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As Ciasses na Teoria Sociológica Contem porânea

Edison Ricardo Em iliano Bertoncelo

Introdução No Brasil, a análise de classe tem uma tra­


dição que acompanhou, mesmo que fora de
O conceito de classe reve um lugar central compasso e com menor iíitensidadei. á emer­
na teoria social durante muito tempo. Na tra­ gência de novas perspectivas analíticas. Valio­
dição marxista, ele sempre foi um conceito chave sos balanços bibliográficos já foram produzi­
para a compreensão das sociedades capitalistas, dos tentando captar dimensões distintas da
de seus conflitos e transformações. Na tradição produção de classe. Destaco alguns deles. Gui­
weberiana, ele é essencial para apreender uma marães (1999) investiga a produção sociológi­
das dimensões da distribuição de poder na so­ ca sobre classes feira especificamente no Brasil,
ciedade. Essas tradições fundaram as premissas especialmente os estudos que dialogam com a
das teorias de classe contemporâneas. tradição sociológica marxista. Silva (1999), por
Do ponto de vista dos.estudos de classe, sua vez, discute maneiras distintas de opera-
foco deste artigo, algumas perspectivas se so­ cionalizar os estratos sociais de forma a medir os
bressaem no contexto da sociologia contem­ movimentos entre eles. Scalon (1999) aborda
porânea. Duas delas propõem construir es­ o campo de análise de classes comparando cri­
quemas de posições de classe de forma a captar ticamente as perspectivas de Erik Olin Wríght
as divisões produzidas pelo mercado e pelo ejohn Goldthorpe.
processo produtivo e o impacto delas sobre Este artigo difere desses balanços ao consi­
fenômenos sociais diversos. Seus expoentes são derar o seguinte aspecto: de que o principal
John Goldthorpe e Erik Olin 'Wright. Outra eixo que estrutura,o campo da análise de classes
toma as classes como categorias analíticas para atualmente é um que opõe, de um lado, as
a investigação do processo de formação de abordagens que enfocam a construção de es­
coletividades sociais. A principal referência aqui quemas de posições de classe com base em di­
é Pierre Bourdieu. Tais perspectivas têm in­ mensões objetivas e, de outro, as abordagens
fluenciado a maior parte da produção teórica que tomam as classes como (possíveis) coletivi­
e empírica recentes sobre classes. Por outro dades sociais, trazendo aò centro da investiga­
lado., alguns estudos passaram a contestar se­ ção as práticas de classificação dos atores sociais.
riamente a relevância dos estudos de classe para
a investigação da dinâmica das sociedades A Perspectiva de Análise de Classe
contemporâneas. no Program a de Nuffíeld
Meu objetivo aqui é duplo, Em primeiro
lugar, examino as três perspectivas identifica­ A partir dà década de 1960, os estudos so­
das acima. Em segundo lugar, tento responder bre estratificação social na Sociologia britânica
à questão de se as classes são úteis à teoria socio­ tiveram como base acadêmica principal o Co­
lógica e, se o forem, como podem sê-lo. légio de Nuffield, que abriga o Departamento

B IB , Sãò Paulo, n° 67, I o semestre de 2009, pp. 25-49. 25


de Sociologia na Universidade de Oxford —e, educação expressariam expectativas de recom­
em menor medida, a Universidade de Essex. pensas materiais e simbólicas conformadas pe­
Nuffield é considerado o principal núcleo, los valores institucionalizados no sistema social
de estudos sobre estratificação social na Grã- (Blaue Duncan, 1967;TreIman, 1977 ).2
-Bretánha desde meados da década de 1980, Diferentemente, a teoria e pesquisa sobre
tendo coordenado e realizado pesquisas com­ estratificação social (mais especificamente, os
parativas em escala internacional sobre estru­ estudos sobre classe) na Sociologia britânica
turas de classe, mobilidade social e progresso foram em grande parte infiuenciadas pela tra­
educacional.1 dição sociológica clássica, conformada pelas teo­
A gênese e a dinâmica desse conjunto de rias marxista e weberiana. A influência mar­
estudos baseados em Nuffield estão ligadas a xista direcionou o foco de muitos estudos para
uma apropriação peculiar da teoria sociológica grupos de trabalhadores manuais e para a
clássica e aos embates com a teoria e pesquisa possível constituição deles como atores coleti­
sobre estratificação social levadas a cabo nos vos (Lockwood, [1960] 1996). Foi, no entan­
Estados Unidos. to, a teoria weberiana (e os modos como foi
Nessa última, a estratificação das socieda­ apropriada) que inspirou mais diretamente os
des modernas é concebida em termos de um modelos teóricos e os aparatos conceituais que
sistema de papéis sociais funcionalmente di­ deram fundamento às proposições e pesquisas
ferenciados e hierarquizados segundo sua im­ nessa área.
portância para ó funcionamento do ssstema Como aspecto mais geral da influência
social (Parsons, 1964). Sob essa perspectiva, a weberiana (Weber, 1982), a famosa distinção
estratificação social podé ser entendida comó entre classe, status e parddo foi apropriada como
um mecanismo de integração social. A hierar­ uma forma de diferenciar as diversas dimen­
quia de funções e os diferenciais de recompen­ sões da estratificação social e de acentuar a pos­
sas materiais e simbólicas expressam valores sibilidade de conflitos cm torno das diferentes
institucionalizados no sistema social e interna­ formas de distribuição de poder. Com base nis­
lizados pelos atores sociais (Davis e Moõre, so, a perspectiva norte-americana sobre estrati­
[1945] 1996). ficação social foi criticada por reduzir a estrutu­
Os estudos mais recentes sobre o tema nos ra social a seus componentes normativos (status),
Estados Unidos (especialmente aqueles de Otis marginalizando, dessa forma, os componentes
Blau, Peter Duncan e DonaldTreiman) foram materiais (Scorr, 1996). Essa ênfase sobre a di­
bastante influenciados peía teoria funcionalis- mensão normativa - que conforma as expecta­
ta. Em geral, tais estudos salientam que os pro­ tivas de recompensas materiais e simbólicas —
cessos aJocativOs no sistemasocial seriam cres­ impediria que se captasse o elemento do confli­
centemente conformados pelos valores do to gerado pela escassez (Crompton, 2003).
“universalismo” e do. “desempenho’ (compo­ Na perspectiva mais sintética, baseada na
nentes dos dilemas de orientação parsonianos), teoria weberiana, a estratificação social é conce­
sob o impacto dos imperativos funcionais as­ bida como uma estrutura conformada por com­
sociados aos processos de industrialização e ponentes materiais e normativos que se inter-
diferenciação social. Em tais estudos, as ocupa­ conecram empiricamente. Com base nesse
ções são distribuídas em uma escala e hierarqui­ entendimento, a distinção weberiana entre si­
zadas segundo variáveis socioeconômicas (es­ tuação de classe e classe social foi apropriada
pecialmente rendae qualificação educacional), como uma forma de invesdgar como as relações
pois se concebe que os diferenciais de renda e econômicas que estruturam diferentes situações

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de classe se conectam a relações não-econômi- de um esquema de posições, de classe que cap­
cas. O conceito de classe social permitiria, por­ tasse as principais divisões produzidas pelo fun­
tanto, captar a imbricação empírica entre classe cionamento do mercado e sistema produtivo,
e status:' de forma a investigar o impacto dessas divisões
A essa vertente de intenção sintética, po­ sobre padrões de mobilidade social e progresso
demos contrapor outra que sublinhou as di­ educacional. Por isso, esse esquema não tem
mensões instrumental e coercitiva da vida social uma forma hierárquica claramente definida,
com base na obra weberiana. Destaco a obra de diferentemente das escalas de prestígio ou de
Frank Parkin (1975). Nela, a estrutura social status socioeconô tn ico (Goldthorpe, Llewellyn
das sociedades modernas é conformada por e Payne, 1987; Erikson e Goldthorpe, 1992),
duas estratégias antagônicas. Uma delas é a es­ Em uni de seiis primeiros estudos, Gold­
tratégia de m onopolização, em que os indiví­ thorpe, Llewellyn e Payne (1987) construíram
duos e grupos em posições sociais privilegiadas um esquema de posições de classe pela agrega­
mobilizam mecanismos de fechamento social ção de 36 categorias ocupacionais em termos
para restringir o acesso a essas posições e aos de situações de mercado e de trabalho (Lock­
recursos e recompensas associadas a elas, Por wood, [1958] 1989).
outro lado, os indivíduos e grupos excluídos Esse esquema foi parcialmente alterado em
de posições sociais privilegiadas buscariam am­ estudos posteriores. Neles, as posições de classe
pliar o acesso a recursos socialmente valoriza­ dos empregados são diferenciadas em termos de
dos, através de estratégias de usurpação. relações de emprego. Estas tomam a forma de
Os estudos sobre estratificação social ba­ contratos empregatícios, que são utilizados pe­
seados em Nuffield foram conformados pelas los empregadores para lidar com dois tipos prin­
distintas formas de apropriação da obra webe­ cipais de problema que emergem nas relações
riana na Sociologia britânica. Enfatizou-se a com os empregados: o monitoramento do tra­
distinção entre as formas de distribuição de balho e o grau de especificidade do capital
poder e o componente do conflito entre os ato­ humano. Duas formas típicas de contrato em-
res sociais por recursos e posições sociais valori­ pregatício são diferenciadas com base nisso. De
zadas.4 Igualmente importante, nota-se, em tais um lado, os contratos de trabalho, que servem
estudos, uma oscilação entre as duas formas para estabelecer relações de emprego em que o
principais de apropriação da teoria weberiana, monitoramento do trabalho se dá, em geral,
aquela mais sintética e a outra que enfatiza as por supervisão direta e em que o capital hu­
dimensões instrumentais e coercitivas da vida mano não é escasso - esses são contratos típicos
social. Ao longo do tempo, as preocupações de trabalhadores manuais. Em consequência
sintéticas deram lugar a uma teorização unidi­ disso, estabelece-se uma relação de troca sim­
mensional, baseada na teoria da ação racional. ples, relativamente de curta duração, entre es­
John Goldthorpe e. seus colaboradores têm forço e pagamento. De outro lado, os contratos
produzido os principais estudos de classe den­ de serviços, que regulam as relações de emprego
tro daquilo que foi denominado de Programa em que o capital humano é bastante específico,
de Nuffield (Goldthorpe e Marshall, [1992] dificultando o monitoramento do trabalho: Tais
1997). Com exceção dos estudos sobre os tra­ contratos estabelecem relações de emprego de
balhadores afluentes (que enfocaram as teses longo prazo com maiores benefícios (como
sobre a diluição da fronteira entre trabalho escalas salariais, planos de pensão, estabilidade
manual e não-manual —Lockwood et a í, 1969), na posição) e maior autonomia no trabalho,
seus estudos de classe enfocaram a construção de forma a criar e sustentar um alinhamento de.

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interesses entre o empregador e o empregado. de classe são diferenciadas (Erikson e Goldthor-
Formâs modificadas ou mistas de contrato são pe, 1992; Goldthorpe, 2007a; Goldthorpe e
reconhecidas e, comó resultado, doze posições McKnight, 2006) (ver Quadro 1).

Quadro 1
Esquema de Posições de Classe de Erikson e Goldthorpe

Classe Regulação do emprego

I Profissionais, administradores e gerentes de nível alto Relação de serviços


II Profissionais, administradores e gerentes de nívei baixo Relação de serviços
Illa Empregados não-manuais de rotina (nível alto) Mista
Illb Empregados não-manuais de rotina (nível baixo) —geral­ Contrato de trabalho
mente mulheres
rva Pequenos empregadores. -
IVb Pequenos proprietários, conta própria -
IVc Pequenos empregadores rurais -
V Técnicos de nível baixo e supervisores de trabalho manual Mista
VI Trabalhadores manuais qualificados Contrato de trabalho
Vila Trabalhadores manuais não -qualificados Contrato dé trabalho
VTIb Trabalhadores rurais Contrato de trabalho

Fonte: Erikson c Goldthorpe (1992).

Os estudos de mobilidade social são cen­ Goldthorpe, Llewellyn e Payne, 1987; Erik­
trais nessa perspectiva analítica. Quando me­ son e Goldthorpe, 1992, 2002).
didas em termos absolutos (fluxos empirica­ Talvez os resultados empíricos mais im­
mente observáveis de entrada e de saída das portantes produzidos por essa perspectiva ana­
posições de classe), as taxas de mobilidade social lítica se refiram às evidências de regularidades
permitem revelar graus, vàriâdos de associação, macrossQciàis, ou seja, a persistência de di­
ao longo do tempo, entre indivíduos e famí­ ferenciais de progresso educacional e de chan­
lias, de um lado, e posições de classe, de outro. ces de mobilidade social em termos de posições
Graus elevados de associação demográfica de classe. Em outras palavras, isso quer dizer
podem facilitar a emergência de identidades que, ao longo das décadas (na Grã-Bretanha e
culturais e políticas comuns entre os indiví­ em outras sociedades capitalistas avançadas), as
duos em uma mesma posição de classe e com chances de indivíduos de diferences origens
trajetórias sociais similares. Quando medidas sociais alcançarem destinos sociais relativamente
em termos relativos (que controlam os efeitos privilegiados e percorrerem as trajetórias edu­
das variações no tamanho das categorias de ori­ cacionais que levam a qualificações educa­
gem e destino), as taxas de mobilidade social cionais valorizadas permaneceram extremamen­
permitem calcular as chances de indivíduos de te desiguais (Erikson e Goldthorpe, 1992). Por
diferentes origens de classe alcançarem certo:s isso, nos últimos anos, a produção teórica nessa
destinos sociais. Nesse sentido, servem como perspectiva tem-se voltado para a construção
um indicador do grau de abertura ou flui­ de um modelo teórico que permita explicar tais
dez de uma sociedade (Kurz e Muller. 1987; regularidades macrossociais. Para esses autores,
o objeto da teoria sociológica deve ser não a confronta o ator externamente (os recursos po­
mudança social, mas sim a explicação da esta­ tencialmente disponíveis, a probabilidade de
bilidade de classe, ou melhor, da poderosa re­ sucesso ou fracasso em um dado curso de ação,
sistência a mudanças demonstrada pelas rela­ os custos e benefícios prováveis etc.) Uma vez
ções de classe e chances de vida associadas a elas conhecidos os contornos principais desse am­
(Goldthorpe e Marshall, [1992] 1997;Breen biente e dado o pressuposto de que a ação orien­
e Rottman, 1995; Goldthorpe, 2007a). Ar­ ta-se pela norma da eficiência econômica, os
gumenta-se, com base no individualism o me­ fins da ação podem, então, ser vistos como for­
todológico, que a explicação das regularidades mas de adaptação eficiente às pressões condicio­
macrosso ciais deve ser buscada na dimensão nais. Nesse sentido, as escolhas dós indivíduos
mícrossocial, isto é, aquelas devem set vistas podem ser entendidas como estratégias adap-
como o resultado de ações individuais. tativas diante da estrutura de oportunidades
Uma versão da teoria da ação racioilal é que determina os custos e benefícios relativos
formulada para dar conta dos processos de de­ de diferentes cursos de ação (Goldthorpe,
cisão que ocorrem no nível microssoeíal e que 1996a, 2007a).
sustentam as regularidades observadas no ní­ Assim, por exemplo, no caso dos filhos da
vel macrossoeial. A versão proposta por Gol­ classe trabalhadora, deixara escola após o pe­
dthorpe assume uma racionalidade de força ríodo de estudos obrigatórios e optar por um
interm ediária, quer dizer, postula uma racio- curso profissionalizante que leve a um ofício
nalidadedo tipo subjetiva esituadonal. Os fms manual seriam escolhas racionais (senão as mais
da ação não são incorporados na teoria (por­ racionais e eficientes) diante da estrutura de
tanto, são exógenos) e concebe-se que os indi­ oportunidades que se impõe sobre essa posição
víduos agem com base em crenças derivadas de de classe: recursos escassos relativamente aos
informações disponíveis nos contextos de ação custos prováveis de períodos mais longos de
(que.são “incompletas'’), abandonando-se a estudo, rendimentos de trabalho decrescentes
proposição do conhecimento perfeito. Além ao longo do tempo no seio familiar, especial­
disso, assume-se que as situações de ação são mente no período em que os cüstos da educa­
tão complexas que a maximização de interesses ção dos filhos se rornam potencialmente maio­
não é possível. Por isso, considera-se que os in­ res (associados à entrada no ensino superior),
divíduos agem racionalmente quando satis­ riscos relativamente maiores associados ao pos­
fazem o critério de eficiência à luz das crenças sível fracasso do filho em trajetórias educacio­
construídas com base nas informações dis­ nais mais ambiciosas, pois isso impediria o in­
poníveis em contextos de ação diversos. As prin­ gresso em posições de classe superiores e tornaria
cipais proposições desse modelo teórico afir­ menos provável a obtenção posterior de traba­
mam que os indivíduos têm objetivos, meios lho manual. Diferentemente, no caso daqueles
alternativos para persegui-los e, ao escolhe­ com origens sociais em posições de classe mais
rem entre cursos de ação, tendem a avaliar seus elevadas (como a classe de serviços), a escolha
custos e benefícios relativos (Goldthorpe, por Trajetórias mais ambiciosas e prolongadas,
1996a, 2007a). redundando em qualificações educacionais valo­
A análise de classe oferece para esse mo- rizadas, seria a escolha mais racional: a proba­
deio teórico os elementos para á construção dó bilidade de desemprego de longa duração é
ambiente condicional em que o ator racional menor, os rendimentos do trabalho sãó progres­
age, ambiente esse conformado pela estrutura sivos ao longo do tempo (portanto, os custos
de oportunidades e constrangimentos que adicionais produzidos pelo “prolongamento dos

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estudos” impactariam relativamente menos), os orientação essencialmente conservadora do
riscos de fracasso educacional podem ser com­ ponto de vista político, porque se orientariam
pensados mais facilmente com a mobilização para a manutenção de suas posições sociais pri­
de outros tipos de recursos (redes sociais, capi­ vilegiadas (Goldthorpe, 1995). De outro lado,
tal económico), evitando, com isso, o risco de aiguns autores sustentam uma perspectiva ana­
mobilidade descendente. lítica que diferencia frações profissionais, ge­
O Programa de Nuffield tem influencia­ renciais e empresariais em termos do controle
do um conjunto de pesquisas sobre estratifica­ de ativos produtivos. O ponto chave do argu­
ção social e também tem sido alvo de diversas mento é que, das diferentes propriedades rela­
criticas. Enquanto alguns autores argumentam cionais desses ativos (em termos da capacidade
que o esquema de ciasses de Goldthorpe capta de acumulação, grau de convertibilidade e
adequadamente as divisões sociais resultantes mobilidade espacial etc.) emergiriam diferen­
das relações de emprego nas sociedades capita­ tes padrões de mobilidade social e geográfica,
listas avançadas —tomando este esquema como orientações políticas, estilos de vida, entre ou­
o mais adequado para apreender os “efeitos de tros (Savage, 1988; Savage eta l., 1992; Butler
classe” sobre um conjunto de fenômenos so­ e Savage, 1995).
ciais (Marshall etal., 1989; Evans, 1992; Breen Note-se, enfim, que a incorporação da aná-
e Rottman, 1995) - , outros afirmam que este Lise de classe dentro do modelo teórico da teoria
não é o caso. Scott (1996, 2000, 2002), Scott da ação racional teve consequências paradoxais.
e Morris (1996) e Edgell (1993) criticam o Por um lado, tendo como função especificar
esquema e, de forma mais geral, a perspectiva componentes do referido modelo teórico, a
de análise de classe vista até aqui por não incor­ análise de classe ganhou um fundamento mais
porar adequadamente as relações de proprie­ sólido no campo neoweberiano (aquele consti­
dade e o processo de formação da “classe supe­ tuído pelo Programa de Nuffield) se compara­
rior” (formada por grandes proprietários do com outro baseado puramente na capaci­
capitalistas e renristas). A literatura feminista, dade de produção empírica da análise de classe
por sua vez, considera inadequada a estratégia - correlações significativas entre posições de
metodológica de considerar a família como classe e um conjunto de outros fenômenos so­
unidade de análise e derivar a posição dela da­ ciais (Goldthorpe e Marshall, [1992] 1997).
quela do chefe de família, além de enfocar as Por outro lado, dados os pressupostos especifi­
trajetórias de homens adultos nos; estudos so­ cados pelo modelo teórico da ação racional, o
bre mobilidade social. Esse tipo de visão impe­ escopo da análise de classes é reduzido à re­
de que se capte como. a segmentação do merca­ construção do am biente condicional que estru­
do de trabalho em termos de gênero conforma tura a ação e à investigação de regularidades
a estrutura de-cíasses e os padrões de mobilida­ macrossociais. Enquanto os estudos iniciais ten­
de social (Witz, 1995; Crompton, 19 9 5 - taram construir uma perspectiva analítica sin­
1996, 2003).5 tética, centrada na investigação dos processos
Igualmente relevante tem sido o enorme de formação de coletividades de classe (Lock-
debate em to rno da natureza e orientações po­ wood et a i , 1969; Goldthorpe, Llewellyn e
líticas da classe de serviços. De um lado, Gold- Payne, 1987), a teorização recente no Progra­
thorpe utiliza este conceito para abarcar em uma ma de Nuffield tornou-se essencialmente uni­
mesma posição de classe ocupações gerenciais e dimensional, enfatizando,:ào modo dos estu­
profissionais, com base no argumento de que dos de Frank Parkin, a instrum entalidade da
Os indivíduos nessas ocupações teriam uma ação social e a natureza coercitiva da ordem

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social. Embora Goldthorpe sublinhe que a proletariado e, mais do que isso, formas de ação
teoria da ação racional incorpora sistemati­ coletiva que não pareciam expressar o conflito
camente a capacidade de escolha dos atores so­ entre capital e trabalho (Offe, 1985).
ciais, o que se sobressai no modelo explicativo Os teóricos marxistas tentaram lidar com
exposto anteriormente são atores sociais adap- essas questões de maneiras diversas (Poulant-
tando-seaa ambiente externo. De fato. vemos zas, 1979; Carchedi, 1977; CrompioneGub-
atores sociais fazendo “escolhas” entre cursos de bai, 1977), A estratégia de Erik Olin Wright
ação que já estão predeterm inadas de antemão: tenta superar o argumento da polarização estru­
as mais eficientes diante da estrutura de opor­ tural e política. A escolha por analisar mais deti­
tunidades que se impõe a partir de fora. Mais damente os estudos de Wright baseia-se no fato
do que adaptação, a capacidade de agência tem de que este autor vem conduzindo o empreen­
a ver com os esforços dos atores sociais por dimento, teórico e empírico de maior fôlego no
moldarem o ambiente externo de modo a mate­ campo neomarxista da análise de classe.6
rializarem, parcialmente, estruturas internali­ A atual perspectiva analítica do autor foi
zadas (padrões normativos).. Goldthorpe mar­ construída com base na substituição do enfo­
ginaliza esses elementos em sua análise e que de seus estudos anteriores sobre relações de
pressupõe que a ação é essencialmente racional dominação (Wright, [1976] 1996) por outro
e orienta-se para um ambiente externo que a em que o conceito de exploração - que é, para
estrutura através de um sistema de recompen­ ele, a característica distintiva de uma teoria
sas e punições, assim a voluntariedade da ação marxista de classe (idem ) —tem lugar central.
desaparece. A ação corna-se mecânica, quer di­ Tal perspectiva foi primeiramente apresentada
zer, movida por farores puramente externos aos em Classes (1985) e seus fundamentos têm
atores sociais. como base o esquema teórico de John Roemer
(1982), um autor marxista que centou dar con­
Os estudos de classe no campo ta das relações de exploração utilizando uma
neomarxista versão da ceoria dos jogos. Seguindo as linhas
Dois desafios importantes atingiram o cam­ gerais dos argumentos de Roemer, Wright afir­
po teórico marxista nas últimas décadas do sé­ ma que as relações de exploração em qualquer
culo passado. Um deles decorreu da crescente sociedade têm como base as relações de proprie­
complexidade da estrutura social nas socieda­ dade de ativos produtivos. As relações de explo­
des capitalistas avançadas devido à constitui­ ração são definidas com base no critério da opres­
ção e ampliação de uma camada gerencial e são econôm ica, segundo o qual o bem-estar
profissional. Na tradição marxista, argumen­ material da classe exploradora depende causal-
tou-se que o processo de reprodução capitalista mente da privação da classe explorada do con­
tenderia a polarizar a estrutura social em torno trole de ativos produtivos, e com base no crité­
das posições de capitalistas e trabalhadores. Essa rio da apropriação, segundo o qual o bem-estar
divisão estrutural tenderia a se materializar em material da classe exploradora depende causal -
uma polarização política (e boa parte dos es­ mente do esforço da classe explorada (Wright,
forços de teóricos marxistas voltou-se para a 1985, 1997).
explicação dos processos que medeiam essa pas­ As localizações de classes são “posições
sagem), que resultaria na superação revolucio­ dentro das relações sociais de produção:...”
nária do. capitalismo (Marx e Engels, 1998). (Wright, 1989, p. 13). Um modo de produção
Ourro desafio dizia respeito à emergência de é definido com base nas relações de proprieda­
novos atores coletivos que não tinham base no de do ativo produtivo socialmente relevante,

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Em dada formação social, no entantp., há mais tem a apropriação de uma parte do excedente
de um ativo que está desigualmente distribuí­ socialmente produzido (com base na explora­
do, definindo eixos diversos de exploração. Em ção dos que estão privados dos ativos de orga­
outros termos, em uma formação social articu- nização e qualificação). De outro, estão sujeitos
lam-sé diferentes modos de produção e meca­ ao mecanismo de exploração tipicamente capi­
nismos de exploração. Essa distinção entre talista, pois têm parte do produto de seu traba­
modo de produção e formação social (Poulant- lho apropriado pelos proprietários dos meios
zas, 1979) permitiria dar conta da complexi­ de produção. Em consequência disso, tais lo­
dade estrutural das sociedades capitalistas, Em calizações geram orientações políticas ambiva­
formações desse tipo, embora o mecanismo de lentes, devido aos interesses objetivos potencial­
exploração capitalista seja dominante e defina mente contraditórios com respeito às formas
a principal relação de classe, há dois outros de luta de classe em tais sociedades (Wright,
mecanismos de exploração operando: um deles 1989, pp. 25-7). Pelo fato de estarem na inter­
se baseia no controle de ativos de organização e seção de diferentes mecanismos de exploração,
o outro no controle de ativos de qualificação os membros das localizações contraditórias po­
(Wright, 1989, pp. 17-23). dem defender os interesses da classe capitalista,
As relações de propriedade desses ativos aqueles da classe trabalhadora ou ainda os inte­
produzem um conjunto de localizações contra­ resses específicos que derivam da posição que
ditórias na estrutura de classes das sociedades ocupam dentro das relações sociais de produção.
capitalistas —as “novas” classes médiás —distin­ O esquema resultante possui doze locali­
tas das duas classes polarizadas com respeito às zações de classe em sua versão mais desagrega­
relações dè propriedade propriamente capita­ da. Os proprietários (controladores de ativos
listas (propriedade e controle sobre os meios de de capital) são diferenciados segundo a quanti­
produção). Tais localizações são contraditórias dade de empregados; os não-propríetários, em
com respeito às relações de exploração. De um termos das relações de propriedade dos ativos
lado, seus membros detêm ativos que permi­ de qualificação e organização (ver Quadro 2).8

Quadro 2
Esquema de Posições de Classes de Wright

ReSação com os meios de produção

Proprietários Empregados

Capitalistas Gerentes Gerentes Gerentes não- Gerentes


especializados qualificados qualificados
ü -a
0 ro 2-9 Pequenos Supervisores Supervisores Supervisores nao- Supervisores 2. o*
£ O) empregadores especializados qualificados qualificados
QJ O S °
C »“ £■ °
1 £ * 3
2 I 0-1 Pequena Especialistas Trabalhadores Trabalhadores não-
burguesia qualificados qualificados Não-gerentes

Especialistas Qualificados Não-qualificados


Relação com recursos escassos

Fonte: Wright (1989, p. 25).

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As “novas” classes médias ganharam uma Em última análise, a perspectiva analítica de
posição estrutural peculiar nos trabalhos de Wright não se diferencia muito da perspectiva
Wright, sendo definidas em função de relações neoweberiana que enfoca os mecanismos de
de propriedadede ativos produtivos. Essacon- fechamento social (Parkin, 1995; Murphy,
ceituação teve implicações para o papel políti­ 19SS).9
co das classes sociais. O proletariado não aparece Creio, no entanto, que o principal proble­
mais como o único ator coletivo revolucionário ma da perspectiva de Wright refere-se à cone­
das sociedades capitalistas e nem mesmo como xão entre classe e ação coletiva,, pela. centralida-
o ator coletivo central e, além disso, o socialis­ de dessa questão para a teoria marxista. Wright
mo não é concebido como o futuro provável tènta conectar esses elementos construindo um
do capitalismo. Tendo como pressuposto de modelo teórico complexo que distingue um
que os atores sociais se orientam para a amplia­ nível micro —apreendido pelos conceitos de
ção dos retornos de seus ativos produtivos, localização de classe, consciência de classe e prá­
Wright argumenta que os membros das locali­ ticas de classes —e. um nível macro, confor­
zações contraditórias teriam interesse na supres­ mado pela estrutura de localizações de classe
são das relações de exploração a que estão sujei­ (Wright, 1997, pp. 185-215). O problema é
tos em sociedades capitalistas, tornando-se a que esse modelo especifica um pressuposto
classe dominante em outro tipo de formação marxista tradicional de que os interesses que
social (Wright, 1989, pp. 23-31). orientam a ação são estmmrados essencialmen­
Precisamente pelo fôlego empírico e teóri­ te pelo ambiente material conformado pelas
co dos trabalhos de Wright, críticas foram dire­ relações de produção. Por isso, ele não vai mui­
cionadas a diversas dimensões de sua obra. Tal­ to além da velha estratégia marxista de ligar
vez a crítica mais frequente questione a conexão classe e ação coletiva pelo elo mediador da cons­
entre relações de propriedade de ativos produ­ ciência de classe (Lockwood, [1981] 1988).
tivos e relações de exploração (Burris, 1989; Como nos ensina Lockwood (1992), a imagem
Savage, Warde e Devine. 2005) •Embora tais marxista de uma sociedade dividida em duas
relações de propriedade possam gerar capaci­ classes antagônicas —e da formação de uma
dades diferenciais de apropriação do exceden- classe como um sujeito histórico —implica a
re social, não fica claro se há, de fato, relações de existência de fortes elos de solidariedade moral
exploração, especialmente quando considera­ unindo seus membros; porém, a teoria mar­
mos o controle de ativos de qualificação e de xista em geral não consegue dar conta da for­
ativos organizacionais. As relações de explora­ mação desses elos, porque não incorpora siste­
ção implicam, como vimos, que os que contro­ maticamente os componentes normativos da
lam ativos produtivos não apenas mobilizam vida social.
estratégias de fechamento social que buscam
reproduzir a escassez relativa de seus ativos, mas /4s classes como coletividades sociais
também se apropriam do trabalho daqueles As perspectivas analíticas vistas anterior­
excluídos do controle desses ativos. Aqueles que mente convergem em alguns aspectos impor­
controlam ativos de qualificação e organizacio­ tantes (Edgeil, 1993; Crompton, 2003). De-
nais exploram, de fato, os que estão privados fmem-se critérios semelhantes para captar as
do controle desses ativos ou simplesmente es­ principais divisões sociais geradas no âmbito
tão em melhores condições de resistir à explora­ do mercado e da produção. Como a estrutura
ção de seu trabalho ?A meu ver, Wright não con­ ocupacional é usada como proxy, as posições de
segue esclarecer essa questão satisfatoriamente. classe se assemelham a agregados, ocupacionais

33
que não têm uma forma hierárquica claramen­ ciais.10 Para captá-los, o autor propõe investi­
te definida. Mais importante, em ambas as pers­ gar a gênese do princípio gerador e unificador
pectivas, a análise de classe é utilizada para cap^ das práticas sociais (o habitus) como produto
tara estrutura de oportunidades que se impõe da incorporação de uma condição de classe e
diferencialmente sobre os atores sociais, em de seus condicionamentos sociais. Classe
consequência estruturando de forma diferente consiste em um
suas chances de vida e estratégias de ação.
Diversamente, a perspectiva de classe que [...] conjunto de agentes que estão situa­
veremos a seguir enfoca o processo de formação dos em condições de existência homogê­
de coletividades sociais e os modos como elas neas Impondd condicionamentos homo­
balizam a sociabilidade cotidiana. Há uma in­ gêneos e produzindo sistemas homogêneos
tenção fundamentalmente sintética que se ex­ de disposições capazes de gerar práticas si­
pressa na tentativa de incorporar os compo­ milares e que possuem um conjunto dé
nentes objetivos que conformam a estratificação propriedades comuns, propriedades obje­
social e as. práticas de classificação dos atores tivadas, por vezes.legalmente garantidas,
sóciais. (como posse de bens e poder) ou proprie­
A principal referência aqui é Pierre Bour­ dades incorporadas como habitas de dasse
dieu. Teoricámênte, este autor busca construir (e, particularmente, sistemas de esquemas
uma perspectiva que supere as antinomias clás­ classificatórlos)" (Bourdieu, 2002, p. 101;
sicas da sociologia: estrutura e ação, material e tradução própria).
simbólico, objetivo e subjetivo, estratégico e
interpretativo (Bourdieu, 2005a). Tal inten­ Nesse sentido, a perspectiva de classe de
ção sintética é explicitada na ruptura com três Bourdieu distingue três dimensões analíticas
postulados da tradição marxista: que se interconectam empiricamente: a dimen­
são do espaço social, a do habitus e a do espaço
[...] ruptura com a tendência para privile­ simbólico.
giar as substâncias em detrimento das O espaço social é construído segundo duas
relações [...] ruptura com o economicismo dimensões principais: volume e composição do
que leva a reduzir o campo social, espaço capital (distinguido especialmente em termos
multidimensional, ao campo econômico, de capital econômico e capital cultural), apre­
às relações de produção econômica cons­ endidas sincronicae diacronicamerrte. O con­
tituídas assim em coordenadas do espaço ceito de capital refere-se a recursos ou poderes
social; ruprura, por fim. com o objeti- “que definem as probabilidades de ganho em
vismo... que leva á ignorar as lutas sim­ um campo determinado” (Bourdieu, 2005b,
bólicas desenvolvidas nos diferentes p. 134). O capital econômico pode sérapreèn-
campos e nas quais está em jogo a.própria dido em termos de nível de renda, relação com
representação do mundo social (Bourdieu, os meios de produção e posses materiais. O ca­
2005b, p. 133). pital cultural existe sob três formas distintas,
mas inrer-relacionadas. Sob a forma incorpora­
Em seu principal trabalho sobre classes da, o capital cultural refere-se ao conjunto de
sociais, Bourdieu (2002) investiga os deter­ disposições necessárias para apropriação dos
minantes sociais do gosto e, mais especifi­ objetos da “cultura legítima”, adquiridas atra­
camente, conecta a capacidade de julgamento vés da socialização no seio familiar e da educa­
estético a posições no espaço das classes so­ ção formal. Como tais disposições são recursos

34
importantes em carreiras educacionais bem-su- mentos sociais de diversos tipos (condição de
cedidas, elas geralmente adquirem uma forma classe), sendo o principal deles a distância rela­
institucionalizada (credenciais educacionais). tiva à necessidade material. A socialização em
Além disso, essas disposições são objetivadas uma dada região do espaço social significa que
através de bens e prádcas consumidas em cam- a condição de classe que a diferencia relativa­
pós sociais diversos. mente de outras regiões é incorporada pelos
A dimensão diacrônica do espaço soeial é agentes, conformando os habitus de classe, que
conformada pelas Traj etórias modais, que são as são sistemas de disposições duráveis e transpo-
trajetórias percorridas com mais frequência pe­ níveis que orientam as percepções, ações e clas­
los agentes ligando origens e destinos particu­ sificações dos agentes nos diversos campos so­
lares e que representam os modos típicos de ciais. Como um sistema de disposições, habitus
apropriação do capitai (Bourdieu, 2002, pp. não pode ser confundido com hábito, qué im­
346-51). plica uma mera repetição ou rotinização de
São essas dimensões (volume e composi­ ações. Embora o habitus carregue as marcas das
ção do capital, e trajetórias modais), segundo estruturas ejítemas, ele delimita, ao mesmo tem­
Bourdieu, que diferenciam mais fortemente po, um espaço para a improvisação e a criativi­
posições relativas no espaço social por confor­ dade dô.s agentes. As práticas sociais são resul­
marem as principais linhas de divisão e conflito tado da interação dessa estrutura internalizada
em sociedades capitalistas avançadas.11 Em Dis- com as estruturas externas, quer dizer, das dis­
tinction, vemos que o espaço social (que é, na posições dos agentes com as lógicas operantes e
verdade, um mapa “sociológico” da sociedade relações de poder nos diversos campos sociais.
francesa dos anos de 1970) é esrrururado por Portanto, o habitus é, ao mesmo tempo, uma
dois eixQsfprmando quatro quadrantes. O eixo e&ttutms, estm turada, por ser produto da in­
vertical corresponde ao volume de capital total corporação das propriedades relacionais do es­
e o eixo horizontal a duas espécies de capital: à paço social, e uma estrutura estruturdnte, por
esquerda, o capital cultural, e. à direita, o capi­ operar como princípios pré-reflexivos que orien­
tal econômico. Bourdieu distingue três gran­ tam as percepções e classificações dos agentes e
des classes ao longo do primeiro eixo: classe fixam probabilidades de ação.1’
burguesa (região superior), pequena burguesia Pela mediação do habitus e de sua capaci­
(região intermediária) e ciasse trabalhadora (re­ dade de “gerar” práticas classificáveis e classifi­
gião inferior). Ao longo do outro eixo, são dife­ cadoras, o espaço social rransmuta-se em espa­
renciadas frações de classe segundo a composi­ ço simbólico e as práticas dos agentes se tomam
ção do capital. De um lado (à direita), vemos as signos de distinção. O espaço simbólico é o
frações cujo volume de capita! é determinado espaço dos estilos de vida, definidos como con­
especialmente pela posse de capital econômi­ juntos sistemáticos de preferências distintivas
co. Do outro lado, estão as frações distinguidas que expressam, na lógica específica a cada um
em termos da posse de capital cultura). Por sua dos campos (alimentação, vestuário, arte, lin­
vez, o eixo diacrônico diferencia regiões do es­ guagem), uma mesma intenção expressiva
paço social em termos das trajetórias coletivas (Bourdieu, 2002, p. 173). Essas retraduções
das frações de classe (de decadência ou ascen­ expressivas, que dão certa homogeneidade às
são) e de seus padrões típicos de recrutamento práticas dos agentes de uma mesma classe in­
e composição. dependentemente de qualquer intencionalida­
As posições no espaço social diferenciam- de, decorrem de uma propriedade particular
-se relacionalmente em termos de condiciona­ do habitus, qual seja, a transponibilidade. O

35
habitus produz continuamente transposições ração dessas propriedades através do habitus é,
sistemáticas requeridas pelas condições parti­ ao mesmo tempo, .uma incorporação das clas­
culares das práticas dos agentes. Essa unidade sificações dominantes e, consequentemente,
expressiva se mostra através do gosto de classe, a uma “naturalização” do mundo. Precisamente
“fórmula geradora do estilo de vida”, pois cons­ porque os agentes mobilizam os capitais acu­
titui “a propensão e a capacidade para se apro­ mulados nessas disputas simbólicas, as frações
priar (material e simbolicamente) de um dado dominantes tendem a levar ampla vantagem
conjunto de objetos e práticas classificáveis e sobre as demais frações de ciasse, tendo maior
classificadoras” (idem, pp. 173-5; tradução pró­ probabilidade de impor seus padrões de jul­
pria). Nesse sentido, o habitus tende a produ­ gamento e classificação nos diversos campos
zir uma homologia entre o espaço simbólico e o sociais. Embora ocupando lugar central nas teo­
espaço social, de forma que a hierarquia de esti­ rias marxistas como sujeito histórico de supera­
los de vida se manifesta como uma retradução ção do capitalismo, as frações trabalhadoras se
expressiva (embora não-reconhecida) das dife­ encontram, na teoria de Bourdieu, em situação
renças objetivas do espaço social. extremamente desfavorável nas disputas em
As propriedades dos estilqs de vida são torno dos sistemas cíassificatórios que susten­
constituídas relacionalm ente, no interior das tam as relações de dominação de classe.
disputas em tprno da apropriação de práticas e Embora não sem p ro b lem a s,o modelo
objetos disponíveis na sociedade. Tais disputas teórico de Bourdieu permite construir uma
são, ao mesmo tempo, instrumentais e expres­ perspectiva de análise de classe que avança em
sivas, pois os agentes se orientam para os obje­ relação às demais em termos de sua capacidade
tos e práticas de um campo social em termos de de sintetizar dimensões da vida social. São dis­
estratégias de “maximização” do capital simbó­ tinguidos um espaço de posições sociais e um
lico conformadas no interior das expectativas espaço de estilos de vida, cujas correspondên­
estruturadas pelo habitus. A “cristalização” do cias são mediadas pelo espaço das disposições.
estado dessas lutas simbólicas em distintos esti­ Nessa perspectiva,.que enfoca os processos de
los de vida tende a demarcar fronteiras simbó­ formação de coletividades sociais, as atividades
licas e sociais. Como salienta Bourdieu, o gosto simbólicas são vistas como retraduções expres­
é o “operador prático da transmutação das coi­ sivas de condições dé classe, ou seja, as diferen­
sas em signos distintos e distintivos, de distri­ ças de statiis expressam diferenças de classe
buições contínuas em oposições descontínuas" (Weimnger, 2004; Sallum Jr., 2005).
{idem , pp. 174-5; traduçãq própria). A apropriação da perspectiva analítica de
Como podemos ver, as disputas simbóli­ Bourdieu se deu em duas linhas opostas. Nas
cas constituem a dimensão chave da “luta de Ciências Sociais norte-americanas, a teoria de
classes” para Bourdieu. Estas são disputas es­ classes de Bourdieu foi apropriada sob o foco
sencialmente dassificatórias e envolvem a defi­ da relação entre capital cultural e reprodução
nição do conteúdo (objetos e práticas) da cul­ social. Seguindo um dos argumentos centrais
tura legítima, os modos legítimos de dele se de D istinction, buscou-se examinar em que
apropriar e a hierarquização dos diferentes esti­ medida, na sociedade norte-americana, as prá­
los de vida. Embora as disputas simbólicas se­ ticas culturais têm efeitos cíassificatórios que
jam parcialmente condicionadas pelas proprie­ demarcam fronteiras simbólicas e sociais (La-
dades objetivas do espaço social, elas também mont e Molnár, 2002). Aos moldes de Bour­
impactam sobre ele, delimitando fronteiras so­ dieu, concebe-se o capital cultural como dis­
ciais (Wacquant, 1991). Por isso, a incorpo­ posições (estética kantiana) para apreciar e

36
consumir alta cultura (as formas culturais abs­ gias que buscam minimizar os riscos de mobili­
tratas), definida segundo variáveis similares dade descendente (Goldthorpe, 2007a),
àquelas utilizadas por Bourdieu em sua pesquisa Ainda nesta linha de apropriação da teoria
sobre a sociedade francesa (arte, literatura, ópera, de Bourdieu como teórico da reprodução social,
música clássica, teatro etc.). Em geral, as pes­ destacam-se também os trabalhos que criticam
quisas norte-americanas não encontraram evi­ o retrato que o autor constrói das frações da
dências de padrões distintos e distindvos de clas­ classe trabalhadora francesa. Por estarem sub­
se quanto ao consumo de alta cultura. Com metidos mais fortemente do que qualquer ou­
base nesses resultados, Halle (1991)..argumen- tra classe às pressões da necessidade material,
ta que a alta cultura (no caso, o consumo da Bourdieu insiste que os trabalhadores manuais
arte) não seria uma marca de classe importante são apenas referenciais negativos nas disputas
na sociedade norte-americana. Lamont (1992), simbólicas. Para alguns, esse retrato subestima
por sua vez, salienta que as fronteiras culturais a capacidade das frações populares de se orga­
não seriam tão relevantes quanto as fronteiras nizarem de forma relativamente autônoma em
morais ou econômicas na formação de divisões relação aos centros de poder simbólico, desen­
sociais nessa sociedade.14 volvendo padrões próprios de gosto e julga­
Entre os teóricos associados ap Programa mento (Alexander, 1995; Rupp, 1997; Devi-
de Nuffield, os trabalhos de Bourdieu foram ne e Savage, 2005; Vester, 2005).
igualmente apropriados em torno da relação Embora a reprodução social tenha um lu­
entre cultura (educação) e reprodução social. gar central na teoria de classes de Bourdieu, ela
Embora Goldthorpe e outros autores também também foi apropriada para dar conta de pro­
sublinhem a persistência de diferenciais de pro­ cessos de mudança social, especialmente da re­
gresso educacional em termos de posições de lação cambiante entre classee consumo no.con-
classe (Goldthorpe, 1996a; Breen e Goldthor­ texto da emergência da sociedade de consumo
pe, 1997, 1999, 2001; Goldthorpe, 2007a, e da expansão das formas culturais “pós-mo-
2007b), eles argumentam que as teorias culru- dernas” (Lash, 1990; Featherstone, 1995;
ralistas (entre ás quais se insere a teoria de Bour­ Warde, Martens e Olsen, 1999; Savage, 2000).
dieu) são inadequadas para apreender esse fenô­ Voltarei a este ponto adiante,15
meno. Se, de acordo com essas teorias, o progresso
educacional depende de capital cultural incor­ A Análise de Classe ainda é
porado, que envolve longos investimentos ge­ Relevante para as Ciências Sociais?
ralmente iniciados no círculo familiar, então
como poderíamos explicar a enorme expansão Nós últimos anos, o debate em torno da
educacional das últimas décadas (do século XX) relevância da análise de classes centrou-se sobre
em sociedades capitalistas avançadas cujos prin­ as mudanças associadas a emergência de novas
cipais beneficiários foram os indivíduos de ori­ formas de organização das relações sociais.
gem social relativamente menos privilegiada? Em uma vertente desse debate, argumen­
Com base em um modelo explicativo derivado ta-se que, no contexto da transição para a socie­
da teoria da ação racional, argumenta-se que os dade pós-industrial, novas clivagens sociais (em
diferenciais de classe quanto ao progresso edu­ torno de padrões de consumo, etnia, gênero
cacional seriam produtos de estratégias adapta- etc.) tenderiam a emergir e a conformar mais
tivas, racionalmente formuladas, diante de es­ fortemente a formação de identidades coleti­
truturas de oportunidades que constrangem vas e preferências políticas. Nesse contexto, as
diferencialmente as posições de classe, estraté­ divisõesde classe se tomariam menos relevantes.,

37
havendo, com isso, um “descolamento” entre encontrado evidências consistentes de atenua­
classe evoco (Butler e Stokes, 1974; Crewe, ção do. impacto da classe sobre o voto (Heath,
Sarlvik e Alt, 1977; Clark, Lipset e Rempel, Joweli e Curtice, 1985; Hout, Brooks e Man-
1993; Pakulski e Waters, 1996; Clark e Lipset, za, 1993; Heath e 'Weakliem, 1999; Gold­
2001; Pakulski, 2001, 2004). thorpe, 1999).1
Contrariamente, alguns estudos tentam Em. outra vertente desse debate, argumen­
mostrar que as evidências empíricas que apoiam ta-se que as mudanças associadas à transição
esse tipo dé argumento são produzidas por pers­ para a alta modernidade ou modernidade tardia
pectivas teóricas e estratégias metodológicas (Beck, 1992; Lash e Urry, 1994; Giddens,
inadequadas. Em primeiro lugar, argumenta- 20 0 2 ) ou p ós-m od ern id ad e (Baudrillard,
-se que os defensores da tese do “descolamento” [1970] 1975; Jameson, 1994) teriam cindido
entre classe e voto tomam como interlocutor a relação entre classe e consumo e, mais
uma perspectiva marxista de análise de classe,16 profundamente, atenuado (ou destruído) a
cujas proposições mais ortodoxas foram aban­ determinação das claSses. sobre os processos
donadas mesmo dentro do campo neomarxis- sociais.
ta fWright, [1976] 1996) eque, ademais, não A transição para a alta modernidade envol­
constitui a única opção dentro desse campo veria mudanças profundas nas relações entre
teórico (Goldthorpe, 1996b). estrutura e agência. A libertação dos indivíduos
Em segundo lugar, a opção metodológica de contextos tradicionais de ação (entre elas, as
escolhida não permitiria captar adequadamen­ classes sociais) seria acompanhada pela emer­
te a relação classe-voto. Em geral, utiliza-se o gência de um novo regime de construção do
índice de-Alford, cujo valor é dado pelapor- eu: aquele baseado na reflexividade. Em um
centagem de trabalhadores manuais que vo­ contexto de forte ampliação das oportunida­
tam em partidos de esquerda menos a por­ des de escolha (e dos riscos associados a elas),
centagem de trabalhadores não-manuals que produzida pela emergência de uma ordem so­
votam nesses mesmos partidos. O problema é cial pós-tradicional, os atores sociais seriam cres­
que esse índice baseia-s.e em esquemas dico­ centemente responsáveis pela construção de
tômicos de classe e partido, manual versus não- trajetórias de vida em termos de uma biografia
manuai, esquerda versus direita. Entre outras do eu. Segundo Giddens (2002, p. 79),
coisas, isso impede que se diferencie processos
de desalinhamento, de um lido, de processos [...] nas condições da alta modernidade,,
de realinhamento entre classe e voto, de outro. não só seguimos estilos de vida, mas num
Estes últimos podem resultar, por exemplo, do importante sentido somos obrigados a fazê-
impacto de mudanças nas situações de traba­ -lo —não temos escolha senão esçolher.
lho e emprego sobte as preferências políticas de Um estilo de vida pode ser definido como
indivíduos em certas posições de classe ou de um conjunto mais ou menos integrado.de
mudanças nas estratégias dos partidos políticos práticas que um indivíduo abraça [...] por­
(Goldthorpe, 1996b, 1999; Heath e Weak- que dão forma material a uma narrativa
liem, 1999; Weakliem, 2001). De fato, es­ particular da auto identidade.
tudos comparativos internacionais que em­
pregam uma opção metodológica distinta, A reflexividade na alta modernidade esta­
operaeionalizando: a relação classe-voto com ria relacionada, portanto, com a ampliação do
base em esquemas de classe não-dicotômicos e leque de escolhas em torno dos estilos de vida e
modelos estatísticos Idg-lineares, não têm do planejamento da vida.

38
Entre os teóricos da pós-modemidade, afir- pedagogia e orientação em relação à vida, que
ma-se que a inflação e circulação rápida de bens valorizam a estetização da vida, a exploração
e signos (e a separação destes em relação aos emocional e a mistura de estilos e códigos
referentes), no contexto da emergência de um (Featherstone, 1995; Lash, 1990). Nesse sen­
regime de significação baseado na figuração tido, as imagens de desordem cultural (e seus
(Lash, 1990), podem colocax em risco a legi­ slogans, como ‘"nada de regras, apenas escolhas”),
bilidade dos bens e práticas usados como mar­ associadas às versões mais radicais do argumen­
cadores sociais. Nas condições da pós-moder- to pós-modernista, não implicariam exatamen­
nidade, os indivíduos seriam livres pára te a ausência total de controles ou determina-
manipular os signos da cultura de consumo ções. Ao invés, tratar-se-ia dé utii descóntrole
por livre associação, o que permitiria um posi­ controlado, em que hedonismo e cálculo instru­
cionamento social apenas precário e instável dos mental se interpenetrariam:
indivíduos em termos de suas escolhas de con­
sumo. A estabilização do sentido dos objetos ;...] assim, é possível falar no hedonismo
culturais e a estruturação deles em formas hie­ calculista, no cálculo do efeito estilístico e
rárquicas relativamente estáveis, correlaciona­ numa economia das emoções, por um lado,
das a divisões sociais em termos de classe ou e nuiiia estetização da dimensão racional
outra categoria qualquer, se tornariam proble­ instrumental ou funcional, mediante a pro­
máticas. Isso implicaria uma implosão do espa­ moção de um distanciamento estetizante,
ço social e dalógica da distinção, um desapare­ Dor outro (Featherstone, 1995, p. 123).
cimento das velhas coordenadas do espaço
social.16 Nesse sentido, a expansão de formas cul­
Diferentemente, as formas culturais pós- turais “pós-modernas” (marcadas pela mistura
modernas podem ser vistas como movimentos de códigos e estilos, pelo pasttche, pela subver-
“novos” dentro do espaço social, associados à são de fronteiras simbólicas tradicionais etc.)
emergência de uma “nova” fração de classe (a estaria associada a estratégias de reposiciona­
dos intermediários ou especialistas culturais). mento social e à emergência de novos marcado­
Nesse sentido, a produção e expansão dessas res sociais com base em estilos de vida marca­
formas culturais seriam o resultado de proces­ dos pela estetização da vida cotidiana, não
sos de longa duração que elevaram o número implicando, necessariamente a implosão do es­
de especialistas culturais (especializados na pro­ paço social e da conexão entre classe e consu­
dução de bens simbólicos) nas sociedades capi­ mo. De forma similar, a ênfase sobre a reflexivi­
talistas avançadas. Sendo marcada por um ha- dade na teorização sobre a modernidade tardia
bitus que valoriza uma atitude de aprendizagem ou alta modernidade poderia expressar as orien­
perante a vida. de estetização da vida cotidiana tações de grupos sociais específicos (daqueles
e de relaxamento dos padrões formais de com­ que, de fato, possuem as disposições e os recur­
portamento, essa fiação de classe buscaria legi­ sos para fazer das “trajetórias de vida” a materia­
timar novos gostos e estilos de vida nas dispu­ lização de projetos do eu reflexivamente cons­
tas simbólicas com outras frações de classe. No truídos), e não uma condição geral de um
contexto dessas disputas, os especialistas cul­ “novo” período histórico.19 Em suma, talvez
turais atuariam como intermediários entre o nem todos possam se tornai'
campo, cultural e o campo das classes sociais,
ampliando o leque de bens culturais disponí­ [...] os novos heróis da cultura de consu­
veis ao consumo e estimulando uma nova mo [que] transformam o estilo num projeto

39
de vida e manifestam sua individualidade Grusky e Sorensen (1998), Sorensen (2000),
e senso de estilo na especificidade do con­ Eder (2002) e Grusky e Galescu (2005), en­
junto de bens, roupas, práticas, experiên­ tre outros. Não há espaço para tratá-las em de­
cias, aparências e disposições corporais des­ talhes aqui. Note-se, simplesmente, que foram
tinadas a compor um estilo de vida ' feitas importantes tentativas de sintetizar pers­
(Featherstone, 1995, p. 123). pectivas teóricas (Scott, 1996; Sallum Jr.,
2005). Nessa busca de síntese, a noção de cole­
Pesquisas recentes têm chegado a conclu­ tividade social tem ganhado cada vez mais rele­
sões opostas quanto à conexão entre classe e vância. Creio que há duas formas principais
consumo. De um lado. um dos principais ex­ sob as quais essa noção aparece nos estudos de
poentes do Programa de N uffield, John Gold­ classe.
thorpe, produziu recentemente um conjunto Em uma delas, ela é usada para dar conta
de artigos, comTag Wing Chan. sublinhado a dos padrões regulares de ação que emergem
importância da distinção postulada por Weber das orientações racionais de indivíduos que
entre classe estatus (Goldthorpe e Chan. 2005, controlam tipos e quantidades similares de re­
2006, 2007a, 2007b). Contrariamente a Bour- cursos e enfrentam pressões condicionais simi­
dieu, os autores argumentam que status e classe lares. Esse tipo de coletividade é formado me­
estruturam aspectos diferentes dá ordem de canicam ente (Breen e Rottman, 1995).
estratificação social e impactam sobre as chan­ Dutra forma de conceber a formação de
ces de vida individuais através de mecanismos coletividades de classe busca incorporar os
distintos. Enquanto a classé constituiria ó prin­ modos como os indivíduos se interpenetram
cipal fator a conformar as chances de vida no em termos da internalização de estruturas. Isso
mercado (Goldthorpe eMcKníght, 2006), sta- pode ser observado em alguns esrudos de classe
íiíí se correlacionaria mais fortemente com pa­ no campo neoweberiano. Neles, sublinha-se
drões de consumo cultural e diferenças no esti­ que os indivíduos que ocupam uma posição
lo de vida (Goldthorpe e Chan, 2007b). De de classe podem vir a compartilhar valores,
outro lado, alguns autores argumentam, aos orientações normativas ou imagens de mundo
moldes de Bourdieu, que a classe é um fator no contexto de processos de formação demo­
importante na estruturação das práticas de con­ gráfica e sociopolítica, dando origem a classes
sumo e gostos culturais. Segundo eles, a relação sociais constituídas como coletividades (Lock-
entre classe e consumo deve ser investigada em wood, [1960] 1996, [1966] 1996; Gold­
termos de possíveis homologias entre o espaço thorpe e Lockwood, [1963] 1996; Gold­
social e o espaço simbólico. O uso dessas no­ thorpe, Llewellyn e Payne, 1987; Scott, 1996).
ções permitiria apreender o processo pelo qual No caso da perspectiva de Bourdieu, vimos
as práticas de cõnsumó demarcam fronteiras como os atores que ocupam uma mesma região
mutáveis nas relações sociais, possivelmente re­ do espaço social, do ponto de vista sincrônico e
ordenando as relações de classe e os modos como diacrônico, têm alta probabilidade de com­
essas se expressam no plano simbólico ao longo partilhar esquemas de ação e classificação de­
do tempo (Hoit, 1998; Savage et. aí., 2005; vido à internalização das propriedades rela­
Savage et a i, 2007). cionais do espaço social. A meu ver, é esta última
A relevância da análise de classes tem sido perspectiva teórica que tem influenciado as
sublinhada, nos últimos anos, por inúmeras tentativas mais instigantes de investigar o pro­
tentativas de reformulá-la ou reconstruí-la, cesso de formação de coletividades de classe
como em McNall, Levine e Fantasia (1991), atualmente.10

40
Notas

1 Destaco um conjunto de estudos comparativos, denominado Casmin (Com paratiue A n alysis


o f S ocialM obility in In du stiial Soríeties) e coordenado por John Goldthorpe e Walter Muller em
meados dos anos 1980. No Brasil, os trabalhos de Goldthorpe inspiraram diversos estudos
sobre classe e mobilidade, como ode Ribeiro e Scalon (2001), eíitre outros.

2 Para um contraponto, ver Goldthorpe e Hope (1974).

3 Nesse sentido, Giddens (1975) cunhou o conceito de estruturação para dar conta dos proces­
sos pelos quais relações tipicamente econômicas se transformam em sistemas estruturados
de relações sociais baseados em classe. D e forma semelhante, Lockwood ([1958] 1989) bus­
cou captar os componentes materiais e simbólicos que estruturam a estratificação social ao
propor um esquema analítico diferenciando classes em termos de três dimensões: econômica,
relacional e normativa.

4 Ver. entreoutròs, Goldthorpe,Llewellvn e Pávrie (1987).

5 Para um cõntràp ontô, ver Goldthorpe ([1983] 1996).

6 Sua obra tem influenciado um conjunto de estudos comparativos internacionais nas últimas
décadas. No Brasil, o trabalho de Wright foi incorporado em um estudo de Santos (2002).

7 Nesse sentido, diferem da “velha classe média”, cujos membros nào sào nem empregados
nemempregadores.

8 As relações de propriedade dos ativos organizacionais sào operacionalizadas em termos de


posições gerenciais e de supervisão. As primeiras se distinguem em termos do poder decisório
sobre o processo produtivo. As posições de supervisão são definidas em termos do poder de
supervisão sobre o trabalho alheio. A operacionalização do conceito de ativo de qualificação é
mais complexa e depende de títulos ocupadonais, credenciais educacionais e de uma medida
de autonomia no. trabalho. Os especialistas: {expertí) incluem todos os profissionais, e os
gerentes (par título ocupacional) e técnicos, ambos, com título universitário. Os trabalhadores
qualificados (skilledw orkers) incluem professores de escola, artesãos, gerentes e técnicos sem
título universitário, e trabalhadores de escritório e de vendas com título universitário e auto­
nomia no trabalho (Wright, 1989,pp. 141-54, 303-17).

9 Uma crítica semelhante poderia ser feita em relação aos trabalhos de Aage Sorensen (2000), em
que exploração é.definida como aapropriação de uma faria do excedente social m aior ào que os
custos associados à produção e reprodução dos ativos produtivos. Essa sobrevalorização ocorre
com base em estratégias de fechamento social que restringem o acesso a esses ativos produtivos.
Para uma critica aos argumentos de Sorénsen, ver Goldthorpe, 200Ó.

10 Para uma análise da apropriação da tradição sociológica clássica por Bourdieu, ver Brubaker
(1985).

1 1 Bourdieu utiliza ocupações como indicadores das posições relativas no espaço social, pois elas
frequentemente indicam - especialmente nas sociedades capitalistas —a participação: relativa
dos agentes na apropriação de capital cultural e econômico.

4L
1 2 A noção de disposições enfatiza o caráter pré-reflexivo do princípio orientador das práticas
sociais. Essa noção de prática segue uma tradição formada por filósofos como Heidegger,
iMerleau-Ponty e ’Wittgenstein, que situaram o ator em suas práticas, em contraposição a òutra
que o via fundamentalmente como um sujeito de representações (Taylor, 1993).

13 Não há espaço aqui para discutir em detalhes as principais críticas à teoria de Bourdieu. Por isso,
réméto o leitor aos seguintes textos, que abordam questões centrais dessa teoria. Emjenkms
(1992) e Alexander (1995), argumenta-se que a teoria de Bourdieu falha em construir uma
teoria sintética que supera as clássicas antinomias sociológicas. Sallum Jr. (2005) questiona a
estreita conexão entre posição social e habitus, Bennett (2007) questiona a propriedade da
transponibilidade do habitus.

14 Para urri contraponto, ver Holt (1998).

1 5 De uma pérspéctiva distinta daquela de Bourdieu, Savàge etal. (1992) constitui outra tenta­
tiva de conectar classe e práricas de consumo. Por sua vez, Thompson ([1968] 2004) faz um
estudo que enfoca o processo de formação de classes do ponto de vista marxista.

1 6 Entre outros, ver Pakulski e Waters (1996).

17 Para uma visão gerai desses debates, ver o conjunto de estudos em Evans (1999) e Clark e
Lipset (2001).

18 Para diferentes versões desse argumento, ver Baudrillard ([1970] 1975) e Pakulski e Waters
(1996).

19 Para argumentos semelhantes, ver Savage (2000) e Skeggs (2004).

20 Entre outros, ver Savage et. aí. (2005); Savage et al. (2007) e Bennett et a i , 2 0 0 9 .0 gasto
federal em saneamento inclui o gasto direto da União e suas transferências aos estados, muni­
cípios e distrito federal, além do FGTS. Informações sobre o FGTS em 2006 náo estão
disponíveis nesta fonce. Para maiores Informações sobre a metodologia de cálculo, ver a ficha de
qualificação e o anexo IV referente ao capítulo denominado '“recursos” do ID B Brasil 2007,
disponível em: <http//www.dátasus.gov.br>.

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Artigo recebido em abril/2007


Aprovada em janeiro/2009

Resum o

As Classes na Teoria Contemporânea

O presenre artigo investiga as principais perspectivas de análise de classe que têm influenciado a pesquisa
sociológica contemporânea. Após o exame dos mais importantes estudos produzidos nos últim os anos,
busca avançar na análise que enfatize a concepção de classe como coletividades sociais,

Palavras-chave: Classe social: Coletividade social; Estilo de vida; Cultura; Economia; Práticas classificatórias;
Ação coletiva.

A bstract

Classes in the Contemporary Theory

The present article investigates the main perspectives of class analyses that have influenced the contem­
porary sociological research. After exam ining the most relevant studies produced in the past years, we
aim at advancing in the analysis that emphasizes the conception of class as social collectivities.

Keywords: Social class; Social collectivity; Lifestyle; Culture; Economy; Classificatory practices; Col­
lective action.

Resum é

Lés Classes dans la Théorie Contemporaine

Le. présent article consiste en une recherche des principales perspectives d ’analyse de classe qui ont
influencé la recherche sociologique contemporaine. Après un examen des études les plus importantes
produites au cours des dernières années, nous avançons sur l’anaivse qui met l’accent sur la conception de
classe en tant que collectivités sociales.

Mots-clés: Classe sociale; Collectivité sociale; Style de vie; Culture; Economie; Pratiques classificatoires;
Action collective.

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