut porté par 1'empereur Théodose. n décréta la ferme-
ture des temples, 1'interdiction de célébrer des sacrifices publics, la

douceur, une chaste liberté. Que l'affection anime leur ferveur; qu'elles ne s'atta-
chent à rien en dehors de toi; qu'elles menent une vie digne de louange, sans
désirer être louées. Qu'elles te glorifient par la sainteté de leur corps, par la pureté
de leu r âme. Qu'elles te craignent avec amour, qu'elles te servent avec amour ... »).
83. Cf. J. Gaudemet, Les institutions de l'antiquité (Paris, 1972), p. 42l.
84. J . Imbert, Le Code de droit cano nique de 1983 et le droit romain, L'année
canonique, Paris, XXVIII, 1984, p . 1. (Je dois une grande gratitude à ce savant
qui a bien voulu me communiquer son manuscrit avant impression) .
85. J. Gaudemet, op. laud., p. 353.
456· R . SCHILLlNG

suppression du culte domestique rendu aux Lares, aux Genii . et aux


Penates; puis, iI promulgua le 28 février 380 l'édit de Thessalonique:
celui-ci érigeait le christianisme en religion d'Btat et prononçait une
condamnation de principe à l'encontre des autres fOI1Illes de cultes.
Dans le même temps, les relations entre le pouvok politique et
les autorités religieuses étaient devenues plus étroites. II s'ensuivit des
conséquences juridiques, qui ont leur proJongement jusqu'au temps
présent. Les historiens constatent en effet qu'apres une période trouble
qui suivit l'effrondrement de I'Empke romain, «1es pontifes romains
eux-mêmes rocommencent, des le IXe s,jecle, à recourir de plus en plus
fréquemment au droit romain: non seulement ou compose des c01-
lections de droit romain à l'usage des clercs, mais dans les compilations
de droit canon apparaissent, au moins pour les matieres profanes, des
textes de droit romain» 86.
Cest ainsi que s'établit une tradition que confirme au XIIe siecle le
grand canoniste Gratien en déclarant: «1es lois des empereurs (romains)
doivent être utilisées toutes les fois qu'elles ne sont pas contraires aux
saints canons». Sur cette lancée, les spéóalistes - décrétistes et décré-
talistes - ont continué à «invoquer le droit romain en confirmation
du dróit canoniqüe» etmême à recourir à lui «en cas d'abseI1ce de
regles canoniques» ou «lorsqu'une disposition est douteuse en droit
canon alors qu'une regle claire existe en droit romain» 87.
Le profane apprendra avec quelque sur.prise que cette vaste pro-
duction législative (documents pontificaux, décisions conciliaires) de-
meura éparpillée à travers une multitude de publications jusqu'à la
date de 1917, ou elles furenrt rasseinblées dans un Cooe. Le Code
de 1917 vient d'être remplacé par le nouveau Codex iuris canonici de
1983. Ce derni,e r a été élaboré selon une optique nouvelle qui devait
davantage prendre en compte, selon l'expression de Paul VI, «le carac-
tere surnatul'el de l'Eglise, ses préoccupations sacramentelles, sa finalité
tournée vers l'au-delà plus que vers le monde temporeI» 88.

86. J. Imbert, loe. laud., avec référence à la citation de Gratien et à la biblio-


graphie, notamment de G. Le Bras, eh. Lefebvre, J. Rambaud, L'âge classique.
Sourees et théories du droit, Paris, 1965, pp. 168, 182-183.
87 . Ibidem.
88. Paul VI cité par J. Imbert, Ibidem.
CE QUE LE CHRISTIANISME DOIT À LA ROME ANTIQUE 457

S'agissait-il là d'une invitation discrete à . prendre congé du droit


romain, apres des siecles de bons et loyaux servkes? Quels enont
été les effets? La · réponse à cette question demanderait une enquête
approfondie, une confrontation attentive et détaillée entre les deux
codes - ce qui déborde notre propos. On peut présumer que la répoI).se
aurait chanoe d'être nuancée, en fonction des points d'application 89.
D'ores et déjà, l'examen entrepris par J. Imbert 90 a révélé que
«l'influence du droit romain est encore sous-jacente» en plus d'un
point, par exemple pour la structure judiciaire, et qu'elle se trouve
parlois renforcée. C'est ainsi que «la conception romaine du pouvoir
se retrouve plus nettement encore qu'en 1917 dans les canons 331 et
suivants du réoent Code: «le pape jouit de la pllissance ordinaire
suproême, pleine, immédiate et universelle dans l'Eglise; c'est à lui-même
de détel1IIliner le mode d'exercer sa charge selon les nécessités de
l'Eglise, soit personnellement, soit oo1légialement» 91. La conclusion est
«que le droit romalill n'a pas disparu de la codification de 1983», même
si l'inspiratión générale répond au souhait de Paul VI «de faire décou-
ler la loi canonique de l'essence même de l'Eglise de Dieu, pour laqueHe
la loi nouvelle et odginale est la loi évangélique de l'amour» 92.

*
* *
Dans le Sacramentarium Veronense l'établissement du siege de
la primauté apostolique sur la citadelle de Rome - in ' Romani nominis
arce 93, avait été qualifié de «mystere ineffable». Maintenant que le
christianisme approche ,de la fin de son second miUénaire, cet édifice
apparait plus solide que jamais. Les pouvoirs reconnus au successeur

89. II conviendrait de relever les simples mises a Jour, les rectifications


mineures, les remaniements de fond, les nouveautés incontestables.
90. J. Imbert, loco laudo
91. /bidem. - Comme le remarque J. Imbert, la potestas papale comprend
les trois pouvoirs exécutif, législatif, judiciaire. Quant à l'interprétation «authen-
tique» de la loi, elle est réservée au législateur lui-même ou à son mandataire,
conformément à «la regle établie par les empereurs Julien et Justinien, qui est
reproduite par le canon 17 du Code de 1917 et le canon 16 du Code de 1983»,
92, Paul VI dans son allocution du 20 janvier 1970: cf. R. Epp, Ch. Lefevbre,
R. Metz, Le droit et les institutions de l'Eglise catholique latine de la fin du
XV/lIe siecle à 1978, t. XVI, Paris, 1981, p . 335.
93. Cf, plus haut, p . 436.
458 R . SCHILLING

de Pierre viennent d'être oonfirmés sans équivoque, on vient de le


voir, par les canons du nouveau Codex iuris canonici de 1983 94 •
Qu'en est-il du titre même de Pontifex Maximus qui, à lui seul,
perpétue le lien entre la Rome antique et la Rome chrétienne? Porté
jadis par le chef du college des pontifes, Pontifex Maximus désignait
le plus haut personnage de la reJigion romaine depuis la chute des
rois en 509 avant J. C. (on sait que sous la république le Rex sacrorum
n'était plus qu'un prêtre fossilisé, confiné dans la célébration de quel-
ques rites archaiques). A l'avenement de l'Empire, il avait été assumé
par Auguste eu 12 avant J . C. (à la mort de Lépide, titulaire de ce
sacerdoce) et, depuis cette date, faisait partie de la titulature de
chacun de ses successeurs ... jusqu'à l'empereur Gratien qui renonça
au titre en 382.
Abandonné par le chef du pouvoir temporel, le titre devait renai-
tre un siecle plus tard, au profit du chef de l'autorité spirituelle à
partir du pape Léon ler 93. Une renaissance qui semble inspirée par le
destin: l'évêque de Rome, qui était appelé à l'origine É1ttPx01tOC;, était
deveml, à cette date, le personnage le plus imposant de la cité. Le pape
Léon ler, appelé Léon le Grand, de"Vla'it en effet se distinguer comme
protecteur de Rome contre AUila, puis contre Genséric, et comme
défenseur de l'orthodoxie contre les hérésies manichéennes et péla-
giennes 96: il se révélait vraiment l'héritier de la puissance aussi bien
temporeHe que spirituelle de Rome. C'est dans ces circonstances que
reparut le titre prestigieux de Pontifex maximus: une passation qui
s'est faite, sans heurt, du paganisme au christianisme, avec la compli-
cité de l'histoire.
Ce titre fait toujours partie de la titulature papale '11 . Mais il faut
bien dire qu'aujourd'hui iiI est «assumé» de façon différente, selon le
style propre à chaque pontife.

94. Certes ce Code fait également un sort à la collégialité des évêques. Mais
celle-ci n'entame en rien la primauté papale. Si les mêmes pouvoirs, note J. Imbert,
sont conférés aux évêques dans leur diocese selon le canon 391 du nouveau code,
ils ne peuvent être exercés que ad normam iuris, c'est-à-dire que la législation
épiscopale ne peut qu'appliquer, voire compléter la législation pontificale, qui
demeure la source premiere.
95. Cf. R. E., SuppI. XV, s. v. Pontifex maximus, c. 347.
96. Sf. R. E., s. v. Leo, n. 7, c. 1962 s.
97. L'expression Summus Pontifex figure par exemple dans le canon 336 du
Codex iuris canonici de 1983.
CE QUE LE CHRISTIANISME DOIT À LA ROME ANTIQUE 459

Visiblement Pie XII était heureux de se situer à l'intérieur de tout


le cadre historique de Rome, lui qui se plaisait à évoquer les poetes
classiques, pour affirmer en quelque sorte la continuité de la trame
historique romaine. C'est ainsi que parlanrt devant un auditoire d'uni-
versitaires français de la mission de I'Vrbs, iI cita le vers fameux
d'Horace (C., 3,30,8)
....... ..... ... .. .. ..... .... .. ... ... dum Capitolium
seandet eum taeita Virgine Pontifex

(<< .•• tant que montera au Capitole le Pontife accompagné de la Vierge


silencieuse») - comme pour prolonger aussi loin que possible l'écho
éveillé par ces mots évocateurs: Virgine ... Pontifex - mots chrétiens .. .
mots issus du génie de la Rome étemelle 98.
Autre était le style de Paul VI: iI était préoccupé davantage de
simplióté, lui qui fit effacer de l'annuaire pontifical les formules trop
«pompeuses» 99 et que sa dalle funéraitre ne désigne que comme Papa
au lieu de Pontifex Maximus. Quant à Jean-Paul ler, dont le blason
portait le mot Humilitas, ii a renonoé à la tiare traditiormelle J()(), pour
revêtir le pallium éCTU, frappé de neuf croix noires: sans doute a-t-iI
voulu signifier par là qu'il abandonnait toute prétention de «SOlive-
raineté» (suggérée par le symbole de la triple couronne de la tiare)
pour n'être plus que l,e «bon pasteur» confol1llle à I'EvangiIe (le pallium
est tissé avec la premiere laine de jeunes agneaux).
Je ne sais si, dans ses profondeurs, le peuple chrétien ne souhaite
pas un style qui concilie les sentiments d'humilité personneUe avec
l'affirmation de la grandeur de la fonction: Pontifex Maximus, à la

.98. Allocution de Pie XII aux universitaires français en 1946: j'ai évoqué
ce souvenir dans RCDR, pp. 166-167. - L'ode d'Horace mentionne les représen-
tants des deux institutions les plus vénérables de la Rome antique, le Pontifex
Maximus et la Vestalis Maxima (qui montent au Capitole, siege du temple de
Iuppiter optimus maximus).
99. R. Metz, Der Papst, in Handbueh des katholischen Kirehenreehts (Regens-
burg, 1983), p. 257, a relevé un ehangement significatif dans I'Annuario pontificio:
jusqu'en 1968, la liste des titres pontificaux se terminait par la formule Gloriosa-
mente regnante «<Qui regne glorieusement»); depuis 1969 elle est remplaeée par
Servo dei servi di Dio (<< Serviteur des serviteurs de Diew» .
100. Sur l'origine et l'interprétation de la tiare à trois eourones, cf. R. E .,
Suppl. XIV, s. v. Tiara, e. 794. - S'il est vrai que Paul VI vendit sa tiare au profit
des pauvres de 13 novembre 1964, e'est Jean-Paul ler qui y renonça des son avene-
ment. Cf. mes réflexions «D'un Pape à l'autre. De Pie XII à Jean-Paul I"» dans
Vi ta Latina, Avignon, 1979, n. 74, pp. lQ-13.
460 R. SCHILLlNG

patine trois fois millénaire, fait partie de.s rares vocables qui frappent
par .la foroe mystérieuse de leur charge sémantique.
Enfin, un dernier aspect de l'héritage romain consiste dans la
transmrirs,s ion de la langue de Rome à la liturgie. Cet usage s'était
établi de façon naturelle au temps de l'Empire romain, qui s'identi-
fiait pratiquement avec le monde connu des Anciens. 11 s'était maintenu
malgré le déclin de cet Empire et la dislocation linguJistique qui devait
aboutir à l'émiet:tement des langues romanes. C'est. ainsi qu'au vIIre
siecle, date de la naissance du nouvel idiome -le roman «qui n'est
que la prise de conscience d'une langue parlée» 101, différente du latin
littéraire, l'Eglise a eu l'occasion de prendre des 'décisions claires.
Si le éoncile de Tours de 813 a reconnu l'existence de cette «rustica
Romana lingua en laquelle les évêques sorrt dorénavant tenus de faire
traduire leurs 'homélies» 102, iI a gardé le latin traditionnel dans la
liturgie.
Cette prise de position a été observée à traVeTS les siecles, con-
f.irmée et renforOée qu'elle fut notamment par le Concile de Trente,
au XVIe siecIe, qui interdrit de façon expresse le recours à la «langue
vulgaire}) (uulgaris lingua) pour la célébration de la messe 103. Dans sa
déclamtion de principes, le concHe de Vatican II ne s'est pas départi
de cette regle forrdamentale, puisque l'articIe 36,1 de la Sacra liturgia
stipule: Linguae Latinae usus, saluo particulari iure, in Ritibus Latinis
seruetur (<<Dans la liturgie latine - en d'autres terrries: la liturgie
occidentale par opposition aux liturgies orientales - l'usage de la lan-
gue latine doit être maintenu, sauf droit particulier»). 11 est vrai que,
contrairement au ooncile de Trente,' iI a envisagé, sous ce'rtaines COl1-
ditions, de faire une place à la «langue vernaculaire» (lingua uer11:acula;
on notera, en passant, la promotion de la «langue vulgaire» en «langue
vernacmaire») 104.

10l. Cf. V. Vaananen, Introduction au latin vulgaire (-paris, Klincksieck,


1967), p. 13.
102. Ibidem, p. 13.
103. Cf. H. Denzinger, Enchiridion symbolorum ... (Friburgi Brisgoviae, 1947),
p 334, n. 946: Etsi Missa magnam contineat populi fidelis · eruditionem, non tamen
expedire uisum est Patribus /.!..t uulgari passim lingua' celebraretur. (<<Bien que la
Messe requiere une grande connaissance de la part des fideIes, iI n'a pas paru
indiqué aux Pere (du Concile) qu'elle soit célébrée en quelque langue ·vulgaire»).
- En revanche, H était recommandé d'adresser aux fideles des instructions exph-
catives pendant la célébration.
104. De sacra liturgia, 36,2. - J'ai. analysé tous les textes promulgués par
le concHe Vatican II sur la liturgie dans mon article: Réalités romaines. «Alors,
CE QUE LE CHRISTIANISME DOIT À LA ROME ANTIQUE 461

FOl'ce est de constater que cette réglementation, qui visait à établir


un équilibre entre le maÍJnüen de la langue universelle et l'insertion
partielle de la langue vernaculaire dans «certaines parties de la liturgie»,
n'a pas été respeotée dans la pratique. 11 s'est produit, à travers le
mOnde de la chrétienté, «une irruption des langues modernes» (l'expres-
sion est de Paul VI) si bien que' on assiste à un véritable renversement
de situation. Non seulement la langue vernaculaire s'est imposée dans
la majorité des cas au-delà des limites fixées~ mais elle a fini par
éliminer la langue universeUe,en dépit des interventions répétées de
l'autorité romaine 105 .
Le moment n'est pas encare venu de juger l'amplitude de cette
marée 106, enoore moins de démêler tout le faisceau des causes de cette
'dégradation. Sans doute peut-on dire que la plupart des clercs, respon-
sables de eette situation, étaient pétris de «bo[l[).es}) intentions: ils
entendaient faire reuvre pédagogique, rendre le message évangél,jque
plus accessible au peuple des fideles. Toutefois, en rompant délibé-
rément l'équilibre preserit entre la langue universelle et la langue
vernaculaire, ils ont prouvé en même temps une singuliere méconnais-
sance de la sensibilité populaire.
Car, si le latin n'était plus, depuis longtemps, la langue de tons
les jours, il avait acquis, au cours des siecles, sous la voute des cathé-
drales et des , églises, une patine poétique qui en faisait une «langue
sacrée». Ce phénomene a échappé aux oleres férus de «pédagogie intel-
lectualiste» et trop ccmfiants en des traductions rapides et approxá.-
matives.
Ceux qui étaient vraiment attachés au latin étaient paradoxalement
les gens simples qui, d'instinct, percevaient la noblesse d'une langue
«bourdonnante de mystere et dans laquelle on ne saurait ni acheter

iI faut apprendre le latin (Jean-Paul II) >>, in Vita Latina, n ., 79 (Avignon, 1980). -
Texte qui a été approuvé par S. S. Jean-Paul II et repris en plaquette par l'Institut
de latin de Strasbourg, 1982.
105. Voir les documents pontificaux cités dans la plaquette (p. 5 s.) mentionnée
dans la note précédente.
lD6. C'est peut-être une question de générations. - C'est à l'avenir que songe
S. Em. le cardinal J. Ratzinger qui a bien voulu m'écrire (23 juillet 1984): «Peut-
être faut-il attendre la venue d'une nouvelle génération qui, en se révoltant contre
la méconnaissance historique de ses peres, redécouvrira à nouveau ce qui a été
perdu et le ressentira comme un progres par opposition à ce qu'elle a reçu en legs ».
462 R . SCHlLLING

des anchois ni dire: tu m'ennuies» 107. Ce sentiment a été exprimé avec


gravité et nostalgie par un grand poete, Marie Noel 108 : «Bien qu'igno-
rante - je ne sais pas plus le latin que ma mere ou ma grand-mere
et leurs servantes - je suis, comme elles, si attachée au latin de nos
offices que je souffre d'une grande absence, quand la version française
(sécularisée) nous en dépouille. Comment saurais-je le pourquoi de
cette nostalgie spirituelle? Peut-être y a-t-il dans notre chant liturgique
à nous transmis du fond des siecles, par tant de bouches bienheu-
reuses, un Don quasi sacramenteI de l'Esprit de Pentecôte qui parlait
mystérieus·ement aux âmes simples par les vocables sacrés qu'on veut
nous ôter à cause qu'insuffisamment instruits, nous ne saurions bien
les entendre. Oh! bien sur, nous ne les eomprenions pas tous, malgré
nos livres de messe, mais nous les laissions passer sur nous eoo:rune
une coulée de grâce. Les mots maintes fois répétés de Veni Creator,
Miserere, De profundis, Magnificat, Te Deum et tous autres étaient
devenus en naus notre richesse famihere, par la magnificence grande
ouverte de l'Eglise catholique dont la priere séeulaire éleve à leur insu
et valorise les humbles mieux que leçons et discours de tons temps en
tous lieux du monde ».
Ce qu'il faut retenir de ces témoignages sur le latin, e'est la force
et la qualité de sa présence dans les âmes. Cette présence n'affleure
pas toujours à la eonscienee claire avec autant de nuances. Mais elle
est ressentie avee autant de force par les fideIes, au eours des grands
rassemblements: quelle que soit leur origine, ils s'émerveillent de se
retrouver si unis en priant dans la même langue (l'expérienee des
pélerins venus de toutes les nations réciter ensemble le Credo sur la
plaee St P,i erre de Rome). Bien plus, ils éprouvent le sentiment exaltant

107. Marie Gasquet, Une enfance provençale (Paris, Flammarion, 1937), p. 47:
«Des cette époque Nanon se prit pour le latin d'un amour qui ne se démentit
jamais. Elle s'en rapportait aux Peres de l'Eglise et à la sceur Anatolie sur ce
qu'elle dirait au Bon Dieu et à la Bonne Mere. Mais les paroles sibyllines qui
lui montaient du cceur et se suivaient en ordre, elle les chérissait comme une
musique de plus dont elle aurait créé, hors de la servitude du sens, la magnih-
cence sanare. Elle estimait que, pour l'Eglise, c'était la vraie langue du «Grand»,
hérissée de difficultés luxueuses, bourdonnante de mystere, et dans laquelle on
ne saurait ni acheter des anchois, ni dire: tu m'ennuies».
108. Marie Noel, Notes intimes (Paris, Stock, 1959), p. 321.
CE QUE LE CHRISTIA NISME DOn À LA ROME ANTIQU E 463

de se rattacher, à travers la longue chaine des générations, au berceau


de la souche romaine 109.
A ceux-là, le latin apparait comme le lien visible d'une société
invisible, qui s'étend aux vivants et aux morts, d'une société catho-
lique, c' est-à"dire universelle.
Peut-être est-ce là, mutatis mutandis, que réside en définitive la
grande leçon donnée par la Rome antique. Au temps de sa splendeur,
elle avait réalisé plus ou moins l'unité du monde connu. Certes,
aujourd'hui le christianisme a débordé depuis longtemps le bassin
méditerranéen, jusqu'à s'implanter dans les cinq oontinents. Pareille
extension n'a pu s'accomplir sans susciter des heurts, sans provoquer
des résistances. Et pourtant le rêve d'une communion unitaire, qui
soit assortie de symboles visibles, subsiste au creur de la chrétienté.
Faut-il le rattacher à l'«ineffable mystere» de la fondation de la pri-
mauté apostolique sur le rocher romain? Contre les forces centrifuges
de toute sorte, contre les tentations sucoessives d'un retour à la tour
de Babel, Rome demeure comme un perpétuel avertissement.

109. L'image de Rome a parfois exercé une fascination inattendue. Ainsi le


mouvement international «La légion de Marie», fondé en 1921 par l'irlandais
Frank Duff, s'est inspiré des institutions romaines pour constituer son ordre
niérarchique, qui se présente ainsi: praesidium (élément de base), curia (conseil
local), comitium (conseil diocésain ou régional) , senatus (conseil provincial),
concilium (conseil international qui a son siege à Dublin). - L'étendard, Vexillum
legionis, reproduit l'enseigne romaine avec la colombe (à la place de l'aigle)
et l'image de la Vierge. Catena legionis désigne la priere récitée une fois par
jour par les membres. La peregrinatio pro Christo signale l'apostolat d'un groupe
de membres à l'étranger. - La direction se plait à rappeler l'épisode du centurion
et des légionnaires que s'écrient devant la Croix: «oui, il était le fils de Dieu! »
(Mathieu, 27,54), avec ce commentaire «·L es soldats de l'armée romaine furent
ainsi les premiers à se convertin>.
(Página deixada propositadamente em branco)
PAULO ORõSIO, HISTORIóGRAFO ROMANO-BRACARENSE
E A SUA MENSAGEM NESTE FIM DE MILÉNIO

AMADEU TORRES
Universidade Católica (Braga)

Nullatenus ut captatio benevolentiae, quod superfluum videtur,


sed tantum honoris ergo, antequam incipiam SENGHORI Franco-
galliae Academico summo atque Poetae honorificentissime lau-
reato huiusque Graecolatini Congressus Praesidenti doctissimo,
qui modo modo de Hiponensi Schola Augustiniana, quae quidem
Paulo Orosio usui fuit magno, praecellenter hic nobis locutus
est, itemque J .o Augusto SEABRA, Professori Oratorique magni-
fico atque litterarum humaniorum Fautori eximio, hanc sermonis
communicationem dicatam volo.
Simul etiam omnes comparticipes, seu Professores Magis-
trosque cuiuscumque docentis gradus seu eorurndem Discipulos,
praesertim quos ab antipodis vel orbis regionibus caeteris novimus
huc perlibenter venisse, ex animo gratanter saIu ta tos cupio.

1. Ensaio sobre a dificuldade de dizer que não é o título de um


livro de Klaus Heinrioh, Versuch über die Schwierigkeit, Nein zu sagen 1,
saído em 1964 na cidade de Francfort, em cujas páginas se desen-
volvem reflexões sobre o inoonformismo e a discordância perante as
resignações amorfas ou indiferentismos autooestruidores do indivíduo
e da comUJlidade. Em tennos dialécticos, investiga-se o custoso pTO-
cesso de superação ou síntese que nesta sociedade finisseculalr cami-

1. Cf. Klaus Heinrich, Versuch über die Schwierigkeit, Nein zu sagen,


Frankfurt, 1964, in Jürgen Habermas, Perfiles filosófico-políticos, Madrid, Taurus
Ediciones, 1975, pp. 392-398: «De la dificultad de decir que no».

30
466 AMADEU TO'RRES

nhando descontrO'ladamente para a coisificação, por um lado, e para


o aligeiramento ou carência de valores e forma humanos por outro,
seja capaz de alcançar a possibilidade de uma identidade válida que,
embO'ra frágil e instável como tudo o que consta de contrários, abra
confiantemente à humanidade inteira as portas do terceiro milénio. Este
Congresso vem, portanto, na hora aprazada, quando sobre as humani-
dades clássicas sopram os ventos saarianos da tecnotrónica e nos hori-
zontes empoeirados se configuram as utopias do hedonismO' e da pleo-
naxia entre outras, às quais não se pode dizer que sim.
Coevo de um tempo de viragem, de convulsões sociais, de anti-
valores pI1econizados, de ameaças enfim de estertor de Império, Orósio,
que o século posterior já prenominaria Paulo, viveu numa época apro-
ximavelmente análoga à nossa, a cujos mitologemas e transvertidas
hermenêuticas teve a coragem de dizer que não, em intervenções, se nem
sempre desapaixonadas, nunca eX'temporâneas nem desprov,i das da pai-
xão de fazer luz nas trevas e abrir caminhos de coexistência aceitáveis .

Terá nascido entre 380 e 385, de acordo com a opinião generalizada;


ou entre 385 e 390, segundo outra menos subscrita; ou entre 375 e 380,
consoante o parecer de Benoit Lacroix 2 na sua tese de doutoramento
em Montreal publicada em 1965, baseado no facto de a legislação canó-
nica da Hispânia exigir então para os candidatos ao sacerdócio a idade
mínima de 33 anos, que naturalmente o presbítero Orósio atingira ou
ultrapassara quando em 413-414 tomou o rumo de Hipona. Ora se
Lacroix tiver razão, o romano-bracarense 3 Paulo Orósio talvez empa-

2. Cf. Benoit Lacroix, O.P., Orose et ses idées, Montréal-Paris, J . Vrin, 1965,
pp. 33-34; Mário Martins, Correntes da Filosofia religiosa em Braga, dos sécs. IV
a VII, Porto, Tavares Martins, 1950, p . 163 ["à volta de 390»]; J. Vaz de Carvalho,
«Dependerá Santo Agostinho de Paulo Orósio?», in Revista Portuguesa de Filosofia,
Braga, XI (1955), p. 145 [«à volta de 390»]; José António G.-Junceda, «EI inicio
deI pensamiento medieval», in Crisis, rev. esp. de filosofía, Madrid, XVI (1969)
63-64, p. 302 [«c. 390»]; Lúcio Craveiro da Silva, <<Introdução», in Paulo Orósio,
História contra os pagãos, trad. de José Cardoso, Braga, Universidade do Minho,
1986, p. 5 [«pelos anos 385-390»]; Casimiro Torres Rodríguez, La Galicia romana,
La Corufia, Fund. Pedro Barrié de la Maza, 1982, p. 270 [<<nasció hacia eI ano 385»];
Avelino de Jesus da Costa, na Enciclopédia Verbo, s. v. "Orósio» [«c. 385»]; José
Geraldes Freire, «Factores de individualidade do Ocidente hispânico», in Revista
Portuguesa de História, Coimbra, Fac. de Letras, XXII (1987), p. 129 [«c. 380»].
3. Postas de parte a pretensão de Tarragona baseada em argumento caduco
(cf. A. Hamman, «Orosius de Braga et le péIagianisme», in Bracara Augusta, Braga,
XI (1967) , p. 346), e a da Corunha ainda recentemente apoiada (cf. Yves Janvier,
PAULO ORóSIO , HISTORIóGRAFO ROMANO-BRACARENSE 467

Histonarum adversus paganos, rosto da trad. fr. de 1492, I vol., Paris.


468 AMADEU TORRES

relhasse etariamente, em cômputo aproximativo, com Arcádio, nascido


em 377, e seria mais velho uns sete anos do que Honório, os dois
filhos e herdeiros de Teodósio o Grande, falecido em 395.
Mercê de concessões forjadas pelas circunstâncias, de tratados
efémeros, de reajustamentos do limes, Roma ia aguentando as ressacas
de fronteiras. Mas cerca de 400 a prefeitura das Gálias transmuda a
sede de Tréveris para Arles. Avisada prudência e sinistro presságio.
Em 406, galgando o Bab~o Reno alanos, suevos e vândalos marcham
sanguinários através da terra gaulesa, só contendo os ímpetos de
conquista nos oonfins da diocese hispânica: enquanto por seu turno
Alarico à t,e sta dos visigodos arremete em três surtos contra Roma,
desde 408 a 410, o último dos quais culminando em três dias de pilha-
gem que abaJaram o mundo e impressionaram profundamente a Santo
Agostinho, determinando-o a compor A Cidade de Deus. É neste con-
texto trágico que Paulo Orósio, num intuito de cultura tornado escape
às hordas invasoras que, não obstante a carnificina dos primeiros
embates, já iam execI1ando as espadas e convertendo-se aos arados 4,
parte em direcção à África, provavelmente da foz do Douro, sobra-
çando talvez o pequeno Commonitorium dirigidp a Santo Agostinho,
escassa 'IDeia dúzia de folhas em redacção compacta a propósito de erros
teológicos e soteriológicos grassantes à sua volta e a neces,s itarem de
esclarecimento autorizado, que ele receberá em Contra Priscillianistas
et Origenistas ad Orosium 5.

La géographle d'Orase, Paris, Belles Lettres, 1982, pp. 177-178), o maior número de
autoridades e a maior força dos argumentos militam a fa,vor de )3raga (cf. Mário
Martins, o. C., p. 162, nota 2; B. Lacroix, o. C., p. 33; Casimiro Torres Rodríguez,
o. C., p. 269; Suzanne Teillet, Des Goths à la Nation Gothique. Les origines de
l'idée de nation en Occident du Ve au VIle siecle, Paris, Belles Lettres, 1984,
p. 151, nota, 259; Amadeu Torres, «Filologia e história em duas ' versões recentes
de Paulo Orósio», in Boletim de Filologia, vaI. de homenagem a Celso Cunha,
Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, XXXII (1987).
Não obstante tais argumentos ponderosos, diversos autc::>res . «nuestros . herma-
nos» e alguns de outra origem ou os desconsideram ou confundem Espanha com
Hispânia, como se a parte fosse igual ao todo (por ex., Léopold Génicot, Linhas
de rumo da Idade Média [trad. de Les lignes de falte du Moyen Age, Tournaij
Paris, Casterman], Porto, Livr. A. L, 1963, p. 62).
4. Cf. C. Zangemeister, Paulus Orasius, Historiarum adversum paganos
libri VII [Viena, C. Geroldi, 1882], Hildesheim, Georg Olms, 1967, p. 554 (1. VII, C. 41).
5. Cf. Orosii ad Augustinum Consultatio sive Commonitorium de errare
Priscillianistarum et Origenistarum (P. L., Migne, XXXI, caIs. 1211-1216 e vaI. XLII,
caIs. 665-670); Contra Priscillianistas et Origenistas ad Orosium (P. L., Migne,
PAULO ORÓSIO , HISTORIóGRAFO ROMANO-BRACARENSE 469

Contudo a fama deste ilustre bracaraugustano não adveio do


aludido opúsculo nem sequer do Liber apologeticus sobre a contenda
pelagiana,. redigido verosimilmente em Jerusalém, em 415, junto de
S. Jerónimo durante o rescaldo das disputas e reuniões de que foi
compartícipe, mas da História contra os pagãos em sete livros - Histo-
riarum adversum paganos libri VII, composta a rogativas de Santo
Agostinho, já experiente por certo do talento do fogoso discípulo, entre
416 e 418, após o êxito da missão palestiniana e a renúncia do mesmo,
aparentemente definitiva, à Hispânia e à sua querida Galécia, desde
416 sob as incursões de Vália CO[ltl:ra alanos e vândalos.

2. Trata-se, sem dúvida e apesar das imperfeições, de uma história


universal no tempo e no espaço, como realça Torres Rodríguez, desen-
volvendo-se desde os primórdios até ao ano 416 da era cristã e abar-
cando o conjunto de povos conhecidos, geograficamente acantOlJ1ados
logo no cap. II do I livro. Costuma além disso classificar-se como a
primeira história universal, sem deslustre para as anteriores de Heró-
doto e Políbio, as quais, no pensar de Adolf Lippold 6, conquanto se

XLII, cols. 669-678);, José Madoz, «Arrianismo y priscilianismo en Galicia», in


Bracara Augusta, Braga, VIII (1957) 1-2, pp. 68:87; Albino de Almeida Matos, Hinos
do temporal hispânico até , à invasão muçulmana, Coimbra, Faculdade de Letras,
1977, pp. 201-241: aqui se fala da atitude de Paulo Orósio para com Prisciliano
e se aventa a hipótese de ter sido este o autor do primitivo hinário hispânico do
temporal do Breviário, hipótese discutida ainda em R. M. Rosado Fernandes,
«Priscilianismo ou não?», in Euphrosyne, Lisboa, Faculdade de Letras, X (1980),
pp. 165-172, e Albino de Almeida Mato;s, ~ Priscilianismo ou não?», in Revista da
Universidade de Aveiro / Letras, I (1984), pp. 289-308.
'S obre as relações da Hispânia cristã com o Norte de África, anos antes ou
coevas de Paulo Orósio, vd. Fray Luciano Rubio, «Presencia de San Agustín
en los escritores de la Espana romana e wisigoda», in La Ciudad de Dios, Sala-
manca, Colegio San Agustín, 200 (1987) 2-3, pp. 477-506: ,«La primera manifestación,
conocida, de la presencia de Agustín en escritores espanoles de la Espana Romana
tuvo lugar en tiempos deI Priscilianismo y, en parte, con motivo de su aparición
y de la lucha de la Iglesia contra esta herejia. [ ... ] Con el fin de atajar su
propagación, en el afio 380 se celebró en Zaragoza un concilio que no dio resul-
tados eficaces [ .. . ].
«Por este tiempo y, en parte, con este motivo dos espafioles [hispanos] ilustres
tomaron contacto con Agustín. Uno de ellos se llamaba Consensio y el otro,
Paulo Orosio» (ibid., pp. 478479),
6. Cf. a introdução a Orósio, Le storie contra i pagani, trad. de Aldo Barto-
Iucci, Milão, 1976, p. XXVII ss.; Casimiro Torres Rodríguez, o. c., pp. 274-276;
id., La obra de Orasio. Su Historia, Santiago de Compostela, 1954; Aquilino
470 AMADEU TORRES

processem adentro da perspectiva estóica da igualdade da natureza


humana, ficam distantes da visão universalista orosiana radicada na
comunidade de origem, natureza e destino de todos os homens.
Avultando sobremaneira entre a fragmentariedade cronística e
hagiográfica medieval, em que as sumas, códigos e comentários esgo-
tavam os fôlegos dos scriptoria privilegiando outras áreas do saber,
esta obra que nos domínios das, consoante expressões de Hegel, «res
gestae» transpostas para os códices das «rerum gestarum» desempe-
nhou funções cumulativas algo similares, atingiu, como os documentos
o atestam, invulgar prestígio. Genádio de Marselha considera Orósio
um eloquente e prendado escritor; e S. Bráulio de Saragoça informa
ser ele dos homens mais dotados e instruídos do seu tempo. Aprovei-
taram-lhe os créditos personalidades cimeiras como Isidoro de Sevilha,
Gregório de Tours; Jordanes, historiógrafo dos godos no século VI;
Alcuíno, João de SalisbúI1ia, o rei anglo-saxão Alfredo o Grande; e o
imperador bizantino Romano II honrou-se em presentear Abderramão III
de Córdova com um exemplar da História, pouco depois vertido para
árabe. A tradição manuscrita, que superou o milhar de unidades, ainda
é presentemente experienciável em 60% delas, algumas anteriores a 800.
Nada de admirar, pois, que no «Paraíso» da Divina Comédia Dante
haja colocado Paulo Orósio «ao lado de Alberto Magno, Tomás de
Aquino, Graciano, Pedro Lombardo, Salomão, entre Dionísio Areopagita
e Boécio, com Isidoro Hispalense, Beda, Ricardo de S. Vítor e Sigério
de Brabante» 7.
A eclusão da imprensa não lhe desacelera a roda da fortuna. Na
verdade são bastantes os incunábulos orosianos existentes, quatro
deles pelo menos entre nós, um na Biblioteca Nacional, três na Biblio-
teca Municipal do Porto, um dos quais oriundo da Livraria do Mosteiro
de Santa Cruz de Coimbra. As edições em sua totalidade orçam pelas
seis dezenas aproximadamente, algumas em letras capitais artistica-
mente gravadas, ornamentadas ou historiadas, inclusas naquelas as 24
versões em árabe, inglês, francês , italiano, espanhol e português, esta
última de 1986, levada a efeito em Braga.

Iglesia Alvarifto, «Tres escritores romanos de la Gallaecia en busca de su patria»,


in Bracara Augusta, Braga, IX-X (1958-1959) 1-4, p. 80; R. Menéndez Pi daI, Historia
de Espaiia, ed. de R. M. P., Madrid, 1955, p. XXXVII.
7. Cf. B. Lacroix, o. C., p. 19; C. Zangemeister, o. c., pp. 701-707 e VII-XXXVI;
C. Torres Rodríguez, La Galicia romana, cit., pp. 275-276; Bibliografia geral portu-
guesa, I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1944, pp. 156-157.
PAU LO ORóSlO , HISTORIóGRAFO R OM ANO-B RA CAR ENSE 471

pr~p<rCS
po(fnn.Egoaút ~ old;mt.", t.vn<neanJ
uoIuCltt conatuqutd.couui:ulhmoôoccít:.....
(um.. Ni II( i lN8"" magni fIItTlrbrmliu cI""",
cum {int mulc d,..,6 garri..i.ili;, adiwndJlo
. pofl,cm.:
qtnbul ~ Ntura inGni rll:uol"nuric..J id , ~ pr.par,av
tui'l"~ml!( pingi'n. quidíobdiêii., formuli k>I. d&ipli'
;;;':'~V"'ll~;r. ",ti crtori.cxptibtiõ«u/jlõdi ,donrc..Jpog<d" ieeuarucu
Iigi>ot_",.mitti,:" :H.b<..
mi propri':'''I'I'''i~Í>b<uas
~~~~~~,,:crllotlorn: ctur.uiomblhl,,-,! .FP.qwrt.choc e clj(-aTrw
~ . clilétrnt... Ínltr clominoucq CIItT""",,, noo .00:""," itwi:'
l!:;M'olmmt :1tcIJ' bir.quos a~cr.dzn<. II( .mir., cIomilllo oe domú nó
ijlJ ex Jl;IM. :apric~rpori. uigilúa;1éd ex cô/Ornti. k>!Iiciti amoru irvigilic.
V,..Jc .r ... n my(b co licnrntnto,n flQ'lIcliÍ$'quod ocIanr '"00sCor:ciL Iúb
nl(flÚ domincrum ;:.; a;.tUn.I~ mulicr non aubuic dicnt I II( domi..... non
f.,lliJilur ,udire . &ru.ma":; T l'bi., cluccm igdum (~an< cemite
bol,crc non (p,..,it.lgiCl)r gma.li ,mari tuo ~<rialr ~< CÔlrDus uoIUuri
1(,.. uol;:; porui.N.,m:n'm (u~idlio mo prn:cptopoctrnitltis r.... · bdum
ti,.
Jebr::st:f("l(u1J\llIlC ruUIl1 quNl extt ad tl r"'it:opt.s nx\J hoc tOlocumu1.a
tins ru!.lidi:9uro I,~"" !Ui.Pr"'"CCpe,., mlbi:ut,odurn", UOI'd1oqui pnuli.
L"1fem tOr~l1: qui :tlim ~ ciuiuu; dti ex l'?Coru agfcfiium comptm!L fD!H'
p;>g:>ni uoe,ru"fiuc: smtib: 'l"iJ r<r'mo 6pilO"lt:qw rum futu", nó qw ,u;
PT' rcri" .ur olJiuibntur,JUt ncCciJl1:: PT,~", i. cmm .i-po..:uclllU rNl ..
·Utr. ~icum inf.,{1:ttiaim.:cJ, hoc IOIUln"J"oJ n~ clx illusi.\( colicur
dctl':ickJ., alocm mí.. " coluntur:inf.>m.\Il(.pnr.cj-cr.tI rrg" I ",ClCorllibu..
qUI: h.:rl-<ri.d p" ,,... poliu,,: " iOoll.ru," alqur ."...Jum f.(li" qtUCln)
.trt !,rlli. I\r:llu.,,.,,r COfT\lpto""" f:j"Jut f"n< ,rilli,:out tcrr.ru n""ibuS
trrril-iliJ:'ur immclJ.innihlls oqw'!' irlol",,:orurcruprionibu,; igniú mrw<d..
,úr i&bu< fulminum phgrfguc e,,,,.,JtIlum "v:r:u"! cci:i parriOdiis fl>gitii'j
",r.ífaa.
tnlfi:ra ,ruo "cu!. J cppmIfcm:ordrtlOlO bnuitrr uoIuznims laW
' -~.
:~ ;. t.

~ ..
.~::; ~.~
1f; .

Historiarum adversus pagal1os , ed . de Vícenza, 1489.


472 AMADEU TORRES

Deveras elucidativo este breve cronotopograma editorial: 1471,


Augsburgo (a edição «princeps»); 1475-76 e 1489, Vicenza; 1483, 1484,
1499, 1500, Veneza; desde 1506 a 1524, seis edições em Paris; de 1526
a 1582, oito em Colónia; duas em Mogúncia em 1615 e 1633; uma em
Frandort em 1650, outra em Lião em 1677, duas em Leida em 1738
e 1767, duas nO"Vlamente em Paris por meados de setecentos; a de 1846,
reprodução dÇl de Haverkamp de 1738 e inclusa na Patrologia Latina
de Migne; uma em Thorun em 1857; a edição crítica vienense de Carlos
Zangemeister em 1882, a de Leipzig em 1889 e a anastática de Hildes-
heim, 1967, em reprodução da de Viena 8.
Quanto às nossas bibliotecas, as quais das traduções mais antigas só
possuem uma italiana quinhentista, além dos incunábulos acima citados
e de exemplaI'es da de Hrildesheim são de assinalar um da de Paris
de 1517, na Biblioteca da Universidade de Coimbra, vindo do Convento
de Santa Cruz do Buçaco; quatro da de Paris de 1524, um deles do
Convento de Xabregas e outro do Convento do Carmo em Coimbra,
hoje distribuídos a meias por Coimbra e Lisboa; um da de Colónia
de 1536, do qual foi proprietário o Colégio de Jesus da cidade do
Mondego e está na Biblioteca Nacional, com outro de Colónia de 1561,
a que Coimbra pode contrapor um de 1574 da mesma cidade do Reno,
enquanto a Academia das Ciências guarda a edição de Mogúncia de 1615.
Entre os numemsos manuscritos deparáveis em bibliotecas europeias,
com destaque para a Laurenciana de Florença (séc. VI), a de Laon
(sécs. VII e VIII), a Ambrosiana de Milão e a Vaticana (séc. VIII), a de
Vroclau (séc. IX) para só lembrar o poiso dos mais antigos, não é
despiciendo o códice 9 alcobacense CVII/415 da Biblioteca Nacional
de Lisboa (séc. XIII).

3. Entretanto' esta pluri-secular consagração codicial e tipográ-


fica, se em parte aconteceu por se estar em presença de uma história
universal pinturesca e forte, por outra parte dever-se-á igualmente aos
cordelinhos de explicação causal que atravessam a complexa trama
dos seus sete livros. Historiógrafo louvado por contemporâneos e pós-

8. Cf. W. Potthast, Wegweiser durch die Geschichtswerke des europaischer


Mittelalters von 375 bis 1500, 2. a ed., Berlim, W. Weber, 1986, II vol., pp. 882-883 ;
Bibliografia geral portuguesa, cit., pp. 80-165; «Recherches bibliographiques SUl'
Paul Orose», in Revista de Archivos, Bibliotecas y Museos, Madrid, 58 (1952) ,
pp. 271-322.
9. Cf. Bibliografia geral portuguesa, cit., pp . 156-158.
PAULO ORóSIO, HISTORIóGRAFO ROMANO-BRACARENSE 473

teros, Paulo Orósio tem sido também exaltado com o epíteto de teólogo
da história, de filósofo da história e até com os dois em simultâneo
ou ex aequo, o que não deixa de tornar-se intrigante ou estranho de
ler e aceitar sem uns dedos de análise, seja ao caso em si, seja à
razoabilidade de uma tal filosofia, seja às motivações para uma tomada
de posição em oonrormidade_
Quanto ao caso em si: por exemplo, F. P. Billieri discreteia em 1887
sobre filosofia da história, reportando-se a Santo Agostinho e João
Baptista Vico 10; é de Padovani, em 1931, o artigo «La Città di Dio di
Sant'Agost,ino: too,l ogia e non filosofia della storia» 11; para Mário Mar-
tins, em 1950, Santo Agostinho e Paulo Orósio são filósofos da hi,s tória
ambos 12; em 1952, K. A. Schondorf lança dos prelos em Munique Die
Geschichtstheologie des Orosius 13; Elias de Tejada, em 1953, «Los pri-
meros filósofos hispanicos de la historia, Orosio y Draconcio» 14; em
1955, Luce Gasooin defende na Sorbona «la théologie de l'histoire
de Paul Orose» 15; no mesmo ano, na Revista Portuguesa de Filosofia,
J. Vaz de Carvalho, ao aventar a hipótese da influência de Orósio em
A Cidade de Deus, aJude à H1osofia da história do presbítero braca-
rense 16; em 1958, J. A. Maravall acha que Paulo Orósio «sistematiza una
filosofía cdstiana de la historia, que concibe a esta come teofania» 17
ou manifestação de Deus no mu:J.1!do, sintagmas já usados por Mário
Martins; Lacroix, na tese atrás citada, chama a Orósio, em 1965, «le
premier philosophe-theologien de l'histoire universelle» 18; em 1968,
Eduardo Nunes refere-se a Orósio «levado na lógica dos seus racioCÍ-

10. Cf. F. P. Billieri, S. Agostino e Giambattista Vico, ossia della teorica


scientifica della filosofia della storia e della sua applicazione, Pisa, 1887_
11. Cf. U. A. Padovani, in «S_ Agostino», suplemento da Rivista di filo sofia
neo-scolastica, Milão, XXIII (1931), pp. 220-263.
12. Cf. Mário Martins, o. C. , pp. 183-189, 195-196_
13. Cf. K. A. Schondorf, Die Gerchichtstheologie des Orosius. Eine Studie
zur «Historia adversus Paganos» des Orosius, München, 1952.
14. Cf. Elias de T,e jada, in Anuario de Historia deI Derecho Espanol, Madrid,
23 (1953), pp. 191-201.
15. Cf. Luce Gascoin, La théologie de l'histoire de Paul Orose. Mémoire
présenté pour l'obtention du Diplôme d'Études Superieures d'Histoire, Paris,
Sorbonne, 200 pp.
16. Cf. 1. C., p. 146.
17. Cf. «EI pensamiento político en Espana deI afio 400 aI 1300», in Cahiers
d'histoire mondiale, Paris, 4 (1957-1958) , pp. 818-819; Mário Martins, o. C. , p . 186.
18. Cf. o. C., p. 191.
474 AMADEU TORRES

nios de filosofia da história, ou no impulso dos princípios evangélicos» 19;


em 1986, para Lúcio Craveiro da Silva, na «lntrodução» à História
contra os pagãos, teólogo da história é Santo Agostinho, sendo Paulo
Orósio o primei'l"o filósofo da história, em contraposição parcial às
hesitações de Jacques Truchet que, 20 anos antes, no prefácio ao Discours
sur l'histoire universelle fala de «la philosophie de l'histoire de Bossuet,
mais que l'on femit mieux d'appeler sa spiritualité de l'histoire », «fidele
à saint Augustin et à la doctrine de La Cité de Dieu» 20; finalmente, no
Bulletin de l'Association Guillaume Blldé de 1987 chegado há pouco,
lê-se este excerto de Jorge Uscatescu, da Universidade de Madrid: «Vico
est pour nous la philosophie de l'histoire que la métaphysd.que grecque
n'avait pu atteindre; seul, avec lui, un autre méridional, un Africain,
Augustin, l'avait entrevue. C'est surtout comme fondateur de cette
philosophie de l'histoire que Vico est actuei», posição esta a entrosar
na de Michelet quando em 1827 exaltava o génio solitário de Nápoles
como criador da filosofia da história 21.
Comentará porventura alguém que tal desencontro de opiniões
nem num concurso isegórico de praça helenística. Em ressalva, porém,
de qualquer mal-entendido previne-nos J. Arthur Thomson, em Intro-
dução à ciência, de que «a seguir à paixão pelos factos vem uma grande
característica do espírito científico, que é a cautela». Com efeito, dispa-
ridades como estas ou maiores só as suscitam autores de renome,
espécie de quezílias entre herdeiros de grandes patrimónios. O mesmo
Vico já passou por platónico, agostiniano, ficiniano, anti-escolásuco,
anticartesiano, antibayliano; e o seu conceito de Providência interpre-
taram-no em acepção historicista Croce, Meinecke, Badaloni; em sentido
católico Rosmini, Chiocchetti, Olgiati, Petruzzellis; numa via média
Gentile, P. Hazard, Abbagnano , K. Loewith, Garin 22. Nada desactua-

19. Cf. «Paulo Orósio e a irrupção bárbara», in Bracara Augusta, Braga,


XXII (1968) 51-54, p. 79.
20. Cf. Paulo Orósio, o. c., na nota 2, p. 16; Jacques-Benigne Bossuet, Discours
sur l'histoire universelle, chronologie et préface de Jacques Truchet, Paris, FIam-
marion, 1966, p . 19.
21. Cf. George Uscatescu, «Actualité et pérennité de Vico», in Bull. de l'Assoc.
Guillaume Budé, Paris (1987) 4, p. 360; J . Michelet, Discours sur le systeme et
la vie de Vico , Paris, 1827, p. 1.
22. Cf. Paolo Miccoli, «La componente agostiniana nel pensiero di G. B. Vico»,
in La Ciudad de Dios, Salamanca, Colegio San Agustín, 200 (1987) 2-3, pp. 577 e
589, nota 28.
PAULO ORÓSlO, HISTORIÓGRAFO ROMANO-BRACARENSE 475

Historiarum adversus paganos, trad. fr., Paris, 1492.


476 AMADEU TORRES

lizou, portanto, a conhecida ponderação de Whitehead: «Em lógica


formal, a contradição é o sinal da derrota; mas na evolução do conhe-
cimento autêntico assinala apenas o primeiro passo no caminho da
vitória».
Estas advertências ou obstáculos na arrumação dos conooitos aqui
postos em questão sentiu-as bem, nomeadamente, o encontJro filosó-
fico 23 internacional de GaUarate em 1952 ao discutir a possibilidade de
uma filosofia da história ou tão-somente de uma teologia da mesma.
Há porém outra causa obstaculando a tal arrumação. É 'que filosofia
da história vem-se entendendo duplamente, ora no sentido de reflexão
fundamentadora da história como ciência à qual o génio de Vico, ao
arrepio do teorizado no Discurso do Método, trouxe, além do mais,
um novo critério de .verdade e certeza, o que o título Scienza Nuova
primordialmente inculca; ora no de uma vectorização interpretativa
e explicativa gemI da história como transunto temporal e livre da
Providência de Deus, em teI1mos viquianos apresentada como «primeiro
princípio das nações», «arquitecta desse mundo», «ol1denadora de todo
o direito natural». Exemplo daqueloutro sentido pode verificar-se em
«La philosophie de l'histoire aux États-Unis» de Schneider, quer no
artigo em si quer nas quase cinco páginas de bibliografia concernente;
do segundo, ou melhor, de ambos, em «Origen y desarrollo de la filo-
sofía de la historia en la edad moderna» de Gabriel G. Alvarez 24.
Quanto à cunhagem terminológica recente - 1756 para filosofia da
história, que é expressão de Voltaire, 1891 para teologia da história,
que aparece em Cournot:z:, - isso não constitui qualquer óbice, uma
vez que as realidades correspondentes são anteriores de muitos séculos.
Conteúdos sobrelevam rótulos, evidentemente.

23. Cf. Carla Giacon, «É possível uma filosofia da história?», in Revista Portu-
guesa de Filosofia, Braga, IX (1953) 3, pp. 251-277; vd. ainda Vincenzo de Ruvo,
«E possibile una filosofia della storia?», in Sophia, Pádua, XXXV (1967), pp. 3-10.
24. Cf. Giambattista Vico, Ciencia Nueva, prólogo y traducción de José
Carner, Univ. do México, Fac. de Filosofia y Letras, 1941, 2 vols., I, pp. 46-48;
Herbert W. Schneider, «La philosophie de l'histoire aux États-Unis», in Les études
philosophiques, Paris, P.U.F., XIX (1964) 1, pp. 255-263; Gabriel G. Alvarez, «Origen
y desarrollo de la filosofía de la historia en la edad moderna», in Crisis, rev. esp.
de filosofía, Madrid, XVI (1969) 62, pp. 197-221.
25. Cf. Voltaire, Essai sur les moeurs et l'esprit des nations e Cournot, Traité
de l'enchalnement des idées fondamentales, cito por J. Ferreira Gomes, «Filosofias
e teologias da história», in Estudos, Coimbra, XXXV (1957) 8, pp. 444, nota 18, e 451.
PAULO ORóSIO , HISTORIóGRAFO ROMANO-BRACARENSE 477

Na base, portanto, de que filosofia da história é a Olencia das


categorias e leis globais do devir humano à luz dos princípios da meta-
física, ao passo que a teologia da história se propõe fa:z;ê-Io à luz da
Revelação, julgo que Paulo Orósio na História contra os pagãos se
creditou mais oomo filósofo do que como teólogo, epíteto este que
quadra perfeitamente a Santo Agostinho no De Civitate Dei. Permito-me
uma comprovação 26 rápida, sem omitir as convergências.
Assim, ambos se opõem à fatalidade e ao acaso, exaltando a Provi-
dência divina e os seus desígnios salvíficos em desvelamento na história,
inclusive bíblica, através da Incarnação; ambos proclamam o livre-
-arbítrio e a caminhada humana em seu uso ou abuso, com as sequelas
do bem e do mal, do crime e castigo; ambos se apropriam de idêntico
acontecimento de catástrofe - o saque de Roma de 410 - como ponto
de partida da reflexão acerca das calamidades do mundo e do Império,
não imputáveis ao cristianismo; ambos criticam o militarismo romano
e preconizam a necessidade da Fé para o discelnimento cabal do devir
da humanidade na selva multifária da existência individual e colectiva.
Mas Santo Agostinho, que nos 10 primeiros livros de A Cidade de
Deus responde ao paganismo e nos 12 últimos explana a doutrina
de Cristo, dirige-se como pastor de almas a todos em geral; Orósio,
directamente aos pagãos. Santo Agostinho privilegia o plano teórico,
em faoe do qual os ,e ventos se transformam em signos ou símbolos
aos níveis da Lei, da Fé ou da Graça; Orósio esposa o plano expe-
riencial dos factos, de que não se arreda, no intuito óbvio de facilitar
a compreensão aos destinatários. Santo Agostinho escreve em função
das duas cidades, a celeste e a terrestre, sem exoluir os próprios anjos,
servindo-se mais da história do que servindo-a, sendo a bíblica, em
cuja suoessão das idades se fundamenta, aquela que lhe interessa
em geral; Orósio confina·se à cidade terrena e a sua problemática
concreta, interessando-se mormente pela história em sucessão de impé-
rios e civiliZlações. Santo Agostinho, melhor retor mas narrador me-
diano, aponta-nos inconscientemente, no seu lavor antitético e argu-
mentação calma, para um Manuel BernaI1des falando do púlpito; Orósio,
de estilo dum e severo, I'edigindo a golpes fácticos, lembra Frei António
das Chagas pregando alto nos rossios ou nas ruas. Para Santo Agos-
tinho a justiça de Deus é um mistério convidando a uma investigação
ou pesquisa reverente que a Revelação aolara, assim como à Provi-
dência; para Orósio é antes um problema de relação entre punição e

26. Cf. B. Lacroix, o. C" pp. 192-204.


478 AMADEU TORRES

culpa, entre desordem e restauração da ordem à maneira dos ditames


da religião natural, sendo a Providência apresentada sobretudo a nível
da teodiceia, como de fonna superior sucederá, treze séculos volvidos,
com o autor da Scienza Nuova. Quer dizer, quando Lacroix apelida
Or6sio de «te premier philosophe-théologien de l'histoire universelle»,
pretende significar, se me não enganam as palavras, que ele é o pri-
meiro filósofo cristão da história, honra que por conseguinte, e com
a devida vénia, julgo estar longe de pertencer a João Baptista Vico,
como há poucos meses pretendeu Jorge Uscatescu sem a modalização
tópica que aparece em Horkheimer no Gli inizi della filosofia borghese
della storia, de 1978, a começar pelo título.

4. A epígrafe que encima o ternário deste Congresso põe em relevo


a civilização do universal. Efectivamente esta radica na filologia clás-
sica, na filosofia helénica, no direito romano e na teologia cristã.
Contrapondo-se por sua vez ao centripetisrno da «polis» e ultrapassada
a fase logográfica e atidográfica, é também a história nascida na
Hélade outro factor importante que o romano-peninsular Paulo Orósio
eleva aos horizontes de englobância da família humana. A aldeia global
de McLuhan tornada realidade pelos progressos da ciência e da técnica,
e não obstante o alargamento da ecúmena ptolomaica a dimensões
planetárias, os Historiaru111. adversum paganos libri septem de algum
modo a preludiaram li . Daí a actualidade da sua mensagem, mau grado
as dezasseis centúrias do percurso, a qual, tendo sido indubitavelmente
uma das que concorreram para a educação da Europa em quota-parte
notóri'a 28, não se esgotou nos ambientes curriculares, acabando por
transbordar mesmo para o plano político, o que lhe provocou a sim-
patia do próprio Dante latino"monarquista em sonhos itálicos de unifi-
cação da Europa, hoje a corporizar-se sob diferentes vectores que não
os do teocratismo ou da monarquia única 29.

27. Cf., a respeito da universalidade de Orósio entendida a partir de excertos


autobiográficos, Diamantino Martins, «Paulo Orósio: sentido universalista da sua
vida e da sua obra», in Revista Portuguesa de Filosofia, Braga, (1955) 11, pp. 375-384.
28. Outras personalidades ilustres do Noroeste peninsular podem ver-se em
José Geraldes Freire, 1. C ., pp. 115-135; Aquilino Iglesia Alvarmo, «Tres escritores
romanos em busca de su patria», in Bracara Augusta, Braga, IX-X (1958-1959) 1-4,
pp. 74-84.
29. Cf. K. A. Schondorf e J. A. Maravall, notas 13 e 17, supra; B. Lacroix,
o. C., p. 208.
PAULO OROSIO, HISTORIóGRAFO ROMANO-BRACARENSE
479

J> A. k 1 • 1 I J.

lntabc:rrulibru4l0A Nl'{IS l'AI1VI. vÍ:l


addil1lllXllocobum. fubúrligrú

Historiarum adversus paganos, ed. de Paris, 1524.


480 AMADEU TORRES

Claro que não irá restaurar-se o costume da leitura da História de


Orósio nos refeitórios dos mosteiros, como sucedia nalguns de Cluny,
a par de Santo Agostinho, Flávio Josefo, Beda ou Tito Lívio; nem
escolas de copistas se cansarão a transcrevê-lo ou a iluminar-lhe textos,
rematados em dito gracioso ou em humilde prece como a deste alcoba-
cense 30: «obsecro vos qui haec legitis ut Fernandi pecatoPis memine-
ritis ». Aos classidstas, porém, ainda logrará certamente atraí-los o seu
latim, ora compassado e sóbrio como as gentes do Noroeste ibérico,
ora sin uoso e plurívoco como os seus caminhos e encruzilhadas, onde
se arriscam a perder o esmo lépidos viageiros por autoconfiança em
demasia ou fascínio da paisagem. Para os romanistas ele continuará
a ser o cicerone amigo em jornadas por desbravar entre o Lácio e as
línguas vulgares. Reoorde-se a propósito que o longo «Index vocabu-
lorum notabilium» do fecho da edição de Zangemeister de 1882 se
manteve resguardado de olhares curiosos durante estes 106 anos como
múmia egípcia, sem embargo da apartação gramatical de J. Svennung
na sua Orosiana e dos trabalhos de Christine Mohrmann, entre outros.
Actual outrossim a mensagem de Orósio no Commonitorium e no
Liber apologeticus. Quanto ao primeiro, é a sua ânsia de verdade, de
aclaração de ideias na confusa mentalidade envolvente que o estimula
a deslocar-se à África e à Palestina; e é o seu humanismo consciente
tanto do vaJor da pessoa como dos seus limites que o impulsa a repu-
diar com veemência a modalidade pelagiana 31 de um super-homem de
que Nietzsche e Sartre deviriam afinal avatares, aquele absolutizando
a vontade, este a libel'dade.
Homem de prindpios que nas suas três obras experimentou a difi-
culdade de dizer que não - a dificuldade e a necessidade - e as
assumiu no ser e no agir, Paulo Orósio é simultaneamente antigo
e moderno. Há quatro traduções recentíssdmas da História contra os
pagãos, três castelhanas e a portuguesa 32 de 1986. Mas é também, ele

30. Cf. Bibliografia geral portuguesa, cit., p. 157.


31. Quanto às obras de Santo Agostinho contra os pelagianos, cf. P. L.,
Migne, vols. 44 e 45; no respeitante à de Orósio, cf. nota 33. Vd. ainda Santo
Agostinho, O livre arbítrio, trad. do original latino com introd. e notas por António
Soares Pinheiro, Braga, Faculdade de Filosofia, 1986.
32. Cf. Orosio, Historias, introd., trad. y notas de Eustaquio Sáncnez Salor,
2 vols., Madrid, Gredos, 1982, Paulus Orosius, Historia contra los paganos, estudio
preliminar, versión y notas de Enrique Gallego-Blanco, Barcelona, Puvill Libros,
1983; Casimiro Torres Rodríguez, Paulo Orosio. Su vida y sus obras, La Corufia,
Fundación Pedro Barrié de la Maza, 1985 ; Paulo Orósio, História contra os pagãos,
PAULO ORÓSIO, HISTORIóGRAFO ROMANO-BRACARENSE 481

mesmo, pós-moderno até, não no sentido amoluscado que anda a atri-


buir-se a esta categoria, conotando-a com ades-sacralização, anti-tra-
dição e mediocridade, indeterminação e pastiche, confusão de valores,
imanentismo e irracionalismo; mas no de que, enquanto sobreviver o
raoiocínio e a dialéctica a regra de oiro da racionalidade, quando se
tem de dizer que não, continuará a ser aquela em que, como em Paulo
Orósio, esse não da antítese nunca destruiJ"á o sim da tese, antes
conseguirá a superação ou síntese de ambos nesse nim de que fala
Umberto Eoo em refer,ê noia ao método argumentativo de S. Tomás:
um nim aberto a um futuro de compreensão e convivência em que o
repúdio do erro não implique o desamor dos que erram 33. Eis o Orósio
do ÀÓyoç e do 8up.:óç em face do outro, inclusive dos bárbaros do seu
tempo ou deste fim de milénio.

introdução de Lúcio Craveiro da Silva, versão portuguesa e anotações de José


Cardoso, Braga, Universidade do Minho, 1986.
33. Cf. Pauli Orosii, hispani presbyteri, Liber apologeticus contra Pelagium,
de arbitrii libertate (P. L., Migne, 31, cols. 1173-1242): «Teste Jesu Christo odisse
me fateor haeresim, non haereticum, sed, sicut justum est, interim propter
haeresim, haereticum vito, quia et probavi et corripui. Detestetur et damnet ore
pariter et manu, et cunctis fraternitatis vinculo haerebit, quia scriptum est:
'invicem onera vestra portate, et sic implebitis legem Christi'" (Migne, 31, coI. 1212;
Zangemeister, o. c., p. 664).
Acerca da aversão inicial de Orósio transmudada em compreensiva simpatia
para com os bárbaros, cf. Zangemeister, o. c., 1. VII, caps. 41 e 43.

31
(Página deixada propositadamente em branco)
DA FILOLOGIA CLÁSSICA DO SÉC. XIX
A FILOLOGIA CRISTÃ (GREGA E LATINA)
E AO LATIM TARDIO,
ESPECIALMENTE NO OCIDENTE HISPÂNICO (SÉC. IV-VII)

JOSE GERALDES FREIRE


Universidade de Coimbra

o tema desta comunicação foi inspirado pelo primeiro pI10grama


proposto para este Congresso (a 18.6.1987), cujo primei,r o ponto dizia:
La contribution du XIX' siecle à l'appréciation du monde antique. Pode
dizer-se que, do ponto de vista das ideias, este aspecto foi globaJanente
estudado nos Entretiens sur l'Antiquité Classique de la Fondation Hardt:
Les études classiques aux XIX' et XX' siecles: leur place dans l'histoire
des idées (tome XXVI, 1980). Aí foram estudadas sobretudo a Litera-
tura, a Religião, as Ciências Naturais e a Metodo1ogia. Nós quererí1a mos
encarar, de preferência, a Linguística e a sua projecção na interpre-
tação dos autores.

A LINGUíSTICA CLASSICA NO SÉC. XIX

O movimento que estabeleceu as bases científicas da linguística


indo-europeia não podia deixar de se interes.sar pelo estudo oom:pa-
i"ativo e pela gramática histórica das línguas clássicas, em compamção
com as outras línguas «irmãs». Assim aconteceu, desde a primeira hora,
com a obra-mestra de F. Bopp, Vber das conjugationssystem der Sanskrit-
sprache in Vergleichung mit jenem der griechischen, lateinischen,
persischen und germanischen Sprache (1816). O mesmo se passou com
a obra mais aperfeiçoada (embora mais preconcei,t uosa) de A. Schleicher,
484 JOs~ GERALDES FREIRE

Compendium der vergleichenden Grammatik der indogennanischen


Sprachen (1861). A sistematização adquiriu a sua forma «histórica» com
o Grundriss de K. Fr. Brugmann (1893-1900), corifeu dos neogramáticos I.
Embora os filólogos clássicos, votados principalmente à interpre-
tação e fixação dos textos, olhassem, a pdncípio, oom certo desdém
para os indo-europeístas, depressa se aperceberam de que os métodos
de trabalho de Bopp, Grimm, Diez, Mikilosisoh, Zeuss e outros mais
eram dignos de consideração. Assim foram surgindo, pouco a pouco,
novos estudos sobre o GIIego e o Latirm.
Umitando-nos aqui aos principais marcos relativos à língua grega,
assinalamos: de R. Kühner, Ausführliche Grammatik der griechischen
Sprache wissenschaftlich und mit Rücksicht auf dem Schulgebrauch
ausgearbeitet (1834-35), depois revitSta por Blass (1890-92) e ainda por
Gerth (1898-1905); L. H. Ahrens publioa (1839-92), De graecae linguae
dialectis, que abre o caminho à dialectologia grega de mestres como
H. W. Smyth, A. ThUlIllb, Fr. Bechtel, A. Soherer, G. Nagy e outros;
logo ,e m 1845 K. W. Krrüger lança a Griechische Sprachlehre; G. Curtius,
que tanto havia de contribuir para o entendimento entre filólogos e
linguistas, edita primeiro uma Griechische Grammatik (1852) e organiza
depois o primeiro dicionário etimológico de uma língua clássica, com
as suas Grundzüge der griechischen Etymologie (1858-62); também
K. Brugmann publioou uma Griechische Grammatik depois revista por
A. Thumb (1913); e assim entIlamos no séc. XX com as magistrais obras
de E. Kickers (1924-26) e de Ed. Schwyzer (1939-40).

1. G. Mounin, Histolre de la linguistique des ongtnes au XX, siecle, Paris ,


P. U. F., 1967; R. H. Robins, A short history of linguistics, London, Longmans, 1967;
W. P. Lehmann, Introducción a la lingüística histórica, Madrid, Gredos, 1969;
B. Malmberg, Les nouvelles tendences de la linguistique, Paris, P.U.F., 1972; M. Leroy,
Les grands courants de la linguistique moderne, 2' éd. augmentée, Université de
Bruxelles, 1980; T. A. Amirova / B. A. Ol'chovikov / J. V. Rozdestvskij , Abriss der
Geschichte der Linguistik, 484 p., 1980; H. E. Breckle, Einfilhrung in die Geschichte
der Sprachwissenschaft, 221 p., 1985; J. Mattoso Câmara, História da linguístlca,
Petrópolis, Vozes, 1975.
Especialmente sobre a formação científica do estudo do grego e do latim :
A. Tovar, Lingüística y Filología Clásica, Madrid, Revista de Occidente, 1944;
J. E . Sandys, A history of classical scholarship, 3 vol., New York, 1958; G. Pascucci,
I fondamenti della filologia classica, Firenze, Sansoni Ed., 1962; G. Righi, Historia
de la filología clásica, Barcelona, Labor, 1967. Útil para todos os capítulos Th. A.
Sebeok, Portraits of Linguists. A biographical source book 1746-1963, 2 vol., Westport
(Conn.), Greenwood Press, 1966.
DA FILOLOGIA CLÁSSICA DO S:r::C. XIX A FILOLOGIA CRISTA (GREGA E LATINA) 485

Na impossibilidade de tratar e acompanhar todos os aspectos da


formação oientífiica da linguística grega, remetemos para as principais
Histórias da Língua Grega: as de J. Wackernagel, de P. Kretschmer,
de A. Meil1et, de O. Hoffmann, de A. Debrunner e de V. Pisani. Aliás,
para uma orientação geral sobre a marcha e o estado actual dos estudos
gregos podem oonsultar-se alguns guias de orientação biblLiográfica 2.
Pretendemos demorar-1:1os mais no estudo da linguística latina. Mém
dos guias gerais 3, convirá ter presente uma obra de conjunto como
a de Victor José Herrero, Introducción al estudio de la filología latina
(1965) ou algumas das Histórias da Língua Latina, actualizadas, como
a de Stolz-Debrunner-Smidt ~tradução italiana de C. Bendikter, 1968), de
G. Devoto (1944) ou a de G. B. Pighi (1968).
O estudo científico da lí:ngua laNna é também uma consequência
do avanço dos estudos indo-europeus. P. W. Corssen publicou, em 1858-59,
Vber Aussprache, Vokalismus und Betonung der lateinischen Sprache;
F. Büoheler, em 1862, editou uma monografia sobre As declinações e
conjugações latinas; como anteriormente havia feito para o grego,
também em 1877-79 R. Kühner organiza uma Ausführliche Grammatik
der lateinischen Sprache; W. Schulze escreve, em 1904, o volume Zur
Geschichte der lateinischen Eigennamen. Sobre contributos de F. Sommer
(1914), E. Kickers (1930) se chegou aos compêndios ainda hoje utd.lizados
como F. Stolz-J. Schmalz-M. Leuman-J. B. Hofmann-A. Szantyr, Lateinische
Grammatik, cujo II volume, além da sinta~e, contém ainda a História
da Língua LatimJa ,e a Estilí·s tka; A. Meillet-J. Vendryes, Traité de gram-
maire compar.ée des langues classiques (19603) C. D. Buck, Comparative
Grammar of Greek and Latin (19628); M. Niederman, Précis de Phoné-
lique historique du latin (195g-t); A. Ernout, Morphologie historique du
latin (1953 3); A. Emout-F. Thomas, Syntaxe latine (1953 2); J. Marouzeau,
Traité de stylistique latine (1954 3).

2. Ver as histórias da filologia clássica acabadas de mencionar e especial-


mente para o grego, J. Defradas, Cuide de l'étudiant helléniste, Paris, P. U. F., 1968;
W. J. Verdenius, Beknopte bibliographie voor de studie der grieksetaal- en letter-
kunde, Amsterdam, Adolf Hakkert, 1960; actualização em Les Études Classiques,
1971, pp. 41 ss. A vida e a obra de boa parte dos autores encontra-se em A Biogra-
phical Dictionary of Phonetic Sciences, edito by A. J. Bronstein, L. J. Raphael,
C. J. Stevens (New York, Lehman College, 1<977).
3. Ver 2: parte da nota 1. e ainda: A. D. Leeman / G. Bouma, Bibliographia
Latina Selecta, Arnsterdam, A. Hakkert, 1966; P. Grimal, Cuide de l'étudiant lati-
niste, Paris, P. U. F., 1971; ' Jaime Siles, Introducción a la lengua e literatura latinas,
Madrid, Ed. Istmo, 1983.
486 JOSÉ GERALDES FREIRE

CI~NCIAS AUXILIARES, ESPECIALMENTE A EPIGRAFIA

o conhecÍlITlento das línguas progride, muitas vezes, mercê do con-


tributo das chamadas «ciências auxiliares», como a história, a arqueo-
logia, a epigrafia, a num~smá1lica, a paleografia, a diplomática, a etrus-
cologia, a lexicologia, a lÜ1guística românica e de outros grupos, a
métrioa, a orítica textual e mais algumas . Importa deixar aqui subli-
nhado que estes ramos do saber são hoje autênticas espeoia,u,dades,
com uma história e uma técnica que, por si sós, constituem aliciante
prof,i ssão 4.
Na impossibilidade de resumir sequer o contributo destas ciências
para a Filologia Clássioa, vamos refeJ1iT-nos apenas à fOl1mação do
estudo científico da Epigrafia Latina, atendendo ao seu especial inte-
resse pana a História da Língua.
Se bem que a Epigrafi,a sempre teI1ha sido cultivada, foi com Egger,
Latini sermonis uetustioris reliquiae (1843) que se iniciou a nova geração
de epigrafistas 00iffi interesse pela liI1guística. Em 1847 apresentou Th.
Mommsen 00 seu grandioso projecto do Corpus inscriptionum Latinarw1'l,
de que saiu o I volume em 1863,' também sobre inscrições arcaicas.
Aliás, Fr. W. Ritschl, que se interessaVia pelo latim arcaico na sua globa-
lidade, já em 1862 publicara também Priscae latinitatis monumenta

4. Impossível traçar aqui a história da formação científica de cada uma


das ciências auxiliares e respectiva bibliografia. Por isso, além das enciclopédias
de cultura e das do mundo clássico (referenciadas em todas as bibliografias
mencionadas nas três notas anteriores), indicamos, dos autores acima mencio-
nados, a paginação em que remete para os estudos especializados sobre cada uma
das «ciências auxiliares» por eles contempladas: - para o grego: J. Defradas, paleo-
grafia, história e crítica textual, pp. 106-112; papirologia, pp. 113-121; epigrafia,
pp. 122-132; arqueologia, pp. 133-142; W. J. Verdenius, paleografia, crítica textual,
papirologia e epigrafia, p. 15; - para o latim: Leeman-Bouma, direito romano,
pp. 33-35; paleografia e crítica textual, pp. 35-39; P. Grimal, epigrafia e numis-
mática, pp. 88-94; arqueologia, pp. 94-98; história, pp. 98-101; direito, pp. 1'01-104;
paleografia e crítica textual, pp. 104-112. Indicamos ainda pelo desenvolvimento
introdutório que dão a algumas destas ciências, J. M. Powell, Medieval Studies.
An Introduction (Syracuse University Press, 1976): paleografia latina, pp. 1-68;
diplomática, pp. 69-101; numismática, pp. 103-150; prosopografia, pp. 151-184; e
M. R. P. McGuire / H . Dressler, Introduction to medieval latin studies (The Catholic
of America Press, Washington, 1977), paleografia e diplomática, pp. 361-372 - mas
note-se que nestas páginas vem também indicada bastante bibliografia sobre crítica
textual. Sobre etruscologia ver nota 7.
DA FILOLOGIA CLÁSSICA DO SÉC. XIX À FILOLOGIA CRISTÃ (GREGA E LATINA) 487

epigraphica. Em 1873, G. Wilmann lança os dois volumes dos ExempZa


i11.scriptionum Zatinarum. Em 1896 aparecia já uma sistematização, com
exemplos, de J. C. Egbert, Introduction to the study of latin inscriptions,
seguido depois por um estudo especializado de J. Pirson, La Zangue
des inscriptions la tines de la Gaule (1901).
Estava assim criado o campo para o aparecimento de compêndios
famosos como o de R. Cagnat (cuja primeira redacção é de 1884-85),
de W. M. Undsay (1897), de J. E. Sandys (1927 2) e ou1Jros mais recentes.
Além das obras pioneiras, algumas delas monográficas, temos ainda
como prova do interesse por esta ciência, as antologias, por vezes volu-
mosas, como as de H. Dessau, Inscriptiones latinae seZectae (5 vols.,
1897-1916); E. Diehl (1912) acompanhado de album de gravuras e seguido
das 111.scriptiones Latinae christianae ueteres; A. Degrassi, Inscriptiones
lati11.ae Ziberae Reipublicae, 2 volumes, iniciados em 1957. AI~m disso,
incluem inscrições todas as antologias de latim aroaico, vulgar, dos
cristãos e tardio, a algumas das quais faremos adiante referência 5.

o LATIM ARCAICO

Deixamos de lado quaisquer considerações sobre o período pré-


-histórioo do latim, isto é, o estudo das suas origens indo-europeias e
o da sua relação com as línguas da Itália antiga 6.

5. As renussoes para os autores que tratam de inscrições, as transcrevem


e as comentam, encontram-se nos capítulos seguintes sobre Latim Arcaico, Latim
Vulgar, Latim dos Cristãos, Latim Medieval e ainda na bibliografia da nota 14. Como
exemplo do que acontece também com outras «ciências auxiliares» da Linguística
Latina, remetemos aqui para algumas orientações gerais, Cuide de l'Epigraphiste,
L'Année Epigraphique, os Congressos Internacionais de Epigrafia Grega e Latina
(o VII dos quais foi em Constantza, Roménia, em 1977) e ainda para as seguintes
obras : Ida Calabri, Epigrafia Latina con un'appendice bibliografico de Attilio
Degrassi (Milano, 1968); José d'Encarnação, Introdução ao estudo da epigrafia latina
(Coimbra, 1979); O. Marucchi, Epigrafia Cristiana (Milano, 1910); C. M. Kaufmann
Handbuch der altchristlichen Epigraphie (Freiburg im Breisgau, 1917). A bibliografia
sobre as inscrições do nosso território será dada ao tratar do Latim no Ocidente
Hispânico (séc. IV-VII).
6. Sobre o «indo-europeu» e as línguas indo-europeias ver: P. Kretschmer y
B. Hrosny, Las lenguas y los pueblos indoeuropeos, Madrid, C.S.I.C., 1934; J. Vendryes,
Las lenguas indoeuropeas, Buenos Aires, 1946; V. Pisani, Introduzione alla linguistica
indoeuropea, Torino, 1949; H. Krahe, Lingüística indoeuropea, Medinacelli, Madrid,
1953; H. Krahe, Indogermanische Sprachwissenschaft, 2 vaIs., Berlin, W. de Gruyter,
1958; G. Devoto, Origini indoeuropee, Firenze, Sansoni, .1962; W. B. Lockwood,
488 1OS1:: GERALDES FREIRE

Entendemos por Latim Arcaico tanto a época pré-literária (c. séc. VII
a 240 a. C.), em que predominam as inscrições, mas da qual possuímos
também, por via indirecta, outros documentos entre os quais os carmina
e as leges, como a época liter.ária (240-81 a. C., data do primeiro discurso
de Cícero) .
Como acabámos de ver, quase todos os epigrafistas, desde os mais
antigos, se interessaI'aJIIl pelo latim arcaico, como foi o caso de Egger
(1843), RHschl (1862) e Mommsen (1863). John WOI'dsWOI1th, Fmgments
and specimens of early latin (1874), traz já uma introdução e anotações
linguísticas. W. Studemund, nos Studien auf dem Gebiete des archaischen
Lateins reuniu, de 1872 a 1890, em dod:s volumes, uma série de estudos
de diversos estudiosos contemporâneos (Luchs, ReinhaI'dt, BeckeT,
Riohter, Schroeder, Kellerhoff, Scherer, Bach e Studemund) sobre pro-
blemas linguísticos, literámos e métricos; sendo Pt1aurIJ0 um dos autores
mais citados. W. M. Lindsay, no já citado Handbook of latin inscriptions
(1897), diz expressamente que pretende ilustrar a História da Língua.
Entre os seus valiosos trabalhos literários contam-se também obras
sobre Plauto e Terêncio. Ch. E. Bennet alongou-se no estudo da Syntax
of early latin (1910-1914). No · ddmínio· ~ocabularr, A. Grenier escreveu a
sua tese complementar do doutoi["amento sobre Etude sur la formation
et l'emploi des composés nominaux dans le latin archaique (1912). Mais
tarde E. Coccrua reune nos Saggi glottologici o seu Contributo alIo
studio deI latino arcaico (1924); H. K. Siekert publicou, em 1939, Die
Syntax der Tempora und Modi der Ciltesten lateinischen Inschriften.
Mais recente a obra valiosa de Louis C. Prat, Morphosyntaxe de l'ablatif
en latin archaique (1975) .

A panorama of indo-european Languages, London, Hutchinson University Press, 1972;


F. R. Adrados, Lingüística indoeuropea, 2 vols., Madrid, 1975; G. Semerano, Le origini
della cultura europea. Rivelazioni della linguística storica.1n appendice: Il messagio
etrusco , 1025 p ., 1984.
Sobre os <<latinos » na Itália e suas relações com as outras línguas da Itália
antiga ver: G. Bonfante, Tracce di terminologia palafitticoZa neZ vocabulario latino? ,
Atti deI Istituto Veneta, 97, 2 (1937-1938) 53-70; M. Lejeune, La posición deZ latín
en el dominio indoeuropeo, Buenos Aires, 1949; V. Pisani, Le lingue dell'ltalia
antica oUre iI latino , Torino, Rosenberg & Sellier, 1953; E. Pulgram, The tongues
of ltaly, Cambridge (Mass.), Harvard Univ . Press, 1958; G. Devoto, The languages
of ltaly, Chicago Univ. Press, 1978.
DA FILOLOGIA CLÁSSICA DO Si>C. XIX Á FILOLOGIA" CRISTÃ (GREGA E LATINA) 489

Por bI'evidade, omitimos nesta ordenação dos estudiosos do Latim


Arcaico o contributo da etruscologia 7.
Para o acesso aos textos de Latim Arcaico, além da edição das inscri-
ções e das obms de cada um dos autores deste período, dispomos de
algumas antologias. A mais ampla é a de E. H. Warmington, Remains
of Old Latin, em 4 vols. (1953-1957), da Loeb Classical Library. Continua
sempre útil a obra de A. Emout, Recueil de textes latins archaiques
(1957 4) bem como a de R. H. Barrow, A Selection of Latin Inscriptions
(1934). Mais breve, mas com bom comentário, V. Pisani, Testi la tini arcaici
e volgari (1960). Importante é a obra de E. Pulgram, ltalic. Latin. Italian.
600 B. C. to 1260 A. D. Texts and commentaries, Heidelberg, 1978, que
nas pp. 159-213 analisa 31 inscrições arcaicas.

o LATIM VULGAR

A expres,são «Latim Vulgar» tem sido usada em diversos sentidos


e continua a ser objeoto de discussão 8.

7. Entre os vanos problemas levantados pelos etruscos, distinguimos dois


aspectos: sobre as origens dos etruscos e sua civilização ver-Mo Pallotino, La civi-
liation étrusque, Paris, Payot, 1949; R. Bloch, Os etruscos, Lisboa, Verbo, 1966;
W. Zschietzschmann, Etruscos e Roma, Lisboa, Verbo, 1970; M. Cristofani, The
etruscans:. A new investigation, New York, Galahad Books, 1979; ou os artigos da
Enc. Italiana, XIV, 1932, pp. 510-520 (ass. por G. Devoto) ou da Enc. Verbo, t . 7,
1968, cols. 1715-1733 (ass. por W. de Medeiros).
Sobre a língua etrusca e sua influência no latim 'p oderá ler-se: M. Pallotino,
Elementi di língua etrusca, Firenze, 1936; Z. Mayani, Les étrusques commencent
à parler, Paris, Arthaud, 1961,; A. Ernout, Les éléments étrusques du vocabulaire
latin, Philologica, 1946, pp. 21-51; G. Devoto, L'etrusco come intermediaria di parole
greche in latino, Studi Etruschi, II, 1928, pp. 307-341; A. Ernout, Sur la langue
étrusque, Philologica, III, 1965, Paris.
Os conhecimentos do etrusco, o avanço da linguística comparativa indo-europeia
e a «arte» da falsificação, conjugados com os elementos históricos fornecidos
sobre a origem da chamada Pibula Praenestina levam-nos a rejeitar a sua auten-
ticidade, não obstante a posição algo ambígua e inconsequente de A. E. Gordon,
The inscribed Pibula Praenestina. Problems of authenticity, Berkeley, Univ. of
California Press, 1<975.
8. O conceito de Latim Vulgar tem sido tão discutido que, por vezes, se torna
difícil distinguir a posição de cada autor. Pode ver-se um resumo das definições
em V. J. Herrero Llorente, Introducción al estudio de la filología latina, Madrid,
Gredos, 1965, pp. 1,27-129; e uma descrição repetitiva em Serafim da Silva Neto,
História do Latim Vulgar, Rio de Janeiro, Liv. Académica, 1957, pp. 11-37, 39-41,
45-48, 52-58. Os compêndios e antologias que indicamos no texto apresentam, no
490 JOSÉ GERALDES FREIRE

Convém notar que em todas as línguas e~istem vários níveis do


exercício da linguagem. Os mais elevados são, sem dúvida, a língua
literária, nos géneros da oratória e da poesia. Reconhece-se também
que existe uma diferença de uso entre a língua escrita e a língua falada.
Igualmente se aceita que não é absolutamente igual a língua falada
pelas pessoas cultas e pelas incU!ltas .
Que se entende então por «Latim Vulgar»? Este conceito tem
variado muito. Anotamos, resumidamente, as principais modalidades
de interpretação. Para C. H. Grandgent é a língua das «classes médias»,
tal como ela se desenvolveu a partir da Amtiguidade Clássica. W. Kroll
pensa que o L V. é a língua falada, por oposição à escrita. E. Lofstedt
diz que por L. V. devemos entender aquelas espécies de estilo que estão
mais próximas da linguagem do povo ou da IÍlIlguagem corrente. B. E.
Vidos entende que o L. V. é a língua falada por todas as camadas da
população durante todÜ's Ü'S períodos da lauinidade. J. B. Ho.ffmann
prefere a expressão «Latim FamHÍar» e, pela análise que dele faz, a
feição falada e vulgarizante que os autores literários deixam transparecer
em alguns dos seus escritos, transparência intencional, mas sempre
filtrada pelas técnicas literárias. Em nosso entender, o conceito que
meLhor corresponde às palavras é o de Bõgel pam quem o Latim
«Vulgar» é a fala dos :mcultos, por oposição à dos cultos, isto é, ao
latim literárioO. Mais explícito, diz J . Herman: «Nós ohamamos latim
vulgar a língua falada pelas camadas pouco influenciadas ou não influen-
ciadas pelo ,e nsino escoOlar e pelos modelos literários» (op. cit., p. 16).
Pensamos, pois, que, à base da linguística sociológica, o Latim «Vulgar»
é o latim do «vulgo», das pessoas que falam lat,i m, mas não têm prepa-
ração literá'ria.
Evidentemente que, entendendo o Latim Vu1gar oomoO a e~pres,são
da língua falada pelo vulgo, se torna acutilante 00 problema do estudo
das suas fontes, UiIIla vez que não há gravações da fala do vulgo de
qualquer época da História do Latim. Por isso mesmo, nós privile~
giamos aquelas formas escritas do latim em que melhor transparece o
falar das pessoas incultas, dos pouco letl'aJdos que mal sabiam escrever.

geral, também na introdução um ou vários conceitos de L. V. Devemos valorizar


o trabalho de J. B. Hoffmann, Bl latín familiar, Madrid, C.S.LC., 1958, pelo alto
valor estilístico das suas observações. Todavia, nós vemos no L. V., de preferência,
um fenómeno de sociologia linguística, pelo que apoiamos e desenvolvemos o
conceito de J. Herman, Le latin v ulgaire, Paris, P.U.F., (Que sais-je? n. 1217), 1967.
Daí o relativo desenvolvimento que damos a este aspecto da nossa exposição.
DA FILOLOGIA CLÁSSICA DO SÉC. XIX A FILOLOGIA CRISTÃ (GREGA E LATINA) 491

As fontes epigráficas são, neste aspecto, as mais valiosas. Se descon-


tarmos a distracção e a pressa, os erros das inscnçoes e as palavras
ou expressões alheias à língua literária são a melhor fonte de que
dispomos para conhecer o «Latim do Vulgo».
Às fontes epigráficas devemos juntar as fontes gramaticais. Existem,
de facto, informações dos gramáticos latialos sobre «erros» típicos das
pessoas incultas. Procurando impor a «nO'l'ma literária», os gramáticos
registam os «defeHos» do falar do vulgo. Próximas das fontes gramati-
cai,s estão as glossas e os glossários. A glossa interlinear ou marginal
traduz por uma palavm «vulgar» um tenrno tido como difícil ou desco-
nhecido. Os glossários são uma espécie de pequenos dicionários em que
já se enc0'ntra organizada uma lista de palavras «literárias», tendo ao
seu lado a fo'I'Illil «vulgar».
Temos assi'm como forma menos segura o uso das fontes literárias.
Neste número incluímos as imitações de personagens «vulgares» no
teatro, ora caricatumdas ora idealizadas pelo dramaturgo. Algo dife-
rentes são os tratados técnicos - de arqui,t ectura, medicina, veterinária,
oozinha - 0'S quais, ao reproduzirem «ter:mos técnicos», muitas vezes
utilizam vocábulos da língua do vuJgo. Literatos (mesmo poetas) e autores
técnicos fazem, de quando em vez, referência a um termo ou uma
pI'onúnoia do povo inculto.
Como última fonte do LatllJm Vulgar podem ainda apontar-se as
reconstituições etimológicas. Estas fazem-se a part,i r da existência de
pailavras, nas línguas românicas, que postulam um termo latino, certa-
mente corrente em época tardia na linguagem popular, mas que não
se encontra documentado nos autores e nas inscrições. Umas têm sido
confirmadas em textos exam,i nados recentemente; outras provou-se
terem sido manMesta:mente ÍIIlfeJizes.
Os oonceitos, as características e as fontes do Latim Vulgar fo'r am-se
defilIl'indo atmvés de um lento processo de investigação. POIIldo de lado
as referências aIO sermo vulgaris anteruores à criação da linguística
indo-eUI'opeia, oostuma indicar-se como pl1imeiro contributo para este
novo ramo do saber o estudo de H. Schuchardt, De sermonis romani
plebei uocalibus (1844), refund~do em Der Vokalismus des Vulgarlateins
(1866). Relaciona-se com o L. V. o trabalho sobre a diferenciação do
latim feito por K. Sittl, Die lokale Verschiedenheiten der lateinischen
Sprache mit besonderer Berucksichtigung des afrikanischen Lateins
(1882). Novo passo foi dado por F. G. Mohl ,Introduction à la chrono-
logie du Latin Vulgaire. Elude de philologie historique (1899). Este tema
foi retomado por H. F. MUlHer, A chronology of vulgar latin (1929).
492 JOS~ GERALDES FREIRE

Valiosa é a contribuição de Serafim da Silva Neto com as Fontes do


Latim Vulgar. O Appendix Probi (1946) e com a História do Latim
Vulgar (1957). O tema foi também tratado em artigos extensos de
H. Schmeck, Aufgaben und Methoden der modernen vulgarlateinischen
Forschung (1955) e de Christ>ine Mohrmann, Le latin prétendu vulgaire
et ['origine des langues romanes (1959). Laborioso trabalho o de Theodoro
Henrique Maurer, Gramática do Latim Vulgar (1959), seguido de O pro-
blema do Latim Vulgar (1962). O problema da relação do L. V. com as
línguas românicas foi também especialmente tratado por Paul Porteau,
Deux études d'histoire de la langue. Latin parlé, latin vulgaire et romain
commun. Langue d'oc et langue d'oil (1963), por B. E. Vidos, Il latino
volgare come esempio di protolingua (1963) e por G. Reichenkron,
Historische Latein. Altromanische Grammatik (1965). Valioso o opúsculo
de J. Herman, Le Latin Vulgaire (1967). Dois aspectos particulares são
estudados por J. Kramer, Literarische Quellen zur Aussprache des
Vulgarlateins (1976) e por J. L. Ba'r barino, The evolution of the latin
/b/-Iu/ merger: A quantitative and comparative Analysis of the B-V
alternation in Latin Inscriptions (1978).
A sÚilnu!la dos estudos científicos encontra-se reunida nos compên-
dios de Latim Vulgar, de que citamos: C. H. Grandgent, Introducción
aI L. V. (La edição inglesa, 1907; La trad. castelhana, 1928); C. Battisti,
Avviamento allo studio dei latino volgare (1949); J. B. Hoffunann, EI latín
familiar (La ed. alemã, 1925; La trad. caste1hana, 1958); R. A. Haadsma
et J. Nuchelmans, Précis de L. V. (1963); V. Va;a nanen, Introduction
au L. V. (1963).
,Além dos' estudos e :dos oompêndios, é útil também ter presentes
as antologias de textos em «Latim Vulgar», mais amplas umas que
outras e seguindo por v,ezes critérios distintos, mas .coincidindo também
com frequênoia em certo número de textos e ajudando oom as suas
anotações ' ou remissões a um comentário linguístico apropriado. Dos
compêndios acabados de indicar pos·s uem no fim uma antologia os
de Grandgent, Hoffmann, HaadSlma-Nuchelmans e Va'ananen. Indicamos,
também em progressão crcxnológica, outras recolhas de textos: F. Slotty,
Vulgarlateinisches Vbungsbuch (1918); H. F. Muller and P. Taylor,
Chrestomaty of V. L. (1932); ·K. Goetzke, Tabellen und Vbungen zum
Vulgarlatein für den Gebrauch in Vorlesungen und Seminarübungen
(1947); M. C. Díaz y Diaz, Antología deZ L. V. (1950); G. Rohlfs, Sermo
uulgari$ latinus (1956); V. Pisani, Testi latini arcaici e volgari (1960);
H. Pulgram, ltalic. Latin. ltalian (1978) - a maioria dos textos desde
pp. 214 a 276.
DA FILOLOGIA CLÁSSICA DO SÉC, XIX Á FILOLOGIA CRISTÃ (GREGA E LATINA) 493

A FILOLOGIA CRISTÃ, ESPECIALMENTE O GREGO ' DOS CRISTÃOS

A quem desejar obter mn panorama mais que suficiente da impor-


tância da Filologia para o estudo dos autores da Antiguidade Clássica,
tanto gregos COlno latinos, sobretudo desde o séc. XIX até aos nossos
dias, bastará examinar os artigos sobre Patrologia, Patrística e Padres
da Igreja em três enciclopédias relativamente recentes: Dizionario
Patristico e di Antichità Cristiana (Roma, 1984), New Catholic Ency-
clopedia (New York, 1967) e Enciclopedia Cattolica (Vaticano, 1952),
Adiante mencionaremos algumas fontes de actuaJização.
Para nos alinharmos mais oom o nosso tema, devemos distinguir
entre Patrologia - o estudo da vida e obras dos escritores da Antigui-
dade Cristã, concebida oomo uma «ciênoia auxiliar» da História Eclesiás-
tica; Patrística - o estudo das doutrinas filosóficas, teológica's, morais,
ascéticas e outras, expressas nas obras destes escritores; e História da
Literatura Cristã tanto Grega como Latina - esta mai.s orientada pelos
critérios filológicos, de interesse pela língua, processos artísticos, crítica
li terár:ia e textual.
Depois dos estudos globais de J. A. Mohler (1840), J. Nirschl (1881-85),
A. Hamack (1893-1904), O. Bardenhewer (1913-32), F. Cayré (1927-30),
U. Mannucci (1949-50), os compêndios actualmente mais em voga são os
de B. Altaner-B. Stuiber, Patrologia (Torino, 1977'1) e de J. Quasten, Patro-
logia -(tradução castelhana editada pela BAC de Madrid - 1961-1981-
o I até Nioeia, o II só sobre a Idade do Ouro da P. Grega e o III,
preparado já por professores do InstitutU!IIl Augustiillliail1U!IIl" só sobre
a Idade do Ouro da P. Latina).
Apesar das dificuldades de periodização, aceita-se hoje normalmente
que a Literatura da Antiguidade Cristã Viai, ,no Ocidente, até Isidoro
de Sevilha (636) ou prefel'ive1mente até Beda (735) e, no Oriente, até
João Damasceno (749). A plena inserção destes estudos nas obras gerais
verifica-se já na monwnental Geschichte der griechischen Literatur
de W. v. Christ, em cujo último volwne se encontra, da autoria de
o. Stahlin, Christliche Schriftsteller (1924), pp. 1105-1492. Outras obras
continuam de leitura sempre útil, oomo os três volumes de Aimé Puech,
Histoire de la Littérature Grecque Chrétienne depuis les origines
jusqu'à la fin du IV' siecle (1928-30). Para U!IIl resumo, ver a obra de
Anne-Marie Malingl'ey (CoI. Que sais-je?, 1968, n.O 1286); e para o final
da Antiguidade e toda a Literatura Medieval, a aÍrnda não ultrapassada
494 JOSÉ GERALDES FREIRE

Geschichte der byzantinischen Literatur von lustinian bis zum Ende des
ostromischen Reiches (527-1453), em dois vols., de K. Krumbacher, reela-
borados por A. Ehrhard e H. Goelzer.
Tal como os compêndios, também as colecções de textos clássicos
passara:m a admitir entre as suas edições as obms dos autores cristãos,
nomeadamente a Loob Olassical Library e a Collection Budé. Famosas
são sobTetudo, para os gregos e latinos, as obras de J. P. Migne, Patro-
logiae cursus completus (1844-66), cuja Series Graeca tem 161 volumes
e a Series Latina 221 vo1s. Em ofldem a valorizar as próprias colecções,
os alemães oO/ffieçararrn a publicar, em 1882, os Texte und Untersuchungen
zur Geschichte der altchristlichen Literatur; e os ingleses, a partir de
1891, os Texts and Studies. Contributions to biblical and patristic
Literatur. Igualmente abrangem ambas as línguas as colecções Sources
Chrétiennes (1942-), Ancient Christian Writers (1946-), The Fathers of
the Church (1947-), Corpus Christianorum (1953-), Library of Christian
Classics (1953-) e outros mais, de que devemos citar, por dever de justiça,
os muitos volumes (com tradução castelhana) da Biblioteca de Autores
Cristianos, de Madrid.
Longe de querermos ser completo, não podemos, no entanto, passar
em silêncio as sémes exdusivamente gregas: Die griechischen christlichen
Schriftsteller der ersten lahrhunderte (1897-), que está confiada às
Patristische Veroffentlichungen des Institut für griechisch-romische
Altertumskunde, sob a dependência da Deutsche Akademie der Wissen-
schaften, Berlin; e a Graecitas Christianorum Primaeua, iniciada em
Nijmegen, em 1962.
Impossível entrar na menção concreta de revistas. Bastará, para
isso, ,s eguir a bibliografia que serviu de base ao Dizionario Patristico
e di Antichità Cristiane (1984) ou aos 5 volUJilles do Der kleine Pauly
(1964-1975). Aliás, a aotualização bibliográfica no oampo do grego e do
latim dos od'Stãos, dispõe de bons boletins especializados, COtIDO o
L'Année Philologique, a Bibliographia Patristica e as sempre actuali-
zadas notíoias do Bulletin d'information et de liaison (n. o I, 1968 a
n. O 14, 1987) da Associaüon Intemationale d'Études Patristiques, fun-
dada em 1965, com sede em Paris (mas oujo Secretariado actualmente
funoiona na Via S. Uffizio, 25 (00193 - Roma).
DA FILOLOGIA CLÁSSICA DO S~ C . XIX À FILOLOGIA CRISTÃ (GREGA E LATINA) 495

o LATIM DOS CRISTÃOS

Não obstante o Íimenso labor que nos últimos cem anos se tem
desenvolvido no campo da Filologia -Grega dos autores cristãos, foi no
campo da língua e literatura lati[]as da Antiguidade Cristã que a espe-
cialização limguística mais se aprofUJllidou 9.
O ~ançamento de grandes oolecções, como os Monumenta Germaniae
Historica (1819-) e a Patrologia Latina (1844-66) não podiam deixar de
reter a atenção dos professores naquda época de grande inovação
no campo da linguística ~[]do-europeia e olássica. Assim, A. F. Ozanam,
que desde 1845 era p:w ressor catedrático da Faculdade de Letras de
Toulouse, procurou ,r esponder à pergunta Comment la langue latine
devint chrétienne. V. Lanfranchius esoreveu em 1868 o De Latina chris-
tianorum lingua. Em 1874 já A. Ebert escrevia urna Geschichte der
christlichen-lateinischen Literatur. E pouco depois (1879) B. Koffmane
apl10fundaVla o Entstehung und Entwicklung des Kirchenlateins.
H. Goelzer escreveu primeiro sobre o latim de S. Jerónimo (1884) e
depois sobre o de Santo Avito (1909). A. Chiappelli reumia já em 1887
os seus Studi di antica letteratura cristiana. M. Bonnet continuou o
interesse pelos escritores da Gália em Le latin de Grégoire de Tours
(1890); A. Dubois por La latinité d'Ennodius (1903); e DureI por Commo-
dieno Recherches sur la doctrine, la langue et le vocabulaire du poete
(1912). O sucesso destes estudos pode ver-se no êxtio alcançado por

9. Não viria fora de propósito demorar-nos aqui um pouco sobre o Grego


Bíblico. Para se ver a sua utilidade para outros estudos de grego e latim dos
cristãos, examinem-se as bibliografias das obras: H. W. Hoppenbrouwers, La plus
ancienne versio11. latine de S. Antoine par S. Athanase, Nijmegen, 1960; e A. Fridh,
L'emploi causal de la conjonction «ut» en latin tardif, Gõteborg, 1977. De modo
especial será útil examinar a bibliografia dos últimos trabalhos da Graecitas
Christianorum Primaeua, da «escola de Nimega»: A. Hilhorst, Sémitismes et lati-
nismes dans le Pasteur d'Hermas, GCP, n. 5, 1976; Jo Tigcheler, Didyme l'Aveugle
et l'exégese allégorique, n. 6, 1977; bem como dos respectivos Supplementa os
artigos de G. J. M. Bartelink, Parrhesía, n. 3, 1970, pp. 5-57 e A. J. Vermeulen,
Epipháneia, n. 1, 1964, pp. 9-44. Remissão mais vasta ainda se encontrará na Biblio-
graphie zur jüdisch-hellenistichen und intertestamentarischen Literatur, 1900-1965
(Berlin, 1-969). Limitemo-nos apenas a indicar o manual escrito por F. Blass, revisto
na edição alemã original por A. Debrunner e traduzido por R. W. Funk, A Greek
Grammar of the New Testament and Other Early Christian Literatur, Chicago, 1961.
Importante também a informação que se pode colher em G. W. H. Lampe, A Patristic
Greek Lexicon, Oxford, Clarendon Press, 1961.
496 JOS~ GERALDES FREIRE

Remy de Gourmont oom Le latin mystique. Les poetes de l' antiphonaire


et la symbolique au Moyen Age (segunda edição, 1913), que é já uma
autêntica Histól'ia da Poesia Latina Cristã desde o séc. III ao séc. XVI.
Por essa altura, já Joseph Sohrijnen iniciava a sua caminhada
desde o indo-eul'Opeismo, à linguística geral e à linguística sociológica
até ter perfeitamente sistematizado o seu conceito de laüm dos cristãos
como «língua de grupo», dando origem à chamada «EscoLa de Nimega»
com o volume Charakteristik des altchristlichen Latein (1932). A grande
mestra da «escola» foi, no entanto, Christine Mohrmann, discípula e
sucessora na cátedra de Jos. Schrijnen 10. A primeira grande obra de
Ch. Mohrmanrn é a tese Die altchristliche Sondersprache in den Sermonen
des hl. Augustin (1932), seguida de muitas outras e dos famosos Etudes
sur le latin des chrétiens (I, 1958; II, 1961; III, 1965; IV, 1977). À mesma
escola pertencem, entre outros, os investigadores que sustentaram. as
séries Latinitas Christianorum Primaeua (22 vols.) e Graecitas Chr.
Primaeua (6 vols.) e os 3 fascículos dos Supplementa (1964-1970).
Neste escorço da formação da especialidade da linguística latina
dos autores cris'Íãos, não podemos deixar de mencionar também, pelo
menos, A. Blaise, com o seu Manuel du Latin Chrétien (1953) e o Diction-
naire Latin-Français des Auteurs Chrétiens (1954).
De entr,e os diversos génel'os cultivados pelos cristãos, queremos
pôr em relevo a qualidade especial, literá['ia, hierática e cheia de forrmu-
lismos do latim litúrgico, por vezes tão mecanicamente repetido e tão
pouco apreciado. As suas cal'aoterísticas foram 'postas em relevo, entre
outros, por M. Flad, Le latüi de l'Eglise d'apres la grammaire et la
liturgie (1938); O. J. Kuhnmuench, Liturgical Latin (1939); Ch. Mohrrnann,
Lit. Lat. Its origins and character (1957); M. C. Díaz y Díaz, Liturgia e
Latín (1969) e num valioso capítulo de M. Testard, Chrétiens latins des
premiers siecles. La Littérature et la vie (1981, pp. 101-113). Existem,
evidentemente, estudos literários sobre algumas partes especiai6 da
Liturgia.

10. Por ocasião da sua jubilação, a 14.12.1973 escreveu a Prof. Ch. Mohrmann
duas lições que são um autêntico balanço da «escola de Nimega»: L'étude du grec
et du latin de l'antiquité chrétienne. Passé, présent, avenir e Nach vierzig Jahren.
ambas publicadas nos Etudes sur le latin des chrétiens, IV, 1977, pp. 91-110 e 111-140
respectivamente (Edizioni di Storia e Letteratura, Roma). Pela mesma altura foram
lançadas as Mélanges Christine Mohrmann. Nouveau recueil oftert par ses anciens
éleves, onde, além de 11 artigos in honorem, vem a tábua das 20 teses até então
(outras foram defendidas depois) orientadas pela homenageada. Ver uma curta
biobibliografia da Prof. Ch. Mohrmann na Enc. Verbo, voI. 13, 1972, coI. 1110
(ass . por J. G. Freire), a que deve acrescentar-se o seu falecimento a 13-7-1988.
DA FILOLOGIA CLÁSSICA DO Sf: C. XIX À FILOLOGIA CRISTÃ (GREGA E LATINA) 497

A corrente valorizadora dos autores cristãos levou a induí~los nas


Histórias gerais da Literatura Latina, primeiro timidamente ~ Nageotte
(1885) em 544 p., consagrou-lhes 32 p.; R. Pichon (1897) no compêndio
de 935 p. dá-lhes já 155 p. - e depois com o relevo que vemos na monu-
mental obra . de M. Scham.z-Hosius em cujo III voI. Die christliche
Literatur (que é a sua 2. a parte e foi escrita por G. Krüger) ocupa as
pp. 245-461; e no IV vol. (1914) Krüger dedica à literatura crustã do
séc. IV 294 p., ao passo que no 2. tomo (1920) os cri~tãos dos sécs. V
0

e VI são tratados em 270 p. Mas note-se que neste mesmo tomo, sob o
ambíguo titulo de Die nationale Literatur, já C. Hosius havia incluído
autores estritamente cástãos como Sidónio Apolináris, Cassiodoro,
Hidácio de Chaves, Vítor TUl1unense, João de Bíclaro, Jordanes, Enódio,
Boécio e Rufino. CUI1iosamente, esta obra modelar termina oom S. Mar-
tinho de Braga e S. Leandro de Sevilha, tratados (como toda a 2.a parte
deste vaI. IV, ·tomo 2. 0 , por G. Krüger).
Entre as obras especialmente dedicadas à História da Literatura
Latina Cristã bastará mencionar A. G. Amatucci (1955 2), P. de LabrioUe
(1947, 2 vols. ainda não ultrapassados) e o resumo de Jacques Fontaine
(1963, Que sais-Je?, n. O 1379).
Além dos autores em edições 'próprias, a abordagem pode fazer-se
por antologias como as de De Sanotis-Paroneto (1941), Sanchez Aliseda
(1953), L. Carrozzi (1966) ou E. Pulgram (1978) - este do pornto de vista
estritamente linguístico, na obra que citámos em capítulos anteriores,
pp. 262-288.
Às grandes colecções e processos de actualização já citados a pro-
pósito do grego, devemos acrescentar aqui o Corpus Scriptorum Eccle-
siasticorum Latinorum, que desde 1865 vem sendo publicado pela
Academia das Ciências de Vie na e de que já saíram 90 volumes, traba-
lhando actualmente sobre as obras de Ambrósio e de Agostinho. Igual-
mente deve recordar-se que a Livrairia Brepols (Turnhout, Bélgica) iniciou
em 1958 um Supplementum à Patrologia Latina de J. P. Migne.

o LATIM MEDIEVAL

o fim da época patrística, ainda que se tome como limite o


séc. VIII, não s,i gnifica que tenha deixado de se escrever em grego
e em latim. Esta época, ooirndde, porém, aproximadamente, com a
grande mutação linguística que fez substituir, na língua ralada, o Latim
TaI1dio pelas Línguas Românicas. Seja qual for o conceito que se adopte

32
498 JOS~ GERALDES FREIRE

de Latirrn Medieval, o certo é que um dos elementos subjacentes é a


oposição entre a língua de uso corrente - já uma língua moderna,
embora ainda na sua fase arcaica - e a língua das escolas, da cultura
internacional, da liturgia ocidental e de toda uma literatura própria
que, a par das lilteraturas nacionais, se mantém bem característica até
ao advento do humanismo renascentista 11.
A formação da especialidade em Latim Medieval é precisamente a
última criação da linguística latina do séc. XIX. A sua origem encon-
tra-se no estudo que germanistas e romani'stas de boa formação clás-
sica tiveram que fazer das relações entre as línguas modernas e a li te-
ratura latina mediev:al, cultivada nos seus países de origem. Assi:m
surgiram, já amadurecidos, os 3 volumes de Adolf Ebert, AIgemeine
Geschichte der Literatur des Mittelalters in Abendlande (1874-87). Outro
romanista, Gustav Grober, autor do Grundiss der romanischen Philo-
logie (1888-1902) julgou dever incluir nesta famosa obra, como 1.a secção
do II voI. uma Vbersicht über die lateinische Literatur von der Mitte
des VI. lahrhunderts bis zur Mitte des XIV. lahrhunderts (1892-1902),
ainda hoje reeditado.
Mas os verdadeiros «fundadores do Latim Medieval» são os classi-
cistas Ludwig Traube, professor, em Munique, de Latim Clássico e
Latim Medieval desde 1888, o qual dedicou os anos de 1902-03 e 1905-06
às lições que postumamente vi~I1am a ser publicadas sob o título de
Einleitung in die lateinische Phi(ologie des Mittelalters, ele que de 1886

11. Para uma primeira abordagem do Latim Medieval no seu conjunto ver:
G. Cremaschi, Guida allo studio deI latino medievale, Padova, Liviana Bd., 1959;
K. Langosch, Einleitung in Sprache und Literatur lateinisches Mittelalter, Darmstadt,
1963; K. Strecker / R. Palmer, Introduction to Medieval Latin, Zurich-Berlin, 1965;
D. Norberg, Manuel Pratique de Latin Médiéval, Paris, :ed. Picard, 1968; M. R. P.
McGuire / H. Dressler, Introduction to Medieval Latin Studies, Washington, 19772 ;
V. Paladini / M. de Marco, Língua e Letteratura Medíolatina, Bologna, Pàtron, 1970.
Também o conceito e os elementos componentes do Latim Medieval têm sido
muito discutidos. Podem ver-se as interpretações e componentes principais em
V. J. Herrero Llorente, Introducción aI estudio de la Filología Latina, Madrid, 1965,
pp. 148-1;50; G. Cremaschi, op. cit., pp. 97-108; Ch. Mohrmann, Et. sur Ze latin des
Chrét. II: Medieval latin and western civilization, pp. 155-179; Le latin médiévaZ:
Zangue morte ou langue vivante? La prose; La poésie, pp. 181-232; IV: Latin tardi!
et latin médiéval, pp. 29-47; Le latin médiéval substrat de la culture occidentale,
pp. 49-72; L'étude du latin médiévai. Passé, présent, avenir, pp. 73-89 (sendo o 1.0
destes capítulos uma reelaboração do artigo com o título mais significativo de
Le dualisme de la latinité médiévale '(Revue des :etudes Classiques, 29,1951, pp. 33 ss.)
e o último a tradução francesa da lição jubilar proferida em Amesterdão a 10.11.1973.
DA FILOLOGIA CLÁSSICA DO Sf;C. XIX À FILOLOGIA CRISTÃ (GREGA E LATINA) 499

a 1896 publicou nos MGH os três vaIs. sobre os Poetae Latini Aeui
Carolini; .Wilhelm Meyer, professor em Gõttingen desde 1886, publicou
em 1901 os Fragmenta Burana, ao mesmo tempo que escrevia Wesen
U11.d Bedeutung der mittellateinischen Literatur und die Aufgabe ihrer
Wissenschaft: Die mittellateinischen Philologie; e Paul von Winterfeld,
que só em 1904 foi nomeado professor em Berlim, mas que desde 1895
a 1904 trabalhou .nos MGH, onde em 1899 publicou, entre os Poetae
(IV, 1) os poemas Waltharius e Ruodlieb, bem como se consagrou a
outras obras como Die Dichterschule St. Gallens und der Reichenau
unter den Karolingern und Ottonen (1900) e as Hrotsvithae Opera (1902).
A escola alemã de mediev.alistas latinos continua com P. Lehmann,
K. Strecker, M. Manitius, E. R . Curtius, K. Langosch, até aos actuais
centros de investigação.
Quase ao mesmo tempo e com orientação semelhante trabalhava,
na Itália, Francesco Novati, o qual, sendo professor de Literatura
Neolatina na Academia de Milão desde 1883, irnciou em 1900 a Historia
della Letteratura Italiana. Le Origine (deixada incompleta e levada até
ao séc. XI pelo seu discípulo Angelo MontJeveI1di), bem como fUlIldou,
no próprio ano de 1883 o Giornale della Letteratura Latina e depois,
em 1904, a revista Studi Medievali (os quais foram sendo renovados em
novas séries até à actual 3. a série retomada em 1960) e em 1905 fez
uma recolha de artigos anteriores em Atraverso il Medio Evo. A sua
obra foi continuada por A. MonteveI1di, F. EI1mini (autor de uma volu-
mosa Storia della Letteratura Latina Medievale dalle origine aI fine deI
secolo VII), Ezio Franceschini, G. Pepe, G. Cremaschi e outros até ao
actual florescimento do Latim Medieval na Itália.
Movi'm ento semelhante se foi desenhando noutros países, como
acontece a quase tudo quanto é novo, como foi o caso dos Estados
Unidos, da França, da Espanha e mesmo de Portugal, onde, nas Facul-
dades de Letras, foi criado, pela pI1imeira vez em 1918, o curso de
«Latim Medieval e Bárbaro ».
Compreende-se assim que hoje haja várias Histórias da Literatura
Latina na Idade Média, desde as mais desenvolvidas às mais sumárias,
como por exemplo as de M. Manitius, 3 vaIs. (1911, 1923, 1931), J. de
Ghellinck (1939), A. Pagano (1943), E. R. Curtius (1948 - traduzida em
diversas línguas), J . P. Foucher (Que sais-je?, n.O 1043, 1963), G. Kranz
(1968), F. A. Wright-T. A. Sindair (1969), L. Alfonsi (1972) . F. Brunhülzl
(1972), etc.
Deixando de lado a profusão de autores e edições para que estas
obras remetem, menoionamos apenas antologias: A. Hilka (1911), St.
500 JOSÉ GERALDES FREIRE

Gaselee (1925), H. Waddel (1931), R. A. Browne (1954), T. von Stackel-


berg (1957), K. P. Harrinton (1962), F. E. Harrison (1968), K. Langosch
(1968) e outros.
Para l.lJII1a actualização bibliográfica completa nada melhor que o
Medioevo Latino. Bolletino bibliografico della cultura europea daI secolo
VI aI XIII (Spoleto, 1980-) de que saiu o VIU voI. em 1987.
Perante esta enorme movimentação de estudos, bem necessária se
torna também a inv·e stigação do Latim Medieval em Portugal, quer
dos textos epigráficos e notariais desde o séc. VIII, quer de numerosas
obras literár.ias, pertencentes a variados géneros.

o LATIM TARDIO,
ESPECIALMENTE NO OCIDENTE HISPÂNICO (SÉC. IV-VII)

O conceito de Antiguidade Tardia está hoje bem estabelecido,. Geral-


mente toma-se o governo de Marco Aurélio ou o princípio da dinastia
dos Severos como fronteira a partir da qual se fala de «decadência»
definitiva do mundo romano. Com os imperadores cristãos (Constan-
tino, Teodósio) e os escritores de formação clássica (Arnóbio, Ambrósio,
Agostinho, Jerónimo, Prudêncio) assiste-se não só ao fim do mundo
antigo, como ao forjar de uma nova idade. Por isso, atendendo às
tendências políticas (influenciadas pelas invasões sucessivas dos bár-
baros), literá:pias e linguísticas do Latim, o séc. III marca bem a época
a partir da qual se pode falar de Antiguidade Tardia e também de
Latim Tardio 12.
Por isso mesmo, os escritores, as obras, os textos avulsos perten-
centes ·a esta época ora se encontram tratados na Literatura Latina

12. Entre a imensa bibliografia sobre as fronteiras da Antiguidade Tardia e o


princípio da Idade Média citamos: P. Brown, O fim do mundo clássico. De Marco
Aurélio a Maomé, Lisboa, Verbo, 1'972; E. Kornemann, Geschichte der Spatantike,
edited by H. Bengston, C. H. Beck, MÜllchen, 1978; K. Weitzmann (ed.), Age of
Spirituality. Late Antique and Early Christian Art. Third to seventh century, 784 p.,
1979; F. Lot, O fim do mundo antigo e o princípio da Idade Média, Lisboa, Edi-
ções 70, 1980 (1.' ed. francesa 1927); Maurilio Pérez González, Delimitación de los
conceptos de latín clásico, tardio, vulgar, Estudios Humanísticos (León), 2, 1980,
pp. 109·121; Olivier Reverdin, Christianisme et formes littéraires de l'Antiquité
Tardive, Geneve, Droz, 1977. As Histórias da Literatura mencionadas neste capítulo
e as Histórias da Língua Latina referidas no capítulo I definem e justificam o
conceito de Latim Tardio.
DA FILOLOGIA CLÁSSICA DO Sll:C. XIX A FILOLOGIA CRISTÃ (GREGA E LATINA) 501

Tradicional, ora no Latim Vulgar, om no Latim do Cristãos ou até


nos compêndios de Literatura e nas antologias das origens do Latim
Medieval.
Todavia, do ponto de vista da linguística latina, o Latim Tardio
foi-se constituindo como uma especialidade e em boa parte continua
a manter-se independentemente ou pelo menos a par das outras espe-
cialidades do Latim.
Quando se procura fazer urna histó'Óa da formação científica do
Latim TaI'dio deve, portanto, ter-se presente a contribuição de linguistas
já apontados (como H. Schuchardt e K. Sittl - para o Latim Vulgar-
e Ozanam, Lanfranchius, Ebert, Koffmane, Goelzer, Bonnei. Dubois,
DureI e Gourmoni - para o Latim dos Cristãos).
No campo da pura especialização em Latim Tardio, a mais antiga
referência que conhecemos é o lahrbericht über Vulgar- und Spatlatein
1884-1890, publicado por Sittl no Jahrbericht über die Forischritte der
classischen Altertumswissenschaft (LXVII, 1892). O termo está consa-
grado IliO trabalho de K. Sneijders de Vogel, De studie van het later
latijn (1907); e também, em e~pressão equiv,a lente, na dissertação de
H. Bruhn, Specimen uocabularii rhetorici ad inferioris aetatis latinitatem
pertinens (1911).
Mas os gmndes cultores do Latim Tardio são os iIIlvestigadores
da «esoola nórdica» - sueoos, noruegueses e frimkmdeses - a principiar
por E. Lõfstedrt com o seu famoso Philologischer Kommentar zur Pere-
grinatio Aetheriae (1911) até ao seu Late Latin (1959). Seguem-se-lhe
A. H. SalODJius, Vitae Patrum (1920); B. H. Skahill, The syntax of the
Variae of Cassiodorus (1934); J. Svennung, H. Hagendahl, Dag Norberg
(o mestI'e das Syntaktische Forschungen auf dem Gebiete des Spatlatei11.s,
1943) até ao Manuel Pratique de Latin Médiéval (1968); Seven Lundstrom,
A. Uddholm, A. Fddh, S. Erikson, B. Lõfsedt, E. Dahlén, S. Eklund,
Margareta Benner e outros de proveniência diferente, como Ch. Mohr-
mann (Laatlatijn en Middeleeuwschlatijn, 1947), E. Auerbach (Literatur-
sprache und Publikum in der lateinischen Spattantike und Mittelalter,
1958) e o romeno H. Mihaescu, com um autêntico compêndio desde a
romani:z;ação até ao séc. VI em La langue latine dans le sud-est de
l'Europe (1978).
Toda esta ciência linguísmca não podia passar despercebida aos
estudiosos da Península Ibérica, em cuja época tardia floresceram escri-
tores de nomeada como Juvenco e Prudêncio (na poesia), Paciano, os
reis Vamba e Sisebuto, Bráulio de Saragoça, Leandro e Isidoro de
Sevilha, Eugénio, Juliano e Ildefonso de Toledo e outros mais.
502 JOSÉ GERALDES FREIRE

Supomos ninguém nos levará a mal tenno-nos dedicado especial-


mente ao estudo do latim no Ocidente Hispânico, cuja individualidade
política, cultural, administrativa, religiosa e literária se nos foi impondo
progressivamente 13 .
E começamos sempre pela epigrafia, por ser mais propícia a trans-
mitir o estado da língua em cada momento. Os testemunhos encon-
tram-se já bem recolhidos em colecções e monografias. Podemos assim
apreciar textos tanto em prosa como em verso 14.
Mas são os autores que geraLmente mais interessam. Num elenco
que organizámos, enumerámos 28, desde meados do séc. IV até final
do séc. VII. Poderá estudar-se cada um deles através de bibliografia
especializada, oomo se oonseguirá obter um panorama de conjunto em

13. Ver a nossa comunicação em Santiago de Compostela, a 15.9.1984, Factores


de individualidade do Ocidente Hispânico (Civilização e Letras), publicada na
Revista Portuguesa de História, XXII, 1985, pp. 115-135. Para um panorama da
Literatura da Antiguidade Tardia na Hispania ver a nota 15.
14. Sobre os estudiosos da epigrafia, em geral, em Portugal, pode ver-se
qualquer Enciclopédia cultural. Ver também sobre a epigrafia na Península Ibérica,
desde Hübner a 1985, um resumo em Euphrosyne, XV, 1987, pp. 421-422, assinado
por Luís Coelho. Os grandes nomes são os de Francisco Martins Sarmento, Félix
Alves Pereira, José Leite de Vasconcelos, Afonso do Paço, D. Fernando de Almeida
até à geração actual.
As colecções gerais de epigrafia romana (pagã) são as de Aemilius Hübncr,
Inscriptiones Hispaniae Latinae, Berolini, 1'869-1892 e o respectivo Supplementum
(1892); José Vives, Inscripciones latinas de la Espana romana, Barcelona, 1970-71.
Para a epigrafia cristã as edições principais são: Ae. Hübner, Inscriptiones
Hispaniae Christianae, Berolini, 11871 e seu Supplementum (1900-1901); J . Vives,
lnscripciones cristianas de la Espana romana y visigoda, Barcelona, 1942 e Nuevas
inscripciones cristianas de la Espaíia romana y visigoda, Ciudad de Diós, EI Escorial,
1968, pp . 429444; Félix Alves Pereira, Epigrafia cristiano-latina, O Archeólogo Por-
tuguez, vol. VIH; Miguel de Oliveira, Epigrafia Cristã em Portugal, Lisboa, 1941;
D. Fernando de Almeida, Inscrições páleo-cristãs do Museu Arqueológico de S. Miguel
de Odrinhas, Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal 39, 1958, pp . 27-36
e Novas inscrições , .. , Rev. Porto de Rist., XIII, 1971, pp. 339-341.
Nas obras de Rübner e Vives devem procurar-se as províncias da Lusitânia
e da Galécia. Damos algumas colecções monográficas mais conhecidas: J . Alarcão
et R. Étienne, Fouilles de Conimbriga, II vol., Paris, 1976; D. Fernando de Almeida,
Egitânia. História e Arqueologia, Lisboa, 1956; Eugénio Jalhay e Abel Viana, Epigrafia
Amaiense. Contribuição para o estudo da Aramenha Romana (concelho de Marvão),
Brotéria, XLV, 1947, pp. 615-633; José Manuel Garcia, Epigrafia lusitano-romana
do Museu Tavares Proença Júnior, Castelo Branco, 1984; José Monteiro, Pequena
história de um Museu: Fundo e catálogo. Carta arqueológica do Concelho do Fundão,
Lisboa, 1978; D. Domingos de Pinho Brandão, Epigrafia Romana Colipolense,
DA FILOLOGIA CLÁSSICA DO SÉC. XIX À FILOLOGIA CRISTÃ (GREGA E LATINA) 503

Literaturas de âmbito geral!5. Não devendo alongar-nos aqui, indicamos


apenas os mais estudados sobretudo no estrangeiro, com indicação
de uma bibliografia mínima.
Prisciliano (c. 340-386) foi uma fiigura que arrastou multidões e
acabou no martírio. Os fragmentos sobreviventes dos seus traItados
e de uma carta são objecto cada vez mais de análises pJuri-facetadas 16.
Egéria é muito provavelmente originári.a da Galécia romana, donde
partiu para uma peregrinação aos Lugares Santos de Israel e cujas
etapas foi descrevendo em cartas às suas irmãs de mosteiro, datáveis
hoje com precisão de 381 a 384. E lembremos que o seu Itinerário foi
encontrado mutilado no princípio e no fiim. Estudam-no linguistas,
liturgistas, geógrafos e folcloristas 17.

Conimbriga, XI, 1972, pp. 41-192; José d'Encarnação, Inscrições romanas do Con-
VCl1t llSPacence, Coimbra, 1984.
Várias das obras indicadas assinalam especialmente as inscrições em verso.
Do mesmo modo, alguns autores estudam o latim das inscrições, sob o lema de
res grammaticae. Neste capítulo as obras-mestras são as de A. Carnoy, Le latin
d'Espagne d'apres les inscriptions, Bruxelles, 1906; H. Martin, Notes on the syntax
of the Latin inscriptions found in Spain, Johns Hopkins Univ., Baltimore, 1909;
Sebastian Mariner Bigorra, Inscripciones hispanas en verso, Barcelona, 1952; P. A.
Gaeng, A study of nominal inflection in Latin inscriptions, Champel Hill, North
Carolina, 1977.
15. Diccionario de Historia Ecclesiástica de Espana, 4 vols., Madrid, 1972-75;
Ursicino Domínguez deI VaI, Patrología Espafíola, em apêndice a B. Altaner,
Patrología, Madlid, Espasa, 19564; M. C. Díaz y Díaz, De Isidoro aI siglo XI, Barce-
lona, EI Albir, 1976; J. L. Moralejo Alvarez, Literatura hispano-latina (siglo V-XVI) ,
Historia de las Literaturas Hispanas no Castellanas dirigida por J. M. Díez Borque,
Madrid, 1980, pp. 15-137; indicação de fontes em M. C. Díaz y Díaz, Index Scriptorum
Medii Aeui Hispanorum, Salamanca, 1958.
Em Portugal escreveram globalmente sobre este tema: Fortunato de Almeida,
História da Igreja em Portugal, I vol., Porto, 1967; Mário Martins, Correntes da
filosofia religiosa em Braga do séc. IV a VII, Porto, 1950; J. Pinharand~ Gomes,
A Patrologia Lusitana, Porto, LelIo, 1983.
16. Remissão para a imensa bibliografia sobre priscilianismo em Henri
Chadwick, Prisciliano de Avila. Ocultismo y poderes carismáticos en la Iglesia
primitiva, Madrid, Espasa, 1'978. A obra foi publicada por G. Schepss, Priscilliani
quae supersunt, C.S.E.L., voI. XVIII, Viena, 1889.
17. Mais vasta ainda é a pesql.úsa sobre Egéria. Limitamo-nos ao mais essen-
cial: M. Starowieyski, Bibliografia Egeriana, Augustinianum 19, 1-979, pp. 297-318;
P. Devos, La date du voyage d'Egérie, Analecta Bollandiana 85, 1967, pp. 165-194.
E. LOfstedt, Plzilologischer Kommentar zur Peregrinatio Aetheriae, Uppsala, 1911;
Francisco José Velozo, Etéria e o Latim Lusitânico, Revista de Portugal, Série A,
Língua Portuguesa, separata especial, 31 (1966); V. Vaananen, Le journal-ép'i.tre
504 JOSÉ GERALDES FREIRE

Paulo Orósio, que nasceu e se fonrnou em Braga (c. 380, post 423)
demorou-se jUll'to de Santo Agostinho e no Oriente, tendo escrito um
Commonitorium de consulta sobre o priscilianismo, um Liber Apolo-
geticus e os Historiarum aduersus paga nos libri septem que o tornaram
um dos maIs lidos histori,a dores da Idade Média e continuam a concitar
o exame dos filósofos e teólogos da História 18.
Hidácio de Chaves deixou-nos na sua Crónica a notícia dos aconte-
cimentos ocorridos no Ir:npério, e especialmente' na Hispânia, desde
379 'a 469, ern' frases no geral curtas, mas onde, apesar de tudo, por vezes
deixa aillomr a emoção e revela também 1liIIla teologia da História 19.
Pascásio de Dume foi discípulo de S. Martinho e por sua ordem
traduziu, por 555, uma colecção de apotegmas de P,a dres do Deserto,
que nos Boi possível recons,t ituir no seu original latino que tinha o
tituLo de Geronticon. De octo principalibus uitiis, obra pela qual pode-
mos remontar ao grego que lhe terá servido de base e ' por isso apreciar
as suas qualidades de tradutor bem formado 20.

d'Egérie (ltinerarium Egeriae). Etude linguistique, Helsinki, 1987; edições mais


recentes do ltinerarium Egeriae: Corpus Christianorum, SL, t. 175, 1965; A. Arce,
B.A.C., n.O 416, 1980 (com trad. castelhana); P. Maraval, Sources Chrét., n.O 296, 1982
(com trad. francesa); S. Janeras, Colleció catalana deIs classics grecs i latins,
n.O' 237, 238, Barcelona, 1986 (com trad. catalã).
18. Não é mais fácil seleccionar a bibliografia sobre o autor mais lido e
editado do nosso território ao longo dos séculos: estudo global em Fabrizio Fabrini,
Paolo Orosio. Uno storico, Ed. di St. e Lett., Roma, 1979; as últimas edições são:
Orosio. Le Storie contra i pagani, a cura di A. Lippold. Trad. di A. Bartolucci,
Milano, Mondadori, 1976; Casimiro Torres Rodríguez, Paulo Orosio. Su vida y sus
obras, La Corufia, Fund. Barié de la Maza, 1985 (com texto latino e trad. castelhana),
Existe finalmente uma tradução portuguesa: Paulo Orósio. História contra os
pagãos, introd. de L. Craveiro da Silva, versão e notas de José Cardos,o, Braga,
Universidade do Minho, 1986.
19. Hydace, Chranique, introduction, texte critique, trad. par A. Tranoy, Paris,
Sources Chrét., n .O' 218, 219 (1974); J. Campos, Idacio, obispo de Chaves. Su Cronicon.
Intr., texto lat., versión espa:íí.ola y comentario, Salamanca, Ed. Calasancias, 1984;
existe também uma tradução de José Cardoso, Crónica de Idácio, Braga, Univer-
sidade do Minho, 1982. A concepção de história foi estudada por Concetta Molé,
Uno storico de V secolo: Il vescovo Idazio, Catania, Facoltà di Lettere, 1978.
20. J. G. Freire, Pascasio di Dumio, Dizionario degli Istituti di Perfezione,
Roma, Ediz. Paoline, VI, 1980, coll. 1193-1195; J. G. Freire, A versão latina por
Pascásio de Dume dos Apophthegmata ' Patrum, 2 vols., Coimbra, Inst. Est. Clás-
sicos, 1971; trad. do texto latino (muito lacunar e defeituoso) publicado no livro VII
das Vitae Patrum (PL voI. 73) por Claude W. Barlow, Martin of Braga, Paschasius
of Dumium, Leander of Seville, Iberian Fathers, vol. I, Washington, The Cath.
Univ. of America, 1969, pp. 1113-171.
DA FILOLOGIA CLÁSSICA DO S~C. XIX Á FILOLOGIA CRISTÃ (GREGA E LATINA) 505

S. Martinho de Braga (c. 510-579) é, depois de Orósio, o mais estu-


dado dos nossos escI1itores. Interessam~se os :6iJósofos pelos seus traba-
lhos morais, cheios de senequismo; lêem com prazer os moralistas e
pastores as Sententiae Patrum Aegyptiorum, o De pascha, o De Trina
Mersione e a carta-sermão De Correctione Rusticorum; examinam os
canonistas Ü's Capitula Martini e os decretos do I e II Concílios de
Braga; deleitam-se Ü's poetas com as suas três composições em verso.
Daí que nunca se esgotam os estudos a seu respeito 21 .
Tarra esoreveu, antes de 601, uma exposição ao rei Recaredo em
que se defende de uma calúnia que o levara à prisão, donde o rei man-
dara soltá-lo. NUJIll estilo desigual, ora empoLado, ora quase m]stico,
ora o tocar a linguag,e m descuidada na sintaxe e inovadora no vocabu-
lário, Tarm, que depois de enviuvar, se recoJheu ao mosteiro de Cauli-
niana, perto de Mérida, aguarda ainda um estudo muito atento da sua
curiosa exposição 22.
Vi tas Sanctorum Patrum Emeritensium é UJIll escrito de carácter
hag10gráfico, em que se contam as glórias da Igreja de Mérida, a vida
dos seus fundadores religiosos e dos seus bispos e onde transparece
ll1Illa profunda devoção à lusitana mártir Santa Eulália. Oesti,lo, embOTa
desigual, é no geral bastante cuidado e com marcadas preocupações
literárias. Desconhece-se o nome do seu autor e também o ano da com-
posição, que todavia deve anda r por meados do séc. VII 23 • .

21. M. C. Díaz y Díaz, Martin de Braga, Dictionnaire de Spiritualité, Paris, VI,


1978, coI. 678-680; J. G. Freire, Martino di Braga. Vita, opere e azione monastica,
Dizionario degli Istituti di Perfezione, Roma, Edizioni Paoline, V, 1978, coI.. 1029-1034;
as três edições antigas das obras completas (Tamayo Salazar, H. Florez 'e António
Caetano do Amaral) foram ultrapassadas pela edição crítica de Cl. W. Barlow,
Martini episcopi Bracarensis Opera Omnia, New Haven, Yale Univ. Press, 1950;
existem traduções da obra completa em inglês (Cl. 'W. Barlow) e em português
(Francisco José Velozo, Bracara Augusta 29, 1975, pp. ' 61-110). Sobre a cultura
clássica ver A. Miranda Barbosa, O senequismo medieval e o «Corpus Martinianum »,
Biblos 41, 1965, pp. 181-191. Ousada a posição de Luís Ribeiro Soares, A linhagem
cultural de S. Martinho de Dume. I: Fundamentos, Lisboa, 1963. Amplo conspecto
bibliográfico em Manuel Justino Pinheiro Maciel, O «De Correctione Rusticorum»,
Bracara Augusta, XXXIV, 2, 1980, pp. 483-561. .
22. Além das 'obras gerais, onde Tarra é tratado, ver: H. Florez, Espana
Sagrada, t . XIII, Madrid, 1782, pp. 241-142 e texto da carta (ou antes «relatório»),
pp. 414415; Patrologia Latina, t. 80, coI. 19-22.
23. H. Florez, Espana Sagrada, t . 13, 1782, pp. 326-386; Pato Lat., t. 80, coI. 137-162;
revisão global do problema, com estudo filológico aprofundado em Joseph N. Garvin,
506 JOSÉ GERALDES FREIRE

S . Frutuoso de Braga (c. 610-666) é autor de uma Regula Mona-


chorum, de um Pactum e de duas cartas, ambas em bom estilo, diri-
gidas a S. Bráu1io de Saragoça e ao rei RecesVlÍJnto. São-lhe atribuídas
duas poesias, lliIIla das quais autobiográfica, cujo estilo é empolado,
mas de métrica muito obscura 24. A sua acção como reformador monás-
tico manteve-se viva no Ocidente hispânico até ao triunfo da Regula
Benedicti, já decorridos os meados do séc. XI.
Valério de Bierzo, perto de Astorga, foi também um reformador
monástico, de quem possuímos escritos ascétioos, documentos autobio-
gráficos e algumas poesias. Um dos seus escritos, a Epistula beatissimae
Egeriae é a mais segura fonte para identificar a autora do Itinerário
à Tera Santa, obra que Valéria bem conhecia na sua integridade. Tendo
falecido oerca de 695, V.alério de Bierzo é o último escritor do Ocidente
Hispânico antes da invasão á,rabe de 711, a qual mudou os destinos
da Hispânia 25.
Fomos por ventura injusto deixando para trás figuras como Potâmio
de Lisboa (meados do séc. IV), Baquiár.io (fim do séc. IV), Avilt o de
Braga (que escreveu em Jerusalém, em 415 e 416), João de Bíclaro
(que nasoeu em Santarém mas escreveu perto de Gerona), a chamada

The Vi tas Sanctorum PatrU1n Emeritensium. Text and translation with an intro-
duction and commel1tary. A dissertation. Washington, The Catholic. Univ. ot
America, 1946.
24. M. C. Díaz y Díaz, La vida de San Fructuoso de Braga. Estudio y edición
crítica, Braga, 1974; António Caetano do Amaral, Vida e regras de S. Frutuoso,
Lisboa, 1805; Julio Campos y Ismael Roca, La regIa de monjes de San Fructuoso
de Braga, in Santos Padres Espanoles, II, B.A.C., n.· 321, Madrid, 1971, pp. 130-162
(introd., texto lato e trad.); Patr. Lat., t. 87, coI. 1087-1-132; sobre a problemática
do Pactum Fructuosi ver: J. G. Freire / G. Rocca, Patto di S. Fruttuoso, Diz. degli
Istituti di Perf., Ed. Paoline, Roma, VI, 1980, coI. 1292-11294; San Fructuoso y su
tiempo. Estudios de divulgación sobre el creador de la Tebaida Leonesa y patriarca
deI monacato espafiol, León, 1%6; Actas do Congresso de estudos da comemoração
do XII centenário da morte de S. Frutuoso, Bracara Augusta, vols. XXI e XXII,
1967 e 1968.
25. R. Femández Pousa, San Valerio. Obras, Madrid, 1944; M. C. Díaz y Díaz,
EI latín de Valerio de Bierzo. Contribución aI estudio deI latín visigodo. Tese
doctoral, Madrid, 1949; Consuelo Maria Aheme, Vale rio de Bierzo, Washington, 1949.
Aguarda-se a edição crítica das obras de Valério de Bierzo num próximo vaI. do
Corpus Christianorum. Nos Commentariorum de Alcobacensi Bibliotheca Libri III
estão editados 5 opúsculos de V. de B. (Lisboa, 1827, pp. 474-496).
DA FILOLOGIA CLÁSSICA DO SÉC. XIX À FILOLOGIA CRISTÃ (GREGA E LATINA) 507

Regula Communis e a bem elaborada Vita Sancti Fructuosi (obra anó-


nima, de oerca de 670 a 680).
Como se vê, não faltam escritores de relevo e obr-as dignas de
estudo no Ocidente Hispânico na época da Antiguidade Tardia.

CONCLUSÃO

Intencionalmente, ocupámo-nos das inovações da cultura clássica


e sobretudo da linguística lat!Ína durante o séc. XIX e XX. Indicámos a
marcha da especialização. Mundo aliciarute que importa percorrer em
pormeIlJOr. Por detrás da linguí,s tica e das técnicas literárias, está a vida
e o pensamento. Tradição e inovação são uma constante neste caminho,
como poderíamos ver se nos tivéssemos dedicado ao estudo das ideias
e dos ideais.
(Página deixada propositadamente em branco)
.,
LA CONVERSIONE DELLA CULTURA ANTICA
VISTA DAI PADRI DELLA ·CHIESA

C. GNILKA
Università de Münster

I.

1. Quando Gesu si trovo di fronte a Pilato, disse di essere venuto a


testimemiare la verità. E continuo: «Chiunque provenga dalla verità
ascolta la mia voce.» Pilato rispose: «Che ·cosa e la verità?». Poi abban-
dono ii Pl1etorio per andare fuori e trattare con gli ebrei 1. Non attese
quindi la risposta. La sua domanda non era una domanda vera e
propria, essa concludeva ii colloquio. Commentatori piu TeceI1Jti pon-
gono l'accento sul fatto che Pilato rifiutando l'esortazione contenuta
nelle parole di Gesu, abbia preso una deoisione personale. Ma esegeti
piu antichi avevano ragione a trovare espressa nella domanda «Che
cosa e la verità?», anche una tipica mentalità comune: l'indifferenza
dello stato romano ohe veniva rappresentato daI PrOC'U['ator, o una
sorta di scetrticismo · filosofico, come quello diffuso fra i doti, oppure
entrambe le cose. Per lo meno io non vi trovo una contraddiZlione.
Infatti, pua la: prima tesi escludere la seconda? e non viene piuttosto
la prima spiegata daJla seconda? come se iI rifJuto personale che si
trova nelle parole di Pilato non potesse benissimo appartenere anche
a un piu ampio contesto deI pens~ero dell'epoca! Intendo dire che iI
rifiuto diviene davvero comprensibile, vivo estoricamente autentico
p:toprio all'interno di questopensiero. · E di piu ancora: .in questo
scambio di parole sono tracdati già punti di vista per iI Juturo. II
mondo deI paganesimo dotto accoglie con scetticismo e disprezzo
la pretesa cristiana di possedere e annunciare la verità. Questo baratro

1. Job. 18,37f.
510 C. GNILKA

attraversa la stori.a dello spirito nella tarda antichità e accompagna il


cammino della Chiesa dei pri.mi secoli. La visione tipicamente liberale
e tipicamente pagana secondo la quale si doveva lasciar sussistere
intatta la tradizione religiosa dei papoE, si fonda in larga parte su un
atteggiamento scettico e aI contempo conservatore che si t rova in nettis-
sima opposizione con la convinzione religiosa deI cristiano: daI momento
che comunque non si puo conoscere la verità o, in ogni caso, no.n la
si e ancora trovam, e meglio lasciare tutto co.si com'e; e meglio rico-
noscere la veneranda cultura di lm papolo e con essa la sua relJgione
in toto. Questo complesso di pensieri viene espresso chiaramente in
una delle prime opere latine deI cristia'llesimo, nel dialogo Octavius,
scritto da Minucio Felrice intomo al 200, come anche in uno degli ultinri
documenti dell'antico paganesimo, vale a dire nel famoso discorso che
Simmaco lesse neU'al1Jl1o 384 davanti aI giovane imperatore Valenziano II.

2. II dialogo Octavius si conc1ude con la conversione dell'inter-


locutore pagano, anche se all'avversario e data la possibilità per primo
di sviluppare le sue opinioni in un'esposizione compiuta. Egli inizia
riprendendo la tendenza scettica del pensiero antico 2: neH'esistenza
umana tutto e incerto, «,piu probabile che vero». Soprattutto deI sOllUmo
essere non e possibile dire Hulla di sicuro; ~ . filosofi vi riflettono ancor
oggi e la fede cristiana significa in fondo TÍ:\ssegnazione: rinuncia alla
faticosa ricerca della v.e rità. Quindi ne trae la 'conseguenza: daI momento
che tutto e incerto, bisogna rispettare ancor di piu le antiche tradizioni
religiose (religiones traditas coZere). L'esempio lo fornisce lo stesso
stato romano; infatti esso ha sempre aocettato dei e cwti stranieri, e
questa condotta lo ha portato a dominare il mondo 3. Giunto a questo
punto, l'oratore abbandona con cautela la linea dello scetticismo che
ha seguito fino a questo momento 4. Egli conta sulla possibilità di un
effetto positivo deI culto romano e di un potere reale degli dei, vi vede
almeno «una solida concordanza di tutti i popoli circa l'esistenza degli
dei immortali». Essa esisterebbe, sebbene siano «incerti natura e origine
degli dei». Solo una scienza insolente e irreligiosa potrebbe quindi
tentare ,d i rompere questa concordanza 5. Dopo aver rivoltato a questo
modo il rimprovero dell'ateismo nei confronti deI Oristlianes!Ímo, egli

2. Min. Fel. 5,3/5.


3. Ibid. 6, 1/3.
4. Ibid. 7, 1 ff.
S. Ibid. 8, 1.
LA CONVERSIONE DELLA CULTURA ANTICA 511

ritorna di nuovo aI punto di partenza sottolineando ancora una volta


la necessità di un atteggiamento riservato e scettico 6. Poi conclude la
sua arringa con il pensiero principale 7: cio che e dubbio bisogna
lasciarlo cOSI com'e in modo tale che non vengano introdotte supersti-
zioni stupide «oppure distrutta ogni religiosità».
Si puo facilmente constatare che questo discorso e nell'essenza
un rifiuto delle pretese di verità cristiane. Percio i cristiani vengono
indicati nel testo ironicamente come «maestri di verità» (antistites
veritatis) 8. Percio la repLica dell'intedocutore cristiano culmina nel
rifiuto dello scettidsmo pagano: «noi (i cristiani) ci vantiamo di aver
raggiunto cio ohe loro (i pagani) hanno oercato eon estrema fatica e
che tuttavia non harrmo potuto trovare» 9. Ora: il dialogo di Minucio
e sicuramente una finzione letteraria, ed entmmbi i discorsi, e anche
proprio quello dei pagano, sono composti sfruttando largarrnente la
letteratura romana classica, e in particolar modo gli scritti di Cicerone 10.
Ma in queSIto caso non importa stabilire se ii discorso sia stato davvero
pronunciato, ma se essa sarebbe potuto essere pronunciato; non importa
stabilire quali fonti l'autore abbia utilizzato per comporre il discorso,
ma se esso colga nel seguo l'opinione che g1i ambienti colti deI paga-
nesi'm o .s ostenevano quando dovevano confrontarsi con la religione
cI'istiana; se iI discorso possieda una verità intrinseca, non se sia fedele
nei dati esteriori. Bisogna supporre, fin daI principio, che 1'ApoLogeta
voglia fornirci eon ,il discorso dell'antagonista qualcosa di tipico: un
giudizio rappresentativo che rende possible un rifiuto tanto ampio e
valido da parte cristiana. Che in effetti sia cOSI 10 dimostra la già
citata ReZatio di Q. Aurelio Simmaco!

3. La differenza fra i due testi sembra grandissima. Simmaco non


e un personaggio fittizio come quel Cecilio, ma il prefetto della città
di Roma e il capo deI partito pagano deI senato; non é un autore
sconosduto come Minucio FeLice, un personaggio di cui non sappiarrno
quasi nulla, ma un uomo che entra eon i suoi discorsi e le sue epistole
nella ohiara luce della storia II; iI testo di Simmaco, pur possedendo

6. Ibid. 13, 1/4.


7. Ibid. 13,5.
8. Ibid. 6,1; cf. M. Pellegrino, M. Minucii Felicis Octavius con introduzione
e commento, Torino 19471, 78.
9. Ibid. 38,6 f.
10. Cf. J. Beaujeu, Minucius Felix, Octavius, Paris 19742, p . LXXXIII segg.
11. O. Seeck, art. Symmachus, Nr. 18: RE 4Al (1931) 1146/1158.
512 C. GNILKA

dignità letteraria, av.e ndo valore anche per i suoi oontemporanei come
capolavora di retorica, rappresenta tuttavi,a aI contempo an atto uffi-
ciale, un documento - diversissimo daI prodotto puramente letterario
di Minucio 12. Grande e l'intervallo. di tempo e soprattutto diversissima
e la situazione politica. Minucio scriveva nel periodo durante il quale i
cristiani si trovavano come confessori e m artiri davanti ai seggi dei
giudici, Simmaco invece rivolge il suo discorso a un imperatore cristiano
e pretende che l'altare della dea Vittor.ia (un simbolo deI paganesimo)
venga ricollocato nella curia, ohe vengano ristabilite le risorse finanziarie
deI culto pagano; chiede, come egli dice, la pace per gli antichi dei patrii 13.
E avvincente osservare come, malgrado tutte queste differenze nel carat-
tere dei testi, nell'impoI1ta:nza degli autori, nelle situazioni storiche, spunti
fra le cose anche in Simmaco una simile base battagliera. Anche Simmaco
assume a sua volta una posizione scettica stranamente mista, certo, di
dichiarazioni di tipo dommatico. Egli spiega ad esempio quanto segue 14 :
ogni popolo possiede una propria tradizione (mos), una propria usanza
religiosa (ritus) - noi possiamo forse dire una propria cultura. Tutto
cià e cOSI prestabilito dalIa «ragione divina» che distribuisce alle sin-
gole città vari culti (varios cultus) quali «custodi»; iruatti come gli
individui ottengono alla nascÍta le anime, coSI i popo.li alIe 10ro. origini
genii tutelari che determina no iI loro destino (fatales genii). Ma poiché
ogni spiegazione dell'essenza degli dei e os cura , li si ricono.sce nel modo
migliore guardando in retrospettiva la sto.ria e i successi che ha portato
la loro adora2Jione. Tradiúone ed età dànno quindi autorità alle religioni.
E ancora 15: tuito cià che gli uomini venerano dev'essere cons,i derato
come una sola e medesima cosa. Per questo motivo non c'e differenza
con quale insegna:mento si cerchi di raggiungere la verità: uno itinere
non potest pervenire ad tam grande secretum. F'Ln qui Simmaco. Le sue
frasi , specialmente quella citata or ora, v,e ngono spesso elogiate oggi
come dichiarazionã di tolleranza esempJare. Solo che troppo facilmente
si trascura di considerare che questo invito all'estrema toUeranza pra-
tica viene cOl1!struito sulIa base di una tolIeranza dommatica o indiffe-
renza ohe ingarma, po.iché essa a sua volta ha fondamenti dommatici 16;

12. O. Seeck: MGH a.a. 6,1 (1983) 280/283; D. Vera, Commento storico alle
Relationes di Quinto Aurelio Simmaco, Pisa 1981, 12/53.
13. Symm. reI. 3,10.
14. Ibid. 8.
15. Ibid. 10; cf. Vera, op. cito 41.
16. G. Bois·s ier, La fin du paganisme, voI. 2, Paris, 1891, 337.
LA CONVERSIONE DELLA CULTURA ANTICA 513

vale a dire che tutti i culti hanno un solo e unico valore; che questo
Uno non si e rivelato, ma che e nascosto, rappresenta un mistero; che
vi sono genii fatali, «dei subordinati» per cOSI dire, che comandemo
sui popoli. Ma che sono queste supposizioni se non presuppos,t i dom-
matici? L' opi'l1lione seoondo la quale i singoli popoli sono sottoposti
a div,e rsi genii (i}EOL EtN&pXCU), viene espressa anche dalI'imperatore
Giuliano l' Apostata. Egli difende questa teoria nel suo scritto anticri-
stiano Contra Galilaeos (xex."t'à. rex.ÀLÀex.LWV). Questo soritto composto solo
vent'anni circa prima delIa ReZatio di Simmaco, non solo oi mostra
da dove provengano quelIe idee, ma anche che esse si rivolgono in
fondo contro ii cristianesimo. Intendo in senso attivo e nemico contro
1'essenza delI a religione cristiana. L'osservazione delIe diversità delIe
nazioni secondo le loro particolarità etniche (i]i}1]) e la loro cultura nazio-
nale (VÓ].tOL) costituiva 1'argomento principale di Giuliano con ii quale egli
spiegava e giustificava la molteplicità delle divinità nazionali 17. II suo
rimpmvero principale aI Cristianesimo e quasi 1'unioo suo rirmprovero
all'Ebraismo riguarda ii Primo Comandamento: Mosé avrebbe osato
fare un unioo dio di uno dei partioolari dei nazionali (~pLXOL i}EOl) che
sono subordinati alIa piu alta divinità, e in cià egli vede per coSI dire ii
peccato originale delIa religiosità ebraica e cristiana 18. Non possiamo
in questa sede seguiI'e la linea di un tale pensiero - esso ci porterebbe
alIa fine indietm nel tempo, all'epoca di Minucio Felioe, e cioe allo
scritto deI platonico Kelsoscontro i cristira!I1i 19.

4. A noi basta qui una cognizione generale: 1'opillione secondo


la quale i popoli dovrebbero rimanere neHa rispettiva religione delIa
10m cultura, non era sconosciuta ai PadrL Questa opinione nou rappre-
senta una sorta di progI'esso deI pensiero moderno che sarebbe stato
ancora impossibile ai tempi dell' Antica Chiesa. Essa era piuttosto una
conoezione che aveva anora emiuentissimi sostenitori. I suoi sostenitori
non erano tuttavia' i Padri della Chies a, non Origene, San Cirillo o
Sant'Ambrogio, ma i piu acerriani nemid deI Cristianesimo come Kelsos,
l'imperatore Giuliano e Si:mmaco. Non quindi nelI'ignoranza di tali

17. Julian, c. Gal. 141 C /148 C C,W. C. Wright, The Works of the Emperor
Julian, vol. 3, London/New York: The Loeb Classical Library 1923 1, p. 354/358);
d. Cyrill. c. Julian 4 (PG 76, 717 A / 732 A).
18. Ibid. 148 C (p. 358 Wright).
19. Orig. c. Celso 5,25/28 (Sources Chrét. 147, p. 74/84; 7,68 (ibid. 150,
p. 170 segg.); cf. J. Ratzinger, Die Einheit der Nationen, Salzburg/München:
Bücherei der Sa1zburger Hochschulwochen 1971, p. 41/68.

33
514 C . GNILKA

opinioni, ma nella dura battaglia contro di esse, i mi-ssionari della


Chies a dei primi secoli imposero la conversione di molti papoli - e la
cristianizzaZJione della cultura antica. Sant'Ambrogio apre la sua (prima)
repJlica a Simmaco con l'essenziale chiadmento che rende subi10
evidente la profonda differenza di posizioni 20: vi e solo Vn vera Dio,
il Dia dei cristiani; e Lui che tutti gli uomini devono adorare (solo
allom pua esserci la prospettnva di benessere per lo statü), infatti «gli
dei pagani sono demoni » (Salmo 95,5). Queste frasi contengono il
rifiuto deI polirteismo, ma anche del10 scetticismo e della tolleranza
dommatioa. Piu predsamente, in relazione aI testo della ReZatia, egl.i
risponde pai 21:

«Per una sola via, dice (Simmaco), non si puo raggiungere un mistero
cosi grande. Cio che voi non sapete noi l'abbiamo saputo dali a voce
di Dio. E cio che voi cercate con supposizioni, noi lo sappiamo in
modo attendibile dalla saggezza di Dio in persona e dalla Verità .
Percio non v'e concordanza fra noi e cio che voi fate. »

Egli non si pronuncia riguaJ:1do a quei genii dei popoli che SÍiIllmaco
congettura, non contrappone nulla all'immagine delle (molte) vie, che
a tutt'oggi fa una cosi grande impressione. Ma noi possediamo una
piu dettagliata confutazione delI a ReZatia di Simmaco che non si deve
tenere in poco conto solo perché proviene da un poeta. Infatti iI suo
autore, Prudenzio, e pieno di spiritualità cattolica e percia , sebbene
poeta, un interprete degno di nota dell'insegnamento della Chiesa.
Erasmo da Rotterdam lo annovera fra i teologi mettendolo suBo stes,s o
piano di San Basilio, San Gregorio di Nazianzo, Sant'Ambrogio e Lat-
tanzio 22. Anche la sua replica a Simmaco à una voce di autorità spiri-
tuale, non solo di fascino estetico.

5. La sua replica si basa sulla Parola deI Signore in Matteo


(7,13 e segg.): non oi sono molte vie, ma solo due; una conduce alla
rov~na e l'alrra alla vita. Nel Vangelo l'immagine delle due vie indica
la necessità dclla decisione per Gesu, e già Lattamio sviluppa l'immagine
nel senso che egli rappresenta la religione cristiana come la via gius1Ja

20. Ambros. epist. 17,1


21. Ambros. epist. 18,8.
22. Erasmus apolog. de ln princip. erat sermo: Opera omnia, Leiden 1703
(repr. 1961), voI. 9, 118 B; Adagia 4, 5, 1: ibid. voI. 2, 1052 C.
LA CONVERSlONE DELLA CULTURA A NTlCA 515

e stretta, mentre iI paganesimo in tutte le sue affemna:úoni, s'Peciale-


mente in queUe relative aU 'idolatria, come la via sbaglliata e larga 23.
E già Lattanzio integrà l'immagine a questo modo 24: la via che conduce
alla rovina ha molte ramificazioni estrade secondarie, incroci e sentÍ<eri,
che tuttavia portano tutti in definitiva verso la stessa catastrofe; solo
apparentemente si tratta quindi di vie diverse, irn realtà tutte Le forme
e ramif.i.cazioni della via pagana appartengono alla stessa via. Quest'
immagine che per primo Lattanzio aveva svJluppato partendo dai Nuovo
Testamento e impiegando criticamente la metafora deUe vie molto
diffusa neU'antichità, Prudenzio la utilizza ora per rivolgerla contro
Simmaco 25. Sentieri secondari di questa strada sbagliata, dice, ce ne
sono molti, come molti sono gli idoli nei templi, i demoni, i culti pagani,
i misteri e le feste 26. Egli ne offiI"e tIDa lista che va dane astrazioni aI culto e
alla vita pratica, proprio aUa realtà quindi. Una descrizicxne che mostra
che cosa sia in effetti o che cosa possa essere iI paganesimo. Prudenzio
insiste: e lm'.nlusione credere che i culti pagani porüno aDio, che i
cristiani e i pagani giungano in fin dei conti tutt'insieme alla stessa
meta. L'idolatria nelle sua molteplioi forme conduce inveoe solo ad
una fine contraria alla vita: alla morte (deHnitiva eter1l1a). AJ1re reli-
gioni, insegna espressamente Prudenzio, ncxn sono «vie della salvezza»;
infatti il demonio che fa da guida sulla ramificata via deI paganesimo
e di questo tipo: qui non sinat ire salutis / ad dominum, sed mortis
iter per devia monstrat 27. Quindi conclude con l'invito 28: «Allontanatevi
pagani! Non vi sono strade in comune tra voi e il popolo di Dio! Allon-
tana tevi ... !» eccetera:

ite procul, gentes! consortia nulla viarum


sunt vobis cum plebe Dei, discedite longe,
et vestnlm penetrate chaos, quo vos vocat ille
praevius inférnae perplexa per avia noctis.

23 . Lact. insto 6,3/ 4.


24. Ibid. 6,7.
25. Prud. e. Symm. 2,843/ 909.
26. Ibid. 856 segg.: Bt tot sunt eius (se. itineris) divortia, quot templorum
signa ... eqs.
27. Ibid. 897 f.; cf. 820 f.
28. Ibid. 901/904.
516 C . GNILKA

II.

1. Questa e la voce dei Padri della Chiesa. Che ci p1arccia o no,


questa e la loro voce. E la voce delIa Chies a deI primo periodo che
non voleva che iI non-cristiano rimanesse fermo nelIa sua cultura
non-cristiana, ma che voleva quelIa conversione, e cioe una conversione
dell'uomo e una conversiooe della cultura. Non posso dire cosa signi-
fichi çonversione nel suo senso piu profondo, quale sia iI suo effetto
spirituale e sovranaturale. Qui la considererà sOllo sotto due punti di
vista generali. Primo: conversione e una totale trasformazione. Sec()ndo:
essa, pur trasformando interamente, non distrugge. Proprio questo slÍ
trova già nelIo stesso concerto (converti ad Deum, converti ex gentibus
ad Deum, converti a tenebris ad lucem), che esprime un nuovo orienta-
mento, ma non una rinuncia aI propI1Ío carattere. Questo atteggiamento
lo si trova specialmente nel binomio P.E""t~'VOEi:'V x~t Erc~(j""tpÉcpEW 29 e in
tutti i concetti deI rinnovamento e svecchiarmento deI Nuovo Testa-
mento. Basti rico'I1dare la parola delI 'apostolo 30: l1E"~P.OfXj)oij(jt}E "TI à.'V~­
x~wwcm ""tOÜ 'Voóç. Che iI tipo di metamorfosi a cui ci si riferisce, sia
in effetti un radicale rioI1dinamento, pur non signifioando una distru-
zione, puà venire forse illuminato da un altro concetto greco che non
compare nel Nuovo Testamento, ma che viene usato daoi Padri occasio-
nalmente: P.E""t~P1Jt}P.LSEL\I. La parola non e di faciIe traduzione. Essa
indica alI'incirca che una cosa viene riordinata secondo un nuovo
metro, riarticolata, sicché le sue parti vengano a trovarsi in nuovo
rapporto fra lo·r o. Questo verbo greco in effetti non viene tradortto se
diciamo: «trasferire in un altro ritmo», ma ci possiarrno piu o meno
immaginare che cosa s/intenda: una totale trasformazione e redifini-
zione senza distruggere cià che viene rio'I1ganizzato. 11 concetto viene
utilizzato nella filosofia greca da Democrito, Socrate (secondo Seno-
fonte), Aristotele, Epicuro e altri, per indkare la trasformazione morale
delI'uomo 31, e i Packi lo riprendono per esprimeI1e l'effetto delI'accetta-
zione delI'insegnamento cristiano 32. Uno di 10ro, San Giovanni Criso-

29. Act. 3,19; 26,20.


30. Ram. 12, 2.
31. Dernocr. B33 (Diels-Kranz, Vorsakratiker, voI. 2,153); Xen. aec. 1l,2f.;
Aristot. EN 1179 b 16 segg.; Epicur. nato 82 (Gornperz: Wien. Stud. 1, 1879, 27);
cf. Philostr. v. Apallon 1, 13.
32. Clern. Alex. stram. 4, 149, 4/5; 7, 52, 1/2; 7, 61, 5; Theodoret. graec. aff. curo
4, 1/3 (Saurces Chrét. 57, 203 segg.).
LA CONVERSIONE DELLA CULTURA ANTICA 517

stomo, sottolinea proprio questo punto: gli apostoli non avrebbero


distnltto i loro avveI1sari, ma trasfoI'lfiati (fl,E'tcx.~cx.À.ÓV'tEÇ xcx.t fl,E'tcx.PUfi1,Lt:-
o-cx.V'tEÇ), e, come dimostra il contesto, l'autore vede davanti a sé una
conversione di tutto iI mondo che rappresenta il risultato effettivo
di quella trasformazione che una volta era partita da Cristo e dagli
apostoli 33. Tutta l'ecumene viene trasferita in un nuovo ritmo 34 . Una
constatazione cOSI ampia ha iI suo peso. Infatti essa mostra che i Padri
s'irrumaginavano iI processo deI fl,E'tcx.PUi}p.LSELV non hmitato solo aI singolo
individuo. Tutta quanta l'umanità doveva venire coinvolta da questo
nuovo ordine, e fu davvera coinvolta da esso, se seguiamo iI giudizio
dei Padri. Che altro puo significare questo se non che il modo di vita,
l'atteggiamento verso i patrimoni material,i e intellettuali, in breve la
cultura, dovessero venire sottoposti a quel nuovo ritmo? come sarebbe
pensabile la prima cosa senza la seconda? San Gregorio di Nissa elogia
iI taumaturgo Gregorio, poiché iI santo aveva «convertito gli uomini
deI suo tempo a una nuova vita» (dicendo questo utilizza di nuovo il
verbo I-LE'tcx.PU1}fl,LSEW) 35 citando come esempio d'intelligenza missionaria
i festeggian1enti in rkol1do dei martiri con i quali il taumaturgo aveva
superato le feste pagane. Menziono questo eSeIDpio solo per riportare
alla mente subito qm come sia vicina la conversione dell'uomo e la
conversione della sua cultura, come siano indissolubilmoote legate l'una
all'altra. II contesto emerge anche se si segue soItanto un unico concetto.

2. L'essenza della conversione ri guardo a entrambi i principi


racchiusi in essa della conservazione e della trasfo11IIlazione nou si
rileva solo nei concetti. Essa ci viene rappresentata anche in immagini
dai Padri. Oppure diciamo meglio: nei simboli presi dalla natura che
sono piu che immagini, poiché essi non scaturiscono dalla fantasia
umana, ma appartoogono all'ordine divino delle cose; poiché, pur
essendo scoperti dall'uomo non vengono pero creati dall'uomo.
Scoprendo tali simboli, i peusatori della chiesa si fecera trascinare
volontieri daI testo della Sacra Scrittura. Cercarano di trovarvi punti
dove la parola di Dio desse chiare o nascos,t e indicazioni su quelle
analogie della natura. Con l'aiuto deUa rivelazione decifrarono il libro
della natura e viceversa: non avevano t1more di guardare in questo
libro quando spiegavano la Biblia. Ma con i simboli succede la stessa

33. Joh. Chrys. in Mt. homo 33, 4 (PG 57, 393).


34. Cf. Theodoret. graec. aff. curo 4, 3 (Sources Chrét. 57, 2m).
35. Greg. Nyss. V. Greg. Thaum .: PG 46, 953.
518 C. GNILKA

oÜ'sa che oÜ'n concetti: le pIU grandi, le pIU fo'r ti e le piu belle
espressioni per la trasformazione dell'uÜ'mo da parte della Chiesa
paiano tavolta trite e fiacche proprio perché vengono utilizzate di
frequente espesso in senso generalissimo, diverso, persino contrario.
CosI parole cOlme «conversione», «rinnova>mento» eccetera, forse ci
toceano meno di altre piu rare. E con le immagini ci si potrebbe com-
portare, cOlme si e detto, in modo simile: la cosa insolita sembra
sorprendente e s'imprime praprio peT questo motivo. Questo e il van-
taggio delle cose rare e sconosciute. Facciamo un eselInpio! Il profeta
Amos dioe di se stesso: «Pastore sono e coltivatÜ're di sicomoro».
La versione greca dei Settanta rende piu chiara l'ultima esp.r essione:
«Era uno che incioova i sicomori» 36. Questa traduzione si fonda sul
fatto che i frutti deI skomoro devomo essere scalfitti prima deI raccolto;
poi maturano nell'arco di pochi giorni 37. Anche San Basilio vi penso
quando giunse a parlare di ques'Ío albero in occasione di un altro passo
deLI a Biblia. Egli scrive 38:

«II sicomoro e un albero che frutti ne produce moltissimi. Essi pera


non hanno sapore ameno che non li si scalfigga accuratamentc
lasciando scorrer via un succo; COSI essi divengono saporiti. E quindi
nostra opinione, che esso (il sicomoro) simboleggi la massa dei pagani,
la quale costituisce una ricchezza, ma e (per cOSI dire) scipita; cià deriva
dalla vi ta nelle usanze paganc. Se pera qualcuno riesce a inciderla
mediante la Parola, allora si trasforma raddolcendosi e deviene utiliz-
zabile (yÀuxuVfr€LO"a: 'tTI I-LE'ta:~OÀTI Etc; EVXPl]O"'tLa:V I-LE't(l.~tiÀ),E'ta:,)"

ln questo simbolo si trovano abbondanza, ricchezza, opulenza deI paga-


nesimo - -riíç E1}v~xiíc; Cíuva.ywyiíc;, come dice l'autore per spiegare che
il paganesimo deve essere inteso come una certa unità. Ma arrohe la
mancanza di una sua qualità specifka (7tO~ó-rT)C;) vi viene espressa: cOSI
com'e scipito, inurtilizzabile. Ce bisogno di una totale trasDormazione,
in modo tale che questa trasfolrmazione non distrugga la sostanza,
ma le dia la qual:irtà mancante. Questo e forse il punto che emerge in

36. Amos. 7, 14 LXX: a:bt6Àoc; fíl-Ll]V xa:t XVLt;WV O"uxtil-Lwa. Cf. Theodoret. in
Amos 7, 14 (PC 81, 1700 B/c).
37. Theophr. hist. planto 4, 2, 1; Athen. 2, 51 b/c; cf. K. Koch, Die Baume und
Straucher des alten Criechcnlands, Berlin 1884 4, 75/76; V. Hehn, Kultul'pflanzen
und Haustiere, Berlin 1911 8 , 388 segg.
38. (Ps.?) Basi1. in Is. 9, 228 (Is. 9, 7): PC 30, 516 D I 517 A; cf. P. Trevisan,
San Basilio. Commento aI Profeta Isaia, Torino 1939 = Carona Patrum Salesiana,
Ser. Graec., vo1. 4/5, nr. 229 (p. 304 segg.).
LA CONVERSIONE DELLA CULTURA ANTlCA 519

maniera plU chiara dall'immagine deI sicomoro: l'unione dei due prin-
cipi dei quali parliamo, della trasformazione e della conservazione.
Entrambi trovano nell'immagine una completa e piena espressione.
I frutti r1mangono frutti; la loro ricchezza non viene diminuita, ma
riconosciuta come pregio; e proprio la nota ricchezza di questo albero
da frutto a renderlo idoneo a portare il simbolo. D'altra parte la neces-
saria trasformazlone non puo apparire per mezzo di un'immagine
in modo piu netto se non con quella di Uil1 frutto che da non
commes,t ibile diviene commestibile. Quest' immagine fa emergere inoltre
un altro dato di fatto: cio che deve essere trasformato non puo produrre
questa traSf0n11azione da solo. E l'intervento deI coltivatore che fa
matural'e il sicomo'r o. Un intervento esterno. La conversione della
ÉWLXll O"UVct'YwY1Í - ed io credo di non fare violenza aI testo vedendoci
non solo le singole anime, ma gli uomini e i popoli con le loro culture
(<<usanze») - non puo venire dallo stesso paganesiJIno. II testo dice
chiaramente che la conversione presuppone l'intervento deI Logos.

III .
1. Conversione, vista dalla Chiesa dei prLmi tempi, pur non signi-
ficando distruzione, include pero il principio della purificazione. Una
tale purificazione fu poi ritenuta necessaria quando doveva venire
respi:nto ed eliminato daI processo della conversione cio che non tollera
la conversione, cio che impedisce la totale trasformazione qualitativa.
Nella De Civitate Dei, Sant'Agostino tratta de1le reIazioni fra la civitas
caelestis e la civitas terrena. Egli specifica che, fintanto che essa e
ancora pellegrina 1n terra, usa le cose necessarie alIa vila come questa
- seppure con un altro scopo - e che ha bisogno della pace terrena.
Nel cO'rso di questa riflessione, giunge anche a una defimizione deI
rapparto della città di Dio con le varie «cuhure» . L'autore dice: mores,
leges, instituta, ma questa serie di concetti riempie abbastanza berre
la cornice che fissa la parola «cultura» neIl'uso moderno del termine.
Sant'Agostino scrive dunque 39:
«Questa città celeste, durante ii suo terreno pellegrinaggio, chiama i
suoi cittadini di tutti i popoli e unisce una comunità di pellegrini di
ogni lingua. Non bada alle differenze dei costumi, delle leggi e delle
istituzioni. Non strappa e non distmgge nessuna delle cose, con le quali
si acquista o si mantiene la pace terrena, anzi conserva e segue tutto
cià che - anche se diverso nelle di verse nazioni - tende a un mede-

39. Aug. civ. 19, 17 (p. 386, 26 segg. Dombart-Kalb5) .


520 C . GNILKi\

simo e unico fine, quello della pace terrena, a condizione che esso nan
sia d'impedimento alla religione la quale insegna il culto deli'Unico,
Sommo e Vero Dio.» . .

L'ultÍlma frase, la prorposizione conclizionale, nan deve essere trala-


sciata: ... si religionem, qua unus summus et verus Deus colendus
docetur, non impedit! Basta solo aprire i primi dieci libri dell' opera
agostiniana in un ipUIO.to scelto a caso, per veder subito qual e forza
dirompente cOllltenga questa COIlldizione. QueSlta condizione e il prin-
cipio di cui noi stiaano trattando. Esso viene qui formulato, dichiarato
in tm punto importante deU 'opera e coLlocato, per cOSI dire, in modo
da essere virSibile. Tutto - cosi dice la legge - viene conservato, non
distrutto, qualora non sia di ostacolo alIa religione cristiana. Cio signi-
fica viceversa, che la cultura dev'essere liberata da quegli elementi che
cOllltrastino la diffusione delIa religione e con essa anche la modifi-
cazione neoossaria delI a stessa cultura. Tuttavia e molto importante
notare i confini che furono tracciati a quést'ultimo strumento. E' impor-
tante vedere con quale accuratezza questi confini furono cO:Ilsiderati,
come essi furOlllo sposrtati a sec onda dei casi, come ci si sforzo di misu-
rare con esattezza i rapporti fra conservazione o utilizzazione (conver-
sione) e distruziOllle. Scelgo tre esempri. dalIa battaglia delIa Chiesa
contro i luoghi di culto e gl'idoli pagani.

2. Iniziaano dalI'Ímpresa ' di un uomo che, comme nessun altro,


ottenne l'ammiraziane deI suo tempo e dei secoli seguenti! Quando
San Martino appicco il fuoco a un famoso e antico tempio pagano, il
fuoco minaccio di estendersi alIa casa vicina. II santo corse allora
sul tetto di questa casa gettan dos i incontro alIe fiamme che divam-
pavano. AlIora il fuoco si ritrasse prodigiosamente, e cioe in direzione
ccxntraria aI vento, in modo tale che gli elementi sembrarono lottare fra
loro. La narrazione si cOIllolude con la frase: «CosI, per il potere mira-
coloso di San Martino, il fuoco agI solo fin dove gli era stato ordinato» 40.
Che cosa c'i!nSegna questo racconto? c'insegna una grande distinzione.
II vescovo di Tours mette in giuoco la propria vita per impedire che
una casa, un'abitaziollle privata forse, in ogni caso una costruzione pro-
fana, venga distrutta; per farIo, impiega la propria forza miracolosa;
e cio significa inoltre - giacché un tale potere nOlll agisce magicamente,
ma per consenso e approvazione di Dio - , che Dio stesso riconosce e

40. Supl. Sev. vita S. Martini 14, 1/2 (Sources Chrét. 133, p . 282).
LA CONVERSIONE DELLA CULTURA ANTlCA 521

giustifica quella grande differenziazione. La battaglia e diretta contro


le cose oggetto d'idolatria, contro ciõ che e pagano nel vera senso della
parola, non contro gli ucxmini e nom contra le cose in[1ocenti. Anche
negli alInbienti rudi e duri nei quaH San Martino operõ, prevale iI
principio, benché solo a groodi Hnee, che conrtraddistingue i rapporti
dei cristiani nei oonDronti della cultura non-cristiana: lo sforzo di con-
servare tutto oiõ ohe e libero dall'iJdolatria o che puõ venire liberata
daI rapporta oon essa. Sulla possibHità di una tale divisiane, di una
tale separazione e liberazione dell'utilizzabile, ci possona essere di valta
in volta diversissime opinioni. Ci possana anche non essere sempre e
davunque le stesse opiniani, perché le circostanze esteriari, storiche,
culturali sonO' diverse, perché l'utiIizzabiIità nan e una grandezza che
si puõ determinare - valida U[1a volta per tutte e per tutti i singali
casi. Ma iI principia e tuttavia camune e rioonoscibiIe.

3. San Martino distrusse i templi. Non sentiama mai che egli


abbia usata una costruziane destinata aI culta pagana per una funzione
religiosa cristiana, trasfarmandola quindi in una chiesa. Eppure già
Sant'Agostino sembra canoscere la passibilità di una tale utilizzazione,
che piu tardi viene sempre piu spesso realizzata, alla fine anche nella
stessa Roma, dave iI Panthean, cansacrata nell'anna 609 durante iI
pontificata di Bonifazio IV, aprl la serie delle chiese che sorgevana
sui templi 41. I templi mediterranei che si sono canservati meglio erana
quasi tutti chiese - carne iI Partenone a la Hephaisteion (Theseian)
ad Atene, iI cosiddetto Tempio della Concordia ad Agrigento a appunto
iI Pantheon a Roma. Oppure 10 sana ancora ccxme iI duoma di Siracusa.
Nan intenda trattare di cose di valare antiquaria, ma deI profila rica-
noscibiIe in esse: dove apparve possibiIe, dov'era cansentita legalmente,
dove lo si ritenne positivo a necessario, da un punta di vista pratica.
si estese la canversiane anche alle costruzioni e ai luaghi destinati aI
culto pagano. Com canversione intenda qui in prima luaga la lora
utilizzazione per un fine ecoles,i astica e liturgica. Ma anche iI lora
impiega prafano puõ essere chiamart:o in tal mada - e di piu armpia
portata, naturalmente, carne viceversa l'utilizzazione ecclesiastica di

41. R. Krautheimer, Rome. Profile of a city, 312-1308, Princeton 1980, 71/75;


F. W. Deichmann: RAC 2, 1954, 39/41.
522 C. GNILKA

antiche costru:úoni profane e un'altra cosa. Sant'AgostJino inizia una


predica per la consacrazione di una chiesa con le seguenti parole 42 :

«Se considerate, frateIli, che cosa siamo stati prima della grazia deI
Signore e che cosa abbiamo cominciato a essere per opera della grazia
deI Signore, certamente scopriamo perché, come gli uomini si mutano
in meglio (in melius commutantur) cOSI anche i luoghi terreni (terrarum
loca) che furano prima contrari alla grazia di Dio, ora sono dedicati
alla Sua grazia. ' Noi siamo infatti - come insegna l'Apostolo 43_
tempio deI Dio vivo; percià Dio dice: Abiterà e camminerà in essi'.
Quei simulacri che erano qui, si potevano erigere, ma non sapevano
camminare. Ma cammina in noi la presenza della maestà, se trova lo
spazio della carità. »

II predicatore vuole spiegare una cosa con l'altra: la consacrazio'11e


dei tempio, che l'uomo rappresenta o la comUil1ità, mediante la con-
segna aDio dell'ex-Iuogo di culto pagano - e viceversa. Egli riassume
poi la similitudine in modo ancora piu preciso 44:

«Vedete, fratelli, come, anche quando i luoghi terreni (loca terr ena)
si mutino in meglio (in melius convertuntur) , alcune cose vengano
distrutte e frantumate, altre invece mutate per esser usate meglio
(in meliores usus commutantur) : cOSI siamo anche noi! ln noi vi erano
le opere della carne. . .. Esse devo no esser di s t r u t t e n o n m u t a t e
(deicienda sunt, non mutanda) . ... Queste cose devono esser distrutte
in noi c o m e g 1i i doI i. Per un uso migliore devono perà venire
transformate le membra deI nostro corpo (in usus autem meliores
vertenda sunt ipsa corpo ris nostri membra), affinché quelle cose che
servivano l'impurità della cupidigia, servano la grazia della carità.»

Ho pI1esenta1ü questo brano, n011 solo perché esso fornisce un


esempio interessante di uso cristiano, ma soprattutto per il fatto che
mette bene in evidenza il principio in esso racchiuso della purifica-
zione delle cose assunte: la conservazione e la tra:sformazione di cià
che e possibile convertire presuppo'11e il rifiUlto di cià che no'11 e possi-
bile convertire. I loca, cià che noi sempre dobbiamo intendere con
questa parola, sono convertibili, i simulacrri invece non lo sono. E ancora
un'altra cosa c'insegna il brano dei Sermoni, e cioe che l'a'11alogia fra
conversione dell'uomo e conversione della sua cultura - io generalizzo

42. Aug. sermo 163, 1 (PL 38, 889).


43. 2 Cor. 6, 16 (Lev. 26, 11/12).
44. Aug. senn. 163, 2 (PL 38, 890).
LA CONVERSIONE DELLA CULTURA AN TlCA 523

di proposito - era assolutamente conosciuta; o meglio: non so.lo era


conosciuta, ma teologicamente approfo.ndita e ben ponderata. I simu-
lacri sono come ii male nell'uOlITlo, come l'idolatria e come ogni tipo
di vizio che puà esserc solo distrutto, che non puà essere trasformato;
per essere utilizzato meglio, iI corpo dell'uomo, come anche la costru-
ziOlIle pagana, si puà trasformare - Sant'Agostlino dice a questo propo-
sito: c01'poris nostri membra, dove noi forse ci aspettiamo un'espres-
sione che indichi l'uomo intero; egli invece vi pone in modo ben pon-
derato le sue parole per rafforzare la similitudine con gl'idoli all'im.terno
degli edifici trasformati (uguale corpus). Cià non significa che la deci-
sio.ne in concreto, dovrebbe essere sempre cOSI indovinata, ii confine
praticamente sempre cOSI delimitato 45 .

4. A certe condizioni apparve possibile anche la conservazione


delle immagini, e addirittura che esse venissera esposte pubblicamente.
Dopo che la legis.Iazione degl' imperatori cristiani ebbe creato i pre-
supposti 46, Prudenzio raccomandà un tale procedi'm ento proprio in quel
poema contra Simmaco che osteggia inflessibilmente iI culto degli dei.
I versi che riguardano l'argomento costituis'c ono la conclusione di un
piu lungo discorso che iI poeta mette sulle labbra all'imperatore
Teodosio I. Egli si rivolge coSI all'aristoomzia romana <f1:

Marmora tabenti respergine tincta lavate,


o proceres! Liceat statuas consistere puras,
artificum magno rum opera. Haec pulcherrima nostrae
ornamenta fiant patriae nec decolor usus
in vitium vel'sae monumenta coinquinet artis.

"o signori (i senatori romani), lavate i marmi sporchi di putride


macchie di sangue; possano ergersi nette le statue, quelIe belIissime
opere di grandi scultori siano ornamento delIa patria e l'uso pravo
non guasti i monumenti delI 'arte pervertendola».

Qui troviamo collegate nel testo, espressioni della purificazione,


della purezza e deI contrario di essa, dell'impurità, e inoltre iI concetto
dell'uso (vero e sbagliato) come anche ii concetto della perversione,
che evoca da sé quello della conversione. II brano ha valore per alcuni

45. Cf. Aug. epist. 47, 3 (CSEL 34/ 2, 132).


46. Cf. Cod. Theod. 16, 10, 15: sicut sacrificia prohibemus, ita volumus publi-
corum operwn ornamenta servari ... eqs. (29. 1. 399).
47. Prud . c. Symm. I , 415/505.
524 C. GNILKA

di esempio deI modo di comportarsi cristiano nei confronti delIa cultura


precristiana. Ed io aggiungo: a ragione, ma non a causa della presunta
generosità, tolleranza, conciliazione o di altre cose simili - Prudenzio
e tanto poco «tolIerante» coa:ne Sant 'Agos tino , San Gregorio o altri-
menti qualcun altro dei Padri 48 - , ma perché in questo caso iI prin-
cipio della purificazione e della conservazione di cià che e stato puri-
ficato in ' manifesta in man,i era particolarmente chiara e in un certo
qual modo accentuata perché cià che e possibile convertire sono gli
stessi simulacri e perché l'atto delIa purificazione consiste solo nel
fatto che essi vengono sottratti aI culto e apprezzati come opere d'arte.
Prudenzio esprime questo simbolicamente: le macchie di 'patrido
sangue', con le quali le statue erano spruzzate a causa delIe vittime
sacrificali pagane, devono venire Iavate 49. Cià vuol dire che la belIezza
puà continuare e deve continuare a esistere, se essa nau serve il culto
pagano, ma e proprio bellezza «pura ». Essa adempie poi un compito
innocente, e ancora di piu: essa viene restituita a Colui daI quale
proviene ogni belIezza. Infatti l'attrattiva estetica non viene inrterpretata
in Prudenzio come fine a se stessa. Le precauzioni consigliate non si
fondano su un patriottismo culturale solo di tipo profano: se si legge
nel poema contro Simmaco che le statue dovrebbero rappresentare
ornamenti nostrae ... patriae, allora il concetto di patria deve venire
inteso correttamente, cosa che e di sicuro possible solo se considerata
in rapporto al contesto complessivo. Si tmtta deIla Roma cristiana,
della città che segue la chiamata di Cristo, che si dà aI credo di Cristo
pleno ... amore so. Le opere d'arte che vengono converti te, che adornano
Roma, servono l'onore di Dio: questo c'e dietro alIe parole deI poeta.

5. Le osservazioni qui esposte non devono defo'r mare l'immagine


d'insieme. Fedeli aI principio di tener conto della cu1tura esistente,
si religionem non impedit, la Chies a ha lasciato intatte innumerevoli
parti delIa cultura antica nelIe quali essa crebbe. Essa perà non ha
sopportato semplicemente questi elementi. Essa ha so1Jtoposto il proprio
adattamento ai tempi alIa grande meta delIa missione. Dio condusse
i Re Magi alla grotta nou con un angelo , non con un profeta, ma con

48. Simmaco pretende (rel. 3, 4): ornamentis saltem curiae decuit abstineri.
Eeeo la risposta di Prudenzio (c. Symm. 2; 64) : frange (se. Roma) repulso rum fo eda
ornamenta deorum! Cf. ibid. 2, 608/ 110; 764/ 5.
49. Cf. Prud. per. 2, 481/484.
50. Prud. c. Sym m . 1, 506 segg.; 523.
LA CONVERSIONE DELLA CULTURA ANTICA 525

una stella. Perehé? Perché l'astroifiomia era la loro arte, di cuiessi


erano esperti, li poté gu,i dare eon una stella a Betleo:nme 51. I Padri
sooprirono molti esempi per questo metodo di Dio. Essi 100 ehiamarono
(juyxcx:tci~CX(jL<; (condescensio) oppure 1tCXLOCXyWytcx 52. II primoO missionario
che rispetto questo metodo fu, secondo la loro opinio'l1e, I'Apostolo, che
dice di se stesso: omnibus omnia factus sum, ut omnes facerem salvos
(1 Cor. 9,22); oolui che armuncio il Vangelo agli ateniesi, utilizzando
un'iscrizione pagana e il verso di un poeta pagano, e agli ebrei, fon-
dandosi sui profeti 53.

6. D'altra parte si puo notare come la Chiesa evitasse con pru-


denza anohe cose deI genere, che, sebbene per oOSI di,re neutrali e
percio innocenti, erano pero legate cOSI saldamente aI pensiero e aI
modo di vivere pagani da un'abitudine o somiglianza, che sembro,
almeno tempora'l1eamente, impossibile aocogHerle. Tali cos'e risveglia-
vano ricoa:-di, maturavano associazioni che potevano avere un effetto
pernicioso e sconcertante: non pel1Ché esse esduc1evano assolutamente
un'utilizzazione cristiana, ma perché erano state utilizzate per tanto
tempo in modo errato; non perché fos,s ero teoreticamente inutilizzabili,
ma perché lo erano praticamente. A causa di un uso (precedente o
contemponmeo) tipicamente paganoO (usus proprius), illoro uso cristiano
(usus iustus) non sembro consigliabil.e 54. Innwnerevoli esempi ce li
fornisoe la lingua. La parola fatum, dice Sant'Agostino 55, sarebbe assolu-
tamente appropTiata a esprimere l' ordine delle cose regolato secondo
iI volere di Dio. Infatti fatum proviene da fari (<<parlare») e nel salmo
si legge 56: «Dio ha parlato una volta per tutte» (semel locutus est),
poiché Egli sa con sicurezza tunto cio che acoadrà e cio che Egli stesso
farà. L'autore continua: «CosI possiamo dire fatum, in relazi{)[le a fari,
se non s'intendesse abitualmente eon questa parola una cosa diversa,
verso la quale non vogliamo diITigere il cuore degli uoo:nãni.» Egli vuol

51. Joh. Chrys. in Tit. homo 3, 2 (PC 62, 678).


52. Orig. C. Celso 4, 12 (Sources Chrét. 136, 212); Joh. Chrys. inTit. homo 3, 2
(PC 62, 678); in Ps. 149 (PC 55, 494); in Is. 1, 4 (PC 56, 19). Cf. Theodoret graec. afi.
curo 7, 16/20 (Sources Chrét. 57, 300/301).
53. J oh. Chrys. in Tit. homo 3, 1 (PC 62, 677/678).
54. Cf. Ch. Gnilka, XPHEIl:. Die Methode der Kirchenvater im Umgang mit
der antiken Kultur. L Der Begriff des «rechten Cebrauchs», Basel/Stuttgart 1984,
65 sego
55. Aug. civ. 5, 9 (p. 105, 12 segg.).
56. Ps. 61, 12/13.
526 C . GNILKA

dire ii fatalismo dell'astrologia. Sant'Agostino era in generale dell'


opiniQll.e che iI Cl1istiano dovesse procedere con cura alIa sedta delle
parole; i filosofi, egli dice 57, possono seegliere le proprie espressioni
liberamente (liheris ... verbis loquuntur philosophi); neanehe nel discu-
tere i problemi piu complicati hanno b isogno di aver riguavdo verso
le orecchie pie: nobis autem ad certam regulam loqui tas est, ne verbo-
rum licentia etiam de rebus, quae his significantur, impiam gignat
opinionem. Qurundo H Padre deHa Chiesa, durante gli ultimi anui della
sua vita, esaminà con attenzione le proprie opere, trovà anche iJl1 sé
stesso da rimproverarsi alcune infrazioni alla regola 58 . Ma non solo
lui si attene alIa regola. ln un certo senso essa e una regola generale
e dà l',i mpronta alla lingua della Chiesa de i primi secoli. Gli studi di
Christine Mohrmann ci forniscono molti esempi. Mohrmarm parla in
questo oontesto deI «principio deI rifiuto» (<< the prinoiple of rejeetion»)
o deUa «tendenZla all'esclusione » (<<la tendance à l'exclusion ») 59. Chi
potrebbe non riconoscere che questo in fondo e lo stesso principio
ehe abbiamo osservato in base all'atteggiamento delIa Chiesa nei con-
fronti stessi templi e idoli? II principio delIa purificazione quindi.

7. II problema dell'usus proprius non si pone perà assolutamente


solo nelI'ambito delIa lingua. La Clüesa dei primi tempi ha respinto
l'uso delIe corone 60, ha rifiutato con costanza di permettere la musica
strumentale e la danza durante le funzioni liturgiche 61. II motivo era
anche in questo caso sempre lo stesso: queste cose non le sembravano
separabiH daI fondo deI culto e daI modo di vivere pagani, in cui esse
erano cresciute. Si tratta sempre di evitare somiglianre se0!l1oortanti.
I banehetti nei giorni dedicati alIa commemorazione dei marüri, furono
vietati da Sant'Ambrogio non solo perché alcuni coglievano l'occasione
per ubriaearsi, ma anche perché sembravano cOSI simili ai sac:rifid

57. Aug. civ. 10, 23 (p. 437, 8 segg.).


58. Cf. Chr. Mohrmann, Etudes sur le latin des chrétiens, vaI. 1, Roma 1961,
384 sego
59. Mohrmann, Etudes, vaI. 3, Roma 1979, 183; vaI. 1, 235 seg.; cf. 1, 245 seg.;
3, 131. 135.ecc.
60. K. Baus, Der Kranz in Antike und Christentwn , Bonn 1940 = Theophaneia 2,
passim. p . es. 37/54; Gnilka, op. cito 44/47; 50/51.
61. J. Quasten, Musik und Gesang in den .Kulten der heidnischen Antike
und christlichen Frühzeit, Münster 1930 = Liturgiegeschichtliche Quellen und
Forschungen 25, 78/100; 103/ 110; 186/189.
LA CONVERS10NE DELLA CULTURA ANTlCA 527

funebri in anore dei di parentes: quia illa quasi parentalia superstitioni


gentilium essent sim i II i m a 62 . San Leo Magno proibi l'inchino aI
sorgere deI sole, anche se avveniva in una disposizione d'animo giusta,
se esprimeV'a qui'l1di adorazione di fronte aI creatore della luce, non
della luce quale divinità: abstinendum tamen est a b i P s a s p e c i e
huius officii. .. eqs.63. IntelIigenza, esperienza, sensibilità sono neces-
sarie - per non parlare di altri presupposti piu elevati e profondi-,
se si vuole qui mantenere iI giusto corso, se si vuole decidere che cosa
deve rimanere e che cosa deve essere invece cambiato; che cosa puà
essere utilizzato o tolIerato e cià che e inveoe assolutamente da l'ifiu-
tare; che cosa va posto nel settore delI a Chrêsis e che cosa invece
ri entra in quelIo della Synkatabasis, e che cosa deve essere considerato
usus proprius (pagano). Comprendiamo cià che intende dire Newman
quando parla, in Tiferimento a questi fenomeni, di un «instancabile
e inquieto processo mentale» 64.

IV.

11 metodo dei padri non si esaurisce aI fenomeno delIa purifi-


cazione. Una cultura non viene trasformata solo rifiutandone alcune
parti e tollerandone altre. Vi deve contribuire una forza creativa che
riconosca gli elementi delIa bontà, delIa verità e delIa bellezza, dando
loro una iluova d:in~zione e un nuovo senso. Ma da dove provengono
questi e1ementi deHa verità nella cultura preoristiana? e sulla base di
quale autoI1ità possono essere utilizzati cristianamente? Quare la moti-
vazione teologica deI procedli mento che e piu di una sedta o rifiuto:
e cioe scelta e incorporazione? Impiegherà qui u.n solo testo per chia-
rire questo problema. Si tratta deI brano di un'epistola di Sant'Agostino.
Pur trattando um problema teologico, essa non e diretta perà ad UJI1
teologo. 11 suo valore particolare risiede proprio in questo: la base
teologica delI 'uso dei patrimonio cuIturale non-cristiano viene posta
davanti agli occhi di un non-oristiano, spiegato a un giovane dotto,
che non e né teologo, né cri's tiano. Si chiama VolusiJano, prove'l1iva

62. Cf. Aug. conf. 6,2,2.


63. Leo M. in nativitate Domini sermo 7, 4 (Sources Chrét. 22, 156 seg.).
64. John Henry Newrnann, Essay on the development of Christian doctrine
(1841 1, 18782), with a Foreword by G. 'Weigel, S. J ., Garden City, New York: Irnage
Books 1960, p. 347: « ... for the sarne unwearied anxious process of thought went on.»
528 C . GNILKA

da una doca, antica e nobi1e famiglia appartenente all'aristocrazia


romana 65 . Nella cerchia dei suoi dotti amici la conversazione era caduta
sul Cristianesimo. Cio che apprendiamo della conversazioone, ci dà
un'idea deI clima intellettuale nel quale vivevano i rappresentanti delIa
reazione pagana: si prova piacere nella retorica e nelIa poesia, si discu-
tono le diverse posizioni delIa scuo,le fi.losofiohe - per giungere infine
alIa rassegnazione. Ci domandavamo - riferisce Volusiano 66 - che cosa
effettivamente abbia causato la ·sconfinata voglia di disputare dei filo-
sofi «e la ver i t à che fu la piu miscoIlJosciuta proprio quando si
supponeva ohe essa potes se essere conosciuta». A questo punto del
discOirso, uno dei partecipanti grido se qualcuno potesse spiegargli la
dottrina deI Cristi>amesimo, citando i misteri delI'incarnazione di Cristo
in modo tale da lasciare intravvedere tutto lo scetticismo, forse anche
lo scherno dei dotti pagani. La oonversazione viene interrotta per
andarsi a infoI'lIlare e non giudicare superficialmente i misteri del
credo cristiano (come Volusiano dice). La replica di Sant'Agostino
oerca di ohiarire in particolar modo i problemi cristologici. Vi si
trovano tuttavia anche frasi che riguardano il nostro problema. Cito 67:

«Nella persona di Cristo, nel tempo che Egli ritenne piu opportuno,
che egli aveva disposto prima dei secoli, venne per gli uomini il magi·
stero e l'aiuto (magisterium et adiutorium) per il raggiungimento della
salute eterna: il magistero, affinché venissero confermate le verità che
prima furono annunciate sulla terra per essere utili (agli uomini),
non solo dai profeti santi, che dissero tutte cose vere, ma anche dai
filosofi e addirittura dagli stessi poeti e da autori di ogni genere
di scritti, che (cosa sulla quale nessuno ha dubbi) hanno mischiato
molte cose vere e false; affinché venissero confermate le verità dalla
Sua autorità rappresentata anche nella carne, per coloro che non le
potessero riconoscere e discernere: mediante questa verità che era
EGLI stesso, anche prima che diventasse uomo, per tutti coloro
che poterono esservi partecipi. »

La grande idea di questo testo risiede nel fatto che viene dato il
massimo valore aI pensiero precristiano senza che venga pero abban-
donata la base general e deHa valutazione delI a cultura non-cristiana:
essa rappresenta (1) un «.mi~cuglio» di vera e di falso, ma (2) gli

65. Rufius Antonius Agrypinus Volusianus; cf. A. Chastagnol: Revue des


études anciennes 58, 1956, 241/253.
66. Volusian. Aug. epist. 135 (CSEL 44, 89/92).
67. Aug. epist. 137, 12 (CSEL 44, 111/114).
LA CONVERSIONE DELLA CULTURA ANTICA 529

elementi veri corutenuti aI suo 'interno sono stati «attestati» dall'incar-


nazione di Dio; in questi attestati Sant'Agosüno .vi vede proprio un
fine delI'incamazione. DaI punto di vista cristiano e quasi impossibile
colIocare la cultura precristiana ad un livelIo piiI alto. Cristo rende
visibile la verità nelIa Sua persona e nella Sua vita. · Essa era presente
anche prima. Ma non tutti potevano riconoscere e discernere (cernere
atque discernere) le verità parziali nel miscuglio deI pensimo antico.
Cristo le ha mppresentate: ut ea (vera) ... illius etiam in carne praesen-
ta ta confirmaret auctoritas. Vale a dire: egli non ha attestato sOllo le
parole dei profeti, ma anohe gli elementi, le parti, le tracce, i semi
delIa verHà negli autori antichi. Con ciõ sono chiariti e spiegati quei
vera nou sO'lo fin dana l0'ro origine (fin dalIa creazione . e dalI a natura
deU'uomo) - come altrimenti e usuale nei Padri 68 - , ma essi sono in
un certo senso legittirrnati anche fin daI punto finale e piiI alto delI a
storia delIa salvazione.
Come esempio l'autore adduce poi la dottrina delI'immortalità
deU'anima della filosofia antica. Ferecide di Siro entusiasmõ ai suoi
tempi il suo alunno Pitagora in tale maniera con la dottrina dell'
immortalità dell'anima e delIa sopravvivenza dopo la morte, che questi
divenne da atleta filosofo tB. Ma questo fu, per oosl dire, un caso isolato.
Ora ogni uomo commune lo crede, lo crede ogni vecchietta. Proprio
perché Cristo rappresentõ con il suo esempio (exemplum) questa
dottrina. Qui e intesa la resurreúone. La verità incarnata ha confer-
mato questo verum alI'interno deI pensiero antico. Che si tratti, nelIa
stessa antica dottrina dell'immortalità, a sua volta, solo di una verità
parziale offuscata, di una típica rappresentante di que! «miscuglio »
di verità ed errare, Sant'Agostino qui non lo dice. Egli pone l'accento
sull'elemento delI a verità. Che esso abbia bisogno della purificazione,
della guarigione, deUa liberazione, egli non lo prende in considerazione,
o lo presuPlJOne. lnfatti e ovvio che Cristo non confermi la 1LE"tEfJ;~XWCnc;
(<<metempsicosi») pitagõrica-platonica.
ln questo scritto che porta il caratteTe completamenTe mtssio;n ario
o - detto con un termine antico - protreptico, iI Padre delIa Chiesa
allunga la mano verso le preziose impronte deI pensiero precristiano.
Fra queste non annovera solo - con notevole estensione degli orizzonti
su autori di qualsiasi tipo - i singoH vera, ma anohe una caratteTi-

68. Cf. Gnilka, op. cito 13/16; 20; 48; 53; 74; 84/85; 90; 92.
69. K. V. Fritz, Pherekydes, n . 4: RE 19/ 2 (1938) 2035/38; d. Cic. Tusc. 1, 38 .

.H
530 C. GNILKA

stica di natura umana: iI forte desiderio di Dio, delI'essenza divina,


della divmità (divinitas). Egli parte dalla riflessione che questo desi-
derio abbia trovato un'espressione pervertita nel culto. degli dei : dalIa
riflessione quindi che gli uomini avevano preso vie traverse passando
per le forze deI male, perohé non sapevano come Dio fosse vicino a
loro io. ln questo Sant'Agostino ha presente soprattuHo la demonologia
platonica, secondo la quale i demoni fungono da mediatori fra gli
uomini e gli dei 71, ma eg1i si rivolge anche contro ogni religione non-
cristiana. La prova della vicinanza di Dio e l'insegnamento fondamen-
tale deI cristianesimo, dice Sant'Agostino aI giovane pagano. Questa
vicinanza si manifesto can l'incaI1llazione di Cristo nella quale Dio si
uni alIa natura umana uel modo pili profondo senza deporre la natura
divina.
Volusiano e la sua cerchiJa sicuraanente non avevano la mini ma
idea dei rapporto che CristianesiJmo e antica cultura dovessero avere
fra loro. Probabilmente dubitavano che ci potesse essere in generale
un contatto. II brano riportato dell'epistola agostiniana offre iI fonda-
mento su cui questo rapporto si basa. Cià che si augura il dotto delIa
Chiesa, su qual,e strada s'immagma la realizzazione di questo contatto ,
lo esprime pili tal'di nello stesso scritto. Sugli Apostoli e sui loro
successori egli scrive 12:

Praeclarissima mgenia, cultisslma eloquia mirabilesque peritias acuto-


rum, facundorum atque doctorum subiugant Christo et ad praedi-
candam viam pietatis salutisque convertunt.

" ESSl sottomettono gli spiriti piu eletti, i piu fini talenti di eloquenza
e le piu mirabili perizie di uomini arguti, faeondi e dotti a Dio e li
eonvertono per annunciare la via della devozione e della salvezza. »

70. Aug. epist. 137, 12: (ut scirent homines) tam proximum esse Deum pietati
hominum, ad quem velut lo n g e positum per interpositas potestates ambie-
bant ... eqs. Cf. Aet. 17, 27: .. . quamvis non longe sit (se. Deus) ab unoquoque
nostrum; Paulus VI, Adhort. aposto De evangelizatione (Evangelii nuntiandi) 1975 ,
nr. 26: (haec de Deo testificatio) ostendit illum Creatorem homini 11 o nesse
potestatem quandam 1 ong i n q u a m ac sine nomine, sed Patrem.
71. Cf. Aug. cill. 8, 18/25.
72. Aug. epist. 137, 16 (CSEL 44, 119 seg.) .
LA VETERUM SAPIENTIA DI GIOVANNI XXIII
E I SUOI RAPPORTI CON LE DISPOSIZIONI
DEL VATICANO II SULL'USO DEL LATINO

A. MELLONI
Istituto per le Scienze Religiose (Bologna)

PREMESSE

La Veterum Sapientia e 1e disposizioni deI Vaticano II sul latino


rappresentano un segmento (finale) d'un annoso dibattito sul problema
della lingua saora in ambito cattolko. Esso puà essere affrontato cQlffie
luogo apologetko oppure come problema storico: qui si seguirà questa
seconda linea d'indagine, prescindendo daI bisogno avvertito da alcuni
di ricostruire una continuità all'aHeggiamento della chiesa cattolica;
inoltre ci si limiterà all'esarrne di un tornante cronologicamente con-
chiuso, quello che vede aI centro la costituzione Veterum Sapientia
emanata durante iI pontificato di Giovanni XXIII, o5servando solo in
rapporto a queI testo le disposizioni deI concilio Vaticano II sul l,a tino.
ln una prospettiva storica, allora, si coglierà che le posizioni uffi-
ciali suIla lingua sacra hanno assunto nel corso dell'ultimo secolo un
valore strettamente dipendente da due fattori: in primo luogo la fissa-
zione del1a no~mativa ,disoipl.inare deI culto emanata daI concilio triden-
tino oontro gli abusi lituI'gioi e le ri,f orme luterane, e in secondo luogo
iI problema della concezione del1a chies a (assai visibi,l e nella ~deologia
missionaria) come societas perfecta, modello istirt:uzionale centralizzato
e culturalmente omogeneo 1. A questi s'aggillillge un uso effettivo deI

1. Cf. H. Jedin, Il conçilio di Trento e la riforma dei libri liturgici, in


Chiesa della fede - chiesa della storia, Brescia 1972, 391-425 e G. Alberigo, sia
Du Concile de Trente au tridentisme, in Irénikon 54 (1981) 192-210 che L'eccle-
siologia deI concilio di Trento, in La Chies a nella storia, Brescia 1988, 178-217.
532 A. MELLONI

latino orientato non aI mantenimento d'un rapporto con la tradizione


antica e medievale d'ocddente, ma piuttOosto aI consoJidamento d'una
ideologia della cristianità in cui si confondono universalismo monolitico
e fissismo ritualista, fino a ledere gravemente -lo notava Rosmini 2 _
il senso piu proprio della vita liturgica della chiesa. Per evidenziare
tale pregiudizio ideologico basterà andare a ripas sare i testi di storia
ecclesiastica per i Semina~i e constaIbare come essi rmuovessero il fatto
cne il latino fosse stato un volgare cne aveva soppian:tatOo il greco come
lingua liturgica solo a cavaMo deI III-IV secolo (doe quando ormai la
traslazione costantirnlana del1a oapitale irrnperiale aveva rildotto la «roma-
nità» ad un mito) e ben prima deI Nioeno II cOoI quale si consumà la
separazione culturale fra o~iente ed occidente, premessa della rottura
disciplinare 3.

Di contI1o, nel oorso dell'u!timo seoolo, erano venuti maturando


signi€icativi e qualificati apporti che potevano consentire di rico11o-
care il ·r apporto fra cattolicesimo e lingua latina nel contesto deilIJ.i-
tizZJato deI divenire srborioo; essi usdvano soprarfJtutto da alcune
esperienze, che avevano percorso la chies a cattolica romana a partire
dalla fine deI pontifica to di Pio IX fino a quello giovanneo: iI movi-
meno bibHco, che riproponeva la inquietante oentrnlità delle lingue
soritturistiche; iI movimento lirturgieo, la cui cOonoeziOone nuova, vitale
della tradiziOone ed un concetto pluriforilIle della unità e universal,i tà
della chiesa avrebbero trovato eco nel Vaticano II; il movimento per
il ritorno ai padTi, grazie aI quale la patrologia greca riacquistava diritto
di CÍ!ttadinaJIlza in ooddente 4.
Non furono tuttavia numerose le oooasioni in cui il ruolo dellatino
ecclesiastico fu mes'So direttamente e seriailIlente in disoussione: si
trattava, appunto, di apporti collat'e rali ohe incidevano piu sulla ideo-

2. A. Rosmini Serbati, Delle cinque piaghe della Santa Chiesa, completa ta nel
1832-1833 e pubblicata nel 1848, ora Brescia 1966; cf. infra n. 32.
3. Cf. M. M. Muller, Die Vbergang von der griechischen zur lateinischen
Sprache der abendliindische Kirche von Hermas bis. Novatian, Roma 1943; sulla
svolta deI sec. VIU cf. il panorama che ho recentemente raccolto nel mio Immagini
della chiesa, immagini nella chiesa. Rassegna degli studi sull'«Opus Caroli contra
Synodum », in Studi Medievali in stampa.
4. Sui movimenti cf. X. Léon-Dufour, L'exégese, trente ans apres, in Etudes
340 (1.974) 279-283; B. Neunhauser, Movimento liturgico, in Nuovo dizionario di
liturgia, Roma 1984, 904-918; E. Fouilloux, Les catholiques et i'unité chrétienl1e,
Paris 1982.
LA VETERUM SAPIENTIA DI GIOVANNI XXIII 533

logia entro la quale La tradizione latina si era rilIlchiusa che sulla fatti-
specie del1a Lingua, tema su cui Roma esercitava una sevem vigilanza 5,
ancoraenergica alla fine del ponrtificato di Pio XII. E noto a questo
proiposito un episodio che si co11oca immediatamente prima dei fatti
su cui ci sofferrneremo: qUaJIlQO aI congresso di Assisi deI 1956 venne
espresso l'ultimo s.forzo, e forse l'a:ffomdo piu significativo per il
ripristino deHe lirn:gue materne nella liturgia, la comgregaziome dei riti,
rappresentata daI suo cardinal prefetto, si mosse com assoluta tempesti-
vità; ancor prima che venissero letti gli interventi di maggior peso,
i1 caI1dinale Gaetano Ciüogrn:a:ni aggiurnse alla sua prolusone ai lavori
condanna delle discussioni sul problema, dediçando un ill1ltero paragrafo
ad argomentare che l'uso deI latrino nom mirava solo alla comprensione
fra i fedeli ma aJllche a consentire di «in1Jendere la verità che la
liturgia esprime» 6.

Giovanni XXIII, eletto papa nel 1958 a quasi 77 anni di età, fu prota-
gonista di entrambi i poli eIlJtro cui si svolge questo studio -la costi-
tuzione ed iI concilio. Egli aveva avuto UIIl rapporto flebile e marginale
con i due ampi e variegati schieramenti di pernsiero or ora tratteggiati:
sia con gli ideologismi deI mito deU a cristianità che con i movimentí
di · rínnovamento. Tuttavia la sua esperienza personale gli aveva consen-
üto di elabomre una ooncezione deLla umità della ohiesa che precorreva 7
gli esiti teologici a cui i movimenti sarebbero giunti quasi aI terminale
storioo deI loro peroorso; ma ins:ieme non si rifiuto di frirmare iI 22
febbraio 1962 la cos,t ituzione apostohca Veterum Sapientia com la quale
si riproponeva la eccellenza deI Latimo negli studi e la sua natura
«ecclesi1astica», assecondando cOSI i fautori dell'ideologia «romana» a
cui si accennava.

5. Cf. p. es. iI passaggio significativo di Scipione de' Ricci negli Atti e decretl
del concilio diocesano di Pistoia del 1786, Firenze 1986, I 50, 67, 131, 206 e II 277
e 317, in cui si riprendono precedenti riflessioni di L. A. Muratori, Trattato
della regolata divozione de' cristiani, Milano 1830.
6. Cf. Atti 30 e la ricostruzione dell'evento in R. Kaczynski, II senso d'un
Convegno, in Assisi 1956-1986: il movimento liturgico tra riforma conciliare e attese
del popolo di Dio, Assisi 1987, 33-35.
7. Cf. iI mio Formazione e sviluppo della cultura di Roncalli e G. Ruggieri.
Appunti per Una teologia in papa Roncalli, in Papa Giovanni, a cura di G. Alberigo,
Bari 1987, 3-34 e 245-271.
534 A. MELLONI

Molti dei piu o meno i.mproW'isati biografi di Giovanni XXIII hanno


liquidato la costitumone ricorrendo all'intervento esterno. Spesso s'e
ipotizzato un Roncalli «autentico» e disattento, aI quale la curia romana
imponeva una sorta di «falso», confezionato da un gruppo di pressione
che cercav'a di condizionare i lavori dei futuro concilio 8. Per questa
via, senz'altro breve, iI pregiudizio ideologico che abbiamo messo alla
pOJ1ta in apertura rientrerebbe dalla Hnestro: in alrtwnativa bisogna
seguire un percorso piu lungo che oonsenta i) di vedfjoa1' e la posizione
complessiva di Roncani (il futuro Giovanni XXIII) sul latino e ii) le
cara:t:teristiche strutturali e lesskologiche della ·c osHtuzione per valutare
ii grado di autentiaità formal e deI testo ed il gI'ado d'adesione dei
pontefioe aI gruppo proponente, irii) iI cui solo obiettivo era condiúo-
nare ii papa ed ostacolarne gli indiriz~i neHe varie commissioni prepa-
ratori dei concilio; infine iv) si dovrà valutare l'effebto ohe la castitu-
úone ha avuto nelooncilio e v) iI tipo di uso che i gruppi tradizionalisti
di ribellione aI concilio stesso ne fauno ancor oggi.

I. INTERVENTI SUL LATINO DI RONCALLI

Incominciamo allara ad esamIDare i testi di Roncam sul problema


deI latino e iI suo effettivo uso di quella lingua prima della elezione
aI soglrio ponti6cio.
La familiarità di mons. Roncalli coI latÍll10 come problema e
facilmente inventariabile: si tratta d'una presenza ridotta che si con-
oenÍ'ro attal'no a tre poli, cioe a) gl,i anni di insegnamento a Bergamo
deI primo antJeguerro 9, b) pai quelli trascorsi a ROIIlla alJ}'inizio degli
allil1lÍ Venti 10 ed infine c) quelli in Turchia (1935-1944), dove l'allorra

8. Ultimo fra tanti P. Hebblethwaite, Pape Jean XXIII, le pape du Concile,


Paris 1988, traduzione parzialmente corretta dell'originale biografia in inglese,
440-446.
9. Penso ad alcuni articoli dei periodico della diocesi bergamasca Vita Dioce-
sana, di cui Roncalli, ali ora segretario dei vescovo, era redattore ed in gran parte
estensore: cf. 2 (1910) 39-40; 3 (1911') 138-139 sul Guarnerio; 6 (1914) 210 sulla lingua
da usarsi nel canto liturgico.
10. Roncalli insegnà patrologia per poco meno d 'un semestre ai Laterano,
insegnamento che veniva dato come d'uso in latino, cf. A. Galuzzi, Le scuoZe deZ
Seminario romano durante la breve docenza di Angelo Giuseppe Roncalli, in
Lateranum 49 (1983) 102-116; ii restante lavoro per le missioni non comportava
LA VETERUM SAPlENTlA DI GIOVANNI XXlII 535

delegato apostolico si scoIlitra con le resistenze d'alcuni fedeli aLl'abban-


dono daI francese, non a favore dei latino ma della lingua turca nella
lettura dei Vangelo e nel respoIlisorio Dio sia benedetto durant1e i pOIlitJi-
fkali nella chiesa di lstanbul ll .
Quanto poi all'uso roncaUiano del latino si riscontrano tracce d'una
lettura dedsamente superiore alIa media «dovuta» daI clero per la
recita deI Breviario e l'uso deI Messale: sono testimoniate letture
a tappeto delle Scritture e delle pat1rologie deI Migre che senza dubbio
portavano la dimestichezza linguística oJtreché teoJogica di Roncalli
ad un livello ben superiore aLIa media. Lo scrivere in latino rappresenta
una esperienza nuovarrnente concentrata in pochi passaggi: infatti, nono-
stante le petizion~ di princiJplo, la santa Sede utiH.zza per gl:i scambi
interni le Hngue volga.ri lungo tutto ii corso degli anni (1921-1953) in cui
Ronoalli si trova aI suo diretto servizio 12, riservando iI latino ài soli atti
uffi,ciali. Sicché RoncaHi stesso ha un rapporto frammentario' coI com-
porre in latino: negli anni passam aHa Opera della propagazione della fede
Roncalli provvede a minutare iI motu proprio di Pio X Romanorum
Pontificun1, ma non ci e nota la lingua nella quale la minuta stessa
[u redatta 13. Successivamente viene da lui daJta ln la,tino solo una piccoll a

l'uso deI latino nemmeno negli atti ufficiali, cf. S. Trinchese, La missione ROl1calli-
Drehmans, in Fede Tradizione Profezia ... , 107-184. Si cf. anche neI periodico
La propagazione della fede nel mondo, da cui vennero estratti gli articoli
roncalliani e ris tampa ti con lo stesso titolo a Roma 1958, 31; inoltre qualche
accenno aI latino Roncalli lo fa quando, a partire sempre dagli stessi anni,
mette in cantiere i propri lavori su Gli atti della visita apostolica di San CarIo
Borromeo a Bergamo (1575) , Firenze 1936-1958 e su Gli inizi deZ Seminario di
Bergamo e S. CarIo Borromeo, Bergamo 1939. Qualche aItro cenno verrà poi per
confortare gli sforzi scolastici d'un nipote seminarista, cf. Lettere ai famigliari,
Roma 1968, 141, 162, 222 e 275 e Lettere ai Vescovi di Bergamo 1931-1963, Bergamo
1973, 123.
11. Cf. R. Morozzo della Rocca, Roncalli diplomatico in Turchia e Grecia
(1935-1944) , Cristial1esimo l1ella s/oria 7 (1987)/2 33-72 specie 57-59: soprattutto la
lettera deI 17 gennaio 1938, in Miscellanea inediti e rari, Bologna, Istituto per le
scienze religiose, in seguito ISR, 440.
12. Cf. ad esempio Actes et documel1ts du Saint-Siege relatifs à la secon.de
guerre mondiale, ed. P. Blet, A. Martini, R. A. Graham, B. Schneider, Città deI
Vaticano 1967-19&1.
13. II motu proprio si trova in AAS 14 (1922) 344-348; papa Giovanni affenno
nel 1963 di averlo redatto «dalla prima all'ultima parola», DMC5 268 (ma lo aveva
già scritto ii 29 luglio 1922 a don Antonio Guerinoni, cf. L. F. Capovilla, Papa
Gioval1ni XXIII Gral1 Sacerdote, come lo ricordo, Roma 1977, 134); sl.llle sue
536 A . MELLONl

parte della predicazione piu solenne, nelle pur modeste con,dizioni di vita
di Sofia ed Istanbul 14 : anZJi essa e notevole per esser f~tta, nei limiti
deI possibiIe, nelle lirngue volgari (bllllgaro, turco, francese), spesso «con
sforZJO e difficoJtà» 15. A Venezia il patriarca scrive in latimo iiI sli nodo 16 ;
singolarissima e la Vlicenda del1a omelia che iI cardinal Roncalli pro-
nlllncia per ii ce:rutenaJ1io della nascita di san Pio X (18 setrtembre 1958);
essa viene letta in una traduzione latina fatta a Venezia e coI
diretto intervento dei patriarca, ma in seguito Pio XII ne vuol fare
una edizione Vlatica:na in un testo rivisto cLalla segretaria delle lettere
latine e di cui si dà una retroversione italiana. Per una fortU[lata serie
di cOÍlllcidenze archivistiche p05sediamo questi 4 documenti 17; la sem-
plice lettura delle diverse redazioni mostra .chiaramente la distanza fra
iI fOrnlalismo del nítido latino della curia romana e l'andamento di
quello roncalliano, piu semplice e prevedibi1mente liooare.

caratteristiche in rapporto alla organizzazione delle missioni cf. S. Trinchese,


L'espe'rienza di A. G. Roncalli alla presidenza dell'Opera della Propagaziol1e della
Fede iii ltalia (1921-1925), in Giovanni XXIII: transizione deI papato e della chiesa,
a cura di G. Alberigo, Roma 1988, 13-17.
14. Cf. F. Della Salda, «Oboedientia et Pax». Il vescovo A. G. Roncalli visita-
tore e delega to apostolico in Bulgaria (1925-1934), Cristianesimo nella storia 7 (1987) / 2
3-31 specie 6-9, e Morozzo della Rocca, Roncalli diplomatico .. ., 59.
15. Annotazione ms sulla omelia deI 25 dicembre 1932, pronunciata in bulgaro
e letta da un testo cirillico: sarà pubblicata a cura di F. Della Salda che ringrazio
della segnalazione.
16. Pero con traduzione italiana, cf. S. Ferrari, I sinodi diocesani di A. G.
Roncalli, in Cristianesimo nella storia 9 (1988) 113-133; Roncalli aveva lavorato alla
traduzione deI sinodo di Radini su cui Vita Diocesana 2 (1910) 211; cf. inoltre
Miscellanea ISR 338 e 'le raccomandaziorii a chi poteva di leggere in latino il
Giustiniani in Scritti e discorsi 1953-1958, Roma 1958-1962, II 316 e 348, sempre
nel quadro quindi d'un rapporto vivo con la tradizione, su cui G. De Rosa,
L'esperienza di A. Roncalli a Venezia, in Papa Giovanni ... , 97-111.
17. II testo italiano in A. G. Roncalli, Scritti e discorsi 1953-1958, Roma 1959-1962,
III 646-648 in seguito SD: iI ms italiano originale mi e stato fornito da mons .
L. F. Capovilla e si trova in Archivio Roncalli, in seguito AR, Loreto; ho ritrovato
presso la Biblioteca Civica A. Maj di Bergamo, Sala Giovanni XIII - Cassa "San
Carla Borromeo», iI ds latino con correzioni ms deI patriarca; l'edizione ufficiale
voluta da Pio XII fl.l pubblicata presso iI Vaticano.
LA VETE RUM SA PIENTIA DI GIOVA NNI XXIII 537

Gli interventi di papa Giovanni

Una volta eletto pontefice, Roncalli deve naturalmente fare un uso


assai piu abbondante deI latino, ,anche se questo avviene solo con una
certa gradualità: non si dimentichi, per esempio, che iI 25 gennaio
1959 egli dà ai cardinali l'annuncio solennissimo della decisione di
convocare iI COIJJ.cilio generale in italiano 18.
Comunque gH interventi di Giovanni XXIII sul problema deI latino,
sé si prescinde dana Veterum Sapientia, rimam.gono sp aruti , discreti e
limitati. II primo vienesoltanto il 7 aprile 1959 in occasione dei convegno
intemazionale di studi ciceroniani 19 , ed e piuttosto dedicato all'elogio
della cultura classica che alla esaltazione dei soJo latino ecclesiastico.
Passano piu di otto mesi prima che iI papa inviti il clero ad
amare il latino, lingua di alta dignità che ora viene messo un po' da
parte. Gli studi moderni sono degni di ogni risp etto, m a la cultur a
solida rimane pur sempre quella della tradizione classica 20.

II latino e la lingua con cui iI papa si rivolge ai fedeli filippini il


7 ottobre 1961:
a tradurla e a farne , penetrare iI significato nella mente di tutti i
cattolici delle Filippine, e a p erpetuarne ii ricordo, troveranno modo
i Vescovi coadiuvati daI clero fervoroso e daI laica to post o a servizio
della stampa. II papa vuole sottolineare l'importanza che il fatto assume
non tanto per incoraggiare una applicazione indiscriminata dell'u so
deI latino in tutti i rapportidi apostolato, quanto piuttosto come
felicissimo richiamo ad ,unità <;Ii ,mente, di cuore, di opere sante 21,

II paparespinge «amabilmente sorridendo » l'impressione che iI mondo


odiemo ripeta «ciõ che accadde intomo alla biblica tor·r e di Babele »
e precisa anoora che lo studio deI latino «per i saceJ:1doti e i piu colti
fra i fedeli [ ... ] non esclude l'uso ordinario ed accurato deIle lingue
di tutti i paesi» 22 . Prescindendo per un momento ancora dalla costitu-

18. Discorsi Messaggi 'Colloqul di S. Santità Giovanni XXIII , Città deI Vaticano
1960-1967 (indicati in seguito con DMC ed il numero deI volume) , cf. DMCl 129-133
e DMC2 271 per la definizione deI latino come semplice rives timento deI magistero
pontificio.
19. DMC1 234-235.
20. E il 26 gennaio 1961, nel corso deI pellegrinaggio della Colombia, DMC3 515,
21. DMC3 457.
22. DMC3 457.
538 A. MELLONI

zione, Giovanni XXIII interviene nuovamente sul latino solo in relazione


alla scelta della língua da usare in Concilio: ii 20 gLugno 1961 indica
il latino come língua ufficia'le, ma sancisce che
si necessitas poscet, etiam vulgato sermone sententÍ're et cogitationes
exprimi et colligi poterunt.

L'indicazione, disattesa pai daI regolamento deI concilio che avrebbe


imposto ii latino per tutti i Padri, non verrà piu ripresa nemmeno daI
pontefice che accetta ii latino come strumento pratico della cQlIIluni-
cazione, senza aJIlnettervi alcun s,i gnificato ideologico, il che doveva
risultar già chiara daI momento in cui s'era mdirizzato (come vescovo)
in itallÍano aI Sino do Romano, delle cui decisioni era uscita una edizione
bilingue sul modelJo di quanto fatto a Venezia 23.

II. STRUTTURAZIONE E CONTENUTI


DELLA VETERUM SAPIENTIA

Proprio questa indisoutibi,l e rarefazione e levità d'accenti rese pm


forte la sorpresa davanti alla Veterul11. Sapientia. II papa dà iI primo
annunoio deUa costituzione il 23 geJ.lnaio 1962 aLIa chiusura dei lavOlri
del1a III ,sess1one della commissione centrale per ]1 concilio ed aHa
vigilia della promulgazione deI l11.otu proprio coI quale veniva fissata
all'll ottoblle successivo la data d'apertura deI sinodo genemle; ii papa
comunica che sarà presto pronta un'esortazione aI clero ed ai fedeli
per chiedere 1e preghiere di tutta la chiesa in vista deI conciLio. Oltre
a questa ,e pistola, che pertinet ad Concilium , il papa aunUlllcia U!l1

23. Sulle analogie fra il I Sinodo Romano e Veterum Sapientia come tentativi
di strumentalizzare iI papa a discapito della libertà deI concilio, e sulla scelta di
Roncalli di tutelare quella libertà eVÍJtando di elaborare un «progetto» deI concilio
stesso d. G. Alberigo, Giovanni XXIII e iI Vaticano II, in Papa Giovanni ... ; sulla
lingua delle discussioni cito l'intervento in DMC3 328, ma cf. poi DMC3 457; DMC5
5-6 e Giornale 759; l'idea d'usare solo iI latino ma con la traduzione simultanea era
di Cicognani, cf. R. Trisco, Il cardinaIe AmIeto Cicognani, in Giovanni XXIII:
transizione deI papato e della chiesa 83,
LA VET ER U M SAPI EN Tl A DI GIOVANNI XXIll 539

seoondo testo (di cui non e ancor chiaro il genere letterario) che non
viene coHegato aI concilio:
Alterum documentum ad linguam la tinam patinet, ut magis magisque
in sacris Seminariis incrementa capiat usus huius lingu<e, qure Romanre
Ecc1esire propria est, et cuius cultum pnesertim sacri administri , debita
ratione habita consuetudinum et necessitatum rituum alius língua!,
religiose servare ac promovere tenetur 24.

La commissione aveva discusso anche deI problema deI latino


liturgko 25, dibattutto non solo in fase diredamo!O.e dello schema sulla
liturgia - su cui torneremo - ma anche nella sottocommissione per le
chiese orienta li presieduta dallo stesso segretario di Stato, cardinaJe
Oioognani 26: infi!O.e esso non era stato senza eco neUa. ben piu aspra
discussione suBo schema di una «nuov,a» pLrofessione di fede a cui ii
cardinali Ottaviani ed il suo entourage annettevano grande importanza
per imprimere una diversa direzione di marcia aI concilio ormai
imminente TI .

Struttura della costituzione

L'andamento complessivo di Veterum Sapientia, che ii papa pre-


ammndà un mese prima delll a effettiva promu1g~e, era assai confuso,
frutto ev.idente di un lavorio di aggiustameDJt:o: i'll assenza di tracce
documentarie consultabili di una opposizione (o di una adeguata infor-
maziOllJe) deI pontefice nei mesi i'll cui si deve essere sv<iluppata la
stesura, si deve ipotizzare che l-a oostitumone sia stata già oggetto di

24. Cf. DMC4 147, il discorso intero 143-148: si noti che il 25 gennaio il ponte-
fice aveva citato ed annunCÍato nuovamente la Sacr.re Laudis, ma non la costitu-
zione apostolica, ivi 643. Giovanni XXIII ha pubblicato ben 249 costituzioni
apostoliche, fra cui la Sollicitudo, per promulgare iI sínodo romano e la Humana!
Saiu tis per convocare il concilio; sulle caratteristiche deI genere Ietterario d .
R. Metz, Les sources du droit, in G. Le Bras, Le droit et les institutions de l'église
catholique latine de la fin du XVIII' siecle à 1978, Paris 1981, 158-159.
25. «ln pontifícia commissione, orientalium Ecclesiarum rebus consulenti,
relatum est de Ecclesire sacramentis, de sacris ritubus, de Patriarchis, de commu-
nicatione in sacris ac de língua vuIgari in sacris Liturgiis adhibenda; denique
qurestiones theologicre institutre suIllt de fidei deposito integre ac fideIiterque
custodiendo » DMC3 145-146.
26. Sul quale cf. R. Trisco, l1 cardinale Amleto Cicognani ..., 81-83.
27. CL A. Indelícato, La «formllla nova professionis Fidei" nella preparazione
dei Vaticano II, in Cristianesimo nella storia 7 (1986) 305-340. .
540 A. MELLONI

contras ti fm gli esteIlsori stessi, - vi vanno se~adubbio contati ex afficia


il p. Ciappi, i mons. Todini e DeI TOIl, ed imfi.lne iI cardo Bacci 28.
La costituzione si apre con l'elogio della cultura classica come
preparazione evangelica d'ispirazione tertuUiJanea 29, per pói deviaa:-e
subito sul tema dell'ordinacrnento cristiano deI mondo 3(\ favorito daI
latino piuttosto che dane altre lingue orie!IltaJli. Si passa ad UJn argo-
mento stor100, cioe la unità linguistica dei mondo romano, per poi
ri tornare all'humanitatis cultum proprio deI latmo, annoverato fra
le ragioni che fanno di quella lingua lo strumento di comunicazione
degli ecclesiastici con la s. Sede 31.
Senza alcun legarrne cOon quanto detto precedentemente, s'inserisce
qui un commento autosufficente e sp.roporzionato all'epistola Officiarum
Omnium di P,i o XI sul1a UJl1IÍversal1ità, immutabilità e nobiltà delI a
lingua latina non privo di accenti rosm1niani 32: per la universalità si
va addirittura a rilprendere 1a definizione deI Vaticano I daI CIC 218 § 2
sulla potestà veramente episcopale, orolinaria ed immediata deI romano

28. II ristabilimento della prassi di curia viene annoverato fra i caratter i


salienti deI pontificato róncalliano da A. Riccardi, Dalla chies a di Pio XII alla
chiesa giovannea, in Papa .Giovanni ... , 139.-145. Bacci faceva parte delle congre-
gazioni deI Concilio, dei Riti, dei Religiosi e dei Seminari; Ciappi, teologo della
segretaria di Stato e Maestro dei ~acri palazzi, era consultore ai Riti; DeI Ton era
segretario delle Lettere latine, aiutato da G. Coppa; sulla segreteria cf. G. Alberigo-
A. Melloni, Gaudet Mater Ecclesia (11 ottobre 1962), in Fede Tradizione Profezia.
Studi su Giovannni XXIII e il Vaticano II , Brescia 1984, 190-192 e 232-233.
29. «Veterum sapientia, in graecorum romanorumque inclusa litteris, itemque
clarissima antiquorum populorum monumenta doctrinre, quasi quredam prrenuntia
aurora sunt habenda evangelicre veritatis , quam Filius Dei, gratir:e disciplinr:eque
arbiter et magister, illuminator ac deductor gener.is humani; bis nuntiavit in terris,
ecclesire enim patres et doctores, in prrestantissimis· vetustorum illorum temporum
memoriis quandam agnoverunt animorum prreparationem ad supemas suscipien-
das divitias, quas Christus Iesus in dispensatione plenitudinis tempo rum (Eph. 1, 10)
cum mortalibus ' communicavit», DMC4 965.
30. «Ex quo illud factum esse patet, ut in ordine rerum christianarum instau-
r ato nihil sane perierit, quod verum, et iustum, et nobile, denique pulchrum
ante acta srecula peperissent» DMC4 965.
31. «Sure enim sponte ' naturre lingua latina ad provehendum apud populos
quoslibet omnem humanitatis cultum est peraccommodata [ ... ]. Ri namque eccle-
siastici viri, ubicumque sunt gentium, rom anorum sermone adhibito, qure sunt
sanctre Sedis promptius comperire possunt, atque cum ipsa et inter se expeditius
habere commercium» DMC4 966.
32. 1 agosto 1922, AAS 14 (1922) 452; cf. Rosmini, Delle cinque piaghe ..., 74 .
LA VETERUM SAPIENTlA DI GIOVANNI XXIII 541

pontefice 33, anche se eon una pieeola clausola sulla diversità dei riti 34;
la immutabilità delIa lingua fomisee lo spunto per un ulteriore affondo
sulIa immutabiHtà tanto della dottrina ehe delIa sua stessa forma 35.
Con un n~ovo salto rispetto alIo seorrere deI diseorso si passa al
valo'r e pooagogioo deI latino, su oui hanno attirato l'attenzione i romani
pontefici: per avvalorare la tesi vengono interpolate in un periodo, già
dotato d'U1II!a sua struttUJ'a, una raffica di citaúo:rui di sinodi provinciali,
tutti perà appartenenti agli anm 1806-1863 36 • Subito dopo, infatti, si

33. «Nam cum ad ecclesiam Romanam necesse sit omnem convenire ecclesiam
cumque summi Pontifices potestatem habeant vere episcopalem, ordinariam et
immediatam tum in omnes et singulas ecclesias, tum in omnes et singulos pás tores
et fideles cuiusvis ritus, cuiusvis lingure, consentaneum omnino videtur ut mutui
commercii instrumentum universale sit et requabile» DMC4 967.
34. «Maxime inter Apostolicam Sedem et ecclesias, qure eodem ritu latino
utuntup>, DMC4 967.
35. «Neque solum universalis, sed etiam immutabilis lingua . ad ecclesiam adhi-
bita sit oportet. Si enim catholicre ecclesire veritates traderentur vel nonnullis vel
multis ex mutabilibus linguis recentioribus, quarum nulla ceteris auctoritate
prrestaret, sane ex eo consequeretur; ut hinc earum vis neque satis sigilificanter
neque satis dilucide, qua varietate ere sunt, omnibus pateret; ut illinc nulla
communis stabilisque norma haberetur, ad quam ceterarum sensus esset expen-
dendus. Re quidem ipsa, lingua latina, iamdiu adversus varietates tuta, quas
cotidiana populi consuetudo in vocabulorum notionem inducere solet, fixa quidem
censenda est et immobilis; cum novre quorundam verborum latinorum significa-
tiones, quas christianarum doctrinarum progressio, explana tio, defensio postula-
verunt, iamdudum firmre ere sint ratreque» DMC4 967-968. La formulazione potrebbe
essere ripresa da uno degli articoli della professio su cui si discuteva in quelle
settimane, cf. Indelicato, La formula ... , 338: si veda invece la distinzione fra
sostanza deI deposito della fede e rivestimento formulata nella allocuzione d'aper-
tura deI Vaticano II nella mia sinossi delle redazioni in Gaudet Mater Ecclesia ... ,
267-269.
36. «Neque vero cuique in dubio esse potest, quin sive romanorum sermom
sive honestis litteris ea vis insit, qure ad tenera adulescentium ingenia erudienda
et conformanda perquam apposita ducatur, quippe qua tum pnecipure mentis
animique facultates exerceantur, maturescant, perficiantur; tum mentis sollertia
acuatur iudicandisque potestas; tum puerilis intellegentia aptius constituatur ad
Olnnia recte complectenda et restimanda; tum postremo summa ratione sive
cogitare loqui discatur. Quibus ex reputatis rebus sane intellegitur cum srepe et
multum romani Pontifices non solum lingure latinre momentum pnestantiamque
in tanta laude posuerint, sed etiam studium et usum sacris utriusque cleri admi-
nistris prreceperint, periculis denuntiatis et eius neglegentia manantibus. lisdem
igitur adducti causis gravissimis, quibus decessores nostri et synodi provinciales»
a cui segue la lista di 8 sinodi provinciali, DMC4 968-969: nel discorso deI 23
542 A . MELLONI

ritorna aI magisrtero pontificio elencando i cinque discorsi di papa


Giovanni in cui il tema del latino e stato toccato (appunto in rapporto
allaeducazione della gioventu) 37.
Seguono infine 8 al'ticoli dispositivi, sostanzialmente ripetitivi
rispetto alIa no:ro:nativa canonistica, ma resi piu aspri dalIa estrapola-
zione e ridefinizione: 1) i vescovi devono vegliare per l'applicazione
Apostolicae Sedis voluntati studiose obsequantur et hisce nostri prae-
scriptionibus; 2) si proibisce di scrivere contra linguam la tinam sive in
altioribus sacris disciplinis tradendis sive in sacris habendis ritibus
usurpandam; 3) a norma del cano 1364 e richiesta ai chierici la cono-
scenza deI latino; 4) illatino deve avere un posto speciale nel curriculum
affinché non accada che de linguae latinae cultu aliquatenus detractum
sit, cum germanae firmaeque doctrinae detrimento; 5) si roccOlmanda
l'insegnamento in latino per tutelare la fOI1mulazione dogmatica 38; 6) si
provvederà aLla costi,tuzione dell'Accademia latina, per l'aflricchilJIlento
dei vocabolamo, cos1l1tuita da esperti di laTImo e di greco (che appaiono
qui all'improvviso); 7) ex abrupto si v.a ad insistere sulla importanza
dei greco come lingua hiblica raccomandata daI magistero e come lín.gua
della grande parbristioa 39; 8) si ol'dina al1a congregazione dei Seminari
di preparare i progmmmi di dattic i per l'insegnamento.

gennaio alIa commlSSlOne central e , ivi 146, il papa aveva accennato all'"apporto
che poteva venire dai sinodi e concili provinciali, menzione che deve aver indotto
i redattori alIa imprevista addizione.
37. Si citano i discorsi «ad conventum internat. ciceronianis studiis prove-
hendis, 7 septo 1959 [DMC1 234-235]; cf. etiam alIoc. ad cives dioecesis Placentinre
Romam peregrinantes habita, 15 apr. 1959 [OR 16 apr. 1959]; epist. Pater Miseri-
cordiarum, 22 aug. 1961 [AAS 53 (1961) 677]; alIoc. in sollemni auspicatione colIegii
insularum Philippinarum de Urbe habita, 7 oct. 1061 [OR 9-10 oct. 1961]; epist.
Iucunda Laudatio 8 dicembre 1961 [AAS 53 (1961) 812]».
38. «Maiores sacrreque disciplinre, quemadmodum est srepius prrescriptum,
tradendre sunt lingua latina; qure ut plurium sreculorum usu cognitum habemus,
aptissima existimatur ad difficillimas subtilissimasque rerum formas et l1otiones
valde commode et perspicue explical1das; cum superquam quod propriis ea certis-
que vocabulis iampridem aucta sit, ad integritatem catholicre fidei tuendam accom-
modatis, etiam ad inanem loquacitatem recidendam sit non mediocriter habilis»
DMC4 971.
39. «Cum autem lingua latina sit cum grreca quam maxime coniuncta et sure
conformatione naturre et scriptorum pondere antiquitus traditontm, ad eam
idcirco, ut srepe numero decessores administri iam ab inferioris et medii ordinis
scholis instituantur; ut nempe, cum altioribus disciplinis operam dabunt, ac
prresertim si aut de sacris Scripturis aut de sacra theologia academicos gradus
appetent, sit ipsis facultas, non modo fontes grrecos philosophire scholasticre, quam
LA VEl'ERUM SAPIEN1'lA DI GIOVANNI XXIII 543

eli antidoti interni

Si trart:tava quindi di un testo pieno di strozzature, sovrapposlzlOni,


inserti, tracce di una redazione difficile, prezzi od antidoti (secondo
i diversi punti di vista) alle letture ideologiche della costituzione. ln
assenza deI permesso di accedere a docull1lenta2'Jione di prima mano si
deve os!s ervare l1iIl ripetuto Diferimento i) alle Hngue orientali, ii) ai riti
non latini, iii) aI greco como canale de eomunicazione eon la Serittura
e la teologia part:.ristica.
La disomogeneità fra Veterum Sapientia e iI restante corpus gio-
vaIlllleo induoe a fO!Pffiulare npotes,i che questi tre echi fossero agli occhi
deI papa gli antidoti ~deboli) rispetto aI vera nodo che la costituziorne
voleva porre. La questione deI latino era solo un veicolo entro iI quale
un gruppo interno alla eUDia romana, capace di ottenere iI consenso
deI pOI1!tdioe, voleva far passare nel magÍlsteroronca:lliano passi, posi-
zioni, irnoiSli, utiLizzabili nel complesso deI dibattito teologico preconci-
liare. II papa potlrebbe dunque aver consapevolmente scel:to una risposta
(morbida» a tale istanza, 1imt1tarrldoSli aI ridimensionamento delle pretese
dei testo che gli venÍ\'la sottoposto: propmo neI cliscorso tenuto iI giorno
della promulgazlÍone paI'ticolarrnente soIenne della costirtuzione, iI 22
febbmio 1962, festa del1a Cattedra di s. Bietro, iI papa pare cercare
aI documento una coll00azione di basso profilo, Iodando le lingue
s1ave ed iI greco 40. Egli e meno rígido di quanto non fosse stato iI 23
gennaio nell'esoludere la nuova cosltÍJtuzione daI quadro della prepara-
zione dei concilio, ma definisce quel futuro evento come restauratia
et renovatio universalis Ecclesia!. a partire da tre punti (la pietà, la
catechesi, la esemplarità del1a v.ita er~s1Jiana) antipodioi rispetto a quelli
di carattere dogmastico e di ,im.:doIe repressiva che i redattori e ispiratori
di Veterum Sapientia oonsidemvano capitali. AIllche illl altri discorsi di
quelle settimane iI ponbefke si adopera per prevenire o impedire letture

appellant, sed ipsos sacrarum Scripturarum, Liturgire, ss. Patrum grrecorum primi-
formes codices adeundi probeque intellegendi» 972.
40. DMC 170-171. Si noti, ad esempio, che il papa aveva insediato Ie commis-
sioni preparatorie deI concilio ii 13 novembre 1960 assistendo alla solenne liturgia
in rito bizantino sI avo, cf. AAS 52 (1960) 958-964.
544 A. MELLONI

massimaliste di Veterum Sapientia; 10 fa ii 21 gennaio nell'udienza


dei rappresentanti del1e istÍltuzioni scolastiche dell'America Latina:

Tra le esperienze avute durante i periodi dei suoi soggiomi, aI servizio


della s. Sede, nel vicino oriente il pontefice ricorda con 's oddisfazione
quella che lo indusse a vaIorizzare subito la lingua e gli usi dei Paesi
in cui dimorava promuovendo sempre tutto quanto puà costituire
principio di vera fraternità 41 ..

Di nuovo, il 17 febbraio, Giovanni usa toni assai forti" davanti ai comi-


tato perma:nente dei congressi internaúonaLi per l'apostolato dei laici:

Egli [scil. iI papa] vede le numerose delegazioni [ ... ]. Ardente ne e lo


spirito, vivida la fiamma: e non limitati daI gran numero di regioni
in cui Vattività si svolge o d,ai tanti idiomi diversi; bensl sempre
partecipi della stessa presenza della ' Chü:sa neI moildo intero. Questo
concetto di universalità sta per ricevere una nuova conferma, e sarà
posto in ancor piu chiara luce in occàsione deI Concilio. Una fid es :
unica la fede in tutte le anime e per tutti i popoli anche se con
diversità di tradizioni, linguaggi, consuetudini. Non si tratta certo
di livellare o di esigere uniforme manifestazione di attività; si vuole
invece, e con ogni impegno, portare ovunque nuovo ardore di insegna-
mento e di pratica deI Vangelo; promuovere dappertutto un rifiorimento
di vita cristiana 42.

Infine, il 25 aprile, !Ilell'udienza per l'anniversario dei Seminario regio-


nale campal1O, il papa esorta i seminarnsm alia sai1tità, ometltendo ogni
riferimento alla costituzione di due mesi prima:

II mondo aspetta dei santi: questo soprattutto. Prima ancora che dei
sacerdoti coI ti, eloquenti, aggiornati, si vogliono sacerdoti santi e
santificatori 43.

Analisi lessicologica

La presenza di contraddizioni interne (gli antidoti), di ridimensio-


namenti esterni aI testo e la oggettiva eterogeneità della Veterum
Sapientia rispetto aI complesso dell'insegnamento roncalliano, coita

41. DMC4 641.


42. DMC4 646-647.
43. DMC4 237-239.
LA VETERUM SA PIENTlA DI GIOVANNI XXIII 545

tanto allora che oggj.44, richiedono d'essere poste in termini critiei:


la autenticità «canonica» delIa costituzione infatti, non puà esser messa
seriamente in causa, né ci si puà limitaI1e a rilevarne le debolezze
strutturali. Bisognerà da un lato quantificare eon precisione ·il suo grado
di omogeneità letteraria-formale con la restante produzione giovannea,
specie quella in latino; e dall'altro bisognerà ool1oeatre la costituzione
nel quadro delle fortissime tensioni e discussioni che caratterizzano i
13 mesi compresi fra l'avvio dei dibattiti sugli schemi nella commissione
pmparatoria centrale (novembre 1961) e la fine della I sessione deI
Vaticano II (8 dicembl'e 1962): solo cOSI si potrà avanzare una seria
ipotesi di risposta ai «pel'ché?» posti da Veterum Sapientia.
La attribuzione dei testi sulla base di parametri stilistici quanti-
ficabili nell'uso deI linguaggio e uno dei portati pili recenti della
linguistica computazionale - ma anche l'unica strada pmticabile, alIo
stato della documentazione, per avventurarsi all'interno delIe fonti delle
grandi segreterie, prima fra tutte quella pontificia 45. ln questo secolo
quella della s. Sede e cara1:lterizzata, anche rispetto alIe altre grandi can-
celIerie, dalI'uso d'una lingua diversa sia dalla lingua madre delI'autore
formale dei testi stessi che da quelIa dei colIaboratori di cui egli si serve:
questo gap (claunorosamente evidente ai nostri giorni anche nelIa sem-
plice lettura dei documenti ufficiali OI1Illai privi d'ogni plausibilità
letteraria) era già consumato negli anni deI pontificato di Roncalli.
II tipo di esperienza deI latino avuta da Roncalli impone una ulte-
riore cautela nelIa applicazione delIe analisi statistiohe implementate
inaltri settori: infatti non si puà semp1ioemente esarrninaI'e il corpus
latino di Giovanni XXIII, individuarne le polarità stilistiche e oerca·r e
poi di addebitarle vuoi a1la segreteria vuoi al pontefioe, proprie perché
le caratteristiche stilistiche dei testi sono tutte estranee alIa penna -deI
papa, che solo di rado scrive br~i direttamente in latino - come
conferma lo studio del1a allocuzione Gaudet Mater Ecclesia delI'll

44. Cf. le reazioni della stampa: L'Osservatore Romano pubblica ii 22 il


discorso deI papa ed ii 24 stampa in prima pagina il testo della costituzione;
i maggiori quotidiani (Corriere della sera, Le Monde, New York Times, Times)
enfatizzano l'influsso che essa avrà sul futuro concilio: addirittura The Tablet
deI 3 marzo 1962, 195-196, prevede che questa costituzione chiuderà per sempre la
discussione sul volgare, poiché Roma locuta, causa finita.
45. Cf. in altro settore cronologico gli studi di J. Hamesse, Problemes d'authen-
ticité et analyse factorielle. A propos d'un ceuvre de Saint Bonaventure, in L'analisi
delle frequenze. Problemi di lessicologia, a cura di M. Fattori e M. Bianchi,
(Lessico Intellettuale Europeo) Roma 1982, 93-109.

35
546 A. MELLONI

otItobre 1962 46 • Ainche con queste cautele emergono perà quattro dati
assai chiari: a) gli apax di Giovanni XXIII cadono con sproporzionata
abbondanza in Veterum Sapientia 47; b) le forme piu frequenti e non
funrional!i di Veterum Sapientia hanno ranghi altis-simi nel frequen-
zi'a rio deI corpus 48; c) le fonti che Veterum Sapientia invoca nou
vengono d1late mai altrove 49 ; d) i contrari deglli aggeJttivi di Veterum
Sapientia sono talmente ben attestati nel corpus roncalliano da far
dubÍ!llare delle ragioni della 10ro assenza dalla costituzione so.

III. IL CONTESTO STORICO

La costituzione ha quindi un grado assai flebile di autenticità for-


male: il Hnguaggio che usa e eterogeneo in misura inequivoca non solo
rispetto aI pensiero roncalliano ma anche I1ispetto agH insegnamenti
che il papa enUillcia o sottoscrive. Questo ancora non spiega perché
nell'inverno 1961-1962 si sottopone atI papa quella costituzione e perché
Giovanni XXIII la sottoscrive.
:t già stato notato che dopo la morte deI segretario di Stato Taroini,
la preparazione deI ooncilio finalmente trova quel minimo di spazio
operativo che neppure la Supermo Dei Nutu aveva concesso 51; e in questa
fase ohe balza alla ribalta della preparaZlione conciliare il segre-
tario deI s. Uffido, oardinal Ontaviani, attorno al quale Sli coagula
quella che solo dopo la prima sessione scoprirà di essere la minoranza
conciliare ed al cui interno spiccano il p. Tromp e i già citati p . Ciappi,

46. Melloni, Gaudet ... , sinossi critica.


47. Le forme apax deI corpus latino sono 28605 su 52408, mentre in Veterum
Sapientia sono 1781 su 2349.
48. Non e possibile qui argomentare questa affermazione che si ricava da una
tabella in elaborazione ottenuta accoppiando sul formario la frequenza nel corpus
a quella nella costituzione: dividendo le due cifre si ottiene lIDa scala di valori
compres a fra O ed 1 in cui le forme di valore 1 sono quelle attestate solo in Veterum
(ad es. lingure 19/13; lingua 23/12; latina 10/9; latin.re 15/8; Pius 104/8, ecc.).
49. La Otticiorum Omnium di Pio XII, soprattutto, su cui cf. intra n . 54:
e cosi anche i di~corsi di Roncalli stesso.
50. Tale riscontro e stato condotto manualmente, lemmatizzando la costitu-
zione e verificando aggettivi e parti cip i.
51. 30 luglio 1960, cf. Giovanni XXIII, Lettere 1958-1963, Roma 1978, 515 e
Trisco, Giovanni XXIII e il cardo A. G. Cicognani ... , 85-86.
LA VETEH UM SAPIENTl A DI GIOVA N NI XXIII 547

c cardo Bacci. Questo gruppo tende e pretende di egemonizzare i lavori


clelle commissioni preparatorie. FOIlmate da uomin~ non certo omogenei
a questi, esse riproducono tridimensionalmente i caratteri piu dramma-
ticamente appariscen:ti del cattolicesimo deI tempo: la disabitudine alla
discussione serena e franca, il complesso di superiorità romano innanzi
ai vescovi, un ma1celato tiJ!noJ1e davanti ai personag:gi d'Uina cUina
mortifioata da Pio XII ed irritata daI suo suooessore, ma anoom deten-
trice d'tm grande potere nel piantare ad ogni angolo de1la dottrina
cattolica i picchetti delle condanne, una diffusa difficoltà a cogLiere
la reale portata della teologia del concilio ohe Giovanni veniva elabo-
r ando, l'.i!ncertezza a proposito deI suo esrto e svolgimen:to rispetto alle
ciniche attese sulla durata deI pontMiicato, iI consenso mramente
ridiscusso su un certo numero di aspetti della realtà politica interna-
zionale ed italiana - tutto questo va tenuto presente nel leggere gli atti
preparatori di commissioni i cui membri esprimevano il 10['0 assenso
ai vari modi perfino contradditori dei oolleghi piu infiluenti ed IÍn oui
alcUl1!i dei futuri protagonisti del conoiLio accettarono fO['illulazionj e
testi che iI concilio, anche cal 10'ro contributo, spazzerà via 52.

La commissione per lo schema sulla liturgia

ln parte si distinguevano da tale soenarLO i lavori della commissione


pe r la liturgi1a, presieduta da Gaetano Cicognani, fratello deI segretario
di Stato: era l'unica oommissione in cui fosse garanti to un certo spaz:iJO
agli esponenti deI movimento liturgico i qua:li - anohe grazie alla sotto-
valutazione dei misteri neUa teologia prevalente - avevano goduto d'una
maggior libertà di rioerca: aI suo interno era stata istituita una sotto-
commisione de linguce adaptatione ad traditionem et ingenium popu-
lorum, di cui era relatoI1e J. Quasten, seglr etario G. Diekmann e con-
sultori J. Malul:a, F. Muthappa, C. Vagagginri, J. Hofinger e B. Luykx 53 .
I suoi dibatHti sono l'antefatto del1a costitUZJione Veterum Sapientia:
già all'inizio del 1961 iI segretario BugnimIi, seoondo la sua stessa
testimonianza, era stato chiamato a scagionare la sottocOlllulllÍssione
dall'accusa di essere «iI nemioo !llumero uno del1a lingua la tina », cosa
che feoe con un promemoria deI 4 marzo 1961.

52. Sulla composizione lndelicato, La formula " " 307-308.


53. Cf. Bugnini, La riforma ... , 28.
548 A. MELLONI

L'Osservatore Romano pubblicava tuttavia il 25 marzo 1961 un arti·


colo anonimo «Illatinà lingua del1a chiesa», in cui si cercava di bloccare
la libertà della discussione 54. Sucoessivamente, infatti, una nuova sotto-
commissione presieduta da mons. P. Borella - di cui perà non si cono-
scouo i membri - riprese il tema della lingua liturgica fino alIa riunione
plenaria della commissione tenuta il 12-24 aprile 1961, a cui prese parte
per poche ore anche il papa 55. ln quella sede, perà, Bugnini non volIe
sollevare il problema, pensando di dargli cosi un profilo piu basso:
sbagliava. Le proteste coDJtro quella decisione convinsero Cicognani ad
aprire un breve dibattitto nella plenal'ia in cui intervennero due teologi
statunitensi, G. Diekmann e F.McManus, sostenendo con forza le ragioni
delIa lingua materna sulla latina.

Infine prese la parola iI cardinale [G. Cicognani]: su l.ill notes aveva


raccolto daI libro deI Levitico tutti i passi che descrivono l'arca, il
tempio, iI servizio liturgico, per dimostrare la bellezza della liturgia
e la necessità di essere fedeli alla tradizione. L'esposto si esprimeva
in un misto piuttosto insolito di latino, italiano e spagnolo. Era la
dimostrazione piu eloquente della tesi della lingua volgare sostenuta
dalla commissione 56.

La commissione infine inseri uel nuovo capo I deI proprio schema,


in cui si presentavauo i presupposti dottrinali della riforma liturgica, il
suggerimento di conserva]1e il latino - ma -insiea:ne di introdurre il vol-
gare; era una misura che non rpoteva implicare pregiudiziali esclusioni,
ma solo sancire un p]1i.ncipio di gradualità: lo schema in questa forma,
dovuta in parte alIa penna di C. Vagaggini, venne sottoposto aI ca:rdinale
G. Cicognani il 22 gennaio 1962, proprio alIa vigilia delIa riuI1lione delIa
commissione centrale in cui il papa avrebbe annunciato la cost1tuzione
sugli studi latini dei chierioi; l'anziano porporato, autore di quell'inte'r-
ventoal convegni di As si si deI 1956, ·a vrebbe fi11ffiato lo schema il
1° febbmio, quattro giornã prima di momre. La pressione dei difensori
deI laino anziché calare, aumentava di inrtensità e forza: iI giorno

54. Si muoveva dalla allocuzione di papa Pio XII deI 23 settembre 1951, ma
soprattutto si insisteva sulla Officiorum Omnium di Pio XI; l'anonimo articolista
difendeva la necessità deI latino su basi «essenzialmente religiose», da cui si ricava
che esso e chi ave della tradizione, sorgente di spiritualità e mezzo di formazione;
si negava infine ogni possibilità di distinguere studio ed uso deI latino.
55. Cf. Bugnini, La riforma... e Osservatore Romano deI giorno.
56. Bugnini, La riforma ..., 36.
LA VETERUM SAPIENTIA DI GIOVANNI XXIII 549

stesso della firma della Veterum Sapientia essi ottenevano daI papa la
no mina a nuovo presidente della commissione liturgica per il cardinale
Larraona, deI tutto estraneo ai precedenti lavori e notoriamente con-
servatore in materia: egli avrebbe adclirittura cercato di introdurre
alla vigilia deI concilio ulteriori correzioni nello schema sulla liturgia
grazie aI lavoro d'una comm~ssioIl!e «personale» che lavorava in segreto
e paraUelamente a quella preparatoria. L'unico risultato di rilievo che
Larraona ottlenne concilio durante fu quello di Ímr>edire la namina di
Bugnini a segretario della corrispondente commissione conciliare (oltre
a fargli togliere l'ilJ1Segnamento al1a Università Lateranense) ed impedire
l'aooesso alla presidenza del cardinal Lercaro, che univa alla anzianità
ed alla indiscus\s a competenza iI vantaggio non trascurabile d'esser
stato eletto daI suffragio dei padri oonciliari 57.

La com missione centrale

Fra gli antefatti prossimi della Veterum Sapientia vanno nondimeno


considerate le dtate sessá.oni seconda e terza della commissione prepa-
ratoda centrale. Nella sec onda sessione si discusse infatti il oitato
progetto di UlIla formula nova professionis fidei che pei suoi estensori,
Ottaviani e T:ramp, avrebbe dovuto essere iI ddapason per accordare
tutto il ooncilio sulla nota delle condanne contro iI «modernismo»,
contro la nouvelle théologie, contro l'ecumenismo e soprattutto contro
l'impiego di formule non fissiste in materia teologica 58: era uno dei rari
sintomi di paradossale ma acuta sensibilità agli orientamenti di fondo
che Giovanni XXIII veniva esprimendo, ma ohe - cOlIIle dimostrano
questi atti - vennero oolti quasi solo dagli antagonisti. Due famosi
intervenrti dei pp. Tromp e Ciappi di que1le settimane denunciano la
p:resenza di una vera «strategia» di questa lobby in grau parte aderente
alla Accademia Teologica Romana 59: intervenendo in sedi diverse si
sperava di oreare il senso di una illusoria coralità sulle posiziond che

57. Bugnini, La riforma ... , 38.


58. lndelicato, La formula .. ., 308-315.
59. Cf. la prolusione all'anno accademico 1961/1962 della Università Gregoriana
di S. Tromp, De futuro Concilio Vaticano II, in Gregorianum 43 (1962) 5-11 e
L. Ciappi, Le attese della teologia di fronte aI Concilio Vaticano II, in Divinitas
5 (1961) 494-502, rivista della Accademia stessa.
550 A. MELLONI

poi il condlio avrebbe isolarto. Per parte sua Giovanni XXIII aveva
invece insislIi.rto fin dall'inverno deI 1960 sul fatto che iI compito del
Vaticl3:no II non sarebbe stato quello di dogmatizzare dottrine o fulmi-
nare condaIlIlie ma rinnovare ii prodígio della Pentecoste, l'incontro cal
Cni,s to vivo ed iI suo Spirito vivificante, l'annuncio della speranza 60.
n papa, inoltre, seguI le sessioni della commissione centrale, chia-
rendo ii proprio pensiero sul concilio in continuità con quanto aveva
ed avrebbe detto sul tema 61: all'interno di quei discorsi la Veterw11
Sapientia restava effettivamente sospesa nel vuoto 62 .
II problema del1a lingua latina era stato all'ordine deI giorno nei
lavori della quinta sessione, in cui si discussero i principi de1lo schema
sulla liturgia suUa cui genes i ci siamo fermati: iI dibattito e interessante
perché si svolge in una sede piu autorevole di quella in cui lo schema
era stato redatto, perché si svolge dopo la firma di Veterum Sapientia
(26 marzo -3 aprile 1962) e dopo che iI papa ha parla:t o senza sa,l dare la
costituzione aposto1ica e la preparazione deI Vaticano II, ed infine
peJ1Ché coinvolge personaggi di grande autorità e peso, i quali non
ri[lll!Ilciano ad in.tervenire sul § 24 dedicato aI volgare. II primo a fado
e iI caI1d. Spellmann: non appena si apre iI dibat1ito egLi contesta le

60. Secondo ii papa iI concilio doveva «rimettere in valore e in splendore la


sostanza deI pensare e deI vivere umano e cristiano di cui la Chies a e depositaria
e maestra nei seco-li. Peraltro la deplorazione dei traviamenti dello spirito umano
[... ] e certo grave ed anche doverosa. Dio ci guardi perà dall'esagerarne Ie propor-
zioni, sino aI punto di farei credere che i cieli siano ormai definitivamente chiusi
sopra le nostre teste, che davvero tenebrce factce sint super universam terram,
e che non ci resti ormai che cospargere di Iacrime ii nostro faticoso cammino »
DMC3 18, 14 novembre 1960.
61. Intervenne ii 7 e 17 novembre 1961 (II sessione) DMC4 37-43; ii 23 gennaio
(III sessione) ivi 143-148, ii 20 e 27 febbraio 1962 (IV sessione) ivi 154-160, iI 3
aprile (V sessione) ivi 199-201, ii 12 maggio (VI sessione) ivi 265-268, ed ii 20 giugno
(VII ed ultima sessione) ivi 384-390. .
62. All'inizio delia II sessione ii papa lamenta che «non desunt quidem, qui
timide et quasi anxie sussurrantes qUa'!rant, num orbi terrarum gravia impendeant
mala», e, commentando Ez. 2,9 preferisce limitarsi aI commento deI carmen piut-
tosto che dei vre profetici, DMC4 39; davanti alia III sessione orienta i lavori
preparatori in modo nettamente subordinato aI libero svolgersi deI concilio,
assegnando alle discussioni della commissione centrale ii compito di rendere
facilior l'opera dei Padri, ivi 146; alla IV sessione ritorna sulla centralità della santifi-
cazione come criterio formativo dei seminaristi, omettendo scrupolosamente di
citare Veterum Sapientia, cf. ivi 157-159.
LA VETERUM SAPIENTlA DI GIOVANNI XXIII 551

proposte di in:troduzione delle lingue materne nella liturgia ed attri-


buisce tale desiderio proprio ai novarum rerum studiosi ehe la Veterum
Sapientia condannava 63. La rea:liione dei presenti al1a messa in campo
della costituzione e piuttosto forte: Léger porta il suo valde placet
aH"1nt:roduzione delle lingue materne, suggere'llldo pera di introdurre
iI volgare non oome l'eccezione rispetto alLa conserv'a zione deI latino,
ma oome un paJI'allelo ad un suo uso ordinario 64. A Dopfner la IliOmna
proposta (conservare il latino/introdurre iI volgare) pareva invece valida
per consentire la fructuosam participationem dei fedeli ai mister,i 65.
Alfrink J:a elogia come exemplum prudentiCE: egli vuol cOSI esc1udere,
seppur implicitamente, un insarnabile ed insostenibile conflitIto fra lo
sohema e la reoente costituZlione, appeUandosi aI principio pastorale
deI bene delle anime sul quale certo ii consenso del papa nou poteva
nOlll essere pieno 66 . Dopo questi porporati interviene Ottaviani, che glissa
sulla questione dei latino, lasciando a Seper iI compito di a1ltaccare su
questo fronte lo schema: le lingue moderne cambiarro ortografia,
dice, e sono diffidli, rendendo ilmpos:sihile ad urr sacerdote la eelebra-
zione in una altra nazione: tuttavia Seper non cita Veterum Sapientia 67.
II capo deHo sehema viene posto ai voti, dove raccoglierà 25 consensi
e 36 modi 68: aI momento del voto, pera, il eardinal MonItini fa Uíl1.a
lunga dichiarazione con la quale p'Tende di petto, per cOSI dire, la
questione del latino a partire da I Cor 14, 18-27 sulla intelJigibilità

63. Acta et documenta (pai Aq II Prreparatoria, II/III 67: da una nota alIa
dichiarazione di voto di Larraona risulta che delIa seduta e conservata una regi-
strazione magnetica; tale documentazione, conservata alI'archivio deI concilio e
non consultabile, se non e stata periodicamente riversata, e soggetta aI deperi-
menta ed alIa dissoIuzione.
64. Ivi 7l.
65. Ivi 73.
66. «Qurestio de usu língure in sacra Liturgia est qurestio valde intricata et
multis animi sensibus onerata. [ ... ] De cetero quod in determinatis circumstantiis
ad bonum anima rum magis utile est, a Hierarchia locali optime iudicari potes!»
Ivi 76.
67. Ivi 78 .
68. NelIe dichiarazioni di voto si schierano per il placet Tisserant, Micara,
Gonçalves Cerejeira, Liénart, Tappouni, McGuigan, Gradas, A. Cicognani, Confa-
lonieri, Konig, Dõpfner, Alfrink, Da Costa Nunes, Larraona, Bea, AIbareda, Cheiko,
Felíd, Hurley, Seper, Jelmini, Suhr, Gut, Sépinski, Jannsens; iuxta mo dum Pizzardo,
Aloisi Masella, Ferretto, Coppello, Gilroy, SpelImann, Frings, Ruffini, Siri (che
invoc a iI respectus traditionis) , Quiroga y Palados, Léger, Richaud, Marella, Doi,
Santos, Landázuri Ricketts, Suenens, Ottavial1i (che s'associa a Spellmann), Di Jorio,
552 A. MELLONI

della preghiera 69. Montini, muovendo daI prinCl:plO scritturistico, non


lascia sullo sfondo la sfida di Veterum Sapientia: con grande abilità
rovescia le posizioni ponendo fra le auctoritates a favore dell'introdu-
zione di lingue diverse dal latino proprio il passo della costituzione di
papa Giovanni che menzionava le antiche lingue liturgiche. Si trattava
di un colpo di genio tattico o di un suggerimento deI papa stesso 70?
ln ogni caso Montini sfruttava con abilità consumata il debole antidoto
proposto in Veterum Sapientia, cioe l'uso nella chies a di quei vene-
randos sermones, qui in orientis pIagis fIoruerunt, e per di piu evocava
il discorso deI papa ai parroci e predicatori quaresimalisti di Roma
deI 22 febbraio 1962 in cui si sosteneva che «tutte le lingue furono e
restano rappresentate nella Chiesa».

L' atteggiamento di Giovanni davanti aI concilio

L'.a ndamento delle discussioni nella commissione centrale ed iI


susseguirsi degli interventi di papa Giovanni 71 doveva aver disilluso
chi pensava di aver rinchiuso i,l futurro concilio ed il suo primo padre
nella gabbia della Veterum Sapientia. Fin da quando aveva voluto
sottoporre a Tardini 72 l'idea stessa deI concilio, papa Roncalli non
aveva pensato di escludere la curia romana dalla preparazione - percià
non aveva voluto rifiutare la sua firma a quel docUJl11ento in cui il suo
pensiero entrava a fatica, nonostante le correzioni supravvenute nella

Jullien, Heard, Browne, O'Connor, Antezana y Rojas, Beras, Cooray, Lefebvre,


Alter (che chiede Ie Ietture in voIgare), Perrin, Bazin, Bernard, Bernier, Rakoto-
moIaIa, Verwimp; Godfrey chiede che iI concilio riporti la tranquillitas sull'uso
deI voIgare; D'Alton chiede che iI concilio vieti espressamente il voIgare all'offer-
torio, all'anafora e nella ceIebrazione dei sacramenti.
69. AC II Prreparatoria, II/III 84-87_
70. Cf. DMC4 144 in cui p. es. il pontefice dichiara alla III sessione d'aver
avuto colloqui personali sulla preparazione deI concilio; per queste date si ricordi
che s'era appena tenuto il concistoro che aveva comportato nuove nomine nella
stessa commissione; un incontro fra Montini e Giovanni XXIII deI 2 aprile e
ricordato anche nei fogli d'udienza conservati in copia in AR e ISR. Per la parte-
cipazione deI futuro PaoIo VI a questa fase cf. G. G. Montini, Arcivescovo di Milano,
e il Concilio Ecumenico Vaticano II (Preparazione e primo periodo), Roma 1985.
71. Su cui cf. Alberigo, Giovanni XXIII e iI Vaticano II .. ., 216-222.
72. Giornale 763-764.
LA VETERUM SAPlENTIA mGIOVANNI XXIIl 553

redazione. Cio che aveva tratto in errare coloro che speravano di aver
fissato una svolta nella p:reparazione delI' as sise ecumooica era la scarsa
comprensi<me dei rispetto giovanneo per la libertà deI concilio stesso,
che sa:rebbe poi apparso con chiarezza non piu imitata e disorientante
aI ffiOlIlloorto delIe vota:m.oni sullo schema sulle fonti della rivela:cione 73 .
La oon.cezione deI concilio e la tutela delIa sua libertà erano dunque
l'argine oltre il quale Giovanni XXIII non voleva spingere né le sue
idee «private» suUa agenda condliare né le sue convinzioni su questo
o quel punto degli schemi - riservando a sé un ruolo primaziale 74,
piuttosto che egemone: il gruppo che aveva ottenuto la firma delIa
Veterum Sapientia non poleva ottenere né iJ superamento di questa
barriera né la rinunzia a quel primato. Gli eventi successivi non
av:r,e bbero smentito ii vecchio pontefice: Veterum Sapientia resto un
documento ordinario sulI'insegnamento deI Latino e non interferi con
la libertà dei concilio, che legifero in modo non impositivo sia sul latino
in generaJe che su questo pun10. Giovannri avrebbe reagito ben diver-
samente in altri frangen1i remendo che la sua flessibilità pregiudicasse
la 1ibertà dei vescovi, oome quando gli s;res's i ambienti curiali, alzando
il tiro, avrebbero cercato di far filtrare come sue alcune prese di posi-
ziorne contrarie a1la concezione deI concilio stesso come «dilatazione
deg1i spazi della carità» 75; fra l'ottobre 1962 ed ii gennaio 1963, infart:ti,
si registra il caso delle «censure» aI discorso d'apertura deI concilio,
che il papa voUe ristabilire nelIa sua corI1ettezza in tema di misericol'dia
ripetendone un ampio tratto nel corso dei solenne scambio degli auguri
natalizi coI collegio cardinalizio 76 Cad aggravarlo stava la precedente
proposta di firma<re una le1tera apostoHca o enciclica De Paulo Apostolo,
da promulgarsi nel 1962 nell'anniversario deI martirio delI'apostolo,
tesa a ridimens.ionare la prassi e la dottrina del1a «medicina della mise-
rioordia» che il papa avrebbe definitivamente sancito nella stessa Gaudet

73. Si tratta d'un noto episodio delI a I sessione: la maggioranza conciliare non
raggiungeva il quorum richiesto per respingere uno degli schemi in cui risultava
messo in ombra iI ruoIo unico della ScrÍtttura nella vita della chiesa: davanti alIa
opposizione della minoranza il papa decise di derogare aI regoIamento perché
venisse rispettata la mens della assembIea, sventando cosi la manovra ostruzio-
nistica, cf. Alberigo, Giovanni XXIII e il Vaticano II ..., 241-242.
74. Cf. G. Alberigo, Giovanni XXIII profezia nella fedeltà, Brescia 1978, 71-8l.
75. DMC1 903, esortazione deI 21 apriIe 1959.
76. Cf. Gaudet Mater Ecclesia ... , cito
554 A. MELLONI

Mater Ecclesia: ii papa la aveva respinta eon fennezza annotando suJla


bozza di oui aveva preso visione ehe «in tema di misecicol'dia il papa
non accetta coneziOIlii da nessuno » 77).

IV. IL CONCILIO E GIOVANNI XXIII

II testo dello schema sulla liturgia la cui disous's ione preparactoria


era cadu:ta a cavallo di Veterum Sapientia fu spedito ai padri iI
13 luglio 1962 dopo essere stato app'ravato daI papa 78, ed ando in discus-
sione nella pricrna sessione deI conoilio: rispetto alIo schema visto
dalla commissione eentrale erano stati introdotti depauperarrnenti
significativJ, ehe Larraona aveva tentati di aggravare nel modo visto.
Dopo Ie revisioni richieste dall'assemblea 79 iI testo della redigenda eosti-
tuzione dogmatica, ohe nel suo § 36 reintroduceva le lingue parlate
nella liturgia, veniva approvato iJ 4 dicembre 1963, oon 2147 voti favore-
voli e 4 contrari 80 e sottoseritto una cum patribus da Paolo VI.
QueHo che il concilio aveva avuto davanti era un complesso problema
ermeneutico: infatti era latente iI contrasto ftra i testidello schema sulla
liturgia, una ipotesi di lettura massimaJe della Veterum Sapientia ed il
complesso dell'insegnamento roncalliano sulla universalità plurifonne
del1a ehie8'a. ln fondo $lia pa!pa Giovanni che gli estell50ri della eostitu-
zione s'él!pevano ehe iI vero scont1'O sulla Veterum Sapientia sarebbe stato
giocato nell'aula conciliare e nella deliberazione ed applicazione delle

77. AR; un caso anaIogo di censura deI papa s'era dato quando iI 13 marzo 1960
I'Osservatore Romano travisa iI pensiero di Giovanni XXIII sulla possibiIità di
far comprendere ai fedeli la liturgia e la Scrittura, pera cf. DMC3 609-610.
78. Cf. Lettere 1958-1963; secondo Bugnini, La riforma ... , 31, Giovanni XXIII
voleva che 10 schema sulla liturgia venisse approvato nella I sessione; aI cardo
Montini, aI contrario, questo appariva come iI sintomo della mancanza d'un chiara
progetto, cf. la lettera deI 18 ottobre 1962 pubblicata in G. B. Montini ... , 420-423.
79. Su esso si registrarono ben 625 interventi pronunciati o consegnati nelle
congregazioni generali tenute fra iI 22 ottobre ed iI 13 novembre 1962: iI concilio
lo approva nelle sue linee generaIissime iI 14 novembre con 2162 favorevoli,
46 contrari e 7 nulli. Cf. C. Braga, La preparazione della costituzione «Sacrosanctum
Concilium», in Mens concordet voei. Pour Mgr A. G. Martimorty à l'occasion de
ses 40 années d'enseignement et des 20 ans de la constitution «Sacrosanctum Con-
eilium», Paris 1983, 381-403, specie 388.
80. Cf. H. Schmidt, La Costituzione sulla sacra Liturgia, Roma 1966 e Braga,
La preparazione ... ; cf. Bugnini, La riforma .. ., per i modi adottati aproposito
delle lingue materne in ordine aI piu chiaro ruolo deI diritto particoIare.
LA V ET E R lJ M SIl P1 ENTI A DI GiOVANNI XXIII 555

rifonne conci1iari sulla liturgia e sul clero: e l'aula non assegnà a quel
singolo documento un significato discliminante.
Sopravviveva una ambiguità. Si puà infatti ipotizzare . che queSito
responso dell'assemblea, sviluppatosi soprattuto a partire daI primo
voto sul de liturgia, sia formato da aLmeno tre linee direttrici dagli
esiti conv,e rgenti: alcuni padtri poterono in modo piu o meno riflesso
cog1iere nella sua globalirtà l'insegnaonento di papa Roncalli, assegnando
aLIa Veterum Sapientia un peso assai circosoritto; altri colsero solo lo
scopo immediato e tangiibile del1a costituzione, esaUlrendola nelle sue
stesse disposizioni, come, in foooo, pareva essere richiesto sempre
piu spesso da Roma; altri (forse La gran parte?) interpretarono la
Veterum Sapientia nel quadro di quella diftusa sottovalutazione della
pOJ:1tata teologica del pontificato giovanneo che si veniva coagulando
e volgarizzando nell'immagine deI papa indubbiaonente «buono», ma in
ultima aJnalisi incapace di esprimere una p:ropria Iinea: cOSI come
aVJ1ebbero scavalcato Veterum Sapientia per lliIl verso, essi avreibbero
rimosso Pacem in Terris nel1a discussione deIlo schema XIII 81. L'aver
tag1iato iI nodo ermeneUltico del1a Veterum Sapientia in ques10 modo
non pJ1ivo d'aonbiguiJtà ebbe quindi gravi conseguenze sul complesso
deI oonciltio, ma non sul punto specifico del latino. Neppure neHa
redazione dei decreti suBa formazione deI clero si senti iI bisogno di
recuperare quella costituzione 82.
Approvata la costituzione de liturgia Paolo VI institUI una apposita
commissione per la esecuzione della riforma liturgica, che, daI can10
suo, amplià l'uso deI voIgare secondo lo spirito conciliare 83: dapprima
con la Istruzione deI 26 settembre 1964 che introduceva iI voIgare per

81. Si pensi per esempio alIa diffusa sordità davanti alle tematiche profonde
della allocuzione Gaudet Mater Ecclesia per cui cf. Alberigo, L'allocuzione ...
82. II concilio si occupa deI latino e deI volgare in SC 36, 54, 63 e 101 per
l'uso liturgico, in PO 13 con formula vaga ed in OE 23 per concedere anche alle
chies e orientali unite il volgare.
83. Cf. la conferenza di G. Lercaro, Il laico teologo, tenuta a Padova il 14
novembre 1968 dove il presidente deI consilium per la riforma toccava il punto
della traduzione delle anafore : «Se noi stiamo aI testo conciliare dovremmo reci-
tare l'anafora in latino. II testo conciliare preso come sta non autorizza da sé a
nortare la lingua parlata anche nella anafora. Ma lo autorizza lo spirito conciliare
che nel postconcilio e stato approfondito tanto piu e tanto meglio in quanto il
limitato uso della lingua parlata ha fatto sentire piu profondamente quello che
ne era lo scopo, cioe la partecipazionc consapevole e attiva deI popolo di Dio aI
556 A . MELLONI

le letture e tutte le parti recitate daI popolo, poi coI Decretum typicum
deI 1965 concedendo la recita delI a colIetta, delIe orazioni sulIe o.fferte
e deI post.communio; infine iI 27 aprile 1965 ed il 31 gennaio 1967
iI consilium estes e le lingue materne alIa prcefatio ed aJ.}a seconda parte
della anafora. La seconda Isiruzione deI 4 maggio 1967 confermava
stabilmente queste decisiorni 84 da cui Montini non sarebbe arretrato .

V. LA STRUMENTALIZZAZIONE ANTICONCILIARE

PamHelamente a que lIa deI concilio e di Paolo VI si veniva lenta-


mente costituendo una diversa ipotesi ermeneutica che spiegava con
iI tradiinento della tradizione il concilio ed il suo svolgimento. ln questo
quadro Veterum Sapientia ha quindi conosduto una forte e nuova
strumenrtaJizzazione.
lnfatti all'interrno delIa galassia anticonciliare si distinguono alcune
grandi tipologie ideologiche adottate da questo o quel leader in momenti
diversi e secando calendari che qui non interessano 85: una vede neI
concilio una deviazione dottrina.Ie radioale e irrecuperabile e ne addossa
a Giovanni XXIII la responsabilità; un'altra e quella che individua nella
gestione morntiniana delle sessioni II, III e IV iI momento di degene-
razione in senso progress,i sta di un concilio che Roncalli avrebbe voluto
assai diverso; un'ahDa ancora - a cui Paolo VI stesso non fu sempre
insen·s ibile e che ancor oggi ha una certa presa all'·i nterno deI rumoroso
cattolioesimo integralista - e quella ohe contesta la appIlcazione della
riforma conciliare e vede neI suo sviluppo l'i.im.gresso deI «fumo di
Satana» nella chies a ad opera di un avamposto dell'eresia.
Fra quei gruppi di disobbedienza anticonciliare che tendono a
salvare Ie «'Ínternzioni» di Giovanni XXIII, deiprimend.one lo spessore
dottrinaIe, si assiste ad una ripresa della Veterum Sapientia, presentata
come la possibilità perduta d'un immaginario concilio di restaurazione.

sacrificio. E allora e scaturita, non dalI a Iettera, ma dalIo spirito deI concilio,
attraverso l'esperienza postconciliare, la necessità delIa lingua parlata anche nelI'
anafora», cf. XI anniversario della morte deI cardinale Lercaro, Bologna 1987, 14.
84. Sulle tappe della riforma A.-G. Martimort, Langues et livres liturgiques,
in Venti anni di riforma liturgica: bilancio e prospettive (Atti deI convegno dei
presidenti e segretan delle commissioni nazionali di liturgia), Padova 1986, 851-858.
85. Per un inventario complessivo delI a disobbedienza tradizionalista cf.
D. Menozzi, L'anticoncilio, in Il. Vaticano II e la chiesa, Brescia 1985, 433-464.
LA VET ERUM SA PIEN TlA DI GIOVANNI XXIII 557

Questi argomenti sono efficacemente riassunti da una summa deI


tradizionalismo, oompilata daI ticinese Romano Amerio nel 1985 86 la
cui farraginosa completezza puà esemplificare tale linea di tendenza. Egli
annovera la Veterum Sapientia fra gli argomenti che dovrebbero
svelare l'«esito paradosso deI Concilio»: Amerio sostiene che «la ravina
della latinità conseguita aI Vaticano II si accompagnà a molti sinrtomi
di autodemolizione della Chiesa deprecata da Paolo VI», attribuendo aI
latino come segno esteriore iI compito di preservare l'intimo della
chiesa. Seoondo Amerio (che dimentica p. es. la Mater et Magistra e la
Pacem in Terris) la costituúcme fu promulgata con solennità «che nOIJ1
hanno pari nella s:toria di ques,t o seoolo»; l'autore assegna alla cosrti-
tuzione un valore generale (<<una affermaúone di continuità») - tacendo
iI molo che essa dà aI gIleco ed alio slavo.
E significativo che l'autore (la cui opera dovrebbe difendere la
natura «soprastorica e soprannaturale» della fede cristiana) accetti acriti-
camente una vaga «oontinuità fra iI mondo di pensiero in cui visse la
sapienza antica, veterum sapientia appunto, e iI mondo di pensiero
elaborato appunto dopo la rivelazione deI Verbo incarna'Ío ». Fra gli
árgomenti che dovrebbero spingeI'e ad una piu serena accettazione deI
latino specie nella liturgia come lingua non particolare egli annovera
anche l'esempio dei popoli deI terzo mondo «venuti dopo la guerra
alla unità nazionale: essi hanno tutti adottato come lingua officiale
non qualcuna delle lingue nazionali, bensl l'inglese o iI francese che
furooo le lingue dei loro oolonizzatori, anzi incivilitori [sic!] ».
Dimenticando che illatino e stato lingua parlata fuori dalla liturgia,
lingua coIta, in evoluzione e che a nessun teologo medievale venne in
mente di scrivere in aramaico per eSlprimersi «~n una lingua in qualche
modo immutabile», Amerio e i tradizionalisti attaccano sopmttutto la
riforma liturgica, venuta per iI prevalere di «spiriti di desistenza e di
Haochezza», inrtroduoendo una dis.tinzione fra il comples,s o degli atti
conciliari di Giovanni XXIII e Paolo VI ed alcuni interventi singolari,
come e iI casb della Veterum Sapientia o di due allocuzioni montiniane
deI 1969-1970 87.

86. lota Unum. Studio delle variaúoni della Chiesa cattolica nel secolo XX,
Napoli 1985.
87. Testimonia della energia degli ambienti tradizionalisti sia l'allocuzione in
Osservatore Romano, 27 novembre 1969, che ii discorso di Paolo VI dei 18 gennaio
1968 in cui ii pontefíce si doleva della abolizione dei latino nelle scuole secondarie
inferiori delIa Repubblica italiana, anche se senza citare Veterum Sapientia,
cf. Insegnamenti di Paolo VI, Roma 1969, VI 30.
558 A . MBLLONI

Inflne si sostiene che lo scapo del1a «fennezza» degli 8 canoni


della costiltuzione era quello di «procurare una generale reintegraziQlI1e
della latinità neUa Cmesa», da attuarsi, secondo l'Amerio, sul modello
del1a legisl'a zione scolastica iltaliana deI Gentile, nell'applicaziane della
qual'e iI regime fascista oontrinse gH insegnanti «a oonformarsi o dimet-
tersi» 88. Dopo aver citato il volume deI Winninger 89 cosi conclude:

II Papa, che prima instava, ordinà che non se ne esigesse [scil. della
costituzione] l'esecuzione ; quclli a cui sar ebbe toccato per officio di
renderia efficace, secondarono la fiacchezza papale e la V eterwn Sapien-
tia, di cui erano state cosi altamente esaltate le opportunità e utilità,
fu deI tutto abrasa e 110n e citata in alcun documento conciliare 90.

CONCLUSIONI

Chiudendo e forse utiIe fermarsi ancora sul problema che stava


a monte della presente espIorazione su Veterum Sapientia, e cioe il
rapporto vissuto dalla chies a ca1'tolica contemporanea fra liturgia,
cultura, educaúone alla universalità.
La consapevolezza della universaIità dell'annuncio cristiano in
questa età e stata inversamente proporzionale all'insistenza sulla unicità
deHa sua espressione lingui,s tica; anzi s'e visto che l'accentuazione della
necessità dell'uso d'una sola língua e stata oondotta prescindendo daI
problema d'una necessaria alimentazione degl~ spiriti aUa grande tradi-
ziane firlosofica, soprattutto greca, ma anche latina, ed alla grande tra-
dizione teologica orientale ed occidentale.
Veterum Sapientia diagnostkava retoricamente un bisogno d'unità
e di comuniane del1a famigl:ia umana, a cui Giovanni XXIII aveva ed
avrebbe dimostrato grande attenmone, fino a dedicargli amrpio spa2'JÍO
nel1a aHoouí'Jione d'apertura deI conoilio, indioando nd1a comunione
una nota coessenzi,a le alla narur.a deUa chiesa COifie Catholica. II con-

88. lota Unum ... , 51-54 e 514-528: temperando il proprio rigorismo l'Amerio
dà la traduzione italiana in nota delle sentenze latine che cita ...
89. P. Winninger, Langues publiques et liturgie, Paris 1961.
90. Su quest'ultimo punto si noti che anche JEtema Dei Sapientia non e mai
citata daI concilio e Ad Petri Cathedram solo una volta.
LA VE1'ER U M SAPIENTI A DI GIO VA NNI XXIlI 559

cilio, ~estituendo la liturgia ai papolo attraverso l'introduzione delle


lingue rmaterne, ma soprattUJtto ripensando l'ecclesli ologia a partire da
un concetto plurifiorme dell'unità e da una pili attenta pneumatologia,
ha dato un primo compimento a quella aspirazione giovannea.
La 1ingua Latina, quella greca, tutta la cultura olassica (e sempre
pili La cuLtura europea occidentale in genere) hanI10 cOSI ceS'SMO di
essere il mante110 linguistico d'una ohiesa priva d'una vera e soSltanziale
unità orante e sono di nuovo la testimonÍ!anm d'un cammino nella
slt oria, d'UI1!a appassionata riceJ1Ca, d'un fecondo rapporto fra la fede
e le emture, in eui la fede pua sempre specehiarsi assUifiendo da esse
una (flONH che non pua mai essere confusa cal AOr01:, unico incor-
ruttibille ed eterno.

P. s.
L'accordo Ratzinger-Lefebvre deI 5 maggio 1988, le successive consa-
crazioru episoopali di Eoone e le scomuniche romane sui protagonisti
hanno portato avanti la discussione $lia sul complesso deI Vaticano II
che sulla validità della eucarestia celebrata in volgare, che i tradizio-
nalis:ti negano fermamente. Le 3Jmpi,e dispense loro concesse daI Pon-
tefice su qUJesto punlJo paiono segnare un nuovo capitolo della vicenda
di curi. si oecupa questo saggio (già in bozze mentre si svolgevano quei
fatti) ed altresl paiono ricorueJ1IDare che la questione deI latino non e
per i tradizionalisti problema disciplinare, ma ri!iiuto della COIIlceziorne,
in prima istanza giovannea, deI concilio e <lella chiesa.
(Página deixada propositadamente em branco)
POURQUOI L' ASSEMBLÉE DES ÉVÊQUES
DE L' AFRIQUE NOIRE FRANCOPHONE
A RECOMMANDÉ FORTEMENT L'ENSEIGNEMENT
DU LATIN ET DU GREC DANS LES SÉMINAIRES

Abbé JEAN-PIERRE BASSENE


Séminaire moyen Notre-Dame (Sénégal)

Signalons tout d'abo~d qu'il n'eXlÍ:ste pas de document écrit éma-


nant des Évêques de l'Afrique noire francophone eu ce qui concerne
l'enseignement du grec et du latin en Iettres c1assiques; mais une forte
recommandation qui est appIiquée dans les hüts puisque, du moins au
Sénéga,l, les 1ettl'es olassiques sont obligatoires au séminaire de la
6e jusqu'en 3e au moÍns.
En recommandant l'enseignement du latin et du grec, les Évêques
de l'Afrique noire francophone semblent aller à contre-courant de
I'Histoire. Leur décision, eu effet, ne manque pas de surprendre quand
on constate que, de maniere générale, 1e latin et le grec qui autrefois
étaient des langues universel1es ne jouissent pIus de nos jours du
même privilege. Cela se véI1ifie aussi bien dans les milieux intellectue1s
profanes qu'au niveau de l'Église elle-même. Les étudiants en lettres
classiques dans les universités sont devenus rares. Le latin n'es,t pIus
la langue liturgique la plus utilisée dans l'Église; néarnnoins, chose
étOllJI1ante, iI continue d'exercer. un charme réel dans bien des esprits.
Récemment, à titre d'eX'emple, nos éleves séminaristes qui ont entre
16 et 20 ans, apres une messe pendant laquelle la préf.ace a été chantée
en latiu, ont manifestée un vif intérêt pour cette séquence, et ont même
souhaité que le latin soit pIas souvent uH1isé à la messe: la beauté
incontestable des sonorités ,l atines les avait marqués. Est-ce dire qu'il
existe encore quelqUie complicité entre cette langue, tout comme le grec,

36
562 Abbé JEAN-PIERRE BASSJ;;NE

et l'âme des génératioIlJs actuelles? La réponse appartiendrait à plus


compétents que nous.
Toutefois, la décision des Évêques en oe qui concerne le latin et
le grec ne releve pas de la nostalgie du passé; ce n'est pas non plus
une question de religion. Mais, ayant été des langues universelles pen-
dant des siecles, le latin et le grec ont formé des esprits et permis à de
grands génies de s'exprimer.
De ce fait, la valeur édlllcative des langues classiques a été et
demeure, semble-t-il, incontestable, d'une parto D'autre part, les langues
anciennes sont dépositakes de tout un patr1moine que seul peut appré-
cier à $Ia juste valeur celui qui a la oonnais·s ance de ces langues. C'est
pour ces raisons, essentiellement, que les Évêques de l'Afrique noire
franoophcme recommand.ent fortement l'enseignement du latin et du
grec. Ce faisant, Hs se sont basés sur l'expérience du passé et estiment
que la valeur des langues anciennes est toujours d'actualirté.
Pour tenter d'expliquer la pos.ition des Évêques, nous évoqueront
d'abord, et d'une maniere succinte, l'importance du latin et du grec
comme langues Ulniverselles dans le passé. En deuxieme lieu, leur actua-
lité eu égard surtout à la cUllture des prêtres; enfin leur contribution
à la CiviHsation de l'Universel.

L IMPORTANCE DU LATIN ET DU GREC DANS LE PASSÉ

Pendant des siecles, le latin et le grec ont été les langues les plus
parlées de l'humanité. Les raisons de leur universalité sont nombreuses.
Elles s'expliquent entre autres par la géographie et les mouvements
de population.
Avant le latin, c'était le grec qui était la langue la plus répandue.
Le territoire qui l'a vu naitre, la Grece, est un tout petit pays. La
majeure partie de ce pays est constituée par UIlle presqu'ile qui s'avance
dans la Méditerranée. Son sol est hérissé de nombreuses montagnes.
Celles-ci délimitent çà et là quelques plaines couvertes de plantations
d'oliviers. Ce sont par exemple les plaines de Thessalie, de Thebes,
d'Athooes, d'Argos et de Sparte. Le sud de la Grece est découpé
par plusieurs golfes, tandis qu'au large des côtes surgissent de nom-
breuses iles qui parsement la mer Egée.
Non seulement la Grece est un petit pays, mais encore, son sol est
pauvre et peut di.ffidlement nourl'Ílr UIlle population nombreuse. C'est
ainsi que les grecs ont vite appri:s à chercher ailleurs les ressources
L' E NSEIGNEMENT DU LATlN ET DU GREC DANS LES Sí>MINAIRES 563

qui manquaient à leur pays. De plus, les nombreuses iles qui entourent
la Grece favorisaient les voyages maritimes, ce qui était un atout nO[l
négligeable. De ce fait, les grecs devinrent tres vite navigateurs et
voyageurs. Ils entre1'ent ainsi en relation av,e c 1es anciennes civili-
sations de l'Asie et de l'Egypte. Doués d'un esprit vif, curieux et obser-
vateur, ils profitaient vite de ce qu'i,ls voyaient et entendaient au eours
de leurs voyages. Leurs concitoyens, restés au pays, pouvaient ainsi
bénéficier de l'expérience des voyageurs. Résultat, les progres de la
civilisa1Jion furent tres rap1des.
Mais la prindpale acquisition des Grecs fut l'alphabet qu'ils emprun-
terent aux Phéniciens. I1s le perfectionnerent en y ajoutanrt les voyelles.
À cause de l'étroitesse de leurs pays, et la pauvreté de son sol, 1es
Grecs furent contraints à s'eXipatrier. Ils devinrent alÍnsi de grands colo-
nisateurs. Épris de liberté, certaiJns d'ent1'e eux quittaient leur pays,
quand ils n'aimadent pas la f0l1me de leur gouvemement. l,l s al1aient
fonder de nouvelles villes ou ils pouvaient s'organiser à leur gout.
Dans leu1's migrations, les Grecs s'établirenrt sur 105 côtes de l'A:sie
Model'lle, pUJis en Italie méridionale, ou j,lo5 fonde1'ent Naples, Tarente
et Mess,i ne, d'ou le nom de Grande-Grece donné à l'ltalie du Sud. Ils
occuperent ensUJite une grande parllie de la Sioile. ns sont presents en
Afrique, à Cyrene précisément, et fonderent même une coJonie en Egypte.
En France méridional,e ils débarquerent à Marseille; puis, ils pous-
serent jusqu'en Espagne. Cest grâce à ,c es colonies que la culture et
la civilisation grecques se repandirent tout autour de la Méditer:r:anée.
Cette culture et cette civ1lisation sont véhiculées par une langue
commune à tous les Grecs. Parce qu'ils parlaient la même 1angue, les
Grecs lisaient les mêmes livres. C'est ainsi que 1e jeune garçon d'Athenes
apprenait, comme celui de Syracuse, de Naples ou de Marseille, les
mêmes poemes raconllant les hauts faits des grands hommes et les aven-
tures des héros anoiens.
Grâce à leur génie et à leur 1angue aussi, les Grecs ont réussi à
créer une tres grande civilisation, la plus gmnde du monde anrtique.
Nous avons noté plus haut que dans leurs migrations, les Grecs se
sont ·1nstaJlés au Sud de l'ltalie que l'on a appelé la Grande-Grece.
Les contacts n' ont done pas manqué de se faire avec les Romailns qui
ont tiré profit d'une civilisallion rkhe, celle des Grecs. Ce sont ces
derniers qui enseigperent aux Romains l'alphabet qu'ils avaient em-
prunté aux Phéniciens et qu'ils avaient perlectionné. Comme les Grecs ,
les Romains ne se sont pas confinés dans leur territok.e: l'ltalie.
564 Abbé JEAN-PIERRE BASSt:NE

Ce pays, du reste, a quelques ressemblances géopraphiques avec la


Grece: c'est une presqu'lle qui s'avance au milieu de la Méditerranée
et qui présente la forme d'une botte. Sa situation centrale lui permit de
contrôler aisément la Méditerranée, et c'est là, l'une des raisons qui
eX!pliquent La gnml.deur de Rome. Mais, à la différence de la Grece,
l'Ital-ie est composée de plaines tertiles sur presque toute la partie
qui fait ,f,aoe à la Méditerranée; tandis que les plateaux de l'intérieur
sont prnpioes à la cuIture de la vigne, de l'olivier, et fourni,s sent aux
troupeaux d'exce1lents pâturages.
Si les Romains se répandirent hors des frontieres de leur pays,
ce n'est apparemment pas à oause de la nature de leur sol qui est
plutôt riche. Les raisons sont sans doute autres. Elles peuvent s'exph-
quer par leur gout de la conquête. Les Romains s'étaient, en eHet, initiés
à l'art de la guer~e au oontact des Étrusques, leurs voisins du côté
Nord de l'Italie.
Au fur et à mesure que 'les Romains conquirent des territoires,
leur langue se répandit chez les peurples voisins. Ainsi, le latin devint,
avec le grec, la langue univ,ersel1e à cette époque; et jusqu'au XVIIc
siecle, elle était encore en usage. Dans les écoles, l'enseignement se
donnait en latin et toute personne instrui te devait parler ' cette langue,
en plus de sa langue mat:ernelle, tout comme le français chez nous, au
Sénégal, ou ailleurs en Afrique, par rapport à nos. langues nationales.
Cependant, en se transformant peu à peu, le latin a donné naissance aux
langues romanes qui sont, notamment, le français, l'italri<en, l'espagnol,
le roumain, et le portugaÍ!s, qui sont, paur la plupart, des langues inter-
nationales de nos jour.s.
Nous ne saurions manquer de souligner le fait que le latin et le
grec .étaient les langues par lesquelles la cuIture des Romains et celle
eles Grecs se som eXiprÍ!mées et répandues dans l' Antiquité. Que c'est
par le latin et le grec que les philosophes de la premiere heure, ' les
hommes de science comme ceux des lettres, on transmis à leurs compa-
triotes leur pensée et leur savoir, pensée et savoir qui constituent
pour l'humanité d'aujourd'hui un patrimoine précieux.
Grâce à la littérature latine et grecque essentiellement, la cuIture
des Anoiens a pu être connue des Modernes .
Né dans le cadre de l'Empire Romain, le Christianisme a bénéficié
d'un térritoire v;aste pour se répandre, celui.même de cet Empire. Les
prédicateurs de la doctrine chrétienne pour traduire le message évan-
gélique se sont principalement servis des langues les plus courantes
de leur époque, à savoir le latin et le grec. Amsi, en s'étendant aux
L'ENSEIGNEMENT DU LATIN ET DU GREC DANS LES SÉMINAIRES 565

dimensions de l'Bmpi.re Romain, surtout à l'époque de la PAX ROMANA,


et en empruntant les langues universelles de l'époque pour traduire le
message 'év:angélique qui s'adresse à ' tout homme de bonne vo.lonté,
le Christianisme était devenu une religion universelle. Les adeptes, les
ChréHens, forment la communauté de l'Église Catholique, c'est-à-dire,
universelle.
De plus, pour défendre la foi et la dootrine chrétienne, l'Église
avait en san sein d'ardents serviteurs qui sont les Peres de l'Église:
ceux-ci se répartissent en deux groupes lingUJistiques: les Peres latins et
les Peres grecs. Leurs écrits, en latin ou en grec, sont une saurce de
référence pour le théologien d'hier comme pour celui d'aujourd'hui.

II. ACTUALITÉ DU LATIN ET DU GREC


DANS LA FORMATION DES PRÊTRES

Aujôurd'hui encare, le latin demeure la langue officielle de l'Église.


Cela implique que les prêtres la cOIN1aissent et particulierement les
pJ:1êtres africains. En outre, le prêtre est un homme de culture.
Par vocation et en vertu de son ministere, le ptrêtre est l'homme
de nous sans di,s ninction de race, de reLigion, de culture, ni même de
condition sodale. Étant Membre et Serviteur d'une communauté univer-
selle, l'Égli:se,.1e prêtre est un homme universel par vocation; iI se doit
de l'être aussi par sa formation. Pour ce faire, il n'y a rien de mieux
indiqué que la littérature et les humanrtés gréco-Iatines.
La valeur éducative du grec et du lati:n a été soulignée par plus
d'tlJIl Congres-siste. Dans ce seus, Mr. Léopold Sédar Senghor, à l'époque
Président de la République du Sénégal, dans une réponse à un .discours
de di:stJ:1ibution des Prix au Lycée de Dakar, en 1963, s'adressait aux
étudiantes en ces termes:

Cheres éleves, le latil1 - commele grec et I'arabe - parce


que discipline d' éducation, aidera à cette promotion de la
jeune fille, de la femme sénégalaise. C'est, dit l'Ecriture,
. en étant fidele dans les petites choses qu'011 l' est dans les
grandes. C'est par la version et le theme latins, que vous
apprendrez à aiguiser votre jugement, à introduire la raison
et l' ordre dans votre pensée, dans votre vie de citoyennes et
d'épouses. 1

1. ln Négritude et humanisme, éd. Du Seuil, p. 438.


566 Abbé JEAN-PIERRE BASS~NE

Ce qui est dirt pour les filles est aussi valable, toutes proportions
gaI'dées, pour ks garçons. En maints endroits de ses écrits, le Président
Senghor est revenu SUl" l'importance des langues classiques, disant,
entre autres:

la connaissance du grec et surtout du latin aide puissam-


ment à la connaissance des langues latines, dont le français 2.
Et dans une communication intitulée Langue française et identité
culturelle sénégalaise, Cheik Hamidou Kane affirme que:
nulle langue n'est plus apte à l'universalité que le français.
Ainsi donc, entre le latin et le français, iI y a un lieu vivant, voil·e
une continuité. Le latin pe11Il1et de mieux comprendre le frança~s, qui
en est issu. Les éthimologies latines abondent dans la langue française.
PaUl' les negro-africains francophones, dont le français n'est pas la
langue maternelle, la connaissance du latin peut aider à mieux mai-
tri:ser cette langue, à mieux tradu ire le'llrs pensée et culture et, partout,
à apporter leur contribution à la Civilisation de l'Universel. Le Président
Senghor, par ses poemes et ses écrhs, comme par ses discours, n'est-il
pas un exemple illustre de cente contribution? Lui-même qui dit que:

Si nous demeurons attachés à la langue et à la culture fran-


çaise, c'est que, de par ses vertus, le français est devenu, pour
nous, ce que le grec et le latin ont été pour le monde européell
jusqu'au XIX" siecle: un fondement solide de rationalité et de
clarté, partant, d' efficacité et d'humanisme en même temps. 3

Rationalirté, darté, effi,cacité et hu:manisme telles sont les qualités


que fiavorise la pratique eles langues classiques. Tout d'abord en tant que
langues, elles sont structure, c'est-à-dire, un ensemble cohérent e:t soli-
daire de parties, dont chacune est, à son taur, formée d'élements diffé-
rents: de constantes et de variables.
En outre, le latin et le grec, tangues à oas, préparent, selon l,e
Président Senghor, à la mathématique, parce que douées d'une grande
pu1Jssance d'abstraction; parce que tangues à syntaxe de subordination,
le latin et le gI'ec s'Ont des langues scienti.fiques, langues d'effiicacité.

2. ln Liberté III: La francophonie comme contribution à la civilisation de


l'Universel, p. 191.
3. Ibidem, p. 191.
L ' ENSEIGNEMENT DU LATlN ET DU GREC DANS LES Sf:MINAIRES 567

Ou'il me soit permis d'apporter ici quelques exemples: l'année


demiere, à la Session de la premiere partie du Baccalauréat, plus pré-
cisément en juillet 1987, naus avions douze admis au CoI.lege Saint-
Louis II, de Ziguinchor. Parmi les douze l,a uréats, cinq étaient du cours
classique. Et sur les six mentions obtenues par le College, quatre reve-
naient aux 1artinistes qui avaient les mentions Bien et Assez Bien. Ils
avaient fait de bonnes composi,tioI1s ausS'i bien en latiu, en fmnçais,
en histoire et géographie qu'en mathérmatiques.
L'autre exemple me concerne en personne; vous m'en excuserez ...
Apres mon ordination sacerdo tale , mOil Évêque m'a envoyé faire des
études classiques à l'Univepsité de Dakar. La plupaJit de mes condis-
ciples au département étaient des musuJlInans (je signale, au pas's age,
que le Sénégal est un pays à 80% musulman). Parmi les auteuI'S au
programme des études, figuraient des aureurs cnrétiens, dont Saint-
Augustin, av,e c sa Cité de Dieu. Mais, en aucun momeIllt, je [l'ai senti
chez mes collegues une quelconque répulsion, ni quelque réticence;
mais plutôt une grande ouverture d'esprit, un vif ÍIIltérêt devaIl!t une
maniere de parler de Dieu et de concevoir le monde et la vie diffé-
rente de celle de leur propre religion. Et même, certains d'entre eux
avaient choiS'i pour l,e ur licence ou lem sujet de maitrise. .. Saint-
Augustin .
La conclusion que j'en tire eS't que grâce à la littérature latine, le
dialogue islamo-chrétien et J'.esprit de tolérance reLigieuse, tant prônés
au Sénégal s'étaient spontanémenrt établis pa:rmi nous. Et le pretre que
je suis ne s'était jamais senti étranger au milieu de ses condisciples.
En plus de leurs caractérisrtiques qu' on pour~aÍ!t qualitiier d'intdn-
seques, le latin et le gpec offirent d'autres atouts et, oe, du fait que ce
ne sont pas des langues facHes. Devant les difficultés d'un texte 1atin
ou gI'ec, on peut cultiver les qualrirtés d'humiLité, de patience, de l'efilort
gratuito On peut également développer l'esprit d',a nalyse et de méthode,
le maítrise de soi et l'aUention; intensi.fier la concentration; se rendre
apte à la méditation et à la traJIliScendance, à l'ouverture d'espdt et à
l'équilibre du jugement.
Parce que véhicules de tout un patrimoÍlIle, le latiu et le grec sont
des langues de culture. Et en Afrique, les Ancêtres ne sont pas morts,
pour paraphraser le Docteur Birago Diop, leur sagesse continue
d'éclairer et de guider les jeunes générations sur les chemins de la vie.
Par conséquent, nous Africains, nous nous sentons parfaitement à l'aise
avec le 1atin et le grec, déposiltailres de la sagesse des Andens.
568 Abbé JEAN-PIERRE BASSf::NE

Par rapport à la cuhure négro-africaine, la littérature latine et


grecque peut aider l'Africain à se reconcilier avec lui-même, avec sa
pI'opre culture. Les ressemblances, en effet, entre les cultures greco-
romaines et africaines sont nombreuses et f:rappantes. Elles se situent
au niveau de la religion, des rapports sociaux, des mentaJités . La cosmo-
gonie grecque, les dieux domestiques romains et les génies; la place
et le rôle du pere au ·sein de la famille -le pater familias - Ja valeur
de la salutation dans les relations huma,i nes, tout cela se retrouve, à quel-
ques différences pres, dans la sensibilité et la culture négro-africaines.
J'ajoureroi même ceai qu'en Casamance - au Sénégal- dans la
région d'eIlJampore, exemple unique en AfI'ique de l'Ouest, 11 ex;i·s te une
architecture de la case traditionnelle diola qUli évoque de fiaçon saisis-
sante l'impluvium romain: c'est la casa à impluvium qui attire chaque
année des centailIles de touI'istes.
En étudiant la lirt:érature gréco-latine, le jeune citadin africain
aujourd'hui estau cOUlrant de la mythoJogie ancienne romaine et
gI'ecque, aussi bi,e n que de la civilisation andenne du monde gréco-
romain. De ce fiait, iI apprend à connaitre et à respecter son compa-
truote de la campagne, encare attaché à ses traditions, plutôt qu'à le
oonsidérer un barbaros, UJll étranger.
Inversemen.t, l'homme de la tradition afrioaine qui a une culture
classique, est un homme d'équiHbre et de sagesse. II vit sa culture afri-
caine sans complexe ni agressivité, tout en étant ouvert aux valeurs
du monde moderne. II es1 un agent efficace de I'Ílnculturation.
Et l'incultua:"ation es'Í justement l'une des préocoupations pasto-
rales des Bglises de l'Af<rique Noire, qui veuleut incarner le message
év:angélrique dans ce contÍlnent et l'enraóner dans nos valeurs cultu-
relles, pour le vivre et l'exprimer avec l'ânne et la sensibi].i,té africaines ,
sans perdre de vue la communion avec l'Bglli se Unriverselle.
Dans cette volonté d'inoulturation, la connaissance des Saintes
Boritures et de la doctrine de l'Bglise est chose nécessrure. En recom-
mandant l'étude des langues anciennes, les Bvêques Noires veulent
accéder aux sources de I'Bglise sans intermédiaires.
Tout en ayant beaucoup d'égards pour la langue officielle de I'Bglise
qu'est le latm, les Bv,êques de l'Afirique Noire introdusent de plus en
plus dans la liturgie, à côté du chant latiu ou français, des chants
en langues nationales. Ces chants sont des expressions ferventes de leur
âme, parfois de véritables chefs-d'oeuvre. Les textes de l'EcI'iture son1
également traduits eu langues africaiil10S pour permettre - pensons-nous ,
au fidele analphabete de mieux se nourrir de la parole divine.
L'ENSEIGNEMENT DU LATIN ET DU GREC DANS LES S~MINAIRES 569

En conolusion, nous pourrions diTe que la contribution la plus


manifeste eLes langues classiques, surtout du latin, à la Civilisatio'l1 de
l'Univ,e rsel, ce sont les langues que celui-ci a engendrées et que nous
avons oitées plus haut. Panni ces langues, le français et le portugais,
pour ne citer que ces deux, sout parlées tous les jours par des .millions
de personnes de divers continents, sans distinction de couleur ni de
cuIture.
II existe même une symbiose entre les langues issues du latin et
certaines Jangues vernooulaires. C'est le cas du créoJe français aux
Antilles, et du créole portugai.s au Sénégal oú l'on tJrouve au Nord
le créo1e cap-verdien, et au Sud, le créole de Ziguinchor. Dans cette
ville, autrefois rportugaise jusqu'en 1886, date à 1aqueLle elle a été cédée
2, la 'F ranoe, en échange d'une zone de la région Nord eLe l'ancienne
Guinée française, eLans cette ville, dis-je, on pade un succulent créole,
né du mélange du portugai,s avec les langues locales.
Cette symbiose ne se situe pas seulement au niveau linguist ique.
El1ese retrouve aussi daDIs la religion catholique oú l'on s'e nt une sensi-
bilité dévotionnel1e bien Z\i.guinchoroise. On la retrouve égaJement dans
l'aJ:1t oulinad:re: }e pense au fameux yassa, du verbe assar, et au délicieux
caldou de Ziguinohor, et la carte n'est pas épuisée!
II y a aussi des traces de cette symbiose dans le folklore, eLans les
chants et dans les relations humaines; en un mot, dall1s 1a oulture.
AujoUI1d'hui, c'est avec émotion et adrrniration que l'on visite les
mines matéridles de la civiJi.sation gréco-rOifia:i.ne.
Que Dieu nous garde de la tour de Babel des mentalités! Qu'il
nous gaI1de des ruines spirituelles de ia civiHsation!
Que vive la Oivilisation de I'Universel!
(Página deixada propositadamente em branco)
LE LATIN ET LE CHANT GRÉGORIEN

JEAN CLAIRE
Abbaye de Solesmes

L'an1Jiquité gréco-latine nous a laissé 1Jres peu de monuments musi-


caux. Avec ce qui reste de musique grecque I , on ue ferait pas un
concert de cinq minutes; à peine done pouvo:ns~nous soupçonner quelles
mélodies ont pu fleU1I'ir Stllr cette langue si harmonieuse, ou comme
l'a définie un de nos poetes:
«Ce langage divin aux douceurs souveraines,
Le plus beau qui soit nê sur des levres humaines.»

Quant au latin, c 'est pke encore, et nOlliS ue sravons absolument


pas comment pouvaient se ehanter, ou tout au moms se cantiller, les
strophes saphiques d'Horace ou les tirades épiques de l'Enéide; sans
doute sur la musique grecque, puisqu'en fait d'art, Horare luã-même
nous aVlertit que le Latium n'en a jamai's connu d'autre que le grec:
«Graecia capta ferum uictorem cepit, et artes
Intulit agrest i Latio ... » 2

Cette consécration d'Wle langue par la musique, ce qru'ajoute à la


magie du verbe l'ineantation de la mélodie, l'histoire, soumise âux
aléas de la transmíssion, l'a done refusée au 1aOO classique, mai,s eHe
l'a acco~dée au latin chrétien. La langue impériaJe en effet, langue
des poetes, des orateurs, des historiens, apres avoÍtr sculpté les formules
du droit, et les maximes des phi!losophes, a été appelée, à partir du
IV" sieole de noire ere, à scUJIpter dans Ie même style les formuJes
de la priere, en devenan t la langue de la liturgie romaine, comme

1. Voir Jacques Chailley, La musique grecque antique, Paris, Belles Lettres, 1979.
2. Horace, EpUres, livre II, épitre I, 156.
572 JEAN CLAIRE

d'ailleurs des autres liturgies locales d'Ocddent dont nous aurons à


reparler, car aux premiers sieoles, chaque métropo>le avait sa liturgie,
et chaque liturgie son chant.
D' ou provenaient ces chants?
L'échel1e musicale fcmdamentale qui semble leur avoir été com-
mune, avec quelques nuances, est une forme de l'échelle pentatonique
(cinq degrés seulement dans l'ootave et pas dedemi-ton); elle se retrouve
en Chine, eu Corée, au Japon, au Viêt-Nam, en Mongolie 3; elle forme le
fond du folklore grec 4 et hongrois 5, ce qui est un indioe qu'eUe a été
véhiculée par les migrants indo-européens; enfin, to'Us les negro-spiri-
tuels authentiques 6 relevent cí'elle, ce qui étend son aire à l'Afrique
noire oocidentale, au moh1:s. Voiei pour ses ascendaooes lointaines, qui,
comme on le voit, ne manquent pas. Les ascendances proches de n os
chants liturgiques doivenrt être, en partie au moins, juives : les liturgies
chrétiennes Oilt hérité des formes liturgiques de la synagogue, et, tres
probablement, des c3llltillations de lectures et de psaumes qui y étaient
pratiquées 7. Plus précisément, nos liturgies latines occidentales se ratta-
chent au tronc syro-palestinien 8, avec des inJiluences égyptiennes et

3. Cette carte du pentatonisme anhémitonique est du grand musicologue


vietnamien Tran-Van-Khê, dans le numéro triple de la Revue Musicale consacré
à son ceuvre. Revue Musicale , 1987, n° 402-403-404, p . 121.
4. Le grand spécialiste ' du folklore grec que fut Samuel Baud-Bovy était
arrivé à cette conclusion à la fin de sa carriere. Voir son article: Le dorien était-il
un mode pentatonique? dans Revue de Musicologie, LXIV (1978), n° 2, pp . 153-179.
5. Voir K. Paksa, 'Pentatonic melodies with a narrow range in Hungarian and
Chuvash folkmusic, .dans Studia musicologica, XXVI (1984), Budapest, Akademiai
Kiado, fasc. 1-4, pp. 147-174, avec abondante bibliographie du sujet ,
6. Voir les diverses publications des Départements de Musique des Univer-
sités américaines spécialisées dans l'étude de Negro-Spiri<tuals: Fisk University,
Nashville, Tennessee 37203; Indiana University, Bloomington, Indiana 47401;
Tuskegee Univers~ty, Tuskegee, Alabama 36088. ,
7. Le point de contact le plus profond qu'on ait trouvé jusqu"à présent est
l'emplacement du melisme à l'avant-derniere distinction logique de la phrase.
On l'observe dans la cantillation biblique des Samaritains, le Gloria ambrosien,
l'évangile et la psalmodie des syriens-jacobites, etc. Voir notre article : La place
traditionnelle du mélisme dans la cantillation, dans Yuval Studies of the Jewish
Music Research Center, voI. V, Jérusalem, 1986, pp . 265-291, avec un fascicule séparé
d'exemples musicaux.
8. L'évangélisation des pays gaulois semble avoir été l'ceuvre des syriens,
et avoir suivi les voies commerciales. On trouve des évêques orientaux à Lyon
(S . Pothin, S. Irénée) des le Ire siecle; à Paris (Eusebius, Faramodus) au VI<;
LE LATIN ET LE CHANT GRÉGORIEN 573

africaim.es 9, car c'est en Afrique du nOJ:1d qu'a été d'abord pratiquée


la liturgie en la1in !o. Elles ont subi, du VIe au IXe siede, un métissage
dont sont sortis les chants que nous connaissons sous les noms, plus
Ou moins mythiques, de grégorien et d'ambrosien.

Le chant grégorien - qu' on le considere dans san prototype romain,


élaboré entJ:1e le Ive et le VIe si6cle, ou dans son remodelage franc
du IXe - est1: le «ohant propre de la liturgie rormairne» 11, et, à ce titre, un
chant typiquement latin, en ce sens que c'est le texte latin, dans son
ensemble oomme dans ses détails, qui a fouJ:1ni ses structUl'es à la
mélodie. II ue s'agit plus, à cette époque, du latin dassique, de la langue
des lettrés dans laqueUe dominaient les lois de la quantité des syllabes,
longues et breves, mais du sermo plebeus de l'époque post-classique, dans
lequel des syllabes étaient devenues pratiquemoot égales, tandis que
l'acoent ne s'était cependant pas enoore épaissi et alou:rdi, comme iI le
sera plus taJ:1d dans nos langUes romanes 12.
C'est ainsi qu'au niveau grammatical du mot, la mélodie grégo-
rienne dessine une oourbe qui monte des syllabes pré-toniques, s'il y
en a, culmine sur la syllabe d'accent, accent aigu, et retombe sur la
syllabe finale. On peut citer des pieces entieres ou les accents sont
tous situés au sommet des courbes mélodiques 13; en revanche, les cas
d'exception systématique à oette loi de l'acuité de l'accen1 sont tres
peu nombreux.
Au niveau logique de la proposition et de la phrase, on retrouve
la même courbe mélodique que sur le mot, mais dilatée et souvent

à Milan, le prédécesseur immédiat de S. Ambroise, l'arien Auxence (355-374) était


cappadocien. La liturgie hispanique dela messe peut passer pour un décalque
latin de la messe orientale.
9. Antoine Baumstark a signalé dans son ouvrage: Liturgie comparée (2 e éd.,
Chevetogne, 1953) de nombreux points de contact entre la liturgie de Rome et celle
d'Alexandrie (canon de la messe, histoire du Carêm, etc.).
10. Tertulien, S. Cyprien, Arnobe, Lactante et S. Augustin peuvent être donnés
pour les créateurs du vocabulaire juridico-cultuel latino
11. IIe Concile du Vatican, Constitution De Sacra Liturgia (1963), n° 116.
12. Dans l'hymne Gloria laus, de Théodulfe d'Orléans (t 821), les accents de
Christe .et de Redemptor sont longs et lourds, en contraste avec les habitudes
générales du répertoire grégorien authentique. (Graduale Romanum, 1974, p. 141) .
13. E. g. l'introit Exsurge, quare abdormis (Graduale Romanum, 1974, p. 91).
574 JEAN CLAIRE

pIus complexe, avec au sommet le mot principal auquel le compositeur


a voulu donner du relief 14.
C'est l'honneur de dom Guéranger (1805-1875), le restaumteur de
Solesmes, et de son technicien dom Joseph Pothier (1835-1923), d'avoir
proposé au XIxe siecle, de chanter la phmse grégoriem1e comme un
orateur déclamadt sa période, c'est ce qu'on a longtemps appelé la
«méthode bénédictine», fondée sur le «rythme oratoire» 15. Le «secret
d'exécution en somme qu'un «secret de fabrication» 16.
Cette organisation des sy1labes en mots et des mots en phrases,
trouve son pendant jusque dans la musique pur~e, dans l'organisation
des vocalises, si nombreuses dans le ohant gregorien. Ces vocalises
s'anaIysent en «,m ots mélodiques» dont 1es syllabes seraient des notes,
et en «phrases mélodiques» dOIlit les mots seraient 1es divers motifs .
Les artioulations des phrases seront précisées soit par les oourbes que
dessinent les mots mélodiques, soit, à l'intérieur de ces courbes, par 1e
procédé graphique universellement attesté de la jonction ou de la
disjonction des signes neumatiques (coupures neumatiques), qui indi-
quent des ponctuations ou des eXipressions tres finement différentiées 17 .

14. Ainsi le même texte, traité deux fois, peut être phrasé différemment.
E. g. l'offertoire Justorum animae (Grad. Rom., p. ,468) met en relief la particule
adversative autem, pivot du raisonnement: «visi sunt ... mori; alli autem sunt in
pace». Au contraire, la communion de même texte (lbid., p . 470) insiste plutôt
sur la folie de ceux qui croient que les justes, comme les pécheurs, périssent
sans retour: «visi sunt oculis insipientium mo ri ... ».
15. Voir D. Joseph Pothier, Les mélodies grégoriennes d'apres la tradition,
Tournai, Desclée, Lefebvre et C e, 1880. L'ouvrage mérita d'être réédité sans change-
ments cent ans apres (Paris, Stock, 1980), et pour la partie qui concerne le texte,
rien vraiment n'était à changer.
16. L'expression est du chanoine Jean Jeanneteau dans son article: Style
verbal et modalité, dans Revue grégorienne, XXXVI (1957), n° 4, p. 139.
17. Voir le chapitre sur la coupure neumatique dans D. Eugene Cardine;
Sémiologie grégorienne, Solesmes, 1970, pp. 48-55. De bonne heure, des le IX'-X'
siecle, des textes ont été adaptés aux mélismes grégoriens avec - iI faut le dire-
un bonheur inégal: ce sont les tropes nés d'une mélodie préexistante, l'une des
principales excroissances qui se soient développées sur le tronc grégorien. Mais
cette pratique n'était aucunement nécessaire pour que nous puissions affirmer
que toute la composition grégorienne, mélismes compris, releve étroitement du
mot et de la phrase latine. II y avait chez les compositeurs lill «instinct verbal»
dont ils ne pouvaient, ni ne voulaient, se défaire. Voir à ce cujet les pénétrantes
analyses du chanoine Jeanneteau, art. cité à la note précédente, p. 119. On trouvera
un trope parfaitement réussi, Archangelica, dans D. Eugene Cardine: Premiere
année de chant grégorien, Rome Institut Pontifical de Musique Sacrée, 1975, pp. 43-44,
repris de la Revue du Chant grégorien, 1929, pp. 1-3.
LE LATIN ET LE C HANT GR~GORIEN 575

La dépendance de la structure mélodique du chant grégorien vis-


à-vis du tex.te latin, en fait un véritable contre-point verbo-mélodique,
ou plus précisément verbal-modal. Et ceci explique combien sont
exigeantes les conditions d'adaptation d'U1ne de ces mélodies, née sur
un texrl:'e, à un autre texte, même latino Sans doute, dans la cantillation
des récitatifs, ou la part purement ll1lU'sioale est rédui,te, le rempla-
cement d'un texte latin par un autre est ohose facile, normale même;
mais des qu'on arrive aux mélodies plus élaborées, les oonditions se
font draconiennes. Cependant, un oertain nombre de mélodies qui
plaisaient à nos peres par lem éléganoe et leur équllibre, ont reçu
plusieurs textes, mais tous de même dimension, de même coupe, de
même accentuation 18. e'est ce qu'on appelle les timbres ou mélodies-
types, plus fréquents dans le style simple des antiennes de l'office que
dans les chants ornés de la messe .
Mais ce qui es'Í possible dans d'étroites limites quand il s'agit de
remplacer UJD. texte latin par un aut1re texte latin, ne l'est pratiquement
plus lorsqu'on prétend remplacer le latin par l'une ou l'autre des langues
modernes, dont les principes d'accentuation different profondément
de ceux de l'acoentuation latine. Même nos langues romanes, donc
issues du laün, ont un acoent qui, le plus souvent, n 'es,t plus l'accent
du latin ecclésiastique. La multiplication des mots oxytons, accentués
sur la finale, par suite de la disparition de la désinence latine, ou
l'apparition de l'e muet français, à la pl,a ce de la désinence san ore
latine, rendeut l'adaptation impossible: sur les mélodies de Sanctus,
Sanctus, Sanctus, par ,e xemple, on n'adaptera jamais euphoniquement
ni le masculin oxyton Saint, Saint, Saint, ni surtout le féminin Sainte,
Sainte, Sainte!
Avant de terminer cette partie teclmique de mon eXiposé, je voudrnis
dire un mot de deux cas particuhers qui illustrent bien le lien entre
le latin et la métode grégol1ierme: celui des clausules prosa'iques dans
les récitatifs, et ceI ui des textes versifiés des hymnes et séquences.
Les oompositions euchologiques romaines, des les v e_Vle siecles, se
sont naturellement coulées dans les moul,es élégants de la prose oratoire
class'i que, eu particu1ier pour les oadenoes de phrase. Les oraisons, pré-
faces et autres récitatifs usent d'un certain nombr,e de oes clausules

18. Vn certain nombre de timbres ont été étudiés dans les ouvrages de
D. André Mocquereau: Le Nombre musical grégorien, t. II, Desclée, 1928, pp. 350
et 386; et D. Paolo Ferretti: Esthétique grégorienne, Desclée, 1938, pp. 108, 165, 187.
576 JEAN CLAIRE

ou formules cursives, dont la principale, la plus fréquente en tout cas,


est le cursus planus: méntibus nostri infúnde, et san jumeau, le cursus
tardus: Incarnatiónem cognóvimus 19. Les m,usiciens ont créé sur ce
cursus littéraire une mélodie conforme à sa nature rythmique qui
dépose au grave la final e de 1'avant-dernier mot, et remonte à 1'aigu
pour 1'acoent du dernier. Et on 1'a trouvée si euphonique qu'on 1'a
gardée même lorsque, dans le latin des traductions bibliques, le texte
ne présente plus aussi souvent ce cursus littéraire planus-tardus que
dans les compositions libres des préfaces et oraisons 20.
De ce cas, on passe taut naturellement à la poés1e versifiée, car ce
cursus-planus, si prisé, n'est autre que celui de 1'hexametre classique:
«... Troiae qui primus ab oris».

Si tous les textes bibliques qui ont reçu une mélodie grégorienne
sont en prose, même quand ils traduisent de la poésie hébrai:que, la
poésie latine n'en a pas moins pénétré, encare que par la petite porte,
dans le répertoire liturgique. Poésie populaire d'abord avec S. Ambroise
et son metre iambique 21, poésie savante ensuite avec les metres saphi-
ques et autres de la Renaissarnce carolingienne 22; puis finalement UII1
comprÜlffiis ou la métrique s'appuiera sur le nombI'e de syllabes, la
place fixe des aocents et la rime 23.

19. Voir D. André Mocquereau: Paléographie musicale, t. IV (1894). De l'influence


de l'accent tonique latin et du cursus sur la structure mélodique et rythmique de la
phrase grégorienne. L'examen des cadences finales des oraisons et des préfaces
révele que la proportion des formes relevant des cursus planus-tardus est: de 48%
dans le Sacramentaire léonien; de 37% dans le Sacramentaire gélasien. Dans le
psautü;r (traduction de S. Jérôme) qui a fourni la presque totalité des textes
du GradueI, la proportion n'est plus que de 18%.
20. On trouvera un bel exemple de maintien d'Une forme musicale cursive
sur des textes psalmiques ne présentant pas ce cursus dans D. Eugene Cardine:
Premiere année de chant grégorien, p. 57.
21. E. g. Aeterne rerum conditor, la fameuse «hymne du coq» pour les laudes
du dimanche.
22. Ces hymnes figurent dans le Liber hymnarius, Solesmes, 1983, premier
volume paru de l'Anthiphonale Romanum secundum Liturgiam Horarum, qui rem-
place l'Antiphonale va1ican de 1912. Par exemple: saphique: Iste confessor Domini
sacratus, p. 466; trochai:que: Pange lingua gloriosi praelium certaminis, p . 61;
asclépiade: Sanctorum meritis inclita gaudia, p. 277; et bien d'autres encore.
23. Hymne de la Croix (Venance Fortunat, VI' siecle): Pange lingua glorias i
praellum certaminis; Bt super crucis tropaeum dic triumphum nobilem, etc.
Hymne du Saint-Sacrement (attribué à S. Thomas d'Aquin, t 1274) : Pange lingua
gloriosi corporis mysterium; Sanguinisque pretiosi quem in mundi pretium, etc.
LE LATIN ET LE CHANT GR ~G ORIEN 577

Ayant décrit les liens étroits qui unissent le latin liturgique et le


chant grégorien, j'en viens à la voeation universelle, catholique, du
(;ehant p~opre de la liturgie romaine », voeation qui ' apparalt dans
l'histoire et ne découJe nullement d'un a priori abstrait.
ParI.erai-je d'aboI1d de la voeation l.miverselle de la langue de Rome?
Là aussi, e'est moins par droit de eonquête qu'elle a aequis ee caraotere
que par la propriété - qu'elle partage avee la langue grecque - de
fournir à la pensée logique l'instrument le plus approprié à exprimer
le coOneret eomme l'abstrait, le parüel1'lier camme l'univ.erse l, et la
variété quasi infinie de l,e urs relations. Ce soOnt des langues qui, par
leur génie propre, rendent compte, pour ainsi dire, des principes pre-
miers de la raisorn: identité, non-contradiction, causalité, raison suffi-
sante. Le eorntingent rn'y est pas absolutisé maJlgré lui, pas plus que les
universaux n'y sont démythiHés ou abolis. Le oontraste est surtout
frappant lorsqu'on les oompare avee les langues sémitiques.
On comprend des lors que la Révélation judéo-ehrétieThIl!e, née dans
1e bereeau - assurément providentiel- de la civiHsation méditerra-
néenne, les ait instinctivement choisies pour exprimer, par UIIle formu-
lation appropriée, les vérités éternelles sur l'homme, sur le monde et
sur Di'eu.
Suivons done la diffusion universelle du répertoire grégorien à
partir de ses origines. La derniere «mise en forme», ai-je dit - des mélo-
dies romaines, nées entre 1e IVe et le Vle siecle, est l'reuvre des musiciens
de la premiere Renaissanoe oarolingienne. Pourql1'oi? Parce que Pépin et
son fHs Charlemagne conçurent l'idée grandiose de consolider l'unité
de leur empire, coOnstitué d'ethnies disparates, par l'unité de liturgie, et
adoOpterent d 'autorité le rilt romain et la cantilena romana, en raison
du prestige universel du Siege apostolique 24 . Dejà César avant eux, par
des moyens qui restent my,stérieux, mais dont l'effet est patent, avait
consoLidé l'unité de sa conquête en réussissant à imposer l'unÍ'té de
langage, et le gaulois avait disparu devant le latino Les pépinides, eux,
fonderent l'unité el1'ropéenne de leur temps sur 1'11'nité de foi et de
ewte, de langue et de chaTIt liturgique! Quel idéal! Quel modele! Que1
exemple! Europe, qu'as-tu fait de ton baptême? Et qu'as-tu fait de ta
liturgie?

24. Tous les textes relatifs à la réforme carolingienne se trouvent dans Cyrille
Vogel: La réforme cultuelle sous Pépin-le-bref et sous Charlemagne, Graz (Autriche),
Akademische Druck, 1965, pp. 173-290.

37
578 JEAN CLAIRE

La mise en ceuVI'e de ce prograanme fut confiée aux chapitres de


chanoines réguliers nés autour des cathédrales, à l'exemple de Metz 25,
et aux monas teres bénédictins qui, sous l'impulsion de S. Benoit
cl'Aniane 26, allaient couvrir l'Europe. La Regle bénédictine, en parta-
geant la journée du moine en temps de priere, d'étude et de travail
manuel, est à l'origine · .
de tous les arts, qui furent d'abord des arts liturgiques,
de toutes les sciences, qui furent d'abord des sciences théolo-
giques,
de toutes les techniques, qui furent d'abord des techniques agri-
co,les, avant de devenir industrielles.
Bref, si Charlemagne peut être dit le fondateur de l'Europe occiden-
tale, S. Benoit en est certainement le Pere, comme l'a déclaré Paul VI
en 1964 27.
De là, le corpus des mélodies grégoriennes s'est diffusé dans toute
la chrétienté. Il a supplanté des le Ixe siecle, le ou les répertoires
gallicans qui se partageaient l'Empire carolingien, et de même le réper-
toire bénéventain de 1'Italie du sud 28, et les répertoires locaux dont on
déceIe la trace dans l'ltalie du nord 29; au XIe siecle, ce fut le tour du
répertoire hispanique 30; au XIIIe, celui du répertoire romain locaI 3!. Seul ,

25. S. Chrodegang (t 766) donne une regle aux chanoines de sa cathédrale et


les oriente vers la liturgie et le chant romains. Voir l'ouvrage mentionné à Ia note
précédente.
26. Benoit, abbé d'Aniane (t 821), homme de confiance des premiers carolin-
giens pour les affaires monastiques pousse les monasteres anciens qui suivaient
la regIe de saint Colomban ou l'une des regles provençales, à adopter la regle
bénédictine. Le concile d'Aix-Ia-Chapelle (816) fut déterminant à cet éga1'cl.
27. Lettre Apostolique Pacis Nuntius, du 24 octobre 1964.
28. Encore en 760, lors de la translation des reliques eles XII Fre1'es martyrs
à Sainte-Sophie de Bénévent, la messe propre composée pour la circonstance est
en chant bénéventain. En 808, soit une cinquantaine d'années apres , 101's ele la
trans1ation eles 1'eliques de saint Barthélemy, la messe propre est en g1'égo1'ien.
29. Ravenne, Aquilée et d 'aut1'es centres, plus ou moins importants aujou1'd'hui,
semb1ent avoir eu jadis une litu1'gie et un chant propres.
3Q. Le rit hispanique, dit aussi wisigothique ou moza1'abe, fut supp1'imé par
S. Grégoire VII (1073-1085) , et les moines de Cluny prêterent la main à l'opération
qui nous a valu la perte irrémédiab1e du répertoire musical hispanique.
31. C'est Nicolas III Orsini (1277-128Q) qui remplaça l'ancien office romain
par le bréviaire de la Curie, adopté par les franciscains, et fit enlever tous les
vieux livres de chant romain des églises de la Ville: cinq seulement survécu1'ent.
LE LATIN ET LE CHANT GR ÉGORIEN 579

le chant milana:is, dit ambrosien, a résisté et résiste encore, ce qui est


d'ailleurs tout-à-fait heureux, unité n'étant pas fOl'cément synonyme
d'uniformité.
Lorsqu'au XVI" siede, la chrétienté, à l'étroit dans l'ancien monde,
commence à peupler le nouveau, le ohant grégorien - sous la fOl1me
qu'il avairt prise alors, car on est bien lain de l'âge d'or - s'installe
pacifiquement au Canada et en Louisiane avec les français, ainsi que
dans les empires espagnols et portugais de l'Amérique du nord, du
centre et du sud. II pénetre même au J apon avec les premiers mission-
naires jésuites 32.
Au XIxe siecle, l'Europe le redécouvre, pour ainsi dire, rendu à
sa pureté originel1e, et au début du xxe, 1e pape S. Pie X le proolame
«modele suprême de toute · musique s<l<crée», et l'impose à tous ceux
qui suivent le rit romain, en vantant ses trois qualités majeurs: sainteté,
be<l<uté et universalité, éloge repris par tous ses successeurs 33.
Or cette même époque est ce1le de l'expansion missionnaire en
Afrique et en Asie; et comme les mi,s sionnaires sont tous du rit romain,
c'est donc le chant grégorien qu'ils apportent avec eux. Quelle a été
la ré<l<ction des nouvelles chrétientés? Peut-on dire que l'ex.périence a
vérifié 1e jugement, peut-être un peu optimiste ou trop théorique, de
S. Pie X? Puisqu'il s'agit de faits, je répondrai par des faits, et pour
ne contrister personne, je me bornerai aux faits positifs, en laissant les
autres dans l'ombre.
II y avait à Paris, avant le Concile, trois Congrégations mission-
naires déjà anciennes, dotées chacune d'un Séminaire nombreux, ou la
vie liturgique était profonde, les offices exécutés avec soin, et en parti-
culier le chant grégoden. C'étaient:
les Missions Etrangeres de Paris, me du Bac, pépiniere d'apôtres
et de martyrs depuis le XVIF siecle;
les Pl'êtres de la Mission, ou Lazaristes, rue de Sevres, fondés
par S. Vicellt de Paul;
les Peres du Saint-Esprit, ou Spiritains, me Lhomond.

32. Les japonais ont récemment édité le répertoire liturgique grégorien


importé par les missionnaires occidentaux: Manuale ad Sacramenta, Oratio christia-
norum occultorum, Toshiba Records TW - 80002-3.
33. Motu proprio Tra le sollecitudine de S. Pie X, 22 novembre 1903. Ency-
clique Musicae sacrae disciplina de Pie XII, 1955. II" Concile du Vatican, Consti-
tution De sacra Liturgia, 1963, n° a2.
580 JEAN CLAIRE

II y en avait biend'autres, toutes aussi honorables, mais se faisant


moins remarquer par la forrnation liturgique et grégorienne qui y était
dispensée. Chacune de ces Congrégations avait ses territoires de mission
bien délimités. Or si nous consultons la carte des pays de mission ou
le chant gl'égorien n'a posé aucun probleme d'adaptation, ou il a été
admis et aussitôt cultivé avec enthousiasme, nous constatons que ce sont
les pays évangélisés par l'une des trois Congrégations susno'lllmées 34 .
Au contraire, dans les pays confiés à d'autres Congrégations, là, le
chant grégorien ne convenait vraiment pas au tempérament autochtone,
paraissait beaucoup trap dif.ficile, beaucoup trop occidental; bref, pour
ces pays-Ià, iI fallait obligatoirement trouver autre chose, aussi bien
pour la liturgie que pour le chant!
La conclusion de tout ceci est que le chant grégorien, comme toute
technique, comme tout art, n'est pas «danné» : il faut l'apprendre pour
le connaitre, et le connaitre pour l'apprécier.

*
Mon ma:ttre Auguste Le Guennant aimait à dire que le chant grégo-
den, porté par le latin, était «à la mesure de l'hamme», de l'homme
de tous les temps camme de l'homme de tous les lieux. C'est en effet le
privilege de tous les chefs-d'reuvre que nous appelons «dassiques» que
d'être soustraits par leur perfection même, par leur conformité intime

34. L'attachement de ces trois Congrégations missionaires au chant grégorien


ne date pas de l'entre-deux guerres, puisque Amédée Gastoué les signale déj à
nommément dans son livre Le Graduel et l'Antiphonaire romains, Lyon, Janin,
1913, p. 226, comme ayant adopté aussitôt l'édition rémo-cambrésienne du GradueI,
parue en 1851. Au Sénégal (Peres du Saint-Esprit), la grande révélation pour les
français qui accompagnerent en 1936 la cardinal Verdier, légat de SS. Pie XI,
pour la consécration de la cathédrale de Dakar, fut d'entendre le chant grégorien
exécuté couramment par la foule des sénégalais. Voir Gustave Daumas: L'Afrique
qui chant, dans Les Etudes, ccxxvn (1936), pp. 304-310, et Revue grégorienne,
XXV (1936), pp. 161-164. Dans l'ancien CamerOlill, allemand jusqu'en 1914, français
ensuite, la liturgie latine et grégorienne passa sans difficulté des Peres Pallotins
allemands aux Peres Spiritains français. Voir Pierre Pichon, C. S. Sp.: Liturgie et
mission, dans Revue grégorienne, XXXVIII (1959), pp. 236-239, et Chronique du
Mouvement grégorien, 1958, pp. 43-44. Le Japon (Missions Étrangeres de Paris)
est sans doute le pays ou la radio diffuse le plus de chant grégorien, ou les disques
de Solesmes ont reçu le plus de prix et de récompenses en tous genres, ou ils
sont le plus répandus puisqu'il a faIlu faire un pressage spécial pour ce pays.
LE LATIN ET LE CHANT GRÉGORIEN 581

avec la nature hua:naine en ce qu'elle a d'universel, aux parücularismes


et aux spécialisations restreignantes et rapetissantes. Le néo-nomina-
lisme qui sévit à notre époque sous des noms divers, voudrait nous
persuader que la nature humaine, ça n'exiete pas; c'est une maniere
de terrorisme intellectuel qui s'en prend non aux personnes, mais à la
nature . .. Nous qui vivons penchés sur les chefs-d'reuvre que l'espri1
humain a oonçus depuis quelque XXV siecles, nous percevons des cons·
tantes qui nous prouvent à l'évidence que la nature humaine existe, et
qu'au miHeu de tant de choses qui changent, elle, elle ne change pas.
Le chant grégorien, expression priviJégiée de l'âme chrétienne en prü~re,
donc de la nature humaine rectifiée et redressée, participe à cette
stabiHté et à cette perennité. Comme le disait récemment le T . R. P.
Abbé de Solesmes: «Ni sa langue ni sa mélodie ne sont ceUes d'Lme
nation particuliere: il appartient au patrimoine de toute l'humanité.
Ses racines sorrt assez profondes pour qu'il n'apparaisse plus, depuis
longt'e mps, COlIlm1e 1e produit spécifique d'une culture ou d'un,e sensi-
bHité; sa purert:é, sa transparence, sa discrétion, sa souples's e dans la
variété des formes et des styles, lui perrnettent de rejeter toutes les
étiquettes, de transcender toutes les catégories, de s'adapter, sans avoir
jamais à se renier, à toutes les situatiolJJ.s pastorales» 35.
Et jert:ant un regard vers l'avenir, vers ce lHe millénaire qui pointe
à l'horizon, j'ajouterai ceci: pas plus que ce chant, venu du fond des
âges, n'a empêché, sur son aire propre, la musique postérieure de
naitre et de se développer, pas plus il ne prétend aujourd'hui s'imposer
aux autres civiJisations à la place de leur musique propre. II se propose
seulement comrme lIDe richesse commune à toutes, une valeur sure
qui a fait ses preuves; et cela devrait suffire pour que, le bon sens et
le bon gout aidant, ohacune l'adopte comme un bien unlversel, en plus
et à côté de ses producüons particulieres.

35. Conférence prononcée à Rome, au VIII' Congres International de Musique


sacrée, le 18 novembre 1985.
(Página deixada propositadamente em branco)
v
o HUMANISMO GRECO-LA'rINO ANTE O MUNDO
ORIENTAL, A ÁFRICA E A AMÉRICA
/

L'HDMANIS~IE
,GRECO-LATIN FACE AD ~IONDE
, /

ORIENTAL, A L'AFRIQUE ET A L'AMERIQUE


(Página deixada propositadamente em branco)
LA CULTURA GRECO-LATINA Y EL JAPóN

M. AMORóS
Universidad de Sophia (Tokyo)

Es un gran plaoer y aI mismo tiempo un grau honor para mi el


presentar esta oomunicación sobre la Cultura Greco~Lati'I1la y el Japóm
en esta ciudad de Coimbra y en esta Universidad donde se prepararolrl
tantos misioneros, que después fueron los instrumentos em la trans-
misión de la oultum Greco-Latina en el J apón y en la pr esentación
de la Cultura Japonesa en Ocddente.
Es una oomunioación que expone alguno s datas para comprender
la actitud de los japoneses ante la Cultura Ocódenta,}.

I. TRANSMISION DE LA CULTURA GRECO-LATINA,


CLASICA Y CRISTIANA

1. En los siglos XVI y XVII

EI primer oontacto de la Cultura Occidental y la Cultura Japonesa


comenzó oon la llegada de los primeros comerciantes portugueses a
Japón. Pero fué a tmvés de los primeros misioneros jesuitas, de los
que fué pionero S. Francisoo Javier, que 10's japoneses empezaron a
conocer la Cultura Greco-Latina .
Desde el principio los misioneros portugueses e italianos se perca-
taron de la 1mportancia de crear colegios o seminarios para formar a
los ninas Japoneses en el cristianismo y aI mismo tiempo iniciarles
en el conocimiento de la Cultura Occidental. Para eso ya desde el ano
1580, unos treinta afias después de la llegada de S. Francisco Javier,
fundaron un colegio en Arima y O'tro en Azuchi, que fué destruido muy
586 M. AMORóS

pronto a la muerte de Oda Nobunaga. Más tarde se fundaron colegios


en Amakusa y Nagasaki, y en todos eilos la actividad académica fué
intensa.
Un testimonio claro deI resultado de la formación olásica que se
impartía en esos colegios es el que manifiestan las cartas y otros
documentos que se conservan de algunos jesUlitas japoneses, entre ellos
los de Diogo Yuki, Pedro Kasui, Miguel Minoes, etc. Esos documentos
muestran cuán perfectamente habían llegado a conocer el latín.
Pera los mejores testimonios escritos IOoS presentan los siguientes
documentos:
a) La traducción japonesa de las Fábulas de Esopo, publicada en
Amakusa en 1593.
b) Los tl"es libros de De lnstitutione Grammatica de Manuel Alvares,
en Latín, Portugués y Japonés, publicados en Amakusa en 1594.
c) EI Diccionario Latino, Português, Japonês, publicado también en
Amakusa en 1595. De él se da una reimpresión en facsÍilnÍ'i, preparada
por el editor Shaw Shirma en 1973. Ya antes, en 1870, lo había reimpreso
en Roma el P. Bernal"d Thadêe Petitjean, siu la parte portuguesa.
d) EI Florilegio Latino de Manuel Barretto S. J., publicado en
Nagasaki en 1610.
e) EI Diccionario Latino, Espanol, Japonês deI Dominico Diego
Collado, publicado en Roma en 1632. También de éste se tien:e una
reimpresión en facsimil, preparada por Mitsunobu o.tsuka eu 1974.
Durante más de dos siglos, desde mediadO\S deI siglo XVII hasta
fines dei siglo XIX, J'apÓll se cerró a Occidente y de esta maJIlera se
interrumpió casi enteramente todo contacto con la Cultura Greco-Latina.

2. A partir de la Era Meiji (1867-1912)

AI principio, y dado que eI influjo deI inglés en Japón fué muy


grande se tradujeron los clásicos directamente deI inglês, sin orden
cronológico ni cri teria científi,co, siguiendo el interés de los traductores
que transmitíall1 lo que encontraban y tal como lo CIl1contraban en inglés.
EI punto de interês común era el de ética social, aI descubrir que
en este aspecto no se diferencian fundamentalmente las dos culturas:
la clásica occidental y la japonesa, aunque la concepción deI hombre
que subyace en las dos culturas es diferente.
Las primeras obras traducidas aI japonés fueron una nueva tra-
ducción de las Fábulas de Esopo publicada en 1873 por o.n Watanabe,
L A C ULT U RA GR ECO -LA r!N A Y EL JAPó N 587

y la traducción de Robinson Crusoe de Daniel Defoe. AI misifio tiempo


que se publicaba la nueva traducción de las fábulas de Esopo se publi-
caron también traducciones de Bocaccio y de Cervantes, de Goethe,
Tolstoi y Dickens. En las publicaciones no se hacía problema de la dife-
rencia en la época y en la nación de los auctores traduddos .
A partir de 1890 ya se siguió el ordeu cronológico y se percibía un
mayor sentido histórico en el plan de las traducciones, que son todavía
a través dei inglés.
Ya en 1896 en la revista Asociación Literaria, que se había empe-
zado a publicar eu 1893, el Profesor Bin Veda en un artículo sobre
el «Aprecio de la Bel1eza» dice que «qUJien quiere conocer el valor de la
humanidad y cuhivar el espírito debe tener conodmiento de los clásicos ,
especialmente deI arte de Grecia»; afiade además que «volver a Grecia
es volver a la naturaleza». El Profesor Veda había traduddo y estu-
diado la pocsía de la poetisa Safo de Lesbos y también la Iliada y la
Odisea de Homero. Veda y sus contemporáneos tenían presente a Grecia
cuando pensaban en el arte.
Entre los profesores eXltranjeros que ensenaron en las Universidades
de J apÓl1 en esta época cabe resaltar aI Profesor Raphael von Koeber
(1848-1923), nacido en Rusia aunque de origen alemáln, como transmisor
principal de la cultura clásica. El Profesor Koeber llegó a Japón en 1893
y desde entOI1:ces fué profesor de la UniveI1Sidad Imperial de Tokyo.
Ensenó cursos de Intrcducción a la Filosofía, Historia de la Filosofía
Griega, Filosofía Medieval y Moderna, Historia deI CristiaJl1ismo y estu-
dias monográfioos sobpe Kant y Hegel; pero se dedicó también a la
ensenanza de la Lengua y Literatura Griega y Latina, Ieyendo a Homero,
Horacio, Virgilio y Ovídio . Fué también un gran músico que había sido
discípulo de Rubinstein y de Chaikovski. EI Profesor Koeber soHa decil'
que «quien no conoce la cultura greco-Iaüna no tiene competencia para
hablar de la cultura europea». Los especialistas japoneses en Cultura
Clásica, que aparecen más tarde todos fueron de aIguna manera discí-
pulos suyos.
Entre estos especialistas japoneses podemos mencionar aI Profesor
Hidenaka Tanaka, alumno deI profesor Koebcr en la Vniversidad de
Tokyo y más tarde primer profesor de Lengua y Literatura Clásica
en la Universi,dad de Kyoto, a donde se trasladó en 1920. Vna anécdota
interesante es que: El Profesor Tanaka pidió insistentemente que se
establecieran cursos de Estudos Clásicos en la Vniversidad de Kyoto,
pero solamente se le concedió poder ensefiar estas materias durante
sus anos de pmfesorado y no como oursos permanentes. Se jubiló en
588 M. AMOR6S

1946, y entonces por algún tiempo se suprimiemn los cursos que él


había ensefíado. Es autor de una Gramática Latina y de un Diccionario
Latino-J aponés.
Otro profesor japonés famoso de la Universidad de Kyorto fué el
Profesor Tokuryü Tanaka, especialista en la Fenomenología de Husserl,
deI que fué discípulo, y en Filosofia Griega, sobre la que ha publicado
varios libras, yes también especialista de Santo Tomás De Aquino.
En la Universidad Imperial de Tõkyõ es donde se empezaron a
ensefíar las Lenguas Clásicas, aUJnque propriamente el Departamento
de Lenguas Clásicas en esta Universidad no se estableció hasta 1963.
Sin embargo, hacía ya casi cien afios que se ensefíaba el Latín en la
Facultad de Medicina, en la Facultad de Farmacia y en la Facultad
de Derecho. Además, a partir de 1887 se exigía el estudio de Latín a los
estudiantes de Filosofía, de Histmia, de Lengua y Literatura Inglesa
y de Lengua y Literatura Alemana. La mayoría de los profesores de
Latin y Griego eran especialistas en Filosofía, en Lengua y Literatura
Inglesa y en Lengua y Literatura Alemana.
También enesta época, o sea a partir de 1887, se empiezan a
publicar estudios sobre Platón y Aristóteles, y se publican traduociones
de la Ilíada y la Odísea y de la Tragedia Griega . Los estudios sobre la
Tragedia Griega, en concreto sobre los coros, y sobre el espíritu 'de la
tragedia, se realizan comparando la tragedia griega con · el famoso
drallna japonés NOH.
Antes de resumir en detaHe algunos datos sobre Metodología y
traducciones de autores clásicos quisiera afiadk como anécdotas que
un literato famoso Ryunosuke Akutagawa decía en 1927 que «en el
fondo de Ocddente se encuentra Grecia y que eu Grecia se escucha
la voz de Ooddente». Otro literato de fama mUJndial, Yokio Mishima
observaba que la representación de la comedia Lysistrate de Aristó-
fanes tiene sabor asiático. También quiero hacer mención de otro nove-
lista de fama mundial, Shusaku Endo, que estudió largos afios en
Francia, conoce bien el mundo clásico y el mW1!do cristiano y los saca
frecuentemente como temas de sus novelas y ens·ayos.
LA CULTUR A G RECO-LATINA Y EL J APóN 589

MÉTODOS, GRAMATICAS Y DICCIONARIOS

Latín

EI la Era Meiji, el Método m ás antigo para la ensefianza deI Latín


data deI afio 1871 y va seguido de innumerables m étodos y gramáticas
hasta sumar 1.UlOS 130 libros distintos. La mayoría 's on métodos latinos
para los estudiantes de Me dicina y Farunacia y para los amantes deI
Mundo Clásico. Se siguen publicando actualmente nuevos m étodos a
un ritmo de unos tres métodos cada afio.

Griego

Ya en 1927 el Profesor Hidenaka Tanaka publicó una Gramática


Griega que fué seguida por otros mé todos de griego publicados en afios
posteriores, haslt a la actuaHdad. Algunos son métodos de griego para
los estudiantes de Medicina y de Derecho. También se publican Cursos
de Griego para facilitar el estudio de Platón y Aristótele s; y otros
métodos muy numerosos SCYD. introducciones aI Griego Bíblico.

Traducciones

Hay varias traducciones de la Iliada y 1a Odisea de Homero. La más


famosa es la deI Profesor Bansui Doi, un trabajo que le llevó más de
cuarenta anos y que publicó en 1940 y 1943 respectivamente. Por esta
traducción el Emperador le concedió una Condecoración Cultural en 1950.
También se dan traducciones de los trágicos griegos: Esquilo,
Sófocles y Emipides, y de las comedias de Aristófanes, hechas por
varios especialis1tas y publicadas en distintas editoriales; y se siguen
publicando estudios especializados. Los más famosos son los de los
profesores Shigeuchi Kure, Keijirõ Uchiyama, Ryõzõ Niiseki; etc.
Se han publicado tres traducciones distintas de las Obras Completas
de Platón por editoriales tan prestigiosas como Iwanami y Kadokawa . La
primera traducciÓll la había hecho Keitaro Kimura a través deI inglés.
Las Obras CompLetas de Aristóteles las ha publicado la editorial
I wanami bajo la responsabilidad deI Profesor Takashi Ide y deI ,Pro-
fesor Mitsuo Yamamoto.
También hay traduociones y estudios , que datande .1931, sobre
Hesiodo, . Herodoto, Tucidides, Jenofonte, Polibio, Platino , Diógenes
Laercio, Hipócrates, etc. De los autores latinos se traducen y estudiall1 :
590 M . AMORóS

Virgilio, Roracio, Ovidio, Cicerón, César, Séneca, Plauto, Terencio,


Juvenal, Tito Livio, etc.
Se ha traducido la Summa Theologica de Santo Tomás, parte de
la Summa contra Gentiles y algunos opúsculos.
Se han publicado en 16 volúmenos varias de las Obras ele San
Agustín, y varias traducdones de las Confesiones. Uno de los especia-
listas de San Agustín, el Profesor Akira Yamada, recibió el afio 1987
el Premio Literario deI perioàico Asahi, uno dos de los más presti-
giosos y de mayor tirada en Japón, por un libra en el que publica unas
conferencias recientes sobre San Agustín.
Se fundan asociaciones como la de «Estudios Clásicos Occiden-
tales », que publica UIIla revista anual desde 1952, y la de «Estudios
Filosóficos Medievales», que publica una revista desde 1958.
Se publica la revista Methodos de Investigadón sobre Filosofía
Antigua, fundada por ele Profesor Tokuryu Yamanouchi.
Como conolusión de estas consideraciones se puede notar que las
traducciones de los Clásicos, que aI principio fueron a través deI inglés,
pasaron a ser traducciol1es directas deI original griego y latino; y los
primeros trabajos, basados aI principio en estudios de investigadores
occidentales, han llegado a ser estudios originales de los especialistas
japoneses.

II. ASIMILAC}ON DE LA CULTURA GRECO-LATINA

Dentro de los distintos aspectos ele la Cultura Greco-Latina subrayo


el aspeoto humanístico, siguiendo a Werner Jaeger en su Paideia. Jaeger
dice que el principio intelectual de los Griegos no es el individualismo
sino el Humanismo o Humanistas, que pl1esenta aI hombre en su verda-
dera forma, donde aparece el hombre como modelo e ideal, pera no
como un ideal fijo, terminado e inmutable, ni como un ídolo atemporal.
Para los Griegos el humanismo implica una cualidad esencial deI ser
humano, el caracter político aI servi cio de la comunidad.
Dice también J aeger que el ideal de la Cultura Clásica Griega está
en la nobleza y dignidad deI hombre; y lo que la democracia ateniense
intentó asegurar era la igualdad cívica, legal, basada eu los derechos
políticos comunes.
CaD respecto a la libertad dice que es Sócrates qtúen considera
la libertad como un problema moral. Lo importante para Sócrates no
es solamente que un hombre sea independiente de normas morales sino
LA CULTURA GRECO-LATlNA Y EL JAPó N 591

que sea dueiío de sí mismo. Por eso aparece una palabra en el dialecto
ático, la palabra Eyxpá'tELC1 que significa dominio propio, moderación y
fortaleza. De ahí nace el ideal socrático de fmgalidad e independencia
de cosas e~ternas.
Entre los especialistas japoneses que asimilaron este Humanismo
me centro en eI P.rofesor Michitaroo Tanaka, nacido en 1902 y fallecido
en 1987. El Profesor Tanaka fué un gran conocedor de la Cultura Greco
Latina en todos sus aspectos: linguístico, literário y filosófico, y durante
muchos afios fué Presidente de la Asociación de Estudios Clásicos
Occidentales. Publicó varias traducciones de los Clásicos y estudios
originales muy numerosos. En 1968 y 1969 se editaron sus Obras Com-
pletas en catorce volúmenes, en la Editorial Chikuma de Tokyo, y
despúes siguió publicando varias obras más.
EI Profesor Tanaka, irnnediatamente después de la segunda guerra
mundial, invitaba aI estudio de la CuLtura Griega para llegar aI origen
de la Cultura Moderna y aiíadia que de esta maneI"a se revivirían los
valores dei pasado japonés pues, según él, el resurgir de la cultura
Griega se identiHcaría con el verdadero renacimento japonés, ya que
el contacto con el Humanismo griego produce liberación y renaci-
mi.ento proprio.
Su aportación aI Humanismo se puede resumir en dos temas : la
libertad y la democracia.
El Profesor Tanaka aI explicar el concepto de libertad y dirigiéndose
a un Congreso de educadores Japoneses celebrado en Sruzuoka en 1979
decía que los Griegos antiguos fueron los primeros que estahlecieron
por sí mismos una sodedad libre, usaron esa palabra y fueron cons-
cientes de su realidad. Es de notar que el concepto y la palabra libertad
no existían en la lengua japonesa.
EI contenido lo explica haciendo referencia a la guerra de Troya
y a Hector que lucha para que su mujer y sus hijos no sean hechos
esclavos, sino que conserven la libertado Cita también a Esquilo en su
tragedia Los Persas y su harenga a los soldados griegos para que liberen
la patria y conserven la libertad de sus mujeres y de sus hijos, no
permitiendo que caigan bajo el dominio persa. Son pasajes que se
refieren a la libertad nacional, a la libertad política de la que depende
la libertad personal de cada individuo.
Se detiene en explicar la Oración Fúnebre de Pericles relatada por
Tucídides en el libro II de su Historia de la Guerra del Peloponeso.
En esta oración fúnebre Pericles presenta un panegírico de Atenas más
que una alabanza de los atenienses muertos en la guerra. Y de Atenas,
592 M. AMORóS

Pericles alaba su modo de gobierno, que sirve de modelo a todas las


demás naciones, con una administración que se basa en la opinión de
muchos y no en la opinión de unos pocos, con unas leyes que ofrecen
justicia equitativa a todos en media de sus diferencias personales y
con una administración política donde son supremas la aristocracia deI
talento y la capaddad de cada uno.
En este punto el Pl'ofesor Tanaka hace una digresión refiriéndose
a China y J apón.Explica detenidamente que la demoorada consiste en
la decisiÓ'Il de la mayoría, contrapu esta a la opinión de unos pocos, y
explica ·esta decisión de la mayoría contraponiéndola aI voto unánime,
que no es siempre una manifestación demoorática.
En la democracia se da, junto con la opinión de la mayoría, la
opinión de la minoría o de la oposición. La existencia de esta opiniÓll
contraria no i'lllposibilita la marcha de la democracia sino que la faci-
lita. La opmión de la mayoría se oonvierte en ley y en plan de acción
(medida política) pues esta es lo .que :requiere la politica, puesto que
la política se refiere aI futuro y busca los medios que conducen a un
futuro mejor. La política no debe ser un reproche deI pasado, como
ocurre en Japón, afiade el Profesor Tanaka.
Como el futuro presenta muchos elementos inciertos se requiere
una abertura, UJIla Elexibilidad y una posibilidad de movimiento oontinuo,
cosa que no se facilita cuando la decisión es unánÍil:Ile e inamovible.
La opinión mayoritaria marca la dirección hacia el futuro, siempre con
la duda de si ésa será la mejor solución; facilita el movimiento porque
hay que optar por algo, pero se abre también al cambio y a la reno-
vación. Por ser opinión mayoritaria no se puede decir que sea justa o
verdadera, y cuando se ve que es una decisión equivocada o perfeccio-
nable se cambia o se perfecciona cnn facilidad. Esta está incluido en
el hecho de que haya opiniones contrarias. Sin embargo, cuando la
decisión es unánime, sinsola opiniÓll contraria es muy dificil el volver
atrás, como ocurre en China y Japón, donde se prefieren decisiones
unánimes que soo difíciles de cambiar.
Prosigue el Profesor Tanaka explicando la .oración fúnebre de Peri-
eles, y dice que todos los hombres san tratados igualmente por la ley,
cosa que a veces se interpreta mal en Japón al pensar que se suprimen
las diferencias reales entre los hombres, diferencias de sexo, edad,
posición social, etc.
La igualdad no impide que los horn,bres se valoren por su talento
y cualidades, y se elija aI que se considera más capaz para desem-
penar un cargo público.
LA CULTURA GRECO-LATINA Y EL JAPóN 593

J unto a esta libertad política social se da la libertad privada por


la que cada individuo decide 10 que más 1e conviene, respetando siempre
los derechos de los demás. Para esta se necesita que haya un verdadero
equilibrio entre la libertad y la ley.
Este equilibrio entre la libertad y la ley es lo que aparece en la
arquitectura, escultura, literatura y filosofía griega. San dos realidades
que no dimanan necesariamente una de otra sino que requieroo un
gran esfuerzo para equilibrarse. Es muy dificil obedecer a la ley como
un hombre libre.
Por eso el Profesor Tanaka dice que la libertad es un veI1e!IlO que
no todos pueden asimilar y superar, en ella se incluyen elementos de
muerte. GQuién es el hombre o la raza dignos de la libertad? Pregunta
el Profesor Tanaka y contesta diciendo que la libertad es una gran
tarea sin resolver.
AI fin termina el Profesor Tanaka diciendo que la Cultura Greoo
Latina nos ensena en qué consiste un mundo más humano. Y yo aiíadiría
como conclusión que en Japón se puede humanizar más la vida porque
el grupo oprime a la persana y el orden y armonia l1egan a sacrificar la
iniciativa y creatividad deI individuo. Hay un proverbio japonés que
dice: «deru kugi ga utareru» y quieTe decir «el clavo que sobresale se
machaca».

38
(Página deixada propositadamente em branco)
AS HUMANIDADES GRECO-LATINAS FACE À ÁFRICA:
INCOMPATIBILIDADE? COMPATIBILIDADE?

BENJ AMIM PINTO BULL


Guiné-Bissau

Ave, Conimbricensis Universitas!

Longe de mim o propósito de aorescentar: «morituri te salutant»!


Não estamos em nenhum circo de onde partem gritos de gladiadores
desesperados que vão travar com feras um combate mortal.
Dos vivos, de todos nós aqui presentes neste Forum cultural inter-
nacional, esperançados - «laeti in spe» - diria São Paulo, al,e gres na
esperança - num porvir melhor e cada vez mais aprofundado das
«Humanidades greco-latinas e da Civilização do Universa1», de todos
nós, dizia, vão as saudações e as felicitações à Universidade e à Cidade
de Coimbra.
Saudações à Universidade de Coimbra; não sei se devo considerá-la
pulmões ou ooração do Portugal cultural, certo é que esta Universidade
é a Roma ou a .M enas do País.
Apraz-me lembrar aqui as palavras de Napoleão aos seus soLdados ,
após a vitória de Austerlitz: Bastar-vos-á dizer: «Estive na batalha de
Austerlitz», para que vos respondam: «Eis um bravo!» Basta a uma
pes,s oa dizer: «Estive, estudei na Universidade de Coimbra», para que
lhe respondam, ou pelo menos, para que pensem, com convicção:
«Eis um inteleotual! Eis um humanista!»
Saudações e felicitações ainda à Universidade de Coimbra, nomea-
damente a toda a Comissão Executiva deste Congresso, e à respectiva
Presidente, Prof.a Doutora Maria Helena da Rooha Pereira pela feliz
iniciativa que tiveram de oongregar nesta «arena» humanistas de renome
internacional, destacando-se a figura incontestável e incontestada do
Prof. Doutor Leopoldo Sedar Senghor - e simpatizantes - de que faço
596 BENJAMIM PINTO BULL

parte - destes sábios, para se debruçarem sobre o estudo e o desenvol-


vimento das «Humanidades greco-Iatinas e da Civilização do Universal».
Saudações e felicitações à cidade de Coimbra, cujos inúmeros
vestígios arqueológicos, designadamente as ruínas de Conimbriga, con-
vidam-nos a reflectir seriamente sobre o tema deste Congresso.
Coimbra é o símbolo, com o expoente máximo, da mestiçagenl
biológica e cultural, e, portanto, do diálogo das raças e das culturas.
Coimbra, cidade que «irradiou de um castrejo primitivo, situado no
ponto mais alto da colina sobranceira ao Mondego.»
Segundo reza a HistÓ!ria, a ddade de Aeminium, de que falava já
Plínio, e que era citada no Itinerário de Antonino, sobrepôs-se à antiga
Conimbriga, cujo nome adoprtou depois. A Urbs Eminensis, conhecida
já em 883, seria o desdobramento ou a fusão das ddades Coimbra-
-Emínio. Abrindo de par em par as suas portas a urna mestiçagem
biológica e a um diálogo de culturas luso-árabes - já registava, por
as's im dizer e paI[ procronismo, a noção da Civilização do Universal -
a cidade e toda a região aceitaram sem combate a ocupação árabe
(715-716), com toda a sua cultura e toda a sua civilização. Foi toda
esta regiã.o, segundo a expressão de Gómez-Moreno, «.o foco mais pode-
roso do moçarabismo na região ocidental.»
As minhas referências a Coimbra ficariam incompletas, se não
mencionar as suas Bibliotecas deslumbrantes, os seus Arquivos e os
seus Museus que atraem os turistas e sobretudo os intelectuais estran-
geiros, de passagem por esta lindíssima cidade; a sua Academia Cien-
tífica e Literária, mais conhecida cá dentm oom.o lá fora por Instituto
de Coimbra. Vale a pena salientar que foi fundada en~ 1852. Não fica
atrás do oultural, o aspeoto artístico desta cidade, com o seu Instituto
de Música, o seu Teatro (T. E. U. C.), o seu Coro, o Orfeão, etc.
Quando o Professor Leopoldo Sooar Senghor me sugeriu a ideia
de apresentar uma comunicação neste Congresso, não pude deixar de
aceitar a sugestão. Uma vez aceite, fiquei perplexo, quando me veio
à mente a frase, com carácter, para mim, de sentença impiedosa, a
frase de Edouard Herriot: «La culture, c'est ce qui reste, quand on
a tout oublié.}} (Fim da citação). Permitam-me um parêntese.
Sou natural da Guiné-Bissau, e resido em Portugal, mais exacta-
mente em Loures. As minhas relações com o Governo da Guiné-Bissau,
e muito especialmente com o Presidente Nin.o Vieira, são das mais
estreitas e oordiais; quero, porém, precisar que estou aqui presente em
meu nome pessoal, e as minhas afirmações ou sugestões são da minha
inteira responsabilidade.
AS HUMANlDADES GRECO-LATINAS FACE A AFRICA 597

Se estou aqui presente, não o devo à minha pessoa; não vou dizer:
«Nom oobis, Domine, da gloriam .. . », mas sim: «Non mihi, Domine,
da gloriam, sed nomini Senghoris da gloriam!» Fechemos o parêntese.
Fiz então um sério exame de consciência e cheguei à conclusão
que em mim nada ficara da cultura que tentei porventura adquirir
«in illo tempore». Não conseguia, por um lado, vislumbrar sequer um
tema que eu pudesse apresentar nesta cimeira internacional de cultura,
e, por outro lado, estava decidido, embora não sendo rei, a não voltar
com a palavra atrás . Felizmente que o poeta Claude Mac Kay, citado
pelo Professoi" Senghor, veio ao meu socorro. Dizia e1e : «O facto de
mergulharmos alt é às raízes da nossa raça, e construirmos o nosso
terreno pr-órprio, não significa de forma alguma que voltamos ao estado
selvagem. f: a própria cultura!» (Fim da citação).
Recornortado, optei por uma comunicação sobre: «As Humanidades
greco-latinas e a Civilização do Universal face à África.» Surgiram logo
no meu espírito de africano duas perguntas pertinentes: Não haverá
incompatibilidades entre essas Humanidades e a África? Caso contrário,
haverá compatibilidade? PerrnÍ'tan:n.Jffie UIIIl novo parêntese.
Era meu desejo apresentar esta comunicação em francês para estar
mais «perto» do Professor Senghor, de quem fui colaborador durante
vinte anos na difusão da língua e cultura portuguesa no Senegal, porém,
tr-ês razões me Levam a fazê-la em português, o que é dentro da lógica:

sou Africano e Português (tenho muita honra e muito orgulho


em o ser);

estou em terra portuguesa (com muita honra e muito prazer);

o Prof. Leopoldo Sernghor que, com justa razão, se orgulha de


ter «uma gota de sangue português », terá muito prazer em
ouvir-<me na língua de Fernando Pessoa que - bem o sei-
ele muito admira. Fechemos o parêntese.

Proponho-me agora apontar para as «incompatibiJidades», entre, por


um lado, «As Humanidades greoo-latinas e a Civilização do Universal»
e, por outro lado, a África.
598 BENJAMIM PINTO BULL

INCOMPATIBILDADES

Quando ouvem falar em «Humanidades greco-latinas e a Civili-


zação do Univel'sal», reagem logo os «pseooo·africa:n1stas» que andam
pelo Mundo, oontrapondo os seguintes argumentos, por conta dos
pobres Afrkanos:

a) «As Human1dades greco-Iatinas e a Civilização do Universal»


implicam com a autenticidade e a idoneidade do Africano;
contribuem para uma vel'dadeira e total alienação do Africano;
b) Não terá chegado a ocasião para deixar a Af.rica usar da
palavra e falar da sua cultura e civilização? para se libertar
da herança oultural oódental?
c) Não serão as Hlm1an~dades greco-Latinas uma fOI'ITla de «exo-
tismo» ou de «'s nobismo » para o Africano?
d) Por que razão não se deixa a cada País, dada a sua maturidade,
a opol'ttmidade de eXJprinür a sua maneira de ser, de pensar, de
explorar o seu ambiente socio-cultura-l, de assumir a sua inteira
liberdade pam exercer a sua sobera-nia na área cultural?
e) Por trás da oortina de «As Humalnidades greco-Iatinas e a Civi-
lização do Universa-I», não estarão escondidos «Agentes do
ImperiaHsmo» que são bem pagos para envidarem os seus
esforços no sentido de uma i'n tegração incondicional e submissa
da África à Civilização ocidental?
f) Mais ooncretamente - e é, pensam eles, o argumento de peso-
na nossa época vilra-da para o científico, para a tecnologia de
ponta, a África não irá deixar passar o comboio em marcha,
se «!perder o tempo » com «As Humanidades greco-Iatinas e a
Civitlização do Universal? »

A minha resposta a estas e outras perguntas ou preocupações do


mesmo género, é categórica: não há iillCQlll1patibilidade nenhuma, e
todas as pessoas que apresentam os argumentos acicrna referidos nada
entendem ou nada entenderam das «Humanidades greco-latimas e da
Civilização do Universal». A seguir, passo a dar algumas provas, entre
muitas, da oompatibilidade entre «As Humanidades greco-laünas e a
Civilização do Universal», por um lado, e a Africa, por outro lado.
AS HUMANIDADES GRECO-LATINAS FACE À ÁFRICA 599

COMPATIBILIDADES

As Humanidades greco-Iatinas fazem parte da cultura geral que as


próprias supeI'potências agora reconhecem e apreciam. O mínimo de
noções de Etimologia pennite-nos determinar significados de palavras
que oocoIlitramos pela primeira vez, descobrir a origem de certas expres-
sões, corrigir erDOS impeI'doáveis. Constituem um instrumento de tra-
balho indispensável para os locutores de línguas novilatinas, nomeada-
moote do português. O Africano, em geral, o Guineense, em particular,
que não devem ser «laudatores temporis acti», fazendo uma leitura
africana das «Humanidades greco-Iatinas», descobrem as suas tradi-
ções, a sua musicalidade, a sua polifonia e o seu ritmo. Será então o
momento de se colocar a seguinte pergunta: Quais são as persrpeotivas
para «As Humanidades greco-Iatinas e a Civilização do Universal?»

Cultura geral

Qualquer pessoa, que pretenda ter uma cultura geral, não pode
ignorar as Humanidades greco-Iatinas. Deve ter noções elementares,
designadamenJte, da Mitologia greco-Iatina, não confundir Homero com
Virgílio. Se ouvir f,a lar de «Cicerone», deve poder conhecer a origem
da palavra.
Apoiando-me em tarbalhos feitos pelo Prof. Senghor, posso afirmar
que os adversários da cultura clássica ~nvocam errndamente, em abono
da sua tese, o caso dos Es,t ados Unidos. Com mais de cinquenta anÜ's de
atraso, querem imitar oos USA. Parecem ignorar que, afil1ma o PrOof.
Senghor, os BstadÜ's Unidos, depois de s'e terem assegurado a lide-
rança do Ocidente, sentiram a necessidade de eLevar o nível cultural
dos seus cidadãos, e especialmente daqueles que se destinam a cargos
de direcção nas áreas da política, da administração e da economia.
Para obterem esse resultado, tiveram que reco'r rer aos estudOos clássicos.
Na Universidade de Harward, o Prof. Senghor assistiu em 1971 à
entrega de diplomas a cerca de 8.000 alunos no d~a do «Com:mencement
Day». Foi em laJtim, disse, que uma jovem estudante proferiu a pri-
meira palestra.
Na União Soviética, em Moscovo, por exemplo - quem o afirma
é o P,r of. Senghor, com dadÜ's sólidos, o latim é obrigatório nas Facul-
dades de FilOolÜ'gila, de His,t ória, de Filosofia e de Direito. O latian vai
penetrando nos Liceus soviéticOos, disse o Eminente Humanista.
600 BENJAMIM PINTO BULL

o Prof. Senghor, num artigo seu, refere-se a um documento signi-


ficativo do Ministério franoês de Pesquisa e do Ensino Superior, inti-
tulado: «Listas temninológicas relativas ao vocabulário da tele dicção
earospacial». O que chamou a atenção do Professor foi o facto de
quase todas essas palavras científicas serem formadas por raízes ou
palavras latinas, e muitas vezes, por palavras gregas.
A primeira vantagem dessas palavras, para além da sua precisão,
é que o homem de cultura que estudou as suas Humanidades greco-
-latinas, compreende-as sem dificuldade, e nunca mais esquece os seus
vários significados .
Na Gramátioa latina de H. Petitmangin - uma das melhores Gramá-
ticas publicadas em França naqueles tempos - aprendi a regra da propo-
sição suboI1dinada com a conjugação causal, «quoniam leo nominor ».
É correcHssima a expressão, tanto em Portugal, como lá fora, prin-
cipalmente em FraJnça e no Brasil, «tomar ou ficar com a parte do leão»,
quer dizer com a maior parte de Uilll todo. Repito, se a expressão é
conectíssima, parece não ser exacta com a origem que lhe dá Fedro.
Conta-nos o fabulista latino que o leão foi à caça, em companhia
da vaca, da oabra e da ovelha: apanharaJffi um veado que o leão, como
é óbvio, J:1esolveu dividir em quatro partes iguais. Até qui, tudo bem .
Só que, depois arrebatou tudo. Porquê?

Ego primam tollo, nominor quoniam leo,


Eu tomo a primeira (parte), porque me chamo leão,
Secundam, quum socius, tribuetis mihi,
Concedestes-me a segunda (parte), porque sou um dos parceiros,
Tum, quia plus valeo, me sequitur tertia,
Já que valho mais de que vós, cabe-me a terceira (parte),
Malo adjicietur, si quis quartam tetigerit!
Ai de quem tocar na quarta parte!

Portanto, a parte do leão, segundo Fedro, seria, na realidade, o todo .


Com a «erosãO'» do teIl1JpO, passou a ser a maior parte desse todo .
De passagem pelo Aeroporto de Dacar, foi, há anos, entrevistado
um Ministro romeno pela Rádio Televisão Senegalesa. No dia seguinte,
os meus a:IUtlloS senegaleses de Filologia, disseram-me com satisfação
intelectual, que tinham oompreendido 20 a 30%, e adivinhado outros
20% do discurso do Ministro romeno. Tivocam a prova real que o
romeno é também uma língua novi,l atina.
O fenÓimeno cultural vai mais longe. Para o português, uma das
línguas novilaünas, pelo menos dois terços das palavras do seu voca-
bulário riquíssimo provêm, como é óbvio, do latim, e muitas outras
AS HUMANIDADES GRECO-LATINAS FACE A ÁFRICA 601

têm uma etimologia grega (não esquecendo, é daro, o apreciável contri-


buto linguístico-cultural do árabe). Para além do vocabulário, é na
sintaxe e na estilística portuguesa que se nota mais a influência
linguística do latim.
Foi com grande prazer que li no Diário de Notícias do dia 17 de
Março findo, um artigo da autoria do Almirante Fernando da Fonseca,
que não tenho a honra de conhecer. O artigo eTa intritulado: Política,
estratégia e língua portuguesa. D~zia o articulista, entre outras afirma-
ções de quilate inequívoco:

«Em Portugal, o ensino da língua tem sido desprezado, o que é


grave, porque sem o comando da base do pensamento e das relações
humanas, a ciência sofre, a tecnologia sofre, o desenvolvimento
também. Como é igualmente grave a supressão praticamente total do
latim, sem o qual não é possível - está a verificar-se - a boa utili-
zação do português e o exercício intelectual semântico, indispensáveis
a quem pretende uma educação de nível superior.» (Fim da citação).

O Africano, em geral, o Guineense, em particular, descobrem nas


Humanidades greco-Iatinas as suas tradições, cheias de simbolismo.
Destacarei apenas o culto pelos Mortos e a HospitaHdade .

Os Mortos

Como na antiguidade greco-romana, os Africanos têm um culto


particular pelos seus mortos. Na Guiné, no momento dos funerais, tanto
para os cristãos, como para os animistas, era tradição cada membro
da família do defunto, e amigos íntimos, meterem no caixão ou na
campa, objectos de valor, belÍssÍlmos panos. Na antiguidade, os mortos,
invisíveis e incorpóreas, precisavam, no entanto - pensavam os vivos-,
de comer e de beber. Nas Festas das Flores - As Antestérias - deixa-
vam na noite do terceiro dia, no limiar da porta, para os mortos que
«reclamavam» a sua parte da festa, numa marmita de barro reservada
para este fim, uma sopa gros,s a, feirta de toda a espécie de sementes,
na qual os vivos se guardavam bem de tocar.
Na Guirné, muitas vezes, aquando de um aperitivo entre amigos,
deitam-se num canto da sala ou à entrada da casa - darma pa asalma -
algumas gotas da bebida já no copo ou ainda na garrafa, para os que
já não são deste mundo, para que participem na reunião. É uma con-
vicção bem vincada em todos os Guineenses: os mortos continuam a
602 BENJAMIM PINTO BULL

partilhar dos momentos sobretudo de alegria dos familiares ainda


em vida.
Se, por acaso ou mero esquecimento, não se CUilIlJprM:- este gesto
simbólioo - darma pa asaI ma - e que se entorna distraidamente um
copo no momento dos aperitivos entre familiares e amigos, atribui-se
o facto aos mortos estarem a protestar e a exigir a sua pequena parte.
Cumpre-se imediatamente o aludido gesto simbólko.
Conheci na Guiné, há umas décadas, viúvas que todas as noites
enchiam um copo com água destinado ao falecido mar1do; no dia
seguinte, mu1to cedo, abriam a porta da casa, com recolhimento e
piedade, e deitavam para fora essa água.

A Hospitalidade

Em toda a Africa, a hospitalidade é sagrada. Um leitura africana


da eXipres's ão Hospes, hostis, corrige-a automaticamente. O Dicionário
Lello Universal dá dessa frase a seguinte eXiplicação: «Velha máxima
política que significava: todo o estrangeiro é um inimigo. Ainda hoje,
em certos países, representa o sentido dos seus hab1tantes, isto é, o
exagero de um patrioti,s mo exclusivo.» (Fim da citação). Parece-me que
a leitura deve ser outra, tanto mais que a eXipressão não é completa.
Os Romanos diziam, salvo erro: Hospes, amicus, hospes, hostis. O hós-
pede é UJlTI amigo (se o tratares bem); será um inimigo (se o tratares
mal). Neste sentido, diz o crioulo da Guiné: Ospri k' ta kumpu, hospri
k' ta dana, é o hóspede quem faz a boa ou a má fama de UJlTIa casa.
E o crioulo ac:rescenta: Kil !C' bu mostraI, el lei na bai !conta, aquilo que
lhe mostrares, é o que ele vai contar (lá fora). O povo português lembra
acertadamente que: Fumo e má cara afastam a gente da casa.
O Pmf. Senghor diz que, nas aldeias do Senegal, convida-se o
transeunte a entrar e a partilhar da refeição do dia. Com efeito, a hospi-
talidade diz-se naquele País, na língua wo~of, Teranga. Na Guiné, ouve-se
dizer, referindo-se ao hóspede ou visitante inesperado: Bianda di kaIerõ
ka te dunu, a comida, que ainda está na marmita ao lume, não tem
dono, qualquer pessoa que chegue à hora da refeição deve partilhar
da mesma.
Qual será, em poucas palavras, o objectivo da Civilização do Uni-
versal? No meu entender, o objectivo essencia,l desta Civilização é
proteger, certo, a vida hUJlTIana, mas também e sobretudo, tomá-la mai's
bela, aumentar a alegria de viver num conjunto de povos de boa von-
tade, com compreensão mútua, daí o direito à diferença; estabelecer
AS HUMANIDADES GRECO·LATINAS FACE À ÁFRICA 603

neste conjUlnto, lenta e progressivamene, entre todos Ü'S homens que


constituem esse grupo vastíssimo, relações equitativas. Finalmente,
fazê-la desabroohar na prática das artes que os respeotivos Povos apre-
ciam em comum, aumerutar a humanidade do homem neste mundo,
ao mesmo tempo real e imaginário, que é precisamente o mundo da
cultuJ:1a, mUlndo refeito e repensado da ciência e das artes, por sua vez
fonte inesgotável de criações novas. Cada Povo, cada Continente, deve
trazer o seu contributo, a sUJa cultura e a sua civilização, para, duma
fusão, sair a Civilização do Univ,e rsal.
Os Africanos não hão-de vir com as mãos vazias para a Civilização
do Universal. Hão-de trazer a sua expressão artística:
- a sua música, a sua poJifornia: o Negro dá à música a sensibi-
lidade do seu corrpo, a sensibilidade da sua alma, a emoção negro-
-afrioana. As canções da etn1a Balanta, na Guiné-Bissau, as canções de
Myrian Makeba, com o seu coro, fazem-me lembrar o canto gregoriano.
Os Padres Beneditmos de Keur Musa, no Senegal, recorrem a instru-
mentos negro-ailricanos para que os seus cânticos Htúrgicos tenham
maior irmpacto nas almas e nos corações dos fiéis, presentes nas
cerimónias.
Os Africanos trazem a sua alma e o seu sentir que transmitem
através da sua dança, da sua escuLtura e da sua pintura. Vêm com
os seus conceitos filosóficos, sociai,s e culturais; seus conceitos da
família, das relações entl'e pais e filhos, e da comunidade.
Traz o Africano a sua tradição riquíssima com os seus provérbios
que contêm, COIIllO diz o Professor Senghor, poesis e ritmos. Pessoal-
mente, não resi's to à tentação de comparar dois provérbios do crioulo
da Guiné-Bissau a dois textos latinos, com o mesmo significado
(nota-se o ritmo):
Si bu tene / difteru / , bu amigus / ta ciu;
Si kau / bi rabida /, bu ta dingi / abo sõ.
Donec / eris felix /, multos / numerabis amigos;
Tempora / si nubila fuerint /, solus / eris. (Ovídio)

Outvo exemplo, deslt a feita, tanto no crioulo como em latim, regista-se,


por assim dizer, a queda brutal da Fortuna, que, diz-se em latim, parti-
cipa da natureza do vidro, quanto brilha como quebra:
Fortuna vitrea est; tuum quum splendet,
frangitur!
Bolta di mundu /
i rabu di pumba!
604 BENJAMIM PINTO BULL

Só que o orioulo compara a Fortuna à cauda de uma pomba; quando


aberta, tem a forma de um leque. Dá-se-Ihe a volta num instante.
Outro exemplo, em laüm, da queda brutal da Fortuna:

Sperat infestis, metuit secundis


Alteram sortem bene preparatum
Pectus. Informes hiemes reducit
Jupiter, idem

Submovet ... .... .. ....... .. ..... ... ...... .

Um coração bem preparado tem esperança


Na adversidade, e receia na prosperidade.
Júpiter tão depressa traz os tristes invernos
Como os afasta.

(Horácio, Ode X, Livro II)

o Africarno vem para a Civilização do Universal com os seus contos


cheios de ensinamentos. Nota-se, em muitos CQlIltos da Guiné-Bissau
- chamados stória - o número ternário; esta repetição tem por objec-
tivo sustentar a atenção e a curiosidade dos ouvin:tes. Deus pede à lebre
três ooisas difíceis de conseguir pelo animalzito, daí a nossa curiosi-
dade; são elas: o mel de abelhas num cabaço, o leite do eldante noutro
cabaço, e a pele de uma jibóia ainda viva! E a lebre, triunfante, volta
cam as três coisas solicitadas. Fica aprovada!
Faz-me lembrar a Odisseia: Ulisses regressa envelhecido e disfar-
çado; é reconhecido por três sinais - difíceis - que garantem a sua
identidade: só ele é capaz de estioar o arco que possuía, só ele sabe
oomo foi oonstruído o leito nupcial, e finalmente, tem uma cicatriz
que só a esposa, Penélope, coooece.
Ainda na Odisseia: Ulisses encontra-se numa ilha onde Calipso acaba
por ser obrigado, por ordem de Zeus, a deixá-lo partir; dá-lhe três
coisas: um machado, um martelo e cavilhas, com os quais, ele constrói
uma simples jangada para desafiar, sem medo, a vasta extensão do mar.
A repetição em crioulo, nas stória, de frases como: i bai, i bai, i bai,
andou, andou, andou, ou i kuda, i !cuda, i kuda, significam no primeiro
caso, uma caminhada a percorrer, e no segundo, um bom momento de
reflexão, antes de se tomar uma decisão; pensou, pensou, pensou.
AS HUMANIDADES GRECO-LATlNAS FACE A AFRICA 605

Outras expressões
O latim diz: Amicus Plato, sed magis amiga veritas; a palavra-chave
é amicus, amigo; em crioulo: Bardali i suma malgeta, i ta iardi, a
verdade é oomo a malagueta (o piri-piri) arde, que é a palavm-chave.
Quanto à expressão crioula Noba ka ta pidi pasaju, a notícia não
pede (nem paga) a passagem (num transporte terrestre ou marítimo),
tem o seu equivalente em latim: Fama volat, a fama voa, uma noticia
espalha-se rapidarrnente. Os Romanos já estavam a pensar na conquista
do espaço, um dia, peLo homem.
Para tmduzir o kalos kagathos grego, o homem perfeito física e
moralmente, diz o crioulo: i bõ, i bali, literalmente, é bom e vale física
e moralmente. Igual expressão para designar o honnête homme, tem o
wolof que o Prof. Senghor reproduz em versos senghorianos, que vou
tentar traduzir - é dificílimo traduzir Senghor; traduttore, traditore:
Honraste o Rei
Honraste o Pobre
Honraste os teus inimigos
Se a Honra fosse cão
Vendo-te, agitaria o rabo.

Nos juramentos, o grego diz: és kephalen trepoit'emoi, que isto me


recaia na cabeça, e o crioulo, pa e sol k' na sindi, literalmente, por
este sol que está a arder (que me queime a cabeça, se não estou a
dizer a verdade).
É com todo este património cultural que o Africano contribui para
o enriquecimento da Civilização do Universal. Um diálogo de culturas ,
porque se trata precisamente de o dar e o receber.
Salvo erro, foi Montaigne quem disse um dia que era preciso
«frotter et limer notre cervel1e oontre oelle d'autrui », um verdadeiro
intercâmbio de ideias, sem preoonoeito de forma alguma. No Senegal,
diz-se: «Nit mo garap u ni1», o homem é o remédio do próprio homem.
Cooperação, oompreensão, fraternidade.
É tempo para cO'IliOluir, respondendo à pergunta quais são as
perspectivas para o obJectivo do nosso Congresso?
Para o Mricano o passado das «Humanidades greco-Iatinas» é um
presente contúlUo, um hic et nunc, um verdadeiro espelho de todo o
seu património cultural.
Amanhã será o encerramento destas jornadas, seria talvez melhor
dizer uma abertura para uma meditação profunda de todo o conteúdo que
veiculam «As Humanidades gI1eco-latinas e a Civilização do Universal».
606 BENJAMIM PINTO BULL

Há semanas, cá em Coimbra, no Penedo da Saudade meditei largos


momentos, quando li as palavras escritas nas lápides; esse Penedo
poderia taanbém ser designado por O Penedo do Humanismo .
Wolfgang Goethe, citado pelo Professor Senghor, dizia: «Temos
que ser gregos, cada um à sua maneira», eu acrescentaria, e romanos,
cada um à sua maneira, dentro duma vastíssima comunidade, todos
unidos, oonservando cada um a sua identidade: e pluribus unum .. .
Peço aos ilustres filólogos me relevem o neologismo: a greco-latino-
fonia, que seria um conjunto, urm espaço muito vasto, que incluiria os
Países novilatinos e todas as Universidades que utilizaan uma língua
novilatina, e que estudam o grego como língua clássioa.
Churchil teria dito um dia a De Gaulle: «Os impérios do futuro
serão os impérios culturais» 1.
Que «As Humanidades g,reco-lélltinas e a Civilização do Universal»
constituam um império sem imperialismo! Vamos construir um edifício,
um monumento mais duradouro que o bronze «monumentum aere
perennius» .
Coincidência: o Professor Senghor, em França, em Paris, mais
exactamente, e eu, em Portugal, precisamente em Loures, terminamos
da mesma maneira as nossas oomunicações. Transmissão de pensa-
mentos? Telepatia? Estive para mudar a minha conclusão.
Consultei-me a mim próprio, ao meu Alter Ego que me diz do mais
íntimo de mÍlm mesmo: «Quod scripsi, scripsÍ», o que escrevi, escrito
está. Portanto 2, Ilustres Ouvintes,

Vobis omnibus do gratias.

A todos muito obrigado.

l. Citado por A. Teulieres, in L'Qutre-Mer trançais, Berger, Levrault, 1970, p . 457.


2. As frases desde «Coincidência até Portanto» desta minha comunicação
foram acrescentadas depois de ter ouvido o discurso do Professor Senghor.
L'HUMANISME GRÉCO-LATIN ET L'AFRIQUE

Abbé DaVI N'DANU-ALIPUI


DirectclIr Nationa l de l ' Enseignement Catholiqlle (Lo mé, Togo)

A }ire le Theme de ce congres, et surtout à considérer le sujet de


la communication que l'on me demande, ma premiere impI1ession a
été d'embarras. Comment peut·on, dans un monde de culture techn o-
logique et scientifique, dans une civilisation de l'électrornique, une civi-
lisation de l'image qui révolutiornne notre univers, s'arrêter aux valeurs
de culture gréco-Iatine? Es,t-ce une nostalgie du passé, ou um enrete-
ment à remuer la cendre de l'histoire? Peut-on valablement fo'o oer nn
oongres mondial de ce genre à l'aube de l'an 2.000? Ce qui n'est pas
moins effI1o)'lable, c'est oomment un négro-Africain qui vit le drame
de pays sous développé, les avatars des valeurs de civilisation autrefois
canonisées et remi ses en question dans un cOlllrexte histo rique, socio-
culturel nouveau avec la dichotomie de ce qui se vit et de ce qui se dit.
Pire enoore l'Afrique serait-elle perçue oomme une nation ou un groupe
de nations? Ne serait-elle plus un continent à mille facettes de cultures
et de civilisations? Comment ce Négro-Africain peut-'il se telllÍr devant
des spécialistes et des sommité s des human1tés gréoo-Iatines qui ont
foi dans leur mission? Pour to ut oela Ho rresco referens!
Ce qui me rassure, c'est qu'il s'agit d'un congres et que toute contri-
bution, si minime soit-elle, apportera sa note ali corncert des divers
comrplémelllts d'har1IDonie. Cette communication veut rappeler d'abord
ce que l'on entend par Humanisme gréoo-Iatim et ses caractéristiques.
Montrer d 'une fresque son évolution historique et sa permanence sans
oublier les valeurs lütéraires et artistiques qui l'expriment; ensuite ,

les éléments oonstitutifs de l'humanisme Négro-Africain;


les points de convergences des deux humanismes, leur complé-
merntarité et enfin leur contribution à la di,t e " Civilisation de
l'U niversel».
608 Abbé DOVI N'DANU-ALIPUI

L'humanisme est une culture qui met l'accent sur l'homme, sur
ses qualités essentielles ert ses besoins génériques . Dante et Pétrarque
qui sout réputés comme des humanistes achevés demandent aux reuvres
de Grands Anciens un enrichissement intellectuel et moral et une jouis-
sance esthétique.
Ainsi donc «l'humanisme tend essentiellement à rendre l'homme
plus vraiment humain et à manifester sa grandeur originelle», - eu
langage moderne, le respect de la dignité de la persoll1ll1e humaine
materiellement et moralement - en le faisant partkiper à tout ce qui
peut l'enriohir dans la nature et dans l'histoire «<en concentrant le
monde en l'homme» , comme disait à peu pres Scheler, et en «clilatant
l'homme au monde»); «iI demande tout à la fois que l'homme développe
les virtualités contenues en lui, ses forces créatrices et la vie de la
raison, et tmvaille à faire des forces du monde physique les instruments
de sa liberté» 1, précise Jacques Maritain.

I. HUMANISME GRÉCO-LATIN

On peut en ce sens parler d'humanisme Gréco-Latin car c'est en


Grece qu'est né le Kalos-Kagathos, ainsi que les nortions de l'être, du
bien, du vrai et du beau, c'est chez les latins qu'on trouve le «uir bonus
dicendi peritus» comme dirait Caton. Parce qu'il n'existe pas de civili-
sation sans une littérature qui eu exprime et illustre les valeurs 2 les
valeurs humanistes de la culture grecque ont été drainnées par les
grandes reuvres des andens.

1. La Grece

On cO'llualt le caraotere de beauté et de force de la littémture


grecque classique, et spécialement la belle époque de Péricles, «ce Phro-
nimos» d'Aristote, ou la rencontre des génies; en partkulier l'avenement
de Socrate qui, négligeant systématiquement les problemes de l'univers,
s'attachait uniquement à l'homme et visait à dégager les principes
directeUl's de la vie. Sou disciple, Platon, qui a recueiJli sou héritage
est connu comme un bel équilibre d'esprit et du oorps, tel qu'il le

1. J. Maritain, Humanisme lntégral, pp. 10 et 11.


2. Senghor, Liberté I. Négritude et Humanisme.
L'HUMANISME GRÉCO-LATIN ET L' AFRIQUE 609

recommande dans sa République. C'est la tragédie de Sophocle qui


place au premier plan l'homme qui prenden mairi son destin et n'est
plus le jouet de l'aveugle, fatalité; rappelez-vous Antigone qui exalte
les «1ois non écrites» de la oonscience. Sophocle, certes, a une piété
sincere qui anime son oreur, mais le divin n'est pas tout pour lui et ce
n'est pas sans raison qu'il s'écrie «Quelle chose admirable que l'homme!»
L'homme accablé par les dieux, I'homme fort qui souffre démesure-
ment, reste grand et noble et partLculierement digne de notre pitié,
même si la racine de sa souffrance est dans la démesure qui est souvent
le fait des températments les mieux doués, à plus forte raison s'il souffre
pour obéir à l'instinct de jus>tice, pour défendr.e les droits imprescrip-
tibles de la personne humarne.
Bn ce morrnent «Ath~mes donnait le grand exemple d'une ville ou
le démos tout entier participait aux affaires publiques, ou le droit
s'humanisait, ou les plus somptueuses processions et les plus beaux
sanctuaires chantaiel1Jt la gloire des dieux, ou tous ' ceux qui pensaient
ou créaient se donnaient rendez-vouz. EUe devenait, selon l'admirable
formule de Péricles, «l'école de la Grece» 3. Et quand on dit Athenes,
on nomrne la raison et l'art dans un juS'te assemblage «une r.a ison
qui prévaut sur l'art et qui renferme l'art suprême. C'est les
Grecs qui ont transformé par un passage obligé l'arpe:ntage en géomé-
tde, la coutume en 10i, les sagesses en morale, les conseils des sages
en assemblées politiques, le sujet en citoyen, le mythe en histoire, la
religion en philosophie, et pour tout dire, la magie en science, transpa-
rente et féoonde à jamais. Ce qui est peut-être le plus admirable, c'est
que k peUiPle qui créa la rigueur est aussi celui qui créa la grâce,
comme l'irndique ce beau mot de mesure, qui veut dire également calcul
et modération. Athenes nous a révélé la géométrie, mais Athenes nous a
également appris la vertu d'humanité, le sens de la condition humaine» 4.
De fait, il y a un lien subtil mais manifeste entre le cadre urbain
oI'dOtnné autourde la oolline sainte, (l'Acropole, le haut lieu ou vont
prier tous ceux qui ne désesperent pas de l'homme), la fresque si humaine
d'Hérodote, la tragédie SophocléeIllne ' des révoItes seremes, le rire
débridé d'Aristophane, l,e s dieux olympiens de Phidias, le graphiSlIDe
aigu des potiers du Céramique et le «démoniaque» Socrate. Au oreur de

3. Philippe Lévêque, Aventure Grecque, p. 260.


4. Jean Guitton, Crise et valeurs de la Civilisation Occidentale. (Semaine
Sociale de France, 1948).

39
610 Abbé DO VI N'DANU-ALIPUI

tout, un humanisme, que résume sans l'épuiser la fameuse maxime


de Protagoras: «L' homme est la mesure de toutes choses, de l'être de
ceUes qui sont, du non.être de ce1les qui ne sont pas» s. Partout triomphe
l'esprit attique, la paix s'1nstalle, un bel équilibre la donne.

2. Rome

L'hellenisme, à son déclin, amime à Rome le patrimome d'huma-


nÍlsme grec. II n'y a pas de doute que la Rome du lHe siecle avant
Jésus-Chdst a été tout entiere inspil'ée par la culture grecque. La litté-
rature latme a véritablement trouvé ses sources d'inspiration au contact
de la littérature grecque. L'influence grecque sensibLe bien avant le
lHe siecle s'est surtout a6fenmie à mesure que les Romains dirigeaient
loors oonquêtes vel'S 1e Sud de 1'ltal1e et les cités de la Grande Grece,
surtout la Sicile pays tout impl'égné de civilisation grecque.
On saÍlt comment les classes nobles comme les Scipions donnerent
leur appui aux écrivains qui cherchaient à acclimater à Rome les
genres littéraires de la Grece. Et il n'y avait pas d'homme cultivé
à Rome qui n'ait entrepris un certain nombre de voyages à Athenes.
L'âme national n'étairt cepenoont pas en danger. L'esprit romam assimile
et modifie l'apport étranger préparant ainsi l'âge clas,s ique. En effet
des 1e début, les éorivains che:[1Oherent à Daire la synthese de l'Helle-
nLsme et de l'esprit :wmairi. PIaute, Naevius et Ennius nous ont laissé
l'exemple d'uIlIe peinture de moeurs romaines et l'exaltation du senti-
ment national sous influence grecque. Pl'ocessus qui aboutit à l'époque
c1assique à une création littéraire ou la part de l'esprit romain ne
cessera de grandir et finir par une littérature aussi belle et aussi
originale dans sa variété que la littérature grecque.
A y .yoir de pres, des la premiere moitié du l er siecle !avant
J ésus-Christ dans un climat de haine et de violence, au milieu des
attentats et des massacres, grandi:t une humanité hardie, sans scrupules,
mais vigoureuse et brillante: c'est l'épanouissement des individualités
énergiques. Pél'iode aussi ou Ies moeurs en dehors des violences poli-
tiques, s'adouccissent, ou l'individu se libere et affirme sa personna-
lité; ou il s'émandpe de ses devoirs politiques au profit . du lois ir
studieux (otium). Les belles lettres sorrt désignées par les termes élogieux
d'arts nobles dignes d'un homme libre et bien né 6. Le classicisme Zatin,

5. Platon, Protagoras, Coll. Uno Fr. Guillaume Budé.


6. Senghor, ibidem, p. 29.
L' HUMANISME GRÉCO-LATIN ET L' AFRIQ UE 611

à l'époque d'Auguste, favorisé par une période de grandeur et de paix, a


atteint son apogée, caractérisée par cei équilibre de l'intelligence, de
la sensibilité et de l'imagination, oe point de perfection artistique qui
caractérise partout l'écrivain classique. C'est aussi l'époque ou Octave
vai,nqueur organise le pouvoir et l'empire; à la solidité du régime
s'ajoute l'éclat de la puissance, la paix romaine regne sur le monde
(puisque l'empire r omain aHeint des lors les limites mêmes des terri-
toires civilisés). La culture latine, favorisée par les cercles littéraires
comme celui de Mecene et celui de Messala a poU!ssé ses tenltacules
jusque dans l'Afrique proconsulaire dont les plus beaux fleurons sont
Tertulien, St. CYiprien et surtout St. Augustin.
Ce n'est pas ici le lieu de signaler le danger de cet empire si
puissant, ni de montre ~- comment la richesse et la généralisation des
loisirs amenent le gout du luxe, la débauohe, les vaines ocoupations
dans une société qui n'a plus d'emplois sérieux, ni même d'examiner
les vaines réactions d'Auguste qui avait compris le danger.
Retenons plutôt oeci; les poetes comme Virgile, Horace et Properce
ont célébré la vertu et la piété des vieux Romains et le bonheur de
vivre aux champs. Le cu1te de la fopme, joint au souci de la vérité
dans la peinture des sentiments et à l'amour de la raison, fait d'eux
des poetes vraiment achevés. S'i.Is continuent à préconiser l'imitation
des Grecs comme un article essentiel de leur art poétique, du moins
oette imHation n'est pas un esclavage. C'est bien véritablement leur
âme d'hommes et de Romains qu'ils e)Qpriment. Virgile et Horace,
poetes nationaux autant que personnels, poetes humains et parfaits
artistes, ont laissé aux siecles suivants le modele même de l'écrivain
olassique, chez eux l'intelligence regle l'imagination et la sensibilité,
ordonne et contrôle l'inspirat ion. La raison et l'art se rejoignent pour
donner à l'expression sa force et sa noblesse sQlUveraines.
En définitive nous dirons avec cei humaniste que «linguae graeca
et latina amandae sunt et retinendae quia antiquam sapientiam CO[1-
tÍ!nent et nostris universaliores sunt.)} Que ce développement littéraire
ne vous effarouche point; je le sais, on me dira avec Senghor: «il ne
s'agit plus d'hisltoire littéraire ni de spéculation, bien que l'histoire
éolaire le probleme actuel c'est dire qu'il s'agit de sauver, avec l'homme
concret, le monde concret, toujours exposé à la folie des dictateurs
et des bombes atomiques.»
612 Abbé DOVI N ' DANU-ALlPUI

Mais la spécificité de Rome s'exprime davantage dans ses insti-


tutions. Ce que Jean Guitton appele son apport par l'idée de loi, et il
explique:
«La loi esli un texte qui fixe la limite de ce qui est défendu, qui
tarifie les sanc tions au lieu de les laisser à l'arbitraire de la voogeance,
qui dorme à chacun oe qui lui est du sans recouri.r à la condescendance
de l'amour, mais en pesant chaque mérite, chaque salaire, chaque peine
afflictive par rapport au bien commun» 7. II y a là un principe propre-
ment Romain qui odore une origine terrienne, une civilisation de
paysans fixés au solou de petits propriétaires. Salluste avairt: introduit
son exaltation des vertus romaines en disant: «Nou diuitiarum et
formae gloria fLuxa atque fragilis es,t , uirtus clara aeternaque habetur»
(car l'écl.at des richesses et de la beauté est chose frag11e et périssable;
la vertu, elle, assure la gloire et l'immortalité). N'aVlaÍt-il pas écrit au-
parav,a nt: «I.mperium legitumUilTI, nomen imperi regium habebant » 8,
(sous le nom de royauté ils avaient un gouvernement régi par des lois) .
Leur esprit organisateur et eIlJtreprooant est souligné par la différence
que Sallaste met entre les Athéniens ,e t 1es Romains: «Les exploits des
Athéniens ne manquerent, sans doure, ni de grandeur ni d'éclat. Je les
crois néanmoins sensiblement inférieurs à leur renommée. Mais corrnne
leur cité vit naitre des écrivains de génie, partoute la terre, les actions
des Athéniens sont oélébr,ées oomme les plus belles. Ainsi le mérite des
grands ' hommes se mesure au talent de ceux qui out su exalter leur
génie. Le rpeuple Romain n'eut jamais oette ressouroe; les plus sages
étaient aussi les p~us pris par les affaires; le tmvaH de l'esprit n'excluait
point oelui du corps; les meilleurs citoyens préféraient l'adiou à la
paroLe, et aimaient mieux voir louer leurs hauts faits par d 'autres que
de raconter eux-mêmes ceux d'autruÍ» 9.
Toutes les vel'tus sünt centrées sur I'homme. «Ainsi, poursuit notre
auteur de la Conjuration de Catilina, dans la paix et dans la guerre
les vertus étaient-elles en honneur; la conoorde était grande; nulle, la
soif de 1'0r. La justice et la moral e s'appuyaient moins sur les lois
que sur l'instinct nature!. Querelles, disoordes, inimitiés s'exerçaient
contl'e les ennemis du dehors; entre citoyens, c'est de vertu qu'on
r:ivalisait «oiues CUilTI ciuibus de uirtute certabant» . IIs étaient magni-

7. Jean Guitton, ibidem.


8. Salluste, Conjuration de Catilina, 15, Guillaume Budé.
9. Salluste, ibidem.
L' HUMANISME GRÉCO-LATIN ET L 'AFRIQUE 613

fiques dam:s les honneurs rendus aux dioox, économes dans leurs foyers,
fideles envers 1eurs amis» (S aillus te, Conj. de Cat., p. 63). Au fil des
années ce sens pratique des Romains, oette intelligence et cet esprit
d'organisation se manifestent dans la création d'une société dont la
structure est à la fois rigoureusement hiérarchisée et frélJIlchement
égalitaire, interposant une olasse moyenne en grisaille entre l'aristo-
cratie voyante de multimilionnaires et les Masses d'un prolétaria,t.
On se souvient au I1e sieole surtout de ces hommes-nés libres, les
«ingeni» répartis eux-mêmes en «hUII1ilioores» et en «honestiores », ces
derniers comprenant les vir egregius, vir perfecüssimus, vir eminentis-
simus et les vir c1ari,s,s imus d'une part; et d'autre part la foule des
esdaves, la «res mandpi».
- Le sens pratique des Romains, autant qu'un fond d'humanité
naturel à leurs âmes' paysannes, les avai.ent préservés de la oruauté
envers leurs esdaves, «servi». Toujours ils les avaient menagés, comme
Caton ses boeufs de labour; et aus,s i loin qu'on remonte dans le passé,
on les voit, pour en stimuler les efforts, les récompenser de primes
et de salaires dont les versements accumulés en un pécule fournissaient,
à l'ordi01aire, la rançon de la sennitude. C'est surtout sous les Antonins
que la s'e rvitude a été la plus douce et la plus facile à :wmpre.
Des le dernier siec1e de la République, l'esclave s'était vu recon-
naitre une âJme, et les libres citoyens l'avaient admis à la pratique, en
commun, eLe leurs cultes préférés.
- Audébut de l' empire, une oertaine «1ex Petronia» avait défendu
au maitre de liva:-er son esdave aux bêtes sans l'autorité d'un jugement.
Vers le milieu du ler siec1e, un édit de l'empereur Claude décida
l'affranohissement d'offiee des esclaves malardes ou infirmes que leur
maítre avait abandon01és. Peu apres, um édit de Néron, rédigé peut-être
sous l'instigation de Séneque, qui avait hautement revendiqué la qualité
d'homme pour les esclaves, ohaigea le Préfet de la viHe de recevoir
et instruire les plainrtes dont ils le saisiraient contre l'injustice de leurs
maitres. En 83, un sénatus-consulte renrdu sons Domitien prohiba la
castration des esdaves et frappa le maitre coupable d'avoir enfreint
cet inte11dit de la confiseation de la moitié de ses biens. La «res mancipi »
dane peu à peu, grâce au jeu des affranchissements, ajouté à la nortion
de mérite et d'avancement dont bénéficient les légicmnaires, va créer
une nouveHe situation dans l'Empire qui sera à l'origine de l'empi.re
universel «Orbis romanus». En effet grâce à cette notion de mmite et
d'avanoement, des communications s'établissent de toutes parts entre
les nations et les classes pour les ventiler, les rapprocher, les fondre.
614 Abbé DaVI N' DANU-ALlPUl

A mesure que le «ius gentium» c'est-à-dire le droit des nations étran-


geres, se modele sur le «ius civile», c'est-à-dire sur le droit des citoyens
romains et que, par ailleurs, le «ius civile», sous l'action de la philo-
sophie, tend à s'informer sur le droit nature!, «ius naturale» la distance
s'abrege entre le Romain et l'étranger, entre le citoyen et le péregrin,
et à chaque instant, soit par des faveurs individueUes et des affran-
chissements, soit par des naturalisations massives, un nouvel afflux
de pélégI1ins entre dans la cité romaJine_ Ceux-ci avec leurs idiomes,
leurs moeurs, leurs coutumes et leurs superstitions_ Au point que l'on
faisait remarquer au n c siecle que le droit gentilice des anciens âges
est tombé en dessuétude: «Totum gentihcium jus in desuetudinem
abiit.» Juvénal a beau s'insurger contre <,cette boue torrentielle déversée
de l'Oronte dans le Tibre», rien n'y fito Au contraire, cela va pennettre
à Rome d'asseoir san Empire par delà les clivages de races, de reli-
gions et de continents. Seule, en effet, dans le monde antique la cité
romaine garde l'honneur d'avoir racheté ses «parias» en leur ouvrant
ses portes.
Que dire, apres l'organisation de la société, sur la famille? Une
évolution dans le sens de la liberté, du respect de la personne et de sa
dignité péllJ:1Oourt l'histoire de la famille romaine: depuis le ius conubi
en faveur des patriciens, de la plebe et finalement des affranchis, en
passant par la loi Julia de Marit,a ndis ordinibus permettant le mariage
entre les ingeni et les affranchis en l'an 18 avant Jésus-Christ, l'histoire
témoigne des avatars du paterfamilias relachant ses droits absolus dans
le sens d'une humanisatiorn plus grande.
Rappelez-vous la plaoe de la «Matrona», bien plus respectée qu 'en
Grece et ayant droit au tit're de «Domina». En un mot le Droit de dté
(ciues optimo iure) , porte un grarnd souffle d'humanisme, qu'il s'agisse
des Jura publica ou des Jura privam_
Toutes ces caractéristiques de la culture Romaine, de san huma-
nisme par conséquent ont été tres bien résUlIllées par Senghor dans sa
plaquette Négritude et Latinité. Cette culture, ces valeurs de civi.Jisation
iI les a appelées latinité.
«La latinité c'est d'abord le sens de l'humain, le respect de la
personne huma~ne par delà races et religions . San application se trouve
positJivement dans «l'Edit de Caraca1Ia», aboutissement de la politique
d'assimilation des Bmpereurs.
- C'est le droit de loa oi,toyenueté romaine, l'égalité accordée à
tous les hommes libres de l'empire. Le mirade latin est que Rome fut
la premiere puissance mondiale à concevoir l'idée nationa:le par delà
L ' HUMANISME GRÉ CO-LATlN ET L'AFRIQUE 615

races, religions et continents, de l'avoir réalisée au profit de tous les


hommes, en un mot, d'avoir la premiere pensé sub specie universalis.»
«La latinité, continue l'auteur, c'est aussi la ratio_ Une ratio moins
souple, moins discussive que le logos Grec, dont elle procede mais
combien plus efficace. Plus qu'analyse, elle est synthese, plus que théorie
clle est techniquc efficace d'organisation, de réalisation. Avec le Droit,
c'est dans les domaines les plus divers, toutes les techniques de la vie
moderne qui nous viennent de Rome par le relais de la Renaissance
elle-même ceuvre d'Italie, sinon de Rome. Notre civilisation technicienne
est héritiere du génie romain» lO .
Qui, le développement des sciences, des techniques, des arts dans
les pays latins tels que la France, l'Italie, l'Espagne et le Portugal et
leur retentissement dans le monde auj ourd 'hui montre bien quel est
l'apport ele la latinité à la civilisation de l'Universel, grâce à cette
«raison tectonique qui ne découvre les ressarts de l'âme humalÍne que
pour les exprimer dans un ordre nouveau. Un o,r dre supérieur qui est
expression de l'hommc par les formes et les rythmes du cosmos» 11.
La traditicm qui fit de Rome la capirtale du mOlI1de, parce que foyer de
culture, port de liberté, carrefour du donne·r et du recevoir releve de
son humanisme.

II. L'EUROPE, TRIBUTAIRE DE L'HUMANISME GRÉCO-LATIN

La latinité dont nous venons de parler, c'est-à-dire cette culture,


oes valeurs de civilisation, héritées d'Athenes et organisées par Rome,
ont jadis informé l'Europe, par l'intermediairre de la dvHisation médi-
terranéenne née d'elle, et depuis la Renaissance, l'Amérique, l'Afrique.
une partie de l'Asie. L'Europe reste donc l'héritiere principale de la
culture gréco-Iatine, de l'humanisme gréco-Iatin, cette réalité est appeleé
d'un autre nom par Jean Guirtton à savoir - «les valeurs perman:entes
de la civilisation Occidentale.» H les a crista1lisées autour ele trois noms:
Athenes, Rome, JéI'llsalem. Athenes, c'est la raison et l'art; tandis que
Rome, son appopt se résume dans l'idée de Loi. Cette intelligence et cet
esprit d'organisaticm, d'ou est née la civilisart:ion mooiterranéenne et
dont l'impaot caractérise encore la civilisation moderne, cet héritage

10. Senghor, ibidem , pp. 20-23.


11. Ibidem.
616 Abbé DaVI N ' DANU-ALIPUI

de Rom,e, Senghor le résume en ces mots: «définitiorn claire des fins


humaines, ohoix lucide des voies et moyens, application rigoureuse
des techniques les plus modernes» 12_ Oui! qu'il s'agisse des réalités
politiques, du systheme éducationnel, du monde des Droits et de l'appa-
reil juridique, de l'aménagement du temps qui rappelle le divin loisir
des grecs, des sciences elles-mêmes, ou qu'on mette les pieds, Athenes
et Rome odorent partout.
Pour l'hUlIDanisme dont il s'agit ici, et qui fait la noblesse de la
civilisation occidentale, je ne serais pas complet si je n'ajoutais à la
géométrie, à la vertu d'humanirté et au sens de la conditiorn humaine
qu'Athenes a révelé à l'ocódenrt, «ce vêtement , sobre, onrdé ert pur qui
drape si bien, depuis les Évangiles et 5.t. Paul, le Chrisúianisme» pour
parler comme Jean GuÍltton.
Je veux dire la civilisation chrétienne par laquelle «les sept collines
de Rome, ou l'idée de Loi fut conçue, regardent vers la vallée de
Josaphat, ou cette même idée de loi sera consommée_» Cest donc Jéru-
salem, qui a «en:tierernent transformé les valeurs occidentales et qui
les a, au seus propre, orüentées: car la rai50n et la loi, une fois livrées
à elles-1IIlêmes, auraient pu, comme Narcisse, adorer leur pr0p're image.
Mais Jérusalem leur apprenait qu'il fallait adorer «en esprit et en
vérité» un être tout puissant et tout aimant, situé au delà de tout, et
qui s'était manifesté dans le Chri's t Jésus.»

III. L'HUMANISME AFRICAIN

Nous avons vu plus haut qu'apres l'Europe, ert depuis la Renais-


sanoe, l'humallisme gréco-Iatin, ces valeurs ,de civilisatiorn, de la Latinité
ont informé aussi l'Amérique, l'Afrique et LIDe partie de l'Asie.
n faut le dire tout de go, l'Afrique ne s'était pas pl1és'erntée à ce
rendez-vous les mains vides. Le message gréco-Iatin, du point de vue
de son humanisme, n'a pas trouvé devant lui une terre vierge. Déjà, à
l'apogée de l'Empire, quand Rome pensait sub specie universaHs, les
Berberes de l' Afrique proconsulaire revendiquaient la spécifioité de
leur culture_ Ayant recueilli cet héritage St. Augustin face à des valeurs
gréoo-romains relevait les valeurs de civilisation pUl1'ique qui étaient
d'une grande nobleslSe et dignité.

12. Ibidem.
L'HUMANISME GRÉCO·LATlN ET L 'AFRIQUE 617

La civilisation négro-Africaine quant à elle, est fondée sur la con-


ception et notion de la vie, ou mieux de la force vitale qui sourd
depuis le premier Ancêtre en passant par tous les hommes e1 tous les
étres vivants jusqu'au peüt grain de sable. En effet, on s'en rend bien
compte lorsqu'on mene des investigations à travers le sOtis-sol culturel
négro-Africain. La vision de l'homme et de I'univers chez I'Africain
s'enracine d'abord da:ns une eXJpérience vita:le d'ou elle rejaillit sur tout
le reste; cette vision est d'emblée totalisante. En suivant la pensée
Africaine dans I'ordre psychologique de san enchainement on découvre
ce qui suit:

A) L'homme, dans sa vie concrete, se sent un être dépendant à


l'égard de la nature d'abord, dans laqueUe iI est immergé, dont iI tire
sa subsistance, et qui l' enveloppe d'un réseau de forces bénéfiques ou
redoutables; à l'égaI1d ensuite d'U!Il monde invisible et supérieur, «surna-
ture!» , peuplé d'êtres puissants, qui SO!Ilt des personnes animées d'inten-
tions plus ou moins bienveillantes envers l'homme et capables d'utiliser
à leurs fins, en les modifiant au besoin, les fo'r ces de la n ature. Ce
monde surpérieur est présidé par un Être Suprême, urnique, souroe
de tous les autres êtres; entre lui et I'homme s'interposent beaueoup de
divinités, qui sont en général spécialisées, leur pouvoir se limitant à un
seoteur de l'univers; certaines d'entre el~es font office d'inter:rnédiaires,
d'agents de liaison entre les dieux, ou entre les dieux et les hommes.
Le mO!Ilde supérieuroomprend aussi les âmes des défunts, promues
au raJIlg de divi!Ilités, ou au mOÍ!l1S d'intenrnédiaires entre les dieux et
lesviv,a:nts. Le sort de l'homme est prédéltenminé; cependant,l'homme
ales moyens de le deviner, et, dans une certaine mesure, de le modifier.

B) L'homme, dépendant de la nature et ou monde «surnature!»,


est ausls i solidaire de l'une et de I'autre, et ceci en un double sens:
- non seulement iI en subit l'influence, mais iI peut à son tour
agir: sur la na't ure, par sa propre industrie ou par des moyens magiques ;
sur les dieux, en se les concilianrt par des oEfrandes et par l' observation
d'innombrables tabous; sur les ancêt'r es, en faisant pression sur eux
(si les aJIloêtres ne favorisent pas les naissances), c'est eux-mêmes qu'Hs
punÍl'ont, en se privant de descendants susceptibles de les honorer et
de leur rendre la vie heureuse dans l'au-delà.
- iI partage nn sort commun: avec la nature, dont iI finalise les
ressources et capte les forces vives; avec les dieux, qui semblent avoir
618 Abbé DaVI N' DANU-ALlPUl

besoin, pour leur propre bien-être, de son respect et de ses services,


et qui, presqu'autant que les ancêtres défunts, sont singulierement
mêlés au monde des vivants . Le monde supérieur inclut non seulement
les âmes des défunts, mais aussi, plus ou moins confusément, le monde
animal et végétal, voire le regne minéral, habités par des forces mysté-
rieuscs qui sont souvent personnelles.

C) Solídaire de la nature et des dieux, l'homme l'est aussi, et plus


encore, des autres hommes. La génération tis se un lien contmu et
indestructible entre les hommes du passé, du présent et de l'avenir.
Ces liens comm3lndent les structures et les relations sociales. L'homme
dépend de sa communauté, laquelle dépend à som tour de lui : dépen-
dance profonde, universelle pourrait-on dire, car elle s'étend à tous
les domaines de la vie et se traduit par des gestes sociaux en toute
oocasion rut-eUe la plus personnelle: la moindre singularité affectant
un individu semble attirer l'attention du groupe entier et mettre en
branle tout un monde de connexions et d'ilIlfluences.
Les structures sociales qui, partant des groupes de parooté, abou-
tissent à une organisation hiérarchique, sont projectées dans le monde
eles dieux, par efofet d'une soUdarité que cette projectioll1 resserre en
retour. La soHdarité qui relie tous les êtres entre eux constitue l'ordre
de l'univers qui est considéré comme sacré. Enfin l'ordre unhllersel
preservé garanti,t, da,ns S3 vie concrete, le bonheur de l'homme; c'est
à l'intérieur d'un tel orelre qu'iJ trouve sécurire, reconfort, bien-être; et
c"est à cela que tend, bien naturellemen1, le désir dernier de l'Alfiricain.
Ce bonheur l'Africam sent qu'il ne parviendra pas à le réaliser tout
seul; iI lui faut le concours de sa commUtllauté et de l'univers; plus
exactement iI lui faUit ,ê tre ~ntégré dans leur tranquilité.
La plénitude d'existence consiste à vivre en harmonie et bonne
inteHigence avec l'univers entier; avec la nature, pour la domestiquer
et ,e n maitriser les forces occultes; avec les «esprits» et les «dieux»,
pour apai,s er leur courroux, s'attirer leur faveur, s'en faire des auxi-
liaires; avec les autres hommes - ceux de sa commUll1aure - paur
s'entr'aider et jouir paisiblement des rapports personnels. L'Africain
éprouve le besoin de vivre en communion avec l'univers parce que,
laissé seul, il se sent accablé et comme tmnqué, tandis qu'inséré dans
sa commU!nauté et dans la société de tous le6 êtres, il trouve paix,
sécurité, réconfort; iI semble ressentir Uin sourd besoin de s'iderutifier
à cet univers, ou du moins de s'épanouir jusqu'à se dill ater à ses dimen-
sions: il remonte le temps en communiant aux anç'êtres, le descent en
L'H UMA NISME G RÉeO-LATI N ET L'AFRIQ UE 619

survivant dans sa postérité: iI franehit l'espaee en conununiqua11Jt avec


les dieux et les puissanees invisibles. II plonge ainsi dans le flux de
force vitale qui pareourt l'univers. Influx vital: telle est la réalité diffuse,
mystérieuse, mais suprêmemeut ressentie, qui envahirt, à l'intime d'elle-
même, l'âme de l'Africain - eomme celle, au fond, de tout homme.
Pour l'Africain, e'est Ie courant qui véhicuIe et rassemble, nO[1 seulemen t
les aneêtres unis aux vivants, mais encore Ies êtres iuvisibIes, et entraine
dans sa ronde m ême Ies êtres apparemment inertes. Tom ce qui évoque
ou exprime le fait vital, ou s'y rapporte, touohe au bien essentiel, à la
valeur suprême; la conscience de ce fait se répercute profondément sur
I'affectivité, s'accompagne d'une charge émotionneHe qui a1Jteint son
paroxysme dans la transmission de la vie - d'ou la place primordiale
occupée par la sexualité nO[1 seulement dans les rapports personnels,
mais aussi dans les stnlctures soeiaIes. Ce caractere foncier et impé-
rieux de l'influx vital lui confere par aille'l1rs une dilIIlension religieuse,
une valeUl- sacrée, eu toutes ses manifestations. Par lui, on est ilJJtégré
dans la grande communauté de l'univers; vivre, c'est tenir sa plaee
dans la chaine des vivanrs, plaee donrt iI ne faut pas s'écarter, sous
peine de Pllipture d'équilibre, désastreuse pour soi et pour les autres.
Plus on vit, plus on eommunie à l'univers, dout on stimule le flux vital;
et plus on communie à l'univers, pIus on eu reçoit d'i[1flux vital en
retour.
Cette suprême valeur qu'est la vie doir!: done être préservée et
renforcée par tous les moyens. L'ensemble de l'univers gravite autour
de l'hOimme vivant: celui-ei en est non seulement le centre, mais encare,
au moins implidtement, la fino Tout s'y ramene: la oréation du monde
par les dieux, l'activité des ancêtres, les êtres de la IlaJture visible; la
plaoe que tielJJnent les êtres dans l'échelle d'appréciation pratique de
l'homme dépend des rdations qu'iJs enrtretiennent avec lui: plus ils sout
proehes de l'homme, plus i1s sont eons1dérés et honorés; les dieux dont
le culte est le rplus florissant SOIllt eeux qui mterviennent le plus sensi-
blement dans la vie de l'homme. C'esi pourquoi chez l'Africain tout
doit concourir au développernent plus qu'à la oroissance; celui-Ià, par
deI à le bi,e n-être assure à chaque cirtoyen la plénitude de plus~être pour
faire de lui une personne. Une personne, c'est-à-dire un homme qui
aura fait épanouir en lui, les valeurs spirituelles de son peuple.
Ces valeurs de la eivilisation négro-africaine, Senghor les désigne
par le terme de Négritude . Ce Ue-ci, dit l'auteur, «concretement s'exprime
par le sens communautaire, qui est, chez nous, oommunion; communion
de l' homme avee l'homme, de l'homme avec la Nature (ajoutons de
620 Abbé DOVI N'DANU·ALIPUI

l'homme avee le monde invisible) . Cette conspiration des centres, des


ârrnes, est exprimée, dans notre art, qu'il soit religieux ou profane, par
le symbole et le rythme: par l'image rythmée.» La Négritude ceite
personnalité colleetive négro·africaine «n'est donc pas un racisme.
Si elle s'est faitte d'abord raciste, c'était par antiracisme. En vérité, la
Négritude est un humanisme. Or done, la Négritude, c'est l'ensemble
des valeurs culturel1es du monde noir, tenes qu'elles s'expriment dans
la vie, les insütutions et les reuvres des Noirs.» EHe se veut UJI1e «pierre
d'angle dans l'édification de la civilisation de l'Universel, qui sera
l'reuvre oommune de toutes les races, de toutes les eivilisations diffé-
rentes - ou ne sera pas.» «Elle est done ouverture aux autres CCllIlti-
nents, aux autres races, aux autres nations, aux autres cultures. Elle
est dialogue pour une symbiose panhumaine» 13.
Que l'on considere la civiHsation négro-Afrioaine, «cet ensemble
de valeurs morales et techniques d'une part et d'autre part la maniere
de s'en servir», tels que la force vitale en philosophie, la palabre en
politique, la stylisation du sculpteur, la synoope du musicien, autant
de traits de certe civilisation, tout respire de l'humanisme. C'est depuis
les mamelles de sa maman que l'enfant negre tête l'humani>s.me. Les
psychologues Africanistes décrivent ce qu'iJIs voient dans les grandes
familles en Afrique; les jouets de l'enfant-noir loin d'être les objets,
sont des personnes; les téllntes, les oneles, les eouJSins et oousines, toute
la maisonnée; et oomme l'enfant est poreux que tout lui rentre quasi
par la pea'll, ai[]si au fur à mesure qu'il grandit dans les rapports
d'échanges la personne prévaut sur les choses; il fait donc l'appren-
tissage de l'humanisme des le berceau.
La société afrieaine elle-ffi1,ê me est fondée sur l'Uilli,t é et les solida-
rités et oonstruite dans un sens plainement communautaire ou la per-
sonne est ra ppelée à s'épanouir. Le primat de la communauté tend à
réaliser la personne qui à son tour est toute entiere pour la vie de la
oommunaure. C'est un mouvement osciUélItoire et non linéaire. Dans
le même contexte l'édueation domestique est d'UIl!e importélJilee eapitale.
C'est là que se communique la sagesse afrieaine. Au rôle de pater·
familias de chef de famme s'ajoute eelui des tantes, des gmupes des
anciens pour la transmission du pattrimoine eulturel.
L'auteur de Négritude et Humanisme a relevé les é1éments consti·
tutifs d'une civilisation d'inspiration négro-africaine qui ont fait éclore

13. Ibidem.
L'HUMANISME GRÉCO·LATIN ET L'AFRIQUE 621

l'humanisme africain. C'est d'aboi['d le milieu tropical et agrioole: «le


climat chaud et humide est pour beauooup dans le tempérament negre.
II expliquerait 1'extreme sensibilité des Negres. - On1 agi également et
plus les environlIlements végétal et an~mal; d'ou 1'importance de l'arbre
et de l'animal dans la mythologie négro-afrioaine dans 1'élaboration
des totems et themes. Les Négro-Afl'icains se sont donnés tres tôt à
1'agriculture et c'est le milieu agricole qui explique le mieux leur société.
Le Négro-Africain est un paysan qui vit de la terre et avec la terre.
II a ensuite soul,i gné la dialectique du réel et de l'intention par quoi la
conscience se hauss'e en connaissance dans la psychologie du négro-
Africain. Notre psychologi,e est 1'expression de notre physiologie, encore
que celle-Ià conditionne, à son tour, celle-oi et la dépasse.»
Homme de la nature, homme de plein air, le negre est un être, aux
sens ouverts, perméable à toutes les sollicitations, aux ondes mêmes de
la nature, sans intemnédiaires filtrants entre le sujet et l'objet. Homme
pensant bien sur, mais d'ab0l1d formes et couleurs, surtout odeurs sons
et rythmes . Le négro-Africain pourrait dire: je sens 1'Autre, je dall1se
l'Autre, donc je suis.» Or danser c'est créer, surtoUJt lorsque la .clanse
est danse d'amour, meilleur mode de connais,s ance. Mais il faut le savoir,
l'élan negre, 1'abandon actif du négro-Africain vers 1'objet est animé par la
raison. Mais pas nécessairement sous sa forme rationnelle. La raison
ici ce n'est pas la «raison-oeil» mais la «raison-touohef», la raison sym-
patique qui tient du «logos» plus que de la «ratio». La raison Euro-
péenne est anaHtique par utilisation, la raison negre intuitive par
participation.
De l'ontologie et religion, comme éléments constitutifs, je ne dirai
plus rien sinon que de negre identifie l'être à la vie, plus exactement
à la force vitale, une force vitale semblable à la sienne que anime chaque
objet doué de caracteres sensibles depui,s Dieu jusqu'à grain de sable.»
Ce qui frappe et qu'il convient de souligner c'est la valeur humaine
de l' ontologie négro-Africaine.
Bouclons la liste de ces éléments constitutifs de la Culture Africaine
par l'éthique en Afrique noire qui est sagesse active. «EHe consiste,
pour l'homme vivant à reconnaitre l'unité du monde et à travailler pour
son oJ:1dination. Son devoir est donc de renforcer, bien sur, sa vie per-
sonnelle, mais aussi de réaliser 1'être chez les autres hommes. Ce qui
explique la place qu'occupe la religion dans la société .. . Ce qui eX!plique
l' organisation de cette même société en reseau de communautés verti-
cales et horizontales; ce qui explique la oulture de cerrames vertus,
comme le travail, l'honneur, la piété filiale, la charité, 1'hospitalité.»
622 Abbé DOVI N ' DANU-ALlPUI

IV. CONVERGENCES

Qui nierait, qu'à l'analyse de ces deux humanismes, gréco-Iatin et


négro-Afrkain il apparait une convergence? Qu'il s'agisse de l'organj-
saüon de la société, des rapports avec la nature, de la religion, de l'art,
des reuvres littéraires, des institutions diverses, tout est centré sur
l'homme, l'homme est le point de référence nécessaire et tout est orga-
nisé, programmé pour rendre l'homme plus humain. Même les divinités
ne sont telles que parce qu'elles s'intéressoot de quelque maniere à
l'homme;c'est le sens de l'humain, le respect de la personne humaine
par delà races et relirgions. Dans les deux cas aussi tout est mis en
reuvre pour développer les quaHtés essentielles de l'homme et satis-
faire à ses besoins génériques. Le Kalos-Kagathos grec, le «vir bonus »
romain, et le dyambour des wolof du Sénégal se rejoignent ou du
moins sont fort analogues. En effet dyambour doit posséder les qualités
diverses: beauté et force physiques, distinction et urbanité, richesses
matérielles et richesses mOl-ales . lei le terrain est préparé pour la
«symbiose panhumaine ».

V. COMPLÉMENTARITÉ

Convergenee ue veut pas dÍ're identité. Chaque humanisme s'exprime


dans des contextes géographiques, historique s et culturels différents.
Nous l'avons vu, la raison européenne, héritiere de la ratio latine est
analytique par utilisation, la raison negre intui tive par partieipation.
L'Occident nous a ~pporté la raison discursive; les négro-Africains
lui apportent une raison intuitive eomme «eom-préhension » totale du
monde, sy:mbiose du sujet et de l'objet par le mouvemell't de l'image
rythmé, du symbole plastique, qui est plus que l'esprit, l'expression
passionnée de l'âme.
Jean Guitton l'avait déjà dit, «la raison et la loi qu'Athenes et Rome
ont apportées, une fois livrées à elles-'mêmes, auraient pu, comane Narcise,
adorer leur propre image. En d'autres termes, la logique, à elle seule,
est incapable de «comprendre » le réel; ii y faut une raison supérieure,
cet élan vital cette intuition de la foi, ou sujet et objet se confondent
dans une étreinte amoureuse. C'est cela l'Africanité dont la négritude
n 'est qu'un aspecto Elle est connaissance par le dialogue: par l'Amour.
«Au oommencement était l'Amour» (Gaston Berger).
L'HUMANISME GR ~ CO -LATIN E T L ' AFRIQUE 623

C'esi ce que les deux Berberes, Tertulien et St. Augustin avaient


revendiqué, «Credo quia absuJ1dum» dans un contexte théologique, il
est vrai. Car autrement, la tare inévitable d'un certain exces de logique,
de divisions difficilement surmontables menace les tenant de la pure
raison; alors que l'Athénien et le Français sont trop portés à croire
que la logique et la passion sont choses contraires, le Sénégalaâs et le
Camerounais montrent au contraire que ce sont les deux flammes d'un
même feu.»
«11 y a une certaine saveur, une certaine odeur, un certain accent,
un certain timbre inexprimables à des instI'Ull11ents européens. » Cet
hwnanisme négro-Afrioain est ouverture. Pour cela, lorsque la coloni-
sation, pour ne considérer que son côté positif, a appo'r té la culture
oocidentale l'Afrique s'en est enrichie surtout par la voie de l'enseig-
nement. Celui-ci -consiste pour l'enfant, dans l'acquisi1:ion de l'ex:périence
accumulée des générations antérieures, SoOus forme de concepts, d'idées,
de méthodes et de techniques. NoOus en avoOns l'exen']ple dans l'enseig-
nement du latin dans noOs écoles en-coOre aujourd'hui. En effet ce qui
définit le génie latin c'est son besoi-n de rationalité et soOn souci
d'efficacité. «Rationalité, effiicadté, ce sont précisément les exigences
de la civilisation moderne; de la civilisation industrielle. Ce sont ces
vertus que 1'on découvre dans les versions latines et que l'on apprend
à pratiquer dans les themes. Peu à peu elles s'anirrnent dans 1'esprit
de l'apprenant transformant, lentement, ses habitooes de penser et
d'agir. C'est par la version et le theme que les éleves apprennent à
aiguiser leur jugement, à introduire la raisoOn et l'ordre dans leur pensée,
dans leur vie de citoyen et d'époux. 11 s'agit de tout une tournure
d'esprit, faite de clarté, de rigueur.» Mais également l'humanisme négro-
Africain a, à s.ont tour enrichi les valeurs permanentes de l'occident;
Senghor affirme que le compl6ment nécessaire poOur la dimension
panhumaine de la latinité c'est la «section rythmique de la négritude».
«Nous avons apporté, car déjà nos fOPll1es ont informé votre plas-
tique, noOs rythmes ont musclé votre musique.»

VI. VERS LA CIVILISATION DE L'UNIVERSEL

En ce XXe siecle, grâce aux aspects positifs de la colonisation, il


faut le dire, grâce surtout aux indépendances de nos pays africains
avec le jeu de la coopération et des relations bilallérnles et multilaté-
rales dans· tous les secteurs de la vie socio-économique, politique et
624 Abbé DOVI N'DANU-ALIPUI

culturelle de nos nations appuyées par les Moyens de Communication


Sociale il est dair que les deux humanismes greco-Iatin et négm-Africain
se rencontrent, se confrontent et il se dégage peu à peu une dimension
panhumaine de la Civi1isation moderne. C'est qu'en fait les négro-Afri-
cains partidpen1 à cet héritage de Rome, lui-unême tribultaire d'Athooes,
à savoir:

• définition claire des fins humaines;


• choix lucide des voies et moyens;
• applicaüon rigoureuse des techniques les plus modernes.

Et on a compris depuis que l'o'l"chestre de la convergence pan-


humaine ne serait pas complet, ne serait pas humain, s'il y manquai.t
la section rythmique de la négritude. L'Occident est admirable par son
art de compter, de minuter, de distribuer le temps, de le rac.onter
selon la ch:mnologie, de déoouper l'avenir par des projets scandés;
mais iI est paJtfois esolav,e du temps et ne se donne pas le temps de vivre.
Le négro-AfricaitlJ. qui, vivant en plein air, imbibé dan,s la nature,
ryth:me sa vie avec la nature, ne mailtrise pas souvent le temps qui lui
parait sans limite. Le négro-Africain gagnerait à mieux organiser le
temps ert: à le maitriser plus. L' oocidental gagnerait aussi à ne pas
devenir esclave du temps ' qui l'enfeI1me facilement dans l'iIlJtérêt e1 lui
desseche le camr, mais à apprendre commenrt: se oonneJI' le temps de
vivre un peu plus. L'Africain a créé le rythme et la cadence; l'oc.cidental
a créé le metre et la mesure; en y paI1ticipant le négro-Africain arrive à
prévoir, à organiser le temps; ainsi iI ne vivra pas toujours comme
quelqu'un qui a tout le temps derriere lui et tout le temps devant lui,
ou qui s'instaUe dans ce confort de «ue rien faire suffit à tout arr.anger».
La négritude, humanisme ouvert, s'est enrichie, singulierement des
apports de la Civilisation Européenne, et elle l'a enrichie. L'humanisme
en ce xxe sieole de la «convergence panhumaine», ne saumit oonsister
qu'en ce oommerce du oreur et de l'espriil:: en: ce «donner et recevoir »,
Senghor affiI1me que l'Afrique a choisi d'être présente à la renaissance
d'un monde nouveau.»
C'est une nouvelle sensibiHté, une nouvelle âme, une nouvelle
dimension que le Continent africain est appelé à apporter au monde
qui se fait, à l'histoire qui s'élabore. Devan1 un rationalisme désséohé
qui se compJait dans l'analyse, l'Afrique avec son esprit de synrt:hese,
avec son esprit teotonique, l'Afrique dit que le monde de demain devra
palpiter. L'Afrique, l'Africam appréhende la réalité, les formes du
L'HUMANISME GRÉCO-LATlN ET L'AFRIQUE 625

cosmos, pour créer une signification, un symbole. Et par le sens de


ses rythmes l'Afrique pourra rendre vivant le monde de demain et
pourra empêcher la Civilisation de l'Universel d'être uniquement une
civilisation technicienne sans âme.
Elle est poreuse à tous «1es souffles du monde», à toutes les formes
d' élaboration d'un avenir de vie commune, dont les fondements seront
la paix et la fraterni:té. «Nous pouvons, vous les Latins, et nous les
Négro-Africains, aider à réaliser cette convergence panhumaine, cette
symbiose de la raison et de la foi, de l'esprit et du cceur, dont rêvait
déjà St. Augustin et qui demeure l'esprit de la Latinité et de la
Négrirtude.»
En disant taut cela, je ne m'abuse point. Ce n'est pas que je
sois tmp optimiste. Je sais qu'à l'aube de ce XXle siecle, les relations
entre les nations ne présentent pasgrand' chose de «panhurruain».
A voir les irutérêts qui s'affrontent, les luttes d'influence sournoises,
les cOlffiplexes qui dressent les griffes, les hommes qui s'entredéchirent
sous divers cieux, les violenoes de tout acabi et de tout bord, la violation
fréquente des Droits de l'homme, que sont devenues cette convergence
d'humanismes et cette complémentarité des deux humanismes que voilà?
Anarchasis aura-t-il toujours raison de Solon? Quand celui-ci com-
posait des lois, celui-là se moquait de l'entreprise de Solon, qui pensait
par des formules écrites réprimer · !'injustice et la cupid1té de ses
citoyens: «les lois, dit Anarchasis, sont exaoternent pareilles à des toiles
d'araignée, en ce qu'elles arvêteront bien les petits et les faibles qtÚ
donneront dedaJlJs, mais les riches et les puissants passeront à travers ,
et les rompront.»
Allons-nous toujours vivre la situation «des vérités en deçà des
Pyrhénées, et erretll'S au-delà? »
C'est vrai que l'Afrique, est encore et toujours le terrain favori
des luttes d'influence entre les grandes puissances. Les pouvoirs autoch-
tones sont manipulés par les tenants des deux grandes idéologies qui
se partagent le monde, au point que nos dirigeants, quelles que soient
la sincérité et la loyauté de leur nationalisme, sont pratiquement coo-
traints de choisir entre l'un et l'autre bloc, s'i1s ne veulent pas se voir
refuser l'aide économique indispensable au développement de leur pays;
car en fait, certains peuples maintiennent et développent leurs structures
de dominatioll, restraignant toujours davantage l'éventai,l des choix
laissés aux J1esponsables africains. II y a encore la permanence de la
situation coloniale sur notre conrtinent, situation maintenue de force
par l'égoisme de quelques-uns qui sacrifient des hommes et des peuples
626 Abbé DOVI N ' DANU-ALIPUI

à leurs intérêts politiques, économiques et stratégiques. La détérioration


constante des termes de l'échange, l'hypocrisie du dialogue Nord-Sul,
l'insignifiance du dialogue sud-sud. Ce tableau, quelque peu sombre,
releve du réalisme à n'en pas douter: mais c'est une question de foi , de
volonté déterminée, d'espérance. Si ces peuples montrent que l'Afrique
a encore du chemin à faire pour se libérer de toutes les contratintes
qui, de l'extérieur, entravent son développement et la promotion
humaine de ses enfants, c'est le moment plus que jamais de mettre
en ceuvre avec foi et espérance les éléments convergents et panhumains
de son humanisme; de croire davantage à cette complémentarité entre
l'Europe et l'Afrique, entre la raison discursive et la raison intuitive,
entre l'inteHigence et le cceur, pour préparer patiemment mais surement
l'avénement de cette civilisation de l'universel qui, en définitive, comble
le oceur de tout homme. Car nous en sommes persuadés: le monde de
l'avenir ne pourra subsister que dans une culture de la solidarité,
unique gage de justke, de paix, de développement pour tous.
Je termine par le proverbe togolais: «Le crabe dit : ce n'est pas
pa:oce que je marohe 'oblico pede' que je ne sache point ou je vais
ou que j'en aie perdu le chemin.» Maintenons haut l'idéal de la conver-
gence et de la complémentarité panhumaines, tout en cherchant labo-
rieusement les voies et les moyens pour y parvenir. Le maitre l'histoire
nous r écap i,tulera un jour dans la grande fraternité universelle. C'est
là notre espérance qui soutient notre foi.
LE MONDE ANTIQUE
ET L'AMÉRIQUE LATINE AU XIxe SIECLE:
DU NÉO-CLASSICISME AU PAN-LATINISME

eH. MINGUET
Université de Paris X (Nanterre)

Au cours de mes recherches sur l'histoire de l' Amérique espagnole


puis Iatine, entre 1760 et 1880, j'ai eu l'occasion, à plusieurs reprises,
de mesurer l'eftiet qu'a pu exercer la civilisation gréco-Iatine sur la
pensée, la réflexion et l'action des Hispano-Américams et aussi des
Européens, qui, à des degrés divers, se sont intéressés à la partie,
immense, du Nouveau-Continent, peuplée par les hispanophones.
Comme il est impossible, dans la limite d\me simple communica-
tion, d'exposer en détail la totalité du sujet, je prendrai seulement
trois exemples, trois moments du processus historique ou de la spécula-
tion philosophique et politique, puisés à des sources tres différentes,
fort éloignées Ies unes des autres, mais qui attestent tres éloquemment
de la toute puissance, de la pe.tmanence et de l'efficacité opératoire de
la culture classique à cette époque.
Dams les dernieres années de la domination espagnole sur les terri-
to ires américains et délns les premieres de leur libération, on assiste
à une sorte de renaissance ou de résurgence des modeles classiques .
Mon propos n'est pas d'évoquer essentiellement les manifestations
en Amérique Latine, de ce que l' on a appelé le néodassicisme, concept
forgé bien pIus taro (1880) pour les nécessités de l'histoire des idées ,
plutôt que mouvement conscient, organisé ou prémédité. Ce néoclas-
sicisme se manifeste surtout dans le domaine arohitectural et littéraire,
tout comme en Europe d'ailleurs ou il est né. II s'exprime à travers
l'action des gouvernements éclairés de la Péninsule et des Vice-Roi's
628 CH. MINGUET

autre~mer, spéoialement saus Charles III, comme une réactian cantre


le baraque exubérant des arts et des lettres. Mariana Picón Salas en a
dressé un tableau précis et dacumenté. II y voit une recherehe d'un
idéal de lagique et de clarté, d'élégance et de rigueur, de lurniere et
de symétrie, par la mise à l'éeart du carcan théalagique antérieur et
par le désir de s'ancrer salideanent dans le terreau coneret de la sadété,
de l'économi,e et de l'art de gauverner. La Cauronne «éclairée» entre-
prend alaI1s, en Espagne et en Amérique, nn pragramme de constÍructian
d'édifices publics, le plus souvent civils au militaires, qui, par leur
canception aI1Chiteoturale, affirune, grâce à la proportion et à la géomé-
trie grandiose des monuments, le rejet duogaut platéresque et le retour
vers le modele classique gréca-latin.
La ville de Mexica, en particulier, voit naitre tout un ensemble
monumental néoclassique (Bcole des Mines, Académie des Beaux Arts,
des ministeI1es, des Palaces, des statues, quelques églises même). Ale-
xandI1e de Humbaldt, qui se trouve en 1803 dans la capitale de la
Nauvelle-Espagne, en a laissé le tableau suivant:
«Mexioa est sans doute au nombre des plus belles villes que les
Européens aient fondées dans les deux hémispheres. A l'exoeptian
de Saint PeteJ:1sbourg, de Berlin, de Philadelphie et de quelques quartiers
de Westminster, il existe à peine une ville de la même étendue qui,
paur le niveau uniforune du sal qu'eUe oocupe, pour la régularité et
la largeur des nws, pour la grandeur des places publiques, puisse être
oomparée à la capitale de la Nouvelle-Espagne. L'architecture y est
généra1ement d'unstyle assez pur; il y a même des édifices dant
l'ordonnance est tres belle. L'extérieur des mrusons n'est pas surchargé
d'ornements ... On n'y oannait pas ces baloons et ces galeries de bais
qui, dans les deux Indes, défigurent toutes les villeseuropéennes.
Les balustrades et les grilles y sont en ·fer de Biscaye, et arnées de
branzes .. . Mexico a été singulierement embelli depuis le séjour que
l'abbé Chappe y a fait en 1769 ... Des architectes mexicains, éleves de
l'Académie des beaux-arts de la capitale, Ü'n1 construit récemment deux
grands hôtels, dont l'un, dans le quartier de la Traspana, Ü'ffre dans
l'intérieur de la oour un tres beau péristyle de fOI1me Ü'vale, et à calÜ'nnes
accauplées.»
Du point de vue littéraire, je n'évoquerai qu'un seul exemple: celui
du grand paete vénézuélien André BelIa, l'une des figures les plus
représentatives de l'élite intellectuelle hispano-américaine de l'Indépen-
dance, qui a été ,a ussi hamme d'Btat, universitaire, juriste, philosophe
et philalague.
LE MO ND E A NTlQ UE ET L' AMÉRIQ UE LATINE AU XIX< SIE CLE 629

Les deux grands poemes qui ont fait sa juste renommée: AlocuGÍón
a la Poesía (1823) et La Agricultura de la Zona tórrida (1826), sont à la
fois, comme l'a remarqué René L. F. Durand, un cri de libération litté-
mire et politique, pour le premier et un chant à la Nature américaine,
pour le second. ·Dans les deux textes , apparaissent en maints oodroits
les influooces vivaces d'Horace et surtout de Virgile: l'Eneide et les
Géorgiques.
Le premier vers de La Agricultura de la Zona tórrida:

«Salve, fecunda zona / Que aI sol enamorado circunscribes ... »

répond au «Salve, magna parens frugum » do Livre II des Géorgiques.


On ne saurait mieux résumer ces influences classiques qu'en citant
intégraloo1ent l'analyse de Miguel Antonio Caro, reproduite dans l'o'l1vrage
que René L. F. Durand a con sacré à la poé sie d'Andrés Bello:
«Virgile fait défiler devant Enée, dans un songe p rophétique .. . ,
les grands capitaines et les illustres citoyens de Rome; Bello évoque
l'un apres l'autre les héros de sa patrie. Virgile fait entrer les âmes
vertueuses à l'EJysée, ou elles se complaisent dans les mêmes goúts
qu'elles eurent pendant leur vie; Bello voit dans la demeure des justes
les martyrs de la cause américaine et parmi eux l'un de ses plus chers
amis de jeunesse:

Alma incontaminada, libre, pura ...


La música, la dulce poesía
Son su delicia ahora como un día.

Virgile s'étend en louanges de l'Italie, dans une énumération des-


oriptive de ses productions naturelles; ele la même façon Bello célebre
la zone torride. Virgile agrémente son exposé d'épisodes historiques et
de traits mythologiques; recours dont il se sert comme n'étant pas
étranger à ses fins; Bello, qui voyait dans l'histoire une mine inépui-
sable d'images et de couleurs, particularise avec des souvenirs véri-
diques les villes et les guer riers qu'il nomme, eu même temps qu'il
clépeint l'âge d'or de Cundinam a rca et explique la chute du Tequendama
(chute d'eau) selon les traditions fabuleuses eles habitants primitifs de
ces régions .»
Cette sensibilité classique, telle que naus la percevons chez Bello,
comme dans certains aspects de la culture matérielle, nous la trouvons
au ssi dans le domaine purem en t politiq ue, ch ez de Libérateur du Conti-
nent amérioain, Simon Bolivar.
630 eH. MINGUET

Au moment ou les peuples qu'il a menés sur le chemin de l'Indé-


pendance prennent les armes et se soulevent contre le gouvenlement
de Madrid, Bol,i var a constamment devant les yeux le grand exemple, le
grand modele d'Athenes, de Rome, de Sparte et de Thebes .
Lorsqu'il évoque, dans son célebre discours d'Angostura (1819), les
grands traits de la Constitution qu'il propose au Congres, iI 6tablit
une comparaison entre la chute de l'Empire romain et celle de l'Empire
cspagnol. Cette comparaison d'ailleurs lui permet d'indiquer les grandes
différences entre ces deux événements: d'un côté, l'Empire romain, en
s'effondrant, s'est morcelé en fragments qui ont donné naissance à des
na'ÍÍ-ons ou à des groupes ethniques en général homogenes, du pO!Ínt
de vue culturel, linguistique ou social. Te! n'est pas le cas pour les
peuples de l'Hispano-Amérique indépendante. Les libérateurs, c'est à
dire les créoles (hlancs ou métis issus directement du tronc hispanique),
sont eux-mêmes des instrus dans les territoires qu'ils liberent du joug
espagnot mais qu'ils ont disputés et déjà arrachés aux aborigenes.
Le parallde entre les deux Empires effrondrés permet donc à Bolivar
de se référer à la Eois à une norme, un exemple historique, mais aussi de
dégager une exception, un cas particulier.
Cette exemplarité (qu'elle se fasse par homologie ou par contraste)
que Bolivar recherche dans le monde classique, s'accompagne de tres
nombreuses mentions des institutions de l'Antiquité. EHes lui servent
parEois de modele, parlois de repoussoir, ou d'exemple à ne pas suivre.
Pour Bolivar, le probleme n'est pas d'imiter aveuglément les formes
constitutionnelles les plus anciennes (Athenes et Rome) ou les plus
récentes (Révolution française, parlementarisme anglais, etc.), mais
d'adapter «à la nature et au génie de la nation» le mei,lleur des trente
siecles d'histoire de l'Ancien Monde. Les références à l'Antiquité gréco-
ramaine sont tres nombreuses dans son reuvre. On les trouve sUlrtout
dans les deux discours introductifs aux Constirtutions qu'il a proposées
à ses compatriotes; celle d'Angostura, pour la Grande Colombie, en
1819, et aeHe pour la Bolivie, eu 1826. Dans ces projets, Bolivar expose
une série de oonsidérations sur la forme de gouvernement la mieux
appropriée à l'Amérique, les divers degrés de démacratie que peut
affrir une République et le probleme fondamental de l'équilibre des
pouvo~rs.

Paur ce qui est de la favme de gouvernement, Bolivar affirme sans


ambages san attaohement indéEectible à la République. En cela, il
représente, en san temps, avec Miranda, une exception, face aux prajets
des autres libérateurs du Continent, comme San Martín, Páez, Flores,
LE MONDE ANTlQUE ET L' AMÉ RIQU E LATlNE AU XIX' Sl ECLE 631

Urdaneta, qui préconisaient le retour à des formes monarchiques. Son


républicanisme l'incite à étudier le fonctionnemoot de la démocratie
athénienne et de la république romaine.
II aborde en premier lieu le probleme de la démocrart:ie antique et
rappelle les mérites de son fondateur, Solon. L'hommage qu'il lui rend
est assez ambigu. Solou, dit-il, a donné au monde une grande leçon:
iI lui a appris qu'iI est tres difficile de gouverner les hommes au moyen
de simples lois. Si Athenes, grâce à Solon, nous a donné l'exemple le
plus éclatant de ce que Bo,uva,r appelle la démocratie absolue, Athenes
nous a montré en même temps l'exemple le plus affligeant de l'êxtreme
faiblesse de ceUe forme politique. Dix ans à peine O11t suffi à le démon-
trer. Bolivar conclut que la démocratie absolue ne peut régir aucune
especc de société, même la plus avancée, la mieux policée, la plus civi-
lisée. Dans un autre passage de son discours, le Libérateur cite la phrasc
de Rousseau, selo11 lequeI cette sorte de démocratie absolue est un mets
trap délicat pour les nations naissantes . Elle est faite seulement pour
un peuple de dieux. Bolivar veut dire pa.r là que les lois, fussent-elles
les plus justes, les plus sages et les plus soucieuses d'assurer la démo-
cratie la plus exigeante, ces lois ne sonrt rien si elles ne sont pas
soutenues par la vertu, l'esprit civique, le dévouement à la patrie.
C'est dans cette optique que Bolivar examine ensuÍ'te le fonction-
nement des républiques antiques. Celle de Sparte, paradoxalement, a
produit selon lui des effets plus tangibles que les cons.tructions ingé-
nieuses de Solon. La législation de Lycurgue, invention ap'paremment
chimérique, a donné à Sparte la gloire, la vertu, la morale et par consé-
quent, le bonhem- publico Mais iI y a plus: Bolivar s'étonne de voir
que l'histoire retienJÍ plus volontiers les noms des usurpateurs ou des
tyrans que ceux des législateurs les plus respectueux des regles. Pisis-
trate, Pérides, ont plus fait pour la gloire et la renommée d'Athenes
que les lois sages, douces et bien dosées de SoJon. La constitution
romaine, qui a donné au monde l'exemple du plus grand Empire jamais
créé, souffrait, dans sa conception, d'un grave défaut: les pouvoirs n'y
étaient pas exactement séparés. Les Comul·s, le Sénat, le peupJe étaient
à la fois 1égisIateurs, magistrats, juges: tOtiS participaient à tOliS les
pouvoirs. L'exéoutif lui-même, tout comme à Sparte, était bicéphale;
du poiut de vue de l'orthodoxie constitutionnelle, le gouvernement
romain avait, selon Bolivar, quelque chose de monstrueux. Et pourtant,
ij a réussi à placer Rome au degré le plus élevé de la vertu et de la
gloire. Et c'est bien là que Bolivar veut en venir: ce ne sont pas
essentiellement les lois et les institutions qui OIlit fait la grandeur de
632 eH . MINGUET

Reme: ce somt les citoyens romains eux-mêmes, par leur vertu, leur
eivisme, leur patriotisme. On voit dome se dégager clairement dans ces
jugements l'image que Bolivar se fait de la vie politique et institution-
nelle du monde olassique et de ce qui lui donne sa valeur, à ses yeux:
ce monde a été généré par des hommes libres, volontairement associés
au sein de la Cité, forts, dévoués au bien public et surtout vertueux,
en un mot des citoyens. Cet aJ1chétype ainsi créé ou recJ1éé n'a peut-être
jamais représenté un type ou un moment historiques réels, puisque
naus savons que, darns la plupart des cas, les tyranrnes, les diotatures,
les décadences, 1'0mt oceulté. C'est cette image cependant qui se main-
tient à travers les s,i ecles, qui arrive jusqu'à nous, s'impose à nous
comme modele permanent et universe1 et que nous pouvons ressentir,
soit comme le souvenir d'un âge d'or révolu, soit eomme la représen-
tation d'une Arcadie future. TeHe est la puissance de la leçon que
Bolivar tire de la . contemplatiom du monde classique et notamment
de Rome. Cette leçon n'est pas uniquen"lrnent politique; elle est en
premier lieu d'ordre éthique. Et c'es,t en quoi elle a une telle force
et une telle portée.
On trouve la traduction la plus éloquente de cette conception
boJivarienne de la citoyenneté, comme fondement et ciment de la démo-
cratie politique classique, dans les deux projets de eonstitution m en-
tionnés plus haUJt. Dans les deux cas, le Libérateur prévoit, à l'intérieur
de sou systeme de séparation des pouvoir: législatif, exécutif et judi-
ciaire, la création d'un quatrieme pouvoir, qu'il appelle le Pouvoir Moral.
C'est bien la leçon principale qu'il tire de sa réflexion sur le monde
poHtique olass[que. «L'éducation civique, affi.rme-t-il, doit être le sauci
principal de la sollicitude paternelle du Congres. La morale et l'instruc-
tioon sorrt 1es pôles d'une République, c'est la morale et l'instruction
qUli sont nos premiers soucis . Prenons à Athenes son Aréorpage et
les gardiens des moeurs et des lois; prenons de Rome ses eenseurs
et ses tribunaux domestiques; et faisant une sainte alliance de ces insti-
tutions morales, rétablissons aux yeux du monde l'idée d'un peuple
qui ne se contente pas d'être libre et fmt, mais qui veut être aussi
vertueux. Prenons de Sparte ses institutions austeres et, forman1: de
ces trois sources une fontaine de vertu, dormons à notre République
un quatrieme pouvoir qui regnera sur l'enfance et le creur des hommes,
sur l'esprit public, les bonnes moeurs et la moral e républicaine.»
Dans nn travail présenté à Rome ii y a quelques années, j'exposais
les raisons pour lesquelles Bolivar tena it tellement à instaurer ce qua-
trieme Pouvoir. II devai,t permettre, dans eette Amérique espagnole
LE MONDE ANTIQUE ET L' AMÉRIQUE LATINE AU XIX· SI~CLE 633

récemment libérée du sys,t eme coLonial, la formation rapide et même


aocélérée de citoyens oonscients, dévoués à l'État, et vertueux. C'est
précisément ce qui faisait cruellement défaut en Amérique au moment
de l'Indépendance: une papulation hétérogene, soumise pendant trais
siecles à l'oppression coloniale, inculte, divisée en ethnies de statut
social tres inégal et totalement privée de la oonscience d~appartenir
à un groupe national homogene.
Bolivar est tellement pénétré de l'importance de ce Pouvoir Moral
qu'il le propose de nouveau pour la Constitution de la Bolivie, en 1826,
sous une forme moins détaillée, mais aussi péremptoire. C'est ainsi
qu'il prévoit la oréation d'une Chambre des Censeurs qui a quelque
ressemhlam.ce, rappelle-t-il, avec celle de l'Aréopage d'Athenes ou des
Censeurs de Rome. Cette chambre fonctionne à peu pres comme une
sorte de Conseil constitutionnel. Ces Censeurs seraient, selon Bolivar,
les Prêtres de la Loi, ohargés de préserver la purété et le respect des
lois fondaunentales de la République. Ils p:(otegeraiernt la morale, Ies
moeurs, les arts, l'instruction publique et la presse. Ils distribueraient
Ies hommages et Ies blâmes.
Ces exemples montrent bien, croyons-nous, que Bolivar a parfai-
tement compri's ce qui a fait la valeur de la pratique constitutionnelle
et poHtique d'Athenes et de Rome: l'émergence puis la formation du
COl1!cept de citoyenneté comme ga!rantie de la force, de la vertu et de -la
Iiberté d'un peuple (Civis et miles).

Je choisimi mon deuxieme exemple chez Alexanda:-e de Hurnboldt,


cOIllsidéré à jus1!e titre comme le deuxieme découvreur de I'Amérique,
dans la deuxieme moitié du XIxesiecle. Ce savant prussien, forteme'llt
francisé, qui a pu observer l' Amérique espagnole à la veille de l'Indé-
pendance, au oours du voyage qu'il y a fait entre 1799 et 1804, qui a
consacré ensuite pres de cinquante ans de sa longue existence à l'histoire
et à la géographie du Nouveau Continent, ce savant s'est particulie-
remem attaché à étudier la ge'llese de la découverte colombienne.
Avant même de traiter les circonstances his,t oriques particulieres,
prQpres au xve siecle, qui out amené Colomb à s'embarquer vers
l'Ouest, Humboldt tient le plus grand compte de l'histoire du monde
qui a précédé la découverte de 1492, histoire qui, selon lui, a permis
de réunir toutes les oonditions de sa réalisation.
Dans le Cosmos, Essai d'une description physique du Monde, qui
est son demüer livre et sans doute l'un des plus importants de san
abondante produot1ion, Hwnboldt consacre un chapitre tres dense à
634 eH. MINGUET

l'étuele du développement progressif de l'idée de l'Univers. II rappelle


les moments fondamentaux de cette histoire. II considere tout
d'abord que le lieu premier, le lieu privilégié dans lequel l'huma-
nité a fait ses premiers pas vers la conquête du Monde, l'endroit d'ou
les pionniers sont partis à la recherche de l'Universel, ce lieu est le
bassin méditerranéen. Cest la mel' Méditerranée qui est à l'origine
des relations qui ont provoqué l'agrandissement successif de l'idée de
Cosmos. «Platon, remarque-t-il, laisse voir un sentiment profond de la
grandeur du monde, lorsqu'i! indique en ces termes, dans le Phédol1,
les bornes droi,tes ele la mer Méditerranée. Nous tous qui remplissons
l'espace cO'l11pris entre le Phase et les colonnes d'Hercule, nous ne
possédons qu'une partie de la terre, groupés autour de la mer Médi-
terranée comme des fourmis ou des grenouíllres autour d'un marais».
Cet étroit bassin, poursuit Humboldt, sur les bords duquel les Egyp-
tiens, les Phéniciens et Ies Grecs ont fait Heurir une br1llante civilisation,
a été le point de clépart des événements les plus considérables. De là
sont sorties les colonies qui 011t peuplé de vastes contrees en Afrique
et en Asie et les expéditions maritimes à l'aide desquelles a été décou-
vert tout un nouveau continent occidental.»
Humboldt établit ainsi un lien entre les conditions particulieres
du développement eles civilisations méditerranéennes et la découverte du
Nouveau Monde. Le bassin méditerranéen est vu oomme le premier
modele géographique, historique et culturel de ce que seront pIus tard
le monde enfin entierement découvert et la civilisation universelle.
Du point de vue géographique, Humboldt souligne la «distribution
merveilleuse du bassin de la Méd~terranée}) et les possibiHtés de commu-
nication que cette mer intérieure o.ffre. au sud, avec la mer Rouge et
l'Océan Ill'dien (Golfe arabique), et, à l'ouest, avec le clétroit de Gades
(ancie'l1nement appelé Colonnes de Briarée, d'Egéon et de Cronos, puis
Collones d'Hercule).
Les trois péninsules: hellénique, italique et ibérique, déjà distin-
guées par Strabon, permettell't une liaison aisée entre l'Europe et
l'Afrique. A certte heureuse disposition géographique, s'ajoute la floraison
sur les rives du bassin ainsi décrit, des trois civilisations mentionnées
dans le teX!te cité plus haut . Mais de ces trois civiHsations, la civilisa-
tion des Grecs est pour Humboldt, celle qui a le plus fait pour reCO[l-
naitre et coloniser le plus grand nombre de poiuts de cet espace: vers
le nord-est (les Argonautes), vers le sud (voyage à Ophir) et vers l'ouest
(expéditiO'l1 de Colaeus de Sumos qui franchit les Colonnes d'Hercule).
LE MO NIJ E :\ NTlQUE ET L"/lMÉ RIQUr:: LATlNE AU XIX- SIECLE 635

Humboldt dégage les caracteres originaux et nouveaux de l'expaJ.1-


sion hellénique. Aucune autre nation n'a réussi à créer un empire aussi
vaste, en fondant des colonies, depuis l'Asia Minem-e jusqu'à Syracuse,
en imposant une uni t~ dans l'extrême diversité des peuples et des
ethnies . Cette diversité d'ailleurs se manifestait déjà parmi les peuples
hellenes proprement dits: Doriens, Eolicns, Ioniens, etc. Mais ils avaient
en commun le gout de l'action, le désir de connaltre, 1a mobilité, le
gout du b eau, dres formes harmonieuses, de la poésie, eles beaux-arts,
et surtout la possibilité, qu'ils ont offerte aux autres, d'un perfection-
nement indéfini.
C'est ainsi que s'est créé ce que HtlJIDboldt définit, non point comme
l'ElTlpire grec, mais plutôt comme l'Empire du monde grec.
«Bien que les villes de Milet, remarque-t-iI, d'Ephese, de Colophon
fussent ionienn es, celles de Cos, de Rhodes et d 'Halicarnasse doriennes,
Crotone et Sybaris achéennes , au milieu de cette culture si variée ct
m ême dans la grande Grece ou vivaient rapprochées des colonies de
tribus différentes, la puissance des poemes homériques, de cette parole
ou respire un enthousiasme si profond et si vmi, rapprochait tous les
esprits par le charme qu'elle exerçait sur eux. Avec les contrastes
frappants qu'offraient les moeurs et les constitUJtions des divers États
et malgré la mobilité de l'esprit grec, 1'hellénisme se maintint cons-
tamment daJJ.1S taut san intégrité. On peut considérer comme la pro-
priété de toute la nation ce vaste empire d'idées et de types arüs:tiques
à la création duquel chaque race avait travaillé pour sa part.»
On voit clairement ici comment Humboldt conçoit cet empire des
Grecs sur 1'aire considérée: une communauté de langue, d'abord, puis
une convergence sur un certain nombre d'idées, de moeurs et de com-
portements et e.nfin une expression ar tistique aniImée d'un souffle
créateur féoond.
L' expresSlion la plus achevée de cet Empire hellénique est évidem-
ment atteinte sous Alexandre le Grand, dom HUlIDboLdt évoque avec
force détails l'e~dition en Asie. 11 considere que cette expédition est
une préfiguration, une sorte de répétition générale, par voie de terre
et vers l'est, de ce que sera l'expédition de découverte vers fouest, et
par la mer, de Christophe Colombo De même que l'expédition d 'Ale-
xandre a doublé en quelques années à peine le monde COIJ1llU des Grecs,
de même la découverte du Nouveau Monde a doublé, pour les contem-
porains de Colomb, la Création.
«J amais à aucuneépoque, note-t-iI, si 1'on excepte la découverte
de l'Amé rique tropicale, survenue dix-huit sieoles et demi plus tard,
636 eH. MINGUET

nulle parti e du genre humain n'a réuni à la fois une plus riche moisson
d'idées nouve1les sur la nature; jamais on n'a fondé sur des matériaux
plus nombreux la connaissance physique du globe et l'étude de l'ethno-
logie comparée.)}
L'expédition d'Alexandre suscite en outre chez Humboldt ' une autre
réflexion: iI orait y voir la ' premiere manifestation de l'Idée d'Empire,
dans le sens de l'expal1ision d'un peuple ou d'une nation sur des terres
ou des continent's étrangers. II rappelle ce que le maitre d'Alexandre,
Aristote, av,a it écrit dans sa Politique sur les possibilités de conquête
impéria:le qui pouvaient s'offrir aux Grecs, précisément dans le monde
asiatique: «Les peuples asiatiques, écrit Aristote, ne manquent pas
d'activité intellectuelle et d'habilité pour les arts et cependant ils
vivent lâchement dans la dépendance et dans la servilité, tandis que,
vifs et robustes, libres et bien gouveJ1nés par cela même, les Grecs; si
seulement .ils étaieut réunis eu unseul État, seraient capables de
soumettre tous les barbares.)} Nous avons là sans doute l'un des noyaux
conceptue1s de l'idée d'expansion impériale ou impérialiste, et même
sa justification morale (civ,1 lisation contre barbarie) .
Humbo,l dt a dont trouvé dans le monde hellénique la plupart des
racines conceptuelles de l'épopée des ten1.ps modernes, celle qui marque
r époque des grandes découvertes océaniques des Portugais et des
Espagnols.
Mais il y a plus: le savant allemand passe en revue, parmi les autécé·
dents de la découverte de l'Amérique, les prindpaux points de ce qu'il
appelle la géographie rnythique des Anciens. II consacre à cet aspect
tres original du fonctionnement de leur imaginatiOiO. Uill chapitre de san
Histoire de la Géographie du Nouveau Continent, qu'il intitule: Opinions
des Anciens sur la géographie physique du Globe et maniere de la
figurer. II rassemble en outre, dans un Appendice tres fourni, tous les
textes qu'il a pu trouver chex eux relatifs au pressentiment qu'ils ont
eu de l'existence de terres eu dehors du monde connu des Grecs et
des Romains, notamment à l'ouest de ce monde. S'ilest vrai, explique-
t-il, que les mythes présentent bien ' souvent des caracteres vagues et
imprécis, occultant La réal:ité qui les a générés sous le voiJe de symboles
ou de métaphores parfois diHicilement déchiffrables, cependant ces
mythes ne oonstituent pas uniquement des fictions ingénieuses (sentina
fabulorum) sans rappoI1t avec le réel; ils refletent les opinions que les
Anóens se formaient alors du monde réel et, dans cette mesure, ils
n'appartiennent pas seulement au monde idéal; ils mettent à nu les
racines des premieres notiom co smographiques et physiques.
LE MONDE ANTlQUE ET L'AMÉRIQUE LATlNE AU XIX' SIECLE 637

L'idée de l'existence probable d'une masse de teI're, séparée de


celle qui était connue alors, par une grande étendue maritime, a surgi,
croit Humboldt, dans des temps tres reculés, mêrne à 1'époque ou 1'on
croyait que la Terre était en forme de disque plat ou légerement incurvé.
C'est ainsi qu'est né le mythe de 1'Atlantide ou celui d'un grand con-
tinent ooddental tel que l'imagine le génie poétique de Solon, au VI"
sieole avant notre ere. Lorsque les Pythagoriciens ava.ncent 1'hypothese
de la sphéricité de la Terre, l'idée de 1'existence de terres émergées
s'empare des meilleurs esprits, ne serait que pour satisfaire à 1'exigence
d'un contre-poids destiné à rétablir 1'équilibre du globe. ·
Ce n'est pas le lieu ioi de reproduire les longs développements que
Humboldt consacre à ces questi.ons, ni de citer les textes dassiques
qu'iI note dans s.on Appendice. Ce qui doit être retenu, c'est la toute
puissance du discours des Anciens, fondé à la fois sur le raisoIl!l1ement
logique et l'intuirtion poétique créatrice. Et c'est ainsi qu'apparaissent,
dans les représentations mentales, des groupes isolés de gra.ndes terres
ou de continents dans 1'hémisphere opposé (occidentaJ ou austral),
imaginés par Avistote et san Éoole (Meteorologioa, II, 5), (De Mundo,
Chapo III); 1'autre monde de Strabon: 1'aZter Orbis de Pomponius Mela,
qui «invente» le Conrtinent austral; les deux zones habitables de Cicéron
et ·enfin la Terra quadrifida ou les quatuor habitationes · veZ insuZae
(quatre masses de terre séparées entre elles) de Macrobe (Commentaires
au songe de Sdpion).
Cette incursion dans la Géographie myt:hique des Anciens n'est pas,
pour. HumboMt, un simple exercice d'érudition. Car il va retrouver,
dans les écrits de Christophe Colomb, des références tres fréquentes
à ces textes greos et latins. Colomb en connaissait en effet une grande
partie. En se fondant sur I'Histoire de 1'Amiral , rédigée par Don Fer-
nando Colon, fils de Christophe Humboldt, au nombre des causes qui
ont conduit le navigateur génois sur la Mer Ténébreuse des Anciens
vers le Nouveau Continent, note La lecture et la oonsultation, avant et
peooant le voyage, des auteurs suivants: Aristote (2e partie du Ciel et du
Monde); Séneque: un texte extrait des Questions Naturelles et un autre
texte, cité deux fois pas Colomb, et qui est un passage de la tragédie
Médée, attribuée à Séneque (Acte II, V. 371 et suivants):
«Nil, qua fuerat sede, reliquit / Pervius orbis . / lndus gelidum potat
Araxem: / Albim Persae, Rhenumque bibunt. I Venient annis saeculae
seris / Quibus Oceanus vincula rerum I Laxet, et ingenus pateat tellus,
/ Tethysque novos detegat orbes, / Nec sit terris ultima Thule.»
638 eH. MINGUET

Ce passage est souvent eité par les contemporains de Colomb,


eomme Pedro Martyr d'Anghiera, Oviedo, etc.
Pour mieux se persuader enfin de la toute-puissance de l'influence
du monde classique sur 1'entreprise colombienne, on doit rappeler, avec
Humboldt, le rôle détermmant qu'a joué dans le projet de Colomb
le greffon seientifique grec en terre d'Egypte. Il s'agit de 1'Egypte des
PtoJémées et de l'École d'Alexandrie, qui ont permis au mathématicien
astronome Era1Jhosthene, directeur de la Bibliotheque d' Alexandrie, de
concevoir sa géographie universelle. Il a contribué d'une façon décisive
à une meilleure connaissance du Cosmos et notamment de la spheve
terrestre,oonnaissance qui a été complétée et enrichie par Hipparque.
On sait que Colomb s'est fondé, pour les problemes cartogra:phiques et
mathématiques, sur la géographie de Claude Ptolémée, autre Grec
d'Egypte, qui a repris en les développant les acquis scientifiques
d'Erathosthene et d'Hipparque. La Géographie de Ptolémée a été,
jusqu'au XVIe siecle de notre ere, le guide de tous les voyageurs et
navigateurs européens.
Tels sont les aspects principaux et trop peu développés sans doute
ici, faute .de temps, de la contribution essentielle de la science classique
grecque et latine, relayée par l'Egypte des P.tolémées, que Humboldt
dégage et met en valeur dans son étude de la découverte d'un Nouveau
Monde à l' ouest des Colonnes d'I-f.ereule.

Je voudrais enfin, pour conclure, évoquer brievement un aspect


assez curieux de la résurgence du monde classique gréco-latin dans la
politique internationale française du XIxe siecle.
Je veux parler de ce fameux «panlatinisme», au nom duquel la
France, sous Napoléon III, a oru opportun d'envoyer au Mexique un
corps expéditionnaire. On connait le résultat désastreux de cette entre-
prise coloniale malheureuse. Je crois que 1'aspect purement militaire
de l'intervention impériale, dans la mesure ou elle s'est soldée par un
échec sanglant, a peut-être occulté un certain nombre d'autres facteurs
qui font que le panlatinisme, comme doctrine culturelle, mérite d'être
mieux étudié et peut-être d'être quelque peu reeonsidéré avec moius
de préventions.
On sait que ce que 1'on a appelé panlatinisme est une création d'un
polytechnicien originaire de Limoges, Michel Chevalier, qui, avant de
devenir le conseiller de Napoléon III dans l'affaire mexicaine, était
un saint-sÍlIDOIlJÍen convaincu. Ce qui doit retenir notre attention dans
cette doctrine, e'est que ce concept appara'it tout d'abord eOlIllffie l'un
LE MONDE ANTlQUE ET L'AMÉRIQUE LATlNE AU XIX· ST~CLE 639

des résultats premiers des progres de la scienee linguistique et ethno-


graphique au XIX" siecle. L'étude scientifique des langues fait appa-
raitre progressivement l'existence de langues meres, d'ou sOont issues
des langues dérivées. Chaque langue mere a done des filles qui sont
sreurs entre elles. Cette notion de maternité et de parenté a donné lieu,
des la premiere moitié du XIxe siecle à la découverte de trois grandes
famH1es linguistiques en Europe: la famille germanique, la famille
slave et la famille latine.
f:tant donné que le pangermanisme et que le panslavisme étaient
en voie de constitution, il paraissait normal de former aussi une commu-
nauté panlatine, qui regrouperait tous les peuples freres ou les nations
sceurs parlant des langues néolatines, en Europe et en Amérique .
Arrêtons-nous un Ílnstant sur ce point extrêmement im,portant: le cri-
tere de l'union des peuples latins n'est point surtout celui de la religion
ou de la ressemblanee des moeurs et des coutumes. Son caractere
principal est d'être essentiellement non fondé sur la couleur de la peau .
En aucun cas, iI ne s'agit d'un critere de type racial et encore moins
raciste. Je crois que cela est le point important qui a échappé aux
détracteurs du 'PaiIllatinisme de Napoléon III. Ils n'ont retenu que l'expé-
ditio'l1 mi1italÍre, qUIÍ était d'ai},leurs non point le bras armé du panlati-
nisme, mais plutôt l'aide maladroite de la France à un Empereur autri-
chien qui avait été abusivement placé sur le trône mexicain par des
conseillers mexkains et français pour le moins imprudents.
Cet aspect tota1ement ouvert de l'idée panlatine, dépourvu de tout
sentiment d'exc1usion, dénué des le départ de tout préjugé racial se
vérifie d'ai1leurs d'éolatante façon dans l'Amérique latine des années
1820-1880. Si nous observons les statistiques des populations franco-
phones, lusophones et hispanophones du Continent lati.no-amérieain
dans son ensemble, nous constatons que les langues néolatines sont
parlées dans cette Amérique non point par une pOopulation en majorité
européenne mais bien par des hommes et des femmes de couleur diffé-
rente et d'origines ethniques tres diverses.
Quelques exemples: en 1820, ·s ur les 1.242.000 francophones de
Haiti, des Antilles françaises, de Louisiane et de Guyane, la grande
majOorité est d'origine africaine. En Haiti sur les 510.000 habitalIlts
francophones de la partie française ou ex-française de l'Ile, il y a 480.000
noirs, 20.000 mulâtres et 1.000 blanes. En Martinique, en 1815, sur
94.413 habitants, il y a 8.630 mulâtres, 76.577 noiI1S et 9.206 blancs.
Pour l'Amérique hispanophone, sur les 10.504.000 habitants parlant
J'espagnol, tm tiers seulement sont blancs, supposés de souche latine
640 CH . MINGUET

tandis que plus d'un million sont Indiens et que plus de six millions
sont des métis. Pour le Brésil sur les 3.740.000 lusorphones il y a seule-
ment 843.000 blancs supposés d'odgine portugaise.
Ces chiffres 50nt éloquents. Ils signifient bien que le panlatinisme
se fondait, oomme s'étaient fondés l'Bmpire des Grecs et celui des
Romains, tout d'abo~d sur une langue commune. Mai,s il ne s'agit plus
maintenant de la même langue, grec ou latin, mais de langues sem-
blables parentes, dérivées d'un même tronc, qui est pour nous le latino
Dans cette optique, on voit bien l'aspect tres vivant et fort séduisant
de ce regroupement panlatin autour de notre Mere commune qui est et
reste la Méditerranée, dans ce monde d'aujouI1d'hui ou les structures
mentales, les idéaux, les mythes de notre passé dassique sont SOlilllis
à de rudes épreuves .
Telle est la façon dO!Ilt on peut voir le probleme du panlatinisme
à pres d'un sieole de sa naissance. Non point l'instrument d'un impé-
rialisme rapace, mais un moyen de rassembler en une confédération
d'hommes libres, les descendants d'une même civilisation, qui est la
nôtre, que nous portons en nous, sans parfois mesurer pleinement
Ie poids humain et oulturel que représente cet héritage, príncipe et fín
de notre identité.
Pour condure, je dirai que les quelques exemples que j'ai offerts
à votre réflexion prouvenrt bien la présence vivémte et féconde de la
cuIture gréco-Iatine dans notre monde intellectuel et moral.
Que recherohait Andrés Bello · et ses autres amis néodassiques
latino-amérioains lorsqu'il célébrait la beauté de la Nature du Nouveau
Monde?: l'hamnonie entre l'homme et son milieu, que chantait Virgile,
la beauté des formes, leur fugacité, l'amour de la Patrie, la vénération
des héros fondateurs.
Que cherchait BoHvar dans les alIDales de Sparte, de Rome et
d'AthEmes? : l'harmonie et la perfection de l'ordre social et moml,
lerapport le plus juste et le plus précis entre liberté individuelle et
contraintes collectives, la place la pIus appropriée du citoyen dans
I'Btat, une sorte d'ATcadie rétrospectlÍve qui rejoint et annonce lU1e
Utopie future sans cesse renaissante.
Que cherchait Humboldt dans les spéculations des Grecs et des
Romains? : les fondements les plus anciens et les plus surs des sciences
exactes et des sciences hUlIl1aines, sur lesquels l'Europe des temps
modernes a bâti sa propre civilisation, par le libre jeu de la raison
et du mythe, de la logique et de l'imagination.
LE MONDE ANTIQUE ET L' AMÉRIQUE LATINE AU XIX" SIECLE 641

Tels sont, trop brievement évoqués, les principaux éléments de la


culture classique qui sont intervenus, au XIxe siecle, dans la réflexion
des latino-américains et des européens sur le passé, le présent et l'avenir
de l'Amérique ibérique.

BIBLIOGRAPHIE SOMMAIRE

J . Chouillet, L'esthétique des Lumieres, PUF, Paris, 1974.


René L. F. Durand, La poésie d'Andrés Bello, Université de Dakar, 1960.
Alexandre de Humboldt, Essai Politique sur le Royaume de la Nouvelle Espagne,
Paris, 4 vols., 1825.
Alexandre de Humboldt, Examen critique de l'histoire de la géographie du Nouveau
Continent et des progres ele l'astronomie nautique aux XVe et XVIe siecles,
Paris, 5 vols., 1836-1839.
Alexandre de Humboldt, Cosmos, Essai d'une description physique du monde,
Paris, 4 vols., 1866-1867.
Charles Minguet, «Panlatinismo, latinidad e identidades culturales. Los efectos
sobre el conocimiento deI México antiguo y moderno», Nuestra América, 15 ,
UNAM, CCYDEL, Mexico, 1986, pp. 21-31.
Charles Minguet, Alejandro de Humboldt, historiador y geógrafo de la América
espano la (1799-1804), UNAM, CoI. América Nuestra, Mexico, 1985, 2 vols.
Charles Minguet, Hacia una interpretación de Hispanoamérica (perfiles e identi-
dades), Bulzoni, Rome, 1987, voir Chapo IV, Bolivar el libertador, pp. 169-208.
Mariano Picon Salas, De la conquista a la Independencia, FCE, Mexico, 1944.

41
(Página deixada propositadamente em branco)
SESSÃO DE ENCERRAMENTO
I A
SEANCE DE CLOTURE
(Página deixada propositadamente em branco)
Ol
"u.:
<<lJ
"O
"Ui
....<lJ
o..
Ol
"O
Ol
<J)
<lJ
E
I
o
t:;
<lJ
E
Ol
........
<lJ
U
.:<lJ
<lJ
"O
o
'Ol
<J)
<J)
<lJ
(fJ
(Página deixada propositadamente em branco)
RELATóRIO E CONCLUSõES
PELA PRESIDENTE DA COMISSÃO EXECUTIVA
PROF.' DOUTORA MARIA HELENA DA ROCHA PEREIRA

Senha-r Ministro da EducaçãO'


Senhor Presidente Léopold Senghar
Senhor Embaixadar de Portugal na UNESCO
Senhor Reitor da Universidade
Senhor Governador Civil de Caimbra
Senhor Vice-Presidente da UniãO' Latina
Senhor Presidente da FundaçãO' Eng.o António de Almeida
Senhor Presidente da ConselhO' Directiva da Faculdade de Letras
de Caimbra
Senhares Cangressistas

QuerO', em primeira lugar, agradecer aO' Senhor Ministra da Edu-


caçãO' a sua presença, que bem demanstra que nãO' deseja ficar alheio
às grandes manifestações científicas, em qualquer área em que elas se
verifiquem.
Desejo ainda reiterar os meus agradecimentas às entidades que,
com o seu valioso patracínia, tarnaram possível esta realizaçãO'. De
entre essas, seja-me permitida destacar os Ministérios dos Negócios
Estrangeiras e da EducaçãO', a Secretaria de Estada da Ensina Supe-
rior, a InstitutO' Nacianal de Investigação Científica, a Instituto de
Cultum e Língua Portuguesa, a Junta Nacional de InvestigaçãO' Cientí-
fica e Tecnológica, a Câmara Municipal de Coimbra, a Fundação Eng.o
António de Almeida - que temas a gosto e a honra de aqui vermas
repI'esentada, na pessoa da seu Presidente - , a FundaçãO' Luso-Ameri-
cana para a Desenvolvimento. Foi ainda de um valor inestimável o
646 SESSÃO DE ENCERRAMENTO

apoio da Reitoria da Universidade, da Biblioteca Geral e do Conselho


Directivo da FacuLdade de Letras. Também não quero deixar de salientar
a extrema eficiência, entusiasmo e dedicação dos meus quatro colabo-
radores, os Doutores Sebastião Tavares de Pinho, José Ribeiro Ferreira,
MaI1Ía de Fátima Sousa e Silva e Francisco de Oliveka, a participação
artística do Dr. Louro da Fonseca, a cooperação incansável de algumas
das nossas estudantes, designadamente Alda Barradas, AméHa Carvalho,
Ana Lúcia AmaI1al, Berta Laranjeira, Carlota Miranda, Isabel Santos ,
Margarida Miranda, e não menos a de funcionários, como a bibliote-
cária, Lic." Maria da Graça Pericão, a técnica superior do nosso Instituto
de Estudos Clássicos, Lic.' Zélia Sampaio, o Sr. Monteiro, da Secção de
T,e xtos, e o Sr. Mateus, dos computadores .
Reservei para o fim, escudada no famoso adágio de inspiração
shakespeariana, o reconhedmento da honra e do estímulo que foram
para nós todos a p'fesença continuada e encorajante do Presidente
Léopold Senghor, figura emblemática de humanista que não é de mais
encarecer, e ainda a do Embaixador José Augusto Seabra, em quem
ô. poesia, a cultura e a diplomacia se dão as mãos.
Chegados ao termo dos nossos trabalhos, creio poder afirmar sem
falsa modéstia que eles decorreram em elevado nível e sob o signo
salut1a r da interdisciplinaridade. Ao lado de helenistas e latinistas
ex professo esrtiv1e ram, com efeito, histo'r iadores da cultura, filósofos,
juristas, musicólogos. E élIté U!ll1 dos maiores poetas contemporâneos,
t.:. simultaneamente dos mais influencia dos pda temá,t ica grega, Sophia
de Mel1o-Bl'eyner Andresen, veio fazer-nos sentir a presença viva da
Antiguidade na magia dos seus versos.
Não foram negligenciados os pontos de passagem para a Moder-
nidade. A Patrística, quer grega, quer latina, e o humanismo renascen-
tista foram objecto de demorada apreciação .
Um aspecto particular,m ente relacionado com a referência ao
universal, que serviu também de lema dos nossos trabalhos, foi a
avaliação dos encontros desta cultura, de raiz inequivocamente euro-
peia, com culturas distintas de outros continentes, num diálogo perma-
nente, iniciado no séc. XV, na esteira dos grandes descobrimentos. ,
O mundo ori,e ntal, a África, as Américas , fizeram-se ouvir neste domínio
pela voz qualificada de residentes ou nativos, que trouxeram até nós
muito da sua experiência e do seu saber.
Uma avaliação das ópticas contemporâneas no estudo dos Clássicos
teve o condão de nos proporcionar finas análises, que comportaram
um exame, não só do mérito relativo de métodos e tendências, mas da
SESSÃO DE ENCERRAMENTO 647

crise de v.alores que afecta a sociedade moderna, e que nelas se refilecte.


Em todas estas questões, e noutras ainda, que omito por brevidade,
meditámos em conjunto nos cinco dias que durou o nosso convívio .
Fizemo-lo com cordialidade e abertura de espírito, no desejo de repensar
e av:aHar criticamente um legado cultural que é nossa comum herança, e
conscientes de que não perdeu actuaHdade aquela frase de Cícero no
Orator, que traduzo : «Ignorar o que se passou antes de uma pessoa ter
nascido é ser sempre cri'a nça». Tal não significa que nos coJoquemos
apenas numa atitude histodcista. Significa antes que procuramos no
passado as raízes que alimentam o presente e perspectivam o futuro.
Porque, como lembrou há dias um filósofo nesta mesma sala, «o novo
necessita do antigo» . É nessa convicção que vamos ter a honra de
apresentar as conclusões do Congresso.
(Página deixada propositadamente em branco)
(Página deixada propositadamente em branco)
CONCLUSõES DO CONGRESSO

o CongI1esso Internacional «As Humanidades Greco-Latinas e a


Civilização do Universal», que se efectuou em Coimbra de 11 a 16 de
Abril de 1988, presta homenagem ao Presidente Léopold Senghor, cuja
presidência tanto contribuiu para assegurar o seu brilho, e agradece a
todas as autoridades e entidades que tornaram possível a sua realização .
Num momento em que alguns grandes países se voltam de novo
para as humanidades greco-Iatinas, o Congresso regozija-se com o alto
nível óentífico dos trabalhos e com o contributo riquíssimo das comu-
nicações pluridisciplinares dos representantes de numerosos países da
Europa, Africa, América e Asia.
O Congresso I1econheceu a validade permanente das línguas e cul-
turas clássicas como sinal de identidade dos países europeus, porquanto
lhes permitem, sem deixar de conservar o seu lugar ao lado de outras
culturas, dialogar e harmonizar-se com elas no plano universal.
O Congresso considera também que a salvaguarda dos valores
cul.turais transmiüdos pelas línguas clássicas se impõe cada vez mais
perante uma civilização que não pode ser exclusivamente tecnológica.
O Congresso reconheceu, além disso, que as humanidades greco-
-laünas são um laço cultural entre diversos país,es. É altamente dese-
jáv;el que outros países venham juntar-se-Ihes. Nesse sentido, a União
Latina terá um grande papel a desempenhar, junto de todos os países
latinófonos da América e da Africa.
É neste espírito que o Congresso solicita à União Latina que
recomende aos governos dos diferentes países-membros que tomem
as medidas neoessárias, no domínio educativo, cultural e científico,
para que as humanidades greco-Iatinas retomem o seu lugar nos planos
de estudos que hão-de pI1eparar os homens do futuro.
(Página deixada propositadamente em branco)
CONCLUSIONS DU CONGRES

Le Congres International «Les Humanités Gréco-Latines et la Civi-


lisatiorn de l'Universeh, qui s'est tenu à Co.jmbra du 11 au 16 avril 1988.
l~end hommage au Président Léopold Senghor, dornt la présidence a
iellement contribué à en assurer l'éclat, et il remercie toutes les auto-
rités et les organismes qui en ont rendu possible la réalisation.
À un momenrt ou certains grands pays se toument à nouveau vers
les humanÍltés gréco-Iatines. le Congres se réjouit de la haute tennue
sóentifique des travaux et de l'apport tres riche des contributions pluri·
disciplinaires des représentants de nombreux pays d'Europe, d'Afrique .
d' Amérique et Asie.
Le Congres a reconnu la validité permanente des langues et des
cultures classiques, comme signes d'identité non seuJement des pays
européens, mais aussi sur le plan universel, en gardant leur place à côté
d'autres cultures avec lesquelles doivent dialoguer et s'harmoniser.
Le Congres considere aussi que la sauvegarde des valeurs cultu·
rel1es transmises par les langues classiques s'impose chaque jour
davantage face à une civi,1 isation qui ne peut pas être exdusivement
technologique.
Le Congres a reconnu en outre que les humanités gréco-latines
sont un lieu cuHurel entre plusieurs pays et qu'il est éminemment
sO'llhaitable que d'autres viennent s'y ajouter. Dans ce sens, l'Union
Latine aura un grande rôle à jouer, aupres de tous les pays latino-
phones d'Amérique et d'Afrique.
C'est dans oet esprit que le Congres prie l'Union Latine de recom-
mander aux gouvernements des différents pays de prendre les mesures
néoessaires, dans le domaine éducatif, culturel et scientifique, pour que
les humani,t és gréco-latines reprennent leur place dans les études qui
prépareront les hommes de l'av,e nir.
(Página deixada propositadamente em branco)
PROPOSTA DOS PROFESSORES
DE LATIM, GREGO E PORTUGUÊS
DO 8.° GRUPO A, DO ENSINO SECUNDÁRIO

1 - Considerando que a Língua Portuguesa é uma língua novilatina


e como tal se insere num espaço cultural, europeu e universal;
2 - Considerando que o Latim é a sua matriz cultural e memória
colectiva;
3 - Considerando que o desconhecimento das estruturas morfossin-
tácticas latinas tem repeI'cussões no ensino da língua materna e
no domínio da aprendizagem de outras áreas curriculares;
4 - Considerando a importância das línguas e cultura olássicas na
f.ormação humanística, disciplinadora do pensamento,

PROPOMOS:

1 - Que o Latim seja incluído como discip1ina obrigatória nos planos


curriculares da reforma do Sistema Educativo em curso, em todas
as variantes da área de Estudos Humanísticos;
2 - Que o Grego seja considerado Disciplina de Opção nas variantes de
Estudos Jurídicos, Históricos e Filosóficos e de Cultura Moderna.

Coimbra, 15 de Abril de 1988.


(Página deixada propositadamente em branco)
ALOCUÇÃO DO PRESIDENTE DO CONGRESSO
PRESIDENTE LÉOPOLD SÉDAR SENGHOR

Monsieur le Ministre
Mesdames et Messieurs

Nous allons conolure. J'ai fait un long exposé à l'inauguration de


ce Congres. Pour présenter les conclusions, je serai bref et le tâcherai
d',être concreto
11 s'ag.it non seulement de renforcer les Humanités Gréco-Latines
dans les enseignements secondaire et supérieur, mais il faut renforcer
notre communauté. Heureusement iI y a un instrument efficace qui
s 'appelle l'Union Latine.
Je ferai simplement deux propositions: C'est que l'Union Latine soit
élargie à l'Hellénité - on pourrait, par exemple, la transformer en Union
Latine et Grecque - , mais il faut surtout y associer plus concretement
l'Amérique Latine et l'Afrique Latine. Pour prend.re l'exemple de la
francophonie, nous sommes quarante états de quelques cinq cents
millions d'habitants. L'Amérique Latine est composée de vingt deux
états et de quelques cinq cents millions d'habitants. Si nous englobions
dans l'Union Latine l'Afrique latinophone et l'Amérique latinophone,
nous serions plus d'un milliaJ:1d d'hommes et nous représenterions la
moitié de l'humanité.
Voilà les propositions concretes que je vous fais et des demain je
prendrai mon bâton de pelerin. Je vous remercie ab imo pectore.
(Página deixada propositadamente em branco)
ALOCUÇÃO DO VICE-PRESIDENTE DA UNIÃO LATINA
EMBAIXADOR DE ITÁLIA NA UNESCO, IVANCICH BIAGGINI

Si.gnor Ministro,
Signor Pres~dente,
Signor Ambasciatore,
Magnifico Rettore,
Signore e Signori,

Certamente non mancherà di far pervenire, attraverso ii nost1'o


Segretariato, ai diversi stati membri dell'Unione il testo delle racco-
mandazioni testé adottate.
E per me un gram.de onore e piacere essere chiamato a rivoJgere,
in qualità di Vice Presidente dell'Unione Latina, un saluto a questo
illustre Congresso Internazionale che ha trattato con tanta pas's ione e
competenza dell'umanesimo greco-Iartino, in relazione con la civiltà deU'
universale, e oioe deI.le radioi stesse della cultuTa dei nOSltri paesIÍ latini.
Vorreri in primo luogo ringraziare vivamente l'organizzazione deI
Congresso per l'invito e la graditissima ospita:lità.
Mi sia consentiJto di diTe due parole su questa «Unione Latina»,
dato che si tratta di una organizzazione poco eonosciurta perohé, sebbene
nata eon ii trattato di Madrid già nel 1954, ha comlinciato ad essere
operante in pratica, con molte difficoltà, specie finanziarie , soJo da poehí
aw. Si tratta di una organizzazione intergoveIiIlaitiva costituÍ'ta da Stati
di língua e di cultura d'origine latina creata con iI fine di difendere,
valorizzare e iTmdiare le lingue e le culture neoJatine nel mondo e negli
stessi nostri paesi, attraverso forme di soHdarietà e di caHaborazione

42
658 SESSÃO DE ENCERRAMENTO

internazionale e programmi cuIturali comuni. I fini previsti dalla con-


venzione istitutiva dell'Unione sono preoisamente:

a) Promuovere la mass,una cooperazione intellettuale f-r a gli Stati


aderenti e rafforzare i vincoli spirituali e morali che li uniscono :
b) Promuovere e diffondere i valori deI comune patrimonio
culturale;
c) Conseguire una migliore conoscenza reciproca dei caratteri,
delle istituzioni e del,Ie necess~tà specifiche di ogni popolo latino;
d) Porre i valori morali e spiÍrituali della latini,t à aI servizio delle
relazioni internazionali per ottenere una piu grande compren-
sione e cooperazione fra le nazio'l1i ed una maggio'r e prosperità
dei popoli.

Sono aH'llalmente membri dell'Unione Latina stati europei como iI


PortogaUo, la Sipagna, la Franda, Monaco, l'ItaHa, San Marino e la
Romania, numerosi stati d'America Latina, e ~n Asia le Fi11ppine. La sede
uff1ciale e in Santo Domingo, me'l1!tre j,l Segretariato opera dali'Uffido
di Parigi sotto la guida dei Segretario Generale, iI francese Philippe
RossiHon.
n Presidente eletto daI Congres,so de1l'Unione e l'Ambasciatore di
Guatemala GuiUermo Putzeys Alvarez, Vi ce Presidenti l'Ambasdatore
José Augusto Seabra, qui presente, per ii Po.t1togallo, e io stesso per
l'Italia. Le lingue ufficiali usate neU'Unione sono tutte le lingue uffidali
neo-Jatine, e devo dire nonostante ognuno di noi parli nel1a propria
li<ngua materna ci comprendiamo tutti molto bene.
Uffici deU'Unione Latina sono s,t a,t i aperti, oJtre che a Parigi, anche
a Lisbona, Bucarest, Buenos Aires e Roma .
.L'Unione dispone di una radio a Parigi (radio Latina) che trasmette
programmi oulturali che valorizzano le culture di tutti i nostri paesi.
Altre trasmissioni radiofoniche sono in funúone a Montevideo e a
Buenos Aires.
Pra i vari programmi dell'Unione Latina vorrei solo .t1ico.t1dare uno
a Htolo di esempio, cioe quello rela<tivo alla crea~ione, standardizza-
zione e computerizza:úone di un vocabulario soientifico tecnico valido,
SESSÃO DE ENCERRAMENTO 659

mutatis mutandis, per tutto iI mondo neolatino, anche con la creazione


di nuovi vocaboli che utilizzino aI massirrno le radiei grecolatine.
Va notato che l'area linguistica neolatina neI suo insieme e l.U1'area
in forte espansione demografica, e secondo certi cakoli cont!erà alIa
fine deI secolo quasi un miliardo di anime, godendo ql1indi pure a
questo ,titolo di grandi potenzialità di irradiazione c111turale e percià
di altrettanto grandi responsabilità m tale campo.
Anche senza aver avuto naturalmente dall'Unione LatJma aloun man-
dato specifico, ma esprimendo i miei sentirnenti a titolo personale,
vorrei dire che ho ricevuto con grandissima gioia daI Segretariato della
Conferenza !'invito a partecipare a questo Congress,o che considero
come un peI.legrinaggio al1e radiei ed aI cuore della nosrtra millenaria
civiltà, n,on s,olo latina ma occidentale, pellegrinaggio fatto perà tenendo
lo spirito ben aperto all'universo intero, alla faticosa evoluzione deUa
nostra storia, aI diverso, aI Iontano, aI difficile da c,omprendere, aI
llIliOVO, ai mistero infinito dei mond,o e delIa conosoenza. Come dei resto
nella tradizione migliore degli antichi grecolatini .
Ho ascoltato con grande interesse ed anche con emozione I'e dotte,
ispirate e stimolanti comunicazioni che haruno qui trattato vari aspetti
degli studi umanistici ed alcune prospettive di mondi culturali diffe-
renti, su un piano di interdisdpI,i narietà aperte e conoluse dalle mirabili
paraI,e dei Presidente Senghor. Certo anohe tanti altri spazi avrebbero
potuto essere esplarati, ma iI tempo, come si dice, e tiranno .
Penso che la rioca materia cosi magistralmente trattata, aI di Ià
delle oonclusi,oni che iI Congress,o ha già pres,o, rappresenta l1n ferti-
lissimo terreno per rif1ess~oni, sia da parte dei mond,o deJIa cultura
sia da parte delle autorità oostituite. Riflessioni che a mio modo di
vedere potrebbero vertere, fra I'altro: sull'attualizzazione e l'aggiorna-
mento dei parametri degli studi l1mani,stici, qua.Ie salutare contrappes,o,
e fondament,o anche della formazione scientifica e tecnica; sugli spazi
da sviluppare per «altri umanesimi »; sulla fo~mulazione di nuove e
moderne «paideia» adattate alle esigenze de11e varie situazioni storiche,
economiche e sociali (e su questo punto ricord,o la vocazione Uilliver-
salista delI'UNESCO per quanto ri guarda le politiche dell'educazi,one);
sul probI,e ma di come f,ormare gli insegnanti ed i prafessori ai fine che
essi possan,o non solo trasmettere e sviluppare Ie conoscenze umani-
stiche a vantaggio di restretti gruppi di speciaMsti ed appassionati, non
solo predicare ai convertiti, ma anche ispirare in un piu ampio pubblico
660 SESSÃO DE ENCERRAMENTO

l'amore per tali conoscenre - intese nel senso piu ampio di una ricerca
sul caunmino delI'uomo e sull'eredità lasciataci da chi per primi hanno
posto le fondamenta alla nostra civiltà, di una ricerca sul mestiere di
vivere, di una rioerca su noi stessi.
Queste riflessioni sono sicuro vi saranno, e porteJ:1anno frutti tanto
piu abbondanti e saporiti quanto piu ci si saprà attenere alIa saggia
massima di Orazio:

Est modus in rebus: sunt certi denique fines


quos ultra citraque nequit consistere recto.
ALOCUÇÃO DO SENHOR MINISTRO DA EDUCAÇÃO
ENG.O ROBERTO CARNEIRO

Senhor Presidente do Congresso, Pres~dente Léopo1d Sédar Senghor


Senhores Congressistas
Minhas Senhoras e meus Senhores:

A grande herança recebida pelos países romamcos que foram a


Paideia grega e depois a cultura romana, que daquela desabrochou
como uma das suas ramadas mais férteis, não só marcou e personalizou
a Europa latina, conSltituindo a matriz de uma civili2lação onde se
enxer.taram VÍ-gorosamente os valores espirituais e morm's do cristia-
nismo, como se expandiu por todo o continente europeu e, mais tarde,
viaj1a ndo nas caravelas dos navegadores portugueses, espanhóis e de
oUltros povos do mesmo continente, estabeleceu diálogo com as civili-
zações e nações de todo o mundo.
DeSlte modo se pedez ou oompletou o conceito originalmente grego
de ecúmena, de terra habitada, primeiro circunscrÍlto ao mundo heJe-
nístioo, com os seus povos vizinhos, depois alargado pela expansão
romana, mas só verdadeiramente cumprido quando, depois do séc. XVI,
foi possível adquirk uma consciência verdadeka e integralmente
ecuménica.
Mas aos gregos não devemos apenas o conceito de ecúmena, deci-
sivo para a oOIliSltrução de uma civiJização do universaJ, devemos sobre-
tudo a emergência de uma cuJ1ura aberta, e portanto de diálogo, de
uma cultura dinâmica, bem diferente das culturas fechadas ou estáticas
das civiH2laçoos agrárias (de que aliás os gregos também muito rece-
beram) , no seio da qual e graças sobretudo ao primado que na sua
paideia veio a adquirir a fi,l osofia, foi possível pensar o ser, pensar
662 SESSÃO DE ENCERRAMENTO

o.s valo1.1es, pensar o homem em termos universalistas, e organizar a


polis em moldes democráticos.
A oivilização do universal, que queremos edificar, sem prejuízo do
próprio e distintivo dos povos deste mundo, em todos o.S continentes,
com suas Hnguas, tradições e experiências específicas, começa pelo
pensar universal, que aos gregos primordialmente se deve, de que os
latinos reoeberéIJID o test'e lnunho em seu di.reito, em seu pensamento
ou em sua arte e que, por UJID dos fenómenos de aculturação mais
extraordinários da história, deu ao próprio cristianismo vector deci-
sivo na estrutura oultural dos europeus, a sua plenitude ecuménica,
a princípio apenas v·i rtual.
Para quantos, europeus e não europeus, herdaram e assimüaram
a cultura greco-Iatina, os estudos humanísticos, as investigações sobre
as suas fontes dóricas, jónicas, helenísticas ou romanas, a reflexão
aceJ1Ca do seu percurso milenário que passa pelos teólogos da patrís-
tica e da escolástica, pelos humanistas do renascim.e nto ou pelos apaixo-
nados pela restauração dos vaJores clássicos no século XIX, têm um
duplo v;a lor: o de constituirem como que uma procura da identidade
e revitalização das raízes, e o de desco.brirem ou redescobrirem, nas
próprias fontes do ideaHsmo universalista, o viço dos valores perenes
que importa preservar, mes.rno e sob1.1etudo nesta civilização contem-
porânea que é a nossa, prestes a atingir o terceiro milénio .
Falo-vos lliI.llIIl país, numa c1dade e numa universidade em que os
estudos humanístioos e em que o pensamento e a cuLtura do funda-
mento greco-latino têm antigas e nobilíssimas tradições.
Bastará lembrar (já aqui o foi, com notável desenvolvimento), no
século V, a obra de fundamento.s platónico-augustinianos do bracarense
Paulo Orósio; no sécuJo XIII, os cerntros augustinianos e patrísticos de
Santa Cruz de Coimbra e de Alcobaça, bem como o pensamento de Santo
António de Lisboa, doutor esoolástico, ou o aristotelismo com laivos
neoplatónicos de Pedro H1spano, que foi o Papa João XXI; nos séculos
XIV e XV, o aJUgustimianismo de .4lvarr-o Pais ou a influência do estoi-
cismo senequista na obra de um D. Duarte, de um Infante D. Pedro,
e um Isaac Aba:rnaval ou do autor do Horto do Esposo; no século XVI,
o aristotelismo de UJID António de Gouveia, de UJID Pedro da Fonseca ou
dos Commbrioonses, com especial r.elevo para BaLtazar Alvares, ao lado
do estetidsmo renasoenrtista de um Fmncisco de Hollanda ou do plato-
nismo de um Leão Hebreu, de um Alvaro Gomes, de um Jerónimo
Osório, de um Heitor Pinto ou de um Amador Arrais; no século XVII,
SESSÃO DE ENCERRAMENTO 663

para não alongar este hrevíssimo panorama, a reforma dos Conimbri-


censes, com um Francisco Soares Lusitano ou um António Cordeiro .
E tão poderosa é a matriz greco-Iatina da cultura portuguesa, que
no sécuJo XVI surgiram entre nós humanistas da altura e da enver-
gadura de um André de Resende, um Damião de Góis, um Diogo de
Teive, um Francisco Sanches, um Diogo Pires - e um Luís de Camões
que, recolhendo a tradição de Homero e de Virgílio, renovou a epopeia
COlIll os seus Lusíadas, dedicados à gente ecuménica e universalista
portuguesa. Não será deslocado lembrar que Fernando Pessoa, o grande
poeta cujo centenário do nascimento se comemora este ano em todo
o mundo, não só recebeu uma influência órfica, expressa em várias
das suas poesias, não apenas foi um estudioso das raízes gregas (che-
gando a propor um movimento de neopaganismo helenizante e a dirigir
uma revista significativamente inütulada Athena), não unioamente deu
uma nova face ao género épico com a sua Mensagem, COlIllO criou um
heterónimo, Ricardo Reis, poeta subtil de raiz latina, estóica e horaciana.
Mas os valores universalistas da greco-Iatinidade não devem, quanto
a mim, ser encarados unicamente como motivos de cultura, de estudo,
de prooura da nossa identidade, eles tonnam-se-nos tanto mais impor-
tantes, quanto parecemos tentados, nos dias de hoje, a deixar que nos
aconteça uma forma de civilização baseada quase unicamente em pres-
supostos Il1éllteriais, económicos e técnicos.
Vivemos ainda em muitos aspectos da nossa cultura os efeitos
nefastos de ideologiélls redutoras que pretendem elevar apenas uma
ou outra dimensão da pes's oa humana à categoria de absolutos isolados,
trunOOiIlJdo aS1s im o homem da complexidade e da globalidade que o
define. Refiro~me a doutrinas, por exemplo, que apenas realçam o CO!l1-
c6to da libeJ1dade individual sem o integrarem num sistema de deveres
sociais e preocupações de solidariedade ou, por outro lado, a ideolo-
gias que pJ1efiguram uma sodedade equaHtária mas que o pretendem
conseguk à custa da eliminação da diferença, da autonomia e portanto
da dignidéllde da pessoa humana; refi,ro-me a sistemas de pens'a mento
que só rea,l çam os aspectos deteruninis,t as da vida psicológica e da vida
sooial do homem, reduzindo-o explicitéllmente a esses determinismos,
sem abertura para espaços de liberdade onde se jogam as dimensões
ética, estétioa e espiritual. Poderá então ser das raízes da greco-Iatini-
déllde enquanto informada pelos grandes vecto'r es do judeo-cristianismo
que poderemos voLtar a extrai'r este conceito globélll e integrado do
homem que respeita tanto a sua integridade como a sua inserção .
664 SESSÃO DE ENCERRAMENTO

Sem dúvida, uma paideia moderna não poderá nunca repetir os


traços da paideia grega ou da paideia romana, porque o mundo é
mudança e evolução, e para novas rea1idades e novos problemas, tere-
mos que encontrar sempre novas respostas; respostas que aliás deverão
ser não só adequadas às exigéncias modernas mas também aos concretos
contextos sociais e culturais desta nossa ecúmena multifacetada em
que o direito à diferença, em vez de uma unifo'ITIlidade cinzenta e bana-
lizada, foi estatuído desde logo em 1952 (por um Claude Lévi-Straus,s),
U11m dos primeiros trabalhos editados e difundidos pela então jovem
UNESCO, ao afinnar que uma civilização mundial deverá sempre
respeitar a distância diferencial entre todas as culturas singulares ou
unívocas que a compõem 1.
Mas nas chamadas humanidades greco-Iatinas encontramos também
respostas para a problemática humana e social de hoje e de amanhã.
E em primeiro lugar, neste caso principaJlmente para os países latinos
e também para os países que têm as línguas latinas como segunda
língua, nunca é demais reafirmar que Jamais será possível falar e
escrever bem o Português ou o Castelhano, o Fraillcês, o Italiano ou
o Romeno, sem o conhecimento das suas matrizes linguísticas, que
são o Latim, o Grego ou ainda, em casos como o ibérico, o Árabe.
Deste conhecimento dependem não só a correcção da fala e do discurso,
ou ainda a qualidade da estética literária, mas sobretudo a capacidade
para aproveitar ao máximo as virtualidades que sabemos conterem-se,
COlillO em suspensão, em todas as línguas , nas suas raízes e evolução
semântica, com reflexos fundamentais, em diversos campos, desde a
filosoHa e a poética, até às ciências. Neste senrtido, os estudos de filo-
sofia grega e latina não interessam apenas aos povos helénicos e
românioos de hoje; interessam a todos os povos, pelo dinamismo das
inter-influênoias e pela possibilidade aculturativa e dialogal aberta
pelas traduções, colocando a cultura de cada povo ao alcance de todos
os povos.
NUilIl segundo aspecto, importa também realçar que o mundo
actual, o mundo do mercado, o mundo das ciências e das técnicas cada
vez mais evoluídas, difundidas e sofisticadas , o mundo dos audiovisuais
e dos meios de oomunicação de massa, carece de um coeficiente de
co:r:recção capaz de o defender daquilo a que podemos chamar uma
certa desumanização.

1. C. Lévi-Strauss, Race et Histoire, Éd. Gauthier-UNESCO, 1961, pp. 76 e 77.


SESSÃO DE ENCERRAMENTO 665

A que especle de desumanização nos referimos? A um como que


esbatimento da interioridade humana, a uma wliformização segundo
padrões sociais de exterioridade, a uma despersonalização, a uma ten-
dência para a submissão da vontade à procura exclusiva de bens mate-
riais, a um esvaziamento, no homem moderno, dos valores ideais, éticos,
espirituais, que fizeram a grandeza da nossa civiJização. A um império
da imagem que quantas vezjes silencia a comunicação humana e gene-
raliza a solidão.
Que civilização do universal desejamos construir e legar aos nossos
filhos? Decerto, e é um ponto essencial a sublinhar, decerto muitos
povos revelam grandes carências sociais e económicas, graves lacunas
educativas e tecnológicas. I,mporta-lhes a esses povos vitalmente vencer
os seus atrasos, as suas dificuldades, os seus probJemas. Por nossa
parbe, aqui em Portugal, é uma preocupação a que não podemos e não
queremos fugir, e daí o sentido de parte das reformas que urge
empreender nos domínios da educação e da formação. Mas esta preo-
cupação não minoI1a de algum modo, pelo oontrário até o realça, o
nosso empenhamento hwnanístioo, a nossa luta por esses valores her-
dados da filosofia e das artes gregas, do direito romano, de um cristia-
11iosmo (universalizante). Apontamos, por um lado, para o advento de
uma sociedade progressiva, desenvolvida, ao nível dos melhores padrões
económicos, teonológicos, profissionais e sociais; mas, por outro lado,
dentro da tal sociedade, não queremos hom.ens-«robot,s», homens desper-
sonalizados, homens eticamente frágeis e sujeitos aos tel1ríveis males
do século, que todos conhecemos, homens intelectual e espiritualmente
diminuídos. Pelo oontrário postulamos que o homem o seja na pleni-
tude das suas potencialidades e das suas capacidades psicológicas e
mentais, assumindo dentro de si, em interioddade e em autenticidade,
os valores do espírito, tal como preservados pelos humanistas clás's icos
e tal como os temos que repensar, à luz das contribuições modernas.
Como passar agora do domínio das intenções e dos propósitos
para o camrpo da acção e da política educativa?
Gostava, em primeiro lugar, e muito brevemente, de realçar a ideia
de que a educação em todos os ciclos escoJares deve ser sempre auten-
ticamente humanista e portanto multidimensional e interdisciplinar.
Especializações precoces que, sob o pretexto de prepararem o jovem
pam o emprego imediato, o privam seja do conforto da expedência
estética, seja da disciplina das ciências experimentais e exactas, seja
da inspiração das áreas do espírito e da palavra ou da cultura física
e do movimento, são especializações que em última análise debilitam
666 SESSÃO DE ENCERRAMENTO

O jovem e o tornam impreparado para a mudança, para a reconversão


profissional e para a fruição do lazer e da cultura. Não podemos formar
jovens cientistas que não saibam falar ou escrever com propriedade
e com gosto; é uma injustiça deixar os jovens formados em letras ou
ciências humanas, por outro lado, desprovidos de aptidões matemá-
ticas e da prática de uti1ização informática; é confrangedor ver sair
das nossas escolas jovens que porventura sabem mas não sabem fazer,
ou vioe-versa, jovens que aprenderam a rotina mas são incapazes da
concepção; fina1mente é irresponsável da parte da nossa geração adulta
não propor'Cionar a todos os nossos jovens as infraestruturas neces-
sárias para que pratiquem regularmente o desporto, desenvolvam as
aptidões físicas, cultivem a saúde.
Quero, em segundo lugar, referir-me ao papel decisivo que têm as
diferentes especializações do ensino superior no domínio das línguas
e literaturas clássicas e modernas e das ciências humanas e sociais.
Há que promov,e r, na nossa sociedade também, UJIIl nível crítico de
alunos e docentes destas matérias para que o seu i1mpacto na cultura
popular contemporânea se faça sentir. Não partilho, pois, do pess~mismo
de muitas pessoas que vém que as saídas profissionais dos diplomados
em «letras» tenham que ser restritas e mal remuneradas. O que é pre-
ciso não é restringir o número daqueles que se querem especializar
nestas matérias. O que é necessário é dar aos joven·s formados em letras
a possibilidade de uma maior integração na sociedade, promover neles o
espírito empreendedor, e facilitar-lhes a criação de en1ipregos nos vários
domínios da vida económica. Talvez que, para tal, o tipo de formação
que recebem tenha que ser revisto e oompletado, mas certamente haverá
que sensibHizar toda a sodedade para a importância capital da sua
pI1esença e da sua contribuição.
Gostava, em teI'ceiro lugar, de sublinhar o papel específico da
reflexão filosófica na educação básica, secundária e superior dos nossos
jovens. A competência na reflexão sobre os princípios, tanto éticos,
como lógicos oomo cognitivos é talvez a aptidão mais importante a
desenvolver por todo o esforço de educação. É esta aptidão que possi-
bilita a emergência do espírito crítico em relação à história, à sociedade
e à própria postura individual; é esta aptidão que torna o jovem num
ser que sabe e quer aprender, mais do que um reposi,t ório de erudição
e de ideias feitas. É esta aptidão que pode preparar os nossos jovens
para enfrentarem com confiança a sociedade de informação na qual
nos movemos sem se sentirem tolhidos e paralisados perante uma
tonente de mensagens não integradas. É finalmente esta a aptidão para
SESSÃO DE ENCERRAMENTO 667

a reflexão filosófica que possibilita a actividade, nobre entre todas, de


buscar um sentido para a vida, uma justificação para a existência,
uma alma para o povo. O modo como estas aptidões fo'r em desenvol-
vidas, o tipo de curricula em que forem veiculados os tempos e os
espaços que tais curricula devam ocupar encontra-se actualmente em
discussão pública. Mas é meu propósito firme que o desenvolvimento
da capacidade :€Hosófica assim entendida esteja firmemente presente
no ensino secundário em disoiplinas próprias e esteja já integrada no
enS1ll'0 básico, tanto no modo de ensinar todas as disciplinas, como
em espaços de síntese multidisciplirnar.

Minhas senhoras e meus senhores,


Meus caros amigos,

Saudando os senhores Congressistas e muito em especial esse


grande hU!ffianista que temos entre nós e é o Presidente deste Con-
gJ:1esso, PI1esidente LéopoJd Sédar Senghor, cuja obra admirável há
muito conheço e aprecio, faço os meus votos para que os trabalhos
reanZJados, através das comunicações apresentadas e do diálogo deste
modo propiciado, para que as conclusões que há pouco ouvi, possam
contribuir consideravelmente para a criação de uma civilização mundial
baseada nos ideais humanistas aqui, e com tão elevado nível, defendidas.
Espero que ao debruçarmo-nos sobre as nossas raízes greco-latinas
possamos seguir-lhes o movimento universalizante e abril[" as mentes
e o espírito às outI1as grandes cultums asiá,t icas, africanas e americanas ,
tr.ansoendendo senlpre o particular para atingirmos aquela esfera
humana que a todos nos une, enriquecidos agora que estamos histo-
ricamente de todas as diferenças, diferenças afinal que nos conferem
personalidade e dignidade.

Você também pode gostar