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ENSAIO SOBRE A TEORIA INSTITUCIONAL E O NEO-

INSTITUCIONALISMO

Luciana Vasconcelos da Costa

1 INTRODUÇÃO

Este ensaio tem como objetivo apresentar os debates sobre a teoria institucional e
o neo-institucionalismo, com base nos artigos As três versões do neo-institucionalismo
(2003), de Peter Hall e Rosemary Taylor, As instituições entre as estruturas e a ação
(2003), de Bruno Théret, e A inflexão conservadora na trajetória histórica da teoria
institucional (2004), de Cristina Carvalho, Sueli Goulart e Marcelo Vieira.

2 A TEORIA INSTITUCIONAL E O NEO-INSTITUCIONALISMO

Segundo Carvalho, Goulart e Vieira (2004, p. 3), o empirismo das Ciências


Sociais da década de 1930 favoreceu o surgimento de uma abordagem
comportamentalista, sendo assim, nas décadas de 1940 e 1950, somaram-se aos estudos
empíricos os enfoques estrutural e comportamental, focando no comportamento
individual. Entretanto, os autores indicam que a origem da abordagem institucional
emergiu no final do século XIX.
A abordagem institucional, segundo os autores, é explorada a partir de diferentes
vertentes. De acordo com Hall e Taylor (2003), as escolas de institucionalismo são
divididas em histórica, de pensamento racional e sociológico.
De acordo com Carvalho, Goulart e Vieira (2004, p. 1), a retomada da teoria
institucional nas Ciências Sociais aconteceu na década de 1970, momento que o “interesse
pelas instituições como elementos determinantes para o entendimento da realidade social”
ressurgiu
Os três artigos citam a década de 70 como marco da teoria institucional. O
institucionalismo histórico surgiu como reação à análise da vida política, focalizando, de
maneira mais direta, nos temas do poder e dos interesses. De acordo com Hall e Taylor
(2003, p. 201), o institucionalismo histórico se preocupa com as relações entre as
instituições e as ideias ou crenças dos indivíduos.
Enquanto que o institucionalismo de escolha racional surgiu no contexto do estudo
de comportamentos, analisando a política como uma consequência dos atos coletivos.
De acordo com Hall e Taylor (2003, p. 207), o institucionalismo sociológico
surgiu na teoria das organizações, no final da década de 70,

no momento em que certos sociólogos puseram-se a contestar a


distinção tradicional entre a esfera do mundo social, vista como o
reflexo da racionalidade abstrata de fins e meios (do tipo burocrático) e
as esferas influenciadas por um conjunto variado de práticas associadas
à cultura.

No Brasil, de acordo com Carvalho, Goulart e Vieira (2004, p. 1), a teoria


institucional começou a ser adotada por pesquisadores e grupos de pesquisa na década de
1980, unindo-se a pesquisas sobre o isomorfismo, estratégias de legitimação usadas pelas
organizações e para compreender os processos de institucionalização dos campos
organizacionais.
Segundo Théret (2003, p. 225), o institucionalismo difere-se de outros paradigmas
intelectuais, especialmente dos rigores do individualismo metodológico, ao indicar a
necessidade de se levar em conta, “a fim de compreender a ação dos indivíduos e suas
manifestações coletivas, as mediações entre estruturas sociais e comportamentos
individuais”. De acordo com o autor, essas mediações são as instituições.
De acordo com Théret (2003, p. 225), os diversos institucionalismos aproximam-
se pela mesma descrença “a respeito das concepções atomísticas dos processos sociais e
pela crença difusa de que os dispositivos institucionais e os processos sociais são
importantes”.
Carvalho, Goulart e Vieira (2004) reconhecem a teoria institucional como uma
abordagem benéfica a para análise das organizações. Os autores explicam que o principal
questionamento teórico é quais são os valores que os atores sociais compartilham, quais
são seus recursos de poder e como os utilizam.
A partir da leitura dos três artigos, depreende-se que o neo-institucionalismo
surgiu em reação às escolas comportamentalistas e institucionalistas clássicas, analisando
a influência exercida pelas instituições no comportamento desses atores e na adoção das
políticas.
De acordo com Hall e Taylor (2003, p. 193-194), o neo-institucionalismo surge
como uma “reação contra as perspectivas behavioristas (...) buscam elucidar o papel
desempenhado pelas instituições na determinação de resultados sociais e políticos”. As
pesquisas sobre as instituições são importantes para a cultura política, a fim de analisar
suas influências nas ações dos indivíduos.
Embora cada corrente adote posturas diferentes, se faz importante a construção
conjunta dessas correntes, tendo em vista que cada uma possui influência específica do
comportamento individual. Hall e Taylor (2003, p. 222), trazem, em seu artigo, exemplos
de análise do intercâmbio entre essas correntes neo-institucionalistas.

Dentre essas análises as melhores já integram elementos emprestados


das outras escolas, por exemplo quando, à maneira dos teóricos da
escola da escolha racional, elas mostram como os atores históricos
selecionam novas instituições com um objetivo instrumental, mas o
fazem a partir de uma lista de alternativas historicamente determinadas
por mecanismos que o institucionalismo sociológico descreve. Como
observamos mais acima, outros trabalhos foram ainda mais longe na
sugestão de que as reações estratégicas a um ambiente institucional
dado podem no final engendrar visões do mundo e das práticas
institucionais que continuam a condicionar a ação mesmo tendo-se
modificado o ambiente institucional inicial.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As teorias institucionais trazem diversificadas escolas de pensamento, entre elas


é possível – e necessário - haver uma troca entre as vertentes para contribuir aos estudos
acerca das instituições, suas estruturas e seus atores.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, C. A.; GOULART, S.; VIEIRA, M. M. F. A inflexão conservadora na


trajetória histórica da teoria institucional. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 28,
2004, Curitiba. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2004. 1 CD-ROM.

HALL, Peter A.; TAYLOR, Rosemary C. R. As três versões do Neo-Institucionalismo.


In: Lua Nova, São Paulo, n. 58, p. 193-224, 2003.

THÉRET Bruno. As instituições entre as estruturas e as ações. In: Lua Nova, São Paulo,
n. 58, p. 225-254, 2003.

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